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O comitê .......................................................................................................................................... 5
A PROBLEMÁTICA ..................................................................................................................... 16
CONCLUSÃO ................................................................................................................................49
ANEXOS........................................................................................................................................50
REFERÊNCIAS ............................................................................................................................ 53
CARTA DOS DIRETORES
Caros delegados(as),
Durante as sessões, os senhores devem levar em conta todos os anos do conflito, a destruição
causada na terra e, principalmente, os antecedentes dessa guerra. Com disputas territoriais a
crimes de guerra cometidos, cada mínimo acontecimento da primeira grande guerra deve ser
analisado para que os senhores possam criar argumentos consistentes e encontrar nações que
tenham interesses similares a sua própria. Foi pensando nisso que esse guia de estudos foi
criado, para ajudar os ajudar a trilhar sua jornada nessa viagem ao passado.
Além de tudo, suas mesas diretoras estão sempre dispostas a tirar dúvidas e ajudar no que
for preciso, por isso, não exite em nos contatar! Finalmente, desejamos uma prazerosa
experiência a todos, que vocês possam encontrar (ou continuar encontrando) nesse mundo
de simulações, o sentimento de conforto e lar que cada um de nós aqui, tivemos a
possibilidade de descobrir. Desejamos que esses dois dias possam ser muito bem
aproveitados e nos tragam muito conhecimento, novos laços e, principalmente, que vocês se
divirtam!
Atenciosamente,
Os poderes plenipotenciários
Quando um diplomata, geralmente o Ministro das Relações Exteriores, é enviado para uma
reunião de plenos poderes, ou seja, uma reunião onde o debate gira em torno de
representantes máximos do posicionamento de Estados e organismos, ele recebe do chefe de
Estado ou de governo uma carta que lhe concede plenos poderes. É graças a esse documento
que ele poderá tomar decisões em nome de sua delegação, assinando tratados, compras,
vendas, empréstimos, investimentos e tudo mais.
Em suma, dentro do nosso comitê, quando se tratar das ações individuais que vocês tomarem
em nome de suas representações, não será necessário solicitar autorização para ninguém
externo ao comitê. Por conta própria vocês possuem plenos poderes e são representantes
máximos dos interesses de seus países/empresas. Vale ressaltar que isso não significa que a
política externa, ou seja, o posicionamento ideológico e a agenda internacional de suas
representações possa ser simplesmente ignorada, por mais que vocês possam tomar decisões
“livremente”, elas ainda precisam seguir uma lógica. De mesmo modo, toda movimentação
deverá passar pelo crivo das Mesas Diretoras.
Estados
As delegações diplomáticas dos Estados terão por dever e objetivo representar entes
soberanos na arena internacional, que são compostos por governos, populações, questões
relacionadas a nacionalidade e cultura. Representar um país é uma das maiores
responsabilidades que se pode ter, pois é o mesmo que defender a vida de milhões (senão
bilhões) de pessoas, como também, de todo o entorno que estiver associado à ele, tendo em
vista que no mundo interdependente no qual nós vivemos, uma medida que afete um país
pode impactar em seus vizinhos, em seus companheiros continentais ou até mesmo em todo
o planeta.
Ademais, por ser um ente soberano os Estados são, de maneira legal, as autoridades máximas
de todo o Sistema Internacional, não havendo nada acima deles (é uma sociedade anárquica).
Desse modo, os participantes que sejam diplomatas de nações, deverão agir de acordo com o
tamanho da responsabilidade e poder que serão postos em suas mãos, tendo a liberdade e a
capacidade de olhar para as organizações de cima para baixo, desde que elas estejam dentro
de sua alçada jurídica.
Na Conferência de Paris, foram convidados 30 Estados signatários e outros Estados
observadores. Eles se diferem, pois no que se refere ao Tratado de Paz, somente um Estado
que seja signatário assina de maneira oficial esse documento. Os Estados observadores foram
convidados por razões de prestígio e pela oportunidade de serem debatidas questões
associadas a reorganização geopolítica do globo e o estabelecimento de uma nova ordem
internacional. Tendo em vista isto, apesar de serem observadores do Tratado de Paz, são
capazes de assinar de maneira oficial a Resolução do Congresso. A diferença entre esses dois
tipos de documentos é explicada mais à frente.
Organizações
Esses grupos também possuem um grande destaque no Sistema Internacional pelo fato de
conseguirem furar as fronteiras da soberania entre Estados e se estabelecer em diferentes
países por um processo de compartilhamento de ideais e reconhecimento de lutas. No fundo,
um Estado é formado pelas pessoas que o compõem para além dos chefes de Estado e de
Governo, e nesse sentido, por mais que tenham que olhar de baixo para cima em relação aos
Estados por razões de poder e autoridade, elas deverão ser ouvidas com a mesma relevância.
No nosso comitê possuímos representantes do movimento Pan-Africano, da Conferência
Inter-Aliadas das Mulheres e da Organização sionista.
FUNCIONAMENTO DO COMITÊ
Por se tratar de uma Conferência de tamanha magnitude, o nosso comitê será dividido em
quatro fases com base na mesma linha de seguimento do que é realizado nos congressos e
conferências oficiais da ONU e da história. A principal diferença é que o que geralmente é
feito em semanas, meses ou anos, vocês deverão fazer ao longo de um único evento.
Esse é o começo do comitê e possui a duração de duas sessões. O objetivo nesse momento é
que todos realizem seus discursos iniciais e também que todos debatam a temática do comitê,
tendo como principal objetivo problematizar a questão - ou seja, discutir não somente o tema,
mas tudo aquilo que está associado a ele: causas, consequências, vítimas etc. - e apresentar
por meio de argumentações o posicionamento de sua delegação e as razões para tal. O tópico
a ser abordado nesse momento é a responsabilidade pela guerra, as mazelas e problemáticas
que ela deixou nos países e a maneira como a Paz deverá ser conduzida. Também é esse o
momento em que os países observadores e as organizações terão a oportunidade de
apresentar suas perspectivas de modo a assegurar que os países signatários do Tratado de
Paz construam os termos de modo a agradar e beneficiar suas políticas externas também.
Após o debate partiremos para a apresentação dos Programas de Ação, ao longo de duas
sessões. Cada delegação deverá no começo da Primeira Sessão entregar para as Mesas seus
PAs, para que eles possam ser corrigidos; durante a primeira fase as mesas irão realizar esse
processo e também irão montar uma lista com os programas na ordem que julgarem mais
produtiva, assim sendo, ao chegarmos na fase de apresentação estará tudo organizado para
as discussões em volta desses documentos.
As delegações serão convocadas para apresentar seus PAs de acordo com a ordem que as
Mesas criaram, e o processo seguirá da seguinte forma:
III. Realização de um Tour de Table para avaliar o posicionamento das demais delegações
acerca do PA apresentado (a favor, contra, com direitos). Vale salientar que se
acontecer de algumas delegações encontrarem problemas no documento o comitê
entrará em um debate para que a delegação que o apresentou tenha a oportunidade de
mostrar para seus colegas que ele pode sim ser votado e também negociar com eles
modificações para a sua aprovação;
O seu principal objetivo ao longo desses procedimentos, que parecem ser muito complicados
na primeira vista, é simplesmente conseguir mostrar para os seus colegas de comitê que você
encontrou uma boa forma de resolver parte do problema, é mostrar que a sua delegação se
preocupa com a questão e desenvolveu um método que pode/deve ser adotado pelas demais
delegações também. Nessa fase é necessário mostrar que sabe ser firme na defesa do seu
posicionamento, mas também que sabe negociar e fazer concessões.
Todos os participantes da Conferência possuem percepções sobre os termos em que a Guerra
deve ser encerrada e também da maneira como a nova Ordem Internacional deverá ser
construída. O objetivo dos Programas de Ação não é o de entregar um rascunho do Tratado
de Paz ou da Resolução Final, mas propor, tal qual um documento de trabalho mais
elaborado, uma proposta de resolução para a Guerra e/ou acordos de construção da nova
ordem internacional.
3. Rodada de negociações
Depois da apresentação dos Programas de Ação, daremos início a uma fase onde o comitê
terá por objetivo a negociação de alterações nos PAs aprovados e a criação de novos
programas em conjunto ou de maneira individual. As delegações podem abrir moções para
grandes debates não moderados, tendo em vista que o maior intuito é escrever. Ademais, é
crucial que as delegações autoras de projetos conquistem seus signatários. Nesse período,
também é essencial que se produza de maneira ativa tanto o Tratado de Paz, quanto a
Resolução Final, de acordo com suas devidas distinções.
Bom, como vocês puderam observar o primeiro debate é sobre a Agenda temática, e agora
temos uma Agenda burocrática. Sendo assim, isso significa que o comitê possui uma Agenda
dividida em duas etapas.
II. A Agenda burocrática tem por objetivo revisar se tudo o que foi discutido
na agenda temática está sendo observado nos documentos que foram
produzidos após a Rodada de Negociações. Ela também abre o espaço
para um melhor detalhamento de tudo que foi construído, acrescentando
prazos, fiscalizações, cláusulas vinculantes e não vinculantes.
Resumindo, nessa parte do comitê o objetivo é debater exclusivamente
essas questões burocráticas e produzir emendas que vão encorpar as
soluções que foram propostas através dos Programas de Ação. A ideia
aqui é que os arquivos possam sair de uma perspectiva individual dos
autores e signatários e se tornem efetivamente soluções do comitê como
um todo.
Sendo assim, a expectativa é que ao final dessa fase, o comitê tenha oTratado de Paz e o
Projeto de Resolução finalizados e prontos para serem votados. É necessário colocar em
prática um pouco de tudo o que fizeram nas fases anteriores: discurso, argumentação, defesa
de interesses e negociação.
A Conferência de Paz de Paris é um comitê especial, o que de forma simples significa que ele
está recheado de variações em relação à maneira como os comitês padrão do modelo ONU
são desenvolvidos. Com isso no horizonte, é necessária uma explicação adicional, indo além
daquilo que é explicado no Guia de Documentos, em relação a dois documentos e suas
particularidades.
É necessário produzir dois tipos de Resolução para a nossa Conferência: O Tratado de Paz e
a Resolução Final. O Tratado de Paz tem por intuito estabelecer as bases da maneira como a
Grande Guerra será solucionada, a exemplo de definir novas fronteiras e a possível
responsabilização dos culpados. A Resolução Final do comitê tem por objetivo descrever
acordos que vão além da Guerra em si, como cooperações para reconstrução dos países,
criação de novas Organizações Internacionais, reconhecimento de independências,
atendimento a pautas sociopolíticas.
Outra particularidade a ser observada é que o Tratado de Paz possui caráter mandatório,
enquanto a Resolução Final possui caráter recomendatório.
A PROBLEMÁTICA
A conferência foi marcada por muitas discussões, onde os países tentavam sempre ter suas
reivindicações atendidas, mesmo que elas não tivessem conexão nenhuma com a rendição
alemã. Além disso, os debates duraram meses e foram divididos entre nações que foram ativas
nas negociações e as que apenas foram apenas como observadoras, tentando apenas receber
um pouco de representação global.
Por isso, ao fim da Conferência de Paris, foi assinado o Tratado de Versalhes, que oficializou
a derrota da Alemanha e a culpabilizou a mesma pela destruição na Europa, aplicando
cláusulas como como a abrir mão da Alsácia-Lorena para a França, além de lhe entregar
dinheiro regularmente, além de ter um limite no quão grande poderia ser suas forças
armadas. O Tratado de Versalhes foi algo humilhante para a Alemanha, que entrou na sua
maior crise da história no período entre guerras, tendo sua moeda extremamente
desvalorizada e sua inflação, nas alturas.
Contextualização Histórica
Desse modo, a paz na Europa passa a depender diretamente da busca pela balança de poder
entre esses novos atores plenipotenciários no Sistema Internacional, que agora possuíam ao
seu lado um forte poderio militar disposto a fazer o que fosse preciso para garantir a
segurança de sua amada pátria.
Assim, nesse período, passamos a observar que a ordem do Sistema Internacional passa a ser
regida por negociações diplomáticas pautadas no Direito Internacional, demandando
contatos diplomáticos constantes entre os entes soberanos de maneira a evitar que conflitos
armados fossem iniciados até última instância. A Era napoleônica quebrou tudo que havia
sido desenhado na Europa no último século, de 1804 a 1815, o mundo passou a entender que
a maneira como a balança de poder era regida não bastava para garantir que a raison d’État
superasse o imperium universal que algumas nações buscavam.
Outra grande mudança também ocorreu entre o Século XVII e o Século XIX. A formação dos
Estados Nacionais não bastou para a burguesia, que ansiava cada vez mais por influência na
tomada de decisão e nas configurações adotadas pelos Estados no globo. Por essa razão,
observamos no mesmo período o surgimento de uma série de Revoluções Democráticas,
dentre elas as mais importantes aconteceram na Inglaterra, na França e nos Estados Unidos.
Junto a todo esse renascimento das noções de política e de cidadania, outra grande mudança
foi a Revolução Industrial, que passou a demandar da esfera Internacional uma busca maior
por mercados e por matéria prima. Assim podemos dizer que:
É importante entender que as nações precisavam garantir sua própria segurança em termos
territoriais, mas também o anseio imperialista, por meio dessa nova fase capitalista, reside
não mais na expansão de fronteiras dentro do velho continente, mas na garantia da
estabilidade internacional de modo a possibilitar a construção de colônias e protetorados na
África e na Ásia de modo a alimentar o modo de produção proveniente da Revolução
Industrial. O mercantilismo já ficou para trás a muito tempo e o ocidente aprendeu que era
possível dominar de modo diferente a o que Portugal e Espanha haviam realizado em suas
colônias na América.
Essa nova organização ficou conhecida como Concerto Europeu, que sendo composto pelos
cinco grandes (Grã-Bretanha, Rússia, Áustria, Prússia, e França), era responsável por ditar
como o Sistema Internacional iria funcionar e evitar a todo custo que houvesse conflitos
interestatais na Europa, pelo medo do surgimento de um novo Napoleão. A Grã-Bretanha,
por meio da pax britannica, detinha a maior influência entre todos, enquanto a Prússia era
uma nação em construção ascendente e a França retomava seu prestígio, principalmente após
a Guerra da Crimeia. Vale salientar que esse Sistema Internacional, passou a agir como uma
Sociedade Internacional, pois esses países, além de compartilharem boas relações
diplomáticas em termos concomitantes ao Direito Internacional comum, eles também
possuíam proximidades em termos culturais e de práticas comerciais, criando um novo
patamar de associação na comunidade internacional que passou a ser imposto de maneira
obrigatória no restante do globo, ou seja, um período de extremo eurocentrismo, mesmo com
a existência de Estados de grande relevância para além desses cinco, eles eram os que
realmente ditavam o funcionamento do globo.
Surge então uma raison de systhème, que agora prevalece sobre a raison d’État anterior.
Manter o controle que os Cinco Grandes exerciam sobre os demais europeus, e o resto do
globo, era mais importante do que atender aos anseios imperialistas ou defender uma
corrente ideológica que era alinhada com sua política doméstica se aquele apoio poderia levar
a uma quebra do equilíbrio de poder vigente. A exemplo da França que foi contra a
manutenção do poder Papal sobre a Itália no processo de unificação, mesmo sendo sua
sociedade fortemente e historicamente católica. A raison de systhème é o que garante um
período onde os conflitos e disputas europeias passam a ser solucionados por meio de
conferências e congressos, a exemplo do famigerado Congresso de Berlim, que será
trabalhado mais a frente.
Nacionalismos e Guerras
Vale lembrar que na época o Czar Nicolau I possuía certa força política pelo apoio que havia
fornecido à Áustria no combate aos movimentos revolucionários dos húngaros, sendo
conhecido como o “Guarda da Europa” e a Sociedade do Império Russo possuía como um dos
principais princípios a tradição do Cristianismo Ortodoxo para toda a população, pois era a
religião oficial da família real e por conseguinte a do Império. A Rússia também buscava
ampliar seu Império, visando dominar politicamente as regiões vizinhas pertencentes ao
Império Otomano e o comércio pelo Mediterrâneo.
Por outro lado, Napoleão III havia acabado de assumir o poder de maneira bem controversa,
aos modos do seu amado tio, e estava em busca do máximo de apoio popular possível.
Considerando a posição histórica da França como uma nação Católica, se tornar protetor dos
cristãos era um ótimo caminho para alcançar esse objetivo.
Considerando essa conjuntura, surgem então duas nações que por interesses domésticos
fortes, se declararam como “Protetores dos Cristãos”, e assim a raison d’État confronté à
raison de systhème gerando a primeira crise do sistema de hegemonia coletiva sustentado
pelo Concerto Europeu.
Em 1680, o Sultão Otomano havia dado aos franceses a tutela de protetores dos
cristãos.
A partir de 1850, o Império Otomano passa a sofrer pressão dos dois Estados em busca do
reconhecimento de seu poder enquanto protetor dos cristãos. Em 1853, acreditando que
Inglaterra e a França não possuíam as condições de intervir, o Imperador Nicolau I de
maneira impositiva invade o Império Otomano. Porém, os ingleses possuíam o interesse em
manter suas vantagens comerciais na região e decidiu apoiar o Império Otomano. Os
franceses, por outro lado, encontraram a perfeita vontade de se unir nessa coalizão e
assegurar que ao final eles se tornassem os grandes “Protetores dos Cristãos”, pois nada
melhor do que agradar a população com religião e prestígio militar. Temos então o Império
Otomano, com o apoio de Inglaterra, França e Sardenha (Os aliados), contra o Império
Russo.
Ao fim do conflito, o tratado de paz assegurou que o Império Otomano permanecesse vivo
frente aos avanços do Império Russo, mas ao custo de depender fortemente dos esforços do
Ocidente Europeu. E o comércio no Mediterrâneo e no Mar Negro era garantido com fortes
participações da Inglaterra de da França, em suma, a Inglaterra deu continuitade ao seu
fortalecimento econômico e controle naval do globo, e a França retomou sua credibilidade no
Sistema Internacional com sua defesa pelo equilíbrio do Sistema aos moldes do Concerto
europeu, característica havia sido perdida/enfraquecida após a Era Napoleônica. A Itália
(Sardenha) começa a renascer e sua participação neste conflito lhe permitiu voltar a sentar
com propriedade na mesa de negociações das Grandes Potências.
A unificação dos ducados e províncias germânicas em um único Estado era uma realidade
iminente, principalmente após o Congresso de Viena, onde a Confederação Germânica foi
estabelecida de modo a criar uma união política entre esses Estados ao menos a nível de
representação de interesses a nível Internacional.
Historicamente, a região era fortemente dominada pelo Império Austríaco, entretanto o
mesmo passava por um período de forte instabilidade interna. Devemos retomar algo tratado
anteriormente: A estabilidade internacional depende da estabilidade doméstica. Nesse
sentido, coube a província germânica mais forte politicamente e economicamente organizar
esse processo.
Essa província era a Prússia, e sobre as ambições do Rei Guilherme I e as grandes estratégias
e capacidade de dominação do Primeiro Ministro Otto von Bismarck, o forte e moderno
exército Prussiano travou três conflitos
Ademais, Alemanha e Itália se tornam fortes aliadas, principalmente pelo apoio que uma
fornece à outra em seus processos e na Guerra franco-prussiana, e mais uma vez o Império
Austríaco foi enfraquecido pelas perdas na região que então passou a ser reconhecida como
Reino da Itália.
Impactos das Guerras de Unificação
O mais importante para compreendermos para a Primeira Guerra Mundial é o seu impacto
no tabuleiro geopolítico dessas duas guerras de unificação. É claro que todo o processo e seus
detalhes são interessantes, mas são de maior valor para os delegados das respectivas nações.
Num geral, o que precisamos realmente absorver aqui é a posição desses Estados em meio a
conjuntura.
Até meados do século XIX, a expansão dos europeus para fora não
apresentou um ritmo acelerado. O imperialismo contentava-se em
estabelecer bases para operações futuras. (...) Entre 1848 e 1871, o
expansionismo foi praticado com mais determinação, mesmo porque
procuravam satisfazer novas necessidades da expansão do capitalismo
no continente, abrindo mercados para excedentes industriais e para
aprovisionamento de matérias-primas. A partir desse período, as
questões europeias permaneceram centrais para o sistema internacional.
(SARAIVA, 2007, p.94)
O que nos cabe tratar acerca do imperialismo e do Congresso, para além das tradicionais
questões de partilha da África e colonização, é a compreensão de que ele foi o meio pelo qual
o capitalismo se internacionalizou e o Concerto Europeu praticou o seu domínio político e
econômico sobre o globo.
Contexto
O início do século XX na Europa marca o começo de uma era que ficará marcada para sempre
na história, principalmente devido ao número de conflitos e inovações tecnológicas que
ocorreram em apenas cem anos. Em princípio, é preciso entender que os sentimentos de pan
eslavismo, pan-germanismo e revanchismo estavam ficando cada vez mais fortes e,
consequentemente, sendo a principal justificativa para iniciar guerras.
Entre os primeiros conflitos desse período, é importante citar a Guerra dos Balcãs, que foi
uma junção de duas curtas guerras em um espaço de tempo de cerca de um ano. Fruto do
Pan-eslavismo, o episódio marca o começo das principais tensões na região. Para isso,
precisamos entender um pouco mais da história desse acontecimento.
Ainda no século XIX, na Conferência de Berlim, foi concedido ao Império Áustro-Húngaro o
direito de ocupar e administrar a província da Bósnia e Herzegovina, embora tal localidade
pertencia aos turcos otomanos, com o intuito de manter a paz numa Europa instável e cheia
de tensões. Porém, a decisão acabou por ter ação contrária à planejada, tendo em vista que a
região bósnia era um local de extremo interesse de diversas nações, especialmente da Sérvia,
por dois motivos principais: a região era habitada por povos eslavos e o Estado sérvio era o
principal adepto do Pan-eslavismo.
Assim, com o anúncio da anexação da Bósnia e Herzegovina pelos austro-húngaros, na região
dos balcãs, principalmente na Sérvia, um sentimento anti-Áustria, que já era forte, começou
a se fortalecer. Tal notícia não choca apenas os países balcânicos, como também, o Império
Russo, que era o maior rival da Áustria-Húngria. Possuindo um inimigo mútuo e interesses
em comum, na primeira década do século XX, foi possível perceber um alinhamento político
entre os sérvios e os russos, fato esse que virá mais à tona quando discutirmos as políticas de
“semi-alianças”.
Nesse contexto, em 1910, nasce na Sérvia uma sociedade secreta chamada de Mãos Negras
que tinha como principais objetivos a libertação de povos eslavos do domínio de outras
nações, lutar contra a influência Austro-Húngara na região e a criação da “Grande Sérvia”.
Tal sonho da criação de um potente Estado foi o fruto do Pan-eslavismo no país sérvio e tal
ideia foi usada como justificativa para inúmeras ações dos membros da sociedade, que
executavam aqueles que consideravam obstáculos para seus planos. Os Mãos Negras foram
ficando cada vez mais influentes e seus ideais começaram a atingir mais pessoas.
Com medo dessa aliança, a Bulgária decide atacar primeiro, e de surpresa, durante a noite,
para garantir que sua ofensiva inicial tivesse um efeito potente, que até conseguiu cumprir
com seu objetivo, mas não por muito tempo. Logo após o ataque, as tropas sérvias e gregas já
começaram a avançar para expulsar os búlgaros de sua terra, ambos os lados brigaram de
forma equilibrada, sem muitos avanços dos beligerantes, até que novos países decidem entrar
na guerra.
No dia 11 de julho, a Romênia decidiu aproveitar a situação delicada que se encontravam seus
vizinhos e invadiu a Bulgária, a fim de conquistar mais territórios. Ademais, o Império
Otomano viu a oportunidade de recuperar seus territórios perdidos anteriormente na
Primeira Guerra Balcânica. Consequentemente, era perceptível que a nação búlgara estava a
caminho da derrota, com os romenos marchando para a capital Sófia, os turcos tomando as
terras ao sul e os sérvios e gregos lançando ataques sem parar. O fim dessa guerra estava
próximo.
Com o colapso das linhas de defesa búlgaras, o Tratado de Bucareste foi assinado, pondo um
fim nesse conflito. A Sérvia e a Grécia dividiram a Macedônia entre eles, a Romênia
conquistou alguns territórios ao norte, enquanto ao sul, o Império Otomano recuperou
algumas de suas antigas conquistas. Entretanto, mesmo com o fim do conflito e a criação de
um acordo, as tensões entre as nações não haviam diminuído, principalmente no que se trata
da influência da Áustria-Hungria na região, que estava ficando cada vez menor.
Esse conflito foi um elemento-chave no que se trata do começo da Primeira Guerra Mundial,
tendo em vista que a Guerra dos Balcãs marca o acirramento do Pan-eslavismo e do
revanchismo na região.
Corrida Armamentista
Como já explicitado acima, a Conferência de Berlim foi um grande marco para as populações
europeias, tendo em vista que era tudo que as mesmas precisavam para conquistar matéria-
prima e conseguir mercado consumidor, tendo em vista que as mesmas estavam no meio do
processo da Segunda Revolução Industrial. Países como a França, Alemanha, Itália, Áustria-
Hungria e Rússia viam suas economias ficarem cada vez mais fortes no contexto mundial,
fazendo com que elas começassem, entre si, uma disputa por recursos.
Entre as nações principais, é necessário citar o caso do Império Alemão, que, por ter tido uma
unificação tardia, estava extremamente interessado em conquistar novos recursos. Tornando
uma nação, oficialmente, no final do século XIX, era o país um dos países que menos possuía
colônias ultramarinas e ainda estava alimentando sua indústria e suas forças armadas. Após
sua vitória na Guerra Franco-Prussiana, além de saído com um território extremamente
valioso, a Alsácia-Lorena, ainda conseguiu alavancar a moral nacionalista de toda sua
populção.
Estando no ápice de seu desenvolvimento, o Império Alemão ainda travou uma corrida
armamentista marítima contra a Inglaterra que, na época, era a nação mais forte no quesito
naval. Por causa disso, inúmeros navios de batalha foram criados pela Alemanha para
disputar o controle dos oceanos com os ingleses e, em caso de guerra futura, conseguir travar
uma batalha.
Enquanto isso acontecia, a Inglaterra não via com bons olhos o desenvolvimento e
fortalecimento de nações como a Áustria-Hungria e Alemanha, já que as mesmas poderiam
oferecer algum tipo de perigo à soberania inglesa mais tarde. Por isso, os britânicos
investiram fortemente na marinha nacional, área onde se destacavam e, como já se
destacavam nessa área, deixaram sua soberania e seu poder de intimidação no topo. Essa
corrida armamentista também levou o Reino Unido a extrair recursos mais eficientemente de
suas colônias, já que as novas armas tornavam o seu poder de dominação imbatível
comparado com os povos nativos. Além disso, como já eram pioneiros na área das indústrias,
esse alavancamento na importação de recursos aumentou seu poder industrial, levando a
criação de muitos monopólios ao redor do globo, fomentando a economia global.
Com isso em mente, a França e a Sérvia foram pioneiras nesse assunto, aliando-se, ambas,
com o Império Russo. Os franceses possuíam uma rivalidade e um sentimento de
revanchismo contra a Alemanha, já os russos temiam o desenvolvimento industrial alemão,
e o quanto tal nação poderia se tornar influente no contexto europeu. Enquanto isso, os
sérvios lutavam contra o poder de dominação dos austro-húngaros nos Balcãs e a Rússia
possuía diversos conflitos territoriais e disputas por zonas de influência para com a Áustria-
Hungria. Logo, devido a essa semelhança de inimigos, tais Estados começaram a se
aproximar ideologicamente.
De forma semelhante, a Inglaterra não via com bons olhos o desenvolvimento armamentista
alemão, ameaçando a soberania inglesa nos mares. Por isso, o Reino Unido também se
aproxima de países como França, mesmo que possuísse um longo histórico de guerras e
rivalidades com a mesma.
Seguindo esse caminho, o Império Alemão também decidiu seguir o caminho de seus vizinhos
europeus e começou a aproximar-se politicamente de outras nações. A principal e mais
notória é a Áustria-Hungria, tendo em vista que ambas as nações possuíam inúmeras
inimizades em comum, como visto anteriormente.
Outro caso importante é o alinhamento com o Império Otomano, que não possui razões clara
do porquê de sua aproximação com a Alemanha, mas há duas teorias, uma delas se baseia no
fato de que o Estado alemão era o único na Europa que não tinha interesse de ganhar uma
guerra contra os otomanos, Já a segunda, se sustenta no fato da Crise dos Balcãs, que
praticamente deixou essa região do mapa interinamente inimiga dos turcos, fazendo os
mesmos se alinharem com um país que também tinha muitos inimigos ali, a Áustria-
Hungria.
Assim, depois de apresentados todos esses fatos, é perceptível que a Europa havia se tornado
uma bomba prestes a explodir, era necessário um pequeno evento, algo que gerasse uma
polêmica grande, para que as nações começassem a guerrear entre si. Fato esse que veio a
acontecer em junho de 1914.
O Estopim
No início do ano de 1914, as nações europeias se viam cada vez mais próximas do começo de
um conflito mundial, e a tensão estava no ar, principalmente nos Balcãs. Assolada por duas
guerras e por inúmeras disputas territoriais e políticas, a região balcânica era a mais instável
de toda a Europa, por isso, o herdeiro do trono do Império Áustro-Hungaro, o Arquiduque
Francisco Ferdinando, decide visitar seus territórios da Bósnia e Herzegovina. A fim de fazer
uma inspeção militar em Sarajevo, capital da província, o nobre e sua esposa passeavam pelas
ruas da cidade acenando para as pessoas que ali viviam.
Consequentemente, ao ficar sabendo da notícia de que o herdeiro do trono do seu maior rival,
o Império Áustro-Hungaro, o Reino da Sérvia decidiu agir, convocando os membros da
sociedade secreta supracitada, os “Mãos Negras”. O plano era distribuir alguns membros da
sociedade na cidade, perto do caminho que o arquiduque seguiria daí, então, assassiná-lo.
Na primeira tentativa, uma bomba foi lançada na carruagem, que feriu algumas pessoas que
estavam passando, mas não chegou a atingir a carruagem. Enraivecido com a situação, o
arquiduque decide ir ao hospital visitar os feridos e, na volta da visita, ao entrar em uma rua
pequena, o herdeiro do trono foi de encontro ao estudante sérvio Gavrilo Princip.
Aproveitando a oportunidade, Gavrilo saca uma pistola e atira em Francisco Ferdinando e
sua esposa, matando-os.
O atentado foi visto pelo Império Áustro-Húngaro como uma oportunidade de humilhar seus
rivais sérvios, conquistando mais influência nos balcãs. Por isso, os austríacos decidem enviar
um ultimato impossível de ser aceito para a Sérvia que, claramente, iria recusar, criando uma
desculpa para iniciar uma guerra.
Consequentemente, a Alemanha declara guerra aos russos, para ajudar seus aliados
austríacos. Logo após, a França entra no conflito contra a Alemanha para proteger a Rússia,
e assim, um grande efeito dominó foi causado, começando nos Balcãs e atingindo uma escala
continental, envolvendo toda a Europa. Dessa forma, o continente foi dividido entre duas
grandes alianças, cujos nomes e principais membros eram:
Tríplice Aliança: também conhecidos como potências centrais, era composto pelo
Império Alemão, o Aústro-Húngaro, a Itália (que saiu da aliança em 1915), os
otomanos e os búlgaros
Tríplice Entente: composta principalmente pela Grã-Bretanha, a França e a Rússia,
a aliança também foi se expandindo no decorrer da guerra, agregando países como os
EUA, o Japão e a Itália (após sua saída da Tríplice Aliança).
Dessa forma, o palco para a guerra estava pronto e as alianças estavam formadas. Era hora
das tropas começarem a marchar a caminho dos campos de batalha.
Guerra de movimento
Plano Schlieffen
Como uma das protagonistas dessa guerra e sendo uma nação que já se preparava a um tempo
para um conflito desse calibre, a Alemanha já possuía um plano para essa situação, o Plano
Schlieffen. Criado por Alfred von Schlieffen, a tática era acabar com a guerra o mais rápido
possível, tendo em vista que os alemães tinham inimigos nos lados oeste e leste de suas
fronteiras, com a França e a Rússia respectivamente, significando que estavam cercados, algo
que claramente, os deixava em desvantagem.
Para evitar que a guerra se estendesse demais e ter que lutar em duas frentes, o exército
alemão tinha que entrar na França e tomar Paris o mais rápido possível, para isso, era de
extrema importância flanquear o exército francês, que estava concentrado na região da
Alsácia-Lorena, e destruir sua força de batalha. Dessa forma, a Alemanha decide chegar ao
território francês atravessando a Bélgica, nação que se demonstrou neutra no conflito,
entretanto, foi invadida de toda forma. Essa foi um fator decisivo para os rumos das batalhas,
pois, foi por esse motivo, que o Reino Unido decidiu enviar tropas para ajudar a Tríplice
Entente, já que até então os britânicos estavam tentando se manter neutros, mas a forçada
entrada dos belgas no conflito fez com que a Inglaterra rompesse sua neutralidade.
Os avanços tecnológicos
Com o início do conflito e a aplicação do plano Schlieffen, as nações foram se adaptando à
realidade de uma guerra moderna, desenvolvendo novas tecnologias para avançar melhor nos
campos de batalha ou defender-se de um possível ataque. Por isso, esse conflito foi um divisor
de águas no quesito conflito moderno, pois, foi nesse período, que surgiram inúmeras
estratégias e instrumentos utilizados em combates até hoje.
Em princípio, é necessário citar o principal meio de ataque dos exércitos, seus soldados. A
começar pelos seus uniformes, muitos deles eram utilizados com o principal propósito de ter
prestígio, não possuindo vantagem concreta na batalha. Por exemplo, os uniformes franceses,
que eram azuis, fazendo com que os soldados da França fossem vistos com muito mais
facilidade, e os da Alemanha, que apresentavam uma espécie de chifre na ponta da cabeça,
algo que só fazia a roupa ficar mais cara de se adquirir. Essas vestimentas foram sendo
adaptadas no decorrer do conflito para melhor servir os soldados.
Não obstante, a apropriação do avião para fins bélicos também foi um avanço tecnológico que
marcou esse conflito. Servindo para fazer o reconhecimento do território inimigo ou para
lançar um ataque aéreo, quando tais aeronaves eram equipadas com metralhadoras. O uso
da metralhadora em larga escala no meio terrestre também foi um fator decisivo nos
combates, pois uma arma que atira tão rápido como essa levava dezenas de soldados inimigos
à morte em um piscar de olhos.
Além de todas essas tecnologias, é necessário citar também o uso de tanques de guerra e de
gases tóxicos, tópicos esses que serão abordados mais tarde.
Em setembro de 1914, os alemães estavam a todo vapor com o Plano Schlieffen, invadindo
territórios e cruzando a Bélgica para conseguir chegar à França e, eventualmente, Paris e
finalizar a guerra na frente ocidental. Tendo em vista isso, os ingleses, que tinham tendências
a juntar-se aos combates ao lado da França, mas estavam neutros até agora, encontraram
uma boa justificativa para enviar soldados à parte continental da Europa, pois os mesmos
condenaram o ataque da Alemanha aos belgas. Sendo assim, foi criada a Força Expedicionária
Britânica (BEF - em inglês) para lutar ao lado dos franceses e russos, formando-se assim, a
Tríplice Entente.
Uma das primeiras missões da BEF era conter o avanço alemão no norte da França, já que a
travessia pela Bélgica tinha sido um sucesso. Dessa forma, soldados franceses e ingleses
uniram forças para contra-atacar o exército da Alemanha, que estava ganhando cada vez mais
territórios na região. Era de extrema importância para a Tríplice Entente que o contra-ataque
desse certo, pois, caso falhassem, o exército da França iria receber ataques pelo flanco,
tornando-os mais suscetíveis à destruição.
Por isso, as tropas da BEF foram enviadas para as proximidades da fronteira da Bélgica,
tentando de toda forma impedir o avanço alemão, tentativa essa que se mostrou uma falha,
pois cada vez os britânicos recuavam, cedendo território à Alemanha. Enquanto isso, o
exército francês buscava, de alguma forma, atacar os alemães na região da Alsácia-Lorena,
lugar esse, que, como já citado anteriormente, era extremamente disputado por ambas as
nações, consequentemente, sendo uma das localidades mais bem militarizadas de toda a
guerra.
Após a BEF começar a perder territórios demais para os alemães, o alto comando francês
ordena a retirada das tropas localizadas na Alsácia-Lorena e a reunião das mesmas com as
forças britânicas, para que assim, juntas, pudessem realizar um contra-ataque efetivo. Dessa
forma, as tropas se encontram a 48 quilômetros de Paris, perto do rio Marne, que, devido à
proximidade com a capital francesa, era de extrema importância a vitória da Tríplice Entente,
pois, caso fossem derrotados, corriam o risco de perder a França.
Essa vitória marcou um grande ganho estratégico das tropas francesas e da BEF, já que era a
primeira vez que os alemães haviam feito uma retirada tão grande dos soldados na frente
ocidental. Por outro lado, por mais que a Alemanha tivesse recuado bastante no território
francês, uma parte do norte ainda estava em seus domínios, região essa que possuía inúmeras
indústrias, dando uma vantagem à nação alemã.
Valas, túneis, caminhos abaixo da superfície do solo, onde, ao adentrar-se, não se conseguia
enxergar o fim. Essas eram as chamadas trincheiras, uma forma de combate que ficou
fortemente associada à Primeira Guerra Mundial. Isso deve-se ao fato de que,
principalmente, após a revolução no aprimoramento das armas de fogo e artilharia, o
combate em campo aberto não era mais uma opção. Num embate, onde projéteis vindos de
metralhadoras e bombardeamentos eram frequentemente utilizados, aquele que se encontra
bem protegido como defesa, definitivamente tem a vantagem com relação ao lado ofensivo.
Por isso, essa proteção poderia ser somente alcançada cavando a terra.
Mas, essa tática deu certo? Por mais que essas linhas de túneis tivessem uma intensa linha de
proteção, contendo até quatro linhas de resistência demasiada de tropas e densos
emaranhados de arame farpado, fortificações de concreto e barricadas para evitar o avanço
da infantaria inimiga, ambos os lados eram impedidos de se moverem, resultando na
estagnação desses. Os únicos assaltos e movimentações eram realizados entre as trincheiras,
território totalmente exposto e conhecido como “Terra de Ninguém”. Ainda que ataques bem-
sucedidos pareçam improváveis, não eram impossíveis, porém vinham com severas perdas.
Logo, encurralados é a palavra que descreve mais fielmente a situação desses exércitos.
Agora, coloquemo-nos para imaginar: “como era batalhar estagnado dentro dessas
trincheiras?”. As mortes causadas pelo fogo cruzado eram, sem dúvidas, as principais, pois
ferimentos devidos a fragmentos de projéteis e detritos também eram uma possibilidade
junto ao atingimento direto. No entanto, as trincheiras por si só carregavam seus riscos. Um
deles, eram as doenças devido principalmente à falta de higiene, convivência em lugares
superlotados e falta de acesso à roupas limpas. A febre das trincheiras, sendo a mais comum
delas, era espalhada através das fezes infectadas do piolho corporal Pediculus humanus
corporis. Estima-se que mais de um milhão de soldados foram infectados e sofreram de suas
dores de cabeça, erupções cutâneas e febres recorrentes – resultando em letargia por meses.
Além dessa, podemos citar também a gangrena gasosa, os parasitas intestinais e o pé de
trincheira, todas de alastrando pelo contato físico com os doentes e cadáveres, infecção das
rações e fontes de alimento, e condições extremas de frio e ‘sujeira’.
Ratos de trincheiras também infestavam esses buracos, estavam ao lado dos soldados em
meio a todo esse caos. Esses tinham responsabilidade tanto na propagação das doenças, como
na própria alimentação de rações e corpos em decomposição. Os ratos aterrorizaram muitos
mais soldados do que outros horrores que encontravam nas trincheiras.
Por fim, o impacto psicológico gerado pela vivência dentro das trincheiras era sem dúvida
muito comum que os soldados frequentemente sofriam de colapsos nervosos e mentais como
resultado do bombardeio constante e do ambiente claustrofóbico (Loughran). O impacto
disso se dava ao completo rendimento dos homens aos colapsos, podendo os levar a completa
imobilidade, incapazes até mesmo de realizar respostas humanas instintivas, como fugir ou
revidar.
Portanto, fica evidente o enorme impacto e relevância dessa forma de combate vigorado na
Primeira Guerra Mundial. Essas foram as vivências dentro das trincheiras, a seguir,
discutiremos um pouco sobre novas táticas criadas para tentar contornar a estagnação desse
conflito, assim como batalhas que prosseguiram.
Armas químicas
Desde 1899, quando a Conferência da Paz de Hauge tomou lugar na história, foi determinado
que todas as nações deveriam “abster-se do uso de projéteis que tenham por objeto a difusão
de gases asfixiantes ou deletérios”. Contudo, foi em menos de dois séculos, que esse acordo
foi violado pelas nações que guerreavam e não encontravam outra saída da inércia das
trincheiras.
Seria errôneo dizer, que durante esse ínterim, não foram utilizadas nenhum gás como arma.
Em agosto de 1914, a França utilizou contra a Alemanha, gás lacrimogêneo durante seu
conflito, assim como os britânicos e os próprios alemães tentaram manufatura-lá, mas
nenhum obteve muito êxito.
Porém, é em abril de 1915 que a “Guerra de Gás” começa a mostrar-se com elevado potencial,
e isso carregaria o andamento da guerra para outro rumo. O primeiro gás a mostrar esse
potencial foi o gás cloro, um gás asfixiante, com sua disseminação pelo vento. Ele foi
primeiramente elaborado pelos alemães e posteriormente utilizado e aprimorado pelos
britânicos.
O gás mostarda foi o que mais causou danos e representou os maiores avanços nessa nova
direção em que a guerra tomava. Era um gás vesicante, ou seja, suas características ácidas
causavam queimaduras e irritações na pele exposta, assim como danificava o sistema
respiratório, levava mais tempo para se dissipar que outros gases, além de ter sua
característica coloração amarelada.
Com o advento da “Guerra de Gás”, as nações foram forçadas a desenvolver novos métodos
eficazes de implantação e liberação desses gases. As formas mais utilizadas passaram a ser o
envio por meio de artilharias e os projetores, capazes de cobrir o alvo com uma nuvem de gás,
tudo isso com o objetivo de maximizar o elemento de surpresa e tentar cessar a guerra.
Liberação dos gases para serem levados pelo vento às tropas inimigas
Batalha de Ypres
Ypres, uma região localizada na Bélgica que se tornou um importantíssimo ponto de
transporte durante a movimentação simultânea da Alemanha e da Tríplice Aliança, após a
Guerra do Marne, para tentar envolver o flanco norte de seu oponente, a chamada “Corrida
ao Mar”.
Em setembro de 1914, ocorre a Primeira Batalha de Ypres, uma confusa e exaustiva briga com
pesada artilharia, extensas trincheiras e milhares de perdas. Porém, nosso foco está na
Segunda Batalha de Ypres, em abril de 1915, quando a guerra mudou de rumo devido ao mais
recente avanço científico: gases como forma de arma.
Assim, foi nesse momento em os crimes de guerra determinados pela Convenção do Hauge
foram colocadas em prática pela Alemanha, quando esta liberou o gás cloro dos cilindros de
armazenamento e permitiu que o vento levasse a nuvem em direção aos inimigos,
ultrapassando a “Terra de Ninguém” e pegando de surpresa as tropas da Aliança, as quais
sofreram grandes perdas devido a sua falta de proteção.
Posteriormente, essas novas tecnologias passaram a ser utilizadas, também, pelos Aliados,
que combinados à mudança estratégica dos britânicos em investir um avanço estreito,
coberto pelo apoio da artilharia, consolidaram esse novo espaço e repeliram o contra-ataque
alemão com fogo em massa. Isso, levou o exército da Entente sofrerem graves baixas, e logo
foram forçados a abandonar suas ocupações, dando vitória à Aliança.
Batalha de Verdun
Mais um ano se passou, e as nações continuavam a travar diversas batalhas, mas ainda
incapazes de avançar nas trincheiras. Foi então que, de fevereiro a dezembro de 1916, a
considerada mais longa e sangrenta batalha da Primeira Guerra Mundial foi travada. A
Batalha de Verdun.
Verdun, território localizado no nordeste da França, às margens do Rio Meuse, consistia num
ponto estratégico extremamente relevante devido às suas fortificações subterrâneas
construídas desde o século XVII, isolamento em três de seus lados e porque era um ponto de
bloqueio até a cidade de Paris.
Esse conflito pode ser dividido em duas partes: a ofensiva alemã e o contra-ataque francês.
Muitas vitórias foram alcançadas no início da batalha pela Alemanha, devido aos intensos
bombardeamentos combinados com as táticas de infantaria sobre as trincheiras francesas,
que foram desestabilizadas logo nas primeiras semanas.
Contudo, a França decide adotar uma nova tática, conhecida como sistema Noria, de
rotatividade das tropas nas trincheiras e fortes, com o objetivo de diminuir o cansaço dos
soldados. Essa estratégia foi responsável por garantir maior resistência do exército francês.
Contudo, o avanço continuava sendo impossível com os bombardeamentos e projéteis de gás
vindos do lado alemão. Centenas de milhares de corpos foram acumulados no campo de
batalha desse conflito e o cheiro de putrefação era insuportável enquanto os corpos estavam
ao lado dos soldados nas trincheiras ou eram trazidos de volta à superfície quando bombas
atingiam o solo.
Um dos eventos mais marcantes do ano de 1917 foi a saída da Rússia da Primeira Guerra
Mundial. Mas, por quê? Em fevereiro do mesmo ano, a Rússia entrou num período
definitivamente decisivo para o caminho que tomaria no próximo século, ela entrava numa
revolução.
O sistema político czarista esteve presente na Rússia desde o século XVI, o czar assumindo
papel de Estado e governando de forma absoluta. Durante décadas, essa forma de governo
conservou-se, porém foi em meados do século XVII que sua ordem começou a rachar.
Em 1853, durante a Guerra da Criméia, o governo russo percebeu que não bastava ter uma
grande população e extensão territorial para ficar ao topo e em segurança às nações mundiais,
começou a perceber que seus meios de produção e Forças Armadas precisam ser
modernizados também. Assim, a escravidão foi abolida, investimentos foram feitos às
indústrias, a fronteira agrícola foi expandida e as exportações aumentaram. De fato, a Rússia
passou por um momento de intenso avanço na modernização da economia e do transporte,
porém havia um grande descontentamento crescendo paralelamente à isso.
A mão-de-obra principal era a camponesa, mas essa era a camada social que menos era
favorecida por esses avanços. Seu desagrado vinha da alta cobrança de impostos, suas terras
sendo transformadas em propriedades privadas e do desvio de recursos que deveriam ser
destinados à essa população agrária, para o processo de industrialização no país. E conforme
mais indústrias eram criadas, essa população descontente crescia.
Esse regime czarista sofreu ondas revolucionárias de influência marxista durante anos, por
conta da negligência aos camponeses e aos enormes gastos em guerras. Como na disputa
contra o Japão, na Guerra Russo-Japonesa, na qual a Rússia perdeu vergonhosamente. Por
conseguinte, em 1905, a revolução eclodiu. Esta, sujeita a greves, criação de “conselhos de
trabalhadores” (Sovietes), e protestos em frente ao palácio exigindo direito de
representatividade, voto universal e melhores condições de vida. Porém, a resposta do Czar a
esses protestos, não foi a mais amigável. O chamado “Domingo Sangrento” aconteceu, e o
povo foi executado pelo exército em frente ao palácio. Dessarte, devido à, ainda maior,
pressão exercida pela população, o governo czarista já mostrando fragilidade na falha
administração, tenta contornar a situação criando a Duma, uma espécie de Parlamento
censitário, que perdurou até 1917.
Após três anos do início da Primeira Guerra, em abril de 1917,a população russa colocou um
fim na situação e derrubou o Czar Nicolau II de seu governo. Quem assume então, é a Duma,
majoritariamente composta pela burguesia e Mencheviques – minoria dos revolucionários e
idealizadores do desenvolvimento primeiramente capitalista e posteriormente socialista.
Nesse governo provisório, as pessoas continuaram a passar fome e necessidades, pois o
Parlamento decide permanecer com a Rússia na grande guerra, dando espaço para que
posições contrárias ao governo atual se fortalecerem, como foi o caso do movimento
Bolchevique – maioria dos revolucionários e acreditavam na Ditadura Proletária, a Revolução
Socialista, imediata.
Lênin, que antes se encontrava exilado, recebe anistia junto a outros condenados políticos,
volta propondo as Teses de Abril. Sob o lema “Pão, Paz e Terra”, tinha como intenção as
seguintes propostas: reajuste do fornecimento interno de alimentos, saída imediata da Rússia
da guerra, reforma agrária, poder aos sovietes, e nacionalização dos bancos e empresas
estrangeiras. Enquanto isso, a Guarda Vermelha – exército bolchevique – passou a ser
formado por Trotsky. Assim como apoiadores do movimento somente cresciam em meio a
população.
Em outubro de 1917, o Exército Vermelho toma o Palácio e Lênin assume o poder,
consequentemente tirando a Rússia da guerra. Contudo, essa retirada veio com um alto preço,
estabelecido pela Alemanha, no pacto de paz de Brest-Litovsk. Esse, exigia a concessão dos
territórios da Finlândia, Polônia, Ucrânia, Bielorrússia e Países Bálticos, território que
continha 90% de suas minas de carvão e 50% de sua indústria. Ainda que considerada uma
perda vergonhosa, o acordo marcou a retirada da Rússia da Primeira Guerra Mundial.
Contudo, foi devido à ofensiva submarina alemã – uma das maiores potências nesse âmbito
– que o país americano se envolveu diretamente com o conflito. Além de ter custado vidas
estadunidenses, o comércio também foi paralisado pelo medo de colocar seus navios em alto
mar. Desse modo, os Estados Unidos entraram na Primeira Guerra Mundial.
Foi em julho de 1918, na Segunda Batalha do Marne, que a Alemanha deu sua última
importante ofensiva no território da França. Porém, foi fortemente contra-atacada pelos
Aliados, resultando na sua derrota.
Nos 100 próximos dias, os Aliados avançaram implacavelmente sobre os ataques da Entente.
Então, foi em outubro de 1918, que, em razão do novo governo republicano da Alemanha –
agora denominada República de Weimar – após a abdicação do imperador, um acordo de paz
e retaliação das tropas foi acordado entre as nações.
Por fim chegamos ao tema do nosso comitê: a Conferência de Paris e a assinatura do Tratado
de Versalhes. Em 2023, é de conhecimento geral o que aconteceu nessa conferência: a
Alemanha foi considerada a culpada pela guerra pelos países da Tríplice Aliança, o que
resultou na concessão de penalidades severas, como: perda territorial, militar e pagamento
de altas indenizações – acontecimento considerado vergonhoso à nação alemã e que
definitivamente será causas de muitos outros conflitos e controvérsias na história desse
século seguinte.
Representantes das nações mundiais reunidos na Conferência de Paris em 1919
CONCLUSÃO
Dessa forma, senhores delegados, vivenciamos até agora um dos maiores conflitos da história
da humanidade que, até para os dias de hoje, trouxe consequências. Vimos que o desfecho da
Primeira Guerra Mundial girou em torno da determinação de um culpado. Contudo, temos
um culpado? Precisamos de um? Por que, após um século de tratados de paz, o mundo todo
sucumbiu à violência num piscar de olhos? O que foi determinado nesse tratado, assim como
todos os acontecimentos desse período, influenciam a humanidade até hoje, como o
fortalecimento do socialismo, avanços tecnológicos e científicos desenvolvidos para guerras,
a criação da Liga das Nações – e posteriormente da ONU – tudo isso influencia a história
hodierna.
Nessa conferência, estarão nações que desejam manter a história, outras desejam mudá-la.
Pautas sociais como o Movimento Sionista, o Pan-africanismo e o Feminismo também
poderão surgir e exigir de vocês, que encontrem uma solução.
Devemos lembrá-los que nada disso aconteceu ainda, estamos prestes a entrar nessa reunião
e os senhores definitivamente têm o poder em suas mãos para alterar o curso dessa narrativa
e criar um futuro completamente diferente do qual vivemos hoje. Como mesas diretoras,
enxergamos que há dois desfechos para essa discussão: a história poderá ser mantida, ou
poderá ser reescrita. Não importa em quais delas chegaram, esperamos poder observar os
caminhos, processos e decisões que tomaram ao trabalharem juntos, ao delinear nossa
história. Usem esse poder com consciência e sabedoria.
ANEXOS
Programa de Ação
Preâmbulo
(Escreva uma lista de no mínimo três cláusulas preambulares que descrevam as motivações
para este Programa de Ação)
DECLARA
1º (...);
2º (...);
3º (...);
(...);
Conferência de Estocolmo
Programa de Ação
Preâmbulo
A Conferência de Estocolmo,
Considerando a necessidade de uma visão comum e princípios comuns para inspirar e guiar
os povos do mundo na preservação e valorização do ambiente humano,
DECLARA
1. É recomendado que:
a. Os Governos tomem medidas para providenciar trocas de visitações entre
pesquisadores e estudiosos das instituições públicas ou privadas de seus países;
b. Os Governos e o Secretário-Geral garantam a aceleração da troca de
informações sobre pesquisas passadas e em andamento, assim como a
experimentação e implementação de projetos abrangendo todos os aspectos da
vida humana e seus assentamentos, conduzidos pelas Nações Unidas ou por
entidades públicas e privadas;
2. Recomenda-se que os Governos e o Secretário-Geral dêem atenção urgente à formação
daqueles que são necessários para promover uma ação integrada no planejamento,
desenvolvimento e gestão de assentamentos humanos;
3. É recomendado que os Governos e o Secretário-Geral proporcionem oportunidades
iguais para todos, tanto por treinamento, como também garantindo o acesso a meios
e informações relevantes, para que possam influenciar seu ambiente por conta
própria;
4. Recomenda-se que as instituições regionais façam um balanço dos requisitos e
necessidades de suas regiões para a educação de habilidades ambientais e das
instalações disponíveis para atender a esses requisitos, facilitando então, o
fornecimento de treinamento apropriado dentro das regiões.
(...)
2022, operamundi.uol.com.br/hoje-na-historia/31651/hoje-na-historia-1908-
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4. Passos, Luiz Filipe Dos. “Primeira Guerra Mundial: Início E Fim Do Conflito.” Meu Artigo
encyclopedia.1914-1918-online.net/article/alliance_system_1914.
10. Dagi, Dogachan. "Balance of Power or Balance of Threat: Revisiting Ottoman Alliance
Politics before the Great War" Open Political Science, vol. 1, no. 1, 2018, pp. 143-152.
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19. SARAIVA, José Flávio Sombra. História das Relações Internacionais
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