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DIREÇÃO MUSICAL GESTUAL – LINGUISTICA, ESTRUTURALISMO OU

SEMIOTICA?
Romualdo Silva Medeiros1

RESUMO
O artigo pretende discutir questões relativas à Linguística e ao Estruturalismo
de Ferdinand de Saussure e da Semiótica de Charles Peirce aplicadas a
Música em geral e a Direção Musical em particular. Buscará estabelecer
análises de procedimentos gestuais na condução baseado nos referenciais
teóricos apresentados.

Palavras-chave
(Música. Direção Musical. Linguística. Estruturalismo. Semiótica.).

SUMMARY

The article intends to argue relative questions to the Linguistics and the
Structuralism of Ferdinand de Saussure and of the Semiotics of Charles Peirce
applied to Music and the Musical Direction in particular. It will search to
establish analyze of gesture procedures in the conduction based on the
presented theoretical references.

LINGUISTICA, ESTRUTURALISMO E MUSICA.

Pode ser compreendido visualmente um gesto de um Diretor de Coro


ou de Orquestra? Para que servem estes gestos? Como explicá-los? Que
teoria utilizar? Os gestos são universais? Existirá uma forma de analisar os
gestos produzidos numa condução musical que possa explicar porque o
procedimento gestual de um Regente A seja mais ou menos eficiente que o
Regente B? Certamente a maior dificuldade de entendimento do gesto será o
seu enorme grau de efemeridade, já que paira no ar rapidamente

1Docente do Curso de Música, Especialista em Ensino Superior, Diretor Artístico da Orquestra


Filarmônica do Acre, Mestrando do Programa do Mestrado em Letras: Linguagem e Identidade
– UFAC.
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demonstrando uma representação sígnica que conduzirá aquele grupo musical


a responder com gradações de uma intensidade, intenção psicológica ou
intuição aleatória daquele interprete. Este gesto provocará no músico outra
reação gestual (para executar o seu instrumento ou voz) que desencadeará na
realização de procedimentos musicais adequados para aquele trecho de obra
musical ali executada e induzida ou conduzida por um Regente.
Aparentemente parece que se trata muito mais de uma questão de
semiótica que de uma questão de linguística. Observa-se que a busca neste
entendimento esta centrada nos eventuais signos que os gestos produzem
para a compreensão musical dos conduzidos e muito menos em questões mais
relativas a uma similaridade com a língua ou a fala. O gesto estabelece
procedimentos interpretativos (andamento, dinâmicas, fraseados, cortes
suspensões, etc.), intenções de um músico (CONDUTOR
/REGENTE/DIRETOR) para outro músico (INSTRUMENTISTA/CANTOR). É
evidente que o intérprete condutor poderá fazer uma leitura “linguística” ou
“estruturalista” da obra previamente, porém quando estiver em ação com sua
coreografia gestual, ele produzirá signos que vão extrapolar a própria estrutura
“escrita” ou “descrita” na obra. Afinal quem é o autor final senão aquele que
conduz a interpretação ao vivo? E sendo assim como explicar os seus
movimentos gestuais pela linguística saussuriana?
Os estudos de Saussure2 no livro Curso de Linguística Geral (2006)
apontam para a necessidade da criação de disciplinas que estabeleçam pilares
visando os estudos de outras linguagens e manifestações sígnicas que fossem
além da fala e da língua. Profetizou a semiologia/semiótica mesmo que não
profundamente, e desta forma enraizou alguns conceitos que mesmo que
alguns discordem servem de referencial inclusive para a contestação ou de
base para novas teorias linguísticas e semióticas.
Levando em consideração inicialmente os conceitos saussurianos de
signo (representação do objeto seja qual for), que será composto de
significante (o modo ou o mecanismo de produção do signo), significado (a sua
relação mental com o objeto). Observamos que de alguma forma exista uma
relação triádica, apesar de que hierarquicamente dividida, onde o signo é o
elemento simbólico, que acontece através de um mecanismo de execução
(significante) e produz um sentido (significado) que o relaciona com o objeto
que se quer representar no plano mental.

2Ferdinand de Saussure (Genebra, 26 de novembro de 1857 — Morges, 22 de fevereiro de


1913) foi um linguista e filósofo suíço, cujas elaborações teóricas propiciaram o
desenvolvimento da linguística enquanto ciência autónoma. Seu pensamento exerceu grande
influência sobre o campo da teoria da literatura e dos estudos culturais
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Na condução musical em geral (instrumental e vocal), os signos


gestuais são produzidos pelo movimento das mãos (leve e pesado, curto e
longo, continuo e interrompido, alto e baixo, lateral e central, etc.), pela
expressão facial principalmente do olhar (direto ou indireto, incisivo ou
disperso, triste ou alegre, etc.), pela disposição do corpo no espaço (LABAN,
1978) e sua movimentação (estático ou em movimento, para frente ou para
trás, para esquerda ou para a direita, etc.), sendo assim segundo a linha
saussuriana estas ações seriam os significantes. Todas estas possibilidades
criam significados de acordo com o que a obra musical é compreendida pelo
intérprete (condutor) e realizada sonoramente pelos músicos (executantes).
Entende-se que a Música oferece em princípio o significante de tipo
sonoro como a fala, mas ao mesmo tempo não consegue uma interpretação de
significação nem um pouco similar pelos ouvintes, pois o significado musical
pleno acaba se manifestando em outros mecanismos de normatização
inerentes a própria arte musical que envolve conhecimentos de forma,
harmonia, contraponto, articulação, orquestração, dinâmica e estilo. A Forma
seria a grande estrutura contendo suas várias seções, a harmonia a relação
vertical dos sons uns com os outros, o contraponto a relação horizontal de
melodias (ideias lineares, sucessivas, não verticais) e a orquestração a relação
entre os vários instrumentos e suas combinações timbristicas (cores). Não
poderia esquecer ainda as questões relativas à articulação dos sons (ligados,
separados, curtos, longos, etc.) e também das intensidades (fortes, fracos,
meio fortes, fortes, etc.). Talvez por esta complexidade de técnicas e
procedimentos, a compreensão musical pelo não músico fica bastante
comprometida quanto ao que poderíamos classificar como significado musical.
Logicamente me refiro primordialmente a música pura sem apoio de outras
linguagens como poesia, artes visuais ou dança, som e unicamente som.
Não é difícil perceber o quanto que o Estruturalismo influencia nesta
breve análise. Seria quase impossível não estabelecer conceitos estruturalistas
para analisar a espinha dorsal das construções musicais, afinal podemos
esmiuçar uma obra quase que instintivamente e encontraremos parte a parte
os conceitos básicos do Estruturalismo iniciado por Saussure.
Enquanto a Música é um objeto artístico abstrato e efêmero que ocorre
no tempo e no espaço, outras artes têm sempre um elemento concreto em que
se materializam. Mesmo quando temos a música escrita, não podemos de fato
concretizar a ideia enquanto não transformamos em som (que é abstrato e não
concreto). Não se pode esquecer-se da gravação sonora em massa, que
apesar de eternizar a música, é preciso atentar que o que foi eternizado foi
uma gravação de um momento temporal que nunca se repetirá exatamente
igual. A dança é a arte que mais se aproxima da música, contudo ela tem o
elemento visual e corporal concreto realizado por movimentos, apesar de
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também ser temporal. A pintura e a escultura são visuais e palpáveis, podendo


ser percebidas enquanto durar o objeto, logo são atemporais. O teatro tem o
elemento temporal e visual, mas se eterniza no texto. O cinema junta todas as
artes e também é concreto já que se estabelece na película e ela é seu objeto
concreto.
BARTHES (1962) afirma que o homem estruturalista toma o real,
decompõe-no, depois o recompõe. Sendo desta forma que o Estruturalismo,
desvenda os mistérios de qualquer objeto. Constituindo um simulacro do
objeto, para que a partir dele inicie uma busca com a finalidade de as funções
existentes nele, e desta forma descobrir o “homem fabricante de sentidos”, ou
seja, relacionar todos os elementos constituintes de um objeto e encontrar as
relações intrínsecas em cada parte do objeto e as funções entre elas
constituídas.
Porém quando nos debruçamos exclusivamente nas questões gestuais
temos um enorme problema com a teoria estruturalista de linha mais
saussuriana, como classificar e diferenciar os gestos de um regente que apesar
de utilizar uma série de estruturas que se relacionam mutuamente, e que são
de certa forma codificadas e orientadas por gestos que não podem ser
compreendidos unicamente com uma visão linguística, tendo em vista que não
é uma língua nem uma fala, mas uma “linguagem de sinais” que interpretam
uma estrutura preconcebida e devidamente analisada e esmiuçada por estes
interpretes. É preciso ir mais longe e avançar além da linguística e do
estruturalismo, a semiótica3 se faz necessária…

A SEMIÓTICA DE PEIRCE E A DIREÇÃO MUSICAL

SANTAELLA (2009) descreve Charles Sanders Peirce 4 como um


cientista que dialogou com vinte e cinco séculos da Filosofia ocidental, através
de extensa produção científica em mais de 80 mil collected pappers deixados
por ele. Peirce utilizou-se da fenomenologia para classificar e descrever os
mais variados assuntos. Na verdade sua ênfase era sobre a Lógica e na sua
3A Semiótica (do grego semeiotiké ou "a arte dos sinais") é uma ciência geral dos signos e da
semiose que estuda todos os fenômenos culturais como se fossem sistemas sígnicos, isto é,
sistemas de significação. Mais abrangente que a linguística, a qual se restringe ao estudo dos
signos linguísticos (linguagem verbal), esta ciência tem por objeto qualquer sistema sígnico -
Artes visuais, Música, Fotografia, Cinema, Culinária, Vestuário, Gestos, Religião, Ciência, etc.

4Charles Sanders Peirce (Cambridge, 10 de setembro de 1839 — Milford 19 de abril de


1914), foi um filósofo, cientista e matemático americano.Seus trabalhos apresentam
importantes contribuições à lógica, matemática, filosofia e, principalmente à semiótica.
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busca pela verdade encontrou também importantes contribuições aos estudos


sobre a linguagem, aliás, todas as linguagens conhecidas até então e
preconizando outras que ainda estariam por vir. Para Peirce tudo é linguagem
e, portanto está impregnado de signos. Do código genético, as cores, os sons,
os cataclismos naturais, a forma com que os átomos se movimentam tudo é
uma relação lógica de linguagens. E desta forma os signos estão presentes até
mesmo nas sinapses cerebrais e nos ventos do outono.
Peirce através da sua pesquisa fenomenológica entende que a
consciência percebe psicologicamente o universo que nos cerca em três níveis
(SANTAELLA 2009). O primeiro é a qualidade dos objetos (inclusive os não
concretos), é o instante imediato em que temos uma impressão que nos causa
o primeiro contato com o que observamos. Peirce chama este momento de
PRIMEIRIDADE. É o presente instantâneo o sentimento que temos sem
reflexão, questionamento sem fragmentação. O segundo momento do
fenômeno é a corporificação do que é observado, mas ainda sem
racionalidade, somente a pura sensação, porém já materializada em algum
objeto, concreto ou não. É a SECUNDIDADE. Esta se confunde com a própria
consciência de estar naquele instante em contato com aquele objeto, sem
necessariamente ter nem um juízo efetivo sobre esta sensação. A partir do
momento que racionalizamos o objeto em questão a consciência produz o
signo completo. É a TERCEIRIDADE o signo agora é percebido na sua
plenitude e gera a sua percepção total que ira gerar novos signos e assim
sucessivamente. As raízes da fenomenologia estão aqui. As observações de
Peirce neste campo são fundamentais para o embasamento da sua visão da
Semiótica. Ele aproxima-se de Freud e da Psicologia, mas todo o seu trabalho
é muitíssimo fundamentado no estudo da Lógica.
Segundo SANTAELLA (2009) “o signo é uma coisa que representa
uma outra coisa, seu objeto. Ele só pode funcionar como signo se carregar
esse poder de representar, substituir uma outra coisa diferente dele. Ora o
signo não é o objeto. Ele apenas está no lugar do objeto. Portanto ele só pode
representar o objeto de um certo modo e numa certa capacidade.” O que faz
um regente? Ele cria simbologias e indicações a partir de um conjunto de
signos que estão escritos em uma partitura e após a sua relação de
compreensão e apreensão deste material cria novos signos (agora gestuais)
com a finalidade de demonstrar a sua “leitura” de determinada obra. Os
músicos quando conduzidos por ele, novamente refazem o processo e agora
com as partes da música que cada um deve executar e mais as indicações do
Condutor realizam novo processo de apreensão e compreensão da obra
culminando com a sua execução e, portanto novos signos. Os gestos não são
a música, eles a representam e enfatizam e mesmo assim de certo modo, pois
não teria sentido que dois grandes Diretores de Orquestra como Leonard
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Bernstein5 e Herbert Von Karajan6 executassem a gravação de todo o ciclo


sinfônico de Beethoven7, ou qualquer outro compositor, se não houvesse uma
mudança interpretativa a cada execução. Afinal a Música de fato nunca se
repete…

Imitar os gestos de outro é totalmente inútil, pois estão em função da


fisionomia daquela pessoa, do tamanho dos braços, da flexibilidade
das mãos, da técnica com ou sem batuta […]. Tudo isto são conceitos
puramente individuais. O Importante é que exista uma
correspondência entre o que se sabe da partitura, o que se quer ouvir
e o gesto que deva produzir este fenômeno. (BOULEZ, 2002, p.146-
147)

Pierre Boulez8 está reafirmando a lógica Peirceana, quando estabelece que a


imitação seja inútil, certamente por que produzimos novos signos a cada leitura
da obra, assim como cada pessoa individualmente que por mais que tente
imitar este gestual preestabelecido jamais conseguirá, pois a apreensão destes
signos desenvolvidos por outro jamais serão imitados plenamente. Como são
cérebros e corpos diferentes, em momentos diferentes, as percepções de
produção sígnica engendrarão em novos signos indefinidamente. São signos
que preenchem todos os requisitos para tal.
Esta continuidade infinita do signo é o seu interpretante, ele próprio um novo
signo gerado pelo anterior. E sobre o interpretante Peirce estabelece uma nova
tricotomia, que será: imediato, normal e final.

5Leonard Bernstein (Lawrence, 25 de Agosto de 1918 – Nova Iorque, 14 de Outubro de 1990)


maestro, compositor, e pianista americano.

6Heribert Ritter von Karajan (Salzburgo, 5 de abril de 1908 — Anif, 16 de julho de 1989),
maestro e pianista austriaco. Ele passou 27 anos de sua vida à frente da Orquestra
Filarmônica de Berlim.

7Ludwig van Beethoven ( nascido, provavelmente, a 16 de dezembro de 17701 — Viena, 26


de março de 1827) foi um compositor alemão, do período de transição entre o Classicismo
(século XVIII) e o Romantismo (século XIX). É considerado um dos pilares da música ocidental,
pelo incontestável desenvolvimento, tanto da linguagem como do conteúdo musical
demonstrado nas suas obras, permanecendo como um dos compositores mais respeitados e
mais influentes de todos os tempos.

8Pierre Boulez (Montbrison, 26 de março de 1925) é um maestro e compositor francês de


música erudita. É um grande especialista em música moderna e contemporânea.
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O Interpretante Imediato seria aquele que dispõe uma característica de


PRIMEIRIDADE no sentido de interpretação do objeto. É tudo que o signo
imediatamente expressa. Peirce assim descreve “O Interpretante Imediato
consiste na Qualidade de Impressão que um signo está apto a produzir, não
diz respeito a qualquer reação de fato” (apud SANTAELLA, 2000).
O Interpretante Dinâmico seria aquele que tem efeito realmente
produzido na mente pelo Signo. Sendo desta forma uma determinação do
Signo sobre o intérprete seja por uma mente individual ou sobre várias mentes
individuais. Ele é uma experiência que ocorre em cada ato de interpretação e
em cada um é um evento real e singular. Peirce desta forma esclarece: “O
Interpretante Dinâmico é qualquer interpretação que qualquer mente realmente
faz do Signo. Este interpretante deriva seu caráter da categoria diádica, a
categoria da ação (...). O significado de qualquer Signo sobre alguém consiste
no modo como esse alguém reage ao Signo” (apud SANTAELLA, 2000).
O Interpretante Normal seria produzido na mente in abstracto referindo-
se a maneira como o Signo tende a se representar em relação ao seu objeto,
será, portanto a interpretação que tenderá para o real, mas será condicionada
pelo que próprio Signo transmite. Peirce ainda acrescenta: “O Interpretante
final é o efeito último do Signo, na medida em que ele é intencionado ou
destinado pelo caráter do Signo, sendo mais ou menos de uma natureza
habitual ou formal” (apud SANTAELLA, 2000).
O Maestro sobe ao palco e se posiciona para dar início a obra, o seu
primeiro gesto que será preparatório estará carregado com a intenção que
aquela obra exige, quando ele fizer o primeiro movimento, naquele exato
instante os músicos e a plateia terão uma primeira impressão não
racionalizada, pois afinal eles não sabem o que acontecerá de fato, (lembrando
sempre que cada execução é um momento único) e desta forma recebem o
primeiro impacto sem uma reação aparente (são milésimos de segundo). Este
primeiro contato seria o interpretante imediato.
Estabelecido o primeiro contato, agora o Maestro já estabelecerá de
fato o que deseja com seus signos gestuais (andamentos, dinâmica, fraseado,
caráter, etc.) então os músicos já racionalizarão o que os Signos gestuais estão
a propor e tendo cada um individualmente o seu entendimento iniciarão a
leitura da obra, esta ação corresponderá ao interpretante dinâmico.
O Momento seguinte corresponde à ação de cada músico como
resposta ao gesto proposto pelo maestro, seu entendimento e finalmente a
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execução musical baseada na indicação do Maestro poderá de fato acontecer


o processo continuará até o final da obra sempre se repetindo a cada nova
seção que houver mudança significativa a ser proposta pelo maestro.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

São incontestáveis as contribuições de Saussure para o estudo da


linguística, do estruturalismo e da semiótica. Sem algumas portas abertas por
ele alguns estudos talvez demorassem mais alguns anos para ocorrer.
Evidente também que não houve uma negligência em relação, por exemplo, ao
não estudo dos gestos, mas de alguma forma a trilha foi aberta.
As contribuições do Estruturalismo para análise em geral são
extremamente significativas, em que pese a natureza às vezes técnica e
áspera, não se pode negar que o funcionalismo e a fenomenologia (seus
desdobramentos diretos) estão presentes em muitas obras analíticas, o que
também ocorre na Música.
O Maestro precisa do estruturalismo para conceber a sua
interpretação, a música usufrui desta prerrogativa por ser uma Arte que é
constituída naturalmente de várias estruturas que coabitam a mesma obra.
Para encontrar o seu gesto, o Maestro precisa analisar parte a parte a obra,
decompondo e recompondo cada linha melódica, acorde, frase,
instrumentação, etc. O estruturalismo fornece o mecanismo de análise
necessário para tal empreitada, porém quando passamos para a análise
gestual, se observa a necessidade de uma teoria que vá mais além, que possa
não somente classificar e analisar cada movimento, mas também compreender
o processo de cognição envolvido. Peirce estabelece critérios muito sólidos de
análise que se enquadram de forma profunda no entendimento do processo
estabelecido entre um Condutor e o seu grupo de músicos.
A Semiótica Peirceana consegue com seus fundamentos estabelecer
critérios e processos classificatórios que aprofundam o entendimento da
linguagem gestual dos Maestros. As possibilidades triádicas quase que
infinitas, abrem uma possibilidade para se estabelecer um estudo bastante
importante no que diz respeito à ação, compreensão e reação ao gesto
efetuado em momentos de mudança interpretativa. Não foram objeto deste
9

artigo as classificações sígnicas em tríades, mas com o aprofundamento dos


estudos deste referencial teórico será inevitável as análises gestuais a partir do
signo em si mesmo (quali-signo, sin-signo e legi-signo), à relação do signo com
o objeto dinâmico (ícone, índice e símbolo), à relação do signo com o
interpretante (rema, dicente e argumento). Será nesta direção que se poderá
estabelecer uma análise profunda de alguns dos principais gestos envolvidos
na condução musical.

REFERÊNCIAS

BOULEZ, Pierre. La Escritura Del Gesto. Conversaciones com Cécile Gilly


Barcelona, España: Gedisa Editorial, 2002.

GREIMAS, A. J; COURTÉS, J. Dicionário de Semiótica. São Paulo: Editora


Contexto, 2008.

SANTAELLA, Lúcia. O que é semiótica. São Paulo – SP: Editora e Livraria


Brasiliense, 28ª Edição, 2009.

_____________A Teoria Geral dos Signos. Como as Linguagens significam


as coisas. São Paulo – SP: Editora Pioneira 1ª Edição, 2000.

LABAN, Rudolf. Domínio do Movimento. São Paulo: Summus Editorial, 1978.

SAUSSURRE, Ferdinand de. Curso de Linguística Geral. São Paulo: Editora


Cultrix, 2006.

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