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Teoriakeynesiana PDF
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Ricardo Dathein*
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Este texto tem como base parte do capítulo 3 de Dathein (2000).
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Professor Adjunto do DECON/FCE/UFRGS. E-mail: ricardo.dathein@ufrgs.br
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Keynes usa a designação de “clássica” para as teorias hoje correntemente chamadas de “neoclássicas”.
A lei de Say, elemento essencial que Keynes critica, é parte tanto da teoria convencionalmente chamada
de “clássica” quanto da “neoclássica”.
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A demanda especulativa por moeda é uma função da taxa de juros, ou L2 = f(i) = hi.
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A demanda transacional e precaucional por moeda é uma função da renda, ou L1 = f(Y) = kY. Desta
forma, a demanda total por moeda é L = L1 + L2 = kY + hi. No entanto, no artigo “A teoria geral do
emprego”, de 1937, Keynes reformula esse ponto, diferenciando claramente a demanda transacional da
precaucional, esclarecendo que a última é função da incerteza ou do grau de confiança dos agentes
econômicos (Keynes, 1937: 173; Dequech, 2000: 164).
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Se M1 = L1 e M2 = L2, temos que M = M1 + M2 = L1 + M2 e, portanto, M2 = M – L1* (ver gráficos 1 e
2). O símbolo * representa valores de equilíbrio.
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Na visão neoclássica MV = PQ ou M = (1/V)PQ. Fazendo 1/V = k e como PQ = Y, tem-se M = kY. Ou
seja, a moeda tem função transacional e precaucional, apenas. Para Keynes M = kY + hi, como viu-se.
Portanto, acrescenta-se a demanda especulativa (ou função de reserva de valor da moeda). Ou seja, a
moeda (ou a renda) pode ser usada para consumir, para poupar/investir e para especular (além da reserva
precaucional).
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Y i
L1
i*
Y*
L2
k
L1* M L1, M M2 M2, L2
i, EMgK Gasto
Gasto =
Renda
C+I
C
i*
EMgK
45º
I* I Y* Renda
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Ou seja, no momento mais relevante para a teoria, que é o da decisão dos agentes econômicos.
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A função consumo possui um componente autônomo e é dependente da renda corrente via a propensão
marginal a consumir (c): C = C + cY.
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O multiplicador da renda é uma função da propensão marginal a consumir, sendo igual a 1/(1 – c),
podendo ser encontrado da seguinte forma: Y = C + I = C + cY + I, o que resulta em Y = [1/(1 – c)]( C +
I ).
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Este nível de renda é que permite encontrar simultaneamente a demanda L1* no gráfico 1.
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Simplificadamente não se consideram os gastos do governo e toma-se a economia como fechada.
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Z, D, Y
D
Y*
DE
N* N
demanda. Isto não quer dizer que o salário real não seja também custo. A aceitação da
curva de demanda negativamente inclinada mostra uma relação inversa entre salários
reais e emprego, de modo que uma redução de salários nominais poderia fazer crescer o
emprego, mas o efeito final depende do impacto nos preços e na demanda.
W/P
(W/P)*
ND
N* NPE N
W/P
A NS
B
(W/P)*
ND
N* NPE N
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Keynes também aceita outros pressupostos microeconômicos neoclássicos, como a empresa atomística.
Segundo Victoria Chick, faz isto para enfrentar esta teoria em seus próprios termos (Chick, 1983, p. 146),
ou para demonstrar que não é a inexistência destes pressupostos que explica o desemprego involuntário.
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desfavoráveis. Por outro lado, reduções salariais gerais são difíceis de serem obtidas
quando existe um sistema de contratação coletiva descentralizado, considerando-se que
os trabalhadores buscam manter sua renda relativa (em relação aos outros
trabalhadores).
Por fim, Keynes levanta a questão de que reduções de preços são boas para
os credores, mas negativas para os devedores, pois estes vão obter menores receitas com
suas vendas. Se os empresários estão fortemente endividados, podem ocorrer falências,
queda da EMgK e de investimentos. Por outro lado, se a dívida pública for alta, para
atender a seu serviço o Estado precisará aumentar a base tributária e/ou as alíquotas dos
impostos para recuperar a arrecadação, desestimulando, desta forma, investimentos
privados.
Um caso que pode ser acrescentado nesta análise é o chamado “efeito
riqueza real”, ou “efeito Pigou”, desenvolvido por Patinkin como crítica a Keynes, no
sentido de que o consumo depende também da riqueza, ou saldo real dos indivíduos, e
não somente da sua renda corrente (ou da taxa de juros)13. Se os salários nominais forem
reduzidos, os preços cairão levando a um aumento da riqueza real dos detentores de
moeda ou títulos, o que estimula o consumo. Desta forma, a oferta agregada seria
estimulada com a redução de custos, enquanto a demanda agregada seria desestimulada
pela redução salarial, mas, em compensação, estimulada pelo aumento da riqueza real.
Davidson (1994, p. 187) afirma que, para movimentos de preços dentro de parâmetros
realistas, a evidência empírica deste efeito é muito pequena, o que seria admitido
mesmo por Patinkin, além de que expectativas de novos declínios de preços reduziriam
o impacto sobre o consumo.
Nestes casos, está prevista a exogeneidade da oferta de moeda, mas este não
é um pressuposto considerado crucial para a teoria keynesiana (Dequech, 1999, p. 216,
nota 2). A moeda pode ser tomada como exógena, endógena ou parcialmente exógena e
endógena. A moeda endógena invalidaria os efeitos Keynes e Pigou. Uma queda de
salários nominais e preços, reduzindo a demanda por moeda, pode induzir a uma queda
da oferta monetária, não produzindo, assim, nenhum efeito sobre a liquidez e a taxa de
juros (Amadeo, 1982, p. 19). Deve ser levado em conta também, neste ponto, a
preferência por liquidez dos bancos, ou sua demanda precaucional por moeda, visto que,
se sua confiança se deteriorar, estes podem reduzir a oferta de fundos para
investimentos (Dequech, 1999, p. 209), levando a uma queda da oferta monetária e a um
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aumento da taxa de juros, ou seja, o oposto do efeito previsto. Por outro lado, a riqueza
real dos agentes econômicos também não aumentaria (Dequech, 1999, p. 206)14. Por
outro lado, supondo-se, de forma mais realista, a moeda como parcialmente endógena e
exógena, os dois efeitos têm sua eficácia, que já era questionada (nas análises originais,
com moeda exógena), ainda mais reduzida.
Concluindo esta análise, Keynes afirma que os efeitos das reduções salariais
sobre o emprego são incertos e, portanto, nada garante que salários flexíveis levem ao
pleno emprego. Dessa maneira, refuta a certeza da teoria neoclássica (certeza baseada
na lei de Say) e abre espaço para a política econômica.
Davidson (1994, p. 179 e seguintes), buscando afastar Keynes ainda mais da
teoria neoclássica, demonstra que a própria curva de demanda por trabalho (ND)
keynesiana pode ser derivada independentemente da Produtividade Marginal do
Trabalho (PMgL), através dos diferentes pontos da demanda efetiva quando os salários
nominais variam. Dessa forma, não seria a mesma derivação da demanda neoclássica
por trabalho. Um aumento de salários provoca a elevação da curva de Demanda
Agregada D e um recuo da curva de Oferta Agregada Z (aumento de custos). O novo
ponto de demanda efetiva estará localizado à esquerda, à direita ou na mesma linha
vertical do ponto anterior, dependendo das variações relativas de Z e D. Se Z elevar-se
proporcionalmente mais que D com um aumento dos salários nominais (isto é, o efeito
sobre os custos for maior que o sobre a demanda), a curva ND terá a forma neoclássica
(negativamente inclinada no espaço salários nominais W versus emprego N). Se
aumentos de W provocarem elevações proporcionais em Z e D, a curva ND será vertical,
a qual Davidson chama de curva de demanda por trabalho keynesiana. Se aumentos de
W levarem a aumentos em D maiores que em Z, a curva ND será positivamente
inclinada, a qual poderia ser chamada de demanda por trabalho subconsumista. Em
qualquer caso, ND independe da existência de rendimentos decrescentes e, portanto, da
Produtividade Marginal do Trabalho decrescente.
Davidson considera que a curva de demanda por trabalho deve ser, nos
casos relevantes, vertical ou quase vertical no espaço salários nominais W e emprego N
(ver gráfico 8). Somente com variações de preços muito elevadas ocorreriam
inclinações negativas da curva (com quedas ou elevações muito grandes de preços e
salários nominais), onde provavelmente ocorreria a desestruturação do sistema
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A função consumo seria: C = f (Y , i , M/P).
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No caso de M e P reduzirem-se na mesma proporção, a relação M/P fica constante.
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ND
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Non-Accelerating Inflation Rate of Unemployment, ou taxa de desemprego que não acelera a inflação.
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OA
DA3
DA2
DA1
3 – Conclusão
A teoria keynesiana parte, em sua análise, da constatação de que o pleno
emprego, em uma economia capitalista, não é uma situação permanente ou única de
equilíbrio. Ao contrário, o desemprego involuntário não só pode existir como pode ser
uma condição persistente, que se estenda ao longo do tempo, o que o caracterizaria
como sendo de equilíbrio. Este fato implica que o livre mercado pode não levar
automaticamente ao pleno emprego, pelo menos no curto prazo, e, portanto, justifica
políticas econômicas contra o desemprego.
As situações de pleno emprego ou de desemprego involuntário de trabalho e
de capital físico (capacidade ociosa) são geradas, na visão keynesiana, pelo
comportamento da demanda efetiva, que é afetada, na tomada de decisões (baseadas em
expectativas), pela existência de incerteza intrínseca a uma economia monetária da
produção, na qual a moeda tem papel determinante, o que pode gerar instabilidade,
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Estes mercados não correspondem ao livre mercado pressuposto como ideal pela teoria neoclássica,
mas sim a um mercado oligopolizado e financeirizado.
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Referências Bibliográficas:
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Ensaios FEE. Porto Alegre: FEE, ano 7, n. 2 (14).
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SWAELEN, Edward (Ed.). John M. Keynes: Cinqüenta Anos da Teoria Geral. Rio
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Paulo: Abril Cultural (Coleção Os Economistas), 1983.