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Um copiloto para seu carro - Caderno tecnologia do Correio Braziliense http://impresso.correioweb.com.br/app/noticia/cadernos/tecnologia/2012/08/06/interna_tecnologia,48...

TECNOLOGIA »

Equipe de engenheiros americanos cria sistema capaz de identificar riscos no


trânsito e assumir o controle do automóvel. O objetivo é evitar acidentes

» Bruna Sensêve
Publicação: 06/08/2012 04:00

Uma mãe acorda no meio da noite, pega o carro e parte para o local onde combinou de buscar os
filhos. O dia cansativo pesa nas pálpebras e alguns minutos em linha reta são suficientes para que ela
caia no sono por alguns segundos. Mesmo assim, nada acontece e seu automóvel continua
perfeitamente na rota. O fim nem um pouco trágico para a história pode parecer estranho, mas evitar
que situações como essa acabem em tragédia é o objetivo de uma tecnologia apelidada de “copiloto
inteligente”. Desenvolvido por uma equipe de três engenheiros mecânicos do Instituto de Tecnologia
de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos, o novo sistema de segurança semiautônomo é capaz,
segundo seus criadores, de tomar a direção do veículo em momentos de perigo iminente.

O mecanismo utiliza uma câmera de alta definição aliada a um telêmetro a laser (equipamento de
precisão destinado à medição de distâncias em tempo real) para identificar riscos próximos ao
automóvel. Um algoritmo desenvolvido pela equipe faz com que um programa de computador seja
capaz de analisar os dados e identificar as zonas mais seguras para que o automóvel continue seu
caminho sem imprevistos. A junção desses dispositivos permite ao copiloto identificar outros carros ou
obstáculos em uma estrada e assumir a direção caso o motorista não tome nenhuma atitude para
evitar o acidente.

Liberdade

O modelo apresenta uma nova forma de compartilhamento de controle entre homem e máquina. O uso
mais difundido de piloto automático é o usado em aeronaves. Nesses casos, os condutores humanos só
tomam a direção se algo inesperado surgir na rota previamente traçada para o avião. Equipamentos
com um princípio similar foram desenvolvidos para automóveis que conseguem, por exemplo,
estacionar sozinhos. Com a criação dos engenheiros do MIT, a situação se inverte completamente.
Diferentemente da tecnologia usada em aviões, o veículo não é forçado a rastrear uma linha
específica na faixa de tráfego ou um caminho único. Assim, o motorista não fica limitado a um
caminho pré-determinado, mas permanece livre para manter um controle significativo do automóvel,
enquanto seus comandos de controle são seguros.

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Equipamentos usados no projeto: o sistema não tira a


autonomia do motorista e só age quando necessário

Se o controlador automático começa a “sentir” que o desempenho do motorista diminui ou identifica


alguma ameaça, ele gradualmente assume o controle, que também é retornado ao condutor aos
poucos depois de passado o perigo. O autor principal da pesquisa, Sterling Anderson, explica que o
sistema monitora constantemente o ambiente e a condição atual do veículo. Com base no que vê e no
que o veículo está fazendo no momento, ele planeja continuamente um “corredor” de segurança e
determina quão difícil será para o veículo ficar dentro desse canal. “Se sua previsão começa a mostrar
que os comandos atuais do condutor estão tornando cada vez mais difícil para o veículo permanecer
sob controle e com segurança, ele começa a intervir, ajustando os comandos do motorista. Se ainda
assim não é dado o comando certo, o controlador vai tomar o volante completamente para ter
certeza de que o acidente seja evitado.”

Ao mesmo tempo que parece mais seguro contar com um controlador automático que pode calcular
friamente as manobras e resolver prontamente situações de emergência, surge a dúvida se a proposta
não coloca responsabilidade demais em uma máquina. Anderson responde: “Essa é uma preocupação
normal. Muitas pessoas não confiam no rosto invisível da automação porque já tiveram experiências
ruins com computadores no passado. Nos testes experimentais, porém, quase todos os 30 motoristas
participantes passaram a confiar no sistema depois que o experimentaram. Acreditamos que o mesmo
deve acontecer com o público geral.”

Rapidez

Para o coordenador do curso de engenharia de automação da Faculdade Anhanguera de Campinas,


Alberto Honorato, a vantagem de um dispositivo como esse é a rapidez de resposta frente à
capacidade humana para reagir em situações de perigo. “Ele já tem pré-programadas todas as
situações que podem acontecer. Por si só, sua análise de perigo e reação tende a ser mais rápida que a
nossa. Esse dispositivo tem uma visualização das laterais do carro e todos os obstáculos ao nosso
redor, enquanto nós só vemos o imediato”, detalha Honorato. Ele acredita que a imprevisibildiade do
comportamento humano também pode começar a ser moldada, considerando a atualização do banco
de dados do software, já muito comum nos dias de hoje. “Até que 99% das situações e comportamentos
possam ser cobertos.”

Por outro lado, o engenheiro mecânico Igor Guimarães, coordenador do curso de engenharia no
câmpus de Anápolis da Faculdade Anhanguera, vê o equipamento com algumas ressalvas. Para o
especialista, apesar de impressionante, a utilização de sensores pode ter algumas limitações. “É
necessária uma manutenção constante do equipamento, já que o sensor usado possui foco direcional.
É como o olho humano, precisa estar direcionado, além de possuir também um ponto cego.” Segundo
Guimarães, caso aconteça qualquer coisa que mude a direção do sensor — como uma passagem mais
violenta por um quebra-molas ou uma batida em um buraco na estrada —, ele pode fazer uma leitura
errada e, consequentemente, passar uma informação menos precisa do que se espera. “Pode ser
desenvolvido um formato do equipamento que impossibilite esse sensor de se mexer, uma estrutura
rígida ao redor ou uma armação bem fixada”, imagina o engenheiro.

O criador do dispositivo, no entanto, se mostra mais otimista. Segundo Sterling Anderson, a tecnologia
já foi licenciada para a maioria das fábricas automotivas e, atualmente, é utilizada para a avaliação
de ameaças e alerta do motorista. Atualmente, Anderson e sua equipe tentam adaptar o copiloto
inteligente para as habilidades e preferências de diferentes motoristas. Aqueles mais talentosos ou
mais agressivos poderiam moldar para que o sistema demore mais para interferir. Já os condutores
iniciantes ou que preferem ser mais cuidadosos poderiam querer o dispositivo mais atuante que o
normal.

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