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ISBN 978-85-387-3080-4
Parcelamento do Solo Urbano Parcelamento do Solo Urbano
e suas Diversas Formas e suas Diversas Formas
Adailson Pinheiro Mesquita
Edição revisada
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
________________________________________________________________________________
M543p
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-387-3080-4
12-6555.
CDU: 343:349.44(81)
Plano de loteamento | 89
Fase preliminar | 89
Fase definitiva | 90
As zonas de interesse social | 93
Referências | 195
A disciplina desenvolverá os conteúdos relativos aos aspectos urbanísticos, ambientais e paisagísticos do parce-
lamento do solo urbano; projetos, planos e viabilidade de loteamentos; legislação urbanística brasileira; aspectos
jurídicos e aprovação administrativa de um loteamento no Brasil; projeto e implantação de infraestrutura de
loteamentos; registro imobiliário; loteamentos ilegais, irregulares e clandestinos; e regularização fundiária.
Os conteúdos serão desenvolvidos buscando a simbiose entre a prática e a teoria do projeto urbano e seus regula-
mentos, estabelecendo assim um processo de aprendizagem a partir das leituras da cidade real.
Esta disciplina pretende abordar a elaboração de projetos de parcelamento do solo e seus desdobramentos
jurídicos e administrativos de forma consciente e comprometida com a realidade urbana, visando contribuir para a
construção de cidades mais humanas e com qualidade de vida.
* Doutorando em Geografia pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Mestre em Transportes pela Universidade de Brasília (UnB). Espe-
cialista em Trânsito e graduado em Engenharia Civil pela UFU.
1 Segundo Lima (2007), são consideradas protocidades as aldeias rurais criadas pelas sociedades primitivas, notadamente nos períodos
Paleolítico e Mesolítico, que mudavam de local sempre que o solo utilizado para agricultura se exauria.
As cidades tiveram as raízes de seu surgimento no aumento das complexidades das relações
humanas, no desejo de ocupação do território pelos impérios, no encontro de caminhos de comércio
em entrepostos comerciais, nos fatos religiosos, entre outros. Os núcleos ou povoados se formaram
inicialmente em torno de objetivos comuns, para depois agregarem outras funções e se tornarem cada
vez mais complexos.
As transformações estruturais da sociedade, ocorridas durante os anos 1945 e 1980, possuem uma
intrínseca ligação com o crescimento das cidades contemporâneas. Esse processo deu-se em virtude da
implementação e do desenvolvimento de projetos técnico-científicos, que conduziram ao aumento das
taxas de urbanização (gráfico 1) em face da industrialização dos grandes centros urbanos (SANTOS, 1997).
Gráfico 1 – Evolução da população urbana e rural e taxa de urbanização
70%
120 000 000
60%
100 000 000
50% Rural
80 000 000
Urbano
40%
60 000 000 Taxa de urbanização
30%
40 000 000
20%
20 000 000
10%
0 0%
1950 1960 1970 1980 1990 2000
A partir do gráfico 1 pode-se verificar que a população urbana brasileira cresceu de forma abrupta,
enquanto a população rural decresceu vertiginosamente. O aumento da população nas cidades não foi
seguido de um planejamento que pudesse absorver as necessidades de oferta de equipamentos
urbanos (água, luz, esgoto etc.) e de serviços públicos de transporte, educação e saúde. O crescimento se
deu de forma desordenada e sem controle,
apresentando habitações de baixa qualida-
de, bairros e favelas carentes de condições
mínimas de habitabilidade (figuras 1 e 2),
traduzido pela falta de redes de esgoto,
abastecimento de água, energia elétrica, pa-
vimentação das vias etc. Apesar do desen-
volvimento tecnológico, muitas cidades
apresentam baixa qualidade de vida para al-
guns segmentos da sociedade e muito disso
se deve à pouca qualidade dos projetos dos
espaços destinados à habitação, desde o
loteamento até as condições das casas e dos
apartamentos. Figura 1 – Favela Papagaio – Belo Horizonte (MG).
Existem dois modelos de cidade, a que surge espontaneamente e cresce de forma orgânica,
estendendo-se radialmente ou linearmente (e posteriormente pode adotar uma forma de planejamento)
(figura 3a) e a que é planejada para algum fim, seja para capital de algum estado ou país (figura 3b), com
fins de produção industrial ou outros objetivos. Em qualquer desses tipos a expansão urbana se dá pelo
parcelamento do solo em frações destinadas principalmente à habitação, no entanto também podem
ser dirigidos a usos industriais, comerciais, de serviços ou mistos.
Aos municípios pertencem as atribuições legais de ordenamento do território por meio do planeja-
mento e controle do uso, ocupação e parcelamento do solo (Constituição Federal de 1988, art. 30, VIII). Essa
exigência, no entanto, requer a existência de profissionais capacitados para exercer a tarefa de elaboração
do projeto de parcelamento. A esses profissionais, segundo Arruda (1997), caberá atuar observando a
legislação, organizando o espaço urbano de acordo com o potencial da área, as necessidades da sociedade
naquele momento, as implicações ambientais e as imposições de uso do solo. Ao poder público também
cabe a fiscalização da prática ilegal do parcelamento do solo urbano. Porém, a atribuição legal do poder
público não exime o cidadão de estar atento às informações sobre os aspectos legais do loteamento onde
pretende adquirir seu lote, evitando assim os loteamentos irregulares e clandestinos.
Lote
Quarteirão
Rua
Os tamanhos e formas ideais de lotes e quarteirões são objetos de vários estudos e debates ao
longo da história do urbanismo. No século XX, alguns urbanistas chegaram a dispensar a figura do lote,
concebendo divisões similares a quarteirões com blocos autônomos para habitações, a exemplo de
Brasília, entre outras cidades do Brasil e do mundo.
A densidade populacional das cidades diz respeito diretamente ao tamanho de lotes e quarteirões.
A densidade bruta é a medida dada pelo número de habitantes por hectares (entram nesse cálculo
as áreas públicas e privadas). Se a densidade for baixa, a cidade tende a se espalhar, encarecendo os
custos da urbanização (equipamentos públicos, redes de abastecimento, esgoto, drenagem de águas
pluviais, energia, entre outros serviços). Dessa forma, o dimensionamento dos lotes deverá levar em
consideração esses custos. Segundo Santos (1988), quanto maior a frente do lote (sua testada), mais
desperdício haverá de recursos para obras das redes. No entanto, uma densidade muito alta também
pode gerar uma concentração que prejudica a qualidade dos serviços prestados.
2 Entende-se por malha urbana reticulada aquela formada por ruas paralelas sobrepostas em duas direções, podendo ser ortogonais, semi-
ortogonais, irregulares ou segmentadas.
Com o renascimento, no entanto, floresceu a busca da cidade sob um modelo de beleza que teve,
pela primeira vez na história, uma abordagem conjunta entre o traçado viário e as edificações.
A forma de organização advinda da utilização de vias radiais influenciou notadamente a reforma
de Paris, França e o Plano de Barcelona, Espanha. No Brasil, a presença do uso das retículas para o
desenho do espaço se fez presente desde o período colonial, com os planos portugueses para diversos
núcleos urbanos. Contudo, foram os espanhóis que mais se utilizaram desse vocabulário para a criação
das suas cidades nas colônias na América. O século XIX trouxe também as tendências em evidência na
Europa e sua influência pode ser notada no traçado das cidades planejadas de Belo Horizonte-MG, com
o Plano de Aarão Reis (figura 6), e Goiânia-GO.
Figura 6 – Detalhe Plano Aarão Reis para Belo Horizonte (MG). (FERRARI, 1984)
A figura 7 mostra outra cidade, mais recente no Brasil, na qual predomina o sistema de retícula.
Nota-se a utilização de formas mistas que agregam plantas com ruas radiocêntricas, eixos diagonais e
eixos cívicos3. Toda a forma é condicionada pela presença de quadras do tipo grelha, em sua maioria,
desenho esse que depois se tornou recorrente nas expansões urbanas.
(REGO et al., 2004)
3 Ruas radiocêntricas são aquelas que irradiam a partir de um ponto central, enquanto os eixos diagonais são vias que atravessam malhas reti-
culadas formando ângulos agudos. Os eixos cívicos são aquelas vias nas quais se concentram os edifícios públicos e administrativos da cidade
e por isso são tratadas de forma a se destacarem na malha urbana.
Ar
Poluição – ar/som
Água
Calor
Energia elétrica
Cultura/tecnologia
Outras formas de energia
Resíduos sólidos
Alimentos
Efluentes líquidos
População Nova urbanização
Figura 8 – Processo de implantação de uma nova urbanização e geração de impactos.
Conhecer bem as características topográficas é de vital importância para que o projeto de parcela-
mento seja bem-sucedido, assim como os aspectos ambientais relativos à fauna e flora do local, recursos
hídricos, ventos dominantes, aspectos da insolação, conhecimento do solo, entre outros (figura 10).
(MASCARÓ, 1994)
Figura 11 – Utilização de traçados não ortogonais em traçados urbanos – Estrutura de um
quarteirão triangular da cidade de Paris – Modelo Moscou-Clapeyron.
Segundo o autor, os traçados urbanos podem ser compostos de diversas maneiras, podendo-
-se denominá-los de malhas abertas ou semiabertas, dependendo do grau de mobilidade e cone-
xões por elas permitido. A opção por qualquer tipo de traçado ou até mesmo a combinação entre eles
dependerá de vários fatores que nortearão o projeto. Para isso o projetista fará suas opções baseando-
-se não somente em fatores econômicos, mas também pelos aspectos culturais e sociais dos habitantes.
A figura 12 mostra exemplos de traçados com malhas abertas e semiabertas.
(MASCARÓ, 1994)
a) malha urbana conhecida como b) malha urbana com ruas sem saída
espinha de peixe. em T.
Texto complementar
Configuração espacial dos loteamentos
(COSTA, 2007)
“Loteamento é um tipo de parcelamento urbano (do solo) caracterizado pela abertura de
novas vias de acesso aos lotes ou prolongamento das já existentes, sendo os lotes destinados a edi-
ficações para fins urbanos” e no qual “o arruamento (projeto e abertura das ruas) é imprescindível à
existência deste” (Ferrari, 2004).
De uma forma sucinta, pode-se falar do loteamento como organização espacial constituída pri-
meiramente pelas vias, que delimitam frações de uma gleba que, por sua vez, são subdivididas em
lotes ou parcelas. Essa definição remete-se à ideia de uma malha espacial urbana. Segundo Ferrari
(2004), “malha ou traçado urbano é uma planta da cidade significativamente representada pelo seu
sistema viário e os espaços delimitados pelas vias”.
Ou seja, cada projeto de parcelamento representa, numa escala menor, um pedaço da cidade.
Dentro dos loteamentos, verifica-se uma variação na forma das vias, algumas com traçados
muito particulares. Segundo suas características de configuração, as malhas podem ser classificadas
basicamente em:
::: Malha Linear, geralmente aplicada a pequenas glebas (salvo em alguns projetos locali-
zados na área de planície litorânea e que seguem perpendicularmente à linha da praia
até uma via principal) e que pode apresentar-se como linear aberta, linear fechada, linear
semifechada, linear fechada com praça central e linear em alça;
::: Malha Reticulada, formada por feixes paralelos de vias e que ocupam uma área maior
caracterizada como ortogonal, semiortogonal, irregular e ortogonal segmentada;
::: Um terceiro tipo de malha que difere do traço linear e ortogonal e que pode configurar-se
como radial, semicircular, unidade de vizinhança e labirinto.
Esses dois últimos exemplos (unidade de vizinhança e labirinto) trazem propostas inovadoras,
diferentes do que normalmente se empregava na cidade, enfatizando a constituição de lugares na
cidade onde seus significados são traduzidos na particularidade de seus elementos.
Os parcelamentos configurados por uma malha linear possuem uma rua central com os
lotes voltados para ela. Esse tipo de configuração é caracterizado pela reprodução em série na
distribuição dos lotes, ou seja, há uma repetição das características formais das glebas – morfologia,
dimensões e orientação. Normalmente, a maior dimensão do lote corresponde à metade da largura
de uma quadra (uma faixa estreita), o que faz com que a distribuição dos terrenos tenha alternativas
reduzidas, interferindo na (in)existência de áreas com funções distintas de moradia, como por
exemplo, áreas destinadas ao convívio e à sociabilidade, bem como a equipamentos urbanos.
A rua como elemento central pode ter a sua função compreendida sob duas óticas distintas: ser
o elo entre os lotes para a qual estão voltados, visto que é o único espaço de uso público comum a
ambas as partes, ou distanciar os moradores do loteamento por ser, ao mesmo tempo, o único espaço
que marca a divisão entre público e privado, e quanto maior a sua dimensão, maior o afastamento.
A configuração reticular linear não traz elementos que façam de sua configuração algo singular
que marque a malha urbana com concepções até então nunca empregadas, ou que tenham a
intenção de direcionar novos arranjos espaciais. O que se percebe é a continuação do existente, a
expansão da mesma malha, apenas mais um elemento típico acrescido à cidade e, portanto, sem
características próprias. A singularização do local pode ocorrer apenas com a arquitetura das edifi-
cações que nele serão construídas e dos usos, tanto privados como públicos.
As distintas formas de traçado viário linear (aberta, fechada, semifechada, fechada com
praça central e em alça) apresentam traços específicos nas suas configurações, mas que sempre
se remetem às características gerais. A aberta possui mais de uma articulação com a malha viária
do entorno, sendo bastante comum em pequenas glebas. A fechada possui uma rua central sem
saída (em “cul-de-sac”) e apenas um ponto de articulação com a malha externa. A fechada com
praça central apresenta aspectos muito similares a esta última, porém, nesse caso, a rua contorna
uma praça central, criando um grande largo na frente dos lotes. Esse mesmo princípio é utilizado
no clássico traçado do bulevar (boulevard), em malhas abertas ou fechadas. No bulevar, as praças
tornam-se grandes jardins ou passarelas. Em alguns loteamentos de Maceió, essa parte central – a
praça ou o canteiro – é transformada em locais de pista de jogging ou dividida em uma faixa central
para circulação e às faixas laterais são alocados equipamentos urbanos como bancos e mesas,
formando pequenos ambientes de estar. A linear em alça configura-se de forma muito semelhante
à linear com praça central, uma vez que, em ambos os casos, a rua sofre uma bifurcação mas, nesse
caso, contorna não mais um espaço de uso público, mas sim uma quadra, um espaço privado.
A semifechada, pode-se dizer, é uma junção da aberta com a fechada na qual uma das extremidades
da rua é para retorno e possui uma via intermediária transversal, o que garante um maior contato
com as áreas vizinhas.
Nos projetos de loteamento há a dominância de configuração de malha ortogonal (na qual
as ruas formam uma malha de vias dispostas em dois feixes de ruas paralelos que se interceptam,
quase ou perfeitamente, ortogonalmente entre si), em torno de 40% dos projetos aprovados no
intervalo de cada década. Esse número pode ser justificado pela possibilidade de melhor uso e
maior aproveitamento do terreno, o que é conseguido pela formação de uma rede que procura
utilizar os espaços na sua totalidade sem que sobrem interstícios – áreas que não correspondam às
características para uso e ocupação.
Normalmente, a malha ortogonal é aplicada em grandes glebas, o que pode proporcionar um
melhor arranjo espacial quando da divisão do terreno em quadras, lotes, ruas e espaços para uso e
convívio público. Entretanto, falar do que seria um melhor arranjo espacial é algo que requer uma
cuidadosa discussão, visto que nem mesmo a legislação, que é um instrumento que norteia a confi-
guração dos loteamentos, relata como seria a melhor disposição dos elementos.
O que se pode observar é a repetição das quadras em série, simetricamente, onde apenas
as vias interrompem a sequência, algo semelhante à malha linear aberta. Poder-se-ia dizer que
o parcelamento ortogonal seria um conjunto, uma união de vários loteamentos em malha linear
aberta. Entretanto, no caso da malha ortogonal, por dispor de uma área de ocupação maior, alguns
outros espaços podem aparecer, como os espaços de uso público, as áreas verdes e áreas para
equipamentos urbanos. Essas áreas não têm uma localização exata, nem especificada em lei, fica a
critério do projetista ou do empreendedor a escolha do local mais adequado ou conveniente. Não
obstante, a prefeitura possa impor a localização dos mesmos se ela assim o desejar, tendo em vista
a articulação dos distintos parcelamentos.
Entre as variações da malha reticulada ortogonal, a semiortogonal difere porque “parte das vias são
inclinadas, com variação da direção” (FARIA; CARVALHO; COSTA, 2005). Entretanto, quando considerado
o critério de ortogonalidade, essa categoria poderia desaparecer, cedendo lugar para a reticularidade. Na
irregular as ruas não seguem uma disposição regular, seguindo várias direções. E na ortogonal segmen-
tada, as quadras são dispostas formando grupos de quadras dispostas ou não em torno de uma praça.
Os tipos de malha que não seguem a ortogonalidade e linearidade como traço principal do
sistema viário têm características muito específicas. Na radial as ruas convergem para um mesmo
ponto. Na semicircular parte das vias do loteamento são em arco concêntrico e outra parte radial.
A unidade de vizinhança e o labirinto trazem novas propostas de loteamento que marcam e fixam
elementos com significados distintos dos que são empregados na cidade, nos quais “o princípio
latente do esquema é que a vizinhança deve ser considerada tanto como uma unidade de um con-
junto maior, quanto uma entidade distinta em si mesma” (CLARENCE PERRY) e o arranjo espacial
dos elementos em múltiplas divisões sugere uma disposição confusa aos olhos externos, mas que
propõe o uso restrito das áreas internas aos moradores.
Atividades
1. A expansão urbana de forma descontrolada tem levado a diversos problemas nas cidades brasi-
leiras. Cite três problemas oriundos dessa expansão.
3. Como os profissionais que elaboram projetos de parcelamento do solo podem contribuir para
que estes se tornem bons instrumentos de estruturação do espaço urbano?
Gabarito
1. Favelização; carência de infraestrutura em diversos locais, tais como a falta de redes de energia
elétrica, saneamento básico e pavimentação de vias; e estreitamentos e afunilamentos no sistema
viário.
2. Impacto sobre a fauna e flora – a implantação de novos loteamentos levará à supressão da vege-
tação e causará uma mudança nos hábitos dos animais da área.
Impacto sobre as redes de esgoto da cidade – o novo loteamento trará um aumento nos fluxos
das redes.
Impacto sobre a drenagem de águas pluviais – o novo loteamento trará uma impermeabilização
da área e um aumento do escoamento superficial, a nova rede a ser implantada lançará essas
águas nos cursos d’água próximos ou nas redes do entorno.
Essa lei federal, juntamente com os regulamentos municipais e as leis estaduais, veio disciplinar
vários conflitos de interesses existentes entre usuários e habitantes da cidade e proprietários de lotea-
mentos cujos objetivos são, por vezes, diferentes.
A primeira ação para o parcelamento do solo nasce do desejo do proprietário (público ou
privado) de obter uma gleba de terra existente dentro da área da cidade, circunscrita pelo perímetro
urbano, para transformá-la em um loteamento. Para tornar esse desejo em realidade entre outras
providências legais, o proprietário deverá procurar um profissional ou um grupo deles que possua
atribuições profissionais para elaborar o projeto do loteamento e urbanização. Os profissionais
com atribuições para realizar esse tipo de projeto são arquitetos, urbanistas e engenheiros civis,
devidamente registrados no Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (CREA) de
cada estado da federação. A relevância de um projeto de parcelamento do solo requer dos profissionais
envolvidos uma grande responsabilidade para sua elaboração.
Os objetivos a serem estabelecidos para um projeto de loteamento são vários e dependem dos
interesses das partes envolvidas, no caso o proprietário da gleba a ser parcelada, empresas loteadoras,
construtoras ou cooperativas e a população representada pelo Poder Público. Segundo Barreiros (2007),
os objetivos dessas partes se dividem em formais e informais e podem ser coincidentes ou conflitantes.
Os objetivos formais se referem à implantação de um projeto de parcelamento capaz de oferecer
uma boa qualidade de vida à população, atendendo às expectativas dos clientes dentro das suas
possibilidades econômicas. No entanto, os objetivos reais dos proprietários podem considerar aspectos
mais específicos, tais como: garantir maior rentabilidade do investimento empregado, maior taxa de
aproveitamento do terreno, garantir um retorno do capital no menor espaço de tempo possível, rápido
início de vendas. Os objetivos reais dos clientes podem ser: pagar um menor preço pelo lote, possuir
calçadas mais largas no loteamento, mais áreas verdes e institucionais, lotes com testada maior, entre
outros. Os objetivos e os conflitos deles decorrentes variam de acordo com fatores como o local de
inserção do parcelamento, o perfil dos clientes a quem se destina preferencialmente o produto, políticas
públicas locais etc. Outros agentes também fazem parte do processo de parcelamento do solo e são
constituídos pelas empresas concessionárias de energia, gás, telefonia, água, transporte, iluminação,
lixo, empresas de consultoria e projetos de parcelamentos, cartórios, bancos e agências de fomento.
Todos esses agentes possuem interesses e objetivos diversos quando participam do processo e os
mesmos devem ser equacionados para que os objetivos formais sejam alcançados.
Para que o projeto de parcelamento do solo consiga tais objetivos faz-se necessário considerar
as metodologias de pesquisa, análise e diagnóstico ambiental e propostas de intervenção. A literatura
do desenvolvimento sustentável é farta em metodologias de compreensão e intervenção urbana,
contudo serão exemplificadas as metodologias propostas por Andrade e Romero (2007) e por Souza,
Tucci e Pompêo (2007). Os dados que o proponente do loteamento deverá dispor inicialmente po-
dem ser traduzidos em plantas do terreno na escala 1:1 000 ou 1: 2 000, plantas topográficas contendo
elementos de destaque como recursos hídricos, áreas de preservação, entre outros aspectos. Deverão ser
conhecidos os aspectos geológicos, de fauna e flora do local, da permeabilidade do solo, geotécnicos,
cursos d’água, áreas alagadiças, mananciais, linha de transmissão de energia, linhas teleféricas, adutoras
e demais indicações que caracterizam o imóvel. Outros dados que também devem ser conhecidos se
referem à demarcação das áreas com declividade de 30%, arruamentos existentes nas áreas confron-
tantes, abastecimento de água, redes de drenagem de águas pluviais, redes de esgoto etc. Devem ser
conhecidas também as leis de sistema viário, Plano Diretor e zoneamento e parcelamento do solo do
município, além das leis estaduais e federais que regem a matéria.
Para Andrade e Romero (2007) o projeto de parcelamento sustentável possui três etapas: a pri-
meira constitui-se do diagnóstico ambiental da área de inserção, obtido com o Estudo de Impacto
Ambiental e Relatório de Impacto Ambiental (EIA-RIMA) e Estudo de Impacto de Vizinhança e Relatório
de Impacto de Vizinhança (EIV-RIVI). Esses dois instrumentos são requeridos para a elaboração do pro-
jeto de parcelamento e constituem ótimas ferramentas para o projeto de um bom loteamento. A partir
dos dados ambientais presentes nos estudos e relatórios, o diagnóstico ambiental pode ser realizado
por meio da elaboração de tabelas que possibilitam uma análise dos conflitos ou problemas existentes
nos meios físicos, bióticos e antrópicos e as diretrizes propositivas.
A segunda etapa deve ser constituída pelo estabelecimento de estratégias ecológicas baseadas
em princípios ecológicos que visam favorecer a interdependência das áreas, maximizar a reciclagem em
todos os subsistemas urbanos, pensar a energia solar e os aspectos bioclimáticos, favorecer as alianças
entre moradores, implantar uma maior diversidade de usos, favorecer o equilíbrio dinâmico por meio
de um bom projeto de funcionamento das vias e usos adequados. A tabela oriunda dessa etapa mostra
os recursos ambientais e as estratégias necessárias (concepção urbana) para que os princípios de sus-
tentabilidade sejam transformados em técnicas de desenho.
A etapa posterior é constituída pelo desenho urbano propriamente dito, elaborada com o conheci-
mento das etapas anteriores. O equacionamento das características requeridas para cada subsistema pre-
sente no loteamento e suas respostas ambientais caberá ao profissional, por meio do seu conhecimento
e vocabulário técnico. Dessa forma, é primordial que os profissionais do desenho urbano conheçam
todas as possibilidades que o meio técnico informacional dispõe para solução dos problemas.
(MORETTI, 1986)
1
2
As vias podem ser classificadas pelas funções que desempenham na malha urbana, sendo que a
largura varia com o volume do tráfego que passa por ela. Segundo a SUPAM/SEPLAN (1984, p. 9) as vias
podem ser classificadas como:
::: Vias coletoras (vias secundárias) – possibilitam a circulação de veículos entre as vias arteriais
e acesso às vias locais;
::: Vias arteriais (vias preferenciais) – destinam-se à circulação de veículos entre áreas diferentes,
com o acesso a áreas lindeiras devidamente controlado;
::: Vias locais – dão acesso direto aos lotes lindeiros e ao trânsito local;
::: Vias de pedestres – destinam-se ao trânsito exclusivo de pedestres;
::: Ciclovias – destinam-se ao trânsito exclusivo de veículos de duas rodas não motorizados
(bicicletas).
A essas vias pode-se agregar a nomenclatura via estrutural, existentes em algumas cidades, para
aquelas vias arteriais com uso do solo específico e grandes larguras, e ainda as vias expressas, que possi-
bilitam mais velocidade e normalmente são caracterizadas pelas rodovias que dão acesso às cidades.
Via estrutural
Via arterial
Via coletora
Via local
Segundo Puppi (1981), o sistema viário urbano deve se amoldar à configuração topográfica a ser
delineada tendo-se em vista:
::: Os deslocamentos fáceis e rápidos, obtidos com percursos os mais diretos possíveis, entre os
locais de habitação e os de trabalho e de recreação, e com comunicações imediatas do centro
com os bairros e destes entre si;
::: Propiciar melhores condições técnicas e econômicas para a implantação dos equipamentos
necessários aos outros subsistemas de infraestrutura urbana;
::: A constituição racional dos quarteirões, praças e logradouros públicos;
::: A interligação sem conflitos ou interferências da circulação interna com o subsistema viário
regional e interurbano; e
::: A limitação da superfície viária e seu desenvolvimento restrito ao mínimo realmente necessário,
em ordem a se prevenir trechos supérfluos e se evitarem cruzamentos arteriais excessivos ou
muito próximos.
Além disso, as vias, que constituem o subsistema viário, deverão conter as redes e equipamentos
de infraestrutura que compõem seus demais subsistemas, em menor ou maior escala.
Para Mascaró (1994), o sistema viário é composto de uma ou mais redes de circulação, de acordo
com o tipo de espaço urbano (para receber veículos motorizados, bicicletas, pedestres, entre outros).
O sistema é complementado pela drenagem de águas pluviais, que assegura ao viário o seu uso sob
quaisquer condições climáticas. De todos os sistemas de infraestrutura urbana, esse é o mais delicado,
merecendo estudos cuidadosos porque:
::: é o mais caro dos sistemas, já que normalmente abrange mais de 50% do custo total de urba-
nização;
::: ocupa uma parcela importante do solo urbano (entre 20% e 25%);
::: uma vez implantado, é o sistema que apresenta mais dificuldade para aumentar sua capaci-
dade pelo solo que ocupa, pelos custos que envolvem e pelas dificuldades operativas que cria
sua alteração;
::: é o sistema que está mais vinculado aos usuários (os outros sistemas conduzem fluidos, e
este, pessoas).
O desenho geométrico do sistema viário deve ter uma forma que possibilite deslocamentos com
conforto e segurança, seja para usuários de veículos motorizados, pedestres ou ciclistas. Dessa forma, além
do dimensionamento das larguras, os cuidados com declividades e raios de giros tornam-se indispensáveis.
A escolha do tipo de traçado a ser implantado deve considerar também a topografia da gleba.
Recomenda-se para as interseções de vias um desenho que possibilite uma melhor visibilidade,
diminuindo o número possível de acidentes. Isso pode ser conseguido evitando-se cruzamentos de vias
em ângulos agudos, dando preferência a ângulos entre 80o e 90o. Os raios horizontais de concordância
entre as vias devem ser coerentes com o tráfego que elas podem receber (tabela 3).
R = ...
(MASCARÓ, 1994)
Tipo de via Raio (m)
Local com local 2a3
Coletoras 5a7
Arteriais 8 a 10
O desenho de ruas sem saída, próprias de traçados urbanos do tipo árvore (figura 3) e estacio-
namento, deve seguir as referências técnicas da boa forma urbana, com vista a conseguir um bom
desempenho do sistema viário e menos conflitos, o que resultará em um menor número de acidentes
de trânsito.
(PRINZ, 1979)
O sistema viário pode assumir formas distintas conforme a imaginação do projetista, podendo
ser em forma de retícula, radiocêntricas, em árvore ou uma mistura de todas elas. Contudo, o resultado
deve servir ao exercício da boa forma urbana e proporcionar qualidade de vida aos habitantes da cidade.
O sistema viário de uma cidade não pode ser encarado apenas sob o ponto de vista funcional, mas
agregar a esse o caráter fundamental que a rua possui de proporcionar encontros e tornar-se palco de
acontecimentos que marcarão a vida de todos.
Texto complementar
Espaços de uso público: ruas criadas e praças projetadas
(COSTA, 2007)
Entre os elementos componentes dos projetos de parcelamento do solo pode-se dizer que
esses se dividem em dois espaços: o privado e o público. Nos loteamentos este último constitui-se
de ruas e praças, elementos que se destinam à sociabilidade e convivência. E os demais elementos
citados e descritos anteriormente (lotes e quadras) constituem o espaço privado, destinado ao uso
particular. No contexto da cidade, as ruas são caracterizadas como locais de passagem, onde as pes-
soas podem se encontrar e as praças como locais de parada, e por essa razão os locais onde as pessoas
podem, além de se encontrar, conviver. Entretanto, também é verdade que as calçadas são espaços
muitas vezes utilizados para a integração social. Os usos dos passeios públicos podem ocorrer de
diferentes formas, variando de acordo com a cultura local, bem como da existência e a proximidade
de locais que desempenhem essa função.
As ruas têm algumas de suas características como dimensão e largura asseguradas pela legisla-
ção. Contudo, os perfis transversais apresentados nos projetos nem sempre correspondem ao que
é previsto em lei. O artigo 25 da Lei Municipal 575, de 26/11/1957 fixa dimensões mínimas para as
vias locais de menor circulação entre 10,00 e 12,00m. Nos loteamentos as vias locais correspondem
às ruas criadas para deslocamento interno e essas podem ou não ter conexão com a malha externa.
Esse artigo ainda remete-se à dimensão da superfície de rolamento, estabelecendo que essa não
poderá exceder a dois terços (2/3) da superfície total.
Nos loteamentos analisados a largura das vias variava entre 6,00 e 24,00m. As menores corres-
pondem às vias locais e as maiores às vias primárias ou vias de acesso ao empreendimento, ou ainda,
prolongamento de uma via existente. A maior parte das vias apresenta largura total de 12,00m
como previsto em lei, com pista de rolamento de 8,00m e faixas de 2,00m em ambos os lados desti-
nados aos passeios públicos. O que se questiona é se essas configurações atendiam às funções que
esses espaços podiam desempenhar, em especial as calçadas, nas quais não apenas a passagem de
pedestre ocorre, mas também a parada e o convívio dos que as utilizam. Se a arborização era obriga-
tória e a calçada tinha, por exemplo, 1,5m de largura, como conciliar as demais funções num espaço
diminuto? Alguns autores dos projetos aprovados no período afirmam que a largura ideal para uma
via é de 14,5m de pista, sendo esta composta por duas faixas de rolamento (3,5m cada) e uma faixa
destinada a estacionamento (3,5m), e pelo menos 2m de calçadas.
A importância dessas medidas não é olhada, neste trabalho, apenas sob o ângulo técnico,
julgando o quanto de largura é necessário para o desempenho favorável do fluxo de veículos e de
pedestres, mas sim sob o aspecto social, o quanto desses espaços é oferecido à integração social e
qual o verdadeiro papel desempenhado por esses espaços. Como a legislação assegurava a arbori-
zação dos logradouros, o espaço das calçadas poderia então ainda ser partilhado com os espaços
de permanência e de passagem, além dessa faixa destinada a equipamentos urbanos e vegetação
(figura 1).
Por isso enfatizamos também o quanto a vida social cotidiana interiorizou-se nos espaços
confinados pelos muros das casas residenciais. Isso porque a rua, que por certo intervalo da história
das cidades completava a casa, sendo uma extensão dela, onde as pessoas conviviam, passou a se
contrapor a ela – “a casa tem a função de preservar a individualidade, reforçando o privado” (FANI,
1996). A razão de a rua se opor à casa pode ser explicada pelo aumento significativo do uso da tele-
visão como instrumento de informação e divertimento, minimizando o contato com a vizinhança.
Da mesma forma, o predomínio dos automóveis, que “tirou as cadeiras das calçadas” (FANI, 1996)
é um dos agravantes no enfraquecimento da sociabilidade, uma vez que reduz as relações de vizi-
nhança. As atividades, antes realizadas nas ruas e nas calçadas dos bairros (quermesses, encontros
nas esquinas, ensaio das escolas de samba – exemplos citados por Ana Fani no seu livro O lugar no/do
mundo) atualmente acontecem em locais fechados. É como se aos poucos fossem desaparecendo
os lugares, os pontos de encontro.
“[...] Mas de “lugar do estar” as ruas das metrópoles definitivamente se transformaram em lu-
gar de passagem. Mas não perdeu para sempre o seu sentido de lugar do encontro, bem como de
reunião, por mais que hoje se tenham tornado esporádicos. Quantos pés já não deixaram aí suas
pegadas?” (FANI, 1996).
Além das ruas, as áreas destinadas à sociabilidade podem estar localizadas ao centro, como
se a essas fosse empregada função de centralidade do loteamento. Em outros, esses espaços loca-
lizam-se na periferia do terreno, como se objetivassem a beleza estética do loteamento. Indepen-
dente de sua localização e de sua dimensão, os espaços de uso público podem ou não responder ao
objetivo para os quais se destinam: promover a sociabilidade, a aproximação entre os moradores.
Isso porque a realidade social e de convivência da localidade é capaz de fazer usos distintos de um
mesmo espaço: tanto podem utilizá-lo para uma aproximação, quanto fazer deles o limite entre
seus mundos privados.
A existência desses espaços nos loteamentos é percebida de forma muito reduzida – a maior
parte dos projetos não apresenta as praças como elemento constituinte. A caracterização desses
espaços não segue uma uniformidade quanto ao tamanho e qualidade. Em alguns projetos as
praças ou as áreas verdes correspondem a terrenos intersticiais, ou seja, terrenos que não têm
características físicas favoráveis à comercialização como lote. Alguns autores de projetos ainda
afirmam que essas áreas deveriam ser projetadas para serem pontos centrais dos loteamentos e
que para elas convergissem as demais ruas, funcionando como um grande centro verde. Contudo,
essa realidade não é constatada nos projetos analisados: grande parte dos empreendimentos que
apresentam áreas destinadas ao uso público destina para esse fim os espaços que sobram da divisão
da gleba, normalmente na periferia do loteamento.
Alguns projetos, em especial os de maior dimensão, demonstram um maior cuidado na distri-
buição dos elementos e configuração formal resultante – oferecimento de um lugar onde as pes-
soas tenham a possibilidade de viver e se encontrar – já que é na cidade onde se expressam as
necessidades mútuas de cada indivíduo e impele, na produção da vida urbana, “uma série de “atos”
e “encontros” que ocorrem permanente e simultaneamente no espaço urbano” (GRAEFF apud
CALIHMAN, 1975).
Isso pode ser observado na maior quantidade de cruzamentos, as esquinas, onde as pessoas
se encontram, cruzam seus caminhos e, tomando a decisão por onde seguir, continuam seu trajeto.
Como também na maior quantidade de espaços de uso público, refletida não apenas nas praças e
áreas verdes, mas também nas áreas destinadas ao passeio público – as calçadas e vias. Entretanto,
cada grupo, cada formação pessoal pode-se utilizar de forma diferente dessa realidade – entendê-la
como uma possibilidade maior de se encontrar com o próximo, ou utilizá-la como fronteira entre os
espaços privados.
Alguns loteamentos podem gerar também um espírito de cooperação entre os moradores,
refletido na criação de associações que buscam, em união com todos os habitantes da localidade,
primar pela qualidade do loteamento, e que normalmente concentram essa melhoria nos espaços
que possam atender a todos de forma igualitária, e esses espaços são os espaços de uso público.
Nas pequenas glebas, onde justamente por acomodar um número menor de moradores poderia
ser facilitada a sociabilidade entre eles, quase não são oferecidas áreas para uso público, apenas as
ruas e calçadas. Talvez as calçadas sejam suficientes para estabelecer uma ligação entre os moradores
pela pequena dimensão da via, o que faz com que eles estejam mais perto uns dos outros.
Cada projeto de parcelamento do solo, inserido, criado no seio citadino, pode fazer surgir uma
nova forma de sociabilidade urbana, dando continuidade ou não ao que já existia.
Entretanto, a existência de espaços que podem proporcionar a aproximação entre os mora-
dores nem sempre é olhada sob ângulo positivo. O afastamento provocado pela maior e contínua
distância entre os espaços públicos e privados pode ser traduzida como fronteira capaz de ser ultra-
passada e obstáculo incapaz de ser quebrado.
Atividades
1. O que você entendeu por loteamento e desmembramento?
2. Quando do estabelecimento de objetivos por parte dos agentes envolvidos no processo de par-
celamento do solo, emergem conflitos que necessitam ser mediados. Quais são os instrumentos
públicos de mediação desses conflitos?
3. O que você entendeu por hierarquização viária e como as vias podem ser classificadas?
Gabarito
1. Por loteamento considera-se a subdivisão de gleba em lotes destinados à edificação, com aber-
tura de novas vias de circulação, de logradouros públicos ou prolongamento, modificação ou
ampliação das vias existentes. Desmembramento é a subdivisão de gleba em lotes destinados à
edificação, com aproveitamento do sistema viário existente, desde que não implique na abertura
de novas vias e logradouros públicos, nem no prolongamento, modificação ou ampliação dos já
existentes.
2. Esses instrumentos são constituídos pela Lei Federal 6.766 de 19 de dezembro de 1979, que regu-
lamenta o parcelamento do solo para fins urbanos em zonas urbanas ou expansão urbana, pelos
regulamentos municipais e pelas leis estaduais sobre esta matéria.
3. Hierarquização viária pode ser entendida como o estabelecimento de critérios diferentes para
vias com funções urbanas distintas em uma cidade. As vias podem ser classificadas como locais,
coletoras, arteriais, estruturais ou expressas.
Dessa forma pode-se concluir que a infraestrutura urbana deve ser encarada como um condicio-
nante importantíssimo para o desenvolvimento econômico e humano de uma sociedade.
Mascaró (1987) refere-se às redes de infraestrutura como tão antigas quanto as cidades. A primeira
dessas redes a surgir foi a malha viária urbana, formada por ruas e espaços públicos. As pistas de
rolamento e calçadas dessas malhas evoluíram em seus tipos de pavimentos e larguras até se alcançar as
atuais conformações, que têm o automóvel como padrão preponderante. Os pavimentos tiveram uma
grande evolução desde as estradas romanas pavimentadas com pedra. As redes sanitárias também se
mostram bastante antigas, tendo-se notícias da existência delas, com grande qualidade de engenharia,
na Roma Antiga e em Jerusalém.
O abastecimento de água, no entanto, traz também a preocupação com a eliminação das águas
servidas, que se não forem eliminadas de forma satisfatória podem levar à proliferação de doenças. Os
romanos também foram pioneiros na instalação de redes de eliminação de esgotos, embora outros
povos também tenham mostrado avanços nessa direção. Contudo, a retomada das preocupações com
as redes sanitárias somente aconteceu a partir do século XV na Europa.
Para Mascaró (1987), as redes de energia elétrica apareceram no fim do século XIX, inicialmente
para iluminar o centro das cidades em substituição às redes a gás e depois como tração para os bon-
des em substituição aos cavalos que os puxavam. A rede de eletricidade, após sua inserção, obteve
um grande desenvolvimento. As redes de gás e energia elétrica possibilitaram intensas mudanças nas
cidades no período industrial, moldando-as para o formato hoje conhecido.
O advento de novas tecnologias de comunicações levou à criação de novas redes, como telefonia,
televisão e transmissão de dados, as quais trouxeram novas transformações ao espaço urbano e torna-
ram-se imprescindíveis para a sociedade e, como tal, devem ser providas aos habitantes.
O planejamento, a concepção, a implantação e a gestão de sistemas técnicos, segundo Zmitrowicz
e De Angelis (1997), cabe à engenharia urbana. Para os autores, a denominação sistema técnico possui
dois significados: o primeiro como rede de suporte, ou seja, uma dimensão física, e o segundo como
rede de serviços. Procura-se integrar, no conceito de sistema técnico, sua função dentro do meio urbano,
o serviço prestado à população e seus equipamentos e rede física. Pode-se entender a cidade como
um conjunto de subsistemas urbanos, definido por meio dos seus subsistemas técnico-setoriais, tendo
como exemplo o subsistema de infraestrutura urbana, composto, por sua vez, por outros subsistemas,
que podem ser classificados da seguinte forma:
::: Subsistema viário;
::: Subsistema de drenagem pluvial;
::: Subsistema de abastecimento de água;
::: Subsistema de esgotos sanitários;
::: Subsistema energético;
::: Subsistema de comunicações.
(MASCARÓ, 1994)
boca de lobo condutor poço de visita
caixa de ligação
PV1 PV2
PV1 PV2
PV1 PV3
PV2
Os elementos que compõem o subsistema de drenagem das águas pluviais são assim definidos
por Zmitrowicz e De Angelis (1997):
::: Meios-fios ou guias – são elementos utilizados entre o passeio e o leito da via, dispostos parale-
lamente ao eixo da rua, construídos geralmente de pedra ou concreto pré-moldado e que for-
mam um conjunto com as sarjetas. É recomendável que possuam uma altura aproximada de
15cm em relação ao nível superior da sarjeta. Uma altura maior dificultaria a abertura das portas
dos automóveis, e uma altura menor diminuiria a capacidade de conduzir as águas nas vias.
::: Sarjeta – são faixas do leito viário, situadas junto ao meio-fio, executadas geralmente em
concreto moldado in loco ou pré-moldado. Formam, com o meio-fio, canais triangulares, cuja
finalidade é receber e dirigir as águas pluviais para o sistema de captação.
::: Sarjetões (figura 3a-2) – são calhas, geralmente construídas do mesmo material das sarjetas,
em forma de “V”, que dirigem o fluxo de águas perpendiculares. Um dos pontos críticos desse
sistema ocorre nos cruzamentos de ruas, onde o acúmulo de água pode atrapalhar o tráfego.
1
(MASCARÓ, 1994)
2
a b
Figura 3 – ( a ) Comportamento das águas pluviais em sarjetas (1) e sarjetões (2) e ( b ) Comportamento das
águas pluviais em sarjetas e bocas de lobo.
::: Bocas de lobo (figura 4) – são caixas de captação das águas colocadas ao longo das sarje-
tas, com a finalidade de captar as águas pluviais em escoamento superficial e conduzi-las ao
interior das galerias. Normalmente são localizadas nos cruzamentos das vias antes da faixa de
pedestres, ou em pontos intermediários, quando a capacidade do conjunto meio-fio versus
sarjeta fica esgotado (figura 3b).
(MASCARÓ, 1994)
::: Galerias (figura 5b) – são canalizações destinadas a receber as águas pluviais captadas na
superfície e encaminhá-las ao seu destino final. São localizadas em valas executadas geral-
mente no eixo das ruas, com recobrimento mínimo de 1m. São, em geral, pré-moldadas em
concreto, com diâmetros variando entre 400 e 1 500mm.
::: Poços de visita (figura 5a) – são elementos que possibilitam o acesso às canalizações, para
limpeza e inspeção. São necessários quando há mudança de direção, alteração na declividade,
junções ou mudança de diâmetro das redes. As paredes dos poços de visita são feitas, geral-
mente, de tijolos ou concreto, o fundo, em concreto e a tampa, em ferro fundido.
(MASCARÓ, 1994)
a b
Figura 5 – Cortes ilustrativos de ( a ) poços de visita e ( b ) redes ou galerias.
Os sistemas de drenagem de águas pluviais, embora setorialmente possam ser bem planejados
e executados, sua eficiência depende de um conjunto de fatores que envolvem os volumes das
precipitações atmosféricas e a forma de intervenção do homem na natureza para ser realmente
eficiente. O parcelamento do solo deve considerar essas variáveis de forma absolutamente primordial
para o projeto com o intuito de evitar sérias consequências que têm afligido as populações das cidades,
em decorrência de inundações.
A pavimentação do sistema viário possui grande importância, tanto para a drenagem das águas
pluviais quanto para a paisagem da cidade e a mobilidade dos habitantes. São diversos os materiais
utilizados para a pavimentação de ruas e passeios públicos, destacando-se entre eles os tratamentos
primários, os pavimentos rígidos e os pavimentos flexíveis.
Embora não seja comum a exigência legal de pavimentação de todas as vias de um loteamento,
esta contribui sobremaneira para agregar valor ao lote a ser vendido ou à unidade habitacional.
A escolha do tipo de pavimentação, no entanto, deverá atentar para o caráter funcional das vias, ao
caráter técnico dos materiais e ao caráter econômico-social do loteamento. Os pavimentos flexíveis
Subleito compactado
Base (areia)
Sub-base de solo-cimento
Rígidos (Concreto)
Concreto
i = 3% a 4%
Sub-base de solo-cimento
Figura 6 – Tipos mais comuns de pavimentos utilizados no sistema viário de vias urbanas.
O sistema viário possui uma importante função de constituir-se no suporte para várias redes de
infraestrutura. Vários problemas têm surgido nas cidades brasileiras devido à falta de planejamento
da instalação dos vários tipos de redes (energia, gás, telefone, esgoto, águas pluviais, água potável
etc.) e acessórios (caixas de inspeção, bocas de lobo, poços de visita etc.) em vias urbanas sem o de-
vido cuidado. Um planejamento para posicionamento (figura 7) e um cadastro eficiente desses sub-
sistemas evita riscos para os trabalhadores durante a manutenção e facilita a ampliação dos serviços,
além de outras vantagens.
Passeio + L rua/2
Água potável
Esgoto
2,50
3,30
(MORETTI, 1986)
a b
Figura 8 – Abastecimento de água através de poços individuais ( a ) e poço coletivo ( b ).
A viabilidade da utilização de poços depende muito do tamanho dos lotes, sendo mais comum
a sua utilização em loteamentos na área rural. Mesmo nesses casos essa utilização deve ser cercada de
cuidados e devidamente autorizada pelos órgãos responsáveis pela gestão das águas.
(MORETTI,1986)
Figura 9 – Posicionamento dos lotes na quadra e inconve-
niências das redes de esgoto sanitário.
Como ilustrado na figura 9, torna-se fundamental que o projeto seja elaborado buscando inserir
um grande número de variáveis desde suas primeiras fases. A definição do traçado do sistema viário,
quadras e lotes terá bastante influência nas redes que serão alocadas.
Além das questões ligadas ao provimento da infraestrutura necessária ao desenvolvimento
econômico e humano de uma comunidade, o parcelamento do solo também deve ser um instrumento
consciente para a expansão urbana de forma ordenada. Um dos impactos do processo de urbanização
iniciado com o parcelamento do solo é a geração de resíduos sólidos (lixo). Esses resíduos, caso não
tenham uma gestão coerente, irão degradar o ambiente. O parcelamento do solo deverá dar atenção
especial aos impactos do lixo produzido, seja orgânico ou inorgânico, desde a fase de implantação do
loteamento até as futuras implantações de unidades habitacionais, zelando para que o projeto do par-
celamento crie condições para uma gestão conjunta dos resíduos sólidos entre população e agentes
públicos. A maior parte do volume de resíduos sólidos produzidos nas áreas urbanas é destinada aos
lixões e aterros sanitários, contudo têm crescido as críticas aos aterros devido à grande quantidade de
lixo, comprometendo sua vida útil. A coleta seletiva e a reciclagem são algumas das alternativas para
aumentar a vida útil dos aterros e diminuir os impactos sobre o meio ambiente.
Texto complementar
Breve histórico sobre infraestrutura urbana
(ZMITROWICZ; DE ANGELIS NETO, 1997, p. 2-5)
A existência das redes de infraestrutura nas cidades é tão antiga quanto estas, uma vez que
forma parte indissolúvel delas. Obviamente, a primeira rede a aparecer é a rede viária, onde se
percebe a evolução do perfil dos calçamentos desde as antigas vias romanas até o surgimento do
automóvel, quando se produz a maior evolução dos tipos de pavimentos. A seguir, aparecem as
redes sanitárias, das quais existem excelentes exemplos em Jerusalém e Roma Antiga e, finalmente,
as redes energéticas, em fins do século XIX (MASCARÓ, 1987).
Em matéria de redes sanitárias, um exemplo interessante de ser analisado é Roma, que contava
com um excelente sistema de abastecimento de água (existente também na maioria das cidades
do Império). A água, que traziam desde longe, era conduzida para grandes depósitos que, de um
lado serviam para armazenamento e, de outro, para depuração (ainda que parcial) por decantação,
razão pela qual esses grandes depósitos devem ser vistos como um antecedente histórico de nos-
sas atuais plantas potabilizadoras de água (às vezes de desenho menos criterioso que o dos roma-
nos). Na época do apogeu imperial romano, havia mais de 50km de grandes aquedutos e 350km de
canalizações d’água na cidade de Roma.
As canalizações principais, geralmente em alvenaria de pedra, levavam água até depósitos abo-
badados de alvenaria conhecidos como “castelos de água” que, em número de 250, espalhavam-se
pela cidade. Desses depósitos saía uma série de tubos de latão, aos quais se soldavam tubulações de
chumbo que levavam a água sob pressão (por ação da gravidade) para palácios, fontes, residências
etc. Ou seja, uma verdadeira rede d’água potável que daria inveja a muitas cidades “modernas” de
hoje. A água era cobrada do usuário na proporção do diâmetro do tubo que o abastecia. Possuía
Roma: 19 aquedutos que forneciam 1 000 000m³/dia à cidade, esgotos dinâmicos e ruas pavimentadas
para atender cerca de 1 000 000 de habitantes (Ferrari, 1991).
Povos de outras latitudes também se preocuparam com esse serviço público. Os germanos,
por exemplo, utilizaram a madeira (pela sua abundância local) para fazer tubulações de água e abas-
tecer assim suas cidades. A adaptação de cada uma das redes de serviços às disponibilidades locais
de materiais e mão de obra é uma restrição econômica que hoje nem sempre é levada em conside-
ração. No século XIX, a máquina a vapor passa a permitir o transporte de grandes cargas a grandes
distâncias e, assim como se internacionalizou a tecnologia de edificação, se internacionalizou tam-
bém a tecnologia das redes urbanas. A relativa liberalização das restrições de materiais locais tem
seus aspectos positivos, mas apresenta também fortes aspectos negativos: por exemplo, os pavi-
mentos das ruas se internacionalizaram nos seus materiais, desenho e tecnologia, perdendo-se
algumas vezes, porém, interessantes e econômicas soluções locais. O asfalto se difunde de Paris,
Londres e Nova York, até Rio, Brasília e São Paulo, independentemente de disponibilidades (é um
derivado de petróleo) e de climas (a cor escura o leva a absorver o calor do sol), e passa a ser quase
a única solução para pavimentos urbanos, pelo “status” de modernidade que confere à maioria das
cidades do mundo (MASCARÓ, 1987).
O abastecimento de água trouxe a preocupação pela eliminação dos líquidos residuais, e há
indícios de que egípcios, babilônios, assírios e fenícios tinham redes de esgoto; mas a primeira rede
claramente organizada que se conhece é a de Roma, composta de uma série de ramais que se uniam
até formar uma coletora mestra, que, com um desenho relativamente similar ao dos aquedutos levava
para longe da cidade as águas servidas. Na Europa aparece a primeira legislação regulamentando
os esgotos em Londres, em 1531, posterior à primeira lei sanitária urbana da Inglaterra, de 1338,
aprovada por um parlamento reunido em Cambridge (Mumford, 1982). Em 1835, na Alemanha
(depois da peste da cólera), se constituem comissões para debater, estudar e estabelecer normas
para os esgotos das cidades alemãs. As galerias de esgotos de Paris são famosas pelo seu desenho
e dimensões. Na Inglaterra aparece, em 1876, a primeira legislação contra a poluição causada por
esgotos lançados nos rios e outros corpos d’água.
Nesses três exemplos (esgotos, água potável e pavimentação) as inovações de engenharia
conhecidas em cidades e regiões mais antigas foram convertidas em grandes formas coletivas,
servindo às massas urbanas. Mas, como frequentemente acontece nas aplicações da engenharia, os
benefícios físicos não se estendiam a todos os espaços urbanos: os grandes esgotos de Roma não
eram ligados às privadas acima do primeiro andar (MUMFORD, 1982).
As redes de energia nas cidades são posteriores; a primeira a aparecer foi a de gás. A primeira
companhia de distribuição de gás, como serviço público, foi criada na Inglaterra, em 1812, para
atender à cidade de Londres. Nos Estados Unidos foram feitas tentativas em Massachusets, Rhode
Island e Filadélfia em 1815. O gás distribuído na época era fabricado a partir da destilação do carvão;
o objetivo foi primeiro a iluminação pública e logo a residencial. Por volta de 1840 aparecem os
primeiros fogões a gás. Em 1821, em Fredonia (Nova Iork), foi perfurado o primeiro poço de gás natural,
e pouco depois começava sua distribuição na cidade. As tubulações de distribuição de gás inicialmente
eram de madeira. O gasoduto que levava o gás para Rochester, Estado de Nova Iork, era de pinho branco
e media 40km de comprimento, mas os vazamentos eram tão grandes que a linha foi abandonada em
poucos anos. Em 1834 foi construída em Nova Jersey a primeira fábrica de tubos de ferro fundido e, em
1891, feita a primeira tubulação em aço, mais eficiente e econômica, para levar gás a Chicago.
No Brasil, o gás foi introduzido inicialmente em São Paulo. Na década de 1860, todas as ruas
do bairro da atual Praça da Sé eram iluminadas a noite por duzentos lampiões. A empresa original-
mente criada pelo empresário Afonso Milliet foi transferida posteriormente para uma companhia
inglesa. Paralelamente à conclusão da ampliação da Casa das Retortas, no ano de 1889, o governo
prosseguia estimulando o uso do gás canalizado na província. Em 1897, a Companhia de Gás foi
isenta de pagamento de impostos estadual e municipal e a ela foi conferido o poder de desapro-
priação para fins de utilidade pública. Quatro anos antes, foi baixada uma lei permitindo que os
combustores instalados em postes públicos fossem colocados nas paredes das construções parti-
culares sempre que tal medida beneficiasse o trânsito do sistema de transporte, constituído na sua
maioria por cavalos e carroças. Para a ocasião, eram medidas de grande alcance que chegaram a
provocar sérias polêmicas, especialmente entre os políticos. Em 1936, foram desativados os últimos
lampiões a gás em São Paulo. A partir daí o uso do gás ficou restrito à produção de calor. Mesmo
assim seu consumo se manteve em expansão permanente. Por mais de um século (1871-1974) foi
utilizado gás de carvão mineral. Em 1972 começou a ser utilizado gás produzido a partir do petróleo,
hoje substituído por gás natural, trazido de jazidas por meio de canalizações.
Em fins do século XIX aparecem as redes de energia elétrica, primeiro para iluminar o centro
das cidades (entrando em colisão com a rede de gás) e logo depois para substituir os cavalos que
puxavam os bondes. A partir de sua introdução, a rede de eletricidade experimentou um grande
desenvolvimento. São essas duas redes (eletricidade e gás) que permitem que as cidades mudem
de função e passem de centros administrativos ou de intercâmbio a centros de produção. São as
duas redes do período industrial (MASCARÓ, 1987).
Talvez nos próximos anos, com o advento da era de informática, as redes telefônicas e de
televisão a cabo se tornem as mais importantes. Como fiel reflexo de nossas estruturas culturais e
produtivas, as redes vêm acompanhando as mudanças, razão pela qual uma cuidadosa programação
sobre sua implantação e possibilidade de expansão (ou extinção) deve ser feita quando se planeja a
organização do espaço e do solo urbano.
Atividades
1. Qual é a importância da infraestrutura para o desenvolvimento da cidade e da sociedade?
2. O sistema de infraestrutura urbana pode ser subdividido em vários subsistemas. Quais são?
1 2 3
Gabarito
1. A infraestrutura urbana visa promover adequadas condições de moradia, trabalho, saúde,
educação, lazer e segurança, propiciar o desenvolvimento das atividades produtivas e os meios
necessários ao desenvolvimento das atividades político-administrativas, entre os quais se inclui
a gerência da própria cidade.
Para a autora, o projeto do espaço urbano pode utilizar os conceitos bioclimáticos com o objetivo
de melhorar o conforto térmico e as condições de saúde. Contudo, para que isso aconteça é necessário
que o projeto procure harmonizar os vários elementos da cidade, constituídos por edifícios, vegetação,
ruas, praças e mobiliário, de forma a obter os resultados bioclimáticos desejados. A tabela 1 apresenta
os elementos de diferentes tipos climáticos, os quais a autora propõe que sejam controlados, e o tipo de
controle a ser realizado no projeto urbano. Esses elementos são constituídos pela temperatura, ventos,
umidade, radiação e chuvas. A incidência direta dos raios solares sobre a superfície da terra cria radiações
solares diretas, contudo, a reflexão desses raios sobre os elementos presentes na cidade (pavimentos,
edifícios etc.) também contribui para o resultado da sensação térmica e da umidade do ar.
(ROMERO, 1988)
Elementos a controlar Estações quente-secas Estações quente-úmidas Clima ameno dos planaltos
Temperatura Reduzir a produção de Reduzir a produção de calor Reduzir a produção de calor na
calor devido à condução e (diminuir temperatura). época seca diurna.
à convecção dos impactos Procurar perda de calor pela
externos. evaporação e pela convecção.
Ventos Nas regiões sem inverno: Incrementar o movimento Incrementar o movimento do
diminuir o movimento do do ar. ar no período úmido e
ar durante o dia e ventilar no período seco sem pó.
à noite. Nas regiões com
inverno: diminuir o movi-
mento do ar.
Embora existam especificidades para cada tipo climático regional, existem princípios básicos para
uma boa forma urbana que devem ser conhecidos e seguidos para que o resultado seja satisfatório. Es-
ses princípios envolvem a escolha do local do parcelamento, a insolação, os ventos dominantes, a forma
e o traçado da vias, as dimensões e características dos lotes e espaços públicos, o desenho dos edifícios
e da vegetação. Vários autores têm abordado os princípios para o projeto de uma boa forma urbana,
entre eles Lynch (1980), Ruano (2000), Romero (1988), Souza et al. (2007), Mascaró (1987; 1994), Puppi
(1981), Prinz (1979).
Os efeitos de radiação e ventilação possuem várias medidas para serem controlados, utilizando-se
um desenho específico para os edifícios, formas e materiais adequados para pavimentação e vegetação.
A ventilação constitui um elemento de vital importância em regiões de clima tropical e deve ser consi-
derada como um forte aliado para que o microclima das áreas urbanas seja mais agradável. Para isso, o
projetista deverá estar atento à direção dos ventos dominantes e aos efeitos do mesmo em áreas edifi-
cadas, evitando efeitos indesejados e maximizando o potencial de renovação do ar. Entre os efeitos do
vento pode-se destacar o da canalização, que tem sua formação favorecida, segundo Romero (1988),
pela existência de espaço construído com paredes pouco porosas e espaçamento igual ou inferior ao
espaçamento das construções (figura 1). Esse efeito pode ser evitado por meio de vários fatores, entre
eles se destaca um traçado urbano com ruas sob uma incidência compreendida entre 90o e 45o.
(ROMERO, 1988)
Figura 1 – Efeito de canalização.
(MASCARÓ, 1994)
O quadro 1 apresenta uma síntese das proposições de Romero (1988) para o desenho urbano em
várias regiões de clima tropical (quente-seco, quente-úmido e tropical de altitude). As recomendações
são feitas para o projeto da forma urbana, para ruas, lotes e áreas públicas.
(ROMERO, 1988)
Tipos de clima da região tropical
Elemento
Quente-seco Quente-úmido Tropical de altitude
Sem inverno: a ocupação do espaço O tecido urbano deve ser disperso, O traçado deve proteger
deve ser densa e sombreada. A solto, aberto e extenso, para contra a excessiva radiação
forma deve ser compacta e oferecer permitir a ventilação das formas diurna e atenuar as perdas no-
a menor superfície possível para a construídas. Construções devem turnas. Para tanto, um traçado
Forma
exposição à radiação solar. estar separadas entre si e rodeadas compacto seria o indicado para
urbana
Com inverno: a ocupação deve ser de árvores para sombreamento e subtrair a maior quantidade de
densa e oferecer superfícies para a absorção da radiação solar. superfície à exposição solar e
exposição ao sol nos períodos frios. diminuir o resfriamento
noturno das edificações.
Estreitas e curtas, com mudanças A orientação que ofereça espaços Devem canalizar os ventos
de direção constantes para dimi- ensolarados e espaços sombreados dominantes para obter as
nuir e impedir o vento indesejável. é a mais favorável; se acompanhada brisas necessárias no verão,
Nas ruas com orientação desfavo- de vegetação ao lado do poente, porém a vegetação deve
rável, onde exista uma face da rua auxilia consideravelmente a bloquear os ventos frios do
fria no inverno e extremamente permanência no lugar ou o simples inverno. As ruas e áreas livres
ensolarada no verão, a utilização percurso do pedestre. Os caminhos devem ser sombreadas com
Rua de marquises, beirais amplos e de pedestre devem ser curtos e árvores de grande copa para
galerias é imprescindível, uma vez sombreados, as superfícies grama- canalizar as brisas do verão e
que a vegetação não resolveria a das devem substituir as pavimen- reduzir a reflexão da radiação
situação do ambiente quanto ao tadas para reduzir a absorção da solar, embora deixando
sombreamento. A orientação para radiação solar e a reflexão sobre as penetrar o sol no inverno.
as ruas que permitem sombrear superfícies construídas.
um lado é aconselhável, pois favo-
rece os pedestres.
Lotes estreitos e longos, com Os lotes devem ser mais largos que Permitir uma adequada
edificações contíguas. compridos. As vedações devem ser ventilação e impedir uma
A ventilação é provocada escassas, de preferência vegetais, e excessiva radiação. Quando
Lote internamente, evitando que a a ventilação deve advir da rua. uma rua canaliza os ventos
excessiva luminosidade da região O alinhamento das edificações não predominantes aconselha-se
afete, através da reflexão, deve ser rígido, permitindo a um alinhamento que permita
o interior das construções. circulação do ar abundantemente. reentrâncias e saliências.
(ROMERO, 1988)
estruturação viária, com ruas locais largas, muito retas ou com grande declividade, favorecendo a velocidade
no escoamento das águas superficiais. Outros problemas dizem respeito ao tratamento dado às matas
ciliares de forma predatória e pouco conectado aos princípios ambientais e ao parcelamento inadequado
de áreas úmidas. Por outro lado, a figura 5 mostra um loteamento onde as áreas de preservação ambiental
foram tratadas de forma sustentável, minimizando os impactos da impermeabilização do solo devido à
urbanização e contribuindo para um bom desempenho do sistema de drenagem de águas pluviais. O
sistema viário foi tratado de forma a obter uma hierarquia que possibilita uma maior tranquilidade em
áreas de uso predominantemente residencial e uma maior mobilidade na via coletora. A paisagem é
valorizada pelo traçado sinuoso das vias e do tratamento paisagístico, bem como das grandes áreas verdes.
A vegetação possibilita um bom desempenho climático da urbanização e valoriza o empreendimento.
A paisagem urbana, em muitas cidades do Brasil, tem sido tratada de forma inconsequente e
desastrosa pela ausência de uma abordagem sustentável. O legado desse tipo de procedimento está
na má qualidade de vida em muitos locais de moradia. A busca por uma cidade melhor passa indubi-
tavelmente por mudanças nos procedimentos metodológicos projetuais e a aceitação de princípios de
sustentabilidade ambiental ainda não são muito comuns na prática profissional.
Texto complementar
Urbanismo sustentável
(ANDRADE et al., 2007)
O conceito de sustentabilidade foi criado por Lester Brown da WWI (Worldwatch Institute) no
início da década de 1980. Foi definido que “uma sociedade sustentável é aquela capaz de satisfazer suas
necessidades sem comprometer as chances de sobrevivências das gerações futuras”. Alguns anos depois
foi utilizado pela Comissão Mundial do Meio Ambiente e Desenvolvimento, no famoso Relatório
Brundtland de 1986, a mesma definição para apresentar a noção de desenvolvimento sustentável.
No entanto, essa definição não nos mostra como devemos construir uma sociedade susten-
tável e, muito menos como devemos construir cidades sustentáveis. Segundo Ruano (2000), o
Ecourbanismo ou Urbanismo Sustentável é uma nova disciplina que articula múltiplas e complexas
variáveis e incorpora uma aproximação sistêmica ao desenho urbano com uma visão integrada e
unificada, trazendo, como consequência, a superação da divisão clássica do urbanismo tradicional e
seus critérios formais e estilísticos. A partir desse novo paradigma deve-se estabelecer uma relação
dialética entre o planejamento estratégico e o desenho urbano.
Para Sachs (1993), as estratégias de Ecodesenvolvimeto para os países em vias de desenvolvi-
mento podem ser triplamente vencedoras, pois, além de promover o progresso social por meio de
geração de empregos e contribuir para melhorar o meio ambiente, são economicamente justificáveis
na medida em que as atividades que geram uma economia de recursos se autofinanciam.
Na sua visão, as cidades poupadoras de recursos ou assentamentos urbanos sustentáveis
devem ser vistos como ecossistemas, pois existem recursos que são subutilizados ou mal-utilizados,
tais como: terras agriculturáveis, lixo reciclável, potencial para conservação de energia e água,
potencial para poupança de recursos de capital, mediante a melhor manutenção de equipamentos,
infraestruturas e imóveis. “[...] O aproveitamento desses recursos pode representar não só importante
fonte de empregos, financiada pela poupança de recursos, mas, ainda, um meio para melhorar as
condições ambientais”.
Nessa mesma linha, mas com um outro conceito, Girardet (2003) afirma que cidades ecológicas
são aquelas que apresentam um metabolismo circular, onde tudo é planejado e reaproveitado
como um ciclo, onde existe a consciência ambiental dos gestores e dos cidadãos.
De acordo com Capra (2002), a chave para se implantar comunidades humanas sustentáveis
é observar os ecossistemas naturais, ou melhor, compreender como eles se organizam a fim de
maximizar sua duração e empregar esse conhecimento na construção de assentamentos humanos
duradouros. O diagnóstico para intervenções futuras deve-se basear em princípios ecológicos de
organização, comum a todos ecossistemas os quais desenvolveram para sustentar a teia da vida – a
compreensão sistêmica da vida.
Uma vez estabelecidos certos princípios, eles não se modificam em função de culturas, hábitos,
estilos ou modismos. No entanto, a forma na qual devemos aplicá-los, depende de cada biorregião
com seus aspectos físicos (geologia real, topografia e ecologia), culturais e socioeconômicos.
É com base nesses princípios que desenvolvemos nosso trabalho, estudando estratégias de
desenho para implantar comunidades sustentáveis e entender em que medida a anatomia de uma
comunidade construída, juntamente com a identificação de princípios de ecologia, entre os quais
podemos citar redes, ciclos, alianças, energia solar, diversidade e equilíbrio dinâmico, pode contribuir
para o estabelecimento de procedimentos e métodos para o desenho de assentamentos humanos
em equilíbrio com a natureza, economicamente viáveis e lugares agradáveis para se viver.
Assim como o estabelecimento de padrões de qualidade ambiental, tradicionalmente é
traduzido em normas, nesse tema específico podem ser traduzidos em princípios de sustentabilidade
aplicados ao desenho urbano.
Atividades
1. Como os aspectos bioclimáticos podem influenciar na qualidade de vida da população?
2. Quais devem ser as características das ruas em locais com clima tropical quente-seco de forma a
obter melhores condições bioclimáticas?
3. Qual o papel da vegetação em um projeto de parcelamento do solo e como deve ser planejada?
Gabarito
1. Os elementos do clima, definidos pela temperatura e umidade do ar, movimentos das massas de
ar e precipitações, se não forem devidamente tratados no projeto da urbanização, podem causar
baixo desempenho climático, microclimas desagradáveis e inundações.
2. As ruas devem ser estreitas e curtas, com mudanças de direção constantes para diminuir e impedir
o vento indesejável. Nas ruas com orientação desfavorável, onde exista uma face da rua fria no
inverno e extremamente ensolarada no verão, a utilização de marquises, beirais amplos, galerias,
é imprescindível uma vez que a vegetação não resolveria a situação do ambiente quanto ao
sombreamento. A orientação para as ruas que permitem sombrear um lado é aconselhável, pois
favorece os pedestres.
Segundo Mota (1980), apud Barreiros e Abiko (1998), o parcelamento do solo, concretizado sob a
forma de loteamento ou desmembramento, constitui-se em um dos instrumentos urbanísticos empre-
gados para buscar a organização territorial dos municípios brasileiros. Por meio dele, o município regu-
lamenta o desenho e a espacialização adequada dos lotes, equipamentos e vias públicas, propõe taxas
de ocupação, áreas para recreação e outros usos comunitários e infraestrutura mínima. Ao município
cabe implantar uma regulamentação específica para organização do uso e ocupação do novo espaço
urbano, oriundo do parcelamento do solo.
A organização territorial, no entanto, não diz respeito somente ao parcelamento do solo, possuindo
outros condicionantes que necessitam ser pensados e regulados de forma a garantir uma cidade me-
lhor. Algumas cidades do Brasil já possuem experiência com planejamento há pelo menos cinco décadas
em planejamento territorial, outras somente atentaram para a necessidade a partir da obrigatoriedade
estabelecida na Constituição Federal de 1988, em seu artigo 182. Em muitas leis orgânicas municipais
consta a obrigatoriedade da elaboração do Plano Diretor do município, em outros os instrumentos são
desconhecidos. O plano deve ser participativo, constituindo-se em um instrumento de democratização
da gestão da cidade, capaz de orientar o crescimento da mesma de forma ordenada, buscando regular
a ação dos entes produtores do espaço (proprietários de terras, empreendedores imobiliários, Poder
Púbico, entre outros agentes). Segundo Braga (2007, p. 4),
Formalmente, o Plano Diretor é uma lei municipal obrigatória para os municípios com população superior a 20 000
habitantes e que deve ser o instrumento básico da política municipal de desenvolvimento e expansão urbana, a qual
tem como objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus
habitantes (Constituição Federal, artigo 182) . É apenas isso o que estabelece a lei [...].
O Plano Diretor é um instrumento eminentemente político, cujo objetivo deverá ser o de dar transparência e democra-
tizar a política urbana.
Como definido pelo autor, o papel do Plano Diretor em um município é bastante claro e não deixa
dúvidas da intenção da Carta Magna do Brasil em obrigar a sua elaboração. O Plano Diretor Municipal
é parte indispensável do processo de planejamento e deve ser, a cada 10 anos, revisto e atualizado.
O Plano Diretor é um instrumento que, além de regular a expansão territorial, orienta o sistema de
planejamento, ou seja, o Plano Plurianual (PPA), a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), e a Lei de
Orçamento Anual (LOA). Embora a constituição deixe fora dessa obrigação as cidades com população
inferior a 20 000 habitantes, o controle urbano e o planejamento não se fazem menos importantes
nesses locais. Para Braga (2007, p. 4),
Segundo a Constituição Federal, a política de desenvolvimento e expansão urbana, da qual o Plano Diretor é o ins-
trumento básico, deve expressar as exigências fundamentais de ordenação da cidade (art. 182). Pois bem, na política
de desenvolvimento urbano o texto constitucional inclui a habitação, o saneamento básico e os transportes urbanos
(art. 21, XX), e a mencionada ordenação da cidade é definida no artigo 30, V, como o “planejamento e controle do uso,
do parcelamento e da ocupação do solo urbano”.
Desse modo, deve o Plano Diretor, minimamente, dispor sobre os seguintes tópicos: uso do solo urbano, expansão
urbana, parcelamento do solo urbano, habitação, saneamento básico [...]. (grifo nosso)
Pode-se concluir que a regulação do parcelamento do solo urbano pode ser considerada um dos
dispositivos utilizados pelo Plano Diretor Municipal, com o objetivo de planejar a ocupação urbana e
dotar a cidade de uma expansão de forma controlada. Embora, sob o ponto de vista urbano, o Plano
Diretor já esteja consolidado como um instrumento de controle do espaço, o mesmo não pode ser dito
para as áreas rurais, onde ainda nota-se a ausência de dispositivos mais claros de planejamento territorial
por parte do Poder Público Municipal. Contudo, parece não haver razões para ausência de proposições
de controle territorial rural por meio do Plano Diretor Municipal, uma vez que as competências desse
dispositivo incluem essas áreas como passível de serem controladas pelo município, desde que não
sejam sobrepujadas as legislações superiores. Leite (1991, p. 273) pondera a questão da legalidade do
Plano Diretor legislar sobre a área rural:
[...] não se pode assegurar que o Plano Diretor só deve considerar a zona urbana, a cidade, já que o desenvolvimento
desta depende daquela, ou seja, a zona rural. Assim, o município pode e deve considerar todo o seu território para
promover o seu desenvolvimento urbano [...] O que o município não pode é promover uma política agrária e instituir
um zoneamento rural.
A existência de um Plano Diretor e suas leis em muito contribui para o crescimento ordenado
da cidade e, além disso, facilita o processo de parcelamento do solo, tornando claras as exigências e
peculiaridades municipais necessárias para que o projeto do loteamento consiga atender os objetivos
propostos.
O zoneamento tem implicações diretas no parcelamento do solo, uma vez que institui usos espe-
cíficos para determinadas áreas e, portanto, o projetista deve considerar tais critérios no projeto, além
de fixar coeficientes construtivos que em muito influenciará nos gradientes de valorização das áreas. A
importância geral do zoneamento reside no seu papel de instrumento de organização territorial, que
possibilita, se assim for a intenção, uma melhor qualidade do espaço urbano. Carvalho (2007, p. 11)
reitera a importância do zoneamento como instrumento capaz de orientar o crescimento de forma mais
equilibrada:
A falta de zoneamento, ou a sua inadequação, ou a falta de sua implantação, criam e agravam problemas sociais
urbanos de várias ordens e dimensões. Os inconvenientes de não ter uma boa prática do instrumento do zoneamento,
por várias razões, desde a sua formulação e principalmente pelo desrespeito, vem sendo mostrado frequentemente
na imprensa. Primeiramente, como fatos absurdos, mas sem um adequado equacionamento do problema, portanto,
das suas causas e soluções. Mas já começa-se associar a grande incidência de violência à falta de espaços públicos e
de lazer. É também já incipiente as associações entre inundações e deslizamentos de terra à ocupação de áreas de
mananciais e impróprias às atividades urbanas.
A lei de sistema viário possui grande importância para o processo do parcelamento do solo,
uma vez que estabelece as condições de continuidade e capacidade do sistema viário da cidade, aptos
a garantir a mobilidade de pedestres, ciclistas ou usuários de veículos motorizados. Ao projetar um
loteamento, deve ser considerado seu lugar de inserção. A lei de sistema viário visa garantir a mobilidade
para todos os meios de deslocamento e, para tanto, deve conter orientação para que os loteamentos
tenham uma intrínseca relação com o sistema viário da cidade sem perder suas características de projeto
(se residencial, industrial etc.).
Lei 10.257/2001
Art. 41. O Plano Diretor é obrigatório para cidades:
I - com mais de vinte mil habitantes;
II - integrantes de regiões metropolitanas e aglomerações urbanas;
III - onde o Poder Público Municipal pretenda utilizar os instrumentos previstos no §4.º do artigo 182 da Constituição
Federal;
IV - integrantes de áreas de especial interesse turístico;
V - inseridas na área de influência de empreendimentos ou atividades com significativo impacto ambiental de âmbito
regional ou nacional.
O advento do Estatuto da Cidade, mesmo em face das críticas sobre a necessidade de regulamen-
tação de sua matéria pelos entes participantes do processo, mostrou-se de grande valia para a gestão
da cidade, contudo, somente a atuação de profissionais conscientes do seu papel para a construção de
um ambiente urbano com maior qualidade de vida tornará isso possível.
Texto complementar
Plano Diretor
(ARAÚJO JUNIOR, 2007)
Conceito
Em um primeiro momento, pode-se definir o Plano Diretor como uma lei municipal, cuja ela-
boração está prevista na Constituição Federal de 1988, em seu artigo 182, §1.º, como sendo o ins-
trumento básico da política de desenvolvimento e de expansão urbana.
Câmara1 observa que a ideia do Plano Diretor é antiga, anterior ao Estatuto da Cidade, que veio
a lhe dar contornos jurídicos mais elaborados.
É interessante observar que o Plano Diretor, no Brasil da década de 1960 e 1970, sempre foi
concebido por arquitetos e urbanistas, que elaboravam normas sob uma ótica técnica individuali-
zada, não contextualizada com o conjunto de fatores que influenciam e condicionam a ocupação e
a utilização dos espaços urbanos.
Silva2, em obra anterior ao Estatuto da Cidade, aponta quatro fases evolutivas do Plano Diretor.
A primeira, preocupada com o que chama de ”desenho da cidade”, associada à ideia de
estética urbana. A segunda, relacionada à distribuição das edificações sob a ótica econômica e
arquitetônica. Num terceiro momento, adota-se a ideia de um plano de desenvolvimento integrado,
aplicando-se o conceito de planejamento que integre vários setores da municipalidade. Uma quarta
etapa surge após a Constituição Federal de 1988 refletindo a ideia mencionada acima, constante do
§1.º do artigo 182 da Constituição Federal de 1988, voltada para a ordenação do pleno desenvolvi-
mento das funções sociais da cidade e garantia do bem-estar da comunidade local.
Esse processo constitui uma mudança de enfoque, do estático para o dinâmico, passando a compre-
ender a “sistematização do desenvolvimento futuro” em substituição à “sistematização do que já existe”.3
A base da conceituação, portanto, é a necessidade de lei, de âmbito municipal, para a instituição
do Plano Diretor. É uma exigência constitucional (art. 182, §1.º).
Como é parte integrante de nosso sistema jurídico, a ele deve se adequar e interagir. Está,
portanto, sujeito aos princípios gerais instituídos pela Constituição Federal de 1988, devendo seus
dispositivos, sob a ótica da normatização dos espaços urbanos, promover a dignidade da pessoa
humana, a preservação e o equilíbrio do meio ambiente etc.
Sob outro aspecto, e buscando traçar as características gerais do Plano Diretor, vale observar
que a ideia da função social da propriedade urbana vai ser alcançada se essa propriedade atender
às exigências fundamentais de ordenação da cidade previstas no Plano.
O município é o espaço ideal para o debate sobre as necessidades locais, devendo-se observar
que qualquer deliberação deve estar em sintonia com os princípios regionais e nacionais.
Outra característica importante do Plano Diretor é que sua instituição é obrigatória para a
efetiva implementação de diversos institutos jurídicos que o Poder Público pode implementar,
no sentido de impor sanções ao proprietário do solo urbano não edificado, subutilizado ou não
utilizado.
Uma dessas hipóteses está prevista no artigo 182, §4.º da Constituição Federal, que condiciona
à prévia inclusão de determinada área no Plano Diretor, para que o Poder Público possa compelir ao
adequado aproveitamento do solo urbano, sob pena de haver, sucessivamente: I – parcelamento ou
edificação compulsória; II – IPTU progressivo no tempo; III – desapropriação para fins urbanísticos.
Também o Estatuto da Cidade condiciona a aprovação do Plano Diretor para a implementação
de diversos institutos, como: I – outorga onerosa do direito de construir; II – direito de preempção;
III – operações urbanas consorciadas; IV – transferência do direito de construir.
Uma outra característica importante observada por Câmara4 é sua necessidade de incorpo-
ração ao Plano Plurianual, às diretrizes orçamentárias e ao orçamento anual (artigo 40, §1.º, Lei
10.257/2001).
O Plano Diretor é, portanto, uma diretriz do Poder Público e da própria sociedade. Nesse sentido,
afirma Alaor Caffé Alves, citado por Mukai:
Justamente por estar formalizado como modelo e como pauta, serve perfeitamente como conduta e, portanto,
como direito e base de um juízo sobre seu cumprimento. O plano é uma pauta de conduta que cria diretrizes e
deveres para o governo e que dá lugar a responsabilidades políticas e jurídicas.5
Como visto, o Plano Diretor é o instrumento básico de execução da política urbana, e que deve
se adequar aos princípios já estabelecidos no sistema jurídico vigente. Essa é a ideia de “interpretação
conforme a Constituição” propugnada por Hesse, citado por Leal6, em que toda norma jurídica deve
ser criada, analisada e interpretada em consonância com o espírito da Constituição, que fixou os
valores fundamentais da sociedade. O planejamento urbano deve, então, obedecer aos princípios
constitucionais da dignidade da pessoa humana, inclusive garantindo-lhe o direito à moradia, à
função social e ao direito de propriedade, ao meio ambiente ecologicamente equilibrado etc. Os
princípios que devem nortear a política urbana, segundo Leal7, são apontados no “Tratado sobre
cidades, vilas e povoados sustentáveis” elaborados durante a ECO-928: a) direito à cidadania, ou seja,
a participação dos habitantes das cidades na condução de seus destinos; b) gestão democrática
da cidade, esta compreendida como submissão do planejamento do espaço urbano ao controle e
participação da sociedade civil; e c) função social da cidade e da propriedade.
1 CÂMARA, Jacinto Arruda. Plano Diretor. In: DALLARI, Adilson Abreu; FERRAZ, Sérgio. Estatuto da Cidade: comentários à Lei Federal
10.257/2001. São Paulo: Malheiros, 2003. p. 308.
2 SILVA, José Afonso da. Direito Urbanístico Brasileiro. São Paulo: Malheiros, 1995. p. 87.
3 SPANTIGATI, Frederico. Manual de Derecho Urbanístico. Madrid: Editorial Montecorvo, 1973 apud SILVA, 1995.
4 CÂMARA, 2003, p. 311.
5 ALVES, Alaor Caffé. Planejamento Metropolitano e Autonomia Municipal no Direito Brasileiro. São Paulo: Bushatsky, 1981 apud
MUKAI, Toshio. Direito Urbano-Ambiental Brasileiro. São Paulo: Dialética, 2002.
6 HESSE, Konrad. Constituición y derecho constitucional. In: _____. Manual de Derecho Constitucional. Madrid: Marcial Pons, 2000.
apud LEAL, Rogério Gesta. Direito urbanístico: condições e possibilidades da constituição do espaço urbano. Rio de Janeiro: Renovar,
2003. p. 153.
7 LEAL, 2003, p. 164.
8 CONFERÊNCIA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO. Tratado sobre cidades, vilas e povoados sus-
tentáveis, Rio de Janeiro, 1992.
Atividades
1. O que é e qual é a função dos Planos Diretores municipais?
3. Explique como o Estatuto da Cidade caracteriza o “Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial
Urbana Progressivo no Tempo (IPTU progressivo)”.
Gabarito
1. O Plano Diretor é uma lei municipal, obrigatória para os municípios com cidade de população
superior a 20 000 habitantes e que deve ser o instrumento básico da política municipal de desen-
volvimento e expansão urbana, a qual tem como objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das
funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes.
2. Lei de Uso e Ocupação do Solo, Lei do Perímetro Urbano, Lei de Parcelamento do Solo Urbano,
Lei do Sistema Viário, Códigos de Edificações, Código de Posturas Municipais, Legislação sobre
Patrimônio Cultural, Legislação sobre o Meio Ambiente.
3. O imposto predial e territorial urbano progressivo no tempo se caracteriza como sanção ao pro-
prietário que não destinou sua propriedade a uma função social. Esse instrumento não se carac-
teriza como uma forma de aumento da arrecadação municipal, mas objetiva levar o proprietário
a cumprir com as obrigações de parcelar ou edificar previstas no Plano Diretor.
Mukai et al. (1980) apud Barreiros e Abiko (1998, p. 18) observa que “a lei deixou de se referir ao
remembramento, ao desdobro e ao reloteamento. Mas, decorrentes que são de alterações de loteamentos
ou desmembramentos, são admissíveis, adotando-se as disposições da lei no que couberem”. O autor ainda
pondera que “o arruamento, definido genericamente como a abertura de qualquer via ou logradouro des-
tinado à circulação ou à utilização pública, deve estar compreendido no loteamento e dependerá sempre
de prévia licença da prefeitura municipal, porque implica alteração do traçado urbano”.
Para Silva (2000), o parcelamento urbanístico do solo compreende o processo de urbanificação1 de
uma gleba (área de terra que ainda não foi arruada ou loteada), mediante uma divisão ou redivisão em
parcelas destinadas às funções urbanas. O parcelamento possui regulação jurídica para todas as etapas do
seu processo de elaboração e execução. Essa regulação se relaciona às especificidades do parcelamento
dependendo dos seus fins, contudo, parte dela se aplica de forma geral a qualquer parcelamento.
1 Por urbanificação, Silva (2000) entende a aplicação dos princípios do urbanismo com o objetivo de corrigir os rumos do processo de urbanização.
O parcelamento para fins urbanos pode se dar por meio de loteamentos, arruamentos, desmem-
bramentos ou desdobro de lote e limita-se àquelas glebas que se situam dentro do perímetro urbano2
estipulado em lei. Os parcelamentos para fins rurais são aqueles efetuados fora do perímetro urbano
e podem ser realizados sob a forma de sítios de recreio, para implantação de indústrias etc. Esse tipo
de parcelamento está sujeito às normas estabelecidas pelo município no qual a gleba está inserida e
deverá obter uma autorização prévia do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) ou
outro órgão constituído pela esfera federal. Para que a área possa ser parcelada, ela deverá apresentar,
segundo Silva (2000, p. 317), uma das características relacionadas a seguir:
I - Por suas características e pelo desenvolvimento da sede municipal já seja considerada urbana, de expansão urbana
ou de urbanização específica, assim definidas pelo Plano Diretor ou aprovadas por lei municipal, conforme o artigo 3.º,
caput, da Lei 6.766, de 1979, com redação dada pela Lei 9.785, de 1999.
II - Seja oficialmente declarada zona de turismo ou caracterizada como de estância hidromineral ou balneária.
III - Comprovadamente, tenha perdido suas características produtivas, tornando antieconômico seu aproveitamento
agrícola; comprovação que será feita pelo proprietário ou pela municipalidade em circunstanciado laudo, assinado por
técnico habilitado, cabendo ao Incra a constatação da sua veracidade.
O parcelamento para fins rurais, incluindo os sítios de recreio, é alvo de muita discussão entre
juristas sobre a aplicabilidade da Lei 6.766 para a regulação do mesmo. No entanto, Rizzardo (1996)
enfatiza que a referida lei pode ser aplicada para esse fim.
O processo de elaboração do parcelamento do solo tem na prefeitura municipal seu ente regu-
lador, podendo ser inseridos outros órgãos governamentais dependendo das particularidades de cada
parcelamento. Para melhor compreensão do processo de parcelamento e sua tramitação pelas etapas
jurídicas e urbanísticas, faz-se necessário aproximar-se do vocabulário técnico comum na área. Segundo
Nogueira (2007), essa linguagem é permeada pelas seguintes expressões:
::: Área urbana – considera-se urbana a área que estiver inserida no perímetro urbano do muni-
cípio, definido por lei específica.
::: Área rural – é a área que estiver reservada para expansão urbana do município, definida em
lei para essa finalidade.
::: Área verde – área com tratamento paisagístico, reservada a atividades de recreação ou
descanso.
::: Área institucional – parcela do terreno destinada à edificação de equipamentos comunitários.
::: Área de interesse público – área transferida ao município quando da aprovação de lotea-
mentos e seus registros.
::: Desdobro – é a divisão de área inserida em loteamento devidamente aprovado em duas
partes, para formação de novos lotes.
::: Lotes – parcela do terreno que resulta do parcelamento do solo, tem frente para via pública ou
com ela se comunica por acesso.
::: Reloteamento – é o parcelamento do solo resultante de loteamento ou desmembramento já
aprovado, com abertura de novas vias de circulação.
2 Por perímetro urbano, entende-se a linha que delimita a área de expansão da cidade em determinado período de tempo, estabelecida por lei
municipal. O perímetro somente poderá ser alterado após realizado os trâmites presentes nos instrumentos legais de gestão urbana.
A produção de loteamentos sem parâmetros mínimos para áreas públicas muitas vezes resultava
em espaços que sequer consideravam os cursos d’água existentes, utilizando-os apenas como avenidas
sanitárias. O traçado viário não observava as continuidades necessárias das vias do entorno imediato.
Tanto as metrópoles como as cidades de porte médio apresentam hoje graves problemas oriundo da
falta de planejamento da expansão territorial. A figura 1 mostra um loteamento na cidade de Uberlândia
(MG), implantado na década de 1960, onde as vias com canteiro central foram projetadas sobre os cursos
d’água existentes na gleba.
[...] durante a vigência do Decreto-Lei 58/37, os administradores públicos tinham muito pouco poder de intervenção na
definição dos projetos de parcelamento do solo e a administração pública quase nada podia fazer no sentido de forçar
os empreendedores a regularizar os parcelamentos irregulares. Isso sem dúvida comprometia a organização do espaço
urbano e a qualidade dos loteamentos.
O Decreto-Lei 58/37 vigorou por muito tempo, sendo que apenas em 28 de fevereiro de 1967 promulga-se o Decreto-
-Lei 271/67 que, segundo o autor, tratava-se de uma versão distorcida do projeto de Lei elaborado pelo Professor Hely
Lopes Meirelles. Esse Decreto-Lei tratava exclusivamente do parcelamento do solo urbano, sendo que o parcelamento
rural já era objeto da Lei 4.506 de 30 de novembro de 1964, denominado Estatuto da Terra. O referido Decreto-Lei
271/67 determinava um prazo de 180 dias para a sua regulamentação, ação essa que nunca se efetivou, tornando, pois,
as disposições do mesmo sem efeito. Somente em março de 1977 o senador paulista Otto Cyrillo Lehmann apresenta
um projeto de lei no Senado Federal, que viria a se tornar a Lei Federal 6.766/79.
A Lei Federal 6.766/79 mostrou-se como um grande avanço na legislação brasileira do setor,
uma vez que apresentou parâmetros mínimos para áreas públicas, faixas non edificandi e lotes
(áreas e testadas), além de estabelecer as condições que deveriam apresentar as glebas para serem
consideradas passíveis de serem parceladas, em uma tentativa de frear a implantação de loteamentos
em áreas inadequadas. O parcelamento do solo tem seus regulamentos nas instâncias federal, estadual e
municipal. No nível federal, o parcelamento deverá se basear nos institutos estabelecidos pelo Decreto-
-Lei 3.365, de 21 de junho de 1941, que dispõe sobre a desapropriação por utilidade pública; a Lei 6.015,
de 31 de dezembro de 1973, que dispõe sobre os registros públicos; a Lei 6.766, de 19 de dezembro
de 1979, que dispõe sobre o parcelamento do solo urbano; e a Lei 9.785, de 29 de janeiro de 1999, que
alterou as anteriores.
Uma das inovações mais impactantes da Lei Federal 6.766/79 foi a inclusão do município como
ente responsável pela gestão do espaço urbano e, portanto, passível de criar seus próprios parâmetros
de parcelamento, desde que não sobrepujada a legislação superior. Essa abertura possibilitou aos muni-
cípios a elaboração de suas próprias leis de parcelamento do solo.
Alguns dos principais parâmetros urbanísticos estabelecidos pela Lei Federal 6.766/79 são listados
a seguir:
::: Proíbe-se a implantação de loteamentos em terrenos alagadiços e sujeitos a inundações antes
de tomadas as providências para assegurar o escoamento das águas, em terrenos que tenham
sido aterrados com material nocivo à saúde pública sem que sejam previamente saneados, em
terrenos com declividade igual ou superior a 30%, salvo se atendidas às exigências específicas
das autoridades competentes, em terrenos onde as condições geológicas não aconselham a
edificação, em áreas de preservação ecológica ou naquelas onde a poluição impeça condições
sanitárias suportáveis, até a sua correção;
::: Exige-se que os lotes deverão ter área mínima de 125m² e frente mínima de 5 metros, salvo
quando a legislação estadual ou municipal determinar maiores exigências, ou quando o
loteamento se destinar à urbanização específica ou edificação de conjuntos habitacionais de
interesse social, previamente aprovados pelos órgãos públicos competentes;
::: O parcelador deverá reservar, obrigatoriamente, uma faixa non aedificandi de 15 metros de
cada lado, salvo maiores exigências da legislação específica ao longo das águas correntes e
dormentes das faixas de domínio público das rodovias, ferrovias e dutos;
::: Fixa-se a exigência de que as vias de loteamento se articulem com as vias adjacentes oficiais,
existentes ou projetadas, e harmonizem-se com a topografia local.
::: Exige-se que a porcentagem de áreas não seja inferior a 35% da gleba, salvo nos loteamentos
destinados ao uso industrial cujos lotes forem maiores do que 15 000m², caso em que a por-
centagem poderá ser reduzida. Exige-se ainda que as áreas destinadas a sistemas de circu-
lação, a implantação de equipamentos urbanos (equipamentos de abastecimento de água,
serviços de esgotos, energia elétrica, coletas de águas pluviais, rede telefônica e gás canali-
zado) e equipamentos comunitários (equipamentos públicos de educação, cultura, saúde,
lazer e similares), bem como espaços livres de uso público, serão proporcionais à densidade
de ocupação prevista para gleba.
Embora considerada um progresso para a organização espacial de cidade, a Lei 6.766/79 mostrou,
com o passar do tempo, algumas defasagens para o tratamento de algumas questões do parcelamento
do solo, notadamente aquelas inerentes aos loteamentos com fins sociais, a inserção do Plano Diretor
como definidor do planejamento da cidade, aspectos penais, entre outros. As alterações aos estatutos
da Lei 6.766/79 vieram por meio da Lei 9.785, de 29 de janeiro de 1999. Os objetivos das modificações
podem ser resumidas em:
O primeiro objetivo da lei é permitir ao Poder Público a realização e a legalização de parcelamentos do solo urbano,
com fins habitacionais, em gleba pendente de procedimento judicial expropriatório, fundado na imissão provisória na
posse de áreas desapropriadas e permitida a emissão e o registro do título provisório da cessão da posse de lotes. A lei
veda a retrocessão como meio de assegurar a irreversibilidade do ato administrativo voltado para a minimização da
carência habitacional.
O segundo objetivo da lei é dar maior autonomia aos municípios no trato das questões pertinentes ao parcelamento
do solo urbano, tanto sob o ponto de vista da formulação dos requisitos urbanísticos, quanto sob o ponto de vista da
prática dos procedimentos administrativos de aprovação, de regularização e de registro dos parcelamentos, destacando
as ações do Poder Público nesse campo como de interesse social.3
Parágrafo único. Na regulamentação das normas previstas neste artigo, o estado procurará atender às exigências urba-
nísticas do planejamento municipal.
[...]
Art. 44. O município, o Distrito Federal e o estado poderão expropriar áreas urbanas ou de expansão urbana para
reloteamento, demolição, reconstrução e incorporação, ressalvada a preferência dos expropriados para a aquisição de
novas unidades.
Apesar dessas colocações, os loteamentos fechados têm crescido sua atratividade e nota-se cada
vez mais sua presença nos espaços da cidade. Ao defender a ideia dos condomínios fechados, alguns
urbanistas e juristas dirão que esse tipo de loteamento se trata apenas de mais uma forma de habitação
coletiva e que não terá grandes impactos sobre a estrutura urbana se for devidamente disciplinado.
Entretanto, o número dessas estruturas presentes no meio urbano cresce a cada dia e levam a reflexões
sobre qual será a sua permanência ou se elas representam ou não uma tendência que produzirá uma
nova concepção de cidade. Para Silva (2000), esse tipo de loteamento vem criando sérios problemas de
ordem jurídico-urbanísticas, pela ausência de regulamentação adequada que dê atenção a seu aspecto
urbanístico, ainda mais quando este se dá no perímetro urbano.
Segundo Silva (2000), o texto legal do regime condominial previsto no artigo 8.° da Lei 4.591, de
1964 não serve de fundamento ou legitima a figura dos loteamentos fechados. Essa lei não substitui ou
regulamenta o parcelamento do solo no Brasil, caráter pertencente à outra lei. O aproveitamento do
solo urbano para regime condominial só é permitido nos casos em que a área não comporte quaisquer
formas inerentes ao parcelamento do solo previsto na Lei Federal 6.766/79. Embora alguns juristas afir-
mem categoricamente a ilegalidade da prática de loteamentos fechados, eles seguem aparecendo nas
cidades brasileiras, muitas vezes amparados por regulamentação municipal. Os municípios estabelecem
formas das mais variadas para garantir a doação das áreas públicas verdes e institucionais em lotea-
mentos fechados. Alguns subdividem os percentuais para dentro e fora dos muros enquanto outros não
fazem restrições, ou outros exigem que essas áreas sejam totalmente externas. Embora o loteamento
fechado encontre defensores entre os juristas, outros apresentam argumentos importantes sobre sua
legalidade, inclusive sobre aquelas leis municipais que orientam tais loteamentos. Araújo (2007, p. 6), ao
analisar as legislações municipais que versam sobre loteamento fechados, pondera:
Algumas leis municipais têm previsto a figura do loteamento fechado, parcelamento implantado segundo a Lei 6.766/79,
mas cujas vias públicas internas são objeto de concessão, permissão ou autorização de uso outorgada pelo Poder
Público Municipal a uma associação constituída pelos moradores. São exemplos, com textos disponíveis na íntegra
na internet, entre vários outros:
– a Lei 8.736, de 09/01/1996, do município de Campinas (SP), que “dispõe sobre a permissão a título precário de uso das
áreas públicas de lazer e das vias de circulação para constituição de loteamentos fechados no município de Campinas
e dá outras providências”;
– a Lei 3.270, de 15/01/1999, do município de Americana (SP), que “dispõe sobre o parcelamento e o aproveitamento
do solo no território do município e dá outras providências”;
– a Lei 2.668, de 18/12/2003, do município de Paulínia (SP), que“dispõe sobre loteamentos urbanos, loteamentos fechados
e condomínios fechados no município de Paulínia e dá outras providências”; e
– a Lei 9.244, de 19/11/2003, do município de Londrina (PR), que “dá nova redação ao artigo 56 da Lei 7.483, de 20 de
julho de 1998, que dispõe sobre o parcelamento do solo para fins urbanos no município de Londrina”.
Pessoalmente, entendo que os loteamentos fechados não têm sustentação jurídica, são nulos.
O fechamento do perímetro do loteamento por muros ou cercas e o consequente uso exclusivo das vias públicas
contraria todo o espírito das normas sobre loteamentos constantes da Lei 6.766/79. A lei inclui como requisito
urbanístico para os loteamentos a articulação das vias a serem implantadas com as vias adjacentes (art. 4.º). A lei exige
a reserva de áreas para implantação de equipamentos públicos de educação, cultura, saúde e recreação, que, como as
vias de circulação, também passam para o domínio do município no ato de registro do parcelamento e serão utilizadas
por toda a coletividade (arts. 4.º e 22).
Outra forma de parcelamento que tem assolado o país há vários anos é a modalidade de
parcelamentos ilegais, que contribuem para a desorganização espacial da cidade e lesa muitos
A legislação de parcelamento do solo, em suas mais diversas formas, continua sendo alvo de
desenvolvimento no Brasil e repleta de questionamentos sobre seus resultados urbanísticos. Dada as
características econômicas e sociais do país e as particularidades locais e regionais, nota-se que a socie-
dade ainda terá que discutir e evoluir o controle do espaço urbano para alcançar a qualidade de vida
desejada nas cidades.
Texto complementar
Conceituações
(BARREIROS; ABIKO, 1998, p. 17-19)
A precisa conceituação de termos e matérias presentes em legislações e normas técnicas é
de fundamental importância para seu perfeito entendimento. Dessa forma, entendemos que
alguns dos conceitos de cunho urbanístico constantes na Lei Federal 6.766/79 carecem de melhor
esclarecimento ou mesmo de uma correta adequação frente às normas brasileiras em vigor. Esse é
o caso da conceituação de equipamentos urbanos. Verifica-se que a mencionada lei não conceitua
todos os termos ali presentes, como é o caso de gleba, zona urbana, zona de expansão urbana, área
livre de uso comum etc. Além disso, a Lei Federal 6.766/79 não estabelece a figura do desdobro
de lote, constante em várias municipalidades, incluindo-se a de São Paulo, e não traz nenhuma
orientação quanto à urbanização sob a forma condominial. Mukai (1988) observa que a mesma
não conceitua “parcelamento urbano”, mas observa que “vale frisar que técnica e juridicamente, o
parcelamento regular do solo é a divisão da terra em unidades juridicamente independentes, dotadas
de individualidade própria, para fins de edificação”.
Athaydes (1984) entende que “o parcelamento do solo deve ser considerado sob dois aspectos:
o físico, que nada mais é que a divisão geodésica de um terreno; e o jurídico, de que resulta a divisão
da propriedade, com a consequente formação de novos direitos autônomos de domínio sobre
cada unidade em que a área for dividida. Pode-se assim conceituar o parcelamento como a divisão
geodésico-jurídica de um terreno, uma vez que por meio dele se divide o solo e, concomitantemente,
o direito respectivo de propriedade, formando-se novas unidades”. Nessa linha de entendimento,
do Couto (1981) ensina que o parcelamento do solo é a divisão jurídica da propriedade. Segundo
o autor, da crescente complexidade e importância assumida pelo Direito de propriedade derivou o
Direito Positivo de Propriedade, que deu ao fato social posse uma nítida configuração no campo da
abstração jurídica, que se passou a denominar de propriedade. Com o aparecimento da propriedade
surge, então, a possibilidade do parcelamento do solo em termos jurídicos (grifos do autor). O
citado autor esclarece que “fisicamente, é impossível fracionar-se uma porção territorial, no sentido
geológico, que é uno e indivisível, como componente que é, afinal de contas, do planeta Terra”.
Foi portanto com a criação do título de propriedade que se originou a possibilidade jurídica do
parcelamento do solo e da ocupação de determinado terreno. “Isso só se torna possível mediante o
uso e sinais expressivos de limites – imaginários ou reais – para o direito de gozar e dispor (utendi,
fruendi e abutendi) daquele espaço, lançando-se mão das abstrações das linhas geodésicas ou das
objetividades dos marcos ou das cercas” (DO COUTO, 1981). O parcelamento do solo para o autor é,
pois, a divisão de uma grandeza territorial em número legalmente limitado de grandezas territoriais
menores, regidas e protegidas pelo direito.
É importante salientar-se que um dos pontos nevrálgicos do parcelamento do solo é a questão
conceitual, pois se o parcelamento do solo urbano for conceituado como o parcelamento da
propriedade territorial urbana, então entender-se-ia que outras modalidades de parcelamento
da propriedade urbana, como é o caso da urbanização em condomínio, também deveriam ser
inseridos na conceituação geral de parcelamento do solo.
A Lei Federal 6.766/79, em seu artigo 2.º , afirma que o parcelamento do solo urbano pode ser
feito mediante loteamento ou desmembramento e considera que:
a) loteamento é a subdivisão de uma gleba em lotes destinados à edificação, com abertura
de novas vias de circulação, de logradouros públicos ou de prolongamento, modificação
ou ampliação das vias existentes.
b) desmembramento é a subdivisão de uma gleba em lotes destinados à edificação, com
aproveitamento do sistema viário existente, desde que não implique na abertura de
novas vias, e logradouros públicos, nem no prolongamento, modificação ou ampliação dos
já existentes.
O que se nota na conceituação existente na lei ora em estudo é que a característica fundamental
que diferencia o loteamento do desmembramento é a abertura de novas vias de circulação e ou logra-
douros públicos ou qualquer forma de alteração das vias e/ou logradouros públicos já existentes. Vale
ressaltar que essa conceituação já estava presente no Decreto-Lei 271/67 (SILVA, 1981).
Mukai et al. (1980) ressalta que “a lei deixou de se referir ao remembramento, ao desdobro e
ao reloteamento. Mas, decorrentes que são de alterações de loteamentos ou desmembramentos,
são admissíveis, adotando-se as disposições da lei no que couberem”. Acrescenta ainda que “o
Atividades
1. Em que condições, estabelecidas pela Lei 6.766/79, as glebas não poderão ser parceladas?
2. Quais foram os objetivos das modificações na Lei 6.766/79, possibilitadas pela Lei 9.785, de 29 de
janeiro de 1999?
3. Qual é o percentual de área pública exigida pela Lei 6.766/79 para o parcelamento do solo urbano
e qual é a sua destinação?
Gabarito
1. Proíbe-se a implantação de loteamentos em terrenos alagadiços e sujeitos a inundações antes
de tomadas as providências para assegurar o escoamento das águas, em terrenos que tenham
sido aterrados com material nocivo à saúde pública sem que sejam previamente saneados,
em terrenos com declividade igual ou superior a 30% (trinta por cento) salvo se atendidas as
exigências específicas das autoridades competentes, em terrenos onde as condições geológicas
não aconselham a edificação, ou em áreas de preservação ecológica ou naquelas onde a poluição
impeça condições sanitárias suportáveis, até a sua correção.
2. As modificações tiveram como objetivos: em primeiro lugar permitir ao Poder Público a realização
e a legalização de parcelamentos do solo urbano, com fins habitacionais, em gleba pendente
de procedimento judicial expropriatório, fundado na imissão provisória na posse de áreas
desapropriadas e permitida a emissão e o registro do título provisório da cessão da posse de lotes.
A lei veda a retrocessão como meio de assegurar a irreversibilidade do ato administrativo voltado
para a minimização da carência habitacional. E em segundo lugar foi dar maior autonomia aos
municípios no trato das questões pertinentes ao parcelamento do solo urbano, tanto sob o ponto
de vista da formulação dos requisitos urbanísticos, quanto sob o ponto de vista da prática dos
procedimentos administrativos de aprovação, de regularização e de registro dos parcelamentos,
destacando as ações do Poder Público nesse campo como de interesse social.
3. Exige-se que a porcentagem de áreas não seja inferior a 35% (trinta e cinco por cento) da gleba,
salvo nos loteamentos destinados ao uso industrial cujos lotes forem maiores que 15 000m²
(quinze mil metros quadrados), caso em que a porcentagem poderá ser reduzida. Exige-se,
ainda, que as áreas destinadas a sistemas de circulação, a implantação de equipamentos urbanos
(equipamentos de abastecimento de água, serviços de esgotos, energia elétrica, coletas de águas
pluviais, rede telefônica e gás canalizado) e equipamentos comunitários (equipamentos públicos
de educação, cultura, saúde, lazer e similares), bem como espaços livres de uso público, serão
proporcionais à densidade de ocupação prevista para a gleba.
Fase preliminar
Nessa fase, o parcelador deverá requerer junto à prefeitura municipal ou ao governo do Distrito
Federal a emissão de diretrizes para o sistema viário, uso do solo, características dos lotes, espaços livres
e das áreas reservadas para o equipamento urbano e comunitário, entre outros aspectos. A Lei 6.766/79,
em seu artigo 6.°, indica que, para esse fim, o parcelador deverá apresentar, além do requerimento, uma
planta do imóvel contendo, pelo menos:
I - as divisas da gleba a ser loteada;
II - as curvas de nível a distância adequada, quando exigidas por lei estadual ou municipal;
III - a localização dos cursos d’água, bosque e construções existentes;
IV - a indicação dos arruamentos contíguos a todo o perímetro, a localização das vias de comuni-
cação, das áreas livres, dos escapamentos urbanos e comunitários existentes no local ou em suas adja-
cências, com as respectivas distâncias da área a ser loteada;
V - o tipo de uso predominante a que o loteamento se destina;
VI - as características, dimensões e localização das zonas de uso contíguas.
O Poder Público, segundo o artigo 7.° da Lei 6.766/79, deverá, após análise da documentação das
plantas e devido instrumentos legais estaduais e municipais de gestão urbana, indicar as diretrizes que
o parcelador seguirá, com o intuito de realizar um parcelamento adequado:
I - as ruas ou estradas existentes ou projetadas que compõem os sistemas viários da cidade e do
município, relacionadas com o loteamento pretendido a serem respeitadas;
II - o traçado básico do sistema viário principal;
III - a localização aproximada dos terrenos destinados a equipamento urbano e comunitário e das
áreas livres de uso público;
IV - as faixas sanitárias do terreno necessárias ao escoamento das águas pluviais e as faixas não
edificáveis.
Nessa fase, segundo Silva (2000), o parcelador poderá apresentar ao Poder Público um plano de
arruamento, elaborado a partir das diretrizes, isoladamente ou em conjunto com o plano de loteamento
(onde isso seja admitido). Esse plano de arruamento será apresentado à prefeitura municipal para apro-
vação, devidamente assinado pelo proprietário da gleba e por profissional habilitado e, se exigido em
lei, registrado na municipalidade. Por regra, o órgão municipal competente para o exame e a aprovação
do plano nos municípios mais populosos é o Departamento ou Secretaria de Obras Particulares, ou
Departamento de Urbanismo e, nos menores, a aprovação cabe ao próprio prefeito.
Nessa fase, torna-se de grande importância a participação do Poder Público Municipal, uma vez
que ele é o gestor urbano constituído legalmente. Quanto maior for o zelo para a elaboração de um
projeto, melhor será o resultado para a cidade.
Fase definitiva
Essa fase é constituída pelo projeto urbanístico que tanto poderá agregar arruamento e divisão
de lotes quanto ser a continuidade do projeto de arruamento previamente apresentado, caso o muni-
cípio o aceite isoladamente.
O parcelador, depois de recebida as diretrizes emitidas pela prefeitura municipal, iniciará o projeto
urbanístico propriamente dito, a partir da consideração dessas diretrizes. O arruamento constitui-se
em uma atividade projetual de grande importância, pois é a partir dele que se articulam os espaços da
cidade. Dessa forma, deve-se dispensar atenção redobrada a esse item. Silva (2000, p. 320) entende o
arruamento constituído pelos espaços livres, destinados às vias de circulação, às áreas verdes e institu-
cionais e às quadras. O autor, assim, refere-se ao arruamento e sua importância:
O plano de arruamento constitui manifestação importante do plano urbanístico municipal (onde haja), no qual se integra
e ao qual está subordinado; é elaborado e executado por particulares, proprietários de glebas urbanificáveis dentro ou
fora do perímetro urbano como urbanificação primária do processo de loteamento de terrenos para fins de edificação.
Seu objetivo fundamental consiste em “estabelecer um sistema de logradouros que proporcione acesso, luz e ar às
propriedades lindeiras, permitindo, ao mesmo tempo, que o tráfego de veículos se processe rapidamente e com o
máximo de segurança, sem necessidade de muitas restrições” – logradouros esses que também servem de canais para
instalação de redes de serviços públicos, aéreas ou subterrâneas (água, esgoto, gás, eletricidade, telefone), mas que,
além disso, exercem outra relevante função, qual seja: a de procurar estabelecer o equilíbrio entre os dois elementos
constitutivos das aglomerações urbanas: conjunto edilício e equipamentos públicos e sociais.
Segundo Silva (2000), o plano deverá apresentar os seguintes aspectos, devidamente delineados
de forma a cumprir as exigências legais e também como princípios básicos para alcance dos objetivos
propostos:
I - projeto do arruamento, em escala estabelecida, curvas de nível do terreno de metro em metro,
vias de circulação, quadras, zonas de uso, áreas verdes e áreas institucionais;
II - perfis longitudinais e transversais das vias;
III - projeto do sistema de escoamento de águas pluviais, indicando e pormenorizando o dimen-
sionamento e os caimentos de coletores, bocas de lobo e demais equipamentos, nas medidas, normas
e padrões especificados;
IV - projeto do sistema de coleta, tratamento e despejo de esgotos e suas respectivas redes,
obedecendo às medidas, padrões e normas previstos pelos órgãos competentes;
V - projeto do sistema de alimentação e distribuição de água potável e respectiva rede, obede-
cendo às medidas, padrões e normas estabelecidos pelos órgãos competentes;
VI - projeto de guias, passeios, sarjetas e pavimentação das vias seguindo as normas vigentes;
VII - projeto de arborização das áreas verdes e vias, definindo as diferentes espécies a serem
plantadas, obedecendo às normas fixadas pela prefeitura;
VIII - projeto de proteção das áreas contra erosão, inclusive mediante preservação da cobertura
vegetal existente;
IX - memoriais descritivos e justificativos de cada projeto;
X - cronograma de execução das obras etc.
O projeto do arruamento tornará possível a circulação na cidade de maneira fluida e possibilitará
maior adequação entre sistema viário e uso do solo. Um arruamento projetado de maneira eficiente
também poderá contribuir para um menor número de conflitos entre pedestres, ciclistas e veículos
motorizados, diminuindo o número de acidentes e mortes no trânsito.
Outro aspecto a ser abordado no plano é a divisão do espaço em lotes, o que obviamente passa
pela definição das quadras. As decisões sobre quais tipos de desenho urbano serão utilizadas requerem
um conhecimento intrínseco das regras do bom urbanismo e embora a norma legal oriente na elabo-
ração do projeto, ela não dispensa que os profissionais tenham um grande conhecimento técnico. Silva
(2000, p. 328) pondera com muita sabedoria a questão das quadras e suas dimensões:
[...] não deverão ser muito compridas, nem proporcionar a formação de lotes muito profundos. De um modo geral, a
legislação municipal fixa seu comprimento entre 300 e 450m, no máximo; mas também não deverão ser demasiada-
mente curtas para que os cruzamentos não fiquem muito perto, complicando o trânsito. Se tiverem mais de 200m de
comprimento, costuma-se exigir que sejam divididas, em cada 100 ou mais metros (conforme o maior comprimento
admitido), por vias de circulação de pedestres com largura de cerca de 8m.
A disposição e a relação das vias de circulação dão origem aos sistemas de traçados das cidades, que podem ser de
vários tipos: xadrez, grelha, grelhas superpostas, radial-circular etc.
Essa preocupação de Silva com a forma mostra claramente que todos os profissionais envolvidos
no processo de parcelamento do solo devem estar atentos aos objetivos precípuos de prover a cidade
de uma melhor qualidade espacial possível. Após realizadas as decisões projetuais urbanísticas, caberá
ao parcelador apresentar sua proposta ao município. O projeto deverá conter as especificações mínimas
estabelecidas na Lei 6.766/79. Os itens a seguir relacionados referem-se a isso:
país. Os aspectos ligados à habitação, desde muito cedo se apresentaram como um grande desafio.
São necessárias medidas de diversas naturezas que contribuam na busca pela inserção das camadas de
renda mais baixa da sociedade e que historicamente tem sofrido com as condições de habitabilidade.
O Estatuto da Cidade estabelece diversos instrumentos de gestão urbana, entre eles figuram
aqueles voltados à produção da habitação social. Esse assunto se constitui em um dos maiores desafios
da gestão das cidades brasileiras, após décadas de descontrole e exclusão social refletidos no espaço
habitado, expulsando os mais pobres para a periferia, muitas vezes em habitações de baixa qualidade,
loteamentos clandestinos ou irregulares, sem as mínimas condições de habitabilidade.
O instrumento denominado Zonas Especiais de Interesse Social (ZEIS) possibilita ao município
demarcar no Plano Diretor e no zoneamento da cidade, zonas que necessariamente deverão servir à
habitação social para classes de baixa renda. Pode-se ainda estabelecer ZEIS para áreas com favelas,
loteamentos clandestinos ou irregulares com o intuito de tornar possíveis ações de regularização e
urbanização. Esse instrumento pode ser utilizado juntamente com outros previstos no Estatuto, tais
como as Operações Urbanas Consorciadas, o Usucapião Especial de Imóvel Urbano e o Direito de
Preempção. Os objetivos desse instrumento podem ser traduzidos por:
a) permitir a inclusão de parcelas da população que foram marginalizadas da cidade, por não terem tido possibilidades
de ocupação do solo urbano dentro das regras legais;
b) permitir a introdução de serviços e infraestrutura urbana nos locais onde eles antes não chegavam, melhorando as
condições de vida da população;
c) regular o conjunto do mercado de terras urbanas, pois reduzindo-se as diferenças de qualidade entre os diferentes
padrões de ocupação, reduz-se também as diferenças de preços entre elas;
d) introduzir mecanismos de participação direta dos moradores no processo de definição dos investimentos públicos
em urbanização para consolidar os assentamentos;
e) aumentar a arrecadação do município, pois as áreas regularizadas passam a poder pagar impostos e taxas – vistas
nesse caso muitas vezes com bons olhos pela população, pois os serviços e infraestrutura deixam de ser encarados
como favores, e passam a ser obrigações do Poder Público;
f ) aumentar a oferta de terras para os mercados urbanos de baixa renda.1
O parcelamento popular, ou seja, aqueles dirigidos às classes de renda mais baixa, poderão ser
implantados em ZEIS devidamente regulamentada. Para esse tipo de parcelamento a Lei 9.785, de 29 de
janeiro de 1999, prevê algumas condições especiais que têm o objetivo de facilitar sua viabilidade.
Texto complementar
2 O autor refere-se a Aeis como Áreas Especiais de Interesse Social. Essa denominação é muitas vezes encontrada nos municípios.
cessos de construção dos Planos Diretores: a coordenação dos processos incluiu representantes de
vários segmentos da sociedade civil, deixando de ser prerrogativa exclusiva do governo municipal;
antes da elaboração de propostas, as comunidades e grupos sociais foram ouvidos e participaram
da construção de uma leitura da realidade local que fundamentaria as propostas; os processos de
deliberação sobre o texto final do plano passaram por discussões também participativas, por meio
de fóruns, congressos ou conferências públicas.1
Além da participação da população em todas as etapas dos Planos Diretores, a gestão demo-
crática é também necessária na sua implementação e no seu monitoramento, de forma que os
próprios Planos Diretores devem explicitar a forma como isso acontecerá no município. Foram
inúmeros os “Conselhos da Cidade”, “Conselhos de Desenvolvimento Urbano”, “Conselhos de
Planejamento Urbano” criados nos últimos anos no contexto da construção de Planos Diretores nos
municípios. Prover esses conselhos de recursos, de poder deliberativo real, de infraestrutura logística
é um dos desafios. A implementação desses conselhos deve ser acompanhada nos próximos anos,
para checar o alcance e os desafios dessa aposta na gestão participativa.
Os desafios para o efetivo funcionamento desses conselhos são muitos, conforme já tratei em
trabalho específico (CYMBALISTA, 2000; CYMBALISTA, 2001).
Alguns municípios contam com conselhos de desenvolvimento urbano ou de política urbana
funcionando há anos, em alguns casos com experiências interessantes de se analisar.2 É o caso
do Conselho de Desenvolvimento Urbano (CDU) de Recife, que existe desde 1992 e em alguns
momentos teve atuação expressiva no debate público na cidade.
Em 2001, após a discussão de um diagnóstico realizado pela Secretaria de Planejamento, o CDU
emitiu uma deliberação que impedia a aprovação de novos edifícios em 12 bairros da cidade, cuja
infraestrutura encontrava-se saturada e que vinham despertando muita cobiça do mercado imobi-
liário. A resolução dava um prazo para o Executivo emitir uma lei que regulamentasse a questão,
o que foi efetivamente feito, resultando na Lei Municipal 16.719/2001, conhecida como a Lei da
Área de Reestruturação Urbana (ARU), que fixa gabaritos para a edificação em altura nesses bairros.
Outro exemplo de conselho de desenvolvimento urbano com trajetória já bastante consolidada
é o Conselho Municipal de Política Urbana (Compur) de Belo Horizonte, instituído em 1996 e que
vem sendo a instância responsável pela convocação de conferências de política urbana, processo
de balanço e discussão pública da política urbana na cidade, que pode apontar para alterações nas
normas de planejamento da cidade. A primeira conferência de política urbana, realizada em 1999,
propôs ajustes no Plano Diretor e na lei de uso, ocupação e parcelamento do solo, que foram efeti-
vamente encaminhados.
A mudança de escala do debate em torno da política urbana significou um amplo processo
de capacitação, tanto no corpo técnico das prefeituras quanto entre técnicos e lideranças sociais.
Devemos também atentar para o impacto desse processo de capacitação na política e na adminis-
tração local, pois a recente onda de Planos Diretores tem um significado de formação de quadros
nos municípios, que compreendem de forma politizada as questões territoriais. O número de pes-
soas que compreende e discute a questão urbana de forma politizada é atualmente muitas vezes
maior que há alguns anos, corpo qualificado em ações de capacitação e treinamento, mas prin-
cipalmente capacitado pela necessidade de aprendizado para dar conta dos desafios práticos da
participação nos processos. Tais quadros possivelmente influenciarão por vários anos o debate em
torno da política territorial local.
Atividades
1. Em quais etapas pode ser dividido o processo de parcelamento do solo urbano e o que constitui
cada uma delas?
2. Quais são as principais diretrizes que o Poder Público deverá indicar para que o parcelador siga
após análise do requerimento do mesmo?
3. O que são Zonas Especiais de Interesse Social (ZEIS) e qual é a sua importância para a gestão da
cidade?
Gabarito
1. O parcelamento do solo pode ser constituído em duas etapas, uma considerada material e a outra
jurídica. A etapa material é dividida em fase preliminar e fase definitiva e compõe-se de diversas
atividades que deverão ser cumpridas pelo parcelador em decorrência dos institutos presentes
na legislação. Na etapa jurídica se processa o registro do parcelamento.
2. O Poder Público deverá emitir diretrizes sobre as ruas ou estradas existentes ou projetadas, que
compõem os sistemas viário da cidade e do município, relacionadas com o loteamento pretendido
a serem respeitadas; o traçado básico do sistema viário principal; a localização aproximada dos ter-
renos destinados a equipamento urbano e comunitário e das áreas livres de uso público e as faixas
sanitárias do terreno necessárias ao escoamento das águas pluviais e as faixas não edificáveis.
3. Zonas Especiais de Interesse Social (ZEIS), constitui-se em instrumento possibilitado pela Lei 9.785,
de 29 de janeiro de 1999 e a Lei Federal 10.257, de 10 de julho de 2001. Permite-se ao município
demarcar no Plano Diretor e no zoneamento da cidade, zonas que necessariamente deverão
servir à habitação social para classes de baixa renda. As ZEIS são extremamente importantes para
o estabelecimento de uma política habitacional para classes de renda mais baixa, podendo ser
aplicada não somente em expansões como a construção de novas moradias, mas também para
áreas com favelas, loteamentos clandestinos ou irregulares com o intuito de tornar possíveis
ações de regularização e urbanização.
Sebrae.
Figura 1 – Ocupação indevida de margens de cursos d´água.
Sebrae.
Exige-se Licença Simplificada (LS) para empreendimentos com área menor ou igual a cinco hec-
tares e até 260 lotes ou empreendimentos com área de 5,1 a 10 hectares e até 130 lotes. A Licença Prévia
(LP), a Instalação (LI) e a Operação (LO) são exigidas para empreendimentos com área superior a 5,1
hectares e com mais de 130 lotes. Exige-se Licença de Regularização (LAR) para empreendimentos em
fase de implantação.
Vários organismos estão relacionados com o processo de licenciamento ambiental, tais como
o Incra, a prefeitura municipal, o órgão de gestão estadual dos recursos hídricos, as concessionárias
de energia, os órgãos florestais e de meio ambiente, o Ministério Público, entre outros. As Licenças
Ambientais são intransferíveis e deverão ter a sua substituição solicitada no órgão ambiental competente
sempre que houver modificação na Razão Social e/ou no CNPJ/MF do empreendimento ou atividade:
::: Licença Prévia (LP) – documento expedido na fase preliminar do planejamento da atividade
ou do empreendimento e que aprova o local de implantação pretendido e contém os pré-
-requisitos e os condicionantes a serem atendidos para as fases subsequentes, observada a
legislação urbanística e ambiental vigente.
::: Licença de Instalação (LI) – documento expedido na fase intermediária do planejamento da
atividade ou do empreendimento e que aprova a proposta do Plano de Controle Ambiental
(PCA) apresentada.
::: Licença de Operação (LO) – documento que antecede o efetivo funcionamento da atividade
e atesta a conformidade com as condicionantes das Licenças Prévia e de Instalação.
Os institutos legais criados para a gestão ambiental são vários, bem como as instâncias denomi-
nadas para exercê-la. Segundo o Ibama (1997), esses institutos são assim definidos:
::: Licenciamento Ambiental – procedimentos técnico-administrativos, baseados na legislação
vigente e na análise de documentação apresentada, que objetivam estabelecer as condições,
restrições e medidas de controle ambiental a serem obedecidas pelo empreendedor, para a
localização, construção, instalação, operação, diversificação, reforma e ampliação de empre-
endimento ou atividade consideradas de impacto.
::: Licença Ambiental – ato administrativo pelo qual se estabelecem as condições, as restrições e
as medidas de controle ambiental que deverão ser aplicadas ou atendidas pelo empreendedor
para localização, construção, instalação, operação, diversificação, reforma e ampliação de em-
preendimento ou atividade consideradas de impacto.
::: Avaliação de Impacto Ambiental (AIA) – instrumento da Política Nacional do Meio Ambiente,
que se utiliza de Estudos Ambientais e de procedimentos sistemáticos para avaliar os possíveis
impactos ambientais gerados por empreendimentos e atividades potencialmente poluidores,
com o intuito de adequá-los às necessidades de preservação e conservação do meio ambiente
e da melhoria na qualidade de vida da população.
::: Estudos Ambientais – estudos relativos aos aspectos ambientais de empreendimentos e
atividades potencialmente poluidores e que têm como finalidade subsidiar a análise técnica
que antecede a emissão de Licença Ambiental Municipal. Constituem Estudos Ambientais:
::: EIA – Estudo de Impacto Ambiental e respectivo Relatório de Impacto Ambiental (Rima);
::: EAP – Estudo Ambiental Preliminar;
::: RAS – Relatório Ambiental Simplificado;
::: PCA – Plano de Controle Ambiental;
::: PRAD – Projeto de Recuperação de Área Degradada;
::: PMA – Projeto de Monitoramento Ambiental;
::: ER – Estudo de Risco.
::: Impacto Ambiental – qualquer alteração das propriedades físicas, químicas ou biológicas do
meio ambiente causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades
humanas e que, direta ou indiretamente, afetem a saúde, a segurança ou o bem-estar da
população, as atividades sociais e econômicas, a flora e a fauna, as condições estéticas ou
sanitárias do meio ambiente e a qualidade dos recursos ambientais.
::: Sistema de Controle Ambiental (SCA) – conjunto de operações e/ou dispositivos destinados
ao controle de resíduos sólidos, efluentes líquidos, emissões atmosféricas e radiações eletro-
magnéticas, objetivando a correção ou redução dos impactos negativos gerados.
::: Termo de Referência (TR) – roteiro apresentando o conteúdo e os tópicos mais importantes
a serem tratados em determinado Estudo Ambiental.
::: Cadastro Descritivo (CD) – conjunto de informações, organizadas na forma de formulário,
exigido para a análise do licenciamento prévio de empreendimentos e atividades.
Para o Licenciamento Ambiental poderão ser utilizados os Estudos Ambientais conceituados a seguir:
::: Estudo de Impacto Ambiental (EIA) – conjunto de informações sistemáticas e analíticas,
exigido para o licenciamento prévio de atividades ou empreendimentos de significativo
potencial de impactos ambientais, tais como os constantes do artigo 2.º da Resolução Conama
001/86 que, em obediência ao respectivo Termo de Referência (TR), e a partir de diagnóstico
físico, biológico e socioeconômico, permita a previsão e o dimensionamento dos impactos
ambientais, a proposição de medidas mitigadoras e/ou compensatórias, e de um plano de
monitoramento ambiental, subsidiando a tomada de decisão quanto à viabilidade ambiental
da atividade ou do empreendimento.
::: Relatório de Impacto Ambiental (Rima) – relatório em linguagem acessível, que reflete as
principais informações e conclusões do EIA.
::: Estudo Ambiental Preliminar (EAP) – conjunto organizado de informações requeridas por
meio do respectivo Termo de Referência (TR), que subsidia a análise do licenciamento pré-
vio de atividades ou empreendimentos com significativo potencial de impactos ambientais e
dispensados da apresentação do EIA/Rima. Para o licenciamento prévio de empreendimentos
e atividades de exploração mineral, substitui, por equivalência, a exigência do Relatório de
Controle Ambiental (RCA) estabelecido pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama).
::: Relatório Ambiental Simplificado (RAS) – conjunto organizado e simplificado de informações
básicas, requeridas por meio do respectivo Termo de Referência (TR), que subsidia a análise
do licenciamento prévio de empreendimento ou atividade que, pela menor significância dos
impactos potenciais, seja dispensado da apresentação do EIA/Rima e do EAP.
::: Plano de Controle Ambiental (PCA) – apresentado para obtenção da LI, deve conter os
Projetos Executivos do(s) Sistema(s) de Controle Ambiental (SCA) e, quando couber, o Projeto
de Recuperação de Área Degradada (Prad) e o Projeto de Monitoramento Ambiental (PMA).
Para a instalação de empreendimentos e atividades de exploração, geração e distribuição de
energia elétrica, substitui, por equivalência, a exigência do Projeto Básico Ambiental (PBA)
estabelecido pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama).
::: Projeto de Recuperação de Área Degradada (Prad) – conjunto organizado e proposto na
forma de Projeto Executivo, com cronograma dos procedimentos destinados à recuperação
ambiental de áreas degradadas.
::: Projeto de Monitoramento Ambiental (PMA) – conjunto organizado e proposto na forma
de Projeto Executivo, com cronograma dos procedimentos destinados a acompanhar, nas
fases de implantação e operação da atividade, os impactos que forem previstos, de modo a
detectar os efeitos inesperados a tempo de corrigi-los e a verificar a implantação e a eficiência
das medidas mitigadoras, bem como o cumprimento das condições estabelecidas quando do
Licenciamento Ambiental.
::: Estudo de Risco (ER) – estudo analítico que, por meio de técnicas consolidadas de análise de
segurança de sistemas, estabelece o potencial de risco de acidentes ambientais em determi-
nado empreendimento ou atividade.
Os Estudos Ambientais necessários ao Licenciamento Ambiental deverão ser realizados sob a
responsabilidade e às custas do empreendedor. Deverão estar anexadas aos estudos, aos planos e aos
projetos ambientais, às respectivas Anotações de Responsabilidade Técnica (ARTs) ou equivalente.
O empreendedor incorrerá em infração passível de penalidades quando o mesmo iniciar
instalação de qualquer empreendimento ou atividade real ou potencialmente poluidor, sem possuir
licença ou em desacordo com a própria. Outra infração se dará quando, depois de concedida a licença,
o empreendedor iniciar ou prosseguir empreendimentos ou atividades em desacordo com a mesma,
testar instalação ou equipamentos, impedir ou cercear a fiscalização; sonegar dados ou informações
ou descumprir cronograma ou prazos de obras.
Alguns aspectos legais têm caracterizado o Licenciamento Ambiental de loteamentos pela
fragilidade de algumas relações entre as instâncias reguladoras, ou seja, o município, os estados e a
União. Pereira e Wasserman (2004, p. 4) questionam o tratamento que a legislação ambiental dispensa
ao nível de impacto imputado aos loteamentos, se comparado com outros empreendimentos. Para
o autor, os loteamentos se apresentam tão poluidores quanto outros empreendimentos tratados de
forma mais exigente pela legislação. Algumas considerações feitas são extremamente pertinentes e
necessitam ser consideradas:
Os loteamentos e os condomínios, por exemplo, não chegam à fase de LO, pois se entende que após se implantarem,
o que ocorre na fase de LI, estão devidamente concluídos e não necessitam, portanto, de LO, salvo quando são insta-
lados dispositivos de tratamento de esgotos dinâmicos, como estação de tratamento de esgotos (ETE), que pressupõe
operação, ainda assim, a LO, nesse caso, seria só para a ETE.
A instalação de loteamentos é ainda mais complexa quanto ao controle, pois a transferência de domínio por meio
das escrituras de compra e venda desvincula em parte o responsável em situações futuras (exemplo da construção de
fossa séptica e filtro). Um caso exemplar poderia ser representado por uma empresa de engenharia que vem ao Órgão
Ambiental e requer licença para instalação de um loteamento. Normalmente antes dessa ação, perante o município
fez-se também um licenciamento com base na Lei de Uso e Ocupação do Solo e na Lei Federal 6.766/79, que disciplina
as regras para parcelamento do solo. Via de regra, a legislação municipal é mais permissiva que a estadual e a federal, e
o projeto aprovado pelo município não passa no Licenciamento Ambiental, sob responsabilidade do estado. Contudo,
com a apresentação da licença municipal, os cartórios, legalmente, estão aptos a efetuar o desmembramento e acatar
as promessas de compra e venda, permitindo assim as vendas. Mais tarde, se a Licença Ambiental não é concedida,
o estado interdita administrativamente o loteamento, o empreendedor que já vendeu os lotes não se responsabiliza
mais, e o comprador adquire formalmente um imóvel escriturado e, não obstante, irregular.
alterações por meio da Lei 9.785, de 29 de janeiro de 1999, como pode ser visto no quadro 1, que
compara as duas legislações. As alterações tiveram por objetivo facilitar o processo de implantação
de parcelamentos populares destinados a classes de renda mais baixa.
Os seguintes documentos deverão acompanhar o processo:
I - título de propriedade do imóvel ou certidão de matrícula, ressalvadas algumas condições previstas na Lei 9.785
(quadro 1).
II - histórico dos títulos de propriedade do imóvel, abrangendo os últimos 20 anos, acompanhados dos respectivos
comprovantes;
III - certidões negativas:
a) de tributos federais, estaduais e municipais incidentes sobre o imóvel;
b) de ações reais referentes ao imóvel, pelo período de 10 anos;
c) de ações penais com respeito ao crime contra o patrimônio e contra a administração pública.
IV - As seguintes certidões são exigidas no processo:
a) dos cartórios de protestos de títulos, em nome do loteamento, pelo período de 10 anos;
b) de ações pessoais relativas ao loteador, pelo período de 10 anos.
c) de ônus reais relativos ao imóvel;
d) de ações penais contra o loteador, pelo período de 10 anos;
V - cópia do ato de aprovação do loteamento e comprovante do termo de verificação pela Prefeitura Municipal ou pelo
Distrito Federal, da execução das obras exigidas por legislação municipal, que incluirão, no mínimo, a execução das
vias de circulação do loteamento, demarcação dos lotes, quadras e logradouros e das obras de escoamento das águas
pluviais ou da aprovação de um cronograma, como a duração máxima de quatro anos, acompanhado de competente
instrumento de garantia para a execução das obras.
VI - exemplar do contrato-padrão de promessa de venda, ou de cessão ou de promessa de cessão. Esse tipo de instru-
mento visa garantir os interesses das partes, referindo-se as negociações futuras.
VII - declaração do cônjuge do requerente de que consente no registro do loteamento.
O artigo 18 ainda pondera, em seu parágrafo 2.º, que a existência de protestos, de ações penais,
exceto as referentes a crime contra o patrimônio e contra a administração, não impedirá o registro do
loteamento se o requerente comprovar que esses protestos ou ações não poderão prejudicar os adqui-
rentes dos lotes.
Quadro 1 – Comparação entre o texto da Lei 6.766/79 e a Lei 9.785/99
imóveis, mas que consigam comunicar-se de maneira clara com o público. Segundo Lopes apud Rizzardo
(1996, p.75), esses dados são:
a) indicação do nome do oficial e o respectivo cartório onde tenham sido apresentados os documentos legais para o
loteamento;
b) a indicação dos nomes dos proprietários loteadores, sua nacionalidade, domicílio, estado civil e profissão;
c) a caracterização do imóvel, especificando-se a sua situação, limites e demais elementos que sirvam a individualizá-lo;
d) a declaração de que se pretende vender o imóvel dividido em lotes e a prestações, por oferta pública, estando depo-
sitados em cartório o memorial e os documentos em que os proprietários pleiteiam a inscrição; e
e) início e término de recebimento das impugnações.
Além dessas exigências, a Lei 6.766 exige a inclusão, no edital, de pequeno desenho de localização
da área. Ao fim do prazo de 15 dias, a contar da última publicação, sem impugnação, lavrar-se-á o registro.
Enquanto o prazo não acabar, os terceiros terão oportunidade para impugnar o registro. Proposta
a impugnação, juntada aos autos, o oficial deverá intimar o requerente e a prefeitura municipal, ou
o Distrito Federal, quando for o caso, para que sobre ela se manifestem em cinco dias, sob pena de
arquivamento do processo. Com as manifestações das partes, o titular da serventia enviará o processo ao
juiz encarregado, tendo dele vistas, inicialmente, o representante do Ministério Público, pelo período de
cinco dias, fazendo-se, em seguida, os autos conclusos ao juiz para o julgamento, caso outras diligências
não se fizerem necessárias. Em caso de dúvidas, esclarecimentos por meio de prova judicial ou perícia,
remete-se o caso às vias ordinárias.
A fim de não haver rejeição que leve o impugnante ao juízo contencioso, a oposição ao registro
deverá fundamentar quando transparece uma ofensa a um direito de servidão ou de usufruto, ou
ainda de invasão de terras pertencentes a terceiros. O impugnante não tem legitimidade para discutir
o preenchimento dos requisitos legais por parte do proprietário loteador, desde que não origine um
prejuízo a um de seus direitos. A menos que haja ofensa a um bem social, ou ao patrimônio público, ou
ao meio ambiente. Nessas hipóteses, autoriza-se a impugnação (Rizzardo, 1996).
O mesmo não sucederá quando duvidosa a propriedade, ou, seguindo o citado Lopes apud
Rizzardo (1996, p. 77):
Desde que os rumos são contestados por outros títulos; desde que do registro de imóveis não conste nenhum
elemento de onde se possa inferir uma dimensão exata, o requisito legal não se acha cumprido e o registro só poderá
ser concedido depois que os limites dos terrenos tiverem ficado definidos na ação própria, que é a de demarcação ou
de aviventação de marcos, caso estes tenham sido apagados.
Dessa forma, o Registro somente se efetivará depois de realizados todos os exames das dúvidas.
Após realizados os exames, o registro se procede, cumprindo o disposto no artigo 20 da Lei 6.766/79:
Art. 20. O registro do loteamento será feito, por extrato, no livro próprio.
Parágrafo único. No Registro de Imóveis far-se-ão o registro do loteamento, com uma indicação para cada lote, a
averbação das alterações, a abertura de ruas e praças e as áreas destinadas a espaços livres ou a equipamentos urbanos.
Procede-se o registro conforme estatutos legais, nos livros instituídos, de forma que os lotes terão
matrícula própria para cada um, enquanto o parcelamento terá um registro geral.
Findo o processo de Registro, o loteador poderá iniciar a comercialização dos lotes.
O Registro possui, também, a função de possibilitar a indisponibilidade das áreas públicas
previstas em lei. A partir do registro do parcelamento, por meio do projeto e do memorial descritivo, as
vias, espaços livres, praças e áreas destinadas a usos comunitários e equipamentos urbanos passam ao
domínio do município. Silva (2000, p. 328-329) assim refere à questão do relacionamento registro versus
áreas públicas:
A inscrição do loteamento produz os seguintes efeitos urbanísticos:
a) legitima a divisão da gleba em lotes, com “a perda da individualidade objetiva do terreno loteado e a aparição das
individualidades objetivas dos lotes”;
b) “torna imodificável unilateralmente o plano de loteamento ou arruamento”;
c) transfere para o domínio público do município e torna inalienáveis, por qualquer título, as vias de comunicação, os
espaços livres e as áreas destinadas a edifícios públicos e outros equipamentos urbanos, constantes dos planos de
arruamento e loteamento e do memorial, independentemente de qualquer outro ato alienativo.
Para o autor, algumas leis municipais de parcelamento do solo exigem que o loteador, após a
execução do plano de arruamento, transfira, por doação à municipalidade, as áreas públicas, quando
submetê-lo à aceitação da prefeitura. A doação constará de documento hábil, que é a escritura pública.
Ocorre que isso, de fato, acontecerá com o registro do parcelamento. Contudo, Silva (2000) considera
legítima a antecipação, uma vez que o ônus é dividido entre o Poder Público e o empreendedor pela
implantação de infraestrutura e serviços.
Texto complementar
Avaliação do sistema de licenciamento de atividades poluidoras para
tipologias não industriais na região dos lagos, Rio de Janeiro
(PEREIRA; WASSERMAN, 2004, p. 1-3)
Introdução
Os instrumentos de controle podem ser prévios, tais como autorizações e licenças; conco-
mitantes, como a fiscalização; ou sucessivo, como termos de conclusão de obras, segundo as três
etapas da implantação de uma atividade.
Uma primeira constatação que se faz diz respeito ao mau emprego das terminologias licença e
autorização, já que a primeira constitui-se em um direito subjetivo, sujeito à observação das normas
ambientais, e a segunda, significa um ato precário e discricionário utilizado para remover uma
proibição legal.
O licenciamento ambiental é uma forma de se regular a implantação e operação de atividades
potencialmente poluidoras, por meio da avaliação do seu grau de impacto e, consequentemente, de
quais restrições deveriam ser impostas para que sua operação não fosse danosa ao meio ambiente.
Segundo o Ibama (1997), o licenciamento é assim definido:
[...] procedimento administrativo pelo qual o órgão ambiental competente licencia a localização, a instalação, a
ampliação e a operação de empreendimentos e atividades utilizadores de recursos ambientais, consideradas efe-
tiva ou potencialmente poluidoras ou daquelas que, sob qualquer forma, possam causar degradação ambiental,
considerando as disposições legais e regulamentares e as normas técnicas aplicáveis ao caso.
Pela definição, é possível enquadrar qualquer tipo de atividade, desde uma simples residência
unifamiliar até uma usina nuclear.
Em 1997, com o objetivo de estabelecer critérios para o exercício da competência do licenciamento
e a necessidade de se integrar a atuação dos órgãos competentes do Sistema Nacional de Meio
Ambiente (Sisnama), por meio da resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama 237),
foram regulamentados mais uma vez os procedimentos do Licenciamento Ambiental.
O destaque dessa normativa é a definição com clareza sobre a quem cabe o licenciamento
dentro do Sisnama. Fica, portanto, definido que o Licenciamento Ambiental nos estados cabe ao
Órgão Estadual de Controle Ambiental, podendo o município, quando devidamente habilitado
e capacitado a licenciar (ou seja, município que tenha constituído: Secretaria de Meio Ambiente,
Legislação Ambiental Própria, Fundo Municipal de Meio Ambiente e Condema – Conselho Municipal
de Meio Ambiente), fazê-lo, desde que este faça um convênio com o Órgão Estadual definindo
competências. O licenciamento pelo Ibama fica restrito a situações em que estejam envolvidos mais
de um estado, áreas fronteiriças do país, área marítima, atividades que envolvam radioatividade,
instalações militares ou ainda em estados que não tenham órgão ambiental e em caráter supletivo.
Fixa a resolução de que os empreendimentos só poderão ser licenciados por um único nível de
competência.
A Resolução Conama 237/97, define ainda em seu artigo 14, que entre o ato de protocolar um
pedido de licença e o deferimento ou indeferimento dela, não possa transcorrer mais de seis meses
em casos normais, e 12 meses em casos em que se exijam EIA/Rima. Garante ainda que em casos de
renovação, desde que protocolada com 120 dias de antecedência ao vencimento desta, fica auto-
maticamente prorrogada a licença anterior até que o órgão licenciador se pronuncie.
Por fim, entre os itens importantes dessa resolução, estão ainda a listagem de atividades
sujeitas ao licenciamento, que limita ao menos um pouco o universo de atividades sujeitas ao licen-
ciamento, já que pelo conceito tradicional, qualquer atividade por menor que seja pode ser consi-
derada modificadora do meio ambiente.
Atividades
1. O que se entende por impacto ambiental?
Gabarito
1. Por Impacto Ambiental compreende-se qualquer alteração das propriedades físicas, químicas ou
biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das
atividades humanas e que, direta ou indiretamente, afetem a saúde, a segurança ou o bem-estar
da população, as atividades sociais e econômicas, a flora e a fauna, as condições estéticas ou sani-
tárias do meio ambiente e a qualidade dos recursos ambientais.
3. O registro de um parcelamento faz parte da etapa jurídica do mesmo e sua efetivação é condição
para a existência jurídica do loteamento ou desmembramento. Com o registro, cessa a unidade
anterior do terreno loteado: em vez dele surge, no plano jurídico, a pluralidade de terrenos
(lotes). Somente após o registro o parcelador poderá iniciar a venda dos lotes, dessa forma os
compradores terão garantias da legalidade do parcelamento.
Fidem.
Figura 1 – Ocupação de morros: Alto da Estrela – Moreno:
Recife (PE).
A situação mostra-se agravante em todo território brasileiro, do norte ao sul. A figura 3 mostra um
exemplo de conjunto habitacional Caetés I em Recife (PE) e o processo de ocupação desordenada em
seu entorno pra fixação de moradia. Essas invasões levam à degradação do meio ambiente e provoca
erosões e riscos de desabamento. Esse exemplo também pode ser constatado na Serra da Cantareira,
em São Paulo, nos morros do Rio de Janeiro, em Salvador ou em Porto Alegre. O caso de Recife é assim
diagnosticado pela Fundação de Desenvolvimento Municipal (Fidem) (2004):
No Conjunto Caetés I (A), observam-se dois estratos de invasão, onde o primeiro (B) segue ocupando os topos dos
espigões, divisores das drenagens, e um segundo (C) começa a ocupar as encostas, desguarnecidas de qualquer trata-
mento, com moradias de baixo padrão construtivo em condições ainda mais precárias.
A remoção da cobertura vegetal vai-se generalizando nas encostas adjacentes, viabilizando mais invasões e compro-
metendo, em longo prazo, a mata de Caetés.
O lixo não é coletado, sendo totalmente lançado sobre as encostas. As águas servidas e os esgotos correm a céu aberto,
morro abaixo.
Alguns parâmetros estabelecidos pela Lei 9.785/99 continuam polêmicos e geram discussões sobre
a qualidade espacial do espaço habitado por ela gerada. Tais aspectos dizem respeito à flexibilização da
área do lote, cujo mínimo era fixado em 125m2, e a quantidade de infraestrutura e áreas públicas a serem
implantadas nos denominados parcelamentos populares. A Lei 9.785/99, ao acrescentar novos parágrafos
ao artigo 18 da Lei 6.766/79, assim estipula a infraestrutura necessária aos loteamentos populares:
§5.º Consideram-se infraestrutura básica os equipamentos urbanos de escoamento de águas pluviais, iluminação
pública, redes de esgoto sanitário e abastecimento de água potável e de energia elétrica pública e domiciliar e as vias
de circulação pavimentadas ou não.
§6.º A infraestrutura básica dos parcelamentos situados em zonas habitacionais declaradas por lei como de interesse social
(Zhis) consistirá, no mínimo de:
I - vias de circulação;
II - escoamento de águas pluviais;
III - rede para abastecimento de água potável; e
IV - solução para o esgotamento sanitário e para a energia elétrica domiciliar. (grifo nosso).
Nos parcelamentos situados em Zhis são dispensadas a iluminação pública e a rede de abaste-
cimento de energia elétrica pública, as redes de esgotamento sanitário e as redes de energia elétrica
domiciliar, exigindo-se apenas como infraestrutura básica a apresentação de alternativas para o esgota-
mento sanitário e para a energia elétrica domiciliar.
Dessa forma, a lei dispensa os loteamentos populares de alguns tipos de infraestrutura que
podem ser consideradas primordiais para a sobrevivência nos dias atuais, tornando-se ainda mais
importante pelo fato de o estado necessitar firmar planos de inserção das grandes massas de excluídos
em faixas de rendas mais dignas. Contudo, em face da falta de recursos do Poder Público para custeio
dessas obras de infraestrutura, tolera-se tais carências, buscando-se soluções técnicas de baixo custo
para o sistema de esgotamento sanitário e energia elétrica domiciliar.
Outra questão relacionada aos loteamentos populares diz respeito à aplicabilidade do parcela-
mento popular por particulares e pelo Poder Público e também a condição de implantá-los, necessa-
riamente, em Zhis. Essa discussão, obviamente, se dá em face da flexibilização dos parâmetros anterior-
mente discutidos e que em muito influenciará nos custos do parcelamento. Ribeiro (2007, p. 2) assim
pondera essa discussão:
O §6.o [...] não se destina apenas aos parcelamentos populares de iniciativa do Poder Público. Na verdade, não há
nenhuma vinculação entre o parcelamento em área declarada de interesse social (art. 2.o, §6.o) e o parcelamento
popular (art. 18, §4.o). O parcelamento em área de interesse social não será necessariamente o chamado parcelamento
popular do artigo 18, §4.º, assim como esse parcelamento popular não terá de ser implementado necessariamente em
área declarada de interesse social.
União, estados, Distrito Federal e municípios poderão implantar o parcelamento popular nas áreas declaradas de inte-
resse social (o que deve ser o mais comum), desde que esta assim esteja declarada por lei. Nesse caso, a infraestrutura
mínima será a do §6.o do artigo 2.o. Por outro lado, nada impede que o parcelamento popular seja implementado em
outra área, que não seja a declarada de interesse social, sendo, nesse caso, a infraestrutura básica a exigida no §5.o do
artigo 2.o.
[...] Tem-se, portanto, que o parcelamento em área de interesse social não é exclusividade do Poder Público. Dessa
forma, havendo declaração de um imóvel situado em zona habitacional como de interesse social, este poderá ser
parcelado tanto por particular quanto pelo Poder Público. Por outro lado, como visto, o parcelamento popular do
artigo 18, §4.o, não precisa ser implementado em área de interesse social. A diferença é que o parcelamento popular
do artigo 18, §4.o, é feito pela União, estados, Distrito Federal e municípios, ou suas entidades delegadas, o que tem
implicação direta nos documentos necessários ao Registro Imobiliário.
O texto de Ribeiro esclarece questões importantes que envolvem não somente as relações entre
empreendedores municipais e prefeitura, mas também as instâncias de poder estadual e federal, uma
vez que todos possuem vínculos com a produção da habitação.
Pela Lei 9.785/99, em suas modificações e acréscimos ao texto do artigo 18 da Lei 6.766/79,
também foram instituídas alterações no processo de registro do loteamento popular, dispensando a
apresentação do título de propriedade do imóvel ou a certidão da matrícula, quando se tratar de área
em processo de desapropriação. Nesse caso, para facilitar o registro para loteamentos promovidos pelo
Poder Público, em que normalmente o processo de desapropriação se arrasta por muito tempo.
§4.º O título de propriedade será dispensado quando se tratar de parcelamento popular, destinado às classes de
menor renda, em imóvel declarado de utilidade pública, com processo de desapropriação judicial em curso e imissão
provisória na posse, desde que promovidas pela União, estados, Distrito Federal, municípios ou suas entidades
delegadas, autorizadas por lei a implantar projetos de habilitação.
§5.º No caso de que trata o §4.º, o pedido de registro do parcelamento, além dos documentos mencionados nos incisos
V e VI deste artigo, será instruído com cópias autênticas de decisão que tenha concedido a imissão provisória na posse,
do decreto de desapropriação, do comprovante de sua publicação na imprensa oficial e, quando formulado por enti-
dades delegadas, da lei de criação e de seus atos constitutivos.
Outra alteração prevista na lei citada, relativa a loteamentos populares, é a dispensa de cerificação
da execução da infraestrutura básica, prevista no artigo 2.o, para efetivação do Registro Imobiliário. O
inciso V do artigo 18, com sua nova redação, dá sustentação a essa premissa:
V - cópia do ato de aprovação do loteamento e comprovante do termo de verificação pela prefeitura da execução das
obras exigidas por legislação municipal, que incluirão, no mínimo, a execução das vias de circulação do loteamento,
demarcação dos lotes, quadras e logradouros e das obras de escoamento das águas pluviais ou da aprovação de um
cronograma, com duração máxima de dois anos, acompanhado de competente instrumento de garantia para execução
das obras;
condições precárias de vida para a população de baixa renda, pela ausência da infraestrutura
básica necessária e os estabelecimentos dos padrões urbanísticos inferiores, tornando-se
inconstitucional.
::: Pelo parágrafo único do artigo 53 da Lei 9.785/99, fica vedada a aplicação das sanções
pertinentes aos particulares, por não terem realizado as obras e serviços nos parcelamentos
vinculados a planos ou programas habitacionais de iniciativa do Poder Público considerados
de interesse público. Para Sales Júnior, essa norma inviabiliza a possibilidade de penalizar
criminalmente os loteadores e demais agentes responsáveis pela implantação dos loteamentos
clandestinos e irregulares nas cidades.
As ponderações do autor fazem sentido ao apresentar possíveis lacunas na Lei 9.785/99. Contudo,
algumas delas foram preenchidas com a promulgação do Estatuto da Cidade. Embora a legislação tenha
caráter de extrema importância, a construção de uma sociedade mais justa e uma cidade com mais
qualidade de vida dependerá do próprio processo de gestão democrática das cidades e da participação
comunitária.
A imputação da responsabilidade aos municípios, estados e União, do provimento e facilitação
da aquisição da moradia, direito constitucional, pode ser considerada um grande avanço legislativo.
Contudo, tanto as leis quanto suas práticas devem considerar a grande lacuna temporal que relegou
populações inteiras a viver em péssimas condições de moradia e abaixo da linha da miséria. Os institutos
legais precisam ser aprimorados a cada dia, tanto para possibilitar novas formas de acesso à moradia
popular quanto para coibir as más práticas imobiliárias até hoje presentes.
Texto complementar
Loteamentos populares e autoconstrução em Florianópolis (SC):
um estudo na Barra do Sambaqui
(CORDEIRO; SILVEIRA, 2007, p. 1-3)
Introdução
A habitação, enquanto objeto edificado, surgiu para abrigar o homem das manifestações
climáticas (sol, chuva, ventos, nevascas etc.) e dos eventuais ataques de animais. Mais tarde, passou
a ser local de permanência e teve que ser adaptada para dar condições de renovação da força de
trabalho do homem, por meio do repouso físico e mental diário. Nesse momento, a casa também
passou a refletir as tradições culturais, hábitos e práticas de seus usuários, traduzidas pelo cotidiano
doméstico vivenciado em seu interior, deixando de ser apenas um universo prático, para atuar tam-
bém como universo simbólico.
Segundo LEMOS (1989, p. 09), “Tais atuações domésticas, que costumamos dizer, ligadas aos
hábitos e às práticas de uma sociedade, devem se desenvolver em circunstâncias ideais e a qualidade
do desempenho evidentemente está condicionada às condições oferecidas pela construção”.
A realidade da habitação popular brasileira não atende satisfatoriamente às funções básicas
mencionadas anteriormente. Sabe-se que a maioria dos moradores de favelas, cortiços, vilas e demais
assentamentos subnormais habitam precariamente em casebres cujas dimensões comprometem a
vida familiar. A falta de trabalho ou a renda insuficiente para sustentar a família, aliados a uma jornada
de trabalho exaustiva, sem o conforto habitacional adequado que possibilite ao trabalhador descansar
o corpo, afetam a todos os usuários da residência, provocando atritos e discussões familiares.
De acordo com a filosofia marxista, morar é uma necessidade básica do ser humano e condição
indispensável à (re)produção de sua força de trabalho. Habitar em condições precárias implica na
redução do desempenho do trabalhador, pois é no interior da habitação onde o homem repõe suas
energias, por meio do repouso, das refeições e de sua higiene pessoal (CAVALCANTI, 1980). Morar
mal também implica no aparecimento de problemas de cunho socioeconômico, tal como o aumento
da violência urbana, visto que o crescimento excludente das cidades brasileiras priva parcela signi-
ficativa de sua população de ter acesso aos serviços de infraestrutura urbana básicos (de boa quali-
dade) que lhe garantam viver com o mínimo de dignidade.1
A stuação apresentada acima caracteriza os chamados bolsões de pobreza urbanos, cada vez
mais presentes nas cidades brasileiras. Nas palavras de Maricato (2000), “nossas cidades crescem
produzindo em seu interior verdadeiras bombas sociológicas, depósito de multidões abandonadas,
sem quaisquer direitos legais”.
A falta de moradia é um dos principais e talvez um dos mais graves problemas urbanos
enfrentados na atualidade pelas cidades brasileiras. Em cem anos (1900-2000), a população urbana
do Brasil aumentou assustadoramente, e com ela as desigualdades socioeconômicas. De acordo com
o recenseamento de 2000, realizado pela Fundação IBGE, o Brasil possui 170 milhões de habitantes,
dos quais 137 755 550 moram em áreas urbanas (OLIVEIRA, 2001).
O déficit habitacional também guarda relação com a precariedade física da habitação. De acordo
com um estudo realizado pela Fundação João Pinheiro, cerca de 12 milhões de brasileiros vivem
em habitações impróprias2, sejam elas barracos improvisados em plástico, unidades habitacionais
superlotadas ou edificações antigas mal conservadas (FJP, 2001).
Impossibilitadas de acessar o mercado imobiliário formal, famílias inteiras de trabalhadores
sem qualificação e mal remunerados são obrigados a ocupar áreas inadequadas e de risco, tais
como terrenos alagáveis e encostas dos morros, como única alternativa de inserção nas cidades.
Desse modo, torna-se patente o aumento do número de domicílios irregulares caracterizados
pela concentração de população de baixa renda, carência de infraestrutura básica para o seu
desenvolvimento, e por condições precárias de habitabilidade e salubridade. Esses domicílios se
apresentam traduzidos em favelas, cortiços e vilas, cuja existência já não pode mais ser ignorada
pela esfera do Poder Público e pela sociedade civil como um todo.
Essa situação é reflexo do alto índice de exclusão socioterritorial que impera nas cidades de
médio e grande porte, caracterizado pelo adensamento populacional decorrente dos movimentos
migratórios, oriundos não só do campo como também de pequenas e médias cidades do interior
em direção às capitais.
O contexto aqui apresentado, comum a muitas cidades do Brasil, tem influenciado a produção
de inúmeras pesquisas relacionadas ao estudo da questão habitacional nos mais diversos âmbitos,
entre eles as políticas e programas voltados para a habitação de interesse social e a prática da
autoconstrução desenvolvida pelas populações de baixa renda (CRUZ &ORNSTEIN, 1995). No
entanto, um aspecto que ainda é pouco privilegiado no âmbito acadêmico é o estudo dos aspectos
funcionais da habitação popular, sobretudo os que se referem à área útil disponível para cada
morador, às áreas de circulação e ao desenvolvimento das atividades domésticas – lazer, repouso e
serviços – sem sobreposições (LEMOS, 1989).
Acredita-se que os espaços habitáveis autoconstruídos sejam mais satisfatórios que os empre-
endimentos de interesse social, no tocante ao atendimento das necessidades dimensionais para
funcionamento adequado da habitação, bem como do conforto ergonômico de seus usuários.
Assim, faz-se necessária a realização de estudos que possibilitem a concepção de layouts mais
satisfatórios, em termos de dimensionamento dos ambientes, e que permitam um grau maior de
flexibilidade da habitação de interesse social. Acredita-se que dessa forma seja possível o provi-
mento habitacional de boa qualidade para parcelas de população de baixa renda, desmistificando
a premissa de que edificações arquitetonicamente bem planejadas são privilégio de classes sociais
detentoras de médio e alto poder aquisitivo.
1 A Lei federal 6.766/ 1979 considera como infraestrutura básica os equipamentos urbanos de escoamento das águas pluviais, iluminação
pública, redes de esgoto sanitário e abastecimento de água potável, energia elétrica pública e domiciliar e as vias de circulação pavimenta-
das ou não.
2 O termo impróprio, utilizado pela FJP, nesse caso, tem sentido de inadequado (FERREIRA, 1993).
Atividades
1. Quais são as características básicas do processo de urbanização do Brasil, naquilo que se refere
aos aspectos habitacionais?
2. O que se entende por parcelamento popular e quando sua implantação foi possibilitada?
3. Naquilo que se refere à infraestrutura básica dos parcelamentos situados em zonas habitacionais
declaradas por lei como de interesse social, o que prevê a Lei 9.785/99?
Gabarito
1. O processo de urbanização no Brasil caracterizou-se pelo grande afluxo de pessoas para a cidade
a partir da década de 1930. Umas das principais características foi a proliferação de loteamentos
irregulares, clandestinos, favelas, cortiços e outros tipos de assentamentos informais nas cidades.
Essa situação se deu em face à falta de planejamento urbano e regional e, consequentemente, da
falta de moradias.
3. A infraestrutura básica dos parcelamentos situados em zonas habitacionais declaradas por lei
como de interesse social (ZHIS) consistirá, no mínimo de:
I - vias de circulação;
II - escoamento de águas pluviais;
III - rede para abastecimento de água potável; e
IV - solução para o esgotamento sanitário e para a energia elétrica domiciliar.
Figuras 1 e 2 – Execução de obras de infraestrutura urbana do loteamento Moradas da Lagoa – bairro de Valéria –
Salvador (BA).
Em um projeto de parcelamento do solo, tais obras são extremamente necessárias para tornar
possível a habitabilidade espacial e sua implantação é requerida ao parcelador pela legislação que
regula a matéria. Tal legislação, no entanto, pressupõe a possibilidade de flexibilização da infraestrutura
em caso de parcelamento de interesse social com o objetivo de torná-los mais econômicos e viáveis.
A Lei Federal 9.785/99 que alterou a Lei 6.766/79 assim considera os subsistemas de infraestrutura que
devem estar presentes em um parcelamento (artigo 2.o da Lei 6.766/79).
§5.º Consideram-se infraestrutura básica os equipamentos urbanos de escoamento de águas pluviais, iluminação
pública, redes de esgoto sanitário e abastecimento de água potável, e de energia elétrica pública e domiciliar e as vias
de circulação pavimentadas ou não.
§6.º A infraestrutura básica dos parcelamentos situados em zonas habitacionais declaradas por lei como de interesse
social (ZHIS) consistirá, no mínimo de:
I - vias de circulação;
II - escoamento de águas pluviais;
III - rede para abastecimento de água potável; e
IV - solução para o esgotamento sanitário e para a energia elétrica domiciliar.
Para Ribeiro (2007) não cabe ao Registro Imobiliário verificar a execução da infraestrutura básica,
prevista no artigo 2.o. O inciso V do artigo 18 exige a execução de algumas obras, comprovadas por meio
do termo de verificação pela Prefeitura Municipal ou pelo Distrito Federal, ou a aprovação de um crono-
grama para execução das obras. De acordo com esse inciso, a legislação municipal deverá estabelecer
as obras mínimas que necessitam ser executadas ou programadas por meio de cronograma. Somente
após essa etapa poderá ser efetivada a entrada do processo de registro imobiliário do parcelamento. O
oficial de registro não tem a obrigatoriedade da verificação do cumprimento das obras ou da execução
do cronograma, uma vez que a mesma é de competência do município ou do Distrito Federal. Após o
recebimento dos documentos, caberá ao registrador analisar sua regularidade formal exigindo a apre-
sentação do termo de verificação.
A execução e recebimento das obras deve ser alvo de detalhamento por parte da legislação no
âmbito municipal, uma vez que a legislação federal não especifica pormenores. A legislação de Belo
Horizonte delibera que, aprovado o projeto, o loteador deverá submetê-lo ao Registro Imobiliário no prazo
de 180 dias, sob pena de caducidade da aprovação, sendo que cabe à Prefeitura o fornecimento de cópia
do ato de aprovação e comprovante do Termo de Verificação da execução das obras exigidas na legislação
municipal, que incluirão, no mínimo, a execução das vias, demarcação dos lotes, quadras e logradouros e
das obras de escoamento de águas pluviais ou da aprovação de um cronograma, com a duração máxima
de quatro anos, acompanhado do competente Termo de Garantia para execução das obras.
Nos projetos em que for necessária a execução de obras internas ao lote, a aprovação só se efetuará
após a comprovação da conclusão dessas obras pelo órgão que apontou a necessidade da mesma,
sendo que a apresentação do documento comprobatório será considerada pendência por parte do
responsável técnico ou do proprietário para os efeitos de prazo. O projeto aprovado deverá ser executado
no prazo constante do cronograma de execução, sob pena de caducidade da aprovação. Considera-
-se saneamento como um conjunto de ações entendidas fundamentalmente como de saúde pública
e proteção ao meio ambiente, compreendendo o abastecimento d’água, a coleta, o tratamento e a
disposição adequada dos esgotos sanitários e dos resíduos sólidos, a drenagem urbana das águas
pluviais e o controle dos vetores e reservatórios de doenças.
A legislação urbana da capital mineira prevê ainda que o empreendedor deverá cuidar da adoção
de alternativas de tratamento de fundo de vale, com a mínima intervenção ao meio ambiente e que
assegurem acessibilidade, esgotamento sanitário, limpeza urbana e resolução das questões de risco
geológico e inundações, privilegiando as soluções de parques para tratamento das áreas de fundo
de vale remanescentes. As áreas de equipamento urbano e comunitário e os espaços de uso público
destinados à área verde, serão implantadas pelo parcelador conforme estabelecido em diretrizes do ór-
gão ambiental do município e serão mantidas e conservadas pelo empreendedor até o recebimento das
obras. As áreas destinadas a equipamentos urbanos e comunitários devem estar desocupadas quando
da expedição do Termo de Recebimento de Obras de Urbanização. Entre as obras a serem executadas será
considerada a afixação de placas denominativas de logradouros públicos, com sua denominação oficial,
em suportes padronizados. A execução de obras de infraestrutura, decorrentes de parcelamento sem
que tenha sido expedido o pertinente Alvará de Urbanização ou em desacordo com os projetos aprova-
dos, está sujeita a notificação, pagamento de multa e embargo da obra. Caso a execução continue após
a aplicação da multa, haverá a apreensão de máquinas, equipamentos e veículos em uso e multa diária
com valor fixado sobre o tempo que permanecer o descumprimento do embargo.
O parcelador deverá garantir a execução das obras por meio de depósito confiado ao município,
do valor a elas correspondente sob a forma de dinheiro, títulos da dívida pública, fiança bancária ou
vinculação a imóvel, no local ou fora, feita mediante instrumento público. Após o cumprimento do
cronograma, o depósito referente a caução será restituído ao parcelador e poderá ser feita até o máximo
de 70% na liberação, após vistoria pelas concessionárias. A restituição do depósito referente ao caucio-
namento dos 30% restantes será liberada um ano após a liberação do parcelamento.
A Prefeitura Municipal de Belo Horizonte, por meio da sua legislação, determina ainda que as
obras de urbanização deverão ser iniciadas somente após a liberação do Alvará de Urbanização emitido
após o registro do loteamento e estipula a necessidade da apresentação dos seguintes documentos:
::: Ofício comunicando a intenção de se iniciar obras com indicação das empresas executora e
consultora.
::: Cópia do projeto urbanístico.
::: Cópia do registro do loteamento, inclusive das áreas a serem transferidas ao Poder Público.
::: Cópia da escritura de garantia hipotecária, quando cabível.
::: ART da obra.
::: Licença para movimentação de terra fornecida pelo órgão responsável.
::: Cópia da taxa de Fiscalização de Obras Particulares com 1.ª parcela quitada.
O município de Criciúma (SC), por meio da Lei Municipal 3.901, de 28 de Outubro de 1999,
prevê, em seu artigo 57, que “antes da aprovação do projeto de loteamento, o proprietário loteador
assinará na Prefeitura Municipal um Termo de Compromisso”, no qual “constarão todas as obrigações
que o proprietário assumirá relativamente à urbanização da área [...] e serviços que se comprometerá
a realizar”, em consonância com o projeto aprovado pelo município. O parcelador fica obrigado “a não
outorgar qualquer escritura definitiva de venda de lote, antes de concluídas as obras e cumpridas as
demais obrigações impostas por lei ou assumidas no Termo de Compromisso”. Os custos da execução das
obras e serviços relacionados nos projetos ficarão a cargo do loteador, dentro de um prazo proporcional
à área do loteamento, a critério do órgão competente da municipalidade, que não ultrapasse 2 (dois)
anos, a partir da data do registro, devendo ficar especificado no alvará de licença de implantação do
loteamento. O prazo estipulado no alvará de licença poderá ser prorrogado por 1 (um) ano, a critério
do órgão competente do município, sujeitando-se à adequação das normas em vigor. Para garantia do
cumprimento das obrigações de execução das obras prevista no Termo de Compromisso, o loteador
deverá dar em caução ao município, um determinado número de lotes, com valor, no mínimo, igual
ao montante das obras a serem executadas. O valor dos lotes será calculado pelo preço da gleba, sem
considerar as benfeitorias previstas no projeto aprovado.
Ao final dos prazos previstos, caso não tenham sido realizadas as obras e serviços exigidos, o
município poderá promover a ação competente para adjudicar ao seu patrimônio os lotes caucionados,
que se constituirão em bem público do município. Uma vez realizadas as obras e serviços exigidos, o
órgão competente da municipalidade, a requerimento do interessado e após vistoria, liberará os lotes
caucionados. Essa liberação será total ou por etapas, à medida que forem entregues as obras, de acordo
com o Termo de Compromisso, e aceitas pelo município, por meio de seu órgão competente. Todas as
obras e serviços exigidos, bem como quaisquer outras benfeitorias efetuadas pelo interessado, nas vias
e praças públicas e nas áreas de usos institucionais, passarão a fazer parte integrante do patrimônio
público, sem qualquer indenização.
4.° Verificadas falhas, imperfeições e omissões que tornem o loteamento incompleto ou inaceitável o Prefeito marcará
prazo para os devidos reparos e complementações das obras, sem que o loteamento seja interditado para construções
e ofertas públicas de venda de lotes.
5.° O requerimento poderá optar pela entrega parcial das obras, vias e logradouros públicos de determinada área do
loteamento, desde que a vistoria aprove a parte oferecida, cabendo ao Executivo julgar da conveniência ou não da
aceitação parcial.
6.° Aprovado o laudo do DO2 pelo Executivo, será o loteamento declarado, oficializado por Decreto seguindo-se, opor-
tunamente, a denominação das ruas e logradouros públicos.
7.° O presente Decreto entra em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário.
Como pode ser constatado no decreto, o ato do recebimento de obras deverá estar devidamente
regulado com o objetivo de diminuir as dúvidas do parcelador e assegurar ao município a execução das
obras de acordo com as boas técnicas.
A legislação municipal, além dos aspectos relativos a planejamento do parcelamento, execução
e recebimento das obras de infraestrutura, ainda deverá conter aqueles inerentes às possíveis infrações
que poderão ser cometidas e suas penalidades e a fiscalização da execução das obras do loteamento.
Como constante na legislação de Criciúma (SC), já anteriormente citada, a fiscalização deverá ser exercida
em todas as etapas, desde as especificações de ordem técnica até as fases de execução e entrega das
obras de infraestrutura. O loteador deverá manter uma cópia completa dos projetos aprovados e do ato
de aprovação no local da obra, para efeito de fiscalização.
As infrações cometidas pelo parcelador no decorrer da execução das obras ou a qualquer dis-
positivo do estatuto legal, exigem a expedição pelo município de uma intimação ao proprietário e/ou
responsável técnico, no sentido de ser corrigida a falha verificada, dentro do prazo que for concedido,
o qual não poderá exceder de 20 (vinte) dias corridos, contados da data da intimação. A verificação da
infração poderá ser feita a qualquer tempo, mesmo após o término das obras. No caso do não cumpri-
mento das exigências contidas na intimação, dentro do prazo cedido, será lavrado o competente auto
de infração e de embargo das obras, se estiverem em andamento, e aplicação de multa, para obras
concluídas ou em andamento.
Lavrado o auto de embargo, fica proibida a continuação dos trabalhos, podendo ser solicitado,
se necessário, o auxílio das autoridades judiciais e policiais do estado. A lei prevê que, da penalidade
do embargo ou multa, o interessado poderá recorrer, sem efeito suspensivo à municipalidade, dentro do
prazo de 10 (dez) dias corridos, contados da data do recebimento do auto de infração, desde que prove
haver depositado a multa. O município, por meio de seu órgão competente, comunicará o embargo ao
representante do Ministério Público e ao Cartório de Registro de Imóveis competente.
A responsabilidade técnica dos profissionais envolvidos no projeto do loteamento e sua infraes-
trutura é extremamente necessária e requerida legalmente. Para efeito da legislação, somente profissio-
nais legalmente habilitados e devidamente inscritos no município poderão assinar como responsáveis
técnicos quaisquer documentos, projeto ou especificação a serem submetidos ao órgão competente da
municipalidade. A responsabilidade técnica pelos serviços de projeto, cálculo e especificação caberá ao
autor do projeto, e pela execução das obras, ao responsável pela execução. Só poderão ser inscritos no
município profissionais que apresentarem a carteira de registro profissional no Conselho Regional de
Engenharia, Arquitetura e Agronomia (CREA).
Texto complementar
Loteamentos em Rio Branco: fim deles pode ter sido decretado
pelo novo Plano Diretor da cidade
(FERREIRA, 2007)
Exigências do novo Plano Diretor impedem o lançamento de “loteamentos tradicionais” na
cidade. Moradores de loteamentos antigos, que estão em desacordo com o Plano Diretor, agora po-
dem entrar na justiça exigindo que a imobiliária responsável faça as obras de infraestrutura exigidas
pelo plano.
Google Earth.
RESIDENCIAL IOLANDA
O novo Plano Diretor (PD) da cidade de Rio Branco veio para moralizar a questão dos loteamentos
em nossa cidade. É interessante que todos, incluindo os moradores dos loteamentos antigos e sem
qualquer infraestrutura, leiam o PD, entre o artigo 77 e 82.
Lá estão descritas as condições para que novos loteamentos possam ser implementados e o que
aqueles comercializados em desacordo com a nova lei precisam dispor para serem regularizados.
Para começar, a lei diz que “nos loteamentos deverá ser transferido para o patrimônio público,
no mínimo, 35% da área total da gleba a ser loteada”, podendo ser mais que isso, dependendo da
localização do empreendimento. É mais que 1/3 da área. Duvido que imobiliárias ou proprietários
particulares, acostumados a vender quase 100% da área dos loteamentos antigos, se sintam tentados
a lançar novos empreendimentos nessas condições.
Essa regra também vale para os loteamentos mais antigos, desde que seja possível sua
aplicação. Assim, no caso de loteamentos antigos e com poucas edificações, como (por exemplo)
o Residencial Iolanda, Jardim Europa (cercanias da Uninorte) e Jardim de Alah (próximo da AABB),
é imprescindível que a Prefeitura ou o MP ingressem na justiça contra as imobiliárias para que elas
cumpram a lei. Como vão fazer isso? Que recomprem os lotes que até hoje estão desocupados!
Ainda dá tempo. É que muitos lotes são vendidos para investidores que nunca têm a intenção de
construir. Por isso, até hoje eles estão desocupados e seus proprietários apostando em uma valori-
zação que ocorre com a chegada da água, esgoto, iluminação pública, asfalto etc., bancada pelos
cofres públicos.
O Plano Diretor exige que tudo seja feito pelo empreendedor e não são poucas as exigências:
::: demarcação das vias e dos terrenos (a serem transferidos ao município), e dos lotes e das
áreas não edificáveis;
::: abertura das vias de circulação e terraplenagem, com instalação de meio-fio e sarjeta,
delimitação da calçada e pavimentação do leito carroçável das vias em pavimentação
rígida, asfáltica ou intertravada (tijolo);
::: instalação de rede de escoamento de água pluvial aprovada previamente pela concessio-
nária, dispositivos de drenagem e de prevenção da erosão;
::: rede de distribuição de energia elétrica e rede de iluminação pública, aprovada previa-
mente pela concessionária;
::: rede de abastecimento de água, coleta de esgoto e tratamento de esgoto condominial,
aprovado previamente pela concessionária.
Quem vive em Rio Branco e conhece a maioria dos loteamentos da cidade e as imobiliárias que
atuam no mercado sabe muito bem que a maioria dessas exigências, que são mínimas, nunca foi
atendida voluntariamente no passado e, com a atual exigência legal, com certeza servirão de “de-
sestímulo” para novos empreendimentos no futuro.
Conhecendo um pouco como as coisas caminham no pântano burocrático brasileiro, dá para
imaginar também que os futuros empreendedores terão que separar muitos lotes para “doação” se
quiserem ver as coisas acontecerem. Vão ter que correr o risco de ter pouca coisa para vender no final...
PORTAL DA AMAZÔNIA
Atividades
1. Como a Lei Federal 9.785/99 conceitua infraestrutura básica e equipamentos urbanos?
2. Quais as exigências que a Lei Federal 9.785/99 faz para a implantação de infraestrutura básica e
equipamentos urbanos em zonas de interesse social?
3. Quais as opções que o parcelador possui para execução das obras de infraestrutura exigidas para
um parcelamento convencional (não considerado popular)?
Gabarito
1. A Lei Federal 9.785/99 considera como infraestrutura básica os equipamentos urbanos de escoa-
mento de águas pluviais, iluminação pública, redes de esgoto sanitário e abastecimento de água
potável e de energia elétrica pública e domiciliar e as vias de circulação pavimentadas ou não.
2. A infraestrutura básica dos parcelamentos situados em zonas habitacionais declaradas por lei
como de interesse social (ZHIS) consistirá, no mínimo de:
I - vias de circulação;
II - escoamento de águas pluviais;
A cidade legal hegemônica é arquitetada pelo poder executivo que ali concentra seus investimentos, pelo poder
jurídico, organizado em torno de regras que não são universais, além da mídia de massa, principal divulgadora do
simulacro. Qualquer grande cidade brasileira apresenta uma conjunção de esforços para a proibição de novas
centralidades urbanísticas relacionadas a um consumo luxuoso e a um centro de distinção, alimentando, assim, a
valorização imobiliária, recursos do capital privado (imobiliário, lazer, cultura, comércio) e grandes doses do recurso
público destinado a investimentos. Observe-se a Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, o entorno do Rio Pinheiros, em São
Paulo, o bairro de Boa Viagem, em Recife, os arredores do Beach Park, em Fortaleza. A construção da consciência sobre a
cidade real – a dimensão da exclusão e da segregação, a repressão dos investimentos públicos, a discriminatória gestão
e regulação do uso do solo – é, sem dúvida, o primeiro passo para inverter esse quadro dando visibilidade à cidade da
maioria, uma vez que os excluídos urbanos deixaram de ser minoria.
O cenário de segregação espacial foi facilitado pela omissão do estado e construído pela ação
de proprietários de terras e agentes imobiliários ávidos por lucratividades, obtidas com a valorização
das terras. O mercado de terras caracterizou-se sempre por duas vertentes, uma pela via formal, onde
o parcelamento do solo se processa seguindo os estatutos legais e outra pelas vias da informalidade,
onde o parcelamento se dá pelo retalhamento da gleba em lotes sem o devido processo legal e à revelia
do Poder Público.
Maricato (1997) apud Gonçalves (2002) afirma que essa dinâmica existente nas cidades brasileiras,
marcada pela coexistência de atividades rurais nas bordas da cidade e a possibilidade de valorização
das terras, torna inacessível para uma grande parte da população o acesso à terra urbana produzida
por meio do mercado formal e legal. A especulação imobiliária, o custo alto da formalização dos lotea-
mentos, a concentração dos investimentos de infraestrutura e os problemas de financiamento e de
produtividade de construção são fatores que podem ser considerados responsáveis pela dificuldade ao
acesso de lotes legais.
O processo de urbanização se deu por meio de uma industrialização baseada em baixos salários e
em um mercado residencial restrito onde o custo de reprodução da força de trabalho não inclui o custo
da mercadoria habitação, fixado pelo mercado privado. Dessa forma, pode-se entender que a favela ou
o lote ilegal combinados à autoconstrução foram parte integrante do crescimento urbano sob a égide
da industrialização. O Poder Público atuou como viabilizador do processo de industrialização facilitando,
também, a ação dos especuladores por meio de investimento regressivo onde a infraestrutura alimentou
a especulação fundiária e não a democratização do acesso à terra para moradia.
Proprietários de terra e capitalistas das atividades de promoção imobiliária e construção são
um grupo real de poder e de definição das realizações orçamentárias municipais. A localização do
investimento público é orientada, em grande parte, pela perspectiva de valorização das propriedades,
somando-se a isso a ambiguidade da legislação ou sua aplicação arbitrária. O estado tolera a ocupação
de terras urbanas e não exerce o poder de polícia a ele atribuído legalmente. A invasão de terras urbanas
não é tolerada nas áreas valorizadas pelo mercado e noutras, embora o direito à invasão chegue a ser
admitido, o direito à cidade é negado à população (MARICATO, 2000).
A ilegalidade praticada na oferta de lotes para os habitantes de renda mais baixa torna-se dessa
forma, muitas vezes, oportuna para o estado que se isenta temporariamente do ônus de prover condi-
ções do acesso à moradia para esses grandes contingentes de pessoas. Schlogl (2004, p. 26) enumera
três fatores que contribuíram para a proliferação da ilegalidade:
1. A omissão do estado em construir instituições formais capazes de controlar as ocupações do solo realizadas pela
população de baixa renda;
2. O crescimento da periferia urbana, que ocorreu por meio da iniciativa privada, ou seja, do loteador, sem regulação
e reconhecimento do estado; e
3. As contradições da evolução da legislação, no sentido de aperfeiçoar seus instrumentos de planejamento e gestão
do solo urbano (sendo que alguns desses instrumentos são para coibir os loteamentos clandestinos/irregulares),
ao mesmo tempo em que o estado adota políticas de anistia e regularização desses assentamentos.
Estabelece-se, dessa forma, uma contradição nas políticas estatais, pois ao mesmo tempo em que
o estado objetiva fazer uso do seu poder de polícia e punir os agentes promotores de parcelamentos
ilegais, ele também adota meios para regularização. Rolnik (1997, p. 204) aborda essa contradição,
tentando explicá-la:
[...] a ilegalidade era tolerada para poder ser posteriormente negociada pelo estado. Uma das condições para que esse
pacto pudesse ocorrer era o estado assumir o papel de provedor e os habitantes do território ilegal, de devedores
de um favor do estado, já que do ponto de vista estritamente legal ali caberiam punições, e não responsabilidades e
direitos. O pacto com a periferia consolidou-se no contexto de redemocratização, no qual melhorias urbanas se trans-
formaram em votos e lideranças de bairro em cabos eleitorais.
Para Lima (2007) os parcelamentos ilegais causam problemas de naturezas diversas, tanto sociais
quanto urbanísticos. Os compradores dos lotes são prejudicados pela compra de lotes ilegais e, muitas
vezes, não conhecem as exigências mínimas e necessárias de um parcelamento do solo legal. Sob o
ponto de vista urbanístico, o Poder Público é prejudicado devido ao descumprimento dos parâmetros
estabelecidos para que a cidade tenha qualidade espacial (figura 1).
UNICAMP.
O parcelamento ilegal tornou-se um fator de grande impacto nas cidades e como tal deve ser
combatido buscando sua prevenção e repressão. Ao Poder Público, no entanto, é cabível a maior parte
da responsabilidade para o combate, uma vez que ele se constitui no órgão fiscalizador, impedindo
o início da implantação do parcelamento ilegal e a aplicação de medidas administrativas e judiciais,
coibindo o prosseguimento da implantação irregular ou clandestina. “Se o loteamento nem mesmo
possui projeto urbanístico aprovado pelo município, também não tem registro no Cartório de Registro
de Imóveis, o que torna a venda dos lotes e os contratos particulares respectivos ilegais e, portanto,
nulos de pleno direito, ele pode ser classificado como ilegal”.
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A.,
mais informações www.iesde.com.br
142 | Loteamentos ilegais
Apesar da presença constante da figura do parcelamento ilegal nas cidades brasileiras, faz-se
necessária uma análise crítica sobre a atuação dos estatutos legais na regulação da produção do espaço
urbano, procurando contribuir para seu aprimoramento.
Apesar dos avanços trazidos pela Lei 6.766/79 sabe-se que a construção da qualidade de vida nas
cidades passa indubitavelmente pela gestão democrática dessa norma, onde a participação da comu-
nidade pode ser considerada como um fator decisivo e preponderante.
Para Bächtold (2002, p. 24) a diferença entre os dois reside no fato da existência ou não da apro-
vação do parcelamento. Caso essa aprovação exista, o parcelamento se constitui irregular, inexistindo
a mesma, tem-se um parcelamento clandestino. O parcelamento é clandestino na medida em que o
Poder Público não tem nenhum conhecimento oficial deste, seja para seu exame ou para aprovar o
plano. A inexistência da aprovação pode decorrer tanto em função da ausência de solicitação quanto
em decorrência do indeferimento do pedido. O autor adverte que, nesse ponto, podem ser clandestinos
parcelamentos executados e não executados, desde que não haja a aprovação do Poder Público. O
parcelamento é considerado irregular quando o município ou Distrito Federal o aprova a pedido do
interessado parcelador que, registrado ou não o plano no cartório imobiliário, deixa de executá-lo ou o
executa em descompasso com a legislação vigente ou em desacordo com o ato de aprovação ou, após
a aprovação e execução regular, não o registra. O autor apresenta o quadro 1, em que as características
da classificação são esclarecidas.
Gasparini (1988, p. 130) esclarece alguns pontos sobre a questão do parcelamento irregular e seus
aspectos legais:
Não é irregular, no entanto, o parcelamento aprovado, executado e registrado nos termos e condições da legislação
vigente que, pela não ocupação dos lotes e pela ação do tempo, parece inexecutado ou irregularmente executado
(erosão e mato em toda sua área, destruição de obras de escoamento de águas pluviais etc.). A manutenção desses
equipamentos urbanos e comunitários, bem como a conservação em bom estado das ruas e praças é obrigação
do município. O parcelador, com a entrega do plano, desobriga-se dessas responsabilidades que passam à alçada
municipal. Essa obrigação coincide com a expedição, pelo município ou pelo Distrito Federal, de um termo de vistoria
e recebimento do parcelamento, hoje Termo de Verificação, previsto no inciso V, do artigo 18, da Lei do Parcelamento
do Solo Urbano.
(BÄCHTOLD, 2002)
a) Inexecutados
1) Clandestinos
b) Executados
– Inexecutados.
– Executados em contraste com a
legislação.
a) Registrados – Executados em contraste com o
Parcelamentos ilegais
ato de aprovação.
– Executados em contraste com o
ato de aprovação e com a legislação.
2) Irregulares – Inexecutados.
– Executados em contraste com a
legislação.
– Executados em contraste com o
b) Não registrados
ato de aprovação.
– Executados em contraste com o
ato de aprovação e com a legislação.
– Executados regularmente.
Texto complementar
Parcelamento Ilegal do Solo Urbano:
modalidades, regularização e controle
(BÄCHTOLD, 2002, p. 25-28)
Atividades
1. Cite três fatores que contribuíram para a propagação da ilegalidade do parcelamento nas cidades
brasileiras.
3. Explique a forma como foi construída a segregação espacial existente nas cidades brasileiras, que
culminou com a periferização das classes sociais de renda mais baixa?
Gabarito
1. A ilegalidade foi proporcionada pela omissão do estado em construir instituições formais capazes
de controlar as ocupações do solo realizadas pela população de baixa renda; pelo crescimento da
periferia urbana, que ocorreu por meio da iniciativa privada, ou seja, do loteador, sem regulação
e reconhecimento do estado; e pelas contradições da evolução da legislação, no sentido de aper-
feiçoar seus instrumentos de planejamento e gestão do solo urbano.
3. O cenário de segregação espacial foi facilitado pela omissão do estado e construído pela ação
de proprietários de terras e agentes imobiliários ávidos por lucratividades obtidas com a valori-
zação das terras. O mercado de terras caracterizou-se sempre por duas vertentes, uma pela via
formal, onde o parcelamento do solo se processa seguindo os estatutos legais e outra pelas vias
da informalidade, onde o parcelamento se dá pelo retalhamento da gleba em lotes sem o devido
processo legal e à revelia do poder público.
A proliferação de loteamentos clandestinos tem apresentado motivos que vão além da carência
de moradia para as classes de renda mais baixa. Em muitos casos a disputa por terras públicas e a
especulação imobiliária tem se agregado às reivindicações populares com o intuito de angariar vantagens
financeiras. A produção de loteamentos clandestinos, na maioria das vezes, passa por estratégias bem
definidas pelos parceladores, que envolve a abertura das vias e outras poucas obras aliadas a um
marketing de vendas agressivo. Schlogl (2004, p. 116) atenta para as estratégias estabelecidas pelos
loteadores clandestinos e que contribuem para a sua notável expansão.
A atividade de abertura de um loteamento clandestino envolve a interação entre o loteador, investidor, associação de
moradores, financiadores, proprietários de terra, políticos e setor público, formando uma organização de interesses
que tem objetivos diferentes, mas todos se beneficiam de uma meta comum: a valorização do loteamento. Os esforços
dos atores que formam a organização não se configuram como uma disputa pela localização, já que estes ocupam
locais periféricos, mas sim como uma luta reivindicatória pela infraestrutura e por equipamentos públicos e, principal-
mente pela obtenção dos registros definitivos de seu lote, o título de propriedade registrado em cartório. O sentido
dessas conquistas é diferente para cada ator. Enquanto os moradores querem, principalmente, melhorar sua condição
de moradia, o político quer votos e o loteador, investidores e os financiadores lutam por essas medidas para terem seus
lotes valorizados, não só pelas melhorias de infraestrutura urbana, de transporte, equipamentos públicos e pela futura
regularização, mas também em decorrência do adensamento da região pelo aumento populacional.
A aliança derivada dos atores por diversos tipos de interesses viabilizam a existência dos lotea-
mentos clandestinos e burla o processo legal estabelecido pela Lei de Parcelamento do Solo Urbano
(LPSU) e encarece a gestão das cidades, uma vez que, na maioria das vezes, o município termina por
realizar as obras de urbanização necessárias.
O processo legal para implantação de um parcelamento do solo requer a realização de uma série
de etapas (figura 1) que presumem a assunção de várias responsabilidades pelo parcelador. Os parcela-
dores clandestinos têm negado todo esse processo, incorrendo em diversos crimes que necessitariam
ser punidos de forma exemplar para diminuir o número de ocorrências de clandestinidade.
(BÄCHTOLD, 2002)
Requerer diretrizes por
escrito à Prefeitura, apresen-
tando planta do imóvel com
os requisitos do art. 6.º.
Elaboração do projeto
urbanístico (art. 9.º).
Expedição de alvará
Registro do loteamento
no Registro de Imóveis
(art. 18)
Título de propriedade Histórico dos títulos de Certidões negativas de Certidões dos Cartórios Cópia do ato de apro- Exemplar Declaração do
ou certidão da matrícula propriedade (art. 18, II) tributos, ações reais e de Protestos de Títulos, vação do loteamento e do contrato cônjuge do reque-
(art. 18, I) penais (art. 18, III) ações pessoais e penais, comprovante do termo padrão rente (art. 18, VII)
ônus reais (art. 18, IV) de verificação (art. 18, V) (art. 18, VI)
Publicação do edital do
pedido de registro pelo
Oficial (art. 19)
Os falsos condomínios constituem outra fraude. Proprietários de glebas promovem alienações de partes ideais em
percentuais numericamente iguais ou muito próximos, de forma sucessiva, formando condomínio pela vontade de
uma só pessoa com outras, sem nenhuma afinidade familiar ou inter-relação, em escala empresarial, mediante contratos
padronizados [...]. As escrituras de venda e compra das “frações ideais” são registradas no serviço imobiliário de maneira
sequencial, em uma mesma matrícula. Elas não trazem a localização da parte adquirida, que só aparece na contratação,
quando são exibidas plantas indicativas do local da “fração ideal”. No plano fático, assim, o terreno do “condômino” se
apresenta como parte certa demarcada, localizada, cercada e destacada do todo, com frente para as ruas abertas pelo
proprietário originário. Portanto, sem relação com o condomínio ordinário [...].
A figura 3 mostra a organização entre os atores para produção dos loteamentos clandestinos
evidenciando o esquema para burlar a LPSU. As estratégias do parcelador clandestino envolvem, muitas
vezes, a presença de loteadores “laranjas” com o intuito de encobrir os verdadeiros mantenedores do
processo. As associações de moradores, uma vez estabelecidas pelos moradores dos primeiros lotes
vendidos, cumprem o papel de pressionar a administração pública para implantação de infraestrutura.
(SCHLOGL, 2004)
Proprietário da gleba Loteador “laranja” Financiador Associações Moradores e
(registro em cartório) “dono do processo” de moradores investidores
Comprar gleba
Vende a terra
Registra gleba
nome loteador,
planeja ocupação
Vende lotes
Organiza a ocupação
É bastante rico o rol de estratégias desenvolvidas pelos parceladores clandestinos para viabilizar
os empreendimentos e burlar as leis e envolvem, desde a cooptação de sindicatos e cooperativas, até
os aspectos inerentes ao registro da propriedade no cartório. Schlogl (2004, p. 63) assim refere-se às
artimanhas relativas aos aspectos cartoriais.
Os loteadores/compradores, por meio dos recursos financeiros emprestados pelos financiadores do loteamento,
compram a gleba de terra pelo contrato de compra e venda registrado em cartório. A partir desse contrato o proprietário
que vendeu a gleba não responde criminalmente perante a justiça pela infração e sim o comprador/loteador citado no
referido contrato. A escritura da gleba, quando esta não é quitada, continua em nome do antigo proprietário, e, quando
ela é quitada, ocorre a transferência formalizada no Cartório de Registros de Imóveis em nome do loteador.
de lixo em locais inadequados, pela ausência da coleta pública, o que pode ocasionar proliferação de
doenças por meio de seus transmissores. Finalmente destaca-se a grande sobrecarga nos custos aos
cofres públicos, pois ao Poder Público caberá a implantação da infraestrutura.
A ocupação clandestina de áreas de mananciais e áreas de proteção ambiental, além dos aspectos
da degradação do meio ambiente, muitas vezes oferece riscos à população devido a possibilidade de
deslizamentos de terra, afundamentos, inundações e outros problemas. O loteamento clandestino
denominado Vila Viçosa (figura 5), em Porto Alegre (RS) mostra esses problemas oriundos desse tipo de
ocupação. A figura 5 mostra a ocupação da área de preservação ambiental por lote e até mesmo uma
escola, desrespeitando a faixa de trinta metros prevista na legislação e inviabilizando um processo de
regularização empreendido pelas autoridades competentes.
Google Earth.
Figura 5 – Loteamento clandestino Vila Viçosa - Porto Alegre (RS), com destaque para a ocupação inadequada em áreas
de risco e supressão da vegetação.
O conjunto de medidas citado pelo autor requer uma grande reflexão pela sociedade em prol da
construção da cidade que se quer. Essas medidas somente virão por meio de uma gestão democrática,
onde a presença do estado como responsável pelos meios de viabilização da habitação nas cidades e
pela organização espacial se fará indispensável.
Texto complementar
Ocupação irregular do solo urbano: o papel da legislação federal
(PINTO, 2007, p.1-4)
Introdução
O parcelamento do solo constitui o instituto jurídico pelo qual se realiza a primeira e mais
importante etapa de construção do tecido urbano, que é a da urbanização. Nessa etapa, define-se o
desenho urbano, constituído pela localização das áreas públicas destinadas a praças, equipamentos
urbanos e comunitários, traçado do sistema viário e configuração dos lotes. Os lotes definem a
localização precisa das edificações que serão sobre eles construídas, nos termos fixados pelo Plano
Diretor. Assim sendo, uma boa gestão do parcelamento do solo é condição indispensável para que
a cidade tenha um crescimento harmônico, que respeite o meio ambiente e propicie qualidade de
vida para os moradores.
Entretanto, a maior parte do território urbano do país tem sido constituído mediante
parcelamento irregular do solo. São os chamados “loteamentos clandestinos”, empreendimentos
realizados à margem da legislação urbanística, ambiental, civil, penal e registrária, em que se abrem
ruas e demarcam lotes sem qualquer controle do Poder Público. Estes são em seguida alienados a
terceiros, que rapidamente iniciam a construção de suas casas. Os assentamentos assim constituídos
não obedecem a qualquer planejamento urbanístico e são totalmente carentes de infraestrutura.
Os loteamentos clandestinos podem ser promovidos tanto pelos proprietários do terreno
quanto por terceiros. No primeiro caso, busca-se escapar dos procedimentos e ônus contidos
nas leis federais, estaduais e municipais, tais como destinação de áreas públicas e realização de
obras de infraestrutura. No segundo, trata-se da chamada “grilagem” de terras, em que pessoas
inescrupulosas vendem terrenos alheios como se lhes pertencessem.
Nem sempre é imediata a identificação da grilagem de terras. Em virtude da fragilidade do
sistema de registros de imóveis, muitas vezes apresentam-se mais de uma pessoa com títulos de
propriedade sobre o mesmo terreno. É comum também a existência de títulos com descrições vagas
do imóvel, que não permitem sua precisa delimitação.
Independentemente desses aspectos civis, os moradores de loteamentos clandestinos não
são proprietários de seus terrenos, mesmo quando o loteador é o proprietário da gleba original.
Isso ocorre porque a regularidade urbanística do empreendimento é sempre uma condição para
seu registro em cartório, momento em que são individualizados os lotes, mediante abertura das
respectivas matrículas. Antes do registro, os lotes ainda não existem juridicamente e, portanto, não
constituem objeto suscetível de ser alienado.
Atividades
1. Como se processa a produção de loteamentos clandestinos?
Gabarito
1. A produção de loteamentos clandestinos pode se dar por meio de proprietários do terreno ou de
terceiros. Para os loteamentos promovidos pelos próprios proprietários, presume-se que eles o
fazem para verem-se livres das despesas oriundas da implantação da infraestrutura e a reserva de
áreas públicas previstas nas leis federais, estaduais e municipais. No caso dos loteamentos serem
produzidos por terceiros, trata-se de uma operação de “grilagem” de terras, ou seja, venda de ter-
ras que não pertencem àqueles que promovem o loteamento.
Essa dualidade presente nas cidades reforça a desigualdade social e a omissão do estado nas
questões relativas à habitação, e o controle das expansões urbanas reforça a utilização do solo como
moeda para valorização imobiliária utilizando-se de práticas especulativas e desvirtuando a função
social da propriedade. O parcelamento ilegal não se constitui em um acontecimento atual, essas
práticas sempre estiveram presentes ao longo do processo de urbanização. A promulgação das leis e
regulamentos para o parcelamento em muitos aspectos, em vez de coibirem a prática ilegal, tornam-nas
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A.,
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162 | Loteamentos irregulares
ainda mais presentes. A grande participação do parcelamento do solo para a expansão da cidade torna
esse instrumento de fundamental importância para o planejamento e desenvolvimento.
Os loteamentos urbanos modificam a paisagem da gleba, até então indivisa, em espaço integrado
à cidade, como instrumento de sua expansão e atribuem ao solo uma qualificação urbana. Matriz de
um novo bairro residencial, o loteamento torna-se um patrimônio da comunidade, afetando a cidade,
criando demandas para seus equipamentos urbanos, sua malha viária, toda a infraestrutura e os serviços
públicos da urbe. Dessa forma, o loteamento pode ser considerado um núcleo urbano de interesse
comum a todos. A implantação de um loteamento tem direta influência no meio ambiente urbano,
uma vez que o mesmo causa impactos a toda a coletividade e o não seguimento de normas básicas de
planejamento pode gerar malefícios que afetarão toda a sociedade (FEPAM, 2007).
Por outro lado, o parcelamento do solo, por gerar frações de terra que são demandadas pela popu-
lação, toma um caráter de instrumento de produção do espaço urbano, dessa forma insere-se no rol do
capitalismo. Gonçalves (2002) relata que o loteamento verdadeiramente se constitui em uma alternativa
extremamente sedutora de valorização do capital, devido aos ganhos que possibilita. A terra pode ser
considerada o principal “bem de raiz” por ser indestrutível, diferenciável (cada lote tem características
próprias de infraestrutura, paisagem, acesso a lazer etc.). A característica de escassez que a terra possui
e sua demanda garantida, mas não ofertada, a colocam como um produto de grande atratividade para
comercialização.
Apesar de apresentar um caráter de bem de consumo, o loteamento possui objetivos muito mais
nobres de possibilitar o desenvolvimento da cidade de forma harmônica e possibilitar a implantação
de habitações, edifícios destinados a atividades econômicas e sociais, permitir a livre circulação pelos
seus espaços públicos, entre outras funções. Além desses aspectos o parcelamento constituído por
loteamentos ou desmembramentos possui um indissociável caráter jurídico. Machado (1995, p. 258)
assim trata o caráter abrangente dos loteamentos:
O loteamento não pode e não deve ser entendido apenas como um acontecimento jurídico pelo qual se fraciona a
propriedade e se criam direitos decorrentes dos contratos bilaterais entre o loteador e o adquirente do lote. O lotea-
mento é um fato da mais alta relevância na vida das comunidades e deve ser tratado como um todo, isto é, deve ter um
ordenamento jurídico tal que atenda às exigências urbanísticas ou rurais da região, da segurança aos compradores e
da atividade lucrativa do proprietário.
O relacionamento entre parcelamento do solo e produção capitalista tem raízes que alcançam
diversos fatores. Gonçalves (2002) pondera que o preço da terra no Brasil é construído socialmente e
possui relações fundamentais com os aspectos históricos, uma vez que eles apresentam as raízes na
especulação com terras, na formação do mercado de terras, no processo de industrialização que produziu
uma urbanização acelerada, e acirrou a disputa pelo uso do solo e a legislação e suas consequências.
A situação do parcelamento do solo urbano encontrado nas cidades brasileiras, notadamente nas
metrópoles, revela um quadro bastante difícil sob o ponto de vista das alternativas a serem viabilizadas
para melhoria da qualidade de vida. O exemplo de São Paulo, relatado a seguir, mostra a proliferação
dos loteamentos irregulares na capital paulista e possibilita uma leitura da gravidade do quadro.
Estimativas feitas em 1979 davam conta de que existia no município um número aproximado de 4 000 loteamentos
irregulares. Esses loteamentos apresentavam a seguinte situação com relações à legislação municipal: “cerca de
500 loteamentos (12%) com arruamentos aprovados, sendo a maioria das ruas oficializadas, porém carecendo de
averbação ou doação dos logradouros públicos à Prefeitura; cerca de 1 000 loteamentos (24%) com arruamento
aprovado e executado, porém com pendência administrativa ou técnica; cerca de 1 250 loteamentos (31%) executados
sem licença prévia da Prefeitura, inicialmente chamados clandestinos, porém em processo de regularização; cerca de
1 200 loteamentos (30%) com arruamentos executado sem licença prévia da Prefeitura inicialmente considerados
clandestinos, não existindo processo de regularização; cerca de 100 loteamentos (2,5%) com problemas graves de
domínio de posse (EMURB, 1979, p. 12-13 apud GROSTEIN, 1987, p. 476).
Embora essa situação evidencie um quadro bastante grave do ponto de vista de organização
espacial, ainda é possível buscar soluções para o desenvolvimento urbano de forma mais justa por
meio da gestão democrática da cidade e a implementação das medidas recomendadas pelo Estatuto
da Cidade. Para que isso seja levado a cabo é necessária a conscientização de toda a sociedade de uma
revisão da distribuição de renda e das desigualdades sociais, possibilitando o acesso de moradia de uma
forma mais fácil e a punição daqueles que utilizam a terra unicamente como moeda para valorização,
esquecendo-se da sua indiscutível função social.
O Decreto-Lei Federal 58/37 tinha como objetivo eliminar a prática de loteamento de terras sem titularidade compro-
vada. Foi apresentado no Congresso Nacional, em 1935, como Projeto de Lei, visando regulamentar o loteamento e a
compra e venda de terrenos em prestações. Obrigava o loteador e apresentar no Cartório de Registro de Imóveis, antes
de anunciar a venda dos lotes, informações sobre o objeto de parcelamento, como a relação cronológica dos títulos
de domínio, o plano do loteamento, a planta assinada pelo engenheiro e outros documentos. Além disso, o plano e a
planta deveriam ser submetidos à prévia aprovação da Prefeitura Municipal e, como garantia ao comprador, assim que
as prestações fossem quitadas, exigia ele do vendedor a escritura definitiva de compra e venda. Como não continha
qualquer tipo de sanção penal ao loteador, acarretou a proliferação de loteamentos clandestinos e irregularidades de
projeto e comercialização de lotes. Causou assim, problemas ao Cartório para registro de propriedade, uma vez que
não eram regularizados, mas o fizeram justificando a atitude pelo fato que a lei fora feita para benefício dos compra-
dores de lotes e não teria sentido prejudicá-los. Com o grande número de loteamentos irregulares, também ficou para
o Poder Público o ônus da execução da infraestrutura dessas glebas e podemos afirmar que o desenvolvimento das
cidades brasileiras ocorreu à margem do Decreto-Lei Federal 58/37, pois não continha regulamentação urbanística nos
procedimentos de parcelamento do solo, mas simplesmente, a proteção dos compradores de lotes à prestação.
A situação do mercado de lotes formais no Brasil somente pode ser analisada incluindo o fato do
acirramento das desigualdades na distribuição de renda que excluem do mercado uma grande parcela
da população. Essa condição empurrou grande parte da população que ansiava por moradia para o
consumo de formas alternativas de atendimento à demanda, o que inclui loteamentos irregulares,
favelas, ocupação ilegal e outras formas de moradia que não atendam às legislações e normas existentes
(BARREIROS; ABIKO, 1998, p. 22).
Os parcelamentos ilegais denominados de irregulares podem se dividir naqueles que são apro-
vados pela prefeitura e posteriormente são registrados ou não. Quando registrados os parcelamentos
podem ser considerados irregulares quando forem inexecutados, executados em desconforme com a
legislação ou com o plano aprovado pela prefeitura e com a legislação. Quando os parcelamentos forem
aprovados e não registrados, isso por si só já se constitui uma irregularidade, contudo podem somar a
isso o fato de não serem executados, executado em desconforme com a legislação, executados em des-
conforme com o plano aprovado e com a legislação ou executados de forma irregular.
A existência jurídica do parcelamento é dada pela sua fidelidade aos estatudos estabelecidos
com o fim precípuo de garantir um mínimo de organização espacial para a cidade. Caso a elaboração
e a implantação do parcelamento venha a ferir as disposições legais, isso poderá enquadrá-lo como
clandestino ou irregular. Vários são os autores que buscam conceituar o parcelamento do solo urbano
irregular, entre eles pode-se figurar:
Lima (2007, p. 6), assim coloca a questão dos loteamentos irregulares:
Se o loteamento nem mesmo projeto urbanístico aprovado pelo município possui, também não tem registro no
Cartório de Registro de Imóveis, o que torna a venda dos lotes e os contratos particulares respectivos ilegais e, portanto,
nulos de pleno direito. De fato, se o loteamento não foi aprovado pelo Poder Público, nem apresenta licenciamento
ambiental, nem tampouco dispõe do indispensável registro no Cartório de Registro de Imóveis, o empreendimento
não tem existência de direito, é ilegal e clandestino. Se o principal (o loteamento) não goza de existência à luz da ordem
jurídica, o acessório (os lotes resultantes da subdivisão da gleba original e do loteamento) resta eivado do mesmo vício
de ilegalidade.
Silva (2000, p. 330), ao abordar o assunto dos loteamentos irregulares faz a seguinte constatação:
(b) os irregulares, que são aqueles aprovados pela prefeitura, mas que não foram inscritos, ou o forma,
mas são executados em desconformidade com o plano e as plantas aprovadas.
O Loteamento irregular é assim conceituado por Grazia e Leão Jr. (2002, p. 61)
Loteamento irregular é aquele loteamento cujo loteador, em tese, o proprietário da terra e cujo projeto foi aprovado
pela prefeitura, o qual, todavia, não foi devidamente executado – em geral são aqueles sem obras de infraestrutura.
Pode ocorrer também que o loteador tenha apenas apresentado o projeto para aprovação na prefeitura, sem atender
às outras etapas necessárias ao cumprimento da Lei 6.766/79.
As estratégias utilizadas na proliferação dos loteamentos ilegais nas cidades do Brasil sofreram
grandes modificações, seja para se adaptar às crescentes demandas, seja para burlar as novas exigências
estabelecidas nas legislações. As iniciativas de implantação de loteamentos irregulares e clandestinos,
que antes se limitavam aos proprietários de terras ou seus prepostos, a partir das décadas de 1980
e 1990, em muitos casos, incluiram organizações populares em alianças com empreendedores para
lançarem parcelamentos ilegais. Lago (2007, p. 9) mostra essa situação na cidade do Rio de Janeiro:
Dois critérios correlacionados servem para definir um assentamento popular como “loteamento”, independentemente
de sua situação jurídica: a compra do lote, portanto, a existência do mercado e a presença de um agente econômico
– o loteador – responsável pelo empreendimento. Grande parte dos loteamentos populares no Rio de Janeiro foram
implementados por agentes descapitalizados que realizavam a operação por etapas, sem investir previamente grande
soma de recursos. Desse universo, parte significativa tornou-se “regular” e entre os loteamentos que permaneceram
ilegais, parte entrou na categoria de “irregular” (projeto aprovado na prefeitura, mas sem a conclusão das obras exigidas
pela lei) e parte na categoria de “clandestino” (sem projeto aprovado). Quanto à forma de comercialização, a prática era,
até o início do processo inflacionário mais acelerado na década de 1980, a venda dos lotes através de prestações pré-
-fixadas. Foi essa forma de produção que sofreu retração na década de 1980. No entanto, começaram a se difundir, nos
anos 1990 novas formas de aquisição de lote pelas camadas de baixa renda, onde o loteador passou a ter o papel de
gerenciador do processo de ocupação ilegal de uma gleba a ser apropriada por um grupo de pessoas. Há um “acordo”
entre o loteador e os futuros moradores no que se refere à não titulação da propriedade e ao não cumprimento das
exigências urbanísticas.
Parágrafo único - Às ações e intervenções de que trata este artigo não será exigível documentação que não seja a
mínima necessária e indispensável aos registros no cartório competente, inclusive sob a forma de certidões, vedadas
as exigências e as sanções pertinentes a realização de obras e serviços, ou que visem prevenir questões de domínio de
glebas, que se presumirão asseguradas pelo Poder Público respectivo.
Texto complementar
Anotações sobre os loteamentos irregulares
(CARVALHO, 2008, p. 1-3)
Um dos problemas mais graves estudados no direito urbanístico e no direito municipal, muitas
vezes com reflexo no direito ambiental, é o dos loteamentos irregulares, que proliferam nos grandes
centros urbanos, à conta da especulação e da carência de oferta imobiliária e, lamentavelmente,
também por força da grilagem de terras públicas.
Com efeito, as consequências das obras de implantação de parcelamentos irregulares do solo
têm causado, em alguns casos, graves danos ao meio ambiente, dada a execução de todo tipo de
terraplanagem e congêneres sem o inafastável e prévio licenciamento ambiental, além da inexis-
tência de condições mínimas sanitárias, o que incentiva o lançamento de detritos sólidos e esgotos
nos rios e lagos naturais, sem mencionar a falta de rede de coleta de águas pluviais e o correlato
risco de enchentes e desabamentos nesses locais, cujas atividades, em geral, representam prejuízos
à fauna, à flora e a toda a biota ali existente, às vezes de forma irreparável.
Em meio a esse torvelinho de irregularidades, sob a ótica urbanística e ambiental, surgem as
controvérsias pelo fato de os adquirentes dos lotes desses parcelamentos clandestinos exigirem do
Município ou do Distrito Federal a regularização do empreendimento ilícito, haja vista que os com-
pradores desses lotes, em vez de buscar o ressarcimento dos prejuízos junto ao loteador que lhes
vendeu as parcelas, pressionam o Poder Público e o demandam em juízo para resolver situações de
fato tormentosas.
A questão não é desconhecida da doutrina, como verbera o professor José Afonso da Silva1:
Esses loteamentos (sentido amplo) ilegais são de duas espécies: a) os clandestinos, que são aqueles que não foram
aprovados pela prefeitura municipal... o loteamento clandestino constitui, ainda, uma das pragas mais daninhas
do urbanismo brasileiro. loteadores parcelam terrenos de que, não raro, não têm título de domínio, por isso não
conseguem a aprovação de plano, quando se dignam apresentá-lo à prefeitura, pois, o comum é que sequer se
preocupem com essa providência, que é onerosa, inclusive porque demanda a transferência de áreas de logra-
douros públicos e outras ao domínio público. Feito o loteamento, nessas condições, põem-se os lotes à venda,
geralmente para pessoas de rendas modestas, que, de uma hora para outra, perdem seu terreno e a casa que nele
ergueram, também clandestinamente, porque não tinham documentos que lhes permitissem obter a competente
licença para edificar no lote.
O que é, afinal, o parcelamento do solo? É a atividade do proprietário que subdivide uma gleba
de terra em parcelas menores, transformando a gleba original parcelada em lotes novos. Parcela-
mento é gênero de que são espécies o loteamento e o desmembramento.
A própria Lei Federal 6.766/79 (Parcelamento do Solo Urbano) conceitua as duas figuras.
Dispõe o art. 2.º da Lei Federal 6.766/79 (Lei do Parcelamento do Solo para fins urbanos):
Art. 2.º O parcelamento do solo urbano poderá ser feito mediante loteamento ou desmembramento, observadas
as disposições desta Lei e das legislações estaduais e municipais pertinentes.
§1.º Considera-se loteamento a subdivisão da gleba em lotes destinados à edificação, com abertura de novas vias
de circulação, de logradouros públicos ou prolongamento, modificação ou ampliação das vias existentes “.
§2.º Considera-se desmembramento a subdivisão de gleba em lotes destinados a edificação, com aproveitamento
do sistema viário existente, desde que não implique a abertura de novas vias e logradouros públicos, nem no
prolongamento, modificação ou ampliação dos já existentes.
Registre-se que a União tem competência para editar normais gerais, enquanto os Estados e
Municípios podem estabelecer suas regras, desde que não conflitem com as disposições gerais de
lei federal, haja vista tratar-se de competência concorrente sobre direito urbanístico (art. 24, I e §§1.º
a 4.º, Constituição Federal de 1988).
A diferença básica entre loteamento e desmembramento é que, no primeiro, abrem-se novas
vias e logradouros públicos, enquanto no segundo não. No presente artigo, contudo, ater-se-á à
figura dos loteamentos, particularmente os irregulares.
O interessado em promover um loteamento do solo urbano deve, desde que não sujeito o ter-
reno a ser parcelado às restrições impeditivas dos incisos I a V do art. 3.º da Lei 6.766/79, apresentar
projeto à Prefeitura Municipal ou ao Distrito Federal, com a obediência dos requisitos dos artigos
4.º, 5.º e 6.º da Lei do Parcelamento do Solo Urbano.
1 Direito Urbanístico Brasileiro. 2. ed. São Paulo: Malheiros Editores, 1995, p. 307.
2 Direito Ambiental Brasileiro. 5. ed. São Paulo: Malheiros Editores.
Atividades
1. Como se processa os parcelamentos ilegais denominados irregulares?
2. Explique como se deu o processo de implantação de loteamentos irregulares desde 1937 até 2007.
Gabarito
1. Podem se dividir naqueles que são aprovados pela prefeitura e, posteriormente, são registrados
ou não registrados. Quando registrados os parcelamentos podem ser considerados irregulares
se forem inexecutados, executados em desconforme com a legislação ou com o plano aprovado
pela prefeitura e com a legislação. Quando os parcelamentos forem aprovados e não registrados,
isso por si só já se constitui uma irregularidade, contudo podem somar a isso o fato de não serem
executados, executados em desconforme com a legislação, executados em desconforme com o
plano aprovado e com a legislação ou executados e forma irregular.
2. Em 1937, o Decreto-Lei Federal 58 foi criado com o objetivo de eliminar a prática de loteamento de
terras sem titularidade comprovada. Em 1935, o mesmo foi apresentado no Congresso Nacional
como Projeto de Lei que visa regulamentar o loteamento e a compra e venda de terrenos em
prestações. Contudo, mesmo após o decreto muitos loteadores mantiveram o firme propósito da
implantação de loteamentos irregulares e clandestinos. Em 1979, surge a Lei Federal 6.766 com
o objetivo de preencher as lacunas deixadas pelo estatuto anterior, naquilo que se referia à falta
de parâmetros urbanísticos para o projeto de parcelamento e de melhores esclarecimentos sobre
a fase jurídica. No entanto, esse estatuto, embora possa ser considerado um grande avanço nos
campos do direito urbanístico brasileiro, hoje, a realidade de conflitos espaciais urbanos já esta-
belecida no país criou dificuldades para sua aplicação plena.
O conjunto de fatores apontado por Fernandes teve seu desenvolvimento principalmente entre
as décadas de 1930 e 1980, no entanto as práticas dos agentes componentes desse conjunto ainda
continuam presentes e ativas, influenciando negativamente para a produção de uma cidade mais justa
e equilibrada espacialmente. A irregularidade na ocupação do espaço urbano possui características
diversas dependendo dos aspectos urbanísticos e legais. Costa (2007) relata que as irregularidades mais
comuns são constituídas por favelas, ocupações, loteamentos clandestinos ou irregulares e cortiços,
no entanto, o próprio estado pode incorrer em irregularidades quando inadvertidamente implanta
loteamentos, conjuntos habitacionais em desconformidade com as leis. Loureiro (2007) apud Paiva
(2007, p. 3) entende-se por loteamentos irregulares e clandestinos:
[...] aqueles que, embora aprovados pela Prefeitura e demais órgãos estaduais e federais, quando necessário, fisicamente
não são executados, ou são executados em descompasso com a legislação ou com atos de aprovação.
Por sua vez, os loteamentos clandestinos são aqueles que não obtiveram a aprovação ou autorização administrativa dos
órgãos competentes, incluídos aí não só a Prefeitura, como também entes estaduais e federais, quando necessário.
[...]
Os loteamentos irregulares podem ou não estar registrados. Às vezes, encontram-se formalmente perfeitos, porque
contêm nos respectivos processos todos os documentos e autorizações necessárias ao parcelamento. Fisicamente,
porém, as obras previstas podem não ter sido executadas, ou executadas em desacordo com o próprio projeto, ou em
ofensa a outras normas cogentes correlatas ao parcelamento. Via de regra, se pode falar em graduação dos vícios que
maculam o parcelamento do solo.
[...]
O loteamento clandestino, assim, padeceria de vícios mais graves do que o loteamento meramente irregular. Faltam
ao primeiro não só o registro, ou a implantação de acordo com as normas de regência, mas a própria aprovação
urbanística. Muitas vezes, porém, a irregularidade fática não guarda exata simetria com a irregularidade jurídica.
Pode perfeitamente ocorrer de o loteamento clandestino ser passível de regularização, ao contrário do loteamento
meramente irregular. No clandestino podem estar respeitadas, fisicamente, as normas de caráter urbanístico,
enquanto que o irregular, pode ser implantado em total desacordo com o projeto e com o registro, estando, assim,
ferindo abruptamente a lei.
Outras classificações de ocupações irregulares derivam dos aspectos urbanísticos das áreas
ocupadas e dos problemas gerados por elas. Segundo Costa (2007, p. 14), essas irregularidades podem
se dar a partir da ocupação das seguintes áreas:
Áreas loteadas e ainda não ocupadas. Muitas vezes se desconhece o traçado oficial do loteamento, ocupando-se
áreas destinadas para ruas, áreas verdes e equipamentos comunitários. Também é comum as casas serem construídas
em desconformidade com a divisão dos lotes.
Áreas alagadas. Muitas cidades no Brasil foram tomadas às águas. É comum o aterramento de grandes áreas de man-
guezal ou charco. Geralmente essas áreas são terrenos de marinha ou acrescidos de marinha (terrenos da União, em
faixas litorâneas), aforados ou não a particulares.
Áreas de preservação ambiental. As áreas mais atingidas são as áreas de mananciais e as margens de rios e canais,
mas existem inúmeras ocupações em serras, restingas, dunas e mangues.
Áreas de risco. A baixa oferta de lotes e casas para os pobres faz com que ocorram ocupações em terrenos de altas
declividades, sob redes de alta tensão, ou nas faixas de domínio de rodovias, gasodutos e troncos de distribuição de
água ou coleta de esgotos.
A lei de parcelamento do solo urbano se constitui no estatuto legal para a implantação de lotea-
mentos e desmembramento, sua não observância pode gerar grandes problemas para a cidade e o
infrator deverá responder pelos danos causados e pelo desrespeito à legislação. Embora a lei de parcela-
mento tenha sido indiscutivelmente útil para a formalização dos requisitos mínimos, tanto urbanísticos
como legais de sua existência, alguns autores questionam sua eficácia no tocante à burocracia estabe-
lecida para o processo e o esquecimento da realidade dos parcelamentos irregulares e clandestinos, já
habitados, existentes à época da promulgação da lei. Esses autores, entre eles Paiva (2007, p. 3), debitam
parte da proliferação das irregulares a essas peculiaridades da lei.
Tudo isso devido à previsão legal que constava da Lei 6.766/79, alterada pela Lei 9.785/99, que pouco contribuía para
a regularização de loteamentos, uma vez que exigia a destinação de 35% da área loteada ao Poder Público municipal,
inviabilizando principalmente os parcelamentos destinados a populações de baixa renda pelo encarecimento dos lotes.
Hoje, a nova redação do artigo 4.º, da Lei 6.766/79 acabou com a rigidez anteriormente prevista, quando estabelece
que a legislação municipal fixará a proporção de áreas destinadas a sistemas de circulação, equipamentos urbanos e
comunitários e espaços livres de uso público, para cada zona em onde se situem.
Por outro lado, há também questionamentos sobre a regularização enquanto possível alimenta-
dora de mais ilegalidade, se for encarada de forma unilateral e somente pelo ponto de vista da existência
da irregularidade em si, sem considerar seus fatos geradores de forma ampla. Pinto (2007, p. 2) apresenta
argumentos sobre essa necessidade da regularização ser compreendida mais amplamente:
Mesmo quando compram terrenos de um empreendedor, a maioria dos moradores de assentamentos informais tem
consciência de sua ilegalidade e das carências de infraestrutura. Essa condição é aceita em função dos preços mais
baixos. Ocorre que os terrenos sofrem uma valorização extraordinária durante a urbanização e regularização do assen-
tamento. À medida que os terrenos se valorizam, grande parte dos moradores originais os vendem para pessoas de
renda mais alta e buscam novos assentamentos informais em que possam reiniciar o processo.
Não se trata apenas de um passivo a ser coberto por investimentos em urbanização e regularização fundiária. Tampouco
se pode atribuir a irregularidade urbana exclusivamente à pobreza da população e à falta de uma política habitacional.
Nenhuma política voltada para os atuais assentamentos atingirá seus objetivos enquanto não for implementado um
conjunto de medidas voltadas para impedir o surgimento de novos assentamentos clandestinos.
Apesar dos aspectos acima relatados, a regularização de parcelamentos irregulares possui estatutos
legais que garantem sua existência. Essa regularização compreende um rol de ações que devem ser
executadas para tornar o parcelamento realizado ilegalmente devidamente ajustado à lei. Dessa forma,
os objetivos da regularização podem ser resumidos nas questões urbanísticas, administrativas e civis.
Gasparini (1988, p. 144) especifica esses objetivos:
A finalidade da regularização do loteamento é o saneamento (a correção) da situação ilegal (anômala) e esse sanea-
mento é (a) urbanístico (correção da situação física existente, isto é, quanto às vias de circulação, infraestrutura etc.,
exigindo investimentos do Poder Público [na prática]), (b) administrativo (regularização da situação do parcelamento
perante os órgãos públicos administrativos) e (c) civil (regularização da situação registrária e do direito real de aquisição
ou do domínio dos adquirentes).
Bächtold (2002) revela que em uma primeira aproximação, ao interpretar a lei de parcelamento
do solo urbano pode-se deduzir que a regularização do loteamento ilegal cabe, inicialmente, ao
loteador e, na omissão deste, ao município, ou quando for o caso, ao Distrito Federal. A Lei 6.766/79
explicita no Capítulo VIII – disposições gerais, artigos 37 e 38:
Art. 37. É vedado vender ou prometer vender parcela de loteamento e desmembramento não registrado.
Art. 38. Verificado que o loteamento ou desmembramento não se acha registrado ou regularmente executado ou
notificado pela Prefeitura Municipal, ou pelo Distrito Federal quando for o caso, deverá o adquirente do lote suspender
o pagamento das prestações restantes e notificar o loteador para suprir a falta.
As disposições legais quando aplicadas requerem uma interpretação que remete à prática legal.
Assim Gasparini (1988, p. 132) vê a questão:
Essa disposição possibilita ao adquirente do lote suspender o pagamento das prestações restantes quando: a) o
parcelamento não se achar registrado; b) o parcelamento não estiver regularmente executado; c) for notificado pelo
Município, ou pelo Distrito Federal nos casos que lhe couber, para suspender os pagamentos referentes às prestações
vincendas. Observa-se que, nas duas primeiras hipóteses, o exercício do direito de suspender o referido pagamento
independe de qualquer manifestação prévia de quem quer que seja. [...] O mesmo não ocorre em relação à última
hipótese. O direito, no caso, só poderá ser exercitado se, pelo município, ou pelo Distrito Federal, for notificado para
suspender o pagamento das prestações avençadas e ainda não vencidas.
§4.o - Após o reconhecimento judicial de regularidade do loteamento, o loteador notificará os adquirentes dos lotes,
por intermédio do registro de imóveis competente, para que passem a pagar diretamente as prestações restantes, a
contar da data da notificação.
§5o. - No caso de o loteador deixar de atender à notificação até o vencimento do prazo contratual, ou quando o lotea-
mento ou desmembramento for regularizado pela Prefeitura Municipal, ou pelo Distrito Federal quando for o caso, nos
termos do art. 40 desta lei, o loteador não poderá, a qualquer título, exigir o recebimento das prestações depositadas.
[...]
Art. 49. As intimações e notificações previstas nesta lei deverão ser feitas pessoalmente ao intimado ou notificado, que
assinará o comprovante do recebimento, e poderão igualmente ser promovidas por meio dos cartórios de registro de
títulos e documentos da situação da comarca da situação do imóvel ou do domicílio de quem deva recebê-las.
§1.o - Se o destinatário se recusar a dar recibo ou se furtar ao recebimento, ou se for desconhecidos o seu para-
deiro, o funcionário incumbido da diligência informará esta circunstância ao oficial competente que a certificará,
sob sua responsabilidade.
§2.o - Certificada a ocorrência dos fatos mencionados no parágrafo anterior, a intimação ou notificação será feita por
edital na forma desta lei, começando o prazo a ocorrer 10 (dez) dias após a última publicação.
Embora a lei de parcelamento não tenha se manifestado quanto à fixação do prazo para que
o parcelador realizasse a regularização, podem ser levados em consideração tanto o termo final do
contrato de compromisso de compra e venda celebrado com o adquirente notificante quanto o período
concedido expressamente na notificação, para a sua realização (GASPARINI, 1988).
Art. 40. A Prefeitura Municipal, ou o Distrito Federal quando for o caso, se desatendida pelo loteador a notificação, poderá
regularizar loteamento ou desmembramento não autorizado ou executado sem observância das determinações do ato
administrativo de licença, para evitar lesão aos seus padrões de desenvolvimento urbano e na defesa dos adquirentes
de lotes.
§1.o - A Prefeitura Municipal, ou o Distrito Federal quando for o caso, que promover a regularização, na forma deste
artigo, obterá judicialmente o levantamento das prestações depositadas, com os respectivos acréscimos de correção
monetária e juros, nos termos do §1.o – do art. 38 desta lei, a título de ressarcimento das importâncias despendidas com
equipamentos urbanos ou expropriações necessárias para regularizar o loteamento ou desmembramento.
§2.o - As importâncias despendidas pela Prefeitura Municipal, pelo Distrito Federal quando for o caso, para regularizar
o loteamento ou desmembramento, caso não sejam integralmente ressarcidas conforme o disposto no parágrafo
anterior, serão exigidas, na parte faltante, do loteador, aplicando-se o disposto no art. 47 desta lei.
§3.o - No caso do loteador não cumprir o estabelecido no parágrafo anterior, a Prefeitura Municipal, ou o Distrito Federal
quando for o caso, poderá receber as prestações dos adquirentes, até o valor devido.
§4.o - A Prefeitura Municipal, ou o Distrito Federal quando for o caso, para assegurar a regularização do loteamento
ou desmembramento, bem como o ressarcimento integral de importâncias despendidas, ou a despender, poderá
promover judicialmente os procedimentos cautelares necessários aos fins colimados.
Campello apud Bächtold (2002) entende que o termo “poderá” utilizado no artigo 40 da Lei
6.766/79 com relação à regularização de loteamento pela Prefeitura Municipal, não deve ser entendido
como impositivo, mas sim como uma possibilidade. Rizzardo (1996, p. 206 ) assim refere-se ao papel da
municipalidade frente as possibilidade encontrada na regularização.
Notificado o loteador para cumprir com as obrigações de regularizar a área em subdivisão de lotes, e não atendendo,
a Prefeitura Municipal tem a faculdade de assumir a responsabilidade na execução dos trabalhos, oficializando o
loteamento e cumprindo as exigências mínimas frente ao registro de imóveis [...].
Texto complementar
Tudo deve ser regularizado?
(MARTINS, 2002, p. 16-19)
O direito urbanístico regulamenta as relações sociais e também as formas de ocupação urbana,
operando de modo frágil na interface entre direito e arquitetura, pois nem sempre o encadeamento
(proposta, ação e consequência) é inteiramente previsível. Como um “direito difuso” exercido em
nosso contexto de uma sociedade desigual e excludente, é marcado pelo conflito entre assegurar
direitos pela manutenção do status quo e assegurar os direitos da sociedade que normalmente não
são reconhecidos.
A ausência de alternativa habitacional para a maioria da população de menor renda nas
grandes cidades brasileiras, particularmente nas duas últimas décadas, teve como uma de suas
consequências a ocupação irregular e inadequada ao meio ambiente urbano. Os loteamentos
irregulares, as ocupações informais e as favelas se assentam justamente nas áreas ambientalmente
mais frágeis, protegidas por lei (por meio de fortes restrições ao uso) e, consequentemente,
desprezadas pelo mercado imobiliário formal.
É um modelo de sociedade que não consegue prover condições mínimas de habitação e convive
com as soluções improvisadas da população, desde que estejam afastadas das áreas mais visíveis ou
valorizadas.
Já sabemos que mesmo o projeto irrepreensível do ponto de vista conceitual tem, muitas vezes,
levado a desastres sociais, urbanísticos e ambientais, considerando nossas limitações institucionais
e os processos acima descritos. O caminho para o enfrentamento dessa questão requer, como já
mencionamos, a construção de alternativas de ampliação do mercado formal e, de outro lado, que
repensemos as maneiras de formular a legislação, evitando traduzir formas em lei, mas construir
práticas/propostas que respondam à nossa realidade.
Cumpre buscar a melhor eficiência do conjunto, inclusive porque aspectos como a preservação
da água de abastecimento e a funcionalidade da cidade dependem da somatória de ações e não de
ações pontuais – ainda que exemplares.
Nesse sentido, a pesquisa, o debate e a formação de quadros técnicos e de agentes são
fundamentais. Regularizar sem interromper a produção das irregularidades acaba implicando, além
do sofrimento da população, uma demanda de recursos públicos infinitamente maior ao levarmos
em conta a explosão da violência, o aumento dos gastos com saúde pública ou a necessidade de
soluções técnicas mais elaboradas.
Nas condições brasileiras, de tantas distâncias entre a lei e a realidade, em função da dimensão
da exclusão, um primeiro desafio é conceituar o conteúdo da expressão assentamento irregular.
Adequado ou não, só é irregular o que a legislação urbanística estabelece como tal. Aí se torna
evidente o grande fosso entre o desejável e a realidade urbana. No plano da materialidade dos
assentamentos, sua razão de ser é, evidentemente, acomodar a população: moradias com condições
físicas e serviços adequados – para a família e para a comunidade (sem impactos negativos ou
riscos para elas e para o conjunto da cidade) – e segurança de permanência. Nesse quadro, o que
se poderia chamar de regularidade para então explicitar a irregularidade a ser corrigida? Pode-se
admitir que são três os aspectos:
Condições reais: É o fato observado. Do mesmo modo que existe uma “linha da pobreza”,
caberia o equivalente urbano? Regularidade, nesse caso, equivaleria a atender a um padrão mínimo
social e economicamente aceitável?
Padrão e necessidades variam ao longo do tempo. À medida que a tecnologia e produção de bens
se amplia, a noção de necessidade básica também se modifica. Como a distribuição de renda é muito
desigual, o parâmetro é uma referência ambígua – a irregularidade mais significativa nos assenta-
mentos informais é, justamente, estar muito abaixo dos padrões estabelecidos pela legislação.
Legislação urbanística e ambiental: É tudo aquilo que os legisladores decidem colocar na lei.
Existem os objetivos (“espírito da lei”) e os meios para atingi-los, traduzidos em forma de artigos – os
“termos da lei”. Ocorre que nem sempre os meios levam aos objetivos pretendidos.
É o que se observa, por exemplo, em relação à legislação adotada para proteção dos mananciais
na Região Metropolitana de São Paulo: o intenso processo de urbanização, aliado ao esgotamento,
a partir de meados da década de 1970, da oferta de lotes precários e de baixo custo (por restrições
devidas à Lei Federal 6.766/79) e à ausência de outras alternativas para a habitação popular, acabou
empurrando a população de baixa renda para as áreas ambientalmente mais frágeis, desprezadas
pelo mercado formal, o que inviabilizou a aplicação da legislação de proteção aos mananciais. Nesse
quadro, a remoção pura e simples da população, para atender ao estabelecido na lei, se mostra
socialmente insustentável, ao mesmo tempo em que a regularização das ocupações não tem como
atender aos parâmetros legais. Trata-se de um quadro extremamente delicado devido às dimensões
da exclusão habitacional e à incapacidade do estado de enfrentá-la. Nessas condições, o conceito
de “razoabilidade” permite que se coloque a questão: irregular é o que se afasta dos termos da lei
ou dos objetivos da lei?
Atividades
1. Como as ocupações irregulares podem ser classificadas segundo as áreas ocupadas e os problemas
gerados pelas mesmas?
3. A quais instâncias constituídas caberá a notificação do loteador para regularizar o seu loteamento
constituído irregularmente?
Gabarito
1. As ocupações irregulares podem ser classificadas pela ocupação de:
Áreas loteadas e ainda não ocupadas: muitas vezes se desconhece o traçado oficial do loteamento,
ocupando-se áreas destinadas a ruas, áreas verdes e equipamentos comunitários. Também é
comum as casas serem construídas em desconformidade com a divisão dos lotes.
Áreas alagadas: muitas cidades no Brasil foram tomadas pelas águas. É comum o aterramento
de grandes áreas de manguezal ou charco. Geralmente essas áreas são terrenos de marinha ou
acrescidos de marinha (terrenos da União, em faixas litorâneas), aforados ou não a particulares.
Áreas de preservação ambiental: as áreas mais atingidas são as áreas de mananciais e às margens
de rios e canais, mas existem inúmeras ocupações em serras, restingas, dunas e mangues.
Áreas de risco: a baixa oferta de lotes e casas para os pobres faz com que ocorram ocupações em
terrenos de altas declividades, sob redes de alta tensão, ou nas faixas de domínio de rodovias,
gasodutos e troncos de distribuição de água ou coleta de esgotos.
2. Os objetivos da regularização podem ser resumidos nas questões urbanísticas, administrativas e civis.
(a) Urbanístico – correção da situação física existente, isto é, quanto às vias de circulação, infraes-
trutura etc., exigindo investimentos do Poder Público.
(c) Civil – regularização da situação registrária e do direito real de aquisição ou do domínio dos
adquirentes.
O Ministério Público (MP) possui inegável papel dentro dos aspectos de preservação dos direitos
coletivos e isso o fez presente na Lei 6.766/79, ainda que de forma tênue, se comparado com a presença
do Poder Público Municipal. No entanto, a presença do Ministério Público tem crescido no Brasil e incor-
porando demandas sociais antes pouco discutidas. Esse é o caso do parcelamento do solo, que uma vez
conscientizado da grandeza dos impactos causados, tem-se cada vez mais tomado ações de prevenção
contra os loteamentos clandestinos e irregulares, em uma tentativa de estancar os problemas urbanos
advindos dessa prática desastrosa. Apesar da sua grande importância para a defesa do direito da socie-
dade, o texto da Lei 6.766/79 cita brevemente essa instituição. A participação possível do MP se reduz a
questões de impugnação do registro do parcelamento, ao cancelamento do registro ou a notificação de
empreendedores no caso de constatadas irregularidades no parcelamento.
Relativas às questões referentes à impugnação o MP é citado no parágrafo 2.º do artigo 19 da Lei
6.766/79.
Art. 19. Examinada a documentação e encontrada em ordem o oficial do registro de imóveis encaminhará comunicação
a Prefeitura e fará publicar, em resumo e com pequeno desenho de localização da área, edital do pedido de registro
em 3 (três) dias consecutivos, podendo este ser impugnado no prazo de 15 (quinze) dias contados da data da última
publicação.
§1.o Findo do prazo sem impugnação, será feito imediatamente o registro. Se houver impugnação de terceiros, o oficial
do registro de imóvel intimará o requerente e a Prefeitura Municipal, ou Distrito Federal quando for o caso, para que
sobre ela se manifestem no prazo de 5 (cinco) dias, sob pena de arquivamento do processo. Com tais manifestações o
processo será enviado ao juiz competente para decisão.
§2.o Ouvido o Ministério Público no prazo de 5 (cinco) dias, o juiz decidirá de plano ou após instrução sumária, devendo
remeter ao interessado as vias ordinárias caso a matéria exija maior indagação.
Quanto ao cancelamento do registro do loteamento o MP é citado no parágrafo 2.º do inciso III, artigo 23 da Lei
6.766/79.
Art. 23. O registro do loteamento só poderá ser cancelado:
I - Por decisão judicial;
II - A requerimento do loteador, com anuência da Prefeitura, ou Distrito Federal quando for o caso, enquanto nenhum
lote houver sido objeto de contrato;
III - A requerimento conjunto do loteador e de todos os adquirentes de lotes, com anuência da Prefeitura, ou do Distrito
Federal quando for o caso, e do Estado.
§1.o A Prefeitura e o Estado só poderão se opor ao cancelamento se disto resulta inconveniente comprovado para o
desenvolvimento urbano ou se já se tiver realizado qualquer melhoramento na área loteada ou adjacências.
§2.o Nas hipóteses dos incisos II e III, o oficial do registro de imóveis fará publicar, em resumo, edital do pedido de
cancelamento, podendo este ser impugnado no prazo de 30 (trinta) dias contados da data da última publicação. Findo
esse prazo, com ou sem impugnação, o processo será remetido ao juiz competente para homologação do pedido de
cancelamento ouvido o Ministério Público.
A lei faculta tanto ao MP, quanto a prefeitura ou Distrito Federal a atribuição de notificar o loteador
no caso de constatação de irregularidades. O MP também poderá ser acionado quando da audiência
constituída o loteador entra com ação para requerer as prestações depositadas pelos adquirentes em
juízo.
Art. 38. Verificado que o loteamento ou desmembramento não se acha registrado ou regularmente executado ou
notificado pela Prefeitura Municipal, ou pelo Distrito Federal quando for o caso, deverá o adquirente do lote suspender
o pagamento das prestações restantes e notificar o loteador para suprir a falta.
§1.o Ocorrendo a suspensão do pagamento das prestações restantes, na forma do “caput” deste artigo, o adquirente
efetuará o depósito das prestações devidas junto ao registro de imóveis competente, que as depositará em
estabelecimento de crédito, segundo a ordem prevista no inciso I do art. 666 do código de Processo Civil, em conta
com incidência de juros e correção monetária, cuja movimentação dependerá da prévia autorização judicial.
§2.o A Prefeitura Municipal, ou Distrito Federal quando for o caso, ou Ministério Público, poderá promover a notificação
do loteador prevista no “caput” deste artigo.
§3.o Regularizado o loteamento pelo loteador, este promoverá judicialmente a autorização para levantar as prestações
depositadas, com os acréscimos de correção monetária e juros, sendo necessário a citação da Prefeitura, ou do Distrito
Federal quando for o caso, para integrar o processo judicial aqui previsto, bem como audiência do Ministério Público.
O Ministério público é compreendido como uma “[...] instituição permanente, essencial à função
jurisdicional do estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos
interesses sociais e individuais indisponíveis” (CF, artigo 127). A característica que o aproxima da defesa
da prática de parcelamentos legais e coerentes é a atribuição de “promover o inquérito civil e a ação
civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses
difusos e coletivos” (CF, artigo 129, inciso III).
Para Camargo (2007, p. 4) o Ministério Público possui poderes que vão além das atribuições
estabelecidas na Lei 6.766/79 em face do caráter não somente repressivo, mas também preventivo
que deve tomar a questão do parcelamento clandestino ou irregular. Para a autora, o MP pode atuar
na esfera cível, utilizando o inquérito civil e a ação civil pública e também na esfera penal por meio do
inquérito policial e da ação penal. O inquérito civil visa à apuração de fatos que possam lesar interesses
difusos e coletivos e a adoção de medidas para a prevenção ou reparação de lesão. Uma característica
do MP que deve ser considerada é o fato de que este necessita ser provocado, pela sua dificuldade
em atuar como agente fiscalizador na busca por constatações de irregularidades ou clandestinidade.
Esse aspecto fortalece a presença da comunidade como elemento chave para a atuação do Ministério
Público. Essa participação da comunidade é colocada para qualquer cidadão, incluindo os servidores
públicos dos órgãos de fiscalização e registro de parcelamentos do solo ou integrantes de organiza-
ções destinadas à defesa do meio ambiente.
Segundo Beré (2007), o MP tem uma função constitucional, estabelecida a partir de 1988, de
defender a ordem jurídica, o regime democrático e os interesses sociais e individuais indisponíveis.
Além disso, o MP poderá promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio
público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos. A Lei 8.078/90 também
conhecida como Código de Defesa do Consumidor (CDC), aumentou o número de direitos tutelados
pela ação civil pública, incluindo entre eles “qualquer outro interesse difuso ou coletivo”. Por meio
desses dispositivos o Ministério Público passou a atuar em casos envolvendo o parcelamento do solo.
Primeiramente, essa atuação envolvia aspectos penais e registrais, porém logo tomou relevo a atuação
por intermédio do inquérito civil e da ação civil pública.
prática de atos que feriram ou possam vir a ferir os direitos da coletividade. No entanto, as instituições e
organizações também podem ser parceiras do MP na busca de sanar as irregularidades cometidas. Beré
(2007, p. 3) assim coloca a questão do acesso do Ministério Público às denúncias que possam provocar
sua iniciativa.
Qualquer pessoa poderá e o servidor público deverá provocar a iniciativa do Ministério Público. Em geral, as irregularidades
no parcelamento do solo urbano chegam ao conhecimento do Promotor de Justiça por intermédio de órgãos públicos
encarregados da fiscalização, que, ao constatar irregularidade, fazem a necessária comunicação. Também é frequente
que a notícia chegue por intermédio de adquirente de lote, que comparece no atendimento ao público para pedir
orientação ou fazer reclamação. Organizações não governamentais dedicadas à defesa do meio ambiente igualmente
costumam noticiar irregularidades. Por vezes, é o Cartório de Registro de Imóveis quem leva os fatos ao Ministério
Público, especialmente no que se refere à inexecução de obras de infraestrutura [...] (Grifo nosso.)
Como mencionado pela autora, existem vários canais de informações para o MP e quanto mais
estreita for a relação entre este último e a comunidade, haverá um fortalecimento das práticas legais do
parcelamento do solo face à disseminação das punições às infrações.
Para Beré (2007) ao tomar conhecimento das infrações cometidas pelos parceladores ilegais, inva-
sões, publicidade de vendas ou início de obras, o MP poderá instaurar inquérito civil sobre parcelamento
ilegal do solo. Após esse ato, o Promotor deverá acionar outros órgãos públicos com competência para
atuar na questão, tais como a Prefeitura Municipal, a Polícia Florestal, a Polícia Civil, Registro de Imóveis
ou outros. Esses órgãos deverão tomar as medidas necessárias dentro do seu âmbito de atuação para
sanar as ilegalidades. A promotoria pode proceder à notificação do artigo 38, da Lei 6.766/79, celebrar
termo de ajustamento de conduta ou exigir do proprietário as medidas necessárias à regularização do
uso do imóvel. Beré (2007, p. 4) assim descreve a atuação do MP ao instruir o inquérito civil:
Para instruir o inquérito civil, o Promotor de Justiça poderá requisitar certidões, informações, exames, perícias. Na área
de Habitação e Urbanismo, as diligências determinadas pelo promotor de justiça, em geral, envolvem a apuração junto
à Prefeitura e ao estado acerca da aprovação do parcelamento; a apuração junto ao Cartório do Registro de Imóveis
acerca do registro do parcelamento e da titularidade do domínio da gleba; perícia ou vistoria na área, para constatação
do seu efetivo parcelamento e de eventuais restrições ao parcelamento, bem como para se saber as obras efetuadas;
oitiva de adquirentes de lotes, que deverão exibir os documentos relativos à aquisição, tais como compromisso de
compra e venda ou, na sua falta, proposta, notas promissórias; oitiva de outras testemunhas; e oitiva do parcelador.
Realizadas todas essas diligências, o Promotor de Justiça terá elementos para apurar a legalidade do parcelamento e
tomar uma das seguintes medidas:
a) arquivamento – medida que será tomada se não houver fundamento para a propositura de ação civil. A promoção
de arquivamento deverá ser homologada pelo Conselho Superior do Ministério Público;
Cooperativas habitacionais 6 - 2
Legenda
* PPIC = procedimento preparatório de inquérito civil
** IC = inquérito civil
***ACP = ação civil pública
Como visto, a prática da utilização de cooperativas habitacionais ou outros tipos, criadas com o
intuito de burlar a legislação, tem permeado o processo de parcelamento do solo e produzido anomalias
urbanas que dificultam a gestão da cidade em diversos aspectos.
Para Beré (2007), após o recebimento da denúncia e caso seja constatado a desobediência a
questões de natureza urbanística, ambiental, ao consumidor ou a outro interesse difuso ou coletivo, e
caso não tenha havido solução ou compromisso de ajustamento de conduta durante o inquérito civil,
o Promotor de Justiça deverá ajuizar a ação civil pública. No entanto, podem existir situações em que o
processo de regularização se inviabilize devido a questões ambientais ou de outra natureza que obrigue
o desfazimento do parcelamento, recompondo a gleba ao estado anterior e indenizando os adquirentes
de lotes pelos danos a eles causados. Beré (2007, p. 4) assim relata os objetivos da ação civil pública:
[...] visa a responsabilização pelos danos causados ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico,
estético, histórico, turístico e paisagístico, a qualquer outro interesse difuso ou coletivo e por infração da ordem eco-
nômica. Além do Ministério Público, também estão legitimados a ajuizá-la a União, estados e municípios, autarquias,
empresas públicas, fundações, sociedades de economia mista e associações. Embora haja tantos colegitimados para o
ajuizamento da ação civil pública, estatísticas revelam que cerca de 95% delas são ajuizadas pelo Ministério Público.
[...]
Celebrado acordo ou proferida sentença na ação civil pública, o parcelador poderá cumprir espontaneamente aquilo
que foi avençado ou determinado pelo juiz. Caso não o faça, será necessária a execução da sentença.
Como se pode perceber, o problema da proliferação dos loteamentos ilegais requer uma ampla
visão sobre os motivos da sua ocorrência, contudo não se deve debitar à falta de políticas habitacionais
todo e qualquer tipo de ilegalidade no parcelamento do solo urbano. Caso essa ideia se estabeleça corre-
-se o risco de se construir uma cidade “colcha de retalhos” sem uma estrutura viária coerente, carente
de equipamentos urbanos básicos ou áreas públicas. A presença do empresário especulador de terras
urbanas deve ser considerada ao se analisar a questão da ilegalidade no parcelamento do solo, punindo
iniciativas que têm por base a desobediência à lei com o intuito de auferir maiores lucros pela obtenção
de maior número de lotes em detrimento de áreas públicas ou de preservação ambiental, desrespeito
aos parâmetros mínimos de projeto de arruamento ou não implantação de infraestruturas obrigatórias.
O Ministério Público deve se fazer presente na mediação dos conflitos decorrentes da relação entre os
agentes produtores do espaço urbano com vistas a garantir uma cidade com melhor qualidade de vida.
Texto complementar
Poder de polícia do Ministério Público
(CAMARGO, 2007, p. 3-6)
A atuação do Ministério Público, nos casos envolvendo parcelamento do solo urbano tem
embasamento na Lei 7.347, de 24 de julho de 1985, com a importante alteração feita pela Lei 10.257,
de 10 de julho de 2001, que incluiu no rol dos direitos tutelados pela ação civil pública a ordem
urbanística, in verbis:
Art. 1.º Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo da ação popular, as ações de responsabilidade por danos
morais e patrimoniais causados:
l - ao meio ambiente;
ll - ao consumidor;
e 4.º da Lei 6.766/79, entre as quais destacam-se o parcelamento ocorrido em zona rural, em área de preservação
ambiental ou de preservação de mananciais e a ausência de reserva de áreas públicas. A vedação à regularização,
nesses casos, é expressa, estando prevista no art. 40, §5.º, da mencionada lei. Inexistindo composição no inquérito
civil, é de se ajuizar a ação civil pública.
A ação civil pública será intentada visando, então, impor uma condenação em dinheiro ou o
cumprimento de uma obrigação de fazer ou não fazer.
A condenação em dinheiro se justifica por eventual dano ambiental irreparável causado, ou
por óbices intransponíveis à regularização, cujo desfazimento acarretaria um problema social tal
que tornaria inviável o ajuizamento de ação com esse objetivo.
As obrigações de fazer e não fazer consistem em condutas tendentes a regularização do parcela-
mento e de não parcelar ou não vender sem as aprovações e registro necessários, respectivamente.
No tocante ao aspecto penal da Lei 6.766/79, cabe ressaltar que a investigação do parcela-
mento ilegal do solo será realizada por autoridade policial, com instauração de inquérito policial.
Após seu término, os autos serão encaminhados ao Ministério Público, a fim de que o promotor
de justiça analise a possibilidade/necessidade de oferecimento de denúncia, ou solicite novas dili-
gências, se for o caso. O membro do Ministério Público pode, também, opinar pelo arquivamento
do inquérito policial.
Atividades
1. O que se entende por Ministério Público e quais as suas funções constitucionais?
3. Como pode se dar a atuação do Ministério Público dentro das esferas do direito, com o intuito de
defender os direitos da sociedade?
Gabarito
1. O Ministério público é uma instituição permanente, essencial à função jurisdicional do estado,
incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e
individuais indisponíveis. Sua atuação visa promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a
proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e cole-
tivos.
3. O Ministério Público pode atuar na esfera cível, utilizando o inquérito civil e a ação civil pública e
também pode atuar na esfera penal por meio do inquérito policial e da ação penal.
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