Você está na página 1de 4

ESPAÇO E TERRITÓRIO EM SAÚDE

Até o século XIX, espaço era sinônimo de ambiente físico-biológico, paisagem, e


sempre foi usado para explicar a origem das doenças, como a teoria miasmática 1.
Depois, com o advento do microscópio e da microbiologia, relegou-se a teoria
miasmática e junto com ela a importância do espaço (meio físico-biológico) como
elemento importante na cadeia explicativa das doenças.
Com a descoberta dos vetores, o espaço volta a ganhar importância, mas ainda sob a
velha visão de espaço-palco no qual poderia ocorrer o contato entre hospedeiros e
agentes, e a climatologia era a base para explicações determinantes de distribuição
espacial das doenças.
A geografia francesa tinha uma visão diferente deste determinismo advindo da escola
alemã, a visão do possibilismo, onde o espaço seria o resultado da interação entre uma
determinada cultura e o meio natural.
Pavlosvky estudou em 1939 casos de encefalite na Sibéria, com baixa densidade
demográfica e concluiu que a doença era uma zoonose, transmitida ao homem por
hospedeiros intermediários (vetores), elaborando, assim, a teoria do foco natural das
doenças (Ecologia das doenças).
A doença circulava por determinado local, graças às condições físico-biológico-
climáticas assim determinava. O homem entrando neste local ficava sujeito àquela
doença.
Sorre explicou como a interação do homem com o meio pode gerar as doenças a partir
do conceito do complexo patogênico. Segundo Sorre, o homem constrói o espaço na
relação da cultura com as condições físico-biológicas, portanto, o espaço seria um
ambiente de construção social.
Complexo patogênico:
 Ambiente físico, biológico e socioeconômico
 Hospedeiro
 Patógeno

1
Miasmas: odores do meio ambiente (mau cheiro) produziriam as doenças, como em pântanos, coisas
estragadas, podres
A partir da metade do século XX, com a urbanização que concentrava a pobreza em
espaços definidos da cidade, os fatores socioeconômicos passaram a ser considerados
na epidemiologia e na Geografia Médica, que se voltaram para uma noção de espaço
social, embora ainda com o viés ecológico.
O pobre não consegue morar no mesmo espaço do rico, pois não pode comprar um
terreno e acaba indo para a periferia onde é mais barato, ou então ocupando
simplesmente algumas áreas.
Milton Santos define espaço como um sistema de objetos e coisas (fixos e fluxos) que
são imperceptíveis. A noção de território é empírica, mas ainda assim é um meio
percebido, subordinado a uma avaliação subjetiva de acordo com representações
sociais específicas.
O espaço passa a ser uma categoria de objetos (do meio físico-biológico e construído
pela sociedade – socioeconômicos e culturais) e mais as ações, não sendo estático
como a noção de paisagem do século XIX.
Complexo técnico-patogênico informacional:
 Sistemas de fatores determinantes
 Sistemas de informação e monitoramento
 Sistemas de atendimento à saúde
A doença e a saúde não resultam simplesmente das forças percebidas por Pavlosvky ou
Sorre, como hoje temos – sistema de atendimento à saúde, que podem alterar ou
extinguir uma doença.
Praticamente não existem espaços naturais, pois o homem tem manipulado e
interagido em praticamente todos os lugares. A malária na Europa não mais existe, pois
os dois sistemas (de informação e monitoramento e de atendimento à saúde) atuaram.
Já na África, a malária ainda existe, uma vez que os dois sistemas praticamente
inexistem.
Lugar é uma categoria geográfica fundamental para a compreensão do território e é a
partir de seu exame que se poderá tomar a complexidade das condições de vida dos
indivíduos e dos lugares onde eles vivem como ponto de partida das políticas públicas.
O conceito de “lugar” pode ser definido como um espaço definido pela afetividade, o
“lugar onde nasci”, onde vivo e tenho relação de afetividade.
De acordo com Milton Santos (1998), “cada homem vale pelo lugar onde está: o seu
valor como produtor, consumidor, cidadão, depende de sua localização no território”.
A territorialização serve para a organização dos serviços e das práticas de saúde,
considerando-se uma atuação em uma delimitação espacial previamente
determinada. Como exemplo temos os PSF.
O conceito de territorialidade refere-se às relações de poder espacialmente
delimitadas. As instituições, as empresas e os mais diversos agentes sociais
desenvolvem suas próprias estratégias de apropriado território. A ocupação do
território advém da luta pelo poder:
 Tráfico
 Torcidas de futebol
 Grandes empresas
O território como disputa entre grupos antagônicos tem levado à desterritorialização
dos mais fracos. Portanto, território é um espaço de poder!

A autonomia das coletividades é outra condição para a transformação social. O


controle significativo sobre o seu espaço vivido – o lugar – é decisivo para as
transformações dos indivíduos em cidadãos e para mobilização por um genuíno
desenvolvimento (Souza, 2000).
A territorialização (PSF) serve para a organização dos serviços e das práticas de saúde,
considerando-se uma atuação em uma delimitação espacial previamente determinada.
Deve-se levar em conta para o recorte espacial, a caracterização da população a ser
atendida, dos problemas de saúde e agravos e identificação dos serviços que se quer
estabelecer. O território é um recorte espacial que deve ser definido por uma
extensão geométrica, um perfil demográfico, epidemiológico, administrativo,
tecnológico, político, social e cultural.
O ponto de partida de territorialização do sistema de saúde está na logica das relações
entre condições de vida, saúde e acesso às ações e serviços de saúde. A categoria de
análise fundamental para a territorialização em vigilância em saúde é a de “território
utilizado”.
Espaço  deixou de ser natural ou construído e passou a ser social, de construção da
comunidade.
Lugar  relaciona-se com a afetividade.
Território  espaço de poder delimitando áreas, assim como o serviço público (PSF)
estabelece normas para sua instalação, assim como o narcotráfico delimita sua área.
Portanto, resumidamente:
Espaço  físico, de construção social
Lugar  de afetividade.
Território  de poder

Você também pode gostar