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O Golpe e o Calculo Resenha de W G Santos O Calculo Do Conflito
O Golpe e o Calculo Resenha de W G Santos O Calculo Do Conflito
O GOLPE E O CÁLCULO
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ser resumidas num déficit de precisão e rigor, em certa “frouxidão”, que surge
como desconcertante diante do empenho científico do autor, envolvendo
mesmo esforços de formalização, e que se manifesta em diversos planos.
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entanto, apesar de Wanderley afirmar a necessidade de “esquemas conceituais
bem elaborados” (p. 170), não se encontra no livro a discussão de qual será o
significado apropriado do “político” em contraste com outras esferas, e a
definição subjacente à perspectiva proposta parece ligar o “político” com
aquilo que diz respeito, sem mais, ao Estado, ou ao plano político-institucional
tomado em sentido restrito: os poderes formalmente constituídos (o Executivo
e o Legislativo, talvez o Judiciário) e a dinâmica de cada um deles e das
relações entre eles, além dos partidos.
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função do cálculo plebiscitário da distribuição de poder entre os atores
políticos”, com “plebiscitário” referindo-se (em uso algo arbitrário) ao
processo decisório em que, “dado um conjunto específico de propostas
políticas, a opção por uma delas depende da avaliação de cada participante
relativamente aos recursos de poder de que todos os demais dispõem para
apoiar um determinado conjunto de alternativas” (p. 359, onde se diz também,
explicitamente, que “plebiscitário” não significa “a consulta periódica ou
ocasional às preferências do público em geral”, presumivelmente em
eleições). Deixemos de lado o exemplo de formulação imprecisa que aí se
tem: cabe presumir que cada participante avalia não apenas os recursos de
“todos os demais”, mas também os seus próprios e sua relação com os dos
outros, como o autor mesmo deixa claro em outras passagens. Um aspecto
notável das elaborações de Wanderley a respeito tem a ver com a intensidade
das preferências mantidas pelos atores quanto a diferentes políticas:
salientando insistentemente sua importância, Wanderley não apenas não
destaca o que há de problemático na comparação interpessoal da intensidade
de preferências – ou de “utilidades”, na linguagem dos economistas –, mas
também pretende (apesar de se referir, na p. 364, à “premissa” da
impossibilidade de identificar no mundo empírico a intensidade de
preferências de qualquer ator...) que se possa determinar, o que é mesmo
apresentado como decisivo para os resultados do “cálculo do conflito”, se a
diferença entre as “intensidades” de atores diversos seria maior ou menor do
que a diferença entre seus recursos, sem explicar como se poderia tratar de
realizar essa mensuração comparativa de coisas heterogêneas (p. 193, por
exemplo). Mas outros aspectos são mais importantes do ponto de vista da
consistência geral do modelo.
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recursos e se essa avaliação se aplica até ao controle das Forças Armadas, é
evidente que o sistema relevante vai muito além da esfera parlamentar ou
político-institucional em sentido estreito, e é difícil ver o que será alheio às
“considerações plebiscitárias”. Nesse sistema, não só o uso político das Forças
Armadas não seria “violência”, nos termos da definição fornecida, mas
também a paralisia de decisões, entendida como algo que se dará quando “não
houver ator (ou coligação de atores) com poder suficiente para fazer
prevalecer sua proposta” (p. 360), exigiria para sua ocorrência que as próprias
Forças Armadas não dispusessem desse poder. Mas 1964, segundo a
interpretação de Wanderley, corresponde à intervenção (eficaz) das Forças
Armadas em resposta à paralisia de decisões especialmente no nível
parlamentar, ou na esteira dela.