Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Paula }v!ontero
l Prof~ ora do Depa rtament o de Antropologia da FFLCH!USP )
RESUMO: O artigo faz uma refl exão das co ndições atu.us que determm.am a reOeti o antropológ:ica
das sociedades complexas. Para tanto, procurn fazer um b1-lanço dos pnnciprus conceitos que
oneotamm a construção histórica da d.J.scipl10a - tais como o concei to óe homem e de cu.!mra -
tentand o avaliar sua adequação pira a anáhse das re-alidades conremporâoeas. O amor i::ropõenovvS
Clmln.bos 1n1crpretaovos para superar alguns dos Lmpasses- tais co mo o relativ ismo cultural que a
A.nrrop.,log.i.aenfrenta bo,e cbante de seus novos obJetvs.
voita
F,~nli;~~h' .ilfuma Ja: · que t;: lc\, ntad.L, pel(\~ :1nlrl'P,h,g(,,, i fL,,·~:',.
:·"''
e.til rt'rt'l1t ,p~,re ü lu ~,ir ft 1.) v:.iior hL llf!'-llC) d.J 111terprct3Ç30nni.r nol<gi('3 ,,
~{)\ 1c<.!.dr (i 'nler:n r!;nens.
"
-- ]
Rensta 1. pp 103-130 .
d<'An1ropolog ia.. São Paulo, USP, o. :W. 1CJ.i
- 10.S-
de Homen1. E verúade qut! ~ssc processo de rcconhecuncnto c.Jad1ft.:r~nç,.1 fo1
knto. Joan Be~tard t: Jc.sús Contrc ras ~nfat1zan1cm s~u trabalho que o~ turoptll..\
chcg..1ran1ao No\ o ~1undo trazendo esquemas de percepção do outro hcr<lndo:-,da
Ant1gu1uJde clássica ç da v1são de rnundo n1cdtcval. Alin1 d1s. o. os (:Onqws-
tadon.\~. ob{:ecados que estavam em ohlcr nquezas e converter, não ttnham a
m~nor pn;dispos1ção para reconhecer e compreender. no outro. sua diferença. Seu
intere&·~ não ~ra seniio o de ,l\·aliar o c-0rnportamento dos povos com que
11
7
a se con1preender pela refer~ncia a outras''. O encontro com as diferenças
culturais permitiu ao europeu pensar a reforn1a dos hon1ens e de sua própna
sociedade. ate então pêlnfic~da pela ordem imutável da vontade divina. A
descobt:rta do "homem natural'' que aparecia ao olhos europeus como liberto da
t
autoridad~ pol 1tica dos sobe ranos ~ da autoridade moral da Igreja. exerceu
dec1. 1va influência nas idéias revolucionárias do século X\'lII. A ex1.Slênc1n
nr~al" de un1 homem "sem rei, s~m lei. sem fi'' tomava- e a prova material tt1s
utopias raciona li. ta.~emergentes. No plano filosófico. a teoria da bondade nJtur:il
\ a1 pa sando aos poucos d~ motivo J1tcrario a \'erdadeiro princípio que serü. rn=1is
tarde, un1a das base.s id~o1óg1casda Revolução Francesa .
- L06--
Re ,·1s1a de At,rropologia. São Paulo, USP, n. 34, 1991, pp. 103-130.
***
-107-
llnt prnrt·ssn ohjt'ltvo .u~:l<'lk c ult1va1 algunw coisa. O rnovin1cnto lusto11co que
t'nl1n1n:1cnn 1:1 Rcvolu,ao FiatKL'Sa trri.1 c1lte1adocssc scnt 1<.lotransl\:nn<Jo o por
.,n,do~t,t ,H) l' 1cst·1nH·n to das raculdac.h's hun,auas . J\ 1artonal1dndc ilu1nin1sta, cm
luta t'<)ntr,1 a v1sao teo ll)gi<::1 t' intl'1npnral do n1undo, da tuna pe1~p1.·~ttv3
~vn lut1\'.\ :, l·ultura. O qur os húnlcns realin1n1 no p1occsso da t'volu,ao lustonca
t' o ptogresso, a cn1H1u1st,,da harbari~ pela civili ,açao. Ate o século XVIll, os
dtllS t'otH:'-·t!os rultura e c1v1li1.açao crnn1 1ntcr'-·a 1nhirivc·is. As ca\\sas de sua
dtSSt.'l't.1çao no scnttdo da autononua do conceito de cultura são co1npkÀas e
ar1.Hnp,1nha1nas llllHlanças da sociedade nesse período. Nao cabe aqui rctn-
n,<ntnos :\s aualiscs dt'ssas n1udan\as. No entanto. parece-nos in1púrlantc rcsg,ltar
n rato dt' 1.1u~o su1g11ncnto da (01H.:epção n1otkrna <lc cullura cst:i ltgado ~lcnsc
do crinct' i to de ri \'t li1:1ção. Segundo Ra y1nond Will ian1s, são basican1c nte duas :t:--
n~a\ô~s n t t icas f\ tdê ia <.k ci v Il 1zn,ão. Lhna delas tc1n origern no pensa nw nto
rocn:1nttro t'tn lula contra :1s c•JllSl'ttüêndas tla civili:1açflo 1ndnslrté.tl e
n1ccnn1,;1da . que ~1cabou a tri hut ndo ao concci to de cultura a conotaç:to dl'
9
"dest' n\'L) 1v11nrnto d as ubj e ti vidad e" e rr1 da a rtc seu ins tnunc nto n1aior. A ou Ira
, l'ttcntr L' o social1sn10 utopiro e o 1nar"Xistno.para qucn1 a civil11açüo. e1nbora
pcrrni 1~1o dcscnvo Ivilnt' nto p rogu~ss i vo das ca pa~idadt'S hu1nanas. ~ ta n1hl' 111
produtora d<:'pobrc1<t. dcgrad~1<.;ao t conllitos.
Este rüp ido d ts u,nci a 1ncn to h 1stónc:o co 111rc laçao às no~ões -c hnves ron,
que trabalha a 1\ntropolog1a - a noçéio de l-lo1ncrn e <k Cultura - nos pcnnill'
perceber qur na base da organi,a~J•o tksta ciê tH.·in cstftü pressupostos cocn os
q unis. i 111p lícita ou cxp licita n1c n l t\ 1rahal ha n,os a te:· hoje. F1lha do e nco ntroe nt rc
a "civilií'açfto" e a "ba1barie", ela se funda na af1nnaçao da 1<.lcnttdadt·unive1sal
- 108--
Revista de.Antropologia. São Paulo, USP, o. 34, 1991, pp. 103-130.
***
Se a noção de cultura tem, como vimos. uma longa história. seu uso
científico é particularmente breve . A profusão de sentidos que adquiriu no
interior da disciplina antropológica não está, no entanto~ na dimensão de sua
juventude. Paul Bohannam se queixa de que cada antropólogo define a cultura à
sua maneira em função do lugar que lhe é atribuído na sua teoria. Concordemos
ou não com asserção tão radical, o certo é que a imagem por ele utilizada - a de
11
que a cultura seria uma caixa-preta para a maior parte dos antropólogos -
ilus tra bem a posição-chave do conceito no interior desta disciplina. ao me mo
tempo como medida das dimensões de um campo e opção de método.
- 109-
hon1ogênca e eslruluraln1çntc <.hferenteda civtli zada. AJt m uisso, recln1nantlo-sc
da 1nlluênc1a ron1ânt1ca <le Gustav Klcn1n1, Tylor realiLa a passagen1 entre o
concc·1to pa rci(1Jc.lt; ·ull ura (4 ue ap<.'nas te n1 e 1n conta o de se nvo lv i 111
en to lias
i<l~1.1s)e o ~oncctto total {que engloba os costu1ncs e sobretudo os ar tef atos) .
Assi n1co nst inudo como un1a totalidade. o conceito ly lon:ino de cultura tornou-se
ú ponto de rcfcrt=nciadas forrnulações cientificas posteriores.
A reflexão antropologica brnsi leira 1an1bén1não ficou imune a êSSt! dcb~t te.
Ernbora não seja nossa intenção fazer um balanço dessa rica produção que já tem.
14
como sabemos. uma longa tradição. ns transforn1aç õcs da sociedade brasileira
na década de 60. e principaln1ente 70. colocaram novos problemas para os
estudiosos. particularn1ente para aquelt~$ que se dedicavar11 a investigar a
socicda <lcnacional. obrigando-os a repensar a operacionalidade <loconceito de
cultura.
Alguns artigos do final dos anos 70 e início dos 80 ~ão un1 bon1 11H.líc10
dessa inquietação. 15 Vnle a pena. portanto. tentarn1os situar rnpi<lan1t~nte. no
plano rnais geral. algurnas das dimensõe.."dessa crise.
- llO-
Re,ista<kAn1r opolog1a. São Paulo, USP. n. .34, 1991, pp. 103- 130.
Ao relembrares.ses fatos, nossa intenção não é fazer coro aos que acre.ditam
que a Antropologia, cúmplice da deva: tação dos povos coloniais, deva ser
reduzida a um simples instrum~nto de dominação. Sem negar a 1mportãnc1ada
crítica quanto ao papel político de qualquer ciência, queremos ressaltar aqu1 o
fato de que a rebelião dos ''objetos" trad1c1onaisda Antropologia acompanhou-se
de uma crise moral da disciplina que acaba por ra5gar o véu de! inocência qut
ainda recobria muitas de suas proposições. Com efeito. como bem obf>crvâ
Michel Panoft "a imagem do Bom Selvagem, após ter dorruoado a especulação
sobre o Outro no século XVlll. continuará a aumentar esporadícàmcnte a
17
literatura da disciplina at~ nossos dia~". Não é outro o sen l1do das tentauva.
func1onalistas de fazer das sociedades "pnrnit1va\ ent1dades coertnte .11
-1 11-
• t '9: 'I t I ti '
· . ._~ ··Ji' · ... •. ". 1 u:, .J.,:, ')11d1•/>., <k 1nlt;rp1t:.t: 1ç,10 J~L culllHí! [" r pL!r ·.i: .
• ,,: .. ,. ,o \ u 111n• u': 11111 1,u11,ti 111.tl \ d i; pG!ln < ~ <1rgUl1lt:l1lt .S çf1\1J' .(?<:
:l,' .. 1, ,· I < .q1h · t c1 q11t· 1>p11nup10 tia 11tth~nudade "ubJett,a dv cspi · .lo . !T'("·••o".
\.: .1L1nt1.i d.1 1,.,11,1>.11l u<:1.1da 1.:ultura tnbrll pa1a o p~1t,Jn1cnt P n.H:o;>o.ó . :o. fot
t'''s(t1l.tdn jh'lu (olon11atfor i, COIOn.7f. -0 . .·\.
[)~lfa Uc~\(IHl:lf O Cüft'lÇÜO
p l\ · t,• tu lt d .1 , n w nt' 1K 1,1ae tt ho u p o r r~ \ d ar -~ e u nHl a f 1ri na ça ü J ...un p. ..1. . ·""Go
l
e,,..
h>,~~\,sth:1tkntal e corno lal St' tornou 1na<.:t:1t=1vcl pJra o l 10!1.2 ,. o & ,: 1
"hu 1n.1n1~n10 ~t·m.·r.1111,H.lo '' que k, arin J C<'ll\ '1!1:h ~.tt) d"' h"'P:t','' .:\ .. ._ , · ... r~·:~.
E , t'tdad~ llllt' :t f-\ntr opcdl,gt,l te, t.-'o t1ll'flh) dt' dcntHh.·1.11 ,,:-- .. · ~ 1 ............ , ... · , ,.
qut· tundav,1n1 é.lSde~1~ualdadcs cnln.' .1-.; ":ultu1 ..1" n.1:-,l_ilt\.·r1..· :·,. , ,' '-'~ .:.. '\,,,
cnt.lnto, tHh) ba~tJ ho_1c attrn1,trn10::. ~ tt't\ 1nd1i..'JlHh.'" f',)L \ ,1 \·· · • '' ·~.
c,pt·t.,culll d.1 dt\~rs1d.1dc ~ultural. N,h, t:~t.1\) ~cm r.1 ",h' J~. , .,·, ·.... ._'. ,:. , : " ,,
.lllllt)pOll)t,1..)S de lt'(t'Tl) (t) t\lr 1t, u1do. \ t)1UnLH\,llHfnh' \.'U i\,h' • . ' :: ,1 ,,~ •. \ . '
d.,sLksn.:uall.l11<.k~t· ulturaii.;;,01h.'~.1rt.·1n.d1. ~1n1ul.uhh' .:. 1~.it,· ,' ,:. , ,·, ..· '
\_ ~
,,,
JhH. \)S .....\, ~llt'fr~l~ CúlOlll,l\"- t' :l., llll,b pcdtl11 •.',l~ t\l', !"'·11' ·, ,: ~ ',;,·, · ~' ,' , l
An1tnC,l l at ina puser,Hn a nu tl vil,lfn1.-'tt1\·nnt1d.1 lh'' ,.\, ,i: d',\''. ,
prrct"(' qu~ ,l AntnJp~,1t,g1.1 ~e º"' 111,t1u111t·n1~\,
tl.1..~ t\'\'t ~\\), .'. ;. .. , ',
l'f\'l't',.S()., , llrd \ l'~ dl)S qu,11, St' r.11 ,l Uh ' l)fl'\'Lh~.h' .• \il.h n.:,·: \.'•' '', ', ' ,.
dl\l'fStd ,H.k !1l'Slt' tllllll0l) pl.tt1L'l1Hll' qnr l' ~, (hh,,\ \) l''\': ' \ ·. ~ ~
r~t·onht'l-'L' qut· ,1 '': \nlrl"'P Oll,~l,l ul'\'t'r,11r.1n,rl,rt1\.\I ,r n.1 , ... , n.it~u,· ., ' " .t ·
Revi.sca ~ Anrropologw. São Paulo, USP, n. J4, J 991, pp. 103-130.
confessar que há, de fato, uma certa 1mpossib11ldade,de ordtm tanto lógica
quanto moral, de manter como objecos científicos as sociedades que se afirmam
con10 sujeito~ coletivos e que, como tais, re1v111dícam o direito de se
trdru formar .2°
11
se manifestam por detrás dos gêneros de vida social mais diversos" .22
-111--
1• 'h d,1v , ~upo1te parece rsta1 lcH11bé1nn1n<..:,1Ç~1da.
r11 ' rri fHoi ·uré1<lo 1nostrar que o dc sn1anttl.1n 1trHo
•lt\• po í f,:1.n de ~1noronar un1adas con<l1çoes b~ tC.1.\
t , ,· Ji ~ ., ,:. tp4'1ogu.:o: a garantia de {}UC n cultura t~H. 1tht<.L1 e
._ ,, fll fi-.1 ~ · t1i0Htl1nt·ntc separados. Seg undo elet o dt~lUJ\O
qoc cks~rC \.l' o ftuKion::111cnto de un1a <.:ullurr,
i .:11,1iHl(ltC:nci,l ~ut , por não estar t' nl contdto duet o con~
pi •t, , it, 1 • 1 • 1 v, i ·.t r i)cr~lu,HliJn de que lLs coisas nli ~e pa~:av~1n1
· , • '"' , qt d<• ,,, .• 1 c,.1n,, t, rx:~.tJu
j t~u<l.oras CÀpoc. O n1cc.ants1nobásic
<le.~c.1
1· ,, 111• '" . "1 ,11 • ,H h;a11 d ,1 hng uagcn 1: pela <lcscriçào detalhada da vida
, \,1,,\i1,u1, c1.-.~r·: pnvu. > dlltropólogo convence sua plateia dr que cfc ltv 1mt~ntt
. .2S D
!~\\H ~t,n11 11• d<, nallvo e a ,orn preendeu. ·
l' X JH ' i1h1 l 11 esse rno<lo, a 1nti..:.1~
pl\ ~l.,, 1P ( 1n1tít1<'. t d.1.. ,ultur~i" na<lamais ~t!riado qu e wn tfc1tn lk J1scu r~o. l\o
,·n,.unr,, d tE <irr rl'f. n t11H.ioS. Tyler, o inundo con ternporft nco . ao ~olocc1r en1
,·l',a t.tro o ohJl"to t- su:J au<l1fnciH. tomou o rt"alisn\o menos per. ua."1vo, pois
1.kS'-t·1ulou a 1hL ) da\ tcnl3tivas de descrever essas "não-t·nt1dt1dt·s 1.'on10
-..éH
· \.'llllur.\, '-' 'sock<la<lc · c on1 0 se fo~~em observáve is•• Se é\ i<lcnuf11. .2º
'41çflo1_
' 0n 1 1.>
outro e un1 efeito Jc rlcção e J genera lização impo ssível. 1.~1bc no d1s(ur--o
ctnog t~ífü.·o. con\1 pr1.'P<'Co autor, aproxinutr-sc da lite ra tur a 1enunl'tnndú õ
~ 27
- ctn pro 1lh1 1 e\ Ol~1çao.
~. p ltCHÇth)
-· l 14-
Revista~ Antropologia. São Paulo, USP, n. 34, 19'Jl, pp. 103-130.
Essas são, a nosso ver, algumas das questões que preocupam o fazer
antropolégico atual. Evidentemente, para responder a elas, seria preciso
realizarmos um balanço das tentativas de compreensão antropológica, nestes
últimos trinta anos, das dinâmicas sociais das sociedades complexas. A tarefa é
por demais extema para que possamos realizá-la nos limites deste ensaio. No
entanto, as formulações acima nos indicam com clareza que a transformação dos
objetos antropológicos e a crise correlata de sew instrumentos conceituais
implicam uma tramformação de suas finalidades e métodos. Para rnminharmos
nessa direção me parece que vale a pena retomarmos o conceito de cultura e,
levando em conta, a partir do que foi dito acima, seus limites e possibilidades,
pensarmos em que medida ele ainda nos
pode ser útil para a compreensão das
sociedades contemporâneas.
**•
,
E um curioso paradoxo que a crise da Antropologia coincida com o sucesso
desta ciência e de seus conceitos para além dos limites do mundo acadêmico. Por
um lado, o próprio movimento histórico que tem levado à extinção dos objetos
antropológjcos é o movimento que tem tornado os "primitivos" objetos de
interesse de um público cada vez mais numerosos. Como bem observa Uvi-
Strauss, "mesmo que quiséssemos, já não teríamos a liberdade de não nos
interessarmos, digamos, pelos últimos caçadores de cabeças da Nova Guiné, pela
simples razão de que estes se interessam por nós, e porque, nós e eles fazemos
parte de um mesmo mundo e, dentro em pouco, da mesma civilização".28Porque
pelo processo de integração mundial as culturas "primitivas" se incorporam de
um modo ou de outro na civilização ocidental, os problemas antropológicos
deixam de pertencer a uma especialidade" e interessam a uma parcela cada vez
11
mais expressiva de pessoas. Ainda que nas suas vertentes mais perversas
(exploração de mão-de-obra imigrante, turismo etc.), o exótico agora está em nós.
Por outro lado, ao mesmo tempo em que a diversidade se incorpora e reproduz no
interior das sociedades complexas, o conceito antropológico de cultura deixa de
ser um instrumento nas mãos de especialistas e se difunde por outros setores da
sociedade contemporânea. Um exemplo recente desse fenômeno está no relatório
final da Confer~ncia Internacional da Unesco de 1982 no México, que reuniu
cerca de 130 governantes. Contrariamente às concepções anteriores que
idenuficavam cultura ao trabalho intelectual e artístico, a Declaração do l•f éxico
dá uma dimensão histórica e antropológica ao conceito: "No seu sentid o mai
largo, a cultura pode hoje ser considerada como o conjunto dos traços distmwe,
- 115-
. ,u 1plr, ,,.
N,l l'n tanto. css~ modelo cult ural entrou em dcchnio. Sua pretcns~\o
111uc1·~.11toi n,lncu<la cn1 xeque 1x.;Ias ·ontradições que ele n1c.sn10engendrou.
//,, i\n,cri, ·on J)rc,un ~stl doente .31 A t'rcnça na possibilidade de un1 pro~c , ,,
l" 111Wl\<' 1llt.' na humanidade tropeço~ por wn lado. na evidência da tini tude dl'~
1( 1 ut º· " nnturat.s e. por outro, na constatação trágica de que o progrcs..."ol~(nt(~\
.df~tu d(' t'<'~htngir-.."cn apenas wn punhado de naçf1es. não trazia aut0n1a-
11~ ·unwnh· o descn\ oh·ünt.'nto da huniaruda<l~. Al~tn disso. L'<)n10 t)bscn a
1
1h<'(H.lf1rAdnnKl de urn 1no<lota.lvc1 por denrnL~ fatalista. ' no própno prin(tf"ll'
d e \ 1v1l11aç:)o cst ..\ in,pltcita a barbádc" - a pressão civih1.atoria leYou a u111a
11
'\ l1Hl~trofobin da hunrnn1uadc no n1Lmdoad1n1nistrado que então se reY ,11Á1.
h1 u1.tl t' arudonaln1cntc. L'Ontra cla.
32 Torna- ·r ev1tknte que as forças p10Jut1\ as
pr1tkratn stu, inoc~nc1a e s "' lransformarrun cn1 força~ <.lc tkstru1çún. :1
111.-.trun1<:nh.'1~~r11coóa paL social - o planejamento - revelou ,l'i li1111~nsôe"' lk
- 1 l ó-
R~...is ra ckAn1ropologii1 São PauJo, US P, n. :\4, 1991, pp. 103-130 .
-117-
l('tn1.,s t.k Hg:nuiar , dk)ft.'-" t.' l\t>r1n,1~cultur~u~. ,\ t.) t.'n.,<.:JlH,l \..\)n1p~1nh_;:1ú LOtH
outr~i~ -;lx-1c<.L.1lk-", tll.)S pt·rn11ttu,1 pot$ pt-·rct·~r. ~rgunJo ,) ,lUh)r, qu, as nos.._~1~
n.1<.) ~;h.) n ·,n untvt:f';,US. ttl'rn ,lS 1n.us.hkqtwú.,s . t podcnl v,Ht<Lr~nl tur1ç~10 Jlb
l'fh~)t'~ funúJrnt:nt,us tk ~~1u.1 tnornt:nto luslorn:o.><"I
Qt.klis .são, portanto. "s pn!ll'tpa1~ dllt· n1t1~qtw J .·\ntropt)lút!t ..t crtfr"~nta
quando n:alva esse dtsto ...·an1t:ntl">°.)
- l ls
Reiuta tk.Antropologia. São Paulo, USP, n. :W, 1991, pp. 103-130.
- 119-
1 ,, i. ,, ·,,n ,k "º' llt<Hln ~·.t t:11, ,1 1drl.\ <k 01<kttl
42
no ct'nlro de: ~Lllt" 1nlcrpn:l<1çúcs--
l'· ·n, lnh ""' ·;(,, 1ul"f" o ,k·.dr n .·do ~e voltou p~r,t d ;u1átisc das nossn." sol'ic-
,t.hk, 1,,, .,lt ·.11Hltl 11rl.t'l seu~ rollllltos t' º'" n1t;cant~n1t'>.."tk sua translonn 1ç..10.4J
N,, \·nt,1uh). tlt,1t1tr d I r1n1t.tl>1ltdt1dce dtl faltn dê organicidn<lc <lo.snovos úhJetos
.i nl "'l~l\()~:tc\\~. 11.10 t.' snluç H) snt 1sfntôtia procurar rcsti tuf - la , pelo tnkrns cóp1co.
,h) tnh ' ttnt d.t pu.\pnu soricdadr c:ontc-n1pt,rftnca.Por n1a1s dinunuto qut; seja o
n:~·l,1t~· ,pie st.' fnç ..1 d., renti<.J,td~e por tnaior qut seja sua cot·rfnclíl interna, e~sc
l)t,1ch., c~t.,r) lll'\.'t.'S~a li une nt~ pcrn1cado por reht<;ÕC$cuja lógica os ult rapass~t.A
·\ntn)prdt,~'.t,\ rmo po<le 1na.is ffilcr a ccono1nin de Uff\a análise soh~ as
tr.utsfonnaçôt·~ snnais e: os n1tcnnisn,os de poder cn1butidos no~ pn)•..:cssos
rultu1nis. 1\ ruiragcn, de sociedades ro~rcntcs e a-ideológica.<. prcci!'w\ser ~vista.
E pn.·t.:iso que a A.ntropologia scjn \.~apta de pt:nsa.r o poder. o conflito e n
n,udnnçn e n, socit'dadcs cn1 que a tot 1lidndc não está inscrita na sua organiz~lçào.
Linlitar a Antropologrn das sociedades con1plexas ~ an~Jisc do 1ntcro.,<.cdp1Co ou
da.~ lfcstrutunt" suplc..·n1cntarcs"e rcnW1ciar <lc antcn1ão à cornp~cn-"ão da
dinfünic~t incrrnk à." no~sas ~ocicdatks. E.<-tce nn verdade lUll dos grant.ks
unpasst·s que Se.'pode apreender nun1 rapido l 'llnnço do..~ resultados ot1t1tlos nos
estudos antrnpolúgicos contcn1porâncos. Ao delimitar tl priori o un1vc~o dr
nbst:rvaç~lo a conn1niuadcs ,~oladns,cln se ub~lén1 de perguntar sobre sua rdaç=io
cotn o <.:onkxto cconôrniro. social e pohtico n1ais an1pln. Esst.' pro<:cd1n1tntocrn
cnn1prrcn~ívcl (t' n1cno~ ncfnsto) no (aso dn análise de snl'irdadt~s <l1st.1ntcs. rna~
se tonia probkn1ati~o quando trnn.sposlo parn noss~ so(icda<lt'S. C'andini íll)tn
cc..,nlrn.1no tpic c~cs trahalhl'S t~ndctn n '1 n1urci1r a <.lifcrcnça sen1 explicar n
<k~iguahla<lclt. E.'iSt' rclntivisrno ibuitlitansta al'abn St' torn, ndo 1nG1pu de
cxplknr u cocxis tencia e ª·" co1nhiru1çúcs r.iultiplas das uh ·cí$aS cxp~s,)cs
44
~ul turai.sno interior de urna n1rs 1naS\X'kdndc .
- 110--
Re,....s,atú A!ttropofogrn .. São Põulo, USP. n ~ . 1991, pp. 103-130 .
UJeHocogno cente) em prol de uma compree nsfio resul 1..ante da j u<;ta posição das
diversas falas do objeto. \·a le a pena lêmbraI que: a Soc1olog1a. ha mais de
noYenta ano . debateu.se com questões muno semelhantes. OUJv10 Ianru nos
mostra que já na \'irada deste século a Sociologia sofre uma de suas profundas
crises. e segundo ele a maLSfecunda, ao pôr em dúv1da a capacidade ex-pllcativa
de seus pnnc1pais conceitos e teonas. tal.S como: sociedade, força soc1a1S.
estrutura global. evolução. causação funcional e contradJção. ' As explicações
1
~
O modo. no entanto, corno os conceitos e os temas IT131.5fundá..rne.:-:ta1~
Antropologia se tornaram recorrentcS na literatura contemporánea são pciic num
. ina.1evidente das poteoc1a1Idade do pen:am....
nlo anuopológ1c-0para n c0:npn>
en;ão de problemas 1neren1cs às sociedade contemporânc:'"\, Pock;ia, por
-
")~
1..:..1-
- ;z 1-
,"'! -.,l,\)r','tlH .!l ,rp l'JU 'JJr '-)P~wi11",-,\llt PlUI\, "lllll!Jl10d 'f HJ'>PlJILUnpr!p ,>1')npo1cJ.1J
1
" 1'.'í'] ,1JJU,1 ,1\ \.HU~llU J\) jl h.l)lll l) 'PUP1pll01 T'f)I.\ CU lllUO.) J .1,.p.1J .1d ,1p llJPIPXt.1p
SDj )'l;~) , ~ ,, .1 '- '-~\!lf,hlJ.I ',dJ,:>JOJd ·,,1 \ ,1J~ · T!Jl)l!Otf OP)P l?j) "JH?fn .)PJ ~Xf~;)
. 'Pt~! , \,:."',°'\\,r , \, upt!171,1p ,ud lU,)J;)) J{)d ~lh pun11n
't!IUOtlJ.)j~q u lU~OJt,tJO:_)
\.--:,;··r, .lHl .:~p , i.)\'-,'.1 "'1d ' (l[) ·~1~1Jü:1l ~T'P .111r;d 1\h.Í "l)l_')PJ,1f)lC.,,1hl.1~.1p eu OPP.lU'.)"-,,;r.
" l.=", ,., ",,, -:·J GJJ 0,~ 3 ·,.i·pJ ,·n~uP,, ,·1:p,0F1de , op .)Jll t!tp '''-'''etu "i1'P ~PBf>! ,,1s~1~d
··n? c ! ·J t:ll Ot1 r .1 1 1.1u1\: eu "'?f'f' 11,nJJ ",)(> ~nJ l)N;)J , PI u Fl .1PJ q d,,., w ~ º"'-:;,?1r!JJ n ·.1~
o ~UüJ n~c~h.1' ,"'IPPJ ~:1,,1 Jrqn<l1..HJ r Jnljn :, 1·1.1d ,1m~>~ ,1,1.,U:,iJ ">1'p:),,:)J,)Jl!! OAOll 1>
· ~,, ..1 OpL!il1"i.~, ·s-1.nU;JJOdtU;))UO) ,opl !l\ f \l)f) ,1p1~pllU!l!?\~ ll p t:Jn10~ .1nh ..nllJOtU'JZÍ.1q
, n .~,SUJ H t;üH, l!.Wd l~jll\}JP 'J:1pod 1.)p()t'llJ,,") op l''llll,).1 P.Ul ~l! wn lll,) ', ~)JIJ{iH ,h.)(I
:-w il Ji H~) ~G ,[\'.)I.L1J\UO :) ,1nb () JIJ )Un;lJ,)d :,, Ol! ·1u1pU!~~) Pl"\ll' Q JOt~~N
si? ( .[BIJOS 1.~.m1nns:) uu ~':11u :1Si1' ,dp ogS1scxi ,~p ~HU '.)j.JO J; )f)) . 1--,pp :)p ',)S~·.:u :)lu1 ..
-:,p me.nsqi; oy~ou q1 ,,,-1r.'T\ p,)r ;1p ~1pllp·11!4t"'\~Juq i! ez 1rnJu~) '- S-! G.1tl1 n 11",.
15uu 1u.u:n:)p ~)j' \1.)l ll jH )Jd S~tdUJ!S e lll~) Zilp ',)I '-.\) n1b - "-ll'!J,)S S(}lll ;)lU! ,,OUI ~-o
'.J.IQOS s·,nu:n.iOJ ~~) ~ )1.n: 1JdJ :lHq SrJu :,;1-..,rdtut ,\1)j ;).) J l; lUOdu ~,l i ~ 'J:1pus J ~lP H
: SO i du1~lX ~:,
runvjr.: SOlUJ1!:) ·J:1pod op t~ ~1y~1L_p l! nn11_:nh p;pos og5l! u 01u1 ; 1 J'.)1,nn:ud1t10:,
t!ll~dor:~npoJd ~1p sos:-;~l:>0 >gSp11n~·
.1d so ~) ~"~ ui ,,. 'op ü1~1] o J~)pll ~,~)J dtu, .Q m !:"'~q ntm
·1b ;;p og~.JWlS'U(X ) t: :s ",1llPJ /\'.'{ :)J ::-1.;Ul :1l ~~)S S";J UUJ ,ll :)nb lllTHUe ;.) l!~)!) ~nir~ 1qo.11<J,,u111
·:·ns\.:cJSliJ.s1u p,1oq1: ~i;p :)pi ~p1,1 )1,!P ~)pln!..l~ ,: 1_;p n1;)1v u.iur1 ·0~)119qr.u u; u ·:1 Jt!lttd «) d
.,1n li a:, ,3 ·ou ui p nO:) o ' < 11u ~twd o : Si_!; \U \jJ od u1:~:1u (.>~) ·:-;:, pup:l1~KJ:; :;1!t 1 ,l ~>
1 ), pud l'i'
Oill">1lit>:>:1w ~o gJqos s:} ,!~H~.1.).ld.1~)1u ! ~1; 1!IHU :lp :Jsi;q uu O'ms: , ~)i1h 't!,l /Hop 1eh" 1:n
Hl JT(IUH?J ~Uj:l supo; S't!:)!JVll! ;,1 s:nnu!.1 1i (IJH?nb J IJ.l \lH .n.1 ' 0 ,1,lri !I\: ..
1
der, o autor também sublinha a necessidade de uma teoria que demonstre o modo
pelo qual a hegemonia se enraíza no cotidiano. 53
Esses exemplos - poder iam ser multiplicados - nos mostra1n que o recurso
antropológico já opera de maneira bastante generalizada na literatura contem -
porânea . E mesmo com o risco~já apontado por Georges Balangier, de trivializar
e degradar o recurso antropológ ico em "comodidade léxica", 5:> as tentauvac; da
sociologia. da ciência política ou da história acabam se tomando mais ricas e de
maior alcance do que as da própria ciencia que as inspirou .
- 1__
'1"'.,__
l ~Ui \ •• d • ">"i • 1,. , ....
1 •liH 1\ ti' d.
'
' ! .\, ' '- t.,f ,tl ti,) i •)
1 • ' ~
\ll111H Pi(no 1· 1
HR 1 • 1l(). l · 2- l.
( ~) ' iA >i• J. , .• Dc ,"f'.:ut.ut,Í< > '"·'s~·.u·:l'l'
,n._:1 I ,.''-1--·1muss. na
, ,n t.i l 1t- nm dt·-'>,h ,hnm ·nh l
._,r ,, ,1 .•
l
,• thn ,' 1 ?\1,hHl l l l
...,.
\1 l
... . ... . I' •.
~ tdnl\ l l,1,hdn1 1
. ul
Revista de!Antropologia. São Paulo, USP, o. 34, 1991, pp. 103-130 .
Nabuco em 1985 . Nesse trabalho , o autor chama a atenção pua o fato de que no Brasil o saber
antropológico sempre ficou historicamente subordinado à natureza de seu objeto - índios , negros ou
brancos. Em razão dessa preponderância do objeto real sobre o objeto teoricamente construído,
conclui ele , surgiram duas tradições no campo da Antropologia brasileira : a etnologia indígena e a
antropologia da sociedade nacional. Ambas formularam seus problemas a partir dos conc.eitos de
cultura e estrutura. Se essas colocações correspondem ao histórico de nossa disciplina, fica claro que,
embora o exercício de uma Antropologia das sociedades complexas tenha já uma longa história no
Brasil, a reflexão sobre suas implicações teóricas é muito recente . Parece -nos que, piradoxalmente, é
exatamente~ experiência acumulad, da Antropologia brasileira que tem tomado atual o debate a
respeito dos pressupostos e da especificidade desta disciplina no estudo da vida social contemporânea.
A Antropologia que se faz no Brasil desde os anos 70, quando ela "se rotiniza" , segundo expressão de
Roberto Cardoso, aproximou-se da Sociologia e da Ciê ncia Política e incorporou novoo problemas e
conceitos. Em puticular o uso do cone.eito de culrura se complexifica . Essa impressão está em parte
corroborada pelas análises de outros autores . Os artigos de Gilbe rto Velho e os de Eduardo Viveiro de
Castro, de 1978, chamam atenção pira o modo co mo esse cone.eito incorpora n~ da Sociologia ao
ter que levar em conta as relações de produção na sociedade urbano -in<lustrial. Em conseqüência,
prolifera o uso de noções de precisão duvidosa , tais como "subcultura" , "cultura popular", "cultura de
massa", que, ao mesm o tempo, recortam univ ersos homogêneos de observação e qualificam a
diversidade cul tural numa sociedade de classe . Ver "0 co ne.eito de cu ltura e o estudo de sociedades
comp lexas : uma perspectiva antropológica", Arte/aro , ano I, 0 11 1, jan., 1978. Também Eunic.e Durhan,
num rápido retrospecto sob re a produção antropológica brasileira (1940-1970), chama a atenção pira
o fato de que, ao longo da década de 60, deu -se uma gradual renovação teórica do trabalho
antropológico sob a influência do estruturalismo , que passou a inspirar novas tendências de estudo das
populações urbanas e rurais . Na década de 70, emergem temas mais políticos, que o marco teóri co do
estruturalismo não consegue mais equacionar . A Antropologia inicia entáo seu namoro co m o
marxismo e começa a ter que lidar co m novos problemas e conceitos. Ver "Problemas atuais da
pesquisa antropológica no Brasil" . Comunicação, Latin American Study Group, reunião Anual da
American Anthropologist Association , Washington, 1980.
(16) Os "pecadoo" da Antropologia americana são mais rec.entes. Em 1942, a Associação
Americana de Antropologia co locou à disposição das forças armadas seus conhecimentos. O exemplo
mais co nhecitlo é o estudo da antropóloga Ruth Benedict, O crisântemo e a espada, que tinha como
intenção explfcita "decifrar" os japoneses para melhor combatê-los. C umplicidade semelhante deu-se
na década de 60, quando inúmeros antropólogos e outros cientistas sociais colaboraram com a CIA
durante a guerra do Vietnã e na Juta contra os movimentos revolucionários tia América Latina (como
por exe mplo o controvertido projet o Cnmelot , elaborado pelo de(Xlrtamento de Defesa dos EUA em
1%4 -65 . Ver R. Beals, Politics of Social Researc/1: an lnquiry inio rlie Ethics and Responsabilities of
Social Scientists. Chicag o, Aldine, 1969). Mas o problema não se co loca, evidentemente, apenas para
os antropólogos tio "primeiro mun<lo~. No Brasil, por exemplo, tensã o se melhante se deu em torno da
colaboraç.10 de pesquisadores com a polítie1 indigenista desenvolvida pelo Serviço de Proteç.10 ao
Índio criado em 1910. Das muitas críticas feitas ao indigenismo, o antropólogo Frans Moomen
ressalta duas : a sua ideologja integracionista , que sig nificaria a proletarizaç5o do ín<lio; seu caráter
co loninlis ta, que red undaria na perua <..Josterritórios, na ôeculturaçâo e no genocídio desses grupos
(ver Frans Moo men , Antropologia aplicada. Ática, São Paulo, 1988).
( 17) Michel Panoff. Etlro/ogie: /e dRuxieme souffle . Paris, Payot, 1977 , p. 96.
-125-
( 1~ Vct , '-C , 1 "(h' 1:s de,11hu, ,._ d, F1,1nz. F~11P11 ~rn /'~,w Noi;. i\l"', ,, , 111,u,c P,1n ,
S<-ud, 19'\ 2.,, 1 m H,1hlw111e ~far ,,ltf!fh M<''\d. I" rti ,- i,m, r,1 q tio·,. P. 11~. ,lrn. nu I e •y, !'l72
( 11J) { /i:v1 ftr li ~. L'f'· li ,, J' \1.
l 2ll} r.,6,·t -~tt 11 • " l'Ti 1nt\(t-On1,\ d AnlH•I ,l\>g•~·, Revrri,i dt'! lJSl\
f,l'l , (U l , 1% 2 . p 23.
{2 1) (' h111c l · \J ...Stf rns . A..,,t,, •;k>logia f! t1ulur,./ 2. R1t\ lle J.\ncirt', l en1P:' lh,1,1lc11n , 1Íl7t,
p. . \
, 22 ) ( ' l~\HI~ l p. ) .:
•:!Vl- ~ll <Hl . • , 1)\). 1{. ,
(2 , lc.,n e ,)J"'".Anil {Jp ,fo,,.i,1: nii,Jt·i,1 """ ,-.~: ie,lo~./j'i: pnmitii ,1.~? l 1stx,:'l, Pd 1,(\cs 7fJ, t 971 ,
p. J '.
(24) < ltthlfU Gu·rtz lVo ......i: and { ll'1'Ç e ,\litl\rni,, Stam..lh rd lJntYer tty P11.: • 1' :8
(25) Dentr l de".sa rnc.sm, 1~·r~r,e·t1v,, ,p1c nega ,, fX\\...'i1b11tili,d~ da u:'tinpH n !i,, ll,1 c-ol1orn
ç , mt', umn h>4,tl1d.llle, l..i~,rg<' M,\h ~u~ e Dtd·, C u hmlln elcn<.:,1n uma trit- ~ C\11wen" ,)(-~, 1~·1u. 1.
l te: ·n1e.~ n.1 e111ngt .,r1;1 "l.h~tc'.\ que pconmu ,\ ,~,ll n1.J1ll tfcitú út• rc..d:.J,,dc h )IJ ti<..
de."-..sC - • ,Hre ,
mn1, lffl(X rf,1nlCS t"St,h, f\ \lllH ('~.'hl~O rt>tH,l •Sc.' ~l IC''(h.l f);lt,\ gn.r.,nttt Ot'tll1 ,\hd,1de .. pu C'.i1U
.;t; l' 1)1.)\'t'cm t.<"
1n1,t<..' 1.,I, 1:\S e r;\plí.l.\m<'nte d\, p.Hhl \11.H\~H., "' típ,.-,, . 1\: sJ1n. \1 que cr.1 um.1
•
c:xpcti('UC\,l h ,t!tOl<'l\f,HLl t' h.,rna Ulll t,x k) l'üCH.'1\I(' C tnl('~f,H.k' Ge~Hge M,\í("ll l ' Di k ( u,I\IH,1n .
" P1n,)grap hics ,,\ te,t,;". ln:.,A.nmMIR<'\·ie~· ofA111hrop<..,lvs, ·. li: J<i {)Q ,
(~fl) < 'ltttoHt \JCCll7, c,p.,· 11.. p. Lk, .
( 2 7) P.1f,\ um h:'ll;\n,, ,te e..,tcndêncta na AnttúfX'k1g1:l ~ 1...H\l<"mpor,\nc •.1. ver ·1rrc-~., Pir(" ,i._,
H.h, Cnhteir . 'IIA pr<.',c;cn,~ do ~utor e.,~m Antrl'jX'l\.l~1.1 ", 4\ J\\lÇ r;.,.,:1
1x\-. mr,,..krn1<..lHI<" CFBF. \ I'
.. &i._~
nº 2.1. pi} l 9'~~. (' Rl,l'Cfll) ( .,nk.h <..llie oti, cu~,. .~,/,,<4 (1 1><r1.<;11ma1((l ,t11trv;wlô..:,...(), Sfú) {',HIS\ ),
1
/,istâri<.·o. ~A"' P:rnh), Btnst ht:n~c. t YSJ, "Ct.' <nu Ili\ ',\,,\,,. opu11.,~)puhlt("., t" 1~kr \ 1n: ; .,briel ~ ,,hn
(Or~ .). ( v,,,u,,u-,J.,1U) ~ indÚ,(IIÍ{I çu/tur,J, S..\(l f\Uih), l',.,. Ell N.,dl.ln.:ll. pns. ~ 1; e f t!.~iw 1,,11,\ff
Cr1.t1,. lk ..h.·~,nP1<"
.~-.,l 975 .
l ~(,-
Rt1visrn tú-An1ropol ogia. S5o Paulo, USP, n. :W, 1991, pp. 103- 130 .
- 127-
MON 'll ;RO , Paul:\. Re[lexões sob re uma Antr opo logia <las sociedades co mpl exas.
(56) Hnbermas distingue três nívei s de co mpromiss o na formu lação CL'lsopiniões não formais
que po<lem vir n se r um ca minh o fértjl da exploração antropológica: a) no nível mais baix o desse
domínio de com uni cação estão as ev idênvias culturais excluídas de qualquer reflexão ; b) no cível
médio c:stão as experiências fundamentais, pouco discutidas ma s verbalizadas; c) finalm ente estão as
evidências freqüentemente dis c utida s, onde a família , os grupos de idade e de vizinhan ça formam o
foco P\ra as opi niões qu e vêm de fora (meios de co municaçáo , poHtica, Estado etc.). Ver
"Comunicaçúo, opi nião pública e poder ". ln : Gabriel Cohn (org.), Comunicação e indústria cultural_ ,
São Pa ulo C ia. Ed. Naci onal, 1975 , 2' ed., pp. 195-8 .
BIBLIOGRAFIA
ADORNO, Theodor W. "Educação após Auschwitz ". ln : Gabriel Co hn, (org.). Theodor W. Adorn o.
São Paulo, Ática, 1986 .
AKOUN, André (org.) . Dicionário de Antropologia. Lisboa, Verbo, 1963.
BALANDIER , Georges. M<><kmidody poder: el desvio antropologico . Madrid , Ed. Júcar , 1988 .
B~ R. Politic s of Social Research : an /nquiry into the Etlsics an.d Responsabiliti es of Social
Scientists. Chicago , Aldine, 1969.
BESTARD , Joan & CO NTRERAS, Jesús. Bárbaros, selvajes y primitivos. Barcel ona, Barcanova ,
1987.
BOHANNAN, Paul. "Rethinking Culture: A Project for C urrent Anthropologists ". CurrenJ
Anthopology, vol. 14, nª 4, o ut., 1973 .
BOURDIEU, Pierre. La distinction . Paris, Minuit 1 1979 .
____ . ú sens pratique . Patis, M.inuit1 1980 .
CAL DEIRA, Teresa Pires do Rio . "A presen ça d o autor e a pós-modernidade em Antropol ogia".
Novos Estudos CEBRAP,, nª 21, jul., 1988 .
CANCLlNI, Néstor Garcia. "Cultura y poder : Donde está la investigadón ?". Co nferên cia no
Simpósio "Cultura popular e resistên cia poHtica ". New York , Co lumbia University, abr. , 1985,
mimeo .
C ARRIER , Hervé. Cuúure notre avenir. Roma, Presse de l 'U n.iversité Gregorienne, 1985, p. 16.
COP ANS, Jean. Antropologia.· ciência das sociedades primitivas? Lisboa, Edições 70, 1971.
DURHAM, Eun ice. Malinowski . São Paulo , Ática , 198 6.
__ __ . "Os problemas atuais da pesquisa antropológica no Brasil". Reunião Anual <la American
Anthropolog.ical Association, dez., 1980.
FANON, Franz. Peau Noir, Masques Blancs. Paris , Seuil, 1952.
GEERTZ, Cliffo rd Worb fUldLives. Califo mia , Sta ndford University Press, !988 .
GIRARDET, Raoul. Mito s e mitologias pollticas. S~o Paulo, Cia. das Letras, L987.
HABERMAS, JUnger. "A nova intransparêncin : a crise do Estado de bem-estar social e o
esgotamento das energias utópicas" . Novos Es tudos CEBRAP, nº 18, set., 1987, p. 110 .
. Para a reconstrução do materialismo lust6ri co. São. Paulo, Brasiliense, 1983.
----
-128-
ReYilta tÚ Antropologia. São Paulo, USP, o . 34, 1991, pp. 103--130.
"Comunicação, opioilo póblica e poder". ln : Gabriel Cohn (org.). Comunicação e indústria cuhural
(o rg .). Cia. Ed Nacional, 1975, 2' ed.
úgitimation Crisi.f. Beacoo Pre3!, 1975.
IANNI, Otavio. "A interpretação na Sociologia contemporinea". V Congresso Estadual cb
Sociólogos do Estado de S. Paulo , ago ., 1989 , mimeo .
KU PER , Adam . Antropólogos e Anlropologia. Rio de Janeiro, Francisco Alves, 1973, pp. 91-2 .
LÉVI-SI'RAUSS, Claude. L 'Antropolcgie face aux problbM.J du nwnde m<Xknu . Tóquio, The
Simul Press, 1977.
____ . "Aula inaugural" . ln: Alba Zaluar (org.). Desvnuiando l'PUÍscarassociais . Rio de Janeiro ,
Ed Francisco Alves , 1975.
____ . •A cruemoderna da Antropologia", Revista tÚ Anlropologia. USP, jan.-jun ., 1962, p. 25 .
. Antropologia wrutural 2. Rio de Janeiro, Tempo Brasileiro, 1976, p. 23.
----
MAR CUS, George, e CUS HAM , Dick. "Etnographics a.s tcxts" . Annual Review o/ Anzhropology , II :
25-69 .
MARCUSE, Herbert "L'idée de progres à la Jumi~re de la psychanalyse" . ln : Freudo-marxisme et
Sociologie ck l 'aliination. Paris, Anthro~ , 1965 .
MEAD, Margareth. Le racisme en q~sti on. Paris, Calmann-Lévy, 1972
MOONEN, Fraru. Antropol ogiaapücada. São Paulo, Ática, 1988.
NADEL, S. F. "Co mpreendendo os povos primitivos" . ln : Bela Fekhnan-Biaoco (org .). Antropologia
das sociedades contemporâneas. São Paulc , Global, 1987, p . 69.
OLIV EIRA, Roberto Ca rdoso de . Sobre o pmsamento antropológi co. São Paul o, Tempo
Universitário, 1988.
____ . "0 q ue que t .wo que chamamos de Antropol og ia Brasileira ? " Co nferên cia Joaquim
Nabuco, nov ., 1985 .
PANOFF, Michd. E1Jwlogie: k deuxitme souffle. Paris , Pay o t, 1977.
RABINOW, Paul. Reftections on Fielwork in Mar occo. Ca lifórnia , Un. of CaJ ifomia Prcss, 1977 .
ROSSI, Pictro . Cultura e Anlropologia. Torino, Piccola Biblioteca E inaudi ,1983 .
SADER, Eder. Quando rwvos personagens enlram em cena . São Paulo, Paz e Terra , 1988 .
SAHU NS, Marshall. "Cos mologias do capita lismo : O setor transpadfico do Sistema Munchal".
Co nferência aprese ntada na XVI Reunião Brasileira de Antropologi a, 1988.
TYLER, Stepbcn . "Postmodem Ethnograpby : From Document of lhe Occ ult to Occult Documeot ". ln :
Cliff o rd e Mar c us. Wriling Culture : lhe Poeti cs aruJPoüti cs o/ Ethnography . Berkeley e Los
Angeles , Un . of Cali fo mia Pr~.
VELHO , Gi lbert o & CASTRO, E. Viveiros . "0 co nceito de c ulru ra e o csrudo das ~oc1eda~
comp lexas; uma perspectiva antropológica\ Rio de Janeiro, Artefato , ano I, rr° 1, 1978.
WALLERSfEIN, Imman uel. "TyJX>logy of Crises in thc World -Sys tcm", Fernand Braudcl Ccoter fo r
tbc S tudy of EcooomiC3, Historical Sys tcm s & Civtlizatioru, 1984.
____ . "Soc1etal Devclo pmen t, o r Devclopme nt o f tbe Wo rJd-System?" . idem , ibidem , 1984 .
- 129-
MO NTBRO , Pnuln. Reflex~ :sobre uma Antropologia da.s a.ociedadca complcxa.s .
ABSTRAC-f: 1nc goal of trus article ~ to evaluatc tbe contemporary con<litioos that determine
anthropologkal tbougbt on complex societies. To anain this gool the main concepcs tbat gujde tbe
bistoricaJ developmcnt of Antbropology - as the concepts oi man aod culturc - are focusc<l to
con&idcr bow adequnte they are to analysc contemporary realitic.,. Toe author suggests .some new
interpretativo guideliocs to overcomc thcorctical hindrances - as cultural rcL,tivism that hmits
Antbropology ío tbe face of iu ncw isubjocts
KEY WOROS: Anthropologic.al tboory, modernity, aJ1thropology oC tbc complex societies, culturc ,
globolizatioo, lhe crue.s of anthropology, objectivity, cultural rclativi.&m
-130-