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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

COMARCA DE SÃO PAULO


FORO REGIONAL I - SANTANA
9ª VARA CÍVEL
AV. ENGENHEIRO CAETANO ÁLVARES, 594, São Paulo - SP - CEP 02546-
000

SENTENÇA

Processo nº: 001.09.132271-6


Classe - Assunto Procedimento Ordinário - Espécies de Contratos
Requerente: Cooperativa Habitacional dos Bancarios de São Paulo - Bancoop
Requerido: Cristhyane Katsue Aureliano

Juiz(a) de Direito: Dr(a). Luciana Mendes Simões

Se impresso, para conferência acesse o site http://esaj.tj.sp.gov.br/esaj, informe o processo 001.09.132271-6 e o código 010000001NP7R.
Vistos.

COOPERATIVA HABITACIONAL DOS


BANCÁRIOS DE SÃO PAULO LTDA, qualificada e devidamente representada
nos autos, ajuizou a presente ação de cobrança contra CHISTHYANE KATSUE
AURELIANO.

Em síntese, alega que a requerida adquiriu o bem


imóvel pormenorizado na inicial, onde se comprometeu a efetivar os

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pagamentos, que redundariam na aquisição do aludido bem. Salienta que, como
cooperada, deve arcar com os gastos do empreendimento, no limite de sua cota
parte. No entanto, deixou de adimplir o valor do resíduo constatado, sendo
necessário que haja pagamento correspondente, sob pena de proporcionar mais
encargos aos cooperados adimplentes.

Consignou, também, que deve haver observância


do estatuto social, que prevê a possibilidade do referido pagamento, bem como
destacou que há documentos, que se encontram à disposição dos cooperados,
que comprovam a aferição da necessidade da cobrança do resíduo. Por fim,
pugnou pela procedência da demanda, para condenar a suplicada ao pagamento

001.09.132271-6 - lauda 1
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do valor em aberto (fls. 02/16).

Foi juntada farta documentação.

A requerida apresentou contestação, onde


assevera, preliminarmente, a existência de prejudicialidade externa, diante do
processo em curso perante a 40ª Vara Cível Central, onde se discute a
legalidade da cobrança do resíduo. No tocante ao mérito, destaca que o valor

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cobrado não se justifica e surgiu das condutas unilaterais da requerida. Assim,
rechaça a legalidade da cobrança, bem como a qualidade de cooperativa da
suplicante, propugnando pela improcedência do pleito inicial, com a condenação
da autora nas penas cominadas à litigância de má-fé (fls. 93/112).

Réplica e documentos (fls. 269/328).

É o breve relato.

Fundamento e decido.

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Sendo desnecessária a produção de provas em
audiência, passo ao julgamento antecipado da lide, na forma do artigo 330, I do
Código de Processo Civil.

O pedido é improcedente.

As matérias preliminarmente suscitadas pela


requerida não merecem prosperar.

De proêmio, insta salientar que não restaram


demonstrados, a contento, a causa de pedir e o pedido do processo em trâmite
perante a 40ª Vara Cível Central. Assim, tenho que os documentos existentes

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nos autos não se mostram hábeis ao fim almejado, pois não se prestam a
comprovar a alegada prejudicialidade. Pelos mesmos motivos, rechaço a
alegação de litispendência, acrescentando, ainda, que as partes dos processos
são distintas.

Por conseguinte, as prejudiciais, suscitadas pela


requerida, não merecem guarida, razão pela qual passo à análise do mérito.

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Resta incontroverso nos autos que os litigantes
celebraram contrato através do qual a requeria aderiu à realização de um
empreendimento, onde tencionava a construção de imóvel, mediante pagamento
de forma parcelada do preço.

Dessa forma, por entender cumprida integralmente


a obrigação, a requerida não reconhece a exigibilidade do débito cobrado, a
título de resíduo, porque considera quitada sua obrigação pactuada.

Por sua vez, a autora defende a legalidade da


cobrança, aduzindo que ela está em consonância aos gastos efetivados na obra,
bem como em conformidade ao contido no estatuto da cooperativa.

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Portanto, percebe-se que a controvérsia se
resume, tão somente, à legalidade da cobrança do resíduo, além do débito
apurado pela autora.

No feito em testilha, resta de forma hialina a


existência de contrato que visa à obtenção de valores destinados à construção
de imóveis.

Não merece, portanto, ser atribuída à requerente a


natureza de cooperativa, já que constituída com a intenção nítida de se eximir de
responsabilidades, mormente quando, acaso considerado o contrato na forma
como efetivamente detém, não se possibilita àquela a tomada de medidas

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efetivadas.

Ora, o contrato deve se sujeitar às determinações


legais e aos princípios gerais de Direito, que impõem regras a todos quantos
queiram conseguir crédito para atividades, em especial aquelas concernentes a
imóveis.

Ressalve-se que, pelo que consta, a autora foi

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constituída, inicialmente, tendo como objetivo social proporcionar construção e
aquisição de unidades residenciais e/ou comerciais, nos moldes declinados no
artigo 5.º de seu Estatuto Social, vindo a proporcionar a adesão de associados
ou cooperados, com a inscrição correspondente posteriormente à constituição,
que se fez independentemente da existência desta.

Não há verdadeiramente ato cooperativo, nos


moldes das determinações da Lei 5.764/71. Aliás, não houve prévio
agrupamento de pessoas com a intenção de constituição e realização de objetivo
comum, mediante esforço conjunto de seus associados ou cooperados.

A propósito, a possibilidade de haver aplicação


dos benefícios estatuídos na lei mencionada requer que o ato se subsuma a

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estas determinações, com a efetiva constituição de cooperativa para este mister.

A finalidade parece óbvia, tanto que a forma eleita


vem sendo utilizada por diversas empresas, na intenção nítida de se isentar das
obrigações contidas no Código de Defesa do Consumidor e nas atuais
determinações do Código Civil, escudando-se nas prerrogativas concedidas às
cooperativas.

Por conseguinte, a interpretação que se dará ao


contrato em testilha é aquela correspondente à existência de contrato de
financiamento para aquisição de bem imóvel, com a sujeição às determinações
do Código de Defesa do Consumidor.

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A autora, sociedade civil que tem como objetivo


social, pelo que se infere, propiciar a construção de moradias, não pode negar
que atua em um mercado de alta competição, disputando a “captação de
cooperados ou sócios” com congêneres suas, de natureza declaradamente
comercial, na captação de consumidores.

Ademais, é notória a utilização de determinadas


formas jurídicas para redução de custos, em especial tributários, pouco

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importando a real finalidade da figura da pessoa jurídica. Por conseguinte, não
há que se falar em ato societário ou cooperativo, mas sim em fornecimento de
crédito contrato de prestação de serviços, mesmo porque, efetivada a
construção, não há mais a finalidade para a continuidade do “sócio” ou
“cooperado” na referida sociedade ou cooperativa.

Há, portanto, uma relação de consumo.

Consoante exposto acima, a requerida informa que


adimpliu o contrato, atribuindo-lhe a autora indevidamente débito após a entrega
da unidade adquirida.

Dessa forma, caberia à autora, portanto,

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comprovar que há valor passível de cobrança, diante do alegado prejuízo e
necessidade, por não haver cobertura nos pagamentos efetivados do custo e
preço de construção.

Não há, nos elementos coligidos aos autos,


nenhum documento que permita aferição de efetiva existência de custo não
proporcionalmente rateado entre os “cooperados”.

Insisto, a autora não logrou êxito em comprovar, a


contento, mediante os documentos juntados com a inicial e réplica, a
regularidade na apuração do pretenso resíduo, razão pela qual não merece
apreço suas alegações.

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É o que dispõe o art. 333, I, do Código de


Processo Civil, onde se lê incumbir à autora o ônus da prova de fato constitutivo
de seu direito.

Consoante a lição de Nelson Nery Jr. e Rosa


Maria Andrade Nery, em seu festejado Código Comentado (2ª ed., 1996, RT, p.
758), ao tratar do onus probandi “a palavra vem do latim onus, que
significa carga, fardo, peso, gravame. Não existe obrigação que

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corresponda ao descumprimento do ônus. O não atendimento do ônus de
provar coloca a parte em desvantajosa posição para a obtenção do ganho
de causa. A produção probatória, no tempo e na forma prescrita em lei, é
ônus da condição de parte.”

Por outro lado, a entrega do imóvel se fez há


alguns anos. Infere-se que, entregues, mesmo que informe a autora ter havido
apenas transferência precária, houve quitação das obrigações pela adquirente.
Somente situações excepcionais permitem que, entregue o bem e transferida a
posse, possa haver cobrança ulterior.

No presente caso, contudo, não se justifica o

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comportamento da autora, o que retira a legalidade da cobrança contida na
inicial.

Assim, a soma de alegações choca-se contra os


fatos verificados nos autos, e, consequentemente, são afastados os argumentos
restantes, por inaplicáveis.

Neste sentido já decidiu o Egrégio Primeiro


Tribunal de Alçada Civil do Estado de São Paulo:

“O JUIZ NÃO ESTÁ OBRIGADO A RESPONDER


TODAS AS ALEGAÇÕES DAS PARTES, QUANDO JÁ TENHA ENCONTRADO
O MOTIVO SUFICIENTE PARA FUNDAR A DECISÃO, NEM SE OBRIGA A

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ATER-SE AOS FUNDAMENTOS INDICADOS POR ELAS E TAMPOUCO A


RESPONDER UM A UM TODOS OS SEUS ARGUMENTOS” (JTACASP-LEX
135/436 Rel. JUIZ ADAIL MOREIRA);

Bem como o Superior Tribunal de Justiça:

“O Juiz, atento ao princípio do seu livre


convencimento, obriga-se a apreciar e a relevar
apenas os fatos, alegações e peças instrutórias

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que tenham relevância para a causa, devendo
desconsiderar todos aqueles impertinentes e sem
qualquer valor probante” (STJ RT 735/224 Rel.
Ministro CLÁUDIO SANTOS).

No mesmo sentido, ALEXANDRE DE PAULA, 6°


edição, volume I, pág.649, item 14, da sua obra “CPC Anotado”, esclarece:

“...Ainda que a apelação devolva o conhecimento


de todas as questões suscitadas e discutidas na instância inferior CPC, art.515,
parágrafo 1° - nem por isso será obrigado a reexaminar cada uma das alegações
e das provas oferecidas pelas partes sobre matéria de fato, desde que a análise
do contexto submetido à consideração dos julgadores seja suficiente para formar

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seu convencimento. É o que o princípio da livre apreciação da prova, insculpido
no artigo 131 do CPC, também se aplica aos julgamentos em segunda instância”
(Ac. un., da 6° Câmara do 1° TACivSP de 13.5.86, nos embs. Decls. n° 354.472,
rel. Juiz Ernani Paiva)...”

Dessa forma, torna-se imperiosa a improcedência


do pedido inicial.

Por fim, deixo de condenar a autora nas penas


cominadas à litigância de má-fé, por não vislumbrar presentes, na espécie,
quaisquer das hipóteses previstas no artigo 17 do Código de Processo Civil.

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Diante do exposto, JULGO IMPROCEDENTE a


ação de cobrança movida pela COOPERATIVA HABITACIONAL DOS
BANCÁRIOS DE SÃO PAULO contra CRISTHYANE KATSUE AURELIANO,
resolvendo o feito, com análise do mérito, com fulcro no artigo 269, I, do Código
de Processo Civil.

Condeno a autora ao pagamento das custas e


despesas processuais, bem como de honorários advocatícios do patrono do

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suplicado, que desde já fixo em 10% sobre o valor atualizado da causa.

P.R.I.

São Paulo, 16 de junho de 2010.

LUCIANA MENDES SIMÕES


Juíza de Direito
assinatura eletrônica

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