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DIREITO ADMINISTRATIVO

REGIME JURÍDICO ADMINISTRATIVO


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SUMÁRIO

1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS...............................................................................................................3
2. PEDRAS DE TOQUE DO DIREITO ADMINISTRATIVO (CELSO ANTÔNIO BANDEIRA DE MELO).............3
3. PRINCÍPIOS MÍNIMOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA (ART. 37, CAPUT, CF).....................................4
a) Legalidade...................................................................................................................................5
b) Impessoalidade...........................................................................................................................5
c) Moralidade..................................................................................................................................6
d) Publicidade.................................................................................................................................9
e) Eficiência...................................................................................................................................11
f) Isonomia....................................................................................................................................12
g) Razoabilidade/proporcionalidade..............................................................................................13
h) Contraditório/ampla defesa......................................................................................................14
i) Continuidade..............................................................................................................................16
j) Autotutela..................................................................................................................................18
h) Especialidade............................................................................................................................19
I) Princípio da intranscendência subjetiva das sanções..................................................................19
J) Princípio da segurança jurídica...................................................................................................21
DISPOSITIVOS PARA CICLOS DE LEGISLAÇÃO.....................................................................................23
BIBLIOGRAFIA UTILIZADA.................................................................................................................23
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ATUALIZADO EM 16/05/2017

REGIME JURÍDICO ADMINISTRATIVO

1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Regime Jurídico Administrativo é o conjunto de normas que norteiam a atuação da


Administração Pública. A lista de princípios não está totalmente definida, mas todos guardam com os
demais uma relação lógica de coerência (sistema unidade). Por essa razão, compõe-se como conjunto
harmônico de princípios e regras.
Não existe um princípio que se sobreponha aos outros ou que seja absoluto. Assim, deve-se
utilizar o critério de ponderação dos interesses na situação concreta (não há nulidade nem exclusão na
hipótese de conflito). As regras são operadas no modo disjuntivo, pois uma exclui a outra quando da
sua aplicação. O conflito entre elas é resolvido no plano da validade.

TRIDIMENSIONALIDADE FUNCIONAL DOS PRINCÍPIOS (DIRLEY DA CUNHA JÚNIOR)


1) Consagram valores fundamentais do sistema jurídico;
2) Orientam a aplicação do ordenamento;
3) Suplementam às demais fontes do direito.

2. PEDRAS DE TOQUE DO DIREITO ADMINISTRATIVO (CELSO ANTÔNIO BANDEIRA DE MELO)

São os alicerces, a base da disciplina administrativa como um todo. O interesse público, que é o
somatório dos interesses individuais, considerando os indivíduos em sociedade, desde que esse
represente a vontade da maioria, é a chave para compreensão. O interesse público pode ser primário
ou secundário:

 Primário que é a vontade do povo (é o interesse público propriamente dito) ou;


 Secundário que é definido pelos anseios do Estado considerado como pessoa jurídica.
 Obs.: Havendo divergência, prevalece o interesse público primário.

De acordo com Celso Antônio, as pedras de toque são a supremacia do interesse público e a
indisponibilidade do interesse público.

1 As FUCS são constantemente atualizadas e aperfeiçoadas pela nossa equipe. Por isso, mantemos um canal aberto de
diálogo (setordematerialciclos@gmail.com) com os alunos da #famíliaciclos, onde críticas, sugestões e equívocos,
porventura identificados no material, são muito bem-vindos. Obs1. Solicitamos que o e-mail enviado contenha o título do
material e o número da página para melhor identificação do assunto tratado. Obs2. O canal não se destina a tirar dúvidas
jurídicas acerca do conteúdo abordado nos materiais, mas tão somente para que o aluno reporte à equipe quaisquer dos
eventos anteriormente citados.
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 Supremacia do interesse público: é muito importante para o convívio social e pressuposto de
existência de qualquer sociedade, sendo um conceito determinável no caso concreto. Visa
satisfazer o interesse público propriamente dito, concedendo à Administração Pública algumas
prerrogativas. Não está expresso na CF. Exemplos de aplicação: atributos dos atos
administrativos (presunção de legitimidade, autoexecutoriedade e imperatividade), Poderes da
Administração (poder de polícia), contratos administrativos (cláusulas exorbitantes, art. 58 da
Lei nº 8.666/93), intervenção na propriedade (requisição, art. 5º, XXV, CF, desapropriação, art.
5º, XXIV, CF). Alguns autores, de forma minoritária, criticam o princípio sustentando que este
legitima os abusos e as arbitrariedades. Outros defendem que, na verdade, há incorreção na
sua aplicação.
 Indisponibilidade do interesse público: É consequência da própria supremacia do interesse
público. O interesse público não está à livre disposição do administrador, não há liberalidade. É
um contrapeso/limitação ao princípio da supremacia do interesse público. O administrador
exerce função pública, significando que a atividade é exercida em nome e no interesse do povo.
Assim, o administrador é mero representante e não tem titularidade sobre o interesse público,
não podendo, por esse motivo, dispô-lo. O administrador exerce um encargo, uma obrigação,
um múnus público e tem o dever de bem servir, não pode comprometer o futuro da nação e
criar entraves. Exemplos de aplicação: é violação à indisponibilidade ao interesse público a
fraude à licitação, a fraude ao concurso público. O administrador não pode criar entraves,
obstáculos ao sucessor.

3. PRINCÍPIOS MÍNIMOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA (ART. 37, CAPUT, CF)

A Administração Pública Direta e Indireta e de todos os Poderes e Estados (União, Estados,


Municípios e DF) devem obediência aos princípios aqui listados. Tal rol foi alterado pela EC nº 19/98.
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a) Legalidade

É a base do Estado Democrático de Direito e garante que todos os conflitos serão solucionados
pela lei (art. 5º, II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de
lei; art. 37, caput - A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade,
moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte; art. 150- Sem prejuízo de outras garantias
asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: I -
exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça).

 “Administrar é aplicar a lei de ofício (Seabra Fagundes)”  Enfoques: para o Direito Público, a
legalidade significa cumprir o que determina ou autoriza a lei, assim o administrador só pode
realizar o que previsto na lei (critério de subordinação à lei).

 Para o Direito Privado, o particular pode tudo, salvo o que está vedado pela lei (critério de não
contradição à lei). O controle de legalidade é a verificação de compatibilidade de um
determinado ato com a lei, regras e princípios constitucionais (controle em sentindo amplo).
Obs.: o princípio da reserva legal não se confunde com o princípio da legalidade, pois aquele
determina que para certa matéria é reservada (escolhida) a espécie normativa.

b) Impessoalidade

O administrador não pode buscar interesses próprios, pessoais. Traz a ausência de


subjetividade, sem inclinações pessoais. O administrador deve agir no atendimento do interesse
público (de forma impessoal, abstrata e genérica). O ato NÃO é do agente, e sim da pessoa jurídica
(teoria da imputação).
 Exemplos: licitação (todos tem a chance de serem contratados pelo Poder Público), concurso
público.
 Cuidado com o conceito de impessoalidade de Celso Antônio: “traduz a ideia de que a
Administração tem que tratar a todos sem discriminações, benéficas ou detrimentos, nem
favoritismos nem perseguições são toleráveis, simpatias ou animosidades pessoais, políticas ou
ideológicas não podem interferir na atividade administrativa”.

Obs.: Impessoalidade x Finalidade: Divergência cogitada por Helly Lopes Meirelles (doutrina
tradicional) que sustentava que os dois princípios eram sinônimos, afirmando que após 1988 o
princípio da finalidade/imparcialidade foi substituído pela impessoalidade. No entanto, a posição da
doutrina moderna (Celso Antônio Bandeira de Melo) orienta que esses princípios não se confundem,
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pois a impessoalidade é a ausência de subjetividade e a finalidade significa que o administrador deve
buscar o espírito da lei. São princípios autônomos (art. 2º, III e XIII, da Lei nº 9.784/99).

Art. 2º A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios da legalidade, finalidade,
motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa, contraditório, segurança
jurídica, interesse público e eficiência. III - objetividade no atendimento do interesse público, vedada a
promoção pessoal de agentes ou autoridades ; XIII - interpretação da norma administrativa da forma
que melhor garanta o atendimento do fim público a que se dirige, vedada aplicação retroativa de nova
interpretação.

c) Moralidade

Traduz a ideia de honestidade, obediência a princípios éticos, boa-fé, lealdade, boa


administração, correção de atitudes. É diferente da moralidade comum (certo e errado do convívio
social) por ser mais rígida, exigindo a correção de atitudes e a boa administração.

#OLHAOGANCHO: Nepotismo
(Súmula Vinculante nº 13: A nomeação de cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou
por afinidade, até o terceiro grau, inclusive, da autoridade nomeante ou de servidor da mesma pessoa
jurídica investido em cargo de direção, chefia ou assessoramento, para o exercício de cargo em
comissão ou de confiança ou, ainda, de função gratificada na administração pública direta e indireta
em qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, compreendido o
ajuste mediante designações recíprocas, viola a Constituição Federal.)
 Com a EC nº 45/2004 e a criação do CNJ e do CNMP foram publicadas resoluções que vedam o
nepotismo (resoluções nº 07/CNJ e 01/CNMP). A resolução Nº 07 foi questionada com a ADC nº
12 e o STF declarou a constitucionalidade da norma e afirmou que representava a aplicação de
vários princípios constitucionais, como a moralidade, impessoalidade, eficiência e isonomia.
 Além disso, o STF determinou que o CNJ pode fazer o controle administrativo do cumprimento
das suas resoluções. A vedação do parentesco (cônjuge, companheiro e parente em linha reta
ou colateral até o 3º grau) fica para os cargos em que não são previstos a realização de concurso
púbico – Vedações de parentesco na mesma pessoa jurídica: entre a autoridade nomeante e o
nomeado em cargo de comissão ou função gratificada/função de confiança; entre servidor que
ocupa cargo de direção, chefia ou assessoramento e o servidor que ocupa cargo em comissão
ou função gratificada; designações recíprocas (nepotismo cruzado).
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 Agentes políticos estão fora da aplicação da Súmula Vinculante nº 13 de acordo com o STF
(Reclamação 6650, 7834; AgRcl 66750).
 O STJ também já decidiu que a prática de nepotismo configura ato de improbidade
administrativa (ofensa aos princípios da Administração Pública) – Resp 1009926.

#ATENÇÃO: Aplicação da súmula sobre nepotismo deve levar em conta qualificação do nomeado
para o cargo: Citando precedentes como a RCL 17627 (de relatoria do ministro Luís Roberto Barroso), a
RCL 11605 (do ministro Celso de Mello), o ministro Fux enfatizou que, quanto aos cargos políticos,
deve-se analisar, ainda, se o agente nomeado possui a qualificação técnica necessária ao seu
desempenho e se não há nada que desabone sua conduta. Ver mais em:
http://www.stf.jus.br/portal/cms/ verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=309934.

#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA: É inconstitucional lei estadual que excepciona a vedação da prática do


nepotismo, permitindo que sejam nomeados para cargos em comissão ou funções gratificadas de até
dois parentes das autoridades estaduais, além do cônjuge do Governador. STF. Plenário. ADI 3745/GO,
rel. Min. Dias Toffoli, 15/5/2013 (Info 706)

- Cargo em comissão = era denominado antigamente de cargo de confiança. Serve para direção, chefia
e assessoramento e pode ser exercido por qualquer pessoa, atendidas as condições mínimas. Há limite
mínimo previsto em lei e depende do cumprimento de determinados requisitos (ex.: escolaridade),
mas independe de qualquer vínculo anterior entre a Administração Pública e o nomeado.

- Função de confiança = Serve para direção, chefia e assessoramento. Somente pode ser atribuído a
quem detém cargo efetivo (acréscimo de responsabilidade). O servidor ganha um acréscimo
remuneratório chamado de gratificação por função de confiança.

Art. 37. (...) V - as funções de confiança, exercidas exclusivamente por servidores ocupantes de cargo
efetivo, e os cargos em comissão, a serem preenchidos por servidores de carreira nos casos,
condições e percentuais mínimos previstos em lei, destinam-se apenas às atribuições de direção,
chefia e assessoramento;” (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)

#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA: "Ementa: Administração Pública. Vedação nepotismo. Necessidade de


lei formal. Inexigibilidade. Proibição que decorre do art. 37, caput, da CF. RE provido em parte. I -
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Embora restrita ao âmbito do Judiciário, a Resolução 7/2005 do Conselho Nacional da Justiça, a prática
do nepotismo nos demais Poderes é ilícita. II - A vedação do nepotismo não exige a edição de lei
formal para coibir a prática. III - Proibição que decorre diretamente dos princípios contidos no art. 37,
caput, da Constituição Federal." (RE 579951, Relator Ministro Ricardo Lewandowski, Tribunal Pleno,
julgamento em 20.8.2008, DJe de 24.10.2008)

*#OUSESABER: Segundo entendimento do STF, exposto na SV 13: Súmula vinculante nº 13: “A


nomeação de cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou por afinidade, até o
TERCEIRO GRAU, inclusive, da autoridade nomeante ou de servidor da mesma pessoa jurídica investido
em cargo de direção, chefia ou assessoramento, para o exercício de cargo em comissão ou de confiança
ou, ainda, de função gratificada na administração pública direta e indireta em qualquer dos poderes da
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, COMPREENDIDO O AJUSTE MEDIANTE
DESIGNAÇÕES RECÍPROCAS, viola a Constituição Federal.” O próprio STF fez uma restrição à aplicação
dessa súmula – e vem a reafirmando, como através RE 825.682: ressalvada a situação de fraude à lei
(como por exemplo troca de favores), agentes políticos, como secretários estaduais e municipais, não
estão submetidos à tal vedação. São cargos de natureza política, não administrativa, que demandam
um elevado grau de confiança caracterizados por ter um munus decorrente da Constituição Federal.
Caso que aconteceu no Ceará: Cid Gomes (à época, Governador do Estado) nomeou seu irmão, Ciro
Gomes, como Secretário de Saúde. E os Conselheiros do Tribunal de Contas podem ser incluídos nessa
exceção? Segundo o STF, NÃO! Os Conselheiros de Tribunais de Contas são considerados cargos
administrativos, a eles então também é aplicado a vedação nepotismo – decisão do STF na Rcl 6702.

*#OUSESABER: No Informativo 786 do STF, ADI 524, ficou decidido que impede o nepotismo não
alcança os servidores de provimento efetivo – poderia inibir o próprio provimento de cargos públicos
e viola o livre acesso aos cargos, empregos e funções públicas. Regra é constitucional para cargos em
comissão, funções gratificadas, de direção e de assessoramento. Inexiste proteção ou apadrinhamento
quando a pessoa é aprovada em concurso público.

*#OUSESABER: Para o STF, no julgamento do RE 678.574, a vedação ao nepotismo não se aplica às


contratações realizadas pelos serviços notariais – exercem atividade estatal, mas não ocupam cargo
público. Podem, assim, contratar parentes pela CLT.
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*#OUSESABER: O Plenário do STF, no RE 570392/RS, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 11/12/2014
(Info 771) decidiu que as leis que proíbam o nepotismo na Administração Pública NÃO são de
iniciativa exclusiva do Chefe do Poder Executivo, podendo, portanto, ser propostas pelos
parlamentares. Dessa forma, não há vício de iniciativa! A vedação ao nepotismo tem por objetivo
cumprir os princípios constitucionais da isonomia, impessoalidade e moralidade na Administração
Pública. Ademais, vale lembrar a advertência do @dizerodireito, “conforme entendeu o STF na edição
da Súmula Vinculante 13, a proibição do nepotismo não exige a edição de lei formal, considerando
que essa vedação decorre diretamente dos princípios contidos no art. 37, caput, da CF/88. Portanto, se
o STF já reconheceu que tal proibição sequer precisa de lei, não há vício de iniciativa em lei editada
com o objetivo de dar cumprimento aos princípios constitucionais”

*#PERGUNTA: O que se entende por transnepotismo? O Professor Marcelo Pilon, em seu artigo
“Nepotismo, Nepotismo Cruzado e Transnepotismo” afirma que: “(...) muitos estão tentando burlar a
decisão do STF em relação ao nepotismo; surgem novas formas de nepotismo. É recorrente nos meios
de comunicação a utilização de neologismos como: “nepotismo cruzado” e “transnepotismo”.
Podemos considerar “Nepotismo-Cruzado” a nomeação por parte dos membros do Judiciário,
Executivo e Legislativo da União, Estados, Distrito Federal e municípios, de parentes uns dos outros. É
a migração de servidores não concursados “dentro de um poder”, por exemplo, na Câmara de
Vereadores, o vereador X contrata para atuar em seu gabinete o filho do vereador Y que em
contrapartida contrata a esposa do vereador X. A meu ver, o “Transnepotismo” seria uma troca de
favores “entre os poderes”, a migração de indivíduos não concursados de um Poder para outro, por
exemplo: o prefeito do município “J” contrata para atuar no município, em cargo comissionado, o filho
do vereador “Z” que em contrapartida contrata para o seu gabinete o cunhado do prefeito; há também
casos onde o vereador declara sua “lealdade” ao executivo após o mesmo ter contratado seu parente
ou apadrinhado. O mais trágico, e de certo, nada bom para a democracia e o equilíbrio entre os
poderes, é a possibilidade do “transnepotismo” e troca de favores entre o Executivo e o Judiciário, com
ou sem troca de parentes para cargos comissionados (@top_juris)

d) Publicidade

O administrador exerce função pública em nome do povo, motivo pelo qual deve dar ciência ao
titular do direito (o povo) do que está ocorrendo. Também representa condição de eficácia, que
significa início de produção de efeitos. Os atos só começam a produzir efeitos a partir de sua
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publicidade. Exemplo disso é o início da contagem de prazo de um contrato, que seria a partir da data
da publicação.
 Art. 61. A publicação resumida do instrumento de contrato ou de seus aditamentos na
imprensa oficial, que é condição indispensável para sua eficácia, será providenciada pela
Administração até o quinto dia útil do mês seguinte ao de sua assinatura, para ocorrer no prazo
de vinte dias daquela data, qualquer que seja o seu valor, ainda que sem ônus, ressalvado o
disposto no art. 26 desta Lei.

- Publicidade também representa o início de contagem de prazo. Ex.: de notificação de multa de


trânsito. O prazo começa do dia em que a notificação é recebida e não da data de postagem ou
expedição.

- Publicidade também é mecanismo de controle e fiscalização, pois permite que o titular do poder
tome ciência do que está acontecendo no poder público, o que lhe dá oportunidade de se insurgir
contra as ilegalidades dos administradores.

- Publicidade, no entanto, é diferente de publicação.


 #PEGADINHA: “A licitação na modalidade convite não tem publicidade” (Falso). No convite
não há publicação de edital, pois há a carta convite. Quando se encaminha a carta aos
convidados está-se realizando a publicidade.
 Publicidade é muito mais amplo que publicação . Publicação é uma das hipóteses de
publicidade. A publicidade deve cumprir o formalismo previsto na lei (portas abertas, edital x
vezes).

- Fundamentos da publicidade na CF: art. 37, caput./ art. 5º XXXIII (informação), XXXIV (certidão) e
LXXII (habeas data) / Lei 12.527/11. (lei de acesso à informação). Art. 37, §3º, II – direito de acesso à
informação.

#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA: É legítima a publicação, inclusive em sítio eletrônico mantido pela


Administração Pública, dos nomes de seus servidores e do valor dos correspondentes vencimentos e
vantagens pecuniárias. STF. Plenário. ARE 652777/SP, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 23/4/2015
(repercussão geral) (Info 782)

- Exceções à publicidade (garantia de sigilo):


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 art. 5º, X (são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas). O
administrador não pode, com fundamento na publicidade, violar tais valores, sob pena de
indenizar os lesados.
 Art. 5º, XXXIII (segurança do Estado ou da sociedade).
 Art. 5º, LX (processos que correm em sigilo). Em processos tanto judiciais quanto
administrativos. Ex. processo administrativo no âmbito do CRM sobre erro médico de
determinado médico. Só publica quando se tem o resultado.

Obs.: Art. 37, §1º. A publicidade dos atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos
deverá ter caráter educativo, informativo ou de orientação social, dela não podendo constar nomes,
símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal (dever de impessoalidade) de autoridades ou
servidores públicos.
 Dever de publicidade, obedecendo à forma determinada. Se o agente não faz a publicidade está
praticando ato de improbidade administrativa (art. 11 Lei 8429).
 Pode haver a promoção pessoal por meio de terceiro, caso que há placas do tipo “a população
agradece ao político X pela obra realizada, etc”. Deve haver uma razoabilidade ex.: placas de
obras informando o número da licitação, do contrato e o nome do administrador pode. Para
haver o ilícito dever ter a finalidade de promoção pessoal.

e) Eficiência

Foi introduzido no caput do art. 37 da CF pela EC nº 19/98 (Reforma Administrativa). A emenda


20/98, apesar de ser do mesmo e ano e tratar de direito administrativo, trata de aposentadoria. A
eficiência ganhou roupagem de direito expresso, mas ela já era exigida como princípio implícito e já
existia de forma expressa no art. 6º da lei 8987/95, que trata de serviço público.
 Art. 6º Toda concessão ou permissão pressupõe a prestação de serviço adequado ao pleno
atendimento dos usuários, conforme estabelecido nesta Lei, nas normas pertinentes e no
respectivo contrato. § 1o Serviço adequado é o que satisfaz as condições de regularidade,
continuidade, eficiência, segurança, atualidade, generalidade, cortesia na sua prestação e
modicidade das tarifas.
 Esse art. 6º traz o conceito de serviço adequado, exigindo a eficiência.

- Mas quais seriam os instrumentos para a concretização da eficiência?


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(1) Alteração do art. 41 que trata da estabilidade dos servidores públicos, pois muito se falava que a
estabilidade acomodava o servidor. A partir da EC 19/08, então, o servidor para garantir a estabilidade
vai precisar de:

 Nomeação para cargo efetivo + 3 anos de exercício + avaliação especial de empenho


Esse último requisito está intimamente ligado à eficiência. Essa avaliação ainda precisa de
regulamentação na maioria das carreiras (lei complementar).

- Quais são as hipóteses em que o servidor pode perder o cargo?


 Processo administrativo (contraditório/ampla defesa)
 Processo judicial (trânsito em julgado)
 Avaliação periódica de desempenho. A avaliação de desempenho já existia, mas não retirava a
estabilidade do servidor.

(2) Racionalização da máquina administrativa. Art. 169, CF. Não dá para gastar tudo que se arrecada
com folha de pagamento. Isso seria ineficiente. O limite com pessoal é disposto na lei de
responsabilidade fiscal, que lá no art. 19 traz esse limite de 50% para a União, 60% para estados e
municípios sobre a receita corrente líquida.
 E se estiver acima do limite? Começa-se reduzindo os cargos em comissão e funções e confiança
em no mínimo 20 %; na sequência, é possível a exoneração de servidores não estáveis e; por
fim, os servidores estáveis através de exoneração, por não haver caráter de punição.
 Nesse último caso o cargo é extinto e só pode ser recriado com funções idênticas ou
assemelhadas quatro anos depois, para que o administrador não utilize o instituto do 169 para
tirar os inimigos políticos da Administração. A sequência não pode ser desobedecida. Somente
o servidor estável tem direito à indenização.

É preciso ter eficiência em duas esferas: meios (gastar o menos possível) e resultados (produzir
os melhores resultados).

Obs.: eficiência – conduta das pessoas; eficácia – meios, instrumentos; efetividade – resultado.

f) Isonomia
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Significa tratar os desiguais de forma desigual, na medida de suas desigualdades. A restrição
deve guardar compatibilidade com a finalidade da norma.

Obs.: limite de idade em concurso público. Súmula 683 STF: O limite de idade para a inscrição em
concurso público só se legitima em face do art. 7º, XXX, da CF, quando possa ser justificado pela
natureza das atribuições do cargo a ser preenchido.
 Para exigir limite de idade - art. 7º, XXX – o limite de idade tem que está previsto na lei da
carreira. Esse raciocínio serve para tudo, altura, peso, atividade jurídica. Para o requisito ir para
o edital tem que está previsto na lei da carreira e ser compatível com as atribuições do cargo. O
limite de idade é hoje possível e é acolhido pela Constituição, desde que obedecidos os
requisitos.
 E se a previsão está em regulamentos, regimentos e não em lei? O STF discutiu tal questão em
relação às forças armadas, pois o limite de idade estava previsto em regulamento (RE 600885).
O STF decidiu que não foi recepcionada pela CF/88 a expressão “nos regulamentos das Forças
Armadas” do art. 10 da Lei 6880/80, que remetia a definição dos requisitos aos regulamentos.
O princípio da segurança jurídica impõe, no entanto, a modulação dos efeitos da não recepção,
para assegurar a constitucionalidade dos concursos realizados até 31 de dezembro de 2012. A
primeira decisão era ate 30.11.2012, mas houve embargos e o prazo foi aumentado. Dessa
forma, o STF reafirma a exigência de que os requisitos estejam previstos em lei em sentido
estrito.
#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA: O limite de idade, quando regularmente fixado em lei e no edital de
determinado concurso público, há de ser comprovado no momento da inscrição no certame. STF. 1ª
Turma. ARE 840.592/CE, Min. Roberto Barroso, julgado em 23/6/2015 (Info 791).

g) Razoabilidade/proporcionalidade

A razoabilidade é a coerência, lógica, congruência, equilíbrio, tendo sempre por base o padrão do
homem médio. Ela proíbe os excessos, as condutas insensatas. O administrador tem que agir com bom
senso. Para os administrativistas, o princípio da proporcionalidade está embutido no princípio da
razoabilidade.
A palavra chave da proporcionalidade é o equilíbrio: entre os atos e as medidas, entre os
benefícios e prejuízos causados. Eles estão implícitos na CF e expressos na norma infraconstitucional,
ex. art. 2º da lei 9784/99 A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios da
legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa,
contraditório, segurança jurídica, interesse público e eficiência.
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Eles são, ainda, limites à discricionariedade do legislador. Mesmo quando for discricionário o ato,
quando não obedecer a esses dois valores, o judiciário estará autorizado a interferir, pois são princípios
constitucionais. O poder judiciário faz aqui o controle de legalidade em sentido amplo, isto é, o
controle do ato em relação a leis infraconstitucionais e à própria CF. Por isso a doutrina trata desses
princípios como limitadores da liberdade e discricionariedade do administrador.

h) Contraditório/ampla defesa

Previstos no art. 5º, LV: aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados
em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes.
Os processos administrativos e judiciais estão sujeitos ao contraditório e à ampla defesa. Na via
judicial já estão sedimentados. Na via administrativa só aparece com a CF/88. A maioria das nulidades
em processo administrativo ocorre por falta de contraditório e ampla defesa, pois ainda se vive um
amadurecimento dessa consolidação.

- Contraditório é ciência, conhecimento da existência do processo. Tem duas bases:


 Base lógica: é a bilateralidade da relação processual
 Base política: a ideia de que ninguém pode ser processado e condenado sem ser ouvido, sem
ser chamado para participar.

- A ampla defesa é a oportunidade da parte se defender. Quais são os elementos que devem ser
cumpridos para que a ampla defesa seja efetiva?
 A defesa tem que ser prévia, isto é, tem que anteceder o convencimento do julgador +
conhecimento do procedimento + conhecimento das possíveis sanções.
 Conhecer as informações do processo: provas, acusações, etc.
 Direito à produção de prova e sua consequente avaliação, para que ela interfira no julgamento.
Tem que ser citada, debatida.
 Defesa técnica – advogado? Durante muitos anos, paulatinamente, o STJ construiu uma
jurisprudência no sentido de que a presença do advogado contribui para a regularidade do
procedimento. Com isso, o STJ publicou a súmula 343, afirmando que o advogado deveria estar
presente em todas as fases do PAD (processo administrativo disciplinar). Gerou uma grande
confusão, pois se o advogado não estivesse presente o processo seria anulado. Muitos
servidores demitidos teriam direito à reintegração com todas as vantagens do período em que
estava afastado. O STF então para resolver a polêmica econômica, editando a súmula
15
vinculante nº 5, que a falta de defesa técnica não viola a CF, revogando assim a súmula 343 do
STJ.

*##DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA #STF: A Súmula Vinculante 5 continua válida. O STF rejeitou


proposta da OAB que pretendia o cancelamento do verbete. Após a edição da SV 5, não houve
mudança na legislação, na jurisprudência ou na percepção da sociedade a justificar a revisão ou
o cancelamento do enunciado. A súmula vinculante deve ter certo grau de estabilidade,
somente devendo ser cancelada ou revista em caso de superveniência de fatos suficientemente
relevantes. Assim, a falta de defesa técnica por advogado no processo administrativo disciplinar
não ofende a CF. STF. Plenário. PSV 58/DF, julgado em 30/11/2016 (Info 849).

 Direito de recurso. Para isso é necessário que haja uma decisão fundamentada. Súmula
Vinculante 21 trata da inconstitucionalidade no que tange a depósito prévio ou arrolamento e
bens como condicionante ao recurso administrativo. O recurso não poderia ficar vinculado à
capacidade financeira da parte. A SV 21 foi elaborada no âmbito da discussão do processo
tributário, mas foi ampliada para alcançar qualquer processo.

Obs.: Súmula Vinculante nº3. Nos processos perante o tribunal de contas da união asseguram-se o
contraditório e a ampla defesa quando da decisão puder resultar anulação ou revogação de ato
administrativo que beneficie o interessado, excetuada a apreciação da legalidade do ato de concessão
inicial de aposentadoria, reforma e pensão.
Ninguém pode ser atingido por uma decisão/ato sem ter participado. Se a empresa x vai ser
atingida, tem que ser chamada a participar. Nos casos de aposentadoria, reforma e pensão não haverá
contraditório e ampla defesa no TCU. Apenas no TCU, pois vai existir fora do TCU. Ato inicial de
concessão de aposentadoria, reforma e pensão é ato administrativo complexo, isto é, para se tornar
perfeito e acabado depende de duas manifestações de vontade, que se realizam em órgãos diferentes.
Na administração e no Tribunal de Contas. O aperfeiçoamento do ato se dá no TC.
Nesse ato complexo, o contraditório e ampla defesa ocorrem na Adm. Na primeira parte da
súmula o TC vai retirar algo que o sujeito já tem, o contrato celebrado. Na segunda, o sujeito ainda não
tem aposentadoria. O STF fez um temperamento (“temperando a vinculante nº3”), pois o servidor ia
até a Adm. e requeria a aposentadoria. O servidor ficava em casa provisoriamente até decisão do TCU.
Depois de 10 anos o TCU resolvia que ele não tinha direito. O STF então entendeu que se o TC demorar
mais de cinco anos para confirmar o ato de aposentadoria ele terá que realizar o contraditório e ampla
defesa.
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#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA - INTRANSCENDÊNCIA SUBJETIVA DAS SANÇÕES


É necessária a observância da garantia do devido processo legal, em especial, do contraditório e da
ampla defesa, relativamente à inscrição de entes públicos em cadastros federais de inadimplência.
Assim, a União, antes de incluir Estados-membros ou Municípios nos cadastros federais de
inadimplência (exs: CAUC, SIAF) deverá assegurar o devido processo legal, o contraditório e a ampla
defesa. STF. 1ª Turma. ACO 732/AP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 10/5/2016 (Info 825). STF.
Plenário. ACO 1995/BA, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 26/3/2015 (Info 779). 2

i) Continuidade

O serviço público em que ser prestado de forma ininterrupta.


- Art. 6, § 3, da Lei 8987/95 - Não se caracteriza como descontinuidade do serviço a sua interrupção em
situação de emergência ou após prévio aviso, quando: I - motivada por razões de ordem técnica ou de
segurança das instalações; II - por inadimplemento do usuário, considerado o interesse da coletividade.
Dessa forma, pode haver a interrupção do serviço a) sem aviso - em casos de emergência; b)
com aviso prévio – razões de ordem técnica ou inadimplemento do usuário.
É possível interromper por inadimplemento mesmo em caso de serviços essenciais? Hoje o
entendimento que prevalece é pela possibilidade. Em nome da supremacia no interesse público
(porque se a empresa quebrar prejudica a todos), da isonomia (tratar de forma desigual quem paga e
quem não paga), da continuidade (para o pagador), deve-se interromper o serviço. Também é possível,
em nome de todos esses fundamentos, interromper o serviço quando o inadimplente é o Estado.
 Obs.: a energia elétrica dos hospitais e dos logradouros públicos não pode ser cortada, em
razão de interesses maiores de saúde e segurança.
 Obs.: da mesma forma o usuário que padece de doença e necessita da energia em sua casa
para o seu tratamento. Ex.: dependente de aparelhos médicos.

#OLHAOGANCHO - CORTE EM SERVIÇOS PÚBLICOS - JURISPRUDÊNCIA EM TESE STJ


É legítimo o corte no fornecimento de serviços públicos essenciais quando inadimplente o
usuário, desde que precedido de notificação.
É legítimo o corte no fornecimento de serviços públicos essenciais por razões de ordem técnica
ou de segurança das instalações, desde que precedido de notificação.
É ilegítimo o corte no fornecimento de energia elétrica quando puder afetar o direito à saúde e à

2 Atenção Concursos Federais: ler na íntegra – Inf. 825 pág 3 -


https://dizerodireitodotnet.files.wordpress.com/2016/05/info-825-stf.pdf
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integridade física do usuário.
É legítimo o corte no fornecimento de serviços públicos essenciais quando inadimplente pessoa
jurídica de direito público, desde que precedido de notificação e a interrupção não atinja as
unidades prestadoras de serviços indispensáveis à população.
É ilegítimo o corte no fornecimento de serviços públicos essenciais quando inadimplente unidade
de saúde, uma vez que prevalecem os interesses de proteção à vida e à saúde.
É ilegítimo o corte no fornecimento de serviços públicos essenciais quando a inadimplência do
usuário decorrer de débitos pretéritos, uma vez que a interrupção pressupõe o inadimplemento
de conta regular, relativa ao mês do consumo.
É ilegítimo o corte no fornecimento de serviços públicos essenciais por débitos de usuário
anterior, em razão da natureza pessoal da dívida.
É ilegítimo o corte no fornecimento de energia elétrica em razão de débito irrisório, por
configurar abuso de direito e ofensa aos princípios da proporcionalidade e razoabilidade, sendo
cabível a indenização ao consumidor por danos morais.
É ilegítimo o corte no fornecimento de serviços públicos essenciais quando o débito decorrer de
irregularidade no hidrômetro ou no medidor de energia elétrica, apurada unilateralmente pela
concessionária.
O corte no fornecimento de energia elétrica somente pode recair sobre o imóvel que originou o
débito, e não sobre outra unidade de consumo do usuário inadimplente.

#IMPORTANTE #GREVE: Aponta a CF: art. 37, VII - o direito de greve será exercido nos termos e nos
limites definidos em lei específica. Até 98 a exigência da CF era de uma lei complementar. Com a EC
19/98 isso mudou. Lei específica é aquela que trata de apenas um assunto específico. Obs.: Enquanto a
norma não é editada, pode haver o exercício de greve pelos servidores? José Afonso da Silva – norma
de eficácia plena, contida, limitada, de acordo com a aplicabilidade. O artigo supracitado é de eficácia
limitada, pois não pode haver o exercício do direito constitucional, enquanto não houver lei que o
regulamente. Por muitos anos se considerou a greve do servidor como ilegal, onde se exigia a
compensação de horas. Havia inclusive casos de demissão, o que era absurdo, pois demissão é sanção
e requer PAD, no reconhecimento de falta grave, o que não é o caso do exercício de greve. Em sede de
mandado de injunção, o STF certificou o Congresso acerca da omissão constitucional, realizando
apenas a declaração da omissão. MI 670/708/712 – STF resolveu que o enquanto a lei de greve dos
servidores não fosse editada, seria aplicável aos casos, no que couber, a Lei 7789/89, passando os
mandados de injunção a terem efeitos concretos. Em regra, o MI reconhecia a omissão e tinha efeitos
inter partes. Esses novos MI´s, no entanto, passam a ter efeitos concretos e erga omnes.
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*#OUSESABER: Enfim, depois de muita discussão, em 27/10/16, o STF proferiu tese de repercussão
geral sobre o desconto dos dias de greve no serviço público! O Plenário do Supremo Tribunal Federal
concluiu o julgamento do Recurso Extraordinário 693456, com repercussão geral reconhecida, que
discute a constitucionalidade do desconto dos dias parados em razão de greve de servidor. Por 6 votos
a 4, o Plenário decidiu que a Administração Pública deve fazer o corte do ponto dos grevistas, mas
admitiu a possibilidade de compensação dos dias parados mediante acordo. Ao final do julgamento foi
aprovada a seguinte tese de repercussão geral: "A Administração Pública deve proceder ao desconto
dos dias de paralisação decorrentes do exercício do direito de greve pelos servidores públicos, em
virtude da suspensão do vínculo funcional que dela decorre, permitida a compensação em caso de
acordo. O desconto será, contudo, incabível se ficar demonstrado que a greve foi provocada por
conduta ilícita do Poder Público". Então, nem sempre a Administração poderá fazer o desconto dos
servidores, já que no caso do movimento grevista ter sido motivado por conduta ilícita do próprio
Poder Público, o desconto não poderá ser feito.

j) Autotutela

#SELIGANASÚMULA: Súmula 346 STF A administração pública pode declarar a nulidade dos seus
próprios atos - e 478 STF - A administração pode anular seus próprios atos, quando eivados de vícios
que os tornam ilegais, porque deles não se originam direitos; ou revogá-los, por motivo de
conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada, em todos os casos, a
apreciação judicial.

A Administração pode rever os seus próprios atos:


 Ilegal: anulação
 Inconveniente: revogação
Maria Sylvia diz que o princípio da autotutela também traz ao administrador o dever de cuidado
com o seu patrimônio. Tutelar é cuidar, zelar.

#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA: A Administração Pública pode anular seus próprios atos quando estes
forem ilegais. No entanto, se a invalidação do ato administrativo repercute no campo de interesses
individuais, faz-se necessária a instauração de procedimento administrativo que assegure o devido
processo legal e a ampla defesa. Assim, a prerrogativa de a Administração Pública controlar seus
próprios atos não dispensa a observância do contraditório e ampla defesa prévios em âmbito
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administrativo. STF. 2ª Turma. RMS 31661/DF, rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 10/12/2013 (Info
732). STF. Plenário. MS 25399/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 15/10/2014 (Info 763).

h) Especialidade
Quando as pessoas da administração direta forem criar as pessoas da administração indireta,
devem fazer através de lei, que irá tratar da sua finalidade específica, que irá vincular as atividades da
pessoa criada. Não pode exorbitar aquilo que foi previsto na lei de sua criação. Essa finalidade inclusive
só pode ser alterada, igualmente, através de lei. Obs.: essa ideia também deve ser aplicada aos órgãos
públicos.

I) Princípio da intranscendência subjetiva das sanções

#OUSESABER: O Princípio da Intranscendência Subjetiva das Sanções proíbe a aplicação de sanções


às administrações atuais por atos de gestão praticados por administrações anteriores, ou seja, ele
impede que a administração atual seja punida com a restrição de recebimento de repasses de outras
esferas, por exemplo. O STF tem posição majoritária no sentido da aceitação deste princípio (STF 1ª
Turma. AC 2614/PE, AC 781/PI e AC 2946/PI, Rel. Min. Luiz Fux – 23/06/15). Entretanto,
recentemente, em 10/05/16, quando do julgamento da ACO 732/AP, o relator, Min. Marco Aurélio,
não reconheceu a aplicação deste princípio sob o fundamento que vigora, no âmbito da
Administração Pública, o princípio da impessoalidade, donde as relações jurídicas são estabelecidas
entre entes federados (União-Estado/Estado-Município, p.ex.) e não entre pessoas físicas, no caso,
os administradores de épocas (Estado-Prefeito “X”, p. ex.). Esta posição é minoritária, devendo ser
ventila em questão discursiva ou prova oral, mas sempre sendo apontada a posição majoritária.

#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA: Segundo a posição que prevalece no STF, se a irregularidade no


convênio foi praticada pelo gestor anterior e a gestão atual, depois que assumiu, tomou todas as
medidas para ressarcir o erário e corrigir as falhas (exs: apresentou todos os documentos ao órgão
fiscalizador, ajuizou ações de ressarcimento contra o antigo gestor etc.), neste caso, o ente (Estado ou
Município) não poderá ser incluído nos cadastros de inadimplentes da União. Assim, segundo esta
acepção, o princípio da intranscendência subjetiva das sanções proíbe a aplicação de sanções às
administrações atuais por atos de gestão praticados por administrações anteriores. Segundo o Min.
Luiz Fux, “não se pode inviabilizar a administração de quem foi eleito democraticamente e não foi
responsável diretamente pelas dificuldades financeiras que acarretaram a inscrição combatida”. Penso
que seja a posição que prevalece no STF. A própria AGU admite esta tese: Súmula 46-AGU: Será
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liberada da restrição decorrente da inscrição do município no SIAFI ou CADIN a prefeitura administrada
pelo prefeito que sucedeu o administrador faltoso, quando tomadas todas as providências objetivando
o ressarcimento ao erário. Vale ressaltar, no entanto, que o Min. Marco Aurélio recentemente
manifestou-se contrariamente à tese afirmando que: A inscrição do nome do Estado-Membro em
cadastro federal de inadimplentes em face de ações e/ou omissões de gestões anteriores não configura
ofensa ao princípio da intranscendência. Vigora, no âmbito da Administração Pública, o princípio da
impessoalidade, previsto no artigo 37 da CF/88. A relação jurídica envolve a União e o ente federal, e
não a União e certo Governador ou outro agente. O governo se alterna periodicamente nos termos da
soberania popular, mas o Estado é permanente. A mudança de comando político não exonera o Estado
das obrigações assumidas. No caso concreto (ACO 732/AP), o STF julgou o pedido de forma favorável
ao Estado porque a União não havia respeitado o devido processo legal. Dessa forma, esta
argumentação do Min. Marco Aurélio não foi adotada pela Turma como razão de decidir. Por isso,
penso que a posição do referido Ministro é minoritária e, em concursos públicos, acredito que ainda se
deve adotar o entendimento no sentido de que é possível aplicar o princípio da intranscendência para
esta situação. STF. 1ª Turma. ACO 732/AP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 10/5/2016 (Info 825).
STF. 1ª Turma. AC 2614/PE, AC 781/PI e AC 2946/PI, Rel. Min. Luiz Fux, julgados em 23/6/2015 (Info
791)3

J) Princípio da segurança jurídica4

Fundamenta-se na previsibilidade dos atos administrativos e estabilização das relações jurídicas.


Limita a prática de atos pela Administração, tais como: vedação à aplicação retroativa de nova
interpretação e sujeição do poder de autotutela a prazo razoável.
O princípio da segurança jurídica pode ser estudado sob dois primas:
1) OBJETIVO - refere-se à irretroatividade das normas e à proteção dos atos perfeitamente
realizados, em relação a modificações legislativas posteriores.
2) SUBJETIVO - trata justamente da preservação das expectativas legítimas da sociedade com a
produção de harmonia das relações jurídicas (princípio da proteção da confiança).

*Segundo a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, o princípio da proteção da confiança


dos administrados constitui a face subjetiva do princípio da segurança jurídica. Essa face subjetiva

3 Atenção Concursos Federais: ler na íntegra – Inf. 825 pág 5 -


https://dizerodireitodotnet.files.wordpress.com/2016/05/info-825-stf.pdf
4 CAIU NA DPEMT/2016: por força deste princípio, as orientações firmadas pela Administração Pública não podem, sem
prévia publicidade, ser modificadas em casos concretos para agravar a situação dos administrados ou negar-lhes direitos.
21
relaciona-se com o caráter psicológico daquele que acreditou estar atuando conforme o direito. Assim,
a caracterização da confiança legítima do administrado para com a administração depende
necessariamente da boa-fé do administrado, que acreditou nas expectativas geradas pela atuação
estatal. Logo, não se admite a invocação do princípio da proteção da confiança quando o administrado
atua de má-fé perante a administração. Tampouco se admite a invocação do princípio em comento nos
casos em que o particular sabe que está albergado por medida judicial precária, como nos casos de
posse precária em cargo público via decisão liminar.
Ainda nesse cenário de confiança e expectativa entre administração e administrado, os tribunais
superiores vem admitindo a aplicação do venire contra factum proprium (proibição do comportamento
contraditório) no âmbito do direito administrativo. Ora, se existe todo um aparato principiologico
regulando essa relação entre particular e Estado, não haveria motivo para se negar a aplicação deste
consectário do princípio da boa-fé e do respeito aos deveres anexos de lealdade, cooperação e
informação da Administração Pública perante os seus administrados, atuando de modo a não
surpreendê-los.
ATENÇÃO!! A jurisprudência dos Tribunais Superiores não admite a aplicação deste princípio no
caso de situações flagrantemente inconstitucionais.

*#OUSESABER: O que significa princípio da reserva da Administração? A “reserva de administração” é


um instituto do direito constitucional e administrativo, que envolve temas ligados à reserva de lei, à
organização da Administração, à separação de poderes, ao princípio da legalidade, às funções típicas e
atípicas dos poderes, ao poder regulamentar, etc. Canotilho conceitua “reserva de administração”
como “um núcleo funcional de administração ‘resistente’ à lei, ou seja, um domínio reservado à
administração contra as ingerências do parlamento”. A “reserva de administração” possui duas
espécies: a reserva de administração em sentido estrito e a reserva de regulamento.

Reserva de administração em sentido estrito está associada à ideia de separação de poderes, baseia-
se na proibição de ingerência de um Poder nas funções típicas de outro. Objetivamente, a reserva em
sentido estrito se revela na proibição voltada ao Legislativo e ao Judiciário para que esses Poderes não
adentrem no campo da função administrativa, especificamente no mérito administrativo.

Já a reserva de regulamento verifica-se quando o ordenamento jurídico, especialmente a Constituição,


tira determinada matéria do âmbito do Poder Legislativo, atribuindo exclusivamente ao Poder
Executivo a competência para normatizá-la, que a exerce por meio dos regulamentos autônomos.
Neste caso, há uma vedação à edição de leis formais nesses campos, sob pena de inconstitucionalidade
formal. No Brasil é admitido a edição de regulamentos de execução independentes. Entretanto, devem
22
ser atendidos alguns requisitos como: não incidir em um campo de reserva legal; buscar atender aos
objetivos do Estado, ao interesse público ou tutelar direitos; ser editado de acordo com os princípios de
direito administrativo, etc.

O STF já reconheceu a reserva de administração em várias hipóteses, como no RE 427.574-ED, Rel. Min.
Celso de Mello, julgamento em 13-12-2011, Segunda Turma; ADI 3.343, Rel. Min. Luiz Fux, julgamento
em 1-9-2011.

*Tal reserva pode ser dividida em 2 categorias: a) GERAL, que fundamenta-se no princípio da
separação dos poderes e significa que a atuação de cada órgão estatal não pode invadir ou cercear o
núcleo essencial da competência dos outros órgãos; b) ESPECÍFICA, que surge quando a CF destaca
determinadas matérias, submetendo-as à competência exclusiva do Executivo.

No Brasil, o STF já reconheceu a existência de um verdadeiro PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA


RESERVA DE ADMINISTRAÇÃO, com fulcro no princípio da Separação dos Poderes, cujo conteúdo
impediria a ingerência normativa do Legislativo em matérias sujeitas à exclusiva competência
administrativa do Executivo. Ex: É inconstitucional declaração pelo Legislativo da nulidade de concurso
público realizado pelo Executivo por suposta violação às normas legais, pois uma declaração dessa
natureza revelaria o exercício de autotutela que só poderia ser exercida com exclusividade por quem
realizou o certame. (ADInMC 2.364/AL). Fonte: Rafael Rezende.

DISPOSITIVOS PARA CICLOS DE LEGISLAÇÃO

Não se aplica

BIBLIOGRAFIA UTILIZADA

CARVALHO, Matheus. Manual de Direito Administrativo. Salvador: Juspovidm, 2015.

FILHO, José dos Santos Carvalho. Manual de Direito Administrativo. São Paulo: Atlas, 2015.

MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. São Paulo: Malheiros, 2014.

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