LABORATÓRIO II- TEORIAS E TÉCNICAS NO PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO
MESTRANDO ARQ. EDGAR STEFFENS
A ESTÉTICA DO FRIO: O TERROIR ARQUITETÔNICO DO PAMPA
INTRODUÇÃO
O espaço Platino se relaciona com o bioma Pampa, caracterizado por horizontes a perder de vista, pequenos relevos que oscilam
em pequenas elevações e grandes extensões além de sua vegetação em maioria de pequeno porte. Essa área delimitada por frontei-
ras geográficas, que abrange uma porção de 63% do estado do Rio Grande do Sul, uma parcela da Argentina e a totalidade do Uru-
guai, se une também através de sua história e cultura desenvolvida por seus habitantes das mais diversas origens e costumes.
O Pampa é uma paisagem cultural, representada através de folclores, contos, danças, gastronomia, economia e arte. Já a região
platina é definida com base em aspectos hidrográficos delimitados pela bacia do Rio Prata, além de aspectos históricos econômicos,
que abrange centros urbanos importantes como Buenos Aires, Rosário, Montevidéu, Pelotas, Porto Alegre e as regiões missioneiras do
Brasil e Argentina. Esses aspectos fizeram com que se estabelecesse uma associação entre a região platina e o pampa (PANITZ, 2010).
Desse modo, considero a existência de um espaço geográfico contemporâneo, complexo, que através de interações sociais e cultu-
FOTO: Leonardo Finotti - MAPA ARQ. EDE* http://mapaarq.com/ede-refugio-en-finca-aguy-pueblo-eden
rais convergem na ideia do espaço platino. Assim sendo, a região do extremo sul do Brasil está enquadrada neste contexto, onde se
tem uma diversidade climática e cultural que por vezes se diferencia do restante do país.
CONCEITO TERROIR
O conceito de terroir é utilizado na produção agrícola, sobretudo na produção vinícola, especialmente na França. Terroir expressa
a relação entre o meio e o homem, ou seja, neste caso vai além das fronteiras, traz a relação com o meio natural (clima, relevo e solo) grande lote, de forma singular e isolada, onde o seu contexto é a paisagem linear e horizontal do Pampa.
e também com os fatores humanos, como cultura e técnicas (TONIETTO, 2007).
Assim sendo, se estabelece um paralelo entre o conceito do terroir agrícola com a possibilidade de um terroir arquitetônico especí- se localiza em Pueblo Éden, no departamento de Maldonado, Uruguai. É uma obra reconhecida, foi finalista na X Bienal Ibero-ameri-
fico da região do Pampa. Onde o meio natural, exerce forças sobre a cultura e técnicas empregadas na produção de arquitetura deste cana de Arquitetura e Urbanismo em 2016.
espaço geográfico.
Planta, corte e fachada - MAPA ARQ. EDE* http://mapaarq.com/ede-refugio-en-finca-aguy-pueblo-eden
ANÁLISE: HOMEM, CULTURA E TÉCNICA.
O trabalho fora comissionado por uma família já muito viajada, conhecedora de muitas partes do globo terrestre e vivenciada em
diversas culturas e contrastes. A família trouxe o desafio de uma casa de retiro, moderna e mínima, com baixo impacto ambiental e
que abraçasse esta deslumbrante paisagem Uruguaia.
A casa tem aproximadamente 100m², foi construída em um sistema de “steel framing” pré fabricada a 200km do local de implan-
tação. Organizada de forma rígida pela repetição de nove eixos verticais de aproximadamente 1,50m, e distribuída com menor rigor
de frequência em 6 eixos horizontais.
Em paralelo com os quatro meses de fabricação dos módulos, as fundações foram executadas em forma de duas grandes paredes
de pedras unidas por concreto que se encontram ortogonalmente. O transporte foi feito em dois grandes módulos, que foram pousa-
dos sobre as paredes fundações, e unidos no local.
Os revestimentos externos laterais são feitos com chapas de metal dobradas, dando firmeza e longa durabilidade a essas facha-
das. As duas faces mais longas do retângulo formado pela planta baixa, são muito mais translúcidas do que as anteriores. Uma delas
se abre a um deck, localizado na parte que toca a pequena encosta do desnível em que a casa se localiza, dividida por uma ilha central
que concentra a parte de equipamentos da cozinha bem condensados a armários e gavetas. Já a face oposta, se abre ao horizonte
quase que infinito, usando a moldura de todas as faces da sala de estar através de uma grande e única abertura.
BIBLIOGRAFIA
- CAMILA MORAES (São Paulo). Jornalista. Daniel Drexler: de médico e louco, todo mundo tem um pouco: Médico, músico, Daniel Drexler mis-
tura ciência e poesia para entender o mundo e o Uruguai Teórico da estética do ‘templadismo’, ele é o irmão mais novo de Jorge Drexler. 2015.
Publicado por EL PAIS. Disponível em: <http://brasil.elpais.com/brasil/2015/10/04/cultura/1443987143_331690.html>. Acesso em: 04 out.
2015.
- FISCHER, L.A. (Org.). Nós, os gaúchos. Porto Alegre: UFRGS, 1993.
- LINHA Fria do Horizonte. Direção de Luciano Coelho. Produção de Christiane Spode. Realização de Juliana Sanson. Intérpretes: Vitor Ramil;
Jorge Drexler; Daniel Drexler; Kevin Johansenn; Carlos Moscardini; Pablo Grinjot. S.i.: Projeto Olho Vivo; Linha Fria Filmes, 2014. (110 min.),
DVD, son, color. Legendado.
- MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Pampa. Disponível em: <www.mma.gov.br/biomas/pampa>. Acesso em: 14 jun. 2016.
- PANITZ, Lucas Manassi. POR UMA GEOGRAFIA DA MÚSICA: O ESPAÇO GEOGRÁFICO DA MÚSICA POPULAR PLATINA. 2010. 201 f. Dissertação
(Mestrado) - Curso de Geografia, Programa de Pós-graduação em Geografia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2010.
- RAMIL, Vitor. A Estética do Frio: Conferência de Genebra. Pelotas: Satolep Livros, 2004. 55 p.
- ZILIO, Rafael. APONTAMENTOS SOBRE A CONSTRUÇÃO DA REGIÃO TRANSNACIONAL GAÚCHA. Entrelugar: Revista do programa de
pós-graduação em Geografia da UFGD, Grande Dourados, v. 5, n. 9, p.59-73, jun. 2014.
- TONIETTO, Jorge. Afinal, o que é Terroir? Bon Vivant, v. 8, n. 98. Flores da Cunha, 2007.
- MAPA ARQ. EDE Refúgio en Finca Aguy. Disponível em: <http://mapaarq.com/ede-refugio-en-finca-aguy-pueblo-eden>. Acesso em: 29 abr.
2018
Sob a luz desta realidade o compositor e escritor pelotense Vitor Ramil publicou o ensaio denominado A Estética do Frio (FISCHER,
1993). O ensaio fala sobre a criação de uma estética que responda realmente a cultura do extremo sul brasileiro. Uma estética que
pouco tem a ver com a do restante do Brasil, já caracterizada pelo sol, praias e festas por grandes períodos do ano (RAMIL, 2004).
No livro, Ramil (2004) busca reinterpretar o ser gaúcho na sua contemporaneidade, valorizando os elementos característicos da
cultura local, como exemplo o frio, a natureza, as coloquialidades linguísticas, etc. Em sincronia aos pensamentos de Vitor Ramil, apa-
rece outra expressão importante desenvolvida pelos irmãos Drexler, Daniel e Jorge, uruguaios, músicos e poetas. Em conversa com
Ramil, eles falavam da “illexândia” o território da Illex Paraguaiensis (nome científico da erva mate). Assim como a milonga, o mate é
uma tradição que une as pessoas em torno do Prata. Dias após essa conversa entre amigos, os irmãos chegaram à expressão chamada
Templadismo(LINHA, 2014), conceito que une a estética do sul do Brasil, Argentina e Uruguai (CAMILA MORAES, 2015).
Como se pode notar o Templadismo e a Estética do Frio possuem diferenças mínimas e voltam-se para o mesmo propósito: a ca-
racterização da cultura do sul da América do Sul. Esses movimentos socioculturais buscam uma nova leitura Platina, sendo assim pen-
samentos que transpõem fronteiras geográficas (ZILIO, 2014).
OBJETO DE ESTUDO
O objeto de estudo deste trabalho é o projeto de uma casa pré-fabricada, escolhida justamente por sua implantação em um
A obra se chama “Refugio en Finca Aguy”, tem seu tempo de projeto e execução descritos de 2014 a 2015 segundo o site do autor,
Os autores do projeto: MAPA ARQ Coletivo binacional de arquitetos / Uruguay + Brasil.
FOTO: Leonardo Finotti - MAPA ARQ. EDE* http://mapaarq.com/ede-refugio-en-finca-aguy-pueblo-eden
ANÁLISE: O MEIO COMO PAISAGEM.
A obra atende ao primeiro requisito do terroir arquitetônico da estética do frio, no momento que houve a decisão projetual de
sua implantação no terreno. Terreno de longo território, que apresenta seu relevo com pequenas deformações de uma paisagem es-
sencialmente horizontal. A escolha das visuais foi meticulosa após várias visitas ao lote em diversos percursos e horários, a fim de se
definir a exata posição e ângulo a ser implantado este objeto arquitetônico. Se relaciona ainda ao meio natural através de suas funda-
ções, dois grandes muros de pedras da região unidas por argamassa e concreto.
Permeando o meio e a técnica se encontra a intenção dos arquitetos, que desejam sua arquitetura como um objeto. "Sua forma
abstrata contrasta com as paisagens sinuosas em que está localizada", explica o MAPA ARQ. a Dwell Magazine "Nós gostamos da
noção de um contraste intencional entre a natureza e o artifício".
Em seu texto argumento os autores ainda revelam a proposta do desafio de uma edificação em um lugar remoto. “...É a possibili-
dade de inserir um espaço habitável em um domínio do natural. O remoto não é como um limite senão como uma possibilidade, como
valor, como gerador de domínios e de condições. Finalmente, no remoto a solidão nos confronta com a consciência de nossa escala
frente ao vasto, ao imenso...”
OBJETIVO E METODOLOGIA
O objetivo geral deste trabalho é a identificação de características projetuais advindas da contextualização cultural, geográfica e
paisagística da implantação desta obra no espaço do terroir arquitetônico Pampa representado pela estética do frio.
A análise será feita sob o prisma do conceito de terroir formulado anteriormente, onde é correlacionado o meio natural através da
paisagem e materialidades, e o meio fator humano através de cultura expressas e técnicas utilizadas.
Será feita a leitura projetual deste objeto, analisando sua documentação formal, o texto argumento desenvolvido pelo autor do
projeto e imagens disponibilizadas em seu website oficial.
CONCLUSÕES
Sob vistas do exposto neste trabalho entende-se que é necessária uma particularização da arquitetura Platina, uma vez que a ar-
quitetura trata do espaço, tempo, expressão, paisagem e cultura local, a exemplo de outras escolas. Nesse contexto, o sentimento de
pertencimento a um espaço influi nas referências e decisões projetuais e estéticas. Por meio do conceito de terroir, é estabelecida uma
relação de local - como meio natural - e cultura aliada a técnica - como meio fator humano -.
Através desta relação percebe-se a utilidade de uma investigação correlacionando os movimentos culturais contemporâneos com
a arquitetura do sul da América do Sul das últimas décadas.