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Resumo: O preparo dentário, quando técnica mais antiga e simplificada, em envelhecimento ou perda substancial
necessário, é uma das etapas mais que se utilizavam pontas diamanta- de estrutura dentária. Essa abordagem
importantes na confecção de facetas das, guiando a profundidade de corte permite maior preservação do esmal-
laminadas cerâmicas. A adesão ao es- a partir da anatomia existente. Nessa te dentário e, como consequência,
malte provê melhores valores de união técnica, não eram levadas em consi- maior potencial de união biomecânica
em comparação aos relatados para a deração alterações dentárias como e estética. O presente artigo revisa a
dentina. Dessa forma, o foco do pre- envelhecimento, desgaste e perda de literatura referente ao preparo para fa-
paro para facetas é ser conservador na esmalte, o que, consequentemente, cetas laminadas cerâmicas e detalha a
redução da estrutura dentária, objeti- levava a um maior risco de exposição técnica de preparo com base em um
88 vando longevidade. Pelo menos duas de dentina. A segunda é uma técnica enceramento diagnóstico, que simula
estratégias diferentes para o preparo mais moderna e sofisticada, baseada a anatomia final desejada da restaura-
dentário podem ser encontradas na em um recurso diagnóstico (encera- ção. Palavras-chave: Facetas dentá-
literatura: a primeira consiste em uma mento ou mock-up) para compensar o rias. Cerâmica. Preparo do dente.
Como citar este artigo: Andreiuolo RF, Martins APG, Abreu JLB, Fernandes RR, Dias KRHC. Diagnostic wax-up as a guide to ceramic veneer Enviado em: 21/11/2015 - Revisado e aceito: 26/06/2017.
preparations. J Clin Dent Res. 2017 Jul-Sept;14(3):88-97.
DOI: https://doi.org/10.14436/2447-911x.14.3.088-097.oar
Os autores declaram não ter interesses associativos, comerciais, de propriedade ou financeiros que representem conflito de interesse nos Endereço para correspondência: Rafael Ferrone Andreiuolo
produtos e companhias descritos nesse artigo. O(s) paciente(s) que aparece(m) no presente artigo autorizou(aram) previamente a publicação Rua Mem de Sá, 19, sala 505, Icaraí - Niterói/RJ - CEP: 24.220-260
de suas fotografias faciais e intrabucais, e/ou radiografias. E-mail: rafandrei@ig.com.br
não se padronizou a espessura das restaurações incomodavam o paciente (Fig. 1). Após exame clíni-
cimentadas, a geometria dos preparos, os espéci- co e radiográfico, e enceramento diagnóstico (Fig. 2),
mes usados (dentes) e a força aplicada no ato da foi proposto o fechamento dos diastemas com resina
cimentação, bem como não se tentou simular as nos dentes #13, #12, #22 e #23; troca da coroa do
condições encontradas na boca16. Adicionalmente, elemento #11 e faceta cerâmica no elemento #21.
um estudo in vitro comparando a vida útil de face- A partir do enceramento diagnóstico, é cria-
tas cerâmicas sob testes de fadiga cíclica mostrou do um guia de silicone para a redução vestibular.
que o uso do chanfro palatino aumentou significa- (Fig. 3A a 3D) Esse guia deve estar bem adaptado.
tivamente a vida em fadiga, quando comparado ao Para uma adequada estabilidade, é recomendável
preparo com ombro incisal13. Esses achados con- que o guia de silicone se estenda até dois dentes
trastam com os resultados de um recente estudo para posterior do segmento que será preparado,
clínico prospectivo, que não encontrou diferença bilateralmente. O guia de redução vestibular deve
estatisticamente significativa entre preparos com ser cortado horizontalmente, para que permita vi-
chanfro palatino ou ombro incisal17. sualizar a espessura de redução do preparo nos
Quanto à extensão interproximal do preparo, terços cervical, médio e incisal (Fig. 3E). Com o
não há evidências conclusivas sobre qual é a me- auxílio de uma sonda periodontal, o dentista pode
lhor técnica. O mais indicado é estender o preparo medir o espaço existente para a faceta a partir do
de modo a esconder a interface dente-restauração. guia, de modo a fornecer ao técnico uma espes-
O quanto estender cabe ao dentista, com base no sura de cerca de 0,3-0,5 mm no terço cervical e
caso e no dente em questão11. No entanto, é con- 0,5-1 mm nos terços médio e incisal5,18,19.
senso na literatura que, em caso de fechamento de Um guia de silicone que se adapte à superfí- 91
diastemas, a extensão do preparo nos sentidos pro- cie palatina dos dentes também é importante para
ximal e gengival viabiliza melhores resultados5. controlar a redução incisal do preparo (Fig. 4).
Quanto ao limite cervical do preparo, pode-se Da mesma forma, é recomendável que o guia de
usar a coloração do substrato como critério de deci- silicone se estenda, em ambos os lados, até dois
são. Em dentes escurecidos, o ideal é levar o término dentes para posterior do segmento que será pre-
até a região intrassulcular, ao passo que em dentes parado, para maior estabilidade18.
claros, o término pode estar situado no nível gengival As Figuras 3 e 4 mostram a importância do
ou até supragengival, sem maiores problemas5. enceramento para as etapas de preparo da face-
Mais importante, os tipos de preparos descritos ta cerâmica e a escultura com resina dos dentes
acima para facetas cerâmicas podem ser feitos por #13, #12, #22 e #23.
meio de duas abordagens: com base na estrutura A etapa de acabamento inclui uma leve separa-
dentária existente ou no volume final da restauração. ção proximal para os dentes adjacentes, de modo
a permitir uma melhor definição das margens
RELATO DE CASO CLÍNICO durante a moldagem, e facilitar a subsequente
Paciente do sexo masculino, com 29 anos de fabricação dos modelos de gesso durante a fase
idade, encaminhado após tratamento ortodôntico, laboratorial. Os ângulos de transição devem ser
para o fechamento de diastemas na região anteros- suavemente arredondados com discos flexíveis
superior. A raiz exposta sob a coroa do elemento #11 em baixa rotação5. Uma última e essencial mano-
e o desgaste vestibular do elemento #21 também bra antes da moldagem é a hibridização imediata
da dentina, ou melhor, a identificação de possíveis caso clínico, não foi necessária a cimentação
áreas de dentina exposta e selamento com um provisória, uma vez que havia suficiente estabi-
adesivo dentinário14. Dessa forma, a interface ade- lidade e retenção das restaurações provisórias.
siva fica menos permeável à passagem de água No entanto, essa é uma questão a ser avaliada
e mais resistente à degradação21. É importante de acordo com cada caso.
ressaltar que esse procedimento deve ser realiza- É importante que seja enviado ao técnico uma
do previamente à etapa de moldagem, já que o fotografia da tomada de cor do substrato dentário,
aumento na espessura do filme de cimento pode assim como dos dentes adjacentes. (Fig. 6).
interferir na adaptação das facetas. A sequência de preparo descrita acima permite
Após a moldagem final, a restauração pro- ao técnico confeccionar um trabalho de alto pa-
visória é, então, fabricada com uma resina bi- drão, preenchendo os requisitos estéticos, bioló-
sacrílica injetada em um molde de silicone do gicos (adaptação) e funcionais. O resultado final
enceramento diagnóstico (Fig. 5). No presente pode ser visto na Figura 7.
92
A B
C D
Figura 1: A) Fotografia inicial do sorriso. B) Fotografia inicial aproximada. C) Fotografia inicial do lado direito. D) Fotografia inicial do
lado esquerdo.
A B C
93
Figura 3: A) Guia de redução vestibular.
B) Guia de redução vestibular fatiado,
para se avaliar o espaço protético no ter-
ço cervical. C) Guia de redução vestibular
fatiado, para se avaliar o espaço protético
no terço médio. D) Guia de redução ves-
tibular fatiado, para se avaliar o espaço
protético no terço incisal. E) Guia de re-
dução vestibular adaptado em boca, para
D E se avaliar a espessura do preparo.
A B
Figura 4: A) Guia de redução incisal. B) Guia de redução incisal em posição, para se controlar a redução incisal do preparo.
A B
A B
Figura 8: À esquerda: preparo com base na estrutura dentária existente. É comum, nesses casos, o preparo invadir o tecido dentinário.
À direita: preparo com base no volume final da restauração, por meio de um enceramento ou mock-up. Essa filosofia de planejamento
reverso tende a restringir o preparo ao esmalte dentário, onde a adesão é maior. (Fonte: adaptado de: Magne e Belser5, 2004).
Sendo assim, essa abordagem é recomendada outra técnica, tem-se uma maior previsibilidade
apenas após uma minuciosa avaliação do caso e para a confecção das restaurações, evitando er-
com a premissa de que o objetivo final da restaura- ros como a projeção de dentes, exposição desne-
ção é limitado a reproduzir volume, forma e função cessária de dentina e espessura inadequada da
do dente existente. Esses casos envolvem, geral- peça. Esses guias orientam o cirurgião-dentista no
mente, pacientes com dentes hígidos escurecidos momento da confecção dos preparos, assim como
e que não respondem ao clareamento (facetas durante a confecção de resinas compostas.
tipo I, de acordo com Magne e Belser)19.
CONCLUSÕES
Preparos com base no volume final Embora os preparos com base na estrutura
da restauração dentária existente sejam mais rápidos, por não
As técnicas mais modernas de preparo den- exigirem etapas laboratoriais, podem gerar um
tário para a confecção de facetas cerâmicas in- desgaste desnecessário da estrutura dentária.
cluem uma abordagem diagnóstica e requerem Por outro lado, os preparos que se baseiam no
ampla comunicação com o técnico em prótese volume final da restauração, apesar de exigirem
dentária14,19,27-30. um maior número de etapas e maior comunicação
A primeira etapa nessa abordagem é definir com o técnico em prótese dentária, resultam em
a meta, ou seja, o formato final da restauração. preparos mais conservadores, pois, a partir do en-
Após anamnese, exame clínico e documentação ceramento diagnóstico, são confeccionados guias
fotográfica do caso (Fig. 1), é realizado um ence- de silicone para controlar o desgaste.
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ramento diagnóstico que representa o protótipo O caso clínico apresentado mostra que o des-
da restauração final. O enceramento diagnóstico gaste dentário deve ser orientado pela posição da
deve ser usado como referência para o preparo futura restauração, para que o cirurgião-dentista
dentário (Fig. 2). Os preparos são, então, realiza- faça um desgaste seletivo nas regiões em que
dos com base no volume final da restauração, por é necessário criar espaço para a restauração.
meio da confecção de guias de silicone a partir do Por isso, é importante um enceramento diagnós-
enceramento diagnóstico, para orientar a quanti- tico para simular o resultado final do caso. A fase
dade de desgaste. Esse princípio básico economi- de provisionalização com resina bisacrílica é uma
za uma quantidade substancial de tecido dentário cópia desse enceramento, sendo um instrumen-
sadio, não apenas esmalte, mas também a crítica to fundamental para simular o resultado final em
junção amelodentinária19. boca. Como uma prévia do resultado final, é pos-
O encerramento diagnóstico permite que o ci- sível avaliar se os espaços reservados para a res-
rurgião-dentista visualize o resultado final do tra- tauração serão suficientes para mascarar o subs-
balho e o transfira para a boca do paciente por trato dentário e para criar a anatomia desejada,
meio da confecção de mock-up com resina bisa- além de avaliar se essa está de acordo com as
crílica. Além disso, a confecção do enceramento expectativas do paciente. Assim, o procedimento
diagnóstico permite a confecção de guias de si- se torna previsível e preciso, preserva quantidade
licone, que vão auxiliar na quantidade de desgas- substancial de esmalte sadio, melhora o potencial
te exata para que receba a restauração definitiva de adesão da restauração e permite a confecção
com as espessuras corretas. Diferentemente da de peças cerâmicas de espessura adequada.
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