Você está na página 1de 4

Como a Bíblia foi formada?

 
 
“Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a 
repreensão, para a correção e para a instrução na justiça, para que o 
homem de Deus seja apto e plenamente preparado para toda boa obra” - 
2 Timóteo 3:16,17 
 
 
A Bíblia é o conjunto de livros revelados por Deus, escritos no período de 
1500  a.C.  e  450  a.C.  (livros  do  Antigo  Testamento)  e  entre  45  d.C.  e  90 
d.C.  (livros  do  Novo  Testamento),  totalizando  1600  anos  até  o  seu 
fechamento  completo.  A  Palavra  de  Deus  foi  primeiro  revelada  ao  povo 
judeu;  depois  houve  um  período  de  silêncio  até  a  primeira  chegada  do 
seu  Filho  Jesus  Cristo,  que  a  pregou  em  seu  ministério  de  três  anos;  e 
por  último,  foi  revelada  aos  seus  principais  seguidores  por  meio  do 
Espírito Santo, conforme Cristo prometera antes de sua partida. 
 
Apenas  os  textos  dos  papiros  em  suas  linguagens  originais  são 
considerados  inspirados,  escritos  em  hebraico  no  Antigo  Testamento  e 
os  escritos  em  grego  koiné  no  Novo  Testamento.  A  tradução  em outras 
línguas  se  faz  necessária  para  que  a  Palavra  de  Deus  seja  pregada  em 
todo  o  mundo  em  todas as tribos, línguas e nações até a Segunda Vinda 
de  Cristo,  o  Dia  do  Senhor,  o  Juízo  Final;  de  forma  que  também  seja 
mantida acessível aos cristãos para que se santifiquem e exerçam o seu 
sacerdócio universal. 
 
O  Antigo  e  Novo  Testamento  tiveram  diferentes  histórias  de  formação. 
O  Antigo  Testamento  foi  decidido  com  base  no  que  já  era  conhecido 
como  de  autoridade  pela  comunidade  judaica,  citado  pelos  apóstolos  e 
pais  da  Igreja;  enquanto  o  Novo  Testamento  foi  classificado  segundo  a 
necessidade  que  surgiu  com  a  chegada  de  fortes  heresias  como  o 
marcianismo,  o  gnosticismo,  o  montanismo  e  o  arianismo;  os  critérios 
utilizados  eram  a  autoridade  dos  escritores,  se  seguiam  a  fé  apostólica 
e  o  quanto  estes  escritos  já  eram  disseminados  na  Igreja  cristã.  As 
comunidades  cristãs  tinham  acessos  diferentes aos escritos no período 
de  formação  do  cânon  neotestamentário,  o  que  fazia  o  cânon  variar, 
uma vez que deviam ser copiados à mão e enviados por todo o mundo.   
 
A  Igreja  Católica  adota  alguns  livros  que  não  são  aceitos  nem  pelos 
judeus  nem  pelos  protestante  no  Antigo  Testamento,  estes  são 
chamados  de  “deuterocanônicos”  (revelados  posteriormente)  na 
teologia  católica  e  “apócrifos”  (escondidos)  na  teologia  protestante. 
Estes  livros  são  considerados  de  segunda  mão  pelos  judeus  e  tem 
apenas  valor  histórico,  como  afirma  o  historiador  Flavio  Josefo dizendo 
“​Desde  Artaxerxes  até  nossos  dias,  tudo  tem  sido  registrado,  mas  não 
tem  sido  considerado  digno  de  tanto  crédito  quanto  aquilo  que  precedeu 
a  esta  época,  visto  que  a  sucessão  dos  profetas  cessou​”.  Esta 
concepção  foi  reafirmada  pelos  judeus  no Concílio de Jamnia no século 
II.  O  argumento  católico  gira  em  torno  de  que  estes  livros  faziam  parte 
da  lista  da  Septuaginta,  a  primeira  tradução  da  Bíblia  hebraica  para  o 
grego  feita  por setenta rabinos. Esta versão era a citada pelos apóstolos 
e  também  está  presente  nos  Evangelhos.  São  estes  os  apócrifos: 
Tobias,  Judite,  I  Macabeus,  II  Macabeus,  Sabedoria  de  Salomão, 
Eclesiástico, Baruc, as adições em Ester e em Daniel. 
 
Porém,  estes  livros  contêm  erros  históricos  e  absurdos  sincretismos 
com  o  paganismo.  No  livro  de  Tobias,  por  exemplo,  há  a  prática  de 
consulta  aos  mortos  (12:12),  o  suposto  anjo  engana  Tobias  sobre  sua 
identidade  (5:16-19),  ensina  a  fazer  o  uso  de  vísceras  de  peixe  para 
expulsar  demônios  (6:5,7-9;  19).  O  livro  de  Eclesiástico  (não  confundir 
com  Eclesiastes),  apesar  de  semelhante  ao  livro  canônico  de 
Provérbios,  aconselha  um  tratamento  cruel  aos  escravos  (33:26,30; 
42:1,5),  contrariando  a  Lei  de  Moisés  e  a  de  Cristo,  além  de  incentivar  o 
ódio  aos  samaritanos  (50:27-28).  O  livro  de  Sabedoria  de  Salomão 
contém  uma  doutrina  estranha  sobre  a  origem  e  o  destino  da  alma 
humana  (8:19-20);  e  ainda  ensina  a  salvação  pelo  conhecimento  (9:18), 
e  não  a  salvação  somente  pela  fé.  O  Segundo  Livro  de  Macabeus 
contém  novamente  a  prática  da  consulta  e  culto  aos  mortos  (7:28; 
12:44-46;  15:14;  12:43)  e  o  próprio  autor  do  livro  afirma  não  ser 
inspirado (15:38-40; 2:25-27). 
Jerônimo,  pai  da  Igreja,  tradutor  do  Antigo  Testamento  para  o  latim, 
autor  da  Vulgata,  acrescenta  no  prefácio  dos  livros  de  Salomão  e 
Eclesiástico:  "Da  mesma  maneira  que  a  Igreja  lê  Judite,  Tobias  e 
Macabeus  no  culto  público,  mas  não  os  recebe  entre  as  Escrituras 
reveladas,  assim  também  considerem  estes  dois  livros  úteis  para  a 
edificação  do  povo,  mas  não  para  estabelecer  deles  as  doutrinas  da 
Igreja". 
 
Esta  opinião  foi  mantida  pela  Igreja  Primitiva,  pelo  bispo  Melitão  de 
Sardes  por  volta  do  ano  100  d.C:  “​Quando  cheguei  ao  Oriente  e 
encontrei-me  no  lugar em que essas coisas foram proclamadas e feitas, e 
conheci  com  precisão  os  livros  do  Antigo  Testamento,  avaliei  os  fatos  e 
os  enviei  a  ti.  São  estes  os  seus  nomes:  cinco  livros  de  Moisés,  Gênesis, 
Êxodo,  Números,  Levítico,  Deuteronômio,  Josué,  Juízes,  Rute,  quatro 
livros  dos  Reis,  os  dois livros de Crônicas, os Salmos de Davi, a Sabedoria 
de  Salomão:  Provérbios,  Eclesiastes  e  o  Cântico  dos  Cânticos;  Jó,  os 
profetas  Isaías,  Jeremias,  Os  Doze  Profetas  num  único  livro,  Daniel, 
Ezequiel, Esdras​”.  
 
O  pai  da  Igreja  Rufino  de  Aquileia  (340  –  410  d.C)  também  escreveu: 
“​Estes  são  os  que  os  Pais  incluíram  dentro  do  cânon,  pelos  quais  as 
afirmações  da  nossa  fé  são  firmadas;  contudo,  convém  saber  que  há 
outros  livros que não são canônicos, mas chamados, por nossos maiores, 
de  eclesiásticos,  como  a  Sabedoria  de  Salomão  e  a  outra  Sabedoria  que 
se  diz  do  filho  de  Siraque  [Eclesiástico];  da  mesma  ordem  é  o  livro  de 
Tobias  e  Judite  e  os  Macabeus,  que  no  máximo  são  lidos  na  igreja,  mas 
não  são  tidos  como  autoridade  por  onde  se  possa  firmar  coisas  da  fé​” 
(NPNF2  3:558;  Rufino,  sive  Cyp.  in  Explic.  Symboli).  Houve  certa  dúvida 
entre  os  pais  sobre  a  canonicidade  dos  livros  de  Ester  e  Baruc,  este 
segundo  fora  usado  pelo  reformador  João  Calvino  em  três  de  suas 
obras.  
 
Em  Origen  to  Africanus, Cap. II, o pai da Igreja Júlio Africano contesta as 
adições  de  Daniel  afirmando  que  eram  de  uma  composição  mais 
moderna feita por algum falante de grego, tratando estas histórias como 
adições  falsas  no  texto  revelado  do  Livro.  Agostinho  de  Hipona,  apesar 
de  sua  grande  influência  e  habilidade  com  as  doutrinas  da  graça,  era  o 
único  que  parecia  utilizar  os  apócrifos  em  suas  exortações,  porém  ele 
registra  que  apesar  disto,  os  argumentos  baseados  neles  não  eram 
aceitos sempre nas igrejas. 
 
A  formação  do  Novo  Testamento  tinha questões como a da inserção ou 
não  d’O  Pastor  de  Hermas,  Didaquê,  as  Epístolas  de  Barnabé,  I 
Clemente,  O  Apocalipse  de  Pedro  e  Hebreus.  Desta  lista  dos  discutíveis 
apenas  Hebreus  passou  como  um  livro  reconhecido  pela  sua  qualidade 
intrínseca,  mesmo  com  sua  autoria  incerta.  O  Pastor  de  Hermas  assim 
como  os  outros  traziam  problemas  doutrinários  em  desacordo  com  os 
livros  inquestionáveis.  Este  livro  ensinava a necessidade da penitência e 
a  possibilidade  de  perdão  de  pecados  apenas  uma  vez  após  o  batismo; 
ensina  também  que  o  Espírito  Santo  era  o  filho  de  Deus  antes  da 
encarnação  e  que  a  Trindade  só  passou  a  existir  depois  que  a 
humanidade de Cristo foi elevada ao céu.  
 
O  reformador  Martinho  Lutero,  a  princípio,  rejeitou  a  carta  de  Tiago, 
chamando-a  de  “carta  de  palha”;  depois  veio  a  aceitá-la,  interpretando 
que  o  autor  da  carta  apresenta  as  obras  como  consequência  da 
salvação  e  não  como  sua causa. Esta explicação é até hoje considerada 
a verdadeira no meio protestante. 
 
Atualmente,  a  Bíblia  conta  com  27  livros  no  Novo  Testamento,  e  39  no 
Antigo  Testamento  (uma  vez  que  os  24  livros  foram  separados  em 
partes  menores),  porém  a  Igreja  Católica  atualmente  adota  também  os 
deuterocanônicos na sua Bíblia seguindo a tradição alexandrina. 
 
 
 
 
André Marques 

Você também pode gostar