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Mandi-Pintado

Uma espécie com potencial de


cultivo para o rio Iguaçu
Roberto Requião de Mello e Silva
Governador do Estado do Paraná

Lygia Lumina Pupatto


Secretária da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior – SETI

Alcibíades Luiz Orlando


Reitor da Unioeste

José Dilson Silva de Oliveira


Diretor Geral da Unioeste Campus Toledo

Wilson Rogério Boscolo


Líder do GEMAq
Aldi Feiden
Wilson Rogério Boscolo

Mandi-Pintado
Uma espécie com potencial de
cultivo para o rio Iguaçu
Fábio André Manz
Diretor da Editora

Conselho Editorial
Instituto Água Viva/GFM
Fábio Bittencourt, Zootecnista - Presidente
Instituto Água Viva
Adilson Reidel, Engenheiro de Pesca
Instituto Federal do Paraná Campus Foz do Iguaçu
Altevir Signor, Engenheiro de Pesca
Instituto Água Viva
André Gentelini, Engenheiro de Pesca
Universidade Federal de Alagoas Campus Polo Penedo
Josemar Raimundo da Silva, Economista
Universidade Estadual do Oeste do Paraná Campus Toledo
Wilson João Zonin, Engenheiro Agrônomo
Universidade Estadual do Oeste do Paraná Campus Marechal Cândido Rondon
Rafael Lazzari, Zootecnista
Universidade Federal de Santa Maria CESNORS
Alberto Feiden, Engenheiro Agrônomo
EMBRAPA Pantanal

Guilherme Levinski Marins


Análise e Revisão do Texto
Carlos Eduardo Almeida Trage
Projeto Gráfico e Capa

GFM Gráfica e Editora Ltda


Editoração
Marilene de Fátima Donadel
CRB 9/924
Ficha Catalográfica

Mandi-pintado : uma espécie com potencial de cultivo para o


M272 rio Iguaçu / organização de Aldi Feiden, Wilson Rogério
Boscolo; análise e revisão do texto de Guilherme
Levinski
Marins. – Toledo : GFM Gráfica & Editora, 2010.
98 p. ; il. ; tab.
ISBN: 9788560308095

1. Aqüicultura 2 Peixes de água doce - Criação 2. Peixes –


Criação – Iguaçu, Rio – Paraná (Estado) 3. Mandi-pintado (Peixe)
– Reprodução 4. Piscicultura – Criação e manejo 5. Tanques rede
I. Feiden, Aldi, Org. II. Boscolo, Wilson Rogério, Org.

CDD 20. ed. 639.3752

Agradecimentos
Ao MDA/PRONAF – Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar, pelo apoio ao projeto
de extensão que deu suporte a esta publicação.

À SETI – Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, pelo apoio aos projetos de
pesquisa e desenvolvimento tecnológico que permitiram o desenvolvimento dos produtos derivados de
peixes cultivados.
Dedicatória
Prefácio
Apoiar projetos para criar uma base técnico-científica estadual que
contribua para o desenvolvimento da sociedade paranaense é parte das políticas
públicas desenvolvidas pela Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino
Superior – SETI. Por meio da Unidade Gestora do Fundo de Ciência e Tecnologia e
da Fundação Araucária, a SETI apóia projetos que buscam aliar o conhecimento
gerado nas Instituições de Ensino e Pesquisa do Estado com as práticas
empreendedoras dos setores econômicos e sociais paranaenses.
Exemplo disso é o presente texto, resultado do trabalho de nossos
pesquisadores.
Um belo manual para conhecer, entender hábitos e a biologia de um
peixe que pertence a uma das três principais espécies nativas com potencial de
cultivo na bacia do rio Iguaçu.
Os autores descrevem minuciosamente como selecionar, manter e
reproduzir o chamado mandi-pintado, mesmo nas condições adversas ao seu
ambiente natural quando é cultivado em cativeiro. Assim, compartilham o
conhecimento acadêmico com aqueles que desejam iniciar-se, ou com aqueles que
têm na atividade pesqueira seu empreendimento, seja ele de mera subsistência ou
gerador de emprego e renda. Para aqueles que querem investir na atividade, os
detalhes expostos no livro são de enorme clareza, de modo a oferecer informações
absolutamente necessárias para suas análises quanto às incertezas e retorno do
investimento que se quer fazer.
Mais do que isso: colocam a ciência a serviço do homem, a serviço da
sociedade. Disponibilizam informações essenciais para os que vivem da pesca ou
para os que querem fazer dela uma atividade econômica complementar à sua
geração de renda.
Trata-se de um texto objetivo, ricamente ilustrado e que certamente fará
parte dos compêndios escolares bem como servirá como manual necessário para
quem quer compreender a espécie estudada com objetivos de empreender
atividade econômica ou subsidiar políticas públicas de repovoamento de rios com
espécies nativas. Políticas que apoiam iniciativas que buscam contribuir para o
equilíbrio ecológico das nossas bacias hidrográficas, preservando o meio ambiente.

Prof. Dr. José Tarcísio Pires Trindade


Presidente da Fundação Araucária de Apoio ao Desenvolvimento
Científico e Tecnológico do Paraná
Autores

Aldi Feiden
Possui graduação em Agronomia pela Universidade Estadual de Maringá
(1989); mestrado em Ecologia de Ambientes Aquáticos Continentais pela
Universidade Estadual de Maringá (1999); e doutorado em Ecologia de Ambientes
Aquáticos Continentais pela Universidade Estadual de Maringá (2003). Atualmente
é professor adjunto da Universidade Estadual do Oeste do Paraná e Gerente de
Transferência e Popularização de Ciência e Tecnologia da Unidade Gestora do
Fundo Paraná, na Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior
do Paraná. Tem experiência na área de Recursos Pesqueiros, com ênfase em
Aquicultura, atuando principalmente nos seguintes temas: piscicultura, tanques-
rede, criação de tilápias e peixes nativos, e alimentação e nutrição de peixes.
Também atua na difusão de tecnologias pesqueiras, na organização da cadeia
produtiva do pescado cultivado em viveiros de terra e tanques-rede. É orientador do
Programa de Pós-Graduação em Zootecnia da Unioeste, Campus de Marechal
Cândido Rondon, e do Programa de Pós-Graduação em Recursos Pesqueiros e
Engenharia de Pesca da Unioeste, Campus de Toledo, níveis de Mestrado.

Wilson Rogério Boscolo


Zootecnista graduado pela Universidade Estadual de Maringá (1997), com
mestrado em Produção Animal pela Universidade Estadual de Maringá (2001) e
doutorado em Zootecnia pela mesma universidade (2003). Atualmente é professor
adjunto da Universidade Estadual do Oeste do Paraná. Tem experiência na área de
Zootecnia, com ênfase em Nutrição e Alimentação Animal, e atua principalmente
nos seguintes temas: avaliação de alimentos, nutrição de organismos aquáticos, e
tecnologia do pescado, realizando diversas pesquisas, tais como o aproveitamento
de resíduos da indústria do pescado e o desenvolvimento de novos produtos a base
de pescado. É orientador do Programa de Pós-Graduação em Zootecnia da
Unioeste, Campus de Marechal Cândido Rondon, e do Programa de Pós-
Graduação em Recursos Pesqueiros e Engenharia de Pesca da Unioeste, Campus
de Toledo, níveis de Mestrado.

Cesar Sary
Possui graduação em Zootecnia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná,
PUCPR (2008). Atualmente é mestrando no Programa de Pós-Graduação em
Zootecnia da Universidade Estadual do Oeste do Paraná. Pesquisador do Grupo de
Estudo de Manejo na Aquicultura – GEMAq, da UNIOESTE. Tem experiência na
área de aquicultura, com ênfase em reprodução, nutrição e manejo de espécies
nativas, e Aquicultura Sustentável.

Dacley Hertes Neu


Possui graduação em Engenharia de Pesca pela Universidade Estadual do Oeste
do Paraná (2008). Atualmente é mestrando no Programa de Pós-Graduação em
Recursos Pesqueiros e Engenharia de Pesca da Universidade Estadual do Oeste
do Paraná. É Pesquisador do Grupo de Estudos de Manejo na Aquicultura e do
Instituto Água Viva. Sua experiência abarca a área de Recursos Pesqueiros e
Engenharia de Pesca, com ênfase em Recursos Pesqueiros de Águas Interiores,
com atuação nos seguintes temas: Aquicultura, nutrição, digestibilidade de
nutrientes, larvicultura, e manejo de peixes.

Bruno Estevão de Souza


Formou-se Engenheiro de Pesca pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná –
UNIOESTE, em 2005. Concluiu o mestrado em Aquicultura pelo Centro de
Aquicultura da UNESP – CAUNESP no ano de 2007, onde atualmente é
doutorando. Hoje atua como professor do curso de Técnico em Aquicultura do
Instituto Federal do Paraná – IFPR, pesquisador tanto do Grupo de Estudos de
Manejo na Aquicultura (GEMAq), quanto do Instituto Água Viva, e estudante do
Grupo de Pesquisa FishReproduction do Instituto de Pesca, em SP. Tem
experiência na área de Aquicultura de Águas Interiores, atuando principalmente com
Nutrição, Manejo e Reprodução de Espécies Tropicais.
Altevir Signor
Engenheiro de Pesca formado pela Universidade Estadual do Oeste do
Paraná (2004). É mestre em Aquicultura pelo Programa de Pós-Graduação em
Aquicultura de Organismos Aquáticos de Águas Continentais, do Centro de
Aquicultura da Unesp -- CAUNESP -- Campus de Jaboticabal/SP (2007). É também
doutor em Zootecnia pelo Programa de Pós-graduação em Zootecnia da Faculdade
de Medicina Veterinária e Zootecnia da UNESP – FMVZ – Campus de Botucatu, e
sua área de concentração é Nutrição e Produção Animal (2009). Atualmente atua
como pesquisador do Grupo de Estudo de Manejo na Aquicultura – GEMAq, da
UNIOESTE –, do Instituto Água Viva e de Nutrição e Saúde de Peixes do AquaNutri
da FMVZ – UNESP. Tem experiência em Aquicultura e Recursos Pesqueiros e
Engenharia de Pesca, suas principais áreas de estudo sendo: Tecnologia e
Industrialização do Pescado, Nutrição, Fisiologia, Saúde, Reprodução e
Desenvolvimento de organismos aquáticos, Qualidade de Água, Manejo Alimentar e
Aquicultura Sustentável.

Elenice Souza dos Reis


Acadêmica de Engenharia de Pesca da Universidade Estadual do Oeste do Paraná
(UNIOESTE) e acadêmica do 8º período de Administração com Habilitação em
Gestão Empresarial pela Faculdade Sul Brasil (FASUL). É bolsista e pesquisadora
no Grupo de Estudos de Manejo na Aquicultura – GEMAq –, nas áreas de
Tecnologia do Pescado: desenvolvimento de produtos a base de peixe, aquicultura,
e desempenho e nutrição de peixes.

Fausto Renato Weirich


Acadêmico do curso de Engenharia de Pesca da Universidade Estadual do Oeste
do Paraná – UNIOESTE, campus de Toledo –, é bolsista e pesquisador do Grupo
de Estudos de Manejos na Aquicultura (GEMAq). Desenvolve atividades nos
laboratórios de Aquicultura e na Estufa do Laboratório de Aquicultura do GEMAq.
Jakeline Marcela Azambuja de Freitas
Acadêmica de Engenharia de Pesca pela Universidade Estadual do Oeste do
Paraná – UNIOESTE. É bolsista e pesquisadora do Grupo de Estudos de Manejo na
Aquicultura – GEMAq. Desenvolve atividades nos laboratórios de Controle de
Qualidade, Aquicultura e Microbiologia do pescado.

Joana Karin Finkler


Acadêmica de Engenharia de Pesca pela Universidade Estadual do Oeste do
Paraná. É bolsista e pesquisadora no Grupo de Estudos e Manejo em Aquicultura -
GEMAq, nas áreas de tecnologia do pescado, aquicultura, desempenho e nutrição
de peixes nativos e hematologia de peixes.

Juliana Alice Lösch


Acadêmica de Engenharia de Pesca na Universidade Estadual do Oeste do Paraná
– UNIOESTE. Bolsista PIBIC/CNPq nos anos de 2006, 2008 e 2009, atuando
juntamente ao Grupo de Estudos de Manejo na Aquicultura – GEMAq e ao Instituto
Água Viva. Tem experiência na Aquicultura de Águas Interiores, atuando
principalmente com nutrição e manejo de peixes.

Juliana Cristina Veit


Formou-se Nutrição pela Universidade Paranaense – UNIPAR, em 2009,
atualmente é mestranda do Programa de Pós-Graduação em Recursos Pesqueiros
e Engenharia de Pesca da Unioeste. Pesquisadora do Grupo de Estudos de Manejo
na Aquicultura - GEMAq, e do Instituto Água Viva. Tem experiência na área de
nutrição e tecnologia do pescado.
Júnior Dasoler Luchesi
Possui graduação em Engenharia de Pesca pela Universidade Estadual do Oeste
do Paraná (2007). É bolsista do Programa Universidade Sem Fronteiras, em
parceria com o Instituto Água Viva, e pesquisador do Grupo de Estudos de Manejo
na Aquicultura – GEMAq. Tem experiência na área de Recursos Pesqueiros e
Engenharia de Pesca, com ênfase em Aquicultura.

Micheli Zaminhan
Acadêmica do curso de Engenharia de Pesca na Universidade Estadual do Oeste
do Paraná (Unioeste), em 2006. Foi bolsista da Fundação Terra/EMATER nos anos
de 2006 e 2007, e também da Universidade sem Fronteiras em 2008 e 2009. É
parte do Grupo de Estudos de Manejo na Aquicultura (GEMAq) e sua experiência
engloba as áreas de hematologia e microbiologia, com atuação principal na área de
hematologia e bioquímica.

Luciana Nakaghi Ganeco


Possui graduação em Zootecnia pela Universidade Estadual Paulista (UNESP),
Campus de Jaboticabal-SP (2000), Mestrado em Aquicultura pelo Centro de
Aquicultura da Unesp (2003). Seu Doutorado em Aquicultura foi feito no Centro de
Aquicultura da Unesp (2007), com realização parcial de estágio de doutorando no
exterior, pela CAPES, na Universidad de Cádiz, na Espanha (2006). Tem
experiência na área de Recursos Pesqueiros e Engenharia de Pesca, com ênfase
em Aquicultura, e sua atuação principal se dá nos seguintes temas: reprodução,
histologia, e desenvolvimento embrionário.

Odair Diemer
Formou-se Engenheiro de Pesca pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná -
UNIOESTE no ano de 2008. Atualmente é Mestrando em Zootecnia, na área de
nutrição animal, sendo também Pesquisador do Instituto Água Viva, "Pesquisa e
Extensão". Tem experiência na área de Recursos Pesqueiros e Engenharia de
Pesca, nas áreas de nutrição de organismos aquáticos, reprodução de peixes e
Limnologia.
Apresentação
A riqueza da ictiofauna brasileira é inquestionável, e muitas vezes
desconhecida. Isso se deve às características faunísticas de cada região. O Rio
Iguaçu apresenta desde sua nascente até sua foz cinco usinas hidrelétricas que
contribuem na ameaça à conservação da biodiversidade, caso em que há
endemismo de diversas espécies de peixes.
Como o mandi-pintado é uma espécie com potencial de cultivo para os
produtores que vivem na região do baixo Iguaçu, surgiu a ideia de elaborar um livro
que contemplasse o ciclo de vida desta espécie e seu processamento. Dessa forma
surge o livro “Mandi-pintado, uma espécie com potencial de cultivo para o rio
Iguaçu”, elaborado com a colaboração de diversos pesquisadores, em parceria da
Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior – SETI, durante
mais de um ano de trabalho e dedicação.
É com imenso e honroso prazer que disponibilizamos esta obra a toda a
comunidade. Desejamos que sirva para todas as classes, produtores, estudantes,
universitários, pesquisadores e a quem interessar.
Acreditamos que a partir de pequenos gestos podemos caminhar ao
desenvolvimento da aquicultura sustentável, passando por todos os alicerces da
comunidade, desde a capacitação de produtores até a coordenação e organização
de materiais que sirvam de auxílio para a concretização de um ideal.

Os Autores
Dezembro de 2009
Sumário

Conteúdo

Introdução .............................................................................................19
1.1 Características regionais e da ictiofauna.................................19
1.2 Área de ocorrência da espécie.................................................. 20
1.3 Biologia da Espécie ....................................................................... 20
1.4 Referências.....................................................................................21
Reprodução do mandi-pintado......................................................... 23
2.1 Considerações gerais ................................................................... 23
2.2 Seleção e manutenção de matrizes ......................................... 23
2.3 Indução e reprodução ................................................................. 24
2.3.1 Indução........................................................................................ 24
2.3.2 Coleta dos gametas e fertilização........................................ 25
2.3.3 Dados reprodutivos.................................................................. 25
2.4 Referências bibliográficas......................................................... 26
2.5 Figuras............................................................................................ 27
Avaliação quali-quantitativa de gametas de peixes ................ 29
3.1 Considerações gerais ................................................................... 30
3.2 Análise do sêmen.......................................................................... 30
3.3 Análise dos ovócitos .....................................................................31
3.4 Taxa de fertilização e eclosão...................................................31
3.5 Referências bibliográficas......................................................... 32
3.6 Figuras............................................................................................ 33
Desenvolvimento embrionário e larval do Mandi-Pintado....... 35
4.1 Introdução ..................................................................................... 35
4.2 Desenvolvimento embrionário ................................................... 36
4.3 Desenvolvimento larval ............................................................... 37
4.4 Considerações finais ................................................................... 38
4.5 Referências Bibliográficas ........................................................ 38
4.6 Figuras.............................................................................................41
Larvicultura do mandi-pintado........................................................ 43
5.1 Introdução ..................................................................................... 43
5.2 Salinidade ...................................................................................... 43
5.3 Densidade ...................................................................................... 44
5.4 Luminosidade................................................................................. 45
5.5 Alimento vivo em dietas para larvas de peixes ..................... 46
5.6 Processamento da dieta ............................................................. 48
5.7 Utilização de micronutrientes .................................................. 49
5.8 Considerações finais ................................................................... 50
5.9 Referências ................................................................................... 50
Cultivo do mandi-pintado em tanque-rede ................................. 53
6.1 Considerações gerais ................................................................... 53
6.2 Nutrição ......................................................................................... 54
6.3 Densidade de estocagem............................................................ 55
6.4. Manejo dos peixes em tanque-rede........................................ 55
6.4.1. Boas práticas de manejo......................................................... 55
6.4.2. Acompanhamento da produção ............................................. 56
6.4.3 Manutenção dos tanques-rede............................................... 56
6.5 Referências ................................................................................... 56
6.6 Figuras............................................................................................ 59
Processamento do Mandi-pintado...................................................61
7.1 Composição Centesimal e Valor Nutricional ............................61
7.2 Valor Tecnológico......................................................................... 62
7.3. Produtos Processados ................................................................ 63
7.3.1. Empanado de mandi-pintado .................................................. 63
7.3.2. Hambúrguer de mandi-pintado ............................................. 65
7.3.3. Defumação................................................................................. 67
7.4 Referências Bibliográficas ........................................................ 68
7.5 Figuras............................................................................................ 70
Histórico e atividades do GEMAq
Capítulo 1
1.Introdução

Aldi Feiden1
Dacley Hertes Neu2
Altevir Signor3
Bruno Estevão de Souza4

1.1 Características regionais e da ictiofauna

A bacia do rio Paraná apresenta rios tipicamente de planalto, e a ictiofauna de vários


de seus afluentes apresentam muitas espécies endêmicas, devido ao isolamento geográfico
provocado por corredeiras e cachoeiras. O Rio Iguaçu é um dos principais afluentes da margem
esquerda e abrange área de cerca de 72.000 km2, dos quais 79% pertencem ao Estado do
Paraná, 19% à Santa Catarina e 2% à Republica Argentina. Tem 1.080km de extensão e um
desnível de 830 metros entre a nascente e a foz (Godoy, 1979).
Após a serra da Boa Esperança, o rio apresenta inúmeras corredeiras e cachoeiras
(Maack, 1981), que são responsáveis pelo isolamento e que conferem o caráter endêmico da
ictiofauna (Fuem/Copel, 1994). No terceiro planalto, o rio atravessa áreas predominantemente
agrícolas, caracterizadas pelo intenso desmatamento, altas taxas de uso de agrotóxicos e
processos erosivos bastante acentuados, e com despejos industriais e domésticos (Copel,
1990), além de ser impactado por represamentos para fins hidrelétricos. Estes afetam
significativamente o regime fluvial, impedindo a migração reprodutiva de espécies reofílicas,
alteram o fluxo, provocando grandes variações no nível fluviométrico (Neu, 2008), que modifica
a composição da vegetação ripária. Na região da hidrelétrica Salto Santiago, as encostas são
dominadas por vegetação arbustiva e a área é sujeita a grande flutuação de nível.
Entre a região de Salto Osório e as cataratas do Iguaçu são apenas 280 km (Maack,
1981), dos quais dois terços estão represados pelas hidrelétricas de Salto Osório e Governador
José Richa (Salto Caxias), e atualmente está sendo licenciada a instalação de mais uma
unidade, a hidrelétrica do Baixo Iguaçu (antiga Capanema), cerca de 20 km da jusante da
hidrelétrica de Salto Caxias (Paraná, 1998).
Segundo Sampaio (1988), a ictiofauna da bacia é integrada por no mínimo 37
espécies, 24 gêneros e 10 famílias, das quais 28 espécies (76%) e 2 gêneros (8%) são
endêmicos, e no médio rio Iguaçu pelo menos 80% é considerada endêmica (Agostinho et al.,
2002). Segundo estes autores, a distribuição longitudinal da ictiofauna ao longo do seu curso
não é uniforme, pois algumas espécies são encontradas apenas nas regiões de maior altitude,
enquanto outras, nas regiões mais baixas, apresentando graus de dominância distintos ao longo
do rio. Este, por sua vez, caracteriza-se por ter um grande número de espécies de pequeno e
médio porte, excetuando-se o grande pimelodídeo surubim do Iguaçu – Steindachneridion
melanodermatum (Garavello 2005), que é considerado o maior peixe da bacia, e pode atingir até
70 cm (Copel, 2001). O Steindachneridion melanodermatum, o Pimelodus britskii (também

1 Engenheiro Agrônomo. Dr. em Ciências Ambientais. aldifeiden@gmail.com - Unioeste


2 Engenheiro de Pesca. Mestrando em Recursos Pesqueiros e Engenharia de Pesca.
dacley_pesca@hotmail.com –Unioeste
3 Engenheiro de Pesca. Dr. em Produção Animal. – altevirsignor@yahoo.com.br – Instituto Água Viva
4 Engenheiro de Pesca. Doutorando em Aquicultura - Caunesp. – bruno.souza@ifpr.edu.br Professor do

Instituto Federal do Paraná – IFPR, Campus de Foz do Iguaçu, Paraná.


conhecido como mandi-pintado) e o Rhamdia voulezi, apresentam-se como as três principais
espécies nativas com potencial de cultivo na bacia do rio Iguaçu.

1.2 Área de ocorrência da espécie

O gênero Pimelodus é o mais rico da família Pimelodidae, incluindo 29 gêneros, com


94 espécies distribuídas em toda a região Neotropical, a partir do Panamá até a Argentina
(Ferraris, 2007).
P. britskii é um espécie endêmica do rio Iguaçu (este rio é um afluente do rio Paraná),
originário da Serra do Mar que percorre a região leste-oeste, formando 115 km de borda
fronteiriça entre o Brasil e a Argentina. Neste caso, as Cataratas do Iguaçu agem como uma
barreira natural e intransponível pelos peixes (Almirón et al., 2009).
A figura 1 apresenta o local de distribuição de P. britskii e P. ortmanni, dois bagres
longitudinalmente observados e que comumente eram confundidos entre si.

Figura 1. Distribuição geográfica de Pimelodus britskii para o rio Iguaçu. Adaptado de Garavello
e Shibata (2007).

1.3 Biologia da Espécie

O conhecimento da biologia da maioria das espécies de peixes da região neotropical


ainda é incipiente, principalmente em relação à fase inicial e juvenil do desenvolvimento destes
animais. Espécies com potencial para pesca e cultivo têm sido muito afetadas pela ação
antropológica, pelo excesso em pescas, por represamentos, desmatamentos das matas ciliares,
e destruição de ambientes para reprodução e desenvolvimento de larvas e juvenis (Agostinho e
Zalewski, 1996). Para várias espécies foram obtidos grandes avanços quanto ao
desenvolvimento de técnicas apropriadas para a produção de juvenis, e já estão sendo
utilizadas em todo o Brasil. Para muitas espécies, entretanto, ainda não foi possível a produção
de juvenis em larga escala para fins de produção.
Dentre o gênero Pimelodus, a espécie Pimelodus maculatus é a maior entre elas,
podendo chegar a 50 cm (Nakatani et al., 2001). As espécies desse gênero apresentam de 190
a 500 mm, com a primeira maturação ocorrendo por volta dos 120mm. O período reprodutivo
(que tem fecundação interna) se estende de outubro a abril, e não há cuidado com a prole. Os
ovos recém fecundados têm diâmetro que varia entre 1,30 a 2,0mm. Quando larvas, a
pigmentação inicial geralmente é escassa; há 3 pares de barbilhões; o número de miômeros
varia de 38 a 41; e a sequência de aparecimento das nadadeiras é: caudal, dorsal, anal, pélvicas
e peitorais. Os olhos são considerados pequenos, com cabeça variando de pequena a
moderada e corpo de longo a moderado. Quando adultos, o tamanho dos barbilhões varia,
podendo se aproximar da nadadeira caudal (Nakatani et al., 2001). Há plasticidade na dieta que
pode ser adaptada à disponibilidade do alimento. Toda essa variabilidade está relacionada com
fatores bióticos e abióticos do ambiente (Lolis e Andrian, 1996).
O P. britskii, que também é denominado mandi-pintado, é uma nova espécie do gênero
Pimelodus descrita no rio Iguaçu na drenagem do rio Paraná, nas divisas dos estados do Paraná
e Santa Catarina. Os autores descrevem-no como sendo endêmico à bacia do rio Iguaçu.
Anteriormente à descrição desta nova espécie, os exemplares de P. britskii eram descritos como
sendo Pimelodus sp. A nova espécie recebeu a nomenclatura em homenagem ao ictiólogo Dr.
Heraldo Antonio Britski (Garavello e Shibatta, 2007).
Segundo os mesmos autores, a espécie P. britskii difere de seus congêneres pelo
padrão de cor, com máculas arredondadas, geralmente menores que o diâmetro do olho,
dispersas regularmente no tronco.
Em relação à P. ortmanni, a nova espécie descrita na bacia do rio Iguaçu difere pela
altura do corpo no nível do processo cleitral posterior, sendo o comprimento da cabeça e o
comprimento da nadadeira adiposa maiores. Também apresenta maior distância entre a órbita e
abertura opercular, lábios não proeminentes e barbilhão maxilar atingindo ou ultrapassando a
linha vertical que passa pela região mediana da nadadeira adiposa (Garavello e Shibatta, 2007).

1.4 Referências

AGOSTINHO, A.A.; ZALESWSKI M. A planície alagável do alto rio Paraná: importância e


preservação. Maringá Eduem. 100p. il. 1996.
AGOSTINHO, A.A.; GOMES, L.C.; SUZUKI, H.I. Caracterização da ictiofauna do Reservatório
de Salto Caxias. 2002.
ALMIRÓN, A.; CASCIOTTA, J.; PIALEK, L.; RICAN, O. First record of Pimelodus britskii
Garavello & Shibatta, 2007 (Siluriformes: Pimelodidae) in freshwaters of Argentina. Ichthyology
Contribution of Peces Criollos, v. 12, p.1-2, 2009.
COPEL. Usina hidrelétrica de Segredo: Estudos ambientais. Programa de implantação da
Estação Experimental de Estudos Ictiológicos. Relatório. Curitiba:MDKCenco. 36p. 1990.
COPEL. Disponível em <htpp://www.copel.com/copel/port/copel.html) Acessado em 03/10/2001.
FERRARIS JR, C.J. Checklist of catfishes, recent and fossil (Osteichthyes: Siluriformes), and
catalogue of siluriform primary types. Magnolia Press, Auckland, New Zealand. 300 p. 2007.
FUEM/COPEL. Ictiologia e aquicultura experimental para o reservatório da Usina Hidrelétrica de
Segredo. Maringá:FUEM/Nupélia. Relatório. 1994.
GARAVELLO, J.C. Revision of genus Steindachneridion (Siluriformes: Pimelodidae) Neotropical
Ichthyology, v.4, n.3, p.607-623, 2005.
GARAVELLO, J.C.; SHIBATTA, O.K. A new species of the genus Pimelodus La Cépède, 1803
from the rio Iguaçu Basin and a reappraisal of the Pimelodus ortmanni Haseman, 1911 from the
rio Paraná System, Brazil (Ostariophysi: Siluriformes: Pimelodidae). Neotropical Ichthyology, v.
5, n. 3. p. 285-292. 2007.
GODOY, M.P. Rio Iguaçu, Paraná, Brasil. Reconhecimento da ictiofauna, modificações
ambientais e usos múltiplos dos reservatórios. Rio de Janeiro:Eletrosul. 33p. 1979.
LOLIS, A.A.; ANDRIAN, I.F. Alimentação de Pimelodus maculatus Lacépède, 1803 (Siluriformes,
Pimelodidae), na planície de inundação do alto rio Paraná, Brasil. Boletim do Instituto de Pesca,
v. 23. p. 187-202. 1996.
MAACK, R. Geografia física do estado do Paraná. 2a ed. Rio de Janeiro:J.Olympio;
Curitiba:Secr.Cult.Esp. 442p. 1981.
NAKATANI, K.; AGOSTINHO, A.A.; BAUMGARTNER, G.; BIALETZKI, A; SANCHES, P.V.;
MAKRAKIS, M.C.; PAVANELLI, C.S. Ovos e larvas de peixes de água doce: desenvolvimento e
manual de identificação. 1. ed. Maringá: EDUEM, v. 1. 458 p. 2001.
NEU, D.H. Sistemas de transposição de peixes como conectores de metapopulações.
Monografia (Conclusão de curso). Universidade Estadual do Oeste do Paraná. Toledo. 58p.
2008.
PARANÁ. Atlas de recursos hídricos do Estado do Paraná. Curitiba: Sudersha. 32p. 1998.
SAMPAIO, F.A.A. Estudos taxonômicos preliminares dos Characiformes (Teleostei,
Ostariophysi) da bacia do rio Iguaçu, com comentários sobre o endemismo dessa fauna.
Dissertação (Mestrado). Universidade Federal de São Carlos. São Carlos. 175p. 1988.
Capítulo 2
Reprodução do mandi-pintado

Bruno Estevão de Souza 1


Cesar Sary 2
Juliana Alice Lösch 3
Odair Diemer 4

2.1 Considerações gerais

Os processos reprodutivos normalmente apresentam ritmos endógenos disparados


por sinais ambientais, de modo que encaixam o período da reprodução em uma época
ambiental favorável ao desenvolvimento das larvas e alevinos (Baldisserotto, 2002).
Estímulos ambientais como temperatura, fotoperíodo, disponibilidade de alimento,
cheias dos rios e a migração reprodutiva são de suma importância para o desenvolvimento dos
processos inicial e final de maturação gonadal, e para a liberação dos gametas em peixes
migradores (Barbieri et al., 2000).
Estes estímulos são detectados por receptores existentes no corpo do peixe. Os
receptores transmitem essa informação para o cérebro e, a seguir, para o hipotálamo, alterando
tanto a produção como a liberação de hormônios (Silva et al., 2004).
A reprodução dos peixes é um processo complexo controlado pelo eixo hipotálamo–
hipófise–gônadas (Romagosa, 1998). Uma série de mecanismos de ajuste está envolvida nos
processos de maturação gonadal e desova, basicamente através de controles hormonais
(Zaniboni & Weingartner, 2007).
Ao serem cultivados em cativeiro, peixes reofílicos como o mandi-pintado, P. britskii
necessitam da utilização de hormônios para o desencadeamento de todo este processo
reprodutivo, o que abrange a maturação gonadal e a liberação dos gametas.

2.2 Seleção e manutenção de matrizes

Os reprodutores podem ser capturados nos rios no início do período reprodutivo ou,
também, selecionados nos tanques quando o piscicultor dispõe de um estoque de matrizes.
O período reprodutivo do mandi-pintado, P. britskii começa em novembro e termina ao
fim de janeiro. Este período para peixes silvestres pode ser influenciado por fatores ambientais
como a temperatura, chuvas, fotoperíodo, estresse ou algum outro fator. No caso de
reprodutores criados em cativeiro, a mesma influência dos fatores ambientais se soma a fatores

1 Engenheiro de Pesca. Doutorando em Aquicultura - Caunesp. – bruno.souza@ifpr.edu.br Professor do


Instituto Federal do Paraná – IFPR, Campus de Foz do Iguaçu, Paraná.
2 Zootecnista. Mestrando em Zootecnia – PPZ/Unioeste. zitozootecnia@hotmail.com – Unioeste
3 Graduanda em Engenharia de Pesca. juliaali_sh@hotmail.com – Unioeste
4 Engenheiro de Pesca. PPZ/Mestrando em Zootecnia – Unioeste. odairdiemer@hotmail.com –Unioeste
outros, tais como as condições de cultivo, densidade de estocagem, nutrição, estresse, entre
outros.
O reconhecimento dos sexos do mandi-pintado, P. britskii é praticamente impossível
de ser determinado através da observação, a não ser no período reprodutivo. Apesar dos
machos normalmente não liberarem sêmen quando pressionados na papila urogenital, as
fêmeas passam a apresentar o abdômen arredondado, e a papila urogenital intumescida e
avermelhada, o que então possibilita a sua identificação.
Porém, é recomendado que se realize uma biópsia ovariana (canulação) por meio da
introdução de um cateter plástico (sonda uretral) através da papila, para a retirada de uma
alíquota de ovócitos ou não, tendo assim certeza do sexo do reprodutor e, consequentemente,
poder selecionar a proporção ideal de machos e fêmeos na montagem dos lotes a serem
induzidos (figura 1).
A alíquota de ovócitos retirada na biópsia ovariana deve ser colocada sobre uma
lâmina, e sobre eles adicionadas algumas gotas de solução de Serra (Lemanova & Sakun,
1975). Aproximadamente sessenta segundos depois, deverá ser realizada uma observação em
lupa com aumento de pelo menos 4X. A vesícula germinativa (núcleo), no início da maturação,
ocupa posição central na célula (ovócito). Se o ovócito estiver na periferia da célula, significa
que a fêmea está no estágio final de maturação, isto é, apta à indução hormonal e reprodução
(figura 2). Fêmeas que apresentarem acima de 80% dos ovócitos com estas características
deverão ser selecionadas.
Os animais selecionados deverão ser transportados para o laboratório de reprodução,
onde deverão ser individualmente pesados, marcados (figura 3) e separados por sexo, em
tanques preferencialmente circulares, e de no mínimo 250L, com renovação constante de água
e controle de temperatura.

2.3 Indução e reprodução

2.3.1 Indução

O mandi-pintado P. britskii é uma espécie reofílica, isto é, que realiza migração


ascendente em direção às cabeceiras dos rios, com fins reprodutivos. Quando cultivado em
cativeiro, não consegue completar seu ciclo reprodutivo, devido principalmente à falta da
migração reprodutiva. Sendo assim, necessita de indução hormonal que lhe garanta a ovulação
e a desova.
Quando criada em cativeiro, esta espécie responde positivamente às induções
hormonais, cujas fontes são extratos pituitários de peixes. Rotineiramente, utilizam-se duas
aplicações de injeção contendo extrato hipofisário, para indução à desova nas fêmeas, e para o
aumento do volume de sêmen nos machos.
Deverá ser aplicado um total de 3,0mg e 5,5mg de extrato de hipófise de carpa
(EHC).kg de reprodutor-1 para os machos e fêmeas, respectivamente divididos em duas
dosagens. A primeira com 0,25mg e 0,5mg de EHC.kg de reprodutor-1, respectivamente para os
machos e fêmeas. Doze horas após a primeira aplicação, deverá ser aplicada uma segunda
dose de 2,5mg e 5mg de EHC.kg de reprodutor-1 para machos e fêmeas, respectivamente. Após
as aplicações, a temperatura deverá ser mantida em 27,0 ± 1,0ºC e monitorada freqüentemente.
O EHC pode ser aplicado dentro da cavidade abdominal, junto à base da nadadeira
peitoral ou intramuscularmente, próximo à nadadeira dorsal. Nesta região, porém, boa parte do
hormônio pode refluir e ser expelido pela contração dos músculos (figura 4).
2.3.2 Coleta dos gametas e fertilização

A coleta dos gametas deverá ser realizada após um período de 160 horas-grau
(somatória da temperatura da água em função do tempo). É aconselhável que os ovócitos sejam
coletados em primeiro lugar e, logo em seguida, o sêmen, evitando assim o sacrifício
desnecessário dos machos, caso a fêmea venha a não desovar.
Sendo assim, os reprodutores deverão ser contidos, o que geralmente é feito cobrindo
o reprodutor ou parcialmente (cabeça e nadadeira caudal) ou totalmente, com panos úmidos
para reduzir o estresse. Em seguida o mesmo deverá ser seco com panos e papel toalha. Com
a garantia de que a papila genital está seca, deve-se aplicar massagem na região abdominal do
animal, sempre no sentido céfalo-caudal (figura 5).
Os ovócitos deverão ser coletados em uma bacia plástica que deve estar
completamente seca, e é preciso ter cuidado para que não haja contaminação com urina ou
fezes durante o processo de extrusão. Só então o sêmen é adicionado sobre os ovócitos.
Como os machos do mandi-pintado P. britskii têm a característica de não liberar
sêmen, os mesmos devem ser insensibilizados e sacrificados para a retirada do testículo e das
gônadas, os quais devem então ser cortados em pequenos pedaços e colocados dentro de uma
peneira fina (figura 6), onde deverão ser macerados. O líquido resultante deve ser adicionado
sobre os ovócitos.
Logo após este procedimento, é preciso que se adicione a solução ativadora (água da
incubadora) para que a fertilização dos ovócitos ocorra. Após a adição da água, é necessário
movimentar a bacia em círculos, com o intuito de promover uma melhor homogeneização do
sêmen com os ovócitos. Aproximadamente três minutos após a fertilização, é altamente
recomendável a adição de mais água na bacia, com a realização de uma troca parcial da água,
o que promove a limpeza do material fecundante excedente.
Quando a água da bacia estiver translúcida e os ovos hidratados, os mesmos deverão
ser transferidos para a incubadora (figura 7).

2.3.3 Dados reprodutivos

Após a seleção dos reprodutores, e sua indução e desova (seguindo a metodologia


acima descrita), podem ser coletados os dados reprodutivos do mandi-pintado, P. britskii.
Em experimentos realizados no laboratório de aquicultura do Grupo de Estudo de
Manejo na Aquicultura – GEMAq -- da Universidade Estadual do Oeste do Paraná foram obtidos
os seguintes dados reprodutivos para a espécie (tabelas 1 e 2).

Tabela 1. Valores médios de peso, comprimento total e número de ovócitos por grama de
reprodutor fêmea de mandi-pintado P. britskii.
Peso Comprimento nº. ovócitos/g
(g) (cm) reprodutor
217,57 ± 28,47 26,9 ± 1,3 40,71 ± 25,24

Tabela 2. Valores médios de peso, comprimento total e peso das gônadas de reprodutor de
mandi, P. britskii.
Peso (g) Comprimento (cm) Peso das gônadas
135,50 ± 31,71 24,34 ± 1,19 1,36 ± 0,54
A taxa de fertilização (%) foi aferida 8 horas após a fertilização, no estágio em que,
após a fertilização, os ovos são adicionados em incubadoras com formato cilíndrico. Os valores
médios apresentados foram de 86,37 ± 5,79.
A eclosão das larvas ocorre 20h30min após a fertilização, quando a temperatura da
água das incubadoras é mantida em 24,0 ± 1,0ºC. As larvas eclodiram com comprimento total
médio de 3,59 ± 0,14mm.

2.4 Referências bibliográficas

BALDISSEROTTO, B. Fisiologia dos peixes aplicada à piscicultura. Santa Maria: UFSM, p. 212,
2002.
BARBIERI, G.; SALLES, F.A.; CESTAROLLI, M.A. Influência de fatoras abióticos na reprodução
do dourado, Salminus maxillosus e do curimbatá, Prochilodus lineatus do rio Mogi Gaçu
(Cachoeira de Emas, Pirassununga/SP). Acta limnologica Brasilensis, v. 12, p. 85-91, 2000.
LEMANOVA, N.A.; SAKUM, O.F. Metodisceskoe posibilie pogor monalnoistimulacji
proizvoditielei Karpa pré rannom polucenii licinok. Izvestiya Gosudartvennogo Nauchno –
Isseledivatel Skogo Instituta, v. 88, p. 3-23, 1975.
ROMAGOSA, E. Desenvolvimento gonadal (morfologia; ultra-estrutura) e indução da reprodução
do matrinxã, Brycon cephalus (Günther, 1869) em cativeiro. Vale do Ribeira, São Paulo. São
Carlos. 211p. (Tese de Doutoramento. Universidade Federal de São Carlos). 1998.
SILVA, L.V.F.; NETO, J.R.; BALDISSEROTTO, B. Reprodução. In: BALDISSEROTTO, B.;
RADÜNZ NETO, J. (Org.). Criação do jundiá. Santa Maria: Editora da UFSM, p. 95-116, 2004.
ZANIBONI FILHO,E.; WEINGARTNER, M. Técnicas de indução da reprodução de peixes
migradores. Revista Brasileira de Reprodução Animal, v. 31, n. 3, p. 367-373, 2007.
2.5 Figuras

Figura 1. Biópsia ovariana (canulação) utilizada para a seleção de reprodutores.

Figura 2: Ovócitos após aplicação da solução de Serra.

Figura 3: Pesagem e marcação dos reprodutores de mandi-pintado P. britskii.


Figura 4: Exemplos de aplicações: intramuscular (foto esquerda) e junto à base da nadadeira
peitoral (foto direita).

Figura 5. Fêmea do mandi-pintado P. britskii na fase de extrusão dos ovócitos.

Figura 6: Remoção dos testículos e gônadas dos manchos de mandi-pintado P. britskii para
obtenção de sêmen para fertilização.
Figura 7: Bacia com os ovos do mandi-pintado P. britskii hidratando antes de serem transferidos
para a incubadora.

Capítulo 3
Avaliação quali-quantitativa de
gametas de peixes

Bruno Estevão de Souza1


Cesar Sary2

1 Engenheiro de Pesca. Doutorando em Aquicultura - Caunesp. – bruno.souza@ifpr.edu.br Professor do


Instituto Federal do Paraná – IFPR, Campus de Foz do Iguaçu, Paraná.
2 Zootecnista. Mestrando em Zootecnia PPZ-Unioeste. zitozootecnia@hotmail.com – Unioeste
3 Graduanda em Engenharia de Pesca. juliaali_sh@hotmail.com – Unioeste
4 Engenheiro de Pesca. Mestrando em Recursos Pesqueiros e Engenharia de Pesca PPREG-Unioeste.

dacley_pesca@hotmail.com –Unioeste
Juliana Alice Lösch3
Dacley Hertes Neu4

3.1 Considerações gerais

Produzir juvenis de boa qualidade é a chave para a produção de peixes em larga


escala. Para que isso seja possível, entretanto, estudos sobre a qualidade dos gametas são de
fundamental importância, pois permitem o aproveitamento racional dos gametas de qualidade e
a seleção de reprodutores com alto desempenho reprodutivo.
A qualidade do esperma é medida pela sua habilidade em fertilizar com sucesso um
ovócito. Todo parâmetro físico-quantitativo que se correlacionar diretamente com a capacidade
de fertilização do esperma pode ser usado como uma medida de qualidade espermática
(Rurangwa et al., 2004).
Os ovócitos têm a perda de viabilidade bem mais acentuada do que o sêmen. Dentre
os fatores responsáveis por esta perda estão o método de coleta (extrusão) e a manipulação.
Mas o fator temporal, que ocorre entre a extrusão e o momento da fertilização, é o que mais
acarreta injúrias aos gametas.
Sendo assim, fazem-se necessários mecanismos de analise quali-quantitativa dos
gametas de peixes, como uma ferramenta que possibilite ao produtor ter o real conhecimento do
potencial reprodutivo de seu plantel de reprodutores.

3.2 Análise do sêmen

Para a coleta dos gametas masculinos, deve-se inicialmente conter e secar os animais
com panos, principalmente na região da papila genital. Com a garantia de que a papila genital
está seca, é necessário aplicar massagem na região abdominal do animal sempre no sentido
céfalo-caudal. É importante descartar a primeira gota de sêmen para evitar contaminações, e o
restante deverá ser coletado com o auxílio de uma seringa descartável, com graduação de
0,1mL, para mensuração do volume liberado.
A motilidade espermática do sêmen consiste em se misturar 2,5µL de sêmen a 100µL
de água destilada. Concomitantemente à mistura, é preciso iniciar a contagem do tempo (com
um cronômetro) e logo retirar uma amostra de 2,5µL para observação sob microscópio óptico
em objetiva de 40X (figura 1). No momento em que todas as células perderem a motilidade é
hora de parar o cronômetro e aferir o tempo.
A avaliação do índice de sobrevivência espermática é realizada através do método de
coloração eosina-nigrosina (Murgas et al., 2003). Para a realização da mistura, no entanto, deve
ser utilizado 30µL de sêmen e 100µL de cada corante e, posteriormente, é feita a confecção do
esfregaço. Após o processamento das lâminas, o material vai para análise em microscópio de
luz, com objetiva de 40X, contado 200 espermatozóides. É necessário levar em consideração
espermatozóides mortos, células rosadas e vivas nas não-coradas.
A concentração espermática do sêmen é mensurada retirando-se uma amostra de 5µL
de sêmen e diluindo-o em 5mL de formol-salina tamponada (CBRA, 1998), resultando na
diluição de 1:1000. Após a diluição, uma câmara hematimétrica de Neubauer é utilizada para
contagem de células espermáticas, conforme Mataveli et al. (2007), (figura 2).
As análises morfológicas do sêmen são realizadas através de dois esfregaços, com o
sêmen diluído em formol-salina tamponada (CBRA, 1998), na proporção de 1:1500
(sêmen:solução diluente). Os esfregaços são corados pelo método de Rosa Bengala (Conn,
1918), corante recomendado para peixes por Streit Jr. et al., (2004), e, depois de secos, levados
ao microscópio de contraste de fase com objetiva de 40X. Assim, realiza-se o exame de 120
espermatozóides entre as lâminas feitas de cada amostra de sêmen, classificando-os em
normais, com patologias primárias ou secundárias, de acordo com Streit Jr. et al. (2008).

3.3 Análise dos ovócitos

A viabilidade de um ovócito é caracterizada pelo período de tempo entre a extrusão do


ovócito e a sua fertilização, uma vez que este permaneça passível de ser fertilizado com
sucesso.
Logo após o momento da extrusão, os ovócitos podem ser tomados por colônias de
bactérias, que podem ocasionar uma queda na qualidade dos ovócitos e, conseqüentemente,
levar a uma redução das taxas de fertilização (Brooks et al. 1997). Estudos de métodos de
avaliação da qualidade dos ovócitos após a extrusão são escassos.
Uma opção é observar os seguintes detalhes: observar se há uniformidade no
tamanho dos ovócitos, uniformidade na coloração dos ovócitos, e ausência de ovócitos brancos
(gorados) bem como a ausência de fluidos ovarianos, sangue, urina e fezes no momento da
extrusão (figura 3).

3.4 Taxa de fertilização e eclosão

A mensuração da taxa de fertilização é a analise de qualidade dos gametas mais


direta, confiável e determinante para o conhecimento de sua potencialidade (Kavamoto et al.,
1987, Linhart et al., 2003). Além disso, pode ser considerada como um indicador da performance
de embriões e larvas (Springate et al., 1984).
Para aferir este parâmetro, deve-se retirar uma amostra de pelo menos 200 ovos da
incubadora 8 horas após a fertilização, depositá-los, à seguir, sobre uma placa de petri, e contar
quantos ovos estão viáveis (translúcidos) e quantos estão gorados (esbranquiçados) (figura 4).
Posteriormente, realiza-se o cálculo da taxa de fertilização (%) utilizando-se a fórmula
abaixo:

Total de ovos fertilizad os


Taxa de Fertilizaç ão = × 100
Total de ovos amostrados

As taxas de fertilização para mandi-pitado de 85% podem ser consideradas como um


bom resultado.
A taxa de eclosão deve ser aferida na primeira hora após a eclosão das larvas, o que
normalmente ocorre 24 horas após a fertilização (varia de acordo com a espécie), a temperatura
de 25ºC. Para tanto, é preciso que as larvas sejam sifonadas em uma peneira e, logo em
seguida, fixadas em formol para contagem (figura 5).
O cálculo da taxa de eclosão pode ser realizado com o auxílio da seguinte fórmula:
Total de larvas eclodidas
Taxa de Eclosão = × 100
Total ovos fertilizados

Taxas de eclosão acima de 85% podem ser consideradas como um bom resultado.

3.5 Referências bibliográficas

BROOKS, S.; TYLER, C.R.; SUMPTER, J.P. Egg quality in fish: what makes a good egg?
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COLÉGIO BRASILEIRO DE REPRODUÇÃO ANIMAL - CBRA. Manual para exame andrológico
e avaliação do sêmen animal. 2ª ed., Belo Horizonte: CBRA, p. 49, 1998.
CONN, H.J. Rose Bengal as a general bacterial stain. New York Agricultural Experiment Station,
p. 253-254, 1918.
KAVAMOTO, E. T.; FOGLI DA SILVEIRA, W.; RIGOLINO, M.G.; TABATA, Y.A., CAMPOS,
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gibbons no primeiro ciclo reprodutivo. Boletim do Instituto de Pesca, São Paulo, v. 14, p. 51-62,
1987.
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MATAVELI, M.; MORAES, G.V.; STREIT JR, D.P.; VARGAS MENDEZ, L.D.; SAKAGUTI, E.S.;
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RURANGWA, E.; KIME, D.E.; OLLEVIER, F.; NASH, J.P. The measurement of sperm motility
and factors affecting sperm quality in cultured fish. Aquaculture, v. 234, p .1–28, 2004.
SPRINGATE J.R.C.; BROMAGE N.R.; ELLIOT, J.A.K.; HUDSON D.L. The timing of ovulation
and stripping and their effects on the rates of fertilization and survival to eyeing, hatch and swim-
up in the rainbow trout (Salmo gairdneri R.). Aquaculture, v. 43, p. 313–322, 1984.
STREIT-JR, D.P.; MORAES, G.V.; RIBEIRO, R.P.; POVH, J.A.; SOUZA, E.D.; OLIVEIRA, C.A.L.
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STREIT-JR., D.P.; SIROL, R.N.; RIBEIRO, R.P.; MORAES, G.V.; VARGAS, L.D.M.,
WATANABE, A.L. Qualitative parameters of the piapara semen (Leporinus elongatus
Valenciennes, 1850). Brazilian Journal of Biology, n. 68, v. 2, p. 373-377, 2008.
3.6 Figuras

Figura 1: Metodologia utilizada para se aferir a duração da motilidade espermática.


Figura 2: Câmara hematimétrica de Neubauer utilizada para aferir
a concentração espermática do sêmen.

Figura 6: Ovócitos de mandi-pintado P. britskii em boa qualidade de acordo com os parâmetros


acima descritos (foto à esquerda) e em má qualidade (foto à direita). Estes últimos devem ser
descartados, devido à presença de sangue.

Figura 4: Avaliação da taxa de fertilização.

Figura 5: Avaliação da taxa de fertilização: larva pós eclosão (figura à esquerda) e larvas
fixadas em formol para contagem (figura à direita).
Capítulo 4
Desenvolvimento embrionário e
larval do Mandi-Pintado

Luciana Nakaghi Ganeco1


Cesar Sary2

4.1 Introdução

O conhecimento do desenvolvimento embrionário e larval de cada espécie de peixe na


natureza é de grande importância antes de se iniciar sua criação em cativeiro. Além disso, o
estudo dos eventos morfológicos que envolvem o desenvolvimento inicial pode ser uma
ferramenta útil para uma série de pesquisas, tais como caracterização das espécies, localização
de áreas de desova, estudo dos índices zootécnicos e avaliação da qualidade do ambiente e do
efeito de substâncias tóxicas sobre a fauna aquática.
O início do desenvolvimento é a fase mais sensível do ciclo de vida dos peixes (Hallare
et al., 2005) e a baixa sobrevivência na fase larval é um dos grandes problemas na larvicultura
das espécies nativas (Castagnolli, 1992). O desenvolvimento inicial de peixes envolve etapas do
ciclo biológico que abrange ovos, embriões e larvas (Depêche e Billard, 1994).
Diversos fatores podem afetar o desenvolvimento embrionário e larval, tais como a
temperatura (Arenzon et al., 2002; Ninhaus-Silveira et al., 2006), a salinidade (Weingartner e
Zaniboni-Filho, 2004), o pH (Ferreira et al., 2001), a luminosidade (Duray et al., 1996; Feiden et
al., 2006a), a alimentação artificial ou natural (Soares et al,. 2000; Feiden et al., 2005; Feiden et
al., 2006b), a densidade de estocagem dos ovos (Cerqueira, et al., 2005) e das larvas (Luz &
Zaniboni Filho, 2002) e, por fim, a contaminação da água por agrotóxicos (Westernhagen &
Dethlefsen, 1997; Alvares e Fuiman, 2005).
O mandi-pintado, Pimelodus britskii (Garavello & Shibatta, 2007), é uma nova espécie
do gênero Pimelodus endêmica à bacia do rio Iguaçu. Sua reprodução já vem sendo induzida
em laboratório com sucesso.

1 Zootecnista. Doutora em Aquicultura. lnganeco@yahoo.com.br - Pontifícia Universidade Católica do


Paraná PUC.
2 Zootecnista.Mestrando em Zootecnia PPZ-Unioeste. zitozootecnia@hotmail.com – Unioeste
4.2 Desenvolvimento embrionário

O período embrionário dos peixes se estende da fertilização à eclosão (Shardo, 1995).


A fertilização é um processo de fusão celular, que se inicia com o contato entre um
espermatozóide e um ovócito e resulta na união dos núcleos destas células (Ohta, 1991).
Na maioria dos peixes, o espermatozóide penetra no ovócito por uma abertura
denominada micrópila, que se localiza na sua superfície (Kudo, 1980; Iwamatsu, 2000). A
micrópila é uma região côncava na superfície do ovócito (córion), geralmente em forma de funil
(Iwamatsu, 2000; Rizzo et al., 2002; Ganeco & Nakaghi, 2003).
Posteriormente, o ovo absorve água e, juntamente com a exocitose dos alvéolos
corticais, há a separação entre o córion e a membrana vitelina, formando um espaço entre eles,
denominado de “espaço perivitelino” (Lagler et al., 1977; Nakatani et al., 2001). Entre as funções
atribuídas a este espaço estão a proteção ao embrião, a nutrição, a regulação osmótica, a
flutuação e a prevenção à poliespermia (Laale, 1980). Ressalta-se que, mesmo em ovos não
fertilizados, o espaço perivitelino se forma, pois o gameta feminino é ativado pelo contato com a
água, desencadeando a reação cortical (quebra dos alvéolos corticais, liberando seu conteúdo
no espaço perivitelino) (Kunz, 2004; Ganeco et al., 2008).
Os ovos de peixes, por apresentarem grande quantidade de vitelo, são classificados
como telolécitos. Neste caso, o vitelo é concentrado no pólo vegetativo (Leme dos Santos &
Azoubel, 1996). Essa grande quantidade de vitelo é importante para os peixes, pois servirá de
alimento até que o sistema digestório esteja formado e a larva possa, então, consumir alimento
exógeno. Os ovos do mandi-pintado se encaixam nesta classificação, e se apresentam esféricos
e translúcidos, com coloração amarelada, semelhante aos de outras espécies da familia
Pimelodidae.
Os ovos de mandi-pintado apresentam uma camada gelatinosa recobrindo toda sua
superfície (figura 1A). Essa camada mucosa é tipicamente encontrada nos Siluriformes, sendo
constituída por um emaranhado de delicadas fibrilas (Rizzo et al., 2002). A camada gelatinosa
aparentemente não tem relação com a adesividade dos ovos de peixe, pois já foi relatada tanto
em ovos adesivos quanto em ovos não-adesivos (Rizzo et al., 2002). No mandi-pintado, essa
camada gelatinosa não confere adesividade aos ovos.
Logo após a fertilização, os ovos de mandi-pintado possuem 1,07 ± 0,07 mm de
diâmetro, passando a 1,31 ± 0,06 mm com 12 horas pós-fertilização (hpf). Ovos pequenos --
não adesivos (ou livres) -- sem cuidado parental são característicos de peixes migradores
(Godinho 2007), como é o caso do mandi-pintado.
Após os eventos desencadeados pela fertilização, o ovo passa a sofrer alterações que
incluem clivagens, movimentação celular e formação dos esboços dos órgãos.
A clivagem dos ovos de peixes é do tipo meroblástica ou parcial, por ocorrer apenas
no pólo animal (Lagler et al., 1977). Os ovos de mandi-pintado seguem essa regra. A primeira
clivagem divide o blastodisco em duas células (blastômeros) de igual tamanho (Kimmel et al.,
1995; Shardo 1995). No mandi-pintado, em 30 minutos pós-fertilização já há a formação de dois
blastômeros (Figura 1A); aos 45 minutos, 4 blastômeros (Figura 1B); e, aos 60 minutos, 8
blastômeros. Posteriormente, seguem-se as fases com 16, 32, 64 e 128 blastômeros, quando o
conjunto de células passa a apresentar o formato de uma “amora”, caracterizando, assim, a fase
de mórula, que foi visualizada em 2 hpf (Figura 1C).
A fase de blástula não pode ser visualizada sem o uso da histologia, uma vez que ela
é caracterizada pela formação de uma cavidade ou de espaços irregulares entre as células que
constituem a blastoderme (Balinsky, 1970). Porém, pode-se estimar que essa fase ocorre
aproximadamente com 3 hpf no mandi-pintado.
A fase de gástrula caracteriza-se pelos movimentos de epibolia, involução e formação
dos folhetos germinativos (Kimmel et al., 1995; Shardo, 1995; Kunz, 2004). Nesta fase, a
camada de células da blastoderme se desenvolve de forma a recobrir todo o vitelo. No mandi-
pintado, o início da gástrula ocorre com 4 hpf e seu final, caracterizado pelo recobrimento do
vitelo e formação do blastóporo, se dá às 9 hpf (Figuras 1D e 1E). A região do blastóporo marca
a localização da extremidade caudal do embrião (Nakatani et al., 2001) e o momento de sua
formação é importante na piscicultura, pois indica o momento adequado para se estimar taxas
de fertilização (Godinho, 2007).
Durante a epibolia, em aproximadamente 50 % da cobertura do vitelo, há um
espessamento da margem, denominado anel germinativo (Kimmel et al., 1995) (Figura 1D). No
local do anel germinativo há o movimento de involução, que se projeta abaixo e em sentido
contrário ao movimento de epibolia da blastoderme, formando duas camadas: a superior (ou
epiblasto) e a inferior (ou hipoblasto), (Kunz, 2004). No final da gástrula, o epiblasto corresponde
à ectoderma definitiva e dará origem à epiderme, sistema nervoso central, crista neural e
placóides sensoriais. O hipoblasto dará origem a um folheto conjunto descrito como mesoderma
+ endoderma (Kimmel et al., 1995; Kunz, 2004).
Às 12 hpf verifica-se a formação do esboço do embrião do mandi pintado, com
espessamento da região cefálica e início da formação da cauda (Figura 1F). Posteriormente,
verifica-se a formação dos somitos (que darão origem ao músculo), esboço dos olhos e
alongamento da cauda (Figura 2A). Com 16 hpe, surgem os primeiros movimentos da cauda,
enquanto os batimentos cardíacos podem ser observados com 18 hpf. A cauda continua se
alongando e, com 19 hpf (Figura 2B), os movimentos do embrião tornam-se mais vigorosos,
aumentando em freqüência e intensidade até o rompimento do córion (Figura 2C). Ao mesmo
tempo, enzimas proteolíticas são secretadas por glândulas unicelulares de eclosão, que têm
origem ecto e/ou endodérmica (Kunz, 2004). Essas enzimas dissolvem a camada mais interna
do córion e, seguidas dos movimentos da cauda, resultam no rompimento dessa membrana e na
conseqüente eclosão da larva.
A maioria das larvas eclode com o sistema digestório não formado, com boca
geralmente fechada e olhos não pigmentados (Nakatani et al., 2001), assim como os demais
órgãos que ainda estão em formação (Shardo, 1995).
A eclosão dos ovos de mandi-pintado ocorre aproximadamente em 21 hpf, à
temperatura média de 24ºC. O tempo de desenvolvimento embrionário pode variar de acordo
com a espécie, com o tamanho dos ovos e com a temperatura da água. Espécies migradoras,
com desova total, de fecundação externa e sem cuidado parental possuem ovos menores,
fecundidade maior e embriogênese rápida (Vazzoler, 1996; Godinho, 2007). Ovos com diâmetro
maior apresentam longo período de incubação (Sargent et al., 1987), como ocorre, por exemplo,
com os ovos de tilápia, que são grandes (± 2,06 mm) e eclodem em média 124 hpf (Morrison et
al., 2001). Em relação à temperatura, o tempo de incubação é menor quando a água está mais
quente e maior quando está mais fria (Sato et al., 2000; Ninhaus-Silveira et al., 2006), sendo o
mesmo válido para espécies nativas de águas quentes ou frias.

4.3 Desenvolvimento larval

Alguns pesquisadores utilizam o termo larva para indicar o período da vida do peixe
compreendido entre a eclosão e o enchimento da bexiga gasosa (Woynarovich & Horváth, 1983;
Godinho, 2007). Outros afirmam que a fase larval termina com a reabsorção do vitelo e início da
alimentação exógena (Helfman et al., 2000). E há o grupo dos que classificam as larvas em 4
estágios seguindo a sequência de desenvolvimento da nadadeira caudal e seus elementos de
suporte, dividindo-os em: estágio larval-vitelino, pré-flexão, flexão e pós-flexão (Kendall et al.,
1983; Nakatani et al., 2001). De acordo com essa classificação, a larva passa a ser juvenil
quando os espécimes se parecem com pequenos adultos, com todos os raios de nadadeiras e
escamas formados; esqueleto completamente ossificado; e padrão de pigmentação e forma do
corpo similares ao do adulto (Kendall et al., 1983).
Em doze horas pós-eclosão (hpe), as larvas de mandi-pintado apresentam olhos mais
desenvolvidos e início de pigmentação no corpo (Figura 2D). Às 18 hpe já se visualizam os
barbilhões.
A absorção total do vitelo das larvas de mandi-pintado ocorre aproximadamente em 50
hpe, quando as larvas iniciam a alimentação exógena (Figura 2E). O período de absorção do
saco vitelino é vital para a larva, pois neste período, o sistema digestório ainda se encontra em
formação (Godinho et al., 2003). Esse período de transição da alimentação endógena para a
exógena é uma fase crítica do desenvolvimento inicial, apresentando, frequentemente, altos
índices de mortalidade (Gordon & Hecht, 2002). Para se obter alta sobrevivência nesta fase é
importante que a primeira fonte de alimento exógena seja composta por alimento vivo, como
cistos de artêmia e zooplâncton. Com 66 hpe, as larvas de mandi-pintado já se alimentam
normalmente, podendo-se observar alimento em seu trato digestivo (Figura 2F).

4.4 Considerações finais

O conhecimento do desenvolvimento inicial traz informações importantes do ciclo


biológico dos peixes. As alterações ontogenéticas que ocorrem nesta fase coincidem com
mudanças na alimentação e no comportamento. Além disso, auxiliam na habilidade de
sobrevivência das larvas e, consequentemente, do adulto. A descrição morfológica dos
acontecimentos que ocorrem durante o desenvolvimento embrionário e larval, numa faixa de
tempo conhecida, contribuirá para um manejo adequado do mandi-pintado.

4.5 Referências Bibliográficas

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4.6 Figuras

CG

Ep

A B

ag

C D

E F
Figura 1: Ovos de mandi pintado Pimelodus britskii em diferentes fases de desenvolvimento. A)
Fase de 2 blastômeros. B) Fase de 4 blastômeros. C) Fase de mórula. D) Fase de gástrula, com
50% do embrião recoberto e destaque para a formação do anel germinativo. E) Fase final de
gástrula, com formação do blastóporo (seta). F) Esboço do embrião, com definição das regiões
cefálica e caudal. Ep=espaço perivitelino, CG=camada gelatinosa, c=córion, ag=anel
germinativo.

v
v

A B

v
v

C D
Figura 2: Ovos e larvas de mandi pintado Pimelodus britskii em diferentes fases de
desenvolvimento. A) Embrião às 12 horas pós-fertilização. B) 18 horas pós-fertilização. C) Larva
recém eclodida. D) Larva às 12 horas pós-eclosão. E) Larvas às 50 horas pós-eclosão. F)
Larvas às 66 horas pós-eclosão, com destaque para a presença de alimento (artêmias) no
estômago. V=vitelo.
Capítulo 5
Larvicultura do mandi-pintado

Dacley Hertes Neu1


Odair Diemer2
Altevir Signor3
Micheli Zaminhan4
Joana Karin Finkler5

5.1 Introdução

Na larvicultura do mandi-pintado, alguns cuidados devem ser tomados para que se


possa ter a melhor resposta possível dos peixes quanto à sobrevivência e ao crescimento.
Cuidados com os parâmetros da água -- como vazão, oxigênio dissolvido, temperatura, pH,
amônia e condutividade -- devem ser monitorados, evitando, assim, a proliferação de fungos
(Silva, 2004). Outro fator importantíssimo na larvicultura de peixes é o conhecimento das
exigências nutricionais, atualmente desconhecidas.
A larvicultura é o ponto mais crítico no processo de produção de peixes, devido a
elevadas taxas de mortalidade. A busca de condições ideais de cultivo das larvas e alevinos que
proporcionem maiores taxas de sobrevivência é uma constante (Luz & Zaniboni Filho 2002; El-
Sayed et al., 2003), pois se as larvas apresentarem bom estado nutricional e saúde,
consequentemente haverá sucesso na produção de alevinos.
Quando a temperatura é favorável, após dois dias e meio da eclosão dos ovos as larvas
de mandi-pintado começam a aceitar alimento vivo em sua dieta. O alimento mais comum para
essa fase é a artêmia, que é ofertada devido ao pequeno tamanho da boca das larvas. Além dos
aspectos nutricionais, é importante que se tenha o conhecimento sobre a intensidade luminosa,
a densidade de estocagem e também sobre a salinidade da água do ambiente de criação, pois
estes são alguns dos fatores que podem influenciar o desenvolvimento dos peixes desde a fase
de larva até a fase de alevino. Esses fatores podem e devem ser manipulados de forma a
maximizar a sobrevivência e a qualidade das larvas produzidas.

5.2 Salinidade

Além da relação da salinidade com o crescimento e com a sobrevivência – o que foi


observado por alguns autores (Swanson, 1998; Baldisserotto, 2002; Partridge & Jenkins, 2002) -
- há outras situações e formas de utilização do sal na piscicultura: na prevenção e controle de

1Engenheiro de Pesca. Mestrando em Recursos Pesqueiros e Engenharia de Pesca – Unioeste.


dacley_pesca@hotmail.com – Unioeste
2 Engenheiro de Pesca. Mestrando em Zootecnia – Unioeste. odairdiemer@hotmail.com – Unioeste
3 Engenheiro de Pesca. Doutor em Produção Animal. altevirsignor@yahoo.com.br – Instituto Água Viva
4 Graduanda em engenharia de Pesca. michelizam@hotmail.com – Unioeste
5 Graduanda em engenharia de Pesca. joana_jkf@hotmail.com - Unioeste
doenças, como alívio do estresse relacionado às despescas, às biometrias, às classificações por
tamanho, às transferências dos peixes e ao confinamento durante a depuração. É possível
também usar o mencionado mineral no alívio de estresse do transporte de curta e longa
duração, e como amenizador de condições ambientais adversas, como toxidez por nitrito e
inflamação das brânquias (Kubitza, 2007).
A salinidade pode, ainda, alterar a quantidade de energia disponível para o
crescimento dos peixes, através da alteração do custo energético para regulação iônica e
osmótica, podendo melhorar (ou não) o crescimento, variando conforme a salinidade, espécie ou
tamanho do peixe.
A utilização de água salina na larvicultura de espécies de água doce permite o uso de
alimento vivo de alta qualidade oriundo de águas marinhas (Lavens & Sorgeloos, 1996). A
utilização da artêmia na alimentação de larvas de peixes de água doce é limitada, pois, pelo fato
de este alimento viver por apenas alguns minutos, se não for ingerido pode estacionar-se no
fundo do tanque. Este fato não só mostra quão facilmente a artêmia pode se tornar indisponível
às larvas, mas também a sua potencialidade em poluir a água. Com a utilização de água
salinizada aumenta-se o tempo de sobrevivência dos náuplios, tornando o alimento mais
acessível.
Com o objetivo de verificar o caráter prático e benéfico da utilização de sal na
larvicultura, foi realizado um trabalho para determinar a tolerância dos níveis de salinidade pelas
larvas de mandi-pintado. O resultado de desempenho dos peixes pode ser verificado na tabela
3.

Tabela 3. Desempenho das larvas de mandi-pintado em diferentes níveis de salinidade.


Níveis de Salinidade (‰)
Variáveis* 0 1 2 3 C.V. (%)
Peso (g) 0,602a 0,658a 0,565a 0,451b 12,54
Comprimento (mm) 41,855a 43,507a 41,330ab 38,666 4,03
b

Sobrevivência (%) 75a 92,5a 62,5a 57,5a 25,8


*Valores na mesma linha seguidos de letras distintas diferem estatisticamente (P <0,05) pelo teste de
Tukey.

É possível verificar que os peixes sofreram influência da salinidade, embora aqueles


que ficaram nos aquários sem adição de sal, se comportaram da mesma maneira que os peixes
condicionados em águas com 1 e 2 ‰ de salinidade (Tabela 3). Uma boa prática de manejo das
larvas é adicionar 1ppt de sal a água para que se possa ter um melhor resultado de
desempenho e também como proteção, já que o sal atua como defensivo em perturbações
como fungos e resposta ao estresse dos peixes.

5.3 Densidade

A densidade de estocagem é outro processo ao qual se merece dar atenção,


principalmente devido a sua influência sobre o desenvolvimento, o que pode acarretar sérios
prejuízos à produção.
De acordo com Luz & Santos (2008), peixes criados em baixas densidades de
estocagem apresentam boa taxa de crescimento e alta porcentagem de sobrevivência. Por outro
lado, a utilização de quantidades reduzidas de animais leva a uma subutilização do espaço
disponível. Em contrapartida, a utilização de altas densidades pode ser prejudicial, podendo
ocasionar elevada taxa de mortalidade.
Na busca de soluções para este problema, foi realizado um estudo com o objetivo de
avaliar o efeito da densidade de estocagem sobre o desempenho e sobrevivência de larvas do
mandi-pintado P. britski. Os resultados dos parâmetros de desempenho podem ser verificados
na tabela 4.

Tabela 4. Valores de peso final (PF), comprimento final (CF) e sobrevivência (SO) para o mandi-
pintado P. britski cultivado em diferentes densidades.

Densidade (larvas/L)
Parâmetros CV (%)
0,25 0,5 1 2
PF (g) 0,1483ab 0,1517a 0,1120b 0,1145ab 13,72
CF (cm) 2,6046a 2,6312a 2,3491b 2,3401b 4,09
SO (%) 90,625a 98,333a 85,000a 85,000a 10,28
Médias na mesma linha seguidas de letras distintas diferem (P<0,05) pelo teste de Tukey.

Notou-se que a utilização de larvas de mandi-pintado estocadas na densidade de 0,5


larvas/L proporcionou maior peso final. Embora não haja diferenças significativas, o
comprimento final e a sobrevivência foram maiores quando comparados às outras densidades.
Se houver certo cuidado no período de larvicultura, a densidade de duas larvas por
litro se mostra eficiente, visto que a sobrevivência foi de 85%. Além de otimizar o processo, isso
acarretaria menor ocupação de espaço, produzindo maior quantidade de larvas desse peixe e
diminuindo os custos de produção.

5.4 Luminosidade

Outro fator que pode influenciar o desenvolvimento dos peixes é a luminosidade. Os


peixes exibem um ciclo de 24 horas nas suas atividades, sendo a presença ou ausência de luz
um fator importante para o sucesso da larvicultura. Este ciclo afeta principalmente o ritmo
alimentar que é característico de cada espécie (Baldisserotto, 2002).
O mecanismo que regula o ritmo de alimentação e produz efeitos sobre o crescimento
não é conhecido completamente. Sabe-se, entretanto, que o fotoperíodo pode influenciar a
liberação de hormônios e produzir efeitos sobre o desenvolvimento dos peixes, ocorrendo
geralmente em peixes Siluriformes (Baldisserotto, 2002). Em larvas de mandi-pintado, a
luminosidade afeta indiretamente o desempenho, isto é, o peixe está mais ligado com a captura
de alimento do que com o fotoperíodo. Contudo, foi observado por Feinden et al (2006a) que os
melhores resultados de desempenho inicial para surubim do Iguaçu – que também é uma
espécie de couro e da mesma família do mandi-pintado -- foi quando os mesmos foram
mantidos em ambientes escuros e sem refúgios.
Para elucidar essa questão, foi realizado um estudo com o objetivo de avaliar o efeito
do fotoperíodo sobre o desempenho e a sobrevivência de larvas de mandi-pintado. Os
resultados podem ser vistos na tabela 5.
Dois fotoperíodos foram utilizados como tratamentos: fotoperíodo natural, que é aquele
em que não havia controle sobre a luz, e o outro foi composto por fotoperíodo escuro, sendo os
peixes submetidos a 24 horas de escuridão total durante todo período experimental. Os peixes
foram alimentados com dois tratamentos: artêmia e ração.
Os peixes mostraram ter capacidade de se alimentarem tanto em ambientes escuros
como claros. Entretanto, quando fornecido alimentos inertes, o desempenho foi prejudicado com
elevadas taxas de mortalidades. As larvas de mandi-pintado apresentaram maior sobrevivência
quando expostas à escuridão e alimentadas com artêmia, e menor taxa de sobrevivência
quando expostas ao escuro e alimentadas com rações, embora os parâmetros de desempenho
não tenham sido influenciados pelo fotoperíodo.
Tabela 5. Valores de peso final médio (PF), comprimento final médio (CF) e sobrevivência (SO)
para o mandi-pintado P. britski cultivado em diferentes fotoperíodos.

Tratamentos
Variáveis* CV (%)
1 2 3 4
PF (g) 0,63±0,07a 0,61±0,05a 0,10±0,04b 0,20±0,12b 22,43
CF (mm) 41,79±2,44a 41,24±3,32a 24,03±1,79b 29,44±4,73b 24,70
88a 18c 8d 74,01
*Médias na mesma linha seguidas de letras distintas diferem (P<0,05) pelo teste de Tukey. 1) Fotoperíodo
Natural alimentadas com Artemia, 2) Fotoperíodo Escuro alimentadas com Artemia, 3) Fotoperíodo Natural
alimentadas com Ração e, 4) Fotoperíodo Escuro alimentadas com Ração.

5.5 Alimento vivo em dietas para larvas de peixes

Para a utilização de alimento vivo em cultivo de larvas de peixes, existem duas


restrições básicas: qual espécie é a mais indicada na alimentação de larvas e outra, como
realizar o cultivo destas espécies propriamente ditas (Lopes et al., 1996). Portanto, tais decisões
devem levar em consideração o conhecimento prévio da qualidade nutricional da espécie-
alimento, sua biologia e fisiologia e, principalmente, suas características de desenvolvimento.
Pois para servirem de alimentos, devem ser passíveis de ingestão e digestão pelas larvas, o que
dependerá do tamanho da boca desta larva em relação ao tamanho do alimento fornecido.
Como o mandi-pintado (Pimelodus britskii) pode apresentar taxa de canibalismo nas
fases iniciais de vida, as rações devem ser completas para suprir as necessidades nutricionais.
Luz e Zaniboni-Filho (2001) ressaltam que há necessidade de selecionar um alimento que
satisfaça as exigências de cada espécie. Sabendo que o alimento vivo apresenta grande valor
nutricional, os peixes que se encontram em ambientes naturais conseguem balancear suas
dietas, escolhendo itens que melhor supram suas exigências (Kubiza 1997). Desta forma o
fornecimento de alimento vivo está relacionado ao seu valor nutricional e aos tipos e dimensões
dos organismos (Cestarolli et al., 1997). No caso da produção em cativeiro a utilização de
náuplios de artêmia tem demonstrado um ótimo recurso na alimentação de larvas,
proporcionando elevadas taxas de sobrevivência, baixas taxas de mortalidade e ausência de
canibalismo (Luz & Santos 2008).
Quando as larvas de mandi-pintado não são alimentadas por tempo suficiente com
alimentos vivos, elas ficam suscetíveis a perturbações, o que pode levar os animais à morte.
Diversos autores relatam a necessidade do fornecimento de organismos vivos em dietas para
peixes, principalmente na larvicultura. Qin et al. (1997), Soares et al. (2000), Carneiro et al.
(2003), Evangelista et al. (2005) e Feiden et al. (2006b), comprovam a necessidade da inclusão
de organismos vivos durante a alimentação inicial para se obter maior comprimento, maior peso
e para reduzir a taxa de canibalismo.
Corroborando as afirmações destes autores, a espécie P. britskii apresentou
resultados semelhantes. Realizou-se um estudo para determinar o melhor período de
fornecimento de artêmia, avaliando o crescimento e a diminuição da mortalidade.
A tabela 6 descreve os resultados obtidos para essa espécie. Com 20 dias de
fornecimento de artêmia, as larvas obtiveram peso, comprimento e sobrevivência mais elevados,
quando comparadas às alimentadas com artêmia em período de tempo mais curto. As larvas
que receberam alimento vivo até o quinto dia conseguiram se manter. Quando se substituiu a
artemia por ração, houve provável falta de nutrientes necessários ao seu normal crescimento, e
as larvas apresentaram mortalidade. Observa-se, portanto, que para um bom desempenho e
sobrevivência, deve-se fornecer a artêmia na dieta das larvas por pelo menos 20 dias.

Tabela 6. Valores médios de desempenho e sobrevivência de larvas de Pimelodus britskii


submetidos a diferentes tempos de fornecimento de artêmia.
Tempo de Artêmia
Variáveis* 5 10 15 20 C.V. (%)
Peso (g) 0,014c 0,036bc 0,109b 0,193a 53,25
Comprimento (mm) 6,160b 10,314b 23,728a 28,262a 41,21
Sobrevivência (%) 8b 24ab 48ab 60a 65,78
*Valores na mesma linha seguidos de letras distintas diferem estatisticamente (P <0,05) pelo teste de
Tukey 5%.

Com o propósito de contribuir com um melhor conhecimento sobre o comportamento


alimentar das larvas, foi realizado um estudo que teve como objetivo avaliar a utilização de
diferentes dietas na primeira alimentação. Os tratamentos consistiram de quatro programas de
alimentação: 1) Artêmia; 2) Ração; 3) Artêmia + Ração e, 4) Artêmia por duas semanas, e
depois somente ração até o final do experimento. Depois de 30 dias, verificou-se que o melhor
desempenho foi o do tratamento das larvas que receberam artêmia juntamente com ração.
Estas obtiveram peso e comprimento superior aos da que receberam outros métodos
alimentares. Na tabela 7 podem ser mais bem visualizados os resultados desse trabalho.

Tabela 7 - Valores médios dos parâmetros bióticos de larvas de Pimelodus britskii alimentadas
com diferentes dietas.
Variáveis* Tratamentos C.V.

1 2 3 4
Peso Final (g) 0,386±0,13a 0,090±0,05c 0,604 ± 0,17a 0,424±0,18b 12,4
Comp. Final
(mm) 36,34±3,98b 22,18±3,88c 41,51± 4,41a 36,58±6,03b 35,9
Sobrevivência
(%) 87,33a 40,00b 94,00a 85,83a 47,9
*Valores na mesma linha seguidos de mesma letra não diferem estatisticamente (P<0,05) pelo teste Tukey.
Tratamentos: 1) Artêmia; 2) Ração; 3) Artêmia + Ração e, 4) Artêmia por duas semanas e depois ração.
C.V. – Coeficiente de Variação (%).

A composição nutricional da artemia concede às larvas as condições ideais para o


desenvolvimento do sistema gastrointestinal, que consequentemente promove maior absorção
dos nutrientes disponibilizados pela dieta. Os resultados observados comprovam a necessidade
de fornecer -- no período inicial de desenvolvimento das larvas de P. britskii -- dietas que
apresentem um adequado balanço nutricional. A junção de dietas artificiais com alimento vivo é
uma alternativa para melhorar o desenvolvimento e a sobrevivência das larvas desta espécie.
Pode-se recomendar a substituição da alimentação de artêmia por ração após duas
semanas, sem causar maiores prejuízos ao desenvolvimento dos peixes. Todavia, a
alimentação em conjunto ainda proporciona melhores resultados zootécnicos, enquanto o
fornecimento exclusivo de alimento artificial ocasionou baixo ganho de peso e alta mortalidade.
Segundo Baras e Jobling (2002) o alimento inerte afeta o ganho de peso e a sobrevivência pela
incapacidade de digestão dos alimentos no início da alimentação exógena.
Desta forma, a utilização de alimento vivo no caso da artêmia, em conjunto com uma
ração balanceada na alimentação do mandi-pintado P. britskii, melhora os resultados de
sobrevivência e desempenho, em comparação com larvas alimentadas somente com ração ou
com artêmia.
Para que as larvas de mandi-pintado possam crescer mais rápido e a taxa de
sobrevivência ser mais elevada, o mais indicado é adicionar à sua alimentação organismos vivos
após o consumo do saco vitelínico, sendo apresentada pela artêmia uma adequada composição
nutricional para a fase de larvicultura.

5.6 Processamento da dieta

Após dois dias e meio na incubadora as larvas já aceitam alimento externo. É


interessante oferecer esse alimento junto com artêmia para que o mandi-pintado possa ir se
adaptando gradativamente às rações. A partir do décimo quarto dia de vida a espécie já aceita
bem a alimentação proveniente de fonte exógena. As rações podem ser preparadas de forma
industrial ou artesanal e são usadas como fontes de nutrientes. A quantidade de cada um
desses nutrientes é que vai permitir a formulação e preparação de uma ração com composição
conhecida e adequada à produção dos peixes.
Os ingredientes utilizados na formulação de uma ração para peixes são variados e,
dependem da disponibilidade regional e do seu custo.
Na fase inicial de vida, os peixes necessitam de rações ricas em nutrientes. É
necessário, também, que essa ração seja moída a ponto dos peixes conseguirem se alimentar.
Três tipos básicos de dietas dominam o campo da fabricação: fareladas, peletizadas e
extrusadas. A ração a ser disponibilizada aos animais depende do tamanho do peixe, da espécie
e das características alimentares de cada espécie. O meio aquático influencia negativamente a
nutrição dos peixes, devido à perda dos nutrientes por lixiviação, e isso reflete diretamente no
desempenho dos peixes, ou indiretamente, provocando a redução na qualidade de água (Furuya
et al., 1998).
Como existe pouca informação com relação à alimentação na fase larval de P. britskii,
um trabalho foi realizado para avaliar os diferentes processamentos das dietas, utilizando-se
rações fareladas, pastosas e extrusadas moídas. Os peixes responderam melhor a dieta
extrusada moída, obtendo maior comprimento final Contudo, não houve diferenças do
processamento em relação ao ganho de peso e à sobrevivência dos peixes. Os resultados
podem ser mais bem compreendidos com a análise da tabela 8.

Tabela 8. Valores de desempenho e sobrevivência das larvas de mandi-pintado submetidas a


rações com diferentes processamentos.
Rações
Variáveis* Pastosa Farelada Extrusada moída C.V. (%)
Peso (mg) 84,47±26,25 77,43±21,81 94,38±31,51 31,38
Comprimento 22,52±2,01ab 22,28±2,03b 23,95±2,41a 9,42
(mm)
Sobrevivência 92 92 92 30,09
(%)
*Valores com letras iguais em uma mesma linha não diferem estatisticamente de acordo com o teste de
Tukey (P>0,05).

Um dos motivos que explica a melhora no crescimento dos peixes através da dieta
extrusada moída é o fato de ela ter passado pelo processo de extrusão, que em si proporciona
maior estabilidade e disponibilidade de seus nutrientes devido às mudanças físicas que ocorrem
através do aquecimento (Signor, 2008). Além disso, a moagem, por tornar os grânulos menores,
faz com que os peixes tenham maior facilidade de se alimentar. Porém, esse processo acaba
elevando o preço devido ao maior tempo gasto, a mão-de-obra e ao maior consumo de energia
(Meurer et al., 2005).
5.7 Utilização de micronutrientes

Dentre os nutrientes, as vitaminas destacam-se na dieta dos animais potencializando o


crescimento, apresentando excelente quadro de saúde, e colaborando nos processos
metabólicos normais (Lovell, 1998). Estas são classificadas como hidrossolúveis e lipossolúveis.
As vitaminas hidrossolúveis são necessárias em quantidades relativamente pequenas e têm
funções essenciais como coenzimas. Três vitaminas hidrossolúveis têm outras funções além de
coenzimas, e por vezes são necessárias em maiores quantidades, podendo ser indicadas como
as macrovitaminas. Neste grupo inclui-se a vitamina C, mioinositol e a colina (Lovell, 1998).
Portanto, as vitaminas são nutrientes vitais no desenvolvimento dos animais e participam de
inúmeros processos metabólicos (Halver, 2002).
Embora sejam consideradas de grande importância na nutrição animal, as vitaminas
têm recebido pouca atenção e raros são os trabalhos relacionados com peixes tropicais
(Fracalossi et al., 1998). Logo, as exigências vitamínicas da maioria das espécies de peixes
cultivados não estão determinadas. Assim, os dados obtidos com salmonídeos, catfish ou
carpas são usualmente aplicados em formulação de alimentos para outras espécies (Silva &
Anderson, 1998).
Um dos maiores problemas das espécies nativas está relacionado ao início de seu
desenvolvimento, período no qual ocorrem grandes mortalidades. Para o correto funcionamento
do metabolismo, a vitamina C está presente em órgãos vitais, o que, entretanto, não ocorre nos
peixes, visto que não apresentam a enzima L-gulonolactona oxidase, responsável pela síntese
da vitamina C. Isto torna necessária a suplementação dessa vitamina na dieta. Devido a sua
importante participação no metabolismo, acredita-se que sua suplementação possa melhorar as
características de desempenho e sobrevivência das larvas de peixes (Lovell, 1998), pois tem
função importante na formação de colágeno, que é o principal componente do esqueleto. Sabe-
se que a deficiência da vitamina C pode causar deformações ósseas, hemorragias, anorexia e
baixa resistência ao estresse.
As exigências nutricionais dos peixes por vitamina C são influenciadas por vários
fatores, como idade, tamanho, estado reprodutivo, estresse, entre outros (Halver, 1985). Os
requerimentos de vitaminas pelos peixes variam de acordo com a espécie, tamanho, taxa de
crescimento, inter-relações de nutrientes, ambientes tóxicos, e a função metabólica
(crescimento, resistência a doenças, etc.).
Desse modo, foi realizado um experimento para avaliar o melhor nível de inclusão de
vitamina C em dietas para larvas de mandi-pintado. Os resultados de desempenho das larvas
são apresentados na tabela 9.
Tabela 9. Peso final, comprimento final, sobrevivência e coeficiente de variação de alevinos de
mandi-pintado, alimentados com ração contendo diferentes níveis suplementação de vitamina C.
Níveis de Suplementação de Vitamina C (mg/kg de ração)
600
Variáveis (controle) 850 1100 1600 2600 C.V.

PF (mg) 90±30 80±20 80±30 80±20 70±20 28,62

CT(mm) 21,83±1,66 22,13±1,84 21,92±2,35 21,43±2,38 21,08±2,47 9,00


SO (%) 87,5 87,5 84,37 81,25 78,12 24,55
PF – Peso Final (mg) CF – Comprimento Total (mm); SO – Sobrevivência (%); e C.V. –
Coedificiente de Variação (%).

Como as rações formuladas para este trabalho já continham premix vitamínico e


mineral, possivelmente o tratamento que não recebeu suplementação (tratamento controle), que
apresentava 600mg de vitamina C/kg de ração, atendeu aos requerimentos desta vitamina às
larvas desta espécie. Desse modo, os peixes do tratamento controle desenvolveram-se em
condições normais, tendo a sua disposição a concentração necessária de vitamina C aos seus
processos metabólicos.
Como não foram verificados sinais clínicos visíveis, acredita-se que 600 mg de
vitamina C para cada quilo de dieta são suficientes, embora haja relatos de que os sinais de
deficiência nos peixes apareçam a partir da décima oitava semana de cultivo. Levando-se em
consideração que o presente experimento teve somente 30 dias, talvez períodos mais
prolongados pudessem demonstrar melhor a influência de suplementação da vitamina C. Por
outro lado, é válido mencionar que o experimento foi realizado com larvas de processo
metabólico acelerado, chegando a dobrar de peso em poucos dias, o que nos permite afirmar
que os níveis de vitamina C disponibilizados pela dieta controle apresentam-se como os exigidos
pela espécie.

5.8 Considerações finais

A larvicultura é um processo produtivo altamente complexo independentemente da


espécie a ser cultivada. Conhecer a biologia e a fisiologia das larvas é o primeiro passo para
desenvolver ferramentas que venham a auxiliar na melhoria do desenvolvimento e cultivo
destas. O estabelecimento de um manejo, seja ele nutricional ou de cultivo, é fundamental para
garantir o mínimo de sobrevivência e desenvolvimento das larvas. A falta de conhecimento
sobre o desenvolvimento larval, das exigências nutricionais na fase inicial, das características
fisiológicas das larvas e os raros trabalhos direcionados sobre o assunto comprometem o
sucesso no cultivo de inúmeras espécies nativas.
Pouca importância vem sendo dada à deposição de nutrientes nos ovócitos por parte
das fêmeas reprodutoras e experimentos têm demonstrado que podem grandemente contribuir
com melhorias no desenvolvimento das larvas. Portanto, novas investigações devem ser
realizadas no sentido de ampliar os conhecimentos relacionados ao desenvolvimento das larvas,
suas exigências nutricionais, processos metabólicos, fisiológicos, na formação de tecidos, sejam
eles teciduais ou gastrointestinais.

5.9 Referências

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Capítulo 6
Cultivo do mandi-pintado em
tanque-rede

César Sary1
Fausto Renato Weirich2
Junior Dasoler Luchesi3
Aldi Feiden4

6.1 Considerações gerais

A produção de peixes em tanques-rede é definida como a criação de peixes em um


volume delimitado que permita a livre e constante circulação de água (Baldisserotto & Radunz
Neto, 2004). Os tanques-rede são estruturas flutuantes de variados formatos e tamanhos,
constituídos por redes ou telas que permitem a passagem da água (Figura 1). As primeiras
criações com este sistema se iniciaram com o cultivo da carpa comum em 1963, nos lagos Suwa
e Kazumigaura (Castagnolli, 2000).
O acréscimo na utilização desse sistema é devido a algumas vantagens sobre o
sistema convencional, como o aproveitamento de ambientes aquáticos já existentes -- oceanos,
rios, lagos, grandes reservatórios, entre muitos outros (Ono & Kubtiza, 1999). Também se
explica pela possibilidade de sua instalação em áreas de difícil acesso, onde a construção de
represas e viveiros escavados é inviável. Além disso, as condições de manejo permitem seu uso
em escala comercial e familiar (Cavero et al., 2003a). Ainda assim, apesar dos benefícios, este
sistema de cultivo é atualmente muito questionado pelos seus elevados custos de produção
(Zimmermann & Fitzsimmons, 2004).
O território brasileiro representado pelos seis milhões de hectares de águas
represadas (Marengoni, 2006) e a grande disponibilidade de grãos para o processamento de
rações (Signor, 2006) apresenta um ambiente favorável para a ampliação do cultivo de pescado
em sistemas intensivos.
O decreto 4.895 de 25 de novembro de 2003 estabelece que os espaços físicos em
corpos d’água da União poderão ter uso autorizado para fins da prática de aquicultura. É
fundamental que a implantação do estabelecimento vincule viabilidade econômica com a
sustentabilidade ambiental, evitando, assim, conflitos no uso de recursos hídricos e promovendo
o desenvolvimento regional (Bittencourt, 2008).
Segundo Tataje et al. (2004), as espécies nativas geralmente apresentam bons
resultados devido à rusticidade dos peixes durante o confinamento. Aliado ao potencial hídrico
do Brasil, este fato tem revelado um enorme potencial para o incremento da produção piscícola
em águas continentais.
Neste sistema, os peixes estão confinados em locais restritos, sendo impedidos de
buscar ambientes onde a qualidade da água apresente condições satisfatórias ao
desenvolvimento, sendo, então, de suma importância o monitoramento das características físico-

1Zootecnista.Mestrando em Zootecnia PPZ-Unioeste. zitozootecnia@hotmail.com – Unioeste


2Graduando em Engenharia de Pesca. ficadibo@hotmail.com – Unioeste
3Engenheiro de Pesca. jr_dasoler@hotmail.com – Instituto Água Viva
4Engenheiro Agrônomo. Dr. Ciências Ambientais. aldifeiden@gmail.com - Unioeste
químicas do corpo hídrico (Bozano & Cyrino, 1999). Consequentemente, a aquicultura intensiva
deve ser conduzida de maneira planejada e sustentável (Ayrosa et al., 2006).

6.2 Nutrição

O mandi-pintado apresenta alimentação variada, mostrando-se claramente oportunista.


Segundo Cassemiro et al. (2005), outras espécies do gênero descritas nos locais de ocorrência
do mandi-pintado apresentam hábito alimentar variável (carcinófaga, onívora, piscívora,
insetívora) durante as fases de crescimento, dependendo da quantidade e da qualidade do
alimento no ambiente.
O fornecimento de rações balanceadas nutricionalmente é fundamental nas diferentes
fases de vida dos peixes, melhorando o crescimento, a sobrevivência e a conversão alimentar
(Cho et al., 2003).
O manejo alimentar adequado proporciona uma taxa de ingestão maior, que reflete na
relação entre a quantidade de alimento fornecido e a produção de biomassa. Logo, o gasto com
ração na produção de uma mesma biomassa de peixe, ou o tempo de cultivo, se torna menor
(Crescêmcio et al., 2005).
As informações sobre as exigências nutricionais em cultivo para o mandi-pintado na
fase de engorda são hipotéticas. Freitas et al. (2008), avaliando os níveis de proteína bruta em
rações para juvenis de mandi Pimelodus sp., não observou diferença significativa (tabela 10)
quando forneceu rações contendo 30, 34, 38, 42 e 46 % de proteína bruta, em peixes com peso
inicial médio de 106,53 ± 29,02 g, comprimento total inicial médio de 21,53 ± 1,97 cm, exceto
para comprimento total e comprimento padrão entre os tratamentos.
Tabela 10. Parâmetros avaliados encontrados para o mandi submetido a dietas contendo
diferentes níveis de proteína bruta.
Níveis de proteína bruta (PB) CV(%)
Parâmetros
30% 34% 38% 42% 46%
PF 122,84a 131,86a 138,88a 134,03a 143,21a 12,351NS
GP 16,30a 25,33a 32,35a 27,50a 36,68a 59,960 NS
CR 391,53a 647,49a 462,49a 454,79a 593,53a 36,949 NS
CA 27,36a 31,01a 22,45a 29,09a 16,04a 77,663 NS
EA 0,04a 0,04a 0,07a 0,06a 0,06a 59,628 NS
CFT 22,00b 22,97ab 22,90ab 22,57ab 24,25a 5,225*
CFP 10,25b 18,97ab 19,06ab 18,70ab 19,69a 4,510*
SO 95,00a 70,00a 80,00a 85,00a 70,00a 22,003 NS
FC 1,15a 1,09a 1,15a 1,15a 1,02a 9,497 NS
RC 89,34a 92,87a 93,52a 91,38a 93,67a 3,883 NS
GV 2,11a 1,95a 1,90a 1,97a 1,95a 18,507 NS
Médias na mesma linha seguida de letras distintas diferem pelo teste de Duncan (P<0,05).
PF= peso final; GP= ganho de peso; CR= consumo de ração; CA= conversão alimentar; EA=
eficiência alimentar; CFT= comprimento final total; CFP= comprimento final padrão; SO=
sobrevivência; FC= fator de condição; RC= rendimento de carcaça; GV= gordura visceral.
Considerando que os peixes criados em tanques-rede não têm acesso ao alimento
natural, a dieta fornecida torna-se a única fonte de alimento, sendo essencial que a mesma
apresente em sua composição todos os nutrientes que possibilitem o adequado funcionamento
metabólico do peixe, permitindo a máxima expressão do seu genótipo.
Desta forma, diferentes trabalhos demonstram que fatores tais como taxa de
arraçoamento (Chagas et al., 2007), período de alimentação (Hayashi et al., 2004; Crescêncio et
al., 2005), densidade de estocagem (Vilela et al., 2001; Cavero et al., 2003b; Ostini et al., 2007;
Bittencourt, 2008; Almeida & Nuñer, 2009), e biomassa sustentável (Cavero et al., 2003a) estão
relacionados com o desempenho da espécie cultivada e a viabilidade do sistema.

6.3 Densidade de estocagem

Estabelecer a densidade ideal de estocagem em tanque-rede é fundamental para


tornar viável a produção de pescado. Segundo Marengoni (2006), o aumento na densidade de
estocagem inicial proporciona um acréscimo linear da biomassa final por m3 útil do tanque-rede,
proporcionando, assim, aumento na produção e retorno do investimento.
Normalmente, peixes criados em baixas densidades de estocagem apresentam boa
taxa de crescimento e alta porcentagem de sobrevivência (Brandão et al., 2005). Entretanto, o
emprego de quantidades reduzidas de animais leva a uma subutilização do espaço disponível
(Luz & Santos, 2008). Por outro lado, a utilização de densidades elevadas que permitam o
máximo uso da água com maior produção de peixes (Urbinati & Carneiro, 2004) pode acarretar
na redução da sobrevivência e afetar a biomassa final (Andrade et al., 2004; Campagnolo &
Nuñer, 2006). Pode, ainda, provocar alterações no comportamento dos peixes, gerando maior
exigência metabólica (Salaro et al., 2003) em ambas as fases de cultivo.
Trabalhos com densidade de estocagem com P. britskii nesta fase são inexistentes.
Almeida & Nuñer (2009) encontraram para Pimelodus maculatus densidade ideal de 56
peixes/m3 na fase de juvenis estocados com peso médio de 31,4±12,2g e comprimento médio de
15,0±1,8cm.

6.4. Manejo dos peixes em tanque-rede

6.4.1. Boas práticas de manejo

As boas práticas de manejo no sistema de produção de peixes em tanques-rede são


essenciais para o gerenciamento das atividades desenvolvidas. Desta forma, é possível manter
o controle de gastos com insumos, materiais e equipamentos para a unidade produtora em
tanque-rede. Também facilitam e possibilitam o acompanhamento dos parâmetros zootécnicos
dos peixes estocados, a qualidade de água e a comercialização do pescado.
É imprescindível que a unidade produtora de peixes em tanques-rede garanta não só a
credibilidade da atividade, como também o uso sustentável dos recursos hídricos, mantendo a
sua compatibilidade com os processos ecológicos que ocorrem nesses locais através da escolha
criteriosa do local adequado para a implantação dos tanques-rede (Rotta e Queiroz, 2003).
6.4.2. Acompanhamento da produção

O acompanhamento zootécnico da produção é fundamental para estabelecer as


estratégias ou tomada de decisões quando necessárias. O acompanhamento da produção
baseia-se na realização de biometrias (figura 2) através do auxílio de uma balsa. Os tanques-
rede são parcialmente retirados da água para captura dos peixes, com o objetivo de mensurar
peso e comprimento. A biometria pode ser total (realizando a pesagem de todos os peixes) ou
parcial, por amostragem do lote (acima de 20% do numero total estocado).
Através da biometria o produtor pode calcular o ganho de peso dos peixes, a
conversão alimentar, a mortalidade (biometria total), além da possibilidade de acompanhamento
mais apurado da sanidade dos peixes. Havendo irregularidades, a tomada de decisões será
imediata, amenizando os prejuízos.

6.4.3 Manutenção dos tanques-rede

Os materiais utilizados para confecção dos tanques-rede apresentam tempo de uso


útil, sendo necessária a sua manutenção ou, em casos mais graves, a sua reposição. O
rompimento (figura 3) da malha dos tanques-rede é um dos casos de fuga de peixe que resulta
em prejuízo, sendo fundamental a vistoria dos tanques-rede antes do povoamento dos animais.
A ocorrência de mexilhão dourado, bivalve originário do sudoeste asiático (figura 4), é
um dos grandes problemas no momento do manejo dos tanques-rede, para realização das
biometrias e despesca. Sua ocorrência também dificulta a renovação de água nos tanques-rede,
pois diminui a passagem da água e pode provocar lesões nos peixes no momento da biometria
e despesca. A limpeza dos tanques-rede para retirada do mexilhão é através da raspagem com
auxílio de escovas de aço.

6.5 Referências

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6.6 Figuras

Figura 1. Detalhe da estrutura de sustentação, flutuadores e malha dos tanques-rede.

Figura 2. Manejo dos tanques-rede para realizar a biometria dos peixes.

Figura 3. Rompimento da malha do tanque-rede.


Figura 1. Tanque-rede limpo (à esquerda) e com mexilhão dourado (à direita).
Capítulo 7
Processamento do Mandi-pintado

Juliana Cristina Veit1


Jakeline Marcela Azambuja de Freitas2
Elenice Souza dos Reis3
Wilson Rogério Boscolo4

7.1 Composição Centesimal e Valor Nutricional

O estudo da composição centesimal dos peixes fornece subsídios básicos às áreas de


nutrição e tecnologia, auxiliando no aproveitamento racional do pescado. Além disso, o
conhecimento da composição corporal e dos fatores que a afetam permite a avaliação da saúde
do peixe, a determinação da eficiência de transferência de nutrientes do alimento ao peixe e
possibilitam, enfim, prever modificações na composição da carcaça (Shearer, 1994).
Segundo Contreras-Guzmán (1994), o conhecimento da composição química dos
pescados é de fundamental importância também para a padronização dos produtos alimentares
na base de critérios nutricionais, pois fornece subsídios para decisões de caráter dietário,
acompanhamento de processos industriais e seleção de equipamentos para otimização
econômico-tecnológica.
Para tanto, a avaliação da composição corporal dos peixes, entre eles o mandi-pintado
(Pimelodus britskii), é importante para seu aproveitamento comercial, pois com a caracterização
do seu valor nutricional, ele pode ser uma ótima opção para o setor industrial e ao mercado
consumidor.
A Tabela 11 apresenta a composição centesimal dos filés de mandi-pintado, sendo
possível observar a alta concentração de proteínas que se encaixa nos padrões estabelecidos
por Pereira (2003). Estes dizem que a proteína da carne dos peixes deve estar entre 15% a
20%, tornando-o uma ótima opção de consumo, tendo em vista que as proteínas são os
elementos principais dos tecidos orgânicos (Franco, 2005).

Tabela 11. Composição centesimal dos filés de mandi-pintado (P. britskii), capturados no rio
Iguaçu em maio de 2009.
Parâmetro Média (%) CV (%)
Proteína 17,39 7,88
Lipídios 12,34 17,67
Cinzas 1,11 1,47
Umidade 68,71 2,57

O mandi-pintado apresenta uma carne com alto teor de lipídios, sendo então
considerado gordo, pois, segundo Bressan (2002), peixes com percentual de gordura acima de

1Nutricionista.
Juliana_veit@hotmail.com – Instituto Água viva
2Graduanda do curso de Engenharia de Pesca. jaquelinemarcela@ibest.com.br Unioeste
3Graduanda do curso de Engenharia de Pesca. lezinha_reis@hotmail.com – Unioeste
4Zootecnista. Dr. em Produção Animal. wrboscolo@bol.com.br - Unioeste
8% são assim classificados. Em geral, o alto teor de lipídios no pescado pode ser benéfico,
tendo em vista que esta característica torna a carne mais saborosa (Ogawa, 1999b). Além disso,
os lipídios são fonte de energia, constituintes de membranas, têm grande poder de saciedade e
são essenciais para a absorção das vitaminas lipossolúveis. São, portanto, fundamentais para o
desenvolvimento adequado e para a manutenção da saúde humana.

7.2 Valor Tecnológico

O valor tecnológico do peixe geralmente depende de dois fatores principais:


rendimento no processamento preliminar (ex. filetagem), e qualidade da carne e dos
subprodutos (Kubota & Emanuelli, 2004). Muitas espécies de peixes são subutilizadas, pois
apresentam tamanho demasiadamente pequeno, alto conteúdo de espinhas, aspecto pouco
atrativo ou alto teor de gordura (Kubota & Emanuelli, 2004). Este não é o caso do mandi-pintado,
pois apresentou um rendimento de tronco limpo em 55,11%, valor próximo de outros
pimelodídeos do rio Iguaçu, como o surubim-do-Iguaçu (Steindachneridion melanodermatum)
com 50% (Feiden et al. 2001).
Em relação ao processo de filetagem, o mandi-pintado apresentou 40,44%, resultado
superior ao do jundiá-cinza (Rhamdia quelen) com variação de 29,22 a 34,74% (Carneiro et al.,
2003) e até mesmo à tilápia-do-nilo (Oreochromis niloticus) com uma variação de 31,98 a
37,34%, segundo Souza et al. (1999). Isso demonstra quão rentável pode ser o processo para o
mandi-pintado.
As proporções corporais do mandi-pintado, coletados no rio Iguaçu, podem ser
observadas na Tabela 12.

Tabela 12. Proporções corporais do mandi-pintado (P. britskii), coletados no rio Iguaçu em maio
de 2009.
Parâmetro Médias Desvio Pesos Desvio Rendimentos Desvio
s Individua padrão iniciais padrão (%) padrão
is (g)
CT (cm) 22,01 2,45 - - - -
Peso (g) - - 139,16 - - 41,96
TL (%) - - 76,84 25,38 55,11 6,70
GV (%) - - 1,81 0,71 1,38 0,65
PCAB (%) - - 37,83 14,59 27,35 7,79
Filé (%) - - 56,84 20,92 40,44 6,11
CT = comprimento total; TL = tronco limpo; GV = gordura visceral; PCAB = peso da cabeça.
Fonte: GEMAq (2009).

É possível verificar que o mandi-pintado apresenta alto rendimento de tronco limpo


e baixo teor de gordura visceral, o que o torna uma ótima opção para a industrialização.
Freitas (2007) avaliou as proporções corporais do mandi P. britskii em duas
estações do ano (inverno e verão), conforme a Tabela 13.

Tabela 13. Proporção corporal para o mandi P. britskii coletado no rio Iguaçu, no inverno e
no verão.
Estação
Parâmetros CV(%)
Inverno Verão
CT (cm) 23,10a 18,16b 9,78*
Peso (g) 111,23a 54,67b 24,97*
TL (%) 51,77a 47,58ª 14,63NS
GV (%) 1,24a 2,10ª 129,92NS
PCAB (%) 25,68a 26,77ª 16,23NS
Filé (%) 26,12b 30,06ª 21,91*
*Médias na mesma linha seguida de letras distintas diferem (p < 0,05) pelo teste de Duncan.
Os parâmetros observados no inverno e no verão demonstram que houve diferenças
(P>0,05) quanto a CT, Peso e Filé. A porcentagem de tronco limpo mostrou-se alta nas duas
estações, o que é importante resultado quanto ao potencial para industrialização, e encontra-se
dentro da faixa de outros pimelodídeos do rio Iguaçu.

7.3. Produtos Processados

A América do Sul apresenta um dos índices mais baixos de consumo de pescado em


relação a outros continentes. Segundo a FAO (2008), o consumo de pescado na América do Sul
em 2008 foi de 8,7 kg/habitante/ano, bem abaixo dos índices observados na China, de 26
kg/habitante/ano. Na Ásia, excluindo-se a China, o consumo de pescado foi de 14,3
kg/habitante/ano; na Europa, de 19,9 kg/habitante/ano; e, nas Américas do Norte e Central,
apresenta um consumo de 18,6 kg/habitante/ano.
De acordo com Moreira (2005), o baixo consumo de pescado pode estar atribuído à
falta de tradição quanto ao consumo, à pequena oferta do produto, ao pouco conhecimento da
sua importância na alimentação, bem como falhas na indústria processadora em oferecer
produtos de conveniência e de maior diversificação.
O consumidor dá preferência a alimentos que sejam de fácil preparo, que geralmente
são de baixa qualidade nutricional. E é possível verificar isto tendo em vista que há mais de um
bilhão de adultos com excesso de peso no mundo (Organização Pan-Americana de Saúde,
2003). Num esforço para contornar esta tendência, a composição dos alimentos e as dietas
estão sendo reavaliadas.
Para atender a essas necessidades, o consumo de produtos à base de pescado têm-
se tornado ótima alternativa, pois são alimentos com elevado valor nutritivo, sendo excelentes
fontes de proteína de alto valor biológico, cálcio, fósforo, ferro, ácidos graxos insaturados,
vitaminas A, D e do complexo B. Portanto, a carne dos peixes apresenta maiores vantagens
nutricionais que a carne ou mesmo outros alimentos de origem animal (Ogawa & Maia, 1999).
Assim, alguns produtos como o empanado tipo nuggets, hambúrguer de peixe e
defumação, são ótimas opções de consumo, pois são produtos com valor agregado, de fácil
preparo e muito saborosos.

7.3.1. Empanado de mandi-pintado

Entende-se por empanado, o produto cárneo industrializado, obtido a partir de carnes


de diferentes espécies de animais de açougue, acrescido de ingredientes, moldado ou não, e
revestido de cobertura apropriada que o caracterize. Pode tratar-se de um produto cru, semi-
cozido, cozido, semi-frito, frito ou outros (Brasil, 2001).
Os empanados estão largamente inseridos na cultura alimentar da população,
proporcionando propriedades sensoriais muito importantes como: sabor, textura (crocância), cor
e aparência (Suderman, 1983).
A operação de empanar compreende duas etapas. Na primeira fase, o produto
porcionado é submetido a uma imersão chamada de predust, que consiste em envolver as
porções com uma fina camada de farinha, antes de aplicar o batter, e tem como função melhorar
a adesão pela absorção da umidade, funcionando como agente físico para a adesão do líquido
de empanamento (Minozzo & Dieterich, 2007).
O batter, de forma geral, é uma mistura de farinhas, amidos e temperos, misturados
com água, formando um líquido viscoso de forma a cobrir uniformemente as porções e promover
a adesão da farinha de cobertura (Minozzo & Dieterich, 2007). Uma vez que o produto está
coberto pelo batter, procede-se a empaná-lo (breading) (Hurni & Loewe, 1990).
A operação mecânica do breading consiste em passar o produto que previamente foi
submetido ao batter por uma pulverização de farinha de empanamento sobre a superfície do
produto (Hurni & Loewe, 1990).
Após o empanamento, as porções são submetidas à pré-fritura, a uma temperatura de
180 a 193ºC, por um minuto e meio, tendo como objetivos manter a cobertura do empanamento,
evitar a desidratação e contribuir para o gosto e cor do produto (Minozzo & Dieterich, 2007).
Antes da moldagem dos empanados é interessante que a temperatura da massa
esteja baixa, do contrário ela se torna mole e não adquire a forma desejada.
A Tabela 14 apresenta uma proposta para formulação de empanados de mandi-
pintado e a Figura 1, o fluxograma operacional.

Tabela 14. Proposta para formulação de empanado elaborado com filé de mandi-pintado (P.
britskii).
INGREDIENTES Porcentagem (%)
Filé de pescado triturado 83,0
Água gelada 4,0
Amido de milho 2,5
Proteína texturizada de soja 2,0
Isolado Protéico de soja 2,0
Sal 1,5
Cebola desidratada 1,5
Óleo de soja 1,2
Alho desidratado 0,8
Cebolinha desidratada 0,6
Salsinha desidratada 0,6
Glutamato monossódico 0,2
Pimenta branca 0,1
Total 100

Filé de mandi-
pintado triturado

Homogeneização da polpa

Adição dos ingredientes

Mistura
Resfriamento

Moldagem

Empanamento

Pré-fritura

Embalagem

Congelamento

Figura 1. Fluxograma operacional para obtenção de empanado de mandi-pintado (P. britskii).

Os valores da composição centesimal do empanando de mandi-pintado podem ser


visualizados na Tabela 15, os quais se ajustam aos padrões estabelecidos pelo Ministério da
Agricultura e Abastecimento, na forma da Instrução Normativa nº 6, sob o Regulamento Técnico
de Identidade e Qualidade de Empanados, que estabelece os seguintes parâmetros: adição
máxima de proteínas não cárneas: 4,0%; teor máximo de carboidratos: 30%; e proteínas, no
mínimo 10% (Brasil, 2001).

Tabela15. Composição centesimal de empanado de mandi-pintado (P. britskii).


Parâmetro Média (%) CV
Proteína 14,67 10,80
Lipídios 10,11 0,59
Cinzas 2,69 3,25
Umidade 56,08 0,31

Os empanados de mandi-pintado apresentaram valor superior de proteínas em relação


aos empanados desenvolvidos com tilápia-do-nilo (Kirschnik, 2007). Como a Legislação
Brasileira (Brasil, 2001) determina que empanados devam apresentar em sua composição
centesimal o mínimo de 10% de proteínas, os empanados de mandi-pintado atenderam a essas
exigências, o que torna sua produção interessante.
De acordo com a Resolução 12, de 02 de janeiro de 2001, que aprova o Regulamento
Técnico sobre padrões microbiológicos para alimentos, está estabelecido para produtos
empanados de pescado ausência de Salmonella sp/25g de alimento, contagem máxima de
coliformes fecais 10² UFC/g e 5x10² UFC/g para Staphylococcus coagulase positiva (Anvisa,
2001), objetivando a garantia da qualidade microbiológica e sanitária do alimento.

7.3.2. Hambúrguer de mandi-pintado


Entende-se por hambúrguer o produto cárneo industrializado, obtido da carne moída
dos animais de açougue, adicionado ou não de tecido adiposo e ingredientes, moldado e
submetido a processo tecnológico adequado (Brasil, 2000).
Atualmente, como uma grande quantidade de pescado de baixo valor comercial vem
sendo desperdiçada, a indústria de hambúrguer de peixe é uma ótima oportunidade de negócio.
Elaborado a partir de carne triturada de pescado, o hambúrguer de peixe, ou fishburguer, como
é conhecido, tem grandes chances de prosperidade no Brasil (Couto & Pinto, 2007).
À matéria-prima são adicionados aditivos e condimentos, tais como: sal, amido,
proteína vegetal, glutamato monossódico, cebola desidratada, alho, salsinha desidratada,
cebolinha desidratada, pimenta branca, óleo e água.
Segundo o Ministério da Agricultura e Abastecimento, na forma da Instrução Normativa
nº 20, sob o Regulamento Técnico de Identidade e Qualidade de Hambúrgueres, estabelecem-
se os seguintes parâmetros: adição máxima de proteínas não cárneas na forma agregada de
4,0%; teor máximo de carboidratos totais: 3%; gordura máxima: 23%; proteína mínima: 15%; e
teor máximo de cálcio em base seca nos hambúrgueres cozidos de 0,54% e, nos crus, de 0,1%
(Brasil, 2001).
A tabela 16 apresenta uma proposta para formulação de hambúrguer de mandi-
pintado e a Figura 2 o fluxograma operacional.

Tabela 16. Proposta para formulação de hambúrguer produzido com filé de mandi-pintado (P.
britskii).
INGREDIENTES %
Filé de pescado triturado 81,0
Água gelada 5,0
Proteína texturizada de soja 4,0
Amido de milho 3,0
Óleo de soja 2,0
Sal 1,5
Cebola desidratada 1,4
Alho desidratado 0,8
Salsinha desidratada 0,5
Cebolinha desidratada 0,4
Glutamato monossódico 0,2
Pimenta branca 0,2
Total 100

Filé de mandi-
pintado triturado

Homogeneização da polpa

Adição dos ingredientes

Mistura

Moldagem
Empanamento

Pré-fritura

Embalagem

Congelamento

Figura 2. Fluxograma operacional para obtenção de hambúrguer de mandi-pintado (P. britskii).

Na Tabela 17 é possível observar a composição centesimal do hambúrguer de mandi-


pintado, que apresenta valores de proteína, lipídios e cinzas superiores aos de hambúrguer de
tilápia-do-nilo (Oreochromis niloticus) (Marengoni et al., 2009), comprovando seu forte potencial
para industrialização e comercialização de produtos processados de alto valor agregado.

Tabela 17. Composição centesimal de hambúrguer de mandi-pintado (P. britskii).


Parâmetro Média (%) CV
Proteína 18,57 0,67
Lipídios 12,75 3,23
Cinzas 3,08 2,92
Umidade 61,29 0,02

Em relação a microbiologia, a Resolução 12, 02 de janeiro de 2001, que aprova


Regulamento Técnico sobre padrões microbiológicos para alimentos, estabelece para
hambúrgueres e similares de pescado ausência de Salmonella sp/25g de alimento, contagem
máxima de coliformes fecais 10³ UFC/g e 10³ UFC/g para Staphylococcus coagulase positiva
(Anvisa, 2001).

7.3.3. Defumação

A defumação, embora seja uma antiga técnica de conservação, atualmente tem sido
utilizada para melhorar a qualidade dos pescados, tendo em vista que a fumaça provoca
mudanças nos atributos sensoriais (aroma, sabor, coloração e textura) (Minozzo & Boscolo,
2007; Sigurgisladottir et al., 2000).
Dois métodos de defumação são comumente conhecidos: a frio e a quente Porém,
podem também ser utilizados a fumaça líquida, o método eletrostático e a elaboração de
produtos defumados condimentados (Minozzo & Boscolo, 2007).
A defumação a quente tem como principal objetivo proporcionar sabor característico.
Já na defumação a frio, o objetivo maior é o prolongamento da vida útil do produto. O tempo de
exposição à fumaça é menor na defumação a quente, em função da maior temperatura
empregada (Minozzo & Boscolo, 2007).
Alguns fatores influenciam na composição centesimal do pescado, tais como: idade,
peso, alimentação, sazonalidade, fase fisiológica, bem como as diferentes partes do corpo
(Minozzo & Boscolo, 2007). Como o mandi-pintado é um peixe gorduroso, seu teor de umidade
é proporcionalmente menor. Assim, após o processo de defumação, os teores de proteínas,
lipídios e cinzas aumentam, conforme a Tabela 18.

Tabela 18. Composição centesimal do mandi-pintado inteiro e filés defumados a quente.


Parâmetro Filé in natura CV Filé CV Mandi Inteiro CV
Média (%) (%) defumado (%) Defumado (%)
Média (%) Média (%)
Proteína 17,39 7,88 31,50 2,20 30,37 0,63
Lipídios 12,34 17,67 25,31 20,34 27,54 1,84
Cinzas 1,11 1,47 9,73 3,22 10,57 2,29
Umidade 68,71 2,57 39,16 1,46 37,54 0,25

De acordo com Gonçalves & Prentice-Hernández (1998) e Ribeiro (2000), em


pescados defumados o conteúdo de proteína e lipídios é mais elevado que no pescado in
natura, principalmente devido à perda excessiva de umidade decorrente do processo de
desidratação e lixiviação de lipídios do músculo, que ocorre durante a defumação
(Sigurgisladottir et al., 2000).
Com a defumação, ocorre redução da umidade do filé em torno de 57 %.
Consequentemente, o rendimento é reduzido em aproximadamente 59,7% em relação ao peso
do peixe inteiro eviscerado pré- e pós-defumação. Já para os filés de mandi-pintado, o
rendimento é reduzido em torno de 51,8%.
Por se tratar de um peixe nativo proveniente do rio Iguaçu, e por apresentar resultados
positivos em seu processamento e na agregação de valor, o mandi-pintado possui grande
potencial ao cultivo, à industrialização e ao consumo, contribuindo, dessa forma, com a melhoria
da saúde dos indivíduos que o consomem.

7.4 Referências Bibliográficas

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janeiro de 2001. Aprova regulamento técnico sobre padrões microbiológicos para alimentos.
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7.5 Figuras

Figura 3. Empanados de mandi-pintado (P. britskii).


Figura 4. Hambúrguer de mandi-pintado (P. britskii).

A A

B C
Figura 5. Mandi-pintado inteiro defumado (A). Filés crus (B). Filés defumados (C).

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