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Observatório de Favelas 24/11/11 10:33

Consciência Negra - 23/11/2011 15:00


A cor da pele nos índices da educação no Brasil
Silvana Bahia (silvana@observatoriodefavelas.org.br)
A educação é uma das ferramentas, talvez a mais importante delas, para o desenvolvimento de uma nação. Os países
mais desenvolvidos são aqueles que têm um alto investimento na formação populacional. Investimento esse que
ajuda a construir um país com menos desigualdade social e econômica, pois é comprovado que pessoas com maior
nível de escolaridade são melhor remuneradas. No Brasil, a taxa de analfabetismo teve uma redução de quatro
pontos percentuais conforme informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no Censo 2010. O país
tem 14 milhões de analfabetos com 15 anos ou mais, representando 9,63% nessa faixa etária.

Entre brancos, negros e pardos a desigualdade por cor ainda existe em


número bastante elevado no que se refere a educação. As taxas de
analfabetismo das pessoas de 15 anos ou mais de idade é de 13,3% para a
população de cor preta, de 13,4% para os pardos contra 5,9% dos brancos, ou
seja, a taxa de analfabetismo dos negros é mais que o dobro em relação à
dos brancos. Ainda de acordo os dados do IBGE mais de 60% dos jovens entre
7 e 14 anos que não frequentam a escola são negros.

Nas universidades a desigualdade não é diferente. Os negros ainda são


minoria nas universidades brasileiras mesmo com programas como o Prouni -
Programa Universidade para Todos – e o sistema de cotas, que pressupõem
Acesso à educação é mais difícil
uma diminuição nesses índices. O IBGE informou que em 2009 62,6% dos
para a população negra. Foto:
estudantes brancos estão cursando o nível superior contra 31,8% de pardos e
Imagens do Povo
28,2% de pretos.

As represtações da história oficial contada nos livros didáticos coloca o negro num lugar submisso, conformado e
incapaz; o que não corresponde com a real importância destes atores sociais na construção da história do Brasil.

O africano sequestrado de seu território, o guerreiro que recriou sua cultura e lutou por sua liberdade; as vitórias
dessas lutas, e principalmente a resistência desse povo que construiu nossa nação foi negligenciada. Essa distorção
de um passado distante reflete em nosso cenário atual, resultando na criação de uma lei que atendam essa demanda
social e ajude a diminuir as diferenças apontadas nos índices acima. A Lei 10.639, assinada em 2003, pelo ex-
presidente Luiz Inácio Lula da Silva (alterada pela Lei 11.645/08 que reivindica as mesmas medidas para ensino da
História e Cultura indígena) determina a obrigatoriedade do ensino de “conteúdos referentes à História e Cultura
Afro-brasileira sejam ministradas no âmbito de todo o currículo escolar”.

A aplicação da Lei 10.639/03 hoje

Mesmo tendo sido aprovada há oito anos, a lei encontra várias barreiras para sua aplicação, que são tão invisíveis e
subjetivas quanto as diversas formas que o racismo se apresenta. A falsa democracia racial, que começa pela
negação da existência do racismo ainda latente no Brasil, racismo este que se mostra na maioria das vezes de forma
mascarada, torna o assunto mais difícil de ser discutido e, conseqüentemente, combatido. A luta para uma
sociedade menos desigual onde à educação de qualidade esteja disponível para todos está apenas começando.

Heber Fagundes, membro do Conselho Geral da Uneafro - União de Núcleos


de Educação Popular para Negras/os e Classe Trabalhadora -, conta que
apenas 10% dos municípios de São Paulo, fazem um trabalho de formação
para a aplicação da lei. O conselheiro crê que o grande problema para a
aplicabilidade é o preconceito. “O racismo embutido na sociedade coíbe que
as secretarias façam os trabalhos de formação com os docentes. A escola é o
reflexo da sociedade, ela transmite tudo o que a sociedade faz aqui fora e
deveria ser o contrário. O racismo que está na sociedade acontece de forma
muito maior e sutil nas escolas. As universidades também não estão
cumprindo seu papel, do ponto de vista de formar professores em cursos de
extensão, cursos de pós-graduação na área de História e Cultura Afro-
"A escola é o reflezo da
brasileira e Africana” aponta. Ainda segundo Fagundes, em São Paulo não
sociedade", afirma Heber
acontece um seminário de formação voltada para implentação da Lei
Fagunder, da Uneafro. Foto:
10.639/03 há mais de seis meses.
Divulgação
O Ministério da Educação, através da Secretaria de Educação Continuada,
Alfabetização, Diversidade e Inclusão (SECAD), desde 2004, vêm realizando ações que envolvem políticas de
reparações e de reconhecimento e valorização da história, cultura e identidade dos negros. “Estas políticas estão
fundamentadas na educação para as relações étnico-raciais, a qual impõe aprendizagens entre negros e brancos,
trocas de conhecimentos, quebra de desconfianças, projeto conjunto de sociedade com maior justiça, igualdade,
equidade e reconhecimento da diversidade” como informou a assessora de comunição do SECAD, Luciana Yonekawa.

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Desde 2004, existe uma produção de materiais didáticos que contam a História do negro não apenas como escravos,
ou situações de derrotas como aparecem nos livros escolares tradicionais. No entanto, essas publicações que estão
disponíveis no site do SECAD, não tem tido ampla aplicabilidade na maioria das escolas e universidades do país. Seja
pela falta de orientação e incentivo da coordenação, passando pela falta de interesse e preconceito do corpo
docente. A formação para os profissionais da área de educação é imprescindível para a queda do preconceito e
construção de uma nova pesquisa metodológica para a abordagem do tema: um novo olhar sobre a trajetória do
africano no Brasil.

Foco no ensino e na produção de material pedagógico

O Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (IFRJ), no campus de São Gonçalo, o desde 2010, oferece a
pós-graduação no Ensino de História e Cultura Africana e Afro-Brasileira, que tem como objetivo formar educadores
para aplicabilidade da Lei 10.639/03 e estimular a produção de material pedagógico. O Curso de Pós é a
consolidação de um projeto de implementação de ações na área das relações étnico-raciais, visando colaborar
sobretudo na formação de profissionais da educação, iniciada primeiramente na área da extensão comunitária com o
Curso Brasil e África em Sala de Aula cuja primeira turma aconteceu em 2009, estando agora na sua 4a edição.

A coordenadora da especialização Lato Sensu do IFRJ, Dra. Janaína Oliveira,


contou que apenas a pós-graduação do CEFET Celso Sucow, que assim como o
IFRJ, tem ênfase nas “Relações Étnico-raciais”, englobando também a questão
do ensino. “Quando começamos a elaborar o projeto pedagógico deste curso
de especialização, fizemos um levantamento dos cursos existentes no Estado
do Rio de Janeiro e vimos que a maior parte deles se dedicam ao estudo da
História da África propriamente dita” completou a coordenadora.

O processo seletivo é feito através de edital público e a seleção para a segunda


turma está em processo. O curso é totalmente gratuito, somente a inscrição no
processo seletivo é paga. Janaína Oliveira, coordenadora
do curso de pós-gradução de
No dia 12 de dezembro, o IFRJ realizará o I Encontro de Educação e Relações Ensino de História e Cultura
Étnico-Raciais em São Gonçalo, das 9h às 20h, com palestras, mas também Africana e Afro-Brasileira. Foto:
com oficinas visando não apenas refletir mas contribuir para a elaboração da Arquivo Pessoal
práticas pedagógicas aplicáveis no cotidiano da escola. Este encontro tem
como público-alvo principal profissionais e estudantes de graduação da educação. As inscrições para o seminário
serão feitas pelo email: neab.ifrj@gmail.com.

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