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RACIOCÍNIO LÓGICO

AULA 1

Prof. André Roberto Guerra


CONVERSA INICIAL

Esta aula constitui uma introdução à lógica elementar clássica,


procurando alcançar os objetivos gerais e específicos propostos pela disciplina
para cursos da área da computação.
Os conteúdos previstos para esta disciplina contemplam uma introdução
(definições preliminares e classificação da lógica), seguida pelo cálculo
proposicional (operações lógicas e construção das tabelas-verdade), fórmulas
proposicionais especiais (proposições compostas e propriedades semânticas),
relações da implicação lógica e da equivalência lógica, álgebra das proposições,
o método dedutivo, a lógica predicativa, e, por fim, o cálculo dos predicados de
1ª ordem.
O roteiro proposto contempla na aula inicial as definições preliminares do
raciocínio lógico, incluindo as áreas de atuação, uma classificação da lógica e
os períodos, as definições de argumento dedutivo e indutivo, proposição e
predicados. Na sequência, o cálculo proposicional e de predicados, definindo os
elementos – proposição e suas variáveis proposicionais, conectivos lógicos,
símbolos auxiliares –, e, ao final, a ordem de precedência dos conectivos.
Objetivos de acordo com a taxonomia de Bloom revisada:

• Definições preliminares;
• Objetivos específicos.

CONTEXTUALIZANDO

O raciocínio lógico é definido e avaliado por diversas linhas de pesquisa


da neurociência, desde as fases iniciais da vida. Contudo, nas disciplinas iniciais
dos cursos superiores, com ênfase à área 1.03.00.00-7 – Ciência da
Computação e à subárea 1.03.04.00-2 – Sistemas de Computação, percebe-se
grande dificuldade dos acadêmicos em compreender tais conceitos elementares.
As atividades são desenvolvidas pelos mais diversos sistemas
computacionais, desde circuitos básicos de mudança de estado (transistores)
até os mais avançados algoritmos de machine learning e realidade virtual. Como
definido por Tanenbaum (2013), “um computador digital é uma máquina que
pode resolver problemas para as pessoas executando instruções que Ihe são
dadas. Uma sequência de instruções que descreve como realizar certa tarefa é
denominada programa”.
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Os circuitos eletrônicos de cada computador podem reconhecer e
executar diretamente um conjunto limitado de instruções simples, e, para que os
programas possam ser executados, todos devem antes ser convertidos em
instruções. Juntas, as instruções primitivas de um computador formam uma
linguagem pela qual as pessoas podem se comunicar com ele. Essa linguagem
é denominada linguagem de máquina.
Os conceitos e definições, objetos de estudo desta aula, são a base para
o entendimento dessa linguagem.

TEMA 1 – DEFINIÇÕES PRELIMINARES

A palavra lógica deriva do grego logos, que significa: palavra,


pensamento, ideia, argumento, relato, razão lógica ou princípio lógico.
Segundo a definição do dicionário Aurélio, lógica é a “coerência de
raciocínio, de ideias. Modo de raciocinar peculiar a alguém, ou a um grupo.
Sequência coerente, regular e necessária de acontecimentos, de coisas",
podendo ser definida, então, como a ciência do raciocínio.
Veja a seguir algumas definições de lógica por diferentes autores:

• “Lógica é o estudo de argumentos.” (Nolt; Rohatyn, 1991)


• “A lógica formal é uma ciência que determina as formas corretas (válidas)
de raciocínio.” (Copi, 1968)
• “Estudo dos métodos e princípios usados para distinguir o raciocínio
correto do incorreto.” (Dopp,1970)
• “O aprendizado da lógica auxilia os estudantes no raciocínio, na
compreensão de conceitos básicos, na verificação formal de programas e
os prepara melhor para o entendimento do conteúdo de tópicos mais
avançados.” (Abar, 2011)
• “Lógica é a ciência das leis ideais do pensamento e a arte de aplicá-las à
pesquisa e à demonstração da verdade.” (Nascimento, 2015)

A lógica é utilizada em ciências humanas, como filosofia, direito e letras


(na interpretação de texto, argumentação correta e análise semântica); e
amplamente utilizada nas ciências exatas, em especial nos cursos de
matemática, ciência da computação, engenharia elétrica e de computação, nos
conteúdos de algoritmos e programação, projetos de circuitos lógicos, teoria de

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bancos de dados relacionais, teoria de sistemas distribuídos, e, em especial, na
inteligência artificial.
A lógica é bastante utilizada como método representacional para
comunicar conceitos e teorias dentro da comunidade de inteligência artificial.
Diferentemente de algumas outras representações (como quadros), a lógica
permite raciocinar facilmente sobre negativas (como “este livro não é vermelho”)
e disjunções (“ele é um soldado ou um marinheiro”). E ela também é usada para
representar linguagem em sistemas que sejam capazes de compreender e
analisar a linguagem humana.
Uma das principais fraquezas da lógica tradicional é a sua incapacidade
de lidar com incerteza. Sentenças lógicas devem ser expressas em termos de
verdade ou falsidade – não é possível raciocinar, em lógica clássica, sobre
possibilidades.
Há versões de lógicas, tais como lógicas modais, que fornecem alguma
capacidade para raciocinar sobre possibilidades, bem como métodos
probabilísticos e lógica nebulosa, os quais, por sua vez, fornecem modos bem
mais rigorosos para raciocinar em situações de incerteza (Coppin, 2017).

1.1 Períodos da lógica

Abbar (2011) apresenta um “esboço" do desenvolvimento da lógica.

1.1.1 Período aristotélico (± 390 a.C. a ± 1840 d.C.)

A história da lógica tem início com o filósofo grego Aristóteles (384 –


322 a.C.) de Estagira (hoje Estavo, na Macedônia).
Aristóteles criou a ciência da lógica, cuja essência era a teoria do
silogismo (certa forma de argumento válido). Seus escritos foram reunidos na
obra denominada Organon, ou Instrumento da Ciência.

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Figura 1 – Aristóteles

Crédito: thelefty/Shutterstock.

Na Grécia, distinguiram-se duas grandes escolas de lógica, a


peripatética, que derivava de Aristóteles, e a estoica, fundada por Zenão (326-
264 a.C.).
A escola estoica foi desenvolvida por Crisipo (280-250a.C.) a partir da
escola megária (fundada por Euclides, seguidor de Sócrates). Segundo Kneale
e Kneale (O Desenvolvimento da Lógica), houve durante muitos anos certa
rivalidade entre os peripatéticos e os megários, o que talvez tenha prejudicado o
desenvolvimento da lógica, embora, na verdade, as teorias destas escolas
fossem complementares.

1.1.2 Gottfried Wilhelm Leibniz (1646-1716)

Seus trabalhos tiveram pouca influência à sua época, apenas sendo


conhecidos e apreciados no século XIX.

Figura 2 – Gottfried Wilhelm Leibniz

Crédito: Nicku/Shutterstock.

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1.1.3 Período booleano: (± 1840 a ± 1910)

Inicia-se com George Boole (1815-1864) e Augustus de Morgan (1806-


1871). Publicaram os fundamentos da chamada álgebra da lógica,
respectivamente com Mathematical Analysis Of Logic e Formal Logic.

Figura 3 – George Boole

Crédito: D. Ribeiro/Shutterstock.

1.1.4 Gotlob Frege (1848-1925)

Deu um grande passo no desenvolvimento da lógica com a obra


Begriffsschrift, de 1879. Suas ideias só foram reconhecidas pelos lógicos mais
ou menos a partir de 1905. É devido a Frege o desenvolvimento da lógica que
se seguiu.

1.1.5 Giuseppe Peano (1858-1932)

Fundou a escola italiana juntamente de Burali-Forti, Vacca, Pieri, Pádoa,


Vailati, entre outros, à qual se deve quase toda a simbologia da matemática.

1.1.6 Período atual (desde 1910)

Com Bertrand Russell (1872-1970) e Alfred North Whitehead (1861-


1947) se inicia o período atual da lógica, com a obra Principia Mathematica.

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Figura 4 – Bertrand Russell

Crédito: rook76 /Shutterstock.

• David Hilbert (1862-1943): escola alemã, com von Neuman, Bernays,


Ackerman e outros.
• Kurt Gödel (1906-1978) e Alfred Tarski (1902-1983), com suas
importantes contribuições.
• Lógicas não clássicas: N. C. A. da Costa, com as lógicas
paraconsistentes; L. A. Zadeh, com a lógica fuzzy; e as contribuições
dessas lógicas para a informática, no campo da inteligência artificial, com
os sistemas especialistas.

Atualmente, as especialidades se multiplicam e as pesquisas em lógica


englobam muitas áreas do conhecimento.

1.2 Classificações da lógica

Alguns autores dividem o estudo da lógica em: indutiva e dedutiva.

1.2.1 Lógica indutiva

Útil no estudo da teoria da probabilidade (não será abordada nesta aula).

1.2.2 Lógica dedutiva (formal)

Trata da validade dos argumentos. O objetivo principal é a verificação de


um argumento, se é estruturado de forma tal que, independentemente dos
valores lógicos das proposições simples envolvidas, a veracidade das premissas

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implica sempre na veracidade da conclusão. Os argumentos são definidos em
tópico específico deste roteiro.
A lógica dedutiva trata apenas da verificação da validade de argumentos,
e não de sua solidez (assunto das outras ciências).
Ela pode ser dividida em:

• lógica clássica;
• lógicas complementares da clássica;
• lógicas não clássicas.

1.2.3 Lógica clássica

Considerada o núcleo da lógica dedutiva. Denominada atualmente


cálculo de predicados de 1ª ordem, apresentado e definido neste roteiro, em
tópico específico.

1.2.4 Lógicas complementares da clássica

Complementam de algum modo a lógica clássica estendendo o seu


domínio.
Exemplos: lógicas modais, deôntica, epistêmica etc.

1.2.5 Lógicas não clássicas

Derrogam algum ou alguns dos princípios da lógica clássica.


Exemplos: paracompletas e intuicionistas (derrogam o princípio do
terceiro excluído); paraconsistentes (derrogam o princípio da contradição); não
aléticas (derrogam o terceiro excluído e o da contradição); não reflexivas
(derrogam o princípio da identidade); probabilísticas; polivalentes; fuzzy-logic.
Nos últimos anos, as lógicas não clássicas têm sofrido enorme
desenvolvimento, em virtude, principalmente, de novas aplicações, algumas das
quais na área computacional, como a lógica nebulosa.

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TEMA 2 – CONCEITOS

2.1 Argumentos

Para o bom entendimento e compreensão do conteúdo proposto, o


principal objetivo será a investigação da validade de argumentos.
Um argumento é uma sequência de enunciados na qual um dos
enunciados é a conclusão, e os demais são premissas, as quais, por sua vez,
servem para provar, ou pelo menos fornecer, alguma evidência para a
conclusão.
Argumento, então, é um conjunto de enunciados ou sentenças
declarativas, conhecidas também como afirmações ou proposições (verdadeiras
ou falsas), formado por uma ou mais premissas acompanhadas de uma
conclusão. Portanto, argumento = premissa(s) + conclusão.

A lógica estuda a relação entre as premissas (também chamadas de


hipóteses) e a conclusão (também chamada de tese), visando concluir se esta
última é ou não consequência das premissas, validando-se ou não o argumento.
As premissas e a conclusão de um argumento, formuladas em uma
linguagem estruturada, permitem que o argumento possa ter uma análise lógica
apropriada para a verificação de sua validade. Tais técnicas de análise serão
tratadas no decorrer deste roteiro.
A lógica está relacionada ao raciocínio e à validade de argumentos.
Geralmente, não se preocupa com a veracidade das sentenças, mas sim com
a sua validade. Isso quer dizer que, apesar de o seguinte argumento ser
claramente lógico, ele não é considerado verdadeiro:

• Todos os limões são azuis;


• Mary é um limão;
• Então, Mary é azul.

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Esse conjunto de sentenças é considerado válido, pois a conclusão (Mary
é azul) segue logicamente as outras duas sentenças (premissas) (Coppin, 2017).
O mesmo autor, Coppin (2017), cita que a razão pela qual validade e
veracidade podem ser separadas desse modo é simples: um raciocínio é
considerado válido se sua conclusão for verdadeira, nos casos em que suas
premissas também sejam verdadeiras.
Assim, um conjunto válido de sentenças, como as anteriores, pode chegar
a uma conclusão falsa, desde que uma ou mais das premissas também sejam
falsas.
Portanto, “um raciocínio é válido se ele conduzir a uma conclusão
verdadeira em todas as situações nas quais as premissas sejam verdadeiras”.
A lógica está envolvida com valores-verdade. Os possíveis valores-
verdade são verdadeiros e falsos. Estes podem ser considerados as unidades
fundamentais da lógica, e quase toda lógica está, em última análise, envolvida a
tais valores-verdade.
Exemplo A Exemplo B
Premissa: “Todo homem é mortal.” “Se x > 0, x é positivo.”
Premissa: “José é homem.” “x = 4.”
Conclusão: “Logo, José é mortal.” “Logo, 4 é positivo.”

Os argumentos estão tradicionalmente divididos em dedutivos e indutivos.

2.1.2 Argumento dedutivo

Válido quando suas premissas e sua conclusão são verdadeiras.

• Premissa: "Todo homem é mortal."


• Premissa: "João é homem."
• Conclusão: "João é mortal."

Esses argumentos (dedutivos) serão objeto de estudo desta disciplina.

2.1.3 Argumento indutivo

A verdade das premissas não basta para assegurar a verdade da


conclusão.

• Premissa: "É comum após a chuva ficar nublado."


• Premissa: "Está chovendo."
• Conclusão: "Ficará nublado."

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Premissas

Pedro é homem e mortal.


João é homem e mortal.
José é homem e mortal.

Conclusão

Todos os homens são mortais.

Esses argumentos (indutivos) não são objeto de estudo desta disciplina.

2.2 Argumento dedutivo válido e sólido

Os termos válido e inválido não se aplicam aos argumentos indutivos; eles


costumam ser avaliados de acordo com a maior ou menor possibilidade de que
suas conclusões sejam estabelecidas.
Um argumento dedutivo válido, ou simplesmente argumento válido, é
aquele em que, sendo todas as premissas verdadeiras, obrigatoriamente a
conclusão é verdadeira.
Exemplos:

• “Todo homem é mortal. José é homem. Logo, José é mortal.”


• “Todo verdureiro é bonito. José é verdureiro. Logo, José é bonito.”

Um argumento sólido é aquele em que as premissas são certamente


verdadeiras na realidade.
No primeiro exemplo, o argumento é sólido, pois “Todo homem é mortal.”
e “José é homem.”, ou seja, são premissas realmente verdadeiras.
Já no segundo exemplo, a premissa “Todo verdureiro é bonito.” não
necessariamente é sempre verdadeira.
Logo, o primeiro exemplo é um argumento válido e sólido, enquanto o
segundo é apenas válido. Como já foi dito, a lógica dedutiva trata apenas da
verificação da validade de argumentos, e não da sua solidez.
A validade do argumento depende apenas da forma do argumento:
se as premissas são verdadeiras, então a conclusão é verdadeira. As premissas
de um argumento dedutivo não precisam ser verdadeiras no mundo real, uma
vez que a validade do argumento depende apenas da forma.

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Se as premissas de um argumento dedutivo forem de fato verdadeiras, e
a conclusão for verdadeira no sentido da forma (argumento válido), então o
argumento também é sólido.

TEMA 3 – PRINCÍPIOS DA LÓGICA FORMAL

A lógica formal repousa sobre três princípios fundamentais que permitem


o seu desenvolvimento e dão validade a todos os atos do pensamento e do
raciocínio. São eles:

• Princípio da identidade. Afirma 𝑨𝑨 = 𝑨𝑨 e não pode ser 𝑩𝑩, o que é, é; ou


seja, todo objeto é idêntico a si próprio. Isso não é um simples jogo de
palavras; na verdade, é possível defender a noção oposta, de que a
realidade é fluida, de que nada permanece igual a si próprio, e que
qualquer raciocínio sobre objetos é ficção.
• Princípio da não contradição. 𝑨𝑨 = 𝑨𝑨 e nunca pode ser 𝒏𝒏ã𝒐𝒐 𝑨𝑨, o que é,
é e não pode ser sua negação, ou seja, o ser é, ou não ser não é. Um
objeto não pode, simultaneamente, ser e não ser. Ou seja, não é possível
afirmar e negar o mesmo predicado para o mesmo objeto ao mesmo
tempo; ou ainda, de duas afirmações contraditórias, uma é
necessariamente falsa.
• Princípio do terceiro excluído. Afirma que ou 𝑨𝑨 é 𝒙𝒙 ou 𝑨𝑨 é 𝒚𝒚; não existe
terceira possibilidade.

A negação de um ou mais desses princípios dá origem a outras lógicas,


chamadas genericamente de lógicas não clássicas, das quais já falamos
anteriormente nesta aula.

TEMA 4 – PROPOSIÇÃO E PREDICADO

O primeiro passo na construção de uma linguagem simbólica, mais


adequada à formulação dos conceitos da lógica, é a definição de proposição
simples.
Em linhas gerais, uma proposição simples (ou enunciado, ou sentença),
é uma declaração que exprime um pensamento com sentido completo (Pinho,
1999).
Uma proposição (ou afirmação) é uma sentença que é verdadeira (𝑽𝑽) ou
falsa (𝑭𝑭), e nunca ambas.
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Exemplos:

• “𝟐𝟐 + 𝟐𝟐 = 𝟒𝟒” é uma proposição 𝑽𝑽.


• “𝟐𝟐 + 𝟐𝟐 = 𝟑𝟑” é uma proposição 𝑭𝑭.

Define-se proposição simples como aquela que não contém nenhum


conectivo lógico, como nos exemplos apresentados.
Define-se proposição composta como aquela que contém algum
conectivo lógico (~ 𝒏𝒏ã𝒐𝒐, ∧ 𝒆𝒆, ∨ 𝒐𝒐𝒐𝒐, → 𝒔𝒔𝒔𝒔 … 𝒆𝒆𝒆𝒆𝒆𝒆ã𝒐𝒐, ↔ 𝒔𝒔𝒔𝒔 𝒆𝒆 𝒔𝒔𝒔𝒔𝒔𝒔𝒔𝒔𝒔𝒔𝒔𝒔𝒔𝒔 𝒔𝒔𝒔𝒔)
Exemplo:

• “𝟐𝟐 + 𝟐𝟐 = 𝟒𝟒” 𝒆𝒆 “𝟐𝟐 + 𝟐𝟐 = 𝟑𝟑” é uma proposição composta (no caso, 𝑭𝑭).

O objetivo da lógica, no entanto, não é verificar se as proposições são


verdadeiras ou falsas, e sim examinar o relacionamento entre as proposições,
em decorrência de seus valores lógicos.
A lógica não se interessa pelo significado das proposições, apenas por
sua forma. Por exemplo, uma proposição como “A Lua é o satélite da Terra” pode
ser tratada como “a proposição p”, não sendo necessária nenhuma referência a
conhecimentos de astronomia.
Então, de acordo com os princípios da lógica, podemos afirmar que: toda
proposição é necessariamente verdadeira ou falsa, não existindo outra
possibilidade; nenhuma proposição pode ser simultaneamente verdadeira e
falsa; e toda proposição verdadeira é sempre verdadeira, não podendo ser às
vezes verdadeira e às vezes falsa.
Muitas das ideias envolvidas nos argumentos podem ser apresentadas
por meio de proposições (também chamadas de enunciados ou sentenças), que
se referem a um objeto; por exemplo, “eu ganhei na loteria”, “José atirou uma
pedra no lago”, “Sócrates é um homem”. Tais proposições são chamadas
singulares.
Existem outras proposições, no entanto, que fazem referência a conjuntos
de objetos; por exemplo, “todos os homens são mortais”, “alguns astronautas
foram à Lua”, “nem todos os gatos caçam ratos”. Os termos homens, astronautas
e gatos são conceitos; não se referem a nenhum homem, astronauta ou gato
em particular, mas sim ao conjunto de propriedades que faz com que um objeto
esteja em uma categoria ou em outra. Tais propriedades são chamadas
predicados.

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Como a lógica que trata apenas das proposições singulares é mais
simples do que a que trata de conjuntos de objetos, os autores preferiram
separar o estudo da lógica matemática em duas partes: o cálculo
proposicional, ou lógica sentencial, que se ocupa das proposições singulares,
e o cálculo de predicados, ou lógica dos predicados, que trata dos conjuntos
de objetos e suas propriedades.
Para tratar dos objetos e suas propriedades, o cálculo de predicados
apresenta dois conceitos matemáticos: a variável, para se referir a um objeto
genérico de uma categoria; e os quantificadores, expressões como “para todo”
e “existe algum” para se referirem à quantidade de objetos que partilham o
mesmo predicado.
Assim, a proposição “todos os homens são mortais” assume a forma “para
todo 𝒙𝒙, se 𝒙𝒙 é um homem, então 𝒙𝒙 é mortal” e as proposições “alguns astronautas
foram à Lua” e “nem todos os gatos caçam ratos” assumem respectivamente as
formas “existe um 𝒙𝒙 tal que 𝒙𝒙 é um astronauta e 𝒙𝒙 foi à Lua” e “existe um 𝒙𝒙 tal
que 𝒙𝒙 é um gato e 𝒙𝒙 não caça ratos”.
Quando as variáveis e quantificadores se referem apenas aos objetos, o
cálculo de predicados também é chamado lógica de primeira ordem; mas
podemos pensar em uma situação na qual as variáveis e quantificadores se
refiram também aos predicados; por exemplo, considere o enunciado “existe um
predicado que todas as pessoas possuem”, que pode ser expresso por “existe
um 𝒑𝒑 tal que 𝒑𝒑 é um predicado e tal que para todo 𝒙𝒙, se 𝒙𝒙 é uma pessoa, 𝒙𝒙 possui
𝒑𝒑”.
Quando as variáveis e quantificadores se referem também aos
predicados, como na expressão anterior, temos o que chamamos lógica de
segunda ordem. Um exemplo importante é o principio de indução matemática:
“se o numero 𝟏𝟏 tiver um predicado, e o fato de 𝒏𝒏 possuir esse predicado implica
em que 𝒏𝒏 + 𝟏𝟏 também o possua, então o predicado se aplica a todos os
números naturais”.
Os predicados de primeira ordem são, pois, aqueles que se aplicam a
indivíduos; de segunda ordem são aqueles que se aplicam a indivíduos e aos
predicados de primeira ordem. A generalização pode prosseguir,
considerando−se predicados de terceira ordem, de quarta ordem, e assim por
diante, cada um deles aplicando-se aos indivíduos e aos predicados das ordens
anteriores.

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TEMA 5 – CÁLCULO PROPOSICIONAL E DE PREDICADOS

O cálculo proposicional trata do estudo de proposições compostas, que


são formadas por proposições simples ligadas por conectivos lógicos
(expressões lógicas).
Exemplo:

• “𝟐𝟐 + 𝟐𝟐 = 𝟒𝟒” ou “𝟐𝟐 + 𝟐𝟐 = 𝟓𝟓”: resulta em 𝑽𝑽.

Além das proposições, a lógica dispõe de uma função, chamada valor


lógico (representada por VL), que associa a cada proposição simples um de
dois valores lógicos, chamados verdadeiro (representado por 𝑽𝑽) ou falso
(representado por 𝑭𝑭). Geralmente, o valor lógico 𝑽𝑽 ou 𝑭𝑭 é associado à
proposição, em consonância com o significado da proposição no mundo real,
embora isso não seja essencial.
Os valores lógicos das proposições são representados por:

𝑽𝑽𝑽𝑽[𝒑𝒑] = 𝑽𝑽 𝑽𝑽𝑽𝑽[𝒒𝒒] = 𝑽𝑽 𝑽𝑽𝑽𝑽[𝒓𝒓] = 𝑭𝑭 𝑽𝑽𝑽𝑽[𝒔𝒔] = 𝑭𝑭

Em termos gerais, o cálculo proposicional é frequentemente apresentado


como um sistema formal que consiste em um conjunto de expressões sintáticas
(fórmulas bem formadas, ou fbfs), um subconjunto distinto dessas expressões,
e um conjunto de regras formais que define uma relação binária específica, a
qual se pretende interpretar como a noção de equivalência lógica, no espaço das
expressões.

5.1 Símbolos da linguagem

Em linguagem simbólica, as proposições simples são representadas pelas


letras 𝒑𝒑, 𝒒𝒒, 𝒓𝒓, 𝒔𝒔, 𝒕𝒕 etc., denominadas variáveis proposicionais.

𝒑𝒑 − A Lua é o satélite da Terra.


𝒒𝒒 − Pedro Álvares Cabral descobriu o Brasil.
𝒓𝒓 − Dante escreveu Os Lusíadas.
𝒔𝒔 − O Brasil é uma monarquia.

Na lógica simbólica, os conectivos são chamados operadores, e são


representados por símbolos específicos:

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Operação Conectivo Símbolo
Negação Não ∼
Conjunção E ∧
Disjunção Ou ∨
Implicação ou condicional se... então →
Bi-implicação ou bicondicional se e somente se ↔

• A Lua 𝒏𝒏ã𝒐𝒐 é quadrada: ~𝒑𝒑


• A Lua é quadrada 𝒆𝒆 a neve é branca: 𝒑𝒑 ∧ 𝒒𝒒 (conjunctos)
• A Lua é quadrada ou a neve é branca: 𝒑𝒑 ∨ 𝒒𝒒 (disjunctos)
• 𝑺𝑺𝑺𝑺 a Lua é quadrada 𝒆𝒆𝒆𝒆𝒆𝒆ã𝒐𝒐 a neve é branca: 𝒑𝒑 → 𝒒𝒒
• A Lua é quadrada 𝒔𝒔𝒔𝒔 𝒆𝒆 𝒔𝒔𝒔𝒔𝒔𝒔𝒔𝒔𝒔𝒔𝒔𝒔𝒔𝒔 𝒔𝒔𝒔𝒔 a neve é branca: 𝒑𝒑 ↔ 𝒒𝒒

Os parênteses ( ) são utilizados para denotar o "alcance" dos conectivos:

• 𝑺𝑺𝑺𝑺 a Lua é quadrada 𝒆𝒆 a neve é branca, 𝒆𝒆𝒆𝒆𝒆𝒆ã𝒐𝒐 a Lua 𝒏𝒏ã𝒐𝒐 é


quadrada: ((𝒑𝒑 ∧ 𝒒𝒒) ⟶ ~𝒑𝒑)

Os parênteses alteram a ordem de precedência dos conectivos:

~, ∧ , ∨, ⟶ , ⟷

Um predicado é um tipo de proposição que depende de definições


adicionais (quantificação) para poder ser tratado como uma proposição 𝑽𝑽 ou 𝑭𝑭.
Um predicado é uma proposição quantificada, que realmente se torna
uma proposição quando as variáveis que a definem assumem valores
específicos, podendo-se então atribuir um valor 𝑽𝑽 ou 𝑭𝑭.
Neste caso, o predicado torna-se uma proposição para aquele conjunto
de valores estabelecidos para as variáveis do predicado.
Exemplo:

• “𝒙𝒙 + 𝒚𝒚 = 𝟐𝟐” é um predicado: depende dos valores de 𝒙𝒙 e 𝒚𝒚 para se saber


se é 𝑽𝑽 ou 𝑭𝑭.
• Se “𝒙𝒙 = 𝟏𝟏” e “𝒚𝒚 = 𝟏𝟏” (variáveis definidas), então “𝒙𝒙 + 𝒚𝒚 = 𝟐𝟐” torna-se uma
proposição 𝑽𝑽.

O cálculo de predicados é uma extensão do cálculo proposicional que


trata de predicados, ou proposições quantificadas.

• “𝒙𝒙 > 𝟎𝟎” e “𝒄𝒄𝒄𝒄𝒄𝒄 = ‘𝒂𝒂𝒂𝒂𝒂𝒂𝒂𝒂’”: será 𝑽𝑽 se 𝒙𝒙 for positivo e cor for azul.

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FINALIZANDO

Nesta aula foram apresentados os conteúdos iniciais da disciplina, com


ênfase nas definições preliminares do raciocínio lógico, apresentando os
conceitos de diferentes autores, as áreas de atuação, as proposições e os
conectivos. Foram também apresentados os períodos da lógica, num “esboço"
do seu desenvolvimento ao logo da história. Em seguida, uma classificação da
lógica em indutiva e dedutiva.
Na sequência, as definições de argumento dedutivo e indutivo, válido e
sólido, enfatizando que a investigação da validade de argumentos é o principal
objetivo da lógica. No capítulo seguinte, os três princípios fundamentais da lógica
formal, que permitem todo raciocínio.
No tema seguinte, o conceito de predicado e de proposição, o primeiro
passo na construção de uma linguagem simbólica, mais adequada à formulação
dos conceitos da lógica, e a definição de proposição simples.
Finalizamos com o cálculo proposicional, que trata do estudo de
proposições compostas, e também o cálculo de predicados, definindo os
elementos, os símbolos auxiliares e a ordem de precedência dos conectivos.
A compreensão de tais conceitos é o princípio para o entendimento das
atividades a serem desenvolvidas pelos mais diversos sistemas computacionais,
desde os circuitos mais básicos de mudança de estado – os transistores – até
os mais avançados algoritmos de machine learning e de realidade virtual.

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RACIOCÍNIO LÓGICO
AULA 2

Prof. André Roberto Guerra


CONVERSA INICIAL

O roteiro proposto contempla, nesta aula, as operações lógicas sobre as


proposições e a construção das tabelas-verdade. Serão apresentadas as regras
específicas das operações e sua aplicação – o cálculo proposicional.
Definidos os termos e símbolos que compõem a lógica proposicional,
inicia-se o cálculo das sentenças/proposições, permitindo a validação da
resposta encontrada (Quadro 1).

Quadro 1 – Objetivos da lógica proposicional

Operações lógicas sobre proposições


Objetivos de acordo com Construção de tabelas-verdade
a taxonomia de Bloom
revisada
Objetivos específicos
Fonte: Elaborado pelo autor.

TEMA 1 – OPERAÇÕES LÓGICAS

Os princípios da lógica (identidade, contradição e terceiro excluído) e o


alfabeto (símbolos da linguagem, variáveis proposicionais, conectivos lógicos e
símbolos especiais), apresentados anteriormente, são a base do cálculo das
proposições.
Proposição é um conjunto de símbolos (alfabeto, combinação de palavras,
frase) que deve atender a duas condições básicas:

 deve ter sentido completo;

 ser apenas verdadeira (V) ou falsa (F).

São também classificadas como:

 simples;

 ou compostas (caso em que possuem os operadores lógicos).

Proposições simples são representadas por símbolos: as letras


minúsculas 𝒑, 𝒒, 𝒓, 𝒔 etc. São, portanto, denominadas variáveis proposicionais, as
quais podem assumir os valores lógicos de verdadeiras ou falsas (V ou F).
Exemplos de variáveis proposicionais:

 𝒑: “A lua é quadrada”;

2
 𝒒: “A neve é branca”.

Proposições compostas, ou fórmulas proposicionais, são


representadas por letras maiúsculas (𝑷, 𝑸, 𝑹, 𝑺 etc.), indicando as variáveis
proposicionais que as compõem (𝒑, 𝒒, 𝒓, 𝒔 etc.).
Exemplo de fórmula proposicional (proposição composta):

 𝒑: “A lua é quadrada”;

 𝒒: “A neve é branca”;

 𝑷(𝒑, 𝒒): “Se a lua é quadrada, então a neve é branca”. “Se 𝒑, então 𝒒”.

1.1 Operações e conectivos

Em lógica simbólica, a ação de combinar proposições é chamada de


operação e os conectivos são chamados de operadores e são representados por
símbolos específicos, conforme Quadro 2.

Quadro 2 – As operações lógicas e seus respectivos conectivos e símbolos

Operação Conectivo Símbolo


Negação Não ∼
Conjunção E ∧
Disjunção Ou ∨
Implicação ou condicional se... então →
Bi-implicação ou bicondicional se e somente se ↔
Fonte: Elaborado pelo autor.

Para determinar o valor lógico de uma proposição composta, em função


dos valores lógicos das proposições que a compõem, deve-se definir as
operações, isto é, dar o resultado da operação para cada possível conjunto de
valores dos operandos.
Operação é definida como a ação de combinar proposições e os
conectivos (representados por símbolos) são os operadores.
Os conectivos lógicos são usados para construir proposições compostas
(fórmulas atômicas), formando argumentos mais complexos. São os conectivos
lógicos que permitirão construir proposições compostas para formar argumentos
mais complexos.
Usando conectivos, é possível construir proposições como nos exemplos:

3
 “Pedro é magro e Mário é alto”;

 “José foi ao cinema, Roberto foi ao parque e Marcelo ficou em casa”;

 “Roberta foi ao mercado ou à padaria”;

 “João saiu e Marcos ficou em casa”;

 “A Lua não é satélite da Terra”;

 “Se a chuva continuar a cair, então o rio vai transbordar”;

 “Se Pedro estudar, então será aprovado”;

 “Pedro será aprovado se e somente se estudar”.

1.2 Fórmulas proposicionais

Fórmulas proposicionais (proposições compostas) são representadas por


letras maiúsculas (𝑨, 𝑩, 𝑪, 𝑷, 𝑸, 𝑹 etc.) indicando as variáveis que as compõem
(𝒑, 𝒒, 𝒓, 𝒔 etc.). Como em:
𝒑: “A lua é quadrada”;
𝒒: “A neve é branca”; então
𝑨(𝒑, 𝒒): “Se a lua é quadrada, então a neve é branca” = “𝑺𝒆 𝒑, 𝒆𝒏𝒕ã𝒐 𝒒”
𝒑 → 𝒒.
Toda fórmula atômica (proposição composta) é uma fórmula. Se 𝑨 e 𝑩
são fórmulas, então: (~𝑨), (𝑨 ∧ 𝑩), (𝑨 ∨ 𝑩), (𝑨 → 𝑩), (𝑨 ↔ 𝑩) também são
fórmulas.
Todos os símbolos proposicionais e de verdade são fórmulas. Se 𝑨 é uma
fórmula, então ~𝑨 também é uma fórmula.
Constituem operações sobre as fórmulas proposicionais:

 Negação: ~𝑨, ~𝑩;

 Conjunção: 𝑨 ∧ 𝑩;
 Disjunção: 𝑨 ∨ 𝑩;
 Implicação: 𝑨 → 𝑩;
 Bi-implicação: 𝑨 ↔ 𝑩, sendo: 𝑨: antecedente; 𝑩: consequente.

Exemplo de fórmula proposicional (proposição composta):


𝒑: “Eu estudo”;
𝒒: “Sou aprovado”;

4
𝑷(𝒑): “Não estudo” = ~𝒑;
𝑷(𝒑, 𝒒): “Estudo e sou aprovado” = 𝒑 ∧ 𝒒;
𝑷(𝒑, 𝒒): “Estudo ou sou aprovado” = 𝒑 ∨ 𝒒;
𝑷(𝒑, 𝒒): “Se estudo então sou aprovado” = 𝒑 → 𝒒;
𝑷(𝒑, 𝒒): “Sou aprovado se e somente se estudo” = 𝒒 ↔ 𝒑.

1.3 Ordem de precedência dos conectivos/operações

Em proposições mais longas, o uso de muitos parênteses para definir a


precedência das operações pode tornar sua análise mais complexa. Para
resolver isso, é comum se estabelecer uma ordem de precedência dos
conectivos lógicos que torna desnecessária a colocação de parênteses:
Precedência: 1ª 2ª 3ª 4ª 5ª
Operador: ∼ ∧ ∨ → ↔
Os parênteses são utilizados apenas para alterar a ordem de precedência
de avaliação dos operadores. Assim, na expressão 𝒑 ∧ (𝒒 ∨ 𝒓), o ou é avaliado
antes do e.
Para os operadores binários (∧, ∨, →, ↔), quando uma expressão
contém vários operadores iguais, avalia-se da esquerda para a direita.
Para o operador unário ~, quando houver vários consecutivos, resolve-se
da direita para a esquerda (“de dentro para fora”).
Em relação ao algoritmo ordem de precedência, há quatro passos:

1. Percorra a expressão da esquerda para a direita, executando as


operações de negação, na ordem em que aparecerem.

2. Percorra novamente a expressão, da esquerda para a direita,


executando as operações de conjunção e disjunção, na ordem em que
aparecerem.

3. Percorra outra vez a expressão, da esquerda para a direita, executando


dessa vez as operações de implicação (condicionais), na ordem em que
aparecerem.

4. Percorra uma última vez a expressão, da esquerda para a direita,


executando as operações de bi-implicação (bicondicionais), na ordem
em que aparecerem.

5
Dessa forma, as operações da expressão 𝒑 ∧∼ 𝒒 → 𝒓 ∨ 𝒔 serão
executadas na seguinte ordem:
𝒑 ∧∼ 𝒒 → 𝒓 ∨ 𝒔
21 4 3.
Um caso especial é a utilização de negações consecutivas; por exemplo,
a proposição “é falso que eu não tenha saído” pode ser simbolizada por ∼∼ 𝒑
(em que 𝒑 representa “eu tenha saído”); nesse caso, a segunda negação deve
ser executada antes.
Quando necessário modificar a ordem de precedência, utilizam-se
parênteses. Assim, no exemplo dado, a expressão 𝒑 ∧ 𝒒 → 𝒓 significa:
“Se Mário foi ao cinema e João foi ao teatro, então Marcelo ficou em
casa”;
e a expressão 𝒑 ∧ (𝒒 → 𝒓) significa:
“Mário foi ao cinema e, se João foi ao teatro, então Marcelo ficou em
casa”.
A utilização dos conectivos ∧ e ∨ pode causar ambiguidade até mesmo
em linguagem natural, como, por exemplo, na expressão:
“Mário foi ao cinema e Marcelo ficou em casa ou Maria foi à praia”,
representada por 𝒑 ∧ 𝒒 ∨ 𝒔, que não deixa claro seu significado, que
tanto pode significar:
“Mário foi ao cinema e Marcelo ficou em casa ou então Maria foi à praia”,
representada por (𝒑 ∧ 𝒒) ∨ 𝒔; como pode significar:
“Mário foi ao cinema e Marcelo ficou em casa ou Maria foi à praia”,
representada por 𝒑 ∧ (𝒒 ∨ 𝒔), que são claramente afirmações distintas.
Segundo a ordem de precedência da lógica, a expressão dada
corresponde à primeira forma apresentada; contudo, para evitar incertezas,
utilizam-se parênteses.
Assim, as expressões simbólicas podem assumir aspectos ainda mais
complexos, como, por exemplo:
(𝒑 ↔ 𝒒 ∨ (∼ 𝒓 → 𝒔)) ∧∼ 𝒕.
Para determinar a ordem de execução das operações que possuem
parênteses, utiliza-se o algoritmo ordem de precedência com parênteses, em
cinco passos, a saber:

1. Percorra a expressão até encontrar o primeiro “)”.

6
2. Volte até encontrar o “(” correspondente, delimitando assim um trecho da
expressão sem parênteses.

3. Execute o algoritmo ordem de precedência sobre a expressão


delimitada.

4. Elimine o par de parênteses encontrado.

5. Volte ao passo 1.

De acordo com esse algoritmo, as operações da expressão anterior


seriam executadas nesta ordem:
(𝒑 ↔ 𝒒 ∨ (∼ 𝒓 → 𝒔)) ∧ ∼ 𝒕
4 3 1 2 6 5.
Uma proposição composta é, portanto, formada por conexões de
proposições simples. Ou seja, uma proposição composta é uma cadeia
constituída pelos símbolos 𝒑, 𝒒, 𝒓 etc., representando proposições simples,
símbolos de conectivos e parênteses.
No entanto, nem toda cadeia desses símbolos representa uma proposição
composta; por exemplo, a cadeia 𝑨𝑩 ↔ ) ∧∧∨ ( 𝑪 → não tem nenhum significado
em lógica. Temos então o problema de reconhecer quando uma cadeia desses
símbolos representa realmente uma proposição composta.
As proposições são também conhecidas por fórmulas bem formadas (ou,
simplesmente, fórmulas) e possuem uma lei de formação.

Nota
Estabelecer precedência entre operadores é uma questão basicamente
de convenção. Por exemplo, alguns autores estabelecem a precedência dos
operadores de implicação e bi-implicação (→ e ↔, respectivamente) antes dos
de conjunção e disjunção (∧ e ∨, respectivamente). Também se convencionou
que, quando os operadores são repetidos, resolve-se a expressão da esquerda
para a direita (exceto para a negação). Todavia, em outras referências,
convenciona-se que, quando há repetição do operador de implicação (→) ou bi-
implicação (↔), resolve-se a expressão da direita para a esquerda. Assim, para
essa outra convenção, a expressão que aqui seria escrita como 𝒑 → 𝒒 → 𝒓, lá
deve ser escrita como (𝒑 → 𝒒) → 𝒓. Dessa forma, uma expressão como essa
será avaliada da mesma forma, nas duas convenções, por meio do uso de
parênteses para ajustar as precedências. Portanto, quando for consultado um

7
livro sobre lógica ou utilizada uma calculadora proposicional (existe disponível
na web), deve-se verificar qual a precedência utilizada para poder compatibilizar
as proposições.

1.4 Tradução da linguagem natural para a linguagem dos símbolos

Trata-se de procedimento inicial para o cálculo proposicional a tradução


da linguagem natural para a linguagem dos símbolos (proposições lógicas) e
vice-versa.
Segue exemplo de tradução de linguagem natural para simbólica com
mas e nem e uso de parênteses:
𝒑: “Está quente”;
𝒒: “Tem sol”;
“Não está quente mas tem sol” equivale a “Não está quente e tem
sol”; (~𝒑) ∧ 𝒒 (mas equivale a ∧).
Já “Não está quente nem ensolarado” equivale a “Não está quente e não
está ensolarado”; (~𝒑) ∧ (~𝒒).
Parênteses (símbolos auxiliares) são utilizados para estabelecer o
alcance ou a precedência na avaliação de expressões mais longas, com mais de
um operador. E enquanto não for definida uma precedência para os diversos
operadores (∼, ∧, ∨, →, ↔). Um exemplo de operações lógicas simbólicas com
parênteses:
𝒑: “A lua é quadrada”;
𝒒: “A neve é branca”;
“Se a lua é quadrada e a neve é branca, então a lua não é quadrada”:
(𝒑 ∧ 𝒒) → (~𝒑).
“A lua não é quadrada se e somente se a neve é branca”:
(~𝒑) ↔ 𝒒.
Outro exemplo de tradução de linguagem natural para simbólica encontra-
se com base na seguinte proposição composta:
“Meu peso aumenta se e somente se não faço nem dieta nem exercícios,
então vou para o trabalho a pé ou de bicicleta”.
Determinam-se as proposições simples e, com elas, monta-se a
proposição simbólica correspondente a essa proposição composta.
𝒑: “Meu peso aumenta”;
𝒒: “Eu faço dieta”;
8
𝒓: “Eu faço exercícios”;
𝒔: “Eu vou para o trabalho a pé”;
𝒕: “Eu vou para o trabalho de bicicleta”, logo:
(𝒑 ↔ (∼ 𝒒 ∧ ∼ 𝒓 )) → ( 𝒔 ∨ 𝒕 ).

TEMA 2 – TABELAS-VERDADE

Numa proposição composta, as diversas proposições simples podem


assumir os valores lógicos de verdadeiro ou falso (𝑽 ou 𝑭). Uma vez estabelecida
a proposição composta, é necessário poder se calcular o seu valor final em
função das diversas combinações possíveis para os valores das proposições
simples (𝒑, 𝒒, 𝒓 etc.), o que também resultará em um valor lógico (𝑽 ou 𝑭).
Portanto, é preciso conhecer o resultado das operações resultantes da
utilização dos diversos conectivos lógicos representados por ~, ∧, ∨, → e ↔.
Dados uma expressão proposicional e os valores lógicos das proposições
simples que a compõem, utilizando-se a ordem de precedência é possível
calcular o valor lógico da expressão.
A construção de tabela-verdade é a maneira de confirmar os valores que
são apresentados em cada proposição.
Para se determinar o valor (verdadeiro ou falso) das proposições
compostas (moleculares), após conhecidos os valores das proposições simples
(atômicas) que as compõem, são utilizadas as tabelas-verdade.
A tabela-verdade de uma proposição composta é uma tabela na qual são
apresentados todos os valores-verdade possíveis de uma proposição composta,
para cada combinação dos valores-verdade de suas proposições componentes.
Cada linha da tabela corresponde a uma possível combinação dos valores
lógicos das proposições componentes; como são dois os valores lógicos,
existem, para 𝒏 componentes, 2n combinações possíveis.
Ao aplicar um operador lógico qualquer entre dois operandos lógicos 𝒑 e
𝒒, existirão quatro possibilidades de combinação entre 𝒑 e 𝒒; e, assim, serão
quatro os resultados possíveis para a operação, cada um sendo 𝑽 ou 𝑭.
A Tabela 1 ilustra essa situação.

9
Tabela 1 – Exemplo de tabela-verdade

p q p, q
V V V ou F
V F V ou F
F V V ou F
F F V ou F
Fonte: Elaborada pelo autor.

A tabela-verdade possui dois tipos de colunas:

 Colunas para as proposições componentes (variáveis), onde são


distribuídos os valores 𝑽 e 𝑭 de forma a incluir cada possível combinação.

 Colunas para as operações, onde os valores 𝑽 e 𝑭 são obtidos pelas


operações.

Assim, se a expressão possui 𝒏 componentes e 𝒎 operações, a tabela


terá 𝒎 + 𝒏 colunas.

2.1 Valor lógico proposicional

Para recuperar o valor lógico de uma proposição 𝒑, será utilizada a


seguinte notação: 𝑽𝑳(𝒑). Assim, se 𝒑 for verdadeira, então 𝑽𝑳(𝒑) = 𝑽; se for
falsa, 𝑽𝑳(𝒑) = 𝑭.

TEMA 3 – CONSTRUÇÃO DE TABELAS-VERDADE

Dada uma expressão proposicional e dados os valores lógicos das


proposições simples que a compõem, é possível, com a ordem de precedência,
calcular o valor lógico da expressão dada. Contudo, o objetivo, muitas vezes, é
se determinar o conjunto de valores lógicos que a expressão pode assumir, para
quaisquer valores lógicos das proposições componentes.
Por exemplo, considere a expressão proposicional: 𝒑 ∨ 𝒒 → 𝒑 ∧ 𝒒. Na
expressão, existem apenas duas variáveis, 𝒑 e 𝒒. Cada uma pode ser verdadeira
ou falsa, então temos quatro possibilidades: 𝒑 e 𝒒, ambas, verdadeiras; 𝒑
verdadeira e 𝒒 falsa; 𝒑 falsa e 𝒒 verdadeira; ou, finalmente, 𝒑 e 𝒒, ambas, falsas.
Cada linha da tabela-verdade corresponde a uma possível combinação
dos valores lógicos das proposições componentes; como são dois os valores
lógicos, existem, para 𝒏 componentes, 𝟐𝒏 combinações possíveis. Portanto, a
tabela-verdade tem 𝟐𝒏 linhas, além do cabeçalho.
10
Para determinar a tabela-verdade, são estabelecidas certas convenções
para sua construção:

 Para as colunas:

1. dispor as proposições componentes em ordem alfabética;

2. dispor as operações na ordem de precedência determinada pelo


algoritmo ordem de precedência (com parênteses, se for o caso).

 Para as linhas:

1. alternar 𝑽 e 𝑭 na coluna do último componente;

2. alternar 𝑽, 𝑽 e 𝑭, 𝑭 na coluna do penúltimo componente;

3. alternar 𝑽, 𝑽, 𝑽, 𝑽 e 𝑭, 𝑭, 𝑭, 𝑭 na coluna do antepenúltimo componente;

4. prosseguir dessa forma se houver mais componentes, sempre dobrando


o número de 𝑽 e 𝑭 a cada coluna à esquerda.

Utilizando-se as convenções estabelecidas para construção das colunas,


calculado o número de linhas e obedecendo-se à ordem de precedência das
operações, a tabela assume a forma qual a Tabela 2.

Tabela 2 – Tabela-verdade em construção

𝒑 𝒒 𝒑∨𝒒 𝒑∧𝒒 𝒑∨𝒒→𝒑∧𝒒


V V V V V
V F V F F
F V V F F
F F F F V
Fonte: Elaborada pelo autor.

Uma tabela-verdade como a da Tabela 2, na qual são apresentados todos


os valores-verdade possíveis de uma proposição composta, para cada
combinação dos valores-verdade das proposições componentes, é chamada de
tabela-verdade da proposição composta.
Ex.: considere a expressão proposicional
(𝒑 → 𝒒) ∨∼ ((𝒑 ↔ 𝒓) → ∼ 𝒓).
A precedência das operações é dada por:
(𝒑 → 𝒒) ∨∼ ((𝒑 ↔ 𝒓) → ∼ 𝒓)
1 65 2 4 3.
A tabela-verdade correspondente assume o aspecto da Tabela 3.

11
Tabela 3 – Exemplo de aplicação de tabela-verdade

𝒑 𝒒 𝒓 𝒑 → 𝒒 𝒑 ↔ 𝒓 ∼ 𝒓 (𝟐) → (𝟑) ∼ (𝟒) (𝒑 → 𝒒) ∨∼ ((𝒑 ↔ 𝒓) → ∼ 𝒓)


(1) (2) (3) (4) (5) (6)
1 V V V V V F F V V
2 V V F V F V V F V
3 V F V F V F F V V
4 V F F F F V V F F
5 F V V V F F V F V
6 F V F V V V V F V
7 F F V V F F V F V
8 F F F V V V V F V
Fonte: Elaborada pelo autor.

A atribuição de valores lógicos aos componentes simples de uma


proposição composta é chamada de uma interpretação dessa proposição.
Assim, uma proposição com 𝒏 componentes, 𝟐𝒏 combinações possíveis, 𝒏
componentes simples distintos, admitirá 𝟐𝒏 interpretações.

TEMA 4 – REGRAS ESPECÍFICAS DAS OPERAÇÕES

Para a construção das tabelas-verdade, algumas regras/normas


específicas para cada operação lógica individualmente aqui apresentadas
devem ser seguidas/observadas.

4.1 Negação

Chama-se negação de uma proposição 𝒑 a proposição representada por


~𝒑 (não 𝒑), cujo valor lógico é 𝑭 (falso) quando 𝒑 é 𝑽 (verdadeiro) e 𝑽
(verdadeiro) quando 𝒑 é 𝑭 (falso).
Seja a proposição 𝒑: “Paulo vai a festa”. Se 𝑽𝑳(𝒑) = 𝑽, então 𝑽𝑳(~𝒑) =
𝑭, ou seja, ∼ 𝒑: “Paulo não vai à festa”.
A negação inverte o valor-verdade de uma expressão. Se 𝒑 é 𝑽
(verdadeira), a negação de 𝒑 é 𝑭 (falsa), ao passo que se 𝒑 é 𝑭 (falsa), ∼ 𝒑 é 𝑽
(verdadeira).
A tabela-verdade da operação de negação segue as normas e regras
definidas, em especial por essa ser a única operação unária (uma função com
somente uma variável). Portanto, com (𝟐𝟏 ), 2 linhas (Tabela 4).

12
Tabela 4 – Tabela-verdade de uma operação de negação

𝒑 ~𝒑
V F
F V
Fonte: Elaborada pelo autor.

4.2 Conjunção

Chama-se conjunção de duas proposições 𝒑 e 𝒒 a proposição


representada por 𝒑 ∧ 𝒒 (p e q), cujo valor lógico é 𝑽 (verdadeiro) quando ambas
as proposições (𝒑, 𝒒) são 𝑽 (verdadeiras) e 𝑭 (falso), nos demais casos.
Seja a proposição: “Paulo e José irão à festa” (𝒑: “Paulo vai à festa”;
𝒒: “José vai à festa”). Essa proposição será 𝑽 (verdadeira) apenas quando Paulo
for e José for, sendo 𝑭 (falsa) em qualquer outra situação (quando Paulo for e
José não for ou Paulo não for e José for ou quando ambos não forem).
Se 𝒑 e 𝒒 são proposições, a expressão 𝒑 ∧ 𝒒 é chamada de conjunção de
𝒑 e 𝒒 e as proposições 𝒑 e 𝒒 são chamadas de fatores da expressão.
A tabela-verdade da operação de conjunção segue normas e regras
definidas e, como nas outras operações, essa é uma função com pelo menos
duas variáveis. Portanto, com (𝟐𝟐 ), 4 linhas (Tabela 5).

Tabela 5 – Tabela-verdade de uma operação de conjunção

𝒑 𝒒 𝒑∧𝒒
V V V
V F F
F V F
F F F
Fonte: Elaborada pelo autor.

4.3 Disjunção

Chama-se disjunção (inclusiva) de duas proposições 𝒑 e 𝒒 a proposição


representada por 𝒑 ∨ 𝒒 (p ou q), cujo valor lógico é 𝑽 (verdadeiro) quando pelo
menos uma das proposições (𝒑, 𝒒) é 𝑽 (verdadeira), sendo 𝑭 (falso) apenas
quando ambos os valores lógicos das proposições forem 𝑭 (falsos), o que pode
ser representado por:

13
(𝑽𝑳(𝒑) = 𝑭, 𝑽𝑳(𝒒) = 𝑭).
Seja a proposição: “Paulo ou José irão à festa” (𝒑: “Paulo vai à festa”;
𝒒: “José vai à festa”). Essa proposição será 𝑽 (verdadeira) em qualquer situação
em que Paulo for ou José for (quando Paulo for ou José não for; ou quando
Paulo não for e José for; ou quando Paulo for e José for), sendo 𝑭 (falsa) apenas
quando ambos não forem.
Se 𝒑 e 𝒒 são proposições, a expressão 𝒑 ∨ 𝒒 é chamada de disjunção de
𝒑 e 𝒒 e as proposições 𝒑 e 𝒒 são chamadas de parcelas da expressão.
A tabela-verdade da operação de disjunção segue normas e regras
definidas, como nas outras operações, também com (𝟐𝟐 ), 4 linhas (Tabela 6).

Tabela 6 – Tabela-verdade de uma operação de disjunção

𝒑 𝒒 𝒑∨𝒒
V V V
V F V
F V V
F F F
Fonte: Elaborada pelo autor.

4.4 Implicação (condicional)

Chama-se de implicação (ou condicional), de duas proposições 𝒑 e 𝒒, a


proposição representada por 𝒑 → 𝒒 (se p, então q), cujo valor lógico é 𝑭 (falso)
apenas quando o valor lógico da proposição antecedente é 𝑽 (verdadeiro) e o
consequente é 𝑭 (falso), sendo 𝑽 (verdadeiro) em todos os demais casos.
Seja a proposição: “Se Paulo for à festa, então José vai à festa” (𝒑: “Paulo
vai à festa”; 𝒒: “José vai à festa”). Essa proposição será 𝑭 (falsa) apenas quando
Paulo (antecedente) for e José (consequente) não for. Será 𝑽 (verdadeira) em
qualquer outra situação (quando Paulo for e José for, quando José for ou Paulo
não for ou quando Paulo não for e José não for).
A tabela-verdade da operação de implicação segue normas e regras
definidas, como nas outras operações, também com (𝟐𝟐 ), 4 linhas (Tabela 7).

14
Tabela 7 – Tabela-verdade de uma operação de implicação (condicional)

𝒑 𝒒 𝒑→𝒒
V V V
V F F
F V V
F F V
Fonte: Elaborada pelo autor.

4.5 Bi-implicação (bicondicional)

Chama-se de bi-implicação (ou bicondicional), de duas proposições 𝒑 e


𝒒, a proposição representada por 𝒑 ↔ 𝒒 (p se e somente se q), cujo valor lógico
é 𝑽 (verdadeiro) quando os valores lógicos das proposições são iguais e 𝑭
(falso) quando os valores lógicos das proposições são diferentes.
Seja a proposição: “Paulo vai à festa se e somente se José vai à festa”
(𝒑: “Paulo vai à festa”; 𝒒: “José vai à festa”). Essa proposição será 𝑽 (verdadeira)
sempre que ambos forem ou não. Será 𝑭 (falsa) sempre quando um for e o outro
não for.
A tabela-verdade da operação de bi-implicação segue normas e regras
definidas, como nas outras operações, também com (𝟐𝟐 ), 4 linhas (Tabela 8).

Tabela 8 – Tabela-verdade de uma operação de bi-implicação (bicondicional)

𝒑 𝒒 𝒑↔𝒒
V V V
V F F
F V F
F F V
Fonte: Elaborada pelo autor.

4.6 Ou exclusivo

Importante ressaltar que a operação chamada de ou pode ter dois


sentidos na linguagem habitual: inclusivo (disjunção “∨”) e exclusivo (“∨”).
É representada por 𝒑 ∨ 𝒒 (p ou exclusivo q), que significa
((𝒑 ∨ 𝒒) ∧ ~(𝒑 ∧ 𝒒)), cujo valor lógico é 𝑽 (verdadeiro) quando os valores lógicos
das proposições são diferentes e 𝑭 (falso) quando os valores lógicos das
proposições são iguais.
15
A tabela-verdade da operação ou exclusivo segue normas e regras
definidas, como nas outras operações, também com (𝟐𝟐 ), 4 linhas (Tabela 9).

Tabela 9 – Tabela-verdade de uma operação de ou exclusivo

𝒑 𝒒 ((𝒑 ∨ 𝒒) ∧ ~(𝒑 ∧ 𝒒))


V V V FF V
V F V VV F
F V V VV F
F F F FV F
Fonte: Elaborada pelo autor.

TEMA 5 – APLICAÇÃO: CÁLCULO PROPOSICIONAL

Construir a tabela-verdade da seguinte proposição:


𝒑 → (𝒒 ∧ ∼ 𝒑) ↔∼ (𝒑 ∨ 𝒒) ∧ (∼ 𝒑 ∨ q).
Seguir as convenções estabelecidas para construção da tabela-verdade,
que tem 𝟐𝒏 linhas, além do cabeçalho; logo, (𝟐𝟐 ), 4 linhas.
Para as colunas:

1. Dispor as proposições componentes em ordem alfabética.

2. Dispor as operações na ordem de precedência determinada pelo


algoritmo ordem de precedência (com parênteses, se for o caso).

Tabela 10 – Colunas da tabela-verdade proposta

𝒑 𝒒 𝒑 → (𝒒 ∧ ∼ 𝒑) ↔∼ (𝒑 ∨ 𝒒) ∧ (∼ 𝒑 ∨ q)
8 2 1 96 3 7 4 5
1
2
3
4
Fonte: Elaborada pelo autor.

Para as linhas:

3. Alternar 𝑽 e 𝑭 na coluna do último componente.

4. Alternar 𝑽, 𝑽 e 𝑭, 𝑭 na coluna do penúltimo componente.

5. Alternar 𝑽, 𝑽, 𝑽, 𝑽 e 𝑭, 𝑭, 𝑭, 𝑭 na coluna do antepenúltimo componente.

16
6. Prosseguir dessa forma se houver mais componentes, sempre
dobrando o número de 𝑽 e 𝑭 a cada coluna à esquerda.

Tabela 11 – Linhas da tabela-verdade proposta

𝒑 𝒒 𝒑 → (𝒒 ∧ ∼ 𝒑) ↔∼ (𝒑 ∨ 𝒒) ∧ (∼ 𝒑 ∨ q)
8 2 1 96 3 7 4 5
1 V V
2 V F
3 F V
4 F F
Fonte: Elaborada pelo autor.

Aplicar as regras específicas das operações.

Tabela 12 – Resolução da tabela-verdade proposta

𝒑 𝒒 𝒑 → (𝒒 ∧ ∼ 𝒑) ↔∼ (𝒑 ∨ 𝒒) ∧ (∼ 𝒑 ∨ q)
8 2 1 96 3 7 4 5
1 V V F
2 V F F
3 F V V
4 F F V

𝒑 𝒒 𝒑 → (𝒒 ∧ ∼ 𝒑) ↔∼ (𝒑 ∨ 𝒒) ∧ (∼ 𝒑 ∨ q)
8 2 1 96 3 7 4 5
1 V V F F
2 V F F F
3 F V V V
4 F F F V

𝒑 𝒒 𝒑 → (𝒒 ∧ ∼ 𝒑) ↔∼ (𝒑 ∨ 𝒒) ∧ (∼ 𝒑 ∨ q)
8 2 1 96 3 7 4 5
1 V V F F V
2 V F F F V
3 F V V V V
4 F F F V F
𝒑 𝒒 𝒑 → (𝒒 ∧ ∼ 𝒑) ↔∼ (𝒑 ∨ 𝒒) ∧ (∼ 𝒑 ∨ q)
8 2 1 96 3 7 4 5
1 V V F F V F
2 V F F F V F
3 F V V V V V
4 F F F V F V

17
𝒑 𝒒 𝒑 → (𝒒 ∧ ∼ 𝒑) ↔∼ (𝒑 ∨ 𝒒) ∧ (∼ 𝒑 ∨ q)
8 2 1 96 3 7 4 5
1 V V F F V F V
2 V F F F V F F
3 F V V V V V F
4 F F F V F V V

𝒑 𝒒 𝒑 → (𝒒 ∧ ∼ 𝒑) ↔∼ (𝒑 ∨ 𝒒) ∧ (∼ 𝒑 ∨ q)
8 2 1 96 3 7 4 5
1 V V F F F V F V
2 V F F F F V F F
3 F V V V F V V F
4 F F F V V F V V

𝒑 𝒒 𝒑 → (𝒒 ∧ ∼ 𝒑) ↔∼ (𝒑 ∨ 𝒒) ∧ (∼ 𝒑 ∨ q)
8 2 1 96 3 7 4 5
1 V V F F F V F F V
2 V F F F F V F F F
3 F V V V F V F V F
4 F F F V V F V V V

𝒑 𝒒 𝒑 → (𝒒 ∧ ∼ 𝒑) ↔∼ (𝒑 ∨ 𝒒) ∧ (∼ 𝒑 ∨ q)
8 2 1 96 3 7 4 5
1 V V F F F F V F F V
2 V F F F F F V F F F
3 F V V V V F V F V F
4 F F V F V V F V V V

𝒑 𝒒 𝒑 → (𝒒 ∧ ∼ 𝒑) ↔∼ (𝒑 ∨ 𝒒) ∧ (∼ 𝒑 ∨ q)
8 2 1 96 3 7 4 5
1 V V F F F VF V F F V
2 V F F F F VF V F F F
3 F V V V V FF V F V F
4 F F V F V VV F V V V
Fonte: Elaborada pelo autor.

FINALIZANDO

Nesta aula foram apresentados os conteúdos que descrevem as


operações lógicas sobre as proposições. Foram também apresentadas as regras
para a construção das tabelas-verdade.

18
Construção de Tabelas Verdade.
Vimos que, dada uma expressão proposicional, e dados os valores lógicos das proposições
simples que a compõe, podemos, com a ordem de precedência, calcular o valor lógico da
expressão dada; no entanto, estaremos interessados, muitas vezes, no conjunto de valores
lógicos que a expressão pode assumir, para quaisquer valores lógicos das proposições
componentes.

Vejamos um exemplo. Considere a expressão proposicional


pqpq
Anteriormente, construímos uma pequena tabela para determinar o valor lógico da expressão, a
partir dos valores lógicos dos componentes; agora, vamos ampliar aquela tabela, para incluir cada
combinação dos valores lógicos dos componentes.

Na expressão, existem apenas duas proposições componentes, p e q; como cada uma pode ser
verdadeira ou falsa, temos quatro possibilidades: p e q ambas verdadeiras, p verdadeira e q falsa,
p falsa e q verdadeira, ou, finalmente, p e q ambas falsas.

Tendo obtido também a ordem de precedência das operações, nossa tabela assume a forma:

p q pq pq pqpq


V V V V V
V F V F F
F V V F F
F F F F V

Uma tabela como essa, na qual são apresentados todos os valores verdade possíveis de uma
proposição composta, para cada combinação dos valores verdade das proposições componentes,
é chamada Tabela Verdade da proposição composta.

Cada linha da Tabela corresponde a uma possível combinação dos valores lógicos das
proposições componentes; como são dois os valores lógicos, existem, para n componentes, 2 n
combinações possíveis. Portanto, a Tabela Verdade de uma expressão proposicional tem 2 n
linhas, alem do cabeçalho.

Observe que a Tabela Verdade possui dois tipos de colunas: colunas para as proposições
componentes (onde são distribuídos os valores V e F de forma a incluir cada possível
combinação) e colunas para as operações (onde os valores V e F são obtidos pela definição das
operações); assim, se a expressão possui n componentes e m operações, a Tabela terá m + n
colunas.

Para determinar unicamente a Tabela Verdade, podemos estabelecer certas convenções para
sua construção:

A. Para as colunas:
1. Dispor as proposições componentes em ordem alfabética.
2. Dispor as operações na ordem de precedência determinada pelo Algoritmo Ordem de
Precedência (Com Parênteses, se for o caso).

B. Para as linhas
1. Alternar V e F para a coluna do último componente.
2. Alternar V V e F F para a coluna do penúltimo componente.
3. Alternar V V V V e F F F F para a coluna do antepenúltimo componente.
4. Prosseguir dessa forma, se houver mais componentes, sempre dobrando o numero de
V’s e F’s para cada coluna à esquerda.
Para exemplificar, considere a expressão proposicional,

(p  q)   ((p  r)   r)

A precedência das operações é dada por:

(p  q)   ((p  r)   r)
1 6 5 2 4 3

A Tabela Verdade assume o aspecto:

p q r pq pr r (pr) r ((p  r)r) (p  q) ((p  r)  r)


V V V V V F F V V
V V F V F V V F V
V F V F V F F V V
V F F F F V V F F
F V V V F F V F V
F V F V V V V F V
F F V V F F V F V
F F F V V V V F V

A atribuição de valores lógicos aos componentes simples de uma proposição composta é


chamada uma interpretação dessa proposição. Assim, uma proposição com n componentes
simples distintos admitirá 2n interpretações.

4. Equivalência Lógica.

De acordo com os valores lógicos que as proposições compostas assumem, em suas possíveis
interpretações, elas podem ser classificadas em vários tipos:

 se a expressão assume sempre o valor V, em qualquer interpretação, é chamada uma


tautologia, ou uma expressão válida; são exemplos de tautologias:

pp
 (p   p)

 se a expressão assume o valor V em alguma interpretação, é dita satisfatível, ou consistente;


evidentemente, as tautologias são exemplos de expressões satisfatíveis; outros exemplos são:

pp (assume V quando p é falso)


pq (assume V quando p ou q for verdadeiro)

 se a expressão assume sempre o valor F, em qualquer interpretação, é chamada uma


contradição, ou uma expressão insatisfatível, ou inconsistente. São exemplos de contradições:

pp
 (p   p)

 se a expressão assume o valor F em alguma interpretação, é chamada uma expressão


inválida; claramente, as contradições são, também, expressões inválidas; outras expressões
inválidas são:

pq (assume F quando p for falso)


p (assume F quando p for verdadeiro)
Alguns autores atribuem o nome genérico de contingências, ou expressões contingentes, às
expressões satisfatíveis e inválidas.
Uma expressão proposicional da forma bicondicional p  q que é, também, uma tautologia, é
chamada uma equivalência (ou equivalência lógica). As proposições p e q são ditas equivalentes,
e escrevemos p  q.

Por exemplo, a expressão p  q   q   p é uma equivalência. Veja sua Tabela Verdade:

p q p q q p qp (p q)   q   p
V V V F F V V
V F F V F F V
F V V F V V V
F F V V V V V

Escrevemos, então, p  q   q   p

Decorre imediatamente da definição que, se duas proposições são equivalentes, então possuem
a mesma Tabela Verdade, e, reciprocamente, se duas proposições têm a mesma Tabela
Verdade, são equivalentes. De fato, uma bicondicional é V se e somente se seus componentes
têm os mesmos valores lógicos; como a expressão também é uma tautologia, é V em todos os
casos; isto é, seus componentes têm o mesmo valor lógico em todos os casos, ou seja, têm a
mesma Tabela Verdade.

Decorre ainda da definição que todas as tautologias, bem como todas as contradições, são
equivalentes entre si.

Podemos mostrar também que a relação de equivalência possui as propriedades:

Reflexiva: p  p
Simétrica: Se p q então q  p
Transitiva: Se p q e q  r então p  r

Listamos abaixo algumas das equivalência mais importantes (e úteis) da Lógica; cada uma delas
pode ser provada, simplesmente mostrando que a bicondicional correspondente é uma tautologia,
bastando, para isso, construir sua Tabela Verdade.

Em termos textuais, duas proposições são equivalentes quando traduzem a mesma idéia,
diferindo apenas a forma de apresentar essa idéia. Apresentamos abaixo algumas das principais
eqüivalências da Lógica, exemplificando textualmente algumas:

Leis da Comutatividade
pqqp
pqqp

Exemplo: “Fui ao teatro ou ao cinema” eqüivale a “Fui ao cinema ou ao teatro”

Leis da Associatividade
(p  q)  r  p  (q  r)
(p  q)  r  p  (q  r)

Leis da Distributividade
p  (q  r)  (p  q)  (p  r)
p  (q  r)  (p  q)  (p  r)
Leis de De Morgan
 (p  q)   p   q
 (p  q)   p   q

Exemplo: “É falso que João tenha ido ao cinema e ao teatro” eqüivale a “Ou João não foi ao
cinema ou não foi ao teatro”

Leis da Idempotência
ppp
ppp

Lei da Dupla Negação


 ( p)  p

Lei da Condicional
pqpq

Exemplo: “Se continuar chovendo, o rio vai transbordar” eqüivale a “Ou pára de chover ou o rio
vai transbordar”

Lei da Bicondicional
p  q  (p  q)  (q  p)
p  q  (p  q)  (  p   q)

Exemplo: “Um numero é divisível por 10 se e somente se terminar por zero” eqüivale a “Se um
numero terminar por zero, então é múltiplo de 10, e, se for múltiplo de 10, então termina por zero”;
também eqüivale a “Ou o número é múltiplo de 10 e termina em zero, ou não é múltiplo de 10 e
não termina em zero”

Lei da Contraposição
pqqp

Exemplo: “Se João estudar, será aprovado” eqüivale a “Se João não estudar, não será aprovado”

Lei da Absorção
ppqpq

Lei de Clavius
ppp

Lei da Refutação por Absurdo


(p  q)  (p   q)   p

Lei do Dilema
(p  q)  ( p  q)  q

Exemplo: “Se eu for aprovado, vou viajar, e, se não for, também vou” eqüivale a “vou viajar”

Lei da Demonstração por Absurdo (onde F é uma contradição)


pqF pq

Lei de Exportação - Importação


p  (q  r)  p  q  r
O conceito de equivalência nos permite mostrar ainda que são suficientes as operações de
negação e uma das duas, conjunção ou disjunção, para representar qualquer expressão
proposicional. Para isso, necessitamos das seguintes eqüivalências:

a) Eliminando o bicondicional: p  q  (p  q)  (  p   q)
b) Eliminando o condicional: pqpq
c) Escrevendo a disjunção em termos de conjunção: p  q   ( p   q)
d) Escrevendo a conjunção em termos de disjunção: p  q   ( p   q)

Veja o seguinte exemplo: escrever a proposição (p  q)   p em termos de negação e


disjunção:

Eliminando o condicional:
 (p  q)   p
Eliminando o bicondicional:
 [ (p  q)  (  p   q) ]   p
Escrevendo a conjunção em termos de disjunção:
 [  ( p   q)   (p  q) ]   p

5. Inferência Lógica.

Uma inferência lógica, ou, simplesmente uma inferência, é uma tautologia da forma p  q; a
proposição p é chamada antecedente, e q, conseqüente da implicação. As inferências lógicas, ou
regras de inferência, são representadas por p  q.

Da definição decorre imediatamente que p  q, se e somente se, o conseqüente q assumir o


valor lógico V, sempre que o antecedente p assumir esse valor.

De fato, para que a condicional seja verdadeira, essa condição é necessária, pois, se o
conseqüente for falso com o antecedente verdadeiro, a condicional não é verdadeira. Por outro
lado, a condição também é suficiente, pois, quando o antecedente é falso, a condicional é
verdadeira, não importando o valor lógico do conseqüente.

As regras de inferência são, na verdade, formas válidas de raciocínio, isto é, são formas que nos
permitem concluir o conseqüente, uma vez que consideremos o antecedente verdadeiro; em
termos textuais, costumamos utilizar o termo “logo” (ou seus sinônimos: portanto, em
conseqüência, etc) para caracterizar as Regras de Inferência; a expressão p  q pode então ser
lida: p; logo, q.

É possível mostrar que as regras de inferência têm as seguintes propriedades:

Reflexiva: pp
Transitiva: Se p  q e q  r, então p  r

Listamos abaixo algumas das regras de inferência mais importantes da Lógica; da mesma forma
que no caso das eqüivalências, cada uma delas pode ser provada, bastando para isso construir a
Tabela Verdade da condicional correspondente; se a condicional for tautológica, será uma
inferência.
Vamos exemplificar com a regra de inferência conhecida por Modus Ponens:

(p  q)  p  q

p q pq (p  q)  p (p  q)  p  q
V V V V V
V F F F V
F V V F V
F F V F V

São exemplos de regras de inferência:

Regra da Adição
ppq

Exemplo: “Vou ao cinema; logo vou ao cinema ou ao teatro”

Regra da Simplificação
pqp

Exemplo: “Fui ao cinema e ao teatro; logo fui ao cinema”

Regra da Simplificação Disjuntiva


(p  q)  (p   q)  p

Exemplo: “Ou estudo ou trabalho; ou estudo ou não trabalho; logo, estudo”

Regra da Absorção
p  q  p  (p  q)

Exemplo: “Se trabalho, ganho dinheiro; logo, se trabalho, trabalho e ganho dinheiro”

Regra do Silogismo Hipotético (ou Condicional)


(p  q)  (q  r)  p  r

Exemplo: “Se trabalho, ganho dinheiro, e, se ganho dinheiro, vou viajar; logo, se trabalho, vou
viajar”

Regra do Silogismo Disjuntivo (ou Alternativo)


(p  q)   p  q

Exemplo: “Ou trabalho ou estudo; não trabalho; logo, estudo”

Regra do Silogismo Conjuntivo (ou Incompatibilidade)


 (p  q)  q   p

Exemplo: “É falso que eu estudo e trabalho; eu trabalho; logo, não estudo”

Dilema Construtivo
(p  q)  (r  s)  (p  r)  q  s

Exemplo: “Se vou à festa, fico cansado; se vejo televisão, durmo; ou vou à festa ou fico vendo
televisão; logo, ou fico cansado ou durmo”
Dilema Destrutivo
(p  q)  (r  s)  ( q   s)   p   r

Exemplo: “Se vou à festa, fico cansado; se vejo televisão, durmo; ou não fico cansado ou não vou
dormir; logo, ou não vou à festa ou não vejo televisão”

Regra da Inconsistência (de uma contradição se conclui qualquer proposição)


(p   p)  q

Exemplo: “O avião está voando; o avião não está voando; logo, eu sou o Rei da Inglaterra”

Modus Ponens
(p  q)  p  q

Exemplo: “Se ganhar na Loteria, fico rico; ganhei na Loteria; logo, fiquei rico”

Modus Tollens
(p  q)   q   p

Exemplo: “Se ganhar na Loteria, fico rico; não fiquei rico; logo não ganhei na Loteria”

Regra da Atenuação
pqpqr

Exemplo: “Se eu ganhar na Loteria, fico rico; logo, se eu ganhar na Loteria, fico rico e vou viajar”

Regra da Retorsão
ppp

Exemplo: “Se eu não trabalhar, trabalho; logo, trabalho”.


RACIOCÍNIO LÓGICO
AULA 3

Prof. André Roberto Guerra


CONVERSA INICIAL

O roteiro proposto contempla, nesta aula, as fórmulas proposicionais


especiais.
Serão apresentadas as propriedades semânticas básicas da lógica
proposicional (LP): tautologia, contradição e contingência, concluindo com as
relações entre as propriedades semânticas.
Definidos os termos e símbolos que compõem a lógica proposicional e o
cálculo das sentenças (proposições), permitindo a validação da resposta
encontrada, tem-se agora as propriedades semânticas básicas da lógica
proposicional (LP), que permitem simplificar ainda mais a solução de complexos
cálculos proposicionais.

Propriedades semânticas
Objetivos de acordo com Tautologia, contradição e contingência
a taxonomia de Bloom
revisada
Objetivos Específicos

TEMA 1 – FÓRMULAS PROPOSICIONAIS ESPECIAIS

1.1 Interpretação de uma fórmula

Uma interpretação de uma fórmula é o valor lógico resultante de seu


cálculo considerando um conjunto de valores lógicos para as suas proposições
constituintes.
Se a fórmula for representada por 𝑷, sua interpretação é dada por 𝑰[𝑷].
Ex.: interpretação de uma fórmula.
Seja a fórmula 𝑨(𝒑, 𝒒, 𝒓): 𝒑 ∧ 𝒒 ∨ 𝒓.
São possíveis então 𝟐𝟑 = 𝟖 interpretações para esta fórmula:

𝑰[𝑨(𝑽, 𝑽, 𝑽)] = 𝑽
𝑰[𝑨(𝑽, 𝑽, 𝑭)] = 𝑽
𝑰[𝑨(𝑽, 𝑭, 𝑽)] = 𝑽
𝑰[𝑨(𝑽, 𝑭, 𝑭)] = 𝑭
𝑰[𝑨(𝑭, 𝑽, 𝑽)] = 𝑽
𝑰[𝑨(𝑭, 𝑽, 𝑭)] = 𝑭
𝑰[𝑨(𝑭, 𝑭, 𝑽)] = 𝑽
2
𝑰[𝑨(𝑭, 𝑭, 𝑭)] = 𝑭
p q r 𝒑 ∧ 𝒒 ∨ 𝒓
V V V V V
V V F V V
V F V F V
V F F F F
F V V F V
F V F F F
F F V F V
F F F F F

TEMA 2 – TAUTOLOGIA

Tendo como base a definição inicial, tautologia é toda proposição


composta cujo conjunto resposta da tabela-verdade é formado em sua totalidade
por 𝑉 (verdadeiro).
Em outros termos, é toda proposição composta 𝑷(𝒑, 𝒒, 𝒓, … ) cujo valor
lógico é sempre 𝑉(verdade), quaisquer que sejam os valores lógicos das
proposições simples componentes (variáveis) 𝒑, 𝒒, 𝒓, …
Uma fórmula proposicional 𝑨 é uma tautologia (proposição tautológica/
proposição logicamente verdadeira), se, e somente se, o único valor lógico
resultante de sua interpretação é o 𝑽 (verdadeiro), independente dos valores
lógicos dos componentes da fórmula. 𝑰[𝑨] = 𝑽”
É imediato que as proposições 𝒑 → 𝒑 e 𝒑 ↔ 𝒑 são tautológicas
(princípio de identidade para as proposições)
Ex.: A proposição “~(𝒑 ∧ ~𝒑)” (princípio da não contradição) é tautologia,
conforme ilustra a sua tabela-verdade:

𝒑 ~𝒑 𝒑 ∧ ~𝒑 ~(𝒑 ∧ ~𝒑)
V F F V
F V F V

Portanto, dizer que uma proposição não pode ser simultaneamente


verdadeira e falsa é sempre verdadeiro
A proposição “𝒑 ∨ ~𝒑” (princípio do terceiro excluído) é tautologia, como
comprovado na tabela-verdade:

𝒑 ~𝒑 𝒑 ∨ ~𝒑

3
V F V
F V V

Portanto, o conceito de que uma proposição ou é verdadeira ou é falsa é


válido.
A proposição 𝑷(𝒑, 𝒒): 𝒑 ∧ 𝒒 ∨ ~𝒑 ∨ ~𝒒 é uma tautologia, pois 𝑰[𝑷] = 𝑽
sempre

p q 𝒑 ∧ 𝒒 ∨ ~𝒑 ∨ ~𝒒
V V V V F V F
V F F F F V V
F V F V V V F
F F F V V V V

Uma fórmula 𝐴 é satisfazível, se, e somente se, os valores do seu conjunto


resposta são 𝑉 (verdade). Portanto, tautologia também é satisfazível.

TEMA 3 – CONTRADIÇÃO

Seguindo o princípio da definição básica, contradição é toda proposição


composta cujo conjunto resposta da tabela-verdade é formado em sua totalidade
por 𝐹 (falso).
Em outros termos, é toda proposição composta 𝑷(𝒑, 𝒒, 𝒓, … ) cujo valor
lógico é sempre 𝐹 (falso), quaisquer sejam os valores lógicos das proposições
simples componentes (variáveis) 𝒑, 𝒒, 𝒓, …
Uma fórmula proposicional 𝑨 é uma contradição, (proposição contraválida
/ proposição logicamente falsa), se, e somente se, o único valor lógico resultante
de sua interpretação é o 𝑭 (falso), independente dos valores lógicos dos
componentes da fórmula. Para toda interpretação 𝑰[𝑨] = 𝑭
Como a tautologia é sempre verdadeira (𝑉), a negação de uma tautologia
é sempre falsa (𝐹), ou seja, é uma contradição, e vice-versa.
Ex.: a proposição “𝑝 ∧ ~𝑝”

p ~p (𝒑 ∧ ~𝒑)
V F F
F V F

4
Portanto, dizer que uma proposição pode ser simultaneamente verdadeira
e falsa é sempre falso.
A proposição 𝑃(𝑝, 𝑞): (𝑝 → 𝑞) ∧ 𝑝 ∧ ~𝑞 é uma contradição, pois 𝐼[𝑃] = 𝐹
como comprovado na tabela-verdade:

p q (𝒑 → 𝒒) ∧ 𝒑 ∧ ~𝒒
V V V V F F
V F F F F V
F V V F F F
F F V F F V

Uma fórmula 𝐴 é insatisfazível (insatisfatível) ou falsificável, se, e somente


se, os valores do seu conjunto resposta são 𝐹 (falsos). A contradição também é
falsificável.

TEMA 4 – CONTINGÊNCIA

Concluindo as definições das propriedades semânticas básicas da Lógica


Proposicional (LP), uma fórmula 𝐴 é uma contingência se, e somente se, os
valores do seu conjunto resposta são diferentes entre si
Em outros termos, é toda proposição composta 𝑃(𝑝, 𝑞, 𝑟, … ) cujo valor
lógico é alternado entre 𝑉 (verdadeiro) e 𝐹 (falso), quaisquer que sejam os
valores lógicos das proposições simples componentes (variáveis) 𝒑, 𝒒, 𝒓, …
Uma fórmula proposicional 𝑨 é uma contingência (proposição contingente
/ indeterminação) se, e somente se, entre os valores lógicos resultantes de sua
interpretação existe pelo menos um 𝑭 (falso) e ou 𝑽 (verdadeiro).
Pelo menos uma 𝑰[𝑨] = 𝑽 e ao menos uma 𝑰[𝑨] = 𝑭
Simplificando, contingência é toda proposição composta cujo conjunto
resposta:

• não é tautologia e;
• não é contradição

A proposição 𝑃(𝑝, 𝑞): (𝑝 → 𝑞) ∧ 𝑞 ∨ 𝑝 é uma contingência, como


comprovado na tabela-verdade

p q (𝒑 → 𝒒) ∧ ~𝒒 ∨ 𝒑
V V V F FV
V F F F VV

5
F V V F FF
F F V V VV

TEMA 5 – PROPRIEDADES SEMÂNTICAS DA LÓGICA PROPOSICIONAL

5.1 Fórmulas proposicionais especiais – Propriedades semânticas

A semântica é o estudo da relação entre as expressões e o que elas


representam (significado).
Na lógica proposicional, está associada à atribuição de valores lógicos (V
ou F) a fórmulas proposicionais, que podem ter significados na análise lógica.
Nesse sentido, as seguintes fórmulas especiais constituem também
propriedades semânticas em relação a uma fórmula proposicional 𝑷 =
𝑷(𝒑𝟏, 𝒑𝟐, . . . , 𝒑𝒏).

5.1.1 Tautologia

Qualquer interpretação da fórmula proposicional é verdade, 𝑰[𝑷] = 𝑽 para


qualquer combinação de valores lógicos para (𝒑𝟏 , 𝒑𝟐 , . . . , 𝒑𝒏). É uma fórmula
válida.

5.1.2 Contradição

Qualquer interpretação da fórmula proposicional é falsa, 𝑰[𝑷] = 𝑭 para


qualquer combinação de valores lógicos para (𝒑𝟏 , 𝒑𝟐 , . . . , 𝒑𝒏). Não é uma
fórmula válida.

5.1.3 Contingência

Há interpretações verdadeiras e falsas da fórmula proposicional, 𝑰[𝑷] = 𝑽


para algumas combinações de valores lógicos de (𝒑𝟏 , 𝒑𝟐 , . . . , 𝒑𝒏) e 𝑰[𝑷] = 𝑭
para outras combinações.
Não é uma fórmula válida.

6
5.1.4 Satisfazibilidade

Uma fórmula proposicional é satisfazível (ou satisfatível / consistente) se


existe ao menos uma interpretação que seja V (verdadeira), ou seja, 𝑰[𝑷] = 𝑽
para ao menos uma combinação de valores lógicos para (𝒑𝟏 , 𝒑𝟐 , . . . , 𝒑𝒏).
Consequentemente, uma fórmula proposicional é insatisfazível quando
qualquer interpretação é falsa 𝑰[𝑷] = 𝑭.

Se uma fórmula é satisfazível em qualquer interpretação, então ela é uma


tautologia.

5.1.5 Falseabilidade

Uma fórmula proposicional é falsificável (insatisfazível ou insatisfatível /


inconsistente) se existe ao menos uma interpretação 𝑭 (falsa), ou seja, 𝑰[𝑷] = 𝑭
para ao menos uma combinação de valores lógicos para (𝒑𝟏 , 𝒑𝟐 , . . . , 𝒑𝒏).
Se uma fórmula é insatisfazível em qualquer interpretação, então ela é
uma contradição.

5.2 Relações entre as propriedades semânticas

 Toda fórmula válida (tautologia) é satisfazível


 Toda fórmula contraditória (insatisfazível) é falsificável
 Uma fórmula não pode ser satisfazível e contraditória
 Uma fórmula não pode ser uma tautologia e falsificável
 Se 𝐴 é uma tautologia, então ~𝐴 é contraditória
 Se 𝐴 é contraditória, então, ~𝐴 é uma tautologia
 Se 𝐴 é satisfazível, então ~𝐴 é falsificável, e vice-versa

Há fórmulas que são tanto satisfazíveis quanto falsificáveis, i.e., são


contingências ou fórmulas indeterminadas
A classificação de fórmulas extensas não é um processo trivial.
Um dos grandes desafios da computação é encontrar métodos
(algoritmos) eficientes para decidir se uma fórmula é:
• satisfazível – falsificável
• contradição – tautologia

7
5.3 Validade e invalidade

Os métodos de dedução apresentados são capazes de mostrar a validade


de um argumento, através do cálculo proposicional, que, com base nas
premissas, produz uma série de conclusões parciais, até chegar à conclusão
final do argumento.
Esse processo, no entanto, não serve para provar a invalidade de um
argumento; de fato, se, durante o processo de dedução, não chegar à conclusão,
não é possível inferir que não é possível obter tal conclusão.
Portanto, para mostrar a invalidade de um argumento, é necessário outro
método. Um argumento é, na verdade, uma operação de condicionamento.
Se o argumento for válido, essa condicional é tautológica, isto é, é
verdadeira para qualquer combinação possível de valores lógicos das
proposições que constituem o argumento; se, no entanto, existir pelo menos uma
combinação de valores lógicos das proposições que torne a condicional falsa, o
argumento é inválido.
A condição para uma condicional ser falsa é: quando o antecedente é
verdadeiro e o consequente é falso. Mas, em um argumento, o antecedente é
uma conjunção de premissas, e o consequente é a conclusão; então, para que
o antecedente seja verdadeiro, é necessário que todas as premissas sejam
verdadeiras, e para que o consequente seja falso, é necessário que a conclusão
seja falsa.
Então, para mostrar que um argumento é inválido, é suficiente encontrar
uma combinação de valores lógicos para as proposições simples envolvidas, de
forma que torne cada premissa verdadeira, e a conclusão falsa.
Ex.: Considere o seguinte argumento:
“Se José comprar ações e o mercado baixar, ele perderá seu dinheiro.
O mercado não vai baixar.
Logo, ou José compra ações ou perderá seu dinheiro.”
Para que a especificação seja válida (consistente), deve ser satisfazível
em alguma interpretação.
Sejam as proposições simples:
𝒑: “José comprar ações”
𝒒: “O mercado baixar”
8
𝒓: “José perder dinheiro”
Aplicando à especificação acima, simbolicamente, o argumento fica
representado por:
“Se José comprar ações e o mercado baixar, ele perderá seu dinheiro”
𝒑∧𝒒 →𝒓
“O mercado não vai baixar” ~𝒒
“Logo, José compra ações ou perderá seu dinheiro.” ⊢ 𝒑 ∨ 𝒓
A proposição correspondente a esta especificação é, portanto, a seguinte:

𝒑 ∧ 𝒒 → 𝒓 ∧ ~𝒒 ⊢ 𝒑 ∨ 𝒓

A tabela verdade para esta proposição é mostrada a seguir.

𝒑 𝒒 𝒓 𝒑∧𝒒→𝒓 ∧ ~𝒒 ⇒ (𝒑 ∨ 𝒓)
V V V V V F F V V
V V F V F F F V V
V F V F V V V V V
V F F F V V V V V
F V V F V F F V V
F V F F V F F V F
F F V F V V V V V
F F F F V V V F F

Quando 𝑽𝑳(𝒑) = 𝑽 e 𝑽𝑳(𝒒) = 𝑭 e 𝑽𝑳(𝒓) = 𝑽, tem-se o abaixo.


“Se José comprar ações e o mercado baixar, ele perderá seu dinheiro”

𝒑∧𝒒→𝒓=𝑭→𝑽 =𝑽

“O mercado não vai baixar”

~𝒒 = ~𝑭 = 𝑽

“Logo, José compra ações ou perderá seu dinheiro.” ⊢ 𝒑 ∨ 𝒓


𝒑∨𝒓=𝑽=𝑽
Isto é, todas as frases formam proposições 𝑽 (verdadeiras), de forma que
não há contradição entre elas. Assim, essa especificação é consistente.
Um outro exemplo. Considere o argumento:
“Ou estudo ou trabalho ou vou à praia;
se estudo sou aprovado;
não trabalho.
9
Logo, sou aprovado.”
Para que a especificação seja válida (consistente), deve ser satisfazível
em alguma interpretação.
Sejam as proposições simples:
𝒑: “estudo”
𝒒: “trabalho”
𝒓: “vou à praia”
𝒔: “sou aprovado”
Aplicando à especificação acima, simbolicamente, o argumento fica
representado por:
“estudo ou trabalho ou vou à praia” 𝒑 ∨ 𝒒 ∨ 𝒓
“se estudo sou aprovado” 𝒑 → 𝒔
“não trabalho” ~𝒒
“Logo, sou aprovado” ⊢ 𝒔
A proposição correspondente a esta especificação é, portanto, a seguinte:

𝒑 ∨ 𝒒 ∨ 𝒓 ∧ 𝒑 → 𝒔 ∧ ~𝒒 ⊢ 𝒔

A tabela verdade para essa proposição é mostrada a seguir.


𝒑 𝒒 𝒓 𝒔 𝒑∨𝒒∨𝒓 ∧ 𝒑→𝒔 ∧ ~𝒒 ⇒ 𝒔
V V V V V V V V F F V V
V V V F V V F F F F V F
V V F V V V V V F F V V
V V F F V V F F F F V F
V F V V V V V V V V V V
V F V F V V F F F V V F
V F F V V V V V V V V V
V F F F V V F F F V V F
F V V V V V V V F F V V
F V V F V V V V F F V F
F V F V V V V V F F V V
F V F F V V V V F F V F
F F V V F V V V V V V V
F F V F F V V V V V F F
F F F V F F F V F V V V
F F F F F F F V F V V F

Quando 𝑽𝑳(𝒑) = 𝑭 e 𝑽𝑳(𝒒) = 𝑭 e 𝑽𝑳(𝒓) = 𝑽 e 𝑽𝑳(𝒔) = 𝑭, tem-se como


a seguir.
“estudo ou trabalho ou vou à praia” 𝒑 ∨ 𝒒 ∨ 𝒓

10
𝒑∨𝒒∨𝒓=𝑭∨𝑽 =𝑽
“se estudo sou aprovado” 𝒑 → 𝒔
𝒑→𝒔=𝑭→𝑭 =𝑽
“não trabalho” ~𝒒
~𝒒 = ~𝑭 = 𝑽
“Logo, sou aprovado” ⊢ 𝒔
𝒔=𝑭 =𝑭
Isto é, na linha destacada há uma combinação de valores que satisfazem
a condição de invalidade. O argumento é, portanto, inválido.
Se não for possível atribuir valores verdade aos enunciados simples dos
componentes de argumento, de modo que suas premissas se tornem
verdadeiras e sua conclusão falsa, então o argumento é válido.
Ex.: Satisfazibilidade e consistência de especificação.
Seja a seguinte especificação:
“Uma mensagem é armazenada no buffer ou ela é transmitida para um
site vizinho. Uma mensagem não é armazenada no buffer. Se a mensagem é
armazenada no buffer, então é transmitida para um site vizinho.”
Para que a especificação seja consistente, deve ser satisfazível em
alguma interpretação.
Sejam as proposições simples:
𝒑: “Uma mensagem é armazenada no buffer.”
𝒒: “Uma mensagem é transmitida para um site vizinho.”
Aplicando à especificação acima, tem-se o abaixo.
“Uma mensagem é armazenada no buffer ou ela é transmitida para um
site vizinho.” 𝒑 ∨ 𝒒
“Uma mensagem não é armazenada no buffer.” ~𝒑
“Se a mensagem é armazenada no buffer, então é transmitida para um
site vizinho” 𝒑 → 𝒒
A proposição correspondente a esta especificação é, portanto, a seguinte:

(𝒑 ∨ 𝒒) ∧ ~𝒑 ∧ (𝒑 → 𝒒).

A tabela verdade para esta proposição é mostrada abaixo.

𝒑 𝒒 (𝒑 ∨ 𝒒) ∧ ~𝒑 ∧ (𝒑 → 𝒒)

11
V V V F F F V
V F V F F F F
F V V V V V V
F F F F V F V

Quando 𝑽𝑳(𝒑) = 𝑭 e 𝑽𝑳(𝒒) = 𝑽, tem-se o abaixo.


“Uma mensagem não é armazenada no buffer ou ela é transmitida para
um site vizinho.”
𝒑∨𝒒 =𝑭∨𝑽 =𝑽
“Uma mensagem é armazenada no buffer.”
~𝒑 = ~𝑭 = 𝑽
“Se a mensagem não é armazenada no buffer, então é transmitida para
um site vizinho”
𝒑→𝒒=𝑭→𝑽=𝑽
Ou seja, todas as frases formam proposições 𝑽 (verdadeiras), de forma
que não há contradição entre elas.
Assim, essa especificação é consistente.
Ex.: Se adicionar a seguinte proposição: “Uma mensagem não é
transmitida para um site vizinho.” ao exemplo anterior, ela continuaria
consistente?
“Uma mensagem não é transmitida para um site vizinho.”
~𝒒
A proposição correspondente a esta especificação é, portanto, a seguinte:
(𝒑 ∨ 𝒒) ∧ ~𝒑 ∧ (𝒑 → 𝒒) ∧ ~𝒒

A tabela verdade para esta proposição é mostrada a seguir.

𝒑 𝒒 (𝒑 ∨ 𝒒) ∧ ~𝒑 ∧ (𝒑 → 𝒒) ∧ ~𝒒
V V V F F F V F F
V F V F F F F F V
F V V V V V V F F
F F F F V F V F V

Ou seja, em nenhuma das frases são formadas proposições 𝑽


(verdadeiras), de forma que não há tautologia entre elas.
Assim, essa especificação é inconsistente.

12
Resumindo, temos as seguintes situações na dedução de um argumento:
Um argumento é válido quando:

 o conjunto de premissas é contraditório.


 a conclusão é uma tautologia.
 a conclusão pode ser deduzida das premissas.

Um argumento é inválido quando:

 existe pelo menos um conjunto de valores para as proposições simples


que tornam as premissas verdadeiras e a conclusão falsa.

Portanto, dado um argumento, para provar a sua validade ou invalidade,


devemos chegar a uma das conclusões acima.

FINALIZANDO

Nesta aula foram apresentados os conteúdos que descrevem as


Propriedades semânticas básicas da lógica proposicional (LP):

• Tautologia
• Contradição
• Contingência
• Satisfazível
• Falsificável

13
RACIOCÍNIO LÓGICO

AULA 4

Prof. André Roberto Guerra


CONVERSA INICIAL

Nesta aula, são apresentadas as relações e o método dedutivo, iniciando-


se pela diferença entre operação e relação, para em seguida se apresentar e
definir a relação da implicação lógica e a relação da equivalência lógica.
A álgebra das proposições é apresentada no tema seguinte e finaliza-se
com o método dedutivo.
Utilizam-se definições e conceitos dos termos e símbolos que compõem
a lógica proposicional e o cálculo das sentenças/proposições, permitindo a
validação da resposta encontrada, além das propriedades semânticas básicas
da lógica proposicional (LP), que possibilitam simplificar ainda mais a solução de
complexos cálculos proposicionais.

TEMA 1 – DIFERENÇA ENTRE OPERAÇÃO E RELAÇÃO

1.1 Diferença entre os símbolos de operação implicação e de relação


implicação

Os símbolos → e ⇒ são distintos, pois o símbolo → (condicional ou


implicação) indica uma operação lógica.
Já o símbolo ⇒ indica uma relação; em que todas as avaliações possíveis
de uma operação condicional entre 𝑷 e 𝑸 (𝑷 → 𝑸) resultam em 𝑽 (tautologia).
Ex.: a condicional 𝒑 ∧ ~𝒑 → 𝒒 é tautologia. Logo, 𝒑 ∧ ~𝒑 → 𝒒 ⇒ 𝑻

p q ~𝒑 𝒑 ∧ ~𝒑 𝒑 ∧ ~𝒑 → 𝒒
V V F F V
V F F F V
F V V F V
F F V F V

1.2 Diferença entre os símbolos de operação da bi-implicação e de relação


equivalência

Os símbolos ↔ e ⇔ são distintos, pois o símbolo ↔ (bicondicional ou bi-


implicação) indica uma operação lógica.

2
Já o símbolo ⇔ indica uma relação; em que todas as avaliações possíveis
de uma operação bicondicional entre 𝑷 e 𝑸 (𝑷 ↔ 𝑸) resultam em 𝑽
(tautologia).
Ex.: a bicondicional ~(𝒑 ∧ ~𝒒) ↔ (𝒑 → 𝒒) é tautologia. Logo, ~(𝒑 ∧
~𝒒) ⇔ (𝒑 → 𝒒) é tautologia (equivalência lógica).

p q ~𝒒 𝒑 ∧ ~𝒒 ~(𝒑 ∧ ~𝒒) ~(𝒑 ∧ ~𝒒) ↔ (𝒑 → 𝒒) 𝒑 → 𝒒


V V F F V V V
V F V V F V F
F V F F V V V
F F V F V V V

TEMA 2 – IMPLICAÇÃO LÓGICA

A definição do termo implicação lógica é o início do tema. Segundo o


dicionário Michaelis, implicar significa: originar, produzir como consequência,
ser causa de, como no exemplo: “uma filosofia definitiva implicaria a imobilidade
do pensamento humano”, frase de Antero de Quental citada no dicionário.
Outra definição é que a implicação lógica entre 𝑷 e 𝑸 (duas fórmulas
proposicionais quaisquer), nessa ordem, ocorre se, e somente se, a implicação
(condicional →) entre elas gerar uma tautologia, lembrando que os símbolos →
e ⇒ são distintos, pois “→” condicional é o resultado de uma operação lógica.
Ex.: considerando as proposições 𝒑 e 𝒒, pode-se obter uma nova
proposição expressa por 𝒑 → 𝒒.
Já a implicação lógica estabelece uma relação.
Ex.: a condicional 𝒑 ∧ ~𝒑 → 𝒒 é tautologia. Logo, 𝒑 ∧ ~𝒑 → 𝒒 ⇒ 𝑻 – o que
é comprovado pela tabela-verdade.

p q ~𝒑 𝒑 ∧ ~𝒑 𝒑 ∧ ~𝒑 → 𝒒
V V F F V
V F F F V
F V V F V
F F V F V

Em outras palavras, uma proposição composta 𝑷 (𝒑, 𝒒, 𝒓 … ) implica uma


proposição composta 𝑸 (𝒑, 𝒒, 𝒓 … ) se em qualquer linha da tabela-verdade de
𝑷 → 𝑸 NÃO ocorrer de 𝑷 ser 𝑽 (verdadeira) e 𝑸 ser 𝑭 (falsa).

3
𝑷 ⇒ 𝑸 ocorre sempre que os valores de seus conectivos forem V
(verdadeiros).
Em síntese, a condição necessária e suficiente para que uma implicação
lógica qualquer representada por 𝑷 ⇒ 𝑸 seja válida (verdadeira) é que a
proposição condicional 𝑷 (𝒑, 𝒒, 𝒓 … ) → 𝑸 (𝒑, 𝒒, 𝒓 … ) seja uma tautologia.
Ex.: verificar se 𝒑 ∧ 𝒒 ⇒ 𝒑 ∨ 𝒒 é válida. Para isso, basta construir a tabela-
verdade da proposição 𝒑 ∧ 𝒒 → 𝒑 ∨ 𝒒 e observar o resultado.

p q 𝒑∧𝒒 𝒑∨𝒒 𝒑∧𝒒→𝒑∨𝒒


V V V V V
V F F V V
F V F V V
F F F F V

O conjunto-resposta da tabela-verdade da proposição


𝒑∧𝒒 →𝒑∨𝒒 é uma tautologia. Sendo assim, 𝒑 ∧ 𝒒 ⇒ 𝒑 ∨ 𝒒 é válido
(verdadeiro).
Ex.: verificar se 𝒑 → 𝒒 ⇒ 𝒑 ↔ 𝒒 é válida. Para isso, basta construir a
tabela-verdade da proposição 𝒑 → 𝒒 → 𝒑 ↔ 𝒒 e observar o resultado.

p q 𝒑→𝒒 𝒑↔𝒒 𝒑→𝒒→𝒑↔𝒒


V V V V V
V F F F V
F V V F F
F F V V V

O conjunto-resposta da tabela-verdade da proposição 𝒑 → 𝒒 → 𝒑 ↔ 𝒒 não


é tautologia. Sendo assim, 𝒑 → 𝒒 ⇒ 𝒑 ↔ 𝒒 não é válido (é falso).

2.1 Propriedades: implicações imediatas

Sejam: 𝑷: 𝑷 (𝒑, 𝒒, 𝒓 … ), 𝑸: 𝑸 (𝒑, 𝒒, 𝒓 … ) e 𝑹: 𝑹 (𝒑, 𝒒, 𝒓 … ). As seguintes


propriedades valem para as relações de implicação lógica:
 reflexiva: qualquer proposição P implica a própria proposição P 𝑷 ⇒ 𝑷;
 transitiva: se 𝑷 ⇒ 𝑸 e 𝑸 ⇒ 𝑹, então 𝑷 ⇒ 𝑹.
Deve-se verificar a tabela-verdade para (𝒑 → 𝒒) ∧ (𝒒 → 𝒓) → (𝒑 → 𝒓).

4
p q r 𝒑→𝒒 ∧ 𝒒→𝒓 → (𝒑 → 𝒓)
V V V V V V V V
V V F V F F V F
V F V F F V V V
V F F F F V V F
F V V V V V V V
F V F V F F V V
F F V V V V V V
F F F V V V V V

2.2 Implicações lógicas notáveis

São ora apresentadas algumas implicações notáveis. Elas serão muito


úteis na aplicação do método dedutivo (em simplificações).
Adição (AD)
𝒑⇒𝒑∨𝒒
𝒒⇒𝒑∨𝒒
Ocorre com o conectivo ou. Se qualquer operando for verdadeiro, a
disjunção é verdadeira. Ex.:
“Se eu vou, então eu vou ou ele vai.”
“Se ele vai, então eu vou ou ele vai.”
Simplificação (Simp)
𝒑∧𝒒 ⇒𝒑
𝒑∧𝒒 ⇒𝒒
Ocorre com o conectivo e. Quando a conjunção é verdadeira, ambos os
operandos são verdadeiros. Ex.:
“Se eu vou e ele vai, então eu vou.”
“Se eu vou e ele vai, então ele vai.”
Simplificação disjuntiva (Simpd)
(𝒑 ∨ 𝒒) ∧ (𝒑 ∨ ~𝒒) ⇒ 𝒑
Quando as proposições ocorrem de forma contraditória com o conectivo
ou. Ex.:
“Eu vou ou ele vai e eu vou ou ele não vai. Logo, eu vou.”
Absorção (ABS)
(𝒑 → 𝒒) ⇒ (𝒑 → 𝒑 ∧ 𝒒)
Dada uma condicional, pode-se deduzir uma outra condicional que tem
como antecedente o mesmo antecedente da primeira condicional e, como

5
consequente, a conjunção e das proposições que integram a primeira
condicional. Ex.:
“Se eu vou, então ele vai. Logo, se e eu vou, então eu vou e ele vai.”
Silogismo disjuntivo (SD)
(𝒑 ∨ 𝒒) ∧ ~𝒑 ⇒ 𝒒
(𝒑 ∨ 𝒒) ∧ ~𝒒 ⇒ 𝒑
Silogismo é um argumento constituído de três proposições declarativas
que se conectam de tal modo que, com base nas duas primeiras, chamadas de
premissas, é possível deduzir uma conclusão.
Se uma disjunção é verdadeira e um dos operandos é falso, o outro tem
que ser verdadeiro. Ex.:
“Eu vou ou ele vai. Eu não vou. Logo, ele vai.”
“Eu vou ou ele vai. Ele não vai. Logo, eu vou.”
Silogismo hipotético (SH)
(𝒑 → 𝒒) ∧ (𝒒 → 𝒓) ⇒ (𝒑 → 𝒓)
O silogismo hipotético se baseia na propriedade de transitividade da
implicação. Se o consequente de uma implicação coincide com o antecedente
de uma segunda implicação, então o consequente da primeira implica o
consequente da segunda. Ex.:
“Se eu vou, então ele vai. Se ele vai, então ela vai. Logo, se eu vou, então
ela vai.”
Modus ponens (MP)
(𝒑 → 𝒒) ∧ 𝒑 ⇒ 𝒒
Modus ponens, em latim, significa a maneira que afirma afirmando, que
constitui a eliminação de uma implicação.
Se o antecedente de uma condicional é verdadeiro, então o consequente
tem que ser verdadeiro também. Ex.:
“Se eu vou, ele vai. Eu vou. Logo, ele vai.”
Não confundir com as falácias
Falácia da afirmação do consequente:
(𝒑 → 𝒒) ∧ 𝒒 → 𝒑
Ex.: “Se eu vou, ele vai. Ele vai. Logo, eu vou.”
Falácia da negação do antecedente:
(𝒑 → 𝒒) ∧ ~𝒑 → ~𝒒
Ex.: “Se eu vou, ele vai. Eu não vou. Logo, ele não vai.”

6
Modus tollens (MT)
(𝒑 → 𝒒) ∧ ~𝒒 ⇒ ~𝒑
Modus tollens, em latim, significa modo que nega; nesse caso, a negação
do consequente que nega o antecedente da implicação.
Contradizendo o consequente de uma condicional verdadeira, conclui-se
pela contradição do antecedente. É também chamado de contradição do
consequente. Ex.:
“Se eu vou, ele vai. Ele não vai. Logo, eu não vou.”
Dilema construtivo (DC)
(𝒑 → 𝒒) ∧ (𝒓 → 𝒔) ∧ (𝒑 ∨ 𝒓) ⇒ 𝒒 ∨ 𝒔
Tem como base a regra do MP. É uma disjunção que contém dois
antecedentes e dois consequentes. Sendo a disjunção dos precedentes
verdadeira, conclui-se pela veracidade da disjunção dos consequentes. Ex.:
“Se eu vou, ele vai. Se fulano vai, sicrano vai. Eu vou ou fulano vai. Logo,
ela vai ou sicrano vai.”
Dilema destrutivo (DD)
(𝒑 → 𝒒) ∧ (𝒓 → 𝒔) ∧ (~𝒒 ∨ ~𝒔) ⇒ (~𝒑 ∨ ~𝒓)
O dilema destrutivo tem como base a regra do MT. É uma disjunção que
contém a contradição dos dois consequentes de dois antecedentes. Sendo a
disjunção das negações dos consequentes verdadeira, conclui-se pela
veracidade da disjunção das negações dos antecedentes. Ex.:
“Se eu vou, ele vai. Se fulano vai, sicrano vai. Ele não vai ou sicrano não
vai. Logo, eu não vou ou fulano não vai.”

2.3 Proposições associadas a uma condicional

Dada a condicional 𝒑 → 𝒒, definem-se três proposições condicionais


associadas a ela:

 Proposição recíproca de 𝒑 → 𝒒: 𝒒 → 𝒑
 Proposição inversa de 𝒑 → 𝒒: ~𝒑 → ~𝒒
 Proposição contrapositiva de 𝒑 → 𝒒: ~𝒒 → ~𝒑

Em relação às definições anteriores, as seguintes propriedades são


válidas:

 A condicional 𝒑 → 𝒒 e a contrapositiva ~𝒒 → ~𝒑 são equivalentes.


 A recíproca 𝒒 → 𝒑 e a inversa ~𝒑 → ~𝒒 são equivalentes.
7
TEMA 3 – EQUIVALÊNCIA LÓGICA

A definição do termo equivalência lógica é o início do tema. Segundo o


dicionário Michaelis, equivalência significa: igualdade de valor, correspondência.
Outra definição é: A equivalência lógica entre 𝑷 e 𝑸 (duas fórmulas
proposicionais quaisquer), nessa ordem, ocorre se, e somente se, a bi-
implicação (bicondicional ↔) entre elas gerar uma tautologia.
É importante lembrar que os símbolos ↔ e ⇔ são distintos, pois ↔
bicondicional é o resultado de uma operação lógica.
Já a equivalência lógica ⇔ estabelece uma relação.
Duas proposições são logicamente equivalentes (ou equivalentes)
quando ambas apresentam os mesmos valores lógicos. Ou, ainda, são
logicamente equivalentes (ou equivalentes) quando o conjunto-resposta de
suas tabelas-verdade são iguais.
Em síntese, a condição necessária e suficiente para que uma
equivalência lógica qualquer representada por 𝑷 ⇔ 𝑸 seja válida (verdadeira)
é que a sua proposição bicondicional correspondente 𝑷 ↔ 𝑸 for uma
tautologia.
Ex.: a bicondicional ~(𝒑 ∧ ~𝒒) ↔ (𝒑 → 𝒒) é uma equivalência. Logo,
~(𝒑 ∧ ~𝒒) ⇔ (𝒑 → 𝒒) é tautologia.

p q ∼ 𝒒 𝒑 ∧∼ 𝒒 ∼ (𝒑 ∧∼ 𝒒) 𝒑 → 𝒒 ~(𝒑 ∧ ~𝒒) ↔ (𝒑 → 𝒒)
V V F F V V V
V F V V F F V
F V F F V V V
F F V F V V V

3.1 Propriedades: equivalências imediatas

Sejam: 𝑷: 𝑷 (𝒑, 𝒒, 𝒓 … ), 𝑸: 𝑸 (𝒑, 𝒒, 𝒓 … ) e 𝑹: 𝑹 (𝒑, 𝒒, 𝒓 … ). As seguintes


propriedades valem para as relações de equivalência lógica:

 Reflexiva: 𝑷 ⇔ 𝑷.
 Simétrica: se 𝑷 ⇔ 𝑸, então 𝑸 ⇔ 𝑷.
 Transitiva: se 𝑷 ⇔ 𝑸 e 𝑸 ⇔ 𝑹, então 𝑷 ⇔ 𝑹.

Deve-se verificar tabela-verdade para (𝒑 ↔ 𝒒) ∧ (𝒒 ↔ 𝒓) → (𝒑 ↔ 𝒓).

8
3.2 Equivalências lógicas notáveis

Ora são apresentadas algumas equivalências lógicas notáveis. Elas serão


muito úteis na aplicação do método dedutivo (nas simplificações).
Dupla negação (DN)
𝒑 ⇔ ~(~𝒑)
A dupla negação de uma proposição equivale a sua afirmação. Ex.:
“Eu vou se, e somente se, for falso que eu não vou.”
“Eu vou se, e somente se, não for verdade que eu não vou.”
Equivalência tautológica (ET)
𝒑 ∨ ~𝒑 ⇔ 𝑻 (𝑽) é uma tautologia. Ex.:
“Eu vou ou eu não vou se, e somente se, isso for verdade.”
Equivalência contraditória (EC)
𝒑 ∧ ~𝒑 ⟺ 𝑪 (𝑭) é uma contradição. Ex.:
“Eu vou e eu não vou se, e somente se, isso for falso.”
Idempotência (ID)
𝒑⟺𝒑∧𝒑e
𝒑⟺𝒑∨𝒑
são uma tautologia. Ex.:
“Eu vou se, e somente se, eu vou e eu vou."
“Eu vou se, e somente se, eu vou ou eu vou."
Comutação (COM)
(𝒑 ∨ 𝒒) ⇔ (𝒒 ∨ 𝒑)
(𝒑 ∧ 𝒒) ⇔ (𝒒 ∧ 𝒑)
(𝒑 ↔ 𝒒) ⇔ (𝒒 ↔ 𝒑)
Operandos de disjunções, conjunções ou bicondicionais podem ser
comutados para simplificação. Ex.:
“Eu vou ou ele vai se, e somente se, ele vai ou eu vou.”
“Eu vou e ele vai se, e somente se, ele vai e eu vou.”
“Eu vou se e somente se ele vai se, e somente se, ele vai se e somente
se eu vou.”
Associação (Assoc)
𝒑 ∨ (𝒒 ∨ 𝒓) ⇔ (𝒑 ∨ 𝒒) ∨ 𝒓
𝒑 ∧ (𝒒 ∧ 𝒓) ⇔ (𝒑 ∧ 𝒒) ∧ 𝒓
Elementos de disjunções e conjunções podem ser agrupados. Ex.:

9
“Eu vou ou ele vai ou ela vai se, e somente se, eu vou ou ele vai ou ela
vai.”
“Eu vou e ele vai e ela vai se, e somente se, eu vou e ele vai e ela vai.”
Distribuição (Dist)
𝒑 ∨ (𝒒 ∧ 𝒓) ⇔ (𝒑 ∨ 𝒒) ∧ (𝒑 ∨ 𝒓)
𝒑 ∧ (𝒒 ∨ 𝒓) ⇔ (𝒑 ∧ 𝒒) ∨ (𝒑 ∧ 𝒓)
Uma disjunção pode se distribuir em uma conjunção. Uma conjunção
pode se distribuir em uma disjunção. Ex.:
“Eu vou ou ele vai e ela vai se, se somente se, eu vou ou ele vai e eu vou
ou ela vai.”
“Eu vou e ele vai ou ela vai se, se somente se, eu vou e ele vai ou eu vou
e ela vai.”
Contraposição ou transposição (Trans)
𝒑 → 𝒒 ⇔ ~𝒒 → ~𝒑
𝒑 ↔ 𝒒 ⇔ ~𝒒 ↔ ~𝒑
(𝒑 ↔ 𝒒 ⇔ ~𝒑 ↔ ~𝒒)
Os membros de uma condicional ou bicondicional podem ser transpostos
se precedidos de uma negação. Ex.:
“Se eu vou, então ele vai se, se somente se, se ele não vai, então eu não
vou.”
“Eu vou se e somente se ele vai se, e somente se, ele não vai se e
somente se eu não vou.”
Implicação material (IMPL)
𝒑 → 𝒒 ⇔ ~𝒑 ∨ 𝒒
Mostra-se a equivalência entre uma condicional e uma disjunção. Ex.:
“Se eu vou, então ele vai se, se somente se, se eu não vou ou ele vai.”
Equivalência (Equiv)
(𝒑 ↔ 𝒒) ⇔ (𝒑 ∧ 𝒒) ∨ (~𝒑 ∧ ~𝒒)

Mostra-se a equivalência entre uma bicondicional e uma disjunção. Ex.:


“Eu vou se e somente se ele vai se, e somente se, eu vou e ele vai ou eu
não vou e ele não vai.”
Equivalência material (Equiv)
(𝒑 ↔ 𝒒) ⇔ (𝒑 → 𝒒) ∧ (𝒒 → 𝒑)

10
Mostra-se a equivalência entre uma bicondicional e uma conjunção de
condicionais. Ex.:
“Eu vou se e somente se ele vai se, e somente se, se eu vou, então ele
vai e, se ele vai, então eu vou.”
Exportação/importação (EXP/IMP)
𝒑 ∧ 𝒒 → 𝒓 ⇔ 𝒑 → (𝒒 → 𝒓)
Uma parte do antecedente de uma condicional pode passar para o
consequente, por meio da troca de conectivos. Ex.:
“Se eu vou e ele vai, então ela vai se, e somente se, se eu vou; então, se
ele vai, então ela vai.”
De Morgan (DM)
~(𝒑 ∧ 𝒒) ⇔ ~𝒑 ∨ ~𝒒
~(𝒑 ∨ 𝒒) ⇔ ~𝒑 ∧ ~𝒒
É possível definir a conjunção com base na negação e na disjunção, ou a
disjunção com base na negação e na conjunção. Ex.:
“É falso que eu vou e ele vai se, e somente se, se eu não ou ele não vai."
“É falso que eu vou ou ele vai se, e somente se, se eu não e ele não vai."

TEMA 4 – ÁLGEBRA DAS PROPOSIÇÕES

Após se utilizar as definições e conceitos dos termos e símbolos que


compõem a lógica proposicional e o cálculo das sentenças/proposições,
permitindo a validação da resposta encontrada, além das propriedades
semânticas básicas da lógica proposicional, que por sua vez possibilitam
simplificar ainda mais a solução de complexos cálculos proposicionais, agora
serão definidas as regras e métodos a serem usados na simplificação das
proposições, com o objetivo principal de redução de código.
Segundo o dicionário Michaelis, álgebra é a parte da matemática
elementar que generaliza a aritmética, introduzindo variáveis que representam
os números e simplificando e resolvendo, por meio de fórmulas, problemas nos
quais as grandezas são representadas por símbolos.
Contudo, mesmo com uma definição formal, o mais importante significado
da álgebra é a coerência na escrita das proposições simples, pois, como define
Tanenbaum (2013), autor de vários livros-referência em computação,
computador é uma máquina para solucionar problemas por intermédio da
execução de instruções (programas) escritas(os) em linguagem específica. O
11
mesmo autor define programa como o que é responsável por transmitir as
instruções. Isto é, uma sequência de instruções descritivas de execução.
Portanto, a álgebra proposicional é ferramenta muito importante, pois com
ela pode-se operar sobre proposições, utilizando-se de implicações e
equivalências notáveis.
Uma aplicação apresentada como exemplo é a simplificação de códigos
computacionais, pois, quanto mais simples o código, mais simples ele será
compreendido e assim poderá ser executado mais rapidamente.
Conceito definido e apresentado no início da disciplina, “proposição:
sentenças declarativas afirmativas que tenham sentido em afirmar que sejam
verdadeiras ou falsas”.
A álgebra das proposições basicamente consiste em aplicar equivalências
lógicas, agrupadas na forma de propriedades, nas diversas operações lógicas,
com o intuito de modificar proposições compostas visando a sua simplificação.
Um conjunto de propriedades das operações lógicas é apresentado a
seguir, em que RE X = regras de equivalência, onde X é o número da regra.
Negação

 RE 1. Dupla negação ~(~𝒑) ⇔ 𝒑

Conjunção

 RE 2. Idempotência 𝒑∧𝒑⇔𝒑
 RE 3. Comutativa 𝒑∧𝒒 ⇔𝒒∧𝒑
 RE 4. Associativa (𝒑 ∧ 𝒒) ∧ 𝒓 ⇔ 𝒑 ∧ (𝒒 +∧ 𝒓)
 RE 5. Elemento neutro (V) 𝒑 ∧ 𝑽 ⇔ 𝒑
 RE 6. Elemento absorvente (F) 𝒑 ∧ 𝑭 ⇔ 𝑭
 RE 7. Equivalência contraditória 𝒑 ∧ ~𝒑 ⇔ 𝑭

Disjunção

 RE 8. Idempotência 𝒑∨𝒑⇔𝒑
 RE 9. Comutativa 𝒑∨𝒒 ⇔𝒒∨𝒑
 RE 10. Associativa (𝒑 ∨ 𝒒) ∨ 𝒓 ⇔ 𝒑 ∨ (𝒒 ∨ 𝒓)
 RE 11. Elemento neutro (F) 𝒑 ∨ 𝑭 ⇔ 𝒑
 RE 12. Elemento absorvente (V) 𝒑 ∨ 𝑽 ⇔ 𝑽
 RE 13. Equivalência tautológica 𝒑 ∨ ~𝒑 ⇔ 𝑽

Conjunção e disjunção
12
 RE 14. Distributiva 𝒑 ∧ (𝒒 ∨ 𝒓) ⇔ (𝒑 ∧ 𝒒) ∨ (𝒑 ∧ 𝒓)
𝒑 ∨ (𝒒 ∧ 𝒓) ⇔ (𝒑 ∨ 𝒒) ∧ (𝒑 ∨ 𝒓)
 RE 15. Absorção 𝒑 ∧ (𝒑 ∨ 𝒒) ⇔ 𝒑
𝒑 ∨ (𝒑 ∧ 𝒒) ⇔ 𝒑
 RE 16. Leis de Morgan ~(𝒑 ∧ 𝒒) ⇔ ~𝒑 ∨ ~𝒒
~(𝒑 ∨ 𝒒) ⇔ ~𝒑 ∧ ~𝒒
Condicional

 RE 17. Implicação material 𝒑 → 𝒒 ⇔ ~𝒑 ∨ 𝒒


 RE 18. Contraposição (transposição) 𝒑 → 𝒒 ⇔ ~𝒒 → ~𝒑
 RE 19. Negação ~(𝒑 → 𝒒) ⇔ ~(~𝒑 ∨ 𝒒) ⇔ 𝒑 ∧ ~𝒒

Bicondicional

 RE 20. Comutativa (𝒑 ↔ 𝒒) ⇔ (𝒒 ↔ 𝒑)
 RE 21. Associativa ((𝒑 ↔ 𝒒) ↔ 𝒓) ⇔ (𝒑 ↔ (𝒒 ↔ 𝒓))
 RE 22. Equivalência (𝒑 ↔ 𝒒) ⇔ (𝒑 ∧ 𝒒) ∨ (~𝒑 ∧ ~𝒒)
 RE 23. Equivalência material (𝒑 ↔ 𝒒) ⇔ (𝒑 → 𝒒) ∧ (𝒒 → 𝒑)
 RE 24. Contraposição (transposição) 𝒑 ↔ 𝒒 ⇔ ~𝒒 ↔ ~𝒑 ⇔ ~𝒑 ↔ ~𝒒
 RE 25. Negação ~(𝒑 ↔ 𝒒) ⇔ (𝒑 ∧ ~𝒒) ∨ (~𝒑 ∧ 𝒒)

TEMA 5 – MÉTODO DEDUTIVO

O método dedutivo também é um método para demonstração de


implicações e equivalências, utilizando propriedades, leis e regras.
No método dedutivo, as equivalências relativas desempenham um papel
importante nas equivalências lógicas. As proposições (simples ou compostas)
podem ser substituídas por 𝑷, 𝑸, 𝑹, 𝑻, 𝑪, em que T é tautologia e C é
contradição.
O método dedutivo utiliza as implicações e as equivalências notáveis
apresentadas e é também chamado de regras de inferência.
A sua validade pode ser verificada pela construção de tabelas-verdade de
cada argumento.

5.1 Validade de argumentos

O objetivo principal da lógica dedutiva é verificar se um argumento


(premissas e conclusão) é estruturado de forma tal que, independentemente dos
13
valores lógicos das proposições simples envolvidas, a veracidade das premissas
implica sempre a veracidade da conclusão.
O argumento válido é denominado silogismo. É o argumento formado por
uma ou mais premissas e sua respectiva conclusão.
O estudo dos argumentos lógicos verifica se eles são válidos ou inválidos.
Um argumento é válido (ou ainda legítimo ou bem construído) quando sua
conclusão é uma consequência obrigatória do seu conjunto de premissas.
As premissas e a conclusão podem ser visivelmente falsas (e até
absurdas!) e o argumento, ainda assim, será considerado válido. Isso pode
ocorrer porque, na lógica, o estudo dos argumentos não leva em conta a verdade
ou a falsidade das premissas que compõem o argumento, mas tão somente a
sua validade.
Assim, de uma forma geral, sendo 𝑷𝒌 : 𝑷𝒌 (𝒑, 𝒒, 𝒓 … ), 𝒌 = 𝟏, 𝟐, 𝒏 e
𝑸: 𝑸 (𝒑, 𝒒, 𝒓 … ), a lógica (dedutiva) verifica se 𝑷𝟏 ∧ 𝑷𝟐 ∧. . .∧ 𝑷𝒏 → 𝑸 é uma
tautologia, isto é, se pode-se escrever 𝑷𝟏 ∧ 𝑷𝟐 ∧. . .∧ 𝑷𝒏 ⇒ 𝑸 (implicação lógica),
validando-se o argumento.
Portanto, a validade (ou não) de um argumento depende apenas da sua
forma e não do seu conteúdo ou da verdade ou falsidade das proposições que o
integram.
Até este ponto, foram utilizadas tabelas-verdade para fazer essa
verificação. Entretanto, quando há muitas proposições compondo o argumento,
o número de tabelas-verdade cresce exponencialmente (𝟐𝒏 linhas).
O método dedutivo fornece um procedimento que permite a validação de
um argumento sem a necessidade de se construir tabelas-verdade. O método
dedutivo se baseia em dois tipos básicos de formas de dedução: as regras de
inferência, que nada mais são que implicações lógicas; e as regras de
equivalência, que nada mais são que equivalências lógicas, já apresentadas
agrupadas como propriedades dos conectivos na álgebra das proposições.

5.2 Aplicação

A seguir, a descrição de um processo para aplicar o método dedutivo na


validação de um argumento.
Passo 1
Colocar o argumento na forma simbólica. Seja o seguinte argumento:

14
“Se os preços sobem, então a inflação é inevitável. Os preços sobem e a
economia se descontrola. Logo, a inflação é inevitável.”
Proposições simples:
𝒑: “Os preços sobem.”
𝒒: “A inflação é inevitável.”
𝒓: “A economia se descontrola.”
Argumento:
(𝒑 → 𝒒) ∧ (𝒑 ∧ 𝒓) → 𝒒
Passo 2
Tabelar as premissas, numerando-as, e separá-las das deduções e da
conclusão usando uma linha horizontal.
1. 𝒑→𝒒
2. 𝒑∧𝒓
___________
- -
Passo 3
Iniciar o processo dedutivo aplicando as regras de dedução (inferência ou
equivalência). Numerar cada dedução sequencialmente e indicar os operandos
(enunciados precedentes: premissas ou deduções intermediárias) e a regra de
dedução aplicada a eles para obter a dedução, conforme as duas tabelas de
regras anteriores (de inferências e equivalências).
Indicar a conclusão com C.
1. 𝒑 → 𝒒
2. 𝒑 ∧ 𝒓 Operandos Regra de dedução
3. 𝑷 2 SIMP
C.𝑸 1,3 MP
Ex.: simplificar (𝒑 → (~𝒑 → 𝒒):

1. (𝒑 → (~𝒑 → 𝒒)
2. 𝒑 → (~~𝒑 ∨ 𝒒)
3. ~𝒑 ∨ (𝒑 ∨ 𝒒)
4. (~𝒑 ∨ 𝒑) ∨ (~𝒑 ∨ 𝒒)
5. 𝑻 ∨ (~𝒑 ∨ 𝒒)
C. 𝑻

15
A implicação do exemplo anterior representa uma tautologia, pois a
propriedade distributiva gera (~𝒑 ∨ 𝒑), ou seja, ela é obrigatoriamente forçada
a gerar um valor verdadeiro. Ao juntar-se com o operador ∨ (ou), ela obriga a
proposição formada a gerar um valor verdadeiro na resolução.
Caso a proposição fosse 𝑻 ∧ (~𝒑 ∨ 𝒒), então o valor lógico seria (~𝒑 ∨
𝒒), pois o valor, mesmo que falso, juntado com (~𝒑 ∨ 𝒒), será (~𝒑 ∨ 𝒒).
Ex.: aula prática 2.
Demonstre que os argumentos são válidos, utilizando as tabelas-verdade
e as regras de inferência. Se o programa é eficiente, ele executará rapidamente.
O programa é eficiente ou tem um erro. O programa não executa rapidamente.
Portanto, o programa tem um erro.

FINALIZANDO

Foram apresentadas nesta aula as implicações e as equivalências


lógicas, cujas definições envolvem conceitos anteriormente definidos e
apresentados: tabela-verdade, classificação de fórmulas da lógica proposicional
(tautologia, contradição e contingência) e novos conectivos, como 
(implicação/condicional); ⇒ (implicação lógica);  (bi-implicação); ⇔
(equivalência lógica).
Foram também apresentadas a álgebra das proposições e suas
definições; as implicações notáveis, exemplificando-se sua utilização; e as
principais equivalências (notáveis), concluindo-se com o método dedutivo e sua
aplicação.

16
MATERIAL COMPLEMENTAR DE APOIO DIDÁTICO
MÉTODO DEDUTIVO

Axiomas são sentenças ditas verdadeiras, sem ser estabelecida dentro do sistema a
validade da mesma.
Já Teoremas são as sentenças estabelecidas a partir dos axiomas, portanto, neste
caso a validade da sentença deve ser verificada. Denomina-se de prova o processo de
elaboração dos teoremas.
A elaboração de uma sentença baseada em outra é o processo de dedução e o
elemento deduzido é o consequente. Isto leva a outro ponto, relacionado com o método de
prova que trata as premissas de uma prova, onde as mesmas devem ser todas verdadeiras
e através de demonstrações passo a passo chega-se à conclusão (ou consequente)
verdadeira.
Quando é construída uma certa teoria seguindo estritamente estas definições, tem-se o
método dedutivo.
Logo, as teorias elaboradas desta maneira são denominadas teorias dedutivas.
A Teoria Dedutiva relaciona a definição de uma teoria através da definição de axiomas
e teoremas, sendo que a partir dos axiomas é possível comprovar que certas sentenças
pertencem a esta teoria. Quando se têm sentenças que não podem ser deduzidas a partir
dos axiomas, utiliza-se o método de prova por interpretação, que consiste em demonstrar
que uma determinada sentença não é provada baseada nos axiomas de uma dada teoria,
mas que apesar disso é verdadeira na Teoria.
Todos os teoremas provados através de um determinado sistema axiomático
permanecem válidos para qualquer interpretação de um sistema.
Estas características do método dedutivo demonstram a possibilidade de "economizar"
passos no raciocínio de um certo problema.
A aplicação do método dedutivo proporciona os resultados esperados apenas se todas
definições e provas preenchem completamente suas tarefas, ou seja, se as definições
trazem um significado de todos os termos definidos e se as provas convencem da correção
(validade) de todos teoremas provados.
Observa-se a importância das regras da lógica serem aplicadas durante as provas,
para assim, fornecer uma prova completa descrevendo todos os passos seguidos.

Texto extraído do artigo: “Um Editor de Provas para a Lógica Proposicional”. Escrito por
Gleifer V. Alves, Graçaliz P. Dimuro e Antônio C. R. Costa da Escola de Informática -
Universidade Católica de Pelotas.
Disponível em: http://www.gracalizdimuro.com/wp-content/uploads/2011/10/a171.pdf
MATERIAL COMPLEMENTAR DE APOIO DIDÁTICO
MÉTODO DEDUTIVO

ÁLGEBRA DAS PROPOSIÇÕES


A álgebra das proposições é utilizada para reduzir/modificar expressões compostas, ou
seja, também são conhecidas como propriedades.
Como descobrir se a propriedade aplicada está correta?
Basta desenvolver a tabela verdade de todas as proposições empregadas na proposição
composta, ou seja, todas as proposições devem ser equivalências lógicas. (símbolo )
Sejam as proposições p, q, então, define-se:
p ^ (q v r) (p ^ q) v (p ^ r)
p v (q ^ r) (p v q) ^ (p v r)
~(p ^ q) ~p v ~q
~(p v q) ~p ^ ~q
P→q ~p v q
~(p → q) ~(~p v q) p ^ ~q
p ^ (q ^ r) (p ^ q) ^ r
p v (q v r) (p v q) v r
p↔q (p ↔ q) ^ (q → p)
~(p ↔ q) (p ^ ~q) v (~p ^ q)
p↔q (~p v q) ^ (~q v p)

MÉTODO DEDUTIVO
Problema:
O Número de linhas cresce muito rapidamente, à medida que aumenta o número de
proposições simples envolvidas no argumento. Com 10 proposições a tabela terá 1024 linhas
e com 11 são 2048.
O Método dedutivo também é um método para demonstração de implicações e
equivalências, utilizando das propriedades, leis e regras.
No método dedutivo, as equivalências relativas desempenham um papel importante nas
equivalências lógicas. As proposições (simples ou compostas) podem ser substituídas por
P,Q,R,T,C(Tautológica, Contradição).
MATERIAL COMPLEMENTAR DE APOIO DIDÁTICO
MÉTODO DEDUTIVO

Exemplo 1:
(p → (~p → q)
p → (~~p v q)
~p v (p v q)
(~p v p) v (~p v q)
T v (~p v q)
T
A implicação acima representa uma tautologia, pois a propriedade distributiva gera
(~p v p), ou seja, ela é obrigatoriamente forçada a gerar um valor verdadeiro.
Se p:f, então p:v. Se p:v, então p:v.
Ao juntar-se com o operador v (OU), ela obriga a proposição formada a gerar um valor
verdadeiro na resolução.
Caso a proposição fosse T ^ (~p v q), então, o valor lógico é igual a (~p v q), pois, o valor
mesmo que falso, juntado com (~p v q) será (~p v q).

Exemplo 2: Mostrar equivalências: (p → q) ^ (p → ~q)


(p → q) ^ (p → ~q)
(~p v q) ^ (~p v ~q)
(~p ^ ~p) v (q v ~q)
~p v C
~p

Exemplo 3: Regra da Simplificação


Simplifique a Implicação: P ^ Q P
P^Q→P CONDICIONAL
~(P ^ Q) v P De MORGAN
(~P v ~Q) v P ASSOCIATIVIDADE
(~P v P) v ~Q TAUTOLOGIA
V v ~Q
V
MATERIAL COMPLEMENTAR DE APOIO DIDÁTICO
MÉTODO DEDUTIVO

Exemplo 4: Modus Tollens


(P → Q) ^ ~Q ~P
(P → Q) ^ ~Q CONDICIONAL
(~P v Q) ^ ~Q DISTRIBUTIVIDADE
(~P v ~Q) v (Q ^ ~Q) CONTRADIÇÃO
(~P v ~Q) SIMPLIFICAÇÃO
~P
~P ~P

Exemplo 5: Modus Tollens


(P → Q) ^ ~Q ~P
(P → Q) ^ ~Q CONDICIONAL
(~P v Q) ^ ~Q DISTRIBUTIVIDADE
(~P v ~Q) v (Q ^ ~Q) CONTRADIÇÃO
(~P v ~Q)
(~P v ~Q) → ~P
~(~P v ~Q) v ~P
P v Q v ~P
P v ~P v Q
VvQ
RACIOCÍNIO LÓGICO
AULA 5

Prof. André Roberto Guerra


CONVERSA INICIAL

O roteiro proposto para esta aula contempla a lógica predicativa, também


denominada lógica dos predicados. Serão apresentados no tema inicial as
definições preliminares, os conceitos explicados em exemplos práticos,
alinhados com os objetivos e definições iniciais da disciplina. No segundo tema,
o alfabeto (linguagem) da lógica de predicados complementa as definições do
tema inicial, para, em seguida, no terceiro tema, descrever o tema desta aula, os
predicados. Nos temas finais (quarto e quinto), são definidos o quantificador
universal e o quantificador existencial e são apresentados exemplos práticos
alinhados com as aulas práticas e as atividades, com a resolução de exercícios.

Quadro 1 – Objetivos de acordo com a taxionomia de Bloom revisada

Objetivos de acordo com Lógica Predicativa (lógica dos predicados)


a taxonomia de Bloom
revisada
Objetivos Específicos
Fonte: elaborado pelo autor.

TEMA 1 – DEFINIÇÕES PRELIMINARES

A Lógica dos predicados é o complemento da lógica proposicional descrita


nas aulas anteriores, pois “uma das principais fraquezas da lógica tradicional é
a sua incapacidade de lidar com incerteza. Sentenças lógicas devem
ser expressas em termos de verdade ou falsidade – não é possível raciocinar,
em lógica clássica, sobre possibilidades.” (Coppin, 2017)
Existem proposições que fazem referência a conjuntos de objetos; por
exemplo:

“Todos os homens são mortais”,


“Alguns astronautas foram à Lua”,
“Nem todos os gatos caçam ratos”.

Os termos “homens”, “astronautas” e “gatos” são conceitos, não se


referem a nenhum homem, astronauta ou gato em particular, mas sim ao
conjunto de propriedades que faz com que um objeto esteja em uma categoria
ou em outra, denominado predicado.

2
A linguagem da lógica proposicional é limitada para representar relações
entre objetos do mundo real.
Por exemplo, ao utilizar a linguagem proposicional para representar a
relação: “João é pai de Ana” e “José é pai de João”, são utilizadas duas letras
sentenciais (ou proposições) diferentes para expressar a mesma ideia, que é a
relação de parentesco:

𝑷𝑷 para simbolizar que “João é pai de Ana” e


𝑸𝑸 para simbolizar “José é pai de João”.

Contudo, ambas proposições representam a mesma informação no que


se diz respeito à relação de parentesco entre João e Ana e entre José e João.
Outra limitação da lógica proposicional é a que essa linguagem tem baixo
poder de expressão, pois é incapaz de representar instâncias de uma
propriedade geral.
Para sanar problemas deste tipo, surgiu então a lógica de predicados, que
é uma extensão da lógica proposicional (Aranha e Martins, 2003).
A lógica de predicados é também conhecida na literatura como lógica de
primeira ordem ou cálculo de predicados. Essa lógica possibilita captar
relações entre indivíduos de um mesmo domínio e permite concluir
particularidades de uma propriedade geral dos indivíduos de um domínio, assim
como derivar generalizações com base em fatos que valem para um indivíduo
qualquer do domínio.
Como a lógica que trata apenas das proposições singulares é mais
simples que a que trata também com conjuntos de objetos, os autores preferiram
separar o estudo da Lógica em:

• Cálculo Proposicional, ou Lógica Sentencial, que se ocupa das


proposições singulares, estudadas nos capítulos anteriores, e
• Cálculo de Predicados, ou Lógica dos Predicados, que trata dos
conjuntos de objetos e suas propriedades, estudados nesta aula.

Para tratar com objetos e suas propriedades, o cálculo de predicados


apresenta dois conceitos matemáticos:

• variável, para se referir a um objeto genérico de uma categoria; e


• quantificadores, expressões como “para todo” e “existe algum” para se
referirem à quantidade de objetos que partilham o mesmo predicado.

3
Ex.: a proposição: “todos os homens são mortais” assume a forma: “para
todo 𝒙𝒙, 𝒔𝒔𝒔𝒔 𝒙𝒙 é um homem, 𝒆𝒆𝒆𝒆𝒆𝒆ã𝒐𝒐 𝒙𝒙 é mortal” e as proposições: “alguns
astronautas foram à Lua” e “nem todos os gatos caçam ratos” assumem
respectivamente as formas: “existe um 𝒙𝒙 tal que 𝒙𝒙 é um astronauta e 𝒙𝒙 foi à Lua”
e “existe um 𝒙𝒙 tal que 𝒙𝒙 é um gato e 𝒙𝒙 não caça ratos”.
Quando as variáveis e quantificadores se referem apenas aos objetos, o
cálculo de predicados também é denominado lógica de primeira ordem. São
predicados que se aplicam a indivíduos.
É uma proposição que depende de definições adicionais (quantificação)
para poder ser tratado como uma proposição 𝑽𝑽 ou 𝑭𝑭. Define-se também como
uma proposição quantificada, que se torna realmente uma proposição quando
as variáveis que a definem assumem valores específicos, podendo-se então
atribuir um valor 𝑽𝑽 ou 𝑭𝑭.
Nesse caso, o predicado torna-se uma proposição para aquele conjunto
de valores estabelecidos para as variáveis do predicado.
Ex.: “𝒙𝒙 + 𝒚𝒚 = 𝟐𝟐” é um predicado: depende dos valores de 𝒙𝒙 e 𝒚𝒚 para se
saber se é 𝑽𝑽 ou 𝑭𝑭.
Se “𝒙𝒙 = 𝟏𝟏” e “𝒚𝒚 = 𝟏𝟏” (variáveis definidas), então “𝒙𝒙 + 𝒚𝒚 = 𝟐𝟐” torna-se uma
proposição 𝑽𝑽.

O cálculo de predicados é uma extensão do cálculo proposicional que


trata de predicados, ou proposições quantificadas.

Ex.: “𝒙𝒙 > 𝟎𝟎” e “𝒄𝒄𝒄𝒄𝒄𝒄 = ‘𝒂𝒂𝒂𝒂𝒂𝒂𝒂𝒂’”: será 𝑽𝑽 se 𝒙𝒙 for positivo e cor for azul.

Assim, é possível expressar sentenças com as palavras “existe”,


“qualquer”, “todos”, “alguns” e “somente”.
Para ter esse grande poder de expressão, a lógica de predicados dispõe
uma variedade de símbolos, e o seu alfabeto será apresentado no capítulo
seguinte.
Dotado de uma linguagem mais rica, o cálculo de predicados tem várias
aplicações importantes não só para matemáticos e filósofos como também para
a Computação. (Abbar, 2011)

TEMA 2 – ALFABETO DA LÓGICA DE PREDICADOS

Em razão da lógica proposicional ser uma extensão da lógica de


predicados, ela herda todas definições e características e, dessa maneira, tanto
4
os símbolos de pontuação quanto os conectivos lógicos possuem o mesmo
significado.
A linguagem formal da lógica de predicados é mais expressiva que a da
lógica proposicional, pois além dos símbolos (conectivos) lógicos ~, ∧, ∨, →
e ↔, as fórmulas bem-formadas (fbf) da lógica de predicados são compostas
por:

• Objetos;

• Predicados;

• Conectivos;

• Variáveis;

• Quantificadores.

Cada um dos componentes da lógica predicativa citados será


individualmente definido nos subcapítulos seguintes.

2.1 Objetos

Na lógica de predicados, a noção de objeto é usada num sentido bastante


amplo. Objetos são elementos “conhecidos” do universo representados por
letras minúsculas de “a” a “t”
Objetos podem ser:

• concretos (ex.: essa bola, esse livro, a lua);

• abstratos (ex.: o conjunto vazio, a felicidade, a paz);

• fictícios (ex.: unicórnio, vampiro, Saci Pererê);

• atômicos e/ou compostos (ex: um teclado é composto de teclas).

Em suma, um objeto pode ser qualquer coisa a respeito da qual


precisamos dizer algo. Por convenção, nomes de objetos são escritos com letras
minúsculas e nomes diferentes denotam objetos diferentes.

5
Figura 1 – Blocos empilhados sobre uma mesa

Créditos: Olga Chernyak/ Shutterstock.

2.2 Predicados

Os predicados descrevem algo dos objetos e são representados por letras


maiúsculas:
Ex.:
João ama Maria: 𝑨𝑨(𝒂𝒂, 𝒃𝒃)

Apresenta adjetivos do sujeito e categoriza:

Ex.:
Sócrates é humano: 𝑯𝑯(𝑺𝑺ó𝒄𝒄𝒄𝒄𝒄𝒄𝒄𝒄𝒄𝒄𝒄𝒄)

Um predicado denota uma relação entre objetos de um determinado


contexto de discurso.
Por convenção, se os predicados não utilizarem letras maiúsculas para
representá-los, os nomes de predicados são escritos com letras minúsculas.
Por exemplo, no contexto ilustrado na Figura 1: o bloco B está sobre o
bloco A e sobre o bloco C
𝒑𝒑𝒑𝒑𝒑𝒑𝒑𝒑çã𝒐𝒐(𝒂𝒂, 𝒃𝒃, 𝒄𝒄)

6
A cor da letra do bloco C é azul.
𝒄𝒄𝒄𝒄𝒄𝒄(𝒄𝒄, 𝒂𝒂𝒂𝒂𝒂𝒂𝒂𝒂)
O bloco A é maior que o bloco B.
𝒕𝒕𝒕𝒕𝒕𝒕𝒕𝒕𝒕𝒕𝒕𝒕𝒕𝒕(𝒂𝒂, 𝒃𝒃)

2.3 Conectivos

Os conectivos lógicos são usados para construir proposições compostas


(fórmulas atômicas) formando argumentos mais complexos. São os conectivos
lógicos que permitirão construir proposições compostas para formar argumentos
mais complexos.
Grande parte da expressividade da lógica de predicados é devida ao uso
dos conectivos lógicos, que permitem formar sentenças complexas tomando
como base sentenças simples.
Ex.:
Considerando o contexto da Figura 1:
O bloco A está ao lado do bloco C 𝒆𝒆 o bloco B está em cima do bloco C.
𝒑𝒑𝒑𝒑𝒑𝒑𝒑𝒑çã𝒐𝒐(𝒂𝒂, 𝒄𝒄) ∧ (𝒃𝒃, 𝒄𝒄)

A letra do bloco B 𝒏𝒏ã𝒐𝒐 é azul.


~𝒄𝒄𝒄𝒄𝒄𝒄(𝒃𝒃, 𝒂𝒂𝒂𝒂𝒂𝒂𝒂𝒂)

O bloco A é maior que o bloco B 𝒐𝒐𝒐𝒐 o bloco B é menor que o bloco C.


𝒕𝒕𝒕𝒕𝒕𝒕𝒕𝒕𝒕𝒕𝒕𝒕𝒕𝒕(𝒂𝒂, 𝒃𝒃) ∨ (𝒃𝒃, 𝒄𝒄)

2.4 Variáveis

Variáveis representam objetos que não estão identificados no universo


considerado (“todos”, "algum", "nenhum", etc.) representadas por letras
maiúsculas de “U” a “Z”

Ex.:
𝒑𝒑𝒑𝒑𝒑𝒑𝒑𝒑çã𝒐𝒐(𝑿𝑿, 𝒀𝒀): X está sobre Y
𝒄𝒄𝒄𝒄𝒄𝒄(𝑿𝑿): X é uma cor
𝒕𝒕𝒕𝒕𝒕𝒕𝒕𝒕𝒕𝒕𝒕𝒕𝒕𝒕(𝒀𝒀, 𝒁𝒁): Y é maior que Z

7
Nos exemplos apresentados, os valores de 𝑿𝑿, 𝒀𝒀, 𝒁𝒁 são desconhecidos.
Proposições atômicas são sentenças com valor (𝑽𝑽 ou 𝑭𝑭) e não se pode
definir valor (𝑽𝑽 ou 𝑭𝑭) de 𝒑𝒑𝒑𝒑𝒑𝒑𝒑𝒑çã𝒐𝒐(𝑿𝑿, 𝒀𝒀), 𝒄𝒄𝒄𝒄𝒄𝒄(𝑿𝑿) e 𝒕𝒕𝒕𝒕𝒕𝒕𝒕𝒕𝒕𝒕𝒕𝒕𝒕𝒕(𝒀𝒀, 𝒁𝒁) até que as
variáveis 𝑿𝑿, 𝒀𝒀, 𝒁𝒁 tenham sido quantificadas.
O universo (ou universo do discurso) de uma variável é o conjunto de
valores que ela pode assumir.
Contudo, em muitos casos, o universo não é informado e, intuitivamente,
os objetos que podem substituir o pronome são incluídos, e são descartados
aqueles objetos que não podem.
Ex.:
“Isto está verde”
“isto” pode ser fruta, ou semáforo, ou o mar, mas não será um humano.

Portanto, quando o Universo não for explicitado, é definido pelo próprio


contexto. Muitas vezes, a definição do Universo pode afetar a satisfatoriedade
do aberto.
Ex.:

“𝒙𝒙 é feroz”

pode ser satisfazível se o universo for o conjunto de animais, e não


satisfazível se o universo for o conjunto de disciplinas de um curso.
O conjunto verdade (𝑽𝑽𝒑𝒑 ) de uma proposição 𝑷𝑷𝒙𝒙 é o conjunto de elementos
do Universo que, quando instanciam a variável, satisfazem (tornam verdadeiro)
o enunciado; ou seja
𝑽𝑽𝒑𝒑 = {𝒂𝒂∈ 𝑼𝑼| 𝑽𝑽𝑽𝑽[𝑷𝑷(𝒂𝒂)] = 𝑽𝑽}

Ex.:
seja 𝑼𝑼 = {𝟏𝟏, 𝟐𝟐, 𝟑𝟑, 𝟒𝟒, 𝟓𝟓, 𝟔𝟔, 𝟕𝟕} e a proposição “𝒙𝒙 é primo” representada por 𝑷𝑷𝒙𝒙 .
Então 𝑽𝑽𝒑𝒑 = {𝟐𝟐, 𝟑𝟑, 𝟓𝟓, 𝟕𝟕}.

Algumas relações e uma sugestão de forma simbólica são apresentadas:

x gosta de y 𝒈𝒈𝒈𝒈𝒈𝒈𝒈𝒈𝒈𝒈(𝒙𝒙, 𝒚𝒚)


João é casado com Maria 𝒄𝒄𝒄𝒄𝒄𝒄𝒄𝒄𝒄𝒄𝒄𝒄𝒄𝒄(𝑱𝑱𝑱𝑱ã𝒐𝒐, 𝑴𝑴𝑴𝑴𝑴𝑴𝑴𝑴𝑴𝑴)
x está entre y e z 𝒆𝒆𝒆𝒆𝒆𝒆𝒆𝒆𝒆𝒆(𝒙𝒙, 𝒚𝒚, 𝒛𝒛)
Camões é o autor de Os Lusíadas 𝒂𝒂𝒂𝒂𝒂𝒂𝒂𝒂𝒂𝒂(𝑪𝑪𝑪𝑪𝑪𝑪õ𝒆𝒆𝒆𝒆, 𝑶𝑶𝑶𝑶 𝑳𝑳𝑳𝑳𝑳𝑳í𝒂𝒂𝒂𝒂𝒂𝒂𝒂𝒂)

8
Nas relações, a ordem das variáveis é importante, pois, como
apresentado no exemplo, 𝑮𝑮𝑮𝑮𝑮𝑮 significa “𝒙𝒙 gosta de 𝒚𝒚” mas não significa “𝒚𝒚 gosta
de 𝒙𝒙”.
Esse fato deve ser levado em conta mesmo em predicados comutativos.
No exemplo, 𝒄𝒄𝒄𝒄𝒄𝒄𝒄𝒄𝒄𝒄𝒄𝒄𝒄𝒄(𝑱𝑱𝑱𝑱ã𝒐𝒐, 𝑴𝑴𝑴𝑴𝑴𝑴𝑴𝑴𝑴𝑴) significa “João é casado com Maria”
mas não significa “Maria é casada com João”.
O motivo para isso é que a lógica formal leva em conta apenas a forma
das expressões, e não seu significado.

2.5 Quantificadores

O que realmente torna a lógica de predicados mais expressiva que a


lógica proposicional é a noção de variáveis e quantificadores.
Quantificadores são símbolos utilizados em expressões que quantificam
(atribuem valores) a determinados elementos do conjunto e transformam uma
sentença aberta em proposição e são utilizados para expressar propriedades
que valem para todos os indivíduos do domínio ou para alguns indivíduos do
domínio, respectivamente.
Os quantificadores estarão sempre acompanhados de uma variável
(símbolo não lógico) para captar o conceito das palavras “para qualquer” e “para
algum”, respectivamente.
É importante ressaltar que variáveis diferentes não designam
necessariamente objetos diferentes e que a escolha de variáveis não faz
diferença para o significado (Franco, 2008).
São utilizados antes das variáveis e fornecem seus valores.
Os quantificadores são:

• universal (∀); e
• existencial (∃).

Usando o quantificador universal (∀), é possível estabelecer fatos a


respeito de todos os objetos de um contexto, sem ter que enumerar
explicitamente todos eles.
Usando o quantificador existencial (∃) é possível estabelecer a
existência de um objeto sem ter que identificar esse objeto explicitamente.

Ex.:

9
Considerando novamente o contexto da Figura 1, conclui-se que todo
bloco está sobre alguma coisa (bloco ou mesa):

∀𝑿𝑿[𝒃𝒃𝒃𝒃𝒃𝒃𝒃𝒃𝒃𝒃(𝑿𝑿) → ∃𝒀𝒀 [𝒔𝒔𝒔𝒔𝒔𝒔𝒔𝒔𝒆𝒆(𝑿𝑿, 𝒀𝒀 )]]

Atribuindo valores a todas as variáveis de uma função, a declaração


resultante é uma proposição com um valor verdade determinado.
A quantificação é outra forma de criar uma proposição com base em uma
função. São operadores lógicos que, em vez de indicarem relações entre
sentenças, expressam relações entre conjuntos designados pelas classes de
atributos lógicos.
O termo quantificação tem significados (gerais e específicos). Cobre toda
ação que quantifique observações e experiências, traduzindo-as para números
por meio da contagem e mensuração. Especifica a quantidade de indivíduos de
um domínio que se aplicam (ou satisfazem) uma fórmula aberta.
Os quantificadores são interdefiníveis, pois uma fórmula com
quantificador universal pode ser transformada em uma fórmula que contém
apenas quantificadores existencial e vice-versa.
O ingrediente novo da lógica de primeira ordem não encontrado na lógica
proposicional é a quantificação (Lógica..., 2018).

TEMA 3 – PREDICADO

Os predicados descrevem alguma característica ou propriedade de algum


objeto.
Ex.:
𝑥𝑥 > 3
A variável (𝒙𝒙) é o sujeito
A expressão “> 𝟑𝟑” é o predicado
Denota-se “𝒙𝒙 > 𝟑𝟑” por 𝑷𝑷(𝒙𝒙)

𝑷𝑷(𝒙𝒙) é o valor da função proposicional 𝑷𝑷 em 𝒙𝒙.

Quando algum valor for atribuído a 𝒙𝒙, P(x), torna-se uma proposição e tem
um valor verdade.

Ex.:
seja 𝑷𝑷(𝒙𝒙) a declaração “𝒙𝒙 > 𝟑𝟑”.

10
Quais são os valores verdade de 𝑷𝑷(𝟒𝟒) e 𝑷𝑷(𝟐𝟐)?
𝑷𝑷(𝟒𝟒), que é “𝟒𝟒 > 𝟑𝟑”, é 𝑽𝑽
𝑷𝑷(𝟐𝟐), que é “𝟐𝟐 > 𝟑𝟑”, é 𝑭𝑭

Os predicados podem ser classificados como:

• monádicos (de um só termo);


• diádicos (de dois termos);
• triádicos (de três termos) ou
• poliádicos (de quatro ou mais termos).

Muitos autores, no entanto, preferem nominar os predicados de dois ou


mais termos de relação, reservando o nome predicado para os monádicos.
A área da lógica que trata dos predicados e quantificadores é o Cálculo
de Predicados.

TEMA 4 – QUANTIFICADOR UNIVERSAL

Com a utilização dos quantificadores, é possível elaborar sentenças mais


gerais utilizando o cálculo de predicados.

∀ é o quantificador universal.
Ex.:
para expressar a ideia de que todos gostam de queijo, utiliza-se:
(∀𝒙𝒙) (𝑷𝑷(𝒙𝒙) → 𝑮𝑮(𝒙𝒙, 𝑸𝑸))

O símbolo ∀ significa “para todo”, logo a sentença traduzida é:


“para todo 𝒙𝒙 é verdade que, se a propriedade 𝑷𝑷 vale para 𝒙𝒙, então o
relacionamento 𝑮𝑮 vale entre 𝒙𝒙 e 𝑸𝑸”, ou em português mais livre:

“todo 𝒙𝒙 que é uma pessoa gosta de queijo”.

Interpretando 𝑷𝑷(𝒙𝒙) como significando “𝒙𝒙 é uma pessoa” ou, mais


precisamente, “𝒙𝒙 tem propriedade 𝑷𝑷”.
Utiliza-se parênteses com muito cuidado na sentença anterior.
Esta sentença pode também ser escrita com menos parênteses:

∀𝒙𝒙 𝑷𝑷(𝒙𝒙) → 𝑮𝑮(𝒙𝒙, 𝑸𝑸)

Declarações afirmam que uma propriedade é 𝑽𝑽 ou 𝑭𝑭 para todos os valores


de uma variável em um domínio. (Tautologia/Contradição)

11
Seja 𝒑𝒑(𝒙𝒙) uma sentença aberta em um conjunto não vazio 𝑨𝑨(𝑨𝑨 ≠ 𝟎𝟎) e 𝑽𝑽𝑽𝑽
o conjunto verdade:

𝑽𝑽𝑽𝑽 = {𝒙𝒙|𝒙𝒙 ∈ 𝑨𝑨 ∧ 𝒑𝒑(𝒙𝒙)}

Quando 𝑽𝑽𝑽𝑽 = 𝑨𝑨, todos elementos de 𝑨𝑨 satisfazem 𝒑𝒑(𝒙𝒙), então:


“Para todo elemento 𝒙𝒙 de 𝑨𝑨, 𝒑𝒑(𝒙𝒙) é 𝑽𝑽”
“Qualquer seja o elemento 𝒙𝒙 de 𝑨𝑨, 𝒑𝒑(𝒙𝒙) é verdadeira”.

4.1 Enunciados categóricos

universal (∀) afirmativo (conjuntivo)


Sentença: “todos humanos são mortais”
Sintaxe: ∀𝑿𝑿[𝒉𝒉(𝑿𝑿) → 𝒎𝒎(𝑿𝑿)]
Semântica: para todo 𝑿𝑿, 𝒔𝒔𝒔𝒔 𝑿𝑿 ∈ 𝒉𝒉 𝒆𝒆𝒆𝒆𝒆𝒆ã𝒐𝒐 𝑿𝑿 ∈ 𝒎𝒎

𝒉𝒉 𝑿𝑿 𝒎𝒎

universal (∀) negativo (disjuntivo)


Sentença: “nenhum humano é mortal”
Sintaxe: ∀𝑿𝑿[𝒉𝒉(𝑿𝑿) → ~𝒎𝒎(𝑿𝑿)]
Semântica: para todo 𝑿𝑿, 𝒔𝒔𝒔𝒔 𝑿𝑿 ∈ 𝒉𝒉 𝒆𝒆𝒆𝒆𝒆𝒆ã𝒐𝒐 𝑿𝑿∉ 𝒎𝒎

𝒉𝒉 𝑿𝑿 𝒎𝒎

TEMA 5 – QUANTIFICADOR EXISTENCIAL

O quantificador ∃ é utilizado para expressar a noção de que alguns valores


têm uma certa propriedade, mas não necessariamente todos eles.

Ex.:

12
A sentença “existe um 𝒙𝒙 tal que 𝒙𝒙 gosta de queijo”.
(∃𝒙𝒙) (𝑮𝑮(𝒙𝒙, 𝑸𝑸))

Isto não faz qualquer alegação sobre os possíveis valores de 𝒙𝒙,


logo 𝒙𝒙 pode ser uma pessoa, um cachorro ou um item de mobiliário.
Quando o quantificador existencial é utilizado desse modo, apresenta
que existe pelo menos um valor de 𝒙𝒙 para o qual 𝑮𝑮(𝒙𝒙, 𝑸𝑸) é valido.
Portanto, o seguinte é verdadeiro:

(∀𝒙𝒙) (𝑮𝑮(𝒙𝒙, 𝑸𝑸)) → (∃𝒙𝒙) (𝑮𝑮(𝒙𝒙, 𝑸𝑸))

“Todo x gosta de queijo então algum x gosta de queijo”

Contudo, o seguinte não é:

(∃𝒙𝒙) (𝑮𝑮(𝒙𝒙, 𝑸𝑸)) → (∀𝒙𝒙) (𝑮𝑮(𝒙𝒙, 𝑸𝑸))

“Algum x gosta de queijo então todo x gosta de queijo”

O quantificador existencial é representado por:

existencial (∃) (“algum” “existe” “ao menos um”)

Declarações afirmam que uma propriedade é 𝑽𝑽 ou 𝑭𝑭 para alguns valores


de uma variável em um domínio (contingência)
Seja 𝒑𝒑(𝒙𝒙) uma sentença aberta em um conjunto não vazio 𝑨𝑨(𝑨𝑨 ≠ 𝟎𝟎) e 𝑽𝑽𝑽𝑽
o conjunto verdade:

𝑽𝑽𝑽𝑽 = {𝒙𝒙|𝒙𝒙 ∈ 𝑨𝑨 ∧ 𝒑𝒑(𝒙𝒙)}

Quando 𝑽𝑽𝑽𝑽 = 𝑨𝑨, algum elemento de 𝑨𝑨 satisfaz 𝒑𝒑(𝒙𝒙), então:

“Algum elemento de 𝒙𝒙 ∈ 𝑨𝑨, 𝒑𝒑(𝒙𝒙) é 𝑽𝑽”


“Pelo menos um elemento 𝒙𝒙 de 𝑨𝑨, 𝒑𝒑(𝒙𝒙) é verdadeira”.

5.1 Enunciados categóricos

existencial (∃) afirmativo


Sentença: “alguns humanos são mortais”
Sintaxe: ∃𝑿𝑿[𝒉𝒉(𝑿𝑿) ⋀ 𝒎𝒎(𝑿𝑿)]
Semântica: Existe 𝑿𝑿, tal que 𝑿𝑿 ∈ 𝒉𝒉 𝒆𝒆 𝑿𝑿 ∈ 𝒎𝒎

𝒉𝒉 𝑿𝑿 𝒎𝒎
13
existencial (∃) negativo
Sentença: “alguns humanos não são mortais”
Sintaxe: ∃𝑿𝑿[𝒉𝒉(𝑿𝑿)⋀~𝒎𝒎(𝑿𝑿)]
Semântica: Existe 𝑿𝑿, tal que 𝑿𝑿 ∈ 𝒉𝒉 𝒆𝒆 𝑿𝑿∉ 𝒎𝒎

𝒉𝒉 𝑿𝑿 𝒎𝒎

FINALIZANDO

Nesta aula, foram apresentados os conteúdos que descrevem a lógica


predicativa, também denominada lógica dos predicados.
Foram apresentados no tema inicial as definições preliminares, os
conceitos explicados em exemplos práticos, alinhados com os objetivos e
definições iniciais da disciplina.
No segundo tema, foi visto o alfabeto (linguagem) da lógica de predicados,
que complementa as definições do tema inicial.
No terceiro tema, foram descritos os predicados.
Nos temas finais (quarto e quinto), foram definidos o quantificador
universal e o quantificador existencial. Foram apresentados exemplos práticos
alinhados com as aulas práticas e as atividades, com a resolução de exercícios.

14
RACIOCÍNIO LÓGICO
AULA 6

Prof. André Roberto Guerra


CONVERSA INICIAL

Nesta aula, nosso assunto será o Cálculo de Predicados, também


denominado Cálculo dos Predicados de Primeira Ordem. No tema inicial, serão
apresentadas a tradução e a interpretação dos predicados, com ênfase para a
formalização de argumentos.
No segundo tema, entrará em discussão a sintaxe do Cálculo de
Predicados, com abordagem das fórmulas atômicas e das fórmulas bem
formadas (fbf), para, em seguida, no terceiro tema, serem descritos os
Diagramas de Venn.
Nos temas finais (quarto e quinto), a representação de proposições e
dos enunciados categóricos será pontuada, com a validade dos argumentos
utilizando os Diagramas de Venn, exemplos práticos e a resolução de
exercícios.

TEMA 1 – TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO

Nas linguagens de programação conhecidas como procedurais (Pascal e


outras), os programas são elaborados para “dizer” ao computador a tarefa que
deve ser realizada. Já em linguagens de programação conhecidas como
declarativas, os programas reúnem uma série de dados e regras e a usam para
gerar conclusões.
Esses programas são conhecidos como sistemas especialistas ou
sistemas baseados no conhecimento, e simulam em muitos casos a ação de
um ser humano (Coppin, 2017). As linguagens declarativas incluem
predicados, quantificadores, conectivos lógicos e regras de inferência que
fazem parte do Cálculo de Predicados (Abar, 2011).
Como apresentado por Abar (2011), existem vários tipos de argumentos
que, apesar de válidos, não podem ser justificados com os recursos do Cálculo
Proposicional.
Exemplos:
Todo amigo de Carlos é amigo de Jonas.
Pedro não é amigo de Jonas.
Logo, Pedro não é amigo de Carlos.

Todos os humanos são racionais.


Alguns animais são humanos.
2
Portanto, alguns animais são racionais.

A verificação da validade desses argumentos nos leva ao significado não


só dos conectivos, mas também de expressões como “todo”, “nenhum”,
“algum”, “pelo menos um” etc. (Abar, 2011).
Todo humano é mortal, ou seja, qualquer que seja 𝒙 (do universo), se 𝒙
é humano, então 𝒙 é mortal:
∀𝒙(𝑯(𝒙)) → 𝑴(𝒙))
Nenhum humano é vegetal, ou seja, qualquer que seja 𝒙, se 𝒙 é
humano, então 𝒙 não é vegetal:
∀𝒙(𝑯(𝒙) → ~𝑽(𝒙))
Pelo menos um humano é inteligente, ou seja, existe pelo menos um 𝒙
em que 𝒙 seja humano e 𝒙 seja inteligente:
∃𝒙(𝑯(𝒙) ∧ 𝑰(𝒙)).

1.1 Formalização de argumentos

Utilizando a lógica dos predicados, o argumento


Sócrates é humano.
Todo humano é mortal.
Logo, Sócrates é mortal.
pode ser formalizado como:
{𝒉𝒖𝒎𝒂𝒏𝒐(𝒔𝒐𝒄𝒓𝒂𝒕𝒆𝒔), ∀𝑿[𝒉𝒖𝒎𝒂𝒏𝒐(𝑿) → 𝒎𝒐𝒓𝒕𝒂𝒍(𝑿)]} ⇒ 𝒎𝒐𝒓𝒕𝒂𝒍(𝒔𝒐𝒄𝒓𝒂𝒕𝒆𝒔)
∀𝒙(𝑯(𝒙)) → 𝑴(𝒙)).

TEMA 2 – SINTAXE DO CÁLCULO DE PREDICADOS

Símbolos de cálculos de predicados podem representar variáveis,


constantes, funções ou predicados. Constantes são nomes específicos de
objetos ou propriedades no domínio do discurso universo de discurso.
O universo de discurso (domínio de discurso ou domínio de
quantificação) é uma ferramenta analítica usada na lógica dedutiva,
especialmente na lógica de predicados, que indica o conjunto relevante de
entidades às quais os quantificadores se referem. Portanto, Paulo, folha, altura
e azul são exemplos de símbolos de constantes bem formadas.
Símbolos de variáveis são usados para designar classes gerais, objetos
ou propriedades no domínio do discurso (Pereira, [S.d.]). Funções denotam um

3
mapeamento de um ou mais elementos de um conjunto (chamado de domínio
da função) em um único elemento de outro conjunto (o alcance da função)
(Pereira, [S.d.]).
Pereira ([S.d.]) pontua que os elementos do domínio de uma função e o
alcance são objetos no mundo de discurso. Segundo o autor, todo símbolo de
função tem uma associação de aridade, indicando o número de elementos do
domínio mapeados em cada elemento do alcance.
Semelhante ao modo como funções são utilizadas em matemática,
pode-se expressar um objeto que se relacione a outro de modo específico
utilizando funções.
Exemplo:
Representar a sentença “minha mãe gosta de queijo”.
𝑮(𝒎(𝒆𝒖), 𝒒𝒖𝒆𝒊𝒋𝒐)
A função 𝒎(𝒙) significa a mãe de 𝒙.

Funções podem ter mais de um argumento, e, em geral, uma função


com 𝒏 argumentos é representada como:
𝒇(𝒙𝟏, 𝒙𝟐, 𝒙𝟑, . . . , 𝒙𝒏).
Uma expressão da função é um símbolo de função seguido de seus
argumentos. Os argumentos são elementos do domínio de uma função, e o
número de argumentos é a aridade desta. Os argumentos ficam dentro dos
parênteses, separados por vírgulas.
Exemplo:
f(X,Y)
pai(david)
preço(apple)

As expressões citadas são expressões bem formadas (EBF).


A lógica de predicados pode ser vista numa gramática sensível ao
contexto, ou, mais tipicamente, livre de contexto. Em uma expressão da forma
(∀𝒙)(𝑷(𝒙, 𝒚)), a variável 𝒙 é dita ligada, enquanto a variável 𝒚 é dita livre.
Isso significa que a variável 𝒚 pode ser substituída por qualquer outra
variável, pois está livre, e a expressão ainda teria o mesmo significado, ao
passo que se a variável 𝒙 fosse substituída por alguma outra variável
em (𝑷(𝒙, 𝒚), então o significado da expressão seria alterado:

4
(∀𝒙) (𝑷(𝒚, 𝒛)) não é equivalente a (∀𝒙) (𝑷(𝒙, 𝒚)), enquanto
(∀𝒙) (𝑷(𝒙, 𝒛)) é.
Observe que uma variável pode ocorrer tanto ligada quanto livre em uma
expressão, como em:
(∀𝒙) (𝑷(𝒙, 𝒚, 𝒛) → (∃𝒚)(𝑸(𝒚, 𝒛))).

Nessa expressão, 𝒙 é completamente ligada e 𝒛 é completamente


livre; 𝒚 é livre na sua primeira ocorrência, mas é ligada em (∃𝒚) (𝑸(𝒚, 𝒛)).
Observe que ambas as ocorrências de 𝒚 são ligadas.
Esse tipo de alteração é chamado de substituição. É permitida a
substituição de qualquer variável livre por outra variável livre.

2.1 Fórmulas atômicas

A linguagem do Cálculo de Predicados utiliza para representar frases de


uma linguagem natural constantes, variáveis, predicados, símbolos de
conectivos, quantificadores e parênteses. Esse tipo de cálculo dos predicados
referenciado também é chamado de lógica dos predicados de primeira
ordem (LPPO).
Uma lógica de primeira ordem é aquela na qual os quantificadores ∀ e ∃
podem ser aplicados a objetos e termos, mas não a predicados e funções. A
sintaxe de LPPO é assim definida:
Termo:
Uma constante é um termo.
Uma variável é um termo.
𝒇(𝒙𝟏, 𝒙𝟐, 𝒙𝟑, . . . , 𝒙𝒏) é um termo se 𝒙𝟏, 𝒙𝟐, 𝒙𝟑, . . . , 𝒙𝒏 forem todos termos.
Qualquer coisa que não atenda à descrição anterior não pode ser um
termo.
Exemplo:
Não é um termo:
(∀𝒙) 𝑷(𝒙).
Esse tipo de construção de sentença é denominado fórmula bem
formada (fbf), definida em tópico específico a seguir. Em lógica, a expressão
simbólica constituída de um predicado e seus termos chama-se expressão
atômica.

5
Expressões atômicas são fórmulas. O conceito de expressão atômica é
utilizado para definir, de maneira mais precisa, o conceito de fórmula. São as
fórmulas mais simples do Cálculo de Predicados de Primeira Ordem.
É uma letra predicativa, seguida por zero ou mais letras nominais ou
variáveis. Uma fórmula atômica é uma expressão 𝒑(𝒕𝟏, … , 𝒕𝒏), em que 𝒑 é um
símbolo de predicado e 𝒕𝟏, … , 𝒕𝒏 são termos.
Nessas definições, 𝑷 é um predicado, 𝒙𝟏 , 𝒙𝟐 , 𝒙𝟑 , . . . , 𝒙𝒏 são termos e 𝛼 e
𝛽 são fórmulas. Então:
𝑷(𝒙𝟏 , 𝒙𝟐 , 𝒙𝟑 , . . . , 𝒙𝒏 )
(~𝜶),
(𝜶 ∧ 𝜷),
(𝜶 ∨ 𝜷),
(𝜶 → 𝜷),
(𝜶 ↔ 𝜷)
Se 𝜶 é uma fórmula e 𝒙 uma variável, então (∀𝒙)𝜶 e (∃𝒙)𝜶 são fórmulas.
Exemplo:
Todo amigo de Caio é amigo de José.
Pedro não é amigo de José.
Logo, Pedro não é amigo de Carlos.
(∀𝒙)(𝑷(𝒙, 𝒄) → 𝑷(𝒙, 𝒋))
~ 𝑷(𝒑, 𝒋)
~𝑷(𝒑, 𝒄)
em que 𝑷(𝒙, 𝒚) significa que 𝒙 é amigo de 𝒚 e 𝒄, 𝒑, 𝒋 são constantes que
representam Caio, Pedro e José.

2.2 Fórmulas bem formadas

Semelhante ao Cálculo Proposicional, nem toda sequência constituída


de constantes, variáveis, predicados, símbolos de conectivos, quantificadores e
parênteses é válida, isto é, representa uma frase da linguagem natural.
As sequências válidas são denominadas fórmulas bem formadas (fbf) –
(well formed formulas – wff), ou simplesmente fórmulas.
Se 𝑷 e 𝑸 são fbf, então:
(~𝑷),
(𝑷 ∧ 𝑸),

6
(𝑷 ∨ 𝑸),
(𝑷 → 𝑸),
(𝑷 ↔ 𝑸) também são.
Se 𝑷(𝒙) é uma fbf, então ∃𝒙(𝑷(𝒙)) e ∀𝒙(𝑷(𝒙)) também são.
Seja 𝑷 = 𝑭(𝒂) ∧ 𝑮(𝒂, 𝒃), então são fbf:
∀𝒙(𝑭(𝒙) ∧ 𝑮(𝒂, 𝒃))
∀𝒙(𝑭(𝒙) ∧ 𝑮(𝒙, 𝒃))
∀𝒙(𝑭(𝒙) ∧ 𝑮(𝒂, 𝒙))
∃𝒙(𝑭(𝒙) ∧ 𝑮(𝒂, 𝒃)).

TEMA 3 – DIAGRAMAS DE VENN

As proposições categóricas podem ser representadas graficamente por


meio de um esquema conhecido como Diagrama de Venn, utilizado pela
primeira vez pelo matemático inglês John Venn, que viveu no século XIX.
Nos Diagramas de Venn, cada classe é representada por um círculo,
rotulada com o nome da classe. Para representar a proposição que afirma que
a classe não possui elementos, o interior do círculo é sombreado.
Para indicar que a classe possui pelo menos um elemento, um X é
inserido no círculo. Para diagramar uma proposição categórica, são
necessários dois círculos, pois esta faz referência a duas classes.
Então, para representar uma proposição que referencia dois predicados,
“S” e “P”, são utilizados dois círculos que se interceptam, S e P:

Assim, é possível indicar a forma de representação, segundo os


Diagramas de Venn, de cada uma das proposições categóricas.
A proposição “todo S é P”, com a forma simbólica 𝒙 (𝑺𝒙  𝑷𝒙), é assim
representada:

7
O sombreado em S indica que todos os elementos em S estão
concentrados na interseção com P.
A proposição “nenhum S é P”, com a forma simbólica𝒙 (𝑺𝒙   𝑷𝒙), é
assim representada:

A interseção é sombreada, indicando que não existem elementos


comuns entre S e P.
A proposição “algum S é P”, com a forma simbólica 𝒙 (𝑺𝒙  𝑷𝒙), é
assim representada:

O X na interseção das classes indica o elemento que está tanto em S


como em P.
A proposição “algum S não é P”, com a forma simbólica 𝒙 (𝑺𝒙   𝑷𝒙),
é assim representada:

8
O elemento X é incluído em S, mas exterior à classe P.

TEMA 4 – REPRESENTAÇÃO DE PROPOSIÇÕES/ENUNCIADOS


CATEGÓRICOS

Este tema trata da representação gráfica das proposições e enunciados


categóricos. Essa representação é uma forma de verificar a validade de um
argumento, as interpretações dos enunciados categóricos.
Cada proposição é representada por um círculo com seu título. Cada
círculo sem preenchimento representa ausência de informação sobre a
proposição:

Círculo (ou parte) preenchido representa região vazia de elementos:

Para representar algum (pelo menos um) elemento na proposição,


insere-se 𝑿 no círculo (ou parte dele):

9
4.1 A representação gráfica de proposições/enunciados categóricos

São necessários dois círculos para representar uma proposição sobre


dois predicados:

Universal afirmativo (conjuntivo) - (∀)


Sentença:
“todo humano é mortal”
Sintaxe:
∀𝑿[𝒉(𝑿) → 𝒎(𝑿)]
Semântica:
para todo 𝑿, 𝒔𝒆 𝑿 ∈ 𝒉, 𝒆𝒏𝒕ã𝒐 𝑿 ∈ 𝒎:

Universal negativo (disjuntivo) - (∀)


Sentença:
“nenhum humano é mortal”
Sintaxe:
∀𝑿[𝒉(𝑿) → ~𝒎(𝑿)]
Semântica:
para todo 𝑿, 𝒔𝒆 𝑿 ∈ 𝒉, 𝒆𝒏𝒕ã𝒐 𝑿∉ 𝒎:

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Existencial afirmativo - (∃)
Sentença:
“alguns humanos são mortais”
Sintaxe:
∃𝑿[𝒉(𝑿) ⋀ 𝒎(𝑿)]
Semântica:
Existe 𝑿, tal que 𝑿 ∈ 𝒉 𝒆 𝑿 ∈ 𝒎:

Existencial negativo - (∃)


Sentença:
“alguns humanos não são mortais”
Sintaxe:
∃𝑿[𝒉(𝑿)⋀~𝒎(𝑿)]
Semântica:
Existe 𝑿, tal que 𝑿 ∈ 𝒉 𝒆 𝑿∉ 𝒎:

TEMA 5 – VALIDADE POR DIAGRAMAS DE VENN

Pinho (1999) define em sua obra que, para comprovar a validade ou a


invalidade de um silogismo categórico utilizando os Diagramas de Venn, deve-
se representar ambas as premissas em um único diagrama. Nesse caso, são

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requeridos três círculos que se interceptam, pois as duas premissas do
silogismo incluem três predicados, ou três classes (Pinho, 1999).
O silogismo será válido se, e unicamente se, as duas premissas
afirmarem em conjunto o que é dito pela conclusão, isto é, basta representar
por meio de um Diagrama de Venn as duas premissas. Se o que se afirma na
conclusão ficar também diagramado, o silogismo é válido; caso contrário, será
inválido (Pinho, 1999).
Exemplo:
Tigres são animais ferozes.
Alguns tigres vivem na Índia.
Logo, alguns animais ferozes vivem na Índia.

São representados por três círculos:


T para “tigres”
F para “animais ferozes”
I para “vivem na Índia”

A primeira premissa é da forma “todo T é F” e a segunda de “algum T é


I”. Representação gráfica das premissas:

O argumento representado é válido.


Pinho (1999) complementa que a única possibilidade de incluir o X na
interseção de T e I é incluí-lo também em F, o que representa “algum F é I”,
que é o que afirma a conclusão, mostrando a validade do silogismo.
Exemplo:
Todos os humanos são mortais.
Sócrates é humano.
Logo, Sócrates é mortal.

São representados por três círculos:


H para “humano”
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M para “mortal”
S para “Sócrates”

A premissa “todos os humanos são mortais” é representada por “todo H


é M” e “Sócrates é humano” equivale a “todo Sócrates é humano”, isto é, “todo
S é H”. Representação gráfica das premissas:

O argumento representado é válido.


A única parte da classe S que não é vazia está incluída na classe M,
afirmando que todo S é M, isto é, Sócrates é mortal, validando o argumento.
Exemplo:
Todos os cães são ferozes.
Alguns gatos são ferozes.
Logo, alguns gatos são cães.

São representados por três círculos:


C para “cães”
F para “ferozes”
G para “gatos”

Para representar a segunda premissa, “alguns gatos são ferozes”, deve-


se incluir um X na interseção entre G e F. Essa interseção tem duas regiões,
uma interna a C e outra externa, e não é obrigatório inserir o X dentro de C.
Representação gráfica das premissas:

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Inserindo X na região externa a C, fica claro que é possível atender às
duas premissas sem atender à conclusão. Portanto, o argumento é inválido.

FINALIZANDO

Nesta aula, foram apresentados os conteúdos que descrevem o Cálculo


de Predicados, também denominado Cálculo dos Predicados de Primeira
Ordem. No tema inicial, a tradução e a interpretação dos predicados foram
abordadas, com ênfase na formalização de argumentos.
No segundo tema, focalizou-se a sintaxe do Cálculo de Predicados,
apresentando as definições de constantes, símbolos, funções e expressões,
bem como as expressões bem formadas (EBF). Também foram definidas as
características das variáveis da expressão (ligada e/ou livre).
Na sequência do mesmo tema, foram abordadas as fórmulas atômicas e
o cálculo dos predicados, também chamado de lógica dos predicados de
primeira ordem (LPPO), com a definição da sintaxe de LPPO e os termos, e,
por fim, a apresentação das fórmulas bem formadas (fbf).
No terceiro tema, foram descritos os Diagramas de Venn. No quarto
tema, os conteúdos referentes à representação de proposições e dos
enunciados categóricos, e, para finalizar, discutiu-se no último tema a validade
dos argumentos utilizando os Diagramas de Venn, com exemplos práticos e a
resolução de exercícios.

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