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Parker Blue

SINOPSE
O que uma caçadora de vampiros deve fazer quando o líder dos
vampiros de San Antonio está desaparecido e os vampiros desvinculados
estão subitamente no auge? Encontrá-lo e trazê-lo de volta — não
importa o custo — antes que o vácuo de poder leve vampiros a ficarem
contra vampiros em um confronto mortal pela supremacia... com a vida
imortal de seu namorado Austin em jogo.
Quando ela descobre que seu ex, Shade, pode ter sido
“acidentalmente” responsável, os problemas de Val Shapiro assumem
uma dimensão totalmente nova e sua lealdade a todos em sua vida será
testada.
CAPÍTULO UM
VAL

E mbora a noite de lua não estivesse negra como tinta, recostei mais
adiante nas profundas sombras de um carvalho vivo fora da minha
casa. Minha boca ficou seca, meu coração acelerou e meu estômago
revirou como se uma dúzia de vampiros estivessem cavando dentro de
mim. Sim, era meu encontro mais assustador de todos — um encontro
com Austin.
Ao meu lado, Fang, meu fiel cão do inferno, bufou. Você derrotou
dúzias de vampiros, demônios mago e demônios de sangue... e você está com medo
de um encontro com o cara que quer ser seu namorado?
Não tenho medo dele, enviei para Fang telepaticamente.
Então você está com medo de quê?
Oh, em talvez parecer uma criança para o vampiro que tinha mais
de cem anos e era sexy pra caramba. O que ele viu em mim, uma garota
de dezoito anos de aparência média com praticamente nenhuma
experiência nesse tipo de coisa? Eu nunca “namorei” antes, embora eu
tenha tido dois relacionamentos de curta duração — um com Dan
Sullivan, um humano completo, e o outro com Shade, o demônio das
sombras perturbado. Nenhum deles me preparou para um encontro com
um vampiro sexy.
Depois do fabuloso flash mob do Dia dos Namorados que ele
arranjou para mim com “zumbis” dançando Thriller de Michael Jackson
há algumas semanas, eu prometi sair com ele em um encontro de
verdade, e essa foi a primeira vez que ambos conseguimos marcar isso.
Infelizmente, Fang podia ler todas as minhas dúvidas e
inseguranças e me questionaria por cada uma delas. Eu me encolhi,
esperando por isso.
Você não é de tão má aparência, disse Fang.
Caramba, valeu.
Não seja uma idiota. O que ele poderia possivelmente ver em você? Bem,
talvez o fato de que você é uma caçadora impressionante, ou talvez porque você
salvou seu traseiro e de outros incontáveis vampiros e demônios em San Antonio
muitas vezes nos últimos meses, para não mencionar dos humanos inocentes. Ou
talvez porque ele seja atraente para a sua súcubo interior, o que faz o traseiro dele
parecer tão boooom.
— Isso é um monte de traseiros — eu murmurei. Mas eu tive que
admitir que minha súcubo interior, que eu chamava de Lola, gostava de
Austin. Bastante.
Você entende que Lola não é uma entidade separada? Você é a súcubo, essa
uma oitava parte demônio sua não é algo ou alguém que você pode separar de sua
parte humana, não importa quanto você queira.
— Como eu posso esquecer quando você continua me lembrando?
— eu murmurei. Além disso, eu só queria me livrar de Lola antes de eu
ter sido expulsa da minha casa. Todos os outros da minha família —
minha mãe, meu padrasto e minha meia-irmã — eram totalmente
humanos, então eu me sentia como uma aberração. Mas agora que eu
descobri o Demônio Clandestino, eu não me sentia tão esquisita quanto
quando eu era... inexperiente.
Bem, Fang falou. Há uma maneira de obter esta experiência, você sabe.
Sim, eu sei. Estou fazendo isso, não estou?
Se você parar de se esconder — de você e dele.
Então Austin chegou em um dos carros de luxo preto que a veia de
vampiros de San Antonio mantinha em sua frota de veículos. Ele saiu do
carro, usando jeans que se agarravam em todos os lugares certos, uma
jaqueta de couro preta, botas de pele de cobra e seu chapéu de vaqueiro
sempre presente. Meu coração bateu mais rápido. Que gato — e tanta
areia para meu caminhão que era ridículo.
Fang me cutucou com o nariz. Não seja ridícula. Você é Val Shapiro, a
Caçadora, a Paladina do Demônio Clandestino. Ele é muita areia para seu
caminhão.
Sim, certo. Como se eu pudesse me esconder da aguda visão de
vampiro de Austin de qualquer maneira. Seu olhar me encontrou no
fundo das sombras e um sorriso lento e sexy alargou sua boca. — Olá,
querida.
Alguma garota não se derreteria em uma poça de água aqui e agora?
Como esperado, Lola surgiu na frente e no centro, seu interesse afiado.
Quanto a mim, eu engoli em seco, tentando colocar um pouco de
umidade na minha boca. — Oi — eu consegui dizer. Ah, sim, sou
espirituosa além da crença.
Ele se inclinou contra o carro, esperando que eu viesse até ele. —
Devemos ir?
Eu respirei profundamente e caminhei até ele, ou tentei fazê-lo. Em
vez disso, tropecei em uma raiz da árvore maciça. Graciosa, eu não.
Senti o meu rosto em chamas e desejei que eu pudesse voltar para
dentro sem parecer uma idiota.
Tarde demais, Fang zombou.
Graaande ajuda.
Eu coloquei um sorriso falso no meu rosto e consegui deixar a
escuridão da árvore sem tropeçar novamente. Eu dirigi-me para o carro
sob a luz da rua e Austin se moveu para o outro lado para abrir a porta
para mim.
Eu hesitei em entrar.
— Qual é o problema? — ele perguntou, seu rosto escondido na
sombra do chapéu.
Olhei para ele de qualquer maneira. — Onde estamos indo? Estou
bem vestida?
Eu realmente não tinha muito no guarda-roupa para escolher.
Jeans, uma camisa e um dos meus muitos coletes era praticamente o meu
uniforme do dia-a-dia e esta noite não era diferente. Eu precisava do
colete para cobrir as estacas na parte de trás da minha cintura. Não para
usar em Austin, é claro — ele era um dos sanguessugas bonzinhos do
Novo Movimento de Sangue — mas depois de ser uma Caçadora por
tantos anos, eu meio que me sentia nua sem elas. O resto do meu kit de
caça-vampiros estava na mochila que eu carregava, como a maioria das
garotas carregava uma bolsa.
— Perfeito — disse Austin, abrindo a porta do carro mais
largamente.
Ótimo, porque eu não tinha nada de adequado para usar em algum
lugar extravagante e não sabia se algo desse tipo estava aberto até tarde
da noite, de qualquer maneira.
Eu escorreguei para deixar o luxuoso assento de couro berçar meu
traseiro, mas parecia estranho ver Fang sentado na calçada em vez de
pular ao meu lado. — Para onde vamos? — eu perguntei novamente.
Austin apoiou os antebraços no teto e na porta para mergulhar a
cabeça onde ele podia me ver. Ele me deu um sorriso lento. — Bem,
querida, há uns vampiros desvinculados atacando turistas no Parque
Brackenridge...
— Perto do zoológico? — Isso não era um bom presságio.
— Sim, e pensei que talvez pudéssemos ter um pouco de diversão
perseguindo-os.
Um alívio me percorreu e eu relaxei. Sorrindo de volta para ele, eu
disse: — Parece ótimo.
Austin olhou para Fang, que parecia uma mola ansiosa e muito
enrolada para se soltar. — Você quer vir?
Pode apostar que sim, Fang disse, embora Austin não conseguisse
ouvi-lo. Ele pulou no carro, saltou sobre o meu colo e depois foi para o
banco de trás. Vamos lá!
— Isso é um sim — eu disse a Austin com uma risada.
Quando Austin se aproximou para entrar no lado do motorista,
Fang exclamou, Uau. Primeiro encontro e ele está levando você para caçar
vampiros malvados com seu cão do inferno. Ele conhece você ou não conhece?
Ele me conhece, eu confirmei, sorrindo.
Enquanto Austin dirigia-se para o parque, busquei algo inteligente
para dizer. — Então, como foi seu dia?
Isso não foi inteligente, Fang disse secamente.
Sim, eu soei muito alegre, até mesmo para meus próprios ouvidos.
Austin deu de ombros. — O mesmo de sempre. Sem novidades.
Treinando novos vampiros sobre como não morrer, verificando os
bancos de sangue, dormindo como os mortos. E você?
Tentei combinar o tom dele. — Ah, você sabe. Lendo feitiços na
Enciclopédia Mágica, brincando com os cãezinhos do inferno, tomando
conta de Shade.
Fang bufou no banco de trás. Cãezinhos do inferno? Eu gostei disso.
Austin me lançou um olhar de soslaio. — Tomando conta de
Shade?
Sua pergunta não parecia por ciúmes de um ex-namorado, era mais
como o-que-diabos-ele-está-fazendo-agora.
— Sim, desde que sua irmã foi sugada para outra dimensão, Shade
está tentando descobrir como recuperar seu corpo, tentando convencer
outros demônios a ajudá-lo. — Por sorte, ele parou de me culpar por sua
morte, mas ele não estava mais conversando com ninguém. — Ou ele
está escondido pesquisando na enciclopédia ou na Internet, ou ele está
andando pela mansão de sangue.
— Mansão de sangue? — Austin repetiu, soando confuso.
— Você sabe, o lugar onde perdemos a irmã dele e derrotamos o
demônio de sangue. Eu não sei do que mais chamar. — Quando ele
assentiu com a cabeça, eu acrescentei: — Micah tem medo de que Shade
faça algo estúpido lá.
— Como o quê?
Eu fiz uma careta. — Nós não sabemos com certeza, mas ele quer
que eu fique por perto para me certificar de que Shade não faça isso. —
Eu lancei um olhar para Austin. — Ouvi dizer que Alejandro comprou
a casa de sangue.
Austin assentiu. — Nós a destruímos quando derrubamos o
demônio de sangue e seus seguidores, então Alejandro se sentiu
responsável por limpá-la. Além disso, o Movimento está crescendo.
Poderíamos usar outro lugar.
— Talvez o seu chefe pudesse alertar Shade para sair de lá, ameaçar
fazê-lo ser preso por invasão ou algo assim?
— Você realmente acha que isso funcionaria?
— Provavelmente não. — Eu suspirei. Shade era outro cara com
quem eu não sabia como lidar. Me dê um vampiro malvado para matar
ou um demônio maligno para lutar, e eu lidava muito bem. Relações
pessoais... não muito.
— Como você saiu do serviço de babá esta noite?
— Tessa tinha a noite de folga do Clube Purgatório e se ofereceu
para ficar de olho nele para eu poder sair com você. Ele provavelmente
está dormindo, de qualquer maneira. — Afinal, já se passava da hora em
que a maioria dos cidadãos respeitadores da lei estava na cama.
Austin me lançou um olhar de soslaio aquecido. — Lembre-me de
agradecer a Tessa mais tarde.
Esse olhar fez Lola estender dedos gananciosos em sua direção, mas
eu a refreei. Agora não era o momento.
Talvez mais tarde.
Por sorte, chegamos ao parque, então não tive que responder. Em
vez disso, saí do carro e perguntei: — Qual é a situação?
— Nós ouvimos rumores de desvinculados caçando aqui,
procurando amantes clandestinos, adolescentes distraídos e sem-tetos
para lanchar.
Eu assenti. — Vamos...
Parei quando um carro de patrulha parou e um oficial se inclinou
pela janela. — Olá pessoal. O que vocês estão fazendo aqui às duas da
manhã? Não é seguro.
— Está tudo bem — eu disse a ele. — Eu sou Val Shapiro... eu
costumava trabalhar para a UCE. — Se ele estava alertando as pessoas
para longe do parque, ele provavelmente sabia que tipo de crimes
“especiais” que a Unidade de Crimes Especiais tratava e quem eu era.
Inclinei-me para ele ver meu rosto. Eu vagamente me lembrei de vê-lo
antes.
Ele recuou. Sim, ele me conhecia bem. Para os “sujos” estava tudo
bem lutar contra vampiros e demônios, mas eles realmente não gostavam
de ter um demônio em seu meio, especialmente um que poderia chutar
sua bunda e fazê-lo apreciar isso ao mesmo tempo.
Seu olhar inclinou-se para Austin.
— Meu parceiro de caça esta noite — eu acrescentei. — Ele pode
cuidar de si próprio. Nós estamos livres para ir, Oficial?
Aparentemente, ele aceitou minha palavra, porque ele assentiu. —
Boa caça — ele disse e afastou-se.
Bem, o respeito é melhor do que a aceitação em qualquer dia, disse Fang.
Sim, eu continuava me dizendo isso.
Eu me virei para Austin. — Alguma ideia de onde começar a
procurar?
Apenas siga meu nariz, disse Fang e colocou o focinho no chão.
— Eu suponho que Fang sabe? — disse Austin.
— Parece que sim.
Eu segui uma trilha atrás de Fang e Austin estendeu sua mão. —
Nós devemos fingir que os amantes estão dando um passeio — disse
Austin. — Para atraí-los.
— Oh, ok — eu disse, abaixando minha cabeça para esconder o
rubor que aqueceu minhas bochechas. Eu não sabia se me sentia
exultante por ele ter encontrado uma desculpa para segurar minha mão
ou desanimada que ele achou necessário explicar. De qualquer forma, eu
aceitaria suas palavras ao pé da letra e representaria sua pequena
atuação.
Ele pegou minha mão, ligando seus dedos com os meus. Oh, meu.
Era como se alguém tivesse jogado um balde de hormônios dentro de
mim, e todos responderam de uma vez, subindo pelos meus chacras com
uma intensidade visceral.
Lola gostou.
Lutando contra as sensações, tentei me concentrar em porque
estávamos aqui. — Você está com o amuleto? — eu perguntei
ocasionalmente. Por algum motivo, todos pareciam pensar que eu estava
viciada na coisa, já que ele constantemente me atraía, implorando-me
para usá-lo. Eu não estava, mas o cristal era uma ferramenta útil agora
que eu tinha perdido um pouco da minha magia de caçadora. Se ele
estivesse próximo, eu poderia usá-lo para coisas pequenas, como ver
através das espirais de um demônio das sombras, mas para grandes
coisas como controlar homens, eu tinha que tocá-lo.
— Sim — Austin disse igualmente casual, — mas você não vai tê-
lo a menos que sejamos superados em número.
Então o cristal me chamou, e eu consegui identificar sua localização
no fundo do bolso da frente de Austin. Bem, porcaria. Eu não poderia ir
atrás dele sem me envergonhar. Ele também sabia disso. Eu encolhi os
ombros, fingindo que não era grande coisa.
Ele viu meu olhar em seu bolso da frente e sorriu.
Meu rosto flamejou e Fang riu.
Nem sequer comece. Eu já estava envergonhada o suficiente.
Caminhamos por cerca de quinhentos metros no caminho, quando
Fang disse: Vampiros sanguessugas em três horas.
Apertei a mão de Austin em advertência.
Ele se inclinou para murmurar no meu ouvido: — Sim, eu os ouço.
E foi aí que três caras saíram de trás das árvores, como se estivessem
tentando parecer relaxados, mas não foram bem-sucedidos. Colegas de
faculdade, provavelmente, e eles vieram em três tamanhos — pequeno,
médio e grande. Mas eles não pareciam os valentões típicos da escola —
parecia mais com aqueles que eram atormentados.
— Ei, garota, quer brincar? — perguntou o mais forte.
Ele teria que me pegar primeiro, e isso não aconteceria. — Oh,
ótimo — eu disse, revirando os olhos. — Um grupo de nerds. — Eu
troquei olhares com Austin. — Esses são os predadores malvados com
que você estava preocupado?
— Não, não pode ser — Austin falou.
— Você acha que pode comigo, vaqueiro? — perguntou o de
tamanho médio beligerantemente.
Caramba, era um protetor de bolso que eu vi debaixo da jaqueta de
couro nova e rangente dele?
Austin assentiu lentamente. — Eu posso.
— Com nós três?
— Facilmente.
Eles correram contra ele, ignorando Fang e eu. Grande erro.
Fang pegou o rapaz menor, pulando para mordê-lo na bunda,
depois deixando-o sem equilíbrio e fazendo ele cair. Fang abriu os dentes
na garganta do baixinho quando murmurei o feitiço da super-força,
depois agarrei o sujeito mediano e o derrubei no chão duro. Austin se
juntou a nós, derrubando facilmente o cara pesado, então todos três
estavam deitados no chão, lado a lado, olhando para nós.
— Muito fácil — disse Austin.
— Ei — protestou o cara mediano. — Vocês sabem quem somos?
— Os Três Patetas? — eu adivinhei.
Raiva ardia nos olhos do homem mediano. — Eu vou mostrar a
você quem é um pateta. — E, claro, ele cometeu o erro de buscar o
controle da minha mente. Tentou, na verdade.
Isso significava que eu agora podia ler a dele.
— Desculpa, Chris. Isso não funciona comigo. — Olhei para os
outros dois. — Vão em frente, Carlos e Charlie, tentem me controlar.
Eles pareciam chocados por eu saber o nome deles, mas estreitaram
os olhos para mim.
— Não me diga — disse Austin com um pequeno sorriso e
balançando sua cabeça. — Eles realmente tentaram.
— Sim — eu confirmei. Agora eu podia ler as três mentes pequenas.
Suspirei. — Não são esses os androides que estamos procurando.
Austin me lançou um olhar intrigado.
Dei de ombros. — Desculpe, a nerdice deles é meio irresistível.
— Quem são vocês? — perguntou o cara menor, Carlos.
— Já ouviu falar na Caçadora? — respondeu Austin com uma
sobrancelha levantada.
— Ela? — ele disse, sua voz terminando em um chiado.
— Eu — eu confirmei. — E Austin aqui é o que você tenta ser, mas
nunca será.
— O que isso significa? — o corpulento Charlie exigiu.
— Ele é um vampiro também, ele tem sido há muito mais tempo do
que vocês. E ele não tenta pegar pessoas inocentes para se alimentar.
Falando sobre isso, o cara mediano — Chris — estava dentro do
meu campo de energia, então era óbvio que ele estava começando a se
interessar por mim. Bem, por Lola, de qualquer forma.
— Nós não machucamos ninguém — disse Chris, com um olhar
lascivo.
Ele estava tentando demais ser sexy e isso me enojou. Às vezes era
uma droga ser parte demônio da luxúria. — Isso é verdade, vocês não
machucaram... ainda, pelo menos. Mas vocês estavam planejando isso,
não estavam?
Aquelas desculpas patéticas dos vampiros que queriam estar no topo
da hierarquia social para variar, em vez de não serem ninguém. Mas para
fazerem isso, eles precisavam de maiores... pênis.
Fang bufou.
Austin suspirou pesadamente. — Eles realmente não machucaram
ninguém?
— Ainda não — eu confirmei. — Esta foi a sua primeira incursão
como vampiros bebês. — Eles estavam bastante famintos, mas não
conseguiram beber sangue... ainda.
— Acha que há esperança para eles?
— Talvez.
Carlos olhou de um lado para o outro entre nós dois, parecendo um
pouco menos assustado agora que Fang tinha recuado e estava apenas
sentado no peito do cara. — Do que vocês estão falando?
— Nós fazemos as perguntas aqui — disse Austin. — Quem
transformou vocês? Quem foi seu criador?
— Nós não sabemos o nome dele — disse Chris com um tom mal-
humorado.
Ele estava falando a verdade, e eu li o resto em suas mentes. — Eles
encontraram um aviso em um quadro de avisos na escola anunciando
um seminário sobre como se tornar rico e poderoso e foram para ele.
— Um quadro de avisos? — Austin repetiu com incredulidade.
Sim, parecia que a oposição estava anunciando agora.
— O que eles lhes disseram? — perguntou Austin.
Os caras queriam ficar calados diante da raiva de Austin, mas não
conseguiram esconder de mim, então contei a Austin o que descobri. —
O criador deles lhes disse que eles poderiam chutar areia nos rostos dos
valentões e tomar o que quisessem, depois transformou os três Cs,
dizendo que poderiam se juntar ao seu exército depois de terem feito sua
primeira matança.
Austin sacudiu a cabeça. — Estúpidos.
Cuidado, avisou Fang.
O corpulento Charlie tentou sair do chão, mas eu lancei Lola em
todos os três, de modo que eles não passavam de escravos amorosos.
Repugnante.
— Sentem-se — eu disse a eles, e eles tiveram que cumprir. Eu me
levantei, e Austin e Fang seguiram vagarosamente. Balançando a cabeça,
acrescentei: — Não tenho certeza se eles são iscas, ajudantes, ou se o
vampiro que os transformou realmente pensa que ele pode transformá-
los em soldados.
Os caras pareciam horrorizados. Eu adicionei com um pouco de
calor: — Isso não é um cosplay estúpido em uma convenção cómica,
onde todos acreditam que você é o que você pretende ser. E tornar-se
vampiro não os tornará super soldados ou super amantes. Só tornarão
vocês mais do que vocês já são. — Super nerds.
Eles olharam um para o outro, um olhar de horror em seus olhos.
Olhei para Austin. — Eles realmente não conseguiram morder
ninguém ainda. Nem mesmo um dos animais do zoológico. Por três
noites. — Austin assentiu com a cabeça, obviamente entendendo a
mensagem — eles estavam muito famintos.
— Então você acha que eles são recuperáveis?
— Provavelmente. — Todos os três eram exilados, de suas casas e
suas famílias. Eles só queriam encontrar um lugar onde pudessem caber
no mundo. Eu poderia me identificar com isso.
Austin suspirou pesadamente. — Ok, aqui está o acordo. Vocês
concordam em se juntar ao Novo Movimento de Sangue, e vamos
esquecer que isso aconteceu.
— Movimento? O que é isso? — perguntou Chris.
Isso era novo. Antes, os desvinculados tinham o cuidado de dizer
aos seus novatos que não entrem em contato com o Movimento. Parecia
que eles mudaram sua estratégia. Para não tentar os novatos a ir direto
para lá? Ou para eliminar os mais fracos?
Austin olhou para ele. — No Novo Movimento de Sangue, não
atacamos pessoas ou animais. Não tomamos sangue sem permissão, e
definitivamente não caçamos e matamos inocentes.
Carlos ficou intrigado. — Mas... não precisamos de sangue para
sobreviver?
— Sim — disse Austin. — Mas obtemos dos bancos de sangue que
operamos.
Os três trocaram olhares e pareciam relutantes. Ir para um banco de
sangue não parecia tão sexy quanto ser um soldado malvado.
Escondendo um sorriso, acrescentei: — Como um bônus adicional,
vocês terão acesso a casas seguras com outros de seu tipo, trabalho
significativo para fazer e Austin aqui irá ensinar vocês a lutar e se
defender.
Esse último os interessou mais do que todos os outros combinados.
Eles se deram um olhar duvidoso.
— Desta forma, vocês podem ser heróis, livrando o mundo dos
vampiros malvados desvinculados — eu lhes contei. Eles pareceram
gostar disso.
— E se vocês não quiserem — eu disse com alegria, — nós os
estaquearemos agora e deixaremos vocês para o sol transformá-los em
cinzas. — Eu tirei uma estaca e girei de brincadeira, levantando minhas
sobrancelhas para eles.
— Eu estou dentro — disse Carlos apressadamente.
— Eu também — Chris falou.
Charlie parecia teimoso, então levantei minha estaca em seu
coração. Ele devia ser o líder deste pequeno bando de inadaptados.
— Tudo bem, tudo bem — ele disse, levantando as mãos na
defensiva.
Austin olhou para eles. — Pertencer ao Novo Movimento de
Sangue é um compromisso vitalício. Nós vamos alimentá-los, hospedá-
los e treiná-los, desde que vocês sigam nossos caminhos. Mas mudem de
ideia e machuquem um inocente e nós tiraremos sua vida. Combinado?
Todos engoliram em seco, mas assentiram com a cabeça. —
Combinado — eles disseram em uníssono.
Lola soltou seus chacras e eles lutaram para ficar de pé.
Austin tirou a carteira e entregou a cada um dos caras um cartão.
— Tomem, isso tem os endereços dos bancos de sangue em torno da
cidade. Peguem algo para se alimentar. Diga-lhes que Austin lhes
enviou.
Os rapazes assentiram com a cabeça e apressaram-se para ir,
aparentemente antes de mudarmos de ideia.
Austin sacudiu a cabeça. — Mais três novatos para se
responsabilizar. E você se pergunta por que precisamos de mais espaço?
— Por que o aumento súbito na população de mortos-vivos?
— Os desvinculados estão ficando fora de controle. Eles continuam
transformando idiotas crédulos, depois deixam eles sozinhos para
sobreviver ou perecer. Nós tentamos pegá-los e convertê-los antes que
eles possam causar muito dano, mas é uma batalha sem fim. — Ele me
deu um sorriso pesaroso. — Desculpe, isso não foi tão divertido quanto
planejei.
— Ei, nós adicionamos alguns novos vampiros no lado bom. É um
ganho mútuo. Eu gosto disso.
Bem, eu não, Fang reclamou. Eu queria morder mais bundas de vampiros.
— Pode haver mais vampiros escondidos no parque — disse Austin.
— Houve uma série de ataques torpes nesta área. Tenho a ideia de que
os novatos sejam orientados nessa direção.
Mas antes de podermos explorar a área, meu telefone vibrou.
Verifiquei a tela. — É Micah. — Meu chefe no Demônio Clandestino
não me ligava com frequência, mas quando ligava, provavelmente era
importante.
— É melhor atender, então — disse Austin.
Assenti com a cabeça e atendi o telefone. — Oi, Micah. O que
houve?
— É Shade — ele disse sem preâmbulo. — Ele escapou de Tessa, e
nós achamos que ele foi para a antiga casa do demônio de sangue. Você
consegue verificar isso?
Olhei para Austin, incerta. Afinal, isso deveria ser um encontro.
Ele obviamente ouviu ambos os lados da conversa, com sua audição
de vampiro e tudo mais, e assentiu. — Pode ser — Austin concedeu.
— O que exatamente você quer que eu faça? — perguntei a Micah.
— Eu posso forçá-lo a sair, mas ele estará de volta amanhã. A menos que
você queira... — eu parei, deixando o resto para ele preencher.
Micah suspirou. — Austin tem o amuleto com ele?
— Sim.
— Então você pode usá-lo se você tiver que fazê-lo parar essa
obsessão doentia e insegura, mas apenas nesse caso. Entendeu?
— Sim senhor.
— Ótimo — ele disse. — Ah, e eu tenho outro pedido para você.
— O quê? — perguntei cautelosamente. Eu não tive que usar o meu
papel como Paladina ainda, exceto para cuidar de Shade, e eu realmente
não tinha certeza de que queria usar.
— Nós temos um demônio visitante, Ivy Weiss, e eu me perguntei
se você poderia colocá-la por um momento no quarto antigo de Gwen.
— Acho que sim — eu disse relutantemente. Afinal, Shade não
estava mais usando. — Que tipo de demônio ela é?
— Um demônio de pedras. O Clandestino de Sedona a chama de
sussurrante de pedras preciosas... ela pode ler pedras e rochas e descobrir
sobre seus donos. Me ligue quando chegar em casa e eu vou levá-la.
Uma cabeça de pedra?
Não seja grosseiro, eu o alertei. — Ok — eu disse a Micah e desliguei.
— Vamos embora? — Austin perguntou, apontando para o carro.
Oh, ótimo, Fang resmungou. Vamos ser babás de Shade. Novamente.
Caramba, ele necessita de mais supervisão do que os cãezinhos do inferno.
CAPÍTULO DOIS
VAL

Q uando chegamos na mansão de sangue e saí do carro, Fang


suspirou. Estou cansado de lidar com o Sr. obscuro e cismado. Vocês
dois podem lidar com isso, certo?
Eu podia simpatizar. Eu também não queria fazer isso. Depois que
minha mãe me expulsou de casa há seis meses, tudo o que eu queria era
um lugar para pertencer. Eu meio que tinha encontrado isso com o
Demônio Clandestino e eu só queria que as pessoas me aceitassem —
demônio, súcubo e tudo mais. Isso era demais para pedir?
Aparentemente era. Ajustar-se com o resto da multidão era difícil
quando eu tinha que bancar a executora malvada o tempo todo.
Especialmente quando eles me temiam.
Ei, eu te amo, querida, Fang disse, acariciando minha perna.
Eu sorri para ele. Obrigada. Eu apreciei isso, mas eu queria mais.
Caramba, eu queria tudo.
— O que há de errado? — Austin perguntou quando eu hesitei.
Suspirei. — Estou cansada do drama de Shade. Assim como Fang.
Eu queria que outra pessoa lidasse com ele. — Olhei para Austin com
esperança, mas ele balançou a cabeça.
— Você é a Paladina, querida. Micah pode contar com você ou não
pode. Qual vai ser?
Sim, bem, às vezes a responsabilidade é uma droga. Eu me tornei
Paladina porque acreditei no que Micah estava tentando realizar com o
DC. E como eu também acreditava em lutar pelo que era importante
para mim, isso significava fazer o que Micah pedia, sendo uma droga ou
não.
Olhei para Fang. Se eu tenho que entrar e enfrentar Shade, você também
tem.
Ele sussurrou um suspiro ferido. Certo. Vamos acabar logo com isso.
— Ok — eu disse a Austin e coloquei minha mochila em um ombro
enquanto eu me dirigia para a entrada. As novas portas de madeira se
pareciam muito com as da mansão principal de Alejandro e
provavelmente eram tão resistentes quanto. Nós derrubamos as portas
de carvalho anteriores da última vez que estivemos aqui e atravessamos
as janelas para pegar Emmanuel, o demônio de sangue, de surpresa.
Embora tenhamos tido sucesso em derrotá-lo, destruímos o lugar no
processo. Parecia que Alejandro tinha reparado as portas e as janelas.
— Ficou bom — eu disse. — O resto da casa está limpo também?
Ele encolheu os ombros. — Parcialmente. Ainda estamos
trabalhando nisso.
Austin nos deixou entrar na casa e acendeu as luzes. Graças a Deus
alguém havia limpado essa área. Sem sangue no chão de mármore,
nenhuma cabeça de demônio desgarrada vazando fluidos desagradáveis
sobre a grande escadaria curva.
Pude ver Shade a meio caminho das escadas, fitas escuras girando
em todos os lugares obscurecendo suas feições — o preço de ser um
oitavo demônio das sombras e circular através de centenas de dimensões
o tempo todo.
Ele estava de pé exatamente no mesmo local em que sua irmã
gêmea, Sharra, tinha atravessado o portal para o mundo dos demônios,
onde ela morrera. Eu sabia que Shade estava obcecado por recuperar seu
corpo, mas o que ele imaginava que ele poderia fazer aqui? Ele não
conseguia passar por um portal que ele criava — ele precisava ficar de
um lado para mantê-lo aberto. E não havia ninguém mais que pudesse
criar um para ele.
O que ele está pensando? eu perguntei a Fang.
Não sei, disse Fang, parecendo surpreso. Não posso ouvir seus
pensamentos por alguma razão.
Isso era novo e preocupante. Porque com certeza parecia que Shade
estava tentando algo — ele estava com os braços abertos para o lado
esquerdo da escada e nem sequer reconheceu a nossa entrada.
— O que ele está fazendo? — perguntou Austin, franzindo a testa.
Ele se moveu para o pé da escada, seu corpo tenso e pronto para a ação,
parecendo pronto para derrubar Shade, se necessário.
Como o cristal estava muito perto, no bolso de Austin, eu poderia
usá-lo para ver a expressão de Shade. Eu me conectei com o amuleto,
então dei uma olhada. Sim, sua expressão torturada era uma boa ideia
de que ele estava tentando criar um portal para outro mundo, e seus
lábios se moviam em palavras insensatas. Xingando ou rezando, eu não
sabia qual. — Tentando criar um portal, evidentemente — eu disse a
Austin. Embora eu não conseguisse descobrir por que não estava
funcionando, não havia nenhuma nuvem de relâmpago verde
assustadora em nenhum lugar, embora eu pudesse sentir algo tentando
surgir.
— Shade, pare — eu gritei. Essa obsessão dele não era apenas
mórbida, mas também perigosa. Ele não poderia passar por um dos seus
próprios portais, mas e se houvesse demônios esperando do outro lado
para invadir nossas casas felizes?
Suas sobrancelhas franziram ainda mais e seus lábios se moveram
mais rápido.
— Eu posso derrubá-lo — disse Austin, parecendo ansioso para
fazer exatamente isso.
Compreendi sua frustração, mas balancei a cabeça. — Não, melhor
não. Ele está gerando muita energia, eu não sei o que acontecerá se você
o tocar. — Será que o relâmpago que Shade gerou na nuvem passará por
Austin?
Vampiro frito. Não é uma boa ideia.
Sim. Eu tomei uma decisão súbita. — Eu vou precisar do cristal.
Austin franziu a testa. — Você pode detê-lo sem isso.
— Eu posso, sim. — Lola poderia fazer Shade fazer qualquer coisa.
— Temporariamente. Mas eu quero detê-lo permanentemente. —
Somente os comandos dados usando o cristal durariam além da minha
presença. Quando Austin hesitou, eu acrescentei: — Então não teremos
que fazer isso nunca mais. Micah disse que estava tudo bem, lembra?
Austin estreitou seu olhar para mim, e eu olhei calmamente de
volta. — Eu vou devolver a você, eu prometo. — Eu entendi que eu tinha
que provar a todos eles que eu poderia viver sem o cristal e sua atração,
mas o amuleto era muito conveniente às vezes.
Conveniente demais, talvez? Fang perguntou.
Eu o ignorei.
Austin tirou o amuleto do bolso da frente e me entregou lentamente,
obviamente ainda relutante.
Suspirando, subi lentamente as escadas em direção a Shade, que
ainda não nos prestava atenção, com os olhos fechados, os braços
estendidos e a boca se movendo para formar palavras que eu não
conseguia ouvir. Quando cheguei perto o suficiente, tentei o jeito de
Austin primeiro, sem o amuleto para ampliar meu poder. — Pare, Shade.
Ele me ignorou e continuou, parecendo ainda mais desesperado.
E isso provou por que eu precisava do cristal. — Shade, pare agora
— eu comandei, usando o amuleto para forçá-lo a obedecer.
Ele parou, mas olhou para mim com tristeza nos olhos, como se eu
tivesse acabado de matar seus cachorrinhos. Eu senti por ele, eu
realmente senti, mas eu não podia deixá-lo pôr em perigo ele mesmo ou
o resto do mundo. — O que você estava pensando, tentando criar um
portal sem ajuda?
— Eu estava pensando em resgatar minha irmã — ele disse sem calor.
— Ela está morta, Shade — eu lembrei-o gentilmente. — Você não
pode resgatá-la mais.
Ele suspirou. — Eu sei, mas pelo menos posso recuperar seu corpo.
Nós devemos isso a ela.
Eu balancei minha cabeça. — Você nem sabe se ela ainda estará lá.
— Eu tenho que tentar, Val.
Me sentindo pesarosa em meu interior, eu disse suavemente: —
Não, você não tem. Micah não quer que você faça isso. — Quem sabia
que horda de demônios ele poderia trazer do outro lado? Apertando
firmemente o cristal na minha mão, eu disse: — Você nunca mais abrirá
um portal para outro mundo sem a permissão de Micah. — Senti o
comando se instalar dentro dele e enraizar-se.
Seus olhos se arregalaram e ele gritou: — Não! — Tirando o cristal
da minha mão, ele atirou-o para a escada de mármore e pisou nele com
seu pé em botas.
Senti o cristal quebrar com um rangido agudo que atravessou minha
mente como fragmentos de gelo com ponta aguda. Uma luz penetrante
atravessou o vestíbulo, acompanhada por uma onda de choque
silenciosa que nos derrubou em nossas bundas. Cega e surda, deitei-me
aturdida no fundo da escada por alguns longos momentos, com medo de
obstruir minha garganta. Fechei os olhos com descrença. Essa perda dos
meus sentidos era permanente? Por favor, não deixe que seja permanente,
implorei a todos os deuses que pudessem estar ouvindo enquanto eu
segurava minha cabeça dolorida, que golpeava com uma enxaqueca
profana.
Uau. Isso foi intenso.
Um eufemismo. Pelo menos eu sabia que Fang estava bem.
Alguém me ajudou a levantar. — Val, você está bem?
A voz de Austin. Eu podia ouvir!
— Não — gemi e abri meus olhos cautelosamente contra a
escuridão. — Não consigo ver — eu disse, tentando reter o pânico.
— A onda de choque sobrecarregou os circuitos — ele me disse, me
dando um aperto reconfortante. — Eu acho que desativou alguns
disjuntores.
— Oh. — Eu não estava cega — as luzes estavam apagadas. Eu
olhei ao redor, mas estava muito escuro para ver qualquer coisa. Eu
vasculhei o chão.
— O que você está procurando? — perguntou Austin.
— Minha mochila. Eu tenho uma lanterna nela. — Deve ter caído
do meu ombro quando fui jogada na minha bunda.
— Aqui — disse Austin e empurrou para mim.
Graças aos céus pela visão de vampiros. Eu busquei na mochila até
encontrar a lanterna pelo tato e a liguei. A luz amarela pálida iluminou
o saguão. Suspirei de alívio. Minha visão ainda estava intacta, e a dor de
cabeça estava recuando. Eu girei a luz ao redor da sala, procurando por
Fang. Ele estava perto de Austin, balançando a cabeça. Você está ferido,
Fang?
Eu vou viver. E quanto a Shade?
É mesmo, Shade estava no epicentro da explosão. Estranho. Em
uma outra época, eu me preocuparia com ele primeiro. Acho que eu
tinha verdadeiramente superado ele. Mas... ele estava bem?
Sim, ele estava sentado no chão de mármore frio, esfregando a parte
de trás da cabeça com uma mão. — Você está bem, Shade?
— Sim — ele disse. — Apenas bati minha cabeça no novo pilar
quando eu caí. Lembre-me de não fazer isso novamente — ele disse com
ironia.
Ele devia estar bem — era a primeira vez que o ouvi usar algo
parecido com humor desde que Sharra morreu. Irritada pela perda do
cristal, eu gritei: — Valeu a pena?
Ele parou por um momento. — Não... seu comando ainda está em
vigor.
— Permanentemente, agora — eu lembrei-o bruscamente. — Já que
não posso usar o amuleto para removê-lo.
— Eu sei. — Seu tom foi plano, triste. Que pena que não podia mais
ver o rosto dele. A menos que, é claro, eu tocasse sua pele, e eu não
estava disposta a fazer isso agora.
Eu toquei em um dos fragmentos de cristal maiores, me
perguntando se ele tinha mantido um pouco dos poderes dele inteiro.
Não, parecia inerte, morto. Mas, por via das dúvidas, peguei algumas
das peças maiores e coloquei-as no bolso do colete.
Então é isso? Fang perguntou. Uma explosão e acabou?
Sim, parecia um pouco anticlimático, depois de todo o sofrimento
que eu tinha passado por essa coisa.
— Por que explodiu? — perguntou Austin.
Eu dei de ombros, minha cabeça latejando um pouco menos agora.
— Eu não faço ideia. Eu não tenho muita experiência com objetos
mágicos. Pergunte a Shade, é ele que está pesquisando coisas.
— Eu também não sei — disse Shade. — Isso importa?
— Eu acho que não — Austin disse enquanto Shade se levantava.
Ele está falando a verdade? eu perguntei a Fang. Você pode ouvi-lo agora?
Não. Zero, nada, nadinha.
— Por que Fang não pode ouvi-lo mais? — eu perguntei a Shade.
Shade limpou os pedaços de cristal de suas roupas. — Porque eu
não quero que ele ouça. Encontrei uma maneira de manter ele, e todos
os outros, longe dos meus pensamentos.
— Por quê? — Austin perguntou, seu olhar se estreitando com
desconfiança.
— Privacidade — disse Shade com secura. — Eu sei que é um
conceito estranho em seu mundo, mas eu quero manter meus
pensamentos para mim mesmo, sem que todos os escolham.
Bem, me descuuuuulpa, Fang disse.
Eu revirei os olhos. Shade não pode ouvi-lo. Além disso, ele tem razão.
Tínhamos estado em cima dele nas últimas duas semanas. — Desculpe
— eu disse a Shade, falando sério.
Shade suspirou. — E, por favor, não pergunte como eu o fiz, não
quero ninguém passeando pela minha psique com alguma ideia
equivocada de que esteja me ajudando.
— Tudo bem — eu disse. Afinal, eu simplesmente o impedi de fazer
a única coisa que Micah temia — para sempre. Eu poderia permitir-se
ser generosa.
— Obrigado — Shade disse e saiu sem mais uma palavra.
Austin me deu uma sobrancelha levantada. — Isso foi interessante.
Dei de ombros. — Eu acabei de bloquear seus poderes,
permanentemente. — Para não mencionar que tirei sua única chance de
recuperar o corpo de sua irmã. — Eu sei o que é isso, então eu acho que
posso dar alguma folga a ele.
Sim, Fang se animou. Sem mais dar uma de babá.
Iluminei minha lanterna pela sala. — Provavelmente devemos
limpar isso. Você sabe onde estão os suprimentos de limpeza?
Certamente eles deixaram alguns. E talvez pudéssemos encontrar a caixa
do disjuntor?
— Nenhuma pista sobre os suprimentos de limpeza, mas eu posso
descobrir. — Ele pegou o telefone, mas antes que ele pudesse apertar
botões, dois jovens entraram correndo, então pararam quando nos
viram. Eles não podiam ter mais de vinte e dois anos e tinham uma forte
semelhança um com o outro — ambos magros, loiros e, no momento, de
boca abertas.
Vampiros, Fang advertiu.
— Quem são vocês? — perguntou Austin.
Ele não os conhecia? Alarmada, tirei uma estaca, e Fang rosnou,
eriçado.
Os vampiros olharam para a minha estaca. O mais alto dos dois
visivelmente engoliu em seco. — Você é a Caçadora?
— Sim — eu disse e deixei Lola sair um pouco, apenas o suficiente
para fazer meus olhos brilharem de forma roxa e assustá-los. —
Responda-lhe. Quem são vocês?
Os dois olharam um para o outro, como se esperassem que o outro
falasse, então o cara mais alto disse: — Eu... eu sou Mike. Ele é o Ike.
— Mike e Ike? Sério?
Que... original.
— Nós somos gêmeos — disse Ike, franzindo a testa. — Nossa mãe
nos nomeou — ele disse beligerantemente, como se nos desafiasse a fazer
algo sobre isso.
— Eu não conheço vocês — disse Austin, estreitando seu olhar. —
Quem é seu criador?
Mike e Ike trocaram olhares cautelosos. Ike assentiu para Mike, que
disse: — Lu... Luis. Nós somos novos. — Ele engoliu em seco,
parecendo nervoso.
Bem, diabos, se Austin olhasse para mim desse jeito, eu ficaria
nervoso também.
Austin relaxou um pouco. — O que vocês estão fazendo aqui?
Eles fizeram aquela coisa novamente, onde cada um deles tentava
se comunicar com o outro. Mike, aparentemente, ganhou o direito de
falar. — Ouvimos um barulho e entramos para ver o que era.
— Um cristal quebrou — disse Austin, deixando de fora muito mais
do que não precisavam saber. — Mas o que eu quis dizer foi por que
vocês estavam aqui para começar?
Olhando para o chão, Mike encolheu os ombros. — Uh, Luis nos
pediu para ajudar a limpar. Ele está... lá fora.
— Ótimo — disse Austin e enfiou o telefone no bolso. — Vocês
podem começar com essa bagunça. E acendam as luzes de volta.
Ike e Mike trocaram outro olhar, depois assentiram e correram para
cumprir a ordem de Austin.
— Isso foi estranho — eu disse, voltando minha estaca para o meu
cinto nas costas.
Austin assentiu, pensativo. — Sim, foi. A supervisão da limpeza é
geralmente o trabalho de Rosa. — Ele balançou a cabeça e sorriu para
mim. — Mas essa mansão se adequa à noção de Luis sobre o que ele
merece na vida. Ele deve estar ansioso para se mudar.
Sim, esse lugar era ainda maior do que a outra mansão. As luzes
voltaram então, e Fang gemeu. Uma pequena ajuda aqui?
— O que há de errado, Fang?
Ele olhou para o chão. Pequenos objetos afiados... sem sapatos?
Ah, claro. Desculpa. — Eu só preciso tirar Fang dos fragmentos —
expliquei a Austin. — O pobre bebezinho não quer cortar seus pequenos
pezinhos. — Pegando Fang, eu o levei para a porta da frente, fora do
alcance do cristal quebrado.
Muito engraçado. Agora me coloque no chão.
Fang tentou parecer severo, mas era difícil o vira-lata peludo parecer
sério quando eu o estava embalando como um bebezinho.
Eu sorri, e Austin abriu a porta para mim para eu poder colocar
Fang no chão.
Os pés de Fang caíram no chão, e eu poderia dizer que ele estava
prestes a me encher com sarcasmos contundentes, mas foi interrompido
por uma voz do lado direito da escada. — O que vocês estão fazendo
aqui? — perguntou Luis.
Austin ergueu uma sobrancelha ao tom de Luis. — Cuidando de
demônios das sombras errantes — ele disse brevemente. — E você?
— Eu deveria encontrar Alejandro e Vincent aqui. — Ele caminhou
em direção a nós, então parou quando seus sapatos trituraram os
fragmentos de cristal e ele olhou para baixo. — O que é isso?
— Cristal quebrado — disse Austin bruscamente. — Demônio das
sombras errante, lembra?
Luis balançou a cabeça. — Irrelevante. Onde está Alejandro?
— Não é o meu dia de vê-lo — Austin falou lentamente.
Os olhos de Luis se estreitaram ao tom de Austin. — Enquanto você
estava em um encontro, Alejandro e eu realmente tivemos negócios reais
para tratar.
— Que negócios?
Luis suspirou, soando esgotado. — Eu deveria encontrá-lo aqui há
quinze minutos atrás. — Ele consultou um relógio de bolso antiquado.
— Ele está atrasado.
Caramba, quem usava relógios de bolso nos dias de hoje?
Vampiros arrogantes que estão se mantendo na glória de seu passado? Fang
sugeriu.
Bom ponto.
O olhar de aborrecimento de Austin desapareceu, substituído por
perplexidade. — Ele nunca se atrasa.
— Exatamente — disse Luis com exasperação. — Então, onde
diabos ele está?
— Qual é o problema? — eu perguntei. — Talvez ele tenha ficado
preso no trânsito ou algo assim.
Luis verificou seu telefone, o dispositivo moderno parecia estranho
em suas mãos. — Não sem enviar uma mensagem ou ligar.
Eles franziram o cenho um para o outro e a tensão aumentou na
sala silenciosa.
Uh-oh. Eu tenho uma má sensação sobre isso, disse Fang.
Sim, eu também.
CAPÍTULO TRÊS
AUSTIN

A ustin fez uma cara feia e tentou não deixar mostrar sua irritação.
Por que Luis sempre tinha que fazer tudo ser uma competição? —
Talvez surgiu algo. — Ele pegou seu celular e ligou para Alejandro.
Nenhuma resposta. — Foi para o correio de voz — ele disse, franzindo
a testa.
— Está vendo — insistiu Luis. — Há algo errado.
— Talvez. — Mas Austin não queria comprar a paranoia de seu
colega tenente. — Ou talvez surgiu uma emergência — ele repetiu.
— Onde exatamente você deveria encontrar com ele? — perguntou
Val.
— Não é da sua conta — disse Luis.
— Bem, como você é uma pessoa alegre — Val disse, sua
sobrancelha levantando-se para Austin, como se quisesse perguntar: —
Que bicho mordeu a bunda dele?
Austin deu de ombros. Era o estado padrão de Luis hoje em dia. E
ele suspeitava que Luis estava um pouco com ciúmes do interesse de
Alejandro em Val. — Seja Teflon, Val — ele disse suavemente, sabendo
que Luis não entenderia a referência. — Deixe para lá. — Ultimamente,
Luis parecia estar procurando por qualquer oportunidade para satisfazer
a raiva que parecia ferver rapidamente abaixo da superfície. Não que
Austin não quisesse ver Val colocá-lo em seu lugar, mas não era a hora
nem o lugar.
Luis estreitou os olhos para ela. — Não é da sua conta. Você pode
ir embora.
— Bem, muito obrigada pela permissão — disse Val, — mas acho
que vou ficar. Apenas no caso de Austin precisar de mim.
Luis resmungou e começou a dizer: — Você... — mas Austin o
interrompeu.
— Obrigado, Val. Tenho certeza de que Alejandro apreciaria a
assistência de uma das nossas aliadas mais firmes. — Ele olhou para
Luis, desafiando o idiota a contradizê-lo. — Onde você deveria
encontrar ele na casa?
Luis franziu o cenho. — Ele disse para nos encontrarmos na
cozinha, mas ele não estava lá.
— Vamos dar mais algum tempo antes de entrar em pânico.
Antes que Luis pudesse interromper com algum outro comentário
grosseiro, Austin perguntou: — Para que vocês iriam se reunir aqui? —
Rosa estava encarregada de limpar o lugar e torná-lo utilizável, não Luis.
Sua arena era a política. Mas, no entanto, Luis estava constantemente
lutando para ser o número um entre os três tenentes, tentando se tornar
indispensável. Mas Alejandro nunca mostrou favoritismo, preferindo
girar a posição de segundo comando entre os três. — Talvez ele tenha
começado sem você — sugeriu Austin. Inferno, ele faria isso sem Luis,
tendo a chance.
Luis lançou um olhar para Val, mas ela estava inclinada para
acariciar Fang, agindo como se não estivesse ouvindo a conversa.
— Estamos procurando o sangue de Emmanuel — disse Luis
sucintamente.
— Você acha que ele armazenou algo dele? — Isso explicava por
que eles planejavam se encontrar na cozinha.
Luis assentiu. — Já que ele podia usá-lo para obrigar qualquer um
a cumprir suas ordens, Vincent de repente percebeu que Emmanuel
poderia ter mantido um pouco no gelo.
Isso fazia sentido — o demônio de sangue queria ter disponível
sempre que ele precisasse, especialmente se ele quisesse controlar um
número maior de pessoas.
— Para que você o quer? — Val perguntou com desconfiança.
— Não seja uma idiota — replicou Luis. — Somente Emmanuel
poderia compelir as pessoas usando seu sangue.
Fang grunhiu, mas Val deixou para lá, inalando profundamente e
murmurando: — Seja o Teflon.
— Lembre-se, ele também usou seu sangue para curar pessoas, seus
seres humanos preciosos — disse Luis. — Vincent sugeriu que o
estudássemos para ver se podemos duplicar seus efeitos.
Austin entendeu por que Vincent, o ex-paramédico e atual gerente
de laboratório/clínica, estaria interessado. Mas Luis não era exatamente
altruísta. Não quando se tratava de humanos, de qualquer forma.
Val fez a pergunta por ele. — Por quê?
— Boas relações públicas — disse Luis.
Isso explicava o envolvimento de Luis — era uma jogada política,
para trazer os humanos para seu lado quando chegasse o momento de
revelarem sua presença ao mundo. Pelo menos era assim que Luis podia
ver isso.
— Parece um pouco egoísta — disse Val. — Mas ei, se isso ajudar
as pessoas, sou a favor disso.
— Não precisamos de sua aprovação — ele murmurou.
Val revirou os olhos. — Sabe de uma coisa, acho que vou encontrar
algo para varrer o cristal. — Ela dirigiu-se para a cozinha.
Luis esperou até que ela tivesse ido, então disse: — Eu não entendo
o que você vê nela. Ela é uma criança.
— Ela viveu muitas coisas intensas em seus dezoito anos. Mais do
que a maioria das pessoas com três vezes mais a sua idade já
experimentou. — Embora ela fosse imatura e impulsiva, isso melhoraria
ao longo do tempo. Mas ele não admitiria isso a Luis. E, sabendo que
Luis se ressentia de Val porque Alejandro respeitava a “criança” tanto
quanto ele fazia com seus tenentes, Austin não conseguia resistir a
alfinetar o cara. — Além disso, ela é uma das melhores pessoas que eu
conheço.
— Melhor? — repetiu Luis com descrença. — Você a equipara com
pessoas como Alejandro?
— Sim. Pense nisso. Como uma súcubo, ela tem o poder de obrigar
qualquer homem a fazer o que ela pedir a qualquer momento. E como
ela usa isso?
Luis zombou. — Hipnotizando você com desejos lascivos,
evidentemente.
Austin ouviu o grunhido de Fang da entrada. Aparentemente, Luis
tinha esquecido que o cachorro do inferno podia entender tudo o que eles
estavam dizendo — e provavelmente reencaminharia para Val. — Não.
Ela deliberadamente mantém sua habilidade suprimida e a usa somente
quando é necessário fazer seu trabalho ou salvar a vida de alguém.
— Ou compelir a verdade — Luis replicou.
Então isso ainda doía? Luis odiava sentir como se tivesse perdido o
controle de qualquer coisa, e quando Alejandro tinha feito Val forçar
todos os vampiros no Movimento a declarar onde suas lealdades
estavam, Luis sentiu-se irritado com isso — e com ela. — Ela não queria
fazer isso — Austin o lembrou. — E ela concordou apenas a pedido de
Alejandro. Você está questionando as decisões de Alejandro agora?
Luis olhou para ele, mas não respondeu.
— Além disso, a vidente disse a Alejandro que ele teria sucesso com
Val ao seu lado. — E Alejandro colocou todo seu tempo e energia para
trabalhar na legislação para proteger os vampiros pertencentes ao
Movimento enquanto criminalizava aqueles que não pertenciam.
— Se você acredita que a vidente estava dizendo a verdade —
grunhiu Luis.
Austin estreitou os olhos. — Por que você não quer fazer nada que
promova a política do Movimento? Você está dizendo que você não está
mais a bordo da visão de Alejandro?
Luis fez um gesto cortante com a mão. — Não seja ridículo. Eu
simplesmente não acho que a parceria com um bando de demônios é a
maneira de fazê-lo. Ou você esqueceu o que o demônio de sangue fez?
— Você esqueceu como esse “bando de demônios” nos ajudou nos
últimos meses, incluindo com o demônio de sangue? — respondeu
Austin. — E Val é o motivo disso.
— Mas se não fosse por seus amigos demônios, o demônio de
sangue não teria...
— Meninos, meninos — uma mulher protestou da porta aberta. —
Por favor, sem brigas.
Austin olhou para a frente com surpresa. Ele não a tinha ouvido
entrar. Era Lisette, a líder do Novo Movimento de Sangue em Austin,
acompanhada de dois de seus guardas — loiros bem parecidos, como
sempre, escolhidos mais por seus aspectos que por seus músculos e
certamente não por seus cérebros. As sobrancelhas de Austin se
elevaram. Ela parecia vestida para a sedução em um vestido verde
esmeralda que se agarrava às suas curvas, os longos cabelos vermelhos
moldando um decote que estava garantido para atrair a atenção de todos
os homens da sala. — O que você está fazendo aqui? — ele perguntou
abruptamente.
Então Val voltou, carregando uma vassoura e uma pá. Ignorando a
tensão na sala, ela começou a varrer a bagunça, ou para Fang poder
entrar ou porque ela não queria estar no meio de uma briga de vampiros.
O cão do inferno tinha se movido sabiamente do caminho de Lisette,
mas não conseguiu avançar mais até que os fragmentos se fossem.
— Ah, mon ami — exclamou Lisette, fazendo bico. — Você está
aborrecido comigo? Mas tenho permissão para estar aqui. Alejandro está
me esperando.
Austin olhou para Luis, que assentiu. — Eu sugeri que essa busca
de sangue fosse um esforço conjunto entre os dois grupos. Alejandro
concordou.
— Então — ela disse, entrando e olhando para Austin como se ele
fosse uma mordida particularmente gostosa. — Eu estou aqui. Onde está
Guillaume?
— Guillaume? — repetiu Luis com uma careta.
— Eu o enviei na frente para verificar o lugar primeiro. Ele está
aqui, não?
Luis olhou para Austin, que balançou a cabeça. — Não o vi.
Lisette franziu a testa. — Onde está seu mestre?
Mestre? Alejandro não gostava de ser chamado disso, e ela sabia
disso. Austin se perguntou se valia a pena corrigi-la, mas Luis falou
primeiro.
— Eu não sei onde ele está — disse Luis, sua expressão suavizando
na presença de Lisette. — Eu estava pensando em procurá-lo quando
Austin me distraiu.
Val colocou a vassoura e a pá de lado, o chão agora livre de detritos.
— Bem, se todos vocês estão tão preocupados, por que todos nós não
procuramos por ele agora? — ela sugeriu.
Era uma sugestão razoável, e apesar de Luis franzir o cenho, ele não
disse nada.
— Ele não está na cozinha — Val se ofereceu. — Eu vim de lá.
— E eu acabei de vir da direita da escada — disse Luis. Ele apontou
para os guardas de Lisette. — Vocês dois, verifiquem o andar de baixo.
Austin, você e a Caçadora ficam com o andar de cima. Lisette e eu
iremos procurar à esquerda. Se vocês o encontrarem, enviem alguém
para nos informar.
Austin não se importou com a suposição de autoridade de Luis, mas
ele deixou que ele tivesse seu pequeno momento de ditadura e fez um
gesto para Val. — Vamos?
— Claro — ela disse, revirando os olhos.
Eles subiram as escadas juntos, Fang seguindo atrás.
Val riu.
— Se importa em compartilhar a piada? — perguntou Austin.
— Oh, nada. Fang apenas fez um comentário sobre Luis,
comparando-o com Hitler.
Austin deu um sorriso irônico. O cão do inferno não estava tão
longe. Luis deplorava a sociedade igualitária moderna e desejava que
eles pudessem retornar aos velhos modos feudais.
Eles viraram à esquerda no topo da escada e começaram a procurar
nos quartos de lá. A equipe de limpeza ainda não havia chegado até ali
ainda — parecia que os seguidores de Emmanuel estavam tão envolvidos
com seu líder carismático que não haviam se incomodado com uma
higiene simples ou qualquer coisa tão sem importância quanto a limpeza
dos quartos.
Por sorte, eles não tiveram de tocar realmente nos colchões
desagradáveis ou nas roupas para saber que Alejandro não estava entre
eles.
Quando chegaram a um banheiro, Val deu-lhe um olhar cauteloso
de soslaio. — Uh, acho que vou passar.
Austin sorriu. Ele poderia imaginar o que...
Um grito de baixo revirou seus pensamentos, e ele e Val nem
hesitaram. Eles desceram as escadas em direção ao som, Fang correndo
logo atrás. Isso tinha que ser Lisette. O que a deixaria tão furiosa?
Seguindo o som do invectivo francês incoerente, Austin e Val
correram para o quarto à esquerda da escada, seguidos de perto pelos
guardas de Lisette. Eles irromperam no quarto do altar e encontraram
Lisette balbuciando em francês para Luis, balançando os braços como
um moinho enlouquecido.
— O que há de errado? — Val e Austin perguntaram em uníssono.
Lisette ficou de repente silenciosa e apontou um dedo trêmulo no
chão atrás do altar. — Guillaume. Là-bas.
Austin correu ao redor do altar para ver o que a tinha deixado tão
chateada. Lá, deitado no chão, estava o Guillaume desaparecido com
uma adaga atravessando seu coração.
CAPÍTULO QUATRO
VAL

C ontrário a crença popular, não era apenas madeira no coração que


matava um vampiro. Qualquer coisa pontuda o faria. O pobre
Guillaume estava definitivamente morto.
Seu corpo explicava o grito de Lisette, e eu relaxei um pouco
quando não vi nenhuma ameaça imediata, embora eu fiquei de guarda,
enquanto Austin e Luis verificavam rapidamente os recessos ocultos no
resto do quarto.
Eles não encontraram nada, mas eu ainda estava inquieta. Este
quarto daria arrepios em qualquer um — paredes cobertas de preto, um
altar de pedra rudimentar com um copo de prata manchado e múltiplas
facas, e manchas nojentas não identificáveis que decoravam as múltiplas
superfícies. Era assim que Emmanuel alimentava vigorosamente seus
seguidores com seu próprio sangue, obrigando-os a tratá-lo como a
segunda vinda. Muitas vibrações ruins aqui.
Especialmente para Guillaume.
Qual é esse? perguntou Fang, encarando o corpo. Tweedledee,
Tweedledum ou Tweedledumber? Parece que eles deixaram Twee em casa.
O quê? Ah, sim, meus apelidos para o harém masculino de Lisette.
Não me lembro qual é qual, todos se parecem tanto para mim. Todos altos,
loiros, sarados e totalmente subordinados a Lisette. Bonitos, mas mais
decorativos do que úteis, eu suspeitei. E, eu me lembrei, ela queria
adicionar Austin a eles.
Fang bufou. Sem chance. Ele não é um puxa-saco.
Sim, definitivamente dominante demais para se juntar a sua equipe.
Lisette soltou uma outra expressão em francês, então balançou a
cabeça e falou em inglês. — Quem fez isso? — Ela olhou para mim, e
seus olhos se estreitaram. — Você... você é a Caçadora, não é? Você
matou Guillaume?
— Não, claro que não — eu respondi rapidamente. Não gostei da
maneira como ela e os outros dois tweedles estavam olhando para mim.
— Eu não ando ao redor matando vampiros aleatórios. Somente os
maus. E não matei esse cara. Eu usaria uma estaca, não uma adaga. —
Mais barato e mais fácil de deixar para trás.
— É verdade — disse Austin, me apoiando. — Ela é uma amiga do
Novo Movimento de Sangue. E ela estava comigo, exceto pelos poucos
minutos que ela foi buscar uma vassoura.
Até mesmo Luis precisava concordar. — Nós teríamos ouvido algo
se a Caçadora tivesse abordado Guillaume. Mas e quanto aquele
“demônio da sombra errante” que você falou antes? — ele perguntou,
com um olhar desafiador que eu queria arrancar de seu rosto.
— Shade? — eu resmunguei. — Sim, certo. Não é como se ele
pudesse dominar um vampiro. — Suas habilidades funcionavam apenas
para abrir portais e curar pessoas, não com grande força e destreza.
— Ele pode ter testemunhado alguma coisa — disse Austin.
Verdade. — Eu vou perguntar-lhe se ele viu ou ouviu alguma coisa.
— Eu liguei para o celular dele, mas não tive resposta. Dando de ombros,
eu disse: — Vou perguntar a ele mais tarde.
— E onde está Alejandro? — Lisette exigiu, seus olhos se
estreitando.
— Alejandro não fez isso — disse Austin com certeza. — Ele
também está desaparecido.
Luis lançou-lhe um olhar perspicaz. — Você acha que quem fez isso
matou Alejandro e Vincent?
— Talvez — disse Austin. — Você encontrou outros corpos?
Ele parecia tenso, mas eu não tinha certeza se era porque ele estava
irritado com Luis ou porque Alejandro poderia ter sido vítima de um
crime. Provavelmente ambos.
— Nenhum outro corpo — disse Luis.
Sim, Fang concordou. Eu só sinto o cheiro de um morto-vivo morto.
O oxímoro deveria me confundir, mas eu sabia o que ele queria
dizer.
— Então precisamos encontrá-lo antes que quem fez isso com
Guillaume o faça de novo — disse Austin, compartilhando um olhar
sombrio com Luis.
Eu olhei ao redor. — Bem, há tantas pessoas aqui, provavelmente
destruímos qualquer evidência que possa nos ajudar a fazer isso.
Luis resmungou. — E quem precisaria dessa evidência? Não
chamamos a polícia.
Eu tinha tido o suficiente de seu comportamento grosseiro. Esqueça
o Teflon. — Oh, eu não sei. Talvez um de nós? Você pretende investigar,
não é? — Ou ele estava preso demais em jogar jogos de dominância para
pensar claramente?
— Claro. E não precisamos da sua ajuda.
Ignorando-o, olhei para o corpo. — Bem, já que Lisette o enviou na
frente, sabemos que ele deve ter morrido antes de chegarmos aqui, ou
você teria ouvido alguma coisa, certo?
Austin assentiu, então continuei. — Chegamos aqui cerca de três e
quinze. E você, Luis?
Ele franziu a testa, mas respondeu de qualquer maneira. — Cheguei
cerca de três e trinta, assim que as luzes se apagaram. Era essa hora que
Alejandro deveria me encontrar.
— Ele às vezes chega cedo?
— Frequentemente — disse Austin.
Eu me virei para Lisette. — Você sabe que horas Guillaume chegou?
Ela deu um encolher de ombros elegante, mas parecia acreditar que
eu era uma das pessoas boas, por agora. — Talvez por volta das duas e
trinta — ela disse, — para garantir que tudo estivesse seguro para minha
chegada. Eu também encontraria com Alejandro às três e trinta.
E ela apareceu elegantemente tarde, é claro.
— Por que você chegou atrasada? — perguntou Luis, franzindo a
testa.
— Eu estava esperando que Guillaume desse tudo como limpo
primeiro. Mas quando ouvi vocês dois discutirem, eu entrei. — Ela olhou
para o corpo dele. Adivinhamos por que ele não tinha feito isso.
— Então deve ter acontecido antes de todos nós chegarmos aqui —
eu disse.
Um dos tweedles se inclinou para remover a adaga, mas eu disse:
— Espere, não toque. Essa é uma das de Emmanuel?
Ele puxou a mão para trás, franzindo a testa.
— Isso importa? — perguntou Luis.
O olhar de Austin varreu o altar. — Parece com as outras — ele
confirmou.
— Sério? — eu perguntei a Luis com descrença. — Você deixou
armas perigosas onde alguém poderia usá-las?
— Estávamos esperando por Alejandro e Vincent para vê-las
primeiro. — Ele zombou. — Mais uma vez, isso importa?
— Talvez... se a adaga fosse um athame e tivesse magia. — Embora
um altar normalmente só tivesse um athame, não uma coleção deles.
Mas, no entanto, quem sabia o que os rituais de um demônio de sangue
precisavam?
— E talvez não seja uma faca de ritual — disse Luis. — Ele não era
Wiccan, apenas um demônio.
— Como saberíamos se é um athame ou não? — perguntou Austin.
Uh, agora que ele mencionou isso, eu não tinha ideia. — Um
Wiccan provavelmente saberia. — Eu me aproximei para olhar para a
adaga enterrada até o punho no coração de Guillaume. O guarda-mão
era curvado em um floreio e uma pedra verde com manchas vermelhas
estava colocada na ponta do cabo.
Austin também olhou para ele. — Sangue na pedra — ele
pronunciou.
É o que parece.
Pedra... isso me lembrou de algo. — Há um novo demônio na
cidade — eu disse a eles. — Micah disse que ela é um sussurrante de
pedras preciosas. Talvez ela possa pegar nessa pedra para nos dizer algo.
Todos pareceram céticos, até Austin. Pensando nisso, pareceu um
pouco estranho. Mas até alguns meses atrás, eu nem sabia que outros
demônios existiam, e muito menos as habilidades que eles possuíam. E
Micah não teria razão para mentir para mim sobre isso. — Não tenho
certeza de como sua habilidade funciona, mas talvez ela possa nos dizer
quem tocou por último, se mantivermos nossas mãos longe dela.
Bem, quem imaginaria? Eles na verdade pareceram concordar
comigo para variar. Antes que pudessem mudar de ideia, eu disse: —
Deixe-me ligar para Micah e ver se ela pode vir.
Liguei para o meu chefe, disse-lhe o que tinha acontecido e pedi-lhe
para trazer a sussurrante de pedras preciosas para ver se ela conseguia
descobrir algo do sangue no punho.
Sabe de uma coisa, Fang falou. Se todos vocês saírem do quarto, eu posso
ser capaz de cheirar algo.
Boa ideia. Eu disse ao resto o que ele havia dito. — Vamos esvaziar.
Eles deixaram o quarto e Fang cheirou todo o lugar assustador. —
O que você cheirou? — eu perguntei.
Fang percorreu a sala, com o nariz no chão. Muitas pessoas, vampiros,
demônios, seguidores religiosos...
— Algum traço mais recente do que os outros? — Eu não sabia se
isso era possível, mas era o que precisávamos.
Sim, é possível, disse Fang. Além do tweedle morto, eu obtive muito do
cheiro de sanguessugas, especialmente de Alejandro, Vincent e aqueles dois doces
vampiros.
Doces vampiros?
Você sabe... Mike e Ike.
Ah. Repeti a conversa para os outros.
— Mike e Ike? — perguntou Luis.
— Os dois que enviamos para voltar a acender as luzes e limpar o
cristal — disse Austin, parecendo pensativo.
— Eu liguei o interruptor — disse Luis.
— E eu limpei. — Então, o que aconteceu com Mike e Ike?
Austin e eu trocamos olhares. — Eles disseram que você os enviou
aqui para limpar — Austin disse a Luis. — Que você era o criador deles.
— Eu não conheço vampiros com esses nomes — disse Luis.
Em uníssono, ele e Austin disseram: — Desvinculados.
Oh, droga. Eles nos enganaram.
— Por que eles matariam Guillaume e levariam Alejandro? —
perguntou Lisette.
Dãã. — Porque eles querem ser a única escolha na cidade? — eu
sugeri.
— Então porque não simplesmente matar Alejandro e este Vincent
também? — ela perguntou.
Foi uma pergunta razoável. — Chantagem? — eu sugeri. — Talvez
eles vão enviar um pedido de resgate ou algo assim, exigindo que vocês
dissipem o Movimento. — Afinal, o Movimento ameaçava o objetivo
dos desvinculados de morder qualquer um que eles quisessem.
— Totalmente possível — disse Austin pensativo.
— Ou talvez eles levaram Alejandro e Vincent para torturá-los,
obter informações confidenciais sobre o Movimento — sugeriu Luis.
— Nós não vamos descobrir apenas ficando aqui — Austin falou
rispidamente.
— Onde você sugere que comecemos a procurar? — Luis rebateu.
Uau. A sobrecarga de testosterona estava sobrecarregada? — Você
pode seguir o aroma de Alejandro? — eu perguntei a Fang para que todos
pudessem ouvir.
Eu posso, mas está em todo lugar aqui. Não tenho certeza de que ajude.
Repetindo o que ele disse para o benefício dos outros, perguntei em
voz alta: — E quanto a Mike e Ike? Você pode seguir seus aromas?
Vou tentar.
Todos observaram enquanto Fang cheirava em círculos, depois se
dirigiu para a escada, onde nós os vimos antes. Todos seguimos como
patinhos até que Fang disse: Parem de andar ao redor. Vocês estão misturando
os cheiros. Apenas quero Val comigo.
Passei a mensagem e todos se reuniram na sala de estar enquanto
Fang fazia sua caça de cheiros e eu o seguia. Seu caminho o levou pela
cozinha e para a entrada lateral, então ele parou.
O rastro para aqui, ele me disse. Eles devem ter entrado em um carro e se
foram.
Eu estava com receio daquilo. Voltei para a sala de estar para
encontrar Luis empurrando o rosto para Austin. — É culpa sua — disse
Luis.
Os punhos de Austin apertaram, mas ele não recuou. — O inferno
que é.
— Você é responsável por atribuir os guardas de Alejandro.
— Eu sou — disse Austin. — E Alejandro recusou ter alguém além
de Vincent hoje.
— Vincent não era o suficiente, obviamente — disse Luis, sua voz
caindo de sarcasmo.
— Bem, desculpe — disse Austin, — mas minha bola de cristal
estava quebrada. Como eu saberia que Vincent não seria suficiente?
— Talvez porque você queria que ele estivesse desprotegido? —
sugeriu Luis.
— O quê? Não seja idiota. Não tive nada a ver com o
desaparecimento dele.
— Nós só temos a palavra da sua concubina para provar isso.
Concubina? Eu não tinha certeza do que isso significava, mas tinha
certeza de que não era um elogio.
Não é, Fang confirmou. Ele está lhe chamando de vadia.
Imbecil. Ele vai ver só.
Austin não ia deixar isso barato. — Val não é uma concubina. E eu
aceitaria a palavra dela ao invés da sua em qualquer dia. Como sabemos
que você não o sequestrou para que você pudesse assumir o Movimento?
Luis parecia pronto para explodir, mas Lisette disse: — Basta. Isso
não está ajudando. — Ela olhou para mim. — O cachorro encontrou
alguma coisa?
— Não, o rastro terminou na porta lateral. Eles devem ter entrado
em um carro e foram embora.
— Alejandro estava com eles? E Vincent? — perguntou Austin.
— Não há como saber. Seus cheiros estão em toda parte.
Micah chegou, Fang me disse.
Quando eu virei para olhar para a porta, a cabeça de todos os outros
me seguiram, e Lisette mudou para uma pose de uma modelo, dando-
lhe um sorriso flertador. Parecia que o íncubo de Micah estava
funcionando bem. Um dos tweedles sussurrou em seu ouvido, e ela
recuou, franzindo o cenho. Que pena. Eu gostaria de vê-la contra o
íncubo de Micah, figurativamente falando.
Micah entrou na casa e uma pequena loira o seguiu, obviamente
mantendo a distância do íncubo cuja proximidade poderia inspirar
luxúria em qualquer mulher — exceto a mim, é claro. A loira era da
minha idade, com cabelos curtos e espetados, vestindo um casaco com
capuz rosa pálido e uma tonelada de joias — pedras preciosas em cada
dedo, joias que brilhavam em suas orelhas e até uma em sua barriga
abaixo do cropped dela. Ela tinha o tipo de autoconfiança que eu
costumava ver apenas em mulheres maduras. Eu desejava poder mostrar
esse tipo de segurança.
— Boa noite — disse Micah. — Essa é uma hora ruim?
Parecia o momento perfeito para mim. — Não, está tudo bem. Você
é a sussurrante de pedras preciosas? — eu perguntei à menina. Ela não
parecia nada como eu imaginaria que um demônio de pedras parecesse.
Ela assentiu com a cabeça sorrindo e apertou minha mão. — Ivy
Weiss.
— Prazer em conhecê-la. Eu sou Val Shapiro. — Eu a apresentei
aos vampiros da sala, todos exceto os tweedles cujos nomes eu não sabia,
e então apresentei Fang.
— Um cão do inferno? — ela disse com alegria. — Nunca conheci
um antes. E ele pode falar na minha cabeça?
Uou, Fang disse. Eu não sou o único. Eu nunca escutei tantas vozes na
cabeça de alguém na minha vida. De quem elas são, se não são de cães do inferno?
Ivy sorriu pesarosamente. — É o preço de falar com pedras. Elas
estão caladas a maioria das vezes, mas elas estão entusiasmadas com essa
situação, então há muita conversa. A única maneira de bloqueá-las é
cobrir minha cabeça com seda. — Ela demonstrou puxando o capuz do
casaco rosa sobre sua cabeça. — Desse jeito.
Eu tinha problemas suficientes com Fang na minha cabeça. Não
podia imaginar todo esse monte de vozes. Eu ficaria louca. Olhei para
Fang, antecipando sua represália.
Não, é fácil demais. Além disso, eu não estou louco para ouvir todas essas
vozes, também. Acho que vou ficar longe da cabeça dela.
Ignorando Fang, perguntei: — Qual é o alcance? Para ouvir as
pedras, quero dizer.
Ela encolheu os ombros. — Varia. Normalmente, dentro de alguns
metros, a menos que eu já tenha estabelecido um vínculo com uma,
então é muito mais longe.
Ok, então ela não podia dizer nada daqui. — Nós temos uma pedra
que gostaríamos que você olhasse. Você pode dizer quem a tocou por
último? Ou se está encantada com magia?
Ela encolheu os ombros. — Talvez. Vamos ver.
Eu a guiei para o corpo. Seu rosto pálido pareceu ficar ainda mais
branco quando ela viu a adaga no coração do vampiro. — Eu... eu não
acho que eu possa te contar qualquer coisa — ela disse, segurando seu
capuz ao redor de seu rosto.
— Por que não? — grunhiu Luis.
— As vibrações...
— Você nem tentou — disse Luis e puxou o capuz para baixo. — O
que você sente?
O rosto de Ivy ficou cheio de horror. — Nããão — ela gemeu,
agarrando sua cabeça e se encolhendo no chão.
CAPÍTULO CINCO
VAL

E nquanto Micah e eu corremos para o lado de Ivy, Austin enfrentou


Luis. — O que diabos você acha que está fazendo?
— Obtendo respostas — disse Luis. — Ou você não quer achar
Alejandro?
Austin recuou, mas seus punhos estavam apertados. — Ele não faria
mal a ninguém para obter essas respostas.
— Não me importo...
— Isso é óbvio — retrucou Austin. — Você só se importa com você
mesmo.
Luis levantou um punho em direção a ele, mas Austin o bloqueou
e socou Luis direto no rosto, enviando-o tropeçando para o altar.
Vai, Austin! Fang aplaudiu.
Embora eu compartilhasse o sentimento, este pequeno espaço não
era o lugar para uma briga, especialmente com dois vampiros poderosos
e destrutivos movendo-se a uma velocidade vertiginosa. Deixando
Micah para cuidar de Ivy, intervi quando Luis caminhou para Austin,
com sangue nos olhos. Estendendo minhas mãos para empurrar Lola
para ambos, eu gritei: — Parem!
Tive cuidado para manter Lola em alta capacidade, mas foi ainda
mais fácil do que eu esperava agarrar os dois e forçar eles a obedecer,
mesmo sem o amuleto. Eles pararam obedientemente.
Mas agora que eu os tinha, o que eu ia fazer com eles? Droga, ter
que agarrar o cara com quem você saiu pelos chacras e forçá-lo à sua
vontade não era exatamente o caminho para o coração de um homem.
Foi assim que eu alienei Shade.
Este é Austin, não Shade, Fang me lembrou. Ele entende.
Mas não deveria ser necessário, gritei para mim mesma. Por que ele
tinha que dar uma de Exterminador com Luis?
Oh, eu não sei. Porque ele é um homem... porque ele é um vampiro... porque
não é um covarde? Você iria preferir ter um completo fracote como namorado?
Bem, não, mas se eu tivesse que usar Lola nele com muita
frequência, isso também não significaria um excelente relacionamento.
Ele não é meu namorado, atirei para Fang. Ainda não, de qualquer forma.
Mas ele quer ser. E você tem que admitir que Luis merecia isso.
Sim.
Lisette estava de repente na minha frente, bem perto e muito
pessoal. — Solte-os — ela ordenou com um silvo, seus caninos
alongados para fazer seu, hã, ponto.
Eu tinha tido o suficiente de sua atitude eu-sou-melhor-do-que-você
e meu-cocô-não-fede. Caramba, ela era uma versão humana de Princesa.
Eu apertei meus olhos para ela. — Se afaste, ou Micah fará o mesmo
com você.
Os Tweedles pareceram fazer objeção a isso e deram um passo
ameaçador em minha direção — ou talvez em direção a Micah, que se
levantou ao meu lado. — Você, também — eu ordenei quando acertei
Lola sobre seus chacras em aviso.
Eles pareceram assustados, mas recuaram.
Fang disse: Você está assustando a sussurrante de pedras preciosas.
Olhei para Ivy, que recuperou seu equilíbrio e estava lentamente se
levantando. Ela estremeceu, parecendo mais dolorida do que assustada
para mim. Isso me lembrou o que era importante aqui, no entanto.
Afrouxei meu domínio aos tenentes vampiros. — Desculpa — eu disse a
Austin e Luis, pensando que uma desculpa não cairia mal, — mas brigar
neste pequeno espaço não é uma boa ideia agora. Vocês podem guardar
isso para depois de encontrarmos Alejandro?
Eu recuei Lola, mas mantive uma fração sobre eles, apenas por
precaução. Austin me deu um forte aceno de cabeça. — Peço desculpas,
Caçadora. Não iniciarei mais altercações.
Agradeci sua sensibilidade, mas se ele estava me chamando de
Caçadora agora e estava dando um de formal comigo, isso significava
que ele me via mais como uma executora do que um encontro? Não era
o que eu estava pretendendo.
Não. Ele provavelmente apenas enfatizou por causa de Luis.
Olhei para Luis, que estava em silêncio. Talvez.
Você não vai receber nenhuma desculpa dele.
Isso eu sei. Mas Luis me fez um rápido aceno de cabeça como
garantia de que ele não começaria a bater em Austin. Eu os soltei
completamente e a tensão no lugar caiu notavelmente.
— Uau — Ivy disse de dentro de seu capuz, sua atitude
aparentemente restaurada, — isso foi impressionante. O que você fez?
Ela é uma súcubo, Fang disse a Ivy. Ela os capturou por seus tentáculos
de luxúria e os tornou seus escravos.
Eu endureci, então percebi que Austin não podia ouvir isso. Uma
coisa boa.
Fang bufou. Ele já sabe. E agora você é a heroína de Ivy.
— O que aconteceu? — eu perguntei a Ivy. — Você está bem? —
Ela certamente parecia bem agora.
Ela agarrou os lados do seu capuz para mantê-lo firmemente em sua
cabeça enquanto olhava para Luis. — A razão pela qual eu disse que não
seria capaz de dizer nada é porque a pedra está traumatizada.
— A pedra está traumatizada? — Lisette repetiu com descrença. —
Não, Guillaume está traumatizado. Uma pedra é inerte, morta.
— Para você, sim — Ivy disse com mais calma do que eu teria. —
Mas, a partir do momento em que as pedras preciosas são cortadas,
polidas e admiradas, tornam-se conscientes.
Meio como um cão do inferno, eu pensei.
Isso não foi engraçado. Eu não sou polido.
Você entendeu bem, eu disse, sorrindo quando finalmente marquei um
ponto em Fang.
— E isso é útil como? — perguntou Luis sarcasticamente, com a
mandíbula apertada e os punhos cerrados.
— As pedras preciosas absorvem as emoções das pessoas ao seu
redor — explicou Ivy. — Quanto mais tempo elas estiverem em torno de
alguém e quanto mais forte for a emoção, mais provável será que a
tenham absorvido.
— Mais uma vez, como isso é útil? — perguntou Lisette com um
fungado desdenhoso.
— Elas podem comunicar o que elas sabem e sentem para mostrar
a demônios de pedras. Eu sou um demônio de pedras — acrescentou Ivy
em palavras simples, como se implicasse que os dois não entenderiam
isso com sua inteligência limitada.
Antes que Luis ou Lisette pudessem explodir, Austin disse
gentilmente: — Não conhecíamos os demônios de pedras.
— Chamem ela de sussurrante de pedras preciosas — sugeriu
Micah. — Está mais perto do que ela realmente faz.
Austin assentiu. — Como sabemos que elas vão falar a verdade?
Ivy encolheu os ombros. — Elas não sabem mentir, então elas
sempre falam a verdade. Bem, a verdade como elas veem a partir de sua
perspectiva limitada e egocêntrica, de qualquer maneira. — Em um olhar
interrogativo de Austin, ela acrescentou: — Elas falam o que importa
para elas, não para você, e elas têm dificuldade em manipular fortes
sentimentos. — Ela olhou para a adaga. — Esta deve ter testemunhado
algumas emoções bastante horríveis. Eu nem perguntei nada, e ela não
parou de gritar.
— Você conseguiu alguma coisa dela? — Austin perguntou
gentilmente.
— Além do grito na minha cabeça? — Ivy perguntou com
descrença. Ao aceno de Austin, ela disse: — Não, só que ela sentiu a
morte. É por isso que ela está gritando.
— Você poderia dizer se havia alguma magia na lâmina ou na
pedra? — eu perguntei.
Ela pareceu surpresa, depois parou por um momento. — Eu não
pensei sobre isso antes, mas não havia magia. Eu sentiria isso.
Bem, isso era um alívio. Sabíamos que poderíamos tocá-la agora
sem sermos explodidos.
— Você pode nos dizer quem fez isso? — perguntou Austin.
Como se uma barragem tivesse sido liberada de algum lugar dentro
dele, Luis falou: — E se mais alguém estava no quarto. Alguém mais foi
morto? Havia...
Ivy levantou uma mão para detê-lo. — Não vou saber mais nada até
ter uma chance de limpar a pedra. Está gritando sem parar, lembra?
— Como você faz isso? — perguntou Austin.
— Quanto tempo vai demorar? — perguntou Luis.
— Eu uso uma solução especial, com água, sal e outros minerais —
disse Ivy. — Como com a maioria das ferramentas mágicas, a mistura
acalma e purifica.
Lisette estendeu os dedos para Tweedledee, e ele correu para a
cozinha.
— Quanto a quanto tempo... — Ivy encolheu os ombros. — Talvez
dois dias, talvez mais tempo.
— Não é aceitável — disse Luis.
— Desculpe — Ivy disse e lhe devolveu seu olhar intenso. — Elas
trabalham no seu próprio cronograma e não no seu.
O tweedle correu de volta, carregando um saleiro e um recipiente
Tupperware cheio de água. Ivy parecia duvidosa, mas disse: —
Obrigada. Esse é um bom começo até eu obter o resto das minhas
ferramentas. Você poderia... — Ela gesticulou em direção à adaga.
O tweedle olhou para Lisette e, com um aceno da cabeça, retirou-a
cuidadosamente do coração de Guillaume e colocou a coisa sangrenta
no recipiente de plástico.
Olhei ao redor da sala. — E o mármore no chão ou a pedra do altar?
— eu perguntei a ela. — Eles podem te dizer algo?
Ivy sacudiu a cabeça com pesar. — Tem que ser uma pedra preciosa,
embora algumas das coisas que chamamos de pedras preciosas não sejam
conscientes, as que vêm de um ser antigo, como coral, âmbar e pérolas.
Luis parecia impaciente com a lição de geologia.
— Mesmo que a pedra do mármore e do altar estivessem cientes, eu
tenho a impressão de que elas estariam gritando também — disse Ivy,
olhando ao redor em trepidação para a sala sombria. — O que era esse
lugar?
— Você não quer saber — eu assegurei-lhe.
Micah deu um passo à frente. — Ivy e Val, por que não vamos para
que possamos obter a solução adequada para limpar o sangue... e
questionar Shade para ver se ele sabe de alguma coisa.
Austin assentiu. — Vamos terminar de vasculhar a casa. — Ele
inclinou um olhar para Guillaume. — E cuidar dos nossos.
Suspirei e compartilhei um olhar com Austin. Não era exatamente
como eu esperava que esse encontro fosse encerrado.
O quê? Fang perguntou. Você estava esperando beijos intensos? Talvez
obter um pouco mais?
Mais uma vez, fiquei tão feliz que Austin não conseguia ouvir meu
cão do inferno. Cale a boca. Mas, como um final para um primeiro
encontro, meio que era uma droga.
Como se ele tivesse lido minha mente, Austin curvou um sorriso
para mim e disse: — Vamos tentar novamente.
Suspirei e assenti com a cabeça. Desde que nossos empregos
simplesmente nos deixassem...
CAPÍTULO SEIS
VAL

E u e Fang entramos no Lexus de Micah, que era um bom deleite.


Entre o seu carro elegante e os que os vampiros mantinham, eles
me deixavam mimada, fazendo-me pensar se eu deveria conseguir algo
além da minha moto Valkyrie. Não me interpretem mal, eu adorava
minha moto — era rápida, manobrável e me dava uma sensação de
liberdade. Mas também era barulhenta, dependia do clima e não era
exatamente amigável para os passageiros. Com exceção de Fang.
Sim, eu a amo, mas você tem que admitir que um carro seria agradável
durante o granizo no último mês. Além disso, você poderia colocar mais
equipamentos de caça em um porta-malas.
Talvez eu procure por um carro, eu disse a ele. Eu não podia pagar uma
coisa tão cara quanto os caras tinham, e um luxuoso simplesmente seria
arruinado se eu tivesse que transportar um vampiro assassinado, mas a
proteção do clima seria legal.
Caramba... eu estava me tornando uma covarde?
Fang bufou. Sem chance, querida. Não se preocupe... eu aviso a você se
você começar a se tornar uma covarde.
Bom saber.
Micah ligou para Shade em seu celular e arranjou para irmos para
seu apartamento.
No banco da frente, Ivy bocejou. — Vocês sempre ficam acordados
a noite toda?
— Desculpe — disse Micah apologeticamente. — Mas comigo
trabalhando no Clube Purgatório e Val como Paladina e sua associação
com os vampiros, nós costumamos trabalhar à noite e dormir durante o
dia.
Perguntei-me por que ela perguntou, então percebi que íamos ser
companheiras de quarto por um tempo. Eu esperava que ela não fosse
muito uma pessoa do dia, ou nos irritaríamos com nossas horas opostas.
Ivy assentiu. — Bem, eu também sou uma pessoa da noite, então eu
entendo. Mas acho que isso é o mais tarde que eu já fiquei acordada.
Você se acostumará a isso, disse Fang.
Ivy lançou a ele um olhar estranho como se quisesse dizer que não
queria se acostumar, mas chegamos ao apartamento de Shade, então não
havia tempo para discutir mais. Shade cumprimentou-nos na porta com
um cachorrinho em suas mãos e Princesa aos seus pés. Por sorte, isso o
aterrava neste mundo, então ele não estava todo serpeado quando ele foi
apresentado a sussurrante de pedras preciosas.
— Que fofinha — exclamou Ivy, estendendo a mão para correr um
dedo sobre a pele macia do cachorrinho. Ela lançou um olhar para Fang.
— Ela se parece com você.
Esta é uma das minhas meninas, Fang disse orgulhosamente. Eu quase
podia ver seu peito expandindo-se com orgulho.
— Qual o nome dela? — Ivy perguntou.
— Estamos chamando ela de Delta por enquanto — explicou
Shade. — Cães do inferno escolhem seus próprios nomes quando eles
têm idade suficiente.
— Quando será isso?
Ele olhou com carinho para a cachorrinha. — Não tenho certeza.
Eles têm aproximadamente um mês de idade agora, então...? — Ele
olhou para baixo. — Pergunte a Princesa.
Me perguntei por que ele mesmo não perguntou isso, então me
lembrei que ele tinha bloqueado a capacidade dos cães do inferno de se
comunicarem com ele. Humm, como Princesa se sentia sobre isso?
Ela odeia isso, disse Fang. E ela está dando gelo em Shade até que ele fale
com ela novamente.
Princesa respondeu à pergunta, embora Shade não conseguisse
ouvir a resposta. Eles escolherão um nome quando escolherem um companheiro,
disse Princesa, olhando com desconfiança para Ivy. Mas eles são muito
jovens para me deixar agora. Devemos esperar até que tenham pelo menos dois
meses de idade.
Ivy olhou para Princesa com surpresa, aparentemente por encontrar
outro cachorro que poderia falar com ela.
Micah sorriu. — Somos abençoados com uma abundância de cães
do inferno.
Eu não tinha certeza de que alguém chamaria Princesa de uma
bênção...
— Você não é linda? — Ivy disse, curvando-se para olhar o Cavalier
King Charles Spaniel.
Sim, eu sou, Princesa concordou. Você pode me acariciar.
Ivy curvou um sorriso, mas fez o que Princesa mandou. Quando
Princesa obteve o suficiente, ela claramente ignorou Shade e trotou de
volta para os outros três cachorros, que estavam se agitando bem-
humoradamente na sala de estar.
— Eu poderia segurar um? — Ivy perguntou.
— Claro — disse Shade e entregou-lhe a cachorrinha que ele estava
acariciando.
E claro, Shade ficou todo serpeado, as fitas de luz cinzentas em
espiral sem fim dentro dos limites de sua pele. Ivy pareceu assustada.
Eu apressadamente expliquei. — Shade é um demônio das sombras.
As energias interdimensionais se movem através dele constantemente, a
menos que ele seja aterrado por um ser deste mundo.
— Oh — Ivy disse fracamente. — Nunca conheci um demônio das
sombras antes.
— E eu nunca conheci um demônio de pedras — disse Shade, com
humor em sua voz. — Eu li sobre o seu tipo.
— Você leu sobre demônios de pedras? — Ivy disse com surpresa.
— Onde?
Shade e eu lançamos um olhar para Micah, incerto se devíamos
mencionar os livros. — Vocês podem confiar nela — ele disse.
— Na Enciclopédia Mágica — explicou Shade. — Como você fala
com elas?
Ivy encolheu os ombros. — Principalmente, eu experimento as
emoções que elas absorveram das pessoas ao seu redor. Uma vez que
estão livres de emoções negativas, elas geralmente se comunicam
comigo.
— Eu vi alguns livros que listam propriedades que cada pedra possui
— continuou Shade. — Elas são precisas?
Ivy parecia confusa, como se estivesse se perguntando por que
Shade queria saber.
— Pedi a Shade que expandisse nosso conhecimento na
enciclopédia — explicou Micah. — É importante saber o quanto
pudermos para quando alguém precisar de ajuda, sabermos como ajudá-
los.
Ivy assentiu. — Uma pedra preciosa bem cuidada pode melhorar
sua saúde, bem-estar e outras características. A maioria dos livros que a
“nova era” publicam sobre suas propriedades são bastante precisos...
posso dizer-lhe quais usar, se quiser. — Seu olhar deslizou de seu rosto
girando, como se ela não soubesse para onde olhar.
— Desculpe — disse Shade. — Eu sei que as pessoas demoram a se
acostumar. — Ele pegou outro filhote do chão, e nós podíamos ver seu
rosto novamente, com um sorriso triste.
Ivy sorriu para Delta em seus braços. — Que fofa. Ela está falando
comigo.
— Ela está? — perguntei com surpresa. Ainda não falaram comigo,
e tive que admitir um pouco de ciúme. — O que ela está dizendo? Gu gu
da da?
Ivy riu. — Não, mais como “moça bonita, esfregue minha barriga,
me alimente”.
Definitivamente filha de Princesa.
Ei, Fang exclamou. O que você esperava? Shakespeare? É apenas um
bebê.
Desculpa.
— Tenho certeza de que você não veio apenas para me apresentar a
Ivy — Shade disse a Micah. — O que você precisa?
— Alejandro desapareceu esta noite da casa do demônio de sangue,
quase ao mesmo tempo em que você estava lá. Você se lembra de ver ou
ouvir alguma coisa?
Shade franziu a testa enquanto acariciava o cachorrinho nos braços
de Ivy. — Ouvi algumas pessoas vagando pelos outros quartos, mas não
sei quem eram.
— Você não ficou curioso? — perguntou Micah franzindo a testa
quando Shade não encontrou seus olhos.
— Ele estava muito ocupado murmurando para si mesmo enquanto
tentava abrir um portal — eu lancei. Ele provavelmente não tinha ouvido
muito.
Shade me disparou um olhar irritado. — Bem, eu não vou fazer
mais isso, não é?
— Você pode com a permissão de Micah — eu lembrei-o com
dureza.
Micah me deu um olhar interrogativo, e eu expliquei sobre o cristal
quebrado que tinha selado a minha última ordem para Shade.
Shade encolheu os ombros. — Eu estava tentando evitar todos lá —
ele admitiu. — Me mantendo discreto. Eu queria poder ajudar, mas eu
realmente não sei nada sobre o desaparecimento de Alejandro.
— Você não ouviu nenhum grito? — eu perguntei. — Ou qualquer
outra coisa?
Ele balançou sua cabeça. — Não houve gritos. Parecia que as
pessoas estavam movendo móveis naquele quarto do altar, mas só isso.
Movendo móveis? Bem, Guillaume era praticamente madeira
morta, mas eu não o chamaria de móvel. — Poderia ter sido uma briga
que você ouviu?
— Poderia ser. Eu não sei... eu não estava prestando atenção.
Suspirei. — Ok, acho que preciso recuperar os livros para que eu
possa ver se posso encontrar um feitiço que possa ajudar. — Embora eu
fosse a Guardiã da enciclopédia, eu emprestei os livros para Shade para
ajudar na compilação de tudo o que nós sabíamos sobre demônios e
outras entidades não-humanas. Com os demônios mago derrotados, não
tínhamos que nos preocupar tanto com a enciclopédia ser roubada, e os
livros tendiam a se proteger de qualquer outra pessoa.
Você realmente quer utilizar outro feitiço? Fang perguntou. Você acabou
de recuperar a maioria da força de Lola.
Não, eu não queria esgotar os passos que eu ganhei com Lola, mas
era imperativo encontrar Alejandro. Não só porque ele era o líder do
Novo Movimento de Sangue e meu amigo, mas porque eu tinha a
sensação de que seus três tenentes — Austin, Luis e Rosa — queriam
entrar no vácuo do poder na ausência dele. Eu não precisava desse tipo
de drama de vampiro no meu turno.
Olhe para você, sendo toda inteligente e analítica, Fang disse com
admiração. Mas eu duvido que Rosa tenha chance contra os outros dois.
Ele provavelmente estava certo. Ela era mais do tipo doméstica, se
você pudesse chamar uma vampira de doméstica.
— Vocês não têm um localizador? — Ivy perguntou em surpresa.
Momento de exasperação. — Oh, sim, nós temos. — Dãã.
Micah assentiu. — Eu já estava planejando entrar em contato com
Erica pela manhã. Ela provavelmente está dormindo agora.
— Boa ideia. — Talvez isso fosse mais fácil do que eu pensava.
Micah agradeceu a Shade e pediu-lhe para me informar se ele se
lembrasse de mais alguma coisa, depois partimos. Levei a enciclopédia
comigo de qualquer maneira, caso precisássemos de outra coisa. Embora
eu geralmente sentisse sua atração quando eu estava longe dela, ela
parecia gostar de estar com Shade, então a atração não era tão insistente
quando estava com ele. E não era como se eu pudesse carregar três livros
pesados na minha mochila o tempo todo.
Ivy bocejou e Micah disse: — Vamos colocar Ivy em uma cama. Ela
deixou seu carro em sua casa, então podemos ir direto para lá.
Boa ideia. A sussurrante de pedras preciosas parecia exausta.
Depois de levarmos a bagagem para a casa e Micah ir embora, eu mostrei
o antigo quarto de Gwen. — Você quer dormir agora?
Ela balançou a cabeça. — Não, preciso primeiro tirar esse sangue
com um banho de limpeza adequado.
— O que você precisa?
— Eu tenho tudo o que eu preciso na minha maleta. — Ela pegou
uma maleta de tecido como o tipo usado pelos vendedores. Abrindo, ela
tirou um prato de cerâmica branca, sal do mar e algumas ervas, depois
levou-os para a cozinha. Ela encheu o prato com água, salpicou o sal e
as ervas, mantendo o capuz com firmeza sobre a cabeça, e disse: — Você
se importaria de colocar o athame no banho de limpeza?
— Claro, sem problemas. — Micah tinha colocado o recipiente
Tupperware na mesa da cozinha, então eu puxei a adaga da água rosa.
Mesmo que a água salgada não tivesse ajudado a pedra, pelo menos
havia lavado a maior parte do sangue. Corri por debaixo da água na pia
para tirar qualquer sangue residual — o que não poderia ser bom para a
limpeza da pedra — e, em seguida, deslizei-a para o prato de cerâmica.
Ivy segurou um pano de seda elastificado sobre o topo, depois tirou
o capuz com um suspiro. — Ótimo. Está feito. Então, o que há com o
McSerpeado?
Surpresa, eu disse: — Hã?
Ela fez uma careta. — Desculpe, vejo muita TV.
Uma mulher que sabe das coisas boas, Fang declarou.
— Eu quis dizer Shade — explicou Ivy.
Ela estava interessada em Shade?
Talvez. Ela acha ele bonito, mas se pergunta sobre a tristeza em seus olhos.
Sim, ele era muito lindo, mas ele estava meio danificado agora, não
exatamente o material para um bom namorado. Eu sabia bem. Em voz
alta, eu disse: — Ele perdeu sua irmã gêmea Sharra e tentou recuperar
seu corpo da dimensão demoníaca.
— Isso soa... perigoso.
— E é. É por isso que eu o detive.
Ela assentiu. — Então, vocês dois estão namorando? Percebi algo
entre vocês.
Então ela estava interessada. — Nós namorávamos, mas não mais.
Ela está namorando Austin agora, Fang disse a ela.
— O vampiro? — Os olhos de Ivy se arregalaram.
— Sim. — Eu entendi seu choque — eu resisti a namorar um
sanguessuga por um longo tempo, mas Austin era diferente. — Quanto
você sabe sobre os vampiros e o Novo Movimento de Sangue? — eu
perguntei.
— Ainda não existe um Movimento em Sedona, mas Micah me
explicou. Eu acho que eles são os bons aqui? — Ela pareceu duvidosa.
— Sim, eles realmente são. Sob a liderança de Alejandro, eles estão
tentando acabar com os vampiros desvinculados e aprovar a legislação
para tornar obrigatório que todos os vampiros usem bancos de sangue
em vez de beber de pessoas. É por isso que é tão importante encontrar
Alejandro. — Eu fiz uma careta. — Para não mencionar o fato de que
ele mantém Luis sob controle.
Ivy sorriu. — Parecia que Austin estava fazendo isso bastante bem.
— Sim, ele estava, não é?
O maxilar de Fang caiu em um sorriso de cachorrinho. Uau, isso é
orgulho que eu ouvi na sua voz pelo seu cara?
Cai fora. Em voz alta, eu disse: — Mas ter os dois pulando na
garganta um do outro não é bom para a organização.
Ivy sorriu. — Fiquei impressionada com a forma como você
assumiu o controle e obrigou-os a obedecê-la. Deve ser bom ser um
demônio da luxúria.
Eu me retorci. Eu não estava realmente orgulhosa do que eu tinha
que fazer, e ainda não estava confortável em usar meus poderes para
controlar os homens. — Na verdade não. Não consigo ficar muito perto
de nenhum homem sem que ele seja sugado para o campo de energia de
Lola.
— Lola?
— É assim que eu chamo a minha parte súcubo.
— Mas... ter todo mundo te desejando, isso deve ser bom, certo?
Errado. Eu fiz uma careta. — Não se eles só me querem porque
Lola faz com que eles se sintam bem.
Ela assentiu com a cabeça e eu acrescentei: — Eu a uso apenas
quando é absolutamente necessário.
— Isso é o que faz de você uma boa Paladina.
— Acho que sim. — Desconfortável com a conversa, eu mudei de
assunto. — Então, por que você está visitando San Antonio?
— Eu sempre quis vir aqui, ver o River Walk, fazer a coisa turística.
Em março? Algo não se encaixava. — Não, por que realmente você
está aqui?
Sua boca ficou aberta um pouco e ela lançou um olhar para Fang.
Eu não disse nada, ele disse, sua mandíbula caindo em um sorriso de
cachorrinho. Val simplesmente é esperta desse jeito.
Ela deu de ombros timidamente. — Tudo bem, eu admito que
ouvimos alguns rumores sobre as coisas estranhas que estão acontecendo
aqui. E Patricia, a líder do Clandestino em Sedona, me pediu para
verificar isso, conversar com pessoas locais e pedras, ver se precisamos
nos preocupar. Mas viajei para muitas cidades, não só aqui.
Sim, ela não está escondendo mais nada, Fang confirmou.
Não que ela pudesse, com Fang lendo todos os seus pensamentos e
emoções. — Bem, eu não sei o que a preocuparia, mas nós tivemos mais
do que nossa parcela de acontecimentos estranhos, como se San Antonio
fosse um imã para problemas ou algo assim.
— Um pouco como a boca do inferno no Buffyverse? — ela
perguntou.
Agora, esse programa de TV eu conhecia. — Sim, mas nada tão...
concreto, físico. Eu acho que é mais devido à oposição ao Novo
Movimento de Sangue de Alejandro e porque a Enciclopédia Mágica está
aqui. — Ambos certamente atraíram uma parte dos psicopatas.
— Eu também ouvi algo sobre um amuleto que poderia melhorar
suas habilidades.
Bem, se Micah e Fang confiaram nela, acho que eu também
poderia. — Sim, mas não mais. Lembra de eu ter falado sobre Shade
esmagando um cristal mais cedo esta noite? Foi ele. — Uma ideia me
ocorreu. — Ei, eu mantive alguns dos fragmentos do cristal. Você acha
que poderia conversar com eles, ver se eu ainda posso usá-los?
— Depende se foi feito pelo homem ou formado na terra. Não
consigo falar com cristais feitos pelo homem.
— Bem, este não deve ter sido feito pelo homem, porque ele falava
comigo.
— Com você? Não é possível — Ivy disse com firmeza. — Você não
é uma sussurrante de pedras preciosas.
— Mas ele falava.
Sim, disse Fang. Eu o ouvia também.
Ivy franziu a testa, parecendo preocupada.
— O que há de errado?
— Há uma tradição sobre demônios mago que aprisionam outros
demônios em cristais. Então, esse cristal não só falou com você, mas
também ajudou você a melhorar seus poderes?
Eu assenti.
— Então é possível que ele alojasse um demônio.
Oh, droga. Isso não poderia ser bom.
Eu te disse que aquilo não era coisa boa.
Ignorando-o, perguntei: — Então, quando foi quebrado, o que
aconteceu com o demônio? O demônio foi morto? — Eu engoli em seco.
— Ou... liberado? — O que eu não precisava, de outro demônio à solta.
— Eu não sei — Ivy disse com uma careta. — Mas vamos descobrir.
Você tem os fragmentos no bolso?
Como...? Oh, ela provavelmente os ouviu ou algo assim. Assenti
com a cabeça e puxei os pedaços do meu bolso.
Ela os tocou pensativamente.
— Você está obtendo alguma coisa?
— Na verdade não. Não foi feito pelo homem, mas o trauma da
quebra os deixou em choque. Eles não estão gritando como a pedra
coberta de sangue, mas também não são coerentes. Eles precisam ser
limpos antes que eu possa tirar algo deles.
Ela os deslizou na solução de limpeza com o athame.
— Quanto tempo vai demorar?
Ela encolheu os ombros. — Não sei, leva o tempo necessário.
Quanto mais traumatizada a pedra, mais tempo teremos que esperar.
Oh, ótimo. Não só eu tenho que confiar em objetos inanimados para
me dar informações, como também eu tinha que esperar até que
estivessem prontos para conversar. Matar vampiros de repente pareceu
muito mais fácil.
CAPÍTULO SETE
VAL

I vy dormiu tanto quanto eu, graças às cortinas de escurecimento do


quarto, até a tarde. Micah fez arranjos para que Austin e eu nos
encontrássemos com Erica Small, a localizadora, depois do pôr-do-sol,
porque ele sabia que a melhor maneira de encontrar Alejandro era ter
um objeto ou pessoa que estava intimamente associada a ele quando ela
achasse sua localização.
Então, nos movíamos em torno da casa e relaxávamos. Depois de
jantarmos, cortesia do local favorito de entrega de pizza de Fang, Ivy
disse: — Não sinto nenhuma pedra preciosa aqui. Você não tem joias?
— Eu não sou realmente o tipo que usa joias — eu admiti, então me
perguntei se ela esperava me ler através de qualquer pedra que eu pudesse
possuir.
Provavelmente, disse Fang.
— Bem, certamente tornaria o lugar tranquilo — Ivy disse com um
sorriso. — E você não tem ideia de quanto eu aprecio isso. Mas se você
quiser, posso recomendar algumas pedras para deixar ao redor da casa,
para aumentar a energia positiva.
Que mal poderia fazer? — Claro — eu disse. — Falando em pedras,
você conseguiu obter alguma coisa da pedra com sangue? Ou dos
fragmentos do cristal?
Ivy verificou as pedras em sua solução especial. — Como eu
esperava, não estão prontas para falar ainda.
Eu assenti. Estava perto do pôr-do-sol, então peguei minha mochila.
— Eu vou avisar a Austin. — Havia um olhar peculiar em seu rosto,
então eu perguntei: — O que foi?
— Eu estava esperando que eu pudesse ir com você... ter uma ideia
do que você faz e como você faz isso aqui em San Antonio.
Eu hesitei. Eu estava começando a suspeitar que os demônios de
Sedona pensavam que eu era um perigo para os demônios em todos os
lugares. Ela estava me espionando?
Ela está pensando...
Não, não me diga. Dê-lhe alguma privacidade. Eu vou perguntar se eu
realmente quiser saber. E, dada a franqueza de Ivy, ela provavelmente até
me diria a verdade. Como suas pedras preciosas.
Fica fria. Esta é a melhor maneira de provar que você não é perigosa, disse
Fang.
Ou que eu era. Essa era uma boa ideia?
— Está chuviscando lá fora — disse Ivy, obviamente sentindo
minha relutância. — Nós podemos pegar meu carro.
Uma ideia excelente, oh, a melhor, Fang zombou de mim. Melhor que
ficar molhado em sua moto.
Oh, tudo bem. — Ok — eu disse em voz alta. — Mas você sabe que
podemos estar indo para algo perigoso?
Diabos, isso é quase certo, Fang disse a ambas.
Ivy assentiu. — Está bem. Eu posso lidar comigo mesma.
Eu não tinha certeza de como, mas era a pele dela que ela estava
arriscando. Dei de ombros. — Vamos. Primeira parada, a mansão dos
vampiros.
Coloquei os livros em um lugar seguro, e nos dirigimos na garoa
para o carro — um pequeno e bonito MINI Cooper amarelo brilhante
com listras negras através do capô e do teto.
Eu hesitei — eu não tinha notado a cor na noite passada. — Uau.
Isso é... brilhante.
Ivy sorriu e abriu as portas. — Ele é chamado de zangão. Não pude
resistir.
Qual é, disse Fang enquanto pulava dentro para fora da chuva. É
legal.
Que diabos. Entrei no banco da frente ao lado de Ivy, meu nariz
enrugando com o cheiro de cachorro molhado.
Bem, me descuuuuulpe, murmurou Fang. Você não está vendo Ivy
reclamando e não é seu carro.
Ignorando ele, dei as direções a Ivy para a mansão de Alejandro.
No momento em que chegamos, o sol tinha se posto completamente, e
eu podia ver que os vampiros estavam acordados, dado que as persianas
desafiadoras do sol haviam sido enroladas para deixar entrar a noite.
Ivy olhou pensativamente para a mansão. — Quantos vampiros
estão lá?
— Vários. Mas muitos deles moram aqui. Outros vivem em hotéis
convertidos acima dos bancos de sangue. — E talvez outros lugares, eu
realmente não sabia.
Ela me deu um olhar irônico. — Vou esperar no carro.
Assim como o cachorro fedorento, Fang me informou.
Eu dei de ombros e saí do carro, depois corri na chuva para a porta
da frente e bati. Rosa abriu e seus olhos se arregalaram. — Você tem
novidades?
Rosa era normalmente totalmente polida e contida — uma latina
ardente. Mas hoje, seus olhos estavam inchados com círculos escuros
debaixo deles, seus cabelos estavam apáticos e parecia que ela não
dormira em décadas. A tensão praticamente irradiava dela. Percebi há
muito tempo que Alejandro era seu amante, bem como seu chefe, e isso
não fez nada para me fazer repensar isso. — Não, desculpe, não tenho.
Eu vim pegar Austin, assim como algo de Alejandro, para levar à
localizadora.
Ela abriu a porta mais amplamente para me deixar entrar, e a tensão
que eu pensava que estava vindo dela estava na verdade permeando toda
a casa. Cerca de uma dúzia de vampiros sombrios me encararam através
de olhos estreitados. Parecia que eu tinha interrompido um argumento
de algum tipo, com dois vampiros de frente um para o outro na extensão
aberta da entrada no que parecia ser um confronto. Sanguessugas
brigando?
Lola se animou. Toda aquela adorável energia masculina — ela
queria provar disso, e seus tentáculos surgiram em direção aos vampiros.
Eu puxei os tentáculos de volta e suprimi sua vontade impiedosamente.
Este não era o momento nem o lugar, e prometi-lhe que Austin nos
ajudaria nessa área em breve. Pelo menos, eu esperava que sim.
Rosa levantou as mãos. — Pegue Austin, pegue o que quiser. Se
você pudesse levar Luis também, isso seria fabuloso.
— Uh, eu vou passar — eu disse tão diplomática quanto pude.
Ela soltou uma torrente de espanhol e gesticulou imperiosamente
para os sanguessugas enchendo o vestíbulo, como se estivesse tentando
expulsá-los como galinhas errantes.
Austin desceu a escada, parecendo atormentado e mais do que um
pouco irritado. — Dispersar, agora — ele ordenou.
Alguns se moveram, mas outros simplesmente pareciam teimosos.
— O que está acontecendo? — eu perguntei quando ele chegou até mim.
— Os idiotas querem que escolhemos uma pessoa para estar no
comando, e eles estão começando a tomar partido.
Surpresa, perguntei: — Alejandro não designou um substituto?
— Não, só é necessário quando ele fica fora por um longo período
de tempo, e então ele alterna os deveres entre nós. — Ele ergueu a voz e
olhou de soslaio para garantir que os sanguessugas persistentes o
ouvissem. — Ele não se foi há muito tempo, e eu me recuso a acreditar
que ele não vai voltar, então não há necessidade de escolher um novo
líder.
— Si — disse Rosa enfaticamente. — De volta ao trabalho, todos
vocês. Ou eu farei com que a Caçadora force vocês.
Eu tive que conter o salto de esperança de Lola quando os últimos
vampiros persistentes saíram. Caramba, desde quando eu me tornei o
bicho papão?
— A pedra não está falando ainda — eu disse a ele. — Então, ainda
precisamos ver a localizadora.
Austin assentiu e levou-me ao escritório de Alejandro. — Aqui —
ele disse, pegando o busto de Cortez de sua mesa. — Ele toca muito isso
quando ele está pensando. Será que vai servir?
— Deveria — eu disse enquanto pegava a coisa pesada. O bronze
estava embotado na cabeça do cara, onde Alejandro evidentemente
acariciava com frequência. Olhando para Austin de forma especulativa,
eu disse: — Isso provavelmente será suficiente para a localizadora... você
não precisa vir, se você for necessário aqui.
Os lábios de Austin comprimiram. — Não, não vou ficar e jogar
uma luta de poder para forçar uma decisão.
Política de vampiros. Eu não podia culpá-lo. Eu também não queria
me envolver.
Os lábios de Austin se torceram, e ele passou uma mão pelos
cabelos. — Desculpe, eu esperava que pudéssemos conhecer melhor um
ao outro.
Lola me mostrou o quanto ela ficou desapontada, mas as apostas
eram tão altas, que nosso relacionamento frágil e novo precisaria esperar.
— Não se preocupe com isso. Vamos trazer Alejandro de volta primeiro,
e então nos preocuparemos... — Humm, como devo terminar essa
afirmação?
— Conosco? — perguntou Austin, sorrindo para mim.
Dei de ombros. Sim, se houvesse um “nós”. Lola impulsionou,
insistindo que eu me preocupasse com isso em breve — ela realmente
gostava de Austin. Eu estava com muita vergonha de admitir isso, então
eu disse: — Venha. Ivy e Fang nos esperam em seu carro.
Austin colocou o chapéu e tirou o busto de mim, depois me seguiu
até o zangão, pegando previdentemente um guarda-chuva do suporte da
porta para me cobrir. Ele deu uma olhada no carro de Ivy e parou
bruscamente. — Não vamos nisso.
Não pude deixar de sorrir. — Eu não sei. Tenho pensado em
comprar um carro e esse é muito fofo.
Ele olhou para mim. — Talvez, mas também é bastante conspícuo
para o que fazemos e não tenho certeza de que caibo nele.
Olhei suas pernas longas. Ele provavelmente caberia na frente, mas
isso significava que eu teria que me espremer no minúsculo banco
traseiro. — Justo. Quer pegar um de vocês?
Ele assentiu. — E quando for comprar um carro, eu a ajudarei.
Minhas sobrancelhas se ergueram. Parecia que os carros eram uma
coisa de homem, não importa quantos anos eles tivessem. Mas como eu
realmente não tinha ideia do que procurar, eu aceitaria sua ajuda.
Austin virou-se para abrir um dos carros de luxo escuros de
Alejandro enquanto eu me inclinava para a janela de Ivy. — Nós estamos
pegando um dos vampmóveis — eu a informei. — Para todos nós
podermos caber. Você pode deixar seu carro aqui, ele ficará bem. A
menos que você queira voltar para casa?
Ela nem hesitou. — Eu vou com vocês — ela disse com firmeza e
moveu o carro para o lado.
Naquele momento, Austin tinha um vampmóvel pronto e
esperando para ir, então Ivy, Fang e eu entramos. Dirigimos até a casa
de Erica e, apesar de ter ficado assustada ao ver tantos de nós na porta
dela, ela nos convidou graciosamente para entrar, agora visivelmente
grávida.
Depois que eu apresentei todos, e ela nos instalou na mesa da sala
de jantar, ela perguntou: — O que vocês estão tentando encontrar?
— Não é o quê, é quem — eu disse a ela. — Precisamos encontrar
Alejandro. Lembro-me que você disse que é mais fácil encontrar um
homem com algo que ele possui e toca muito, ou alguém que o conhece,
então trouxe Austin e isso. — Eu assenti com a cabeça para o busto.
Erica pegou o busto e espalhou um mapa de San Antonio sobre a
mesa e, em seguida, pegou uma corrente com uma lança de ametista em
forma de hexágono grosso na parte superior e afunilando-se até a ponta
no final.
Ivy sorriu. — Posso? — ela perguntou, balançando a cabeça para o
pêndulo.
— Ela é uma sussurrante de pedras preciosas — eu expliquei.
Parecendo curiosa, Erica entregou-a para ela.
Ivy acariciou a coisa e sorriu. — É uma boa pedra. Feliz por ter um
trabalho tão importante e gosta de estar com você. Você pode querer
mantê-la em uma bolsa de seda para impedi-la de reter quaisquer
sentimentos negativos de seus clientes entre as leituras. Isso irá servir
você melhor.
As sobrancelhas de Erica se elevaram, mas ela disse: — Obrigada.
Eu iriei. — Ela colocou a mão esquerda no busto e segurou o pêndulo
levemente entre o polegar e o indicador sobre o mapa, balançando-o em
um círculo largo. Lembrei-me que a ametista giraria lentamente em
círculos menores e mais apertados até parar e pousar na localização de
Alejandro.
Eu assisti com entusiasmo, mas o pêndulo continuou a balançar em
grandes revoluções, sem parar na localização do líder dos vampiros.
Erica franziu a testa. — Talvez ele não esteja em San Antonio —
ela disse. — Vamos ampliar a área.
Ela espalhou outro mapa através da mesa, este do mundo inteiro.
Caramba — eu certamente esperava que ele pelo menos ainda estivesse
no Texas.
Ainda assim, sem sorte.
Bem, diabos. Não é como se ele estivesse no espaço sideral, disse Fang. Você
acha que a gravidez está interferindo com a sua habilidade?
Eu não sei.
— Você está certa de que este objeto está intimamente associado a
ele? — perguntou Erica.
— Positivo — disse Austin.
— Vamos tentar usar você em vez disso — sugeriu Erica. — Você o
conhece bem.
Ela segurou a mão de Austin e disse-lhe para pensar em Alejandro,
mas ainda não teve sorte. Porcaria. Eu não queria pensar nas
implicações.
— Talvez isso não funcione em vampiros? — Ivy sugeriu.
— Deveria — disse Erica duvidosamente. Ainda segurando a mão
de Austin, ela disse: — Pense em outro vampiro, aquele cuja localização
você conhece.
Ela segurou o pêndulo sobre o mapa de San Antonio, e desta vez o
pendulo girou em círculos mais apertados e apertados até que de repente
se afastou e caiu no mapa, apontando para o banco de sangue do lado
oeste.
Austin assentiu. — Sim, é lá que Luis geralmente está.
Droga. Isso eliminava a ideia de interferência da gravidez. Eu decidi
apontar o óbvio na sala. — É possível que você não conseguiu encontrá-
lo porque ele está... morto?
Erica franziu a testa. — Não, se ele está morto, ele deveria encontrar
seu corpo.
— Mesmo que ele seja... cinzas? — eu perguntei, fazendo uma
careta com o pensamento.
Erica parecia afetada. — Desculpe, eu não sei.
O rosto de Austin ficou em branco, e Ivy tocou suavemente a mão
de Erica. — É possível que haja alguma coisa ou alguém que interfira
deliberadamente com sua capacidade de encontrá-lo? Como um feitiço?
Boa pergunta — e uma que eu não tinha pensado.
— Eu não sei — admitiu Erica. — Eu suponho que é possível,
embora nunca tenha acontecido antes.
Bem, pelo menos isso nos deu alguma esperança. O rosto de Austin
estava tão rígido que eu esperava, pelo seu bem, que Alejandro ainda
estivesse vivo. — Eu vou verificar a enciclopédia — eu prometi. — Ver
se consigo descobrir algo.
Austin assentiu bruscamente, nós agradecemos a Erica e saímos
com o busto.
Uma vez que estávamos sentados no carro, Ivy disse: — Ok,
supondo que Alejandro não esteja morto, quais outras pistas nós temos?
— Ela pareceu ter a maior confiança em nossa capacidade de encontrá-
lo.
Ela tem, confirmou Fang.
— Precisamos rastrear Mike e Ike — disse Austin. — Eles devem
estar envolvidos.
Exatamente os meus pensamentos. — Alguma ideia de como
encontrá-los?
Ele olhou para a porta da frente de Erica, então deve ter percebido
que não os conhecíamos suficientemente bem para ela encontrá-los. —
Não, não temos ideia de onde os desvinculados estão com sede... se eles
tiverem uma sede.
— E os três Cs? — eu perguntei. Ao olhar confuso de Austin, eu
acrescentei: — Aqueles três novatos no parque... eles foram
recentemente transformados pelos desvinculados. Talvez eles possam
saber?
Ele assentiu com a cabeça, sua expressão se aclarando. — Boa ideia.
E se eles visitaram um banco de sangue como eu disse a eles, poderemos
encontrá-los.
Dirigimo-nos ao banco de sangue mais próximo do lado leste. Eu
não tinha estado nesse antes, mas era um hotel convertido como os
outros, com o banco de sangue no piso inferior e os quartos no andar de
cima para os vampiros do Movimento. Enquanto Ivy olhava em volta
com curiosidade, Austin falava com a garota no balcão, descrevendo
Charlie, Chris e Carlos.
— Desculpe, não me lembro deles — ela disse. — Você sabe que
faculdade eles estudam? Se eles são estudantes, eles provavelmente
foram para um perto de sua faculdade.
— Eu não sei — disse Austin. — Você conseguiu descobrir isso
deles? — ele me perguntou.
Eu pensei por um momento. — Não, mas tive a sensação de que
eles não vieram de longe do parque. Parque Brackenridge — eu
clarifiquei para a recepcionista.
A garota assentiu. — Então eles provavelmente foram para o banco
de sangue de Midtown.
— Obrigado — disse Austin. — Vamos verificar lá.
Quando voltamos para o carro, Ivy teve todos os tipos de perguntas
sobre os bancos de sangue de vampiros e como eles operavam. Respondi-
lhes o máximo possível enquanto Austin telefonava.
Ele nos interrompeu abruptamente. — Mudança de planos. Nós
estamos indo para um banco de sangue diferente, no lado oeste.
— Por quê? — eu perguntei.
— Porque Luis foi atacado lá.
CAPÍTULO OITO
AUSTIN

M esmo que Austin estivesse grato a Gwen pelo alerta, ele não tinha
certeza de por que ela o chamara. Uma parte dele esperava que
Luis se machucasse permanente, mas Austin sabia que ele não poderia
ser tão sortudo. Além disso, uma ameaça para Luis também era uma
ameaça para a organização que Alejandro tinha construído — a
organização que se tornou a família que Austin nunca conheceu. E você
tinha que cuidar de sua família, mesmo que fossem valentões e idiotas.
Ele não deveria deixar Luis atingi-lo, mas ele odiava a atitude “nós
contra eles” que Luis estava trazendo para a família de Alejandro. Era
desnecessário e não era exatamente saudável também. A última vez que
aconteceu... Ele sorriu ironicamente.
— O que é tão engraçado? — Val perguntou.
— Eu estava me lembrando da última vez que um dos tenentes de
Alejandro tentou assumir o controle.
— Oh. Isso — Val respondeu categoricamente.
— O que aconteceu? — perguntou a curiosa sussurrante de pedras
preciosas.
Quando Val não respondeu, Austin disse: — Val cortou sua cabeça.
Fang olhou para ele de seu lugar no colo de Val e resmungou no que
só podia ser diversão canina, mas um olhar no espelho retrovisor
mostrou a expressão horrorizada de Ivy. Ela obviamente não entendeu
o humor.
— Nossa, obrigada — Val murmurou e bateu seu punho esquerdo
brincalhão em suas costelas. — Eu tive que fazer isso — ela disse a Ivy.
Val parecia realmente aborrecida, então Austin completou: — Bem,
Lily a fez chegar a isso. Ela sequestrou a irmã e o padrasto de Val... e
Fang. — Para não mencionar o ex-namorado policial de Val, que
também fora o ex-noivo de Lily. — E Lily estava prestes a matá-los e
então vir atrás de nós e assumir a organização de Alejandro. Val
realmente não tinha escolha. Matar Lily salvou a todos nós.
— Entendi — Ivy disse fracamente.
Ela pareceu entender, embora Austin tenha se arrependido de ter
trazido isso à tona, já que pareceu incomodar Val.
— Você disse da última vez... alguém está tentando assumir agora?
— Ivy perguntou, parecendo preocupada que a decapitação estivesse na
agenda da noite.
— Eu espero que não... Val não trouxe sua espada — ele falou e
bloqueou o próximo golpe de Val em suas costelas quando Fang bufou
de novo. — Seriamente, o desaparecimento de Alejandro nos deixou em
uma confusão. Não temos nenhuma linha clara de sucessão, há três
tenentes agora, então um dos tenentes está tentando se forçar no papel.
— Luis — Val explicou a Ivy. — Aquele que tirou o seu capuz.
Ivy fez uma careta. — Odeio vê-lo encarregado de qualquer coisa
ou de alguém.
Idem. — Eu não sei o que aconteceu no banco de sangue, no
entanto, ou quem atacou Luis... espero que sejam os desvinculados.
— Quem mais seria? — Val perguntou surpresa enquanto acariciava
Fang. — Você não acha que Rosa iria...
— Não, eu não acho. — Ela não faria nada para admitir que
Alejandro poderia ter ido embora. No entanto, após a incapacidade da
localizadora de localizar o líder dos vampiros, Austin estava começando
a se perguntar se sua própria crença na existência contínua de Alejandro
poderia ser excessivamente otimista.
— Então quem?
— Novatos equivocados que pensam que precisam proteger minha
honra.
Val parou de acariciar as orelhas de Fang. — Quem em sã
consciência seguiria Luis? — ela perguntou incrédula.
— A velha guarda.
Val bufou. — Você não é exatamente um jovenzinho. Quantos anos
você tem? Cem?
Mais uma vez, ele percebeu o quão antigo ele devia parecer para ela.
— Um pouco mais do que isso — ele admitiu. — Mas consideramos a
velha guarda aqueles que estiveram com Alejandro desde que ele veio
com Cortez. Principalmente aqueles que compartilham a atitude
superior de Luis.
— Cortez? — Ivy repetiu com surpresa. — O Cortez que conquistou
o México e destruiu a civilização asteca? Aquele neste busto?
— Sim.
— Uau — Val disse. — Eu não percebi que eles eram tão velhos. —
Ela olhou para ele pensativamente. — Então, a velha guarda aprova os
métodos de Luis? — Ao aceno de sua cabeça, ela acrescentou: — E seus
seguidores e os de Rosa?
— Eu treinei a maioria dos recém-convertidos ao longo dos últimos
cem anos, então eles tendem a ficar do meu lado, embora eu nunca tenha
pedido a eles. — Ele deu de ombros. — Aqueles que não escolhem os
lados ou permanecem neutros estão essencialmente seguindo Rosa.
— E você tem medo de alguns de seus apoiadores terem escolhido
uma briga? De terem tentado derrotar Luis para você?
Confie em Val para chegar ao coração da questão. Austin assentiu
bruscamente. Mas ele não precisava nem queria isso, não importa o que
todos pensassem.
Eles chegaram ao banco de sangue, e embora tudo parecesse
pacífico do lado de fora, Austin sabia que as aparências podiam enganar.
Especialmente porque a placa de FECHADO pendia na porta. Ele se
virou para falar com Ivy. — Você provavelmente vai querer ficar aqui.
Pode ser perigoso lá.
O queixo de Ivy se elevou. — Eu posso lidar comigo mesma. Além
disso, minhas pedras preciosas podem ajudar.
Austin deu de ombros. Ele não sabia como falar com pedras
preciosas iria protegê-la ou ajudar nessa situação, mas ele também não
discutiria com ela. — Fique à vontade. — Para ser sincero, as ruas fora
desse banco de sangue também não eram tão seguras.
Ivy, Val e Fang seguiram Austin para o banco de sangue. Parecia
uma zona de guerra, com cadeiras derrubadas, o balcão de suco
quebrado, sangue espirrado nas paredes e muitas pessoas soluçando
silenciosamente ou eriçados por uma briga.
Os soluços eram humanos do sexo feminino que tinham vindo doar
e obtiveram mais do que eles esperavam, junto com alguns homens.
Elspeth e Gwen, juntamente com outros vampiros, estavam ajudando
eles, enquanto cinco seguidores se aglomeravam protegendo Luis. Ele
estava de pé contra uma parede, desgrenhado e ferido, um buraco
sangrento na camisa.
Um dos seguidores de Luis — o Tobias barbudo — viu o grupo na
porta, franziu o cenho e deu um passo ameaçador em direção a Austin.
— Você — ele disse acusadoramente. — Você fez isso?
Austin levantou uma sobrancelha. Lógica, obviamente, não era um
dos seus fortes. — Eu nem estava aqui — ele falou bruscamente para o
homem baixo e nervoso.
Val e Fang apareceram ao lado dele enquanto Ivy se afastava,
murmurando algo sobre encontrar uma maneira de ajudar.
— Você poderia ter enviado seus seguidores atrás de Luis — acusou
Tobias. — Para derrubá-lo para que você possa assumir o controle.
Fang rosnou e, embora Val tivesse detido ele, Austin estava
ridiculamente satisfeito por o cão do inferno querer defendê-lo. — Não
seja um idiota, Tobias. Eu não sou o único que quer assumir.
Um dos associados de Luis brandia uma flecha sanguenta. — Eles
atiraram nele! Quase acertaram o coração dele.
Luis abriu caminho através de seus seguidores, ignorando o buraco
em seu peito — logo curaria. — Alguém precisa assumir o controle, e
você não quer que esse alguém seja eu.
Austin controlou sua raiva ferventa. — Alguém não precisa.
Precisamos trabalhar juntos, não separados. Teremos problemas
suficientes para lutar contra os desvinculados agora que eles sabem do
desaparecimento de Alejandro... não precisamos estar lutando
internamente. Você esqueceu o que aconteceu durante a guerra hispano-
americana? — Os homens de Alejandro se dividiram em facções
violentamente opostas, um lado apoiando os Estados Unidos e o outro
insistindo que sua Espanha natal era o lado certo. A carnificina
resultante havia dizimado sua população até que Alejandro conseguiu
reunir todos sob sua liderança neutra. Levaram décadas para recuperar
a força e a coesão. — Você quer uma repetição disso? — Austin, com
certeza, não queria.
Luis parou por um momento, depois disse com mais calma: — Isso
não é nada disso. Isso é você, querendo que eu acredite que os
desvinculados foram responsáveis pelo ataque.
— Bem, você reconheceu algum dos seus atacantes? Eles eram
membros do Movimento? A verdade, agora.
Luis franziu o cenho. — Não, mas como eu sei que você não está
transformando pessoas em segredo? Enviando-os para me emboscar?
Você poderia ter dito que eu estava aqui, armado para mim.
Parecia que a razão tinha tomado um feriado. Austin nem tinha
certeza de como se defender contra a insanidade.
Elspeth falou. — Não seja ridículo, Luis. Todos sabem que você
vem aqui todas as noites na mesma hora. Seria fácil para todos descobrir
seus hábitos.
— Claro que você diria isso, não é? — perguntou Luis. — Você é
uma dos dele.
Quando Elspeth se afastou, balançando a cabeça, Val falou com
Luis. — Eu poderia forçar Austin a dizer a verdade. Isso o convenceria?
Luis franziu o cenho para ela. — Você também está do lado dele.
Por que eu acreditaria em qualquer coisa que você tenha a dizer,
qualquer coisa que você faça?
Val abriu a boca para responder, então, com um olhar de Austin,
encolheu os ombros e fechou a boca, murmurando algo sobre Teflon.
Boa escolha.
Austin decidiu tomar uma tática diferente. — Olhe, se eu fosse
responsável por isso, por que eu viria aqui imediatamente após o ataque
para ajudá-lo?
— Há — disse Luis, como se o tivesse apanhado em uma mentira.
— Para ver os resultados da sua perfídia, regozijar-se com meu cadáver
e fingir que você não teve nada a ver com isso... como agora.
Seus seguidores pareciam estar acreditando nesse monte de besteira.
— Eu não fiz nada disso — Austin rosnou, incapaz de lutar contra a
raiva se construindo dentro dele. — Eu não quero uma repetição da
guerra hispano-americana... quero Alejandro de volta.
— Claro que você diria isso, não é? — disse Luis, zombando. —
Tentando ser o herói, o salvador do Movimento. Bem, suas mentiras não
funcionarão comigo. Você quer apenas a posição de Alejandro para si
mesmo.
Não, ele simplesmente não queria que Luis a tivesse. — Eu quero
Alejandro na posição de Alejandro — disse Austin. — O que posso fazer
para convencê-lo disso? — Não que ele quisesse aplacar Luis, mas ele
queria que essa porcaria acabasse.
— Encontre-me sozinho e me diga disso. — Os punhos apertados
de Luis e a rigidez briguenta de sua mandíbula telegrafaram exatamente
o que ele quis dizer com isso.
Austin resistiu ao desejo de revirar os olhos. Foi isso ao que eles
foram reduzidos? A brigas no pátio da escola? — Eu não pretendo lutar
com você, Luis. — O vampiro mais velho era mais experiente, mas
Austin era mais ágil. Em uma luta justa, ele não sabia quem ganharia, e
agora não queria descobrir. — Não precisamos mostrar dissensões nas
nossas posições. Além disso, você está ferido. — Ainda escorria sangue
do buraco no peito de Luis.
— Com medo? — Luis empurrou o rosto para Austin, obviamente
o atraindo.
— Não — Austin estalou, não deixando Luis intimidá-lo ou forçá-
lo a fazer algo estúpido.
Rosa estava de repente entre eles — quando ela chegou? — Parem
com isso — ela ordenou. — Isso não nos ajudará a encontrar Alejandro.
Austin notou que nem Val nem Fang o defenderam contra Rosa.
Provavelmente porque ela estava certa. Austin deu de ombros e recuou.
Luis lançou a Austin um olhar assassino. — Ele provavelmente o
sequestrou ou o matou.
Rosa bateu o pé. — Não, estúpido, eu não acredito nisso e você
também não.
— Não me diga em que eu acredito — grunhiu Luis.
Rosa olhou para trás. — Vocês dois não vão lutar. Alejandro não
gostaria disso. Vamos parar vocês.
Luis olhou ao redor. Gwen e Elspeth haviam puxado os humanos
fora do alcance e os acalmou, mas mais e mais vampiros haviam
começado a admirar e ficar curiosos. Austin estudou seus rostos
enquanto Luis o fazia, e parecia que Rosa tinha alguns do seu lado. Os
seguidores de Luis estavam superados em números.
Seguindo sua vantagem, Rosa disse a Luis: — Você pensará nisso,
tentará lembrar o que aconteceu e dará a Austin detalhes sobre o que
você lembra do ataque.
Luis franziu o cenho. — Eu não confio nele.
— Então você vai me dizer — insistiu Rosa. — Quanto mais
soubermos quem procurar, mais fácil será encontrar o nosso líder.
O queixo de Luis se elevou. — Como você desejar, mas não vou
compartilhar a mansão com um homem em quem não confio.
— Tudo bem — disse Rosa. — Ambos ficarão separados. Luis, você
pode se mudar para os quartos acima e Austin em outro banco de sangue.
Leve seus seguidores com vocês.
Luis pareceu incomodado por um momento — obviamente não era
o que ele pretendia. Mas ele realmente não podia argumentar, já que a
mansão era, obviamente, o território de Rosa. Ele se recuperou
rapidamente. — Muito bem — ele disse, estendendo uma flecha curta
em sua direção. — Vamos embora agora.
Evidentemente, Luis não havia notado que Rosa assumiu o papel
de liderança nessa situação. Mas já que Luis sabia da autoridade de Rosa
sobre a casa, isso serviu para calá-lo, e Austin não reclamaria dos
resultados. Ao sair, Austin levantou uma sobrancelha para Rosa. — Isso
aumentará ainda mais uma separação entre nós — ele murmurou.
— Isso irá mantê-los longe da garganta um do outro — ela
respondeu. — Até que Alejandro volte e tudo volte ao normal.
É verdade, e isso não poderia acontecer cedo o bastante para Austin.
— Se ele retornar — disse Val. — Nossa localizadora não conseguiu
localizá-lo.
Agora, ela era a única que merecia a flecha nas costelas. Ao olhar
exigente de Rosa, Austin teve que acenar com a cabeça e assegurar-lhe
que era verdade.
Rosa pareceu arrasada por um momento, depois sua expressão se
endureceu. — Não, ele está vivo. Eu sei disso. Vocês vão encontrá-lo.
Sabendo o quanto ela se preocupava com a perda de seu amante e
seu líder, Austin disse: — Eu farei o meu melhor.
— Ótimo — ela disse. Olhando para os curiosos, ela disse: —
Limpem isso — e se foi.
Austin olhou para aqueles que ficaram. — Ok, vamos lá.
Ele colocou todos para trabalhar, então viu que Val tinha ido
verificar os humanos. Ele a seguiu. — Como estão? — ele perguntou.
— Bem — ela disse. — Gwen e Elspeth os tiraram da linha de fogo,
Gwen deu-lhes um sedativo, e Ivy usou uma de suas pedras para ajudar
a curar seus ferimentos.
Austin olhou para Ivy com surpresa. Então, falar com pedras tinha
seus benefícios.
— E quanto a suas mentes, suas memórias? Nós ajustamos eles? —
ele perguntou. Havia mais de um tipo de trauma.
Gwen olhou para Elspeth. — Ela está trabalhando nisso. Ela parece
ter uma habilidade para isso.
Austin assentiu. Fazia sentido que a antiga Comedora de Memórias
fosse habilidosa em ajustar as memórias.
— Sim, eu tenho — disse Elspeth. — Mas você verificaria meu
trabalho? Eu quero garantir que eu fiz isso corretamente.
Ele o fez e ficou impressionado com a profundidade que ela tinha
feito isso — ela não apagou suas lembranças, ela apenas diminuiu sua
intensidade, fez com que a altercação assassina parecesse ser uma
pequena desavença e que os danos eram insignificantes... que agora
eram, com a ajuda de Gwen e Ivy. — Excelente trabalho — ele disse. —
Vamos movê-los para os quartos de doação para que eles estejam fora do
caminho.
Depois que eles deixaram os doadores para dormir com sedativo,
Austin conduziu Gwen e Elspeth ao andar de baixo para falar em
particular. Val e Fang os seguiram. — Então, alguma de vocês viu o que
aconteceu? — ele perguntou.
Gwen encolheu os ombros. — Nós viemos verificar os estoques da
clínica e tínhamos acabado de sair quando aconteceu — ela disse,
compartilhando um olhar cauteloso com Elspeth.
Austin entendeu — elas tentavam evitar Luis sempre que possível.
Ele assentiu encorajadoramente.
Ela continuou. — Luis entrou com dois de seus seguidores assim
que estávamos indo para a porta. Um pequeno grupo de caras os seguiu.
— Ela olhou para Elspeth. — Talvez cinco ou seis?
— Sim — confirmou Elspeth. — Foram cinco.
Gwen assentiu. — Ouvimos gritos, então corremos para ver o que
estava acontecendo. Foi quando vimos Luis com uma flecha em seu
peito, vampiros lutando e os humanos lutando para sair do caminho.
Quando mais vampiros saíram dos quartos para ajudar, os atacantes
fugiram.
— Alguns tentaram segui-los — acrescentou Elspeth, — mas eles
tinham um veículo pronto e conseguiram escapar ilesos.
— Você viu que tipo de carro era? — perguntou Val. — Pegaram o
número da placa?
Elspeth balançou a cabeça. — Eu sinto muito. Tudo o que sei é que
o veículo era de cor escura. Eu não conheço os nomes.
Como ela tinha sido louca a maior parte de sua vida de vampira,
começando nos tempos da Inquisição, Austin não estava surpreso que
ela não conseguiu identificar um carro moderno. — Você reconheceu
algum dos atacantes? — perguntou Austin, na esperança de que nenhum
de seus próprios seguidores tivesse sido tolo o suficiente para fazer algo
tão estúpido.
— Não — Gwen e Elspeth disseram juntas.
— Vocês podem descrever algum deles? — ele persistiu.
Gwen franziu a testa, mordendo o lábio. — Desculpe, tudo
aconteceu tão rápido. A única coisa que eu lembro é que dois deles
pareciam muito semelhantes, como se fossem irmãos.
— Magros, loiros, de vinte e poucos anos? — perguntou Val.
— Sim.
Val olhou para Austin. — Parece os doces gêmeos.
Justo o que Austin estava pensando. — Parece que todos os
caminhos levam a Mike e Ike. É melhor acharmos eles.
CAPÍTULO NOVE
VAL

C hegamos ao banco de sangue do centro da cidade, e eu refleti sobre


o quão estranho meu mundo pareceria para as pessoas de fora. Se
eu tivesse nascido totalmente humana como minha meia-irmã Jen, eu
seria como as outras garotas da minha idade que estavam na faculdade e
passavam seu tempo indo para a aula, estudando e saindo com os
amigos. Em vez disso, eu passava meu tempo indo para bancos de
sangue, lutando e saindo com vampiros e demônios.
E os estudantes universitários achavam que suas vidas eram difíceis.
Há!
Por sorte, a chuva tinha parado, então Fang não se molhou
novamente enquanto todos caminhamos para dentro. Austin
aproximou-se da menina que trabalhava no balcão — a placa de
identificação dela dizia Amanda — e disse: — Estamos procurando por
três novatos que provavelmente vieram aqui ontem à noite. Eu dei-lhes
o meu cartão. Você pode verificar?
Ela deu um sorriso alegre. — Claro senhor. Você sabe seus nomes?
Ele olhou para mim e eu disse: — Chris, Carlos e Charlie. Três nerds
de idade universitária com jaquetas de couro novas.
O sorriso de Amanda ficou torto. — Eu me lembro deles... eles
deram em cima de mim.
Claro que eles fizeram isso, disse Fang com um sorriso mental. Eles
provavelmente dão em cima de qualquer uma com peitos. Imaginam qual é sua
taxa de sucesso?
Ivy também deve ter ouvido isso porque murmurou: — Pela sua
descrição, eu diria que suas chances eram escassas.
Eu atirei nela um sorriso. — Sim.
— Eles entraram na noite passada e novamente há cerca de uma
hora — disse Amanda. — Vocês quase esbarram neles.
Ah, ótimo. Eles seguiram as instruções de Austin.
— Você não lhes deu acesso a uma sala de doação especial, não é?
— perguntou Austin.
— Não, eles me deram o seu cartão, e eu poderia dizer que eles eram
novatos, bebês de garrafa, então eu passei para Tracy para lhes dar
orientação.
Austin assentiu. — Ela está aqui esta noite?
— Sim, na sala de conferências.
— Esperem aqui — Austin nos disse. — Eu volto já.
Ivy, Fang e eu nos recostamos em um canto oposto à estação de
suco. — Por que ele não queria que eles usassem uma sala? — Ivy
perguntou.
— As salas são para o tipo de doação, uh, presa com pescoço — eu
expliquei.
Sim, acrescentou Fang. Para os humanos que gostam de suas doações
apimentadas com uma pequena fantasia. Têm salas decoradas como bordeis
venezianos, casas de floresta e masmorras.
Eu fiz uma careta. — Você pode imaginar dar isso a três novos
vampiros nerds sem restrições? Não é de se admirar que eles os façam
tomar sangue de uma garrafa para começar.
— Muito inteligente — disse Ivy. — Eu imagino que também ajuda
a manter os novatos na linha, com algo para se esperar. Boa tática de
recrutamento.
Eu nem tinha pensado nisso. E realmente não tive tempo, porque
Austin estava voltando, mostrando um sorriso e parecendo esguio e sexy.
Lola o queria.
Não é a hora. Eu a puxei de volta.
— Vamos — ele disse.
Uma das mulheres na área de espera levantou-se. — Espera. Você
está saindo? — ela perguntou com um beicinho. Embora ninguém mais
tivesse notado sua boca com toda aquela carne pulando sobre o decote
de seu vestido. Decote? Estava mais para a linha do ventre — era um
decote bem baixo. — Você não pode ficar?
Fang me cutucou de brincadeira na canela com o nariz. Aposto que
ela quer levá-lo para aquela sala do bordel.
Austin inclinou o chapéu e piscou para ela. — Não esta noite,
madame.
Não haveria nenhuma noite se Lola tivesse algo a dizer sobre isso.
Eu suspirei mentalmente. Que pena que ela não disse. Ele continuou
andando, e eu o segui, perguntando-me quanto tempo ele passava
naquelas salas de fantasia.
Ele olhou para mim. — Eu não uso as salas... apenas bolsas de
sangue — ele me assegurou, como se ele tivesse lido minha mente.
Não, leu sua expressão, Fang comentou. Você não tem exatamente uma
cara de pôquer.
Bem, porcaria. Eu teria que trabalhar nisso. Fingindo como se não
fosse importante, perguntei: — Você sabe onde estão os três Cs?
— Sim, eles compartilham um apartamento em um alojamento de
estudantes. — Ele acenou com um pedaço de papel. — Eu tenho o
endereço.
Ele dirigiu para um complexo de apartamentos não muito longe do
zoológico, e todos nós saímos para rastrear os novatos. Austin consultou
a anotação. — Número 213.
Nós seguimos as indicações para o apartamento, e quando
chegamos mais perto, ouvimos a batida alta dos alto-falantes no
máximo. As letras da música eram indistinguíveis por causa da conversa
de vozes que competiam com a música, com as pessoas saindo pela porta
da frente e descendo os degraus. Os três Cs estavam dando essa festa?
No entanto, seu apartamento estava do outro lado da festa.
Um casal olhou para nós quando passamos nos espremendo. O cara
parecia estar ocupado usando as mãos, mas a menina não parecia estar
curtindo tanto quanto ele. — Ei, cãozinho fofo — a menina gritou acima
da música e se afastou dele para se ajoelhar e acariciar Fang.
— Obrigada — falei, feliz de deixar Fang ser sua desculpa quando
ele abanou seu rabo e fingiu ser um cão adorável e normal.
Eu não tenho que fingir ser adorável, ele me informou. Vem
naturalmente.
Eu revirei os olhos, depois o ignorei.
— Chris, Charlie e Carlos estão aqui? — eu perguntei a eles.
O cara zombou. — Aqueles caras? Não são do tipo que queremos
em nossa festa.
Ooook. Austin bateu na porta do 213, mas não houve resposta.
— Talvez eles não possam nos ouvir — gritou Ivy.
Não tem ninguém dentro, disse Fang.
Isso fazia sentido. O quociente de beleza da festa era bem alto —
todos que eu podia ver era provavelmente um atleta, ou líder de torcida
ou algo parecido. Os três Cs provavelmente saíram para evitar que seus
rostos fossem esfregados em sua estranheza social e física. Se essa festa
fosse típica do que eles tinham que lidar em uma base diária, não era de
admirar que eles quisessem estar no topo da ordem social para variar.
— Por que vocês estão procurando por esses caras? — perguntou a
menina, enquanto seu olhar avaliava os três.
Nenhum de nós realmente parecia nerds, então entendi sua
confusão. — Chris é meu primo — eu menti. — Você sabe onde
podemos encontrá-lo?
Ela deu de ombros e olhou para seu acompanhante. Ele fez uma
careta, obviamente irritado pelo seu beijo interrompido, e tomou um gole
de cerveja antes de responder. — Provavelmente na loja de quadrinhos.
É o céu dos nerds... eles ficam muito por lá.
— Qual? — perguntou Austin.
— Como eu saberia? — perguntou o cara. — Eu pareço um nerd
para você? — Ele pegou a garota novamente, mas ela se evadiu.
Irritada, eu disse: — Não, você parece um...
Mas não tive a chance de terminar essa frase, porque Austin agarrou
meu braço e disse: — Obrigado. Vamos verificar.
Eu encolhi os ombros, irritada pelo atleta que sugava cerveja, que
zombou de nós e tratou a menina como uma propriedade. Eu me
aproximei dele, então ele estava dentro do campo de Lola. Ele recuou,
com os olhos arregalados, provavelmente se perguntando por que ele
estava tão dominado pela luxúria de uma garota de aparência média que
não chegava ao seu padrão de gostosura.
Quando suas costas atingiram a parede, eu sorri e empurrei Lola
para dentro dele. — Você sabe para onde eles vão, não é? — eu disse e
peguei ele pelos seus chacras para que ele tivesse que me obedecer.
— Sim, eles vão para a Big Bang Books and Comics — ele balbuciou
e até nos deu o endereço.
— Obrigada — eu disse. Então, porque Lola tinha sido privada por
tanto tempo, eu a deixei lanchar do idiota — apenas o suficiente para
tirar a luxúria dele e deixá-lo esgotado e fraco. Enquanto Lola estava em
seus chacras, eu decidi testar uma teoria. — Você parece muito livre com
suas mãos. Diga-nos, como você se sente realmente sobre a garota com
quem você está? — E, é claro, usei Lola para forçá-lo a dizer a verdade.
— Bem, ela não é tão gostosa quanto eu gosto, mas ela tem um
corpo bom... aposto que ela é ótima na cama. — Uma vez que as
palavras saíram da sua boca, ele parecia tão horrorizado como a sua
parceira.
Uau, isso funcionou ainda melhor do que eu esperava.
A menina olhou para mim, parecendo chocada. — O que você fez
com ele?
Dei de ombros. — Tirei a luxúria dele. O hipnotizei para ele dizer a
verdade. — Mais ou menos, mas era algo que ela poderia entender.
Ela ficou confusa, então eu acrescentei: — Você é boa demais para
ele. Por que você não encontra outra pessoa?
Ela olhou para o idiota que se abaixou contra a parede, quase
babando após o ataque de Lola em seus centros de prazer. — Sim, acho
que vou — ela disse e saiu da festa.
— Bem — ironizou Austin, parecendo divertido. — Você fez sua
boa ação do dia. Vamos?
Desta vez, tivemos sorte. Os novatos estavam na loja, examinando
estantes de livros de cores vivas.
Carlos nos avistou primeiro e recuou, levantando as mãos. — Nós
fomos ao... — ele parou, obviamente percebendo muitos humanos na
loja e engoliu em seco. — Para o lugar que você nos disse para ir, é sério.
Chris e Charlie concordaram. — Realmente o fizemos — disse
Charlie. — Pergunte a Tracy.
— Tudo bem — assegurou Austin. — Eu sei que vocês foram. Nós
só queremos fazer algumas perguntas.
— Ei, tirem esse cachorro daqui — gritou o cara do balcão. — Esta
não é uma loja de animais.
Fang rosnou para ele, mas eu deixei para lá. Nós não poderíamos
ter essa conversa aqui, de qualquer maneira. — Nós estamos saindo —
eu disse a ele, então voltei para os três Cs. — Há um café ao lado.
Podemos conversar lá?
Eles assentiram com a cabeça e entramos na cafeteria, todos, exceto
Austin, que ficou encomendando frappes, lattes e outras bebidas de café
extravagantes. Os três Cs evidentemente não perderam o hábito de
consumir comida humana ainda, mesmo que não pudessem se satisfazer.
Eu pedi uma xícara de chai. Eu não sabia se os proprietários notaram
Fang, mas se o fizeram, eles o ignoraram. Bom o bastante.
Uma vez que todos nós tínhamos nossos pedidos e nos sentamos
em um canto calmo para não sermos ouvidos, Austin disse: — Estamos
procurando dois vampiros desvinculados chamados Mike e Ike. Vocês
os conhecem?
Charlie, obviamente ansioso para ser visto como o líder, disse: —
Não, nós não sabemos os nomes da maioria dos que conhecemos.
— Eles são loiros, do tamanho de Carlos, e irmãos gêmeos. Vocês
se lembram de encontrar alguém assim? — eu continuei.
Os três trocaram olhares, mas sacudiram a cabeça em negação.
Droga. Eu esperava que fosse mais fácil do que isso.
— O que vocês lembram? — Ivy perguntou.
— Nós lidamos principalmente com o nosso... — Charlie olhou ao
redor para garantir que ninguém estivesse ouvindo e baixasse a voz. —
Nosso criador e o recrutador.
Eles já provaram que eles não se lembravam do nome de seu
criador. — Conte-nos mais sobre o recrutador — eu insisti.
Charlie encolheu os ombros. — Ele disse que o nome dele era
Alexander, como Alexandre, o Grande.
Nenhum problema de ego aí. — Como ele se parece? — eu
perguntei.
— Um cara branco e alto. Parece muito com Liam Hemsworth.
Aposto que vem a calhar com os trabalhos de recrutamento, Fang grunhiu.
Sim.
— Como vocês o conheceram? — perguntou Austin.
Charlie trocou olhares cautelosos com seus amigos. — Bem, nós lhe
falamos sobre o aviso no quadro de avisos...
— Sim, e...? — perguntou Austin.
— Ele disse para nos encontrarmos em uma sala no campus, então
nós o fizemos. Outros apareceram, mas nós fomos os únicos que ficaram.
Foi assim que descobrimos... essa vida.
— E este Alexander era o único lá? — perguntou Austin.
— Não, nosso... criador entrou no final. Eles disseram que uma vez
que passássemos no teste do parque, eles saberiam e nos iniciariam no
resto do grupo.
Sua prova final era encontrar humanos no parque e sugá-los completamente,
Fang disse a Ivy.
Sua expressão enojada claramente apareceu em sua reação.
Mas eles não conseguiram fazer isso.
— Como vocês deveriam entrar em contato com eles? — eu
perguntei ansiosamente. — Como eles saberiam se vocês passaram no
teste ou não?
Charlie encolheu os ombros. — Eles não disseram. Eles apenas
disseram que saberiam.
Não era muito útil.
— Provavelmente porque eles encontrariam os corpos no parque —
disse Austin, sua aversão óbvia.
— Então — Ivy disse, — o que eles disseram que aconteceria com
vocês se vocês não passassem no teste?
Um pânico puro cruzou o rosto de Chris, e os outros dois não
pareciam muito melhores. — Eles não disseram — disse Chris e
visivelmente engoliu em seco. — Vocês acham que eles vão... fazer algo
com a gente?
— Bem, se vocês falharam no teste, vocês não podem ser seus
lacaios — eu disse. — Isso iria irritá-los? Ou eles simplesmente iriam
desistir de vocês como uma causa perdida?
Eles trocaram olhares frenéticos e incertos. — Estamos em perigo?
— perguntou Carlos, sua voz tremendo.
— Talvez — disse Austin. — Não sei como os desvinculados
operam, mas eles atacaram alguns membros do Movimento. Agora,
vocês são a nossa melhor pista para encontrá-los e detê-los.
— Mas nós não sabemos de nada — Chris lamentou. — E se eles
vierem atrás de nós?
— Tracy não explicou que vocês podem viver em uma de nossas
casas ou bancos de sangue?
— Sim — disse Charlie, — mas não queríamos desistir do nosso
apartamento. É tão perto da faculdade.
Eu resmunguei. — Vocês realmente acham que vocês poderão
continuar indo para a faculdade? Quantas aulas são realmente de noite?
Eu poderia dizer que eles acabaram de começaram a pensar sobre
isso. — Sabe de uma coisa — eu disse. — Por que vocês não se mudam
com Austin? — Eu olhei para ele. — Qual banco de sangue você está se
mudando?
Ele pensou por um momento. — Do centro da cidade... é maior e
tem a melhor clínica.
Eu assenti. Ele poderia precisar de uma casa maior se seus
seguidores decidirem sair da mansão e ir com ele para demonstrar seu
apoio. E Gwen e Elspeth passavam muito tempo lá. Austin assumiu sua
proteção como seu projeto de estimação.
— Vocês não conseguem pensar em algo mais que possa nos ajudar
a encontrar Alexander? — eu perguntei. — Nada mesmo?
Eles pensaram furiosamente, as sobrancelhas franzidas.
Evidentemente, agora que suas vidas mortas-vivas estavam em jogo,
estavam ansiosos para ajudar.
— Não — disse Charlie, — mas ele provavelmente terá outra
reunião de recrutamento... temos a impressão de que a nossa não era a
primeira ou a última. Verifique o quadro de avisos no edifício de física.
— Não está aberto a essa hora da noite — disse Chris. — Mas vocês
podem ir lá amanhã. — Ele nos deu instruções.
Austin assentiu. — Obrigado, vocês foram muito úteis. Agora, vão
imediatamente ao banco de sangue e se acomodem... vocês estarão mais
seguros lá.
— E as nossas coisas? — perguntou Carlos.
— Enviaremos uma equipe para ajudá-los a pegar o que vocês
precisarem amanhã à noite.
Chris e Carlos olharam para Charlie, que assentiu de maneira
decisiva. — Ok. Você estará lá? Você prometeu nos ensinar a lutar.
— Eu estarei lá mais tarde — prometeu Austin. — Agora vão.
Eles não precisaram de mais encorajamento quando atravessaram a
porta e correram para o carro deles.
Eu sorri. — Parece que você tem alguns novos ativos em sua briga
com Luis.
Balançando a cabeça, Austin disse: — Mais como passivos.
— Então, vamos entrar no prédio de física para que possamos
examinar os quadros de avisos? — Ivy perguntou.
Olhei para ela com surpresa. E eu pensando que ela era uma
certinha.
Você a está corrompendo.
— Amanhã é breve o suficiente — disse Austin. — Eu duvido que
eles tenham uma reunião tão tarde da noite. Podemos verificar logo após
o pôr-do-sol amanhã.
— Por que esperar? — Ivy perguntou. — Val e eu podemos verificar
durante o dia. Não é necessário invadir.
Austin franziu a testa, mas antes que ele pudesse dizer alguma coisa,
eu disse: — Ivy está certa. Isso economizará tempo. Não é como se eles
tivessem uma reunião de recrutamento durante o dia. O mais cedo
possível é amanhã à noite.
Ivy assentiu. — Então Val e eu podemos participar da reunião como
potenciais convertidas. — Ela ergueu uma sobrancelha para Austin. —
Eu acho que Alexander descobriria o que você é de imediato.
Ele lhe deu uma olhada brusca. — Sim, mas você acha que é sábio
vocês duas irem?
— Melhor do que ter um humano de verdade fazendo isso... seria
mais perigoso para eles — eu o lembrei. — Além disso, se ele tentar sugar
sangue de demônio, isso o deixará louco. E eu posso me defender contra
qualquer homem.
Austin pensou por um momento. — É muito arriscado. Não posso
deixar vocês fazerem isso por nós.
— Sério? — Eu levantei uma sobrancelha. — E como você propõe
nos impedir?
Uh-huu, exclamou Fang. Isso o colocou em seu lugar!
CAPÍTULO DEZ
VAL

A ustin pareceu envergonhado. — Eu admito meu erro.


Ele admitir isso me fazia gostar dele ainda mais. Relaxando,
eu disse: — Você provavelmente está em mais perigo do que nós. Afinal,
eles sequestraram Alejandro e tentaram levar Luis. Parece que os
desvinculados, ou outras pessoas, estão tentando remover a liderança do
Novo Movimento de Sangue. Você pode ser o próximo.
— Isso ocorreu para mim — Austin comentou.
— Então deveria ser eu quem protegerá você — eu terminei
triunfantemente. Afinal, os atacantes até agora tinham sido homens, pelo
que eu sabia. E Lola poderia cuidar deles sem problemas.
Austin me deu um sorriso lento. — Se eu não conhecesse você, eu
acharia que você estava se esforçando para passar mais tempo comigo...
querida.
Meu rosto corou, e eu procurei uma resposta espirituosa, mas a
vergonha e os hormônios femininos me tornaram totalmente menos que
espirituosa.
Você fez isso sem palavras, disse Fang com uma risada.
— Ou que você estava querendo para passar mais tempo com ela —
Ivy disse a Austin. — Afinal, você sugeriu isso primeiro.
Apoio de uma direção inesperada. Que legal.
Eu gosto dela, disse Fang de repente.
Sim, eu também.
Com um olhar de puro divertimento em seu rosto, Austin disse: —
Isso não é um segredo. Todos sabem que eu gosto de Val.
E, novamente, minhas bochechas flamejaram ainda mais. — Eu...
eu só quis dizer que você deveria ter um apoio — eu gaguejei. —
Certificar-se que você não esteja sozinho, que não se torne um alvo fácil.
Com pena de meu tolo estado, Austin disse: — Concordo. Vamos
voltar para a mansão e eu vou conseguir ajuda para me mudar para o
banco de sangue. Isso está bom para você, querida?
Ele estava zombando de mim agora?
Talvez um pouquinho.
Ignorando isso, eu disse: — Tudo bem, e enquanto você faz isso, eu
vou procurar na enciclopédia para ver se há um feitiço que poderia nos
ajudar a encontrar Alejandro.
Austin nos levou de volta para a mansão, mas quando eu segui Ivy
e Fang para seu MINI, Austin me deteve com uma mão no meu braço.
Suavemente, ele disse: — Espere um momento.
Olhei para ele com uma pergunta em meus olhos, e ele se inclinou
para pressionar seus lábios contra os meus com um beijo gentil, uma
promessa de coisas por vir.
Um prazer emocionado passou por mim, inesperado, mas muito
bem-vindo. Seu beijo suave inflamou a possessividade de Lola, e não
pude evitar... eu cedi a ela. Peguei sua camisa na minha mão e me
inclinei por mais. O segundo beijo foi ainda melhor. As garras de energia
luxuriosa de Lola giraram por ele, depois voltaram para mim, nos
pegando em um ciclo de feedback de puro prazer. Enrolei os braços ao
redor do seu pescoço e nosso beijo se aprofundou até eu sentir que ele
estava encanando minhas profundidades. Lola comeu tanto da sua
deliciosa energia sexual quanto conseguiu.
Arranjem um quarto, disse Fang do carro, soando divertido e
desgostoso ao mesmo tempo. Antes que ele comece a avançar mais.
De repente, percebi que estava envolvida nos braços de Austin com
tanta força, que não havia uma molécula entre nós dois. E que tínhamos
uma audiência muito interessada dentre Ivy, Fang e alguns vampiros que
haviam vindo assistir.
Mortificada, me afastei. — Sinto muito — falei sem fôlego. —
Lola...
— Não precisa se desculpar — disse Austin, seus olhos brilhando
enquanto ele olhava para mim. — Eu definitivamente não me importei,
embora eu preferisse continuar isso em algum lugar menos público.
Eu também, no entanto, agora não era uma opção, droga. —
Alguma outra vez? — eu sugeri, sentindo-me bastante ousada.
— Querida, apenas diga a hora e o lugar.
Seu sorriso lento prometia muito mais prazeres de onde esses
vieram, e não pude evitar ficar fraca dos joelhos. Não consegui me
afastar de seu olhar.
Venha Val, Fang insistiu. Pare agir de como uma heroína de romance para
que possamos pegar a estrada.
Tudo bem, tudo bem. Dá um tempo.
Relutantemente, desviei meu olhar de Austin e caminhei até o carro
de Ivy. Quando entrei, ela disse: — Uau, ele é muito gostoso. Então, por
que vocês não transaram ainda?
Olhei para ela com surpresa, sem saber o que dizer.
O que faz você pensar que ela não o fez? Fang perguntou a Ivy.
Ivy encolheu os ombros e dirigiu o carro em direção aos portões. —
Principalmente pela linguagem corporal. É porque ele é um vampiro?
Olhei para Austin — ele ainda estava de pé ao lado de um vampiro,
me observando com um olhar intenso e um meio sorriso. Meu coração
saltou em resposta. Caramba, eu poderia ser mais uma garota de
colegial?
— Mais ou menos — eu murmurei. — É complicado.
Na verdade, não é.
Ignorando Fang, eu disse: — Eu gosto de Austin, mas às vezes
simplesmente parece... errado, ter atração por um sanguessuga.
— Sim, eu entendo isso, mas depois de ver a forma como esses
“sanguessugas” se dispuseram a ajudar os humanos, eu entendo por que
você diz que eles são bons. Gwen e Elspeth realmente pareciam se
importar.
— Elas se importam, mas pode ser porque Gwen foi recentemente
transformada contra a vontade dela... ela era uma enfermeira de
emergência antes disso. Na verdade, ela costumava ser minha colega de
quarto.
Ivy assentiu. — Micah mencionou isso. E Elspeth? Você não pode
me dizer que ela foi transformada recentemente.
— É verdade — eu concedi. Eu não tinha certeza de por que eu
estava dizendo isso quando eu queria que Ivy pensasse que eles eram
bons.
— Então, por que não ir atrás de Austin com todo fervor?
— Eu sou... nova nisso — eu admiti. Com seu olhar incrédulo, eu
acrescentei: — Olha, eu posso ser parte súcubo, mas passei a maior parte
da minha vida suprimindo meus poderes para que eu não sugasse
acidentalmente os homens. Só foram nos últimos dois meses que eu
aprendi a fazer as pazes com o demônio dentro de mim. — Então, antes
que ela pudesse fazer perguntas mais constrangedoras, perguntei uma
das minhas. — Então, com quem você está ficando?
Fang bufou. Você realmente a surpreendeu com isso.
Ivy deu uma risada. — Eu acho que eu merecia isso. Mas a resposta
é ninguém.
— Por que não?
— As opções em Sedona são bastante escassas. Essa é uma das
razões pelas quais eu vim aqui para uma longa visita... parece que vocês
têm uma organização bastante próspera do Demônios Clandestinos aqui
no Texas.
Dei de ombros. — Eu não saberia... nunca estive em nenhum outro
lugar.
— Mesmo? Bem, você terá que vir a Sedona em algum momento.
Eu sorri para ela. — Obrigada... eu gostaria disso. — Isso me
lembrou meus planos de agarrar Fang e simplesmente sair por aí e dirigir
pelo sudoeste... algum dia, quando não houvesse uma crise para cuidar.
Acha que isso acontecerá algum dia? Fang perguntou
melancolicamente.
Eu espero que sim, eu respondi mentalmente, embora fiquei um pouco
surpresa com Fang querer fazer algo que não envolvesse morder os
bandidos.
Até mesmo cães do inferno e Paladinas precisam de uma folga algum dia.
Amém a isso. E talvez Ivy também estivesse certa sobre Austin. Eu
não sabia quando eu poderia ser morta... ou ele poderia ser. Por que não
agir sobre essa atração entre nós?
Quando chegamos de volta à casa, a porta estava destrancada. Que
diabos? Como eu guardava a enciclopédia, eu sempre trancava a porta.
Erguendo minha mão para manter Fang e Ivy para trás, perguntei a
Fang mentalmente, Você pode ler alguém dentro?
Não. Não deve ser um demônio.
Olhei para Fang e para suas unhas barulhentas — o intruso os
ouviria claramente no chão duro de dentro. Fiquem aqui até que possam
transmitir a sua presença. Diga a Ivy que vou entrar em silêncio para ver por que
eles estão aqui.
Fang revirou os olhos, mas, como ele não poderia colocar chinelos,
ele concordou. Ivy assentiu com a cabeça e me seguiu para dentro. Não
era exatamente o que eu pretendia, mas ela poderia ser útil como apoio.
Nós entramos na ponta dos pés e ouvi uma voz masculina
murmurando do meu quarto. Porcaria. Era lá que eu guardava os livros.
Querendo ouvir o que ele estava dizendo, eu me aproximei e fiquei
de fora da porta, ouvindo. Eu não conseguia entender as palavras —
apenas o tom, como se o cara tivesse feito uma pergunta. Não houve
resposta, e depois de um minuto ou dois, outra pergunta e mais silêncio.
Ele estava no telefone, talvez?
Curiosa, espiei da esquina. Espera, eu reconhecia aquela espiral.
Shade estava sentado na minha cama e tinha um dos livros espalhados
na frente dele. E como Fang não podia “ouvi-lo” mais, isso explicava
porque Fang pensava que ele não era um demônio. Mas não vi um
telefone. Com quem ele estava falando?
Empurrei a porta totalmente aberta. — O que você está fazendo? —
eu perguntei.
Shade saltou e provavelmente parecia culpado como o inferno,
embora eu não conseguisse ver sua expressão. Ele fechou o livro e saiu
da minha cama. — Desculpa. Eu só estava... fazendo alguma pesquisa.
Fang apareceu ao meu lado. Nossa, isso não é nada suspeito.
Irritada, eu disse: — Você veio à minha casa sem pedir?
— Tentei ligar para você — disse Shade. — Mas o telefone foi direto
para o correio de voz.
Bem, eu tendo a desligá-lo ao caçar vampiros. Mesmo os ouvidos
humanos podiam ouvir o zumbido de um telefone vibrando. Liguei o
telefone e verifiquei. De fato, havia algumas chamadas perdidas de
Shade.
— Eu assumi que você não se importaria — disse Shade. — E eu
ainda tenho uma chave de quando eu tive que ficar aqui.
Ok, isso parecia razoável, embora ainda me sentisse irritada com
ele. — Com quem você estava falando? Não estou vendo o seu telefone.
Shade encolheu os ombros. — Apenas lendo em voz alta. Não se
preocupe, eu não digo as palavras finais para invocar os feitiços.
Droga, eu realmente queria que Fang ainda pudesse ler sua mente.
Ele provavelmente está mentindo, disse Fang.
— Não está mentindo exatamente — disse Ivy. — Apenas não
contando toda a verdade.
Eu lancei-lhe uma sobrancelha levantada, e ela tocou uma das
muitas pedras em sua orelha direita. — Minha sodalita às vezes pode
dizer.
Olhei para Shade. — Quer elaborar essa resposta?
— Na verdade não.
— Eu poderia forçá-lo, mas nenhum de nós quer isso — lembrei-o.
— Tudo bem — ele falou e pegou os livros. — Mas vamos fazer isso
na outra sala.
Eu me afastei para que ele pudesse passar por mim, e enquanto ele
passava por Fang, a expressão de Shade apareceu brevemente mostrando
o aborrecimento em seu rosto.
Suspirei internamente, me perguntando por que lidar com as
pessoas sempre tinha que ser tão difícil.
Nós o seguimos até a sala de estar, onde Shade colocou o livro na
mesa de café e sentou no sofá. Fang saltou ao lado dele, cutucando Shade
para acariciá-lo para que pudéssemos ver o rosto do demônio das
sombras. Shade começou a se afastar, mas deve ter notado a expressão
aliviada de Ivy, porque ele colocou sua mão na cabeça de Fang. A
vibração de Shade era um pouco estranha até você se acostumar com
isso.
— Então, você vai explicar? — eu induzi Shade.
Ele assentiu. — Eu estava falando com o livro.
Olhei para Ivy, que assentiu. Shade dizia a verdade, mas tirá-la dele
era como puxar estilhaços de um vampiro estaqueado. — Por quê?
— Eu estava fazendo perguntas.
— Você quer dizer que você estava pedindo para ele lhe dar um
feitiço? — Eu pensei que ele só mostrava feitiços para mim, a Guardiã
da Enciclopédia Mágica.
— Não exatamente — ele se esquivou.
Eu não precisava que Ivy me dissesse que não era toda a verdade.
— Então, o que então? — eu disse brincando. — Você esperava que ele
falasse de volta? — Improvável. Agora que o demônio mago que
habitava a enciclopédia tinha ido, os livros não falavam mais comigo.
Shade olhou para Ivy, seus lábios se encolhendo. — Sim.
Ah, diabos, disse Fang. Vamos direto ao assunto. A verdade é que ele pode
conversar com os livros e eles respondem de volta.
Olhei para Fang, depois para Shade. — Os livros falam com você?
— eu repeti para os benefícios de Shade e Ivy.
Shade assentiu com a cabeça, parecendo desafiante.
Olhei para Fang. — Você sabia disso e não me disse?
— Foi sugestão dele — disse Shade, obviamente feliz em poder
compartilhar meu aborrecimento com o cão do inferno.
Eu não te conto tudo, disse Fang. Além disso, quem liga com quem os livros
falam?
Obviamente, eu ligava, mas não tinha certeza do porquê. — Com
quem mais eles estão falando?
Fang suspirou. Ninguém além de você e Shade, pelo que eu saiba. Mas os
livros estavam preocupados que o amuleto controlasse você, então eles queriam um
Guardião substituto e escolheram Shade.
Então foi por isso que Fang não disse nada, ele estava muito
preocupado com o cristal. — Você é um Guardião substituto? — eu
perguntei a Shade.
Ele assentiu. — Eles me disseram para não te contar até o amuleto
ter desaparecido.
Uau. Atordoada, eu não tinha certeza de como eu me sentia sobre
isso. O cristal realmente era tão perigoso? Antes que Fang pudesse
responder, eu disse a ele: Não responda isso.
Ivy inclinou-se para a frente. — O que realmente é importante aqui
é: sobre o que você estava falando com o livro?
Ele encolheu os ombros. — Na verdade, estava apenas dizendo que
eu destruí o amuleto e ele já não precisava se preocupar com o trabalho
de Val como Guardiã.
— Mas eu também ouvi uma pergunta com a sua voz mais cedo. O
que você perguntou? — eu persisti.
— Eu perguntei se ele ainda queria que eu fosse um Guardião
alternativo. Ele disse que sim.
Eu não tinha certeza de como eu me sentia sobre isso. Olhei para
Ivy.
Ela assentiu. — Ele está escondendo algo, mas está dizendo a
verdade.
Antes que eu pudesse perguntar, Shade disse: — Algumas coisas são
pesquisas. O resto não é da sua conta.
— O que mais você descobriu do livro? — eu perguntei. Então
surgiu uma percepção. — Oh. É assim que você consegue manter Fang
fora de sua cabeça... um feitiço, certo?
Shade assentiu com a cabeça.
Meus olhos se estreitaram. — E você estava tentando encontrar uma
maneira de recuperar o corpo de Sharra, não estava?
— Isso importa? — ele perguntou, sua voz amarga. — Eu não posso
mais, você se assegurou disso.
Graças a Deus por isso. Suspirando, percebi que havia algo mais
faltando no que ele disse. — Como você está falando com isso? —
Pergunta estúpida — eu fiz uma reformulação. — Quero dizer, como ele
está falando de volta?
— Ele me mostrou um feitiço para se comunicar — disse Shade e
abriu o livro em uma página em branco que ele havia marcado. — Você
confirmará que tudo o que eu disse a Val agora é a verdade?
Sim apareceu na página, então desapareceu depois que eu li.
— Qual o feitiço para que ele fale comigo? — eu perguntei
ansiosamente. Essa parecia uma maneira muito mais fácil de se
comunicar com o livro, ao invés de fazer perguntas aleatórias sobre quais
feitiços estavam disponíveis e esperar que ele seja aberto no certo, ou ler
todo o livro tentando encontrar um.
Shade franziu a testa. — O feitiço dura várias semanas, mas se você
invocá-lo antes que ele se dissipe para mim, o livro não vai falar mais
comigo até que eu use o feitiço novamente e vice-versa. Nós teríamos
que usar muito o feitiço.
— Oh. Porcaria.
Ivy perguntou: — Por que é uma porcaria?
Eu respondi a ela. — Porque cada vez que eu uso um feitiço no
livro, essa habilidade torna-se mais forte dentro de mim, mas minha
súcubo fica mais fraca.
— E quando eu o uso, minha capacidade de curar outros e abrir
portais enfraquece — acrescentou Shade.
Ivy assentiu. — Entendo. Então, é melhor apenas uma pessoa usar
o feitiço por vez.
— Certo. — Olhei para Shade, me perguntando se eu deveria insistir
em usar o feitiço de comunicação.
— Posso perguntar qualquer coisa que você queira saber — ele
disse.
— Ok, você pode perguntar se há um feitiço que nos ajudará a
encontrar Alejandro?
Obedientemente, Shade fez a pergunta, e a resposta foi muito clara:
Não.
Bem, lá se foi essa ideia. Curiosa agora, eu disse a Shade: — Faça
outra pergunta para mim. Por que ele quer dois Guardiões?
Ele a fez, e a resposta veio rapidamente. O trabalho como Guardiã
assim como de Paladina é perigoso, e ela arrisca a si mesma e a nós muitas vezes.
O demônio das sombras não.
— Então é porque você quer ter um substituto rápido no caso de
algo acontecer comigo? — eu perguntei.
Shade repetiu a pergunta.
Sim, parcialmente.
— Peça para explicar — eu disse a Shade.
Shade assentiu com a cabeça. — O que há além disso? Seja
específico.
O trabalho da Guardiã como Paladina deixa suas lealdades divididas.
Podemos estar melhor com um Guardião diferente.
Surpreendida, olhei as palavras, mesmo quando desapareceram da
página. A Enciclopédia Mágica não me queria mais? Droga — o que eu
faria sem ela?
CAPÍTULO ONZE
AUSTIN

Q uando Austin entrou na entrada ocupada da mansão, ele sorriu


para si mesmo, lembrando da resposta sincera de Val para seu
beijo. Seu entusiasmo foi inesperado e até pareceu surpreendê-la. Ela não
podia culpar completamente sua natureza de demônio da luxúria — não
desta vez — e ele esperava pela “próxima vez” que ela prometeu.
Austin virou-se para Rosa, que parecia estar direcionando o tráfego.
— Eu vim para pegar as minhas coisas — ele disse a ela e notou a
presença de um número de pessoas que ele pensava como Suíços, porque
eles não queriam tomar partido — e consequentemente estavam aliados
a Rosa, mesmo eles percebendo ou não.
Ela assentiu com a cabeça, distraída. — Você aí — ela disse,
apontando um dedo para uma mulher alta com um rabo de cavalo
escuro. — Catalina. Essa luminária não pertence a você... coloque-a de
volta.
Catalina olhou para a luminária na sua mão. — Eu achei que
iluminaria o meu quarto no banco de sangue. É tão simples lá.
— Coloque de volta — insistiu Rosa. — Pertence a esse lugar. —
Ela podia ser feroz na defesa de Alejandro e seus bens.
— O meu quarto é aqui — disse Catalina com irritação. — Por que
não posso levá-la comigo para o meu quarto?
Rosa olhou com raiva, e alguns de seus seguidores começaram a se
mover em direção a Catalina, mas ela levantou a outra mão em rendição.
— Tudo bem. Caramba, então me mate por querer deixar o lugar bonito.
Ela subiu as escadas e o sorriso de Austin aumentou. Ele apoiava a
falta de vontade de Rosa de deixar qualquer coisa sair da mansão — para
os seguidores de Luis e os seus. Talvez se todos tivessem que se contentar
com menos amenidades, estariam mais dispostos a fazer as pazes e voltar
para casa.
— Do que você está rindo? — Veio a interrupção rude através de
seus pensamentos. Era Tobias — fã número um de Luis, que tentava
parecer mais aristocrático usando uma barba. Não funcionou — só
conseguiu fazê-lo parecer um bandido. — Você está feliz de sermos
expulsos da nossa casa? — o homem exigiu.
Tobias estava obviamente procurando briga, mas Austin não iria dá-
la. Quando eles encontrassem Alejandro, ele não teria uma organização
para retornar se ele e Luis não pudessem reparar essa dissidência. Mas
Tobias não queria ouvir o motivo, nem Luis.
Decidido a não discutir, Austin balançou a cabeça e começou a
seguir Catalina pelas escadas.
— Ei, estou falando com você — Tobias gritou atrás dele.
Austin continuou ignorando-o, mas outra voz entrou na briga. —
Nós também estamos sendo expulsos, sabia.
Austin parou e virou-se. Jeremy, um ex-linebacker que não foi
transformado há muito tempo, empurrou seu rosto beligerante na cara
barbuda de Tobias.
Austin manteve sua raiva direcionada a Tobias e a toda a situação
podre. Jeremy não tinha medo de nada ou de ninguém, mas ele poderia
ser liderado. — Já chega, Jeremy — ele disse calmamente. — Vamos
apenas pegar nossas coisas e ir.
Nem Tobias nem Jeremy se moveram um centímetro. A tensão e a
testosterona vampiresca preenchiam o espaço, que de repente parecia
muito pequeno. Com um gesto de Rosa, os vampiros “suíços” cercaram
Tobias, afastando-o.
Tobias olhou com incredulidade para Rosa. — Você está do lado
dele.
— Não — ela retrucou. — Eu estou do lado de qualquer vampiro
que respeite Alejandro e que não quer causar danos à sua mansão ou dor
a qualquer membro do Movimento. — Os olhos dela acenderam de
raiva, depois se estreitaram. — Saia agora. Você não é mais bem-vindo
aqui enquanto Alejandro estiver ausente.
— E se ele não voltar? — Tobias perguntou, lutando contra seus
captores.
— Ele vai voltar — insistiu Rosa, e se olhares pudessem matar, o
traseiro de Tobias estaria cinza. Ela caminhou para frente para ajudar a
empurrá-lo para fora da porta.
— Bem, talvez a gente não espere — Tobias cuspiu enquanto lutava
contra o agarre de seus captores.
Um arrepio de medo passou por ele, mas Austin não deixou que
isso transparecesse. — Eu não acho que Luis ficaria feliz por você revelar
isso — ele disse. Na verdade, ele ficaria chateado se descobrisse que
Tobias estava falando sobre os seus planos. O pensamento de Luis
desafiando Alejandro deu-lhe flashbacks indesejáveis da devastação
causada pela guerra hispânica-americana.
Tobias de repente parou de se agitar, parecendo surpreso, e o aperto
dos guardas afrouxaram. Endireitando sua jaqueta, Tobias mexeu
desnecessariamente nas mangas. — Não seja ridículo. Como se Luis
ligasse para tal coisa — ele murmurou. E, convocando sua maneira mais
imperiosa, ele saiu sem dizer outra palavra, ignorando Rosa enquanto
ela gritava imprecações em espanhol às suas costas.
— Escória sem honra — murmurou Jeremy.
— Eu aprecio você tentando nos defender — disse Austin — mas
precisamos unir o Movimento, não separá-lo. Não há honra na luta
contra aliados. — Muitos dos novos recrutas estavam ansiosos para
mostrar suas novas habilidades, antes mesmo de terem aprendido seus
limites.
Jeremy franziu o cenho. — Então, quando lutamos?
— Quando for necessário, quando eles estiverem prejudicando
humanos, animais ou outros membros do Movimento. — Agarrando
Jeremy pelas costas, Austin sorriu. — Você pode lutar e matar todos os
desvinculados que você quiser. Ok?
— Pode deixar.
E se ele não tivesse lutadores mais experientes na reserva, ele teria
que fazer uso de novos recrutas como Jeremy, Chris, Charlie e Carlos.
Que o céu os ajude. — Ótimo. Há uma sala de treino no banco de sangue
onde você pode praticar. Vamos pegar nossas coisas e ir.
Os três Cs também apareceram no banco de sangue e estavam ao
redor da cobertura, jogando videogame na sala de estar, que era um
sonho de todo nerd. Um monte de outros “seguidores” se juntaram a eles
e estavam debruçados sobre as cadeiras confortáveis, jogando cartas ou
outros jogos, conversando besteira e treinando para pegar Luis e seus
apoiadores. Uma proporção desproporcional daqueles que escolheram
se filiar a Austin era do sexo feminino, graças a atitude bruta de Luis,
mas a maioria delas estão fazendo seus trabalhos em outro lugar.
Austin arrastou seus pertences — o pouco que ele tinha — junto
com Jeremy e ficou com as mãos nos quadris enquanto examinava a
cena. — O que é isso? Uma boate?
Todos pararam o que estavam fazendo e o encararam. — Não —
disse um. — Nós estávamos apenas esperando você. — Ele gesticulou
para os três Cs. — Eles mostraram seu cartão, disseram que você os
enviou. Eles não causaram nenhum problema, então deixamos que eles
ficassem.
— Ótimo, mas descansar na cobertura é um privilégio que todos
precisam merecer ganhar.
Houve uma série de murmúrios e um cara perguntou: — Como?
— Fazendo o seu trabalho, evitando se meter em problemas. — A
maioria das mulheres e alguns dos homens já haviam retornado aos seus
deveres normais, mas os que estavam aqui pareciam estar perdidos. Eles
precisavam de tarefas. — Precisamos aumentar as patrulhas para
procurar mais desvinculados. Mas em vez de matá-los, precisamos
descobrir o que eles sabem. Capturem, contenham, mas não matem até
que possamos questioná-los e ver o que eles sabem sobre o sequestro de
Alejandro.
As perguntas vieram para ele de todos os lados.
— Como é que devemos fazer isso?
— E quanto a Luis e seus homens, o que faremos quanto a eles?
— Por que não assumimos o controle? Você é o melhor homem para
o trabalho.
Austin não estava seguro de quem tinha feito essa última pergunta,
mas ele decidiu abordá-la primeiro. — Alejandro é o líder da organização
e permanecerá assim até descobrirmos que ele está morto. Se isso
acontecer, nós nos preocuparemos com quem tomará o comando.
— Por que esperar? — alguém na parte de trás perguntou.
Austin ficou rígido com a fúria. Porque o carisma de Alejandro
manteve a organização unida e apresentou um rosto unido ao mundo,
fazendo dele o melhor deles para encontrar uma maneira de parar de se
esconderem como neandertais e se igualarem aos humanos. Porque
Alejandro havia salvado Austin da morte e o trazido de volta à vida nesta
nova forma. E porque, maldição, Alejandro era seu melhor amigo.
Austin não queria admitir que estava preocupado, mas ele estava
começando a ter medo de que algo fatal tivesse acontecido com o líder
vampiro.
Mas ele não disse nada disso, não querendo entrar em uma
discussão infrutífera. — Porque eu ordeno — ele grunhiu.
Curiosamente, isso interrompeu as perguntas e até pareceu obter
mais respeito. Ele queria dar-lhes a oportunidade de ter uma voz na
organização, fazê-los sentir que fazem parte das decisões, mas havia
momentos em que ele só precisava dizer-lhes o que fazer. Como agora.
— Luis e seus homens ainda são nossos irmãos de armas. Vocês não
vão atacá-los ou prejudicá-los de forma alguma. — Antes que eles
pudessem trazer a pergunta inevitável, Austin acrescentou: — É claro
que vocês podem se defender, mas vocês não iniciarão uma briga, nem
farão mais do que incapacitá-los, se necessário. Nós somos melhores do
que isso. Uma vez que Alejandro retornar, vocês estarão vivendo lado a
lado com esses homens novamente, e não queremos que haja alguma
merda sobre quem atacou quem que irá prejudicar a organização. Está
claro?
Desta vez, a maioria deles disse: — Sim, chefe.
Ele respondeu a primeira das suas perguntas. — Quanto a como
vamos obter informações dos desvinculados, temos uma arma secreta,
nossos amigos do Demônio Clandestino. Com Val e Micah, podemos
forçar qualquer homem ou mulher que vocês capturem a nos contar tudo
o que eles sabem.
— Inferno, eu posso fazer isso — disse um. — Apenas me deixe
com eles.
Os outros riram, e Austin os deixou soltar um pouco da tensão. —
Mas com a ajuda da súcubo e do íncubo, saberemos que eles estarão
falando a verdade. Aqueles de vocês que sentiram o toque do demônio
da luxúria saberão disso. — Ele acenou relutantemente para confirmar
esta declaração.
— Então... você vai deixar os desvinculados irem? — Jeremy
perguntou em um tom incrédulo.
— Eu não disse isso. Nós lhes damos a mesma escolha que damos
a todos os outros, junte-se ao Movimento e adira aos nossos princípios,
ou morra como os animais que são. Os demônios nos farão saber se eles
estão dizendo a verdade sobre se juntar a nós.
Eles assentiram, absorvendo a ideia de que nenhum desvinculado
poderia fingir o suficiente para enganar Val ou Micah. Aqueles que
viviam pela emoção da caçada e se alegravam com o medo e a morte de
suas vítimas nunca poderiam se tornar uma parte funcional de sua
organização.
— Nós somos melhores do que eles — disse Jeremy devagar.
— Exatamente.
Charlie ergueu a mão, como um estudante pedindo permissão para
falar.
Austin suspirou internamente. — O que é, Charlie?
— E nós?
— Boa pergunta. — Austin olhou ao redor, perguntando-se quem
poderia se encarregar dos novatos. Ah, Diego estava aqui. Embora sua
boa aparência fizesse dele um favorito das garotas, Diego também era de
confiança e ele podia ser confiável com as garotas. — Diego irá mostrar-
lhe como lidar com a sua nova velocidade e força e como defender-se
contra os desvinculados. Diego, você pode levar nossos novos membros
para a sala de treinamento?
— Claro, chefe.
Era a segunda vez que o chamavam de chefe. Isso irritava Austin,
mas ele deixou para lá, sabendo que eles queriam dizer isso com respeito.
— Quanto ao resto de vocês, comecem a patrulhar, vejam se
podemos pegar alguns desvinculados.
Todos sorriram com isso, exceto Jeremy, que perguntou: — E você?
Se eles sequestraram Alejandro e atacaram Luis, você provavelmente
será o próximo.
Os outros pareciam surpresos, como se não tivessem pensado nisso.
— Estou ciente disso — disse Austin e sorriu. — É por isso que vamos
armar uma armadilha.
CAPÍTULO DOZE
VAL

M ais tarde na próxima tarde, Ivy e eu verificamos o quadro de


avisos no edifício de física procurando avisos que poderiam ser
de vampiros desvinculados. De fato, havia um folheto oferecendo um
seminário que prometia fazer todos que participassem ficarem ricos,
saudáveis e incrivelmente poderosos — sem custo, sem obrigação, sem
risco. Qualquer um que pudesse ler entre as linhas saberia que eles
estavam falando sobre vampiros.
Fang bufou. E as pessoas acreditam nesta merda?
Ivy encolheu os ombros. — Muitas pessoas estão procurando um
esquema de ficar rico rápido. Elas preferem pegar atalhos do que o
trabalho árduo.
Sim, eu poderia entender nerds como os três Cs querendo estar no
topo da cadeia alimentar para variar. Olhei para o folheto, observando a
data e hora do próximo seminário — amanhã à noite.
Eu esperava que houvesse algum tipo de pista em que pudéssemos
seguir de imediato.
Como Nancy Drew? Fang zombou.
Olhei para ele. — Como você sabe sobre Nancy Drew? — Até onde
eu sabia, ele não conseguia ler.
Televisão, querida. Nunca ouviu falar?
Ivy riu. — E agora?
Eu pensei por um momento. — Vamos voltar para casa e verificar
as pedras.

***
Trinta minutos depois, Ivy puxou cautelosamente o athame de seu
banho curativo. O sangue mal havia escorregado da água quando ela
imediatamente o colocou de novo dentro. — Ainda delirando de choque
— ela explicou. — Embora eu tenha a impressão de que está mais
afetado pela forma como o demônio de sangue usava isso do que pela
morte de Guillaume. — Ela me lançou um olhar de desculpas. — Não
tenho certeza de que lhe dará respostas, mesmo quando estiver curado.
— Tudo bem. Foi um tiro no escuro, de qualquer maneira. E os
pedaços de cristal?
Ela os retirou da solução e os pesou pensativamente na palma da
mão. — Embora os fragmentos tenham sido quebrados em um ato de
violência, eles não estavam tão perturbados quanto o sangue,
principalmente porque não absorveram tanta emoção negativa. Eles não
estão mais em estado de choque.
— Então, o que você pode dizer sobre eles?
— Eles parecem... vazios.
— Porque eles são peças quebradas do cristal original?
— Talvez. — Ivy sacudiu a cabeça. — Mas parece mais como se
estivessem imbuídos de algum tipo de consciência que não está mais lá.
Lembrando o que ela havia dito antes, perguntei: — Você quer
dizer... como se um demônio mago houvesse aprisionado outro demônio
dentro do cristal?
— Sim, mas o demônio não está mais lá.
Merda. — Onde ele está? Poderia ter entrado em outra coisa? Ter
alguma coisa a ver com o desaparecimento de Alejandro? — Ou era
algum tipo de entidade que flutuava livremente vagando em San
Antonio?
— Eu não sei.
Jesus, isso não é nada assustador, Fang falou devagar.
Ignorando ele, perguntei: — Você pode falar com eles, perguntar-
lhes o que aconteceu?
Ivy balançou a cabeça enquanto tocava os fragmentos. — Eles não
estão mais conscientes. Nunca vi nada parecido. — Ela me deu outro
olhar de desculpas. — Desculpe, parece que não sou de tanta ajuda.
— Com certeza você é. Você garantiu que Shade dissesse a verdade
ontem, não é? E ajudou aquelas pessoas no banco de sangue.
— Acho que sim. Deixe-me pensar nisso um pouco mais, falar com
meu pai, vê se ele tem alguma ideia.
— Ok. — Eu olhei para fora. O sol tinha se posto, então os vampiros
estariam acordados. — Vou ligar para Austin e contar o que
descobrimos.
Depois que eu falei sobre o folheto e as pedras, Austin disse: —
Amanhã à noite? Não pensei que seria tão breve. Não poderei ir com
você, estamos montando uma armadilha para os desvinculados na
esperança de pegar Ike e Mike.
— Eu pensei que nós concordamos que Ivy e eu poderíamos lidar
com isso sozinhas — eu lembrei-o secamente.
— Sim, eu sei, mas quem não precisa usar apoio? Eu estava
planejando ficar lá fora, no caso de você precisar de mim.
Eu ri. — Eu acho que posso lidar com alguns vampiros masculinos.
Sua voz baixou quando ele disse: — Eu sei que você pode, querida,
mas eu me preocupo com você.
E isso me deu um monte de sensações calorosas. Minha frequência
cardíaca subiu, e já que Austin não estava perto de Lola, eu não podia
culpá-la. Infelizmente, não tinha a menor ideia de como responder a isso.
— Eu, uh... obrigada?
Ele riu suavemente e disse: — Bem, agora, se você realmente quiser
me agradecer...
Seu tom sedutor me fez sentir quente por toda parte. Meu primeiro
instinto foi fugir, negar o que estava sentindo. Mas para o inferno com
isso — a vida era curta. Eu precisava agarrá-la pela cauda e subir para
um passeio. Me sentindo de repente corajosa, eu disse: — Você tem uma
sugestão?
— Venha e eu vou te mostrar — ele disse, sua voz baixa e sexy.
Uau, adrenalina correndo. — Eu... eu... tudo bem. — Resposta
brilhante. Simplesmente brilhante. Eu podia ouvir Fang rindo na minha
cabeça, mas felizmente ele não disse nada, ou eu provavelmente lhe daria
um tapa.
Se você conseguir me pegar.
— Ótimo. Eu... — Austin parou, e eu ouvi um barulho de briga no
fundo. — Espere.
Depois de alguns segundos, ele voltou. — Me desculpe por isso.
— O que está acontecendo? — Seja o que for, é melhor não me
impedir de vê-lo.
— Nós pegamos alguém que espreitava ao redor do banco de
sangue, um desvinculado. Ele diz que não sabe nada sobre o sequestro
de Alejandro ou o ataque a Luis. Eu prometi ao meu pessoal que a
Caçadora questionaria qualquer desvinculado que pegássemos para fazer
com que eles digam a verdade. Você se importaria de testá-lo para nós?
— Sem problemas. Eu estarei logo aí — eu disse e desliguei.
Ivy olhou para mim. — Sobre o que era tudo isso?
Val vai dá uns amassos, disse Fang com alegria.
Ivy sorriu e senti o meu rosto ficar quente. — Eu vou ajudar Austin
a questionar um desvinculado que foi pego — eu disse a ela.
E transar com Austin. Vá em frente, você sabe que você quer.
Ivy ergueu as mãos. — Ei, sem problema. Boa sorte com isso.
Olhei para mim mesma. A mesma Val chata — calca jeans, camisa
de manga comprida e colete. Devo me trocar?
Não, não troque sua roupa. Austin gosta de você da maneira que você é.
— Ele não está errado — Ivy disse com um sorriso. — E você não
quer parecer que está tentando muito.
Ela provavelmente estava certa. — Então tudo bem você ficar
sozinha?
Ela não estará sozinha, Fang disse. Eu vou ficar aqui também. Você não
precisa que eu interrogue um desvinculado ou assista você fazer sexo com Austin.
Caramba, onde ele aprendia essas coisas? Talvez eu tenha que
esconder o controle remoto agora.
Fang ergueu o pescoço para olhar para Ivy. Que tal você e eu ver
Princesa e os meus filhotes? Princesa ficará louca se só puder conservar com os
cãezinhos do inferno.
— Parece ótimo — disse Ivy, seus olhos rindo. — Está vendo? Nós
ficaremos bem. Vá se divertir com Austin.

***
Sentindo como se o meu rosto provavelmente tivesse ficado
definitivamente vermelho, eu me dirigi em direção ao banco de sangue e
peguei o elevador até a cobertura. Não sei por que me sentia tão nervosa.
Não era como se Lola não tivesse se alimentado de Austin antes. Mas,
no entanto, daquela vez foi diferente. Desta vez, algo... mais... podia
acontecer. Para dizer a verdade, o pensamento me assustou tanto quanto
me excitou.
Austin abriu a porta e eu me senti de repente tímida. Por sorte, ele
não me deu uma das suas observações sugestivas patenteadas, apenas
sorriu e abriu a porta. — O desvinculado está na cozinha — ele disse.
Agradecida por sua contenção, eu o segui até a cozinha, onde um
cara de aparência jovem estava sentado sombriamente em uma cadeira,
guardado por dois seguidores de Austin. Todos pareciam um pouco
desgastados.
— Oi — eu disse alegremente. — Qual o seu nome?
Ele não olhou para cima, nem sequer encontrou meus olhos. Ok,
acho que é a vez de Lola. Lentamente, envio fios de luxúria para o cara
na cadeira, com cuidado para não pegar os dois guardas em seu feitiço.
Os olhos do desvinculados se arregalam, e sua boca fica fraca conforme
eu acalmo os seus chacras e assumo o controle. — Qual é o seu nome?
— eu repito.
— Tim.
— Ok, Tim. Austin vai fazer algumas perguntas, e eu quero que
você as responda totalmente e completamente. Ok?
— Claro — ele disse, seus olhos brilhando, uma baba escapando de
seus lábios. Nojento.
Austin agarra uma cadeira, a vira e a empurra com os braços nas
costas, para então ele ficar cara a cara com Tim. — O que você sabe sobre
o desaparecimento de Alejandro?
— Quem?
— Alejandro, o líder do Novo Movimento de Sangue. O que você
sabe sobre seu sequestro?
— Nada. Não o conheço.
Austin franze a testa. — Para quem você está trabalhando?
— Ninguém.
Parecendo frustrado, Austin disse: — Então, o que você estava
fazendo espreitando no banco de sangue?
— Eu estava com fome. Ouvi dizer que você tem sangue aqui.
Reprimi um sorriso. Fazia sentido para mim. Com pena dos dois,
eu digo: — Por acaso você foi assistir recentemente a um seminário de
um vampiro chamado Alexander, o Grande?
— Sim.
Austin olhou para mim. — Ótimo. Outro novato.
Eu continuei: — Ele lhe disse que você tinha que matar alguém para
ser aceito?
— Sim.
— E você fez isso?
— Não.
Austin inclinou-se para frente. — Por que não?
— Eu ... eu não poderia.
Resposta correta. — Parece que ele realmente estava com fome —
eu disse a Austin.
Ele assentiu, depois disse a Tim como o Novo Movimento de
Sangue funcionava. — Essa é uma vida que você pode aderir?
— Sim.
Todos ficaram aliviados, exceto um dos guardas que parecia um
pouco desapontado por não poder chutar mais nenhuma bunda.
— Ótimo — disse Austin, então olhou para o cara que parecia
desapontado. — Mais um para o nosso lado é sempre uma vantagem,
você não acha?
O rapaz encolheu os ombros, mas pareceu entender.
— Tudo bem — disse Austin, ficando de pé. — Vocês dois, levem
Tim para o andar de baixo, mostrem-lhe como funcionam as coisas,
peguem um pouco de sangue para ele. Bom trabalho, pessoal.
Eu liberei o aperto de Lola em Tim, e ele pareceu desabar de alívio.
— Obrigado — ele me disse fervorosamente.
Eu não tinha certeza se ele estava me agradecendo por fazê-los
acreditar que ele estava falando a verdade, ou porque Lola o fez se sentir
tão bem. Credo. Eu não queria saber.
— Claro, chefe — disse um dos guardas, e os três deixaram a
cobertura, deixando-nos sozinhos.
Eu sorri para Austin. — Você é bom nisso, sabia.
— Em quê?
— Liderar os outros.
Ele passou a mão pelo rosto. — Você também não.
— Hã?
— Esses caras continuam me importunando para assumir o lugar
de Alejandro. Não vou fazer isso.
— Claro que não — eu disse suavemente. — Você não seria você se
você fizesse isso. — Ele parecia confuso, então eu acrescentei, —
Alejandro me disse que os vampiros tornam-se mais do que eram quando
estavam vivos. E ele disse que você é o homem mais honrado que ele já
conheceu.
Austin tinha uma expressão tão estranha em seu rosto que eu não
consegui interpretá-la. — Obrigado por acreditar em mim — ele disse e
me puxou em seus braços.
Não havia nada romântico no abraço — apenas Austin expressando
sua apreciação pelo meu apoio... no início. Lola tinha outros planos.
Ela subiu nele em uma onda de pura necessidade. Pela primeira vez,
eu não queria detê-la, mas, sentindo a resposta imediata de Austin, me
senti um pouco culpada. — Desculpe — eu disse, segurando-a.
— Por que você parou? — ele perguntou suavemente, seu abraço se
transformando em algo muito mais íntimo.
— Eu não quero forçá-lo a... — Sentir luxúria por mim é o que eu
queria dizer, mas não consegui falar as palavras. Eu quero que o desejo
dele venha naturalmente. Enterro minha cabeça no ombro dele,
sentindo-me fora da minha zona de conforto.
Ele me afastou dele para que ele pudesse me olhar nos olhos. —
Querida, não fui eu quem convidei você aqui para fazer exatamente isso?
Meu rosto fica quente, mas eu ainda não consigo encontrar seus
olhos. — Eu acho que sim.
— E como não consigo sentir o efeito de Lola pelo telefone, você
acha que talvez você possa acreditar em mim quando eu digo que eu
quero isso?
— Sim — eu disse em uma voz baixa enquanto Lola gritava dentro
de mim.
— E você, Lola, precisa encher seu reservatório?
Eu assenti, me sentindo tímida. Ela tem estado subsistindo com
provisões curtas por um longo tempo, já que eu nunca a deixava
preencher completamente meus chacras. Ela precisava disso. Nós
precisávamos disso.
Ele sorriu. — Então vamos para um lugar mais confortável.
Ele entrelaçou os dedos com os meus e me levou para o quarto. Oh,
meu Deus. Eu estava pronta para isso?
— Não se preocupe, querida. Não faremos nada com o que você
não se sinta confortável. — Ele tira as botas, depois se deita na cama e
acaricia o edredom. — Venha, aconchegue-se comigo.
Era exatamente a coisa certa a dizer. Não pude deixar de sorrir
internamente com o pensamento de um vampiro que queria se
aconchegar.
Retirei meus sapatos e me juntei a ele, o deixando me cobrir em um
abraço, ambos vestidos completamente. Suspirei — eu me sentia tão
maravilhosa nos braços de um homem forte, algo que raramente eu
sentia, pois Lola precisava manter a distância.
E, claro, Lola avançou na isca. Não foi lentamente desta vez. Ela
entrou em seus chacras com a força de uma estaca de madeira no
coração. Eu o ouvi ofegar.
— Desculpe...
— Está tudo bem — ele disse calmamente. — Você só me
surpreendeu, só isso.
Para dizer a verdade, também me surpreendeu. Talvez tenha sido
porque eu não usei muitos feitiços ultimamente, então eu consegui
manter a maior parte do meu poder de súcubo, ou talvez fosse porque
Lola era muito gananciosa, mas ela parecia mais forte do que nunca. Eu
a parei, não querendo ir muito rápido.
Quando Lola sugou a energia sensual de Austin, suas mãos
escorreram lentamente debaixo da minha blusa, sobre minha pele,
contornando os pedaços sensíveis. Eu não tinha certeza se ele estava
provocando ou estava indo devagar por minha causa.
Não importava. Eu soltei todas as minhas inibições e deixei Lola
livre.
CAPÍTULO TREZE
VAL

F ang gargalha enquanto eu caminho pela porta de casa na tarde


seguinte. Olha quem está fazendo a caminhada da vergonha!
Oh, droga. Eu deveria ter saído da casa de Austin no início
desta manhã. Em vez disso, eu tinha desmaiado e dormido até mais
tarde. Agora, Ivy e Fang estavam esperando por mim... e Fang podia ler
tudo na minha mente sobre o que eu fiz na noite passada. Quando sinto
meu rosto esquentar mais uma vez, me pergunto se ele vai transmitir
minha noite especial com Austin para o mundo inteiro.
Fang cutuca a minha canela. Não. Eu tenho certa discrição quando se
trata de pessoas que eu amo.
Awww. Inclinei-me para abraçar o vira-lata peludo. Obrigada.
— Então, como foi? — Ivy perguntou do sofá na sala de estar.
— Infelizmente, o desvinculado não sabia nada sobre Alejandro, ele
era um novato total.
— Não foi isso que eu quis dizer.
Eu caio no sofá ao lado dela. — Eu sei. Foi ótimo, mas eu realmente
não quero falar sobre isso, ok? — Eu quero manter isso guardado e
reluzente para mim mesma por um tempo, não estragar a novidade de
tudo. Talvez eu seja parte demônio da luxúria, mas isso não significava
que eu gostava de falar sobre o que acontece quando Lola sai para
brincar.
Ivy parecia decepcionada, mas disse: — Tuudo bem, vou mudar de
assunto. Eu estava pensando... já que você é a Paladina do Demônio
Clandestino de San Antonio, por que você está à disposição dos
vampiros?
— Eu não estou, de verdade, mas não há muito acontecendo com o
Clandestino que Micah não possa lidar agora, e ele e eu escolhemos que
eu ajudasse nossos aliados com seus problemas.
— Por que você se dá ao trabalho?
Ivy parecia mais curiosa do que julgadora, então eu respondo com
sinceridade. — O mundo vai descobrir eventualmente que demônios e
vampiros existem, quer a gente queira ou não. O Novo Movimento de
Sangue está trabalhando para tornar sua revelação tão pacífica e não
ameaçadora quanto possível, além de ter uma legislação em vigor para
proteger aqueles de nós que são bons. Os desvinculados... nós realmente
não sabemos o que eles pretendem fazer além de usar os humanos como
fonte de alimento.
— Você acha que as leis realmente os impedirão de fazer isso?
Fang bufa, dando-lhe a resposta. Mas eu respondo de qualquer
maneira. — Não vai pará-los, não, mas permitirá que pessoas como a
UCE, a Unidade de Crimes Especiais, prendam os malvados e os mate
se necessário. Além disso, ajuda a proteger os bons como o povo de
Alejandro e nós.
Ivy assente. — Este Novo Movimento de Sangue está acontecendo
em todos os lugares? Ou apenas aqui em San Antonio?
Boa pergunta. — Não tenho certeza. Eu sei que há um em Austin,
também, e provavelmente a maioria do Texas. Além disso, não tenho
ideia. Você terá que perguntar a Alejandro quando o encontrarmos. —
E, pelo bem de todos, ela esperava que o encontrassem vivo e bem em
breve.
Ivy olha para o telefone dela. — Aquela palestra começa em
algumas horas. Qual é o nosso objetivo?
Eu penso por um momento. — Queremos encontrar Ike e Mike ou
descobrir como encontrá-los.
— Como vamos fazer isso?
— Não tenho certeza. Vamos tentar nos encaixar na conversa. Se
não conseguirmos, precisamos fazê-los confiar na gente, que pensem que
iremos nos transformar para que eles nos deem sua confiança.
Ivy parece ficar um pouco enjoada. — Nos transformar.
— Não se preocupe, eles não podem transformá-la. Se um vampiro
beber o sangue de um demônio, o deixará louco muito antes que ele seja
capaz de transformar você.
— Isso não é reconfortante.
Eu sorrio. — Não chegará a isso... você me tem como sua arma
secreta. — O feitiço de força que eu invoquei para cuidar dos três Cs
ainda estava em vigor e funcionando. — Para não mencionar as suas
pedras preciosas. Você acha que algumas delas podem ser úteis?
— Talvez — ela diz duvidosamente. — Você não pode apenas
forçar os vampiros a dizer o que você precisa saber?
— Eu poderia, mas eu estava esperando poder fazer isso na surdina,
assim eles não conseguirão saber nossas intenções e não avisarão Ike e
Mike. Precisamos garantir que fiquemos juntas, por sua segurança.
Nós vamos protegê-la, Fang disse.
Ivy olha para Fang depois para mim. — Sabe, se Fang acompanhar
você, eles podem descobrir quem você é... eu acho que rumores de que a
Caçadora anda com um cão do inferno já deve ter se espalhado.
Eu sou famoso? A boca de Fang se abre em um sorriso de
cachorrinho. Espera, isso não é bom.
— Não, não é — Ivy diz. — Val não deve ser vista com você na
palestra.
Você quer dizer que eu devo perder a diversão?
Ivy dá a ele um olhar estranho, então eu explico: — Ele vive para
matar vampiros. Mas ela está certa, Fang. Os rumores se espalham. Você
pode esperar fora do auditório, dentro da distância de um grito mental,
ok?
Se eu sou obrigado.
Você é.
— Nós provavelmente devemos nos trocar, para nos misturar — Ivy
sugere.
— Misturar? — Eu olho para minhas roupas. É verdade, eu preciso
tomar banho e me trocar, mas... — Não pareço uma típica estudante
universitária?
— Sim, muito típica, talvez. E muito Val... eles agora podem saber
como você se parece. Devemos maquiar você, então eles não vão
reconhecê-la.
— Como? — eu perguntei com um sobressalto.
— Eu estava pensando que deveríamos ir de góticas. Você sabe,
como a subcultura dos vampiros.
— Não é uma má ideia, mas eu realmente não sei como.
— Sem problemas, eu sei. Eu tenho alguns amigos que estão neste
estilo de vida e às vezes saio com eles. Tenho tudo o que precisamos.
Depois de tomar banho, descubro que Ivy havia colocando uma
pequena seleção de roupas na minha cama.
— Eu sou um pouco mais alta e mais magra do que você, mas acho
que podemos usar o mesmo tamanho. — Ela mexe através de um
conjunto de roupas escuras. — O que você acha?
Ela coloca três roupas para eu escolher — calça preta de couro com
um top arrastão, um bustiê com uma longa e fluida saia de tule e um
vestido vinil curto e apertado com um estranho cinto de couro com
correntes penduradas nele.
É um cinto de bondage, Fang explica.
Eu nem queria saber como ele sabia disso. Ou para que esse cinto
de bondage era usado.
Eu olho para Ivy. — Por que você tem essas roupas com você? —
Três roupas completas.
Ela encolhe os ombros. — Eu não sabia que tipo de organização
você tinha aqui, e eu queria poder me encaixar. Além disso, é um grande
disfarce. As pessoas não percebem o verdadeiro você quando você está
usando roupas assim, tudo o que eles veem é o gótico.
Ela tinha razão. Mas eu realmente não me importava com as
escolhas. — O vestido de vinil preto está descartado, eu não sei como
alguém pode se mover nisso, e muito menos esconder uma estaca ou
duas.
Ivy assente. — A calça de couro provavelmente é muito longa para
você e é bem apertada, então você teria o mesmo problema de esconder
uma estaca. A saia é elástica e o bustier ajustável.
Então, era o bustier e a saia. Ela me ajudou a entrar no bustier e eu
corei com a forma que a roupa apertada do espartilho empurrou meus
seios para cima e parecia que eu realmente tinha algo ali. A saia era
muito mais confortável, mas as estacas apareceriam acima da cintura.
Olhei para mim no espelho, me sentindo tola e excessivamente exposta.
— Você acha que eu poderia vestir um colete sobre isso? — eu perguntei.
— Não — disse Ivy e Fang simultaneamente.
Iria parecer idiota. Que tal uma jaqueta de couro preta?
Eu peguei minha jaqueta de motoqueira do guarda-roupa e tentei
colocar sobre o bustier. — Não está ruim — disse Ivy. — Vamos lá. Você
tem botas pretas?
Agora, isso eu tinha. Enquanto eu adicionava as botas ao meu
conjunto, Ivy vestia as calças de couro e o top arrastão estrategicamente
rasgado, usando um sutiã preto por baixo. Com seus cabelos espetados,
múltiplos piercings e a adição de um par de grossas pulseiras de couro
preto, ela parecia uma verdadeira gótica fodona.
Eu, não tanto. — Eu pareço uma aspirante — eu reclamo.
— Espere, não terminei com você — disse Ivy. — Ainda não
colocamos a maquiagem.
— Maquiagem? Eu não sou muito boa com isso.
— Está tudo bem, eu sou. — Ela tirou um kit de maquiagem e
começou a trabalhar em mim, depois pintou minhas unhas de preto. Ela
olhou para mim e assentiu com satisfação. — Mais uma coisa. Espere, e
não se olhe ainda.
Conforme eu balançava as mãos para ajudar o esmalte a secar, ela
correu para outra sala e voltou com uma peruca. — Não estrague seu
esmalte. Deixe-me fazer isso por você. — Ela fixou meu cabelo
indisciplinado impiedosamente no topo da minha cabeça, então apertou
a peruca sobre ele e recuou para admirar sua obra. — Aí está. Eu desafio
sua família a reconhecer você agora.
Duvidosamente, eu me virei para olhar no espelho. Merda — ela
estava certa. Com a base branca, a sombra de olhos vermelha e preta
alinhada com um delineado preto, batom escuro e uma peruca na cor da
meia-noite com um corte curto com franja contra a minha testa, até
mesmo eu não me reconheci.
— Você gostou? — Ivy perguntou.
Eu não diria “gostei” precisamente — não era um visual que eu
usaria com frequência. — É eficaz — eu consegui dizer.
Está gostosa, Fang exclamou. Eu quero me vestir, também.
Ivy sorriu. — Eu posso fazer isso. Espere. — Ela correu para seu
quarto novamente e voltou com um colar de couro preto com pontas de
prata. — Aqui. É ajustável. — Ela colocou em Fang e ele imediatamente
correu para o espelho de corpo inteiro.
Uhuuu. Eu estou parecendo fodão.
Ivy riu. — Sim, você parece. Deixe-me fazer minha maquiagem,
então estaremos prontas para ir embora. — Ela olha para mim, ainda
sorrindo. — Você parece desconfortável. Por que você não anda por aí
por um tempo, fique mais confortável, assim você não se sente como
uma impostora?
Boa ideia. Eu andei pela casa, pegando coisas, colocando-as de
volta, me sentindo estúpida e observando Fang enquanto ele se divertia
alegremente com o seu novo colar.
Quando ela terminou, Ivy parecia uma versão mais dramática de si
mesma, ao contrário da transformação total que eu tinha passado. Me
senti, de alguma forma, como se as coisas estivessem fora do meu
controle, mas eu sabia uma maneira de recuperá-lo. — Sabe, se
chegarmos em seu carro, nós podemos ser descobertas. Que tal levar a
minha moto? Está mais de acordo com a aparência, você não acha?
— Eu acho que sim — Ivy disse duvidosamente. — Mas nós três
caberemos?
Claro, Fang disse. Eu sou pequeno e não ocupo muito espaço. Nós podemos
fazer funcionar. Vamos.
Chegamos à faculdade poucos minutos antes do início das aulas.
Infelizmente, o preto grudava bastante os pelos loiro avermelhados de
cachorro, e com Fang entre nós na Valkyrie, nós duas estávamos
cobertas deles. — Sem problema — eu falei a Ivy quando ela olhou para
si mesma consternada. — Aprendi a carregar um rolo de fiapo.
Ei, não posso evitar, disse Fang na defensiva.
— Está tudo bem — Ivy assegurou-lhe enquanto corria o rolo de
fiapo nas minhas costas. — Eu simplesmente não queria que nosso
disfarce fosse comprometido.
Uma vez que estávamos relativamente livres de pelos de cachorro,
nos dirigimos para a sala de palestras, e Fang ficou fora nos arbustos
onde ele não seria visto, mas ainda poderia nos alcançar mentalmente.
Era uma sala grande, mas havia apenas cerca de uma dúzia de pessoas
espalhadas pelos assentos que pareciam de um estádio — todos homens.
A maioria deles parecia muito com os três Cs, mas alguns deles estavam
vestidos como nós. Graças a Deus, ou eu realmente me sentiria fora de
lugar.
— Lembre-se — eu murmurei. — Nós não queremos que eles
descubram o que fazemos.
O “líder” da palestra chegou lindamente atrasado e entrou na área
de palestras com os braços abertos. — Bem-vindos, bem-vindos! — ele
falou como se o salão estivesse cheio de fãs adoradores. As poucas
pessoas aqui provavelmente iriam embora em breve. Ele poderia ser a
definição no dicionário de alto, sombrio e bonito, com cabelos
artisticamente despenteados e uma barba sexy. Ele parecia um pouco
com Liam Hemsworth, só que menor e mais magro. Não é de admirar
que o utilizassem para recrutar — as mulheres queriam estar com ele e
os homens iriam querer ser ele.
— Eu sou Alexander — ele disse dramaticamente. — Meus amigos
me chamam de Alexander, o Grande. E vocês sabem por quê?
— Não — todos murmuraram, incluindo Ivy.
— Porque eu sou! E vocês também podem ser!
Que merda é essa? Ivy parecia totalmente fascinada. Dã. Ela
provavelmente estava — todos eles estavam, por ele. Outra razão para
usar Alexander para recrutar, se ele era muito bom no controle da mente.
Ele quase me fez querer também.
Fale com Ivy, falei a Fang. Quebre este controle.
É claro, baby.
Ivy estremeceu e me deu um olhar de olhos arregalados, depois
falou: — Obrigada.
Eu acenei com a cabeça, e ela tocou uma das pedras preciosas presas
em sua orelha esquerda com uma careta. Talvez ela tivesse sua própria
maneira de bloquear o controle mental agora que ela sabia o que estava
acontecendo.
Eu sintonizei novamente para o que Alexander “o Grande” estava
dizendo. Ele estava divulgando os benefícios de se tornar um vampiro,
não fazendo qualquer pretensão de ser qualquer outra coisa. Eu fiz uma
careta. Eu meio que esperava que alguns dos membros na audiência
fossem embora em descrença, mas ele os tinha exatamente onde ele os
queria e eles não estavam prestes a ir embora.
Por que ele estava sendo tão acessível? Provavelmente porque ele
estava planejando apagar suas memórias se eles não concordassem em
se converter.
Ou pior, sugeriu Fang.
Talvez, mas eu não via como matar todos que não quisessem se
juntar poderia ajudar nos seus esforços de recrutamento. Ele estava
prestes a ser notado pelas autoridades do campus. Eu fiz uma nota
mental para que a UCE entre em contato com eles e encerre todos os
futuros seminários.
Depois de cerca de meia hora de conversar com a gente e expondo
os inúmeros benefícios de se tornar um vampiro, Alexander o Grande
finalmente diz: — Vamos dar uma pausa. Venham para baixo e tomem
algumas bebidas, se misturem, façam-me perguntas.
Ele gesticula para uma mesa cheia de lanches tentadores.
— Ele... — Ivy começa a dizer, mas eu a interrompo.
— Ele é fabuloso, não é? — Silenciosamente, peço a Fang para
transmitir mensagens entre nós e lembrá-la de que os vampiros têm uma
audição incrivelmente boa.
Você que manda. Depois de um momento, ele acrescenta, Ivy quer que
você saiba que ele diminuiu seu controle mental, provavelmente porque ele quer
ver as verdadeiras reações.
Ivy acena com a cabeça para mim de forma significativa. — Sim,
ele é maravilhoso. Vamos conhecê-lo.
Conforme os estudantes descem para as recompensas como
gafanhotos, Ivy e eu nos dirigimos para conversar com Alexander.
— Uau, você é um bom orador — Ivy jorrou enquanto ele segurava
sua mão e olhava para ela com um sorriso bajulador.
Um pouco exagerado demais, você não acha? Fang diz.
Não, pela maneira que Alexander reagiu — ele esperava adoração
e aparentemente forçava-a quando não era dada livremente.
— Nós amamos o que você disse sobre os benefícios — eu disse.
Sua atenção se voltou para mim. Ou melhor, para a carne
sobressaindo acima do espartilho. Dessa forma, ele não conseguiu ver o
desgosto nos meus olhos.
— Mas há um benefício particular em que estamos realmente
interessadas — eu disse, forçando um sorriso que eu esperava que fosse
tentador e sedutor.
— O que é?
— Bem, há dois caras gostosos que conhecemos: gêmeos loiros.
Você acha que poderia nos dizer como encontrá-los?
Boa jogada, Fang disse, aprovando.
O sorriso de Alexander tornou-se frágil. — Se você se juntar a nós,
você vai encontrá-los sem problema.
Eu troquei um olhar decepcionado com Ivy. — Mas esperávamos
encontrá-los hoje à noite. — Me sentindo como uma idiota, passei um
dedo através do meu decote e pisquei. — Você não pode nos dizer onde
encontrá-los?
Seus olhos se estreitaram. — Não.
Fang rachou de rir. Uou, nunca pensei que veria o dia que Val Shapiro
tentaria agir sexy. Falha épica.
Cale-se. Isso foi embaraçoso o suficiente sem os seus comentários.
O rosto de Alexander endureceu. — Desculpe, mas vocês duas não
são o que estamos procurando. Queremos construir um exército, não um
harém.
Idiota.
— Esperem lá, por favor — ele disse e apontou para um canto da
sala de palestras, reforçando com um empurrão de seu poder mental que
até eu mesma senti.
Ivy e eu obedientemente fomos ao canto enquanto ele conversava
com os outros.
Eu quero saber o que vamos fazer agora, disse Fang.
Merda. Eu não sei. Não parece que podemos tirar as informações dele sem
usar Lola.
Então solte Lola nele.
Eu não sei. Talvez possamos segui-lo, encontrar sua base de operações.
Você realmente acha que isso funcionará? Como Ivy apontou, você não é
exatamente imperceptível e agora ele conhece vocês duas.
Eu mordi o meu lábio, indecisa, enquanto observava Alexander
falar com cada pessoa separadamente. Ele enviou mais alguns abatidos
para se juntar a nós no canto e deixou o resto na mesa cheia de comida.
— Parabéns — ele disse aos escolhidos. —Vocês vão se juntar a nós esta
noite. — Ele olhou para nós no canto. — Quanto ao resto de vocês, vocês
não lembrarão de nada... e vocês nunca mais voltarão.
Ele andou em nossa direção, o sorriso desaparecendo de seus lábios
enquanto ele parecia o predador que ele era. Suas presas foram
alongadas, e eu o vi olhar o meu decote lascivamente. Então eu percebi.
Merda. Ele iria se alimentar dos abatidos antes de limpar nossas
memórias, e então forçar os escolhidos a se tornarem vampiros esta noite
— sem dar a escolha se eles queriam ou não. Isso é, sem dúvida, o que
aconteceu com todos os novos recrutas, e ele alterou suas memórias para
fazê-los acreditar que eles pediram isso.
Bem, eu não permitirei que isso aconteça novamente esta noite.
Esqueça ser discreta. Eu iria agir. Totalmente chateada, deixei Lola solta
e a golpeei dentro de seus chacras. — Pare — eu pedi.
Ele parou no meio do caminho, parecendo surpreso que ele estava
obedecendo a minha ordem. Merda, isso não estava acontecendo como
eu tinha planejado. — Diga a todos os homens aqui para esquecer o que
aconteceu esta noite, então liberte seu controle mental.
Pelas expressões perplexas nos rostos dos caras, eu achei que ele
havia feito como eu pedi. Infelizmente, eu tinha esquecido de fazer ele
dizer-lhes para irem embora. Sem problemas. Desde que Lola tinha se
alimentado de Austin, eu tinha muito mais poder para controlá-los
também. Deslizando Lola em todos e cada um deles, eu disse: — Não
tem nada para ver aqui. Vão para casa. — E, parecendo confusos, eles
partiram.
Voltando minha atenção para Alexander, eu disse: — O que você
fez com Alejandro?
— Nada.
— Alguém em sua organização sabe algo sobre o que aconteceu.
Quem?
— Ike e Mike foram enviados para matá-lo.
— Eles conseguiram?
— Não.
Aliviada, mas frustrada, perguntei: — O que aconteceu?
— Eu não sei. Você teria que perguntar para eles.
Certo, de volta à estaca zero. — Onde posso encontrá-los agora?
— Eu não sei.
Ivy me cutucou. — Ele pode estar dominando você também,
literalmente. Pergunte-lhe para onde eles saem, onde eles moram.
Eu perguntei, e Alexander respondeu. — Eles são de uma unidade
diferente, então eu não sei onde eles moram. Você provavelmente pode
encontrá-los no Clube Gothick na maioria das noites, quando eles não
estão trabalhando.
— Obrigada — eu disse, então me senti boba por agradecer ao
assassino sanguessuga.
Agora o que você vai fazer com ele? Fang perguntou.
— Boa pergunta — murmurou Ivy. — Você pode forçá-lo a esquecer
essa conversa?
— Eu poderia, se eu ainda tivesse o amuleto — eu respondi. Mas
não tinha. Talvez eu pudesse levá-lo às celas da prisão sob o Clube
Purgatório, deixar que Austin e Micah descubram o que fazer com ele.
— Mais vampiros vão aparecer aqui esta noite? — eu perguntei a
ele.
— Não. Exceto aquele que acabou de chegar.
O quê?
Cuidado, gritou Fang.
Ivy gritou, e um vampiro bateu no meu lado quando Fang entrou.
Isso me surpreendeu tanto que eu deixei Lola escorregar, e de
repente eu tinha dois vampiros no chão, grunhindo e babando pelo meu
sangue. Não que ele lhes faria algum bem.
Infelizmente, o vampiro que tinha me batido era uma mulher, e
Lola não funcionaria nela. Eu reuni minha força e a joguei. Uau — isso
funcionou melhor do que eu esperava, mesmo com o feitiço de força
ainda em vigor. Eu me levantei e instintivamente agarrei as duas estacas
na parte de trás da minha cintura. Quando eles vieram em minha
direção, eu estava perfeitamente posicionada para bater as duas estacas
em seus corações negros.
Boom — eles caíram, bem e verdadeiramente mortos.
Bem, isso foi incrível, disse Fang, olhando para os corpos.
Sim, mas não exatamente discreto como planejei.
Ivy parecia um pouco chocada. — Você está bem? — eu perguntei.
— Sim — ela disse devagar. — Mas como vamos nos livrar de seus
corpos?
Fang riu. Oh, sim. Ela irá.
CAPÍTULO QUATORZE
VAL

A pós a Unidade de Crimes Especiais pegar os mortos-vivos mortos


em sua “ambulância”, eu disse a Ivy: — Estive no Clube Gothick
uma vez antes em uma investigação. Estamos realmente vestidas para
isso. Está ficando um pouco tarde, mas quer ver se o bar ainda está aberto
para que possamos encontrar Ike e Mike?
Ivy olha para mim. — Claro. Sua maquiagem nem sequer borrou.
Sem dúvida — eu só esperava que a porcaria do Kabuki saísse
quando eu quisesse. Mas fiquei um pouco surpresa com ela querendo nos
acompanhar.
Ela acredita em você agora quando você diz que você pode cuidar de um
bando de vampiros, Fang confidenciou.
Não demorou muito até eu parar a Valkyrie ao lado do Clube
Gothick. Ivy olhou para a placa do bar no topo — uma letra de filme de
terror pingando com sangue falso. — Você só pode estar brincando
comigo.
— Eles não são sutis — eu disse, balançando a cabeça. — Fang
provavelmente deveria ficar aqui fora.
Sem problema, ele disse, se jogando para debaixo de uma janela e
curvando-se com a cabeça em suas patas. Eu duvido que você vá encontrar
eles lá dentro, de qualquer maneira.
— Os vampiros realmente vêm para cá? — Ivy perguntou. — Não
é um pouco obvio?
Eu sorrio. — Na última vez que eu estive aqui, eram todos
impostores e aspirantes, mas talvez os doces gêmeos acham que eles vão
se misturar melhor ou reunir fãs.
— Talvez até faça algum recrutamento entre pessoas que estão
predispostas a gostar do estilo de vida — sugeriu Ivy.
— Exatamente. Está pronta?
Com o aceno de Ivy, entro pela porta onde a banda está tocando
uma música assustadora e de lamentação. Há algumas pessoas do tipo
gótico sentados e bebendo, mas não vi Ike e Mike. Mas, no entanto, se
eles se maquiaram e colocaram roupas góticas, não tenho certeza se eu
os reconheceria.
Eu caminho até o barman, que parecia quase normal em uma
camiseta preta e rasgada mostrando seus músculos e tatuagens. —
Estamos à procura de Mike e Ike. Você conhece eles?
— Sim — ele disse, parecendo aborrecido.
— Sabe onde estão?
Ele assentiu até a porta. — Eles estavam na sala de festas mais cedo.
Não sei se eles ainda estão lá.
Eu aceno com a cabeça em agradecimento, e Ivy pede dois copos
de refrigerante. — Vamos nos misturar mais se tivermos algo em nossas
mãos — ela explicou enquanto o barman colocava o refrigerante em dois
copos.
Verdade. E não tínhamos idade suficiente para beber nada mais
forte ainda.
Nós levamos nossas bebidas para a porta da festa, e eu a abro,
tentando parecer como se eu pertencesse ali. Uma garota que parecia
Sally de O Estranho Mundo de Jack nos olhou de cima a baixo. — Quem
são vocês?
Até agora, eu me sentia uma verdadeira gótica, mas a proliferação
de piercing faciais, as cabeças parcialmente raspadas e a sobrecarga de
metal na sala me faziam me sentir a impostora que eu era. Eu hesitei por
um momento, mas Ivy, que se encaixava muito melhor, interveio. —
Mike e Ike nos convidaram.
A menina revirou os olhos, mas nos deixou entrar, então nos
ignorou completamente, se afastando com completa indiferença.
— Uau, eu realmente me sinto bem-vinda — eu murmurei.
— Tente parecer aborrecida ou deprimida — sugeriu Ivy. — Você
vai se encaixar melhor.
Tentando parecer como se eu estivesse prestes a cometer suicídio,
olhei ao redor da sala escura, iluminada por uma iluminação vermelha
escura em pontos isolados ao redor da sala. Casais de gênero
indeterminado se agarravam nos cantos escuros ou chupavam o pescoço
um do outro.
Dirigi-me a uma pequena mesa redonda, onde um cara estava
sentado sozinho, parecendo mais acessível em um look gótico
romântico, com vários babados em seu pescoço e punhos sob uma
jaqueta escura. Pelo menos, achava que era um cara. Com os seus longos
cabelos pretos e a maquiagem mais pesada do que eu usava, era difícil
dizer. Ivy seguiu em frente, mas eu a deixei assumir a liderança quando
chegamos à mesa.
— Oi — disse Ivy. — Eu sou Ivory. Está é... Valentina. Podemos
nos juntar a você?
Ouvi o resmungo mental de Fang do lado de fora. Então vocês têm
nomes agora.
Sim, tenho certeza que ela também lhe dará um, se você pedir gentilmente.
O meu já é o suficiente.
Verdade.
— Certo. Eu sou Dante. — A julgar pelo nome, a voz baixa e a
maneira como Dante estava examinando meu decote, eu tinha certeza
que era um “cara”. Quando Lola reagiu à sua proximidade, eu sabia com
certeza que ele era realmente ele.
Nós sentamos nos incômodos banquinhos de metal e olhamos ao
redor.
— Eu não vi vocês duas aqui antes — disse Dante, tomando seu
vinho de sangue vermelho e tentando parecer sexy. Estava fazendo um
bom trabalho nisso, também.
— Novas na cidade — explicou Ivy. — Apenas procurando por
alguns caras que conhecemos antes, que nos disse para vir encontrá-los
aqui.
Ele parecia desapontado. — Quem são?
— Mike e Ike — eu disse a ele, embora eu não tivesse certeza se eles
usavam nomes diferentes aqui.
— Claro — disse Dante. — Os gêmeos. Eu os conheço.
— Eles estão aqui esta noite?
— Agora não. Eles foram embora mais cedo.
Droga — eu estava esperando que isso fosse mais fácil. — O que
você sabe sobre eles? — eu perguntei de forma casual.
Quando ele me deu um olhar cauteloso, eu adicionei: — Nós saímos
ontem e queremos vê-los novamente, mas eles foram embora antes que
pudéssemos dar-lhes nossos números.
Ele balançou sua cabeça. — Eu não entendo porque vocês gostam
tanto deles. Não são tão góticos.
Dei de ombros. — Eles são gostosos... diferentes.
— Sim — ele disse e nos deu olhares significativos. — Realmente
diferentes. Perigosamente diferentes.
— Então, você sabe o que eles realmente são? — Ivy pergunta.
— Sim. E vocês? — ele desafiou.
— Vampiros — Ivy sussurrou em um assobio.
— Estou falando da coisa real — disse Dante, soando intenso.
— Eu também — disse Ivy. — E nós temos as marcas de furos para
provar isso.
Onde ela estava indo com isso? Ele olhou para nossos pescoços, sem
marcas de presas.
— Não está aí — disse Ivy. — Existem outras veias para afundar as
presas.
Ele olhou para o colo dela e percebo o que ela queria dizer — a
artéria femoral perto da virilha. Sinto-me corar, mas espero que ele não
seja capaz de ver sob a maquiagem branca.
— Não — disse Ivy. — Nós não vamos mostrar para você. Você
precisará acreditar na nossa palavra sobre isso.
Ele encolheu os ombros, tentando parecer indiferente. — Seu
funeral.
Entro na conversa. — Então, se você sabe muito sobre eles, talvez
você possa nos dizer para onde eles foram esta noite depois que eles
saíram aqui.
— Eu não os segui.
Eu sorrio e envio Lola para dentro dele, apenas um pouco. Não era
como se ele precisasse de muito encorajamento. — Mas você sabe de
qualquer maneira, não é? — Sua expressão tornou-se sonhadora quando
Lola acariciou seus chacras. — E você quer nos contar tudo o que você
sabe. — Eu reforcei a sugestão com Lola, mas não precisou de muito.
Ele estava muito ansioso.
— Humm. Eles são legais, exceto por monopolizar todas as garotas
e nos entediar com a conversa sobre o Movimento.
— O que eles dizem sobre o Movimento?
— Como é uma merda, como está arruinando suas vidas, como eles
vão derrubá-lo.
Agora estávamos chegando a algum lugar. — Como eles vão
derrubá-lo?
— Matando os líderes. — Sua boca torceu em um sorriso irônico.
— Mas eles não têm tido muito sucesso até agora. Eles falam muito, no
entanto.
— Qual foi a conversa de hoje à noite? Eles disseram para onde eles
estavam indo?
— Sim, eles iriam atrás de um dos líderes novamente.
— Qual deles? — Ivy perguntou quando minha garganta se fechou.
— Eu não sei o nome dele.
— O que você sabe sobre ele? — eu perguntei, finalmente
recuperando minha voz.
— O cowboy, eles o chamaram.
Oh, droga. Eles estavam indo atrás de Austin hoje à noite.
Austin pode se cuidar, Fang me lembrou.
— Eles disseram como? — eu persisti. — Ou onde?
— Com bestas e muitos amigos. No banco de sangue do centro da
cidade.
Oh, droga. As bestas eram muito mais difíceis de esquivar do que
meros punhos e presas. Eu troquei olhares com Ivy enquanto nós duas
deslizávamos dos banquinhos. — Obrigado, Dante. Aprecio a
informação.
— Sem problema — ele disse com uma expressão maliciosa para o
meu decote. — Volte a qualquer hora. Com ou sem a sua amiga.
Revirando os olhos, tirei Lola dele, ele estava gostando demais.
Lá fora, eu disse: — Espere. Deixe-me ligar para Austin e avisá-lo.
— Se não fosse tarde demais.
Eu tiro o meu celular do bolso da minha saia e disco o número de
Austin. O telefone toca uma vez, duas vezes, três vezes, minha
frequência cardíaca aumentando a cada vez. Finalmente, ele atende no
quarto toque.
— Austin — eu começo.
— Não é Austin — disse um homem na outra extremidade. —
Quem é?
— É Val. Val Shapiro.
— A Caçadora?
— Sim. Onde está o Austin? Por que ele não atendeu o telefone? —
eu pergunto, meu coração na minha garganta.
— Venha rápido para cá. Nós fomos atacados. — E sem outra
palavra, ele desliga.
CAPÍTULO QUINZE
AUSTIN

A ustin nunca entendeu por que alguns homens encontravam glória


na batalha — as consequências eram tão dolorosas. Ele olhou ao
redor do banco de sangue, agora manchado com o fluido de vida que
este edifício foi projetado para coletar e suspirou com frustração. Embora
sua armadilha não tivesse funcionado, eles ganharam a batalha... mas a
que custo?
Três dos desvinculados foram mortos e, ao tentar proteger os
humanos de se machucarem, dois dos seguidores de Austin foram
mortos, uma dúzia foram feridos e vários humanos se machucaram
apesar dos seus melhores esforços para protegê-los. A maioria dos
vampiros feridos iriam curar com o tempo, mas ele estava preocupado
com Jeremy, que havia levado uma flecha nos olhos.
Ouvindo uma agitação na porta, ele olhou para o vampiro ferido
que ele e Gwen estavam tentando ajudar. O que era agora? Ele se
levantou e se preparou para o que estava por vir.
Não era necessário. Desta vez, eram duas garotas góticas tentando
abrir caminho, junto com um cachorro.
Espere — ele conhecia esse cachorro.
— Fala sério, você me conhece — protestou uma das garotas.
Austin percebeu que ele também conhecia a voz... embora
definitivamente não combinasse com a forma como ela estava vestida.
Ele levantou as sobrancelhas junto com a voz dele. — Deixe-as entrar.
Val virou a cabeça na sua direção — batom preto e sombra escura
contrastando com a palidez de seu rosto — e ele podia ver o horror neles
mesmo do outro lado da sala.
— Austin — ela disse com um suspiro. — Você está machucado?
Ele olhou para sua camisa jeans, vermelha com o sangue dos caídos.
— Estou bem. O sangue não é meu.
— Oh, graças a Deus — ela disse e voou para os seus braços.
Austin a agarrou e a apertou, agradecido por sua presença e pelo
fato de que ela veio cuidar dele. Ele esperava alguma estranheza em Val
depois da sua noite juntos, mas o medo superou a estranheza
aparentemente, e ela estava bem. Pelo menos, havia uma coisa boa
acontecendo esta noite.
Ele se afastou o suficiente para poder olhar para o rosto dela.
Passando os dedos na dramática peruca azul-preta, ele perguntou: —
Porque está fantasiada?
— Oh, eu esqueci. Ivy disse que nos encaixaríamos melhor na
palestra se nos vestíssemos assim.
Ele assentiu, percebendo que a outra garota gótica deveria ser Ivy.
Ela tinha ido ajudar os humanos do outro lado da sala, assim como
antes.
— Mas isso não importa — disse Val. — O que aconteceu aqui?
— Lembra de eu ter dito a você que montamos uma armadilha para
tentar atrair Mike e Ike para podermos capturá-los?
Ela assentiu.
— Não funcionou.
Fang, ao seu lado, resmungou o que parecia ser diversão.
Sim, é óbvio. — Nós espalhamos que eu estaria aqui esta noite à
meia-noite, na esperança de pegá-los com a guarda baixa. Infelizmente,
eles apareceram cedo e em muito maior força do que antecipamos. Nós
planejamos manter toda a violência do lado de fora, longe dos doadores,
mas eles trouxeram para dentro. — Felizmente, havia apenas alguns
doadores nesta noite.
— Foram os desvinculados? — ela perguntou.
— Sim, definitivamente — confirmou Austin.
— Você deveria ter visto Austin — Charlie apareceu atrás dele. —
Ele era mais rápido e mais forte do que qualquer outra pessoa aqui... ele
matou duas vezes mais do que qualquer outra pessoa. Ele era como...
como um supervampiro.
Austin estremeceu, esperando que ninguém mais tivesse ouvido isso
— eles nunca mais parariam de falar disso. — Parece que eles precisam
de ajuda por ali — ele disse, acenando para o outro lado da sala, e Charlie
foi ansiosamente em sua direção.
— Você está realmente bem? — Val perguntou, e ele podia ver a
preocupação em seus olhos. — Eu estava com medo de que Lola pudesse
ter... drenado você na noite passada.
Ele a apertou tranquilizadoramente e então a soltou. — Você não
precisa se preocupar com isso. Com um pouco de sono restaurador, e
com os meus poderes de cura e recuperação, voltei ao normal em um
segundo.
Val sorriu com o que parecia ser alívio. — Na verdade, se o que
Charlie disse é verdade, parece que você estava melhor do que o normal.
Ou ele exagerou um pouco?
— Bem, na verdade, ele não exagerou. Eu estava mais rápido e mais
forte do que eu jamais estive na minha vida.
— Por quê? Você acha que Lola tem algo a ver com isso?
— Não, eu não sei por que eu de repente estava mais poderoso. —
Mas ele se sentiu quase como se estivesse possuído. Ele gesticulou para
a camisa. — Se não fosse por Jeremy, esse sangue poderia ser meu.
Ele olhou para o ex-jogador de futebol que estava sendo atendido
por Gwen e Amanda. O olhar de Val seguiu o dele, e ela ofegou quando
viu o vampiro com a flecha no olho. — Ele ainda está vivo?
— Sim — disse Austin. — Ele levou uma flecha por mim.
— Ele pode curar isso? — Val perguntou com descrença.
— Sim — disse Austin. — Mas a flecha deve ser retirada logo ou ele
vai se curar ao redor dela.
— Então, por que você não a tirou?
Gwen olhou para cima. — Nós não sabemos se seu cérebro foi
danificado além do ponto em que a aceleração da cura de vampiros
ajudaria. Tenho medo de feri-lo ainda mais a menos que possamos puxar
de uma vez. Mas eu não posso fazê-lo ficar quieto e Austin tem medo de
esmagar sua cabeça se ele tentar mantê-lo imóvel. Shade está a caminho,
mas precisamos tirar a flecha primeiro.
— Eu posso ajudar com isso — disse Val. Pegando uma das mãos
de Jeremy na dela, ela deve ter feito seu encanto com Jeremy, porque
Austin podia ver o vampiro ferido relaxar visivelmente. — Feche seus
olhos, fique perfeitamente imóvel e nos deixe cuidar de você — ele ouviu
ela murmurar.
— Oh, obrigada — Amanda suspirou conforme Jeremy relaxava.
Seu rosto com lágrimas apenas fez com que Austin se sentisse mais
culpado. A recepcionista humana se ofereceu para o homem na mesa
aqui esta noite e, embora não tivesse sofrido ferimento, ela não deveria
ter tido que testemunhar esse caos.
— Tire-a de uma vez — Gwen sussurrou. — Rápido.
Austin assentiu com a cabeça e, sentindo como se estivesse
realizando uma operação delicada com força bruta, puxou a flecha
rapidamente dos olhos de Jeremy.
Apesar do controle de Val sobre ele, Jeremy gritou e se debateu.
— Mantenha-o imóvel — Gwen disse com urgência.
— Shh, shh — disse Val. — Relaxe — ela disse e colocou as mãos
sobre ele. Bom, mesmo que o homem estivesse com dano cerebral e
incapaz de compreendê-la, Lola deveria funcionar nele em um nível
subconsciente.
— Você pode colocá-lo para dormir? — Austin perguntou a Val.
— Eu posso, mas Shade irá querer obter sua permissão antes dele
curá-lo. Ele precisará estar acordado para isso. — Ela deve ter visto a
preocupação em sua expressão, porque ela acrescentou, — Mas eu posso
mantê-lo calmo agora que a flecha está fora. — Ela olhou para a porta.
— Fang disse que Shade acaba de chegar.
Austin olhou nessa direção. Um homem com um capacete de moto
estava na entrada, falando com o guarda que ele havia colocado. Austin
ergueu a voz. — Deixe-o entrar. Por aqui, Shade. — Ele nunca esteve
tão feliz em ver o demônio das sombras.
Shade aproximou-se deles lentamente e fez uma pausa para
aparentemente absorver a cena. — O que aconteceu aqui?
— Um caos — Val disse secamente.
O capacete virou para ela. — Val? — ele perguntou com descrença.
— Por que você está vestida assim?
— Eu vou explicar mais tarde — ela disse com impaciência. — Você
pode curá-lo?
Shade se ajoelhou ao lado de Jeremy.
Gwen colocou a mão sobre a dele. — Ele levou uma flecha nos
olhos. Você pode curá-lo, por favor? Tenho medo de que haja dano
cerebral se o deixarmos curar por conta própria.
Shade tirou seu capacete e Austin viu o redemoinho
interdimensional por apenas um instante antes que Gwen o tocasse
novamente para trazê-lo de volta ao foco.
— Ele deve concordar — disse Shade, — e eu vou precisar de um
molde.
— Jeremy? — Austin disse, esperando que o cérebro do homem
ferido não estivesse muito remexido para que ele pudesse concordar com
a cura.
— Eu senti que ele respondeu a sua voz — Val disse suavemente.
— Vá em frente e pergunte.
— Você concorda em deixar o demônio das sombras curá-lo? — ele
perguntou.
Jeremy parecia confuso e com dor.
— Espere — disse Val. — Eu nunca fiz isso antes, mas acho que
posso encontrar um chacra... pronto. — Ela suspirou. — Eu descobri
como bloquear sua dor. Pergunte-lhe novamente.
Desta vez, Jeremy sussurrou um “sim” em resposta à pergunta de
Austin.
— E o molde? — perguntou Shade.
Austin olhou ao redor, se perguntando quem ele poderia recrutar.
— Val não — ele disse. — Precisamos que ela o mantenha calmo. Ivy,
talvez?
Ele olhou para onde ela estava ocupada envolvendo bandagens em
torno da mão de um humano.
Ele não conhecia muito bem a sussurrante de pedras preciosas e isso
podia ser pedir demais.
— O que é um molde? — perguntou Amanda.
Shade respondeu. — Para curar Jeremy, eu preciso usar uma pessoa
com todos os olhos e cérebro como um molde para consertar Jeremy e
para fornecer energia para a cura. Não pode ser um vampiro.
Eles descobriram isso quando eles tentaram usar Elspeth como um
molde e falharam — algo sobre ser morto-vivo tornava impossível para
o demônio das sombras usá-los como um molde.
Shade virou para Val. — Você quer pedir a Ivy?
— Não, me use — disse Amanda.
— Você tem certeza? — Austin perguntou, franzindo a testa. — O
que eles não disseram é que você também pode compartilhar detalhes
muito íntimos sobre sua vida e seus sentimentos.
Ela corou, mas levantou o queixo em desafio. — Eu não me
importo. Jeremy sempre foi muito legal comigo e eu o conhecia antes
de...
Antes dos desvinculados o transformarem em um dos mortos-vivos.
Austin assentiu encorajadoramente.
Ela encolheu os ombros. — Ele é tão corajoso. Eu quero fazer isso.
— Posso colocá-lo para dormir — sugeriu Val. — Isso deve diminuir
a troca de memórias.
— Tudo bem, faça — disse Shade.
Enquanto Val dizia a Jeremy para dormir, Amanda perguntou
nervosamente: — O que eu preciso fazer?
Shade sentou-se ao lado de Jeremy no chão e colocou uma mão em
sua cabeça. — Apenas fique aqui do meu outro lado — ele disse
gentilmente para a garota assustada, — e me deixe colocar minha mão
em sua cabeça.
Austin tirou o casaco e transformou em um travesseiro para a
cabeça de Amanda. — Obrigado por fazer isso — ele disse.
Definitivamente, acima e além da chamada do dever.
— Tudo bem — ela disse com um sorriso trêmulo.
— Tudo vai ficar bem — Val assegurou-lhe. — Não se preocupe.
Eu mesma já fiz isso várias vezes e tudo acabou bem.
— Tudo bem — disse Shade, — feche seus olhos. Estou pronto para
começar. — Ele olhou para Austin. — Isso pode demorar muito se
houver muitos danos.
Austin assentiu com a cabeça em compreensão. Ele só esperava que
o demônio das sombras pudesse ajudar o homem que se jogara entre
Austin e a flecha da besta.
Shade colocou a outra mão na cabeça de Amanda, e ambos
fecharam os olhos. Sua cabeça foi jogada para trás e os dentes
descobertos em concentração, Shade entrava e saía de foco enquanto ele
puxava a energia de cura de outra dimensão. Faixas severas de
relâmpagos violetas pulsavam através dele, piscando de Amanda para
Jeremy. Parecia que uma tempestade estava furiosa dentro do demônio
das sombras.
Muito mais rápido do que Austin esperava, acabou, e o olho de
Jeremy estava completamente restaurado. Shade soltou Amanda e
Jeremy e caiu contra a parede.
— Você está bem? — Austin perguntou a Shade com preocupação.
Fang deitou-se ao lado do demônio das sombras e apoiou a cabeça
no braço de Shade, trazendo seu rosto ao foco. Ele parecia pálido e
drenado.
— Estou bem — disse Shade. — Eu só preciso de algum descanso.
Val olhou para o cão do inferno. — Fang disse que isso foi muito
mais rápido do que qualquer outra cura que você já fez antes. Ele tem
razão. Você tem certeza de que o cérebro de Jeremy vai ficar bem?
Shade passou a mão pelo rosto. — Deve ficar... senti que estava
sendo reparado em um nível celular. Ele pode perder algumas
lembranças, mas ele deve funcionar bem.
— Quando... — Austin começou, mas foi interrompido por Diego.
— Ei, chefe, o que devemos fazer sobre os dois caras que
capturamos? Não tenho certeza de quanto tempo eles podem segurá-los
sem matá-los.
Jeremy estava nas mãos capazes de Gwen, então Austin olhou para
Val. — Você pode...?
— Claro — ela disse.
Agradecido por sua compreensão e vontade de ajudar, Austin a
levou para a sala onde seis de seus homens tinham dois desvinculados
encurralados. A sala de conferências definitivamente tinha visto dias
melhores — as mesas estavam esmagadas, as cadeiras quebradas e
amassados decoravam as quatro paredes. Graças a Deus eles reforçaram
esta sala com mais do que apenas placas de gesso. Os vampiros também
tinham visto dias melhores. Os dois desvinculados correram para a porta,
tentando escapar, mas seu povo se jogou sobre eles, até que ele não
conseguia ver nada além de braços e pernas voando.
— Parem — Val gritou, seus braços estendidos.
Todos os oito lutando pararam imediatamente, congelados em uma
estranha posição de estátuas.
— Levantem-se — ela disse.
Todos os oito seguiram suas ordens.
— Tudo bem — ela disse para Austin. — Quais você quer
interrogar?
Austin apontou os desvinculados, e Val liberou os seis que mantinha
sob controle. — Bom trabalho, pessoal — disse Austin. — Vocês podem
ir agora.
Todos recuaram para as paredes, deixando os desvinculados no
centro da sala — um baixo e loiro, outro alto e moreno. Seu povo não
fez nenhum movimento para sair, e Austin deixou que eles
permanecessem, imaginando que mereciam a chance de ver o que seus
esforços faziam.
— Ainda não é Ike ou Mike — murmurou Val em decepção.
Austin assentiu. — Eles estavam aqui, no entanto. Lembro-me de
vê-los.
— Tudo bem — disse Val. — Qual de vocês dois sabe mais sobre
esse ataque?
Eles trocaram olhares, e o menor dos dois disse: — Eu sei.
— Então, nos diga por que você atacou esse banco de sangue —
disse Val.
— Nos mandaram para matar o tenente conhecido como Austin —
ele disse.
Obviamente. — Por quê? — perguntou Austin.
Quando Val ordenou que ele respondesse as perguntas de Austin,
bem como as suas, o cara respondeu: — Porque precisamos eliminar a
oposição aos nossos planos.
— Quais são seus planos?
— Assumir a cidade.
— E como vocês planejam fazer isso? — Austin persistiu.
— Matando os líderes do Movimento primeiro, depois semeando
discórdia e medo entre a população humana.
— Vocês mataram Alejandro? — Val perguntou.
— Não.
Austin reformulou sua pergunta, no caso de serem muito literais. —
Alguém matou Alejandro, como Mike e Ike?
— Não que eu saiba.
Alívio o encheu, seguido de frustração. — Então, onde ele está?
— Nós não sabemos.
— Mike e Ike sabem? — Val persistiu.
— Talvez — o vampiro concedeu. — Mas eles contaram uma
história inacreditável sobre o que aconteceu.
— Qual era a história? — Austin perguntou com impaciência.
Qualquer pista seria boa agora.
— Nós não sabemos. Acabamos de ouvir que era falsa, sem os
detalhes.
Droga. Parecia que voltamos para os doces gêmeos novamente. —
Onde podemos encontrá-los?
— No campo de treinamento.
Agora eles estavam chegando a algum lugar. — Onde fica o campo
de treinamento?
— Eu... eu... — o vampiro começou, então parou.
Val parecia irritada. — Vocês dois, nos digam onde é o
acampamento. Imediatamente.
Os dois fizeram movimentos de mastigação com os maxilares,
depois começaram a ter espasmos.
Que diabos?
— Oh, merda — disse Val, olhando para o cão do inferno. — Eles
engoliram sangue de demônio, Fang sentiu que atingiu a corrente
sanguínea.
Droga. Sangue de demônio deixava os vampiros loucos. — Agora,
nunca conseguiremos nada deles.
Os desvinculados ficaram loucos, e seus seguidores se uniram para
apunhalar os desvinculados.
— O que aconteceu? — Val perguntou depois que ambos estavam
mortos. — Como o sangue entrou nos seus sistemas?
Austin se inclinou e abriu a boca do rapaz menor. Assim como ele
esperava. — Um dente oco. Eles devem ter sido implantados com um
comando para se alto destruir em vez de revelar a localização do seu
acampamento. — Agora eles tinham dois desvinculados mortos e
nenhuma resposta.
Ordenando que seus homens limpassem, Austin voltou para a outra
sala para verificar o progresso da limpeza. Gwen deve ter levado Jeremy
para a clínica no andar de baixo, e pareceu que o resto da limpeza estava
sob controle.
Ivy aproximou-se deles, e Austin observou como a aparência gótica
a servia muito melhor do que em Val. Não que ele estivesse reclamando
do decote inesperado que Val exibia.
— Vocês conseguiram alguma resposta? — Ivy perguntou.
Austin balançou a cabeça. — Nada útil. E vocês duas? Vocês
descobriram alguma coisa na palestra?
Val fez uma careta. — Na verdade não. Acabei tendo que estaquear
os recrutadores.
— Mas nós descobrimos um dos lugares que os gêmeos frequentam
— disse Ivy. — O Clube Gothick, nós tentamos encontrá-los lá.
— Vocês souberam de alguma coisa? — perguntou Austin.
Val balançou a cabeça. — Só que eles planejavam atacar você aqui
esta noite. Mas talvez possamos apostar no clube, esperar que eles
apareçam.
— Vale a pena arriscar — disse Austin. — Agora, é a única
vantagem que temos.
— Eu não sei — disse Ivy. — Se eles souberem que estávamos lá
perguntando sobre eles, eles podem não aparecer novamente.
Ela estava certa. — E se eles descobrirem que é você quem está
fazendo as perguntas — ele disse a Val, — você provavelmente também
é um dos seus alvos. — Droga. Ele não queria colocá-la em mais perigo,
mas com Val, não havia escolha. Era uma das coisas que ele mais
admirava sobre ela, mesmo que odiasse o fato de que ajudá-lo a colocava
em perigo. — Me preocupo com você. Especialmente desde que seus
poderes...
Ele se interrompeu, olhando para Ivy, sem saber o quanto ela sabia.
— Você pode confiar nela — disse Val. — Desde que meus poderes
foram diminuídos, você quer dizer.
Val e Ivy olharam para Fang.
Ele sabia o que isso significava agora. — O que ele disse? —
perguntou Austin.
— Ele não tem tanta certeza de que meus poderes estão diminuídos
— Val disse devagar. — Mais cedo, eu me senti muito mais forte do que
antes e as contusões não me incomodaram tanto. Talvez meus poderes
estejam voltando. — Ela olhou para o cão do inferno novamente,
aparentemente em uma conversa mental. — Você também disse que
você estava mais forte e mais rápido do que antes e Shade conseguiu
curar Jeremy em tempo recorde.
— Sim. Isso significa alguma coisa?
— Eu acho que sim — Ivy disse com entusiasmo. — Eu falei um
pouco com o meu pai. Ele disse que é possível que o demônio que estava
dentro do cristal tenha sido fraturado quando o amuleto quebrou, e os
pedaços do demônio entraram nas pessoas presentes.
— Eu tenho um demônio dentro de mim? — perguntou Austin. —
Isso significa que eu também ficarei louco? — Certamente isso teria
acontecido até o momento.
Ivy balançou a cabeça. — Eu deveria ter dito que pedaços do poder
do demônio entraram nas pessoas presentes. — Ela se virou para Val. —
Você disse que o cristal completo aumentava suas habilidades naturais,
então isso indica que parte do cristal dentro de você faria a mesma coisa.
Isso fazia sentido.
— Quem mais estava presente quando quebrou? — Ivy perguntou.
— Apenas Shade, Austin, Fang e eu — disse Val. Ela olhou para o
cão do inferno. — Você percebeu que seus poderes melhoraram?
Ela ouviu por um momento e sorriu para Austin. — Ele disse talvez,
mas ele sempre foi muito bom.
— Luis também estava lá — Austin lembrou. — Em outra sala.
Ivy franziu a testa. — Eu acho que quanto mais perto você estivesse
do cristal, mais poder você receberia. Então, provavelmente, Luis terá
uma quantidade menor.
— Qualquer quantia é demais — Val resmungou.
— É permanente? — perguntou Austin. Ele queria saber se ele
ficaria possuído toda vez que eles fossem atacados.
— Eu não sei — disse Ivy. — Eu acho que vamos ver.
Infelizmente, eles não estavam mais perto de encontrar Alejandro
do que eles tinham estado antes, e Austin estava começando a se
preocupar que nunca o encontrariam.
CAPÍTULO DEZESSEIS
VAL

O resto da noite foi um fracasso. Ninguém sabia nada sobre os


atacantes, exceto que eles eram rápidos, letais e não tinham
nenhum líder aparente. Nenhum deles foi capaz de identificar durante o
ataque, de qualquer forma. Nem mesmo Austin, já que ele era o foco de
seu ataque e tinha muitos vampiros focados em matá-lo.
Deixando os vampiros terminarem de limpar a bagunça, fui para
casa com Ivy e Fang. Era quase amanhecer, a propósito, e eu estava com
muita fome.
Ivy se ofereceu para fazer o café da manhã e eu deixei... cozinhar
não era uma das minhas habilidades, e eu não tinha melhorado desde
que Gwen foi embora.
Assim que estávamos terminando de comer, meu telefone tocou.
Verifiquei o identificador de chamadas. Mamãe. Eu gemi e pensei em
não atender, mas sabia que ela continuaria ligando se eu não atendesse.
— É minha mãe — falei a Ivy. — Ela acorda a essa hora e sabe que estou
prestes a ir para a cama.
Ivy assentiu com a cabeça. Ela agiu como se fosse sair da mesa, mas
eu acenei para ela ficar. Sem segredos aqui.
Após o inicial “como-você-está”, veio a verdadeira razão pela qual
ela ligou. — Você vai vir jantar depois de amanhã, não é?
— Depois de amanhã? — Não lembrei de discutir isso com ela
antes.
— É o aniversário de Jennifer, ou você esqueceu?
Oh, droga. Eu lembrava da data de seu aniversário, só que não
estava esperando que fosse tão cedo. — Não, não esqueci. Eu
simplesmente não sabia que você agendou uma festa.
— Oh, a festa é no próximo fim de semana, um spa com todas as
amigas dela. Isto é apenas um jantar familiar e Jennifer gostaria de te ver.
Você pode trazer aquele Shade se quiser.
Nenhum outro humano completo além da minha família, percebi.
Adivinhei que eles não queriam que o segredo feio de que sua filha era
um demônio fosse descoberto.
Uou, não está sendo amarga demais? Fang perguntou.
Bem, eles me expulsaram de casa e de suas vidas porque eu não era
um bom exemplo para minha irmã, mas não era eu sendo amarga, na
verdade. Acho que estou apenas cansada. — Shade e eu não estamos mais
namorando — eu disse a ela.
— Oh, isso é uma pena. Ele era um garoto tão legal.
Eu revirei os olhos. — Mas eu tenho alguém que está ficando
comigo de fora da cidade, do Clandestino em Sedona. Posso levá-la
comigo?
— Sério? Eu amo Sedona.
Mamãe hesitou, e eu percebi que ela estava se perguntando o tipo
de demônio que Ivy era e se ela causaria estragos no mundo legal e puro
da minha mãe. — Ivy é uma sussurrante de pedras preciosas — eu disse,
para evitar perguntas estranhas. — Ela fala com pedras preciosas, e ela
não conhece mais ninguém aqui, então eu gostaria de levá-la. — Além
disso, ter qualquer tipo de amortecedor entre mamãe e eu devia ser uma
coisa boa.
— É claro que ela pode vir — mamãe disse, parecendo aliviada que
Ivy não representava uma ameaça.
— O que eu deveria comprar para Jen para o aniversário? — eu
perguntei. Eu não sabia muito sobre seus interesses nos últimos meses.
— Oh, nada. Sua presença é o suficiente.
Ok, certo. Como se isso fosse funcionar com Jen.
— Então, podemos esperar você às sete? — mamãe perguntou.
— Ok — eu disse com um suspiro. — Nós estaremos aí. — E espero
que não haja nenhum perigo sério que necessite da Caçadora durante
esse período.
Eu desliguei e olhei para Ivy. — Meus pais vão fazer um jantar de
aniversário para minha irmã Jen depois de amanhã. Você está
convidada, se quiser ir.
Ela sorriu. — Certo. Será bom conhecer mais famílias do
Clandestino.
— Bem, eles não são. — Com o seu olhar intrigado, eu expliquei,
— Meus pais se divorciaram quando eu era bebê e minha mãe se casou
novamente. Meu pai era o que tinha sangue demoníaco, então quando
mamãe teve minha irmã, foi com Rick, seu novo marido. Todos são
totalmente humanos.
— Oh — Ivy disse, parecendo surpresa. — E seu pai?
— Ele morreu quando eu tinha cinco anos. — Eu não entrei em
detalhes sobre toda a coisa do suicídio, eu não a conhecia tão bem para
revelar isso. — Então, eles são todos humanos. Eles estão bem comigo
sendo parte súcubo, Rick e Jen muito mais do que a minha mãe, mas
não gosto de esfregar isso na cara deles, mesmo que eles sejam modernos
e amáveis aceitando.
— Sinto muito por sua perda — ela disse, sua maquiagem gótica
fazendo ela parecer extremamente triste.
— Foi há muito tempo — eu disse com desdém. — Mas o que eu
realmente preciso saber é, o que diabos eu vou comprar para a minha
irmã pelo seu aniversário? Ela está fazendo dezessete anos este ano.
Alguma ideia?
— O que ela gosta? — Ivy perguntou.
Dei de ombros. — Eu não tenho certeza, eu não a vejo há algum
tempo. Seus gostos mudam muito.
— Então... um cartão de presente? — Ivy sugeriu. — Dependendo
da mesada ou do dinheiro que ela ganha, ela provavelmente apreciaria
poder comprar o que ela quiser.
Mamãe também pensaria que era impessoal, mas Jen adoraria. Ok,
então — um cartão de presente. Eu sorri. — Boa ideia, obrigada. — E
fácil, também. — Acho que vou dormir um pouco. Preciso de algo
especial para tirar essa meleca da minha cara?
— Eu tenho algo que ajudará com isso — disse Ivy, me chamando
ao banheiro com um aceno de sua mão. — Vamos.
Fang anunciou sua intenção de ir para a cama e trotou naquela
direção.
Logo, Ivy e eu voltamos para nossos rostos sem maquiagem. Como
estávamos nos sentindo como amigas, perguntei: — Então, acho que isso
foi um pouco mais perigoso do que o que você esperava. O que você vai
reportar para Sedona sobre nós?
— Oh, eu já lhes disse para não se preocuparem. Vocês estão sob
controle.
Não exatamente, mas eu apreciei sua confiança em nós. — O que
acontece em San Antonio, fica em San Antonio?
— Algo assim. — Ela suspirou. — Eu amo Sedona, mas meus pais
são geólogos, e quando fiz dezoito anos, eles venderam a loja de pedras
de lá e saíram para percorrer o mundo em busca de pedras raras e de
aventura. Isso é o que eles costumavam fazer antes de me terem, e agora
eles estão tendo a diversão de suas vidas viajando por todos os lados.
Estranho, ela não pareceu infeliz com isso. — Meus pais me
expulsaram quando eu tinha dezoito anos também. Você está bem com
isso?
— Oh, eles não me expulsaram. Eu sei que eles me amam, e eles
sabiam que eu poderia me virar sozinha desde que eu estava trabalhando
em sua loja desde que eu era criança. Mas agora, não há nada me
mantendo em Sedona, então eu queria visitar outras cidades, cidades
maiores, ver onde eu poderia querer viver por um tempo, usar minhas
economias para abrir minha própria loja de pedras. Eu visitei Phoenix,
Albuquerque e Dallas antes de chegar aqui. Pelo Clandestino de Sedona
e por mim.
— Qual é o próximo lugar? — Eu meio que invejava sua
autoconfiança para começar sozinha.
Ela encolheu os ombros. — Não sei se há um próximo. Eu gostei
daqui.
Eu a olhei, espantada. — Mesmo após os ataques de vampiros e
tudo mais?
Ela sorriu. — Talvez por causa deles. É meio emocionante, e vocês
estão fazendo a diferença aqui. Eu acho que posso ajudar e eu gostaria
de fazer parte disso.
Uau, não era o que eu esperava. — Bem, ótimo — eu disse. — E já
que Gwen se mudou, eu preciso de uma colega de quarto, então você
pode ficar aqui.
— Eu esperava que você dissesse isso — ela disse com um sorriso.
Ela me abraçou — uma coisa rápida, mas fez eu me sentir bem. Eu
acho que vou gostar de ter ela aqui.
Eu também, a voz sonolenta de Fang veio na minha cabeça. Mas
podemos dormir agora?
Sorrindo, fui para a cama. Um novo namorado, uma nova amiga e
colega de quarto. A vida estava melhorando.

***
Nós acordamos tarde na tarde seguinte, e eu tive uma ideia, então
liguei para Austin. — Eu marquei um encontro com o tenente Ramirez,
— eu falei. — Para ver se a UCE já ouviu falar sobre onde os
desvinculados podem estar se concentrando.
— Boa ideia. Que horas?
— Eu pedi as sete. Vai dar para você?
— Sim. Nós vamos passar aí e buscá-la, ok?
— Nós?
— Sim, meus homens não me deixam sair sozinhos para nenhum
lugar — ele disse, soando irritado, mas resignado. — Eles insistem que
eu preciso de apoio.
— Ok. Vejo você mais tarde então.
Nós três estávamos prontos e esperando quando Austin apareceu
em um carro luxuoso preto e indescritível — exatamente como o carro
seguindo-o. Ele fez os vampiros que vieram com ele irem para o outro
carro para que pudéssemos caber.
Eles pareciam um pouco paranóicos, mas Austin os tranquilizou,
dizendo: — Eu tenho a Caçadora, a sussurrante de pedras e um cão do
inferno comigo, além de vocês estarem bem atrás de mim. Eu vou ficar
bem.
Eles concordaram relutantemente e nós dirigimos para a estação da
UCE, embora nós os fizemos ficar do lado de fora. Não era como se os
desvinculados fossem nos atacar dentro da delegacia de polícia.
Perguntei ao sargento no balcão pelo Tenente Ramirez, e ele me
disse para ir para a parte de trás. Enquanto caminhávamos pelo longo
corredor, Austin apoiou a mão na parte inferior das minhas costas.
Era uma sensação estranha, quase como se ele me reivindicasse
como dele, ou estivesse demonstrando carinho — eu não tinha certeza
de qual. De qualquer forma, não me importava. Na verdade, eu gostava
disso. Isso me fez sentir quente e apreciada. Eu nunca tinha tido muito
disso na minha vida.
Nós encontramos Dan no caminho para o escritório do tenente. Ele
olhou para a mão de Austin nas minhas costas e franziu a testa. Que
pena. Ele que me deu um fora, então ele não tinha mais nenhuma
opinião sobre quem eu escolhia para namorar.
Além disso, Austin é o melhor homem, declarou Fang.
Eu não iria discutir contra isso.
Nós entramos no escritório do tenente juntos, e eu apresentei Ivy a
todos. Não expliquei que ela era parte demônio — esse era seu segredo
para contar, se ela quisesse. Mas eu poderia dizer que o tenente e Dan se
perguntaram que tipo de demônio ela era — eles tinham que saber que
ela era uma, ou não a teríamos trazido para dentro disso.
O tenente Ramirez sacudiu a mão de Ivy, depois fez um gesto para
que todos nos sentássemos. — Pedi a Sullivan que se juntasse a nós, já
que ele tem experiência. Então, o que podemos fazer por vocês?
Austin explicou sobre o desaparecimento de Alejandro e sobre o que
descobrimos até agora. Ele concluiu dizendo: — Nós estávamos
pensando se vocês já ouviram falar de Mike e Ike, se têm mais
informações sobre eles, ou se vocês estão cientes desse “campo de
treinamento” que eles têm.
Dan balançou a cabeça. — Eu não ouvi falar deles nem de um
acampamento. Vocês sabem onde é?
Se nós soubéssemos, nós teríamos dito para ele, disse Fang, soando
exasperado.
Eu balancei minha cabeça, e Ramirez disse: — Eu também não sei.
— E algum padrão? — eu perguntei. — Os desvinculados estão se
preparando para assumir a cidade... vocês viram um aumento de
assassinatos ou ataques?
— Sim — admitiu Ramirez. — Mas não percebemos que era um
esforço concertado.
— Por que você não nos contou sobre isso antes disso? — perguntou
Dan.
— Porque acabamos de saber ontem à noite — eu falei, tentando ser
paciente com ele. — Você notou os ataques concentrados em alguma
parte da cidade?
— Eu vou ter que verificar minhas anotações — disse Dan.
Ramirez assentiu. — Nós não notamos um padrão, mas não
estávamos procurando um.
— Você poderia nos fornecer os dados? — perguntou Austin. —
Dessa forma, podemos ver se parece haver qualquer padrão que
possamos discernir.
Dan parecia realmente relutante.
Eu acho que ele não quer dizer para os sanguessugas, Fang disse.
Provavelmente. Ele ainda não estava convencido de que existia
vampiros bons, exceto talvez sua irmã Gwen, que tinha sido
transformada em uma contra a vontade dela.
— Talvez você possa fornecer a informação para Micah? — eu
sugeri, não querendo vê-los entrar em um concurso de mijo. — Ele pode
combinar com os dados do Clandestinos e ver se podemos encontrar uma
concentração de ataques em alguma área. — Micah tinha observadores
em toda a cidade, coletando dados e observando os vampiros. Ele
também era especialista em análises.
— Sim — disse Ramirez, olhando severamente para Dan. — Nós
podemos fazer isso.
— E continuaremos interrogando qualquer desvinculados que
capturarmos — disse Austin.
— Eu acabei me lembrando de algo — disse Ivy. Ela olhou para
mim como se tivesse pedindo permissão para falar, e quando acenei com
a cabeça, ela acrescentou: — Alexander, o recrutador de vampiros, disse
algo sobre Mike e Ike estarem em uma unidade diferente. O que vocês
sabem sobre isso?
Isso mesmo — ele tinha falado isso. Eu tinha esquecido disso.
Ramirez franziu o cenho. — É um tipo de organização, usada por
pessoas como terroristas e insurgentes. Geralmente, você só conhece as
pessoas que estão na sua unidade, de modo que se você for capturado,
você só pode revelar a identidade de algumas pessoas. Eles conheceriam
seus superiores, mas não estariam necessariamente conscientes de outras
pessoas no mesmo nível. — Eu não achava que Ivy precisasse da
explicação, mas ela deixou para lá. Ramirez acrescentou, pensativo: —
Eu não percebi que eles estavam organizados.
Merda. Isso acabou de ficar ainda mais difícil.
Austin assentiu. — E para aqueles que sabem mais informações, os
desvinculados agora têm uma estratégia em vigor para garantir que eles
não revelem informações importantes... um dente falso com sangue de
demônio dentro dele.
Dan assentiu. — Sangue de demônio os deixa malditamente loucos.
— Sim — eu disse. — Essencialmente, suicídio pelo sangue de
demônio. Isso também os tornará imprevisíveis e difíceis de matar. —
Olhei para Ramirez. — Você pode querer avisar o resto do time. Não
faça perguntas aos desvinculados a menos que você queria deixá-los
loucos.
— Sim — acrescentou Austin. — Agora que sabemos que o dente
está lá, podemos removê-lo antes que eles possam usá-lo. Se vocês
capturarem algum, liguem para nós.
Ramirez assentiu sombriamente. — Eu irei. — Ele olhou para
Austin. — Quem é o responsável enquanto Alejandro está...
desaparecido?
— Ninguém — disse Austin, seu tom breve.
Ramirez levantou uma sobrancelha. — Eu quis dizer com quem eu
entro em contato se soubermos de alguma coisa?
— Todos os três tenentes, Rosa, Luis e Austin estão fazendo os
trabalhos que eles costumavam fazer — eu expliquei, para evitar
explicações desnecessárias. — Mas, para os propósitos desta
investigação, você pode entrar em contato com Austin.
Austin assentiu, disposto a aceitar essa hierarquia. Ele levantou-se
e ofereceu a mão para Ramirez. — Obrigado. Com a sua ajuda, espero
que possamos não só encontrar Alejandro, como também acabar de vez
com a operação dos desvinculados.
Quando nos dirigimos para a saída, eu disse: — Desculpe. Eu pensei
que eles poderiam ajudar.
— Eles ainda podem — ele admitiu. — Mas eu só queria que
pudéssemos ter uma pausa.
Eu também. Nós teríamos uma — e logo.
CAPÍTULO DEZESSETE
VAL

M ais um dia havia passado sem chegarmos perto de encontrar


Alejandro e Vincent. Frustrante. Depois que eu comprei alguns
cartões de presente no shopping, Ivy, Fang e eu fomos para o Clube
Gothick para vigiar antes que a noite caísse. Austin nos emprestou um
vampmóvel para que não estivéssemos tão visíveis, e nós ficamos por
horas esperando que os doces gêmeos aparecessem.
Sem sorte nessa arena até agora, mas eu aprendi muito mais sobre
Ivy — e eu gostei do que eu aprendi. Ela era mais velha do que eu um
ano, mas tinha muito mais autoconfiança do que eu jamais tive. Eu
invejava isso nela, e ela invejava minha força e velocidade. Nós duas
gostávamos do senso de humor uma da outra. Fang também se
encaixava.
Vocês duas são como um casal apaixonado, Fang brincou. Não diga isso
para nenhum cara, ou eles vão querer observar vocês se pegando ou algo assim.
— Sério? — Eu balanço a minha cabeça. — Os caras são tão
estranhos às vezes. Pensar que eles gostariam de estar no meio de toda a
pegação. — Pelo menos isso era verdade pela experiência de Lola.
Confie em mim, disse Fang. Eu assisto televisão.
Ivy encolheu os ombros. — Eu também não entendo, mas ele está
certo. — Ela olhou para mim. — Não que eu queira experimentar. Quero
dizer, eu gosto de você e tudo mais, mas eu sou totalmente a fim de
homens.
Eu rio. — Eu também.
— Falando de caras — disse Ivy. — O seu chegou. — Ela assentiu
para um lugar atrás de mim, e vi que Austin tinha chegado, junto com
uma comitiva de seus seguidores, em dois vampmóveis.
Eu abaixo a janela, e Austin vem em direção ao nosso carro. Ele se
inclina para dentro da janela do lado do motorista e me dá um sorriso
como se eu fosse a única pessoa no mundo. — Olá, querida.
E isso não faz com que o meu coração quase tenha um piripaque?
— Oi — respondo com um sorriso pateta.
Você está caidinha, Fang disse.
Oh, cala a boca. Tenho que lembrá-lo de como você ficava perto de Princesa?
Era a sobrevivência das espécies, você não vai procriar com ele.
Eu não tinha planejado “procriar” com ninguém. E quanto à sua
desculpa para flertar com Princesa... Mentiroso, mentiroso, mentiroso.
Fang virou a cabeça para longe de mim e não respondeu. Há.
Ganhei dele nesse momento.
— Eu estou assumindo que vocês não viram Mike ou Ike? —
perguntou Austin.
— Não — Ivy respondeu. — Sem sinal deles.
Austin assentiu. — O tenente Ramírez ligou. Sugeriu que
verifiquemos a área perto de New Braunfels.
— Sério? — eu perguntei com descrença. Virando-me para Ivy,
expliquei: — É uma pequena cidade a cerca de quarenta minutos a norte
daqui, colonizada pelos alemães no século dezoito. Excelente comida e
um bairro histórico legal. Sempre me pareceu tão seguro.
— E é — confirmou Austin. — Mas ligaram para a UCE várias
vezes ultimamente sobre alguns problemas que parecem com os nossos
caras. É por isso que parece tão incomum. Vamos verificar?
— Claro.
— Ok, espere um minuto. — Ele conferiu com as pessoas nos dois
vampmóveis e voltou para mim. — Ok, eu dei uma descrição de Mike e
Ike. Um carro ficará aqui para procurá-los e o outro nos seguirá para
New Braunfels. Eu vou dirigir.
Abri minha boca para protestar, então percebi que não só era seu
carro, como também ele sabia para onde estávamos indo, e eu não sabia.
Eu dei de ombros e saí do carro para me mover para o assento do
passageiro enquanto Fang ia para a parte de trás. Ivy decidiu passar, e já
que ela deixou seu carro a um par de quarteirões, nós a deixamos para
que ela pudesse evitar o possível confronto.
A viagem não pareceu demorar muito, mas, logo que chegamos lá,
Austin seguiu para uma área adjacente com um posto de gasolina e
estacionou.
— Hora de ir ao banheiro? — eu perguntei, embora eu teria pensado
que eu teria mais necessidade disso do que ele.
— Não — ele disse, — estamos sendo seguidos.
— Seguidos? — eu repeti e lancei um olhar para a entrada da área
adjacente, onde outros três carros seguiram e estacionaram, as janelas
escuras como a lei permitia. Era um pouco suspeito nesta noite quando
muitas pessoas não estavam por perto. — O que eles querem?
— Eu não sei — disse Austin. — Vamos descobrir.
O outro vampmóvel parou ao nosso lado, e Austin abaixou a janela.
Os outros fizeram o mesmo. — Há quanto tempo esses carros nos
seguem? — ele perguntou.
— Desde que saímos de San Antonio — o vampiro no outro carro
respondeu. — Você quer que os façamos sair?
— Não, vamos esperar e ver o que eles farão.
Não são demônios, disse Fang. Ou eu poderia lê-los.
Eu passei o que ele disse e depois acrescentei: — Vou sair, fingir que
paramos aqui para que eu possa usar o banheiro e ver o que eles fazem.
Eu poderia fazer xixi, Fang disse.
Eu fui para os banheiros e Austin saiu do carro como se estivesse
me protegendo e ficou olhando para a linda área arborizada. E, aliás,
tentando dar uma olhada no que estava acontecendo com os três carros
que nos seguiram. Todos eram idênticos, sedãs de tamanho médio. Nada
que se destaque em qualquer tráfego.
Me avise se alguma coisa acontecer, eu disse a Fang quando entrei no
banheiro e o deixei molhar os arbustos lá fora.
Eu aviso.
Já que eu estava aqui, eu segui adiante e usei o banheiro. Enquanto
eu lavava minhas mãos, perguntei a Fang, O que está acontecendo lá fora?
Precisamos demorar ainda mais?
Acho que não. Não está acontecendo nada.
Abri a porta e saí. Austin ficou parado como se estivesse me
esperando casualmente, mas eu podia sentir a tensão em cada linha de
seu corpo. — Me dê suas chaves — eu disse suavemente.
Ele me entregou, e eu fui abrir o porta-malas de seu carro. Eu tinha
estacas na minha cintura como sempre, mas imaginei que uma besta
poderia ser útil no momento, e eu escondi algumas delas no porta-malas
antes de eu sair.
Eu peguei uma, junto com uma aljava de flechas, e caminhei em
direção aos três carros estacionados no outro extremo do
estacionamento. Havia um outro carro na área adjacente, mas quando
os humanos viram minha arma, eles começaram a sair de lá, rápido.
— O que você vai fazer com isso? — perguntou Austin.
— Seja lá o que precisa ser feito.
— Val? — perguntou Austin, uma advertência em seu tom, mas não
tentou me impedir. Ele e Fang me seguiram, assim como os cinco
seguidores de Austin no outro carro.
Ainda não houve reação dos três carros? Interessante.
Quando cheguei perto o suficiente do carro mais próximo, peguei e
disparei em dois dos pneus. Pronto. Eles não iriam a lugar nenhum tão
cedo.
Eu comecei a me mover para fazer o mesmo com os outros dois
carros, mas vampiros saíram fervendo do primeiro carro.
— Luis — Austin cerrou os dentes.
— Por que diabos você fez isso? — perguntou Luis, olhando para
mim.
— Por que você está nos seguindo? — Austin replicou, parando a
poucos passos de distância de Luis.
Casualmente, atirei flechas em ambos os pneus dianteiros do
próximo carro. Todos saíram dos dois carros restantes, e todos eles me
ameaçaram. Com raiva agora, eu coloquei Lola sobre eles e gritei: —
Parem.
Todos pararam, exceto a única mulher do grupo. Ergui a besta e
apontei para o seu coração. — Você também, ou eu vou matar você
agora.
Ela parou, fumegante.
— Já chega, Catalina — disse Austin. — Nós só queremos saber por
que vocês estão nos seguindo.
Seus lábios apertaram, mas ela levantou o queixo e se recusou a
responder.
— Você pode liberar Luis, por favor? — Austin me pediu.
Eu fiz uma careta, mas fiz o que ele pediu. Se fosse por mim, eu o
obrigaria a nos dizer o que queríamos saber.
Não, disse Fang. Austin está certo. Você não humilha seus colegas... a
menos que você queira que eles virem inimigos.
Bem, isso fazia sentido. Mais ou menos. Eu soltei Luis com
cuidado, mantendo os outros encantados e mantendo um olho em
Catalina.
— Mande ela se afastar — eu disse a Luis.
Luis olhou para mim, desnecessariamente endireitou sua jaqueta, e
limpou um fio transparente das mangas... como se eu o tivesse
contaminado ou algo assim. Mas ele inclinou a cabeça em direção a
Catalina e ela recuou, enviando olhares de morte em minha direção.
Abaixei a besta, mas a deixei engatilhada... apenas por precaução.
— Por que vocês estão nos seguindo? — perguntou Austin a Luis.
— Quando você saiu da cidade, eu sabia que você estava fazendo
algo. Você tem Alejandro escondido aqui em algum lugar, não é?
Jesus — isso novamente. O cara era como um disco quebrado.
Eu acho que seu cérebro foi ossificado em algum momento do século passado,
Fang falou devagar. Difícil conseguir novos pensamentos através de toda essa
pedra.
Tive que concordar com ele nisso.
— Não — Austin disse secamente. — Estamos seguindo as pistas
da UCE. Acreditamos que os desvinculados podem ter um campo de
treinamento nessa área.
— Provável historinha — disse Luis com um riso.
— Bem provável — eu falo. — Porque é a verdade.
— E é por isso que você precisa de tanto apoio? — replica Luis.
— Não, ele precisa disso pelo mesmo motivo que você precisa...
porque os desvinculados também o atacaram ontem à noite. Só que desta
vez, eles apareceram com mais força e causaram muito mais danos.
Luis olhou para Austin, como se quisesse saber se eu estava falando
a verdade.
— Ela está certa — disse Austin. — Apenas pergunte ao seu lacaio,
Christoph. Ele estava lá nos espionando.
Um lampejo de irritação cruzou o rosto de Luis. Eu acho que ele
não percebeu que seu espião havia sido descoberto. Me perguntei quem
era Christoph e por que Austin não o havia me mostrado.
Provavelmente ele queria que o cara pensasse que não foi descoberto, Fang
sugeriu.
Luis estalou os dedos para Catalina. — Entre em contato com
Christoph — ele ordenou, obviamente mais confortável, comandando
isso lacaios para que realmente não usasse algo fabricado neste século.
Ela correu para obedecer sua ordem, e seus dedos voaram sobre a
tela em seu telefone. Mensagem, eu acho. Em um curto espaço de tempo,
ela disse: — Ele confirmou, os desvinculados também atacaram Austin
ontem à noite.
Luis olhou desconfiado para Austin. — Como eu sei que você não
está de aliança com os desvinculados? Que você não iniciou o ataque?
— Não seja ridículo — Austin cuspiu. — Você realmente acha que
eu arriscaria meu povo encenando um ataque? Eu também tive muitos
mortos e feridos.
Catalina mandou uma mensagem novamente, então acenou com a
cabeça para Luis. — Confirmado.
Luis franziu o cenho. — Então, por que você não me contatou para
ajudar?
Eu engasguei uma risada. — Porque você já foi útil antes?
Austin balançou a cabeça para mim, silenciosamente me pedindo
para manter minha boca fechada. Ok, eu poderia entender uma dica.
— Eu não tinha certeza de como você reagiria — disse Austin.
— Então, em vez disso, você foi como um glorioso caçador resgatar
Alejandro por conta própria?
O maxilar de Austin ficou rígido, mas ele de alguma maneira
conseguiu manter seu tom normal. — Não, estou seguindo uma pista
que pode ou não dá certo. E você deixou bem claro que você não quer
trabalhar comigo.
— Não, eu não quero trabalhar para você — disse Luis com um riso.
— Mas é isso que você quer, não é? Resgatar Alejandro por conta
própria, se mostrar como seu salvador e assumir o controle?
— Não, esse é o seu modo — Austin atirou de volta. — Você faz o
seu trabalho, deixe-me fazer o meu e vamos ficar bem.
Luis balançou a cabeça. — Isso não funcionará por muito tempo, e
você sabe disso. Você não cederá a mim, e com certeza não vou ceder a
você. E nossos seguidores vão lutar entre si, a menos que a questão seja
decidida. Então, vamos lidar com isso de uma vez por todas — disse
Luis, empurrando seu cavanhaque pontudo no rosto de Austin. — Duele
comigo, vamos resolver a questão de quem está no comando.
— Como já disse antes, Alejandro está no comando — disse Austin.
— E não estou disposto a desistir de encontrá-lo tão cedo. Você está?
— E se não o encontrarmos? — perguntou Luis insistentemente. —
E então? Não podemos deixar o Movimento sem líder.
— E quanto a Rosa? — perguntou Austin. — Ela também é tenente.
Perguntei se alguém se lembraria disso, e eu estava absolutamente
fascinada para ouvir a resposta de Luis.
Eu posso dizer para você, disse Fang.
Não precisou, Luis disse para nós. — Ela não é líder, não é nada
além de uma dona de casa e uma aquecedora de cama — ele zombou.
— Ela é inteligente o suficiente para saber disso, e ela não quer esse
trabalho.
Chauvinista demais?
— Se não encontrarmos logo Alejandro, considerarei “resolver” o
assunto — disse Austin, com a voz forte.
— Quando? — exigiu Luis. — Ele está desaparecido há dias.
Quando você acha que é “apropriado” garantir que o Movimento tenha
uma liderança unida?
Austin parecia encurralado — e chateado. — Mais uns dois dias,
pelo menos.
— Tudo bem — disse Luis. — Se não o encontrarmos dentro de
dois dias, nos encontraremos em combate para decidir a liderança
conforme estabelecido em nossas antigas regras. Mas se você não me
encontrar no campo de honra nesse dia, na sua ausência você cederá a
liderança para mim, eu vou pegá-la e dane-se as consequências.
O silêncio reinou totalmente enquanto tentávamos absorver o
impacto do que significaria para o Movimento.
Nada bom.
Isso era certo.
Austin quebrou o silêncio, dando a Luis um olhar rígido. — Eu
concordarei em encontrá-lo somente se você concordar em trabalhar
comigo em vez de contra mim até então.
Oh, droga. Eu não podia acreditar que Austin tinha concordado em
lutar contra Luis pela liderança do Movimento.
Ele não tinha nenhuma escolha, disse Fang.
Infelizmente, Fang estava certo. Prendi meu lábio entre meus
dentes. O que um duelo envolvia? Pistolas ao meio-dia? Presas à meia-
noite? E como eles decidiam quem ganhava? Luta até a morte? Mano a
mano? Ou uma luta entre as duas facções?
Ainda mais importante, quem ganharia nessa batalha? Eu apostaria
em Austin, mas não subestimaria a astúcia e a malandragem de Luis.
Engolindo em seco, percebi que devíamos encontrar Alejandro
imediatamente, antes de Austin e Luis se enfrentem.
CAPÍTULO DEZOITO
VAL

—P or que devo trabalhar com você? — Luis perguntou a


Austin.
— Nós dois temos o mesmo objetivo, encontrar Alejandro, certo?
— Austin disse isso como se ele não estivesse seguro de que Luis quisesse
isso, e eu estava começando a me perguntar sobre isso.
Eu estava realmente cansada das zombarias de Luis, mas ele parecia
ter um suprimento interminável delas. — Como podemos ajudá-lo? —
ele exigiu. — Temos dois carros fora de serviço.
— Não é como se eu os tivesse explodido — eu o lembrei. — Você
já ouviu falar de pneus de reposição? Entre os três carros, eu aposto que
você terá o suficiente para consertar um deles, pelo menos.
Luis franziu o cenho, mas estalou os dedos para um de seus lacaios
para fazer isso. — Ligue para o auto clube — ele estalou para outro.
— Benjamin — Austin disse a um vampiro alto e magro no outro
carro, — você poderia trazer o mapa, por favor?
A diferença entre os dois homens era clara na maneira como eles
tratavam seus subordinados. O choque entre Luis e Austin era mais do
que apenas uma luta entre a velha guarda e os jeitos modernos — era
uma luta para moldar os próprios valores e princípios da organização
para o futuro. A força de ditador de Luis é a atitude que vai prevalecer...
ou seria a abordagem liberal e inclusiva de Austin e Alejandro?
Bem, olhe para você, senhorita sabichona. Fang estava maravilhado.
Irritada, o ignorei e me concentrei no que Austin estava fazendo.
Em vez de um mapa de papel, Benjamin abriu um mapa da área em
seu tablet. Usando o Google Earth, ele avançou para a área que cercava
a fazenda onde a polícia local havia relatado alguns problemas. — Uma
casa principal e dois edifícios menores — disse Benjamin. — Não muito
grande.
Austin assentiu e disse a Luis: — Através de um dos desvinculados
recrutadores nós soubemos que eles estão estruturados em unidades. —
Ele explicou o problema do dente oco. — Então, nosso primeiro
pensamento foi que provavelmente não há muitas pessoas lá.
— Exceto os desvinculados que o chamaram de campo de
treinamento — eu o lembrei.
Austin assentiu. — Eles também podem ter novos recrutas, não
tenho ideia de quantos.
— Precisamos primeiro fazer um reconhecimento — disse Luis.
Eles concordaram em uma estratégia geral, enquanto alguns dos
caras de Luis substituíram os pneus que eu atirei em um dos carros.
Outro ficou com o carro que sobrou, que não estava indo a lugar algum,
esperando que o serviço de guincho aparecesse. Isso deixou os outros três
vampiros se espremendo no banco traseiro dos outros três carros. Por
algum motivo, eles não queriam compartilhar comigo e Austin. Não que
eu estivesse reclamando.
Uma vez que estávamos cerca de quinhentos metros da fazenda,
todos seguimos para o lado da estrada onde podíamos esconder os carros
nas árvores escuras. Nós íamos a pé daqui, para não divulgar nossa
presença. Mas primeiro, Austin e Luis enviaram olheiros para verificar a
área.
— É realmente possível se esgueirar de um vampiro? — eu perguntei
quando saí do carro.
Austin deu de ombros. — Sim. Em uma cidade lotada, pessoas e
barulho estão sempre por perto. Nós tendemos a se adaptar aos sons na
maior parte do tempo, ou ficaríamos constantemente paranoicos.
— E aqui? Será que eles estarão mais alertas?
Ele encolheu os ombros novamente. — Depende de quantas pessoas
eles tem chegando e indo, quantos estranhos. Como é um campo de
treinamento, provavelmente há um grande número de desconhecidos,
mas, como eles operam em unidades, não deve haver muitos lá ao
mesmo tempo. Nós não podemos alertá-los imediatamente. — Ele olhou
de lado para mim. — Além disso, temos uma arma secreta.
— Que é?
Ele sorriu. — Você. Nós percebemos que a maioria dos
desvinculados são homens, eles não parecem ter muitos iniciantes
mulheres, pelo que já vimos.
Há! O chauvinismo aparecia toda vez.
— Então, se você não se importar de usar Lola para mantê-los sob
controle para que possamos questioná-los, evitaremos um monte de
derramamento de sangue.
— Ok. — Eu costumava matar vampiros para manter a luxúria e
Lola sob controle, mas eu não precisava mais fazer isso. Então, fiquei
feliz em ajudar de uma maneira que evitaria o derramamento de sangue,
especialmente para meus aliados.
Um dos homens de Luis deslizou ao lado de Austin e Luis. — Sem
patrulhas. Eles devem estar confiantes de que ninguém pode encontrá-
los.
— Quantos? — perguntou Luis.
— Talvez vinte — disse o olheiro. — Não tenho certeza. Todos
parecem estar na casa principal.
Oito contra vinte, Fang disse. As chances não são ruins quando você
considera que eu e você podemos controlá-los.
Essa podia ser a ideia de Fang de diversão, mas não era a minha.
— Você pode confirmar que eles estão todos na casa principal antes
de entrarmos? — Austin me perguntou.
Nunca pensei em usar Lola para fazer isso. Mas, no entanto, tudo o
que eu tinha que fazer era lançar Lola como um míssil caçador de
homens e ela poderia encontrar cada um deles.
— Eu devo ser capaz — eu disse a ele.
Luis assentiu, e nós caminhamos para os três edifícios. Somente o
principal tinha as luzes acesas, e os outros dois estavam escuros. Lola
verificou que não havia homens nos menores.
Deixei Lola sair lentamente, enviando seus tentáculos em busca de
luxúria na casa principal. — Dezesseis homens — eu sussurrei, sabendo
que Austin e Luis poderiam me ouvir. Os que estavam lá dentro estavam
festejando tanto que seria muito difícil de ouvirem qualquer coisa, de
qualquer maneira — gritando e se divertindo.
— Vergonhoso — ouvi Luis murmurar. — Sem dignidade.
Como se houvesse algo digno em sugar sangue. — O que você quer
que eu faça? — eu sussurrei.
— Você pode controlar todos eles? — perguntou Austin.
Fang bufou. Claro que ela pode.
— Claro.
Lola estava apenas testando suavemente seus chacras, mas, a
pedido de Austin, eu a empurrei para todos eles tão rápido que senti a
maioria deles se curvar com o movimento. — Eu os peguei.
Um coro de exclamações e “O que foi isso?” seguiu-se.
— Eu pensei que você os tinha — disse Luis em desaprovação.
— Eu os tenho, mas não posso lhes dizer o que fazer se não podem
me ouvir. — Idiota.
Austin assentiu e caminhou em direção à porta da frente, eu logo
atrás dele. Luis e os outros seguiram mais devagar, como se não
confiassem muito no demônio no meio deles — eu.
Austin atravessou a porta e arrancou o fio preso ao sistema de som.
Ótimo — silêncio relativo. Antes que eles pudessem se jogar em meu
namorado, eu gritei: — Parem!
Isto é uma batida! Fang gritou, e eu quase sorri. Mas já que ninguém
mais podia ouvi-lo, eu o acariciei.
Todos os desvinculados obedientemente congelaram, e eu olhei
com incredulidade. O que diabos eles estavam fazendo? Sem camisa,
com a maioria de seus peitos cobertos de sangue, eles estavam pulando
como selvagens na frente da lareira rugindo como se estivessem
ensaiando para O Senhor das Moscas. Frascos de bebidas e salgadinhos
estavam jogados em todos os lugares. Que merda é essa? Eles não
comiam alimentos humanos.
Não, Fang disse com severidade, mas eles comem humanos.
Oh, droga. — O que está acontecendo? — eu sussurrei para Austin.
Ele não me respondeu — ele apenas parecia sombrio, seu rosto tão
duro quanto granito, e verdadeira raiva floresceu nos seus olhos quando
ele olhou ao redor da sala, aparentemente contando os vampiros como
estátuas. Doze. — Onde estão os outros quatro?
— Em outras salas — eu disse.
Luis enviou seus amigos para encontrá-los, e Austin deu aos outros
um aceno rápido de mão. De repente, minha visão foi bloqueada por três
enormes sanguessugas.
Aborrecimento me encheu.
Ele está tentando te proteger, Fang explicou.
Não preciso de proteção — Lola tem um bom controle sobre os
desvinculados. Tentei afastar um cara, mas ele não se moveu. Bem, eu
sabia como fazê-lo se mover.
Parei, apreciando a consideração de Austin. Mas eu também estava
um pouco horrorizada, imaginando se minha imaginação estava
evocando algo pior do que a realidade.
Vou verificar.
A voz de Austin veio do outro lado da parede que era o vampiro na
minha frente. — Val, estão todos aqui agora. — Como se Lola não
soubesse. — Você poderia pedir a todos que abrissem a boca?
— Abram suas bocas e as deixe abertas — eu pedi.
— Obrigado — disse Austin.
Ouvi um pouco de farfalhar ao redor, então Luis disse: — Apenas
três têm o dente falso. Nós os removemos.
— Eles devem ser os líderes — disse Austin. — O resto são
provavelmente iniciantes.
Benjamin apareceu atrás de mim. — Ei, chefe. Verificamos os
outros dois edifícios... parecem ringues de luta.
Era possível que o sangue em seus corpos viesse uns dos outros?
Não ele todo, disse Fang com severidade da outra sala.
Merda. Não senti mais homens na casa. Havia outros homens
aqui... mortos? Ou mulheres, mortas ou vivas? Lola não seria capaz de
senti-los.
Fang trotou de volta para ficar ao meu lado. Confie em mim, baby,
você não quer saber o que está acontecendo nas outras salas.
— Obrigado — Austin disse a Benjamin. — Val, você pode pedir
aos três líderes que respondam?
Demorou um momento para achá-los, mas eu o fiz, e ordenei a eles:
— Respondam a qualquer pergunta que eles perguntarem.
Austin levou eu e eles para a varanda onde o ar parecia muito mais
fresco e limpo. Somente Luis e Fang nos seguiram, e Austin fechou a
porta, provavelmente para bloquear minha visão da cena lá dentro. O
que diabos aconteceu lá?
— Quem está no comando aqui? — Luis perguntou aos três.
Suas mandíbulas se moviam para baixo e para cima e lateralmente,
mas nada aconteceu. Ainda bem que Austin pensou em remover os
dentes falsos.
— Responda a ele — eu ordenei, reforçando com uma onda da
marca especial de compulsão de Lola.
Em uníssono, eles disseram: — Zachary.
— Qual de vocês é Zachary? — perguntou Luis, batendo o dedo no
peito do mais alto.
— Nenhum de nós.
— Ele está lá dentro?
— Não, ele não está aqui.
— Onde ele está agora? — perguntou Luis. — Quando ele estará de
volta?
— Eu não sei.
— Onde está Alejandro? — perguntou Austin.
— Eu não sei.
Disco arranhado? — O que você sabe sobre o paradeiro de
Alejandro e Vincent? — eu perguntei, tentando superar as respostas de
três palavras.
— Mike e Ike deveriam matar Alejandro. Eles disseram que não
mataram, ele e o outro homem desapareceram.
— Desapareceram para onde? — perguntou Luis.
Dãã. Se estão desaparecidos, como esses Débi e Loide vão saber onde?
— Eu não sei.
— Onde estão Mike e Ike? — perguntou Austin. Uma pergunta
muito melhor.
— Não estão aqui.
Obviamente. — Você sabe onde eles estão agora? — eu perguntei.
— Não.
— Para onde eles costumam ir? — eu perguntei antes que Luis
pudesse torcer uma das suas cabeças em pura frustração.
— Clube Gothick, e muitas vezes atrás de idiotas nos parques,
especialmente o Parque HemisFair.
— E qual deles é o mais provável deles estarem? — eu perguntei.
— Não, eles...
Mas eu não ouvi sua resposta quando senti uma das cordas de Lola
abruptamente retroceder e voltar a entrar em mim. Seguiram-se uma
segunda e uma terceira, quase me dando chicotadas. Eu suspirei. Que
merda é essa?
Eles os estão matando, Fang me disse. Dentro da casa, o pessoal de Luis
estão matando os desvinculados.
— O que aconteceu? — perguntou Austin.
— Parem — eu disse, ofegante. — Diga-lhes para pararem de matar.
— Por quê? — perguntou Luis, uma borda dura em sua voz.
— Porque eles estão me machucando cada vez que matam alguém
em meu controle — eu estalei. — Eu vou perder o controle. — Além
disso, não era exatamente desportivo matar uma vítima indefesa.
Austin abriu a porta e gritou: — Parem. Parem o que vocês estão
fazendo até que lhe digamos o contrário. — Ele voltou para mim. —
Você está bem agora?
Eu balancei a cabeça, tremendo. Parecia que tinha três buracos
abertos na minha psique, mas eu estava viva. As restantes treze linhas de
vida ainda estavam intactas.
— O que eles disseram sobre onde os doces gêmeos costumam ir?
— eu perguntei.
— Eles ouviram que estamos perguntando sobre eles, então eles se
esconderam... em algum lugar que Mike e Ike pensam que nunca vamos
procurar.
— Temos o que precisamos — disse Luis. — Vamos matar o resto
e ir embora.
— Matar o resto? — eu repeti. — Como você sabe que todos eles
são ruins?
— Nós sabemos — disse Austin bruscamente.
Confie em mim, eles sabem, Fang concordou.
Como? Quando ele permaneceu em silêncio, eu disse, Diga-me. Ou
eu vou olhar por mim mesma.
Eu... droga, val, disse Fang, como se quisesse chorar. Não vá. Eles
violaram três meninas... antes e após as matarem. E, mesmo que algum deles não
tenha feito isso, eles não pararam os outros.
A angústia de Fang era tão grande que ele inadvertidamente
compartilhou sua memória comigo. Eu peguei um lampejo de lençóis
com sangue, olhos fixos sem ver e corpos mutilados.
Rapidamente, ele cortou a conexão, mas não antes de eu ter um
ótimo vislumbre do que tinha sido feito com aquelas pobres meninas. Eu
me afastei, tentando não vomitar.
Droga, eu esqueci que isso não era apenas uma guerra entre os
vampiros bons e maus, entre demônios bons e maus. Eu tinha esquecido
que humanos inocentes ainda estavam em perigo com os monstros. Eu
tinha esquecido quão importante era meu trabalho. Ninguém devia
sofrer esse tipo de tortura. Nenhuma família deveria ter que
experimentar esse tipo de perda.
Isso tinha que parar. Agora. Eu acenei bruscamente para Austin. —
Faça.
— Ao meu sinal, por favor, Val — disse Austin. Ele e Luis
empurraram os três homens de volta para a casa. — Atenção, meninos
— ele falou de dentro. Olhando para mim, ele disse: — Solte-os, por
favor — então fechou a porta novamente, permanecendo fora conosco e
com Luis.
Faça, Val.
Eu tiro uma estaca do meu cós na parte de trás, apenas por
precaução, então puxo Lola. Houve alguns momentos de ruído profano
de dentro, então de repente parou. O nosso lado tinha uma vantagem,
especialmente sobre os vampiros recém-transformados, então eu não
tinha dúvidas de que ganhamos. A coisa toda me deixou enjoada, mas
pelo menos os monstros não estariam prejudicando mais jovens garotas.
Austin virou para Luis. — Você cuidará das meni... dos quartos?
Luis assentiu brevemente. — Será minha honra ver que elas estão
sendo cuidadas. Deixe o resto aí... uma lição para Zachary e qualquer
um que tente prejudicar pessoas sob nossa proteção.
— Concordo — disse Austin.
Bem, eu gostei de Luis por ter dito isso. — Tem alguém... — eu
comecei a dizer, então me perguntei se eu realmente queria saber a
resposta a essa pergunta.
— Ninguém ficou vivo — disse Austin com um olhar sombrio.
Suspirei. Eu estava com medo daquilo.
— Você pode confiar em Luis para fazer o que é certo para os
humanos — disse Austin.
Eu assenti, um pouco surpresa, mas feliz em ouvir isso. Eu estive
me perguntando como Austin e Luis podiam estar do mesmo lado
trabalhando juntos no Movimento. Nisso, aparentemente, eles estavam
unidos.
— E eu chamarei o tenente Ramirez e avisarei o que aconteceu para
que ele possa lidar com isso — disse Austin. Ele me jogou suas chaves.
— Por que você não pega o carro? Eu quero me certificar de que nossos
homens estão bem e que eles estejam em ordem.
Ele estava obviamente tentando me afastar da carnificina. Bem, eu
queria fugir também. Caminhei em direção ao carro, Fang me seguindo.
Isso deveria parecer com uma vitória. Em vez disso, isso fez eu me
sentir deprimida e meio esquisita. Dezesseis pessoas perderam a vida esta
noite, e foi principalmente por minha causa.
Dezenove pessoas perderam suas vidas, Fang me corrigiu. Mas confie em
mim, aqueles dezesseis vampiros mereceram o que conseguiram. E você impediu
que os mocinhos se machucassem.
Talvez, mas havia algum mocinho aqui? Será?
CAPÍTULO DEZENOVE
VAL

A procura por Ike e Mike no seu parque favorito não produziu


nenhum resultado, então fui para casa desapontada. Nós
pensávamos que eles eram desvinculados individuais, talvez um grupo
de brutamontes. Mas sua organização, campo de treinamento e estrutura
tornou óbvio que eles estavam muito mais organizados do que
esperávamos. O que significava que haveria muito mais violência e
derramamento de sangue antes que acabássemos.
Essa percepção, combinado com o banho de sangue de mais cedo,
me deixou deprimida, e eu fui dormir, me sentindo doente e irritada com
o mundo. Quando acordei na tarde seguinte, não estava muito melhor.
Esta noite, eu tinha que ir ao jantar de aniversário de Jen, e eu não tinha
certeza de qual prefiro fazer menos — jantar com a minha mãe ou armar
para vampiros serem massacrados em massa. Nenhum parecia divertido.
No entanto, eu prometi, e Fang, Ivy, e eu dirigimos para a casa da
minha mãe e de Rick no pequeno carro de Ivy.
— Você disse que sua família é totalmente humana. Como eles se
sentem sobre outros demônios? — Ivy perguntou apreensivamente.
Dei de ombros. — Eles adoram Shade e Micah. Eles não parecem
ter um problema com ninguém além de mim. — Eu fiz uma careta. —
Foi difícil para a minha mãe ter uma filha adolescente que é uma súcubo,
ela não sabia como lidar com isso. — Ainda não sabe, na verdade. Rick
foi o único que me ajudou com isso. — Eles achavam que eu era uma
má influência para minha irmãzinha.
Fang bufou. Sua irmã mais nova é estúpida por si mesma.
Sim, mas minha mãe não via assim.
— Porque você sai com vampiros e demônios?
— Sim, isso, e porque Jen achava que queria ser como eu por um
tempo. — Eu fiz uma careta. — Depois que ela e Rick, meu padrasto,
foram sequestrados e quase mortos por vampiros desvinculados, acho
que ela superou essa fixação em particular.
Ivy parecia simpática. — Sim, eu posso ver por que seus pais podem
ter um problema com vampiros.
Era estranho bater na porta da casa onde eu cresci, mas não me
sentia bem-vinda o suficiente para entrar diretamente. Mamãe abriu a
porta, parecendo tão cautelosa quanto eu me sentia. Poderíamos passar
uma noite sem discutir?
Boa sorte com isso, disse Fang secamente.
Bem, eu estava cansada de brigar, então fiz uma nota mental para
manter isso leve. — Oi, mamãe — eu disse e estendi as mãos para dar
um abraço. Foi um pouco estranho, mas ela também estava tentando ser
legal, então estava tudo bem. — Algo cheira bem. — Realmente
cheirava, o aroma de alho, cebola e molho de tomate aromatizando o ar,
fazendo com que meu estômago rugisse em antecipação.
— Jen — ela falou sobre seu ombro, — Val e Fang estão aqui.
Coloque o seu gato no quarto, por favor.
Ah, isso não é divertido, Fang protestou sem entusiasmo.
Depois que Jen cuidou do gato, eu apresentei Ivy para mamãe, Rick
e Jen. Eles pareciam um pouco surpresos com todos os seus piercings e
joias, mas não demorou muito para Ivy deixá-los à vontade. — Muito
obrigada por me receberem em sua casa — ela disse. — Eu não conheço
muitas pessoas aqui, então foi tão legal todos vocês me convidarem.
As boas maneiras foram o suficiente para conquistar Rick, e
entramos na sala de estar e nos sentamos para conversar. À procura de
algo não relacionado a demônios para falar, eu disse: — Toma, Jen, eu
trouxe uma coisa para você. Feliz Aniversário.
Ela abriu o cartão de aniversário e gritou de prazer quando viu os
cartões de presente que eu havia comprado. — São minhas lojas
favoritas. Obrigada!
Mamãe me lançou um olhar decepcionado, mas eu a ignorei. Dar a
Jen o que ela queria em seu aniversário era mais importante do que
agradar a minha mãe.
— Isso é tão legal — Jen jorrou. — Agora vou conseguir o que eu
quero. — Ela lançou um olhar aflito para mamãe. — Não que eu não
tenha amado os suéteres que você me deu.
Mamãe fez uma careta. — Você pode devolvê-los amanhã.
Jen sorriu. — Obrigada... e eu realmente adorei o novo telefone. —
Ela deu a Rick um beijo na testa. Eu suprimi um sorriso. Eu acho que eu
sei de quem foi a ideia.
Um tinido soou na cozinha e mamãe disse: — O jantar está pronto.
— Ela olhou para Ivy. — Jen teve que escolher o que ela queria comer.
Espero que gostem de espaguete e almôndegas com pão de alho.
— Quem não gosta? — Ivy disse com um sorriso.
Nós nos sentamos para jantar e conversamos sobre pequenas coisas
— como a loja estava indo, como Jen estava indo na escola e sua nova
obsessão musical — um grupo que eu nunca tinha ouvido falar.
Cuidado, avisou Fang. Você é a próxima.
Estou à frente de você. Mamãe não aprovava que eu caçasse vampiros,
embora soubesse que era necessário, então eu não queria saber para onde
a sua pequena conversa iria. Quando mamãe se virou para mim, eu disse:
— Ivy está pensando em se mudar para cá permanentemente. — Pronto,
dê outra pessoa para ela se concentrar.
— Sério? — mamãe disse para Ivy. — Val disse que você é de
Sedona. Não consigo imaginar por que você gostaria de ir embora de lá.
Ivy encolheu os ombros e explicou sobre seus pais e a loja de pedras
que ela vendeu lá.
— Loja de pedras? — repetiu Jen. — É por isso que você tem tantos
piercings?
— Jen — mamãe disse em um tom de censura. — Não seja rude.
— Não, está tudo bem — disse Ivy. — Não me importo em explicar.
— Ela olhou para mim como se estivesse pedindo permissão, e eu
assenti.
— Sabem, eu sou um sussurrante de pedras preciosas — confessou
Ivy.
Soou muito melhor do que demônio das pedras.
E é por isso que ela fala isso, disse Fang com diversão.
— Se uma pedra é polida e cortada, ela mantém alguma
consciência, quanto maior a pedra, mais consciência ela tem.
— O que você faz com esse tipo de habilidade? — perguntou Jen,
parecendo fascinada.
— Bem, uma vez que as pedras geralmente assumem a
personalidade de seus donos, posso conseguir uma leitura sobre alguém
com base em como sua pedra reage, especialmente se elas estão na
presença de seus donos há muito tempo. Além disso, algumas têm outras
propriedades, como cura, clareza, aprimoramento de certas habilidades,
esse tipo de coisa. Algumas pedras são mais poderosas do que outras. —
Ela passou o dedo pelos piercings na orelha direita. — É por isso que eu
uso tantas delas. Não é uma escolha de moda, é para ter a pedra que
preciso quando precisar dela. Usar elas funciona melhor para mim do
que levá-las misturadas em uma bolsa ou no bolso.
— Sério? — perguntou mamãe, parecendo interessada. — Você
pode olhar uma pedra para mim, me dizer o que você sabe?
— Claro.
Mamãe entrou em outra sala e voltou carregando uma pepita
turquesa em uma corrente. — Alguém me deu isso e me disse que
ajudaria com a meditação, mas quando eu uso...
Ivy pegou de suas mãos e assentiu. — A pessoa que possuía antes
era um pouco negativa, amarga e irritada. — Ela olhou
apologeticamente para a minha mãe. — Essa pode não ser a pessoa que
lhe deu, mas a pessoa que vendeu.
— Ambos, a mulher que me deu vende pedras preciosas. E você
acertou sua personalidade perfeitamente. Você pode dizer isso pela
pedra?
— Sim, as pedras preciosas sintonizam nossas energias, depois as
absorvem e enviam de volta para o mundo.
— Não me admira que não tenha ajudado com a mediação —
mamãe disse, franzindo a testa. — Isso chacoalha meus nervos.
— Você pode limpá-la para ela? — eu perguntei.
— Claro — disse Ivy. — Muitas pessoas que vendem pedras não
percebem que uma limpeza simples liberará qualquer negatividade que a
pedra tenha.
Mamãe e Rick trocaram um desses olhares que os casais fazem onde
parecem ler as mentes uns dos outros. Mamãe assentiu e Rick disse: —
A pessoa que deu isso a ela fornece as pedras preciosas para nossa nova
loja. Elas não vendem bem, e nós nos perguntamos por quê. Agora
sabemos. Essa limpeza é algo que você pode nos ensinar?
— Claro, sem problema.
Outro olhar de casal, então ambos sorriram, e mamãe disse: — Você
está falando sério sobre se mudar para San Antonio?
— Sim, eu gosto daqui — disse Ivy. — E Val ofereceu me deixar ser
sua colega de quarto.
— Excelente — disse Rick. — Você está procurando um lugar para
estabelecer uma loja?
— Provavelmente eu vou. Mantive um pequeno inventário.
— Que tal vender em nossa loja?
— Que ótima ideia — exclamou Jen.
Ivy ficou surpresa, embora eu tivesse visto isso acontecendo. —
Vocês nem me conhecem — ela protestou.
— Estamos pensando em expandir nosso estoque nessa área — disse
Rick.
Mamãe assentiu. — As pedras metafísicas são muito populares na
fabricação de joias hoje em dia.
— Mas por que eu? — Ivy protestou.
— Você acabou de provar que você entende de pedras preciosas e
de suas propriedades muito mais do que nosso fornecedor atual —
ressaltou Rick. — Além disso, Val confia em você. E nós confiamos em
sua avaliação.
Eles confiavam? Isso era novo para mim. Surpresa e satisfeita,
perguntei: — Você quer que ela seja sua fornecedora e limpe suas pedras
preciosas? — Não era o mesmo que uma loja própria, mas era um
começo.
— No mínimo — disse Rick. — Você poderia rotulá-las como suas
propriedades, e saberíamos que estão livres de emoções negativas. Ou
podemos reservar uma vitrine de canto para você na loja onde você
poderia vendê-las você mesma.
Os olhos de Ivy se iluminaram. — Isso seria ainda melhor. Eu tento
combinar as personalidades das pessoas com a pedra certa para que elas
sejam compatíveis, além de eu projetar e reparar joias.
— Tenho certeza de que nossos clientes adorariam isso — mamãe
disse.
Ivy olhou para mim, obviamente imaginando o que eu pensava
sobre isso.
— Parece uma ótima ideia — eu disse. — Se for bom o suficiente
para você... a loja de pedras que você tinha em Sedona era muito grande,
não era?
— Sim, tínhamos muito tráfego turístico e venda por
correspondência. Mas eu trabalhava com meus pais e é muito trabalho
para uma pessoa. Isso seria perfeito, e eu acho que não teria que estar lá
o tempo todo se eu rotular as pedras. Além disso, meus pais estão
viajando pelo mundo coletando achados únicos, eles podem ajudar a
completar o inventário.
Os olhos de Jen se iluminaram. — Você poderia me ensinar o que
você sabe, para que eu possa vendê-las quando você não estiver lá. E eu
adoraria aprender a fazer joias.
Eu não podia ficar com ciúmes que minha irmãzinha estava
olhando Ivy como se ela fosse sua nova heroína. Fazer joias de pedras
bonitas era melhor do que tentar matar vampiros.
Sim, Fang disse com um sorriso de cachorrinho. Mas como a sua mãe
vai reagir quando sua irmãzinha quiser ter todos esses piercing como Ivy?
Esse é um problema delas, eu disse a ele, suprimindo um sorriso.
Mamãe sorriu. — Não é uma má ideia. O que você diz, Ivy? Se você
gostar da ideia, pode vir a nossa loja amanhã para dar uma olhada e
podermos discutir as opções de consignação e venda.
— Claro — disse Ivy.
— Ótimo — mamãe disse. — Val pode lhe mostrar onde é. —
Então, sobre o bolo de aniversário, ela me emboscou. — Como você está,
Val? Sinto muito que você e Shade não deram certo. Ele era um garoto
tão legal.
Merda. Pensei ter escapado da inquisição. Mas mamãe havia postos
os gravetos e acendido a fogueira antes mesmo de eu vê-la chegando.
Aceite e queime, disse Fang.
Dei de ombros. — Eu estou bem. — Eles não entenderiam nada do
que tinha acontecido, e eu não queria explicar isso a eles. Meu novo
mundo estava tão distante desta família perfeita de TV que eu não queria
que isso se espalhasse e estragasse mais do que já tinha feito.
— Você está saindo com outra pessoa? — perguntou Rick.
Eu empurrei um grande pedaço de bolo na minha boca para que eu
pudesse procrastinar enquanto eu me perguntava o que dizer. Eles
provavelmente não entenderiam por que eu estava namorando um
vampiro.
O que você acha?
Depois de engolir, eu menti: — Não realmente. — Eu esperava que
Ivy não dissesse nada. Eu deveria ter pensado em lhe pedir para não
mencionar Austin.
Por sorte, sua expressão era muito suave.
Não, ela manterá sua boca fechada, disse Fang. Ela entende que a sua
família não poderá ser legal com você namorando um sanguessuga.
Eu estremeci.
— Não se preocupe — disse Rick, acariciando minha mão. — Você
encontrará alguém algum dia. Não precisa ter pressa.
Eu dei-lhe um sorriso grato e verifiquei meu relógio antes que eles
pudessem me perguntar qualquer coisa que eles realmente não queriam
ouvir as respostas. — Oh, já é tão tarde? Me desculpe, mas precisamos
ir. Nós temos uma... coisa.
Bem, isso não pareceu nada suspeito, Fang estalou.
— Um encontro com Micah — Ivy mentiu suavemente. — Uma
coisa do Clandestino. Ele está nos vendo entre as folgas no clube.
Por que a mentira parecia muito mais fácil de acreditar vindo dela?
Você poderia aprender com ela.
Sim. Nós ajudamos mamãe a limpar a mesa, então eu abracei todos
como um adeus, desejei um feliz aniversário a Jen e nós fomos embora.
Uma vez que estávamos no carro de Ivy e nos dirigimos para longe
de lá, ela perguntou: — Você está bem? Você parecia tão quieta esta
noite. Se você não gosta da ideia de eu trabalhar com seus pais, vou dizer
a eles que eu mudei de ideia.
— Não, está tudo bem, sério. Fico feliz que isso possa ajudar vocês.
Val está dizendo a verdade, Fang disse a Ivy. Ela não aprendeu a mentir
tão bem como você.
Pensei que Ivy ficaria ofendida com isso, mas Fang obviamente a
conhecia melhor do que eu. — Somente para ajudar um amigo — ela
disse com uma risada. — Era óbvio que você estava desconfortável com
as perguntas da sua mãe e queria ir embora.
Ela me lançou um olhar curioso, então eu expliquei: — Você viu
meu estilo de vida e o deles. Você acha que os dois são compatíveis de
alguma maneira?
— Não, mas eles são sua família.
— E é por isso que eu quero mantê-los tão longe de vampiros e
derramamento de sangue quanto eu puder. Eles já tiveram angústia
suficiente por minha causa. — Eu não tinha certeza de que a minha mãe
algum dia me perdoaria. — Esta noite, tudo estava indo tão bem que eu
não queria estragá-la. — Balançando a cabeça, eu digo, — Eu não
pertenço mais ali.
— É mais do que isso — disse Ivy. — Você ficou quieta o tempo
todo. Algo ruim aconteceu na noite passada?
Você meio que poderia dizer que sim, Fang disse secamente.
Eu atirei a ele um olhar irritado. Agora, eu não conseguia ignorar
isso e fingir que tudo estava bem.
— Mais ou menos.
— Você quer explicar?
Na verdade não, mas suspirei e decidi explicar antes de Fang ter
dado a versão dos eventos. — É só que houve mais... derramamento de
sangue na noite passada do que eu esperava. — Matar vampiros
individualmente parecia justo, correto, quando eu sabia que eles eram
maus e mereciam morrer. Mas segurá-los para serem mortos não pareceu
legal para mim, mesmo que claramente mereciam isso. Não parecia
desportivo, de alguma forma. Isso fez eu me sentir como um monstro.
Eles mereciam morrer, disse Fang. Até mesmo Austin concordou.
— Eu sei, mas o modo como foi feito que me incomodou —
expliquei a Ivy. Seu silêncio sem julgamento deu a coragem de
acrescentar, — Às vezes... eu me sinto como um monstro. Quero dizer,
eu sei que essas pessoas mereceram morrer pelo que fizeram, mas por
que eu tenho que ser a executora?
— Não é isso realmente o que está incomodando você, não é? —
Ivy perguntou suavemente.
— Parcialmente. — Mas ela estava certa, havia mais. Muito mais.
— Aquelas meninas... Deus, foi horrível. — A pior coisa que já vi,
mesmo que tenha sido de segunda mão. — E quando Austin me pediu
para segurar aqueles caras para que eles pudessem matá-los, eu
simplesmente o fiz, como se fosse perfeitamente normal. Que tipo de
pessoa faz isso?
— Incomoda você que ele pediu para você fazer isso.
— Sim, eu acho. Embora eu entenda o porquê — eu me apresso
para dizer. — Eu sei que ninguém quer me tratar como sua ferramenta
pessoal de matar... — Mas Micah também fez isso.
— Mas acontece de qualquer maneira, e isso dói.
Sim, Ivy entendia.
Fang lambeu minha mão e se aconchegou contra mim. Eu também.
Eu esfreguei suas orelhas desalinhadas. Sim, eu sei. Obrigada.
— Ele não é uma pessoa ruim, sabe — acrescentou Ivy. — E você
também não é.
— Eu sei. Mas que tipo de existência é essa para qualquer pessoa?
— Certamente, não esperava isso uns seis meses atrás. — Será assim o
resto da minha vida? Andando para morte, sangue e dor? — Eu ficaria
tão acostumada com isso que isso se tornaria normal? Que eu me
tornaria igual aos monstros que eu matava? Eu acho que eu não poderia
fazer isso.
— Eles pedem isso a você porque você pode fazer o que ninguém
mais pode fazer tão bem. Você é especial, Val. As pessoas precisam de
você, precisam de suas habilidades... de seu coração.
Olhei para ela com descrença.
— Não, sério. Sua família, Micah, Austin, todos eles te amam e
sabem que você é a única forte o suficiente para assumir os encargos do
que você faz. Seu coração é grande o suficiente para pegar toda essa dor,
morte e tristeza sem ficar sombria. Outros não entendem isso e podem
se ressentir por sua especialidade, mas todos te respeitam.
— Verdade? — Eu queria acreditar nela, mas não tinha certeza se
eu podia.
Ela está falando a verdade, Fang me assegurou.
— Sim, você está dando tudo o que tem para salvar seus amigos,
pessoas que você não conhece e toda a cidade. Eles precisam de você,
Val. Você é a heroína deles.
Ela provavelmente quis dizer isso para me fazer sentir bem, mas,
em vez disso, isso me fez sentir inadequada, como se estivesse
carregando as esperanças de todos em meus ombros sozinha.
Não sozinha, Fang me lembrou com um empurrão de seu nariz. Eu
ajudo.
Graças aos céus por isso. Não sei o que faria sem você.
Provavelmente morreria sozinha em uma morte horrível, Fang especulou
em particular.
Ele me fez rir, o que provavelmente era sua intenção.
— O que é tão engraçado? — Ivy perguntou.
— Oh, apenas Fang sendo Fang — expliquei, então suspirei.
Eu só queria que a sua família tratasse você como a heroína que você é, em
vez de como uma criminosa, Fang disse, soando impaciente, transmitindo
para nós duas novamente.
— Sim, eu também.
Por isso você continua retornando para a cena do crime?
— Crime? — Ivy perguntou, parecendo confusa.
Deles, disse Fang. Quando a expulsaram.
— Eles não foram tão ruins esta noite. — Na verdade, foi melhor
do que há alguns meses. Influência de Ivy? Mas, no entanto, depois do
que aconteceu na fazenda, suas ações não pareciam mais tanto como um
crime.
O que Fang disse de repente foi assimilado. Espera. Era possível que
Mike e Ike fizeram o mesmo? Voltaram para a cena do crime?
CAPÍTULO VINTE
AUSTIN

A ustin andou através do Parque HemisFair, juntamente com cerca


de vinte outros membros do Movimento, procurando qualquer
sinal dos evasivos doces gêmeos, como Val os chamou, e advertindo aos
humanos que não era seguro estar lá a essa hora da noite. A maioria dos
que eles advertiram não eram exatamente inocentes, e embora eles
pensassem que eles eram fodões, eles não seriam capazes de se defender
contra o tipo de predadores em que os desvinculados tinham se
transformado.
Eles enxotaram alguns desvinculados, mas não os que estavam
procurando.
Austin sentiu o telefone vibrar no seu bolso e o puxou. Não era uma
mensagem de texto de um dos membros do Movimento como ele
esperava, mas uma ligação de Val.
— Olá, querida — ele disse e suprimiu um sorriso. Essa saudação
particular inevitavelmente parecia despertar confusão em Val, e ele
adorava ver como um pouco de carinho transformava a formidável
Caçadora em um adorável aglomerado de hormônios conflitantes. Não
era tão satisfatório pelo telefone quando ele não podia ver o efeito de
suas palavras, mas ele tinha uma excelente imaginação.
— Oi — Val disse, afastando sua tentativa de deixá-la
desconfortável facilmente. Ele teria que encontrar outra maneira de
deixá-la balançada — estava se tornando bastante divertido.
— Como foi a visita a sua família? — ele perguntou, continuando a
andar enquanto mantinha um olhar atento em todos os desvinculados.
— Foi boa — ela disse com desdém. — Mas algo que Fang disse me
fez pensar. Você deixou alguém na casa de sangue no caso de Alejandro
e Vincent voltarem?
— Não, procuramos por toda ela e não encontramos nenhum sinal
deles. Quando eles retornarem, é mais provável irem para a mansão
principal.
— Foi o que eu pensei — Val disse com satisfação. — Então, por
que Lola está lendo dois homens dentro da casa de sangue agora?
Austin parou. — Dois homens? Você está pensando em
desvinculados? Ou mais dos seguidores de Emmanuel?
— Não. Os desvinculados disseram que Ike e Mike estavam em
algum lugar que nunca pensaríamos em procurá-los. E se eles decidiram
voltar para a cena do crime?
Era estúpido o suficiente para ser possível. — Você ainda não
entrou, não é? — ele perguntou com urgência.
— Não, Ivy está comigo, então estacionamos a algumas casas da
casa de sangue e eu furtivamente verifiquei.
— Eu poderia lhe impor que espere até eu chegar aí antes de entrar
e abordá-los por conta própria? — Ele sabia que ela era perfeitamente
capaz de fazer isso, mas esse era um confronto que ele queria estar de
frente.
Val riu. — Fang disse que você está aprendendo... você não me
ordenou para esperar por você.
Ele sorriu. — Eu posso ser ensinado.
— Claro, vou esperar. É por isso que liguei antes de fazer qualquer
coisa. Achei que você gostaria de fazer o interrogatório.
— Obrigado. Vou pegar algum apoio e encontrá-la aí. Espera pela
minha mensagem.
Ela concordou e Austin desligou. Como ele havia organizado antes,
ele mandou uma mensagem em grupo para todo o seu pessoal se
encontrar no estacionamento e estarem preparados para se retirar. O
pessoal de Luis podia continuar procurando no parque por conta própria,
apenas no caso de os dois intrusos não serem os doces gêmeos. Austin
debateu consigo mesmo por um momento, depois ligou para Luis e
deixou um correio de voz, dizendo-lhe que estavam seguindo um palpite.
Se o tecnofóbico Luis recebesse a mensagem tarde demais, isso era
problema dele.
Austin encontrou sua equipe no estacionamento e instruiu os
motoristas dos outros dois carros a se dirigirem para a mansão que Val
chamava de casa de sangue.
Quase lá, um dos motoristas ligou para que ele soubesse que eles
estavam sendo seguidos.
— Por quem? — perguntou Austin.
— Não tenho certeza, mas acho que é Luis.
Austin parou em um estacionamento vazio e acanhado do bairro e
esperou. Como esperado, Luis parou ao lado dele.
Austin abaixou a janela e Luis fez o mesmo. — O que está
acontecendo? — perguntou Luis com desconfiança.
— Val disse que há dois homens dentro da antiga mansão de
Emmanuel. Eu vou verificar, vê se são os desvinculados que
procuramos.
— Então, por que você parou aqui? — perguntou Luis, franzindo a
testa.
Para evitar que você os assustasse, Austin pensou para si mesmo. Mas
em voz alta, ele disse: — Coordenar um plano. Não queremos assustá-
los, então vamos estacionar algumas casas de distância, cercar o lugar
silenciosamente e ir encontrá-los.
Luis assentiu bruscamente. — Vou pegar a frente. Você pega a parte
de trás, e ambos colocamos homens nos lados no caso de tentarem sair
pela janela.
Luis precisava tentar tomar o controle, não é? Não valia a pena
argumentar, então Austin disse: — Tudo bem. Vou te enviar uma
mensagem quando meus homens estiverem no lugar.
Ao olhar irritado de Luis, Austin alterou. — Eu vou escrever para
Catalina. — Luis sabia como enviar uma mensagem?
Luis assentiu bruscamente e ergueu a janela. Suspirando, Austin
colocou o carro em marcha novamente e ligou para Val. — Estamos
quase lá. Luis irá pela frente. Você pode me encontrar na parte de trás?
Vamos nos certificar de que não podem escapar.
Val hesitou. — Eu posso fazer isso sozinha, se você quiser.
— Eu sei, mas isso é algo que precisamos fazer... fará com que todos
se sintam melhores se derem uma mãozinha para encontrar Alejandro.
Eu gostaria de mantê-la na reserva, ok?
— Tudo bem — ela disse. — Eu vou te encontrar lá. — Ela fez uma
pausa, depois acrescentou: — Ei, você pode me dar uma carona para
casa? Ivy quer ir para casa.
— Claro.
Pouco tempo depois, Austin encontrou Val e Fang esperando
silenciosamente no quintal da mansão. Ela apontou para o andar de
cima, para que ele soubesse onde estavam os dois intrusos. Ele assentiu,
depois destrancou a porta dos fundos e enviou uma mensagem à Catalina
para que Luis soubesse que todos estavam no lugar.
Vá, foi sua resposta.
Ao ouvir a entrada insensível de Luis na casa, Austin desistiu de
todas as tentativas de subterfúgio. Explodindo pela porta, ele correu pela
cozinha e subiu as escadas, ouvindo o grito de Luis: — Espalhem-se.
Encontre-os.
Por sorte, ele tinha seu próprio sistema da casa com ele. — Primeira
porta à direita, no alto da escada — disse Val, bem nos seus calcanhares.
Mas ele não precisou abrir a porta, porque eles vieram ao seu
encontro, grunhindo e lutando para passarem. Ike e Mike. Austin
agarrou um deles e bateu ele contra a parede. Jeremy, agora quase curado
de sua lesão, fez o mesmo com o outro. Ele tinha contas a acertar. Com
a ajuda do resto de seus homens, subjugaram os gêmeos quando Luis
veio subindo as escadas.
— Val? — Austin disse.
Isso era tudo o que ele precisava dizer, porque ela entendeu
perfeitamente. — Parem! — ela gritou, e Fang grunhiu para incrementar.
Austin sentiu um dos gêmeos enrijecer contra o controle dele, mas
ele parou de lutar.
— Eu os tenho — Val disse desnecessariamente, provavelmente
para o benefício de Luis.
— Confira suas bocas — ordenou Luis.
Já que Austin já estava fazendo isso, ele decidiu não responder, mas
acenou com a cabeça para Jeremy, que tinha olhado para ele pedindo
permissão.
Como esperado, o doce gêmeo tinha o negrume revelador dos
dentes ocos que os desvinculados usavam. Austin o tirou da boca do
gêmeo e o pousou debaixo de sua bota. Jeremy fez a mesma coisa.
— Foram estes os homens que você viu aqui na noite em que
Alejandro desapareceu? — Luis perguntou.
— Sim — Val disse, então olhou para os dois homens. — Responda
as perguntas de Austin — ela ordenou.
Luis fez uma careta, mas Austin agradeceu que apenas uma pessoa
estivesse interrogando. Menos confusão dessa maneira.
Austin permitiu que um pouco de satisfação passasse por ele.
Finalmente, eles tinham os dois homens responsáveis pelo
desaparecimento de Alejandro. Agora ele poderia acabar com essa
agonia. — Quem é você? — ele perguntou ao cara que ele tinha batido
contra a parede.
— Ike.
— Onde está Alejandro, Ike?
— Eu não sei.
O quê? Porra, isso não poderia estar acontecendo. — Você tem que
saber... você estava lá na noite em que ele desapareceu. — Ele estava tão
frustrado que ele não sabia o que perguntar depois.
Val veio em seu socorro. — Você veio aqui naquela noite para
assassinar Alejandro, não foi?
— Sim, essas foram nossas ordens.
— Diga-nos o que você sabe sobre aquela noite neste lugar.
Ike falou obedientemente. — Nós seguimos Alejandro e um de seus
homens para este lugar e esperamos que eles entrassem, depois os
seguimos para dentro. Imaginamos que eles seriam moles, fáceis de
pegar, um a um.
— Mas também havia um terceiro homem — disse Austin. —
Guillaume.
— Nós não sabíamos que ele estava aqui no início. Ele já devia estar
dentro, esperando por eles.
— O que aconteceu depois? — perguntou Austin.
— Nós os seguimos até a sala escura e escutamos eles conversarem
com Guillaume. Pensávamos que poderíamos pegar os três já que
tínhamos o elemento surpresa, então nós corremos para eles. Guillaume
era mais rápido do que pensávamos, e ele estava com Mike preso no altar
em pouco tempo, então fui ao resgate do meu irmão.
— Onde estava Alejandro neste momento? — Luis rosnou.
Ike não respondeu, então Austin disse: — Responda esta pergunta,
Ike.
— Contra a parede oposta. Ele não podia sair pela porta porque
estávamos bloqueando o caminho. Seu homem estava tentando
convencê-lo a sair pela janela, tentando levá-lo para a segurança — disse
Ike com um desprezo mal escondido.
Aparentemente, ele não tinha respeito por um líder que não lutava
suas próprias lutas, mas Vincent fez o certo — especialmente porque era
óbvio que Alejandro era seu alvo. — O que aconteceu depois?
— Eu tive que salvar meu irmão, então peguei uma faca do altar e
esfaqueei Guillaume. Quando eu virei para pegar Alejandro, ele
desapareceu.
— Pela janela?
— Não. Um momento eles estavam de pé contra a parede, no
próximo, puf, eles sumiram. Desapareceram.
— Isso não é possível — grunhiu Luis.
Austin tinha que concordar. Ele olhou para Val. Eles ainda estavam
sob seu controle?
— Ele está falando a verdade — ela disse, franzindo a testa. — Pelo
menos, como ele vê. Diga-nos o resto e não esconda nada.
— Nós procuramos atrás das cortinas e em todos os lugares da sala
e fora da janela, mas não havia nenhum sinal deles. Depois de um tempo,
sentimos algum tipo de onda de choque, e todas as luzes se apagaram.
Pensando que talvez eles se teleportaram usando algum tipo de feitiço
ou algo assim, corremos para verificar o resto da casa. Quando ouvimos
suas vozes no saguão, pensamos que eram eles. Foi quando nós
encontramos com vocês. Nós fingimos que trabalhávamos para Luis e
conseguimos sair no Dodge.
Val olhou para Ike. — Você ouviu ou viu alguma outra coisa? Algo
incomum, fora do normal?
— Eu não, mas Mike sim. Ele estava de frente para eles antes de
desaparecerem.
— O que você viu? — Austin perguntou ao outro irmão com
impaciência.
— Uma nuvem roxa, com relâmpagos atravessando. Essa coisa os
engoliu.
Semelhante ao portal do demônio das sombras. Austin deu a Val
um olhar penetrante. Shade tinha mais a ver com isso do que eles
perceberam?
Apressadamente, Val disse: — Eu acho que conheço esse feitiço. —
Ela lhe lançou um olhar implorando, como se lhe pedisse para não
revelar a parte potencial de Shade nisso. Para dar ênfase, Fang cutucou
sua perna e olhou para ele.
Austin hesitou, então percebeu que ela provavelmente estava sendo
sensata. Se Luis pensasse que Shade tinha algo a ver com isso, ele
mataria o demônio das sombras. Austin acenou com a cabeça com
tranquilidade para ela. Ele não falaria de Shade para Luis, mas também
não deixaria de pegar o demônio das sombras.
— O que o feitiço faz? — Luis perguntou.
Val franziu o cenho para ele. — Eu não quero dizer nada até saber
com certeza. Deixe-me fazer algumas pesquisas na enciclopédia e ver o
que posso descobrir.
— Faça agora — disse Luis.
— Eu vou, mas está na minha casa, e minha carona foi embora.
Preciso que Austin me leve até lá. Pode levar algum tempo para
encontrar — ela disse cuidadosamente, obviamente tentando comprar
algum tempo.
Sabendo que Luis não tinha paciência para pesquisa e perda de
tempo, Austin não se surpreendeu quando o espanhol rosnou: — Me
avise assim que descobrir qualquer coisa. — O homem tinha grandes
problemas de controle.
Austin assentiu em reconhecimento, mas se absteve de prometer
qualquer coisa. — Devemos ir, Val?
— Sim. Quanto mais cedo descobrirmos, mais cedo podemos
continuar com nossas vidas.
— Espere um momento — disse Luis, levantando o queixo como se
ele fosse o rei da Espanha. — Não esqueça sua promessa de duelo pelo
direito de liderar o Movimento. Não estamos muito mais perto de
encontrar Alejandro. Seu tempo acaba amanhã à noite.
Droga, ele tinha tentado esquecer disso. — Se não estiver ocupado
tentando achar Alejandro — ele retrucou.
— Você está rompendo sua promessa comigo? — O tom de Luis
implicava que Austin era um covarde.
— Não, estou tentando achar Alejandro. Esta noite, eu quero ver o
que posso descobrir sobre esse feitiço. — Interrogar Shade não demoraria
tanto tempo. — Se não pudermos encontrá-lo esta noite, vou encontrá-
lo no terreno do duelo amanhã à meia-noite.
Os homens ao seu redor se deslocaram em resposta — ansiosos ou
desconfortáveis, Austin não tinha certeza.
— Eu vou confiar na sua palavra — disse Luis severamente. — Vou
fazer os arranjos.
— Não — disse Austin. Ele não confiava em Luis para não colocar
uma armadilha ou deixar as coisas em sua vantagem. — Rosa vai fazer
os arranjos. — Ele poderia contar com ela para ela ser irritantemente
imparcial com os dois.
Luis assentiu bruscamente e então olhou para Val. — Os libere,
Caçadora, e nós cuidaremos deles.
Ela hesitou por um momento e assentiu. — Assim que eu sair pela
porta.
Eles saíram, e assim que eles fecharam a porta da frente atrás deles,
Austin ouviu uma agitação no andar de cima. Ele colocou um braço em
volta da cintura dela. — Perdeu o seu apetite pela violência, não é?
Ela parecia surpreendida pelo contato físico, mas, após um
momento de hesitação, apoiou a cabeça brevemente em seu ombro. Ele
ficou feliz com a sensação. Ela finalmente estava confiando nele.
— Praticamente, especialmente depois da noite passada. — Ela
ergueu a cabeça. — Embora eu ache que eu possa fazer uma exceção
para um demônio das sombras.
Austin assentiu. — Eu achei que parecia que Shade pudesse ser o
responsável. Mas seus portais são normalmente verdes, não são?
Val se afastou dele. — Sim. Vamos. Vamos descobrir o que
realmente aconteceu naquela noite.
CAPÍTULO VINTE E UM
VAL

A ustin me levou para o quarteirão onde ele tinha estacionado seu


carro. — Nós vamos para até Shade? — ele pergunta.
O que você vai fazer com Shade? Fang pergunta. Forçar Lola em sua
garganta? Isso vai acabar realmente bem.
Eu obriguei Shade a fazer coisas o suficiente nos últimos meses. Se
eu tiver que fazer, eu disse a Fang. Mas talvez eu não fizesse.
— Sim — eu disse em voz alta para Austin. — Mas deixe-me ver se
Ivy está disponível para ir com a gente primeiro. Ela pode dizer quando
Shade está mentindo.
Austin me deu uma sobrancelha arqueada, mas não disse nada.
Não, ele é muito esperto. Ele sabe porque você não usa Lola em Shade.
Liguei para ela e perguntei: — Você ainda está acordada?
— Sim, achei melhor esperar até você chegar em casa para ir dormir.
— Ela riu. — Eu poderia combinar meu ciclo de sono com o seu.
— Ótimo. Nós pensamos que Shade pode ser responsável pelo
desaparecimento de Alejandro. Você pode ir conosco? Para temos
certeza de que ele está dizendo a verdade?
Ela não respondeu, e perguntei: — Ivy?
— Desculpe, eu estava tentando lembrar a nossa primeira conversa
com ele. Você nunca perguntou se ele tinha alguma coisa a ver com o
desaparecimento. Claro, posso ajudar.
— Certo, ótimo. Nós vamos pegá-la.
Verifiquei a hora. Micah devia estar fechando o clube agora, então
o próximo que liguei foi para ele. — Ei, Micah, nós achamos que Shade
sabe mais do que ele está falando sobre o desaparecimento de Alejandro.
Os dois vampiros que tentaram sequestrá-lo disseram que ele
desapareceu em uma nuvem que soa muito parecida como um dos
portais de Shade.
— E você acredita neles?
— Sim, eles estavam sob a influência de Lola na hora. Você pode
vir conosco para interrogá-lo?
Micah suspirou. — O que você acha que posso fazer que você não
pode?
— Ele respeita você como líder do Clandestino. Se você pedir a ele
para nos dizer toda a verdade, ele provavelmente irá. — E Micah deveria
saber por que eu não queria usar Lola em Shade — desde que Dina o
usara como seu escravo amoroso, o pobre tinha estado cansado de
súcubos forçando-o a fazer suas vontades por toda a vida.
— Certo, espere. Deixe-me verificar uma coisa. — Ouvi seu teclado
clicar, então ele disse: — Shade está no plantão de vigia esta noite. Ele
não está longe de sua casa. Vou lhe pedir que nos encontre lá.
— Tudo bem para mim. — Eu desliguei e disse a Austin o que
Micah havia dito. — Ainda temos alguns minutos.
Meu estômago resmungou, e Austin me deu um sorriso de lado. —
Com fome?
— Eu acho que sim. — Foi uma longa noite. — Podemos parar e
pegar algo para comer no caminho?
Pizza? Fang perguntou esperançosamente.
Eu revirei os olhos. — Ok, pizza. Há um supermercado vinte e
quatro horas não muito longe da minha casa.
Nós paramos lá, e peguei a marca congelada favorita de Fang,
depois chegamos a minha casa ao mesmo tempo que Shade e Micah.
Deixei todos eles entrarem, e Ivy pareceu surpresa. — Mudança de
planos — eu disse a ela. — Vamos fazer isso aqui.
Ela olhou para a caixa de pizza em minhas mãos. Dei de ombros.
— Nós ficamos com fome.
Sorrindo, ela a pegou de mim. — Eu vou esquentar.
Enquanto Ivy ia para a cozinha, eu acenei para que os homens se
sentassem na sala de estar.
Eu ainda não posso lê-lo, Fang me disse e se inclinou contra Shade
para que pudéssemos pelo menos ver sua expressão.
O demônio das sombras pareceu apreensivo. — Isso é sobre o quê?
— Estamos aqui por causa da noite em que Alejandro desapareceu
— disse Micah. — E preciso de sua ajuda.
— Tudo bem — Shade disse cautelosamente.
— Lembra daqueles dois vampiros que vieram correndo para o
saguão depois que você quebrou o cristal? — eu perguntei.
— Sim.
— Bem, foram eles que tentaram matar Alejandro. Mas ele
desapareceu antes que pudessem fazer qualquer coisa.
— E daí? — Ele parecia confuso enquanto Ivy voltava para a sala.
Ela se sentou atrás de Shade para que eu pudesse ver seu rosto, mas
Shade não pudesse.
— Então, eles disseram que ele desapareceu em uma nuvem roxa.
Você sabe, como aquela que você faz quando você está construindo um
portal.
Irritação cintilou sobre seu rosto, ele ainda não tinha aperfeiçoado
o truque de esconder suas emoções. — Eu não fiz um portal naquela
noite. E meus portais são verdes, não roxos.
Ivy tocou uma pedra em sua orelha e assentiu com a cabeça para
me informar que ele estava falando a verdade.
— Normalmente, sim. Mas você tem certeza de que não era seu? —
O que mais poderia ter sido?
— Claro que tenho certeza. Você estava lá, você não viu um, não é?
Verdade, mas os vampiros que interroguei não eram capazes de
mentir, não com Lola em seus chacras. — Mas você estava tentando criar
um, não estava?
Shade encolheu os ombros, parecendo irritado.
— Você nunca falhou antes — eu continuei. — Por que naquele
momento foi diferente?
— Quem sabe?
Austin inclinou-se para frente. — Quando chegamos, você estava
gesticulando para a sala do altar, onde Alejandro desapareceu. Você
acha que fez isso por acidente?
— Eu duvido.
A pergunta de Austin me lembrou o que mais Shade estava fazendo.
— Você parecia estar dizendo as palavras de um feitiço. Você estava?
Shade lançou um olhar para Micah, como se estivesse se
perguntando se deveria dizer mais alguma coisa.
— Por favor — disse Micah. — Tudo o que você puder compartilhar
pode nos ajudar a encontrar Alejandro.
— Sim — disse Shade secamente. — Eu estava tentando usar um
feitiço. Não funcionou.
— Que feitiço?
— Era algo com o qual os livros me ajudaram.
Jesus, era como arrancar presas. — Que feitiço? — perguntei com
mais vigor.
— Como deveria funcionar? — acrescentou Micah.
— Deveria fazer um portal unidirecional.
— Para quê? — eu perguntei, surpresa.
Shade apertou os lábios, parecendo que não queria responder.
Austin apertou minha mão. — Você não me disse que Shade não
podia passar por um dos seus próprios portais? — Ao acenar, ele
acrescentou: — Então eu imagino que ele estava tentando encontrar um
feitiço que lhe permitisse se enviar através de um portal, para que ele
pudesse recuperar o corpo de Sharra.
Claro que ele estava. Fechei meus olhos momentaneamente em
descrença. Eu não precisava ver a expressão de Shade para saber que era
verdade.
— Era isso o que você estava fazendo? — Micah perguntou,
parecendo irritado.
— Sim — disse Shade, a palavra curta e irritada.
Ivy assentiu com a cabeça — ele ainda estava falando a verdade.
— Por quê? — perguntou Micah, parecendo desconcertado. —
Você não vê que isso é perigoso?
— Porque ninguém passaria por mim... eu tinha que achar uma
maneira de levar a mim mesmo a dimensão demoníaca.
— E como você estava planejando voltar? — exigiu o líder do
Clandestino.
— Da mesma forma que chegaria lá, usando o feitiço. O livro disse
que funcionaria do outro lado, também. Mas eu devo ter feito algo
errado.
Sim, e pensar que ele iria ficar desprotegido na dimensão
demoníaca, em primeiro lugar. — Eu não acho que você fez algo errado,
Shade. Eu acho que funcionou e que você enviou Alejandro e Vincent
em vez disso.
Ele estreitou os olhos para mim. — Como?
— Eu não sei, talvez esse feitiço particular abra portais a uma
distância, ao invés de abrir bem ao seu lado. Ou abre próximo de outra
pessoa mais próxima. Isso é possível?
— Não tenho ideia — ele disse.
Irritada, saí como um furacão da sala e fui buscar a enciclopédia.
Colocando os livros na mesa de café, falei para eles. — Mostre-me o
feitiço que você disse para Shade usar para abrir um portal unidirecional.
Um dos livros tremeu, como se estivesse se perguntando se deveria
me responder ou não. Merda — livros evasivos era o preço que eu teria
que pagar por me deixarem ficar como guardiã?
Talvez você possa pedir educadamente, sugeriu Fang.
— Por favor? — eu perguntei, me sentindo tola por ter que ser
educada com uma pilha de livros, pelo amor de Deus.
O livro estremeceu um pouco mais, luz saindo de suas páginas. Eu
abri onde estava a luz. — Este é o feitiço que você usou? — eu perguntei
a Shade enquanto a luz desaparecia para que pudéssemos lê-lo.
Ele correu os olhos rapidamente. — Sim. Mas veja, não diz nada
sobre funcionar à distância.
— Isso não significa que não funcione dessa maneira. Todos
sabemos que os livros são por vezes incompletos. — Como se quem os
escrevesse pensasse que saberíamos coisas que não sabíamos.
— Isso importa? — perguntou Austin. — Parece que pode ser para
onde Alejandro desapareceu.
— Sim, isso importa — eu disse. — Precisamos testar, ter certeza de
que foi o que aconteceu. Você não pode simplesmente ir correndo para
uma dimensão demoníaca sem saber como isso funciona.
— Não consigo mais abrir portais — Shade nos lembrou. — Você
se certificou disso com o amuleto, Val.
— Não, eu disse que você não poderia abrir mais portais sem a
permissão de Micah — eu o lembrei.
— Isso é verdade — disse Austin e olhou para Micah
triunfantemente. — Então, você dará permissão para ele testar, por
favor?
Micah franziu a testa, pensando. — Parece perigoso. Se você estiver
certa, Shade enviou Alejandro e Vincent por acidente. Não podemos
testar aqui... você não vai querer enviar seus vizinhos para uma
dimensão demoníaca.
Eu não sei, Fang falou devagar. Eu não me importaria com o vizinho ao
lado. Com o olhar questionador de Ivy, ele acrescentou, Ele odeia
cachorros. Ele acha que eu vou cagar no seu jardim ou algo assim.
Você faria isso? eu perguntei com curiosidade.
Fang não encontrou meus olhos.
Eu dei de ombros e disse a Micah: — É por isso que precisamos
testá-lo. — Eu pensei por um momento e depois disse: — Vamos a
escola. Eles têm um grande campo de futebol, então poderemos ver o
que está acontecendo. — Verifiquei a hora, um pouco depois das quatro.
— Ninguém estará lá a essa hora manhã.
Micah ainda parecia hesitante, então Austin disse: — Por favor,
Micah. Devemos saber se foi isso o que aconteceu. Você não gostaria de
deixar o Novo Movimento de Sangue sem líder, não é?
— Além disso, o portal é unidirecional — eu acrescentei. — Então,
nenhum demônio pode passar. O livro é claro sobre isso.
Micah assentiu relutantemente. — Ok, vamos testá-lo, mas se eu
disser para parar, você fechará o portal imediatamente, Shade.
Shade assentiu, parecendo estranhamente ansioso.
Claro que ele está. Ele percebe isso como uma maneira de recuperar o corpo
de Sharra.
Sim, eu sabia disso.
Nós nos dirigimos para a escola secundária local em dois carros,
devorando a pizza no caminho, e nos juntamos no campo de futebol. Era
estranho estar nesse lugar de normalidade, especialmente porque eu fui
educada em casa e nunca assisti a um jogo de futebol. Não era isso que
eu queria. Após o perigo e a excitação dos vampiros e demônios magos,
a ideia de assistir duas equipes de humanos lutarem por um pedaço de
pele de porco era bastante chata. Eu não entendia a atração,
especialmente na televisão, quando você não conseguia nem ver a pele
de porco na metade do tempo.
Talvez seja como as pessoas normais seguramente canalizam suas agressões
e encontram alguém para torcer, para dar a eles um sentimento de pertencimento
a algo maior que eles, Fang sugeriu. Você não precisa disso, isso foi substituído
pelo que você faz.
Talvez, mas eu ainda não entendia.
Nós ficamos no centro do campo, para nos dar muito espaço para
ver o que poderia estar acontecendo em todas as direções. Shade encarou
um conjunto de traves, e Micah disse a ele: — Vá em frente, tente, crie
um portal unidirecional.
Eu não podia ver a expressão de Shade, mas ele ergueu os braços, e
eu podia ouvi-lo murmurando em voz baixa. O resto de nós estava perto
e observou a área em frente a ele e em todos os lugares ao nosso redor,
apenas no caso.
— Ali, eu estou vendo — Ivy disse com entusiasmo.
De fato, uma nuvem roxa estava se formando há cerca de quinze
metros em frente a Shade. Demorou menos tempo do que eu lembrava.
Aparentemente, a habilidade de Shade foi aprimorada pelo cristal
estilhaçado também.
— Mantenha-o pequeno — disse Micah, — para que ninguém possa
passar.
— Eles não devem ser capazes, de qualquer maneira, se o que os
livros dizem é verdade — Shade o lembrou.
— Apenas por precaução — disse Micah em advertência.
Apertando os olhos, eu disse: — Não parece como os outros portais.
— Não estava tão próximo, obviamente, e era uma cor diferente. Mas
havia outra coisa diferente... a forma, talvez?
Eu vou verificar, Fang disse. Ele trotou para as margens e olhou de
lado. Hum, você está certa. Eles normalmente se formam como uma bola, mas
este é como um funil de lado. Como um estranho tornado roxo de lado.
Eu repito suas observações para Austin. — O lado menor é para nós
ou para o outro lado? — ele perguntou.
Eu repito a resposta de Fang. — A extremidade menor do funil é
para nós, bem no centro.
Austin assentiu com a cabeça e pegou uma bola de futebol verde
que alguma criança tinha perdido sob as arquibancadas. Então, com um
movimento dissipado, ele atira diretamente no centro da nuvem.
E ele marca!
— Passou pelo portal para a dimensão demoníaca? — eu pergunto.
Deve ter passado, porque isso se certificou de não passar para o outro lado.
— Sim, passou — eu disse a Austin, embora eu me perguntei o que
os demônios do outro lado pensariam de uma bola de futebol aparecendo
do nada. Eles escolheriam lados e jogariam um jogo? Minha mente ficou
confusa.
Eles provavelmente vão comê-la, Fang disse.
— Por favor, feche — disse Micah a Shade.
Lentamente, a nuvem de funil roxo encolheu e desapareceu.
— Bem, acho que isso explica — disse Austin. — A distância daqui
parece a mesma entre a escada e a sala do altar. Shade deve ter enviado
Alejandro e Vincent para a dimensão demoníaca. — Ele pareceu
aliviado, mas sombrio.
Sim, ele provavelmente está feliz por saber o que aconteceu ao seu chefe, mas
Jesus, dimensão demoníaca? Quem quer acabar lá? Não parece minha ideia de
um piquenique.
Para mim também.
— Eu não fiz isso de propósito — disse Shade rigidamente.
— Nós sabemos disso — eu o assegurei.
— Então, entramos e o pegamos? — Ivy perguntou.
— Não aqui — respondeu Austin. — Precisamos voltar no mesmo
lugar para ter a esperança de encontrá-lo. Ele provavelmente ficará perto
do portal, na esperança de o resgatarmos.
— Mesmo assim, é duvidoso — disse Shade. — O tempo pode ser
diferente em outras dimensões. Você poderia chegar alguns minutos
depois ou meses depois.
Eu não tinha percebido isso. — Eu entendo o que você quer dizer.
Se forem meses para eles, talvez eles não estejam mais perto do portal.
O maxilar de Austin enrijeceu. — No entanto, temos que tentar.
— E recuperar Sharra também? — Shade perguntou teimosamente.
— Claro — disse Austin. — O sol logo nascerá, então não posso
fazer isso agora. Você pode me encontrar na casa de sangue depois do
pôr-do-sol esta noite e abrir um portal de dois sentidos?
— Sim — Shade falou feliz.
Micah franziu a testa. — Não.
— Tudo bem — disse Shade. — Eu sei que você tem que se
apresentar no clube. Apenas me dê permissão agora para abrir um portal
esta noite. Isso deve atender ao requisito de conseguir primeiro sua
permissão. Certo, Val?
— Sim, deve. — Mas achei que não era por isso que Micah hesitava.
Micah balançou a cabeça, seus lábios firmes. — Eu quis dizer não,
não vou deixar você fazer isso.
— Por que não? — Austin perguntou, seu olhar se estreitando.
— Porque ainda é perigoso — disse Micah. — Lembre-se, a razão
pela qual não permitíamos que Shade reabrisse o portal em primeiro
lugar era porque havia muitos demônios completos esperando do outro
lado para entrar e despedaçar esse mundo. Você viu quantos estragos um
demônio completo causou durante o seu tempo aqui. Como posso
arriscar as vidas do meu povo, do seu povo e toda a cidade novamente?
Ele estava certo, mas fiquei com a boca fechada, não querendo
entrar entre meu namorado e meu chefe.
Sim, essa é uma situação de ninguém-ganha, Fang disse de acordo.
— Demônios do outro lado? — Ivy disse fracamente. — E eles
querem vir para este mundo?
— Sim — disse Micah. — Demônios completos... você pode
imaginar a destruição que eles fariam?
— Mas já fazem dias — protestou Austin. — Provavelmente não
estão mais se concentrando no portal.
Micah sacudiu a cabeça. — Como Shade acabou de nos dizer, o
tempo funciona de maneira diferente por lá. Você poderia voltar apenas
alguns minutos depois. Nós mal mantivemos os demônios longe da
última vez. Não estou confiante de que poderemos fazer isso novamente,
principalmente pelo tempo que pode demorar para manter o portal
aberto.
— Parece perigoso — Ivy disse.
— É mais do que perigoso — disse Micah. — É suicida.
— Bem, serão nossas vidas em risco — Austin disse.
— Estou disposto a arriscar — acrescentou Shade.
— Mas não são apenas suas vidas em perigo, é o mundo inteiro.
— E se usarmos o portal unidirecional para chegar lá para que eles
não possam vir para este lado, depois abrir um outro unidirecional para
voltar? — sugeriu Shade.
— Você não pode ter certeza de que vai funcionar assim —
protestou Micah.
— E se você for morto do outro lado, e Austin ficar preso por lá,
sem uma maneira de voltar? — eu retruquei. — Ou se demônios
seguirem vocês de volta pelo portal?
— De que lado você está? — perguntou Shade.
Austin parecia irritado, como se quisesse fazer a mesma pergunta.
— Eu estou do lado de manter o perigo ao mínimo — eu disse com
firmeza.
— E se pudermos minimizar o perigo? — perguntou Austin. — Se
certificar de que nenhum demônio passe para este lado?
Micah sacudiu a cabeça. — Não vejo como você pode garantir isso.
— Mas se pudermos, você vai permitir? — Austin persistiu.
— Talvez.
Austin assentiu como se Micah tivesse dito que sim. Eu sabia
melhor.
— Eu vou descobrir algo — ele disse de forma decisiva.
Nós nos dirigimos em direção aos carros, e eu andei devagar. Austin
diminuiu o ritmo para combinar com o meu. — Não tenho certeza de
que Micah concordará — eu avisei com calma. — Ele pode ser muito
teimoso. — Para não mencionar que era protetor do Demônio
Clandestino. Ele considerava seriamente sua posição como líder e de
manter o segredo de sua existência.
A mandíbula de Austin enrijeceu. — Eu também posso.
— Você não está pensando em forçá-lo, não é? — Porque eu não
podia permitir isso.
— Não, mas se eu trouxer Luis para isso, ele poderia.
— Então não traga Luis para isso.
— Eu poderia ter que fazer, para armar um plano que Micah irá
concordar.
— Que tal eu te ajudar, e nós só pedimos reforços para Luis quando
nós colocarmos o plano em ação?
— E se não pudermos encontrar algo que Micah irá concordar? —
desafiou Austin. — O que faremos então?
Eu não queria responder a essa pergunta, especialmente dado o
calor com o qual ele havia perguntado. — Você está realmente me
pedindo para ir contra os desejos do líder do Demônio Clandestino, o
meu chefe?
— Estou perguntando quem você apoiará, eu ou ele?
Eu balancei minha cabeça. — Não é uma questão de...
— Sem mais evasivas, Val. Quem você apoiará?
Nunca o vi parecer tão irritado. Suspirei.
Você vai ter que responder ele mais cedo ou mais tarde, Fang disse,
parecendo simpático.
Sim, posso muito bem escolher agora. — Me desculpe, mas tenho
que concordar com Micah nisto. Permitir que os demônios entrem neste
mundo é muito perigoso para arriscar, a menos que tenhamos um plano
infalível para mantê-los fora.
Eu não podia ver o rosto de Austin porque ele andou rápido, dando
as costas para mim.
— Austin? — eu chamei.
— Eu preciso voltar — ele disse por cima do seu ombro, sua voz
seca. — O sol logo aparecerá. Volte com Micah. — E, assim, ele foi
embora sem mim.
Oh-oh. Parece que alguém tem problemas no paraíso.
CAPÍTULO VINTE E DOIS
VAL

M icah levou Shade, Ivy, Fang e eu de volta para casa. Em vez de ir


para casa ou de volta ao trabalho, Shade perguntou se ele poderia
entrar um pouco.
— Por quê? — eu perguntei. Eu estava cansada e queria ir para a
cama. Além disso, eu queria pensar sobre o que acabou de acontecer,
sobre Austin ter ficado chateado por eu ter concordado com Micah e não
com ele. Eu realmente não podia culpá-lo por estar chateado, mas isso
seria uma repetição do que aconteceu com Shade? Eu não queria lidar
com mais homens chateados. E eu certamente não queria que outro
relacionamento acabasse justo quando parecia estar indo tão bem.
Mas eu também não queria que Austin fosse ao seu duelo com Luis
chateado. Provavelmente não seríamos capazes de recuperar Alejandro
à meia-noite desta noite, então eles se encontrariam nas terras do duelo
daqui a cerca de dezenoves horas.
— Eu só quero falar sobre recuperar Alejandro — disse Shade.
Sem mencionar o corpo de sua irmã gêmea.
— Não sou eu quem você tem que convencer, é Micah. — E eu não
estava a fim de discutir isso agora.
— Eu sei — disse Shade ansiosamente. — Mas eu tenho algumas
ideias que eu quero debater com você. Examinar algumas opções sobre
as quais pensei.
Ele não vai desistir e ir para casa até que ele tenha uma chance de conversar
com você, Fang me avisou.
Infelizmente, eu sabia que Fang estava certo. — Tudo bem, entre
por um instante.
Nós nos instalamos na sala de estar mais uma vez, Shade
acariciando Fang para que pudéssemos vê-lo.
— Tudo bem — eu disse, — estamos ouvindo.
— Bem, o grande medo de Micah é que vamos ter demônios saindo
do outro lado, certo?
— Sim, e já que isso aconteceu na última vez que você abriu um
portal de duas vias, você pode culpá-lo?
Ignorando isso e o fato de que Ivy parecia perturbada com a ideia,
Shade disse: — Então, e se verificarmos se há demônios do outro lado
primeiro?
— Como? Você tem um detector de demônios à disposição? — Ok,
eu estava cansada, então estava me sentindo um pouco irritada.
— Sim, eu tenho — disse Shade. — E você também.
— Hã?
— Os cães do inferno, eles podem detectar demônios e ouvir seus
pensamentos. Eles fazem isso todo o tempo.
Olhei para Fang. — Sim, mas através de dimensões? Não sei se é
possível.
Fang pareceu dar de ombros, mas Shade estava excitado. — Sim,
eles podem. Lembra do cão do inferno de Diesel, Max? Ele ouviu
demônios do outro lado durante a batalha na casa de sangue.
Eu pensei naquela noite. Lembrei-me de Max dizendo algo nesse
sentido. Olhei para Fang. — Isso é verdade?
Isso foi o que ele disse.
Sua frase era estranha. Suspeitamente, perguntei: — O que você
quis dizer com foi o que ele disse?
Eu quis dizer que Max disse que poderia ouvir do outro lado. Eu não sei se
é verdade.
Como Shade bloqueou sua capacidade de falar diretamente com
Fang, eu traduzi. — Fang não sabe se Max estava falando a verdade.
— É claro que ele estava — protestou Shade. — Max disse que havia
demônios se juntando do outro lado. — Ele fez uma pausa, seus dedos
apertando os pêlos de Fang. — Você disse que Max estava falando a
verdade, Fang.
Fang não encontrou meus olhos. Eu assumi que ele estava dizendo a
verdade, então eu o apoiei.
— Você assumiu que ele estava falando a verdade? — eu perguntei,
chateada. Nós deixamos Sharra do outro lado sozinha apenas confiando
em Max?
Parecia que Shade estava prestes a explodir uma junta. Não que eu
soubesse o que era uma junta, mas explodi-la não parecia bom. Fang
esperto — ele se afastou do aperto do demônio das sombras em seu pêlo.
— Quem é Max? — Ivy perguntou.
Distraidamente, eu respondi: — Outro cão do inferno. Pertence ao
Paladino de Albuquerque, Diesel.
Eu fiz o que tinha que fazer, Fang disse na defensiva. Havia demônios
passando pelo portal e nós tínhamos que pará-los.
— O que Fang está dizendo agora? — Shade exigiu.
Eu não queria admitir a parte potencial de Fang ter deixado a irmã
de Shade presa do outro lado. Você ouviu os demônios do outro lado?
perguntei a Fang em particular.
Não, mas eu não tentei. Eu estava muito ocupado chutando bundas deste
lado.
— Ele acreditou na palavra de Max — eu disse a Shade.
Os olhos de Ivy se arregalaram.
De olhos arregalados, Shade levantou, girando rápido em agitação.
— Max foi o único que disse que Sharra estava morta. Isso significa que
ela ainda poderia estar viva — ele exclamou. — Mais uma razão para
nós montarmos uma operação de resgate.
— Você não sabe disso. Max pode ter dito a verdade.
— E ele pode ter mentido para nos convencer a fechar o portal —
Shade apontou.
Ivy mordeu o lábio. — Sharra é um demônio das sombras como
você, certo?
— Sim, ela é minha irmã gêmea.
— Então... se ela ainda está viva, ela não poderia abrir um portal do
outro lado para voltar?
— Ela não pode passar por um portal que ela criou — eu disse a ela.
— Mas ela não poderia criar um para nos informar onde ela está?
— Ivy persistiu.
— Se ela pudesse — disse Shade, parecendo desesperado. — Ela
pode estar inconsciente ou muito fraca.
Ele estava atirando para todos os lados. — Mesmo que Sharra
estivesse viva quando ela passou, isso não significa que ela ainda esteja
— eu o lembrei.
— Isso também não quer dizer que ela esteja morta — Shade disse.
— Qual é o número de Diesel? Eu quero ligar agora para ele e descobrir.
— Eu não tenho, mas Tessa tem. — Quando ele pegou o telefone,
eu adicionei: — Você pode querer esperar para ligar para ela, já que ainda
é um pouco cedo. — Tentando distrair Shade e acalmá-lo, eu acrescento:
— E quem dirá que Diesel lhe dirá a verdade? — Não era como se Lola
pudesse obrigá-lo através das linhas telefônicas.
Shade olhou para Ivy. — Suas pedras podem saber?
— Não pelo telefone, tem que ser pessoalmente. Desculpa.
Shade murmurou alguns xingamentos baixinho e começou a andar.
Provavelmente imaginando como ele pode ir à Albuquerque e conseguir a
verdade de Diesel e Max.
Sem dúvida. — Você provavelmente conseguiria a verdade se
Micah perguntasse a ele — eu disse.
— E por que ele faria isso? — Shade perguntou amargamente. —
Micah não quer fazer nada que possa abrir o portal.
— Na verdade — disse Ivy gentilmente, — acredito que Micah está
preocupado com o quão seguro é, antes de mais nada. Sua ideia é boa.
Se os cães do inferno podem sentir a presença de demônios do outro
lado, isso pode ajudá-lo a concordar com um plano que inclua essas
habilidades.
Todos olharam de volta para Fang.
Não sei se eu posso ou não, disse Fang, soando mal-humorado.
Eu dei de ombros para benefício de Shade.
— Então nós temos que testá-lo — disse Shade.
— Como vamos fazer isso com segurança? E conseguir a permissão
de Micah para abrir um portal para testá-lo em primeiro lugar? — Shade
estava focado em um único objetivo, ele não estava pensando direito.
— E os livros? — Ivy perguntou. — Eles poderiam ajudar?
Shade balançou a cabeça. — Eu já perguntei. Eles não podem. Mas
você... você pode ajudar?
— Eu? — Ivy perguntou. — Como?
— Talvez uma das suas pedras possa sentir demônios em outra
dimensão — disse Shade.
— Como ela saberia disso? — perguntei a ele enquanto Ivy encolhia
os ombros impotentemente. Tenho certeza de que não era algo que ela
alguma vez pensou em tentar.
— Nós também podemos testar isso — insistiu Shade.
Suspirando, eu disse: — Mas como isso ajudará a saber quantos
demônios estão do outro lado? Especialmente porque não saberíamos o
alcance.
— Tenho certeza de que o Movimento irá fornecer pessoas para
montar uma operação de resgate, provavelmente até trarão os vampiros
de Lisette de Austin. Nós podemos nos certificar de que estamos em
maior número e manter os demônios longe. Vamos, Val, temos que
tentar.
Sentindo-me um pouco culpada de ter abandonado Sharra sozinha
na dimensão demoníaca, eu disse: — Ok, se você puder fazer isso com
segurança e Micah permitir.
— Talvez não precisemos da permissão de Micah — Shade disse
dissimuladamente.
— Você acha que pode contornar a última ordem que eu dei?
Como?
— E se você usar Lola para me forçar a abrir um portal?
Hã. Eu não sei. O que seria mais forte? O comando que eu tinha
dado a ele usando o amuleto dias atrás, ou um comando de ligação de
chacra com Lola? — Não sei se isso vai funcionar.
— Mas você vai tentar, certo?
Ele parecia tão ansioso, e essa era uma coisa que eu poderia
finalmente fazer por ele, depois de toda a porcaria que eu tive que fazer
com ele. — Se você puder encontrar uma maneira de fazer com
segurança, sem pôr Ivy em perigo. — De jeito nenhum eu iria arriscar
trazer uma horda de demônios para cá e agora.
— Faça agora — insistiu Shade. — Apenas para ver se vai
funcionar.
— É seguro? — Ivy perguntou.
— É se eu fizer um pequeno para que ninguém possa passar — ele
a assegurou. — E vou me certificar de que seja um portal unidirecional
para uma dimensão pequena onde não há demônios. Vamos, Val. Tente.
Micah não nos proibiu expressamente de tentar isso...
Porque ele não pensou nisso. Tente, Val. É a única maneira que você terá
para se livrar de Shade para nós podermos ir dormir.
Perguntei-me se era possível. Olhei para Ivy. Ela encolheu os
ombros. — Uma vez que parte do demônio no cristal entrou em você,
pode funcionar. — Rapidamente, explicamos o que achamos que
aconteceu para Shade.
— Então é por isso que o último portal no campo de futebol se
formou tão rapidamente — ele meditou. — Deve funcionar então.
Vamos fazer.
Suspirei. — Tudo bem, mas mantenha o menor possível. E faça um
normal de duas vias, então não precisaremos nos preocupar com os
vizinhos.
Shade estava em um extremo da sala enquanto o resto de nós estava
atrás dele. — Eu vou fazer um pequeno sobre a mesa de café.
— Tente fazer primeiro — sugeriu Ivy. — Veja se você pode fazer
isso sem Val ou Micah.
Eu não tinha certeza se eu deveria encorajá-lo, mas Shade ergueu
os braços na frente dele, obviamente já tentando.
Ele baixou os braços. — Eu não posso. O último comando de Val
ainda está em vigor e nem consigo começar. Tente com Lola.
Ele devia estar desesperado se ele realmente estava me pedindo para
usar Lola nele. Lentamente, deslizei a energia de Lola para dentro dele,
tentando não fazê-lo sentir muita luxúria. Nenhum de nós queria isso.
Apertei seus chacras e disse: — Crie um portal de duas vias, Shade. Não
maior do que uma bola de baseball. — Eu reforcei a instrução com Lola,
para forçá-lo a fazer.
Lentamente, uma nuvem verde se formou. Não tão rápido quanto
no campo de futebol, mas, aparentemente, funcionaria. — Certo, feche-
o.
Desapareceu imediatamente. — Funcionou — disse Shade com
entusiasmo. — Foi mais difícil do que o normal, mas com a ajuda de
Lola, eu posso fazer. — Ele se virou para Fang. — Você sentiu algum
demônio do outro lado?
Fang sacudiu a cabeça, então eu nem tive que traduzir.
— Isso significa que ele não pode se comunicar através de um
portal? — Ivy perguntou.
— Não necessariamente — disse Shade, soando excessivamente
otimista. — Eu escolhi uma dimensão sem demônios, lembra? Vamos
tentar...
Levantei minha mão para pará-lo. — Não agora. Estou cansada.
Deixe-me dormir um pouco primeiro.
— Então me ligue assim que você acordar — disse Shade. — Eu
vou descobrir uma maneira de garantir que você e Ivy estejam seguras.
Olhei para Ivy, que balançou a cabeça. — Eu prometi a sua mãe que
eu iria na loja dela amanhã — Ivy me lembrou. — Além disso, eu preciso
fazer algumas pesquisas para ver se pode haver pedras que tenham o tipo
de capacidade que você está procurando.
— E então quando? — Shade perguntou com impaciência.
Eu deixei isso com Ivy, já que ela era a única com compromissos.
— Que tal sete horas amanhã à noite? — ela perguntou.
— Você não pode fazer mais cedo? — perguntou Shade.
Defendendo ela, eu disse: — É uma boa hora. Austin deve estar
acordado até então, e podemos planejar tudo juntos. — Se Austin estiver
falando comigo. Merda, eu faria ele me ouvir — eu não queria lhe dar
nenhum motivo para envolver Luis tão cedo, ou o espanhol
provavelmente machucaria Shade ou Micah em seu fervor para
conseguir respostas. Eu estava bastante segura de que eu poderia contar
com Austin para não machucá-los, mas não tinha certeza sobre Luis.
— Ok — Shade disse relutantemente. — Isso me dará tempo para
arranjar um bom teste. Onde nos encontraremos?
Eu pensei por um momento. Dependendo do tipo de portal que ele
tentaria abrir, talvez precisemos de mais espaço aberto, para não
mencionar a privacidade. Naquela hora do dia, não pensei que fosse
possível. — Eu não sei. Deixe-me perguntar a Austin, ver se ele conhece
algum lugar. Eu te ligo.
— Ok — Shade disse e foi embora, quase pulando de entusiasmo.
Suspirando, falei boa noite para Ivy e fui para a cama.
Você sabe o que você acabou de fazer, não é?
Concordei com algo que eu realmente não quero fazer?
Sim, e você acabou de provar que você pode fazer Shade abrir um portal sem
a permissão de Micah. Você não pode mais lançar a culpa de sua decisão de deixá-
lo fechado em seu chefe para Austin ou para qualquer um.
Oh, merda.
CAPÍTULO VINTE E TRÊS
AUSTIN

A ustin se levantou após o sol se pôr. Um dia de sono o deixou


sentindo-se mais otimista. Agora que sabiam o que aconteceu com
Alejandro e Vincent, era muito mais provável que eles pudessem resgatar
os dois ilesos. Se ele pudesse simplesmente convencer Micah e Val...
Seu telefone tocou. Falando no diabo... — Sim? — Sua voz saiu um
pouco mais cortante do que ele pretendia.
— Você ainda está bravo comigo, não é? — ela perguntou.
Ele suspirou. Na sua surpresa com a recusa de Micah e Val em
deixar Shade abrir um portal, Austin tinha sido menos do que educado.
Na verdade, ele tinha sido francamente grosseiro. — Você tem direito à
sua opinião — ele disse com rigidez. Mesmo que não concordasse com
isso. Isso não significava que ele tinha que gostar.
— Eu não disse que não iria ajudá-lo, apenas que Micah está certo
dizendo que você precisa de um plano para lidar com os demônios que
podem surgir junto com Alejandro. Na verdade, Alejandro não insistiria
nisso também?
Provavelmente. — Talvez.
— Bem, Shade e eu conversamos sobre isso ontem à noite e fizemos
um pequeno teste para ver se Fang pode detectar demônios em outras
dimensões — ela disse.
Relaxando um pouco com essa evidência de que ela estava tentando
ser razoável, Austin perguntou: — Funcionou?
— Não temos certeza e queremos fazer mais testes. Estamos
planejando nos encontrar às sete horas. Você sabe de algum lugar que
podemos praticar sem perturbações... onde há espaço suficiente para ver
o portal?
Austin pensou por um momento. — Você se lembra do antigo teatro
onde nos conhecemos? Onde foi realizada a reunião da véspera do dia
de todos os santos?
— Sim, mas você consegue com um prazo tão curto?
— O Movimento é dono dele agora, e está sendo reparado, então
não está aberto ao público ainda. Devemos ser capazes de usá-lo sem
problemas.
— Tudo bem, ótimo. — Ela hesitou e disse: — Não é essa a noite
em que você precisa encontrar Luis? — Ela pareceu hesitante, como se
estivesse tentando não irritá-lo mais do que ele já estava. Ele apreciou a
consideração, mas ainda não estava pronto para esquecer sua raiva.
— Sim, a menos que possamos resgatar Alejandro antes disso. Mas
temos muito tempo antes disso. A hora tradicional para duelos é à meia-
noite, e Rosa ajustou para essa hora.
— Tudo bem, ótimo. Nos encontraremos no teatro em uma hora.
Não leve Luis.
Val desligou e Austin percebeu que ela estava certa sobre Luis. Se
ele dissesse ao outro tenente a verdade sobre onde Alejandro estava,
provavelmente ele não descansaria até que ele forçasse o demônio das
sombras a fazer o que ele ordenasse. Nesse caso, isso significava forçar o
líder do Demônio Clandestino também... não exatamente o melhor
curso de ação para manter relações diplomáticas com os demônios. Se o
Movimento fosse sobreviver e florescer, eles definitivamente precisavam
do apoio de tantas pessoas quanto pudessem.
Então, ele pediu a ajuda de alguns de seus seguidores para observar
o lado de fora do teatro sem explicar exatamente o que ele faria lá dentro
e se dirigiu para lá para encontrar Val.
Ele chegou um pouco mais cedo para destrancar o teatro e acender
as luzes. Os reparos estavam procedendo bem, e os trabalhadores da
construção foram embora pela noite. Havia bastante espaço para fazer
seus testes, e o palco em si estava praticamente livre de materiais de
construção. Daria certo.
Val e Ivy chegaram pouco depois junto com Fang, e Shade chegou
um pouco mais tarde com Andrew — o demônio de fogo ruivo que quase
queimou a mansão com todos os vampiros nela. É verdade que ele estava
sob a influência de um demônio mago na época, mas Austin ainda não
estava seguro de poder confiar no garoto que não tinha nenhum amor
por vampiros.
— Por que Andrew está aqui? — perguntou Val.
A voz de Shade veio por baixo de seu capuz e os redemoinhos que
compunham o rosto. — Precisamos que alguém passe para o outro lado.
Planejo usar uma dimensão desocupada, mas pode haver outros perigos
lá. Eu acho que um demônio do fogo será capaz de lidar com isso
sozinho.
— Você está bem com isso? — Val perguntou a Andrew.
O demônio de fogo encolheu os ombros, parecendo muito
arrogante. — Eu dou conta.
Ele olhou de lado para Ivy para avaliar a reação dela, e Austin
percebeu que ele estava fazendo pose para ela. Infelizmente para
Andrew, Ivy parecia divertida.
Austin não tinha tanta confiança em Andrew quanto os outros, mas
manteve seus pensamentos para si mesmo. — Onde está Micah? —
perguntou Austin.
— Ele está trabalhando — explicou Shade. — Mas nós testamos um
pouco ontem e percebemos que Val pode usar Lola para me forçar a fazer
um portal sem o consentimento de Micah.
Austin levantou uma sobrancelha para Val. Ela mudou de ideia
sobre apoiar Micah? — Você quer dizer que ele não sabe o que vocês
estão fazendo?
— Sim, ele sabe — Val disse na defensiva. — Eu conversei com ele
mais cedo e consegui seu consentimento depois que eu prometi fazer isso
com segurança.
Incomodava ela ter que buscar a aprovação de Micah, mas também
era o que ele admirava — ela estava presa aos seus princípios, mesmo
que não fosse confortável para ela. Uma pena que não era confortável
para Austin também.
— Vamos começar — disse Shade, parecendo impaciente. Olhando
em volta, ele disse: — Onde devo fazer?
— Por que você não cria o portal no palco? — sugeriu Austin. —
Tem menos detritos da construção e assim podemos ver o que está
acontecendo.
Shade foi ao palco sem responder.
— Qual é o plano? — Austin perguntou a Val.
— Queremos ver se Fang pode detectar demônios do outro lado de
um portal. Dessa forma, saberemos se é seguro abrir um quando
buscarmos Alejandro.
— É por isso que estou aqui — disse o ruivo se achando.
Val e Fang reviraram os olhos em uníssono, mas Austin não achou
divertido. Ele simplesmente esperava que Andrew não fizesse nada de
estúpido enquanto se mostrava. — Ótimo — ele disse em voz alta. —
Ter aviso prévio do seu inimigo é sempre uma coisa boa. Mas e a questão
do tempo passando de forma diferente nas diferentes dimensões? Isso vai
causar um problema para ouvir um ao outro?
— Não — disse Shade. — O tempo se sincroniza enquanto o portal
está aberto.
Ótimo, isso tornaria menos confuso.
Ivy se aproximou com uma pequena bolsa de seda na mão. — Antes
de começar, tenho algo para você, Val.
Val puxou um colar da bolsa — uma lança estranhamente em forma
de um cristal transparente e uma pepita turquesa juntas e presas por uma
corrente de ouro. — É lindo. O que deve fazer?
— O cristal é um fragmento do amuleto. Está limpo agora, e pensei
que continuaria a ressoar com você, já que você o usou por tanto tempo.
A turquesa ajuda a melhorar a comunicação, então pensei que poderia
ajudar durante os testes.
Val assentiu e deslizou o colar sobre a cabeça. — Não vai machucar.
E mesmo que não funcione, é bonito.
Ela parecia muito satisfeita com o presente, e Austin percebeu que
nunca a tinha visto usar qualquer tipo de joias antes. Estranho.
— Também tenho um para você — Ivy disse para Andrew. Ela tirou
um de seus anéis e o entregou para ele. — Desta forma, eu poderei ver
se eu posso me comunicar com ele quando você estiver em outra
dimensão.
Andrew assentiu e colocou o anel no bolso.
— Eu também verifiquei a pedra de sangue do athame — Ivy disse,
virando-se para Austin. — Está mais coerente agora, mas parece
concentrado em que o demônio de sangue o usou e na morte de
Guillaume. Eu acho que não ajuda a confirmar o que aconteceu com
Alejandro.
— Tudo bem — disse Austin. — Estou confiante de que sabemos o
que aconteceu agora.
Fang puxou a perna de Val, e ela sorriu para ele. — Ele está nos
dizendo para começar em vez de ficarmos conversando.
— Fiquem longe do palco, por favor — Shade disse. — Eu não
quero que nenhum de vocês seja pego para dentro do portal por acidente.
Quando todos o fizeram, Val prendeu sua mochila com mais
segurança em seu ombro, depois apertou o pingente no punho e olhou
para Shade, usando Lola, ele assumiu. — Crie um portal de duas vias
para outra dimensão, Shade. Não a dimensão demoníaca, uma segura.
Austin olhou para o palco e viu uma pequena nuvem verde se
formando na frente de Shade. Como era seu portal normal de duas vias,
eles não precisavam de espaço para isso.
— Aumente o suficiente para que Andrew possa passar — disse Val,
obviamente concentrando-se.
Todo mundo subiu as escadas para se juntar a Shade no palco,
mantendo-se atrás dele, fora do caminho da nuvem verde que crescia
lentamente para um tamanho adequado.
—Por favor, explique a Andrew o que estamos fazendo — Val disse
a Ivy.
Ivy sorriu para Andrew. — Nós vamos testar para ver se Fang pode
ouvi-lo do outro lado. Se ele puder ouvi-lo, ele também poderá ouvir
outros demônios. Fang também irá falar com você, então continue se
comunicando com ele.
— Isso é tudo? — perguntou Andrew.
— Sim — disse Val. — Se você não puder ouvi-lo, volte
imediatamente. Se você puder ouvi-lo, faremos alguns testes adicionais.
— Rapidamente, ela acrescentou: — Volte quando ele disser para você
voltar.
O fato de que ele precisava ser informado disso dizia demais sobre
o nível de maturidade de Andrew.
Uma vez que o portal estava grande o suficiente para Andrew, o
demônio de fogo andou corajosamente através dele, suas mãos brilhando
como se estivesse preparando seu fogo para afastar qualquer perigo.
— Fang me pediu para traduzir para ele já que Val precisa de
concentração para manter Lola incitando Shade — Ivy disse com um
sorriso. — Fang pode ouvir Andrew. Ele diz que é dia lá, mas tem névoa.
Ele está tendo problemas para distinguir pontos de referência.
— Ele pode ver o portal do outro lado? — perguntou Austin. Ele
não sabia se eles agiam da mesma maneira em outras dimensões, já que
eles nunca tentaram isso antes, nem mais ninguém.
— Boa pergunta. — Ela parou por um momento. — Sim, ele pode,
mas é azul neste lado em vez de verde.
Tudo bem, ótimo. — Diga-lhe para se afastar lentamente do portal
para que possamos conseguir um alcance, ver o quão longe a capacidade
de ouvir Fang se estende. Se ele não puder mais ouvir Fang, faça com
que ele volte para mais perto do portal. — Percebendo que Andrew
precisaria de mais instruções, ele acrescentou: — Faça ele ir devagar e
contando seus passos para que possamos saber até que ponto a
capacidade de Fang se estende.
— Boa ideia — disse Ivy. Ela sorriu. — Ele está discutindo, mas
Fang está colocando ele em seu lugar. — Então ela contou lentamente.
— Um... dois... três... — Ela contou até doze, depois parou
abruptamente.
Fang ficou de pé e rosnou no portal. Ou era para Andrew que ele
estava rosnando? — O que aconteceu? — perguntou Austin.
— Andrew parou de contar, mas Fang ainda pode ouvi-lo. Ele
parou por algum motivo. — Ela deu a Austin um sorriso pesaroso. —Ele
parece distraído por alguma coisa. Não, espere. — Ela deu a Austin um
olhar cauteloso. — Fang disse que sentiu uma explosão de dor, então a
voz mental de Andrew parou. Minha pedra também sentiu a dor.
— Fang ou a pedra sabem o que aconteceu?
— Não, Andrew não está respondendo. — Ivy olhou para ele. —Eu
acho que ele está com problemas.
Austin assentiu decisivamente. — Eu vou passar, ver qual é o
problema.
— Não, você não pode — disse Val. — Andrew disse que é dia lá,
lembra? Você vai fritar.
— Então, quem pode? — ele perguntou com impaciência. Ele não
pediria a Ivy, e Fang precisava estar aqui, para retransmitir informações
de volta para os outros. — Você pode ligar para Micah, pedir a ele para
enviar outra pessoa?
— Não — Val disse. — Lola tem um bom domínio sobre Shade,
então eu vou.
Alarmes soaram em sua cabeça. — Não, espere — disse Austin, mas
era tarde demais. Val já havia atravessado o portal... e ele sumiu atrás
dela.
Fang latiu furiosamente e Austin se dirigiu para Shade. — Abra —
ele ordenou.
— Não posso — disse Shade com surpresa. — Quando ela passou,
cortou Lola, então eu tive que fechar. Não posso abri-lo novamente sem
a permissão de Micah.
— Então a consiga — Austin gritou.
As portas do teatro abriram-se e dois de seus seguidores correram
em sua direção. — Você tem que sair daqui, um grupo de desvinculados
o rastreou. Vamos tentar segurá-los, mas eles chamaram reforços.
— Não posso — disse Austin. Ele não poderia abandonar Val em
outra dimensão.
— Você precisa — insistiu Jeremy. — Não é seguro. — Ele olhou
para Ivy e Shade. — Especialmente para eles.
Ele estava certo. Shade era sua única esperança para trazer Val,
Alejandro e Vincent de volta, e ele não queria que nada acontecesse com
a sussurrante de pedras preciosas.
O que diabos ele deveria fazer agora?
CAPÍTULO VINTE E QUATRO
VAL

E u percebi a minha estupidez no momento em que passei pelo


portal. Ouvir as vozes de Fang e Austin cortadas na metade da
palavra foi uma pista, mas a maior foi a súbita separação do controle de
Lola sobre Shade. Eu girei, mas o portal desapareceu. Não havia
nenhuma nuvem azul ou nuvem de qualquer cor em lugar nenhum.
Apenas uma neblina monótona, fria e úmida.
Merda. O que eu estava pensando?
Obviamente, eu não estava pensando, como Fang me diria se ele
estivesse aqui. Ou, antes, eu estava pensando completamente nas coisas
erradas. Eu estava tão preocupada que Andrew estava ferido, e como eu
era responsável por ele como a Paladina do Demônio Clandestino e
como Micah nunca me perdoaria se algo acontecesse com ele, que eu
não tinha pensado em mais nada.
Simplesmente nunca me ocorreu que Lola não pudesse funcionar
através das dimensões. Em retrospectiva, isso também era estúpido, mas
sabendo que a luz do sol, embora fraca, era perigosa para Austin, e que
eu não queria pôr ninguém em perigo, de alguma forma senti que
precisava ser a única a salvar Andrew.
Um complexo de heroína?
Idiota. Mas, falando sobre Andrew, onde ele estava? Pensei em
chamá-lo, mas congelei, apenas escutando. Shade escolheu
deliberadamente uma dimensão livre de demônios, mas isso não
significava necessariamente que estava livre de perigo. Esta não era a
mesma pequena dimensão em que exilamos os dois demônios mago, ou
era?
Por um momento, fiquei parada, nem respirando, tentando ouvir,
descobrir tudo o que pudesse sobre esse mundo. Nada. Sem sons de
animais ou insetos, nem sons de água ou vento. O áudio deste mundo
era tão desprovido de significado quanto o visual. Felizmente, isso
também significava desprovido de perigo, mas não de Andrew.
O que aconteceu com ele? Ele tinha andando cerca de doze passos
antes de sua conta ter parado, mas em que direção? Embora Lola
obviamente não conseguisse alcançar através das dimensões, ela
funcionaria aqui?
Eu me senti dentro de mim, tentando avaliar a força de Lola.
Esquisito — na minha barriga, onde os feitiços que eu invoco residiam,
estava vazio, como se os feitiços houvessem sido retirados no instante
em que eu atravessei o portal. Então Lola estava de volta em força total
agora, não tendo que compartilhar nenhuma da sua capacidade com os
feitiços. Eu a enviei para todas as direções, procurando, e como
esperado, ela encontrou um homem na minha frente, ligeiramente à
minha esquerda, não muito longe. As fracas pegadas na areia
demonstravam isso.
— Andrew? — eu chamei cautelosamente. Ele estava perto o
suficiente, e essa dimensão nebulosa e nevoenta era silenciosa o
suficiente para ele poder me ouvir.
Sem resposta.
Mas eu não queria ir atrás dele sem saber como voltar para esse
ponto. As pessoas que eu deixei do outro lado não eram idiotas. Eles
descobririam que tudo o que tinham que fazer era chamar Micah para
que Shade pudesse conseguir permissão para reabrir o portal. Eles
também eram inteligentes o suficiente para abri-lo no mesmo local, então
eu precisava ser capaz de encontrá-lo novamente. Mas depois de girar
nesta névoa, fiquei um pouco desorientada. Onde, exatamente, o portal
foi aberto?
Eu não podia ter certeza, mas uma coisa eu sabia — estava dentro
de alguns metros de onde eu estava agora. Infelizmente, tudo o que pude
ver foi uns dois metros na minha frente. Olhei para o meu entorno para
ver se havia algum ponto de referência. O chão era arenoso, com pedras
cinzentas dispersas e alguns pedregulhos. Eu chutei algumas pedras
menores, me perguntando se eu poderia construir um monte de pedras,
e percebi que estavam presas profundamente no solo, apontando para
cima como mini-icebergs com apenas uma pequena porcentagem da
pedra realmente acima da superfície. Não vi nenhuma solta. Então, um
monte de pedras estava descartado.
No entanto, eu tinha minha mochila. Eu realmente não queria
deixar a coisa toda para trás, mas remexi dentro até encontrar a lanterna.
Eu liguei e coloquei no chão como um farol, apontando na direção que
eu queria ir. Seu feixe não chegava tão longe na névoa densa, mas com
alguma sorte, eu poderia seguir a voz de Fang de volta ao portal uma vez
que ele fosse aberto de novo. Isso era apenas para marcar o lugar
aproximado que ele abriria. Além disso, Andrew tinha que estar perto.
Eu me dirigi na direção de Andrew, seguindo o que eu esperava que
fossem suas pegadas fracas, arrastando meus pés na areia conforme eu
ia. Foi mais lento, mas pelo menos dessa forma eu deixaria uma trilha
que poderíamos facilmente seguir de volta para a lanterna. Eu tinha
andando cerca de dez passos arrastados quando o vi deitado no chão,
com sangue na sua cabeça.
Eu me aproximei cautelosamente, uma estaca na mão, mas quando
eu vi a pequena pedra no seu pé e a grande pedra perto da sua cabeça
com um pequeno respingo de sangue, era óbvio que ele tropeçou e caiu
sobre uma dessas pedras iceberg e bateu com a cabeça — nada mais
sinistro do que isso.
Lola já sabia que ele estava vivo e eu me ajoelhei para sentir seu
pulso. Estava forte e estável, e sua cabeça já havia parado de sangrar.
Com alguma sorte, a ferida na cabeça não seria fatal.
Eu debati o que fazer. Eu não queria arrastar o peso morto de
Andrew para o local do portal, então eu esperaria até ele recuperar a
consciência ou o portal abrir novamente — e esperar que tivesse ajuda
para tirá-lo daqui. Além disso, eu não sabia o que aconteceria se eu
julgasse mal a localização do portal e ele abrisse bem em cima de mim.
Guardei a minha estaca e sentei ao lado dele, minhas costas contra a
pedra que o derrubou.
Era esquisito, estar sentada na névoa, isolada do nosso mundo,
incapaz de ver ou explorar este, ouvindo apenas meus próprios
pensamentos. Era meio estranho estar sentada sem Fang para conversar,
ninguém para lutar e que não houvesse nada que eu precisasse fazer neste
momento para salvar alguém.
Eu deveria estar preocupada, ansiosa para voltar para meu próprio
mundo, mas eu tinha que admitir, eu meio que gostava da mudança da
paz forçada e silenciosa.
Com nada para fazer além de apenas esperar e pensar, minha mente
não deixava de se mover, analisando os acontecimentos dos últimos dias,
se preocupando com o afastamento de Austin, se preocupando se
encontraríamos Alejandro e Vincent... e me perguntando se esse trabalho
realmente valia toda a dor.
Sem pedir, as imagens que eu tentava enterrar apareceram na minha
memória. Aquelas meninas... o sangue... a carnificina...
Eu esfreguei as palmas das minhas mãos nos meus olhos, tentando
afastar as cenas mentais, mas não iam embora. Eu não podia desver
aquelas cenas horríveis agora, tanto quanto eu quisesse. E minha própria
imaginação forneceu mais imagens de como provavelmente pareceria
depois que os vampiros cuidavam de seus torturadores. Depois de eu
segurá-los para que eles pudessem ser abatidos. Esse horror estava em
mim — uma marca negra na minha alma.
Eu teria que carregar isso pelo resto da minha vida. Posso continuar
fazendo este trabalho, sabendo que eu ainda vou ver mais dessas cenas,
mais marcas negras entrando na minha alma? Eu posso...?
Andrew se agitou e gemeu, felizmente me tirando do meu devaneio.
— Quieto — eu o reprendi. — Você se nocauteou. — Eu sabia que
lesões na cabeça podiam ser problemáticas, mas tinham passado menos
de vinte minutos entre o momento em que ele havia caído e que eu o
encontrei. Recobrar a consciência tão rápido devia ser uma coisa boa,
certo?
— Val? — ele disse, piscando para mim com confusão, então olhou
em volta. — O que você está fazendo aqui?
— Ajudando você. — Aparentemente, ele também não perdeu a
memória.
— Não posso mais ouvir Fang. Eu fui além do seu alcance?
Eu me contorci, mas tinha que admitir meu erro. — Não, o portal
foi fechado quando fui atrás de você.
— O quê? — Ele sentou abruptamente e depois gemeu. Segurando
a cabeça, ele apertou os olhos para mim, obviamente com dor. — Você
fechou o portal?
— Não de propósito. Mas Lola perdeu o controle sobre Shade...
Ele usou palavras que minha mãe não teria aprovado.
— Não se preocupe, eles virão atrás de nós.
— Há quanto tempo eu estive apagado?
— Não mais que vinte minutos — eu assegurei-lhe.
Ele franziu o cenho. — Shade deveria ter reaberto o portal até agora.
Sim, eu também pensei nisso. — Bem, ele não pode, a menos que
Lola o esteja forçando, ou ele consiga a permissão de Micah.
— Que idiotice. Por que ele esperaria por permissão?
— Ele meio que tem que pedir — eu admiti. — Eu o obriguei a
concordar com isso com o amuleto de cristal, antes dele ser destruído.
— Bem, isso é simplesmente um plano estúpido.
Pensei em defender minhas ações, mas não consegui discutir com
as consequências. — Parecia uma boa ideia na hora — eu disse com
calma. — E se Micah estiver no palco, eles vão esperar até que ele saia
para falarem ao telefone.
— Então esperamos? — perguntou Andrew.
Talvez não seja uma boa ideia mover Andrew ainda, e Fang
conseguiu ouvi-lo daqui, então por que não ficar aqui onde era pelo
menos um pouco confortável? — Você tem uma ideia melhor?
— Você tem aspirina? — Ele desafiou de volta.
— Eu posso ter na minha mochila, mas eu não tenho água. — E
mesmo que houvesse água aqui, tinha que ter, com toda essa névoa, com
certeza não era seguro tomá-la.
— Eu não preciso — ele me assegurou.
Eu mexi na minha mochila e encontrei um frasco de aspirina. Ele
pegou três, tomando sem água. — Obrigado. — Ele se aproximou para
sentar ao meu lado e se apoiar na pedra.
— Desculpe eu ter ferrado com tudo — ele murmurou.
Olhei para ele com surpresa. — Não foi sua culpa.
— Sim, foi. Se eu não tivesse tropeçado e caído, você não precisaria
vir me salvar.
— Mesmo que eu gostaria de dar o crédito para você, eu o aceitarei
sozinha.
— Eu só queria fazer algo bom para o Clandestino para variar, sabe?
Afinal, tentei explodir o clube de Micah.
Suspirei. — Todo mundo sabe que você estava sob a influência do
demônio de sangue.
— E antes disso, eu tentei queimar a mansão dos vampiros.
— Você estava de luto pela morte da sua irmã — eu o lembrei. —E
culpou erroneamente os vampiros. O demônio mago aproveitou seu
sofrimento e raiva para controlá-lo e tentar destruir os vampiros. Não foi
sua culpa.
— É legal você dizer isso — ele murmurou. — Mas se eu não
estivesse tão irritado em primeiro lugar, nada disso teria acontecido.
Ora, ora, Andrew estava crescendo? — Não posso discutir com você
sobre isso — eu admiti.
— Eu só queria ser útil para variar, ser mais como você.
— Como eu? — eu repeti com surpresa.
— Sim. Nós somos da mesma idade, mas ninguém trata você como
uma criança estúpida. Todo mundo respeita você.
— É só porque eu sou a Paladina.
— Sim, bem, eles não a escolheriam como Paladina se você não
merecesse.
Merecesse? Eu nem mesmo quis. Eu só aceitei o cargo porque se eu
não aceitasse, eles teriam transformado Shade em um Comedor de
Memórias, um Lete. O Demônio Clandestino exigia que um Paladino
ou um Lete fizesse justiça. Paladinos faziam seu trabalho com uma
espada, enquanto Letes tiravam memórias e habilidades da mente do
criminoso. Para fazer isso, o Lete tinha que se tornar um demônio
equivalente a um bicho papão — um híbrido enlouquecido metade-
vampiro, metade demônio. Depois de ver como ser um Lete tinha
afetado Elspeth, antes de eu exorcizar o demônio de dentro dela, eu não
gostaria desse horror a ninguém.
Não sabendo como responder ao comentário de Andrew, fiz um
som evasivo.
— Você também é a Guardiã da Enciclopédia Mágica, e você se dá
bem com o Movimento e a UCE. Você salva o mundo diariamente, e
todo mundo confia em você, respeita você.
Era ciúme que ouvi? — É realmente assim que você me vê? — eu
perguntei com descrença.
— É como todos veem você — disse Andrew, parecendo mal-
humorado. — Val Shapiro, matadora dos bandidos, campeã dos
perdedores e amiga dos esquisitos de todos os lugares, uma verdadeira
lenda. Eu, sou apenas uma lenda em minha própria mente.
— Minha vida não é só glória e luz do sol, sabia.
— Bem, é melhor do que a minha. — Ele inclinou a cabeça para
trás contra a pedra. — Quanto tempo você acha que vai demorar para
reabrirem esse portal?
— Eu não sei. — Eu assumi que estaria aberto por agora. — Esta
pode ser uma daquelas dimensões em que o tempo passa de forma
diferente... um minuto em nosso mundo pode equivaler a uma hora aqui.
— Ou muito mais, mas eu nem queria expressar essa possibilidade.
— Ótimo — murmurou Andrew. — A aspirina está começando a
funcionar. Eu acho que vou ficar quieto por um tempo e deixá-la fazer
efeito. Me avise quando o portal abrir novamente.
— Certo.
Quando Andrew ficou em silêncio, eu fiz um balanço da minha vida
nos últimos seis meses. Sim, eu tinha o poder e o “prestígio” que ele
mencionou, mas com isso vinha uma grande responsabilidade — mais
do que eu sempre quis ou pedi. Não aconteceu de uma só vez, mas
aconteceu gradualmente, como um resfriado. De alguma forma, parecia
que um dia eu estava morando em casa, trabalhando para meus pais e
matando vampiros ocasionalmente, e no próximo, eu estava sozinha,
independente, caçando e matando bandidos.
Eu tinha que admitir que eu gostava de ser valorizada e respeitada,
mas a violência e o estresse constantes começavam a pesar. A cena
macabra na casa da fazenda me deixou doente — uma das razões pelas
quais agora eu estava questionando minhas escolhas de vida. Seria assim
o resto da minha vida? E, se fosse, eu iria quebrar sob a pressão?
Cinquenta ou sessenta anos de luta, derramamento de sangue e
perigo — valia à pena?
Talvez não, mas se eu não fizesse isso, quem faria? Tento imaginar
o que Fang diria agora. Provavelmente algo sobre como eu não era um
pequeno floco de neve especial e outra pessoa poderia fazer o trabalho
também.
Não, esse Fang era imaginário. O verdadeiro Fang tinha mais
confiança em mim do que eu tinha em mim mesma e provavelmente me
diria para crescer e fazer meu trabalho. O problema era que eu estava
cansada de toda essa vida. Talvez eu devesse desistir.
O pensamento foi feliz por um momento maravilhoso, mas não
durou. Como eu tinha a capacidade de ajudar a livrar o mundo do mal,
eu sabia que tinha que usá-la. O que eu realmente precisava era de férias.
Eu me divertiria planejando a viagem perfeita. Eu compraria um carro,
pegaria Fang e dirigiria para o sudoeste, visitando todas as cidades que
eu sempre desejei ver.
O planejamento me manteve ocupada por algumas horas, mas meu
traseiro ficou entorpecido, e eu tive que ficar de pé e lhe dar algum alívio.
Andrew abriu um olho. — O portal foi aberto?
— Ainda não. — Tentei parecer animada, mas estava começando a
me preocupar. Eu sabia que os aspectos de dilatação do tempo tornavam
possível que não tivesse decorrido muito tempo do outro lado, mas não
pude deixar de me sentir desconfortável e abandonada.
— E se não abrir? — perguntou Andrew com uma voz baixa.
— Abrirá — eu disse, soando mais confiante do que eu me sentia.
— Mas pode demorar um longo período de tempo. Estou com sede.
Se o tempo estiver passando aqui muito lentamente em comparação com
o nosso mundo e levar dias ou semanas para nos resgatar, o que vamos
beber... ou comer enquanto isso?
Boa pergunta, e uma que eu não tinha uma resposta. — Não
chegará a isso — eu assegurei-lhe. Mas a última coisa que eu precisava
era que o demônio de fogo entrasse em pânico. — Não se preocupe. —
Eu reforcei como um comando com Lola, tão sutilmente que eu esperava
que ele não percebesse. Ele relaxou, fechando os olhos novamente.
Pena que eu não conseguia me tranquilizar tão facilmente. Até
agora, eu tinha toda a confiança de que Fang e Austin insistiriam em
meu resgate. Mas, à medida que mais tempo passava, eu me perguntava.
E se alguma coisa tivesse acontecido com Shade, então ele não conseguia
abrir um portal? E se alguma coisa tivesse acontecido com Micah, e ele
não poderia dizer a Shade que estava tudo bem abrir o portal?
Nós ficaríamos presos aqui para sempre, sem nenhum caminho para
casa. Provavelmente poderíamos encontrar água, mas seria seguro
beber? E eu não tinha visto nada comestível na pequena área que eu tinha
explorado. Quanto tempo demoraria para morrer sem comida ou água?
E com apenas Andrew para conversar, quanto tempo levaria antes de eu
estrangulá-lo apenas para calar ele? Suspirei. Matar a nós mesmos podia
ser melhor do que morrer de fome.
Finalmente, quando comecei a me preocupar com minha sanidade,
ouvi uma voz.
Val?
— Fang? — eu disse em voz alta, meu coração saltando na minha
garganta. Eu estava imaginando coisas?
Eu não sou um produto da imaginação, querida. Você duvidou que nós
iríamos atrás de você?
Eu quase chorei de alívio. — Nem um pouco. — Só que demorou
muito mais do que eu esperava.
Andrew se levantou. — Onde está o portal? — ele exigiu.
— Espere — eu disse. — Eu deixei uma trilha para voltar.
Com nada para apagar as minhas trilhas, consegui segui-las de volta
à lanterna facilmente, Andrew se apoiando em mim para conseguir
apoio. E lá, graças aos céus, estava a nuvem azul. Esqueça testar para
ver até onde a voz de Fang alcançaria — eu iria dar o fora daqui.
Eu atravessei o portal, segurando Andrew firmemente, então parei
abruptamente.
Parecia que um tornado tinha passado por lá, com materiais de
construção quebrados, novos furos nas paredes e coisas espalhadas por
toda parte.
— O que aconteceu aqui? — Então, registrando o fato de que apenas
Shade e Fang estavam lá para nos cumprimentar do outro lado, eu
perguntei: — E onde estão Austin e Ivy?
CAPÍTULO VINTE E CINCO
VAL

R elaxe, Fang me disse. Os desvinculados atacaram logo depois de você


atravessar o portal. Austin e seus amigos lutaram com eles, e agora ele
está lidando com as consequências. Nós enviamos Ivy para casa, e demorou um
pouco de tempo para encontrar Micah.
Andrew cambaleou em direção a Shade, e eu cai de joelhos para
abraçar Fang. Eu senti falta da pequena besta peluda. — Austin e Ivy
estão bem, então?
Eles estão bem, ele me assegurou. E eu também senti sua falta. Mas não
faça isso outra vez.
— Eu tentarei não fazer. — Shade nos entregou duas garrafas de
água e eu tomei a minha com gratidão. Limpando minha boca,
perguntei: — Quanto tempo nós ficamos lá?
Talvez duas horas.
Eu assenti. — Pareceu mais como cem no outro lado.
Tanto tempo assim?
— Ok, talvez seis, na realidade. Shade estava certo, o tempo passa
de maneira diferente em algumas dimensões.
Shade interrompeu. — Precisamos sair daqui, completar os testes.
— Não podemos, Andrew está machucado.
O demônio de fogo franziu o cenho para mim. — Eu quero terminar
o que eu comecei. E Shade pode me curar, se você ajudar.
— Sua ferida é pequena — Shade me assegurou. — Mas eu quero
garantir que não haja concussão. Você sabe que não podemos levá-lo
para o hospital. Você precisará ser o molde.
Sim, se eles fizessem exames de sangue, eles descobririam muito
rápido o quão incomum era o sangue dele. Se sua ferida realmente era
pequena, não compartilharíamos muitas memórias durante a cura de
Shade. Suspirando, eu disse: — Tudo bem, você pode me usar.
— Ótimo. — Shade arrastou algumas cadeiras não quebradas e
Andrew e eu nos sentamos nelas.
Rapidamente, Shade tocou a parte de trás da cabeça de Andrew, e
então na minha. Eu estava pronta para a sensação das energias de cura
de Shade girando através de mim, mas desta vez foi muito mais rápido,
e Andrew foi curado tão rapidamente que nem mesmo compartilhamos
mais do que os pensamentos superficiais um do outro, que eram
praticamente sobre o que nós já conversamos. Foi tão rápido porque a
lesão era pequena, ou porque o cristal acelerou a habilidade de Shade?
Provavelmente os dois.
— Eu me sinto muito melhor — disse Andrew, esfregando a cabeça
com admiração.
— Ótimo — disse Shade. — Vamos.
— Para onde vamos? — eu perguntei.
— Austin disse para dizer a você para ir para a clareira perto da
mansão onde você e ele treinaram. Ele está sendo observado em todos
os momentos agora, então será mais seguro terminar nosso teste dessa
maneira. Especialmente esta noite. Ele nos encontrará lá.
Austin deixou gentilmente um dos vampmóveis para nós usarmos,
então Shade nos levou para a mansão. Eu acenei com a cabeça para um
dos guardas da porta da frente, dizendo: — Austin nos disse para
encontrá-lo na clareira.
Ele acenou, e eu mostrei a Shade e Andrew o caminho através das
árvores do lado da casa para a clareira. Austin estava à nossa frente,
caminhando à distância.
Quando ele me viu, a tensão no seu rosto e nos ombros pareceu
desaparecer. Ele estava ao meu lado em um instante e me agarrou em
um abraço. — Eu sabia que você ficaria bem — ele sussurrou.
Bem, fiquei feliz que ele estava, porque eu não tinha toda essa
certeza. Mas eu realmente precisava desse abraço e a garantia de que ele
ainda se preocupava comigo. — Os desvinculados atacaram novamente?
— eu perguntei quando ele finalmente me soltou.
— Sim, está acontecendo de encontramos eles em todos os lugares.
— Você acha que tem um traidor dentro do Movimento, dando sua
localização?
Shade entrou na conversa. — Eles podem ter muitos observadores,
como Micah usa a mim e os outros.
Austin assentiu. — Essa é a conclusão que cheguei. Eles parecem
determinados a matar nossos líderes.
— A melhor maneira de matar uma organização é cortar a cabeça.
— Olhei para Austin. — Vocês podem dar uma lição neles. Encontrem
este Zachary que está dizendo a eles para atacá-lo.
— Esse é o meu plano — Austin me assegurou. — Logo depois que
encontrarmos Alejandro.
— Ótimo. Falando em planos... o que você vai fazer para convencer
Micah a deixar Shade abrir um portal?
Austin franziu o cenho. — Além de descobrir quantos demônios
estão do outro lado, e reunir pessoas suficientes desse lado para pegar
qualquer um que passe, eu realmente não tenho um plano. Há muitas
incógnitas.
Tive que concordar com ele sobre isso.
— Eu vou ajudar — disse Andrew. — Mas precisamos terminar o
teste primeiro.
Ele estava, obviamente, ansioso para continuar sendo prestativo, e
precisávamos saber até onde o alcance de Fang se estenderia. Como
antes, todos ficamos de um lado da clareira enquanto Shade fazia a sua
coisa, e Andrew passou pelo portal na mesma dimensão. Desta vez, não
houve falhas, e logo descobrimos que Fang podia sentir Andrew no outro
lado dentro de cerca de cinco metros em qualquer direção.
Andrew voltou, e Austin bateu uma mão no ombro dele. —
Obrigado. Isso vai ajudar muito.
Andrew inchou como um galo orgulhoso, e escondi um sorriso.
Fiquei feliz que o demônio de fogo tivesse obtido a aprovação que
desejava. Era como se Austin tivesse percebido que ele precisava disso.
Não, apenas a marca de um bom líder, disse Fang. Ele teria dito isso
Andrew precisando ou não.
Eu não ia discutir sobre isso. Então, um pensamento me ocorreu de
repente. — Mas esta é uma dimensão diferente da dos demônios. As
distâncias serão as mesmas?
Consternação apareceu nos rostos de Austin e Andrew, mas Shade
disse: — Sim, elas são. Meu pai nos ensinou que o tempo pode mudar,
mas as distâncias e os locais são fixos. Caso contrário, os portais não
abririam no mesmo local a cada vez.
Bem, isso era um alívio.
Austin olhou para os dois homens. — Vocês podem encontrar um
jeito de ir para casa? Val e eu vamos ver se conseguimos um plano
melhor.
— Eu posso ajudar com isso — disse Shade, obstinadamente.
— Eu sei que você pode — disse Austin, mais paciente do que eu
teria sido. — Mas devemos ter muitos vampiros chegando a partir de
onze e trinta, e você não o quer ao redor dele quando eles chegarem. —
Ele acenou com a cabeça para Andrew.
Sim — alguns dos vampiros ainda podiam guardar rancor contra o
demônio de fogo que tentou queimar sua casa, mesmo que ele tenha
ajudado a salvá-la mais tarde.
Andrew parecia um pouco enjoado. — Sim, é melhor irmos.
— Por que você não vem conosco? — Shade perguntou a Austin.
— Porque tenho que encontrar Luis à meia-noite.
Oh, merda, esqueci que esta era a noite do duelo.
— Isso não pode esperar? — perguntou Shade.
— Não, eu tenho que fazer isso — disse Austin severamente.
— Ele realmente precisa — eu disse a Shade. — Nós entraremos em
contato depois.
Ele assentiu, então agarrou o braço de Andrew e os dois foram
embora, Fang os seguiu para se certificar de que eles estavam bem.
Austin me puxou para a escuridão das árvores, e olhei para ele e
perguntei: — Então, qual é o plano?
— Ainda temos vinte minutos antes que Rosa chegue, então... isso
— ele disse e se inclinou para me beijar.
Eu definitivamente aprovava. Austin se afastou e me olhou na luz
fraca. — Me desculpe, eu agi como uma merda. Mas quando você
passou por aquele portal, e pensei ter perdido você... — Ele balança sua
cabeça. — Bem, digamos que nunca mais gostaria de passar por isso.
Bem, isso não fez eu me sentir formigando e quente por dentro? —
Está tudo bem — eu lhe disse suavemente e inclinei minha cabeça para
outro beijo.
Ficamos alguns minutos em silêncio, até que um zumbido contra
meu quadril me trouxe de volta para o aqui e agora. Austin puxou o
telefone, o leu, e me mostrou a mensagem: Alguém está chegando.
Ele mostrou a hora — quarenta e cinco minutos até a hora do show
— então coloquei um dedo em seus lábios. Eu assenti silenciosamente.
Era um pouco cedo demais para os outros. Quem era? Alguém ansioso
para chegar cedo para o duelo? Qual seria o motivo?
Ouvi o murmúrio de vozes quando se aproximaram da clareira —
um homem e uma mulher.
É Luis e Lisette, Fang me disse. Com dois de seus Tweedles seguindo
alguns passos atrás. Não se preocupe, eu me escondi. Eles não sabem que estou
aqui.
Quando eles se aproximaram, eu consegui distinguir suas palavras.
— ...tem que ganhar — disse Lisette.
— Não se preocupe, eu vou — disse Luis com total confiança ao
entrar na clareira. — Eu tenho que ganhar para que nosso plano tenha
sucesso.
Luis e Lisette estavam trabalhando em algo juntos? Em quê? E por
que diabos ela estava usando um vestido rosa colado e flutuante para um
duelo, pelo amor de Deus? Alguém poderia estrangulá-la com aquele
lenço fino em volta do pescoço dela.
Você está se voluntariando?
Talvez.
Achei que ficaríamos quietos e esperaríamos que eles contassem
todo o seu esquema nefasto, mas Austin saiu do esconderijo e perguntou:
— Que plano?
Ok, isso também funcionava.
Luis franziu o cenho. — O que você está fazendo aqui tão cedo?
Austin ergueu uma sobrancelha. — Eu poderia perguntar o mesmo
para você. Mas eu, por exemplo, estou trabalhando com Val para
encontrar uma maneira de salvar Alejandro. Qual é o seu plano?
Lisette balançou a cabeça enquanto seus dois “guarda-costas” se
aproximavam atrás dela. — Nós não precisamos dizer nada — ela disse
com seu sotaque francês metido.
Bem. Se ela queria jogar duro, eu marcaria antes que ela pudesse.
Empurrando Lola para o Tweedle à sua direita, eu comandei a ele: —
Diga-nos o plano dela.
Obedientemente, ele disse: — O plano dela é ajudar Luis a ganhar
para que ele possa assumir o Movimento.
Luis pulou em direção ao Tweedle, mas Lisette o empurrou para o
lado antes que ele pudesse danificar seu lindo brinquedinho. — Pare. A
súcubo o está forçando.
Luis olhou para mim e dei de ombros. — Eu poderia forçar você ao
invés dele, se você preferir.
Lisette gesticulou distraidamente. — Não há necessidade. Você
descobrirá o suficiente logo que Luis ganhar.
Super confiante demais? Fang fez uma careta e veio troteando para
ficar ao meu lado.
— Você está por detrás dos ataques? — Austin perguntou a Lisette.
— Mais non — ela exclamou, parecendo genuinamente surpresa. —
Vocês são aliados. Eu não faria tal coisa.
Vinte perguntas poderiam levar uma eternidade para chegar à
verdade. Impaciente, eu disse ao Tweedle: — Diga-nos por que ela quer
que Luis fique no comando.
Ele obedientemente respondeu: — Porque ela não suporta mais o
desejo de Alejandro de nos revelar publicamente.
Austin olhou para Luis. — É por isso que você foi tão incompetente
em chegar em qualquer lugar na frente política? Você concorda com ela?
Prontamente ignorando o insulto de Austin, Luis disse: — Eu
comecei a pensar como Lisette, que se revelar publicamente é uma má
ideia. A histeria pública sobre os chamados ataques de chupacabra em sua
cidade provou isso. Ninguém quer outra Inquisição.
Então era um sim.
Eu imagino o que ela prometeu a ele, grunhiu Fang.
Sim, eu não duvidaria que Lisette usasse seu corpo para conseguir
o que quer. — Então, se você não mais apoia os objetivos de Alejandro,
por que você está procurando por ele? — eu perguntei.
— Ele não está — Austin falou devagar. — Ele dá um bom discurso,
mas se você perceber, ele não fez uma maldita coisa para ajudar a
encontrá-lo.
— Você não acredita mais nos objetivos do Movimento? —
perguntei com incredulidade.
— Alguns deles — Luis retrucou. — Alejandro tem razão ao
fornecer bancos de sangue para saciar a fome, ao se recusar beber das
vítimas que não querem, porque ajuda a nos manter escondidos da visão
pública. Mas revelar nossa existência não fará nada senão assustar as
ovelhas. E quando as ovelhas se assustam, elas se transformam em lobos.
Haverá um banho de sangue sem precedentes desde os tempos das
fogueiras.
Não se admira que ele era tão duro na formação dos novos recrutas,
ele estava antecipando uma carnificina generalizada.
— Você está dizendo que não quer que Alejandro volte? —
perguntou Austin.
Luis não respondeu, o que era uma resposta em si.
— Você tentou falar com Alejandro sobre isso? — eu perguntei a
Luis.
— É claro que sim — ele quase cuspiu. — Ele é inflexível. Ele será
a morte de todos nós.
Micah fez argumentos semelhantes ao manter sua existência em
segredo. Eu tinha que admitir que Luis tinha uma certa razão. Mas,
embora eu concordasse com ele, eu odiava seus métodos. — Isso não é
motivo para deixá-lo preso em outra dimensão — eu protestei.
— O que você quer dizer em outra dimensão? — perguntou Luis.
Opa. Eu tinha esquecido que ele não sabia. Era improvável neste
momento que ele iria arrancar segredos de Shade, mas eu não precisava
apontar que o demônio das sombras era o ponto crucial de resolver o
problema, também. Eu encolhi os ombros, mantendo vago. — Nós
descobrimos que ele foi acidentalmente transportado para a dimensão
demoníaca. Nós sabemos onde ele está e como trazê-lo de volta.
— Talvez devêssemos deixá-lo lá — disse Lisette.
— Fora de questão — disse Austin.
Os olhos de Luis se estreitaram. — Você não é o líder desta
organização.
— Você também não é — respondeu Austin.
Rosa saiu das árvores. — Isso é o suficiente — ela disse, os olhos
brilhando de raiva. — Se você sabe como resgatar Alejandro, você deve
fazer isso imediatamente.
Luis girou em sua direção. — Você também não é a líder. É isso que
este duelo esta noite vai estabelecer. E quando eu vencer, você vai fazer
tudo o que eu disser.
E isso significava não resgatar Alejandro. Merda.
Rosa deu mais dois passos em direção a ele, seus punhos apertados.
— O duelo já não é necessário. Uma vez que Alejandro voltar, ele estará
no comando.
Luis franziu o cenho para mim. — Existe uma garantia de que ele
está vivo e bem em uma dimensão cheia de demônios? — ele perguntou
com um tom imperioso.
— Não, mas...
Austin me interrompeu. — Tudo bem, Val e Rosa. Já tive o
suficiente. Vamos fazer isso. — Virando-se para Luis, ele disse: — Se eu
ganhar este duelo, você jura ajudar a resgatar Alejandro?
Luis lutou consigo mesmo por um momento e disse: — Sim. Mas
se eu ganhar, não vamos.
Rosa quase rosnou. — Se Luis ganhar, eu vou lutar contra ele.
— É seu direito — zombou Luis, mas todos podiam dizer que ele
não a considerava uma ameaça. Na verdade, ele também não
considerava Austin uma ameaça. O que estava acontecendo?
Ele provavelmente descobriu que está mais forte do que antes. Fang
sugeriu. Mas ele não percebeu que Austin está também. E Austin estava muito
mais próximo do amuleto.
Ah, sim, ele não teve o benefício da visão de Ivy sobre o que
aconteceu após o cristal quebrar. Talvez Austin pudesse usar isso em sua
vantagem.
— Não se preocupe — Austin disse para Rosa. — Vou ganhar.
— Como? — perguntou Luis. — Usando seu animal de estimação
para me forçar a me submeter a você?
— Não, vou ganhar de forma justa — disse Austin. — Val, você
concordará em não interferir?
Eu hesitei por um momento. — Essa luta é até a morte?
Obviamente entendendo que o duelo aconteceria mesmo ela
querendo ou não, Rosa disse: — Não, as regras do Movimento não
permitem isso, e como árbitra, eu vou aplicá-las. A luta acaba quando
alguém estiver inconsciente ou se submeter ao outro.
— E quanto a ela? — eu perguntei, olhando mordazmente para
Lisette.
— Ela também não interferirá — disse Luis.
Lisette parecia irritada, mas balançou a cabeça com um aceno.
— Você não conhece nossos modos — disse Rosa, — então vou
explicar. Durante o duelo, ninguém pode interferir. Qualquer um que o
faça será punido. Severamente.
Tuuuudo bem.
Concorde, Val. Austin não precisa de sua ajuda.
— Tudo bem, vou cumprir suas regras se todos os outros
cumprirem. — Caso contrário, eu temia que eles me expulsassem, e eu
não poderia assistir o resultado por mim mesma.
— Obrigado — Austin disse suavemente.
Rosa verificou o relógio. — Ainda temos quinze minutos antes do
início do duelo. Eu sugiro que vocês se preparem.
Oh, merda. Isto estava realmente acontecendo.
CAPÍTULO VINTE E SEIS
AUSTIN

F inalmente estava acontecendo. Austin havia resistido ao duelo por


respeito a Alejandro e para manter a ordem dentro da
organização, mas não podia negar que demorou muito. Talvez tempo
demais.
As apostas nunca foram tão altas. A vida de Alejandro e o futuro da
organização estavam em risco, e Austin devia a vitória a Rosa e
Alejandro — decisivamente. Para que isso funcione, não poderia haver
dúvida sobre a ideia de que Austin era o melhor líder.
No entanto, na opinião de Austin, Luis demonstrou sua
incapacidade de comando diariamente, muitos na organização ainda
mantinham os modos antigos, onde poderiam querer ser o certo. A
antiga maneira de lidar com desafios e desentendimentos de liderança
ainda era forte na organização, não importa o quão desatualizado fosse.
Por sorte, Alejandro modificou as regras para proibir matar oponentes
em duelos e desafios. Caso contrário, eles poderiam ter números muito
reduzidos, dada a quantidade de testosterona saturando os membros.
Neste momento, no entanto, Austin podia ver por que duelos até a
morte eram permitidos no passado. Mesmo que ele ganhasse, ele teria
que se preocupar com o fato de Luis subvertendo todos os seus
movimentos no futuro.
Bem, ele lidaria com isso quando acontecesse. Por enquanto, ele
tinha que derrotar Luis para poder resgatar Alejandro.
— Que tipo de duelo é esse? — perguntou Val, parecendo
preocupada. — Bestas a vinte passos? Ou você escolhe as armas?
— Não, é combate corpo-a-corpo, armas não são permitidas.
Apenas força bruta e a capacidade de superar seu oponente.
Val pareceu relaxar. — Então você ganha. — Ela olhou para ele. —
A menos que ele trapaceie.
— Ele não vai — assegurou Austin. — Qualquer lutador que faça
isso automaticamente perde, e se matarem seu adversário, eles, por sua
vez, perderão a vida.
— Não é exatamente reconfortante para a pessoa que morreu
primeiro.
— Não chegará a isso. — Luis estava muito orgulhoso para se
arriscar ser humilhado. E isso deu a Austin a base de sua estratégia para
o duelo que estava chegando.
— E se Lisette ou um de seus seguidores tentarem alguma coisa
desonesta?
— Eles não vão. As penalidades são quase tão graves por interferir
em um duelo.
— Tudo bem — disse Val. Austin esperava que ela estivesse
satisfeita com essa explicação — ele não queria entrar nas antigas formas
de tortura consideradas aceitáveis como punição.
Ele acariciou seu pescoço, sussurrando sob o barulho da multidão.
— E eu estou contando com você para detê-lo ou os homens de Lisette
se isso for longe demais.
Surpresa, Val olhou para ele de boca aberta. — Mas eu prometi...
— Somente se alguém tentar me matar — Austin frisou. Ele sabia
que ele poderia contar com Val para garantir que nada “desonesto”
ocorresse. — E Fang não prometeu nada.
Val olhou para seu cão do inferno. — Ele perguntou por que todos
os outros estavam ignorando o outro ser consciente na clareira. Mas você
não estava, não era?
— Não.
— Tudo bem — ela sussurrou. — Mas espero que não seja
necessário.
Rosa estava começando a colocar as pessoas em posição. Hora de
encarar. — Vai começar em breve. Você vai ficar e assistir?
— Claro! Eu tenho que torcer para você, certo?
Satisfeito, Austin sorriu para ela. — Espero que você não diga isso
literalmente. O ruído e os gritos às vezes podem ser mal interpretados
como interferência.
— Nesse caso, vou manter todos os comentários “vai, vai, Austin”
entre Fang e eu.
— Bom plano. Mas não há nada de errado em um combatente
aceitar uma gentileza de uma senhorita adorável... — Ele acenou com a
cabeça para onde Lisette estava puxando o lenço cor-de-rosa cintilante
de seu pescoço e o colocando na frente da camisa de Luis.
Os olhos de Val se estreitaram. — Eu lhe daria uma estaca de
madeira, mas provavelmente não é permitido, não é?
Ele suprimiu uma risada. — Definitivamente não.
— Bem, não vou tirar a roupa na frente dessa multidão — ela disse,
tentando fazer uma piada, mas Austin poderia dizer que a incomodava
que ela não tivesse algo para lhe dar.
— Não é realmente necessário — Austin a tranquilizou. Ele só
queria dar a ela uma maneira dela se sentir parte do que estava
acontecendo.
Ela olhou para Fang. — Oh, Fang me lembrou que eu tenho algo.
— Ela tirou o colar que Ivy lhe deu. — Toma, tem um pedaço do amuleto
que quebrou. — Ela estendeu a mão para soltar o fecho.
Aceitando, Austin colocou o colar em seu bolso da calça jeans da
frente onde provavelmente não seria danificado. — O que eu realmente
esperava era um beijo — ele disse a ela com um sorriso.
Os olhos de Val se dirigiram de um lado para o outro. — Na frente
deles?
— Por que não? Todo mundo sabe como me sinto sobre você, de
qualquer maneira.
— Tudo bem, se você insiste — Val disse, e suas bochechas ficaram
vermelhas, discerníveis para sua visão aprimorada mesmo no escuro da
noite.
Ele a beijou com firmeza, não demorado como uma demonstração
lasciva, mas também não um beijo lento. Afastando-se dela, ele passou
o dedo contra sua bochecha macia. — Pronto. Isso deve me ajudar a
ganhar todos os tipos de torneios, minha senhora.
— Ainda tem mais — Val disse suavemente. Ela o beijou de novo,
mas desta vez enviou Lola em seus chacras. Em vez de tirar energia dele,
Val fez algo inesperado, ela enviou energia para ele, fazendo com que ele
se sentisse forte e vibrante.
Quando terminou, Val se afastou e murmurou: — Apenas te
devolvendo o que você me deu. Agora você está em plena capacidade.
Ele não podia discutir com isso e não queria. Ela o fez se sentir
poderoso, extremamente masculino, capaz de fazer qualquer coisa.
— Cavalheiros — disse Rosa com impaciência. — Se vocês
estiverem prontos?
Austin se afastou de Val e ficou feliz em ver que não havia medo em
seus olhos — apenas aceitação, encorajamento e fé absoluta nele. Isso o
fez querer viver de acordo com essa crença. Ele tirou o chapéu Stetson e
o mergulhou na cabeça de Val. — Segure para mim, querida.
— Todo mundo, exceto Luis e Austin, vão agora deixar a clareira
— instruiu Rosa.
Austin estava tão ocupado com Val que ele não tinha notado a
multidão de pessoas que vieram assistir o duelo. Parecia que todos no
Movimento queriam ver o resultado por si mesmo. O círculo era rodeado
de espectadores espremidos ombro a ombro, com outros olhando por
cima de suas cabeças e alguns subindo os galhos convenientes baixos dos
carvalhos vivos.
O irritava um pouco que eles estavam tão ansiosos para assistir o
duelo, então percebi que isso era tão importante para eles quanto para
ele. Isso o deixava ainda mais determinado a vencer. Deixar Luis a cargo
da organização seria um grande erro.
Rosa abriu espaço para Val, Fang e Lisette ficarem ao lado dela em
um ponto do círculo, sem dúvida para que pudesse ficar de olho neles.
Uma vez que todos estavam no lugar, ela gritou: — O primeiro
combatente a perder a consciência ou ceder ao seu adversário perde a
luta. Se você receber assistência ou usar uma arma além do seu corpo,
você perderá a luta com consequências terríveis. Os espectadores
permanecerão em silêncio para não distrair os combatentes. Qualquer
pessoa que interfira na partida de qualquer forma será severamente
punida. Entendido?
Austin e Luis disseram “Sim” em uníssono. Houve múrmuros na
audiência entre aqueles que não tinham testemunhado ou ouvido duelos
antes, mas eles logo abrandaram.
— Então tomem suas posições — ela ordenou.
Austin encarou Luis, ambos de pé a cerca de três metros de frente
dos espectadores, em lados opostos do círculo. Isso deixava cerca de três
metros entre eles. Eles eram bastante parecidos. Luis era um pouco mais
pesado e mais vicioso, mas Austin tinha um alcance mais longo e uma
cabeça fria. Ele precisaria de ambos para ganhar essa luta.
Quando Austin sacudiu os braços e as pernas para relaxar, ele
tentou avaliar o movimento mais provável de Luis. Austin não tinha
prestado tanta atenção ao estilo de luta de Luis, mas, conhecendo a
personalidade do homem, Austin achou que ele tentaria derrubá-lo o
mais rápido possível, contando com o elemento surpresa e a vantagem
adicional que ele havia recebido do cristal quebrado para derrotar Austin
no menor tempo possível.
Austin não tinha um plano assim como uma estratégia. Mantenha
a calma e humilhe Luis para deixá-lo muito irritado, então o espanhol
cometeria erros estúpidos. Luis nunca cederia, então a única opção era
deixá-lo inconsciente. Ao contrário da crença popular, o sangue ainda
fluía nas veias de um vampiro, de modo que cortar o fluxo sanguíneo
para o cérebro o deixaria inconsciente, assim como dar-lhe uma
concussão ou a falta de ar.
— Comecem — exclamou Rosa.
Luis gritou e correu em direção a Austin como um touro, tentando
bater nele com pura força.
Tal como ele esperava.
Austin esquivou-se com um movimento fluido rápido como um
relâmpago e, enquanto Luis passava, Austin o atingiu no rosto com a
palma aberta — um gesto de desprezo. Exclamações chocadas vieram da
multidão, junto com algumas risadas. Um ponto para mim.
— Silêncio — Rosa lembrou a todos enquanto Luis cambaleava.
Ele se virou para encarar Austin, seu rosto vermelho e sua expressão
indignada. — Como você se atreve?
Austin simplesmente sorriu para ele, acenando para incitá-lo.
Foi quando Luis surtou. Ele girou com um grunhido e, sem
telegrafar seu movimento, ele saltou com um chute giratório na cabeça
de Austin.
Austin desviou — por pouco — e agarrou a perna de Luis, jogando-
o sobre suas costas no chão. Com um rugido, Luis saltou de pé e foi para
Austin como um louco. Droga, o homem o pegou desprevenido. Ambos
bateram no chão, Austin por baixo, enquanto Luis lutava com ele,
tentando imobilizá-lo.
De jeito nenhum ele deixaria isso acontecer. O aperto de Luis não
era tão bom quanto deveria ter sido já que ele havia perdido a calma.
Austin manteve a dele e atingiu o interior do cotovelo de Luis para que
seu aperto se afrouxasse, e Austin conseguiu se livrar.
Do chão, Luis chutou e o fez tropeçar. Austin caiu para trás, mas
usou seu cotovelo afiado para amortecer seu pouso no estômago de Luis.
O contato deixou Austin sem equilíbrio por um momento, e apesar de
Luis deixar escapar um oof, ele deu um soco na cabeça de Austin.
Embora ele felizmente tenha errado a têmpora de Austin, Luis tinha
marcado um forte golpe no seu olho esquerdo e ele estava sangrando.
Percebendo que provavelmente perderia a metade de seu campo de
visão em breve, Austin se pôs de pé e demorou um instante para limpar
o sangue de seus olhos quando Luis surgiu do chão, com a cabeça
inclinada para a barriga de Austin.
Austin se virou para evitar a cabeçada, mas, embora Luis tenha
errado a barriga, pegou Austin do lado, nas costelas. Na verdade, parecia
que pelo menos uma delas estava quebrada. Doeu como o inferno, mas
não tirou o ar dele.
Ele teve o suficiente, e Luis estava bastante enraivecido agora, então
Austin assumiu a ofensiva. Ele bateu forte na parte de trás da cabeça de
Luis, depois deu uma joelhada no seu rosto. Luis começou a cair, depois
se recuperou e se afastou para trás, balançando a cabeça.
Dando seguimento a sua vantagem, Austin avançou em Luis e o
acertou com soco, esperando que o golpe no seu queixo causasse um
nocaute. Sem sorte.
Luis voltou e tentou outro golpe. Onde Austin o queria. Ele desviou
o braço de Luis, afastando-o e o prendendo entre seus corpos, depois o
pegou em uma chave de braço, cortando o fluxo em suas artérias
carótidas.
Luis ergueu o queixo e puxou o braço de Austin em um esforço para
conseguir mais fluxo de ar e sangue, sem sucesso. Não havia nenhuma
maneira de Austin ceder. Quando isso não funcionou, Luis tentou
distrair Austin e fazê-lo perder o controle ao usar suas pesadas botas para
pisar no pé dele, depois socou com o braço livre a cabeça e as costelas de
Austin. Austin grunhiu, mas o segurou. Ficando desesperado, Luis
conseguiu dar alguns golpes nos rins e até um chute na sua virilha.
Austin o segurou severamente, aceitando a dor e o castigo sem
soltar ou ceder. As lutas de Luis diminuíram, então cessaram
completamente. Austin o segurou por mais uns segundos, apenas para se
certificar de que Luis não estava blefando, então o soltou. Luis caiu no
chão, claramente inconsciente.
Ele não estaria desmaiado por muito tempo, mas ele não precisava
estar: a luta acabou, e Austin ganhou. Ele apoiou as mãos nas coxas,
tentando controlar a dor e se orientar.
O rugido de aprovação foi imediato e ensurdecedor. Surpreso,
Austin olhou para Rosa com o seu olho direito, já que o esquerdo estava
rapidamente inchando. Ela caminhou até o centro da clareira e sorriu
para ele. Levantando seu braço em triunfo, ela gritou: — Austin é o
vencedor! — Ele mal podia ouvi-la acima do rugido da multidão.
A multidão se apressou para a clareira, mas Val chegou até ele
primeiro. Ela o agarrou em um abraço como se nunca quisesse soltá-lo.
Ele estremeceu.
— Você está machucado — ela disse, se afastando e estendendo a
mão para tocar a ferida acima de seu olho.
Embora suas muitas dores e aflições estivessem gritando com ele,
Austin disse: — Não é nada — e tirou o chapéu da cabeça dela para
colocar na dele. Ele não estava inteiramente mentindo — ele poderia
estar com dor, mas ele iria se curar em breve, e valia a pena ter isso
resolvido de uma vez por todas. Se Luis honrasse sua palavra, é claro.
Alguns dos seguidores de Luis o arrastaram para o lado para que ele
não fosse pisoteado, e Rosa ergueu os braços. — Silêncio, todos, por
favor. — Quando todos finalmente se acalmaram, ela disse: — Austin,
como vencedor do duelo e líder de fato do Novo Movimento de Sangue
de San Antonio, você tem alguma coisa a dizer?
Embora ele soubesse que era necessário manter Luis na linha,
Austin tinha humilhado o homem o suficiente por um dia. Em vez de
cantar sobre sua vitória, ele disse simplesmente para que todos pudessem
ouvir: — O verdadeiro líder da organização é Alejandro. Nós
descobrimos onde ele está e como resgatá-lo. Com a ajuda de todos aqui,
pode ser a primeira coisa a fazermos amanhã à noite. Vocês vão me
ajudar?
Outro rugido de aprovação encheu o ar quando Luis levantou-se
rapidamente, auxiliado pelos seus seguidores.
— E Luis? — perguntou alguém por detrás.
Austin não tinha certeza exatamente o que o homem estava
perguntando, mas escolheu acreditar que ele estava perguntando sobre o
resgate. — Luis concordou em ajudar a salvar Alejandro.
Ele ouviu alguns resmungos de descrença, e Luis se empertigou para
levantar em toda a sua altura, seu nariz empinado, sua expressão dura
como pedra. — Eu dei a minha palavra. Eu ajudarei a libertar Alejandro
de sua prisão.
Ele não prometeu mais e Austin não esperava por isso. Isso era tudo
o que ele queria de Luis — por enquanto.
— Todos nos encontraremos na casa do demônio de sangue
imediatamente depois do pôr do sol amanhã — disse Austin com
desdém. — Vão, se preparem.
Val manteve-se ao lado, enquanto muitos se demoravam para dar
uma tapinha nas suas costas ou felicitá-lo por sua vitória — muito mais
do que ele esperava, na verdade.
Quando Gwen e Elspeth se aproximaram no final, ele perguntou
surpreso: — Vocês vieram?
— Nós queríamos apoiá-lo — disse Gwen. — Você duvidava disso?
— Não, mas não pensei que vocês queriam testemunhar a luta,
especialmente pela maneira como Luis... treinou vocês. — Na verdade
estava mais para assustá-las.
— E é precisamente por isso que nós viemos — Elspeth o informou.
— Precisávamos saber imediatamente se poderíamos continuar a
pertencer a esta organização.
Havia uma coisa que Austin não considerara — quantos sairiam se
Luis tivesse ganhado? Ou, seria permitido sair? E quantos sairiam agora
que Austin ganhou?
Gwen, sempre uma enfermeira, não lhe deu a chance de pensar
sobre isso enquanto olhava para ele. — Você precisa dar uma olhada
nisso.
Ele afastou a sua preocupação e puxou o chapéu para baixo. — Eu
vou ficar bem. Eu não gostaria de combater demônios completos neste
momento, mas eu devo ficar completamente curado depois de um sono
restaurador.
Elspeth deu uma tapinha no braço de Gwen. — Ele tem razão. Ele
vai curar sem nós. Venha, vamos voltar aos nossos deveres.
— Tudo bem — Gwen disse, então se esticou para beijá-lo na
bochecha. — Você não tem ideia de quão aliviada estou que você
ganhou.
Pasmo, Austin observou-as partir. Agora, ninguém ficou além de
Val e Fang. Ele tirou o colar do bolso e o inspecionou. — Está vendo?
Sem danos.
Val pegou o colar com uma expressão estranha no rosto.
— Alguma coisa errada? — ele perguntou.
— Oh, nada. Fico feliz que você ganhou e que você reuniu todos
para resgatar Alejandro. Mas há apenas um problema: você não
convenceu Micah a deixar Shade abrir o portal ainda.
Austin tentou levantar uma sobrancelha, mas doeu demais. — Isso
é realmente necessário agora que sabemos que você pode forçar Shade a
abrir o portal... se você escolher?
— Sim, é necessário — Val disse com firmeza. — Micah é meu
chefe. Você iria contra os desejos de Alejandro?
— Se fosse o certo a se fazer — Austin disse teimosamente.
Fang bufou, como se o cão do inferno soubesse que ele estava
mentindo. E se Fang achava isso, Val sabia disso também.
— Alejandro e eu ajudamos a resgatar Micah quando ele foi
sequestrado — ele a lembrou.
— De um demônio, não de uma maldita horda deles. E o resto do
mundo não estava em perigo. — Ela balançou a cabeça. — É melhor
você chegar a um plano factível rápido ou Micah nunca concordará.
— Ele concordará — disse Austin com confiança. Ele tinha que
concordar.
CAPÍTULO VINTE E SETE
VAL

E u dirigi para casa depois do duelo, feliz por ter assistido e que
Austin ganhou — não que eu tivesse alguma dúvida que ele
ganharia, mas eu não tinha certeza de que Luis iria jogar com
honestidade. Em todo caso, eu estava exausta e queria descansar.
Infelizmente, Ivy deixou Shade em casa, e ambos estavam me
esperando quando cheguei na casa, lendo a enciclopédia.
— Qual é o problema? — Ivy perguntou, vendo meu rosto. —
Austin não perdeu, não é?
— Não, estou cansada. — Eu dei um sorriso cansado. — Aquelas
duas horas que vocês gastaram neste mundo enquanto eu estava presa
no outro foram mais como seis para mim. — Eu não tinha feito nada
fisicamente exigente, mas ainda sentia como se eu estivesse acordada há
dias.
A preocupação vai ter um preço para você, Fang disse com simpatia.
Sim — e eu tinha me preocupado muito na outra dimensão e
enquanto assistia a luta de Austin — não que eu tenha deixado ele ver
nada além da confiança em sua habilidade.
— Onde está Austin? — Shade perguntou. — Não vamos fazer o
resgate agora?
Sua ansiedade de cachorrinho me fez querer machucá-lo. — Austin
e Luis foram machucados durante a luta e precisam de tempo para curar.
— Eu posso...
— Não — eu disse, o parando com uma mão levantada. — Eles
querem curar por conta própria. Além disso, Austin já reuniu todos para
se encontrarem amanhã à noite na mansão de sangue. — Eu caí nas
almofadas macias do sofá, que realmente pareciam boas agora.
— Val precisa descansar também — Ivy o lembrou.
Amém para isso. — Além disso, você ainda precisa de um plano
que Micah concordará.
— Mas...
Eu balanço a minha cabeça. — Basta, Shade, por favor. Eu pensei
sobre isso e eu não irei contra os desejos de Micah. Se ele acha que é
muito perigoso e que ele não quer arriscar muitas pessoas para resgatar
alguns, não vou discutir com ele. — Antes que Shade pudesse apresentar
outro argumento, eu disse: — É ele que você precisa convencer, não a
mim. Farei o que Micah disser.
Uma maneira de jogar a responsabilidade em outra pessoa, Fang estalou.
Sim, bem, é por isso que Micah recebe muito bem.
— Eu já liguei e lhe pedi para nos encontrar aqui — disse Shade,
obstinadamente. — Se você ligar para Austin e fazê-lo vir, podemos
resolver isso agora. Ainda há algumas horas até o amanhecer.
— Ele está se curando e mal se acomodando em seu novo
emprego...
— Isso é besteira, e você sabe disso. Esta é a coisa mais importante
para Austin agora e para mim. Vamos resolver logo.
Ele não vai desistir, Fang me avisou.
— Tudo bem, tudo bem. — Eu mandei uma mensagem para Austin
rapidamente, e ele respondeu. — Ele está vindo — eu disse com cansaço.
— Posso descansar agora?
A campainha tocou, e Ivy atendeu, deixando Micah entrar. Parecia
que não.
— Estamos esperando Austin — disse Shade. — Eu tenho certeza
que ele já tem um plano.
Ele tem? Fang me perguntou.
Até onde eu sei não. Pelo menos, nenhum que Micah vá aceitar.
Ah, eu entendo. Shade está na terra dos sonhos. Todos nós já fomos para lá
algumas vezes.
Verdade.
Micah assentiu e Ivy assumiu os deveres de anfitriã, oferecendo
bebidas aos nossos hóspedes. Quando ela nos trouxe um refrigerante,
Micah olhou para os livros na mesa de café ao lado do laptop da Shade.
— Você está pronto para compilar a lista digital de demônios
conhecidos, Shade?
— Sim, terminei ela, mas uma lista de feitiços seria útil, então eu
tentei digitá-los também.
Seria útil, mas... — Feitiços? — eu disse com descrença. — Isso não
é...
— Apenas uma listagem para um índice — ele me assegurou. —
Nenhum detalhe. E nada disso está conectado à Internet, então você não
precisa se preocupar com isso caindo nas mãos de outra pessoa. — Ele
balança a cabeça. — Mas é cada vez mais difícil lê-los. Às vezes, é como
se o livro não quisesse saber quais são os feitiços.
Eu assenti. — Os livros devem se abrir completamente apenas para
o Guardião. — E Shade era apenas um alternativo.
— Mas Ivy não parece ter problemas para lê-los — disse Shade.
Olhei para a minha colega de quarto. — Uma das suas pedras está
ajudando você?
Ela encolhe os ombros. — Eu não sei. Talvez. Mas o texto não
parece ficar borrado e girar para mim da maneira que Shade disse que
está fazendo com ele.
— Mas eu pensei que você usou alguns feitiços, Shade. — Ele usou
o portal unidirecional, bloqueou Fang, falou com os livros e quem sabia
o que mais.
— Eu usei — disse Shade. — Mas está mais difícil agora. Eu só
pareço ser capaz de ler um feitiço completo por vez, embora eu possa
correr os olhos pelos títulos.
Estranho.
Talvez os livros não gostem mais dele, Fang sugeriu.
Poderia ser. Fang deve ter transmitido isso para Micah e Ivy
também, porque eles olharam para ele.
Micah parecia pensativo. — Você não disse antes que apenas os
potenciais guardiões podem usar feitiços dos livros?
Shade respondeu-lhe. — Sim, e demônios magos, é claro, mas nós
cuidamos deles. Parece que o Guardião pode usar qualquer feitiço, mas
os potenciais guardiões só podem usar alguns deles.
— Quais deles? — perguntou Micah.
— Eu não sei, parece mudar aos caprichos dos livros.
Micah assentiu. — Você acha que Ivy pode ser uma potencial
guardiã e é por isso que ela pode lê-los?
— Por que você não pergunta aos livros? — eu sugeri. — Shade
pode conversar com eles com um feitiço que eles deram a ele.
Micah levantou uma sobrancelha e Shade abriu um dos livros em
um lugar que ele marcara. — Ivy é uma potencial guardiã? — ele
perguntou.
Sim.
— Por que você precisa de tantos? — perguntou Shade.
Nós não precisamos. Nós só precisamos de um guardião. E nós escolhemos
Ivy Weiss.
Todos ficaram surpresos, especialmente Ivy. — O quê? O que isso
significa? — ela perguntou.
— Explique — Shade disse aos livros diretamente.
O guardião tem uma grande responsabilidade: usar nosso poder sabiamente,
nos manter seguros e manter-se seguro. Como os demônios magos não são mais
uma ameaça, nossa necessidade é menor para a proteção do que para a
continuidade e a confiabilidade. Os demônios conhecidos como Val e Shade se
arriscaram demais e planejam fazer isso ainda mais no futuro. Ivy Weiss será
uma Guardiã mais sábia.
Bem, eu não podia negar que eu estava um pouco ofendida de que
não me queriam mais, mas como o demônio do cristal quebrado tinha
restaurado meus poderes, na verdade eu não precisava mais da força que
os livros forneciam. Eu também tinha que admitir algum alívio. Eu não
era uma erudita como Shade — eu odiava fazer pesquisas neles. E odiava
o ato de equilíbrio que eu tinha que executar entre os poderes de Lola e
os feitiços que eu usava. Agora que ao atravessar as dimensões os feitiços
saíram de mim, eu também não precisava mais me preocupar com eles.
— Eu nem sei se eu quero isso — protestou Ivy.
— Por que Ivy? — Shade perguntou aos livros, soando irritado. Ele
tinha mais a perder do que eu.
Porque ela tem as pedras para ajudá-la, juntamente com a sabedoria e a
maturidade para lidar com a responsabilidade sem prejudicar a si mesma ou aos
outros.
Hã. Os livros me chamaram de imatura?
Fang bufou. Pareceu que sim.
Bem. Eu não precisava deles, de qualquer maneira.
Eeeee você acabou de provar que eles têm razão.
Micah parecia pensativo. — Ivy, eu acredito que você estava
planejando ficar aqui em San Antonio?
— Sim — ela disse cautelosamente. — Mas não tenho certeza sobre
isso. O que significa ser uma Guardiã?
Dei de ombros. — Bem, eles não estão mais preocupados com os
demônios magos e não precisam de proteção, então, principalmente, isso
significa procurar feitiços na enciclopédia e usá-los para ajudar o
Clandestino quando necessário. — Eu fiz uma pausa, depois acrescentei,
— Até agora, usei um feitiço localizador, um feitiço de força e um de
exorcismo. Nenhum desses é perigoso por si só, a menos que você se
arrisque. — Era o que os livros provavelmente estavam querendo. — Os
livros são egoístas para conseguirem o que querem para sobreviver — eu
acrescentei. — Eles foram feitos dessa maneira deliberadamente, para se
proteger a todo custo. E parece que eles acham que você é a melhor
pessoa para o trabalho. Mantenha-os seguros, use-os com sabedoria, e
acho que você será uma grande Guardiã.
— Eu concordo — disse Micah. — E você estaria nos fazendo um
grande favor assumindo esse trabalho.
Ivy soltou um suspiro. — Eu... tudo bem. Eu estava pensando como
eu iria entrar na sua organização aqui, de qualquer forma. Parece que os
livros tomaram a decisão por mim.
E ela concordando, pareceu como se um grande peso tivesse sido
tirado dos meus ombros. Interessante — eu nem tinha percebido que
parecia como um fardo antes.
Uma batida veio da porta, e Ivy deixou Austin entrar. Não fazia
tanto tempo desde que terminou a luta, mas ele já parecia melhor — o
hematoma em torno de seus olhos parecia ser de dias e o corte estava
quase curado.
— Venha contar a Micah seu plano — Shade pediu.
Austin tirou o chapéu e sentou-se ao meu lado, seu braço na parte
de trás do sofá atrás de mim. Lola murmurou alegremente, fazendo-me
sentir toda mole e feminina por dentro.
Ele é bom para você, disse Fang. Um namorado vampiro... quem diria?
Certamente, não eu. Seis meses atrás, eu nem tinha percebido que
existia algo como um vampiro “bom”, e eu praticamente matava todos
os sanguessugas que eu encontrava.
— O plano é simples — ele disse a Micah. — Amanhã à noite,
Shade abrirá um portal, pequeno o suficiente para que ninguém passe do
outro lado. Fang pode nos dizer quantos demônios existem, então
estaremos preparados e saberemos quantas pessoas precisamos para
combater os demônios do outro lado, se houver. Depois que a minha
força de ataque passar, Shade pode reduzir o tamanho do portal
novamente para que ninguém possa passar, mas Fang ainda pode
monitorar o que está acontecendo por lá.
— Como Fang pode monitorar qualquer coisa? — perguntou
Micah. — Ele não consegue ler sua mente.
— Não, mas ele pode ler a de Val.
Micah levantou uma sobrancelha. — Você não vai arriscar minha
Paladina sem a minha permissão.
Austin olhou para mim, mas fiquei com a boca fechada e levantei
minhas mãos em sinal de rendição. Eu não iria entrar nesta discussão.
— Não precisa ser eu — eu disse, tentando não soar como se eu estivesse
tomando partido. — Qualquer demônio o fará. Tenho certeza de que
Andrew seria voluntário.
— Eu sei que ele seria — disse Shade ansiosamente.
— Se eu concordar em deixar você abrir o portal — Micah o
lembrou.
— Por que você não deixaria? — perguntou Shade.
— Porque o plano é falho. Você pode saber onde Alejandro passou,
mas não há garantia de que ele ainda estará no mesmo local dias depois.
E você não tem ideia do que está esperando por você do outro lado.
— Eu poderia ser capaz de ajudar com isso — disse Ivy. Quando
nos viramos para olhar para ela, ela acrescentou: — Quando Andrew
passou pelo portal, eu dei uma pedra para melhorar a comunicação.
Enquanto ele estava lá, eu ainda podia ouvir a pedra. Ela foi capaz de
me dar informações sobre a situação do outro lado. Se lançarmos uma
pedra através do portal, podemos conseguir pelo menos alguma
informação desse jeito.
— E eu irei reunir meu pessoal neste lado — disse Austin — Prontos
para matar qualquer demônio que passar. Com a ajuda de algumas
pessoas, devemos manter o perigo contido.
— Viu? — Shade disse, como se a questão estivesse resolvida.
Micah balançou a cabeça. — Continua o problema de que você não
sabe quanto tempo demorará para encontrá-lo ou se o tempo está
passando mais rápido por lá. Quanto tempo você pode manter um portal
aberto, Shade? Você pode fazer isso por horas? Dias? Se você não puder,
o que acontecerá com as pessoas do outro lado quando precisarem
voltar?
Shade ficou em silêncio por um momento, enquanto todos nós
pensávamos em como isso poderia ser complicado. Mas ele não estava
prestes a desistir tão facilmente. — Se eu criar um portal unidirecional
para nos levar com muitas provisões, posso nos trazer de volta com outro
portal unidirecional quando for seguro.
— Se você ainda estiver vivo — Micah respondeu. — Não há
garantia de que você sobreviva, e se você estiver morto ou inconsciente,
o resto da equipe estará presa lá, para sempre.
Droga, Micah tinha razão.
— Sempre há problemas com qualquer plano — Austin falou entre
dentes. — Não saberemos o que precisamos até chegar lá e avaliar a
situação.
— E é por isso que não posso concordar — disse Micah, parecendo
arrependido. — Meu primeiro dever é com o Demônio Clandestino,
depois com o povo de San Antonio. Você sabe o quanto de dano que
Emmanuel fez e ele era apenas um demônio. Imagine o que uma horda
inteira poderia fazer. Não posso arriscar as vidas de todos na cidade para
resgatar um homem.
— Dois homens e uma mulher — Shade o lembrou. — Você ouviu
alguma resposta de Diesel?
— Sim — confirmou Micah. — Diesel me ligou de volta. Seu cão
do inferno, Max, admite que ele pode ter mentido ao dizer que Sharra
estava morta.
— Pode ter? — eu repeti. — Ela estava viva ou não?
— Ele não sabe. Ele disse o que ele tinha que dizer para manter o
portal fechado.
— Eu sabia — exclamou Shade. — Sharra está viva.
Micah balançou a cabeça. — Você não sabe disso com certeza. Nem
sabemos se Alejandro e Vincent ainda estão vivos.
Austin respirou fundo. — Alejandro não hesitou quando se tratava
de ajudar no seu resgate — ele disse suavemente. — Você não fará o
mesmo por ele?
Oh, cara. Ele disse, disse Fang com admiração.
Bem, ele era um homem difícil que tentava bastante ser civilizado,
mas isso não significava que ele recuaria.
Micah olhou para as mãos dele. — Antes de sair do clube, Tessa me
deu uma profecia sobre essa situação. Ela disse “Confie no julgamento
da Paladina”. — Ele olhou para mim, com desculpas em seus olhos. —
Então, Val, você tem todos os dados, prós e contras. O que deveríamos
fazer?
Fang gargalhou. Tanto esforço para abdicar da responsabilidade.
Bem, merda. Eu não queria tomar essa decisão, não queria estragar
tudo nem prejudicar qualquer pessoa que eu gostava.
Todos assumiram que eu ia tomar os seus lados. — Você pode me
deixar dormir? — eu perguntei, procurando por mais tempo.
— Não — disse Micah. — Você tem todas as informações que você
precisa. Decida agora, por favor.
O que devo fazer? perguntei a Fang melancolicamente. Não importa
qual a escolha que eu faça, alguém ficará puto.
Tessa disse para confiar no julgamento da Paladina, não na mente de Fang.
Mas seja o que for que você escolher, eu vou apoiar você. E assim como Micah e
Austin.
Eu suspirei e cedi. — Ok, me dê um minuto para pensar.
Fechei meus olhos e deixei os detalhes fluírem pela minha mente.
Ambos os lados tinham excelentes argumentos. Eu gostaria
definitivamente de ver Alejandro e Vincent de volta nesta dimensão. Não
só porque gostava deles, mas porque Alejandro poderia ajudar a
estabilizar a incerteza que ameaçava separar o Movimento. E trazer
Sharra de volta morta ou viva faria eu me sentir menos culpada por ferrar
a vida de Shade.
Mas Micah tinha uma questão boa. Valia a pena arriscar a vida de
muitas pessoas para salvar apenas de algumas? Especialmente quando o
resultado era tão duvidoso?
Os argumentos rodearam na minha cabeça, e eu não sabia o que
fazer. Ajude-me, implorei a Fang.
Tessa tem confiança que você sabe a coisa correta a se fazer. Qual é?
Eu não fazia ideia. O que era o certo? Seguir os meus sentimentos e
trazê-los de volta apesar das consequências? Ou usar a lógica fria e dura
e os abandonar lá?
Abandonar... essa palavra atingiu um nervo. Quando eu passei
apenas poucas horas na outra dimensão, pensar em não poder voltar para
casa me assustou mais do que qualquer vampiro ou demônio que eu já
enfrentara, e eu não estava em perigo. Não consigo tirar a imagem de
Sharra da minha cabeça, encolhida num canto, perguntando-se quanto
tempo esperaria. Imaginando se alguém viria.
Eu não poderia abandonar ninguém nesse tipo de destino. Não
importa quais as consequências, eu sabia que desejaria que alguém me
resgatasse. Olhei para Austin. Olhei para Shade. Olhei para Fang, e eu
sabia. Tão certo como eles foram atrás de mim apesar das consequências,
nós iríamos atrás de Sharra. De Alejandro. De Vincent.
Eles são da família. E você vai atrás da família. Era a razão pela
qual eu era Paladina — para proteger minha família. Eu tinha que me
lembrar disso. Eu tinha que parar de levantar paredes e me proteger, os
empurrando e assumindo que não poderiam me amar, me perdoar...
confiar em mim para ser mais do que apenas uma Paladina. Eu era
Paladina porque eles confiaram em mim para ir atrás deles. Não importa
o quê.
Respirei fundo e anunciei: — Eu decidi. Nós vamos.
Austin soltou um suspiro aliviado quando Shade gritou: — Isso!
Micah suspirou e assentiu. — Eu confio em você, bem como nas
profecias de Tessa. Nós daremos aos membros do Clandestino a
oportunidade de ajudar se desejarem, mas não exigirei que o façam.
Shade, eu concedo permissão para abrir qualquer tipo de portal que você
precisar amanhã à noite. Val tomará a decisão sobre quando, onde e por
quanto tempo, e você irá cumprir sua decisão.
— Entendido — Shade disse exultantemente.
— E Austin — Micah continuou severamente. — Devo insistir que
se Alejandro retornar ou não, você deve concordar em conversar com os
demônios e humanos sobre se revelar ao mundo.
— De acordo — Austin disse instantaneamente, me dando um
abraço de um braço, que eu não tinha certeza que eu merecia.
Você tomou a decisão certa, Fang me assegurou.
Sim, eu também pensava assim. Eu só esperava que não fosse tarde
demais.
CAPÍTULO VINTE E OITO
VAL

I vy, Fang, e eu dirigimos até a casa de sangue uma hora após o pôr-
do-sol no dia seguinte. Havia muitos vampmóveis pretos
estacionados nas ruas aos redores, junto com outros veículos menos
discretos pertencentes aos demônios. Eu liguei para o tenente Ramirez
ontem à noite, e ele concordou em fornecer alguns membros da UCE
para interferir com os vizinhos e fornecer uma última linha de defesa.
Senhor, eu esperava que não fossem necessários.
Foi quando o medo me atingiu. Não da luta, não dos demônios
delirantes do outro lado, mas de ter tomado a decisão errada. Quem era
eu para escolher um caminho que poderia resultar em ter algumas
pessoas perdendo a vida ou sendo presas para sempre em uma dimensão
demoníaca?
Você a Paladina do Demônio Clandestino, Fang me lembrou. Isso lhe dá
grande poder. E, como dizem, com grandes poderes vem grandes
responsabilidades.
Sim, bem, eu não queria isso.
Nenhum bom líder deseja isso.
Não está ajudando.
O tenente Ramirez estava direcionando o tráfego, e quando ele me
viu dentro do MINI de Ivy, ele nos dirigiu para um lugar na garagem que
eles guardaram para nós. Quando saí com minha mochila e minha
espada, percebi o que Austin queria dizer sobre ter um carro apropriado.
Difícil comandar o respeito quando você chega em um veículo que se
parece com um carrinho de bebê em forma de abelha. Por sorte, apenas
os policiais estavam lá fora. O resto devia estar esperando lá dentro.
Controlei minha apreensão e entrei no saguão, lotado de vampiros
e demônios.
— Lá está ela — Andrew gritou da escada, onde aparentemente ele
estava me esperando.
Todo mundo se virou para me encarar, sem dúvida me avaliando,
pesando a mim e a minha habilidade. Eu lhes dei um rápido aceno de
cabeça, tentando parecer confiante e competente. Todos estavam aqui
por minha causa.
Porque eles querem ajudar, Fang me corrigiu.
Andrew desceu as escadas em minha direção. — Eles estão
esperando na sala do altar por você. Por aqui — ele disse.
Ele estava tão entusiasmado para ser parte disso que não o avisei
que eu já conhecia o caminho.
Como esperado, Austin, Luis, Rosa, Diego, Jeremy e alguns
subordinados de Luis que eu não conhecia representavam os vampiros,
e o Clandestino estava representado pelo enorme demônio de água,
Ludwig, Josh, o demônio de fase, Micah, Shade, Ivy e eu.
Eu deixei o planejamento na verdade para a força de ataque de
Austin, e ele parecia totalmente preparado e responsável.
— Você tem os suprimentos que podemos precisar? — eu perguntei.
Austin assentiu. — Rosa equipou os seis com sustento, caso
precisemos passar muito tempo por lá, e sei que Micah trouxe comida e
água para vocês quatro.
Todos os vampiros carregavam pacotes e espadas, mas o resto dos
demônios precisavam apenas dos pacotes, já que as espadas interferiam
nos seus poderes. — Quatro? — Eu não esperava que Micah passasse, já
que seu poder só funcionava em demônios femininos.
— Sim, você, Ludwig, Josh e Andrew.
— Eu não sabia que você iria passar — eu disse a Andrew.
— Eu posso lutar — ele disse obstinadamente.
— Eu sei que você pode — eu assegurei-lhe. — Mas eu esperava que
você ficasse desse lado para cuidar de Ivy. — Ela tinha que estar aqui
para ler sua pedra, mas eu não queria colocá-la em perigo além disso.
— O demônio de fogo será um bom trunfo do outro lado — disse
Rosa. — Eu vou ficar desse lado para me preparar para qualquer coisa
que eles possam precisar. Eu vou cuidar dela.
Eu também, Fang disse.
Isso mesmo — eu esqueci que Fang teria que ficar para trás para
deixar Ivy e Micah saber o que estava acontecendo na outra dimensão.
Seria uma luta estranha sem o meu fiel cão do inferno ao meu lado, mas
tinha que ser assim. — Tudo bem.
Austin assentiu brevemente. — Então vão ser dez, e eu tenho mais
em reserva caso precisemos deles.
— Qual é o plano? — eu pergunto a ele.
— Eu acho que Shade deveria abrir um portal aqui na sala do altar,
já que foi aqui que Alejandro passou, mas o resto depende do lado
oposto. Só enviaremos todos quando for preciso. Você está pronta para
começar?
Eles não podiam ir a lugar algum até eu ter dado a Shade permissão
para abrir o portal. Olhei para eles. — Todo mundo que está passando
está consciente de que podem não voltar?
Todos concordaram — os mais jovens com uma ânsia de que logo
se arrependerão e os mais velhos com uma certeza sombria. Exceto por
Luis e seus seguidores. Suas expressões eram mais de um sorriso de
escárnio atado com desprezo.
Bem. Eu também não me importava com eles. — Qualquer um que
não for atravessar deve se afastar. — Rosa, Ivy, Micah e Fang se
retiraram para o outro lado da sala. — Nós só usaremos o pessoal que
vamos precisar. Austin nos avisará quem ele quer. — Eu olhei para
Ludwig, Josh e Andrew. — Vocês três escutem Austin, ele está no
comando. Fang nos manterá informados sobre o que os demônios estão
fazendo.
Todos concordaram. Eu confiava em Ludwig para fazer o que
pedimos, mas Josh e Andrew não foram provados. — O principal
objetivo aqui é resgatar nosso povo, isso é de suma importância. Sem
grandeza. Entenderam?
— Sim — disseram os dois em uníssono, e eu tinha que me
contentar com isso.
— Ok, Ivy, você tem uma pedra?
— Sim. — Ela tirou uma grande turquesa do bolso e me entregou.
— Pode trazer de volta se você puder?
Assenti e dei a pedra a Austin. — Aqui, você foi tão bom com a bola
de futebol, vamos ver como você fará com isso. Shade, abra um pequeno
portal, por favor, apenas grande o suficiente para que Austin jogue a
pedra. — Eu não sabia o quão longe o campo do portal se estendia e não
queria que ninguém fosse aspirado prematuramente.
Shade assentiu e, sem evidência de tensão, formou imediatamente
uma pequena nuvem verde do tamanho de uma bola de baseball. Bom,
parecia que o amuleto lhe proporcionou um pouco de energia.
Austin pesou a pedra na mão e depois a arremessou perfeitamente
de primeira.
— O que você conseguiu da pedra? — eu perguntei a Ivy.
— Seco, quente, vento. Nada além da tolerância humana, ou a
pedra estaria gritando.
— Dia ou noite?
— Crepúsculo, eu acho.
Austin assentiu com alívio. Ele tinha medo que fosse dia, quando
teria sido impossível para eles passarem.
— Quantos demônios? — perguntei a Fang.
Eu contei doze dentro do meu alcance.
Era um alívio, nós poderíamos lidar com doze. — Pegou alguma
outra coisa? — eu perguntei a Ivy.
— As pedras não são boas em detalhes materiais, mas elas
reconhecem emoções. Elas estão pegando algum medo e antecipação.
Ah, e uma onda repentina de excitação agora mesmo.
Fang saltou de pé. Eles acabaram de ver o portal. Estão enviando reforços.
Sharra está lá, e está pensando sobre Alejandro e Vincent, então eles estão lá
também.
Temos que ir agora, antes que mais apareçam, e sejamos inundados.
Tomando uma decisão instantânea, gritei para Shade: — Aumente.
— Todo mundo vai — ordenou Austin.
Shade aumentou o portal, e nós dez passamos um por um, parando
apenas um instante do outro lado para se orientar. Uma vez que todos
atravessaram, eu gritei: — Encolha — para Fang.
Ele passou a ordem para Shade via Micah, e a energia azul
contorcida do portal tornou-se do tamanho de uma bola de beisebol mais
uma vez. Era reconfortante saber que ainda estava lá.
Resumidamente, notei que o mundo era exatamente como a pedra
descreveu — quente e seco, com areia vermelha em todos os lugares e
monólitos gigantes até onde eu podia ver. O que não era tão longe. O
vento uivante levava a areia para nossos olhos, e eu os esfreguei com a
parte de trás da minha mão. Eu estreitei os olhos para manter o pó fora
dos meus olhos e tentei descobrir os detalhes dos demônios marchando
em nossa direção.
— Espalhem-se — gritou Austin. — Encontre-os.
Os demônios não os querem, querem o portal, gritou Fang.
— Eles estão atrás do portal — gritei ao vento. — E dois deles estão
fugindo para trazer seus amigos.
Apontei na direção dos dois demônios, e Luis gritou: — Atrás deles!
— Eles tinham que ser parados antes que houvesse muitos para lidar.
Seus dois homens correram atrás dos demônios em retirada com a
velocidade melhorada dos vampiros. Depois disso, os outros demônios
convergiram em nossa direção como gafanhotos famintos em um campo
de trigo.
— Sharra está aqui — gritou Josh, — atrás da...
Um trecho de vento carregou o resto de suas palavras, e eu não tive
tempo para sentir alívio quando um demônio apareceu de uma poeira
vermelha demoníaca, uma bola de fogo em seu punho. Ludwig estava
de repente ao meu lado, apagando a chama com um enorme esguicho de
água. O demônio ensopado parou de surpresa, e consegui cortar sua
cabeça com um único golpe. — Obrigada — eu gritei para Ludwig.
Ele acenou com a cabeça e passou a esguichar água em outro
demônio vindo em nossa direção.
Josh disse que Sharra está atrás das pedras à sua esquerda, Fang disse.
Vendo que os outros tinham a luta sob controle, eu me arrastei em
direção as pedras. Nesse local, três monólitos se inclinavam um contra o
outro, formando uma espécie de abrigo contra o vento. Josh estava de
joelhos ao lado da Srta. Cara Serpeada, segurando uma garrafa de água
em seus lábios. Alívio me inundou, e eu passei as notícias para Fang,
sabendo que isso ajudaria Shade a esperar.
— Ela está viva — disse Josh com prazer.
— E quanto a Alejandro e Vincent?
— Eles estão bem — disse Sharra. — Quando eles ouviram vocês,
eles foram se juntar à luta.
— Ótimo. Você pode levá-la ao portal? — eu perguntei a Josh.
— Mas eu quero lutar — disse Josh. — Com a minha habilidade de
fase, eu posso ir lá e arrancar seus corações.
Isso significava ficar muito perto deles. — Eu não acho...
Mas ele se foi, e fui deixada com Sharra.
— Não se preocupe — disse Sharra, levantando-se. — Posso andar,
sem problemas. — Ela tomou um grande gole de água. — Basta me
apontar na direção certa.
Eu a toquei, para que eu pudesse ver se ela estava falando a verdade.
Ela estava em muito melhor forma do que eu esperava. Coberta de poeira
vermelha, mas capaz de caminhar. — Me siga. O portal está pequeno
agora, mas abrirá de novo quando fizermos sinal para Shade.
Ela assentiu e me seguiu de volta ao vento. Eu vi pessoas lutando
com demônios, além de algumas figuras que estavam imóveis no chão,
mas não consegui perceber quem era quem que estava no meio da poeira
girando. — Eu peguei Sharra — eu gritei.
Austin gritou de volta: — Alejandro e Vincent estão aqui. Reúna
nossos feridos e retire-se!
Feridos? Merda. Eu enviei um aviso de volta a Fang para que Shade
estivesse pronto para abrir o portal. Eu não podia vê-lo com toda essa
poeira girando, então eu falei para Fang fazer Shade abrir do tamanho
de uma bola de basquete.
— Achei — gritou Ludwig. — Perto de mim!
Todos nos dirigimos na direção da forma grande de homem da
montanha, Luis e Austin segurando mais dois demônios, suas espadas
piscando com sua velocidade.
— Todos estão aqui — Ludwig disse quando cheguei a ele.
Ah, lá estava, o portal. — Abra — eu gritei a Fang. A nuvem azul
se alargou e eu disse a Ludwig: — Me avise quando todos passarem —
antes de me voltar para ajudar Luis e Austin. Austin estava lutando
contra um enorme demônio com longas garras, dentes e chifres. Ele
estava segurando o seu, mas essas coisas afiadas poderiam empalá-lo a
qualquer momento.
Soltei um grito de guerra de puro medo e frustração e lancei minha
espada no braço do monstro — a única parte que eu consegui alcançar.
Eu quase rompi completamente o braço do ombro, e ele rugiu, virando
para mim, com sangue escorrendo do braço. Austin saltou, e com um
golpe de duas mãos, cortou a cabeça de seus ombros.
Austin não parou, ele foi ajudar Luis. Antes que eu pudesse se
mover para ajudá-los, eles espetaram o demônio na parte da frente e de
trás. Ele caiu no chão, e eu corri para o portal. — Vamos!
Ao ver que estávamos chegando, Ludwig disse: — Vocês são os
últimos — e saltou pelo portal.
Nós três seguimos de perto. — Feche — eu disse a Shade no relativo
silêncio e paz do outro lado.
Quando reduziu a um ponto crítico e desapareceu, suspirei de
alívio. Acabou. O vento já havia desaparecido, e tudo o que restava da
outra dimensão era a areia vermelha que cobria todas as superfícies de
nossos corpos e até encontrou o caminho para muitas fendas para o meu
conforto.
Eu olhei ao redor. Os gêmeos, Shade e Sharra, estavam presos em
um abraço, e Alejandro estava enrolado nos braços de Rosa. Vincent
estava recebendo tapinhas nas costas de um par de vampiros... mas nem
todos estavam exultantes. Um dos seguidores de Luis estava nos braços
de Diego, o coração atravessado com a própria espada, ao que parecia.
Diego sacudiu a cabeça tristemente enquanto olhava para Luis. — Ele se
foi.
Oh, droga. Eu nem sabia o nome dele. Ele foi a única vítima?
Mais um, Fang disse com tristeza.
Eu virei para ver Andrew colapsar no chão ao lado de Josh, lágrimas
fazendo listras na areia vermelha em seu rosto. A cabeça e os ombros de
Josh estavam cobertos de sangue. — Josh...?
— Ele está morto — Andrew lamentou. — Ele tentou se aproximar
de um demônio para agarrar seu coração, mas ele chegou muito perto, e
esse demônio abriu a sua garganta.
Fechei os olhos com dor. Eu tinha feito isso. Estavam mortos por
minha causa.
Não, querida. Você não os matou. Os demônios os mataram.
Mas foi minha decisão de montar o resgate.
E foi decisão deles participarem. Você não pode ser responsável pela decisão
estúpida de Josh.
Não poderia?
— Quanto tempo você esteve lá? — Shade perguntou a Sharra. —
Foram cerca de três semanas no nosso tempo.
— Apenas cerca de um dia para mim — disse Sharra.
Eu fiz um cálculo rápido. Então cerca de uma hora passou para
todos esses dias aqui. Obrigada Senhor.
Alejandro assentiu. — Foram apenas algumas horas para nós.
— Por que você não abriu um portal para que pudéssemos encontrá-
la? — Shade perguntou a Sharra. — E por que eles deixaram você viva?
— Porque fui nocauteada no início. E eles sabiam que eu era um
demônio das sombras, então eles estavam tentando me forçar a abrir um
portal. — Ela balançou a cabeça. — Eu recusei. Sabendo dos seus planos
para entrar e inundar este mundo, eu não poderia deixar isso acontecer.
E agora eu me sentia mais culpada por não resgatá-la mais cedo.
Pare de levar a culpa de todo o mundo nos seus ombros, Fang disse com
irritação. Você achava que ela estava morta, pelo amor de Deus.
— Os demônios ficaram perto do portal, esperando que você o
abrisse novamente para me salvar. Eu pensei que você não o faria, a
menos que você tivesse poder de fogo suficiente para pegá-los. Eu não
sabia que você achava que eu estava morta até que Alejandro me contou.
— Sharra olhou para Alejandro e Vincent. — Eles ajudaram a impedir
que os demônios me perseguissem e mantiveram minhas esperanças.
Bem, nós fizemos uma coisa certa ao trazer os três de volta. Eu dei
um olhar de arrependimento a Ivy. — Desculpe, estava muito ocupada
para recuperar sua pedra.
— Tudo bem — ela disse com um sorriso. — Eu realmente não
esperava que você pudesse, mas Ludwig a encontrou enquanto esperava
no portal. Ele trouxe para mim.
Ah, ótimo.
Austin deixou o lado de Alejandro para vir me abraçar com força.
— Obrigado — ele sussurrou com ferocidade.
Eu o abracei de volta, feliz por ter sido capaz de resgatar Alejandro
para ele. Eu assisti de longe enquanto Luis estava rígido e falava com
Alejandro e Rosa na sala de jantar.
— Sobre o que é? — eu perguntei a Austin.
— Ele pode estar discutindo nosso duelo.
— O que acontecerá com ele?
— Nada. Ele saiu honrosamente e manteve sua palavra. Ele não
tem nada com o que se envergonhar.
Exceto sua perda humilhante para Austin, Fang gargalhou.
Sim, havia isso.
Quando eles acabaram de conversar, Luis e os seus seguidores
restantes partiram abruptamente, levando o corpo de seu amigo, e
Alejandro e Rosa vieram se juntar a nós. Alejandro apertou a mão de
Austin com uma expressão pesarosa. — Eu soube que você lutou um
duelo pela liderança do Movimento, e você ganhou.
— Apenas como um substituto temporário até que você voltasse —
Austin o assegurou.
Alejandro sorriu. — Sim, eu entendo. — Ele colocou um braço em
volta de Rosa — a primeira vez que eu realmente o via mostrar carinho
por ela em público. E ela o estava comendo como se ele fosse manteiga
de amendoim e ela estivesse decidida a lamber a colher.
Vampiros não comem manteiga de amendoim, Fang me lembrou.
Talvez, mas a imagem correta era grosseira. E isso ainda funcionava
como uma metáfora, ou uma analogia, ou como você quiser chamar. O inglês
não era o meu forte.
— Isso estava para acontecer — continuou Alejandro. — E fico feliz
que vocês dois tenham resolvido sem minha interferência.
Austin assentiu com a cabeça, mas, apesar dele obviamente não
achar necessário fazer mais perguntas, eu fiz. — Então, o que acontecerá
agora? Austin é seu representante ou algo assim?
— Sim. Eu vejo sabedoria em ter um representante permanente,
especialmente à luz da minha ausência recente, e Austin irá preencher
essa posição admiravelmente.
— E quanto aos tenentes? — eu perguntei, já que Alejandro não
parecia se opor a eu fazendo perguntas.
— Eu ainda preciso de três. Rosa continuará em sua posição atual,
Vincent assumirá os deveres anteriormente realizados por Lily... eu
esperei muito tempo para tomar essa decisão, e... quem você
recomendaria para pegar o seu lugar, Austin?
Ele pensou por um momento e depois disse: — Diego, eu acho.
— Boa escolha — aprovou Alejandro.
— Mas e Luis? — eu perguntei. Ele desceu no ranking agora, ou o
quê?
— Eu vou absorver seus deveres políticos. — Alejandro hesitou um
momento, depois acrescentou: — Luis me informou que ele quer deixar
San Antonio e se juntar a Lisette na capital. Imediatamente.
Bom, isso era um alívio.
Para todos, Fang concordou.
Eu dei um abraço de um braço em Austin dando os parabéns, e ele
sorriu para mim.
Mas nossa satisfação foi de curta duração quando uma mulher abriu
caminho entre a multidão, dizendo: — Josh? Onde está o meu filho?
— Aqui — Andrew disse com uma voz sufocada.
A mulher era pequena com cabelos loiros ondulados — e parecia
exatamente com Josh. Obviamente, sua mãe. Oh, droga.
Ela caiu de joelhos ao lado do corpo de Josh e lamentou. — Não,
não. Ele está morto. Meu filho está morto.
Dor encheu meu peito, quase mais do que eu podia suportar.
Ela limpou as lágrimas de seus olhos e olhou violentamente pela
sala. Quando ela me viu, seus olhos se estreitaram e ela se levantou do
lado do corpo de seu filho. — Você — ela cuspiu. — Isto é culpa sua.
Ela parou e pulou sobre mim. Como diabos eu poderia me defender
contra um demônio feminino insubstancial?
Eu não podia fazer mais do que me esquivar, e eu tentei fazer
exatamente isso, quando Austin e Fang saltaram futilmente na minha
frente.
— Pare — gritou Micah, a mão esticada para a mãe de Josh.
Ela parou obedientemente, incapaz de resistir ao comando de seu
íncubo.
— Não é assim que solucionamos as disputas — ele disse
severamente.
Ela recuou para sua forma substancial, os punhos apertados e o
rosto retorcido de raiva. — Então eu exijo um Ritual de Julgamento para
provar sua culpa e dar sua sentença. Alguém precisa pagar pela morte de
Josh.
— Você não está pensando claramente, Cora — disse Micah
calmamente. — Todo o Clandestino nomeou Val como Paladina. Você
não pode pedir um ritual para condená-la por fazer seu trabalho.
Cora forçosamente se acalmou. — Não. Foi sua decisão de abrir um
portal para a dimensão demoníaca. Ela não sabia que a irmã do demônio
das sombras ainda estava viva, então seu único propósito era ajudar seu
namorado, um vampiro, a resgatar outros dois vampiros. Então ela levou
três de nós com ela, colocando em perigo suas vidas e levando meu filho
Joshua até sua morte. Não só isso, ela também abriu o portal sem saber
quais os perigos que tinham além ou quantos demônios viciosos e
violentos poderiam vir a este mundo para causar alvoroço sobre nós e os
humanos que nos rodeiam. — Cora ergueu o queixo e apontou
acusadoramente para mim. — Ela usou seu poder como Paladina para
ganho pessoal, ameaçou imprudentemente os demônios em seu cuidado
e é responsável pelo assassinato de meu filho. — Ela terminou com uma
nota triunfante, procurando por apoio na multidão que havia se reunido.
Ácido agitou-se no meu estômago. Céus, a mulher realmente
acreditava nisso?
Sim, Fang disse calmamente. Ela está sofrendo e precisa culpar alguém.
Isso a deixa pensando como uma idiota.
— Isso não é inteiramente verdade — disse Shade, para minha
surpresa. Andrew manteve a mão no braço de Shade, para que todos
pudessem ver sua expressão. — Eu fui o único que importunou Val para
me deixar resgatar minha irmã. — Ele olhou para Sharra e segurou a
mão dela como se ele não quisesse deixá-la ir. — Embora acreditássemos
inicialmente que ela havia morrido, todos nós, incluindo Val,
descobrimos que era possível que ela ainda estivesse viva. Então, não é
verdade que ela pensou que Sharra estivesse morta quando concordou
em fazer isso. Ela sabia que Sharra poderia ter sobrevivido e, de fato,
sabia que minha irmã estava viva antes de passar. — Ele hesitou, depois
acrescentou: — Val não pediu a Josh para lutar, ele se ofereceu. Pergunte
a Andrew.
Shade deu uma cotovelada em Andrew, encorajando-o a falar.
Andrew olhou para as mãos dele. — Josh e eu queríamos ajudar —
ele disse com uma voz em quase um murmúrio. — Para salvar Sharra e
o resto do Demônio Clandestino.
Eles queriam ser heróis. Eu poderia entender isso, mas isso levou a
um resultado tão trágico. Eu esperava que todos aprendessem algo com
isso.
Andrew lançou a Cora um olhar apologético. — Val nos falou sobre
o perigo e nos advertiu anteriormente, mas não ouvimos. Uma vez que
estávamos lá, eu a ouvi falar a Josh para levar Sharra ao portal e à
segurança. Mas ele a ignorou... e atacou um demônio em vez disso. Foi
isso o que o matou, não Val.
Ele abaixou os olhos novamente e não olhou para ninguém. Eu
respeitava sua vontade de se expor por mim e pela verdade.
— Os meninos falam a verdade — disse Ludwig em sua voz
profunda. — Joshua foi imprudente e não ouviu a Paladina. Ela não é
responsável por sua morte.
Isso fez eu me sentir muito melhor. Perguntei se Austin diria alguma
coisa.
Eu duvido disso, disse Fang. Cora o rotulou como seu namorado, então
qualquer coisa que ele disser será suspeito. Eu não esperaria que ele fale.
Eu estremeci. Nesse caso, eu também não o faria.
Ivy deu a Cora um olhar de pena. — A afirmação de que Val fez
pelo seu “namorado” é falsa. Eu estava presente em pelo menos duas
ocasiões quando ela negou os pedidos de Austin e Shade porque ela se
recusava a ir contra os desejos de Micah. Só quando Micah a forçou a
tomar uma decisão que ela decidiu montar um resgate. E ela usou todos
os recursos à sua disposição para aprender o máximo possível sobre o
que a esperava do outro lado.
Alejandro deu um passo à frente. — Eu, também, perdi um querido
amigo, mas não culpo a Srta. Shapiro. Embora eu não tenha
testemunhado os eventos que levaram a sua decisão de resgatar Vincent,
a demônio das sombras e eu, posso dizer com confiança que ela não
permite que o favoritismo ou inclinação pessoal guiem suas decisões. A
emoção pode influenciá-la, mas sempre está na direção do que é certo
para todos os envolvidos. Ela não concorda com todos os objetivos do
Novo Movimento de Sangue, mas ela trabalhou conosco quando
necessário para proteger os membros do Movimento, o Clandestino e
todas as pessoas de San Antonio. Vocês não poderiam ter melhor
Paladina.
Que bom de ele me defendeu. Senti lágrimas piscando nas minhas
pálpebras.
O tenente Ramirez assentiu. — O que ele diz é verdade. Val Shapiro
tem sido uma força para o bem nesta cidade. Ela não só ajudou os
vampiros e os demônios aqui presentes, mas também os totalmente
humanos. Ela atua como ligação não oficial entre as três facções, embora
eu pensei por muito tempo que deveríamos tornar sua posição oficial.
O quê? Eu não tinha certeza de que queria isso, embora eu também
apreciasse seu apoio. Eu esperava que ninguém mais dissesse algo. Se
mais alguém fosse legal comigo, eu tinha medo de explodir em lágrimas.
— Não, não, não pode ser verdade — disse Cora, sufocando um
soluço. — Você não precisava fazer isso. Você não precisava ir. Por quê?
Com todos os olhos sobre mim, eu limpei a garganta cheia de
emoção e disse: — Ontem, Andrew e eu ficamos presos em outra
dimensão por muitas horas, esperando que alguém viesse em nosso
socorro, mas não sabendo se era possível. Foi uma sensação horrível,
imaginando se fomos abandonados, condenados a passar as nossas
vidas, ou o que sobraria dela, em outra dimensão. — Parei por um
momento, desejando que minha voz parasse de vacilar.
Quando Andrew assentiu com compreensão, eu adicionei
suavemente: — Eu percebi que não podia deixar algo assim acontecer
com mais ninguém se estivesse ao meu alcance evitar isso. — Levantei
meu queixo. — Eu queria que todos soubessem que eu, como sua
Paladina, sempre irei atrás de vocês, não importa quais sejam os riscos
para mim, pessoalmente.
Bom discurso, Fang disse com admiração. Você agora os tem na palma
da sua mão.
Eu estava apenas dizendo a verdade.
E é por isso que funcionou.
Eu me dirigi para Cora. — Eu acho que Josh sentiu o mesmo, e é
por isso que ele insistiu em vir conosco. Você pode se orgulhar de seu
filho, ele é um herói.
Cora explodiu em lágrimas, e eu a puxei para os meus braços. —
Sinto muito — eu sussurrei. Ela me apertou e a tensão diminuiu em nós
duas, embora eu soubesse que nós duas sentiríamos a dor de sua perda
por muito tempo.
Gentilmente, Ludwig puxou a mulher soluçando. Olhei para
Micah, precisando... de alguma coisa. Absolvição, talvez?
— Você fez seu trabalho muito bem, Paladina — ele disse
gentilmente.
Um alívio doce e tonto me encheu. Eles não me culpavam.
Agora, você pode parar de se culpar.
Isso pode demorar um pouco mais.
— Mas eu quero abordar algo que o tenente Ramirez disse —
continuou Micah. — Eu concordo que você é uma excelente escolha
para atuar como ligação entre as três facções para manter a harmonia e
a comunicação. O que você acha? Você aceita o trabalho?
Espera — acabei de sobreviver a um desafio depois de assumir
muita responsabilidade, e eles queriam que eu fizesse isso com mais
frequência? Eu olhei e vi Alejandro, o tenente Ramirez, Austin e Micah
sorrindo para mim como se eles pensassem que a ideia era ótima.
E é, Val, meu fiel cão do inferno disse. Você já está fazendo o trabalho.
Poderá conseguir a autoridade junto com a responsabilidade.
Parecia que eu não tinha escolha. — Eu... eu aceito — eu disse
tremendo.
Micah sorriu para mim e aceitei o abraço de Austin junto com os
parabéns de Alejandro e Ramirez. — Jesus, pessoal — eu falei. —
Obrigada por me colocarem nessa situação.
Todos riram e eu disse: — Posso tirar pelo menos umas férias
primeiro?
— Absolutamente — disse Micah. — Eu diria que você merece
uma.
— Não se preocupe, querida — disse Austin com um sorriso. —
Tudo na sua vida levou a este ponto. Não lute contra isso, é o seu destino.
E você vai ser boa nisso.
Ele está quase certo, disse Fang. Vai ser mais do que boa. Você vai ser
fantástica!

FIM!

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