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III EMEPRO – Belo Horizonte, MG, Brasil, 07 a 09 de junho de 2007

Exercício Acadêmico para o Projeto do Produto – Cadeira-escada Ideal

Gleicianny Oliveira Fernandes (UFJF) gleicy_epd@yahoo.com.br


Plínio de Melo Alves (UFJF) plinio_ra@hotmail.com
Roberta Pereira Nunes (UFJF) roberta.nunes@ufjf.edu.br

Resumo
O objetivo deste trabalho é apresentar o desenvolvimento do projeto de um produto como
proposta de um exercicio acadêmico. O projeto surgiu com a proposta de um trabalho
acadêmico em sala de aula, com o objetivo de entender cada etapa do desenvolvimento de um
produto. A partir de várias idéias e desenhos a Cadeira-escada Ideal foi o produto escolhido
para o desenvolvimento do projeto. Baseado em pesquisas, tais como, patentes, produtos
similares e concorrentes, princípios de funcionamento, junto ao conhecimento dos alunos, foi
definida a especificação do produto. Como atividade complemetar, para uma melhor
visualização do projeto, foi executado o protótipo e a embalagem para apresentação dos
resultados finais do projeto.
Palavras chave: Projeto do produto, desenvolvimento do projeto, Cadeira-escada Ideal
1. Introdução
Este trabalho tem como objetivo apresentar o projeto de um produto detalhando as etapas da
criação e a construção de seu protótipo. A proposta do projeto teve inicio através de um
exercício acadêmico da disciplina Engenharia do Produto II do curso de Engenharia de
Produção da UFJF, em que o professor solicitou idéias de um produto inovador que pudesse
ser inserido no mercado atual. A disciplina tem a finalidade de desenvolver o produto a partir
da criatividade dos alunos, bem como o desenvolvimento teórico e prático.
Qualquer objeto - um parafuso, um prédio, um avião - concebido pelo homem é um produto,
embora as metodologias e processos apresentados durante o curso estejam em sua maior parte
centrados no desenvolvimento de produtos industriais, fabricáveis em série. Neste caso, o
importante para o desenvolvimento da atividade projetual não é necessariamente o produto a
ser desenvolvido, mas o rigor e a consistência do método utilizado (NAVEIRO, 2001).
Segundo Slack et al (2002) a atividade de projeto em produção tem como objetivo mais
importante prover produtos e serviços e processos que satisfarão consumidores. Os projetistas
devem realizar projetos esteticamente agradáveis que atendam ou excedam as expectativas
dos consumidores. A atividade de projeto aplica-se tanto a produtos (ou serviços) como a
sistemas (podemos chamar de processos), ou seja, começa com um conceito e termina na
tradução deste conceito em especificação de algo que possa ser produzido.
Segundo Naveiro (2001) projetar um produto ou uma edificação envolve a percepção da
estrutura do artefato, estrutura essa que muda continuamente ao longo da progressão do
projeto; assim como o projetar envolve o estabelecimento de estágios ou etapas do projeto,
patamares da evolução do projeto que consolidam um corpo de novas idéias geradas ao longo
do processo. Os atributos do artefato capturados pelos participantes e seus relacionamentos
com o todo, permitem a clarificação da organização das tarefas do projeto de acordo com o
estágio em que se encontra o projeto e, em consonância com o universo de especialização de
cada membro da equipe.
No entanto, freqüentemente quando pensamos no projeto do produto não levamos em
consideração o projeto dos processos produtivos, entretanto eles são claramente inter-
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relacionados, pequenas alterações no projeto de produtos ou serviços podem ter


conseqüências importantes na forma como o produto é fabricado.
Cabe aqui chamar atenção para outra questão que é a realização em paralelo de várias etapas
do processo de desenvolvimento de projeto, de forma a reduzir o tempo de projeto e ampliar a
integração entre as interfaces de projetos. Dessa forma, uma atenção especial é dada para o
desenvolvimento do processo de produção (por meio da seleção da tecnologia de produção,
realização de projetos para produção e o planejamento da produção), simultaneamente à
concepção e projeto do produto objetivando integrar, de maneira mais efetiva, as
características e especificações do produto com o planejamento de sua produção e o sistema
de produção da empresa.
Outro aspecto a considerar são as disciplinas envolvidas nas fases de concepção e execução
do projeto. Várias são as disciplinas que contribuem para o desenvolvimento do projeto de
um artefato. Fatores tais como forma geométrica, dimensionamento, ergonomia, materiais,
custos e processo produtivo entre outros, definem um conjunto de disciplinas que são
consideradas no projeto do produto. A compatibilização adequada entre as diversas
disciplinas, o perfeito detalhamento e a consistente especificação de todo o projeto requer a
promoção da efetiva integração dos profissionais como parte do processo de
desenvolvimento.
No decorrer da sua elaboração, os desenhos são os meios de comunicação mais utilizados,
servindo como documentação técnica dessa linguagem entre profissionais e clientes internos e
externos. Cada um desses estágios passa a um outro patamar através da utilização dos
recursos tecnológicos. Como recurso da Computação Gráfica as ferramentas CAD têm sido as
mais utilizadas. Entende-se por ferramentas CAD os programas aplicados ao
desenvolvimento e representação de projetos. Inicialmente desenvolvidos como um editor de
desenho informatizado, esses sistemas têm evoluído rapidamente no sentido de atenderem
satisfatoriamente às exigências específicas de cada área de projeto.
De uma forma resumida pode-se dizer que o projeto inicia-se pela idéia (criatividade do
projetista) e a solução para uma necessidade. A concepção é refinada progressivamente e
detalhada até que contenha informações suficientes para ser transformada em produto, ou
seja, é uma atividade que tem começo, meio e fim previsíveis ou programados.
2. Metodologia do projeto
Nesta experiência didática utilizamos uma metodologia concordante para o desenvolvimento
do projeto de um produto de baixa ou média complexidade técnica. Para isso, fornecemos um
certo grau de liberdade na adoção dos princípios de solução do produto, buscando desta forma
uma centragem nos aspectos de procedimento da equipe. A metodologia adotada para esta
experiência didática compõe-se das etapas recomendadas por Slack et al (2002) em que o
desenvolvimento do projeto segue as seguintes fases:
− Geração do conceito: o conceito pode ser gerado através de fontes internas como, por
exemplo, análise das necessidades do consumidor, sugestões do pessoal de venda e da
linha de frente; e também fontes externas que são as pesquisas de mercado, sugestões de
clientes e ações dos concorrentes.
− Triagem: fase de análise da viabilidade, aceitabilidade e venerabilidade.
− Projeto preliminar: definição das especificações do produto e materiais envolvidos.
− Avaliação e melhoria: analise da qualidade do produto, tentativa de reduzir custos e
prevenir qualquer custo desnecessário antes de produzir o produto, identificação das
funções básicas e secundárias do produto.
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− Prototipagem e projeto detalhado (final) : visualização do produto em 3-D e execução do


protótipo, executar alterações no desenho de conjunto, reavaliação ergonômica,
detalhamento do produto, planejamento do processo de fabricação, planejamento da
montagem e planejamento da embalagem.

A metodologia adotada foi definida pela equipe com avaliações em conjunto com o professor
entre os conceitos apresentados como material didático tais como BAXTER (2000), SLACK
et al (2001), e MARTINS&LAUGENI, (2002). Complementaram o material a ser produzido
o estudo para comercialização do produto e da geração do protótipo.
Antes do início do projeto, os alunos foram divididos em grupos com cinco alunos (equipes
de projeto) e discutiram esta metodologia com a professora. Desta forma, cada grupo era
responsável pela condução de seu próprio projeto. Ao final de cada etapa, eram promovidos
seminários com os grupos, permitindo a apresentação de seus resultados, gerando um fórum
de debates, onde se simulava um ambiente empresarial, no qual o desenvolvimento de um
novo produto é fruto de um trabalho de equipe.
3. Descrição do produto
O início de qualquer projeto ocorre devido a uma necessidade que pode ser individual, de um
grupo específico ou resultado de uma pesquisa de mercado, nesse caso o levantamento de
necessidades do consumidor foi feita através de estudos de projetos rápidos a partir de um
seminário realizado entre os alunos e posterior debate travado entre os alunos de cada equipe.
O produto escolhido pela equipe foi denominado de Cadeira Escada-Ideal. A Cadeira-
escada Ideal é um produto prático, com a vantagem de disponibilizar mais de uma função:
cadeira e escada. Por essa dupla funcionalidade economiza espaço no ambiente e quando
necessária pode ser utilizada como escada de baixo alcance para uso em geral.
4. Desenvolvimento do Projeto do Produto
A idéia do produto, fase da geração do conceito, surgiu em sala em meio de várias sugestões
dos alunos, por exemplo, um pente de cabelo com tubo interno para gel, uma pasta de dente
com vedação automática, entre estes; a cadeira-escada foi a selecionada. Sendo que para essa
escolha não foram levados em consideração fatores como, facilidade de desenvolver um
protótipo, recursos financeiros e aceitação no mercado, mas sim apenas o fato de ser o
produto que se destacou dentro do conhecimento e competência dos alunos. Sendo assim, a
fase de triagem não teve influencia no projeto, foi feito apenas um ensaio dessas pesquisas,
sem aprofundar muito no assunto.
Definido o projeto, foram realizados vários esboços (Figuras 1, 2 e 3) identificando a
funcionalidade do produto. Na etapa do projeto preliminar, foram analisados os princípios de
funcionamento, como por exemplo, uma cadeira-escada eletrônica, sendo que o mais viável
foi à cadeira-escada manual, que se transforma, de cadeira para escada ou ao contrário, por
auxilio de uma dobradiça junto à força humana, entre outras alternativas.
Na transformação de cadeira para escada parte da cadeira tem movimento giratório, isso
acontece por meio de dobradiças localizadas no assento. Para o inverso a transformação parte
do mesmo princípio (Fig. 3).
Com os conceitos básicos do projeto definidos, foi realizada a análise de patentes (Figura 4),
como uma etapa de pesquisa de produtos similares; além das pesquisas sobre produtos
concorrentes que consideramos como as escadas de uso residencial e cadeiras tradicionais do
mercado.
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Estas pesquisas ajudaram a definir as dimensões exatas do produto, forma geométrica, preço
aceitável de comercialização, material adequado para uma maior resistência e segurança,
forma de fabricação, entre outros. Com essas definições o ensaio da fase de triagem e a fase
do projeto preliminar foram finalizados.

Figura 1 – Esquema da vista frontal, superior e lateral da cadeira-escada

Figura 2 – Croquis Função Cadeira e Função Escada

Figura 3 – Transformação de cadeira para escada


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Figura 4 - Patentes
Fonte : www.inpi.gov.br

A etapa seguinte o projeto detalhado (final) é interessante começar a utilizar uma ferramenta
que permita a visualização em 3-D do produto, que pode permitir simulações e maior
visualização das interferências e ou necessidades de mudanças no mesmo e dar seqüência as
atividades do projeto final. Basicamente, podemos utilizar a prototipagem ou utilizar as
ferramentas computacionais de modelagem geométrica. No caso desta experiência didática,
preferiu-se utilizar o desenho esquemático dos componentes do produto (Figura 6) e a
prototipagem.
O Protótipo apresenta a vantagem de se obter um modelo físico, palpável, facilitando a análise
do mesmo. A desvantagem desta reside no fato de requerer equipamentos com certo grau de
tecnologia, dependendo da complexidade da análise do produto (Naveiro, 2001).
O produto idealizado apresenta as seguintes especificações:
− Material: madeira ou derivados, cola, prego, parafuso e dobradiça;
− Altura total= 90 cm;
− Profundidade do assento=40 cm;
− Largura = 50 cm;
− Altura da escada (4 degraus): 94 cm;
− Espessura da Madeira: 15 mm

Tendo como público alvo adultos com necessidade de alcançar lugares mais elevados em
qualquer ambiente. Para a análise ergonômica foi utilizada a ferramenta Ergokit, fabricada
pelo Instituto Nacional de Tecnologia (www.int.gov.br), é constituído de tabelas com valores
das variáveis corporais e manequins em escala 1:5, possuindo articulações que permitem
simular a movimentação corporal (Figura 5).
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Figura 5 – Esquema para as Medidas Antropométricas

Figura 6 – Desenho esquemático dos componentes da cadeira-escada

Com essas etapas documentadas constrói-se o protótipo produzido em papelão na escala de


1:2 do produto idealizado (Fig. 7). Para uma melhor estrutura e equilíbrio foram colocados
vários palitos de churrasco nos pés e travas do protótipo. Depois de montado foi pintado com
tinta guache marrom, para imitar o tom de uma madeira.
Para complementar o protótipo foi desenvolvida a embalagem (Fig. 8) pensando na facilidade
para o transporte do produto. A embalagem, desenvolvida em papelão, contém informações
do produto, anexadas do lado externo; simulando as informações da fabricação do produto,
dimensões e instruções de uso.
Para a criação do marketing o produto foi nomeado como Cadeira-Escada Ideal, e o processo
de divulgação contou com as seguintes atividades:
− Apresentação final em sala de aula do desenvolvimento do projeto representado pelas
fases citadas anteriormente, sendo que, a apresentação teve como objetivo a venda do
produto.
− Apresentação do Protótipo e Embalagem: (Figura 8)
− Proposta de marketing: para uma possível introdução deste no mercado, foi desenvolvido
um folder e/ou outdoor (Fig. 9); neste foi destacado a dupla funcionalidade do produto, e
com imagens simulando ambientes residenciais e comerciais.
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1)Peças recortadas 2)Colagem das peças 3)Reforço com palitos

Figura 7 – Desenvolvimento do protótipo

Figura 8 – Protótipo e embalagem (escala 1:2)

Figura 9 – Estudo para o Marketing

5. Resultados Alcançados
O momento principal na execução do projeto é a escolha do produto a ser confeccionado, que
foi executado de forma satisfatória pelos idealizadores da Cadeira-escada Ideal, dada a
satisfação do avaliador e observadores (professor e alunos). Sendo assim pode se dizer que a
equipe atendeu as expectativas da experiência didática oferecendo um produto atraente para
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os consumidores, atendendo as suas necessidades como produto e objetivos da disciplina.


Um desafio futuro seria a continuidade deste trabalho, sendo que, para tornar esse projeto real
requer uma analise mais detalhada do projeto e um aprofundamento nas pesquisas
principalmente na fase de triagem, para buscar o produto idealizado, com condições
adequadas para fabricação e comercialização. Essas ações vêm ao encontro de parâmetros
recomendados por Slack et al (2002) tais como, qualidade, rapidez, confiabilidade, rapidez e
custo relacionados ao impacto do projeto do produto/serviço e do projeto do processo.
Finalizando, a experiência didática reforça o conceito do projeto apresentado por Naveiro
(2001), com o seguinte relato: o projeto é, ao mesmo tempo, um processo de aprendizagem e
geração de informação e conhecimento, em que, a atividade de projeto é considerada como
um processo de resolução de problemas e de satisfação de demandas, em processo de criação
e inovação coletiva.
6. Considerações Finais
Quando se projeta, tem-se sempre em mente um ideal. Se apresentarmos o ideal como algo
desejado e necessário e que ainda não existe, precisamos justificar o "ainda não". Para que
não estejamos lidando com uma fantasia, um devaneio, é preciso acrescentar que é necessário
que ele seja possível.
Assim, para elaborar um projeto é necessário, então, considerar criticamente - com clareza,
profundidade e abrangência, repetimos - os limites e as possibilidades do contexto envolvido,
definindo os princípios norteadores da ação, determinando o que queremos conseguir,
estabelecendo caminhos e etapas para o trabalho, designando tarefas para cada um dos
sujeitos envolvidos e avaliando continuamente o processo e os resultados.
Neste contexto, temos claro que esta experiência didática não irá explorar todas as
potencialidades das novas formas de desenvolvimento do projeto do produto. No entanto,
deseja-se reproduzir em escala menor os ciclos necessários para o projeto de um produto.
Também se tem nítido a impossibilidade de representar a totalidade do processo de projeto de
um produto, perante a complexidade dos atuais projetos, seja na metodologia ou nas
ferramentas de auxilio. O objetivo proposto e alcançado foi o de iniciar o aluno em uma
situação mais próxima da realidade, integrando-o neste universo de potenciais desafios pela
sua complexa dinâmica.
Referências
BAXTER, M, (1998) Projeto de Produto: Guia Prático pra o Desenvolvimento de Novos Produtos. Editora
Edgard Blücher, São Paulo.
MENEZES, L. C. M. (2001) Gestão de projetos. São Paulo: Atlas. 116p.
NAVEIRO, R. M.(2001) . Conceitos e metodologias de projeto.. In: Ricardo Manfredi Naveiro; Vanderli Fava
de Oliveira. (Org.). O projeto de engenharia, arquitetura e desenho industrial. 1 ed. Juiz de Fora, 2001, v. 1, p.
25-64
MARTINS, P.G. & LAUGENI, F.P. (2002) Administração da produção. São Paulo, ed. Saraiva. 496p.
SLACK, N. et al. (2002) Administração da produção. São Paulo . Editora Atlas. 746p.

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