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Percepção da insegurança

Vivemos num período em que a percepção de insegurança nunca tinha sido tão elevada. As últimas estatísticas
apontam o Brasil entre os países mais inseguros do mundo segundo o 11º Anuário do Fórum Brasileiro de Segurança
Pública. Outros estudos promovidos pelo IPEA, FBI e UNODC, mostram o Brasil como um país de violência superior a
um estado de guerra, ocorrendo mais crimes por ano do que nos EUA, Rússia, China, TODA a Europa, Norte da
África, Japão, Indonésia, Austrália, Canadá e Nova Zelândia JUNTOS. Só no Brasil são mais de 60.000 assassinatos por
ano. Se somarmos todos os outros crimes de menor impacto a vida ou a propriedade, definitivamente estaremos na
primeira posição. O Brasil tem quatro vezes mais assassinatos que a Rússia e os EUA respectivamente, os dois países
em segundo e terceiros lugares em números absolutos. “É como se o Brasil sofresse um ataque de bomba atômica
por ano. São dados impressionantes, que reforçam a necessidade de mudanças urgentes na maneira como fazemos
políticas de segurança pública no Brasil. Não é possível aceitar que a sociedade conviva com esse nível de violência
letal”, diz Renato Sérgio de Lima, diretor-presidente do Fórum.

A percepção de risco é um sentimento humano complexo, variável de acordo com dados conhecidos, divulgação na
mídia, estímulos e expectativas. Relaciona-se através de uma troca, ou algo que fazemos para alcançarmos um outro
nível ou mudança de status. Estamos programados para realizarmos esta troca de acordo com o estímulo recebido e,
quanto mais perigoso e divulgado, mais nos chamará a atenção.

Muitas das informações (estímulos) são provenientes da grande mídia que se utiliza do perigo, do desconforto e do
sensacionalismo para aumentar ainda mais suas vendas, ou seja, nem sempre a sensação gerada pela informação
corresponderá a realidade, somente será majorada, causando mais impacto. No caso da sensação de insegurança
também ocorre este processo, bem como a relação entre o que é realidade e o que é sensação. Contudo, o status de
nossa realidade hoje corresponde ou é maior do que a percepção vislumbra. Nosso país está realmente doente em
relação a insegurança. Diariamente recebemos notícias de amigos, conhecidos e familiares que foram assaltados ou
escaparam por pouco. Assistimos incrédulos, a polícia prender várias vezes o mesmo meliante para ser solto
novamente pelo judiciário, através de juízes garantistas, apoiados pelas organizações de direitos humanos. Estas
últimas, sequer consideram o direito do cidadão de bem, no entanto, correm em auxílio do "pobre excluído" da
sociedade. Cabe diferenciar o pobre, o qual temos a obrigação de oportunizar a inserção nos benefícios da sociedade
do criminoso inescrupuloso, que mata mesmo não oferecendo qualquer reação.

Enquanto isso, a sociedade fica espremida e acuada entre os bandidos e suas grades de proteção sem a possibilidade
de se defender e ainda somos "aconselhados" a não reagir, tornando-nos presas ideais de um contingente cada vez
maior de assassinos violentos, possuidores de farto armamento e acobertados por leis inócuas e administrações
públicas ineficientes. Podemos acrescentar a receita, a própria degradação de nossas capitais como Porto Alegre,
sofrendo em dívidas, salários, falta de oportunidades, abandonos e descaso por onde circulamos, parecendo mais
como uma cidade apocalíptica cheia de mato, buracos e pichações. O exemplo clássico da teoria das janelas
quebradas.

Em minha análise, estamos vivendo um período negro da história brasileira. Exemplos de como funciona nós temos:
é só visitar Gramado, Canela e varias outras cidades que possuem cuidados e boa manutenção. Ou tomamos
atitudes e pressionamos nossas instituições ou estaremos fadados a circular por nossas cidades sempre olhando ao
redor e agradecidos ao chegar ao nosso destino sem ter ocorrido algum problema. Para aqueles mais afortunados, a
saída tem sido outros países em busca de uma vida mais segura. Necessitamos quebrar este individualismo e
pensarmos mais em civilidade ou estaremos condenados à destruição de nossa sociedade, a qual um dia foi
considerada como acolhedora, amigável e feliz.

Mauro Nadruz - Gestor em Segurança da Activeguard, pós-graduado em gestão estratégica da segurança, analista e
professor.

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