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ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO HUMANO

1º Noruega (Europa)

173º Serra Leoa (África)

Crescimento do IDH desacelerou


Apesar de o Brasil ter subido duas posições no ranking mundial de desenvolvimento humano,
divulgado ontem em Brasília, o país ainda está entre os que não conseguem de forma
adequada transformar melhoria de renda da população em bem-estar social.

Dados do Relatório de Desenvolvimento Humano de 2002, divulgado pelo Pnud (Programa das
Nações Unidas para o Desenvolvimento), mostram que o crescimento do IDH (Índice de
Desenvolvimento Humano) brasileiro nos últimos cinco anos desacelerou. No período do
governo Fernando Henrique Cardoso (1995 e 2000), o crescimento do IDH foi de 2,7% nos
cinco anos. Entre 1990 e 1995, havia crescido 3,4% no período. Nos cinco anos anteriores,
aumentou 3,0%.

A melhora do poder de compra da renda per capita do país fez com que o Brasil passasse do
75º lugar para 73º no ranking mundial de desenvolvimento humano entre 1999 e 2000. O
ranking de 173 países é baseado no IDH, que leva em conta, com pesos iguais, um indicador
de expectativa de vida, uma medida educacional baseada na alfabetização e no nível de
matrículas e um cálculo do poder de compra do PIB (Produto Interno Bruto) per capita.

No caso do Brasil, o IDH passou de 0,753 em 1999 para 0,757 em 2000 e se manteve no
patamar “médio” de desenvolvimento humano, mas abaixo da média da América Latina e
Caribe, que foi de 0,767. O Brasil chega a melhorar de posição ficando na 60º colocação entre
os 173 pesquisados se for considerado o ranking da renda per capita ajustada pelo poder de
compra. Isso significa que não houve melhoria equivalente no bem-estar social da população.
A discrepância entre o ranking da renda per capita e o do IDH no Brasil só é maior do que a
dos países produtores de petróleo, “onde um PIB per capita alto convive com baixas taxas de
alfabetização e expectativa de vida mais curta do que a média de países de renda
equivalente”. Em outros dois pontos – longevidade e educação –, o PNUD aponta o alto
“estoque” de analfabetos e a “baixa esperança de vida” do país.

Considerando apenas a taxa de alfabetização dos maiores de 15 anos – 85,2% - o país ficaria
em 96º lugar. Segundo o PNUD, o progresso de 10% nessa medida desde 1985 permitiu a
“ultrapassagem” por países como o Líbano. O outro índice educacional, a taxa bruta de
matrículas escolares alavanca o Brasil. Nesse quesito o país é o 43º do mundo.

A defasagem da expectativa de vida do brasileiro, com relação à riqueza nacional, é uma das
mais altas do mundo, para o Pnud. Em 103º lugar nesse índice, o país fica abaixo de países
que tem metade da renda per capitã, como Filipinas. Em 2000, o brasileiro tinha 11,3% de
chance de não chegar aos 40 anos. O Pnud aponta como fatores que explicam a baixa
longevidade à mortalidade infantil (32 óbitos por mil nascidos vivos, a 93º menor do mundo)
e ao crescimento das mortes violentas.

Revisão do IDH
Devido à inclusão de 11 novos países no ranking do relatório deste ano, a situação de todos
os países no relatório do ano passado (relativo a 1999) foi revisada para permitir a
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comparação direta com os resultados deste ano.

No caso do Brasil, que estava na 69ª colocação de um total de 162 países, o IDH de 1999
passou de 0,750 para 0,753. Com isso, ficou na 75ª posição de um total de 173 países.
Segundo o Pnud, a possibilidade de comparação é assegurada porque são usados dados do
mesmo ano para todos os países, mesmo que existam medidas, mas atualizadas para alguns
países. Além disso, as informações são ajustadas para eliminar as variações metodológicas de
cada país.

Outra maneira de comparar com o ano passado é eliminar do ranking os 11 novos países.
Dessa forma, a colocação brasileira teria melhorado de 69ª para 67ª.

O QUE É IDH
• O IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) é um indicador elaborado pela ONU que mede a
qualidade de vida das pessoas em vários países – no relatório deste ano, são 173.
• O economista Amartya Sem, que recebeu o prêmio Nobel de Economia em 1998, um dos
criadores do IDH, aperfeiçoou sua metodologia em 1999.
• O IDH se baseia no fato de que o desenvolvimento de uma nação não pode ser medido de
forma unilateral, levando em conta somente a dimensão econômica.
• Além de computar o PIB “per capita” (em dólares e ajustado pelo poder de compra no país”,
o IDH incorpora outros dois indicadores da qualidade de vida, a saúde e a educação. Os três
têm o mesmo peso no cálculo do índice.
• Para medir o grau de saúde utiliza-se a esperança de vida ao nascer, em anos. Para
mensurar o nível educacional, emprega-se uma taxa de matrícula combinada (peso 1/3) e a
taxa de alfabetização de pessoas com 15 anos ou mais (peso 2/3).
• Após a apuração dos dados estatísticos de cada país, é feito uma média geral dos três
índices (IDH-Renda, IDH-Saúde e IDH-Educação), cujo resultado varia de 0 a 1.

O Relatório-2002 é apelo por maior democracia


O Relatório do Desenvolvimento Humano – 2002, divulgado ontem, não precisa de mais do
que os dois primeiros períodos da introdução para dizer claramente qual é o seu enfoque:

“Este relatório do Desenvolvimento Humano é, antes e acima de tudo, a respeito da idéia de


que a política é tão importante para o desenvolvimento bem-sucedido quanto a economia. A
redução sustentada da pobreza requer crescimento eqüitativo – mas requer também que os
pobres tenham poder político”.

Simples, claro e direto ao ponto, mas nem por isso menos polêmico, como o próprio relatório
admite. No fundo, o texto recupera as idéias que deram ao indiano Amartya Sem o Prêmio
Nobel de Economia em 98. Sen diz que democracia faz bem à saúde da economia e da
população em geral.

Argumenta que cerca de 10% da população da ditatorial Coréia do Norte morreram de fome
aguda desde 95, ao passo que a democrática Índia passou por várias frustrações de safra,
desde a independência em 47, mas nunca enfrentou fome em grande escala.

Se há, de fato, essa correlação entre democracia e desenvolvimento humano, o mundo hoje
deveria estar bem melhor do que há 20 anos. Afinal, diz o relatório, nos anos 80 e 90 “o
mundo fez dramáticos progressos na abertura dos sistemas políticos e na expansão das
í
liberdades políticas”.

Em números: 140 dos quase 200 países do mundo


têm eleições multipartidárias. O que falhou, então? ”
A democracia não entregou [as benesses
prometidas].”

O Brasil é comparado a outro país latino-americano


bem mais pobre, a Costa Rica. “A Costa Rica, o país
latino-americano de democracia mais estável,
alcançou 1,1% de crescimento da renda per capitã
anual, entre 75 e 2000, mais rápido do que a média
regional de 0,7% e goza da mais eqüitativa
distribuição de renda, educação e saúde”, diz o
texto.

“Mas no Brasil a democracia coexiste com desigualdades econômicas e sociais que estão entre
as maiores do mundo.”

A agenda desenhada pelo PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento),
responsável pelo relatório, é exatamente mais democracia ou, o que dá no mesmo, melhor
governança, interna e globalmente.

A definição para boa governança é abrangente e exigente: “não se trata apenas de os juízes
serem treinados, mas se eles observam o devido processo legal e são cegos às diferenças de
raça e de classe. Não se trata apenas de escolas secundárias serem construídas, mas se os
estudantes em áreas pobres são tão bem equipados quanto estudantes nas áreas ricas”.
Aprofundar a democracia, para o estudo, poderia criar “um círculo virtuoso de
desenvolvimento na medida em que a liberdade política equipa as pessoas para pressionar por
políticas que expandam as oportunidades econômicas e sociais e em que o de bate aberto
ajuda as comunidades a determinas suas prioridades”.

O Brasil volta a aparecer, agora como menção positiva. No caso, o orçamento participativo
adotado pelo PT em Porto Alegre, que, diz o texto, “ajudou a realocar gastos para prioridades
críticas para o desenvolvimento humano.

Obstáculos
O aprofundamento da democracia, admite o documento, colide com duas realidades. Primeiro,
financiamento de campanhas políticas. O relatório cita o caso de Michael Bloomberg, prefeito
de Nova York que gastou US$ 17 milhões de seu principal oponente.

Segunda realidade: “os partidos políticos estão em declínio em muitas partes do mundo”.

Mas há “novos meios de o povo participar no debate ou atividades públicas”. No lado mais
promissor, dois grandes destaques: a “explosão” no número de ONGs, que eram apenas 1083
em 1914, e, em 2000, já haviam pulado para 37 mil – considerando apenas as que têm ação
internacional. O Brasil é de novo menção positiva com suas 210 mil ONGs.

Segundo ponto positivo: o fortalecimento da mídia independente. O relatório atribui a


transparência das eleições de 2000 em Gana, país de escassa tradição democrática, aos
esforços de estações privadas de rádio. Mas, neste capítulo, há um lado inquietante, dado
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pela concentração da propriedade. No Reino Unido, por exemplo, quatro grupos são donos de
85% dos jornais diários.

Tudo somado, o relatório é um apelo para que a democracia seja “um conjunto de princípios e
valores básicos que permita às pessoas pobres ganhar poder por meio da participação, ao
mesmo tempo em que são protegidas de ações arbitrárias sobre suas vidas de governos,
corporações multinacionais e outras forças.

Progresso global
•Desde 190, 81 países tomaram medidas rumo à democratização com a queda de 33 regimes
militares

• Hoje, 140 dos cerca de 200 países do mundo já realizam eleições multipartidárias

Fragmentação global
• Das 81 novas democracias, apenas 47 são totalmente democráticas

• Apenas 82 países, que reúnem 67% da população mundial, são inteiramente democráticos.

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