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REPENSANDO OS CONCEITOS NO ESTUDO DA

CLASSIFICAÇÃO

Prithvi N. KAULA

Resumo

Considera a classificação como um dos mais importantes ramos do


conhecimento. Explica o conceito de classificação conforme o entendimento
e análise de filósofos incluindo os Predicáveis de Aristóteles, a árvore de
Porfíio, a classificação Baconiana e outros esquemas escolásticos para a
classificação do conhecimento segundo John Locke, Auguste Comte, Herbert
Spencer, etc. Assinala a categoria dos esquemas de classificação que foram
aplicados a ciências específicas. Discute os diferentes esquemas de
classificação sem notação e os esquemas com notação que os modernos
esquemas incluem e que foram empregados nas coleções de livros das
bibliotecas. Discute a falácia da classificação de livros e as razões para se
adotar o termo classificação bibliotecária. Destaca a falácia da classificação
bibliotecária. Examina em detalhe os fundamentos teóricos dos diferentes
esquemas desde a Classificação Decimal de Dewey até a Classificação
Internacional de Rider. Analisa os diferentes marcos na área da classificação
e suas implicações. Fornece as características do universo de assuntos e a
abordagem estática dos criadores de esquemas concebidos antes de
Ranganathan. Tece comentários à teoria dinâmica da classificação. Traça a
análise do conceito na classificaçãp e as expectativas na aplicação da teoria
de Ranganathan à CDU em relação ao projeto ASCOM.

(Baseado no artigo submetido à 4. Conferência sobre Pesquisa em Classificação, Augsburg,


Alemanha Ocidental, de 20 de junho a 2 de julho de 1982)

SUMÁRIO

1 A CLASSIFICAÇÃO COMO "PROCESSO MENTAL"


2 AS CATEGORIAS ARISTOTÉLICAS
2.1 A Árvore de Porfírio
3 A CLASSIFICAÇÃO BACONIANA
4 OUTROS ESQUEMAS DE CLASSIFICAÇÃO DO CONHECIMENTO
4.1 Os Esquemas Escolásticos
4.2 Os Esquemas para a Ciência
4.3 Outros Esquemas
4.31 Esquemas sem Notação
4.32 Esquemas com Notação
4.33 Esquemas Especializados
5 CLASSIFICAÇÃO DO CONHECIMENTO E CLASSIFICAÇÃO DE
ASSUNTOS
5.1 Falácia da Classificação de Livros
5.2 Esquemas de Classificação do Conhecimento
5.3 Identificação das Diferenças
5.4 Por que Classificação Bibliotecária?
5.41 Falácia da Classificação Bibliotecária
5.5 Principais esquemas de Classificação Universal
6 BASE TEÓRICA DOS ESQUEMAS
6.1 Classificação Decimal
6.2 Classificação Expansiva
6.3 Classificação da Library of Congress
6.4 Classificação de Assunto
6.5 Classificação Decimal Universal
6.6 Classificação dos Dois Pontos
6.7 Classificação Bibliográfica
6.8 Classificação Internacional de Rider
7 O PRIMEIRO MARCO DE REFERÊNCIA E SUAS IMPLICAÇÕES
8 O UNIVERSO DE ASSUNTOS E SUAS PECULIARIDADES
8.1 O Método Estático
8.2 O Advento da Teoria Dinâmica
91 O Trabalho nos Três Planos
91.1 Análise Conceitual
91.2 A Terminologia nas Esquemas
91.3 Plano Notacional
91.4 Análise da Obra
91.5 Revisão dos Termos Isolados
92 Identificação dos Números Homônimos e Sinônimos
93 História de uma Esquema Modelo
94 Análise do Conceito
95 CDU Reestruturada
96 Aplicação da Teoria de Ranganathan à CDU

1 A CLASSIFICAÇÃO COMO UM "PROCESSO MENTAL"

A Classificação tem sido colocada como a reunião de entidades semelhantes


e a separação das não afins. Esta interpretação da classificação esteve em
voga até o final do século XIX e o início do século XX. A diferenciação tem
sido considerada uma característica básica na classificação. James Duff
Brown estabeleceu em 1916 que a classificação era um "processo mental"
constantemente executado de forma consciente e inconsciente por qualquer
ser humano, ainda que não reconhecido como tal. Na realidade, este é um
dos mais importantes campos do conhecimento. [1]. Toda mente classifica
objetos consciente ou inconscientemente para todos os tipos de propósito. A
despeito de significações e valores difundidos, o estudo da classificação não
atraiu as pessoas de um modo geral, com exceção de alguns pensadores,
lógicos, cientistas e especialistas em Biblioteconomia e Ciência da
Informação.

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2 AS CATEGORIAS ARISTOTÉLICAS

Grande parte dos lógicos, filósofos e lexicógrafos que utilizaram a


classificação para compreensão e análise do conhecimento interpretaram o
significado da classificação de diferentes modos. Eles definiram classificação
como 'Classificação do Conhecimento', que Aristóteles concebeu inicialmente
como um 'exercício mental' (382-322 a.C.), mencionando os 'predicáveis' em
seu 'Organon'[1] que, originariamente em número de quatro, foram os
seguintes:

(1) Gênero
(2) Espécie
(3) Diferença
(4) Propriedade, e
(5) Acidente.

Estes predicáveis podem ser chamados de categorias. No desenvolvimento


deste artigo outras categorias serão adicionadas a estas.

No devido curso, 10 categorias ou predicamentos foram reconhecidos. São


as seguintes:

1 Substância
2 Qualidade
3 Quantidade
4 Relação
5 Lugar
6 Tempo
7 Situação
8 Posse
9 Ação
10 Sofrimento ou passividade

Estas categorias foram os principais fatores usados pelos aristotélicos e


outros para qualificar as diversas áreas do conhecimento. Devemos
mencionar também que os cinco predicáveis mencionados acima forneceram
alguns dos fatores de subdivisão para a moderna classificação biológica.
Aristóteles, na 'Metafísica', dividiu o conhecimento humano em três divisões e
as subdividiu como segue:

Filosofia Teórica Física


Matemática
Metafísica
Filosofia prática
Ética
Economia
Política
Filosofia produtiva
Poética
Retórica
Arte

2.1 A Árvore de Porfírio

As nove classes apresentadas acima podem se adequar à maioria dos


assuntos hoje reconhecidos. Seja como for, as categorias de Aristóteles
floresceram no 'pórfiro' *, geralmente consideradas como ponto de partida
para o estudo da classificação. A árvore de Porfírio é a seguinte:
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3 A CLASSIFICAÇÃO BACONIANA

Posteriormente surgiram inúmeras classificaçõs escolásticas do


conhecimento. Entre elas devemos mencionar as divisões identificadas por
Roger Bacon em seu 'Opus major' (1214-1294), e por N. Francis Bacon, que,
em seu 'Augmentis Scientiarum' sugeriu um esquema de classificação do
conhecimento, publicado em 1605 . A classificação Baconiana (1603-1623)
foi considerada clara e satisfatória para o estudo do conhecimento humano.
Apesar de algumas de suas classes e divisões se tornarem imbricadas, este
sistema foi considerado um dos mais influentes nas diversas tentativas feitas
para classificar o conhecimento. Seria também interessante mencionar o
diagrama completo da classificação Baconiana.

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4 OUTROS ESQUEMAS DE CLASSIFICAÇÃO DO CONHECIMENTO

Nota: A Classificação Baconiana foi ampliada por d'Alembert em 1767 e


outros. W.T. Harris usou o sistema 'Baconiano invertido' em 1870, o qual
influenciou a organização da Classificação Decimal de Melvil Dewey (1873-
1876).
4.1 Os Esquemas Escolásticos

Entre os filósofos que estabeleceram esquemas para classificar o


conhecimento devem ser mencionados os seguintes:

(a) Classificação de Locke (1688), de John Locke (1632-1704)


(b) Classificação de Comte (1822-1851), de Auguste Comte (1798-1857)
(c) Classificação de Coleridge (1826), de Samuel Taylor Coleridge (1772-
1834)
(d) Classificação de Spencer (1864), de Herbert Spencer (1820-1903)
(e) Classificação de Bain (1870), de August Stadler
(g) Classificação de Pearson (1892), de Karl Pearson
(h) Classificação de Richardson (1901), de E. C. Richardson

4.2 Os Esquemas para a Ciência

Outras categorias de esquemas de classificação foram desenvolvidas para


serem utilizadas em ramos específicos da Ciência. Vejamos a seguir:
(a) Classificação Botânica de Lineus, de Carl Linné (1735-1778)
(b) Classificação Botânica de Jussieu (1789), de Antoine Jussieu
(c) Classificação de Hooker e Bentham (1862-1883)
(d) Classificação de Engler (1900) (1892-1897)
(e) Classificações Zoológicas
de Carpenter (1845)
de Lydekkar (1897)
de Hertwig (1903)
de Cuvier (1729-1832)
de Owen (1884-1892)

Nota: As subdivisões importantes se basearam nos 'Cinco Predicáveis' de


Aristóteles.

4.3 Outros Esquemas

Outros grupos de esquemas de classificação surgiram para aplicação na


organização dos livros. Estes sistemas de classificação podem ser agrupados
em duas categorias:

(1) Esquemas sem notação, e


(2) Esquemas com notação.

4.31 Esquemas sem Notação

Os esquemas sem notação são os abaixo relacionados:

(a) Classificação de Aldus (1505), de Aldo Manuzzi (1415-1515)


(b) Classificação de Gesner (1548), de Conrad Gesner (1516-1605)
(c) Classificação de Maunsell (1595), de Andrew Maunsell
(d) Classificaçãoo de Naudé (1627), de Gabriel Naudé
(e) Classificação de Garnier, de Jean Garnier
(f) Classificação de Brunet, de J. C. Brunet (1718-1867)
(g) Classificação de Horne, de Thomas Hartwell Horne
(h) Classificação de Leibnitz (1718)
(i) Classificação do Museu Britânico (1836-1838)
(j) Classificação de Schleiermacher (1852)
(k) Classificação de Merlin (1842), de R. Merlin
(l) Classificação de Palermo (1854), de Francisco Palermo
(m) Classificação da Royal Society (1857)
(n) Classificação de Trubner (1859), de Nicholas Trubner
(o) Classificação de Edwards(1859), de Edward Edwards (1812-1826)
(p) Classificação de Smith (1882, de C. P. Smith
(q) Classificação de Ogle (1895), de J. J. Ogle
(r) Classificação de Sonnenschein (1897), de W. S. Sonnenschein
(s) Classificação de Quinn-Brown (1894), de John H. Quinn e James Duff
Brown

4.32 Esquemas com Notação


Os esquemas de classificação com notação foram usados para organizar
livros. Os esquemas nesta categoria são os seguintes:

(a) Classificação de Harris (1879), de William T. Harris


(b) Classificação de Schwartz (1871-1879), de Jacob Schwartz
(c) Classificação Decimal de Dewey (1876, de Melvil Dewey (1851-1902)
(d) Classificação Expansiva de Cutter (1891-1903), de Charles Ami Cutter
(e) Classificação da Faculdade de Sion (?) (188601889), de W. H. Milman
(f) Classificação Decimal Expandida de Bruxelas (1905, do Instituto
Internacional de Bibliografia
(g) Classificação Racional de Perkins (1882), de F. B. Perkins
(h) Classificação de Hartwig (1888), de Otto Hartwig
(i) Classificação de Fletcher (1889), de W. I. Fletcher
(j) Classificação de Bonazzi (1890), de G. Bonazzi
(k) Classificação de Rowell (1894), de J. C. Rowells
(l) Classificação ajustável de Brown (1898, de James Duff Brown
(m) Classificação Científica Internacional (1901), usada no "International
Catalogue of Scientific Literature
(n) Classificação da Universidade de Princeton (1901), da Universidade de
Princeton
(o) Classificação da Library of Congress (1902), da Biblioteca do Congresso
dos Estados Unidos
(p) Classificação Decimal Universal (1902, da FID
(q) Classificação de Assuntos (1906, de James Duff Brown

Durante a primeira metade do século XX um bom número de bibliotecas


adotou alguns dos sistemas de classificação acima mencionados e outros
foram introduzidos com certas modificações. Além destes, surgiram poucos
mas relevantes sistemas de classificação. São eles:

(a) Classificação dos Dois Pontos (1933), de S. R. Ranganathan


(b) Classificação Bibliográfica de Bliss (1935, de H. E. Bliss
(c) Classificação Internacional de Rider (1961), de F. Rider

4.33 Esquemas Especializados

Surgiram também esquemas especializados de classificação aplicáveis a


diversos assuntos e adotados por bibliotecas possuidoras de coleções
especializadas. Nção há necessidade de listar todos os esquemas
especializados, pois tomaria muito espaço. No entanto, alguns destes
esquemas foram reconhecidos por especialistas nos seus respectivos
campos.

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5 CLASSIFICAÇÃO DO CONHECIMENTO E CLASSIFICAÇÃO DE


ASSUNTOS

Da lista de esquemas mencionados nas Seções 4.3.1 e 4.3.2, os seguintes


pontos ficam claros:
(1) Os esquemas relacionados à classificação do conhecimento pelos lógicos
e filósofos podem ser denominados de esquemas de Classificação do
Conhecimento; e

(2) Os esquemas com ou sem notação projetados por alguns cientistas, por
bibliotecários e bibliotecas de organizações científicas podem ser
denominados de esquemas de Classificação de Assunto.

5.1 Falácia da Classificação de Livros

Houve uma certo engano no pensamento das pessoas envolvidas com a


classificação nos estágios anteriores, no sentido de identificar os esquemas
produzidos por filósofos como sendo classificação do conhecimento, mas que
não se aplicavam à organização dos livros nas prateleiras das bibliotecas;
enquanto outros esquemas, concebidos por especialistas da área de assunto
e bibliotecários, foram denominados classificção de livros. Para evitar este
conflito, alguns esquemas aplicáveis

5.2 Esquemas de Classificação do Conhecimento

Dois tipos de esquema de classificação do conhecimento são reconhecidos:

(1) Puro - Aplicado - Sequência - Esquemas Livres


(2) Puro - Aplicado - Sequência - Esquemas

5.3 Identificação das Diferenças

Isso nos traz à lembranç que os esquemas de classificação, ainda que não
aplicáveis a livros de bibliotecas, podem ser chamados de esquemas de
classificação do conhecimento. Para sermos mais específicos, eles podem
ser chamados de esquemas de classificação de assunto. Chamá-los de
classificação de livros é algo totalmente enganoso. Os livros como tal não
são classificados por estes esquemas. É o assunto e o pensamento contido
num livro ou documento que são classificados. Então, o termo que pode ser
convenientemente utilizado para identificar tais esquemas é classificação de
assunto.

5.4 Por que Classificação de Bibliotecas?

A diferença entre classificação do conhecimento e classificação de assunto


pode ser perfeitamente demonstrada. Na classificação do conhecimento
nenhuma fronteira particular da área do conhecimento é geralmente
especificada e reconhecida; ao passo que, na classificação de assunto, as
áreas específicas do conhecimento são identificadas e reconhecidas. Mas
consciente ou inconscientemente a classificação de assunto está sendo
chamada de classificação de bibliotecas. Isso se deve a dois motivos:

(1) Classificação de assunto é o nome de um esquema de classificaçãoo feito


por James Duff Brown. Então, se o termo classificação de assunto pudesse
ser usado, ele significaria o esquema específico e não vários esquemas
relacionados à classificação de assuntos.

(2) Já que a classificação se aplicava a livros em bibliotecas, foi fácil nomear


tal esquema pelo termo classificação de bibliotecas ou classificação de livros,
esquecendo-se que ambos os termos foram totalmente enganadores.

5.41 Falácia da Classificaçãoo de Bibliotecas

"Library classification" pode significar a categorização de bibliotecas, como


biblioteca pública, biblioteca escolar, biblioteca universitária, biblioteca
especializada etc. Se, em vez de usar o termo "Library-classification" o termo
fosse usado especificamente como classificação de bibliotecas, o significado
se torna muito claro. Do mesmo modo como o termo "science classification",
o termo "library-classification" não indica que seja um esquema para
classificação das bibliotecas. O termo "book classification" é ainda mais
enganador. Os esquemas não classificam um livro como entidade física, mas
sim o pensamento nele contido é que é identificado e classificado. Talvez o
termo "book classification" tenha sido usado pelo fato do número de
classificação ou o número da classe ter sido dado ao livro como um todo,
resultando disso a seqüência dos livros nas estantes. Mas "book-
classificaciton" leva em conta o aspecto físico ou/ e as características de um
livro e não o conteúdo ou o assunto específico contido em suas páginas.

Um esquema de números para livros é um esquema de classificação de


livros. Mas um esquema de classificação de assunto ou para assuntos "não"
é um esquema de classificação de livros.

5.5 Principais Esquemas de Classificação Universais

Dos principais esquemas de classificação usados, os seguintes são


considerados universalmente aplicáveis à classificação dos assuntos:

1 Classificação Decimal Dewey, de Melvil Dewey, 1876


2 Classificação Expansiva, de C. A. Cutter 1891
3 Classificação da Biblioteca do Congresso, da Library of Congress, 1902
4 Classificação Decimal Universal, da F I D 1905
5 Classificação de Assuntos, de J. D. Brown 1906
6 Classificação dos Dois Pontos, de S. R. Ranganathan 1933
7 Classificação Bibliográfica, de H. E. Bliss 1935
8 Classificação Internacional de F. Rider 1961

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6 BASE TEÓRICA DOS ESQUEMAS

Muito tem sido escrito sobre as características de cada um destes esquemas,


mas algumas dificuldades encontradas na organização de um esquema de
classificação não foram bem compreendidas. Henry E. Bliss foi capaz de
propor uma teoria de classificação 'antes' de organizar seu esquema - a
'Classificação Bibliográfica'. O primeiro esboço impresso de seu esquema foi
publicado em 1910 e ele trabalhou durante 25 anos para organizar o
esquema baseado nos princípios por ele enunciados em seus dois
monumentais trabalhos [2].

Mesmo que outros esquemas tenham sido concebidos, seus autores ou


criadores não divulgaram antes qualquer teoria sobre eles. Vejamos isto mais
claramente na análise dos esquemas existentes.

6.1 Classificação Decimal

Melvil Dewey planejou a 'Classificação Decimal' sem, em nenhum momento,


ter exposto os fundamentos do esboço do esquema e a lógica por trás das
divisões dos principais assuntos, suas subdivisões, seçõeses, subseçõe;es,
etc. Ele se utilizou de uma notação - números arábicos, cuja base é
constituída por 9 dígitos.Baseou seu esquema nestas 9 classes, fazendo 9
outras divisões na categoria. Assim, houve pouca tentativa de fornecer um
esquema para a organização de assuntos baseada no consenso científico
que prevalecia naquele tempo. Como um classificador de correspondência no
correio, ele conseguiu 9 escaninhos nos quais passou a encaixar os
assuntos. Infelizmente Dewey não escreveu qualquer teoria, com exceção da
Introdução que deu à 'Classificação Decimal' e isso mesmo depois de ter
parado sua carreira ativa como bibliotecário ou professor de Biblioteconomia.
Após ter perdido seu emprego e vivido por 25 anos até sua morte, em
dezembro de 1931, ele não fez qualquer tentativa de escrever a teoria ou os
fundamentos da seqüência estabelecida no esquema de classificação ou das
tabelas de seu esquema, além do que havia exposto em sua 'Introdução'.
Apenas nesta descreveu o esquema proposto.

6.2 Classificação Expansiva

C.A. Cutter se interessou inicialmente pela catalogação e elaborou seu


código de catalogação em 1876 [3]. Ele foi um crí;tico severo da
'Classificação Decimal' e considerou um desafio conceber seu próprio
esquema de classificação, que ficou pronto entre 1891-1893. Ele introduziu
também uma nova característica chamada 'Lista de Lugar' mas nunca
declarou qualquer teoria ou base teórica ou lógica subjacente às seqüências
de classes e dos isolados nas várias partes de seu esquema de classificação.

6.3 Classificação da Library of Congress

Deve-se a Herbert Putnam a decisão de criar um esquema distinto para as


grandes coleções da Library of Congress. Inicialmente, ele desejava adotar a
disposição da 'Classificação Decimal' modificando-a posteriormente como
fosse possível. Mas Dewey não concordou com a idéia de modificação e
então a Library of Congress, consultando Cutter, adotou a disposição da
'Classificação Expansiva' com pequenas modificações. A estrutura da 'LC' e
suas classes foram baseadas no trabalho de comissões criadas para cada
uma das principais áreas do conhecimento. O esquema portanto perdeu a
integração da notação e dos conceitos. Parecia mais ou menos como uma
lista própria para a coleção da Library of Congress. Nem a teoria nem
qualquer outro aspecto da notação decimal introduzida por Dewey e Cutter foi
incorporada na construção do esquema. Nem mesmo um índice cumulativo
ou consolidado das classes ficou disponível e somente há pouco se pensou
nisso.

6.4 Classificação de Assunto

James Duff Brown defendia certos princípios de classificação mas não


defendeu qualquer teoriaã para seu esquema de claissificação. Ele achava
que as principais divisões do esquema de classificação são suscetíveis de
muitas mudanças, mas o assunto específico não deve mudar. Foi com este
objetivo que ele defendeu que todos os trabalhos relativos a um assunto
simples deviam permanecer juntos e justapostos a outros livros ou tópicos a
eles relacionados [4]. Este novo método de união de todos os aspectos de
um assunto em um lugar possibilitou a negação do método da classificação
feita por especialistas. Esta é talvez a razão pela qual a 'Classificaçãoo de
Assuntos' tenha desaparecido como classificação prática, mesmo em
bibliotecas onde foi introduzida pelo próprio Brown. Não houve qualquer
interesse em escrever uma teoria da classificação que fornecesse a base de
qualquer método escolhido por Brown para seu esquema. A presença do
Esquema de Categorias foi, no entanto, um novo esquema do que hoje
chamamos isolados comuns.

6.5 Classificação Decimal Universal

Paul Otlet e Henry La Fontaine estavam ansiosos por adotar uma esquema
de classificação para a bibliografia universal que decidiram publicar depois de
fundar o Instituto Internacional de Bibliografia (IIB) em 1895. A expansão da
'CDD' era a única possibilidade colocada anteriormente. Afirmam que Melvil
Dewey, tendo sabido da expansão de seu esquema sem seu conhecimento,
não aprovou tal expansão de início e não autorizou o IIB a fazer isso. Ele
pensava que qualquer expansão iria minimizar a utilidade básica do esquema
original e justificar as críticas feitas a ela. Mas, havendo adotado mais tarde o
esboço e a estrutura básica do esquema, os dois belgas tornaram-se os
sucessores tanto dos bons quanto dos maus pontos da 'CDD'. A ausência de
qualquer princípio básico para um esboço do esquema e a seqüência de
classes fizeram com que a 'CDU' sofresse dessas limitações. Apesar do
detalhamento do esquema e do uso de notação mista com bom número de
dígitos indicadores, e inúmeros esquemas auxiliares, o esquema carece de
uma teoria básica proposta por seus criadores originais.

6.6 Classificação dos Dois Pontos

Dr. Ranganathan concebeu o esboço da 'Classificação dos Dois Pontos' e


adotou o esquema para a coleção da Biblioteca da Universidade de Madras
antes de estabelecer qualquer teoria subjacente ao esquema. É
surpreendente que ele tenha concebido um novo método para a organização
do esquema de classificação - método facetado - sem mencionar tudo o que
veio a especificar em sua teoria mais tarde, depois da publicação do
esquema. Ele escreveu os 'Prolegomena to Library Classification' em
1937 [5] depois da 'Classificação dos Dois Pontos' ter sido criada e publicada
em 1933. Os 'Prolegomena' serviram de base para dois trabalhos
fundamentais de H. E. Bliss, autorizados pelo próprio Ranganathan.

A teoria básica, as técnicas de notação, as regras, os princípios, os


postulados etc. foram propostos e ampliados subsequentemente [6].

Ele analisou seu esquema de classificação para ilustrar a teoria que defendia
e também fez da 'Classificação dos Dois Pontos' uma aproximação das
volumosas teorias que enunciou e defendeu atravéss de toda sua vida. É
paradoxal que um grande teórico em classificação tivesse concebido um
esquema de classificação antes de enunciar sua teoria e mais tarde
adaptasse o esquema à sua teoria ou fizesse do esquema uma aproximação
de sua teoria.

6.7 Classificação Bibliogáfica

H. E. Bliss foi o único classificacionista que enunciou uma teoria para o


esquema de classificação criado mais tarde por ele. É claro que ele traçou o
esboço em 1910, o que o levou a um estudo de 25 anos e ao exame de
vários esquemas com suas avaliações críticas, como observou em seus dois
trabalhos (ver item anterior) e também em inúmeros princípios que defendeu
antes de ter concebido e publicado seu esquema de classificação em 1935.
Não existe outro exemplo em toda a história da Classificação para bibliotecas
onde um pesquisador tenha levado 25 anos para o estudo da classificação,
apresentado sua teoria e defendido seus próprios princípios para então
conceber o esquema como uma aproximação à teoria por ele anunciada.
Bliss foi o primeiro classificacionista capaz de dizer que um esquema de
classificação representava a 'organização do conhecimento' e, por isso, ter o
respeito dos cientistas e especialistas no ramo.

6.8 Classificação Internacional de Rider

Rider teve a oportunidade de estudar as várias teorias e sua aplicação aos


vários esquemas antes dele, mas preferiu ignorar o que havia acontecido até
então e retornou aos tempos de Dewey, quando não havia qualquer teoria
específica sobre a concepção de um esquema de classificação. Parece
estranho que Rider tenha gasto 30 anos na concepção de seu esquema e
não tenha feito nada para aprender algo das exposições teóricas feitas antes
dele. Seu esquema é uma aproximação da moderna teoria da classificação.

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7 O PRIMEIRO MARCO DE REFERÊNCIA E SUAS IMPLICAÇÕES

Melvil Dewey introduziu a notação decimal em seu esquema de classificação.


Introduziu pela primeira vez na classificação a notação de valor ordinal. A
partir deste método fornecia um número integral expresso na escala de 10.
Isso possibilitava uma base hierárquica na notação. Dewey, no entanto, não
inseriu o ponto decimal no início de cada número decimal. Ele usou um ponto
depois dos três primeiros dígitos como um dígito não significativo para fazer
com que o número fosse capaz de ser lido com apenas uma olhadela.

A introdução da notação da fração decimal foi o primeiro passo significativo


na classificação de assuntos. Isto também diferenciou esta classificação da
classificação escolástica dos lógicos e filósofos. Estes esquemas não
serviam para a subdivisão de qualquer assunto, num grau sempre crescente
de detalhes, nem mesmo para ajudar no arranjo dos isolados formados,
possibilitando manter o arranjo consistente. O sistema de números ordinais,
que é representado por números de classes, foi concebido mediante a
introdução da notação de fração decimal.

A utilidade da notação de fração decimal foi reconhecida por criadores de


esquemas de classificação que vieram depois de Melvil Dewey. Todos eles,
menos os criadores da 'LC' e 'CIR', adotaram a notação de fração decimal
para fornecer hospitalidade na cadeia em seus esquemas. O uso da notação
pura foi vencido pelo uso da notação mista por inúmeros inventores. Todos
estes criadores forneceram grande hospitalidade através do uso da notação
mista com seus valores ordinais. Os esquemas de classificação concebidos
pelos filósofos eram em sua grande maioria baseados em suas idéias,
especulações e intuição. Não havia, além disso, nenhuma necessidade de
anunciar qualquer teoria por trás dos arranjos feitos para as váriasáreas do
universo do conhecimento.

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8 O UNIVERSO DE ASSUNTOS E SUAS PECULIARIDADES

A classificação de assuntos ou o que chamamos de 'subject classification'


significava a classificação de assuntos específicos de várias dimensões. Para
fazer jús às exigências de características do universo de assuntos era
necessário desenvolver uma teoria de classificação de assuntos. O
surgimento do conceito de Isolado Comum e dos esquemas auxiliares foram
os novos desenvolvimentos na criação de um esquema de classificação. A
criação básica de um esquema de classificação ficava ao sabor do criador. O
crescimento exponencial de assuntos e a taxa de proliferação do universo de
assuntos criou um grande problema. O trabalho de construção de esquemas
tinha limitações e sentiu-se necessidade de desenvolver uma teoria regular
de classificação aplicada à criação de um esquema de classificação. Dr. S. R.
Ranganathan foi o primeiro a perceber a necessidade de uma teoria dinâmica
de classificação. Ele descobriu que o universo dos assuntos tinha suas
próprias particularidades que ele assim estabeleceu:

(i) O Universo de Assuntos era dinâmico;


(ii) Era infinito;
(iii) Era multidimensional;
(iv) Era multidirecional;
(v) Era sempre turbulento; e
(vi) Era um continuum.
Dr. Ranganathan, além disso, imaginou que o universo de assuntos, que
tinha particularidades (ver o mencionado acima) e que estava se tornando
rapidamente dinâmico, carecia de uma teoria dinâmica da classificação.

8.1 O Método Estático

É evidente que antes de Ranganathan os criadores de classificação


imaginavam um esquema estático de classificação para fazer face às
exigências do universo de assuntos dinâmico, multidimensional, sempre
turbulento. Então, naturalmente, os esquemas de classificação deixaram de
satisfazer as exigências do universo de assuntos do momento presente e do
futuro. As tentativas na teoria de classificação, conforme contidas na
classificação, tanto teóricas como práticas, e a organização do conhecimento
em bibliotecas foram muito estáticas e descritivas e havia pouca evidência
dos elementos dinâmicos nelas contidos.

8.2 O Advento da Teoria Dinâmica

Os 'Prolegomena to Library Classification' surgiram em 1937. Com isso, a


teoria estática descrita até então chegou ao fim e uma nova teoria dinâmica
surgiu, com certas limitações. A segunda edição dos 'Prolegomena' continuou
o processo da teoria dinâmica, que ficou totalmente pronta na terceira edição,
em 1967. Os princípios normativos formulados nesta teoria estão contidos no
seguinte:

(1) Leis gerais do processo básico de pensar;


(2) Cinco leis da Biblioteconomia, formando a base para o desenvolvimento
da Biblioteconomia, incluindo a classificação;
(3) Postulados, princípios e regras para fornecer diretrizes no trabalho de
classificação;
(4) Regras a serem usadas como criério na concepção de uma esquema
para classificação no plano verbal; e
(5) Regras para conceber diretrizes no trabalho de classificação no plano da
notação.

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91 O Trabalho nos Três Planos

Antes dos princípios normativos serem aplicados, o trabalho de classificação


foi demarcado em três planos a saber:

1 Plano das idéias


2 Plano verbal
3 Plano notacional

91.1 Análise Conceitual

O trabalho no plano das idéias é considerado superior. Ele provém do


trabalho da mente, que é o lugar onde se originam as idéias. O criador de
idéias precisa de auto-comunicação no interior da mente a fim de criar mais
idéias. O trabalho no plano das idéias pode ser tomado como análise do
conceito. Uma idéia é um conceito que ao tomar forma concreta pode levar a
alguma informação. A análise conceitual é uma tarefa difícil que tem que ser
esgotada na concepção do esquema de classificação. Um conceito pode ser
um isolado, um quase isolado ou um assunto e é a identificação de conceitos,
sua posição no universo de assuntos, seu arranjo sistemático entre outros
conceitos, etc., que faz do trabalho uma tarefa árdua.

91.2 A Terminologia nos Esquemas

A linguagem é uma mediadora para a comunicação de idéias ou conceitos.


Naturalmente, o trabalho no plano verbal tem que levar em consideração a
terminologia usada na expressão do conceito particular e na interpretação
daqueles conceitos ao comunicar o correto significado e a relação no
contexto com outros conceitos. Estes têm que ser livres de homonímia e
sinonímia, particularmente numa linguagem classificatória, que não é uma
linguagem natural.

91.3 Plano Notacional

O trabalho no plano notacional tem certas restrições. Ele tem que funcionar
de acordo com o que está convencionado pelo que foi trabalhado no plano
das idéias. A relação entre o plano notacional e o plano das idéias é a do
senhor e o criado. Mas, assim como um criado tem que seguir todas as
extravagâncias e fantasias de seu senhor, também o plano notacional tem
que desenvolver sua capacidade e versatilidade com o objetivo de
complementar totalmente as descobertas no plano das idéias.

91.31 Redução das Restrições

A restrição no plano notacional era evidente quando Melvil Dewey escolheu


somente 9 dígitos para representar a classe na sua esquema. A mesma
limitação continuou com a 'CDU', embora esta tenha tentado desenvolver-se
em sua limitação através da adoção da notação mista e inúmeras divisões
analíticas dos esquemas auxiliares. Mas o trabalho no plano notacional foi
sem dúvida alguma melhorado com a publicação da 'CC', em 1933, em uma
estrutura facetada, e uma teoria dinâmica suplementada por várias técnicas e
divulgada desde 1950.

91.32 Área Menos Assistida

A 'Classificação dos Dois Pontos' tenciona implementar as descobertas da


teoria dinâmica da classifica'ão para vencer as limitações notacionais e levar
a cabo as exigências de trabalho no plano das idëias. O trabalho nos três
planos tem que ser separado. Tal separação facilita a exploração de cada
esfera de trabalho. Observou-se que, enquanto o trabalho no plano das
idéias e no plano notacional necessitava de constante atenção, revisão,
modificação e desenvolvimento, o trabalho no plano verbal tinha permanecido
mais ou menos constante.
91.4 Análise da Obra

Uma análise da obra nos três planos traz à tona os seguintes pontos:

(1) A análise do conceito tem que ser feita em assocção com especialistas
em lingüística e especialistas no assunto. Não pode ser feito por um
especialista em classificação ou pelo próprio criador do esquema. Isso
significa que mais e mais pessoas de outras disciplinas devem estar
associadas com o trabalho de classificação, particularmente na análise dos
conceitos - sua interpretação, sua seqüência, sua interrelação e elucidação.

(2) Postulados, princípios e regras devem ser aplicáveis rigorosamente aos


três planos de trabalho e às áreas especificadas onde um trabalho posterior
precise utilizar os princípios e cânones.

(3) Há necessidade de se demarcar outro plano de trabalho entre o plano


verbal e o notacional. Uma vez desenvolvidos e expressos os conceitos, eles
precisam ser estabelecidos numa seqüência requerida pelo plano das idéias
antes de adotar a notação. Este plano se engajará no arranjo, rearranjo,
adoção ou mudança de seqüência dos isolados ou conceitos, conforme
estabelecido no plano verbal, mas antes que as técnicas notacionais sejam
aplicadas. Isto pode ser interpretado de uma outra maneira. Antes do aparato
notacional ser dado a um conceito ou a uma érie de conceitos, é necessário
algum trabalho para tornar a seqüência de conceitos ou a aplicação de
conceitos compaível com a técnica notacional dispoível para a classificação.
Alguns podem não concordar com a observação, mas é claro que o trabalho
no plano notacional tem que ser o de levar em conta a idéia de preparação
do conceito para o emprego da notação e a operação da notação aos
conceitos.

91.5 Revisão dos Termos Isolados

Os esquemas de classificação foram concebidos com a terminologia em uso


naquele tempo. No curso dos anos alguns termos se tornaram obsoletos e
perderam sua aceitação e alguns novos termos vieram a entrar no campo
para representar os antigos conceitos. Então a substituição de termos antigos
e a omissão de termos obsoletos e a introdução de novos termos têm que ser
feitas através de constante revisão dos termos isolados em cada uma das
tabelas de um esquema de classifica'vãoo. Este trabalho foi levado adiante
pelo Departamento de Biblioteconomia da Universidade Hindu de Benares
por um aluno de mestrado em Biblioteconomia, que preparou um quadro
comparativo dos termos usados em Ciências Biológicas em três esquemas
de classificação - CDD, CC e CDU - e também no tesauro em cada um dos
assuntos [7]. O resultado foi que todos os esquemas tiveram menos termos
correntes e tiveram também inúmeros termos obsoletos. Tal trabalho tem que
ser feito em outras disciplinas se quisermos que nossos esquemas de
classificação representem os conceitos corretamente e com uma terminologia
atualizada e modelar.

92 Identificação dos Números Homônimos e Sinônimos


Existe uma grande quantidade de números homônimos e sinônimos
particularmente na 'CDD' e na 'CDU'. Em 1946, quando eu era aluno do
Departamento de Biblioteconomia na Universidade Hindu de Benares iniciei o
trabalho de identificação de números homônimos e sinônimos na
'Classificação Decimal'. O resultado, um esforço grandioso, foi publicado em
1946 [8]. Este trabalho não foi continuado posteriormente. Alguns passos
devem ser dados para se descobrir os números sinônimos e homônimos de
forma que se estabeleça a unicidade dos números de classes e o esquema
de classificação fique livre de números homônimos e de números sinônimos.

93 História de um Esquema Modelo

Neste artigo não pretendo me deter em outras idéias, sugerindo observações


para seu aperfeiçoamento, masé amplamente aceito na India que as pessoas
se engajem na avaliação e no desenvolvimento da teoria existente e na
técnica notacional desenvolvida pelas contribuições do Dr. Ranganathan.
Mesmo reconhecendo que a 'Classificção dos Dois Pontos' é uma esquema
prático muito superior a outros esquemas de classificação, ela talvez não seja
adotada por grande número de bibliotecas fora da India, mas é adotada por
um grande número de bibliotecas no sul da India e praticamente nas mais
importantes bibliotecas do norte da India. A teoria por trás da 'CC' viverá e
está sendo estudada em quase todas as escolas de Biblioteconomia e de
Ciência da Informação. O estudo da teoria da classificação através do "CCC'
(Comitê Central de Classificação da FID) torna-se um guia para a
classificação prática, mesmo trabalhando com outros esquemas. Aqueles que
tiverem como experiência o trabalho com a 'CDD', a 'CDU' e a 'CC', irão
concordar comigo que, ao trabalhar com esses esquemas, particularmente
atribuindo números aos documentos, o método 'CC', baseado nos seus
fundamentos teóricos, é sempre útil.

Ao escolher a primeira fase, a segunda, a terceira, etc., de um número de


classe que represente um assunto científico, o método da teoria básica da
'CC' é proveitoso. A impossibilidade da 'CDU' fornecer números únicos, pelo
fato de poder construir números alternativos, encontra na Análise de Faceta e
nos princípios de seqüência de facetas a base para produzir números de
classe úteis para atender as necessidades da maioria dos usuários.

94 Análise do Conceito

Creio que o termo 'Classificação para Bibliotecas' deveria ser substituido por
Classificação de Conceitos pois a classificação de assunto cria homonímia.
Já a Dra. I. Dahlberg trabalhou na análise conceitual endossando a teoria
básica da classificção como foi realizada pelo Dr. Ranganathan. Ela é de
opiniã que a estrutura do sistema deveria ser baseada na categoria de
descritores de objetos e campos de aspectos, o que é um esclarecimento
avançado para a categoria fundamental e para os conceitos de relação de
fase usados na Classificação dos Dois Pontos.

95 CDU Reestruturada
Estou convencido, também, que o futuro do sistema de classificção universal
se baseia na adoção de uma teoria dinâmica da classificação, como a
desenvolvida por Ranganathan. Embora a CDU seja um esquema
internacional de classificação e seja adotada em muitas bibliotecas
especializadas, bem como na área de informação, o esquema com suas
limitações é incapaz de ir ao encontro das necessidades das dinâmicas
caracteísticas do universo de assuntos. Enquanto a estrutura da CDU não
puder ser modificada, uma estrutura modificada na forma de BSO (Broad
System of Ordering) já foi criada [9]. A CDU pode ter grande utilidade e
longevidade com mais flexibilidade e hospitalidade se adotar alguns dos
conceitos e princípios teóricos básicos, incluindo as técnicas notacionais na
reestruturação de suas classes. Esta é uma nova linha de estudo que deve
ser considerada pela FID e seus comitê - FID/CCC e FID/CR.

95.1 Concepção do ASCOM

Enquanto estive no encontro do Centro Regional da UNESCO para o


Hemisfério Ocidental assumi a tarefa de criar um esquema analítico-sint'rtico
de classificação de Medicina dentro da organização da CDU, que estava
sendo adotado no Centro Nacional de Informação em Ciências Médicas em
Havana, Cuba. Dois médicos e dois biblioários trabalharam comigo e nós
criamos um novo esquema de Medicina chamado ASCOM (Analytico-
Synthetic Classification of Medicine) dentro da estrutura da CDU [10]. O
esquema foi apresentado posteriormente no Congresso Mundial de Medicina
realizado em Bruxelas e foi colocado, ainda, em computador. Tais estudos
em outras áreas ajudariam tremendamente no desenvolvimento das
potencialidades existentes e na versatilidade dos esquemas da CDU.

96 Aplicação da Teoria de Ranganathan à CDU

Um aluno do Mestrado em Biblioteconomia do Departamento de


Biblioteconomia da Universidade Hindu de Benares desenvolveu o trabalho
'Aplicação da Teoria de Ranganathan à CDU'. Este trabalhá me convenceu
que resultados muito melhores podem ser obtidos pela aplicação da teoria
proposta por Ranganathan e reconhecida por todo mundo, se pudesse ser
incluida no esboço do quadro da CDU. Em 1962, Donker Duyvis, Secretário
Geral da FID, ao homenagear Ranganathan expressou seu desejo de que
poderia haver a combinação dos dois sistemas de classificação bibliográ -
CDU e CC - e que se houvesse alguém que tivesse interesse em tal trabalho,
este seria o 'Sábio Amigo do Oriente'. Deixem-me colocar aqui o que ele
realmente disse:

'Sei que a tarefa de reunir as duas classificações multidimensionais e


dinâmicas é mais do que sobre-humana e devo me confessar incapaz
de cumprí-la mesmo parcialmente. Mas, se descobrirmos alguém em
quem possamos confiar, ele fará uma séria tentativa de unificá-las.
Acho que esta pessoa &é o nosso sábio amigo vindo do Oriente.' [11]

Donker Duyvis tinha confiaça de que o 'ábio homem' - Dr. Ranganathan -


poderia combinar os princípios da Classificação dos Dois Pontos com a
utilidade da CDU e o esquema combinado que ele pudesse projetar seria
uma grande contribuição para o estudo da classificação e de sua aplicação
ao trabalho de informação, por muitos anos vindouros.

* O autor faz um trocadilho com o nome de Porfírio [N. do T.]

Referências

[1] BROWN, J. D. Library classification and cataloging, 1916, p. 1.

[2] BLISS, H. E. Organisation of knowledge in libraries and subject approach to books. 1. Ed.
1933, 2. Ed. 1939.

[3] CUTTER, C. A. Rules for a dictionary catalogue.

[4] BROWN, J. D. Subject classification - Introduction.

[5] RANGANATHAN, S. R. Prolegomena to library classification. Ed. 1. 1937; Ed. 2. 1957;


Ed. 3. 1964.

[6] Ibid. p. 13.

[7] VARSHNEY, S. Canon of currency and schedules of classification schemes. (M. Lib. Sc.
Dissertation)

[8] KAULA, P. N. Homonymous and synonymous decimal numbers (ILA Bulletin, vol. 4, 1946,
p. 32-35).

[9] COATES, Eric; LLOYD, G.; SIMANDL, Dusan . Broad system of ordering manual. 1979.

[10] DORF RUDICH, Solomon; BRAVO, j. Raman; KAULA, P. N. ASCOM - Analyutico-


synthetic classification of Medicine (Herald of Library Science, vol. 12, 1973, p. 299-312)

[11] DUYVIS, Donker Jubilee of the creator of the Colon Classification (In: Library Science
Today, ed. by P. N. Kaula, p. 34)

(Do orignal em inglês: Rethinking on the concepts in the study of classification, publicado em
Herald of Library Science, vol. 23, n. 2, Jan./Apr. 1984, p. 30-44)

(Direitos de tradução e divulgação cedidos pelos editores de Herald of Library Science)

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