Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Saul Fuks
Programa de Engenharia de Produção da COPPE, Centro de Tecnologia, UFRJ,
Bloco F, CEP 21945-970, Cidade Universitária, Rio de Janeiro, RJ,
v.12, n.2, p.305-315, mai.-ago. 2005
e-mail: saul@pep.ufrj.br
Recebido em 30/10/2003
Aceito em 22/6/2005
Resumo
Este trabalho tem como principal objetivo definir Atributos Desejáveis (ADs) para orientar a auto-avaliação dos
novos Sistemas de Medição de Desempenho Organizacional (SMDOs). Primeiramente, são explicados os objetivos
da pesquisa que levou à definição do conjunto de ADs, bem como a relevância deste, e são apresentados o referencial
teórico e a metodologia utilizada. Em seguida, é descrito como os ADs foram definidos a partir das diversas caracte-
rísticas de SMDO identificadas na literatura sobre o tema. Por fim, são apresentadas algumas conclusões e sugestões
para pesquisas futuras.
Palavras-chave: sistemas de medição de desempenho, auto-avaliação, atributos desejáveis.
1. Introdução
A evolução dos Sistemas de Medição de Desempe- hoje, quando, com base nas diversas críticas feitas aos
nho Organizacional (SMDOs) pode ser dividida em modelos de SMDOs tradicionais, novos modelos com
três fases distintas. A primeira, que foi do século XIV múltiplas dimensões de desempenho foram propostos e
ao século XIX, quando surgiram as primeiras práticas características necessárias à sua eficácia foram identifi-
de contabilidade para controle do processo produtivo e cadas na literatura sobre o tema.
quando foram desenvolvidos os primeiros sistemas de Atualmente, as organizações têm demonstrado interes-
administração e controle da produção. A segunda, que se pelos novos modelos de SMDOs, entretanto, a grande
foi do início até os meados da década de 1980, quando a maioria tem encontrado dificuldades para implementá-
medição de desempenho passou formalmente a fazer par- los. Cerca de 70% (setenta por cento) dos novos SMDOs
te do ciclo de planejamento e controle das organizações implementados não funcionaram adequadamente (Neely
e a Pirâmide Du Pont foi o principal modelo de SMDO e Bourne, 2000).
utilizado (Ghalayini e Noble, 1996). A terceira iniciou-se Por outro lado, pesquisadores e praticantes reconhe-
durante a década de 1980, estendendo-se até os dias de cem a auto-avaliação organizacional como uma das mais
306 Figueiredo et al. − Definição de Atributos Desejáveis para Auxiliar a Auto-avaliação dos Novos Sistemas de Medição ...
sistemática do fenômeno, especificando relações entre e a medição (o instrumento de medição com suas vari-
variáveis, com o objetivo de explicar e predizer o fenô- áveis observáveis). O terceiro elemento – as atividades
meno” (Kerlinger, 1991). Abrange dois domínios, o do- de gerenciamento da auto-avaliação – não faz parte do
mínio teórico e o domínio operacional. Constructos ou escopo deste trabalho.
conceitos são abstrações no domínio teórico que expres-
sam características similares (Malhotra e Grover, 1998). 5.2 2a. Etapa - Definição dos atributos de-
Os conceitos e os constructos têm significados se- sejáveis e suas variáveis observáveis
melhantes, mas apresentam uma importante distinção: Inicialmente, foi realizada uma extensa revisão da literatura
enquanto o conceito expressa uma abstração, formada sobre o tema, visando identificar características necessárias
mediante a generalização de observações particulares, o à eficácia dos SMDOs. Os principais autores consultados fo-
constructo não pode ser tão facilmente ligado aos fenô- ram: Lynch e Cross (1991); Hronec (1994); Bititci (1995a);
menos que representa, pois é um conceito consciente e Bititci (1995b); Clark (1995); Neely et al. (1995); Ghalayini
deliberadamente desenvolvido ou adotado com um pro- e Noble (1996); Neely et al. (1996); Bititci et al. (1997);
pósito científico (Lakatos e Marconi, 1991). Ghalayini et al. (1997); Neely et al. (1997); Martins (1998);
A teoria tenta explicar fenômenos observados, fixando Bititci et al. (2000); Bourne et al. (2000); Neely et al. (2000);
sistematicamente inter-relações entre constructos. Toda- De Toni e Tonchia (2001); Neely et al. (2001); Kennerly e
via, como os constructos são abstratos, os pesquisado- Neely (2002); Neely et al. (2002). Cento e vinte oito carac-
res devem prover uma definição operacional daquilo que terísticas foram identificadas na literatura e podem ser con-
é observável. Esta definição operacional representa um sultadas em Figueiredo (2003).
símbolo ou uma variável cujos valores numéricos podem A partir da reflexão dos resultados da revisão da lite-
ser assinalados (Malhotra e Grover, 1998). Inspirado ratura, foram definidos 9 (nove) Atributos Desejáveis:
em Hayes (1998), Malhotra e Grover (1998) e Wacker Aprendizado, Análise Crítica, Balanceamento, Clareza,
(1998), adotou-se uma metodologia em duas etapas para Dinamismo, Integração, Alinhamento, Participação e Re-
definição dos ADs. lacionamento Causal. A seguir são apresentadas as defini-
Na 1a. Etapa, após a revisão da literatura sobre carac- ções desses ADs e suas respectivas variáveis observáveis.
terísticas de SMDO, foram definidos os elementos que
compõem a auto-avaliação de SMDO. 5.3 Aprendizado organizacional
Na 2a. Etapa, os Atributos Desejáveis foram definidos A discussão sobre as organizações voltadas para o
e apresentadas suas respectivas variáveis observáveis. aprendizado (learning organizations) tem ocupado um
espaço significativo na literatura gerencial desde a década
de 1990, sendo que a sua popularização deve-se, em boa
5. Definição dos atributos desejáveis medida, ao livro “A Quinta Disciplina” de Senge (1996).
Segundo Garvin (1993) “uma organização volta-
5.1 1a. Etapa - Definição dos elementos da da para o aprendizado é uma organização hábil na
auto-avaliação de SMDO criação, aquisição e transferência de conhecimentos,
De acordo com Hillman (1994), a auto-avaliação orga- e na modificação do seu comportamento para refle-
nizacional é composta por três elementos principais: 1) o tir os novos conhecimentos e percepções”. Neste tipo
modelo no sentido de referencial que define o arcabouço de organização, os novos conhecimentos são absorvidos
em função do qual o progresso da organização é avaliado; e transmitidos aos seus membros de forma a contribuir
2) a medição que é o meio utilizado para coletar dados para a melhoria contínua dos processos da organização e
sobre o progresso da organização em relação ao modelo o aumento de sua competitividade.
utilizado; e 3) o gerenciamento que consiste nas ativida- Segundo Kaplan e Norton (1996b), um dos principais
des para administrar todo o processo de auto-avaliação. objetivos do SMDO é fornecer informações que facili-
Utilizando os elementos propostos por Hillman (1994), tem o processo de aprendizado organizacional. Com as
neste estudo, a auto-avaliação de SMDO teve a seguinte informações fornecidas pelo SMDO, os tomadores de
composição: 1) o conjunto de Atributos Desejáveis que decisão podem questionar pressupostos e avaliar se as
representa o arcabouço teórico em função do qual o SMDO teorias com que estão trabalhando continuam coerentes
é avaliado; 2) o instrumento de auto-avaliação pelo qual com as evidências, as observações e as experiências reais
as evidências e dados são coletados e que é composto pe- (Kaplan e Norton, 1996b).
las variáveis observáveis relacionadas a cada um dos ADs; O SMDO deve fornecer informações que possibilitem
e 3) o gerenciamento que compreende as atividades de aos tomadores de decisão perceberem não só se a estra-
administração do Ciclo de Auto-avaliação de SMDO. tégia está sendo executada de acordo com o planejado,
Este estudo focalizou apenas os dois primeiros ele- mas, também, se a estratégia planejada continua sendo
mentos da auto-avaliação: o modelo (o conjunto de ADs) viável e bem sucedida.
308 Figueiredo et al. − Definição de Atributos Desejáveis para Auxiliar a Auto-avaliação dos Novos Sistemas de Medição ...
Para avaliar se o SMDO está facilitando o processo de Atualmente, os SMDOs devem medir não somente o
aprendizagem organizacional o seguinte Atributo Dese- desempenho financeiro que está relacionado aos interes-
jável foi definido: ses dos acionistas, mas também a satisfação dos clien-
“Aprendizado Organizacional é a capacidade do tes, a qualidade dos produtos e serviços, a satisfação do
SMDO fornecer informações que facilitem o questio- funcionário e o clima organizacional, a imagem que a
namento, a avaliação ou a inovação do SO, de forma sociedade tem da organização, o impacto ambiental de
a contribuir não só para a criação, aquisição e trans- seus produtos, o desempenho dos seus fornecedores, a
ferência de conhecimentos, mas também para modi- inovação e o aprendizado organizacional, e a eficácia e
ficação do comportamento do SO, refletindo os novos eficiência dos processos de negócio (Figueiredo, 2003).
conhecimentos e percepções obtidos.” (Garvin, 1993; Dentro desse contexto, o Atributo Desejável Balan-
FPNQ, 2002; Kaplan e Norton, 1996b) ceamento é definido como “a capacidade do SMDO de
Baseado na definição de Aprendizado Organizacional fornecer informações, segundo diferentes dimensões
e nas características identificadas na literatura, foi pro- de desempenho, que possibilitem obter uma percepção
posto um conjunto de 7 (sete) variáveis observáveis para multidimensional do comportamento da organização”.
mensurar esse Atributo Desejável que é apresentado no (Kaplan e Norton, 1996a; Neely et al., 2002; FPNQ, 2002).
Anexo. Baseado na definição do Atributo Desejável Balance-
amento e nas características identificadas na literatura, é
5.4 Análise crítica proposto um conjunto de 5 (cinco) variáveis observáveis
Para que a organização possa melhorar continuamente para mensurar este AD e que é apresentado no Anexo.
seu desempenho, deve ter um SMDO que forneça infor-
mações que possibilitem a avaliação do seu desempenho 5.6 Clareza
global. O SMDO que preenche tal requisito coleta infor- Os indicadores utilizados no SMDO devem ser clara-
mações sobre o ambiente externo e interno da organiza- mente definidos e apresentados de forma a fornecerem
ção, utiliza informações comparativas que permitem ava- informações e não apenas dados. Essas características
liar o desempenho dos processos em relação a padrões ajudam o usuário do SMDO a ter uma percepção clara do
externos e internos, utiliza mecanismos que fornecem desempenho organizacional.
relações de causa e efeito entre os indicadores e fornece Quanto à sua definição, é importante que o objetivo,
informações quantitativas e qualitativas relevantes. a fórmula de obtenção do índice, as fontes de dados, os
As informações fornecidas pelo SMDO permitem que referenciais comparativos e metas estejam claramente
seus usuários possam compará-las com os objetivos e as definidos.
prioridades da organização, levantem problemas e propo- Quanto à apresentação do indicador, é importante que
nham soluções para a melhoria do desempenho. seus índices sejam apresentados em gráficos, confeccio-
Para avaliar o quanto o SMDO ajuda na avaliação do nados de forma que o usuário perceba facilmente como
desempenho da organização, o Atributo Desejável Aná- o produto, processo ou sistema está se comportando ao
lise Crítica é definido como: “a capacidade do SMDO longo do tempo.
fornecer informações que possibilitem uma verifica- Dentro deste contexto o Atributo Desejável Clareza é
ção profunda e global do desempenho organizacional definido como “a capacidade do SMDO utilizar indi-
com a finalidade de identificar problemas e propor cadores de fácil entendimento para os usuários dos
soluções” (adaptado de Ghalayini et al., 1997; Bititci et diferentes níveis hierárquicos da organização”. (Sink
al., 2000; Nelly et al., 2002; FPNQ, 2002). e Smith, 1993; Sink e Tuttlie, 1993; Neely et al., 2000).
Baseado na definição do Atributo Desejável Análise Baseado na definição do Atributo Desejável Clareza e
Crítica e nas características identificadas na literatura, é nas características identificadas na literatura, é proposto
proposto um grupo de 7 (sete) variáveis observáveis para um conjunto de 10 (dez) variáveis observáveis para men-
avaliar o SMDO em relação ao Atributo Desejável defini- surar este AD e que é apresentado no Anexo.
do e que são apresentadas no Anexo.
5.7 Dinamismo
5.5 Balanceamento A maioria das organizações utiliza SMDOs estáticos,
No passado, os SMDOs utilizados pela maioria das isto é, sistemas que não possuem mecanismos que per-
organizações eram tradicionalmente compostos por indi- mitam sua adaptação rápida às mudanças ocorridas no
cadores financeiros, relacionados apenas aos interesses ambiente interno e externo da organização. Esta falta de
dos acionistas. Esses indicadores forneciam somente in- adaptabilidade às mudanças tem um efeito negativo sobre
formações de curto prazo e não indicavam como as orga- a agilidade e a capacidade de resposta da organização.
nizações poderiam melhorar seu desempenho no futuro Para que o SMDO seja dinâmico, ele deve ser sensível
(Kaplan e Norton, 1996b). às mudanças ocorridas nos ambientes interno e externo
GESTÃO & PRODUÇÃO, v.12, n.2, p.305-315, mai.-ago. 2005 309
da organização e deve fornecer informações sobre tais Nesse contexto, o Atributo Desejável Integração é de-
mudanças de forma a permitir que a organização faça finido como “a capacidade do SMDO interagir com
uma revisão dos seus objetivos internos e desdobre as todas as partes da organização e seus principais sis-
mudanças feitas para as partes críticas da organização, temas de informação”. (Ghalayini et al., 1997; Bititci
assegurando o alinhamento contínuo e a manutenção dos et al., 1998; Bititci et al., 2000).
ganhos alcançados pelos programas de melhoria organi- Baseado na definição do Atributo Desejável Integra-
zacional (Bititci et al., 2000). ção e nas características identificadas na literatura, são
Dentro deste contexto, o Atributo Desejável Dinamis- propostas 4 (quatro) variáveis observáveis para represen-
mo é definido como “a capacidade do SMDO de mo- tar esse constructo e que são apresentadas no Anexo.
nitorar continuamente o ambiente externo e interno
da organização de forma a fornecer informações per- 5.9 Alinhamento
tinentes no momento em que são solicitadas, adaptar- A gestão do desempenho organizacional é o proces-
se rapidamente às mudanças ocorridas no ambiente so pelo qual a organização administra seu desempenho,
interno e externo da organização e permitir o acom- alinhado com as estratégias e os objetivos corporativos
panhamento do desempenho da organização ao longo e funcionais. Este processo tem como objetivo fornecer
do tempo”. (Ghalayini et al., 1997; Bititci et al., 1998; um sistema de controle com realimentação, em que as es-
Bititci et al., 2000). tratégias corporativas e funcionais são desdobradas para
Para facilitar a sua mensuração, o Atributo Desejável todos os processos de negócio, atividades, tarefas e pes-
Dinamismo foi desdobrado em três subatributos que me- soal, e a realimentação é obtida por meio do SMDO, para
dem seus aspectos específicos: Agilidade, Flexibilidade e apoiar as decisões apropriadas de gestão.
Monitoramento. Nesta linha de pensamento, o Atributo Desejável Ali-
O primeiro subatributo do Dinamismo está relacio- nhamento é definido como “a capacidade do SMDO
nado à rapidez com que as informações pertinentes são utilizar indicadores vinculados com a estratégia e os
disponibilizadas. Para isso, o subatributo Agilidade é de- principais processos organizacionais, combinados, in-
finido como “a capacidade do SMDO disponibilizar terligados ou agrupados de forma a possibilitar uma
as informações pertinentes no momento em que são percepção global do desempenho organizacional”.
solicitadas pelos usuários dos diferentes níveis hierár- (Kaplan e Norton, 1996b; Ghalayini et al., 1997; Bititci
quicos da organização”. et al., 1998, 2000; Neely et al. 2000).
O segundo subatributo focaliza o aspecto do Dinamis- Baseado na definição do Atributo Desejável Alinha-
mo relacionado à rapidez com que o SMDO se adapta às mento e nas características identificadas na literatura, são
mudanças ocorridas. Para isso, o subatributo Flexibilida- propostas 7 (sete) variáveis observáveis para representar
de é definido como “a capacidade do SMDO adaptar- esse constructo e que são apresentadas no Anexo.
se rapidamente às mudanças no ambiente interno e 5.10 Participação
externo da organização e às necessidades dos usuários A medição não pode ser de responsabilidade apenas da
dos diferentes níveis hierárquicos”. direção, deve ser dividida com os gerentes, supervisores
O terceiro subatributo focaliza o aspecto do Dinamis- e todo o pessoal do “chão de fábrica”. Para isso, repre-
mo relacionado à detecção de problemas potenciais. Para sentantes dos usuários dos diferentes níveis hierárquicos
isso o subatributo Monitoramento é definido como “a devem participar ativamente do desenvolvimento, imple-
capacidade do SMDO acompanhar continuamente o mentação, avaliação e aperfeiçoamento do SMDO.
ambiente externo e interno da organização a fim de Nesse contexto, o Atributo Desejável Participação é
detectar as ocorrências de problemas potenciais”. definido como “a capacidade do SMDO permitir que
Baseado na definição do Atributo Desejável Dinamis- representantes dos diferentes grupos de usuários e
mo e seus subatributos, bem como nas características interessados (fornecedores, controladores, acionistas,
identificadas na literatura, são propostas 13 (treze) variá- comunidade,etc.) tomem parte ativa em todas as fases
veis observáveis e que são apresentadas no Anexo. do seu ciclo de vida (desenvolvimento, implementa-
ção, utilização, avaliação e aperfeiçoamento)”. (Dixon
5.8 Integração et al., 1990; Thor, 1993 Ghalayini et al., 1997).
O SMDO é um sistema de informação que faz parte do Baseado na definição do Atributo Desejável Participa-
processo de gestão do desempenho global. Para isso, tra- ção e nas características identificadas na literatura, são
ta-se de apoiar o processo de desdobramento dos objetivos propostas 5 (cinco) variáveis observáveis e que são apre-
estratégicos e táticos do negócio, de assimilar as informa- sentadas no Anexo.
ções relevantes dos principais sistemas de informação da
organização, e de agregá-las de forma a fornecer as infor- 5.11 Relacionamento causal
mações-chave para o processo decisório da organização. O relacionamento causal explica como a organização
310 Figueiredo et al. − Definição de Atributos Desejáveis para Auxiliar a Auto-avaliação dos Novos Sistemas de Medição ...
pretende alcançar seus objetivos estratégicos. Com ele, ção organizacional nas últimas duas décadas do século XX,
é possível identificar quais os resultados esperados e os pouca atenção foi dada à auto-avaliação dos SMDOs.
possíveis pontos de alavancagem da organização (Neely A partir da revisão da literatura sobre os novos mo-
e Bourne, 2000). delos de SMDOs, foram definidos 9 (nove) Atributos
O SMDO deve tornar explícitas as relações causais Desejáveis e 63 (sessenta e três) variáveis observáveis
entre os indicadores para que elas possam ser gerencia- para auxiliar a auto-avaliação de SMDO. Os ADs defi-
das e validadas (Kaplan e Norton, 1996b). Tais relações nidos foram: Aprendizado Organizacional, Análise Crí-
não só ajudam os usuários do SMDO a perceberem como tica, Balanceamento, Clareza, Dinamismo, Integração,
as ações executadas estão impactando os indicadores de Alinhamento, Relacionamento Causal e Participação. O
desempenho, bem como a entenderem as conseqüências AD Dinamismo foi decomposto em 3 (três) subatributos:
das decisões tomadas (Kaplan e Norton, 2001). Agilidade, Flexibilidade e Monitoramento.
Nesse contexto, o Atributo Desejável Relacionamento A definição do conjunto de Atributos Desejáveis é a
Causal é definido como “a capacidade do SMDO inter- principal contribuição deste trabalho, uma vez que ape-
relacionar os diversos indicadores de forma a facilitar sar da existência de diversas características na literatura
o entendimento das relações de causa e efeito entre a sobre medição de desempenho organizacional, elas ain-
estratégia, processos e indicadores da organização”. da não haviam sido estudadas com o intuito de definir
(Kaplan e Norton, 1996b; Neely et al., 2002). um conjunto de características-chave para a avaliação de
Baseado na definição do Atributo Desejável Relacio- SMDO.
namento Causal e nas características identificadas na li- A principal limitação deste trabalho diz respeito ao fato
teratura, são propostas 5 (cinco) variáveis observáveis e de que os novos modelos de SMDO podem possuir outras
que são apresentadas no Anexo. características que não foram incluídas nesse estudo.
Como direcionamento para futuras pesquisas relati-
6. Conclusões vas ao presente tema, sugere-se a validação estatística
do conjunto de ADs em organizações comprovadamente
Este trabalho partiu da constatação de que, apesar da reconhecidas pelas práticas de excelência em auto-ava-
grande evolução dos SMDOs e das técnicas de auto-avalia- liação e medição do desempenho organizacional.
GESTÃO & PRODUÇÃO, v.12, n.2, p.305-315, mai.-ago. 2005 311
Anexo
Referências Bibliográficas
AHIRE, S. L.; GOLHAR, D. Y.; WALLER, M. A. Develop- DIXON, J. R. ; NANNI, A., J. E; VOLLMANN, T. J. The
ment and validation of TQM implementation constructs. New Performance Challenge: Measuring Operations
Decision Science, v. 27, n. 1, p. 23-70, 1996. for World-Class Competition. Homewood, IL: Irwin
AMUDSON, S. D. Relationships between theory-driven Professional Publishing: Dow Jones-Irwin, 1990.
empirical research in operations management and other EUROPEAN FOUDATION FOR QUALITY MANAGE-
disciplines. Journal of Operations Management, v. 16, MENT. European Foundation for Quality Manage-
n. 4, p. 341-359, 1998. ment: self-assessment based on the European Model
BITITCI, U. S. Measuring the integrity of your business. for Total Quality, The European Foundation for Total
Management Decisions, v. 33, n. 7, p. 10-18, 1995a. Quality, Brussels, 1995.
______. Modeling of performance measurement systems ______. European Foundation for Quality Management:
in manufacturing enterprises. International Journal of self-assessment based on the European Model for To-
Production Economics, v. 42, n. 2, p., 137-147, 1995b. tal Quality. Brussels, 1993.
BITITCI, U. S.; TURNER, T.; BEGEMANN, C. Dynamics FIGUEIREDO, M. A. D. Sistemas de Medição de Desem-
of performance measurement systems. International penho Organizacional: um modelo para auxiliar a sua
Journal of Operations & Production Management, auto-avaliação. 2003. 274 f.. Tese (Doutorado em En-
v. 20, n. 6, p. 692-704, 2000. genharia de Produção) - Coordenação dos Programas de
Pós-graduação em Engenharia, Universidade Federal do
BITITCI, U. S.; CARRIE, A. S.; McDEVITT, L. Integrated Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2003.
performance measurement systems: a development gui-
de. International Journal of Operations & Production FUNDAÇÃO PARA O PRÊMIO NACIONAL DA QUALI-
Management, v. 17, n. 5, p. 692-704, 1997. DADE. Critérios de Excelência, São Paulo - SP, 2002.
BITITCI, U. S.; CARRIE, A.; TURNER, T. Diagnosing GARVIN, D. A. Manufacturing strategic planning. Califor-
the integrity of your performance measurement system. nia Management Review. Summer, p. 85-105, 1993.
Control, April, p. 9-13, 1998. GHALAYINI, A. M.; NOBLE, J. S. The changing basis of
BOURNE, M.; MILLS, J.; WILCOX, M.; NEELY, A.; performance measurement. International Journal of
PLATTS, K. Designing, implementing and updating per- Operations & Production Management, v. 16, n. 8,
formance measurement systems. International Journal p. 63-80, 1996.
of Operations & Production Management, v. 20, n.7, GHALAYINI, A. M.; NOBLE, J. S.; CROWE, T. J. An inte-
p. 754-771, 2000. grate dynamic performance measurement system. Inter-
BOYER, K. K.; PAGELL, M. Measurement issues in empi- national Journal of Production Economic, v. 48, n. 3,
rical research: improving measures of operations strate- p. 207-225, 1997.
gy and advanced manufacturing technology. Journal of HANDFIELD, R. B.; MELNYK, S. A. The scientific theory-
Operations Management, v. 18, n. 3, p. 361-374, 2000. building process: a primer using the case of TQM. Jour-
CAFFYN, S. Development of a continuous improvement nal of Operations Management, v. 16, n. 4, p. 321‑339,
self-assessment tool, International Journal of Ope- 1998.
rations & Production Management, v. 19, n. 11, HARRISON, M., SHIROM, A. Organizational Diagnosis
p. 1138‑1153, 1999. and Assessment, Thousand Oaks, California: Sage Pu-
CLARK, L. A. Development, application, and evaluation blications, Inc., 1999.
of an organizational performance measurement sys- HAYES, B. E. Measuring Customer Satisfaction: sur-
tem. 1995. Tese (Doutorado em Industrial Engineering) vey design, use, and statistical analysis methods. Mi-
– Industrial & Systems Engineering Departament, Virgi- lwaukee, Wisconsin: ASQC Quality Press, 1998.
nia Polytech Institute and State University, Blacksburg, HILLMAN, P. G. Making Self-assessment Successful. The
1995. TQM Magazine, v. 6, n. 3, p. 29-31, 1994.
DE TONI, A.; TONCHIA, S. Performance measurements HRONEC, S. M. Sinais Vitais: usando medidas de desem-
systems, models, characteristics and measures. Interna- penho da qualidade, tempo e custos para traçar a rota
tional Journal of Operations & Production Manage- para o futuro. Rio de Janeiro: Makron Books, 1994.
ment, v. 21, n. 1-2, p. 48-70, 2001.
314 Figueiredo et al. − Definição de Atributos Desejáveis para Auxiliar a Auto-avaliação dos Novos Sistemas de Medição ...
KAPLAN, R. S.; NORTON, D. P. Organização orienta- NEELY, A. et al. Designing performance measures: a struc-
da para a estratégia: como as empresas que adotam tured approach. International Journal of Operations &
o balanced scorecard prosperam no novo ambiente de Production Management, v. 19, n. 2, p. 205-228, 1997.
negócios, Rio de Janeiro: Campus, 2001. NEELY, A.; ADAMS, C.; CROWE, P. The performance
______ . A estratégia em ação: balanced scorecard, Bos- prism in practice. Measuring Business Excellence, v. 5,
ton, MA: Harvard Business School Press, 1996b. n. 2, p. 6-13, 2001.
______. Using the balanced scorecard as a strategic mana- NEELY, A.; GREGORY, M. J.; PLATTS, K. W. Getting the
gement system. Harvard Business Review, v. 74, n. 1, Measure of your Business. Cambridge: Manufacturing
p. 75-85, 1996a. Engineering Group, University of Cambridge, 1996.
KENNERLEY, M. P.; NEELY, A. Performance measure- NEELY, A.; BOURNE, M. Why measurement initiates fail.
ment frameworks: a review. In: NEELY, A. Business Measuring Business Excellence, v. 4, n. 4, 2000.
Performance Measurement: Theory and Practice, NEELY, A; ADAMS, C.; KENNERLEY, M. The Perfor-
Cambridge University Press, 2002. mance Prism: the scorecard for measuring and mana-
KERLINGER, F. N. Foundations of behavioral research. ging business success. London, Great Britain: Prentice
New York: Holt, Rineahart & Winston, 1991. Hall, Pearson Education Limited, 2002.
LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. A. Metodologia Cien- SEKARAN, U. Research methods for business: a skill-
tífica. 2ªed., São Paulo: Atlas, 1991 building approach. 2ª ed., Singapore: John Wiley &
LYNCH, R. L.; CROSS-, K. F. Measure Up! Yardstick for Sons, Ind., 1992.
Continuous Improvement. Cambridge, MA: Blackwell SENGE, P. M. e al. A Quinta Disciplina – Arte , teoria e
Business, 1991. prática da organização de aprendizagem. São Paulo:
MALHOTRA, M. K., GROVER, V. An assessment of sur- Best Seller, 1996.
vey research in POM: from constructs to theory. Jour- SINK, D. S.; SMITH, G. L. Performance linkages: unders-
nal of Operations Management, v. 16, n. 4, p. 407-425, tanding the role of planning, measurement, and evalua-
1998. tion in large-scale organizational change. Quality and
MARTINS, R. A. Sistemas de medição de desempenho: Productivity Management, v. 10, n. 3, p. 27-36, 1993.
um modelo para estruturação do uso. 1998. Tese SINK, D. S; TUTTLE, T. C. Planejamento e Medição para
(Doutorado em Engenharia de Produção) - Escola Poli- a Performance, Rio de Janeiro: Qualitymark, 1993.
técnica da Universidade de São Paulo, Universidade de THOR, C. G. Ten rules for building a measurement sys-
São Paulo, São Paulo, 1998. tem. Quality and Productivity Management, v. 9, n. 1,
MELNYK, S. A., HANDFIELD, R. B. May you live in inte- p. 7‑10, 1993.
resting times ... the emergence of theory-driven empirical WACKER, J. G. A definition of theory: research guidelines
research. Journal of Operations Management, v. 16, for different theory-building research methods in ope-
n. 4, p. 311-319, 1998. rations management. Journal of Operations Manage-
MEREDITH, J. Building operations management theory ment, v. 16, n. 4, p. 361-385, 1998.
through case and field research. Journal of Operations WIELE, V. et al. Improvement in organizational performan-
Management, v. 16, n. 4, p. 441-454, 1998. ce and self-assessment practices by selected American
NEELY, A. D.; GREGORY, M. J.; PLATTS, K. W. Perfor- firms. Quality Management Journal, v. 7, n. 2, p. 8-22,
mance measurement system design – a literature review 2000.
and research agenda. International Journal of Opera- WIELE, V. et al.. Self-assessment: A study of progress in
tions & Production Management, v. 15, n. 4, p. 80-116, Europe’s leading organizations in quality management
1995. practices. International Journal of Quality & Reliabi-
NEELY, A. et al. Performance measurement system design: lity Management, v. 13, n. 1, p. 84-104, 1996.
developing and testing a process-based approach. Inter- WIELE, V. et al.. State-of-the-art study on self-assessment.
national Journal of Operations & Production Mana- The TQM Magazine, v. 7, n. 4, p. 13-17, 1995.
gement, v. 20, n. 10, p. 1119-1145, 2000.
ZINK, K. J.; SCHMIDT, A. Practice and implementation
of self-assessment. International Journal of Quality
Science, v. 3, n. 2, p. 147-170, 1998.
GESTÃO & PRODUÇÃO, v.12, n.2, p.305-315, mai.-ago. 2005 315
Abstract
The main purpose of this paper is to define Desirable Attributes (DAs) to aid in the self-assessment of new organi-
zational Performance Measurement Systems (PMSs). We begin by setting forth the objectives of the research that led
to the definition of a set of DAs, as well as an explanation of their relevance, and a discussion of the theoretical basis
and methods employed. An explanation is then given of how the DAs were defined based on the various characteristics
identified within the scope of an extensive review of the literature on the subject. This paper closes with some conclu-
sions and suggestions for future research.
Keywords: performance measurement systems, self-assessment, desirable attributes.