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CASAS PROJETADAS PELO ARQUITETO FRANCISCO

PETRACCO: ESTUDOS SOBRE A CONCEPÇÃO


ESTÉTICA E ESTRUTURAL 1970 -1980
ANGELA COSTA DINIZ

Dissertação de Mestrado em Arquitetura apresentada ao Programa


de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade
Presbiteriana Mackenzie para obtenção do título de Mestre em
Arquitetura

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Eunice Helena Sguizzardi Abascal

São Paulo
2015
UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

ANGELA COSTA DINIZ

CASAS PROJETADAS PELO ARQUITETO


FRANCISCO PETRACCO: ESTUDOS SOBRE A
CONCEPÇÃO ESTÉTICA E ESTRUTURAL 1970 -
1980

São Paulo
2015
UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E
URBANISMO

CASAS PROJETADAS PELO ARQUITETO FRANCISCO


PETRACCO: ESTUDOS SOBRE A CONCEPÇÃO
ESTÉTICA E ESTRUTURAL 1970-1980

Dissertação de Mestrado em Arquitetura


apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Arquitetura e Urbanismo da
Universidade P r e s b i t e r i a n a M a c k e nzie
para obtenção do título de Mestre em
Arquitetura.

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Eunice Helena


Sguizzardi Abascal

São Paulo
2015
Ao meu pai, Blair Nobile Diniz.

À minha mãe, Martinha Oliveira Costa Diniz (in memoriam).


AGRADECIMENTOS

A Deus, Pai que nunca falha, que entre tantas coisas, me deu força, alegria e
satisfação de concluir o mestrado.

À minha orientadora, Prof.ª Dr.ª Eunice Helena S. Abascal, pela contribuição


dada ao meu aprendizado e crescimento durante o mestrado.

Ao professor (de arquitetura e de vida) Francisco Petracco, que disponibilizou


seu acervo, seu escritório e sua equipe de arquitetos, que disponibilizaram
muitas fotografias e contribuíram para minha organização do acervo.

À sua esposa, D. Elena Petracco, e seu filho, Fábio Petracco, que, gentilmente,
disponibilizaram sua própria casa e colaboraram na organização do acervo.

À Prof.ª Dr.ª Ana Maria Tagliari Flório, pelas sugestões na apresentação da


dissertação e pela muito solicita atenção prestada após a apresentação.

Ao Prof. Dr. Cândico Malta Campos Neto, pelos comentários e sugestões


apontadas na apresentação da dissertação.

Às Prof.as Dr.as Maria Alice Junqueira Bastos e Prof.as Dr.as Ruth Verde Zein,
pelos comentários e sugestões apontados no decorrer do exame de
Qualificação.

À Maria Regina Pittol, pelo incentivo constante.

A Paulo Jorge Almeida, pela companhia e apoio.


RESUMO

Esta dissertação de mestrado apresenta e analisa a produção arquitetônica


residencial do arquiteto Francisco M. L. Petracco (1935), no âmbito da
arquitetura moderna paulista a partir da década de 1950. A pesquisa listou 290
obras atribuídas ao Arquiteto e formou um banco de dados por meio de
fichamento dos projetos residenciais. O trabalho foi organizado em quatro
partes, divididas em capítulos: o primeiro apresenta a obra do arquiteto;
enfatiza a sua formação acadêmica e procura esclarecer a pertinência do
estudo da obra do arquiteto, apresentando suas principais obras; o segundo
esclarece o processo de fichamento das residências projetadas pelo arquiteto, a
produção de projetos residenciais, procurando distingui-los por tipologias; o
terceiro capítulo, no qual a pesquisa busca caracterizar o gesto projetual
presente na produção de Petracco; e, por fim, a última parte, formada pelos
capítulos seguintes, em que foram analisados os projetos residenciais da
Casa Vicente Izzo (1975), e da Casa Samuel Rothenberg (1982), que foram
eleitos como estudos de casos, dentre outras casas selecionadas. Ambos os
projetos estão situados nas décadas de 1970 e 1980, período de maior
produção do arquiteto.

Palavras-chave: Arquitetura Moderna. Escola Paulista Moderna.


Francisco Petracco. Projeto de Arquitetura. Análise de Projetos.
ABSTRACT

This master's thesis presents and analyzes the production of the architect
Francisco M.L. Petracco (1935, within São Paulo modern architecture in the
1950s. This survey h a s listed nearly 300 works attributed to the architect
and has also formed a database by doing a residential project filing of
Petracco’s works. The paper consists of four parts, divided into chapters: the
first chapter presents the work of the Architect, emphasizes his academic
formation, intends to clarify the relevance of studying the work of such an
architect and presents his major works; the second chapter explains the filing
process of residences projected by the Architect, the production of residential
projects, seeking to classify them into types; the fourth chapter, in which the
research seeks to characterize the gesture in this Petracco’s project-
production; and finally, the last part consists of the subsequent chapters, in
which the residential projects of Casa Vicente Izzo (1975), and Samuel
Rothenberg (1982), chosen as case studies, among other selected residential
buildings belonging to the period of the 1970s and 1980s, the most productive
of the Architect, have been analyzed,

Keywords: Modern Architecture. São Paulo’s Modern School.


Francisco Petracco. Architecture Projects. Project Analysis.
ÌNDICE DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1: Gráfico sobre porcentagem de tipologias dentro dos projetos do


arquiteto .......................................................................................................................... 19
Figura 2: Gráfico da produtividade ao longo dos anos ....................................... 19
Figura 3: Foto do arquiteto Francisco Petracco. ................................................. 32
Figura 4: Foto do Anteprojeto para o Concurso do Tênis Clube Presidente
Prudente (1966). ............................................................................................................. 36
Figura 5: Assembleia de Minas Gerais (1962). .................................................. 38
Figura 6: Assembleia de Minas Gerais (1962). .................................................. 38
Figura 7: Escultura de Caciporé Torres no Clube XV (1963). ........................... 39
Figura 8: Central Telefônica de Jales, SP (1968) ............................................... 40
Figura 9: Núcleo Educacional Santo Inácio (1975) ............................................ 41
Figura 10: Núcleo Educacional Santo Inácio (1975) .......................................... 41
Figura 11: Foto Clube XV de Santos (1963). ..................................................... 42
Figura 12: Ginásio de Itanhaém de Vilanova Artigas (1959) ............................. 42
Figura 13: Grupo Escolar CPOESP Gomes Cardim (1961) ............................... 43
Figura 14: Foto do edifício da Assembleia de Santa Catarina (1967) ................ 43
Figura 15: Corte da Residência na Cidade Jardim projeto de Marcos Acayba e
Marlene Acayba (1972). ................................................................................................. 44
Figura 16: Foto durante a construção da Residência na Cidade Jardim, projeto de
Marcos Acayba e Marlene Acayba (1972). .................................................................... 44
Figura 17: Rodoviária de Jaú, de Vilanova Artigas (1973). ............................... 46
Figura 18: Residência Vilázio Lellis (1985). ...................................................... 46
Figura 19: Planta da Agência bancária BANESPA de Dois Córregos (1963). .. 47
Figura 20: Fachada da Agência bancária BANESPA de Dois Córregos (1963).
........................................................................................................................................ 47
Figura 21: Foto do Pilar da Residência Vicente Izzo (1972)............................. 47
Figura 22: Imagem do Terminal TWA do Aeroporto de Kennedy de Eero
Saarienen (1959) ............................................................................................................. 56
Figura 23: Falling Water House, de Frank Lloyd Wright (1935) ....................... 57
Figura 24: Casa Baeta, de Vilanova Artigas (1956). .......................................... 58
Figura 25: Casa de Canoas, de Oscar Niemeyer (1954) ..................................... 59
Figura 26: Foto da Casa Noedy Freire (1958) logo após sua construção. .......... 63
Figura 27: Redesenho da Planta da Casa Noedy Freire (1958). ......................... 63
Figura 28: Foto da Residência Maria Emília (1973............................................ 66
Figura 29: Foto Recente da Residência Maria Emília (1973). ........................... 66
Figura 30: Redesenho da Planta do Térreo da Residência Maria Emília (1973).67
Figura 31: Redesenho dos Cortes e Elevações da Residência Maria Emília
(1973).............................................................................................................................. 67
Figura 32: Destaques da Planta da Residência Maria Emília (1973) ................. 68
Figura 33: Foto da Casa Simon Fausto (1961) Autoria: Benedito Lima de
Toledo. ............................................................................................................................ 69
Figura 34: Planta da Casa Simon Fausto (1961) ................................................ 69
Figura 35: Fachada da Casa Simon Fausto (1961). ............................................ 69
Figura 36: Publicação de Casa à beira da Represa (1980).................................. 71
Figura 37: Noedy Freire/ 1958 ........................................................................... 72
Figura 38: Maria Emilia/ 1973 ........................................................................... 73
Figura 39: Moutinho/1975 e Edson Dohi/1975 .................................................. 74
Figura 40: Shigeaki/ 1977 e Ubajara/ SI............................................................. 75
Figura 41: Casa na Represa/ 1980 ...................................................................... 76
Figura 42: Pilão/ 1984 ........................................................................................ 77
Figura 43: Jorge Gabriel/1983 e Mario Nicoli/ 1986 ......................................... 78
Figura 44: Àlvaro Buono e FOAP/ 1989 ............................................................ 79
Figura 45: Fazenda Bahia/ 1993 e Rancho Wania/SI ......................................... 80
Figura 46: Olacyr Moraes/ SI ............................................................................. 81
Figura 47: Foto do Projeto Executivo da Fachada Lateral da Residência de
Iguatemy Andrade (1965). .............................................................................................. 83
Figura 48: Foto do Projeto Executivo da Fachada Frontal da Residência de
Iguatemy Andrade (1965). .............................................................................................. 83
Figura 49: Foto da Residência Ítalo Lorenzi (1970) Destaque para as abóbadas.
Fonte: Revista Projeto e Construção. São Paulo, n.37, p.22 dez, 1973. Destaque para
Abóbadas na Foto da Residência Ítalo Lorenzi (1973). ................................................ 84
Figura 50: Redesenho: Planta do Primeiro Pavimento da Residência Ítalo
Lorenzi (1973) ................................................................................................................ 85
Figura 51: Redesenho dos Cortes da Residência Italo Lorenzi (1973)............... 85
Figura 52: Redesenho da Planta do Pavimento Superior da Residência Ítalo
Lorenzi (1973). ............................................................................................................... 86
Figura 53: Redesenho Vista 01 Lateral e Vista Frontal da Residência Ítalo
Lorenzi (1973). ............................................................................................................... 86
Figura 54: Redesenho da Planta Térrea da Residência Italo Lorenzi com
destaque aos pilares e áreas sociais destacasem cinza escuro (1973)............................. 87
Figura 55: Redesenho da Planta Superior da Residência Italo Lorenzi com
destaque aos pilares e áreas sociais destacasem cinza escuro (1973)............................. 87
Figura 56: Destaque para as Abóbadas - Foto da Maquete da Residência Mike
Racy (1974). Fonte: Francisco Petracco ......................................................................... 88
Figura 57: Foto da Residência Cláudio Morelli (1978) ...................................... 88
Figura 58: Foto da Residência Pedro Marrey (1981) ......................................... 89
Figura 59: Foto da Residência Pedro Marrey (1981) – Detalhe pergolados ...... 89
Figura 60: Foto da Maquete do Residencial Enseada (1970). ............................ 90
Figura 61: Iguatemy Andrade/1965 .................................................................... 91
Figura 62: Lorenzi/ 1970 .................................................................................... 92
Figura 63: Sadao Kayano/ 1975 ......................................................................... 93
Figura 64: Mike Racy/1975 ................................................................................ 94
Figura 65: S. Rothenberg/1978 ........................................................................... 95
Figura 66: Claudio Morelli/1978 ........................................................................ 96
Figura 67: Pedro Marey/1981 ............................................................................. 97
Figura 68: Ricardo Costa/1981 ........................................................................... 98
Figura 69: Martin Sushemihl/1982 ..................................................................... 99
Figura 70: Repolho/1989 .................................................................................. 100
Figura 71: F.Araújo e M.Machado/1990 .......................................................... 101
Figura 72: Nilton Gome/ SI .............................................................................. 102
Figura 73: Carlo Babini/SI................................................................................ 103
Figura 74: Mauricio Henriques/SI .................................................................... 104
Figura 75: Sérgio Chimelli/ SI .......................................................................... 105
Figura 76: Foto da Residência FOAP (1980) ................................................... 107
Figura 77: Foto interna da Residência FOAP (1980) ...................................... 107
Figura 78: Foto da Residência FOAP (1980) ................................................... 108
Figura 79: Redesenho da Planta do Térreo da Residência FOAP (1980)......... 108
Figura 80:Redesenho da Planta Superior da Residência FOAP (1980) ........... 109
Figura 81: Redesenho do Corte AA da Residência FOAP (1980) ................... 109
Figura 82: Redesenho do Corte BB da Residência FOAP (1980) .................... 109
Figura 83: Redesenho da Elevação da Residência FOAP (1980)..................... 110
Figura 84: Redesenho da Planta Térrea da Residência FOAP (1980) – Relação
de espaços sociais em escuro com outros, mais claros. ................................................ 110
Figura 85: Redesenho da Planta Supeior da Residência FOAP (1980) – Relação
de espaços sociais em escuro com outros, mais claros. ................................................ 110
Figura 86: Redesenho dos Cortes da Residência FOAP (1980) – Relação de
espaços sociais em escuro com outros, mais claros. .................................................... 111
Figura 87:Fotos da Residência Jayme Gabriel (1981). ..................................... 111
Figura 88:Fotos da Residência Jayme Gabriel (1981). ..................................... 112
Figura 89:Fotos da Residência Jayme Gabriel (1981). ..................................... 112
Figura 90: Fotos da Residência Jayme Gabriel (1981). .................................... 113
Figura 91:Fotos da Residência Jayme Gabriel (1981). ..................................... 113
Figura 92:Redesenhos da Residência Jayme Gabriel (1981)............................ 114
Figura 93:Redesenhos da Residência Jayme Gabriel (1981) – Destaque para as
àres sociais em cinza escura. ........................................................................................ 115
Figura 94: Croqui da Perspectiva Externa da Residência Vilázio Lellis (1985)
...................................................................................................................................... 116
Figura 95: Croqui da Perspectiva Interna da Residência Vilázio Lellis (1985).
...................................................................................................................................... 116
Figura 96: Foto da Residência Vilázio Lellis (1985): ...................................... 116
Figura 97: Redesenho da Planta do Térreo da Residência Vilázio Lellis (1985)
...................................................................................................................................... 117
Figura 98:Redesenho da Planta Superior da Residência Vilázio Lellis (1985)
...................................................................................................................................... 118
Figura 99:Redesenho da Planta do Subsolo da Residência Vilázio Lellis (1985)
...................................................................................................................................... 118
Figura 100: Redesenho: Cortes da Residência Vilázio Lellis (1985) ............... 119
Figura 101: Redesenho: Vistas da Residência Vilázio Lellis (1985) ............... 119
Figura 102: Redesenho para Análise das Plantas da Residência Vilázio Lellis
(1985) – Com destaque às àreas sociais em cinza escura. ............................................ 120
Figura 103:Redesenho para Análise dos Cortes da Residência Vilázio Lellis
(1985) – Com destaque às àreas sociais em cinza escura. ............................................ 120
Figura 104: FOAP/1980 ................................................................................... 121
Figura 105: Augusto Ponsvilla/1981 e Sadao Kayano/1981 ............................ 122
Figura 106: Jayme Gabriel/1981 ...................................................................... 123
Figura 107: Volázio Lellis/1985 ....................................................................... 124
Figura 108: Dalla Libera/1987.......................................................................... 125
Figura 109: Nelson Huffel/SI ........................................................................... 126
Figura 110: Dalton Pereira/ SI .......................................................................... 127
Figura 111: Jayme Gabriel/ SI .......................................................................... 128
Figura 112: Roberto T. Gabriel/ SI ................................................................... 129
Figura 113: May Zaydan/ SI ............................................................................. 130
Figura 114:Corte do Anteprojeto da Residência de Dalton Pereira, em Ibiúna, SP
(sem data) ..................................................................................................................... 131
Figura 115: Fachada da Residência Paulão (sem data)..................................... 131
Figura 116: Vicente Izzo/ 1972 ........................................................................ 132
Figura 117: Guido Perrotti/1974 ....................................................................... 133
Figura 118: S. Rothenberg/1982 ....................................................................... 134
Figura 119: Dalton Pereira/ SI .......................................................................... 135
Figura 120: Mihel Efeiche/ SI .......................................................................... 136
Figura 121: Paulão/ SI ...................................................................................... 137
Figura 122: Jubran/1971; Manuel Pinto/1973; Rafaell D' Amico/ 1975; Eraldo
Funaro/ 1975; José Serrano/1975; ................................................................................ 138
Figura 123: Darcy Toledo/ 1977; J.C. Posses/1985; Jordanópolis; L. Krubusly/SI
...................................................................................................................................... 139
Figura 124: Luis Izzo/ SI; J. Aparecido ............................................................ 140
Figura 125:Perspectiva da Casa Experimental (1965)...................................... 142
Figura 126:Planta da Unidade Habitacional (1965) ......................................... 143
Figura 127:Corte da Unidade Habitacional (1965) .......................................... 143
Figura 128:Elevação da Unidade Habitacional e Bloco (1965). ...................... 143
Figura 129:Implantação do Conjunto Habitacional (1965) .............................. 144
Figura 130:Fotos de Maquetes das Três Tipologias de Unidades Habitacionais
COHAB Caçapava (1969) ............................................................................................ 145
Figura 131:Corte de Edifício COHAB Caçapava (1969). ................................ 145
Figura 132:Foto de Maquete do Conjunto Habitacional COHAB Caçapava
(1969)............................................................................................................................ 146
Figura 133: Fotografia Recente da Residência Rothenberg (1982).................. 160
Figura 134: Croqui da Residência Rothenberg (1982) ..................................... 161
Figura 135: Imagem da Igreja de Sao Francisco de Assis, de Oscar Niemeyer
(1943)............................................................................................................................ 163
Figura 136: Imagem da Igreja de Sao Francisco de Assis, de Oscar Niemeyer
(1943)............................................................................................................................ 163
Figura 137: Foto da Planta Térrea do Projeto Executivo de 1983 da Residência
Vicente Izzo. ................................................................................................................. 164
Figura 138: Foto das Elevações do Projeto Executivo de 1983 da Residência
Vicente Izzo. ................................................................................................................. 165
Figura 139: Foto da Construção da Fachada Frontal da Residência Samuel
Rothenberg em 1993. .................................................................................................... 166
Figura 140: Foto da Construção da Fachada Posterior da Residência Samuel
Rothenberg em 1993. .................................................................................................... 167
Figura 141: Redesenho da Implantação da Residência Samuel Rothenberg
(1982)............................................................................................................................ 168
Figura 142:Redesenho da Planta: Térreo e Pavimento Superior da Residência
Samuel Rothenberg (1982) ........................................................................................... 169
Figura 143: Redesenho dos Cortes e Vistas da Residência Samuel Rothenberg
(1982)............................................................................................................................ 170
Figura 144: Perspectiva Isométrica do Modelo da Residência Samuel
Rothenberg (1982) ........................................................................................................ 171
Figura 145: Foto da Maquete da Residência Samuel Rothenberg (1982). ....... 172
Figura 146: Perspectiva Isométrica Explodida do Modelo da Residência Samuel
Rothenberg (1982) ........................................................................................................ 172
Figura 147: Foto da Vista Frontal da Maquete da Residência Samuel Rothenberg
(1982)............................................................................................................................ 173
Figura 148:Foto da Vista Posterior da Maquete da Residência Samuel
Rothenberg (1982). ....................................................................................................... 173
Figura 149:Foto do Pavimento Térreo da Maquete da Residência Samuel
Rothenberg (1982). ....................................................................................................... 174
Figura 150: Foto do Pavimento Superior da Maquete da Residência Samuel
Rothenberg (1982). ....................................................................................................... 174
Figura 151: Diagramas de Acesso, Circulação S. Roth .................................... 175
Figura 152: Diagramas de Graus de Compartimentação, Hierarquia ............... 176
Figura 153:Simetria e Equilíbrio e Campos Visuais. Residência Samuel
Rothenberg (1982). ....................................................................................................... 176
Figura 154: Relação entre Planta e Corte, Diagrama Geometria Residência
Samuel Rothenberg (1982). .......................................................................................... 177
Figura 155: Diagrama de Massa. Residência Samuel Rothenberg (1982). ...... 177
Figura 156:Diagramas de Adição e Subtração - Residência Samuel Rothenberg
(1982)............................................................................................................................ 178
Figura 157: Residência Vicente Izzo (1972). ................................................... 182
Figura 158: Matéria sobre a Casa Vicente Izzo. ............................................... 183
Figura 159: Imagem da década de 60 da praia próxima ao Costão das Tartarugas
localizado no Guarujá. .................................................................................................. 184
Figura 160: Imagem da ocupação atual. ........................................................... 184
Figura 161:Fotografia do Corte Original do Anteprojeto da Residência Vicente
Izzo (1972) .................................................................................................................... 185
Figura 162:Fotografia da Planta Original do Anteprojeto da Residência Vicente
Izzo (1972). ................................................................................................................... 186
Figura 163:Perspectiva Interna do Anteprojeto da Residência Vicente Izzo
(1972)............................................................................................................................ 187
Figura 164: Fotografia da Planta do Térreo Original do Projeto Executivo da
Residência Vicente Izzo (1972). ................................................................................... 188
Figura 165: Planta de Paisagismo Original do Projeto Executivo da Residência
Vicente Izzo (1972) ...................................................................................................... 189
Figura 166: Cobertura do Hipódromo de la Zarzuela, Madrid de Eduardo Torroja
Miret (1935). ................................................................................................................. 190
Figura 167: Cobertura do Velódromo de Miami, de Hilario Candela (1964). . 191
Figura 168: Fotografia da Entrada da Residência Izzo (1972) ......................... 192
Figura 169: Fotografia interna da Residência Izzo (1972). .............................. 192
Figura 170: Cozinha da Residência Izzo (1972)............................................... 193
Figura 171: Fotografia da Piscina da Residência Izzo (1972) .......................... 194
Figura 172: Fotografia da Fachada Oeste da Residência Izzo (1972) .............. 195
Figura 173: Redesenho do Projeto Vicente Izzo (1972) ................................... 197
Figura 174: Perspectiva da Residência Vicente Izzo. ....................................... 198
Figura 175: Perspectiva da Residência Vicente Izzo (1972). ........................... 198
Figura 176: Foto da Maquete da Residência Vicente Izzo (1972) ................... 199
Figura 177: Maquete da Residência Vicente Izzo (1972)................................. 199
Figura 178: Maquete da Residência Vicente Izzo (1972) sem cobertura. ........ 200
Figura 179: Gráficos de Acesso e Perímetro, Circulação Residência Vicente Izzo
(1972)............................................................................................................................ 201
Figura 180: Diagramas de Compartimentação e Hierarquia Residência Vicente
Izzo (1972). ................................................................................................................... 201
Figura 181: Gráficos de Simetria e Equilíbrio, Campos Visuais Residência
Vicente Izzo (1972). ..................................................................................................... 202
Figura 182: Relação Planta-Corte e Geometria da Residência Vicente Izzo
(1972)............................................................................................................................ 202
Figura 183: Gráficos de Massa da Residência Vicente Izzo (1972). ................ 203
Figura 184: Gráficos de Adição e Subtração da Residência Vicente Izzo (1972)
...................................................................................................................................... 203
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .................................................................................. 17

CAPÍTULO 1 - FRANCISCO PETRACCO: FORMAÇÃO E

CONTRIBUIÇÃO À ARQUITETURA MODERNA PAULISTA ........................ 26

1.1. A geração do arquiteto Francisco Petracco e o ambiente histórico da

década de 1950 no Brasil e em São Paulo ................................................... 26

1.2. A carreira de Francisco Petracco .................................................. 32

1.3. A carreira acadêmica .................................................................... 49

CAPÍTULO 2 – A PRODUÇÃO DE PROJETOS RESIDENCIAIS ........ 52

2.1. Referências Nacionais e Internacionais dos projetos residenciais de

Petracco ......................................................................................................... 52

2.2. Informações sobre as residências ................................................. 60

2.3. Os principais partidos arquitetônicos: A configuração de princípios de

análise dos projetos de Francisco Petracco .................................................... 62

2.3.1. Pavilhões ................................................................................... 65

2.3.2. Caixa elevada e estruturada por pórticos ................................... 82

2.3.3. Formas orgânicas ...................................................................... 106

2.3.4. Coberturas principais com alusão ao desenho do voo do pássaro131

2.4. Casas populares ........................................................................... 141

CAPÍTULO 3 – GESTO PROJETUAL E ANÁLISE DA ARQUITETURA

RESIDENCIAL DE FRANCISCO PETRACCO ............................................ 148

CAPÍTULO 4 – CASA SAMUEL E CLÁUDIA ROTHENBERG .......... 159

CAPÍTULO 5 – CASA VICENTE IZZO ............................................. 182

CONCLUSÃO .................................................................................. 207

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................. 213

ANEXOS ..................................................................................... 217


17

INTRODUÇÃO

Este trabalho tem por objetivo geral compreender a produção arquitetônica da


geração de arquitetos paulistas que, a partir da década de 1950, com a afirmação da
arquitetura moderna no país, por meio da contribuição de Lúcio Costa, Oscar
Niemeyer, Rino Levi e Affonso Reidy, explorou a chamada arquitetura brutalista,
mais evidente em São Paulo, e encabeçada pelos arquitetos Vilanova Artigas e
Paulo Mendes da Rocha.
No âmbito mais restrito, a presente dissertação de mestrado versa sobre a
produção arquitetônica residencial e a trajetória profissional do arquiteto Francisco L.
M. Petracco (1935) no âmbito da arquitetura moderna paulista de 1970 e 1980.
Os projetos de Francisco Petracco, escolhidos segundo o critério inicial da
exuberância plástica e singularidade formal e estrutural, incluíram as casas de
Vicente Izzo (1972-1975) e de Samuel Rothenberg (1982-1993), ambas
apresentadas e analisadas nesta dissertação. Elas também foram escolhidas como
tema devido tanto aos partidos de linguagem singular, quanto ao experimentalismo
dos sistemas estruturais e à sofisticação dos detalhes construtivos. Tais elementos
criam, por sugestão, espaços arquitetônicos especiais, que fazem transcender o
lugar comum, pois a materialidade e a estrutura são elementos inovadores, que,
muitas vezes, subvertem programas tradicionais e partidos convencionais em função
da sensibilidade do Petracco no que diz respeito ao modo como esses elementos
são manipulados nos projetos residenciais do arquiteto. Essa conduta e resultado
comum observados nos projetos do Petracco instigam o aprofundamento do estudo
da sua produção.
As casas projetadas por Francisco Petracco são parte significativa de sua
obra. Sua produção arquitetônica residencial possui elementos que se destacam,
entre os quais a tectônica da estrutura, os espaços amplos, a valorização da textura
e os jogos de cheios e vazios e luzes e sombras, elementos estes que esclarecem a
singularidade de seus projetos.
Enfatiza-se, e esta é a linha condutora do trabalho, a relação da materialidade
e soluções estruturais e da arquitetura. Pretende-se também reforçar que as
qualidades plásticas resultam dessa dissociação da estrutura e solução material,
revelando-se uma complexa relação entre estrutura, espaço e forma, o que contraria
18

argumentos funcionalistas que mascaram a arquitetura à luz do racionalismo e da


organização programática. Para a investigação e análise de projetos, serão
utilizadas análises gráficas a partir de redesenhos dos projetos das residências e de
modelagens digitais e maquetes físicas.
A fim de levar a cabo a análise das obras residenciais escolhidas, foram
utilizados os seguintes procedimentos:

Levantamento

Durante a pesquisa da obra de Francisco Petracco, após levantamento dos


projetos disponíveis em seu acervo, foram listados 290 deles, sendo 60 de
residências, produção bastante considerável, e que cresce até os dias de hoje, pois
o arquiteto continua a produzir. Gráficos com dados relativos às datas e às tipologias
revelam que o período de maior produtividade do arquiteto foi de 1960 a 1980. Os
gráficos a seguir revelaram que a tipologia mais frequente entre os projetos de
Francisco Petracco é a residencial, constituída por casas particulares, tendo sido
esse o objeto escolhido como corpus desta dissertação.
19

Figura 1: Gráfico sobre porcentagem de tipologias dentro dos projetos do arquiteto

Figura 2: Gráfico da produtividade ao longo dos anos


20

Revisão bibliográfica

O estudo bibliográfico foi realizado em periódicos, artigos, teses, dissertações


e livros referentes ao tema desta pesquisa e visa contextualizar historicamente o
arquiteto estudado, de modo a identificar as suas premissas arquitetônicas e sua
metodologia de projeto, além de procurar um referencial para análise do objeto.
Esta etapa foi realizada com base em pesquisas de periódicos na biblioteca
da FAU-USP, dissertações e teses nas bibliotecas da FAU-Mackenzie, FAU-USP e
FAU Maranhão, além de acervos de bibliotecas online de outras universidades,
como a da Universidade Anhembi-Morumbi.

Pesquisa gráfica, sistematização e redesenho: modelagem digital como


meio analítico

A pesquisa contou ainda com a disponibilidade do acervo particular do


arquiteto, localizado em seu escritório. O acervo conta com projetos, memoriais,
documentos dos projetos feitos ao longo da carreira de Francisco Petracco.
Na sua maioria, o suporte dos desenhos originais é o papel vegetal de
natureza variada e as técnicas predominantes são os desenhos em grafite e
nanquim. Os desenhos de estudos preliminares são geralmente os mais
exuberantes (provavelmente tais técnicas de desenho eram utilizadas como recurso
de convencimento do projeto para o cliente), produzidos em suporte de folha
vegetal, com desenhos em nanquim. Muitos apresentam os preenchimentos de
pisos, de jardins e das estruturas a graxa ou por películas de papéis coloridas ou
com alguma padronagem gráfica impressa. No acervo, foram encontradas
reproduções em papel e até em poliéster.
O estado de conservação da coleção é razoável, sendo, no entanto,
frequentes os danos mecânicos, como rasgos, vincos, dobras, distorções e umidade.
O fator causador desses danos é a armazenagem inadequada para obras de
grandes formatos, além do manuseio descuidado. Durante o levantamento, muitas
vezes foram encontradas, dentro da mesma caixa ou tubo, plantas de outros
21

projetos ou plantas com diferentes desenhos para uma mesma pessoa, as quais
necessitaram ser identificadas.
Foi realizada uma organização sistemática dos projetos disponíveis no acervo
do arquiteto, registrando-se o máximo possível de informações, como: nome do
cliente, local do projeto, data e as peças disponíveis que compõem o projeto. A
pesquisadora teve dificuldade em preencher todas as informações, pois muitos
desenhos encontrados não apresentavam registro de data e local, dados
importantes para analisar a obra e contextualizá-la dentro carreira do arquiteto.

Análise de projetos

Os projetos residenciais selecionados para estudo de caso foram


reconstituídos por meio de redesenhos, modelagens digitais e maquetes físicas, que
serviram para o entendimento da materialidade e da relação intrínseca da
materialidade e do sistema estrutural. O objetivo da reconstituição é resgatar o
passado histórico, atualizando-o e, assim, compreendendo a arquitetura. O
procedimento é a utilização de métodos digitais e físicos, com a representação
projetual e a reconstituição da arquitetura.
Os produtos do levantamento de residências foram classificados em
categorias, a fim de se ter uma visão geral da produção de projetos residenciais e
identificar continuidades ou não, bem como as principais recorrências. Os conjuntos
de soluções arquitetônicas recorrentes entre os projetos foram resumidos em quatro
categorias:

1. Pavilhões;
2. Caixa elevada e estruturada por pórticos;
3. Formas orgânicas;
4. Coberturas principais com alusão ao desenho do voo do
pássaro.

Assim, serão apresentados os projetos residenciais, de forma a classificá-los


em cada categoria. Um projeto residencial será analisado a fim de exemplificar cada
categoria.
22

Para a representação gráfica dos redesenhos e organização de dados por


meio de fichas, a pesquisa considerou como exemplo o livro Residências em São
Paulo: 1947-1975, de Marlene Acayba, produzido em 1986 e reeditado em 2011.
Os redesenhos e modelagens foram analisados à luz de critérios e
características que esclarecem a arquitetura moderna no período analisado,
enumeradas por Ruth Verde e Maria Alice Junqueira Bastos, em 2010, no livro
Brasil: arquiteturas após 1950. Essas características destacam pontos importantes
na concepção de um projeto arquitetônico e ajudaram a direcionar a análise do
objeto.
Além disso, os objetos de estudo foram submetidos aos gráficos analíticos
formulados pelo professor Wilson Flório em 2002, no livro: Projeto Residencial
Moderno e Contemporâneo: análise gráfica dos princípios da forma, ordem e espaço
de exemplares da produção arquitetônica residencial. A opção por esse método de
análise se deu por apresentar uma clara concepção de conceitos de projeto por
meio da imagem, sendo resultado de uma pesquisa feita na Universidade
Presbiteriana Mackenzie com o objetivo de estabelecer princípios de análise gráfica
de projetos. De acordo com o próprio Flório:

O principal instrumental do arquiteto é a capacidade de pensar e de


expressar-se por meio de desenhos. Nesse sentido, vemos como
natural essa procura de entendimento e de síntese da obra
arquitetônica pelo mesmo instrumental que a produziu. (2002, p.9)

Sendo assim, a análise a ser apresentada na pesquisa dos projetos


residenciais de Francisco Petracco é fruto destas diversas fontes, as quais, na
apresentação dos projetos, irão complementar-se e orientar no sentido de
proporcionar uma análise mais profunda.

Seleção de projetos

Os projetos das casas selecionadas foram destacados com base no


levantamento geral da obra do arquiteto Francisco Petracco, feito ao longo da
pesquisa de mestrado, a partir dos registros e documentos gráficos disponíveis no
próprio acervo do arquiteto. Para a seleção de projetos para estudo de caso da
23

dissertação, foram fichadas as casas projetadas pelo arquiteto entre as décadas de


1970 e 1980, período em que houve a maior produção de projetos residenciais e que
também apresenta os projetos mais significativos e de maior exuberância – por
exemplo, a Casa Vicente Izzo na Praia da Enseada, no Guarujá de 1974, publicada
em revistas na época e apresentada na tese de doutorado do arquiteto (2004).
Para eleger as casas que serviriam como objetos de pesquisa, os critérios de
escolha para estudos de caso se fundamentaram em Foqué, no livro Building
Knowledge in Architecture, escrito em 1943 (edição de 2010). Esses critérios são os
seguintes:

• As casas devem ter sido construídas entre as décadas de 1970 e 1980 (data
definida pela pesquisa);

• Devem prover a pesquisa de informações suficientes para compreensão e


redesenho do projeto;

• Os projetos devem ser relevantes;

• Deve haver publicações existentes dos projetos selecionados;

• Devem possuir forma envolvente e de destaque como primeira impressão;

• Deve haver possibilidade de acesso às casas.

Contudo, nenhum dos projetos residenciais de Francisco Petracco satisfaz


integralmente os critérios de seleção acima relacionados. Optou-se, então, por
selecionar casas que atenderam à maioria dos critérios de Foqué e que tenham sido
citadas pelo arquiteto em sua tese de doutoramento, demonstrando, assim, sua
relevância graças à menção no âmbito do conjunto da obra. Assim, tem-se:

• Residência Vicente Izzo, Guarujá, 1972.


• Residência Samuel Rothenberg, Ubatuba, 1982.

Pesquisa de campo

Infelizmente, a pesquisa de campo, constituída por visita à obra e seu


levantamento, não foi feita, pois nenhum proprietário das casas estudadas abriu sua
24

porta, por questões que nos escapam. Optou-se, então, pela análise com base no
material documental de projetos do arquiteto, que tivessem o maior número de
fotografias disponíveis dentre os arquivos do próprio arquiteto. Esses foram
selecionados como objetos de estudo e referenciais de peças gráficas, mesmo que
estas tenham servido para alimentar o redesenho.
A pesquisa parte da justificativa de que a obra do arquiteto Francisco
Petracco integra uma geração de arquitetos formadores do movimento moderno em
São Paulo e no País, geração constituída por arquitetos como Paulo Mendes da
Rocha, Jorge Wilheim, Telésforo Cristófani, Roberto Aflalo, Alfredo Paesani, Fábio
Penteado, Pedro Paulo Melo Saraiva, entre tantos outros. Todos eles são herdeiros
do debate arquitetônico no Brasil do início do século XX – do ideário divulgado por
Le Corbusier, Lúcio Costa, Lina Bo Bardi, Rino Levi e Oswaldo Bratke — que muito
contribuíram para dar impulso à disseminação da arquitetura moderna no país.
Formados nas décadas de 1940 e 1950, viveram um momento histórico marcado
pelo otimismo desenvolvimentista, devido à consolidação da indústria. Na época
assistia-se ao crescimento do mercado imobiliário na cidade de São Paulo, bem
como no Estado e no Brasil, como um grande promotor da arquitetura e principal
investidor em infraestrutura, responsável pela construção de Brasília e de grandes
obras impulsionadas por meio de concursos públicos de arquitetura (PETRACCO,
2004). Durante esse período, os arquitetos responderam à altura das expectativas,
atendendo à ânsia de desenvolvimento e à oportunidade de realizar projetos para
grandes empreendimentos embasados em teorias e posicionamentos, além de
avanços tecnológicos da época (REIS FILHO, 2006).
Este trabalho tem também por objetivo geral compreender a produção
arquitetônica da geração de arquitetos paulistas que, a partir da década de 1950,
com a afirmação da arquitetura moderna no país, por meio da contribuição de Lúcio
Costa, Oscar Niemeyer, Rino Levi e Affonso Reidy, explorou a chamada arquitetura
brutalista, mais evidente em São Paulo, encabeçada pelos arquitetos Vilanova
Artigas e Paulo Mendes da Rocha.
A arquitetura moderna se desenvolveu de maneira expressiva na América
Latina a partir de 1945 e em países que se beneficiaram do fim da 2ª. Guerra
Mundial, no âmbito do Brasil de Kubitschek, e em outros países do continente, que
adotaram uma visão própria da arquitetura moderna: exuberante, monumental, com
25

expressivo desenvolvimento estrutural e constituindo-se como integradora das artes


(MONTANER, p.25, 2001).
Desta forma, a pesquisa pretende contribuir para amplificar o repertório
estudado de arquitetura moderna em São Paulo e no Brasil e lançar luz a
exemplares pouco divulgados em revistas e em livros, que podem reforçar a
compreensão do desenvolvimento e consagração da arquitetura moderna e que se
destacam por sua linguagem em sua época de produção.
E, principalmente, esta pesquisa pretende contribuir para esclarecer o
momento de transição entre a formação clássica e a formação de uma Escola
Moderna, na qual se podem destacar os arquitetos formados no Mackenzie. Trata-se
de uma geração que avançou sem deixar de lado os princípios e o estado da arte da
prática e da concepção da arquitetura de seus mestres, com coragem para o ato de
criar utilizando-se de dois meios: um estético-formalista, e outro funcional-
racionalista. Esses arquitetos trataram de aproveitar a oportunidade para explorar
novas linguagens e técnicas construtivas e criar uma nova função social da
arquitetura.
26

CAPÍTULO 1 - FRANCISCO PETRACCO: FORMAÇÃO E


CONTRIBUIÇÃO À ARQUITETURA MODERNA PAULISTA

1.1. A geração do arquiteto Francisco Petracco e o ambiente histórico


da década de 1950 no Brasil e em São Paulo

A intensa produção arquitetônica dos arquitetos diplomados pela Faculdade


de Arquitetura Mackenzie no período que compreende a fundação dessa Escola
como Faculdade autônoma, em 1947, até 1965 relaciona-se à transição dos
paradigmas arquitetônicos acadêmicos para os modernos. É possível dizer que tais
transformações, do ideário e da prática arquitetônica em meio a essa transição,
incidiram de maneira significativa na educação dos arquitetos brasileiros e paulistas
(ABASCAL et al., 2013, p.3). Deve-se lembrar que elas correspondem ao período de
implantação e desenvolvimento da indústria nacional e consequente
desenvolvimento da infraestrutura necessária para a substituição das importações,
além de marcarem uma evolução da cultura nacional e afirmação da nacionalidade
de um país que procurava seu lugar no cenário da produção arquitetônica mundial
(ABASCAL et al., 2013, p.3).
Esse período corresponde aos anos com o maior crescimento da população e
intensificação do êxodo rural, levando à formação das grandes metrópoles e
caracterizando, na maior parte dos casos, um processo exponencial e desordenado
de crescimento urbano, pois a demanda era muito maior do que os recursos
disponíveis. A classe média também se expandiu, acompanhando o crescimento
econômico e demandando serviços de qualidade, tais como habitação, muitas vezes
oferecidos pela iniciativa privada (ABASCAL et al., 2013, p.3).
O marco dessas mudanças foi a Revolução de 1930, sobretudo a revisão da
legislação que regulamentava a produção de moradias pelas carteiras prediais dos
Institutos e Caixas de Aposentadoria e Pensões (IAP e CAPS). Depois, identifica-se
um segundo período, que se estendeu até o Golpe Militar, em1964. A primeira fase
corresponde ao reconhecimento da habitação como uma questão do Estado, que
interveio no mercado (BONDUKI, 2014, p.14 e 15). O atendimento das
27

reivindicações sociais, feito através dos Institutos de Aposentadoria e Pensões, por


exemplo, significou um grande investimento na construção, impulsionando, na
época, os escritórios de arquitetura e de engenharia.
Essas construções priorizavam a relação custo-qualidade e, para isso, foram
aplicados métodos racionalizados de projeto e construção, indicando um
conhecimento preciso por parte dos profissionais envolvidos nas dificuldades
técnicas e materiais implícitos nesse processo. Tal política foi notável para a época
em razão do número de unidades construídas e da qualidade física dos resultados
alcançados (BRUNA, 2010, p.120). No que se refere à qualidade física desses
resultados, impressiona a clareza com que as diretrizes do movimento moderno
foram consideradas pelos arquitetos e administradores que trabalharam nos projetos
dos IAPs, as quais refletem o conhecimento atualizado do debate internacional e o
resultado equilibrado das discussões internas, que, no Brasil, travaram-se sobre o
papel do Estado e da questão habitacional (BRUNA, 2010, p.122).
Assim, nos diversos centros urbanos brasileiros surgiram novos bairros,
oferecendo condições favoráveis ao acolhimento da arquitetura moderna. Esta, por
sua vez, também se apresentou na forma de edifícios corporativos, comerciais e
residenciais, dando oportunidade ao florescimento de uma intensa e renovada
prática arquitetônica. (ABASCAL et al., 2013, p.3).
A arquitetura brasileira ganhou notoriedade na década de 1950. No ano de
1956, o livro do arquiteto Henrique E. Mindlin foi publicado, visando fazer um
balanço completo da arquitetura moderna brasileira, com apresentação de obras
pelo país, mas com ênfase em Brasília, a nova capital (BRUNA, 2010, p. 160). Ao
compreender o momento histórico de incentivo à construção e ascensão da
arquitetura no país, também é possível avaliar a importância da formação dos
profissionais envolvidos no meio, que deram respostas rápidas e eficazes às
demandas da época. Como dizem Abascal et al:

A experiência pioneira no ensino e formação em Arquitetura no País,


a Faculdade de Arquitetura Mackenzie, viveu a transição de maneira
tensa e produtiva. Assistindo ao processo histórico, na FAU
Mackenzie jovens estudantes motivados pela modernidade em
marcha e embasados pela sólida formação acadêmica que
receberam nos bancos escolares, tornaram-se ao mesmo tempo
hábeis projetistas acadêmicos e agentes da prática e consolidação
da arquitetura moderna em São Paulo e no Brasil (2013, p.3)
28

A formação de Francisco Petracco na Faculdade de Arquitetura Mackenzie,


assim como de outros reconhecidos arquitetos paulistas diplomados por essa
escola, como José Maria Gandolfi, João Carlos Bross, Maurício Tuck Schneider,
Roberto Ciampolini Bratke, Décio Tozzi, entre tantos outros, ocorreu a partir de
sólida base acadêmica nos moldes da École de Beaux Arts de Paris e da transição
representada pela incorporação de princípios modernos. A familiaridade com esse
novo referencial, que foi sendo transmitido aos diplomados pela FAU Mackenzie,
não é um processo linear e de causas imediatamente detectáveis, por consistir em
complexa constelação de fatores, acontecimentos e caminhos (ABASCAL et al.,
2013, p.3).
Nesse contexto, é possível inferir indícios do diálogo entre matrizes e
instrumentais academistas e o novo repertório moderno que se consolidava: entre
eles, a disponibilidade, na cidade de São Paulo à época da formação na academia,
de importantes exemplares de arquitetura moderna, de autoria de profissionais
brasileiros e estrangeiros que aqui atuavam, como Rino Levi, Gregori Warchavchik,
Bernard Rudotski, para citar alguns nomes, sem esquecer que a cidade apresentava
importantes obras de autoria de engenheiros-arquitetos, muitos deles formados pelo
Curso de Arquitetura da Escola de Engenharia Mackenzie, instalada em 1947, entre
os quais Eduardo Kneese de Melo (REGINO; PERRONE, 2009) e Oswaldo Arthur
Bratke:

A Arquitetura Moderna repercutiu, no Brasil, influenciada não só


pelas realizações européias no período entre guerras, mas também
pelo debate internacional dos CIAM (Congressos Internacionais de
Arquitetura Moderna). Após a Primeira Guerra Mundial, as
vanguardas européias exerceram grande influência, quando no
Brasil, o Movimento Moderno emergiu contando com a contribuição
do pensamento de alguns grupos de intelectuais e artistas,
principalmente paulistas (REGINO; PERRONE, 2009, p. 3).

Essa nova cultura, que apresentava aos jovens mackenzistas outros rumos e
expressões da arquitetura, deu-lhes a oportunidade de profícuos debates a respeito
das novas tendências que ganhavam a cena, estimulando a busca de referenciais
modernos em fontes diversificadas, tais como periódicos e publicações
internacionais, acalorando debates entre alunos e professores e, principalmente,
29

evidenciando a presença de arquitetos nacionais e estrangeiros radicados no país,


que deixaram a marca de suas obras no conjunto da cidade em transformação
(ABASCAL et al., 2013, p.4). Cabe lembrar que muitos são os egressos do
Mackenzie formados nesse ambiente de renovação e embate com a tradição
acadêmica, dentre os quais se destaca o arquiteto Paulo Mendes da Rocha,
agraciado em 2006 com o Pritzker Prize, o prêmio internacional mais importante a
ser concedido a um arquiteto pelo reconhecimento do conjunto de sua obra (LIMA,
2009).
A característica acadêmica foi decisiva e marcante para o Curso de
Arquitetura da Escola de Engenharia do Mackenzie College, criado em 1917 e
dirigido pelo arquiteto Christiano Stockler das Neves. Este, que se formou na Fine
Arts School of Pennsylvania, em 1911, buscou, para o recém-inaugurado curso de
arquitetura em São Paulo, um ensino fundamentado em versão norte-americana e
interpretação dos padrões das Beaux-Arts francesas. Sob influência norte
americana, essa forma de ensinar os padrões universais da academia calcava-se na
reprodução de soluções eficientes e pragmaticamente aplicadas, sistematizadas em
manuais e em transposição do ensino em ateliê dirigido por um mestre, ou patron
d’atelier, que exercia o papel de difusor de moldes e preceitos clássicos (PEREIRA,
2005).
A ênfase no aprendizado de proporções e regras compositivas e a conduta de
desenho pautada por esses princípios garantiram a capacidade dos arquitetos
formados na Escola de Arquitetura Mackenzie de integrar princípios artísticos à
técnica, assim representando o espaço arquitetônico, o que abalizava os resultados
por uma ênfase na composição e na sensibilidade das proporções e princípios de
harmonia expressos do desenho (ABASCAL et al., 2013, p.2 e 3). Deste modo, os
arquitetos mackenzistas educados nesse meio, que estimulava a habilidade de
relação entre a representação do espaço, o domínio da materialidade, da harmonia
e proporções, adquirem repertório e meios para a concepção de arquitetura
moderna - sem prescindirem de preocupações e de instrumentos estético-formais, o
domínio de técnicas, tanto construtivas como de representação espacial, foi decisivo
para a concepção de projetos de arquitetura moderna. Dessa maneira, pode-se
supor que, nesse momento de evolução rumo à arquitetura moderna, não houve
30

uma ruptura com a formação e a instrumentação proporcionadas pela Escola


Acadêmica (ABASCAL et al., 2013, p. 5 e 6).
Os princípios da arquitetura acadêmica das Beaux Arts somavam-se à
articulação entre arte e técnica, e sistemas construtivos e elementos arquitetônicos
pertinentes à temática e à finalidade do projeto. O projeto recebia uma “correção
compositiva”, gesto de aplicação à composição das elevações e dos volumes, às
relações entre cheios e vazios e observância dos princípios clássicos de equilíbrio,
ritmo, proporção e harmonia. Os alunos, considerados aprendizes no ateliê,
desenvolviam temas arquitetônicos únicos – composições a partir de elementos
construtivos e ornamentos clássicos, que deveriam apresentar resultados eficientes
em face do que era considerado adequado para uma determinada tipologia ou tema
arquitetônico. Assim, era natural que manuais de arquitetura fossem utilizados pelos
profissionais para assegurar e garantir a pertinência e correção do projeto.
Edificações que funcionavam apenas como abrigos, cujos projetos não se utilizavam
de tais princípios, não eram consideradas interessantes ou verdadeira arquitetura,
sequer pertinentes (ABASCAL et al., 2013, p. 10 e 11)
Francisco Petracco, diplomado pela Faculdade de Arquitetura Mackenzie em
1958, recebeu formação fortemente marcada por moldes clássicos, em meio a
tempos de mudança iminente dos padrões acadêmicos da arquitetura. Essas
mudanças se expressariam no processo histórico de emergência da arquitetura
moderna. É possível sugerir que, mesmo sob a influência da transformação
arquitetônica e de postura dos arquitetos à época, não era possível se desvencilhar
dos princípios arquitetônicos acadêmicos pelo fato de a Faculdade de Arquitetura
Mackenzie se encontrar sob forte pressão das práticas e ideologia de seu fundador,
o arquiteto Christiano Stockler das Neves (PEREIRA, 2005).
Ao analisar a obra arquitetônica de Petracco, é possível verificar que os
princípios herdados dessa escola, tais como o domínio da representação e do
desenho por meio de práticas acadêmico-historicistas, possibilitou a introjeção de
princípios, tais como a harmonia do todo, o ritmo, o apuro em relação à estética e à
forma, e a sofisticação dos sistemas construtivos, elementos que, pode-se supor,
estão presentes desde a concepção dos projetos até a obra construída.
Também é possível considerar que a formação rigorosa do arquiteto
Francisco Petracco, bem como de toda a sua geração, possibilitou habilidades
31

suficientes para acompanhar não apenas a conservação academista, mas o novo


movimento arquitetônico que emergia no Brasil. A arquitetura moderna emergente
se pautava na concepção de desenvolvimento de novas soluções, linguagem e
articulação dos fatores intervenientes na projeção a uma solução estrutural e
domínio material que definiu e contribuiu para tornar consistente a arquitetura
moderna, tornando-a independente de tipologias previamente estabelecidas e de
temas arquitetônicos previsíveis, libertando-a da servidão a elementos compositivos
e ornamentos aplicados.
Como dito anteriormente, o momento histórico caraterizado pelo recorte dos
anos 1950 e 60 foi extremamente rico em manifestações culturais, arquitetônicas e
artísticas pelo mundo, e, no Brasil, elas acompanharam os processos de
modernização e progresso a partir do fim da Segunda Grande Guerra Mundial
(MOTA, 1994). Mesmo a partir de 1964, com o Golpe Militar e a implantação da
ditadura militar, malgrado os processos intrínsecos de repressão durante esse
período, o ideário desenvolvimentista foi afirmado pelos meios de comunicação de
massa, e, nesse ambiente sociocultural instigante, os arquitetos foram estimulados a
debater e expressar, em seus projetos de arquitetura moderna, as reflexões, os
contatos e as referências que, no momento, esse ideário representava. As
importantes transformações ocorridas no cenário nacional, como uma nova
linguagem arquitetônica e seus meios técnico-materiais, apresentaram qualidades
como: estruturas que revelam edifícios concebidos com grande e apurado requinte
estético, matéria bruta convertida em leveza visual, busca por soluções construtivas
e materiais que afirmam experimentação material e estética corajosa (ABASCAL et
al., 2013, p.13).
Em 1964, com a institucionalização, pelo regime militar, do Banco Nacional da
Habitação e do Sistema Financeiro da Habitação (SFH), iniciou-se uma nova etapa,
que se encerrou em 1980. Esse período foi marcado pela criação de fontes
permanentes de recursos para garantir o financiamento habitacional de longo prazo
e por uma produção massiva que incorporou certo avanço tecnológico, embora
muito aquém do necessário. Os projetos arquitetônicos e urbanísticos, de uma
maneira geral, perderam a diversidade e a qualidade obtidas no período anterior,
salvo algumas exceções (BONDUKI, 2014, p.15).
32

1.2. A carreira de Francisco Petracco

Paulista e filho de imigrantes italianos, Francisco Petracco nasceu em 1935.


Sofreu influência decisiva da família, tanto em sua formação profissional, quanto em
sua sensibilidade artística e ideologia política. O avô materno, Francesco Verrone,
também arquiteto, veio da Itália para projetar e coordenar as obras da IRF
Matarazzo, bem como a Casa das Caldeiras e a Maternidade e Hospital Matarazzo,
e o avô materno, José Petracco, foi o fundador da Indústria Petracco e Nicoli, o que
fez com que seus filhos estudassem música e arte e frequentassem lugares como o
Instituto átto Marcello, habitualmente voltado aos artistas e intelectuais, entre eles
Mário de Andrade. Estudou no Colégio Dante Alighieri, onde teve contato com o
professor, desenhista e pintor Vicente Mecozzi, que o incentivou a estudar
arquitetura, assim como esse mesmo ambiente veio a incentivar outros alunos,
como Telésforo Cristófani, também um promissor futuro arquiteto que a Faculdade
de Arquitetura Mackenzie veio formar. Petracco ingressou na Universidade
Mackenzie em 1954 e o fez por recomendações da família: essa era uma escola
particular que vinha recebendo em seus bancos a elite paulistana (PETRACCO,
2004, p.28).

Figura 3: Foto do arquiteto Francisco Petracco. Fonte: http://blogs.estadao.com.br/wp-


content/plugins/galerias-do-
estadao/galeria.php?editoria=7&galeria=3133&galeria_exc=1871&pagina=90&url_share=http://blogs.
estadao.com.br/sonia-racy (2013)
33

No período em que o arquiteto frequentou a Faculdade, conviveu e recebeu


ensinamentos compatíveis com o ensino inspirado na École de Beaux-Arts
parisiense, com aulas de desenho artístico ministradas por três anos na grade
curricular, evidenciando a prioridade dessa disciplina na formação do arquiteto. A
Faculdade de Arquitetura Mackenzie é fruto do Curso de Arquitetura que foi abrigado
na EEM - Escola de Engenharia Mackenzie desde 1917 - e contava com professores
imbuídos de uma postura beauxartiana, pautada na própria formação que o fundador
do Curso, Arquiteto Christiano das Neves, recebera na Fine Arts School of
Pennsylvania, nos Estados Unidos da América, no curso que concluíra em 1911
(PEREIRA, 2013).
A formação preconizada pelo curso de Beaux-Arts (que veio a persistir e
fundamentar a Faculdade de Arquitetura a partir de sua fundação, em 1947)
orientava-se pela aplicação de recursos e princípios clássicos pautados na
composição (SUMMERSON, 2002), valorizando harmonia e equilíbrio composítivos
e preconizando que somente a habilidade da representação pelo desenho consistia
no meio por excelência para a expressão do arquiteto, e verdadeiro contexto da
produção de Arquitetura.
A direção e consistência intelectual e profissional do arquiteto Christiano S.
das Neves teriam sido responsáveis pela condução do processo de ensino de
Arquitetura desde a emancipação e fundação da Faculdade de Arquitetura em 1947
(ABASCAL et al., 2013, p.30). Entre o corpo docente, um dos professores que se
destacava era o artista Pedro Corona, nascido em Jaú, no interior do estado de São
Paulo, em 1897 (SALOMÃO, 2012). Corona estudara desenho e pintura na Europa,
recebendo formação que valorizava os princípios da academia de Belas Artes. Seus
projetos foram elogiados quando ainda jovem e ele, além disso, participara de
exposições individuais e coletivas.
Petracco o considerava um dos esteios da formação dos arquitetos
mackenzistas por sua didática, que procurava deixar clara a interface do espaço,
entendido como composição de cheios e vazios, e a maneira como estes elementos
eram fonte de produção da arquitetura (PETRACCO, 2004). Foram também
professores do arquiteto Petracco Laszlo Zinner (modelagem), Roberto Rossi
Zuccolo (estruturas), Francisco Kosuta, (técnicas construtivas) e Takeshi Suzuki
(aquarela), disciplinas essas que capacitavam os alunos para o raciocínio
34

arquitetônico por meio de seu instrumento primordial, o desenho, que possibilitava a


composição e a plástica (ABASCAL et al., 2013, p.17 e 18).
Conforme Mendes e Breia (2013), vale destacar a contribuição do prof.
engenheiro-arquiteto Francisco Kosuta, que fora competente no ensino de
Geometria Descritiva, referência fundamental para compreender a habilidade e
competência necessárias ao campo da representação arquitetônica, e, segundo
Petracco (apud BREIA): ‘o bê a bá da arquitetura’ (ABASCAL et al., 2013, p.22). As
relações pessoais e didáticas entre professores e alunos foram bastante estreitas e
renderam futuras parcerias profissionais, a exemplo do professor Roberto Zuccolo,
que calculou diversas estruturas dos projetos de Petracco, de forma a possibilitar a
linguagem orgânica e tensional delas:

Roberto Rossi Zuccolo, que entendeu perfeitamente e foi difusor da


necessidade de constante e profícua parceria entre arquitetos e
engenheiros calculistas, não para antagonizar Arquitetura e
Engenharia, mas torná-las harmônicas. Zuccolo jamais interferiu em
um projeto ou concepção arquitetônica de um estudante, mas
trabalhava para que a arquitetura fosse preservada apesar da
necessidade estrutural, não se configurando hoje, por vezes, no
caminho adotado pelas escolas (ABASCAL et al., 2013, p.23).

É possível verificar a presença de um programa disciplinar rigoroso calcado


na formação beauxartiana, que oferecia a aptidão para o desenho e o domínio da
técnica ao arquiteto que se formava na Universidade Mackenzie. Ainda entre as
disciplinas técnicas incluía-se a Grafo-Estática, ministrada pelo engenheiro civil e
eletricista Ulisses de Aguiar Souza, que permitia formação profissional e aptidão
para o Cálculo Estrutural de pequenos e médios edifícios (ABASCAL et al., 2013,
p.31). Já o ensino do Urbanismo de certo modo fora deixado de lado, sendo visto
somente no quinto ano, no âmbito da disciplina de Projetos, desdobrada entre
‘Pequenas Composições de Arquitetura’ e ‘Grandes Composições de Arquitetura’.
Faltava comprometimento com as questões de contexto urbano, e os projetos
correspondiam a intervenções pontuais, sem preocupações com o lugar ou com o
contexto físico e social (ABASCAL et al., 2013, p.31). Em sua tese, Petracco sinaliza
esta característica no curso da Faculdade de Arquitetura Mackenzie, tendo sido
abordada como desenho urbano, sem priorizar reflexões sobre projetos urbanos
(PETRACCO, 2004). Também havia disciplinas de história, que se dividiam em
35

História de Arquitetura Analítica e Desenho de Arquitetura Analítica, e outras que


vinculavam sempre o desenho e a representação à teoria e constituíam-se em um
método analítico, embasado em iconografia produzida pelos alunos que emulavam
modelos históricos.
Às atividades extracurriculares realizadas pelos estudantes, como o estágio
no SENAI - ao currículo de oito horas aula ao dia, somava-se o estágio para
desenvolver aptidão técnica, para obtenção de conhecimento prático, sobretudo de
sistemas construtivos e aplicação de materiais de construção. E o ensino de
Topografia, dado pelo professor engenheiro Serafim Orlandi, integrava teoria e
prática, sendo realizado em acampamentos, acompanhados da supervisão docente.
Junto com jogos interuniversidades como o FAM-FAU, os alunos tinham atividades
que contribuíram para a convivência e a participação do aluno em outras atividades
da universidade e de seus colegas, como grupos que se formavam para prestar
concursos de projetos (PETRACCO, apud ABASCAL et al., 2013, p.32)
Outro ponto importante na faculdade foi a especial atenção ao trabalho em
ateliês durante a graduação, que estimulavam a relação entre os alunos de diversas
turmas e os professores (SZOLNOKY, 1995). Segundo o arquiteto Fábio Penteado,
um núcleo de pesquisa que visava ao domínio da arquitetura moderna era formado
por alunos que se tornaram importantes arquitetos, como Paulo Mendes da Rocha,
Jorge Wilheim, Telésforo Cristófani, Roberto Aflalo, Alfredo Paesani, e Pedro Paulo
Melo Saraiva, processo catalisador para esta transformação (PENTEADO, 2004).
Petracco fez parte desse grupo e, em sua tese de doutorado, o arquiteto cita, em
‘Primeiros Estágios’, a convivência dos arquitetos mencionados acima por Penteado
– os alunos da FAM estagiaram em tempos alternados nos mesmos escritórios,
estes eram constituídos por arquitetos formados no próprio Mackenzie e
funcionavam quase como cooperativas, o que também sucedeu aos arquitetos Jorge
Nasser, Hoover Sampaio, Maurício Tuck Schneider, Júlio Neves, Alfredo Paesani e
Pedro Paulo Saraiva. O grande meio de aprendizado por excelência de Arquitetura
foram tais escritórios e canteiros de obra. Foi muito importante a convivência, nos
escritórios, com desenhistas-projetistas, pois se tratava de profissionais muito
hábeis e dotados de conhecimentos rigorosos de desenho e representação gráfica,
verdadeiros artesãos, que ensinavam aos iniciantes importantes tópicos, deixando-
36

lhes um legado profissional plenamente desenvolvido com a prática, nas diversas


ocasiões em que enfrentavam trabalhos mais complexos (PETRACCO, 2013).

E por isso, domínio de novas técnicas e materiais empregados em


desenhos de perspectivas e plantas baixas ilustrativas, utilizando
aquarelas, nanquim, estiletes, verniz e colagens e outros recursos
possibilitavam que os estagiários fossem solicitados para colaborar
em projetos alvo de concursos (ABASCAL et al., 2013, p.33).

Figura 4: Foto do Anteprojeto para o Concurso do Tênis Clube Presidente Prudente (1966) - desenho
em nanquim, colagens e graxa. Fonte: Francisco Petracco (Acervo organizado por Angela Diniz,
2014).

Petracco teve a oportunidade de estagiar com Eduardo Corona, que, na


época, elaborava os projetos escolares para o Convênio Escolar – um conjunto de
ações do Estado de São Paulo, que, na década de 1950, tinha como finalidade
aumentar o número de vagas nas escolas. Também estagiou para os arquitetos Botti
Rubin, Rino Levi, e, por último, para Paulo Mendes da Rocha e João de Gennaro,
participando do projeto do Clube Paulistano. Logo depois de formado, Petracco
37

trabalhou para o arquiteto Hoover Américo Sampaio e participou, em 1959, do


concurso do IPESP – Instituto de Previdência do Estado de São Paulo, sendo
ganhador do 2° prêmio do concurso (PETRACCO, 2004).
O projeto para o IPESP foi uma das primeiras participações do arquiteto em
concursos a que, frequentemente, submetia seus projetos, ficando muitas vezes
entre os primeiros colocados – semelhante informação pode ser constatada nas
publicações feitas na época na Revista Acrópole, cujas edições eram dedicadas
quase exclusivamente à publicação dos anteprojetos dos primeiros colocados do
concurso vigente. Os projetos para concursos de que Petracco participou ao longo
de sua carreira e que foram publicados na Acrópole foram os seguintes: da
Assembleia Legislativa de São Paulo (com Eduardo Kneese de Mello, Jose Maria
Gandolfi, Joel Ramalho Junior, Luiz Forte Neto, em 1961); da Assembleia Legislativa
de Minas Gerais (com Jon V. Maitrejean, Telesforo Cristofani e Nelson Morse, em
1962); da Sede Clube XV de Santos (com Pedro Paulo de Melo Saraiva, em 1963);
do Departamento Federal de Segurança Pública (com Joel Ramalho e Luigi
Villavecchia, e colaboração de Marina B. Donelli e C. Rodrigues, com consultoria
estrutural de Roberto R. Zuccolo, em 1967); o Projeto para Casa Popular
Experimental – Realização da Cia. Metropolitana de Habitação de São Paulo (com
Nelson Morse em 1968); o do Pavilhão de Osaka (Edgar Dente, Ana Maria de Biase,
Maria Helena Flynn, Miguel Juliano Silva, em 1969); do Centro Cultural e Esportivo
de S. Bernardo do Campo, SP (com José Roberto Soutello, em 1981). Também há
outros concursos de que o arquiteto participou como o da Orla do Guarujá, 1963
(com Pedro Paulo de Mello Saraiva); da Sede do Clube Presidente Prudente (1966);
da Petrobras (com Luigi Villavecchia, 1967); IBC-Instituto Brasileiro do Café (1969);
CREA-SP (com José Roberto Soutello, em 1979); Margens da Marginal Tietê (1999).
O número de concursos de arquitetura promovidos tanto pelo Estado quanto por
iniciativas privadas devia-se à implementação de infraestrutura no país (estes dados
foram levantados em edições da revista Acrópole e no currículo do próprio arquiteto
- 2012).
38

Figura 5: Assembleia de Minas Gerais (1962). Fonte: Caderno de Projetos do Arquiteto (2014)

Figura 6: Assembleia de Minas Gerais (1962). Fonte: Caderno de Projetos do Arquiteto (2014)
39

Figura 7: Escultura de Caciporé Torres no Clube XV (1963). Fotografia de autor desconhecido. Fonte:
Caderno de projetos do Arquiteto (2014)

Em 1958, ano em que Francisco Petracco se formou, a carreira do arquiteto


veio a se beneficiar da bonança econômica advinda da industrialização e construção
de Brasília, bem como do desenvolvimento da capital de São Paulo, que apresentou
grande demanda de trabalho para um número restrito de arquitetos – lembrando que
só havia dois cursos de arquitetura na cidade, o do Mackenzie e da FAU-USP
(ABASCAL et al., 2013, p.23). Os concursos foram de vital importância para o
desenvolvimento da arquitetura, pois foram eventos catalisadores das discussões
teóricas e tecnológicas vigentes na época (SANTOS, 2000).
Ao aplicar a linguagem moderna, os elementos arquitetônicos eram
desenvolvidos de forma independente da tipologia do edifício e livremente se
repetiam elementos arquitetônicos em outros edifícios, fossem eles de outra
tipologia ou de outra escala, apresentando-se com uma nova configuração ou
alguma evolução, como um estudo ou uma experimentação; independentemente
40

também da cronologia – não apresentando uma linearidade ou progressão de


soluções – como uma estrada de duas mãos, era permitido ir e voltar.
Os arquitetos lançavam-se aos desafios e às novas possibilidades do
concreto armado, de componentes pré-fabricados e de outros materiais que lhes
pareciam interessantes pela sua disponibilidade no mercado do país, como blocos
de alvenaria e de concreto, vidros e madeiras. As referências arquitetônicas não
eram somente endógenas à própria obra do arquiteto, mas também exógenas,
fundamentando-se em produções de outros arquitetos - da arquitetura de
residências ou de grandes instituições. Geralmente as referências são mais
próximas e contemporâneas como Oscar Niemeyer e Oswaldo Bratke incide na obra
de Petracco. Por exemplo, o partido da grande cobertura de projeção retangular,
empregado desde o final da década de 1950 em obras paulistas de variadas
tipologias, como a Escola Estadual de Guarulhos (1960), de Paulo Mendes da
Rocha, e a Garagem de Barcos do Santa Paula Iate Clube (Interlagos, São Paulo,
1960), ambas obras de Vilanova Artigas e Carlos Cascaldi. (VERDE; BASTOS,
2011). Foram obras que constituíram importantes referências, com soluções que
podem ser encontradas em projetos da autoria de Petracco, como o partido dos
projetos das Centrais Telefônicas (1968-69) e o projeto do Núcleo Educacional
Infantil Jardim Santo Inácio (São Bernardo do Campo-SP, 1975).

Figura 8: Central Telefônica de Jales, SP (1968). Fonte: Currículo do Arquiteto (2012)


41

Figura 9: Núcleo Educacional Santo Inácio (1975). Fontes: Acervo do Arquiteto (1975)

Figura 10: Núcleo Educacional Santo Inácio (1975).Fonte: Acervo do Arquiteto (2003)

Outra solução frequentemente presente nos projetos de Francisco Petracco é


a estrutura aporticada, composta por vários pilares dispostos de forma sequencial,
que conferem ritmo, direcionam o olhar do observador e contribuem para dar
expressão ao edifício. Presente no Clube XV (Santos, 1963) e na Escola Gomes
Cardim (São Paulo, 1961) – assim como no Ginásio de Itanhaém, de Artigas (1959),
os pilares sequenciais podem ser encontrados em projetos de edifícios corporativos,
como os da Assembleia Legislativa de Santa Catarina, de autoria de Pedro Paulo de
Melo Saraiva, Sami Bussab e Francisco Petracco (1967), e no projeto para o Edifício
do Instituto do Café (primeiro lugar em concurso, Santos, 1969).
42

Os apoios triangulares desenham inflexões, estreitamentos,


alargamentos e vazios estrategicamente posicionados, enfatizando
questões estruturais de transição de esforços e tirando partido de
detalhes como o recolhimento de águas pluviais e aberturas para
iluminação zenital, para ativar e densificar a abordagem conceitual,
chegando numa resolução complexa a partir de um esquema inicial
simples. E como é habitual nessa e em outras obras de Vilanova
Artigas, uma vez estabelecida a regra básica, são ativados uma série
de mecanismos para criar variantes, de maneira que o resultado
nunca é óbvio, mas sempre surpreendente (ZEIN, apud Clássicos da
Arquitetura: Anhembi Tênis Clube / João Batista Vilanova Artigas e
Carlos Cascaldi, 2014)

Figura 11: Foto Clube XV de Santos (1963). Fonte: Caderno de Projetos do Arquiteto (2014)

Figura 12: Ginásio de Itanhaém de Vilanova Artigas (1959). Fonte: archdaily.com.br (2014)
43

Figura 13: Grupo Escolar CPOESP Gomes Cardim (1961). Fonte: Currículo do Arquiteto (2012)

Figura 14: Foto do edifício da Assembleia de Santa Catarina (1967). Fonte: Apresentação para o
doutoramento de Francisco Petracco (2004)

O partido da grande cobertura principal apresentou-se também em formas


orgânicas, a exemplo dos arquitetos Marcos de Azevedo Acayaba e Marlene Milan
Acayaba, em 1973, que construiram no Bairro Cidade Jardim na cidade de São
Paulo uma casa com cobertura arqueada, de concreto protendido, formada por uma
curva parabólica, com quatro apoios, que cobre três níveis diferentes da casa.
Mesmo que parte do programa saia da projeção da cobertura (esta abrigada por um
44

pavilhão composto por estrutura de vigas e pilares ortogonais e regulares), a


cobertura tornou-se o principal elemento articulador do programa residencial,
incluindo a integração da área interna com a externa, formada pela piscina, pelo
jardim e pelo estacionamento (XAVIER: 1983, p.176).

Figura 15: Corte da Residência na Cidade Jardim projeto de Marcos Acayba e Marlene Acayba
(1972). Fonte: http://www.marcosacayaba.arq.br/lista.projeto.chain?id=2

Figura 16: Foto durante a construção da Residência na Cidade Jardim, projeto de Marcos Acayba e
Marlene Acayba (1972). Fonte:
http://www.marcosacayaba.arq.br/simple.popUp.chain?path=imagens/grandes/fotos/2_02.jpg

O pilar escultural foi outro importante componente encontrado nas obras da


arquitetura moderna paulista - com os desenhos dos pilares de Brasília de Oscar
45

Niemeyer, veio desenvolvido com linguagem formal livre, que tinha como meta “fazer
o ponto de apoio cantar”. 1
Muitos pilares que apresentavam formas singulares eram desenvolvidos sob o
discurso da funcionalidade, como os pilares de Vilanova Artigas, projetados para a
Rodoviária de Jaú (1973). Esse desenho possibilita a entrada de luz por meio de
aberturas entre as ramificações que constituem o pilar, permitindo a iluminação no
meio do pano da extensa laje de cobertura – a utilização do concreto armado tornou
possível que elementos como pilares, vigas e a laje de caixão-perdido se tornassem
unidades para quem observa, sem arestas, que indicassem onde termina um e
começa o outro. A superfície da estrutura reflete a luz zenital e a distribuiu para a
circulação dos usuários da rodoviária, assim como as cargas tensionais da estrutura
são transferidas para o solo. Petracco utilizou-se deste mesmo elemento na
Residência Vilázio Lellis (São Paulo, 1985): apoia a laje de cobertura da piscina, de
forma sinuosa e também consiste em uma laje de caixão perdido (com blocos de
isopor ao invés de blocos cerâmicos) – o pilar está próximo à fachada e contrasta
com as vigas retas de concreto armado.
Outros projetos de Petracco que se podem destacar, que apresentam pilares
com desenhos expressivos e que representam o principal elemento plástico e
estrutural da obra, são o projeto para a agência bancária BANESPA, em Dois
Córregos (1970) e o da casa Vicente Izzo, no Guarujá (1972 e 1975).

1
Citação do arquiteto francês Auguste Perret em L’Encyclopédie française - v.16, p.
12, de Gaston Berger - publicado por Société des gestion de L'encyclopédie française, 1935
46

Figura 17: Rodoviária de Jaú, de Vilanova Artigas (1973). Fonte: www.archdaily.com.br

Figura 18: Residência Vilázio Lellis (1985). Fonte: Acervo do Arquiteto, disponibilizado para a
pesquisadora.
47

Figura 19: Planta da Agência bancária BANESPA de Dois Córregos (1963). Fonte: Currículo do
Arquiteto (2012)

Figura 20: Fachada da Agência bancária BANESPA de Dois Córregos (1963).Fonte: Currículo do
Arquiteto (2012)

Figura 21: Foto do Pilar da Residência Vicente Izzo (1972). Fonte: Currículo do Arquiteto (2012)
48

Entre outras tantas soluções arquitetônicas, apesar das justificativas que


muitas vezes priorizam o discurso funcionalista, é possível sugerir que arquitetos
paulistas modernos, tais como Francisco Petracco, não desvincularam
preocupações sistemáticas relativas ao programa e à determinação estrutural dos
aspectos e intenções estéticas e plásticas. Assim, Ruth Verde Zein (2005) polemiza
a questão do estilo como prisão da criatividade, bem como seu uso e apropriação
pelo discurso da arquitetura moderna:

Essa simples definição parece ser de muito simples aceitação em si


mesma: pertencendo a arquitetura a um domínio do ‘mundo
expressivo’, sempre que um conjunto de obras puder ser
caracterizado como tendo uma razoável e verificável ‘unidade de
formas, acentos e atitudes dominantes, não implicando em
igualdade de resultados e de ideias, mas em complexa ´variedade
formal e de conteúdos’, pode-se inferir que essas obras
compartilham o mesmo ‘estilo’ (VERDE, 2005, p. 25-6).

A autora se refere à presença de recorrências expressivas na obra de um


mesmo arquiteto e chama a atenção para o fato de que por “estilo” não se deve
compreender qualquer tipo de emulação do preexistente, no sentido de limitação
criativa, mas sim alusão e referência para se avançar.
A formação profissional de Francisco Petracco decorreu da convivência com o
avô arquiteto, da formação em artes, pois contou com aulas de pintura e escultura,
da formação acadêmica clássica, e do rigor material e construtivo na Faculdade de
Arquitetura Mackenzie. Essas influências justificam a valorização, pelo arquiteto, do
processo de criação do espaço arquitetônico, bem como da experimentação e
sofisticação de novos sistemas construtivos. Segundo Petracco, todo arquiteto deve
ser artesão (e, para ele, nem todo artesão é um arquiteto). Refere-se,
principalmente, ao domínio do desenho e da perspectiva, instrumentos de vital
importância para as novas discussões arquitetônicas; sem esse domínio não seria
possível planejar de forma ampla a materialidade pretendida do projeto; as obras
arquitetônicas, para serem compreendidas, requerem o tempo de percurso do
observador – uma quarta dimensão no desenho - e sãisso é o o que definirá o
volume arquitetônico, o que torna possível a experiência espacial no edifício (ZEVI,
1994).
49

1.3. A carreira acadêmica

Petracco também viveu um intensa carreira acadêmica, que permitiu a defesa


dos princípios do desenho e da composição e, também, a formação
profissionalizante do arquiteto desde a graduação – as mesmas diretrizes
observadas em sua formação na Universidade Mackenzie. O primeiro passo para a
carreira acadêmica foi em 1963, ano em que arquiteto concluiu o curso de
preparação de professor na FAAP – Fundação Armando Alvares Penteado e, a
convite de Flávio Império, começou a lecionar na mesma instituição. O curso era
estruturado por Flávio Motta, que formou uma gama de diversos profissionais, como
artistas, cineastas e comunicadores (PETRACCO, 2004, p.45).
Francisco Petracco lecionou no Mackenzie no ano de 1964, mas deixou o
curso no mesmo ano, pois foram cortados os contratos mais recentes de
professores. (PETRACCO, 2004). E, em 1968, quando deixou a escola novamente,
por decisão da então Reitora Esther de Figueiredo Ferraz, que o convidou a fazê-lo,
junto com outros dezoito professores, devido às suas posições declaradamente de
esquerda (ABASCAL et al., 2013, p.18 e 19). Era uma época em que o desenho já
havia perdido força na formação do aluno na FAM e ainda era ensinado de modo
descontextualizado do projeto. O corpo docente havia sido reformulado.
Petracco foi convidado a integrar o novo quadro docente juntamente com
outros colegas arquitetos como Odileia Toscano e Vespaziano Puntoni, que eram
fanáticos desenhistas e nutriam muitas esperanças e se encontravam confiantes de
resgatar ao curso a mesma ênfase conferida a suas formações. Mas professores
como Pedro Corona, que foram substituídos por professores mais jovens, faziam
falta e muitos defeitos dos tempos de aluno ainda eram presentes. Nesse período,
os professores já se consideravam ‘modernistas-estruturalistas’ e tinham a
consciência da importância do contexto do projeto (ABASCAL et al., 2013, p.35),
assim:

Debatia-se a distinção entre ambas as abordagens, reforçando-se o


Planejamento como procedimento usual na época, embora neste
todas as questões urbanas fossem abordadas com ênfase quase
exclusiva no âmbito social econômico, desprezando-se o Desenho,
transformando propostas em folhas de papel pintado, necessárias,
50

mas insuficientes à determinação da proposta arquitetônica e de


urbanismo. (PETRACCO apud ABASCAL et al., 2013, p.35).

Francisco Petracco voltou a lecionar no Mackenzie em 1992, na disciplina de


Projeto, fazendo parte da equipe de implantação do Trabalho de Graduação
Interdisciplinar, o TGI. No curso, havia um aumento no número das disciplinas, com
predominância do Departamento de Projetos. Em 1960, a Faculdade havia
incorporado a disciplina de Planejamento Urbano, mas não houve predominância
entre as disciplinas de Técnicas e de Histórias e Teoria da Arquitetura. Além disso,
também sempre se apresentou como um curso com programa independente da
FAU-USP. O Arquiteto acredita que, por um bom tempo, o curso se aproximara dos
objetivos dos professores, mas, por muito tempo, não era clara a
interdisciplinaridade ou interação entre as matérias, como, por exemplo, as de
“Estruturas e Projeto” (PETRACCO, apud ABASCAL et al., 2013, p.35).
Ao considerar a arquitetura fruto de uma tríade: observação, criação e crítica,
tendo o desenho como meio para transpassar estas etapas, Petracco trabalhou em
outras instituições e chegou a organizar novos cursos de arquitetura, sempre
apresentando tal concepção, que corresponde às preocupações oriundas da sua
formação de base beauxartiana, apesar das mudanças em direção ao conceito da
estética e ao contexto do projeto moderno. Sendo assim, Petracco foi convidado, em
1971, para lecionar na Universidade Católica de Santos – a UNISANTOS, um curso
de arquitetura criado por Oswaldo Correa Gonçalves, Abraão Sanowicz e Júlio
Katinsky, (PETRACCO, 2004, p.61). Contava com arquitetos como Sergio Ferro e
Gustavo Caron e preconizava o equilíbrio entre atividades acadêmicas e
profissionalizantes, buscando a excelência no desenvolvimento dos trabalhos dos
alunos. Manteve a ideia de que é fundamental à arquitetura a criação de “espaços
harmônicos”, possibilitados pela habilidade de compor (PETRACCO, 2004, p.61).
Petracco deixou o curso da FAU-Santos no ano de 1996, pois já havia voltado a
lecionar na Universidade Mackenzie desde 1992 e também coordenava o Curso de
Arquitetura e Urbanismo da Universidade Anhembi-Morumbi desde 1994. Antes
ainda, o arquiteto lecionou na Universidade Belas Artes, em 1983 (PETRACCO,
2004, p.59-71).
Na formação do curso Anhembi-Morumbi, o desenho foi considerado como
meio importante e decisivo, tanto para a arquitetura quanto para o desenho urbano,
51

e reuniu professores como Antonio Carlos Sant’Anna Jr., José Rolemberg (Zico),
Lelio Reinert, Ruth Verde Zein e Claudio Manetti, sob o olhar de um urbanismo que
compreendia o desenho como essência. Os professores eram profissionais aptos a
entender e ensinar projeto como desenho urbano, uma essência a preservar nos
temas relacionados à arquitetura e urbanismo. Foi a convite de Sami Bussab,que,
em 1992, Petracco voltou a lecionar na Universidade Presbiteriana Mackenzie, onde
continua até hoje, contribuindo ainda no TFG - Trabalho de Graduação (ABASCAL
et al., 2013, p.21). Segundo assinala Abascal,

Destaca que se ensinava que a arquitetura consistia em uma


atividade que envolvia o projeto, considerando-o indissociável do
artesanato, princípio que também era um dos princípios
fundamentais da Bauhaus e da arquitetura moderna. Credita à sua
formação a compreensão de que não é possível projetar sem
entender o detalhe, a materialidade, e essa habilidade podia ser
observada em todos os alunos, que sabiam fazer ao menos uma
casa, da fundação ao telhado (ABASCAL et al., 2013, p.19).

Nos programas que Petracco se comprometeu a desenvolver, o desenho e a


técnica eram quesitos prioritários na formação do aluno, o que pode ser associado a
sua própria formação na Faculdade de Arquitetura Mackenzie, de carácter
classicista.
52

CAPÍTULO 2 – A PRODUÇÃO DE PROJETOS RESIDENCIAIS

A presente dissertação tem como pressuposto que os aspectos plásticos são


indissociáveis do sistema estrutural e construtivo presente desde o partido
arquitetônico. A partir de 1950, a preocupação formal e técnica dos projetos
arquitetônicos alcançou notáveis expressões arquitetônicas. A monumentalidade e a
linguagem singular resultam de experimentações que, de modo geral, são expressas
por programas residenciais. As residências dão oportunidade aos arquitetos de
propor soluções arrojadas e eficientes, inclusive de sistemas estruturais. E a
qualidade desses projetos possibilitou impregnar as mesmas de significados.
Sobretudo:

(...) o tema de casas nos remete ao tema do abrigo, da valorização


da individualidade, do envolvimento, da atenção e da personalização
que um projeto residencial nos traz (PETRACCO, 2004).

2.1. Referências Nacionais e Internacionais dos projetos residenciais de


Petracco

As obras dos arquitetos da geração de Francisco Petracco passaram boa


parte da literatura especializada sob o designativo “brutalista”, termo que procurou,
de maneira ampla, definir a produção arquitetônica assim denominada como o
produto da integração de elementos e sistemas estruturais, processos tecnológicos
e elaborações programáticas inovadoras, pautadas pelo ideário moderno em curso.
Essa geração teve a oportunidade de aplicar tal concepção a projetos com
temáticas e escalas diversas; no entanto, projetos residenciais possibilitaram, pela
relação mais estreita com futuros usuários e condições de maior liberdade de
experimentação, uma prática expressiva da relação entre esses fatores. Os projetos
sugerem, no entanto, soluções arquitetônicas em busca de singularidade formal e
plástica, bem como espaços inovadores, desmentindo anacrônicas posturas
funcionalistas que, muitas vezes, se fizeram repercutir (VERDE; BASTOS, 2011).
53

Na sua tese de doutorado, Petracco, ao explicar seus projetos residenciais,


menciona de modo recorrente a existência de uma poética impressa nos elementos
e peças estruturais. Argumenta que essa opção foi justificada pela possibilidade de
mimetizar referências do entorno e da paisagem, que se expressariam
arquitetonicamente. É recorrente também, na obra do arquiteto, o partido de formas
orgânicas e a alusão ao desenho do voo do pássaro, por exemplo; esse ato consiste
em uma operação autorreferencial, em que a forma nasce da forma (MUNARI,
1998), de seus antecedentes históricos; no caso, de soluções arquitetônicas
presentes no conjunto da obra do arquiteto em análise.
É possível identificar ecos da postura adotada por Francisco Petracco, de que
seus projetos alcançaram uma materialidade de referência orgânica e poética, aliada
ao raciocínio técnico-funcional.
O espaço concebido segue também a lógica de expressão estrutural,
revelando-se um diálogo entre plástica, espaço e matéria - a solução estrutural é,
sem dúvida, responsável também pela exuberância e expressão da obra, por sua
presença, para quem a frui (grifos nossos). Deve-se lembrar que “forma”, nesta
acepção, não significa tão somente “contorno”, mas também a solução plástica que
inclui outros determinantes, como o espaço e sua determinação, como percepção
pelo corpo em movimento (MONTANER, 2002).
Apesar das justificativas que, muitas vezes, priorizam o discurso funcionalista,
vale lembrar que, nesta pesquisa, a sugestão é de que arquitetos modernos, de que
é exemplo Francisco Petracco, não desvinculam de suas preocupações sistemáticas
relativas ao programa e à determinação estrutural intenções estéticas e plásticas
que se revelam na construção metafórica e analógica expressa pelo desenho.
Assim, refere-se Ruth Verde Zein sobre a questão do estilo como prisão da
criatividade e seu uso e apropriação pelo discurso da arquitetura moderna:

Essa simples definição parece ser de muito simples aceitação em si


mesma: pertencendo a arquitetura a um domínio do ‘mundo
expressivo’, sempre que um conjunto de obras puder ser
caracterizado como tendo uma razoável e verificável ‘unidade de
formas, acentos e atitudes dominantes, não implicando em igualdade
de resultados e de ideias, mas em complexa “variedade formal e de
conteúdos’, pode-se inferir que essas obras compartilham o mesmo
‘estilo’ (VERDE; BASTOS, 2005, p. 25-6).
54

A Autora aqui se refere à presença de recorrências expressivas na obra de


um mesmo arquiteto e chama a atenção para o fato de que por “estilo” não se deve
compreender qualquer tipo de emulação do preexistente, no sentido de limitação
criativa, mas sim como alusão e referência que permitam o avanço.
Esta correspondência de determinações complexas é uma ação comum entre
os arquitetos modernos, sinalizada pelo historiador e crítico de arquitetura, Giulio
Carlo Argan:

Por detrás do interesse prático, havia uma ideia revolucionária:


empregar materiais e técnicas da construção para levantar um
edifício altamente representativo. Nas construções do movimento
moderno pelo mundo é comum observar três resultados essenciais
no “plano estético” - o que contraria o argumento de pensamento
puramente racional: 1) valoriza o desenvolvimento dimensional,
libertando do peso da massa a geometria dos volumes; 2) realiza
uma volumetria transparente, eliminando a distinção entre espaço
interno e espaço externo grande predomínio ao vazio (as vidraças)
em relação ao cheio (os delgados segmentos): 3) obtém no interior
uma luminosidade semelhante à do exterior. (...) Como o Art-
nouveau (de Horta, Van de Velde e Gaudí), a decoração também se
torna tensão, elasticidade, expressão simbólica de uma
funcionalidade cujo dinamismo é uma característica do mundo
moderno. Como no Gótico, a que se remete, uma única corrente de
força se difunde em todas as nervuras, até se dispersar nos milhares
de regatos de uma ornamentação agora integrada às estruturas
(1992, p.85).

Pode-se verificar, em muitos projetos de Francisco Petracco, o que será


apresentado nos casos selecionados e analisados em capítulos seguintes, que estes
elementos de poesia são cumpridos em seus partidos arquitetônicos.
A arquitetura, dirá Argan,

Simultaneamente, porém, traz uma grande carga simbólica, pois suas


estruturas e formas não mais se submetem ao princípio naturalista do
equilíbrio estático dos pesos e resistências; acima de tudo, expressa uma
ideologia progressista no próprio arrojo de suas linhas. (1992, p.86).

Desta forma, um projeto arquitetônico furta-se a ser analisado tão somente


pelo argumento intrínseco à lógica estrutural, mas indica questões sensíveis à
percepção humana, presentes também no que é estrutural:
55

A natureza já havia deixado de ser provinda de vontade superior,


mas a experiência racionalista viu que a paisagem era uma questão
a se resolver. Por sua vez, este problema não se resolve ditando
regime de princípios, mesmo os mais liberais; resolve-se vivendo e
interpretando a realidade” (ARGAN, 1992, p.266).

Assim, alusões orgânicas presentes no princípio metafórico de que o desenho


se inspira, como modelo, em elementos da paisagem, adaptam a estrutura ao
contexto natural por meio de elementos estruturais que possibilitam envolver o
programa e formar o abrigo. Os argumentos de Francisco Petracco – de resgate da
paisagem nostálgica e até mesmo de controle dos elementos da natureza, de forma
a reduzi-los à escala do terreno, justificam o emprego do simbolismo ao domínio da
natureza expressos no desenho. O cuidado de simbolizar e representar a história do
lugar onde foi inserido acaba por propor uma paisagem por meio de instrumentos
miméticos, que tem como consequência a definição da relação do edifício com o
meio natural ao seu redor.
No projeto feito pelo arquiteto Eero Saarienen para o Terminal TWA do
Aeroporto de Kennedy, de Nova Iorque, observa-se que ele apresenta um espaço
definido por quatro abóbadas diferenciadas entre si e apoiadas em quatro pilares,
em forma de Y. Tem-se o exemplo de que, quando o arquiteto assume como desafio
elaborar uma geometria singular para a cobertura, ao mesmo tempo estrutura e
suporte de apoio, ao definir e qualificar os espaços, contribuiu para o processo
experimental, interpondo soluções articuladoras de materialidade, elaboração
programática e expressão. Esse foi um recurso que extrapolou os cálculos e as leis
de estática de forma expressiva e monumental, acrescentando soluções criativas
que transcendem a ortodoxia do movimento moderno (MONTANER, 2009, p.60).
56

Figura 22: Imagem do Terminal TWA do Aeroporto de Kennedy de Eero Saarienen (1959). Fonte:
MONTANER: 2009, p.61

Por outro lado, não se pode negar que, de fato, o programa residencial foi
uma oportunidade encontrada pelos arquitetos para desenvolver a tecnologia dos
novos sistemas construtivos, como o concreto armado, e dos seus meios de
execução, a fim de se chegar a uma nova expressão formal (VERDE; BASTOS,
p.115, 2011).
Outro ponto importante diz respeito ao gesto projetual de Francisco Petracco,
caracterizado por grandes balanços em coberturas ou em varandas, o uso de
paredes rústicas de concreto aparente, e, sobretudo, de elementos, que direcionam
o usuário do espaço interno e sombreado para o ambiente externo natural e
iluminado, elementos estes que remetem às referências e ao ideário organicista de
Frank Lloyd Wright, corporificado no projeto da casa Falling Water (Pensilvânia,
1935). A Falling Water House é a fusão entre o lugar onde se vive e a natureza, de
gesto estrutural dramático, apresentando balanços extravagantes das estruturas de
concreto armado como se fossem de estabilidade natural, paredes rústicas e pisos
lajeados que revelam a intenção de prestar homenagem primitiva ao lugar, fato
confirmado pela escadaria da sala de estar, que, descendo até a cachoeira abaixo,
não tem função além de colocar o homem em comunhão mais íntima com a água
(FRAMPTON, 2008, p.227-228).
57

Figura 23: Falling Water House, de Frank Lloyd Wright (1935). Fonte: 3.bp.blogspot.com

Desta forma, Petracco replica o gesto de direcionar o usuário, por meio da


arquitetura, a elementos naturais, ao contato com a natureza. A referência feita à
arquitetura organicista na arquitetura moderna brasileira pode ser compreendida
devido ao meio no qual o arquiteto se formou, a Faculdade de Arquitetura
Mackenzie. Dentre as décadas de 1930 e 1960, mesmo sob uma direção de
inclinação clássica, seus alunos se mostraram abertos às novas linguagens da
arquitetura moderna por meio de viagens realizadas por alunos e professores ao
exterior e por meio de referências em periódicos importados. Um exemplo bastante
claro é o diário da viagem do arquiteto Miguel Forte aos Estados Unidos em 1947,
onde conheceu justamente o arquiteto Frank Lloyd Wright (FORTE, 2001).
Em Taliesin, o sítio que abrigava a escola, os alojamentos e o escritório de
Frank Lloyd Wright (e também o lugar onde se exercia um estilo de vida mais
natural), Miguel Forte observou os elementos da arquitetura que descreveu em seu
diário, os quais foram frequentemente utilizados na arquitetura moderna no Brasil, e
que, sugere-se, também o foram nas casas projetadas por Petracco:

Toda aquela arquitetura movimentada de soma de espaços, porque


a arquitetura dele sempre teve uma preocupação espacial muito
grande e o encontro com a natureza, que dizer, você capta a
natureza dentro da arquitetura e vice-versa, a arquitetura se
transvaza na natureza (FORTE, 2001, p.156).
58

Já em Taliesin West, Miguel Forte descreve:

Grandes blocos de pedra coloridas e concreto, em todas as direções,


suportam tesouras de madeira vermelha. Grandes manchas brancas
das lonas cobrem algumas alas, seja em cima, seja verticalmente,
seja formando painéis inclinados em forma de aberturas externas. Há
uma sequência pitoresca de vários níveis, que sobem e descem e
ligam ambientes, formando um conjunto de arquitetura interna com
os exteriores (FORTE, 2001, p.165).

A descrição de Miguel Forte de Taliesin West não por coincidência pode ser
comparada à descrição que o autor Yves Bruand (2008, p.296) faz da
arquitetura de Vilanova Artigas, mestre de muitos arquitetos da geração da
Escola Moderna Paulista, a exemplo do projeto da Casa Baeta de 1956, o que
sugere o trânsito do ideário moderno, em suas múltiplas conexões (ZEIN,
2014).

Figura 24: Casa Baeta, de Vilanova Artigas (1956). Fonte: domusweb.it

Por outro lado, a influência de Oscar Niemeyer sobre o movimento moderno


no país e sobre a geração de arquitetos de Francisco Petracco é inegável. Em seu
depoimento, Petracco contou que conheceu Niemeyer pessoalmente, mas o
encontrou pouquissímas vezes. O arquiteto cita Niemeyer como o arquiteto que lhe
encanta e um dos seus principais parâmetros ao projetar, principalmente pela
liberdade formal de suas obras. Também podemos compreeender esta proximidade
59

com a obra de Niemeyer pela convivência estreita que Francisco Petracco teve com
o arquiteto Eduardo Corona, que foi seu segundo orientador em sua tese de
doutoramento (informação citada entre os Agradecimentos em sua Tese). Eduardo
Corona se formou Escola Nacional de Belas Artes, adepta da arquitetura moderna,
sob a influência da Escola Carioca e Le Corbusier, trabalhou com Oscar Niemeyer
durante as obras para o IV Centenário (CARRANZA, 2001). E é o que nos possibilita
tecer analogias entre as casas do arquiteto pesquisado e os projetos de Niemeyer.
Decerto, muitos dos projetos de Petracco apresentados neste trabalho terão um
compromisso maior com a estrutura e sua racionalização graças a um desenho que
facilita sua industrialização por meio de padronizações, a exemplo dos projetos de
Oscar. Por exemplo, a Casa de Canoas, de 1954, que apresenta formas orgânicas
que interagem com imagem da natureza ao seu redor, tem nessas formas orgânicas
no concreto a impossibilidade de ser multiplicáveis, crítica esta feita pelo arquiteto
Walter Gropius à casa de Canoas. Mas, em muitos projetos de Petracco, pode-se
imaginar que as estruturas poderiam ser multiplicáveis, como os módulos de
estruturas que fazem parte de sistemas de pilares e vigas, passíveis de ser
reproduzidas pelo sistema de pré-fabricação de peças de concreto armado
(COMAS,1999, p.32).

Figura 25: Casa de Canoas, de Oscar Niemeyer (1954) Fonte: SkyscraperCity


60

Apesar da divergência de conduta entre Niemeyer e Petracco, entre os


projetos residenciais dos dois arquitetos há em comum: a separação dos diversos
usos dentro casa (social, privativo e de serviços), a inclusão de elementos naturais
na arquitetura ou a arquitetura tendo forma dos mesmos, as coberturas compostas
por lajes sobre pilotis, abertas para a área externa, a exuberância do volume
principal e o contraste entre superfícies retas e curvilíneas - o que, para o crítico e
arquiteto Eduardo Comas, significa que o modernismo brasileiro é como uma mescla
original e livre da composição corbusiana e tactilidade italiana ou miesiana, não
desprovida de um toque barroco (COMAS, 1999, p.32). E, como visto acima,
também da arquitetura norte-americana de Frank Lloyd Wright.
Quer dizer que o programa dessas casas não se definiu apenas como um
exercício de problema-solução: o projeto não é uma resposta prática, tão somente a
um problema – há uma intenção de caráter estético: a arquitetura foi baseada em
critérios de concepção em processo de intelecção visual no qual a complexa
concepção de projeto que envolve a forma é fundamental, ao mesmo tempo em que
revela o caráter atípico de sua natureza (PIÑON, 2006, p.50) As casas são
certamente exercícios arquitetônicos formais e programáticos, frutos de
experimentações incessantes, o que revela a dedicação ocorrida na arquitetura
moderna já avançada, na década de 1970, pelo desenvolvimento da arquitetura no
Estado.
As residências do arquiteto são exemplos de continuidade da Escola de
Arquitetura Moderna Paulista entre as décadas de 1950 e 1970 em São Paulo. Ao
mesmo tempo, essas características vão além de seus aspectos mais evidentes (ou
já evidenciados pela literatura especializada, expressando uma forte articulação de
estrutura, espaço e plástica, reforçando aspectos expressivos da arquitetura).

2.2. Informações sobre as residências

As residências unifamiliares, assim como as escolas, correspondem à maior


parte dos projetos no âmbito da obra do arquiteto Francisco Petracco. Durante o
levantamento dos projetos do arquiteto, foram encontrados 62 projetos residenciais.
61

Esse levantamento foi realizado junto ao acervo particular de Francisco Petracco. As


informações relativas aos projetos encontrados foram reunidas e organizadas por
meio de fichas pela autora desta dissertação.
Para a confecção das fichas (e também para a representação dos redesenhos
de cada residência), a organização dessa pesquisa considerou como exemplo o livro
Residências em São Paulo: 1947-1975, de Marlene Acayba, produzido em 1986 e
reeditado em 2011. Contudo, deve-se lembrar que há fichas incompletas, pois,
durante o levantamento, muitas das pranchas, parte integrante dos projetos
encontrados no acervo do Arquiteto, não continham dados essenciais, como local e
data. Para completar o máximo possível as informações, fontes diversas foram
consultadas: o doutorado do Arquiteto, com o título de Arquitetura: desenho,
estrutura e ritmo (FAU-USP, 2004), seu currículo, feito pelo seu próprio escritório, e
também publicações relativas a alguns arquitetos que foram seus parceiros de
projetos, como o arquiteto Pedro Paulo de Melo Saraiva.
É possível verificar ainda, na lista produzida durante o levantamento dos
projetos, outras parcerias com arquitetos diversos, sendo José Roberto Soutello o
coautor mais citado – uma parceria estreita de dois arquitetos mackenzistas que
compartilhavam o rigor quanto à experimentação de novas formas e estruturas.
Nas fichas, pode-se verificar que todos os projetos residenciais do arquiteto
Petracco foram realizados em municípios do Estado de São Paulo, com exceção de
uma casa projetada e construída na cidade do Rio de Janeiro, em parceria com o
arquiteto Renato Carrieri (sem data), e mais uma, no Estado do Paraná, projeto para
o cliente Shigeaki Ueki, no ano de 1977. Em sua maioria, os projetos estão
localizados na cidade de São Paulo e em sua região metropolitana, contando com
25 unidades levantadas. Destaca-se a produção no litoral norte paulista, com 17
projetos. Há também alguns projetos residenciais no interior do Estado e algumas
sedes de sítios e fazendas. O período levantado foi de 1958 a 1993, e o ano de
maior produção de projetos residenciais foi o de 1975, com 8 projetos encontrados.
62

2.3. Os principais partidos arquitetônicos: A configuração de princípios


de análise dos projetos de Francisco Petracco

As residências de Petracco são exemplos da arquitetura moderna paulista,


projetadas entre as décadas de 1950 e 1980, que evidenciavam uma forte
integração entre sistemas e soluções estruturais e programáticas, sem descuidar de
aspectos plásticos e expressivos que aparecem, por exemplo, em coberturas e
envoltórios do espaço interior, volumes singulares ou elementos estruturais e
plásticos a uma só vez, tais como colunas, pórticos, lajes e outros.

Residência Noedy Freire

A primeira casa projetada pelo arquiteto data de quando ele ainda cursava a
faculdade, no ano de 1958, para Noedy Freie, na cidade de Ubatuba, litoral norte de
São Paulo. O projeto deveria atender a um baixo custo de construção. O arquiteto
incorporou nesse projeto a linguagem da arquitetura moderna, utilizando-se de
grandes planos de superfície e do jogo de cheios e vazios na fachada. Por meio de
elementos vazados como os Cobogós na fachada oeste, voltada para a Serra do
Mar, e na fachada leste, voltada à praia, que apresenta grandes esquadrias de
madeira do tipo guilhotina (onde as folhas se abrem para dentro da parede no
sentindo vertical e permitem 100% da abertura do vão da janela), além o plano
formado pelas grandes portas articuladas na sala de estar, também do piso ao teto,
de madeira do tipo veneziana, que permitem a abertura total do ambiente interno à
área externa. Pelo baixo orçamento da obra, um telhado formado por telhas
onduladas foi utilizado como cobertura da casa, resultando, curiosamente, em uma
linguagem semelhante à de uma casa colonial.
64

espaços abrigados, como ocorreu em sua própria residência no


Morumbi, hoje demolida. Na residência Fleider observamos a
continuidade desse sistema de composição, onde vigas cortam o
espaço para definir o volume arquitetônico e painéis de madeira
vedam vãos estruturais, fazendo prevalecer a intenção plástica sobre
um eventual rigor na insolação dos dormitórios, que têm janelas
orientadas para todos os quadrantes. (XAVIER, 1983, p. 43).

Quanto ao programa da casa de Noedy Freire, de Petracco, este é compacto,


sendo que a distância entre os eixos das paredes dos quartos são de somente 2,75
m. A cozinha diminuta foi pedido da dona da casa ao arquiteto, pois, ela não gostava
de cozinhar e queria aproveitar o tempo de descanço na praia (Depois de alguns
anos, o dormitório de empregada foi demolido para dar lugar à ampliação da cozinha
e da área de serviço). Os ambientes foram dispostos de forma linear (ou
sequencial), de forma que, a planta e fachada se correspondem, sendo que a
composição linear foi quebrada pela varanda da casa que avança para o jardim
como um deck incitando a convivência entre os usuários e pela parede vertical, entre
a sala e a área de serviço, o que pode ter uma conotação de segregação entre os
usos. Mas, que era comum na arquitetura residencial em São Paulo dos demais
arquitetos como Vilanova Artigas. Pelo baixo orçamento da obra, um telhado
formado por telhas onduladas foi utilizado como cobertura da casa, resultando,
curiosamente, em uma linguagem semelhante a de uma casa colonial.

A partir da primeira casa, Petracco, durante sua carreira, desenvolveu vários


projetos residenciais, que chamam a atenção por sua expressão compositiva. Ao
levantar os exemplares, foi possível identificar soluções semelhantes e recorrentes,
como autorreferências, o que permitiu dividir os projetos residenciais em grupos, que
necessariamente não são cronológicos, podendo se encontrar a mesma solução
estrutural sob diversas conformidades e expressões arquitetônicas, não
caracterizando uma linha de evolução (ou um processo linear), mas uma adaptação
às necessidade de cada casa. Para exemplicar a categoria, as fichas das
residências serão apresentadas. O que permitirá perceber que as recorrências entre
as soluções arquitetônicas também eram independentes de onde pertence sua
região – urbanas; litorâneas ou interioranas – nas três regiões, as casas
apresentaram-se nas mais diversas configurações.
65

2.3.1. Pavilhões

Este item refere-se ao partido de casa que se apresenta como um pavilhão


pode ter coberturas com desenhos que darão o coroamento na fachada. O principal
exemplo é o pavilhão sob uma cobertura de concreto armado formado por
abóbadas, esta apoiada em paredes de alvenaria estrutural. Este partido foi aplicado
por Francisco Petracco em projetos de casas com programas compactos e de
baixos custos. Pela economia, o sistema construtivo apresenta vãos menores (como
na Residência Noedy Freire). Nelas, geralmente cada ambiente corresponde à uma
abóbada da fachada. Em plantas com a área diminuta, a separação entre os
espaços de serviços e sociais são diluídas por meio de amplas aberturas entre a
cozinha, sala e área externa, e também, por instalações de lavatórios nas
circulações.

• Residência Maria Emília, São Paulo (1973).

A Residência Maria Emília, com projeto iniciado em 1973 e construção em


1977, com área de 95,20m², localizada no bairro do Pacaembú em São Paulo,
apresenta uma característica peculiar – implantada num terreno aclive, o programa
da casa foi localizado três metros acima do nível da calçada, formando um talude
que faz parte da própria fachada da casa e sobre o talude, duas abóbadas catalãs,
que ao ser voltadas à uma mapla vista da cidade, assemelham-se a grandes
binóculos.
66

Figura 28: Foto da Residência Maria Emília (1973). Fonte: Francisco Petracco (Acervo organizado por
Angela Diniz, 2014)

Figura 29: Foto Recente da Residência Maria Emília (1973). Fonte: Angela Diniz
68

Figura 32: Destaques da Planta da Residência Maria Emília (1973). Autoria: Angela Diniz

O terreno foi dividido em dois níveis, onde o programa da casa foi localizado
há três metros de altura da calçada da rua e em um único pavimento. Seu acesso é
dado por escadas laterais, uma de serviço mais estreita e mais próxima da calçada e
a outra, que dá para a área social da casa, disposta paralelamente à rua é mais
recuada da calçada de forma a permitir uma vaga de carro neste espaço. No
segundo patamar, nos fundos do terreno se localiza o jardim e a horta da
proprietária.

Nos redesenhos, podemos verificar a relação da planta e do corte, sendo que


o programa da casa foi desenvolvido de acordo com as abóbadas, que corresponde
a cada ambiente. O sistema autoportante das paredes de alvenaria limitaram as
paredes ortogonais a ter vãos livres menores. As paredes sustentam as vigas de
concreto armado, onde os arcos de tijolos que formam as abóbadas se apoiam. Para
equilibrar as tensões da estrutura na direção externa da casa, tirantes foram
instalados entre as vigas de apoio dos arcos, e, estes tirantes estão escondidos
atrás das esquadrias de madeira das janelas que sustentam os panos de vidro. A
alvenaria das paredes nã recebeu amaciamento e foi pintada, provavelmente para
sua proteção às interpéries.

O partido da Residência Maria Emília pode ser associado ao partido da Residência


Simon Fausto, projeto dos arquitetos Flávio Império, Rodrigo Lefèvre e Sérgio Ferro,
no ano de 1961, na praia da Enseada, em Ubatuba, São Paulo (próxima a
Residência Noedy Freire apresentada acima). A residência Simon Fausto é formada
por paredes autoportantes, que sustentam uma cobertura de abóbadas catalãs
assentadas em tijolo comum sobre fôrma de madeira, com vãos de três metros.
69

Consequentemente, os espaços internos são mínimos, a sala e cozinha integradas


rompem a linearidade do conjunto, avançando ao recuo de fundos dos quartos,
incitando o convívio. Bancos ladeiam o grande corredor-alpendre que atravessa toda
a casa, com janelas para o jardim e ventilação permanente, através de cobogós nos
tímpanos das abóbadas (http://www.flavioimperio.com.br/projeto/505589).

Figura 33: Foto da Casa Simon Fausto (1961) Autoria: Benedito Lima de Toledo. Fonte:
http://www.flavioimperio.com.br/galeria/505589/512732

Figura 34: Planta da Casa Simon Fausto (1961) Fonte:


http://www.flavioimperio.com.br/galeria/505589/512732

Figura 35: Fachada da Casa Simon Fausto (1961). Fonte:


http://www.flavioimperio.com.br/galeria/505589/512732
70

A descrição da Residência Simon Fausto possui soluções recorrentes nas casas de


Francisco Petracco, principalmente entre as casas da categoria ‘pavilhão com
cobertura formada por abóbadas’.

• Residência à beira da Represa, São Paulo (1980)

Esta residência foi publicada na Revista Casa e Jardim, da qual a matéria destacava
seu orçamento (o que nos permitiu conhecer os acabamentos e materiais utilizados
na casa). Projeto de Francisco Petracco com o arquiteto Roberto Campos Rolim,
não informa quem era o seu proprietário (somente que foi projetada para uma família
americana de hábitos descontraídos), a casa de 340 m² foi localizada próxima à
Represa da Guarapiranga, na cidade de São Paulo.

O programa da casa foi desenvolvido em dois níveis, o que a difere de outras casas-
pavilhão, também possuí uma grande paleta de revestimentos, mas mesmo assim,
os arquitetos preocuparam-se com a economia da obra e definiram alguns padrões
de acabamentos. Segundo a matéria, a casa possui paredes de alvenaria estrutural,
que não receberam amaciamento e foram pintadas na parte interna da casa para
melhorar seu aspecto. Possui também, abóbadas de tijolos de barro assentados em
fôrmas removíveis de madeira, tipo catalão; pisos externos de ardósia, pisos
cerâmicos nas áreas de serviços, carpetes nos dormitórios e assoalhos de ipê nas
salas e no salão de festas, possui grandes janelas fechadas com panos de vidros
temperados onde são as salas e as circulações e portas-balcão com venezianas de
madeira nos dormitórios. O volume do armário embutido dos dormitórios ressalta na
fachada, somando com a varanda e com os arcos das abóbadas. E ainda, fora da
planta da casa, há um segundo volume onde se abriga a área de serviços, que não
foi incluída na planta apresntada na edição.
71

Figura 36: Publicação de Casa à beira da Represa (1980). Fonte: Revista Casa e Jardim, p. 309.
72

Figura 37: Noedy Freire/ 1958


73

Figura 38: Maria Emilia/ 1973


74

Figura 39: Moutinho/1975 e Edson Dohi/1975


75

Figura 40: Shigeaki/ 1977 e Ubajara/ SI


76

Figura 41: Casa na Represa/ 1980


77

Figura 42: Pilão/ 1984


78

Figura 43: Jorge Gabriel/1983 e Mario Nicoli/ 1986


79

Figura 44: Àlvaro Buono e FOAP/ 1989


80

Figura 45: Fazenda Bahia/ 1993 e Rancho Wania/SI


81

Figura 46: Olacyr Moraes/ SI


82

2.3.2. Caixa elevada e estruturada por pórticos

A segunda casa registrada e fichada pela pesquisa é a Residência Iguatemy


Andrade, construída na cidade de São Paulo, próximo ao Parque do Ibirapuera, no
ano de 1965, com 581,30 m² de área construída. Neste segundo projeto residencial,
pode-se identificar um dos partidos mais recorrentes nos projetos residenciais do
arquiteto: uma grande caixa suspensa sobre pilares aporticados ou esculturais.
Nessas residências, é possível verificar a garagem, os espaços de serviços e o hall
de entrada com ligação a uma sala de estar de pé direito duplo. A área íntima, onde
estão os dormitórios, está localizada no segundo pavimento, podendo-se encontrar
com uma área social intermédia ao vazio, que corresponderia ao mezanino, voltado
para a sala de estar, no térreo.
Apesar da separação entre os espaços de serviços e o setor privativo, é
possível identificar uma postura conservadora do programa da casa, embora o
projeto já demonstre referências à arquitetura moderna paulista, em especial de
residências do arquiteto Vilanova Artigas. Tais referências comparecem na área
social localizada nos fundos da casa, voltada para o jardim na parte posterior do
lote, entre outros elementos de linguagem moderna presentes na casa, tais como:
fachadas com grandes balanços em concreto armado, grandes painéis de madeira,
a cobertura estruturada pelo sistema de “caixão-perdido” (sistema ortogonal de vigas
entre duas lajes de concreto armado), a utilização de grandes panos de vidro,
janelas em fita, formação de grandes empenas, que podem apresentar pequenas
aberturas, e, com a construtibilidade do pórtico autoportante legível nas laterais da
casa, e, por fim, a presença de pergolados que funcionam como brise-soleil.
83

Figura 47: Foto do Projeto Executivo da Fachada Lateral da Residência de Iguatemy Andrade (1965).
Fonte: Francisco Petracco (Acervo organizado por Angela Diniz, 2014)

Figura 48: Foto do Projeto Executivo da Fachada Frontal da Residência de Iguatemy Andrade (1965).
Fonte: Francisco Petracco (Acervo organizado por Angela Diniz, 2014)

Outros exemplares com o mesmo partido apresentaram caixa-d’água de


concreto armado aparente em formato cilíndrico, contrastando com a fachada de
traçado regular. Muitas das casas também apresentaram a formação de abóbadas
entre os eixos de pilares; na maioria deles, cada curva corresponde a um ambiente
sob a mesma – conservando assim a correspondência entre o programa, a planta e
a fachada. Também é importante salientar que as estruturas dessas casas possuem
um número reduzido de apoio, geralmente quatro deles. Outros exemplos do
mesmo partido arquitetônico são as residências
84

• Ítalo Lorenzi, São Paulo, SP (1970)

Publicada na reportagem: “Sob a casa, os Jardins” (Projeto e Construção.


São Paulo, n.37, p.22, dez.1973).

A casa é localizada em um terreno de esquina de aproximadamente 1405.38


m². Com muitas restrições, Francisco Petracco foi o terceiro arquiteto a projetar no
terreno. A solução da caixa elevada serviu para responder aos recuos impostos no
terreno. A casa possui três pavimentos: garagem no nível da rua, primeiro
pavimento, que está sobre uma laje-jardim, onde a área de estar é localizada, e um
segundo pavimento, que corresponde à caixa elevada, sendo cada abóbada da
fachada um compartimento.

Figura 49: Foto da Residência Ítalo Lorenzi (1970) Destaque para as abóbadas. Fonte: Revista
Projeto e Construção. São Paulo, n.37, p.22 dez, 1973. Destaque para Abóbadas na Foto da
Residência Ítalo Lorenzi (1973). Autoria: Angela C. Diniz
87

A solução apresenta uma caixa elevada com somente quatro pontos de apoio
(em vermelho, na figura a seguir), além da formação de abóbadas entre os eixos de
pilares, que correspondem aos ambientes internos sob as mesmas – conservando,
assim, a correspondência entre o programa, a planta e a fachada. A área cinza
escura destacada nas figuras abaixo indica o ambiente social da casa, em que
predomina o lado direito da planta.

Figura 54: Redesenho da Planta Térrea da Residência Italo Lorenzi com destaque aos pilares e áreas
sociais destacasem cinza escuro (1973). Autoria: Angela Diniz

Figura 55: Redesenho da Planta Superior da Residência Italo Lorenzi com destaque aos pilares e
áreas sociais destacasem cinza escuro (1973). Autoria: Angela Diniz
91

Figura 61: Iguatemy Andrade/1965


92

Figura 62: Lorenzi/ 1970


93

Figura 63: Sadao Kayano/ 1975


94

Figura 64: Mike Racy/1975


95

Figura 65: S. Rothenberg/1978


96

Figura 66: Claudio Morelli/1978


97

Figura 67: Pedro Marey/1981


98

Figura 68: Ricardo Costa/1981


99

Figura 69: Martin Sushemihl/1982


100

Figura 70: Repolho/1989


101

Figura 71: F.Araújo e M.Machado/1990


102

Figura 72: Nilton Gome/ SI


103

Figura 73: Carlo Babini/SI


104

Figura 74: Mauricio Henriques/SI


105

Figura 75: Sérgio Chimelli/ SI


106

2.3.3. Formas orgânicas

Entre os projetos residenciais levantados, podem-se destacar aqueles de


formas orgânicas, apresentando traçados curvos no próprio volume da casa ou
somente da cobertura do terraço. Ao comparar os desenhos com esta característica,
verifica-se que há recorrências entre eles, como os desenhos formados por curvas e
tangentes, que se dirigem para as piscinas com desenhos circulares ou mesmo as
envolvem.
Geralmente, essas casas foram implantadas em terreno com grandes
declividades e acima do ponto de vista do observador (quando vistas da calçada).
Muitos dos projetos com este partido foram construídos em encostas, utilizando o
muro de arrimo como parede da própria casa. O programa da casa foi voltado para o
visual do terraço, e a ambiência do espaço interno da casa é garantida pela textura
das paredes de pedra do muro de arrimo.

• Residência Francisco Otávio Almeida Prado, Ubatuba, SP (1980)

Esta casa é voltada para a paisagem e tem grande predominância do espaço


social, representado abaixo pela área cinza escura. Há separação dos usos dentro
do programa da casa, representados, nas figuras abaixo, pela cor cinza escuro
indicando áreas sociais. A planta corresponde ao corte, as áreas cinza escuro são
identificadas nos limites da fachada frontal. Vale destacar que os pergolados
auxiliam na iluminação dos espaços distantes da fachada e próximos ao muro de
arrimo.
107

Figura 76: Foto da Residência FOAP (1980).Fonte: Francisco Petracco (Acervo organizado por
Angela Diniz, 2014)

Figura 77: Foto interna da Residência FOAP (1980). Fonte: Francisco Petracco (Acervo organizado
por Angela Diniz, 2014)
111

Figura 86: Redesenho dos Cortes da Residência FOAP (1980) – Relação de espaços sociais em
escuro com outros, mais claros. Autoria: Angela Diniz

• Residência Jayme Gabriel, em Ilhabela, São Paulo (1981)

Apresenta planta bastante irregular, com separação dos usos representada


nos desenhos a seguir, mantendo os espaços de serviços no pavimento inferior.
Possui uma grande laje, que serve como jardim e que está sobre o salão de festas
no primeiro pavimento.

Figura 87:Fotos da Residência Jayme Gabriel (1981). Fonte: Acervo do Arquiteto (2014)
112

Figura 88:Fotos da Residência Jayme Gabriel (1981). Fonte: Acervo do Arquiteto (2014)

Figura 89:Fotos da Residência Jayme Gabriel (1981). Fonte: Acervo do Arquiteto (2014)
113

Figura 90: Fotos da Residência Jayme Gabriel (1981). Fonte: Acervo do Arquiteto (2014)

Figura 91:Fotos da Residência Jayme Gabriel (1981). Fonte: Acervo do Arquiteto (2014)
115

Figura 93:Redesenhos da Residência Jayme Gabriel (1981) – Destaque para as àres sociais em
cinza escura. Fonte: Angela C. Diniz

• Residência Vilázio Lellis, São Paulo (1985)

Algumas premissas adotadas pelo arquiteto podem ser identificadas no


partido dessas casas: um nível é eleito para se construir uma laje aberta, que servirá
como abrigo de um terraço e nele se localizará a piscina e o programa social com
fechamento em grandes panos de vidro.
O restante do programa da casa poderia estar localizado em qualquer outro
pavimento ou no mesmo nível da referida laje, conforme o terreno seja plano, em
116

aclive ou declive. Na maioria das vezes, os ambientes como dormitórios e banheiros


foram dispostos de forma ortogonal, resultando em divergências entre a relação da
planta, corte e elevação, a exemplo da Residência Vilázio Lellis, em São Paulo,
projetada no ano de 1985, com área construída de 700 m².

Figura 94:Croqui da Perspectiva Externa da Residência Vilázio Lellis (1985). Fonte: Francisco
Petracco (Acervo organizado por Angela Diniz, 2014).

Figura 95:Croqui da Perspectiva Interna da Residência Vilázio Lellis (1985). Fonte: Apresentação da
Tese de Doutorado do Arquiteto

Figura 96:Foto da Residência Vilázio Lellis (1985).Fonte: Google Maps


120

claras destacam as áreas de serviços. Nesta casa, ao comparar planta e corte,


verifica-se que não há completa correspondência entre eles.

Figura 102: Redesenho para Análise das Plantas da Residência Vilázio Lellis (1985) – Com destaque
às àreas sociais em cinza escura. Autoria: Angela Diniz

Figura 103:Redesenho para Análise dos Cortes da Residência Vilázio Lellis (1985) – Com destaque
às àreas sociais em cinza escura. Autoria: Angela Diniz
121

Figura 104: FOAP/1980


122

Figura 105: Augusto Ponsvilla/1981 e Sadao Kayano/1981


123

Figura 106: Jayme Gabriel/1981


124

Figura 107: Volázio Lellis/1985


125

Figura 108: Dalla Libera/1987


126

Figura 109: Nelson Huffel/SI


127

Figura 110: Dalton Pereira/ SI


128

Figura 111: Jayme Gabriel/ SI


129

Figura 112: Roberto T. Gabriel/ SI


130

Figura 113: May Zaydan/ SI


131

2.3.4. Coberturas principais com alusão ao desenho do voo do pássaro

São projetos cujos programas são localizados sob uma cobertura principal,
com um desenho alusivo às asas de um pássaro, abertas. Estas coberturas serviram
como elementos articuladores do programa da casa e sua projeção pode
corresponder a uma zona de intersecção com várias áreas. Contudo, casas que
seguiram esse partido apresentaram programas que segregam as áreas de serviço
e as sociais. São exemplos:

• Residência Dalton Pereira, Ibiúna, São Paulo (sem data)

Figura 114:Corte do Anteprojeto da Residência de Dalton Pereira, em Ibiúna, SP (sem data). Fonte:
Francisco Petracco (Acervo organizado por Angela Diniz, 2014)

• Paulão (sem informações)

Figura 115: Fachada da Residência Paulão (sem data). Fonte: Francisco Petracco (Acervo
organizado por Angela Diniz, 2014)
132

Figura 116: Vicente Izzo/ 1972


133

Figura 117: Guido Perrotti/1974


134

Figura 118: S. Rothenberg/1982


135

Figura 119: Dalton Pereira/ SI


136

Figura 120: Mihel Efeiche/ SI


137

Figura 121: Paulão/ SI


138

Figura 122: Jubran/1971; Manuel Pinto/1973; Rafaell D' Amico/ 1975; Eraldo Funaro/ 1975; José
Serrano/1975;
139

Figura 123: Darcy Toledo/ 1977; J.C. Posses/1985; Jordanópolis; L. Krubusly/SI


140

Figura 124: Luis Izzo/ SI; J. Aparecido


141

2.4. Casas populares

Diferentemente dos demais partidos recorrentes em casas burguesas, estas


atendem a outro escopo e não apresentam o mesmo arrojo das primeiras. O tema
voltado aos projetos de moradia multifamiliar em conjuntos habitacionais, que
englobam desde o raciocínio da escala urbana de loteamentos até o módulo da
casa, foi o principal responsável pela repercussão da carreira de Petracco entre os
meados da década 1960 aos anos 1980. De fato, são referentes a esse tema os
projetos apresentados por ele aos frequentes concursos de que participou e até as
premiações, ambos publicados em periódicos da época, como as revistas Acrópole
e AB Arquitetura do Brasil.
A questão da moradia, na obra de Francisco Petracco, tal como nas obras
dos arquitetos como Vilanova Artigas e Sérgio Ferro, veio acompanhada de um
discurso da função social do arquiteto, com conotação política e social. Para
Francisco Petracco:

O arquiteto deve ter responsabilidade de não só projetar casas pra


clientes particulares, ou ‘burgueses’, mas também, atentar-se a
novas propostas para moradias populares, de forma a propor um
programa que atenda as necessidades de uma família e um sistema
mais acessível e eficiente de obter e de ser executado. (PETRACCO,
2001, p.299)

Aproveitando o fomento histórico da construção de casas populares, o


arquiteto projetou alguns conjuntos habitacionais populares com planos urbanísticos
para novos loteamentos, projetos estes que geralmente eram solicitados por órgãos
públicos, como os conjuntos da COHAB e os parques CECAP. Os projetos de
edifícios de apartamentos estimularam a cooperação entre arquitetos e engenheiros.
Por exemplo, Petracco trabalhou sob as consultorias de engenheiros renomeados
como Zuccolo e Mário Franco, profissionais que trabalhavam a fim de chegar à
maior esbelteza possível dos edifícios, de forma a economizar concreto e outros
materiais. Também desenvolviam sistemas prediais que traziam economia para
execução e manutenção do edifício. Segundo o arquiteto, o mercado imobiliário
mudou seu perfil a partir de 1970, dando prioridade à massificação e à reprodução
142

de modelos para projetos residenciais, o que era mais vantajosa para os


empreendedores em termos econômicos. (PETRACCO, 2011, p.355)

Figura 125:Perspectiva da Casa Experimental (1965). Fonte: Francisco Petracco (Acervo organizado
por Angela Diniz)

• COHAB Carapicuíba, 1965-1968

Contrariando a lógica do mercado da década de 1960, de que a


verticalização é a melhor forma para otimização dos sistemas de
infraestrutura, o arquiteto propôs uma disposição de unidades
habitacionais horizontais e em forma de espinha dorsal, conformada
por paredes espessas, que serviam de passagem para as redes de
hidráulicas e elétricas, alimentando a dupla fileira de unidades
habitacionais a ela contígua, portanto de costa entre si. Os
ambientes localizados nos fundos das casas (cozinha e banheiro)
eram iluminados por domos zenitais. Pelo sistema de
compartilhamento da rede de distribuição, as casas não possuíam
áreas abertas privativas, entre os conjuntos de doze casas, formam-
se áreas livres e coletivas (BASTOS; VERDE, 2005, p.181).
143

Figura 126:Planta da Unidade Habitacional (1965). Fonte: Francisco Petracco (Acervo organizado por
Angela Diniz)

Figura 127:Corte da Unidade Habitacional (1965).Fonte: Francisco Petracco (Acervo organizado por
Angela Diniz)

Figura 128:Elevação da Unidade Habitacional e Bloco (1965).Fonte: Francisco Petracco (Acervo


organizado por Angela Diniz)
144

Figura 129:Implantação do Conjunto Habitacional (1965). Fonte: Francisco Petracco (Acervo


organizado por Angela Diniz, 2014)

• COHAB Caçapava e ‘Casas 4x4’, 1969 -1976

A proposta de otimização de infraestrutura foi desenvolvida em várias


conformidades, inclusive com casas conjugadas. No projeto CECAP, a pedido do
cliente, foi criada mais de uma tipologia de habitação, inclusive com edifícios de
poucos pavimentos e pavimentos intercalados, de forma a explorar o desnível do
terreno.
145

Figura 130:Fotos de Maquetes das Três Tipologias de Unidades Habitacionais COHAB Caçapava
(1969). Fonte: Francisco Petracco (Acervo organizado por Angela Diniz, 2014)

Figura 131:Corte de Edifício COHAB Caçapava (1969). Fonte: Francisco Petracco (Acervo
organizado por Angela Diniz, 2014)
146

Figura 132:Foto de Maquete do Conjunto Habitacional COHAB Caçapava (1969). Fonte: Francisco
Petracco (Acervo organizado por Angela Diniz, 2014)

2.5. Consideração sobre os partidos residenciais do arquiteto

As casas projetadas por Francisco Petracco apresentam, em seu processo de


criação sincrônica entre a preocupação formal e a estrutural, condição própria ao
momento histórico da década de 1940, o que constituía, à época, uma afirmação da
arquitetura moderna em São Paulo, herdeira de princípios que legitimavam a
expressão do desenho (de uma plástica), com uma arquitetura mais livre de
preceitos dogmáticos funcionalistas.
Na obra de Petracco, foi possível dividir as residências unifamiliares em
quatro categorias, que agrupam projetos com partidos recorrentes:

1. Pavilhões: geralmente ocorre em plantas térreas com estrutura em alvenaria


armada, com destaque para a cobertura de concreto com abóbadas, podendo
cada abóbada da fachada corresponder a um determinado espaço ou mesmo um
determinado uso;
2. Caixa elevada e estruturada por pórticos: o setor íntimo geralmente
corresponde a caixa elevada sobre pilotis, que, entre eles, corresponde à parte
147

social da casa. Pode apresentar pés-direitos duplos e fachada marcada pelas


abóbadas da cobertura;
3. Formas orgânicas: as formas orgânicas podem ser exploradas tanto em lajes
que cobrem terraços e espaços sociais, abertos ao ar livre, quanto na própria
forma e planta da casa, sempre elegendo um platô para o térreo e área social;
4. Coberturas principais com alusão ao desenho do voo do pássaro: a
cobertura é o grande elemento articulador dos diferentes setores da casa,
tratando-se de forma distinta do programa da casa.

Os partidos acima, por meio de experimentações tecnológicas e plásticas,


com as técnicas construtivas e as estruturas, alcançaram singularidade, sendo
capazes de produzir efeitos perceptivos de leveza e refinamento expressivo,
evidentes em muitos projetos e adequados à escala de um edifício residencial
unifamiliar.
Já os projetos habitacionais populares apresentam um caráter mais
racionalista, atendendo às condições econômicas, mas Petracco ainda não abre
mão da composição da fachada, que, em muitos projetos, demonstra jogo de cheio e
vazios e de ritmo.
A opção por estudar as residências se justifica pelo fato de possibilitar a
evidência de que a arquitetura paulista do período é coerente com o ideário
moderno, para o qual espaço e forma são indissociavelmente atrelados à solução
estrutural e programática.
148

CAPÍTULO 3 – GESTO PROJETUAL E ANÁLISE DA


ARQUITETURA RESIDENCIAL DE FRANCISCO PETRACCO

Neste capítulo busca-se compreender o gesto projetual do arquiteto, a fim de


poder avaliar melhor suas decisões, e, assim, analisar e levantar os elementos
responsáveis pelo resultado da materialidade da obra, desde a definição do partido
arquitetônico. Para isso, foram elaborados critérios analíticos e um método que
permitissem compreender a criação do arquiteto. Sendo professor e sempre
preocupado com a aprendizagem dos alunos, ele próprio procurava uma
metodologia bastante clara para projetar, a qual estivesse sempre em discussão, a
considerar as inovações e evolução da arquitetura durante os anos de sua carreira
(PETRACCO, 2004).
Esse método e sua aplicação sugerem que o ato projetual do arquiteto, que
demonstrava uma postura radical em defesa do movimento moderno, na realidade
não rompeu completamente com os paradigmas arquitetônicos da Escola de Beaux
Arts. Sua formação acadêmica incluiu também referências beauxartianas provindas
da Faculdade de Arquitetura Mackenzie, cuja preocupação caminhava entre a
estética e a técnica e, de forma resumida, tinha como metodologia de projeto a
composição dos diversos elementos arquitetônicos e a melhor forma de executar
essa composição arquitetônica. (PEREIRA, 2005). E essas premissas serviram
como base para o arquiteto desenvolver seu método de projeto, incluindo em seus
projetos as novas discussões e necessidades ao redor do projeto do edifício
surgidas durante a época em que se graduou, como por exemplo: a preocupação
com o entorno e o urbanismo, o surgimento de novos programas e usos, com o
design a partir da tectônica do edifício, o desenvolvimento dos sistemas construtivos,
as condições de trabalho no canteiro de obras e por fim, a nova linguagem da
arquitetura moderna (PETRACCO, 2004).
149

3.1. O gesto projetual

Saber a formação do arquiteto durante sua graduação ajudou a compreender


o embasamento de ato de projetar, pois muitos de seus projetos exibem formas que
vão além do que se considera funcional, constituindo elementos arquitetônicos que
fazem parte de uma composição e contribuem para que a obra alcance maior
qualidade.
A ênfase conferida nas escolas de Belas Artes à ‘Composição’ tem sua
relevância no fato de que os processos criativos, sejam quais forem, fundamentam-
se na intencionalidade de alcançar a harmonia das partes de determinado todo,
consistindo em uma diretriz e alvo que o autor deseja atingir. A maneira de
relacionar as partes ou de compô-las difere, caracterizando distintos “métodos”,
palavra esta que designa a diversidade dos resultados e expressões, que não são
iguais, mas quase sempre correlatas, no conjunto da obra de cada arquiteto
(ABASCAL et al., 2013, p.43)
Apesar de uma postura de experimentalismo, diferente da posição dos
projetos beauxartianos, que se utilizavam de catálogos compositivos, o pensamento
de Petracco em relação a Arte e Arquitetura também ressalta a importância da
estrutura como elemento inerente à concepção de uma proposta projetual. A
estrutura, em termos físicos, é a sistematização dos elementos construtivos que
integram uma determinada composição arquitetônica – a estrutura comparece na
formação de todos os corpos, concretos ou abstratos – princípios estes surgidos na
escola onde se formou, sob a direção de Christiano S. das Neves (ABASCAL et al.,
2013, p.41).
Petracco considera a estrutura um elemento indissociável da arquitetura,
assim como a história, a tecnologia e o projeto. A composição é um mecanismo
intrínseco à concepção do conteúdo estrutural; não existe arquitetura sem estrutura,
que dela depende, assim como a compõe, aquela na qual a estrutura é propriamente
uma concepção arquitetônica, cujo espaço é a síntese de sua mensagem
(ABASCAL et al., 2013, p.41)., Petracco, relembrando Vilanova Artigas, pondera a
importância do que este dizia sobre Estética - temos que compreendê-la e dominá-
la, desfrutando de seus princípios, mas sem submissão aos dogmas por ela
insinuados (ABASCAL et al., 2013, p.41).
150

[...] a qualidade dos espaços está indelevelmente vinculada à


estrutura e vice-versa. O desenho que os perfazem (sic) (advém da
qualidade estrutural e esta por sua vez é reflexo dos esforços aos
quais responde. A análise das estruturas elementares como dos
vertebrados mais primários e das características de seus
componentes reforçam estas conclusões praticamente radicais.
(PETRACCO, apud ABASCAL et al., 2013, p.42).

Assim, Petracco transitou entre as preocupações estéticas e técnicas e


lançou-se ao desafio de a estrutura formar a própria arquitetura, sob os preceitos do
movimento arquitetônico vigente. Vale lembrar que Petracco tinha como referência
recente arquitetos que avançaram o estado da arquitetura em São Paulo e no País
como: Oscar Niemeyer, Lúcio Costa, Oswaldo Bratke, entre outros, e foi
contemporâneo de arquitetos renomados que mantiveram e desenvolveram a
linguagem da arquitetura moderna em São Paulo, como Paulo Mendes da Rocha.
Sua turma na Universidade Mackenzie era composta por figuras importantes para a
arquitetura de São Paulo, e assim se pode verificar que esta convivência incentivou
Francisco Petracco à troca de ideias, à passagem de conhecimentos e o levou à
afinação de suas habilidades de arquiteto no desenho e na linha de raciocino
projetual.
O Gesto Projetual do arquiteto foi conceituado da seguinte maneira:

1) Como processo criativo, compreendido como base da produção


cultural, e inserido no método cognitivo. A cognição se define,
segundo Petracco, como algo que se desenvolve com a Observação,
que induz à crítica e enseja a Criação. Essa postura está relacionada
ao Desenho, compreendido como meio por excelência para que a
observação possa ser mediada e apresentada ao fazer arquitetônico.
2) Conceitua a Arquitetura como uma obra artística, reconhecendo-
lhe natureza também subjetiva, e que emerge de uma análise
historiológica. Posiciona o arquiteto como um profissional que
interpreta e observa a realidade e transpõe ao Desenho de maneira
artística, não se desvencilhando de uma proposta tecnológica
geralmente prospectiva, portanto passível de ser enfrentada com
recursos do método científico. (ABASCAL et al., 2013, p.37)

Dessa forma, a sistemática do projeto de Petracco pode ser compreendida em:

- Aproximação ao problema;

- Análise programática;

- Visualização, análise do sítio;


151

- Adequação – análise crítica dos limites – reprogramação;

- Espacialização – concepção estrutural;

- Simbolização – hermenêutica – interpretação e idealização do


espaço que transcende;

- Lugar – contexto e arquitetura. (ABASCAL et al., 2013, p. 37)

O conceito de lugar, como manifestação da tectônica que o projeto traduz e


determina, aparece como objetivo do conhecimento, sendo a construção do lugar o
objetivo do projeto arquitetônico. A leitura e compreensão do contexto contemplam
as condicionantes que irão determinar soluções específicas da arquitetura a partir de
referências e pontos de partida históricos (ABASCAL et al., 2013 P.37 e 38).
O projeto é iniciado por nova demanda de uma pessoa comum ou do Estado
com ‘programa básico’, que expõe as condições e funções mínimas que irão orientar
as reflexões e ações iniciais do arquiteto. A partir disso, é feita uma ‘Análise
Programática’, capaz de refletir mudanças capazes de otimizar a solução,
detectando as vocações de determinada área urbana, por exemplo, potencializando-
a enquanto oferta de atividades (ABASCAL et al., 2013, p.38).

Esta fase de observação ampla reúne as condicionantes e


procedimentos do projetar, desde a postura político-social ao
conhecimento técnico e tecnológico que conduzem a soluções
inovadoras, superando múltiplos condicionantes que circunscrevem
os limites de um determinado problema (ABASCAL et al., 2013,
p.39).

Desse modo, o arquiteto desenvolveu e propôs, de forma prospectiva, uma


sistemática para o ato projetual, baseado em investigações e pesquisas, e,
propositiva, ao se preocupar com propostas que oferecem melhorias para a
população (ABASCAL et al., 2013, p.37). Isso é coerente com o que diz o autor
Bruno Munari, em seu livro Das coisas nascem coisas, de 1998, que defende a
importância do método de projeto (que não é mais uma série de operações
necessárias e de lógica linear) ao dirigi-lo ao melhor resultado com o menor esforço.
E segundo esse autor, este resultado só pode ser alcançado ao utilizar um método
claro de projeto, de pesquisa e de definição de sua função.
152

A série de operações do método de projeto é formada de valores


objetivos que se tornam instrumentos de trabalho nas mãos do
projetista criativo. O método não é absoluto e nem definitivo, pode
ser modificado caso ele encontre outros valores objetivos que
melhorem o processo. E isso tem a ver com a criatividade do
projetista, que ao aplicar o método, pode descobrir algo que o
melhore. (MUNARI, 2008, p. 10-11).

Mas, ao levantar os projetos de Petracco, verifica-se que ele ora é um


arquiteto objetivo e sistemático, com uma metodologia de projeto clara, ora é um
arquiteto idealista, livre para projetar e experimentar as novas formas arquitetônicas.

Na arquitetura de Petracco, os espaços são criados com emoção e


peculiaridades, havendo aqueles mais ou menos adequados,
cabendo-nos defini-los apoiando-nos em conceitos singulares, não
somente os que explicitamente decorrem de funções, mas apostando
na criação a partir de todos os estímulos sensoriais e filosóficos que
remetem ao belo, ou aos que provêm da sociologia da arte, assim
como os advindos da tecnologia. O Arquiteto crê que da relação de
todas essas modalidades surge o desenho das estruturas que
representam a ‘Espacialização’ dos anseios significativos (ABASCAL
et al., 2013, p.39).

Enquanto as formas são visíveis pelos seus contornos, materializando os


elementos que constituem o edifício, os espaços, por outro lado são invisíveis,
imateriais e configurados pelas superfícies e limites definidos pelas materialidades
presentes (dimensões, materiais, luzes, textura etc). Mas, ao se conterem os
espaços, as formas geram “tensões” que provocam diferentes sensações nos
usuários. Os espaços físicos possuem diferentes propriedades e despertam
sensações que dependem de fatores como luz/sombra, aberto/fechado, alto/baixo,
dentro/fora, grande/pequeno etc. Ao projetar, essas propriedades espaciais são
orquestradas pelo arquiteto. Nesse momento, tanto o conhecimento quanto a
experiência do arquiteto o fazem compreender essas qualidades espaciais,
contribuindo para que ele tome decisões conscientes, baseadas na sua vivência e
de acordo com cada projeto. Assim, ao dilatar ou contrair os espaços, ao intensificar
ou não a iluminação, ao criar espaços com grandes ou pequenas dimensões, como
variações de pés-direitos, diferentes materiais e texturas, proporções, ritmos e
harmonia entre as partes, o arquiteto desenvolve a habilidade e a sensibilidade de
153

antever como essas qualidades afetarão o modo de usar e perceber o espaço pelo
usuário. (FLÓRIO, 2012, p.173)
Na concepção dos espaços se encontra a mais importante característica do
fazer arquitetônico, o genuíno desejo de fazer ‘o melhor espaço’. É neste ato
seminal que reside a procura pelo novo e, consequentemente, é nele que se
encontra o porvir da inovação. É por isso que, com esse ato, as propostas se
renovam e podem fazer emergir as maiores contribuições. E então, passa-se a
referenciá-lo com especial destaque (ABASCAL et al., 2013, p.39-40).

O arquiteto é um profissional em busca de uma linguagem exclusiva


para expressar-se, aproximando-se, assim, do artista plástico. De
modo que a arquitetura, para ser enunciada, reflete em sua
singularidade e possivelmente levará o usuário a uma vivência fruto
de um conceito, como uma ‘Simbolização’ de conteúdo pré-
estabelecido. As mensagens enunciadas por esses atos arraigados
nos projetos contêm excepcional força comunicativa e consistem em
um sentido indelével, como o que se apresenta como significado na
cúpula de Filippo Bruneleschi ou mesmo no desenho de Brasília, de
Lúcio Costa, capazes de perenizar seu conteúdo, transformando a
mensagem em conteúdo simbólico. Essa condição, única presente
nos projetos marcantes, é reconhecível quando somos capazes de
perceber neles a exacerbação da riqueza das qualidades do ‘Lugar’
criado, que o tornam marcante e inesquecível (ABASCAL et al.,
2013, p.40).

Petracco justifica que os ‘projetos barrocos’ criados por ele e por outros
arquitetos são atividades bem-aventuradas, que possuem conteúdos programáticos
democráticos e criadores de espaços generosos, propondo absoluto diálogo com a
sociedade, mesmo que às vezes isso apresente alguns desvios suportáveis na
qualidade do desempenho do objeto (ABASCAL et al., 2013, p.40). Sendo assim,
muitas vezes a forma e a idealização se sobrepõem à função e à lógica racionalistas
– o experimento serve para aumentar os limites ou os parâmetros da estrutura e da
arquitetura, mesmo que isso comprometa alguns espaços. Bons projetos geram
conhecimento, pois se arriscam e ampliam o modo de ver arquitetura.
Contudo, segundo Bruno Munari, um projetista profissional deve ter seu
método de projeto definido e deve realizá-lo de forma precisa e segura, ao contrário
de um projetista com ideias geniais procurando forçar a técnica para executar algo
dispendioso e pouco prático, mas belo (MUNARI, 2008, p.12). Isso leva a refletir que
a postura adotada por Petracco ao se aproximar do ato artístico pode ser o fator
154

responsável pelo fato de que tantos projetos levantados pela pesquisa não foram
construídos.

3.2. Sobre análise projetual

A importância das análises feitas a partir do desenho reside na possibilidade


de qualificar o ensino de uma história analítica da arquitetura como procedimento de
crítica dos espaços (ABASCAL et al., 2013, p.42). A análise de projetos
arquitetônicos é feita desde o início do século XIX com vistas a extrair ensinamentos
de projeto. Nos tratados de arquitetura, tentava-se compilar o conhecimento da
época para servir de modelo de pensamento. A partir do Tratado de Jean-Nicola-
Louis Durand, Précis des leçons d`architecture donnés à l’École Royale
Polytechnique, publicado em 1802 em Paris, estudavam-se as partes dos edifícios
com propósitos compositivos de classificar e combinar seus diferentes elementos. E
a tradição de análise por imagens iniciou-se no final do século XIX a partir dos
estudos iconológicos de Aby Warburg (1866-1929), que propôs o estudo visual
baseado na descoberta do significado das imagens. (FLÓRIO, 2012, p.165).
A observação atenta de um desenho ou imagem é o primeiro passo para
compreender a estrutura e os detalhes que os constituem. Esse tipo de apreciação
acarreta uma análise ativa, e não passiva, na qual o pensamento visual (não verbal)
atua. Assim, o desenho é utilizado como um meio de filtrar e descobrir, ativamente, a
estruturação dos espaços e formas contidos no projeto (FLÓRIO, 2012, p.179).
Sabe-se que o pensamento visual pode ser dividido em três comportamentos: ver,
imaginar e desenhar. Assim, o desenho pode incitar a imaginação e fazer pensar por
meio de imagens, que, por sua vez, nos levam a desenhar. Nesse sentido, a análise
gráfica favorece esse pensamento visual por estimular a imaginação e a
compreensão e, consequentemente, a interpretação de projetos de arquitetura
(FLÓRIO, 2012, p.182). Por sua vez, a análise de modelos físicos e computacionais
justifica-se pelo fato de a importância da simulação dos espaços ser uma
representação comprometida com a inovação na pesquisa (SERRA, apud FLÓRIO,
2012, p.174)
155

Mesmo que na maquete física não haja os diagramas aplicados à mesma, o


modelo físico nos permite perceber a experiência das três dimensões, ao invés de
somente imaginá-la (DUNN, apud FLÓRIO, 2012, p.174) Sua presença nos permite
aproximar e entender profundamente a tridimensionalidade do projeto e suas
relações espaciais. Numa aula, por exemplo, a maquete física auxilia os alunos a
compreender o espaço e sua articulação em obras importantes e paradigmáticas
(FLÓRIO, 2012, p.176)

3.3. Análises das residências na dissertação – Métodos

Nesta pesquisa, além do registro dos projetos do arquiteto, pretende-se, com


a análise gráfica, esclarecer os principais fatores da formação da materialidade, que
se acredita estarem presentes desde a concepção do projeto, nos primeiros croquis
que desenvolviam o partido arquitetônico. Assim, a análise dos projetos residenciais
contará com duas abordagens: a primeira delas defende a presença de um
programa arquitetônico residencial com evidente preocupação espacial e formal, e a
segunda, fundamentada em análises feitas sobre o desenho, identifica os principais
elementos arquitetônicos nos partidos, quais foram os critérios de composição e as
relações espaciais do projeto.
Na obra de Petracco, em especial nas residências projetadas nas décadas de
1960 e 1980, podem-se verificar características das obras arquitetônicas
denominadas brutalistas, que foram apresentadas por Ruth Verde Zein (2010),
relacionando temas que definem obras que atendem a essa categoria: partido,
composição (em planta e elevação), sistema construtivo, texturas e aparência
lumínica e pretensões simbólico-conceituais. Sendo:

Partido: soluções que, ou privilegiam o volume único abrigando todas


as funções do edifício, ou articulam um volume principal, mais
expressivo, com volumes secundários mais discretos;
Composição: preferência pelas soluções de "caixa portante", "planta
genérica", solução de teto homogêneo, comumente sobreposta de
maneira independente sobre as estruturas inferiores; emprego de
vazios internos, muitas vezes associados a jogos de níveis/ meios
níveis, "em geral dispostos de maneira a valorizar visuais e
percursos voltados para os espaços interiores comuns, cobertos, de
uso indefinido;
156

Elevações: predominância dos cheios sobre os vazios, poucas


aberturas, aberturas protegidas por balanços, uso frequente da
iluminação zenital;
Sistema construtivo: emprego predominante do concreto armado,
lajes nervuradas, pórticos rígidos ou articulados, pilares cujo
desenho acompanha a trajetória dos esforços da estrutura, vãos
livres, balanços amplos, fechamentos em concreto armado fundido in
loco, volumes anexos geralmente construídos com estrutura
independente;
Texturas e ambiência lumínica: concreto deixado aparente, aberturas
de iluminação sombreadas por brises ou outro elemento, valorização
da textura do concreto, exploração da iluminação zenital;
Características simbólico-conceituais: valorização do aspecto
austero, solução estrutural claramente legível, sugestão de
"repetibilidade" da solução adotada; sugestão da possibilidade de
pré-fabricação dos elementos estruturais, claramente legíveis.”
(LIMA, QUIRODA e PERRONE, 2013, p.9)

Para a primeira abordagem das análises dos projetos apresentados nesta


pesquisa, as características acima foram tomadas como fio condutor para identificar
quais as que deveriam ser destacadas. Ao analisar os projetos de Francisco
Petracco, a presença integral desses traços foi evidente, de forma que é possível
classificar cada casa como uma obra brutalista. Deste modo, interessa também
contextualizar o arquiteto dentro do movimento arquitetônico vigente (a Escola
Moderna Paulista), que, ao apresentar o partido arquitetônico integrado ao sistema
estrutural, reforçou o compromisso da arquitetura produzida por ator histórico
comprometido com as circunstâncias que conduziram a essa denominação de
“Escola Moderna Paulista”, em razão de um discurso que enfatizava a procura da
melhor e menos onerosa solução estrutural e construtiva, sem, no entanto, esquecer
de definir, de maneira integral, a arquitetura.
Para a segunda abordagem (a análise gráfica sobre o desenho), o livro
Projeto Residencial Moderno e Contemporâneo, do arquiteto Wilson Flório, foi
tomado como modelo de análise. O livro levantou os princípios da forma, da ordem e
do espaço em residências, por meio de diagramas analíticos que partem do plano
bidimensional rumo à forma tridimensional, de modo a abordar a relação de planta,
corte e espaço, destacando em projetos residenciais itens por meio de códigos
gráficos como acessos, perímetro, circulação, espaço, compartimentação,
hierarquia, simetria e equilíbrio, campos visuais, relação planta-corte, geometria,
157

massa e identificação de subtração e adição de formas em referência à massa


principal. Sendo:

• Acesso e Perímetro: sobre as plantas, identificação, por contorno, dos


limites da planta e identificação, por flechas, dos acessos;

• Circulação e Espaço-uso: sobre as plantas, identificação, por


preenchimento gradual em cinza em relação ao tamanho dos espaços, e
identificação, por flechas, dos principais fluxos dentro da casa - as maiores
referem-se a fluxos de maior intensidade e as menores, a fluxos de menor
intensidade;

• Graus de compartimentação do espaços: sobre as plantas, identificação,


por preenchimento de cinza gradual, pra grandes espaços cinza claro,
médios, cinza médio e, para espaços pequenos, cinza mais escuro;

• Hierarquia: sobre plantas e corte, identificação da hierarquia do programa da


casa pela localização do uso social ou privado da casa, identificados, por
preenchimento em cinza claro, os espaços sociais, e cinza escuro, os
espaços privados;

• Simetria e Equilíbrio: Sobre planta e corte, traçado de um eixo principal e


verificação de como se dá a relação entre os tamanhos dos volumes divididos
pelo eixo, que não necessariamente serão simétricos, mas proporcionais e
balanceados;

• Campos visuais: Sobre planta e corte, verificação de como se dá a relação


da casa, para o ambiente externo, por meio de cones visuais nas aberturas: o
centro do cone deve corresponder ao centro do ambiente e seu raio deve ser
tangente aos limites da abertura; desta forma, o cone visual será proporcional
ao tamanho do ambiente;

• Relação Planta e Corte: Sobre planta e corte, identificação, por meio de


contornos, de semelhança ou não entre os dois desenhos;

• Geometria: Sobre planta, verificação, por meio de quadrados, retângulos,


raios, da proporção dos espaços que compõem o desenho;
158

• Massa: Sobre perspectiva isométrica, identificação do volume principal e dos


secundários;

• Adição e Subtracão: Sobre perspectiva isométrica, verificação da relação


entre os volumes da composição; (FLÓRIO, 2002, p.19-22)

Para isso, foram utilizadas leituras gráficas, redesenho e modelagem digital


da casa, e o processo analógico, que identifica elementos constitutivos do projeto
por meio de outros referenciais arquitetônicos contemporâneos à obra. Tais
fundamentos possibilitam a elaboração da crítica arquitetônica. (FLÓRIO, 2002,
p.19-22)
159

CAPÍTULO 4 – CASA SAMUEL E CLÁUDIA ROTHENBERG

“A primeira e primordial arquitetura é a geografia”. Paulo Mendes


da Rocha. Fonte: Exame para o cargo de Professor Titular de Projeto de
Arquitetura da FAU-USP

A residência de Samuel Rothenberg foi construída em Ubatuba, litoral norte


do Estado de São Paulo e foi projetada nos anos de 1982 e 1983, com a obra tardia
em 1993 (o que acarretou em revisão de projeto). A casa tem 208 m² de área
construída, diminuta em relação ao seu terreno de 2.619m². A planta linear da casa
e o terreno comprido foram motivos para a casa ser apelidada de ‘Casa Chile’ (o
apelido referencia o mapa alongado e estreito daquele país) (PETRACCO, 2004).
Para sua implantação, a casa foi alinhada a uma faixa sul non-aedificandi
dentro do terreno, reservada pela Marinha (com usufruto do proprietário), defronte à
Praia de Fortaleza. O programa da casa tem caráter unifamiliar, com salas de estar
e jantar, cozinha, área de serviço e quatro suítes. Assim como no projeto de outra
residência, a de Vicente Izzo, a arquitetura da Casa Rothenberg utiliza-se do partido
da grande cobertura como elemento articulador do programa arquitetônico. A
arquitetura também buscou a integração com a paisagem natural, de forma a
mimetizar os elementos naturais circundantes ao sítio onde está localizada, como a
Serra do Mar – artifício utilizado pelo autor para incentivar a relação dos usuários da
casa com o entorno e, assim, sugerir um modo de vida litorâneo.
160

Figura 133: Fotografia Recente da Residência Rothenberg (1982). Fonte: Acervo Francisco Petracco

Neste capítulo, as características da residência serão abordadas à luz da


concepção da arquitetura moderna, sob a premissa de desenvolvimento de um
sistema construtivo eficiente e tecnicamente acessível, relacionando a presença, na
obra analisada, de uma relação da estrutura ou do sistema construtivo que não pode
ser dissociada do espaço concebido, relação esta que se evidencia na visível
exuberância plástica da obra. Procuraram ser destacadas as características
responsáveis pela singularidade espacial proposta, que permite supor que o
arquiteto incorpora ao desenho uma intenção de representar a experimentação que
deve levar à descoberta do espaço pelo observador.
Na residência de Ubatuba, é possível identificar soluções arquitetônicas
pautadas por diferentes argumentos de época, que consistem no ideário
arquitetônico do momento em que a residência foi projetada. Destaca-se a
persistência, na década de 1980, da vocação social da arquitetura, presente no
pensamento que caracteriza a Escola Moderna Paulista e a arquitetura nacional,
representadas pelos arquitetos Vilanova Artigas e Oscar Niemeyer, desde a década
161

de 1940. A residência também é exemplo da concepção complexa da arquitetura


representada pelos projetos de Francisco Petracco na adoção de metáforas e
elementos analógicos para o desenho, a exemplo da comparação entre o gesto
presente na forma da cobertura e um pássaro em atitude de voo, uma influência
expressionista e uma forte intenção estética.

4.1. Definição Programática, Expressão Poética e Estrutura

A casa apresenta um programa convencional: sala de estar, quatro suítes,


cozinha, área de serviço e uma grande área externa de convívio social. Verificou-se
que a área de serviço foi integrada com as demais áreas por meio de uma abertura
ampla na cozinha, um desnível e uma bancada, separados somente por desníveis e
uma bancada de granito que avança para a sala de estar e forma um bar. Por sua
vez, a sala de estar está interligada com os outros setores da casa por meio de mais
desníveis no piso e por vazios, que formam pés-direitos variados.
Segundo o croqui da casa de Ubatuba feito pelo arquiteto, num primeiro
momento do projeto, a ligação entre o interior e o exterior da casa seria feita por um
deck de madeira construído desde o fechamento da sala de estar até o jardim,
ultrapassando a projeção da cobertura principal, assim como no projeto para a casa
Vicente Izzo, de 1973.

Figura 134: Croqui da Residência Rothenberg (1982) Autoria: Arquiteto José Roberto Soutello
162

Para o observador localizado defronte da fachada principal da casa, a vista


elevada do edifício mimetiza os contornos da Serra ao fundo, tomando forma de
uma casca delgada e assimétrica, cujo perfil revela duas curvas desiguais,
visualmente apoiada em dois únicos pontos no solo, contradizendo, assim, o peso
da matéria. Esse artifício, que articula estrutura, poética e forma gera a distribuição
programática em função de um desenho que emula o pássaro de asas abertas,
permite à obra somar-se ao contexto.
Outra referência arquitetônica presente na carreira de Petracco é a linguagem
do arquiteto Oscar Niemeyer. A Casa de Samuel Rothenberg pode ser considerada
um exemplo disso, pois se assemelha à Igreja de São Francisco de Assis, projetada
por Niemeyer em 1943, que faz parte do conjunto arquitetônico da Pampulha, em
Belo Horizonte. Para alcançar a linguagem da Igreja de São Francisco construída
por meio de uma casca de concreto armado autoportante, revestida com pastilhas
coloridas e com o seu espaço vedado por paredes que receberam murais de
azulejos de Cândido Portinari, Petracco buscou maneiras mais acessíveis e menos
onerosas, provavelmente aproveitando-se da escala diminuta do programa
residencial.
A casa em Ubatuba apresenta solução estrutural singular e, ao mesmo
tempo, possibilita a reprodução de conhecimentos adquiridos com o projeto. O
módulo que permitiu compor a estrutura da cobertura foi o sistema pré-fabricado,
que integra `vigas-treliças’ e blocos cerâmicos. A construtibilidade é enfatizada pelo
desenho da cobertura, que possibilita imaginar o caminho dos vetores de esforços
ao longo da curva. A estrutura sobre a casca é formada por um sistema ortogonal de
pilares e vigas, que serve como apoio para a cobertura principal.
Sendo assim, a composição e a integração de elementos pré-fabricados a
uma cobertura específica faz da residência uma obra sofisticada, apesar do baixo
custo de 20 mil cruzeiros. Isso se deve à opção por sistemas construtivos com
modulações estruturais acessíveis, leves, utilizando materiais tradicionais e de
montagem simples, o que facilitou a construção e não necessitou de maquinários.
Em ambos os projetos, tanto na Casa de Samuel Rothenberg quanto na Igreja
de São Francisco, sob a casca da cobertura o programa foi associado a cada uma
163

das abóbadas, sendo que, em uma delas, a planta se prolonga para além da
fachada, explorando, assim, outros eixos da composição arquitetônica.

Figura 135: Imagem da Igreja de Sao Francisco de Assis, de Oscar Niemeyer (1943). Fonte:
(MINDLIN, 2000. p.18)

Figura 136: Imagem da Igreja de Sao Francisco de Assis, de Oscar Niemeyer (1943). Fonte:
http://arqdelicia.blogspot.com.br

Na Casa de Ubatuba, a cobertura curva dividida em duas bandas


corresponde ao programa da seguinte forma: o espaço íntimo é localizado sobre a
curva mais baixa e o espaço social é abrigado sob a curva mais alta. E um segundo
volume, que abriga as áreas de serviço, sa da planta retangular como uma
164

península. Dessa forma, a subordinação dos volumes fica evidente: o pavilhão que
abriga o espaço social sob a cobertura principal e os serviços, no volume mais
baixo, em um núcleo compacto. E, apesar do partido moderno, pelo
desenvolvimento do programa de forma horizontal, sob um teto homogêneo e com
jogos de níveis com alturas diferentes, a planta da casa demonstra-se conservadora
por sua separação das áreas de serviços em relação ao programa social.
No projeto executivo, datado do ano de 1983, o corte B e a segunda elevação
(figuras abaixo) demonstram a intenção do arquiteto de integrar a arquitetura com o
meio por manipulação das curvas de nível do terreno, com novas formações de
morros de terras, encostados no muro da casa, mas, como o deck, isso também não
foi feito. O período de 10 anos entre o projeto e a construção pode ter causado
algumas revisões e alterações no projeto, que puderam ser verificadas em desenhos
de um levantamento da obra feito no ano de 1993 e nas fotos feitas pelo próprio
arquiteto durante a construção da casa.

Figura 137: Foto da Planta Térrea do Projeto Executivo de 1983 da Residência Vicente Izzo. Fonte:
Francisco Petracco (Acervo organizado por Angela Diniz)
165

Figura 138: Foto das Elevações do Projeto Executivo de 1983 da Residência Vicente Izzo. Fonte:
Francisco Petracco (Acervo organizado por Angela Diniz)

Em relação à manipulação do terreno, somente o desníveis dos pisos da casa


previstos no projeto foram mantidos, os quais permitem manter um pé-direito
razoável dentro dos ambientes (chama a atenção que, em alguns ambientes, a
altura do pé-direto é de apenas 2,30m e que a cobertura possibilita pés-direitos
diferenciados em cada ambiente). O desnível permitiu que a cobertura não fosse
elevada e, assim, prolongou proporcionalmente a projeção da mesma no terreno de
forma demasiada, lembrando que a obra deveria ser compacta. E, ao invés do deck,
uma varanda externa foi construída no mesmo nível de uma das salas de estar e
dos dormitórios, com uma área delimitada além da projeção da cobertura, por um
desnível de aproximadamente 40 cm do jardim. Essa varanda formou um espaço de
convívio em que o desnível formou um banco para se sentar.
A relação entre espaço interior e exterior deveria ser franca, com
possibilidade de que vedações leves, como veneziana de madeira e panos de vidro
revelassem a paisagem circundante, a mais significativa condicionante a dirigir o
partido arquitetônico. Assim, a textura e ambiência lumínica da casa de Ubatuba
foram tratadas de forma a permitir a leitura da cobertura principal com uma textura
166

lisa e pintada, resultando numa superfície homogênea; as alvenarias de tijolos e as


esquadrias de madeira foram deixadas com as cores naturais dos materiais. Apesar
do sombreamento das fachadas pela cobertura, os ambientes internos são bem
iluminados pelas aberturas laterais e superiores.
Na elevação do projeto, há predominância de um grande vazio sombreado
pela estrutura, definindo-se, assim, o partido da casa, que é a grande cobertura, que
se pode compreender como uma solução plástica para o volume regular e ortogonal
resultante de um programa interno bastante convencional. Assim, o arquiteto, com
presteza e sensibilidade, dá à casa um aspecto singular para o que seria uma casa
com formas resultantes à disposição do programa interno.

Figura 139:Foto da Construção da Fachada Frontal da Residência Samuel Rothenberg em 1993.


Fonte: Acervo pessoal de Francisco Petracco, disponibilizado à autora.
167

Figura 140:Foto da Construção da Fachada Posterior da Residência Samuel Rothenberg em 1993.


Fonte: Acervo pessoal de Francisco Petracco, disponibilizado à autora·.
171

Figura 144: Perspectiva Isométrica do Modelo da Residência Samuel Rothenberg (1982). Autoria:
Angela Diniz
172

Figura 145: Foto da Maquete da Residência Samuel Rothenberg (1982). Autoria: Angela Diniz

Figura 146: Perspectiva Isométrica Explodida do Modelo da Residência Samuel Rothenberg (1982).
Autoria: Angela Diniz
173

Figura 147: Foto da Vista Frontal da Maquete da Residência Samuel Rothenberg (1982). Autoria:
Angela Diniz

Figura 148:Foto da Vista Posterior da Maquete da Residência Samuel Rothenberg (1982). Autoria:
Angela Diniz
174

Figura 149:Foto do Pavimento Térreo da Maquete da Residência Samuel Rothenberg (1982). Autoria:
Angela Diniz

Figura 150: Foto do Pavimento Superior da Maquete da Residência Samuel Rothenberg (1982).
Autoria: Angela Diniz
178

Adição e Subtração

Figura 156:Diagramas de Adição e Subtração - Residência Samuel Rothenberg (1982). Autoria:


Angela Diniz

Análise

Com base na observação dos desenhos apresentados, é possível analisar


que:
No diagrama de acessos, várias setas indicam os pontos de acesso, sendo
que o principal permite a entrada aos dormitórios da casa; o outro é dado pela área
de serviços. No gráfico, o que chama a atenção é a possibilidade de acesso à casa
por meio de grandes portas-balcão dos dormitórios e esquadrias de vidro da sala.
Em todos os acessos, é necessário descer os degraus, mesmo para a varanda, que
corresponde à área frontal da casa. É claro, no desenho, que o número de acesso
às áreas sociais e aos dormitórios é maior que na área de serviço. O acesso ao
pavimento superior (onde está localizada mais uma suíte) é dado por uma escada
helicoidal.
179

No diagrama da circulação, as áreas dos compartimentos foram destacadas


com retângulos cinza, os acessos por setas e as circulações por linhas. Pode-se
verificar no desenho que a circulação dentro da casa é linear. E apresenta
reentrâncias no espaço onde lavatórios foram instalados próximo aos banheiros,
com a finalidade de otimizar o número de instalações hidráulicas. Também na
circulação próxima à área íntima, armários embutidos foram instalados. As retas das
circulações correm próximo às paredes, reservando a área de permanência ou
aquela onde se pode instalar uma cama ou um sofá, por exemplo.
Nos desenhos de graus de compartimentação, as áreas mais amplas foram
representadas por cinza claro, as áreas de média compartimentação por cor cinza
médio e as menores áreas, por cinza escura, o que demonstra a predominância de
áreas mais amplas.
No diagrama de hierarquia, a área social foi destacada com a cor cinza
escuro e os demais compartimentos por cinza claro. Ao comparar a planta e o corte
do mesmo tema, pode-se verificar que a parte social é destaca no canto inferior
direito nos dois desenhos. Além da forma semelhante que foi formada entre os
mesmos.
Ao comparar os gráficos analíticos de graus de compartimentação e de
hierarquia, percebe-se que as cores destacadas nas duas plantas correspondem
entre si. Na planta de compartimentação, as áreas mais claras (áreas amplas)
correspondem às áreas escuras da planta do gráfico de hierarquia (as áreas
sociais), como se um desenho fosse o negativo do outro. Vale lembrar que a
disposição do programa da casa corresponde ao desenho da cobertura, o que é
confirmado por estes temas analíticos, sendo a área social a que fica sob a parte
mais alta da cobertura e a parte íntima, a mais baixa.
Quanto aos diagramas de simetria e equilíbrio, um eixo foi traçado no meio da
planta e do corte, representado por uma linha vertical pontilhada, e as áreas de cada
lado do eixo foram destacadas por retângulos de seus tamanhos. O desenho
formado tanto em planta, quanto em corte foi de um retângulo menor na esquerda e
um maior na direita, formando, assim, o mesmo jogo de contrapeso de volumes em
ambos os desenhos.
No diagrama de campos visuais, cones de cor preta foram desenhados para
representar a abertura do ângulo visual, sendo o início do raio no meio do
180

compartimento (representado por retângulos cinza com contornos pontilhados) e o


final, nos limites das aberturas. Desta forma, verificou-se que o maior número de
‘cones visuais’ localiza-se na fachada frontal, voltada para a praia, e que o maior
deles é o da própria sala de estar. Isto, na arquitetura, relaciona-se aos diversos
tratamentos de fachada que a casa recebeu. Por exemplo, panos de vidro nas áreas
sociais, voltadas ao leste (fachada frontal), venezianas de madeira que permitem
100% da abertura do vão, nos dormitórios, voltados também a oeste, e, por fim,
paredes opacas voltadas a oeste, que servem como fechamento de banheiros e de
serviços. Muitos fechamentos de tons escuros da alvenaria aparente e da madeira,
além das esquadrias com vidro, enfatizam o efeito de vazio sob a cobertura. Cada
material especificado na fachada corresponde ao programa dentro da casa, além de
demonstrar preocupação por parte da arquitetura com o conforto ambiental. Desta
forma, as salas, que são espaços sociais, foram fechadas por vidros transparentes,
os dormitórios fechados com venezianas de madeira regular, que permite a abertura
total para a vista para o mar por portas-balcão, que também permitem ampla
ventilação, e finalmente, os sanitários e as áreas de serviços, que foram fechados
com pudor pela alvenaria.
No diagrama da relação planta-corte, a área interna corresponde à área cinza
claro, que foi contornada por espessos traços pretos. Os desenhos da planta e do
corte apresentaram semelhança entre si em relação ao volume formado pelos
perímetros da planta e do corte. De forma que o traçado contorna o volume mais
baixo e ascende para contornar o volume mais alto - embora na planta as linhas
sejam ortogonais e no corte, curvas.
No diagrama de geometria, retângulos foram desenhados nas diferentes
áreas das plantas e dos cortes, de forma que as áreas foram separadas por suas
funções. Os retângulos desenhados são proporcionais entre si, respeitando o
equilíbrio dos volumes verificado no gráfico da simetria.
No diagrama de massa, o volume principal da casa é identificado pela
cobertura principal, formada por duas bandas e pelo anexo retangular, no pavimento
térreo, que sai da projeção da cobertura.
No diagrama de adição e subtração (dos volumes), pode-se identificar como
adição o volume secundário, perpendicular ao volume principal formado pela
cobertura, saindo da projeção da cobertura principal, que, no programa da casas,
181

corresponde aos serviços, e o volume do balcão do terraços do dormitório no


pavimento superior, na fachada frontal - compondo um jogo de luz e sombra, que, ao
sair da projeção da cobertura e ao receber a luz do sol em sua face, parece estar
flutuando.

4.4. Considerações sobre a Residência Samuel Rothenberg

A epígrafe no início do capítulo, uma citação de Paulo Mendes da Rocha, foi


escolhida em razão do partido da casa justificado por Francisco Petracco, de que a
forma da cobertura segue a serra do mar, paisagem circundante do terreno
localizado em Ubatuba, litoral norte paulista. Pela forma do projeto, foi possível
empregar simbolismo à obra e enriquecer o programa da casa.
Por todas as características elencadas, pode-se compreender o carácter
experimental da obra, com uma estrutura concebida como uma solução criativa de
composição de um sistema linear de vigotas pré-fabricadas de concreto armado e
com linhas de cerâmica, formando o plano curvo da cobertura. Desta forma, o
arquiteto extrapolou o plano reto naturalmente formado pelos planos ortogonais do
que seria a cobertura, que cobriria um partido relativamente convencional. Assim, o
arquiteto aproveitou para criar formas singulares utilizando-se de programas e
sistemas estruturais corriqueiros.
Ao apresentar as características da casa de Ubatuba de Francisco Petracco,
verificou-se que o projeto foi um exercício arquitetônico de forma construtiva e
programática, fruto de uma experimentação incessante, o que revela a continuação
dessa arquitetura na década de 1980, posterior ao movimento moderno, que
conseguiu saídas para ser acessível (em relação ao custo) e alcançou um grau de
simbolismo na obra.
Os diagramas analíticos ajudaram a compreender que o programa da casa
Rothenberg, sua forma e estrutura foram concebidos ao mesmo tempo, sendo que
seus desenhos apresentam correspondência e coerência em planta, corte, elevação
e volume - característica verificada também em outros arquitetos modernos.
182

CAPÍTULO 5 – CASA VICENTE IZZO

"A arquitetura é o jogo sábio, glorioso e magnífico de volumes sob a


luz do sol." Le Corbusier, apud Vers une architecture [Towards an
Architecture] (1923).

O arquiteto Francisco Petracco buscou representar no projeto a história do


lugar utilizando elementos miméticos que acabaram definindo a relação do edifício
com o meio natural ao seu redor, o que possibilitou relacionar a arquitetura da casa
com a paisagem. A casa foi construída entre 1972 e 1973 e sofreu uma ampliação
em 1975, resultando em aproximadamente 327m² de área construída, em 1.314m²
de terreno, com uma grande área permeável preservada, correspondente à área
verde. Possui um programa de necessidades convencional, para o atendimento de
uma residência unifamiliar de veraneio, como solicitado pelo cliente: três dormitórios,
cozinha, área de serviço e uma grande área de convívio social. Esses ambientes
foram separados por áreas diferentes e têm uma grande cobertura como elemento
articulador. O terreno corresponde a dois lotes parcialmente planos, com suave
aclive nos limites faceados à rua, no então novo Jardim Virgínia, próximo à Praia da
Enseada, no Guarujá, litoral de São Paulo.

Figura 157: Residência Vicente Izzo (1972). Fonte: Francisco Petracco (Acervo organizado por
Angela Diniz)
183

O projeto da Residência Vicente Izzo foi publicado em 1973 na revista Projeto


e Construção, n° 37 e em 1979 na revista Casa e Jardim, n° 293. Em ambas as
revistas o título foi: “Uma casa inspirada na paisagem”. As reportagens abordam a
interface da arquitetura e paisagem através de procedimentos projetuais calcados na
referência à mimese de elementos naturais. Também o partido foi elaborado a partir
de um discurso poético e simbólico utilizado pelo arquiteto como argumento em sua
tese de doutoramento para a concepção do partido e que, pode-se dizer, foi a
principal diretriz responsável pela qualidade espacial da obra.

Figura 158: Matéria sobre a Casa Vicente Izzo. Fonte: Revista Casa e Jardim, n°293
184

5.1. Resgate da paisagem e uso de simbolismo no partido

A paisagem de que o arquiteto se recorda, de quando ainda era criança, é a


do antigo ‘Costão das Tartarugas’, formado por dunas de areia e lagos, paisagem
que já havia sido perdida pelas intervenções feitas pelos loteamentos resultantes do
avanço do urbanismo na região (PETRACCO, p.314, 2004)

Figura 159: Imagem da década de 60 da praia próxima ao Costão das Tartarugas localizado no
Guarujá. Fonte: http://guarujafatosefotosdanossahistoria.blogspot.com.br/2013_06_01_archive.html

Figura 160: Imagem da ocupação atual. Fonte: Google Maps

Dessa forma, Petracco utilizou outros artifícios interpretativos e argumentos


que elaboram um discurso poético e simbólico, procurando traduzi-los em elementos
185

arquitetônicos e paisagísticos. Assim, o projeto sugeriu um estilo de vida litorâneo,


com cenário praiano em escala particular: a casa com vista para o mar e para as
antigas dunas que ali existiam. Para se chegar a esse cenário criado, o arquiteto
justificou como partido:

(…) uma grande sombra, uma duna suave, um meandro d’água e o


sol, ou seja, uma cobertura apoiada pela topografia modificada em
cenário, a piscina de formas livres como um grande riacho no terreno
e um grande cata-vento foram previstos no projeto que reportava a
presença do sol (PETRACCO, p.314, 2004).

Figura 161:Fotografia do Corte Original do Anteprojeto da Residência Vicente Izzo (1972). Fonte:
Francisco Petracco (Acervo organizado por Angela Diniz)
186

Figura 162:Fotografia da Planta Original do Anteprojeto da Residência Vicente Izzo (1972). Fonte:
Francisco Petracco (Acervo organizado por Angela Diniz)

O mencionado cata-vento sugerido no anteprojeto não foi construído, porém,


ao impregnar de simbolismo o objeto, tomando como ponto para concepção a
presença do sol, não foi somente o mar que o arquiteto pretendia considerar como
premissa do projeto da casa, mas também o astro maior. A grande sombra, que
serviria como espaço de contemplação da paisagem, definiu o partido que envolvia o
espaço total da casa por uma grande cobertura, gerando uma percepção de estar
levemente apoiada no solo, vencendo as condições naturais com uma ‘topografia
modificada’. A planta sob a grande cobertura apresenta um desnível entre as áreas
externa e interna, com um deck que avança para os dois planos. O desnível
proporciona um pé-direito mais alto na sala, os planos do piso e da cobertura,
limitados pelos morros, enquadram a vista do jardim e da piscina, dando à casa um
espaço rico em elementos estruturais.
187

Figura 163:Perspectiva Interna do Anteprojeto da Residência Vicente Izzo (1972). Fonte: Francisco
Petracco (Acervo organizado por Angela Diniz)

Na casa Vicente Izzo, Petracco pretendeu transformar o que seria um lote


comum num espaço capaz de estimular novas relações com lugar: o passado
nostálgico com uma paisagem natural, com dunas e riachos. A residência de Vicente
Izzo no Guarujá, em 1973, trouxe elementos da paisagem, como o mar, o sol e a
montanha para dentro dos limites do lote. Sua estrutura não resolve somente de
forma racional um problema imposto pelo programa residencial, mas, sim, atua
como elemento articulador entre os elementos arquitetônicos e os simbolismos
impregnados nos mesmos. Ao pontuar suas características arquitetônicas, é
possível compreender os instrumentos, ou artifícios, que o arquiteto utilizou para dar
sentido ao simbolismo do partido arquitetônico.

5.2. Estrutura

Na casa do Guarujá, a composição do projeto foi formada por inúmeros jogos


de complementação das formas, dos elementos estruturais e dos elementos
paisagísticos, que ora aparecem, ora desaparecem, a fim de se criar leveza para a
estrutura, permitindo a permeabilidade dentro da obra e a unidade/ integração dos
elementos arquitetônicos.

Durante o desenvolvimento do projeto, os desenhos tornaram-se mais


sofisticados e melhor explicativos. O anteprojeto mostrava uma sala ampla na qual a
188

cobertura se apoiaria somente entre os dois pilares em forma de morros. No projeto


executivo, o arquiteto incluiu um terceiro pilar para vencer o vão de
aproximadamente 20 m entre os pilares do anteprojeto. Para justificar a presença do
terceiro pilar no centro da sala, o arquiteto apresentou-o em forma escultural, como
se fosse uma obra de arte. Seu desenho assemelha-se a um tripé e esse desenho
orgânico permite imaginar o caminho dos esforços da estrutura. Ainda na sala, o
desnível entre as áreas externa e interna foi mudado para dentro da sala, com quase
um metro de distância do fechamento de vidro. A piscina foi outro elemento a ser
incluído - antes era um espelho d’água, também de formas orgânicas, que, no
discurso do partido, tinha o papel de riacho e ocupava, de forma linear, toda a lateral
do terreno. O paisagismo tornou-se exuberante; além dos morros, o desenho de
arbustos que delimitavam os jardins ganhou volume e o desenho dos pisos e da
piscina complementavam-se com o próprio paisagismo.

Figura 164: Fotografia da Planta do Térreo Original do Projeto Executivo da Residência Vicente Izzo
(1972). Fonte: Francisco Petracco (Acervo organizado por Angela Diniz)
189

Figura 165: Planta de Paisagismo Original do Projeto Executivo da Residência Vicente Izzo
(1972).Fonte: Francisco Petracco (Acervo organizado por Angela Diniz)

Este jogo compositivo foi responsável pela formação do espaço e da própria


arquitetura da casa: o grande balanço em contraposição ao sistema de tirantes que
impedem sua rotação; a manipulação da topografia formando morros de terras que
se contrapõem à forma da cobertura direcionada para o céu; o pilar central, que tem
sua presença justificada no meio do vão, e assim, no meio da sala de estar, por ser
escultural. O uso do recurso da cobertura teve consequências integradoras dos
determinantes estruturais, plásticos e espaciais (ABASCAL et al., 2013, p.07)
A estrutura projetada, calculada pelo engenheiro Victor Tedeschi foi composta
pela cobertura principal apoiada sobre dois morros de terra e ainda o pano de vidro
escuro impede que o pilar central seja visto, parecendo realmente que a cobertura
vence um vão generoso. Para se chegar a esta leitura, a dupla foi ardilosa ao
resolver o momento de giro da estrutura de forma a não interferir na permeabilidade
entre a sala, o deck e a piscina:
190

Esta cobertura é formada por uma extensa laje nervurada apoiada no


intradorso (linha média da planta) por apenas três pilares,
contrapostos por três tirantes ancorados nas fundações
(VASCONCELOS; CARRIERI, apud ABASCAL et al., 2013, p. 7)

A solução estrutural assemelha-se à solução para a cobertura do hipódromo


de Madrid (1935), de Eduardo Torroja Miret, e também à solução estrutural do
projeto para cobertura do velódromo de Miami, do arquiteto Hilário Candela (1964):
ambos possuem grandes balanços das coberturas de concreto armado contrapostos
por pilares, assim as vistas para os jogos não sofrem nenhum tipo de interferência.

A casa de Vicente Izzo foi determinada desde sua concepção por um


estruturalismo que buscou o equilíbrio das forças e o domínio da paisagem por meio
do programa. Premissas propriamente modernas e brutalistas presentes nas obras
do movimento arquitetônico contemporâneo e que, de certa forma, inserem a obra
de Francisco Petracco dentro desse contexto (VERDE; BASTOS, 2011).

Figura 166: Cobertura do Hipódromo de la Zarzuela, Madrid de Eduardo Torroja Miret (1935). Fonte
http://vaumm.blogspot.com.br/2011/12/monumentos-de-hormigon.html
191

Figura 167: Cobertura do Velódromo de Miami, de Hilario Candela (1964).Fonte:


http://www.dwell.com/house-tours/article/stadium-game

A sobriedade da obra e a unidade foram garantidas pela diminuta paleta de


materiais utilizados: a superfície de concreto armado da cobertura foi pintada de
branco, as abóbadas, os pilares curvos, de concreto armado aparente, contrastando,
assim, com a cobertura principal; os pisos foram revestidos com pastilhas de vidro
Vidrotil brancas, o que trouxe sofisticação aos ambientes. A predominância da cor
branca permitiu maior reflexividade da luz e maior luminância no interior da casa. A
entrada de luz foi possibilitada por meio de grandes panos de vidro, aberturas
zenitais (domus) e aberturas superiores.
192

Figura 168: Fotografia da Entrada da Residência Izzo (1972). Fonte: Francisco Petracco (Acervo
organizado por Angela Diniz)

Figura 169: Fotografia interna da Residência Izzo (1972). Fonte: Francisco Petracco (Acervo
organizado por Angela Diniz)
193

Figura 170: Cozinha da Residência Izzo (1972). Fonte: Revista Casa e Jardim n°293, p76, jun1979

5.3. O programa da casa e sua distribuição

O programa foi dividido em vários volumes, com estruturas independentes


pelo terreno: a cobertura convexa sobre a área social da casa e a cobertura que
apresenta as formas côncavas das abóbadas, onde a parte íntima dos dormitórios
foi alojada. E, no fundo do terreno, próximo à piscina, um volume cilíndrico que
corresponde ao vestiário.
A edícula, que sofrera ampliação em 1975, possui uma cobertura com um
desenho formado por curvas e retas tangentes correspondendo ao desenho da
piscina e do paisagismo; nela, garagem, salão de jogos e dependências de
empregados foram localizados. Também recebera um segundo pavimento, um
194

volume circular, como um mirante dentro do terreno, que correspondente ao


dormitório do proprietário da casa.
A orientação da casa no terreno é leste e oeste, sendo a fachada leste
composta por panos de vidro, voltada para a piscina e para o jardim e exposta ao sol
da manhã, que tem a temperatura mais amena. O balanço da cobertura sombreia
estes panos de vidro. A fachada oeste, exposta ao sol da tarde (com temperaturas
mais altas), recebeu venezianas de madeira e um pequeno beiral, que consiste no
avanço da estrutura formada por abóbadas. Num primeiro momento da construção
da casa, a casa estava cerca de 3m próxima à divisa do lado esquerdo do terreno, a
fim de liberar uma grande área de jardim para a piscina do outro lado do terreno. Em
consequência da ampliação do terreno em 1975, a casa ficou localizada no centro
do terreno.

Figura 171: Fotografia da Piscina da Residência Izzo (1972). Fonte: Francisco Petracco (Acervo
organizado por Angela Diniz)
195

Figura 172: Fotografia da Fachada Oeste da Residência Izzo (1972). Fonte: Francisco Petracco
(Acervo organizado por Angela Diniz)

5.4. O redesenho e a construção da maquete

O processo de redesenho e construção da maquete física do projeto da


residência de Vicente Izzo contou com projetos preliminares, com o projeto
executivo completo e um extenso material fotográfico que fora publicado em revistas
e que também estava disponível no acervo do próprio arquiteto.
A experiência do redesenho teve a finalidade de repassar o ato projetual do
arquiteto em sua concepção, de modo a captar a composição por meio de
proporção, da composição de cheio e vazios, de elementos responsáveis pela
criação da materialidade, como os desníveis do piso entre as partes externa e
interna da casa, que permite o enquadro da vista para a piscina, a criação de
aberturas que permitem a entrada de luz zenital, a segmentação da casa, o ritmo
imposto pelas abóbadas ao pavilhão segmentado dos dormitórios em contraposição
ao desenho orgânico da cobertura da sala erguida para cima e da cobertura da
edícula, com o desenho plano que se comunica com as curvas.
196

Também se pôde perceber que o projeto foi alterado sucessivas vezes, com
soluções que não estavam desenhadas, mas que foram encontradas em fotografias,
como a solução para os desníveis da área externa da casa, os pisos, as curvaturas
finais dos muros que se tornam pilares e morros numa estrutura monolítica de
concreto armado.
Na confecção da maquete, foi possível perceber as relações da volumetria e
das formas das estruturas, principalmente o jogo de complementaridade das formas
côncavas e convexas, tanto no plano horizontal da planta, nos jardins, quanto no
plano vertical dos cortes e elevações, no desenho das estruturas.
198

Figura 174: Perspectiva da Residência Vicente Izzo. Autoria: Angela Diniz

Figura 175: Perspectiva da Residência Vicente Izzo (1972). Autoria: Angela Diniz
199

Figura 176: Foto da Maquete da Residência Vicente Izzo (1972). Autoria: Angela Diniz

Figura 177: Maquete da Residência Vicente Izzo (1972). Autoria: Angela Diniz
200

Figura 178: Maquete da Residência Vicente Izzo (1972) sem cobertura. Autoria: Angela Diniz

5.6. Diagramas Analíticos

Ao submeter os desenhos nos gráficos seguindo as orientações de elementos


que deveriam ser destacados, verificou-se que os argumentos do arquiteto para o
partido da casa estão coerentes com o seu projeto -principalmente no que diz
respeito ao fato de a cobertura servir tanto como um grande abrigo para o espaço de
convivência entre os usuários da casa quanto para contemplação da paisagem.
203

Massa

Figura 183: Gráficos de Massa da Residência Vicente Izzo (1972). Autoria: Angela Diniz

Adição e Subtração

Figura 184: Gráficos de Adição e Subtração da Residência Vicente Izzo (1972). Autoria: Angela Diniz
204

5.7 Análises

O exercício de análise gráfica acima provou que, ao utilizar os diagramas


analíticos, pode-se verificar que os diferentes desenhos do projeto são
correspondentes entre si. As intervenções feitas sobre plantas, cortes e elevações
apresentam formas semelhantes. Segue abaixo a verificação de cada diagrama:
No diagrama de acessos, as setas representam seus meios, sendo dois os
principais, que partem do terreno, dos portões de entrada de veículos e carros, que
direcionam os acessos à casa para as zonas de serviço nos fundos do terreno e,
para as áreas sociais, pelas portas da própria casa. Verifica-se que os acessos
direcionam à sala de estar, que é o ambiente mais amplo dentro da casa. Isto
confirma que a sala de estar sob a grande cobertura funciona como um ponto de
encontro na casa, intenção do arquiteto desde o início do partido arquitetônico.
No diagrama de circulações, estas são representadas por linhas contínuas às
setas de acesso. Verifica-se que as mesmas se concentram no centro da planta da
casa, próximo à parede dos dormitórios e cozinha. A sala de estar possibilita a
permeabilidade entre a área interna e a externa da casa por meio de grades portas
de vidro. O deck pode ser compreendido como um elemento de transição entre a
sala de estar (espaço interno) e a piscina (espaço externo).
No diagrama de compartimentação, seu nível é representado pela graduação
do tom da cor cinza, sendo o mais escuro a área mais diminuta e o cinza mais claro,
a área mais ampla. Sendo assim, nos diagramas a compartimentação dos
ambientes na casa Izzo refere-se a espaços mais amplos em áreas sociais e
menores em áreas voltadas aos serviços.
No diagrama de hierarquia, os ambientes sociais são identificados por cinza
escura e os demais ambientes internos, por cinza claro. Neste ponto, analisando a
hierarquia dos usos da casa, vale lembrar que a residência Izzo teve dois
momentos: o primeiro momento da construção da casa em 1973, quando o terreno
correspondia a somente um lote; o programa da casa apresentou uma setorização
tradicional, com as áreas sociais, íntimas e de serviços segmentadas. Com a
ampliação do terreno (que ocorreu aproximadamente três anos depois da primeira
fase), um acesso para carro e uma garagem foram construídos, a edícula foi
ampliada e recebeu o salão de jogos (ao lado da garagem) e o dormitório do
205

proprietário, no segundo pavimento da edificação, mudanças que diluíram dentro da


casa a segmentação dos usos sociais e de serviços.
Os diagramas de compartimentação e de hierarquia são correspondentes
entre si, enquanto os ambientes mais amplos são os sociais. Estes estão localizados
no centro do terreno, espaço de transição entre os ambientes internos e externos.
Os espaços de serviços, como banheiros e cozinha estão localizados no centro da
planta da casa, dividindo o espaço social e íntimo dos dormitórios (de forma a
otimizar as instalações hidráulicas e ainda esconder os domos de iluminação dos
banheiros que ainda estão sob a cobertura). As dependências de empregados estão
localizadas nos fundos do terreno, na edícula, o que demonstra uma hierarquia
conservadora.
No diagrama de simetria e de equilíbrio, uma linha foi traçada no centro da
planta e do corte da casa principal; ainda retângulos foram demarcados nos volumes
principais de cada lado. Ao comparar o desenho da planta e corte neste diagrama,
pode-se perceber que há um jogo de volumes semelhantes, à esquerda do eixo um
retângulo menor foi formado em contraposição ao retângulo maior, formado à direita
do eixo de simetria. Nesse item, o desnível foi o elemento arquitetônico responsável
pela delimitação dos tamanhos dos retângulos. Esse desnível entre o jardim e a sala
de estar forma um degrau ou um banco voltado para a sala, fortalecendo o
argumento de que o desnível foi usado pelo arquiteto como artifício no jogo de
cheios e vazios, propiciando um maior sombreamento à área interna, além de
auxiliar a manter um pé-direito mínimo para uma sala, sem comprometer a altura da
cobertura principal e a composição predominantemente horizontal do projeto.
No diagrama de campo visual, os ângulos visuais saem do meio do
compartimento para a abertura (porta ou janela) maior e foram representados por
cones de cor preta. Assim, verifica-se que o maior campo visual dentro da casa está
na própria sala de estar, que recebeu como fechamento grandes panos de vidro e
em que o desnível permitiu o enquadramento da vista voltada para o jardim e para a
piscina. Os dormitórios também possuem campos visuais amplos, possibilitados por
portas-balcão. Estão voltados aos jardins menores, do outro lado do terreno.
No diagrama de relação de planta e corte, ao contornar o perímetro dos
desenhos da planta e do corte com uma linha forte preta, percebe-se que, em
ambos os desenhos, uma reta ascende, contorna a forma convexa (na planta, o pilar
206

em forma de morro de terras, e no corte, a cobertura) para depois, delimitar


novamente a casa. O jogo de complementaridade de formas côncavas e convexas
está presente tanto no plano da planta, do corte e da elevação - tanto nos desenhos
da casa e da edícula, quanto dos elementos paisagismo como a piscina, pisos
externos, os morros de terras etc.
No diagrama de geometria, o desenho da planta da casa e de sua fachada
possibilitou o desenho de formas geométricas proporcionais entre si, que
correspondem a todos os elementos arquitetônicos do terreno, proporcionais entre
si.
No diagrama de massa, é possível identificar que o principal volume é o da
cobertura sobre os pilares em forma de morros de casa. E, no diagrama de adição e
subtração, pode-se verificar que os volumes adicionados à massa da casa são o
pavilhão dos dormitórios e a edícula. O volume de subtração está representado por
linhas pontilhadas e corresponde à área sob a cobertura.

Considerações finais sobre a Residência Vicente Izzo

Com o emprego da metodologia para análise dos desenhos com diagramas


analíticos sobre o redesenho do projeto da residência no Guarujá, os princípios da
forma, da ordem e do espaço foram cumpridos, e, assim, foram identificados os
elementos responsáveis pela formação de um espaço envolvente e surpreendente.
No depoimento do arquiteto, percebe-se que ele projeta de forma consciente e,
durante o projeto da residência Vicente Izzo, demonstrou raciocínio ao projetar, de
forma a alcançar coerência entre os desenhos. E, sobretudo, a técnica e a estética –
característica de sua formação acadêmica beauxartiana – foram as principais
premissas durante o desenvolvimento do projeto arquitetônico.
A obra permite diversas reflexões sobre seu simbolismo pela riqueza de seus
elementos arquitetônicos, que também são numerosos.
207

CONCLUSÃO

O início da carreira do arquiteto Francisco Petracco é contemporâneo de uma


época de profundas transformações da arquitetura nacional e internacional. Na
década de 1950, com o crescimento econômico e demográfico, o movimento
moderno na arquitetura passou por um processo de consolidação no Brasil,
promovendo uma grande diversidade de planos urbanísticos e obras que já se
referenciavam a exemplares, tais como Brasília, os conjuntos habitacionais
populares e para a classe média em diversas capitais, bem como a arquitetura
exuberante da cidade do Rio de Janeiro.
As obras arquitetônicas no Brasil estavam alinhadas com os conceitos
modernos discutidos e em trânsito, afirmando um diálogo com todas essas
referências e com a própria arquitetura moderna nacional que emergia. No Brasil,
esses conceitos já haviam sido desenvolvidos ou adaptados a partir dos preceitos
definidos pelo movimento internacional, para responder às condicionantes
climáticas, sociais e econômicas próprias do país e de suas diferentes regiões.
Esta pesquisa destacou que a graduação, dirigida por Christiano Stockler das
Neves, ofereceu aos alunos a formação dentro dos padrões da Escola de Beaux-
Arts, que valorizava o domínio das técnicas de desenho e de composição, sobretudo
o apuro na relação entre a estética e a forma, a sofisticação dos sistemas
construtivos e o arrojo estrutural. Nela, isso foi considerado como fundamental para
desenvolver a capacidade desses arquitetos para interpretar e responder às
expectativas do novo movimento arquitetônico, que, na altura de formação de
Francisco Petracco (ano de 1958), já estava em consolidação e ganhava, em São
Paulo, características próprias e com várias obras que apresentavam traços
brutalistas, como o uso do concreto armado, as estruturas tectônicas, construções
sóbrias e com técnicas experimentais de execução e mão de obra.
Petracco sempre participou de concursos de projetos de arquitetura
importantes, em sua maioria para edifícios públicos, o que, muitas vezes, por seus
projetos estarem entre os primeiros colocados, lhe rendeu publicações nas revistas
especializadas mais importantes de São Paulo, como a revista Acrópole, deixando-o
conhecido entre os arquitetos. Também desde cedo, apresentou em seus projetos
as características da arquitetura paulista da década de 1950, representada pelo
208

experimentalismo dos sistemas construtivos e a preocupação social do projeto, que


deveria estar presente desde o canteiro de obras e as condições de trabalho dos
operários até à responsabilidade que o edifício ofereceria à cidade e à população. O
discurso social de Petracco também se expandiu ao discurso no âmbito da classe
profissional, com participações do arquiteto na administração do IAB e no Sindicato
dos Arquitetos.
Petracco demonstra sua versatilidade ao dar aulas, pois, durante sua carreira,
foi coordenador de cursos na graduação em Arquitetura e chegou também a criar o
curso de Arquitetura na Universidade Anhembi-Morumbi. A questão do ensino da
Arquitetura foi abordada em sua tese de doutorado, na qual o arquiteto deu ênfase à
formação social, técnica e principalmente artística que o arquiteto deveria receber
em sua formação. Em sua tese, ressaltou a importância do domínio do desenho e da
composição, o que remete à sua formação beauxartiana na Universidade
Presbiteriana Mackenzie, sob a direção de Christiano Stockler das Neves. Apesar do
discurso de ruptura com o clássico, preceitos da Escola de Belas-Artes ainda foram
seguidos, tais como: estética, composição e técnicas estruturais sofisticadas
(mesmo se utilizando da linguagem da arquitetura moderna).
O arquiteto tem uma carreira vasta e variada: a pesquisa levantou mais de
200 projetos de sua autoria. Este levantamento de projetos apresentou diversas
tipologias, sendo em sua maioria residências unifamiliares e projetos escolares.
Quase todos os seus projetos são localizados no Estado de São Paulo, e a pesquisa
verificou que grande parte deles não foi construído. Em seu escritório, o Arquiteto
dispõe de um acervo de projetos, os quais, apesar das dificuldades ao longo da
elaboração desta dissertação, possibilitaram o estudo de sua carreira e de seus
projetos, além de encontro de belíssimos desenhos feitos à mão.
A tipologia mais encontrada durante o levantamento dos projetos foi de
residências unifamiliares e esses projetos foram vistos por Petracco como
oportunidades de experimentalismo da estrutura e do sistema construtivo,
características do movimento moderno paulista encabeçado por Vilanova Artigas, e
de formas inventivas como as vistas em algumas obras de Le Corbusier, um dos
símbolos do movimento modernista no mundo, além do forte simbolismo empregado
em seus projetos, a exemplo das obras do movimento organicista personificado por
Frank Lloyd Wright nos Estados Unidos.
209

A sofisticação dos detalhamentos dos projetos de Petracco chamou atenção,


pois era comum que os arquitetos detalhassem as esquadrias, a marcenaria e a
estrutura, chegando a calculá-la: esse esmero com o detalhamento e a preocupação
com a construtibilidade vêm da influência do arquiteto paulista Osvaldo Bratke, um
dos responsáveis pela consolidação do Modernismo em São Paulo. O Arquiteto
contava com consultorias de grandes engenheiros e engenheiros-arquitetos, como
Tedeschi, Soutello e Roberto Rossi Zuccolo, ex-professor de sistemas estruturais do
Mackenzie, o que resultou em fieis parcerias que deixaram os profissionais
entusiasmados com as possibilidades da tecnologia do concreto armado.
O levantamento das residências permitiu discutir o próprio programa da casa,
que se apresentou tradicionalista na maioria dos projetos de Petracco, com
separação entre as áreas de serviços, sociais e os dormitórios. Mas também o
arquiteto utilizou-se de artifícios para a articulação dessas diferentes partes (ou
áreas) da casa, com distintos elementos arquitetônicos como coberturas, vazios e
pés-direito duplos.
A pesquisa classificou os projetos residenciais em quatro principais partidos: a
caixa elevada e estruturada por pórticos, o pavilhão da casa sob coberturas
formadas por abóbadas, a casa formada por formas orgânicas e as casas com
coberturas cujos desenhos aludem ao voo do pássaro. Essas não são tipologias
frequentes em determinado período de tempo, mas o levantamento demonstrou que
os mesmos partidos foram utilizados em anos diferentes, sem continuidade exata. A
definição das categorias foi determinada pela semelhança dos projetos e pela forma
estrutural, bem como pela disposição do programa da casa.
Por sua vez, o arquiteto, ao projetar casas populares, demonstrou a sua
postura de procurar meios de maior racionalização da infraestrutura e do sistema
construtivo, como, por exemplo, chegar a estruturas esbeltas e utilizar sistemas
como a laje caixão-perdido com blocos de isopor, o que significava economia de
concreto, além de concentrar áreas molhadas com o uso comum da rede hidráulica.
Esse recurso pode, entre outros, ser encontrado nos projetos de residências
unifamiliares.
A pesquisa dos projetos de Petracco e de seu aspecto estrutural e plástico
inovador, que apresentavam formas orgânicas e livres, com estruturas desafiantes,
em que era clara a integração com a natureza ou espaço externo, trouxe como
210

consequência natural o desejo de aprender como se alcança tal qualidade. Para


compreender o processo da concepção espacial durante o desenvolvimento do
projeto, esta pesquisadora selecionou como objetos duas casas, as quais deveriam
apresentar o material necessário para uma análise aprofundada. As casas
estudadas foram as de Vicente Izzo e de Samuel Rothenberg, que tinham materiais
disponíveis, como estudos preliminares, anteprojetos, croquis, projeto executivo e
algumas fotos. Mesmo não sendo possível a visita ao local, o volume de material de
ambas as casas possibilitou estudá-las.
Com a tese de doutoramento de Francisco Petracco e outras pesquisas sobre
a formação dos arquitetos mackenzistas, foi possível levantar claramente o método
de projetar do arquiteto: trata-se de um exercício bastante consciente, apesar de que
se pode verificar que Petracco despendeu certo tempo com experimentalismos no
que seria um programa comum, como uma casa. Para compreender sua obra e
situá-la no contexto da arquitetura de sua época, ela foi analisada sob as
características brutalistas levantadas pelas autoras Ruth Verde Zein e Maria Alice
Junqueira Bastos. E os objetos de estudo e outros projetos apresentados na
pesquisa demonstraram essas características, podendo ser classificadas como
obras brutalistas.
Essa característica enumerada pelas autoras serviu de fio condutor para
investigar elementos subjetivos da obra, como características simbólico-conceituais.
Para a análise gráfica, foi eleito na pesquisa um meio claro de representação
gráfica, que fosse capaz de apresentar a qualidade espacial da casa. Para isso,
foram utilizados os gráficos analíticos desenvolvidos pelo arquiteto Wilson Flório. A
utilização desse método ajudou a confirmar que o arquiteto seguia de forma efetiva
um método ou raciocínio que pudesse ser identificada nos desenhos, como por
exemplo a separação de áreas a a correspondência entre a planta, o corte e a
elevação.
O primeiro estudo de caso apresentado foi a residência de Samuel
Rothenberg, em Ubatuba, que teve seu projeto iniciado no ano de 1982 e sua obra
concluída no ano de 1993. O levantamento de seu projeto demonstrou muitas
revisões, o que pode ter acontecido em razão do longo período de tempo entre
projeto e execução da obra. A casa apresenta um programa tradicional, mas a
211

cobertura foi o grande artifício do arquiteto para como tratar da questão do programa
residencial de forma especial e não somente prática.
A análise da casa possibilitou a associação de referenciais arquitetônicos
nacionais, como a capela do complexo da Pampulha de Oscar Niemeyer, em Belo
Horizonte. No projeto de Petracco, a composição da cobertura dividida em bandas
numa escala diminuta possibilitou uma solução econômica da estrutura feita com
materiais locais e execução que não exigia mão de obra especializada (a não ser
dos próprios arquitetos envolvidos). Foi possível verificar que, ao empregar as
características brutalistas, a obra apresenta todas elas, podendo considerar a obra
como integrante desse estilo. Apesar de ser uma obra fora do período destacado
pelas autoras que a enumeraram, pode-se considerar que houve continuidade desta
arquitetura nas décadas seguintes a 1960.
E, durante a análise dos desenhos sobre os gráficos analíticos, a coerência
entre planta, corte e elevações e a disposição do programa foi confirmada, pois, ao
destacar os critérios como: tamanho das áreas, áreas sociais, íntimas ou de
serviços, o contorno da planta e da elevação, entre outros, os desenhos
demonstraram correspondência entre si, o que demonstra que há um raciocínio
compositivo e consciência de seguir esses critérios por parte do arquiteto.
O segundo estudo de caso apresentado foi a residência de Vicente Izzo, no
Guarujá, que teve duas fases de construção, com projeto de 1972 e obra de 1973,
sendo que o terreno sofreu ampliação dois anos depois da obra concluída (devido à
compra do lote vizinho), o que significou a ampliação da edícula e por conseguinte,
do programa da casa, possibilitando o acesso de veículos ao terreno.
O volume principal da casa foi conservado na ampliação: uma cobertura
convexa sob um prisma de vidro com uma área de projeção (em comum), com um
pavilhão com cobertura em abóbadas e fechamentos de madeira. A área externa da
piscina, de desenho orgânico como um lago e seu jardim ao redor, também foi
preservada na ampliação.
A residência Vicente Izzo possui uma rica composição tanto em plantas como
em cortes, que nos desenhos verificou-se um jogo de complementaridade das
formas côncavas e convexas em quase todos os elementos arquitetônicos do
conjunto. A casa pode ser considerada como continuação do movimento moderno
paulista ao apresentar todas as características dessa arquitetura.
212

Essa pode ser considerada uma das principais obras do arquiteto, pois, além
de suas publicações em periódicos na época, a casa demonstra uma nova
possibilidade de implantação ao transpor elementos da natureza e de um estilo de
vida litorâneo no desenho dos elementos estruturais. O resultado é uma estrutura
inusitada para uma residência, mas que surpreende pelo espaço aconchegante na
diminuta escala da casa.
Ao submeter o redesenho da casa aos gráficos analíticos, foi possível verificar
que os critérios de composição foram novamente seguidos pelo arquiteto: há
correspondência entre os desenhos ao destacar a compartimentação das áreas, o
destina dessas áreas, a relação planta-corte-elevação. Na volumetria, chama a
atenção o grande número de elementos adicionais usados a fim de conservar o
protagonismo da cobertura principal.
A pesquisa apresentou o levantamento dos projetos de Francisco Petracco a
partir do acervo disponível à autora. Neste levantamento, pela primeira vez, será
apresentada um lista de 290 projetos que podem ser atribuídos ao arquiteto (o que
prova a produtividade dos arquitetos da época respondendo pelo fomento histórico
da cidade e do país).
A pesquisa também apresentou os projetos residenciais do arquiteto por meio
de fichas, e esta tipologia foi escolhida por ser a melhor conservada e a mais
frequente do acervo do arquiteto. Por meio de uma biografia, foi possível organizar
as atividades do arquiteto, que estavam relativamente dispersas, e verificar sua
carreira.
Durante a pesquisa, foram apresentados alguns projetos que haviam sido
pouco publicados, sendo alguns redesenhos, a fim de esclarecer melhor o projeto e
regularizar a linguagem da apresentação. Também foram expostos dois projetos por
meio de modelo tridimensional e maquetes para sua maior compreensão.
A pesquisa também empregou análises que ajudaram na compreensão de um
período histórico da arquitetura paulista nas décadas de 1970 e 1980, que
apresentavam a continuidade da arquitetura moderna consolidada na década de
1950, incluindo exemplares brutalistas. Também executou análises gráficas com
linguagem clara, que investiga se foram cumpridos os critérios da composição
arquitetônica – dessa forma, a pesquisa também contribui a continuidade e
aplicação das pesquisas desenvolvidas na área de projeto e análise.
213

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABASCAL, Eunice Helena; BREIA, Maria Teresa Stockler e. Arquitetos


mackenzistas na modernidade: espaço, tempo e representação. Instituto átto
Marcello __________. Arquitetos mackenzistas na modernidade: qualidade
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20h30.
217

ANEXOS
219

11 concurso Assembléia  Legislativa  do   São  Paulo 1961 Revista  Módulo.  Ante  Projeto   Eduardo   não
Estado  de  São  Paulo para  a  Assembléia  Legislativa   Kneese  de  
de  São  Paulo.  Rio  de  Janeiro,   Mello,  
agosto/1961  –  nº  24  –  p.  28-­‐ Francisco  
31  outubro/1962  –  nº  30  –  p.   Petracco,  Joel  
30-­‐31. Ramalho,  
Luis  Forte  
Neto,  José  
Maria  
Gandolfi

12 edifícios   Edificio  Porto  Velho Avenida  Presidente  W ilson,  Santos-­‐ 1961 1965 fotos Pedro  Paulo   sim não
apartamentos   SP Melo  Saraiva  
e  c alculo  
Roberto  
Zuccolo
13 edifícios   Edificio  Portonovo Santos-­‐SP 1961 Pedro  Paulo   sim não
apartamentos   Melo  Saraiva  
e  c alculo  
Roberto  
Zuccolo
14 edifico  de   Incorporadora   Conjunto  Cidade  de  Santos Avenida  Ana  Costa,  Santos,  SP 1961 1962
apartamentos Paiva  I mobiliária
15 Educacional IPESP Grupo  Escolar Aparecida,  SP 1961 1962
16 Educacional EE  Fausto  Borges  na  Vila   Rua  I tapura  c om  Rua  Euclides   1961 planta  de  s ituação,  fachadas sim
Gomes  Cardim Pacheco,  São  Bernardo  do  Campo,   cortes
SP planta  de  execução
planta  c obertura

17 plano   Estudo  de  Viabilidade  de   Município  de  São  Vicente,  SP 1961
urbanistico Implantação  do  Centro  
Habitacional,  Recreativo  e  
Turístico  na  r egião  de  
Itaquitanduva,  na  zona  
Litorânea  
220

18 concurso Palacio  da  I nconfidencia-­‐   Minas  Gerais 1962 planta  4 °pavimentocorte   Jon   não
Assembléia  Legislativade   transversal Maitrejean,  
Minas  Gerais  -­‐  primeiro   1°subsolo Nelson  
concurso planta  da  c obertura Morse,  
memorial Telésforo  
planta  2 °  pavimento Cristofani
planta  6 °  pavimento
planta  do  s ub-­‐solo
elevação  r ua  dias  a dorno
planta  de  s ituação
planta  pavimento  térreo
corte  l ongitudinal
planta  do  3 °  pavimento
elevação  praça  c arlos  c hagas
elevação  r ua  r odrigues  c aldas
perspectiva  plenário
planta  do  1 °  pavimento

19 edifícios   Edifício  de  Apartamentos   R.  Albuquerque  Lins,  Bairro   1962


apartamentos   Biro  Ernesto  Zeitel Higienópolis,  São  Paulo,SP  
20 plano   Estudo  de  Viabilidade  de   Parelheiros,  SP 1962 não
urbanistico Implantação  e  Projeto  do  
Distrito  I ndustrial  
Definição  das  Atividades  e  
Potencialidade  da  Região  
de  Parelheiros
21 agência   Banespa Rua  XV  de  novembro,  7 10  e  7 18.   1963 sim
bancária Dois  Córregos-­‐SP
22 concurso Sede  Clube  XV  de  Santos Santos,  São  Paulo 1963 Projeto  Escaneado  e   Pedro  Paulo   sim sim
publicado  na  Revista   Melo  Saraiva  
Acrópole.  São  Paulo,  n.  2 94,   e  
p.167-­‐169,  maio,  1 963 colaboração  
de  Teru  
Tamaki  e  
Helladio  
Mancedo
23 concurso Clube  Orla  Guarujá Guarujá 1963 currículo Pedro  Paulo   não
Melo  Saraiva
24 concurso Palacio  da  I nconfidencia-­‐   1963 publicação  projeto   Jon   não
Assembléia  Legislativa-­‐   Maitrejean,  
sehundo  c oncurso Nelson  
Morse,  
Telésforo  
Cristofani
25 Educacional FECE Mariapolis,  SP 1963 currículo
26 edificio  de   Vicente  I zzo  e   Praça  Coronel  Lisboa,  Bairro  Santo   1964 currículo
apartamentos Outros Amaro,  São  Paulo,  SP  
221

27 concurso Associação   Concurso  Privado  Clube  de   São  Paulo,  SP 1965 currículo Tito  Lívio,  
Paulista  de   Campo  e  Sede  de   Luigi  
Medicina Congressos Villavecchia,  
Flavio  
Pastori  e  
Ariel  
Rubstein
28 conjunto   COHAB Estudo  de  Viabilidade  e   Carapicuíba,  São  Paulo-­‐SP 1965 1968  i mplantação,  planta  c asa   Nelson  Morse sim
habitacional Projeto  do  Núcleo   vagão
Habitacional  COHAB  -­‐   projeto  de  esgoto
projeto  c asa  experimental   projeto  de  elétrica
ou  c asa  popular
29 edificio  de   Incorporador   Rua  Piauí,  Bairro  do   1965 currículo
apartamentos Mario  Montag Higienópolis,São  Paulo,  SP  (em  
colaboração)
30 Educacional FECE EE  Professora  Ondina  Hofig   Rua  Paes  Leme,  581,  bairro  de   1965 curriculo
Castilho Pereira  Jordão,  Andradina,  SP
31 Educacional FECE 2º  Grupo  Escolar  Taboão  da  Serra,  SP 1965 curriculo
32 residência Iguatemy  J.   RE  018-­‐  c ategoria  c aixas   Rua  Domingos  Leme,  157,  São  Paulo 1965 1968 sim não  
Andrade elevadas
Ante-­‐projeto  Planta  Superior  
(outra  opção  da  do  executivo),  
Ante-­‐projeto  Planta  Superior  
(estudo  I I),  Ante-­‐projeto  
Planta  Superior  (opção  
construída),  Ante-­‐projeto  
Corte  e  Fachada,  Sanitários,  
Ante-­‐projeto  Detalhe  Aluminio  
Armário,  Ante-­‐projeto  Detalhe  
Aluminio  Hall  e  Cozinha,    Ante-­‐
projeto  Esquadrias,   24 Ruim
Sanitários,  EXE-­‐Planta  Térreo,  
EXE-­‐Planta  Superior,  EXE-­‐
Cortes,  EXE-­‐Fachadas,Planta  
Edícula,  EXE-­‐Laje  Cobertura-­‐
Ilum,  EXE-­‐Laje  Piso-­‐
Iluminação,  EXE-­‐Sanitários  
Superior,  EXE-­‐Sanitários  
Térreo,  EXE-­‐Esquadrias  de  
Madeira,  Projeto  de  
Prefeitura,  
222

46 Educacional FECE Cel.  Nogueira  Cobra Bananal,  SP 1968 Planta  pavimento  térreo  e   sim
superiorfolha  2  ,  c orte  e  
fachadas  folha  3
47 Educacional Fundo  Estadual  de   Grupo  Escolar  do  Bairro  de   Marília,  SP 1968 fachadas,  planta  execução
Construções   Cascata planta,  c orte  e  elevações sim
Escolares
48 Educacional Museu  escola Jundiaí-­‐SP 1968 foto Sim
49 agência   Bancosul  de  São   Ribeirão  Preto,  SP 1969 planta  térreo  planta  mezanino
bancária Paulo planta  a partamentos
elevações
cortes  A  e  B
corte  l ongitudinal
corte  transversal  e  escada
fachadas
pavimentos  1 °  e  2°

50 clube Light  Serviços  de   Clube  esportivo   Represa  da  Guarapiranga 1969 estudo  preliminar não
Eletricidade Guarapiranga  Light
51 clube Ginásio  de  Tênis  Esporte   Bairro  Pinheiros,  São  Paulo,  SP 1969 não
Clube  Pinheiro
52 concurso concurso  publico 1º  Prêmio  empate   Santos,  SP 1969 não
(Fernando  Moreira  -­‐  1 ª  
fase)  no  Concurso  Privado  
Ante  Projeto  para  Agência  
de  Santos  para  I BC  I nstituto  
Brasileiro  do  Café
53 conjunto   CECAP Parque  CECAP Caçapava,  SP 1969 1976 locação  s istema  viário  U01,   em  
habitacional equipamentos  e  s erviços   parte
urbanos  L01 s  -­‐  
urbanismo  U03 ruas  
terraplenagem  Tp01  -­‐  c otas   sim  e  
sistema  viário edifi
perfis  l ongitudinais cios  
perfis  das  r uas  8,  9  e  10  e   não  
avenidas  3  e  4 pelo  
infraestrutura-­‐  diretrizes  de   aden
abastecimento   same
infraestrutura-­‐  diretrizes  de   nto
aguas  pluviais
54 agência   Banespa Bernardino  de  Campos,  SP 1970 currículo sim
bancária
223

55 agência   CEF Caixa  Economica  do  Estado   Bernardino  de  Campos,  Colina,   1970 Julio  Neves,   sim
bancária de  São  Paulo.  Agência  do   Votuporanga,  Casa  Branca,  Lapuçu,   Jorge  W ilhein  
D.E.T. Conhas,  I tatinga,  Pindamonhagaba,   e  Croce  
Lins,  Rancharia,  Santa  Gertrudes,   Aflallo  
Bebedouro,  Rio  Bonito,  Nova   Gasperini
Aliança,  Tupã,  Monte  Aprazível,  
Assis,  Lucélia,  General  Salgado,  
Jardinópolis,  Porto  Feliz,  Eldorado  
Paulista,  Novo  Horizonte,  Dourado,  
Estrela  D´Oeste,  Avaré,  Batatais,  
Valentim  Gastão  e  Dois  Córregos  –  
SP
56 agência   CEF Estudo  de  Viabilidade,   Campo  Grande,  MT;  Durados,  MT;   1970 Julio  Neves,  
bancária Definição  do  Programa   Palmeira  D´Oeste,  MT;  Ribeirão   Jorge  W ilhein  
CAIXA  ECONÔMICA  DO   Preto,  SP;  Jales,  SP  e  Araras,  SP e  Croce  
ESTADO  DE  SÃO  PAULO Aflallo  
Gasperini  
57 concurso Força  Pública  do   Mausoléu  –  Força  Pública   São  Paulo,  SP 1970 Nelson  Morse
Estado do  Estado  
58 concurso Prefeitura  São   Centro  Cultural  e  Esportivo     São  Bernardo-­‐SP 1970 1974 depedencias  s obre    José  Roberto   não
Bernardo de  São  Bernardo arquibancadas,  r eforma  em   Soutello
geral-­‐implantação
planta  piscinas
59 concurso Sede  CONFEA Brasília,  DF 1970 currículo José  Roberto   não
Soutello
60 conjunto  de   Conjunto  Residencial   Guarujá,  SP 1970 fotos  de  maquete não
residencias
61 edificio   Prefeitura   1970 1974 currículo  +  projetos
comercial Municipal  de  
Bebedouro  (Adm.  
Sergio  Stamatto)
62 edificio   Jubran edificio  c omercial Rua  Pedro  Taques,  7 7  -­‐  Consolação.   1970 1974  c orte,  plantas,  s ubsolo,   sim não
comercial São  Paulo cozinha  e  s anitarios,  planta  
pavto  terro
63 edificio  para   Mofarrej edificio  c omercial Alameda  Santos,  São  Paulo 1970 1974  memorial  descritivo  e   não
escritorios perspectiva
64 residência Ítalo  Lorenzi Categoria  c aixas  elevadas 1970 publicaçao  de  projeto  em   sim
Rua  João  Moura,  São  Paulo,  SP
revista  Casa  e  j ardim
65 residência Samir  Jubran Sem  c ategorias Morumbi 1970 1971 sim
66 telecomunicaç COTESP Estação  de  r ecepção   Eldorado  Paulista 1970 elevação  frontal,  elevações   sim
ões Eldorado  Paulista laterais,  planta  
67 edificio  de   Construtora   Edificio  de  Apartamentos   Rua  José  I nácio  Corrêa,  Guarujá,  SP 1971 Kalil  Dabdab  
apartamentos Anhembi-­‐Morumbi no  Guarujá Neto  e  José  
Roberto  
Soutello
68 edificio  de   Paschoal  Ottajano   Rua  Humaitá,  1 71    e  Major  Diogo   1971 não
apartamentos e  Vicente  Ottajano 587,  5 91  e  5 97
69 edifícios   Francisco  P.  A.  I zzo Alameda  Jaú,  4 89-­‐507,  São  Paulo,  SP 1971 currículo
apartamentos  
224

70 edifícios   Mário  Nicoli  e   Avenida  Aclimação  c om  Rua  Jaspe 1971 1979 planta  tipo  EP  03,   não
apartamentos   Outros. implantação  01  EP,  planta  1 o  
subsolo,  planta  terreo  02,  
planta  terreo  c olorida,  
perspectiva,  planta  tipoEP  
OP2
71 residência Mike  Racy RE  015 Rua  Alaska  (esquina  c om  Rua   1971 1975 planta  terraço/AP,  planta  2 o   8 Ruim não
Argentina),  São  Paulo,  SP pavimento/AP,  planta  3o  
pavimento/AP,  planta  nível  
piscinas/AP,  planta  
perspectiva/AP,  perspectiva  
interna/EP,  planta  nível  3 o  
andar/EP,  planta  2o  
pavimento/EP,  planta  
térreo/EP,  elevação  
longitudinal/EP
elevação  transversal /EP
72 edificio  para   Petracco  Nicoli  SA Rua  Alexandre  Levi  e  Rua  dos  Alpes,   1972 1974 currículo
escritorios São  Paulo,  SP
73 edifícios   Alameda  Barros,  São  Paulo 1972 caderno  de  projetos
apartamentos  
74 Esportivos Prefeitura   Estudo  de  Viabilidade,   1972 currículo não
Municipal  de  São   Programa  Centro  Cultural  e  
Bernardo  do   Esportivo
Campo,  SP
75 Mobiliário   DSV/PMSP Projeto  de  Semáforo São  Paulo,  SP 1972 currículo
Urbano
225

76 residência   Vicente  Mario   RE-­‐73-­‐009 Ricardo  Severo,  Rua,  Lote  3 e4,   1972 1975 Projeto  de  Prefeitura;  AP-­‐ 54 Boa José  Roberto   sim não  
Valentino  I zzo Quadra  1 2,  bairro  Jardim  Virginia,   Planta  Térreo;  AP-­‐Cortes  AA  e   Soutello
Guarujá-­‐SP BB;  Planta  piscina;  EXE-­‐Térreo  
com  edicula  nos  fundos  do  
terreno;  EXE-­‐Detalhes  
esquadrias;EXE-­‐detalhe  
cozinha;  EXE-­‐detalhe  vidros;  
EXE-­‐perfil  c obertura  principal;  
EXE-­‐paisagismo;  EXE-­‐cotas  
cobertura;  EXE-­‐locação  
piscina;  EXE-­‐detalhe  e  
dimensão  para  c oluna  de  
sustentação;  EXE-­‐paisagismo;  
EXE-­‐Fôrma  fundação;  EXE-­‐
paisagismo;  r ascunhos  da  
piscina;  Desenhos  EXE-­‐
colunas  de  s ustentação;  
Desenhos  EXE-­‐cotas  da  
cobertura;  EXE-­‐perfil  da  
cobertural  principal;  EXE-­‐Deck  
detalhes;  EXE-­‐esquadrias  de  
madeira;  Foto  da  época;  
Pojeto  de  Prefeitura  c om  
Anexo  a os  fundos  (dormitório  
proprietário)

77 Stand   Ind.  Petracco   VIII  Salão  do  Automóvel   Pqe.  Anhembi,  São  Paulo,  SP 1972 currículo
Nicoli  S.A.
78 bar  e   Wladimir  Gomes Bar  e  Restaurante  "Totinho"   Ilhabelha-­‐SP 1973 1977 planta  térreo,  c orte  e  elevação não
restaurante planta  pavimento  s uperior
planta  de  l ocação

79 Educacional USP Laboratório  de  Metrologia   Universidade  de  São  Paulo    Cidade   1973 currículo
Nuclear  I EA Universitária,  SP
80 residência Manuel  Pinto Construção  edicula sem  c ategoria Rua  Arcangelo  Campanela,  2 99-­‐ 1973
Jardim  Calux.  São  Bernardo  do  
campo
81 residência Maria  Emilía  de   RE-­‐75-­‐007-­‐pavilhões Rua  Ubatuba,  n  3 55  -­‐  bairro   1973 1975 sim
Macedo  Soares   Pacaembu,  São  Paulo-­‐SP detalhes  esquadria  dos  
(Gomes  de   dormitórios;  l evantamento  
Soutello) terreno;  PE-­‐planta;  PE-­‐corte;  
PE-­‐detalhe  l areira  e  c orte;  PE-­‐
11 Boa
detalhe  vidro  temperado;  
Projeto  prefeitura;  EXE-­‐planta  
e  c orte  folha  1 ;  EXE-­‐detalhe  de  
esquadrias;  
226

82 hotel Hotel  Kobayasshi Rua  Martiniano  de  Carvalho, 1974 Planta  e  elevação   não
São  Paulo  -­‐  SP
83 industrias Nicolas  Elias   Av.  Bogaert.64  Jd.  Saude 1974 currículo
Haddad
84 plano   COGEP reurbanização  r io   margens  Rio  Tamanduateí 1974 setorização  e  densidades  uso   não
urbanistico Tamanduateí  á rea  Luz  I solo
sistema  viário  externo
intervenção
areas  paisagistas
equipamento  urbanos
embasamento
solução  trensitória
perspectiva  a érea
perspectiva  esplanda
perspectiva  a cesso  esplanada
relatório
usos  i nadequados
ensino  profissionalizante
deteriorização  urbana
diagnostoco  fisico  0 4
proposta  existente  0 5
sistema  viário  i nterno  0 7
sistema  viário  i nterno  0 7

85 plano   COGEP reurbanização  r io   Margens  Rio  Tamanduateí,  São   1974 setorização  e  densidades  uso   não
urbanistico Tamanduateí  á rea  Luz  I I Paulo,  SP solo
sistema  viário  externo
intervenção
areas  paisagistas
equipamento  urbanos
embasamento
solução  trensitória
perspectiva  a érea
perspectiva  esplanda
perspectiva  a cesso  esplanada
relatório
usos  i nadequados
ensino  profissionalizante
deteriorização  urbana
diagnostoco  fisico  0 4
proposta  existente  0 5
sistema  viário  i nterno  0 7
sistema  viário  i nterno  0 7

86 plano   DERSA Centro  de  Atividades   Rodovia  dos  I migrantes,  Diadema,   1974 1977 apresentação  powerpoint não
urbanistico Terciárias-­‐  Centro  de   SP
Exposições,  Hotel  de  
Turismo,  Centro  Comercial  
e  Equipamentos  de  Apoio  
DERSA
227

87 residência Guido  Perrotti caixas  elevadas Avenida  Manoel  dos  Reis  Araujo.   1974 1975 projeto  de  prefeitura,   18 Ruim sim não
Jardim  Marajoara detalhes,  paisagismo,  
armarios  c opa  c ozinha,  
armario  s ala  de  estar,  planta  
cozinha  l avanderia,  c orte,  
elevação,  s anitarios,  detalhe  
escada  metalica,  vidros,  
cortes  detalhes,  c aixilhos

88 residência Mario  Nicoli Sitio  Gramadão RE  0 08-­‐pavilhões Casa  Branca-­‐  Jundiaí,  SP 1974 Topografia,  plantas,  c ortes,   31 Ruim sim
fachadas,  detalhes  de  
esquadrias
89 Serviços DETRAN Detran  Petracco  Nicoli DETRAN 1974
90 comercial Kobayashi projeto  de  edificio  de   Av.  I ndianapólis,  São  Paulo-­‐SP 1975 projeto  de  prefeitura sim
escritorio  de  i mobiliária
91 conjunto   PROCAP Conjunto  Residencial   Riacho  grande,  São  Bernardo  do   1975 divisão  de  a reas  c ontribuinter  
residencial Riacho  Grande Campo-­‐SP -­‐  RI  engenheiro,  planta  pilotis  
tipo  1
anteprojeto  estudo  de  
arruamento
anteprojeto  memorial  0 1  a  0 3
planta  a partamento  tipo  A
planta  a partamento  tipo  B
corte  AA  transversal  
planta  c obertura    ecaixa  
d'agua
corte  BB  l ongitudinal
elevação  2
elevação  1
elevação  l ateral
locação  pilares  dos  bloco
detalhes  ferais
elementos  vazados
esquadrias  metalicas
esquadrias  de  madeira

92 edificio   Demolein  e   Av.  Europa  -­‐  São  Paulo,  SP 1975 currículo
comercial Campos  S.A.  
Imóveis
93 edificio  de   Nicolau  Antonio   Edificio  de  a partamentos   Rua  Paes  de  Barros,  3 56.  Mooca 1975 currículo
apartamentos Marinho
94 Educacional Nucleo  I nfantil  Santo  i nácio São  Bernardo  do  Campo-­‐SP 1975 Fotografias  e  Plantas  e  c ortes   sim não
digitais
95 residência Edson  Dohi RE  0 14 Rua  Azevedo  de  Soares,  2 25   1975 Programa  e  terreno;  EP  Planta   3 Ruim José  Roberto  
(esquina  c om  Rua  Moraes  de   Térreo Soutello
Barros)
228

96 residência Eraldo  Funaro Sem  c ategoria Ilhabela 1975


97 residência José  Serrano sem  c ategoria Rua  J.  Ubaldo  Lomonaco 1975
98 residência Moutinho categoria  pavilhões São  Bernardo-­‐SP 1975 planta/EP,  c orte/  EP,   sim
elevação/EP,  det.  Pérgulas

99 residência Rafael  Francisco   RE-­‐75-­‐001 Rua  Benjamim  Constant 1975 Implantação,  plantas,  c ortes,   6 Ruim
D`Amico estudos  
100 residência Rafael  Francisco   Construção  de  edícula Rua  Zacarias  de  Goes 1975
D`Amico
101 residência Sadao  Kayano RE  020 Marcelino  Champagnat,  Rua,  bairro   1975 planta  s usolo,  térreo  e   2 Boa sim
Vila  Mariana,  São  paulo-­‐SP superior
102 edificio   Rua  Pires  da  Mota,  São  Paulo,  SP 1976 sim
comercial
103 Educacional CONESP EEPG  Jardim  Noêmia São  Miguel  Paulista,  SP 1976 currículo
104 Educacional CONESP EEPG  Nossa  Senhora  do   São  Miguel  Paulista,  SP 1976 currículo
Líbano
105 Educacional CONESP EEPG  Vila  Botega Andradina,  SP 1976 currículo
106 Educacional CONESP EEPG  Vila  Nova  Friburgo Bairro  Santo  Amaro,  São  Paulo,  SP 1976 currículo
107 Educacional CONESP EEPG  Americanópolis Santo  Amaro  -­‐  São  Paulo,  SP 1976 currículo
108 plano   Prefeitura   Estudo  Viabilidade  Parque   Jundiaí,  SP 1976 currículo
urbanistico Municipal  de   de  Lazer  e  Cultura
Jundiaí
109 bar  e   Heraldo  Funaro Avenida  Faria  Lima 1977
restaurante
110 comercial Patheo  das  Artes  -­‐   Avenida  Faria  Lima,  456.  São  Paulo 1977 somente  l evantamento
Tapeçaria  e  presentes
111 hotel Hotel  Turismo   Ernest  Yves  Josquin Ilhabela,SP 1977 planta  térreo  l ocação/EP,   não
Ilhabela  ou  bar  e   corte  e  elevação/EP
restaurante perspectiva  externa/EP
perspectiva  i nterna/EP
112 industrias Ind.  Petracco  e   reforma  de  i ndustria Margens  Rio  Tietê,  São  Paulo-­‐SP 1977 sim
Nicoli
113 residência Shigeaki  Ueki RE  016 Rua  Termopilas,  77 1977 AP-­‐planta;  AP2-­‐planta;  Projeto  
7 Bom
Prefeitura  (AP2);    
114 residência Claudio  Morelli RE-­‐77-­‐001 Praça  Monsenhor  Galvão  de  Souza.   1977 1979 AP-­‐Planta  Subsolo,  AP-­‐Planta   sim sim
Jardim  Guedala/  Rua  Magalhães  de   Superior,  AP-­‐Corte,  AP-­‐
Araujo,  Morumbi Elevações,  Projeto  Prefeitura,   20 Ruim
Planta  Térreo  Folha  2,  Planta  
de  Níveis
115 bar  e   PROBARE  Ltda. Bar  e  Restaurante”  “Baiúca“ Av.  Brigadeiro  Faria  Lima,  São   1978
restaurante Paulo,  SP
229

116 conjunto   Companhia   Parque  CECAP Presidente  W enceslau 1978 1979 memorial  técnico,  exe-­‐
habitacional Estadual  de  Casas   locação  do  s istema  viário  e  
Populares-­‐CECAP quadras  u01
exe-­‐  l ocação  da  especies  u 04
exe-­‐planta  geral  T01
exe-­‐locação  da  especies  e  
equipamento  c omunitários
parcelamento  do  s olo  u02
exe-­‐implantação.locação  de  
unidade  habitacionais

117 conjunto   Conjunto  Habitacional   São  Bernardo  do  Campo,SP 1978


habitacional Kobayashi  Vila  Taboão
118 Educacional CONESP Escola  Jardim  dos  Reis Capela  do  Socorro,  São  Paulo 1978
119 Interiores Escritórios   Pça  da  República,  São  Paulo,  SP   1978
Roberto  Moreira  
Lima,  Advogados
120 residência Samuel  Rothenberg Rua  I peró,  1 15,  Bairro  Pinheiros,   1978 projeto  prefeitura sim não
São  Paulo,  SP
121 Saúde Vicente  I zzo Clínica  Médica  Dr.  Vicente   Al.  Gabriel  Monteiro  da  Silva,  São   1978
Izzo Paulo,  SP
122 Saúde IPESP Posto  de  Saúde Colina,  SP 1978 currículo
123 bar  e   Jacy  Lage Bar  e  Café  “Landru" Alameda  Santos,  São  Paulo 1979
restaurante
124 concurso CREA  São  Paulo  6 a  r egião São  Paulo,  SP 1979 cortes  transversais,  elevacao   José  Roberto   não
nordeste,  planta  s uperior Soutello

125 concurso 4º  Prêmio  de  Concurso   Expo  7 0  –  Osaka,  Japão  /  Rio  de   1979 perspectivas,  plantas Edgar  Dente,   não
Público  Nacional  Pavilhão   Janeiro,  RJ Ana  Maria  de  
do  Brasil  –  Expo  7 0  –   Biase,  Maria  
Osaka,  Japão Helena  Flynn,  
e  Miguel  
Juliano
126 edificio   OECI  Consultoria   Edifício  de  Escritórios   Alto  de  Pinheiros  -­‐  São  Paulo,  SP 1979 currículo
comercial de  Organização  
S/C
127 edifícios   Mario  Nicoli  e   Lavapés Rua  Lavapés,  Bairro  Cambuci,  São   1979 1983 sim
apartamentos   Carla Paulo-­‐SP
128 comercial Lojas,  Depósitos,  Oficinas  e   Rua  Melo  Alves,  2 38.  Jardim   1980 sim sim
Escritórios  Galeria  de  Artes   Paulista
Império
129 Edificio   Ministério  do   Edifício  de  Administração   -­‐   Barueri-­‐SP 1980
Corporativo Exército PQ.  R.Mnt/2.  Ministério  do  
Exército
130 edifícios   Enio  Chieza Enio  Chieza,  Praça.  Guarulhos-­‐SP 1980
apartamentos  
131 edifícios   Apartamentos  duplex Avenida  Aclimação  ,  São  paulo 1980 1984
apartamentos  
230

132 hotel  e   Mario  Nicoli Edifício  Praça  Princesa   Praça  Princesa  I sabel ,  187  a  207.   1980 1986  estudo  preliminar  a ndar  tipo  -­‐   está não não
residencial Isabel São  Paulo-­‐SP C,  a ndar  tipo  exemplo  C  hotel-­‐
perspectiva  -­‐  D
hotel  princesa  i sabel  plantas  
e  c orte  
levantamento  
planialtimétrico  prefeitura
planta  pavimento  tipo  A5
cortes,  fachada,  maq.  E  
cobertura  prefeitura
estudo  preliminar  a ndar  tipo  -­‐  
3
planta  primeiro  s ubsolo
corte  l ongitudinal  1
corte  l ongitudinal  2
planta  térreo  
planta  s egundo  s ubsolo
planta  tipo  e  20°pav
planta  l oja
andar  tipo  
133 industrias Suntory-­‐   Ampliação  e  r eforma  de   Av.  Nações  Unidas,  23.353 1980 projeto  de  prefeitura-­‐planta  
Administração  e   industria  de  produtos   situação
desenvolvimento alimentícios
134 industrias  e   Tempo  Móveis  e   Fábrica  e  Depósitos  Tempo   Campo  Limpo,  São  Paulo,  SP 1980
fábricas Decorações  S.A. Móveis  e  Decorações  S.A
135 plano   Ministério  do   Plano  Diretor  do  Parque   Barueri-­‐SP 1980 perpectiva  dos  pavilhoes   sim
urbanistico Exército Nacional  de  Manutenção,   planta/  i mplatação
Ministério  do  Exército
231

136 residência Francisco  Otávio   RE-­‐81-­‐002 Praia  do  Pulso,  Ubatuba-­‐SP 1980 1982 Planta  Levantamento  do   50 Ruim sim
Almeida  Prado   terreno;  Cortes  perfis  do  
Filho Terrenos,  Croquis  i nterevncão  
estrutura  terreno,  Croquis  
implantação  (contornos  
vermelhos);  Croquis  Graragem  
de  barcos;  EP-­‐planta  térreo;  
EP-­‐planta  s uperior;  EP-­‐  planta  
cobertura;  EP-­‐  detale  l aje  e  
pingadeiras;  EP-­‐  térreo;  EP-­‐
locação  de  pilares;  EP-­‐  
térreo;EXE-­‐terraplanagem  e  
arrimo;  EXE-­‐  planta  térreo  
áreas  molhadas;  EXE-­‐  planta  
superior  á reas  molhadas;    ;  
EXE-­‐planta  fôrma  c obertura;  
Planta  escada  (para  obra);  
EXE-­‐detalhe  esquadria  
A01;EXE-­‐cortes  TR1  e  TR2  
A03;EXE-­‐elevação  e  TR3  A04;  
EXE-­‐detalhe  esquadria  A05;    
EXE-­‐pavimento  s uperior  
A6;Detalhes  de  granito  (para  
obra);  

137 residência Pedro  Luciano   RE-­‐80-­‐001 lote  7 ,  quadra  1 3.  Praia  do  Pulso.   1980 1981 está sim não  
EP-­‐planta  pavimento  i nferior  
Marrey Ubatuba-­‐SP
folha  1 ;  EP-­‐planta  pavimento  
superior  e  c orte  folha  2 ;  
50 Boa
projeto  prefeitura;  EXE-­‐  Planta  
de  fôrma  (superior  e  
cobertura)

138 residência Represa  da  Guarapiranga 1980 Publicação  de  projeto  em   Roberto  
revista  Casa  e  j ardim,  3 09 Campos  
Rolim
139 residência Ricardo  Nunes   RE-­‐80-­‐003 Rua  Artur  de  Godoy,  Vila  Mariana,   1980 1983 Projeto  de  prefeitura;  Plantas   10 Boa
Costa São  Paulo,  SP e  Cortes;  Fachadas;  
Levantamento  do  terreno;  
Detalhamento  do  terreno  e  
foto
140 residência   Wladimir  Gomes RE-­‐80-­‐002 Ilhabela-­‐SP 1980 plantas,  Cortes  e  Fachadas 9 Ruim

141 concurso Concurso  Público  Nacional   São  Paulo,  SP 1981 currículo Maurício   não
para  Reurbanização  do   Nogueria  
Vale  do  Anhangabaú   Lima
232

142 conjunto   COOPERHAB Av.  Dep.  Cantidio  Sampaio.  Vila   1981 implantação  prefeitura,   não
residencial Brasilândia,  São  Paulo-­‐SP parcelamento
plantas,  c orte  e  fachada  
edificio  1
plantas,  c orte  e  fachada  
edificio  2
cortes  e  fachadas  edifitio  tipo  
4
planta  e  c ortes  tipo  4
143 edifícios   Wladimir  Gomes Edifício  de  Apartamentos   Rua  Olavo  Gonçalves,  São  Bernardo   1981 planta  tipo,  tres  dormitórios,  
apartamentos   Moutinho do  Campo planta  tipo  2  dormitórios

144 edifícios   Transforma   Vila  das  Artes Rua  Antonio  Pererira  da  Camara,   1981 1988 perspectiva  EP,  plantas  1o  e   não
apartamentos   planejamento  e   Rua  Djalma  Coelho  e  Rua  Dr.   2o  pavimento  de  a pto  201  a  
construção  AS-­‐ Barachisio  Lisboa 310  EP,  plantas  1o  e  2o  
projeto  vendido   pavimento  de  a pto  101  a  120  
para   EP,  planta  pavimentp  s uperior  
incorporadoas   05  AP,  planta  pavimentp  
mas  não  foi   inferior  04  AP,  perspetiva  
construido  pois  o   interna  06  AP,  planta  
terreno  não   pavimento  s uperior  02  AP,  
aceitava  12   cortes  03  AP,  pavimento  
andares  mas  s ó  10   inferior  01  AP,  i mplantação  
andares AP

145 Educacional CONESP Escola  Balneário  Palmeiras Jardim  Sonia  Regina-­‐Praia  Grande 1981 1985 anteprojeto  de  estrutura-­‐02,  
anteprojeto  de  estrutura-­‐01
anteprojeto  de  a rquitetura-­‐01-­‐
terraplanagem  e  i mplantação
anteprojeto  de  a rquitetura-­‐04-­‐
cobertura
anteprojeto  de  a rquitetura-­‐02-­‐
plantas

146 residência Augusto  Ponsvilla   Amoreiras,  Rua  -­‐  Bairro  Morumbi  -­‐   1981 planta  térreo/  EP,  planta   sim
SP superior/  EP,  planta  garagem  
(rua)/EP,  planta  s uperior/  AP,  
planta  térreo/AP,  planta  
garagem/AP

147 residência Darcy  Toledo Atibaia 1981


233

142 conjunto   COOPERHAB Av.  Dep.  Cantidio  Sampaio.  Vila   1981 implantação  prefeitura,   não
residencial Brasilândia,  São  Paulo-­‐SP parcelamento
plantas,  c orte  e  fachada  
edificio  1
plantas,  c orte  e  fachada  
edificio  2
cortes  e  fachadas  edifitio  tipo  
4
planta  e  c ortes  tipo  4
143 edifícios   Wladimir  Gomes Edifício  de  Apartamentos   Rua  Olavo  Gonçalves,  São  Bernardo   1981 planta  tipo,  tres  dormitórios,  
apartamentos   Moutinho do  Campo planta  tipo  2  dormitórios

144 edifícios   Transforma   Vila  das  Artes Rua  Antonio  Pererira  da  Camara,   1981 1988 perspectiva  EP,  plantas  1o  e   não
apartamentos   planejamento  e   Rua  Djalma  Coelho  e  Rua  Dr.   2o  pavimento  de  a pto  201  a  
construção  AS-­‐ Barachisio  Lisboa 310  EP,  plantas  1o  e  2o  
projeto  vendido   pavimento  de  a pto  101  a  120  
para   EP,  planta  pavimentp  s uperior  
incorporadoas   05  AP,  planta  pavimentp  
mas  não  foi   inferior  04  AP,  perspetiva  
construido  pois  o   interna  06  AP,  planta  
terreno  não   pavimento  s uperior  02  AP,  
aceitava  12   cortes  03  AP,  pavimento  
andares  mas  s ó  10   inferior  01  AP,  i mplantação  
andares AP

145 Educacional CONESP Escola  Balneário  Palmeiras Jardim  Sonia  Regina-­‐Praia  Grande 1981 1985 anteprojeto  de  estrutura-­‐02,  
anteprojeto  de  estrutura-­‐01
anteprojeto  de  a rquitetura-­‐01-­‐
terraplanagem  e  i mplantação
anteprojeto  de  a rquitetura-­‐04-­‐
cobertura
anteprojeto  de  a rquitetura-­‐02-­‐
plantas

146 residência Augusto  Ponsvilla   Amoreiras,  Rua  -­‐  Bairro  Morumbi  -­‐   1981 planta  térreo/  EP,  planta   sim
SP superior/  EP,  planta  garagem  
(rua)/EP,  planta  s uperior/  AP,  
planta  térreo/AP,  planta  
garagem/AP

147 residência Darcy  Toledo Atibaia 1981


234

148 residência Jayme  Gabriel RE-­‐82-­‐003 Praia  Siriúba,  I lhabela-­‐SP 1981 1982 sim

Locação  dos  c ortes  do  


terreno,  Perímetro  do  terreno,  
Croquis,  Locacão  de  Arrimo  
(2),  Locacão  de  Arrimo  (s/n),  
EXE-­‐planta  pavimento  
inferior;  EXE-­‐planta  
pavimento  s uperior;  Detalhe  
porta;  EXE-­‐planta  i nfeiror  A1;  
EXE-­‐planta  s uperior  A2,  
Projeto  estutural-­‐áreas  de  
Serviço  (C1),  Projeto  estutural-­‐ 71 Ruim
Cobertura  Dormitórios  (C3),  
Projeto  estutural-­‐Armação  de  
lajes  nervuradas  esternosl  
(C10),  Projeto  estutural-­‐
Armação  de  l ajes  nervuradas  
central  (C11),  Projeto  
estutural-­‐Cobertura  (C11),  
Reformulacão  Marquise,  
Pavimento  I nferior  AP/Esgoto  
(H3),  I luminação  Elétrica

149 residência Sadao  Kayano Arujá 1981


150 residência Jayme  Gabriel RE  007 Lago  Azul    Condominio  Residencial-­‐   1981 Croqui,  Planta  Terreno,  Planta   10 Boa
Araçoiaba  da  Serra  (Sorocaba).  Lote   Loteamento,  Curvas  de  Nível   José  Roberto  
16  e  17 do  terreno,  EP-­‐  planta;   Soutello

151 residência Samuel  Rothenberg RE-­‐81-­‐007 Praia  de  Fortaleza.  Ubatuba  SP 1981 1993 EXE-­‐planta  pavimento   55 Boa José  Roberto   sim não
superior;  EXE-­‐cortes  A,  B  e  C;   Soutello
EXE-­‐planta  pavimento  térreo;  
EXE-­‐Ampliação  s anitários  e  
cozinha
152 edifícios   Rua  Vitorino  Carmillo,  São  Paulo,  SP 1982 currículo não
apartamentos  
153 industrias  e   Ampliação  de  Unidade   Sorocaba,  SP 1982 currículo
fábricas Industrial  Linhanyl  S.A.  
235

154 residência Martin  Georg   RE-­‐82-­‐004 Rua  José  Galdino  da  Silva,   1982 sim nao-­‐
Projeto  prefeitura;  EXE-­‐Planta  
Sushemihl Interlagos  -­‐  São  Paulo imagem  
pavimento  Térreo  A1;  EXE-­‐
google  
Planta  Superior  e  Cobertura  
maps
A2;  EXE-­‐Cortes  Transversais  
A3;  EXE-­‐Elevações  A4;  EXE-­‐
Detalhes  Sanitários  A5;  EXE-­‐  
22 Ruim
Detalhes  Cozinha  e  
Lavanderia  A6;  EXE-­‐  Detalhes  
Escada  A7;  EXE-­‐  Detalhes  
Gerais  A8;  EXE-­‐  Esquadrias  de  
madeira  A9;  EXE-­‐  Exteriores  
A10;  

155 shopping   Kobayashi  e   Rua  Ribeiro  Lacerda  s /n  c om   1982 1990 implantação  s ubsolo,  planta   não
center Oswaldo  Kasume   avenida  Abrahão  de  Moraes   -­‐   subsolo
Takata Jardim  da  Sáude planialtimétrico
156 residência Jorge  Gabriel RE-­‐83-­‐001 Sorocaba-­‐SP 1983 AP-­‐  planta,  elevação  frontal,  
corte,  elevação  l ateral,  AP-­‐  
5 Ruim
planta  i nferior  e  planta  
superior
157 concurso Concurso  Público  Nacional   Rio  de  Janeiro,  RJ 1984 folha  fachadas,  folha  plantas  -­‐ José  Roberto   não
para  Biblioteca  Pública .08  e  -­‐1.80,  folha  plantas+6.0   Soutello,  
e  c obertura,  folha  c om  c ortes,   Marcelo  
planta+4.80  e  +2,10 Conte,  
Olegário
158 concurso Concurso  Público  Nacional   Rio  de  Janeiro,  RJ 1984 José  Roberto   não
para  Memorial  “Getúlio   Soutello
Vargas”
159 edifícios   José  I smael   Edifício  de  Apartamentos   Rua  Volta  Redonda,  7 26 1984 planta  e  c orte  pavimento   não
apartamentos   Monteiro Duplex  de  José  I smael   inferior,  planta  e  c orte  
Monteiro pavimento  s uperior  (cópia)

160 residência Marco  Antonio   RE-­‐84-­‐001 Estrada  do  Japí  ,Jundaí,  SP 1984 1987 Planta  Expansão,  Planta  
Pilão Dormitórios,  Planta  AP/   6 Ruim
Esgosto,  
161 edifícios   Rua  Tupi,  2 59 1985 não
apartamentos  
162 Educacional CONESP Escola  Roseira  Parque Vila  Olivina.  Carapicuiba 1985 executivo-­‐implantação,  
plantas
cobertura
planialtimético
elevações
163 Educacional CONESP EEPG  Jardim  Sônia  Regina Praia  Grande,  SP 1985 currículo
164 residência João  Carlos  Posses RE  0 17 Ilhabela-­‐SP 1985 sim
EP-­‐Planta  térreo  e  Superior 1 Boa

165 residência Vilazio  Lellis RE-­‐85-­‐001 Rua  Alcindo  Brito,  São  Paulo,  SP 1985 José  Roberto   sim não
AP-­‐Cortes;  AP-­‐Perspectiva  
Soutello
Interna;  EP-­‐  planta;  EP-­‐  planta  
cobertura;  EXE-­‐  detalhe  Pisos;   46 Boa
EXE-­‐Armação  da  Piscina;  
Projeto  de  Prefeitura;  
236

166 unidade  basica   CDH-­‐Secretaria  do   Artur  Alvim 1985 estudo  preliminar
de  s aude Estado  de  Sao  
Paulo
167 concurso Concurso  Público  Nacional   São  Paulo,  SP 1986 Luigi   não
Secretaria  de  Agricultura  do   Villavechia
Estado  de  São  Paulo
168 edificio  de   Mario  Nicoli Estrada  do  Aeroporto 1986 plantas  hidraulica não
apartamentos
169 edifícios   João  Batista   1986 não
apartamentos   Pandeirada
170 Educacional CONESP EEPG  Jardim  Novo  Éden   Santa  I sabel,  SP 1986 plantas  pavto  terreo  e  
superiorimplantação  e  
terraplanagem
cobertura
casa  do  zelador
hidraulica-­‐distribuição  geral

171 Educacional CONESP Jardim  Almanara Vila  Brasilândia.  São  Paulo-­‐SP 1986 exe-­‐eletrica  2 °  e  3 °  pavito,  exe-­‐ Sim
eletrica  i mplantação
topografia
exe-­‐eletrica  1 °pavto-­‐zelador

172 industrias  e   Nicolas  Elias   Av.  Bogaert.64  Jd.  Saude,  São  Paulo,   1986
fábricas Haddad SP
173 industrias  e   Reforma  e   São  Paulo,  SP 1986
fábricas Ampliação  de  
Fábrica  Rudloff  
VSL
174 residência Francisco  Almeida   RE-­‐87-­‐005 Passargada,  Cotia-­‐SP 1986 1989 José  Roberto  
Prado   Estudo  preliminar  I I-­‐  Planta   Soutello
Pavimento  Superior-­‐Folha  2  e  
Estudo  preliminar  I I-­‐
Perspectiva;  Planta  Subsolo;  
Planta  Superior;  Esquadrias  
folha  0 1;  esquadrias  folha  0 2;  
18 Ruim
Cortes;  Planta  Superior-­‐
Alvenaria-­‐Executivo;  
Elevações;  Fundações;  Vigas  e  
Pilares;  Estutura-­‐  Fôrmas  -­‐  
Estutura  folhas  0 1,  0 2,  0 3  e  0 4  
e  memorial

175 residência Mario  Nicoli Casa  de  Hóspedes  no  Sitio   Jundiaí,  SP 1986
planta  preliminar  
Gramadão
apartamento  de  hóspedes;  
corte  a partamento  de  
hóspedes;  elevação  
apartamento  de  hóspedes;  
planta  de  i nstalações  
elétricas  a partamento  de  
hóspedes
237

176 Saúde CDH-­‐Secretaria  do   Unidade  Básica  de  Saúde   São  Paulo,  SP 1986 estudo  preliminar
Estado  de  Sao   UBS  Artur  Alvim
Paulo
177 Saúde CDH-­‐Secretaria  do   Unidade  Básica  de  Saúde   São  Paulo,  SP 1986 estudo  preliminar
Estado  de  Sao   UBS  Aurora
Paulo
178 Saúde CDH-­‐Secretaria  do   Unidade  Básica  de  Saúde   Mauá,  SP 1986 1987 estudo  preliminar
Estado  de  Sao   UBS  Jardim  Oratório
Paulo
179 Saúde Sistemas  de   Sistemas  de  Sinalização  de   São  Paulo,  SP 1986
Sinalização  de   Unidade  Básica  de  Saúde.
Unidade  Básica  de  
Saúde.  CDH  /  
Secretaria  da  
Saúde.
180 Centro  c ultural Prefeitura  de   Centro  de  Atividades    Presidente  Prudente,  SP 1987
Presidente   Comunitárias.  Vila  
Prudente,  SP Marcondes  –
181 Centro  c ultural Prefeitura  de   Centro  de  Atividades   Presidente  Prudente,  SP 1987
Presidente   Comunitárias.  Vila  Brasil  –  
Prudente,  SP
182 Centro  c ultural Prefeitura  de   Auditório  a o  a r  Livre  –   Presidente  Prudente,  SP 1987
Presidente   Prefeitura  Municipal.  
Prudente,  SP
183 concurso Menção  Honrosa  no   1987 José  Roberto   não
Concurso  Público  Nacional   Soutello
para  Paço  Municipal  e  
Centro  Cívico  /  Votorantim  –  
SP.
184 edifícios   Shahin  Cury Flat  Jardim  América Rua  Lisboa,  257Bairro  Jardim   1987 unidade  módulo  s imples,   não
apartamentos   América,  São  Paulo-­‐SP implantação,  a lternativas  
tipo,  vista  i nterna  duplex,  
perspectiva  galeria  i nterna,  
planta  unidade  duplex,  
elevações  -­‐  originais

185 Esportes Prefeitura   Ginásio  de  Esportes.   Presidente  Prudente,  SP 1987
Municipal  de  
Presidente  
Prudente,  SP
186 plano   Prefeitura  de   projeto  Cura  I II Vila  Marconde  e  Vila  Brasil,   1987 sim
urbanistico Presidente   Presidente  Prudente-­‐SP
Prudente,  SP
238

187 residência Paulino  Dalla   RE-­‐88-­‐001  Rua  das  Orquídeas,  Apiaí-­‐SP 1987 1990 projeto  preliminar  de  terra   126 Ruim sim
Libera planagem/EP,  planta  de  
locação/AP,  i mplantação/AP,  
planta  térreo/AP
planta  s ubsolo  e  c orte/AP,  
terraplanagem,  l ocação  de  
pilares,  Plantas  de  elétrica,  
esgoto  e  hisdúlica;  plantas  de  
fôrma  c obertura,  Locação  de  
sapatas,  a rmação  das  l ajes

188 agência   Banespa Agência  Bancária.  Banco  do   Rua  Duque  de  Caxias  -­‐   1988
bancária Estado  de  São  Paulo  S.A Pirassununga,  SP
189 conjunto   Kobayashi  Hab.  E   Rua  Europa,  quadra  2 4  -­‐  vila  Santa   1988 ep  planta  a partamento  tipo  I ,   sim
residencial Ind Luzia,  Bairro  do  Taboão.  São  Paulo-­‐ ep  planta  a partamento  tipo  I I
SP ep  planta  a partamento  tipo  I II
ep  planta  a partamento  tipo  I V
pref  i maplntação  c onj  
residencial  s anta  l uzia  l l
pref  l evantamento  
lpanialtimetrico  c onj  r es  s ta  
luzia  l l
prf  ed  tipo  A  plantas  c ortes  e  
fachadas  c onj  r es  s ta  l uzia  l l
pfr  ed  tipo  C  plantas  c ortes  e  
fachadas
ep  planta  tipo
prf  ed  tipo  B  plantas  c ortes  e  
fachadas  c onj  r es  s ta  l uzia  l l
prf  ed  tipo  D  plantas  c ortes  e  
fachadas  c onj  r es  s ta  l uzia  l l

190 edifícios   Kobayashi  Hab.  E   Edificio  Paulista Rua  Manoel  da  Nóbrega,  3 08  e  3 18.   1988 1990 exe-­‐planta  pavimento  tipo,   sim
apartamentos   Ind São  Paulo-­‐SP Exe-­‐planta  1 4°  pavimento,  Exe-­‐
planta  1 2°  pavimento,  Exe-­‐
planta  pavimento  tipo

191 galeria Sala  de  Exposições  FUNAP Rua  Tabapuã.  São  Paulo,  SP 1988
192 concurso Concurso  Público  Nacional   1989 José  Roberto   não
para  Habitação  Popular  –   Soutello
SEHAB-­‐COHAB  /  São  Paulo  
–SP
239

193 residência Alexandre  Enrico   RE-­‐90-­‐001 Avenida  Salomão  Luis  Faustino.   1989 1990 projeto  prefeitura,  EP-­‐plantas,   45 Ruim José  Roberto   sim
Silva  Figliolino Av.01,  l ote  0 6  quadra  E.  Praia   EP-­‐elevações,  EP-­‐planta   Soutello
Juquehy.  São  Sebastião escada,  Croqui  de  hidraúlica  
e  elétrica,  Térreo  e  edículas,  
planta  s uperior,  á reas  
molhadas,  detalhe  de  
esquadrias,  Planta  fôrma  
baldrame,  esgoto,  fôrma  do  
primeiro  piso,,  planta  de  
redes  gerais,  especificacão  de  
acabamento,  planta  de  
estrutura,  fôrmas  e  l ajes

194 residência Francisco  Almeida   RE  0 06 Sede  Sítio  Yvy  Aruã,  São  Roque 1989 EP-­‐Planta  Térreo,EP-­‐Cortes  e   12 Boa
Prado  e  Álvaro   Fachada,  EXE-­‐Planta  Térreo,  
Buono Planta  esquadrias

195 comercial Depósito  Mooca   São  Paulo,SP 1990


Ipiranga
196 conjunto   CODEISA-­‐   Bairro  Pirapitingui,  I tu-­‐SP 1990 projeto  prefeitura-­‐  planta   sim
habitacional Companhia  de   locação  estacas,  quadro  d  
Desenvolvimento   eáreas
de  I tu planta  de  a rruamento  e  
divisão  de  unidades
sistema  viário
197 conjunto   Liderança   Argon Sitio  Taguaruçu 1990 1991 estudo  c orte,  estudo  planta  e   sim
habitacional Capitalização corte
198 conjunto   Argon  Comércio  e   Conjunto  r esidencial   Itú,  SP currículo
1990
residencial Construção Cidade  Nova  I I  -­‐  Gleba  B
199 conjunto   Argon  Comércio  e   conjunto  r esidencial   Pirajussara,  SP 1990 currículo
residencial Construção Pirajussara
200 conjunto   Argon  Comércio  e   Conjunto  Residencial   Itapetininga,  SP 1990
residencial Construção Itapetininga
201 Edificio   Concurso  Público  Nacional   Rua  Major  Sertório  esquina  c om   1990 José  Roberto  
Corporativo para  Agência  Bancária   Rua  Bento  Freitas Soutello
Bradesco  e  Edifício  de  
Escritório
202 shopping   Kobayashi  Hab.  e   Rua  Ribeiro  Lacerda  s /n  c om   1990 não
center Ind.  do  Brasil  Ltda Avenida  Abraão  de  Moraes,  São  
Paulo,  SP
203 concurso IAB Concurso  Público  Nacional   Sevilha/  Rio  de  Janeiro,  RJ 1991 perspectiva  i nterna Celso   não
para  Pavilhão  do  Brasil  –   Pazzanese
Expo’  9 2,  Sevilha,  Espanha
204 conjunto   Kobayashi Habitacional  Diadema Diadema 1991 pré  executivo-­‐planta  tipo sim
habitacional
205 conjunto   OAS   Projeto  Aricanduva Avenida  Aricanduva,  São  Paulo-­‐SP 1991 estudo  preliminar não
habitacional Empreendimentos
206 conjunto   Liderança   Parque  Liderança  Norte Parada  de  Taipas  -­‐  São  Paulo,  SP 1991 EP-­‐plantas,  EP-­‐cortes,  EP-­‐ não
habitacional   Capitalização  S/A. elevações,  planta  c âmara  e  
fórum  0 3
240

207 conjunto   Monte  Mor  I Chácara  São  José 1991 sim


residencial
208 conjunto   Gaibú   Francisco  Pontin Jardim  Bom  Jesus,  Monte  Mor. 1991 sim
residencial  de   Empreendimentos  
interesse   Imobiliários
social
209 edifícios   Munir  Abbud Marginal  Pinheiros.   Bairro  Morumbi,  São  Paulo-­‐SP 1991 1992 lev  planialtimetrico não
apartamentos   Conjunto  Morumbi
210 Educacional UNISANTOS Concurso  Privado  para  CPD-­‐ Santos,  São  Paulo 1991 estudo  preliminar  plantas  1 ,   José  Roberto  
Edificio  de  I nformática estudo  preliminar  c ortes  e   Soutello
elevações  2 ,  

211 governo  federal Ministério  da  Aeronáutica 1991 projeto  executivo não

212 Interiores Escritórios   Av.  Rebouças  -­‐  São  Paulo,  SP 1991 currículo
Almeida  Prado  e  
Malheiros,  
Advogados
213 cemitério   cemitério  vertical  -­‐  Projeto   São  Paulo,  SP 1992 não
Celestial
214 edifícios   Edifícios  de  Apartamentos   Rua  Augusto  de  Toledo.  São   1993 não
apartamentos   Tropical. Bernardo  do  Campo,  SP
215 edifícios   Edificio  Alpargatas 1993 sim
apartamentos  
216 residência Fazenda  Bahia Fazenda  Bahia 1993 planta  estudo  preliminar,  
planta  edicula  estudo  
preliminar
217 universidade Anhembi  Morumbi Campus  I nterlagos-­‐1o   Bairro  I nterlagos 1994 não
projeto
218 universidade Anhembi  Morumbi Campus  I nterlagos-­‐2o   Bairro  I nterlagos 1994 não
projeto
219 edifícios   Kobayashi  Hab.  e   Edifício  de  Apartamentos   Alameda  Lorena,  1 74 1995 1996 fotos,   sim
apartamentos   Ind  do  Brasil  Ltda. por  Luis  e  Silvio  Meirelles.
220 universidade Anhembi  Morumbi Anhembi  Morumbi-­‐Campus   Brás-­‐SP 1995 1996 sim
Centro
221 Educacional FDE Jardim  Santo  André Bairro  do  I taquera,  São  Paulo,  SP 1997 AP-­‐cortes  AP-­‐  pavimento  
térreo
AP_planta  primeiro  
pavimento
AP-­‐planta  s egundo  pavimento
AP-­‐  planta  c obertura

222 concurso FDE Concurso  Público  Estadual   1998 Fernando  


para  I deias  para  Escola   Roque  
Estadual  –  FDE  /  São  Paulo Milliet,  
Ronaldo  
Takeshi  
Suzuki
223 conjunto  de   Condomínio  Residencial   Bairro  Taboão,  São  Paulo,  SP 1998
residencias Casa  Santa  Luiza
241

224 concurso Concurso  Público  Nacional   Margens  Rio  Tietê,  São  Paulo,SP 1999 Fernando   não
para  Reestruturação   Roque  
Urbana  e  Paisagística  das   Milliet,  Luis  
Marginais  dos  Rios   Cláudio  
Pinheiros  e  Tietê  c om   Araújo,  
projeto  do  Palácio  das   Maria  Helena  
Nações Flynn
225 residência Sérgio  Chimelli RE  009 Alameda  Curitina,  n.  193.  Quadra  9,   1999 Croqui,  EP-­‐Planta  térreo;  EP-­‐ 41 Boa sim
lote  9  -­‐  Alphaville.  Residencial   Planta  s uperior;  detalhe  
Santana  de  Parnaíba,  SP escada;  EP-­‐Planta  de  
cobertura;  Croquis  edicula;  
projeto  de  prefeitura;    

226 universidade Anhembi  Morumbi Campus  Alphaville Alphaville,  Barueri-­‐SP 1999 não
227 universidade Anhembi  Morumbi Campus  Rua  Casa  do  Ator Rua  Casa  do  Ator,  275.  São  Paulo-­‐SP 1999 2001

228 Educacional FDE Adequação  a  NBR  5090  -­‐  EE   Barretos,  SP 2001 levantamento  
Profº  Prof.  Dorival  Teixeira planialtimétrico,  exe-­‐
implantação
estudo  preliminar
atualização  c adastral
229 Educacional FDE Adequação  a  NBR  5090-­‐EE   Barretos,  SP 2001 implantação,  a tualização  
Aymoré  do  Brasil cadastral
230 Educacional FDE Adequação  a  NBR  5090  EE   Juquitiba,  SP 2001
Profº  Jorge  Nino  Soares
231 Educacional FDE E.E.P.G.  Jardim  Estoril  I II. Jardim  Estoril.  São  Bernardo  do   2001
Campo,  SP
232 Educacional FDE Adequação  a  NBR  5090  E.E.    Av.  31  de  março.  N°111. 2002
Oredo  Rodrigues  da  Cruz.
233 Educacional FDE Escola  FDE  Poá Poá,  SP 2002 2005 projeto  executivo,  c roquis,   sim sim
apresentacao
234 artes  c ênicas Peça  teatral  Cadeiras SI sim
235 concurso CEF Caixa  Economica  Federal São  Bernardo  do  Campo SI não
236 concurso IAB Proposta  Nacional  Nucleo   Campinas-­‐SP SI Plano  diretor  planta  geral  01,  
Urbano  de  Campinas modulo  pioneiro  planta  geral  
02
memorial  descritivo  06  a  08

237 concurso Jardim  Botanico Rio  de  Janeiro-­‐RJ SI planta  plataforma  F4 não
238 conjunto   Bradesco  e   SI não
comercial Schahin  Cury
239 conjunto  de   residencias  enseada RE  022 Jardim  Virginia,  Praia  da  Enseada SI Topografia,  I mplantação,   20 Boa
residencias Plantas,  estudos
242

240 conjunto   Hugo  Eneas   loteamento  -­‐  Parque  Savoy   Rua  Demerval  de  Fonseca  -­‐   SI implantação/s.festas/zel/port   parci
residencial Salomone City Aricanduva 01/04,  plantas  e  c ortes   al
prefeitura
implantação  /s.  festas/  
zel/port  0 1/03
blocos  e  i mplantação  s em  
titulo
levantamento  
planialtimetrico  0 3/03
241 conjunto   Kobayashi Condominío  Júlia Rua  Alda,  8 82.  Diadema-­‐SP SI sim
residencial
242 conjunto   Kobayashi 3°  l ago-­‐Jaceguava SI
residencial
243 conjunto   Vila  Ayres Itapetiniga-­‐SP SI sim
residencial
244 conjunto   praia  das  pedras  brancas São  Vicente,  SP SI
residencial
245 edificio   Zaidan  Engenharia SI sim
comercial
246 edifício   Edifício  Ofal Avenida  Paulista SI estudo  preliminar acho  
comercial q  
não
247 edificio  de   Mario  Pereira   habitação  de  i nteresse   Rua  Barreto,  7 7.  Mooca-­‐SP SI projeto  de  prefeitura  c om  
apartamentos Mauro  e  c ia social  de  i niciativa  privada plantas,  c ortes  e  fachadas

248 edificio  de   JFG/Tecno.. Bairro  do  Morumbi SI estudo  preliminar  planta  tipo  
apartamentos 01,  estudo  preliminar  planta  
tipo  0 2
249 edificio  de   edificio  4  pavimentos   Campos  de  Fora SI
apartamentos campos  de  fora
250 Edifício  de   Kobayashi   Condominio  Arujá Arujá SI
Apartamentos   Habitacional  e  
Industrial  do  
Brasil
251 edifícios   Espolio  Serna   Rua  Djalma  Ribeiro  Franco.  Bairro   SI não
apartamentos   Carmelo Vila  Mascote.  São  Paulo-­‐SP
252 edifícios   Renato  Ferreira   Avenida  Rebouças  ,  n  1 598.  São   SI planta  s ubsolo,  terreo,  1 o  a o   não
apartamentos   Bastos Paulo 10o  a ndar  e  c obertura  PREF,  
fachada  principal  e  
transversal,  c orte  AA  e  c orte  
BB
253 edifícios   Shahin  Cury Modular SI Estudo  preliminar não
apartamentos  
254 edifícios   Avenida  A.  Arruda  Pereira SI estudo  preliminar  -­‐
apartamentos  
255 edifícios   Rua  Sagres SI ?
apartamentos  
256 edifícios   Sorocaba SI não
apartamentos  
257 edifícios   Rua  E.P.  Barros  c om  Avenida  Faria   SI não
apartamentos   Lima.  São  Paulo-­‐SP
243

258 edifícios   Apartamento  Conselheiro SI sim


apartamentos  
259 Educacional CONESP Escola  Jardim  I pê  I II Mogi-­‐Guaçu SI casa  do  zelador
260 Educacional CONESP Escola  Lago  Azul Franco  da  Rocha SI detalhes  1  a  18
261 Educacional CONESP Escola  Vila  I sabel V.  Paraiso,  Guarulhos SI corte  A,  fundações
262 fábrica Interplastic SI esquema  funcional
263 industrias Mario  Nicoli-­‐ projeto  de  r eforma Av.  do  Estado  5200.  Cambuci SI projeto  de  prefeitura-­‐planta  
Metalurgia  I nd.   situação
Petracco-­‐Nicoli  AS
264 intervençao Minhocão Elevado  Costa  e  Silva.  São  Paulo-­‐SP SI (embelezamento) não
265 intervenção Intervenção  Bela  Vista SI não
266 reforma Petracco   Rua  Bento  Freitas,  306 SI sim
Arquitetos
267 reformas IAB Rua  Bento  Freitas,  306.  São  Paulo SI sim
268 residência Carlo  Babini RE  019 Parque  Silvino  Pereira SI Planta  Térreo;  Fachada 2 Boa
269 residência Dalton  Pereira RE  021 Ibiuna,  SP SI planta  i nferior,  planta   5 Boa
superior,  c orte  transversal,  
planta  s ubsolo

270 residência Dalton  Pereira RE  001 Recanto  Lagoinha.  Ubatuba SI croqui,  topografia,   13 Ruim não  
implantação,  EP-­‐planta  térreo  
,  EP-­‐planta  c obertura,  terreno,  
croquis  plantas

271 residência Guilherme  May   RE  005 Rua  Gualberto-­‐Jardim  Morumbi.  São   SI planta  topografica,   10 Muito  r uim sim
Zaidan Paulo-­‐  SP anteprojeto  planta  s ubsolo,  
anteprojeto  planta  térreo  n /3  ,  
perpectiva  n3,  s ubsolo  n3,  
corte  n3,  terreo  n3,  mezanino  
n3,  s uperior  n3,  s uperior  n3,  
superior  s /n,  c orte  fachada

272 residência José  Aparecido   Praia  da  Fortaleza,  Ubatuba SI


Prado
273 residência Luciano  Krubusly Alameda  Himalaia,  123-­‐Tamboré   SI
Residencial  2B
274 residência Luis  Lucio   Jardim  Virginia.  Lote  5,  quadra  11. SI
Constabile  I zzo
275 residência Luis  Lucio   Rua  Pirassununga   SI
Constabile  I zzo
244

276 residência Marcelo  Machado   RE  0 03 Passargada,  Cotia-­‐SP SI EP2-­‐  térreo  etapa;  EP2-­‐ 6 Cópias não
(ou  Fernando   pavimento  s uperior  etapa  2 A  
Araújo) 4;  EP2-­‐planta  garagem;  
memorial  descritivo  1  e  2 ;  EP2-­‐
planta  pavimento  s uperior  
etapa  5 ;    EP2-­‐corte  
longitudinal  etapa  5 ;

277 residência Mauricio   RE  0 02 Rua  Andronico,  8 2,  Jardim  da   SI Desenhos  PRE-­‐Execução  


Henriques/   Glória,  São  Paulo Vistas  e  Cortes;  Desenhos  PRE-­‐
construtora  l ynx Execução  Planta  baixa  
pavimento  Superior;  PRE-­‐
Execução  Planta  baixa   8 Ruim
pavimento  Térreo;  PRE-­‐
Execução  Planta  baixa  
pavimento  I nferior;  

278 residência Michel  Efeiche RE  0 11 SI Croquis,  i mplantação,  planta   5 Muito  boa não
superior  e  elevação  frontal
corte  transversal,  e,  elevação  
lateral

279 residência Nelson  Huffel RE  0 10 Rua  Mundo  Novo,  Botafogo,  RJ SI locação  fundações,  planta  de   9 Boa
fôrmas  das  estruturas,  planta   Renato  
de  fôrmas  das  fundações Carrieri

280 residência Nilton  Gomes   RE  0 13 Rua  4 76,  l ote  4 5,  quadra  D,  Módulo   SI Plantas,  c ortes,  fachadas,   17 Boa
Monteiro D  2 1  -­‐  Riviera  de  São  Lourenço,   perspectivas
Bertioga,  SP
281 residência Olacyr  de  Moraes RE-­‐75-­‐007 Rua  das  Paineiras,  1 01 SI planta  térreo;  perspectiva;   8 Ruim
planta  térreo  2 ;  planta  térreo   José  Roberto  
3;  c roquis  c om  c asa  c olonial Soutello  e  
Nelson  Morse

282 residência Paulão Casa  em  Ubatuba RE  0 12 Ubatuba-­‐SP SI não


EP-­‐cortes  e  fachada;  EP-­‐planta  
3 Boa
térreo;  EP-­‐planta  s uperior

283 residência Roberto  T.  Gabriel RE  0 04 Jânio  da  Silva  Quadros  Praia  de   SI levantamento   2 Boa sim
Siriúba  -­‐  I lhabela-­‐  SP plsnialtimétrico,  planta  
José  Roberto  
pavimento  s uperior,  projeto  
Soutello
prefeitura,  planta  pavimento  
térreo,  
284 residência Ubarajara  Souza   RE  0 06 F,  Rua,  Lotes  1 3  e  1 4,  Quadra2-­‐   SI Projeto  de  prefeitura  para   7 Ruim José  Roberto  
de  Almeida Jardim  barro  Velho.  I lhabela-­‐SP construção  de  duas   Soutello
residências;levantamento,  
planialtimétrico,  projeto  de  
prefeitura,  planta  de  
hidraúlica  e  planta  de  elétrica
245

285 residência Rua  Araraquara,  bairro   SI


Jordanópolis,  São  Bernardo  do   EP-­‐Planta  térreo  e  Superior
Campo-­‐SP
286 residência Rancho  W ania RE  023 SI EP-­‐Planta  térreo,  c ortes,  
7 Ruim
Fachadas
287 sede   Construtora  Beter Rua  João  Tibiriça  e  Rua  Botucos   (Av.   SI
construtora   Anhanguera,  Campinas)
288 shopping   Shopping  e  escritórios Rua  j osé  Cianciarelo  c om  Rua  Dante   SI planta  garagem  EP,  pavimento   PPMS não
center  e   Baliston-­‐  Osasco terreo  EP
escritórios   planta  1o  e  2o  pavimento  EP
planta  tipo  EP
corte  l ongitudinal  EP

289 telecomunicaç prefeitura Estação  de  telefones   Pedro  de  Toledo-­‐SP SI sim
ões
290 concurso Concurso  Público  Nacional   São  Paulo,  SP Fábio   não
Recuperação  do  c omplexo   Petracco,  
Prisional  do  Carandiru Fernando  
Roque  Milliet
265

ANEXO 03: DEPOIMENTO DE FRANCISCO PETRACCO

Pergunta Angela: Petracco, o que a sua formação no Mackenzie


contribuiu para a elaboração de sua forma de projetar?
Bom, sob vários aspectos. Primeiro devo em grande parte ao professor de
desenho, professor Pedro Corona, pintor, não era arquiteto mas foi protagonista
fantástico para a formação de vários arquitetos que se destacaram no Mackenzie,
onde aprimorava desenho, a observação, a crítica, a forma. Depois, com os
professores de arquitetura, principalmente devo mais ao engenheiro Roberto
Zuccollo, que nos dava aula de cálculo e nos incentivava a fazermos uma soltura
sempre mais elegante. Também tínhamos uma influência grande de Oswaldo
Bratke, formado no Mackenzie e que às vezes vinha aqui e também era uma pessoa
muito detalhista nos seus projetos. Eu tive até oportunidade de ser amigo do seu
filho mais velho, Roberto. E também deveríamos citar alguns professores de
desenho também, de arquitetura, como Suzuki, grandes aquarelistas... Então o
desenho era uma essência muito forte na nossa linguagem. E isso eu tive sorte de
ter um pouco de prática de desenho desde criança com meu avô. Fui aluno do
Dante Alliguieri, professor Vicente Mecosi, grande desenhista também, pintor, que
pintou várias igrejas em São Paulo. E assim tive essa oportunidade de ter formação
no Mackenzie.
Eunice: Então você acha que a sua formação no Mackenzie ela era ao
mesmo tempo estética e artística e material e forte em estrutura? Você diria
isso dessa formação?
Com certeza, com certeza. Deve-se isso inclusive ao professor Cristiano das
Neves que montou essa faculdade embora estivesse com alguns problemas
pessoais, sendo um pouquinho radical em seus pensamentos ele tinha uma visão
externa muito boa embora inclusive se a gente fazer uma arquitetura de estilo
neoclássico ou clássico até; ele formou um quadro muito bom de professores aqui. E
o Mackenzie felizmente, naquele tempo, e diria até um pouco infelizmente hoje, não
se dava tanta ênfase ao contextualismo do projeto na sua paisagem. A parte de
materialização era muito profunda. Então desde o começo do curso a gente sempre
fazia detalhamento, ia à obra... Tinha laboratório do SENAI, onde a gente ia botar a
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mão na massa (literalmente). A materialização das idéias era muito forte aqui no
Mackenzie.
Eunice: A gente ta falando muito do Mackenzie, mas por exemplo, na
época em que você se formou e que estudou, a cidade estava fervilhando de
obras modernas e no Rio de Janeiro a coisa corria solta, quer dizer, você tinha
grandes obras já construídas no Rio de Janeiro com arquitetura moderna.
Como é que isso tudo se fazia presente na elaboração e na formação da forma
de projetar de vocês? Você acha que o momento histórico em si contribuiu
para você desenvolver uma forma específica de projetar?
Com certeza. Não reiterando as pessoas do Mackenzie, mas o Mackenzie
tinha como diretor que acabei de falar, Cristiano das Neves que quase que forçava
as pessoas a fazerem projetos com uma linguagem clássica, como a Sala São Paulo
hoje, antiga Sorocabana, projeto dele, a gente usava isso como um paradigma da
linguagem corbisiana contra essa linguagem que ele nos obrigava. Isso também era
uma busca... Exato. A FAU por exemplo, tinha pessoas muito mais voltadas ao Alvar
AAlto, uns arquitetos assim que não nos aprofundávamos muito aqui. A gente ficava
muito mais no nível de Corbisiano e por conseqüência, Oscar Niemeyer.
Eunice: Vocês tinham então uma forte relação com a obra de Oscar...?
Sim. E até por essa visão um pouco “fascista” do professor Cristiano a gente
era quase um antiparadigma, de buscar, de procurar essa linguagem libertina assim,
ou libertaria, quer dizer...(correção da entrevistadora) É... até um pouco libertina
também porque (...brincadeira e risos. Detalhes em 5:47).
Eunice: E vocês desafiavam mesmo o Cristiano aqui dentro a trazer
projetos modernos?
Com certeza. O Cristiano fazia um critério, a rigor, como bom arquiteto que
era, ele sabia distinguir um bom projeto de um mau projeto. Então os bons projetos,
quando ele gostava, quando ele achava que era de boa arquitetura, embora não
com a linguagem dele, ele dava uma nota que você passava de ano. Baixa, mas
suficiente para passar de ano. Ele dava um jeito de você ser desestimulado ou
castigado um pouco por essa perseverança de seguir isso, mas ao mesmo tempo
ele sabia que pouca gente era reprovado com causa disso. As notas eram dadas
assim tipo... Chama-se “grandes composições” no quarto e no quinto ano e
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“pequenas composições” no segundo e terceiro ano. E ele então dava essa aula pra
gente no segundo ano. Eu lembro que fiz uma casa no Pacaembu, que eu fiz uns
painéis meio Portinarescos na parede e ele achou aquilo coisa de louco, me
xingou... (risos).
Angela: Das residências, qual a mais significativa e por quê?
É uma pergunta difícil porque eu gosto de todas. Sempre se faz com muito
coração. Evidentemente que acho mais as primeiras que eu fiz com muito afeto.
Aquela primeira que eu fiz como recém formado, nem formado eu estava, de
Ubatuba. Muito singela, muito simples, que tinha uma linguagem muito próxima à
Oswaldo Bratke. Aquelas venezianas de piso ao forro, os painéis...E depois a casa
do Izo, porque fui muito feliz nela, consegui colocar toda aquela minha poesia da
natureza... Aquela casa tem uma história singela. Meu pai gostava de ficar longe das
pessoas, a gente sempre se retirava e ia pra praias ermas, que era uma praia muito
erma naquele tempo, não existiam nenhum dos condomínios que hoje existem lá. E
a gente fazia então os retiros propriamente. Meu pai ficava com a minha mãe. Meu
irmão já tava mais velho, saía com os amigos e eu ia com eles, olhando os riachos
da praia da enseada, as dunas que existiam na encosta, aquele sol fortíssimo. Daí
apareceu a idéia da duna, aquela grande cobertura que seria como a tenda como
meu pai colocava no automóvel pra gente se proteger do sol. Então quase coloquei
a minha meninice de praia naquele projeto. Então mostra muito; e pela singeleza
dela. Um traço que define a casa.
Você gosta dessa casa devido à plástica, à forma, à relação com a
paisagem ou à uma indissociação entre tudo isso e a estrutura?
Se não for cabotinismo responder dessa forma, eu acho que por causa de
tudo! Porque ela engloba desde esse elemento paisagístico que, vamos dizer, foi a
fonte da criação. E tive a sorte também a sorte de fazer uma bela plástica na forma e
na distribuição dos espaços, formando um espaço muito singelo, diria até conciso,
porém de muita liberdade, de muita transparência. Me satisfaz em todos esses
aspectos.
Angela: Qual o sentimento que você tem em relação à tua obra na
indissociação entre estrutura, forma e espaço?
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Eu acho que a estrutura é sempre a protagonista principal de um espaço. O


próprio homem é formado por um esqueleto, gerado pela mãe, que define se ele é
alto, se ele é baixo, se ele é mais atracado, mais esbelto. Acho que a estrutura
nasce sempre com o projeto. Não existe um bom projeto sem uma boa estrutura. E
vice e versa.
Angela: Quais dos seus projetos que caracterizam melhor essa
indissociação? As casas, os concursos, outras obras?
É... As obras mais, tipo assim, edifícios, nesse tipo de obra é mais difícil você
colocar a linguagem mais aberta, mais livre, porque sempre vai ter um programa,
tem uma volumetria, tem uma postura legal das leis municipais, estaduais, federais
que te levam pra um volume quase que pré-estabelecido. Ao passo que numa casa
isso é muito mais fácil porque ela nasce de uma conformação e da harmonia que
você quer dar ao espaço e ao seu entorno. O concurso, também, dependendo do
tema isso também é possível. Num museu, num centro cultural, num pavilhão de
exposições, onde não existe essa rigidez de edifícios de escritório, edifício de
habitação. Mesmo as obras mais emblemáticas desse tipo, mais livres, do Sergio
Bernardes, como ele fez aquele prédio de casas altas, que ele faz o edifício e deixa
os espaços fluírem na parte de baixo de acordo com quem comprar ou adquirir;
mesmo assim ele ta limitando uma área de X por Y. Ao passo que numa casa de
praia o universo é o teu entorno, então é muito mais livre.
Angela: Sobre o Artigas na sua obra? Qual é a influência das obras
dele?
Paradoxalmente também o Sr. Zuccolo. Porque como o Artigas usava, em
grande parte a estrutura como protagonista, e o Zuccolo também incentivava isso,
aprendi também com Oscar Niemeyer. O Artigas tinha uma rigidez por ser inclusive
engenheiro arquiteto, talvez como ele mesmo falava, a técnica com estética. Então,
usar o cálculo estrutural a favor da forma e a forma a favor do espaço e da forma. Se
você pegar por exemplo os pilares do prédio da FAU, uma esbeltez fantástica. Se
você pegar os pilares do grupo escolar dele, de Guarulhos, com aquela forma das
mísulas e das inclinações do pilar pra que as bases fossem menos pesadas, mas
simples, com menos espaço e depois aumentarem formando essas mísulas e essas
inclinações transformando em vãos menores e finalmente também diria na estação,
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na rodoviária, que até fiz um para a casa do Vilázio Lellis, onde tem uma alusão se
reportando àquele pilar que ele fez, fantastico. Isso me fez também ter um ponto de
apoio muito firme, muito forte. Até porque ele sabia muito bem colocar uma coisa, eu
sempre cito que na arquitetura advem, como Oscar Niemayer falava , e também
dizia muito da nossa história. Se você pega uma casa popular brasileira autêntica
você tem sempre três alas. A de serviços, a da moradia, e a social. E você vê que
vários projetos do Artigas tem essas alas. Guarulhos são alas que de um grande
vazio, de grande sociabilidade, onde acontece o recreio, o galpão, a vivência dos
alunos. A FAU idem. E ele tinha uma noção muito fantástica, muito forte que advem
desde uma casa que ele fez para o Oduvaldo Vianna, grande dramaturgo. Pai de
Oduvaldo Vianna Filho, autor de A Grande Família. Onde nessa casa no Pacaembu,
não sei se existe ou foi demolida, uma grande rampa tomando quase todo o espaço
da sala. A rampa como protagonista de um espaço e não apenas como um percurso
de audiometória à sala. Coisa também na FAU ou em vários lugares, tendo ela como
protagonista e não como mero elemento de circulação.
Angela: As referências que você tinha ou que você fazia na tua obra...As
referências eram sempre próximas, contemporâneas ou você buscava
referências do passado?
Eunice: Ou você não tinha nenhum juízo de valor pré concebido em
relação à isso e você aceitaria qualquer referência?
Olha... Eu era muito vagabundo. Embora muito estudioso. Ou o contrário, sei
lá. Então era um paradoxo. Eu sempre busquei muito, procurei muito usar a forma. E
eu conheço muito mais por exemplo, Frank Lloyd mais velho do que quando era
jovem. E hoje eu falo puxa vida!.. (entrevistadora: Interessante a obra do passado
né?). Então, por exemplo, Toscano e eu éramos muito amigos, o próprio Abrahão
Sanovicz. Eu conhecia todas as histórias, todos os arquitetos... E eu era meio vadio
nesse ponto. Eu era muito revista revista revista revista e eu riscava muito.
Angela: E essas revistas eram nacionais, internacionais?
Pouquíssimas existiam no Brasil. Era a Acrópole, a Arquitetura Brasileira, a
AB, do Eduardo Galhardo, pouquíssimas. Então a maioria era Oscar Tours
d’Aujourd’hui, a Domus.
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Eunice: E que outros arquitetos brasileiros, por exemplo rastreando na


Acrópole, te encantavam naquele período além do Osvaldo Bratke que você
citou, que é daqui?
Eu te diria Oscar Niemeyer, Oscar Niemeyer, Oscar Niemeyer.
Eunice: Nenhum paulista? Você tinha produção aqui de outros
arquitetos que estava trabalhando em São Paulo por exemplo o Ortemblad,
que é mais ou menos seu contemporâneo? Esses arquitetos nunca te
chamaram a atenção?
Não me fascinavam muito não. Inclusive, até o próprio Bratke depois que eu
comecei a me libertar um pouquinho.. O Artigas disse uma coisa muito interessante.
Não se acanhe de você copiar. Você tem que estudar pra saber quais arquitetos que
você se apóia mas não se canse e não se vexe de copiar bons projetos. Você
depois com a idade, 35, 40 anos você vai se libertando e vai fazer a tua linguagem.
Eu tinha visto a escola de Itanhaém, dele que eu acho uma referência muito
importante, que é pequena, concisa. E quando fiz aquele projeto da...
Eunice: E a obra do Rino Levi, não te chamava a atenção? Em São
Paulo?
Isso é uma questão um pouquinho política muito feia que vou te fala depois.
Voltando à minha solidão. Quando fiz a escola de Tatuapé eu fui ver a escola do
Artigas que foi inauguração de Guarulhos, eu fiquei admirado pela semelhança que
tinha minha obra com a dele. Eu lembro que até conto na minha tese que eu cheguei
em casa meio que de foguinho, embriagado e fui acordar minha mãe: “Mãe, eu sou
arquiteto!” Naquela época tinha feito 1 ano de formado, tinha feito aquela obra de 20
salas de aula e tinha uma linguagem muito semelhante à do Artigas que eu vinha
buscando assim, na base da sensibilidade. Digo eu, e não na base da profundidade
estudiosa ou coisa assim. Você vai dizer: “você está se sentindo um pouquinho
primitivista à auto formação?” Ué acho que tem um pouco do hábito da linguagem do
artista, meu pai é músico, meu vô é arquiteto então sempre busquei o belo, tinha
muito quadro do meu avô, estudava Botticelli, Leonardo, dos italianos todos, gosto
muito do Michelangelo. Temos respeito pelos irmãos Roberto, eles fizeram um belo
prédio na Avenida Paulista. Eram muito discutidos, eu lembro que um dos prédios
dos irmãos Roberto se chamava “tem-nego-bebo-aí”, porque ele torcia num pedaço
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assim, parecia que estava meio errado. Também o Reidy, tenho o maior respeito por
ele. Mas também fui tomar mais conhecimento das obras dele depois estudando, do
que quando a gente... O Reidy foi uma obra assim, muito emblemática. O Reidy era
um cara que a gente aprendeu a gostar desde muito cedo a apreciar, o Museu de
Arte Moderna do Flamengo, mais tardia, mas enfim.
Eunice: Mas você se apóia muito na obra de Oscar porque você na
verdade admirava a liberdade plástica formal dele?
É... O Oscar como todo bom profissional tem que saber escolher os seus
pares. E ele fazia isso como ninguém. Ele tinha só amigos, caras como calculista
Joaquim Cardoso...
Eunice: Você conheceu o Oscar pessoalmente?
Muito pouco, muito pouco. Ele vivia muito mais no Rio, não gostava de vir a
São Paulo. Mas tive a sorte de ter amigos do Oscar Niemeyer como amigos. O
Eduardo Corona trabalhou com o Oscar no IV Centenário. Era muito amigo do
Professor Eduardo Corona, que foi inclusive meu primeiro professor de orientação
da minha tese de doutorado. Outra pessoa também que fazia esse vínculo. Não sei
se isso é meio cabotinismo de falar mas tinha um pouco desse empirismo meu de
regorgitar um pouquinho a forma do desenho.
Eunice: Então é essa a junção mesmo entre os aspectos estruturais e
construtivos é a procura de uma liberdade formal...
Com certeza.
Eunice: Mas você acha que tem diferença entre a sua obra, apesar de ser
muito influenciada por Oscar Niemeyer? Que diferenças existiriam? O que
você apontaria? O que é Petracco mesmo tendo uma grande admiração pelo
Oscar e pela liberdade formal que o Oscar tem? É essa da estrutura, da
materialidade que faz a diferença?
Mas ele também tinha... Acho que é um pouquinho de se apoiar em uma
pessoa e depois criar sua linguagem que é um pouco diferente. Pode ser próxima.
Eu tinha certa influência do Paulo Mendes, eu estagiei com ele inclusive. E hoje ele
faz mais em caixotes, eu sou um cara mais da forma... Mas isso é da minha
formação, meio abarrocada, talvez, e por esses italianos que estudava muito..Tinha
quadro em tudo que era lugar... A primeira vez que eu fui no Ufizzi em Florença
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sentei e chorei de emoção em ver o quadro, eu pequeno e meu vô explicando o


zéfiro, a primavera, os personagens do quadro.
Eunice: Então a tua obra é fruto de todo esse processo, todas essas
referências e que fazem parte desse caldo histórico do momento que você
estudou e trabalhou...
Eu queria estudar música mas meu pai pediu que eu largasse arquitetura por
causa da música. Eu nunca faria isso. Mas como ele largou da música pra ir
trabalhar, e se arrependia de ter ido trabalhar. Ele achava que música o deixou
muito frustrado com essa coisa de ter abandonado a música. Mas eu sempre fui de
ouvir muita música indo aos concertos desde criancinha, as vezes forçadamente.
Eunice: Só uma última curiosidade. Você fala muito da questão
corbuseiana que vocês teriam trazido como contraponto ao Cristiano uma
arquitetura corbuseriana. Vocês olhavam para outros arquitetos estrangeiros?
Então, como eu disse pra você, a FAU era mais eclética, olhava para Alvar
Aalto...
Eunice: Esses arquitetos não eram citados por vocês?
Muito pouco no Mackenzie.
Eunice: Vocês não conheciam na época por exemplo a obra de um
Right, de um Aalto?
Sim. A gente respeitava, mas não era digamos assim o nosso paradigma. Era
mais assim, realmente, um Corbusier. Como ele era um cara mais representativo na
ocasião, deve tratar ele como bandeira, digamos assim né, um pouquinho.

São Paulo, 18 de junho de 2015


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ANEXO 04: DEPOIMENTO ARQUITETO JOSÉ ROBERTO


SOUTELLO

1) O que sua formação no Mackenzie contribuiu para a sua elaboração


em projetar?
Preciso desfazer aqui uma pequena confusão. Eu não cursei o Mackenzie,
me formei na FAU-USP em 1972. Quem se formou no Mackenzie em 1939 foi o meu
pai, que foi professor de “Construção” nos anos 40 e com quem aprendi muito desde
pequeno.
2) Em que ano você se formou e quais os colegas marcantes com quem
você convive ou trabalhou durante ou logo depois a graduação?
Como ia dizendo acima, entrei na FAU em 1968 ainda na Rua Maranhão.
Durante a Faculdade montei meu primeiro escritório com Cristina Castro Mello, Júlio
Artigas, Rita Vaz e Luís Carlos Daher. Depois dividi um escritório com Marcos
Acayaba, Cristina Toledo Piza e Francisco Fuzetti de Viveiros (o Maranhão). Nesta
época participei também de alguns projetos com Pedro Paulo Saraiva como: a ponte
de Florianópolis, o concurso do Curitibão, o concurso do Plateau Beaubourg (hoje
Centro George Pompidou). Depois deste, em 1971, o escritório estava sem serviço.
O Acayaba casou (com a Marlene que eu levei para trabalhar no concurso), a
Cristina foi pra Bahia, o Maranhão foi fazer música e eu resolvi procurar um
emprego. Saí para a rua e encontrei minha amiga Maria Helena Flynn que me disse:
“passa no Xiko (Petracco) que ele esta procurando alguém.” Dai para frente virou
História.
3) O momento histórico durante tua formação contribuiu para forma de
se projetar?
Põe histórico nisso! No primeiro ano já peguei o fórum de 1968 na FAU. Já
entrei de cheio na discussão do método e do ensino do Projeto. Fiquei amigo do
Atrigas, vi nascer o que hoje chamamos de “Paradigma Artigas do ensino da
arquitetura”. Veio o AI 5, o velho foi cassado, a FAU virou uma bagunça. A
repressão era pesada e vitoriosa. O jeito foi enfiar a cara no trabalho e fazer dele a
luta. Nunca fomos tão utópicos. Projeto era política, ensino era política, boteco era
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política. Imagina o que era ter como interlocutor diário (e Mestre) o Xyko: sonhador e
poeta nas ideias e nas formas, ácido na crítica e politico 24 horas por dia.
4) Quais arquitetos que te encantavam? Nacionais ou estrangeiros?
Você costumava a estudar novas soluções ou novos referencias para
arquitetura e para a estrutura?
É certo que eu curtia os velhos mestres paulistas: Pillon, Heep, Rino , Bratke
e principalmente o Artigas, foi visitando obras dele que me decidi pela arquitetura. O
Oscar estava brilhando pelo mundo e é claro a gente acompanhava de perto. Mas
as influências mais importantes estavam muito próximas, era um privilégio. Todo dia
acabava em “happy hour” no IAB ou no Clubinho com o Paulo Mendes o Fábio
Penteado e o Teru, frequentemente o Eurico Prado Lopes, o Pedro Paulo, o Renato
Nunes, o Bira Gigliolli e toda a Escola Paulista. Quando comecei a dar aulas em
Santos o círculo se completou: Abraão, Décio Tozzi, Toscano, Mauricio Nogueira
Lima, Ruy etc.
5) Como e quando você conheceu o arquiteto Francisco Petracco?
Como a sociedade entre vocês foi dada, desde que ano?
Creio que me adiantei nas respostas anteriores, estou lendo e respondendo
uma de cada vez para manter o clima de entrevista. Comecei como colaborador na
Major Sertório 88 mas rapidamente fizemos coisas importantes, o NEI Santo Inácio,
O Centro Cultural e Esportivo de SBC etc. A cumplicidade foi instantânea a parceria
foi construída na luta, dinheiro curto, clientes difíceis, equipes que iam e vinham. No
final estávamos lá sempre os dois.
6) Das residências que vocês projetaram e construíram juntos, quais a
mais significativas e porquê?
Pergunta difícil. Cada Projeto é uma história e as casas são o laboratório, é a
nossa maneira de pesquisar, de exercitar a invenção ao extremo. Cada uma
estabelece uma relação diferente, às vezes surpreendente mas sempre muito
pessoal. Algumas até doídas. Até mesmo as que não foram executadas deixaram
sua história. Eu era tímido, muito contido, aprendi a voar alto com o Xyko na Myke
Raci. Sobrou apenas uma maquete e a certeza de que cresci muito. As mais
prazerosas por alguma razão, para mim, foram as de praia: Vicente Izzo, Chico
Almeida Prado, Pedro Marrey, Samuel Rothenberg, Jimmy Gabriel. O maior desafio
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foi a Vilazio Lelis, abusamos da imaginação e depois assumimos tudo: projeto,


cálculo, instalações e a construção. Claro no balanço final o maior sucesso foi a
Vicente Izzo e seus prêmios.
7) O que prevalecia na concepção do projeto, a plástica, a forma, a
relação com a paisagem ou uma indissociação entre tudo isso com a
estrutura?
Sem dúvida em cada projeto tudo isso e indissociável, mas o mais importante
é a invenção, a surpresa que deve encantar. Vem primeiro na conceituação e
construção do espaço. O NEI Santo Inácio, por exemplo, não tem formas
especialmente elaboradas, mas sobra em conceito e invenção. No entanto, a busca
da expressão tridimensional da forma sempre tem sua importância; as curvas por
exemplo. A inesquecível imagem do Xyko soterrado em dezenas de folhas de
manteiga com variações obstinadas da mesma curva. Nunca desistiu antes da
perfeição. Depois vinha a transpiração, transformar o gesto em geometria e a
geometria em construção.
8) Quais dos seus projetos caracterizam melhor essa indissociação:
casas, concursos, clubes?
Não tem regra para isso. Não é a escala ou a relevância social do projeto que
vai determinar a perfeita coesão da solução. Às vezes pode vir do sítio, de uma
circunstância particular ou fortuita. O importante é que independente do destino da
obra, no instante da criação a gente sempre dá o melhor de si.
9) O que você e o Petracco tinham em comum e incomum? Como dava a
colaboração ao outro?

O que temos em comum construímos conversando diariamente fosse sobre


arquitetura, pessoas, ouvindo o último disco comprado, tomando um gole e
sobretudo trabalhando. O que não tínhamos em comum garantiu a dialética
indispensável às coisas que fizemos. Incomuns, somos, com certeza, como todos os
que se dedicam à invenção.

Pederneiras, 22 de junho de 2015

J.R.Soutello

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