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Título : TEORIA GERAL DOS RECURSOS

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TEORIA GERAL DOS RECURSOS

CONCEITO DE RECURSO:

É o direito de requerer antes de formada a coisa


julgada, em uma relação processual em curso, a reforma,
invalidação ou esclarecimento de uma decisão judicial.

FUNDAMENTOS DO DIREITO DE RECORRER:

A doutrina costuma mencionar que os fundamentos


filosóficos do direito de recorrer encontram sua sede no inconformismo e
na falibilidade do ser humano, assim como na possibilidade de abuso de
poder.

Vejamos:

a). Inconformismo humano: aquele que é vencido em


uma demanda tende a não aceitar aquela decisão como definitiva, logo a
possibilidade de ter uma outra chance de obter uma nova manifestação
aquieta o espírito humano.

b). Falibilidade humana: é sempre possível que erros


sejam cometidos no julgamento de qualquer questão, posto que não há uma
máquina de julgar e toda decisão é tomada por pessoas que estão sujeitas a
cometerem erros, logo a possibilidade de reapreciação da questão também
diminui a possibilidade de equívocos serem perpetuados.

c). Abuso de poder: é sempre possível que a decisão


prejudicial à parte tenha sido fruto de dolo do seu julgador, de intenção
deliberada de prejudicar, logo a possibilidade de revisão por outro órgão
julgador mantém a higidez do sistema, zelando por sua correição.

PRINCÍPIOS GERAIS DOS RECURSOS:

a). duplo grau de jurisdição: consiste no direito da


parte vencida ou prejudicada obter do órgão jurisdicional uma nova
apreciação da questão decidida. É princípio constitucional implícito tendo
em visa a previsão de órgãos de primeira e segunda instância na Justiça
brasileira.

b). taxatividade: consiste no fato de que a existência


de um recurso está vinculada a sua previsão expressa pelo sistema. As
partes não podem se valer de recursos “implícitos” e que não estejam
literalmente previstos em lei.

c). unirrecorribilidade ou singularidade: para cada


hipótese processual existe apenas um recurso cabível, não sendo possível a
utilização de mais de um recurso contra a mesma decisão, com o mesmo
objetivo, simultaneamente.

d). adequação: o recurso manejado pela parte deve


ser o recurso indicado pelo ordenamento jurídico.
e). fungibilidade: na hipótese de erro escusável sobre
qual seria o recurso adequado, e desde que o prazo do recurso certo ainda
não tenha se expirado é possível que o julgador receba o recurso
inadequado como se fora o recurso certo, tendo em vista a inexistência de
prejuízo na hipótese.

f). vedação à “reformatio in pejus”: quando apenas


uma das partes recorre de uma decisão interlocutória ou sentença, o
julgamento do recurso não pode prejudicar o recorrente no sentido de
colocá-lo em situação de desvantagem em relação ao estado anterior.

CLASSIFICAÇÃO QUANTO AO OBJETIVO DO RECURSO:

a). recursos de reforma: são aqueles que buscam a


mudança do mérito da decisão proferida anteriormente. Exemplo: a
sentença julgou improcedente o pedido, pela apelação se pretende a
procedência do pedido.

b). recursos de invalidação: são aqueles que buscam a


nulidade da decisão anterior tendo em vista a existência de um vício
formal.

c). recursos de esclarecimento: são aqueles em que se


busca o sentido da decisão anteriormente proferida, seja porque esta foi
omissa, ambígua ou obscura.

CLASSIFICAÇÃO QUANTO AO ÓRGÃO JURISDICIONAL QUE


DECIDE:
a). devolutivos: são aqueles em que a matéria é
entregue para reexame a um órgão jurisdicional diverso do prolator da
decisão atacada. Exemplo: apelação.

b). não devolutivos: são aqueles em que a matéria será


revista pelo próprio órgão prolator da decisão. Exemplo: embargos de
declaração.

c). mistos: são aqueles em que o órgão prolator tem a


oportunidade de reexaminar a matéria, entretanto não havendo mudanças,
esta será encaminhada para julgamento por outro órgão. Exemplo: no
recurso de agravo onde é possível a retratação do juiz prolator da decisão, o
que não ocorrendo acarretará o exame pelo Tribunal em segunda instância.

CLASSIFICAÇÃO QUANTO À EXECUÇÃO DAS DECISÕES:

a). suspensivo: o recurso impede que a decisão


recorrida seja executada. Exemplo: a apelação em uma ação de indenização
por danos morais, em que o vencido não será obrigado a cumprir a sentença
enquanto estiver pendente o julgamento da apelação (artigo 497 ).

b). não suspensivo: o recurso permite que a decisão


recorrida seja executada. Exemplo: recurso especial ao STJ.

ATOS SUJEITOS A RECURSO:

No sistema processual brasileiro, apenas as decisões


interlocutórias, as sentenças e acórdãos são atos judiciais recorríveis.
Vejamos:

a). decisões interlocutórias: atos judiciais em que o


magistrado examina um pedido ou questão incidente, sem que este exame
acarrete a extinção do processo.

b). sentenças: ato judicial de juízo monocrático que


causam a extinção do processo, seja com resolução do mérito (artigo 269 )
ou ainda sem a resolução do mérito (artigo 267 ).

c). acórdão: ato judicial de juízo colegiado, que julga


recurso ou ação originária de segunda instância.

Ressalvamos que nosso Código de Processo Civil,


expressamente, em seu artigo 504, estabeleceu que dos despachos não cabe
recurso, assim considerados os atos judiciais que apenas dão andamento ao
processo, sem conteúdo decisório e sem qualquer potencial lesivo às partes.

TECNICAS DE JULGAMENTO:

a). juízo de admissibilidade (conhecimento/recebimento ou não):


consiste na análise de requisitos formais, sem os quais o órgão julgador está
impedido de apreciar o mérito do recurso. Exemplo: a tempestividade do
recurso é uma análise que pertence ao juízo de admissibilidade dos
recursos, portanto, diz-se que um recurso intempestivo sequer é
“conhecido” ou “recebido”.

O juízo de admissibilidade em alguns recursos pode


será realizado por duas vezes, posto que é procedido pelo órgão
jurisdicional que recebe o recurso e posteriormente renovado pelo órgão
julgador.
b). juízo de mérito (provimento ou não): consiste na análise das razões
recursais, ou seja, nos motivos do inconformismo do recorrente, ou seja, os
fundamentos apontados para reforma, anulação ou esclarecimento.
Exemplo: quando tais fundamentos não são suficientes para que o
recorrente atinja seus objetivos, diz-se que foi negado provimento ao
recurso.

PRESSUPOSTOS PARA JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE:

Pressupostos de admissibilidade dos recursos são os


requisitos a serem cumpridos pelo recorrente, a fim de que sua petição de
recurso seja recebida para posterior exame de mérito junto ao órgão
julgador.

SUBJETIVOS:

Pressupostos subjetivos são aqueles que dizem


respeito às partes na relação processual.

a). interesse: é necessário que a parte recorrente demonstre a necessidade e


utilidade do recurso manejado, posto que assim demonstrará o seu interesse
jurídico em recorrer.

a-1) recurso contra motivação: como regra, não é admissível o


recurso manejado exclusivamente para alterar a fundamentação da
sentença, até mesmo porque a motivação não faz coisa julgada (artigo 469,
I ). O recurso só será admissível caso esta motivação tenha sido objeto de
uma declaração incidental (artigo 470 ).
a-2) necessidade de sucumbência: a sucumbência, ou seja, a derrota
do recorrente em algum aspecto da sentença, demonstra o seu interesse de
recorrer, haja vista ter auferido um prejuízo, ainda que este exista em
alguma questão acessória, como por exemplo, honorários, custas, etc...

b). legitimidade: a legitimidade diz respeito a pertinência entre a figura do


recorrente e o sujeito que sofreu alguma espécie de prejuízo no ato judicial
contra o qual se recorre. Dessa forma podem recorrer as partes, o terceiro
interessado e o membro do Ministério Público, nas ações onde sua
intervenção seja obrigatória, caso o interesse que deve proteger esteja
sendo de alguma fora lesado.

OBJETIVOS:

Pressupostos objetivos são aqueles que dizem respeito


ao ato judicial contra o qual se recorre.

a). recorribilidade: como outrora já dito, apenas as sentenças e as decisões


interlocutórias são recorríveis, os despachos não o são (artigo 504 ).

Caso ocorra dúvida quanto ao enquadramento de um ato jurisdicional,


podemos levar em conta a sua repercussão no interesse da parte, pois
havendo prejuízo estamos sempre tratando de decisão interlocutória e não
de mero despacho, pois estes conceitualmente não podem acarretar danos.
b). tempestividade: todos os recursos possuem prazos estabelecidos na lei,
sendo sua observância obrigatória (artigos 508 combinado com 522 e 536 ).

Assim a apelação deve ser interposta em 15 dias


(artigo 508 ), o agravo em 10 dias (artigo 522 ), os embargos de declaração
em 5 dias (artigo 536 ), os embargos infringentes, o recurso ordinário, o
recurso especial, o extraordinário e os embargos de divergência em 15 dias
(artigo 508 ).

Lembramos que há hipóteses em que os prazos devem


ser contados em dobro, como ocorre no LITISCONSÓRCIO, quando os
litisconsortes estão assistidos por patronos distintos (artigo 191 ), bem
como na hipótese da Fazenda Pública e Ministério Público (artigo 188 ) e
para a Defensoria Pública (Lei no.1060/50).

Os prazos recursais serão contados na forma do artigo


184, do CPC, ou seja, exclui-se o primeiro dia, conta-se sempre a partir de
dia útil e termina-se a contagem também em dia útil, entretanto o termo
inicial poderá ser o da leitura da sentença, se esta foi proferida em
audiência (artigo 506, I ), a intimação das partes (artigo 506, II ), se esta
não ocorreu em audiência ou ainda da publicação do dispositivo do acórdão
no órgão oficial (artigo 506, III ).

Lembramos ainda que se durante o prazo recursal


ocorrer o falecimento da parte ou do advogado, ou ocorrer motivo de força
maior, que suspenda nos termos da legislação o processo, ocorrerá a
restituição do prazo a parte recorrente, sempre após intimação para tanto
(artigo 507, combinado com 182, 183 e 265, do Código de Processo Civil).
c). adequação (o recurso “certo”): é fundamental que a parte recorrente
se utilize do recurso correto para cada situação, exigindo-se perícia do
advogado para aplicar o ordenamento jurídico da forma correta. Assim, por
exemplo, em havendo uma decisão interlocutória que negue um pedido de
chamamento ao processo, sabe-se que o recurso adequado será o de agravo
(artigo 522 ), desse modo, o advogado não pode utilizar o recurso de
apelação, posto que inadequado à situação.

d). preparo: alguns recursos exigem que a parte recorrente recolha aos
cofres públicos custas específicas para essa situação às quais a lei chama de
“preparo” do recurso. O Ministério Público, a União, os Estados, os
Municípios e suas autarquias são isentos legalmente de preparo (artigo 511,
§1º ). Além do preparo há recursos que exigem também o recolhimento de
um porte de remessa e retorno, que seria valor correspondente ao envio dos
autos ao órgão julgador do recurso, bem como seu posterior retorno.

O preparo deve ser recolhido integralmente, entretanto


se for recolhido a menor, o recorrente deve ser intimado a complementá-lo,
circunstância em que se não o fizer em 5 (cinco) dias, será julgado
DESERTO, ou seja, NÃO SERÁ RECEBIDO (artigo 511, parágrafo
segundo ).

A DESERÇÃO do recurso é penalidade que deve


desde logo ser aplicada pelo órgão jurisdicional a exercitar em primeiro
plano o juízo de admissibilidade. Assim sendo na hipótese de apelação, em
que há juízo de admissibilidade feito em primeira instância, o próprio juiz
declarará o recurso deserto e com isso impedirá que os autos sejam
remetidos ao Tribunal, salvo se a parte agravar dessa decisão, a fim de que
o recurso suba ao Tribunal.
e). forma (regularidade e inexistência de fato impeditivo ou extintivo
do direito a recorrer): o respeito a forma prevista em lei é também
requisito de admissibilidade do recurso na medida em que a legislação
aplicável a exija. Assim, o recurso de apelação só possui a forma escrita,
não sendo admissível sua interposição oral, ainda que a sentença assim o
seja.

Neste tópico também analisamos a regularidade formal do recurso pela


inexistência de fatos impeditivos ou extintivos do direito de recorrer.

e-1). Fatos Impeditivos ou Extintivos do Direito de Recorrer:

a). desistência: ato através do qual o recorrente, após a interposição do


recurso, manifesta-se no sentido de que não pretende o julgamento do
recurso (artigo 501 ).

b). renúncia: ato através do qual antes de recorrer, a parte prejudicada, que
teria em tese legitimidade para recorrer, manifesta o seu desinteresse em
fazê-lo. Esse desinteresse pode ser manifestado expressa ou tacitamente.

b-1). Expressa: quando por petição a parte renúncia ao direito de


recorrer. Se ambas renunciarem ao recurso, o que é comum em acordos, o
trânsito em julgado ocorrerá antecipadamente.

b-2). Tácita: quando a parte pratica algum ato que logicamente está
em oposição ao interesse de recorrer, dando causa a preclusão lógica.
Exemplo: a parte ao tomar ciência da sentença que lhe foi desfavorável
cumpre a ordem judicial sem ressalvas (artigo 503, parágrafo único ).
RECURSO ADESIVO (ARTIGO 500 ):

É o instituto jurídico criado exclusivamente para as hipóteses de


sucumbência recíproca, nos casos em que uma das apertes, tendo se
conformado com a sentença, acredita ser esta também a conduta da parte
contraria, mas é surpreendida por um recurso de seu adversário.

Para evitar tal situação o legislador facultou ao surpreendido a


possibilidade do recurso adesivo.

a). Conceito: é o recurso interposto no prazo de resposta, quando a parte


contrária recorreu, sendo por isso, denominado de adesivo, ficando
subordinado ao recurso principal, assim considerado o da parte contrária.

b). Prazo (artigo 500, 1): o prazo é aquele que a parte dispõe para responder
ao recurso.

c). Admissibilidade: o recurso adesivo só é permitido para as hipóteses de


apelação, embargos infringentes, recurso extraordinário e recurso especial
(artigo 500, 2).

c). Em reexame necessário: se a hipótese é exclusivamente de reexame


necessário, não tendo havido recurso voluntário, não há espaço para a
interposição de recurso adesivo, tendo em vista que este exige que a outra
parte tenha manifestado o interesse de recorrer, o que não há no reexame
necessário (artigo 475 ) que decorre da letra da lei e não da vontade do
Poder Público.

d). Acessoriedade: consiste no fato de que se o recurso principal não for


admitido ou se houver desistência deste, ou mesmo deserção, o recurso
adesivo estará prejudicado, segundo o destino do principal (art.500, 3).
e). Preparo: o recorrente adesivo pode efetuar o preparo a fim de evitar a
deserção do recurso principal.

f). Julgamento: os dois recursos, principal e adesivo, serão julgados em


conjunto, na mesma sessão de julgamento, havendo possibilidade de
conceder provimento ao recurso principal e negar ao recurso adesivo, vice-
versa, conceder provimento a ambos, ou ainda negar provimento a ambos,
entendendo que a sentença em nada deva ser modificada.

PROCESSAMENTO DOS RECURSOS EM 2º GRAU:

Em segunda instância, a regra é a de que só o


colegiado fará o julgamento do recurso, sendo necessário, no mínimo três
magistrados para que seja proferida decisão.

Dentre esses três magistrados, um deles será


designado como Relator do recurso e terá por função elaborar o relatório
dos autos, assim como decidir questões urgentes, sendo também o primeiro
a proferir o voto.

Por exceção o RELATOR PODERÁ JULGAR


sozinho, quando (artigo 557 ):

A). Recurso seja manifestamente inadmissível: hipótese em que a parte


recorrente não cumpriu os pressupostos de admissibilidade do recurso e por
isso este não deve ser sequer recebido para exame. Exemplo: recurso para o
qual não houve preparo ou recurso intempestivo.

B). Recurso manifestamente improcedente: hipótese em que o fundamento


do recurso é evidentemente improcedente, tendo em vista o ordenamento
jurídico em vigor. Exemplo: apelação em que o recorrente argumenta
apenas não caber indenização por danos morais em face de pessoa jurídica.

C). Dar provimento imediato ao recurso para reformar ou anular a decisão


recorrida se é contrária a Súmula ou jurisprudência dominante no STF ou
outro Tribunal Superior.

Das decisões proferidas pelo Relator caberá


RECURSO DE AGRAVO para o colegiado em 5 dias, mas se o recurso for
considerado procrastinatório o Tribunal condenará o recorrente em multa
de 1% a 10% do valor da causa, condicionado qualquer outro recurso ao
pagamento desta.

Em qualquer caso, entendendo haver urgência, o


Relator poderá atribuir-lhe efeito suspensivo, caso o recurso não o tenha
por disposição legal (art.558 ).

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