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mas com a entrada em vigor do novo Código, promulgado em 1983, o direito
de Asilo foi suprimido; não obstante, segue sendo uma prática Igreja Católica,
embora seja reconhecido pelo atual direito canônico1. Com o
desenvolvimento do Estado Moderno as igrejas perderam progressivamente a
tradicional imunidade e a capacidade de outorgar indultos à margem da
legislação secular, ainda que a Igreja, nos países europeus, continue
acolhendo refugiados em busca de asilo2. O número de pessoas que buscaram
asilo na Europa nos últimos é impressionante: para se ter idéia da tragédia
humana em curso, desde o início da crise na Síria, cerca de 2.800.000 (dois
milhões e oitocentas mil) pessoas buscaram refúgio na Europa, mas apenas
96.000 (noventa e seis mil) alcançaram o continente Europeu em 20143. Esta
é uma prática que causa frequentes disputas e tensões entre a Igreja e o Estado
em numerosos países pois várias igrejas procuram acolher imigrantes a
despeito da legislação de seus respectivos Estados ou mesmo em franco
descumprimento à legislação da União Européia. Em alguns casos ocorridos
na Alemanha, padres paroquianos recebem imigrantes à margem da
legislação, e o fazem de modo velado omitindo informações a seus superiores
a respeito do acolhimento de imigrantes, ou, como ocorre frequentemente, à
pessoa que exerce a autoridade eclesiástica em uma Igreja é sugerido não
informar à comunidade local sobre a presença de um asilado, o que demonstra
a tensão no que diz respeito ao direito de Asilo disputado entre a Igreja e o
1
No novo Código de Direito Canônico os capítulos dedicados aos lugares e tempos sagrados (De loci et
temporibus sacris) se encontram no livro IV, parte III, Titulo I, §§1205-1213, não há menção do direito de
asilo como no CIC de 1917 (Cf. Retzbach, 1953, 254).
2
Não há números exatos mas se calcula que cerca de 43,3 milhões de refugiados pediram asilo em 2009.
Dados da Agencia da Organização das Nações Unidadas ONU para refugiados. Disponível em:
http://www.unhcr.at/navigation-oben/presse/einzelansicht/article/31/unhcr-weltfluechtlingsstatistik-2009-
433-millionen-auf-der-flucht.html?PHPSESSID=e39d3d79c470ee0bb597c99623bce2b5
3
http://www.amnistia-
internacional.pt/files/Relatoriosvarios/SOSEurope_HumanCostOfFortress_Europe_Report.pdf. Pg. 06
7
Estado.4 Na França foi constituída uma comissão episcopal para tratar do
tema, com importantes avanços para a Igreja5.
4
Disponível em: http://www.kirchenasyl.de/ Wird ein »Kirchenasyl« öffentlich gemacht?
Ein öffentlich gemachtes »Kirchenasyl« wird in der Regel den Schutz der Betroffenen vor staatlichem
Zugriff verstärken und darüber hinaus Mängel im Asylverfahren und Asylrecht verdeutlichen. Deshalb ist es
wichtig, mit dem »Kirchenasyl« an die Öffentlichkeit zu gehen. Im Einzelfall aber kann es sinnvoll sein, sich
für ein »stilles Kirchenasyl« zu entscheiden, das erst nach Beendigung mediale Aufmerksamkeit erlangt. In
jedem Fall aber ist ein »Kirchenasyl«, ob öffentlich oder »still«, den Behörden bekannt zu machen. (grifos
meus)
5
Disponível em: http://www.eglise.catholique.fr/conference-des-eveques-de-france/textes-et-declarations/les-
enjeux-de-la-reforme-du-droit-dasile-.html. 2003.
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CONCILIA – CONCILIA AEVI MEROVINGICI (CAM) – T.I. recensuit. F. Maassen. Concilium
aurelianense. a. 511, Iul. 10 (CA). In: MONUMENTA GERMANIAE HISTORICA (MGH) inde ab anno
Christi quingentesimo usque ad annum millesimum et quingentesimum. Hannover: Ed. Societas Aperiendis
Fontibus rerum germanicarum medii aevi. Legum Sectio III Concilia. Tomus I. 1893. §§ 1-3. A grande
inovação deste concilium não é tanto o abrigo da Igreja ao suplicante e as proibições de violação do recinto
sagrado, pois estas existiam também previstas no Codex Theodosianus, mas antes as sanções contra os que
violassem quaisquer normas dispostas, tais como a obrigação de afastar-se da comunidade católica e não
poder receber os sacramentos da Igreja.
7
. Numeros 35:11 H¡L¥W¦N I¤X¡R (cidades de refúgio). Não se trata exatamente de um espaço de asilo e
sim de um local para ocultar-se de crimes de sangue como, p.ex., homicídio.
8
Direito Internacional Moderno cristalizada na noção sine vi, sed verbo (sem
violência mas antes com a palavra) (HOLZ, 1998, passim.).
9
em Tanagra, durante o conflito militar com os selêucidas (192 a.C.). Tito
Livio em sua Historia de Roma rememora, com um ar de protesto, a sorte das
tropas romanas, já que o lugar gozava do status de asylia.
Templum est Apollinis Delium, imminens mari; quinque milia passum
ab Tanagra abest; minus quattuor inde milium in proxima Euboeae est mari
traiectus. Ubi et fano lucoque ea re(ligione) et eo iure sancto quo sunt templa
quae asyla Graeci appellant. (TITI LIVI – ab urbe condita, XXXV 51,
Sttutgart 1991)
« Delio é um templo de Apolo situado sobre o mar; dista cinco milhas
de Tanagra, e a partir daí até a costa de Eubea mais próxima há uma travessia
de menos de quatro milhas por mar. Ali (se encontram) o templo e o bosque
sagrado, lugares protegidos pelo caráter religioso e o direito dos santuarios
que ampara os recintos chamados ‘asilos’ pelos gregos». (T.LIVIUS – ab
urbe condita, XXXV 51, Stuttgart, 1991.).
10
1996, ibidem). A adjudicação do asilo, assim como de outros privilégios, na
cultura grega, era por este motivo, uma ferramenta de política de poder, com a
qual alguns estados buscavam lograr um grau de imunidade - ao menos para
seus santuários - e um reconhecimento oficial ante um poder mais forte
(PRICE, 1984, p.191-206; BELLONI, 1984, p. 164-180).
11
expansão romana em direção ao oriente, a partir do século III a.C., cultos
orientais foram importados, o que se traduziu em importantes mudanças nos
valores e referências da população romana. O período romano ‘imperial’ é
visto como uma fase de restauração destes velhos valores, que favoreceram os
conflitos entre as diferentes culturas do Imperio Romano (FALK, 1979, p.
318-319; LANDAU, 1979; p. 319-327; WIßMANN, 1979; p. 315-318)8.
12
dizer, a não permissão de deter um culpado enquanto
permanecesse em lugar sagrado, foi um abuso provocado pela
constante insegurança jurídica da política grega; abuso em que
não incorreu a República romana" (MOMMSEN, 1899 [1955], p.
458-459)9.
9
MOMMSEN Th., Römisches Strafrecht, Darmstadt 1955, unveränd. photomechan. Nachdr. d. Ausg.
Leipzig, Duncker Humblot, 1899. - Graz: Akad. Dr.- u. Verl.-Anst.,1955. pp. 458-459.“Den Tempelfrieden,
die besondere Unverletzlichkeit des Gotteshauses und alles dessen was in demselben sich befindet, kennt das
römische Strafrecht wohl insofern, als die Beraubung des Tempels, das sacrilegium schwerer geahndet wird
als diejenige des bürgerlichen und des Gemeindehauses; aber die Ausdehnung dieser asylia auf den Schutz
der Person vor der Strafgewalt, die Unzulässigkeit der Verhaftung eines Angeschuldigten, so lange er in dem
Heiligtum verweilt, ist ein durch die dauernde Rechtsunsicherheit der griechischen Politien hervorgerufener
Missbrauch, von dem die römische Republik sich frei gehalten hat“
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foi inscrito como um divus. A partir de então, com o culto imperial, e com
crescente autoridade do princeps, se associará a instituição do asilo. Aqui é o
momento em que o IUS IMAGINUM, quer dizer, o costume das grandes
famílias romanas de venerar os antepassados, se estabelece e se mantém nos
funerais públicos. Porque, apesar de o ius imaginum ter sido um privilégio
quase exclusivo da nobleza, - ao menos da nobreza curulis (curul - cargo dos
magistrados superiores como os cônsules, pretores, os mais altos edis,
censores, ditadores)-, também temos documentada a adoração de retratos e
estátuas de políticos populares para os populi Romani. A este respeito se pode
ver o exemplo do praetor para o ano 85-84 a.C., Marcus Marius Gratidianus,
relatado por Sêneca no livro De ira, ou por Cícero no De officiis
(CRAWFORD, 1968, p. 1-4; BLANK, 1983, p. 536; ROLLIN, 1979, p.94-
195).
-M. Mario, cui vicatim populus statuas posuerat, cui ture ac vino
supplicabat (...).
-“M. Mario a quem o povo havia erigido estátuas em todas as ruas, a
quem se fazia súplicas com incenso e vinho” (Sêneca, de ira, III 18).
10
.Tradução de D. Manuel Blanco Valbuena. Diponível em:
http://www.archive.org/stream/losoficiosdecic00cicegoog#page/n8/mode/1up
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maiorum (as imagens dos ancestrais) foi um excelente meio de propaganda
para a classe alta. A presença das representações dos familiares defuntos de
grandes famílias se interpretava como uma reaparição destes (redivivus) na
vida pública romana, consolidando, assim, seu papel como legítimos
ancestrais (maiores) da comunidade ante o povo de Roma (BLANK, 1983,
ibídem; PEKÁRY, 1985, 107-115, 130-131).
As imagens, bustos e estátuas foram, na Antigüidade, veneradas em
muitas localidades. Era, pois, um costume popular muito conhecido. Mas só
através da consagração (consecratio), as estátuas eram objeto de culto. A
consecratio e a dedicatio eram noções próximas e em alguns casos
complementares. Segundo G. Wissova, a consecratio era
"a transferência válida e permanente de uma coisa ou de uma
pessoa, da esfera da lei do ‘ius humanum’ até a do ‘ius divinum’,
que tem por conseqüência sua classificação na categoria do
sacrum. A ‘consecratio’ foi também no período imperial um
dispositivo cada vez mais freqüente" (WISSOWA, 1900, p. 896).
Pelo ato da dedicatio o oficiante do culto devia entregar um votum a
uma divindade. Para que isso pudesse ocorrer, as estátuas eram decoradas e
limpas, oferecendo-lhes comida, presente e mesmo moedas, No último
período imperial era considerado delito de lesa-majestade -crimen maiestatis-
a ação de fundir, causar dano ou vender estátuas consagradas ao imperador
(C. Th. 9, 23, 1).11 Após a consagração e a dedicação, as estátuas, agora
residência dos deuses, poderia "fazer milagres", tais como mover-se, curar,
chorar, suar etc.
Segundo Andreas Alföldy, durante o último século da República o ius
imaginum foi perdendo importância em Roma, mas, ao mesmo tempo, ganhou
notoriedade entre os romanos fora da Itália, em especial no exército: os
11
C.Th. 9, 23, 1.
15
soldados portavam os retratos de seus generais rodeados por símbolos de
felicidade e salvação (ALFÖLDY, 1970, p. xiii).
Não obstante, podemos afirmar que a simples existência de velhos
costumes na época da expansão romana em direção ao oriente não foi
suficiente para manter o direito de asilo tradicional, já que desde aquele
momento houve uma mudança definitiva dos valores tradicionais (mos
maiorum). Os velhos hábitos e valores foram se transformando e se adaptando
aos novos tempos. O direito de asilo se modificou, incorporando agora as
imagens dos Césares e não apenas o templo ou o bosque sagrado como em
épocas anteriores. Com a instituição da consecratio, após a morte do
Imperador -uma decisão privativa do Senado romano-, suas estátuas
adquiriam o mesmo caráter que outros objetos sagrados.
Apenas um ano e meio depois de sua morte, em janeiro de 42 a.C.,
César foi elevado pelo Senado romano e pela assembléia da plebe ao panteão
dos deuses e Octavio, seu filho adotivo, aproveitou políticamente de sua
posição como tal para ganhar legitimidade perante o senado romano.
Em razão do fato de que César tornara-se um divus (um ser divino, mas
não um deus), Octavio (40 a. C.), filho do agora divus César, se converteu
assim imediatamente em Divi Filius, ‘filho do divino’. (FISHWICK, 1987,
Vol. I p. 11, 56-82, 150-168 y Vol. II, 388-396; WEINSTOCK, 1971, p. 399).
16
nobiles mortos. Os Césares (imperadores) mortos eran agora os Divi
Imperatores: eram elevados a categoria de quase deuses.
17
Por último, um fato também digno de menção é que séculos mais tarde, no
Codex Theodosianus (438 d. C.) se cristalizou este processo, que é
considerado como a síntese da velha lei de Asilo. Mais do que uma
“compilação legal do direito imperial e da norma jurídica geral” (MAYER-
MALY, 1979, p. 1237-1238), o direito de Asilo no Codex mostra a força das
tradições antigas. Não menos digno de referência, contudo, é a menção do
direito de asilo na Igreja no mesmo Codex (CTh.9.45.0 y sqq. De his, qui ad
ecclesias confugiunt). É fácil sentir e saber que a lei da Igreja e dos lugares
santos de ius antiquum (direito antigo) já se fazem presentes. A partir de
então, vislumbra-se no horizonte da Idade Média outra lei sagrada
(C.Th.9.45.0.sq). 12
VT et rel. – iust. 1, 25
C. Th. IX, 44, 1 (386 Iul. 6).
IMPPP. VAL(ENTINI)ANVS, THEOD(OSIVS) ET ARCAD(IVS)
AAA. CYNEGIO P(RAEFECTO) P(RAETORI)O: Eos, qui ad
statuas vel evitandi metus vel creandae invidiae causa confugerint,
ante diem decimum neque auferri ab aliquo neque discedere sponte
perpetimur; ita tamen, ut , si certas habuerint causas, quibus
confugere ad imperatoria simulacra debuerint, iure ac legibus
vindicentur; sin vero proditi fuerint artibus suis invidiam inimicis
creare voluisse, ultrix in eos sententia proferatur.
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“Imperadores Augustus Valentiniano, Theodosio e Arcadio a Cinegio,
prefeito do pretório.
Conclusão:
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uma concepção distinta do poder do Imperador que respeitava a
inviolabilidade do recinto sagrado. A hipótese deste trabalho foi apontar as
contribuições decisivas da experiência grega com relação ao asilo político e a
influência do ius imaginum para a construção do direito de asilo eclesiástico,
demostrando assim que el espaço de asilo não se restringia, ao menos
ideológicamente, ao poder da autoridade ad hoc, ou seja com fins específicos
Por outro lado, o direito de asilo in situ era considerado como un ‘espacio-
ausente’ daquele do poder imperial e, mais tarde, eclesiástico, em províncias
distantes de Roma; condição que, por mais incrível que possa parecer, era
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