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Desenvolvimento do Conhecimento Lógico

APRESENTAÇÃO

#CURRÍCULO LATTES#

Professor Me. George Lucas Máximo Ferreira

Bacharel em Ciências Econômicas pela Universidade Regional de Joinville (UNIVILLE,


2017). Mestre em Teoria Econômica pela Universidade Estadual de Maringá (UEM,
2020). Bolsista CNPQ na área de Teoria Econômica. Bolsista SETI/PR em Programa
para Microempreendedores do Paraná - Bom Negócio Paraná. Bolsista SETI/PR em
Programa de Certificação Orgânica - Paraná Mais Orgânico. Especialista em
Tecnologias Aplicadas ao Ensino a Distância pelo Centro Universitário Cidade Verde
(UNIFCV, 2020). MBA USP/Esalq em Data Science e Analytics (2021-atual). Atua como
tutor educacional (UNIFCV/EAD), professor adjunto dos departamentos de Tecnologias
da Informação/Engenharias/Pedagogia/Saúde (UNIFCV) e professor conteudista/autor
nas áreas de economia, matemática, lógica matemática, estatística, finanças e
investimentos (Kroton/FATECIE).

Link Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/7384837321788311


APRESENTAÇÃO DA APOSTILA
Olá, caro (a) aluno (a)! Seja muito bem-vindo (a) ao material de Desenvolvimento
do Conhecimento Lógico! Sou o Professor George Lucas Máximo Ferreira e é com
grande satisfação que apresento este conteúdo de minha autoria, cuja finalidade consiste
em introduzir os principais conceitos e definições de Lógica Matemática. Assim, na
Unidade I, vamos apresentar brevemente a história da Lógica Matemática sendo que um
dos principais contribuintes para a construção das leis lógicas foi o filósofo grego
Aristóteles por meio da concepção de instrumentos do pensamento (Órganon), no
capítulo Analytica Priora. Além disso, avançando até a era moderna apresentamos as
contribuições de George Boole, De Morgan e Frege. Na Unidade II você estudará sobre
as construções aristotélicas silogísticas. Aprendendo assim, a definição e utilização dos
termos no silogismo, além disso, serão apresentadas as regras do silogismo e os
sofismas. Será visto ainda, as representações gráficas por meio dos diagramas de Euler-
Venn e suas aplicações. Por sua vez, na unidade III serão apresentadas o que é uma
sentença declarativa afirmativa, introduzindo, assim, o conceito de proposições simples
(p, q, r,...) e compostas (P, Q, R,...) concluindo com a apresentação e aplicação dos
conectivos proposicionais “˄”; “˅”; “→”; “↔”; “⁓”. Você aprenderá como construir uma
Tabela Verdade. Isso posto, você verá o conceito de arranjos binomiais VV, VF, FV, FF
como base do método semântico ou instrumento de validação de argumentos conhecido
por Tabela Verdade. Além disso, será explorado por meio das regras dos conectivos
como construir a Tabela Verdade de cada um dos conectivos de acordo com sua
classificação: “Conjunção”; “Disjunção”; “Condicional; “Bicondicional” e “Negação”.
Ademais na unidade IV, finalizamos nossa jornada pelo conhecimento sobre lógica
matemática abordando as lógicas não clássicas ou não aristotélicas. Dessa forma, serão
abordados os conceitos da lógica modal, lógica alternativas e paraconsistentes.
Destacam-se as contribuições do criador da lógica paraconsistente, o matemático e
professor Newton C.A da Costa. Reitero ainda, caro (a) estudante, que o ato de estudar
e obter conhecimento acerca de um tema é imprescindível para o nosso enriquecimento
intelectual e pessoal, pois permite o ganho e a elevação que jamais serão perdidos.

Desejo ótimos estudos!


Prof. Me. George Lucas Máximo Ferreira
UNIDADE I
O QUE É LÓGICA?
Professor Mestre George Lucas Máximo Ferreira

Plano de Estudo:
• O que é lógica?

Objetivos de Aprendizagem:
• Conceituar e contextualizar a lógica clássica.
• Compreender os tipos de lógica.
• Estabelecer a importância das regras de inferência.
INTRODUÇÃO

Caro (a) estudante, seja bem-vindo à disciplina de Desenvolvimento do


Conhecimento Lógico. Vamos iniciar a nossa jornada pelo conhecimento por meio da
abordagem das principais características, conceitos e definições que abrangem a Lógica
Clássica. Disso, você estudará os fundamentos e as contribuições do filósofo grego
Aristóteles para a axiomatização da lógica. Além disso, são explicitadas as contribuições
das escolas dos megáricos e estóicos para a concepção lógica. Avançando até a
contemporaneidade, são introduzidas as contribuições de matemáticos e lógicos como
Boole, Frege e De Morgan e, apresenta-se a definição clássica de lógica. Na sequência,
você verá a interligação entre a linguagem, sintática e semântica com as estruturas
lógicas simbólicas. Disso, surge a argumentação e a organização silogística entre
premissas e conclusão e, sobretudo como realizar a validação desses argumentos
utilizando métodos de inferência, conhecidas como prova direta de validação,
desdobramento das limitações provenientes do método semântico das tabelas de
verdade.

Desejo ótimos estudos!


1 O QUE É LÓGICA?
Fonte da imagem: https://image.shutterstock.com/image-vector/man-head-puzzle-mental-health-600w-
1966529368.jpg

Caro (a) estudante, você aprenderá que a lógica estuda a relação de


consequência dedutiva, analisando entre outras variáveis as validações dos argumentos,
ou seja, a associação entre as premissas e a conclusão. Assim, a lógica pode ser
considerada como o estudo da razão ou do raciocínio. Logo, o objetivo da lógica consiste
na aplicação dos princípios lógicos por meio do raciocínio dedutivo, disso, surge a lógica
dedutiva. Além disso, a estruturação do pensamento lógico começa com as contribuições
do filósofo grego Aristóteles (384-322 a. C.) não tendo sido encontrado evidências de
contribuições anteriores. Disso, a lógica formal (pura ou teórica) surge com Aristóteles
por meio da sua obra compilada denominada de Órganon1 (KNEALE; KNEALE, 1962).
Isso posto, para Aristóteles o raciocínio dedutivo é reduzido basicamente ao que se
denomina silogismo. Para além das contribuições de Aristóteles, houve a lógica dos
megáricos (300 a.C.) e estóicos (260 a. C.). A abordagem desta última escola se
distingue da aristotélica (Cálculo Proposicional) devido ao Cálculo de Predicados. São
características dessa escola, de acordo com Bispo, Castanheira e Souza Filho (2011) a
determinação das diferenças entre o conectivo inclusivo (ou) e exclusivo (ou...ou).
Na contemporaneidade, você notará que a lógica matemática recebe as
contribuições do matemático e lógico George Boole (1815-1864) por meio da sua álgebra
booleana. Disso, surgem as ideias de Augustus De Morgan (1806-1871) e Gottlob Frege
(1848-1925), este último, desenvolve o cálculo sentencial utilizando a negação e
implicação, regras de Modus Ponens e de Substituição. Destaca-se ainda as
contribuições de Bertrand Russell (1829-1970), Alfred Whitehead (1861-1947) com sua
obra “Principia Mathematica” e Kurt Godel (1906-1978) e Alfred Tarski (1902-1983)
(CARRION; COSTA, 1988). Para além disso, surgem as lógicas não clássicas por meio
das contribuições do professor Newton Carneiro Affonso da Costa com sua lógica
paraconsistente.

1
De acordo com Hegenberg (1995), no Organon se encontram os capítulos: (I) Categorias; (II) De
Interpretatione (Interpretações); (III) Analytica Priora (Primeiros Analíticos que estuda os silogismos); (IV)
Analytica Posteriora (Segundos Analíticos que contempla o estudo de silogismos de premissas
verdadeiras); (V) Tópicos; (VI) Refutações sofísticas.
Além disso, Barbosa (2017) destaca que quando pensamos na lógica como
manifestação do pensamento é possível diferenciá-la com relação a sua fundamentação,
o que ajudará a endossar qualquer apoio disciplinar. A lógica pode ser entendida
segundo Bispo, Castanheira e Souza Filho (2011) como a ciência que estuda os
axiomas, princípios e métodos estabelecendo as condições de validação ou
invalidação do argumento. Por sua vez, a lógica apresenta várias vertentes de
pensamento, dessa forma, vamos adotar o pressuposto que a lógica é dividida em (1)
lógica clássica e; (2) não clássica (ou alternativa). Dessa forma, a lógica clássica é
baseada em simbolismos, padrão aristotélico, e cujo rigor tende a ser mais
fundamentalista. A lógica aristotélica pode ser interpretada como a ciência do
julgamento dividindo a lógica em formal e material. A lógica formal ou simbólica aborda
a estrutura do raciocínio, ou seja, estuda as relações entre conceitos e provas, sendo
conhecida também como lógica matemática.

1.1 Usos da Linguagem

A lógica segue um processo de axiomatização, isto é, de formalização para se


proceder às inferências. Disso, Alencar Filho (2002), sublinha os pilares da lógica
aristotélica ou clássica, os três princípios lógicos, a saber: (1) Princípio da Identidade,
todo objeto é idêntico a si mesmo; (2) Princípio da não contradição, são atribuídas as
proposições valores lógicos verdadeiro (V) ou falsidade (F), mas não simultaneamente
e; (3) Princípio do Terceiro Excluído, ou seja, pode-se atribuir os valores lógicos
verdadeiro ou falso, mas nunca uma terceira designação. Além disso, Costa (1994) e
Bispo, Castanheira e Souza Filho (2011) afirmam que não existe atividade lógico-racional
sem a linguagem, com exceção, de raciocínios simplistas como algumas inferências
imediatas e que tais palavras são substituídas por símbolos na lógica. Logo, é necessário
a estrutura linguística para determinar as leis da lógica. Disso, surge a ligação com a
teoria da linguagem. A linguagem de acordo com Costa (1994) é um sistema de sinais,
ou símbolos, utilizados sistematicamente e de forma orgânica. Nesse conjunto, tais
símbolos representam objetos ou compõem a formação de estruturas simbólicas ou
sintaxe. Assim, uma linguagem refere-se a objetos e situações, ou seja, algumas de suas
estruturas simbólicas representam determinadas entidades cujas sentenças estão
relacionadas a fatos. Ademais, na análise da linguagem é necessário considerar,
segundo Costa (1994) a dimensão sintática e semântica, isto é, a conexão entre as
linguagens, os objetos e aos fatos à que se referem.

1.2 O que é Argumento?

Um argumento segundo Bispo, Castanheira e Souza Filho (2011) é composto por


parte do discurso, seja descrito ou narrado na qual são localizados um conjunto de
premissas cujo resultado é a conclusão. Isso posto, você verá que Mortari (2001)
destaca que as premissas e a conclusão são representadas por fórmulas de predicados,
disso é possível determinar que o argumento base é válido se o conjunto das fórmulas
que representam as premissas "implica" logicamente a fórmula que corresponde à
conclusão.
Além disso, Machado e Cunha (2019) descreve o argumento como a pretensão
do interlocutor em justificar a verdade representada na conclusão por meio da verdade
das premissas, logo, duas condições são necessárias, a saber: (1) as premissas
precisam ser verdadeiras e; (2) um argumento coerente. Assim, se pelo menos uma das
premissas é falsa, mesmo sob a hipótese de argumento coerente, não é possível validar
a verdade da conclusão. Por sua vez, assumindo que as premissas são verdadeiras e a
argumentação não é coerente, logo, a validade da verdade da conclusão também não
pode ser garantida.
Ademais, um argumento representa um conjunto de n proposições, ou fórmulas,
sendo que uma é a consequência (conclusão), isto é, deriva das premissas (outras).
Além disso, as premissas são notadas como 𝑃𝑖 , na qual, i=1, 2, 3, ..., (n-1) e a conclusão
é C. E, a validação do argumento é organizado de acordo com a seguinte disposição:

1. (𝑃1 )
2. (𝑃2 )

(n-1).𝑃𝑛−1
n. ∴ C
Rearranjando os termos é equivalente à notação:

𝑃1 ˄ 𝑃2 ˄ 𝑃3 ˄ ... ˄ 𝑃(𝑛−1) → C

Por conseguinte, Alencar Filho (2003) e Bispo, Castanheira e Souza Filho (2011),
definem que um argumento composto pelas premissas 𝑃1 , 𝑃2 , 𝑃3 ,..., 𝑃𝑛−1 e conclusão C
pode ser representado por:

𝑃1 , 𝑃2 , 𝑃3 ,..., 𝑃𝑛−1 ⊢ C

Na qual, se lê:

I. “𝑃1 , 𝑃2 , 𝑃3 ,..., 𝑃𝑛−1 acarretam C”.


II. “C decorre de 𝑃1 , 𝑃2 , 𝑃3 ,..., 𝑃𝑛−1 ”.
III. “C se deduz de 𝑃1 , 𝑃2 , 𝑃3 ,..., 𝑃𝑛−1 ”.
IV. “C se infere de 𝑃1 , 𝑃2 , 𝑃3 ,..., 𝑃𝑛−1 ”.

Sendo que, o símbolo “⊢”, denominado traço de asserção determina que a


proposição à direita pode ser deduzida utilizando apenas as premissas que estão à sua
esquerda. Além disso, Bispo, Castanheira e Souza Filho (2001), sublinham que cada
premissa (𝑃1 , 𝑃2 , 𝑃3 ,..., 𝑃𝑛−1 ) é disposta em uma linha numerada (1, 2, 3, ..., n-1). Sendo
que, na última linha é disposta a conclusão notada pelo símbolo “∴” que representa,
“portanto”, e finalmente cada proposição simples ou atômica que compõe a proposição
composta deve ser representada por letras proposicionais minúsculas do alfabeto latino
(p, q, r,...).

1.3 Raciocínio e Inferência

Assim sendo, a lógica pode ser entendida como a ciência do raciocínio cuja raiz
etimológica deriva do grego clássico, logike, que significa “logos”, isto é, a palavra escrita
ou falada. No entanto, de acordo com Bedregal e Acioly (2007) filósofos gregos como
Heráclito atribuíram um significado mais amplo como: pensamento, a ideia, a razão, o
argumento. Por sua vez, um argumento não válido, isto é, sua invalidação, segundo
Alencar Filho (2002) é um sofisma. Um sofisma é uma falácia cujo objetivo é causar
confusão. Isso posto, Rocha (2010) sublinha que uma falácia pode ser estruturada com
base em premissas falsas ou verdadeiras que representam casos específicos, ou seja,
não generalizam, e não podem ser generalizadas.
A conclusão pode ser correta, entretanto, do ponto de vista real, o argumento é
uma falácia, porque as proposições base (premissas) apresentadas não determinam
uma conclusão satisfatória, já que a estrutura é falaciosa. Um método utilizado para a
validação de argumentos é a Tabela Verdade2, entretanto, tal método semântico
apresenta limitações. Sendo assim, Alencar Filho (2003), destaca outra forma para se
provar a validade de um argumento conhecido como prova direta de validação cujos
instrumentos são as implicações e equivalências tautológicas (Quadro 1).

Quadro 1. Equivalências Tautológicas†


Regras/abrev. Fórmulas
(p ˄ p) ⟺p
Idempotência (IND)
(p ˅p) ⟺ p
(p ˄ q) ⟺ (q˄p)
Comutação (COM)
(p ˅ q) ⟺ (q ˅ p)
((p ˄ q) ˄ r) ⟺ (p ˄ (q ˄ r))
Associação (ASS)
((p ˅ q) ˅ r) ⟺ (p ˅ (q ˅ r))
(p ˄ (q˅ r)) ⟺ ((p ˄ q) ˅ (p ˄ r))
Distribuição (DIS)
(p ˅ (q˄ r)) ⟺ ((p ˅ q) ˄ (p ˅ r))
Condicional (COND) p → q ⟺⁓p ˅ q
⁓ (p ˅ q) ⟺ (⁓p ˄⁓q)
Leis de De Morgan (MOR)
⁓ (p ˄ q) ⟺ (⁓p ˅⁓q)
Dupla Negação (DN) ⁓(⁓p) ⟺ p
Importação/Exportação (IE) ((p ˄ q) → r) ⟺ (p → (q →r))
Absurdo (ABD) (p → (q ˄⁓q)) ⟺ ⁓p
Nota: †Trata-se de uma lista parcial das fórmulas proposicionais.

2
As proposições podem ter seus valores-verdade apresentados em “Tabelas de valores”. Disso, são
utilizadas regras para conjugar cada composição, a saber: conjunções, disjunções, condicionais,
bicondicionais e a negação de uma proposição. Após esse procedimento segue-se a validação dos
argumentos, logo, as tabelas-verdade consistem em um método semântico de validação de argumentos
(HEGENBERG, 1995, p.214).
Fonte: Adaptado de Alencar Filho (2003); Bispo; Castanheira; Souza Filho (2011).

As implicações tautológicas são utilizadas para fazer inferências, ou seja, executar


“etapas” de uma dedução ou demonstração e devido a isso são denominadas, regras
de inferência. Assim sendo, a notação correta é inserir a premissa sobre um traço
horizontal e na sequência a conclusão abaixo do traço supracitado (ALENCAR FILHO,
2002) (Quadro 2).

Quadro 2. Implicações† Tautológicas


Regras/abrev. Regras de Inferência Fórmulas proposicionais
𝑝 𝑝
Adição (AD) ; p⟹p˅q
𝑝˅𝑞 𝑞˅𝑝
𝑝˄𝑞 𝑝˄𝑞 p ˄ q ⟹p
Simplificação (SIMP) ;
𝑝 𝑞 p˄q⟹q
𝑝𝑞 𝑝𝑞 p, q ⟹p ˄ q
Conjunção (CONJ) ;
𝑝˄𝑞 𝑞˄𝑝 p, q⟹q˄p
𝑝 →𝑞
Absorção (ABS) p → q⟹p → (p ˄ q)
𝑝 → (𝑝 ˄ 𝑞)
𝑝 →𝑞𝑝
Modus Ponens (MP) p → q, p⟹q
𝑞
𝑝 → 𝑞 ⁓𝑞
Modus Tollens (MT) p → q, ⁓q⟹⁓p
⁓𝑝
𝑝 ˅ 𝑞 ⁓𝑝 𝑝 ˅ 𝑞 ⁓𝑞 p ˅ q, ⁓p⟹q
Silogismo Disjuntivo (SD) ;
𝑞 𝑝 p ˅ q, ⁓q⟹p
𝑝 →𝑞𝑞 →𝑟
Silogismo Hipotético (SH) p → q, q →r, ⟹p → r
𝑝 →𝑟
Nota: †Lista Parcial de implicações Tautológicas.
Fonte: Adaptado de Alencar Filho (2003); Bispo; Castanheira; Souza Filho (2011)

Apresentadas as regras de inferência como alternativas das Tabelas Verdade


para validação dos argumentos. Você verá, na sequência, as regras de dedução do
cálculo proposicional. Disso, Bispo, Castanheira e Souza Filho (2011), destacam que a
prova direta de validação de argumentos utiliza três regras, a saber: (1) Equivalências
Tautológicas; (2) Implicações Tautológicas e o; (3) Teorema da Dedução. O Teorema da
Dedução ou o Teorema de Herbrand é um método da suposição estabelecido por
Stanislaw Lesniewski (1886-1939), um filósofo e matemático polonês, e foi transformada
em técnica pelo lógico polonês Stanislaw Jaśkowski seu aluno e membro da Escola de
Lógica Lwów-Warsaw.
Entretanto, Hegenberg (1995) destaca que foi Jacques Herbrand (1930) e de
maneira independente Alfred Tarski (1936) que aperfeiçoaram o método que ficou
conhecido como Teorema da Dedução (TD) ou segundo Alencar Filho (2003)
“Demonstração Condicional (DC)”.
SAIBA MAIS

A obra clássica de literatura infantil “Alice no país das maravilhas” foi escrita pelo
matemático, lógico e romancista Charles Lutwidge Dodgson sob o pseudônimo Lewis
Carroll (1832-1898). A obra tem características e abordagens lógicas por meio de
contradições, argumentos circulares, silogismos e falácias, atraindo o leitor para imergir
no mundo do nonsense e, sobretudo, o leitor é envolvido num ambiente de fantasia e
reviravoltas mirabolantes.

Fonte: CÂNDIDO. Jornal da Biblioteca Pública do Paraná. O nonsense como crítica da lógica.
Disponível em: https://www.bpp.pr.gov.br/Candido/Noticia/O-nonsense-como-critica-da-logica. Acesso
em: 06 ago. 2021.

#SAIBA MAIS#

REFLITA

“Aonde fica a saída?'', perguntou Alice ao gato que ria. Depende, respondeu o gato. De
quê, replicou Alice; Depende de para onde você quer ir[...]”

Lewis Carroll, livro Alice no País das Maravilhas.

#REFLITA #
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Caro (a) estudante, nesta unidade, aprendemos sobre as principais


características, conceitos e definições que abrangem a lógica clássica ou aristotélica.
Disso, foram apresentadas as contribuições do filósofo grego Aristóteles (384-322 a. C.)
para a axiomatização da lógica clássica por meio dos três pilares da lógica como (1)
Princípio da Identidade; (2) Princípio da não contradição e o; (3) Princípio do Terceiro
Excluído. Além disso, foi apresentado o conceito da lógica, ou seja, a validação de
argumentos utilizando métodos de validação seja o semântico constituído pelas tabelas
de verdade ou por meio da prova direta de validade. Por sua vez, foram abordados os
usos da linguagem, isto é, a interligação que há entre as estruturas linguísticas e a lógica
matemática, inclusive, considerando aspectos sintáticos e semânticos. Na sequência
foram discorridos sobre a argumentação por meio das estruturas silogísticas como a
premissa e a conclusão. Ademais, argumentou-se sobre a ciência do raciocínio, sofisma,
um tipo de falácia, a validação de argumentos utilizando provas diretas de validade cujos
instrumentos são as equivalências e implicações tautológicas, denominadas também
como regras de inferência. Além disso, você aprendeu na unidade que seguiu, acerca
dos princípios lógicos aristotélicos, silogismos, diagramas de Euler-Venn, falácias e
sobre o quadrado de oposições aristotélico.
LEITURA COMPLEMENTAR

SAUTTER, F. T. Teoria pura da lógica. Natureza Humana, v.13, n.2, São Paulo, 2011.

SAUTTER, F. T. Silogísticas paraclássicas: um estudo de caso sobre a relação


entre lógica clássica e lógicas não-clássicas. Principia, v.13, n.2, pp. 185-194, 2009.
DOI:10.5007/1808-1711.2009v13n2p185.
LIVRO

Título: Lógica Indutiva e Probabilidade


Autor: Newton da Costa
Editora: Hucitec
Sinopse: Newton da Costa, atualmente é professor aposentado do Departamento de
Filosofia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São
Paulo, sendo hoje professor visitante do Departamento de Filosofia da Universidade
Federal de Santa Catarina, é engenheiro civil e bacharel em Matemática pela
Universidade Federal do Paraná. Obteve os títulos de doutor em Matemática e docente
livre de Análise Matemática e Análise Superior pela mesma instituição, em 1961,
tornando-se catedrático dessa cadeira em 1965. Suas contribuições mais importantes,
para a Ciência e a Filosofia, relacionam-se com a lógica paraconsistente (da qual foi um
dos criadores. Juntamente, mas independente, com o lógico polonês S. Jaskowski), a
teoria dos reticulados e a teoria estrutural das ciências empíricas.
FILME/VÍDEO

Título: O Jogo da imitação


Ano: 2014
Sinopse: Durante a Segunda Guerra Mundial, o governo britânico monta uma equipe
que tem por objetivo quebrar o Enigma, o famoso código que os alemães usam para
enviar mensagens aos submarinos. Um de seus integrantes é Alan Turing (Benedict
Cumberbatch), um matemático de 27 anos estritamente lógico e focado no trabalho, que
tem problemas de relacionamento com praticamente todos à sua volta. Não demora
muito para que Turing, apesar de sua intransigência, lidere a equipe. Seu grande projeto
é construir uma máquina que permita analisar todas as possibilidades de codificação do
Enigma em apenas 18 horas, de forma que os ingleses conheçam as ordens enviadas
antes que elas sejam executadas. Entretanto, para que o projeto dê certo, Turing terá
que aprender a trabalhar em equipe e tem Joan Clarke (Keira Knightley) sua grande
incentivadora.
WEB

Kurt Gödel foi um filósofo, matemático e lógico austríaco, naturalizado norte-


americano. Considerado, ao lado de Aristóteles, Alfred Tarski e Gottlob Frege, um dos
mais importantes lógicos da história, Gödel causou um imenso impacto no pensamento
científico e filosófico no século XX.
Link: https://youtu.be/V3Hto3YX8Wo
REFERÊNCIAS

ALENCAR FILHO, E. Iniciação à lógica matemática. São Paulo: Nobel, 2002.

BARBOSA, M. A. Introdução à lógica matemática para acadêmicos. 1. ed. Curitiba:


InterSaberes, 2017.

BEDREGAL, B. R. C.; ACIÓLY, B. M. Introdução à lógica clássica para ciência da


computação. Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Natal, 2017.

BISPO, C. A. F.; CASTANHEIRA, L. B.; SOUZA FILHO, O. M. Introdução à lógica


matemática. Cengage Learning, 2011.

CÂNDIDO. Jornal da Biblioteca Pública do Paraná. O nonsense como crítica da


lógica. Disponível em: https://www.bpp.pr.gov.br/Candido/Noticia/O-nonsense-como-
critica-da-logica. Acesso em: 06 ago. 2021.

CARRION, R.; COSTA, N.C.A. Introdução à lógica elementar. Porto Alegre: Ed. da
Universidade/UFRGS, MEC/SESu/PROEDI, 1988.

COSTA, N. C. A. Ensaio sobre os fundamentos da lógica. 2. ed. São Paulo: Hucitec,


1994.

HEGENBERG, L. Dicionário de lógica. São Paulo: EPU, 1995.

KNEALE, W.; KNEALE, M. O desenvolvimento da lógica. 2. ed. Lisboa: Fundação


Calouste Gulbenkian, 1962.

MACHADO, N. J.; CUNHA, M.O. Lógica e linguagem cotidiana: verdade, coerência,


comunicação, argumentação. 4. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2019.

MORTARI, C. A. Introdução à lógica. São Paulo: UNESP, 2001.

ROCHA, E. Raciocínio lógico para concursos: você consegue aprender. 3. ed. Rio
de Janeiro: Impetus, 2010.
UNIDADE II
ARISTÓTELES E A LÓGICA CLÁSSICA
Professor Mestre George Lucas Máximo Ferreira

Plano de Estudo:
• Princípios da lógica aristotélica.

Objetivos de Aprendizagem:
• Apresentar o conceito de Silogismo;
• Compreender os tipos de falácias;
• Estabelecer a importância do Quadrado de Oposições.
INTRODUÇÃO

Caro (a) estudante, seja bem-vindo à disciplina de Desenvolvimento do


Conhecimento Lógico. Você aprenderá nesta unidade, sobre os princípios da lógica
clássica ou aristotélica. Assim, serão apresentados a definição, conceitos e estrutura dos
silogismos por meio de aplicações e representações gráficas dos diagramas de Euler-
Venn. Além disso, serão abordadas as regras dos silogismos e os tipos de proposições
categóricas. Na sequência, você verá o conceito de falácia, qual sua definição e forma,
para além disso, serão apresentados os tipos de falácias e suas aplicações nas
argumentações. Finalmente, você estudará acerca das proposições universais
afirmativas e negativas, introduzindo assim, o conceito de quadrado de oposições ou
quadrado aristotélico.

Desejo ótimos estudos!


1 PRINCÍPIOS DA LÓGICA ARISTOTÉLICA
Fonte da imagem: https://image.shutterstock.com/image-vector/aristotle-sketch-style-vector-portrait-
600w-1234619806.jpg

Caro(a) estudante, você estudará que a lógica clássica consiste no cálculo de


predicados1 de primeira ordem, além de algumas extensões como determinados
sistemas da teoria dos conjuntos e cálculos de predicados de ordem superior. Além
disso, Carrion e Costa (1988) sublinham que a lógica clássica, de forma elementar, é
baseada em certas posições sintáticas e semânticas subjacentes por meio dos
conectivos lógicos, quantificadores e sobre os predicados de igualdade. Você verá que
foi Aristóteles no século IV a.C quem começou a sistematizar as formas de
argumentação, ou seja, de acordo com Kneale, W. e Kneale, M. (1962) e Machado e
Cunha (2019) a lógica aristotélica estuda de forma detalhada argumentos estruturados
por duas premissas e uma conclusão, denominados de silogismos, assim a doutrina
aristotélica das proposições gerais fundamenta o caminho da doutrina silogística.

1.1 Silogismos e Diagramas

A palavra silogismo deriva do grego sullogos cujo significado é reunião, ato de


recolher ou de interligar palavras em um processo de raciocínio. Além disso, argumentos
mais elaborados cuja composição tinha um número grande de premissas eram
decompostos em conclusões parciais, encadeados até alcançar a conclusão final
(MACHADO; CUNHA, 2019). De acordo com Santos (1959) silogismo é uma dedução
formal, ou seja, é um raciocínio que vai do geral ao específico. Portanto, consiste em
estabelecer a condição de juízo ou conclusão, demonstrando que é a consequência
compulsória de um juízo reconhecido como verdadeiro por meio de um terceiro juízo que
estabelece um laço entre os dois primeiros. No começo da obra Primeiros Analíticos
contida no Órganon, Aristóteles define um silogismo como uma inferência em que, certas
proposições se afirmam, qualquer coisa distinta, do que é afirmado nelas, se segue

1
Na lógica clássica, as proposições categóricas eram classificadas por meio de quatro tipos a saber: (i)
“Todo S é P”, (ii) “Alguns S são P”, (iii) “Nenhum S é P” e; (iv) “Alguns S são P”. Logo, em cada qual, a
proposição P representava o predicado, ou “expressão predicativa” (HEGENBERG; SILVA, 2005).
obrigatoriamente. Assim, tal fórmula é ampla para abranger quase qualquer argumento
no qual uma conclusão seja obtida (inferida) de duas ou mais premissas (Tabela 1).

Tabela 1. Silogismos Aristotélicos


a. Silogismo I
Premissa 1: Todos os homens são mortais.
Premissa 2: Alguns homens são pobres.
Conclusão: Alguns pobres são mortais.

b. Silogismo II
Premissa 1: Todos os brasileiros são americanos.
Premissa 2: Todos os americanos são comunistas.
Conclusão: Todos os brasileiros são comunistas.

c. Silogismo III
Premissa 1: Todas as rosas são vermelhas.
Premissa 2: Alguns pássaros não são vermelhos.
Conclusão: Alguns pássaros não são rosas.
Fonte: Adaptado de Machado e Cunha (2019).

Para além disso, você aprenderá que quando Aristóteles discute silogismos, este
considera argumentos quase que exclusivamente nos quais as premissas e a conclusão
são simples no sentido e gerais, ou seja, de acordo com Kneale, W. e Kneale, M. (1962)
especificamente a conclusão silogística se segue de duas premissas que relacionam os
termos da conclusão com um terceiro termo denominado de termo médio. Você
aprenderá que a interpretação do silogismo começa com um juízo universal cuja posição
pode ser ou não a premissa maior. Logo, o silogismo possui três termos, a saber: (1)
maior; (2) médio e; (3) menor. Esses termos são constituídos pelas proposições que
dão origem às premissas e a conclusão. Assim, de acordo com Santos (1959) o
predicado da conclusão é designado de termo maior (Tabela 2).

Tabela 2. Estrutura silogística


Premissa maior: Todo homem é mortal.
Premissa menor: Ora Sócrates é homem.
Conclusão: Logo, Sócrates é mortal.
Fonte: Adaptado de Santos (1959).
Uma inspeção visual na Tabela 2 permite verificar que o predicado da conclusão
é denominado de termo maior. Assim, “Mortal” é o termo maior, além disso, o sujeito da
conclusão é o termo menor, portanto, “Sócrates” é o termo menor. Ademais, o termo
médio está contido nas premissas, entretanto, não está contido na conclusão, logo,
“homem” é este termo. Dessa forma, o silogismo para Santos (1959) consiste em
demonstrar que um objeto ou conjunto de objetos estão contidos em outro conjunto de
objetos. Isso posto, os silogismos obedecem a oito regras (Figura 1).

Figura 1. Regras do Silogismo

Fonte: Adaptado de Santos (1959).

Assim, por meio dessa definição não é possível classificar como silogismo
argumentos como: “Se nevar o chão estará coberto de neve; ora nevará; logo o chão
estará coberto de neve” nem a qualquer outro argumento cuja premissa seja uma
sentença declarativa composta. Ademais, de acordo com Aristóteles há quatro figuras
do silogismo que se diferem da relação entre o termo médio e os extremos, ou seja, a
posição do termo médio nas premissas maior ou menor. Assim, dependendo da posição
do termo médio nas premissas, Machado e Cunha (2019) destacam quatro classes ou
figuras de silogismos (Tabela 3).
Tabela 3. Figuras Aristotélicas de silogismos
Figur
Figura 2 Figura 3 Figura 4
Proposição a1
elementos envolvidos
Premissa 1 b˄a a˄b b˄a a˄b
Premissa 2 c˄b c˄b b˄c b˄c
conclusão c˄a c˄a c˄a c˄a
Fonte: Adaptado de Machado e Cunha (2019).

Na qual o símbolo “˄” representa o conectivo “e” ou uma conjunção. Além disso,
cada uma das três proposições (a, b e c) que compõem o silogismo pode ser de um dos
quatro tipos categóricos elementares. Portanto, a combinação de 4 x 4 x 4 = 64
possibilidades para cada classe de silogismo destacada na Tabela 4, logo, totalizam 256
combinações possíveis, isto é, 4 x 64. Todavia, destes 256 tipos de silogismos apenas
24 são argumentos coerentes, os demais são considerados sofismas2. Por sua vez, dos
24 silogismos coerentes 5 podem ser rearranjados em função dos demais (Tabela 4).

Tabela 4. Silogismos redundantes


a. Silogismo I
Premissa 1: Todos os paulistas são brasileiros.
Premissa 2: Todos os brasileiros são latino-
americanos.
Conclusão: Todos os paulistas são latino-
americanos.

b. Silogismo II
Premissa 1: Todos os paulistas são brasileiros.
Premissa 2: Todos os brasileiros são latino-
americanos.
Conclusão: Alguns paulistas são latino-
americanos.
Fonte: Adaptado de Machado e Cunha (2019).

Tais silogismos estão contidos nos 24 silogismos coerentes, entretanto, o


silogismo II (Tabela 4. b) não é considerado válido devido a óbvia derivação do silogismo

2
Consiste em raciocínio falacioso, isto é, deliberadamente elaborado com o objetivo de induzir ao erro
(HEGENBERG; SILVA, 2005).
I (Tabela 4. a). Dessa forma, restam apenas 19, logo, para identificar se um silogismo
consistia em um argumento válido ou sofisma, Aristóteles formulou algumas regras que
são destaques: (1) “Se ambas as premissas são afirmativas, a conclusão deve ser
afirmativa”; e (2) “Se ambas as premissas são particulares, nada se pode concluir”
(MACHADO; CUNHA, 2019). Logo, das premissas:

Tabela 5. Regras aristotélicas


a. 1ª Regra
Premissa 1: Todos os patos nadam.
Premissa 2: Alguns gorilas nadam.
Conclusão: inconclusivo

b. 2ª Regra
Premissa 1: Alguns homens dançam.
Premissa 2: Alguns gorilas não dançam.
Conclusão: inconclusivo
Fonte: Adaptado de Machado e Cunha (2019)

Note que, da primeira regra nada se pode concluir, porque “Nenhum gorila é um
pato”, portanto a regra não é respeitada. Isso posto, de forma análoga na segunda regra,
nenhuma conclusão pode ser obtida. Todavia, utilizar a lista de regras pode ser exaustivo
e contraproducente, sendo assim, esta pode ser substituída pelos diagramas de Euler3
Assim, a partir dos diagramas é possível por meio de inspeção visual verificar a validade
de cada argumento, diante disso, você aprenderá que o conjunto “A”, constituído por
todos os termos possuidores da propriedade “a” é representado segundo Machado e
Cunha (2019) por uma região restrita do plano, excetuando os termos que não possuem
tal propriedade (Figura 2).

Figura 2. Pertinência entre elemento e conjunto

3
Conhecido também por Diagramas de Euler-Venn devido às contribuições do matemático inglês John
Venn (1834-1923). Venn elaborou aplicações para a lógica propondo a representação gráfica por meio
dos diagramas utilizando operações com conjuntos. Logo, se trata de operações elementares com
conjuntos sejam: uniões, intersecções e complementações. Além disso, são utilizados para representar
visualmente por meio de desenhos (figuras geométricas) sobre um plano. Tal técnica foi proposta pelo
matemático suíço Leonhard Euler na obra “Cartas a uma Princesa da Alemanha sobre diversos assuntos
da física e filosofia”. Euler se utilizou dos diagramas para expressar as premissas e a conclusão com o
objetivo de facilitar a compreensão das regras de argumentação (HEGENBERG; SILVA, 2005, BARBOSA,
2017, MACHADO; CUNHA, 2019).
Fonte: Adaptado de Iezzi e Murakami (2019); Machado e Cunha (2019).

Dessa forma, segundo Iezzi e Murakami (2019) quando se deseja descrever um


conjunto A por meio de propriedades características “P” dos seus elementos “x” é
utilizado a seguinte notação: 𝐴 = {𝑥 | 𝑥 𝑡𝑒𝑚 𝑎 𝑝𝑟𝑜𝑝𝑟𝑖𝑒𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑃}. Na qual, se lê: “A é o
conjunto dos elementos x tal que x possui a propriedade P”. Assim, na Figura 2, os
elementos “a”, “b” e “c” possuem a propriedade “P” atribuída, todavia, o elemento “d” não
possui tal propriedade. Você verá na Figura 3 as quatro proposições categóricas
aristotélicas representadas por meio do diagrama de Euler.

Figura 3. Diagramas de Euler-Venn: Proposições básicas


a. Todo “a” é “b”.

b. Algum “a” é “b”.


c. Nenhum “a” é “b”.

d. Algum “a” não é “b”.

Fonte: Adaptado de Machado e Cunha (2019).

Sejam os conjuntos P: “conjunto dos patos”, N: “conjuntos dos seres que nadam”,
G: “conjunto dos gorilas”, G: “conjunto dos gatos” e H: conjunto dos homens. Assim, a
proposição categórica “todo a é b” (Figura 3.a) será “Todos os patos nadam”, já em
“nenhum a é b” (Figura 3.b) a proposição será dada por “Alguns gorilas nadam”. Além
disso, o resultado obtido do “conjunto de gatos” e o “conjunto dos seres que nadam”
(Figura 3.c) é possível inferir de acordo com Machado e Cunha (2019) que “Nenhum gato
nada”. Finalmente, de “Algum a não é b” se obtém que “Alguns homens não nadam”.
Diante disso, é possível utilizar diagramas como os propostos por Euler como ferramenta
na avaliação de argumentos, ou seja, por meio da inspeção visual é realizada o
reconhecimento da validade dos argumentos ou identificar um sofisma supondo que a
representação seja fidedigna as afirmações das premissas.

1.1 Falácias

De acordo com Hegenberg e Silva (2005) e Barbosa (2017) falácias são


argumentos não dedutivos legítimos ou ilegítimos, além disso, podem representar
raciocínios incorretos. Assim, falácias ou argumentos falaciosos tem tipos distintos, a
saber: (i) paralogismos, quando se trata de erros justificáveis, todavia, (ii) quando
elaboradas deliberadamente com o propósito de induzir ao erro é denominada de
sofisma (Figura 4).

Figura 4. Sofisma

Fonte: Adaptado de Machado e Cunha (2019).

Sejam P: “conjunto de todos os paulistas”; B: “conjunto de todos os brasileiros” e;


H: representa o indivíduo (elemento) Howard. Isso posto, segue o argumento:

Tabela 6. Estrutura do Sofisma


a. 1ª Regra
Premissa 1: Todos os paulistas são brasileiros.
Premissa 2: Howard não é paulista.
Conclusão: Logo, Howard não é brasileiro.
Fonte: Adaptado de Machado e Cunha (2019).
Se deduz que Howard pode ser brasileiro ou não. Note que, se ele for carioca, as
premissas seriam verdadeiras e a conclusão falsa. Diante disso, um argumento é válido
segundo Machado e Cunha (2019) se não é possível ter as premissas simultaneamente
verdadeiras e a conclusão falsa. Ademais, note que, analogamente, um argumento
sempre que apresentar as premissas simultaneamente verdadeiras converge para uma
conclusão verdadeira. Portanto, na linguagem corrente, o termo falácia é utilizado
quando o argumentador se refere a um argumento que parece correto, todavia, quando
analisado minuciosamente, verifica-se o contrário. São conhecidas como falácias
informais ou de ambiguidade, ou seja, são estruturas linguísticas com objetivos
psicológicos de argumentação.
Assim, Walton (2012) destaca algumas dessas táticas enganosas como: (i) o
argumento dirigido ao homem (“argumentum ad hominem” termo em latim) cujo
objetivo consiste em atacar o argumentador e não o argumento, ou seja, se deseja minar
e difamar sua credibilidade, caráter e integridade, note que, não se refuta ou contradiz
as premissas, contudo, se distancia desta com a destruição do apresentador, tal desvio,
conduz a uma falácia de irrelevância; (ii) a falácia das perguntas múltiplas, esta
acontece quando uma pergunta é realizada de maneira aberta e agressiva, com o
objetivo de comprometer o oponente com respostas anteriores com perguntas sequer
realizadas; (iii) a falácia da conclusão não pertinente (“de ignoratio elenchi” termo em
latim) acontece quando um argumento é conduzido de forma que prove uma conclusão
errada não pertinente, ou seja, o argumento pode ser válido, entretanto, o problema se
desviou da questão; (iv) falácia de apelo à força (“argumentum ad baculum” termo em
latim) é aplicado quando o argumentador se utiliza da força ou intimidação para impor
sua conclusão sem apresentar os argumentos adequados; (v) falácia de apelo à piedade
(“argumentum ad misericordiam”, termo em latim) e; (vi) falácia de apelo às emoções
(“argumentum ad populum”, termo em latim), cujo objetivo consiste em apelar ao
entusiasmo ou sentimentos coletivos da plateia. Os apelos às emoções são utilizados
para disfarçar a ausência de provas substanciais para sustentar o argumento.

1.2 Quadrado de Oposições


O quadrado de oposições ou quadrado aristotélico consiste numa forma de
apresentação das proposições universais afirmativas e negativas. Assim, no quadrado
aristotélico são colocadas as proposições A, E, I, O, (Figura 5) letras que representam
as primeiras vogais das palavras “AffIrmo” e “nEgO”. Isso posto, A representa as
universais afirmativas; E às universais negativas; I às particulares afirmativas e; O às
particulares negativas. Tais vogais têm sido utilizadas para distinguir as formas das
frases declarativas ou proposições desde a Idade Média, todavia, esta classificação não
consta na obra aristotélica. Note que, entre A e E predomina uma relação de
contrariedade e entre I e O prevalece a relação de subcontrariedade (KNEALE, W.,
KNEALE, M., 1962, HEGENBERG; SILVA, 2005).

Figura 5. Quadrado Aristotélico (oposições)

Fonte: Adaptado de Kneale e Kneale (1962).

Aristóteles tinha a preocupação na sua obra De Interpretatione4 em agrupar as


frases declarativas em pares de tal forma que a segunda frase consistisse na negação
da primeira. Disso, surgem três formas de frases declarativas que afirmam um predicado
de um sujeito a saber: (i) a singular; (ii) a universal e; (iii) a particular. Assim, na frase
singular o sujeito é o nome de um indivíduo que não pode por si ser predicado (e.g.;
“Mathias”). Todavia, em uma frase declarativa geral, o sujeito representa o símbolo de
um gênero (e.g.; “Mulher”) podendo se configurar como predicado de muitos indivíduos.

4
Figurava entre os tratados de lógica escritos por Aristóteles (384-322 a. C) e foram compilados em uma
obra única denominada de Organon ou instrumento da pesquisa filosófica (HEGENBERG, 2005).
Além disso, note que, frases declarativas cujo objetivo é atribuir gênero podem ser
diferenciadas conforme sejam ou não de abrangência universal. Logo, a expressão
“Todo homem é rico” é universal e deve ser diferenciada da frase declarativa particular
“Algum homem é rico”. A partir dessa combinação da distinção entre universal e
particular com a distinção entre afirmativo e negativo surge a concepção de
classificação quaternária ou quadrado de oposições aristotélicas (KNEALE, W.,
KNEALE,M., 1962).
Na doutrina aristotélica as frases declarativas se opõem como contraditórias,
quando não são ambas verdadeiras ou ambas falsas e contrárias, quando não podem
ser ambas verdadeiras, mas podem ser ambas falsas. Dessa forma, Kneale e Kneale
(1962) destacam que algumas vezes para a forma particular negativa é utilizado “Nem,
todo o homem é rico” resultando na simples negação da forma universal afirmativa. As
frases declarativas particulares foram denominadas de subalternas das universais
abaixo, das quais estão posicionadas no quadrado e subcontrárias uma em relação a
outra. Tal suposição considera que as subcontrárias não podem ser ambas falsas,
entretanto, podem ser ambas verdadeiras. Assim, Kneale e Kneale (1962) destacam que
Aristóteles considerava as subcontrárias como contraditórias das contrárias e que, cada
frase declarativa universal implicava sua subalterna. Ademais, as informações
apresentadas no quadrado aristotélico fornecem claramente uma referência para um
determinado número de inferências imediatas.
Dessa forma, se adotar uma proposição A como premissa, então, de acordo com
o quadrado de oposições é possível inferir de maneira válida que a proposição O
correspondente é falsa, além disso, imediatamente é possível verificar que a proposição
I é verdadeira. Todavia, da proposição I não se pode deduzir a verdade da proposição A
correspondente, mas sim, a falsidade da proposição E (COPI, 1978). Assim, dada a
verdade ou falsidade de qualquer uma das quatro frases declarativas (proposições) pode
se obter imediatamente a verdade ou falsidade de algumas ou de todas as demais
proposições.
SAIBA MAIS

As obras do filósofo Aristóteles que chegaram ao conhecimento do público


abrangem todos os temas estudados da época clássica. Assim, tais obras podem ser
distribuídas em sete grupos, a saber: (i) Lógica; (ii) Física; (iii) Biologia; (iv) Psicologia;
(v) Metafísica; (vi) Ética e Política; (vii) Retórica e Poética. São destaques os livros no
primeiro grupo denominados de Organon, “instrumento”, para qualquer estudo, que
posteriormente seria conhecido como “Lógica”.

Fonte: HEGENBERG, L.; SILVA, M. F.A Dicionário de Lógica. Rio de Janeiro: Pós-Moderno, 2005
(adaptado).

#SAIBA MAIS#

REFLITA

“Todo homem é mortal. Sócrates é um homem. Logo, Sócrates é mortal”.

O Silogismo de Aristóteles.
#REFLITA#
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Caro (a) estudante, nesta unidade, você aprendeu sobre os princípios da lógica
aristotélica. Assim, a jornada pelo conhecimento começou apresentando o conceito e
definição de silogismo, logo, da dedução formal, isto é, de um raciocínio que vai do geral
ao específico. Portanto, consiste em estabelecer a condição de juízo ou conclusão,
demonstrando que é a consequência compulsória de um juízo reconhecido como
verdadeiro por meio de um terceiro juízo que estabelece um laço entre os dois primeiros.
Além disso, foram estudados a forma, estrutura e regras dos silogismos. Por sua vez,
foram apresentados os diagramas de Euler-Venn como alternativa de representação das
proposições categóricas. Na sequência, você estudou sobre as falácias, paralogismos e
sofismas. Diante disso, foram abordados os tipos de falácias e sua aplicação nas
argumentações. Finalmente, foram estabelecidas a importância do quadrado de
oposições ou quadrado aristotélico o qual consiste numa forma de apresentação das
proposições universais afirmativas e negativas e cuja representação é dada por meio do
quadrado aristotélico no qual são colocadas as proposições A, E, I, O. Na unidade
seguinte, foram abordados os aspectos da lógica formal, logo, foram apresentadas as
características da lógica proposicional e de predicados, além da simbologia, fórmulas e
quantificadores. Ademais, você pode compreender sobre dedução formal acerca do
método semântico de validação de argumentos denominado de tabela verdade.
LEITURA COMPLEMENTAR

DIAS, D. H. B. Conteúdo existencial nas lógicas aristotélica e clássica. Perspectiva


Filosófica, v.47, n.2, 2020. DOI: https://doi.org/10.51359/2357-9986.2020.248892.
Acesso em: nov./2021.
LIVRO

Título: Lógica e Linguagem Cotidiana


Autor: Nílson José Machado, Marisa Ortegoza da Cunha
Editora: 2019
Sinopse: Neste livro, os autores buscam ligar as experiências vividas em nosso
cotidiano a noções fundamentais tanto para a lógica como para a matemática. Através
de uma linguagem acessível, o livro possui uma forte base filosófica que sustenta a
apresentação sobre lógica e certamente ajudará a coleção a ir além dos muros do que
hoje é denominado Educação Matemática.
FILME/VÍDEO

Título: Alexandria
Ano: 2009
Sinopse: Em Alexandria, no ano de 391, Hipátia é professora de astronomia e
matemática, além de filósofa. Um dos seus alunos, Orestes, está apaixonado por ela,
assim como o seu escravo Davus. Juntos, eles deverão lutar contra a extinção da
biblioteca local e outras grandes instituições, que não devem sobreviver quando o
Cristianismo ganha poder político na cidade.
WEB

A lógica é uma área da filosofia que visa estudar a estrutura formal dos enunciados
(proposições) e suas regras. A lógica serve para se pensar corretamente, sendo assim,
uma ferramenta do correto pensar.
Link: https://youtu.be/LCKdEYgaSrE
REFERÊNCIAS

BARBOSA, M. A. Introdução à Lógica Matemática para acadêmicos. 1. ed. Curitiba:


InterSaberes, 2017.

CARRION, R.; COSTA, N.C.A. Introdução à lógica elementar. Porto Alegre: Ed. da
Universidade/UFRGS, MEC/SESu/PROEDI, 1988.

COPI, I. M. Introdução à lógica; tradução de Álvaro Cabral. 2. ed. São Paulo: Mestre
Jou, 1978.

HEGENBERG, L.; SILVA, M. F.A Dicionário de Lógica. Rio de Janeiro: Pós-Moderno,


2005.

IEZZI, G.; MURAKAMI, C. Fundamentos de matemática elementar – volume 1:


Conjuntos e funções. 9. ed. São Paulo: Atual, 2019.

KNEALE, W.; KNEALE, M. O desenvolvimento da lógica. 2. ed. Lisboa: Fundação


Calouste Gulbenkian, 1962.

MACHADO, N. J.; CUNHA, M.O. Lógica e linguagem cotidiana: verdade, coerência,


comunicação, argumentação. 4. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2019.

SANTOS, M. F. Lógica e dialética. 4. ed. Curitiba: Logos, 1959.

SOUZA, J. N. Lógica para Ciência da Computação. Editora: Campus, 2002

WALTON, D. N. Lógica informal: manual de argumentação crítica. Tradução Ana


Lúcia R. Franco, Carlos A. l. Salum; revisão da tradução Fernando Santos. 2. ed. São
Paulo: WMF Martins Fontes, 2012.
UNIDADE III
LÓGICA FORMAL
Professor Mestre George Lucas Máximo Ferreira

Plano de Estudo:
• Lógica proposicional e de predicados;
• Dedução natural;
• Tabela verdade.

Objetivos de Aprendizagem:
• Apresentar a simbologia, fórmulas e quantificadores lógicos;
• Estabelecer a importância do Método Semântico das Tabelas Verdade;
• Introduzir o conceito de Dedução Natural.
INTRODUÇÃO

Caro (a) estudante, seja bem-vindo à disciplina de Desenvolvimento do


Conhecimento Lógico. Nesta unidade, você aprenderá sobre a simbologia, fórmulas e
quantificadores lógicos, ou seja, como identificar os conectivos lógicos em determinada
proposição e organizá-la em proposições simples ou atômicas e a partir dessa estrutura
realizar a tradução simbólica. Além disso, estudará os tipos de conectivos lógicos e suas
respectivas classificações. Você conhecerá o método semântico para validação de
argumentos denominado de tabela verdade, bem como, suas regras de formação. Assim,
serão apresentadas as regras de formação das tabelas verdade de cada conectivo lógico
de acordo com sua classificação, ou seja, conjunção, disjunção, condicional,
bicondicional e negação. Ademais, você aprenderá sobre o método de dedução natural
como alternativa aos métodos semânticos. Assim, será apresentada a prova direta de
validação por meio das regras de inferências.

Desejo ótimos estudos!


1 LÓGICA PROPOSICIONAL E DE PREDICADOS
Fonte da imagem: https://image.shutterstock.com/image-photo/logical-operations-value-table-
math-600w-1930887116.jpg

1.1 Simbologia, fórmulas e quantificadores

Caro (a), estudante, você aprenderá que para expressar ideias são utilizadas a
linguagem corrente ou comum. Isso posto, Bispo, Castanheira e Souza Filho (2011),
destacam que nós usamos palavras explícitas ou não explícitas para conectar as frases
e dotá-las de sentido. Todavia, na Lógica Matemática essas palavras são substituídas
por uma simbologia conhecida por conectivos lógicos, sentenciais ou proposicionais.
Tais conectivos são representados por cinco identidades (Quadro 1).

Quadro 1. Conectivos proposicionais e símbolos.


Palavras ou Letras Conectivos (símbolo)
“e” ˄
“ou” | inclusivo ˅
“ou... ou” | exclusivo ˅
“se..., então...” | implica →
“se, e somente se” | bi-implicação ↔
“não” ⁓
Implica ⟹
Fonte: Adaptado de Souza (2002); Barbosa (2017).

Dessa forma, tomemos:


P: “Marcos é economista e Maria é estudante”.
Trata-se de uma proposição composta P cujas proposições átomos são p: Marcos
é economista, a segunda proposição átomo é q: Maria é estudante, sendo a letra “e” a
palavra de ligação. Simbolicamente a proposição composta P pode ser expressa como:
p˄q
Seja a proposição composta R:
R: “Se ingerirmos água, morreremos por inanição”.
Trata-se de uma proposição composta R cujas proposições átomos são p:
Ingerirmos água, a segunda proposição átomo é q: morreremos por inanição, sendo o
conectivo “se, então” (condicional) Simbolicamente:
p→q
Considere a seguinte proposição composta S:
S: “Mariê foi ao cinema ou ao teatro”.
Trata-se de uma proposição composta S cujas proposições átomos são p: Mariê
foi ao cinema, a segunda proposição átomo é q: “(Mariê foi) ao teatro, sendo o conectivo
“ou...ou” (exclusivo) a palavra de ligação. Simbolicamente:
p˅q
Observe a proposição composta T:
T: “O triângulo ABC é retângulo ou é equilátero”.
Trata-se de uma proposição composta T cujas proposições átomos são p: O
triângulo ABC é retângulo, a segunda proposição átomo é q: (O triângulo ABC) é
equilátero, sendo o conectivo “ou” (inclusivo) a palavra de ligação. Simbolicamente a
proposição composta P pode ser expressa como:
p˅q
Seja a proposição composta K:
K: “O triângulo ABC é equilátero se e somente se é equiângulo”.
Trata-se de uma proposição composta K cujas proposições átomos são p: O
triângulo ABC é equilátero, a segunda proposição átomo é q: (O triângulo ABC) é
equiângulo, sendo o conectivo “se, e somente se” (bicondicional) a palavra de ligação.
Simbolicamente:
p↔q
Ademais, Bispo, Castanheira e Souza Filho (2011), sublinham que os símbolos
especiais aplicados na lógica matemática exprimem com clareza as estruturas lógicas
das proposições e argumentos que algumas vezes na linguagem corrente não
expressam. Isso posto, a lógica matemática aborda a relação das proposições de acordo
com a forma e não o conteúdo. Assim, Alencar Filho (2003) destaca que ao pensarmos,
efetuamos algumas operações sobre as proposições, denominadas de operações
lógicas. Estas, por sua vez, obedecem às regras do cálculo proposicional. Posto isso,
Bispo, Castanheira e Souza Filho (2011), destacam que o Cálculo Proposicional consiste
na parte da Lógica Matemática cujo objetivo é estudar a validade dos argumentos que
são representados por uma linguagem particular, a linguagem proposicional.
Dessa forma, por meio dessa linguagem é possível identificar dois aspectos:
sintático e semântico. Sendo que, o sintático determina os símbolos (Quadro 2), regras
de formação e as regras de dedução lógica. Por sua vez, o semântico consiste na
atribuição dos valores lógicos VERDADEIRO ou FALSIDADE sobre as proposições. Dito
isso, vamos abordar a seguir as operações lógicas elementares.

Quadro 2. Conectivos proposicionais e símbolos


Palavras ou Letras Conectivos (símbolos) Nome Lógico
“e” ˄ Conjunção
“ou” | inclusivo ˅ Disjunção Inclusiva
“ou... ou” | exclusivo ˅ Disjunção Exclusiva
“se ..., então...” | implica → Condicional
“se, e somente se” | bi-implicação ↔ Bicondicional
“não” ⁓ Negação
Implica ⟹ Implicação
Fonte: Adaptado de Souza (2002); Barbosa (2017).

É denominada negação de uma proposição p a proposição representada por “não


p” cuja notação é “⁓p”. Dessa forma, Alencar Filho (2002), sublinha que o valor lógico da
proposição é a VERDADE (V) quando p for falsa e a FALSIDADE (F) quando p for
verdadeira. Além disso, Bispo, Castanheira e Souza Filho (2001), destacam que se trata
de um conectivo unário, isto é, não conecta duas proposições, simplesmente nega a
afirmação da proposição precedente. Seja a proposição simples p:
p: José recebeu o pagamento na data combinada.
⁓p: José não recebeu o pagamento na data combinada.
Pode ser representado também como:
⁓p: Não é verdade que José recebeu o pagamento na data combinada.
⁓p: É falso que José recebeu o pagamento na data combinada.
A conjunção de duas proposições p e q é representada pela letra “e”1 e
simbolicamente por “˄”, ou seja, “p e q”. Além disso, Alencar Filho (2002), afirma que o

1
De acordo com Bispo, Castanheira e Souza Filho (2011), a palavra “e” que representa a conjunção pode
ser substituída pelas palavras: mas, todavia, contudo, no entanto, visto que, enquanto, além disso, embora.
valor lógico é a VERDADE (V) quando as duas proposições simples são verdadeiras e a
FALSIDADE (F), caso contrário. Seja a proposição composta P:
P: “Mariê foi ao balé e Josefina foi ao cinema”.
Simbolicamente se obtêm:
p˄q
A Disjunção inclusiva é o resultado da combinação de duas proposições
conectadas pela palavra “ou” e é representada pelo símbolo “ ˅”. Assim sendo, Bispo,
Castanheira e Souza Filho (2011), destacam que na linguagem corrente a palavra ou
pode ser utilizada em dois sentidos: inclusiva e exclusiva. Seja a proposição composta:
Q: “Jorge é matemático ou físico”.
Simbolicamente se obtêm:
p˅q
Para essa proposição, Jorge pode ser matemático e físico, ou seja, ambas as
proposições podem receber a atribuição de valor lógico VERDADEIRO (V) ou
FALSIDADE (F) o que determina a característica inclusiva. Seja a proposição composta:
R: “(ou) Maria é Paulistana ou (Maria é) Carioca”.
Simbolicamente se obtêm:
p˅q
Sendo assim, ou Maria é Paulista ou Maria é Carioca, mas não pode ter ambas
as atribuições. Portanto, o conectivo “ou... ou”, lê-se: “ou p ou q” (Disjunção exclusiva),
possui característica excludente. Além disso, quando uma proposição componente for
verdadeira, esta invalidará a segunda e vice-versa.
Ademais, a proposição condicional ou somente condicional é uma proposição
representada, segundo Alencar Filho (2002), por “se p então q”, cujo símbolo é “p → q” e
seu valor lógico é a FALSIDADE (F) quando o valor lógico da proposição p for
VERDADEIRO (V) e da proposição q for a FALSIDADE (F), caso contrário o valor lógico
é VERDADEIRO (V). Além disso, na condicional é dito que a proposição simples p é o
antecedente e a proposição simples q e o consequente. Considere a proposição:
S: “Se João é estudante então é feliz”.
Simbolicamente se obtêm:
p→q
Na sequência, você verá que a proposição bicondicional ou somente bicondicional
é representada por meio de: “p se e somente q” e simbolicamente por: “p ↔ q”. Isso posto,
Alencar Filho (2002) destaca que o valor lógico da proposição composta é VERDADEIRO
(V) caso ambas as proposições simples tenham o mesmo valor lógico, caso contrário é
a FALSIDADE (F). Assim sendo, considere a proposição:
T: “Só ganharás o valor combinado se entregar o projeto no prazo”.
Nessa proposição, é o equivalente a dizer que: “só é possível receber o valor
combinado se, e somente entregar o projeto no prazo estabelecido”. Simbolicamente:
p↔q
Finalmente, para a Bicondicional lê-se: “p é condição necessária e suficiente para
q” e “q é condição necessária e suficiente para p”. Além dos operadores lógicos
apresentados: conjunção, disjunção, condicional, bicondicional e negação são
destaques os quantificadores. Isso posto, de acordo com Bispo, Castanheira e Souza
Filho (2011) estes se restringem às funções proposicionais, isto é, representam todo um
determinado conjunto Ω (letra grega ômega) ou parte desse conjunto. Assim, ao definir
o conjunto de elementos Ω, o domínio de uma função proposicional, incluindo a esta os
quantificadores, obtendo assim, uma proposição, ou seja, uma sentença declarativa que
pode receber atribuição de um valor lógico VERDADEIRO (V) ou FALSIDADE (F)
(Quadro 3).

Quadro 3.Quantificadores
Palavras ou Letras Símbolos Nome Lógico
Para todo, Quantificador

qualquer que seja, etc. universal
Existe, há, pelo menos um,
∃ Quantificador existencial
alguns, etc.
Fonte: Adaptado de Bispo, Castanheira e Souza Filho (2011).

Sendo assim, considere p(x) uma sentença aberta em um conjunto que não seja
vazio A, na qual A ≠ Ø e seja Vp o conjunto verdade, logo, Vp={x | x ∈ A ˄ p(x)}, ou seja,
de acordo com Alencar Filho (2002), quando Vp é igual ao conjunto A, todos os termos
ou elementos do conjunto A satisfazem a sentença declarativa aberta p(x), você verá
que:
Figura 1. Conjunto verdade

Fonte: Adaptado de Alencar Filho (2002).

Na qual, se lê: “Para todo elemento x de A, p(x) é V ou; “Qualquer que seja o
elemento x de A, p(x) é V. Simplificando, se obtêm: “Para todo x de A, p(x)” e; “Qualquer
que seja x de A, p(x)”. Traduzindo simbolicamente:

(∀ x ∈ A) (p(x)) (1)
∀ x ∈ A, p(x) (2)
∀ x ∈ A: p(x) (3)
Rearranjando:

(∀ x) (p(x)) (4)
∀ x , p(x) (5)
∀ x : p(x) (6)

Diante disso, Alencar Filho (2002) destaca a seguinte equivalência:

(∀ x ∈ A) (p(x)) ⇔ Vp = A

Note que, p(x) é uma sentença aberta e, por sua vez, é atribuído um valor lógico
V ou F, todavia, a sentença aberta p(x) com o símbolo ∀ precedendo-a, ou seja, (∀ x ∈
A) (p(x)) é uma proposição, logo, possui valor lógico V se Vp=A e F se Vp ≠ A. Assim,
sendo p(x) uma sentença aberta em um conjunto A, o símbolo ∀, referindo-se à variável
x representa uma operação lógica que modifica a sentença aberta p(x) em uma
proposição, V ou F, conforme p(x) expressa ou não uma condição universal no conjunto
A. Tal operação é denominada de quantificação universal e o símbolo ∀ significa
quantificador universal (ALENCAR FILHO, 2002). Seja o conjunto de números inteiros
𝑍 e considere as seguintes funções proposições:
p: x – 7 > 3.
q: x2 – 5x + 6 = 0.
Após uma inspeção visual nas proposições “p” e “q” é possível verificar que “p” é
V para valores superiores a 10, isto é, existem números inteiros que satisfazem a
condição desigualdade da função, logo, é V, todavia, é F para todo o conjunto 𝑍. Isso
posto, a proposição “q” é F para valores diferentes de 2 e 3 e V para as raízes x 1=3 e
x2=3 (BISPO; CASTANHEIRA; SOUZA FILHO, 2011). Substituindo os termos pela
tradução simbólica, isto é, aplicando os quantificadores, se obtêm:
∀ x (x ∈ 𝑍, x – 7 > 3), possui valor lógico F;
∀ x (x ∈ 𝑍, x2 – 5x + 6 = 0), possui valor lógico F.
Ademais, considere p(x) uma sentença aberta em um conjunto que não seja vazio
A, na qual A ≠ Ø e seja Vp o conjunto verdade, logo, Vp={x | x ∈ A ˄ p(x)}, sendo assim
considere o diagrama:

Figura 2. Quantificador existencial

Fonte: Adaptado de Alencar Filho (2002).

Uma inspeção visual na Figura 2 permite verificar que “Existe pelo menos um x ∈
A tal que p(x) é V” ou “Para algum x ∈ A, p(x) é V”. Simplificando, “Existe x ∈ A tal que
p(x)” ou “Para algum x ∈ A, p(x)”. Simbolicamente de acordo com Alencar Filho (2002)
obtêm:

(∃ x ∈ A) (p(x)) (7)
∃ x ∈ A, p(x) (8)
∃ x ∈ A: p(x) (9)
Rearranjando:
(∃ x) (p(x)) (10)
∃ x , p(x) (11)
∃ x : p(x) (12)
Logo, é equivalente a:
(∃ x ∈ A) (p(x)) ⇔ Vp ≠ Ø
Considere as proposições:
p: x – 7 > 3.
q: x2 – 5x + 6 = 0.
Aplicando os quantificadores existenciais se obtêm:
∃ x (x ∈ 𝑍, x – 7 > 3), possui valor lógico V;
∃ x (x ∈ 𝑍, x2 – 5x + 6 = 0), possui valor lógico V.
A posição do símbolo ∃ antes da sentença aberta p(x) de acordo com Alencar
Filho (2002) transforma-a numa proposição, diante disso é atribuído um valor lógico V se
Vp ≠ Ø e F caso Vp = Ø. Tal operação é denominada de quantificação existencial.
2 TABELA VERDADE
Fonte da imagem: https://image.shutterstock.com/image-vector/blackboard-record-mathematical-
formulas-logic-600w-1734108203.jpg

Para determinar o valor lógico de uma proposição composta de acordo com


Alencar Filho (2002) é necessário conhecer o valor lógico das proposições componentes
(p, q, r, ...) (Figura 1). Assim sendo, com base no Princípio do Terceiro excluído, ou
seja, que é possível atribuir um valor lógico VERDADEIRO (V) ou FALSIDADE (F) e
nunca um terceiro valor ou objeto para determinada proposição simples é possível obter
os seguintes arranjos binários.

Figura 1: Bivalência dos Valores Lógicos (árvore binomial)

Fonte: Adaptado de Alencar Filho (2002).

Rearranjando os termos da Figura 1, obtemos:

Quadro 6. Distribuição dos Valores lógicos de uma proposição simples


p
V
F
Fonte: Adaptado de Alencar Filho (2002).
Note que, de acordo com Bispo, Castanheira e Souza Filho (2011) para determinar
o valor lógico V ou F de uma proposição composta se utiliza um instrumento semântico
conhecido como Tabela Verdade cujo objetivo consiste em assegurar que todas as
combinações possíveis dos valores verdade de cada proposição simples foram
concluídas. Isso posto, na prática à determinação do valor lógico de uma proposição
composta dada, assumindo que as proposições simples são “p” e “q”, as únicas
atribuições possíveis são:

Quadro 7. Distribuição dos Valores lógicos de “p” e “q”


p q
V V
V F
F V
F F
Fonte: Adaptado de Alencar Filho (2002).

Observe que os valores lógicos V e F se alternam de dois em dois para a


proposição “p” e de um em um para a proposição simples “q”. Logo, VV, VF, FV, FF são
considerados arranjos binários da bivalência V e F. Portanto, os números de linhas de
uma Tabela Verdade são dependentes da quantidade de proposições simples (p, q, r,...).
Assim, para obter o número de linhas de uma Tabela Verdade basta aplicar a fórmula
2𝑛 , sendo que “n” representa o número de proposições, então no caso de haver duas
proposições “p” e “q”, obtemos uma Tabela Verdade com 4 linhas (BISPO;
CASTANHEIRA; SOUZA FILHO, 2011).
Como verificamos o valor lógico de uma proposição composta (P, Q, R, ...)
depende unicamente dos valores lógicos das proposições simples componentes (p, q, r,
...). Dessa forma, seguimos os critérios com base nas classificações dos conectivos
proposicionais para construir as respectivas Tabelas Verdade. Sendo assim, Bispo,
Castanheira e Souza Filho (2003) afirmam que uma conjunção tem seu valor lógico V
se e somente se, as duas proposições simples “p” e “q” possuírem valor lógico V. Note
que na Tabela Verdade apresentada a conjunção possui valor lógico V apenas na
primeira linha (Quadro 8).
Quadro 8. Tabela Verdade: Conjunção.
p q p˄q
V V V
V F F
F V F
F F F
Fonte: Adaptado de Alencar Filho (2002).

Além disso, na forma simbólica é possível expressar a conjunção de duas


proposições simples “p” e “q” por meio da notação: “p ˄ q”, em que se lê: “p e q”
(ALENCAR FILHO, 2002). Tomemos como exemplo as seguintes proposições
compostas:
P: “A neve é branca e 𝜋 = 3, 14159.”.
Se adotarmos a resolução por igualdades de acordo com Alencar Filho (2002),
obtemos:
Rearranjando as proposições simples:
p: “A neve é branca”
q: “𝜋 = 3, 14159”.

Por meio da notação:


V(p) = V
V(q) = V
Portanto, o valor lógico da proposição “P” é:
V(p˄ q) = V(p) ˄ V(q)
V(p˄ q) = V ˄ V
∴ V(P) = V

O resultado obtido pode ser verificado na primeira linha (Quadro 8) em que os


valores lógicos das proposições simples “p” e “q” são respectivamente V, logo, o valor
lógico da proposição P será V. Além disso, se têm a Disjunção cujo valor lógico é a F
se, e somente se, ambas as proposições simples “p” e “q” são falsas, ou seja, o valor
lógico é V quando ao menos uma proposição simples seja verdadeira (Quadro 9).

Quadro 9. Tabela Verdade: Disjunção.


p q p˅q
V V V
V F V
F V V
F F F
Fonte: Adaptado de Alencar Filho (2002).

Por sua vez, Alencar Filho (2002) destaca que a disjunção pode ser representada
como “p ˅ q”, em que se lê: “p ou q”. Considere a proposição composta:
P: “Recife é a capital de Pernambuco ou Camões escreveu os Lusíadas”.
Rearranjando as proposições simples:
p: “Recife é a capital de Pernambuco”
q: “Camões escreveu os Lusíadas”.
Por meio da notação:
V(p) = V
V(q) = V
Portanto, o valor lógico da proposição “P” é:
V(p˅ q) = V(p) ˅ V(q)
V(p˅ q) = V ˅ V
∴ V(P) = V
O resultado obtido pode ser verificado na primeira linha (Quadro 9) em que os
valores lógicos das proposições simples “p” e “q” são respectivamente V, logo, o valor
lógico da proposição P é V. Além disso, na linguagem comum a palavra “ou” possui dois
sentidos, de inclusão e exclusão. Dessa forma, a primeira disjunção abordada tratou do
aspecto inclusivo, ou seja, quando ambas as proposições “p” ou “q” podem ser V. Além
disso, a disjunção exclusiva possui a característica de que uma e somente uma das
proposições é V. Logo, a disjunção exclusiva de duas proposições ou “p” ou “q” pode
ser representada na forma simbólica de “p ˅ q” e o valor lógico na Tabela Verdade será
V quando apenas um valor verdade de uma das proposições simples for V (Quadro 10).

Quadro 10. Tabela Verdade: Disjunção exclusiva


p q p˅q
V V F
V F V
F V V
F F F
Fonte: Adaptado de Alencar Filho (2002).

Seja a proposição composta P:


P: “João é alto ou é baixo”.
Organizando as proposições simples:
p: “João é alto”
q: “(João) é baixo”.
Por meio da notação:
V(p) = V ou V(p) = F
V(q) = F ou V(q) = V
Portanto, o valor lógico da proposição “P” será:
Se, V(p) = V; V(q) = F, então:
V(p˅ q) = V(p) ˅ V(q)
V(p˅ q) = V ˅ F
∴ V(P) = V
O resultado obtido pode ser verificado na segunda linha em que os valores lógicos
das proposições simples “p” e “q” são respectivamente V e F, e, portanto, o valor lógico
da proposição com base na regra da disjunção exclusiva de P(p, q) é V.
Na sequência você estudará o conectivo proposicional condicional. Isso posto,
para Bispo, Castanheira e Souza Filho (2003) uma proposição condicional possui valor
lógico F se, e somente se, a proposição antecedente possuir valor lógico V e a
consequente valor lógico F (Quadro 11).
Quadro 11. Tabela Verdade: Condicional

p q p→q

V V V
V F F
F V V
F F V
Fonte: Adaptado de Alencar Filho (2002).

Além disso, a condicional pode ser representada como: “p → q”, ou seja, afirma-
se que a proposição simples “p” é o antecedente e a proposição “q” o consequente. Seja
a proposição composta P:
P: “Se a Terra gira em torno do Sol, então o mês de maio tem 31 dias”.
Rearranjando as proposições simples:
p: “A Terra gira em torno do Sol”
q: “O mês de maio tem 31 dias”.
Portanto, o valor lógico da proposição “P” é:
V(p → q) = V(p) →V(q)

V(p → q) = V → F
∴ V(P) = F
O resultado obtido pode ser verificado na segunda linha (Quadro 11) em que os
valores lógicos das proposições simples “p” e “q” são respectivamente V e F, e, portanto,
o valor lógico da proposição com base na regra da condicional de P(p, q) é F. Ademais,
temos a Bicondicional. De acordo com Bispo, Castanheira e Souza Filho (2011), uma
proposição bicondicional possui o valor lógico V se, e somente se, ambas as proposições
simples “p” (antecedente) e “q” (consequente) possuírem o mesmo valor lógico sejam
eles V ou F, além disso, é representada por “p ↔ q” (Quadro 12).

Quadro 12. Tabela Verdade: Bicondicional

p q p↔q

V V V
V F F
F V F
F F V
Fonte: Adaptado de Alencar Filho (2002).

Dessa forma, uma bicondicional possui valor lógico V somente quando as duas
condicionais: “p→ q” e “q → p”, também o são (ALENCAR FILHO, 2002). Considere a
seguinte proposição composta:
P: “Pedro Álvares Cabral descobriu o Brasil e somente se Marte é um planeta”.
Rearranjando as proposições simples:
p: “Pedro Álvares Cabral descobriu o Brasil”.
q: “Marte é um planeta”.
Portanto, o valor lógico da proposição “P” é:
V(p ↔ q) = V(p) ↔ V(q)

V(p ↔ q) = V ↔ V
∴ V(P) = V
O resultado obtido pode ser verificado na primeira linha (Quadro 12) em que os
valores lógicos das proposições simples “p” e “q” são respectivamente V e V, e, portanto,
o valor lógico da proposição com base na regra da bicondicional de P(p, q) é V.
Concluindo os conectivos lógicos e suas classificações você estudará a negação de uma
proposição. Isso posto, de acordo com Bispo, Castanheira e Souza Filho (2011) a
negação de uma proposição verdadeira é uma proposição cujo valor lógico é a F e a de
uma proposição falsa é uma proposição V (Quadro 13).

Quadro 13. Tabela Verdade: Negação


p ⁓p
V F
F V
Fonte: Adaptado de Alencar Filho (2002).

Na qual a negação de uma proposição pode ser representada por “não p”, ou
simbolicamente por: “⁓p”. Seja a proposição simples:
p: “2 + 4 = 6”
Identificando a negação da proposição simples “p”:
⁓p
O resultado obtido pode ser verificado na primeira linha em que o valor lógico da
proposição simples “p” é V, e, portanto, a negação da proposição simples será F.
3 DEDUÇÃO NATURAL
Fonte da imagem: https://image.shutterstock.com/image-photo/nerdy-scholastic-young-woman-
wearing-600w-318060599.jpg

Caro (a) estudante, você aprendeu que para provar um argumento é necessário
utilizar o método semântico Tabela Verdade. Todavia, dependendo do número de linhas,
assim, o tamanho da tabela verdade é regido pela fórmula 2𝑛 , sendo que “n” é o número
de proposições simples que compõe a Tabela Verdade. Note que a aplicação é exaustiva
e impraticável. Sendo assim, Alencar Filho (2002), destaca outra forma para se provar a
validade de um argumento conhecido como Método Dedutivo por meio das provas
diretas cujos instrumentos são as implicações e equivalências tautológicas (Quadro 1).

Quadro 1. Implicações† tautológicas


Regras/abrev. Regras de Inferência Fórmulas proposicionais
𝑝 𝑝
Adição (AD) ; p⟹p˅q
𝑝˅𝑞 𝑞˅𝑝
𝑝˄𝑞 𝑝˄𝑞 p ˄ q ⟹p
Simplificação (SIMP) ;
𝑝 𝑞 p˄q⟹q
𝑝𝑞 𝑝𝑞 p, q ⟹p ˄ q
Conjunção (CONJ) ;
𝑝˄𝑞 𝑞˄𝑝 p, q⟹q˄p
𝑝 →𝑞
Absorção (ABS) p → q⟹p → (p ˄ q)
𝑝 → (𝑝 ˄ 𝑞)
𝑝 →𝑞𝑝
Modus Ponens (MP) p → q, p⟹q
𝑞
𝑝 → 𝑞 ⁓𝑞
Modus Tollens (MT) p → q, ⁓q⟹⁓p
⁓𝑝
𝑝 ˅ 𝑞 ⁓𝑝 𝑝 ˅ 𝑞 ⁓𝑞 p ˅ q, ⁓p⟹q
Silogismo Disjuntivo (SD) ;
𝑞 𝑝 p ˅ q, ⁓q⟹p
𝑝 →𝑞𝑞 →𝑟
Silogismo Hipotético (SH) p → q, q →r, ⟹p → r
𝑝 →𝑟
Nota: †Lista Parcial de implicações Tautológicas.
Fonte: Adaptado de Alencar Filho (2002); Bispo; Castanheira; Souza Filho (2011).

Considere a seguinte proposição composta R:


R: “Se o avião não tivesse caído, teria feito contato por rádio. O avião não fez contato
pelo rádio. Portanto, o avião caiu”.
Rearranjando as proposições simples:
p: O avião tivesse caído.
q: (O avião) teria feito contato por rádio.
Simbolicamente, organizando na forma do argumento:

Na qual, foi aplicado a Regra de inferência Modus Tollens (MT) na primeira


premissa (condicional) e se obteve a segunda premissa, disso, se deduz a conclusão.
Note que, a proposição resultante da inferência está de acordo com a proposição “o avião
caiu” apresentada na proposição composta R, logo, está correta.
Além disso, as equivalências tautológicas são utilizadas para fazer inferências, ou
seja, executar “etapas” de uma dedução ou demonstração e devido a isso são
denominadas, regras de inferência (Quadro 2). Assim sendo, a notação correta é inserir
a premissa sobre um traço horizontal (numerador) e na sequência a conclusão abaixo
(denominador) do traço supracitado (ALENCAR FILHO, 2002).

Quadro 2. Equivalências† tautológicas


Regras/abrev. Fórmulas
(p ˄ p) ⟺p
Idempotência (IND)
(p ˅p) ⟺ p
(p ˄ q) ⟺ (q˄p)
Comutação (COM)
(p ˅ q) ⟺ (q ˅ p)
((p ˄ q) ˄ r) ⟺ (p ˄ (q ˄ r))
Associação (ASS)
((p ˅ q) ˅ r) ⟺ (p ˅ (q ˅ r))
(p ˄ (q˅ r)) ⟺ ((p ˄ q) ˅ (p ˄ r))
Distribuição (DIS)
(p ˅ (q˄ r)) ⟺ ((p ˅ q) ˄ (p ˅ r))
Condicional (COND) p → q ⟺⁓p ˅ q
⁓ (p ˅ q) ⟺ (⁓p ˄⁓q)
Leis de De Morgan (MOR)
⁓ (p ˄ q) ⟺ (⁓p ˅⁓q)
Dupla Negação (DN) ⁓(⁓p) ⟺ p
Importação/Exportação (IE) ((p ˄ q) → r) ⟺ (p → (q →r))
Absurdo (ABD) (p → (q ˄⁓q)) ⟺ ⁓p
Nota: †Trata-se de uma lista parcial das fórmulas proposicionais.
Fonte: Adaptado de Alencar Filho (2002); Bispo; Castanheira; Souza Filho (2011).

Considere a seguinte proposição composta W:


W: “Não é o caso de irmos ao teatro ou ficarmos na rua conversando. Portanto, não
ficaremos na rua conversando”.
Rearranjando as proposições simples:
p: Irmos ao teatro.
q: Ficar na rua conversando.
Simbolicamente, organizando na forma do argumento:

Foram utilizadas as regras de inferência De Morgan (MOR) e a simplificação


(SIMP) para se obter a conclusão da proposição composta W., todavia, para Copi (1978)
essas Regras de Inferência são redundantes, porque não são suficientes para constituir
o principal propósito, isto é, a construção de provas formais de validade para argumentos
mais amplos. Sendo assim, tal lista apresenta um sistema completo de lógica funcional
de verdade, ou seja, possibilita a construção de uma prova formal de validade para
qualquer que seja o argumento funcional de verdade.
SAIBA MAIS

Rolf Schock (1933-1986) que era ativo no departamento de filosofia em Estocolmo


legou uma grande parte de seu patrimônio para financiar o que hoje é conhecido como
os Prêmios Rolf Schock. Os prêmios são atribuídos em quatro categorias: Lógica e
Filosofia, Matemática, Música e Artes Visuais. Os prêmios de Lógica e Filosofia são
concedidos pela Royal Swedish Academy of Sciences(STOCKHOLM UNIVERSITY).

Fonte: STOCKHOLM UNIVERSITY. Department of Philosophy, 2014. Disponível em:


https://www.philosophy.su.se/english/research/2.26526. Acesso em: 27 ago. 2021.

#SAIBA MAIS#

REFLITA

Os argumentos são, quase sempre, mais verdadeiros do que os fatos. A lógica é


o nosso critério de verdade, e é nos argumentos, e não nos fatos, que pode haver lógica.

Fernando Pessoa
#REFLITA #
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Caro (a) estudante, nesta unidade você aprendeu sobre a simbologia, fórmulas
e quantificadores lógicos, ou seja, como identificar os conectivos lógicos em determinada
proposição e organizá-la em proposições simples ou atômicas e, a partir dessa estrutura,
realizar a tradução simbólica. Sendo assim, foram apresentadas as classificações de
cada conectivo lógico, a saber: conjunção “e”, disjunção “ou”, condicional “se, então”,
bicondicional “se, e somente se” e negação “não”, “é falso”, “não é verdade que” e seus
respectivos símbolos. Diante disso, foi abordada a construção do método semântico da
Tabela Verdade cujo objetivo consiste em validar argumentos. Sendo assim, você
aprendeu que os valores lógicos das proposições compostas são dependentes dos
valores lógicos das proposições atômicas e sua ligação com os conectivos lógicos, tal
validação é realizada, utilizando as tabelas verdade. Ademais, você estudou sobre o
método da dedução natural, ou seja, o método alternativo das tabelas verdade. Sendo
assim, tal método consiste em utilizar a prova direta de validade utilizando as regras de
inferência para obter as conclusões com base nas premissas propostas. Isso posto, você
aprenderá na próxima unidade sobre lógicas não clássicas, especificamente o que é a
lógica modal, alternativas e paraconsistentes.
LEITURA COMPLEMENTAR

RODRIGUES, A. P. Há uma definição absoluta de quantificadores? Revista de


Estudos dos Pós-Graduandos em Filosofia, v.3, n.5, 2011. DOI:
https://doi.org/10.36311/1984-8900.2011.v3n05.4412.
LIVRO

Título: Introdução à Lógica Matemática


Autor: 2012
Editora: Cengage Learning
Sinopse: Este livro é composto de uma parte inicial, em que o Cálculo Proposicional é
apresentado com conectivos, tabelas-verdade, tautologias mais relevantes, formalização
de argumentos e prova de sua validade ou invalidade. Na segunda parte é apresentado
o Cálculo de Predicados com a prova de validade de argumentos usando o quantificador
universal e o existencial.
FILME/VÍDEO

Título: Pi
Ano: 1998
Sinopse: Max é gênio da computação e matemática, mas vive escondido porque a luz
do Sol lhe causa fortes dores de cabeça. Sozinho constrói um supercomputador que
permite a descoberta do número pi completo. A partir disso ele percebe que todos os
eventos se repetem num determinado espaço de tempo e passa a especular as
tendências no mercado de bolsa de valores. A descoberta chega até uma seita e
representantes de Wall Street passam a cobiçar os conhecimentos de Max.
WEB

George Boole foi um filósofo britânico, criador da lógica booleana, fundamental para o
desenvolvimento da computação moderna e considerado o pai da tecnologia da
informação moderna.
Link: https://youtu.be/kT8Ybww38AI
REFERÊNCIAS

ALENCAR FILHO, E. Iniciação à Lógica Matemática. São Paulo: Nobel, 2002.

BARBOSA, M. A. Introdução à Lógica Matemática para acadêmicos. 1. ed. Curitiba:


InterSaberes, 2017.

BISPO, C. A. F.; CASTANHEIRA, L. B.; SOUZA FILHO, O. M. Introdução à Lógica


Matemática. Cengage Learning, 2011.

COPI, I. M. Introdução à lógica; tradução de Álvaro Cabral. 2. ed. São Paulo: Mestre
Jou, 1978.

HEGENBERG, L.; SILVA, M. F.A Dicionário de Lógica. Rio de Janeiro: Pós-Moderno,


2005.

MACHADO, N. J.; CUNHA, M.O. Lógica e linguagem cotidiana: verdade, coerência,


comunicação, argumentação. 4. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2019.

MORTARI, C. A. Introdução à Lógica. São Paulo: Editora UNESP: Imprensa Oficial do


Estado, 2001.

SOUZA, J. N. Lógica para Ciência da Computação. Editora: Campus, 2002.


UNIDADE IV
LÓGICAS NÃO CLÁSSICAS
Professor Mestre George Lucas Máximo Ferreira

Plano de Estudo:
• O que é lógica não clássica?

Objetivos de Aprendizagem:
• Conceituar e contextualizar as lógicas não clássicas;
• Compreender os tipos de lógicas não clássicas;
• Estabelecer a importância das lógicas não clássicas.
INTRODUÇÃO

Caro (a) estudante, seja bem-vindo à disciplina de Desenvolvimento do


Conhecimento Lógico. Você aprenderá sobre os conceitos, tipos, axiomas, simbologia
e formulações das lógicas ditas não clássicas. Logo, estudará sobre quais pressupostos
clássicos as lógicas não clássicas violam para serem concebidas. Isso posto, serão
apresentados alguns tipos de lógicas não clássicas a saber, lógicas modais, lógicas
alternativas e lógicas paraconsistentes. Você verá os conceitos e pressupostos adotados
na formulação de cada um destes tipos de lógica, além das principais contribuições dos
matemáticos e lógicos envolvidos. Assim, destaca-se as publicações, obras e
concepções acerca de uma nova ramificação da lógica não clássica pelo professor
paranaense N.C.A da Costa, conhecida como lógica paraconsistente.

Desejo ótimos estudos!


1 O QUE É LÓGICA NÃO CLÁSSICA
Fonte da imagem: https://image.shutterstock.com/image-photo/fuzzy-logic-wooden-typeset-
letters-600w-1340651423.jpg

Caro (a) estudante, você aprenderá que de forma geral, ao tratar sobre lógica,
está sendo tomado como referência a lógica formal, clássica, ortodoxa ou aristotélica.
Sendo assim, as proposições, ou sentenças declarativas são restritas a atribuição de um
e apenas um, dentre dois valores lógicos, verdadeiro (V) ou falso (F). Tal suposição
bivalente ou dicotômica é baseada nos princípios da lógica clássica, especificamente,
nos princípios da não contradição e do terceiro excluído. Dessa forma, uma
proposição não pode simultaneamente ser V e F, e sobretudo, uma proposição pode ser
V, F mas nunca um terceiro objeto. A lógica formal, também é atemporal, ou seja, ao
atribuir os valores lógicos para as proposições o tempo é abstraído, isto é, expurgado.
Assim, apenas a forma importa, seu valor de verdade ou a validação do argumento
formado por tais proposições (ALENCAR FILHO, 2002; MACHADO; CUNHA, 2019).
Todavia, as limitações impostas pelos princípios fundamentais da lógica
restringem à solução de problemas dadas as inúmeras experiências dos indivíduos que
não são elegíveis dentro do processo da lógica clássica, especificamente com relação a
ser verdadeiro ou falso. Isso posto, Machado e Cunha (2019) destacam a insuficiência
de tal lógica para resolução de problemas reais complexos, imprecisos e com elevado
grau de incerteza. Além disso, de acordo com Da Costa (1993) se um indivíduo
desejasse realizar apenas inferências válidas no cotidiano, provavelmente sucumbiria,
porque as inferências realmente reais e importantes da vida consistem em paralogismos.
Diante disso, surge as lógicas não clássicas ou heterodoxas, cujo objetivo
consiste em estender o alcance de resolução de problemas da lógica clássica, ou
sobrepujá-la, sendo assim, são lógicas não clássicas: lógicas modais, lógicas
alternativas e lógicas paraconsistentes (Figura 1).

Figura 1. Lógicas: Clássica e Não Clássica


Fonte: Adaptado de Carrion e Da Costa (1988); Haack (2002); Machado e Cunha (2019).

1.1 Lógica Modal

A lógica das sentenças modais foi debatida por Aristóteles e posteriormente pelos
lógicos da Idade Média. Todavia, Haack (2002) destaca que o desenvolvimento da
lógica modal se intensificou no século XX com as obras de Gottlob Frege (1848-1925)
e Bertrand Russel (1829-1970) por meio do cálculo sentencial não-modal. Além disso,
destaca-se que a primeira tentativa de organizar e axiomatizar a lógica modal é atribuída
a Clarence Irving Lewis que em 1918 publicou sua obra “A Survey of Symbolic Logic”.
Tal teoria foi denominada de acordo com Kneale e Kneale (1962) de a lógica da
implicação estrita, porque se opunha a uma doutrina de implicação que Lewis considera
equivocada.
A insatisfação de Lewis estava relacionada com a noção de implicação material
proposta nas obras Begriffsschrift de Frege e Principia Mathematica de A. N. Whitehead
e Bertrand Russell. Assim, “p” implica materialmente “q” se ou “p” é F ou “q” é V, para
além disso, Lewis afirmava que a lógica clássica era inadequada para propor a noção
intuitiva de implicação, que exige não apenas que “p” não seja V e “q” F, mas que “p”
não possa ser V e “q” F. Como alternativa ele propôs um novo operador, que denotaria
implicação estrita. Sendo assim, na concepção de Lewis uma proposição impossível
tem que implicar qualquer proposição e que uma proposição necessária precisa ser
implicada por qualquer proposição (CARRION; DA COSTA, 1988, HAACK, 2002;
KRIPKE, 2012).
Isso posto, a lógica modal segundo Machado e Cunha (2019) trata das expressões
“necessariamente” e “possivelmente” (Quadro 1). Tal expressão é utilizada para
qualificar a verdade de um argumento, ou seja, a lógica modal consiste em estudar o
comportamento dedutivo das expressões “é necessário que” e “é possível que”, dessa
forma, busca elucidar as noções de necessidade e de possibilidade. Além disso, a lógica
modal pode ser representada por meio dos operadores básicos:

Quadro 1. Lógica Modal: Operadores


Simbologi
Semântica
a
É possível que/ “possivelmente” ♢/M
Não é possível que/é impossível que ~♢
É necessário que/ “necessariamente” ⎕/€/L
Não é necessário que/é contingente
~⎕/~€
que
Fonte: Adaptado de Kneale, W. e Kneale, M. (1962); Haack (2002); Machado e Cunha (2019).

Todavia, foi Kurt Godel em 1933 que incluiu a lógica modal como uma extensão
da lógica proposicional clássica, e, sobretudo, relacionou pela primeira vez a lógica
modal com a lógica intuicionista. Ademais, foram muitas as contribuições nesta
abordagem até alcançar a Semântica Relacional de Mundos Possíveis (SRMP). Sendo
assim, a lógica modal com base nos conceitos de necessidade e possibilidade abrange
os aspectos de verdades necessárias e verdades contingentes. Isso posto, a verdade
necessária é uma verdade que não poderia ser de outra forma, uma verdade contingente,
uma que poderia, ou a negação de uma verdade necessária é impossível ou
contraditória. Além disso, a negação de uma verdade contingente é possível, ou uma
verdade necessária é verdadeira de acordo com a SRMP (HAACK, 2002; KRIPKE,
2012). Considere as seguintes proposições:
p:“6 + 4 = 10”.
P:“Se todos os homens são mortais e Sócrates é um homem, então Sócrates é mortal”.
S:“Se uma coisa é amarela, então ela é colorida”.
As proposições “p”, “P” e “S” são consideradas de acordo com Haack (2002) como
verdades necessárias. Pois bem, sabendo disso, considere a proposição:
R: “A precipitação média em Joinville é de cerca de 1976 milímetros”
Ou seja, a proposição “R” é classificada como uma verdade contingente.
Sendo assim, a lógica modal de acordo com Machado e Cunha (2019) é o resultado
da inclusão dos princípios da lógica proposicional como a regra da necessidade. Logo,
“Se A é verdadeiro, então A é necessário.
Surgem assim os seguintes teoremas:
⎕A ⇔ ~♢~A, ou seja, “é necessário” equivale a “é impossível não ocorrer”.
♢A ⇔ ~⎕A, ou seja “ser possível” equivale a “é contingente não ocorrer”.
~⎕A ⇔ ♢~A, ou seja, “ser contingente” equivale a “é possível não ocorrer”.
~♢A ⇔ ⎕A, ou seja, “ser impossível” equivale a “é necessário não ocorrer”.

1.2 Lógicas Alternativas

Uma lógica alternativa é um sistema que deriva da lógica clássica, ou seja, pode
se configurar como uma extensão ou desvio da lógica clássica se considerar a inclusão
de um vocabulário novo além de novos teoremas e inferências válidas. As lógicas
polivalentes são lógicas alternativas que possuem uma história semelhante às lógicas
modais. Isso posto, Aristóteles já procurava uma alternativa a bivalência lógica, ou seja,
a dicotomia verdadeiro e falso na sua obra De Interpretatione, todavia, foi no século XXI
que o matemático e lógico escocês Hugh MacColl realizou propostas formais e
filosóficas. Assim, como na lógica modal o incentivo para a axiomatização estava
condicionado ao desenvolvimento formal da lógica bivalente, isto é, do método semântico
das tabelas verdade para a lógica proposta no Begriffsschrift e Principia Mathematica.
Os primeiros sistemas polivalentes surgem por meio das obras do lógico polonês Jan
Łukasiewicz (1920) e do matemático estadunidense Emil Leon Post (1921) (KNEALE, W.
e KNEALE, M., 1962).
As lógicas modais e polivalentes se distinguem de acordo com o desenvolvimento
da sintaxe e semântica. Assim, na lógica modal a sintaxe, isto é, o vocabulário, a
axiomatização e as regras foram elaboradas primeiro, contudo, a semântica apenas foi
desenvolvida posteriormente. Já na lógica polivalente a semântica foi desenvolvida
primeiro e a sintaxe apenas foi desenvolvida com a axiomatização das lógicas
polivalentes de Łukasiewicz propostas pelo lógico polonês Stanisław Jaśkowski (1934).
Pois bem, sabendo disso, as lógicas polivalentes começaram com o desenvolvimento de
tabelas verdade polivalentes (HAACK, 2002).
Łukasiewicz propôs a ideia de utilizar um sistema de lógica trivalente para
resolver as afirmações acerca do futuro, ou seja, dos futuros contingentes aristotélicos,
surge assim, a seguinte situação-problema: “Eu (Łukasiewicz) posso supor sem
contradição que a minha presença em Varsóvia num certo momento do tempo (e.g.;
meio-dia no dia 21 de dezembro) no momento atual ainda não está decidida positiva ou
negativamente. Sendo assim, é possível, todavia, não necessário que eu esteja
presente em Varsóvia no horário e dia citado”. Note que, a afirmação “estarei presente
em Varsóvia ao meio-dia no dia 21 de dezembro do próximo ano” não se configura
verdadeira ou falsa no momento atual. Caso fosse verdadeira no momento atual a futura
presença em Varsóvia teria que ser necessária contradizendo a suposição. Contudo, se
a suposição fosse falsa no momento atual, a presença futura em Varsóvia seria
impossível, contradizendo novamente a suposição. Assim, à sentença declarativa
“momento atual” não é atribuído valor lógico verdadeiro ou falso, mas sim, um terceiro
valor. Logo, seja verdadeiro=1, falso=0 e possível=½, cujos fundamentos são um sistema
a três valores de lógica proposicional (KNEALE, W. e KNEALE, M., 1962) (Quadro 2).

Quadro 2. Lógica Trivalente.


~
p
p
1 0
½ ½
0 1
Fonte: Adaptado de Kneale, W. e Kneale, M. (1962); Machado e Cunha (2019).

1.3 A Lógica Paraconsistente

Uma expectativa inerente aos sistemas lógicos é a da consistência, isto é, de


não violar o princípio da não contradição1 cuja definição é de que não é possível
atribuir à uma proposição qualquer “p” os valores lógicos verdadeiro e falso
simultaneamente, tornando o sistema inconsistente. Todavia, no mundo real, no
cotidiano, é usual observar proposições que podem ser verdadeiras ou falsas
concomitantemente, dependendo das circunstâncias, constituindo contradições
lógicas. Sendo assim, note que, bancos de dados que são a base de sistemas de
informação, possuem muitas vezes informações contraditórias, mas que não
comprometem o funcionamento do sistema (MACHADO; CUNHA, 2019). Surge disso, a
necessidade de formalização de um sistema lógico capaz de incluir tais contradições,
sem trivializar-se, no sentido de que qualquer proposição fosse demonstrada em função
da inconsistência. Tais esforços culminaram na concepção da lógica paraconsistente
pelo matemático brasileiro Newton Carneiro Affonso da Costa (N.C.A da Costa).
O professor Newton Carneiro Affonso da Costa, curitibano, nascido em 1929, filho
de professora de francês, teve, assim, influência de pensadores como Quine, Descartes,
Russell entre outros. Cursou engenharia civil na Universidade Federal do Paraná
(UFPR), no entanto, exerceu a profissão por um breve período, retornando a mesma
universidade para estudar matemática. Teve influência dos matemáticos João Rémy
Teixeira Freire e Leopoldo Nachbin. Contou ainda para a sua formação o acesso de que
dispunha a outros centros acadêmicos como a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras
da Universidade de São Paulo (FFLCH – USP). Na década de 1950 revolucionou os
ramos da lógica, publicando trabalhos abordando os sistemas informais de lógica

1
O princípio de contradição (ou de não contradição) possuem várias formulações que não apresentam
equivalências entre si, ou seja, considere: (1) nível linguístico proposicional: ~(p ˄ ~p); (2) nível linguístico
quantificacional: Ɐx ~(p(x) ˄ ~p(x)); (3) nível metodológico: nenhuma teoria deve conter teoremas
contraditório, além disso, as teorias não devem encerrar contradições e; (4) semântica: uma proposição
“p” e sua negação “~p” não podem ser concomitantemente verdadeiras (DA COSTA; BÉZIAU; BUENO,
1998).
paraconsistente. Além disso, suas contribuições, reputação e obras são reconhecidas
mundialmente, tendo sido, conferencista e professor convidado (visiting scholar, termo
em inglês) de Instituições prestigiadas de ensino como: Universidade de Paris, Varsóvia,
Munique, Stanford dentre outras. O alcance do seu trabalho é notoriamente medido pela
quantidade de traduções e citações realizadas ao longo dos anos e como corolário foi
indicado a membro titular da prestigiada Institut International de Philosophie, de Paris
(DA COSTA, 1993).
Isso posto, o desenvolvimento da lógica paraconsistente está relacionado ao seu
surgimento enquanto teoria em si, ou seja, como uma teoria matemática, organizada e
estudada sistematicamente com reconhecimento científico. N.C.A da Costa publicou na
década de 1960 influenciado pelos matemáticos Marcel Guillaume da Universidade de
Clermont-Ferrand e Paulo Decker das Universidades de Lille e Liège, uma série de notas
na revista científica francesa Comptes Rendus de l’Académie des Sciences de Paris.
Além disso, publicou em português “Um nota sobre o conceito de contradição” (1958) e
“Observação sobre conceito de existência em matemática” (1959), propondo o seguinte
Princípio de Tolerância matemático: “do ponto de vista sintático e semântico, toda teoria
é aceitável, desde que não seja trivial”.
Além disso, da Costa (1993) destaca que em cada um dos cálculos apresentados,
a classe das proposições é subdividida em proposições de dois tipos: (i) bem-
comportada, isto é, toda fórmula válida do cálculo clássico será igualmente válido nos
cálculos dos “Sistemas Informais Inconsistentes”, excetuando um deles. Entretanto, se
“p” for (ii) mal-comportada, o resultado obtido poderá ser “p ˄ ~p”. Sendo assim, a lógica
clássica se mantém válida para as proposições bem-comportadas, além disso, destaca-
se que as lógicas paraconsistentes não foram concebidas para sobrepujar a clássica,
pelo contrário, se estenderam a lógica tradicional ampliando as possibilidades de
investigações que não seriam possíveis sob a perspectiva clássica.
Além disso, você aprenderá que outros pensadores matemáticos haviam
abordado e, portanto, antecipado a possibilidade de sistemas contraditórios ou
inconsistentes. Assim, desde a Grécia antiga com Heráclito aos aspectos marxistas e
dialéticos2 hegelianos, Wittgenstein às antinomias3 kantianas entre muitos outros.
Todavia, destaca-se as contribuições do lógico polonês Jan Łukasiewicz e do lógico e
filósofo russo Nicolai Alexandrovich Vasiliev os quais de maneira independente, em
meados de 1910, defenderam que haveria a possibilidade da existência de uma lógica
“não-aristotélica” coadunando-se com a ideia da recém-descoberta geometrias não-
euclidianas.
Assim, ambos propuseram ser possível que o princípio da não-contradição
pudesse ser expurgado. Todavia, Da Costa (1993) sublinha que foi o estudante de
Łukasiewicz, o lógico polonês, Stanisław Jaśkowski quem concebeu um sistema de
lógica paraconsistente, designado de lógica discussiva ou discursiva, no entanto tal
sistema estava limitado ao nível proposicional. Assim, da Costa e o lógico Lech Dubikajtis
ampliaram a lógica de Jaśkowski para além do nível proposicional. Ademais, da Costa
conjuntamente com J. Kotas avançaram a partir da lógica discussiva ou discursiva de
Jaśkowski de tal forma que obtiveram um operador de qualquer sistema modal associado
à lógica discursiva, haja vista, que Jaśkowski restringiu a sua abordagem lógica ao
sistema S5 de Lewis. Assim, da Costa é considerado o criador da lógica paraconsistente
ou o “mestre da contradição”.
O termo “para” deriva do grego “ao lado de”, portanto, “lógica paraconsistente”
significa que tal formulação é complementar à lógica clássica, logo, não foi concebida
para sobrepujar-lá. Surgiram outras nomenclaturas como: lógica dialeteica, cujo
objetivo consistia em estudar as contradições verdadeiras e a lógica transconsistente
que significava um excedente conceitual se filiando ao transfinito. Todavia,
paraconsistente foi o termo adotado pela comunidade científica. Após isso, da Costa
elaborou a semântica para 𝐶𝑤 , a partir da teoria da valoração, essa teoria semântica é
utilizada para proporcionar a lógica paraconsistente uma semântica própria. Além disso,

2
Considerada a “arte do debate por meio de perguntas e respostas”, a dialética de acordo com Hegenberg
e Silva (2005) surge com Sócrates (470-399 a.C.) e dos diálogos de Platão (428-347 a.C.). Além disso,
Aristóteles distinguia raciocínio dialético ou silogístico a partir de opiniões convencionalmente aceitas.
3
Significa de acordo com Hegenberg e Silva (2005) de forma literal, “anti” = “contra” e “nomos” = “lei”, ou
seja, se configuram em paradoxos que convergem para contradições mesmo se considerados padrões
normais ou aceitáveis de raciocínio.
fundamentou na bivalência verdadeira e falso, no entanto, não verifuncional4 (DA
COSTA, 1993).
Ademais, há críticas concernentes à definição da lógica paraconsistente. Pois
bem, sabendo disso, a definição apresentada por da Costa é sobremaneira aproximada,
ou, unilateral. Assim, é afirmado que um operador unário W é paraconsistente se existe
uma fórmula a tal que a teoria {a, Wa} seja não trivial, ou seja, em termos de valoração,
de tal forma que a e Wa são verdadeiras concomitantemente. Obviamente o critério
apresentado não é satisfatório para tornar semelhante operador em uma negação.
Diante disso, da Costa abordou o problema tangencialmente, isto é, por meio do desejo
de desenvolver um operador unário W, tal que este, fosse dotado de propriedades da
negação clássica compatíveis com as exigências (DA COSTA, 1993).
Todavia, a dificuldade persiste, ou seja, ainda não foi possível identificar quais são
as propriedades compatíveis com as exigências do modelo, e, sobretudo tal
exigência deve ser reforçada por meio da atribuição da noção de Paraconsistência
estrita, isto é, de acordo com da Costa (1993) {p, ~p} não se deve conseguir deduzir
qualquer fórmula da forma “~q” ou de outra forma não-tautológica.
Sendo assim, N.C.A da Costa concebeu numerosas lógicas paraconsistentes,
todavia, suas obras são concentradas na lógica proposicional 𝐶𝑤 e suas extensões à
lógica dos predicados e, sobretudo, na tentativa de construir uma “grande lógica” como
a teoria dos conjuntos a partir de suas concepções. Dessa forma, da Costa (1993)
construiu uma hierarquia de cálculo proposicional 𝐶𝑤 , 1 ≤ 𝑛 ≤ 𝑤 para satisfazer
basicamente as condições:
I. O Princípio da não contradição ~(p ˄ ~p) não deve ser válido no geral;
II. Não se deve ter “p”, “~p Ͱ q”5, isto é, de duas premissas contraditórias não deve
ser possível, em geral, deduzir-se qualquer conclusão;

4
Numa teoria semântica verifuncional, ou seja, em uma descrição do significado em função do conceito
da verdade, está baseado entre a linguagem é algo não linguístico, ou seja, o mundo. Sendo assim,
Oliveira (2001) destaca que um nome próprio como “Rio de Janeiro” tem significado porque é possível
alcançar, por meio dele, um objeto no mundo. Tal distinção entre sentido e referência foi proposta
inicialmente pelo lógico alemão Gottlob Frege.
5
É usual utilizar o símbolo “Ͱ” para representar o acarretamento (entailment, termo em inglês), isto é, esse
termo é utilizado para indicar que determinadas premissas permitem inferir de modo forte uma dada
conclusão, ou seja, as premissas “implicam” a conclusão (HEGENBERG; SILVA, 2005).
III. Todos os esquemas e regras da lógica clássica que forem compatíveis com as
duas primeiras devem ser preservados;
IV. Denominado de 𝐶0 o cálculo proposicional clássico se obtém a seguinte hierarquia
de cálculos:
𝐶0 , 𝐶1 , 𝐶2 ,..., 𝐶𝑛 , … , 𝐶𝑤 .
V. Se as proposições estudadas forem do tipo bem comportado, em determinadas
distinções que serão procuradas, toda fórmula válida do cálculo clássico também
será em qualquer dos cálculos posteriores.

Com efeito, a implicação “se A, então B” (A → B) ou “se x está em A, então x


está em B” é equivalente à asserção de que o conjunto “A está contido no conjunto B” (A
⊂ B), ou “B contém A” (B ⊃ A). Tal afirmação pode ser interpretada logicamente de acordo
com Machado e Cunha (2019) como equivalente à proposição categórica de que “todo
A é B” (Figura 2).

Figura 2. Teoria dos conjuntos: “Todo A é B”

Fonte: Adaptado de Machado e Cunha (2019).

Diante disso, considere a proposição composta A: (p ˄ ~p), para alguma


proposição “p”. Obviamente A é uma contradição, ou seja, não é possível coexistir a
proposição “p” e sua negação “~(p ˄ ~p)” concomitantemente sem violar o princípio da
não contradição. Todavia, no universo da lógica clássica, o conjunto das proposições “p”,

que tornam possível a proposição A ser verdadeira, é vazio  . Sendo assim, o conjunto

 está contido em qualquer conjunto B, logo, essa situação de acordo com Machado e
Cunha (2019) é equivalente à implicação “se (p ˄ ~p) então q”, para toda proposição q”,
simbolicamente, “~(p ˄ ~p) → q,  q”. Portanto, a partir de uma contradição é possível
obter, de forma válida, qualquer conclusão. Assim, se um sistema lógico possuir uma
contradição, se tornará trivial, isto é, toda proposição poderá ser demonstrada.

SAIBA MAIS

De acordo com Rignel, Chenci e Lucas (2011), a lógica Fuzzy foi introduzida nos
meios científicos em 1965 pelo matemático, engenheiro eletrônico e cientista da
computação Lofti Asker Zadeh, por meio da publicação do artigo Fuzzy Sets no Jornal
Information and Control. Além disso, a lógica Fuzzy pode ser entendida como uma
situação em que não é possível responder simplesmente "sim" ou "não". Mesmo
conhecendo as informações necessárias sobre a situação, dizer algo entre "sim" e "não",
como "talvez" ou "quase", torna-se mais apropriado.

Fonte: RIGNEL, D. G. S.; CHENCI, G. P.; LUCAS, C. A. Uma introdução à Lógica Fuzzy. Revista
Eletrônica de Sistemas de Informação e Gestão Tecnológica, v.1, n.1, 2011 (adaptado).

#SAIBA MAIS#

REFLITA

O pensamento: uma investigação lógica.


Gottlob Frege
#REFLITA#
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Caro (a) estudante, nesta unidade, você aprendeu sobre uma derivação
completamente distinta da lógica, a lógica não clássica. Isso posto, foram apresentados
os conceitos, definições, axiomas e formulações de alguns tipos de lógicas não clássicas.
Além disso, foi possível verificar que as lógicas não clássicas violam pelo menos um dos
princípios da lógica clássica aristotélica, como é o caso do princípio da não contradição
e o princípio do terceiro excluído.
Sendo assim, na lógica modal foi possível aprender sobre a concepção de
“necessidade” e “possibilidade” e como isso altera o resultado das proposições e o seu
significado. Além disso, foram apresentados a sintaxe e a semântica utilizadas em tal
lógica. Com relação às lógicas alternativas, você estudou sobre as lógicas trivalentes de
Łukasiewicz com a apresentação da sua tabela verdade com três valores lógicos.
Além disso, você estudou sobre as contribuições do matemático brasileiro,
professor Newton Carneiro Affonso da Costa que na década de 1950 formulou uma
lógica própria, denominada de lógica paraconsistente. O objetivo do professor foi obter
um meio de provar a inconsistência de um sistema formal inconsistente sem trivializar-
se, o que fez com êxito, sendo reconhecido internacionalmente como o criador da lógica
paraconsistente.
LEITURA COMPLEMENTAR

DA COSTA, N. C. A.; ABE, J.M. Paraconsistência em Informática e inteligência


artificial. Revista de Estudos Avançados, v.14, p.39, ago.2000. DOI: 10.1590/S0103-
40142000000200012.

HECK, R. L. A matemática como método da lógica e as quatro operações da


aritmética no Tractatus de Wittgenstein. Investigação Filosófica, v.3, n.2, 2012.
LIVRO

Título: Ensaio sobre os fundamentos da Lógica


Autor: Newton C.A da Costa
Editora: Hucitec
Sinopse: São abordados temas como o sentido das chamadas lógicas heterodoxas, as
relações entre Lógica Formal e Dialética, os princípios fundamentais da razão e as
interconexões entre Lógica e realidade, tudo isso tendo por base uma nova concepção
da ciência de Aristóteles, elaborada pelo autor, que é um dos lógicos mais destacados
da atualidade. Por todos esses motivos, esta obra, que apareceu em tradução francesa
pela Editora Masson, com o título Logiques Classiques eet non Classiques, Paris, 1987,
não deve interessar apenas aos especialistas, mas também a todos os que se
preocupam com questões que dizem respeito à Ciência e à Filosofia.
FILME/VÍDEO

Título: Enigmas de um Crime


Ano: 2008
Sinopse: Martin (Elijah Wood) é um estudante de pós-doutorado em ciências
matemáticas na prestigiada Universidade de Oxford, na Inglaterra. Lá, o aluno espera
encontrar aquele que deseja tornar o seu mestre: o Professor Arthur Seldom (John Hurt).
Os dois iniciam uma relação complicada, mas estável até que tudo vai por água abaixo
quando eles encontram o cadáver de uma jovem no campus.
WEB

O documentário “Espírito de Contradição”, dirigido por Fernando Severo, aborda


a vida e obra do filósofo e matemático Newton C.A. da Costa, que se tornou famoso
internacionalmente quando criou uma lógica que admite contradições: a lógica
Paraconsistente. As teorias deste pensador brasileiro se tornaram referência em
universidades do mundo inteiro e encontram aplicação em vários campos da ciência,
sendo objeto de estudos e seminários em diversos países. Ele formulou também o
conceito da Quase-Verdade, que permite a convivência de teorias científicas logicamente
incompatíveis.
Link: https://youtu.be/8gKKabtLA_U
REFERÊNCIAS

ALENCAR FILHO, E. Iniciação à Lógica Matemática. São Paulo: Nobel, 2002.

CARRION, R.; DA COSTA, N. C. A. Introdução à lógica elementar. Porto Alegre: Ed.


da Universidade/UFRGS, MEC/SESu/PROEDI, 1988.

DA COSTA, N. C. A. Nota sobre o conceito de contradição, Anuário da Sociedade


Paranaense de Matemática, n. 1, NS, p. 6-8, 1958.

DA COSTA, N. C. A. Observações sobre o conceito de existência em Matemática,


Anuário da Sociedade Paranaense de Matemática, n. 2, p. 16-19, 1959.

DA COSTA, N. C. A. Lógica indutiva e probabilidade. 2. ed. São Paulo: Hucitec,


1993.

DA COSTA, N. C. A.; BÉZIAU, J. Y.; BUENO, O. Elementos de teoria


paraconsistente de conjuntos. Campinas: UNICAMP, Centro de Lógica,
Epistemologia e História da Ciência, 1998.

HAACK, S. Filosofia das lógicas; tradução Cezar Augusto Mortari, Luiz Henrique de
Araújo Dutra. São Paulo: UNESP, 2002.

HEGENBERG, L.; SILVA, M. F.A Dicionário de Lógica. Rio de Janeiro: Pós-Moderno,


2005.

KNEALE, W.; KNEALE, M. O desenvolvimento da lógica. 2. ed. Lisboa: Fundação


Calouste Gulbenkian, 1962.

KRIPKE, S. A. O nomear e a necessidade; tradução Ricardo Santos e Teresa Filipe.


1. ed. Lisboa: Gradiva Publicações S.A, 2012.

MACHADO, N. J.; CUNHA, M.O. Lógica e linguagem cotidiana: verdade, coerência,


comunicação, argumentação. 4. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2019.

OLIVEIRA, R. P. Semântica formal: uma breve introdução. 3. ed. São Paulo:


Mercado de Letras, 2001.
CONCLUSÃO GERAL

Prezado (a) aluno (a),

Neste material, busquei trazer para você os principais conceitos a respeito do


Desenvolvimento do Conhecimento Lógico. Para tanto, começamos nossa
abordagem com uma breve apresentação da história da Lógica com as
contribuições do filósofo grego Aristóteles, a Escola Megárica e Estóica. Além
disso, avançamos até a era moderna e apresentamos as contribuições de
George de Boole, De Morgan e Frege. Ademais, explicamos a ramificação da
lógica em clássica e não clássica, sendo que o enfoque desse estudo se
manteve na lógica aristotélica (clássica) especificamente na simbólica ou
matemática. Por sua vez, entendemos que uma proposição simples (p, q, r,...)
ou enunciado é considerada toda sentença declarativa afirmativa. Além do que,
a combinação de duas ou mais proposições simples ou atômicas utilizando
conectivos proposicionais “˄”; “˅”; “→”; “↔”; “⁓”, gera uma proposição composta
(P, Q, R,...). Ademais, para validar as proposições simples começamos
atribuindo um valor lógico V(p, q, r,...)=V/F.

Destacamos também a importância do método semântico ou instrumento de


validação de argumentos conhecido como Tabela Verdade. Exploramos como
construir Tabelas Verdade por meio das regras dos conectivos: Conjunção,
Disjunção, Condicional, Bicondicional e Negação.

Apresentamos também a classificação dos resultados das Tabelas Verdade de


mais de duas proposições simples. Sendo assim, quando resta apenas o valor
lógico verdadeiro, se tem uma tautologia, quando o valor lógico restante é a
falsidade se tem uma contradição e, por fim, quando os valores lógicos figuram
ao menos uma vez V e F se trata de uma contingência.

Ademais, foi abordado a noção de consequência lógica, o conceito de


argumento, silogismos, falácia e regras de inferência. Isso posto, avançamos até
as lógicas não clássicas ou não aristotélicas. Assim, foram apresentados os
conceitos de lógica modal, lógica alternativas e paraconsistentes. Destacam-se
as contribuições do criador da lógica paraconsistente, o matemático e professor
Newton C.A da Costa.
A partir de agora acreditamos que você já está preparado para seguir em frente
desenvolvendo ainda mais seu nível de conhecimento e abstração, utilizando a
lógica matemática.

Até uma próxima oportunidade. Muito Obrigado!

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