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Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP), nos termos do art. 3 n.° 2 e n.°
3, do mesmo diploma legal.
A necessidade de facilitar a operatividade da intervenção penal, considerando
as ameaças surgidas no começo de século, justificou a criação destas
investigações pré processuais.
Acerca disso há vozes muito críticas na nossa doutrina. Eis, por exemplo, a
posição de Germano Marques da Silva: “A pretexto do combate ao terrorismo e
à criminalidade violenta ou altamente organizada, as derrogações ao direito
comum, assim como a adopção de métodos particulares de investigação, e não
só de natureza reactiva, mas também preventiva, de que são paradigmáticas as
acções encobertas (Lei n.° 101/2001, de 25 de Agosto), tantas vezes na fronteira
da provocação, como nos dão conta os frequentes incidentes nos nossos
tribunais, {...] tendem a transformar-se na norma”
Na verdade, o Estado português até já foi condenado no Tribunal Europeu dos
Direitos do Homem por usar situações de encobrimento para a provocação ao
crime (caso Teixeira de Castro contra Portugal, 1 998)30.
Seja como for, a própria lei não autoriza a provocação ao crime por parte dos
agentes encobertos ou infiltrados, mas somente “a prática de actos
preparatórios ou de execução de uma infracção em qualquer forma de
comparticipação diversa da instigação e da autoria mediata” (art. 6.°, n.° 1, do
diploma legal citado).
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sentido de ganhar a confiança do suspeito e, na base dessa confiança, mantém-
se a par do comportamento daquele, praticando, se necessário, actos de
execução em integração do seu plano, mas não assume o papel de instigador;
É válida a prova obtida através de "agente infiltrado", sempre que este "homem
de confiança" prossiga actividades exclusiva ou prevalentemente preventivas,
limitando-se a aproveitar-se de uma predisposição do arguido já anteriormente
revelada.
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delito nesses crimes. É preciso ver que o auto de notícia é um documento
lavrado por uma autoridade pública que presenciou um crime de denúncia
obrigatória (art. 243°, n.° 1). Quando a autoridade pública tenha verificado por
conhecimento próprio o cometimento do crime, seja ele semi - público ou
particular, é sempre útil o auto de notícia como meio de conservação da prova,
mais ainda se considerarmos o seu valor probatório particular (art. 169.°, ex vi
art. 99.°, n.° 4).
É de notar que o ofendido poderia passar por grandes dificuldades de prova
dos factos se não existisse este meio de prova, de mais a mais com o valor que
lhe é atribuído.
O auto de notícia
O art. 243°, n.° 1, dispõe que sempre que uma autoridade judiciária, um OPC ou
outra entidade policial presenciarem qualquer crime de denúncia obrigatória,
levantam ou mandam levantar auto de notícia, descrevendo os factos que
constituem o crime, entre outros aspectos.
O auto de notícia não prova o crime, mas prova os factos materiais dele
constantes, enquanto prova bastante (art. 169.°, ex vi art. 99.°, n.° 4).
As medidas cautelares e de polícia
Os arts. 248.° a 253.° tratam das medidas cautelares e de polícia, que podem ser
necessárias tanto anteriormente ao processo como durante o desenvolvimento
do mesmo.
Os OPC devem praticar todos os actos cautelares necessários e urgentes para
preservar os meios de prova, mesmo antes de receberem ordem da autoridade
judiciária competente (art. 249.°, n.° 1).
Estes actos de polícia só serão integrados no processo mediante validação da
autoridade judiciária competente.
A delegação genérica de competência na PJ, ou noutro OPC, para a realização
de diligências de investigação relativamente a certos tipos de crime (art.
4, CP1) não pode, de maneira nenhuma, ser confundida com autorização para a
realização de “inquéritos policiais” preliminares, à margem de noticia do crime.
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ordens, já que as directivas deixam a decisão sobre a forma e os meios de
execução a quem as recebe. Mais concretamente, o MP tem poder para pedir
informação sobre as diligências de investigação e exigir outras, definir a
estratégia e dar orientações
Os OPC podem ter necessidade de proceder à identificação de pessoas (art.
250º).
Os OPC podem proceder por sua iniciativa a revistas e a buscas, em caso de
urgência (art. 251º).
Também podem proceder a buscas domiciliárias por sua iniciativa aquando de
detenção em flagrante por crime a que corresponda pena de prisão (art. 174°,
n.° 5, alínea c).
O Ministério Público
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Mas seria preferível que o MP tivesse no processo uma autêntica posição de
“parte”, já que a imparcialidade que se lhe exige, na prática, é muito dificil de
manter? Seguramente, o empenhamento do MP e dos OPC é natural, além de
que é indispensável para a descoberta das provas do crime. Mas será que
prefeririamos o adversário do sistema americano ao sistema vigente? Será que
gostaríamos realmente de ter um sistema em que o MP e os OPC ocultassem ou
até destruíssem os elementos cuja inclusão no processo favoreceria a defesa do
arguido, em vez de termos o actual sistema, no qual o MP e os OPC estão
obrigados a contribuir para a descoberta da verdade material? Enfim, a moda
agora é fazer o elogio da superior aderência à dura realidade do combate ao
crime que seria proporcionada por um processo de partes, mas, em última
análise, não cremos que a nossa tradição garantista se possa conformar com
esse modelo de processo penal
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administrativo. Seria preferível, em vez disso, a judicialização do MP,
garantindo assim a sua estrita independência e equiparando o seu estatuto ao
da magistratura judicial (veja-se os arts 215°a 218 °CRP)
A judicialização do MP faria sentido, quem sabe, no quadro da tradição clássica
do principio da legalidade penal, em que o MP não desenvolvia estratégias de
politica criminal, até porque a única política criminal admissível era
rigorosamente intra- sistemática em relação ao direito penal e tomava, portanto,
o crime como um’ dado que tinha de ser sujeito ao devido processo legal, sem
margem para a definição de prioridades na repressão da criminalidade.
Entretanto, o mundo mudou e, com ele, mudou a visão da política criminal no
Estado de Direito democrático e liberal. A política criminal tem para os
complexos problemas da nova criminalidade (e.g., a criminalidade violenta, a
criminalidade de empresa, a criminalidade altamente organizada, o terrorismo
internacional, o tráfico de pessoas, armas ou estupefacientes, a corrupção, o
tráfico de influências ou o branqueamento de capitais). Tais problemas exigem
respostas articuladas, que não se compaginam com a judicialização dos agentes
agindo desgarradamente, como se a criminalidade pudesse ser, ela controlada
com cada qual gerindo e promovendo às vezes os processos que lhe são
distribuídos. Definitivamente, não! Este não é o modelo reclamado pela
realidade actual. Pelo contrário, até se deveria aprofundar a participação do MP
na execução da política criminal definida pelos órgãos de soberania,
promovendo as assessorias do Procurador-Geral da República diante do
Parlamento, no contexto definido pela Lei- Quadro da Política Criminal (Lei n.°
17/2006, de 23 de Maio).