De acordo com a teoria marxista, a ditadura do proletariado é a etapa de Os anos que se seguiram á Primeira Guerra Mundial trouxeram á Europa
transição entre a sociedade capitalista e a edificação do comunismo (sociedade profundas dificuldades económicas e financeiras. Esta situação leva a um
sem classes). No decurso dessa etapa, o proletariado (classe dominante), deveria descontentamento generalizado que se traduz em greves e o espírito
“abater os opressores”, retirando todo o capital á burguesia, centralizando os revolucionário estende-se por todo a Europa, isto é, o desespero das populações
meios de produção nas mãos do Estado. Assim se chegaria a um ponto onde já perante a crise leva à procura de novas soluções politicas e à adesão de
não havia desigualdade social, e o Estado (sendo um instrumento de domínio), projectos políticos extremistas, quer de esquerda, quer de direita: Os
deixaria de fazer sentido e cessaria de existir, e aí tornar-se-ia possível falar de partidos de esquerda intensificavam a sua acção, denunciando os males do
liberdade. A ditadura do proletariado é uma etapa imprescindível para a capitalismo. Na Alemanha, proclamou-se “uma república socialista”. Mesmo na
construção de uma sociedade comunista, marcada pela supressão do Estado e França, na Grã-Bretanha e na Itália, a onda revolucionária de esquerda se fez
pela eliminação da desigualdade social. A etapa final é então o comunismo. sentir, inspirada pela III Internacional de Moscovo fundada em 1919 (que defendia
Comunismo Etapa final da revolução proletária que se caracteriza pela a união do operariado a nível internacional, impondo o socialismo no mundo).
extinção do Estado e pelo desaparecimento das classes sociais. O conjunto Estes acontecimentos denunciavam as democracias liberais e a sua
de medidas que conduziram á instauração da ditadura do proletariado denomina- incapacidade em resolver os problemas económicos e sociais. No entanto, em
se de comunismo de guerra (assim chamado devido ao facto de ter sido países como a Alemanha e a Itália, o medo ao bolchevismo levou a que se
instaurada durante a guerra civil, 1918-1921). O comunismo de guerra sucedeu à apoiasse soluções politicas de extrema-direita, levando à adesão de regimes
democracia dos sovietes, substituindo os decretos revolucionários por novas autoritários e fascistas (Jamais poderia agradar o controlo operário da produção
medidas, mais radicais. toda a economia foi nacionalizada (fazendo parte do à burguesia). A emergência dos autoritarismos, confirmava a regressão do
Estado); institui-se um regime de partido único, o Partido Comunista; demoliberalismo.
O Terror institucionalizou-se com o estabelecimento da censura e a criação
da Tcheca, policia politica.
Mutações nos comportamentos e na cultura As
O centralismo democrático transformações da vida urbana
No início do século XX, havia cerca de 180 grandes núcleos urbanos (Londres, O Positivismo impusera a ideia de que a ciência tinha a resposta para todos os
Paris, Moscovo, etc.). Esta crescente concentração populacional provocou problemas da Humanidade. Mas, no início do século XX, verifica-se uma reacção
significativas alterações na vida e nos valores tradicionais, ou seja, um novo anti-racionalista e anti-positivista, devido às teorias de alguns cientistas face à
modo de viver e de conviver no meio da multidão. Adquire-se novas formas de ciência (propunham o relativismo cientifico, segundo o qual a ciência não
sociabilidade, tendo o crescimento urbano originado a criação de novos atinge o conhecimento absoluto): a teoria do intuicionismo, de Bergson,
comportamentos que se massificaram (isto é, generalização dos mesmos hábitos que defende que o conhecimento não era através da evidencia racional mas sim
e gostos). A racionalização e a redução do tempo de trabalho, assim como a pela intuição; a teoria da relatividade, de Einstein, que demonstra que o
melhoria do nível de vida permitiram dispor de dinheiro e tempo para o espaço, o tempo e o movimento não são absolutos, mas relativos entre si (por
divertimento e prazer, fazendo com que a convivência entre os sexos se exemplo, a massa do corpo depende do movimento); a teoria quântica, de
tornasse mais ousada e livre (que rompia completamente com as antigas regras Max Planck, que defende a existência de unidades mínimas de matéria que
sociais). Adere-se à prática do desporto e ao uso do automóvel. não se rege por leis rígidas (o que permitiu explicar o comportamento dos
átomos); a teoria psicanalítica, de Sigmund Freud, que explicava que as
A crise dos valores tradicionais neuroses (qualquer desordem mental) são resultado de traumas, feridas, isto é,
impulsos, sentimentos, desejos, instintos naturais aprisionados no inconsciente.
Criou um método terapêutico (psicanálise) que consistia em libertar o paciente
Os tempos de optimismo, de confiança na paz, na liberdade, no progresso e
dos seus recalcamentos (traumas), procurando trazê-los à consciência através da
bem-estar que caracterizaram a viragem do século, ruíram subitamente com o
interpretação de sonhos. Todas estas novas teorias põem em causa as
eclodir da Primeira Guerra. A morte de milhões de soldados, a miséria e a
“verdades absolutas” que sustentavam o positivismo, influenciando os
destruição visíveis gerou um sentimento de desalento e descrença no futuro,
comportamentos no quotidiano, pois nada mais é visto como absoluto mas como
que afectou toda a sociedade. Por outro lado, a massificação urbana, a laicização
questionável e discutível. Corrente artistica
social que terminara com a influência da Igreja, e as novas concepções científicas
e culturais são igualmente responsáveis pela ruptura no padrão de valores e
comportamentos sociais tradicionais. Deu-se uma profunda crise de
consciência, que atinge toda a conduta social, falando-se assim duma anomia
social (ausência de regras sociais). Esta crise de valores acentuou ainda mais as
mudanças que já estavam em curso.
A emancipação da mulher
CARÁCTER INTERVENCIONISTA A estabilidade financeira tornou-se numa Conferência de Ialta (Fevereiro de 1945)
prioridade. O Estado Novo apostou num modelo económico fortemente Proposta de criação de uma organização mundial que fomentasse a
intervencionista e autárquico, que se fez sentir nos vários sectores da cooperação entre os povos, que seria a ONU (Organização das Nações Unidas);
economia:
Agricultura (Portugal era um país maioritariamente rural, assim, pretendia-se Desmembramento da Alemanha e confiá-la aos Aliados, consequentemente
tornar Portugal mais independente da ajuda estrangeira, criando-se incentivos à destruindo o regime nazi (estabelecimento da democracia na Europa) e
especialização em produtos como a batata, vinho, etc. Um grande objectivo de imposição à Alemanha o pagamento das reparações da Guerra;
Salazar, era tornar a economia portuguesa isolada de possíveis crises
económicas externas. A construção de barragens levou a uma melhor irrigação dos
Definição das fronteiras da Polónia.
solos.) Indústria (A indústria não constitui uma prioridade ao Estado Novo. O
condicionamento industrial consistia na limitação, pelo Estado, do nº de empresas
Conferência de Potsdam (Julho de 1945), com o objectivo de confirmar as
existentes e do equipamento utilizado, pois a iniciativa privada dependia, em larga
resoluções em Ialta
medida, da autorização do Estado. Funcionava assim, como um travão á livre-
Confirmação da “desnazificação” e a divisão em 4 partes (pela URSS, EUA,
concorrência. Mais do que o desenvolvimento industrial, procurava-se evitar a
Inglaterra e França) da Alemanha e da Áustria
sobre produção, a queda dos preços, o desemprego e agitação social.)
Obras Públicas (tinha como principal objectivo o combate ao desemprego
e a modernização das infra-estruturas do país. A intervenção activa do Estado Detenção dos criminosos de guerra nazis, que eram julgados no Tribunal de
fez-se sentir através da edificação de pontes, expansão das redes telegráfica e Nuremberga;
telefónica, obras de alargamento nos portos, construção de barragens, expansão
da electrificação, construção de edifícios públicos (hospitais, escolas, tribunais), Especificação das indemnizações à Alemanha, isto é, o tipo e o montante.
etc. A política de construção de obras públicas foi aproveitada (politicamente) para
incutir no povo português a ideia de que Salazar era imprescindível à No final do conflito, estava definido um novo mapa político europeu, marcada
modernização material do País. pela emergência de duas grandes potências, vencedoras da Guerra, perante
uma Europa destruída e desorganizada, emergindo, então, um novo desenho
geopolítico que se sustenta na formação de definição de duas grandes áreas
de influência: a área soviética (URSS) e a área americana (EUA). A divisão da
Europa reforçou a desconfiança e conduziu ao endurecimento de posições entre os O TEMPO DA GUERRA FRIA – A CONSOLIDAÇÃO DE UM
dois blocos geopolíticos, que marcaria o período da Guerra Fria. A ruptura entre
MUNDO BIPOLAR
os EUA e a URSS deveu-se à extensão da influência soviética na Europa de
Leste, ou seja, a extensão do comunismo provocou a crítica das
democracias da Europa Ocidental e dos EUA. Churchill utilizou a célebre “Guerra Fria” é a expressão que se atribui ao clima de tensão político-
expressão “cortina de ferro” para se referir ao isolamento da Europa de Leste, ideológico que no final da Segunda Guerra Mundial se instalou entre as duas
que estavam fechados ao diálogo com as democracias ocidentais. – superpotências (EUA e URSS), e que se estende até ao final da década de 80. No
entanto, nunca houve um conflito directo, caracterizando-se apenas pela corrida
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS aos armamentos, ameaças e movimentos de espionagem, conflitos locais, etc. Era
uma “guerra de nervos”, sustentada pelo antagonismo de duas concepções
A ONU foi criada em 1945, segundo o projecto de Roosevelt. Na Carta das Nações diferentes de organização política (EUA – Liberalismo/Capitalismo; URSS –
Unidas estão contidos os objectivos que presidiram à sua criação: Socialismo/Comunismo). Assim, no tempo da Guerra Fria, assistiu-se á
Manter a paz e a segurança internacionais (para evitar novos conflitos), consolidação de um mundo bipolar. De um lado, um bloco liderado pelos
desenvolver relações de amizade entre as nações (baseada no principio de EUA, politicamente adepto da democracia liberal, pluripartidária e
igualdade entre os povos), realizar a cooperação internacional (para promover economicamente defensor do modelo capitalista (assente na livre iniciativa e na
e estimular o respeito pelos direitos humanos) e harmonizar os esforços das livre concorrência). Do outro lado, o bloco liderado pela URSS, defensora do
nações para concretizar estes objectivos (servir como mediador) regime socialista, cujo modelo económico assentava nos princípios da
colectivização e planificação estatal da economia.
- AS NOVAS REGRAS DA ECONOMIA INTERNACIONAL
O mundo capitalista Política de alianças O acentuar das tensões
Havia consciência de que estava eminente uma grave crise económica, pois os políticas conduziu á formação de alianças militares que simbolizaram o
países europeus encontravam-se arruinados e desorganizados. Assim, em 1944, antagonismo militar, ou seja, os EUA e a URSS procuraram estender a sua
na Conferência de Bretton Woods, um grupo de economistas reuniu-se a fim de influência ao maior número possível de países. Criou-se a Organização do
estabelecer uma nova ordem económica e financeira internacional e relançar o Tratado do Atlântico Norte (OTAN), liderado pelos EUA (sendo o objectivo
comércio com base em moedas estáveis. As principais directrizes económicas que principal a segurança colectiva, isto é, ter a capacidade de resposta perante a um
resultaram da conferência foram: ataque armado) e, em resposta, foi constituído o Pacto de Varsóvia, liderado
A criação do: Fundo Monetário Internacional (assistência financeira aos pela URSS, para a defesa militar do seu bloco. A prosperidade económica e a
países em dificuldades), do Sistema Monetário Internacional (que assentou no sociedade de consumo No decorrer de 25/30 anos após a guerra, os países
dólar como moeda-chave), do Banco Internacional para a Reconstrução e europeus recuperaram e viveram uma excepcional recuperação económica (a
Desenvolvimento (apoiava projectos de reconstrução das economias). produção industrial cresceu, houve uma revolução nos transportes, cresceu o
numero de empresas, a agricultura modernizou-se, o sector terciário expandiu-se,
etc.). Este desenvolvimento económico fez nascer a sociedade de consumo, isto
Apesar de todos os esforços para desenvolver a economia mundial, a Europa é, as populações são incitadas a comprar um número crescente de bens que
continuava frágil. Com receio que a crise europeia se estendesse aos EUA, os ultrapassam a satisfação das necessidades básicas (lar materialmente confortável,
americanos decidiram tomar medidas imediatas. Surge, assim, o Plano Marshall bem equipado com electrodomésticos, rádio, TV, telefone, automóveis, etc.), tudo
(1947), que consistiu na ajuda prestada pelos EUA à Europa após a Segunda isto possível devido ao pleno emprego e bons salários (resultados da
Guerra Mundial. Este programa de auxílio foi acolhido com entusiasmo pela recuperação económica). A forma que se arranjou para estimular o consumo, foi
generalidade dos países, e foi verdadeiramente essencial à recuperação através da publicidade. A afirmação do Estado-Providência A Grande
europeia, pois os países beneficiários receberam 14000 milhões de dólares. Para Depressão já tinha demonstrado a importância de um Estado económica e
operacionalizar esta ajuda, foi criada a OECE (Organização Europeia de socialmente interventivo. O Estado torna-se, por esta via, o principal agente
Cooperação Económica). Em 1949, dá-se a resposta da URSS ao Plano Marshall, económico do país, o que lhe permite exercer a sua função reguladora da
com a criação do Plano Molotov e COMECON, que estabeleceu as estruturas de economia. O país pioneiro do Welfware State, isto é, o Estado do bem-estar
cooperação económica da Europa de Leste. A divisão do mundo em dois blocos (Estado Providência), foi o Reino Unido, onde cada cidadão tem asseguradas
antagónicos consolidou-se e os tempos da Guerra Fria estavam cada vez mais as suas necessidades básicas. Ao Estado caberá a tarefa de corrigir as
próximos… desigualdades, daí o seu intervencionismo. As medidas principais do EP foram a
nacionalização da economia e o garantir de reformas que abrangesse situações
como maternidade, velhice, doenças. Este conjunto de medidas visa um duplo
objectivo: por um lado reduz a miséria e o mal-estar social; por outro,
assegura uma certa estabilidade á economia. O Estado-Providência foi um
factor da prosperidade económica.
Portugal dos países mais atrasados da Europa. O principal problema consistia na
dimensão das estruturas fundiárias, no Norte predominava o minifúndio, que
não possibilitava mecanização; no Sul estendiam-se propriedades imensas
O mundo comunista O expansionismo soviético Após a 2ª Guerra, a (latifúndios), que se encontravam subaproveitadas. O défice agrícola foi
URSS foi responsável pela implantação de regimes comunistas, inspirados no aumentando, e ao longo dos anos 60 e 70 e assistiu-se a um elevado êxodo rural
modelo soviético, por todo o mundo, ou seja, estendeu a sua influência à Europa, e emigração, pois as populações procuravam melhores condições de vida,
Ásia e África. Os países europeus que aderiram ao modelo soviético foram a condenando a agricultura a um quase desaparecimento.
Bulgária, Albânia, Roménia e Polónia. Estes novos países socialistas receberam a Face a esta situação, a partir de 1953, foram elaborados Planos de Fomento
designação de democracias populares (designação atribuída aos regimes em para o desenvolvimento industrial. O I Plano (1953-1958) e o II Plano (1959-
que o Partido Comunista, afirmando representar os interesses dos trabalhadores, 1964) davam continuidade ao modelo de autarcia e à substituição de importações,
se impõem como Partido Único, controlando as instituições do Estado). Como mas não contavam com o apoio dos proprietários. É só a partir de meados dos
resposta à OTAN, a URSS cria o Pacto de Varsóvia, com objectivos idênticos: a anos 60, com o Plano Intercalar de Fomento (1965-1967) e o III Plano
assistência mútua entre os países membros. Os países asiáticos que sofreram (1968-1973), que o Estado Novo delineia uma nova política económica: -
influência soviética foram a Mongólia, China e Coreia. O ponto fulcral da expansão Defende-se a produção industrial orientada para a exportação; - Dá-se prioridade
comunista na América Latina foi Cuba, onde um punhado de revolucionários sob à industrialização em relação à agricultura; - Estimula-se a concentração
o comando de Fidel Castro e do Che Guevara derrubaram o governo apoiado pelos industrial; - Admite-se a necessidade de rever a lei do condicionamento
EUA. Opções e realizações da economia de direcção central No final da 2ª industrial (que colocava entraves à livre concorrência. O grande ciclo salazarista
guerra, a economia soviética estava arrasada. Para afirmar o seu papel de aproximava-se do fim). No decurso do II Plano, o nosso país viria a integrar-se na
superpotência, obtido com a vitória, havia que recuperar e rapidamente. Para tal, economia europeia e mundial, integrando a EFTA, a BIRD e a GATT. A adesão a
foi recuperada a planificação económica, onde foi dado prioridade à indústria estas organizações marca a inversão na política da autarcia do Estado Novo. Esta
pesada. Assim, a URSS e os países de modelo soviético registaram um crescimento política confirmou a consolidação de grandes grupos económicos e
industrial tão significativo que ascenderam à segunda posição da indústria financeiros em Portugal e o acelerar do processo industrial.
mundial. No entanto, o nível de vida das populações não acompanhou esta
evolução económica (faltavam bens de consumo, os horários de trabalho são
excessivos, os salários são baixos, as populações amontoam-se em bairros A emigração
periféricos, etc.) No entanto, as economias de direcção central (dirigidas pelo
Estado) evidenciavam as suas debilidades: a prioridade concedida à indústria
Enquanto que nas décadas de 30 e 40 a emigração foi bastante reduzida, a
levou à falta de investimento em outros sectores; a planificação económica, o
década de 60 tornou-se no período de emigração mais intenso da nossa
“jogar pelo seguro”, reduzia certos factores importantes, como o risco no
história, pelos seguintes motivos: - a política industrial provocou o esquecimento
investimento, o que revelou ser um entrave ao progresso. Destes bloqueios
do mundo rural, logo, sair da aldeia era uma forma de fugir à miséria; - os
económicos resultou a estagnação da economia soviética. Apesar de inúmeras
países europeus que necessitavam de mão-de-obra, pagavam com salários
tentativas de a ultrapassar, estes bloqueios acabarão por conduzir à falência dos
superiores; - a partir de 61, a emigração foi, para muitos jovens, a única
regimes comunistas europeus, no fim dos anos 80. A extinção da União
maneira de não participar na guerra entre Portugal e as colónias africanas. Por
Soviética deu-se a 1991.
essa razão, a maior parte da emigração fez-se clandestinamente. O Estado
procurou salvaguardar os interesses dos nossos emigrantes, celebrando acordos
com os principais países de acolhimento. O País passou, por esta via, a receber um
PORTUGAL DO AUTORITARISMO À DEMOCRACIA montante muito considerável de divisas: as remessas dos emigrantes. Tal facto,
que muito contribuiu para o equilíbrio da nossa balança de pagamentos e
Imobilismo político e crescimento económico do pós-guerra para o aumento do consumo interno, induziu o Governo a despenalizar a
emigração clandestina e a suprimir alguns entraves.
a 1974
Politicamente, após a Segunda Guerra Mundial, Portugal manteve a mesma feição A urbanização
autoritária, ignorando a onda democrática que inundava a Europa. No que se
refere à economia, viveu-se um período conturbado na medida em que o atraso
O surto industrial traduziu-se no crescimento do sector terciário e na
do país era evidente, não acompanhando o crescimento económico do resto da
progressiva urbanização do país. Dá-se o crescimento das cidades e a
Europa, marcado pela estagnação do mundo rural e pela emigração. Por outro
concentração populacional. Em Lisboa e Porto, as maiores cidades portuguesas,
lado, também ocorreu um considerável surto industrial e urbano, e as colónias
propagam-se subúrbios. No entanto, esta expansão urbana não foi
tornaram-se alvo das preocupações. A economia manteve estruturas que
acompanhada da construção das infra-estruturas necessárias, aumentando
impossibilitaram o crescimento económico. Estagnação do mundo rural as construções clandestinas, proliferam os bairros de lata, degradam-se as
e o surto industrial Apesar da agricultura ser o sector dominante, era pouco condições de vida (incremento da criminalidade, da prostituição…). Mesmo assim,
desenvolvida, caracterizada por baixos índices de produtividade, que fazia de o crescimento urbano teve também efeitos positivos, contribuindo para a
expansão do sector dos serviços e para um maior acesso ao ensino e aos intenção de demitir Salazar caso viesse a ser eleito, fizeram da sua campanha um
meios de comunicação. acontecimento único no que respeita à mobilização popular. De tal forma que o
governo procurou limitar-lhe os movimentos, acusando-o de provocar “agitação
social, desordem e intranquilidade pública”. O resultado revelou mais uma
O fomento económico nas colónias Após a guerra mundial, o fomento vitória esmagadora do candidato do regime (Américo Tomás), mas desta vez, a
económico das colónias também passou a constituir uma preocupação ao credibilidade do Governo ficou profundamente abalada. Salazar começou a
governo. Angola e Moçambique receberam uma atenção privilegiada. Os tomar consciência de que se estava a tornar difícil continuar a enganar a opinião
investimentos do Estado nas colónias, a partir de 1953, foram incluídos nos pública. A campanha de Humberto Delgado desfez qualquer ilusão sobre a
Planos de Fomento. O objectivo desta preocupação reforçada, era mostrar à pretensa abertura do regime salazarista. Humberto Delgado foi assassinado pela
comunidade internacional que a presença portuguesa era essencial ao PIDE em 1965.
desenvolvimento desses territórios, através de medidas como a criação de infra-
estruturas, incentivos ao investimento nacional, estrangeiro e privado,
criação do EPP (Espaço Económico Português, com vista à abolição de entraves A questão colonial
comerciais entre Portugal e as suas colónias), reforço da colonização branca e Tornou-se difícil para o Governo Português manter a sua política colonial. Depois
desenvolvimento dos sectores agrícola, extractivo e industrial. da segunda guerra mundial, e com a aprovação da Carta das Nações Unidas, o
Estado Novo viu-se obrigado a rever a sua política colonial e a procurar
Aradicalização das oposições e o sobressalto político de soluções para o futuro do nosso império.
1958 Em termos ideológicos, a “mística do império” é substituída pela ideia da
“singularidade da colonização portuguesa”. Os portugueses tinham mostrado
uma grande capacidade de adaptação à vida nas colónias onde não havia racismo
Em 1945, a grande maioria dos países europeus festejavam a vitória da
e as raças se misturavam e as culturas se espalhavam. Esta teoria era conhecida
democracia sobre os fascismos. Parecia, assim, que estavam reunidas todas as como luso-tropicalismo.
condições para Salazar também optar pela democratização do país. Salazar
No campo jurídico, a partir de 1951, desaparece o conceito de colónia, que é
encenou, então, uma viragem política, aparentando uma maior abertura, a substituído pelo de província ultramarina e desaparece o conceito de Império
fim de preservar o poder: antecipou a revisão constitucional, dissolveu a Português, substituído por Ultramar Português. A presença portuguesa em África
Assembleia Nacional e convocou eleições antecipadas, que Salazar anunciou “tão não sofreu praticamente contestação até ao início da guerra colonial. Excepção
livres como na livre Inglaterra”. Em 1945, os portugueses foram convidados a feita ao Partido Comunista Português que no seu congresso de 1957 (ilegal),
apresentar listas de candidatura às eleições legislativas (para eleger os deputados reconheceu o direito à independência dos povos colonizados.
da Assembleia Nacional). A oposição democrática (conjunto dos opositores ao Entretanto, em 1961, no seguimento da eclosão das primeiras revoltas em
regime no segundo pós-guerra) concentrou-se em torno do MUD (Movimento de Angola, começam a notar-se algumas divergências nas posições a tomar sobre
Unidade Democrática), criado no mesmo ano. O impacto deste movimento, que a questão do Ultramar. Confrontam-se, então, 2 teses divergentes: a
dá início à chamada oposição democrática, ultrapassou todas as previsões. integracionista e a federalista. A 1ª defendia a política até aí seguida, lutando
Oposição Democrática Expressão que designa o conjunto de forças políticas por um Ultramar plenamente integrado no Estado português; a 2ª considerava
heterodoxas (monárquicos, republicanos, socialistas e comunistas) que, de forma não ser possível, face à pressão internacional e aos custos de uma guerra em
legal ou semi-legal, se opunham ao Estado Novo, adquirindo visibilidade, face aos África, persistir na mesma via. Defendia a progressiva autonomia das colónias
constrangimentos impostos às liberdades pelo regime, em épocas eleitorais. Para e a constituição de uma federação de Estados que garantisse os interesses
garantir a legitimidade no acto eleitoral, o MUD formula algumas exigências, que portugueses. Os defensores da tese federalista chegaram a propor ao Presidente a
considera fundamentais, como o adiamento das eleições por 6 meses (a fim de destituição de Salazar. Destituídos acabaram por ser eles, saindo reforçada a
se instituírem partidos políticos), a reformulação dos cadernos eleitorais e a tese de Salazar, que ordenou que o Exército Português avançasse para a Angola,
liberdade de opinião, reunião e de informação. As esperanças fracassaram. dando início a uma guerra que se prolongou até à queda do regime, em 1974.
Nenhuma das reivindicações do Movimento foi satisfeita e este desistiu por
A luta armada
considerar que o acto eleitoral não passaria de uma farsa. A apreensão das listas
O negar da possibilidade de autonomia das colónias africanas, fez extremar as
pela PIDE permitiu perseguir a oposição democrática. Em 1949, aquando das
posições dos movimentos de libertação que, nos anos 50 e 60, se foram formando
eleições presidenciais, a oposição democrática apoiou o candidato Norton de
na África portuguesa. Em Angola, em 1955, surge a UPA (União das Populações
Matos, que concorria contra o candidato do regime, Óscar Carmona. Era a
de Angola) que, 7 anos mais tarde, se transforma na FNLA (Frente de Libertação
primeira vez que um candidato da oposição concorria à Presidência da República e
de Angola); o MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola) forma-se em
a campanha voltou a entusiasmar o País mas, no entanto, face a uma severa
1956; e a UNITA (União para a Independência Total de Angola) surge em 1966. A
repressão, Norton de Matos apresentou também a sua desistência pouco antes
guerra inicia-se em Angola a 1961. Em Moçambique, a luta é dirigida pela
das eleições. 1958 – Ano de novas eleições presidenciais. O Governo pensou ter
FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique) fundada em 1962. A guerra
controlado a situação até que, em 1958, a candidatura de Humberto Delgado a
estende-se a Moçambique em 1964. Na Guiné, distingue-se o PAIGC (Partido para
novas eleições presidenciais desencadeou um terramoto político. A sua coragem
a Independência da Guiné e Cabo Verde) em 1956 e a guerra alastrou-se à Guiné
em criticar a ditadura, apelidou-o de “general sem medo”. O anúncio do seu
em 1963.
propósito de não desistir das eleições e a forma destemida como anunciou a sua
Portugal viu-se envolvido em duras frentes de batalha que, à custa de Operação “Fim-Regime”
elevadíssimos custos materiais e humanos, chegou a surpreender a
comunidade internacional. A operação militar teve início com a transmissão, pela rádio, das canções-senha,
O isolamento internacional A carta das nações unidas estabeleceu que todas que permitia às unidades militares saírem dos quartéis para cumprirem as missões
as nações tinham o direito á sua autodeterminação. Contudo, Portugal que lhes estavam destinadas. A resistência terminou cerca das 18h, quando
recusou-se a aceitar esta ideia dizendo que as províncias ultramarinas faziam Marcello Caetano se rendeu pacificamente ao general Spínola. Entretanto, já o
parte de Portugal. Tal postura conduziu, inevitavelmente, ao desprestígio do golpe militar era aclamado nas ruas pela população portuguesa, cansada da guerra
nosso país, que foi excluído de vários organismos das Nações Unidas e alvo de e da ditadura, transformando os acontecimentos de Lisboa numa explosão social
sanções económicas por parte de diversas nações africanas. A recusa de todas as por todo o país, uma autêntica revolução nacional que, pelo seu carácter
ofertas e planos (como a ajuda americana por exemplo), remeteu Portugal para pacífico, ficou conhecido como a “Revolução dos Cravos”. A PIDE foi a última a
um isolamento, evidenciado na expressão de Salazar, “orgulhosamente sós”. render-se na manhã seguinte.
A caminho da democracia
O desmantelamento das estruturas do Estado Novo
A Primavera Marcelista O acto revolucionário permitiu que se desse início ao processo de
desmantelamento do Estado Novo. No próprio dia da revolução, Portugal viu-se
sob a autoridade de uma Junta de Salvação Nacional, que tomou de imediato
Em 1968, Salazar foi substituído Marcello Caetano, no cargo de presidente do medidas: O presidente da República e o presidente do Conselho foram
Conselho de Ministros, que fez reformas mais liberais para a democratização destituídos, bem como todos os governadores civis e outros quadros
administrativos; A PIDE-DGS, a Legião Portuguesa e as Organizações da Juventude
do regime. Nos primeiros meses o novo governo até deu sinais de abertura,
foram extintas, bem como a Censura (Exame Prévio) e a Acção Nacional Popular;
período este conhecido por “Primavera Marcelista” (alargou o sufrágio feminino
Os presos políticos foram perdoados e libertados e as personalidades no exílio
por ex.). Contudo, o oscilar entre indícios de renovação e seguir as linhas do puderam regressar a Portugal; Iniciou-se o processo da independência das
salazarismo, resultou no fracasso da tentativa reformista. A PIDE mudou o seu colónias e organização de eleições para formar a assembleia constituinte que
nome para DGS e diminuiu, ao início, a virulência das suas perseguições. No iria aprovar a nova constituição da República. A Junta de Salvação Nacional
entanto, face ao movimento estudantil e operário, prendeu, sem hesitações, os nomeou para Presidente da República o António de Spínola, que escolheu Adelino
opositores ao regime; A Censura passou a chamar-se Exame Prévio; se este, para chefiar o governo provisório.
inicialmente, tolerou algumas criticas ao regime, cedo se verificou que actuava Tensões políticas ideológicas na sociedade e no interior do MFA
nos mesmos moldes da Censura; A oposição não tinha liberdade de concorrer O período Spínola
às eleições e a política Marcelista era criticada como sendo incapaz de evoluir Os tempos não foram fáceis para as novas instituições democráticas. Passados
para um sistema mais democrático. Tudo isto levou á revolução de 25 de Abril de os primeiros momentos de entusiasmo, seguiram-se dois anos politicamente
1974 muito conturbados, originando graves confrontações sociais e políticas.
Rapidamente começaram as reivindicações, as greves e as manifestações
influenciadas pelos partidos da esquerda. O governo provisório mostrou-se
incapaz de governar o país e demitiu-se, o que fez com que o poder político se
dividisse em dois pólos opostos. De um lado o grupo apoiante do general
Da revolução à estabilização da democracia Spínola (procurava controlar o movimento popular que podia originar outra
ditadura, desta vez de extrema-esquerda) Do outro lado a comissão
O Movimento das Forças Armadas e a eclosão da Revolução coordenadora do MFA e os seus apoiantes (defendia a orientação do regime para
um socialismo revolucionário.
O problema da guerra colonial continuava por resolver. Perante a recusa de O desfecho destas tensões culminou com a demissão do próprio general
uma solução política pelo Governo Marcelista, os militares entenderam que se Spínola, após o falhanço da convocação de uma manifestação nacional em seu
tornava urgente pôr fim à ditadura e abrir o caminho para a democratização apoio, e a nomeação de outro militar, o general Costa Gomes, como Presidente da
do país. A Revolução de 25 de Abril de 1974 partiu da iniciativa de um grupo República.
de oficiais do exército português – O Movimento dos Capitães (1973), liderado
por Costa Gomes e Spínola, que tinha em vista o derrube do regime ditatorial e A radicalização do processo revolucionário
a criação de condições favoráveis à resolução política da questão colonial. Estes
acontecimentos deram força àqueles que, dentro do Movimento (agora passava-se No período entre a demissão de Spínola (Setembro 1974) e a aprovação da
a designar por MFA – Movimento das Forças Armadas), acreditavam na nova Constituição da República (1976), Portugal viveu uma situação política
urgência de um golpe militar que, restaurando as liberdades cívicas, permitisse revolucionária repleta de antagonismos sociais. Durante estes dois anos, o poder
a tão desejada solução para o problema colonial. Depois de uma tentativa esteve entregue ao MFA, a Vasco Gonçalves, que assumiu uma posição de
precipitada, em Março, o MFA preparou minuciosamente a operação militar que, extrema-esquerda e uma forte ligação ao Partido Comunista. A data-chave é 11
na madrugada do dia 25 de Abril de 1974 pôs fim ao Estado Novo. de Março de 1975: tentando contrariar a orientação esquerdista da revolução,
António de Spínola tentou um golpe militar (fracassado). Em resposta, a MFA cria A nível interno, a “independência pura e simples” das colónias colhia o apoio da
o Conselho da Revolução, ligado ao PCP, que passa a funcionar como órgão maioria dos partidos que se legalizaram depois do 25 de Abril e também nesse
executivo do MFA e tornou-se o verdadeiro centro do poder (concentra os sentido se orientavam os apelos das manifestações que enchiam as ruas do país.
poderes da Junta de Salvação Nacional e do Conselho de Estado), e propõe-se É nesta conjuntura que o Conselho de Estado reconhece às colónias o direito à
orientar o Processo Revolucionário em Curso - PREC que conduziria o País independência. Intensificam-se, então, as negociações com os movimentos aos
rumo ao socialismo. quais Portugal reconhece legitimidade para representarem o povo dos respectivos
territórios. No entanto, Portugal encontrava-se num a posição muito frágil, quer
As eleições de 1975 e a inversão do processo revolucionário
para impor condições quer para fazer respeitar os acordos. Desta forma, não foi
possível assegurar, como previsto, os interesses dos Portugueses residentes no
Das eleições de 1975, sai vitorioso o Partido Socialista, que passa a reclamar
Ultramar. Fruto de uma descolonização tardia e apressada e vítimas dos interesses
maior intervenção na actividade governativa. Vivem-se os tempos do Verão
Quente de 1975, em que esteve iminente o confronto entre os partidos de potências estrangeiras, os territórios africanos não tiveram um destino feliz.
conservadores e os partidos de esquerda. É em pleno “Verão Quente” que um
grupo de 9 oficiais do próprio Conselho da Revolução, encabeçados pelo major
Melo Antunes, crítica abertamente os sectores mais radicais do MFA: contestava o
clima de anarquia instalado, a desagregação económica e social e a decomposição O fim do mundo soviético
das estruturas do Estado. Em consequência, Vasco Gonçalves foi demitido. Era o A Era Gorbatchev – uma nova política
fim da fase extremista do processo revolucionário. A revolução regressava aos No início dos anos 80, a União Soviética encontrava-se numa situação
princípios democráticos e pluralistas de 25 de Abril, que serão confirmados com a preocupante. Foi na conjuntura de crise que surge Mikhail Gorbatchev, eleito
Constituição de 1976. secretário-geral do PCUS em 1985. Sem querer por em causa a ideologia e o
sistema político vigente, Gorbatchev entendeu, no entanto, ser necessário iniciar:
Politica Económica anti-monopolista e intervenção do Estado a um processo de reestruturação económica, perestroika (assiste-se a uma
nível económico-financeiro descentralização da economia, através da adaptação da economia planificada a
uma economia de mercado, onde passa a ser reconhecida a livre iniciativa e a
Os tempos da PREC tinham em vista a conquista do poder e o reforço da livre concorrência); uma política de transparência, glasnot (foi
transição ao socialismo. Assim, nessa altura, tomaram-se um conjunto de reconhecida a liberdade de expressão, aboliu-se a censura e acabou-se com as
medidas que assinalaram a viragem ideológica no sentido do marxismo- perseguições políticas, visando a participação mais activa dos cidadãos na vida
leninismo: o intervencionismo estatal (em todos os sectores da economia), política) Para além da reconversão económica e a abertura democrática,
as nacionalizações (o Estado apropriou-se dos bancos, dos seguros, das Gorbatchev também pretendia uma aproximação ao mundo ocidental,
empresas, etc., passando a ter mais controlo da economia), a reforma agrária nomeadamente no sentido do desarmamento, para se chegar a um clima
(procedeu-se à colectivização dos latifúndios do Sul e à expropriação e internacional estável.
nacionalização pelo Estado e a constituição de Unidades Colectivas de Produção O colapso do mundo soviético
(UCP). Graças ao partido comunista foi aprovada a legislação para a reforma Entretanto, as reformas liberais empreendidas por Gorbatchev tiveram grande
agrária com protecção dos trabalhadores e dos grupos económicos mais impacto nos países de Leste europeu. No ano de 1989, uma vaga
desfavorecidos através das novas leis laborais, salário mínimo nacional, aumento democratizadora varre o Leste, assistindo-se a uma subversão completa do
de pensões e reformas.) sistema comunista : Na Polónia, Checoslováquia, Bulgária, Roménia, etc, os
A opção constitucional de 1976 partidos comunistas perdem o seu lugar de “partido único” e realizam-se as
Depois de um ano de trabalho, a Assembleia Constituinte terminou a Constituição, primeiras eleições livres do pós-guerra. Assim, a “cortina de ferro” que separava
aprovada em 25 de Abril de 1976. A constituição consagrou um regime a Europa, começa a dissipar-se: as fronteiras com o Ocidente são abertas e, nesse
democrático e pluralista, garantindo as liberdades individuais e a mesmo ano, cai o Muro de Berlim, reunificando a Alemanha (antes dividida em
participação dos cidadãos na vida política através da votação em eleições para os duas pelo muro). Ainda é anunciado, o fim do Pacto de Varsóvia e, pouco depois, a
diferentes órgãos. Além disso, confirmou a transição para o socialismo como destituição do COMECON. A Checoslováquia divide-se em duas repúblicas – A
opção da sociedade portuguesa. Mantém, igualmente, como órgão de soberania, o República Checa e a Eslováquia. Origem de novos estados independentes,
Conselho da Revolução considerado o garante do processo revolucionário. Este através da extinção da Jugoslávia, como a Eslovénia, Bósnia-Herzegovina, Croácia
órgão continuará a funcionar em estreita ligação com o presidente da República, Nesta altura, a dinâmica política desencadeada pela perestroika tornara-se já
que o encabeça. A nova constituição entrou em vigor no dia 25 de Abril de 1976, incontrolável, conduzindo, também, ao fim da própria URSS. Gorbatchev nunca
exactamente dois anos após a “Revolta dos Cravos”. A Constituição de 1976 foi, pretendia o fim do comunismo ou do socialismo, tenta parar o processo pela força,
sem dúvida, o documento fundador da democracia portuguesa. fazendo com que o apoio da população se concentre em Boris Ieltsin, que é eleito
presidente da República da Rússia, em Junho de ’91 (que toma a medida extrema
O reconhecimento dos movimentos nacionalistas e o processo da de proibir as actividades do partido comunista). No Outono de ’91, a maioria das
repúblicas da União declara a sua independência. Em 21 de Dezembro, nasce
descolonização O processo descolonizador
oficialmente a CEI – Comunidade de Estados Independentes, à qual aderem 12 das
15 repúblicas que integravam a União Soviética. Estava consumado, assim, o
fim do bloco soviético e da URSS.
Os problemas da transição para a economia de mercado
A transição para a economia de mercado mostrou-se difícil e teve um impacto
muito negativo na vida das populações. Perante o fim da economia planificada
e dos subsídios estatais, muitas empresas faliram, contribuindo para o
desemprego; a continuada escassez dos bens de consumo, a par da
liberalização dos preços, estimulou uma inflação galopante (subida de preços), que
não era acompanhada por uma subida de salários, lançando a população na
miséria. Os países de Leste viveram também, de forma dolorosa, a transição para
a economia de mercado. Privados dos importantes subsídios que recebiam da
União Soviética, sofreram uma brusca regressão económica. De acordo com o
Banco Mundial “a pobreza espalhou-se e cresceu a um ritmo mais acelerado do
que em qualquer lugar do mundo”. A percentagem de pobres elevou-se de 2
para 21% da população total. O caos económico instalou-se e agravaram-se
as desigualdades sociais.
Os pólos de desenvolvimento económico cariz económico e, de longe, o mais desenvolvido; o da politica externa e da
Profundamente desigualitário, o mundo actual concentra a sua força em 3 pólos de segurança comum (PESC), e o da cooperação nos domínios da justiça e dos
intenso desenvolvimento: os Estados Unidos, a União Europeia e a região da Ásia- assuntos internos. Foi instituída a cidadania europeia e definiu-se o objectivo da
Pacífico. adopção da moeda única. A 1 de Janeiro de 1999, onze países inauguram
oficialmente o euro, que completou a integração das economias europeias. O euro
A hegemonia dos EUA entra em vigor em 2002.
Com o colapso do bloco soviético, os EUA passaram a reunir todas as condições Dificuldades da união política
para se afirmarem como a grande superpotência mundial. A hegemonia que os
EUA detêm sobre o resto do mundo alicerça-se numa incontestada capacidade Têm sido muitos os obstáculos à criação de uma Europa política: os países que não
militar, numa próspera situação económica e no dinamismo científico e se identificam na totalidade com o projecto europeu, ou os que resistem às
tecnológico que evidencia. O poder americano afirmou-se apoiado pelo medidas que implicam a perda da soberania nacional, a integração de mais países
gigantismo económico e pelo investimento maciço no complexo industrial (conjugar interesses de países diferentes), que não tem favorecido o caminho de
militar. Os EUA têm sido considerados os "polícias do mundo", devido ao papel uma Europa mais unida, a incapacidade da EU de resolver questões como o
preponderante e activo que têm desempenhado, afirmando a sua supremacia desemprego, etc.
militar. A sua hegemonia assenta, igualmente, na prosperidade da sua
economia. Os EUA afirmam-se como os maiores exportadores, devido ao O Espaço económico da Ásia-Pacífico
dinamismo das suas empresas de bancos, turismo, cinema, música. O sector
primário não foi, porém, abandonado. Em resultado da elevada produtividade, os O milagre japonês dos anos 50 e 60 deu início a um processo de
EUA mantêm-se como os maiores exportadores de produtos agrícolas. A sua desenvolvimento económico que iria, nas décadas seguintes, contagiar outros
indústria também revela grande dinamismo, tendo como consequência a países asiáticos. Com efeito, o sucesso do Japão serviu de incentivo e de modelo
liderança dos EUA em sectores de produção de automóveis, têxteis sintéticos, ao desenvolvimento dos “quatro dragões”: Hong Kong; Singapura; Coreia do
produtos farmacêuticos, etc. Durante a presidência de Bill Clinton, tornou-se Sul; Taiwan. Os quatro dragões compensaram a escassez de recursos
prioridade o desenvolvimento do sector comercial, procurando-se estimular as naturais com o esforço de uma mão-de-obra barata e abundante, com o apoio
relações económicas com a região do Sudoeste Asiático (criando a APEC - do Estado (que investiu altamente no ensino, tendo em vista a qualificação
Cooperação Económica Ásia-Pacífico), e estipulou a livre circulação de capitais profissional da população, apostou em políticas proteccionistas com vista a atrair
e mercadorias entre os EUA, Canadá e México (através da NAFTA – Acordo de os capitais estrangeiros e na exportação de bens de consumo). Em resultado,
Comércio Livre da América do Norte) estes países conseguiram produzir, a preços imbatíveis, produtos de consumo
Finalmente, a hegemonia dos EUA resulta também da sua capacidade de inovar, corrente que invadiram os mercados ocidentais, promovendo sectores como o
reflexo do progresso científico-tecnológico que evidencia. São os que mais da indústria automóvel, construção naval, etc. Quando a crise afectou a
investem na investigação científica, desenvolveram os tecnopólos (parques economia mundial na década de 70, o Japão e os “quatro dragões” iniciaram um
tecnológicos, empresas ligadas à tecnologia). O sector terciário ocupa um processo de cooperação económica com os membros da ASEAN (Associação
enorme peso na economia americana (cerca de 75 %). das Nações do Sudoeste Asiático), que agrupava a Tailândia, Indonésia,
Filipinas e Malásia. O desenvolvimento destes países resultou das necessidades de
A União Europeia matérias-primas, recursos energéticos e bens alimentares, de que eram
importantes produtores, por parte do Japão e dos “quatro dragões” que, em troca,
Desde a sua criação, em 1957, que a União Europeia (naquela altura, CEE) tem exportavam bens manufacturados e tecnologia. Este intercâmbio deu origem
vindo a consolidar-se quer pela integração de novos estados-membros, quer pelo a uma nova etapa de crescimento, mais integrado, do pólo económico da Ásia
aprofundamento do seu projecto económico e político. Assim, integraram-na: Pacífico. O crescimento teve, no entanto, custos ecológicos e sociais muito
Nos anos 70 – Inglaterra, Irlanda e Dinamarca (1973) – Europa dos 9; altos: a Ásia tornou-se a região mais poluída do Mundo e a sua mão-de-obra
Nos anos 80 – Grécia (1981), Portugal e Espanha (1986) – Europa dos 12; permaneceu, maioritariamente, pobre e explorada.
Nos anos 90 – Áustria, Suécia, Finlândia (1995) – Europa dos 15.
Recentemente entraram os Países Bálticos: Chipre, República Checa, Eslovénia, A questão de Timor
Eslováquia, Hungria, Polónia, Letónia, Lituânia, Malta (Europa dos 25).
O principal objectivo da CEE era a união aduaneira, concretizada em ’68. No Timor foi dos poucos casos na Ásia onde se instaurou uma democracia através de
início dos anos 80 vigorava a Europa dos 9, porém, o projecto europeu um processo de autodeterminação. Em 1974, a “Revolução dos Cravos” agitou
encontrava-se estagnado. Decidido a relançar o projecto europeu, Jacques também Timor Leste, que se preparou para encarar o futuro sem Portugal. Na ilha,
Delors, concentrou-se na renovação da CEE: Em '86 foi assinado o Acto onde não tinham ainda surgido movimentos de libertação, nasceram três partidos
Único Europeu, que previa o estabelecimento de um mercado único, onde, para políticos (A UDT (União Democrática Timorense), que defendia a união com
além de mercadorias, circulassem livremente pessoas, capitais e serviços. Em Portugal num quadro de autonomia; A APODETI (Associação Popular
'92 celebrou-se o Tratado da União Europeia (Tratado de Maastricht) que Democrática Timorense), favorável à integração do território da Indonésia; E a
estabelece uma União europeia (UE), fundada em três pilares: o comunitário, de FRETILIN (Frente Revolucionária de Timor Leste Independente), com um
programa independentista, ligado aos ideais de esquerda.)
Esta última, em 1975, declara, unilateralmente, a independência do território,
mas em Novembro, o governo indonésio ordena a sua invasão por tropas suas.
Timor resiste, e a sua resistência continuou activa nos anos 80, encabeçada por
Xanana Gusmão (líder da FRETLIN). Em 1991, a consciência da comunidade
internacional foi despertada, através do visionamento de imagens de um
massacre a civis timorenses. No fim da década, a Indonésia aceita finalmente que
o povo timorense decida o seu destino através de um referendo, que fica marcado
para Agosto de 1999. O referendo, supervisionado por uma missão das Nações
Unidas, a UNAMET, deu uma inequívoca vitória à independência, mas desencadeou
uma escalada de terror por parte das milícias pro-indonésias. Uma onda de
indignação e de solidariedade percorreu então o Mundo e conduziu ao envio de
uma força de paz multinacional, patrocinada pelas Nações Unidas. A 20 de Maio
de 2002 nasce oficialmente a República Democrática de Timor Leste.