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m arxista
Walter Benjamin:
4ESENHAS
aviso de incêndio.
Uma leitura das
teses Sobre o
conceito de História
Michael Löwy
São Paulo, Boitempo, 2005, 160p.
*
Departamento de História e Núcleo de Estudos Estratégicos, Universidade Estadual de
Campinas.
182 WALTER BENJAMIN: AVISO DE INCÊNDIO. UMA LEITURA DAS TESES SO-
BRE O CONCEITO DE HISTÓRIA
que naquela, ainda abstrata, das gera- dustrial, em sua face masculina, branca
ções futuras. A última classe subjugada, e nacional, Benjamin propõe um pro-
o proletariado, vê-se como herdeira de jeto revolucionário de ambição
vários milênios de lutas, de combates emancipadora universal, protagonizado
derrotados de escravos, servos, campone- pelas classes oprimidas como sujeitos da
ses e artesãos. A força acumulada dessas práxis transformadora.
lutas torna-se combustível para a classe As conseqüências da análise de
emancipadora do presente que poderá Michael Löwy são importantes para os
interromper a continuidade da opressão. rumos tanto dos movimentos sociais,
Em franca oposição ao evolucio- como da historiografia, no início do sé-
nismo da Segunda Internacional, as te- culo XXI. Por um lado, indica como as
ses ressaltam que não há progresso “au- dicotomias entre oprimidos e opresso-
tomático” e o suposto automatismo da res, tantas vezes consideradas superadas
História, se aceito, levaria à reprodução e sem sentido, mostram-se essenciais
da dominação. O revolucionário busca para entender a dinâmica das socieda-
inspiração e força na rememoração e des históricas. Em seguida, a crença no
escapa, dessa forma, ao canto de sereia progresso inexorável tem servido para
do futuro garantido e seguro. O mar- ocultar clivagens e obscurecer a diversi-
xismo messiânico, tão próximo da Teo- dade no seio mesmo dos oprimidos. Por
logia da Libertação, recusa as armadi- último, mas não menos relevante, a
lhas da “previsão científica” e valoriza a historiografia que se quer desvencilhar
oportunidade, kairós, em grego, do fim dos embates do presente, da História
da opressão, da emancipação. Os calen- como atividade que finge descobrir “ver-
dários são expressão de um tempo his- dades” defendidas pela autoridade de-
tórico, heterogêneo, carregado de me- corrente do poder, ainda quando se quer
mória e de atualidade, ao contrário do progressista, mostra-se reacionária, de-
tempo vazio da tirania do relógio sobre fensora do status quo. Não menos rele-
a vida dos trabalhadores. O conjunto vante, pois a historiografia não é, mes-
das culturas tradicionais, pré-capitalis- mo quando o quer ser, uma tarefa me-
tas guarda em seus calendários e festas ramente acadêmica, mas insere-se na
os vestígios da consciência histórica do construção do passado e, portanto, da
tempo. Ao contrário do que pretende o perspectiva de futuro. Se a Escola de
discurso tranqüilizador da doxa atual, Frankfurt, no geral, propugnou a liga-
da opinião generalizada, a catástrofe é ção umbilical entre a rememoração do
possível, até provável, a não ser que fa- passado e a ação que, em potência
çamos algo. Na contracorrente da ten- (dynamei), pode forjar um futuro de li-
dência dominante na esquerda, que tan- berdade, Walter Benjamin foi aquele
tas vezes reduziu o socialismo aos obje- que mais ousadamente propôs o cará-
tivos econômicos da classe operária in- ter messiânico e revolucionário da His-
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