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Resumo: Maria Antonieta, esposa de Luís XVI, rei francês deposto e morto no processo da Revolução Francesa de
1789, se destacou na memória coletiva após representações emblemáticas de seu papel no cinema, como uma rainha
inconsequente durante o último reinado absolutista na França. Essas representações cinematográficas nos chamaram a
atenção, exatamente por não localizarmos em um breve levantamento uma historiografia consolidada sobre Maria
Antonieta. Dessa forma, a problemática que nos instigou a empreender a presente pesquisa foi a verificação da
escassez historiográfica sobre a trajetória dessa personagem que tanto teria contribuído para a ruina da dinastia
bourbônica no final do século XVIII e acabou silenciada na historiografia. Dessa fora, o presente trabalho tem por
objetivo analisar a representação da rainha Maria Antonieta em 13 dos 16 títulos de livros de História voltados para o
8° ano mais vendidos e aprovados pelo MEC em 2012. Usamos como fonte o livro didático por entendermos este
como importante ferramenta pedagógica de estudo, assumindo o segundo lugar dos livros mais lidos no Brasil. Para
isso, utilizamos como metodologia a análise de conteúdo onde pudemos quantificar a frequência que Maria Antonieta
foi mencionada e observar a relevância de tais citações e como orientação teórica a Nova História Cultural, inserido
na vertente historiográfica das representações de Roger Chartier.
Palavras-chaves: PNLD; Maria Antonieta; representação.
Introdução
O presente artigo tem por objetivo analisar a representação da rainha Maria
Antonieta nos livros didáticos. O interesse nessa personagem histórica se deu devido a
emblemática frase imputada a ela: “se não tem pão dê-lhes brioches.” Essa frase que
supostamente seria de autoria da rainha, lhe conferiu uma imagem fútil em suas
representações contemporâneas como no cinema no filme de 2006 dirigido por Sofia
Coppola e que leva o nome da rainha. Ao delimitarmos nossas fontes, optamos pela
pesquisa os títulos dos livros mais vendidos e aprovados pelo MEC em 2012 dentro do
Programa Nacional do Livro Didático – PNLD que circularam pelas redes municipais
entre os anos de 2001 e 2012 e nos surpreendemos ao perceber que: Maria Antonieta
pouquíssimas vezes é mencionada nos livros didáticos senão apagada da História. Esse
dado nos instigou a fazer um estudo mais aprofundado dessa rainha que foi uma
personagem polêmica tão relevante dentro do episódio da Revolução Francesa. A partir
dessa compreensão optamos por analisar 13 títulos dos livros voltados para o 8° ano do
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Embora o livro Para Compreender a história de (MOCELLIN, Renato) não faça parte do nosso objeto de
pesquisa, ele foi adicionado a este trabalho por apresentar uma imagem de Maria Antonieta e, no intuito
de abordarmos os diferentes momentos em que a rainha passou fazendo assim, uma comparação entre as
demais imagens apresentadas nesse artigo.
foi uma rainha escandalosa, não foi somente porque ela traia o Rei (a Corte já vira
outras e não era tão pudica), mas sim porque ela mostrava novas concepções das
relações do público e do privado. Por um lado, essa mulher, estrangeira ainda por
cima, intervinha nos negócios do Reino. Por outro lado, ela exigia um espaço
próprio, subtraído ao olhar de todos, para dedicar-se a seus prazeres, receber seus
íntimos e experimentar as alegrias da amizade (PERROT, 2005, p.455).
É nessa citação que nos mostra um dos motivos da rainha ser odiada pelos
franceses, sendo alvo de charges e anedotas maldosas, pois ela rompe com a vida
pública no qual o papel da rainha, para ela, deveria ser bastante frustrante: “tinha que
encarar o supra-sumo da virtude, ser dotada de todos atributos femininos e contentar-se
em proporcionar ao marido uma progênie numerosa e saudável.” (LEVER, 2004, p68).
Mas, Maria Antonieta foi o oposto, deixando transparecer a sua vida privada instigando
os imaginários em geral. Convencida de que por ser rainha seus caprichos deveriam ser
atendidos, Maria Antonieta levava a vida da maneira que desejava afirmando que uma
rainha tinha direito a vida privada. O rei financiava suas diversões o que segundo Vicent
“ele adquiriu o costume, ao longo do tempo e a título de compensação, de realizar todas
as vontades de Maria Antonieta (...)” (VICENT, 2004, p.62). Podemos atribuir essa
“compensação” pelo fato de Luís XVI ser de um perfil tímido, desajeitado não tendo
experiência alguma com mulheres e também porque ele levou nada menos do que 7
anos para consumar seu casamento (real e único objetivo do casamento: conceder um
herdeiro ao trono). Seus caprichos eram os mais variados desde festas, bailes à fantasia,
jogatinas e teatro. A rainha resolveu ampliar seu estábulo duplicando o número de
cavalos, gastava somas imensas remodelando os jardins do Trianon e exigia que o
marido pagasse pensões exorbitantes a seus amigos, e “essa revelação pública das
despesas suntuosas da corte para o proveito de uma minoria de privilegiados, foi a gota
de modernidade que fez o copo transbordar." (VICENT, 2004, p.100). Ficou conhecida
como Madame Déficit e alvo de acusações das mais variadas. O ministro das finanças
Turgot ousou por em prática projetos econômicos e fiscais impondo drástica política de
redução de despesas que atingiriam em primeiro lugar os gastos da corte, recusou os
recursos para o projeto do jardim Trianon e pensões para alguns dos protegidos da
rainha. Ainda, o Trianon não foi a única propriedade de Maria Antonieta, Luís XVI
também a presenteou com o castelo de Saint-Cloud. Não é novidade a desaprovação da
rainha com relação aos projetos audaciosos de Turgot e segundo Lever o ministro foi
demitido, pois: “(...) durante meses ela agira como porta-voz dos privilegiados e
atormentava o marido com diatribes contra o ministro” (LEVER, 2004, p.117).
Também encontramos no livro “Para entender a História” de (FIGUEIRA,
Divalte Garcia e VARGAS, João Tristan), 2009, 8° ano um breve fragmento a respeito
de Maria Antonieta. Aqui é citada a famosa anedota onde a rainha ironizou sobre a falta
de pão na França: “Se não tem pão que comam bolos!”.
Considerações Finais
Dos 13 livros didáticos mais vendidos e utilizados pelas escolas de ensino
básico, em 5 livros foi explícita a representação de Maria Antonieta, e mesmo que
timidamente citada, foi através de pequeno fragmentos que pudemos perceber que ela
estava presente no contexto da Revoluão Francesa. Já em dos 8 livros didáticos
analisados, a rainha estava oculto nas unidades, mas nos remetia algum significado se
compreendermos o contexto histórico. Vimos que esses materiais didáticos ao longo dos
anos sofreram modificações tanto no processo de aquisição como na elaboração dos
seus conteúdos. O livro didático ele atende os interesses de uma época e não deixa de
atender o interesse mercadológico. Se uma obra não está incluída no guia do MEC o
livro não tem valor algum para o seu público alvo, o estudante, na medida em que não
poderá ser utilizado nas escolas trazendo assim, efeitos financeiros indesejáveis a
editora que o produziu. Chegamos à conclusão que pudemos quantificar e compreender
a representação da rainha Maria Antonieta nos livros didáticos, mas não podemos
responder, pelo menos nesse artigo, o porquê do silenciamento da sua participação
histórica, mas essa pesquisa nos gerou algumas hipóteses sobre o silêncio da rainha na
história. . O que antes era visto como uma história feita apenas dos grandes homens
hoje, se desfazendo de uma história positivista, é abordada com os grandes eventos de
uma forma mais abrangente, o que de fato não deixa de incluir os grandes nomes
também, embora que, em sua maioria sejam masculinos, fato esse que nos instiga a uma
nova pesquisa. O silêncio pode ter se dado também por um fator mercadológico onde as
editoras têm por satisfazer uma demanda e atender o gosto de seu consumidor e assim a
preocupação mais com “venda” do que “qualidade” e “conteúdo”. Outro fator é a
triagem feita pelo autor do livro que tem um número limitado de páginas para
publicação do livro e acaba por excluir ou minimizar determinados assuntos e por fim, o
silenciamento do gênero feminino nos acontecimentos históricos. Mas, mesmo deixando
pouco espaço ou ocultando o nome desses personagens da história, mostramos nesse
trabalho que eles são fontes de estudo e compreensão histórica e que estão presentes no
contexto e que podemos percebê-los não apenas pelo o que está escrito do livro
didático, mas também pelo não escrito.