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CARTAS DE CONSOLAÇÃO A LUCÍLIO

ANÁLISE RETÓRICA DA EPISTULA 63 DE SÉNECA

Manuel Alexandre Júnior


Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa

Séneca, filósofo, dramaturgo, estadista, e tutor de Nero, foi um dos mais


eminentes escritores da literatura latina no primeiro século da nossa era. A obra que dele
nos resta, produzida toda ela nos anos da sua maturidade, reflecte a esmerada formação
retórica e filosófica que recebeu e cultivou em Roma.
Um dos trabalhos filosóficos mais bem escritos deste pensador estóico foram as
Epistulae morales, dirigidas ao seu discípulo e amigo Lucílio. Trata-se de cento e vinte e
quatro ensaios morais sobre os mais diversos temas, entre os quais discretamente se
conta o da consolação; um tema presente em todos os géneros da literatura antiga e que
cartas, diálogos, ensaios, poesia lírica, épica e elegíaca veicularam.1
Já em Homero se fazem discursos de consolação em ocasiões propícias à expressão
do elogio póstumo, ao conforto proléptico, à lamentação e ao encorajamento pessoal.2
Mas os ensaios que teoricamente se ocupam do género apenas tomaram forma entre os
sofistas, e assumidamente se desenvolveram nas escolas de filosofia.3 Se Antifonte é
referido como o pai da consolação,4 o facto é que só no período helenístico o género se
desenvolveu de forma elaborada.5 A Consolatio de Cícero, escrita em 45 a.C. após a morte
da sua filha Túlia, foi talvez a obra que maior influência teve na transmissão desta
tradição literária à antiguidade tardia tanto no conteúdo como na forma epistolar.6

1
Ver Stanley K. Stowers, Letter Writing in Antiquity, Philadelphia, Westminster, 1986, pp. 91-94.
2
E. g., Ilíada 6.429-432, 454-463.
3
J. E. Atkinson, “Seneca’s ‘Consolatio ad Polybium’, in Aufstieg und Niedergang der römischen Welt
II.32.2, Berlin/New York, Walter de Gruyter, 1985, p. 861.
4
J. Hani, Plutarque, Consolation à Apollonius, Paris, 1972, p. 12.
5
Crantor (ca. 325-275 A.C.), Peri Penthous. obra dirigida a Hipocles, por ocasião da morte do seu filho.
Dela nos restam apenas fragmentos.
6
Este tratado de Cícero perdeu-se, mas a par desta sua contribuição formal, chegaram a nós cartas de
consolação, entre as quais se conta a carta a Tício pela morte de seus filhos (Ad Familiares 5.16).
Retórica epistolográfica na antiguidade greco-romana
O discurso retórico em forma de carta foi um importante veículo de comunicação
na antiguidade clássica e helenística. Pela sua flexibilidade e função, o género epistolar
foi sempre permeável à influência da retórica e facilmente adoptou a estrutura do
discurso argumentativo, com o simples acréscimo dos naturais praescriptum e
postscriptum.7 Embora os teorizadores de retórica e epistolografia pouco escrevam sobre a
estrutura de cartas segundo o modelo retórico,8 Gregório de Nazianzo explicitamente diz
que “a melhor carta e a mais bela é a que é escrita para persuadir tanto o culto como o
inculto” e a ambos ser de imediato inteligível.9 O próprio Séneca concorda que as cartas
devem ser escritas num estilo claro e o mais adequado à situação, reconhecendo a estas a
aplicabilidade da argumentação retórica.10
A prática epistolográfica antiga revela, de facto, o uso consistente das convenções
retóricas. É a elas que aparentemente se deve a preservação das cartas de Demóstenes
nas épocas helenística e bizantina. Cícero, Quintiliano e Plutarco as conheciam pelo seu
estilo retórico.11 E, como justamente observa Jeffrey Reed, a sua Ep. 2 é um claro exemplo
do género forense-epidíctico de auto-apologia, com a estrutura formal do discurso
oratório.12 “Um outro exemplo ilustrativo de ‘carta retórica’ é a primeira carta de

7
Independentemente de terem ou não a rigor a estrutura do discurso oratório, quase todas as cartas se
dividem na antiguidade em três partes: abertura, desenvolvimento e encerramento. Como observa G.
Kennedy, “The structure of a Greco-Roman letter resembles a speech, framed by a salutation and
complimentary closure” (New Testament Interpretation Through Rhetorical Criticism, Chapel Hill,
University of North Carolina Press, 1984, p. 141).
8
Vide Jeffrey T. Reed, ‘‘The Epistle’’, in Handbbok of Classical Rhetoric in the Hellenistic Period 300 B.C.
– A.D. 400, Leiden/New York/Köln, Brill, 1997, p. 182.
9
Ep. 51.4.
10
Ep. 75.2-3: “pois é assim mesmo que eu pretendo que sejam as minhas cartas, que nada tenham de
artificial, nem de fingido!... Mesmo que eu tivesse discutido contigo não me iria pôr na ponta dos pés, nem
fazer grandes gestos, nem elevar o voz: tudo isso seriam artifícios de oradores, enquanto a mim me bastaria
comunicar-te o meu pensamento, num estilo nem grandiloquente nem vulgar. De uma coisa apenas eu te
quereria convencer: de que sentia tudo quanto dissesse, e não apenas o que sentia, mas que o sentia com
amor!”.
11
Cícero, Brutus 121, e Orator 15; Quintiliano, Institutio oratoria 10.1.107; Plutarco, Vidas 20.
12
Vide Jeffrey T. Reed, op. cit., p. 187: O corpo central da carta consta das seguintes partes: (1) um proémio,
escrito em tom de indignação por quem foram enganados e apela à boa vontade do auditório (2.1-2); (2) uma
proposição, a pedir aos atenienses que o exonerem (2.3.); (3) uma confirmação, a retratar favoravelmente a
carreira de Demóstenes com base nos chamados tópicos retóricos dos telikaV kefavlaia: a propositio é justa,
legítima, vantajosa, honrosa, agradável, fácil de cumprir; ou, se difícil, possível e necessária (2.4-20); (4) um
epílogo, a reiterar o apelo à exoneração e a incluir amplificação patética e um apelo final à sua boa vontade
(2.21-26). Cf. J. A. Goldstein, The Letters of Demosthenes, New York, Columbia University Press, 1968, pp.
158-166.
2
Dionísio de Halicarnasso a Ameu – um consistente e bem desenvolvido argumento a
sustentar que Demóstenes não aprendeu de Aristóteles as convenções da retórica.”13
Também o discurso de consolação encontrou na carta a forma retórica14 e literária
que mais se prestou a veicular os seus conteúdos;15 nomeadamente a lamentação pelo
infortúnio que se abateu sobre o destinatário (συμπαθητική), e o conforto que se lhe dá
para suavizar a sua dor e o ajudar a suportá-la (παραμυθητική). Num ambiente propício a
conselhos, exortações e admoestações de carácter filosófico, a consolatio integra assim
categorias de estilo epistolar como a retórica protréptica e parenética para persuadir o
leitor quer a permanecer no estilo de vida aceite, quer a adoptar normas de conduta
diferentes.16 A estrutura persuasiva destas cartas reflecte em geral a influência dos
cânones retóricos vigentes,17 mas representa em sua flexibilidade de estilo mais uma síntese
do essencial que aflora nas várias tradições do que a vinculação a alguma delas em
particular.18 Este é, a meu ver, o caso das Epistolae 63 e 99 de Séneca a Lucílio. Muitas das

13
Jeffrey T. Reed, op. cit., pp. 187-188.
14
Vide R. Kassel, Untersuchungen zur griechischen und römischen Konsolationsliteratur, Zetemata 18,
Munich, 1958.
15
Circulavam na antiguidade muitos manuais práticos com descrições de cartas adequadas a uma variedade
de ocasiões e necessidades, entre elas, os Typoi epistolikoi de Pseudo-Demétrio (II/I séculos a. C.) com a
descrição de vinte e uma categorias de cartas, e os Epistolimaioi characteres de Pseudo-Libânio (314-393 a.
D.), com a descrição de quarenta e um tipos acompanhados da respectiva exemplificação, entre eles o da
consolação.
16
No mundo greco-romano havia uma tradição segundo a qual o escritor apelava ao receptor a continuar a
cultivar um certo estilo de vida pela recomendação da moral convencional e da sabedoria tradicional.
Recomendação esta, reforçada por exemplos positivos e negativos, ao mesmo tempo que pela lembrança dos
princípios e valores éticos que o receptor já conhece. A par com esta tradição, desenvolveu-se um outro
modelo literário de exortação, de menor impacto, que requeria do receptor a mudança da sua actual
orientação de vida e a sua dedicação à filosofia ou à virtude. Estes dois modos de exortação eram
identificados com a parénese na tradição greco-romana (Abraham J. Malherbe, Moral Exhortation: A Greco-
Roman Source-book, Philadelphia, Westminster, 1986, p. 121). Rudolph Vetschera adoptou, entretanto, a
seguinte diferenciação. Reservou o termo ‘paraenesis’ para aquele modo de mensagem em que o receptor é
exortado a manter a sua adesão a modos de conduta tradicionais ou geralmente aceites, e o nome de
‘proptresis’ para aquele modelo de mensagem que assume a forma de apelo à mudança do estilo de vida de
uma pessoa – apelo que normalmente aponta para a devoção ao estudo da filosofia como objectivo último e
caminho mais seguro para a virtude (R. Vetschera, Zur griechischen Paränese, Smichow, Rohlicek &
Sievers, 1912, pp. 3-5). Ambos estes modelos visam inculcar virtude. Quando o escritor exorta o destinatário
a uma nova e radical mudança de vida, temos ‘exortação proptréptica’. Quando a exortação visa a
manutenção do estilo de vida seguido ou aceite, temos ‘parénese’ (Mark Harding, Tradition and Rhetoric in
the Pastoral Epistles, New York/Washington, D.C./Baltimore/Boston/Bern/Frankfurt/Berlin/Vienna/Paris,
Peter Lang, pp. 107-109).
17
É considerável o uso de cartas na linha do discurso deliberativo, nos primeiros séculos da era cristã. Vide
G. W. Hansen, Abraham in Galatians. Epistolary and Rhetorical Contexts, Sheffield, Sheffield Academic
Press, 1989, pp. 34-43.
18
Vide Jeffrey T. Reed, ibid., pp. 188-189.
3
suas cartas contém elementos de consolação,19 mas apenas estas duas expressamente se
nos apresentam como cartas consolatórias.20

Séneca não foi, de facto, alheio às convenções da retórica


A presente carta, embora relativamente breve, como aliás se recomenda,21 é uma
amostra clara da forma como Séneca se socorre, de forma aparentemente espontânea
mas bem conseguida, dos recursos de toda uma tradição retórica e epistolográfica para
nos apresentar uma estrutura coerente de argumentação que simultânea e
progressivamente consola, admoesta e protrepticamente exorta o seu amigo.
Situada na tradição da consolação filosófica, esta carta não deixa de reflectir uma
forte influência da retórica na sua configuração estrutural e estilística. Ela socorre-se
inclusivamente da diatribe, enquanto apresentação retórica de um argumento ético, para
tornar mais vincada a força de argumentação que encarna.22
A sua análise mostra-nos, com particular clareza, a convicção de que só uma
retórica conforme a natureza é capaz de verbalizar com eficácia e vigor os princípios que
a filosofia conceptualiza e os valores que implementa. Sem perder de vista o fim real da
filosofia, Séneca vê na retórica o meio necessário à comunicação da verdade que aquela
encarna. O que ele defende é um estilo amplo, fluente e não desprovido de energia, um
estilo de tal maneira bem conseguido que, na aparência, se “não mostre trabalhado nem
rebuscado em excesso”.23 Pois, como diz na Carta 100, “ao filósofo não convém a
excessiva preocupação com o estilo”. Este, porém, não revela negligência, mas
naturalidade e segurança. Ao invés de nele se encontrar qualquer vulgaridade, o estilo
filosófico inspira-se numa retórica que mais se adequa ao ritmo da natureza. Embora sem

19
Por exemplo, a carta 13 sobre receios infundados, a carta 24 sobre como enfrentar a morte, a carta 30 sobre
a atitude de Aufídio Basso perante a morte, as cartas 49 e 93 sobre a veloz passagem do tempo e o valor da
qualidade da vida sobre a quantidade, a carta 107 sobre o dever de nos conformarmos à vontade universal.
20
A 63 e a 99.
21
“In approximately 14,000 private letters from Greco-Roman antiquity, the average length about 87 words,
ranging in length from about 18 to 209 words. Cicero averaged 295 words per letter, ranging from 22 to
2,530 words, and Seneca 995, ranging from 149 to 4134” (Randolph E. Richards, The Secretary in the
Letters of Paul. Wissenschaftliche Untersuchungen zum Neuen Testament 2. Tübingen, Mohr, 1991, p. 213).
A propósito da consolatio Julius Victor diz: “[Rem secundam prolixius gratulare, ut illiuus gaudium
extollas:] cum offendas dolentem, pauculis consolare, quod ulcus etiam, cum plena manu tangitur” (as
consolações devem ser breves, porque uma ferida fica em chaga quando apertada com mão firme).
22
Cf. M. Ceccarini, L. Anneo Seneca: Consolazione a Polibio: introduzione, testo, traduzione e note a cura
di M. Ceccarini, Rome, Scriptores latini 12, pp. 11-13.
23
Cartas a Lucílio, 100.2. A tradução, neste passo e nos restantes, é de J. A. Segurado e Campos (Lúcio
Aneu Séneca, Cartas a Lucílio, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 1991).
4
luxo decorativo, o seu produto final é “aquilo a que soe chamar-se uma casa bem
construída”, excelente na globalidade dos seus conteúdos, e sempre visando ao progresso
moral, à sabedoria.24
Os recursos retóricos não serão essenciais para Séneca, mas eles penetram fundo
na essência da sua obra e dão mais eficácia aos seus conteúdos. Como diz na carta 75, ele
tem por objectivo comunicar o seu pensamento num estilo nem grandiloquente nem
vulgar, na convicção de que a filosofia “não deve renunciar por completo ao talento
literário” (75.3). O que importa é que a fluidez do discurso e a qualidade dos actos
expressos se correspondam na mais perfeita unidade, que a eloquência surja
naturalmente, sem esforço ou quase, e, se possível, em estilo agradável (75.5-6); não
porque a elegância formal seja indispensável à eficácia psicagógica do ensino, mas
porque ela facilita a veiculação do efeito moral que se pretende sobre o leitor.25 A uma
oratória de tradição sofística também ele parece contrapor uma retórica ideal na linha da
sabedoria estóica, que contempla o λόγος como um todo em que tanto cabe o conceito
que brota da mente como a palavra que o interpreta e lhe dá expressão.26 Mas, mesmo
essa retórica só pode ser útil quando está ao serviço da verdade. Subscrevendo o
princípio estóico segundo o qual εὖ λέγειν é idêntico a ἀληθῆ λέγειν”,27 Séneca demarca-
se de uma retórica puramente técnica e literária para abraçar a sua vertente mais
filosófica. Não se revê, contudo, na ortodoxia mais conservadora do estoicismo.28 E, se
parece aproximar-se do ideal retórico que Platão defende no Fedro e Aristóteles
pragmaticamente teoriza na Retórica, logo insiste numa comunicação literária cuja
sublimidade de estilo emana da grandeza da alma que a inspira, e naturalmente

24
Ibid., 11-12.
25
Talvez por influência de Cícero, que julgava perfeita a filosofia quae maximis quaestionibus copiose posset
ornateque dicere (Tusc. 1.7; cf. Part. Or. 79), “e possibile, nel suo ricupero del ellemento oratorio dovuto
alla sua conciliazione del sermo filosofico con l’instanza parenetica dell’ admonitio, Seneca vada
leggermente più in là di quanto richiederebbe la funzione puramente pratica che a quell’elemento egli
assegna” (Aldo Setaioli, “Seneca e lo stile”, in Aufstieg und Niedergang der römischen Welt II.32.2,
Berlin/New York, Walter de Gruyter, 1985, pp. 788-789).
26
O lovgo" ejndiavqeto" materializa-se no lovgo" proforikov".
27
Aldo Setaioli, op. cit., pp. 811-812.
28
“...anche se per lo stoicismo l’ottimo stile si ottiene non dall’osservazione esteriore di certe regole ma
dall’intrinseca conformità dell’animo a natura, resta alla base il concetto che uno è il modo retto di scrivere,
quello che solo il saggio, in contatto intimo e totale com il lovgo", può trovare. Seneca invece giunge a
sfiorare l’idea moderna che lo stile di ogni scrittore è qualcosa di irripetibile, che ha le sue leggi interne
valide solo per esso” ( Aldo Setaioli, op. cit., p. 821).
5
harmoniza tanto as partes do discurso como a ordem dos argumentos na economia do
conjunto.29 Também nele o bem falar e o recto agir andam de mãos dadas.
Esta prevalência da res sobre os uerba não só lhe permitia distanciar-se do
formalismo retórico que subordinava o conteúdo ao estilo, como também lhe
proporcionava uma maior liberdade de expressão individual.30 Como o próprio Séneca
observa na carta 114, é clara a correspondência entre o carácter e o estilo; pois, mais do
que as regras, o escritor deve seguir a ‘natureza’, socorrendo-se de um antigo provérbio
grego que diz: talis hominibus fuit oratio qualis uita; por outras palavras, “o estilo é o reflexo
da vida”.

Estratégia retórica de Séneca na sua carta de consolação a Lucílio


Esta carta de Séneca apresenta-se dividida em três partes, como convém ao
discurso deliberativo: proémio, argumentação e epílogo. Identificado com a dor de
Lucílio, Séneca lamenta profundamente a morte de Flaco, mas aconselha o amigo a gerir
estoicamente a situação e evitar o excesso. Transformando introdutoriamente o
fenómeno concreto da morte de um amigo na tese de um princípio universal, Séneca
demonstra a seguir esta tese em quatro argumentos, avançando progressivamente as
razões que justificam a equidade do princípio enunciado, para cabalmente provar que a
morte de um amigo lacrimandum est, non plorandum (63.1).
Muito ao gosto dos antigos, o proémio apresenta-se estruturado em forma de um
quiasmo de estrutura AB B’A’. Avançando do particular para o geral, os mesmos temas se
repetem na segunda metade em ordem inversa, aplicando no plano filosófico do λόγος o
que se verifica no plano retórico do ἦθος e do πάθος.
A – Lamento profundamente o falecimento do teu amigo Flaco,
B – No entanto entendo que a tua dor não deve ultrapassar os limites do razoável.

29
Ibid., pp. 812-813.
30
“In un punto stoicismo e retorica concordavano: per entrambi esiste un modo di scrivere che è
abbiettivamente il migliore, ed a questo ideale assoluto lo scrittore debe cercare di conformarsi, vuoi
seguendo la natura e la ragione, vuoi uniformandosi alle regole tecniche della scuola. Non è il caso
d’insistere sul carattere oggettivo e normativo delle dottrine stilistiche antiche: lo stile non è come per noi, il
modo d’esprimersi di un determinato autore, personale e diverso da tutti gli altri, bensi un genus dicendi con
leggi determinati alle quali chi scrive si deve attenere; ci sono anzi tanti genera dicendi, ciascuno dei quali è
adatto a un particolare genere litterario, a una determinata parte dell’orazione e cosi via” (Aldo Setaioli, op.
cit., p. 814).
6
C – Não ousaria exigir de ti que não sentisses o mínimo abalo perante o facto, embora isso
fosse o ideal.
D – Uma tal firmeza de ânimo apenas está ao alcance de quem já se alçou muito
acima das contingências da fortuna.
D’ – E mesmo um homem assim não deixaria de sentir na alma uma beliscadura, se bem
que somente uma beliscadura!
C’ – A homens como a nós pode perdoar-se que deixemos correr as lágrimas,
B’ – Desde que não em excesso, e desde que as saibamos estancar.
A’ – Importa que, perante o desaparecimento de um amigo, os nossos olhos nem fiquem
secos nem inundados.31
Com o primeiro argumento, Séneca mostra que “as lágrimas em excesso” nada
mais são do que um falso sinal de ostentação. A verdade da tese realçada em clímax pela
estrutura do proémio é aqui entimematicamente demonstrada pelo recurso a uma dupla
interrogatio, que simultaneamente encarna a citação e o exemplo e culmina com a
autoridade de uma máxima. A morte de um amigo lacrimandum est, non plorandum (63.1)
porque “até o maior poeta da Grécia concedeu às lágrimas tão-somente o espaço de um
dia”, e o mesmo poeta “nos diz que até Níobe não descurou os cuidados com a
alimentação” (63.2). “Ninguém prodigaliza manifestações de tristeza quando está
sozinho.”
No segundo argumento, Séneca induz Lucílio a fazer distinção entre a sua dor e a
lembrança de Flaco; a acalentar o doce prazer dessa memória, mesmo sabendo que
recordar o nome de um amigo se faz sempre acompanhar de um certo aperto de alma, e
sempre estranhamente gera algum prazer (morsus habet suam uolutatem, 63.4).32 Trata-se
de uma complexa linha de argumentação bem ao jeito da diatribe33 e na forma elaborada

31
A – Moleste fero decessisse Flaccum, amicum tuum,
B – plus tamen aequo dolere te nolo.
C – Illud, ut non doleas, vix audebo exigere; et esse melius scio.
D – Sed cui ista firmitas animi continget nisi iam multum supra fortunam elato?
D’ – illum quoque ista res vellicabit, sed tantum vellicabit.
C’ – Nobis autem ignosci potest prolapsis ad lacrimas,
B’ – si non nimiae decucurrerunt, si ipsi illas repressimus.
A’ – Nec sicci sint oculi amisso amico nec fluant; lacrimandum est, non plorandum.
32
Como ele próprio afirma na sua Ep. 99, Non est dolor iste, sed morsus; tu illum dolorem facis (“isto não é
dor, mas um mero aperto de alma; és só tu que o transformas em dor”)
33
Séneca imagina-se também aqui em diálogo filosófico com Lucílio e, passa a responder a uma questão que
coloca nos lábios do amigo, com o objectivo de elaborar ou aprofundar o ponto central da sua tese.
7
da tractatio;34 um diálogo filosófico em que Séneca imagina Lucílio a interrogar-se, “quid
ergo”, inquis, “obliuiscar amici”?!35, e a elaboradamente responder à questão, para melhor
fundamentar a tese enunciada e mais visibilidade retórica dar ao pensamento filosófico
que representa e encarna. Estruturado em sete partes (63.3-7), este argumento parece
querer, afinal, mostrar que quanto mais breve é a dor mais longa promete ser a
recordação. Vejamos como os tópicos de argumentação logicamente se sucedem:

(1) Res – [3] “Curta recordação tu terás dele se a fizeres coincidir com as manifestações de
pesar; qualquer sucesso fortuito dentro em pouco te fará abrir o rosto num sorriso! Nem
sequer prevejo que passe muito tempo para que toda essa saudade se dilua,
(2) Ratio – pois mesmo as aflições mais acesas cessam com o tempo. Basta que comeces a
observar o teu próprio comportamento e todos os sinais exteriores do teu desgosto
cessarão.
(3) Confirmatio – De momento estás cultivando a tua dor; mas por mais que a cultives, ela
passará, e tanto mais depressa quanto mais intensa se mostra agora.
(4) Contrarium – [4] Procedamos antes de modo a que a recordação dos desaparecidos seja
para nós um momento de doçura...
(5) Exemplum – [5] O nosso amigo Átalo costumava dizer “que a memória dos amigos
falecidos nos é agradável
(6) Simile – tal como certos frutos nos agradam apesar de ácidos, ou tal como no vinho
excessivamente velho nos dá prazer o próprio travo; ao fim de algum tempo extingue-se em
nós a parte da angústia e sentimos na recordação meramente a parte do prazer...”
(7) Conclusio – [7]...“Para mim, pensar nos amigos já desaparecidos é algo que nos
proporciona uma doce satisfação; quando os tinha comigo sabia que os ia perder, agora
que os perdi é como se os tivesse sempre comigo! [8] Age com equidade, caro Lucílio, e não
interpretes mal os benefícios que a fortuna te concedeu: ela roubou-te um amigo, mas
fora ela quem to tinha dado.” 36

34
Segundo a Rhetorica ad Herennium (4....)
35
“Como dizes? Então eu hei-de esquecer o meu amigo?!”
36
(1) Res – [3]...Brevem illi apud te memoriam promittis, si cum dolore mansura est: iam istam frontem ad
risum quaelibet fortuita res transferet. Non differo in longius tempus quo desiderium omne mulcetur,
(2) Ratio – quo etiam acerrimi luctus residunt: cum primum te observare desieris, imago ista tristitiae
discedet.
(3) Confirmatio – Nunc ipse custodis dolorem tuum; sed custodienti quoque elabitur, eoque citius quo est
acrior desinit.
8
O raciocínio epiquiremático com que se expande a conclusão do segundo
argumento (63.8)37 abre caminho a um terceiro, não menos elaborado, que por acréscimo
mostra não serem as lágrimas em excesso mais do que um sinal tardio de amizade não
manifesta em vida. Também aqui é a Retórica a Herénio que inspira o modelo de
argumentação por ele seguido: a absolutissima et perfectissima argumentatio instruída e
iluminada no Livro II,38 e também ela a lembrar a consagrada elaboração de uma cria
tanto em Hermógenes39 como em Aftónio,40 Nicolau41 e Libânio42.

(1) Propositio – [9] “E que dizes tu daqueles que não ligam importância aos amigos vivos, e
os pranteiam exageradamente quando morrem?”
(2) Ratio – “Por isso mesmo os deploram veementemente, com medo que a sua amizade
por eles possa ser posta em dúvida, e daí esses sinais de afecto já fora de horas.”
(3) Pronuntiatio – [10] “Se nós temos ainda outros amigos, julgá-los compensação
insuficiente pela perda de um só, equivale a desmerecer e desconsiderar a sua amizade.
Se não os temos, então nós mesmos é que, mais do que a fortuna, fomos cruéis para
connosco, pois se a fortuna nos privou de um amigo, nós fomos incapazes de fazer mais
amizades.”
(4) Exornatio
(4.1) Contrarium – [11] “De resto, quem não foi capaz de fazer mais do que um amigo,
pouca amizade tinha certamente para oferecer! (11a)”

(4) Contrarium – [4] Id agamus ut iucunda nobis amissorum fiat recordatio. Nemo libenter ad id redit quod
non sine tormento cogitaturus est, sicut illud fieri necesse est, ut cum aliquo nobis morsu amissorum quos
amavimus nomen occurrat; sed hic quoque morsus habet suam voluptatem.
(5) Exemplum – [5] Nam, ut dicere solebat Attalus noster, ‘sic amicorum defunctorum memoria iucunda est
(6) Simile – quomodo poma quaedam sunt suaviter aspera, quomodo in vino nimis veteri ipsa nos amaritudo
delectat; cum vero intervenit spatium, omne quod angebat exstinguitur et pura ad nos voluptas venit’.
(7) Conclusio – [6] Si illi credimus, ‘amicos incolumes cogitare melle ac placenta frui est: eorum qui fuerunt
retractatio non sine acerbitate quadam iuvat. Quis autem negaverit haec acria quoque et habentia austeritatis
aliquid stomachum excitare?’ [7] Ego non idem sentio: mihi amicorum defunctorum cogitatio dulcis ac
blanda est; habui enim illos tamquam amissurus, amisi tamquam habeam. Fac ergo, mihi Lucili, quod
aequitatem tuam decet, desine beneficium fortunae male interpretari: abstulit, sed dedit.
37
A estrutura do epiquirema quintileâneo e da ratiocinatio ciceroniana (proposititio, propositionis
approbatio, assumptio, assumptionis approbatio, conclusio) é muito semelhante: três partes, a primeira;
cinco partes (quatro ou três) a segunda, conforme as premissas se fazem ou não acompanhar das respectivas
razões.
38
Rhetorica ad Herennium 2.28-30.
39
H. Rabe (ed.), Hermogenis Opera, Stuttgart, 1969, 1-27.
40
H. Rabe (ed.), Aphthonii Progymnasmata, Leipzig, Teubner, 1926.
41
Nicolaos, Progymnasmata, ed. J. Felten, Nicolai Progymnasmata, Leipzig, Teubner, 1913.
42
Libanius, ed. R. Förster, Libanius Opera, tomo VIII, Leipzig, Teubner, 1915, reimpr. Hildesheim, 1963.
9
(4.2) Simile – “Um homem a quem roubaram a sua única túnica e se põe a
autolamentar-se em vez de procurar os meios de se defender do frio, tentando
encontrar algo com que se cubra – não te parece que atingiu o auge da insanidade?”
(11b)
(4.3) Iudicatio – “Encontrar um novo amigo é mais importante do que chorar o
desaparecido” (11d)
(5) Complexio em tom de exortação – “Tinhas um só amigo, acompanhaste o seu funeral, pois
procura outro a quem dês a tua amizade” (11c).43

A culminar esta sequência argumentativa, Séneca recorre à máxima, ao entimema


e ao exemplo para finalmente provar duas coisas: primeiro, que “quando
deliberadamente não pomos nós um termo à nossa dor, o tempo o fará por nós”; e
segundo, que “coisa alguma se torna aborrecida mais depressa do que a dor”. O exemplo
dos antigos romanos e o da sua própria experiência são argumentos de autoridade que
sustentam com fundamento as verdades enunciadas, e cabalmente demonstram que
“nada há mais inconveniente para um homem avisado do que deixar o cansaço servir de
remédio à dor”.
Perfeitamente inserido na cultura da época, uma cultura caracterizada pela
interacção dinâmica entre composição oral e escrita, Séneca soube usar com particular
mestria tanto as categorias retóricas que retêm marcas de oralidade44 como aquelas
figuras que a retórica literária consagrou. Para a eficácia dos seus argumentos concorrem
figuras de estrutura como o quiasmo, a repetição cíclica de palavras-chave como dolor,
lacrima, amicus e uoluptas, a antítese, a inclusão e a simetria concêntrica. O discurso
encerra (63.16) em quiasmo como começou; simplesmente agora, em tom de exortação e

43
(1) Propositio – [9] Feras autem hos qui neglegentissime amicos habent, miserrime lugent, nec amant
quemquam nisi perdiderunt?
(2) Ratio – ideoque tunc effusius maerent quia verentur ne dubium sit an amaverint; sera indicia affectus
sui quaerunt.
(3) Pronuntiatio – [10] Si habemus alios amicos, male de iis et meremur et existimamus, qui parum valent in
unius elati solacium; si non habemus, maiorem iniuriam ipsi nobis fecimus quam a fortuna accepimus; illa
unum abstulit, nos quemcumque non fecimus.
(4) Exornatio: (4.1) Contrarium – [11] Deinde ne unum quidem nimis amavit qui plus quam unum amare not
potuit. (4.2) Simile – Si quis despoliatus amissa unica tunica complorare se malit quam circumspicere
quomodo frigus effugiat et aliquid inveniat quo tegat scapulas, nonne tibi videatur stultissimus? (4.3)
Iudicatio – Satius est amicum reparare quam flere (11d).
(5) Complexio em tom de exortação – Quem amabas extulisti: quaere quem ames (11c).
44
Categorias como o quiasmo, a inversão, a alternância, a inclusão, a composição circular, o refrão, a
simetria concêntrica.
10
em estrutura do modelo ABA’. Um quiasmo mediado que tende a dirigir a sua atenção
para o elemento central da estrutura, e parece querer gerar uma réstia de esperança que
transforma a ‘tristeza’ da perda na alegria contida de um possível reencontro final.

A – [16] Pensemos, caro Lucílio, que em breve também nós iremos


B – para onde foi agora, para tristeza nossa, esse nosso amigo.
C – Até pode suceder que tenham razão os sábios e haja um lugar onde todos iremos residir
após a morte;
B’ – se assim for, esse amigo que julgamos ter morrido,
A’ – limitou-se a partir para lá à nossa frente!45

Não sendo um imitador servil das convenções retóricas, Séneca soube, de facto,
usar criativa e inventivamente as técnicas fundamentais de composição inspiradas nessa
arte para comunicar com eficácia e vigor a sua mensagem. O juízo negativo de
Quintiliano sobre o ritmo desigual da sua prosa, “as suas frases nervosas e curtas, as suas
sentenças abundantes, a sua composição irregular”,46 e o facto de o próprio Séneca nunca
ter dado grande relevo explícito à retórica, não conseguem ocultar os traços contínuos
de uma exímia técnica de argumentação e composição. Como justamente observa
Segurado e Campos, é situado “entre o rigorismo da Stoa antiga e a predilecção romana
pela arte da palavra”,47 que Séneca se situa. Ele socorre-se da retórica como serva da
filosofia para dar, não só expressão e relevo à grandeza das ideias em que acredita, mas
também persuadir, convencer e transformar o destinatário da sua carta. E, quem sabe?
porventura aperfeiçoar-se a si próprio. Pois, como diz: “Sou eu que te escrevo estas
palavras, eu, que tão imoderadamente chorei o meu grande amigo Aneu Sereno, eu, que
com grande vergonha minha me vejo forçado a incluir-me no número daqueles que se
deixaram vencer pela dor!” (63.14). A relação “eu/tu” que aqui se enfatiza é, pelo menos
retoricamente, um convite ao auto-escrutínio, à auto-revelação que implica o

45
A – ...cito nos eo peruenturos
B – quo illum peruenisse maeremus;
C – et fortasse, si modo vera sapientium fama est ricipitque nos locus aliquis,
B’ – quem putamus perisse
A’ – praemissus est.
46
Ver Lúcio Aneu Séneca, Cartas a Lucílio, tradução. Prefácio e notas de J. A. Segurado e Campos, Lisboa,
Fundação Calouste Gulbenkian, 1991, p. XX.
47
Ibid., pp. XVIII-XIX.
11
envolvimento e a transformação de pelo menos dois eus.48 Os conselhos que Séneca dá a
Lucílio correspondem neste exemplo às prescrições que ele de algum modo faz a si
próprio.
De sorte que, mediante uma simples carta de consolação, o autor cumpre o
projecto filosófico de também reflectir sobre si mesmo para se auto-examinar,
aconselhar e corrigir. Renunciando ao papel de sábio e director da consciência alheia,
também ele se confessa enfermo e aprendiz em busca da felicidade e sabedoria que
aconselha.49 Mas não estará ele a cumprir este projecto filosófico de acção pedagógica e
terapêutica mediante o recurso a uma subtil estratégia retórica genialmente conseguida
sem dar nas vistas? ῏Ηθος, λόγος e πάθος retóricos juntamente concorrem para persuadir
Lucílio a transformar as lágrimas de tristeza no doce e alentado prazer da memória do
amigo, e a dor da sua perda na satisfação que resulta de valorizar mais a amizade
expressa em vida. A lógica de cada um dos argumentos é eticamente sustentada pela
crescente empatia manifesta, e eficazmente demonstrada por toda uma sinestesia de
emoções que o estilo gnómico, diatríbico e paradigmático convergentemente despertam.

48
Catherine Edwards, “Self-scrutiny and Self-transformation in Seneca’s Letters”, Greece and Rome 44:1,
1997, pp. 23-38. Neste artigo, Edwards observa que a obra de auto-transformação “implies the involvement
of at least two selves, the author and the addressee” (p. 27). De sorte que o conselho de Séneca corresponde
neste exemplo às prescrições que ele dá a si próprio.
49
“É como companheiro de sanatório que eu falo contigo da nossa comum enfermidade e te dou parte dos
medicamentos que uso. Escuta, portanto, as minhas palavras como se me estivesses ouvindo a falar com os
meus botões; é como se eu te permitisse o acesso aos meus segredos e discutisse comigo mesmo na tua
presença...” (27.1). Cf. 68.9.
12
BIBLIOGRAFIA

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Römischen Welt II.25.2, Berlin: De Gruyter, 1984, pp. 1031-1432.
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13
TEXTOS
63.1
A – Moleste fero decessisse Flaccum, amicum tuum,
B – plus tamen aequo dolere te nolo.
C – Illud, ut non doleas, vix audebo exigere; et esse melius scio.
D – Sed cui ista firmitas animi continget nisi iam multum supra fortunam elato?
D’ – illum quoque ista res vellicabit, sed tantum vellicabit.
C’ – Nobis autem ignosci potest prolapsis ad lacrimas,
B’ – si non nimiae decucurrerunt, si ipsi illas repressimus.
A’ – Nec sicci sint oculi amisso amico nec fluant; lacrimandum est, non plorandum.

63.3-7
(1) Res – [3]...Brevem illi apud te memoriam promittis, si cum dolore mansura est: iam
istam frontem ad risum quaelibet fortuita res transferet. Non differo in longius tempus
quo desiderium omne mulcetur,
(2) Ratio – quo etiam acerrimi luctus residunt: cum primum te observare desieris, imago
ista tristitiae discedet.
(3) Confirmatio – Nunc ipse custodis dolorem tuum; sed custodienti quoque elabitur,
eoque citius quo est acrior desinit.
(4) Contrarium – [4] Id agamus ut iucunda nobis amissorum fiat recordatio. Nemo libenter
ad id redit quod non sine tormento cogitaturus est, sicut illud fieri necesse est, ut cum
aliquo nobis morsu amissorum quos amavimus nomen occurrat; sed hic quoque morsus
habet suam voluptatem.
(5) Exemplum – [5] Nam, ut dicere solebat Attalus noster, ‘sic amicorum defunctorum
memoria iucunda est
(6) Simile – quomodo poma quaedam sunt suaviter aspera, quomodo in vino nimis veteri
ipsa nos amaritudo delectat; cum vero intervenit spatium, omne quod angebat
exstinguitur et pura ad nos voluptas venit’.
(7) Conclusio – [6] Si illi credimus, ‘amicos incolumes cogitare melle ac placenta frui est:
eorum qui fuerunt retractatio non sine acerbitate quadam iuvat. Quis autem negaverit
haec acria quoque et habentia austeritatis aliquid stomachum excitare?’ [7] Ego non idem
sentio: mihi amicorum defunctorum cogitatio dulcis ac blanda est; habui enim illos
tamquam amissurus, amisi tamquam habeam. Fac ergo, mihi Lucili, quod aequitatem
tuam decet, desine beneficium fortunae male interpretari: abstulit, sed dedit.

63.9-11
(1) Propositio – [9] Feras autem hos qui neglegentissime amicos habent, miserrime
lugent, nec amant quemquam nisi perdiderunt?
(2) Ratio – ideoque tunc effusius maerent quia verentur ne dubium sit an amaverint;
sera indicia affectus sui quaerunt.
(3) Pronuntiatio – [10] Si habemus alios amicos, male de iis et meremur et
existimamus, qui parum valent in unius elati solacium; si non habemus, maiorem
14
iniuriam ipsi nobis fecimus quam a fortuna accepimus; illa unum abstulit, nos
quemcumque non fecimus.
(4) Exornatio
(4.1) Contrarium – [11] Deinde ne unum quidem nimis amavit qui plus quam unum
amare not potuit.
(4.2) Simile – Si quis despoliatus amissa unica tunica complorare se malit quam
circumspicere quomodo frigus effugiat et aliquid inveniat quo tegat
scapulas, nonne tibi videatur stultissimus?
(4.3) Iudicatio – Satius est amicum reparare quam flere (11d).
(5) Complexio em tom de exortação – Quem amabas extulisti: quaere quem ames (11c).

63.16
A – ...cito nos eo peruenturos
B – quo illum peruenisse maeremus;
C – et fortasse, si modo vera sapientium fama est ricipitque nos locus aliquis,
B’ – quem putamus perisse
A’ – praemissus est.

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