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Introdução
Os ameríndios calculados em 42 milhões à época do descobrimento da América, ou
seja quase o mesmo número de europeus, não passam atualmente de alguns milhares
(cerca de 300.000), principalmente na região amazônica.
Ignorados pelas culturas e países dominantes, estão desesperadamente enfrentando o maior de
seus desafios: preservar os seus últimos recursos territoriais e barrar o avanço da devastadora e
insensível civilização dos não-índios, como eles nos denominam.
Depois de viverem em harmonia com os recursos naturais, viram iniciar o declínio de sua nação,
pois nestes quatro séculos milhões foram mortos pelos conquistadores em busca de ouro, milhões
morreram pela ganância sobre suas terras. No correr do final deste século, devido ao extrativismo
da madeira, com certeza milhares serão mortos, pois sem as florestas não sobreviverão. Só na
primeira metade deste século o Brasil perdeu 87 tribos, segundo o Worldwatc Institute (Qualidade
de vida. 1993, Lester R.Brown, org., ed.Globo,p.120) e há poucos anos mais de 100 mil indígenas
foram exterminados na Guatemala(ob.cit.), só para citar alguns exemplos.
Apesar da situação e dos direitos indígenas terem sido discutidos na Conferência sobre
Desenvolvimento e Meio Ambiente,a Rio 92, bem como objeto de estudos e recomendações na II
Conferência Mundial de Direitos Humanos, de Viena, 1993, que incluiu deste grupo entre os
vulneráveis; apesar de muitas ONGs estarem trabalhando para sua preservação, além do art.231
de nossa Constituição Federal reconhecer as culturas indígenas e determinar a sua proteção pela
União, pouco se tem feito efetivamente para protegê-los.
Nos últimos anos a questão indígena tem tomado vulto no Brasil, principalmente pela crescente
importância da Amazônia como um dos últimos redutos naturais da Terra, ainda pouco explorado.
Na verdade, a discussão sobre a política indigenista e o próprio índio só tiveram esta crescente
importância devido as especulações econômicas que se começa a visualizar na região amazônica.
O que é lastimável, pois a situação e o destino de milhares de silvícolas só passaram a ter atenção
da mídia e da sociedade como um todo a partir do desenvolvimento dos interesses econômicos.
Agora discuti-se o tamanho das reservas indígenas, notadamente do Yanomanis, com muitos
interessados em reduzi-las sob o pretexto de que eles não necessitam de tanta terra. Na verdade
há grandes interesses econômicos que recaem em suas terras. Assim, a questão indígena ainda
está longe de ter o reconhecimento da sociedade brasileira a atenção que merece.
Proteção jurídica
Segundo dispões o artigo 3º da Lei 6.001/73 (Estatuto do Índio), índio ou silvícola "é todo
indivíduo de origem e ascendência pré-colombiana, que se identifica e é identificada como
pertencente a um grupo étnico cujas características culturais o distinguem da sociedade nacional".
Os índios são considerados como (art. 4º):
I. Isolados - quando vivem em grupos desconhecidos ou de que se possuem poucos e
vagos informes através de contatos eventuais com elementos da comunidade nacional;
II. Em vias de integração- quando em contato intermitente ou permanente com grupos
estranhos, conservam menor ou maior parte das condições de sua vida nativa, mas aceitam
algumas práticas e modos de existências comuns aos demais setores da comunidade nacional, da
qual vão necessitando cada vez mais para o próprio sustento;
III. Integrados - quando incoporados à comunidade nacional e reconhecidos no pleno
exercício dos direitos civis ainda conservem usos, costumes e tradições características de sua
cultura.
São eles considerados pela legislação brasileira como relativamente incapazes nos termos do
artigo 6º, III do Código Civil, e assim devem ser tutelados pelo Poder Público em todas as suas
esferas (art. 7º, Lei 6001/73) que deve protegê-lo, bem como as comunidades indígenas
preservando seus direitos (art. 2º, da lei em questão).
A Constituição Federal do Brasil reconhecendo as diferenças culturais indígenas, assegura aos
índios o direito de manterem sua cultura, identidade e coloca como dever do Estado a sua
proteção (art. 231). Assim é de responsabilidade do Estado a existência, a manutenção e a
integridade das comunidades indígenas.
Quanto às suas terras o § 2º, do art. 231 da Constituição Federal diz que: "as terras
tradicionalmente ocupadas pelos índios destinam-se a sua posse permanente, cabendo-lhes o
usufruto exclusivo das riquezas dos solos, dos rios e dos lagos nelas existentes".
Já o artigo 17 do Estatuto dos Índios diz que são terras indígenas:
- as terras ocupadas ou habitadas pelos silvícolas;
- as áreas reservadas; e
- as terras de domínio das comunidades indígenas ou de silvícolas.
As terras indígenas não podem ser objeto de arrendamento ou de qualquer ato ou negócio
jurídico que restrinja o pleno exercício da posse direta pela comunidade indígena ou pelos
silvícolas (art. 18, Estatuto do Índio).
Competência Legislativa: compete privativamente à União legislar sobre populações indígenas
(art. 22 CF).
Competência Jurisdicional: compete aos juízes Federais processar e julgar a disputa sobre direitos
indígenas (art. 109 CF).
Defesa dos Índios: é função institucional do Ministério Público defender judicialmente os direitos e
interesses das populações indígenas (art. 129 CF).
Legislação:
Índios isolados
O Brasil é talvez o único país do mundo onde talvez existam comunidades indígenas
que vivam isoladas das sociedades chamadas "civilizadas".
São diversos grupos e subgrupos indígenas que representam doze povos distintos, e que se
constituem em um dos maiores patrimônios culturais da humanidade, ante a sua importância em
termos de história antropológica.
Esses grupos indígenas vivem na região conhecida como do Rio Javarí, Amazonas com divisa
com o Peru, sendo que no último censo demográfico realizado na região revelou uma população
de 3.858 índios (Instituto Socioambiental, Povos Indígenas no Brasil- 1991/1995, p. 335).
Os índios isolados, sua cultura e suas comunidades são, sem sombra de dúvida, formadores do
patrimônio nacional, o qual é protegido constitucionalmente (art. 216 CF), o que os coloca no rol
dos bens difusos a serem protegidos pela ação civil pública (Lei 7.347/85). Aliás, no caso, pela sua
condição ímpar, são mais do que isso, pois suas comunidades e formas de cultura representam um
patrimônio da humanidade e sua proteção deve ter a atenção internacional através de medidas
administrativas e políticas, além se ajuda monetária de entidades de caráter humanitário.
Portanto, considerando-se os aspectos culturais e étnicos dos índios arredios e a legislação
citada, podemos concluir que possuem eles um verdadeiro direito ao isolamento. Direito esse que
se deve ser observado e garantido pelo Estado. Não lhes pode ser negado o direito de viverem
como comunidades independentes dentro de seus territórios, dos quais têm a posse há milhares
de anos, posse essa também garantida por lei. Dessa forma, a política indigenista brasileira deve
observar o direito dos índios isolados, para que eles possam viver tranqüilos e culturalmente
íntegros e suas florestas nos confins do mundo.
Conclusão
Refletindo sobre o tema podemos concluir que sem conscientização das autoridades
em todos os níveis e poderes, vontade política e sem uma legislação realmente
protetiva e efetivamente aplicada, as comunidades indígenas estarão fatalmente serão
exterminados pela ganância desenvolvimentista.
Bibliografia