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O editorial da edição da Nature de 7 de julho de 20161 traz um dado peculiar: “de acordo com
estatísticas frequentemente citadas que deveriam ser verdadeiras, mas provavelmente não são,
o número médio de pessoas que leem uma tese de doutorado do início ao fim é 1,6, e isso
inclui o autor”. O texto prossegue questionando qual seria o número de teses que o
pesquisador típico – e leitor da Nature – teria lido por inteiro. Segundo o editorial,
possivelmente não chegaria à marca de 1,6. O volume de teses, entretanto, vai continuar a
aumentar, uma vez que milhares de candidatos a títulos de mestre e doutor em todo o mundo
enfrentarão este rito de passagem que é a porta de entrada para o mundo acadêmico ou o
mercado profissional. O Banco de teses e dissertações da Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior (CAPES), órgão do Ministério da Educação, registra 901.096
documentos desde 1987 até agosto de 2016.
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08/03/2018 Teses e dissertações: prós e contras dos formatos tradicional e alternativo
Tendo em vista este cenário, todos têm a ganhar se as teses e dissertações forem concisas e
objetivas. Informação da maior base de dados de teses de doutorado, ProQuest, situada em Ann
Arbor, Michigan, EUA, indica que o número médio de páginas de uma tese aumentou de cerca
de 100 nos anos 1950 para ao redor de 200 atualmente, fato mencionado no artigo de Julie
Gold na Nature2. Evidentemente, o número de páginas não é proporcional à qualidade ou
originalidade do trabalho, mas, a despeito disso, é difícil conscientizar os estudantes a reduzir o
volume das teses, o que as tornaria mais fáceis de escrever, ler e avaliar.
Se a tese propriamente dita tem estrutura semelhante em muitos países, há uma grande
diversidade na forma como ela é avaliada e o candidato arguido. A defesa de tese, viva voce (em
latim) ou defence (em inglês) tem diferentes formatos nos países. Na Holanda, a defesa conta
com vários examinadores e uma breve apresentação do trabalho pelo candidato, sendo aberta
ao público. Na Austrália, o volume impresso da tese é encaminhado aos examinadores, que
fazem comentários por escrito e a retornam ao candidato. Ele ou ela fará uma apresentação
mais tarde, mas esta não influirá no resultado final. No Brasil, há instituições que conduzem
defesas de tese abertas ao público, outras que o fazem em uma sessão que inclui apenas o
candidato, o orientador e a banca examinadora.
Esta modalidade é vista com bons olhos por pesquisadores e estudantes, uma vez que estimula
a publicação de artigos e é menos trabalhoso que redigir 200 páginas de uma tese. Não que
publicar artigos em periódicos seja tarefa fácil, longe disso. A comunidade acadêmica,
principalmente de países em desenvolvimento, faz um esforço significativo para escrever e
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No Karolinska Institute em Estocolmo, Suécia, a maior parte das teses é uma compilação dos
artigos publicados pelos alunos seguidos de uma discussão, em um volume de não mais de 50
páginas no total. Na visão dos dirigentes desta instituição, a publicação deve ser uma parte
relevante do treinamento acadêmico de mestrado e doutorado, uma vez que capacita os
candidatos para ingressar na carreira de pesquisador. Outros, entretanto, como Jeremy Farrar,
diretor de pesquisa em biomedicina do Welcome Trust em Londres, Reino Unido, temem que a
ênfase dada à publicação de artigos durante a pós-graduação limite o foco do doutorado a uma
mera fábrica de artigos. Ademais, os tempos para redação, submissão e avaliação por pares dos
artigos podem não coincidir com os prazos para apresentação e defesa da tese. Neste sentido, é
extremamente oportuno o comentário de Joy Burrough-Boenisch de Renkum, Holanda4. Ele
aconselha informar editores e pareceristas, e até mesmo revisores de idioma, de que aquele
artigo será avaliado como parte da obtenção de um título acadêmico, o que pode influir nos
prazos e na forma como a avaliação por pares é conduzida.
De qualquer forma, defensores ou não do formato alternativo concordam que artigos são mais
lidos e citados, e teses que permanecem apenas nas prateleiras das bibliotecas e não são lidas
ou consultadas não tem razão de ser. Entretanto, muitos pesquisadores afirmam que suas teses
de mais de 20 anos atrás ainda são lidas e consultadas por estudantes e pesquisadores recém-
ingressados em seus laboratórios. O editorial do número da Nature1 que discute o tema do
formato das teses parece captar o sentimento dos candidatos ao dizer que “os estudantes em
processo de escrever uma tese estão em maus lençóis: perdidos em informação, oprimidos pela
literatura, bloqueados para escrever a próxima frase, seduzidos pela procrastinação e se
perguntando por qual motivo decidiram se submeter a esta tortura”.
Qualquer que seja o formato da tese, a avaliação por uma banca de examinadores é primordial
para a outorga do título. Em Israel, por exemplo, a defesa é opcional, e poucos estudantes
optam por realizá-la. Como comentamos acima, na Holanda é um processo formal e aberto,
enquanto que no Reino Unido, trata-se de um evento reservado apenas ao candidato e
examinadores. Na Austrália, principalmente por razões de logística e custos, não existe uma
defesa propriamente dita, a tese apenas é entregue aos examinadores, que a retornam com
comentários. Ademais, os adeptos deste processo afirmam que a defesa oral raramente muda o
resultado do doutorado. De fato, as instituições preferem não reduzir o número de doutores e
mestres, que pesam positivamente nos rankings universitários. Além disso, é realmente pouco
provável que um candidato que tenha percorrido todo o processo – assumindo que haja
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Quanto à avaliação do candidato a um título acadêmico cabe citar Tilghman, que afirma ser
apenas possível avaliar realmente um estudante na reunião dos 25 anos de sua turma de
universidade. “Ao final, a única forma de avaliar os egressos de um programa de pós-graduação
é saber se se tornaram cientistas de sucesso. Se forem bem sucedidos, foi feito um bom
trabalho, caso contrário, não”.
Notas
1. The past, present and future of the PhD thesis. Nature. 2016, vol. 535, nº 7610, pp. 7-7. DOI:
10.1038/535007a
2. GOLD, J. What’s the point of the PhD thesis? Nature. 2016, vol. 535, nº 7610, pp. 26-28. DOI:
10.1038/535026a
3. Resolução CoPGr 6875, de 06 de Agosto de 2014. Universidade de São Paulo. 2014. Available
from: http://www.leginf.usp.br/?resolucao=resolucao-copgr-6875-de-06-de-agosto-de-2014
4. BURROUGH-BOENISCH, J. PhD thesis: Being more open about PhD papers. Nature. 2016, vol.
536, nº 7616, pp. 274-274. DOI: 10.1038/536274b
Referências
BURROUGH-BOENISCH, J. PhD thesis: Being more open about PhD papers. Nature. 2016, vol.
536, nº 7616, pp. 274-274. DOI: 10.1038/536274b
GOLD, J. What’s the point of the PhD thesis? Nature. 2016, vol. 535, nº 7610, pp. 26-28. DOI:
10.1038/535026a
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Resolução CoPGr 6875, de 06 de Agosto de 2014. Universidade de São Paulo. 2014. Available
from: http://www.leginf.usp.br/?resolucao=resolucao-copgr-6875-de-06-de-agosto-de-2014
The past, present and future of the PhD thesis. Nature. 2016, vol. 535, nº 7610, pp. 7-7. DOI:
10.1038/535007a
Links externos
ACOLA – <http://www.acola.org.au/>
CAPES – <http://www.capes.gov.br/>
FAPESP – <http://www.fapesp.br/>
Sobre Lilian Nassi-Calò
Lilian Nassi-Calò é química pelo Instituto de Química da USP e
doutora em Bioquímica pela mesma instituição, a seguir foi
bolsista da Fundação Alexander von Humboldt em Wuerzburg,
Alemanha. Após concluir seus estudos, foi docente e
pesquisadora no IQ-USP. Trabalhou na iniciativa privada como
química industrial e atualmente é Coordenadora de
Comunicação Científica na BIREME/OPAS/OMS e colaboradora
do SciELO.
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