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FEDERAL DE CURITIBA/PR
Dr. MARCOS JOSEGREI DA SILVA
Autos nº 5001839-45.2018.4.04.7000
R ESPOSTA P RELIMINAR ,
-2-
seguidores do Estado Islâmico, promovendo, assim, a
organização criminosa.
O que se passará a demonstrar é que a
conduta de FELIPE sequer constitui crime, uma vez que seu
objetivo era – somente – coletar informações diretas da
fonte, para fins jornalísticos.
O elemento volitivo que motivou o
peticionário, ora tratado como um agente criminoso, jamais
foi o de incentivar ou impulsionar a atividade terrorista!
Pelo contrário, foi de revelar como esses grupos angariam
seguidores, se organizam e atuam. Em outras palavras, FELIPE
jamais voltou suas ações para a finalidade de contribuir
com o terrorismo.
1
Podendo ser acessada através do link
http://g1.globo.com/fantastico/edicoes/2016/07/24.html
2
Deflagrada em 21/7/16, para investigar possível participação de
brasileiros em organização criminosa de alcance internacional.
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2.3. Importante destacar que, antes mesmo da
deflagração da Operação, o peticionário – disfarçado de
ABDU KANI - já integrava comunidades extremistas, visando
unir cada vez mais informações para produzir reportagens
jornalísticas e, assim, denunciar o grupo (o que de fato
ocorreu!).
3
E-mail em anexo.
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No corpo da matéria, FELIPE esclarece sobre a
maneira como os seguidores do Estado Islâmico buscavam
angariar recrutas, com objetivo de ampliar a facção em
diversos países4.
4
Podendo ser acessada através do link
http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2016/03/1749380-folha-segue-
supostos-aliciadores-do-estado-islamico-em-paises-da-europa.shtml
5
Podendo ser acessada através do link
http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2016/03/1749379-internet-profunda-
se-torna-front-de-organizacoes-terroristas.shtml
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Ele explica que havia registros de
brasileiros dispostos a realizarem ataques, bem como revela
que a reportagem da FOLHA teria criado perfis falsos para
manter contato com os extremistas. Confira-se:
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2.5. Adiante, em 27/7/16, três dias após a
exibição da matéria no programa “Fantástico”, o
peticionário informou à diretora da rede GLOBO NEWS que
continuou mantendo contato com os grupos, a fim de ganhar
mais confiança e conseguir maiores detalhes sobre atos que
estavam sendo planejados, bem como a forma de conseguirem
munições.
Ocorre que a emissora não possuía mais
interesse em seguir adiante com o projeto, de modo que
FELIPE seguiu sua coleta de informações agora com a intenção
de veicular com a FOLHA DE SÃO PAULO.
6
E-mail em anexo.
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2.8. Importante destacar que o peticionário
contribuiu espontaneamente com as investigações,
apresentando-se na Superintendência da Polícia Federal do
Rio de Janeiro no dia 11/8/16, inclusive entregando seu
celular para coleta de dados obtidos junto aos grupos.
Após os esclarecimentos prestados, FELIPE
manteve contato com o Delegado DENNIS CALI via e-mail, por
onde mantinha este informado sobre seu contato com SARA
MARTINS RIBEIRO e outros seguidores do Estado Islâmico.
Ora, toda essa sequência de informações,
contato com meios de comunicação e prestação de informações
à Autoridade Policial servem para comprovar apenas uma
coisa: o dolo, a finalidade da ação do peticionário ao
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manter contato com as pessoas e organizações citadas na
exordial era puramente jornalístico, jamais de promover,
integrar ou prestar auxílio, pessoalmente ou por interposta
pessoa, à organização terrorista.
É impensável sustentar que o indivíduo que
tem como motivação a prática do terrorismo ou o incentivo a
práticas terroristas comunique tal fato à diversas pessoas
(meios de imprensa) como ocorreu na espécie! A denúncia
criminal, esta sim configura um atentado à imprensa. Poucas
vezes se viu situação tão clara de arbitrariedade com a
imprensa.
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intuito de fomentar matéria jornalística, é de se registrar que Felipe
ultrapassou o limite tolerável e promoveu a organização terrorista Estado
Islâmico”7.
Questiona-se: qual seria o limite tolerável
para não restar caracterizado o crime disposto no art.3º da
Lei 13.260/16?
A verdade é que não há um limite
estabelecido para tanto. Ainda, caso argumente-se que este
período foi suficiente para que o peticionário promovesse
organização terrorista, é fato (é claro como sol
mediterrâneo, como já dizia NELSON HUNGRIA) que seu objetivo
era outro.
O Dicionário AURÉLIO ensina que promover
significa “dar impulso a; trabalhar a favor de; favorecer o progresso de;
fazer avançar; fomentar”8. É preciso ficar bem claro que FELIPE
jamais buscou promover a organização. Seu único objetivo
foi investigá-la e denunciá-la por meio de suas matérias
jornalísticas.
Como se falar em extrapolação de limite?
Existe um prazo razoável para investigação ou infiltração?
O tipo penal tem condutas muito bem delimitadas pelos
verbos “promover, constituir, integrar ou prestar auxílio”. FELIPE promoveu
a informação e prestou auxílio às investigações. Não pode
ser processado criminalmente por isso; os elementos que
demonstram a ausência do fim de agir em sua conduta saltam
aos olhos.
7
Conforme fls. 32 da denúncia.
8
FERREIRA, AURÉLIO BUARQUE DE HOLANDA. Novo dicionário Aurélio da
língua portuguesa. Editora Positivo. 2009 - p. 1641
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2.12. É tão evidente a vontade do peticionário em
apenas coletar informações para a matéria sobre a Operação
Hashtag que nem o próprio MPF consegue dissociar tal fato
de sua narrativa.
Nos autos do Inquérito Policial nº 5023557-
69.2016.4.04.7000, que deu origem à presente ação penal, o
PARQUET alega que “após o depoimento deste e a juntada de documentação
comprobatória, constatou-se que, na realidade, tratava-se de um jornalista que
tentava se infiltrar em redes de apoio ao Estado Islâmico e produzir reportagens
exclusivas com tal temática”9.
Essa situação teria se alterado somente
porque o jornalista extrapolou um “limite razoável” que
existe apenas na imaginação do acusador? A denúncia, com
todo respeito, é absurda e a absolvição sumária é
imperiosa.
9
Conforme pg. 4 do evento 767, referente aos autos de Inquérito
Policial n° 5023557-69.2016.4.04.7000.
10
Palavra utilizada no árabe para designar Deus.
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discussão aos quais conseguiu acesso. Isso jamais pode ser
criminalizado; é o mesmo que se denunciar um policial
infiltrado no comércio ilícito de drogas por tráfico de
entorpecentes!
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Podendo ser acessada através do link
http://g1.globo.com/fantastico/noticia/2015/01/jornalista-francesa-se-
alista-disfarcada-no-estado-islamico.html
12
Conforme pg. 40 do evento 767, referente aos autos de Inquérito
Policial n° 5023557-69.2016.4.04.7000.
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sete chaves sobre como os grupos terroristas atuam. Para
isso, por óbvio, precisou mergulhar no mundo dessas
organizações. Não pode, no entanto, ser processado
criminalmente por isso! Correndo o risco de ser condenado à
pena (mínima) de 5 anos de reclusão! É obvio que jamais
teve dolo voltado à prática terrorista!!! O caso é surreal.
Em momento algum houve a intenção de
promover organização terrorista, mas sim descobrir a
motivação dos simpatizantes do Estado Islâmico e desvendar
seus esquemas, planos e estratégias.
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Abreviação de Islamic State of Iraq and Syria.
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Ora, vê-se no diálogo justamente um agente
buscando infiltrar-se no meio extremista. Para atingir seu
objetivo – que se ressalta, tinha cunho exclusivamente
jornalístico – o peticionário finge estar interessado em
encontrar mais recrutas de confiança, e até mesmo saber
quantos envolvidos haviam no grupo.
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Se agisse de maneira contrária,
posicionando-se contra o Estado Islâmico, certamente seria,
nesse momento, ignorado por “JIH1”, e jamais receberia
informações sobre os grupos.
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Ora, assim como com CHRYSTIAN, o conteúdo dos
diálogos em nada foge da normalidade de um repórter
buscando infiltrar-se. Durante conversas via whatsapp,
FELIPE pergunta se ela mantém contato com os outros
extremistas, bem como se ela gostaria de ajudar. Busca
acesso a grupos com o fito de documentar e reportar o que
era feito por eles. Mas se destaque o fato de que o
peticionário sempre usou de retórica e de ambiguidade nas
suas falas.
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Ora, se analisarmos os discursos dos
simpatizantes com o Estado Islâmico, a grande maioria –
senão todos – acreditam que os “infiéis” merecem ser
punidos. Se seu discurso divergisse disso, ele não
conseguiria infiltrar-se e acessar grupos com discussão
mais apurada, tal qual conseguiu no dia 5/8/16.
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suposta ação terrorista em planejamento. Conquistou de fato
a confiança dos supostos terroristas.
14
Conforme fl. 18 da denúncia.
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2.26. Observa-se que ele, em certa parte da
conversa, insiste em “provocar” o grupo a respeito de ações
no Rio. Veja Excelência, a Operação Hashtag investigou
possíveis ações terroristas que poderiam ocorrer durante a
realização das Olímpiadas de 2016, que teve como sede a
cidade do Rio de Janeiro.
Na matéria exibida no programa “Fantástico”,
já haviam ameaças de ações a serem executados no Rio. O
objetivo do peticionário era justamente confirmá-las, para
então repassar às autoridades, como de fato ocorreu.
Ou seja, seu interesse em mencionar diversas
vezes o Rio, tinha como único objetivo descobrir se algo
estava sendo planejado para atacar o Evento! A vontade era
dirigida à obtenção da informação, jamais na promoção dos
atos como afirma o MPF na exordial.
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Trata-se de CRISTELENE LÚCIA DE SOUZA, salva no celular do
peticionário com o codinome SAID.
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2.28. O Ministério Público Federal narra que “no
dia 03/08/16, Felipe também externou a vontade de realizar o batismo no
Estado Islâmico”16, dando a entender que isso seria um
indicativo de que era ele um terrorista de fato, ou uma
pessoa verdadeiramente envolvida com a prática criminosa.
Confira-se:
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Conforme fl. 21 da denúncia.
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Primeiro, não é FELIPE quem procura o
batismo, mas sim isso lhe é sugerido por Said. Segundo,
mesmo que fosse dele a iniciativa, isso certamente iria de
encontro com o intuito de obter acesso ainda maior às
informações privilegiadas com fins jornalísticos.
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para tentar validar sua versão de que pertencia ao grupo.
Nada diferente disso nesse diálogo.
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Em contrapartida, o peticionário – surpreso
– pede que ela vá com calma, justificando que ela não
precisava se expor.
Evidente que, caso ele não demonstrasse
estar contente em ir para Isis, soaria muito estranho para
um suposto seguidor. Confira-se:
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FELIPE demonstra não poder passar muitos
detalhes sobre sua função, respondendo com cautela a
pergunta de JIH5 sobre os jogos que estavam para acontecer.
Há de se lembrar que o peticionário, na qualidade de
repórter infiltrado, tinha que tomar condutas a fim de
evitar ser descoberto, logo tinha de se comportar tal qual
se terrorista fosse.
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vontade de promover o terrorismo, mas sim se fazer parecer
um deles e atingir seu objetivo.
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do círculo de extremistas, para isso teve de se passar por
terrorista.
3. PEDIDOS.
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REALE JÚNIOR, MIGUEL. Instituições de direito penal. Rio de
Janeiro. Editora Forense. 2002 - p. 140. Destaques nossos.
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e para evitar preclusão, requer a produção da prova oral,
consistente na inquirição das testemunhas abaixo indicadas:
Pede deferimento.
Curitiba, 18 de abril de 2018.
BENO BRANDÃO
OAB-PR 20.920
GABRIELA CAMPOS
OAB-PR 91.647
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