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AP

O enceramento diagnóstico como guia para preparos


de laminados cerâmicos

Rafael Ferrone Andreiuolo1 1) Universidade Federal do Rio de Janeiro, Faculdade de


Odontologia, Departamento de Clínica Odontológica
Anna Paula Gonzaga Martins2 (Rio de Janeiro/RJ, Brasil).
2) Especialista em Dentística, Universidade Federal Fluminense,
João Luiz Bittencourt de Abreu1
Departamento de Dentística (Rio de Janeiro/RJ, Brasil).
Rodrigo Ramos Fernandes1
Katia Regina Hostilio Cervantes Dias1

Resumo: O preparo dentário, quando técnica mais antiga e simplificada, em envelhecimento ou perda substancial
necessário, é uma das etapas mais que se utilizavam pontas diamanta- de estrutura dentária. Essa abordagem
importantes na confecção de facetas das, guiando a profundidade de corte permite maior preservação do esmal-
laminadas cerâmicas. A adesão ao es- a partir da anatomia existente. Nessa te dentário e, como consequência,
malte provê melhores valores de união técnica, não eram levadas em consi- maior potencial de união biomecânica
em comparação aos relatados para a deração alterações dentárias como e estética. O presente artigo revisa a
dentina. Dessa forma, o foco do pre- envelhecimento, desgaste e perda de literatura referente ao preparo para fa-
paro para facetas é ser conservador na esmalte, o que, consequentemente, cetas laminadas cerâmicas e detalha a
redução da estrutura dentária, objeti- levava a um maior risco de exposição técnica de preparo com base em um
88 vando longevidade. Pelo menos duas de dentina. A segunda é uma técnica enceramento diagnóstico, que simula
estratégias diferentes para o preparo mais moderna e sofisticada, baseada a anatomia final desejada da restaura-
dentário podem ser encontradas na em um recurso diagnóstico (encera- ção. Palavras-chave: Facetas dentá-
literatura: a primeira consiste em uma mento ou mock-up) para compensar o rias. Cerâmica. Preparo do dente.

Diagnostic wax-up as a guide to ceramic veneer preparations


Abstract: Tooth preparation, when nec- found in the literature. Simplified proto- This approach allows for more enamel
essary, is one of the most important con- cols included the use of depth cutters preservation and, as a consequence, more
siderations in the fabrication of porcelain guided by the existing tooth surface. That predictable bonding, biomechanics and
laminate veneers. Bonding to enamel approach did not take into consideration esthetics. The present article reviews the
provides strongest bond values when alterations of the tooth due to aging, wear, existing literature regarding tooth prepa-
compared to dentin. This way, the focus or loss of enamel and thus led to greater ration for porcelain laminate veneers, and
on tooth preparation is to be conservative risks for dentin exposure. More sophisti- illustrates in detail the technique for tooth
in the reduction of sound tooth structure, cated methods have integrated an additive preparation based on a diagnostic wax-up
aiming longevity. At least two different diagnostic procedure (wax-up or mock-up) of the final restoration. Keywords: Dental
strategies for tooth preparation can be to simulate the aimed restoration anatomy. veneers. Ceramics. Tooth preparation.

Como citar este artigo: Andreiuolo RF, Martins APG, Abreu JLB, Fernandes RR, Dias KRHC. Diagnostic wax-up as a guide to ceramic veneer Enviado em: 21/11/2015 - Revisado e aceito: 26/06/2017.
preparations. J Clin Dent Res. 2017 Jul-Sept;14(3):88-97.
DOI: https://doi.org/10.14436/2447-911x.14.3.088-097.oar

Os autores declaram não ter interesses associativos, comerciais, de propriedade ou financeiros que representem conflito de interesse nos Endereço para correspondência: Rafael Ferrone Andreiuolo
produtos e companhias descritos nesse artigo. O(s) paciente(s) que aparece(m) no presente artigo autorizou(aram) previamente a publicação Rua Mem de Sá, 19, sala 505, Icaraí - Niterói/RJ - CEP: 24.220-260
de suas fotografias faciais e intrabucais, e/ou radiografias. E-mail: rafandrei@ig.com.br

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O enceramento diagnóstico como guia para preparos de laminados cerâmicos

INTRODUÇÃO dentário, uma vez que essas medidas estão relacio-


A confecção de facetas cerâmicas é um dos nadas ao volume e à anatomia final da restauração5.
procedimentos mais conservadores e estéticos Diferentes técnicas para o preparo dentário
da Odontologia moderna. Desde seu surgimento, de facetas cerâmicas foram descritas na literatu-
há quase 30 anos, interpretar suas indicações e ra odontológica e serão discutidos nesse artigo5,9.
aplicar as técnicas corretas tem sido a chave para Além disso, atenção especial será dada para ilus-
o sucesso em longo prazo. Estudos longitudinais trar a técnica do preparo dentário para facetas
retrospectivos apontam para uma taxa de sucesso cerâmicas baseado no enceramento diagnóstico,
de cerca de 94% após 10-15 anos, e o preparo da que resulta em um procedimento mais conserva-
estrutura dentária, quando necessário, é um fator dor e com resultados bastante previsíveis.
de grande relevância nessa técnica2,4.
O preparo ideal para facetas cerâmicas deve INDICAÇÕES E CONTRAINDICAÇÕES
permitir que o técnico em prótese dentária con- DAS FACETAS CERÂMICAS
feccione uma restauração que se integre às carac- As facetas cerâmicas devem ser usadas como
terísticas bucais e faciais do paciente, com uma uma solução conservadora para um problema estéti-
perfeita adaptação marginal5. A preparação para co5. Elas são indicadas, primeiramente, para dentes
facetas cerâmicas se diferencia das tradicionais, escurecidos, com forma e contorno insatisfatórios,
para coroas totais, especialmente em relação à re- tamanho ou volumes reduzidos, ou para o fechamen-
tenção e forma de resistência do preparo. Apesar to de diastemas10. Adicionalmente, as facetas cerâ-
da confecção de facetas não requerer, necessa- micas podem desempenhar um papel importante na
riamente, um preparo dentário, e da geometria do restauração de dentes que perderam estrutura por 89
preparo ser um fator de importância secundária trauma ou doença. Em 2004, Magne e Belser5 apre-
em facetas cerâmicas, uma preparação mínima sentaram a seguinte classificação e sua respectiva
facilita o posicionamento e a inserção da restau- indicação para a confecção de facetas cerâmicas:
ração cerâmica durante a etapa de cimentação. » Tipo I: dentes resistentes ao clareamento.
Por se tratar de um procedimento minimamente » Tipo IA: descoloração por tetraciclina.
invasivo, permite substancial preservação do re- » Tipo IB: dentes que não responderam ao
manescente tecidual durante a fase de preparo e, clareamento.
consequentemente, uma abordagem conservado- » Tipo II: grandes modificações na morfologia.
ra, na qual o desgaste total realizado requer, no » Tipo IIA: dentes conoides.
máximo, a metade da redução tecidual realizada » Tipo IIB: fechamento de diastemas ou
em preparos para restaurações de coroas totais6,7. triângulos interdentários.
A longevidade de facetas cerâmicas está dire- » Tipo IIC: aumento de comprimento incisal
tamente relacionada à adesão ao esmalte dentário. ou proeminência bucal.
Quanto à espessura da peça, alguns artigos reco- » Tipo III: restaurações extensas.
mendam uma espessura de, aproximadamente, » Tipo IIIA: fratura coronária extensa.
até 0,3 a 0,5 mm na região cervical, 0,5 a 0,7 mm » Tipo IIIB: perda substancial de esmalte por
nos terços médio e incisal, e no mínimo 1,5 mm de erosão ou desgaste.
cobertura incisal4,5,8. A obtenção precisa dessas » Tipo IIIC: malformações congênitas
medidas constitui o aspecto mais difícil do preparo generalizadas.

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Dentro da classificação proposta, o uso de de cimento utilizado, presença de hábitos parafun-


facetas cerâmicas com preparo mínimo ou sem cionais e a geometria do preparo12.
preparo pode alcançar os resultados estéticos de- A geometria do preparo é um dos aspectos
sejados de maneira conservadora para os tipos I mais controversos em se tratando de facetas ce-
e II. Casos tipo III requerem preparos mais exten- râmicas. Tipicamente, três tipos foram propostos1:
sos e seus objetivos estão mais ligados a reabilitar o preparo em janela, limitado à face bucal do den-
a função perdida11. te2; o preparo com a redução da borda incisal em
Abaixo, estão as contraindicações para o uso ombro; e13 o preparo da borda incisal em ombro
de facetas cerâmicas: com um chanfro na superfície palatina (overlap)1,14.
1. Dentes submetidos a forças mastigatórias Os preparos em janela apresentam valores de
pesadas (observadas através de desgaste resistência à fratura similares aos de dentes não
moderado a severo, em decorrência de preparados1,14. Esse tipo de preparação pode ser
bruxismo). considerado uma opção quando a resistência do
2. Dentes mal posicionados – nesses casos, dente é o objetivo principal. No entanto, ele pode
é uma obrigação ética do dentista expor a resultar em uma borda incisal com pouca espes-
possibilidade de correção por meio de um sura disponível para a cerâmica e, também, com
tratamento ortodôntico, elucidando seus reduzido remanescente dentário. Além disso, o ci-
benefícios, antes de propor a confecção mento resinoso será, em grande parte, unido aos
de facetas. prismas de esmalte orientados longitudinalmente,
3. Presença de doença periodontal. com maior risco de falhas de união1.
90
4. Dentes com hiperfluorose – esses dentes Para prevenir essa fina borda incisal de fratura,
podem resistir à desmineralização do con- uma redução incisal em forma de ombro foi des-
dicionamento ácido, podendo prejudicar a crita. O preparo com ombro incisal aumenta a área
retenção das restaurações. de superfície adesiva e gera melhor distribuição
5. Dentes passíveis de serem clareados por das forças oclusais1,14.
meio de métodos de clareamento. Foi sugerido que o preparo com redução inci-
6. Dentes extensamente restaurados11. sal e chanfro palatino fosse evitado, uma vez que
ele não aumenta a resistência ou o suporte para a
GEOMETRIA DO PREPARO faceta, além de gerar uma fina espessura de ce-
A demanda estética da sociedade atual au- râmica em uma área de altas tensões de tração,
mentou o uso de facetas cerâmicas na Odonto- que é a concavidade palatina1,14. Em contraparti-
logia. O índice de sobrevivência de facetas cerâ- da, um estudo baseado em análise tridimensional
micas reportado após 15 anos foi de 93%, sendo de elementos finitos demonstrou que esse tipo
o sucesso atribuído à conservação da estrutura de preparo apresentava a melhor distribuição de
dentária, adesão confiável ao esmalte, boa esté- tensões1,15. Um recente estudo in vitro revelou que
tica e estabilidade de cor4. Apesar do alto índice o uso do chanfro palatino aumentou significativa-
de sucesso clínico, vários fatores podem afetar o mente a resistência à fratura dos dentes restaura-
prognóstico em longo prazo das facetas cerâmi- dos em comparação a dentes com ombro incisal.
cas, como a superfície dentária sobre a qual ela No entanto, a metodologia empregada nesse estu-
está cimentada, a espessura de cerâmica, o tipo do pode ser altamente questionada, uma vez que

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não se padronizou a espessura das restaurações incomodavam o paciente (Fig. 1). Após exame clíni-
cimentadas, a geometria dos preparos, os espéci- co e radiográfico, e enceramento diagnóstico (Fig. 2),
mes usados (dentes) e a força aplicada no ato da foi proposto o fechamento dos diastemas com resina
cimentação, bem como não se tentou simular as nos dentes #13, #12, #22 e #23; troca da coroa do
condições encontradas na boca16. Adicionalmente, elemento #11 e faceta cerâmica no elemento #21.
um estudo in vitro comparando a vida útil de face- A partir do enceramento diagnóstico, é cria-
tas cerâmicas sob testes de fadiga cíclica mostrou do um guia de silicone para a redução vestibular.
que o uso do chanfro palatino aumentou significa- (Fig. 3A a 3D) Esse guia deve estar bem adaptado.
tivamente a vida em fadiga, quando comparado ao Para uma adequada estabilidade, é recomendável
preparo com ombro incisal13. Esses achados con- que o guia de silicone se estenda até dois dentes
trastam com os resultados de um recente estudo para posterior do segmento que será preparado,
clínico prospectivo, que não encontrou diferença bilateralmente. O guia de redução vestibular deve
estatisticamente significativa entre preparos com ser cortado horizontalmente, para que permita vi-
chanfro palatino ou ombro incisal17. sualizar a espessura de redução do preparo nos
Quanto à extensão interproximal do preparo, terços cervical, médio e incisal (Fig. 3E). Com o
não há evidências conclusivas sobre qual é a me- auxílio de uma sonda periodontal, o dentista pode
lhor técnica. O mais indicado é estender o preparo medir o espaço existente para a faceta a partir do
de modo a esconder a interface dente-restauração. guia, de modo a fornecer ao técnico uma espes-
O quanto estender cabe ao dentista, com base no sura de cerca de 0,3-0,5 mm no terço cervical e
caso e no dente em questão11. No entanto, é con- 0,5-1 mm nos terços médio e incisal5,18,19.
senso na literatura que, em caso de fechamento de Um guia de silicone que se adapte à superfí- 91
diastemas, a extensão do preparo nos sentidos pro- cie palatina dos dentes também é importante para
ximal e gengival viabiliza melhores resultados5. controlar a redução incisal do preparo (Fig. 4).
Quanto ao limite cervical do preparo, pode-se Da mesma forma, é recomendável que o guia de
usar a coloração do substrato como critério de deci- silicone se estenda, em ambos os lados, até dois
são. Em dentes escurecidos, o ideal é levar o término dentes para posterior do segmento que será pre-
até a região intrassulcular, ao passo que em dentes parado, para maior estabilidade18.
claros, o término pode estar situado no nível gengival As Figuras 3 e 4 mostram a importância do
ou até supragengival, sem maiores problemas5. enceramento para as etapas de preparo da face-
Mais importante, os tipos de preparos descritos ta cerâmica e a escultura com resina dos dentes
acima para facetas cerâmicas podem ser feitos por #13, #12, #22 e #23.
meio de duas abordagens: com base na estrutura A etapa de acabamento inclui uma leve separa-
dentária existente ou no volume final da restauração. ção proximal para os dentes adjacentes, de modo
a permitir uma melhor definição das margens
RELATO DE CASO CLÍNICO durante a moldagem, e facilitar a subsequente
Paciente do sexo masculino, com 29 anos de fabricação dos modelos de gesso durante a fase
idade, encaminhado após tratamento ortodôntico, laboratorial. Os ângulos de transição devem ser
para o fechamento de diastemas na região anteros- suavemente arredondados com discos flexíveis
superior. A raiz exposta sob a coroa do elemento #11 em baixa rotação5. Uma última e essencial mano-
e o desgaste vestibular do elemento #21 também bra antes da moldagem é a hibridização imediata

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da dentina, ou melhor, a identificação de possíveis caso clínico, não foi necessária a cimentação
áreas de dentina exposta e selamento com um provisória, uma vez que havia suficiente estabi-
adesivo dentinário14. Dessa forma, a interface ade- lidade e retenção das restaurações provisórias.
siva fica menos permeável à passagem de água No entanto, essa é uma questão a ser avaliada
e mais resistente à degradação21. É importante de acordo com cada caso.
ressaltar que esse procedimento deve ser realiza- É importante que seja enviado ao técnico uma
do previamente à etapa de moldagem, já que o fotografia da tomada de cor do substrato dentário,
aumento na espessura do filme de cimento pode assim como dos dentes adjacentes. (Fig. 6).
interferir na adaptação das facetas. A sequência de preparo descrita acima permite
Após a moldagem final, a restauração pro- ao técnico confeccionar um trabalho de alto pa-
visória é, então, fabricada com uma resina bi- drão, preenchendo os requisitos estéticos, bioló-
sacrílica injetada em um molde de silicone do gicos (adaptação) e funcionais. O resultado final
enceramento diagnóstico (Fig. 5). No presente pode ser visto na Figura 7.

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A B

C D

Figura 1: A) Fotografia inicial do sorriso. B) Fotografia inicial aproximada. C) Fotografia inicial do lado direito. D) Fotografia inicial do
lado esquerdo.

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Figura 2: Enceramento diagnóstico.

A B C

93
Figura 3: A) Guia de redução vestibular.
B) Guia de redução vestibular fatiado,
para se avaliar o espaço protético no ter-
ço cervical. C) Guia de redução vestibular
fatiado, para se avaliar o espaço protético
no terço médio. D) Guia de redução ves-
tibular fatiado, para se avaliar o espaço
protético no terço incisal. E) Guia de re-
dução vestibular adaptado em boca, para
D E se avaliar a espessura do preparo.

A B

Figura 4: A) Guia de redução incisal. B) Guia de redução incisal em posição, para se controlar a redução incisal do preparo.

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94 Figura 5: Restaurações provisórias em resina bisacrílica (Protemp 4).

A B

Figura 6: A) Tomada de cor dos dentes adjacentes. B) Tomada de cor do substrato.

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A B

Figura 7: Caso concluído.

DISCUSSÃO dentária, uma vez que se baseia na reprodução


Preparos com base na estrutura da situação inicial, em termos de forma e fun-
dentária existente ção. No entanto, quando a espessura do es-
Nesses casos, o objetivo principal é remo- malte existente é fina ou a intenção é projetar
ver uma camada uniforme de estrutura den- os dentes no sentido vestibular, o preparo com
tária9,22-25. Esse objetivo pode ser alcançado base na estrutura dentária existente pode levar
pela preparação à mão livre, usando pontas a uma desnecessária exposição de dentina e à
diamantadas e um guia de silicone com o mol- confecção de restaurações demasiadamente 95
de do dente existente. O mesmo objetivo pode volumosas (Fig. 8)4,5,20,26. Tal erro na etapa de
ser alcançado com o uso dessas pontas com diagnóstico pode comprometer a longevidade
controle de profundidade de corte. Essa abor- da faceta, em função de espessura aumentada
dagem não exige etapas laboratoriais e requer da peça cerâmica ou da menor união da cerâmi-
mínima comunicação com o técnico em prótese ca à dentina frente à adesão ao esmalte5,18.

Preparo com base na Preparo com base no volume final da


estrutura existente restauração (enceramento ou mock-up)

Figura 8: À esquerda: preparo com base na estrutura dentária existente. É comum, nesses casos, o preparo invadir o tecido dentinário.
À direita: preparo com base no volume final da restauração, por meio de um enceramento ou mock-up. Essa filosofia de planejamento
reverso tende a restringir o preparo ao esmalte dentário, onde a adesão é maior. (Fonte: adaptado de: Magne e Belser5, 2004).

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Sendo assim, essa abordagem é recomendada outra técnica, tem-se uma maior previsibilidade
apenas após uma minuciosa avaliação do caso e para a confecção das restaurações, evitando er-
com a premissa de que o objetivo final da restaura- ros como a projeção de dentes, exposição desne-
ção é limitado a reproduzir volume, forma e função cessária de dentina e espessura inadequada da
do dente existente. Esses casos envolvem, geral- peça. Esses guias orientam o cirurgião-dentista no
mente, pacientes com dentes hígidos escurecidos momento da confecção dos preparos, assim como
e que não respondem ao clareamento (facetas durante a confecção de resinas compostas.
tipo I, de acordo com Magne e Belser)19.
CONCLUSÕES
Preparos com base no volume final Embora os preparos com base na estrutura
da restauração dentária existente sejam mais rápidos, por não
As técnicas mais modernas de preparo den- exigirem etapas laboratoriais, podem gerar um
tário para a confecção de facetas cerâmicas in- desgaste desnecessário da estrutura dentária.
cluem uma abordagem diagnóstica e requerem Por outro lado, os preparos que se baseiam no
ampla comunicação com o técnico em prótese volume final da restauração, apesar de exigirem
dentária14,19,27-30. um maior número de etapas e maior comunicação
A primeira etapa nessa abordagem é definir com o técnico em prótese dentária, resultam em
a meta, ou seja, o formato final da restauração. preparos mais conservadores, pois, a partir do en-
Após anamnese, exame clínico e documentação ceramento diagnóstico, são confeccionados guias
fotográfica do caso (Fig. 1), é realizado um ence- de silicone para controlar o desgaste.
96
ramento diagnóstico que representa o protótipo O caso clínico apresentado mostra que o des-
da restauração final. O enceramento diagnóstico gaste dentário deve ser orientado pela posição da
deve ser usado como referência para o preparo futura restauração, para que o cirurgião-dentista
dentário (Fig. 2). Os preparos são, então, realiza- faça um desgaste seletivo nas regiões em que
dos com base no volume final da restauração, por é necessário criar espaço para a restauração.
meio da confecção de guias de silicone a partir do Por isso, é importante um enceramento diagnós-
enceramento diagnóstico, para orientar a quanti- tico para simular o resultado final do caso. A fase
dade de desgaste. Esse princípio básico economi- de provisionalização com resina bisacrílica é uma
za uma quantidade substancial de tecido dentário cópia desse enceramento, sendo um instrumen-
sadio, não apenas esmalte, mas também a crítica to fundamental para simular o resultado final em
junção amelodentinária19. boca. Como uma prévia do resultado final, é pos-
O encerramento diagnóstico permite que o ci- sível avaliar se os espaços reservados para a res-
rurgião-dentista visualize o resultado final do tra- tauração serão suficientes para mascarar o subs-
balho e o transfira para a boca do paciente por trato dentário e para criar a anatomia desejada,
meio da confecção de mock-up com resina bisa- além de avaliar se essa está de acordo com as
crílica. Além disso, a confecção do enceramento expectativas do paciente. Assim, o procedimento
diagnóstico permite a confecção de guias de si- se torna previsível e preciso, preserva quantidade
licone, que vão auxiliar na quantidade de desgas- substancial de esmalte sadio, melhora o potencial
te exata para que receba a restauração definitiva de adesão da restauração e permite a confecção
com as espessuras corretas. Diferentemente da de peças cerâmicas de espessura adequada.

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