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A Blackrock toma o controle dos

Estados e dos bancos centrais


Valentin Katasonov [*]

Hoje em dia, por vezes nos media


russos e estrangeiros é mencionada
uma empresa estado-unidense com o
nome intrigante de Blackrock, que
significa “Rocha Negra”. Ela é muito menos conhecido
pela maioria dos cidadãos do que, digamos, os bancos
da Wall Street ou as corporações de TI do Silicon Valley.

Entretanto, a Blackrock é a maior empresa do mundo em


termos de ativos sob sua gestão. Em fins do ano
passado o montante para a Blackrock era de 8,6 milhões
de milhões (trillions) de dólares. Trata-se de uma
companhia de investimento que presta administração
fiduciária dos fundos dos clientes. Além da Blackrock, há
outros três gigantes de perfil semelhante e
aproximadamente a mesma “categoria de peso”:
VanguardGroup, Inc., Fidelity Investments (FMR
LLC), State Street. Também são chamadas empresas
de participações financeiras. Mas a Blackrock é a maior
empresa investidoras entre as Quatro Grandes. A
Blackrock e as outras três empresas de investimento
controlam uma parte importante da economia estado-
unidense através dos seus investimentos de capital. Em
particular, estão presentes no capital dos principais
bancos da Wall Street, das corporações de TI em Silicon
Valley, grandes empresas farmacêuticas, empresa do
complexo militar-industrial (MIC), etc. Além disso, a
Blackrock e as restantes quatro grandes empresas
também estão presentes nas economias de outros
países.
Mas agora quero chamar a atenção para o facto de que
as quatro grandes empresas de investimento e o Estado
americano estão a fundir-se cada vez mais. E nisto a
empresa Blackrock têve êxito especial. Em 2020 Joe
Biden tornou-se presidente dos Estados Unidos. E já no
princípio de 2021 foi formado uma nova equipe na
administração presidencial e no governo. Nela foram
vistas várias pessoas da Blackrock.

A figura mais importante é Brian Deese. Foi nomeado


diretor do Conselho Económico Nacional (CNE). Deese
tem uma ampla experiência tanto no serviço público
como em grandes empresas. Foi assessor principal do
presidente Obama e subdiretor e diretor do Gabinete de
Gestão e Orçamento. Durante a presidência de Donald
Trump trablhou na BlackRock, dirigindo a divisão de
investimento sustentável e avaliando projetos baseados
em indicadores ESG (ambientais, sociais e de governo
corporativo).

E aqui está outra figura: WallyAdeyemo. Janet Yellen


nomeou-o subsecretário do Tesouro. Originário da
Nigéria. Foi Presidente da Fundação Obama (desde
2019), assessor adjunto de Segurança Nacional do
Presidente dos EUA em Assuntos Económicos
Internacionais e Diretor Adjunto do CNE. Anteriormente
foi subsecretário do Tesouro para Mercados
Internacionais e Desenvolvimento e, antes disso, foi
assessor sénior na BlackRock.

Também se pode recordar Michael Pyle. Foi nomeado


assessor económico principal da vice-presidente Kamala
Harris. Tem experiência de trabalho em agências
governamentais. Na época de Barack Obama, trabalhou
na administração presidencial durante cinco anos. A
seguir passou à BlackRock, onde atuou como estratega-
chefe de investimentos.
Assim, vemos que várias pessoas importantes transitam
entre a BlackRock e o aparelho de Estado (na linguagem
politicamente correta de Washington, chama-se a isto
"rotação de pessoal"). Podem-se mencionar algumas
pessoas que ontem estavam no poder do governo e hoje
trabalham na BlackRock. A figura mais importante entre
elas é Thomas E. Donilon. Trabalhou nos governos
Carter, Clinton e Obama, inclusive como chefe de
gabinete do Departamento de Estado dos EUA. Em
tempos, foi considerado candidato ao cargo de diretor da
CIA. Durante a presidência Obama, foi conselheiro de
segurança nacional de 2010 a 2013 e depois transferiu-
se para a BlackRock. Durante os últimos dez anos,
dirigiu o BlackRock Investment Institute, o principal
centro analítico do holding financeiro.

Nos últimos anos, foram também estabelecidos laços


estreitos entre a BlackRock e o banco central dos EUA,
o Sistema de Reserva Federal. De particular interesse é
o ano de 2020, quando a economia dos EUA se
encontrava num estado de impasse, causado pela
chamada pandemia do Covid. Em março daquele ano,
as autoridades monetárias americanas (a Reserva
Federal e o Ministério das Finanças), de acordo com o
Congresso e o Presidente, anunciaram um programa de
assistência multimilionário. A Reserva Federal dos EUA
prometeu imprimir cerca de US$4 milhões de milhões
num curto espaço de tempo, e o Tesouro dos EUA
prometeu fornecer US$2,2 milhões de milhões em
assistência orçamental. Dos US$4 milhões de milhões
emitidos pela Reserva Federal, cerca de metade deveria
ser fornecida ao Tesouro sob a forma de um empréstimo
e a outra metade seria utilizada diretamente para apoiar
o crédito às indústrias e empresas mais afetadas.

Tradicionalmente, a Reserva Federal dos EUA tem


emprestado à economia americana de acordo com o
esquema clássico, ou seja, emprestando às empresas
não diretamente, mas sim através de bancos comerciais.
E em 2020, nasceu um novo esquema de apoio às
empresas por parte do banco central dos EUA. Foram
criadas empresas especiais, denominadas Special
Purpose Vehicles (SPVs). O fundador destas empresas
foi o Departamento do Tesouro dos EUA, que constituiu
o seu capital autorizado (454 mil milhões de dólares do
Tesouro foram afetados à capitalização dos SPV). Mas o
mais interessante é o seguinte: as autoridades
monetárias oficiais dos EUA decidiram que a empresa
de investimento BlackRock iria gerir as atividades do
SPV.

Assim, a BlackRock ganhou acesso à gestão das


empresas SPV, através das quais milhares de milhões e
mesmo milhões de milhões de dólares saíram da
impressora da Reserva Federal dos EUA. Escrevi em
pormenor sobre esta história há três anos. Em particular,
no artigo A grande reinicialização: BlackRock – O
misterioso criador da Nova Ordem Mundial, descrevi a
nomeação de uma holding financeira como gestora do
dinheiro da Reserva Federal da seguinte forma: "A
BlackRock não ganhará apenas um dinheiro colossal
com estas operações. De facto, vai gerir os fluxos de
caixa. Isto significa que a empresa já não é um
simples intermediário, ela ganha poder e torna-se
parte das autoridades monetárias dos EUA. O
duunvirato monetário (Fed mais Tesouro) transforma-se
num triunvirato (Fed mais Tesouro mais BlackRock).
Alguns peritos não excluem sequer um cenário em que a
Reserva Federal dos Estados Unidos se torne um
apêndice técnico da BlackRock: a primeira limitar-se-á a
emitir dinheiro e a segunda decidirá a quem doar e em
que condições".
Eis o que a especialisa em finanças internacionais Ellen
Brown escreveu em 2020 no artigo Meet BlackRock, the
new great vampire squid: "Nessa altura "Quando o
público estava distraído com protestos, motins e
bloqueios, a BlackRock emergiu subitamente das
sombras. Convertendo-se no "quarto ramo do governo"
que gere os controlos da moeda fiduciária do banco
central".

Já assinalei anteriormente que a BlackRock está


presente nas economias de outros países. "A BlackRock
é um gigante financeiro global com clientes em 100
países e tentáculos nas principais classes de ativos em
todo o mundo", observou Ellen Brown.

Até há pouco tempo, a holding financeira estava


presente na economia russa. A BlackRock criou um
grande fundo russo cotado em bolsa, o Russia ETF, na
Rússia. Mas após o início da OME na Ucrânia e das
sanções económicas ocidentais contra a Rússia, o
Russia ETF iniciou o processo de encerramento do
referido fundo (até ao final deste ano, deverá deixar de
existir). A BlackRock criou fundos semelhantes em
muitos outros países e estão a funcionar.

A área mais importante das atividades de investimento


da Blackrock é a recompra de obrigações do Estado de
outros países. É óbvio que as autoridades monetárias de
outros países são obrigadas a prestar atenção aos
chefes das holdings financeiras. Mas esta é a influência
invisível da Blackrock. E há algo mais visível.

Desde há algum tempo, a BlackRock começou a


interferir ativamente nas atividades das autoridades
monetárias e dos reguladores financeiros de outros
países. Em primeiro lugar, em relação às normas ESG
(ambientais, sociais e de governação), trata-se de
normas ambientais, sociais e de governação
empresarial. A história do aparecimento destas normas é
bastante confusa. Especialistas sérios acreditam que a
elite financeira global ("os donos do dinheiro") precisa
delas para redistribuir os ativos à escala global a seu
favor e estabelecer um controlo efetivo sobre a
economia mundial.

A BlackRock tornou-se um ator-chave no avanço da


ESG a nível mundial. A holding financeira anunciou que
não irá adquirir ou alienar ativos de empresas e
organizações que não cumpram os padrões ESG. A este
respeito, a BlackRock começou a consultar reguladores
financeiros de outros países para que estes monitorizem
o cumprimento das normas ESG por parte dos
participantes nos mercados financeiros nacionais. De
facto, a BlackRock começou a fazer lobby junto de
outros estados para que adotassem regulamentos ESG
adequados e monitorizem a sua implementação.

E aqui estão as últimas notícias do Reino Unido, que


indicam que a BlackRock planeia interferir nas decisões
do governo britânico. Um representante da BlackRock
participará em breve na seleção de um candidato ao
cargo de vice-governador do Banco de Inglaterra
responsável pela política monetária. Ben Broadbent
exerceu este cargo durante dois mandatos, mas o seu
mandato termina em junho próximo.

O diretor da BlackRock para a Europa, Médio Oriente e


África, Stephen Cohen, faz parte de um painel de cinco
pessoas que irá realizar entrevistas e tomar decisões
sobre os candidatos. A decisão sobre o processo de
seleção do vice-governador do Banco de Inglaterra e a
composição do painel foi tomada pelo Tesouro britânico.

Vários peritos comentaram "de uma forma politicamente


correta" que a decisão do Tesouro britânico sobre o
processo de seleção do vice-governador do banco
central contém um "conflito de interesses". Carsten
Jung, economista sénior do Institute for Public Policy
Research, que trabalhou anteriormente no Banco de
Inglaterra, afirmou que a decisão do Tesouro criou "a
aparência de um conflito de interesses, uma vez que o
banco é responsável pela supervisão do sistema
financeiro e pela responsabilização da pessoa que
representa um dos atores mais influentes dos mercados
financeiros no processo de contratação".

Nas redes sociais, muitos chamaram a atenção para os


desenvolvimentos no Reino Unido. De um modo geral,
esta situação indica a perda de influência financeira dos
governos e o reforço do papel dos fundos de
investimento e das empresas transnacionais. Os
governos estão a converter-se em fachadas formais que
as empresas transnacionais utilizam para promover os
seus interesses.
06/Dezembro/2023

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O colapso da ordem financeira global começa dia
21
O ouro e o "fim do mundo"
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de dinheiro
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Rússia
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recurso – O Federal Reserve é um "bad bank"

[*] Economista, russo.


A versão em castelhano encontra-se em
geoestrategia.es/noticia/41903/politica/blackrock-
toma-el-control-de-los-estados-y-los-bancos-
centrales.html

Este artigo encontra-se em resistir.info


09/Dez/23

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