O Capitão Fracasso 35

1 O Captião Fracasso | Capítulo 35
O Capitão Fracasso
Novela de
Evana Ribeiro
Livremente baseada em
Le Capitaine Fracasse, The Fortunes and Misfortunes of the Famous Moll
Flanders e Arlequim, il servitore di due patroni
Capítulo 35
CENA 01. IGREJA. INT. DIA
CONTINUAÇÃO DA CENA FINAL DO CAPÍTULO ANTERIOR.
DANIELA – Vou dar um jeito de fugir da casa do doutor

amanhã mesmo.
FERNANDO – Como vamos fugir? Eu não tenho dinheiro.
DANIELA – Mas eu tenho algumas coisas que posso vender.
Nós vamos e pronto. Encontro você aqui, amanhã à noite.
ELES SE DESPEDEM COM UM BEIJO RÁPIDO E ELA SAI. ELE SAI EM

SEGUIDA.
CORTA PARA
CENA 02. MILLSHIRE. EXT. DIA/NOITE
TAKES DA MOVIMENTAÇÃO DA CIDADE AO LONGO DO DIA. A

SEQUÊNCIA ENCERRA COM A CASA DO DR. LOMBARDI.
SONOPLASTIA: Medo de amar – Joyce Moreno.
CORTA PARA
CENA 03. CASA DO DR. LOMBARDI. QUARTO DELE. INT. NOITE

DANIELA ESTÁ SOZINHA, ARRUMANDO SUAS ROUPAS NOVAS.
OBSERVA UMA A UMA, COM MUITO CUIDADO. AS ENROLA EM
UM LENÇOL BRANCO E COLOCA EM UM CANTO JUNTO DA
JANELA. FEITO ISTO, OLHA LONGAMENTE PARA A RUA. DOUTOR
LOMBARDI ENTRA, APROXIMA-SE DELA E A ABRAÇA POR TRÁS,
FAZENDO-A DAR UM GRITO DE SUSTO.
DR. LOMBARDI – Calma, querida! Sou eu.

DANIELA – Ah, bom...
DR. LOMBARDI – Pensou que outra pessoa pudesse entrar
nesse quarto?
DANIELA – Não, não foi isso! Eu só estava sonhando
acordada.
DR. LOMBARDI – E esses pacotes aí no chão?
DANIELA – Pacotes? [olha para baixo] Ah, sim. Vou levar
para a... Lavanderia.
DR. LOMBARDI – Ah, por quê? Uma criada pode fazer isso
para você.
DANIELA – [rude] Mas eu quero fazer.
DR. LOMBARDI – Está bem, não precisa ficar tão irritada.
DANIELA – Desculpe... É que eu não quero ficar presa em
casa o tempo todo.
DR. LOMBARDI – Muito bem! Fico satisfeito em ver que não
quer ficar reclusa, vai lhe fazer muito bem à saúde. Agora vou
tomar um banho, espero você para o jantar.
ELE A BEIJA NO ROSTO E SAI. DANIELA CONTINUA OLHANDO

PELA JANELA.
CORTA PARA
CENA 04. CASA DO DR. LOMBARDI.ANTESALA. INT. NOITE
SÍLVIO ESTÁ SENTADO À UMA POLTRONA, COMENDO UM

BOMBOM ATRÁS DO OUTRO. UMA CRIADA ENTRA.
CRIADA – Senhor Sílvio, o Senhor Levi Bronkhart está aí fora

e deseja vê-lo.
SÍLVIO – Faça-o entrar.
A CRIADA SAI E VOLTA TRAZENDO LEVI. ELE E SÍLVIO SE

CUMPRIMENTAM COM UM APERTO DE MÃO.
LEVI – Como tem passado, Sílvio?

SÍLVIO – Estou passando...
LEVI – É, sinto muito pelo ocorrido.
SÍLVIO – Vou superar. [T] Espero!
LEVI – Bem, o assunto da minha visita é... Casamento. Espero
que não se incomode em falar sobre isso.
SÍLVIO – De forma alguma. Quem vai casar?
LEVI – Minha filha e eu.
SÍLVIO – Você?
LEVI – Pois é! Vou me divorciar de Leopoldina para casar com
Simone.
SÍLVIO – E sua filha?
LEVI – Aconteceram coisas que me obrigaram a aceitar aquele
absurdo de casamento com o tio.
SÍLVIO – Deus a livre das desgraças que meus amigos
contavam de casamentos consanguíneos!
LEVI – Então eu gostaria que você cuidasse dos papeis para os
dois casamentos. Seria possível?
SÍLVIO – Claro, Levi. Seu pedido não poderia chegar em hora
melhor, preciso mesmo voltar ao trabalho. [T] Quer ficar para o
jantar?
LEVI – Obrigado, mas disse a Chiquita que voltaria para jantar
com ela.
SÍLVIO – Então nos vemos em breve.
ELES SE DESPEDEM COM OUTRO APERTO DE MÃO E LEVI SAI.
CORTA PARA
CENA 05. SOLAR BRONKHART. EXT. NOITE
TAKE DE LOCALIZAÇÃO. SONOPLASTIA: Jogo 1 – Edu Lobo.

CORTA PARA
CENA 06. SOLAR BRONKHART. CHALÉ. SALA DE JANTAR. INT.

NOITE
SÉRGIO E SARAH ESTÃO JANTANDO. ELA PARECE BEM

DESINTERESSADA NA REFEIÇÃO; ELE PERCEBE.
SÉRGIO – O que há com você hoje?

SARAH – Ela está esperando um filho.
SÉRGIO – Como?
SARAH – Isabelle está grávida!
SÉRGIO LARGA A FACA SOBRE A MESA, ABSOLUTAMENTE

SURPRESO COM O QUE ACABA DE OUVIR.
SARAH – Mas ao que parece ele ainda não sabe. Acha que esta
informação lhe será útil?
SÉRGIO – Esta é a pior notícia que eu poderia receber! Um
filho... Era só o que me faltava!
SARAH – Pois eu até achei muito bom saber desse tal filho.
SÉRGIO – O que pretende fazer? Engravidar dele também?
Roubar a criança?
SARAH – Não, seu tolo! Tudo o que eu queria era um motivo
para fazer Isabelle sofrer até a morte, e fazê-la perder esse
maldito filho é o motivo!
SÉRGIO – Contanto que ela saia viva...
SARAH – Pode confiar, ela vive. Essa criança, não.
NA EXPRESSÃO DIABÓLICA DE SARAH,
CORTA PARA
CENA 07. MILLSHIRE. EXT. NOITE/DIA
TOMADAS DA CIDADE DURANTE A MADRUGADA E COMEÇO DO

MOVIMENTO DE PESSOAS PELA MANHÃ. SONOPLASTIA: Alla
chitarra – Chico Pinheiro e Anthony Wilson.
CORTA PARA
CENA 08. IGREJA. INT. DIA
FERNANDO AJOELHADO NUM DOS ÚLTIMOS BANCOS DA IGREJA.

FINGE REZAR. DANIELA ENTRA, E AJOELHA AO LADO DELE.
DANIELA – Olá.
FERNANDO – Então?
DANIELA – Olhe.
ELA ABRE UMA PEQUENA BOLSA, TIRANDO VÁRIAS NOTAS DE

DINHEIRO DE MÉDIO VALOR.
FERNANDO – Quanto tem aí?

DANIELA – Não sei, mas vendi tudo o que o doutor comprou
para mim. Deve dar para duas passagens de navio. Tome.
[passa a bolsa para ele] Compre as passagens; se eu for vai dar
muito na vista.
FERNANDO – Hoje no fim da tarde encontro você aqui, com
as passagens.
DANIELA – Feito. Agora vou para casa, até mais tarde.
FERNANDO – Acompanho você até a praça.
CORTA PARA
CENA 09. RUA. EXT. DIA
DANIELA E FERNANDO ACABAM DE SAIR DA IGREJA,

ATRAVESSAM A RUA JUNTOS. ARTHUR E ISABELLE SAEM DO
ALBERGUE DE MÃOS DADAS, CONVERSANDO. DANIELA OS VÊ DE
LONGE E PÁRA DE ANDAR. FERNANDO ESTRANHA.
FERNANDO – O que houve agora?

DANIELA – Nada.
FERNANDO – Sei. Parou no meio da rua sem motivo.
DANIELA – Eu só queria ver Arthur pela última vez.
FERNANDO – Seu ex-marido.
DANIELA – É.
FERNANDO – Você ainda gosta dele?
DANIELA – Nunca vou deixar de gostar. Mas vou embora
assim mesmo, o perdi há anos e não vai ser agora que vou
recuperar.
ELES CONTINUAM ANDANDO. AGORA É BEATRIZ QUEM SAI DO

ALBERGUE, QUANDO ELES ESTÃO MAIS PERTO DO PRÉDIO.
BEATRIZ PÁRA E OLHA BEM PARA ELES.
BEATRIZ – Olá. Lembra de mim?
DANIELA OLHA BEM PARA BEATRIZ E TENTA SUFOCAR A

VONTADE DE RIR, SEM MUITO SUCESSO.
DANIELA – Não acredito! Não acredito que você/

BEATRIZ – É isso mesmo, Daniela.
DANIELA – Mas por favor, não me chame por esse nome.
[baixinho] Aqui eu sou Clarissa.
BEATRIZ – E eu sou Guilherme, como já notou.
FERNANDO – E eu sou Thomas. Mas será possível que todos
nós estamos usando identidades falsas?
DANIELA – Quer dizer que nenhum de nós presta.
FERNANDO – Be... Quer dizer... [baixinho] Tem certeza de
que não quer partir comigo?
BEATRIZ – Tenho. A morte dele e o tempo que passamos
separados esfriou nossos sentimentos, não deve valer tão a pena
assim resgatar. Vai só com ela e sejam felizes.
FERNANDO – Não acredito que você vai mesmo jogar toda a
nossa história pela janela. Depois de tudo, de todo o sangue
derramado, nosso sofrimento/
BEATRIZ – Eu não quero um amor manchado do sangue do
meu irmão! Agora vai, vai com ela.
TRISTE, FERNANDO SE AFASTA ARRASTANDO DANIELA. ELE

CAMINHA COM PRESSA E ELA TENTA ALCANÇÁ-LO.
DANIELA – Eu também não queria um amor manchado de

sangue.
FERNANDO – [bravo] Vai começar você também, é?
DANIELA – Não! Mas eu amava Guilherme. Amava mesmo.
FERNANDO – E ama Arthur, e me ama... Você ama todo
mundo, mulher.
DANIELA – É que tenho muito amor guardado e não acho
muito produtivo desperdiçá-lo comigo mesma.
ELA PÁRA EM UMA ESQUINA E SE ENCOSTA NA PAREDE.
DANIELA – Vai comprar nossas passagens, eu espero aqui.
ELE SEGUE CAMINHANDO SOZINHO, ENQUANTO ELA ESPERA.
CORTA PARA
CENA 10. ALBERGUE. SAGUÃO. INT. DIA
ESMERALDA ESTÁ ATRÁS DO BALCÃO, SEPARANDO A

CORRESPONDÊNCIA. PEGA UM ENVELOPE MAIOR, CHEIO DE
SELOS, E O OBSERVA COM CURIOSIDADE. CLARICE CHEGA COM
UM CADERNO NAS MÃOS, PÁRA NO BALCÃO, MAS NÃO É
NOTADA.
CLARICE – Bom dia?

ESMERALDA – Ah... Clarice, querida! Bom dia... Está
esperando aí há muito tempo?
CLARICE – Não, acabei de chegar. Queria falar com você,
mas pelo jeito está muito ocupada com essas cartas, não é?
ESMERALDA – Estava vendo quais são para seu Horácio. Só
chegou essa... A maior carta que já vi na minha vida. Será que é
da corte?
CLARICE – Não tem o nome do remetente aí?
ESMERALDA – Tem, mas não consigo entender o que está
escrito.
CLARICE – Talvez eu entenda, posso ver?
ESMERALDA PASSA O ENVELOPE ÀS MÃOS DA AMIGA, QUE OLHA

NO VERSO.
CLARICE – Veio do Palácio de Buckingham. Seu Horácio está

ficando muito ilustre, não é?
ESMERALDA – Eu disse que em breve ele se tornaria um Sir,
mas não quis acreditar em mim... Mas o que você queria
mesmo?
CLARICE – Trouxe isso aqui para você. E também queria
conversar...
ESMERALDA – O casamento está chegando.
CLARICE – E eu quero esquecer disso por um minuto que seja.
Vamos subir um pouco?
ESMERALDA GUARDA O RESTO DAS CARTAS E SOBE COM

CLARICE, LEVANDO APENAS O ENVELOPE MAIOR.
CORTA PARA
CENA 11. ALBERGUE. QUARTO DE ESMERALDA. INT. DIA

AS MOÇAS ENTRAM E SENTAM NA CAMA; ESMERALDA COLOCA

O ENVELOPE DE LADO.
ESMERALDA – Não estou reconhecendo esse caderno.

CLARICE – É o diário da sua mãe! Não lembra mais dele?
ELA ABRE O DIÁRIO E O FOLHEIA.
ESMERALDA – Puxa, não me lembrava! Foi muito bom você

ter me trazido isso, obrigada.
CLARICE – Acha que aí tem alguma coisa sobre a relação dela
com seu Horácio?
ESMERALDA – Tenho certeza.
CLARICE – Encontrei esse no meio dos diários de mamãe.
Comecei a lê-los de novo para ver se encontro algum consolo.
Afinal, ela também casou por obrigação.
ESMERALDA – Está com medo da noite de núpcias?
CLARICE – Não.
ESMERALDA – Ah, bom, porque... Cá entre nós, eu acho que
ele não vai encostar nem sequer um dedo em você.
CLARICE OLHA PARA ESMERALDA COM UM POUCO DE ESPANTO.
CLARICE – Por que você diz isso?

ESMERALDA – Porque eu sempre disse que esse Guilherme
me parece muito estranho.
CLARICE – Muito estranho?
ESMERALDA – Se você visse o que eu vi, também
estranharia. Um homem que se assusta com tiros e grita como
mulher... E ainda teve a história da fuga do duelo, entre outras
coisas. Ele está mais para uma mulherzinha do que para um
homem.
CLARICE ABAIXA A CABEÇA, ABAFANDO O RISO.
ESMERALDA – E do que você ri?

CLARICE – Nada! Eu só acho engraçadas essas suas ideias.
ESMERALDA OLHA BEM SERIAMENTE PARA A AMIGA. AS DUAS

EM SILÊNCIO POR UM INSTANTE.
ESMERALDA – Não, não é só isso.

CLARICE – O quê?
ESMERALDA – Você está me escondendo alguma coisa e vai
dizer o que é.
CLARICE – Não estou escondendo nada, juro!
ESMERALDA – E não adianta jurar em vão. Clarice, você
nunca me escondeu nada; por que vai esconder agora?
CLARICE – Já disse que não estou escondendo.
ESMERALDA – E você sabe que pode confiar seus segredos
todos a mim. Nunca contei nada que fosse segredo, contei?
CLARICE – Não.
ESMERALDA – Então.
OUTRO INSTANTE DE SILÊNCIO.
ESMERALDA – E se a senhorita não quiser falar, descobrirei

sozinha! [levanta]
CLARICE – Não, eu digo!
ESMERALDA – Sabia que havia um segredinho aí.
CLARICE – Acontece que eu não quis dizer nada... Eu não
podia dizer nada a pedido de Guilherme, mas... Sim, Guilherme
não é Guilherme, é Beatriz travestida.
ESMERALDA – Espere aí. [T] Você e Sílvio romperam por
causa de um homem que está morto de verdade? Para casar
com uma mulher?
CLARICE – É...
ESMERALDA – E por que diabos não contou toda a verdade a
ele?
CLARICE – Porque ele, quer dizer, porque ela pediu que não
contasse.
ESMERALDA – E você aceitou? Não, eu não aceitaria e você
também não vai aceitar.
CLARICE – Ela tem medo de que Sílvio/
ESMERALDA – Não importa! Ela não tem o direito de acabar
com a sua vida assim!
CLARICE – Agora é tarde demais. Sílvio não vai querer me
ver nem pintada...
ESMERALDA – Isso até que eu conte toda essa história a ele.
CLARICE – Esmeralda, eu jurei guardar segredo!
ESMERALDA – E eu ajudaria a guardar com muito gosto, se
isso não comprometesse a sua felicidade. Com licença.
ELA SAI CORRENDO. CLARICE SAI ATRÁS.
CORTA PARA
CENA 12. ALBERGUE. CORREDOR. INT. DIA
ESMERALDA DESCE AS ESCADAS CORRENDO, E CLARICE SEMPRE

ATRÁS DELA, ATÉ QUE DESISTE DE TENTAR ALCANÇÁ-LA. PÁRA
NO ALTO DA ESCADA, UM POUCO CANSADA. SONOPLASTIA: Na
dúvida – Ana Martins.
CLARICE – Ah, vá, Clarice. Ela só vai contar para Sílvio e se

ele me ama de verdade, vai guardar o segredo e voltar para
mim.
CORTA PARA
ESMERALDA CORRE PELA RUA COMO UMA LOUCA, SEM PRESTAR

ATENÇÃO ÀS PESSOAS E CARROS QUE QUASE A ATROPELAM.
TROPEÇA EM UM CACHORRO E QUASE CAI DE CARA NO CHÃO,
MAS RECUPERA O EQUILÍBRIO E CONTINUA CORRENDO ATÉ
CHEGAR À PORTA DA CASA DO DR. LOMBARDI. BATE
DESESPERADAMENTE NA PORTA. INSTANTES. NINGUÉM
APARECE. ELA CONTINUA ESMURRANDO A PORTA POR MAIS
ALGUM TEMPO ATÉ QUE DESISTE E VAI ANDANDO, COM UM
POUCO DE PRESSA, PARA O LADO OPOSTO. CONTINUA A MÚSICA
DA CENA ANTERIOR.
CORTA PARA
CENA 14. ESCRITÓRIO DE SÍLVIO. INT. DIA
SÍLVIO ESCREVE EM ALGUNS PAPEIS E OS EMPILHA EM UM

CANTO DA MESA. ENTÃO PÁRA E FICA OLHANDO PARA UMA
PAREDE, COM AR DESOLADO. BATIDAS FORTES E RÁPIDAS NA
PORTA O DESPERTAM DO “TRANSE” EM QUE SE ENCONTRA.
SÍLVIO – Já vai! O que é isso, o apocalipse?

ELE VAI ABRIR A PORTA E ENCONTRA ESMERALDA PARADA,

APARENTANDO MUITO CANSAÇO.
SÍLVIO – Ah, é você... O que quer?

ESMERALDA – Um copo de água. Tem?
CORTA PARA
ESMERALDA ACABA DE BEBER A ÁGUA. COLOCA O COPO VAZIO

SOBRE A MESA.
ESMERALDA – Agora sim, estou melhor.

SÍLVIO – Que bom! Pode ir.
ESMERALDA – Não, ainda precisamos conversar!
SÍLVIO – Temos assunto, por acaso?
ESMERALDA – Claro que temos assunto; Clarice é nosso...
Acho que já tivemos essa conversa em algum momento.
SÍLVIO – Ela deixou de ser meu assunto desde que escolheu
casar com o outro lá.
ESMERALDA – Pois é... Mas tenho novidades sobre esse
casamento, novidades que muito vão lhe interessar.
SÍLVIO – Não quero saber. Quer me deixar trabalhar, por
favor?
ESMERALDA – Não.
SÍLVIO – Eu pedi por favor!
ESMERALDA – E eu digo que não vou sair daqui enquanto
não ouvir o que tenho a dizer!
SÍLVIO – Vai sair ou vou precisar chamar seu Horácio e
Oséias para tirar você daqui arrastada?
ESMERALDA – Chame a cavalaria, mas não saio daqui.
IRRITADO, SÍLVIO PEGA ESMERALDA NO COLO E A VAI LEVANDO

PARA FORA DO ESCRITÓRIO. ELA COMEÇA A SE DEBATER,
TENTANDO DESCER.
ESMERALDA – Me põe no chão!

SÍLVIO – Vou pôr no chão fora daqui!
ELE ABRE A PORTA COM UM CHUTE E SAI COM ELA NOS BRAÇOS.
CORTA PARA
SÍLVIO LARGA ESMERALDA NA CALÇADA.

SÍLVIO – Tenha um bom dia!
E ELE VOLTA PARA DENTRO DO ESCRITÓRIO. ESMERALDA

TORNA A BATER COM FORÇA NA PORTA.
ESMERALDA – [gritando] Abre essa porta, Sílvio, senão vou

ter de pô-la abaixo, entendeu? Abre! Você precisa saber a
verdade sobre esse casamento! [T] O casamento de Clarice é
uma farsa, Guilherme não existe! Quem está aqui é a irmã dele,
você tem que perdoar Clarice!
ELA CONTINUA BATENDO DESESPERADAMENTE NA PORTA,

CHAMANDO A ATENÇÃO DE QUEM PASSA POR ALI. OSÉIAS
APARECE ENTRE OS POPULARES E SE APROXIMA DELA,
ABORRECIDO.
OSÉIAS – Esmeralda! O que você acha que está fazendo?

ESMERALDA – Estou apenas tentando reparar uma grande
injustiça.
OSÉIAS – Gritando como uma fugitiva do sanatório?
ESMERALDA – Se eu grito é porque certas pessoas
simplesmente se recusam a ouvir a verdade.
OSÉIAS – É melhor você vir comigo antes que...
ESMERALDA – Que o quê?
OSÉIAS – Sei lá! Só sei que é melhor você se aquietar.
OSÉIAS VAI ARRASTANDO ESMERALDA PARA LONGE DALI.
CORTA PARA
SÍLVIO ESTÁ JUNTO DA PORTA, COM AR ESTUPEFATO. PARECE

ESTAR REFLETINDO NO QUE OUVIU ESMERALDA GRITAR NA
CENA ANTERIOR.
SÍLVIO – Não. Acho que ouvi demais.
ELE VOLTA À ESCRIVANINHA E TENTA SE CONCENTRAR NO

TRABALHO.
CORTA PARA
DANIELA AINDA ESPERANDO NA ESQUINA. FERNANDO VOLTA,

COM AR DESOLADO.
DANIELA – O que há, por que demorou tanto? Que cara é

essa?
FERNANDO – Não pude comprar as passagens, o que
conseguimos com suas roupas não dá nem para meia passagem.
DANIELA – Meu Deus. Para lugar nenhum?
FERNANDO – Nenhum.
DANIELA – [irritada] Logo agora que tudo o que eu quero é ir
embora dessa cidade para sempre e não ver Arthur nunca
mais... O que vou fazer? Casar com o velho?
FERNANDO – Não. Vamos dar um jeito. Nós podemos...
Arranjar um trabalho ou algo assim.
DANIELA – Não! Ia demorar demais, íamos acabar ficando
indefinidamente e isso eu não quero.
FERNANDO – Então o que a senhora sugere?
DANIELA – Eu não gosto da minha própria ideia, mas é a
única que me parece viável agora.
CORTA PARA
CENA 19. MILLSHIRE. EXT. DIA/NOITE
TOMADAS MOSTRANDO A PASSAGEM DE HORAS. SONOPLASTIA:

Medo de amar – Joyce Moreno.
CORTA PARA
CENA 20. CASA DO DOUTOR LOMBARDI. SALA. INT. NOITE

O MÉDICO ESTÁ PARADO JUNTO À JANELA, COM AR DE MUITA

PREOCUPAÇÃO. SE AFASTA, ANDA EM CÍRCULOS PELA SALA E
VOLTA PARA LÁ. SÍLVIO CHEGA.
SÍLVIO – Olá, pai. [T] Pai?

DR. LOMBARDI – Ah, olá, Sílvio.
SÍLVIO – O que há com o senhor?
DR. LOMBARDI – Estou preocupado com Clarissa. Ela saiu
hoje de manhã com as roupas para levar a lavanderia e até
agora não voltou!
UMA CRIADA ENTRA.
CRIADA – Doutor Lombardi, já posso servir o jantar?

DR. LOMBARDI – Não, não pode! Ninguém come nessa casa
enquanto Clarissa não aparecer.
SÍLVIO OLHA PARA A CRIADA E VAI CHEGANDO MAIS PERTO

DELA.
SÍLVIO – [baixinho] Prepare um prato só para mim, vou comer

lá na cozinha.
ELE SAI E A CRIADA VOLTA PARA A COZINHA. O MÉDICO
PERMANECE OLHANDO PELA JANELA, MUITO PREOCUPADO.
CORTA PARA
CENA 21. RUA. EXT. NOITE
AS LOJAS VÃO COMEÇANDO A SER FECHADAS E AO LONGE É

POSSÍVEL VER AS LUZES DAS TAVERNAS ACENDENDO.
FERNANDO ESTÁ SENTADO SOZINHO EM UMA CALÇADA,
MANIPULANDO UM CIGARRO USADO. OLHA PARA OS LADOS E DE
QUANDO EM QUANDO ESFREGA AS MÃOS, NUMA TENTATIVA
INÚTIL DE SE AQUECER.
CORTA PARA
CENA 22. LOJA DE ROUPAS. INT. NOITE
A DONA DA LOJA ACABA DE SAIR. OUVE-SE O BARULHO DA

PORTA SENDO TRANCADA. A ÚNICA LUZ VEM DA RUA, ATRAVÉS
DE UMA FRESTA DA JANELA.
CORTA PARA
CENA 23. LOJA DE ROUPAS. PROVADOR. INT. NOITE

DANIELA ESTÁ ESPREMIDA DENTRO DO PROVADOR, PARADA

COMO SE FOSSE UMA ESTÁTUA. UM LONGO INSTANTE DE
SILÊNCIO E SÓ ENTÃO ELA ABRE UM POUCO A CORTINA,
CERTIFICANDO-SE DE QUE NÃO HÁ NINGUÉM LÁ. SAI, TENTANDO
SE ORIENTAR APENAS COM A LUZ FRACA QUE VEM DA RUA.
PEGA ALGUNS PACOTES QUE ESTÃO SOBRE A MESA E JUNTA
TODOS AO PÉ DA PORTA. COMEÇA A TENTAR FORÇAR A
ABERTURA DA PORTA. AS TRÊS PRIMEIRAS TENTATIVAS SÃO
INFRUTÍFERAS, MAS NA QUARTA VEZ ELA APANHA UM OBJETO
DE MÁRMORE SOBRE UMA MESINHA E COMEÇA A GOLPEAR O
TRINCO COM ELA, FAZENDO COM QUE SE QUEBRE E A PORTA
FINALMENTE É ABERTA. DANIELA JOGA A PEÇA DE MÁRMORE
NO CHÃO E SAI, CARREGANDO OS PACOTES COM CERTA
DIFICULDADE.
CORTA PARA
CENA 24. RUA. EXT. NOITE
FERNANDO AVISTA DANIELA SAINDO DA LOJA, LEVANTA DA

CALÇADA E CORRE PARA AJUDÁ-LA COM OS PACOTES.
FERNANDO – Você demorou.

DANIELA – Precisava ter certeza de que não havia mais
ninguém lá dentro. Se me pegassem, ia ser o fim.
FERNANDO – Poderíamos fazer de outra forma, sem precisar
sair assaltando lojas.
DANIELA – Já disse que também não gosto disso, mas é o
jeito! A não ser que você queira continuar em Millshire por
mais tempo.
ELA COMEÇA A ANDAR COM MUITA PRESSA, SENDO SEGUIDA

POR ELE. SOMEM NO MEIO DA MADRUGADA.
CORTA PARA
CENA 25. MILLSHIRE. EXT. NOITE/DIA
TOMADA DO LENTO NASCER DO SOL SOBRE A CIDADE.

SONOPLASTIA: Casa Forte – Gilson Peranzetta.
CORTA PARA
CENA 26. SOLAR BRONKHART. QUARTO DO CASAL. INT. DIA
LEOPOLDINA ARRUMANDO AS MALAS, COM A AJUDA DE UMA

CRIADA. LEVI ENTRA NO QUARTO, APARENTANDO ESTAR UM
POUCO PREOCUPADO.
LEOPOLDINA – Não precisa me apressar, já estou quase

pronta.
LEVI – Não vim apressar, só estou procurando uma coisa.
ELE ABRE ALGUMAS GAVETAS, COMO SE PROCURASSE ALGO, E

VAI FICANDO MAIS AFLITO.
CRIADA – Quer ajuda, senhor?

LEVI – Quero. Não sei onde coloquei as joias da família;
poderia jurar que estavam lá no cofre.
LEOPOLDINA – Você nunca guardou essas coisas em lugar
algum que não fosse lá...
LEVI – Por isso mesmo me ocorreu uma coisa. [para a criada]
Escute, houve alguma movimentação estranha nessa casa em
algum dia?
CRIADA – Não lembro de nada.
LEOPOLDINA – Só a sua amante deve ter entrado aqui, não,
Levi?
LEVI NÃO RESPONDE DE IMEDIATO. PARECE ESTAR MEDITANDO

NAS PALAVRAS DE LEOPOLDINA.
LEVI – Eu acho que não.

LEOPOLDINA – Não é querendo reatar nosso casamento, de
forma alguma... Mas vindo de onde ela vem, não seria nada
estranho se ela por acaso... Roubasse alguma joia para usar em
algum espetáculo ou vender, quem sabe/
LEVI – [a interrompe, bravo] Já terminou de arrumar suas
coisas?
LEOPOLDINA – [irônica] Já! [para a criada] Vá chamar os
carregadores e um mensageiro, por favor.
A CRIADA SE RETIRA SEM DIZER UMA PALAVRA. LEVI SAI LOGO

DEPOIS, MUITO BRAVO.
CORTA PARA
CENA 27. RUA ESTREITA. EXT. DIA
É A MESMA RUA ONDE SE ENCONTRA O “TABELIÃO”.

MOVIMENTO FRAQUÍSSIMO, ALGUNS BÊBADOS JOGADOS NA
CALÇADA.
DANIELA E FERNANDO ENTRAM NESSA RUA, CARREGANDO OS
PACOTES ROUBADOS NA NOITE ANTERIOR. ELA VAI NA FRENTE,
DEMONSTRANDO QUE CONHECE BEM O LUGAR.
FERNANDO – Você já esteve aqui antes?

DANIELA – Já.
FERNANDO – E o que uma mulher tem para fazer aqui?
DANIELA – Vinha por causa de um amante que tive; o sujeito
que estragou a minha vida.
ELES CONTINUAM ANDANDO, SEM CONVERSAR.
CORTA PARA
CENA 28. TABELIÃO. INT. DIA
POUCAS PESSOAS SENTADAS EM BANQUINHOS POR ALI,

CONTANDO DINHEIRO, TROCANDO OBJETOS. AGUSTIN
ENCOSTADO NO BALCÃO, PASSA PARA O TABELIÃO UMA
SACOLA, DE ONDE ESTE RETIRA AS JOIAS.
TABELIÃO – Autênticas?
AGUSTIN – Naturalmente. E tem muito mais de onde saíram
essas.
O HOMEM COMEÇA A ANALISAR PEÇA POR PEÇA, SOB O OLHAR

DE AGUSTIN, ENTRE APREENSIVO E INQUISIDOR. DANIELA E
FERNANDO ENTRAM NO LOCAL.
DANIELA – Espere aqui na porta, eu vou negociar com o

tabelião.
FERNANDO – Tem certeza de que não quer que eu faça isso?
DANIELA – Eu conheço o homem, não vou me deixar
enganar. Em poucos minutos teremos dinheiro mais que
suficiente para sumir daqui.
CONFORMADO, FERNANDO FICA AGUARDANDO À PORTA

ENQUANTO DANIELA SE DIRIJE AO BALCÃO. PÁRA BEM AO LADO
DE AGUSTIN, MAS PARECE NÃO PERCEBÊ-LO; E ELE TAMBÉM
NÃO A NOTA. O TABELIÃO AINDA CONCENTRADO NA ANÁLISE
DAS JOIAS.
DANIELA – Bom dia, senhor Tabelião.
AGUSTIN E O TABELIÃO VOLTAM SEUS ROSTOS PARA A RECÉM-

CHEGADA, MUITO SURPRESOS.
CORTA PARA
CENA 29. SOLAR WHITFORD. SALA. INT. DIA
TODA A COMPANHIA REUNIDA, PRONTA PARA ENSAIAR. ARTHUR

ESTÁ EM PÉ, COMANDANDO TUDO; ENQUANTO OS OUTROS SE
ENCONTRAM SENTADOS.
ARTHUR – Nós estamos com uma atriz a menos, mas vamos
começar a ensaiar assim mesmo. As cenas que seriam feitas
com Sarah nós vamos ensaiar mais tarde; e caso não
encontremos ninguém que possa substituí-la, vamos cortar a
personagem e pronto.
SIMONE – Eu acho que não devíamos cortar, mas dar outro
jeito... Essa personagem é muito importante para a história, eu
acho.
ARTHUR – Não estou dizendo que vamos cortá-la agora de
uma vez. O que eu quero dizer é/
LEVI ENTRA SEM SE FAZER ANUNCIAR. ARTHUR DEMONSTRA

NÃO TER GOSTADO NADA DA INVASÃO.
ARTHUR – Bom dia, Levi. Caso não tenha notado, estamos

ocupados.
LEVI – O que tenho a dizer é muito breve, Arthur. [T] Simone,
eu só quero saber uma coisa. Você por acaso pegou uma caixa
de joias dentro do meu escritório?
NO MESMO INSTANTE, SIMONE LEVANTA, E ENCARA LEVI,

EXTREMAMENTE OFENDIDA.
[Fim do capitulo]

O Capitão Fracasso 35

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O Capitão Fracasso 35

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1 O Captião Fracasso | Capítulo 35

CONTINUAÇÃO DA CENA FINAL DO CAPÍTULO ANTERIOR.

DANIELA – Vou dar um jeito de fugir da casa do doutor

ELES SE DESPEDEM COM UM BEIJO RÁPIDO E ELA SAI. ELE SAI EM

CENA 02. MILLSHIRE. EXT. DIA/NOITE

TAKES DA MOVIMENTAÇÃO DA CIDADE AO LONGO DO DIA. A

CENA 03. CASA DO DR. LOMBARDI. QUARTO DELE. INT. NOITE

DR. LOMBARDI – Calma, querida! Sou eu.

ELE A BEIJA NO ROSTO E SAI. DANIELA CONTINUA OLHANDO

CENA 04. CASA DO DR. LOMBARDI.ANTESALA. INT. NOITE

SÍLVIO ESTÁ SENTADO À UMA POLTRONA, COMENDO UM

CRIADA – Senhor Sílvio, o Senhor Levi Bronkhart está aí fora

A CRIADA SAI E VOLTA TRAZENDO LEVI. ELE E SÍLVIO SE

LEVI – Como tem passado, Sílvio?

ELES SE DESPEDEM COM OUTRO APERTO DE MÃO E LEVI SAI.

CENA 05. SOLAR BRONKHART. EXT. NOITE

TAKE DE LOCALIZAÇÃO. SONOPLASTIA: Jogo 1 – Edu Lobo.

CENA 06. SOLAR BRONKHART. CHALÉ. SALA DE JANTAR. INT.

SÉRGIO E SARAH ESTÃO JANTANDO. ELA PARECE BEM

SÉRGIO – O que há com você hoje?

SÉRGIO LARGA A FACA SOBRE A MESA, ABSOLUTAMENTE

NA EXPRESSÃO DIABÓLICA DE SARAH,

CENA 07. MILLSHIRE. EXT. NOITE/DIA

TOMADAS DA CIDADE DURANTE A MADRUGADA E COMEÇO DO

CENA 08. IGREJA. INT. DIA

FERNANDO AJOELHADO NUM DOS ÚLTIMOS BANCOS DA IGREJA.

ELA ABRE UMA PEQUENA BOLSA, TIRANDO VÁRIAS NOTAS DE

FERNANDO – Quanto tem aí?

CENA 09. RUA. EXT. DIA

DANIELA E FERNANDO ACABAM DE SAIR DA IGREJA,

FERNANDO – O que houve agora?

ELES CONTINUAM ANDANDO. AGORA É BEATRIZ QUEM SAI DO

BEATRIZ – Olá. Lembra de mim?

DANIELA OLHA BEM PARA BEATRIZ E TENTA SUFOCAR A

DANIELA – Não acredito! Não acredito que você/

TRISTE, FERNANDO SE AFASTA ARRASTANDO DANIELA. ELE

DANIELA – Eu também não queria um amor manchado de

ELA PÁRA EM UMA ESQUINA E SE ENCOSTA NA PAREDE.

DANIELA – Vai comprar nossas passagens, eu espero aqui.

ELE SEGUE CAMINHANDO SOZINHO, ENQUANTO ELA ESPERA.

CENA 10. ALBERGUE. SAGUÃO. INT. DIA

ESMERALDA ESTÁ ATRÁS DO BALCÃO, SEPARANDO A

CLARICE – Bom dia?

ESMERALDA PASSA O ENVELOPE ÀS MÃOS DA AMIGA, QUE OLHA

CLARICE – Veio do Palácio de Buckingham. Seu Horácio está

ESMERALDA GUARDA O RESTO DAS CARTAS E SOBE COM

CENA 11. ALBERGUE. QUARTO DE ESMERALDA. INT. DIA

AS MOÇAS ENTRAM E SENTAM NA CAMA; ESMERALDA COLOCA

ESMERALDA – Não estou reconhecendo esse caderno.

ELA ABRE O DIÁRIO E O FOLHEIA.

ESMERALDA – Puxa, não me lembrava! Foi muito bom você

CLARICE OLHA PARA ESMERALDA COM UM POUCO DE ESPANTO.

CLARICE – Por que você diz isso?

CLARICE ABAIXA A CABEÇA, ABAFANDO O RISO.

ESMERALDA – E do que você ri?

ESMERALDA OLHA BEM SERIAMENTE PARA A AMIGA. AS DUAS

ESMERALDA – Não, não é só isso.

OUTRO INSTANTE DE SILÊNCIO.

ESMERALDA – E se a senhorita não quiser falar, descobrirei

ELA SAI CORRENDO. CLARICE SAI ATRÁS.

CENA 12. ALBERGUE. CORREDOR. INT. DIA

ESMERALDA DESCE AS ESCADAS CORRENDO, E CLARICE SEMPRE

CLARICE – Ah, vá, Clarice. Ela só vai contar para Sílvio e se

CENA 13. RUA. EXT. DIA