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O fanzine está morto.

Longa vida ao fanzine! Choveu zine em 2011! 4


F oi por necessidade que o fanzine nasceu. A grande imprensa,
preocupada em dialogar com as massas, deixava abertas lacu-
nas que eram preenchidas por seres apaixonados, ansiosos por co-
Quando a fotografia se popularizou, no final do século XIX, mui-
ta gente se apressou a declarar o fim da pintura. Consideravam que
o trabalho que um pintor demoraria dias, semanas, até meses para

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nhecer e trocar informações com pessoas de interesses semelhantes. realizar, poderia agora ser feito por um fotógrafo com mais perfei-
Assim surgiram inicialmente os fanzines de ficção científica, em ção e em muito menos tempo.
seguida os de quadrinhos e, finalmente, os fanzines punks – ponto O tempo se encarregou de provar o engano. A pintura não ape- OS FANZINES NAS
em que a idéia da autopublicação ganhou força e se espalhou para nas não morreu, como, livre de sua função mimética, pôde explorar BIBLIOTECAS E NAS TELAS
absolutamente todos os grupos culturalmente marginalizados. novos rumos e revolucionar a História da Arte.
Acontece que a realidade neste início de século é bem diferente. Guardadas as devidas proporções, o mesmo pode acontecer ago-
Graças aos incontáveis avanços da tecnologia, as possibilidades de ra com os fanzines. Não sendo mais o único meio de comunicação
comunicação não apenas se multiplicaram, como também tiveram para os grupos que habitualmente o usavam, eles podem adquirir as
seus custos barateados, facilitando o acesso tanto para quem con- mais diversas formas e funções, podem ousar mais, podem ser mais
some quanto para quem produz informação. experimentais. Numa perspectiva otimista, podemos estar prestes
Paralelamente, boa parte dos movimentos contraculturais e sub- a trocar a quantidade pela qualidade.

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culturais – os maiores pólos produtores de zines – foram assimi- Difícil dizer se essa bela profecia irá se cumprir, mas uma coisa é
lados pelo gigante chamado sistema. As empresas estão cada vez certa: contrariando os derrotistas e os afoitos, os fanzines não mor-
mais atentas às demandas dos nichos específicos. Afinal, no mundo reram e passam bem, muito obrigado. Prova disso são os exatos 165 OS FANZINES INVADEM
capitalista somos todos consumidores e nenhuma oportunidade títulos que recebemos para essa edição do Anuário. Sem contar a AS UNIVERSIDADES
pode ser desperdiçada. A própria idéia de cultura de massa é hoje grande quantidade de filmes, livros, eventos e trabalhos acadêmicos
vista com desconfiança. dedicados ao assunto – tópicos que também foram devidamente
Com tudo isso, o fanzine impresso deixou de ser necessário. Por abordados nesta edição.
que se dar ao trabalho de pesquisar, editar, diagramar, imprimir, Dessa forma, pretendemos não apenas suprir com informações
dobrar, grampear, distribuir e – mais do que tudo – gastar dinheiro, aqueles que se interessam pelo fascinante mundo das publicações
se a informação pode ser disseminada com muito menos trabalho alternativas, mas também dar nossa modesta contribuição para a
e sem custo algum? chegada desta nova era.

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A resposta é simples e incrivelmente libertadora: porque sim, Esperamos que aproveitem a leitura!
oras. Os fanzines finalmente chegaram ao ponto em que não pre- Até o ano que vem!
cisam mais de desculpa alguma para existir. Se existem, é apenas
pelo desejo e vontade de seus criadores. Douglas Utescher pequeno guia de eventos zinísticos

transformando velhas caixas de papel


em um lugar chamado zineteca 62
Douglas Utescher Flávio Grão tem 36 Márcio Sno tem 37 Thiago Silva, 25 anos,
tem 34 anos e está anos e é oriundo da cena anos e desde os 18 está traduz, revisa, escreve e
envolvido com essas punk/hardcore do ABC envolvido com zines. mora longe. Gosta de seu
coisas de underground Paulista. É educador, Publicou a cartilha metal como de seu café:
há mais tempo do que ilustrador , faz fanzines e Fanzines de Papel PRETO.
consegue lembrar. é um dos fundadores do e é organizador do Editor: Douglas Utescher . Projeto gráfico e diagramação: Douglas Utescher . Pesquisa e redação: Douglas Utescher, Flávio Grão e Márcio Sno
Atualmente, coordena a blog Zinismo. documentário Fanzineiros Ilustrações: Flávio Grão . Revisão: Thiago Silva . Colaboração: Daniela C.P. Utescher. 2º Anuário de Fanzines, Zines e Publicações Alternativas é
Ugra Press. do Século Passado. uma publicação da Ugra Press. Versão eletrônica disponível para download gratuito em www.ugrapress.wordpress.com . É permitida (e incentivada)
a reprodução deste material desde que citada a fonte. Contatos: c/o Douglas Utescher - Caixa Postal 777 - São Paulo, SP - CEP: 01031-970.
ugra.press@gmail.com flaviograo@yahoo.com.br marciosno@gmail.com theeago.silva@gmail.com www.ugrapress.com.br Impresso em abril de 2012.
Choveu zine em 2011!

Após anos de ostracismo, os zines voltaram a dar as caras


em 2011. Várias iniciativas importantes surgiram para ajudar
a movimentar o cenário. Uma nova geração de editores está
se formando e editores aposentados estão retomando
(ou recriando) seus trabalhos.
Possibilidades diferentes, parcerias interessantes...
Sim, nós estamos animados, e temos motivos para isso!
No meio disso tudo, resolvemos dar uma espiada também
no que nossos hermanos sul-americanos andam fazendo.
E não nos arrependemos!
A seguir, você irá se deparar com 44 páginas de resenhas
de publicações independentes dos mais diversos tipos e
entrevistas com alguns de seus editores.
Esperamos que toda essa informação seja útil: que surjam
novos contatos, novas amizades e muita inspiração!

Antes, algumas observações:


Os comentários sobre as publicações são assinados e refletem exclusivamente a opinião do autor. Se você discorda, concorda ou
tem algo a acrescentar, entre em contato. Os e-mails de todos os colaboradores podem ser encontrados perto do editorial.
Os comentários estão assinados com as seguintes siglas: du (Douglas Utescher), fg (Flávio Grão) e ms (Márcio Sno).

4 UGRA PRESS 2º ANUÁRIO DE FANZINES, ZINES E PUBLICAÇÕES ALTERNATIVAS 5


4 Zines Sortidos 7 Dayz A Lenda da Pantera Negra Os quadrinhos de Leandro Corrêa pos-
Rio de Janeiro, RJ – Brasil Fortaleza, CE – Brasil Ibiúna, SP – Brasil suem um traço mais carregado e abordam, 3 PERGUNTAS PARA WENDELL SACRAMENTO
e.u. (2011) | vários formatos | e.u. (2010) | A5 | 72 ps. | offset e.u. (2010) | A6 | 16 ps. | xerox dentre outros assuntos, questões enfren-
digital + serigrafia + xerox tadas quotidianamente pelos roqueiros
7 Dayz era um zine Zine de mangá de- independentes brasileiros.
Essa é uma das mais que virou livro dicado àqueles que Já as aventuras de Edu Caray (de Victor
curiosas iniciati- após seu criador ser gostam de felinos, Maia) têm como cenário inicial uma
vas surgidas entre os contemplado com o mas também com empresa em Belo Horizonte e após uma
fanzines brasileiros edital Revela Jovem da uma pegada lésbica. verdadeira epopéia (que dura os quatro
recentemente. Nas Secretaria de Cultura A primeira história zines) termina na Holanda. No recheio
palavras de Germano do Estado do Ceará. conta a lenda de uma desta história ex-prostitutas, agentes
Weiss, seu idealiza- O que temos aqui, menina que, caso corruptos da polícia, agiotas, motoboys e
dor: “É como um na verdade, são as 4 partes da HQ fosse beijada por um homem, transfor- outros personagens carismáticos do coti-
pacote de figurinhas, eles custam 5 reais e “Submundície”, originalmente publicadas maria-se em uma pantera. A segunda diano brasileiro dão as caras e ajudam Edu
carregam 4 zines sortidos. Dentro desses entre os números 6 e 9 do zine. Trata-se também é uma espécie de lenda, mas ao a concretizar seu sonho de viajar para a
pacotes colocamos zines que nós mesmos da história de Janine, uma jovem confusa, inverso da anterior. Europa nas férias.
fazemos e zines de outras pessoas, faze- drogada e bissexual que engravida de um Curiosidades: no perfil da autora ela de- Tá certo que continuar a história (do per-
mos cópias de zines interessantes da nossa desconhecido após uma balada muito clara ter “24 anos, mas com um corpinho sonagem Edu Caray) na edição seguinte
própria coleção, etc. Foi uma das maneiras louca e tenta a todo custo desfazer o nó de 13”. E rola uma versão da capa de “Born (lembrando que a maioria do zines são
que encontramos de divulgar a cultura que virou sua vida. Again” do Black Sabbath em uma das aperiódicos) é sacanagem, mas a trama
dos zines nas feiras que participamos no Poderia ser um drama teen piegas, histórias. ms toma rumos e um desfecho tão inespera-
Rio de Janeiro.” mas está bem longe de sê-lo. Mérito do camilaglsrockzine@hotmail.com dos (absurdos?) que acaba justificando a
Vale salientar que os zines vêm acondicio- talentoso Vitor Batista, que prova ter espera do leitor. fg Detalhe da capa do Aisthésis #3
nados em uma sacola de papel parecida grande domínio sobre o desenho e sobre A Muriçoca atumhq@gmail.com
com os tradicionais sacos de pão, com um a narrativa. Com seu traço econômico Osasco, SP – Brasil atumzine.blogspot.com
belo trabalho de serigrafia. e despojado, um texto ágil e um enredo #8 ao #10 (2011) | A5 | 16 ps. | xerox Em suas publicações você mostra cla- da leitura sobre diversos aspectos. Gosto
No pacote que recebemos estavam 4 cheio de reviravoltas, o autor promove Adventure to Nowhere ramente sua paixão por zines. Por que de pensar nisto como o ato de apreciar
exemplares da série “Edições Catador”, um raro equilíbrio entre humor e poesia, Essa publicação é uma São Paulo, SP – Brasil essa declaração tão escancarada? uma obra de arte, onde todo o resto do
outra iniciativa do Germano que vale a prendendo a atenção do leitor do começo iniciativa do pessoal #1 (2011) | A5 | 24 ps. | digital WS – O Zine é apaixonante! Poético! É mundo tem importância na leitura. A músi-
pena conhecer. du ao fim do livro. du do cursinho pré-ves- uma ligação com as origens presente nis- ca que tu ouves, a luz que entra pela janela
s.a.c.dodo@gmail.com territoriomarginal@gmail.com tibular Educamais de A versão impressa do so que chamamos futuro, e o Zine tam- ou que vem de uma vela sobre uma caveira
dodopublicacoes.wordpress.com blogzdovitor.blogspot.com Osasco. Uma grande Adventure to Nowhere bém é futuro pois tem raízes arraigadas ou o lampião a gás do Du Champ que emite
sacada, pois trata de é apenas um aperitivo no Futurismo da década de 1910 (ano do luz esverdeada... Para mim a obra poderá
questões do universo para o #1 do zine, que Corinthians!). Sou de uma geração apai- manter-se única desta forma.
7 Dayz escolar, como esco- pode ser baixado no xonada pelo que diz respeito ao futuro. O Outro fator relevante é que cada original
lhas, carreiras e projetos de vida de forma site. São HQs colori- futuro para mim é um hoje constante que da página do zine passa a integrar o meu
muito descontraída, o que ajuda a aliviar a das, no estilo mangá. vira passado a cada vez que é registrado e portifólio, aprecio muito os processos pe-
tensão do vestibular. Spell World viveu é essa questão do registro como caracte- los quais as coisas passam pois estes são
Há dicas culturais e de profissões, palavras muito tempo em paz até o Rei dos Ogros rística de identidade que me instiga, o Zine a evidência de um ser pensante vivendo um
cruzadas, HQs, indicações de livros e Magos surgir e bagunçar tudo. Quer saber tem isso! Não é a minha foto, mas os meus momento que não se repetirá.
perfis de alguns educandos. Destaque para o final? Só no site! ms pensamentos, memórias, sentimentos etc.
a seção “Matutando”, que traz problemas atncomics@gmail.com e tal, e esta subjetividade é parte de minha Como um pai de família encara a mis-
de lógica que fazem qualquer um quebrar atncomics.com identidade que o Registro Geral, vulgo RG, são de produzir algo que não coloca
a cabeça e “Confronto”, onde pessoas com não carrega! comida na mesa?
pontos de vista diferentes falam sobre Afrobrasilidade WS – Não encara... Quando se dá conta já
determinado assunto. São Paulo, SP – Brasil Você começou a publicar zines há está fazendo! Por outro lado, se pensar-
Na edição de número 9 há uma matéria #1 (2011) | A7 | 16 ps. | digital pouco tempo, em uma época em que mos que o ato de fazer implica em ideias
sobre fanzines. ms a tecnologia permite que uma pessoa sendo associadas e conhecimentos sendo
fanzine.muricoca@gmail.com Pequeno zine informa- produza um zine em poucos cliques. adquiridos onde o indivíduo passa a conhe-
pessoaempessoa.blogspot.com tivo/educativo sobre a Porém, você optou em fazê-los de ma- cer o mundo e a si mesmo, portanto está
África, seu povo e suas neira mais “arcaica”, usando tesoura formando-se continuamente como pessoa
A.T.U.M. relações com o Brasil. e cola. Por que? e construindo melhor o trabalhador que co-
Belo Horizonte, MG – Brasil São vários textinhos WS – A minha trajetória como editor de locará com prazer a comida sobre a mesa.
#1 (2007) a #4 (2010) | A5 | 36 ps. | offset breves com informa- fanzine é recente, mas a minha ativida- Há coisas do cotidiano que você compreen-
ções sobre cultura, re- de experimental nas artes plásticas vem de melhor quando afasta-se delas e imerge
Zine de HQs under- ligiosidade e questões desde a infância quando eu desenhava na em outras atividades permitindo-se outras
ground feito pelos sociais. Bacana, mas um pouco superficial. areia ou nas paredes das casas alheias. ideias, portanto estas atividades são im-
mineiros Victor Maia Incluir menos tópicos e desenvolvê-los Esses velhos costumes não costumam de- portantes para ajudar a prover o sustento
e Leandro Corrêa. melhor pode ser uma solução. saparecer tão fácil, além do que, o suporte também.
A influência de ambos Listar dicas de leitura para quem desejar físico tem possibilidades que o meio digi-
passa pelo trabalho se aprofundar no tema também seria de tal ainda não está podendo ofertar, como
dos autores clássicos grande utilidade. du a textura, o cheiro do papel e o momento www.hqeponto.blogspot.com
nacionais (Angeli, fabi_menassi@yahoo.com.br
Glauco, Marcatti) e estrangeiros (Crumb, fabimenassi.blogspot.com
Gilbert Shelton etc).

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Aisthésis em uma escola pública e faz suas HQs nos a constituição do pensamento e as repre- Esta ousada combinação precisa ser lida
São Paulo, SP – Brasil intervalos de atividades. ms sentações ou construção dos conceitos em com calma e atenção aos detalhes, pois
#2 e #3 (2011) | A5 | 24 ps. | xerox wendellsacramento@yahoo.com.br nossa mente. são muitas as fontes de inspiração, como a
hqeponto.blogspot.com A edição merecia um acabamento mais mitologia cristã, celta, as novelas de cava-
Caos. Fim do mundo. caprichado, mas sem dúvida é algo cria- laria e o universo dos RPGs.
Estas são as primeiras Alexyus Cruz – tivo e inovador. fg O traço dos desenhos é simples e funcio-
impressões que temos O Enigma que você é tchelodarkinalone@hotmail.com nal, mas dá impressão de ter perdido um
quando folheamos um Piracicaba, SP – Brasil gibiscomcarisma.blogspot.com pouco da definição em algum momento
fanzine de Wendell e.u. (2011) | A5 | 12ps. | xerox entre a transposição do computador para
Sacramento, que mis- Alexyus Cruz – o papel. A capa é muito bonita, feita à par-
tura um monte de téc- Sem dúvida este é um Soprar de Asas Congeladas tir de um ensaio fotográfico, lembrando as
nicas para produzir os zine intrigante. Piracicaba, SP – Brasil capas do Dave Mckean para o Sandman.
cenários de suas histórias, com um visual Feito com recortes, e.u. (2011) | A5 | 52 ps. | offset É um zine que tem de tudo para agra- Camila GLS Rock Zine
próximo ao de Henry Jaepelt e Law Tissot, colagens, dobraduras dar a um nicho específico de leitores, em
gerando um clima de “pra onde vamos?”. e desenhos com traços Outra publicação especial os que apreciam as referências
Seus roteiros promovem intervenções simples, o zine nos com o personagem mencionadas. fg esse Anuário de Fotos, editado pelo site Artlectos & Pós-Humanos
urbanas, a ação popular e a expressão ar- convida a um diálogo Alexyus. Desta vez tchelodarkinalone@hotmail.com Zona Punk. João Pessoa, PB – Brasil
tística em forma de ação direta. com o místico (e trata-se de uma gibiscomcarisma.blogspot.com Estão aqui reunidas 20 fotos publicadas no #4 (2010) | A5 | 36 ps. | offset + digital
Olhando com mais cuidado, é possível mítico) personagem Alexyus. O diálogo se narrativa mística referido portal ao longo do ano de 2010, #5 (2011) | A5 | 32 ps. | offset + digital
perceber a paixão do autor por fanzines, dá através de questionamentos e brinca- com personagens e Anormal traduzindo em imagens os ingredientes
já que sempre há alguma referência ao deiras feitas pelo personagem como numa cenários repletos de Rio de Janeiro, RJ – Brasil de um bom show de rock: suor, catarse, Edgar Franco per-
assunto em suas histórias. espécie de jogo. Algumas páginas pos- simbolismos que lem- #11 (2011) | vários | 2 ps. | sublimação teatralidade, tensão e drama. tence a um seleto
O personagem principal criado por suem dobraduras que são utilizadas como bram (principalmente) autores como Neil As imagens dos shows independentes são grupo que produz o
Wendell (que parece usar uma máscara recursos lúdicos, como números e opções Gaiman e J.R.R. Tolkien. Você já pensou em de longe as mais legais. Sem desmerecer o gênero poético-
de ferro) é tão marcante, que quando ele que escondem mensagens que permitem a A leitura se reveza entre HQ, poemas, vestir um zine? fotógrafo ou a banda, fotos bem tiradas do filosófico em seus
desenha pessoas “normais”, elas parecem interação entre o leitor e narrador. desenhos e fotos e pode ser acompanhada Pois é, a nova edição Metallica vemos aos montes, em qualquer quadrinhos e ilustra-
ter sido criadas por outro autor. Ao final da leitura o leitor passa por al- pelo CD que vem incluso no zine, cujas do Anormal é um lugar. Mas aquele instante, brilhantemente ções, permeados por
Curiosidade: Wendell é inspetor de alunos guns questionamentos sobre temas como faixas relacionam-se com os capítulos. zinecamiseta. eternizado por um dos fotógrafos do Zona um estilo futurista e
Impresso com trans- Punk, em que um fã agarrou pelo pescoço carregado de simbologia.
fer, na parte da frente o vocalista do Dead Fish para cantar junto Edgar não dá as mensagens “de bandeja”.
temos editorial, cola- ao seu ídolo, exemplifica com precisão o É necessário entrar no universo do autor
gens e ilustrações, no usual estilo insano que eu espero ver em um zine de fotos. du e viajar em seus traços cheios de detalhes
3 PERGUNTAS PARA EDGAR FRANCO deste zine. No verso, uma gigantesca HQ antonio.hbb@gmail.com complexos e seres que parecem estar em
com desenhos toscos e texto herege. zp.blog.br constante mutação. Sua arte me remete ao
Genial, mas o melhor dessa edição é sua artista suíço H.R. Giger, principalmente
de quadrinhos como genuinamente brasilei- Além de ilustrador, você também man- contribuição para complicar ainda mais as Arrotinhos Curry no uso sugestivo de formatos fálicos.
ro e estipulou 3 características básicas dele: tém o projeto Posthuman Tantra. De tentativas de uma definição de (fan)zine. Rio de Janeiro, RJ – Brasil Destaque à versão de “A Caverna” baseada
a intencionalidade poética e/ou filosófica, o que forma alia música e ilustrações? Antes do boom da internet, o fanzine já #2 (2011) | A5 | 56 ps. | xerox + serigrafia no mito de Platão que faz parte do #4.
número restrito de páginas – são HQs curtas EF – O Posthuman Tantra é minha banda tinha virado audiozine e videozine. Em se- Artlectos & Pós Humanos é uma publica-
como poemas hai-cais, e o forte experimenta- performática que já lançou vários trabalhos guida, invadiu a web nas formas de blogs, Arrotinhos Curry não ção da editora Marca de Fantasia. ms
lismo no traço e roteiro. e 2 CDs oficiais pela gravadora suíça Lega- sites e arquivos pdf. E agora uma camiseta! é um fanzine comum. henriquemais@gmail.com
tus Records. Trata-se da dimensão sonora e A idéia de zine estaria, portanto, primor- A capa já deixa isso marcadefantasia.com
Em 2008 você comentou em uma entrevis- performática do meu universo ficcional da dialmente relacionada a uma maneira claro: é impressa num
ta para Michelle Ramos, que “brevemente Aurora Pós-humana, universo que tenho uti- específica de se comunicar, mais do que processo que combina As ruas são suas! Ocupem-nas!
as HQs não serão mais mídia de massa, lizado como base para todos os meus tra- ao suporte que a sustenta? Quais seriam xerox, serigrafia e Rio de Janeiro, RJ – Brasil
serão uma forma de arte cult”. Como você balhos como artista multimídia, dos quadri- as características dessa comunicação? Essa imersão em um pre- e.u. (2011) | A6 | 4 ps. | xerox
avalia hoje esse pensamento? nhos aos sites de web arte envolvendo vida explicação vale para o total do universo parado de curry.
Detalhe da HQ “Neomaso Prometeu”, de Edgar Franco EF – Continuo acreditando nisso, pois tenho artificial. Toda a parte visual do Posthuman zineiro ou apenas para uma parte dele? Dentro do zine, quadrinhos. Mas não Livretinho desobe-
percebido uma diminuição gradativa do inte- Tantra é de minha responsabilidade, assim Perguntas e mais perguntas. Só por elas o quaisquer quadrinhos. Tem trabalhos de diente editado pelo
O que seria o gênero poético-filosófico, resse das novas gerações pelos quadrinhos. as capas de CDs e encartes criam a ambi- Anormal #11 já valeria a pena! du gringos (Kurt Wolfgang e Ivan Brunetti) incansável povo do
no qual seu trabalho está enquadrado? As HQs continuam em evidência na mídia por ência visual para as músicas, os videoclipes wnyhyw@gmail.com e brasileiros (Rômolo e Laerte). Imagino coletivo Hurra! O
EF – Em 1996 eu alcunhei um gênero pe- causa da crise de roteiros do cinema mains- da banda apresentam uma visualidade con- partesforadotodo.blogspot.com que sejam pirateações, mas de qualquer assunto aqui é a di-
culiar de quadrinhos brasileiros de “poéti- tream que tem transformado dezenas de HQs catenada com minhas ficções. Nas apre- forma, as escolhas são boas. O melhor do nâmica das manifes-
co filosófico” em artigo publicado no livro em filmes, a maioria de qualidade duvidosa. sentações ao vivo da banda, que incluem ví- Anuário de Fotos 2010 ZonaPunk zine, porém, são as HQs “O Maioral do tações e os esforços
“Histórias em Quadrinhos no Brasil: Teoria Porém, isso aumenta muito pouco o número deos exclusivos, efeitos computacionais em São Paulo, SP – Brasil Balé Moderno” e “As Desventuras de Jânio empreendidos pelo
e Prática”, organizado por Flávio Calazans. de leitores, as novas gerações já querem logo realidade aumentada e efeitos de mágica #1 (2010) | A6 | 24 ps. | offset Spif Pato, o Comburente”, criadas com sistema para neutralizá-las. De maneira
Na época já destacava alguns expoentes é o game das personagens. Como aconteceu eletrônica, toda a visualidade é criada para técnicas de détournement. objetiva e inflamada, este texto convida os
do gênero como Gazy Andraus, Henry Ja- agora com um sobrinho meu que viu Tin Tin apresentar à audiência múltiplos aspectos Apesar de terem es- A segunda, especialmente, é um épico. rebeldes a saírem da calçada e ocuparem
epelt e eu. no cinema, falei que tinha os álbuns, ele nem da “Aurora Pós-humana”. paço consolidado no Inteiramente construída aproveitando as ruas, recuperando o caráter combativo
O pesquisador Elydio dos Santos Neto, ligou, mas ficou louco pra jogar o game. As Um abraço pós-humanista! exterior, zines de foto quadrinhos do Pato Donald, dos Peanuts das manifestações do início do século XX.
em sua pesquisa de pós-doutorado dedi- HQs tiveram seu tempo de mídia massiva no nunca foram muito e do Tex, narra a trágica história de “As manifestações não são só demonstra-
cada aos quadrinhos poético-filosóficos ocidente, agora se tornarão, inevitavelmente, populares no Brasil, Jânio, um pato alcoólatra e piromaníaco. ções, são formas de fazer pressão. E temos
realizada na UNESP, definiu esse gênero uma mídia cult. www.youtube.com/posthumantantra excetuando o extinto Sensacional. du de construir formas de pressão que sejam
Fodido e Xerocado e, s.a.c.dodo@gmail.com eficazes”. Tá dado o recado! du
mais recentemente, dodopublicacoes.wordpress.com carinapandora@gmail.com

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macacão e sua sandália nem para surfar), Subúrbio), Chagas Lima (criador do Icfire) xando no leitor uma sensação de “já aca-
defende a natureza e tem como inimigos e até o Shimamoto, além de muita gente bou?”, o que na verdade é um bom reflexo
os membros de uma gangue de punks. nova. A qualidade dos trabalhos oscila de quão divertidas são as tiras. fg
Pela longevidade e repercussão do per- bastante e as histórias, obviamente, falam dogbiscuitpress@zipmail.com
sonagem, eu imagino que ele tenha seu sobre ecologia, esporte e tal. du dogbiscuitpress.blogspot.com
público. Anjos alega ter influência do es- benjaminpeppe@gmail.com
tilo cubista de Pablo Picasso e diz que está Biograficzine
trabalhando no projeto de um desenho Benzine João Pessoa, PB – Brasil
animado da turma para ser veiculado na Sto. André, SP – Brasil #0 (2008) e #1 (2009) | A5 | 12 ps. | xerox
TV. Para meu gosto, os roteiros parecem #1 (2010) ao #6 (2011) | A6 | 4 ps. | digital
desconexos e o traço parece simplório Nas aulas de
demais, até para os parâmetros de uma Este é um zine com “Formação de edu-
série infantil. Talvez eu que não esteja as tiras cômicas de- cadores, Narrativas
Comic Cow preparado para as aventuras politicamente senhadas pelo Daniel autobiográficas e
corretas de Benjamin Peppe. du Linhares e apresenta Histórias em quadri-
smeditora@yahoo.com.br uma interessante solu- nhos” que habilita
Aviso Final espaço cultural Circulo Felino, o Projeto Bátima ção na divulgação de mestres em Educação,
São Caetano do Sul, SP – Brasil de direitos de animais Quatro Patas entre Brasília, DF – Brasil Benjamin Peppe Fanzine HQs, pois é gratuito, Elydio Santos Neto re-
#28 (2011) | A5 | 12 ps. | xerox outros. Há também entrevista com bandas e.u. (2011) | A6 | 16 ps. | digital São Paulo, SP – Brasil bimestral e possui um solveu aplicar a atividade de fanzine com
como a argentina Bam Bam Estás Muerto #2 (2010) e #3 (2011) | A5 | 32 ps. | offset formato econômico. seus educandos. Chamou Gazy Andraus
Apostando na máxima e a internacional Limp Wrist. Como não Paródias e releituras Cada edição traz cinco tiras sempre hi- para conceituar e ensinar a turma a fazer
“time que está ga- poderia faltar, no final do zine, reviews de de super heróis podem O hippie surfista ataca lárias e com boas sacadas, com temas e fanzines e entrou com a proposta do que
nhando não se mexe” lançamentos musicais e gráficos. não ser novidade, mas novamente! A sacada personagens inusitados como “Infernet”, batizou de “biograficzines”.
o veterano Renato Destaque para a linguagem em que os tex- rendem ótimos resul- aqui são as histórias “Juvenal Fagundes” e a escatalógica (e Elydio também produziu seu próprio
Donizete chega ao tos são escritos, que possuem certa dose de tados quando feitas escritas e desenhadas filosófica?) “Merdas no Asfalto”. “biograficzine” contando um pouco da
número 28 de seu “pessoalidade”, permitindo que as opiniões pelo artista certo. Foi por diferentes autores Destaque para as capas do zine, pois man- sua história e influências, com breves bio-
fanzine Aviso Final ou assuntos sejam abordados de maneira assim com os Zeróis, para o Benjamin. têm um padrão de estilo (fonte, diagrama- grafias de autores e produções pessoais em
mantendo a fórmula mais sincera e menos fria. fg do Ziraldo, com o Dão as caras alguns ção e fotos), um recurso útil para destacar forma de textos, quadrinhos e ilustrações.
que (após 21 anos) o tornou um dos mais badboneszine@live.com.ar Ano do Bumerangue, de Diego Gerlach e nomes conhecidos a publicação durante a sua distribuição. Curiosamente, os fanzines são quase que
longevos zines punks do Brasil. agora com o Bátima do André Valente. como Laerçon (criador dos Paraibanos de A opção por um zine tão curto acaba dei- totalmente escritos à mão, dando mais
Na capa desta edição uma colagem do Baratosfera Não entrarei em detalhes porque a histó-
ícone Winston Smith e, no seu interior, São Paulo, SP – Brasil ria é curta e não quero estragar a surpresa,
entrevistas com as bandas ARD e Futuro. #-9 (2009) | A5 | 4 ps. | xerox mas posso adiantar que o Cavaleiro das
Temos ainda as tradicionais sessões de #-8 (2010) | A5 | 4 ps. | xerox Trevas aqui não trava lutas épicas contra
resenhas de zines e bandas e uma HQ que #-7 (2011) | A5 | 12 ps. | xerox vilões ardilosos, nem tem dilemas morais 3 PERGUNTAS PARA DANIEL LINHARES
trata sobre questões do movimento. muito complexos. Pelo contrário: parece
Sem frescuras ou afetação, o Aviso Final Se você reparou nos humano, demasiado humano. É uma his-
é um fanzine que preza pela informa- sinais de subtração tória engraçada, sim, mas dotada de certa rentes entre si. Infernet começou pelo tro-
ção objetiva e direta ao ponto. Clássico é junto aos números melancolia. A relação texto x imagem cadilho da palavra e então veio a questão:
clássico. fg das edições, deve também é interessantíssima, contrapondo se a televisão é coisa do diabo, a internet
avisofinal@gmail.com ter achado que foi fantasia e realidade através de duas narra- também dever ser! A partir daí vieram as
fotolog.com/aviso_final um erro de digita- tivas paralelas. situações do diabo navegando na rede.
ção. Engano seu. Dá para ler em 5 minutos, mas você vai Uma curiosidade dessa tira é que mesmo
Bad Bones Funzine Baratosfera começou a querer fazer durar pelo menos 10. du tendo um tema relacionado a internet, faço
Buenos Aires – Argentina ser publicado no número -9 (menos nove) oandrevalente@yahoo.com.br questão de publicá-las primeiro no zine,
#4 (2011) | 20 x 28cm | 16 ps. | offset e prosseguirá essa contagem até o número oandrevalente.com Tira do Benzine #6 para depois irem para o blog.
zero, quando o editor promete apresentar Merdas no Asfalto foi criada enquanto
Zine de Buenos Aires “novas metamorfoses”. Benjamin Peppe caminhava para o trabalho, vi duas merdas
que trata da cena Estranho? Você ainda não viu nada! Com Jaú, SP – Brasil Por que zine? outros estados, pra um pessoal que também na rua e em seguida um carro passou por
Hardcore e assuntos desenhos bizarros e textos confusos, #1 (2007) e #2 (2010) | A5 | 24 ps. | offset DL – Porque é simples, direto e principal- ajuda na distribuição, porque ainda rola esse cima de uma e eu ri da situação e pensei
relacionados. Baratão (editor e criador do zine) preen- mente físico, a tendência hoje é migrar lance dos independentes se ajudando, o que o que uma merda pode dizer para a outra
A diagramação é feita che as páginas de sua publicação com um Benjamin Peppe é um para a internet, mas o trabalho impresso é muito positivo, alguns ficam na HQ Mix em diante desse acontecimento e a frase só
de uma forma limpa mix de propaganda anti-tabagismo, piadas caso peculiar na ga- tem uma outra dimensão e valor, tanto São Paulo e uma parte é distribuída nas gibi- poderia ser “a vida é uma merda!” e nisso
e bem cuidada, há de boteco, teorias conspiratórias e expli- leria de personagens para o autor, como também para o leitor. tecas do ABC e são nesses locais que o fato de a tira se formou automaticamente na mi-
também uma boa cações esdrúxulas sobre o surgimento de das HQs brasileiras. ser gratuito e de leitura rápida faz com que um nha cabeça, fiz mais três ou quatro tiras,
seleção de fotos que ilustram as matérias, vida em Encélado. Criado em 1973 por O Benzine tem como característica mesmo exemplar tenha vários leitores, expan- mas achei que as pessoas não iriam reagir
formando um conjunto harmônico e de Gramática não é o forte aqui, e o editor Paulo Miguel dos uma leitura bem dinâmica. Isto influen- dindo o alcance da publicação. bem a esta temática, essas tiras ficaram
leitura prazerosa. parece orgulhar-se disso. Na capa das três Anjos (ou apenas cia o modo como você distribui o zine? engavetadas por mais de um ano e quando
Os tipos de textos são os clássicos de um edições que recebemos há um convite: Anjos, como assina), DL – Acho que influencia em uma parte da O Benzine possui algumas tiras com temas decidi colocá-las no blog a receptividade
bom fanzine de qualquer cena. As colu- “Participe do Mega concurso ‘Atentado suas histórias já foram publicadas em distribuição, alguns são distribuídos para bem inusitados como “infernet” ou “mer- foi muito positiva e então comecei a pro-
nas trazem artigos que fazem análises a ao Português’ descubra erros e concorra diversos fanzines do Brasil e alguns do ex- quem já conhece e depois do boca a boca das no asfalto”. Como foram criadas? duzí-las com mais frequência.
respeito de questões polêmicas no meio a milhões de (prêmios)”. Se fosse de ver- terior. Benjamin é um hippie, líder de uma esse número cresce, outros vão em quan- DL – Por trás da criação de cada tira existe
underground, como por exemplo a ética dade, eu seria o novo Eike Batista. du “turma moderninha, ingênua, cheia de tidade um pouco maior pelo correio para uma história e essas histórias são bem dife- www.dogbiscuitpress.blogspot.com
no download de bandas independentes. O baratisfera@gmail.com fantasias e imaginações”, segundo Anjos.
zine aborda também temas locais como o baratosfera.blogspot.com Ele pratica esportes radicais (não tira seu

10 UGRA PRESS 2º ANUÁRIO DE FANZINES, ZINES E PUBLICAÇÕES ALTERNATIVAS 11


pessoalidade à proposta do biograficzine. inclusive destacando artistas locais, o que Por ter circulado no ano passado, boa da tarde e nos dias chuvosos. Para lidar bolso (A4 dobrado quatro vezes). fg melhem a misturar feijoada com sushi, o
Eis um belo exemplo de como utilizar o é, talvez a maior sacada do editor. parte dos temas são relacionados à Copa com isso, Jeison Placinsch preferiu se ren- deborag77@gmail.com resultado é sem dúvida divertidíssimo! fg
fanzine como ferramenta pedagógica. ms Nessa edição, matérias sobre Jimi do Mundo de Futebol, mas também é der aos poemas. Seus escritos surgem em flickr.com/photos/deborag camilaglsrockzine@hotmail.com
elydio@gmail.com Hendrix, Lonnie Johnson, John possível encontrar tópicos como cuidados lugares e momentos diversos. Não existe
Hammond, ZZ Top, entre outros. ms com o corpo, regras de esportes e histórias um assunto específico: o autor fala sobre Camila Zine Edição Especial Camila GLS Rock Zine
Blueseria tchedenilson@gmail.com das modalidades. Inclusive alguns destes a ausência do pai, uma briga no trem, faz Ibiúna, SP – Brasil Ibiúna, SP – Brasil
Alvorada, RS – Brasil blueseriazine.blogspot.com assuntos são interdisciplinares, pois de questionamentos sobre a humanidade. #5 (2008) e #6 (2010) | A6 | 8 ps. | xerox #1 (2010) e #2 (2011) | A6 | 16 ps. | xerox
#5 (2010) | A5 | 20 ps. | xerox acordo com o tema, Renato pede para os Assim é o Café sem Açúcar: reflexões
Cadernos de Estudos de alunos pesquisarem junto aos professores sobre o cotidiano de quem tem a solidão Camila é um zine de Da mesma autora dos
É raro encontrar fan- Educação Física de História, Matemática e Geografia. como fonte de inspiração para escrever bolso de histórias em zines Camila, estas
zines sobre blues. Mas São Caetano do Sul, SP – Brasil Destaque para a edição sobre futebol de poemas que são quase crônicas. ms quadrinhos feitos por duas edições trazem
o gaúcho Denilson, #2 ao #20 (2010) | A5 | 4 ps. | xerox várzea, que é fantástica! jeison.nm@hotmail.com Julia Albuquerque de além dos zines de
que comanda a Tchê Queria muito que meu professor de facebook.com/cafesemacucar Ibiúna em São Paulo. HQs de bolso, DVDs
Produções, resolveu Existe uma diferença Educação Física fosse assim... ms Os zines apresentam com coletâneas de
fazê-lo de uma forma muito grande entre avisofinal@gmail.com Caída Corporativa en Picada uma interessante com- videos clipes de gêne-
bastante particular professor e educador. campossalles.wordpress.com Buenos Aires – Argentina binação de Mangá, ros musicais diversos
e criativa. A diagra- Geralmente professor #1 (2011) | A6 | 4 ps. | xerox transexualismo, erotismo e bandas da (punk, metal, gótico etc).
mação segue o formato do corpo de um de educação física de Café sem açúcar cena underground brasileira. Nestas edições há um posicionamento
violão e ao invés de utilizar fotos dos escola pública dá uma Porto Alegre, RS – Brasil Um dos zines de arte No #5, por exemplo, há uma aventura que mais marcado na questão de gênero sexual
bluesmen, convida alguns desenhistas para bola pros moleques #3, #4 e #5 (2011) | A5 | 16 ps. | xerox feitos pela argentina envolve a personagem Camila com cria- que já aparece em um lema de um dos
ilustrá-los. Além do que, a ótima impres- jogar futebol e pronto. Debora Paula, lançado turas japonesas como Gyodai e Ultraman, editoriais “Transexualismo, quadrinhos
são contribui muito com o resultado final. Mas tem aqueles que são educadores, Viver sozinho é uma pela editora Ediciones que na realidade é o Gepeto, vocalista da & rock/metal”, e que está latente também
Essa publicação faz muito jus ao nome como Renato Donisete, aquele mesmo faca de dois gumes. de Cero. Nesta publi- banda de hardcore Ação Direta. nos quadrinhos dos zines.
fanzine, pois mostra mesmo uma “re- do zine Aviso Final. Ele dá aulas em uma A pessoa é livre para cação a artista inter- Já o #6, foi feito como homenagem a um O vol. 1 é uma edição comemorativa dos
vista de fã”, com direito a foto do editor escola pública e, com a sua experiência de fazer o que quer, preta alguns signifi- evento de metal extremo que houve na cinco anos da personagem Camila e é
com músicos e ingressos de shows. Mas mais de duas décadas como zineiro, faz porém tem que lidar cados do termo caida cidade de Ibiúna. Esta HQ é baseada intei- composto por diversas tiras humorísticas
não fica naquelas de “ah, fulano é deus”, um fanzine mensal para seus alunos, sem- com alguns fantasmas (queda) através de desenhos e colagens. ramente em trocadilhos com os nomes de com o característico traço mangá.
“cicrano é o tal”, o conteúdo é formado pre com temas pertinentes às atividades e – como a solidão, que O resultado é um bom exercício criativo algumas bandas de metal. O vol. 2 traz mais tiras divertidíssimas
por biografias e comentários de shows, projetos desempenhados em quadra. se intensifica no cair que se resolve no pequeno formato de Por mais que estas combinações se asse- envolvendo todo o universo da persona-

3 PERGUNTAS PARA ELYDIO DOS SANTOS NETO

O meio acadêmico tem dificuldade contexto suas abordagens de fundamentos da academia. Muitos dos acadêmicos, educado- gens e depois desenvolver uma atenção crítica ção. Era somente mais um recurso, entre tan- imagens e a cultura visual no início foi difí-
para visualizar as utilidades do fanzine realidade e de metodologia de trabalho sobre res inclusos, nem sabem o que é um fanzine. ao modo como nossas culturas usam as ima- tos outros, que poderia ser utilizado. Segundo, cil para muitos, acostumados tão somente
como ferramenta pedagógica? esta mesma realidade ficaram muito rígidas e Outros, que sabem o que é, o consideram por gens para interferir em nossos processos de eu teria que fundamentar muito bem, do ponto a ler e interpretar textos escritos, mas pos-
ESN – Avalio que sim, o meio acadêmi- inflexíveis. Padrões metodológicos foram defi- demais marginal para ser usado na educação constituição como seres humanos. Juntamente de vista teórico, os motivos pelos quais julgava sibilitou-lhes perceber que o educador se
co tem dificuldades para ver os fanzines nidos e eles muitas vezes dificultam e mesmo formal, uma vez que oferece liberdade e foge com isso havia o desejo de ajudar os mestran- o fanzine importante para a formação de edu- enriquece e aos seus alunos, quando traba-
como uma possibilidade a ser utilizada a impedem o trabalho criativo. Se a metodolo- às regras rígidas de construção e criação. dos a quebrar um pouco da rigidez da repro- cadores. E terceiro, eu corria o grande risco de lha imageticamente; 3. Puderam fazer uma
favor dos processos educativos formais. gia bem pensada e usada ajuda a construção dução dos modelos de produção acadêmica que a proposta de trabalho com os fanzines experiência diferente com a imaginação, a
Ao longo do tempo de sua constituição a científica, e isso é bom, por outro lado quando Por que resolveu levar o fanzine para suas e favorecer uma construção mais autoral. O fosse interpretada pelos professores de uma criatividade, a autoria e a auto-expressão
universidade terminou por se desenvol- ela se enrijece então inviabiliza a criatividade aulas de mestrado? Biograficzine foi uma maneira que encontrei de maneira muito rígida e que terminasse por ser o que permitiu, a vários, resgatar um fio
ver numa perspectiva cartesiana e neste e isso é muito ruim. É ruim, de modo especial, ESN – Algumas coisas vinham me preocupan- reunir em uma só proposta a criação autoral, engessada, o que mataria completamente a condutor possível para si mesmo dentro da
no campo das ciências humanas em geral, e na do na formação de professores, pois via nela a liberdade da auto-expressão, a consciência originalidade transgressora, autoral, provoca- própria história. Isso não é pouca coisa!; 4.
educação em especial, no qual a complexidade uma racionalidade técnica muito desenvolvida da trajetória biográfica e o trabalho combina- tiva, marginal e auto-expressiva dos zines. Por- Fizeram uma pequena experiência do que
é tanta que os métodos precisam ser perma- em detrimento da experiência sensível com a do de palavras e imagens. O objetivo: ajudar a tanto tomei todos os cuidados possíveis para, é uma comunidade fanzineira que troca e
nentemente criados e recriados. Então, veja... complexidade humana - também no sentido do desenvolver uma formação sensível junto aos dentro dos limites da universidade, preservar discute a própria produção, com liberdade
Uma das dificuldades dentro da academia é o corpo, do afeto e da imaginação - tão funda- educadores, mas também uma formação refle- estas qualidades em prol da formação daque- e respeito pela produção autoral do outro.
trabalho com as imagens. Na academia, e na mental, em parceria com a racionalidade, no xiva e crítica. las pessoas e chamei para trabalhar comigo Gazy Andraus ajudou muito nisso; 5. Abri-
formação de professores, predomina a palavra, que diz respeito às relações entre as pessoas um zineiro de experiência, com amor pelos fan- ram um canal de comunicação rico com o
o verbo. Ela é logocêntrica. A imagem quando que são os educadores e os educandos. Nos Quais foram os principais resultados que zines e pelo ser humano, mas também com a mundo juvenil (às vezes composto também
aparece é em esquemas didáticos ou então no processos educativos tudo passa pelas rela- conquistou junto aos seus educandos utili- referência do trabalho docente universitário e por adultos!), pois alguns levaram a experi-
campo das artes. A imagem, em conjugação ções e por aquilo que as pessoas são. Não é só zando a prática do biograficzine? com a pesquisa: Gazy Andraus. Os resultados ência do fanzine para o trabalho no ensino
com a palavra e numa perspectiva de formação razão. Nesta direção entendi que duas coisas ESN – Primeiramente é importante dizer que eu foram muito positivos:1. Ter que apresentar fundamental e médio, com resultados bas-
autoral, precisaria ter um espaço maior e me- poderiam me ajudar a facilitar aos professores tinha claro que o trabalho com fanzines na for- imagética e reflexivamente a própria trajetória tante satisfatórios. Enfim, minha experiên-
lhor explorado dentro da academia. Neste sen- o desenvolvimento desta sensibilidade: recu- mação de educadores e pesquisadores da área biográfica num fanzine exigiu dos mestrandos cia com os fanzines na educação, de modo
tido, e também por outros motivos, oriundos, perar a própria trajetória formativa, ou história de educação, e especificamente o trabalho recuperar a própria história e elaborá-la na especial na formação de professores, ain-
sobretudo, da expressão autoral livre, o fanzine de vida, se preferir; aprender a trabalhar com com o Biograficzine, não seria uma panacéia perspectiva profissional e pessoal, e isso foi da é pequena, mas tem se mostrado extre-
tem dificuldades de reconhecimento dentro da as imagens, primeiramente as próprias ima- que resolveria todos os problemas da forma- altamente enriquecedor; 2. Trabalhar com as mamente rica.

2º ANUÁRIO DE FANZINES, ZINES E PUBLICAÇÕES ALTERNATIVAS 13


gem (transformismo, filmes trash, rock, construção remete à estruturas poéticas Closer O zine não é de todo ruim. Pelo contrário,
3 PERGUNTAS PARA DENILSON ROSA DOS REIS cultura japonesa) e uma matéria sobre as orientais, como a utilizada nos haicais. Sto. André, SP - Brasil tem colaborações ótimas, como os contos
kathoeys, transexuais da Tailândia. fg Como já dito no anuário passado, os fan- #1 (2011) | A5 | 36 ps. | xerox do Fábio Barbosa e do Wagner T. (edito-
camilaglsrockzine@hotmail.com zines de Gazy exigem um grau de sensibi- res dos zines Reboco Caído e Anormal,
lidade e intuição apurada, pois fogem dos Além de editar o zine respectivamente) e as HQs do Dingo e do
Camiño di Rato esquemas narrativos (ocidentais) objetivos Spellwork e organizar Dola. Não por acaso, além do talento de
Uberlândia, MG – Brasil aos quais estamos habituados. E é justa- o Fanzinada, Thina seus autores, esses quatro exemplos têm
#4 ½ (2011) | A5 | 42 ps. | digital mente por isso que os recomendamos. fg Curtis escreve poesias. em comum a narração de histórias bizar-
gazya@yahoo.com.br Reuni-las em um fan- ras e cheias de humor negro. Juntos, for-
Esta publicação é tesegazy.blogspot.com zine seria óbvio, mas a mariam um conjunto diverso, mas coeso.
editada pelo jornalista moça alega que a idéia O problema é que, entre uma coisa e
Matheus Moura e vai Cazar Truenos lhe soava vazia. A so- outra, nos deparamos com material um
a um ponto além dos Lima – Peru lução foi convidar diversos amigos da área pouco duvidoso e discrepante, como a
zines de quadrinhos, #1 (2011) | A4 | 16 ps. | offset das artes visuais para ilustrar seus escritos, HQ vampiresca “O Sabor do Pecado”,
pois traz discussões e e o resultado é o zine Closer. de Michael Kiss, e o texto “A Irmandade
reflexões a respeito da Esta excelente publi- O rol de colaboradores compreende do Sino: artes negras & ciências ocultas”,
nona arte. cação peruana não artistas de diferentes estilos e técnicas – uma alucinação conspiratória escrita pelo
Ilustração de Diego Müller para o Blueseria #5 Todas as histórias são seguidas de textos apenas se aventura incluindo nomes conhecidos no fanzinato, norteamericano William Dean Ross com
de seus autores, abordando questões como por um terreno pouco como Gazy Andraus e Edgar Franco – que tradução bem confusa do Cássio Aquino.
O blues é um estilo musical pouco con- do rock, faço pela minha cabeça, minhas o processo de criação ou reflexões sobre explorado entre os deram forma ao universo triste dos versos Cheias de altos e baixos, as páginas do
vencional no Brasil. Qual o papel do ideias, sem me preocupar com o merca- o tema abordado na HQ. Um momento fanzines sul-america- da autora. Coletivo Zine passeiam por temas, lingua-
Blueseria para divulgar o Blues? do. Os fanzines são a pura expressão da interessante do zine é a provocativa HQ nos – a música experi- O zine se dá o luxo de ser colorido, mas gens, humores e intenções tão diferentes
DR – Pelo fato do blues ser um estilo mu- imprensa alternativa e isso explica muito “Frígida” de Matheus Moura e Rosemario mental, especialmente infelizmente a qualidade da impressão não que acabam carecendo de personalidade.
sical pouco convencional no Brasil, quase minha persistência em fanzinar há mais Souza, que mereceu uma réplica (ou re- noise e estilos relacionados – como o faz ajudou muito, prejudicando a nitidez de Potencial o zine tem, mas talvez precise
marginal, é que o fanzine Blueseria surgiu. de duas décadas. Se você está lendo esta leitura) na mesma edição – no caso, a HQ de maneira exemplar. algumas imagens e a leitura dos textos. du definir um mínimo de parâmetros. du
O papel da publicação é fazer chegar aos publicação, você é da resistência! “Necrofilia”, feita pela autora Carmilla. As entrevistas, que ocupam metade do thinacurtis@hotmail.com wnyhyw@gmail.com
amantes do Blues espalhados pelo Brasil Entre os diversos autores, desenhistas e conteúdo desta edição, são interessantes e fanzinada.com.br coletivozine.blogspot.com
o que acontece no cenário blueseiro do Rio De que forma as publicações indepen- estudiosos encontram-se alguns nomes informativas. Estão lá Ernesto Bohórquez
Grande do Sul onde comento sobre os mú- dentes impressas podem conviver har- conhecidos do gênero fantástico-filosófico (do projeto Animal Machine), Shazzula, Coletivo Zine Comic Cow
sicos gaúchos e os shows que acontecem monicamente com universo virtual? como Gazy Andraus, Elydio dos Santos e Sergio Sanches (do selo Ruído Horrible) e Rio de Janeiro, RJ – Brasil Niterói, RJ – Brasil
em Porto Alegre de mestre do blues vindos DR – Por muito tempo fui resistente ao Edgar Franco. fg o lendário Maurizio Bianchi. Temos ainda #1 (2011) | A5 | 64 ps. | digital e.u. (2011) | 17,5 x 25cm | 36 ps. | digital
dos EUA. Além disso, o zine tem um dife- universo virtual para as publicações de caminhodirato@gmail.com um texto de Bob Cobbing sobre poesia
rencial das demais publicações de música, fanzines. Para um “dinossauro” como eu, tokadirato.blogspot.com sonora, um artigo que trata das diferen- A proposta é nobre: Denis Mello foi con-
incluindo o blues, que é trazer sempre os tenho que pegar o fanzine nas mãos, folhe- ças entre noise e arte sonora e muitas criar uma publicação vidado para partici-
artigos e resenhas de shows com ilustra- ar página por página e colocar na coleção, Cáucaso resenhas de discos. Tudo apresentado com descentralizada, sem par da famosa Cow
ções de desenhistas de quadrinhos. As sempre a disposição para ser manuseado São Vicente, SP – Brasil uma diagramação simples mas eficiente, editor, sem tarefas Parade realizada no
capas do Blueseria são verdadeiras obras e levado de um lado para o outro. Continuo e.u. (2011) | A5 | 8 ps. | xerox privilegiando a clareza da informação. definidas, onde os co- Rio de Janeiro e optou
de arte para quem curte ilustrações e mú- pensando desta forma, fazendo zines im- Se você se interessa por sonoridades in- laboradores dividam por preencher a sua
sica. Além disso, sempre que possível tem pressos, colecionando fanzines e levando O doutor em Ciências comuns e ruidosas, não deixe também de o trabalho de acordo vaca com duas HQs.
alguma HQ com a temática blues. a eventos e reuniões para o pessoal poder da Comunicação Gazy conhecer a Buh Records, o selo musical com suas possibilida- Assim, fatalmente, co-
manusear. Mas, hoje vejo que uma coisa Andraus é um dos comandado por Luis Alvarado, editor de des e contribuam da forma que quiserem. locou no mundo dois novos super heróis:
Você está publicando desde 1987 a não exclui a outra. Alguns novos leitores do grandes promotores Cazar Truenos. du Bonito? Nem tanto. Apesar do ideal Comic Cow e El Toro Negro.
frente da Tchê Produções HQ, o que fanzine Tchê me pediam as edições antigas brasileiros de estudos, unautobus@gmail.com democrático da iniciativa, a falta de uma Com piedade dos mortais que não viram
explica se dedicar tanto tempo a algo de mais de 20 anos atrás e foi aí que per- articulação e debates buhrecords.blogspot.com identificação maior entre os colaboradores sua instalação, Denis resolveu publicar as
que não lhe traz retorno financeiro? cebi que seria interessante poder publicar sobre as histórias acaba sendo justamente o ponto fraco do histórias em um zine com Lado A e Lado
DR – Paixão e resistência cultural! Meus estes zines na web e deixar o pessoal bai- em quadrinhos e os Clase de Pan Coletivo Zine. B. Uma delas conta a origem da Comic
amigos fanzineiros que resolveram ganhar xar no seu PC. fanzines. Exemplo disso é o trabalho que Rosario, Santa Fe – Argentina
dinheiro largaram os fanzines há mais de Claro que isso fica longe de migrar do desenvolve com seus alunos da pós-gra- e.u. (2011) | A6 | 8 ps. | xerox
uma década para se dedicar ao jornalis- papel para o virtual, uma coisa não deve duação (que envolve a criação de fanzines Duro
mo, publicidade, literatura ou buscar o excluir a outra. Quem como eu curte o pa- autobiográficos) e também o Programa Sim, sim, é exata-
mercado norte americano de quadrinhos pel, os fanzines continuam impressos e, de Formação de HQ e Zine, organizado mente isso! Este zine
desenhando super-heróis. para aqueles que convivem bem – talvez a por ele em 2011, que promoveu debates, é uma receita de pão!
Da minha parte, continuei fazendo fan- nova geração? – o universo virtual está aí. oficinas e palestras no Centro Cultural da Se fica bom eu não sei,
zines por pura paixão e curtição ao que Para finalizar, o virtual deve estar a ser- Juventude, em São Paulo. mas certamente vou
faço, pois é sempre gratificante editar um viço dos editores de publicações impres- Além de tudo isso, Gazy continua na ativa testar assim que aca-
zine e ver o pessoal comentando e elogian- sas, não devemos ver o virtual como con- produzindo seus peculiares fanzines. bar de escrever as re-
do minha persistência em produzir cultura corrente, pois os públicos são diferentes. E O trabalho de Gazy faz parte do gênero senhas deste Anuário.
sem o mínimo do retorno financeiro, ali- mais um detalhe, a partir do universo vir- genuinamente brasileiro conhecido como Livretinho simpático, todo manuscrito,
ás, muito pelo contrário, a fanedição traz tual, um novo público leitor pode descobrir fantástico-filosófico, onde o autor explora feito pelo povo igualmente simpático que
sempre prejuízo. Mas vejo isto como in- as publicações independentes impressas. temas como espiritualidade e filosofia. organiza a Zine Zelt (veja a matéria sobre
vestimento na resistência por uma cultura Em Cáucaso, aspectos da existência hu- eventos zineiros na página 54). du
livre do mercado. Mesmo que escreva um mana são abordados em poucas palavras e anawandzik@gmail.com
artigo sobre um super-herói ou uma estrela blueseriazine.blogspot.com desenhos, deixando grande parte da inter- zinezelt.com.ar
pretação por parte do leitor. Esse modo de

14 UGRA PRESS 2º ANUÁRIO DE FANZINES, ZINES E PUBLICAÇÕES ALTERNATIVAS 15


Quem diria que o fanzine, mídia rebelde tagem, essa publicação é uma espécie de uma pesquisa de 6 páginas sobre o disco
por natureza, poderia encontrar espaço tira-gosto para quem nunca teve contato “Negatives”, obra polêmica da banda Gênesis Apocalípticos + Os Inefáveis
também em cima do muro? com esse universo sem volta. ms mineira Holocausto lançada em 1990.
Mas nem tudo segue esse caminho: wendellsacramento@yahoo.com.br Apresenta tradução das letras, fotos da
Córtex, a nova publicação do Flávio Grão, hqeponto.blogspot.com banda à época e depoimentos de seus
por exemplo, se destaca justamente por membros. A segunda é a excelente “O
apresentar um saudável equilíbrio entre os Crise dos 20 Urro dos Excluídos”, uma pesquisa exem-
dois mundos. É zine de artista, sim, mas Fortaleza, CE – Brasil plar sobre a rica história do Heavy Metal
sem abandonar a alma punk. #1 (2011) | 10 x 10,5cm | 8 ps. | xerox nordestino, com depoimentos de diversos
Isso não é surpresa alguma, entretanto, pioneiros desta cena.
para quem já está familiarizado com o Zine pessoal, simples, A diagramação é boa e segue a tradição
trabalho do autor. Fanzineiro da gera- pequenino e bonito dos zines dedicados ao metal, com muitas
ção 90 e ilustrador talentoso, Grão já editado pela Jéssica, caveiras e ossos adornando as páginas. du
emprestou seu traço para diversas bandas do blog Implosão alessandroen@msn.com
do hardcore paulista, escreve para o blog Sonora. Tem um vi-
Zinismo e, desde 2010, publica espo- sual bem limpo, textos Danke
radicamente o pocketzine Manufatura. manuscritos, desenhos e colagens. O for- Rosario, Santa Fe - Argentina
Na base de toda sua produção está o mato é bem interessante: quando fechado #3 (2011) | A6 | 16 ps. | xerox
feliz casamento entre forma e conteúdo, é um quadrado, mas aberto ele revela uma
uma rara convergência de criatividade dobra extra nas duas últimas páginas, tor- Zine argentino de po-
e esmero a serviço de uma crítica social nando triplas as páginas duplas. esias de colaboradores
incisiva mas nunca panfletária. Se você gosta de zines fofos, vai gostar diversos. A falta de
A grande novidade em Córtex é a técnica desse aqui. Quem dera minha crise dos 20 fluência no espanhol
escolhida: a colagem, gloriosamente tivesse sido assim... du me impede de apro-
executada com estilete e cola bastão, jessica.gabrielle.lima@gmail.com veitar 100% de uma
como o autor faz questão de pontuar no implosaosonora.blogspot.com leitura como essa, mas
final do zine. A publicação é composta eu gosto do tom va-
de 14 imagens que, vistas em seqüência, Cultura Trash riado e despretensioso do material – algo
formam uma surpreendente narrativa. É Nova Odessa, SP – Brasil raro em publicações do gênero.
um trabalho repleto de ironia e rico em s.nº (2010) | A5 | 16 ps. | xerox A edição é simples, restringindo-se aos
referências à sociedade de consumo de textos, algumas boas ilustrações e os con-
meados do século XX – bem à moda de Material bem simples, tatos dos colaboradores. du
En Los Nervios Winston Smith e Gee Voucher, dois ícones sem muitas delongas. dankezine@hotmail.com
da colagem punk. Feita no estilo recorta dankezine.tumblr.com
Com acabamento primoroso e imagens e cola, a diagramação
Cow (que dispara superjatos de leite tipo a frases e devaneios pessoais, escapam que atiçam tanto os olhos quanto a mente, segue um estilo ba- Dedo
A) e a outra, “Amuuur em Barcelona” também momentos mais politizados Córtex é um desses prazeres que a fane- cana, utilizando ilus- Rio de Janeiro, RJ – Brasil
mostra como ela conheceu El Toro Negro. que entregam a origem punk do editor, dição insiste em nos proporcionar. Mais trações, mapas e até #1 (2010) | A5 | 52 ps. | offset
Contém ainda o esboço da obra e fotos da sem nunca ser panfletário ou impositivo. do que isso, é o testemunho de um artista rabiscos como fundos.
vaca original. ms Ademais, Guilherme se expressa tão bem inquieto e disposto a desafios, mas igual- Também há um entrevistão com a banda Dedo é um fanzine
denis.s.mello@hotmail.com com as palavras quanto com as imagens, mente maduro e ciente de suas raízes. du Strip Cats e resenhas de filmes. de arte feito por
denismello.blogspot.com fazendo bom uso dos recursos mais flaviograo@yahoo.com.br Destaque para as poesias e crônicas da quatro amigos que
tradicionais de produção de um fanzine: flickr.com/flaviograo editora, área em que se sai muito bem. ms resolveram vivenciar
Conversas Paralelas colagens, textos manuscritos, diagrama- culturatrashzine@gmail.com uma das melhores ca-
Porto Alegre, RS – Brasil ção livre e texturas geradas pela fotocópia. Cratera insetoeditora.blogspot.com racterísticas deste tipo
#6 e #7 (2010) | A5 | 12 ps. | xerox Uma leitura leve e agradável. du São Paulo, SP – Brasil de publicação: a de
#8 (2011) | A5 | 16 ps. | xerox toscotilldeath@hotmail.com #1 (2011) | A5 | 4 ps. | xerox Cursed Excruciation poder controlar todo
flickr.com/setuabossafossenova João Pessoa, PB – Brasil seu processo de feitura e distribuição.
“O Conversas A HQ contida neste #5 (2011) | A4 | 50 ps. | xerox O fanzine é dividido em quatro partes, ou
Paralelas é um fan- Cortex zine conta a história quatro artistas com trabalhos diferentes
zine. Um fanzine pes- São Paulo, SP – Brasil de um meteoro que O tridente no logotipo entre si: Arthur Lacerda experimenta com
soal. É uma das for- e.u. (2011) | A5 | 18 ps. | digital caiu na extrema zona e a ilustração da capa, livros, scanner e modelagem 3d; Fernando
mas que encontrei de sul da capital paulista. retratando a tortura Rocha desenvolve um trabalho sobre o
expressar as milhões Uma das mudanças Na cratera formada de um homem engra- movimento; Lucas Pires apresenta uma
de coisas que passam mais significativas com o impacto foi vatado com fones nos bela narrativa sentimental construída a
por minha cabeça sofridas pelos fanzines criado o bairro de ouvidos e dinheiro partir de fotos de sua família; e Rafael
todos os dias”. A descrição, fornecida no nos últimos anos foi o Vargem Grande, que enfim recebe um em uma das mãos, Meliga disponibiliza alguns trabalhos fei-
editorial do #8, dá uma boa indicação do declínio das publica- ponto de leitura para a população local, não deixam dúvidas tos na época da produção da publicação.
que o leitor encontrará nas páginas deste ções informativas em carente de todos os recursos básicos para de que estamos diante de uma publicação A capa é customizada e as páginas inter-
zine. Mas alto lá: não estamos falando favor de empreitadas sobrevivência. dedicada ao metal extremo. nas são impressas com tinta azul, confe-
aqui de um diário-tornado-público ou de mais artísticas. Reflexo O incansável Wendell Sacramento deu sua Como em quase todos zines musicais, rindo ao zine um ar elegante e estetica-
um emaranhado de confissões que pouco óbvio da popularização da internet, com contribuição ao espaço com um fanzine a maior parte do conteúdo do Cursed mente agradável.
interessariam a alguém. Há um tanto de frequência esta mudança é acompanhada falando de leitura – e fanzines, claro. Excruciation é reservada às entrevistas Um ponto que poderia ser aprimorado
poesia e universalidade no Conversas que pelo abandono de um discurso, pelo receio Com as ilustrações características do e às resenhas. Mas o grande diferencial para um próximo número seria contextu-
o mantém sempre interessante. Em meio – ou pela recusa – de emitir uma opinião. autor, aliado a técnicas de colagem e mon- aqui são as matérias. A primeira delas é alizar melhor o zine, incluindo mais infor-

16 UGRA PRESS 2º ANUÁRIO DE FANZINES, ZINES E PUBLICAÇÕES ALTERNATIVAS 17


mações sobre a produção, seus artistas e Duro Crösta Möída Produções, que distribui
3 PERGUNTAS PARA DENIS MELLO trabalhos, ou até mesmo sobre a intenção Santiago – Chile materiais subversivos em geral. ms
da publicação. Este tipo de recurso aproxi- #1 e #2 (2010) | A5 | 12 ps. | xerox davi.galhardo@hotmail.com
maria mais os leitores dos artistas. fg crostamoida.blogspot.com
contato@lucaspires.com Zine de HQs do chi-
Alguns de seus zines têm histórias que tambler-tambler.tumblr.com leno Rodrigo Duran. É Tudo Nosso!
já foram publicadas em outros veícu- Apesar de seguir uma São Paulo, SP – Brasil
los. Qual o motivo da republicação? Demência linha que podemos #5 (2011) | A6 | 12 ps. | xerox
DM – Atingir o público de quadrinhos es- Fortaleza, CE – Brasil identificar como hu-
pecificamente. Nos quadrinhos publica- #4 (2011) | A5 | 52 ps. | digital morística, as histó- O Programa
dos no jornal “O Meu Vascão” e na revista rias não se ocupam Preparação para o
“Preliminar” eu e o Brenno Dias (roteirista) O Demência teve 3 edições lançadas entre em criar situações Trabalho da Ação
retratávamos momentos de glória do Vasco 2004 e 2005. Chegou a engraçadas o tempo todo. Sem dúvida Comunitária foi
numa página colorida inteira do jornal, que ser dado como morto há momentos muito divertidos, mas há desenvolvido du-
era mensal e de circulação na capital e re- e seu editor foi tentar também espaço para elementos dramáti- rante cinco meses na
dondezas. Na revista republicamos as mes- a sorte na internet cos e até para crítica social. Também não comunidade Nossa
mas histórias, com uma qualidade melhor com o blog Vomit existem personagens fixos, sendo que cada Senhora Aparecida, na
de impressão e tiragem de 3000 se não me Yourself. Mas eis que história é protagonizada por uma figura periferia da zona sul de São Paulo, e uma
engano, e era distribuída gratuitamente agora, 6 anos depois, diferente: seja o garoto pobre filho de das estratégias utilizadas pelos educadores
nos jogos em que o Vasco era mandante de somos surpreendidos catador, o punk beberrão ou o trabalhador foi o fanzine.
campo no Brasileiro de 2010. Muita gente com uma nova edição impressa. entediado. Simples e gostoso de ler. du E não pense que eles optaram pelo re-
viu, repercutiu em tudo que é site de notí- Detalhe do álbum Palestina Quem já conhecia o zine pode ficar rodrigoduran33@gmail.com cortar e colar da internet e diagramar no
cias esportivas, como o do Globo Esporte, tranqüilo que nada mudou. Já os novos rajubid.blogspot.com computador: foi tudo produzido no velho
rendeu entrevista e etc, mas a real é que leitores podem se preparar para uma esquema de tesoura, cola e alguns textos
apesar de ser algo muito legal, não refletia seja ela polêmica ou não. Eu gosto de variar les quem escreveu os diálogos. Mas eles avalanche de informações sobre os mais Dysángelos Zine e ilustrações foram feitos a mão. Mesmo
tanto pra mim no mundo das HQs. bastante nesse aspecto: drama político, es- são enrolados, e desde 2009 nada fizeram obscuros recônditos da música extrema, São Luis, MA – Brasil sendo seu primeiro contato com o fanzine,
Com a repercussão que tenho hoje em porte, humor, bebedeira, putaria, filosofia, com as páginas, então eu imprimi no fim especialmente grindcore e suas variações, #2 (2011) | 10 x 21cm | 6 ps. | xerox todos os educandos se saíram muito bem,
dia sei que renderia mais, no caso de uma super-herói, terror, música, drogas e outros. Já de 2010 em xerocado, ficou no formato escritas com incomparável paixão pelo abordando alguns dos temas que mais
divulgação online que na época não alcan- trabalhei quadrinhos de diversos tipos, e nesse A5, então muitos detalhes, até mesmo assunto e um aprazível senso de humor. Informativo anarcopunk apetecem à juventude como: sexualidade,
çava o público que tenho hoje. Mas é disso momento já vejo muito mais claramente qual hachuras que foram feitas pensando num As entrevistas com a banda Expurgo e que tem como objetivo profissões, protagonismo juvenil etc. ms
que estou falando: Para o seu quadrinho o tipo de quadrinho que vai me dar gosto de formato A4, perderam muito de qualidade. com o proprietário do selo Terrotten (conforme a etimologia do abecker73@gmail.com
repercutir no meio das HQs, você precisa trabalhar pelos próximos tempos. Em 2011 fiz essa impressão em gráfica, Records são longas, minuciosas e descon- seu nome) anunciar más
inserir ele ali, caso contrário outros qua- Quanto ao estilo no sentido técnico, no meu com formato maior, qualidade de impres- traídas. As resenhas de CDs, fitas e vinis novas, porém traz material En Los Nervios
drinistas e especialistas nunca vão saber o caso eu só usava canetinhas antes de ‘Palesti- são. Sinceramente, é uma experiência bem ocupam quase metade desta edição e são bacana como poesias, divul- Montevideo – Uruguai
que você fez, vai passar despercebido. En- na’, minha primeira hq. Ali eu comecei a traba- diferente ler num formato ou em outro. Não interessantes, apesar de um pouco redun- gação de bandas e de zines. #1 (2009) | A5 | 16 ps. | digital e xerox
tão com a primeira edição da Rio Comicon, lhar com bico de pena, e um pouco de pincel, acho que seja um problema ler HQs peque- dantes. Destaque para a sessão Texxxtos Impresso em formato de #2 (2010) | A5 | 20 ps. | digital e xerox
decidi pegar tudo o que eu já havia feito e dei prosseguimento a esse mix, e hoje uso só nas, desde que sejam pensadas nesse for- Libertinos, onde o editor expõe seu lado folder, anda em parceria com o blog da #3 (2011) | A5 | 24 ps. | digital e xerox
reproduzir, mesmo que em zine xerocadão. pincel, mas tá rolando um namoro com caneta mato, caso contrário perde-se muito. escritor e se aventura pela ficção erótica.
Eu só precisava satisfazer esse desejo de de novo. Quer uma maneira melhor de encon- Além disso, no formato de revista, com O layout também é digno de nota: coe-
que gente da área soubesse o que eu faço, trar o seu estilo e fazer laboratório do que nas capa colorida, mais páginas, formato rente com o tema abordado, abusa do al- Feto em Conserva
senão é em vão. Seria triste não ter reco- suas próprias revistas? maior, você pode aumentar (com justiça tocontraste e da sujeira, mas sem compro-
nhecimento por trabalhos bacanas como O papel do editor vem crescendo dentro do obviamente) o preço, alcançar um lucro meter a organização e a legibilidade. du
esse e a hq sobre a lei Maria da Penha. quadrinho nacional, mas quando se trata de maior, porque mesmo mais caro, o salto de eduardo_vomitorium@hotmail.com
No caso da Comic Cow, foi algo pareci- trabalhar com grandes editoras. No caso do qualidade vai fazer com que venda mais,
do. A vaca da Cow Parade tinha ficado mui- fanzine, não faz sentido. Perderia a magia da além é claro do fato de que quanto melhor Dia das Mães
to boa, mas ninguém da área veria, então experiência e descoberta. a apresentação do seu trabalho, melhor São Paulo, SP – Brasil
adaptei as histórias desenhadas na super- pra sua reputação. A revista vai ser o seu #1 (2011) | A7 | 8 ps. | xerox
fície da vaca pra uma revista que pudesse A HQ Palestina foi publicada inicialmente portfólio que centenas de pessoas vão car-
me acompanhar em qualquer lugar do Bra- em zine e depois em forma de revista inde- regar pra todos os cantos do Brasil depois Mais uma edição da
sil. E felizmente vendeu muito bem, princi- pendente. Qual foi a diferença na publica- de um grande evento, então é importante Fabiana Menassi (vide
palmente na Comicon, onde consegui levar ção nestes dois formatos? que seja não só um bom trabalho para Folclore) produzida
a estátua que foi um grande chamariz, e DM – Tem uma diferença muito grande no que quem já conhece HQs, mas também algo para seus alunos
que é o que eu realmente queria que o pes- diz respeito à qualidade de leitura, porque um bem apresentável que vai encher os olhos na rede estadual de
soal da área visse, mais do que a revista. formato maior proporciona uma apreciação de quem não conhece, e pode se interessar ensino de São Paulo.
mais adequada dos desenhos. Quando você em conhecer mais, trazendo um novo leitor Confeccionado para
Qual a importância do fanzine para o desenha uma página em A3, você já pensa no pro mundo dos quadrinhos. ser entregue como
aprimoramento de técnicas e desenvol- formato em que ela vai ser impressa. No caso homenagem no dia das mães, este livrinho
vimento de um estilo nas HQs? de ‘Palestina’, inicialmente seria um formato tem 8 páginas, cada uma com pequenas
DM – No fanzine você tem uma liberdade próximo do A4, seria impressa por um Comitê frases de declaração à progenitora, acom-
sem igual, sendo seu próprio editor. Tra- de Solidariedade à Palestina aqui do Rio, eles panhadas de colagens ilustrativas .
balhar com o estilo e temática que quiser, quem me procuraram, e foi uma jornalista de- denismello.blogspot.com Uma alternativa criativa aos tradicionais
modelos reproduzidos à exaustão nas es-
colas em datas comemorativas. fg
fabi_menassi@yahoo.com.br
fabimenassi.blogspot.com

18 UGRA PRESS 2º ANUÁRIO DE FANZINES, ZINES E PUBLICAÇÕES ALTERNATIVAS 19


mantém aqui o mesmo clima e os mesmos e cheio de hachuras, seguindo a tradição Snyders, que conta a história de um grupo feito com desenhos, escrita e colagem,
temas das aventuras de sua cria-mor. das HQs undergrounds. de skins norte americanos que se associa- permitindo ao aluno se aprofundar de
As histórias têm um ritmo vertiginoso Certamente ainda tem o que amadurecer, ram a movimentos de esquerda e lutaram modo divertido nas questões relativas ao
e são regadas a sexo, drogas e violência, mas potencial tem de sobra! du contra os white powers locais durante as tema, passando pela definição, brincadei-
sem glamourização ou moralismo. Seus publicacoes.aberrante@gmail.com décadas de 80 e 90. Finalizando, uma HQ ras, lendas e etc.
personagens transitam entre a euforia e o aberrantepublicacoes.tumblr.com imagina um inusitado encontro de Rude Barato e fácil de fazer, o zine prova ser um
desespero, correndo, trepando e matando Boys com Marcelo D2... Treta na certa. ótimo recurso pedagógico e pode possuir
em cenários que parecem estar derre- Fique Rude O editorial e as referências bibliográficas um papel fundamental na formação dos
tendo. O que conta aqui não são tanto os Rio de Janeiro, RJ – Brasil são pontos que merecem mais atenção, alunos, ainda mais quando os situa como
enredos. As histórias não obedecem ao #5 (2011) | A4 | 22 ps. | xerox pois às vezes não é possível identificar a capazes de extrapolar a posição de consu-
esquema “começo-meio-fim” e a maioria autoria e a origem de alguns textos. fg midores para produtores de cultura. fg
delas nem texto tem. Em grande parte, a O Fique Rude celebra smartalexster@gmail.com fabi_menassi@yahoo.com.br
graça está na disposição aparentemente a cultura tradicional vontadeluta.blogspot.com fabimenassi.blogspot.com
Gibiozine inesgotável do autor em experimentar, em oi! ou skinhead (favor
extrapolar os limites e enveradar com sua não confundir com Folclore Brasil Frente Jovem Palestina
arte por novos caminhos - expediente no neonazismo ou white São Paulo, SP – Brasil Porto Alegre, RS – Brasil
Não é todo dia que Estado Vegetal qual, diga-se de passagem, Desali tem sido power, você não está #1 (2011) | A7 | 16 ps. | xerox #3 (2011) | A5 | 16 ps. | xerox
temos em mãos um Santiago – Chile extremamente bem sucedido. du assistindo a um tele-
zine uruguaio, e essa #12 (2008) e #13 (2009) | 21,5 x 16,5cm | odesali@gmail.com jornal sensacionalista) Fabiana Menassi é Como o nome en-
publicação dos irmãos 16 ps. | offset flickr.com/odesali e seus valores, como o companheirismo e professora da rede trega, este é um zine
André e Eduardo o nacionalismo. Estadual de São Paulo inteiramente dedicado
Delgado representa Feche os olhos e Fábulas, a Base de Destaco a entrevista com a banda do e produz e distribui à conscientização so-
bem a cena punk rock pense num zine sobre Recursos Gráficos Distrito Federal Causa Torpe, que faz fanzines para seus alu- bre a causa palestina.
de seu país. veganismo e liberação Buenos Aires – Argentina um belo resgate da história do punk e nos ao fim dos ciclos Um tema incomum
As edições de En Los Nervios são repletas animal. Não lhe culpo #1 (2009) | A5 | 16 ps. | xerox hardcore na região e a matéria “Careca aos de aprendizagem. entre os zines, mas de
de entrevistas com bandas atuantes e até se você estiver imagi- Quarenta”, originalmente escrita por Matt Este zine de bolso é extrema relevância.
com algumas que já não existem mais. nando um punhado Este zine feito pela
A diagramação é bastante limpa e harmo- de slogans, fotos de artista Debora Paula,
niosa, dosando bem a relação entre o belo animais torturados e da Ediciones de Cero,
visual e o som agressivo das bandas que uma entrevista com o vocalista da banda apresenta ilustrações
aparecem nas páginas do zine. x Qualquer Coisa x sublinhando seu ódio em que os animais são 3 PERGUNTAS PARA EDUARDO VOMITORIUM
O #2 vem acompanhado de um CD com incondicional aos carnívoros. Mas feliz- os ícones dominantes.
algumas bandas (uruguaias, claro). mente a coisa aqui é bem diferente. As ilustrações são fei-
Além do zine, En los Nervios também é Bem escrito e variado, o maior mérito tas em técnicas diver-
uma distribuidora de discos. ms deste zine chileno é o de ampliar e apro- sas, com muita sobreposição e colagem, O Demência começou no papel em pacotes para distribuir. Com certeza eu perdi da modernidade undergroundiana.
enlosnervios@gmail.com fundar a discussão, abordando questões valorizando os efeitos de texturas obtidos 2004, migrou para a internet e voltou a leitores, a visibilidade do Vom.It.Yourself era
pouco debatidas no meio sem abrir mão através do xerox. O efeito final, no papel ser impresso em 2011. O que motivou bem grande, mas era uma outra galera, uma A seção “Texxxtos Libertinos”, com
Escena Obscena da auto-crítica. Também notável é seu verde, é extremamente agradável. fg esse retorno? outra postura. A Internet é um mundo instan- contos de sua autoria, é algo bem
Buenos Aires – Argentina senso de humor. No #12, por exemplo, um deborag77@gmail.com EV – Alguns fatores estão envolvidos. Pri- tâneo, tudo bate pronto, o cara não quer te incomum em zines de música. Como
#2 (2011) | 19,5 x 27cm | 32 ps. | offset encarte de receitas veganas foi montado flickr.com/photos/deborag meiro, acho que o prazer pessoal falou mandar a demo, te manda o link da demo, não surgiu a ideia? Já pensou em publicar
inteiramente em forma de fotonovela. mais alto, a vontade de fazer tudo como tem como eu propor uma troca no zine, isso é textos de outros autores também?
Skate, punk e ativismo Já no número 13, na sessão “Suplemento Feto em Conserva sempre foi feito e a falta de saco para com o que realmente me irrita, a descartabilidade, EV – Gosto muito de escrever besteiras,
são palavras chaves Surreanimalista”, há uma nota hilária Joinville, SC – Brasil o mundo virtual também ajudou, de repen- a facilidade a falta de essência, e na boa... Eu muitas coisas nunca mostrei pra ninguém.
para definir este bo- chamada Poder Vegetal, onde se lê: “As #1 (2012) | A5 | 28 ps. | xerox te eu me vi sendo o que tanto esculhambo. gosto mesmo é de zine, de tape e de disco, Tenho projetos e projetos, rabiscos e mais
nito fanzine argentino. plantas carnívoras foram declaradas ve- Segundo, as condições favoráveis mesmo. quer mandar o link, manda pra puta que pa- rabiscos. Quando era muleque gostava de
Há entrevistas com getais não-vegetais por parte da comuni- O editorial começa Pra colocar em prática um fanzine de pa- riu. Não me acostumei com esse mundo “Nes- ler os contos eróticos das revistas pornôs
bandas de destaque dade vegetariana/vegana internacional, assim: “Feto em pel, tem que ter uma certa logística en- cau”, tentava fazer do Vom.It.Yourself um zine dos meus primos mais velhos... me mas-
na cena underground que diz que um vegetal que come carne Conserva é o nome do volvida, e como hoje me estabilizei numa impresso, não atualizava com freqüência, atu- turbava exaustivamente. Inicialmente que-
hermana, como não é um vegetal, mas sim um assassino”. meu primeiro zine. Eu cidade novamente, as crianças já estão alizava de tempos em tempos, mas era com ria por alguma coisa sobre horror, algum
Eterna Inocência, Los Caídos e Mofa, re- Sensacional! du tenho dezesseis anos mais crescidas, achei a hora certa pra exu- MUITA coisa, como se fosse uma edição no conto do tipo, mas queria puxar uma veia
senhas de discos, informações sobre o club estadovegetalzine@gmail.com e a primeira vez que mação. Mas sempre tive planos de fazer no papel. A maioria das pessoas que pegaram o anticlerical, pornografia bíblica / religiosa
de patinetas Parque Alamut (de acordo estadovegetalfanzine.blogspot.com coloquei a mão num papel. Ainda bem que deu certo. zine já eram contatos meus bem antigos, mes- foi o que veio a mente, e me divirto bas-
com o blog, Escena Obscena é o fanzine zine foi há pouco mais mo antes do Demência existir. Preocupação é tante. É uma das coisas que mais chama
do referido clube), fotos de skatistas em Estupra-me de um ano”. Taí um cara que nasceu para a Qual foi a resposta que você teve à re- algo que realmente não cabe, talvez uma refle- a atenção (principalmente de mulheres,
ação, e a primeira parte de uma deli- Contagem, MG – Brasil coisa. Driblando a inexperiência e a idade, tomada do impresso? Você acha que xão: Fiz trocas pra caralho, retomei contatos não sei o porquê) no zine, na época que
ciosa série chamada “Skaterock – breve #1 (2008) | A5 | 24 ps. | xerox Victor Bello, o garoto em questão, fez um perdeu leitores com essa mudança? de muito tempo, e realmente é aqui que quero tava parado, tinha gente que pedia pra eu
resumen gráfico local”, que compila fotos, dos mais divertidos zines de HQs de 2011. Isso te preocupa de alguma forma? estar embaixo dos panos. Podem me chamar escrever só os Texxxtos Libertinos. Velho,
flyers e cartazes de shows da cena skate/ Como é possível per- A falta de noção e o humor politicamente EV – Fiquei até impressionado com o re- do que quiserem, mas NADA se compara, o com certeza já pensei e quis publicar ou-
punk local entre os anos de 1988 a 2010. ceber pelo nome do incorreto são as características mais mar- torno cara, a carência para com o formato underground está se transformando, mas al- tros autores, mas vem a velha questão da
Destaque para o layout que, a exemplo de zine, sutileza não é o cantes no trabalho deste jovem autor. Seus é gritante, a necessidade de uma geração gumas coisas ainda permanecem intactas. E “qualidade”, e porra, não vou colocar um
outras publicações argentinas, explora o forte nos quadrinhos personagens são pescadores viciados em mais antiga (e uma galera mais nova com com o tempo em vez de abrir minha cabeça, texto vagabundo no meu zine só porque o
lado mais artístico da tradicional estética do Desali. Mais co- crack, camarões homossexuais e hipsters o velho espírito) apegada ao lado “físico” de absorver novas influências... está tudo ao cara escreveu uma putaria blasfema. Mas
“tesoura e cola” dos zines punks. du nhecido pelo seu per- comedores de minhocas envoltos em situ- da cena é grande, muitos selos pegaram inverso, cada vez mais rabugento e com asco quem sabe no futuro.
culitodemono@gmail.com sonagem Zé Buceta ações tão absurdas quanto suas próprias
escenaobscena.blogspot.com (não falei?), Desali existências. Seu traço é sujo, debochado

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Nesta edição há divulgação do projeto editora Marca de Fantasia e apoiado pela de diversas HQs de uma página que De quebra, ainda traz um texto com
3 PERGUNTAS PARA DEBORA PAULA Intifada (evento em que bandas indepen- Universidade Federal da Paraíba). apareceram originalmente nas páginas da um breve apanhado sobre os tipos de
dentes tocam para arrecadar alimentos Neste número são 15 selecionados, entre revista Lapin. São histórias banais sobre o publicações, gêneros etc. Muito didático
para os refugiados palestinos no Brasil), novatos e veteranos. O ganhador do quotidiano de personagens nada heróicos, e com linguagem acessível, esse mate-
o manifesto do Comitê pela Libertação Concurso é o quadrinista Alisson Affonso, carregadas de humor e reflexão. rial faz parte de seu trabalho de conclu-
Na Argentina, os zines de ilustração da Palestina, sinopse do documentário com a ótima série “Mundo Cruel”. Em ambas as séries fica evidente o talento são de curso intitulado “Arte, Leitura e
têm uma produção muito mais acentu- “To Shoot an Elephant” e outros textos Nesta edição há menos tiras que tratam de de Trondheim tanto para o desenho Colecionismo”. ms
ada do que no Brasil. Fale-me um pou- sobre o tema. A diagramação é simples, política e os temas estão mais diversifica- quanto para o texto. E não estamos falan- gibi.arte@gmail.com
co de como é essa cena em seu país mas cumpre seu papel. dos. Destaque para a qualidade surpre- do de demonstrações de virtuosismo ou gibiarte.blogspot.com
e também sobre a Ediciones de Cero. Para melhorar, o zine vem acompa- endente, presente tanto nos argumentos técnica, muito pelo contrário. O charme
DP – Acho que em Buenos Aires houve nhado de um DVD com o documentário com sacadas inteligentíssimas, quanto nos dessas histórias está justamente na espan- Gibizone – Ed. Especial
um cruzamento entre ovelhas negras do “Occupation 101”, de Sufyan e Abdallah desenhos muito bem executados. fg tosa capacidade do autor em ser sintético, Prática de Ensino
design gráfico, das escolas de arte, de in- Omeish. du henriquemais@gmail.com limpo e conciso. Bayeux, PB – Brasil
teressados em street art, e todos se encon- naovoucalar@gmail.com marcadefantasia.com É o tipo de trabalho que provavelmente e.u. (2011) | A4 | 12 ps. | xerox
traram em uma apreciação meio confusa não atrairá o público leitor de heróis e
do DIY local. Mas isso não seria possível se Gag: as Melhores Gênesis Apocalípticos + Os Inefáveis mangás, mas deve cair em cheio no gosto Coletânea de ativida-
nesse encontro não conhecêssemos quem Tiras Humorísticas João Pessoa, PB – Brasil de quem se interessa por HQs autorais. des realizadas com os
estava antes, desde a década de 80 e 90, e João Pessoa, PB – Brasil e.u. (2011) | 16,5 x 24,5cm | 60 ps. | offset Resta-nos torcer para a Marca de Fantasia educandos de Josival
aqueles que vieram mais da cena musical, e.u. (2009) | 14 x 20cm | 60 ps. | publicar outros títulos da extensa biblio- Fonseca nas turmas de
de raízes Old School, fazendo fanzines com offset + digital Lewis Trondheim é grafia de Lewis. du EJA e Ensino Médio.
opinião e distribuindo seus escritos, etc. um prolífico qua- henriquemais@gmail.com São fotonovelas, tiras
O que talvez aconteceu foi que, com a A editora Marca de drinista francês. marcadefantasia.com.br e intervenções (Eu
passagem do tempo e os designers e ar- Fantasia tem lançado Vencedor do grande Personagem). O mate-
tistas retomando a produção de fanzines, editorial... Meu trabalho nas “Ediciones excelentes publica- prêmio do Festival Gibizone – Edição Especial rial faz parte da pesquisa feita por Josival
o fanzine também mudou seu espírito com- de Cero” jamais foi o de juntar coisas ou ções independentes de Angôuleme e duas Bayeux, PB – Brasil para o seu TCC e é um bom exemplo de
bativo para algo mais individualista e ego- peças de arte e montar um zine, mas pelo relativas às Histórias vezes nomeado para e.u. (2011) | A6 | 16 ps. | xerox como utilizar fanzines em sala de aula. ms
cêntrico. A essa cena, eu a chamaria mais contrário, as ideias nascem diretamente em Quadrinhos e aos o Eisner Awards, gibi.arte@gmail.com
de fanzine-gráfico. Há vezes em que os tra- como zines. Fanzines. Trondheim continua um nome pouco O educador Josival gibiarte.blogspot.com
balhos não chegam, na minha opinião, a se Após o entusiasmo pelo tema, cuja es- O editor Henrique conhecido no Brasil. Sorte nossa termos Fonseca utilizou
ver como ilustrações ou desenhos, mas de colha é livre e prazerosa, vem o processo de Magalhães organizou este livro, uma um selo independente como a Marca de uma estratégia muito Gibiozine
algum modo contam uma história, desen- de fotocópia, fita de papel e tinta preta, coletânea de tiras de autores selecionados Fantasia, de Henrique Magalhães, dis- bacana com seus Sorocaba, SP – Brasil
volvem um estilo e completam o trabalho que são meus recursos de expressão. Vou e no GAG – Concurso de tiras humorísti- posto a corrigir esse lapso. educandos da turma #9 (2011) | A5 | 56 ps. | offset + xerox
editorial. Justamente por esse motivo, e venho depois do trabalho, ou à noite, corto cas idealizado pela Marca de Fantasia e Este volume reúne duas séries distin- de EJA (Educação de
como não me considero uma ilustradora, e colo e uso muito corretivo ou tinta acrílica apoiado pelo Mestrado em Comunicação tas, traduzidas pelo próprio Magalhães. Jovens e Adultos): fez A percepção do
coloquei em vários zines da Ediciones de branca. Trato de não ser caprichosa e ter- da Universidade Federal da Paraíba. A primeira, Gênesis Apocalípticos, foi um pequeno fanzine potencial dos fanzines
Cero a frase “A base de Recursos Gráficos”. minar de desenvolver a intenção primária O texto que abre a publicação, “Tiras: inicialmente publicada num fanzine do de histórias em quadrinhos. como ferramenta
ou a ideia, e também de seguir intimamen- mais que um formato”, de Edgard autor e posteriormente redesenhada para Parece nada demais, né? Mas a grande sa- pedagógica já não
Como é seu processo de criação? te vinculada a cada traço. Guimarães, faz um histórico pertinente compor um álbum. São histórias curtas cada é que em sua história ele exemplifica é mais novidade
DP – No princípio é uma ideia! Um de- Finalmente, sento-me um dia e monto sobre as HQs e, mais especificamente, das onde Lewis trata com inteligência e ironia diversas técnicas e elementos que formam alguma. Educadores
sejo incontrolável de visualizar alguma todo o original a mão. tiras, gênero que encontra grande difi- das teorias da Criação e da Evolução. A uma HQ: os tipos de falas, onomatopeias, de todo o país e
coisa. Pode ser qualquer coisa a partir de culdade de publicação no Brasil. Tanto o segunda série, Os Inefáveis, é composta sombras, quadros, personagens etc. das mais diversas
uma textura até uma série de animais, ou O xerox, em seus fanzines, é usado concurso quanto o livro visam justamente
o que quer que seja. Uma vez que eu co- como “Linguagem artística.” Gostaria estimular esta produção.
meço, concebo a seqüência e o formato que falasse sobre isso. O livro mostra que, apesar dos poucos Grude Sujo
DP – Talvez porque sou da época em que espaços para publicação, o gênero segue
todos os trabalhos da faculdade se faziam firme por todo o Brasil, com diversidade
a mão (e eu não conseguia parar de experi- de temas e estilos e, principalmente, muito
mentar com fotocópias), pude ver como me bom humor. fg
achataram e me aplanaram tantos anos de henriquemais@gmail.com
trabalho editorial com computadores. marcadefantasia.com
Um dia, no final dos anos noventa, tive
a sorte de fazer um curso de “Printed Mat- Gag: o Humor é o Motor
ter” ( livros de artista) e foi aí que voltei a João Pessoa, PB – Brasil
fazer o que eu mais gostava usando quase e.u. (2011) | 14 x 20cm | 60 ps. |
somente as mãos. Somado a isto, durante offset + digital
toda minha adolescência, me atraíam os
“flyers” de eventos feitos com fotocópias Esta segunda edição
(que ainda amo) que foram o meu maior da GAG confirma o
gancho com o Do-it-yourself sucesso do Concurso
e da Publicação que
visam estimular a
flickr.com/photos/deborag. produção de tiras em
quadrinhos no Brasil
(promovidos pela

22 UGRA PRESS 2º ANUÁRIO DE FANZINES, ZINES E PUBLICAÇÕES ALTERNATIVAS 23


disciplinas utilizam os fanzines como Val Fonseca que trata deste universo de sando-se a ajoelhar para rezar o credo do cional dos superheróis, o que poderia pro- Icfire com anúncios harmonicamente distribu-
suporte para instruir, debater e entreter. forma muito simpática. Aqui, o próprio mercado! O editorial do #1, aliás, explica porcionar um diferencial a esta publicação Natal, RN – Brasil ídos. Trata-se de um coletivo de artistas
Por mais louváveis que sejam essas editor – que também é quadrinhista – bem o espírito que move essa turma, e é perante outras do gênero. fg # 77 e #78 (2011) | A5 | 28 ps. | xerox de várias áreas, unidos pelo intuito de
iniciativas, porém, poucos destes zines protagoniza HQs curtas onde ele nos tão inspirador em sua defesa de uma arte lynx_2811@hotmail.com # 79 (2011) | A5 | 24 ps. | xerox produzir um material que aborde diversas
apresentam uma leitura interessante para conta um pouco sobre sua coleção e sobre que seja conscientemente marginal, que homemcamaleao.blogspot.com # 80 (2011) | A5 | 36 ps. | xerox manifestações artísticas, principalmente
alguém que não pertença ao meio onde os gibis que marcaram sua vida. Assim, por si só já valeria a aquisição do zine. du de Itaberaba.
foram produzidos. O Gibio Zine, editado compartilhamos com Val sua alegria ao odesali@gmail.com Homem Camaleão & The Next Só por chegar à 80ª A primeira edição tem entrevista com
por professores e estudantes de “Prática e completar a coleção de Akira 13 anos após flickr.com/odesali – Crossover edição essa publicação Edgar Franco, alguns textos de conscienti-
Pesquisa no Ensino de Ciências e Biologia” tê-la iniciado e sua satisfação ao ganhar de São Luis, MA – Brasil já merece respeito e zação e tiras. Destaque na segunda edição
na UFSCar, é uma dessas raridades. um colega um novo exemplar do primeiro Homem Camaleão e.u. (2011) | A5 | 36 ps. | xerox aplausos, afinal, não é para a matéria sobre os Novos Baianos. ms
O meio escolhido para transmitir os con- gibi que leu na vida. São Luís, MA – Brasil fácil publicar histórias zineimaginario@yahoo.com.br
ceitos são as HQs. Obviamente ninguém A arte das histórias é muito eficiente, #6 (2010) ao #10 (2011) | A5 | 20 ps | xerox Uma nova aventura em quadrinhos inde- zineimaginario.blogspot.com
espera que biólogos sejam exímios dese- seguindo uma linha entre o infantil e o do Homem Camaleão, pendentes no Brasil.
nhistas e roteiristas, mas alguns colabo- caricatural. O único problema é a aplica- Homem Camaleão é desta vez um crossover Icfire é um herói
radores do Gibio podem surpreender. Os ção dos textos: o desenho dos balões ficou uma HQ roteirizada, com personagens de criado por Chagas Lima, que sozinho ou
traços vão desde simples bonequinhos mal feito e a Comic Sans, além de ser uma desenhada e arte- outro autor, no caso o com a participação de outro herói, Ímpio, Mundo Feliz
de pau a elaboradas ilustrações realiza- fonte muito batida, não é agradável para finalizada por Ricelle grupo de heróis cha- combate os males contemporâneos, onde
das com recursos de computação gráfica, leitura em corpos menores. du Sullivan Suad, de São mado The Next. o autor optou por utilizar técnicas de his-
passando pelo desenho de humor e pelo gibi.arte@gmail.com Luis (MA). Tanto a Um fato interessante tórias em quadrinhos mais clássicas.
mangá. O ponto comum é o senso de gibiarte.blogspot.com trama como os dese- desta HQ é justamente esta junção de As edições apresentam também uma
humor, e é precisamente isso que torna a nhos são influencia- personagens e autores, ainda mais se consi- seção de cartas em que Chagas responde
leitura do Gibio agradável até para aqueles Grude Sujo dos fortemente pelo universo das HQs de derarmos que tudo foi planejado via MSN. às missivas dos leitores. ms
que não fazem a mínima idéia do que seja Contagem, MG – Brasil heróis da Marvel, DC e Image Comics, Os autores, Suad (Homem Camaleão) e icfire.clima@gmail.com
prófase, anáfase ou citocinese. du #1 (2008) | A5 | 20 ps. | xerox sendo que no traço há uma notável refe- Yagami Gijo e Yagami Bruno (The Next) icfirehq.blogspot.com
gibiozine@gmail.com #2 (2009) |A5 | 40 ps. | xerox rência também aos mangás japoneses. vivem em lugares muito distantes do país –
As histórias se passam neste universo respectivamente São Luis (MA) e Joinvile Imaginário
Gibiographia Mais um zine do típico de superheróis e seus alteregos, (SC) – e não se conhecem pessoalmente! Ituiutaba, MG – Brasil
Bayeux, PB – Brasil Desali, infame repleto de conspirações, “trairagens”, O interesse e paixão comum pelo mesmo # 1 (2010) | 23,5 x 31cm | 6 ps. | digital
#1 (2011) | A5 | 12 ps. | xerox criador / editor do vinganças, reis do crime, heróis e anti- gênero de HQs fez com que os auto- # 2 (2011) | 23,5 x 31cm | 8 ps. | digital
Estupra-me e do Zé heróis uniformizados. res vencessem as questões do espaço e
Colecionadores de Buceta. Aqui, ele As capas, exceto a do #6, são coloridas e os tempo, visto que além da distância dos Esse fanzine já
quadrinhos são seres divide as páginas com quadrinhos são em PB. Suad manda bem produtores, os heróis dos dois universos impressiona pelas
peculiares, com preo- as poesias de Affonso nas HQs, as histórias têm um ótimo ritmo, vivem em épocas diferentes (presente e ótimas capas, com
cupações, conquistas Uchoa e as HQs do a diagramação é bem distribuída, e os tra- futuro). Nada que um bom teletransporte fundo preto e belas
e valores que só eles Estandelau. Em comum, os 3 artistas ços e a arte-final são muito profissionais. não resolva! E dá-lhe pancadaria, tramas e ilustrações de Thiago
mesmos entendem. possuem o gosto pela experimentação e Uma única questão que pode ser levan- conpirações! fg Bertoni. A diagrama-
Gibiographia é um a negação das fórmulas fáceis. É sempre tada é a falta de elementos mais autorais lynx_2811@hotmail.com ção também é ótima,
fanzine do paraibano uma alegria ver gente talentosa recu- e regionais ou que fujam à estética tradi- homemcamaleao.blogspot.com contando inclusive

3 PERGUNTAS PARA EDUARDO DELGADO

Como está a produção de fanzines impres- conseguiu o apoio de uma para vender algu- divulgação de música independente? para fugir da “frieza da virtualidade” da inter- tenho que dizer que “Crecer” é um que a
sos no Uruguai atualmente? mas edições) o ponto de encontro são os sho- ED – Exerce uma força que a internet não pode net é fazer uma ideia errada da realidade que América deve conhecer.
ED – Em Montevideo, a produção é pequena, e ws, especialmente de hardcore. oferecer mas é imprescindível para manter os os autores têm que enfrentar. As palavras são Crecer, o fanzine, foi o primeiro em mui-
quase inexistente nas outras 18 cidades uru- A produção é condicionada pela xerox. To- ânimos vivos, portanto é importante. O papel virtuais, as ideias, as fantasias... E em todo to tempo que começou a difundir material
guaias. São publicados fanzines sobre hardco- dos os fanzines são branco e preto, tamanho não é melhor do que a internet, nem vice-ver- caso é isso que temos que plasmar, e ao mes- punk (portanto independente) com inten-
re e outras formas de punk, além de temáticas A4, poucas páginas. sa. Os meios só podem ser avaliados pela sua mo tempo a coisa mais difícil de modelar. ção de criar laços. Se você conhece Crecer,
como comics, ilustrações e aquelas relaciona- Só tem três fanzines dedicados a música: idoneidade; o contexto vai falar melhor do que Independente ou não, a música precisa da quer dizer que você conhece o selo Crecer
das ao anarquismo e de liberação (tanto hu- Crecer, FTR Fanzine e En Los Nervios, também as tradições, e os meios vão criar os espaços corporalidade e crescer para além do som. Os Records, ambos projetos de Fabián Román
mana quanto animal não-humana). os únicos que fazem edições com regularida- e adaptar-se a eles. Se o fanzine impresso é fanzines têm que ser reflexo disso que não é que falam dum tempo que tá começando
Os coletivos libertários foram capazes de de. Um é bem diferente do outro. O FTR, por importante é porque no contexto da música no som, mas é música. O meio impresso é a forma no underground local. Esse fanzine foi a
ressuscitar a criação de fanzines, voltando a exemplo, tem website, na intenção de difun- Uruguai a criação de espaços físicos é de gran- mais evidente dessa relação. inspiração que impulsionou o En Los Ner-
publicar edições e textos clássicos e de outros dir seu material por todo espaço possível, e é de importância, a gente tem necessidade de se vios, e divulgou música da região que ne-
grupos, e distribuindo a cultura de dispor ban- sempre gratuito. encontrar porque muita coisa que acontece só Quais os fanzines uruguaios que toda a nhuma outra publicação divulgou.
quinhas em atividades como shows musicais está acontecendo na presente geração; muita América Latina deveria conhecer? Por outro lado, acho que En Los Nervios
ou outro tipo de eventos, oferecendo varieda- No seu fanzine En Los Nervios, você abor- coisa morreu, então coisas têm que nascer ED – Eu gostaria de poder falar de outros fan- é outro zine que você tem que conhecer. É
des de fanzines. da essencialmente música. Hoje, mesmo com a ideia de que só nós podemos fazê-las. zines de outras épocas, mas eu não conheço. uma mistura rara de narrativa e entrevista;
Dado que não têm lojas ajudando a dis- com a internet, o fanzine em papel ainda Por outro lado, a gente vai ter sempre que Acho que os três que eu já falei, porque são fala de música, mas não exatamente sobre
tribuir fanzines (ainda que En Los Nervios exerce um papel grande importância para lidar com o virtual. Fazer um fanzine impresso reflexo do que esta acontecendo aqui. Mas notas e som; não tem críticas musicais.

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Pergunte sobre o CD-Rom com todas as mas páginas onde as letras miúdas e as de uma forma que aguça no leitor o desejo
edições do fanzine Tchê, tem muito mate- linhas extensas tornam a leitura um tanto de ter a publicação.
rial bacana. ms cansativa. Dividir o texto em duas ou três Embalagem tetrapack, fita isolante, papel
tchedenilson@gmail.com colunas já resolveria o problema. du colorset, tinta e linha são alguns dos ele-
tchezine.blogspot.com cirinofelipe@yahoo.com.br mentos mais usados em suas produções.
Para a capa impressa em estêncil, Rodrigo
La Liberación La Mars Society também utilizou uma tinta que, em con-
Maceió, AL – Brasil Buenos Aires – Argentina tato com luz negra, revela uma comple-
#1 (2011) | A4 | 20 ps. | digital + xerox e.u. (2010) | A5 | 16 ps. | xerox mentação do desenho.
Com essa superprodução, o conteúdo po-
Não sei se é fato ou Fotonovela é um tipo deria ser qualquer um que passaria batido.
mera impressão, mas de narrativa gráfica Mas não. São HQs de alto nível feitas pelo
os zines tratando so- com muitas possibi- próprio Rodrigo e seu parceiro Bruno
bre questões relativas lidades. Pena ser tão de Castro, misturando diversos estilos e
às sexualidades pare- raro ver uma hoje técnicas ora usando preto e branco, ora o
cem se multiplicar. em dia. Este zine é colorido e ainda uma HQ feita em estêncil.
La Liberación é um uma surpreendente Uma obra de arte. ms
dos que chegaram às exceção lançada pelos lapermurafanzine@gmail.com
Misterorror nossas mãos, e certamente o que mais me argentinos da F.D.A.C.M.A. Sem entrar flickr.com/rodrigo_okuyama
chamou a atenção. De cara já impressiona: em muitos detalhes para não estragar a
é diagramado em formato horizontal so- história, La Mars Society narra, com um Lado [R]
Janela Poderosa Resume-se a uma folha A4 impressa atitudes e age impiedosamente. fg bre papel cor de rosa e vem acondicionado humor sutil, o dia a dia de uma expedição Natal, RN – Brasil
Rio de Janeiro, RJ – Brasil em apenas um dos lados apresentando denis.s.mello@hotmail.com em um envelope onde está impressa uma de terráqueos em Marte. Recomendo! du #9 (2010) | 11 x 31cm | 32 ps. | offset
# 7 ao #9 (2011) | A6 | 8 ps. | digital diversos desenhos, colagens e frases denismello.blogspot.com ilustração da sugestiva passagem bíblica fdacma@gmail.com
soltas. Existe uma propensão à crítica em que Adão oferece uma maçã a Eva. fdacma.com.ar Esse fanzine é um dos mais
Editado e ilustrado social neste material, mas de uma forma Kafeta Trans Auto-proclamado um zine “pornoterro- legais lançados nos últimos
por Ric Ramos, o bem vaga e confusa. Na edição #337, Belo Horizonte, MG – Brasil rista”, La Liberación provoca, informa e La Permura tempos, por seu estilo peculiar,
Janela Poderosa é um por exemplo, há uma imagem do Cristo #2 (2011) | A5 | 32 ps. | xerox educa. Fala sobre poliamor e transexu- Iguape, SP – Brasil diagramação bem cuidada e
fanzine de bolso que Redentor onde foi inserida a frase “Apóie alidade, faz questionamentos (“O que #3 (2011) | A5 | 28 ps. | digital + estêncil matérias interessantes.
surpreende pela quan- o Enem” no lugar de seu braço esquerdo. É sempre bom co- faz o meu pau inflar e a minha buceta Tem um pouco de tudo: his-
tidade de informação Um pouco mais acima, dentro de um nhecer fanzines com ficar lubrificada?”) e parte para o ataque O trabalho de Rodrigo tória em quadrinhos, matéria
que consegue dispor retângulo de linhas grossas, lê-se o texto temáticas fora do con- (“Open minded não passa de uma expres- Okuyama é um dos sobre Baracho (o bandido
em tão pouco espaço. “Ensinar é aprender. Provérbio japonês.” vencional. Este é des- são quando você se considera o exemplo grandes exemplos quase santo), uma pequena entrevista com
Essencialmente, o Janela cobre a cena da O que pretende o editor com esse material tinado para o público de pessoa a ser seguido”). Sem contar as da importância do Emicida, matéria com a banda General
região de Niterói, sendo que cada número é uma pergunta que continua sem res- queer e é geralmente boas entrevistas com Pedro, coordenador formato impresso Junkie e outra com o lutador Gleison
possui um tema diferente, sempre dentro posta para mim. du distribuído em even- do Grupo Mandacaru, e com o polêmico para os fanzines. Ele Tibau (muito bacana, aliás), e uma maté-
do universo do underground. R. D. João Moura, 305 – Recife / PE tos relacionados com cineasta Bruce Labruce. não apenas imprime e ria sobre maconha.
O # 7 faz uma breve cobertura de iniciati- CEP: 50730-030 o tema. Sua proposta é tão forte, que até Tudo muito bom, com exceção de algu- distribui, mas produz Ainda tem um entrevistão com o “homem
vas e personalidades “udigrudis” da região agora não sei qual o gênero do editor.
(destaque para a matéria com a Pepa Justiça 40º: Maria da Penha O visual da capa é muito bacana, utili-
Filmes); o # 8 é dedicado exclusivamente Niterói, RJ – Brasil zando um papel abóbora que cria um bom
à banda Fungus & Bactérias; e o # 9 traz a e.u. (2010) | A5 | 8 ps. | xerox contraste com o preto do xerox. A diagra-
primeira parte da HQ “Wer Wolf ”. mação segue o velho esquema de recorta e 3 PERGUNTAS PARA RIC RAMOS
Destaque para os desenhos de Ric, que Zine de HQ feito cola analógico, que é bastante agradável.
dão um ar especial à publicação, seja de- pela dupla Brenno Os textos são basicamente sobre a cultura
senhando as personalidades que apare- Dias (roteiro) e Denis queer. Destaque para “Aumentar ou não o Em alguns números do Janela Pode- opinião, qual a importância dos zines na Como e onde é distribuído o Janela?
cem no zine, seja através do personagem Mello (desenho e volume?”, seguido de um conto de Danilo rosa o personagem Cachorrão faz as articulação das cenas locais? RR – A distribuição é feita via correio. Mas
Cachorrão, que conduz as entrevistas em arte-final). Conta as Agrimani. ms narrativas e entrevistas, tornando a RR – Bem, na verdade não. O Janela Poderosa, estou ainda estudando a possibilidade de
forma de HQ e abre o editorial dos zines aventuras de Carlos guillaiad@riseup.net leitura dinâmica e divertida. Gostaria por ser um zine temático, não foca uma deter- deixar alguns exemplares em gibitecas.
de maneira divertida e informativa. fg Guerra, ex-detetive que falasse sobre isso. minada região. Todo o foco está centrado no
janelapoderosa@gmail.com particular que atua L’Atmosfere RR – O Cachorrão já existia antes do Jane- tema abordado. Se existe algo de uma deter-
janelapoderosa.blogspot.com como vigilante urbano, justiçando os cri- Alvorada, RS – Brasil la. Eu havia criado um zine sobre Heavy/ minada região que possa compor o mosaico de janelapoderosa.blogspot.com
minosos impunes da Cidade Maravilhosa. #1 (2011) | A6 | 4 ps. | xerox Rock que nunca saiu do primeiro e único ideias, então ele será citado. Se estão lá é por
Jornal do Sábio A HQ é ótima, possui um roteiro interes- impresso, o Folha Metálica. O mascote veio mera pesquisa de campo.
Recife, PE – Brasil sante e uma trama bem cadenciada. Os Apesar de ter uma de lá e ainda mantém seu headphone. Ha- Porém, os zines que informam a cena local
#1 (2007) e #337 (2011) | A4 | 1 p. | xerox desenhos de Denis Mello são muito bem linda capa feita via outros personagens que não consegui são tudo. Zineiro geralmente não maquia o
feitos e dão conta do recado. pelo clássico Henry colocar no zine por falta de espaço. fato. Estará tudo relatado de forma apaixona-
Essa é uma das publi- Esta edição tem como tema especial a Lei Jaepelt e um edito- A redação imaginária do Janela. Eu já da e com detalhes.
cações mais estra- Maria da Penha, assunto que aparece na rial contando breves havia pensado em algo como tiras para o Vale a pena ressaltar o ótimo trabalho do
nhas que recebemos. trama através da filha de um personagem novidades da Tchê blog do zine... Um caso a pensar! Fabio Barbosa com seu zine, “Reboco Caído”,
O Jornal do Sábio é que sofre violência doméstica por parte de Produções, essa publi- e de seu programa de rádio na madruga, “Hora
publicado quinzenal- seu marido, um foragido da justiça. cação não chega exa- Seu zine tem uma abordagem mais fo- Macabra”, que fortalece muito a cena under-
mente pelo pernam- O criminoso não terá, porém, chance de tamente a ser um fanzine e sim uma base cada na região de Niterói (RJ). Na sua ground da região de Niterói.
bucano Antonio ser julgado de acordo com a citada lei, para o editor Denilson Reis escrever para
Andrade desde 2007. pois Carlos Guerra fica sabendo de suas seus contatos e inserir alguns flyers.

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inimigo e encontrar meios de combatê- Armandinho, uma sobre pichação e outra Mariantönios A saudade é o tema do quinto número. Misterorror
lo de forma eficaz, antes de ser engolido sobre volta ao tempo. São Paulo, SP – Brasil Uma entrevista com o quadrinista Joe Barretos, SP – Brasil
e transformado em mais um produto. Para ler em dois minutinhos. Bacana. ms #1 (2011) | A5 | 16 ps. | offset Bennett e matéria com a cantora Gaby #2 (2011) | 20 x 14cm | 36 ps. | offset
Mal e porcamente falando, esse é o ponto duffuseumbomanimal@yahoo.com Amarantos aparecem na sexta edição.
de partida dos textos que compõem este flickr.com/pauloito Marantönios é um A edição de número 7 talvez seja a mais Publicação de
excelente zine editado pela Hurra!. São 5 zine on line criado impressionante. Prefiro não tecer comen- HQs criadas pelo
textos perfeitamente traduzidos de autores Manufatura por estudantes de um tários, veja você mesmo. Guilherme Silveira,
de diferentes lugares do globo, cada qual São Paulo, SP – Brasil curso de pós-gradu- Um fanzine pequeno no tamanho, mas incluindo algu-
apresentando sua análise do problema em #2 (2011) | 11,3 x 14,5 cm | 40 ps. | xerox ação em Design. Em gigantesco no conteúdo. ms mas parcerias com
questão e suas sugestões de superação. sua versão impressa, oliveirasavio19@gmail.com o Matheus Moura,
É notável, antes de tudo, a profundidade Flávio Grão não reúne os trabalhos fanzinemegafone.blogspot.com editor das revistas
destas análises. Também chama atenção a realiza um trabalho considerados mais in- Camiño di Rato e A3.
disposição dos autores à auto-reflexão, ao comum. Ele faz uma teressantes já publicados na versão digital. Microfonia Com histórias curtas e enredos não line-
reconhecimento dos erros e à identifica- junção de ilustração Os artistas utilizam técnicas bem distintas João Pessoa, PB – Brasil ares, Guilherme se propõe a explorar os
ção de posturas que já não sejam condi- e poesia, sem usar (fotografia, ilustração digital, ilustra- #2 ao #4 (2011) | 23 x 32 cm | 4 ps. | offset limites dos elementos que compõem uma
zentes com os novos parâmetros. sequer uma palavra. ção manual, composições tipográficas, HQ. O resultado, como em boa parte das
Leitura indispensável para ativistas, rebel- As únicas que apa- colagem, etc) e no geral se saem muito Tablóide paraibano expressões artísticas experimentais, parece
des ou qualquer pessoa atenta às transfor- recem são onomato- bem. O mais difícil, nessa era de excesso de cultura alternativa ser menos importante do que o processo,
mações do mundo contemporâneo. du péias. Por isso, não basta passar o olho de informação, onde tudo é assimilado, em geral, feito por o que não desmerece de maneira alguma
carinapandora@gmail.com para entender o contexto. apropriado e re-contextualizado, é parecer jornalistas experientes o material que o leitor verá nas páginas
Seus traços fortes, rústicos, semelhan- original. Por mais diferentes que as peças e bem humorados. deste zine. Pelo contrário. Ao rejeitar os
Ma Que Mário? tes a xilogravuras, viajam em um roteiro aqui apresentadas sejam umas das outras, Contém entrevistas, clichês e as soluções convencionais, o
Iguape, SP – Brasil filosófico-poético, sempre passeando pelo a maior parte delas desperta uma sensação resenhas de CDs, autor convida o leitor a desligar o piloto
e.u. (2011) | A7 | 8 ps. | estêncil inconsciente individual e coletivo. de familiaridade. De qualquer forma, shows, filmes e livros automático e entregar-se a uma leitura
Nessa edição, subintitulada “Intempérie”, essa busca por uma cara própria, que se (aliás, resenhas muito bem escritas, nesse atenta e consciente. Talvez não seja o tipo
Rodrigo Okuyama é a história passeia por três estágios da vida impõe então como desafio-mor, é parte último item). O visual é bem limpo e, de HQ para ser lido a qualquer momento,
um dos grandes no- de uma pessoa: as percepções, experi- do projeto da publicação, como explica mesmo com as letrinhas miúdas, é agra- mas sem dúvidas é um interessante exercí-
mes do fanzinato bra- ências e conteúdos que carregam para a seu editorial: “o conteúdo desse caderno dável de ler. cio de estilo. du
sileiro atual. Com o La eternidade. reflete as expressões e reflexões sobre arte Muito boas as tiras “Enquanto isso na re- guilhermepwcca@hotmail.com
Permura estabeleceu Com boa diagramação, impressão em dos participantes presentes nessas páginas, dação”, de Josival Fonseca, e fantásticas as misterorror.blogspot.com
um novo paradigma papel vergê e tiragem numerada em 100 que buscam através de experimentações entrevistas com o cantor brega Balthazar e
nos processos de con- exemplares, Manufatura #2 mostra a evo- descobrir suas reais identidades”. O cami- com o compositor Bráulio Tavares.
Kafeta Trans fecção de zines. lução desse artista e educador. ms nho é esse! du Com tiragem de 3 mil exemplares, Mais Barato Grátis
Este mini-zine é o sinal de que o autor não flaviograo@yahoo.com.br antonio.hbb@gmail.com Microfonia tem até anúncio de um sex
para com suas experimentações, tanto nas flickr.com/flaviograo mariantonios.com shop que promoveu troca de latas de leite
fanzine” Flávio Grão, que também é autor narrativas como nos modos de fazer zines. por gel comestível! ms
da ilustração da capa. Ma que Mário? é uma combinação dessas Máquina de Escrever Megafone jornalmicrofonia@gmail.com
A diagramação muito bem feita e a capa experimentações. Baseado no personagem Fortaleza, CE – Brasil Ananinveda, PA – Brasil facebook.com/jornalmicrofonia
estilosa em papel grosso dão um toque dos vídeos games Super Mario, o zine foi #1 ao #3 [5º ano] (2011) | A6 | 16 ps. | xerox #0 ao #7 (2010) | A7 | 12 ps. | xerox
profissional à publicação. feito através de impressão em três cores Edição Especial (2008) | A5 | 32 ps. | xerox Mídia Press Mail Art Zine
Infelizmente, essa foi a última edição. utilizando o estêncil em uma só folha de O fanzine começa São Paulo, SP – Brasil
Uma grande perda. ms A4, que é dobrada e cortada, transfor- Rômulo foi uma das com o manjado #5 e 6 (2011) | A5 | 8 ps. | xerox
lado.r.zine@gmail.com mando-se em um livreto de 8 páginas. tantas figuras que tive número zero e pelo
@ladoerre A narrativa é uma homenagem ao perso- o privilégio de co- pouco cuidado na José Nogueira faz
nagem e o mostra em algumas das fases nhecer em Fortaleza finalização da monta- parte da master old
Lutando em Novo Terreno conhecidas do game, terminando no en- durante o seminário gem, fica a impressão school dos fanzines
Rio de Janeiro, RJ – Brasil frentamento do temido Rei de Copas. fg Cabeças de Papel em de que o zine é ruim. brasileiros e até hoje
e.u. (2011) | A5 | 44 ps. | xerox + colagem lapermurafanzine@gmail.com 2011. Jornalista, ofici- Engano feio. Tanto é, mantém-se na ativa,
flickr.com/rodrigo_okuyama neiro e presença obri- que vou falar um pouco de cada edição, sempre trazendo al-
O mundo está mu- gatória nas discussões sobre a Fanzinoteca todas elas impressas em papel colorido e guma coisa nova.
dando em passos Mais Barato Grátis Imaginada, é também editor do Máquina com dobras diferenciadas. Há algum tempo
acelerados. Conceitos São Paulo, SP – Brasil de Escrever. Seu zine tem a cara da cena No citado zine de estreia há uma inte- começou a desenvolver também trabalhos
e doutrinas políticas #2 (2011) | A6 | 16 ps. | offset formada a partir do Zine-se, o encontro ressante reflexão sobre o tempo nos dias ligados à rede de mail art, que é a troca
que há poucos anos de zineiros do povo de lá: pessoal e poé- atuais e outro texto que compara o anime/ de postais e envelopes ilustrados ou mon-
ainda eram debatidos Mais barato, coisa tico, trata das coisas do dia a dia e reflete mangá Naruto aos dilemas da vida real. tados como obra única e exclusiva, que
e relevantes hoje são nenhuma! Esse zine sobre a cidade, tudo à base de colagens e “O acento em uma palavra de duas letras” apenas os correspondentes desse circuito
obsoletos. O capi- é grátis e distribuído textos manuscritos. A sacada do Máquina é o grande destaque do número 1, que têm acesso.
talismo também mudou e talvez tenha em diversos pontos é eleger colaboradores e temas diferentes apresenta também uma entrevista com a Nessa publicação, Nogueira mostra alguns
adquirido agora sua face mais perversa: o estratégicos. para cada edição, como “Renascimento”, banda Stereocope. exemplos de mail art que recebeu de seus
capitalismo do bem, da sustentabilidade e Os traços simples de “Você e Eu” e “Missões Urbanas”. Há O número 2 tem matéria sobre o filme amigos do mundo afora. No blog, que
da tolerância, que assimila as críticas e dá Paulo Ito são aqui também um número especial intitulado “Iron Man” e o cantor Roberto Villar. serve como extensão desse zine, é possível
voz aos seus críticos. Um olhar minima- representadas em “Please Come Back the Tape”, onde editor Futebol é o tema da terceira edição. ver os postais e envelopes coloridos e tam-
mente atento, porém, percebe que as coi- quatro histórias. Uma sobre um sonho e convidados comentam cada uma das 17 Na edição seguinte tem entrevista com bém produções do próprio Nogueira. ms
sas continuam caminhando para o mesmo absurdo, outra em uma paródia muito en- edições já lançadas do zine. du Mombojó e um texto muito bacana sobre jn7400@gmail.com
buraco podre de antes – difícil é detectar o graçada da canção “Desenho de Deus”, do romulofilosofo@gmail.com um cachorro. inkonpapernogueira.blogspot.com

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Mono
3 PERGUNTAS PARA OLGA COSTA Rio de Janeiro, RJ – Brasil
#louco (2011) | A7 | 16 ps. | xerox

Quando recebi esta


O Microfonia tem tiragem de 3 mil có- edição do Mono,
pias. Como é feita a distribuição? reparei que na capa,
OC – Na marra! Ou seja, a gente bota a ao lado do indicativo
mão na massa mesmo! Separamos quan- de número (#), havia
tidades, colocamos nos envelopes, ende- apenas um rabisco.
reçamos, etc. Na Universidade Federal da O mistério desfez-se
Paraíba (UFPB) temos um parceiro/amigo dias depois, quando
Erivan que literalmente veste a camisa do o Zé Colméia, editor da parada, mandou
jornal e distribui por lá. Temos vários pon- a ficha de inscrição da publicação para o Não Fui Eu
tos onde deixamos o jornal aqui na cida- Anuário. “Número louco” é o que infor-
de: lojas de discos, skate, tattoo, além de mava a ficha. Como se os anteriores não
bares, bancas de revistas, mas não existe tivessem sido! deturpadas na grande mídia. Por isso Mundo Mundano Na Mão Jornalex Underground
uma regra. Se tiver alguém ou algum lugar Folhear o Mono é como bisbilhotar amamos fanzines. fg São Paulo, SP – Brasil Lauro de Freitas, BA – Brasil
que queira o jornal a gente coloca na lista aquela gaveta onde você vai guardando fbarreiraalvares@gmail.com #1 (2010) | 15 x 19cm | 197 ps. | offset #6 (2088), #7 (2009) e #8 (2011) | A5 |
de distribuição. Além disso, temos tam- um monte de coisas que são legais mas flickr.com/felixbarreira 8ps. | xerox
bém pessoas de outros Estados que en- não tem certeza se um dia vai usar. Mais um livro lançado
viamos pelos correios e isso ainda é uma Pequenininho e despretensioso, sua pá- Mundo Feliz pelo selo Prólogo, Este fanzine – ou “jor-
prática muito legal. Através do primeiro ginas trazem fotos, cartuns, ilustrações e Brasópolis, MG – Brasil Mundo Mundano nalex underground”,
Anuário de Fanzines, Zines e Publicações Microfonia colagens sem explicação alguma. Estão e.u. (2011) | 14 x 20cm | 112 ps. | digital reúne conteúdo como se definem – é
Independentes da UGRA a gente constatou ali simplesmente porque o editor do zine selecionado entre ma- publicado por alunos
que existe muita coisa sendo publicada de curtiu – o que já é explicação mais do Originalmente publi- terial originalmente da Universidade
forma independente, o que se torna uma que suficiente, neste caso. E sem dúvida cada em 15 capítulos publicado no site de Católica de Salvador e
inspiração imediata! Claudia Reitberg do senhamos que seguem a mesma linha, colabora o fato do Zé ter bom gosto e um divididos entre as mesmo nome. Sendo tem uma tiragem sur-
Portal Rock Press comentou dia desses acrescentando aí uma linguagem um tan- senso de humor aguçado, além de mandar edições dos anos 2001 uma coletânea, os estilos e tons variam preendente (20.000
que era uma tortura administrar o espaço to quanto descompromissada e na maioria bem nos rabiscos. du a 2003 do fanzine QI, bastante. No geral, prevalece a linguagem exemplares na edição # 8).
limitado imposto pelo papel e que hoje é das vezes “viajante” – como já foi denomi- smartalexster@gmail.com Mundo Feliz, série mais objetiva e bem humorada, com jeitão A tônica do Na Mão é a ironia e o humor,
um paraíso na net por não existir essa li- nada por alguns leitores? Talvez sim, por- favodefelcomics.blogspot.com criada por Edgard de blog, mas também há espaço para tex- que à primeira vista parece “infantil”, mas
mitação... Tá... Beleza concordamos em que a maioria das bandas resenhadas cor- Guimarães, final- tos mais densos. nunca é gratuita, e está quase sempre atre-
100%, mas aí a gente recebe via Renato re por fora do esquemão (ainda existe? Se Moonstomp! mente recebe sua edição completa pela A produção gráfica é boa, mas a diagra- lada a uma postura de crítica ou reflexão,
Donizete (Aviso Final) o jornal/fanzine do existe as bandas de rock/pop foram exclu- Santos, SP – Brasil editora Marca de Fantasia. mação deixa a desejar. A fonte conden- voltada principalmente, mas não apenas,
Nenê Altro, o Pest: fonte pequena, 12 pági- ídas!). E o pé da cultura pop talvez esteja #1 (2010) | A5 | 12 ps. | xerox A expressão “não julgue o livro pela capa” sada para textos longos é um pouco aos temas locais.
nas (!) e muita informação! Não tem como com nossos entrevistados – Tommy Keene poucas vezes foi tão adequada. O título da cansativa, e os espaços duplos entre os pa- Fica a dica para as publicações universitá-
comparar (risos). Vale salientar que todo que está na primeira edição, por exemplo, A cultura skinhead no obra, associado ao desenho de uma garota rágrafos são desnecessários. Seria bacana rias que se afogam no pedantismo acadê-
o sacrifício da Claudia para diagramar a ele é pop, mas não é do mainstream, atu- Brasil tem sido vítima sorridente correndo de braços abertos, também se cada texto fosse iniciado em mico-teórico-revolucionário: o humor é
Rock Press ainda é uma inspiração latente almente, um dia foi; Balthazar, Cannibal e da falta de informação sugere ao leitor incauto tratar de uma HQ uma página nova. du um poderoso recurso comunicativo. fg
quando nos vemos diante do que deixar ou Braulio Tavares são pop? Talvez, diferentes e da distorção a res- otimista voltada ao público infanto- prologo@prologoseloeditorial.com.br namaouniversitaria@gmail.com
cortar nas edições do Microfonia. nas posturas e conteúdo, porém, pop no peito do movimento. juvenil. Bastaria a leitura do primeiro prologoseloeditorial.com.br namaounderground.blogspot.com
alcance midiático irregular; mas temos Este zine de Santos capítulo para provar o contrário: há pouca
Um de seus anunciantes é um sexshop. entrevistados como a Banda Shock que é (SP) atua contra esses ou nenhuma felicidade no mundo onde Muy Mal Hecho Não Fui Eu
Como é aliar a marca ao produto/con- pop aqui e no Japão! E o Telegramadois- males e faz um bom esta história se passa. Buenos Aires – Argentina Brasília, DF – Brasil
teúdo de ambos? tresmeia que não é pop em lugar nenhum serviço informando sobre vários aspectos Mundo Feliz narra um causo lamentável – #1 (2009) | A5 | 20 ps. | xerox #1 (2011) | 21 x 21cm | 36ps. | digital
OC – Rapaz, isso foi uma sincronicidade. ainda, mas tem puta potencial... E os leito- do movimento e da cultura original dos mas assustadoramente verossímil – cheio
De um lado tínhamos um amigo que adora- res são diferentes? Se eles são diferentes, skinheads. Quando digo original, lembre- de surpresas, onde o leitor é levado a Neste zine argen- André Valente me dá
va escrever sobre filmes eróticos e de outro ainda não se manifestaram! Quer dizer, mos de reggae, jamaica, ska, Inglaterra e enfrentar seus próprios tabus. E consegue tino lançado pela tudo o que eu gosto e
um cara muito gente boa que amou nossa dentro das duas vertentes (risos). Então, não de racismo ok? fazer isso com objetividade e elegância, Ediciones de Cero, procuro em uma HQ.
iniciativa! Na verdade não existiu um pla- por enquanto não precisamos lidar com A matéria “Um pouco sobre o Skinhead sem apelar para o sensacionalismo. a artista Debora Para começar, o cara
no para aliar coisa alguma! Aconteceu e a nada! Só sabemos que a maior parte dos Reggae” faz um histórico pertinente sobre Mundo Feliz é também um delicioso Paula mergulha na desenha muito. Seu
gente deixou rolar! leitores assim que pega o jornal, vão logo as origens do ritmo e também do movi- exercício de linguagem. Guimarães não experimentação com traço é marcante, tem
ler a tirinha – Enquanto Isso na Redação. mento, trazendo boas explicações sobre desperdiça a oportunidade de experimen- colagens e traços utili- personalidade, graça. Às vezes aparece
O jornal tem um pé no underground e Isso a gente sabe que é ponto pacífico en- assuntos relacionados ao tema, como os tar possibilidades diversas na aplicação de zando-se de diferentes mais solto e descompromissado, como
outro na cultura pop. Como é lidar com tre eles, o resto a gente não sabe... Ainda! mods, o rocksteady e o ska, explica tam- texto e imagem, brincando com a própria elementos gráficos, como ícones, letras, na HQ sem título da página 7; às vezes
diferentes tipos de leitores? (risos), mas gostaríamos de saber, então, bém o modo como se deu a invasão do estrutura dos quadrinhos, com recursos desenhos, palavras, fotos e padronagens. aparece exuberante e cheio de detalhes,
OC – Qual é o pé do underground? E qual cartas para a redação! Ops, para o e-mail, reggae jamaicano na Inglaterra. de metalinguagem, diferentes enquadra- O resultado são páginas que alternam o como na incompleta “Coelho”. Também
o da cultura pop? Foram essas duas ques- se preferirem: Destaque para a entrevista com Locksley mentos e alterações no estilo do desenho. caos e momentos suaves, provocando sen- adoro o fato do cara ainda fazer à mão o
tões que vieram as nossas cabeças quan- jornalmicrofonia@gmail.com Gichie, guitarrista do Cimarons, banda do Complementa essa edição um farto ma- sações ambíguas no leitor. letreiramento – é uma pena que a maior
do lemos essa pergunta. lendário estúdio Trojan, tradicional grava- terial textual, incluindo comentários do Destaque para o modo como a autora uti- parte dos quadrinhistas da atualidade
O pé do underground estaria nas ban- dora de música jamaicana na Inglaterra. autor e algumas das reações dos leitores liza os efeitos do xerox como ferramenta e tenha se esquecido que o texto também é
das locais e de outros Estados que re- facebook.com/jornalmicrofonia. Interessante pensar que um zine como originalmente publicadas na seção de linguagem artística. fg um elemento gráfico. Mas não o André!
esse ajuda e esclarece muito mais a res- cartas do QI. du deborag77@gmail.com Os enredos são sempre surpreendentes,
peito do assunto do que anos de matérias edgard@ita.br flickr.com/photos/deborag injetando com sagacidade algo de ab-

30 UGRA PRESS 2º ANUÁRIO DE FANZINES, ZINES E PUBLICAÇÕES ALTERNATIVAS 31


nantes nos primeiros números, cederam Romário e Bellini. legal. Porém, ela não descarta a ideia de Oriok
cada vez mais espaço para textos e ilustra- O futebol é um tema pouco explorado em melhorarmos esse aqui. Natal, RN – Brasil
ções. Paradoxalmente, nesse meio tempo histórias em quadrinhos no Brasil, e os O zine promete fazer links entre a edição #2 (2011) | A5 | 24 ps. | xerox
o desenho do Ian evoluiu muito. autores se saem muito bem. A narrativa impressa e a virtual, o que é uma iniciativa
No final das contas, o autor se dá bem é empolgante e os desenhos se encaixam louvável. ms Mais uma inicativa
tanto na HQ quanto no texto, mantendo perfeitamente na trama, utilizando-se so- mundodeclo@yahoo.com da Editora Universo
sempre um senso de humor carregado mente do preto, branco e tons de cinza. mundodeclo.com.br Clima, de Chagas
de desencanto e niilismo que remete ao É muito interessante o modo como ambos Lima, que também
trabalho de Lourenço Mutarelli. Não por conseguem condensar os feitos futebolís- O Nadador publica o Icfire.
acaso, Mutarelli é homenageado já no nú- ticos em poucos quadrinhos, sem omitir Iguape, SP – Brasil Segue na mesma linha
mero de estréia com a HQ “A Verdadeira as informações essenciais. A capa da pu- e.u. (2011) | A7 | 6 ps. | digital do outro herói, mas
História de Sólon”. Outras referências blicação também merece destaque por seu dessa vez o protago-
aparecem aqui e acolá durante a leitura: “design” econômico e eficiente. Outro micro zine de nista é Oriok que, nessa aventura, teste-
Lewis Carrol, Franz Kafka, Saint-Exupéry, Para os torcedores de outros times, fica a Rodrigo Okuyama munha o nascimento de uma vampira. ms
Bukowski. Ou seja: bom gosto o cara tem! dica. fg (Ma que Mário, La icfire.clima@gmail.com
Ninguém Presta é o tipo de iniciativa que denis.s.mello@hotmail.com Permura) que traz icfirehq.blogspot.com
faz valer essa história de mexer com fan- denismello.blogspot.com as experimentações
zines. Não é uma publicação perfeita em do autor. O Nadador Paf!
sentido algum, mas é, certamente, uma O Fabuloso Mundo de Clo propõe uma narra- Santiago – Chile
publicação onde as idéias fervilham e a Ferraz de Vasconcelos, SP – Brasil tiva silenciosa feita de #1 ao #8 (2010) | A6 | 8 ps. | xerox
criatividade brota desavergonhada. du #1 (2011) | A7 | 8 ps. | digital e xerox modo extremamente criativo: uma folha
iancichetto1@gmail.com de papel A4 dobrada 5 vezes formando 16 Paf! é um mini-zine
zineninguempresta.blogspot.com Esse microzine é quadros, ocupando frente e verso. xerocado, montado
uma apresentação da Ao abrir o zine você acompanha uma como um pequeno
O Berro criação de Cledson sequência de movimentos do nadador que caderno sem grampo,
Niterói, RJ – Brasil Bauhaus. Clo é uma acaba em um mergulho. lançado mensalmente
#14 (2009), #15 a #18 (2010), #19 e #20 contadora de his- Um detalhe interessante é que este per- com uma HQ com-
(2011) | A5 | 12 ps. | xerox tórias, que também sonagem foi confeccionado em papel de pleta ou seriada. Seu
escreve em um blog, modo que se articulasse e pudesse ser criador é o chileno
Esse é um fanzine dando dicas culturais escaneado em diferentes posições para Rodrigo Duran, e o material aqui segue a
que faz muito jus ao e falando coisas da vida. “atuar” no zine. fg mesma linha do seu outro zine, o Duro,
seu nome: mete a Clo vive com um pé em nosso mundo e lapermurafanzine@gmail.com mas com maior ênfase no aspecto humo-
boca em tudo que é o outro em um paralelo que é muito mais flickr.com/rodrigo_okuyama rístico das histórias. Simpático e divertido,
Ninguém Presta assunto, como uma
metralhadora.
Estão entre seus alvos:
surdo às situações mais banais do nosso The Adicts durante o show em São Paulo. a mídia, programas te-
quotidiano. Não sei se é coincidência, É um zine cheio de boas intenções, mas levisivos, políticos, além de denúcias sobre 3 PERGUNTAS PARA WINTER BASTOS
mas o relacionamento homem-mulher é bem básico tanto em termos de informa- problemas enfrentados em Niterói, onde
um tema recorrente em Não Fui Eu. Esse, ção quanto de opinião. O potencial está aí, residem os redatores do zine, e também
aliás, é também o tema da única coisa que falta desenvolvê-lo. du questões de âmbito nacional. Parte da sua produção você divulga O Berro traz críticas a todo tipo de in-
não é HQ aqui: o conto “A Donzela e o coletivo.neurotikas@hotmail.com Além disso, inclui textos sobre literatura no blog Expressão Liberta e a outra, justiça e problema social. Com o gran-
Ogro”, onde o autor prova que, além de neurotikas.blogspot.com (muito bom o sobre Lima Barreto na edi- no zine O Berro. Quais as principais de volume de informação produzida
tudo, também escreve bem. E eu nem falei ção 19), e uma entrevista com Laerte (18). diferenças entre publicar em veículo pela TV e internet, como é o desafio
que a edição é bonitona, que o formato Ninguém Presta! - Também foi lançado um livro quando o impresso e virtual? de nadar contra e tentar conscientizar
quadrado ficou bacana, que o trabalho de Almanacão de Férias zine completou um ano. ms WB – Escrever em veículo virtual tem al- as pessoas por intermédio de um zine?
cores na ilustração da capa e contra-capa é São Paulo, SP – Brasil o.berro@hotmail.com gumas vantagens: podemos postar sobre WB – É difícil nadar contra a corrente, pois
impressionante. André, eu sou seu fã. du #1 (2011) | A5 | 80ps. | digital + xerox expressaoliberta.blogspot.com assuntos que acabaram de ocorrer, dando os veículos de comunicação massificantes
oandrevalente@yahoo.com.br resposta imediata ao que acontece à nos- usam seu poder econômico extremo e nos
oandrevalente.com Ninguém Presta O Diário do Almirante sa volta; não gasto um centavo sequer para afogam num mar de informações fúteis ou
tem uma trajetória Niterói, RJ – Brasil publicar em blog; o que escrevo fica acessí- Detalhe da capa do O Berro #14 perniciosas. Mas, se pensarmos bem, te-
Neurótikas Fanzine singular. Em 2010, en- e.u. (2011) | 15 x 18cm | 8 ps. | xerox vel, no ato, a qualquer lusófono no mundo. mos uma força latente poderosa contra os
São Paulo, SP – Brasil quanto preparava uma Porém a imprensa alternativa escrita conti- Berro até então. Como é passar do forma- tubarões da grande mídia. Podemos boico-
#7 (2011) | A5 | 8ps. | xerox pesquisa acadêmica Outra HQ da dupla nua imprescindível por alguns motivos: lê- to mais básico para um mais “oficial”? tar seus jornalecos diários e suas revistas
sobre publicações in- Brenno Dias e Denis -se com muito mais atenção e comodidade WB – Foi muito gratificante alcançar isso. O jor- semanais idiotizantes, bem como parar de
Zine feminista paulis- dependentes de HQs, Mello (vide Justiça o que está em papel; qualquer pessoa al- nalista Fabio Barbosa, grande amigo que fazia ver televisão, e, em vez disso, podemos nos
tano. Tem textos sobre Ian Cichetto resolveu 40°). Esta edição traz fabetizada pode curtir um fanzine quando o zine comigo na época, correu atrás e conse- voltar para fanzines, blogs, jornais comuni-
as Mães de Maio, sentir na pele a aventura da autopublica- histórias previamente o recebe, independente de ter acesso à in- guiu que a Editora Independente (de Brasília) tários, sindicais ou alternativos, lendo-os e
câncer de mama, edu- ção e fez o número zero da NP. Acabou publicadas em jornais ternet (houve um pedinte de rua que ficou abraçasse o projeto. Assim nasceu o livro “Um também produzindo. Qualquer um de nós
cação, preconceito no pegando gosto pela coisa e até o final de e revistas dedicados felicíssimo quando lhe dei O Berro). Ano de Berro: 365 dias de Fúria”. Numa época consegue, ao contrário do que a imprensa
mercado de trabalho, 2011 já tinha lançado mais 4 números. ao time carioca do Vasco da Gama. em que tudo parece muito efêmero é bom ver capitalista nos quer fazer acreditar.
uma reflexão sobre Reunidas e encadernadas, as 5 edições O tema, obviamente, são as façanhas do Em um ano de fanzine, foi lançado um uma produção zinística ser impressa em livro,
o uso de maquiagem formam este “Almanacão de Férias”. “Club de Regatas Vasco da Gama” pro- livro com o conteúdo produzido pelo O que é um registro duradouro pra caramba. expressaoliberta.blogspot.com
e um relato sobre o assédio de algumas Interessante notar as mudanças ocorridas tagonizadas por alguns de seus maiores
garotas sobre o vocalista da banda inglesa nesta curta existência. As HQs, predomi- heróis: Juninho Pernambucano, Cocada,

32 UGRA PRESS 2º ANUÁRIO DE FANZINES, ZINES E PUBLICAÇÕES ALTERNATIVAS 33


Paf! é exemplo de uma forma simples, trações (coloridas) de Isabele Frugiuele.
3 PERGUNTAS PARA GUIDO IMBROISI barata e eficaz de divulgar quadrinhos Viva o impresso! fg
alternativos. du prologo@prologoseloeditorial.com.br
rodrigoduran33@gmail.com prologoseloeditorial.com.br
rajubid.blogspot.com
Pense Aqui
Palestina: As Pedras do Caminho Rio Claro, SP – Brasil
Niterói, RJ – Brasil #365 ao #367 (2011) | A5 | 12 ps. | xerox
e.u. (2011) | 17,5 x 25cm | 36 ps. | digital
Na cidade de Rio
Com roteiro de Beth Claro, interior de São
Monteiro e dese- Paulo, existe uma ilha
nhos de Denis Mello chamada Sechiisland.
(Justiça 40° e O Diário Essa ilha é gover-
do Almirante) esta nada pelo artista
história em quadri- José Roberto Sechi,
nhos foi feita para proeminente figura
o Comitê de Luta no meio da arte postal e é, na verdade,
para o Povo Palestino no Rio de Janeiro, sua própria casa, convertida em galeria /
que segundo informações do desenhista, biblioteca. Na Sechiisland, além de manter
não cumpriu o acordo de correr atrás do um acervo diversificado, Sechi organiza
Detalhe da HQ Tunô, publicada no álbum Quadro Negro Verde recurso para a publicação. Sendo assim, o encontros e exposições. A revista é uma Querido Amigo
desenhista empreendeu e lançou inicial- das ramificações deste projeto de ilha
mente a história em formato de fanzine imaginária. Com uma estrutura simples e
Seu novo álbum, Quadro Negro Verde, indo ao máximo de preenchimento das su- (cujas 200 cópias esgotaram-se em dois econômica, desde 2000 ela publica repro- o zine certamente repetirá o alcance do Pieces
tem uma influência marcante do cine- perfícies e conforme o tempo foi passan- dias na Rio Comicon de 2010). Esta versão duções dos trabalhos que Roberto recebe Antimídia, antiga publicação do autor que Campinas, SP – Brasil
ma, incluindo uma homenagem explí- do, novas influências foram surgindo, e a é a segunda edição da mesma história, de todo o mundo, transformando-a numa circulou entre os anos de 1999 e 2009. # 3 (2010) | A5 | 36 ps. | offset
cita ao filme “Medo e Delírio em Las maneira como pensamos e acreditamos no com capa colorida, miolo preto e branco e espécie de “exposição permanente”. As es- Produzido em papel jornal, o Pest é tam-
Vegas” na HQ “Terra de Sal”. Fale um nosso trabalho vai mudando também, eu um acabamento profissional. tatísticas, publicadas na edição de número bém um dos poucos fanzines em atividade O roteiro dessas oito
pouco sobre os filmes / diretores que tenho acompanhado muito o trabalho de A história explica a questão palestina atra- 365, são impressionantes: em 11 anos de no Brasil em formato tablóide, o que casa histórias devem ter
você gosta e de que forma eles influen- alguns japoneses como Katsuhiro Otomo vés de uma conversa entre um avô publicação, Pense Aqui teve a colabora- perfeitamente com o seu conteúdo de co- como base poesias,
ciam seu trabalho. que recentemente lançou um livro sobre palestino e seu neto, fazendo um retros- ção de 1059 participantes de 72 países que lunas e editoriais. Além disso, vale desta- pois elas fluem às
GI – O cinema é uma mídia que influência ciclismo, Suehiro Maruo, Takato Yamamo- pecto histórico que começa há mais de enviaram um total de 8103 obras. car o fato de ser gratuito, de possuir uma vezes de maneira
grande parte das pessoas que produzem to, Hayao Miazaki e companhia limitada. dois mil anos e chega aos dias atuais. Se você curte ou faz arte fora dos parâ- tiragem enorme para os padrões zinísticos fina, e em outras, de
quadrinhos, sendo que não sou exceção. Todos esses autores apresentam um traba- A trama é bem didática e põe o dedo na metros convencionais, esse é um trabalho (5000 exemplares) e de se sustentar com forma mais dura. E é
Nos filmes sempre fico atento as perscti- lho extremamente rico em detalhes visuais ferida, expondo manobras políticas, mas- digno da sua atenção. du seus próprios recursos. fg exatamente com uma
vas visuais diante do cenários, o movimen- sem a utilização de hachuras muito car- sacres e guerras, não economizando críti- sechiisland@gmail.com antifest2010@gmail.com poesia de Ana Recalde que a revista de
to das cameras, aos figurinos do persona- regadas, acredito que essas novas velhas cas a Israel e ao movimento Sionista. fg antireckordz.wordpress.com Mario Cau é apresentada.
gens e a fotografia, como exemplo posso influências são um dos motivos da minha denis.s.mello@hotmail.com Pest Zine Os traços de Cau tem um pézinho lá nos
citar os trabalhos do Diretor Terry Gilliam, mudança pra com meu trabalho, mas digo denismello.blogspot.com Sto. André, SP – Brasil Pétala mangás, mas a referência maior em seu
onde esses elementos são recorrentes a aqui que isso não é um adeus as hachuras #1 (2011) | 29 x 35cm | 12 ps. | rotativa São Luís, MA – Brasil trabalho fica ali perto de Craig Thompson,
cada novo filme, como uma espécie de feitas com pontos. Parece Filme, Mas É Vida Mesmo #1 (2011) | A4 | 12 ps. | xerox com um traço simples mas bem traba-
assinatura, sem mencionar que seus fil- São Paulo, SP – Brasil Nenê Altro é certa- lhado. As mulheres que desenha lembram
mes na maioria tratam das questões do Inicialmente, QNV teria 3 histórias: e.u. (2011) | 15 x 20cm | 65 ps. | offset mente um dos sujeitos O Pétala é um zine a escultura corporal de Druuna e Elektra
subconsciente, sanidade versos insanida- “Tunô”, “Terra de Sal” e “Dois Dois”. mais ativos do un- anarquista de São Luis Assassina. Ou seja, só mulherões!
de e realidade versos fantasia, eu particu- Porque essa última ficou de fora? Publicações indepen- derground nacional. (MA) editado pelos O foco das narrativas está na solidão, em
larmente sempre me interessei muito por GI – Essa história ficou de fora por duas ra- dentes impressas que Seja através de suas punks Jorge e Davi. relacionamentos mal resolvidos e até em
isso, e sempre tento trazer um pouco disso zões, primeiro: quando estive em reunião compilam material bandas, dos festivais Em tamanho A4, o crises criativas do autor. “Deslocado” é
em minhas tramas. Na minha insignifican- com Alex Vieira (Prego Publicações) ficou originalmente postado que organiza, ou fan- zine foi confeccionado a história mais crítica e bem executada
te opinião acredito que a sua obra prima é claro para nós que o quadrinho “Dois Dois” na internet são uma zines que produz, está com sobreposição de da edição, fazendo referências ao mundo
o filme “ Brazil “,onde todos os elementos não dialogava com as demais histórias por tendência que começa sempre lutando contra a estagnação. colagens, que dá ao virtual que vivemos.
que eu citei anteriormente são encaixados apresentar um enredo de ficção científica, a se estabelecer e que Uma de suas mais recentes empreitadas é zine a estética clássica dos zines punks. Curiosidade: Mario Cau fez parte do
de maneira realmente brilhante. não que houvesse problema em publicar nos faz acreditar cada o fanzine Pest, que parece ter surgido da Nesta edição são entrevistadas as ban- dream team do MSP+50, série de álbuns
histórias com tramas e estilos diferentes, vez mais no “poder do papel”. constatação de que a cena independente das Guerra Urbana (Recife), e Restarts lançados pela Panini Comics em co-
Uma mudança significativa em QNV é o que me leva ao segundo ponto: o fator É o caso deste livro que reúne crônicas atual anda mal. O inflamado editorial (Londres). Os editores fazem também memoração aos 50 anos de carreira do
o abandono das hachuras e detalhes tempo. Não ouso dizer que não tive tempo, da autora Camila Fremder publicados desta edição clama por mudanças e ex- boas reflexões a respeito de questões do Maurício de Souza, onde artistas de
excessivos e a adoção de uma estética mas infelizmente não consegui me organi- anteriormente em seu blog (que possui plica passos práticos e possíveis para isto. movimento, como no texto “Enganando diferentes estilos e gerações apresentavam
mais limpa. Porque a mudança? zar de maneira adequada para finalizar o o mesmo título do livro). O scene report foge ao tradicional (e en- a si mesmo” que trata sobre o radicalismo releituras da Turma da Mônica. ms
GI – Bem essa pergunta eu sabia que ia quadrinho. As crônicas do livro, em tom pessoal, gi- fadonho) modo como é feito na maioria excessivo de alguns membros da cena mariocau@gmail.com
rolar. O que acontece, durante a minha ram em torno de temas da vida da autora, dos fanzines - fragmentado e em tópicos. punk. Há também uma espécie de denún- mariocau.com
pequena trajetória, datando de 2007 prá como relacionamentos, a vida na cidade No Pest ele é escrito em primeira pessoa, cia a respeito do caos instalado na cidade
cá minhas ilustrações e quadrinhos tinham de São Paulo e a internet, sempre sob o com opiniões sinceras e em texto corrido, de Paço do Lumiar. Piratas
um grande apelo pelas hachuras, sempre quadronegroverde.blogspot.com ponto de vista do universo feminino. como em uma boa conversa. Realmente Punk is not Dead, meus amigos. fg São Paulo, SP – Brasil
O acabamento do livro é muito bem feito dá vontade de conhecer as bandas. davi.galhardo@hotmail.com #1 (2007) | 9,5 x 13cm | 16 ps. | digital
com páginas em papel couchê e belas ilus- Com um time de colaboradores de peso, crostamoida.blogspot.com #2 (2011) | A6 | 28 ps. | offset

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Piratas na caótica Rua material independente e editam este zine. uma grata surpresa. O tema dos desenhos transita pelo uni- rock and roll – o que não é surpresa, já gem principal é um tomate (exatamente,
25 de Março e nos O primeiro número seguia a fórmula O conteúdo consiste em poesias sobre verso da arte urbana, com sprays, palha- que boa parte do time que edita a revista um tomate).
subterrâneos das cida- tradicional dos zines de rock, com en- a cultura hip-hop e ilustrações no estilo ços, skate e caligrafias estilizadas. tem alguma ligação com este universo. Mas apesar da sutileza, este zine traz
des brasileiras? Sim! E trevistas, resenhas e informações sobre de grafites, de diversas partes do mundo, Como os trabalhos são feitos em preto e Todo material aqui é de alto nível, com pertinentes reflexões a respeito das
não são os piratas do bandas. O número dois é mais estranho: provando que os Racionais MCs estavam branco, sem nuances e com traços vigo- destaque para os colaboradores usuais, coisas, seus valores relativos e o modo
Laerte, mas a indisci- começa com uma HQ tosca (e hilária!), certos quando afirmaram que “periferia é rosos, a reprodução em xerox reproduz como Chico Felix, Diego Gerlach, Guido como são transformadas em produtos.
plinada trupe criada segue com um texto que parece ter sido periferia em qualquer lugar”, pois as reali- com fidelidade os desenhos, proporcio- Imbroisi e Pietro Luigi. Metalinguagem, meus caros... fg
por Marcos Venceslau. escrito por uma criança, um pôster do My dades e conteúdos dos textos e ilustrações nando assim um conjunto esteticamente Outro ponto alto é a matéria sobre carta- quimicarafa@yahoo.com.br
Na verdade, os desenhos de Venceslau Midi Valentine, tablaturas para músicas são bem parecidos. poderoso. fg zes punks, com reproduções de trabalhos quimicarafa.blogspot.com
para seu bando criminoso guardam mais do Super Amarelo e Dad Fucked and The Boa iniciativa, que outros manos e minas povoovop@yahoo.com.br antológicos da cena nacional e entrevistas
semelhança com os piratas que S. Clay Mad Skunks, e finaliza com o release da se inspirem e lancem mais títulos. ms flickr.com/ovop com alguns dos mais destacados artistas Profecia
Wilson criou para a lendária Zap nos idos banda Projeto Sonho. Bacana, especial- povo-povo@hotmail.com deste meio. Leitura obrigatória. du Pinhalzinho, SC – Brasil
dos anos 60. A diferença é que enquanto mente se você estiver familiarizado com povo-povo.blogspot.com Prego revistaprego@gmail.com #29 (2012) | A5 | 28 ps. | xerox
os baderneiros americanos entregavam-se essas bandas. O layout é bem “largado” e Vila Velha, ES – Brasil revistaprego.blogspot.com
sem pudor a orgias dignas de um Marquês tem aquele jeitão de anos 90. du Povoando #5 (2011) | 20 x 28cm | 80 ps. | offset Embora seja datado
de Sade, seus colegas brazucas estão en- popfuzzdistro@gmail.com Pelotas, RS – Brasil Produto de 2012, esse fanzine
volvidos com políticos corruptos, falsifi- popfuzz.com.br #1 (2011) | A5 | 12 ps. | xerox Após completar o ci- São Paulo, SP – Brasil foi lançado no ano
cação de produtos e, logicamente, diversas clo de 4 capas fazendo e.u. (2011) | 14,5 x 10cm | 20 ps. | anterior, meio que
trapalhadas em alto mar. Povo – Literatura Hip-Hopiana Povoando é um zine referência ao padrão offset + serigrafia brincando com o seu
Estas duas edições especiais de Piratas São Paulo, SP – Brasil cujo objetivo decla- de cores CMYK próprio nome.
reunem histórias originalmente publica- # 02 (2011) | A5 | 28 ps. | xerox| rado é “divulgar idéias (ciano, magenta, ama- Produto é um livreto Profecia publica HQs
das no zine Subterrâneo e no livro Tiras através da arte”. relo e preto), a revista de HQ feito por Rafael de seu editor, Jerry
de Letras, além de material inédito. du O rock é o estilo mu- Trata-se de uma com- Prego inaugura com Química. O zine vem A. Souza, em dois estilos. Um da série
piratashq@gmail.com sical que mais adotou pilação de ilustra- esta “edição sonora” embalado por uma “Brandar”, dividida em três partes, con-
piratashq.blogspot.com os zines como veículo ções do artista Felipe a trilogia que contará também com uma estilosa capa em pape- tando com a arte-final de Daniel HDR e
e, dessa forma, são Povo. O zine contém edição sobre drogas e outra sobre sexo. lão impressa em vermelho e possui duas Fernando Melo. Essa série é uma história
Poesia Para El Picaporte poucas as publicações uma ilustração por página, de traços bem Assim, o tema “som” – e não necessaria- histórias interligadas. no estilo ficção científica futurística, ima-
Buenos Aires – Argentina sobre a cultura hip- marcantes e hachuras, formando ícones mente “música” – permeia todas as pági- Ambas as histórias não possuem palavras ginando como seria o contato com seres
#1 (2008) | 21 x 9cm | 7 lâminas | hop. Nesse tocante, que remetem a desenhos de tatuagens da nas deste número. De qualquer maneira, e são conduzidas através de desenhos lim- de outros planetas. Mas Jerry se sobressai
fotoduplicação a aparição do Povo é velha escola. há uma predominância de referências ao pos e uma narrativa sutil, cujo persona- mesmo quando investe no humor e em

A exemplo da edição
do Anormal resenhada Piratas
neste Anuário, Poesia
Para El Picaporte 3 PERGUNTAS PARA FÁBIO BARBOSA
desafia as concep-
ções usuais de “zine”,
ou até mesmo de Algo que chama atenção no Reboco Os temas abordados pelo Reboco Caído e o impresso. Mas vamos ver. Quem sabe
“publicação”. Caído é o fato de ele ser um zine políti- extrapolam as fronteiras das subculturas amanhã não mude de ideia e mergulhe no
A ideia é ótima: são 7 folhas soltas, recor- co que não levanta nenhuma bandeira jovens, onde estão, geralmente, os leito- mundo virtual com a mesma vontade de
tadas no formato daqueles avisos de porta específica. Em nenhum momento ele res de zines. O que você espera do Reboco antes? Não me obrigo a nada. O trabalho
que se usam nos hotéis, cada uma delas se apresenta como uma publicação e qual é o alcance que você crê que ele tem de fluir de forma natural e agradável.
com uma poesia de um autor diferente. anarquista ou socialista, por exemplo. possa ter?
Os temas e estilos das poesias variam Essa é uma decisão consciente ou ape- FB – Essa pergunta é difícil, pois não penso
bastante, e assim como eu apontei no zine nas reflexo da sua própria postura? nele dessa forma. Faço pela necessidade in-
Danken, não me sinto apto a comentar FB – Com certeza é um reflexo do meu eu. terna que tenho de fazer. Para onde vai e até
poesia em uma língua que eu não domino. Há muito tempo não me sentia a vontade quando não são questões que passem pela mi-
De qualquer maneira, só a originalidade dentro de movimentos ou com o trabalho nha cabeça. Até pensei nisso ao ler a pergunta,
e a excelente apresentação visual já fazem em grupo. Fui cada vez mais dando pre- mas não consegui alcançar uma resposta.
Poesia Para El Picaporte valer a pena. du ferência ao trabalho solitário. Não farei
fdacma@gmail.com críticas a quem prefira atuar em grupo. Reboco Caído é também um blog. Porque
fdacma.com.ar Essa forma de agir também é importante. manter as duas versões? Qual o critério
O caso é que, para mim, trabalhar sozinho para decidir que material entra na versão
Popfuzz Zine foi se mostrando mais produtivo. O Reboco impressa e qual vai para o blog?
Maceió, AL – Brasil é o que penso e acredito como individuo. FB – Atualmente ele é apenas impresso. Es-
#1 e #2 (2011) | A5 | 12 ps. | xerox Não tenho de ser coerente ou manter uma tou meio enjoado de internet. Embora seja
postura. Mudo de opinião quantas vezes uma importante ferramenta, que abre muitas
Pop Fuzz é um co- quiser e achar necessário. Esse trabalho portas e apresenta inúmeros caminhos, não
letivo alagoano que não é o pensamento de um grupo, mas de tem me dado o mesmo tesão que o impres-
resolveu levar o rock a um cara que não consegue se conformar so. O blog não existe mais. Ainda mantenho o
sério. Realizam even- com as coisas como estão e que não quer twitter, o facebook e o e-mail para receber in-
tos, apóiam iniciati- fazer parte dessa grande máquina de moer formativos e passar as informações que julgo
vas locais, organizam carne. É um grito inconformado. relevantes. A ideia é ficar apenas com o e-mail
palestras e mesas
redondas, distribuem

36 UGRA PRESS 2º ANUÁRIO DE FANZINES, ZINES E PUBLICAÇÕES ALTERNATIVAS 37


seus traços mais descompromissados, Promises Are Shit o prazer de folhear o caderno de escola Visualmente, a publicação prima pela
como em “Gente que Faz” e “Profecia”. Mendonza – Argentina daquele moleque estranho que senta no simplicidade e clareza, com diagramação 3 PERGUNTAS PARA JOANA FREDERIQUE
Curiosamente, suas histórias foram feitas #1 (2011) | A5 | 12 ps. | xerox fundão da classe e vive desenhando. limpa e funcional. Um detalhe interes-
no começo dos anos 1990. O que mais surpreende em QNV é o tanto sante é a capa e contra-capa, para as quais
No final do zine há também o artigo Um zine com o que esse artista capixaba amadureceu em Daniel utilizou folhas de um livro antigo.
“O que é fanzine 2.0”. ms formato clássico tão pouco tempo. Temos aqui um autor O zine vem dentro de um envelope com
jerry@pzo.com.br dos zines dos anos conciso e seguro de seu estilo, sem aban- uma ilustração serigrafada e acompanha
90: entrevistas com donar suas melhores características. 5 stickers com desenhos que, acredito, são
Prólogo bandas, alguns textos, “Tunô”, a primeira das duas histórias que de autoria do próprio Daniel.
São Paulo, SP – Brasil projeto gráfico híbrido compõem esse volume, chama atenção O conteúdo do Quase reflete o gosto
#1 (2009) | 14 x 21 cm | 74 ps. | offset entre o digital e o pelo seu visual clean, num estilo seme- do editor pelo design, pelo punk rock e
manual. Apesar de lhante ao famoso “linha clara” do Hergé. pela cultura do skate. Temos lá uma boa
Em sua primeira não levantar bandeira, os bate-papos com O enredo é insólito e surpreendente como entrevista com o artista plástico e músico
edição, Prólogo reúne John Porcell (membro de bandas como um filme do David Lynch e os diálogos Sesper e um bate papo com o fotógrafo
cinco escritores Youth of Today e Shelter) e com a banda são impagáveis. A segunda e última his- e também artista plástico Flávio Samelo,
paulistas de estilos Amenaza Fantasma, de Córdoba, indicam tória, “Terra de Sal”, é cheia de referências conhecido entre os skatistas por seus
bem diferentes um uma aproximação do Promises Are Shit ao filme Medo e Delírio em Las Vegas, trabalhos para revistas como 100% e Vista.
dos outros. O livro com a cena straight edge. Também são mantendo em alta o nível de insanidade Finaliza a edição um conto de Victor de
tem um visual bem entrevistados os integrantes do Pânico no do texto. Muito interessante a utilização Almeida ilustrado pelo Daniel.
bacana, com diagra- Es El Mensaje e o criador do blog Pop to dos tons de cinza na arte dessas páginas. Inteligente e despretensioso, Quase é
mação moderna e capa colorida. Core. Simples, mas passa seu recado. du A HQ independente brasileira vive uma um zine de leitura rápida e interessante.
O primeiro a apresentar seu trabalho xyalietx@hotmail.com boa fase, com uma nova geração de Apesar dessa edição ser de 2008, espero
é Raphael Gancz, poeta amargurado, facebook.com/Yayartha artistas publicando material de extrema que o Daniel dê sequência ao projeto. du
pessimista, contra tudo e todos. Camila qualidade, e Quadro Negro Verde é prova danielhogrefe@gmail.com
Fremder faz crônicas sobre a sua própria Quadro Negro Verde inequívoca deste fato. du quasezine.blogspot.com
vida, usando e abusando do sarcasmo, Vila Velha, ES – Brasil gteixeiraimbroisi73@gmail.com
sem nunca fugir da reflexão e com boas e.u. (2011) | 19 x 23,5cm | 36 ps. | offset quadronegroverde.blogspot.com Querido Amigo
doses de bom humor. “Complexos de Rio de Janeiro, RJ – Brasil
japonês” talvez seja o tema principal da Passado pouco mais Quase Zine e.u. (2011) | A5 | 8 ps. | xerox
contribuição de Vitor Akeda para essa de um ano da publica- Maceió, AL – Brasil
coletânea. “Espiral da decadência alvaro- ção de Vulgar Manual, #3 (2008) | A5 | 24 ps. | xerox + serigrafia Este fanzine foi feito
citava” é o seu conto mais bacana. Guido Imbroisi lança pela autora como
Os textos de Mariana Portella são tão seu novo álbum, O Daniel é foda: uma alternativa às Você chama “Saída pela porta dos fun- com besteiras como “em briga de marida e
pessoais que às vezes fica a impressão novamente pelo selo desenha pra cacete, facilidades da internet dos” de livro-coisa. O que seria isso? mulhero não se mete a colher”.
de que ela fala em um dialeto dife- Prego Publicações. é designer de mão para divulgar seus JF – Na verdade, quando fiz esse zine eu
rente. Complexo, assim como as fadas e Em Vulgar Manual cheia e colabora desenhos de forma não tinha a intenção de publicar. Fiz para Você edita seu fanzine de forma pouco
duendes. Finalizando esta edição, Flávia a tônica era o exagero, com suas páginas com o Sirva-se, um física. É um zine de repensar algumas coisas que tinha viven- convencional, utilizando-se de diversos
Melissa faz crônicas de seu cotidiano de- tomadas de cenas grotescas carregadas de dos melhores blogs ilustrações feito com ciado, a forma como eu e as pessoas ao recursos e materiais como tecido, pa-
sastrado. “Se a moda pega” e “A flor” são hachuras obsessivas e detalhes minúscu- brasileiros dedicados afeto e cuidado, como um diário. Só que meu redor se relacionam e a forma como péis de gramaturas e transparências
engraçadíssimos. ms los. Sem dúvida era possível antever ali o à cultura alternativa. neste caso o diário tem acertadamente um eu estava lidando com essas relações. diversas, cores etc. Por que optou por
prologo@prologoseloeditorial.com.br talento e o potencial de Imbroisi, mas ler Quase é o zine dele, e obviamente não rústico martelo desenhado na capa. Criei muitos desenhos e textos para con- um formato tão peculiar?
prologoseloeditorial.com.br Vulgar Manual foi um pouco como ter poderia decepcionar. E é neste contexto de “conforto des- seguir visualizar o que estava sentido. Por JF – Eu acredito que não são só os dese-
confiado” que se situam os desenhos da isso comecei a chamar de livro-coisa, por- nhos ou os textos que comunicam alguma
Mariana: criaturas “fofas” aparentemente que não sabia direito o que era aquilo. coisa, toda a forma como esse material é
Quadro Negro Verde inocentes que carregam consigo sempre editado e organizado podem fazer muita
um ícone de estranhamento (tatuagens, No Brasil não é muito comum os perzi- diferença. Por isso, cada detalhe de pa-
garrafas, cruzes). Um sutil exercício de nes (personal zines). Como é publicar pel, cor, espaço em branco foi pensado e
criatividade e estilo. um “livro aberto” de sua vida tendo o embora não sejam notados num primeiro
Desconfie das criaturas fofas, sempre. fg fanzine como veículo? momento, acredito que essa composição
marimoysesbinder@gmail.com JF – Mostrei para algumas pessoas mais faz parte de como a pessoa vai perceber o
flickr.com/mariana_moyses próximas que acabaram se identificando material e digerir aquela informação. Por
com alguns pedaços dele e por isso tive- exemplo, tem uma parte que coloco um
Reboco Caído mos conversas incríveis. Foi aí que percebi texto em uma transparência, depois um
Niterói, RJ – Brasil que poderia ser uma boa ideia transformá- desenho no papel vegetal e depois outro
#4 e #5 (2011) | A5 | 24 ps. | xerox -lo em zine, porque trata de questões desenho em um papel sulfite, quando você
pessoais que todxs passamos mas muitas olha os três juntos, dá para perceber as
Reboco Caído nasceu vezes deixamos de lado porque “é pesso- camadas e como aquelas coisas que estão
tímido, sem alarde, al”, e não discutimos embora sabemos nos papéis mais transparentes são difíceis
mas com muita garra. que essas “questões pessoais” são grande de ler, porque tratam de coisas sutis que
Agora em sua quinta parte das nossas vidas e influenciam dire- acontecem e que acabam encobertando
edição, o zine mostra tamente nas nossas decisões e posiciona- toda uma relação de poder bizarra (re-
que veio para ficar. mentos políticos. Eu acredito sim que “o presentada no último desenho da folha
A grande força desta pessoal é político” e que temos que parar sulfite).
publicação são os

38 UGRA PRESS 2º ANUÁRIO DE FANZINES, ZINES E PUBLICAÇÕES ALTERNATIVAS 39


textos. Com sua escrita objetiva e bem universo do Cinema Independente e au- por exemplo) me incomoda um bocado. “Revista indepen- Salomão Ventura –
articulada, Fábio Barbosa está sempre têntico, e possibilita que este agregue in- Por mais que seja uma escolha politi- dente, sem patrocínio Caçador de Lendas
provocando, questionando e expondo sua formações relevantes sobre o assunto. fg camente correta e coerente com o tema e sem medo de colo- Araruama, RJ – Brasil
indignação, sem apelar para a pregação fudidosemalpagos@gmail.com abordado, provoca algumas confusões e car a cara a tapa”. É as- #2 (2011) | 16,5 x 24cm | 24 ps. | offset
ideológica. Pelo contrário, é notório o es- fudidosemalpagos.wordpress.com torna a leitura um pouco cansativa. du sim que Denis Mello
forço do editor em reunir no zine vozes de carinapandora@gmail.com define sua publicação. Essa HQ indepen-
diferentes setores e perspectivas. Assim, Rock aos Montes Os dois primeiros dente foi feita inte-
entre os entrevistados figuram nomes Montes Claros, MG – Brasil Sagrado Brutal Core itens são fáceis de gralmente por Giorgio
que vão de Carlos Pankararu, líder do #1 (2011) | 15 x 10cm | 10 ps. | digital São Paulo, SP – Brasil entender, já o último, só lendo mesmo. Galli e apresenta o
Acampamento Indígena Revolucionário, #3 (2007) | A5 | 16 ps. | xerox Denis tem um traço muito bom, um personagem Salomão
até nosso querido Law Tissot, mentor Ultimamente, mui- humor bastante apurado e suas histórias Ventura em uma de
da Fanzinoteca Mutação; da escritora tos universitários Curiosamente lançado funcionam muito bem. suas aventuras.
Helena Ortiz, editora do jornal Panorama da área de comu- em 07/07/07, esse zine A primeira edição foi a publicação mais Salomão serve na ver-
da Palavra, até o irreverente Hulkabilly, nicação pesquisam segue bem ao contrá- vendida durante a Rio Comicon 2010 e dade como elemento para que o autor ex-
vocalista da banda Kães Vadius. Faz falta sobre os fanzines rio do caminho do totalizou mais de mil exemplares vendidos plore as lendas brasileiras com uma abor-
apenas um textinho introdutório para em diversos pontos de vista. Essa publica- 666, divulgando, nessa em 2011 – um ponto mais que positivo dagem nada infantil, calcada nos estudos
as entrevistas, para que o leitor entenda ção é o produto do trabalho de conclusão edição, bandas que tratando-se de quadrinhos autorais. do folclorista brasileiro Câmara Cascudo e
quem é o entrevistado e porque ele está de curso de Ricardo Guimarães. propagam mensagens Algo muito comum em suas histórias é na tradição dos quadrinhos brasileiros de
ali. Um pouco mais de imagens também O fanzine foi montado de uma forma evangélicas. que o álcool sempre dá as caras e o under- terror. Nesta edição, o Curupira apavora
ajudaria, especialmente quando o entre- diferente, com dobraduras inteligentes Essa publicação faz parte do grupo Sarau ground carioca está sempre presente. um grupo de cientistas gringos em missão
vistado é artista visual. em uma folha de couché A3, impresso em Comics Edition, resultado de um sarau Bacana também são as atividades e de- de biopirataria na Amazônia brasileira.
Além das entrevistas, completam o zine ambos os lados, colorido. realizado na zona sul de São Paulo. safios para os leitores, sempre ligados ao A produção desta edição é muito capri-
pequenas crônicas, poesias e artigos, todos Nessa edição de estreia, encontram-se ma- Além de releases das bandas, tem entre- personagem principal e, claro, álcool. chada, com desenhos e arte-final excelen-
imbuídos da onipresente crítica social. du térias sobre bandas locais, fanzines, discos vista com Trino, letras de músicas e textos. Curtição boa, mas “desaconselhável para tes. O roteiro também soma pela atuali-
fsb1975@yahoo.com.br clássicos, livros e ainda entrevista com Cópias com qualidade muito boa, mas menores de 16 anos e gente chata”. ms dade, originalidade e pelo fato de inserir
rebococaido.blogspot.com duas personalidades da cidade: Wagner faltou um cuidado maior com os limites denis.s.mello@hotmail.com temas nacionais na trama.
Black e Marcos Philipe. das margens. ms denismello.blogspot.com Em meio à repetição das desgastadas fór-
Revista Cineminha Rock aos Montes conta ainda com uma cronicas34@hotmail.com
Rio Claro, SP – Brasil versão on-line e promete sair bimestral- facebook.com/saraucomicsedition
#1 e #2 (2011) | A5 | 28 ps. e 36 ps. | offset mente. Se mantiver a qualidade gráfica e Povoando
continuar divulgando os talentos locais, Saída pela porta dos fundos
A Revista Cineminha vida longa! ms São Paulo, SP – Brasil
é mais uma inicia- rockaosmontes@gmail.com #1 (2011) | 15 x 17cm | 50 ps. |
tiva que revela uma zinerockaosmontes.blogspot.com xerox + colagem
tendência que começa
a se estabelecer: a de Rumo à mais Queer das Insurreições No Brasil, não são
blogs (fudidosemal- Rio de Janeiro, RJ – Brasil muito comuns os
pagos.wordpress) ou e.u. (2011) | A6 | 20 ps. | xerox perzines, aqueles
sites que sentem a fanzines nos quais
necessidade de materializar-se impressos. A potência deste seus editores contam
Aqui o tema é o cinema independente. A livreto é inversamente suas histórias, sejam
revista dispõe um panorama interessante e proporcional ao seu elas de forma direta
crítico sobre o assunto através de diversos tamanho. A pauta ou em metáforas. E esse “livro-coisa” de
tipos de textos (resenhas, artigos, matérias aqui é a compreensão Joana Frederique representa bem as pou-
etc) que dosam o local e o global, o pas- da identidade queer, a cas publicações desse gênero. Não apenas
sado e o futuro da sétima arte. identificação de seus pelo tipo de assunto, mas pelo formato
Na “Primeira Transgressão (#1)” destaco oponentes e um cha- físico da publicação que conta com os
a inspiradora história do personagem mado à luta. E a luta aqui não é pela inte- mais diversos tipois de materiais, como
Georgitos de Itararé (SP), a matéria a gração e assimilação dos queers às institui- papel paraná, vegetal, tecido, transparên-
respeito da “Gambiologia” (ciência da ções como elas existem hoje, mas sim pela cia, além de intervenções com lápis de cor,
Gambiarra) aplicada ao audiovisual e o destruição destas instituições. Ao lançar grafite, canetinha e ainda recortes que se
texto de Bruno Nicoletti “Um Cinema de este convite insurrecional, o texto apro- intercalam com as páginas.
Expressão”, que discorre sobre a influên- veita também para fazer uma pertinente O conteúdo segue em forma de crôni-
cia da estrutura narrativa e da verossimi- crítica à numerosa parcela da comunidade cas, poesias e ilustrações que contam de
lhança no cinema atual. gay que luta por sua inclusão no exército diversas formas as angústias e resoluções
Na “Segunda Transgressão” há um ou pela legalidade do casamento entre enfrentadas pela autora.
pertinente aprofundamento no posicio- pessoas do mesmo sexo. “Se genuinamente Uma publicação muito bem feita e cor-
namento político (não partidário) da queremos destruir essa totalidade, preci- rendo por fora dos padrões que estamos
revista, que conduz a discussão para um samos criar uma ruptura. Não precisamos acostumados a ver. ms
questionamento sobre a função do cinema de inclusão no casamento, no exército ou livrocoisa@gmail.com
brasileiro dentro de nosso atual contexto no estado. Precisamos destruí-los”. Wow!
sócio-econômico. Confesso que a utilização do x em subs- Saidêra
A Revista Cineminha cumpre perfei- tituição aos indicativos de gênero nas pa- Niterói, RJ – Brasil
Salomão Ventura - Caçador de Lendas tamente a função de inserir o leitor no lavras (como em “elxs” ao invés de “eles”, #1 (2010) | 30 x 21cm | 32 ps. | digital
#2 (2011) | 20 x 28cm | 36 ps. | digital

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mulas de super heróis, Salomão Ventura é A diagramação é clássica, feita com letras maior, que explica melhor a proposta do
uma HQ que merece respeito. fg e colagens. Em uma próxima edição os zine e o autor aposta também em poesias,
salomaoventura@gmail.com editores poderiam tomar mais cuidado contos e fecha com chave de ouro com a
salomaoventura.blogspot.com com os quadrinhos, pois neste número crônica “Verdade” na edição de número
(talvez por questão de espaço) eles foram 10, que é uma reflexão muito bacana,
Sangue nos Olhos reduzidos de modo excessivo em seu principalmente para os zineiros que gas-
Maceió, AL – Brasil tamanho, o que comprometeu um pouco tam muito para divulgar seu trabalho. ms
#7 (2011) | 15 x 23cm | 32 ps. | xerox sua leitura e visualização. fg wallace_anymore@hotmail.com
xnosligx@hotmail.com seilazine.blogspot.com
Zine de Maceió (AL) fotolog.com/sanguenosolhos
feito pelos zineiros Shuffle
Gilson, xSacix e Jean, Sei Lá Zine São Paulo, SP – Brasil
cobre a cena straight São Paulo, SP – Brasil e.u. (2008) | A6 | 8 ps. | xerox
edge brasileira através #1 (2009) ao #10 (2011) | A5 | 8 ps. | xerox
de entrevistas (bandas Reimpressão do origi-
Libellulla, Meia Lua As três primeiras edi- nal lançado em 2008. Subterrâneo Especial
e Soco e Vivenciar), ções desse zine foram É uma publicação de
poemas, quadrinhos e muita reflexão. dedicadas à história HQs com a intenção
Os textos reflexivos aparecem em formas em quadrinhos “A de conscientizar as Só meu gato me entende melha a imagens que vemos na MTV ou qualidade F.D.A.C.M.A. du
de poemas ou artigos que trazem questio- flor”. Até a edição 6, pessoas sobre Jesus. Fortaleza, CE – Brasil na revista Zupi –, mas é certamente o tra- fdacma@gmail.com
namentos sobre assuntos locais e globais, Wallace manteve as Publicado pela Sarau #17 (2011) | 10,5 x 10 | 12 ps. | xerox balho de uma artista muito talentosa. du fdacma.com.ar
como sociedade, cotidiano, ecologia e histórias sempre liga- Comics Edition. ms sofiawat@hotmail.com
veganismo, sem nunca fugir da “atitude das ao amor e perdas. match.okay@hotmail.com Pequeno zine literário sofia-alvarez.blogspot.com Spellwork
mental positiva”. A partir da sétima edição, há um editorial facebook.com/saraucomicsedition fortalezense escrito Sto. André, SP – Brasil
e editado pelo Filipe Somos Vivos #8 (2011) | A5 | 40 ps. | xerox
Teixeira. Nesta edi- São Paulo, SP – Brasil
ção temos o conto #3 (2011) | A5 | 16 ps. | xerox Se você está minima-
“Revolution (ou o mente inteirado sobre
3 PERGUNTAS PARA DANIEL MELIM MST não destrói apenas pés de laranja)”, Publicado pelo co- o que acontece entre
uma história elíptica sobre amores e ideo- letivo homônimo, os fanzines brasileiros,
logias. Temos também a crônica “O Herói Somos Vivos é um certamente o nome
O Subsolo, dentre outros assuntos, tra- Além do Subsolo, o Studio 13 também já um novo projeto, sendo produzido agora Fuma” – um desabafo sobre o enfadonho zine de protesto, com Thina Curtis lhe é
ta sobre a pixação. Como é a presença publicou zines de tiras (O Robô Nunca Faz com fotos analógicas sobre locais aban- mundo politicamente correto – e a seção textos e desenhos que familiar.
do zine nesse meio? Greve). Há a intenção de expandir para ou- donados e intervenções, na região do ABC “Vox Populi”, com alguns comentários de tratam de assuntos Além de editar os zi-
DM – O zine sempre permeou esse meio. tros tipos de publicação? Quais? Paulista, falando um pouco da desindus- leitores sobre outros textos do autor. como saúde, aborto, nes Spellwork e Closer, Thina é a criadora
Seja como forma de informação, na era DM – Antes desses, o Studio 13 já editava trialização que afetou o subúrbio. E outro A escrita aqui é fluída, sóbria e livre de grafite e a busca pela do evento itinerante Fanzinada, que só em
pré-internet aqui no Brasil, ou como forma outros zines, como o Stencil Art, PlanoB e o de desenhos, mas ainda sem um projeto maneirismos, fazendo deste zine uma lei- liberdade em uma sociedade castrativa. 2011 teve 4 edições em 3 estados diferentes
de divulgar a cena. Tanto no graffiti, quanto LadoB (esse ultimo era vendido em farois, na definido. Mas a ideia é tentar editar uma tura prazerosa e marcante. A intenção é obviamente das melhores, (São Paulo, Goiás e Rio Grande do Sul).
na pixação são comuns os cadernos (bla- reigão de Mauá, pelos prórpios artistas que gama maior de fanzines e publicações in- Vale a pena também visitar o blog Eu mas ainda há bastante coisa para apri- Fanzinada também é o nome dado a um
ckbooks ou agendas) onde além de esbo- tinham seus poemas registrados no zine, sen- dependentes nesse ano. Digo Porque Vi, outro canal utilizado pelo morar. Os textos poderiam fundamentar movimentado grupo que a moça criou
ços, escritos de outras gangues e recortes do sustento destes durante um curto período). Filipe para publicar seus textos. du melhor suas argumentações e apresentar no Facebook, reunindo editores, artistas,
de jornal com alguma matéria, serve como mas eram tiragens bem baixas e de pouca di- O Subsolo # 2 abrange diversos tipos filipe_blue@hotmail.com mais cuidado com a gramática. Os dese- cartunistas e simpatizantes de diferentes
registro e arquivo sobre essa arte maldita - vulgação. O Stencil Art teve, de certa forma, de manifestações do underground ur- eudigoporquevi.blogspot.com nhos são bons, mas parecem inacabados. tendências. Não é à toa que Thina tenha
por ser uma intervenção efêmera o que fica varias aparições e circulou durante um tempo, bano, como pixação, graffiti e o punk. No geral o zine cumpre sua função. recebido o apelido de “Dona Fanzine”.
sempre são os registros. Assim o zine vem ajudando a divulgar o trabalho de um artista da Qual a importância dos zines impres- Sofia Alvarez Dispensando mais atenção aos detalhes, Pois bem, a oitava e mais recente edição
de encontro a esse tipo de arquivo próprio região do ABC, o Melim - que conseguiu vários sos para estas cenas? os próximos números certamente serão do Spellwork sinaliza algumas mudanças
do movimento. Isso possibilitou a articu- contatos e articular seu trabalho - Agora es- DM – A internet possibilitou uma conexão Sofia é uma artista co- mais eficazes no propósito de divulgar em relação às edições anteriores. Se no
lação da arte de rua entre outros estados, tamos preparando uma nova edição do Stencil maior com a toda a galera, mas também lombiana que atua nas suas ideias libertárias. du passado era possível entendê-lo como um
outros artistas, produtores, assim como a Art, que na verdade a arte já estava pronta des- criou algo meio “fast-food”, onde se conso- áreas de ilustração, somosvivos@yahoo.com.br zine gótico aberto a manifestações cultu-
divulgação no exterior, fazendo a primeira de 2009, mas foi xerocado esses dias. me informações e imagens de forma mui- design, quadrinhos rais diversas, agora a equação se inverteu.
ligação e apresentando a cena brasileira Sobre projetos futuros, queremos expandir to rápida. E o que passou, passou, poucos e animação. Ela nos Spam O espaço para a cena gótica está ali, ga-
mundo afora, atualmente considerado um essa dialética, mas acabamos sempre pas- voltam a “página”. Já o zine possibilita mandou um envelope Buenos Aires – Argentina rantido, mas diversidade é a característica
dos grandes pólos de arte urbana. sando por essas vertentes mais urbanas. Tem essa informação mais tranquila, em termos com 4 pequenos zines e.u. (2010) | 10 x 14cm | 4 ps. | xerox predominante do novo Spellwork. Assim,
de leitura e de registro. Nas paginas você de sua autoria: Fauna no decorrer de suas 40 páginas, o leitor
pode voltar, e fica tudo compilado naquela Para Tomar El Te, Fiesta de Los Animas Sabe aquele spam que encontrará entrevistas com Júlio César
edição. Outro lance é o esquema tátil que o Mutantes, Uaaargghh! e Lãs Bañistas. vira e mexe brota na Parreira (encadernador / restaurador),
zine promove e esse meio underground tem Todos no formato sanfona, coloridos e sua caixa de entrada Denílson Roque (diretor de programação
tudo a ver com a edição e leitura de zines. com tiragem limitada a 50 cópias. Os de- te convidando a do espaço Cidadão do Mundo), Sandra
senhos de Sofia têm algo de infantil, com participar de uma Coutinho (da banda As Mercenárias) e
suas linhas trêmulas e pintura que parece tresloucada operação com a banda alemã Eternal Afflict; além
ter sido feita com canetinha hidrocor. Os bancária internacio- de informações sobre o projeto Bodega
temas, no entanto, são insólitos, bizarros, nal? Pois então, Spam, do Brasil e sobre o coletivo Ativismo
studiotreze.blogspot.com e geram um leve desconforto, criando um o zine, é um livretinho com o texto inte- ABC, biografias das bandas As Diabatz e
contraste interessante. Não é exatamente gral deste e-mail, acrescido de algumas Éden, diário da passagem de Alan Wilder
um trabalho original – seu estilo se asse- fotos. Simples assim! Mais um zine com a (ex-Depeche Mode) pelo Brasil, resenha

42 UGRA PRESS 2º ANUÁRIO DE FANZINES, ZINES E PUBLICAÇÕES ALTERNATIVAS 43


O fino acabamento valorizou ainda mais Pacheco e Leonardo Melo de uma difícil ções regulares do Subterrâneo em histórias Sustentare Artzine
as fotos, com destaque para os trabalhos missão: cada um deles deveria criar um ro- separadas juntam-se a pedido de Albert São Paulo, SP – Brasil
de Mario Barbosa e Leonardo Araújo. teiro que unisse os episódios dos diferentes Einstein (ele mesmo) para ajudá-lo a com- e.u. | 10 x 10,5cm | 6 ps. | xerox
Uma novidade desta edição são as maté- personagens da publicação. As 5 histórias bater o físico Niels Henrick David Bohr,
rias escritas, como a entrevista com o gra- resultantes dessa experiência foram poste- que enlouqueceu no ano de 2742 após Mais uma publica-
fiteiro Chorão e o pixador Bio (Malditos) riormente compiladas neste volume. decifrar a teoria do campo unificado e pre- ção da Sarau Comics
e o relato sobre a história do punk no No geral, o resultado é satisfatório. As his- tende agora desestabilizar todo o universo Edition, trata-se de
ABC e dos Punk Anjos, escrito pelo soció- tórias são divertidas e convincentes, ape- e suas dimensões. Haja imaginação! du um mini-zine com
logo Miro Zagrakalin. sar de alguns momentos meio forçados. subterrâneo.zine@gmail.com temas ligados ao meio
Um digno e merecido registro para as vo- O mais interessante aqui, porém, é justa- subterraneo.zine.zip.net ambiente e sustentabi-
zes dissonantes desta região industrial. fg mente acompanhar o exercício e reparar lidade, contando tam-
studiotreze@rocketmail.com nos artifícios usados pelos roteiristas. du Sujeito Simples bém com uma poesia
studiotreze.blogspot.com subterrâneo.zine@gmail.com São Paulo, SP – Brasil de Arnaldo Antunes e Lenine e ainda a
subterraneo.zine.zip.net #1 (2011) | 10 x 10cm | 12 ps. | xerox campanha “Quem ama espera”.
Subterrâneo Para ler em menos de dois minutos. ms
São Paulo, SP – Brasil Subterrâneo Especial Este livreto, feito pela cronicas34@hotmail.com
#42 ao #44 (2011) | A6 | 4 ps. | digital São Paulo, SP – Brasil escritora Fernanda de facebook.com/saraucomicsedition
#5 (2009) | A5 | 28 ps. | offset Aragão, contém poe-
Este zine é a prova sias escritas e visuais. The Funeral of Tears
da eficácia das idéias Edição especial do A autora aproveita o Caucaia, CE – Brasil
simples. Ao invés de Subterrâneo, apre- pequeno espaço com #4 (2010) e #5 (2011) | A5 | 44 ps. | xerox
se perderem em idéias sentando uma HQ soluções criativas e
mirabolantes, os edi- longa criada a muitas combinações entre Vem do ensolarado
tores do Subterrâneo mãos: o roteiro é de palavras e imagens, que se complementam e colorido Ceará um
idealizaram uma pu- Leonardo Santana perfeitamente. dos mais renomados
blicação fácil de edi- e os desenhos são O tema preponderante é o relacionamento zines góticos brasilei-
tar, de baixo custo e que não gere sobre- divididos entre afetivo e seus momentos de encantamento, ros. Cria do incansável
carga de trabalho para nenhum membro Luigi Colafigli, Márcio Garcia, Marcos posse, ausência e desencantamento. fg Azriel, The Funeral of
da equipe. Some a isso muita dedicação e Venceslau, Paulo Mansur e Will. letracorrida@gmail.com Tears exala dedicação
um tanto de talento e temos o resultado: 7 Aqui, os personagens que povoam as edi- letracorrida.com.br e cumpre à risca a car-
anos de atividade ininterrupta, 44 edições
Víboras - A Base de Recursos Gráficos regulares, 6 edições especiais, 1 exposição
comemorativa e 1 troféu HQ Mix.
Subterrâneo é uma folha A4 impressa
frente e verso com máximo aproveita- 3 PERGUNTAS PARA HENRIQUE MAGALHÃES
do livro Só Garotos e comentários sobre Black Flag), uma entrevista com o artista mento de espaço. A cada edição publicam
a Fantasticon 2010, conto, HQ, dicas de urbano Eric Marechal e entrevista com a 4 pequenas histórias de diferentes autores
turismo (!) e as obrigatórias resenhas de banda The Pushmongos. (Luigi Colafigli, Marcio Garcia, Marcos
zines e discos. A diagramação está bonita, no estilo Venceslau e Will são “residentes”), uma Em 2005, você comentou que as gran- de zines impressos em alta e em baixa.
As entrevistas ainda podem evoluir bas- recorta e cola (mas montado em compu- ilustração ou cartum de um colaborador des editoras não percebiam o potencial Hoje, como você observa a produção
tante, propor questões que tratem mais tador), cheio de sujeirinhas pelos cantos, convidado e a seção “Boca de Lobo”, com dos fanzines como objeto de estudo. de fanzines de papel e como vê o futu-
das peculiaridades do entrevistado ao in- dando aquele velho aspecto dos zines curiosidades sobre os autores e suas cria- Como você avalia essa sua afirmação ro desse formato?
vés das genéricas “quais são as influências mais tradicionais, mas sempre com o bom ções. E ainda sobra espaço para uma capa após sete anos? HM – É muito evidente um enorme recuo
da banda” ou “cite um momento marcante senso de deixar o texto legível. caprichada e um pequeno editorial! HM – Após sete anos, nada mudou, as da produção de fanzines impressos no
em sua carreira”. Vale a pena também Um zine que deixa um gosto de “quero Os estilos dos autores/colaboradores grandes editoras continuam com a ceguei- país, ao menos no campo dos quadrinhos,
prestar mais atenção com os errinhos de mais”, o que sempre que é bom. ms diferem bastante, mas em geral estão em ra de sempre, salvo raras exceções. Acon- que mais me interessa. O termômetro des-
português, especialmente concordância. claskate@ig.com.br algum ponto entre o humor e a aventura. tece que os autores não esperam mais sa “crise” é a seção de resenhas do fanzi-
Fora esses detalhes, Spellwork é um zine arttilldeath.blogspot.com Destaco a série Franco, de Luigi Colafigli, pelo mercado para produzir seu trabalho, uma editora como a Marca de Fantasia é publi- ne “QI”, de Edgard Guimarães, que faz o
muito bacana que está trilhando novos e cuja arte lembra a do mestre Laerte. vão à luta para publicar sua obra, mesmo car só o que gosto, sem preocupação com o ta- recenseamento desses fanzines no país. A
interessantes caminhos. du Subsolo – Ruas do ABC Vida longa ao Subterrâneo! du assumindo os custos e não contando com manho do público. Para isso, sempre realço o cada número a seção encolhe mais, dando
thinacurtis@hotmail.com São Bernardo, SP – Brasil subterrâneo.zine@gmail.com retorno financeiro ou lucro. É uma espécie companheirismo dos autores, que se engajam a impressão que apenas alguns obstinados
fanzinada.com.br #2 (2011) | 14,5 x 13cm | 92 ps. | offset subterraneo.zine.zip.net de investimento na carreira, que pode dar nessa aventura sem interesses comerciais. Por e uma porção de neófitos se aventuram em
certo se o trabalho chegar ao exterior, para outro lado, o trabalho solitário e quixotesco sua produção. Já há alguns anos os fanzi-
Street Ground Segundo número do Subterrâneo Coletânea depois ser importado pelo Brasil. Temos tem seu limite logístico e chega à exaustão. O nes impressos foram perdendo o impacto,
São Paulo, SP – Brasil zine feito pelo studio São Paulo, SP – Brasil vários exemplos disso, desde “Histórias ideal seria montar uma equipe com esse mes- o charme e a sedução frente à expansão da
# 01 (2011)| A5 | 12 ps. | xerox | 13, que evoluiu em ta- e.u. (2009) | 15,5 x 11 cm | 36 ps. | offset Gerais”, de Colin e Srbek aos álbuns dos mo espírito “fanzine” para produzir os álbuns, internet e outras mídias digitais, que são
manho, qualidade de irmãos Moon e Bá. Há mentalidade mais livros e revistas por prazer, mas visando a am- muito mais ágeis, praticamente sem custo
O zine faz bem aquilo impressão e variedade Entre o número provinciana do meio empresarial deste pliação do público no sentido de dar mais visi- e cheias de recursos audiovisuais. Enqua-
que se propõe a fazer: de conteúdo. 20 e o número 24 país periférico? bilidade às obras e atingir certo grau de profis- dro-me nesses resistentes, embora sinta o
falar sobre música, São cem páginas em do Subterrâneo, sionalismo – sem a servidão do mercado. crescente desinteresse do público por esse
skate e arte urbana. papel couchê e capa os editores do zine Quais são os prós e contras de tocar tipo de publicação.
Contém matérias com em papel duro (impresso em tinta pra- incumbiram os rotei- um projeto como a Marca de Fantasia? Como pioneiro na pesquisa sobre fanzines
Raymond Pettibon teada) que trazem um rolê pelas ruas do ristas Daniel Esteves, HM – A grande vantagem de comandar no Brasil, você já presenciou a produção www.marcadefantasia.com
(o artista plástico que ABC paulista e suas várias manisfestações, Leonardo Santana,
criou as barrinhas do como a pixação, o grafitti e o punk. Harriot Junior, Eloyr

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tilha deste meio, apresentando conteúdo feito manualmente, com tiragem de cem Quando estiverem na faculdade, cer- É muito bacana quando um Os zines são feitos no formato no staples,
3 PERGUNTAS PARA equilibrado entre música, poesia, artes exemplares. tamente lembrarão com carinho deste grupo de jovens consegue uma elegante solução gráfica que permite
plásticas, cobertura de eventos e cinema. Leandro Márcio Ramos também debuta momento! ms incentivos para publicar um transformar uma folha A4 em um livreti-
JOSÉ EDILSON Muito bacana a preocupação do editor no formato, porém já compartilha seus avisofinal@gmail.com fanzine. Essa foi uma con- nho de 8 páginas e impressão de um lado
em abrir espaço para bandas de diferentes escritos há muito tempo por intermédio quista do CAST - Coletivo só da folha.
RAMOS Estados e até do exterior (caso do equa- de fanzine e blog. Suas histórias mostram Un Funzine Sin Nombre Arte Social Talismã, que O tema do zine é literatura, que aparece
toriano Hemophilia, entrevistado no #4). cenas do cotidiano, contando com muita Buenos Aires – Argentina viabilizou esse zine por in- não só em forma de poemas, mas também
A diagramação é caprichada e condizente destreza nas palavras. Dividos em três #♥ (2011) | A5 | 16 ps. | xerox termédio do programaVAI, em pequenos textos que trazem reflexões
com os temas abordados. partes (A Cidade, A Mulher e A Mágoa), da Prefeitura de São Paulo. pertinentes acerca do modo como a lite-
O que explica manter uma publica- A exemplo de vários outros zines que os contos têm pesonagens que geralmente Funzine argentino edi- O grupo faz questão de direcionar seus ratura ou a leitura são tratadas e aborda-
ção por mais de 60 edições, mesmo recebemos, o The Funeral of Tears carece vivem sozinhos e estão em busca de algo tado por Mirting que textos para valorizar os talentos locais da das em nosso país. fg
sendo um “Velho Rabugento”? de mais atenção com a revisão gramatical. que os façam felizes. apresenta uma série periferia de São Paulo e ainda sugerir e in- leticiamendoncads@gmail.com
JR – Nem eu sei explicar muito bem Para um zine que vai tão bem, vale a pena A imaginação dos personagens aliada ao de textos e desenhos centivar a mudança da realidade. Contém cincodeoutubro.blogspot.com
como o zine conseguiu se manter du- o editor atentar a este detalhe. du sarcasmo e senso de humor impagável feitos a mão, como em entrevistas, haicais, matérias em um for-
rante todo este período, mas tenho azrielgoth@hotmail.com talvez sejam os pontos mais marcantes dos uma carta. mato estilo folder, em cores. Via Universal
certeza que um dos motivos foi justa- thefuneraloftears.blogspot.com escritos deste livro. Embora o título sugira O diálogo se estabe- Uma das grandes sacadas é a seção “Onde São Vicente, SP – Brasil
mente por eu ser um Velho Rabugento. um texto denso, a leitura é muito agradá- lece entre o editor (em fica esse lugar?”, onde colocam uma foto e.u. (2010) | 10 x 21cm | 6 ps. | xerox
O VR se mantém graças à minha insa- Top! Top! vel, ao ponto do leitor se identificar com primeira pessoa) diretamente com o leitor, de um local da cidade e na edição seguinte
tisfação de ver que a arte/cultura vem João Pessoa, PB – Brasil alguns personagens. ms como numa conversa descontraída que é dada a resposta. Outra produção de Gazy
sendo tratada como algo sem valor e, #24 (2008) | A5 | 44 ps. |offset + digital ugra.press@gmail.com passa por diversos temas e pensamentos. Contam também com blog, que expande o Andraus (vide resenha
desde o número 1, tento mudar este ce- #25 (2009) | A5 | 40 ps. | offset + digital ugrapress.wordpress.com O zine celebra justamente este tipo de conteúdo das matérias do zine. ms de Cáucaso), que neste
nário com todas as minhas forças. comunicação, despretensiosa, informal e zineurbenauta@gmail.com caso foi criada no curso
Clássica publicação de Tudo Sempre Termina Com divertida, que era encontrada facilmente zineurbenauta.blogspot.com “Histórias em quadrinhos
O seu fanzine evoluiu em todos os Henrique Magalhães, Perguntas, Mas Elas Também nas cartas entre amigos. Por isso, não é de para um (re) conhecimento
aspectos nesse decorrer. Quando é a maior referência de Podem Iniciar se estranhar que este zine tenha uma lin- Velho Rabugento dessa arte imagética e seu
que chega a hora de resolver mudar zines no país. Rio de Janeiro, RJ – Brasil guagem associada à de uma carta, já que São José do Egito, PE – Brasil potencial de informação”,
o tamanho, diagramação e conteú- O Top! Top! sempre e.u. (2011) | A5 | 48 ps. | xerox zines e cartas andam juntos. #59 ao #61 (2011) | A6 | 20 ps. | digital ministrado pelo autor para educadores
do de um fanzine? destaca um quadri- E assim segue a conversa, leve e agradável, do município de São Paulo.
JR – Por conta do VR já existir há quase nista em cada edição, Sexo, relacionamento, numa ode à liberdade de se escrever sem As primeiras edições Este “HQZINE” é constituído através
8 anos já teve vários formatos, linhas apresentando uma en- abuso, consentimento, um fim específico, pelo simples prazer que do Velho Rabugento de duas ilustrações, cada uma ocupando
editoriais e números de páginas. Sem- trevista gigante e ilustrações do homena- submissão, respeito, o ato gera em si e de poder se falar sobre eram lançadas em A5, um lado de uma folha A4, onde Gazy
pre que modifiquei algo no zine foi por geado. Márcio Baraldi e Edgar Franco es- tabu. A vida afetiva as boas coisas da vida. Poético. fg até que seu editor re- expressa-se através de traços gestuais e
EU não esta contente com o andamen- tão nas edições enviadas, respectivamente. do ser humano é essa mirting@hotmail.com solveu passar para abstratos, de forma mais condensada
to do zine, na tentativa de dar um novo A única fase não-manual do fanzine é a complexa teia de o A6, que talvez seja que a habitual.
gás, principalmente para mim mesmo. impressão da capa, em offset, o restante desejos, realizações e Un Passo Más Allá o formato definitivo. O zine traz o contexto de sua produção,
E tem também o lance de novos inte- é todo feito por Henrique, utilizando a frustrações. Santiago – Chile Essa publicação está
resses e opiniões que o zineiro vai ad- mesma técnica que faz com os lançamen- Neste zine, o povo sempre inspirado do #18 (2008) | 21,6 x 16,5cm | 16 ps. | offset focada no cenário hardcore, com entre-
quirindo ao longo dos tempos... tos da Marca de Fantasia, ou seja: impres- coletivo Hurra! reúne um material que #19 (2010) | 21,6 x 16,5cm | 20 ps. | offset vistas de bandas, resenhas de discos e
Acho que no fim um zine é apenas o re- são, montagem, costura, colagem e corte. pode ajudar o leitor tanto a se livrar de textos de protestos. Visibilidad y Legitimación
flexo da personalidade de seu criador! Também inclui as seções “Chamada alguma situação indesejável quanto a se Publicação humorís- Destaque para as seções Sonidos Rabi-
Geral”, com os lançamentos da editora e tocar se não está ele mesmo protagoni- tica chilena / argen- osos, Top 5 e Faixa a Faixa, que poderiam
Além de lançar periodicamente o os recebidos via correio, e a “Lero-Lero” zando uma. du tina que completou ser fixas. As resenhas de discos também
Velho Rabugento, você ainda se que é a troca de cartas entre o editor e as carinapandora@gmail.com 10 anos de existência são boas.
dá o luxo de lançar coletâneas em pessoas que escrevem enviando material com sua 19ª edição. O zine vai seguindo no caminho certo,
CD. Para quem vive independente é ou comentando os lançamentos da Marca Último Ano no Melvin No geral, o UPMA (si- evoluindo sempre. Também foi lançada a
muito difícil ficar apenas em uma de Fantasia. ms São Caetano do Sul, SP – Brasil gla para Um Paso Más coletânea “Gritando, lutando, resistindo...”
“frente de atuação”? henriquemais@gmail.com e.u. (2011) | A5 | 12 ps. | xerox Allá) nos remete aos com algumas bandas que apareceram no
JR – É velho, como falei lá em cima, marcadefantasia.com antigos jornais e revistas satíricos como Velho. ms
não consigo me conformar como a O “tio” Renato O Pasquim, Casseta Popular, Bundas, etc. velhorabugento@gmail.com
cultura vem sendo tratada. E a minha Tudo o que É Grande se Constrói Donisete investe no Seu humor se baseia em questões políti- fotolog.com/velhorabugento
pequena contribuição para mudar isso sobre Mágoa zine como prática cas, comportamento, coisas do quotidiano
é com a distro/selo que mantenho. Na São Paulo, SP - Brasil pedagógica agora em ou proposições completamente absurdas Vestindo Outubros
minha opinião é complicado você ficar e.u. (2011) | 13,5 x 21cm | 114 ps. | outra escola, a EE e há mais ênfase nos textos do que nas São Paulo, SP – Brasil
só reclamando e não colocar a mão na digital + serigrafia Melvin Jones, na peri- imagens. Além do zine, os editores tam- #2 (2010) e #3 (2011) | A7 | 6ps. | xerox
massa para modificar aquilo que te ir- feria de São Paulo. bém são responsáveis por um programa
rita. E, no final, uma coisa acaba com- O segundo lança- Dessa vez, Renato de rádio na web e um canal de vídeos no O Vestindo Outubros
plementando a outra. mento da Ugra Press preparou com sua turma de 4ª série, uma YouTube. Vale a pena conferir. du é um “Pocket Zine”,
chega em alto estilo, fotonovela que resgata diversos momentos estadovegetalzine@gmail.com manifestação em
montado com técnicas vividos pelo grupo no decorrer do ano, estadovegetalfanzine.blogspot.com papel da união de
de costura e até silks- como recordação. dois blogs (cinco-
creen, com um resul- Aulas de Educação Física, de Matemática, Urbenauta deoutubro.blogspot e
tado final lembrando a hora do lanche, aulas de informática, a São Paulo, SP – Brasil vestindoletras.blogs-
www.fotolog.com/velhorabugento publicações antigas. As azaração, as colas durante as provas e até #1 ao #5 (2011) | 10 x 29,5cm | 8 ps. | pot) e duas escritoras,
ilustrações de Flávio Grão reforçam essa as idas ao banheiro, são alguns dos mo- offset Fernanda Aragão e Leticia Mendonça.
pegada vintage. Cada um dos livros foi mentos registrados pela turma nesse zine.

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um recurso interessante que quebra a dos tipos e temas recorrentes na obra do – falta aos zines políticos entender quem Zine Oriente
3 PERGUNTAS PARA DESALI distância entre o autor e o leitor. fg cartunista, quase todos relacionados ao são seus leitores. São os cidadãos comuns, Manaus, AM – Brasil
gazya@yahoo.com.br homem nordestino, seus hábitos, sua cul- sem familiaridade alguma com o discurso #1 (2011) | A5 | 16 ps. | xerox
tesegazy.blogspot.com tura e suas idiossincrasias. apresentado? Ou são as pessoas que já
Em seu novo livro, novamente financiado simpatizam com suas ideias? No primeiro Sem perder tempo
Víboras, a Base de pela prefeitura de Recife, Sill dá continui- caso, textos simples e objetivos talvez se- com apresentações,
Recursos Gráficos dade ao tema, mas dessa vez apostando jam uma escolha mais acertada, enquanto editoriais ou introdu-
Buenos Aires – Argentina em uma história longa e didática ao invés para o segundo caso uma argumentação ções, este zine literário
#1 (2010) | A5 | 16 ps. | xerox dos cartuns e tiras debochados que são muito introdutória não seria nada além manauara vai direto
sua marca registrada. Trata-se da biografia de mera repetição. E ainda: quão disposto ao que interessa. E o
Outro zine de artes em quadrinhos de Vitalino Pereira dos está o cidadão comum a ler um zine? que interessa a ele são
feito pela argen- Santos, ceramista popular nascido em Sendo ele o alvo, não existiriam meios textos: pequenos con-
tina Debora Paula e Pernambuco que ganhou notoriedade mais eficazes de comunicação? tos cheios de poesia, poesia pura e (nem
Ediciones de Cero. a partir dos anos 1960 com peças que Não existem respostas conclusivas para tão) simples e uma matéria sobre o Sebo
Nesta edição, a ar- retratavam o quotidiano, a natureza e os essas perguntas, mas talvez elas possam Arqueólogo, que funcionou por 9 anos no
tista explora o tema personagens do interior do Estado. ajudar editores de zines deste gênero a Centro de Manaus e encerrou atividades
(víboras) através de Com produção gráfica caprichada e a definir com clareza seus objetivos e a dar em 2011, deixando desamparada uma
desenhos, traços e característica simplicidade dos desenhos relevância a suas publicações. du legião de fiéis clientes. Os textos provém
pinceladas gestuais que evocam o uni- do Sill, Vitalino – O Menino Que Virou intervencao.fanzine@hotmail.com de autores de diversos cantos do país e
verso e ambiguidade feminina utilizando Mestre é um livro atraente e que deve forcadeexpressaohcpunk.blogspot.com surpreendem pela qualidade. A diagrama-
como elementos as cobras, suas curvas e, é cumprir exemplarmente a proposta de ção segue a tradição “tesoura e cola”, com
claro, o veneno. despertar nos jovens leitores o interesse Zine Oficial algumas colagens bem bacanas. Uma boa
O belo acabamento resulta em uma esté- pela cultura nordestina em geral e pela Brasília, DF – Brasil estréia, tomara que tenha seqüência. du
tica limpa e agradável de se ler. fg pela obra deste importante artista brasi- #33 ao #36 (2011) | A6 | 16 ps. | offset rosielmendon@hotmail.com
deborag77@gmail.com leiro em particular. du issuu.com/rosielmendonca
flickr.com/deborag sill.comix@uol.com.br A cena roqueira
Zé Buceta sillhqvitalino.wordpress.com de Brasília é cheia Zine-Zelt
Visibilidad y Legitimación de peculiaridades. Rosario, Santa Fe – Argentina
Buenos Aires – Argentina Zé Buceta Hiperativa, possui #1 (2011) | A5 | 8 ps. | xerox
Nota: optamos por publicar esta entre- possível viver de arte sem fazer con- e.u. (2011) | 11 x 14 cm | 32 ps. | offset Contagem, MG – Brasil representantes dos
vista sem revisão ou edição alguma. cessões? #3 (2009) | A5 | 34 ps. | xerox mais diversos gêneros Em agosto de 2011,
D – o grude sujo foi se esclarecendo com Compilação de ilus- e, em geral, mantém a Ana Wandzik armou
Sexo e violência são elementos cen- o tempo, cada participante dessa edicao trações que parecem 36 páginas de insa- convivência amistosa uma barraca de
trais nas histórias do Zé. O persona- atualmente vive uma vida mutavel entre a ter alguma relação nidade e subversão e integrada entre eles. Também chama camping em Rosário,
gem parece guiado apenas por seus margem e o mundo academico, o under- com a fotonovela com o sem noção Zé atenção a quantidade de festivais bem na Argentina, e a
instintos e seu comportamento está graud e a vida social estavel , criando e de- La Mars Society (veja Buceta e a recalcada sucedidos dedicados ao rock underground equipou com máquina
em desacordo com uma postura so- semvolvendo seus trabalhos a partir do que resenha na página 27). Castradora. Tudo com que existem na região. Mais legal ainda: de xerox, guilhotina,
cialmente aceitável, mas sua história e importo, como modo de sobrevivencia As imagens, criadas o certificado de garan- há um zine cuja missão é a de dar su- grampeadores, com-
é desconhecida. Quem é o Zé Buceta? atualmente nao somos um so mas varios pelo argentino Lino tia Desali, que nunca porte a esses festivais, apresentando suas putador e tudo o que fosse necessário para
D – realmente o sexo e a violencia fica Divas, retratam instantes frívolos em nos deixou na mão. programações, entrevistando as bandas fazer um zine. Além dos zines, a barraca
muito escancaradaisso e para desfocar A arte de rua tem sido progressiva- realidades muitas vezes insólitas (como Nem pense em perder. du participantes e resgatando a memória também abrigou show do Pol Nada e
o sentido real do roteiro , o ze siquinifica mente assimilada pelo circuito de arte o astronauta jogando golfe), e seu traço é odesali@gmail.com destes heróicos eventos. Esse zine é o Zine uma aula prática de pão (presumo que
o o declinio da triade familiar, pai, mae e convencional. Como você, que também espontâneo e limpo. flickr.com/odesali Oficial. utilizando a receita do zine Clase de Pan).
filho. o ze buceta e o pai a maria piroca e desenvolve um trabalho com cartazes, A edição é caprichada, com miolo em Editado pelo obstinado Tomaz André, o Zine Zelt, o zine, é um registro deste pe-
a mae e o ze maria e o filho , por isso o ze enxerga isso? papel vergê e capa impressa em um tom Zine Intervenção Z.O. já é tão parte da história do rock’n’roll culiar evento, com fotos, agradecimentos,
usa so a camisa e o tenis a maria usa so a D – os cartazes sao feitos para serem co- de roxo que casou muito bem com o cinza São Paulo, SP – Brasil local quanto suas mais expressivas bandas. anotações e ideias deliciosamente manus-
causa e o filho a roupa completa , todos os lados expostos em galerias tmbm , atual- do papel. du #1 (2011) | A5 | 24 ps. | xerox Cumpre com louvor duas funções: por um critas, coladas e xerocadas. du
tres no fim sao uma unica pessoa em crise mente desenvolvo uma serie que foca nos alvaro@big-sur.com.ar lado, ajuda a divulgar os eventos, tarefa anawandzik@gmail.com
por nao saber se adaptar a essa ideia de deputados e no prefeito aqui de bh sao big-sur.com.ar Publicação política, sempre complicada para empreitadas zinezelt.com.ar
familia. o punk junin que pixa vende- se cartazes toscos pornograficos e violentos voltada à divulgação independentes, por outro, está documen-
pelo mundo e o oporto ele ainda acredita retratando o que tem acontecido aqui em Vitalino – O Menino que Virou de ideias libertárias tando com abundância de informação a
na familia. a ideia de familia que o junin bh, esses cartazes servem como arquivo Mestre por meio de textos in- história da cena candanga. Un Funzine Sin Nombre
tem pra continuar existindo ele tem que do que acontece , importante que esses Caruaru, PE – Brasil formativos, protestos As edições que recebemos referem-se aos
vender tudo o que ja foi feito para existir fatos nao entrem no esquecimento na po- e.u. | 17 x 24cm | 90 ps. | offset e dicas culturais. festivais Quaresmada (#33), Headbanger´s
algo melhor.o joao cu manipula ambas as pulacao, que sempre que estiver esposto A qualidade do con- Attack (#34), Marreco´s Fest (#35) e
partes ze buceta eo junin , como se os dois em alguma galeria ela lembrara o que fula- Em 2009, o recifense teúdo é um pouco Retina Rock (#36), das quais destaco a
fossem duas mariones. joao cu representa no de tal fez e deixo de fazer essa serie de Sill lançou um livro irregular, apresentando textos bem edição 34, especialmente pela boa entre-
o vigia as prisoes a lei eo capital.a base de cartazes nao tem nada de subjetividade e chamado Cordel construídos (como “Partidarização e vista com Alex Podrão (vocalista da banda
tudo sao esses personagem poetica e pra toca na ferida mesmo erritar Comix, compilando Burocratização do Movimento Estudantil”, BSB-H), e a edição 36, pelo interessante
quem esta fazendo merda aqui em bh material lançado ao uma análise clara e pertinente sobre o texto “Primórdios da História Cultural do
O editorial do Grude Sujo #1 defende longo de duas décadas tema) e outros muito básicos (como “Ya Cruzeiro”. du
a arte que ousa trafegar à margem. no zine homônimo. Basta!”, sobre o direito à igualdade). zineoficialdf@gmail.com
Qual sua ambição enquanto artista? É flickr.com/odesali Publicado com verba Creio que, de modo geral – ou seja, não zineoficial.com.br
de edital, o volume apresentava um desfile me refiro exclusivamente ao Intervenção

48 UGRA PRESS 2º ANUÁRIO DE FANZINES, ZINES E PUBLICAÇÕES ALTERNATIVAS 49


O s primeiros títulos começaram a apare-
cer em 1993, época em que a produção de
zines atingiu sua melhor fase. Antes disso, não
produzir, servindo como uma boa fonte de in-
formações sobre o assunto.
As primeiras pesquisas de Olga Defavari, que
existiam publicações sobre fanzines no Brasil. E resultou em Imprensa Alternativa no ABC – A
aí surge a pergunta: quais foram as referências História Contada pelos Independentes, de 2008,
do primeiro pesquisador de fanzines brasileiro? estavam focadas nos veículos de comunicação
Henrique Magalhães, o nosso precursor sobre o mais convencionais, como jornais e revistas. No
assunto, dá uma parte da resposta na bibliografia decorrer de seu trabalho de conclusão do curso
ao final do livro O Rebuliço Apaixonante dos Fan- de Jornalismo, Olga descobriu a existência dos
zines ou seja, o autor baseou-se quase que total- fanzines e dedicou um capítulo à eles. O livro foi
mente nos próprios zines. Esse livro é uma adap- lançado por intermédio de um fundo de cultura
tação da tese Os Fanzines Brasileiros de Histórias de sua cidade, Santo André, e pode ser adquirido
em Quadrinhos: O Espaço Crítico dos Quadrinhos diretamente com a autora.
Brasileiros, que teve uma edição reduzida, resul- A editora da Universidade Federal do Ceará
tando no raro O Que é Fanzine?, da clássica série reuniu artigos sobre fanzines e publicou, com or-
Primeiros Passos da Editora Brasiliense, lançada ganização de Cellina Muniz, Fanzines – Autoria,
em 1993. Subjetividade e Invenção de Si, que mostra o zine
No ano seguinte, Bia Albernaz e Mauricio Pel- visto de diversos ângulos como: dentro de sala de
tier, empolgados com o boom de fanzines no aula, sua forma de escrita e como porta-voz do
Brasil, publicaram pela própria editora, a Arte movimento punk. Lançado em 2010, conta com
de Ler, o Almanaque de Fanzines, que mostrava textos de Gazy Andraus, Elydio dos Santos Neto,
diversos tipos e temáticas de fanzines, as especi- Ioneide Santos do Nascimento, Fernanda Meire-
ficidades, curiosidades, entrevistas e resenhas de les, entre outros. Pode ser adquirido com os res-
muitas publicações da época. O almanaque, que pectivos autores e com a organizadora.
atualmente está fora de catálogo, ilustrava frag- Alguns textos que foram resultados de pes-
mentos do cenário do tempo em que fanzines quisas em cursos de graduação, pós, doutorado e
brotavam de tudo que era canto. mestrado ameaçam em sair em formato de livro.
Vamos torcer.
Publicações Nacionais: Contando nos Dedos
Uau! Em dois anos, duas publicações sobre o as- Is that all, folks?
sunto! Começamos bem! Só começamos. De lá Para quem domina apenas a língua portuguesa
pra cá surgiram poucos livros nacionais a respei- é isso que há. Porém, se você tem alguma fami-
to. O próprio Magalhães lançou por sua editora liaridade com o inglês, existe um leque muito
Marca de Fantasia mais dois títulos de sua auto- maior de publicações que falam sobre fanzines
ria, A Nova Onda dos Fanzines (2004), A Muta- around the world.
ção Radical dos Fanzines (2005) e ainda Fanzi- Uma das primeiras publicações sobre zine foi
ne, de Edgard Guimarães, que teve sua primeira How to Publish a Fanzine, de Mike Gunderloy,
versão em formato de fanzine lançada em 2000. editor do guia de fanzines Factsheet Five. Esse

Os fanzines nas
As maiores fontes para quem pesquisa sobre livro, de 1988, hoje disponível para download,
zines no Brasil são os livros citados, além de ar- segue bem a ideia do título, explicando passo a
tigos publicados na internet, revistas e jornais. passo cada etapa da produção de um fanzine.
“As editoras comerciais ainda não perceberam a O mesmo autor lançou no ano seguinte Why

bibliotecas e nas telas


potencialidade dos fanzines como objeto de es- Publish? que reúne depoimentos de diversos edi-
tudo”, comentou Henrique Magalhães em 2005, tores sempre respondendo à pergunta que dá
e até hoje nenhuma editora “grande”, além da nome à publicação. O que resultou em respos-
Brasiliense, lançou algum livro que abordasse o tas simples, diretas e outras bastante complexas
tema. Todos os outros títulos foram publicados e longas. É curioso observar a visão de cada um
de forma independente ou por meio de projetos. sobre a criação de suas próprias publicações.
Ou seja, o “faça você mesmo”, que é lema de ban- Também disponível para download.
das e fanzines, também se estendeu aos livros. V.Vale publicou em 1996 e 97 duas edições de
Registros apontam que os primeiros fanzines surgiram Em 2006, Antônio Carlos de Oliveira lançou Zines!, que não chega a ser exatamente um livro,
pela Achiamé Os Fanzines Contam uma História mas uma espécie de revista que privilegia entre-
no Brasil na década de 1960. Porém, as pesquisas sobre Sobre Punks e que, a exemplo de Magalhães, é re- vistas gigantes com editores de zines, resenhas,
sultado da pesquisa que fez na faculdade de His- artigos, muitas fotos e ilustrações.
o assunto só começaram três décadas depois e até hoje, tória, concluída em 1993. Onde, mais uma vez, Em 2001, Stephen Duncombe, lançou a que
os fanzines serviram como as principais fontes talvez seja a mais completa pesquisa sobre zines,
para quem realiza pesquisas sobre o fanzine no Brasil, a de pesquisa para explicar a história do movimen- o Notes from Underground: Zines and the Poli-
to punk no Brasil pois, segundo o autor, as “fon- tics of Alternative Culture. Embora seja um texto
primeira dificuldade encontrada são as referências bi- tes oficiais” mostravam apenas o lado negativo mais complexo e técnico, aborda não só as carac-
e, por muitas vezes, deturpado do movimento. terísticas dos fanzines, mas também o perfil do
bliográficas disponíveis. Mesmo não saindo em “formato oficial”, a editor e o meio que o circunda, o tal do under-
cartilha Fanzines de Papel, que editei em 2005 ground. Esse livro foi lançado pela Microcosm
(com nova versão em 2007), conta um pouco da Publishing, uma importantíssima editora esta-
história dos fanzines e ainda dá dicas de como dunidense que tem em seu catálogo importantes
Por Márcio Sno

50 UGRA PRESS
títulos sobre zines, cultura alternativa, guias para Zines em movimento Existe o Vol. 2, mas ainda não tive acesso ao Algo parecido está sendo produzido pelo pes-
fanzineiros, além de camisetas, bótons, docu- Se o primeiro livro brasileiro sobre fanzines sur- material, uma vez que que ele só é distribuído soal do Stanford Zine Library, de Londres, que
mentários e, claro, fanzines. giu apenas em 1993, um documento audiovisual em formato físico. assim como Magán, está coletando depoimentos
A editora Graphia lançou em 2006 o livro só foi surgir vinte anos após a tese de Magalhães. de fanzineiros de diversos países.
mais bacana sobre zines, por sua qualidade grá- Um dos motivos que me impulsionou à pro- Zineiro é Zineiro em Qualquer Lugar Bom, esse é um pequeno apanhado das refe-
fica, proposta visual e “cara de zine”: Whatcha duzir a série Fanzineiros do Século Passado foi Como são os fanzineiros em lugares distantes do rências bibliográficas e audiovisuais que contam
Mean, What’s a Zine? – The Art of Making Zines o fato de não ter encontrado um documentário nosso país? Talvez as maiores diferenças sejam um bocado sobre os fanzines. Tenho certeza de
and Mini Comics. Mark Todd e Esther Pearl Wat- nacional que tratasse exclusivamente do assunto. o idioma e o clima. De resto é quase tudo igual. que existe um monte de materiais que não ci-
son capricharam nesse misto de livro, cartilha, O máximo que achei foram inserções do tema A bielorussa Sasha Borovikova mostra incons- tei aqui que têm igual importância. Mas já é um
almanaque, how to make... Coisa linda! em filmes como À Espera Do Carteiro, de Ali- cientemente essa semelhança em KinaZina, onde bom começo para iniciar suas pesquisas.
A inglesa Amy Spencer dedicou metade de ne Ebert e estrelado por Daniel Villaverde, Vai relata como eram as trocas de cartas e a comuni- A história dos zines continua em construção
seu livro DIY – The Rise of Lo-Fi Culture, em um Vendo! de Débora Zampier, com o zineiro Ricar- cação antes da internet, a fabricação de envelo- e sempre faltarão assuntos e pessoas para falar a
capítulo que chamou de The zine revolution. Ela do Tubá e Pro Dia Nascer Feliz, de João Jardim, pes artesanais e até o tal do “selo vacinado” (ou respeito. Você mesmo pode criar uma fonte de
exemplifica os tipos de fanzines e a sua impor- que comentam sobre zines de uma forma sucin- reciclado). O filme está disponível na internet. pesquisa, seja em formato de livro ou documen-
tância enquanto porta-voz de movimentos, ide- ta, dentro de um outro contexto. Montado em sua bicicleta, o estadunidense tário! Afinal, se ninguém faz, façamos!
ologias e vitrine para divulgar bandas novas. O Faltava ainda falar especificamente sobre o Joe Biel, (sim, aquele mesmo da Microcosm) cir-
livro, originalmente publicado em 2005, foi ree- fanzine e um pouco de tudo que o circunda. O culou pelo nordeste de seu país gravando depoi-
ditado em 2008 pela Marion Boyars. primeiro capítulo do Fanzineiros, lançado em mentos de fanzineiros, resultando em $100 and
Joe Biel e Bill Brent, via Microcosm, escre- 2011, foi batizado de Capítulo 1: As dificuldades a T-shirt. O título faz uma brincadeira com o LINKS:
veram Make a Zine! When Words and Graphics para botar o bloco na rua e a rede social analó- quanto foi gasto na primeira versão do filme lan-
Collide!, que tem a capa mais espetacular de to- gica, cujo objetivo era traçar um perfil do editor çada em 2004. Biel coloca fanzineiros para res- Cellina Muniz:
das sobre o assunto. O livro conta a tradicional de zines pré-internet, sua forma peculiar de pro- ponder perguntas como “o que é fanzine?”,“por cellina.muniz@bol.com.br
história e definição dos fanzines, dicas de como dução e os macetes utilizados para colocar a in- que fazer?”, conta um pouco da história do fan- Olga Defavari:
fazer e diagramar, além de uma vasta lista de formação para circular. Estão previstos mais dois zinato local e discute o futuro dos zines. O DVD olgadefavari@yahoo.com.br
contatos de lojas, distribuidoras, fanzinotecas, capítulos que abordarão os fanzines dentro de ainda inclui uns bônus bacanas.
eventos, revistas e zines. Por ter sido lançado em diversos aspectos. O filme está disponível para Fils de Zine é um curta francês conduzido por Achiamé:
2008, muitos dos contatos estão desatualizados. streaming e download gratuitos. Philipe Morin e produzido pelo grupo The Art achiame.com
Eis uma boa desculpa para uma nova edição re- Logo após a esse lançamento, Gladson Caldas Pack. O filme faz um apanhado rápido da histó- Marca de Fantasia:
vista e ampliada, ainda mais Biel sendo um dos documentou o clássico encontros de fanzineiros ria dos fanzines e os tipos de assuntos abordados marcadefantasia.com
sócios da editora. em Fortaleza onde foram criadas diversas Zonas nessas publicações. Uma boa oportunidade para Marion Boyars:
Também tem o polêmico Fanzines de Teal Autônomas Temporárias (TAZ) para trocarem sentir como eles são produzidos por lá. marionboyars.co.uk
Triggs, publicado em 2010 pela editora inglesa ideias, zines e fortalecerem o movimento na ci- Os hermanos de Argentina também possuem Microcosm Publishing:
Thames & Hudson. É um livrão bem colorido, dade. O resultado foi o Zine-se: Mensageiros de material audiovisual sobre o assunto. A série microcosmpublishing.com
repleto de capas de fanzines de várias épocas e Papel, que também foi o trabalho de conclusão Una Parte conta um pouco da história do punk Pez:
localidades, incluindo aí uma pincelada sobre a de curso do diretor do filme. São diversos de- naquelas redondezas, mais precisamente do que www.monmagan.com
história dos zines. Considerado polêmico, ali- poimentos com os principais personagens desse foi produzido na década de 1980. Um de seus Thames & Hudson:
ás, pelo fato da editora ter reproduzido capas de movimento e que também contam um pouco da capítulos é dedicado aos fanzines. A produção thamesandhudson.com
fanzines sem a autorização dos editores e cole- história dos próprios zines. Este importante do- caseira de Jose Saraiva é cheia de personagens, The Book of Zines:
cionadores de quem “emprestou” as imagens. In- cumento registra uma iniciativa que talvez seja além de muitas imagens de zines e, de quebra, zinebook.com
dependente disso, é um livro muito bonito. uma das mais representativas no que diz respeito canções de bandas locais. We Make Zines:
Deixando o inglês e passando para o espa- ao fanzinato nacional. wemakezines.ning.com
nhol, uma boa referência é o zine Pez, editado Por enquanto, essas são as referências que te- Na linha de frente ZineWiki:
por Mon Magán. Trata-se de uma publicação mos de produções audiovisuais que adotam os Talvez o documentário que tenha um “algo a zinewiki.com
que pesquisa cenas de fanzines de diversos luga- zines como temática. Existem algumas ameaças mais” é o Fanzini sa Marsa (Fanzines de Marte), Zine World:
res do mundo e que até o momento já mapeou as de novos documentários surgindo por aqui e al- que faz um apanhando da produção da Sérvia undergroundpress.org
Ilhas Canárias, Itália, França, Rússia, Barcelona guns outros já estão em fase de produção. nos anos 1980 e 90, quando a região vivia cons-
e Japão. Também discute o fenômeno de publi- tantes conflitos e ainda fazia parte da república Fanzines de Papel:
car, além de divulgar fanzinotecas, feiras e even- Além-mar iugoslava. Esse documentário muito bem pro- issuu.com/marciosno
tos sobre cultura independente. Todas as edições Em 2004, José Lopes registrou o tradicional en- duzido por Sinisa Dugonjic mostra o compor- How to publish a fanzine:
estão disponíveis para download gratuito. contro anual de fanzineiros em Lisboa e aprovei- tamento dos fanzines naquela época e a forma zinebook.com
Há ainda muitas publicações falando sobre tou para explicar, por meio de especialistas da como eles eram carregados de posições contra e Why Publish?:
fanzines de forma indireta, como The Encyclope- área como Geraldes Lino (uma espécie de Hen- a favor da independência do país. Também pas- zinebook.com
dia of Punk de Brian Cogan e The Philosophy of rique Magalhães português) o que é fanzine e seia pelo movimento punk e, aliás, tem uma tri-
Punk – More Than Noise! de Craig O’Hara. suas diversas formas e temáticas. DocZine Vol.1 lha sonora muito boa. À Espera do Carteiro:
Existem também alguns sites que se propõem documenta o “ouro dos loucos” de uma forma Fazendo uma busca em sites como YouTube e ninaflores.net
a discussão sobre zines em diversos aspectos, simples, mas que traça um panorama dos zines Vimeo é possível achar inúmeros documentários DocZine:
como ZineWiki, Zine World, The Book of Zines na época, com seus prós e contras, o que é algo e vídeos sobre fanzines. Com uma internet rápi- fanzinesdebandadesenhada.blogspot.com
e também a comunidade We Make Zines, com bem bacana. da, você conseguirá ver muita coisa bacana feita Fanzineiros do Século Passado:
diversos fóruns e vasto material. A internet parece sempre ser a vilã no discur- em todos os cantos do mundo. vimeo.com/marciosno
Há muitos títulos que não foram citados aqui so dos entrevistados, porém, o encontro gravado Fils de Zine:
que podem ser facilmente encontrados e adqui- mostra que muitos ainda resistem. É o primei- O que está por vir theartpack.fr
ridos em sites como Amazon, sem impostos. ro documentário lusitano sobre fanzines e ain- O espanhol Mon Magán está produzindo o do- KinaZina:
Além, é claro, das redes sociais com suas comu- da acompanha uma história em quadrinhos feita cumentário audiovisual Grapas, com contribui- archive.org/details/KinaZina
nidades específicas de todos os cantos do mundo. pelo diretor do filme. ções de todo o mundo, que discute o porquê de
se publicar fanzines.

A tentos a este fenômeno, entramos em con- própria história”.
Trabalhar
Os fanzines invadem
tato com alguns autores dos mais recentes O fanzine possibilitou aos professores em for-
trabalhos nesta área para entender um pouco mação o exercício reflexivo e também deu mar-
do interesse dos acadêmicos pelo fanzine e tam- gem à escrita autoral na condição de exercício com o fanzine
bém para divulgar os mesmos, visto que uma das formativo.
em sala de aula
as universidades
maiores dificuldades relatadas na realização des- O trabalho de Ioneide possui muita afinidade
tes estudos é justamente a falta de outros traba- com o Mestrado em Educação de Melissa Eloá
lhos acadêmicos publicados sobre o tema. Silveira Nascimento: Pedagozinando em Sala de é trabalhar
A maioria dos trabalhos acadêmicos sobre Aula: Artes de Dizer e Pedagogias de Fazer. O
fanzines aos quais tivemos acesso é da área de neologismo representa um pouco da busca de aberto para
Educação. Muito disso se deve à possibilidade Melissa, segundo suas palavras “um ato pedagó-
da aplicação dos fanzines como recurso eficiente gico que inspire a criação, a ousadia, a troca de o novo”.
de aprendizagem devido a algumas característi- idéias e a liberdade de expressão, trabalhar com
cas inerentes, como o exercício da criatividade e o fanzine em sala de aula é trabalhar aberto para Melissa Eloá
olhar crítico. Há também que se citar a influên- o novo”. A pesquisa foi realizada com alunos do
No Anuário de 2010, uma das matérias trazia como cia nesta área, dos métodos aplicados e estudos curso de Pedagogia da UERJ, que fazem fanzines
realizados e pelos professores Gazy Andraus e nas aulas do professor André Brown.
tema os fanzines na sala de aula, um fenômeno perce- Elydio dos Santos Neto. Entre as perguntas e questionamentos surgi-
Um exemplo desta influência encontra -se na das nesta pesquisa, há a de se compreender como
bido através de ações plurais que ocorrem em escolas e dissertação de Mestrado de Ioneide Nascimen- se configura a criação de fanzines em um espaço
to, Autoria, Consciência e Formação Docente: Os hegemônico de saber e também como funciona
instituições de ensino de diversos locais do Brasil. Fanzines como Recurso Formativo na Escrita de a lógica fanzinística em relações cotidianas que
Trajetórias Formativas em Formação Inicial. envolvem a verificação de desempenho (prova).
No ano de 2011, uma outra tendência que se evidenciou Ioneide utilizou o fanzine como recurso de De qualquer forma, Melissa destaca uma
formação no Curso Normal Superior propon- importante característica do fazer de fanzines,
foi a da escolha dos fanzines como tema de Trabalhos de do aos seus alunos uma investigação e refle- que é necessária e pode justificar plenamente seu
xão sobre seus próprios processos formativos e uso na formação de professores : o exercício da
Conclusão em cursos de graduação e pós-graduação. concluiu que este apresentou-se como uma rica criatividade : “Exercício da criatividade é uma
estratégia nesse sentido, “no qual os alunos exer- prática constante que será exigida no dia a dia da
citaram a narratividade de forma pessoal, singu- prática educativa, afinal de contas, o profissional/
lar e reflexiva dando significado e sentido as suas professor convive em um ambiente imprevisível,
trajetórias de formação inicial. Com os relatos, em que cada sala de aula pode ser um desafio
também evidenciamos que as escritas das nar- diário”.
rativas, possibilitaram aos interlocutores uma Já a Dissertação de Mestrado do professor
revisitação aos processos vividos ao longo de sua Hidelbrando Cesário Penteado, na área de Edu-
trajetória, bem como conhecimento de outros cação e Ciências Sociais, Fanzine: Expressão Cul-
mecanismos de escritas de si, que lhes possibi- tural de Jovens em uma Escola de Periferia de São
Por Flávio Grão litaram se reconhecerem como autores de sua Paulo, teve como foco a produção de fanzines

54 UGRA PRESS 2º ANUÁRIO DE FANZINES, ZINES E PUBLICAÇÕES ALTERNATIVAS 55


“ “
em sala de aula, principalmente para seus alunos e imagéticas da palavra, na desordem potenciali- Divulgação do Jornalismo Rock´n Roll aborda caracteríticas inerentes a este tipo de publica-
Eu já era do Ensino Médio. zada pelo choque do dado imediato da imagem, justamente este viés. ção são responsáveis por esta afinidade, como a Quero evoluir
“Vale ressaltar que não foi um projeto da esco- que se encontra a potência da utilização de fan- Neste trabalho Ricardo fez uma pesquisa possibilidade de exercitar o texto reflexivo e crí-
fanzineiro la ou afins, mas sim um entrosamento entre eu zines como articulação de fragmentos de textos sobre a evolução do jornalismo cultural rela- tico, além da possibilidade de deslocar o aluno da nessa pesquisa
e os alunos que tinham um posicionamento um e imagens no âmbito da Educação e das Artes cionado ao rock e sua inserção na mídia. Como posição de mero consumidor, para produtor ativo
desde o final pouco mais crítico em relação a temas que os Visuais.” parte final do trabalho produziu um fanzine cha- e autor de textos escritos. Como citado, porém, e chegar às
mesmos estavam inseridos enquanto jovens de A Cultura dos Fanzines no Brasil – Leitura e mado Rock aos Montes, que tinha como objetivo há de se problematizar a inserção dos fanzines no
dos anos 80 uma comunidade pobre. Eu já era fanzineiro História foi o trabalho desenvolvido por Marco cobrir a cena cultural de sua região (Montes Cla- meio escolar, tendo em vista que uma das princi- discussões
desde o final dos anos 80 e ao começar a lecionar Antonio Milani. A pesquisa enfocou fanzines ros – MG), “O fanzine serviu como potenciali- pais características destes seja justamente a mani-
e ao começar nesta escola decidi fazer esta experiência junto punks brasileiros da década de 1980 e 1990 e as zador de um tema que a mídia da minha cidade festação espontânea de seus autores. do fanzine
aos garotos e garotas sendo que alguns deles liga- relações de poder no grupo envolvido. esquece, o rock”. - Algumas características estéticas e de lingua-
a lecionar dos diretamente a atividades ilícitas como tráfico O pesquisador concluiu que o fanzine foi o O processo de pesquisa e feitura do Rock aos gem dos fanzines, decorrentes tanto de opções como objeto
de drogas e venda de armas, muitos deles hoje meio estabelecido para troca de informações e Montes fez com que Ricardo se aproximasse e se conscientes de seus autores, como por supera-
nesta escola percorrem um caminho positivo e não se identi- debates no movimento punk em todo Brasil. Os apaixonasse pelos fanzines: “Busquei mais infor- ções de questões práticas na feitura dos zines de educação e
ficam mais com o mundão, mas alguns já morre- fanzines constituíram uma verdadeira rede de mações e no fim compreendi a importância que (exemplo: os zines eram feitos com colagem na
decidi fazer ram ou estão envolvidos com o crime na região trocas de saberes de várias naturezas, ultrapas- os fanzines têm para a comunicação e, no meu época em que os computadores não eram popu- alfabetização,
de Francisco Morato”. sando muitas vezes as fronteiras nacionais. caso, para os públicos mais underground”. lares) são ricas fontes de pesquisa e campos ain-
a experiência Hidelbrando destaca como algo muito positi- Marco destaca também as disputas e debates O autor explica que sua relação com os fanzi- da poucos explorados pelos pesquisadores. que descobri
vo durante as oficinas de fanzines a quebra de que representavam as relações de poder e resis- nes despertou interesse por outros aspectos des- - Um dos motivos que fazem dos fanzines
com os garotos alguns paradigmas na relação professor-aluno. tência dentro desta rede, entre os vários grupos te tipo de publicação: “Hoje quero evoluir nessa objetos de pesquisa é o caráter de documento recentemente.”
Ainda na área da Educação, há outros traba- do cenário, como os arnacopunks, feministas e pesquisa e chegar às discussões do fanzine como histórico. O modo como retratam com rara fran-
e as garotas.” lhos com um enfoque em outros aspectos do fan- neonazistas. objeto de educação, alfabetização, etc. que tam- queza aspectos de culturas consideradas “margi- Ricardo Guimarães
zine, como a estética ou linguagem. É o caso de Uma das dificuldades apontadas por Marco (e bém descobri recentemente”. nais”, ignoradas pela grande mídia ou cobertas
Hildebrando Cesário Penteado Insensato – Um Experimento em Arte, Ciência e também por outros pesquisadores deste artigo) de modo supérfluo e estereotipado , como o caso
Educação, dissertação de Mestrado em Educação foi a dificuldade da Academia lidar com os fanzi- Considerações das culturas punk e gêneros relacionados.
de Jamer Guterres de Mello (do blog Zinescópio) nes. Mais especificamente, na área de história: “o Os trabalhos aqui apresentados são amostras de - Uma das características principais dos fan-
que propõe inovações ao tradicional pensamento tema traz dificuldades metodológicas para a his- algumas iniciativas de pesquisa e problematiza- zines é sua circulação restrita a nichos e culturas
linear na pesquisa e escrita acadêmica (e cientí- tória, uma vez que os documentos com os quais ção a respeito dos fanzines. Esse artigo, de forma específicas. Esta restrição dificulta seu acesso a
fica) na área de Ciências Humanas, com a utili- os historiadores trabalham são muito diferentes alguma, tem a pretensão de esgotar o assunto, ou pessoas que não fazem parte destes círculos cul-
zação de novas formas de fazer-sentido através dos fanzines. Os mais próximos são os jornais e de cobrir todas as pesquisas sobre o assunto. turais e gera uma das maiores dificuldades rela-
da utilização do método dos cut-ups de William revistas da mídia comercial, mas de que forma De qualquer forma, mediante as leituras des- tadas pelos pesquisadores: a do acesso às publi-
Burroughs e a estética dos fanzines: “O uso tanto alguma dão conta da abordagem necessária aos tes trabalhos, algumas colocações são possíveis cações. Esta dificuldade soma-se ao fato de haver
do fanzine quanto da técnica do cut-up possui fanzines”. de serem feitas, de modo a levantar caracterís- algum preconceito por parte do meio acadêmico
uma estratégia estética que prioriza o absurdo Uma das frentes de atuação do fanzine em ticas comuns dos trabalhos, ou até novos cami- em considerar os fanzines como publicações dig-
da narrativa fraturada na produção escrita como todo mundo é justamente cobrir a cena cultu- nhos de estudo a respeito dos fanzines: nas de serem foco de estudo ou pesquisa.
força que nos permite experimentar outras visu- ral que a grande mídia não enxerga. O Trabalho - Os fanzines têm sido bem recebidos e aplica-
alidades e conexões entre os conceitos. É na pos- de Conclusão de Curso em Comunicação Social dos no meio da educação, em todos os níveis, do
sibilidade de confundir as características textuais Jornalismo de Ricardo Guimarães, Fanzine como ensino fundamental à pós-graduação. Algumas

56 UGRA PRESS 2º ANUÁRIO DE FANZINES, ZINES E PUBLICAÇÕES ALTERNATIVAS 57


Fanzinada

Pequeno Guia de O que é: Encontro, debates, exposições, lançamentos e


shows.
Sobre: O primeiro Fanzinada aconteceu em 2011, no

Eventos Zinísticos
Espaço Gambalia, no ABC Paulista, em comemoração
ao Dia Internacional do Fanzine (30 de abril). O evento
despertou interesse de zineiros, artistas e pesquisadores e
no mesmo ano ganhou mais quatro edições: uma em Goi-
ânia, uma no vão livre do MASP e duas no Rio Grande do
Sul (Porto Alegre e Campo Bom).
Onde: Itinerante

A ssim como os próprios fanzines, entre os eventos


dedicados a eles impera a diversidade. Alguns são mais
informais e descontraídos, outros são mais sérios e reflexivos.
Quando: Não tem data certa para acontecer.
Como participar: O evento é aberto a todos que quiserem
contribuir ou participar. Acompanhe as convocatórias no
Há aqueles que privilegiam os quadrinhos e os que focam site para mais informações.
no espírito punk do “faça-você-mesmo”. Seja como for, são E-mail: oficinadefanzine@gmail.com
sempre excelentes oportunidades para ampliar contatos, URL: www.fanzinada.com.br
divulgar trabalhos e fortalecer a rede de faneditores. Fanzine Expo
Pensando nisso, fizemos um levantamento dos eventos
zinísticos que têm rolado pela América do Sul. Agora é só
encher a mochila de zines e pôr o pé na estrada!
Fanzine Expo Feira de Selos e Editores Independentes

O que é: Palestras e Feira de fanzines O que é: Feira de produções independentes.


Sobre: Com 9 anos de existência e 24 edições realizadas, Sobre: A Feira surgiu da ideia de juntar quem tem selo/edi-
Fanzine Expo é considerada a maior feira de fanzines do tora/zine para promover a produção cultural independente.
Brasil. Integra a programação de eventos como Anime Foram realizadas duas feiras em 2011 (uma em setembro, a
Dreams, Anime Friends e Ressaca Friends. Está aberta a outra em dezembro), somando quase 50 expositores e mui-
publicações de qualquer tema, mas como parte integrante ta gente interessada em adquirir materiais independentes.
de eventos voltados para o mangá, é natural que fanzines Onde: São Paulo, SP - Brasil
com esse tema tenham mais aceitação do público visitante. Quando: Por enquanto o evento se mantém esporádico
Onde: São Paulo, SP - Brasil Como participar: Selos, editoras e zineiros interessados em
Quando: Janeiro (Anime Dreams), Julho (Anime Friends) participar devem apenas confirmar presença com antece-
e Dezembro (Ressaca Friends) dência para viabilizar a organização do espaço.
Como participar: Basta preencher a Ficha de Inscrição E-mail: hello@heartsbleedblue.com
Online localizada no site do evento e efetuar o pagamento URL: www.heartsbleedblue.com
da inscrição.
E-mail: diegomaryo@saintseiya.com.br
URL: fanzineexpo.wordpress.com

[A]Mostra dos Independentes de Porto Alegre Buenos Aires Fanzine Fest Feria de Fanzines Feria de Narrativa Gráfica “ComiConce”

O que é: Exposição da fanzines, shows, palestras, O que é: Feira de fanzines O que é: Feira de fanzines, quadrinhos e ilustrações O que é: Exposições, oficinas, palestras e shows.
exibição de filmes e documentários Sobre: É um projeto que nasceu humilde, sem outra Sobre: É um evento autogestionado de convocatória Sobre: O evento visa fomentar uma instância cultural
Sobre: Surgiu em 2010 com o objetivo de movimentar a intenção que a de juntar zineiros em uma feira. Em aberta realizado mensalmente desde fevereiro de 2011. de reflexão, criação, exposição e difusão de trabalhos
cena independente da região metropolitana de dois anos de realização duplicou-se a quantidade de Além da feira, o evento também conta com workshops, gráficos, tanto os independentes quanto aqueles lançados
Porto Alegre. participantes e visitantes. Reina a diversidade entre os palestras, concursos e música. A cada edição reúne cerca por editoras. Reúne escritores, desenhistas, coloristas,
Onde: Porto Alegre, RS - Brasil tipos de publicação participantes. de 30 expositores e 200 pessoas. Está se tornando uma designers, fotógrafos e leitores, mesclando gerações a fim
Quando: Anualmente, sempre no mês de maio. Onde: Capital Federal, Buenos Aires - Argentina janela tanto para as novas gerações de quadrinistas quanto de propiciar a troca de informações entre jovens talentos e
Como participar: Basta fazer contato e enviar material. Quando: Algum sábado durante o mês de outubro. para os mais consagrados. profissionais de trajetória já reconhecida.
Aceitam sugestões de temas, palestrantes, filmes e bandas. Como participar: Participação aberta até que não haja Onde: Santiago - Chile Onde: Parque Ecuador, Concepción - Chile.
E-mail: toscotilldeath@hotmail.com mais espaço físico para mesas no local. Quando: Mensal Quando: Dias 2, 3 e 4 de março de 2012
URL: - E-mail: info@buenosairesfanzinefest.com Como participar: Aberto e gratuito para os expositores e Como participar: Participação aberta. Os interessados
URL: www.buenosairesfanzinefest.com para o público devem enviar e-mail com seus dados pessoais e o registro
E-mail: feriadefanzines@hotmail.com de seus trabalhos.
URL: www.feriadefanzines.com E-mail: comiconce@gmail.com
URL: www.comiconce.cl

58 UGRA PRESS 2º ANUÁRIO DE FANZINES, ZINES E PUBLICAÇÕES ALTERNATIVAS 59


Ugra Zine Fest Verão Revolução

O que é: Exposição, oficinas, palestras, debates, feira, O que é: Show, feira de zines e atividades contra-culturais
mostra de vídeos e shows Sobre o evento: Verão Revolução é uma idéia, um levante
Sobre: Organizado pela Ugra Press, o evento foi com organização totalmente descentralizada onde qual-
concebido para ser um pólo de fomentação e reflexão quer pessoa interessada em resgatar o espírito ativo da cena
sobre as publicações independentes, além de um espaço independente pode aderir. Para realizar um evento parti-
de confraternização entre editores, leitores e agitadores cipante do Verão Revolução, o organizador deve seguir 10
culturais. Reune nomes de destaque no meio em critérios básicos, sendo que um deles prevê que o evento
atividades minuciosamente elaboradas. deve, obrigatoriamente, ter uma feira de zines ou livros.
Onde: São Paulo, SP – Brasil Onde: Por todo país.
Quando: Anualmente, em dois dias, entre os meses de Quando: Todos os anos, de 1º de janeiro a 31 de março
fevereiro e março Como participar: Basta estar de acordo com os critérios
Como participar: Todas atividades, com exceção dos estipulados (visite o blog para mais informações) e entrar
shows e das oficinas, são gratuitas. As inscrições para as em contato.
oficinas devem ser feitas com antecedência por e-mail. E-mail: antifest2010@gmail.com
E-mail: ugra.press@gmail.com URL: veraorevolucao.wordpress.com
URL: ugrapress.wordpress.com
Buenos Aires Fanzine Fest

Mostra EDITAR de Publicações Independentes Mostra de Fanzines Casa do Adolescente Zine-se Zine Expo

O que é: Exposição / mostra com ênfase em publicações O que é: Exposição, palestras e workshop O que é: Troca, venda, distribuição e exposição de zines. O que é: Feira de quadrinhos
de distribuição gratuita Sobre: A Mostra é fruto do trabalho desenvolvido pela Sobre: Tradicional evento que completa 10 anos de exis- Sobre o evento: Fundada em 2009 por um grupo de qua-
Sobre: Idealizado pelo editor do Feira Moderna Zine, o equipe multidisciplinar que realiza a Oficina de Fanzine tência em 2012 e acontece geralmente em algum espaço drinistas independentes, a Zine Expo hoje é referência
evento tem como intuito reunir publicações indepen- nas Casas do Adolescente I, II e III. Com o grande nú- público da cidade. Informal e descentralizado, no Zine-se quando se trata de novidades, especialmente no segmento
dentes dos mais variados estilos, promovendo a integra- mero de publicações concluídas, surgiu a necessidade de todo mundo é convidado e anfitrião ao mesmo tempo! de mangá. Organizam áreas especiais em eventos no Rio de
ção não somente entre seus responsáveis, mas também organizar uma exposição e de transmitir o conhecimento Onde: Fortaleza, CE – Brasil Janeiro onde trabalhos de todo Brasil são expostos e colo-
chamando a atenção do público, principalmente o mais dessa cultura por meio de palestras e workshops. Quando: Foi mensal por 6 anos, depois espaçou-se e voltou cados à venda. Também prestam auxílio a novos editores.
jovem, para as publicações independentes em formato Onde: Centro Histórico e Cultural de Itapetininga – a ser mensal em 2012. Onde: Rio de Janeiro, RJ – Brasil
impresso. Itapetininga, SP – Brasil Como participar: Comparecendo, de preferência com zi- Quando: Em julho e dezembro dentro do evento Anime
Onde: Marica, RJ – Brasil Quando: A primeira edição aconteceu entre os dias 16 e 23 nes. Quem não reside em Fortaleza pode mandar suas Family e outras 3 vezes ao ano em datas variadas dentro do
Quando: Sem periodicidade definida. A mostra faz parte de novembro de 2011. Em 2012, deve acontecer em março publicações pelo correio. Os interessados podem também evento Anime Wings.
da programação dos eventos organizados pela Latitude e em julho. ajudar a divulgar fazendo sua própria versão do cartaz ou Como participar: Basta entrar em contato pelo e-mail e en-
Zero Produções. Como participar: Aberta à participação do publico. São webflyer. viar o trabalho para uma breve avaliação. Não há restrições
Como participar: Basta enviar material para Caixa Postal enviados convites à escolas e projetos sociais. E-mail: zinetecadefortaleza@gmail.com de gêneros.
100075, Niterói/RJ CEP 24 020 971 A/C: Rafael A. E-mail: cda_itape2@hotmail.com URL: esputinique.wordpress.com E-mail: zineexpo@gmail.com
E-mail: latitudezeroprod@yahoo.com.br URL: – URL: zineexpo.blogspot.com
URL: www.feiramodernazine.com

Programa de Formação em HQ e Zine Seminário Cabeças de Papel Zine Zelt

O que é: Programa de formação O que é: Mesas com debates e partilha de experiências; ofi- O que é: Uma “casa de cópias sem dono”
Sobre: Organizado pelo professor, pesquisador e zineiro cinas, exposição e Zine-se de encerramento. Sobre: Por dois dias, em agosto de 2011, Ana Wandizk con-
Gazy Andraus, o evento levou a educadores e interessados Sobre: Idealizado e realizado por membros da ONG ZIN- verteu uma antiga barraca de camping num espaço para
a discussão e a formação da cultura das histórias em qua- CO - Centro de Estudo, Produção e Documentação, o exposição, confecção e reprodução de fanzines. Chamado
drinhos e dos fanzines através de debates, palestras e mini- evento teve 3 edições até agora: a primeira em 2005 com Zine Zelt, o espaço surgiu com a proposta de sociabilizar
-cursos oferecidos por autores e pesquisadores renomados. o tema “Zines e Protagonismo”, a segunda em 2007 com o uma coleção bem grande de fanzines em um formato de
Não há previsão de que o evento volte a acontecer em 2012. tema “Zines e Educação” e a terceira em 2011 com o tema reunião experimental que pode tomar formas distintas.
Onde: Centro Cultural da Juventude Ruth Cardoso – “Zines como Patrimônio Material e Imaterial”. Durante todo o ano o acervo pode ser consultado no Club
São Paulo, SP – Brasil Onde: Fortaleza, CE – Brasil Editorial Rio Paraná, também em Rosário.
Quando: Aconteceu de março a setembro de 2011, mais a Quando: Inicialmente era bienal. Após uma pausa de 3 Onde: Rosario, Provincia de Santa Fé – Argentina
palestra de Sérgio Macedo em outubro. anos, pretende agora ser anual. A próxima edição está pro- Quando: Não há periodicidade definida.
Como participar: Programa aberto a jovens e adultos, com gramada para novembro de 2012. Como participar: Os interessados podem enviar suas publi-
participação gratuita por inscrição. Como participar: Datas, programação e instruções de ins- cações para a coleção e para o diretório online.
E-mail: gazyandraus@yahoo.com crição são informadas no blog do evento. E-mail: anawandzik@gmail.com
URL: www.ccjuve.prefeitura.sp.gov.br E-mail: zinetecadefortaleza@gmail.com URL: www.zinezelt.com.ar
URL: cabecasdepapel3.blogspot.com

Ugra Zine Fest

60 UGRA PRESS
Transformando velhas caixas de papel
em um lugar chamado Zineteca

O primeiro arquivo parti-


cular de zines que vi foi o
do Weaver Lima, que apareceu
Esputinique, sentindo um ca-
lor no peito e uma energia in-
crível por dormir ao lado de
num ensaio da minha banda, tanta gente-em-versão-papel.
em 1996, com uma pilha deles. Lia tudo e espirrava, e fazia co-
Essa pilha morou umas sema- nexões entre autores, cidades,
nas dentro de uma gaveta vazia cenas, temas, etc. Tive insights
no meio da sala onde ensaiáva- incríveis e o sentimento de fa-
mos, no apartamento desocu- zer parte de uma grande rede
pado do meu avô. Weaver fazia invisível se fortalecia a cada
parte dos Seres Urbanos (com sessão de leitura.
o Lupin, Marcílio, Michel, Pois agora multiplique essas
Galba e Elvis) e mantinha cor- sensações e vamos adentrar
respondência com zineiros de uma zineteca. Visitei algumas:
todo o Brasil. Foi nessa épo- Fanzinothéque de Poitiers,
ca que li/vi zines do Bruno na França e duas inglesas, a
Privatti, Mini Bittercourt, 56a Infoshop, e a Woman´s
Leonardo Panço, Joacy James, Library. Puxa, há vida/obra
Alberto Monteiro, Law Tissot, além, mas não só, há vidas/
entre muitos outros. obras entrecruzadas e dispos-
Comecei minha coleção com tas de forma organizada para
meus próprios zines a partir de quem mais quiser chegar e des-
então, depois com os zines coletivos das oficinas e com os zines cobrir/ler de pertinho. E tem mais: tem gente que se dedica a tor-
que começaram a pipocar loucamente a cada Zine-se (dá pra saber nar tudo isso possível. É incrível!
mais sobre esse evento em outra página do Anuário, acho!). Daí, Desde 2004 pensamos a criação da Zineteca de Fortaleza, pro-
escrevendo o Esputinique, zine-catálogo, montei um esquema de cesso coletivo que do ano passado pra cá está deslanchando, ainda
correios que quadruplicou o acervo. mais depois do seminário “Cabeças de Papel 3”, quando consegui-
Logo estava ganhando acervos alheios. Gente que cresce, se mos juntar 30 pessoas durante um sábado inteiro pensando for-
muda, viaja, muda de interesse... ou não. Quando alguém doa uma mas possíveis de estruturar, manter, financiar, organizar, abrir ao
caixa de zines, sublinha a importância do acervo, diz: “Mesmo que público, articular ações... para esse lugar que será de leitura, pro-
não precise mais estar comigo, que esteja num lugar bacana”. E a dução, pesquisa, encontro, re-encontro, estalos e luzes acendendo
idéia que se tem desse lugar bacana geralmente se inicia com a pelo lado de dentro da cabeça de quem entra.
imagem de alguém, com um nome. Fulano gosta tanto de zine, Carolina Ruoso, cearense agora morando na França, enquanto
fulano guardará bem, e vai evoluindo para fulano pode fazer algo termina o doutorado em História da Arte, às vésperas do seminário
com isso, fulano pode redistribuir, fulano pode mostrar pra mais “Cabeças de Papel 3” nos presenteou com um texto em que reflete
gente, fulano pode usar em oficinas. sobre zines como patrimônio material e imaterial. Ela questiona o
Mas aí pode não ser mais apenas o barato de um fulano. Abrir que faz os zineiros (ou ex-zineiros) montarem zinetecas, abrirem
um acervo ou um conjunto de acervos de zines é criar outra coi- seus arquivos ou mesmo mantêlos em suas casas, naquelas famo-
sa: uma zineteca. Trata-se de criar e executar política pública, seja sas caixas de resmas ou de sapatos. Seria o medo do esquecimento?
isto feito dentro de um governo ou não. Talvez exista uma parte Saudosismo? Não, mas para viver juntos outro tipo de experiência
íntima de todos nós que transborde nos zines e que seja, de algum com zines e nossas identidades, completo eu, tão mutantes quan-
modo COMUM. Não no sentido de ordinário, sem importância, to eles.
pelo contrário, trata-se de algo tão essencial em todas essas vidas – Zines como patrimônio de fronteira, já que não são apenas obje-
pedaços de vidas – gravados em páginas de zine que por isso mes- tos, mas sim uma prática. Uma experiência. Sim, estamos entrando
mo é valioso: por ser comum a todos nós. numa parte da história também tão divertida quanto chamar ami-
Para quem vive o universo dos zines com intensidade – seja gos pra fazer um zine, que é chamar para inventar uma zineteca.
como leitor ou autor ou os dois – estar frente a um arquivo parti-
cular de zines é um deleite. Lembro quando, em 2002, busquei na
casa do George Frizzo (então músico da Insanity e editor do zine Fernanda Meireles é zineira desde 96, agora estuda a correspondência entre zinei-
Consumatum Est) uma caixona de zines. Mal podia esperar para ros no mestrado em Comunicação Social pela UFC e planeja a Zineteca de Fortaleza
chegar em casa e abrir, ia espiando entre sinais vermelhos. Depois com um grupo de ninjas – que às vezes se denomina ONG ZINCO – Centro de Estudo
essa caixa morou ao lado da minha cama enquanto escrevia o zine Pesquisa e Produção em Mídia Alternativa.

62 UGRA PRESS

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