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BETÃO BRANCO: fabrico, características e utilização estrutural

Adão da Fonseca, António* e Nunes, Ângela**

* Engenheiro Civil, AFA - Consultores de Engenharia, Lda.


Professor Catedrático da FEUP
** Engenheiro Civil, Responsável pelo Laboratório de Betões da SECIL, SA

Comunicação apresentada nas


as
2 Jornadas de Estruturas de Betão
Comportamento em Serviço de Estruturas de Betão
Porto, 24 de Abril de 1998

Organizadas pelo Departamento de Engenharia Civil da


Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto

BETÃO BRANCO

1) particularidades mais importantes do seu fabrico


- componentes
- condições de colocação em obra
- desmoldagem.

2) características mecânicas

3) utilização estrutural.

1 - FABRICO

1.1 - Materiais constituintes

1.1.1 - Cimento

O cimento branco é um cimento Portland: apresenta um comportamento idêntico ao dos seus


homólogos cinzentos, mas existem algumas diferenças ligeiras.
Quadro 1 – Comparação entre cimentos brancos e cinzentos

CARACTERÍSTICAS QUÍMICAS

ENSAIOS QUÍMICOS CLASSES DE CIMENTO


BR II - 32,5 R II - 32,5 BR I - 42,5 R I - 42,5

Perda ao fogo P.F. (%) 7,17 6,66 3,20 2,87


Resíduo insolúvel R.I. (%) 0,24 3,16 0,28 2,70
Sílica SiO2 (%) 19,47 20,52 21,65 21,60
Alumina Al2 O3 (%) 3,42 4,71 3,71 5,40
Óxido de ferro Fe2 O3 (%) 0,26 3,13 0,27 3,20
Cal CaO (%) 65,73 59,61 66,88 59,80
Magnésia MgO (%) 0,25 1,96 0,28 1,86
Sulfatos SO3 (%) 2,81 2,50 3,10 2,75
Dióxido de potássio K2 O (%) 0,48 0,70 0,69 0,00
Dióxido de sódio Na2 O (%) 0,10 0,11 0,14 0,00
Cal livre (%) 2,64 0,96 2,36 0,72

CARACTERÍSTICAS FÍSICAS

ENSAIOS FÍSICOS CLASSES DE CIMENTO


BR II - 32,5 R II - 32,5 BR I - 42,5 R I - 42,5

Massa v olúmica (g/cm3 ) 3,05 3,11 3,07 3,12


2/
Superfície específica (cm g) 4420 3300 4200 3800
Tempo de presa ao ar (min.)
Princípio 60 136 57 135
Fim 92 220 89 280
Expansibilidade (mm) 0,01 0,16 0,01 0,5
Brancura 84,8 30,7 84,0 29,4

CARACTERÍSTICAS MECÂNICAS

ENSAIOS Idade CLASSES DE CIMENTO


MECÂNICOS BR II - 32,5 R II - 32,5 BR I - 42,5 R I - 42,5

Resistência à 2 dias 21,4 17,1 28,5 26,8


compressão 7 dias 34,2 28,7 43,2 39
(MPa) 28 dias 47,4 38,9 56,6 51,6

Resistência à 2 dias 4,1 3,5 4,8 5,7


flexão 7 dias 5,8 5,3 6,8 7,6
(MPa) 28 dias 7,3 6,9 8,0 8,9
Quanto às características físicas, existem duas diferenças directamente relacionadas entre si:
finura e início de presa. Os cimentos brancos são em geral mais finos e apresentam uma maior
superfície específica (Blaine). Consequentemente, os cimentos brancos são mais reactivos em
contacto com a água.

Ainda por cima, o gesso utilizado no seu fabrico é, necessariamente, branco, quase sempre já
em forma desidratada, pelo que a sua eficiência como regulador de presa é inferior, agravando mais
um pouco aquele comportamento.

Com uma maior finura do cimento surge uma maior resistência mecânica, nomeadamente nas
idades jovens. Por outro lado, sendo o cimento constituído por partículas de menores dimensões, a
quantidade de água necessária para a aquisição de uma determinada trabalhabilidade é superior, o
que, caso não sejam tomadas medidas alternativas, poderá acarretar um aumento da porosidade e da
retracção plástica destes betões.

Simultaneamente, é mais rápido o desenvolvimento do calor de hidratação, comparativamente


com os cimentos cinzentos de igual teor em aluminato tricálcico no clinquer. Esta situação deverá ser
compensada através de medidas de protecção, de modo a evitar-se que peças de maiores dimensões
possam vir a fissurar pelos gradientes térmicos gerados.

A brancura do betão branco é um parâmetro essencial de avaliação da sua qualidade. De


facto, o esforço desenvolvido tem-se revelado frutífero e é bem evidente no gráfico da figura 1.

A cor branca deve-se à quase ausência de óxidos pigmentantes, tais como os óxidos de ferro,
de crómio e de alumínio, entre outros. É então facilmente previsível a correlação entre a diminuição
daqueles teores e a brancura do cimento. Assim, todo o esforço colocado na lavagem dos calcários e
na sua pureza, nas contaminações provenientes dos caulinos brancos, nas areias, no processo de
moagem de cru e de cimento e nas contaminações industriais de transporte, armazenagem e
distribuição, conducentes à diminuição daqueles teores, reflecte-se directamente naquele parâmetro
de qualidade.

Evolução das características colorimétricas do Cimento Branco


Brancura Óxidos CIBRA
1992 78 0,4
86 1995 82 0,3 0,5
1996 84 0,28
1997 85 0,25
84
0,4
% de Óxidos Pigmentantes
Índice de Reflectância

82
0,3

80

0,2
78

0,1
76

74 0
1992 1995 1996 1997
Datas

Brancura Óxidos pigmentantes


Figura 1 – Evolução da brancura do cimento branco

1.1.2 - Inertes

Os inertes são o constituinte maioritário do betão e desempenham um papel primordial na sua


qualidade. Os requisitos normalmente exigidos para o betão cinzento em peças estruturais são em
geral válidos para o betão branco, mas a Especificação LNEC 373 – Verificação da Conformidade
de Inertes – referida pela ENV NP 206 é pouco exigente no teor permitido para os finos (argilas) e
materiais solúveis (matéria orgânica), quando aplicada a betões brancos.

De facto, uma areia com um teor de finos inferior a 3%, de acordo com a NP 86, é aceitável
segundo aquela Especificação, mas os requesitos de homogeneidade de cor do betão branco pedem
um controlo mais apertado daquele teor. Com efeito, a utilização de areias com teores variáveis até
aquele valor conduzirá a oscilações importantes da tonalidade do betão branco que afectará a
homogeneidade da cor nos paramentos das peças.

É sabido que as exigências de qualidade das superfícies dos paramentos são atingidas através
do correcto dimensionamento e opacidade da espessura da camada de pele do betão. Nos betões
cinzentos, a opacidade desta camada é facilmente conseguida, sendo a camada essencialmente
constituída por partículas de cimento. Mas nos betões brancos, a espessura da camada de pele terá
de ser superior (ver figura 2) e faz todo o sentido a utilização de fíleres, quer por razões de ordem
económica quer por razões de ordem técnica, pois uma excessiva dosagem em cimento implica maior
calor de hidratação e maior risco de fissuração.

Contudo, a tonalidade dos fíleres vai influenciar consideravelmente a tonalidade dos betões
brancos, no quadro 2 evidenciando-se o seu efeito na capacidade do betão em reflectir a luz,
denominada por índice de reflectância e determinada a partir de medições colorimétricas em que ao
branco puro corresponderá um índice de reflectância de 100.

Figura 2 – Efeito de parede


Quadro 2 – Variação do índice de reflectância

Variação do Índice de Reflectância em Função da


Natureza do Fíler
Betão com dosagem de 380 kg/m 3 de cimento Br I 42,5
Cofragem em contraplacado marítimo
Idêntica dosagem de fíler

Tipo de Fíler Índice de Reflectância

Calcário 73

Silicioso 78

Mármore 82

A natureza do fíler é também importante, porque se o material de origem tiver uma maior
absorção (caso dos calcários), o fíler aumenta a tensão superficial e a coesão do betão, absorvendo o
excesso de água livre libertada aquando da vibração. Assim se minimiza a tendência para a migração
de finos, que muito danificam o paramento, conforme se verifica na fotografia 1.

Os inertes grossos, designadamente as britas, têm um papel menos relevante, podendo


assumir cores mais escuras. Contudo, a tonalidade destes materiais tem de ser considerada ao
dimensionar a espessura da pele do betão, a qual terá de absorver os sombreados provenientes dos
inertes escuros. Evidentemente, por questões de ordem económica e na presença de variedade de
cor, os inertes grossos de cor clara terão vantagens pois permitirão uma diminuição da espessura da
pele, portanto da quantidade de elementos finos: cimento e fíler.

Fotografia 1 – Paramento danificado pela migração de finos durante a vibração

Em síntese, importa utilizar inertes bem lavados ou de características homogéneas no referente


aos teores de argilas e de matérias orgânicas. É aconselhável, no caso de betonagens de elementos de
grandes dimensões ou que possam constituir um conjunto importante na aparência da obra, prever-se
a armazenagem de quantidades de materiais suficientes como forma de garantir a sua homogeneidade.

1.1.3 - Adjuvantes

Actualmente, os adjuvantes desempenham um papel cada vez mais importante no fabrico e


aplicação dos betões. O betão branco não é excepção e, atendendo às características específicas do
cimento, já enunciadas anteriormente, torna-se mesmo imperativo utilizar adjuvantes para garantir uma
consistência fluida para uma correcta aplicação do betão. Com efeito, a manutenção dessa
consistência durante tempo suficiente para a aplicação em obra e as necessidades de obter um betão
compacto, com baixas relações de água/cimento, de modo a garantir-se uma boa durabilidade e
resistência, requerem a utilização de dosagens de adjuvante superiores às normais.

Assim, a utilização de fluidificantes é plenamente justificada, devendo-se incorporar produtos


preferencialmente incolores, pois a quantidade de fluidificante a introduzir já é importante e poderia
afectar negativamente a cor do betão.

O uso de retardadores no betão branco é também quase sempre necessário para controlar o
rápido início da presa do cimento branco. A dosagem habitual varia entre 0,3 e 0,6%, em função do
produto e do fabricante, devendo-se, para cada caso, avaliar qual a dosagem necessária para
compatibilizar a manutenção das trabalhabilidades necessárias com a velocidade das betonagens.
Desta forma evitam-se defeitos superficiais graves, como sejam a formação de juntas de betonagem,
bem visíveis na fotografia 2 e motivadas por espera não compatível com a perda de trabalhabilidade
do betão da primeira camada, o qual não pode depois ser homogeneizado com o betão da camada
superior.

Fotografia 2 – Junta de betonagem formada por falta de homogeneização do betão

1.1.4 - Armaduras

O estado da superfície das armaduras tem a maior relevância para a qualidade dos
paramentos das peças em betão branco, porque as películas destacáveis de óxido migram
rapidamente para a pele superficial do betão fluido, contaminando-a. Assim, é fundamental ter os
maiores cuidados na limpeza e armazenagem das armaduras.
A protecção das armaduras de espera é também necessária, pois, em ambiente húmido,
bastam algumas horas para as armaduras oxidarem e surgirem escorrências desagradáveis sobre as
superfícies já betonadas. Essa protecção é frequentemente conseguida pela pintura das armaduras de
espera com tintas epoxídicas ou à base de poliuretanos. Em muitas situações, caso a importância da
obra justifique ou na dificuldade prática de pintura das armaduras de espera, é possível proceder à
protecção generalizada das armaduras através de tratamentos à base de hidroepóxis ou outros.

De qualquer modo, perante a sensibilidade da superfície de um paramento de betão branco, é


necessário ter cuidados especiais no correcto posicionamento das armaduras e é prudente
aumentarem-se os recobrimentos habituais. Com o objectivo de estudar este requisito, determinou-se
laboratorialmente a penetração de cloretos em dois betões (um branco e outro cinzento) de iguais
dosagens e com igual trabalhabilidade, tendo-se obtido os resultados apresentados na figura 3.

Na verdade, as diferenças encontradas devem-se essencialmente às diferentes porosidades


dos betões, directamente relacionadas com a relação água/cimento utilizada para ser conseguida a
mesma consistência com a mesma quantidade de adjuvante, pois nestas circunstâncias o betão branco
necessita de mais água. A solução correcta consiste em aumentar a quantidade de adjuvante na
produção de betão branco e manter a quantidade correcta de água, mas na obra poderá haver
tendência a utilizar a mesma dosagem de adjuvante para ambos os betões, de que resultará uma
degradação precoce do aspecto do betão branco por corrosão das armaduras. Sendo assim, então
será prudente aumentar o recobrimento das armaduras.

0.45
0.4
0.35
0.3
teor em Cl- (%)

0.25
0.2
0.15
0.1
0.05
0
0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4
profundidade em mm

betão branco betão corrente


limite NP 206 (betão armado) limite NP 206 (betão pré-esforçado)

Figura 3 – Perfis de penetração de cloretos, determinados em betões branco e cinzento


(cimentos Br I 42,5 e I 42,5 R) com dosagens de 300 kg/m3 e de composição
e trabalhabilidade idênticas, embora diferindo no ligante utilizado

Em conclusão, atendendo aos resultados obtidos para iguais circunstâncias de difusão de


cloretos, o recobrimento das armaduras deverá ser aumentado em cerca de 1 cm, de modo a
“acertar” as diferentes velocidades de penetração registadas.

1.2 - Materiais acessórios

1.2.1 - Cofragens
A cofragem é um verdadeiro negativo de extrema precisão que marca definitivamente o
paramento das peças em betão aparente desmoldado. No caso do betão branco, a sua importância
torna-se primordial e todos os cuidados na sua concepção, tratamento, aplicação e desmontagem são
determinantes. No quadro 3 destaca-se a diferença de cor branca obtida com cofragens metálica e
em contraplacado marítimo, obtida para o mesmo betão e por via de medições colorimétricas.

Quadro 3 - Comparação da cor obtida com cofragens distintas

BETÃO B35/15 FLUÍDO


Fíler de mármore e dosagem de 400 kg/m 3 de cimento Br I 42,5

Tipo de Cofragem Índice de Reflectância Índice de Brancura

Metálica 77 53
Contraplacado 84 69

A escolha do tipo de cofragem a utilizar dependerá essencialmente do tipo de peças a betonar


e do tipo de acabamento pretendido. No caso de betão aparente desmoldado, é fundamental
assegurar a qualidade das superfícies e portanto tem de haver grande rigor na definição da
estereotomia e na vedação das ligações entre painéis das juntas, de modo a evitar a perda de leitada.
A utilização de mastiques, silicones e juntas de borracha é então imprescindível. Um exemplo de
sucesso deste tipo de procedimentos é o do Pavilhão do Conhecimento dos Mares, construído no
recinto da Expo 98 e a que se refere a fotografia 3.

Fotografia 3 – Pavilhão do Conhecimento dos Mares em construção

Simultaneamente, e face aos impulsos da betonagem, que poderão condicionar a própria


velocidade de betonagem, há que estudar para cada caso a deformabilidade do sistema de cofragem
e a sua estrutura de suporte.
A cofragem metálica permite a betonagem de peças mais arredondadas e torneadas, e a sua
maior resistência e rigidez assegura, em geral, uma maior capacidade para absorver os impulsos do
betão fluido. Assim se evita o surgimento de deformações nas peças, especialmente de maiores
dimensões, e se torna mais aceitável aplicar a vibração directamente no molde, o que beneficia a
qualidade do acabamento superficial. Claro, a durabilidade da cofragem metálica é outra vantagem
evidente.

Porém, a limpeza e manutenção deste tipo de cofragem é difícil, caso não esteja prevista uma
grande rotatividade, sendo notório o efeito negativo resultante da sua oxidação superficial. As
contaminações tingem a pele em profundidade (pelo menos em 2 mm) e deixam marcas quase sempre
difíceis de apagar (ver fotografias 4 e 5). Assim sendo, em muitas situações justifica-se o revestimento
da cofragem com chapas de aço inox, com evidentes vantagens de custo/benefício.

Fotografia 4 - Aspecto geral da mancha à Fotografia 5 - Corte transversal da


superfície contaminação por ferrugem
visto no microscópio óptico
A cofragem em contraplacado marítimo é realizada em sistemas mais aligeirados, associados a
uma maior versatilidade e economia relativa. Havendo baixa rotatividade dos moldes, estes sistemas
podem ter vantagens económicas importantes. Claro, a qualidade do contraplacado aplicado e do
respectivo tratamento fenólico irão condicionar o acabamento final, pois o tratamento referido tem de
ter um comportamento estável perante o hidróxido de cálcio libertado pelo betão fresco. Na
fotografia 6 apresenta-se um exemplo de contaminação pelo fenol.

Fotografia 6 - Efeito da contaminação pelo fenol

Existe ainda uma gama de outras possibilidades que permitem a obtenção de texturas
superficiais diversas, indo até à superfície de aparência cerâmica. As cofragens em fibra de vidro,
acrílicas e os elastómeros proporcionam resultados que merecem ser explorados pelos Arquitectos e
Engenheiros, apresentando-se na fotografia 7 o caso interessante da construção em curso da Catedral
de Barcelona, em que se respeita o projecto de António Gaudi mas se utiliza betão branco. Todavia,
estes sistemas somente são viáveis em peças especiais ou de pequenas dimensões, e de preferência
com grande rotatividade, como ocorre na préfabricação.
Fotografia 7 - Pormenor da Catedral de Barcelona

1.2.2 - Desmoldantes

A utilização de desmoldantes correntes à base de óleos minerais é completamente


inadequada, pois manchariam de imediato a superfície do betão. Pelo contrário, as ceras parafínicas,
aplicadas em película fina e contínua e com auxílio de uma pistola, parecem ser os produtos mais
adequados. As suas propriedades tenso-activas permitem a atracção das partículas mais finas para a
superfície, facilitando a libertação do ar à superfície e a colmatação desses vazios.

1.2.3 - Espaçadores

A selecção do tipo de separadores a utilizar é bem sabido ser também importante, no caso do
betão branco só sendo possível assegurar uma máxima continuidade de cor se eles forem igualmente
em betão branco e de formas estudadas para o fim em vista. Os espaçadores em plástico branco
poderão ser uma alternativa, mas os primeiros apresentam a vantagem de serem mais rígidos e de
garantirem maior apoio, sendo pois mais eficazes no posicionamento das armaduras.

1.3 - Tecnologia de execução

Um requisito básico é a existência de instalações convenientes para a armazenagem dos


inertes, de modo a evitar contaminações. Por outro lado, para se obter uma coloração homogénea do
betão, a central deve ser de via húmida e garantir a mistura correcta dos constituintes do betão, sendo
utilizada exclusivamente no fabrico do betão branco.

Após todos os procedimentos cautelares referidos, não faria sentido correr riscos de
contaminação com a utilização de material de transporte e bombagem em condições de deficiente
limpeza. Se o volume de obras o possibilitar, este material deve ser colocado ao serviço exclusivo do
betão branco.

A colocação do betão fluído deverá ser sempre executada em camadas com espessuras não
superiores a 50 cm, pois de contrário o peso próprio da camada de betão não permitirá, mesmo com
uma vibração forte, a libertação das bolhas de ar que se deslocaram para as faces laterais.
A vibração tem de ser preparada e executada com especial cuidado, pois é bem sabido ser
uma tarefa de grande importância para a obtenção de bons resultados finais. Ela deverá ser aplicada
de forma contínua ao longo da peça e, de modo a garantir a homogeneidade das diferentes camadas
aplicadas, com um correcto posicionamento. Para isso pode ser necessário dispor simultaneamente de
um número relativamente elevado de unidades de vibração.

Na fotografia 8 apresenta-se um exemplo de marmoreado devido à deficiente


homogeneização do betão.

A preparação antecipada e devidamente estudada de todas as operações de betonagem é


absolutamente imprescindível, avaliando-se bem os meios materiais e humanos que tem estar
envolvidos e quais os meios auxiliares necessários para que as condições de trabalho sejam as
apropriadas e assim não surjam dificuldades não previstas.

Uma obra em betão branco aparente desmoldado exige um empenhamento especial de todos
os envolvidos, sendo fundamental que os intervenientes estejam bem conscientes da importância da
sua função e das implicações que o seu mau desempenho terá na falência do trabalho. A execução de
protótipos pode ser a única via para, além de permitir o treino das diversas tarefas, conseguir que
todos tomem consciência desse facto.

Fotografia 8 - Marmoreado devido à deficiente homogeneização do betão

Em peças de grande valor arquitectónico e desde que se encontrem reunidas as condições


enumeradas anteriormente, é preferível proceder-se, sob risco controlado, à betonagem dessas peças.
De facto, a betonagem por troços deixará, por muito cuidada que seja a preparação das juntas,
sempre defeitos inestéticos passíveis de não terem solução, para além de assim se adulterar o
objectivo de conseguir uma imagem de monolitismo escultórico que afinal só é passível atingir, em
grande escala, com este material.

Foram estes os procedimentos seguidos na obra do Pavilhão do Conhecimento dos Mares,


onde só após a consciencialização e preparação de todos foi possível proceder a operações de
betonagem como a apresentada na fotografia 9.
Fotografia 9 - Operação de betonagem da parede/viga do lado Nascente do
Pavilhão do Conhecimento dos Mares

1.4 - Desmoldagem, cura e protecção superficial

O controlo da retracção plástica e o conhecimento das variações de temperatura no interior


da massa de betão e no exterior condicionam muito os tempos de cura e desmoldagem das peças a
betonar. Assim, é importante, especialmente no caso de peças mais sensíveis, estarem disponíveis
dados laboratoriais que permitam avaliar a preponderância destes factores e decidir, em cada caso, o
momento mais conveniente para se proceder àquelas operações.

Em termos de resistência e de retracção plástica, é sabido que a cura do betão beneficia de


uma desmoldagem tão tardia quanto possível, mas é também conhecido que a permanência do molde,
sobretudo na presença de humidades, favorece extraordinariamente o surgimento de manchas nos
paramentos, sendo pois, nesta perspectiva, conveniente desmoldar-se o mais rapidamente possível. A
compatibilização destes dois factos opostos tem ser avaliada perante cada caso e em função da sua
importância relativa.

O processo mais fácil para manter boas condições de humidade durante a cura continua a ser
a água corrente, preferencialmente aplicada de uma forma tão difusa possível. Em situações em que tal
não aconteceu, ocorreram manchas de escorrências devidas à diferenciação das superfícies onde a
água escorreu, provavelmente devido à diferenciação dos graus de hidratação da pele do betão. As
membranas de cura testadas até à data conduziram igualmente à formação de manchas e à alteração
da cor do betão.

Uma grande vantagem do betão aparente desmoldado reside nos seus baixos custos de
manutenção, os quais se resumem quase sempre a uma lavagem com jacto de água de intensidade
controlada, geralmente com auxílio de soluções de limpeza. Contudo, verifica-se que uma protecção
superficial à base de hidrófugos de superfície assegura uma durabilidade de boa aparência ainda mais
duradoura.

Existe uma gama variada de famílias químicas para estes produtos, tendo cada uma delas
particularidades próprias, permitindo a obtenção de diversos efeitos superficiais. Os silanos e
siloxanos permitem manter as superfícies tal e qual, sem alteração de cor, enquanto que os produtos à
base de resinas acrílicas e fluoretadas podem dar toques acetinados ou até mesmo corrigir deficiências
de homogeneidade de cor.
2 - CARACTERÍSTICAS

2.1 - Composição

Atendendo à importância da qualidade, opacidade, homogeneidade e brancura da superfície


aparente do betão, o estudo da composição destes betões necessita de uma abordagem ligeiramente
diferente da habitual, pois, como foi referido, o teor de finos a incorporar de modo a atingirem-se os
objectivos pretendidos é bastante superior.

No caso do Pavilhão do Conhecimento dos Mares, em que o objectivo era a obtenção de um


betão apenas de brancura média (índice de reflectância ≥ 78), mas homogéneo e quanto possível
económico, fez-se aliás um grande esforço para encontrar materiais locais. Quanto aos elementos
mais finos, optou-se pela utilização conjunta do cimento Br tipo I 42,5, por dar maior garantia de
homogeneidade de coloração, de um filer calcário fabricado a partir de calcários da região de Lisboa,
com dimensão máxima de 150 microns, e, finalmente, de uma areia siliciosa lavada, muito branca, da
região de Coina, vulgarmente utilizada para estuques. Os restantes inertes foram os habitualmente
utilizados no fabrico de betões correntes, evidentemente de qualidade compatível, isto é, areias
siliciosas lavadas e britas calcárias.

No quadro 4 apresenta-se a composição utilizada, podendo constatar-se haver uma dosagem


substancialmente superior de elementos finos, comparativamente aos betões correntes.

Quadro 4 – Composição utilizada no betão branco do Pavilhão do Conhecimento dos Mares


Cimento kg/m3 380
Fíler calcário kg/m3 70
Areia branca fina kg/m3 320
3
Areia grossa kg/m 440
3
Brita calcária kg/m 1050
Fluidificante para betão branco % do peso de cimento 1,5
Retardador de presa % do peso de cimento 0,4
Relação água/cimento 0,43

2.2 - Betão fresco

O Pavilhão do Conhecimento dos Mares obrigou a algumas betonagens cuja grande


importância e grande volume exigiu um estudo cuidado das características do betão no seu estado
fresco, de modo a compatibilizar a manutenção das trabalhabilidades com os ritmos impostos pela
Central disponível (35 m3/hora) e com a deformação admissível para as cofragens. Assim,
estabeleceu-se que a betonagem se devia processar por camadas de cerca de 30 a 40 cm de altura e
a um ritmo de cerca de 60 cm de altura total por hora (2 camadas por hora), o que obviamente
implicou garantir as trabalhabilidades por um período de cerca de 45 minutos, de modo a assegurar
com alguma margem de segurança a correcta homogeneização das camadas.

Na figura 4 representa-se o estudo efectuado para determinar a dosagem de retardador a


utilizar, em função dos condicionalismos referidos. Todo o betão foi aplicado com “slumps” de 18 +-
2 cm no início da betonagem, no final da betonagem exibindo ainda valores superiores a 14 cm.
0,3 0,4 0,5 0,6
0 18 18 18 19
30 14 T1 5r a b a 1l6h a b i l1 7i d a d e a o l o n g o d o t e m p o
60 10
90 7B 3 5 / 1108 5 F l . -11 20 P a v i11l52h ã o C o n h e c i m e n t o d o s M a r e s
120 6 7 8 10
20
18

16

14
slump (cm)

12

10

8
6

4
2

0
0 30 60 90 120
minutos Nota:
- Dosagem de cimento: 380 kg/m3
0,30% Ch E 0,40% Ch E 0,50% Ch E 0,60% Ch E - Fluidificante: Chrysofluid M40 - 1,5 %

Figura 4 – Estudo de trabalhabilidade do betão fresco

Um outro controlo importante das características do betão fresco prende-se com a constância
da dosagem de água utilizada. Assim, a variação da dosagem de água durante o fabrico deverá ser
mínima e todos os restantes factores que envolvem a produção deverão ser tão estáveis quanto
possível de modo a garantir-se homogeneidade de tonalidade ao longo da peça betonada.

2.3 - Betão endurecido

O quadro 5 mostra as características mecânicas médias do betão branco aplicado no


Pavilhão do Conhecimento dos Mares, bem como os valores expectáveis para a retracção aos 28
dias de idade e para o módulo de elasticidade dinâmico e os índices de reflectância atingidos após a
desmoldagem da cofragem de contraplacado marítimo.

Como se verifica, e como consequência das resistências mecânicas elevadas destes cimentos
e das dosagens importantes presentes nas composições, estes betões exibem elevadas resistências
mecânicas logo às primeiras idades.

No tocante à aparência das superfícies desmoldadas, foi possível obter-se uma aparência
homogénea, com índice de reflectância médio de 80.

O sucesso da aplicação de betão estrutural aparente desmoldado branco apenas tem de


passar o teste do seu comportamento ao longo do tempo. Com vista a encontrarem-se algumas
respostas para esta questão, elaborou-se um programa de ensaios de envelhecimento acelerado que
permitisse avaliar o comportamento do betão sujeito à envolvente de características marítimas do
recinto da Expo 98, portanto razoavelmente agressiva. Este programa ainda não chegou ao termo,
porém podem referir-se alguns dos resultados já obtidos e que aliás foram tidos em conta no próprio
estudo da composição e na tomada de uma série de medidas construtivas já referidas.

Quadro 5 – Características do betão branco endurecido aplicado no


Pavilhão do Conhecimento dos Mares

Características do betão branco endurecido


Resistência à compressão
1 dia 22,5 MPa
2 dias 30,0 MPa
7 dias 40,0 MPa
28 dias 49,8 MPa

Resistência à flexão aos 28 dias 5,8 MPa

Retracção aos 28 dias 0,37 mm/m

Módulo de elasticidade dinâmico aos 28 dias 48 950 MPa

Índice de reflectância 80

Os ensaios efectuados em câmaras de nevoeiro salino, com soluções de sulfato de sódio,


permitiram concluir que o comportamento destes betões não se afasta consideravelmente do
verificado em betões correntes de idêntica porosidade.

Os ensaios de absorção capilar foram igualmente bastante satisfatórios e, mais uma vez,
confirmou-se a sua relação directa com a porosidade dos betões, isto é, a relação água/cimento.

Todavia, sendo betões de grande reflectância e expostos directamente à vista, interessava que
eles mantivessem, o máximo possível, uma aparência limpa e homogénea. Efectuaram-se então
estudos com famílias de hidrófugos de superfície à base de silanos e siloxanos, pois pretendia-se que
o betão se mantivesse sem qualquer alteração de cor após a aplicação destes produtos. Estes estudos
visavam, por um lado, conhecer o efeito directo da sua aplicação sobre a superfície de betão, e, por
outro lado, conhecer o envelhecimento desse efeito após a exposição a 800 horas de radiação UV
em Câmara Climática. Os resultados obtidos para a absorção capilar após o ensaio de
envelhecimento foram muito idênticos aos inicialmente encontrados, não se tendo detectado alteração
de cor dos provetes, nomeadamente amarelecimento. No quadro 6 encontram-se os valores
determinados.

Quadro 6 – Resultados comparativos da absorção capilar verificados em betões com e sem


aplicação de hidrófugos de superfície

ABSORÇÃO CAPILAR
Betão B35/15 Fluído

Produto Absorção capilar Altura de ascensão capilar


(g/mm2 ) (mm)

Sem produto 0,010 58,8


Família de produtos A 0,00013 6,5
Família de produtos B 0,0041 10,5

3 - UTILIZAÇÃO ESTRUTURAL
3.1 - O material estrutural como material arquitectónico

Será argumentável afirmar que as mais belas obras de engenharia de estruturas e as mais belas
obras de arquitectura são-no sempre em simultâneo, mas não pode deixar de se concordar que
qualquer daquelas artes só se pode expressar plenamente se se desenvolverem em paralelo e de uma
forma coordenada, em que os objectivos e requisitos de ambas são encarados como complementares
duma grande arte comum. Até ao século XIX, essa arte comum legou-nos obras magníficas em que a
estrutura e a arquitectura se confundem, talvez nas catedrais se encontrando o expoente máximo
dessa dualidade. Com o alargamento dos conhecimentos chega a especialização, e a arquitectura, arte
dos espaços e da componente plástica da construção, é separada da engenharia, que chama a si os
conhecimentos técnicos e tecnológicos dessa mesma construção. Esta dicotomia tem nuances diversas
nos variados países, mas em Portugal ela tem frequentemente assumido uma separação exagerada e
prejudicial para ambas.

A engenharia de estruturas não pode evitar nem a realidade dos materiais existentes nem a
realidade física em que a construção é materializada, e deve encontrar no espírito artístico a inspiração
para a solução original que cada concepção possibilita, tal como a arquitectura não pode evitar nem a
realidade do local e do programa de uma construção nem a realidade técnica e tecnológica existente,
e deve encontrar no espírito científico o rigor necessário ao desempenho eficiente da sua arte.

O betão será a pedra artificial que possibilitará à arquitectura a moldagem livre e artística da
estrutura visível, e, no sentido inverso, possibilitará à engenharia trabalhar na arte das formas, mas só
o betão aparente desmoldado, isto é, com a aparência visual tal como surge após a retirada dos
moldes, é que conseguirá em pleno tais objectivos. Por outro lado, betão aparente significa
minimização dos pesos próprios dos elementos não estruturais, isto é, maximização da rentabilidade
estrutural dos elementos construídos. E se se encarar a dimensão dada pela cor, concordar-se-á que
é no branco que está simultaneamente a limpeza de cor e a riqueza de ser a síntese de todas as cores.
Nesta perspectiva, o betão branco é um material de construção que combina características
estruturais e arquitectónicas que possibilitam soluções de construção de extraordinária pureza e
eficiência.

3.2 - As qualidades estruturais intrínsecas às qualidades de aparência

O betão branco é então um material particularmente estimulante para a concepção simultânea


da engenharia de estruturas e da arquitectura, mas os objectivos de qualidade de aparência requeridos
pela arquitectura têm de ser garantidos pela engenharia de estruturas. Ora tais qualidades do betão
implicam durabilidade, e todas estas características são asseguradas essencialmente pela compacidade
e “boa cura” do betão. Por sua vez, isto significa que o betão terá resistência elevada, quer à
compressão quer, em certa medida, à tracção.

Portanto, a opção por betão aparente implica dispor de um betão de classe de resistência
mais alta. E sendo branco, a ainda maior necessidade de grande cuidado em todas as operações dá
garantias acrescidas dessa resistência e durabilidade, que são as características estruturais mais
importantes de um betão.

Por outro lado, o controlo apertado da geometria das peças é inerente aos cuidados postos
na preparação e colocação das cofragens (ver fotografia 10), pelo que os pesos próprios dos
elementos estruturais construídos são os previstos em projecto.
Fotografia 10 – Aspecto da preparação e colocação das cofragens para
betão branco aparente desmoldado

3.3 – Características e condicionantes fundamentais à utilização estrutural

O desenvolvimento do trabalho da engenharia de estruturas de uma construção poderá ser


encarado em quatro fases – concepção, dimensionamento, detalhe e execução, a quarta fase já se
tendo abordado no primeiro capítulo deste trabalho.

A primeira fase, a concepção, repete-se decorrer em simultâneo com a concepção da


arquitectura e é nela que a topologia da estrutura e as suas soluções globais são estudadas e definidas.
A segunda fase, o dimensionamento, vai permitir obter as dimensões exteriores dos elementos
estruturais e decorre já com alguma autonomia relativamente à arquitectura, embora com uma consulta
mútua muito frequente. A terceira fase, o detalhe, é característica do chamado projecto de execução e
envolve a pormenorização de todos os aspectos necessários à execução da obra, só nalguns poucos
pormenores havendo trabalho de coordenação com a arquitectura.

Estas fases não são compartimentáveis de uma forma estanque e são todas essenciais ao
sucesso do projecto de estruturas, mas é indiscutivelmente na fase de concepção que as decisões
fundamentais são tomadas, nela tendo de estar bem presentes todas as premissas implícitas em cada
solução possível e tendo de ser bem conhecidas todas as suas implicações, embora muitas delas,
talvez a maioria, só sejam incorporadas no projecto, de uma forma explícita, nas fases posteriores.

Neste trabalho foi já salientado que a opção por betão estrutural branco significa que o
projecto de estruturas tem à sua disposição um betão de resistência mecânica elevada, de classe não
inferior à C35/40, logo às primeiras idades. O comportamento reológico do betão branco é
basicamente idêntico ao dos betões correntes, mas tem ainda de ser mais profundamente estudado. A
retracção total poderá ser menor, em consequência do melhor controlo do fabrico do betão branco,
em particular da relação água/cimento, mas a sua evolução verifica-se ser mais rápida no início. A
fluência está a ser presentemente estudada em laboratório, não havendo ainda informação que permita
quantificar o comportamento do betão branco fabricado em Portugal, embora seja provável que,
neste aspecto, se confirme não haver diferença entre os comportamentos do betão branco e do betão
cinzento da mesma classe de resistência.

Muito importante é minimizar todo e qualquer tipo de fissuração do betão, não só porque,
sendo aparente, está mais sujeito ao ataque do meio ambiente, mas também porque, sendo branco,
exibirá mais notoriamente essa fissuração.
Estas características têm as mais diversas implicações no projecto de uma estrutura em betão
aparente desmoldado branco.

Uma primeira é o aproveitamento das suas resistências mecânicas, ainda por cima disponível
logo aos primeiros dias. Portanto, as cofragens e os escoramentos podem ser retirados mais cedo,
indo aliás ao encontro da necessidade de evitar a contaminação dos paramentos pelas cofragens.
Mais, as condições de resistência do betão convenientes para a utilização de pré-esforço verificam-
se.

Uma segunda resulta do melhor controlo da geometria dos elementos em betão branco, o que
permite utilizar menores coeficientes de majoração das acções gravíticas.

Uma característica não desprezável é o da cor branca significar que há um menor


aquecimento do betão por efeito da radiação solar. Pelo contrário, o maior calor de hidratação
gerado na presa do betão branco implica maiores gradientes de temperatura na cura dos elementos
estruturais correspondentes. A isto soma-se o facto da retracção nos betões brancos ocorrer de uma
forma mais acelerada, quando comparada com o que se passa nos betões cinzentos. De qualquer
modo, e qualquer que seja a causa, é importantíssimo que em todas as fases do trabalho da
engenharia de estruturas se procure minorar ou até anular as causas de fendilhação.

A retracção mais acelerada é uma característica que foi aproveitada na construção do


Pavilhão do Conhecimento dos Mares, pois permitiu minorar os efeitos da retracção total ao planear-
se de uma forma conveniente o faseamento das betonagens (ver fotografia 11).

Fotografia 11 - Aspecto do faseamento das betonagens

Neste Pavilhão, o monolitismo e a hiperestaticidade da estrutura foram estudadas


cuidadosamente pelos projectistas, tendo-se decidido proceder primeiro às betonagens independentes
de lajes e paredes (vigas) e só depois, após ocorrer uma elevada percentagem da retracção esperada,
se tendo realizado a betonagem de ligação (ver fotografia 12).
Fotografia 12 – Betonagem separada das
lajes e das paredes (vigas) no Pavilhão
do Conhecimento dos Mares.

O faseamento das betonagens respeita não apenas ao controlo da retracção mas também ao
controlo da fluência, especialmente se o betão for pré-esforçado. Mais ainda se apenas algumas
peças estruturais forem pré-esforçadas, situação que é comum em edifícios e que por vezes só por si
pode obrigar à independência temporária dos elementos pré-esforçados, para assim a pré-
compressão se instalar onde projectado.

Note-se que o pré-esforço é frequentemente utilizado exclusivamente para anular ou, pelo
menos, controlar as tensões de tracção, podendo não ser efectivamente necessário em termos de
capacidade resistente. Por exemplo, a introdução de uma tensão de pré-compressão uniforme de
cerca de 1 MPa, conseguida com cabos de monocordões não aderentes, nas paredes (vigas)
longitudinais do Pavilhão do Conhecimento dos Mares, pretende minorar as tracções geradas pelas
restantes acções e justifica-se apenas pela importância arquitectónica de tais peças.

Mas o pré-esforço implica deformações longitudinais que são agravadas pela fluência, as
quais, somadas aos efeitos da retracção e do abaixamento da temperatura, entram em conflito com a
continuidade de uma grande estrutura. A compatibilização de todos estes factores levou, no caso do
Pavilhão do Conhecimento dos Mares, à introdução de aparelhos de apoio deslizantes
longitudinalmente sobre placas de teflon e localizados nos pilares em forma de L que suportam, junto
à fachada norte, o grande vão definido longitudinalmente nesse Pavilhão (ver fotografia 13).

A fluência devida aos esforços de flexão é especialmente difícil de controlar, pelo que,
independentemente destas medidas, é indispensável realizar um estudo cuidadoso de quais os
elementos que convém serem esbeltos (para minimizar as acções gravíticas) e de quais os elementos
que é preferível serem robustos, isto é, mais rígidos (para minorar as deformações). Mas quanto à
esbelteza, recorde-se ser essencial salvaguardar as boas condições de colocação do betão e de
realização da descofragem.
Fotografia 13 - Pormenor dos aparelhos
de apoio nos pilares junto à fachada
norte do Pavilhão do Conhecimento dos
Mares.

No projecto de uma estrutura de betão armado (pré-esforçado ou não) são tomadas muitas
decisões de concepção e de dimensionamento, mas é na pormenorização das armaduras que se
especifica o controlo final das fissurações, quer através da conveniente disposição e definição dessa
armadura quer na “costura” muito cuidada de todos os varões. Aliás, é na capacidade de “unidade”
do material estrutural que está a sua capacidade de resistir a tensões elevadas não previstas, de
dissipar energias de deformação e de plastificar. Assim, a pormenorização realizada em todos os
elementos estruturais do Pavilhão do Conhecimento dos Mares permite antever que um sismo de
média intensidade não provocará fendilhações visíveis, pese embora a sua grande massa e rigidez (ver
fotografia 14).

Fotografia 14 - Perspectiva do Pavilhão do Conhecimento dos Mares em construção.

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