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COMPORTAMENTOS DISFUNCIONAIS DA CRIANÇA

FORMAÇÃO MODULAR CERTIFICADA

MANUAL DE FORMAÇÃO

Formadora: Rute Simão

MD.46/0 /PPF 1 de 86
ÍNDICE
1. Desenvolvimento Infantil 3
1.1. Condições Básicas do Desenvolvimento na 4
Infância
1.2. Desenvolvimento Normal e Patológico 5
2. Formas de Disciplina 19
3. Educação Esfincteriana 31
3.1. A aprendizagem da higiene 32
3.2. Processo de Aquisição do Controlo dos 32
Esfíncteres
3.3. Enurese 33
3.3.1. Enurese infantil 33
3.3.2. Conselhos que ajudam as crianças com 34
enurese
3.3.3. Enurese na adolescência 34
3.3.4. Quais as consequências da enurese? 35
3.3.5. O papel dos pais 36
3.3.6. Evitar a vergonha 36
3.4. Encoprese 37
3.4.1. Como surge a encoprese? 37
3.5. Origem das perturbações de eliminação 38
3.6. Tratamento 39
3.7. O papel dos pais 39
4. Sono e problemas associados 39
4.1.Distúrbios do sono nas diversas faixas etárias 42
4.1.1. Pré-escolar (três a seis anos) 42
4.1.2. idade escolar (dos 6 aos 13 anos) 44
4.1.3. Sono na Adolescência 49
4.2. Mudanças de atitudes 50
5. Stress e Resiliência 51
5.1. O que é o stress 51
5.2. Causas do Stress 52
5.3. Stress e a Adolescência 53
5.4. Fases de Evolução do Stress 54
5.5. Como Lidar com o Stress? 55
56

5.6.Como Reduzir o Stress


56
5.7.Estratégias de gestão dos sintomas
6. Criança Sobredotada 57
58
6.1.Algumas características das crianças sobredotadas
59
6.2.Problemas comuns nas crianças sobredotadas

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7.Perturbação de hiperatividade e défice de 60
Atenção
7.1. Qual é a Causa? 60
7.2. Como se pode tratar a PHDA 62
7.3. Outras perturbações que por vezes acompanham 63
a PHDA
7.4. Repercussões da hiperatividade no relacionamento 64
familiar
7.5. A hiperatividade e a família 65
66
7.6. O papel da escola
7.7. Estratégias para o professor lidar com hiperativos 68
8. Depressão Infantil 69
8.1 Conceito de Depressão 69
8.2. O que é a depressão Infantil? 70
8.3. Principais sinais e sintomas da depressão infantil 71
8.4. Principais fatores que podem desencadear a 71
depressão infantil
8.5. Depressão Infantil e rendimento escolar 75
76
8.6. Papel dos Pais/ educadores na depressão infantil
8.7. Prevenir a depressão infantil 76
9. Criança Isolada 77
10. Papel da Família 79
10.1.Tipos de família 80
10.2. A família e a escola 80
82
12. Referências Bibliográficas 85

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1. Desenvolvimento Infantil

Quando questionamos o que se entende por desenvolvimento,


ou quando argumentamos com profissionais de saúde ou áreas afins
o significado do desenvolvimento da criança, ficamos surpresos com
as mais variadas respostas, uma vez que de fato o desenvolvimento
humano tem os mais variados conceitos e das mais diversas origens.
Isto porque o desenvolvimento humano pode ser definido ou
entendido de várias formas, dependendo do referencial teórico que se
queira adotar e de quais aspetos se queira abordar.
Assim sendo para o Pediatra, desenvolvimento "é o aumento da
capacidade do indivíduo na realização de funções cada vez mais
complexas" (Marcondes,1994); o Neuropediatra certamente pensará
mais na maturação do sistema nervoso central e consequente
integridade dos reflexos; o Psicólogo dependendo da sua formação e
experiência, pensa nos aspetos cognitivos, na inteligência, adaptação,
inter-relação com o meio ambiente etc. O psicanalista dará mais
ênfase às relações com os outros e à constituição do psiquismo.
Todos eles estão certos. Cada um reflete-se nos aspetos que
tem vivenciado na sua prática profissional, o que nos confirma que o
desenvolvimento vai além de uma determinação biológica e necessita
uma abordagem multi-conceitual, e consequentemente
multidisciplinar.
Para serem válidas, as generalizações sobre o desenvolvimento
infantil, não nos podemos apenas basear na avaliação das habilidades
pertencentes a um determinado sistema: motor, percetivo,
linguagem, etc. Estes sistemas traduzem determinadas funções que
se apoiam num processo de maturação neurológica, aperfeiçoando-
se, desenvolvendo-se, sofrendo influências ambientais e organizando-
se num núcleo constituído pelo psiquismo. O atraso de uma destas
habilidades por si só não significa necessariamente um problema
patológico já que entendemos que cada ser humano se desenvolve a
partir de suas possibilidades e dentro de suas circunstâncias. A
criança deverá sempre ser vista como um todo, e em relação com seu
ambiente, os pais e a família.
E nós, o que entendemos por desenvolvimento? Antes de
qualquer coisa achamos que é preciso diferenciar alguns termos que
são muitas vezes usados como sinónimos embora tenham
significados diferentes. Desta forma, definiremos alguns conceitos
próprios do Crescimento e Desenvolvimento:
Crescimento significa aumento físico do corpo, como um todo
ou em suas partes, que pode ser medido em termos de centímetro ou
metros, gramas ou quilos.
Maturação é a organização progressiva das estruturas
morfológicas, já que, como o crescimento, seu potencial está
determinado geneticamente.

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Desenvolvimento é um conceito amplo que se refere a uma
transformação complexa, contínua, dinâmica e progressiva, que incluí
além do crescimento, a maturação, a aprendizagem e os aspetos
psíquicos e sociais.
Desenvolvimento psicossocial é o processo de humanização,
que inter-relaciona aspetos biológicos, psíquicos, cognitivos,
ambientais, sócio económicos e culturais, mediante o qual a criança
vai adquirindo maior capacidade para se mover, coordenar, sentir,
pensar e interagir com os outros e o meio que a rodeia; em síntese, é
o que lhe permitirá incorporar de forma ativa e transformadora na
sociedade em que vive.
1.1. Condições Básicas do Desenvolvimento na Infância

A palavra "Infante" vem do latim "infans" que significa incapaz


de falar. Geralmente define o período que vai do nascimento até
aproximadamente os 2/3 anos de idade, quando a fala já se
transformou num instrumento de comunicação. É onde muitos
eventos ocorrem pela primeira vez: o primeiro sorriso, a primeira
palavra, os primeiros passos, a primeiro alcançar de um objeto, etc. A
criança é um ser dinâmico, complexo, em constante transformação,
que apresenta uma sequência previsível e regular de crescimento
físico e de desenvolvimento neuro-psico-motor.
Esse desenvolvimento sofre a influência contínua de fatores
intrínsecos e extrínsecos, que provocam variações de um indivíduo
para outro e que tornam único o curso do desenvolvimento de cada
criança.
Os fatores intrínsecos determinam as características físicas da
criança, a cor dos seus olhos, e outros atributos geneticamente
determinados.
Os fatores extrínsecos começam a atuar desde a conceção
estando diretamente relacionados com o ambiente da vida intra-
uterina proporcionado pela mãe através das suas condições de saúde
e nutrição. Além disso, mãe e feto sofrem os efeitos do ambiente que
os circunda. O bem-estar emocional da mãe também influencia de
forma significativa o bem-estar do feto, embora esse tipo de
influência não funcione necessariamente como causa direta de
problemas de desenvolvimento futuros. Após o nascimento, o
ambiente em que a criança vive, os cuidados por parte dos pais, o
carinho, estímulos e alimentação passam a fazer parte significativa
no processo de maturação que leva a criança da dependência à
independência.
Para além destes fatores, apresentamos várias características
que nos distinguem dos outros animais, sendo estas, as
características biológicas que vão desde a:
 A Posição Ereta que facilita a locomoção, e permite manter uma
série de atividades efetivas, deixando as mãos livres para
construção dos objetos da cultura, que não são outra coisa

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senão um prolongamento do equipamento biológico com o qual
a criança nasce.
 O Aparelho visual e flexibilidade manual permitem a
coordenação e habilidade para construir e usar equipamentos.
Isto pode ser observado através do que chamamos de Visão e
Movimentos finos motores.
 A Capacidade de se comunicar através da fala, que envolve a
competência auditiva e a escuta, e o uso da fala e da
linguagem. Por isso a criança pequena é chamada infante,
porque não fala, embora possa comunicar de outras maneiras.
O surgimento da fala é um dos aspetos importantes no
acompanhamento do bebé e o seu atraso é uma das queixas
mais comuns. A avaliação da fala e da linguagem consta
sempre de qualquer escala ou roteiro de avaliação do
desenvolvimento da criança.

A Evolução Social, ou seja, o homem vive dentro de uma


estrutura social complexa e desde cedo o bebé tem que se adaptar à
mãe e aos outros.
Para além das características biológicas, temos também as
características psíquicas, o psiquismo do ser humano constitui-se no
decorrer das trocas das crianças com os outros, desde os primórdios
da vida, sendo de extrema importância a participação daqueles que
fazem parte do mundo da criança, que cuidam dela, especialmente os
pais.
Antes mesmo de nascer, o psiquismo de um bebé já está em
constituição. Seus pais desejam, imaginam, pensam e falam desse
bebé, antecipando para ele um determinado lugar no seio familiar.
Neste novo ambiente, haverá uma relação, com muitas trocas, cujo
resultado será o de criar um ser humano singular, único, dotado de
um “eu” capaz de se dirigir aos “outros”. Este “eu” terá a função
fundamental de articular todas as funções envolvidas no processo de
desenvolvimento.
Devemos portanto, sempre considerar que uma família é
composta de crianças individuais cujas diferenças não são apenas
genéticas mas também determinadas pela maneira como cada
criança se relaciona com seus pais e com aqueles que cuidam dela:
como é colocada no contexto das fantasias e crenças de sua família e
dos acontecimentos inesperados. Este contexto nunca é duas vezes o
mesmo e orienta o desenvolvimento emocional único de cada
criança.

1.2. Desenvolvimento Normal e Patológico

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Entender o que é o desenvolvimento normal e o que é
patológico é compreender as alterações comportamentais e
psíquicas, ou seja, se estas são muito exacerbadas ou são de longa
duração. Existem igualmente situações em que o normal e o
patológico se apresentam intimamente ligados, com limites muito
ténues, o que não deixa de sugerir que os critérios de normalidade e
de patologia variam em função da forma como se olha para o
individuo, tendo em conta todos os contextos onde este está inserido.
Sabemos que na fase inicial do desenvolvimento infantil, um
bebé depende inteiramente de uma outra pessoa para se desenvolver
e que na maioria das vezes esse "outro" é sua mãe. Sem ela (ou um
seu substituto) o bebé, ao contrário de outros animais, não é capaz
de ir à busca do seu alimento. Ou seja, se um bebé não tem quem
cuide dele (alimente, agasalhe etc.), fale com ele, e o deseje, ele
morre.
Desta forma, observamos que o desenvolvimento ocorre por
etapas ou fases, que correspondem a determinados períodos da vida.
Cada um desses períodos tem suas próprias características e seus
ritmos. Ainda que não se deva perder de vista que cada criança tem
seu próprio padrão de desenvolvimento.
Iremos então abordar, o período da infância, mais especificamente a
partir dos três anos, e da adolescência.
A infância é o período de grande desenvolvimento físico,
marcado essencialmente pelo gradual crescimento da altura e do
peso (especialmente nos primeiros três anos de vida e durante a
puberdade).
Mais do que isto, é um período onde o ser humano se
desenvolve psicologicamente, envolvendo graduais mudanças no
comportamento da pessoa e na aquisição das bases da sua
personalidade.
De uma forma sintetizada, iremos descrever estas etapas:

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Etapa dos 3 /4 anos

PRINCIPAIS MARCOS DO DESENVOLVIMENTO


Desenvolvimento Físico
• Grande atividade motora: corre, salta, começa a trepar escadas,
pode começar a andar de triciclo; grande desejo de experimentar
tudo;
• Embora ainda não seja capaz de apertar os atacadores, veste-se
sozinha razoavelmente bem;
• É capaz de comer sozinha com uma colher ou um garfo;
• Faz puzzles simples;
• Copia figuras geométricas simples;
• É cada vez mais independente ao nível da sua higiene; é já capaz
de controlar os esfíncteres (sobretudo durante o dia);
Desenvolvimento Intelectual
• Compreende a maior parte do que ouve e o seu discurso é
compreensível para os adultos;
• Utiliza bastante a imaginação: início dos jogos de faz-de-conta e
dos jogos de papéis;
• Compreende o conceito de "dois";
• Sabe o nome, o sexo e a idade;
• Repete sequências de 3 algarismos;
• Começa a ter noção das relações de causa-efeito:
• É bastante curiosa e inquiridora;
Desenvolvimento Social
• É bastante sensível aos sentimentos dos que a rodeiam
relativamente a si própria;
• Tem dificuldade em cooperar e partilhar;
• Preocupa-se em agradar os adultos que lhe são significativos,
sendo dependente da sua aprovação e afeto;
• Começa a aperceber-se das diferenças no comportamento dos
homens e das mulheres;
• Começa a interessar-se mais pelos outros e a integrar-se em
atividades de grupo com outras crianças;
Desenvolvimento Emocional
• É capaz de se separar da mãe durante curtos períodos de tempo;
• Começa a desenvolver alguma independência e auto-confiança;
• Pode manifestar medo de estranhos, de animais ou do escuro;
• Começa a reconhecer os seus próprios limites, pedindo ajuda;
• Imita os adultos;

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Desenvolvimento Moral
• Começa a distinguir o certo do errado;
• As opiniões dos outros acerca de si própria assumem grande
importância para a criança;
• Consegue controlar-se de forma mais eficaz e é menos agressiva;
• Utiliza ameaças verbais extremas, como por exemplo "Eu mato-
te!", sem ter noção das suas implicações;

SINAIS DE ALERTA
• Medos excessivos;
• Ansiedade de separação extrema;
• Enurese noturna;
• Timidez;
•Comportamentos de bullying (agressividade) relativamente aos
pares;
• Inibição manifesta nas brincadeiras e na linguagem;
• Comportamentos ritualísticos, sobretudo à volta da comida;
• Problemas na fala persistentes: vocabulário pobre, inferior a 1500
palavras; má articulação das consoantes e vogais;
• Falta de interesse pelos outros:
• Pouca capacidade para fantasiar;
• Grande dificuldade em aceitar as regras;
• Situações extremas de comportamentos desafiantes e opositores,
com grande dificuldade de auto-consolo.
• Sono: dificuldade em adormecer sozinho; insónias

Etapa dos 5/6 anos

PRINCIPAIS MARCOS DE DESENVOLVIMENTO


Desenvolvimento Físico
• A preferência manual está estabelecida;
• É capaz de se vestir e despir sozinha;
• É capaz de assegurar a sua higiene de forma independente;
• Pode manifestar dores de estômago ou vómitos quando obrigada a
comer comidas de que não gosta; tem preferência por comida pouco
elaborada, embora aceite uma maior variedade de alimentos;
• Fala fluentemente, utilizando corretamente o plural, os pronomes e
os tempos verbais;
• Grande interesse pelas palavras e a linguagem;
• Pode gaguejar se estiver muito cansada ou nervosa;
• Segue instruções e aceita supervisão;

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• Conhece as cores, os números, etc.; pode identificar e distinguir
euros e cêntimos;
• Capacidade para memorizar histórias e repeti-las;
• É capaz de agrupar e ordenar objetos tendo em conta o tamanho
(do mais pequeno ao maior);
• Começa a entender os conceitos de "antes" e "depois", "em cima"
e "em baixo", etc., bem como conceitos de tempo: "ontem", "hoje",
"amanhã";

Desenvolvimento Social

•A mãe é ainda o centro do mundo da criança, pelo que poderá


recear não a voltar a ver após uma separação;
• Copia os adultos;
• Brinca com meninos e meninas;
• Está mais calma, não sendo tão exigente nas suas relações com os
outros; é capaz de brincar apenas com outra criança ou com um
grupo de crianças, manifestando preferência pelas crianças do
mesmo sexo;
• Brinca de forma independente, sem necessitar de uma constante
supervisão;
• Começa a ser capaz de esperar pela sua vez e de partilhar;
• Conhece as diferenças de sexo;
• Aprecia conversar durante as refeições;
• Começa a interessar-se por saber de onde vêm os bebés;
• Está numa fase de maior conformismo, sendo crítica relativamente
àqueles que não apresentam o mesmo comportamento;
Desenvolvimento Emocional
 Pode apresentar alguns medos: do escuro, de cair, de cães ou de
dano corporal, embora esta não seja uma fase de grandes medos;
 Se estiver cansada, nervosa ou chateada, poderá apresentar
alguns dos seguintes comportamentos: roer as unhas, piscar
repetidamente os olhos, fungar, chuchar no dedo, etc.;
 Preocupa-se em agradar aos adultos;
 Maior sensibilidade relativamente às necessidades e sentimentos
dos outros;
 Envergonha-se facilmente;
Desenvolvimento Moral
• Pode apresentar alguns medos: do escuro, de cair, de cães ou de
dano corporal, embora esta não seja uma fase de grandes medos;
• Se estiver cansada, nervosa ou chateada, poderá apresentar
alguns dos seguintes comportamentos: roer as unhas, piscar

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repetidamente os olhos, fungar, chuchar no dedo, etc.;
• Preocupa-se em agradar aos adultos;
• Maior sensibilidade relativamente às necessidades e sentimentos
dos outros;
• Envergonha-se facilmente;

SINAIS DE ALERTA
·Medos excessivos;
·Ansiedade de separação extrema;
·Enurese noturna;
·Timidez;
·Comportamentos de bullying relativamente aos pares;
·Inibição manifesta nas brincadeiras;
·Comportamentos ritualísticos, sobretudo à volta da comida;
·Problemas na fala persistentes;
·Falta de interesse pelos outros;
·Ansiedade: tiques; onicofagia (roer as unhas);
·Sono: dificuldade em adormecer sozinho; insónias.

Etapa dos 6/7 anos

PRINCIPAIS MARCOS DE DESENVOLVIMENTO


Desenvolvimento Físico
• Grande vigor e energia;
• É um pouco desajeitada a nível motor, o que se deve a uma
coordenação ainda não completamente estabelecida;
• Poderá sofrer maiores problemas de saúde, como constipações,
garganta inflamada, etc., devido à exposição a outras crianças na
escola;
Desenvolvimento Intelectual
• Tem uma noção mais clara das diferenças de sexo, sendo curiosa a
este nível: curiosidade pelo corpo do sexo oposto, brincar aos
médicos, às casinhas, etc.
• Começa a ter memórias contínuas e mais organizadas;
• Desenvolvimento das capacidades de raciocínio;
• Passagem de uma aprendizagem através da observação e da
experiência para uma aprendizagem através da linguagem e da
lógica;
• A maioria das crianças aprende a ler e a escrever nesta idade;

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Desenvolvimento Social

• Não gosta de ser beijada em público (principalmente os rapazes);


• Identifica-se com os adultos fora do seu meio familiar (por ex., o
professor);
• As relações com os pares são instáveis; é por vezes agressiva com
outras crianças;
• Quer sempre ganhar nas atividades em que participa, tentando
modificar as regras para satisfazer as suas necessidades;
Desenvolvimento Emocional
• Forte identificação com a figura parental do mesmo sexo;
• O desenvolvimento de uma maior independência poderá por vezes
acarretar sentimentos de insegurança (ambivalência autonomia -
dependência);
• Tem dificuldade em aceitar críticas, culpa ou castigos;
• As alterações bruscas de humor poderão reaparecer, manifestando
maior rigidez no seu comportamento e sendo muito exigente e
opositora;
Desenvolvimento Moral
Preocupa-se bastante com o seu próprio comportamento,
especialmente quando este afeta a família e os amigos;
Culpa os outros dos seus erros;
SINAIS DE ALERTA
•Medos excessivos;
Ansiedade de separação extrema;
• Enurese noturna;
• Timidez;
• Comportamentos de bullying relativamente aos pares;
• Inibição nas brincadeiras;
• Comportamentos ritualísticos, sobretudo à volta da comida;
• Problemas na fala persistentes;
• Problemas ao nível da sua higiene;
• Falta de interesse pelos outros;
• Dificuldades escolares: não aprende a ler nem a escrever.
Sono: dificuldade em adormecer sozinho; insónias

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Etapa dos 7/8 anos

PRINCIPAIS MARCOS DE DESENVOLVIMENTO


Desenvolvimento Físico
• A coordenação mão-olho está já bem estabelecida, o que torna as
atividades de desenhar e pintar mais atrativas;
• Grande atividade motora: a criança brinca até estar
completamente exausta;

Desenvolvimento Intelectual
• Está menos interessada nas questões sexuais;
• Está disponível para a aprendizagem. Utiliza um pensamento
reflexivo; os pensamentos podem basear-se na lógica; consegue
resolver problemas de maior complexidade; Boa capacidade de
atenção e concentração;
• Gosta de colecionar objetos e fala acerca dos seus desejos e
projetos, textos e desenhos;
• Baseia-se mais na realidade.

Desenvolvimento Social
É mais responsável e independente, preocupando-se em fazer bem
as coisas;
• Pode por vezes retirar-se ou evitar o contacto com os outros,
sobretudo adultos, numa tentativa de construir uma "consciência de
si" mais autónoma;

Desenvolvimento Emocional
É mais responsável e independente, preocupando-se em fazer bem
as coisas;
Pode por vezes retirar-se ou evitar o contacto com os outros,
sobretudo adultos, numa tentativa de construir uma "consciência de
si" mais autónoma;

Desenvolvimento Moral
Pode vivenciar sentimentos de culpa e vergonha;

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SINAIS DE ALERTA
• Preocupação excessiva com a competição e o seu desempenho,
principalmente na escola;
• Comportamentos desafiantes extremos;
• Despreocupação constante com a conclusão de tarefas/trabalhos;
• Excessiva dependência das figuras cuidadoras em tarefas que são
apropriadas à sua idade, como por exemplo: pentear-se; ir à loja;
apertar os sapatos; encontrar a casa de banho num restaurante;
isolamento social: poucos amigos e envolvimentos em atividades
com outras crianças;
• Pequenos furtos;
• Grande necessidade de dizer mentiras;
• Enurese noturna;
• Dificuldades escolares;
• Sono: dificuldade em adormecer sozinho; insónias.

Etapa dos 8/9 anos

PRINCIPAIS MARCOS DE DESENVOLVIMENTO


Desenvolvimento Físico
É muito ativa e pode ocorrer acidentes com alguma frequência

Desenvolvimento Intelectual
O seu pensamento está mais organizado e lógico
Preocupa-se em perceber a razão das coisas que a rodeiam;
Sobrestima frequentemente as suas capacidades, com consequente
frustração em caso de insucesso;

Desenvolvimento Social
Faz novos amigos com facilidade, preocupando-se em estabelecer
relações recíprocas; pode desenvolver uma relação mais próxima
com uma criança do mesmo sexo; considera o grupo de amigos
importante;
Gosta da escola;
Não se envolve tanto em conversas com a família durante a refeição,
prefere comer depressa para iniciar outra atividade;

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Desenvolvimento Emocional
Exige mais amor e compreensão da figura materna;
Tem mais segredos;
Pode ser excessivamente auto-crítica, com tendência para
dramatizar as situações em que antecipa dificuldades;
Exibe menos medos e mais razoáveis;
Pode resistir e argumentar contra instruções e pedidos feitos pelos
adultos;
Aprecia recompensas imediatas pelo seu comportamento;
Desenvolvimento Moral
Pode vivenciar sentimentos de culpa e vergonha;
SINAIS DE ALERTA
Preocupação excessiva com a competição e o seu desempenho,
principalmente na escola;
Comportamentos desafiantes extremos;
Despreocupação constante com a conclusão de tarefas/trabalhos;
Excessiva dependência das figuras cuidadoras em tarefas que são
apropriadas à sua idade, como por exemplo: pentear-se; ir à loja;
apertar os sapatos; encontrar a casa de banho num restaurante;
Isolamento social: poucos amigos e envolvimentos em atividades
com outras crianças;
Pequenos furtos;
Grande necessidade em dizer mentiras;
Enurese noturna;
Medos excessivos;
Grande ansiedade;
Sono: dificuldade em adormecer sozinho; insónias.

Etapa dos 9/10 anos

PRINCIPAIS MARCOS DE DESENVOLVIMENTO


Desenvolvimento Físico
Possui já um bom controlo corporal; está interessada em desenvolver
força, capacidades e rapidez;
• Desenha com grande detalhe;
• As raparigas começam a desenvolver-se mais rapidamente do que
os rapazes;
Desenvolvimento Intelectual

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Manifesta preferência por trabalhos e tarefas mais complexas;
• Tem interesses definidos e uma grande curiosidade; procura e
memoriza factos; emprega um raciocínio e pensamento abstratos;
• As diferenças individuais tornam-se mais marcadas;
• Gosta de ler, escrever e de utilizar livros e referências;
Desenvolvimento Social
Rapazes e raparigas diferem em termos de personalidade,
características e interesses;
• Grande orientação para o grupo, formado por elementos do mesmo
sexo: preferência por atividades de jogo cooperativo e de equipa;
• Maior interesse nas relações afetivas e atividades sociais;
Desenvolvimento Emocional
Pode exibir alguns problemas de comportamento, sobretudo quando
não se sente aceite pelos outros;
• Está a tornar-se cada vez mais independente e "merecedora" de
confiança;

Desenvolvimento Moral
 Tem consciência de justiça;
• É altamente competitiva;
• Tem ainda dificuldade em assumir os erros mas tem maior
capacidade de aceitar as falhas e de se responsabilizar por elas;
• Grande perceção do certo e errado;

SINAIS DE ALERTA
• Preocupação excessiva com a competição e o seu desempenho,
principalmente na escola;
• Comportamentos desafiantes extremos;
• Despreocupação constante com a conclusão de tarefas/trabalhos;
• Excessiva dependência das figuras cuidadoras em tarefas que são
apropriadas à sua idade, como por exemplo: fazer pequenos recados;
escolher a roupa que vai vestir no dia seguinte; fazer os trabalhos de
casa; preparar a mochila para a escola;
• Isolamento social: poucos amigos e envolvimentos em atividades
com outras crianças;
• Pequenos furtos;
• Grande necessidade em mentir;
• Enurese noturna;
• Grande ansiedade;
• Medos excessivos;

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• Muita insegurança;
• Sono: dificuldade em adormecer sozinho; insónias.

10 ANOS E PRÉ ADOLESCÊNCIA

A partir dos 10 anos de idade, as crianças passam a dar mais


importância a um grupo de amigos que possuem gostos semelhantes.
A faixa etária que vai desde o décimo ano de vida é uma época de
intensas mudanças físicas e psicológicas: é a chamada pré-
adolescência.
Nesse período da vida as crianças passam a ter mais
responsabilidades, ao mesmo tempo em que passam a querer e a
exigir mais respeito de outras pessoas - particularmente dos adultos.
A criança nesta faixa etária passa a compreender mais a sociedade,
ordens sociais e grupos, o que torna esta faixa etária uma área
instável de desenvolvimento psicológico.
A participação num grupo de amigos que possuem gostos em
comum passa a ser muito importante para a criança, onde o modelo
dado pelos amigos começa a obscurecer o modelo dado pelos pais.
Começam as preocupações como a expectativa de ser aceite por um
grupo, ou, ainda certas diferenças em relação a outras crianças da
mesma faixa etária agravam-se nesta fase.
Muitas vezes, os pré-adolescentes sentem-se rejeitados pela
sociedade, podendo desencadear problemas psicológicos tais como a
depressão ou a anorexia, por exemplo.
A pré-adolescência é marcada pelo início das intensas
transformações físicas que transformam a criança num adulto; é o
início da puberdade, marcada principalmente pelo aumento do ritmo
de crescimento corporal e pelo amadurecimento dos órgãos sexuais.

ADOLESCÊNCIA

A adolescência é a fase do desenvolvimento humano que marca


a transição entre a infância e a idade adulta. Esta fase é marcada por
profundas transformações: fisiológicas, psicológicas, pulsionais,
afetivas intelectuais e sociais, vivenciadas num determinado contexto
cultural.
Podemos inclusivamente afirmar que o princípio da
adolescência é claramente marcado pelo início do amadurecimento
sexual (puberdade), o seu fim não se define apenas pelo
desenvolvimento corporal, mas sobretudo pela maturidade social -
que inclui, entre outras coisas, a entrada no mercado de trabalho e o
assumir do papel social de adulto.
No entanto a adolescência não é uma fase homogénea, pelo
contrário, é uma fase bastante dinâmica, pelo que Steinberg, propõe
a divisão da adolescência em três fases:

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 Adolescência inicial – 11 aos 14 anos
 Adolescência Média – 15 aos 17 anos
 Adolescência Final – 18 aos 21 (Esta ultima fase marca o inicio
da idade adulta).

A entrada na adolescência é igualmente caracterizada pela


puberdade, que inclui a mudança do corpo, da mente e dos afetos. Os
adolescentes entram numa nova fase existencial, cheia de novas
pulsões, novas sensibilidades, novas capacidades cognitivas, novas
dificuldades nos seus pontos de referência.
A adolescência é uma fase onde os jovens através de
momentos de maturação diversificados fazem um trabalho de
reintegração do seu passado e das suas ligações infantis, numa nova
unidade. Esta reelaboração deverá dar capacidades para optar por
valores, fazer a sua orientação sexual, escolher o caminho
profissional, integrar-se socialmente.
Este processo de crescimento faz-se também com retrocessos
(às vezes dá vontade de voltar a ser criança), este crescer faz-se
sozinho, com o melhor amigo, com e contra os pais, com os outros
adolescentes e com os outros adultos.
Existem muitas adolescências, conforme cada infância, cada
fase de maturação, cada família, cada época, cada cultura, cada
classe social.
Durante esta fase, a ambivalência é um sentimento que se
relaciona com as transformações globais que ocorrem no indivíduo e
que tornam este nível etário de difícil compreensão: pelos outros e
pelos próprios. Coabitam, nesta fase, desejos ambivalentes de crescer
e de regredir, de se sentir ainda criança e já adulto, de autonomia e
de dependência, de ligação ao passado e de vontade de se projetar
no futuro.
A sociedade de consumo em que vivemos faz da juventude um
público-alvo de exploração: há cada vez mais produtos dirigidos ao
adolescente. São cada vez mais significativas as camadas de jovens
que detêm - direta ou indiretamente - poder de compra. Os jovens
são, hoje, consumidores efetivos.
O atual período de escolaridade, na nossa sociedade,
prolongou-se no tempo, o que torna o adolescente familiar e
socialmente dependente; contudo, são-lhe exigidas, ao mesmo
tempo, autonomia e responsabilidade. Esta situação reflete-se em
expressões que são contraditórias.
O mesmo adulto pode dizer ao mesmo adolescente: já não és
criança, tens idade para ser responsável; ainda não tens idade para
saberes o que queres. E o adolescente reconhece e sente bem esta
ambivalência.
A fragilidade sentida pode estimular surtos regressivos,
alienações/distrações, comportamentos associais, dificuldades várias.

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Para muitos autores, o mal-estar sentido pelos jovens, na sociedade
atual, tem a ver com a indefinição do seu estatuto social.
No entanto, a adolescência não é obrigatoriamente uma fase
perturbada, até porque grande parte dos problemas, são
ultrapassados na passagem de jovem para adulto.
A adolescência não pode ser compreendida sem se ter em
conta os aspetos fisiológicos, afetivos, intelectuais, sociomorais e
cognitivos.

ASPETOS FISIOLÓGICOS
 Entrada na puberdade, onde ocorrem mudanças corporais,
principalmente ao nível dos órgãos sexuais, dando a
possibilidade de ejaculação e a menstruação.
 Os órgãos sexuais entram em funcionamento e são estas as
modificações que vão marcar a sexualidade adolescente, por
uma genitalidade, e pela capacidade da função reprodutora.
 A ossificação da mão que se completa e um aumento do
tamanho do coração.
 Ocorrem modificações ao nível dos odores corporais,
nomeadamente o suor.
 Acne, seborreia, variações de peso, etc.

ASPETOS AFETIVOS:
 As transformações corporais levam o jovem a voltar-se para si
próprio, procurando perceber o que se está a passar, para se
entender mais profundamente como pessoa.
 Utiliza diários, isola-se, pode ter devaneios, pintar, tocar
música, chorar, agressividade, mudanças súbitas de humor.
 Fecham-se muito sobre si próprios, comunicando pouco com os
adultos.
 A incompreensão leva por vezes à vitimização, sendo esta uma
frequente projeção da sua própria dificuldade em se
compreenderem intimamente.
 Grande ansiedade, relativamente às mudanças corporais, não
gostando de algumas características físicas: nariz, altura, peso,
rabo, seios, etc.
 Assumir a sua imagem corporal, sendo esta a representação
afetiva que se faz do próprio corpo. Esta representação está
relacionada com os afetos gerais de autoconfiança e a
autoestima alta ou baixa que cada um tem. A forma como nos
vemos, o autoconceito e o modo como gostamos de nós
(autoestima) são muito influenciados pelo meio onde vivemos e
a maneira como se é visto e aceite pelos outros.

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ASPETOS INTELECTUAIS
 Maturidade intelectual.
 Pensamento formal:
 Novas perspetivas, exercitar a mente, pôr-se questões,
questionar várias situações, qual a melhor solução, aprender a
criticar, interrogar, etc.
 Raciocínio hipotético-dedutivo (consiste na construção de
hipóteses, que serão testadas posteriormente).
 Refletir antes de agir
 Gosto pela fantasia e pela imaginação
 Formação de ideias próprias
 Reaparecimento do egocentrismo, mas trata-se de um
egocentrismo intelectual, ou seja, as suas teorias sobre o
mundo aparece como sendo única e correta.

2. FORMAS DE DISCIPLINA

Ao longo destes anos todos, seja como aluno, pai ou mesmo


profissional, nós questionamo-nos “O que será que mudou?”, ou seja,
quem não se lembra de as crianças se sentarem em filas muito
direitinhas e faziam, obedientemente, aquilo que lhe era pedido? Ou
até mesmo, enquanto pais, os filhos nem se atreviam a responder!
Dai a questão, o que será que mudou? O que aconteceu?
Porque é que as crianças/adolescentes de hoje não desenvolvem o
mesmo tipo de responsabilidades e de motivação, que parecia
prevalecer há uns anos atrás?
Muitos estudiosos atribuem muitas explicações possíveis para
este facto, tais como os lares desfeitos, famílias disfuncionais,
excesso de televisão, ou de jogos de computador, as mães que
trabalham, etc.
Apesar de estes fatores serem comuns na sociedade dos nossos
dias, por si só não explicam os atuais verdadeiros problemas com as
crianças.
De facto houve algumas mudanças que contribuíram para este
tipo de comportamentos.
A primeira grande mudança que poderemos referir, prende-se
com o facto de os adultos já não darem às crianças um exemplo ou
um modelo de submissão ou de obediência, isto porque eles próprios
também já não agem como nos velhos tempos, ou seja, quando a
mãe fazia obedientemente o que o pai dizia (ou dava, pelo menos, a
impressão de o fazer), pois era a forma culturalmente aceite de
proceder. Nesta altura, eram muito poucos, os que questionavam a
ideia de que as decisões dos pais.
Claro que nos dias de hoje, com os movimentos dos direitos
humanos, a mãe deixou de ser tão submissa, os grupos minoritários
começaram a reivindicar ativamente os direitos à igualdade, ou seja,

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é difícil encontrar alguém que esteja disposto a aceitar um papel
inferior e submisso na vida, desta forma, as crianças estão
simplesmente, a seguir modelos que existem à sua volta: elas
também querem ser tratadas com dignidade e respeito.
É importante salientar que igualdade, não significa “o mesmo”.
Obviamente as crianças não podem ter todos os direitos que
decorrem de mais experiência, competência e maturidade. Contudo
merecem ter o direito a uma oportunidade de desenvolver as
competências de que necessitam, num ambiente de afabilidade e de
firmeza e não num contexto de culpabilização, de vergonha e de
sofrimento.
O desejo de ser tratado com dignidade e respeito é, uma
mudança positiva na nossa sociedade. Necessitamos, simplesmente,
de tomar consciência da importância desta mudança e perceber que,
hoje, a cooperação baseada no respeito mútuo e na responsabilidade
partilhada é mais eficaz do que o controlo autoritário.
A segunda mudança prende-se com o facto de nas sociedades
de hoje as crianças disporem de menos oportunidades para aprender
a responsabilidade e a motivação. Já não “precisamos” de crianças
que sejam contribuintes importantes para a nossa sobrevivência
económica. Pelo contrário, em nome do amor, afeto, dão-se às
crianças, sem qualquer esforço ou investimento da sua parte, ou
treino de competências é, simplesmente, negligenciado em virtude
dos horários superpreenchidos, ou por outro lado, ainda não se
compreendeu a importância educativa da contribuição da criança, ou
seja, muitas vezes, retiramos-lhe a oportunidade de experienciarem
sentimentos de pertença e o sentido de que são importantes, através
de contribuições responsáveis e, depois criticamo-las por não
desenvolverem sentido de responsabilidade.
É de realçar que as crianças não desenvolvem sentido de
responsabilidade quando os pais e os professores são demasiado
rigorosos e controladores, ou pelo contrário, demasiado permissivos.
As crianças aprendem a ser responsáveis quando disfrutam de
oportunidades de aprendizagem, num ambiente de gentileza, de
firmeza, de dignidade e de respeito.
Desta forma é muito importante sublinhar que a eliminação das
punições não significa que as crianças devam ser autorizadas a fazer
tudo o que querem. Devemos oferecer-lhes oportunidades para
experienciarem a responsabilidade em relação direta com os
privilégios que usufruem.
Como consequência, caso o contrário aconteça, as crianças
tornam-se “recipientes dependentes”, que sentem que a única forma
de conseguir a pertença e o sentido de que são importantes é a
manipulação das outras pessoas, de forma a coloca-las ao seu
serviço. Há crianças que desenvolvem crenças, tais como, “ Não serei
amado, se os outros não tomarem conta de mim.” Outras pensam

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que como não conseguem fazer nada que não suscite vergonha e
sofrimento, então não vale a pena gastar tempo e energia em faze-lo.
Por outro lado, temos crianças que gastam as suas energias,
inteligência e tempo, de forma errada, orientando os seus
comportamentos mais para a manipulação, rebeldia e para a fuga.
Desta forma, estas crianças não desenvolvem as perceções e as
competências necessárias para se tornarem pessoas capazes.
Alguns autores (Glenn & Nelsen, 2002) identificaram “Sete
Perceções e Competências Significativas”, que estes julgam ser
necessárias para o desenvolvimento de pessoas capazes. Elas são:
 Perceções fortes sobre as capacidades pessoais. A criança tem
que acreditar que é Capaz;
 Perceções fortes de que se é importante nas relações primárias.
“ Eu dou o meu contributo significativo”
 Fortes perceções de poder pessoal e de influência sobre a vida.
“Consigo influenciar aquilo que acontece comigo”.
 Fortes competências interpessoais. Capacidade de
compreender as emoções pessoais e de utilizar esta
compreensão para desenvolver a autodisciplina e o
autocontrole).
 Fortes competências interpessoais. Capacidade de trabalhar
com os outros e de desenvolver amizades através da
comunicação, da cooperação, da negociação, da partilha, da
empatia e da escuta.
 Fortes competências sistémicas. Capacidade de reagir aos
limites e às consequências da vida quotidiana com
responsabilidade, flexibilidade e integridade.
 Fortes competências de julgamento. Capacidade de utilizar a
sabedoria e de avaliar as situações segundo valores adequados.

Segundo estes autores, uma das grandes vantagens deste


procedimento, é a de a maior parte dos problemas de comportamento
poder ser eliminada quando pais, professores e pessoas no geral
aprendem formas mais eficazes de ajudar os seus
filhos/alunos/crianças a desenvolverem perceções e competências
saudáveis.
É importante compreender algumas questões:
Qual a razão pela qual as crianças não se portam bem? Sendo
este o primeiro passa para enfrentarmos os problemas de disciplina.
Porque é que os métodos que utilizo, não estão a funcionar?
Será que estamos a proporcionar às crianças as oportunidades
necessárias, para que estas desenvolvam sentido de responsabilidade
e motivação?
No quadro seguinte podemos observar as principais interações
entre adultos e crianças, bem como as suas diferenças:

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Tipo de interação Características Atitudes
“Estas são as regras a
que tens que te submeter
Ordem sem
e este é o castigo que
liberdade
Severidade receberás pela sua
Ausência de opções
(controlo Excessivo) violação” – Nesta as
“Fazes, porque eu
crianças não são
quero.”
envolvidas no processo
de tomada de decisão.
“Não existem regras.
Estou certo que nos
Liberdade sem
amaremos mutuamente e
Permissividade ordem
de que seremos felizes, e
(ausência de Opções ilimitadas
tu um dia mais tarde,
limites) “Podes fazer tudo o
terás a possibilidade de
que quiseres”.
escolher as tuas próprias
regras”.
“Decidiremos as regras
em conjunto, para
Liberdade com benefícios de ambos.
ordem Também decidiremos
Disciplina Positiva Opções limitadas juntos, as soluções que
(firmeza com “Podes escolher, serão úteis para todas as
dignidade e dentro de limites partes envolvidas quando
respeito) que demostrem surgirem problemas.
respeito para com Quando eu decidir sem a
todos”. tua opinião, usarei
firmeza com bondade,
dignidade e respeito”.

Muitas pessoas têm a forte convicção que a severidade e a


punição funcionam. De facto, os castigos, por vezes funcionam.
Funcionam no sentido em que normalmente interrompe
imediatamente o mal comportamento. Mas a questão que se coloca é
a seguinte: “ E os resultados a longo prazo, quais são?”. Teremos de
ter cuidado, quando estes resultados a longo prazo são efetivamente,
negativos, pois as crianças adotam vários tipos de comportamentos
relacionados com a punição, tais como:
 Ressentimento – “isto é injusto. Não posso confiar nos adultos”
 Vingança – “Eles ficam a ganhar, agora, mas eu hei-de vingar-
me”
 Rebelião – “Farei exatamente o contrário, para provar que não
tenho que fazer as coisas como eles querem”.

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 Dissimulação – “ Da próxima vez, não me deixarei apanhar!”
 Autoestima reduzida – “ Sou uma pessoa má”

A verdade é que por norma, as crianças não têm consciência


das decisões que estão a tomar como resposta ao castigo aplicado.
Contudo o comportamento futuro, baseia-se neste tipo de decisões.
Por esta razão, os adultos precisam de estar mais atentos aos efeitos
das suas ações a longo prazo, em vez de se deixarem iludir pelos
resultados a curto prazo.
As crianças não desenvolvem características positivas baseadas
nos sentimentos e nas decisões inconscientes que tomaram. Penso
que todos partilhamos a ideia que se queremos que as crianças se
portem bem, não temos que em primeiro lugar, fazer com que elas se
sintam como as piores? Se pensarmos na última vez que nos
sentimos mal, humilhados, ou até mesmo tratados injustamente,
sentiu vontade de cooperar ou a proceder melhor?
Quando a permissividade e a severidade não funcionam, o que
devemos então fazer?
Uma das abordagens a aplicar é a Disciplina Positiva, onde não
é utilizado o controlo ou a permissividade excessiva. Esta é uma
abordagem que dá prevalência ao ensino das competências de
autodisciplina, responsabilidade, cooperação e de resolução de
problemas.
Segundo alguns autores, esta abordagem diferencia-se das
restantes pelo facto de esta não ser humilhante, nem para as
crianças nem para os adultos. O controlo excessivo implica,
normalmente, punições que humilham as pessoas.
Desta forma a questão que se coloca é: “Qual é o preço a pagar
quando o controlo é excessivo parece resultar com certas crianças?”
As investigações mostram que as crianças que experienciam
uma grande dose de castigos se tornam rebeldes ou medrosamente
submissas.
Deveríamos pensar na palavra Disciplina, pois por vezes esta é
mal interpretada. Disciplinar não significa castigar ou punir. A palavra
disciplina, vem do termo latino “disciplus” ou “discípulo”, que
significa seguidor da verdade de um princípio. As crianças não se
tornaram seguidores da verdade e de princípios, a não ser através de
uma motivação interna, assim como a punição e a recompensa são
uma motivação externa.
Na abordagem da Disciplina Positiva, temos que compreender
alguns conceitos, tais como:
 As crianças são seres sociais

O comportamento é determinado dentro de um contexto social.


As crianças tomam decisões sobre si e sobre o seu comportamento,
essencialmente baseados no modo como se veem a si e na relação

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que mantem com os outros, bem como a forma como pensam que os
outros os veem.
 O comportamento é orientado para uma finalidade

O comportamento baseia-se com a finalidade de atingir um


contexto social. Assim sendo, as crianças não têm consciência clara
da finalidade que esperam concretizar, ou seja, por vezes, têm ideias
erradas de como conseguir o que querem e comportam-se de formas
que atinjam, precisamente o oposto.
Dreikun (1974), citado por Nelsen (2002), afirma que as
crianças são muito boas a percecionar, mas más a interpretar.
Vejamos o seguinte exemplo:
“ A Joana é uma menina de dois anos e foi ao hospital com a
sua mãe e a sua irmã recém-nascida que estava doente. A Joana
durante o tempo que estava no hospital, percebe a quantidade de
atenção que a sua mãe dedica à sua irmã recém-nascida e interpreta
que a sua mãe gosta mais da sua irmã do que dela”.
Claro que isso não é de todo verdade, mas o que está correto
não é tão importante, como aquilo que a Joana pensa.
O comportamento da Joana irá basear-se naquilo que acredita
que é verdadeira e não na própria verdade. Desta forma, a finalidade
da Joana é reconquistar o seu lugar especial junto da mãe e acredita,
erroneamente, que a forma de concretizar essa finalidade é agir ou
comportar-se como um bebé. O que acontece é que com este
comportamento, ela atinge, precisamente o oposto, fazendo com que
a mãe se sinta frustrada e a rejeite, em vez de ser carinhosa e afetiva
com ela.
A principal finalidade de uma criança é sentir que pertence a
alguém e que é importante
Os conceitos anteriores interligam-se com este, pois a
finalidade de todo o comportamento é atingir o sentido de pertença e
sentir-se importante no meio social onde vive.
Uma criança mal comportada é uma criança desencorajada
Uma criança que se comporta mal está a tentar dizer-nos “Eu
não sinto que pertença a alguém ou que seja importante.”. Quando a
criança se porta mal, nem sempre é fácil por os adultos a perceber
aquilo que as crianças querem realmente dizer: “ Eu quero sentir que
pertenço!”
O que os adultos deverão então tentar compreender a criança
(estas apenas deseja sentir-se integrada, apenas não sabe muito bem
como concretizar esse objetivo) e ser eficazes na ajuda da mudança
de comportamento.
 Interesse social

Este é um conceito muito importante a ser ensinado e


transmitido às crianças.

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Dreikun (1974), citado por Nelsen (2002), afirma que não
devemos fazer nada por uma criança que ela consiga fazer sozinha.
Pois quando fazemos demasiado pelas crianças retiramos-lhe a
oportunidade de desenvolverem, através da sua própria experiência,
a crença de que são capazes
Os mesmos autores referem ainda que o primeiro passo no
ensino do interesse social é a criança confiar em si própria. Assim ela
estará pronta a ajudar os outros e a sentir-se extremamente capaz de
o fazer.
Na verdade, nós encontramo-nos numa época de superpais e
super-professores e super-adultos, na qual as crianças aprendem a
esperar que o Mundo as sirva, em vez de estarem ao serviço do
Mundo. Estão são as crianças que pensam que é injusto se não obtêm
aquilo que desejam.
Para contrariar estes ciclos viciosos, devemos então estimular o
interesse social, incluindo as crianças e os jovens na participação de
discussões, regras, opiniões, nas responsabilizações de determinadas
tarefas, bem como a partilha das mesmas.
A partilha de tarefas bem como a estimulação para as
responsabilidades e competências, faz aumentar o sentimento de
pertença, bem como experienciarem o interesse social.
O interesse social através do aconselhamento de pares
O trabalho a pares estimula o interesse social, bem como
fortalece as responsabilidades, aceitação social, sentimento de
pertença e de partilha.
 Igualdade

Igualdade não significa “o mesmo”. Por igualdade entende-se


que todas as pessoas têm o direito à dignidade e ao respeito. Uma
das razões desta abordagem exclui as técnicas de humilhação, pois
estas são contrárias aos conceitos de igualdade e de respeito mútuos.

 Aprendizagem com os erros

Na nossa sociedade, somos ensinados a ter vergonha dos


nossos erros. Todos somos imperfeitos, pelo que necessitamos de
conseguir ter coragem de mudar as nossas crenças.
Quando os pais, professores, adultos no geral enviam às
crianças mensagens negativas acerca dos seus erros, a sua intenção
é, normalmente, boa, pois eles estão a tentar motiva-las a serem
melhores, para seu próprio bem.
A verdade é que os adultos tê medo de não estar a cumprir
suficientemente bem a sua tarefa, se não obrigarem as crianças a
agir melhor. Muitos deles estão mais preocupados com o que os
vizinhos vão pensar do que com aquilo que as crianças estão a
aprender.

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Outros receiam que as crianças nunca irão aprender a proceder
melhor, se não lhes provocarem medo e humilhação.
Este tipo de comportamento na verdade acontece porque a
grande maioria tem medo e não sabe proceder de outra forma, e
pensa que se não incutir sentimentos de culpa, vergonha, sofrimento,
estará a agir de forma permissiva.
Muitas vezes os adultos encobrem os seus medos, agindo de
uma forma ainda mais controladora.
No entanto, podemos efetivamente utilizar um método, que não
é permissivo, mas motiva as crianças a agir melhor, sem interferir na
autoestima da criança.
Nós, adultos também somos corresponsáveis pelos erros que as
crianças cometem, pois quer dizer que não dedicámos tempo
suficiente à sua formação e estimulação. Assim devemos de ensinar
às crianças que os erros cometem-se e que estes são uma
oportunidade de aprendizagem
Este processo de aprendizagem implica:
 O reconhecimento do erro: “Cometi um erro!”
 Reconciliação: “Peço desculpa!”
 Resolução: “vamos trabalhar juntos na solução”

A ideia central é que é mais fácil assumir a responsabilidade por


um erro, quando este é visto como uma oportunidade para aprender
e não como algo de mau.
Se encararmos os erros como coisas más, temos uma tendência
natural de nos sentirmos incapazes, desencorajados, tornando-nos
por outro lado, mais defensivos, evasivos e críticos.
Se os erros forem entendidos como oportunidades de
aprendizagem, reconhece-los, mais facilmente nós os resolvemos.
Outros autores, (Benoit, 2001; Brazelton & Sparrow, 2004)
afirmam que o grande objetivo da disciplina é educar uma criança
para ser emocionalmente competente e moralmente desenvolvida
mais do que ser uma criança obediente. As estratégias de disciplina
são modificadas à medida que a criança progride na aquisição de
competências, estando diretamente relacionada com a idade e com
os diferentes estádios do seu desenvolvimento.
As estratégias disciplinares utilizadas pelos pais deverão
produzir na criança os resultados esperados, ou seja, cessar o
comportamento inadequado, recuperar o controlo das emoções e
acalmar-se, compreender o efeito que as suas ações têm nos outros e
saber quais serão as suas consequências, reparar o mal feito e
finalmente pedir desculpa e ser perdoada.
Importa referir que a prática disciplinar constitui um projeto a
longo prazo e como tal, não poderá ser esperado que os
comportamentos adequados da criança aconteçam da noite para o
dia, sendo necessário por parte dos pais, muita dedicação, paciência
e persistência, uma vez, que nenhuma estratégia atua por magia.

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As crianças precisam de errar antes de acertar, os erros, os
acidentes, os desajeitamentos são necessários para que se
desenvolvam bem, aprendam, e se sintam confiantes.
Existem algumas estratégias disciplinares que poderão ser
classificadas em três principais métodos:
 Métodos Positivos
 Métodos Neutros
 Métodos Negativos.

Métodos Positivos
São aqueles que promovem o autocontrolo, a responsabilidade,
a cooperação, o reconhecimento dos erros e o impacto que eles
provocam nos outros. Por isso, a forma positiva de disciplinar vale a
pena ser experimentada na educação das crianças.
As estratégias positivas são as que deverão ser privilegiadas
em primeiro lugar, atendendo que são eficazes a curto, médio e longo
prazo, por respeitarem a criança. Alguns dos métodos positivos
englobam os avisos, fazer uma pausa, reparar, pedir perdão, planear,
entre outros.

OS AVISOS
Ajudam a criança a estabelecer limites referentes a atividades
de que não quer prescindir. Avisar antecipadamente a criança da
mudança da atividade que irá ocorrer brevemente, os pais estão a
ajudar a prepará-la para a frustração que daí advêm. “Daqui a 15
minutos vamos ter que arrumar os teus brinquedos para ires para a
cama”. Passado 5 minutos o aviso deverá ser lembrado e finalmente
no último momento é efetuado de forma firme "chegou a hora. Eu
ajudo-te a arrumares as coisas".
Os avisos preparam a criança para os acontecimentos seguintes
e oferecem consistência à tomada de decisão dos pais, fazendo
diminuir a resistência da criança e ajudam a preparar-se para a
mudança. Esta estratégia funciona apenas se for cumprida. Utilizar os
avisos de forma consistente e firme não é o mesmo que usar a
rigidez, o autoritarismo ou as ordens.
FAZER UMA PAUSA
É também conhecido por diversos nomes como fora-de-jogo, o
retiro, a paragem da ação, o tempo de reflexão, o descanso, entre
outros.
De qualquer modo, fazer uma pausa significa sempre um
isolamento breve e imediato, num ambiente inofensivo e seguro. Para
o efeito, poderá ser utilizado uma cadeira, o quarto da criança ou
uma divisão da casa onde não existam muitos estímulos e permita
que a criança se acalme, sem interação dos pais.
A criança para se controlar não precisa de ficar isolada mais
tempo do que o necessário. O período de pausa deverá ser curto e

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proporcional à idade, sendo recomendado um minuto por cada ano.
Assim três anos correspondem a três minutos de pausa.
Depois da criança se acalmar, os pais devem conversar sobre a
situação, calmamente de modo a fazê-la perceber que apesar de a
deixarem sozinha não a estão a abandonar. Porém, uma criança
forçada a sentar-se numa cadeira ou num canto da sala perante os
olhares de um grupo de colegas poderá fazer com que se sinta
humilhada.
OPORTUNIDADE DE REPETIR O COMPORTAMENTO
CORRECTAMENTE
É uma ótima maneira da criança readquirir o autocontrolo e
sentir-se recompensada. Os pais ao ajudarem a criança a fazer as
coisas bem, estarão a dar-lhe uma oportunidade de ser bem-sucedida
e competente.
No entanto, insistir demasiado numa segunda tentativa poderá
fazer que a criança se senta insegura nas suas capacidades. Assim, a
tarefa poderá ser decomposta em pequenos passos, solicitando à
criança para repetir apenas os passos que é capaz de fazer bem e
elogiá-la por isso.
Quando os pais reconhecem o comportamento positivo dos seus
filhos, estes vêem-se como pessoas bem-sucedidas e boas. Esta
autoimagem positiva motivará a criança a cooperar como também lhe
proporcionará mais amor-próprio, confiança e sentido de
competência.
OPORTUNIDADE DE REPARAR
Inclui as consequências das ações, reparar e pedir perdão. As
desculpas e as reparações ajudam a criança a reconhecer os
sentimentos dos outros e a respeitá-los.
As crianças mostram-se muito mais empáticas quando os pais
têm o hábito de chamá-las a atenção para as consequências do seu
comportamento, "vê como ela ficou triste".
Para ajudar a criança a estabelecer a ligação entre o seu
comportamento e a necessidade de reparação, os pais devem
escolher consequências que resultem da má ação. Uma consequência
que não esteja relacionada com a ação poderá tornar-se confusa para
algumas crianças impedindo-as de aprender a lição.
As consequências para serem eficazes devem ser impostas no
momento presente para que a criança compreenda a relação entre a
ação e o resultado.
As consequências escolhidas pelos pais devem afetar
diretamente a criança "até ao almoço se o jogo continuar
desarrumado no sofá, vou ter que guardá-lo no meu quarto até à
noite".
Se a consequência demorar tempo demais (ficar sem o jogo a
semana inteira) a criança acaba por perder o interesse no jogo, o que
deixa de ser um incentivo a um melhor comportamento.
OBTER O PERDÃO

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É o propósito do pedido de desculpas e da reparação. As
crianças ao saberem que podem ser perdoadas, aprenderão a
perdoar-se a si próprias no futuro. O perdão possui um efeito
libertador. O facto da criança se sentir perdoada, cria a esperança e o
incentivo para melhorar o seu comportamento.

O PLANEAMENTO
Ensina a criança a planear e a resolver problemas, além de a
ajudar a aprender a prestar atenção aos seus sentimentos.
Muitos dos comportamentos inadequados da criança são
previsíveis que aconteçam em determinados contextos. As situações
que poderão provocar problemas devem ser discutidas previamente,
no sentido de planear alternativas em conjunto, "eu sei que é difícil
para ti, andares de carro durante tanto tempo. Que coisas podemos
trazer para te manteres distraído?"
O HUMOR
Constitui uma estratégia agradável de ajudar a criança a
assumir o controlo dos seus sentimentos e a alterá-los, modificando
por conseguinte os seus atos.
Pronunciar alguma afirmação com sentido de humor sobre uma
situação que está a aborrecer toda a gente, constitui uma forma de
ver as coisas sob outra perspetiva, impedindo que os problemas
assumam grandes proporções.
Este método faz maravilhas, especialmente com as crianças
mais pequenas. A diversão ou a distração poderá ser uma estratégia
promotora de boa disposição, no sentido de facilitar a cooperação por
parte da criança.
AS ROTINAS
São essenciais na vida das crianças. Desde cedo precisam de
ter horas para comer, dormir, brincar, estar com a mãe e com o pai
etc. A criança habituada às rotinas responde bem a afirmações firmes
como: "agora está na hora de fazer isto...?" ou "agora vamos fazer
aquilo...".
Normalmente as crianças são resistentes a mudanças, pois
precisam de tempo para fazer as coisas num ritmo ordenado.
As rotinas conferem repetição, ritmo, segurança e
previsibilidade. A imprevisibilidade perturba a criança, mantendo-a
em estado de alerta.
MÉTODOS NEUTROS
Poderão ser utilizados pontualmente visto que a sua eficácia é
limitada a curto e a médio prazo. Estes métodos são apenas úteis
algumas vezes e dependem da criança e da situação específica.
São sobretudo indicados quando os métodos positivos se
revelam em parte ineficazes ou quando a situação exige uma
intervenção rápida (por exemplo quando a segurança da criança está
em perigo).

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Exemplos de estratégias neutras incluem a perda de um
privilégio, cancelamento de convites ou adiar atividades agradáveis,
proibir jogos de computador e televisão, ignorar o mau
comportamento etc.
MÉTODOS NEGATIVOS
Dizem respeito a todas as estratégias de disciplina que
prejudicam a médio e a longo prazo a autodisciplina.
Algumas das estratégias negativas eventualmente utilizadas na
educação dos filhos incluem, as ameaças, as humilhações, os gritos e
os sermões, as críticas e os castigos físicos. Estes métodos negativos
desvalorizam a criança, destroem os laços afetivos entre pais e filhos
e, produzem ressentimentos, raiva e hostilidade.
Os sentimentos de inferioridade, rejeição e diminuição da
autoestima induzidos por estes métodos poderão perdurar ao longo
do desenvolvimento da criança, podendo até serem transportados
para a vida adulta, afetando o seu equilíbrio emocional.
Assim sendo podemos concluir que a disciplina é um desafio
para toda a vida e que os alicerces da aprendizagem começam muito
cedo, a partir do momento que o bebé nasce.
As experiências vividas nos primeiros anos de vida são
determinantes para o futuro. Investir na primeira infância é preparar a
criança para a vida. Para que venham a ser pessoas responsáveis,
íntegras, conscientes, participativas e ativas na sociedade e, acima
de tudo que sejam felizes, as crianças devem ser orientadas com
consistência, firmeza, muito carinho e amor.
3. EDUCAÇÃO ESFINCTERIANA

A educação esfincteriana, a sua aprendizagem, faz-se,


normalmente, entre o 2º e o 4º ano de vida da criança,
acompanhando uma fase de grandes mudanças físicas, cognitivas e
socio afetivas, em que a criança deixa de ser bebé e inteiramente
dependente do adulto, para evoluir como um ser humano
progressivamente mais capaz de usar os seus sentidos e as
experiências quotidianas para se conhecer e conhecer o Mundo que o
rodeia, dando assim passos decisivos no caminho da automatização.
Assim o controlo esfincteriano, é um dos marcos do
desenvolvimento infantil. Este é sem dúvida um dos grandes desafios
que a criança enfrenta, pois além de necessitar controlar seus
esfíncteres urinário e intestinal, necessita se adaptar aos valores
culturais e sociais do ambiente em que está inserida. Cada cultura
apresenta expectativas e métodos próprios. Os fatores fisiológicos e
psicológicos também podem influenciar esse controlo.
Os hábitos urinários e intestinais adequados são importantes
para o funcionamento adequado dos respetivos sistemas (urinário e
intestinal). Uma aquisição tardia do controle esfincteriano pode estar
relacionada ao aumento da prevalência de disfunções das
eliminações observada nos últimos anos. Outras patologias que

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podem estar relacionadas com a educação esfincteriana inadequado
são as infeções urinárias de repetição, enurese, obstipação, recusa
em ir à casa de banho e a encoprese.
3.1. A aprendizagem da higiene

A maioria das crianças começa a ser capaz de largar as fraldas


durante o dia até aos dois anos e meio, três anos, com acidentes
ocasionais e está preparada para tirar as fraldas de noite até aos
quatro anos.
Esta aprendizagem representa uma tarefa de desenvolvimento
importante durante a fase pré-escolar a par de outras
competências de autonomia ligadas ao sono, à alimentação e à
higiene diária e é valorizada pela sociedade como um sinal de
maturidade e adaptação, e pelos pais como um primeiro degrau no
sentido da autonomização da criança
3.2. Processo de aquisição do controlo dos esfíncteres

Entre os dois e quatro anos as crianças adquirem o


reconhecimento da necessidade de urinar e a capacidade de reter a
urina alguns minutos. Até aos quatro anos e os cinco anos as crianças
são capazes de iniciar o ato de urinar voluntariamente seja qual for o
volume e urina na bexiga.
Quanto as fases de desenvolvimento do controlo das fezes são
menos claras. O controlo das fezes, pelo próprio processo fisiológico
envolvido, é geralmente atingido antes do controlo da urina,
normalmente na segunda metade do primeiro ano. Se a criança tem
hábitos intestinais muito regulares e pais atentos, que a colocam no
bacio à hora provável (geralmente após as refeições), a transição
para a fase de fazer a maioria das evacuações no bacio é rápida.
Geralmente entre os 24 e os 30 meses a criança é capaz de antecipar
em alguns minutos a necessidade de evacuar.
As perturbações que poderão estar associadas à educação
esfincteriana são a enurese e a encoprese, que iremos abordar
seguidamente:

3.3. ENURESE
3.3.1. Enurese Infantil
A Enurese define-se como a passagem involuntária de urina
para as roupas ou cama, depois de idade em que a criança devia ter
feito a aprendizagem do controlo dos esfíncteres (a idade cronológica
da criança deve ser de no mínimo 5 anos, ou, para crianças com
atrasos do desenvolvimento, uma idade mental de no mínimo 5
anos), e na ausência de outra patologia orgânica.
Para corresponder a um diagnóstico de Enurese, a micção deve
ocorrer no mínimo duas vezes por semana por pelo menos 3 meses,
ou então deve causar um sofrimento ou prejuízo significativo no

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funcionamento social, académico ou outras áreas importantes na vida
do indivíduo
É fundamental relembrar que a enurese é involuntária, pelo que
a criança não deve ser castigada ou culpabilizada. Um ambiente de
ansiedade ou rigor excessivos em relação a este problema podem
tornar-se nocivos e adiar a resolução.
A enurese consiste na micção involuntária a partir de uma idade
na qual já se deveria ter adquirido o controlo da bexiga.
Na ausência de situações adversas, o controlo dos esfíncteres,
quer diurno quer noturno, ocorre, em cerca de 98% das crianças, até
aos 5 anos de idade.
A enurese pode ser noturna (quando ocorre apenas durante o
sono) ou diurna (quando ocorre com a criança acordada). A noturna é
de longe a mais comum. São vários os fatores que contribuem para
esta situação e, geralmente, estão relacionados com a profundidade
do sono, a menor capacidade da bexiga e uma maior produção de
urina durante a noite.
A enurese noturna pode ser considerada de dois tipos:
 Primária – Sendo a que ocorre todas as noites;
 Secundária - quando se verifica após um período de controlo
prévio, geralmente mais de um ano. A secundária exige a
investigação de fatores orgânicos e emocionais

3.3.2. Conselhos que ajudam as crianças com enurese


Os pais podem e devem ajudar a criança a resolver este
problema incentivando-a através de, por exemplo, um sistema de
prémios, à medida que vai conseguindo o controlo. É fundamental
relembrar que a enurese é involuntária, pelo que a criança não deve
ser castigada ou culpabilizada. Um ambiente de ansiedade ou rigor
excessivos em relação a este problema podem tornar-se nocivos e
adiar a resolução.
Existem ainda medidas práticas que ajudam na resolução do
problema, tais como:
 O quarto da criança deverá sempre ficar o mais próximo
possível da casa de banho, de modo a facilitar o acesso;
 Deixar uma luz acesa;
 Não encorajar o uso de fraldas;
 Proteger o colchão;
 Estimular a criança a ingerir líquidos durante o dia para que
possa reconhecer a sensação de bexiga cheia;
 Reduzir a ingestão de líquidos à noite.

Na maioria das crianças, a enurese trata-se seguindo estas


recomendações. Se optar por recorrer ao uso de fármacos, deve fazê-

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lo com a prescrição de um médico especialista na área. Estes
medicamentos fundamentam a sua ação na produção de um efeito
antidiurético.
3.3.3. Enurese na adolescência
Estudos mostram que entre 2 a 5% dos adolescentes
permanecem enuréticos, causando sérios problemas ao nível familiar,
social e de autoestima para a o jovem.
Desta forma, surge a questão “Porque é que alguns
adolescentes ainda urinam na cama?”
Existem várias possíveis para esta questão, nomeadamente:
 A predisposição genética (a possibilidade dos filhos terem
enurese aumenta entre 45 a 75 % se 1 ou os 2 pais
(respetivamente) tiveram enurese.
 A produção de maior quantidade de urina durante o sono (o
normal é as pessoas produzirem menos urina durante o sono,
por ação de uma hormona chamada Vasopressina. Os jovens
que não produzem esta hormona em quantidade suficiente, a
micção ocorre porque o volume de urina produzido é maior do
que a capacidade da bexiga.
 Imaturidade neurológica no mecanismo de acordar ou na
inervação (atividade dos nervos nas funções orgânicas) da
bexiga.
 Fator emocional – raramente é fator que desencadeia, mas a
Enurese influência de forma muito negativamente a
personalidade da criança, através de sentimentos de vergonha
e culpa.

3.3.4. Quais as consequências da Enurese?


A enurese tem várias consequências para os jovens, tais como:
 Risco da perda da autoestima na fase de formação da
personalidade (criança ou jovem inibido, retraído, reprimido,
isolado, frustrado, com medo, vergonha, desprezo por si
mesmo, culpa, etc.);
 Repercussão social como falta às aulas, baixo rendimento
escolar, dificuldades de relacionamento com os colegas, não
poder participar de acampamentos, viagens ou dormir na casa
de seus amigos, primos, avós etc.;
 Pais ou outros familiares que podem estar frustrados,
intolerantes por não conseguirem vencer o problema.
 Custo económico e trabalho envolvido na limpeza das roupas do
jovem, bem como das roupas de cama e do colchão.
 Estudos mostraram que 20 a 36% dos pais punem seus filhos
pela enurese

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A enurese como já vimos anteriormente, tem tratamento, sendo
este bastante benéfico não só para o jovem, mas também para os
seus familiares.
O controlo noturno da micção significa para o jovem que ele é
competente, que tem controlo sobre seu corpo. Significa que venceu
esta etapa da vida, e rapidamente recupera sua autoestima. Para a
família significa uma vitória, uma etapa vencida na socialização deste
jovem, a certeza de que ele não era doente, somente demorou um
pouco mais para conseguir o controlo noturno da micção.
Para que este tratamento seja eficaz, o jovem e os seus pais
deverão ir a um médico especialista, que após conhecer o histórico da
criança, examina-la e solicitar exames, poderá indicar o tratamento
ideal para cada caso. As opções incluem:
 Restrição hídrica - o jovem deve estar motivado, e não ingerir
líquidos 2 horas antes de deitar, até que tenha total controlo
sobre sua micção. Também deve evitar produtos que
contenham cafeína, pois ela é diurética e estimula a contração
da bexiga.
 Urinar ao deitar e ao levantar - é essencial criar o hábito de
urinar logo antes de deitar e logo ao acordar, esvaziando
completamente a bexiga.
 Recompensa pelas noites secas - A motivação é
importantíssima. Os pais devem valorizar cada dia de vitória,
com elogios, carinhos, demonstrando seu contentamento e
participando ativamente do tratamento.
 Treinamento da micção – com exercícios que orientam o
controle do ato de urinar.
 Tratamento da obstipação ("intestino preso" ou "prisão de
ventre") – há uma importante correlação entre estes problemas,
e a cura da constipação aumenta a possibilidade de sucesso no
controle da micção;
 Alarmes - é a terapia de condicionamento. De noite o jovem usa
o sensor próximo aos genitais, sensível às primeiras gotas de
urina, e que dispara um alarme sonoro fixo na roupa, no ombro,
para acorda-la. O jovem levanta, vai à casa de banho e urina.
Após 3 a 6 meses, criou-se o condicionamento e não precisará
mais do sensor para saber que bexiga cheia é hora de urinar.
Tem alto nível de sucesso, e ausência de efeitos colaterais.
 Medicação que diminui a produção noturna de urina, com
ótimos resultados. É útil ao dormir na casa dos amigos, ou
durante acampamentos e viagens. Em menos de 5% dos
pacientes podem ocorrer efeitos colaterais, como náuseas e

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dores abdominais. Só deve ser usado com acompanhamento
médico.
 Acompanhamento psicológico - é importante auxiliar o jovem a
não se sentir culpado e recuperar sua autoestima, acreditando
na sua capacidade de vencer.

3.3.5. O papel dos pais


Os pais têm um papel muito importante no processo de
tratamento, ajudando a desdramatizar o problema. É preciso
enfrentar o problema com tranquilidade, encorajando a criança pelo
esforço que está a fazer para o ultrapassar.
É igualmente importante, os pais procurarem ajuda e não
ficarem à espera que “o problema passe por si só”. A criança não
molha a cama para chamar à atenção ou por ser preguiçosa, trata-se
de uma situação que ela não controla. Por isso “sermões” e castigos,
só vão fazer com que a criança se sinta ainda mais culpada, frustrada
e angustiada.
No dia-a-dia, os pais deverão também tentar alterar alguns
hábitos prejudiciais, evitando que a criança beba muitos líquidos
antes de ir para a cama e lembrando-a da necessidade de ir à
casa de banho antes de se deitar.
3.3.6. Evitar a vergonha
Evitar a vergonha é um dos aspetos importantes a ter em conta,
pois devemos proteger a autoestima da criança.
Por forma a minimizar esta, aquando o seu filho ou filha deseja ir
dormir a casa de um amiguinho ou amiguinha, por exemplo, existem
no mercado produtos de higiene infantil que ajudam a minimizar as
consequências da enurese, tais como, umas cuecas de proteção
noturna, superabsorventes, mas com um aspeto não muito diferente
da roupa utilizada pelas crianças. Assim, ela evitará os embaraços de
uma cama molhada.
3.5. ENCOPRESE

Por encoprese entende-se "Qualquer defecação involuntária


que ocorra numa criança que já tenha ultrapassado a idade de 2 anos
e na ausência de lesão evidente do sistema nervoso ou de outra
afeção orgânica". (Flower,1882; Henoch, 1889, Weissenberg, 1926,
citado por Barros, 2004).
Trata-se, portanto, de uma falta de controlo esfincteriano anal,
que é geralmente adquirido até aos 2 anos e meio de idade,
caracterizando-se sobretudo por ser uma defecação
involuntária, não diretamente atribuída a doenças físicas tais
como, anomalias retais e anais, a fraturas da coluna vertebral,
infeções agudas e outras (que serão "incontinência intestinal" e não
encoprese).
A encoprese não é uma doença do esfíncter anal, mas de um
problema psicológico que afeta o seu controlo normal. Tal como a

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enurese, a encoprese é apenas um dos sintomas de um quadro
psicopatológico, pois esta pode aparecer associada a sintomas, tais
como, tiques, manipulações (roer as unhas, sucção no polegar),
gaguez, timidez, medos, birras, delinquência, etc.
Regra geral, não há qualquer doença de base responsável por
este problema. Cerca de 80% das crianças têm história de obstipação
(prisão de ventre) ou de dor a defecar desde há alguns anos.
Os pais ao verem os filhos com as cuecas sujas com fezes,
normalmente líquidas, pensam que o filho tem diarreia, embora o
problema seja exatamente o oposto.

3.4.1. Como surge a encoprese?


É simples de entender. Primeiro, a criança tem dor ao defecar. A
dor é provocada pelas cólicas ou pelo facto de as fezes serem mais
duras. Para evitar a dor, a criança acaba por reter as fezes, evitando a
ida à casa de banho. Com o tempo, o reto vai-se distendendo,
perdendo sensibilidade, e acabam por se acumular quantidades cada
vez maiores de fezes duras. A certa altura, o reto está totalmente
preenchido por fezes duras, quase sem sensibilidade, e cada vez que
chegam novas fezes líquidas à parte terminal do intestino,
conseguem passar pelo ânus sem que a criança se aperceba,
acabando assim por sujar as cuecas involuntariamente.
Inicialmente, só passam pequenas quantidades, razão pela qual
os pais não se apercebem da situação ou julgam que a criança se
está a limpar mal após a ida à casa de banho. Com o tempo, a
quantidade começa a aumentar e, como estas fezes não passam
pelas fases de digestão normal do intestino, tornam-se pegajosas e
com muito mau cheiro. Em geral, esta situação manifesta-se mais
frequentemente durante o dia, enquanto a criança está ativa, e muito
raramente de noite, durante o sono.
A encoprese não é considerada uma alteração do
comportamento normal da criança. Pelo contrário, devido à
encoprese, a criança pode passar a manifestar alterações
comportamentais, nomeadamente baixa de autoestima, mau
rendimento escolar e até conflitos com os pais. Frequentemente,
estas situações tendem a arrastar-se por a criança, com vergonha,
negar e não aceitar que tem este problema.

3.5. Origem das perturbações de eliminação


Apesar da procura de causas genéticas, acredita-se que é a
combinação de vários fatores que explica a maioria dos casos
individuais. Alguns determinantes psicológicos até agora estudados
sugerem que, a origem da perturbação pode advir de: falhas na
aprendizagem e manutenção dos hábitos de higiene, aprendizagem
prematura, tardia ou pouco sistemática; acontecimentos de vida
stressantes e ansiedade.

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Outro fator, poderá ser a associação da eliminação com dor e as
experiências aversivas durante a aprendizagem e manutenção dos
hábitos de higiene podem, nalguns casos, ser causa direta.
O que fazer nestas situações? O Primeiro é necessário retirar as
fezes duras que estão no reto. Esta fase pode demorar alguns dias e
em geral só é possível com a ajuda de clisteres. Depois de esvaziado
o reto e toda a parte terminal do intestino é necessário evitar que
esta situação se repita, assegurando a ida diária à casa de banho.
Para isso, poderá ser recorrer a medicamentos, tais com, laxantes
orais, que tornarão as fezes moles e evitarão que a defeção seja
dolorosa. Esta terapêutica deve durar meses até que se tenha
estabelecido uma rotina diária.
É recomendável uma dieta que seja rica em fibras, ou seja, sopa
de legumes todos os dias e saladas. Também é importante que beba
muita água para que as fezes sejam mais moles.

6.6. Tratamento

Existe uma grande diversidade de abordagens que apresentam


medidas terapêuticas eficazes para o tratamento das perturbações de
eliminação.
Salientam-se além da terapia farmacológica, as medidas gerais
de reeducação que ressaltam a importância do desenvolvimento de
capacidades individuais da criança no sentido da autonomia com o
apoio ativo e permanente da família;
6.7. O papel dos Pais

Uma vez que um terço das crianças têm encoprese porque não
sabem defecar - julgam que está a fazer força para fora quando, na
verdade, estão a contrair o esfíncter e a evitar a dejeção.
A atitude dos pais em relação à encoprese também é um
determinante psicológico muito importante, uma vez que a aquisição
da higiene é um desafio as competências educacionais dos pais. A
atitude dos pais quando é pouco correta e sistemática, ou quando
centra mais a atenção nos insucessos do que nos sucessos da
criança, favorece a emergência destas perturbações.
Por isso, caso a criança apresente regularmente as cuecas sujas
com fezes, mesmo que esta tente disfarçar ou prometa que não volta
a acontecer, os pais não devem zangar-se com a criança, pois esta
não o fez de propósito.
A questão é que é verdadeiramente penoso e embaraçoso para
a criança. Desta forma, os pais, deverão encarar isto com a seriedade
de qualquer problema médico.
7. SONO E PROBLEMAS ASSOCIADOS

O sono é extremamente importante para a recuperação física e


psicológica do ser humano. Na vida atual, no entanto, nem sempre

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ele é respeitado, principalmente nas grandes cidades. As atividades
crescentes das crianças, obrigações, atividades extracurriculares,
muitas vezes impõem um padrão de sono irregular, insatisfatório, e
em ambientes e condições inadequadas.
É essencial o conhecimento das funções e características do
sono, para que possamos entender melhor os diversos distúrbios de
comportamento da criança decorrentes dos maus hábitos na hora de
dormir e o significado dos múltiplos despertares noturnos.
Segundo estudos polissonográficos (ou exames de sono) e
eletrencefalográficos (exames ao cérebro), o sono normal divide-se
em vários ciclos no decorrer da noite, sendo que cada ciclo dura em
média 90 minutos no adulto e 50 minutos no lactente.
Após cada ciclo de sono é possível o indivíduo passar por um
leve despertar, nem sempre consciente. Este fato normal será
importante na avaliação da criança que acorda muito à noite.
Cada ciclo de sono divide-se em dois tipos fisiologicamente
distintos:
 Não – REM - Non rapid eye movements ou “ Movimento não
rápido dos olhos”
 REM rapid eye movements, ou "Movimento rápido dos olhos".

Sono NREM
O sono NREM (ou não-REM) ocupa cerca de 75% do tempo do sono e
divide-se em quatro períodos distintos conhecidos como estágios 1, 2,
3 e 4.
Estágio 1:
Começa com uma sonolência. Dura aproximadamente cinco minutos.
A pessoa adormece. É caracterizado por ser semelhante ao do estado
de vigília. Esse estágio tem uma duração de um a dois minutos,
estando o indivíduo facilmente despertável. Predominam sensações
de vagueio, pensamentos incertos. Nessa fase, a atividade onírica
(sonhos) está sempre relacionada com acontecimentos vividos
recentemente.
Estágio 2:
Caracteriza-se por a pessoa já dormir, porém não profundamente.
Dura cerca de cinco a quinze minutos. Nessa fase, os despertares por
estimulação táctil, fala ou movimentos corporais são mais difíceis do
que no anterior estágio. Aqui a atividade onírica (sonhos) já pode
surgir sob a forma de sonho com uma história integrada.
Estágio 3:
Tem muitas semelhanças com o estágio 4, daí serem quase sempre
associados em termos bibliográficos quando são caracterizados.
Nessas fases, os estímulos necessários para acordar são maiores. Do
estágio 3 para o estágio 4, há uma progressão da dificuldade de
despertar. Esse estágio tem a duração de cerca de quinze a vinte
minutos.
Estágio 4:

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São quarenta minutos de sono profundo. É muito difícil acordar
alguém nessa fase de sono. Depois, a pessoa retorna ao terceiro
estágio (por cinco minutos) e ao segundo estágio (por mais quinze
minutos). Entra, então, no sono REM.
O sono NREM tem, pois, um papel revitalizande, sendo
essencialmente um período de conservação e recuperação de energia
física.
Sono REM
O sono REM caracteriza-se por uma intensa atividade registrada
no eletroencefalograma (EEG) seguida por flacidez e paralisia
funcional dos músculos esqueléticos. Nesta fase, a atividade cerebral
é semelhante à do estado de vigília.
Nesta fase do sono, a atividade onírica (sonho) é intensa, sendo
sobretudo sonhos envolvendo situações emocionalmente muito
fortes.
Estudos também demonstram que é durante o REM que sonhos
ocorrem. A fase representa 20 a 25% do tempo total de sono e surge
em intervalos de sessenta a noventa minutos. É essencial para o
bem-estar físico e psicológico do indivíduo
É a fase do sono na qual ocorrem os sonhos mais vívidos.
Durante esta fase, os olhos movem-se rapidamente e a atividade
cerebral é similar àquela que se passa nas horas, em que se está
acordado. As pessoas acordadas durante o sono REM, normalmente,
sentem-se alertas, com maior índice de atenção, ou mais dispostas e
prontas para a atividade normal.
No lactente cada estágio perfaz cerca de 50% do ciclo. A
duração do sono REM vai diminuindo com a idade, chegando a 20%
do sono total no adulto. A partir dos seis meses o estágio não-REM
começa a dividir-se em 4 fases. As fases l e 2 correspondem ao
adormecer, e as fases 3 e 4 ao sono profundo, quantificado pela
dificuldade em se acordar o indivíduo. O estágio REM também
corresponde a um período de sono profundo.
Durante este estágio a pessoa só acorda mediante fortes
estímulos afetivos (p. ex. o choro da criança para a mãe, o ruído do
telefone para o médico, etc.)
A privação do sono REM causa perturbações mentais
significativas, chegando a surto psicótico em sete dias de privação.
Para além destas características, devemos igualmente salientar
que a duração do sono varia com a idade, ou seja:
 Um bebé à nascença, dorme cerca de 16 a 18 horas por dia;
 Por volta dos 6 meses, dorme entre 14 a 15 horas por dia;
 Aos 3/4 anos de idade, dorme 12horas por dia;
 Aos 10/12 anos de idade, dorme 10 horas por dia;
 Na idade adulta, este dorme cerca de 7 a 8 horas por dia;
 E, por último durante o envelhecimento, dormimos cerca de 5 a
6 hora por dia;

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4.1.DISTÚRBIOS DO SONO NAS DIVERSAS FAIXAS ETÁRIAS
4.1.1. Pré-escolar (três a seis anos)
Os problemas mais comuns nesta faixa etária são a relutância a
ir para a cama e os pesadelos. Nesta idade sentem grande prazer em
participar das atividades da família até tarde:
Medos:
Do escuro, de ficar sozinho, de insetos e animais. As sombras
no quarto em meia-luz podem ser interpretadas como monstros, pela
frequente confusão entre fantasia e realidade. O "quarto escuro"
favorece o contato com o "mundo interno" (mundo mental, de
fantasias), por dificuldade de se ver o mundo externo (que está no
"escuro"). Aí a criança passa a entrar em contato com os "maus" e
"bons" pensamentos, sentimentos e fantasias. E são estas fantasias,
inconscientes, que se forem terroríficas, vão provocar os medos,
"projetados" em objetos do mundo externo.
Adaptação social:
Após os três anos, devem-se avaliar causas psicológicas,
ambientais ou orgânicas, e diferenciá-las de fases normais do
desenvolvimento.
Geralmente a partir desta idade (ou mesmo antes), a criança
começa a conquistar o mundo fora do lar.
Nesta adaptação social, início de escolinha, relacionamento com
novos amiguinhos e professores, grandes ansiedades são
mobilizadas. P. ex., a ansiedade de separação pode ser revivida. Os
pais devem apoiar a criança nesta conquista progressiva da
independência, demonstrando satisfação por suas novas conquistas e
encorajando a aquisição de novas habilidades. Os problemas gerais
de adaptação na vida fora do lar também podem ser causa de
distúrbios do sono.
Colocação de limites:
Os filhos de pais que trabalham fora podem querer prolongar o
tempo precioso em que ficam com eles, negando-se a ir deitar. Por
outro lado, os pais, pelo sentimento de culpa de permanecerem
pouco tempo perto de seus filhos, podem ter dificuldades em colocar
limites, agravando o problema.
O ideal é que se organizem para que tenham algum tempo
disponível para a criança, mesmo que curto, mas que seja constante
e previsível. Este tempo deve ser respeitado para ficar realmente com
a criança, e não ser aproveitado para outras coisas, como ler jornal ou
ver televisão, dando-lhe atenção em qualidade, já que não se pode
dar em quantidade.
Esta conduta aumentará a confiança nos pais, podendo contar
com eles, ao menos no horário combinado.
Hiperestimulação:
Evitar televisão, jogos de computador ou consolas e histórias
que provoquem muita emoção, bem como brincadeiras excitantes

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antes de dormir. Dar preferência para atividades relaxantes e avisar a
criança com antecedência de que o horário de dormir se aproxima,
para que tenha tempo de terminar sua brincadeira.
Rituais:
Seja qual for a causa, o pré-escolar normalmente protesta na
hora de dormir. Aumentam os rituais, pedem para contar histórias,
pedem mais abraços e beijos, outro copo com água, solicitam mais
cinco minutos, fazem chantagens, etc. Insistem em dormir na cama
dos pais ou próximo a eles.
Nesses casos, a dificuldade dos pais na execução de sua
autoridade reforça este distúrbio de comportamento, provocando sua
piora. Por outro lado, os pais devem aprender a ter sensibilidade
suficiente para diferenciar as ansiedades e medos genuínos,
frequentes nesta faixa etária, e tranquilizarem a criança.
Pesadelos:
Após os três anos, algumas crianças já relatam sonhos. Os
pesadelos, sonhos carregados de ansiedade, geralmente acordam a
criança. Ocorrem durante o estágio REM do sono, em geral no último
terço da noite. Se forem frequentes podem assustar a criança,
fazendo com que ela tenha medo de ir dormir.
Nestes casos está indicada pesquisar-se as fontes de ansiedade.
Os pais devem suprir as necessidades da criança de diálogo, afeto,
segurança, regularidade dos hábitos de sono e proteção contra
hiperestimulações diversas.
Rotina:
Na hora de dormir, a criança deve ser avisada com
antecedência, para que tenha tempo de guardar os brinquedos,
colocar o pijama, escovar os dentes, urinar.
Estes rituais devem ser encorajados, mas é importante que não
sejam excessivos. A criança deve deitar-se de preferência sempre na
mesma cama, no mesmo quarto, favorecendo a transição vigília sono.
Devemos lembrar, no entanto, que os pais que têm dificuldades
em colocar limites na hora de dormir, com certeza o têm também em
outras situações durante o dia, como na hora de comer, de brincar,
de tomar banho, etc.
Hipersónia e apneias:
Nas crianças que apresentam híper sonolência diurna, deve-se
suspeitar de apneia do sono, embora esta causa seja rara em pré-
escolares, causando vários despertares noturnos.
Os múltiplos despertarem noturnos, interfere com o
crescimento da criança.
Já que a primeira infância e a adolescência são períodos de
crescimento rápido, é possível que necessitem mais desta fase do
sono durante estes períodos de desenvolvimento. Portanto, nas
crianças com défice de crescimento, pesquisar detalhadamente
também os hábitos de sono, além de outras investigações pertinentes
a cada caso.

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O ronco é a tentativa vigorosa em tentar passar o ar através de
uma glote parcialmente obstruída por hipertrofia de amígdalas ou
adenoides. Raramente esta pode ser uma causa das apneias do sono.
4.1.2. Idade Escolar (dos 6 aos 13 anos)
Os distúrbios de sono nesta faixa etária são menos frequentes,
embora possam persistir alguns rituais, ou solicitam a permanência
de alguma luz acesa. As parassónias (são a manifestação noturna em
forma de movimentos anormais durante o sono), resultando na
interrupção do sono.
Vários problemas podem afetar o sono das crianças.
Geralmente, não são graves e passam com a idade, mas é preciso
dar-lhes atenção e ajudar a criança a ultrapassá-los. Muitas vezes, o
melhor remédio é a paciência.
Aparecem nesta faixa etária: insónias, sonambulismo, terror
noturno, sonilóquio (falar a dormir), enurese noturna, bruxismo.
Insónias
As insónias podem ser um problema temporário nas crianças,
muitas vezes associados aos momentos críticos do desenvolvimento.
Muitos outros fatores podem contribuir para um mau dormir, como
qualquer mudança, seja, esta, de quarto, de casa, de colégio ou
escola, alterações na família ou doença.

Sonambulismo
Sonambulismo é definido como um “semi-acordar e andar”. É
de certa forma semelhante ao terror noturno, dado que se fica na tal
zona cinzenta entre o acordar e o não acordar, no final do ciclo não-
REM, equivalente ao sono profundo. Pode também corresponder a
fases de transição de ritmo de sono e a sonhos, e ocorre cerca de
duas horas após o deitar, embora seja variável de pessoa para
pessoa.
Quando se sonha, o corpo fica imobilizado, caso contrário
viveríamos (havendo quem o faça), os sonhos de uma forma viva. Em
algumas pessoas, sobretudo crianças, os mecanismos de
“paralisação”, não estão completamente desenvolvidos, pelo que a
pessoa vive o sonho ou a fase de transição de ciclo vagueando pela
casa.
A criança com sonambulismo é incapaz de comportamentos
complexos como comer lanche na cozinha, escovar os dentes, etc.
Estão de fato em risco de acidentes e devem ser protegidas. O
sonambulismo é mais frequente na infância e diminui na
adolescência, provavelmente devido ao amadurecimento do Sistema
Nervoso Central (SNC). Pode persistir por toda a vida. Indivíduos que
apresentam sonambulismo têm incidência de enurese noturna mais
alta que a população geral.
Os episódios duram segundos ou minutos, ocorrendo nas
primeiras horas de sono. São dificilmente acordados e quando o são,
ou ao despertar pela manhã, existe amnésia do evento. Não é

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considerado fenómeno epilético, embora alguns estudos demonstrem
que o sonambulismo pode estar associado à epilepsia.
Para reduzir o risco de acidente, podemos:
 Ter uma luz de presença nos corredores e halls;
 Se a criança dormir num beliche, deverá ficar sempre na cama
de baixo;
 Proteger as escadas;
 Fechar as portas exteriores;
 Quando der conta que o seu filho anda pela casa, reencaminhe-
o suavemente para a cama, orientando o percurso, sem falar ou
dizendo um mínimo de palavras possíveis com um voz suave e
carinhosa.
 O sonambulismo passa com a idade, mas se piorar é importante
falar com um médico.

Terror noturno
Podem ter início no pré-escolar e persistir até a idade escolar. A
criança sente-se subitamente, com os olhos abertos, fica agitada,
gritando e chorando com expressão de terror. Mostra-se desorientada,
não reconhece as pessoas que estão ao pé de si e podem ainda
referir que estão a ver pessoas estranhas ou animais. Mesmo
estimulado, raramente acorda, e caso acorde só se recorda
confusamente ou não se recorda do episódio.
Dura de 10 segundos a 20 minutos e quando a criança
conseguir acalmar-se volta a dormir calmamente. Durante o episódio
há aumento substancial da frequência cardíaca, e respiratória,
podendo ocorrer ocasionalmente intervalos de apneia.
Nos adultos, geralmente as parassónias associam-se a
distúrbios psicopatológicos.
O terror noturno diferencia-se dos pesadelos, que são sonhos
que causam medo ou ansiedade. Ocorrem com maior frequência que
o terror noturno, sendo mais comuns entre 3 e 8 anos, quando a
confusão entre realidade, fantasia e conteúdo de sonhos é mais
intensa.
Perante episódios de terror noturno, os pais podem atuar de
duas formas:
Apesar de esta não ser muito eficaz, os pais podem tentar que a
criança acorde. Se ela acordar e percecionar os pais, significa que já
rompeu com o estádio anterior e partir daí poderá regressar ao sono,
se bem que possa mostrar medo.
Outra forma, que resulta com bastante frequência é não
acordar a criança e, pelo contrário reencaminha-la para o sono, como
se estivéssemos a contar uma história, como por exemplo, “ e depois
veio o Ruca, ou a Barbie (ou qualquer outro desenho animado que
goste mais), e mais o teu ursinho, e então os maus forma embora e

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foram todos fazer um grande ó-ó porque estavam muito cansados e
foi muito bom.”
Tudo isto em voz “off”, calma e tranquila, ajeitando a criança na
cama e transformando esse momento de completa disrupção numa
reorganização corporal e mental. Passado um pouco a criança está a
dormir.
Pesadelos
Os sonhos acontecem na fase REM do sono, quatro a cinco
vezes em cada noite, mas depende de pessoa para pessoa, do que se
passou durante o dia e da fase de desenvolvimento em que se
encontra.
Alguns sonhos são aterradores. E se a um pesadelo, um “sonho
mau”, como as crianças tão bem designam (porque também há
sonhos bons, reconfortantes, engraçados e que até desejamos que
continuem quando acordamos), se junta um estádio de alerta prévio
mais intenso, então é provável que a criança acorde e se sinta
derreada e com medo.
Desconhece-se o que desencadeia o tipo de sonho. A atividade
cerebral é intensa e pode ser o cruzamento de informação e a
associação de ideias que gera um enredo desagradável. Sabe-se que
certos incómodos físicos, tais como, camas pequenas, dormir sobre
um braço ou uma perna que esteja a magoar, ter a bexiga distendida,
ter frio, podem desencadear sonhos menos agradáveis.
A idade dos pesadelos, começa sobretudo por volta dos três
anos, coincidente com a fase em que a fantasia é mais intensa. Os
sonhos são como filmes, de vez em quando há filmes, “que metem
medo”, e ter um pesadelo de vez em quando é normal. Se estes se
acentuarem e tornarem-se numa rotina, então é sinal que a criança
não está bem, podendo até ser apenas num período de mais stress,
como por exemplo, a entrada ou mudança de escola, mudança de
casa, nascimento de um irmão, a morte de alguém próximo, etc.
Vários autores referem que os estímulos recentes, em termos de
“timing” de ir para a cama, pode influenciar o tipo de sonho. Dito de
outra forma, se uma criança estiver a ver um filme de terror antes de
se deitar, terá mais probabilidades de ter um pesadelo. No entanto,
tudo depende, mais do que o conteúdo, do inesperado e de como a
criança vive a situação.
Ou seja, um filme de terror é inesperado, com cenas em que até
nós próprios não conseguimos antecipar o que vem a seguir. Este é
um fenómeno de insegurança. Outra coisa são as histórias infantis em
que há vilões, desde o lobo mau à bruxa má, em que a criança sabe
“que o bem irá triunfar”.
O que devemos fazer quando uma criança acorda de um
sonho mau?
A criança acorda mesmo e muitas vezes e até consegue
lembrar-se do sonho. É importante a presença dos pais para
testemunhar que “tudo não passou de um pesadelo”. E isso tem que

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ser dito mas, sobretudo, mostrado de uma forma afetiva, com
abraços, beijinhos e muito colinho. Só através do mimo, a criança
consegue libertar-se do medo.
A voz tranquila da mãe ou do pai ajudam muito, mas para isso
não podem estar a pensar em si, na noite interrompida, no trabalho
do dia seguinte ou que já não vão dormir essa noite.
Às vezes é preciso mostrar à criança que não existe nenhum
monstro escondido, mesmo que para isso seja necessário fazer uma
vistoria ao quarto.
E, por último dizer-lhe taxativamente “Tiveste um sonho mau,
foi só um sonho!”. Posteriormente, pode utilizar o boneco ou um
peluche que a criança goste (servindo este de objeto transicional), e
contar uma história, em que tudo vai ser bom e bem mais divertido.
A análise do sonho deverá ficar para o dia seguinte, num
ambiente de brincadeira, do género “Vê lá o que foste sonhar! Sabes
quando era pequenina, um dia sonhei que um elefante tinha saído do
Jardim Zoológico e dava banho a toda a gente com a sua tromba!”.
Convém compreender quando os pesadelos se repetem ou
quando são sempre o mesmo tema, e há algum fator na vida da
criança que lhe possa estar a provocar stress. Se estes persistirem,
será conveniente falar com o pediatra e caso seja necessário ir a uma
consulta de psicologia.
Sonilóquios: (Falar dormindo)
O conteúdo é incompreensível, e não revela segredos como se
acredita. Os sonilóquios apresentam-se em vários graus: desde
murmúrios, palavras isoladas, até discurso claro com frases
coerentes. A voz é monótona, porém com tom mais afetivo. Não tem
significado patológico na criança.
Enurese
Também é um distúrbio do despertar, ocorrendo na fase 4.
Existem dois tipos de enurese noturna: a primária e a secundária.
A enurese primária, é frequentemente um problema familiar,
sugere razões médicas ou orgânicas, como obstruções uretrais em
meninos e uretra ectópica em meninas. É diagnosticada numa criança
maior que cinco anos de idade que até então não tenha conseguido
um controle esfincteriano adequado por um período de pelo menos
um ano.
Por outro lado, na enurese secundária, está frequentemente
relacionada com fatores emocionais. Como outros distúrbios do
despertar, a enurese piora quando a criança sofre algum stresse,
possivelmente porque os stresses emocionais causam mais
despertares durante o sono e com isto, mais oportunidades para
urinar na cama.
Entretanto, o ato de molhar a cama durante o sono profundo
(fase 4) geralmente tem pouco significado simbólico (nem sempre
significa que a criança quer manipular o ambiente, punir os pais ou
externar conflitos sexuais). No entanto, há crianças que

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conscientemente molham a cama quando já acordadas, merecendo
então, interpretações psicológicas.
Portanto, na anamnese, deve-se levar em consideração
detalhes de quando ocorre a enurese, se nas primeiras horas de sono
ou logo ao acordar.
A enurese primária depende do retardo da maturação do
controle esfincteriano.
Na enurese secundária, a criança já teve um controle por pelo
menos um ano, depois volta a urinar na cama. Inúmeras técnicas
comportamentais são tentadas, como diminuir a ingestão de líquidos,
acordar a criança à noite e colocá-la para urinar, etc.
Estas medidas podem funcionar em alguns casos e por algum
tempo, mas é sempre aconselhável a indicação de uma avaliação
psicológica e psicoterapia para a resolução de conflitos emocionais. A
enurese secundária associa-se às vezes a distúrbios da fala,
imaturidade afetiva, crises de birra e desordens de lateralização
hemisférica.
Bruxismo: (ranger de dentes)
É mais frequente no estágio REM, podendo também ocorrer na
fase 2 do estágio não-REM. Pode ocorrer em pessoas normais, mas é
mais frequente em psicóticos.
O tratamento da maior parte das parassónias nesta faixa etária
é somente a orientação dos pais de que é um problema transitório,
não é sério e não requer nenhuma intervenção farmacológica
específica ou psicoterapêutica, com exceção da enurese noturna.
É importante respeitar os hábitos de sono, e se caso seja
necessário, fazer uma sesta após a escola, pois a falta de sono
aumenta a necessidade da fase 4, aumentando assim a frequência
das parassónias. No entanto, estudos mostram que não é
recomendável a sesta durante o dia, quando esta interfere com o
sono noturno.
Quando as parassónias persistem até a adolescência, ou se
iniciarem nela, convém consultar um neurologista para excluir
distúrbio convulsivo.
A ausência de atonia muscular durante o estágio REM,
manifesta-se por extrema agitação durante o sono, principalmente no
último terço da noite. Pode estar associada a tumores ou
malformações vasculares do tronco cerebral, já que esta região
associa-se à inibição do tono muscular durante o estágio REM.
4.1.3. Sono na Adolescência
Na fase da adolescência, o ritmo de sono é diferente. Foi
comprovado cientificamente que o adolescente passa por alterações
hormonais que fazem com que o seu ciclo de sono-vigília fique
alterado. Assim, é comum o adolescente sentir sono durante o
período da manhã e tornar-se alerta a partir do meio da tarde.
Mesmo assim, crianças e adolescentes permanecem
constantemente envolvidos em atividades sociais que são comuns

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entre seus amigos, fazendo com que a regulação do ciclo de sono-
vigília, que já é perturbado naturalmente nestas fases, fique cada vez
mais alterado. Uma boa noite de sono é deixada de lado em prol da
exposição a jogos e salas de bate-papo em computadores; programas
de televisão; passeios e baladas à noite.
Os adolescentes e estudantes jovens não dormem o suficiente.
Vão para a cama cada vez mais tarde apesar dos horários da escola,
permanecerem matutinos. Isto torna-se mais grave quanto é
conhecido que na adolescência há uma maior necessidade de dormir.
Para além da privação de sono alguns desenvolvem uma síndrome de
atraso de desenvolvimento.
A privação de sono em adolescentes tem como principais
consequências:
 Sonolência diurna
 Mau desempenho escolar
 Fadiga
 Maior risco de acidentes de carro ou motorizadas
 Mau humor, falta de motivação
 Maior uso de estimulantes e de álcool

Vários adolescentes relatam, que o facto de não dormirem, têm


um rendimento escolar mais baixo, acabando por ficar desmotivados.
Outros referem ainda, terem muitas dificuldades em se concentrarem,
notando alterações de humor, nomeadamente, ficarem mais irritados
e agressivos.
Pode acontecer, os adolescentes não quererem dormir, e isto
não significa que sejam rebeldes ou desorganizados, pode ser a
manifestação de um sintoma de uma doença grave tal como a
depressão ou hiperatividade. Além disso, doenças clínicas tais como
as respiratórias podem atrapalhar uma qualidade de sono adequada.
4.2. Mudanças de atitudes
Queixas como insônias, presença de sonolência excessiva
durante o dia e dificuldades em iniciar ou manter o sono são
abordadas por crianças e adolescentes que estão inseridas em rotinas
familiares que precisam ser reorganizadas. Normalmente um
terapeuta fará, juntamente com o paciente e o responsável, um diário
do sono da criança ou adolescente. Nele, são marcados os horários
em que a família vai deitar, que inicia o sono, quantos despertares no
meio da noite, assim como o horário em que acordam e levantam.
A partir disso, são feitas intervenções educacionais e
comportamentais, focando principalmente na qualidade do sono. Ao
longo de todo o tratamento, há mudanças de atitudes básicas tais
como o escuro no quarto no momento de dormir, passando até por
técnicas de relaxamento.
8. STRESS E RESILIÊNCIA

5.1.O que é o stress?

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Stress é a resposta do organismo a determinados estímulos que
representam circunstâncias súbitas ou ameaçadoras. Para se adaptar
à nova situação, o corpo desencadeia reações que ativam a produção
de hormonas, entre elas a adrenalina. Assim o indivíduo fica em
"estado de alerta" e em condições de reagir.
Em segundos as hormonas espalham-se pelas células do corpo,
a respiração e batimentos cardíacos aceleram; sintomas denominados
"reação de luta ou fuga". Ao acalmar-se, o corpo reequilibra- se, o que
não acontece quando os efeitos do stress já são graves.
No fundo Stress é uma reação a qualquer mudança que requer
um reajustamento ou resposta da nossa parte. Podemos controla-lo,
porque afinal, ele tem origem na forma como lidamos e respondemos
às situações “stressantes”.
Há alguns autores que defende, a ideia que uma certa dose de
stress pode ser um bom contributo para se trabalhar melhor. O stress
permite manter as pessoas mais atentas e estimuladas. Por outro
lado, o stress também pode provocar angústia, tensão e receio de
falhar. E quando atinge níveis excessivos, este pode mesmo ser o
maior responsável por situações depressivas
Todos temos stress, mas nem sempre é possível evitar ou
alterar as situações que nos podem causar um excesso de stress.
Sentimo-nos presos e incapazes de alterar este sentimento. Quando o
stress persiste, os seus efeitos criam desarmonia no corpo que
enfraquece, perde resistências e pode adoecer.
As dificuldades de lidar com as pressões do dia-a-dia como
aturar problemas financeiros, questões familiares, violência urbana,
problemas no trânsito, mau relacionamento com colegas de trabalho
ou chefes, possibilitam o aparecimento do stress.
A Organização Mundial de Saúde coloca os problemas
cardiovasculares, sobretudo a hipertensão, em primeiro lugar na lista
das doenças profissionais. Mas logo a seguir, surgem também as
perturbações psíquicas e físicas diretamente relacionadas com o
stress, que atingem mais de 50 por cento dos trabalhadores.
Assim a questão que se coloca é: “De quem será a
responsabilidade?” Uma das possíveis respostas, pode estar nas
exigências arbitrárias e abusivas da atual globalização da economia e
o novo ritmo da nossa vida.
A chave para lidar com o stress é identificar os sintomas e as
causas na sua vida e aprender formas de eliminar e reduzir este
excesso de energia acumulada.
5.2. Causas do Stress
O stress pode ser causado por algo que requer uma adaptação
ou mudança no nosso meio habitual. O nosso corpo reage a estas
mudanças com respostas físicas, mentais e emocionais.
Todos temos os nossos meios de reagir às mudanças, por isso
as causas do stress podem variar de pessoa para pessoa, no entanto,
existem causas comuns, tais como:

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 A morte
 Multidões
 Os congestionamentos de trânsito
 Casamento
 Gravidez
 Prazos
 Problemas judiciais
 Mudança de emprego
 Acidentes
 Divórcio
 Novo emprego
 Reforma
 Problemas financeiros
 Doenças
 Agressões políticas e socais

Para além destas causas comuns, existem sinais de alerta do


stress, que poderão ser bastante uteis, ou seja, numa situação de
stress o nosso emite sinais, que podem ser físicos, emocionais e
comportamentais, que podem ser :
 A Ansiedade
 Distúrbios no sono/ insónias
 Irritação
 Falta de concentração
 Preocupação excessiva
 Tristeza
 Alterações frequentes de humor
 Ao nível dos sinais físicos de stress, estes podem ser:
 Postura curvada
 Sudação nas palmas das mãos, suores frios
 Fadiga/cansaço crónica/o
 Aumento ou perda de peso
 Tremores
 Esgotamento
 Taquicardia
 Outros sintomas físicos também podem ser:
 Sinais comportamentais
 Comportamento exagerado
 Agir por impulso
 Consumo de drogas e álcool
 Mudança frequente de emprego
 Insatisfação
 Baixa auto-estima

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 Isolamento nos relacionamentos
 Sentir uma agitação constante
 Fobias e ataques de pânico

O stress causado pelo trabalho poderá ter pesados reflexos na


harmonia familiar. Os adultos regressam tarde a casa, sem tempo
para estarem com os filhos ou entre eles. Mesmo em férias, os
telefones e os computadores portáteis continuam a funcionar. Uma
permanente ligação ao meio laboral que por vezes nos faz esquecer
da família e vida privada.
5.3. Stress e a Adolescência
Na adolescência, as mudanças são constantes quer ao nível
deles próprios, quer ao nível do meio que os rodeia. Revelam
dificuldades em lidar com o corpo (achando-se desajeitados, a roupa
deixa de servir de uma semana para a outra, a voz fininha passa para
mais grossa e fininha novamente) com os sentimentos (preocupando-
se com aquilo que os outros pensam sobre eles, e se irão ser
gozados…) e inclusivamente a lidar com os adultos (para umas coisas
ainda são crianças, mas para outras os adultos exigem que sejam
adultos).
Habitualmente, há um conjunto de fatores (escola, grupo de
amigos, família, indivíduo) que podem levar o desencadear do stress
negativo. Se os comportamentos do adolescente afetam o desenrolar
normal da sua vida (se o impedem de continuar com as rotinas que
tinha) é preciso verificar o que está acontecer.
Desta forma, devemos estar atentos a alguns sinais de alerta,
especificamente nesta faixa etária:
Sinais ao nível Comportamental
 O adolescente, começa a evitar o contacto com outras pessoas
(deixa de sair com os amigos e passa a preferir ficar sempre
sozinho no computador, deixa de fazer refeições em conjunto
com a família, …) isolando-se.
 Envolve-se em confusões (torna-se mal-educado, reage muito
rapidamente ao que lhe dizem, entra em brigas verbais e
físicas,…)
 Baixa o rendimento escolar (deixa de se interessar pela escola,
as notas diminuem, …)

Sinais ao nível Físico:


 Insónias (não tem sono, demora muito tempo a adormecer ou
acorda várias horas antes do despertador,…)
 Somatização, ou seja, dores de cabeça, dores de estômago,
cansaço excessivo, etc.
 Comportamentos de risco (uso de drogas e medicamentos,
relações sexuais desprotegidas, etc.)

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Sinais ao nível Psicológico:
 Falta de concentração (parece alheado, distrai-se com
facilidade, …)
 Desânimo (triste, sem motivação para realizar as atividades que
antes gostava de fazer, …)
 Impaciência (grita ao menor reparo, atira com objetos, …)

5.4. Fases de Evolução do Stress


O stress passa por três fases de evolução, sendo elas:
1. Fase de resistência

É a luta do organismo contra a fase de alerta. O indivíduo pode


controlar-se (neste caso o stress passa despercebido) ou continuar
stressado. Normalmente nessa fase o corpo responde com mudanças
de comportamento, insónia, tristeza e descontentamento.

2. Fase de exaustão

Se persiste, o stress pode provocar uma série de doenças


crónicas. Neste último estádio podem aparecer problemas emocionais
complexos, hipertensão, úlceras, gastrites, fadiga crónica, diabetes,
alterações no sono, entre outras manifestações.
3. Fase de alerta

Ocorre quando existe reação a uma ação externa. Surgem os


problemas físicos como taquicardia (batimento mais rápido e forte do
coração), respiração acelerada e suor frio.

5.5. Como Lidar com o Stress?

O stress ocasional não é prejudicial ao organismo, porque ele


está preparado para reagir a acontecimentos inesperados. Mas
permanecer neste estado, pode causar uma série de complicações,
entre elas o enfraquecimento do nosso sistema natural de defesa, e
as doenças que surgem.

Um dos efeitos mais negativos do stress é a redução da


qualidade de vida, com reflexos prejudiciais no seu desempenho no
trabalho. Situações que provocam faltas e atrasos ao serviço, com
queda na produtividade.

Estudos comprovam que os prejuízos decorrentes do stress são


dez vezes maiores do que várias greves em simultâneo.

O aparecimento do stress pode estar relacionado a situações


reais ou imaginárias, e suas principais causas podem ser:

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 Excesso de atividade/ má distribuição do tempo.
 Acúmulo de raiva e sentimentos negativos.
 Problemas de relacionamento.
 Descontrole diante de situações críticas.
 Preocupação excessiva.
 Falta de descanso e lazer.
 Dificuldade de lidar com as perdas

5.6.Como Reduzir o Stress

O ritmo a que estamos sujeitos nos nossos dias é


verdadeiramente assustador e deixa-nos muito pouco tempo livre,
assim é necessário inverter esse cenário se queremos preservar a
nossa saúde, e para isso devemos manter uma atitude positiva.

Além disto devemos:

 Aceitar que há acontecimentos que não podemos


controlar.
 Devemos ser assertivos em vez de agressivos: “afirme”
os seus sentimentos, opiniões ou crenças em vez de se
revoltar, ficar irritado, agressivo e passivo.

 Aprenda a relaxar.

 Faça exercício físico com frequência. O seu corpo estará


mais preparado para enfrentar os ataques de stress.

 Fazer uma alimentação equilibrada.

 Descansar e dormir bem, pois o nosso corpo e mente


precisam de tempo para recuperar bem dos ataques
exteriores de stress.

5.7.Estratégias de gestão dos sintomas

Existem várias abordagens para ajudar a controlar e a lidar com


o stress:

 Técnicas cognitivo-comportamentais,
 Treino de aptidões sociais,

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 Técnicas de relaxamento,

 Terapêutica medicamentosa,

 Etc.

Dentro destas abordagens, podemos encontrar várias


estratégias que podem ser:

 Atividade física: não é desporto de alta competição, mas a


prática de um desporto ajuda a libertar mecanismos biológicos
que nos fazem sentir melhor;

 Períodos de descanso: todos nós temos períodos diferentes


de tempo (que variam também com a idade) no qual
conseguimos estar concentrados; uma pausa de 10 minutos
entre cada 60 minutos de estudo ajudam a melhorar a atenção
e a memorização.

 Técnicas de relaxamento: o espreguiçar, o respirar calma e


pausadamente, o fechar os olhos e visualizar um cenário que
seja relaxante ajuda o corpo a reduzir os níveis de stress.

 Manter um diálogo sincero entre pais e filhos: um espaço


para poder falar e ouvir, pensar, responsabilizar e ajudar a
escolher soluções, ajuda a não nos precipitarmos quando
tomamos decisões (como por vezes acontece em situações de
stress).

 Ter limites e prioridades definidas: saber quando temos de


parar antes de entrarmos no nosso limite e desenvolvermos
problemas de saúde mais graves (Síndrome de Burnout,
depressão, úlceras,…)

 Receber carinho e atenção: sentir que alguém se preocupa


connosco e gosta de nós, independentemente daquilo que
conseguimos, é sempre uma ajuda à nossa autoestima e
diminui o receio de falhar.

 Quando sentimos que a situação nos ultrapassa: procurar


a ajuda de um especialista, em quem confiemos, para nos
ajudar a solucionar os problemas.

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9. CRIANÇA SOBREDOTADA

As crianças sobredotadas são crianças que possuem uma


capacidade mental significativamente acima da média. A
sobredotação é um “talento”, é uma aptidão inata para atividades
intelectuais que não podem ser adquiridos através de esforço
pessoal.

O Instituto da Inteligência entende que um sobredotado, é um o


indivíduo que possui "um potencial cerebral e humano de nível
superior e constante numa ou mais áreas operacionais das
inteligências múltiplas". Uma pessoa sobredotada permite prever "um
elevado grau de competência específica na solução de problemas, no
desempenho académico e profissional e na criação de respostas
inovadoras aos desafios, desde que lhe sejam fornecidas adequadas
oportunidades de desenvolvimento".

Por norma, as crianças sobredotadas podem apresentar:

1. Desenvolvimento precoce

Atingir os estádios de desenvolvimento mais cedo do que as


outras crianças. Por exemplo, uma criança de 2 ou 3 anos que
começa a contar histórias a partir de livros de imagens, ou que, pelos
3/4 anos, deseja insistentemente aprender e ler e o consegue, por
vezes sozinha, pode ser sobredotada intelectualmente. Outra que
atinja elevado nível de coordenação motora muito cedo pode ser
fisicamente talentosa.

2. Perfeição fora do comum

Manifestam uma elevada perfeição em determinadas atividades


comparando com outras crianças da mesma idade. Por exemplo, uma
criança que memoriza um poema rapidamente, que atinge um
conceito mais cedo ou resolve problemas com maior rapidez pode ser
potencialmente dotada

3. Criatividade invulgar

Combinam ideias ou materiais de forma única para conseguirem


novos produtos. Por exemplo, uma criança que compõe canções ou

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músicas novas, que desenvolve novas figuras, estruturas ou modelos,
que enfrenta e resolve situações problemáticas de forma própria e
invulgar, poderá ser potencialmente talentosa.

Por vezes pode acontecer haver crianças ou jovens que têm


maior dificuldade em expressar os seus talentos, muitas vezes por
razões essencialmente exteriores a elas. Nestes casos, são
geralmente, crianças de meios culturalmente diferentes (minorias
culturais, ou com problemas socioeconómicos). Os seus talentos
poderão não ser reconhecidos como tal e portanto não serem
desenvolvidos.

6.1.Algumas características das crianças sobredotadas

Para além das características anteriormente referidas as


crianças sobredotadas podem ter outras particularidades, tais como:
 Acuidade na observação, facilidade em discriminar
particularidades, curiosidade em, relação ao insólito,
recetividade ingénua em relação ao que lhes é comunicado.
 Sensibilidade e abertura aos problemas - saem do seu caminho
para ver o problema não se interessa unicamente pela sua
resolução; coragem de se confrontarem com os problemas à
sua maneira - não aprendem só o que se lhes propõe mas
outras coisas que, por vezes, mais ninguém acha importante.
 Curiosidade intelectual, atitude de questionar, espírito
inquiridor, motivação intrínseca.
 Não-aceitação de limites ou de autoritarismo, querem pesquisar
tudo, observar as diferentes partes de qualquer coisa.
 Independência no pensar, no trabalho e no estudo, e
consciência de si próprio, dominadores - sabem que têm razão,
não desistem enquanto não convencem os outros mas muitas
vezes não sabem o que fazer para que as suas ideias sejam
aceites.
 Criatividade e espírito inventivo, gosto de fazer as coisas de
maneiras diferentes, interesse em criar, em ter várias ideias -
rejeitam o que é conhecido.
 Prazer em brincar com as ideias e não só com os brinquedos -
não aceitam ideias "estreitas" não lhes interessam respostas
que os limitem mas, antes, que lhes permitam ir mais à frente.

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 Preferem a complexidade à simplicidade; têm uma forma de
pensamento interdisciplinar, diversidade de interesses e
versatilidade.
 Capacidade de atenção e concentração longa e de tal modo
intensa que excluem tudo o que se passa à sua volta - reagem
mal às interrupções.
 Grande energia, vivacidade e prontidão, períodos de esforço
intenso voluntário precedendo a invenção - ficam frustrados
com a inatividade e a ausência de projetos.
 Manifestam insistentemente desejo de aprender a ler muito
mais cedo de que é vulgar e por vezes conseguem aprender
sem ajuda específica, só através das suas capacidades de
observar e análise; usam facilmente vocabulário complicado e
construções de frases não vulgares.

6.2.Problemas comuns nas crianças sobredotadas

1. Perfeccionismo exagerado

As crianças sobredotadas perfeccionistas são vítimas de


frequentes episódios de ansiedade porque nem sempre conseguem
realizar as coisas com o esmero, o detalhe e a qualidade que elas
próprias esperam de si. O seu mecanismo de resposta, o controlo de
reação, é um processo de autocensura exigente. Por outro lado,
podem ser um alvo fácil da chacota dos colegas menos preocupados
com o rigor dos desempenhos.

2. Criatividade mal aceite

Ao contrário das perfeccionistas, as crianças criativas podem


revelar-se muito espontâneas, anárquicas e desorganizadas. Têm
dificuldade em seguir as regras revelando-se contra a autoridade
estabelecida. Os seus impulsos criativos podem gerar inesperadas
reações por não serem facilmente aceites em ambientes
conservadores, até na escola onde o espaço para a autêntica
criatividade esteja muito limitado.

3. Impulsividade perigosa

Os sobredotados impulsivos tendem a responder e a agir de


forma inesperada e impaciente, mostrando-se incapazes de controlar
a necessidade de atuarem rapidamente em quase tudo. Quando são

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empreendedores, a impulsividade leva-os a não perderem tempo com
detalhes. Quando são aventureiros são práticos, imediatistas e
gostam de correr riscos. Desmotivam-se facilmente quando são
forçados a ritmos mais lentos e se lhes exija um comportamento
tranquilo.

4. Hipersensibilidade emocional

Muitas crianças sobredotadas são de uma elevada sensibilidade


ao meio onde estejam (casa, escola, etc.). A sua suscetibilidade à
incompreensão, à falta de manifestações de afeto e às atitudes de
rejeição ou até de menor atenção para com elas empurra-as para a
tristeza, o isolamento intencional e a melancolia. O seu humor pode
oscilar facilmente em função da leitura que façam do ambiente
humano que as rodeie.

5. Isolamento por opção

Os sobredotados de elevada inteligência e com interesses muito


específicos tendem a isolar-se dos outros quando estes não são
capazes de os acompanhar nas suas escolhas ou até nos seus
raciocínios. Fecham-se então no seu mundo, por vezes de forma
obsessiva. Muitos são referidos como introvertidos, impopulares,
ansiosos e inseguros.

7.PERTURBAÇÃO DE HIPERATIVIDADE E DÉFICE DE ATENÇÃO

A perturbação de hiperatividade e défice de atenção (PHDA) é


um síndrome comportamental caracterizado por um nível
inapropriado de atenção, com ou sem hiperatividade e impulsividade,
que ocorre em várias circunstâncias, que causa dificuldades
funcionais e não pode ser atribuído a outras causas.

As crianças ou jovens com PHDA, os comportamentos poderão


iniciar-se nos primeiros anos de vida e, embora os sintomas
observáveis possam variar em qualidade e em quantidade durante o
desenvolvimento, a maioria dos indivíduos com PHDA continuam a
apresentar algumas manifestações na vida adulta.

7.1.Qual é a causa?

Pensa-se que, na génese desta perturbação, poderão estar


implicadas múltiplas causas, das quais se salientam:

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 Fatores genéticos
 Fatores orgânicos adquiridos ou constitucionais: mais
frequente em prematuros; foram observadas alterações
cerebrais de neurotransmissores (dopamina e noradrenalina);
foram também identificadas alterações das dimensões de
certas zonas do cérebro (córtex pré-frontal, gânglios da base);
 Fatores ambientais: a PHDA foi associada a exposição a
toxinas, como o chumbo, o álcool, o fumo do tabaco;

Acredita-se que o problema principal da PHDA resida num défice


entre o processamento da informação recebida e a resposta
produzida ou na incapacidade de inibir apropriadamente a resposta
até que toda a informação seja processada.

Existem três tipos inerentes à PHDA, sendo que para o


diagnóstico de cada um destes tipos, existem sinais a que é
importante estar atento ao nível das atitudes e comportamentos das
crianças.

1. PREDOMINANTEMENTE DESATENTO

De acordo com o Manual de Diagnóstico e Estatística das


Perturbações Mentais da Associação Americana de Psiquiatria (DSM),
para um diagnóstico positivo de PHDA do tipo predominantemente
desatento devem persistir, pelo menos durante seis meses, com uma
intensidade desadaptativa e inconsciente, em relação com o nível de
desenvolvimento, seis ou mais dos seguintes sintomas de falta de
atenção:

 Não prestar atenção suficiente aos pormenores ou comete


erros por descuido nas tarefas escolares, no trabalho ou
noutras atividades lúdicas
 Ter dificuldade em manter a atenção em tarefas ou
atividades

 Parecer não ouvir quando se lhe dirigem diretamente

 Não seguir as instruções e não termina os trabalhos


escolares, encargos, ou deveres no local de trabalho (sem
ser por oposição ou por incompreensão das instruções)

 Ter dificuldade em organizar tarefas ou atividades

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 Evitar, sentir repugnância ou estar relutante em envolver-
se em tarefas que requeiram um esforço mental mantido
(tais como trabalhos escolares ou de casa)

 Perder objetos necessários a tarefas ou atividades (por


exemplo brinquedos, exercícios escolares, lápis, livros ou
ferramentas)

 Distrair-se facilmente com estímulos irrelevantes

 Esquecer-se das atividades quotidianas

2. PREDOMINANTEMENTE HIPERATIVO - IMPULSIVO

Para um diagnóstico de PHDA do tipo predominantemente


hiperativo-impulsivo devem persistir, pelo menos durante seis meses,
seis ou mais dos seguintes sintomas:

 Movimentar excessivamente as mãos e os pés, mover-se


quando está sentado
 Levantar-se na sala de aula ou noutras situações em que
se espera que esteja sentado
 Correr ou saltar excessivamente em situações em que é
inadequado fazê-lo (em adolescente ou adultos pode
limitar-se a sentimentos de impaciência)
 Ter dificuldades para jogar ou dedicar-se tranquilamente a
atividades de lazer
 Parecer como se estivesse «ligado a um motor»
 Falar em excesso
 Precipitar as respostas antes que as perguntas tenham
acabado
 Ter dificuldades em esperar pela sua vez
 Interromper ou interferir nas atividades dos outros (por
exemplo, intrometer-se nas conversas ou jogos)

3. COMBINADO DESATENTO E HIPERATIVO (SENDO


ESTE O MAIS COMUM)

Uma criança poderá ter uma PHDA do tipo misto se apresentar


seis ou mais sintomas persistentes (pelo menos durante seis meses)

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de falta de atenção e hiperatividade-impulsividade e estiverem
presentes em múltiplas situações (por exemplo, em casa, na escola,
nas atividades extracurriculares).

7.2. Como se pode tratar a PHDA?

A intervenção terapêutica tem como objetivo o


desenvolvimento de um adequado equilíbrio emocional e, também, a
otimização do desempenho académico e ocupacional. Embora as
manifestações de desatenção e de impulsividade se reduzam,
geralmente, com o tempo, o sentimento de baixa autoestima poderá
agravar-se, como resultado da reação negativa dos companheiros,
dos pais e dos professores, entre outros.

Os adolescentes com PHDA podem ser difíceis para os seus


pais, professores e colegas. Estão habitualmente num estado
constante de atividade o que constitui um desafio para os outros.
Uma das medidas essenciais é estruturar o mais possível o dia-a-dia,
e tentar contornar as dificuldades de atenção, medidas simples
incluem:

 Estabelecimento de horários e rotinas – horas específicas


para acordar, comer, brincar, fazer trabalhos da escola ou
tarefas, ver televisão ou jogar computador e ir para a cama.
 Regras em casa e na escola – Regras simples, claras e
curtas.
 Ser otimista – Pessoas com PHDA muitas vezes passam o dia a
ouvir que estão errados. Eles também necessitam de ser
elogiados por comportamentos adequados.
 Adaptação ao ambiente escolar – Explicar a situação aos
professores; sentar-se na primeira fila; verificar se compreendeu
as instruções ou explicações; chamar a atenção para assuntos
importantes

O tratamento médico envolve por vezes o uso de


psicoestimulantes, acredita-se que eles atuem como
neurotransmissores em certas áreas do cérebro, corrigindo as
alterações bioquímicas que interferem com a atenção e com o
controlo dos impulsos. Com uma administração criteriosa destes
fármacos, consegue-se obter, em 70-80%, melhorias significativas da
hiperatividade, da impulsividade e da desatenção.

7.3. Outras perturbações que por vezes acompanham a PHDA


 Perturbações da aprendizagem:

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Aproximadamente 20 a 30% podem apresentar uma
perturbação da aprendizagem. Na escola podem notar-se dificuldades
na escrita, na matemática ou na dicção. A dislexia é frequente e 8%
podem vir a ter dificuldades na leitura.

 Síndrome de Tourette:

Uma pequena percentagem de pessoas com PHDA apresenta


esta perturbação neuro-psiquiátrica. Caracteriza-se por tiques
motores e vocais complexos (como piscar os olhos, fazer caretas,
tossir repetidamente, espirrar, etc.). Este pode ser controlado com
medicação apropriada.

 Perturbação de Oposição-Desafio:

Até 1/3 de todos as pessoas com PHDA pode apresentar esta


condição. Caracteriza-se por um padrão de comportamento
negativista, hostil e desafiador, prolongado no tempo.

 Perturbação da Conduta:

Afeta 20 a 40% dos indivíduos com PHDA, caracterizando-se por


um padrão de comportamento antissocial. Estas pessoas mentem,
roubam, lutam ou metem-se com os seus pares. Estão em risco de ter
problemas na escola ou com a polícia. Violam os direitos básicos das
outras pessoas, são agressivos com pessoas e/ou animais, destroem a
propriedade, invadem casas, cometem vandalismo, utilizam armas e
roubam. É frequente “baldarem-se” às aulas ou fugirem de casa por
uns dias. Estão em grande risco de se tornarem dependentes de
substâncias. Necessitam de ajuda urgentemente.

 Ansiedade e Depressão:

Algumas pessoas com PHDA podem sofrer com estas


perturbações, que poderão ser identificadas e tratadas com o
seguimento apropriado.

 Doença Bipolar:

Não existem estatísticas precisas acerca da coocorrência destas


2 situações. Diferenciar entre PHDA e Doença Bipolar na infância e
adolescência pode ser difícil. Nas duas condições podem existir alto
nível de energia, irritabilidade e diminuição da necessidade do sono.

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 Abuso de drogas ou álcool:

Adolescentes ou adultos com PHDA têm maior tendência a


terem problemas de abuso ou dependência.

7.4. Repercussões da hiperatividade no relacionamento


familiar

A verdade é que a criança ou o jovem hiperativo é


frequentemente a causa de transtornos domésticos, principalmente
porque:
 Às refeições não consegue ficar sentado de modo adequado,
pois muda de posição constantemente;
 Não termina uma refeição sem antes levantar-se várias
vezes, por diversos motivos desnecessários;
 Come com muita voracidade e ansiedade; engole os
alimentos mal mastigados com uma pressa sem propósito;
 Quando está a ver Televisão, não consegue manter-se quieto,
incomodando os outros, acrescentando mais um fator para as
desavenças;
 Interfere nas conversas de modo inoportuno, sem aguardar a
sua vez para falar. Não para, para ouvir o que os outros lhe
estão a dizer;
 Fala muito e num ritmo acelerado, o que acarreta uma “fala”
com mensagens confusas e, às vezes, com omissões e trocas
de fonemas;
 Muda de atividade com muita frequência e de modo abrupto,
mesmo sem completar a anterior;
 Mostra-se muito desorganizado com seus brinquedos,
objetos, roupas e material escolar;
 Atrapalha as brincadeiras dos irmãos, ou dos outros;
 Apresenta problemas de disciplina;
 Tem dificuldade em acatar as ordens;
 Responde com comportamento agressivo e violento em
situações rotineiras;
 Quer ser sempre atendido na hora das suas solicitações;
 Procura impor as suas vontades e à sua moda (são mandões);
 Pede as coisas, mas desinteressa-se rapidamente por elas
 Demonstra uma grande ansiedade em todas as atividades.
(T0PAZEWSKI, 1999, p. 52).

Nem sempre os pais admitem que o filho é hiperativo. "Muitos


acham que a criança é esperta demais e, por isso, está sempre

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interessada em novidades". Para além disso os pais também
"acreditam que o tratamento com medicamentos pode tirar a
espontaneidade do pequeno" (Andrade & Gentile, 2000, p. 31).
Conforme afirmam vários especialistas, em casos leves, o
distúrbio pode ser tratado apenas com terapia e reorientação
pedagógica, pelo contrário "Os casos graves necessitam de
tratamento com medicamentos".
O tratamento poderá ser feito por um período mínimo de dois
anos, mas deve durar até a adolescência, quando os sintomas
diminuem ou desaparecem, graças ao amadurecimento do cérebro,
que equilibra a produção da dopamina (substância presente no
cérebro que transmitem o impulso nervoso de uma célula para outra
no cérebro).

7.5. A hiperatividade e a família

É importante que uma rotina estável seja estabelecida em casa.


Para diminuir a confusão e a quantidade de estímulos diários, deve-se
definir horários específicos para comer e dormir.

Os pais poderão falar um pouco mais alto e dar mais ênfase às


palavras mais importantes, que designem tempo, espaço e modo,
como por exemplo: "Os TPC são para amanhã". Estes devem ser
breves e evitar dar várias ordens ao mesmo tempo.

Devemos evitar mandar a criança fazer alguma coisa, gritando


do outro lado da casa. Ela não irá responder.

A criança deverá ter um local de estudos adequado, com


horários estabelecidos para fazer as tarefas escolares. É
aconselhável, os pais, atribuírem uma pequena e rápida tarefa e
insistir delicadamente para que esta seja concluída, não esquecendo
de agradecer e elogiar.

É muito importante fazer com que a criança participe em


projetos do seu interesse, pois estes contribuem para sua
concentração. Aprender a concentrar-se alterará sua resposta ao
mundo, gradativamente, pois além de ter um desequilíbrio do sistema
nervoso que transforma em tortura o simples ato de permanecer
sentado, a criança hiperativa e inteligente entedia-se facilmente. A
importância da conclusão desse projeto dará à criança a noção de
uma maior competência e uma maior autoestima.

É necessário que os pais também procurem ajuda para


adquirirem informação e apoio, diminuindo assim o sentimento de
frustração e isolamento da família.

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Aconselha-se igualmente aos pais para não se prenderem
demasiadamente ao problema da hiperatividade da criança;

Acontece com muita frequência, as crianças que têm PHDA, são


filhas de pais com PHDA e que não educam de forma organizada,
mesmo assim é importante impor limites especiais às crianças com
PHDA", principalmente porque os medicamentos utilizados no
tratamento não curam a doença, somente suavizam os sintomas,
sendo desta forma muito importante reorganizar a educação da
criança.

7.6. O papel da escola

Segundo alguns autores, a hiperatividade só fica mais evidente


no período escolar, quando é preciso aumentar o nível de
concentração para aprender. O diagnóstico clínico, deve ser feito com
base no histórico da criança. Por isso, a observação de pais e
professores é fundamental. (Andrade, 2000).

Geralmente os hiperativos, mexem-se muito durante o sono


quando bebés. São mais estabanados assim que começam a andar.
Às vezes, apresentam um atraso na fala, trocando as letras por um
período mais prolongado que o normal. Em casa, esses sintomas nem
sempre são suficientes para definir o quadro. Na escola, porém, eles
são determinantes.

A inteligência de pessoas hiperativas não é comprometida com


a doença, mas o principal problema para elas é a impulsividade e a
falta de atenção, ferramentas importantes para o progresso dos
estudos.

Ao se tratar o paciente hiperativo, é notada marcante melhoria


no seu rendimento escolar.

“Os pacientes que não apresentam dificuldades no


aprendizado conseguem executar as tarefas de modo rápido e
eficiente, mas como terminam antes que os outros, ficam a
atrapalhar o trabalho dos colegas por conta da hiperatividade.
Esse comportamento causa insatisfação ao grupo, que passa a
reclamar e a interferência do professor, ao chamar a atenção do
aluno, tem como objetivo primordial o de manter a classe
organizada, provocando uma reação agressiva por parte do

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aluno, além de acentuar a hiperatividade”. (T0PAZEWSKI, 1999,
p. 57).

O convívio social é importante para o desenvolvimento da


criança, e para quem tem TDAH não é diferente. Ao professor cabe
observar sinais como agitação e dificuldade de assimilação.
No intervalo das aulas a criança costuma meter-se em brigas ou
brincar quase sempre sozinha, tenta chamar a atenção ou comporta-
se como se tivesse ausente.
As meninas com PHDA são mais distraídas, falam demais ou
simplesmente isolam-se. Os meninos não conseguem manter
amizades por muito tempo, são agitados e interrompem a aula
constantemente.
Antes de tirar conclusões precipitadas é preciso que o professor
tenha em conta que as crianças hiperativas não podem ser julgadas
como rebeldes. Por sofrerem de uma doença que provoca dificuldades
de concentração, não se dão conta das ordens que recebem.
Apesar de não caber ao professor fazer o diagnóstico, pode
observar o aluno e conversar com os pais para que este seja
observado por um psicólogo e posteriormente por um especialista.
De acordo com alguns especialistas, devemos proporcionar
atividades variadas que ocupem a criança o maior período de tempo
possível, dando a ela liberdade de escolha e de movimentos, pode
ajudar a uma melhor conduta no trato com o hiperativo. Somente o
trabalho livre e diversificado pode favorecer esse tipo de criança que
também se mostra satisfeita na incumbência de realizar tarefas
auxiliando o professor.
O facto de nem sempre conseguir realizar as aprendizagens, ou
atingir as expectativas do professor, faz com que este tenha uma
visão negativa de si mesmo, o que leva a baixa autoestima e uma
visão de futuro desfavorável. Os adolescentes apresentam oscilações
comportamentais e variações do humor que se agravam com as
contrariedades escolares.
Quando adultos, têm raciocínio rápido, mas grande dificuldade
de concentração durante aulas duradouras.
Os hiperativos apresentam alterações na chamada memória de
curto período, e isto deve-se à baixa capacidade de atenção e à
pouca concentração. As mães referem que, quando solicitam algo à
criança, esta retorna após alguns minutos perguntando qual foi a
solicitação, pois esqueceu-se do pedido que lhe fora feito. Esta falta
de memória já é, por si só, um fator de baixo rendimento escolar que
quando associado à hiperatividade agrava o quadro. (T0PAZEWSKI,
1999).

7.7. Estratégias para o professor lidar com hiperativos


 Evite colocar alunos nos cantos da sala, onde a repercussão do
som é maior.

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 Faça com que a rotina na turma seja clara e previsível, crianças
com TDAH têm dificuldade de se ajustar a mudanças de rotina;
 Afaste-as de portas e janelas para evitar que se distraiam com
outros estímulos;
 Deixe-as perto de fontes de luz para que possam enxergar bem;
 Não fale de costas, mantenha sempre o contato visual;
 Intercale atividades de alto e baixo interesse durante o dia, em
vez de concentrar o mesmo tipo de tarefa em um só período;
 Repita ordens e instruções; faça frases curtas e peça ao aluno
para repeti-las, certificando-se de que ele entendeu;
 Procure dar supervisão adicional aproveitando intervalo entre
aulas ou durante tarefas longas e reuniões;
 Permita movimento na sala de aula. Peça à criança para ir
buscar materiais, apagar o quadro, recolher trabalhos. Assim
ela pode sair da sala quando estiver mais agitada e recuperar o
autocontrolo;
 Esteja sempre em contato com os pais: anote no caderno do
aluno as tarefas escolares, mande bilhetes diários ou semanais
e peça aos responsáveis que leiam as anotações;
 O aluno deve ter reforços positivos quando for bem-sucedido.
Isso ajuda a elevar sua autoestima. Procure elogiar ou
incentivar o que aquele aluno tem de bom e valioso;
 Crianças hiperativas produzem melhor em salas de aula
pequenas. Um professor para cada oito alunos é indicado;
 Coloque a criança perto de colegas que não o provoquem, perto
da mesa do professor na parte de fora do grupo;
 Proporcione um ambiente acolhedor, demonstrando calor e
contato físico de maneira equilibrada e, se possível, fazer os
colegas também terem a mesma atitude;
 Nunca provoque constrangimento ou menospreze o aluno;
 Proporcione trabalho de aprendizagem em grupos pequenos e
favoreça oportunidades sociais. Grande parte das crianças com
TDAH consegue melhores resultados académicos,
comportamentais e sociais quando no meio de grupos
pequenos;
 Adapte suas expectativas quanto à criança, levando em
consideração as deficiências e inabilidades decorrentes do
TDAH. Por exemplo: se o aluno tem um tempo de atenção muito
curto, não espere que se concentre em apenas uma tarefa
durante todo o período da aula;

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 Proporcione exercícios de consciência e treinamento dos hábitos
sociais da comunidade. Avaliação frequente sobre o impacto do
comportamento da criança sobre ela mesma e sobre os outros
ajuda bastante.
 Coloque limites claros e objetivos; tenha uma atitude disciplinar
equilibrada e proporcione avaliação frequente, com sugestões
concretas e que ajudem a desenvolver um comportamento
adequado;
 Repare se a criança se isola durante situações recreativas
barulhentas. Isso pode ser um sinal de dificuldades: de
coordenação ou audição, que exigem uma intervenção
adicional.
 Permaneça em comunicação constante com o psicólogo ou
orientador da escola. Ele é a melhor ligação entre a escola, os
pais e o médico.

8. DEPRESSÃO INFANTIL

8.1 Conceito de Depressão


A depressão ou depressão nervosa é um estado patológico com
um humor triste e doloroso associado à redução da atividade
psicológica e física. A pessoa afetada pela depressão sente-se
impotente e a doença vem quase sempre acompanhada de outros
sintomas, como a ansiedade ou a insónia.
A depressão pertence ao grupo de doenças do nosso tempo e
segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), ela está entre as
três doenças que agravam cada vez mais a qualidade de vida das
pessoas. Ressaltamos também que a depressão afeta duas vezes
mais as mulheres do que os homens.
Segundo o DSM-IV (Manual de Diagnóstico e Estatística dos
Distúrbios Mentais), a depressão é frequentemente descrito pela
pessoa como deprimido, triste, desesperançado, desencorajado ou
“em baixo”. Outros casos manifestam ansiedade ou a presença de um
humor deprimido que pode ser entendida a partir da expressão facial
e do modo como se comporta.
Alguns indivíduos salientam queixas somáticas (por ex., dores
ou mazelas corporais) ao invés de sentimentos de tristeza. E outros
referem ou demonstram irritabilidade aumentada (por ex., raiva
persistente, uma tendência para responder a eventos com ataques de
ira ou culpando outros, ou um sentimento exagerado de frustração
por questões menores).
Nas crianças e nos adolescentes, pode desenvolver-se um
humor irritável ou rabugento, ao invés de um humor triste ou abatido.
Esta apresentação deve ser diferenciada de um padrão de "criança
mimada", que se irrita quando é frustrada.

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A perda de interesse ou prazer quase sempre está presente,
pelo menos em algum grau. Os indivíduos podem relatar menor
interesse por passatempos, "não se importar mais", ou a falta de
prazer com qualquer atividade anteriormente considerada agradável.
8.2. O que é a depressão Infantil?

A Depressão Infantil é um transtorno do humor capaz de


comprometer o desenvolvimento da criança e interferir em seu
processo de maturidade psicológica e social.

Apesar de inexistir uma definição consensual da depressão


infantil, pode-se afirmar que se trata de uma perturbação orgânica
que envolve variáveis biológicas, psicológicas e sociais. (Adanez,
1995). Do ponto de vista biológico, a depressão é encarada como
uma possível disfunção dos neurotransmissores devido à herança
genética, a anormalidade e/ou falha em áreas cerebrais específicas.
Trata-se da depressão classificada como endógena, ou seja, aquela
geneticamente transmitida.

Desde a perspectiva psicológica, a depressão pode estar


associada a algum aspecto comprometido da personalidade, baixa
autoestima e autoconfiança. No âmbito social, a depressão pode ser
vista como uma inadaptação ou um apelo ao socorro, bem como uma
possível consequência da violação de mecanismos culturais, familiar,
escolar, etc. (Barreto, 1993). As variáveis psicológicas e sociais
caracterizam a depressão classificada como exógena, ou seja, a que é
resultante de problemas psicológicas e/ou ambientais (Amaral &
Barbosa 1990).

O termo depressão tem sido utilizado para descrever tanto um


estado afetivo normal quanto uma tristeza aparente ou um sintoma
ou transtornos associados. A tristeza constitui uma resposta às
situações de perda, derrota ou outros desapontamentos. As situações
de perda podem, por meio da retração da criança, causar danos
cognitivos, fisiológicos e comportamentais. De acordo com Scivolletto
e Col. (1994), o termo humor é definido pelo DSM IV, “como emoção
pervasiva e mantida que, em extremos, marca o colorido da
percepção do mundo pelo indivíduo”.

A depressão é uma doença do organismo como um todo, que


compromete o físico, o humor e, em conseqüência, o pensamento;
altera a maneira como a pessoa vê o mundo e sente a disposição e o
prazer com a vida. Segundo Bellone (2002), ela afeta a forma como a
pessoa se alimenta e dorme como se sente em relação a si próprio e
como pensa sobre o que vivenciou ou fez.

8.3. Principais sinais e sintomas da depressão infantil

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A Depressão infantil é caracterizada pela presença dos
seguintes sinais e sintomas, os quais podem se apresentar de forma
mascarada:

 Baixo desempenho escolar,


 Pouca capacidade para se divertir (anedonia),

 Sonolência ou insônia,

 Mudança no padrão alimentar,

 Mudanças repentinas de humor,

 Perda de peso

 Fadiga excessiva,

 Queixas físicas,

 Irritabilidade,

 Sentimentos de culpa,

 Sentimentos de desvalia,

 Sentimentos depressivos,

 Ideação e atos suicida,

 Choro,

 Afeto deprimido,

 Hiperatividade ou hipoatividade.

 Enurese e encoprese

8.4. Principais fatores que podem desencadear a depressão


infantil

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Muitos fatores podem levar uma criança à depressão. Segundo
os estudos de alguns autores, as causas podem estar relacionadas
com problemas familiares.

Os problemas conjugais, financeiros, a cobrança exagerada por


parte dos pais e da sociedade em relação ao desenvolvimento da
criança, a falta de contato da criança com os pais em função de suas
responsabilidades profissionais e necessidades de sobrevivência,
impede que haja um vínculo afetivo positivo.

Estes são fatores que contribuem para o aumento da


possibilidade das crianças desenvolverem transtornos, sendo a
depressão infantil um deles, e que afeta diretamente o
desenvolvimento psicossocial e académico da criança.

Além disso, podemos destacar outros fatores que causam a


Depressão Infantil:

 A morte de um dos pais, dos avós ou de um ente querido


muito próximo,
 Maus tratos dentro da família;

 Filho indesejado, filho somente de um dos pais;

 Alcoolismo,

 Etc.

Episódios Depressivos

Nos episódios típicos de cada um dos três graus de depressão:


leve, moderado ou grave, o paciente apresenta alterações no humor,
redução da energia e diminuição da atividade. Existe alteração da
capacidade de experimentar o prazer, perda de interesse, diminuição
da capacidade de concentração, associadas em geral a fadiga
acentuada, mesmo após um esforço mínimo. Observam-se em geral,
problemas de sono e diminuição de apetite.

Existe quase sempre uma diminuição da auto-estima e da


autoconfiança e frequentemente, ideias de culpabilidade e/ou
indignidade, mesmo nas formas leves. O humor depressivo varia
pouco de dia para dia ou segundo as circunstâncias, pode
acompanhar-se de sintomas ditos “somáticos” – por exemplo, perda

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de interesse ou prazer, despertar matinal precoce, várias horas antes
da hora habitual de despertar, agravamento matinal da depressão,
lentidão psicomotora acentuada, agitação, perda do apetite, perda de
peso e perda da libido.

O número e a gravidade dos sintomas permitem determinar três


graus de um episódio depressivo: leve, moderado e grave.

 Episódio Depressivo Leve

Geralmente estão presentes ao menos dois ou três dos


sintomas citados anteriormente. O paciente usualmente sofre com a
presença desses sintomas, mas provavelmente será capaz de
desempenhar a maior parte das atividades.

 Episódio Depressivo Moderado

Geralmente estão presentes ao quatro ou mais dos sintomas


citados anteriormente. O paciente aparentemente tem muita
dificuldade para continuar a desempenhar as atividades de rotina.

 Episódio Depressivo Grave Sem Sintomas Psicóticos

Episódios no qual vários dos sintomas são acentuados e


angustiantes, tipicamente a perda da auto-estima e ideias de
desvalorização ou culpa. As ideias e os atos suicidas são comuns e
observa-se em geral uma série de sintomas “somáticos”.

 Episódio Depressivo Grave com Sintomas Psicóticos

Episódio depressivo correspondente à descrição de um episódio


grave, mas acompanhado de alucinações, ideias delirantes, de uma
lentidão psicomotora de tal gravidade que todas as atividades sociais
normais tornam-se impossíveis; pode existir o risco de morrer por
suicídio, de desidratação ou de desnutrição. As alucinações e os
delírios podem não corresponder ao caráter dominante do distúrbio
afetivo.

 Transtorno Depressivo Recorrente

Transtorno caracterizado pela ocorrência repetida de episódios


depressivos correspondentes à descrição de um episódio depressivo
na ausência de todo antecedente de episódios independentes de
exaltação de humor e de aumento de energia (mania).

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O Transtorno pode, contudo, comportar breves episódios
caracterizados por um ligeiro aumento de humor e de atividade
(hipomania), sucedendo imediatamente a um episódio depressivo, e
por vezes precipitados por um tratamento antidepressivo.

As formas mais graves do transtorno depressivo recorrente


apresentam numerosos pontos comuns com os conceitos anteriores
de depressão maníaco-depressiva, melancolia, depressão vital e
depressão endógena. O primeiro episódio pode ocorrer em qualquer
idade, da infância à senilidade, sendo que o início pode ser agudo e a
duração variável de algumas semanas e alguns meses.

O risco de ocorrência de um episódio maníaco não pode jamais


ser completamente descartado em um paciente com transtorno
depressivo recorrente, qualquer que seja o número de episódios
depressivos apresentados. Em caso de ocorrência de um episódio
maníaco, o diagnóstico deve ser alterado pelo de transtorno bipolar.

 Distimia (incluída nos transtornos de humor (afetivos)


persistentes)

Alterações de humor, que persistem por vários anos, mas cuja


gravidade não é suficiente ou na qual os episódios individuais são
muito curtos para responder aos critérios de transtorno depressivo
recorrente grave, moderado ou leve.

 Ansiedade Generalizada

Ansiedade generalizada e persistente que não ocorre


exclusivamente, nem de modo preferencial, numa situação
determinada (a ansiedade é “flutuante”). Os sintomas essenciais são
variáveis, mas compreendem nervosismo persistente, tremores,
tensão muscular, transpiração, sensação de vazio na cabeça,
palpitações, tonturas e desconforto epigástrico. Medos de que o
paciente ou um de seus próximos irá brevemente ficar doente ou
sofrer um acidente é freqüentemente expressos.

 Transtorno Muito Ansioso e Depressivo

Esta categoria deve ser utilizada quando o sujeito apresenta ao


mesmo tempo sintomas ansiosos e sintomas depressivos, sem
predominância nítida de uns ou de outros, e sem que a intensidade
de uns ou de outros seja suficiente para justificar um diagnóstico
isolado.

 Distúrbios da Atividade e da Atenção

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Esta categoria inclui :

 Síndrome/Transtorno de déficit de atenção com


hiperatividade
 Transtorno de hiperatividade e déficit de atenção

E exclui:

 transtorno hipercinético associado a transtorno de


conduta.

8.5. DEPRESSÃO INFANTIL E RENDIMENTO ESCOLAR

DISTÚRBIO DA APRENDIZAGEM

A escola é um local bastante favorável à realização de estudos.


O comportamento depressivo na infância ocorrerá, muito
provavelmente, no contexto educacional, sendo o baixo rendimento
escolar um dos principais sinais do surgimento de um possível quadro
depressivo.

Também deve ser ressaltada a importância do diagnostico para


a família da criança, visto que a depressão pode acarretar problemas
no seu repertório comportamental, variando desde extrema
irritabilidade à obediência excessiva, podendo ainda ocorrer uma
instabilidade significativa com relação a esses comportamentos.

Na infância, a depressão, aparece como algo camuflado,


disfarçado, apresentando-se mais frequentemente sob a forma de
inquietação, rebeldia, preocupações somáticas e hipocondríacas,
fugas, condutas anti-sociais e impulsividade, sem falar no debito do
desenvolvimento da aprendizagem.

É na escola que, muitas vezes, os sujeitos manifestam os


primeiros sinais depressivos, notadamente na apresentação de
extremas dificuldades no rendimento escolar, no desempenho
cognitivo, na socialização entre colegas, na oscilação do humor e na
participação de atividades, etc.

Além de a depressão infantil contribuir no rendimento escolar,


algumas investigações têm mostrado que os sintomas depressivos
também afetam os hábitos dos alunos (Palladino e Cols. 2001;
Pekrun, Goetz, Titez e Perry, 2002).

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A incidência de problemas emocionais, mais especificamente
depressão, ocorre com certa frequência em crianças no inicio da
escolaridade e normalmente estão associados a outras dificuldades
de comportamento ou académicas.

Segundo alguns autores, os problemas psicológicos infantis não


devem ser considerados como um fenómeno transitório e sem
gravidade, já que dados sugerem que essas dificuldades podem
apresentar uma grande estabilidade temporal e ainda contribuem
para afetar negativamente o processo de desenvolvimento da criança
como um todo.

A relação entre depressão infantil e rendimento escolar tem


sido investigada e os resultados sugerem a depressão na criança
pode prejudicar seu rendimento na escola, bem como o
aproveitamento académico. Crianças com história de depressão
apresentam um desempenho acadêmico abaixo do esperado.

Estes descrevem que, na criança deprimida, as funções


cognitivas como atenção, concentração, memória e raciocínio
encontram-se alteradas, o que interfere no desempenho escolar, uma
vez que na sala de aula, a criança com sintomas de depressão
normalmente mostra-se desinteressada pelas atividades, apresenta
dificuldade em permanecer atenta nas tarefas e esse comportamento
interfere de forma negativa na aprendizagem dessas crianças.

8.6. Papel dos Pais/ educadores na depressão infantil

É importante que os pais percebam que algo se passa com os


seus filhos e que os levem a um profissional, de preferência antes de
a Depressão Infantil já estar instalada.

Por outro lado, conhecer as atividades da criança na escola


antes da sintomatologia é muito importante. A escola vai exercer um
papel importante no diagnóstico, pois quando se instala uma
Depressão Infantil numa criança, os primeiros sinais são o baixo
rendimento escolar e a dificuldade em realizar as tarefas, devidos à
falta de concentração.

Temos que compreender as alterações de comportamento e


atitudes das crianças, como andarem mais irritados, agressivos, mais
ativos ou pelo contrário mais parados e não pensarmos que estes
estão apenas a querer “chamar a atenção” , ou então “ isto passa-lhe,
é da idade!” (como os pais referem).

É preciso levar a sério os sentimentos da criança, pois suas


emoções são tão intensas quanto as emoções do adulto.

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Quando a Depressão Infantil, está instalada, uma das
estratégias a usar pelos pais é estimular a criança a brincar,
participar de atividades recreativas e desportivas para que possa
melhorar seu humor e manter contato com outras crianças. Na
Depressão Infantil estas atividades não são contra indicadas, até pelo
contrário devemos estimulá-las constantemente.

8.7. Prevenir a depressão infantil

A prevenção passa pelo conhecimento da dinâmica familiar. A


prevenção ideal para a Depressão Infantil, seria orientar os pais para
estabelecerem laços mais afetivos com os filhos, estimulando-os
através do desenvolvimento psicossocial.

Sabemos que é uma meta muito difícil de ser atingida, pois os


problemas sociais e económicos, os problemas conjugais e a
separação dos casais, são questões que aumentam os conflitos nos
filhos, principalmente, nos menores, e que por vezes alguns, os
adultos também se sentem impotentes para os solucionarem.

No entanto, o mais importante é estar atento às crianças. A


depressão Infantil passa muitas vezes despercebida em casa. A
criança fica isolada, muito quieta e as vezes os pais interpretam como
"bom comportamento". A situação agrava-se quando chega a
informação da escola que a criança baixou o seu rendimento escolar.
A partir deste momento a DI já está instalada e devem os pais
imediatamente procurar ajuda profissional para iniciar o processo de
intervenção.

9. Criança Isolada

Como todos sabemos, a interação da criança com os seus


pares, faz parte do seu processo de desenvolvimento. Estas
interações são vistas como parte necessária da socialização na
infância, providenciando um espaço de aprendizagem de papéis,
desenvolvimento cognitivo e moral, domínio de impulsos agressivos e
aquisição de competências sociais globais. Além disso, a ligação dos
comportamentos interpessoais da criança e o ambiente escolar
envolvente têm uma influência determinante no ajustamento e no
sucesso escolar.

O isolamento social das crianças, sobretudo em contexto


escolar, pode ser entendido como um padrão comportamental
persistente e que causa mal-estar, caracterizado por uma baixa
frequência e duração de interações sociais, neste caso com os pares.
Tratam-se geralmente de crianças que passam a maior parte do
tempo sozinhas ou em atividades solitárias, interagindo com os

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colegas somente em momentos específicos e sobretudo perante a
necessidade de realização de algumas tarefas (caso contrário, não
estariam aproximadas).

Alguns autores referem, que o isolamento social na infância


deve ser alvo de atenção, pois representa um padrão de respostas
inibidor da aquisição de comportamentos adaptativos e pode
provocar problemas de ajustamento durante todo o ciclo de vida. Este
é igualmente um forte preditor de problemas de ajustamento social
na vida adulta. As crianças isoladas e impopulares parecem também
ter maior probabilidade de abandono escolar e de serem identificadas
como delinquentes anos mais tarde.

Estudos mostram que existem dois tipos de crianças isoladas

1. As que os outros rejeitam ativamente


2. As que são meramente ignoradas.

O primeiro tipo é mais frequente, sendo que as crianças emitem


um reduzido número de estímulos positivos, como ajudar ou elogiar, e
um elevado número de estímulos aversivos (como por exemplo,
críticas ou bater). Esta rejeição pode ser causada pelo facto dos
colegas considerarem esses comportamentos desviantes.

O comportamento isolado é geralmente observado em crianças


com atraso mental, desordens da conduta, dificuldades de
aprendizagem, autistas e com défices sensoriais. O isolamento
parece, nestes casos, ser estável e um padrão persistente de
comportamento.

As crianças isoladas são usualmente tímidas, assustadas e


reservadas, ausentes da participação nas atividades. Verifica-se que o
momento em que o isolamento social severo se manifesta é quando a
criança é colocada numa situação de grupo, na escola ou no dia-a-dia.
Raramente o problema ocorre em casa e, assim, as intervenções são
relativas mormente a situações fora de casa.

Por não causarem problemas nem perturbarem a sala de aula,


não interferindo com o trabalho dos professores, as crianças muitas
vezes são ignoradas. Frequentemente os educadores e outros
profissionais de saúde mental estão mais envolvidos na promoção de
competências académicas, de melhores interações pais-criança e
professor-criança e no controlo da agressividade, negligenciando o
isolamento social. Contudo, trata-se de uma questão que merece
atenção já que, afeta as interações adequadas entre pares, interfere
também no bom ajustamento psicológico.

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A dificuldade de socialização, quando a criança não faz
amizades e se acostuma ao isolamento, significa que algo está
errado.

A dificuldade de se relacionar com outras crianças é mais


evidente na escola, onde se aprende a arte da convivência. Este
comportamento, revela-nos a psicologia, pode ser sintoma de que a
criança está com por algum problema, como, por exemplo, a
separação dos pais, a falta de atenção, de carinho, a baixa auto-
estima.

A escola, é muito importantee não nos podemos limitar à sala


de aula. Observar o aluno no recreio, nas horas de lazer, se ele se
afasta ou se não convive com os colegas. Caso isto aconteça, deve-se
comunicar aos pais. Manter os pais informados sobre o que se passa
na escola, facilita o diagnóstico do problema e a solução do mesmo.

Na sala de aula, o professor deve incentivar o relacionamento


da criança com seus colegas e os pais devem brincar mais com os
seus filhos, convidar outras crianças para brincar com ele em casa. Os
pais devem procurar espaços onde haja mais crianças e estimular
atividades coletivas.

Por exemplo, levar a criança a um centro comercial, não é uma


boa opção, pois pode haver muitas crianças, mas nem sempre há
interação entre elas.

Nestes casos de isolamento social, a criança poderá fazer


terapia infantil, neste caso chama-se ludoterapia, considerada
importante no caso de crianças com dificuldade de relacionamento.

10. Papel da Família

A família é a primeira esfera de socialização da criança,


responsável pela formação individual e social de cada um. Esta é um
sistema, na qual as partes interagem com o todo, a criança aprende a
conviver em sociedade com outros grupos, necessitando para o efeito
de ter uma ambiente familiar estável e de modelos parentais firmes e
consistentes.

Um ambiente saudável favorece o bom desenvolvimento dos


filhos e proporciona-lhes apoio, quando necessário, além de que
promove a sua independência para que seja permitido à criança ou
jovem opinar e optar.

A criança fica dotada de referências seguras e consistentes,


aprende a ter consciência das suas possibilidades, de desenvolver
segurança interna, promovendo a sua autoestima.

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A educação baseada numa autoridade baseada no respeito
mútuo, leva à construção de uma moral autónoma que consiste em
compreender o porquê das leis que a sociedade impõe e que
devemos respeitar, ou contribuir para modificar, participando com
base no respeito mútuo, no espírito de cooperação, de
responsabilidade social, criando-se assim uma identidade individual e
social devidamente consolidada.

O sentimento de pertença à comunidade em que estamos


inseridos cresce e com ele nasce o exercício da cidadania. Educar, é
não só um ato de amor, mas uma responsabilidade individual e social.

10.1. TIPOS DE FAMÍLIA

Nos dias de hoje, assistimos aos mais variados tipos de família, tais
como:

 Família Nuclear

Que é composta por mãe, pai e seus filhos.

 Família Extensa

Que é composta por pais cujas relações são não só entre pais e
filhos. Uma família pode incluir avós, tios, primos e outros
parentes por sangue ou casamento.

 Família Monoparental

Em que a criança ou crianças vivem apenas com um dos pais.

 Família Homoparental

Em que a criança ou crianças vivem com um casal gay.

10.2. A FAMÍLIA E A ESCOLA

As escolas devem ser promotoras de políticas/estratégias que


promovam a maior aproximação das famílias à escola. Os pais podem
ser envolvidos de diferentes formas e cabe à escola proporcionar uma
diversidade de modalidades de envolvimento parental na escola.
Desta forma haveria uma maior aproximação de ambas. Assim iremos

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abordar algumas estratégias que possam promover essa
aproximação, tais como:

 Promover a comunicação entre a escola e a famílias.

A escola deve estabelecer sistemas de comunicação bilateral,


procurando disponibilizar canais de comunicação diversos (reuniões
de pais, reuniões individuais com a família, contactos telefónicos,
caderneta do aluno, boletins da escola, e-mail) de forma a alcançar
todas as famílias. A comunicação deve ir além das dificuldades
escolares e de comportamento e da avaliação do aluno. As reuniões
de pais devem ser clarificadoras do projeto educativo da escola,
regulamento interno e projeto curricular de turma. As reuniões
individuais com os pais devem fornecer informação acerca dos
progressos e dificuldades do aluno e de como os pais devem ajudar
as crianças a ultrapassar essas dificuldades. Devem ser igualmente
aproveitadas para conhecer melhor a família e as suas necessidades.

 Envolver os pais em atividades no espaço escolar

Para além dos tradicionais eventos que a escola promove


(atividades de início e fim do ano letivo, festas de Natal, Dia da Mãe,
Dia do Pai), a escola pode oferecer oportunidades mais diversificadas
que possibilitem a participação da família com o objetivo de melhorar
o espaço escolar.

 Envolver os pais em atividades de aprendizagem em


casa.

Os pais são importantes na aprendizagem e no progresso


escolar das crianças. Para que os pais possam desempenhar o seu
papel com eficácia necessitam que o professor os informe acerca das
competências que a criança deve adquirir em cada momento da
aprendizagem e de como podem estar envolvidos em atividades de
aprendizagem articuladas com trabalho que o professor desenvolve
na sala de aula. Isto pode ser feito, por exemplo, comunicando aos
pais os objetivos de aprendizagem através de uma informação
semanal ou mensal, estabelecendo contratos entre aluno-pais-
professor, ensinado os pais a importância da monitorização e
encorajamento/reforço dos trabalhos para casa e elaborando
atividades de aprendizagem, onde os pais sejam chamados a
participar.

 Envolver os pais na tomada de decisões.

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As famílias devem ser envolvidas nas tomadas de decisão, quer
através da representação dos pais nos organismos da escola em que
esta representação já está prevista, quer em grupos de reflexão-ação
criados para a resolução de problemas que visem a melhoria da
escola. Isto pode ser concretizado se as escolas ajudarem a manter as
Associações de Pais ativas (facilitando espaço físico, reuniões de
coordenação com a direção da escola), procurarem cativar pais de
todos os níveis socioeconómicos e etnias e de diferentes grupos
profissionais que estão presentes na escola a fazerem parte das
Associações e criarem grupos de reflexão sobre problemáticas chave
onde incluam representantes dos pais.

 Envolver a comunidade

A escola deve procurar partilhar as suas responsabilidades e


recursos com as diferentes instituições e organismos existentes na
comunidade (câmara municipal, junta de freguesia, centro de saúde,
associações recreativas e culturais, etc.). Por exemplo, informando as
famílias e os alunos acerca dos recursos e atividades que podem
encontrar na comunidade, como atividades de tempos livres e
recreativas, acontecimentos culturais, serviços de saúde, serviços
sociais e colaborando com os diferentes organismos de forma a
promover atividades de formação/sensibilização aos pais e aos
alunos, a disponibilizar recursos que satisfaçam algumas
necessidades da escola, e a promover a integração e a transição dos
alunos para outras instituições de ensino ou de trabalho, entre outros.

A comunicação escola família é o requisito básico para a


existência de outras formas de envolvimento parental na escola.
Quando a escola e a família comunicam de forma eficaz, os pais têm
mais probabilidades de estabelecer uma relação de confiança e um
clima de cooperação com o professor e com a escola, as interações
entre a escola e a família aumentam, os pais percecionam a escola e
os seus profissionais de forma mais positiva, entendem melhor as
políticas da escola e a ação dos professores, acompanham melhor os
progressos da criança.

Assim a escola deve estar atenta aos grupos de pais mais


vulneráveis a estarem menos envolvidos na escola. A escola pode
aproximar mais estas famílias, quebrando o ciclo de afastamento. É
importante lembrar que são precisamente as crianças destas famílias
que mais beneficiam de um maior envolvimento dos pais na escola.

Um grande preditor do envolvimento parental na escola é o


nível socioeconómico e o nível educacional dos pais. Estas famílias
que por vezes são designadas por “famílias difíceis de alcançar” têm
relativamente às outras famílias dificuldades adicionais para se

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envolverem na escola, tais como, horários de trabalho pouco flexíveis,
falta de recursos, preocupações com questões de sobrevivência,
perceção de baixa competência para tratar de assuntos relacionados
com a escola e memórias negativas relacionadas com a sua própria
experiência com a escola.

As escolas e os professores devem conhecer estas dificuldades


e procurar contorná-las com: horários flexíveis de atendimento aos
pais; estabelecendo uma abordagem positiva de aproximação às
famílias (estabelecer o contacto com a família no início do ano para
dar-se a conhecer e conhecer a família, contribuindo para a
construção de uma imagem mais positiva da criança por parte da
família, tornando visíveis os recursos e competências da família e
construindo novas competências), tornando a linguagem clara e
acessível a todas as famílias, diversificando a forma de comunicar
com as famílias e em algumas alturas recorrer ao contacto telefónico
ou à visita domiciliária para manter a comunicação com aquelas
famílias que têm mais dificuldade em deslocar-se à escola.

Psicologia educacional ou psicologia da educação é o ramo da


psicologia que estuda o processo de ensino/aprendizagem em
diversas vertentes: os mecanismos de aprendizagem nas crianças e
adultos (o que está estreitamente relacionado com a psicologia do
desenvolvimento); a eficiência e eficácia das táticas e estratégias
educacionais; bem como o estudo do funcionamento da própria
instituição escolar enquanto organização (onde se cruza com a
psicologia social).

Os psicólogos educacionais desenvolvem o seu trabalho em


conjunto com os educadores/professores de forma a tornar o processo
de aprendizagem mais efetivo e significativo para o educando,
principalmente no que diz respeito à motivação e às dificuldades de
aprendizagem.

Focam a sua ação não apenas nas necessidades da criança na


escola como, também, em outras áreas onde as experiências
escolares têm impacto. Alguns psicólogos educacionais centram o seu
trabalho no desenvolvimento das capacidades e necessidades das
crianças com dificuldades de aprendizagem, como no caso da PHDA,
problemas emocionais ou problemas comportamentais.

Serviços de Psicologia e Orientação, que a própria escola


disponibiliza.

Os Serviços de Psicologia e Orientação (SPO) desenvolvem a


sua ação nos estabelecimentos de educação pré-escolar e dos

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ensinos básico e secundário, sendo três os domínios considerados
para a sua intervenção:

 O apoio psicopedagógico a alunos e a professores;


 O apoio ao desenvolvimento do sistema de relações da
comunidade educativa
 A orientação escolar e profissional

Para além destas três áreas de intervenção, podemos igualmente:

1. Colaborar com a comunidade educativa prestando apoio


psicopedagógico às atividades educativas, identificando as
causas do insucesso escolar e propor medidas tendentes à
sua eliminação.
2. Articular em colaboração com os órgãos de gestão da escola
e com outros serviços especializados, nomeadamente das
áreas de saúde e da segurança social, de modo a contribuir
para o correto diagnóstico e avaliação sócio-médica-
educativa dos alunos e planear medidas de intervenção.
3. Apoiar alunos no processo de desenvolvimento da sua
identidade pessoal e do seu projeto de vida.
4. Planear e executar atividades de orientação escolar e
profissional através de programas e ações de
aconselhamento a nível individual e de grupo.
5. Colaborar com outros serviços, nomeadamente no apoio à
celebração de protocolos, tendo em vista a organização de
informação e orientação profissional.
6. Desenvolver ações de informação e sensibilização dos pais e
da comunidade em geral no que respeita à problemática que
as opções escolares e profissionais envolvem

12. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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