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AS MUDANÇAS PSICOSSOCIAIS DO
INDIVÍDUO NA TERCEIRA IDADE SOB A INFLUÊNCIA
DAS RELAÇÕES INTERPESSOAIS 1
T H E I N F L U E N C E O F R E L AT I O N S H I P AND
ITS PSYCHOSOCIAL CHANGING IN THIRD AGE PEOPLE
RESUMO
Este estudo inclui uma pesquisa com sujeitos maiores de 60 anos, participan-
tes de três grupos de convivência para idosos na cidade de Porto Alegre/RS/
Brasil. Investigou-se como o inter-relacionamento grupal influencia nas mu-
danças da vida na velhice, nas relações dos grupos e dos indivíduos com a
sociedade. Nestes sujeitos, constatou-se uma procura de estímulo externo
(grupos) para serem socialmente reativados, cujo processo disparador foi a
indignação com a solidão, improdutividade mental, física e relacional gerada
pelas perdas: aposentadoria, viuvez, ausência dos filhos, etc.
Palavras-chave: terceira idade; mudanças psicossociais.
ABSTRACT
THE INFLUENCE OF RELATIONSHIP AND ITS PSYCHOSOCIAL
CHANGING IN THIRD AGE PEOPLE
This search includes a research with the third age (more than 60 years old), in 3
different acquaintance groups in Porto Alegre city, Rio Grande do Sul state,
south of Brazil. The influence of the groupal relationships in the changes of the
elders lives was observed, with the encrease of new relationships. These
(1)
Dados sobre este trabalho, com o mesmo título, foram apresentados na condição de Temas Livres p.69 do XI Congresso
Brasileiro de Geriatria e Gerontologia de 5 a 9 de dezembro de 1997.
(2)
Locimara Ramos Kroeff, Graduada e Licenciada em Psicologia na UFRGS, Psicóloga da Universidade para a Terceira Idade
de UFRGS.
Endereço para correspondência: Rua José Garibaldi, 1628, CEP: 94425000
Viamão-RS Fones: (051)4853057 e (051)9603636 E-mail: locirk@vortex.ufrgs.br
Órgão financiador: Fundação de Amparo à Pesquisa do Rio Grande do Sul (FAPERGS)
Orientador da pesquisa:Sergio Antonio Carlos, Doutor em Serviço Social, professor adjunto do Departamento de Psicologia
Social e Institucional da UFRGS.
people seeked new stimuli in other to cape with distress caused bylonelyness,
security pensions, windowhood and lhe loss of their children.
Key words: third age people, psychosocial changes
INTRODUÇÃO
se estabeleceu na vida do idoso: se intervém
trazendo mudança, não só no comportamento,
Nos últimos anos a sociedade tem se
mas inclusive, nos paradigmas do indivíduo,
dedicado aos idosos devido o “problema” do
verificando até que ponto os problemas são
aumento desta população. Assim, a política
solucionados ou deslocados e o quanto essas
social construída, até então, para uma popula-
mudanças significam ou não uma alteridade
ção especificamente jovem é discriminadora
(Querolin, 1994) na vida pessoal e social.
com relação ao velho e ineficiente para lidar
com a situação futura que prevê uma população
significativamente mais envelhecida. METODOLOGIA
Segundo Salgado (1979), a marginalização
social do idoso é traduzida, especialmente, pela A pesquisa foi realizada em três grupos de
falta de participação no processo de integração convivência de terceira idade de Porto Alegre-
na sociedade, sendo que a marginalização se RS. Realizou-se 101 visitas para entrevistas,
caracteriza como uma situação oposta à observações das atividades dos grupos e apli-
integração social. Portanto, os programas e cação de um questionário para traçar o perfil
projetos para a terceira idade, lançados no meio
tanto dos grupos quanto dos sujeitos. O questi-
social, podem representar um reengajamento
onário foi respondido por dez sujeitos de cada
social para receber e atender o idoso
grupo, perfazendo 30 sujeitos. Foram selecio-
desengajado na sociedade devido a ausência
nados tendo como critérios a frequência ao
de preparação para a aposentadoria, Assim,
questiona-se este processo dialético do idoso grupo há pelo menos um ano. Destes, selecio-
se desengajar (Salgado, 1979), como cidadão e nou-se, para a amostra A, quatro participantes
se engajar no sistema marginalizador, sendo de cada grupo estudado (totalizando doze sujei-
que há, também, a oportunidade de produzir, tos), afim de realizar entrevistas semi dirigidas.
num processo de contra cultura, um novo
engajamento social. Perfil dos Grupos
Através do saber adquirido, pode-se rea-
Grupo 1
lizar uma reformulação no contexto social e
pessoal da velhice, trazendo uma prevenção Se caracteriza por pertencer a comunida-
mais eficiente para evitar o agravamento dos de de um bairro de Porto Alegre. O Centro
problemas próprios do envelhecimento. Neste Comunitário, ao qual está ligado, existe há 50
sentido, a presente pesquisa objetivou, com o anos, possui em torno de 190 participantes com
estudo sobre as relações dos grupos e dos mais de 50 anos de idade e é gratuito. Este
indivíduos com a sociedade, estudar a influên- grupo funciona com uma presidente, uma vice
cia das relações interpessoais nas mudanças presidente, um conselho administrativo e fiscal.
pessoais investigando como o inter-relaciona-
Objetivos: promover as relações sociais,
mento grupal atua numa possível alteração
a participação dos idosos em eventos culturais
social em relação a velhice. Buscou-se avaliar
e proporcionar o acesso às informações e ao
tanto os aspectos gerais do grupo em estudo
conhecimento.
como os aspectos individuais de cada sujeito
selecionado dos grupos, fazendo uma inte- Atividades: orientação sócio familiar, pa-
gração, e identificar os tipos de mudanças que lestras mensais, bocha, bailes semanais (esti-
ma-se de 80 a 100 freqüentadores, onde o (em torno de 180 participantes), almoços, pas-
número de homens e mulheres está mais equi- seios, viagens eventuais, intercâmbio com ou-
librado), ginástica, artesanato, fisioterapia e o tros grupos.
grupo de convivência (de 5 a 30 mulheres; Este grupo de terceira idade se constitui
nestas programações raramente aparecem como um dos departamentos do clube e possui
homens). diretora, vice-diretora, tesoureiro, secretária,
Na coordenação geral estão funcionários relações públicas, rainha, 2 princesas e grupo
da FESC (órgão municipal) que definem a pro- de apoio (totalizando 20 das 60 integrantes). O
gramação básica a ser desenvolvida no decor- grupo também possui um estatuto cujas altera-
rer do ano para o grupo.As reuniões administra- ções no mesmo dependem da aprovação do
tivas do grupo são divididas em técnicas (funci- conselho do clube. Em geral, a presidência do
onários da FESC) e da diretoria (funcionários da clube apoia todas as decisões e idéias da dire-
FESC, presidência e conselho do grupo). tora do grupo e dá ao grupo total autonomia
Nos bailes é liberada a venda de bebidas para se encaminhar.A presidência, assim como
alcoólicas. Também são vendidos salgados, as diretorias do clube trocam de 2 em 2 anos,
sendo que as quituteiras pertencem ao grupo. O sendo as diretorias indicadas pela presidência.
dinheiro arrecadado é somente da copa dos A idade mínima seria 60 anos, mas como
bailes e de chás organizados pelo próprio grupo pessoas em torno de 50 anos procuram o grupo
e serve para comprar material como equipa- é permitida a adesão das mesmas. Não existe
mento de som, frizer, etc. O som mecânico tem cobrança de presenças com total liberdade de
como repertório músicas de fandango, sendo escolha de ir e vir das integrantes e participan-
administrado por funcionários da FESC. Há tes.
também uma banda de samba ao vivo constitu- A diretoria organiza passeios para águas
ída por homens componentes do grupo. Apesar termas e uma vez por ano viajam ao exterior.
dos freqüentadores do grupo pertencerem, a Nos chás com baile cobra-se um ingresso, no
maioria, a uma camada social de baixo poder entanto, as 60 associadas do grupo são isentas.
aquisitivo, percebe-se um forte preconceito con- É rara a presença de homens. Eles não estão
tra aqueles que não se preocupam com a apa- inscritos, mas, como o grupo é aberto aos
rência: estarem vestidos de acordo para o baile sócios idosos do Clube, os homens participam
e limpos, como por exemplo quando um homem eventualmente em atividades como almoços e
chega da cancha de bocha de abrigo e festas. O baile tem som mecânico, tendo como
empoeirado para o baile, geralmente é barrado repertório pagode, axé music e músicas ale-
ou chamam-lhe a atenção. mãs. Algumas integrantes comentam que, quan-
Grupo 2 do começaram a freqüentar o grupo, estranha-
vam ou achavam esquisito o fato das mulheres
Está constituído dentro de um Clube fre- tirarem outras para dançar. Agora, dizem que
qüentado pela alta sociedade de Porto Alegre. se acostumaram e aderiram com facilidade.
Portanto, trata-se de uma instituição paga cons-
As palestras são dispensadas, pois dizem
tituída de associados. Conta com 60 mulheres
não querer saber sobre doença e as sugestões
inscritas no grupo e mais simpatizantes. Este
dos integrantes do grupo se restringem às ativi-
grupo existe há 10 anos.
dades de lazer. Observa-se um discurso geral
Objetivo: é o lazer, buscando, através dos idosos no Grupo de não comentarem trans-
deste, melhorar a qualidade de vida. tornos ou problemas de suas vidas pessoais.
Atividades: coral, curso de dança (pago- Há uma rejeição às queixas, e cultuam o pensa-
de, com 100 alunas), chás com baile mensal mento positivo. Tais atitudes e verbalizações