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MILES, Richard. Communicating Culture, Identity and Power. In: HUSKINSON, Janet
(ed.). Experiencing Rome: Culture, Identity and Power in the Roman Empire. New York:
Routledge, 2005. p. 29-62.
3) Logo depois, identificar o tema principal do debate. Sobre o que é que o autor está
escrevendo e discutindo?
6) Agora é o momento de ser apresentada a principal idéia do autor. Quando Richard Miles,
por exemplo, escreveu este capítulo de livro, ele queria dizer algo, queria elucidar uma
idéia. O que é que o autor sustenta em sua obra? O que está defendendo? Ou seja, trata-se
de apresentar a tese do autor, de preferência retirando um ponto central do próprio texto,
que seja capaz de sintetizar a idéia principal. Caso isso não seja possível, outra opção é
identificar algumas frases do texto que se colocadas juntas poderão indicar a tese. Se este
caminho também não for viável, por fim, pode-se utilizar de paráfrase para expressar a tese
do autor, ou seja, dizer com outras palavras aquilo que é afirmado no texto. Richard Miles
apresenta na obra analisada a seguinte tese:
7.1 Poder, cultura e identidade são construídos, mantidos e contestados por meio da
comunicação.
7.2 O controle sobre e por meio da palavra escrita era um componente central do poder
imperial e uma definição própria da elite romana.
7.3 A palavra escrita representava uma importante finalidade ritualística e simbólica bem
como uma função referencial na construção do poder, cultura e identidade no mundo
Romano.
7.4 O império Romano era predominantemente uma sociedade oral. A comunicação oral
era um importante componente não só da construção de cultura, identidade e poder, mas
também na disseminação da palavra escrita.
7.5 A escassez de indivíduos letrados no Império Romano assegura que os meios visuais
não-escritos eram um importante componente na representação e na formação da
cultura, identidade e poder; os meios orais e escritos eram freqüentemente combinados
para criar narrativas particulares.
7.6 A romanização não representa uma completa supressão (toma de posesión em espanhol;
cambio di gestione, em italiano; Übernahme, em alemão; possivelmente, “tomada de
poder”, em português) das culturas locais e das linguagens que eram usadas em suas
articulações. A romanização era na verdade um processo que envolvia apropriações de
ambos os governos (“Rulers” em português, pode significar ainda: poderes,
administrações, gestores etc. O autor pretende dizer que não havia romanização no
sentido de uma imposição romana de mão-única sobre as culturas “dominadas”. Ao
contrário disso, o que havia eram apropriações de ambos os lados) e culminava na
criação de novas narrativas imperiais.
8) Neste item, é preciso localizar também os diálogos acadêmicos presentes na obra. Isto
permitirá um conhecimento mais aprofundado do autor estudado e obter uma maior
aproximação de suas escolhas metodológicas, teóricas e os motivos que o levaram a querer
escrever algo para defender a tese que defende. Por isso, importa perguntar: Quais os
autores contemporâneos com os quais o escritor da obra fichada debate? Em Ciência da
História, chamamos isto de historiografia. No entanto, há autores de outras áreas,
escrevendo sobre História ou não, que são igualmente relevantes e devem ser, claro,
mencionados da mesma maneira. Ou seja, trata-se de apresentar quais são os diálogos
apresentados pelo autor do texto. É preciso compreender quem é cada um dos autores
mencionados, o porquê de serem evocados, qual o interesse que o autor do texto tem em
suas obras, o que é de fato utilizado e importante para que o autor da obra fichada elabore
seus argumentos e sistematize sua tese etc. Richard Miles dialoga com os seguintes autores:
Sian Lewis; Kleiner; Said; Garcia; Bhabha; Bowman e Woolf; Goody e Watt; Thomas;
Millar; Elsner; Nicolet; Carson; Champlin; Oliver; MacLuhan; Rogers; Williamson;
Crawford; Harris; Culham; Talbert; Coles; Alexander e Rives.
10) Aqui é preciso apontar as “fontes” utilizadas para obtenção das informações. Muitas
das afirmações do autor podem ou devem estar baseadas não somente no diálogo com
outros autores e teorias, porém, em informações obtidas, adquiridas, pesquisadas,
consultadas pelo próprio autor do texto. Um jornalista pode, por exemplo, conseguir uma
informação privilegiada com alguma pessoa; o colunista de uma revista pode ter consultado
os arquivos de uma biblioteca para escrever seu texto; o antropólogo pode ele mesmo ter
ido a campo e feito anotações sobre o grupo étnico que estuda; o sociólogo pode ter
consultado a carta de fundação do partido político sobre o qual está escrevendo seu artigo.
Ou seja, quais “fontes” foram utilizadas pelo autor na construção de seu texto? No caso dos
historiadores, é muito comum a análise de documentação textual (jornais, processos, cartas,
epístolas, obras dos autores estudos etc); audiovisual (filmes, fotografias, pinturas etc);
cultura material (epigrafia, numismática, estátuas, sepulturas etc) etc. Apesar de nem
sempre ser o caso, geralmente, as “fontes” de um estudioso da Antiguidade são vestígios
produzidos na própria Antiguidade. É preciso identificá-los. Caso não ocorra menção às
fontes, deixe o item sem preenchimento. Richard Miles, no entanto, as utilizou. Foram as
seguintes:
Tácito; Suetônio; Dion Cássio; Plínio, o Jovem; Phrynichus; Cícero; Flávio Josefo;
Augusto; o Corpus Inscriptionum Latinorum; Frontão. Além destes textos, o autor também
utilizou imagens de moedas e monumentos oriundos da Antiguidade, que foram
consultadas, segundo informações do próprio autor, em livros impressos encontrados em
museus e institutos arqueológicos na Inglaterra, Itália e Alemanha.
11) Esta é a parte reservada para identificar as passagens fundamentais do texto, aquelas
que merecem consideração especial. Este item é o que, geralmente, aparece em todo
fichamento de texto. Ou seja, uma reunião das principais passagens que podem interessar
ao leitor, tanto no que diz respeito à forma narrativa quanto ao conteúdo abordado pelo
autor. Quanto mais cuidadosa for a anotação, mais ela auxiliará, tanto agora, quanto no
futuro, quando for preciso consultar ou “relembrar” o texto a partir do fichamento. Quanto
maior for o número de fichamentos acumulados ao longo do tempo maior será o banco de
dados, fornecendo subsídios teóricos para consultas posteriores, cujos resultados poderão
ser utilizados para a confecção de resenhas, artigos, tcc, livros etc. Sugere-se que estes
arquivos sejam salvos em sistemas digitais como Google Drive, Dropbox e outros, para que
possam ser facilmente acessados de qualquer lugar do mundo online. Por conta deste
interesse, é preciso anotar não somente o trecho importante, mas também a página, o que
permitirá uma citação precisa se isto vier a ser o caso.
Esta é uma parte muito importante. Deve-se registrar todas as dúvidas com relação ao texto
lido, para que elas possam, desta forma, ser solucionadas posteriormente, seja por meio de
pesquisas próprias, procedimento mais indicado, o que gerará cada vez mais autonomia
para o professor/pesquisador; a partir de diálogos com outras pessoas que leram (ou não) o
mesmo texto, afinal, ninguém é arauto do saber e o conhecimento pode ser sempre
debatido, compartilhado, ampliado; ou perguntando ao professor. É fundamental anotar
toda e qualquer dúvida, mesmo aquelas consideradas “simples”. Mesmo estas poderão
servir para investigações futuras de como eram as preocupações do autor do fichamento no
momento em que leu o texto analisado. Por meio de fichamentos é possível ter uma idéia de
que tipo de dúvidas o autor do fichamento tinha em determinado momento de sua
caminhada intelectual. Ainda, quanto mais dúvidas anotadas maior será a contribuição para
o debate acerca do texto fichado.
Este é o momento final do fichamento e um dos mais relevantes. É hora de registrar todas
as críticas em relação ao texto, sejam relacionadas com a forma de argumentação do autor,
com a composição da narrativa, ou algo que diga respeito ao conteúdo. É preciso também
apresentar problematizações possíveis com relação ao texto, tanto para uso pessoal, criando
hipotéticos objetos de pesquisa futuro, ou a serem apresentadas para debate coletivo. Não
basta ler o texto, é preciso se posicionar criticamente diante dele, propor discussões,
problematizações, debates etc. O historiador não é uma máquina registradora de “fatos”. É
nesta parte que toda e qualquer opinião com relação ao texto fichado deve ser manifesta.