Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Resumo
Este artigo faz uma reflexão através de uma breve retomada da evolução
epistemológica da ciência, desde o positivismo até a possibilidade interdisciplinar,
passando por algumas propostas atuais de diálogo entre o campo das ciências sociais
e naturais, como a Ecologia Econômica, a Ecologia de Paisagem, a Ecologia Humana
e a Sociologia Ambiental, sobretudo com relação às questões tão complexas que hoje
se apresentam ao campo científico em geral, questionando até os limites disciplinares,
se é que ainda existem muitos. As idéias trabalhadas pelo presente artigo constituem
parte do arcabouço teórico de uma pesquisa que pretende investigar as inter-relações
entre pesquisa científica e gestão de áreas protegidas, como estratégia de
conservação, no Litoral Norte paulista.
Para os biólogos Ludwig, Hilborn & Walters (1993), a ciência, tão objetiva e
quantificadora, não deu conta, por exemplo, de mudar o resultado do uso e exploração
de recursos naturais, levados ao colapso, tanto na era pré-moderna quanto hoje, na
mais tecno-científica das sociedades humanas. E a falha, segundo os autores, foi
justamente a ciência ter prometido a redenção humana dos seus erros e abusos
através do desenvolvimento tecnológico e científico, afinal esse era o instrumento
3
Há, porém, um terceiro princípio comum aos dois campos científicos e também
parte do legado cartesiano das ciências modernas, que gostaríamos aqui de destacar:
o princípio do distanciamento com relação ao objeto de estudo, em nome da
neutralidade da análise. Segundo Gomes (2000, p.68),
“Para que a ciência pudesse ser fundada sobre a excelência do método, uma outra
condição deveria ser realizada. O estabelecimento de uma distância entre o sujeito
conhecedor e o objeto desse conhecimento. A razão, graças ao método, era
considerada como o único instrumento capaz de isolar estes dois termos. Entre o
mundo sensível e o mundo inteligível, o único ponto capaz de separar a percepção
personalizada e imediata do conhecimento geral, universal e objetivo é o método
científico.”
“A fração média da biota mundial representada pela brasileira foi estimada em 13,1%
(I.C. 10,0 a 17,6%), a partir de um conjunto de 17 táxons bem conhecidos. Assim,
estimamos que o país abrigue 1,8 milhões de espécies (I.C. 1,4 a 2,4 milhões). Das
grandes regiões do mundo, a Neotropical é a menos estudada e, provavelmente,
esses números são sub-estimativas”.
geográfico, era utilizada para análise do uso e ordenamento do espaço feito pelo
homem (crescimento de áreas urbanizadas, áreas destinadas ao plantio, interligação
entre os principais centros urbanos, etc.). Hoje, essa abordagem é utilizada também
por ecólogos, biólogos, arquitetos, agrônomos, oceanólogos, todos preocupados em
captar, através das imagens remotas, respostas dos sistemas sociais e naturais por
uma perspectiva espacial inédita até cerca de cinqüenta anos atrás, antes do
desenvolvimento dos satélites de sensoriamento remoto. Como explicam Pivelo &
Metzger (2007),
“É essa nova escola que possui a conexão mais natural com as ciências sociais que
são históricas, analíticas e integradoras. É também a abordagem mais relevante às
8
“(...), muita da produção dos problemas ambientais é levada a cabo em áreas que são
povoadas por comunidades de especialistas: cientistas e engenheiros, advogados,
médicos, funcionários governamentais, gestores associados, operadores políticos,
etc., em vez de, à vista global do público em geral (Hilgartner 1992:51-2). Em
conseqüência disso, as perspectivas da investigação que se centravam
exclusivamente sobre o discurso público fracassaram na captação total dos
pormenores do estabelecimento da agenda e na criação de políticas. Uma abordagem
da formulação social, pelo contrário, reconhece até que ponto os problemas e
soluções ambientais são produtos finais de um processo de definição social,
legitimação e negociação dinâmicos, nas esferas públicas e privadas”. Hannigan
(1995, p.45)
“Claro que não é somente a teoria da modernização ecológica que provém desta
crescente atenção que a teoria sociológica tem dado à questão ambiental. A teoria da
Sociedade de Risco e várias outras versões de uma ideia pós-moderna de reforma
ambiental, para citar poucas, também se beneficiaram desse desenvolvimento teórico.
Apesar disso não nos levar, definitivamente, a uma teoria social uniforme e dominante
para analisar e entender a corrente (e com reflexos no futuro) reforma ambiental, ela já
elevou a qualidade dos debates teóricos e sociológicos desses temas, comparado
àqueles da década de 1970. Talvez seja este um dos maiores passos em direção a
uma moderna sociologia ambiental.”
9
A região analisada será o Litoral Norte do Estado de São Paulo, por ter, até
recentemente, uma vocação claramente conservacionista, tendo em vista a
sobreposição de muitas unidades de conservação, federais, estaduais e municipais,
além de documentos oficiais de planejamento estadual, como o Zoneamento
Econômico-Ecológico e o Plano Estadual de Recursos Hídricos, que ressaltam essa
finalidade. Outro fator importante para a escolha dessa região em especial é o fato
desta vir sendo estudada desde a consolidação das primeiras universidades paulistas
10
Referências bibliográficas
HOLLING, C. S., BERKES, F. & FOLKE, C. Linking Social and Ecological Systems,
management practices and social mechanisms for building resilience. Cambridge.
Cambridge University Press.1998.
LUDWIG, D., HILBORN, R. & WALTERS, C., Uncertainty, Resource Exploitation, and
Conservation: Lessons from History. Science. American Association for the
Advancement of Science. vol.260, n°5104, Abril, pp.17+36. Nova York. 1993.
POPPER, K. R. The Logic of Scientific Discovery, Nova York. Harper & Row, 1968.