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Comandante Geral
Cel PM José Carlos Pereira
Subcomandante Geral
Cel PM Paulo Roberto Cabral da Silva
CONSELHO EDITORIAL
ORGANIZAÇÃO
Revisão Ortográfica
Cap PM Fred Jorge Silva de Souza
Equipe Técnica
2º Ten PM Roberta Costa de Araújo Pestana
Cb PM Irandi Vieira de Lima
1 Conferir em MD35-G-01 Glossário das Forças Armadas, Ministério da Defesa (Brasil), 4a.
edição, 2007.
SUMÁRIO
Artigos:
Artigo publicado no Vol.03 Nº01 - Edição de JAN a JUN 2014 - ISSN 2318-3152 -
Versão on-line disponível em: http://www.portais.pe.gov.br/web/pmpe/revista-doutrinal
RESUMO
Introdução
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Coronel da Polícia Militar de Pernambuco, Bacharel em Direito, Pós-Graduado em Direito
Administrativo.
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DOUTRINAL
Revista doutrinária da Polícia Militar de Pernambuco
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importância do tema.
Não obstante esta realidade, não se viu nos anos posteriores ao Plano
Diretor da Reforma do Estado no Brasil mudanças ou propostas de mudanças no
nível político-institucional da segurança pública do País que lhe desse o requerido e
necessário status.
Apesar do mundo acadêmico, político e até o senso comum perceber
a importância da segurança pública para o desenvolvimento político, econômico e
social, o Brasil vem desperdiçando oportunidades e vidas nesta área por ser tímido
nas suas ações e na implementação das mudanças no nível requerido.
Observa-se que em momentos de crises provocados por fatos de
repercussão na mídia, ensaiam-se movimentos que parecem, num primeiro
momento, representar uma vontade política de realizar efetivamente mudanças do
porte exigido. Passado, porém, o fato gerador, as ações voltam-se para o cotidiano
de enfrentar o problema da insegurança, apenas, com a melhoria do processo sem
modificar a estrutura. Mesmo nestes casos, quando havia ambientes propícios para
mudanças desse porte, nunca as propuseram em relação ao sistema de segurança
pública.
Em 1995 o Governo Federal apresentou o Plano Diretor da Reforma
do Estado. Como de regra, buscou-se formular e implementar o modo com que o
Estado se relacionaria com o mercado e, também, com ele próprio. Neste caso, ao
se buscar aprimorar suas instituições e, assim otimizar sua governança. Na ocasião,
constatou-se que o ajuste fiscal era de fundamental importância para sua viabilidade.
Diversas propostas foram apresentadas, mas nenhuma que se relacionasse com
tema: Segurança pública. Como desprezar um assunto que custa ao País 10 % do
seu PIB? “Segurança pública não é uma questão de governo é uma questão de
Estado” disse RATTON (2005). Que importa reformas ou planos apresentados onde
o Estado já não tem mais o controle ou soberania? Onde suas leis já não têm
eficácia? Como reformar o Estado onde ele próprio já não existe?
Em 2000 a União apresentou o Plano Nacional de Segurança. Insistiu-
se nas mudanças operacionais, das quais, muitas, não avançaram. Nenhuma
proposta no nível institucional, que, se não tivesse a certeza do resultado, pelo
menos aproximaria a estrutura brasileira das estruturas de outros países que se
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encontram em níveis de segurança tido como tolerável pela sociedade.
Este artigo destaca a importância da segurança pública no
desenvolvimento de um país e aponta o entendimento da Organização dos Estados
Americanos e pela Confederação Nacional das Indústrias da necessidade de
segurança para o desenvolvimento.
Em seu bojo, apresenta-se diversos métodos de mensuração e de
classificação dos custos da violência, também sob a perspectiva de vários autores, o
que, em todo caso, porém, só reforça a tese de que custos são muito altos e não
apenas econômicos, mas, também e principalmente, sociais e políticos,
comparando-os, inclusive, com os de outros países.
1. Contextualização
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preocupado com a crise brasileira que também era a crise do Estado, diagnosticou o
problema, definiu objetivos e relacionou uma série de diretrizes, em diversos níveis
da estrutura da administração, que deveriam ser adotadas para fazer frente ao
problema e com isso permitir ao País o retorno ao desenvolvimento sustentado.
Identificou-se que o Estado desviou-se das suas funções básicas e
ampliou sua presença no setor produtivo. Este fato levou a deterioração dos serviços
públicos e ao agravamento da crise fiscal. Nestes dois aspectos está um primeiro
enfoque deste trabalho. Como se mostrará.
O Plano Diretor procurou criar condições para a reconstrução da
administração pública em bases modernas. Uma administração que evoluiu da
administração patrimonialista, passou pela racional-burocrática e que queria saltar
para uma administração gerencial ou seja, focada nos resultados. (BRASIL, 2005).
A relação que se faz com a questão da segurança pública é que com o
descontrole fiscal reduzem-se as taxas de crescimentos, aumenta-se o desemprego
e a inflação. O Estado não consegue atender com eficiência as demandas a ele
dirigidas, principalmente nas áreas sociais. Sendo a segurança pública um serviço
público, ela também “cobra seu preço” com este desequilíbrio. A insegurança pública
provoca elevadas despesas a pessoas e a empresas. Provoca prejuízos na
economia dos municípios, dos estados e do País, agravando, ainda mais, a crise
fiscal. Tudo isto gera um círculo vicioso, pois a ineficiência de alguns serviços
públicos traz, de volta, a insegurança pública. A falta de investimentos na área social
agrava o quadro de insegurança e esta insegurança agrava a crise fiscal que agrava
as necessidades sociais, retomando o círculo vicioso. De outra forma: A crise do
Estado agrava o quadro social, o quadro de insegurança e a economia ou o
mercado. O agravamento do quadro de insegurança desfavorece o mercado que,
por sua vez, agrava a crise do Estado.
Se, de um lado, 10 % do PIB fossem alocados em benefício dos
diversos serviços públicos, do equilíbrio fiscal ou das necessidades sociais, este
investimento proporcionaria um outro círculo, desta feita, virtuoso, fundamental para
a implantação das reformas propostas no Plano Diretor.
Não se observou neste mesmo plano, nenhuma modificação ou
proposta de mudança na estrutura do sistema de segurança pública do Brasil que
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indicasse uma percepção da relevância do assunto no contexto da Reforma do
Estado.
BARRETO (2005) também pensa assim, e lembra que mesmo depois
de dois anos que a Conferência no México sobre segurança em 2003, anunciou que
a extrema pobreza e exclusão social em vários setores da América Latina passaram
a ser encaradas pela Organização dos Estados Americanos (OEA) como uma das
mais graves ameaças à estabilidade política e à segurança da região, porém as
mudanças no nível estratégico, ainda, não aconteceram.
2. Estado e Desenvolvimento
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Estado na economia. Depois fez o oposto: entendeu em liberar o comércio e garantir
à instituição “mercado” um papel mais importante na alocação dos fatores de
produção. Esta inversão na forma de se relacionar com o mercado mostrou que o
Estado foi o instrumento de ação coletiva que viabilizou a tarefa, seja de intervir, seja
de liberalizar. (BRESSER-PEREIRA, 2004: 6).
Com a revolução industrial, completou-se a revolução capitalista, que
havia se iniciado com a revolução comercial.
Este escorço histórico demonstra a fundamental relação entre as
instituições, o Estado e o seu desenvolvimento, visão em cima da qual BRESSER-
PEREIRA (2004: 9) arremata: “Boas instituições são, portanto, essenciais para o
desenvolvimento, como o desenvolvimento é fundamental para boas instituições.
Entre as instituições, a principal delas é o Estado”.
3. Estado e Segurança
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quatro objetivos são cada um deles finais, mas a ordem ou segurança pública é o
primeiro e principal deles. Não apenas porque sem ela não é possível alcançar os
três outros objetivos, mas também porque é o único que está implicado na
definição mínima de Estado. Se não houver ordem pública, se a propriedade e os
contratos não forem minimamente respeitados, não haverá Estado.
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Nesta declaração vê-se, mais uma vez, a íntima relação entre Estado
Democrático, segurança e desenvolvimento.
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administração patrimonial, na qual o patrimônio público se confundia com o privado.
Na segunda metade do Século XIX os principais países europeus realizaram a
primeira grande reforma do sistema: A reforma burocrática que buscava tornar o
aparelho do Estado mais profissionalizado, mas não necessariamente mais eficiente.
O Brasil iniciou essa reforma nos anos 30, no primeiro governo Vargas. (BRASIL,
2005).
Nos anos 1980 na Grã-Bretanha, inicia-se a segunda grande reforma
administrativa da história capitalista: A reforma da gestão pública, que buscou tornar
o aparelho do Estado mais eficiente. O Brasil, a partir de 1995.
A reforma da gestão pública é uma oportunidade que surge
historicamente apenas para países democráticos. (BRESSER-PEREIRA, 2004: 9).
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O Plano Diretor procurou criar condições para a reconstrução da
administração pública em bases modernas. Uma administração que evoluiu da
administração patrimonialista, passou pela racional-burocrática e que quer saltar
para uma administração gerencial ou seja, focada nos resultados.
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5. Custos da Violência
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Neste tópico convém ressaltar que só a segurança privada cresceu
enormemente ao lado do avanço da violência, reduzindo a atenção da polícia de
shopping center, bancos, edifícios, fábricas e escolas, que, para isso, tiveram seus
custos aumentados. No Brasil, em 2003, o faturamento das empresas de segurança
privada, com um efetivo estimado de 500 mil vigilantes, ultrapassou os 5 bilhões de
reais. Só os bancos gastaram cerca de 1,5 bilhão de reais e os transportadores de
cargas gastaram de 2 a 3 bilhões de reais naquele ano.
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RONDON (2003: 240) explica, ainda, que existem três metodologias
principais para mensuração dos custos da violência: os modelos Hedônicos, o
método de Valoração Contingente e o Método da Contagem.
Os modelos Hedônicos buscam medir através de “cálculos
econométricos” o valor atribuído a bens que não são diretamente vendáveis na
economia. Durante os anos oitenta essa metodologia começou a ser utilizada para
estimar a “quantidade de vontade” dos indivíduos para pagar pela redução no risco
de ser vitimado pela violência. Essa propensão a pagar é obtida a partir da
estimação do impacto da criminalidade sobre o valor de imóveis que são
comercializados diretamente. Geralmente os modelos são sofisticados e complexos.
O método de Valoração Contingente procura estimar o valor que os
indivíduos atribuiriam à redução da criminalidade, se considerasse que a segurança
como um bem comercializável. Consiste na realização de entrevistas selecionadas
por um processo de amostragem. Os entrevistados recebem informações detalhadas
sobre a situação da segurança em sua região e sobre as possíveis alternativas
disponíveis de diminuição das taxas de violência. Assim, obtém-se estimativas do
quanto que os indivíduos aceitariam pagar por melhorias na segurança. Perceba-se
que pagar por melhorias na segurança, resultado deste método, não é a mesma
coisa que pagar pela redução do risco de ser vítima do modelo hedônico.
O método da Contagem, por sua vez, caracteriza-se pela
discriminação de algumas categorias de custos. O resultado global equivale ao
conjunto de cada uma das estimativas obtidas. A vantagem deste método é que
permite a realização de estudos com dados parciais. Ou seja, “a ausência de
informações não inviabiliza a contabilização incompleta dos custos” (RONDON,
2003: 245).
As três metodologias descritas acima se completam. Enquanto a
Contagem procura contabilizar os prejuízos decorrentes da violência, os modelos
hedônicos e de valoração contingente fornecem uma medida da disposição a pagar
dos indivíduos por reduções nos níveis de criminalidade.
Para a Secretaria Nacional de Segurança Pública - SENASP (BRASIL,
2005), os custos podem ser divididos em econômicos e políticos/sociais. No primeiro
podem ser diretos: “Bens e serviços públicos e privados gastos no tratamento dos
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efeitos da violência e prevenção da criminalidade no sistema de justiça criminal,
encarceramento, serviços médicos, serviços sociais e proteção das residências” e
indiretos: “Perda de investimentos, bens e serviços que deixam de ser captados e
produzidos em função da existência da criminalidade e do envolvimento das
pessoas (agressores e vítimas) nestas atividades”.
Os Custos Sociais e Políticos da criminalidade são os relacionados
aos efeitos não econômicos da criminalidade. Avaliado em termos da incidência de
doenças resultantes da violência (doenças mentais e incapacidade física); mortes
resultantes de homicídios e suicídios; alcoolismo e dependência de drogas e
entorpecentes; desordens depressivas.
Esses efeitos sociais e políticos da criminalidade podem ser
mensurados pela erosão de capital social; transmissão de violência entre gerações;
redução da qualidade de vida e pelo comprometimento do processo democrático.
A vida em Comunidade também é afetada. A incidência da
criminalidade leva a uma redução na intensidade da relação entre as pessoas
resultando na redução na frequência com que os vizinhos se visitam ou conversam;
redução na capacidade de formação de uma identidade de grupo; redução na
vigilância “comunitária” e redução na sensação de segurança.
A redução na qualidade de vida das pessoas também é um fenômeno
resultante do aumento da violência. As pessoas mudam seus hábitos do dia-a-dia na
busca por reduzir o risco a que estariam submetidos. Neste contexto, as pessoas
limitam os locais onde transitam; deixam de ir a locais que gostam; evitam usar
meios de transporte coletivo; evitam sair de casa à noite; gastam altas somas de
recurso na proteção de suas residências e passam a possuir armas e muitas vezes a
andar armadas.
CERQUEIRA (2005) classifica os custos com a violência em Custos
do Estado (Segurança pública: Polícias estaduais, federais e as guardas municipais,
além dos gasto em saúde, Ministérios Públicos, Poder Judiciário criminal, Sistemas
prisionais; Sistemas socioeducativos para menores; Pensões) e Custos Privados
(Custos com perdas materiais, despesa com segurança privada, como grades
utensílios, vigilância, seguro; Custas com processos judiciais; Perda de capital
humano como mortalidade, morbidade ou traumas; Perda patrimonial do setor
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imobiliário como valor venal e aluguéis).
RONDON (2003) faz referência aos Custos Diretos como o valor dos
bens e serviços utilizados na prevenção e no combate ao crime, além dos recursos
destinados à recuperação da saúde das vítimas e ao julgamento e aprisionamento
dos criminosos. Aos não monetários referindo-se aos impactos da violência sobre a
expectativa de vida saudável dos indivíduos. Enquanto os homicídios reduzem a
esperança de vida da população, as agressões e outros delitos contra a pessoa
podem provocar lesões graves, comprometendo a qualidade de vida das vítimas.
Aos efeitos multiplicadores econômicos que representam a influência do crime sobre
os fatores de produção: capital e trabalho. A insegurança afeta a quantidade de
trabalho ofertada assim como o investimento dos jovens em educação. A
produtividade do trabalhador também é reduzida em virtude do medo. Em relação ao
capital, a incerteza provocada pela violência inibe os investimentos privados. E aos
efeitos multiplicadores sociais por incluir, principalmente, a transmissão entre
gerações da violência.
A maioria dos trabalhos realizados até o momento estima apenas os
dois primeiros tipos de custos. Os efeitos multiplicadores econômicos e sociais,
apesar de importantes, são de difícil mensuração.
Por fim, a classificação KHAN (1999) parte da metodologia da
Contagem, dividindo as perdas em três categorias: 1) Gastos efetuados pelo Poder
Público no combate à criminalidade. 2) Gastos efetuados diretamente pelos
indivíduos ou empresas para a compra do bem segurança, acrescidos das perdas e
transferências de patrimônio em função do crime e 3) Valores que deixam de ser
produzidos em virtude da violência.
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permanência em ambiente familiar, escolar e com subgrupos sociais degenerados.
Consequentemente, quaisquer propostas de controle da criminalidade passam,
inevitavelmente, tanto por profundas mudanças sociais, como por reformas do
próprio indivíduo ao se reeducar ou ressocializar criminosos. Passam, também, por
ações de cunho assistencialista que visariam minimizar os efeitos mais imediatos da
carência, além de incutir em jovens candidatos potenciais ao crime, novos valores
através da educação, esportes, ensino profissionalizante, artes e na convivência
pacífica e harmoniosa com seus semelhantes (BEATO, 2005: 1). O Estado, então,
deveria mobilizar organizações que atuam na área da saúde, educação, assistência
social, planejamento urbano e, naturalmente, da segurança.
A bem da verdade o governo federal ao longo destes anos não ficou
totalmente inerte nesta área. Algumas medidas operacionais foram tomadas mas
seus efeitos ainda não se fizeram sentir por boa parte da sociedade. A sensação de
segurança ainda é esperada por ela.
Em 1o de janeiro de 1995 foi criada através da Medida Provisória 813
(depois, em 27 maio 98, transformada na Lei 9.649) a Secretaria de Planejamento
de Ações de Segurança Pública (Seplanseg). Pelo Decreto 2.315 de 04 set 97, a
Seplanseg foi transformada na Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp).
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Entretanto, nenhuma ação no nível político-institucional foi proposta. Perdeu-se uma
grande oportunidade de se dar um passo na melhor estruturação do sistema de
justiça criminal do Brasil.
Boa síntese do tratamento dispensado a questão segurança pública
no País é o que traz o Coronel José Vicente (BRAUDEL PAPERS, 2005):
Alguns posicionamentos do governo federal são preocupantes porque sugerem
baixa prioridade ao tema. Primeiro, cancelou-se a proposta do Partido dos
Trabalhadores na campanha eleitoral de 2002 de tornar a Secretaria Nacional de
Segurança Pública (Senasp), do Ministério da Justiça, uma secretaria de Estado
ligada à Presidência da República à qual se subordinariam a Polícia Federal e a
Secretaria Nacional Antidrogas para efetiva coordenação da política nacional de
segurança. Logo a seguir o Decreto 4591 de 10 de fevereiro/2003, ao estabelecer
a execução do orçamento no executivo federal, deixou de incluir as atividades de
segurança pública cobertas pela Senasp entre as áreas de "gerenciamento
intensivo", consideradas áreas estratégicas no final do governo anterior. Em
seguida a Senasp teve sua estrutura de cargos reduzida em um terço, da já
insuficiente estrutura anterior de 92 cargos para 59, pelo Decreto 4685 de 29 de
abril/2003, enquanto o Decreto 4670 de 10 de abril/2003 criou a Secretaria
Especial de Aquicultura e Pesca com 236 cargos. Terminado o primeiro semestre
de 2003 o Governo Federal ainda não tinha utilizado 10% do orçamento de 404
milhões de reais para aplicar nas áreas críticas de violência do País através do
Fundo Nacional de Segurança Pública, valor que foi reduzido em 39 milhões para
o orçamento de 2004.É necessário inverter o atual processo em que as
autoridades do Governo Federal, timidamente, preferem investir na integração das
polícias para posterior unificação, empurrando a solução para um futuro incerto.
Assim como ocorreu no projeto de reforma da previdência, deve-se tomar a
decisão, compartilhada com os governadores, de alterar a Constituição Federal,
criando a polícia única e estabelecendo prazos e condições para sua realização.
Incentivos do Fundo Nacional de Segurança Pública poderiam acelerar a
unificação com a aplicação de recursos onde ocorrerem mais avanços.Sem uma
definição concreta e um horizonte de tempo corre-se o risco de que os esforços de
integração apareçam na cúpula das Secretarias, mas sejam boicotados ao longo
das estruturas operacionais e administrativas das polícias. É mais prático se
discutir as bases da nova polícia no Congresso Nacional do que deixar a questão
para 27 discussões nas unidades federativas, onde as polícias resistirão por suas
diferenciadas leis, normas e estruturas.
Considerações Finais
Algo em torno de 1,3 bilhões de reais por dia (valor revisado em 2013)
é o custo estimado da violência no Brasil. Perceba: um valor superior ao envolvido
na reforma da Previdência que tanto mobilizou os governos nos últimos anos. Esses
valores não contemplam o sofrimento físico e psicológico das vítimas, tão ou mais
importante que o valor econômico. Com 3% da população mundial o Brasil concentra
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9% dos homicídios cometidos no planeta. Os homicídios cresceram 29% na década
passada. Entre os jovens esse crescimento foi de 48%. As mortes violentas de
jovens aqui são 88 vezes maiores do que na França. E poucos países sofrem as
ações de terrorismo urbano como as praticadas por traficantes no Rio de Janeiro. O
custo da violência em nossa sociedade “prejudica o próprio desenvolvimento do
País, comprometem instituições e podem ameaçar a estabilidade do Governo”
(BRAUDEL PAPERS, 2005). A questão da violência há muito deixou de ser um mero
conjunto de fatos preocupantes ou um problema setorial do Ministro da Justiça, dos
governadores e suas polícias. O congresso nacional conhece o problema, tem os
meios para promover uma reforma na segurança pública, mas não encara com
disposição as mudanças de que o País precisa. (FRAGA, 2005: 32).
A proposta base desse trabalho, parece ser endossada por muitos.
Veja o que disse RATTON (2005):
O governo federal não disse a que veio nessa área. Parece que o problema da
segurança pública não é prioridade neste País. Não há um comprometimento de
criar uma agenda permanente nessa área. Apenas investir não traz resultados
efetivos porque é preciso pensar o assunto como uma questão de Estado. Quem
faz a política de segurança, de certa forma, são as polícias autonomamente. Nós
temos que pensar a segurança pública no Brasil como um problema de Estado
não de governo.
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Para que haja alguma chance de se reduzir a violência criminal no
Brasil necessário se faz defini-la como uma questão de Estado, não de governo.
Não se tentou, por exemplo, modificações constitucionais que
permitisse as polícias estaduais fazerem o ciclo completo de polícia, condição que
nos alinharia com o modelo adotado em 99% dos paises. Nem uma mudança na
direção da desconstitucionalização da matéria ou que desse a liberdade a cada
Estado para formular o arcabouço institucional das suas polícias.
Nenhuma iniciativa criando, por exemplo, como defendeu Marcelo
Itagiba, Secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro (DIÁRIO DE
PERNAMBUCO, 2006) o Ministério da Segurança Pública o qual direcionaria uma
política de segurança pública uniforme e sistemática para todo País. Ou outras um
pouco mais polêmicas como a flexibilização do poder de polícia ou dos serviços
denominados exclusivos que possibilitassem, por exemplo, a privatização dos
presídios ou a contratos de policiais temporários.
Não se pode esperar a reversão dos desequilíbrios econômicos e
sociais para se diminuir a violência no Brasil. Mudanças superficiais não fará
diferença na crise de segurança pública. “A criminalidade violenta em nossa
sociedade é um desafio de competência e esta, depende de talentos e
coordenação de recursos, mas, se não receber prioridade e liderança efetiva, a
população continuará sendo submetida a um dos mais indecentes níveis de
violência do planeta.” (BRAUDEL PAPERS, 2005).
Este desabafo de REBELO apud KRAMER (2006) parece indicado
nesta etapa do trabalho:
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imediatas de um confronto duro em nome de um resultado favorável a
coletividade. Ainda que ao preço de uma dose de sangue.
Referências
AMARAL, Luiz Otávio. O povo exigiu nas urnas efetiva segurança pública e não
mais armas. Consulex: Revista Jurídica, Brasília, ano IX, n 212, p. 27-30, nov.
2005.
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BRAUDEL PAPERS. São Paulo. Edição nº 34. A violência no Brasil requer ações
concretas. Disponível em: <http://www.braudel.org.br/paper34a.htm>. Acesso em:
18 nov. 2005.
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PINTO, Paulo Silva e LINS, Beatriz. De frente pro crime. Disponível em:
<http://www.cni.org.br/produtos/diversos/src/rev42_reportcapa.pdf>. Acesso em: 07
fev. 2006.
SOARES, Luiz Eduardo et al. Projeto Segurança pública para o Brasil. Disponível
em: <http://www.espindula.com.br/pnsp.pdf>. Acesso em: 05 dez. 2005.
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SCHELP, Diogo. 7 Soluções Contra o Crime. Veja, São Paulo, edição 1928, ano 38,
n 43, p. 62-74 out. 2005.
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Resumo
O presente artigo faz um resgate do trabalho publicado em 1988, pela Universidade
de Harward, e traduzido em 1993 pela Biblioteca da Polícia Militar do Estado do Rio
de Janeiro, de autoria dos pesquisadores Mark H. Moore e Robert C. Trojanowicz,
sobre as estratégias de policiamento desenvolvidas pela polícia norte-americana. O
texto deste estudo se desenvolve ao longo três seções, nas quais se estabelece um
diálogo entre os conceitos propostos por Moore e Trojanowicz e as práticas atuais
da polícia e do sistema de segurança pública brasileiro.
Introdução
1
Originalmente o texto foi publicado pelo Instituto Nacional de Justiça, do Departamento Nacional de
Justiça e do Programa de Políticas em Justiça Criminal e Administração. Escola de Governo John F.
Kennedy, Universidade de Harward. Novembro de 1988 – nº 6. No Brasil o artigo, traduzido para o
português, foi publicado em 1993 no “Cadernos de Polícia” n° 10, da Polícia Militar do Estado do Rio
de Janeiro.
2
Coronel da Reserva Remunerada da Polícia Militar de Pernambuco. Bacharel em Ciências
Contábeis (UFPE), Educador com Especialização (UFRPE); Mestre em Ciência Política pela UFPE.
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as mesmas preocupações e perspectivas dos executivos privados. Isto porque os
objetivos e os procedimentos das instituições públicas estão estabelecidos em
normas e protocolos, que mesmo desatualizados, permanecem em vigor por longo
tempo. Em relação ao policiamento, os saberes e habilidades acumulados durante
50 anos indicavam a necessidade de que fossem estabelecidas novas concepções
para a atividade policial. E que, para romper com as estratégias tradicionais, os
executivos inovadores teriam que estabelecer objetivos claros, utilizar recursos
próprios e buscar nas comunidades que policiavam o apoio e a legitimidade para os
seus projetos.
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explicações sobre os significados de alguns termos que utilizaremos no
desenvolvimento deste texto. O primeiro é “policiamento”, que será empregado no
sentido de atividade policial, quer seja da polícia judiciária, quer seja da polícia
administrativa. O vocábulo “estratégia” terá o significado de conduta policial
resultante de planejamento metodológico para a atividade da polícia. Enquanto que
o termo “estratégico” deve ser compreendido e entendido como designativo para a
atuação policial a um nível de atividade complexa e abrangente, que exige
cooperação entre agências, inclusive de outros países, alta qualificação dos agentes
policiais, meios específicos, e mudanças estruturais nas instituições e nos
procedimentos operacionais para ações implementadas contra o crime organizado
transnacional, ou que exijam as mesmas qualificações e meios para as resoluções
de crimes no âmbito interno do Estado nacional.
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2. Policiamento Estratégico
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policial. Os Pesquisadores também afirmam que para fugir a influência de criminosos
poderosos, a polícia, tanto nas regiões metropolitanas, como em áreas rurais,
formaliza alianças com agências federais de segurança pública e com o poder
judiciário, a fim de eliminar os contatos com os policiais locais, que seriam mais
facilmente sugestionáveis.
3
Sobre este assunto, ano passado o Governo Federal sancionou a Lei 12.830, de 20 de junho de
2013, que assegura aos delegados de polícia, na qualidade de autoridades policiais, a condução das
investigações criminais, a não avocação ou redistribuição do inquérito policial, ou outro procedimento
investigativo e, também a remoção sem um ato plenamente fundamentado.
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Os Pesquisadores salientam que a Estratégia do Policiamento por Resolução
de problemas exige a aproximação da polícia com as agências municipais, a fim de
que estes órgãos adotem posturas que favoreçam a ordem pública. As autoridades
municipais devem exercer o controle de ruídos provocados por estabelecimentos
comerciais, como os bares, e do trânsito. As comunidades devem ser estimuladas a
cuidar dos seus equipamentos sociais, das praças, dos locais de lazer, etc.
Protegerem as crianças, para que os seus espaços não sejam ocupados pelos
adolescentes, evitarem suas permanências em locais de risco e assistirem os idosos
em suas necessidades. Os órgãos públicos responsáveis pelo controle das
construções devem ser incentivados a melhorarem a qualidade das cercas e grades
de forma a inibir as incursões de “delinquentes predatórios”. Enquanto que os
imóveis desabitados devem ser lacrados, a fim de não serem utilizados como refúgio
de gangues e viciados em drogas (MOORE e TROJANOWICZ, 1993, p. 82 83).
4. Policiamento Comunitário
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diferenças entre uma estratégia e outra. Para eles as diferenças fundamentais se
revelam pela importância atribuída a “relação ao status e ao papel desempenhado
pelas instituições comunitárias nos arranjos institucionais constituídos para aumentar
a participação da comunidade” (MOORE e TROJANOWICZ, 1993, p. 84).
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avaliar as dificuldades da polícia e buscar soluções compartilhadas para que os
serviços não sofram solução de continuidade (MOORE e TROJANOWICZ, 1993, p.
86). Mas, como não poderia deixar de ser, o policiamento comunitário impõe
mudanças nos comportamentos dos executivos da Polícia e exige planos de ensino
e de instrução atualizados e orientados para instituir e aprimorar as relações do
policial com a comunidade e os comandos descentralizados. Porém essas
mudanças procedimentais não são fáceis, elas sempre provocam dificuldades para a
Polícia. Para Moore e Trojanowicz o desenvolvimento da estratégia do policiamento
comunitário implica no “inevitável envolvimento da Polícia em emergências médicas
e sociais”. Os autores lembram que enquanto na estratégia do policiamento
tradicional, o envolvimento da Polícia em ocorrências familiares e assistenciais “é
considerado como um perigoso desvio da verdadeira missão da polícia”, no
policiamento comunitário, o envolvimento da Polícia na solução desses eventos são
vistas de forma positiva, haja vista “proporcionarem uma base para desenvolver um
relacionamento de trabalho com a comunidade”. Nesse sentido, o esforço da Polícia
em colocar recursos para desenvolver programas educacionais de prevenção de uso
de drogas, educar e punir motoristas embriagados, de controle da violência em
escolas e resolução da ociosidade dos alunos, revela a escolha da Polícia pela
estratégia do policiamento comunitário (MOORE e TROJANOWICZ, 1993, p. 86, 87
e 91).
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pesquisas de Moore e Trojanowicz se constituem primorosas fontes secundárias
para instruírem a formulação de conceitos inovadores e práticas policiais modernas
para a atividade de linha. No quadro abaixo apresentamos um resumo com as
principais características das quatro Estratégias do Policiamento.
ESTRATÉGIAS
LUTA CONTRA O POLICIAMENTO POLICIAMENTO POLICIAMENTO
CRIME ESTRATÉGICO POR RESOLUÇÃO COMUNITÁRIO
(TRADICIONAL) DE PROBLEMAS
CARACTERÍSTICA
Controle e Controle
Combate ao Combate ao combate ao preventivo do
OBJETIVOS
crime crime crime crime
PLANEJAMENTO Polícia e
E EXECUÇÃO Polícia Polícia Polícia comunidade
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4
Centro Integrado de Operações de Defesa Social.
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policiais falseados que transformaram delitos graves em ocorrências de menor
potencial. Ocorrências de roubos foram registradas como furto, e “certos homicídios”
foram transformados em “suicídio”. Essa política “é a expressão, no campo da
gestão policial da segurança pública, de um contexto em que prevalece a descrença
na reabilitação, na busca das causas do crime, na transformação de estruturas
sociais, na superação da exclusão produzida e reproduzida diariamente nas
relações sociais”. A Tolerância Zero é a negação da “reabilitação do criminoso” e por
isso reforça a “hiperinflação carcerária” (BELLI, 2004, p. 74 e 76). Essa estratégia,
como logo se percebe, vai de encontro aos anseios da sociedade brasileira que
deseja uma relação com a polícia sem conflitos e defende a ressocialização do
apenado.
Em São Paulo, pesquisas realizadas por Túlio Kahn (2002) revelaram que em
determinadas circunstâncias o policiamento tradicional e o policiamento comunitário
não alteravam o nível de satisfação das comunidades. Em alguns casos o
policiamento tradicional era preferido pela comunidade, que o achava mais eficiente,
embora o policiamento comunitário transmitisse mais confiança na Polícia Militar.
Esse resultado levou o Pesquisador a concluir que “o policiamento tradicional,
patrulhamento ostensivo direcionado ou aleatório, respostas rápidas a chamados
telefônicos, investigação criminal, etc. – não deve, de modo algum, ser deixado de
lado e simplesmente substituído pelo Policiamento Comunitário” (KAHN, 2002, p. 24,
26 e 39).
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A classificação de policiamento estratégico deve ser atribuída a atividade
policial que exige um elevado grau de sofisticação do ato criminoso e da qualificação
dos policiais. O combate ao crime organizado, ao terrorismo, à corrupção
envolvendo corporações econômicas e autoridades públicas governamentais exigem
da polícia uma metodologia extremamente apurada na solução desses delitos, quer
sejam eles materiais ou virtuais. Isso implica que além da formação policial, os
agentes devem ter conhecimento multidisciplinar e habilidades específicas para
interagir em cooperação com outras agências do Estado e da sociedade civil,
notadamente do Mercado. Não há aqui nenhum demérito as demais estratégias do
policiamento, contudo o combate às instituições criminosas exige ações, atividades
e estratégias complexas, por vezes de longa duração, que implicam em dedicação e
preparo mais avançado dos agentes envolvidos nas resoluções desses crimes de
alta complexidade. São crimes do colarinho branco, tráfico de armas, de pessoas e
de órgãos; tráfico de drogas; pirataria marítima; contrabando de pessoas, de
medicamentos e materiais; crimes cibernéticos, que envolvem roubos de
identidades, fraudes virtuais, pornografia infantil, e que, de um modo geral,
ameassem a própria soberania do Estado de Direito.
Sobre o Estado de Direito Norberto Bobbio (1992) o define como aquele “onde
funciona regularmente um sistema permanente de garantias aos direitos do homem”.
E que para ele, “existem Estados de direito e Estados não de direito”. O Autor
italiano afirma que os Estados não de direitos são aqueles que postergam a
instituição da proteção jurídica aos direitos do homem. E defende que no Estado de
direito, o indivíduo é um sujeito de direitos. E que o “Estado de direito é o Estado dos
cidadãos”. (BOBBIO, 1992. Pg. 24, 41 e 61). Daí porque é necessário que os
infratores sejam denunciados, julgados e responsabilizados. Para isso o Estado terá
que fortalecer as suas Instituições, a fim de impor o seu poder e fazer com que se
cumpram as suas leis, em observância aos princípios constitucionais. Isto porque,
conforme Bobbio, “a dissolução de um Estado começa quando as leis não são mais
genericamente obedecidas e quando os órgãos executivos não são mais capazes de
fazer com que sejam respeitadas” (BOBBIO, 2000, Pg.138).
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Moisés Naím (2006), em seu livro “Ilícito”, informa que em 2004, a CIA 5
“anunciou que identificara 50 regiões ao redor do mundo sobre as quais os governos
centrais exerciam pouco ou nenhum controle e onde os terroristas, contrabandistas e
criminosos transnacionais encontravam um ambiente favorável.” (NAÍM, 2006, Pg.
32). N’outro parágrafo, Naím afirma que em muitos casos, traficantes chegam a
compartilharem a soberania dos Estados. E que em “muitas áreas metropolitanas –
Rio de Janeiro, Manila, Cidade do México, Bangkok, Cairo -, grandes e populosas
regiões da cidade encontram-se, na prática, sob o controle das redes de tráfico e
criminosos, e não do poder local” (NAÍM, 2006, Pg. 259).
As conclusões de Moises Naím são verdades constatadas pela sociedade
brasileira, faz três décadas. Carlos Amorim (1993) relata que para subir o Morro do
Juramento durante a campanha eleitoral de 1986, o então candidato a governador
Moreira Franco teve que obter autorização do chefe do Morro José Carlos Encina, o
“Escadinha”, que estava preso em Bangu Um. (AMORIM, 1993, Pg. 211 a 215). Em
1996, a equipe de produção de Michael Jackson negociou diretamente com “Juliano”
- codinome atribuído por Caco Barcelos (2003), no seu livro “Abusado. O dono do
Morro Dona Marta”, a Marcinho VP – para que fossem realizadas as filmagens de
um clipe do astro mundial (Barcellos, 2003, pg. 328). Os exemplos do Rio de Janeiro
são citados por serem mais explícitos e ter chamado a atenção da sociedade
internacional. Contudo, há notícias de que existem áreas periféricas das grandes
cidades brasileiras onde eventualmente imperam “toques de recolher”, e que nem
sempre têm a divulgação necessária em face da “lei do silêncio” a que estão
submetidas essas comunidades.
Entretanto, tão grave, ou até mais grave, quanto a criminalidade dos “sem
colarinhos” é a corrupção que envolve altas autoridades governamentais. Os casos
de desvios de verbas públicas que envolvem o Deputado Paulo Maluf 6, do
Banestado, do “Mensalão”, do “Cartel dos trens” em São Paulo, da Petrobras,
Operação Lava-jato, dentre outras que revelam a promiscuidade de atores políticos
com a criminalidade organizada, ameaçam e usurpam cotidianamente os direitos
dos cidadãos comuns, os quais têm suas oportunidades a uma educação de
5
Agência de Inteligência dos Estados Unidos.
6
“O dinheiro sujo da corrupção. Porque a Suíça entregou Maluf”. Livro de Rui Martins.
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qualidade, serviços de saúde, mobilidade, moradia, saneamento e trabalho
reduzidas e até mesmo anuladas. Diante desses desafios contemporâneos, a
Organização das Nações Unidas (ONU), na Convenção de Palermo7, definiu “grupo
criminoso organizado”, como “grupo estruturado de três ou mais pessoas, existente
há mais tempo e atuando concertadamente com o propósito de cometer uma ou
mais infrações graves ou enunciadas na presente Convenção, com a infração de
obter, direta ou indiretamente, um benefício econômico ou outro benefício material” 8.
Rodrigo Carneiro Gomes (2009), estudando o conceito de crime organizado
internacional, esclarece que a “natureza transnacional do delito” é fundamental para
a compreensão do conceito de crime organizado, e das ações conexas “porque
assim figura no texto da Convenção das Nações Unidas contra o crime organizado
Transnacional (Convenção de Palermo)” (GOMES, 2009, p. 20). Mas no Brasil, a
legislação não considera a transnacionalidade como um elemento fundamental para
a conceituação de crime organizado, desde que os outros fundamentos estejam
evidenciados9. Mesmo assim, a partir da promulgação da Convenção de Palermo e
de outros entendimentos internacionais com finalidades de combater o tráfico ilícito
de entorpecentes e substancias psicotrópicas; contra a fabricação e o tráfico de
armas de fogo, munições e explosivos e outros materiais correlatos, a Convenção
das Nações Unidas contra a Corrupção, impeliram mudanças na legislação
brasileira, e reformas administrativas nas estruturas dos Ministérios da Justiça e da
Fazenda; da Controladoria Geral da União, e especificamente no Departamento de
Policia Federal (DPF), tudo com objetivo de elevar o desempenho das instituições
brasileiras no âmbito nacional e internacional (GOMES, 2009, p. 21 e 22).
No Brasil, o referencial de policiamento estratégico é o desempenho da
Polícia Federal. As operações investigativas que exigem excelência de qualificação
dos policiais, da atividade de inteligência, recursos de Tecnologia da Informação (TI),
os grupos especiais instituídos para ações antiterrorismo e crime organizado, e
7
Promulgada pelo Estado Brasileiro através do Decreto nº 5.015, de 12 de março de 2004.
8
Art 2, alínea a) da Convenção de Palermo.
9
O Art 1º, § 1º da Lei 12.850, de 02 de agosto de 2013, define organização criminosa como “a
associação de 4 (quatro) ou mais pessoas estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de
tarefas, ainda que informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de
qualquer natureza, mediante a prática de infrações penais cujas penas máximas sejam superiores a 4
(quatro) anos, ou que sejam de caráter transnacional.
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integração com outras agências governamentais e da sociedade civil, sobretudo do
Mercado, são típicas do policiamento estratégico. A complexidade do planejamento e
a execução dessas operações exige capacidade técnica diferenciada e postura
republicana dos policiais. Os esforços da Atividade de Inteligência permitem aos
policiais envolvidos terem acesso a conhecimentos sensíveis, capazes de provocar
transtornos operacionais e institucionais e até desvios de condutas. Dessa forma, o
acompanhamento do Ministério Público, em todas as fases das operações, e o apoio
do Poder Judiciário são imprescindíveis. Contudo, é necessário que as instituições
policiais e sobretudo os órgãos de controle interno, comandos e chefias estejam
atentos ao desempenho dos agentes envolvidos nessas operações estratégicas, a
fim de coibirem os excessos e desestimularem a formação de “castas”.
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Skolnick e Bayley (2002) afirmam que o objetivo do policiamento de patrulhas
é atender o maior número de ocorrências no menor espaço de tempo. Disso resulta,
que o atendimento é superficial, embora seja importante e necessário diante das
ocorrências que exigem pronto-atendimento em face do risco a que o cidadão pode
estar submetido. Mas essas intervenções não resolvem os problemas da (in)
segurança pública, os quais são encaminhados para outras pessoas que deverão
oferecer soluções em longo prazo. Eles corroboram com o entendimento de Herman
Goldstein, para quem a polícia deve ser “orientada para solução de problemas ao
invés de orientada para atender a incidentes” 10, e também que o “policiamento por
resolução de problemas é frequentemente identificado como o policiamento
comunitário”. E que a polícia apenas considera os incidentes específicos de forma
muito “restrita”. Para Goldstein, a polícia “deve desenvolver capacidade de
diagnosticar as soluções a longo prazo para crimes recorrentes e problemas de
perturbação da ordem, e ajudar na mobilização de recursos públicos e privados para
esses fins” (SKOLNICK e BAYLEY, 2002, p. 37). Isso faz crer que parte da
ineficiência da polícia é resultante da sua conduta reativa e da sua recusa em
aprofundar-se nos problemas das comunidades. Entretanto, em verdade as polícias
no desenvolvimento de suas missões sempre realizam estudos e produzem
diagnósticos. Contudo não há uma preocupação de estabelecer um marco teórico.
Talvez em face da demanda excessiva pelos serviços policiais, os estudos e
diagnósticos sempre têm aparências informais ou personalistas. Essa é uma
questão que tem que ser resolvida. Para Moore (2003), em um trabalho mais
recente:
10
O que Goldstein chama de “incidentes” para nos significa “ocorrências”.
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que a resposta não está, necessariamente, limitada a essas formas tradicionais de
respostas pela polícia. O desafio está em usar outros mecanismos além das
prisões, que produzam soluções e que procurem, dentro e fora do departamento,
por capacidade operacional utilizável. (TONRY e MORRIS, 2003, p. 137 e 138)
11
O comandante do 9º BPM era o então Major Pedro Bezerra de Vasconcelos.
12
O comandante geral era o coronel Genivaldo Cerqueira.
13
O governador do Estado de Pernambuco era Carlos Wilson.
14
Decreto nº 14.335, de 07 de maio de 1991.
15
Diário de Pernambuco. Recife, 11 de janeiro de 1995.
16
Diário de Pernambuco. Recife-Pernambuco de 02 de julho de 1995, pg B-8.
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portes de armas sem registro legal17. Entre 1999 e o primeiro semestre de 2004,
somente a Polícia Militar havia contabilizado mais de 26.000 armas de fogo
apreendidas pelas suas Unidades18. Em 2005, pesquisa do Ministério da Saúde
relativa ao ano de 2004, divulgada pela mídia acional, apontou para a queda de
8,2% dos homicídios por arma de fogo em todo Brasil, sendo que a redução chegou
a 14.5% em Pernambuco19. A iniciativa da Polícia Militar despertou a sociedade
pernambucana e brasileira para os homicídios praticados com armas de fogo. Em
dezembro 2003 foi aprovado o Estatuto do Desarmamento.
Outro exemplo de policiamento por resolução de problemas é o resumo de
centenas de operações realizadas pelos órgãos operativos de segurança pública em
casos de calamidades públicas. Em 1992, o Estado de Pernambuco sofreu com a
seca, notadamente na região do Sertão. A ausência de chuvas prejudicou as
atividades agrícolas, pecuárias e o comércio. A fome grassava. Nos dias de feira,
comerciantes estabelecidos e feirantes eram vítimas de saques por parte de
flagelados que saiam do campo e invadiam as áreas urbanas das cidades. Os
saques sempre eram precedidos de boatarias que levavam pânico, medo e correrias
nos centros urbanos, mesmo que as notícias não fossem confirmadas. Os famintos
eram grupos de agricultores que desesperados pela falta de trabalho, de comida e
sem dinheiro, optavam pelo saque aos estabelecimentos e aos feirantes como forma
de sobreviverem com suas famílias. Na cidade de Belmonte, no Sertão Central, sede
de um pelotão da Polícia Militar de Pernambuco, o então comandante, o tenente
Marcos Aurélio, nos dias de feiras e mesmo nos demais não se descuidava. E a
qualquer notícia de aproximação de grupos de flagelados, muitos inclusive vinham
de municípios da Paraíba e do Ceará, o oficial destacava uma fração para encontrar
com os agricultores, a fim de confirmar as notícias e adotar medidas para assegurar
a tranquilidade pública. O comandante do pelotão então se comunicava com as
autoridades e representantes da sociedade civil local, envolvendo todos os
segmentos nas soluções dos problemas. A prefeitura reservava espaços e designava
funcionários para a recepção dos famintos, coletava gêneros alimentícios, roupas e
medicamentos para atender os carentes. O Juiz municipal e o representante do
17
Diário de Pernambuco. Recife, 05 de julho de 1995. Caderno A, pg 7.
18
Dados fornecidos pela 2ª Seção do Estado Maior Geral da PMPE.
19
Relatório do Ministério da Saúde sobre o impacto da campanha do desarmamento. Agosto de 2005.
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Ministério Público eram cientificados das medidas e monitoravam as ações. Nas
ocasiões em que não era possível atender, de imediato, o tenente Marcos Aurélio, já
em entendimento com a municipalidade e demais autoridades e segmentos da
sociedade local, procedia ao cadastramento dos agricultores e explicava as
dificuldades do momento, e orientava os agricultores a retornarem em datas
previamente estabelecidas, a fim de receberem suas feiras na forma de cestas
básicas. Aquelas medidas adotadas pelo comandante do Pelotão de Belmonte,
numa visão estratégica de policiamento profissional seriam impossíveis, pois, nessa
concepção, os flagelados seriam tratados como bando de criminosos, assaltantes e
perturbadores da ordem pública. Também não seria o caso de policiamento
estratégico, vez que os flagelados não eram criminosos profissionais e perigosos.
Não seria também o caso de classificar a ação como sendo de policiamento
comunitário, uma vez que as pessoas que integravam o grupo não residiam na área
urbana, e, portanto não interagiam cotidianamente com o policiamento. As ações
adotadas pelo comandante do Pelotão de Belmonte eram típicas da “estratégia do
policiamento por resolução de problema”. Ou seja, a polícia fez o seu diagnóstico, e
concluiu que havia um problema socioeconômico especifico que poderia afetar a
ordem pública, caso não fosse gerenciado com competência e habilidade.
Nos finais dos últimos anos 80 e início dos anos 90, as ações do Movimento
dos “Sem Terra” e dos “Sem Teto” exigiram muito da polícia brasileira. Em
Pernambuco não foi diferente. Foram vários os conflitos resultantes do
enfrentamento das invasores de terras e de imóveis contra as ações reintegratórias
realizadas com o apoio da Policia Militar. Era uma situação inusitada para as polícias
e não havia um protocolo adequado aos novos procedimentos a serem
desenvolvidos. Nesse sentido, um avanço para Policia Militar de Pernambuco foi a
Nota de Instrução (NI) nº CPI – 006/93, a “Lex Ratio”. A Lex Ratio foi elaborada pelo
Comando do Policiamento do Interior e homologada pelo Comando Geral da
Corporação para que fosse cumprida como norma geral nas operações de
reintegração de posse20. Em julho de 1996, a Lei nº 11.365 regulou a “presença e o
acompanhamento do Ministério Público estadual nas operações que envolvam a
20
Na época, o comandante do Policiamento de Interior era o coronel Alexandre Nunes de Araújo, que elaborou a
“Lex Ratio”.
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força policial do Estado de Pernambuco em medidas possessórias de caráter e
efeitos coletivos (...)”. Administrativamente, o Comando Geral da Policia Militar
também determinou que sa operações de reirtegração de posse, antes de sua
execução, fossem comunicadas ao Governador do Estado, ao Presidente do
Tribunal de Justiça; ao Presidente da Assembléia Legislativa,ao Procurador Geral de
Justiça; ao Secretario Estadual de Justiça; ao Chefe de Polícia Civil, Comandante de
Bombeiros, ao Juiz e ao Promotor de Justiça da Comarca onde a operação seria
realizada. Com essas medidas as intervenções da Polícia Militar passaram a ser
desenvolvidas com menos riscos, e os conflitos ocasionais resgitrados durante a
execução dos mandados judiciais encaminhados com mais amadurecimento. A
iniciativa de Pernambuco foi recepcionada pelo Ministerio da Justiça que difundiu a
orientação para as policias brasileiras. O condicionamento da execução da operação
a aprovação da Promotoria de Justiça diminuiu a responsabilidade exclusiva da
Polícia, e lhe garantiu maior segurança, na medida em que o Representante do
Ministerio Público, responsável pelo controle externo da atividade policial, passou a
se fazer presente durante todo o periodo em que Policia executava a operação
policial. O diagnóstico da situação e o disciplinamento dos procedimentos policiais, e
a regulação da atuação dos membros do Minstério Público foram fundamentais para
a redução dos conflitos violentos nas operações de reintegração de posse.
O programa do governo Federal “Força Nacional de Segurança Pública –
FNSP”, constitui-se uma típica estratégia de policiamento por resolução de
problemas. A Força Nacional de Segurança Pública (FNSP), resultante de um
arranjo amparado nos artigos 144 e 241 da Constituição Federal “foi criada em 2004
para atender às necessidades emergenciais dos estados, em questões onde se
fizerem necessárias a interferência maior do poder público ou for detectada a
urgência de reforço na área de segurança”. A FNSP composta por policiais e
bombeiros militares das Unidades subnacionais, para muitos especialistas constitui
uma força especializada, em face dos meios que é dotada e do treinamento
diferenciado dos integrantes. Contudo o seu emprego é emergencial com objetivo de
resolver problema especifico no estado que solicitar a sua intervenção. Resolvido o
problema, o contingente é desmobilizado e os seus integrantes devolvidos às suas
Instituições de origens, ou deslocado para outros Estados federativos em crise.
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adversários, depredam coletivos, lojas comerciais, transeuntes e os policiais. E
mesmo as determinações judicias e as intervenções do Ministério Público no sentido
de coibirem as suas presenças nos Estádios não têm tido os resultados desejados.
Proibidas de ingressarem nos campos de futebol uniformizadas, os grupos marcam
encontro com trajes diferenciados e extravasam suas sanhas criminosas pelas ruas.
Esses eventos tem exigido das policias um estudo detalhado dos perfis das torcidas,
a fim de elaborarem diagnósticos que permitam o lançamento de força policial
treinada adequadamente para garantir a ordem, preservando as integridades de
torcedores e transeuntes e, também o patrimônio público e privado que também são
alvos das depredações.
A última estratégia a ser discutida é a do Policiamento Comunitário, que
paradoxalmente, apesar dos modismos, “o consenso acerca de seu significado ainda
é pequeno” (Skolnick e Bayley, 2002:15). Contudo, Moore e Trojanowicz insistem
que a distinção dessa estratégia das demais é a forma de relacionamento com a
comunidade, que deve ser “vista como uma aliada essencial para lidar com o crime e
o medo” (Moore e Trojanowicz, 1993, p. 91 e 92). Para Moore (2003):
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públicos pelos serviços que favoreçam o trabalho policial, o ir e vir das pessoas, e a
proteção do patrimônio público e privado.
Um outro aspecto do policiamento comunitário que perturba a inteligência e
os valores institucionais clássicos das polícias é a descentralização. Jerome H.
Skolnick e David H. Bayley (2002), se referindo a necessidade da autonomia dos
comandantes operacionais e patrulhas lançadas no terreno, afirmam que:
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anos 198021. O Projeto foi elaborado com riquezas de detalhes, porém naquele
período o envolvimento da sociedade civil era pífio e carecia de estímulos dos
próprios organismos policiais22. Como nas cidades norte-americanas, não houve
preocupação de construir bases fixas. Os NUSEP, criados a partir de Decreto
Governamental23, foram instalados em imóveis cedidos pelas comunidades, e tinham
por objetivos estimular a segurança preventiva e aproximar a Força Pública das
sociedades locais. Para isso, foram desenvolvidos esforços que envolveram
autoridades, representantes de entidades comerciais, industriais e bancárias, além
dos representantes das comunidades e órgãos das prefeituras municipais sediados
na área do Batalhão de Polícia responsável pelo policiamento ostensivo geral. Os
procedimentos necessários à proteção da comunidade através dos NUSEP foram
orientados por Portaria Administrativa do Comando Geral da Policia Militar 24. A
norma administrativa disciplinou a criação e constituição dos Núcleos, e disciplinou
os procedimentos para as realizações das reuniões ordinárias e extraordinárias, as
quais seriam realizadas em locais de fácil acesso ao público. Os NUSEP tinham
estatuto próprio e os problemas das comunidades, inclusive de segurança pública,
eram discutidos em reuniões realizadas nas sedes dos equipamentos comunitários,
salões paroquiais, escolas e quartéis. O Estatuto propunha que as comunidades
deveriam colaborar com a fiscalização e a melhoria da ação policial-militar; participar
do planejamento da ação comunitária voltada para a segurança preventiva e
avaliação dos resultados; levar ao conhecimento dos escalões responsáveis pelo
policiamento as reivindicações e propostas voltadas para a eficiência do serviço
policial, o controle da violência e da criminalidade; participar do planejamento e
implementação de campanhas educativas. O Estatuto também estabelecia que para
todas as reuniões fossem produzidas Atas, cujas cópias deveriam ser encaminhadas
ao comandante do Batalhão e para o Estado-Maior Geral da Policia Militar, a fim de
21
Para uma melhor compreensão desse assunto, sugiro a leitura de “Nova Polícia. Inovações nas
Policias de seis Cidades norte-americanas”. David H. Bayley e Jerome H. Skolnick. EDUSP. São
Paulo –SP. 2001.
22
Naquele período o Brasil ainda estava sob o regime autoritário inaugurado em 1964.
23
Decreto nº 10.617, de 31 de julho de 1985, publicado no Diário Oficial de 1º de agosto de 1985,
transcrito no Suplemento Normativo nº 15/85.
24
Portaria Administrativa nº 429 de 29 de agosto de 1985, publicada no Suplemento Normativo nº
10/85.
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que as questões fossem analisadas, e as soluções propostas fossem apreciadas e
apoiadas. O Projeto dos NUSEP foi a primeira experiência planejada com o objetivo
de envolver as comunidades nas discussões da segurança pública local. Os NUSEP
foram criados em bairros e localidades periféricas da Região Metropolitana do Recife
e, além de oferecer os clássicos serviços de segurança individual e coletiva, as
guarnições mediavam e solucionavam ocorrências de menor valor de risco e
assistenciais25.
Naquele mesmo ano (1985), foi lançada a "Patrulha do Bairro (PB)". O novo
projeto foi lançado com excelente aporte de comunicação. As patrulhas do bairro
foram planejadas para atuarem nos centros comerciais dos bairros e áreas
residenciais circunvizinhas, e sua guarnição era constituída por 5 (cinco) policiais:
um graduado, um motorista, e três patrulheiros. A guarnição era instruída para
interagir diretamente com os membros das comunidades e transeuntes em geral. No
quarteirão sob sua responsabilidade, a PB realizava patrulhamento motorizado e a
pé, além de ocupar, periodicamente, pontos de estacionamento em locais de
maiores afluências de pessoas e reincidência de ocorrências policiais.
25
As ocorrências assistenciais consistiam em socorro de urgência, encaminhamento de parturientes,
doentes mentais e outros eventos não caracterizados especificamente como fatos policiais. As
assistências representavam em torno de 20% do total de ocorrências registradas.
26
Diário de Pernambuco. “Unicef vê PM preparada para lidar com meninos”. Recife-PE, 25 de
outubro de 1990. Pg A-12.
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27
PROERD – Programa Educacional de Resistência as Drogas.
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Militar ministra aulas sobre gravidez na adolescência. Na Escola Alberto Torres, em
Tejipió, o sargento que é programador de sistemas organiza aulas de Informática
para os alunos daquele Educandário. Enfim, todos os Patrulheiros Escolares têm
alguma tarefa além do policiamento de rotina. E não estão dispensados do
expediente e escalas das suas unidades de origem. A Patrulha Escola talvez seja o
melhor exemplo de ação de policiamento comunitário desenvolvido pela Policia
Militar de Pernambuco.
Diante dessas experiências, não há dúvidas que os governos e as
sociedades se esforçam na construção de um modelo de policiamento mais efetivo,
eficiente e que contemple a participação das comunidades. Contudo, para Skolnick
e Bayley (2000), “a realidade, no entanto, é que, ao mesmo tempo em que todo
mundo fala sobre ele, o consenso acerca de seu significado ainda é pequeno. Como
resultado, inovações práticas sob a rubrica do policiamento comunitário não são
muito genuínas nas práticas policiais. Em outros o policiamento comunitário é
utilizado para rotular programas tradicionais, em caso clássico de colocar vinho
velho em garrafas novas” (SKOLNICK e BAYLEY, 2002, p. 15 e 16).
Considerações Finais
28
Para Luigi Bonanate (2000), “apesar de correntemente o terrorismo ser entendido como a prática
política de quem recorre sistematicamente à violência contra as pessoas ou as coisas provocando o
terror, a distinção entre esta última e o terrorismo representa o ponto de partida para a análise de um
fenômeno que, ao longo dos séculos, viu constantemente aumentar seu peso político.” (Bobbio,
Matteucci e Pasquino. 2000, pg. 1242). O conceito de terrorismo ainda é muito flexível. Pode-se
pensar no terrorismo político inaugurado durante a revolução francesa na ditadura do Comitê de
Saúde Pública; no terrorismo contextualizado nas guerras libertação nacional; e/ou no terrorismo
religioso e de etnias, por exemplo. Aqui quando falamos em “terrorismo urbano” estamos pensando
nas ações práticas, nas táticas, desenvolvidas por grupos criminosos, de movimentos sociais e até de
comunidades (grupo de pessoas insatisfeitas) contextualizadas na violência urbana, como meio de
proclamar suas reivindicações e os seus interesses, e que têm contribuído para o afloramento de um
estado de medo permanente nas ruas. Nesse contexto estão os ataques do PCC (Primeiro Comando
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da corrupção endêmica, a fragilidade da legislação e da impunidade.
da Capital) às instituições de segurança pública em maio de 2006 na cidade de São Paulo, e que se
alastrou pelos estados do Espirito Santo, Paraná, e Mato Grosso do Sul, e totalizou 128 mortes entre
agentes públicos e civis nos 4 primeiros dias da ação. O vandalismo contra os estabelecimentos
comerciais, bancários, repartições e equipamentos públicos. Os ataques incendiários indiscriminados
dirigidos ao transporte público, inclusive atingindo os usuários. Dia 8 de maio último uma greve de
rodoviários no Rio de Janeiro deixou cerca de 500 ônibus depredados. Os assaltos a agências
bancárias e caixas eletrônicos com uso de artefatos explosivos.
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objetivo encontrar uma Estratégia Institucional de Policiamento que possibilitasse a
polícia lidar com os principais “problemas que afligem as comunidades urbanas:
crime, medo, drogas e decadência urbana”. Porém, ao final de suas pesquisas,
vimos que embora eles não tenham encontrado uma Estratégia específica ou única,
os seus estudos revelaram quatro alternativas de fazer policiamento que não são
excludentes entre si. Tanto que eles sugeriram que a Estratégia do futuro poderia ser
denominada de “policiamento profissional, estratégico, comunitário, e por resolução
de problemas” (Moore e Trojanowicz, 1993: 98 e 99). Todavia, talvez, a melhor
contribuição de Moore e Trojanowicz tenha sido a categorização das características
das estratégias do policiamento tradicional, estratégico, por resolução de problemas
e comunitário, oferecendo um norte doutrinário para o desenvolvimento das políticas
de segurança pública e para que a polícia atinja suas metas com eficiência, sabendo
distinguir as praxes, os fundamentos e o significado da cada Estratégia, privilegiando
a lei, a ordem e a cidadania.
Referências
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Política. 2º volume. Editora UnB. Brasília-DF. 2000.
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LIMA, Amaro Tavares de. (1986). Policiamento de Área. Monografia. Curso de
Aperfeiçoamento de Oficiais. Academia de Polícia Militar do Paudalho. PE.
MENEZES, Antônio Rafael. Poder pedagógico de polícia. Gráfica Recife.
Recife.PE. 1988.
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Resumo
Este ensaio, sem tentar esgotar o assunto, objetiva lançar olhares sobre a
importância dos Direitos Humanos nas sociedades contemporâneas, sem descuidar
de sua construção histórica e da busca de sua universalidade. Enfatiza ainda, o
exercício destes direitos em meio a difícil relação existente entre policiais, sobretudo
os Militares e os cidadãos, em razão do maior contato interativo entre estes
profissionais e a sociedade, verificado no exercício das atividades da Polícia
ostensiva. Busca apontar que o papel social exercido por estes agentes, muitas
vezes, em rincões longínquos, se traduz na única presença que implica ação de
governo, e a forma como esta relação é construída e exercida, em muito contribui
para solidificar esta relação. Ressalta, por fim, a importância do olhar recíproco da
sociedade e dos policiais sobre a conduta destes, pois as posturas nocivas
verificadas negativam o munus policial e expõem a instituição perante a sociedade,
em que pese ser relevante, as posturas nocivas também presentes no tecido social,
que agrega em seu ethos as mazelas de uma cultura arbitrária, que muitas vezes
tende a verticalizar as relações com relação aos policiais, tornando as mesmas,
cada vez mais difíceis, sobretudo pela cobrança constante, quanto a efetivação e
concreticidade dos Direitos Humanos.
Palavras-chave: Direitos Humanos, Democracia, Cultura autoritária, Relação Polícia
versus sociedade.
Introdução
1
Coronel da Reserva Remunerada da Polícia Militar de Pernambuco, Formado em Licenciatura em
História, Bacharel em Direito, Pós-Graduado em Capacitação de Docência, Pós-Graduado em
História Contemporânea, Pós-Graduado em Políticas Públicas de Segurança, Pós-Graduado em
Gestão Pública, Mestre em Ciência Política, Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia (Escola
Superior de Guerra).
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essência da natureza dos seres humanos, dotados de razão e providos do livre
arbítrio, por certo indicam o quão mais civilizado é um povo à medida que, em
termos majoritários, se respeita e universaliza tais direitos em seu universo social.
Com efeito, uma das características dos Direitos Humanos é a sua
universalidade, de sorte que eles devem ser ampliados para alcançarem todos os
cidadãos, e numa visão mais extensiva, todos os seres humanos, já que a
declaração Universal dos Direitos Humanos, em seu art. 1º assim aduz: “todos os
homens nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e
consciência e devem agir em relação uns com os outros com espírito de
fraternidade”.
Ao suscitar a fraternidade, implica que os homens devem cultuar o
princípio do pertencimento, que diz respeito à comunidade internacional, de modo
que ao ser integrante desta, deve pautar suas relações com viés de urbanidade,
civilidade e respeito à condição humana, como forma de atingir ápices esperados
dentro de um processo civilizador.
Entretanto, no caminhar histórico da humanidade, desde os primórdios da
era moderna, temos observado avanços na comunidade internacional quanto ao
respeito aos Direitos Humanos, embora seja coerente afirmar que existem inúmeras
assimetrias neste processo, que depõem contra avanços desta natureza.
Para melhor compreender este processo de pertencimento, faz-se
necessário buscar apoio em um conceito de cidadania, que segundo Dallari (1999,
p.10) “Indica a situação política de uma pessoa e os direitos que essa pessoa tinha
ou podia exercer”. Pelo exposto, fica evidente que o conceito primaz de cidadania
tem escopo inclusivo ou não a uma comunidade política e, portanto, implica
conforme já dissemos em pertencimento.
Contudo, os direitos vinculam-se a conquistas, muitas delas e quase
sempre sangrentas, vez que é próprio de quem tem poder não ceder ou fazer
concessões que não lhes sejam favoráveis, logo é atual na Ciência Política que o
poder não se entrega, mas sim se conquista.
Por este ângulo, a História da luta pela ampliação da cidadania teve um
marco consubstancial com as Revoluções Burguesas (inglesas, francesa e
americana), cujo escopo final foi à tentativa de se proteger o cidadão contra o
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arbítrio do Estado e eliminar os privilégios das classes políticas, conforme atesta
Dallari (1999, p.11) “foi nesse ambiente revolucionário que nasceu a moderna
concepção de cidadania, que surgiu para afirmar a eliminação de privilégios.”
1. Parte I
A partir dessas acepções as palavras cidadão e cidadã passaram a ser
símbolos da igualdade jurídico-formal entre pessoas unidas pelo consenso do
pertencimento, já que a cidadania em uma visão contemporânea, atual e de
vanguarda, implica em um conjunto de direitos que dá as pessoas à possibilidade
de participarem da vida e do governo de seu país. Isso ocorre, agindo-se de forma
direta ou indireta, ensejando uma condição de inclusão no interior do grupo social,
que formata decisões obrigando a todos, dentro de uma comunidade considerada.
A primo intuito isto parece simples, mas não é. É importantíssimo, pois,
em conjunto, dentro da lógica do consenso da maioria e do pluralismo político,
afirmar que todos os cidadãos têm o potencial de influir nos destinos de sua vida, de
seu país e mesmo da comunidade internacional a que pertence, é esplêndido, daí a
importância dos direitos humanos no contexto da cidadania.
Por este prisma, a Democracia enquanto regime político que cultua o
pluralismo e o respeito aos Direitos Humanos tem ampliado seus cânones na
sociedade global contemporânea e, a despeito das mais diversas ideologias
totalitárias, vêm se consolidando como o regime mais aceito e legitimado, em face
de uma ética transformadora, que prima pelo diálogo e a solução pacífica dos
conflitos.
Assim, com o advento da Constituição Federal de 1988, o Brasil, no
campo político e jurídico buscou se libertar do regime autoritário sobre o qual a
nação conviveu por 20 anos. Dentro daquela lógica, foram tolhidos os direitos
amplos com os quais a sociedade deveria conviver, o que causou grandes percalços
para o fortalecimento de uma cidadania mais fraterna entre nós.
Considerando o objeto deste ensaio é prudente se verificar a relação
entre a luta pela consolidação dos Direitos Humanos e a relação com o trabalho
policial. Neste contexto, centrando a análise nos Direitos Civis, Políticos e Sociais,
os quais traduzem lato sensu os Direitos Humanos, observamos que as suas
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garantias pelo texto constitucional constituem um dever ser do Estado para com os
cidadãos e, evidentemente, quando esses direitos estão sendo violados ou
ameaçados, segue a lógica de se procurar as instituições do Estado, que em tese,
garantem o exercício regular deles.
Neste contexto, o papel das instituições formais e informais, políticas,
jurídicas e sociais são importantíssimas, visto que o poder se exerce através das
instituições, e o modo como elas atuam na sociedade, em muito aferem o grau de
civilidade da nação onde elas estão inseridas.
Assim, são as instituições policiais, sobretudo em situações de conflitos
quase sempre postas a prova para dirimir tais contendas e exercerem, através de
seus prepostos, as funções de pedagogos da cidadania, muitas vezes corrigindo
rumos e tomando decisões que os torna um viés da governança no dizer de Muniz
(2006, p. 17) “o exercício do mandato policial é uma materialidade da governança,
correspondendo à tomada de decisão política na esquina (streetcorner politcs)”.
Aqui se verifica um fator importante do papel institucional, pois atuando
diretamente e conjuntamente com a sociedade, em função do escopo interativo
indissociável presente entre os cidadãos e as instituições policiais, estabelece-se
uma relação difícil, de paz e conflito, cooperação e competição, em face quase
sempre dos interesses conflitantes, presentes na busca da resolução dos problemas
naturais da convivência humana em sociedades complexas.
Neste contexto, o trabalho da polícia, com ênfase nas militares, que
exercem o policiamento ostensivo, de relance identificado pela farda, traduz
sobretudo nos rincões mais longínquos, a primeira linha de defesa da sociedade.
Assim, quando se demandam os conflitos, a busca de soluções tem nestes
profissionais seu primeiro impacto, seu primeiro contato, sua primeira esperança de
ajuda, de ser bem atendido ou não, e muito do nível de democracia, em tese, é
medido nesta relação.
Com efeito, é neste sentido que o trabalho das polícias, sobretudo as
militares é tido dentro de uma dimensão pedagógica como um superego social,
conforme afirma Balestreli (2002 p. 28):
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Outra questão visível é a corrupção policial que apõe uma mácula moral
sobre as instituições e afetam o viés valorativo da cidadania para com os policiais.
Deste modo, os maus policiais conseguem um efeito muito pernicioso para as suas
instituições, causando um sentimento de desconforto intenso entre os bons policiais.
Logo, nem a violência arbitrária, tampouco a corrupção policial podem ser toleradas,
já que funcionam como os males maiores das instituições policiais e que mais
abalam a relação interativa com a cidadania estabelecendo uma fraca confiança na
polícia, cuja consequência compromete a efetivação dos Direitos Humanos no
ambiente social.
Entretanto, fazendo recortes necessários, observando o outro lado da
moeda, é preciso considerar no caso brasileiro, alguns aspectos inerentes a nossa
cultura, como de resto o estudo de qualquer sociedade não pode ser descolado de
um escopo antropológico e cultural, já que são variáveis importantes dentro de um
processo dessa natureza.
2. Parte II
No Brasil verificamos a cultura de hipervalorização de determinados
indivíduos pelo seu enquadramento em determinada categoria social como sujeitos
acima da lei e da ordem, ou seja, para seus interesses serem atendidos se
posicionam acima da lei e da ordem, conforme Da Matta (1990 p. 237):
No sistema social brasileiro, então, a lei universalizante e igualitária é utilizada
freqüentemente para servir como elemento fundamental de sujeição e
diferenciação política e social. [...] as leis só se aplicam aos indivíduos e nunca às
pessoas; ou, melhor ainda, receber a letra fria e dura da lei é tornar-se
imediatamente um indivíduo. Poder personalizar a Lei é sinal de que se é uma
pessoa.
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brasileiro é marcado pelo poder de certas elites que não se comportam como
classes socioeconômicas, mas como clãs despóticos, que se legitimam a partir de
vários fatores, entre os quais os econômicos, financeiros e políticos.”
Logo, o poder não pressupõe ou enfatiza em maior ou menor grau, uma
relação de potencialidade socioeconômica, mas sim pelas relações de mando,
típicas de clãs autoritárias, que muitas vezes obtém riqueza e poder não por razões
meritocráticas, mas sim pela dádiva patrimonial, no dizer de Martins (2002 p.95):
A dádiva patrimonial é uma lógica tradicional de poder que confere aos seus
detentores prestígio e honra, qualidades aristocráticas vedadas aos situados fora
do circulo daqueles tidos como próximos: Os membros das grandes famílias
proprietárias, os agrupamentos políticos e burocráticos influentes, os segmentos
militares poderosos e, também industriais e dirigentes de importantes grupos
econômicos (que se apresentam como classes do mundo burguês do trabalho, e
como clãs no mundo oligárquico – patrimonial da ostentação e da glória).
Por outro lado, tal classe política dominante, como segmento importante
do aparelho de estado brasileiro, em suas ações administrativas e condutora das
ações operárias, é obvio que exerce influência e tendência a agir com o viés cultural
que são detentores, consubstanciando-se em um sistema próprio de administrar
brasileiro, conforme afirma Barros (1996 p. 75,76):
A concentração de poder coloca nas mãos de uma pessoa os destinos da
organização [...] neste momento é que se revela o personalismo como traço
atuante, pois a solução será dada por uma única pessoa. [...] Este estilo visa a
manutenção do poder, seja pela preservação das informações, seja pelo ritual de
pedir a benção. Esta é a frente do personalismo para que todos saibam quem
manda na empresa.
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influências em seus ambientes corporativos.
Visto isto, outra variável importante que impacta sobre o trabalho da
polícia é a questão das consequências da modernidade que tem acelerado o
processo de mudanças socioculturais em velocidade astronômica com riscos e
acasos reflexivos, causando descompassos nas instituições tão tradicionais e
conservadoras quanto às polícias militares, que não deixa de causar impactos nas
relações interativas com a sociedade a que presta serviços, conforme atesta
Giddens (1991 p. 175):
Uma das conseqüências fundamentais da modernidade é a globalização. (...) A
modernidade é inerentemente globalizante, e as conseqüências
desestabilizadoras deste fenômeno se combinam com a circularidade de seu
caráter reflexivo para formar um universo de eventos onde o risco e o acaso
assumem um novo caráter.
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cada dia agrega novos significados e amplia o foco quanto ao exercício desses
direitos, termina por oportunizar um choque de interesses entre as pretensões dos
policiais e da sociedade quanto o ser protetor e receptor recíproco desses direitos.
Considerações Finais
Referências
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promulgada em 05 de outubro de 1988: Atualizada até a emenda Constitucional nº
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COLETTI, Luciana. Norberto Bobbio: historicidade dos direitos humanos in
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crime (IBCC), 2006.
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RESUMO
No Estado de Pernambuco com o advento da criação da Secretaria de Defesa
Social, propiciou a integração dos órgãos operativos como a Polícia Militar, Polícia
Civil, Corpo de Bombeiro Militar e a Polícia Científica. Ocorre que, em face disto
mudanças legislativas foram implementadas na Corregedoria Geral da SDS, a todo
custo e, por vezes sem respeitar as legislações específicas das corporações
militares, causando uma insegurança jurídica, e consequente prejuízo aos militares
estaduais.Neste diapasão é que trouxemos à reflexão sobre o instituto do libelo
acusatório e a portaria de instauração do Conselho de Justificação, como
delimitadores da abrangência da acusação e as garantias constitucionais da ampla
defesa e do contraditório.
Introdução
1
Major da Polícia Militar de Pernambuco, Bacharel em Direito, Pós-graduado em Direito Penal e
Processo Penal
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por objetivo apurar e julgar a conduta do oficial, no nosso caso, da Polícia Militar de
Pernambuco, culminando ao final pela incapacidade ou não da permanência do
miliciano nas fileiras da Corporação policial militar.
No magistério de Jorge César de Assis verificamos que a declaração
de indignidade e de incompatibilidade para o oficialato apresenta-se em duas
modalidades: A declaração de indignidade ou incompatibilidade para o oficialato de
natureza administrativa e, a declaração de incompatibilidade ou indignidade para o
oficialato de natureza penal, decorrente esta última da condenação em crime militar
ou comum.
A Constituição Federal prescreve no seu § 1° do Art. 42, combinado
com o inciso VI, §§ 2° e 3°, do Art. 142; as garantias e prerrogativas dos oficiais
militares estaduais, in verbis:
Art. 42. Os membros das Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares,
instituições organizadas com base na hierarquia e disciplina, são militares dos
Estados, do Distrito Federal e dos Territórios.
§ 1° Aplicam-se aos militares dos Estados, do distrito Federal e dos
Territórios, além do que vier a ser fixado em lei, as disposições do art. 14, § 8°; do
art. 40, § 9°; e do art. 142, §§ 2° e 3°, cabendo a lei estadual específica dispor
sobre as matérias do art. 142, § 3°, X, sendo as patentes dos oficiais conferidas
pelos respectivos governadores.
Art. 142...
VI – o oficial só perderá o posto e a patente se for julgado indigno do oficialato
ou com ele incompatível, por decisão de tribunal militar de caráter permanente, em
tempo de paz, ou de tribunal especial, em tempo de guerra;
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os casos de submissão do oficial ao CJ (Art. 2º), bem como as normas
procedimentais que conduzem os ritos instrumentais da marcha apuratória.
Mais adiante, a Lei Estadual nº 6.957 de 3 de novembro de 1975,
disciplina que a perda do posto e da patente do oficial, por indignidade, só ocorrerá
por decisão da égide do Tribunal de Justiça do Estado, inclusive nomeando os casos
que tornam o oficial das Corporações Militares do Estado indigno ou incompatível
com o oficialato. É bem verdade que a lei estadual pouco ou quase nada acrescenta
aos procedimentos previstos na lei federal.
Por sua vez o Regimento Interno do Tribunal de Justiça editado pela
Resolução nº 84 de 24 de janeiro de 1996, dispõe a partir do seu Art. 256K e
seguintes, o rito procedimental do julgamento do Conselho de Justificação, naquela
corte, finalizando como decisão em última instância sobre a matéria.
Ainda em consonância com o tema a norma estatutária da Polícia
Militar de Pernambuco, Lei nº 6.783 de 16 de outubro de 1974, dispõe no seu bojo,
no Capítulo III Da Violação das Obrigações e dos Deveres, inserções acerca da
submissão do oficial a Conselho de Justificação no seu Art. 47, a seguir: “Art. 47 – o
oficial presumivelmente incapaz de permanecer como policial-militar da ativa será
submetido a Conselho de justificação na forma da legislação específica”.
Com o advento da Lei Complementar nº 158 de 26 de março de 2010,
que alterou o §2º, do Art. 3º da Lei nº 6.957 de 03 de novembro de 1975, atribuindo
competência ao Secretário de Defesa Social e a este Órgão correcional para indicar
ao Governador do Estado, o oficial a ser submetido a Conselho, que até então, era
competência privativa do Comandante Geral da Corporação, como observa-se in
verbis:
Art. 3º O Conselho de Justificação observará as normas de procedimento
estabelecidas pela lei federal, no que não for incompatível com os preceitos desta
Lei.
...
§ 2º Cabe ao Secretário de Defesa Social, ao Corregedor Geral da Secretaria de
Defesa Social, ou aos Comandantes Gerais da Polícia Militar e do Corpo de
Bombeiros Militar a indicação do oficial a ser submetido a Conselho de
Justificação.
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Diante da constatação de situações de irregularidades praticadas por
oficial militar, as quais noticiem os elementos materiais necessários à indicação de
autoria, e se enquadrem, em face de sua gravidade, nos casos previstos na
legislação específica de submissão ao Conselho de Justiça, deverá à autoridade
administrativa provocar o competente ato governamental de submissão, de acordo
com o que prescreve o §2º, do Art. 3º da Lei nº 6.957.
É bem verdade que com a criação da Corregedoria Geral da SDS,
foram criadas duas Comissões Permanentes de Disciplina Policial Militar, compostas
por 03 (três) oficiais superiores da Polícia Militar, sobre os quais recairão as
nomeações para o Conselho de Justificação, estabelecido no inciso III do Art. 7° da
Lei 11.929/01.
Submetido o oficial ao procedimento disciplinar por ato governamental,
caberá em seguida a autoridade administrativa, no caso em questão, o Corregedor
Geral ou o Comandante Geral, fazer baixar portaria instauradora do processo
administrativo – CJ.
Em face disso, no nosso entendimento, deveria a portaria inaugural
revestir-se de conteúdo objetivo claro de forma a permitir, tão somente, as condições
necessárias de legalidade e eficácia do ato administrativo.
Nesse sentido, na seara do Conselho de Disciplina se pronunciou o
então Corregedor Geral, Dr. José Luiz de Oliveira Júnior, por meio do Provimento
Correcional – Cor. Ger. n° 002 de 14 de abril de 2005, pela singularidade objetiva do
ato administrativo, conforme texto abaixo:
Provimento Correcional – Cor. Ger. n° 002 de 14 ABR 05. Dispõe sobre publicação
de Portarias distributivas de Conselho de Disciplina para as Comissões
Permanentes de Disciplina, previstas no Art. 7°, IV e VI, da Lei n° 11.929, de 02
JAN 2001, e dá outras providências. Secretaria de Defesa Social. Corregedoria
Geral. O Corregedor Geral, no uso de suas atribuições; considerando o disposto
no Art. 2° XI, da Lei n°11.929, de 02 JAN 01, c/c o Art. 4°, § 1°, II, “a”, do Decreto
Estadual n° 24.510, de 10 JUL 02, considerando que se faz necessário aplicar os
princípios da razoabilidade, economia processual e financeira também no âmbito
das atividades disciplinares desta Corregedoria Geral; Considerando que
publicações atinentes à distribuição de Conselhos de Disciplina, oriundos da
Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros Militar, representam ônus financeiro de
vulto a esta Corregedoria, mas são de interesse público e também das partes
integrantes da relação processual; Considerando que os temas versados em cada
Conselho estão vertidos nas respectivas Portarias de submissão, cujos textos são
publicados em Boletim Geral das respectivas Corporações, para ciência dos
interessados; Considerando a necessidade de se fazer publicar no Diário Oficial
do Estado a distribuição de cada Conselho; Considerando que os acusados, em
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sede de Conselho de Disciplina, têm ciência expressa e formal do libelo
acusatório (Art. 9°, do Decreto Estadual n° 3.639/75; Considerando que as já
referidas publicações em Boletim Geral e as atinentes à Portarias de distribuição
de cada feito atendem ao disposto no Art. 37, caput, da Constituição Federal,
RESOLVE:
Art. 1° - Portarias de distribuição de Conselhos de Disciplina serão
publicadas, em resumo, no Diário Oficial do estado, contendo: n° da Portaria, n° da
Portaria do Comandante Geral que submeteu o militar estadual a Conselho de
Disciplina, n° e data de publicação em Boletim Geral; nome, e matrícula do
aconselhado; fundamento legal da submissão; remissão à Portaria submissiva;
especificação da Comissão Disciplinar por onde tramitará o feito; n° do Conselho
de Disciplina; local, data, nome e cargo da autoridade correicional subscritora.
Art. 2° - Este provimento entra em vigor na data de sua publicação no Diário
Oficial do estado.
Art. 3° - Afixe-se no local de costume. Recife, 14 ARB 05. José Luiz de Oliveira
Júnior – Corregedor Geral. (griffo nosso)
2
COSTA, José Armando da. Teoria e Prática do Processo Administrativo Disciplinar. 3ª Ed. B J, 1999.
P. 183.
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sentido do ato administrativo iniciador do processo administrativo disciplinar - PAD
dos servidores civis, ou seja, para esse procedimento é imprescindível a portaria
inaugural tenha maior abrangência, no sentido de formalizar todas as informações
pertinentes a validade do ato como: embasamento legal, constituição da comissão,
objeto da apuração com as circunstancias delimitadoras da acusação. A partir de
então estará o acusado em condições de responder ao presente PAD na plenitude
de seu exercício de defesa.
Desta forma, questão controversa está na edição da portaria inaugural
do Conselho de Justificação e a função normativa do Libelo Acusatório. Porquanto,
verificamos hoje uma superposição, ou até mesmo, substituição da portaria pela
função específica do Libelo Acusatório, como se fosse uma usurpação do conteúdo
fático do libelo.
Ocorre que a portaria inicial de Conselho de Justificação formulada
dentro dos parâmetros apresentados no conceito do professor José Armando da
Costa, estaria perfeitamente adequada a proporcionar condições da comissão
processante, perquirir em busca da apuração da realidade dos fatos e das condutas
praticadas pelo justificante.
Entretanto, por vezes oficiais são submetidos a Conselho de
Justificação em face de acusações criminais, tanto na justiça militar ou comum, o
que por via de consequência, conduz a prática de infrações disciplinares.
Dentro dessa realidade, verificamos quase sempre que as portarias
inaugurais de Conselho de Justificação limitam-se a reproduzir cópias das denúncias
ministeriais, as quais visam a persecução criminal, não contendo no seu bojo as
condutas disciplinares afrontadas por ação ou omissão, previstas na Lei n°
11.817/00, CDME.
Ressalte-se que tal omissão de conteúdo da portaria compromete a
apuração dos fatos na sua plenitude, todavia neste caso, delimitará a abrangência
da acusação, formando uma vinculação temática do objeto do procedimento
investigatório.
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Considerações Finais
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governamental de submissão do oficial, com embasamento legal (Lei n°
5.836/72 e Lei n° 6.957/75) e nome e matricula do Justificante,
especificação da Comissão por onde tramitará o feito, n° do Conselho de
Justificação, local, data, nome, cargo da autoridade correcional
subscritora.
Referências
JUSTEN FILHO, Marçal. Curso de Direito Administrativo. 4 ed. rev e atual. São
Paulo: Saraiva, 2009.
ASSIS, Jorge Cesar de. Curso de Direito Disciplinar Militar. 5º ed. 2010.
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Resumo
O presente artigo trata da coação moral irresistível nos crimes contra o dever militar.
Inobstante o Código Penal Castrense reconheça expressamente que não é culpado
o agente quando age sob coação moral irresistível, o referido diploma também
expressa que o agente não pode invocar tal circunstância quando o crime que
incorreu violar o dever militar. Destarte, o que se vê é a aplicação de
responsabilidade objetiva, contrariando o próprio conceito de culpabilidade e, por
conseguinte, violando a Constituição Federal. Assim, pretende o referido trabalho -
que explora a inexibilidade de conduta diversa -, apresentar as ponderações
doutrinárias para não recepção do referido dispositivo face a Carta Magna.
Introdução
A palavra culpa e culpado tem sentido lexical comum de indicar que uma
pessoa é responsável por uma falta, uma transgressão, ou seja, por ter praticado um
ato condenável. Somos culpados de nossas más ações, de termos causado um
dano, uma lesão. Esse resultado lesivo, entretanto, só pode ser atribuído a quem lhe
deu causa se essa pessoa pudesse ter procedido de outra forma (MIRABETE,
2003).
Contudo o referido conceito nem sempre teve este entendimento. Na
antiguidade, bastava o fato lesivo, sem que se indagasse a culpa do autor da
conduta. O agente poderia ser responsabilizado penalmente sem culpabilidade.
Percebeu-se, porém, no decorrer da evolução cultural, que somente poderiam
ser aplicadas sanções ao homem causador do resultado lesivo se, com seu
1
Major da Polícia Militar de Pernambuco, Bacharel em Direito, Pós-Graduado em Ciências Criminais Militares,
Pós-Graduado pela Escola Superior de Magistratura de Pernambuco.
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comportamento, poderia tê-lo evitado (MIRABETE, 2003).
Destarte, com a introdução do direito penal intitulado de moderno, a
culpabilidade passou a ser elemento caracterizador da reprovabilidade da conduta
típica e antijurídica. Deste, restou claro que toda pena supõe culpabilidade, de modo
que não pode ser castigado aquele que atua sem culpabilidade (JESCHECK apud
MIRABETE, 2003).
A culpabilidade, que se compõe pela imputabilidade, potencial consciência da
ilicitude e exigibilidade de conduta diversa, é o terceiro elemento do crime no seu
conceito analítico, compondo sua estrutura tripartida.
Entrementes, para fins deste artigo, será tratado somente um dos elementos
da culpabilidade – exigibilidade de conduta diversa, em especial a coação moral
irresistível.
Neste, o que se pretende é avaliar a luz da melhor doutrina, se é possível ou
não a aplicação de uma pena ao autor militar que incorra em um fato típico e
antijurídico previsto no Código Penal Militar, no título III do livro I, de sua parte
especial, que traz o signo de crimes contra o dever militar, visto que o artigo 40 do
referido diploma legal estabelece que não é oponível ao agente alegar coação moral
nos crimes em que há violação do dever militar.
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Destarte, a liberdade de opção é eliminada do militar quando ele é
insuperavelmente coagido. Isto significa que, quando a coação é irresistível a
vontade do militar é viciada, pois é o coator quem dirigirá o acontecer finalístico, e
por isto não se pode efetuar sobre o coagido o juízo e censura pessoal da
culpabilidade, porque o coagido não teve vontade livre e consciente de se comportar
contrário ao direito (BRANDÃO, 2010). Só é punível quem é moralmente livre para
optar pelo cometimento ou não de um crime.
É lógico, porém e relevante destacar, que a inexibilidade de conduta diversa
alegada pelo militar deve ser apreciada concretamente e de maneira pormenorizada,
a fim de que se aprecie se realmente a coação era inelutável, visto que possui,
distintamente do civil, preparação para situações extremamente adversas.
Como cita Grego (2008), não se pode conceber um “padrão” de culpabilidade.
As peculiaridades e condições a que foi submetido o militar sob coação moral devem
ser cotejadas caso a caso, até porque o critério de aferição do medo de intimidação
que sofre um civil não pode ser o mesmo usado para apreciar se o militar pode ou
não resistir a coação.
Conquanto, é indispensável que o perigo seja tão sério que o militar sob
coação não possa se eximir, não possa suportar, e que assim constatado, não seria
exigível impô-lo qualquer ação, como à guisa de exemplos: a entrega da sua própria
vida ou de um ente querido.
O direito não pode exigir do militar heroísmo, a ponto que a lei penal seja
aplicada cegamente, sem a análise concreta se a vontade na qual se vê envolvido o
agente de um injusto se encontra ou não viciada.
Assim, havendo coação moral insuportável, não é exigível que o coato resista
bravamente, como se fosse um autômato cumpridor da lei (NUCCI, 2009).
Logo, é fundamental que se aprecie para a configuração ou não da
excludente de culpabilidade pela inexibilidade de conduta diversa, se o militar sofreu
uma intimidação intensa o suficiente para subjugar sua resistência, fazendo-o temer
a ocorrência de um mal tão grave que lhe será extraordinariamente difícil suportar,
obrigando-o a praticar o crime a que idealizou o coator.
Sabemos que os critérios são diversos na avaliação da irresistibilidade.
Assim, na lição de Nelson Hungria (apud LOUREIRO NETO, 2010), na avaliação da
coação moral, o ponto de referência é o homo medius: “Nem o herói, o homo
constantissimus, de Gaio, ou o tenax propositi vir, de Horácio, nem o pusilânime ou
indivíduo que tem medo à flor da pele”.
É irresistível a coação moral, diz Mayer (apud LOUREIRO NETO, 2010),
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quando não pode ser superada senão com uma energia extraordinária, e portanto,
juridicamente inexigível.
Incide contudo que o Código Penal Castrense estabelece que nos crimes que
atentam contra o dever militar, a coação moral ainda que irresistível, não aproveita o
agente. É semelhante a afirmar que, nesses casos, o militar deve ser dotado de uma
energia extraordinária, equiparando-se ao homo constantissimus de Gaio.
O que se vê neste cenário é que foi temerária a opção do legislador ao
excetuar a possibilidade da isenção de pena por decorrência da coação moral
irresistível quando o injusto penal se referir ao Dever Militar, pois é severamente
desproporcional e contrário ao próprio conceito de culpabilidade.
E mais, a negação do reconhecimento de coação moral irresistível nos crimes
contra o dever militar prevista no artigo 40 do Código Penal Militar não se mantém
plausível face a admissão do próprio legislador no artigo 38 do mesmo diploma legal
que prevê que não é culpado quem comete o crime sob coação irresistível ou que
tenha sua faculdade de agir suprimida.
Não nos parece exigível do militar tamanho sacrifício, que o torne infenso a
ameaças, quando, em face das circunstâncias, não lhe era exigível outra conduta
(LOUREIRO NETO, 2010).
Ora, nesse aspecto, um dispositivo penal que negue a inexigibilidade de
conduta diversa como causa exculpante penal afronta o princípio da culpabilidade
(COIMBRA, 2012), e que devido a sua natureza constitucional, deveria ser
declarado não recepcionado pela Carta Política.
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...A farda que veste o militar e que exteriormente o qualifica numa classe
profissional, não tem o poder de revesti-lo interiormente de qualidades inferiores e
de separá-lo numa categoria antropológica especial. Não há de identificar a
profissão com a individualidade; a classe com o homem. Seria barbarizar a justiça
incluir os militares, pelo simples fato de sua profissão, entre os indivíduos que
reclamam uma justiça mais severa – os criminosos tarados, reincidentes e
incorrigíveis. Seria barbarizar a justiça equiparar na aplicação de uma pena mais
severa um militar sem antecedentes judiciários e um paisano com história criminal
pregressa. Seria erigir a profissão militar numa circunstância agravante-geral e
comum de criminalidade. E tudo isso seria uma iniqüidade, só compreensível em
um tempo, já muito remoto, em que o soldado era tido por gente de maior
perversidade e de piores costumes; tempo em que as forças armadas se
recrutavam entre os relapsos e contumazes de todos os crimes.
Referências
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PRADO, Luiz Regis. Curso de Direito Penal Brasileiro, volume 1: Parte Geral, arts. 1º.
a 120. 12ª ed. Ver. Atual. E ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2013.
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Resumo
1
Capitã da Polícia Militar de Pernambuco, Especialização em Policiamento Turístico, E-mail:
carla.oliveira@pm.pe.gov.br
2
Major da Polícia Militar de Pernambuco, Especialização em Analise Criminal e Estatística pela
Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP), Pós-graduado em Gestão Governamental,
Pós-Graduado em Administração de Empresas . E-mail: wolney.pereira@sds.pe.gov.br
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Introdução
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Além de atender necessidades prementes de apoio a decisão, serviria também de
preparação para um conceito mais arrojado no futuro.
A qualidade das informações é avaliada pela precisão e segurança. Elas
também devem ser oportunas, ou seja, devem estar disponíveis ao gerente no
momento certo, para que sejam executadas as ações apropriadas. Também devem
ser relevantes e úteis, e em quantidade suficiente para que os gerentes possam
tomar decisões precisas [5].
Neste contexto, esse artigo procura demonstrar o resultado do emprego de
tabelas e gráficos dinâmicos do Microsoft® Excel na tomada de decisão durante o
planejamento operacional de uma unidade Policial Militar de Pernambuco, na
distribuição do contingente voltado ao policiamento ostensivo preventivo.
A necessidade de cruzar e analisar dados gerando informações e
conhecimento para realizar uma gestão eficiente e eficaz é uma realidade tão válida
quanto no passado o foi descobrir se “a alta da maré iria propiciar uma pescaria
abundante”, no passado e no presente não há como “navegar” às cegas.
1. Materiais e métodos
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Município de Olinda, Região Metropolitana do Recife, Pernambuco, Brasil, que em
2007 recebeu o título de Capital Nacional da Cultura. Segundo dados de setores
censitários do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a ZEIT Olinda
agrega uma população de 3.700 habitantes e 1.100 residências.
A CIATur empregava, à época, na área, um efetivo composto de 220 Policiais
Militares, com tempo médio de três anos na Corporação. Desse contingente, cerca
de 20% é bilingüe e 30% do efetivo são de policiais femininos. O policiamento é
realizado na modalidade a pé e motorizado, ou seja, com o uso de motos e carros, e
as equipes cumprem escala de trabalho de 12 horas de trabalho por 36 horas de
folga e são lançadas em turnos. A área é policiada durante 24 horas, 365 dias do
ano.
2. RESULTADOS
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O gráfico 2 dá uma visão geral das ocorrências da CIATur em Olinda e dentro
da Zona Turística quanto aos turnos de maior atendimento. Fica claro que o turno da
noite, com 36,49% dos registros, é o que requer mais empenho dos policiais.
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Analisadas 192 ocorrências distribuídas e 19 naturezas
registradas na ZEIT Olinda, foram selecionadas dentre elas 10 mais relevantes:
observa-se que juntas perfazem um total 48,20% dos registros (gráfico 4 e 5).
14,00%
12,50%
12,00% 10,71%
10,12%
10,00%
8,00% 7,14%
5,95%
6,00% 5,36%
4,17% 4,17%
3,57% 3,57%
4,00% 2,98%
2,38% 2,38% 2,38%
1,79% 1,79%
2,00% 1,19% 1,19%
0,00%
25,00%
20,00%
16,22%
15,00% 13,51%
9,46%
10,00%
8,11%
6,76%
5,41% 5,41%
5,00% 4,05%
2,70%
0,00%
AGRESSÃO DROGAS FURTO PORTE ROUBO AMEAÇA ATRITO LESÃO HOMICÍDIO VIOLAÇÃO
ILEGAL DE VERBAL CORPORAL DE
ARMAS DOMICÍLIO
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Verificou-se que 18% dos logradouros detêm mais de 50% dos registros. Os
principais logradouros têm média para o período de 6 registros (gráficos 6 e 7).
PRAÇA DO JACARÉ
RUA DO SOL
RUA 13 DE MAIO
PRAÇA DO CARMO
LADEIRA DA MISERICÓRDIA
3,00
2,00
1,00 0,67
-0,33
0,00
RUA DA BOA RUA AVENIDA RUA DO RUA DO SOL RUA
HORA MANOEL SIGISMUNDO BONFIM PRUDENTE
-1,00
BORBA GONÇALVES DE MORAIS
-1,33 -1,33 -1,33
-2,00
Gráfico 7. Total de ocorrências distribuídas pelos principais logradouros.
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pequena, existem variações de ocorrências nas menores porções da área, nas ruas,
que também variam entre si, conforme se vê nos gráficos 8, 9 e 10.
20,00%
15,00%
10,00%
5,00%
0,00%
MANHA NOITE TARDE
domingo 0,00% 10,00% 10,00%
segunda-feira 0,00% 0,00% 10,00%
terça-feira 20,00% 0,00% 0,00%
quarta-feira 10,00% 0,00% 0,00%
sexta-feira 0,00% 0,00% 20,00%
sábado 0,00% 10,00% 10,00%
7
7
2
2
1
1
0
DROGAS AGRESSÃO HOMICÍDIO
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Gráfico 10. Exemplo de distribuição do efetivo policial após analises, considerando ocorrências por
turno e dia da semana (o emprego de recursos humanos otimizados).
Considerações Finais
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aplica à falta de informações por não preenchimento adequado do BO e às falhas
ainda muito presentes no preenchimento do boletim de ocorrência.
Oficiais da Polícia Militar e gestores de segurança não demonstram conhecer,
em sua maioria, os recursos básicos de aplicativos ou sistemas de apoio a tomada
de decisão.
Segundo Cazorla [8], muitos profissionais e alunos demonstram dificuldades
mesmo na utilização das ferramentas de análise de dados mais simples, como por
exemplo, a representação de dados em gráficos. Entre essas dificuldades, as mais
frequentes referem-se a dificuldades de cunho matemático.
Com o advento do Business Intelligence, que já está sendo considerado um
verdadeiro sucesso em milhares de companhias, é fácil encontrar executivos que
não sabem como utilizar as informações oferecidas por soluções de BI, que, não
raro se aplica à Polícia Militar.
A extensão deste estudo se dá no sentido de ampliação do período estudado e
o geoprocessamento das informações. Os sistemas com características de
informações geográficas (geographic information system - GIS) permitirão a
manipulação de dados para realizar consultas e manipular características
geográficas da área. Todas essas representações espaciais estão organizadas na
forma de camadas, podendo o usuário ativá-las de acordo com sua necessidade [9].
Referências
[1] VELHO, G. 2004. Violência e conflito nas grandes cidades contemporâneas. VIII
Congresso Luso-Afro-Brasileiro de Ciências Sociais. Coimbra.
[3] Mc FARLAN, W. E. 1984. Information Technology changes the way you compete.
Harvard Business Review, v. 62, n. 3, p. 98-103, May/Jun. 1984.
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RESUMO
Introdução
1
Major da Polícia Militar de Pernambuco, Bacharel em Direito, Especialista em Direito Penal e Direito
Processual Penal, MBA em Planejamento e Gestão Organizacional, MBA em Gestão Governamental.
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consideráveis mudanças para a Justiça Militar brasileira, em especial para a Justiça
Militar Estadual.
Infelizmente, o direito castrense - aí inseridos o Direito Penal Militar e
Direito Processual Penal Militar – sempre foi abordado de maneira muito tímida,
quase imperceptível, nas bancas escolares das academias de Direito, fato que
acarreta uma total alienação destes ramos do direito por parte de boa parcela dos
operadores, inclusive juízes de direito não habituados a manusear a legislação
especial. Tal desconhecimento sugere uma maior divulgação dessa Justiça
Especializada e da sua forma de atuar – com rigor, transparência e isenção.
Cabe-nos salientar que a Justiça Militar vem sendo usada há milhares de
anos, nas mais variadas regiões do planeta e pelos povos mais diversificados,
lembrando-se, por exemplo, os romanos da Roma Antiga, e sempre com resultados
os mais satisfatórios, tanto que, nos países de hoje, continua-se a fazer uso dela,
com os ajustes e as adaptações evidentemente necessárias à adequação das
sociedades da atualidade. Sempre encaramos a Justiça Militar como um
instrumento necessário à realização da justiça e não um mero privilégio da classe.
O Direito Militar é indubitavelmente imprescindível à sobrevivência das
instituições militares, destacando-se que as particularidades da vida na caserna
impossibilitam sobremaneira que as demandas decorrentes das condutas praticadas
no âmbito militar sejam solucionadas pela via do direito comum. Ressalte-se ainda
que em razão das garantias constitucionais e da proteção internacional, essas
regras também devem ser analisadas à luz dos direitos humanos, como vem sendo
feito em tempos atuais.
De certo, se os processos resultantes de crimes militares fossem
remetidos a uma vara criminal comum, exigiriam muitas vezes conhecimentos que
não são peculiares aos operadores do Direito, como o significado de uma deserção,
insubmissão, motim, abandono de posto, Crimes Contra a Administração Militar,
desacato contra superior, crime contra o comandante do navio, oficial-de-dia, entre
outros ilícitos próprios da vida na caserna. (ROSA, 2005).
Nesta perspectiva, é bom que se diga (...) que o Direito Penal Militar é um
Direito Especial, com características próprias e que se destina (...) à tutela
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indispensável dos altos valores que compõem as Instituições Militares. (ASSIS,
2005, p.21).
As dificuldades, discussões e temas debatidos nas Varas e Tribunais
Militares sequer são ouvidos ou comentados nos corredores acadêmicos, o que
leva, ainda, aos futuros juristas a não desenvolverem nenhum interesse por esse
ramo do Direito, resultando numa considerável carência de profissionais
especializados nesta área.
1. Escorço histórico
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No nosso caso, a origem da Justiça Militar brasileira remonta ao século
XIV com a vinda de Dom João VI e família real para o Brasil, os quais fugiam, na
época, das tropas de Napoleão Bonaparte. Inicialmente foi criado o Conselho
Supremo Militar e de Justiça, mediante o Alvará de 1º de abril de 1808, para o
julgamento dos militares da Armada e da Força Terrestre. Anos após se tornaria o
atual Superior Tribunal de Justiça.
Não deve passar sem destaque a justificativa de D. João VI ao criar a
Justiça Militar no Brasil, expondo as seguintes razões: “por ser conveniente ao bem
do seu real serviço e a tudo o que respeitava à boa ordem e regularidade da
disciplina militar”2.
Ao analisar detidamente a história do Direito Militar chegaríamos à
conclusão de que o Superior Tribunal de Justiça é o mais antigo Tribunal brasileiro.
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Relembrando, a composição dos Conselhos de Justiça Militar é dada por
quatro Oficiais e um Juiz de Direito e pode ser Permanente, ao qual caberá
processar e julgar crimes militares praticados por praças (Suboficiais, Sargentos,
Cabos e Soldados), ou Especial, destinado exclusivamente ao processamento e
julgamento de Oficiais militares, sendo constituído em caráter excepcional para o
julgamento de apenas um Oficial individualmente (réu), e tem duração enquanto
subsistir o processo do qual é responsável. Neste contexto, é forçoso salientar que
quando usamos o termo “militares” estão inseridos os “militares dos Estados”, caso
dos policiais e bombeiros militares, ambos sob a égide da Justiça Militar Estadual.
O Conselho Permanente de Justiça tem duração de três meses e tem
competência para processar e julgar Praças e civis acusados de crimes militares (os
civis apenas na esfera federal - Justiça Militar Federal). Assim, o Conselho
Permanente não acompanha toda a instrução criminal, pois passado o trimestre de
sua duração, ocorrerá novo sorteio do qual participarão Oficiais da ativa, e, assim,
será nomeado novo Conselho por igual duração.
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âmbitos federal e estadual. Esse grupo terá o prazo de 90 dias para apresentar
relatório final com as propostas que serão encaminhadas ao Congresso Nacional e
às Assembleias Legislativas dos três Estados mencionados.
O próprio Presidente do Supremo Tribunal Federal e do Conselho
Nacional de Justiça, Ministro Joaquim Barbosa, afirmou que a Justiça Militar
Estadual não tem “necessidade” de existir, tendo em vista que poderia ser absorvida
pela justiça comum, fato que garantiria mais celeridade processual aos processos
militares. Dentre outras críticas, relaciona-se o fato do alto custo dos Tribunais
Militares e do Superior Tribunal Militar, por exemplo: o TJMMG consome R$ 30
milhões por ano de recursos públicos para manter a estrutura com sete
desembargadores e seis juízes que julgam em torno de 300 processos. Já em São
Paulo, o custo estadual é de R$ 40 milhões por ano e no Rio Grande do Sul, R$ 30
milhos anuais. Por sua vez, o Superior Tribunal Militar (STM) consome R$ 322
milhões de recursos públicos com 15 ministros e 962 servidores. A corte julga em
torno de 600 processos por ano. (NÓBREGA, 2014).
Por outro lado, analisando o caso com outra perspectiva, os Estados que
se enquadram na previsão constitucional de criação de Tribunais de Justiça
Militares, ou seja, que possuam efetivos maiores que 20 mil homens, a nosso ver já
os merecem há muito, uma vez que um Tribunal Militar no Estado certamente
solucionaria dois problemas emblemáticos da Justiça Militar Estadual: a demora no
julgamento dos recursos dirigidos ao Tribunal de Justiça na qualidade de segunda
instância, e a judicialidade desse julgamento ad quem.
Outra crítica que registramos mesmo passados quase 10 anos da EC
45/2004, é o fato de que pela formação completamente diferente da Justiça Militar,
dita Emenda, que criou o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), não incluiu membros
daquela Corte especial na composição do órgão externo, apesar de ter contemplado
todos os demais órgãos do Judiciário brasileiro. Não é demais registrar que com esta
posição deu-se um primeiro passo para a extinção da própria Justiça Militar, fato que
se observa atualmente com os recentes movimentos do STF e CNJ neste sentido,
conforme já exposto.
Uma grande crítica que lançamos à EC 45 era que acreditávamos que tal
Emenda pudesse corrigir o absurdo que ainda permanece no contexto da Justiça
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Militar Estadual. Ocorre que a Carta Constitucional limitou a competência da Justiça
Militar Estadual para apenas processar e julgar os militares estaduais, eliminando a
possibilidade de julgamento de civil, em virtude de cometimento de crime militar,
como ocorre ainda hoje na Justiça Militar no âmbito federal.
Ora, entendemos que não há nenhuma aberração jurídica em possibilitar à
Justiça Militar Estadual tal competência, nem que para isso, fosse atribuída
exclusivamente ao Juiz de Direito (Juiz togado) como hoje ocorre em relação nos
crimes onde a vítima é civil. Muito embora haja previsão no Código Penal Militar de
cometimento de crime militar por civil, observamos que, na prática, um civil não
comete crime militar contra uma instituição militar em face de uma limitação
constitucional.
Um comentário em relação ao § 4º do art 125 da CF também é
importante, haja vista que neste caso a Emenda trouxe mudanças significativas e
polêmicas. Tivemos, na situação em apreço, a inclusão da possibilidade de
julgamento de ações judiciais contra atos disciplinares militares, reformulando, desta
feita, a competência da Justiça Militar estadual.
Senão vejamos,
§ 4º Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os militares
dos Estados nos crimes militares definidos em lei e as ações judiciais contra
atos disciplinares militares, ressalvada a competência do Tribunal do Júri
quando a vítima for civil, cabendo tribunal competente decidir sobre a perda do
posto e da patente dos oficiais e da graduação das praças. (Grifo nosso)
Com essa determinação legal, a Justiça Militar passou a ter uma
competência civil, que era antes exercida por Varas da Fazenda Pública estadual.
Assim, é dizer que todas as ações ordinárias, incluindo-se também os mandados de
segurança impetrados por militares estaduais que tenham por fim a análise de vícios
de legalidade de atos administrativos disciplinares hoje são ajuizados junto à Justiça
Militar Estadual, fato que apenas gerou um aumento na demanda de processos de
uma Justiça Especializada que já é muito criticada por sua suposta morosidade.
Assim, é forçoso salientar a preocupação que é gerada ante esta situação
haja vista o crescimento no número de processos de natureza civil que passaram a
tramitar no âmbito das Justiças Militares Estaduais, prejudicando sobremaneira a
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celeridade no andamento das ações ajuizadas, principalmente por que em muitos
Estados, como Pernambuco, há quando muito, apenas um juiz-auditor (antiga
denominação aplicada ao juiz togado da Justiça Militar Estadual).
Outro complicador, infelizmente ainda recorrente quanto à suposta
morosidade da justiça castrense reside no fato de que vários processos são julgados
como se processos comuns fossem, gerando, desta feita, outro grande problema
para a Justiça Militar Estadual: a incontestável falta da especialidade dos julgadores
de segundo grau, que pelo indiscutível desconhecimento do Direito Militar, proferem
decisões equivocadas e, por consequência, causam sérios prejuízos à Corporação e
à sociedade e, em última análise e alguns casos, ao militar julgado. (NÓBREGA,
2014).
Merece nosso destaque o fato que o § 4º do artigo 125 da Carta Magna
deu às praças militares dos Estados garantias até então estendidas apenas aos
Oficiais, uma vez que condicionou a perda de suas graduações a uma decisão de
segundo grau da Justiça Estadual. Tal fato, a nosso ver, tem uma vertente positiva e
uma negativa. Positiva, porque se valendo do princípio da isonomia, hoje, oficiais e
praças são julgados de forma igualitária. Negativa, pois criou mais um protecionismo
no âmbito do serviço público, considerando que colocou num mesmo patamar posto
e graduação e, mais que isso, tornou seus detentores praticamente inatingíveis, uma
vez que não raro se observa ainda atrelados às fileiras das Corporações oficiais e
graduados condenados à penas de reclusão superiores a dois anos, com sentenças
transitadas em julgado. Como dito, mesmo com representações no sentido de perda
do posto (oficiais) e da graduação (praças) é difícil constatar decisão que os expulse
em definitivo da Corporação de origem.
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processos-crime em trâmite e 258 ações judiciais contra atos disciplinares (ações
de natureza cível), totalizando 835 ações que tramitam naquela “vara”.
Fato que merece destaque é que como há apenas um juiz de direito em
exercício na JME aquele magistrado tem jurisdição em todo o território de
Pernambuco, vez que não há mais nenhuma outra célula da JME em nenhum outro
município do Estado.
Desta forma, fica claro perceber que deveria haver certo grau de dificuldade
no desdobramento e andamento das ações judiciais em trâmite na JME justificando,
assim, a máxima de que as Justiças Militares perderam a razão de existir posto que
são morosas, ineficientes e protecionistas, mesmo após o advento da reforma
provocada pela EC 45.
Pois bem, mostraremos que o exemplo em Pernambuco é bem diferente do
que pregam os que defendem o fim da Justiça Militar Estadual com base nos
argumentos acima.
De posse de dados catalogados pela própria JME pudemos observar que
desde a criação da antiga Auditoria da Justiça Militar Estadual (AJME) em 16 de
dezembro de 1933 até a presente data um total de 7.913 ações judiciais foram
distribuídas. Deste montante, 7.078 processos já foram solucionados, ou seja, um
número bastante expressivo.
Ao analisarmos a última década, de 2003 à 2013, podemos observar que os
Conselhos de Justiça condenaram mais do que absolveram os réus naquele juízo,
jogando por terra a tese do protecionismo. Para se ter uma idéia, na última década
foram 247 condenações contra 164 absolvições.
Número expressivo também foi o de solicitações de arquivamento por parte
do titular da Ação Penal, ou seja, o Ministério Público. No mesmo período foram 668
pedidos de arquivamento. Diante desta marca, algumas conclusões podem ser
tiradas. Mais uma vez não há que se falar em “corporativismo” ou protecionismo
uma vez que na JME não há carreira de Promotor Militar, como na Justiça Militar da
União, e tal solicitação não depende vontade de nenhum componente dos
Conselhos de Justiça. Os promotores que recepcionam as peças de Inquérito
Policial Militar são os mesmos que, na Central de Inquéritos do Ministério Público de
Pernambuco, recepcionam os Inquéritos da Polícia Civil. Os pedidos de
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arquivamento que são dirigidos ao magistrado da JME são realizados com base no
convencimento do promotor que toma como base o Relatório do Presidente do IPM.
Dados recentes que compravam a celeridade da JME (Pernambuco) dão
conta de que em 2013 foram distribuídos 159 processos naquela Vara. Por sua vez,
foram julgados 211 ações, numa clara demonstração de eficiência e eficácia de uma
justiça que, mesmo secular, mostra-se necessária e célere3.
Considerações Finais
3
Fonte: Justiça Militar do Estado de Pernambuco (Cartório da JME).
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Assim, também concluímos que ao retirar do Conselho de Justiça a
competência para processar e julgar os crimes militares, quando a vítima for civil,
excetuando-se, porém, os casos de competência do Tribunal do Júri, a EC 45
acabou mitigando a ideia de que os militares - neste caso, somente os militares
estaduais - quando do cometimento de crimes militares, deveriam ser processados e
julgados pelos seus pares. Mesmo após todos estes anos da já reformada Justiça
Militar Estadual, afirmamos que tal alteração também feriu profundamente um dos
princípios que justificam a existência da própria Justiça Militar que é a possibilidade
de o militar ser julgado por seus pares, o que não implica necessariamente em
corporativismo ou protecionismo classista como frequentemente argumentam os que
não conhecem a realidade castrense.
Referências
ASSIS, Jorge César de. Direito Militar. Aspectos Penais, Processuais Penais e
Administrativos. 1ª edição, Curitiba: Juruá, 2005.
_____________________. A Reforma do Poder Judiciário e a Justiça Militar.
Breves considerações sobre seu alcance. Direito Militar. Revista da Associação
dos Magistrados das Justiças Militares Estaduais - AMAJME; Número 51 -
Janeiro/fevereiro de 2005.
NÓBREGA, Thalita Borin. A questão da Justiça Militar. Rio Grande, 2014.
Disponível em: http://www.ambito-
juridico.com.br/site/index.php/?n_link=revista_artigos
ROSA, Paulo Tadeu Rodrigues. Especialização dos Conselhos de Justiça –
Julgamento pelos pares como preceito constitucional. Disponível em:
<http://www.jusvi.com.br/doutrinas_e_pecas/ver/16476>
_______________________. Especialização dos Conselhos de Justiça -
Julgamento pelos pares como preceito constitucional. Disponível em:
<http://www.jusvi.com.br/doutrinas_e_pecas/ver/16476>
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RESUMO
O clamor da sociedade por segurança faz da formação policial uma área desafiante
e necessária diante da superação do paradigma repressivo e reconhecimento do
caráter preventivo como fundamento formativo do profissional de segurança pública.
Nesta perspectiva, o presente estudo teve como foco de atenção a natureza do
policiamento ensinado na respectiva Academia de Formação desse profissional,
nomeadamente através da percepção dos Oficiais lá formados e da análise da
malha curricular do CFO/PM. Para tanto, foram realizadas entrevistas junto a
tenentes que atuaram na operacionalidade entre os anos de 2009 a 2011, cujos
dados obtidos apontam para percepções distintas em torno da teoria ensinada e da
prática institucional, suscitando reflexões em torno da construção de política
formativa voltadas à proteção dos Direitos Humanos.
Introdução
O clamor social por uma polícia mais eficiente e protetora dos direitos
humanos é patente. E dentro do contexto atual da Segurança Pública, a formação
policial deve receber destaque e atenção de todos os segmentos da sociedade, não
mais somente dos que fazem as instituições policiais. A segurança pública passou a
ser um tema complexo e analisado sob a ótica das mais diversas camadas da
1
Capitão da Polícia Militar de Pernambuco, Doutorando do Programa de Pós-graduação em
Educação (PPGE) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), e-mail
benoni_pmpe@yahoo.com.br
2
Professora da UFPE, membro do Núcleo de Formação Continuada Didático-Pedagógica dos
Professores da UFPE (NUFOPE) e membro colaborador do Centro de Intervenção e Integração
Educativa (CIIE) da Universidade do Porto (U.Porto), e-mail katiamcramos@gmail.com
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sociedade – principalmente tendo em conta a transição paradigmática que aponta
para uma redefinição da atividade de policiamento e reflexão sobre a reforma da
polícia e a formação de seus profissionais no sentido mais protetor dos direitos
humanos.
É nessa perspectiva que o presente estudo se insere. E para dar conta do seu
propósito, na primeira seção trataremos dos estudos a respeito das concepções
sobre as atividades de policiamento na perspectiva da proteção dos direitos
humanos. Na segunda, apresentaremos a perspectiva curricular da formação do
Oficial da Polícia Militar de Pernambuco (PMPE) na sua relação com os conteúdos
relacionados com a atividade de policiamento e direitos humanos. Por fim, na
terceira seção, traremos dados de uma pesquisa junto a Oficiais Subalternos
atuantes das unidades operacionais, evidenciando desafios para uma reformulação
curricular perspectivada em função do caráter educativo e protetor dos direitos
humanos, que devem ser inerentes à formação policial.
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perpetua ao longo dos tempos. O policiamento ostensivo é entendido como
exclusividade da Polícia Militar para o cumprimento de suas missões, legitimando
sua ação tanto nas atividades preventivas quanto nas repressivas, quando assim for
preciso.
O pesquisador francês Monjardet (2003, p.299), levanta a reflexão em torno
das atividades de policiamento a serviço dos valores da sociedade democrática,
chega à conclusão de que “a polícia é a instância que, dispondo da força, é a que
tem mais condições para se libertar do direito”. Defendendo que toda ação policial
seja mediatizada, ou seja, reinserida na sociedade democrática na construção
permanente da ordem social.
Discutindo o policiamento moderno, Tonry e Morris (2003, p.428) afirmam que
o policiamento “refere-se à preservação da paz, isto é, à manutenção de uma forma
de fazer as coisas, em que as pessoas e propriedades estão livres de interferência
não justificada”. A idéia de paz concebida nesta definição substitui a ordem pública
numa nítida idéia de consistência em tratar das questões que envolvem a segurança
na sociedade, agregando ao policiamento valores maiores do que a simples
presença, pois deve promover a continuidade da paz, livre de ameaças, ou seja,
promotora dos direitos humanos.
Todavia, como atualmente é concebido, vem falhando no controle e na
prevenção do crime, pelo fato de se resumir em aplicar a lei de forma profissional,
defendendo que o policiamento deve ser entendido como atividade profissional que
venha a fortalecer os laços com a comunidade. No seu ensaio, Tonry e Morris (2003)
acrescentam que a atividade de policiamento deve englobar a preservação da paz,
garantindo segurança às pessoas, seus direitos e sua propriedade.
Percebe-se assim, a preocupação com o reducionismo na definição de
policiamento, para que suas atividades não se limitem apenas às respostas da
polícia aos cometimentos de ilicitudes, mas sim às ações voltadas para promoção da
paz social e proteção dos direitos inerentes à pessoa humana. O debate acerca da
atividade de policiamento ganha um enfoque próprio na discussão promovida nos
estudos de Brodeur (2002) acerca das questões entre um policiamento de reação,
prevenção e manutenção da ordem desenvolvida pelas forças policiais modernas,
instituídas há um século, e um policiamento orientado para administração e
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minimização dos riscos a ser desenvolvido por uma força policial contemporânea.
Para Goldstein (2003) o bom policiamento é aquele desempenhado pela
polícia de modo a combater incansavelmente aos crimes e, ao mesmo tempo, estar
dentro da lei, além de proteger os direitos dos cidadãos. O trabalho da polícia deve,
portanto, ser baseado no equilíbrio das relações entre polícia e uma sociedade livre
e democrática. Debate fortalecido por Balestreri (2003) que aponta para
caracterização do policial como agente de segurança pública, como atributos de
ouvidor social, tratando da perspectiva de afirmação de um novo paradigma de
segurança pública.
Nesse contexto, a formação policial tem lugar de destaque por constituir-se
lugar privilegiado de onde emanam os padrões de policiamento e políticas de ação
policial, no sentido de cumprir a missão constitucional, manter a ordem pública e
garantir a paz social.
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trará consigo a pesquisa e o estudo mais avançado em torno da própria natureza do
trabalho e a formação profissional do policial.
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Neste contexto, destacamos as disciplinas de Policiamento Ostensivo I, II e III,
as quais se desenvolvem ao longo dos três anos, perfazendo o total de 390 h/a,
iniciando com o estudo teórico inicial da atividade de policiamento, a começar pelo
fundamento básico até as estratégias de policiamento, antes de desenvolver os
conteúdos de procedimentos em ocorrência e as técnicas de abordagem policial.
Em termos de direitos humanos, os cadetes tiveram a oportunidade de
trabalhar a temática no primeiro ano de formação, representando 30 horas-aula de
estudos, tratando das questões ligadas ao direito internacional humanitário e
princípios dos direitos humanos, relações de respeito à diversidade, debate sobre a
olícia e os direitos humanos e visitas de estudos, mas sem relacionar diretamente
com a prática do policiamento.
É a partir do segundo ano de curso que percebemos a inserção de um nível
mais ampliado de disciplinas presentes no primeiro ano e outras disciplinas que se
relacionam com a forma de pensar e agir em termos de policiamento, entre as quais:
Sociologia do Crime e da Violência e Fundamentos de Polícia Comunitária. Já no
terceiro, as disciplinas terminam seu ciclo de complexidade, como no caso de
Policiamento Ostensivo III, contudo, deveriam se relacionar com as disciplinas de
Planejamento Operacional de Policiamento Ostensivo, Sistema de Segurança
Pública no Brasil, Abordagem Sócio-Psicológica da Violência e Gerenciamento de
Crises, que oportuniza o discente a entender a natureza do policiamento, do crime
como fenômeno psicossocial e conhecer os estudos sobre segurança pública na
contemporaneidade.
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tenentes detêm uma visão legalista acerca dessas questões, afirmando
categoricamente que é de características ostensivas, atuando na prevenção, mas,
nessa parte, sem fazer menção à proteção dos direitos humanos. Tanto que, na
grande maioria das entrevistas, ficou evidente que o atual foco da atuação do
trabalho policial é o policiamento repressivo, atuando nas ocorrências e na redução
de índices de violência, como se vê na expressão (OF.2) “policiamento ostensivo e
preventivo, mas atuando mais na repressão aos delitos e redução dos homicídios”,
ou ainda (OF.4) “um policiamento ostensivo apenas atendendo ocorrências”.
No que se refere ao sentimento de preparo profissional para atuar nas
atividades de policiamento ao qual está submetido na Instituição Policial Militar,
encontramos de forma predominante a sensação de que os militares estaduais se
sentem preparados, mas com pouca prática de vivência policial, mas que, ao passar
do tempo, advêm à segurança almejada na execução das atividades de
policiamento, demonstradas nos termos (OF.8) “sinto preparado em termo de base
teórica”, (OF.6) “sinto-me preparado, no curso temos o norte, a segurança vem com
o pós-formação”.
Quando tratamos acerca da visão deles em torno do nível de formação que
tiveram no CFO/PM, em termos de suas atuais atividades de policiamento, os
Oficiais apresentaram uma harmonia interessante deixando a sensação de que o
CFO/PM foi uma atividade pedagógica muito proveitosa em termos de
aprendizagem, fazendo inclusive referencias comparativas interessantes, tais como
(OF.1) “nível muito bom, acho que não deixa a desejar a nenhum outro na área de
segurança pública”, (OF.4) “gostei muito, a gente tem no nível de qualquer outro
curso superior”.
Apesar disso, a metade dos entrevistados deixou a entender que, embora
classifiquem o aludido curso como de bom nível, a parte prática concernente à
aplicabilidade dos conhecimentos teóricos e práticos estudados na Escola de
Formação, exatamente no cotidiano das atividades de policiamento desempenhadas
pelos Oficiais nas próprias Unidades Operacionais, o que representa a realidade do
trabalho da polícia, deixou a desejar nesse ponto, como podemos comprovar nas
seguintes afirmativas: (OF.7) “Nível bom, mais faltou mais prática do dia-a-dia”, (OF.
3) “bom nível, mas um pouco falho, pois deveria ter mais estágios”.
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Quando os entrevistados se viram à frente das questões que envolviam os
conteúdos estudados durante sua formação, refletindo sobre aqueles que julgavam
mais importantes diante das atividades atuais de policiamento, a tendência
majoritária foi apontar as disciplinas voltadas para o campo do conhecimento
operativo, tais como policiamento ostensivo (abordagem policial) e tiro policial, mas
sem se esquecer afirmar a imprescindível necessidade de relacionar estas
disciplinas com as do conhecimento cognitivo das áreas de direito e gestão
operacional e administrativa, como pode se constatar nas passagens a seguir:
(OF.3) “Os conteúdos práticos, abordagem, tiro e modalidades de policiamento, por
exemplo, aliada a parte teórica”, (OF.9) “os mais importantes que considero foram as
aulas de abordagens a edificações, veículos e pessoas, que é o que fazemos
diariamente, junto a parte de direito, que está atrelada.”, (OF.2) “os voltados para a
gestão e direção junto com as técnicas de abordagem e policiamento”.
Nesta linha da entrevista, ficou bem caracterizada, por unanimidade, a
importância de aliar as disciplinas de natureza teóricas às de natureza práticas,
(OF.4) “parte legal de direito e legislação junto com a parte operacional de
abordagem e tiro”, ora citando a parte das disciplinas atinentes à gestão
administrativa/operacional (planejamento), (OF.7) “abordagem, tiro policial e
policiamento em geral conjuntamente com a parte de planejamento”.
Excetuando-se um dos entrevistados, quando o assunto foi relacionado à
insuficiência ou não contemplação de conteúdos julgados indispensáveis, na visão
profissional de cada um, mas com foco na atividade de policiamento, o alvo maior da
totalidade das entrevistas foi exatamente a falta de aproveitamento das
oportunidades de estágios durante a vida acadêmica e de exploração dos momentos
destinados a essa prática. Nas entrevistas, era possível notar a ênfase e as
expressões corporais ao falar deste tema, das quais destaco as seguintes: (OF.1)
“Os estágios ao final de cada ano deveriam ser melhor aproveitado, o diretor deveria
ser mais efetivo”, (OF.3) “Insuficiente nenhuma, mas poderia focar mais a prática
cotidiana do Oficial, o EHP3 deveria ser mais explorado”, (OF.7) “Foram muitos
conteúdos importantes, deveríamos ir mais às Unidades Operacionais para aliar a
3 Estágio de Habilitação Profissional – refere-se ao período em que o cadete em formação é alocado numa
OME para desenvolver a prática supervisionada das futuras atribuições do Oficial de Carreira (QOPM).
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teoria à prática junto com a sociedade”. Note aqui, a relevância do tema na visão
dos discentes.
Verificamos ainda a preocupação de alguns tenentes com a prática de
realização de procedimentos administrativos (OF.8) “só aprendi a fazer sindicância,
inquéritos e processo de licenciamento, aqui na prática mesmo”, e com a relação
sistêmica dos Direitos Humanos com a atividade de policiamento (OF.6) “há uma
relação entre a parte de direitos humanos e a parte de policiamento ostensivo geral,
mas só é dado no primeiro ano” que acendem mais um importante alerta
pedagógico, agora na articulação das disciplinas.
Na parte final da entrevista, notamos as mais diversas percepções em torno
da sua prática de policiamento, os Oficiais Subalternos apresentaram apenas um
elemento em comum quando estimulados a testemunhar como se vêem nesta
atividade profissional, que fora justamente o fato de que se constituem os policiais
com características de estarem à frente das situações, na condição de
comandamento, nos fragmentos a seguir: (OF.1) “policial à frente das situações” ou
(OF. 2) “policial treinado para estar à frente das operações”.
No âmbito da pesquisa foi interessante relacionar a atividade de policiamento
com a sociedade, pois quando pedimos para expressar sua percepção acerca do
policiamento esperado pela sociedade, parte dos entrevistados demonstrou um
pensamento de que a sociedade não aceita ser abordada ou deseja nossa constante
presença, ora vejamos (OF.3) “a sociedade espera é que sejamos onipresentes, isso
não dá” e ainda (OF.5) “a sociedade quer mais presença, mas não quer ser
abordada”.
Outra parte dos entrevistados, por sua vez, mostrou-se mais perspicaz ao
tema (OF.6) “espera um policiamento pró-ativo, não apenas repressivo, com uma
integração maior, melhorando a relação interpessoal”, entendendo o lado
humanitário do policiamento (OF.4) “espera um bom atendimento, respeitador e
reduzindo a violência”.
Um dos entrevistados levantou a tese de que a visão da sociedade sobre a
polícia é prejudicada pelo seu passado, (OF.2) “sua visão é pré-formada da polícia,
resquícios antigos, mas ela espera mais proximidade”, credito esta fala, pelo
andamento da entrevista, numa perspectiva de tentativa de justificativa pela não
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proximidade da polícia, nos dias atuais.
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com a polícia trabalhando ativamente e próxima da população, já está permeando o
pensamente deles, contudo, ainda um pouco desordenado.
É imprescindível notar, portanto, que a base de formação do policial
consubstancia-se num elemento fundamental neste processo de mudança de
filosofia de policiamento, como pudemos aprender no trabalho coordenado por
Ratton e Barros (2007, p.267):
Embora a polícia tenha sido instituída para atuar muito mais como força
repressiva do que preventiva, ou seja, atuando na ótica da punição do que
da prevenção, os novos paradigmas constitucionais têm exigidos processos
de redefinição tanto no modelo de gestão, quanto dos processos de
formação, de regulamentação da ação policial e de controle social.
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nos ensina Roldão (2003).
Como vimos anteriormente, a distribuição da carga horária do estudo do
policiamento é gradativa. Contudo, em termos de conteúdos abordados, não
observamos a presença desta gradação, pois o discente praticamente não estuda as
correntes teóricas e experiências em policiamento e tem apenas uma oportunidade
de refletir e debate as questões ligadas aos direitos humanos, além da ausência de
articulação entre eles, apontando para necessidade de revisar criteriosamente o
currículo e seus propósitos.
É óbvio que estamos tomando como referência as competências e
habilidades pretendidas para o futuro policial, dado os desafios da sociedade
contemporânea, e a formação enquanto processo educativo, que deve agregar
conteúdos, valores, atitudes e experiências de forma crítica para execução de suas
atividades. É um propósito que se aproxima do esforço de outras áreas, como a
Pedagogia, na busca de afirmar o Plano Nacional de Educação em Direitos
Humanos, que, como nos diz Dias e Porto (2010, p.29), seu objetivo principal "é a
difusão de uma cultura de direitos como forma de prover sustentação às ações de
promoção, proteção e defesa dos direitos humanos".
No seu estudo sobre o modelo policial e sua formação, Poncioni (2005)
destaca a importância da formação nas academias de polícia para a construção da
identidade profissional, como etapa que faz considerável diferença para a vida
profissional. E o momento de busca na formação, o desenvolvimento de valores da
profissão bem como das competências e habilidades para o campo de trabalho
policial. Ele precisa, então, entender o que é ser policial num determinado modelo de
policiamento, cuja essência permeia a proteção social.
De forma bem categórica, os sujeitos do presente estudo, Oficiais formado na
APMP, atestaram o desejo de aproximação, enquanto antigo discente, com sua
futura atividade de policiamento. O planejamento de um curso de formação,
principalmente numa área como a segurança pública, deve se preocupar com esta
maior interação do formando com os integrantes de sua futura Instituição e, por que
não, da sociedade, seu objeto de proteção, atuando como sujeito ativo no processo
formativo.
Nos seus estudos sobre o ensino policial, Lima et. al. (2006) aponta que
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planejar a atuação de maneira flexível permite uma adaptação às necessidades dos
alunos. É preciso, assim, ir além da execução das atividades de estágio
supervisionado, o ideal é justamente o acompanhamento disciplinar dos docentes
nestas atividades contextualizadoras do conhecimento teórico ensinado na escola de
formação, devendo, para tanto, promover atividades que permitam relação direta
com o conteúdo trabalhado.
No que se refere à proteção aos direitos humanos - debate bem atual da
sociedade contemporânea - ficou evidenciada a carência da relação interdisciplinar
do tema com as disciplinas responsáveis por desenvolver a capacidade de realizar
policiamento. Se considerarmos a relevância de se desenvolver um trabalho de
integração dos conteúdos das disciplinas que tratam do policiamento com as outras
importantes áreas do conhecimento para atividade policial, sem dúvida, trazer os
avanços na área de direitos humanos para o debate de realizar o policiamento
ostensivo e preventivo é imprescindível para uma melhor formação policial. Candau
e Sacavino (2010, p.128) nos ensina a respeito do princípio da integração que:
Os temas e questões relativas aos direitos humanos devem ser integrados
no desenvolvimento das diferentes áreas curriculares [...] Não se trata de
incluir novas disciplinas ou unidades didáticas [...] O desafio está em
integrá-los tato no plano cognitivo, quanto afetivo e comportamental no dia a
dia das escolas em suas diferentes dimensões.
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condições objetivas que se lhe oferecem para trabalhar.
Considerações Finais
Destacamos, novamente, que não teve o propósito de generalizar as
informações e percepções detectadas nos Oficiais Subalternos da PMPE,
entrevistados sobre a natureza do policiamento ensinado na formação, mas sim,
proporcionar subsídios necessários ao debate acerca da construção de política
formativa de seus profissionais de segurança pública voltada para proteção aos
direitos humanos.
Reforçamos também que, assim como foi percebido por Caruso et. al. (2007),
é preciso discutir a realidade da polícia com seus próprios integrantes, no interior de
sua instituição, e assim, romper com os pré-conceitos, construindo um ambiente
propiciador de diálogo ativo. Para, assim, ser capaz de permitir aos seus integrantes
falar abertamente de seus dilemas, inquietações e desafios na formação do
profissional de segurança pública e no estabelecimento de uma política de
policiamento mais voltado para proteção dos direitos humanos.
Nesse sentido, ficou evidenciado que é imprescindível promover o debate
curricular sem perder de vista os temas atuais em torno do trabalho policial e a
formação de seus profissionais. Dessa forma, é igualmente importante refletir sobre
o requisito de ingresso na carreira. A graduação em Direito, por exemplo,
possibilitaria focar mais a matriz curricular da formação profissional na atuação
policial, considerando que o cadete já entraria qualificado no que se refere aos
conteúdos jurídicos.
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Entretanto, a revisão dos parâmetros curriculares deve romper com pré-
conceitos e paradigmas, estendendo este debate em fóruns interdisciplinares,
permitindo o diálogo entre policiais e profissionais de ensino na construção de
políticas educacionais para formação dos profissionais de segurança pública.
A pertinência do debate permanente acerca da formação dos Profissionais de
Segurança Pública, pelo seu caráter dinâmico, perspectivada na atuação preventiva
e educativa é notória. As atividades futuras de policiamento a ser desempenhadas
pelos futuros policiais devem se alinhar à realidade da nossa sociedade
contemporânea.
O avanço das ações formativas é fundamental. O enfrentamento de desafios
nesse debate - em construção - na perspectiva de efetivar políticas de policiamento
em proteção aos direitos humanos, no âmbito das Academias de Formação dos
Policiais, faz parte da caminhada pela formação profissional do agente de
Segurança Pública voltada para atender os anseios da sociedade contemporânea. E
trilhar o ensino policial no compromisso de qualidade, em busca do maior objetivo da
função policial: a paz social e proteção dos direitos humanos.
Referências
Artigo publicado no Vol.03 Nº01 - Edição de JAN a JUN 2014 - ISSN 2318-3152 -
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Janeiro. Rede de Policiais e Sociedade Civil, p. 163 a 178, 2007.
LIMA, Maria Socorro Lucena et. al. O Ensino Policial: trajetórias e perspectivas.
Fortaleza: UECE, 2006
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RESUMO
Introdução
1
Capitão da Polícia Militar de Pernambuco, Bacharel em Direito, Pós-Graduado em Direito
Processual Civil, Penal e Trabalhista, Pós-Graduado em Direito Público, Pós-Graduado em Ciências
Criminais Militares.
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(MEIRELLES, 1996)”2.
Já Maria Sylvia Di Pietro, recorrendo-se a um processo de cognição dedutivo
a partir de um estudo semântico discorre que "No idioma de origem, os elementos
componentes da palavra sindicância, de origem grega, são o prefixo syn (junto, com,
juntamente com) e dic (mostrar, fazer ver, pôr em evidência), ligando-se este
segundo elemento ao verbo deiknymi, cuja acepção é mostrar, fazer, ver. Assim,
sindicância significa, em português, à letra, a operação cuja finalidade é trazer à
tona, fazer ver, revelar ou mostrar algo, que se acha oculto. (DI PIETRO, 2005)"3.
Na Polícia Militar de Pernambuco, por força da Portaria do Comando Geral nº
122, de 04/06/12, publicada no SUNOR nº 011, de 15/06/12, utilizamo-nos da
Portaria do Comando do Exército nº 107, de 13/02/2012 que estabeleceu as
Instruções Gerais para a Elaboração de Sindicância no Âmbito do Exército Brasileiro
(EB10-IG-09.001), o que a partir deste ponto iremos tratar apenas como "Manual de
Sindicância".
Primeiramente é preciso entender que o instrumento Sindicância
Administrativa não é um privilégio das Corporações Militares, sendo a figura utilizada
também em todos os órgãos que compõem o serviço público, cada qual é verdade,
com sua própria regulação. Podemos classificar o gênero Sindicância de acordo
com algumas espécies conhecidas na literatura, das quais destacamos duas, a
saber: a Sindicância Investigativa, como sendo aquela em que é conhecido o fato a
apurar e desconhecido o autor; e, a Sindicância Acusatória, quando o fato discorrido
já aponta um autor possível a ser investigado. Assim podemos também aferir que
enquanto a Sindicância Investigativa é mero procedimento administrativo, a
Sindicância Acusatória é um Processo em si e por isso mesmo deve obedecer
princípios constitucionais processuais especialmente a obediência ao Devido
Processo Legal, a ampla defesa e ao contraditório.
A fim de tornar mais didático, subcapitulamos o presente artigo obedecendo
ao rito estabelecido no Manual de Sindicância, ou seja, o "passo-a-passo" da
sindicância, deixando para cada qual seus respectivos comentários.
2
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 21ª ed. São Paulo: Malheiros Editores,
1996. p. 602.
3
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 18. ed. São Paulo: Atlas, 2005 pág. 559.
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1. A Portaria
A Portaria de uma Sindicância é o documento oficial de acusação, tal qual a
Denúncia do Ministério Público para o Processo Crime. Assim sendo é dos fatos
narrados na Portaria Inicial que irá se defender o sindicado, não podendo, por isso
mesmo, ser ele punido por qualquer fato que não esteja ali presente.
Neste sentido ainda podemos destacar a Portaria do Comando Geral da
PMPE nº 638, de 10/07/03, publicada no SUNOR nº 036, de 14/07/03 que diz
taxativamente que "Art. 1º. Os Comandantes, Chefes e Diretores deverão mencionar
nas Portarias de instauração de Processos Administrativos Disciplinares ( Processo
de Licenciamento ex officio, a bem da Disciplina e Sindicância) e de Procedimentos
investigatórios (Inquérito Policial Militar) a narração sucinta do fato e quando
possível a autoria do mesmo" ( grifos nossos).
Em mesmo sentido, entendem os tribunais. Vejamos:
Administrativo. Recurso em Mandado de Segurança. Processo Disciplinar.
Omissão dos fatos imputados ao acusado. Nulidade. Provimento. Segurança
concedida. 1. A Portaria inaugural e o mandado de citação, no processo
administrativo, devem explicitar os atos ilícitos atribuídos ao acusado; 2. Ninguém
pode defender-se eficazmente sem pleno conhecimento das acusações que lhe
são imputadas; 3. Apesar de informal, o processo administrativo deve obedecer
às regras do devido processo legal; 4. Recurso conhecido e provido (ROMS
0001074/91-ES, 2ª Turma, Rel. Min. Peçanha Martins, ac. Unân., DJ 30-03-92,
pág. 03968)
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Na PMPE a Sindicância Investigativa se assemelha aquela hodiernamente
chamada de Sindicância Sumária. Devido ao seu prazo curto - de acordo com
a Portaria do Comando Geral da PMPE nº 119, de 16ABR12, publicada no SUNOR
nº 008, de 30/04/12, de apenas 10 dias corridos - não é possível nesta obedecer os
prazos para o exercício da ampla defesa e contraditório. Daí inclusive ressaltarmos a
impossibilidade de utilizar nos dias atuais a Sindicância Sumária como "meio mais
rápido para apuração de pequenos casos", só sendo coerente sua utilização quando
inexistir totalmente qualquer imputado do fato a ser investigado.
O Art. 2º §1º no entanto fere o sentido jurídico da própria Portaria pois, em
dada interpretação cria a trágica hipótese do imputado, que é descoberto só após o
último depoimento, ser a partir dali considerado sindicado e daí, passar a responder
pelo que foi ventilado antes mesmo de sua intimação, com isso suprimindo-lhe o
direito de acompanhar os atos e defender-se, e neste sentido, como bem visto na
última citação jurisprudencial, a desobediência aos princípios da ampla defesa e
contraditório causam a nulidade de qualquer ato processual. Assim, vejamos como
se posicionam os Tribunais:
Polícia militar. Licenciamento. Mera investigação sumária dos fatos em que se
envolveu o autor. Violação do princípio da garantia de defesa. Aplicação do art. 5º,
inciso LV, da ConstituiçãoFederal. [...] A Constituição vigente instituiu, em prol dos
acusados em geral, a garantia do contraditório e da plenitude de defesa, com os
meios e recurso e ela inerentes. Assim, qualquer ato punitivo da Administração
com violação dessa garantia é visceralmente nulo. Dano moral - Inexistência de
comprovação. Pedido que não merece acolhimento. 5º LV Constituição Federal.
(579237 SC 1988.057923-7, Relator: Nestor Silveira, Data de Julgamento:
21/10/1993, 2ª Câm. de Direito Comercial, Data de Publicação: Apelação cível n.
40.289, da Capital.)
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2. Notificação Citatória
A citação foi prevista no Art. 6º, V, do manual de Sindicância. A notificação
citatória se presta "para conhecimento do fato que lhe é imputado,
acompanhamento do feito, ciência da data de sua inquirição e da possibilidade de
defesa prévia, além da possibilidade de requerer a produção ou juntada de provas".
De tudo o que foi descrito pelo Manual de Sindicância, o primeiro objetivo é o mais
importante de todos, devendo, por isso mesmo, ser no mesmo ato entregue cópia
integral da Portaria. Vale ressaltar também que nesta notificação não é aberto o
prazo para a defesa prévia, mas apenas a informação de que esse prazo será
ofertado posteriormente, pois de acordo com o Art. 13 esse prazo é aberto quando
do interrogatório.
3. O Interrogatório
O interrogatório, ao contrário do que parece, não é peça de acusação, mas de
defesa. É por isso mesmo que é pacífico o entendimento de que este ato é uma
faculdade e não uma obrigação do sindicado: “O comparecimento do réu ao
interrogatório, quando devidamente qualificado e identificado, constitui uma
faculdade e não um dever do mesmo ( Correição Parcial: RJ, 2007.02.01.007301-4,
Rel. Des. Federal Maria Helena Cisne)”.
Assim, se o sindicado é intimado para comparecer ao interrogatório e não
comparece, não comete nenhuma transgressão disciplinar para com o oficial
sindicante. Pode, no entanto, responder para com o seu Comandante, caso este o
tenha apresentado por ofício, e o sindicado simplesmente não cumprir a ordem de
comparecimento, mas isso de forma alguma poderá ser levado em consideração,
sequer citado, quando do julgamento do mérito da Sindicância.
Por outro modo, caso compareça, não poderá o sindicado ser ouvido caso
declare que não tem interesse em prestar o interrogatório. Neste sentido inclusive,
sugerimos sequer registrar as perguntas pois se assim o fizer poderá, em casos
remotos, responder por abuso de autoridade (Lei nº 4.898, de 09 de dezembro de
1965).
Ainda descrevendo a autonomia de vontade do sindicado quando de seu
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interrogatório, em nenhum momento deve ele ser obrigado a dizer a verdade,
podendo silenciar ou até mesmo não relatar a verdade dos fatos e ainda assim não
lhe podendo ser imputado por isso qualquer transgressão disciplinar ( como por
exemplo o Art. 128 do CDME-PE, que não é cabível quando do exercício da defesa).
Isso decorre do preceito constitucional previsto no "Art. 5º. (...) LXIII - O preso será
informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado, (...)" o que
segue o Pacto de San José da Costa Rica que em seu Art. 8º, §2º, alínea g.
assegura que "Toda pessoa tem o direito de (...) não ser obrigada a depor contra si
mesma, nem a confessar-se culpada". Desse raciocínio decorre a velha expressão
de que "ninguém será obrigado a produzir provas contra si mesmo":
[...] III. Nemo tenetur se detegere: direito ao silêncio. Além de não ser obrigado a
prestar esclarecimentos, o paciente possui o direito de não ver interpretado contra
ele o seu silêncio. IV. Ordem concedida, para cassar a condenação" (STF, HC n.
84.517/SP, rel. Min. Sepúlveda Pertence, j. em 19.10.2004)
4. A Defesa Prévia
A Defesa Prévia é a segunda oportunidade de defesa do sindicado. Além dos
argumentos de defesa, é nesse documento que o Sindicado deve apresentar as
testemunhas que deseja que sejam ouvidas. Outrossim, caso venham a ser
apresentadas posteriormente, deve o sindicante ouvi-las sob risco de permitir a
alegação de prejuízo à ampla defesa.
A ausência de Defesa Prévia também não leva a Sindicância à nulidade, salvo
se o Sindicado não tiver sido intimado para esse ato. Assim, vejamos o que dizem os
tribunais: "Não há falar em nulidade se a defesa do paciente, regularmente por este
constituída, deixa de oferecer defesa prévia no tríduo legal, embora devidamente
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intimada (HC 141153 CE 2009/0131042-4, Rel. Ministro OG FERNANDES)".
4
RIGOLIN, Ivan Barbosa. Comentários ao regime único dos servidores públicos civis. São Paulo:
Saraiva, 1995, p. 264.
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e acompanhar o ato, sendo sua saída uma exceção. Caso haja a necessidade, é
importante seguir o Art. 358 do CPPM que aponta que "(...) Neste caso, deverá
constar da ata da sessão a ocorrência e os motivos que a determinaram (...) ". Sobre
o tema, assim tem se manifestado o STF:
É certo que a jurisprudência deste Superior Tribunal não vê nulidade na retirada
do réu da sala de audiências a pedido de testemunhas ou vítimas (art. 217 do
CPP). Porém, a retirada em razão da simples aplicação automática do comando
legal, sem que se indague os motivos que levam à remoção do acusado, fere
o próprio conteúdo daquela norma, bem como o art. 93, IX, da CF/1988. Dever-se-
ia fundamentar concretamente a remoção, pautando-se no comportamento do
acusado (HC 83549-RS, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em
22/4/2008)
Ainda que haja a retirada do sindicado, deve este ser representado para que
se exerça o contraditório. O contraditório é direito que se exaure no tempo, portanto
incompatível com o que prevê o Art. 21 §3º do Manual de Sindicância. Ao contrário
do que ali foi proposto equivocadamente, deve o sindicante adotar a seguinte
conduta: Caso o sindicado possua advogado, será por este representado; caso não
possua, deve ser nomeado um defensor ad hoc, ou seja, para acompanhar aquele
ato, podendo esse defensor ser qualquer outro militar estadual disponível para o
feito, preferencialmente oficial e com formação em Direito.
6. Alegações Finais
Previsto no Art. 13, §2º do Manual de Sindicância, temos nas alegações finais
a última e mais importante oportunidade de defesa do sindicado. Assim sendo, a
jurisprudência é pacífica em apontar a impossibilidade de encerrar o feito sem ela.
Daí nossos Tribunais sempre alertarem que “As alegações finais constituem ato
essencial do processo, cuja ausência acarreta a sua nulidade absoluta (APELAÇÃO
CRIMINAL ACR 14 AM 2004.32.01.000014-6, Relator Desembargador Federal
Tourinho Neto):
STJ. Defesa. Ausência de alegações finais. Nulidade. Princípios da ampla defesa
e contraditório. Precedentes do STJ. Réu indefeso. CPP, arts. 267 e 497, V. CF/88,
art. 5º, LV. A falta de alegações finais, imediatamente anteriores ao julgamento do
mérito da causa, consubstanciam-se em termo essencial do processo penal, razão
pela qual a sua ausência implica em nulidade, por ofensa aos princípios
constitucionais da ampla defesa e do contraditório. Precedentes. (STJ - Rec. Ord.
em HC 10.186 - RS - Rel.: Min. Edson Vidigal - J. em 01/03/2001 - DJ 02/04/2001 -
Boletim Informativo da Juruá 290/024892)
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Assim, podemos asseverar em garrafal apontamento que é ilegal o disposto
no Art. 13, §2º, do Manual de Sindicância, quando sugere que a Sindicância pode
prosseguir a marcha processual sem que sejam juntadas as alegações finais.
Caso encerre-se o prazo para que o Sindicado e/ou seu advogado apresente
as Alegações Finais sem que este documento seja juntado, deve o sindicante
nomear um defensor ad hoc, ou seja, para executar aquele ato, podendo esse
defensor ser qualquer outro militar estadual disponível para o feito,
preferencialmente oficial e com formação em Direito. Nesse sentido, vejamos a
possibilidade no entendimento do próprio STF de caso semelhante em Processo
Administrativo Complexo ( Conselho de Disciplina):
ADMINISTRATIVO. POLICIAL MILITAR. EXCLUSÃO. INFRAÇÃO
DISCIPLINAR. DESNECESSIDADE DA PRESENÇA DE ADVOGADO.
PROCESSO ADMINISTRATIVO. AMPLA DEFESA E CONTRADITÓRIO.
REEXAME PELO PODER JUDICIÁRIO. IMPOSSIBILIDADE. O Supremo Tribunal
Federal possui jurisprudência consolidada de que não há ofensa aos princípios da
ampla defesa e do contraditório no fato de se considerar dispensável a presença,
no processo administrativo, de advogado, cuja atuação, no âmbito judicial, é
obrigatória. (Precedentes: AGRRE n. 244.027-2/SP, relatora Ministra Ellen Gracie;
RE n. 282.176-4/RJ, relator Ministro Moreira Alves; AGRAG n. 207.197, relator
Ministro Otávio Galloti). No caso, não houve qualquer prejuízo para a ampla
defesa do apelante, pois ele foi defendido de forma técnica, efetiva, profissional e
competente pelo OFICIAL MILITAR designado para o caso, que possui
conhecimento altamente especializado para os casos submetidos ao Conselho
Disciplinar. Apurada em processo administrativo disciplinar a prática de falta grave
e submetido o policial militar a Conselho de Disciplina, em que se observou o
contraditório, a ampla defesa e o devido processo legal, reveste- se de legalidade
o ato administrativo que excluiu o faltoso dos quadros da Corporação (citado em
STF quando do julgamento da Apelação Cível n. 1.0024.03.790008-3-004,
MG. STF - AI: 602844 MG , Relator: Min. CÁRMEN LÚCIA, Data de Julgamento:
28/09/2007, Data de Publicação: DJe-129 DIVULG 23/10/2007 PUBLIC
24/10/2007 DJ 24/10/2007 PP-00040)
7. Relatório
É no relatório que serão descritas todas as provas em sequência lógica e que
darão sustentáculo ao parecer final do Sindicante, conforme o Art. 6º do Manual de
Sindicância. Deve ele quando de seu parecer final apontar claramente se houve ou
não a transgressão disciplinar e qual o enquadramento cabível, as circunstâncias
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atenuantes e agravantes que vislumbra, deixando para a autoridade solucionadora
apenas o crivo de acompanhar ou não seu parecer.
Outrossim, vale ressaltar que, caso a figura se afigure um crime, deve o
sindicante propor que os autos sejam encaminhados ao Ministério Público, não
sendo nos dias atuais necessário instalar um Inquérito Policial Militar sobre o mesmo
fato que foi investigado na Sindicância, tudo isso em plena conformidade com o Art.
28. do CPPM que diz que "O inquérito poderá ser dispensado, sem prejuízo de
diligência requisitada pelo Ministério Público:a) quando o fato e sua autoria já
estiverem esclarecidos por documentos ou outras provas materiais [...]"
É importante ressaltar que, em decorrência da independência das instâncias,
mesmo que o caso se afigure um crime ( militar ou comum), deve o sindicante
externar seu parecer quanto à repercussão administrativa, podendo aqui apontar a
prática de uma transgressão - afinal de contas em decorrência dos Arts. 1º e 7º do
Dec. 22114, de 13/03/00, se houve a transgressão de uma lei incorre-se no descrito
no Art. 139 do CDME-PE - e qual a pena aplicável, ou se melhor é proceder à
Processo de Licenciamento, Conselho de Justificação ou Disciplina, conforme o
caso.
8. Solução
É na solução que a autoridade delegante irá aplicar o desfecho cabível ao
caso.
Se houver entendimento de que a conduta coaduna com algum dispositivo do
CDME, deve na solução a autoridade impor a reprimenda cabível, não sendo mais
necessário notificar para se defender de algo que foi largamente defendido durante a
instrução da sindicância.
Noutro ponto, vale esclarecer que o princípio da motivação dos atos
administrativos impõe ao Comandante que, caso discorde de algum ponto traçado
pelo sindicante, descreva-o sucintamente e demonstrando as razões pela qual não
acompanha o entendimento do sindicante. Nesse sentido, leciona Di Pietro:
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que discutiam se a sua obrigatoriedade alcançava só os atos vinculados ou só os
atos discricionários, ou se estava presente em ambas as categorias. A sua
obrigatoriedade se justifica em qualquer tipo de ato, porque se trata de formalidade
necessária para permitir o controle de legalidade dos atos administrativos.( DI
PIETRO, 2008)6.
9. Recursos
Após a solução do Comandante, é possível utilizar-se de todos os recursos
descritos no CDMEPE como ainda do próprio judiciário. Os tribunais assim se
manifestam:
SERVIDOR PÚBLICO Ação ordinária de reintegração no cargo c.c. indenização e
pedido de tutela antecipada Improcedência. - O que não se permite ao Judiciário é
pronunciar-se sobre o mérito administrativo, ou seja, sobre a conveniência,
oportunidade, eficiência ou justiça do ato, porque, se assim agisse, estaria
emitindo pronunciamento de administração, e não de jurisdição judicial. O mérito
administrativo, relacionando-se com conveniências do Governo ou com elementos
técnicos, refoge do âmbito do Poder Judiciário, cuja missão é a de aferir a
conformação do ato com a lei escrita, ou, na sua falta, com os princípios gerais do
Direito. Não há confundir, entretanto, o mérito administrativo do ato, infenso a
revisão judicial, com o exame de seus motivos determinantes, sempre passíveis
de verificação em juízo. Exemplificando: o Judiciário não poderá dizer da
conveniência, oportunidade e justiça da aplicação de uma penalidade
administrativa, mas poderá e deverá sempre examinar seu cabimento e a
regularidade formal de sua imposição. - Procedimentos administrativos regidos
pelos princípios constitucionais e legais. (TJ-SP - APL: 1073455020088260000 SP
0107345-50.2008.8.26.0000, Relator: Oscild de Lima Júnior, Data de Julgamento:
06/06/2011, 11ª Câmara de Direito Público, Data de Publicação: 09/06/2011)
Considerações Finais
6
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 21ª ed. São Paulo: Atlas, 2008, p. 77.
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máxima eficiência aos culpados ao mesmo passo que se afasta dos inocentes as
duras penas da lei.
Referências
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 21ª ed. São Paulo:
Malheiros Editores, 1996. p. 602.
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 18. ed. São Paulo: Atlas,
2005 pág. 559.
RIGOLIN, Ivan Barbosa. Comentários ao regime único dos servidores públicos civis.
São Paulo: Saraiva, 1995, p. 264.
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 21ª ed. São Paulo: Atlas,
2008, p. 77.
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RESUMO:
O presente artigo objetiva a análise relativa à atribuição da Corregedoria Geral da
Secretária de Defesa Social de instaurar Inquérito Policial Militar, sob o panorama da
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 e o Código de Processo
Penal Militar, sem, contudo, subestimar a importância e a representatividade dos
serviços realizados pelo órgão superior de controle disciplinar interno para o Estado
de Pernambuco, aplicando a ética e a justiça. Direcionando sobremaneira a visão
imparcial a respeito do tema, serão apresentados argumentos no sentido de apontar
equívocos, que possibilitam o surgimento de transtornos em desfavor das Unidades
Militares do Estado.
Introdução
As corregedorias relacionadas à segurança pública evoluíram de forma
sólida e paulatina após a concretização dos direitos individuais, sociais e coletivos
alicerçados pela Constituição Cidadã. Começando a ganhar espaço na seara
legislativa, com a formulação de normas e procedimentos acerca do tema.
Nesse diapasão, emergiu a Corregedoria Geral da Secretária de Defesa
Social do Estado de Pernambuco, órgão destinado à apuração de faltas cometidas
por servidor público pertencente ao ramo da segurança pública e contemplado com
o manto protetor das garantias constitucionais e infraconstitucionais.
1
3ºSargento da Polícia Militar de Pernambuco, Bacharel em Direito, Pós-Graduando em
Planejamento Estratégico.
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Contudo, algumas polêmicas foram suscitadas e expostas, principalmente
no que tange ao surgimento da Lei Complementar Estadual N° 1582 de 26 de março
de 2010, a qual atribui competência a Corregedoria Geral para instaurar o Inquérito
Policial Militar, causando um transtorno na relação jurídica entre administrador e
administrado.
2
PERNAMBUCO. Lei Complementar N° 158, de 26 de março de 2010. Disponível em:
http//legis.alepe.pe.gov.br/legis_superior_norma.aspx?nl=LC158. Acesso em 30 Abr. 2014
3
BRASIL, República Federativa do. Constituição da República Federativa do Brasil, de 1988.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm. Acesso em:
30 Abr. 2014.
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Logo, havendo a prática de um fato tipificado como infração penal militar,
cabe ao Estado, por meio do jus puniendi, aplicar sanção ao transgressor da norma
substantiva vigente. Apesar disto, deve o Estado exercer o jus persequendi, com a
finalidade de reconhecer a autoria do ato delituoso e coletar elementos probatórios
necessários para que a ação penal seja proposta.
A legislação penal militar atual atribui competência a polícia judiciária
militar para executar a primeira fase elencada acima, sendo primordial a colheita de
provas materiais e testemunhais, por meio do IPM, com a finalidade de obter o maior
quantitativo de elementos de convicção relacionados à autoria e à materialidade do
crime militar, atribuindo condições para que assim, o titular da ação penal militar
atue.
Eliezer Pereira Martins esclarece:
A disciplina em matéria de apuração de crimes militares não discrepa do sistema
de apuração de crimes comuns, daí falar-se na polícia judiciária militar. Como visto
a polícia judiciária militar não teve seus órgãos e atribuições explicitadas na
Constituição Federal, tendo sido disciplinada na legislação ordinária (Código de
Processo Penal Militar). Neste sentido, a polícia judiciária militar pode ser definida
como órgão ou autoridade militar incumbida, por lei, do dever de desenvolver toda
atividade necessária para o fornecimento ao Ministério Público, em funcionamento
na Justiça Militar, dos elementos necessários ao conhecimento judicial do fato que
em tese configure crime militar, ou seja, a polícia judiciária militar é órgão auxiliar
da Justiça Militar4.
4
MARTINS, Eliezer Pereira. Inquérito policial militar. 2. ed. São Paulo: LED, 1996, p.18-9.
5
BRASIL, República Federativa do. Decreto-Lei n. 1002, de 21 de outubro, de 1.969, Código de
Processo Penal Militar. Brasília: Diário Oficial da União, 1969. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del1002.htm. Acesso em: 30 Abr. 2014.
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penal.”. O parágrafo único completa: “São, porém, efetivamente instrutórios da ação
penal os exames, perícias e avaliações realizados regularmente no curso do
inquérito, por peritos idôneos e com obediência às formalidades previstas neste
Código”.
Ao comentar sobre o procedimento pré-processual militar, Eliezer Pereira
Martins demonstra que esse é “procedimento administrativo de polícia judiciária
militar, destinado a coligir elementos de autoria e materialidade necessários à
apuração de infração penal de competência da Justiça Militar. É de natureza
provisória, destinando-se a fornecer elementos de autoria e materialidade para
ensejar a propositura de ação penal militar. Trata-se de procedimento administrativo
preliminar e meramente informativo”.
Finaliza-se, então, que o Inquérito Policial Militar é a junção de
expedientes formais que descreve atos, ações e atividades realizadas pela
autoridade competente com a finalidade de investigar determinado crime penal
militar, com o objetivo de encontrar o autor dos fatos e a materialidade do crime,
para que subsidie, com informações necessárias, o Ministério Público para propor a
ação penal junto à Justiça.
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necessidade de organismos internos de controle da conduta dos militares das
organizações policiais.
Desta forma, havendo procedimento irregular, por parte dos militares
vinculados as organizações policiais, é primordial que se instaure o devido processo
para que seja apurado.
A Lei Ordinária Estadual n° 11.929/20016, define a Corregedoria Geral
como órgão superior de controle disciplinar interno, em relação aos órgãos e
agentes vinculados a Secretaria de Defesa Social, além dos Agentes de Segurança
Penitenciária ligados à Secretaria de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos,
conforme artigo 1º da referida Lei Estadual.
Art. 1º A presente Lei define a competência e as atribuições da Corregedoria Geral
da Secretaria de Defesa Social, como órgão superior de controle disciplinar interno
dos demais órgãos e agentes a esta vinculados, bem como, dos Agentes de
Segurança Penitenciária vinculados à Secretaria de Desenvolvimento Social e
Direitos.
6
PERNAMBUCO. Lei N° 11.929, de 02 de janeiro de 2001. Disponível em:
http://legis.alepe.pe.gov.br/pdftexto/LE11929_2001.pdf. Acesso em 30 Abr. 2014.
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No tocante as atribuições, inicialmente há de se considerar que antes da
existência da LC N° 158/10, as atribuições da Corregedoria Geral da SDS eram da
seguinte forma:
Art. 2º São atribuições institucionais da Corregedoria Geral da Secretaria de
Defesa Social:
I - acompanhar os atos de afastamento previstos no artigo 14, desta Lei,
relacionados a policiais civis, militares e bombeiros estaduais, bem como, a outros
servidores públicos da Secretaria de Defesa Social;
II - realizar, inclusive por iniciativa própria, inspeções, vistorias, exames,
investigações e auditorias;
III - instaurar, proceder e acompanhar sindicâncias;
IV - instaurar, proceder e acompanhar processos administrativos disciplinares;
V - requisitar a instauração de Conselhos de Disciplina e Justificação para
apuração de responsabilidade;
VI - requisitar diretamente aos órgãos da Secretaria de Defesa Social toda e
qualquer informação ou documentação necessária ao desempenho de suas
atividades de fiscalização;
VII - requisitar a instauração de inquérito policial civil ou militar e acompanhar a
apuração dos ilícitos;
VIII - requisitar informações acerca do fiel cumprimento das requisições
ministeriais e de cartas precatórias;
IX - criar grupos de trabalho ou comissões, de caráter transitório, para atuar em
projetos e programas específicos, contando com a participação de outros órgãos e
entidades da administração pública estadual, federal e municipal, conforme
autorização governamental;
X - manter arquivo atualizado e pormenorizado com todos os dados relativos aos
integrantes da Secretaria de Defesa Social, que estejam ou estiveram
respondendo a processos judiciais, procedimentos administrativos disciplinares,
Conselhos de Disciplina e Justificação ou a inquéritos policiais civil ou militar;
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Revista doutrinária da Polícia Militar de Pernambuco
Artigo publicado no Vol.03 Nº01 - Edição de JAN a JUN 2014 - ISSN 2318-3152 -
Versão on-line disponível em: http://www.portais.pe.gov.br/web/pmpe/revista-doutrinal
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com o acréscimo da adoção do rito preconizado para a lei delegada;
b) requisito material: autorização para legislar apenas sobre questões
especificas das materiais tratadas nos incisos do artigo 22;
c) requisito implícito: caráter genérico da norma de delegação,
destinando-a a todos os Estados-Membros e também ao Distrito Federal7.
7
NETO, Manoel Jorge e Silva. Curso de direito constitucional. 5ª ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris,
2009, p. 349.
8
MOTTA Filho, Sylvio Clemente da. Curso de direito constitucional/ Sylvio Motta, Gustavo Barchet.
2ª Ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009, p. 284.
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Segundo Paulo Gustavo Gonet Branco:
É formalmente inconstitucional a lei estadual que dispõe sobre matérias
enumeradas no art. 22, se não houver autorização adequada a tanto, na forma do
parágrafo único do mesmo artigo. Por isso mesmo o STF disse, na Súmula
Vinculante n. 2, que “é inconstitucional a lei ou ato normativo estadual ou distrital
que disponha sobre sistemas de consórcios e sorteios, inclusive bingos e loterias 9.
9
MENDES, Gilmar Ferreira. Curso de direito constitucional/ Gilmar Ferreira Mendes, Inocêncio
Mártires Coelho, Paulo Gustavo Gonet Branco. 5ª Ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2010, p 953.
10
BRASIL, República Federativa do. Decreto-Lei n. 1002, de 21 de outubro, de 1.969, Código de
Processo Penal Militar. Brasília: Diário Oficial da União, 1969. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del1002.htm. Acesso em: 15 Out. 2011.
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a) pelos ministros da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, em todo o território
nacional e fora dele, em relação às forças e órgãos que constituem seus
Ministérios, bem como a militares que, neste caráter, desempenhem missão oficial,
permanente ou transitória, em país estrangeiro;
b) pelo chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, em relação a entidades que,
por disposição legal, estejam sob sua jurisdição;
c) pelos chefes de Estado-Maior e pelo secretário-geral da Marinha, nos órgãos,
forças e unidades que lhes são subordinados;
d) pelos comandantes de Exército e pelo comandante-chefe da Esquadra, nos
órgãos, forças e unidades compreendidos no âmbito da respectiva ação de
comando;
e) pelos comandantes de Região Militar, Distrito Naval ou Zona Aérea, nos órgãos
e unidades dos respectivos territórios;
f) pelo secretário do Ministério do Exército e pelo chefe de Gabinete do Ministério
da Aeronáutica, nos órgãos e serviços que lhes são subordinados;
g) pelos diretores e chefes de órgãos, repartições, estabelecimentos ou serviços
previstos nas leis de organização básica da Marinha, do Exército e da
Aeronáutica;
h) pelos comandantes de forças, unidades ou navios; (BRASIL, 1969)
11
BRASIL, Superior Tribunal Militar. HC 1991.01.032714-2 DF, – Rel. Min. Paulo César Cataldo, j. em
26.03.1991, DJU 15.05.1991965. Disponível em:< http://www.stm.jus.br/jurisprudencia>.
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Devemos atentar que para ser iniciado o IPM, é primordial observar o que
preceitua o artigo 10 do CPPM, em relação aos modos:
Considerações Finais
O presente artigo não possui a intenção de desmerecer o importante
trabalho executado pela Corregedoria Geral da SDS, e sim questionar os transtornos
gerados pela LC N° 158/10 em desfavor das Unidades Militares do Estado, visto que
atribui uma competência na qual é originária dos Comandantes, conforme o artigo
7º, h, do CPPM.
Cumpre, então, advertir que a instauração do IPM na Corregedoria Geral
da SDS em desfavor de militar estadual poderá, através de um dos remédios
constitucionais conhecidos como Mandado de Segurança, se impetrado em tempo
hábil, ou ainda uma ação judicial ordinária, representa um procedimento nulo,
produzindo transtornos a Administração Pública.
A nulidade do procedimento emitido pelo Poder Judiciário representa
afirmar que a Gestão Pública agiu com inobservância a legalidade, visto que a
Corregedoria Geral da SDS ao instaurar o Inquérito Policial Militar não possuía
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competência, com fundamento na Competência Privativa da União e aos modos e
autoridades responsáveis pela instauração do Inquérito Militar.
Como se nota, o artigo 5º, inciso XXXV, da CRFB/88, na qual promove o
Principio da Inafastabilidade do Poder Judiciário para apreciar qualquer ameaça ou
violação a direito, oferece condições para haver um controle judicial a posteriori, de
caráter unicamente legal, reservado a comprovar se existe harmonia do ato
administrativo com o dispositivo legal que o conduz.
Para sanear os contratempos apresentados, é primordial que haja uma
reforma do texto normativo contido no artigo 1º, da LC N° 158/10, em que o Poder
Legislativo Estadual atribui a Corregedoria Geral da SDS, competência para
instaurar o IPM, obedecendo às regras previstas na CRFB/88 e no Decreto-Lei Nº
1.002/69.
Em síntese, o foco principal do artigo se constituiu na avaliação da
modificação do artigo 2º, inciso VII, da Lei 11.929/01, oriunda da LC N° 158/10,
reconhecendo os aspectos controvertidos ao final do estudo, sem, contudo,
desprezar a importância e o valor dos serviços realizados pelo órgão superior de
controle disciplinar interno para o Estado de Pernambuco.
Referências
BRASIL, Superior Tribunal Militar. HC 1991.01.032714-2 DF, – Rel. Min. Paulo César
Cataldo, j. em 26.03.1991, DJU 15.05.1991965. Disponível em:
< http://www.stm.jus.br/jurisprudencia>. Acesso em: 30 abr. 2014.
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LOBÃO, Célio. Direito processual penal militar. 1. ed. São Paulo: Método, 2009.
MARTINS, Eliezer Pereira. Inquérito policial militar. 2. ed. São Paulo: LED, 1996.
MOTTA Filho, Sylvio Clemente da. Curso de direito constitucional/ Sylvio Motta,
Gustavo Barchet. 2ª Ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009.
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