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MANEIRA CRIATIVA
RESUMO:
Este estudo tem como proposta analisar as marcas de intertextualidade no gênero publicitário. As
bases teóricas que alicerçam a pesquisa são os postulados de Fairclough (2001) e os fundamentos da
Análise Crítica do Discurso. O material de análise é composto por anúncios publicitários de mídia
impressa coletados em revistas e em pesquisas na internet. Verificamos a presença de discursos
anteriores resgatados com uma nova roupagem e o seu papel no funcionamento do processo
persuasivo.
1 Introdução
2 Intertextualidade e Interdiscursividade
2
Bakhtin (2000) define gêneros do discurso como sendo “tipos relativamente estáveis de enunciados”, que se
caracterizam por seu conteúdo temático, unidade composicional e estilo.
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convenções existentes (gêneros, discursos) para produzir novos textos. Mas essa
produtividade na prática é socialmente limitada e condicional às relações de poder. Nesse
sentido, a teoria da intertextualidade não pode explicar essas limitações sociais, e assim ela
precisa ser combinada com uma teoria de relações de poder e de como elas moldam estruturas
e práticas sociais, e são, por sua vez, moldadas por elas.
Fairclough busca na teoria de discurso de Foucault a explicação para a relação entre
discurso e poder. A intertextualidade é um elemento significativo na Análise de Discurso.
Foucault (1972, p.98, apud FAIRCLOUGH, 2001, p.133) afirma que “não pode haver
enunciado que de uma maneira ou de outra não reatualize outros”. Pode-se destacar o modo
como os textos e enunciados são moldados por textos anteriores aos quais eles ‘respondem’ e
por textos subseqüentes que eles ‘antecipam’. Pois os textos sempre recorrem a outros textos
contemporâneos ou historicamente anteriores e os transformam. Apesar da sua visão
constitutiva do discurso, Foucault não inclui na sua teoria a análise discursiva e lingüística dos
textos.
Fairclough também faz alusão à distinção usada pelos analistas de discurso franceses
entre as relações intertextuais de textos com outros textos específicos e as relações
intertextuais de textos com as convenções: a intertextualidade “manifesta” oposta à
intertextualidade “constitutiva”. Para se referir à intertextualidade constitutiva Fairclough
introduz o termo “interdiscursividade”.
A intertextualidade manifesta é o caso em que se ocorre explicitamente a outros
textos específicos em um texto, enquanto interdiscursividade é uma questão de como
um discurso é constituído de uma combinação de elementos de ordens de discurso.
(FAIRCLOUGH, 2001, p. 152)
2.2 Interdiscursividade
agência possui o mesmo efeito visual das fotos de Obama nos cartazes: o rosto desenhado
com traços vetoriais em cores que lembram a bandeira norte-americana. No anúncio da
agência há ainda a presença da expressão “Yes, we can” numa clara alusão ao “bordão”
freqüentemente utilizado por Barack Obama em seus discursos quando candidato.
Encontramos também presença de intertextualidade nos anúncios publicitários em
forma de ironia. Como vimos, a ironia acontece quando um enunciado ecoa outro enunciado,
havendo uma disparidade entre o significado a que se dá voz e a função real do enunciado que
foi ecoado. Exemplo é o anúncio do motel Garden (figura 6), que traz a chamada “Tá certo
secretário, a gente vai mais cedo pra cama”. O anúncio ecoa o enunciado do secretário de
segurança do Piauí, Robert Rios, que no ano de 2005 adotou uma resolução denominada “Boa
Noite Teresina”, a qual determina que os bares, boates (e similares) de Teresina devem
encerrar suas atividades até as 2 horas da manhã. Tal medida ganhou grande repercussão na
mídia local, sendo alvo de polêmica e protesto de pessoas que não se agradaram com a idéia
de “ir mais cedo para casa”. O texto do anúncio surpreende por ir contra os protestos e aceitar
a idéia proposta pelo secretário de segurança. Entretanto, é claro o tom de sarcasmo do texto,
que na verdade não incita as pessoas irem para casa após o horário estipulado pela resolução,
e sim convida as pessoas para irem para o motel.
Conforme ressalta Fairclough (2001), para o reconhecimento da ironia é necessário
que os intérpretes sejam capazes de reconhecer que há um texto ecoado e identificar as
diferentes noções de sentido entre eles. Nesse caso, o reconhecimento da ironia se dá pela
falta de combinação entre o significado aparente e o contexto situacional. Uma pessoa que
venha de outro estado, ou outra cidade, e que não conheça a resolução adotada em Teresina,
certamente não conseguirá entender a ironia, ocasionando um anulamento da compreensão da
intertextualidade, e conseqüentemente impossibilitando a construção de sentidos do anúncio.
No último anúncio analisado neste momento, encontramos intertextualidade
manifesta em relação à negação. O outdoor do Serviço de Saneamento Ambiental de Santo
André – SEMASA (figura 7) alerta sobre o uso consciente da água. A peça mostra uma
criança de olhos arregalados diante de uma escova de dente e um conta-gotas liberando um
pingo d'água para molhar a escova. A frase diz: "Para economizar água você não precisa
exagerar. Basta um pingo de bom senso". Essa primeira oração negativa pressupõe a
proposição, em algum outro texto, de que para se economizar água é preciso exagerar, fazer
sacrifícios, e, conseqüentemente, abrir mão do conforto. Portanto, as frases negativas também
funcionam intertextualmente, incorporando outros textos para contestá-los ou rejeitá-los.
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4 Considerações Finais
5 Referências
BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
__________. Discurso e mudança social. Org., revisão da trad., prefácio à ed. bras. I.
Magalhães. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2001.
6 Figuras
Figura 1
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Figura 2 Figura 3
Figura 4 Figura 5
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Figura 6
Figura 7
7 Créditos
Figura 5 – Cartaz da campanha presidencial de Barack Obama: Disponível em: < http://www.
mudepraagosto.com.br/?p=781>