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A morte de Deus como catalisador da fé na pós-modernidade

GT 4: Religião: epistemologia e fenomenologia

Jocinei Godói Lima1

Quando Nietzsche profere a polêmica sentença da morte de Deus, na persona do


homem insensato no fragmento 125 de A gaia ciência (1882), fica subentendido que
o Deus ao qual Nietzsche se refere é o Deus cristão. Mais adiante, na mesma obra,
tal entendimento é ratificado no fragmento 343 em que o filósofo alemão diz que a
crença no Deus cristão se tornou impossível. A afirmação de que o Deus cristão
morreu, em geral, é consenso entre os estudiosos de Nietzsche. Diante desta
afirmação e, baseado nos fragmentos apresentados, o presente trabalho objetiva
propor que o ceticismo iluminista defendido por muitos teóricos da Modernidade deu
lugar ao fenômeno de renovação da fé transcendente, porém, notadamente marcado
por seu aspecto plural. Isso ocorre pelo fato de a fé cristã, retratada na Bíblia
Sagrada enquanto fonte de revelação absoluta a partir de uma hermenêutica
tradicional assentar-se em um modelo exclusivista que demandava ações e
comportamentos decorrentes de uma ética cristã elevada. Ao afirmar que o Deus
cristão, soberano e absoluto, não mais exercia poder sobre as ações humanas, uma
vez que estava “morto”, Nietzsche abriu caminho para um novo tempo de crenças
derivadas da “ortodoxia” cristã, que não mais necessitavam manter o compromisso
com algum tipo de exclusivismo ou comportamento austero. Este tempo pode ser
chamado de pós-moderno, segundo a compreensão e contribuição lyotardiana, que
se volta para Nietzsche como aquele que esmiúça os grandes metarrelatos não
somente estabelecidos pela religião, mas, pela ciência, pela política, pela economia,
etc. O método utilizado para a condução do trabalho nesta direção firma-se,
majoritariamente, em pesquisas bibliográficas com especial ênfase aos escritos de
Nietzsche sobre o tema da “morte de Deus”; da compreensão do filósofo Jean-
François Lyotard sobre a pós-modernidade e do sociólogo Peter Berger acerca do
pluralismo religioso na atualidade. Espera-se que, a hipótese de que a morte de
Deus tenha funcionado como catalisador da fé na pós-modernidade, seja confirmada

1
Mestrando no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião – PPGCR – da PUC-Campinas
(2º semestre), com fomento pela CAPES e licenciado em Filosofia pela PUC-Campinas (2019).
Formado em Teologia pelo Seminário Teológico Batista de Campinas. E-mail: joci.godoy@gmail.com.
pela presente pesquisa. Assim, a conclusão deste trabalho remeterá à compreensão
de um reavivamento contemporâneo de ordem mística ou espiritual, que acomete a
sociedade ocidental contemporânea, contudo, de forma subjetiva e livre de
compromissos com o Deus cristão, apresentado e defendido por pelo menos mil
anos durante a hegemonia cristã no período Medievo.

Palavras-chave: Fé; Morte de Deus; Nietzsche; Pós-Modernidade; Religião.

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