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A BNCC é um instrumento de referência dos conhecimentos indispensáveis a todos os

alunos da educação básica, independentemente de sua origem, classe social ou local de estudo. O
texto define os conhecimentos essenciais, direitos e objetivos de aprendizagem de todos os
estudantes do país. Em tese, a existência de um documento comum como esse garantirá a equidade
dos conhecimentos trabalhados em todos os municípios e estados, o acesso e a permanência do
aluno na escola, além de estabelecer conhecimentos progressivos que devem ser trabalhados ano a
ano na Educação Básica. Ela vai organizar o sequenciamento dos conhecimentos e suas habilidades.
O documento também estabelece que o que deverá ser desenvolvido no currículo deverá levar em
consideração dez competências gerais que devem se traduzir em conteúdos e habilidades dentro de
cada área do conhecimento.
São duas noções fundantes da BNCC a partir da LDB que deixam claros dois conceitos
decisivos para todo o desenvolvimento da questão curricular no Brasil. O primeiro, já antecipado
pela Constituição Federal, estabelece que as competências e diretrizes são comuns, os currículos são
diversos. O segundo se refere ao foco do currículo, em que os conteúdos curriculares estão a serviço
do desenvolvimento de competências e não apenas dos conteúdos mínimos a ser ensinados.
Ao definir essas competências, a BNCC reconhece que a educação deve afirmar valores e
estimular ações que contribuam para a transformação da sociedade, tornando-a mais humana,
socialmente justa e, também, voltada para a preservação da natureza.
Os currículos devem ter base nacional comum e serem complementados em cada sistema de
ensino e em cada estabelecimento escolar devido aos pontos fundamentais exigidos pelas
características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e dos educandos e que
podem influenciar no processo ensino-aprendizagem e na qualidade do ensino. O documento prevê
que a escola, como espaço de aprendizagem e de democracia inclusiva, deve se fortalecer na prática
coercitiva de não discriminação, não preconceito e respeito às diferenças e diversidades. Além
disso, a BNCC propõe a superação da fragmentação radicalmente disciplinar do conhecimento, o
estímulo à sua aplicação na vida real, a importância do contexto para dar sentido ao que se aprende
e o protagonismo do estudante em sua aprendizagem e na construção de seu projeto de vida.
* O ponto a se discutir diante da BNCC, e diante da leitura desta introdução, é o fato que
frente a uma base comum que regirá um processo educacional, não leva em conta a individualidade
e subjetividade do aluno diante do desenvolvimento no processo ensino-aprendizagem. Cada aluno
aprende no seu tempo e da sua forma.
* O retorno e o replanejamento para atender essa nova base será a longo prazo e os
primeiros resultados poderão ser vistos, por completo, daqui há 16 anos. Esperamos que a BNCC
não seja apenas mais uma proposta sem planejamento, que não seja apenas mais uma experiência
falida, mas que represente uma verdadeira mudança no panorama educacional, porque ela apresenta
boas referências para a construção de um currículo que possa realmente atender aos nossos alunos.
Mas para isso, existe a necessidade de discussões com professores para que todo mundo entenda a
ideia do documento, e como estamos falando de uma mudança a longo prazo, precisamos planejar
as mudanças e permitir que as iniciativas para atender essas competências propostas, que muito
provável serão na tentativa-e-erro, possam passar por discussões entre os problemas e gestores, que
se sintam a vontade para aplicar técnicas cabíveis e perante o erro, possam encontrar alternativas e
aprender com os fracassos, não deixar que os erros definam as tentativas. Infelizmente hoje vemos a
cobrança do sistema educacional público se importando apenas com dados e conteúdos, não
valorizando ou exigindo um trabalho por competência de seus profissionais. E para atender essa
novas medidas, será preciso mais diálogo, melhor formação, formação continuada e principalmente,
autonomia dos professore para que possam achar meios e modos de atender as necessidades dos
alunos para fazer surgir uma verdadeira democracia inclusiva, uma prática coercitiva de não
discriminação, não preconceito e respeito às diferenças e diversidades, como prevê o documento.
* Outro ponto que merece destaque no texto que introduz esse documento tão importante é
que além do cunho pedagógico, é presente também a parte administrativa e financeira da educação.
Nesse ponto, fica também a reflexão de como será essa oferta financeira, se o que vemos é uma
educação pública sofrida e com pouquíssimos investimentos, que ainda por cima, sofre com a
desvalorização profissional e a falta de credibilidade pelos resultados das avaliações externas.
Novamente faz-se necessário uma auto avaliação sobre a responsabilidade do documento, pois
quando cita que os investimentos oferecidos servirão para que o país consiga atingir o pleno
desenvolvimento da educação está se falando de algo que está anos-luz de distância do que se tem
no cenário atual.
* A Base Nacional, surge como tentativa de salvar uma educação pública “falida” e, como os
autores do documento citaram em suas primeiras linhas da introdução, também esperamos que ela
cumpra com seu papel e seja balizadora da educação, pois ninguém é tão sabedor da necessidade de
mudanças no panorama atual do que quem está no chão das escolas, sem estrutura, sem apoio,
servindo de cobaias para políticas públicas mal planejadas e sem sequência, talvez por isso um
pouco de dúvidas sobre sua eficácia.
* Assim como tantos outros documentos que regeram e regem a educação a BNCC tem
como elementos norteadores documentos maiores do país como as Diretrizes Curriculares, a LDB e
a Constituição Federal, lei maior da nossa nação. Aí já se encontra outro grande problema, uma vez
que estamos falando de leis que em sua teoria são belíssimas, mas que não são cumpridas como
deveria ser. Como forma de compreender o fato do descumprimento dessas leis basta lembrar que a
CF diz que a educação é direito de todos e dever do Estado e da família, fato esse que já merece
análise, já que muitas vezes o Estado se omite de sua responsabilidade quando superlota salas de
aula, não oferecendo estrutura de trabalho aos professores, quando não valoriza o trabalho docente,
já a família por sua vez tem se eximido quase que em sua totalidade de suas obrigações com a
educação das crianças e adolescentes, transferindo à escola o que seria de sua incumbência. Com
tudo isso, o que se tem como consequência é a baixa qualidade do ensino e os diversos problemas
que enfrentamos no interior das instituições, o que distancia ainda mais do que a Constituição
chama de desenvolvimento pleno da pessoa.
* Tendo como norteadora a LDB de 1996, a nova base reafirma o desejo de que o estudante
tenha oportunidades iguais de ingressar, permanecer e aprender nas escolas, estabelecendo um
patamar de aprendizagem e desenvolvimento a que todos tenham direito. Ao se ler esse trecho, é
preciso que se pergunte como isso será possível, se o que se tem na prática é que essa garantia já
vem estendida desde a criação da LDB e o que ainda se tem é um grande número de crianças e
jovens fora da escola e mais grave ainda que isso, um enorme aglomerado de alunos que estão
inseridos nas instituições escolares, mas que não aprendem, seja por que não são oferecidas
condições para que isso aconteça, seja porque o próprio aluno não tem encontrado na escola algo
que desperte seu interesse, nesse caso, mais uma vez vemos a teoria muito distante da prática.
* Na busca por essa igualdade tão almejada na BNCC, é frisada com ênfase a contrapartida
das Secretarias de Educação dos Estados e Municípios, aumentando a responsabilidade dos entes
federativos, que, seja por falta de condições ou por incompetência já não conseguem cumprir sequer
as que já são de sua alçada. Dessa forma, quando se descentraliza as ações, se de uma forma garante
a participação de uma maior parcela, por outro tira a responsabilidade de quem realmente deveria
ter.
* O texto analisado fala identificação que existe entre a BNCC e os currículos através da
comunhão de princípios e valores. Basta saber que princípios e valores são esses e para quais alunos
eles se destinam, se a sua maioria ou se apenas uma pequena parte, que por natureza já é favorecida.
Outro ponto que merece destaque é a complementariedade da base com o currículo com vista a
assegurar as aprendizagens essenciais definidas para cada etapa da educação. Mais como saber o
que é essencial, se cada ser humano é diferente e pensa de forma única, portanto, há de se
conscientizar de que o que é essencial para alguns pode não ser para outros. É urgente também que
se reflita que se o aluno não aprender o que é essencial para um determinado ano/série, poderá ter
problema para adquirir os conhecimentos nos anos posteriores, fato que nem sempre é levado em
conta nos documentos que formam o chamado currículo formal, que corresponde aos documentos
oficiais que regem a educação.
* Merece destaque também o que a base traz sobre a sua relação com os currículos,
trabalhando de forma interdisciplinar e contextualizada, ou seja, diminuindo a fragmentação que há
entre as disciplinas e fazendo com que o conteúdo seja visto de uma forma mais global,
relacionando os assuntos abordados em sala de aula com o cotidiano do estudante, tornando-o
significativo. Concordando com as ideias apresentadas no parágrafo acima, vê-se como
fundamental que isso realmente ocorra e que traga os resultados esperado, contudo, deixando em
alerta que para que isso realmente seja colocado em prática é necessário uma atualização por parte
dos professores, já que muitos se resumem a estudar sua área específica, assim como planejar
melhor suas aulas, de modo que a transposição dos conteúdos seja feita de forma a alcançar os
alunos. A transformação da BNCC em currículos estaduais e municipais que possam ser
implementados nas escolas vai necessitar de apoio financeiro e técnico da União.
* O texto que apresenta o subtema acima tem seu inicio tratando do que a LDB chama de
aplicabilidade do conhecimento, que demonstram se os resultados foram satisfatórios ou não, o que
denominamos de competências. Esse talvez seja o grande desafio da educação, quando vemos que a
grande maioria dos estudantes concluem os ciclos de ensino sem a mínima competência necessária
para sua idade. Para tentar minimizar esse problema, estados e municípios precisam e muitos já
começaram a fazer, a criação de currículos voltados para essas competências, fato esse que é um
dos propósitos da BNCC. O grande empasse disso tudo é que os professores e gestores já tem
consciência de que muitos alunos são aprovados em suas respectivas séries sem o domínio das
competências necessárias a ele, contudo, o que lhes falta é suporte para entrar reverter essa situação,
como maior apoio pedagógico e financeiro, assim como auxílio na tentativa de conter os fatores
externos que impedem que os alunos aprendam, como indisciplina, ausência da família, despreparo
profissional, dentre tantos outros.
* Muito tem se falado hoje sobre o que aprender e para que apender, a questão é que não
parte do aluno o que aprender e muitos não compreendem para que aprender, uma vez que as
propostas educacionais vêm de “cima para baixo”, muitas vezes criadas por quem nunca adentrou o
piso da sala de aula ou copiadas de outros países. Outra reflexão que aqui se faz, é se esse “o que
aprender” se destina aquele jovem que já tem a competência necessária, tratando-se de uma
pequena minoria, ou é algo voltado para a grande maioria, que aprende com dificuldade e ainda não
vê nos estudos uma saída para mudar sua vida. As escolas precisaria ter autonomia para mudar esse
currículo formal, e só assim poderia efetivamente atender as suas necessidades.

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