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Conrad e Nietzsche

Conrad e Nietzsche foram alunos descontentes e, contudo, admiradores de Schopenhauer. 18

Nietzsche não acreditava que a Vontade fosse cega, nem achava que ela se resumisse a uma
Vontade de viver. Para ele, a Vontade inclinava-se sempre para a aquisição de poder; o mesmo
valia para Conrad [...]. Nietzsche acreditava que seu outrora reverenciado mestre inventara um
covarde recuo da vida ao pregar a retração estóica [...]. Tudo isso, além do interesse por
Wagner, faz parte de um patrimônio cultural comum compartilhado por Nietzsche e Conrad.
18

[...] pode-se deduzir que Conrad estava familiarizado com o filósofo alemão da vontade de
potência, do super-homem e da transmutação de todos os valores. É possível encontrar outras
provas circunstanciais de que Conrad não somente leu Nietzsche como também fez uso dele ...
A melhor leitura deles se faz a partir de uma tradição comum da qual Nietzsche é o apogeu. 19

... meu objetivo principal é mostrar similaridade e afinidades entre os dois escritores... Conrad
tem sido tratado como tudo, exceto um romancista ligado a um determinado contexto cultural
e intelectual ... Aqui, deverei me limitar a descrever as conexões entre as ideias de Conrad e
Nietzsche, conexões suficientemente interessantes por si mesmas. 19-20

Por falta de um nome melhor para a tradição a que me referi acima, vou chmá-la de atitude
radical em relação à linguagem.

Pontos em comum

- a vida da linguagem era o primeiro fato da vida da escrita. 20

- Conrad – “trabalhador da prosa”.


- Nietzsche – “filólogo”, os grandes artistas e pensadores.
- À medida que seu pensamento se desenvolvia, do final da década de
1870 até 1888, Nietzsche retornava constantemente à conexão entre
as características da linguagem como uma forma de conhecimento,
percepção e comportamento humanos e aos fatos fundamentais da
realidade humana, ou seja, vontade, poder e desejo. 20
- Nietzsche examinou a linguagem na sua duplicidade escondida e em
sua aliança com o poder e a hierarquia, que ele chamou de
perspectiva. 20
- O que tornou possível a Nietzsche conceber a linguagem dessa forma?
- Em vez disso, devemos vê-la como um desdobramento lógico da nova
filologia do começo do século XIX e, é claro, dos altos estudos críticos
da Bíblia que surgiram nas décadas seguintes. 21
- não existe uma coisa chamada linguagem primeira e original, assim
como não existe um texto primordial. Todas as expressões vocais
humanas estão ligadas umas às outras, mas não numa genealogia que
remontaria à língua primordial (que se acreditava ser o hebreu falado
por Deus e Adão no Paraíso); as conexões entre as elocuções são
formais, laterais, adjacentes, complementares, sistemáticas. Em suma,
toda expressão vocal é uma variação controlada, disciplinada e
coordenada por regras de alguma outra expressão vocal. Embora seja
peculiar aos seres humanos, a linguagem é da ordem da repetição, de
uma repetição criativa, não da fala original. Assim, tudo o que é
pronunciado interpreta algo que foi dito antes, é uma interpretação de
uma interpretação que não serve mais. 21
- Nietzsche via a história humana como uma batalha de interpretações,
pois, uma vez que o homem existe sem a esperança de chegar ao
primeiro elo da cadeia de interpretações, ele deve apresentar sua
própria interpretação como se fosse um significado seguro, em vez de
uma mera versão da verdade. Ao fazer isso, ele forçosamente desaloja
outra interpretação, a fim de colocar a sua no lugar. 21
- Portanto, sé, de um ponto de vista, â linguagem reforça o "páthos da
distância" entre o usuário e a realidade bruta, de outra perspectiva, ela
torna comum, grosseira e trai a experiência humana. 22
- Primeira afirmação
- Essa visão da linguagem como perspectiva, interpretação, pobreza e
excesso é a primeira das três maneiras de unir Conrad e Nietzsche. 22

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