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A RELAÇÃO CAMPO-CIDADE
Apocalipse 21.1-8
O mapa do emprego no Brasil tem mudado: enquanto o Ceará tem oferecido muitos
empregos, São Paulo, tradicional símbolo da indústria brasileira, tem visto sua oferta
de empregos no interior do Brasil.
É uma mudança interessante: parece que, aos poucos, o Brasil (re)descobre a rota do
interior. Está acontecendo uma descentralização: indústrias transferem-se ou instalam-
se no interior do país, para diminuição de custos.
Desde os primeiros tempos da presença europeia no Brasil, nosso país tem sido
caracteristicamente rural. É verdade que, muito cedo, algumas cidades foram
fundadas, já no século XVI, como Salvador, São Paulo e Rio de Janeiro. Mesmo
assim, por séculos, o Brasil foi um país rural. As marcas da vida no campo influenciam
profundamente toda a cultura brasileira.
Prova disso é o sucesso que em toda parte fazem as festas do peão de boiadeiro.
Sociólogos chamam a atenção para um interessante fenômeno: os agroboys - são
jovens de classe média, nascidos e criados em ambiente urbano, mas que ouvem
música sertaneja, e se vestem como se estivessem em uma fazenda.
Mas a industrialização no Brasil recebeu ímpeto a partir dos anos de 1930, por ocasião
do governo de Getúlio Vargas.
David Martin, sociólogo da religião, observa que a era Vargas foi marcada por
deslocamentos em massa de pessoas da zona rural para as cidades - o chamado
êxodo rural. Vargas cometeu uma contradição: deu algumas condições de trabalho
aos moradores das cidades (a CLT - Consolidação das Leis do Trabalho - é desta
época).
Mas as reformas políticas que realizou não contemplaram o trabalhador rural. Assim,
muitas cidades tiveram sua população aumentada, sem ter infraestrutura para isso. As
pessoas provenientes da zona rural tiveram que se localizar na periferia das cidades,
ou em favelas.
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Muitos tiveram que se contentar com empregos que não exigem especialização, mas
que oferecem baixa remuneração. Um imenso número de problemas aconteceu (e
acontece) em consequência. Para complicar a situação, nenhum governante brasileiro
estabeleceu a zona rural como prioridade de seu governo. Na prática, o país não teve
e não tem uma política agrícola.
As perguntas que nortearão o presente estudo são: o que a igreja de Jesus tem a ver
com os problemas que surgem em decorrência da relação campo-cidade? Qual deve
ser a atitude da igreja diante destes problemas?
Tem sido comum a igreja se calar diante de situações assim. Isto, por muitas vezes
não saber o que leva pessoas a abandonarem a vida no campo para viverem na
cidade.
Devido a um descaso de séculos, a vida no campo não é tão romântica como muitas
músicas sertanejas apresentam: as escolas não são bem aparelhadas, os
trabalhadores ganham salários irrisórios, os financiamentos para investimentos nas
lavouras e nos rebanhos são acompanhados de juros altíssimos.
As linhas de crédito especiais, muitas vezes são usufruídas pelos proprietários mais
ricos. Os pequenos sempre esbarram na burocracia. Este conjunto de fatores favorece
uma migração do campo para as periferias de muitas metrópoles brasileiras.
Esta conjuntura cobra da igreja uma ação profética. Os profetas da Antiga Aliança
denunciavam pecados sociais, como acumulação de terras (Mq 2.1-5); humilhação do
semelhante, mantendo-o em escravidão (Jr 34.8-22); manipulação de leis para o
favorecimento dos poderosos e opressão dos pobres (Is 10.1,2).
É lamentável quando a igreja não cumpre seu papel profético e se cala diante de
tantas injustiças. Afinal de contas, a missão da igreja não é só evangelizar. O corpo de
Cristo no mundo tem papel profético a cumprir na sociedade.
O que a igreja tem feito para cobrar das autoridades instituídas, medidas concretas
que atuem na raiz de problemas como os apresentados nesta parte do estudo? A
igreja foi colocada por Jesus no mundo para ser a consciência da sociedade. Tem sido
assim?
A igreja cristã tem cobrado atitudes dos governantes com relação, por exemplo, ao
crônico problema da seca no Nordeste? Ou das péssimas condições de educação no
meio rural?
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Igrejas em cidades como Rio de Janeiro ou São Paulo, têm nos migrantes grandes
oportunidades de agir pastoralmente. O problema é quando as igrejas têm a maioria
de seus membros da classe média, que não querem se misturar com gente pobre e
sem cultura formal, proveniente do sertão do Nordeste, ou do interior do Paraná ou de
Minas Gerais.
Pode ser que em alguns momentos seja necessário orientá-los para uma volta ao
campo. A igreja, então, é desafiada a conscientizar a população rural quanto à ilusão
da riqueza nas cidades.
Afinal, Jesus, o Grande Pastor (Jo 10.11; Hb 13.20), veio para os doentes e
pecadores, não para os sãos e justos (Lc 5.31,32). Cabe à igreja andar nos passos de
Jesus (cf I Pe 2.21b).
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