Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Etnocenologia1 PDF
Etnocenologia1 PDF
textos reunidos
ARMINDO BIÃO
Projeto gráfico
Editoração eletrônica
Antonio Raimundo Martins Cardoso
Capas e foto
João Paulo Perez Cappello
Revisão
Heloisa Prata e Prazeres
Normalização bibliográfica
Flávia Catarino Conceição Ferreira
FICHA CATALOGRÁFICA
CDD 792.0222
Da Etnocenologia
Um léxico para a etnocenologia: proposta preliminar (2007) ........................ 33
Um trajeto: muitos projetos (2007) .................................................................. 45
Ah que culpa enorme, imensa, grande (2005) ................................................. 71
As Fronteiras e os Territórios das Linguagens Artísticas (2004) ................... 77
Aspectos epistemológicos e metodológicos da etnocenologia: por uma
cenologia geral (2000) ........................................................................................... 89
Etnocenologia: uma introdução (1998) ............................................................ 95
Um mesmo estado de graça: o teatro e o Candomblé da Bahia (1998) ....... 105
Questions posées à la théorie: une approche bahianaise de (1996) .............. 117
Estética Performática e Cotidiano (1995) .......................................................... 123
Etnocenologia e as artes contemporâneas do corpo (1995) .......................... 141
Da teatralidade
A metáfora teatral e a arte de viver em sociedade (1991) ................................ 153
Teatralidade e espetacularidade (1990) ............................................................... 161
Le jouir du jouer (1990) ....................................................................................... 169
L’interface théâtrale (1990) ................................................................................... 175
Théâtralité et spectacularité: les pratiques homosexuelles masculines
dans le Candomblé (1988) .................................................................................. 187
Da cena baiana
Uma Encruzilhada Chamada Bahia: o que está em jogo, qual é o
problema e algumas práticas relativas ao patrimônio cultural imaterial
na Bahia, Brasil (2004) .......................................................................................... 197
Xisto Bahia (2003) ................................................................................................ 209
O papel do teatro baiano contemporâneo no drama e na comédia da
contínua reconstrução da baianidade (2001) .................................................... 231
Matrizes estéticas: o espetáculo da baianidade (2000) ..................................... 251
O Teatro na Universidade (1999) ....................................................................... 273
Uma vida sombria ao sol de Salvador (1998) .................................................. 277
O obsceno em cena, ou o tchan na boquinha da garrafa (1998) ................... 279
Teatro e negritude na Bahia (1995) .................................................................... 287
Euforia e Ufanismo: Quantidade e Qualidade num mercado em
crescimento (1993) ................................................................................................ 293
Aspectos do comportamento corporal em performances de poesia oral
(1989) ...................................................................................................................... 301
Variantes do romanceiro tradicional na Bahia (1988) ...................................... 311
Miscelânea do mesmo
Homenagem a Jean Duvignaud (2008) ............................................................ 325
Prefácio para livro sobre folias do divino (2008) ............................................. 331
Apresentação de livro sobre a dança de Iemanjá (2008) ................................. 335
Prefácio de livro sobre o carnaval de Natal, no Rio de Grande do
Norte (2007) .......................................................................................................... 339
Apresentação do Relatório da Fundação Cultural do Estado da Bahia
2003/ 2006 (2006) ................................................................................................ 343
Teatro Castro Alves: história e memória (2005) .............................................. 355
Prefácio de livro sobre o projeto Bahia Singular e Plural (2005) ...................... 357
Pátria é nossa língua (2004) ................................................................................. 361
Etnocenologia na serra (2003) ............................................................................ 363
Conflito é exacerbação (2003) ............................................................................. 371
O estético dá a ligação comunitária (2001) ........................................................ 373
Homenagem ao talento (2002) .......................................................................... 377
Multiculturalismo: multiculturalidade (2000) .................................................. 381
Orelha de livro sobre a imprensa alternativa na Bahia nos anos 1970
(1996) ...................................................................................................................... 383
Uma viagem pela teoria em Paris (1988) ........................................................... 385
Armindo Bião
11
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
12
Armindo Bião
13
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
14
Armindo Bião
Razões metodológicas
15
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
16
Armindo Bião
17
Armindo Bião
Prefácio:
A Profundeza das Aparências
19
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
20
Armindo Bião
21
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
22
Armindo Bião
Michel Maffesoli
Professor da Sorbonne
Membro do Instituto Universitário da França
23
Armindo Bião
Préface:
La profondeur des apparences
25
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
26
Armindo Bião
27
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
28
Armindo Bião
Michel Maffesoli
Professeur à la Sorbonne
Membre de l’Institut Universitaire de France
29
DA ETNOCENOLOGIA
Armindo Bião
33
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
No âmbito epistemológico
Dos objetos
34
Armindo Bião
35
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
1
Propus essas categorias em minha tese de doutorado: BIÃO, Armindo. Théâtralité et
spectacularité: une aventure tribale contemporaine à Bahia. 1990. Tese (Doutorado
em Artes Cênicas) - Université René Descartes. Paris: Paris 5, 1990. Orientador:
Michel Maffesoli, das quais também já tratei em português (1991, p. 104-110; 2000,
p. 364-367).
2
Ver, entre outras contribuições publicadas nessa obra, a de PIMPANEAU, Jacques.
“Les liens entre les cultes médiumniques et le théâtre, entre les chamans et les acteurs”.
In: _____ . Actes des Rencontres Internationales sur la fête et la
communication. Serre: Nice-Animation, 1986.
36
Armindo Bião
37
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
Dos sujeitos
38
Armindo Bião
No âmbito metodológico
Dos trajetos
Sujeito – O pesquisador.
39
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
Dos projetos
Conclusão
3
Eu próprio, ainda em 1995/ 1996, usei e justifiquei essa palavra (1996, p. 12-20), que
se encontra na denominação de uma outra perspectiva aparentada à etnocenologia,
performance studies, (SCHECHNER, 2002), que com ela não se identifica plenamente,
mas que com ela pode eventualmente se confundir (BIÃO, 2007, p. 24), o que temos
a pretensão de vir a evitar com a proposição deste léxico.
40
Armindo Bião
Referências
41
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
42
Armindo Bião
43
Armindo Bião
Um trajeto:
muitos projetos*
*
Publicado In: BIÃO, Armindo (Org.). Artes do corpo e do espetáculo: questões de
etnocenologia. Salvador: P & A, 2007. p. 21-42.
1
A Maison des Cultures du Monde e a Universidade de Paris 8 Saint-Denis realizaram,
na UNESCO, em Paris, nos dias 3 e 4 de maio de 1995, o Colloque de Fondation
du Centre International d’Ethnoscénologie In: INTERNATIONALE DE
L’IMAGINAIRE - NOUVELLE SÉRIE, 5, MCM/ Babel, 1995). A esse respeito,
ver, em português: BIÃO, A. “Estética Performática e Cotidiano”. In: ______ .
Performance, Performáticos e Cotidiano. Brasília: UNB, 1996. p. 12-20 In:
ENCONTRO NACIONAL DE PERFORMÁTICOS, PERFORMANCE E
COTIDIANO. Anais... Grupo Transdisciplinar de Estudos sobre a Performance –
Transe, [Brasília, 1995], dos quais também constam excertos do Manifesto da
Etnocenologia (em francês Inn: Théâtre Public, n. 123, p. 46-48, 1995.) e BIÃO,
A. ; GREINER, C., (Orgs.). Etnocenologia: Textos Selecionados. São Paulo:
Annablume, 1998.
45
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
2
Ver, por exemplo: BANES, Sally. Greenwhich Village 1963: avant-garde,
performance e o corpo efervescente. Tradução de M. Gama. São Paulo: Rocco, 1999.
3
Ver, por exemplo, de DEBORD, Guy. La société du spectacle (Buchet-Castel,
1971) e Commentaires sur la société du spectacle (LEBOVICI, 1988).
46
Armindo Bião
4
Ver, por exemplo, de GOFFMAN, Erving. The Presentation of Self in Everyday
Life (Doubleday Anchor Books, 1959), de MAFFESOLI, Michel. La conquête du
present (PUF, 1979) e, de GEERTZ, Clifford. Negara: the Theater State in
Ninteenthcentury Bali. [S.l]: Princeton Univ. Press, 1980).
5
Ver, GARFINKEL, Harold. Studies in Ethnomethodology. [S.l] :Prentice-Hall,
1967).
6
Ver, SCHECHNE, Richardr. Perfor mance Studies, an introduction.
(ROUTLEDGE, 2002).
7
Ver, BARBA, Eugenio; SAVARESE, Nicola. Anatomie de l’Acteur ( Un
dictionnaire d’anthropologie théâtrale . Tradução de: E. Deschamps-Pria,
(Bouffonneries-Contrastes, 1985).
8
No sentido de prática artística situada na interface das artes cênicas e visuais, aparentada
ao happening, e não no sentido mais amplo que lhe é atribuído pelos estudos da
performance.
47
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
Quadro 1: Etnocenologia
48
Armindo Bião
Fonte: Autor
49
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
10
Ver, a esse propósito, o próprio manifesto (Nota 1) e, também, BIÃO, A. “Aspectos
Epistemológicos e Metodológicos da Etnocenologia: por uma Cenologia Geral”. In:
CONGRESSO BRASILEIRO DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO EM ARTES
CÊNICAS, 1., 1999. Anais... Salvador: ABRACE, 2000. p. 364-367.
11
Consultar, a esse respeito, para maiores detalhes, a Tabela de Área do Conhecimento
do CNPq, em: <http://www.cnpq.br/areas/tabconhecimento/index.htm>.
50
Armindo Bião
12
No manifesto já multicitado.
51
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
13
Concordando com as considerações críticas de Edison Carneiro, a propósito da opção
de Mário de Andrade, prefiro a designação de folguedo à de danças dramáticas, esta
sendo mais restrita que aquela. Ver, a esse respeito, de Edison Carneiro, sobretudo,
Folguedos tradicionais, 2. ed. (FUNARTE/ INF, 1982), mas também Samba de
umbigada (MEC, 1961).
14
Vale ressaltar que, em português, no âmbito das artes do espetáculo estritamente
profissionais, no qual se encontram artistas que vivem de sua arte, ganhando a vida
com suas atividades nesse mesmo âmbito, o léxico habitualmente utilizado remete a
trabalho, enquanto, no campo das práticas amadorísticas, nas quais seus participantes
(artistas) também podem ser remunerados, mas ganham a vida no exercício de outras
profissões, fora do âmbito das artes do espetáculo, o léxico habitual inclui palavras
como brincar, brincadeira, brinquedo, brincante e brincador. Esta é mais uma razão por
preferirmos a designação de folguedo, para esse subconjunto de objetos substantivos
da etnocenologia. Curiosamente, em outras línguas, o léxico relativo ao lúdico encontra-
se, mesmo no âmbito do exercício profissional, por exemplo, do teatro : em inglês to
play, em francês jouer, em alemão spiellen.
52
Armindo Bião
15
Ver DÜRKHEIM, Émile. Les formes élémentaires de la vie religieuse. [S.l]:
Quadrige; PUF, 1985. p. 542-546.
53
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
16
Ver KHAZNADAR, Chérif. “Contribuição para uma definição do conceito de
etnocenologia”. Tradução de: S. Guedes. In: BIÃO, A ; GREINER, C. (Orgs.).
Etnocenologia: textos selecionados. São Paulo: Annablume, 1999. p. 55-59.
17
Além das pesquisas que coordenei pessoalmente, as demais, ainda que contando com
minha orientação acadêmica, foram realizadas por Adailton Silva dos Santos, Alexandra
Gouvêa Dumas, Antonio Jorge Vítor dos Santos, Eloísa Brantes Bacelar Mendes,
Érico José Souza de Oliveira, Euvaldo Moreira Mattos, Giselle Guilhon Antunes
Camargo, Isa Maria Faria Trigo, Jorge das Graças Veloso, Josias Pires Neto, Larissa
Latif Plácido Saré, Lúcia Fernandes Lobato, Makários Maia Barbosa, Maria de Fátima
Barretto Bastos, Mary Weinstein, Renata Pitombo Cidreira, Sonia Maria Costa Amorim
e Washington Drummond.
54
Armindo Bião
55
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
56
Armindo Bião
18
Trata-se de um projeto eminentemente de ordem histórico-epistemológica, cujo objeto
é a própria etnocenologia.
57
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
58
Armindo Bião
dessa área, mais três, da área de dança, ou 14, para o total de 19, ou
73,7%, o que continua a ser muitíssimo expressivo.
59
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
60
Armindo Bião
61
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
25
Sobre identidade e identificação, ver, de MAFFESOLI, Michel. Le temps des
tribusdéclin de l’individualisme dans les sociétés de masse, Méridiens-
Lincksieck, 1988 e, sobre reflexividade, ver, de GARFINKEL, H., op. cit. (Nota 5), de
Victor Turner, Process, performance and pilgrimage (A study on Comparative
Symbology), Concept, 1979, p. 65 e, de SCHÜTZ, Alfred. Le chercheur et le
quotidien. Tradução de: A. Noschis-Gilliéron Méridiens-Klincksieck, 1987. p. 114 e
seguintes.
26
Propus essas categorias em minha tese de doutorado Théâtralité et spectacularité:
une aventure tribale contemporaine à Bahia, orientada por Michel Maffesoli (Paris 5
Université René Descartes, Sorbonne, 1990); ver, também de minha autoria, “A metáfora
teatral e a arte de viver em sociedade”. In: Cadernos do CRH, n. 15, p. 104-110,1991.
27
Ver BOURGUIGON, Érika. (Ed.). Religion, Alterde States of Consciousness
and Social Change, Ohio State Press, 1973 e, de LAPASSADE, Georges. Les états
modifiés de conscience, PUF, 1987 e, na minha tese, citada na Nota anterior, “Un
état de conscience”, p. 132-142.
28
Ver, LEIRIS, M. La possession et ses aspects théâtraux chez les éthiopiens de
Gindar, Plon, 1958.
29
Ver, entre outras contribuições publicadas nessa obra, a de PIMPANEAU, Jacques.
“Les liens entre lês cultes médiumniques et lê théâtre, entre les chamans et les acteurs”.
In: Actes des Rencontres Internationales sur la fête et la communication,
Serre/ Nice-Animation, 1986.
30
Ver, MAUSS, M. Sociologie et anthropologie, 9. ed., Quadrige-PUF, 1985.
31
Sobre transculturação ver, de ORTIZ, Fernando. “Contrapunteo cubano del tabaco
y del azucar”, In: Taller de Letras, 2003 e, de MANDRESSI, Rafael.
Transculturation et Spectacles Vivants en Uruguay 1870 - 1930 - Une Approche
Ethnoscénologique, tese de doutorado aprovada em Paris 8, Saint Denis, 1999;
sobre matrizes culturais, ver, de BIÃO, Armindo. “Matrizes estéticas: o espetáculo
da baianidade”. In: PEREIRA, A . et al (Orgs.). Temas em Contemporaneidade,
Imaginário e Teatralidade. São Paulo: Annablume, 2000. p. 15-30.
32
Ver, PANOFSKY, E. La perspective comme forme symbolique, Minuit, 1975, p.
158-170; DURAND, G., op. cit., p. 38 et seq. e BERQUE, A., 1986. p. 147-153.
62
Armindo Bião
33
Um caso exemplar é a obra MARTINS, Leda. Afrografias da Memória : o Reinado
do Rosário no Jatobá (Perspectiva/ Mazza, 1997), que, sem se inserir no âmbito da
etnocenologia (da qual não há menção na obra), pode inspirar muitas pesquisas nessa
perspectiva.
63
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
64
Armindo Bião
34
Ver, a esse propósito, de PRADIER, Jean-Marie. “Os estudos teatrais ou o deserto
científico”. Tradução de: A . Pereira. Repertório Teatro & Dança, [S.l.], n. 4, 2000,
p. 38-55.
65
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
Conclusão
Referências
66
Armindo Bião
67
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
68
Armindo Bião
69
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
70
Armindo Bião
Em primeiro lugar, reconheço que sou meu corpo e minha língua, esta,
o português, última da família latina a formar-se, muito marcada pela
oralidade celtibera e lusófona, que no Brasil bebeu jurema, garapa,
jurubeba, mingau, sangue e muito igarapé tupi, além do dendê, que veio
da África e da água-de-coco, que veio da Índia. Servindo para expressar,
exprimir, saborear e saber, a língua, as línguas são cheias de ditos, não-
ditos, subentendidos, mal-entendidos, malditos e benditos, fontes de
conhecimento e de muita confusão. Daí a bela formula italiana traduttore,
traditore.
*
Comunicação para a Mesa Redonda Artes e Mercados. In: ENCONTRO
INTERNACIONAL DE PERFORMANCE, 5., 2005, Belo Horizonte. Anais... (13.
mar. 2005, inédita).
71
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
72
Armindo Bião
73
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
74
Armindo Bião
Ah, que culpa imensa, ah, que culpa grande, ah, que culpa enorme!
75
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
76
Armindo Bião
77
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
78
Armindo Bião
79
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
80
Armindo Bião
No limite das artes cênicas e das artes visuais são apenas três as entradas:
Performance, Happening e Instalação. Em todos esses casos, de artes
nas fronteiras das artes, prevalece, no entanto, a especificidade das artes
cênicas e não a das artes visuais, que subentende, de modo tradicional, a
possibilidade da fruição solitária de um único espectador para a obra de
arte, prevalecendo, na mais ampla maioria dos casos, o poder da pessoa
em cena, onde artista(s) e público encontram-se no mesmo tempo e
espaço, simultâneos, coetâneos e contíguos.
1. pela história de sua cidade natal, a cidade da Bahia, por suas relações
intercontinentais, históricas, contemporâneas e futuras;
81
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
82
Armindo Bião
83
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
84
Armindo Bião
Daí viria a criação barroca da ópera, com sua repetida derrota das
mulheres e ênfase em personagens liminares, parentes próximos dos – e
das – personagens de encruzilhada, arquétipos dos exus da tradição iorubá
e dos bobos das cortes, dos palhaços dos circos, dos xamãs dos rituais,
dos travestis, dos judeus do humor “negro”, de Woody Allen, por
exemplo, dos proibidos de representar – os judeus – que marcariam a
codificação da dança (Thoinot Arbeau), a profissionalização do teatro
na Broadway e o sucesso do cinema norte-americano, por exemplo.
85
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
86
Armindo Bião
Referências
87
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
88
Armindo Bião
*
Publicado In: CONGRESSO BRASILEIRO DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
EM ARTES CÊNICAS, 1., 1999, São Paulo. Anais... Salvador: Memória ABRACE,
2000.
1
“ETHNOSCÉNOLOGIE, manifeste”. In: Théâtre Public 123, Paris, p. 46-48
maio/jun. 1995. Ver também trecho do manifesto publicado em português. In:
PERFORMÁTICOS, Performance e Sociedade. Brasília: UNB, 1996.
89
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
90
Armindo Bião
2
Ver: BIÃO, Armindo; GREINER, Christine (Orgs.). Etnocenologia, textos
selecionados. São Paulo: Annablume, 1998. PRADIER, Jean-Marie. La scène du
et la fabrique du corps: Ethoscénologie du spetacle vivant en Occident ( Ve. Siècle
av. J.-C. – XVIIIe. Siècle). Talence: Presses Universitaires de Bordeaux, 1997.
DUVIGNAUD, Jean; KHAZNADAR, Chérif. (Org.). La scène et terre: questions
d’ethnoscénologie. Paris: Maison des Cultures du Monde, 1996.
3
Sobre esta questão ver SANTOS, Adailton. “O estado pré-paradigmático da
etnocenologia”. In: Cadernos do GIPE-CIT 1. Salvador: UFBA; PPGAC; GIPE-
CIT, 1998.
4
KUHN, Thomas. The structure of scientific revolutions. Chicago: The University
of Chicago Press, 1962.
91
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
resumido por Niels Bohr (contraria sunt complementa) e utilizado como lema
do Odin Teatret de Eugenio Barba5.
5
HBSBAWN, Eric. Era dos extremos: o breve século XX. São Paulo: Cia. das Letras,
1996.
8
Ver a esse propósito os títulos de suas obras aqui citadas.
92
Armindo Bião
6
MAFFESOLI, Michel. O Conhecimento Comum. Tradução: A. R. TRINTA. São
Paulo: Brasiliense, 1988.
7
ORTIZ, Fernando. El contrapunteo cubano del tabaco y el azúcar. Barcelona:
Ariel, 1973. Ver também: MANDRESSI, Rafael. Transculturation et spectacles
vivants en Uruguay. 1870-1930. Tese (Doutorado) – Universidade de Paris 8,
Paris
93
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
94
Armindo Bião
*
Publicado In: GREINER, Christine; BIÃO, Armindo (Orgs.). Etnocenologia: textos
selecionados. São Paulo: Annablume, 1999. p. 15-21.
1
Sobre o conceito de paradigma como as descobertas universalmente reconhecidas
que, por um tempo, fornecem a uma comunidade de pesquisadores problemas-tipo e
soluções, ver: a fundamental obra de referência de KUHN, Thomas. The structure
of scientific revolutions. Chicago: The University of Chicago Press, 1962, com
uma segunda edição ampliada em 1970.
2
Ver sobre a construção científica e universitária da etnologia, a obra introdutória a
esta temática de POIRIER , Jean. Histoire de l’ethnologie. Paris: Coleção Que
sais-je?, 1969 (terceira edição em 1984) sob o número 1338.
3
De acordo com o manifesto divulgado durante o lançamento oficial desta proposição
em 1995, no Colóquio de Fundação do Centro Internacional de Etnocenologia, em
Paris, sob os auspícios da UNESCO, da Maison des Cultures du Monde e da Universidade
de Paris 8, do qual participaram pesquisadores e praticantes de dezenas de países de
todo o mundo.
95
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
4
Ver POIRIER, op. Cit., p. 48.
5
THE NEW Encyclopaedia Britannica. 15. ed. Chicago:Micropaedia, 1990. v. 4, p. 583.
96
Armindo Bião
A questão epistemológica
6
A esse propósito ver: GARFINKEL, Harold. Studies in Ethnomethodology,
Englewood Clifs. New Jersey: Prentice Hall, 1967.
7
Este prefixo, originalmente designando raça, funciona conceitualmente, hoje, como
referência à diversidade cultural da humanidade, à variedade de povos e línguas que
caracteriza a raça humana. É bem verdade que teatrologia, num sentido estrito de estudos
do teatro, não é um termo inédito, e que etnoteatrologia, num sentido próximo ao de
etnocenologia, já aparece na obra do pesquisador baiano Nelson de Araújo (falecido
recentemente, cuja obra é objeto parcial de estudos do mestrando em artes cênicas da
Universidade Federal da Bahia, Adailton Santos) e na comunicação de Chérif Khaznadar,
incluída neste livro. Mas a ideia de uma cenologia geral só aparece no manifesto de
lançamento da etnocenologia. Vale lembrar a ocorrência do termo cenologia para designar
cenografia, a criação e construção de cenários, a organização do espaço cênico para o
espetáculo. Na verdade, a origem grega da palavra cena remete ao corpo do artista cênico
e ao espaço no qual ele atua, mas a cenologia não pode ser reduzida à cenografia nem
poderá excluir uma ou outra dessas duas vertentes semânticas (corpo e espaço cênicos) de
seu corpus de pesquisa. Embora a ideia de corpo, desaparecida do sentido usual atribuído
ao termo cena, seja o que prevalece hoje na proposição da etnocenologia.
97
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
8
8. Estas questões aparecem de modo recorrente em muitas das obras de Michel
Maffesoli. Ver, sobretudo MAFFESOLI, Michel. La connaissance ordinaire: précis
de sociologie compréhensive. Paris: Méridiens-Kliencksieck, 1985, publicado pela
Brasiliense em 1988. Traduzido por: A. R. TRINTA, com o título O Conhecimento
Comum.
98
Armindo Bião
Referencial bibliográfico
9
Ver SCHECHNER, Richard. Performance Theory. Ed. rev., ampl. Routledge, 1988,
edição original de 1977 como Essays on Performance Theory, Drama Book
Specialists. Ver também PRADIER, J.-M. “Ethnoscénologie, manifeste”. In: Théâtre-
Public 123, maio-junho 1995, p. 46-48 e BIÃO, A. Théâtralité et spectacularité:
une aventure tribale contemporaine à Bahia. 1990. Tese (Doutorado em Artes Cênicas)
- Université René Descartes. Paris: Paris 5, 1990. Orientador: Michel Maffesoli.
99
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
100
Armindo Bião
101
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
102
Armindo Bião
103
Armindo Bião
*
Texto escrito originalmente em francês para o periódico do Département Théâtre, da
Université Paris 8 (Théartre, Paris, n. 1, p. 89-101, 1998), traduzido por Isa Trigo
(Mestranda em Artes Cênicas da Universidade Federal da Bahia, UFBA) e Ana Luiza
Friedmann (Bolsista de Aperfeiçoamento CNPq na Escola de Teatro da UFBA), com
revisão final do autor, e publicado in: Urdimento: revista de estudos sobre teatro na
América Latina, Florianópolis, n 2,: p. 3-12, 1998.
105
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
1
Cf. DUVIGNAUD, Jean. Les ombres collectives: sociologie du théâtre. São Paulo:
PUF, 1973. p. 13. (para a primeira citação), e DUVIGNAUD. Fêtes et civilisations.
[S.l]: Scarabée, 1984. p. 195 (para a segunda referência); Também sobre o Candomblé
da Bahia, cf. DUVIGNAUD. L’acteur: sociologie du comédien. [S.l]: Gallimard,
1965. p. 246.
Permito-me aqui uma digressão a propósito dos rituais de de-possessão e o teatro: a
propósito de práticas espetaculares de exorcismo (ou, dito de outro modo, de rituais
de de-possessão), na Inglaterra, no tempo de William Shakespeare, Stephen Greenbalt
analisa as acusações feitas aos católicos pelos protestantes. Estes denunciavam a
fraude e a encenação praticadas, segundo eles, em particular pelos Jesuítas/ exorcistas,
posto que a possessão, e por consequencia a de-possessão, seria “teatral”. Além disso,
ele mostra como as referências ao exorcismo nas peças de Shakespeare (The Comedy of
Errors, Twelft Night, All’s Well That Ends Well, A Mid Summer Night’s Dream, e sobretudo
King Lear) servem de reforço à ideia do amálgama fraude/ teatro/ exorcismo, assim
que à rejeição ao catolicismo. O autor mostra igualmente as influências mútuas (inclusive
o empréstimo de frases inteiras) entre o teatro de Shakespeare e os textos publicados
por autoridades protestantes sobre o tema à época. Mas ele conclui, utilizando o
exemplo da cena da falsa possessão de Edgar em King Lear: “rituais evacuados de sua
significação original são preferíveis à ausência total de rituais” (eu traduzo), In:
GREENBALT, Stephen. Shakespearean Negotiations. [S.l]: University of
California Press, 1988. p. 127 e passim.
2
Cf. SIMON, Michel. “Théâtres Nationaux : le Brésil”. In: DUMUR, Guy (Dir.).
Histoire des Spectacles. [S.l]: La Pléiade, [19-?]. p.1303-1304.
106
Armindo Bião
Umberto Eco (1985, p. 151), num contexto menos teórico que jornalístico,
afirma, a propósito das injustiças sociais no Brasil, que os cultos afro-
brasileiros “são perigosamente próximos dos ritos do carnaval e do
futebol”, como maneiras diferentes de “conter as massas deserdadas nas
suas reservas”.6 Não é demais pontuar que o autor de A guerra do falso
(uma coletânea de artigos de jornal) aproxima os cultos de possessão
afro-brasileiros daquilo que se pode chamar “práticas espetaculares” (o
carnaval, as competições esportivas). Sobre suas intenções neste livro, ele
afirma: “Se estes artigos tentam denunciar alguma coisa aos olhos do
leitor, não se trata de descobrir as coisas sob os discursos, mas muito
mais os discursos sob as coisas... É uma escolha política criticar os mass
3
Cf. BASTIDE, Roger. “Prolégomènes à l’étude des cultes de possession”
(communication au Colloque 1968 sur la possession). In: BASTIDE, R. Le rêve, la
transe et la folie. Paris: Flammarion, 1972. p. 84-85.
4
BASTIDE, op. cit.
5
Cf. BASTIDE, R. Le candomblé de Bahia: rite nagô. Paris: Mouton, 1958. p. 174.
(o autor insiste sobre os aspectos de violência e de “sexualidade” das danças rituais).
Uma nova edição deste livro, que se tornou um clássico, está sendo organizada por
Jean Duvignaud.
6
ECO, Umberto. “Avec qui sont les Orixa?”. In: ______ . La guerre du faux. Paris
: Grasset & Fasquelle, 1985. p.151.
107
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
Victor Turner tem uma abordagem dos cultos afro-brasileiros, bem como
do futebol e do carnaval brasileiros, oposta à de Eco. De fato, Turner é
um dos intelectuais contemporâneos que representam melhor o novo
paradigma que parece querer se constituir, criticando o da modernidade.
A partir da interface teatro/ antropologia, onde inscreve sua noção de
‘drama social’, ele se interessou, já nos últimos anos de sua vida,
particularmente pelo Brasil e pelo Japão. O que se poderia chamar de
“práticas espetaculares” corresponde, em grande parte, ao que ele chama
de “gêneros de performance”.8 A respeito precisamente do Brasil, ele
afirma que esses “gêneros de performance” (cultos, carnaval, futebol)
gozam aí de grande popularidade, impressionando todos os que o visitam.
“Importantes nações industrializadas como o Brasil e o Japão não
desprezaram seus festivais públicos. Elas os elevaram à categoria de suas
realizações seculares – tudo isso sem destruir o encantamento e a
7
ECO, Umberto. “Préface à l’édition française”, op. cit., p.13.
8
Cf. “Social dramas in Brazilian Umbanda: the dialetics of meaning”, “Carnaval in
Rio”, “Dionysian drama in industrializing society” et “Rokujo’s Jealousy: liminality
and the performative genres”. In: TURNER, Victor . Anthropology of
Performance. New York: PAJ, 1986.
108
Armindo Bião
9
TURNER, op. cit., p. 128. (Tradução do autor).
10
TURNER, op. cit., p. 137. (Tradução do autor).
11
BECK, Julian. La vie au théâtre. Paris Gallimard, 1978. p.152 et Seq.
12
A propósito de temas parecidos, ver ROUGET, Gilbert. La musique et la transe.
Paris: Gallimard, 1980 e PIMPANEAU, Jacques. “Les liens entre les cultes
médiumniques et le théâtre, entre les chamans et les acteurs”. In: ______ . Actes des
Rencontres internationales sur la fête et la communication: transe, chamanisme
possession. [S.l] : Serre/ Nice-Animation, 1986.
109
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
13
LAPASSADE, Georges. La transe. “Que sais-je?” Paris: [s.n.], 1990. p. 2508.
14
LAPASSADE, Georges, op.cit, p.98; cf. “EXISTENCE et possession”. In
DUVIGNAUD, J. L’acteur: sociologie du comédien. [S.l]: Gallimard, 1965. p.244.
15
BIÃO, Armindo Jorge de Carvalho. Théâtralité” et “Spectacularité: une aventure
tribale contemporaine à Bahia. Paris, 1990. Tese (Doutorado) – Programa de Pós-
Graduação em Artes Cênicas, Université René Descartes Paris V Sorbonne, Paris,
1990. p. 132-142. (Sob a orientação de Michel Maffesoli).
110
Armindo Bião
16
Cf. BROOK, Peter “Mensonge et adjectif superbe”. In: Le masque: du rite au
théâtre.[S.l]: CNRS, 1985. p.201. (Entrevista).
17
LEACOCK, Ruth; LEACOCK, Seth. Spirits of the Deep. [S.l]: Doubleday, 1972.
Ver: MOTTA, Roberto. O desenvolvimento da noção de “gradação de papéis, do jogo
de papéis cotidianos ao jogo teatral, à hipnose, à histeria e ao êxtase”. [S.l: S.n., 199-
?]. p.214., que igualmente utilizou referências teatrais (“dramatis persona” e “original
drama”) fala, também no contexto de cultos afro-brasileiros, de “excitação dionisíaca”,
a partir de um ponto de vista próximo a Nietzsche. Cf.
18
BIÃO, A., op. cit, p. 127-132.
19
VILLIERS, André. Le Cloître et La Scène: essai sur les conversions d’acteurs,
Nizet. Paris: Nizet, 1961. p. 9 e 181 et seq. Cf. GHEON, Henri. Le comédien et la
grâce. Paris: Plon-Nourrit, 1925. (Peça de teatro sobre a conversa de São Genésio).
20
BIÃO, A. “Le jouir du jouer”. In : SOCIÉTÉS, Paris, n.17, p.21-25, 1990.
111
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
21
Sobre as origens e expansão da Commedia Dell’Arte na Europe, ver DUCHARTRE,
Pierre-Louis. La Commedia dell’arte. Paris: Librairie Théâtrale, 1985; e
MAMCZARZ, Christian Bec et al .. Le théâtre italien en Europe: XVème –
XVIIème siècles. São Paulo: PUF, 1983.
A propósito de personagens ligados à tradição da Commedia Dell’Arte no carnaval
brasileiro, pode-se pensar que eles aparecem a partir da metade do séc. XIX, com a
moda do carnaval veneziano; Cf. QUEIROZ, Maria I. P. de. “Carnaval brasileiro: da
origem europeia ao símbolo nacional”. Ciência e Cultura, [S.l], n.39, v.8, 1987; e
DAMATTA, Roberto. Carnavais, Malandras e Heróis. Rio de Janeiro: Zahar,
1983.
Ver também BROCKETT, Oscar. History of Theatre. Boston: Allyn and Bacon,
1982.
Sobre a “dança dramatica” do Bumba meu Boi, de origem ibérica, onde existe um
personagem chamado Arlequim, cf FOUGERAY, Sylvie. Le bouef le sang et le
jeu, Paris, 1991. Tese (Doutorado) – Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas,
Paris 7 Jussieu, 1991. (Sob a orientação de J. Duvignaud).
112
Armindo Bião
22
Cf. LEIRIS, Michel. La possession et ses aspects théâtraux chez les éthiopiens
de Gondar. Paris: Plon, 1958. p. 9.
23
LEIRIS, op.cit., p. 36.
24
Cf. RUY, Affonso. História do Teatro na Bahia. Salvador: UFBA, 1959.p. 38.
113
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
Evidentemente, não se pode conhecer o que não se conhece a não ser a partir
do que se conhece já. Mas daí a se poder concluir que as “coisas” sociais
“evoluem” todas no mesmo sentido, há uma grande distância problemática.
Por outro lado, a ideia de que as obras de arte são “obras suplementares,
supérfluas e de luxo”, com relação ao “mundo das coisas religiosas”,
tampouco se resolve sem colocar problemas da ordem da axiologia e da
filosofia da história, que ultrapassam o objetivo do presente trabalho.
25
LEIRIS, op.cit., p. 98-99; também a propósito, ver BOURGAUX, Jean. Possessions
et simulacres aux sources de la théâtralité. Paris: Epi, 1978.
26
Cf. DÜRKHEIM, Émile. Les formes élémentaires de la vie religieuse. Paris:
Quadrige; PUF, 1985. p. 542.
27
DÜRKHEIM, op.cit, p. 545-546.
114
Armindo Bião
28
Os jesuítas utilizaram o teatro entre os séculos XVI e XVII, no Brasil, para a catequese
de nativos e a educação de colonos aventureiros, tornando-os atores, público e, até
mesmo, personagens. Este teatro “educativo” misturava o português às diferentes línguas
utilizadas pelos seus participantes para construir os espetáculos. A Escola de Teatro da
Universidade Federal da Bahia, que forma atores, diretores e professores de teatro, foi
fundada em 1956. Hoje em dia, no Brasil, existe aproximadamente uma dezena de
instituições parecidas. Historicamente, as primeiras escolas formais de teatro, ainda não
universitárias (no Rio e São Paulo) datam da primeira metade do século XX.
115
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
29
A este propósito ver os resultados do Colóquio de Fundação do Centro Internacional de
Etnocenologia in: La Scéne et la terre: Questions d’Ethnoscénologie –
Internationale de l’Imaginaire, 5., Maison de Cultures du Monde, 1996. Organizado
por MARIE-PRADIER, Jean; KHAZNADAR, Chérif e DUVIGNAUD, Jean (Paris,
maio de 1995), este centro tornou-se mais uma organização informal do tipo rede (bem
de acordo com nossos tempos). Após ter participado do II Colóquio, no México em
1996, tive a honra de coordenar a organização do III Colóquio Internacional de
Etnocenologia, com o apoio dos meus colegas da Escola de Teatro e das Universidades
Federais da Bahia, Brasília e Pernambuco, e Paris 8 (Jean-Marie Pradier). Este Colóquio
foi realizado em Salvador, Bahia, Brasil (de 24 a 28 de setembro de 1997), com o apoio
institucional da UNESCO e o patrocínio do Governo do Estado da Bahia. Seus resultados
devem aparecer publicados brevemente em português e, parcialmente, em francês.
116
Armindo Bião
Le contexte
Questions
117
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
Est-ce que les habitudes partagées par les gens de Bahia (la ville de Salvador
de Bahia, au Brésil) lorsqu’ils fréquentent la plage presque quotidiennement,
par exemple, y trouvent leur place?
118
Armindo Bião
Lorsque le chercheur est (ou devient) partie prenante de son objet d’étude,
comment juge-t-il le préjugé ethnoscentriste?
Comment traduire (traduttore traditore) dans des langues et donc des façons
de penser et d’être diverses, des phénomènes semblables mais différents?
Pour tenter de répondre à ces questions, il faudra décider de l’ampleur et
de la diversité de l’objet d’étude. Un critère peut être l’appétence du
chercheur qui lui donnera cette «compétence unique» dont parlent les
ethnométhodologistes nord-américains. Grâce au concours des chercheurs
de différentes «ethnies» de la Planète, l’ethoscénologie pourrait construire
son inventaire des pratiques spectaculaires.
1
SCHELER, Max. Nature et formes de la sympathie. Paris : [S.n.], 1971.
2
MAFFESOLI, Michel, Temps des tribus: le déclin de l’individualisme dans la
société de masses. Le Livre de poche, Paris, 1986 (rééd. 1991). 288 pages.
119
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
3
BIÃO, Armindo. Théâtralité et spectacularité: une aventure tribale contemporaine
à Bahia. Paris, 1990. Thèse (Doctorat) - Université René Descartes, Sorbonne, Paris,
1990.
120
Armindo Bião
C’est une toute autre réalité qui se dessine aujourd’hui, si l’on en juge
d’après les travaux des historiens, sociologues, anthropologues,
ethnologues, folkloristes, et d’après les témoignages d’artistes et de curieux
en général.
121
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
Conclusion
4
Selon l’expression de ANDRADE, Mário de.
5
Dont une des cérémonies publiques a été décrite comme un spectacle par SIMON,
Michel dans un article paru dans l’Histoire des spectacles, Encyclopédie de la Pléiade.
Paris: Gallimard, 1965.
122
Armindo Bião
1º
123
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
2º
3º
4º
124
Armindo Bião
5º
125
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
6º
126
Armindo Bião
7º
127
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
8º
9º
10º
11º
128
Armindo Bião
12º
129
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
130
Armindo Bião
131
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
Grotowski, que agora faz algo que ninguém (nem ele) sabe exatamente o
que seja, também valoriza a noção de performance. Vivendo em
Pontedera, viaja muito, publica alguma coisa e leva, eventualmente, três a
cinco pessoas para ficarem alguns dias assistindo às oficinas que faz, inclusive
utilizando rituais afro-americanos. Grotowski tem firmado a performance
e o performer como noções melhores e mais eficientes para dar conta do
“teatro” contemporâneo, das práticas espetaculares contemporâneas.
15º A Etnocenologia
132
Armindo Bião
133
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
Campo nº1
134
Armindo Bião
Campo nº2
135
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
o vínculo do pesquisador com seu objeto, que tipo de simpatia, que tipo
de apetência o trouxe para estudar aquilo, para que fique claro o tipo de
abordagem que fará.
Campo nº 3
136
Armindo Bião
Referências
137
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
______ . Les temps des tribus: Déclin de individualisms dans les societés
de masse. Paris: Méridiens; Klincksieck, 1988.
138
Armindo Bião
139
Armindo Bião
141
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
Então, com uma formação desse tipo, que não admite o ritual de danças
e canto, por exemplo, ou de imagens simbólicas, como a cruz cristã ou
as insígnias dos orixás, (estou falando da forma ortodoxa do espiritismo,
não das formas sincréticas atuais), fui sempre exposto a essa cultura baiana
tão forte em termos de formas teatrais e espetaculares (tal como na
Zona da Mata Pernambucana). Eu vou chamar de formas teatrais e
espetaculares esse conjunto de folguedos, danças dramáticas e de outras
formas artísticas aparentadas da tradição popular.
Fiz teatro desde sempre, desde criança, dentro dos presépios vivos, dos
casamentos na roça, dos desfiles cívicos... esses tipos de manifestações.
De classe média, mestiço com predominância de branco, do Nordeste,
tive oportunidade de frequentar algumas pouquíssimas casas de
candomblé, muitos carurus de Cosme e Damião – festa do mês de
setembro na Bahia. Imagino que alguma coisa semelhante tem em
Pernambuco. Mas, quando fui estudar na universidade, não quis estudar
teatro, porque pensava que o teatro que se fazia então na universidade
não era um teatro suficientemente contemporâneo e bom, como o teatro
que imaginava que já estivesse fazendo na escola secundária.
142
Armindo Bião
143
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
É dessa “ludicidade” básica da vida humana que, a meu ver, surge tudo
o que poderemos chamar de teatro. É dessa consciência, mais ou menos
144
Armindo Bião
145
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
146
Armindo Bião
147
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
anos 60, um tipo de arte que não é bem teatro, nem artes plásticas, nem
dança, nem cotidiano ou convenção artística no cotidiano. É um tipo de
arte que ficou muito popular naquela época, e existe hoje todo um
conjunto de instalações, de performances e formas artísticas que podem
ser caracterizadas, conceitualmente, de modo preciso, como performance.
Uma espécie de curto-circuito nas formas de arte clássicas.
Este neologismo se inspira num uso grego que sugere a dimensão orgânica
da atividade simbólica. Na origem, skené significava uma construção
provisória, uma tenda, um pavilhão, uma choupana, uma barraca. Em
seguida, a palavra ganhou, eventualmente, o sentido de templo e de cena
teatral. A skené era o local coberto, invisível aos olhos do espectador,
onde os atores vestiam suas máscaras. [...] A partir da ideia de espaço
protegido, de abrigo temporário, skené significou as refeições comidas
sob a tenda, um banquete. A metáfora gerada pelo substantivo deu a
palavra masculina skenós: o corpo humano, enquanto abrigo para a alma
que nele reside temporariamente; de alguma maneira, o “tabernáculo da
148
Armindo Bião
149
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
150
DA TEATRALIDADE
Armindo Bião
153
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
154
Armindo Bião
E conclui. “Quando um rito não serve mais a não ser para distrair, não
é mais um rito (DÜRKHEIM, 1985, p. 546).
155
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
Teatro(al), espetáculo(ar)
Vimos, no início deste texto, que a palavra teatro abrange dois conjuntos
de significações: um espacial, outro de referência à atividade artística. O
sentido etimológico primeiro remetendo à ideia de espaço arrumado
para que se possa olhar algo. Encontramos aí nossa primeira fonte de
dificuldades para operar a distinção entre teatro e espetáculo, de origem
latina, que remete também ao ato de olhar (“spectare”). Por outro lado,
após uma primeira definição – “conjunto de coisas ou de fatos que se
oferece ao olhar, capaz de provocar reações”, o Petit Robert (1996,
p2132.) dá duas outras, que fazem referência ao teatro. Há a ideia daquilo
que se apresenta em público, de uma representação teatral, cinematográfica,
coreográfica; e de outra parte a ideia mesma de mise en scène.
156
Armindo Bião
Teatralidade e espetacularidade
157
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
158
Armindo Bião
Referências
159
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
160
Armindo Bião
*
Teatralidade e espetacularidade
161
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
Teatralidade e Espetacularidade
162
Armindo Bião
163
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
164
Armindo Bião
Método
Estudo algo que vivi: o “outro” está em mim. Radicalizo o que os etnólogos
exigem: que o pesquisador seja, o mais possível, um integrante do grupo
social estudado. Assumo a ideia de “competência única” da
etnometodologia, e a noção de “implexidade” (implicação + complexidade)
de Le Grand. A teoria anarquista de Feyerbend, que postula as conquistas
científicas como transgressões aos sistemas culturais dominantes, exige rigor
teórico. A sociologia como arte, de Maffesoli, exige pesquisa poética e
rigor acadêmico. Pretendo satisfazer essas exigências.
Pós-modernidade
165
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
166
Armindo Bião
Bahia
167
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
Referências
168
Armindo Bião
Le jouir du jouer*
L’élément ludique baigne les articulations du corps social. Les jeux des
rôles sociétaux au quotidien et les mises en scène extra-quotidiennes des
rapports sociaux font l’articulation entre les corps humains individuels et
le corps social. On joue et on utilise l’espace comme une scène pour être
en société et pour vivre les socialités de tous les jours.
* Publié à l’origine dans Sociétés : revue des sciences humaines et sociales, Paris, n. 27,
p. 21-25, 1990 .
1
MEAD, George Herbert; KAELIN, E; THIBAULT, G. L’esprit, le soi et la societé.
Trad. Jean Cazeneuve. Paris: PUF, 1963.
2
HUIZINGA, Johan. Homo ludens: essai sur la fonction sociale du jeu. Trad. Cécile
Seresia. Paris: Gallimard, 1951.
169
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
3
MAFFESOLI, Michel. La conquête du présent. PUF: Paris, 1979.
4
MAUSS, Marcel. Une catégorie de l’esprit humain: la notion de personne, celle de
«moi». In: Sociologie et anthropologie. Paris: Quadrige; PUF, 1950. p 332-362.
170
Armindo Bião
5
MEAD, George Herbert. L’esprit, le soi et la societé. Trad. Jean Cazeneuve, E.
Kaelin et G. Thibault. Paris: PUF, 1963.
6
DE KERCKHOVE, Derrick. Synthèse sensorielle et tragédie: l’espace dans les Perses
d’Eschyle. In : Tragique et tragédie dans la tradition occidentale. Montréal :
Détermination inc., 1983. p.69-83.
7
MCLUHAN, H. M. La galaxie Gutemberg. Paris: Mame, 1967.
8
NIETZCHE, Friedrich. La naissance de la tragédie. Trad. Geneviève Bianquis.
Paris: Gallimard, 1949.
171
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
Confusion et distinction
9
DUPONT, Florence. L’acteur-roi ou le théâtre dans la Rome antique. Paris:
Les Belles Letres, 1985.
10
MAFFESOLI, Michel. Le temps des tribus : le déclin de l’individualisme dans la
société de masse. Paris : Méridiens Klincksieck, 1988.
172
Armindo Bião
11
DEBORD, Guy. La société du spectacle. Paris : Gérard Lebovici, 1987 (la l re:
Buchet-Castel, 1967).
12
BAUDRILLARD, Jean. Fin de la modernité ou l’ère de la simulation. In : La modernité
ou l’esprit du temps, catalogue Biennale de Paris – section architecture. Paris :
L’Équerre, 1982. p. 32-33.
13
MAFFESOLI, Michel. La connaissance ordinaire : précis de sociologie
compréhensive. Paris: Méridiens Klincksieck, 1985.
14
GROTOWSKI, Jerzy. Tu es le fils de quelqu’un. Revue littéraire mensuelle, Paris,
n. 726, p. 13-25, 1989.
15
BARBA, Eugenio. La troisième rive du fleuve. Le théâtre ailleurs autrement:
Europe, revue littéraire mensuelle. Trad. Brigitte Kaquet. Paris, p. 26-35, n. 726,
Europe/ Messidor, 1989.
173
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
verbe) qui distingue une chose (la théâtralité) de l’autre (la spectacularité),
qui ne les explique peut-être pas et ne fera que les confondre...
174
Armindo Bião
L’ Interface Théâtrale*1
La première période
* Publié à l’origine dans Cahiers du Brésil contemporain, nº 12, Paris, MSH/ CRBC
(EHESS) / IHEAL (Paris III), 1990, p. 113-125 et ensuite dans Estudos
Lingüísticos e Literários, nº 16, Salvador, ML/ UFBA, 1994, p.19-25.
1
Pour une approche socio-anthropologique des données ici présentées, voir Armindo
BIÃO, Jorge Armindo. « Théâtralité » et « spectacularité » : une aventure tribale
contemporaine à Bahia, thèse de doctorat sous la direction de Michel Maffesoli,
Université René Descartes, Paris V, Sorbonne, 1990, p.279-313.
175
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
2
La Fête Brésilienne a été notamment étudiée par Ferdinand Denis en 1850. Pour les
« entrées princières » voir BALANDIER, Georges. Le pouvoir sur scène, Balland,
1980, p.15 : l’auteur cite le Ballet Comique de la Reine (1581), comme une rupture avec
la pratique des « Entrées princières » ou des « Intermèdes » à l’italienne, qui allait aboutir
à l’institution du théâtre français et à la classification de divers genres théâtraux.
3
À ce propos, voir OBRY, Olga. La marraine bretonne de Catherine du Brésil, in La Bretagne
– Le Portugal – Le Brésil – Échanges et rapports, tome I, s. éd., 1973, p. 98. Il est
intéressant de remarquer qu’Olga Obry s’est aussi intéressé au théâtre brésilien. A ce
propos, voir son article sur les influences de Louis Jouvet et de Jean Giraudoux dans le
théâtre brésilien à partir des années quarante Le Brésil au Creuset. Le théâtre dans le
monde, 3 (XI), 1962, p. 255-260.
4
Cf. AUGRAS, Monique, Le roi Saint Louis danse au Maragnon. Cahiers du Brésil
contemporain, 5, 1988, p. 79.
5
Cf. CARELLI, Mário, Brésil, épopée métisse, Découvertes: Gallimard, 1987, p. 25
; aussi à ce propos, voir Frank Lestringnant, Le huguenot et la sauvage: l’Amérique
et la controverse coloniale, en France, au temps des Guerres de Religion (1555-1589),
Aux Amateurs de Livres, 1989, notamment les chapitres II, Jean de Léry, historien du
Brésil français, et VIII, La réformation dans les canons ou l’invention du Bon Sauvage.
176
Armindo Bião
6
Cf. J. SOUZA, Galante, O teatro no Brasil, Tecnoprint, 1968, p. 141.
7
À ce propos, voir MAURO, Frédéric. La vie quotidienne au Brésil au temps de Pedro
Segundo 1831-1889, Hachette, 1980, p. 59 et s. Pour des références précises concernant
des compagnies françaises au Brésil, voir PAIXÃO, Múcio da. O teatro no Brasil. Brasília:
Ed., 1936; RUY, Afonso, História do Teatro na Bahia. Universidade da Bahia, 1959;
ARAÚJO, Nelson de. História do Teatro, FCEB, 1978; HESSEL, Lothar. RAEDERS,
G. O teatro no Brasil sob D. Pedro II, Ed. da Universidade, 1986, p. 224 et seq.;
CACCIAGLIA, Mario. Pequena História do Teatro no Brasil, EDUSP, 1986.
À propos de l’influence française à Bahia, Thales de Azevedo donne une série d’exemples
relatifs à la vie quotidienne, ainsi qu’aux visites de Sarah Bernhardt et des Coquelin
(l’aîné et le cadet) ; il parle également des danses qui sont devenues populaires, une fois
sorties des salons impériaux : les quadrilhas, dont l’origine française est attestée par
Wanderley de Pinho : Cf. AZEVEDO, T. A francesia baiana de antanho, in Publicação
do Centro de Estudos Baianos, 110, 1985, p. 61-83.
177
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
8
MERIAN, Jean-Yves. Surcouf, corsaire d’opérette au Brésil, in La Bretagne: Le Portugal
– Le Brésil - Échanges et rapports, s. éd., p. 421-429.
9
DUVIGNAUD, Jean, L’acteur : sociologie du comédien, Gallimard, 1965, p.161.
178
Armindo Bião
10
Je remercie M. Jean-Pierre Halévy, descendant d’un des auteurs de La vie parisienne
et du Brésilien, qui a évoqué l’intérêt de sa famille pour le Brésil depuis le XIXe. Il
m’a fait connaître l’édition Calmann-Lévy, de 1955, intitulée Théâtre, avec cinq
pièces de Meilhac et Halévy, parmi lesquelles Le Brésilien. M. Halévy m’a aussi
permis de photocopier la brochure Ronde du Brésilien, contenant les paroles et la
partition de la seule chanson de la comédie Le Brésilien, et dont la couverture est
une photo où apparaît le comédien Brasseur représentant ce personnage. La première
édition du Brésilien date de 1861, chez Michel Lévy Frères.
- Le terme « rastaquouère » n’apparaît pas dans cette pièce (de 1863), mais est utilisé
dans la préface pour décrire le « Brésilien » (p. XIII). Le Petit Robert indique :
(1880-1886 ; Esp. d’Amérique rastracuero, « traîne-cuir », désignant des parvenus).
Fam. Étranger aux allures voyantes, affichant une richesse suspecte. Le terme apparaît,
dans ce sens, dans Un fil à la patte de Feydeau, de 1894, pour définir le personnage
du Général. Le dictionnaire brésilien Aurélio donne la même signification, indiquant
l’origine « française » du mot.
11
Cf. CARTON, Pauline, « Préface », In: HALÉVY, L.; MEILHAC, H. Théâtre,
Calmann-Lévy, 1955, p. 13.
179
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
Par ailleurs, on connaît le texte d’une pièce d’Henry Muger, jouée elle
aussi au Théâtre du Palais-Royal, mais en 1860, Le serment d’Horace,
où apparaît également un personnage de Brésilien. La pièce est présentée
comme une «comédie en un acte en prose (vaudeville)». Et le personnage
de Dubreuil apparaît comme un «ex-capitaine au long cours, mulâtre»12.
Ayant fait fortune comme négrier, il réunit un nombre de caractéristiques
qui le rapprochent à la fois des personnages du Nord-Américain et du
rastaquouère hispanophone latino-américain, présents dans le théâtre
français de la seconde moitié du XIXe siècle, quand Paris est devenue le
symbole même de la ville cosmopolite et moderne.
12
Cf. MURGER, Henry, Le serment d’Horace, Michel Lévy Frères, 1861.
13
A ce propos, voir JEUNE, Simon, De F. T. Graindorge à A. O. Barnabooth: les types
des Américains dans le Roman et le Théâtre français (1861-1917), Didier, 1963, p. 162.
14
Cf. HALÉVY, Daniel «Introduction», in Ludovic Halévy, Carnets (1862-1869),
Calmann Lévy, 1935, p. 9-10; ainsi que les notes de L. Halévy, in Carnets, passim.
15
Peau mate, gants « sang de bœuf», «cravates étoilées de diamants», parlant un Français
très approximatif, le rastaquouère réapparaît encore en 1894 avec le même costume et
les mêmes caractéristiques, mais alors identifié à une autre nationalité ibéro-américaine
(certainement hispanophone, mais non définie d’ailleurs), dans Un fil à la patte, de
Georges Feydeau. Il semblerait que le personnage soit toujours très populaire, étant
donné la réception chaleureuse qu’il reçoit du public du Théâtre du Palais Royal, lors
des présentations d’Un fil à la patte, depuis le début de la saison 1990, comme j’ai eu
l’occasion de constater.
180
Armindo Bião
Le nom le plus célèbre est certainement celui d’Aimée, pour qui des
intellectuels réputés, comme Machado de Assis, ont écrit de belles pages.
La légende veut qu’elle soit rentrée en France en 1868, enrichie par les
précieux cadeaux qui lui ont été offerts par d’innombrables admirateurs,
amoureux de ses performances sur scène. On raconte que lorsque son
bateau quitta le port de Rio, quelques «honnêtes» familles auraient célébré
l’événement avec des feux d’artifice, puisque le «petit démon blond»
(comme l’avait appelé Machado), s’en était allé16 ! Le fait est que le
personnage de la belle comédienne française est resté dans l’imaginaire
brésilien, associé à la joie de vivre et à la «légèreté» des mœurs. Un portrait
qui ne s’éloigne pas trop, d’ailleurs, de celui laissé par les opérettes françaises
elles-mêmes.
16
À propos de la comédienne Aimée, voir CACCIAGLIA, op. cit., p. 84 et HESSEL;
RAEDERS, op. cit., p. 151 et s.
181
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
Pour ce qui est encore de ce que j’ai défini comme la deuxième période
de l’interface «théâtre» France-Brésil, celle de la primauté absolue de
l’influence française sur le théâtre et la culture brésiliens, un exemple
frappant de cette influence est celui du drame en cinq actes et en vers,
écrit en Français en 1876-1877 par l’intellectuel brésilien Joaquim Nabuco,
publié à Paris en 1910. L’action se passe à Paris, à Versailles et à Strasbourg,
entre 1870 et 1872. Le drame est intitulé L’option, et son intrigue se
développe autour des rapports familiaux et amoureux entre des
personnages d’origine allemande et française et, ce qui justifie le titre, des
personnages plus particulièrement d’origine alsacienne17.
La troisième période
182
Armindo Bião
19
Dans une biographie de Jouvet, celle de Jean-Marie Loubier, on peut lire une déclaration
du maire de Rio invitant Jouvet à rester plus longtemps : «... vous servirez la France
ici... plus utiliement qu’à Paris», in LOUBIER, J.-M. Louis Jouvet: biographie,
Ramsay, 1986, p. 264.
20
OBREGON, Osvaldo. La diffusion du théâtre latino-américain en France
depuis 1958, thèse d’État, Paris III, Sorbonne Nouvelle, 1987, voir surtout les pages
73, 75, 77, 90, 91, 94, 99, 177, 180, 184, 199, 200, 212, 263, 325, 329, 533, 587,
630, 631. Je remercie également Osvaldo Obregon pour ses suggestions de recherche.
183
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
21
Apud OBREGON, op.cit., p. 99.
22
Cf. OBREGON, op.cit. p.75.
184
Armindo Bião
que dans cette publication «ne figurent que les mises en scène qui ont
réellement apporté quelque chose au théâtre contemporain dans les
dernières décades en France»23. Et le Français Pierre Kemeneur n’a pas
manqué de souligner à l’occasion, qu’il rendait hommage à «Léon
Chancerel, fondateur de la Compagnie Théophiliens de la Sorbonne [...]
parti en tournée au Brésil, où il [a] produit un impact inoubliable chez un
des animateurs du TUCA, qui n’était alors qu’un enfant»24.
23
Cf. OBREGON, op.cit. p.184.
24
Apud Obregon, op.cit., p. 180.
25
Cf. PEIXOTO, Fernando, Teatro Oficina de São Paulo (Brésil), in Théâtre & Université,
14, Numéro Spécial Programme VIe Festival Mondial de Nancy, 19-28.04.1968, p.
21-36 ; Des signes de vie au milieu des flammes s. nom trad., in Travail Théâtral, 12,
1973, p. 134-143 ; L’histoire au secours du théâtre brésilien, trad. Jacques Thiériot, in
Travail Théâtral, 32/33, 1979, p. 48-57.
26
Cf. PEIXOTO, op.cit., 1968.
27
Cf. OBRY, op.cit., 1962.
185
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
28
OBREGON, op.cit., p.329.
29
Voir à ce propos OBREGON, op.cit., p. 325.
30
QUIROT, Odile, Des Brésiliens fous de théâtre, in Le Monde, 30.04. - 02.05.1989, p.
12 et Avant Scène, 852/853, juin/juillet 1989.
186
Armindo Bião
Théâtralité et spectacularité:
les pratiques homosexuelles masculines dans le Candomblé*
* Publié à l’origine dans Sociétés, Paris, Masson, v.17, p.23 – 25, 1988.
1
Voir : MORIN, Edgar L’esprit du temps, Grasset Frasquelle. Paris. In : MAFFESOLI,
Michel. La conquête du présent. Paris: PUF, 1979, p. 153-169; LE BRETON,
David. Corps et sociétés. Méridiens, Paris : 1985, p. 143-144..
2
BALANDIER, George. Les rapports entre pouvoir politique et théâtre ont bien été
démontrés. In:. LE POUVOIR sur scènes, Balland, Paris, 1980.
187
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
3
Voir LE BRETON; GOFFMAN, Erwing. Les travaux de Balandier, Maffesoli; La
mise en scène de la vie quotidienne ; DUVIGNAUD, Jean. La présentation de soi,
Minuit, Paris, 1973 ; Spectacle et société, Denoël, Paris, 1973 ; SCHWARTZENBERG,
Roger-Gérard. L’état spectacle, Flammarion, Paris, 1977; MOLES, Abraham.
Labyrinthes du vécu, l’espace : matière d’actions, Méridiens, Paris, 1982; MATTA,
Roberto da., Carnavals, bandits et héros, Seuil, Paris, 1983 ; HOCQUENGHEM,
Guy ; SCHERER, René, L’âme atomique, Albin Michel, Paris, 1986 ; NAMER,
Gérard. Mémoire et sociét., Méridiens Klincksieck, Paris, 1987.
4
GOFFMAN, op. cit., p. 9.
5
MAFFESOLI, Michel. La connaissance ordinaire.. Méridiens, Paris, 1985. p. 19-24.
188
Armindo Bião
6
BARBA, d’Eugenio ; SARAVESE, Nicola. Les notions de techniques corporelles
quotidiennes et extra-quotidiennes et la référence à l’expressivité sont empruntées à
l’ouvrage, In : Anatomie de l’Acteur : un dictionnaire d’anthropologie théâtrale.
Bouffonneries Contrastes : Cazilhac, 1985.
7
DUVIGNAUD, Jean., Les ombres collectives : Sociologie du théâtre. Paris : PUF,
1973. p. 13.
8
SIMON, Michel. Théâtres nationaux : Le Brésil in Histoire des spectacles, sous la
direction de Guy Dumur. Paris : Pléiade, [19-?]. p. 1303-1304.
9
Dans le Candomblé on peut avoir des relations « familiales » avec les divinités (les
« orisha »), ou avec d’autres initiés du culte ; voir à cet égard : LIMA, Vivaldo da
Costa. A Família-de-Santo nos Candomblés Jeje-Nagôs da Bahia: um estudo
de relações intragrupais. Salvador, Bahia : UFBA, 1977.
189
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
10
Pour des descriptions du Candomblé, voir les travaux de BASTIDE, Roger ; VERGER,
Pierre, en particulier le livre de Bastide, Le Candomblé de Bahia, rite nagô,
Mouton et Cie La Haye ; et celui de Verger, Orisha : les dieux ioruba en Afrique et
au Nouveau Monde. Métailié : Paris, 1982.
190
Armindo Bião
Les premières sont celles de Ruth Landes, qui affirmait que la plupart
des hommes liés au Candomblé étaient «des homosexuels passifs connus
et des voyous» 11. En 1942, Artur Ramos l’a réfutée parce que ses
informations ne concernaient «qu’une demi-douzaine de personnes, qu’elle
affirmait être des homosexuels»12. Edson Carneiro, en 1954, écrivait que
la majorité des hommes du Candomblé montraient «des tendances
univoques d’efféminement»13. Roger Bastide indiquait en 1961 que les
cas de «pédérastie passive» y étaient «très communs», mais
«pathologiques»14.En se référant au Shango (variante afro-brésilienne de
Recife), René Ribeiro affirmait en 1969 que «l’homosexualité masculine»
n’y était pas rare15. En 1972, Seth et Ruth Leacock, en étudiant le Batuque
(la variante de Belém), concluaient que selon une croyance répandue,
reposant d’ailleurs sur des faits réels, les hommes du Batuque étaient
«efféminés ou, dans la plupart des cas, des homosexuels actifs»16.
L’étude la plus complète est présentée en 1974 par Peter Fry17. Il y affirme
que certains hommes, parmi ceux qui aiment des pratiques homosexuelles,
sont «attirés par ces cultes car ils sont populairement définis comme des
niches d’homosexuallité». Il argumente que d’une part, l’homosexualité,
ainsi que les cultes de possession, sont définis comme des comportements
11
LANDES, Ruth, The city of Women. Macmillan : New York, 1947. L’édition
brésilienne est de 1940 (p. 201/202, cité par FRY (17).
12
RAMOS, Artur, A aculturação Negra no Brasil. Biblioteca Pedagógica Brasileira :
Rio de Janeiro, 1942. p.191. Voir Fry (17).
13
CARNEIRO, Edson, Candomblés da Bahia. 2. ed. rev. Rio de Janeiro : Andes, 1954.
p. 154-155. Voir Fry (17).
14
BASTIDE, op. cit. L’édition brésilienne date de 1961 (p. 309, cité par FRY (17).
15
RIBEIRO, René, Personality ant the psychosexual adjustement of Afro-Brazilian cult
members. Journal de la Société des Américanistes, Paris, p. 109-120, tome
LVII, 1969.. Voir Fry (17).
16
SETH ; LEACOCK, Ruth, Spirits of the Deep : a Study of an Afro-Brazilian Cult.
[S.l.] : Doubleday Natural History Press, 1972. p.104. Voyr Fry (17).
17
PRÉSENTÉE originellement en Anglais en 1974, cette étude paraît en Portugais In :
FRY, Peter, (Para Inglês). Ver: Identidade e política na cultura brasileira. Petrópolis :
Zahar, 1982. p.54-86. (Les références en Portugais des notes 11 à 16 sont des citations
de ce travail).
191
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
18
FRY, Peter ; MACRAE, Edward. O que é homossexualidade. São Paulo : Brasiliense,
1983. (Coleção Primeiros Passos).
19
Enquête menée par LIMA, Costa (9).
20
LIMA, Costa, id., p. 171.
192
Armindo Bião
21
Voir LEIRIS, Michel. La possession et ses aspects théâtraux chez les Éthiopiens de
Gondar. Paris : [S.n], 1958.
22
SODRÉ, Muniz. Culture Noire et Socialité. Societés, n.2, v. 2, n. 7, p.5 , fév. 1986.
23
MOTA, Roberto. Comida, família, dança e transe (sugestões para o estudo do Xangô).
Revista de Antropologia, Universidade de São Paulo, supplément au v. 25, 1982.
193
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
194
DA CENA BAIANA
Armindo Bião
O Jogo
197
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
198
Armindo Bião
A Problemática
O que está em jogo pode ser o simbólico e o imaginário, mas pode ser
também a possibilidade de melhoria das condições humanas de renda e
emprego. É o que compreendemos como missão maior da
etnocenologia: basear seus estudos e ações em objetivos humanistas
amplos, que promovam a coesão social e a melhoria da vida humana,
individual e em grupo, associando teoria e prática, ação e reação,
pronunciamento verbal e escuta, num horizonte que compreenda as mais
variadas formas de viver identidades, conviver e produzir sentidos.
199
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
vida. Mas também será problema a relação para com o mais velho e
para com o mais novo, na vivência cotidiana e espetacular da dinâmica
da cultura, em termos de aceitação ou rejeição.
2
Antropofagia, ou canibalismo, no sentido de ingestão de outras culturas e
metabolização de uma nova; e mestiçagem, como marca positiva do povo e da
cultura brasileira, são grandes marcas da arte moderna, cujo representante pode ser
Oswald de Andrade, e do movimento regionalista, que pode ser representado por
Gilberto Freyre.
3
O registro dos folguedos, danças dramáticas e outras expressões tradicionais, promovido
nos anos 30 por inspiração do modernista Mário de Andrade, foi repetido recentemente,
verificando-se a permanência de formas e estruturas consideradas como ameaçadas,
60 anos antes, conforme revelam pesquisas divulgadas recentemente (BORGES, 2002,
BUYS; EVANGELISTA, 2002).
200
Armindo Bião
As Práticas
201
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
202
Armindo Bião
A Conclusão
4
O projeto já registrou cerca de 300 manifestações culturais tradicionais em mais de
100 municípios da Bahia.
203
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
5
Este grupo participou de eventos de grande prestígio na Bahia e em outros estados
brasileiros, tendo influenciado espetáculos amadores e profissionais, particularmente
na Bahia, possuindo já um sítio virtual: www.grupozambiapunga.hpg.com.br. Termo
de origem banto, zambiapunga significa “deus supremo”.
6
Chérif Khaznadar, da Maison des Cultures du Monde e da organização deste Festival,
bem como do colóquio para o qual preparei a presente comunicação, informou-me
que, atendendo a sua demanda, Dimitri Ganzelevitch, presidente da Associação Cultural
Viva Salvador, sugeriu-lhe para o evento em pauta o Zambiapunga de Nilo Peçanha,
enviando-lhe, como documento audiovisual para seu conhecimento, o vídeo Caretas
e Zambiapunga, da série Bahia Singular & Plural. Esta informação contribui para
confirmar nossa hipótese.
204
Armindo Bião
Referências
7
Vale registrar um novo projeto do qual tenho a honra de participar como proponente,
enquanto Diretor Geral da FUNCEB, juntamente com Heloísa Helena Fernandes
Gonçalves Costa, Diretora geral do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da
Bahia – IPAC, assim como a FUNCEB parte integrante da estrutura da Secretaria da
Cultura e Turismo do Estado da Bahia – SCT. Trata-se de um projeto de lei, em rápida
via de tramitação pela Superintendência de Cultura da SCT, o Conselho Estadual de
Cultura, a Governadoria e a Assembleia Legislativa do Estado da Bahia, no final de
2003, intitulado Mestres dos Saberes e Fazeres, que deverá registrar, em livro específico
de tombo, diplomas concedidos a mestres de saberes e fazeres ameaçados de
sobrevivência (saveiristas e luteristas, por exemplo, entre inúmeros outros), a quem
deverá se assegurar um salário mensal – vitalício e intransmissível – para possibilitar o
compartilhamento de seu conhecimento com outras pessoas, sendo, já em 2004,
diplomados 15 mestres, ampliando-se posteriormente este número.
205
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
206
Armindo Bião
SONS E AS IMAGENS
207
Armindo Bião
Xisto Bahia*
* Publicado originalmente como BIÃO, Armindo et al, Xisto Bahia, em Revista Bahia,
v. 32, n. 37, p. 4-14, 2003.
209
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
A Crisálida
210
Armindo Bião
A Lição Cearense
1
A Companhia de Constantino do Amaral Tavares era composta de atores brasileiros e
portugueses, dela fazendo parte além da atriz baiana Ana Costa, Maria Velluti (ex-
amante de Almeida Garret, de quem tinha um filho), Ludovina, Antônio da Silva e
outros.
Segundo Sílio Boccarena Júnior (O teatro na Bahia – pág. 174), o jornalzinho literário
da época “O Recreio das Senhoras”, que especialmente se ocupava de Teatro e das
Belas Artes, em sua edição de ____ [...] abril de 1861, registrou-se que, na representação
do drama Probidade, pela primeira vez, viu-se no teatro da Bahia, uma atriz ao piano,
acompanhando-se a si própria. Infelizmente não se mencionava o nome daquela atriz.
211
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
Na Corte
Estava Xisto, após aquela peregrinação por todo o norte do Brasil, lutando
e observando, apto para atuar num meio mais eficiente. Findara-se o
noviciado na Bahia, e em 1875, estreia na Corte, no Teatro Ginásio, na
Companhia de Vicente Pinto de Oliveira, de cujo elenco destaca-se Clélia
de Araújo, baiana, e que exercera em Salvador o magistério público.
O Compositor
2
A Companhia Lopes Cardoso fez a sua temporada nos anos de 1873 e 1874, com
extraordinário êxito. Montou no Teatro São João várias mágicas (espetáculos então
em grande voga), sobressaindo o Mágico e o Milagre de N. Srª de Nazaré.
212
Armindo Bião
213
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
3
A letra da modinha Quis debalde cuja música, escrita por Xisto Bahia, tornou-se
popular, foi escrita pelo poeta Plínio de Lima, formado pela Academia de Recife e
notável poeta lírico, é a seguinte:
Quis debalde varrer-te da memória
Quis debalde varrer-te da memória
E o teu nome arrancar do coração:
Amo-te sempre [...] Oh! Que martírio infindo!
Tem a força da morte esta paixão [...]
214
Armindo Bião
215
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
Um momento de pausa[...]
216
Armindo Bião
4
A peça levada na inauguração do Teatro da Paz foi As duas órfãs.
217
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
Para Xisto, os louvores são incentivos para o seu espírito. A corte não lhe
regateia elogios. Até o Imperador Pedro II vai aplaudi-lo no espetáculo
comemorativo da Batalha de Riachuelo, em 1880, e a respeito escreve à
Condessa do Barral: “Gostei de um cômico chamado Xisto Bahia –
creio que é baiano – numa espécie de imitação Les Jurons de Cadrac.
Lembra-se do Coquelinet e da Favart?
5
O imperador equivocou-se quanto ao nome da peça, escrevendo Les jurons de Cadeset,
em vez de Les jurons de Cadesset de Pierre Berton, onde a personagem principal, o
Capitão Cadil utiliza-se das gírias dos marítimos franceses ao descrever a batalha de
Navarrin, em que tomara parte. No espetáculo assistido por Pedro II, no teatro
Lucinda, e adaptado pela Companhia Furtado Coelho, de que fazia parte Xisto Bahia,
a peça principal A criada grave, de Paul Ferrier, era complementada pela comédia As
pragas do Coronel, que mais não era que a peça de Pierre Berton, traduzida por um ator
português, totalmente desfigurado pelo poeta Luiz Guimarães Jor, ao procurar adaptá-
lo ao linguajar brasileiro – nessa comédia, Xisto Bahia substituiu a descrição da
Batalha de Navarrin pela Batalha do Riachuelo, que tanto o agradara. Na descrição do
trecho da carta do Imperador parece que tanto Alcindo Sodré (no livro Abrindo um
cofre), como Raimundo Ma [...] Jr. (no livro Pedro II e a Condensa de Barral), que
publicara a missa, assinalavam haver falta de sintaxe, na parte final do artigo comentado,
quando se pode atribuir isso a uma leitura, malfeita, de péssima caligrafia do
epistológrafo, engano que já haviam cometido, registrando a preferência do Monarca
ao artista Coquelinet de Favart vez de Coqueline e Favart (Pierre Ignace de Favart),
società de La Comédie Française onde, tudo indica, o Imperador e a Condessa tinham
assistido à representação. A carta de Pedro II, datada de 10 de março de Petrópolis,
começou no Rio de Janeiro no dia 12 e só é terminada no dia 15 do mesmo ano.
218
Armindo Bião
Cansaço e Desilusão
Raciocinemos.
219
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
Tu és estrangeiro? Não.
Devia ficar, para poder comer, e dar de comer aos meus; agitar-
se nesta existência dolorosa, para não fenecer à míngua de
trabalho.
220
Armindo Bião
Mas essas honrarias cada vez mais o desiludem. A ideia fixa é mudar
de profissão. Afasta-se do palco em 1891, obtendo de Francisco Portela,
então presidente do Estado do Rio, uma lugar de amanuense na
penitenciária de Niterói, de que é demitido, com a deposição do
presidente, em 1892.
6
ANUÁRIO da Casa dos Artistas, 1942, pág. 108.
221
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
Crepúsculo
Descia para Xisto Bahia, o pano da vida, aos 53 anos de idade. Findara-
se o último ato da comédia que o destino escrevera; em vez daqueles
aplausos ruidosos do público, choravam-lhe a perda irreparável a sua
222
Armindo Bião
7
Por ocasião da morte de Xisto; Artur Azevedo, em carta publicada no O País, de 7 de
novembro de 1964, apresenta o seu depoimento sobre a sua comédia Véspera de Reis,
portanto, creio que para alguns dos meus leitores terá certo interesse a história dessa
comédia.
Em 1874 o artista veio pela primeira vez ao Rio de Janeiro, fazendo parte de uma das
numerosas companhias dramáticas, dirigidas pelo ator cômico Vicente Pontes de Oliveira,
e cuja principal figura era, incontestavelmente, a atriz Manoela Lucci, esposa do
empresário.
Manoela, Vicente e Bahia eram, naquele tempo, os artistas mais populares de todo o
norte do Império. Dos três, só vive hoje a primeira, aliás, a mais velha.
Eu, desde o Maranhão, entretinha relações de amizade com todo o pessoal da companhia,
pois antes de vir para o Rio de Janeiro em 1873, já tinha fumaças de jornalistas e
comediógrafo. Aos 16, era caixeiro, mas redigia um semanário O Domingo, e havia escrito
a comédia Amor post hexins. Os artistas da companhia – tudo gente do norte – estimavam-
me deveras.
Um deles, por nome Joaquim Infante da Câmara, uma noite, no teatro, antes de começar
o espetáculo, me pediu que escrevesse uma comédia de costumes da Bahia, em que
houvesse um papel de moleque, papel de que ele se encarregaria, fazendo representar a
peça na noite de seu benefício, quando a companhia voltasse para o Norte.
Na ocasião em que a Câmara me fez esse pedido, estavam presentes Xisto Bahia e
Francisco Libânio Colás, o famoso compositor brasileiro, que o Vicente trouxera como
regente de orquestra.
O Bahia aprovou a ideia de Câmara e disse-me:
- Escreve a comédia e arranja-me um papel de tabaréu.
Tabaréu na Bahia é um sinônimo do nosso caipira.
E Colás interveio:
- Eu faço a música!
- Pois há de ter música? Perguntei.
- Um pouco de trá-lá-lá é indispensável para que uma comédia de costumes na Bahia
possa agradar.
E o maestro acrescentou:
- Olha, menino, aqui tens uma ideia: a festa dos Reis na Lapinha, festa muito característica,
em que o povo canta uma toada belíssima, que deve figurar na partitura.
- Mas há uma dificuldade, objetei: não conheço absolutamente a Bahia nem os seus
costumes; estive lá apenas por algumas horas, de passagem...
- Não faz mal exclamou Xisto; dar-te-ei todas as indicações de que precisares.
- Bem! Vou tentar fazer alguma coisa.
223
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
224
Armindo Bião
Durante seis anos o Bahia representou a Véspera de Reis em todo o Norte, sendo
aclamado de teatro em teatro. Em 2 de fevereiro de 1881, contratado por Furtado
Coelho para o Teatro Lucinda, mostrou-se pela primeira vez aos fluminenses no seu
inolvidável papel.
Foi nessa ocasião que vi em cena a minha comédia. Não reconheci o tabaréu que
inventara. No texto o personagem estava apenas indicado: o ator dera-lhe tudo quanto
lhe faltava, a principiar pelos vícios de linguagem, que tão hilariante o tornavam.
Esbocei apenas o tipo; Xisto Bahia corrigiu o desenho, acentuou os contornos, e deu-lhe
um colorido incomparável. Das minhas mãos inábeis, daquela noite em claro da rua da
Conceição, saíra um títere articulado; Xisto Bahia pôs-lhe dentro uma alma, deu-lhe
uma fisionomia penetrante, tornou-o profundamente humano. Aquele papel não era
representado: era vivido.
Depois dessa primeira representação da Véspera dos Reis no Lucinda, fez ver ao artista
que o seu nome tinha o direito de figurar como o de um coautor da peça. Ele protestou;
não consentiu que eu lhe desse metade dos aplausos que a generosa plateia fluminense
dispensava ao comediógrafo, nem metade dos respectivos direitos de autor.
Parecendo-me que o meu, que o nosso Bermudes devia figurar em quadro em quadro
mais largo e mais desenvolvido que o da Véspera de Reis, escrevi, em 1888, o Barão de
Pituaçu, comédia em que o tabaréu reaparecia durante quatro atos, desta vez no Rio de
Janeiro. Infelizmente a peça passou quase despercebida. Foi representada num teatro
aonde o público dificilmente se encaminhava, e que só depois começou a ser concorrido.
Entretanto, Xisto Bahia era extraordinário, nem podia deixar de o ser, nesse
prolongamento da Véspera de Reis.
Quem será agora o Bermudes? Não sei. Por meu gosto a comédia morreria com o seu
extinto intérprete.
Entretanto, se os atores deixassem em testamento os seus papéis, estou convencido que
Colás herdaria o de Bermudes. Se ele algum dia se quiser meter na pele do saudoso
tabaréu, que o faça, mas copiando servilmente o mestre. Não há desar nisso, porque,
uma noite, no Teatro São Pedro, o mesmo que está atualmente debaixo d’água, indo eu
ao camarim do Coquelin saudá-lo pelo seu estupendo trabalho na comédia.
Joie fait peur, o grande artista interrompeu-me, dizendo:
- Não me cumprimente, porque nesta peça o meu trabalho não passa de uma macaqueação
de Bouffé.
E era o Coquelin!
225
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
226
Armindo Bião
Seus Personagens
Suas Modinhas
Perdoa-me
Sê Clemente
As Duas Flores
Sempre Ela
227
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
Seus Lundus
O Mulato
Sua Peça
228
Armindo Bião
Equipe de Pesquisas
Cristiane Araújo Ferreira, Ednei Alessandro, Carlos Ribas e Armindo Bião
Referências
229
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
230
Armindo Bião
Evocação
231
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
232
Armindo Bião
3
Sobre os espetáculos barrocos de cortejo, a musicalidade, as “cantigas e modas” referentes
“às raízes já então [século XVIII] assentadas da rica e tropical coreografia ritual e
popular baiana”, ver Ávila, A. O lúdico e as projeções do mundo barroco I – Uma linguagem a
dos cortes uma consciência a dos luces. 3. ed. São Paulo: Perspectiva. 1994. p.51.
Sobre a música baiana em Lisboa (já também no século XVIII) ver TINHORÃO, J. R.
Os negros em Portugal: uma presença silenciosa. Lisboa: Caminho, 1988, p.325 e seguintes.
No século XX, poderíamos destacar a consolidação de um corpus musical brasileiro
referente à Bahia, bem como a contribuição das tias baianas para a criação do samba
carioca e, para a definição do panorama musical brasileiro contemporâneo, a contribuição
do samba de roda do Recôncavo, de Dorival Caymmi e Assis Valente, da bossa nova
com João Gilberto, do tropicalismo, dos Novos Baianos e da música axé.
4
Ver GIRON, L.A. Mario Reis, o fino do samba. São Paulo: Ed. 34, 2001, p. 19 e p.
58.
233
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
5
A ideia de que a identidade brasileira – e da América Latina – construiu-se sob o signo
do barroco encontra-se em diversos textos publicados nos catálogos de duas exposições
sobre o barroco brasileiro: uma na França: Brésil baroque entre ciel et terre, Union Latine,
Paris, 1999; outra no Brasil: Mostra do Redescobrimento Brasil + 500 imagens do Barroco,
São Paulo, 2000.
234
Armindo Bião
Panorama histórico
6
Apesar de muitas serem as contribuições para a discussão sobre a baianidade, destaco
aqui apenas uma, como representativa das demais: CARDOSO, A.S. Baianidade: uma
constante elaboração e reelaboração de símbolos. Pré-textos para Discussão. Salvador,
UNIFACS, ano VI, vol. 6, n. 10, p. 83-93, 2001.
7
RUY, A. História do Teatro na Bahia. Salvador: Universidade da Bahia, 1959, p.36 et
seq.
235
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
8
Mesmo sem atuar desde 1997/98, quando tive a graça de fazer o ingênuo marido
recém-doutorado de Hedda Gabler, de Henrik Ibsen, no Teatro Martim Gonçalves,
com direção de Harildo Deda, pela companhia de Teatro da UFBA, estudando um
clássico do teatro moderno e discutindo a situação da mulher no Brasil e na
contemporaneidade.
9
Foi um aprendizado feliz e uma glória – dirigir e produzir, como parte de um projeto
integrado de pesquisa em andamento, com meus alunos de pós-graduação Isa Trigo e
Marcondes Lima, e de graduação do penúltimo semestre de Bacharelado em Artes
Cênicas da UFBA – Habilitação em Interpretação Teatral, Analu Tavares, Amaya
Lainez, Débora Santiago, Dilson Nery, Gustavo Granjeiro, Hilton Souza, Larissa
Garcia, Majó Sesan, Marita Ventura, além do músico Luciano Bahia, a montagem
didática Isto é Bom!, no Teatro do SESI, em Salvador, com quatro apresentações
gratuitas em agosto de 2001. O espetáculo repetia o título do lundu de Xisto Bahia,
gravado por Bahiano, em 1902, e era uma colagem de canções, poemas de Gregório de
Matos, sermões de Antônio Vieira, notícias de jornais baianos do século XIX,
depoimentos para a Inquisição na Bahia, cartas de José de Anchieta e Manoel de
Nóbrega sobre os costumes na colônia e folhetos de cordel com personagens diabólicos
da Commedia dell’Arte e uma canção de Nino Rotta para La Dolce Vita de Frederico
Fellini, vertida para o português por Caetano Veloso. Isto é Bom! era apresentado como
um sarau barroco sobre as matrizes da baianidade e como modo de treinamento para
atores em formação na Escola de teatro da UFBA.
10
Destaco a palavra “transculturação” como referencial para uma perspectiva de análise
de inúmeros cientistas sociais que estudaram os contatos culturais, como Roger Bastide,
Melville Herskovits, Gilberto Freyre e Fernando Ortiz, por exemplo, sendo deste último
a denominação aqui selecionada; a transculturação é apresentada e discutida em ORTIZ,
F. Contrapunteo cubano del tabaco y del azúcar, Barcelona, Ariel, 1973.
11
Essa sensibilidade teórica tem como matriz a contribuição do polêmico sociólogo
francês Michel Maffesoli, que orientou meu doutorado em antropologia social e
sociologia comparada, na Sorbonne (Université René Descartes Paris 5, 1990),
beneficiando-se da contribuição da fenomenologia pragmática, da antropologia do
imaginário, do interacionismo simbólico, das histórias de vida, dos estudos sobre
oralidade e sobre a performance, da etnocenologia e da proxêmica.
236
Armindo Bião
12
Ver MAFFESOLI, M. La connaissance ordinaire. Paris: Méridiens; Klincksieck, 1985.
237
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
13
BIÃO, A. Théâtralité et spetacularité: une aventure tribale contemporaine à
Bahia. Paris: Sorbonne, 1990.
238
Armindo Bião
14
Ver, sobretudo, BIÃO A. Matrizes estéticas: o espetáculo da baianidade. In: Temas
em contemporaneidade, imaginário e teatralidade. São Paulo: Annablume,
2000, p.15-30.
15
O Projeto Integrado de Pesquisa Matrizes Estéticas no Teatro em Salvador, Bahia, 1999/
2001 – estudos e experimentações em etnocenologia é financiado pelo CNPQ e pelo PIBIC/
CNPQ/UFBA/CADCT-BA, para o biênio 2001/2003, com a participação de
doutorandos, mestrandos e graduandos. Vale registrar, e agradecer, a participação de
bolsistas de Iniciação Científica deste projeto, Ednei Santos, Dilson Nery e Marconi
Araponga, na reflexão sobre o presente artigo.
239
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
16
Direção Luciano Diniz, 1976, Teatro Castro Alves, sobre a saga de Canudos, tendo a
capoeira como parte integrante do treinamento corporal dos atores.
240
Armindo Bião
17
Tive a oportunidade de orientar ou de examinar teses e dissertações sobre os ternos de
reis da Lapinha (Eloisa Brantes), a obra do teatrólogo Nelson de Araújo (Adailton
Santos), a música afro-carnavalesca da Bahia (Antonio Jorge Vítor dos Santos Godi), a
beleza negra na Bahia (Rita Maia), o Balé do Teatro Castro Alves – aspectos míticos,
étnicos e rituais (Márcia Virgínia), o Museu Afro-Brasileiro (Marcelo Cunha), o teatro
na Bahia no século XIX (Lena Franca) e a cobertura jornalística do teatro baiano nos
anos 1990 (Nadja Miranda), por exemplo, no horizonte temático das artes do espetáculo
e da identidade baiana.
18
Ver a excelente dissertação de Mestrado MIRANDA, N. Jornalistas em Cena, Artistas em
Pauta: Análise da cobertura jornalística dos espetáculos teatrais baianos realizada pelos
jornais A Tarde e Correio da Bahia na década de 90. Salvador: UFBA, 2001;
particularmente o trecho intitulado “A baianidade no teatro da década de 90”, p. 205-213.
241
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
19
Texto de Cleise Mendes, Carlos Sarno e Deolindo Checcucci, também diretor e
produtor, ao lado de Wilson Mello, Mário Gadelha e este ator/pesquisador, intérprete
do protagonista. Em 1987, uma nova montagem teatral seria produzida num circo –
o Boca de Brasa, montado na Praça Municipal – sobre o mesmo tema: Gregório de
Matos e Guerra, com direção de Márcio Meireles e produção da Fundação Gregório de
Mattos.
242
Armindo Bião
243
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
4. Uma outra categoria que pode ser definida como de origem marcante,
acadêmica, cobre um variado leque de espetáculos didáticos e de
pesquisa, matrizes estéticas, técnicas e temáticas valendo destacar: o
grande sucesso do grupo Los Catedrásticos, originalmente de atores
da Escola de Teatro da UFBA – organizados durante uma greve, em
1987 – com a participação de Paulo Dourado e Cleise Mendes, que
criou o Recital da Novíssima Poesia Baiana, reunindo textos de
Gregório de Matos e letras da música baiana carnavalesca
contemporânea, numa perspectiva de polemizar, sem patrocínio, mas
que viria a contar, de algum modo, de apoio institucional, inclusive
para excursionar dentro e fora da Bahia; A Casa de Eros, que celebrava,
em 1996, os 40 anos da Escola, com direção de seu ex-diretor dos
244
Armindo Bião
245
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
Conclusão momentânea
246
Armindo Bião
247
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
248
Armindo Bião
A comédia faz rir, o drama – nos – faz corar e chorar de vergonha com
os disparates socioeconômicos do panorama histórico e contemporâneo
da Bahia. Isso é o melodrama da baianidade barroca. E é possível –
provável, a nosso ver – que ela coopere para a melhoria de renda, das
condições de trabalho e da qualidade de vida dos baianos, reduzindo
aqueles vergonhosos indicadores. Essa esperança faz parte da profecia
de autoimagem da baianidade, na perspectiva que aqui defendemos e
que compreende a diferença de tantos “seres” e “estares”.
Referências
BRÉSIL baroque entre ciel et terre. catálogo, Union Latine, Paris, 1999.
249
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
GIRON, L. A. Mario Reis, o fino do samba. São Paulo: Ed. 34, 2001.
250
Armindo Bião
Matrizes Estéticas:
o espetáculo da baianidade*1
A noção de matriz estética que dá título a esta palestra tem como base a
ideia de que é possível definir-se uma origem social comum, que se
constituiria, ao longo da história, numa família de formas culturais
251
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
2
Sugestão do antropólogo de Palo Alto (EUA) Edward T. Hall, 1966.
252
Armindo Bião
3
Uma primeira obra em língua portuguesa dedicada a essa questão foi publicada pela
editora Annablume (São Paulo, 1998): Etnocenologia textos selecionados. Os anais do I
Congresso Brasileiro de Pesquisa e Pós-Graduação em Artes Cênicas, realizado em
São Paulo de 15 a 17 de setembro de 1999, publicados em Memória Abrace 1 (Salvador:
Abrace, 2000), trazem também uma comunicação de nossa autoria dedicada aos
aspectos epistemológicos e metodo1ógicos do que poderá vir a ser uma cenologia geral,
constituída na interface das ciências da vida (o universo semântico da biologia, as
ciências cognitivas) / do homem (no sentido clássico da antropologia como estudo
sistemático do homem, na linhagem de Kant e de Claude Lévi-Strauss, compreendendo
a filosofia, a sociologia do conhecimento e a hermenêutica) / da arte (a estética).
253
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
4
Ver BERQUE, 1982 e também 1986.
254
Armindo Bião
5
KERCKHOVE, Derrik de, do Instituto McLuhan (Toronto, Canadá), no ensaio sobre
a drama-turgia grega e suas formas correlatas de temporalidade “Synthèse sensorielle
et tragédie: l’espace dans Les Perses d’Eschyle” (1983: 69-83), desenvolve a ideia de
que o século V a. C., na Grécia, é marcado pela perspectiva humanista valorizadora da
intervenção humana na história e na construção do futuro, singularizando uma matriz
cultural totalmente diferente das demais suas contemporâneas.
6
Em minha tese de doutorado Théâtralité et spectacularité - une aventure tribale contem-poraine
à Bahia (Université René Descartes, Paris 5, Sorbonne, 1990), a partir de sugestões de
meu orientador Michel Maffesoli, dedico muitas páginas a esta questão, particularmente
no que tange à questão da baianidade (que poderia ser compreendida como uma
espécie de elogio ao aqui e ao agora, um hedonismo feito, simultaneamente, de preguiça,
trabalho e festa). Ver também, a propósito do presenteísmo contemporâneo,
MAFFESOLI, 1979.
255
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
7
O tradicionalíssimo candomblé Axé Opô Afonjá de Mãe Estela de Oxóssi mantém um
sítio virtual disponível na internet, por exemplo. A Universidade Federal da Bahia foi
uma das primeiras do país a implantar sua rede de fibra ótica, constituindo-se em
importante elo de ligação dessa rede com todo o Nordeste e Norte do país.
256
Armindo Bião
8
O público que frequenta monumentos religiosos no Brasil conhece as imagens de
santos católicos existentes no Museu da Ordem Terceira do Carmo, em Cachoeira, no
Recôncavo baiano, que se singularizam por seus traços fisionômicos claramente
reconhecíveis como orientais (chineses? japoneses?). Há também inúmeros exemplos
no Brasil, sobretudo no Nordeste e nas cidades históricas de Minas Gerais, de
“chinoiseries” encontrados em objetos trazidos pelos portugueses (leques, pentes,
porta-joias, porcelanas, etc.) e em elementos transculturais da decoração de templos
barrocos do litoral e da zona da mata nordestina e do interior de Minas.
9
Para que se possa superar essa nossa grosseira simplificação, poderíamos recorrer a
uma já copiosa bibliografia. Um bom ponto de partida poderia ser o número 3.170 da
coleção francesa Que sais-je, intitulado La civilisation afro-brésilienne (1997). Ver também
LIMA, 1977.
257
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
10
O catálogo da exposição “Brésil baroque, entre ciel et terre”, realizada no Petit Palais,
em Paris, de 4 de novembro de 1999 a 6 de fevereiro de 2000, traz uma importante
seleção de ensaios sobre o estilo barroco como fundador de culturas e sobre a influência
da descoberta do Novo Mundo na crise do racionalismo renascentista que geraria a
própria constituição desse novo estilo estético/artístico e de modo de vida (Paris:
Union Latine, 1999). O discurso poético e a retórica de Gregório de Matos e Guerra
e de Antônio Vieira, exemplos paradigmáticos do barroco, conforme é abundantemente
documentado nesses ensaios, marcariam, aliás, para sempre a baianidade.
11
A esse propósito ver Thales de Azevedo, 1985; e nossa contribuição para a publicação
da Banque de Donnés France-Brésil, dedicada às relações França/Brasil, no domínio
das artes do espetáculo, “L’interface théâtrale” (Bião, 1990), reeditada em Estudos
Linguísticos e Literários n. 16 (Salvador: UFBA, 1994, p. 19-25).
258
Armindo Bião
No século XX, com o rádio e o cinema, seria a vez de uma matriz norte-
americana impor-se, cruzando-se às demais em todo território nacional
– e na Bahia evidentemente também.
12
Sobre os judeus sefarditas marranos (termo que, no Brasil, adquiriu conotação pejorativa)
e novos-cristãos da Península Ibérica, ver os cinco ensaios de Yosef H. Yerushalmi
(1998), da Columbia University.
13
O espiritismo positivista (novidade francesa que se queria filosofia de bases científicas e
consequências religiosas), por exemplo, hoje tão mais popular no Brasil que em sua pátria
de origem, cuja primeira obra publicada data de 1857 (Le livres dos espirits), já aparece no
Recôncavo baiano em 1865, em Mata de São João, na forma de um Grupo Familiar de
Espiritismo, dirigido por Luiz Olímpio Teles de Menezes (ver “Almanaque de Armindo
Jorge Bião”, in Verbo Encantado, outubro de 1971). Em livro autobiográfico, o compositor,
crítico e produtor musical carioca Nelson Motta (2000), relata sua surpresa quanto à
insuspeita – para ele – cultura cinematográfica e musical do jovem Caetano Veloso, que
acabava de conhecer em meados dos anos 60, quando da primeira viagem deste ao Rio,
acompanhando sua irmã Maria Bethânia, então debutando em carreira nacional.
259
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
14
Inúmeras obras que se reportam à cultura brasileira dos anos 60 registram o escândalo
nacional provocado pelo tropicalismo, que integrou a guitarra elétrica e o rock’n roll de
matriz norte-americana à música popular brasileira (ver, por exemplo, Motta, 2000,
citado na nota anterior). Sobre o trio elétrico, ver Góes, 1982, ampliado com muitas
fotografias e reeditado pela Copene em 2000. Os cineastas baianos Glauber Rocha e
Roberto Pires ficaram famosos com seus filmes e suas invenções de material e de
técnicas de filmagem.
15
Já o antropólogo francês Michel Agier (2000) fala de uma “inventividade sempre
renovada da ‘baianidade’” – eu traduzo. Sobre o interesse francês por essa inventividade,
a baianidade e sua negritude, ver também Franck Ribard, Le Carnaval Noir, 1999, e a
nova edição da obra clássica de Roger Bastide, Le Candomblé de Bahia (Rite Nagô), com
prefácio de Fernando Henrique Cardoso e introdução de Jean Duvignaud. Sobre
baianidade e negritude ver ainda Bacelar, 1989, Risério 1993, e Dantas, 1994.
260
Armindo Bião
16
A propósito, ver Antonio Risério, 1995, sobre a ambiência cultural na qual se formaram
os jovens artistas Glauber Rocha e Caetano Veloso, quando da criação das escolas de
arte da Universidade da Bahia, nos anos 50. Yanka Rudzka, criadora da Escola de
Dança, coreografou ritmos do candomblé; Martim Gonçalves (homem do teatro)
realizou, conjuntamente com Lina Bo Bardi (artista plástica, curadora de exposições) e
Vivaldo da Costa Lima (antropólogo), importante exposição sobre as artes da Bahia no
Museu de Arte de São Paulo, também nesse período, que vai aproximadamente de 1955
a 1960, considerado como os anos dourados das escolas de arte da Bahia. Desde 1998,
as escolas de teatro e de dança da UFBA, através de seu Programa de Pós-Graduação
em Artes Cênicas, lideram a implantação e consolidação da Associação Brasileira de
Pesquisa e Pós-Graduação em Artes Cênicas - Abrace. As escolas de música e de belas-
artes também continuam a ser referência nacional em sua área.
17
Um espetáculo dessa companhia, A bofetada, se encontra em cartaz há mais de dez anos,
com grande sucesso em Salvador, no Rio de Janeiro, em São Paulo e outras capitais e
cidades de todo o país. Nele, quatro atores exploram ao máximo o humor de homens
travestidos. Na mesma linha de trabalho, a companhia se apresentou em Nova York
com outro espetáculo, adaptado do repertório do teatro musical norte-americano (Nun
Sense), com o qual obteve grande sucesso também em todo o Brasil (Fernando Marinho
recebeu da Associação Paulista de Críticos Teatrais o Troféu de Melhor Ator por seu
trabalho nesse espetáculo).
18
Com texto de Aninha Franco e direção de Fernando Guerreiro, o mesmo diretor de A
bofetada, este espetáculo utiliza, como material dramatúrgico, musicais e ditados brasileiros
de caráter machista, desconstruindo o preconceito. Recebeu o prêmio de Melhor
Espetáculo de 1996, no Rio de Janeiro e em São Paulo, e continua em cartaz em tournées
constantes pelo país.
19
Uma brincadeira, desenvolvida por atores da Escola de Teatro durante uma greve em
1989, com dramaturgia original de Cleise Mendes e direção de Paulo Dourado, Los
Catedrásticos realizaram o primeiro Recital da novíssima poesia baiana, explorando o
humor de um jogral pretensamente sério, utilizando letras de música carnavalesca da
Bahia ao lado de poesias mais, digamos, eruditas, como as de Gregório de Matos. Os
espetáculos do grupo continuam em cartaz, circulando pelo país e atualizando seu
repertório e forma de encenação.
261
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
20
O Bando estreou em 1991 e é hoje um dos grupos residentes do recentemente refo rmado
e ampliado Teatro Vila Velha, dirigido por Márcio Meirelles, Chica Carelli e Ângela Andrade.
O Bando, assim como os outros três grupos anteriormente citados, têm feito temporadas
de grande impacto também fora da Bahia. Ver Meirelles et al., 1995.
21
Ver, a propósito, nosso texto “Teatro e negritude na Bahia” (Meirelles et al., 1995: 15-
-21),
22
As peças do Bando tematizam, constantemente, a vida cotidiana da população afro-
baiana; Los Catedrásticos usam a música popular baiana como material dramatúrgico de
referência; a Escola de Teatro da UFBA celebrou, em 1996, seus 40 anos de existência
com a produção do espetáculo A casa de Eros, texto de Cleise Mendes, direção de José
Possi Neto, ex-diretor da Escola, tendo como referência a criação da própria Escola e a
gestão de seu primeiro diretor, Eros Martins (Martim) Gonçalves.
23
Criadas em 1955, começaram a funcionar em 1956. Mantêm cursos de graduação para
atores, diretores, dançarinos e professores de teatro e de dança, de especialização em
coreografia (momentaneamente interrompido), além de mestrado e doutorado em artes
cênicas. Referências nacionais – mesmo até internacionais –, essas escolas produzem
cerca de 20 espetáculos por ano, dentro das mais variadas tendências.
262
Armindo Bião
24
Sobre o teatro baiano, ver FRANCO, 1994.
263
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
Procurando, mais uma vez, definir matrizes estéticas com base em dados
históricos, geográficos, linguísticos e religiosos, e até correndo o risco de
desagradar amigos e artistas a quem muito admiro, poderíamos
estabelecer alguns elementos dessa comparação entre a baianidade e o
que seria uma possível identidade pernambucana:26
25
O artista e pesquisador nordestino Antonio Cadengue, em seu artigo “Educação pela
máscara: recortes de uma genealogia de Antonio Nóbrega” (in Folhetim 5, 1999) sobre
Antonio Nóbrega e Ariano Suassuna, ambos artistas criadores de grandes obras de
enorme valor estético e sociocultural, define muito bem esse caráter conservador,
autoritário e intolerante revelado no discurso desses dois importantes artistas. Caetano
Veloso e Carlinhos Brown, ambos constantemente exercitando o discurso provocativo
(ainda bem recentemente, a propósito de seu recém-recebido prêmio Grammy, Caetano
declarou à imprensa brasileira que criticara negativamente seu disco Livro, com o qual
fora premiado, que o Brasil já levara o tri e a Bahia, o bi; Brown ficou nu em cima de um
trio elétrico no carnaval de 1998) e também grandes artistas, criadores de importantes
obras, responderiam pelo contrário dessa matriz pernambucana, podendo ser definidos
como marcos da baianidade.
26
Agradeço ao colega Pierre Le Queau (Universidade René Descartes, Paris V, Sorbonne),
que generosamente compartilhou reflexões a propósito dessas questões, quando da
revisão da primeira versão desse texto, estimulando e contribuindo para a clarificação
de algumas de minhas primeiras intuições comparativas a esse respeito. Agradeço,
igualmente, à colega Ângela Andrade (Universidade Federal da Bahia), que, também
generosamente, compartilhou reflexões sobre as questões mais polêmicas contidas neste
texto.
264
Armindo Bião
265
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
266
Armindo Bião
27
Ver essa obra clássica sobre a formação da cultura brasileira, e particularmente da
cultura nordestina, sobretudo na página 402 da edição José Olympio de 1964 (original
de 1933).
28
Tive a honra e o prazer de participar do exame dessa dissertação, a convite de sua autora
e de sua orientadora Danielle da Rocha Pita. O trabalho tem como horizonte teórico a
antropologia do imaginário de Gilbert Durand e a sociologia do atual e do cotidiano de
Michel Maffesoli.
29
Ver, a propósito, RUY, 1959.
30
Ver, a esse propósito, meu artigo “Obsceno em cena, ou O Tchan na boquinha da garrafa”,
in Repertório Teatro & Dança I (Salvador: PPGAC/ GIPE-CIT/ UFBA, 1988, p. 23-26).
267
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
31
O sucesso do que ficou conhecido nos meios de comunicação como axé music, assim como
dos inúmeros grupos de pagode da Bahia, revela, através das letras de suas canções, uma
presença avassaladora de referências à Bahia, em geral, e aos próprios grupos musicais que
as cantam, o que se vê, de modo paroxístico, na produção do grupo de música/ dança É
o tchan, originalmente conhecido como Gerasamba, por’ exemplo. Também sobre essa
questão de autorreferências na produção espetacular baiana, podemos pensar no nome de
artistas como Xisto Bahia, Baiano e Novos Baianos, ou na produção artística de Caetano
Veloso e da Timbalada, de Carlinhos Brown, por exemplo. O humorista carioca Millôr
Fernandes divulgou no famoso jornal dos anos 60 e 70 0 Pasquim a ideia de que a Bahia
seria a maior agência de propaganda do país. 0 valor dessa piada poderia ser avalizado por
alguns publicitários baianos de grande sucesso nacional, como Nizan Guanaes, Duda
Mendonça, Sérgio Amado e Haroldo Cardoso, por exemplo.
268
Armindo Bião
32
0 ator Ricardo Castro mantém em cartaz no Teatro XVIII, há quase dois anos, um
espetáculo no qual ele faz tudo, concepção, interpretação, direção, produção, operação
de som e luz, bilheteria etc. intitulado 1,99; referência ao preço cobrado - R$ 1,99, o
mais barato da cidade. Apreciado pelo público e pela crítica, o espetáculo já foi assunto
do programa de televisão da Rede Globo Pequenas empresas grandes neg6cios.
Ainda que não se constitua num verdadeiro “grande neg6cio”, o espetáculo radicaliza o
caráter pretensioso da baianidade e sua bem-humorada e irônica relação com o dinheiro.
De 1971 a 1976, no Teatro Dan Dan, na Vila Matos, eu mesmo experimentei a primeira
parte dessa intuição, criando os espetáculos solo Blue marinho e Tabu.
33
O Projeto Axé, dirigido pelo educador Cesare de la Rocca, a Escola Criativa Oludum,
os projetos artístico – comunitários dos grupos culturais Ilê Ayê, Malê Debalê e Araketu,
o programa comunitário Tá Rebocado e a Escola de música Pracatum, ambos
coordenados por Carlinhos Brown, são alguns exemplos excelentes – similares a tantos
outros existentes hoje em todo o Brasil – que, utilizando as artes, se dedicam à atuação
pedagógica no seio de comunidades ricas em carências de toda ordem, contribuindo,
assim, para a organização da sociedade civil e para a redução das gravíssimas disparidades
socioeconômicas que, infelizmente, ainda caracterizam o país. Esses trabalhos
comunitários produzem arte com o valor simultaneamente ético e estético mais essencial,
que a caracteriza como criação humana para a superação da dor e da desagregação
social.
269
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
Referências
34
Nosso famoso dicionário registra no verbete baianada: S. f.; I. Bras. Fanfarrice,
impostura de baiano (4).; 2. Bras., S. Grupo de baianos [V. baiano (6).]; 3. Cap. queda
no adversário, que se aplica, puxando-lhe a bainha das calças.; 4. Bras., S. Inabilidade
em montar a cavalo ou em manejar as boleadeiras.; 5. Bras., S. Ação desleal, suja;
sujeira, patifaria: Fez uma baianada comigo. Os grifos são meus.
35
Referência ao programa Bahia singular e plural, do Instituto de Rádio-Difusão
Educativa - IRDEB, coordenado por Paolo Marconi, com direção de tv de Josias
Pires, que vem produzindo discos e programas de televisão sobre formas de espetáculo
tradicionais da Bahia e contribuindo para uma já antiga e – para mim - muito esperançosa
e promissora aliança entre tradição e novas tecnologias, em tomo das artes do espetáculo,
que pode funcionar no panorama da baianidade da qual tentamos aqui apresentar o
perfil, como cimento comunitário e instrumento de melhoria da qualidade de vida e
renda da absoluta maioria da população, realizando a boa, necessária e úti1 ética da
estética.
270
Armindo Bião
271
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
272
Armindo Bião
O teatro na Universidade*
O alvoroço foi grande na imprensa local e nacional, por causa dos quatro
eventos internacionais e das vinte e três produções teatrais realizadas no
período (cronologia abaixo), além dos sofisticados acontecimentos sociais
que então ocorriam no Palácio da Reitoria e, a partir de 1958, no Solar
Santo Antônio (sede da escola, cujo início se deu nos porões da própria
reitoria). O fato é que com o apoio de instituições nacionais e estrangeiras,
particularmente da Fundação Rockfeller, um variadíssimo e inédito
repertório de peças e técnicas teatrais, de informações artísticas e culturais
de toda ordem começou a circular pela cidade.
273
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
Cronologia
Nov. 56 – Santa Tereza, L’annonce fait à Marie. Paul Claudel (com o Madrigal
e o grupo francês Les Comédiens de l’Orangerie), direção Martim Gonçalves
e Roger Bernadel.
Nov. 56 – Santa Tereza, Auto da Cananéia. Gil Vicente (ao lado do Madrigal
da Universidade), direção Martim Gonçalves (primeira produção do
Grupo da Escola de Teatro da Universidade “A Barca”).
274
Armindo Bião
275
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
Jul. 61 – TST, Três Peças Modernas Japonesas, Shigan Naoya e Yukio Mishima,
direção Herbert Machiz (A Barca).
276
Armindo Bião
* Publicado originalmente In: CRÍTICA: uma vida sombria ao sol de Salvador. Revista
Bravo!, Rio de Janeiro, p.64, n. 64, 1998.
277
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
278
Armindo Bião
279
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
A performance
280
Armindo Bião
A origem
281
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
Conclusão
282
Armindo Bião
283
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
284
Armindo Bião
Referências
285
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
286
Armindo Bião
287
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
Nos anos 70 surgiu na Bahia o grupo cultural e carnavalesco Ilê Ayê, que
viria a criar o Concurso Beleza Negra, fazendo eco aos concursos criados
anteriormente, no Rio de Janeiro, pelo Teatro Experimental do Negro.
Nos anos 80, também na Bahia, o grupo Palmares Iñaron brincou com
a forma e o conteúdo da arte cênica em espetáculos voltados para a
valorização dos dois grupos étnicos (o negro e o indígena) dominados
economica, militar e politicamente, na formação cultural brasileira, pela
matriz europeia.
288
Armindo Bião
289
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
290
Armindo Bião
21 - JONES, Leroi. Four Black Plays: all praises to the black man.
Indianopolis and New York: Bobbs-Merril, 1969.
291
Armindo Bião
Euforia e Ufanismo:
Quantidade e Qualidade num mercado em
crescimento*
293
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
294
Armindo Bião
O presente
295
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
296
Armindo Bião
297
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
O que falta
Como se vê por esse breve relato, o que não falta é euforia e ufanismo
no teatro que se faz na Bahia hoje.
298
Armindo Bião
299
Armindo Bião
301
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
302
Armindo Bião
1
In: COHEN, Robert. Acting Power. Palo Alto: Mayfield P. C., 1978.
2
HALL, Edward T. The hidden dimension. New York: Anchor Books, 1990. 217
p.
303
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
304
Armindo Bião
3
MORRIS, Desmond. Gesture. Madrid: Alianza, 1993.
4
Após a publicação deste trabalho, tomei conhecimento da descrição proposta por Luís
da Câmara Cascudo para o muxoxo In: DICIONÁRIO do Folclore Brasileiro. 6. ed.
Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: EDUSP, 1988. p. 518, que, de acordo com
Morris, pode ser uma das possíveis substituições ou complementos do gesto escolhido,
em circunstâncias de maior proximidade corporal, no âmbito da distância “pessoal”,
que é o caso, como referência para o corpus para a presente reflexão, e que vale aqui
transcrever:
Som rápido, semelhando um estalido, obtido pela contração do terço médio da língua
sobre a abóbada palatina, num brusco movimento de sucção, soltando-a imediatamente
para que o som repercuta na garganta. Não há, como vemos, nos muitos verbetes
dicionarizados, movimento nos lábios. É gesto tradicional e popular, significando o
desprezo, pouco caso, indiferença. (CASCUDO, LXXXV) In: CASCUDO, Luís da
Câmara., “Notas Pretas”. Revista do Arquivo Municipal, S. Paulo, LXXXV, 176).
Os significados de “desprezo, pouco caso, indiferença” podem ser identificados ao de
“superioridade” (4,1% da amostra de Morris; 33,3% da amostra desta pesquisa), o
mais recorrente nas performances estudadas, com três ocorrências. Os significados de
“negativa” (25% da amostra de Morris; 22,2% da amostra desta pesquisa) e de
305
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
- Primeira Performance
306
Armindo Bião
- Significados observados:
- Segunda Performance
307
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
- Significados observados:
- Terceira Performance
308
Armindo Bião
- Significados observados:
309
Armindo Bião
I Romances tradicionais
3 Dona Branca
311
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
11 Moça da varanda
Aí o coronel vem:
312
Armindo Bião
8 casamento que eu tenho para ela está ali naquela peia. (bis)
- Ó meu pai, não diga isso e nem torne a repetir, (bis)
10 se eu não me casar com ele, me arrumo pra fugir. (bis)
Na passagem dessa ponte, que se deu a perdição, (bis)
12 um beijinho, um abraço e um aperto de mão. (bis)
I Romances tradicionais
Seção B: Conquista amorosa
15 O cego
15.1 O Cego (38)
Cantado por Maria Hilda Conceição, 53 anos, natural de Maragogipe –
BA, Mussurunga, 14 abr. 86. (BIA. 2.15).
I Romances tradicionais
Seção C: Religiosos
19 Santa Iria
19.1 Iria (53)
Cantado por Maria Laura da Conceição Benn, 55 anos e Maria Hilda
Conceição, 53 anos, naturais de Maragogipe – BA. Mussurunga, 14 abr.
86. (BIA 3.5), (BIA 2.14).
313
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
- Ó minhas pastorinhas,
8 ó minhas pastorinhas, que estão pastorando,
que santa é essa que estão adorando? (bis)
10 - Eu não sei dizer,
eu não sei dizer, mas ouvi falar,
12 é a Santa Iria que foi degolada (bis)
- Ó minha Santa Iria,
14 ó minha Santa Iria, meu amor primeiro,
perdoai-me a morte por Deus verdadeiro. (bis)
16 - Eu não te perdoo,
eu não te perdoo, ladrão carniceiro,
18 que do meu pescoço fizestes um carneiro. (bis)
Era um príncipe que ia casar com a moça, que se chamava Irias. Então
ele foi, falou com o pai dela, mas ela não queria casar. Ele aí planejou
roubar, e roubou ela. Ela saiu cantando:
Aí ele respondia:
Ela responde:
6 - Eu já sou casada, já tenho marido,
que é Deus do Céu e a Virgem Maria.
314
Armindo Bião
Aí ele chega num lugar, mata ela e vai-se embora. Passa muito tempo
sem vê-la. Quando ele volta, encontra uma igreja e o pessoal rezando.
Ele aí pergunta:
- Ó minhas pastorinhas,
16 ó minhas pastorinhas, o que estão pastorando?
Que santa é essa que estão adorando? (bis)
As pastoras respondem:
Ela aí responde:
- Eu não te perdoo,
24 eu não te perdoo, ladrão carniceiro,
que do meu pescoço fizestes um carneiro. (bis)
315
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
26 - Eu já te perdoo:
Eu já te perdoo, ladrão carniceiro,
A história de Santa Iria. Ela vivia em casa com os pais, mas tudo indica
que ela era casada. E um rapaz se apaixonou por ela. E, como ela não o
aceitou, ele carregou, roubou de seus pais. E tudo que ele oferecia ela
não aceitava, porque ela achava que em casa dos pais ela tinha tudo
melhor. Então tem uma parte em que ele diz assim:
- Me dizeis, Iria,
2 me dizeis, Iria, onde tu dormias?
E ela responde:
(Porque uns dizem “hoje nas areias”, outros dizem “hoje em terras alheias”).
316
Armindo Bião
Então estas coisas foi fazendo com que ele ficasse indignado com ela. E
chegou um dia que ele não aguentou mais e degolou. É, tirou o pescoço
dela. E foi embora. Passaram-se muito tempo. Depois ele voltou e viu
aquela multidão de romeiros que rezavam diante de uma santa, de uma
imagem erguida, e ele perguntou quem era a santa. E aí disseram, também
cantando (que eu não me lembro dos versos) que era a Iria. E ele perguntou:
- E quem é a Iria?
E a Santa respondeu:
14 - Eu não te perdoo,
eu não te perdoo, um cão carniceiro,
16 pois tu me matastes como um carneiro.
E ele, implorando:
Aí ela colocou um grande sacrifício, uma coisa que talvez não fosse
acontecer, e cantou para ele:
20 - Eu não te perdoo,
eu não te perdoo, um cão carniceiro,
22 pois tu me matastes como um carneiro.
317
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
E a condição:
- Eu só te perdoo,
24 eu só te perdoo, um cão carniceiro,
se aqueles mares se virar em areia.
Aí ela respondeu:
- Eu só te perdoo,
30 eu só te perdoo, um cão carniceiro,
se aquelas areias se virar em flor.
20 Barca Nova
318
Armindo Bião
25 Tapuia
319
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
26 Tapuia do Cacaual
320
Armindo Bião
1.1 (84)
321
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
2 Romance do baile
2.1 (85)
Cantada por Maria Hilda Conceição, 53 anos, natural de Maragogipe –
BA. Mussurunga, 14.04.86. (BIA. 2.10)
322
MISCELÂNIA DO MESMO
Armindo Bião
*
Publicado originalmente em Cadernos do GIPE-CIT, Salvador, n. 20, p. 7-11,
2008.
1
BIÃO, Armindo (Org.). Artes do Corpo e do espetáculo: questões de etnocenologia.
Salvador: P & A, 2007. 492 p.
325
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
326
Armindo Bião
Por isso meu prazer é multiplicado, aqui e agora, quando mais um leitor
é informado desta singela homenagem que fazemos a Jean Duvignaud.
E quando posso, num laivo deslavado de vaidade, arriscado sem dúvida,
mas que, por isso mesmo, aumenta o meu prazer, pois repito o poeta
Caetano Veloso, “tudo é perigoso, tudo é divino maravilhoso”, reporto-
me a três momentos em que encontrei, nas encruzilhadas, o grande mestre.
327
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
2
DUVIGNAUD, Jean. Sociologia do Comediante. Trad. H. Faço.Rio de Janeiro:
Zahar, 1972.
328
Armindo Bião
329
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
Seu interesse pelo teatro, pela festa e pela anomia compõe um sistema
coerente, tanto do ponto de vista conceitual quanto de sua produção
literária. E é nesse interesse que todos também poderão se encontrar e
compreender a extensão da homenagem que aqui fazemos a Jean
Duvignaud.
330
Armindo Bião
Meu caro leitor, você tem em mãos o produto de uma paixão razoável,
por mais paradoxal que possa parecer essa expressão “paixão razoável”.
E é meu desejo que você o aproveite bem e logo. Por isso, tentarei lhe
expor, brevemente, não o tema da tese de doutorado, que tive a honra
de acompanhar como professor orientador, desde sua gestação – durante
o processo do curso de mestrado de Jorge das Graças Veloso – e que é
dedicada às folias do divino do entorno da cidade de Brasília, no planalto
central brasileiro. Mas sim, buscarei tecer algumas considerações sobre o
teatro e a teoria, essa encruzilhada acadêmica e artística, onde foi gerado
esse livro, que você agora manuseia.
331
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
Pois foi bem esse o desafio que Jorge, cheio de graças em seu sobrenome
materno, de modo zeloso e veloz, enfrentou em seu doutoramento,
concluído em 2004, e, também vitoriosamente, na publicação deste livro.
1
Acabo de publicar um velho poema meu (escrito em Londres, em 1970) com esse
título in: BIÃO, A. Bloco mágico e lua e outros poemas. Salvador: P & A, 2008,
284 p. e, também, acabo de ler uma versão, em língua portuguesa (Edição Standard
Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. vol. XIX
[1923-1925]: O Ego e o Id e outros trabalhos. Trad. Jayme Salomão. Rio de Janeiro:
Imago Ed., 1976, [1924?], p. 283-290), da versão inglesa (s.d.) ligeiramente corrigida
de outra publicada em 1950, com notas adicionais e acompanhada de Nota do
Editor Inglês, do artigo de Sigmund Freud, “provavelmente escrito no outono de
1924” e publicado originalmente em 1925 (Int. Z. Psychoanal., v. 11, n.1, p. 1-5),
intitulado “Uma nota sobre o “bloco mágico”, que trata do “curioso pequeno
aparelho”, conhecido comercialmente na Grã-Bretanha como “printator”, como
referência real e concreta para considerações sobre a memória, o “neurótico” hábito
de se tomar “nota por escrito” e o “funcionamento do aparelho percentual da
mente”. Pois foi justamente a lembrança de uma “lousa mágica”, provavelmente
uma versão brasileira simplificada do “bloco”, que recebi de presente quando criança,
que me levou a intitular meu poema “Bloco mágico e lua”, sendo a lua, além de
referência genérica à poesia e à loucura, um verdadeiro bloco mágico astronômico,
na história da humanidade. Na apresentação que escrevi para esse meu livrinho, no
qual só as páginas ímpares estão impressas, para que as demais pudessem ser usadas
ao bel-prazer do leitor, sendo, assim, mais um bloco (ou meio bloco) de notas
(encadernado pela margem superior, com uma espiral plástica), refiro-me ao bloco
mágico da psicanálise, pois ao escrever essa apresentação, então, eu já ouvira falar do
famoso artigo de Freud, que, no entanto, até esse momento, eu desconhecia, ou dele
me esquecera, sem ter tomado qualquer nota que tivesse permanecido...
332
Armindo Bião
2
Ver as referências a esse bloco de anotações no clássico de CERVANTES. Miguel de. Don
Quijote de la mancha. Madrid: Real Academia Española, 2004, p. 213 - 807. e em
CHARTIER, Roger. Inscrever e apagar: cultura escrita e literatura, séculos XI-XVIII.
Tradução de Luzmara Curcino Ferreira. São Paulo: EDUNESP, 2007. p. 40 et seq.).
333
Armindo Bião
335
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
Para mais longe, na apresentação deste livro, vale considerar sua âncora
de referência, o orixá Iemanjá, madrinha do Atlântico Negro e mãe de
tantos outros orixás, rainha das águas salgadas, que tem seu belo sobrado
no fundo do mar. A ela se deve reverência apaixonada. É o que faz a
autora deste livro, com muita apetência e competência, de dançarina,
pesquisadora, professora e devota. O leitor aproveitará dessa múltipla e
336
Armindo Bião
Boa leitura!
337
Armindo Bião
*
Texto inédito.
339
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
340
Armindo Bião
341
Armindo Bião
*
Publicada em Ações Fundação Cultural do Estado da Bahia 2003-2006,
Salvador: FUNCEB, 2006. p. 4-14; e elaborada com a colaboração de Ninon Fernandes
e toda a equipe de gestão.
343
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
344
Armindo Bião
345
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
346
Armindo Bião
347
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
348
Armindo Bião
349
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
350
Armindo Bião
Fortalecimento institucional
351
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
352
Armindo Bião
353
Armindo Bião
355
Armindo Bião
* Publicado em: PIRES NETO, Josias. Bahia Singular e plural: registro audiovisual
de folguedos, festas e rituais populares. Salvador: SCT/ FUNCEB, 2005.
357
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
358
Armindo Bião
1
“Un carrefour nommé Bahia: enjeux, problématiques ainsi que certaines pratiques
concernant le patrimoine culturel immaterial à Bahia (Brésil)”.In: Internationale
de l’Imaginaire nouvelle, Paris, n.17, p.175-187, 2004. “Uma encruzilhada
chamada Bahia : o que está em jogo, qual é o problema e algumas práticas relativas ao
patrimônio cultural imaterial na Bahia, Brasil”. In: Revista da Bahia, Salvador,
v.32, n.38, p.16-23, 2004. A comunicação foi apresentada no Colóquio Le patrimoine
culturel immatériel: les enjeux, les problématiques et les pratiques, realizado de 7 a 9 de
agosto de 2003, na cidade de Assilah, com apoio da UNESCO e da Fundação Calouste
Gulbenkian, dentro do XXV Moussem culturel international d’Asilah e da XVIII ème.
session de l’université d’été Al Moutanid ibn Abbad.
359
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
Salvador, 21 de abril
360
Armindo Bião
361
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
362
Armindo Bião
Etnocenologia na serra*
363
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
1
Cf: O POVO, Fortaleza, Ceará, 16 set. 2003.
364
Armindo Bião
tanto baralho que até na igreja jogava. Aí, um dia é descoberto jogando
baralho na igreja e começa a dizer: “Quando pego em um ás que tem
um ponto somente / me faz pensar que existe só um Deus onipotente /
quando pego no dois / me lembro das duas tábuas de lei...” E assim vai
fazendo com cada carta do baralho uma referência à Bíblia. Aí foi
maravilhoso porque mestre Vicente começou a recitar e eu comecei a
recitar junto. O que é mais incrível é que Ricarte, o soldado jogador, é
um dos doze pares de França, um personagem incrível da história da
Europa do século X. E está vivo aqui em Guaramiranga, interior do
Ceará! Como está em São Tomé e Príncipe, na África, onde eu tinha
estado um mês antes de vir para cá, e vi a luta de mouros e cristãos com
Ricarte, que é o personagem que engana o gigante e consegue derrotar
momentaneamente os muçulmanos, os mouros. Você vê então que é
um personagem ligado a um fato histórico, a história de Carlos Magno
e os Doze Pares de França e que no Brasil virou um personagem que
inventa, joga baralho e faz o que quer.
365
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
366
Armindo Bião
367
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
368
Armindo Bião
369
Armindo Bião
* Publicado In: A TARDE, Salvador, 20 mar. 2003. (A propósito da invasão dos EUA
no Iraque, com a legenda NÃO À GUERRA)
371
Armindo Bião
*
Entrevista concedia para SBPC Cultural Bahia, Bahia, que lugar é este?,
Disponível em: <http://www.sbpccultural.ufba.br/identid/semana9/texto.html>.
Acesso em 17.10.2008.
373
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
Qual seria a importância dessa discussão para o fazer artístico e para a sociedade, na
Bahia?
Para o fazer artístico, eu diria que seria uma atualização, uma retomada
da linha evolutiva, no sentido de valorizar e difundir essa diversidade.
374
Armindo Bião
Hoje, há grupos na Bahia que têm como temática a negritude, por exemplo,
ou as culturas nativas. Claro que havia rituais representativos nas culturas
nativas, nas culturas africanas, mas o teatro é uma matriz europeia, sem
dúvida alguma. O fato é que temos práticas espetaculares que não se
restringem ao teatro. Eu acho que as procissões, os rituais afro-brasileiros
têm um componente espetacular muito grande. Então, para a criação
artística, a compreensão dessa diversidade e dessa dinâmica faz com que
a produção artística se diversifique, se inter-relacione, criando o que eu
chamo de sistema espetacular, que vai desde o teatro à dança, ao esporte,
à moda, ao carnaval. É um sistema na verdade único, complexo, mas
inter-relacionado. Para a sociedade, os estudos mais recentes dos
organismos internacionais apontam que está na cultura, no lazer e no
turismo o futuro de criação de renda e emprego. Então, a minha
expectativa, a minha esperança, é que essa dinâmica cultural venha a reduzir
as desigualdades sociais, que são absurdas no caso da Bahia, do Nordeste
e do Brasil, gerando renda e empregos. O meu discurso, evidentemente,
tem um tom mais otimista do que o de muitos de meus colegas, que
lamentam a degradação, a vulgarização, a banalização da cultura. E isso
compreendendo que eu não posso separar a arte, a universidade, da
sociedade; eu não posso separar a cultura do lazer, do entretenimento,
até mesmo do turismo. O conceito contemporâneo de aglomerado ou
de sistema faz com se compreenda que as coisas todas se tocam, todas
dependem umas das outras, e que o valor maior, do meu ponto de vista,
é justamente a diversidade, o espaço plural, para todas as manifestações
espetaculares, desde as de cunho mais religioso, político às estritamente
artísticas.
Mas o que está em evidência na cultura baiana não é muito homogêneo, considerando
que a Bahia é um espaço tão múltiplo?
Não, eu não acho que ele é muito homogêneo Acho que ele é muito
dinâmico e que tem modas dominantes temporariamente, mas elas se
alternam e há nichos de mercado, para usar uma expressão da área, que
sempre reservam um espaço importante para, por exemplo, um
programa como o Bahia Singular e Plural, da maior importância, que o
IRDEB vem fazendo, no sentido de registrar e divulgar folguedos e
375
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
376
Armindo Bião
377
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
378
Armindo Bião
P – E a etnocenologia?
379
Armindo Bião
Multiculturalismo:
multiculturalidade*
381
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
382
Armindo Bião
Anos 70: o apogeu da orgia e a ressaca dos anos 60, a consolidação dos
mitos de origem para a crise mundial das instituições e para o
fortalecimento das redes de relações interpessoais, a globalização e a
segmentação dos mercados, a industrialização cultural e turística, a
sofisticação e a banalização das tecnologias telemáticas, a valorização da
tradição e da multissensorialidade, da imagem e do imaginário, da razão
relativista e de todos os estados da consciência, inclusive o transe, o êxtase.
O corpo humano reina soberano.
* In: VILELA, Gleide et al. Os baianos que rugem: a imprensa alternativa na Bahia.
Salvador: EDUFBA, 1996.
383
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
384
Armindo Bião
Em setembro de 1986, deixava a Bahia, rumo a Paris, um dos mais festejados nomes
do teatro baiano, o ator Armindo Bião. Sua permanência, de quatro anos, está
apoiada numa bolsa de estudos obtida junto a um órgão ligado ao Ministério da
Educação no Brasil e com a qual espera concluir um doutorado, onde, em essência,
num plano meramente teórico, desfia como tema a teatralidade na vida cotidiana. Um
doutoramento que o tem levado a consumir boa parte do tempo em Paris, debruçado
em compêndios da literatura sociológica e antropológica. Em outubro de 1990, Bião
defenderá sua tese, quando definitivamente retornará ao Brasil. No momento, está no
País recolhendo todo o material necessário para a sua fundamentação, incluindo entrevistas
com antropólogos, autores e diretores de teatro, editores e até vasculhando lembranças
e entrevistando também algumas pessoas que estiveram fazendo um dos primeiros
jornais alternativos do Brasil, inteiramente produzido na Bahia, no início da década
de 70, o Verbo Encantado. Ao deixar a Bahia, Bião trabalhava no Departamento
de Teatro da UFBA, ensinando Expressão Corporal, Interpretação, Indumentária
e Dicção. Ele já participou de mais de 40 peças desde que se lançou como ator, no final
dos anos 60, mas distingue três delas especialmente: Macbeth, Electra e Bocas
do Inferno.
385
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
386
Armindo Bião
B – Acho que não. Meu interesse pelo teatro é como atividade profissional
regular, como atividade artístico-amadorística, o teatro popular do tipo
bumba meu boi, danças dramáticas e mesmo certos rituais do candomblé,
que algumas pessoas acham que é teatro e que eu não concordo. Enfim,
tenho uma área de interesse mais larga, que vai desde a televisão a cabo
até os eventos da vida social que não são teatro, mas que têm aspectos
teatrais e espetaculares. O teatro em si continua como o centro de interesse
que me organiza, porque inclusive continuo trabalhando em teatro na
França, participando de oficinas e agora estou inclusive coordenando
oficinas.
B – Não na mesma medida que aqui. Eles têm uma consciência histórica,
de processo, muito profunda. Eu comparei, nem sei se é comparável,
mas a cultura francesa tem uma visão de si própria como a cultura egípcia
talvez tivesse, de uma civilização milenar. Quando digo francesa talvez
esteja simplificando, mas um pouco a europeia. Então, o teatro tem
apenas dois mil anos .
387
Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos
Que tipo de material você está recolhendo para montar sua tese?
388
Armindo Bião
389
Composição e Impressão: