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Gladson Miranda • Wagner Miranda • Fabrício Sarmanho • Eduardo Muniz Machado
Cavalcanti • Welma Maia • Anderson Lopes • Adolfo Dani • Cleber Alves • Marcelo
Andrade

PREPARATÓRIA

Noções de Direito Processual Penal • Legislação Especial • Direitos Humanos e


Cidadania • Legislação Relativa à DPRF • Física Aplicada à Perícia de Acidentes
Rodoviários • Noções de Informática

“O que é uma apostila preparatória? É uma apostila elaborada antes da


publicação do edital, com base nos concursos anteriores, ou no último edital,
para permitir ao aluno antecipar seus estudos. Comece agora a se preparar”.

2016

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© 2016 Vestcon Editora Ltda.

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da obra, bem como às suas características gráficas.

Título da obra: PRF – Polícia Rodoviária Federal


Policial Rodoviário Federal
Conhecimentos Básicos e Específicos – Nível Superior – Módulo 2
Atualizada até 5-2016 (AP488)

(Baseada no Edital nº 1 – Prf – Policial Rodoviário Federal, de 11 de Junho de 2013 – Cespe)

Noções de Direito Processual Penal • Legislação Especial • Direitos Humanos e Cidadania


Legislação Relativa à DPRF • Física Aplicada à Perícia de Acidentes Rodoviários • Noções de Informática

Autores:
Gladson Miranda • Wagner Miranda • Fabrício Sarmanho • Eduardo Muniz Machado Cavalcanti
Welma Maia • Anderson Lopes • Adolfo Dani • Cleber Alves • Marcelo Andrade

GESTÃO DE CONTEÚDOS
Welma Maia

PRODUÇÃO EDITORIAL
Dinalva Fernandes

Revisão
Dinalva Fernandes
Érida Cassiano

CAPA
Lucas Fuschino

EDITORAÇÃO ELETRÔNICA
Marcos Aurélio Pereira

www.vestcon.com.br

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PRF

SUMÁRIO

Noções de Direito Processual Penal

Aplicação da lei processual no tempo, no espaço e em relação às pessoas


Disposições preliminares do Código de Processo Penal.....................................................................................................3

Inquérito policial......................................................................................................................................................................7

Ação penal.............................................................................................................................................................................38

Competência..........................................................................................................................................................................66

Prova
Interceptação telefônica (Lei nº 9.296/1996)...................................................................................................................97

Juiz, ministério público, acusado, defensor, assistentes e auxiliares da justiça, atos de terceiros....................................110

Prisão e liberdade provisória


Lei nº 7.960/1989 (prisão temporária)...........................................................................................................................133

Processo e julgamento dos crimes de responsabilidade dos funcionários públicos.........................................................166

Habeas corpus e seu processo.............................................................................................................................................175

Disposições constitucionais aplicáveis ao direito processual penal.......................................................................................*

* Este tópico encontra-se no decorrer de todo o material.

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Noções de Direito Processual Penal
Gladson Miranda

APLICAÇÃO DA LEI PROCESSUAL NO Processo Penal (Decreto‑Lei nº 3.689, de 3 de outubro de


1941). Trata‑se do princípio da territorialidade (lex fori ou
ESPAÇO
locus regit actum).2
Entretanto, o referido artigo ressalva a aplicação do Có-
O processo penal rege-se pelo Código de Processo Penal,
digo de Processo Penal em relação a determinados crimes
em todo o território brasileiro ressalvados, entre outros, os
que possuem regulação processual própria em leis extrava-
tratados, as convenções e regras de direito internacional.1
gantes, como ocorre em relação à Lei dos Juizados Especiais
O § 1º do art. 5º do Código Penal ressalta que para os Criminais, Processo Penal Militar, Estatuto da Criança e do
efeitos penais, consideram-se como extensão do território
Adolescente, processo nos crimes de competência originária
nacional as embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza
de tribunais, processo nos crimes de tráfico de substâncias
pública ou a serviço do governo brasileiro onde quer que
entorpecentes. Em relação às referidas leis, o Código de
se encontrem, bem como as aeronaves e as embarcações
brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, que se Processo Penal tem apenas aplicação subsidiária.
achem, respectivamente, no espaço aéreo correspondente Também são ressalvados os tratados, as convenções e
ou em alto-mar. O § 2º do referido artigo consigna ser tam- regras de direito internacional. Referida normatização in-
bém aplicável a lei brasileira aos crimes praticados a bordo ternacional se consubstancia em hipóteses excludentes da
de aeronaves ou embarcações estrangeiras de propriedade jurisdição criminal pátria, em que será aplicado o regramento
privada, achando-se aquelas em pouso no território nacional processual contido em norma externa ou mesmo não haverá
ou em voo no espaço aéreo correspondente, e estas em porto o julgamento.
ou mar territorial do Brasil. Dessa forma, na aplicação da lei processual penal, deve
O Código Penal fixa hipótese de extraterritorialidade, ser observado o princípio da territorialidade. No entanto,
devendo, em tais casos, também ser aplicada a legislação na hipótese da prática de infração penal, no território na‑
processual penal pátria. O art. 7º do Código Penal traz as cional, por um diplomata que esteja a serviço de seu país
hipóteses de extraterritorialidade, submetendo à lei brasi- de origem, não será aplicada a lei processual penal.3Assim,
leira, embora cometidos no estrangeiro os crimes: a) contra os representantes de governos estrangeiros estão excluídos
a vida ou a liberdade do Presidente da República; b) contra
da jurisdição criminal dos países em que exercem suas
o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal,
funções.4
de Estado, de Território, de Município, de empresa pública,
sociedade de economia mista, autarquia ou fundação institu- São as hipóteses de imunidade.
ída pelo Poder Público; c) contra a Administração Pública, por
quem está a seu serviço; d) de genocídio, quando o agente Imunidades
for brasileiro ou domiciliado no Brasil. Em tais casos, o agente
é punido segundo a lei brasileira, ainda que absolvido ou
condenado no estrangeiro (§ 1º, do art. 7º, do CP). Imunidades Diplomáticas
O inciso II do art. 7º, do CP, também determina sejam sub-
metidos à legislação brasileira os crimes: a) que, por tratado Os chefes de Estado e representantes de governos
ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir; b) praticados
estrangeiros não se submetem à jurisdição pátria, ou seja,
por brasileiro; c) praticados em aeronaves ou embarcações
possuem imunidade penal material.
brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, quando em
território estrangeiro e aí não sejam julgados. Nestes casos, a Também a pessoa do agente diplomático não poderá ser
aplicação da lei brasileira depende do concurso das seguintes objeto de nenhuma forma de detenção ou prisão (Decreto
condições: a) entrar o agente no território nacional; b) ser o nº 56.435/1965, que promulgou a Convenção de Viena so-
fato punível também no país em que foi praticado; c) estar bre Relações Diplomáticas). Na aplicação da lei processual
o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira penal, deve ser observado o princípio da territorialidade.
Noções de Direito Processual Penal

autoriza a extradição; d) não ter sido o agente absolvido no No entanto, na hipótese da prática de infração penal, no
estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena; e) não ter sido o território nacional, por um diplomata que esteja a serviço
agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não de seu país de origem, não será aplicada a lei processual
estar extinta a punibilidade, segundo a lei mais favorável (§ penal.5
2º, do art. 7º, do CP). Os funcionários consulares não poderão ser detidos ou
O § 3º do art. 7º, do CP, arremata que a lei brasileira presos preventivamente, exceto em caso de crime grave e em
aplica-se também ao crime cometido por estrangeiro contra decorrência de decisão de autoridade judiciária competente
brasileiro fora do Brasil, se, além de reunidas as condições (Decreto nº 61.078/1967, que promulgou a Convenção de
previstas no parágrafo anterior, não foi pedida ou foi negada Viena sobre Relações Consulares.
a extradição e houver requisição do Ministro da Justiça.
O art. 1º do CPP determina que o processo penal
2
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/TJ-BA/2012.
reger‑se‑á, em todo o território brasileiro, pelo Código de 3
Cespe/TRF 5ª Região/Juiz Federal Substituto/2004.
4
OAB‑GO/2º Exame de Ordem/1ª Fase/2004.

1
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/TRE-MS/Analista Judiciário/ 5
Assunto cobrado nas seguintes provas: Femperj/TCE-RJ/Técnico de Notifica-
Área Judiciária/2013 e FGV/SSP-RJ/Oficial de Cartório/2009. ções/2012 e Cespe/TRF 5ª Região/Juiz Federal Substituto/2004.

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
Por outro lado, Capez (2009, p. 52) destaca que cobre, pois, a inviolabilidade parlamentar a alega-
da ofensa a propósito de quizílias intrapartidárias
as sedes diplomáticas (embaixadas, sedes de orga- endereçadas pelo Presidente da agremiação – que
nismos internacionais etc.) não são consideradas não é necessariamente um congressista – contra
extensão do território estrangeiro, embora sejam correligionário seu” (STF; Inq. nº 1.905/DF; Relator(a):
invioláveis como garantia aos representantes alie- Min. Sepúlveda Pertence; Tribunal Pleno; Julgamen-
nígenas, não podendo, desse modo, ser objeto de to: 29/4/2004).
busca e apreensão, penhora ou qualquer outra
medida constritiva. Tanto assim que a prática de No mesmo sentido, já se decidiu que
crimes, na sede diplomática, por pessoa alheia à
imunidade sujeita o autor à jurisdição do Estado a garantia constitucional da imunidade parlamentar
acreditante. em sentido material (CF, art. 53, caput) – que repre-
senta um instrumento vital destinado a viabilizar o
Imunidades Parlamentares exercício independente do mandato representativo
– somente protege o membro do Congresso Nacional,
qualquer que seja o âmbito espacial (locus) em que
Deputados e Senadores
este exerça a liberdade de opinião (ainda que fora
do recinto da própria Casa legislativa), nas hipóteses
Imunidade material ou absoluta específicas em que as suas manifestações guardem
O art. 53 da CF/1988 estabelece que os Deputados e conexão com o desempenho da função legislativa
Senadores são invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer (prática in officio) ou tenham sido proferidas em
de suas opiniões, palavras e votos. razão dela (prática propter officium), eis que a su-
As imunidades parlamentares, segundo a Constituição, perveniente promulgação da EC nº 35/2001 não
asseguram aos Deputados e Senadores a inviolabilidade, ampliou, em sede penal, a abrangência tutelar da
civil e penal6, por quaisquer de suas opiniões, palavras e cláusula da inviolabilidade. A prerrogativa indispo-
votos7. Referida prerrogativa abrange as esferas criminal nível da imunidade material – que constitui garantia
e cível8. inerente ao desempenho da função parlamentar (não
Thiago Pierobom (2009, p. 47) destaca que traduzindo, por isso mesmo, qualquer privilégio de
ordem pessoal) – não se estende a palavras, nem a
manifestações do congressista, que se revelem estra-
a imunidade estende-se sobre os chamados ‘crimes
nhas ao exercício, por ele, do mandato legislativo. A
de opinião’ e é absoluta, não necessitando que o
cláusula constitucional da inviolabilidade (CF, art. 53,
parlamentar esteja no exercício das funções legis-
caput), para legitimamente proteger o parlamentar,
lativas.
supõe a existência do necessário nexo de implicação
recíproca entre as declarações moralmente ofensivas,
A imunidade material exclui a própria tipicidade. de um lado, e a prática inerente ao ofício congres-
Dessa forma, o parlamentar não pode ser processado por sional, de outro. (STF; Inq. nº 1.024 QO/PR; Relator
perdas e danos materiais ou morais em virtude de opiniões, Min. Celso de Mello; Tribunal Pleno; Julgamento:
palavras e votos no exercício de suas funções. 21/11/2002)
A imunidade parlamentar material estende‑se à divul‑
gação, pela imprensa, por iniciativa do congressista, de fato À luz da Constituição de 1967, o STF emitira o entendi-
coberto pela inviolabilidade.9 mento de que
A imunidade material é irrenunciável. O STF entende,
ainda, que a “ofensa irrogada em plenário, independente de
o deputado que exerce a função de ministro de esta-
conexão com o mandato, elide a responsabilidade civil por
do não perde o mandato, porem não pode invocar a
dano moral”. (STF; RE nº 463.671 AgR/RJ; Relator Min. Se-
prerrogativa da imunidade, material ou processual,
Noções de Direito Processual Penal

púlveda Pertence; Primeira Turma; Julgamento: 19/6/2007)


pelo cometimento de crime no exercício da nova
A Corte Suprema também já decidiu que função (STF; Inq. nº 104/RS; Relator Min. Djaci Falcao;
Tribunal Pleno; Julgamento: 26/8/1981).
malgrado a inviolabilidade alcance hoje ‘quaisquer
opiniões, palavras e votos’ do congressista, ainda
Entretanto, há na doutrina mais atual entendimento de
quando proferidas fora do exercício formal do man-
que a imunidade material
dato, não cobre as ofensas que, pelo conteúdo e o
contexto em que perpetradas, sejam de todo alheias
à condição de Deputado ou Senador do agente (Inq. estende-se mesmo que o seu titular esteja afastado
nº 1.710, Sanches; Inq. nº 1.344, Pertence). Não de suas funções, como, por exemplo, para exercer
cargo de Ministro de Estado. (ÁVILA, 2009, p. 47)

6
TJ‑RN/Oficial de Justiça/2002.

7
20º Concurso Público para Procurador da República/2003 e OAB‑RJ/22º Exame
de Ordem/1ª Fase/2003. Imunidade formal processual ou relativa
8
Promotor/MG/2004.
9
Cespe/Delegado Federal/Nacional/2002. Os Deputados Federais e Senadores, conforme a Consti‑

4 Este eBook foi adquirido por ANA PAULA TORQUATO DA COSTA - CPF: 628.848.913-15.
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tuição da República, têm imunidade material, sendo invio‑ O § 2º do art. 53, da CF/1988, determina que, em caso
láveis, civil e penalmente, por quaisquer de suas opiniões, de prisão, os autos serão remetidos dentro de vinte e quatro
palavras e votos, podendo, todavia, ser processados por horas à Casa respectiva, para que, pelo voto da maioria de
crimes ocorridos após a diplomação, cabendo ao Supre‑ seus membros, resolva sobre a prisão.
mo Tribunal Federal, depois de recebida a denúncia, dar
ciência à Casa respectiva, que, por iniciativa de partido Imunidade para servir como testemunha
político nela representado e pelo voto da maioria de seus Quanto aos Deputados e Senadores, estabelece a Cons-
membros, poderá, até a decisão final, sustar o andamento tituição Federal que os Deputados não serão obrigados a
da ação.10 É o que determina o art. 53, § 3º, da Constituição testemunhar sobre informações recebidas ou prestadas em
Federal de 1988. razão do exercício do mandato.17
Desta forma, as imunidades parlamentares também Não sendo as informações recebidas ou prestadas em
asseguram aos Deputados e Senadores a possibilidade de razão do mandato, o parlamentar deve depor normalmente,
sustação de ação penal em andamento no Supremo Tribunal
possuindo apenas a prerrogativa de serem inquiridos em
Federal, após recebida a denúncia.11
local, dia e hora previamente ajustados entre eles e o juiz
O § 5º do art. 53 da Constituição Federal estabelece que (art. 221 do CPP).
a sustação do processo suspende a prescrição, enquanto
durar o mandato. Desta forma, além das causas suspensivas
da prescrição penal previstas no art. 116 do Código Penal, Extensão da imunidade ao Suplente
a Constituição Federal prevê uma outra causa especial de O suplente de deputado ou senador só tem direito
suspensão referente à sustação do processo penal perante à imunidade quando estiver no exercício das funções de
o Supremo Tribunal Fe­deral, no qual seja réu senador ou parlamentar.
deputado federal.12
A título de exemplo, Carlos, parlamentar federal em Irrenunciabilidade e licença
campanha para reeleição para seu terceiro mandato fe‑ Capez (2009, p. 54) destaca que
deral, durante um passeio por bairros habitados por seus
eleitores, encontrou um adversário político também em
a imunidade é irrenunciável, mas não alcança o par-
campanha eleitoral, em busca de seu primeiro mandato
lamentar que se licencia para ocupar outro cargo na
federal. Indignado com a presença do concorrente em seu
Administração Pública.
reduto eleitoral, Carlos o agrediu verbalmente, em público,
tecendo comentários ofensivos em razão de sua afrodes‑
cendência. Não houve agressão física porque os correligio‑ Extensão ao corréu sem prerrogativa funcional
nários de ambos os candidatos os afastaram rapidamente. Nos termos da Súmula nº  245 do STF, estabeleceu‑se
No caso de ser aberto um processo penal, será da Polícia que “A imunidade parlamentar não se estende ao corréu
Federal a competência para a elaboração do inquérito, e o sem essa prerrogativa”.
processo, que será de competência originária do Supremo
Tribunal Federal (STF), poderá ter seu andamento sustado, Imunidades parlamentares e estado de sítio
se nesse sentido houver aprovação, pela maioria dos mem‑
As imunidades de Deputados ou Senadores subsistirão
bros da Casa a que pertencer o parlamentar, de pedido de
durante o estado de sítio, só podendo ser suspensas median-
sustação encaminhado à Mesa da Casa por partido político
te o voto de dois terços dos membros da Casa respectiva,
que nela tenha representação.13
nos casos de atos praticados fora do recinto do Congresso
A imunidade formal de parlamentares federais não
Nacional, que sejam incompatíveis com a execução da me-
exclui a instauração de inquérito policial contra eles, mas
dida (art. 53, § 8º, da CF/1988).
as medidas investigatórias devem ser adotadas no âmbito
de procedimento em curso perante o STF.14
Imunidade formal em relação a medidas constritivas Deputados Estaduais
de liberdade
De acordo com as normas relativas às imunidades par- Aplicam‑se aos deputados estaduais as mesmas regras
Noções de Direito Processual Penal

lamentares, previstas na Constituição Federal, não podem sobre imunidade aplicáveis ao deputado federal.18 É o que
ser presos Deputados ou Senadores, salvo em flagrante de determina o art. 27, § 1º, da CF/1988.
crime inafiançável.15 Dessa forma, os membros do Congres-
so Nacional possuem imunidade, mas podem ser presos, Vereadores
desde a expedição do diploma, no caso de flagrante de
crime inafiançável.16
A imunidade material dos vereadores os protege em
suas manifestações relacionadas ao mandato dentro e fora

10
19º Concurso Público para Procurador da República/2002. do recinto da Câmara Municipal, com abrangência apenas

11
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/TJ-BA/2012 e 20º Concurso
Público para Procurador da República/2003. na circunscrição do município.19
12
Promotor/SP/2005.
13
Cespe/Delegado Federal/2004.
14
Cespe/Promotor/TO/2004.
17
Assunto cobrado na prova da FCC/TRF 2ª Região/Técnico Judiciário/Área
15
Assunto cobrado nas seguintes provas: 17º Concurso Público para Procurador Administrativa/2007.
da República/1999 e TJ‑RN/Oficial de Justiça/2002. 18
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑DF/1º Exame de Ordem/1ª
16
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/TJ-BA/2012 e OAB‑SP/127º Fase/2003 e OAB‑MG/2º Exame de Ordem/1ª Fase/2003.
Exame de Ordem/1ª Fase/2005. 19
Cespe/Promotor/TO/2004.

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A Constituição Federal garante aos deputados e senado‑ Imunidade Prisional dos Magistrados
res imunidades formal e material, enquanto aos vereadores
somente imunidade material.20 A imunidade material do
Deputado Federal difere da imunidade material do Verea- São prerrogativas do magistrado não ser preso senão por
dor, porque a responsabilização dos Vereadores por suas ordem escrita do Tribunal ou do órgão especial competente
opiniões, palavras e votos, restringe‑se à circunscrição do para o julgamento, salvo em flagrante de crime inafiançá-
respectivo Município.21 vel, caso em que a autoridade fará imediata comunicação
e apresentação do magistrado ao Presidente do Tribunal
a que esteja vinculado (art.  33, II, da Lei Complementar
Imunidade do Presidente da República
nº 35/1979 – Lei Orgânica da Magistratura Nacional).

O § 4º do art. 86 da CF/1988 determina que o Presidente


da República, na vigência de seu mandato, não pode ser Imunidade Prisional dos Representantes do
responsabilizado por atos estranhos ao exercício de suas Ministério Público
funções.
Por outro lado, enquanto não sobrevier sentença conde- Constituem prerrogativas dos membros do Ministé-
natória, nas infrações comuns, o Presidente da República não rio Público ser preso somente por ordem judicial escrita,
estará sujeito a prisão (art. 86, § 3º, da CF/1988). salvo em flagrante de crime inafiançável, caso em que a
Em relação aos delitos funcionais, deve haver licença autoridade fará, no prazo máximo de vinte e quatro horas,
prévia do Legislativo para que haja processo. Com efeito, a  comunicação e a apresentação do membro do Ministé-
o art. 86 da CF/1988 estabelece que, admitida a acusação rio Público ao Procurador‑Geral de Justiça (art.  40, III, da
contra o Presidente da República, por dois terços da Câmara Lei nº  8.625/1993  – Lei Orgânica Nacional do Ministério
dos Deputados, será ele submetido a julgamento perante o Público).
Supremo Tribunal Federal, nas infrações penais comuns, ou
perante o Senado Federal, nos crimes de responsabilidade.
Imunidade Prisional do Advogado
O Presidente ficará suspenso de suas funções: I  – nas
infrações penais comuns, se recebida a denúncia ou quei-
xa‑crime pelo Supremo Tribunal Federal; II  – nos crimes O advogado somente poderá ser preso em flagrante, por
de responsabilidade, após a instauração do processo pelo motivo de exercício da profissão, em caso de crime inafian-
Senado Federal (art. 86, § 1º, da CF/1988). çável (art. 7º, § 3º, da Lei nº 8.906/1994).
Se, decorrido o prazo de cento e oitenta dias, o julga- Os advogados também possuem modalidade de imu-
mento não estiver concluído, cessará o afastamento do nidade material em relação a atos e manifestações no
Presidente, sem prejuízo do regular prosseguimento do exercício de sua profissão. É o que determina o § 2º da Lei
processo (art. 86, § 2º, da CF/1988). nº 8.906/1994, onde se estabelece que o advogado tem
imunidade profissional, não constituindo injúria, difamação
Imunidade do Governador ou desacato puníveis qualquer manifestação de sua parte, no
exercício de sua atividade, em juízo ou fora dele, sem prejuízo
das sansões disciplinares perante a OAB, pelos excessos que
É necessária prévia de licença da Assembleia Legislativa cometer. Entretanto, o STF entende que
estadual para que haja o prosseguimento da ação penal
contra governador.
não é absoluta a inviolabilidade do advogado, por
O STJ entende que
seus atos e manifestações, o que não infirma a
abrangência que a Carta de Outubro conferiu ao ins-
a demora da Assembleia Legislativa em autorizar tituto, de cujo manto protetor somente se excluem
o curso do processo criminal, perante o Superior atos, gestos ou palavras que manifestamente des-
Tribunal de Justiça, contra Governador de Estado,
Noções de Direito Processual Penal

bordem do exercício da profissão, como a agressão


enseja a suspensão da prescrição em relação a este (física ou moral), o insulto pessoal e a humilhação
desde o recebimento pela Assembleia Legislativa
pública (ADI nº 1.127). (STF; AO 933/AM; Relator
do referido pedido de autorização. (STJ; AgRg na AP
Min. Carlos Britto; Tribunal Pleno; Julgamento:
nº 364/SC; Ministro Carlos Alberto Menezes Direito;
25/9/2003)
Corte Especial; DJ 1/8/2005, p. 296)

Imunidade do Prefeito Referências

ÁVILA, Thiago André Pierobom de. Direito processual penal.


Não há qualquer previsão de imunidade ao prefeito. Este
15. ed., Brasília: Vestcon, 2009.
tem apenas foro por prerrogativa de função.

CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal. 16. ed. rev.



20
OAB‑RJ/25º Exame de Ordem/1ª Fase/2004.

21
Assunto cobrado na prova da OAB‑SP/125º Exame de Ordem/1ª Fase/2005. e atual. São Paulo: Saraiva, 2009.

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INQUÉRITO POLICIAL 5) das Polícias Militares e dos Corpos de Bombeiros
(Arts. 4º ao 23 do CPP) Militares.
Nos §§ 1º e 4º do referido artigo, o constituinte origi-
Noções Introdutórias nário firmou orientação no sentido de competir à polícia a
investigação das infrações penais. Estabeleceu que cabe à
Ao longo da História, houve práticas judiciárias que Polícia Federal “exercer, com exclusividade, as funções de
tinham por alvo conseguir a reconstituição de fato delitivo. polícia judiciária da União” (art. 144, § 1º, IV, da CF/1988)1.
Para tanto, seguiam‑se rituais que buscavam a descoberta Dos órgãos policiais descritos, pode‑se fazer a seguinte
da verdade, o que sempre guardou relação com fatores de- classificação, embora não absoluta, eis que os órgãos policiais
terminantes das modalidades de convivência social. Segundo podem apresentar, em alguns casos, atuação preventiva e
Foucault (2003, p. 11), repressiva. Vejamos:
1) Polícia Federal. Embora tenha atuação preventiva
as práticas judiciárias – a maneira pela qual, entre os em diversos campos de atuação, como no de controle das
homens, se arbitram os danos e as responsabilida- fronteiras, atuação fazendária, prevenindo os delitos de
des, o modo pelo qual, na história do Ocidente, se contrabando e descaminho, prevenção do tráfico ilícito de
concebeu e se definiu a maneira como os homens entorpecentes e drogas afins, segurança de dignitários e
podem ser julgados em função dos erros que haviam atuação preventiva em relação a delitos praticados na esfera
cometido, a maneira como se impôs a determinados federal, para fins do processo penal, predomina o seu caráter
indivíduos a reparação de algumas de suas ações e de polícia repressiva, eis que apura os crimes de ordem fe-
a punição de outras, todas essas regras ou, se qui- deral, com o escopo de formar a opinio delicti do Ministério
serem, todas essas práticas regulares, é claro, mas Público Federal, a iniciar o processo perante a justiça federal.
também modificadas sem cessar através da histó- 2) Polícia Rodoviária e Ferroviária Federal. Trata‑se de
ria – me parecem uma das formas pelas quais nossa típica polícia administrativa que, atuando de forma ostensiva,
sociedade definiu tipos de subjetividade, formas de previne os crimes verificados em rodovias e ferrovias, res-
saber e, por conseguinte, relações entre o homem e pectivamente, sendo que quando estes são materializados,
a verdade que merecem ser estudadas. impõe o flagrante e encaminha para a Polícia Civil ou Federal,
dependendo do delito, para que ali se realizem as atividades
O inquérito policial tem o objetivo de embasar o titular da de polícia investigativa.
eventual ação penal com elementos de provas a justificarem 3) Polícias Civis. Embora também tenham atuação admi-
ou não o ajuizamento dela, conferindo elementos mínimos nistrativa, predomina sua atuação investigativa, eis que apura
para que a ação seja recebida pelo magistrado, que necessita os crimes para formar a opinio delicti do parquet estadual,
de um mínimo conteúdo probatório a embasar a ação penal, que iniciará o processo perante a justiça estadual.
conferindo‑se a ela a necessária justa causa. 4) Polícia Militar. Assim como a polícia rodoviá­ria federal,
Para se propor a ação penal, é necessário que o Estado tem atuação ostensiva e preventiva. Entretanto, também
disponha de um mínimo de elementos probatórios que realizam funções de polícia investigativa, quando se está
indiquem a ocorrência de uma infração penal e sua autoria, diante de crimes militares estaduais.
sendo o mais comum que isso seja obtido com o inquérito 5) Corpo de Bombeiros Militares. A atuação administra-
policial. Cabe à Polícia Judiciária, exercida pelas autoridades tiva, preventiva e ostensiva, principalmente em relação à
policiais, a  atividade destinada à apuração das infrações emissão de diversos tipos de licenças.
penais e da autoria por meio do inquérito policial. Dessa forma, apura principalmente os crimes elencados
A finalidade precípua do inquérito policial é a inves- no art. 109 da CF/1988, que trata da competência da Justiça
tigação do crime e a sua autoria, com o fito de fornecer Federal, cabendo, assim, à Polícia Federal apurar: a) os crimes
elementos para que o titular da ação penal, seja este o políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de
Ministério Público, no caso da ação pública incondicionada bens, serviços ou interesse da União ou de suas entidades
e condicionada, seja o particular, no caso da ação penal autárquicas ou empresas públicas; b) os crimes previstos
privada, a promova em juízo, uma vez que o juiz só pode em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada a
execução no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido
receber a ação penal quando ela se basear em elementos
no estrangeiro, ou reciprocamente; c) os crimes contra a
probatórios, ainda que mínimos.
organização do trabalho e, nos casos determinados por lei,
contra o sistema financeiro e a ordem econômico‑financeira;
Polícia Judiciária
d) os crimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves,
Há duas espécies de polícia, a administrativa (também Em março de 1944, na antiga capital da República, Rio de Janeiro, a Polícia
Noções de Direito Processual Penal

chamada preventiva ou ostensiva) e a judiciária (também do Distrito Federal foi transformada em Departamento Federal de Segurança
chamada de investigativa ou repressiva). Embora ambas Pública (DFSP). Apesar de no seu nome trazer a expressão “Federal”, o DFSP,
como ficou conhecido, somente atuava na área do Distrito Federal, no que
pertençam ao poder executivo, a administrativa serve mais dizia respeito à segurança pública, agindo em âmbito nacional apenas na
ao Poder Executivo, atuando de forma preventiva/ostensiva. parte de polícia marítima, aérea e de fronteiras. Já na metade do ano de 1946,
Já a polícia judiciária tem atuação que interessa mais ao as atribuições do DFSP foram estendidas para todo o território nacional em
alguns casos, como o comércio clandestino de entorpecentes e crimes contra
Poder Judiciário, eis que com base nos elementos investigati- a fé pública, quando de interesse da Fazenda Nacional. Todavia, com a nova
vos materializados no inquérito policial, o Ministério Público Constituição Federal, promulgada a 18 de setembro daquele ano, os Estados
terá base para iniciar o processo penal por meio da denúncia. passaram a ter poderes para atenderem as suas necessidades de governo e
administração, sendo considerada uma espécie de limitação dessa autonomia
A Constituição Federal, em seu art.  144, ao  tratar da a existência de um órgão de segurança com atuação nacional. Com a mudança
segurança pública, consignou que esta é exercida com o da capital Federal, em 1960, o DFSP transferiu‑se para Brasília, ficando com
escopo de garantir a ordem pública e a incolumidade das o então Estado da Guanabara os seus serviços de segurança pública, bem
como grande parte de seu efetivo. Devido à carência de pessoal, o DFSP teve
pessoas e do patrimônio, por meio: de ser reestruturado, buscando‑se como modelo as polícias da Inglaterra,
1) da Polícia Federal; dos Estados Unidos e do Canadá, passando a ter, efetivamente, atribuições
2) da Polícia Rodoviária Federal; em todo o território brasileiro a partir de 16/11/1964, dia da edição da Lei
nº 4.483 e até hoje comemorada como sua data maior. Ainda em 1967, o DFSP
3) da Polícia Ferroviária Federal; trocou de nome, surgindo o Departamento de Polícia Federal (DPF), por meio
4) das Polícias Civis; do art. 210 do Decreto‑Lei nº 200, de 25/2/1967.

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ressalvada a competência da Justiça Militar, e e) os crimes jurídico traçado a partir da Constituição Federal, mecanismo
de ingresso ou permanência irregular de estrangeiro. que é das atividades genuinamente estatais de segurança
Com base no art. 109, I, da CF, cabe também à Polícia pública.2
Federal investigar infrações penais praticadas em detrimento A atividade de polícia judiciária consiste na realização de
de bens, serviços ou interesse da União ou de suas entidades uma investigação preliminar ao processo penal, materializada
autárquicas ou empresas públicas, inclusive em relação às pelo inquérito policial, que é um procedimento administra-
contravenções penais, sendo o processo posteriormente tivo. Conforme Barbosa (2002, p. 23),
remetido à Justiça Estadual, uma vez que a Justiça Federal
não apura contravenção. O tema será abordado de forma o inquérito policial surgiu entre nós com a Lei
mais extensiva quando se tratar da competência da Justiça nº 2.033, de setembro de 1871 e regulamentada pelo
Federal. Decreto‑Lei nº 4.824, de 28 de novembro de 1871.
Nos termos do art. 1º da Lei nº 10.446/2002: No art. 42 da referida lei, conceituava o inquérito
policial como o instituto que consistia em todas as
Na forma do inciso I do § 1º do art. 144 da Consti- diligências necessárias para o descobrimento dos
tuição, quando houver repercussão interestadual ou fatos criminosos, de suas circunstâncias e de seus
internacional que exija repressão uniforme, poderá
autores e cúmplices, devendo ser reduzido a instru-
o Departamento de Polícia Federal do Ministério da
mento escrito.
Justiça, sem prejuízo da responsabilidade dos órgãos
de segurança pública arrolados no art. 144 da Cons-
tituição Federal, em especial das Polícias Militares Destaca Lopes Júnior (2003, p. 35):
e Civis dos Estados, proceder à investigação, dentre
outras, das seguintes infrações penais: No Brasil, a definição legal do inquérito policial não
I – sequestro, cárcere privado e extorsão mediante consta claramente em nenhum artigo do CPP, e, para
sequestro (arts. 148 e 159 do Código Penal), se o ser obtida, devemos cotejar as definições dos arts. 4º
agente foi impelido por motivação política ou quando e 6º do CPP, de modo que é a atividade desenvolvida
praticado em razão da função pública exercida pela pela Polícia Judiciária com a finalidade de averiguar
vítima; o delito e sua autoria.
II – formação de cartel (incisos I, a, II, III e VII do art. 4º
da Lei nº 8.137, de 27 de dezembro de 1990); Tem‑se assim um sistema misto de persecução penal,
III – relativas à violação a direitos humanos, que a com uma primeira fase inquisitiva e uma fase principal acu-
República Federativa do Brasil se comprometeu a satória, que se dá em juízo, a exemplo do sistema francês,
reprimir em decorrência de tratados internacionais estrutura essa que, a despeito das inúmeras inovações legis-
de que seja parte; e lativas e constitucionais no Direito Pátrio, permanece até os
IV – furto, roubo ou receptação de cargas, inclusive dias atuais. Segundo Carvalho (2003, p. 55),
bens e valores, transportadas em operação inte-
restadual ou internacional, quando houver indícios o nosso Código era muito mais liberal, pois, no mode-
da atuação de quadrilha ou bando em mais de um lo francês, o acusado era colocado em uma situação
Estado da Federação. de inferioridade em relação ao acusador oficial e o
juiz exercitava uma atividade de produção de prova,
Referido artigo diz, ainda, em seu parágrafo único, que, valendo‑se, para esse fim, até mesmo da tortura.
quando houver repercussão interestadual ou interna­cional
que exija repressão uniforme, o  Departamento de Polícia No Brasil, o fundamento da atividade da Polícia Judiciária
Federal procederá à apuração de outros casos, desde que tal decorre do poder de polícia inerente à Administração, tendo
providência seja autorizada ou determinada pelo Ministro como finalidades: 1) garantir a eficácia do processo penal; 2)
de Estado da Justiça. dar subsídios para a interposição de eventuais ações penais,
A Polícia Federal atua também nos crimes de competên- funcionando, ademais, como filtro processual; 3) manter a
cia da Justiça Eleitoral. regularidade das relações sociais, desestimulando a prática
Já às Polícias Civis dos Estados, de novas infrações.
De acordo com Meirelles (2000, p. 122), poder de polícia
dirigidas por delegados de polícia de carreira, incum-
é “o mecanismo de frenagem de que dispõe a Administração
bem, ressalvada a competência da União, as funções
Pública para conter os abusos do direito individual”. Para
de polícia judiciária e a apuração de infrações penais,
Noções de Direito Processual Penal

exceto as militares (art. 144, § 4º, da CF/1988). Mello (2000, p. 673),

Trata‑se da atribuição para investigar os crimes a serem o que efetivamente aparta a polícia administrativa de
julgados pela Justiça Comum. polícia judiciária é que a primeira se predispõe unica-
Tem‑se também investigação prévia realizada pela Polícia mente a impedir ou paralisar atividades antissociais
Militar, que tem atribuição para investigar os crimes militares enquanto a segunda se preordena à responsabiliza-
dos Estados, inclusive contra civil, ressalvados os dolosos ção dos violadores da ordem jurídica.
contra a vida (art. 125, §§ 4º e 5º, da CF/1988).
Verifica‑se que a CF/1988 conferiu o poder de investi- Embora sejam atos administrativos, referidos autores
gação às autoridades policiais. É a investigação preliminar destacam que, no caso da Polícia Judiciária, o procedimento
policial que faz com que toda a formalização dos atos e a é regulado pela legislação processual penal.
diretriz investigativa sejam direcionadas pela polícia. Tal
método é adotado também na Inglaterra.
Dessa forma, com base na verificação das atribuições
2
Cespe/1º Exame da Ordem/2007 (Tocantins, Sergipe, Rio Grande do Norte,
Rio de Janeiro, Piauí, Pernambuco, Paraíba, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul,
dos órgãos policiais, pode‑se afirmar que todo inquérito Maranhão, Espírito Santo, Distrito Federal, Ceará, Bahia, Amazonas, Amapá,
policial é modalidade de investigação que tem seu regime Alagoas, Acre).

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Conceito de Inquérito IV – Foi mantido o inquérito policial como processo
preliminar ou preparatório da ação penal, guardadas
O inquérito é peça escrita, preparatória da ação penal, as suas características atuais. O ponderado exame da
de natureza inquisitiva.3 realidade brasileira, que não é apenas a dos centros
O inquérito policial é procedimento administrativo, urbanos, senão também a dos remotos distritos das
efetivado no âmbito da Polícia Judiciária, cujo objeto são comarcas do interior, desaconselha o repúdio do
os atos de investigação a serem reduzidos à forma escrita, sistema vigente.
com o objetivo de dar elementos ao titular da ação penal, O preconizado juízo de instrução, que importaria li-
Ministério Púbico ou ofendido, para o ajuizamento ou não da mitar a função da autoridade policial a prender crimi-
ação penal em face de autor de infração penal. O inquérito nosos, averiguar a materialidade dos crimes e indicar
policial tem natureza jurídica de processo administrativo. testemunhas, só é praticável sob a condição de que
Entretanto, não se lhe aplicam todos os princípios pertinentes as distâncias dentro do seu território de jurisdição
à Administração Pública. Com efeito, o inquérito policial é sejam fácil e rapidamente superáveis. Para atuar
considerado um procedimento administrativo sigiloso, proficuamente em comarcas extensas, e posto que
inquisitivo, escrito e não contraditório.4 deva ser excluída a hipótese de criação de juizados de
A finalidade investigatória do inquérito policial objetiva instrução em cada sede do distrito, seria preciso que
dar elementos para a opinio delicti do órgão acusador de o juiz instrutor possuísse o dom da ubiquidade. De
que há prova suficiente do crime e da autoria, para que a outro modo, não se compreende como poderia pre-
ação penal tenha justa causa. Para a ação penal, justa causa sidir a todos os processos nos pontos diversos da sua
é o conjunto de elementos probatórios razoáveis sobre a zona de jurisdição, a grande distância uns dos outros
existência do crime e da autoria.5 e da sede da comarca, demandando, muitas vezes,
com os morosos meios de condução ainda praticados
Natureza Jurídica na maior parte do nosso hinterland, vários dias de
viagem. Seria imprescindível, na prática, a  quebra
O inquérito policial não tem natureza judicial. É um do sistema: nas capitais e nas sedes de comarca em
procedimento administrativo inquisitório conduzido pela geral, a imediata intervenção do juiz instrutor, ou a
polícia judiciária, com a finalidade de reunir elementos e
instrução única; nos distritos longínquos, a continu-
informações necessárias à elucidação do crime.6
ação do sistema atual. Não cabe, aqui, discutir as
Paulo Rangel (2009, p. 73) destaca que a natureza jurídica
proclamadas vantagens do juízo de instrução.
do inquérito é “de um procedimento de índole meramente
administrativa, de caráter informativo, preparatório da ação Preliminarmente, a sua adoção entre nós, na atuali-
penal”. dade, seria incompatível com o critério de unidade
De início, deve ser afastada a existência da tutela satisfa- da lei processual. Mesmo, porém, abstraí­da essa
tiva no bojo dos autos do inquérito policial, que materializa consideração, há em favor do inquérito policial, como
apenas medidas cautelares de perpetuação da prova. Com instrução provisória antecedendo à propositura da
efeito, os princípios processuais constitucionais, tais como ação penal, um argumento dificilmente contestável: é
o do devido processo legal, da igualdade entre acusação e ele uma garantia contra apressados e errôneos juízos,
defesa, da presunção de inocência, do contraditório e do formados quando ainda persiste a trepidação moral
direito à prova, entre outros, impedem que o delegado, pro- causada pelo crime ou antes que seja possível uma
motor ou juiz antecipem, provisoriamente, a própria solução exata visão de conjunto dos fatos, nas suas circuns-
definitiva, “condenando”, desde já, o acusado, apenas por tâncias objetivas e subjetivas. Por mais perspicaz e
estar sendo investigado de forma prévia. circunspecta, a autoridade que dirige a investigação
Quanto à sua natureza, o inquérito policial é sempre inicial, quando ainda perdura o alarma provocado
escrito, inquisitivo e sigiloso.7 pelo crime, está sujeita a equívocos ou falsos juízos
a priori, ou a sugestões tendenciosas.
Finalidade Não raro, é preciso voltar atrás, refazer tudo, para que
a investigação se oriente no rumo certo, até então
O art.  12 do CPP determina que “O inquérito policial despercebido. Por que, então, abolir‑se o inquérito
acompanhará a denúncia ou queixa, sempre que servir de preliminar ou instrução provisória, expondo‑se a
base a uma ou outra”. Embora seja o inquérito dispensável, justiça criminal aos azares do detetivismo, às mar-
prescindível para que o titular da ação penal promova a chas e contramarchas de uma instrução imediata e
denúncia ou a queixa – pois a ação penal pode se embasar única? Pode ser mais expedito o sistema de unidade
em outros elementos de prova que não o inquérito policial –, de instrução, mas o nosso sistema tradicional, com o
Noções de Direito Processual Penal

na prática, o  caderno apuratório policial dá supedâneo à inquérito preparatório, assegura uma justiça menos
maioria das ações penais. aleatória, mais prudente e serena.
Ainda sobre a finalidade do inquérito, serve ele também
como filtro processual, fazendo uma seleção dos fatos a Desta forma, verifica‑se que a finalidade do inquérito
serem levados à apreciação do Poder Judiciário. Vejamos o policial é a de dar justa causa à ação penal, eis que, com base
que diz o item IV da Exposição de Motivos do vigente Código
nele, será formada a opinio delicti por parte do Ministério Pú-
de Processo Penal:
blico ou do querelante, que ajuizarão a ação penal, denúncia
ou queixa, respectivamente, após a análise dos elementos de
3
Cespe/Bacen/Procurador/2009.
investigação materializados no caderno investigativo policial.
4
Assunto cobrado na prova do 32º Exame da Ordem (Rio de Janeiro). Os elementos de investigação contidos no inquérito
5
Cespe/Bacen/Procurador/2009. policial também podem materializar o fumus comissi delicti
6
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/TRT 1ª Região/Técnico Judiciário/
Segurança/Questão 41/Item III/2011; FCC/TRT 1ª Região/Técnico Judiciário/
a permitir medidas invasivas na esfera do investigado, como
Segurança/Questão 41/Item I/2011 e Cespe/DPF/Agente/2009. buscas e apreensões, quebras de sigilo fiscal e bancário,
7
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/TJ‑PE/Oficial de Justiça da 3ª interceptações telefônicas e prisões cautelares.
Entrância/2001; Cespe/1º Exame da Ordem/2006 (Alagoas, Bahia, Ceará,
Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Sergipe e Espírito
Também serve o inquérito de filtro processual, eis que
Santo). nem tudo o que é noticiado em uma delegacia, por meio

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das notitia criminis (ou boletins de ocorrência) ensejará a O inquérito policial não pode ser presidido pelo Minis-
instauração de uma ação penal. tério Público.13

Características Inquisitivo
O Direito Eclesiástico da Idade Média influenciou a ju-
Embora tenha o inquérito policial natureza jurídica risdição criminal, que conferia excessivos poderes à pessoa
de processo administrativo, não se aplica a este todos os do juiz, o  qual restringia a publicidade e incrementava as
princípios pertinentes à Administração Pública8. O  Inqué- hipóteses de tortura, sempre em detrimento dos direitos e
rito tem algumas características próprias como o sigilo e a da presunção de inocência, o que conferia ao processo penal
inquisitorialidade. de então um caráter extremamente inquisitório.
Tinha‑se assim intensa justificação teocrática no Direito
Formal ou Escrito Penal medieval, sendo que a pena não se baseava no livre
As peças do inquérito policial devem ser reduzidas a arbítrio ou na culpabilidade do indivíduo por algum fato
escrito ou datilografadas.9 É o que determina o art. 9º do externo que se houvesse cometido, mas sim na moral ou no
CPP, que exige, ainda, que sejam as peças rubricadas pela au- dever de consciência individual. Punia‑se o pecado moral ou
toridade policial. Referida exigência se faz por ser o inquérito religioso e não algum fato externo que lesasse a sociedade,
policial a base documental para a propositura da ação penal. caracterizando‑se, assim, um Direito Penal do indivíduo e
não do fato. Conforme Carvalho (2003, p. 15),
Oficial10
O inquérito é presidido pela autoridade policial, da o primeiro aspecto da epistemologia inquisitva seria
chamada polícia judiciária, pois atua em face do fato cri‑ uma concepção ontológica de delito. A análise do sis-
minoso já ocorrido.11 tema penal não recairia sobre fato (pré) determinado
O inquérito policial é realizado no âmbito de órgão oficial, pela lei penal válida mas, ao contrário, seria dirigida à
qual seja, a polícia judiciária, embora sem exclusividade eis personalidade da pessoa classificada como perversa,
que há outros órgãos oficiais que também apuram delitos. perigosa, herética. A conduta imoral ou antissocial e
Nos primórdios da civilização romana, a vítima de um o resultado produzido seriam frutos da exteriorização
delito, ou seus familiares, retribuía o mal com o mal, sem a da maldade do autor. Esta concepção foi traduzida
utilização de qualquer método procedimentalizado de busca na história da humanidade em inúmeras versões,
do fato ocorrido. Era a vingança privada, que evoluíra para das doutrinas moralistas que identificam no crime
a pena de talião (olho por olho, dente por dente), conforme um pecado às naturalistas que veem no crime um
explica Brasiello apud Tucci (1976, p. 28): sinal de anormalidade ou patologia psicofísica do
sujeito, até aquelas pragmáticas e utilitaristas que a
De fato, em princípio, o  lesado podia vingar‑se: este conferem relevância somente quando se mostra
desforra ilimitada num primeiro momento, mas que como sintoma especial e alarmante da periculosidade
se tornava depois, quando possível, proporcional do seu autor.
à ofensa (lei de taglione, aplicada, sobretudo, nos
casos de iniura corporal). Mais tarde, admitiu‑se Sob a Inquisição, instalara‑se um complexo formal para
a composição pecuniária, com a qual se impedia a todo o processo de investigação, indiciamento, julgamento,
vingança, proporcionando‑se satisfação de outra tortura e execução, que buscava o máximo de dor com o
natureza ao ofendido. mínimo de sangue. Como coloca Prado (1999, p. 90),
Giordani (1997, p. 6) destaca que da busca da verdade real renascem os tormentos
pelas torturas, dispostas a racionalmente extraí­rem
a repressão do próprio homicídio (parricidium), con- dos acusados a sua versão dos fatos e, na medida do
siderado como lesivo à pessoa física e não ao Estado possível, a confissão, fim do procedimento, preço da
como tal, cabia inicialmente aos parentes da vítima vitória e sanção representativa da penitência. Dis-
e não a um órgão estatal.
tintamente das ordálias, dos povos germânicos, que
presumiam uma manifestação das divindades por
Com a criação e o desenvolvimento do Estado, este,
intermédio de um sinal físico facilmente observável,
visando resguardar a segurança coletiva, passou a chamar
a iluminar a verdade e fazer justiça, a tortura impu-
para si a repressão delitiva, por meio do processo.
nha‑se como procedimento científico de investigação,
Não se permite, nos dias atuais, a justiça privada, princi-
meio, portanto, considerado à época mais evoluído.
Noções de Direito Processual Penal

palmente na fase de investigação prévia ao processo penal,


ocasião em que os ânimos estão bastante exacerbados.
Tais práticas ultrapassam as barreiras da Idade Média,
A Constituição Federal, em seu art. 144, elenca os órgãos aos
podendo ser verificadas ainda no século XIX, não mais com
quais compete efetivar a investigação preliminar, citando as
Polícias Civis e a Federal. prestação de contas ao papado, mas, sim, às Coroas. Na
A investigação criminal é regida pelo princípio da não Espanha, por exemplo, apenas em 1834, foi editado um de-
exclusividade, ou seja, no sistema brasileiro, admite-se creto de supressão que levara a Inquisição ao final naquele
que mais de um órgão a faça. Entretanto, em relação ao país (BAIGENT, Michael; LEIGH, Richard, 2001, p. 100-101).
inquérito policial propriamente dito, em face do princípio Além do ritual inquisitorial, que já se constituía em
da autoritariedade, apenas a autoridade policial pode tortura psicológica, havia várias engenhocas, tais como o
presidi-lo.12 ecúleo e o saca‑unhas, para atormentar o corpo e a alma dos
acusados de heresia ou bruxaria. Havia também a tortura na

8
MPDFT/28º Concurso para Promotor/2009. água, sendo, entretanto, o “instrumento” supremo da Inqui-

9
Assunto cobrado na seguinte prova: FCC/TRF 4ª Região/Analista Judiciário/ sição o fogo, que constituía a base dos sistemas judiciais da
Área Judiciária/2007. Europa, os quais se utilizavam da piromania para castigar os
10
FCC/TJ-SE/Técnico Judiciário/2009.
11
Cespe/Bacen/Procurador/2009.
12
Assunto cobrado na prova do Cespe/Bacen/Procurador/2009.
13
Assunto cobrado na prova da Funiversa/PC-DF/Delegado de Polícia/2009.

10 Este eBook foi adquirido por ANA PAULA TORQUATO DA COSTA - CPF: 628.848.913-15.
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parricidas, bruxos, traidores, entre outros (BAIGENT, Michael; Da leitura da exposição de motivos, percebe‑se que o
LEIGH, Richard, 2001, p. 46). investigado era tratado como mero objeto de investigação
Tais métodos evidenciavam as condições do processo e não como um sujeito de direitos.
inquisitorial, que se caracterizava pela ausência de regula­ Em face do princípio da inquisitorialidade que pauta o
mentação do procedimento e falta ou desvirtuamento e inquérito policial, não se pode, por exemplo, opor suspeição
inutilidade da defesa, além de busca da verdade real por às autoridades policiais nos atos do inquérito.14 É o que
meio da tortura. De acordo com Eymerich (1972, p. 51), determina o art. 107 do CPP.
Com a edição da Constituição Federal de 1988, estatuto
os modos de se defender são estes: a intervenção garantista, é necessário fazer uma leitura constitucional do
de um Advogado que o Acusado possa consultar, Código de Processo Penal, uma vez que diversos dispositivos
a rejeição das testemunhas no caso de ele ser capaz não foram recepcionados pela Lei Maior do nosso país.
de adivinhar quem foi que depôs contra si, a rejeição A título de exemplo, não pode mais ao investigado ser
do Inquisidor e finalmente a apelação. Não se con- relegada a condição de objeto de investigação, mas sim
cede ao Acusado um Advogado senão depois de ele de sujeito, ao qual deve ser assegurado o rol de garantias
negar os crimes de que é acusado e isso depois de ter previsto na Lei Maior.
sido por três vezes advertido de que deve confessar Mesmo em face da atual Constituição, é pacífico que não
a verdade. O Advogado deverá ser pessoa cheia de há de se falar em contraditório ou ampla defesa no inquérito
probidade, sábio e zelador da Fé. É nomeado pelo policial. Com efeito, não são assegurados em sua plenitude,
Inquisidor. Deverá ser obrigado a jurar e defender na fase preliminar processual (inquérito policial), os direitos
o Acusado com equidade e fidelidade e a guardar inerentes ao contraditório e à ampla defesa, mesmo diante
inviolável segredo sobre tudo o que vir e ouvir. O seu das disposições do art. 5º, LV, da CF/1988, que destaca que
principal cuidado será aconselhar o Acusado a con-
fessar a verdade e a pedir perdão do seu crime, no aos litigantes, em processo judicial ou administrativo,
caso de ser culpado. A resposta que o acusado der e aos acusados em geral são assegurados o contra-
deverá dá‑la de viva voz ou por escrito, de concreto ditório e ampla defesa, com os meios e recursos a
com o seu Advogado, e deverá ser comunicada ao ela inerentes.
Fiscal do Santo‑Ofício. Além disso, esta comunicação
do Acusado, conjuntamente com o Advogado, deve No inquérito policial, ainda não se pode falar em
ser feita em presença do Inquisidor. “acusado” – o que só se dará na fase judicial do processo –,
mas sim em investigado ou, no máximo, indiciado. Dessa
Nos dias de hoje, a característica inquisitorial do inquérito forma, o referido dispositivo constitucional não tem aplicação
policial se dá principalmente pela ausência de contraditório plena em face do inquérito.
e ampla defesa. Nos termos do art. 185 do CPP,
É forte o ranço autoritário e antigarantista do nosso Es-
tatuto de Atuação da Justiça. Vejamos o que diz o item II da O acusado que comparecer perante a autoridade
Exposição de Motivos do vigente Código de Processo Penal: judiciária, no curso do processo penal, será quali-
ficado e interrogado na presença de seu defensor,
II – De par com a necessidade de coordenação sis- constituído ou nomeado.
temática das regras do processo penal num Código
único para todo o Brasil, impunha‑se o seu ajusta- Dessa forma, percebe‑se que, na fase judicial, a ausência
mento ao objetivo de maior eficiên­cia e energia da de defensor é causa de nulidade absoluta, por atentar contra
ação repressiva do Estado contra os que delinquem. a própria CF.
As nossas vigentes leis de processo penal asseguram O art. 185 tem aplicação na fase do inquérito policial em
aos réus, ainda que colhidos em flagrante ou con- face do disposto no art. 6º, V, do CPP. Entretanto, não há
fundidos pela evidência das provas, um tão extenso nulidade do inquérito se não houver defensor constituído ou
catálogo de garantias e favores, que a repressão se dativo acompanhando o interrogatório do indiciado, posto
torna, necessariamente, defeituosa e retardatária, que no inquérito não se aplicam os princípios do contradi-
decorrendo daí um indireto estímulo à expansão da tório e da ampla defesa. Assim, não é obrigatória a presença
criminalidade. Urge que seja abolida a injustificável de defensor para o indiciado durante o interrogatório feito
primazia do interesse do indivíduo sobre o da tutela na fase policial.
social. Não se pode continuar a contemporizar com Nesse sentido é o entendimento do STJ:
pseudodireitos individuais em prejuízo do bem co-
Noções de Direito Processual Penal

mum. O indivíduo, principalmente quando vem de Como o inquérito policial é um procedimento admi-
se mostrar rebelde à disciplina jurídico‑penal da vida nistrativo informativo, de natureza inquisitiva, e não
em sociedade, não pode invocar, em face do Estado, observa os princípios do contraditório e ampla defe-
outras franquias ou imunidades além daquelas que o sa, a ausência de advogado no interrogatório policial
assegurem contra o exercício do Poder Público fora não acarreta a nulidade do processo. (STJ, Quinta
da medida reclamada pelo interesse social. Este o Turma, HC nº 86.800/SP, DJe: 5/5/2008)
critério que presidiu à elaboração do presente projeto
de Código. No seu texto, não são reproduzidas as Em face da natureza informativa do inquérito, Aury Lopes
fórmulas tradicionais de um mal‑avisado favore- (2008, p. 279) destaca que não há presunção de veracidade
cimento legal aos criminosos. O  processo penal é aos atos do inquérito, sendo que os elementos obtidos na
aliviado dos excessos de formalismo e joeirado de fase pré‑processual devem acompanhar a ação penal apenas
certos critérios normativos com que, sob o influxo para justificar o recebimento ou não da acusação, ou para
de um mal‑compreendido individualismo ou de um fundamentar medidas de natureza endoprocessual, como
sentimentalismo mais ou menos equívoco, se tran-
sige com a necessidade de uma rigorosa e expedita
14
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/Exame de Ordem/2007 e Cespe/
aplicação da justiça penal. (Grifo nosso) Delegado Federal/Nacional/2004.

Este eBook foi adquirido por ANA PAULA TORQUATO DA COSTA - CPF: 628.848.913-15. 11
A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
prisões e apreensões, por exemplo, não devendo ser valo- Discricionário
rado o inquérito pelo juiz quando da prolação da sentença. Durante o inquérito, a  autoridade policial é quem de-
Desta forma, imperioso que os elementos de convicção termina quais diligências investigatórias serão realizadas,
produzidos no inquérito sejam repetidos na fase processual, decidindo quando se darão as oitivas, as missões etc.
salvo aqueles cuja natureza não permitir por não serem No que se refere ao momento e à oportunidade de se
renováveis, como a prova pericial, que, impõem, entretanto, realizar as atividades investigativas, há poder discricionário
que seja efetivado o contraditório diferido, na fase judicial da autoridade policial, que pode indeferir requerimento de
da instrução criminal. prova dos interessados, quando, por exemplo, for destituído
Então, de acordo com as novas regras processuais de relação com os fatos apurados. Ainda que tenha relação
penais, não é obrigatória a presença do advogado do in- com os fatos, cabe à autoridade policial definir o melhor
diciado durante o interrogatório feito na fase policial, não momento para a apuração.
cabendo ao defensor o direito de interferência, uma vez O ofendido, ou seu representante legal, e o indiciado
que não são admitidos na fase inquisitiva o contraditório poderão requerer a realização de perícia ou qualquer outra
e a ampla defesa.15 diligência, podendo a autoridade indeferir ou não o pedido,
Tratando‑se de provas não renováveis, a exemplo do exa- caso entenda conveniente à investigação que preside18
me de corpo de delito, o contraditório será exercido apenas (art. 14 do CPP).
durante a fase judicial (contraditório diferido). Com efeito, Dessa forma, se comparece o investigado ao Distrito
Policial e formula requerimento de diligência no curso do
não cabe ao investigado nomear assistente técnico para ques-
inquérito policial, a  autoridade determinará a realização
tionar o laudo pericial ainda na fase policial. A prova pericial
da diligência caso entenda conveniente à investigação que
produzida na fase do inquérito, sem a prévia manifestação preside. A título de exemplo, no âmbito do inquérito policial
da defesa para formular quesitos, não é inválida.16 instaurado para apuração de crime contra os costumes, o
Diferente situação se tem em juízo, nos termos do § 5º direito ao contraditório pelo suposto autor é limitadamente
do art. 159 do CPP (nova redação dada pela Lei nº 11.690, exercido, apenas com o direito de requerer diligências que
de 2008): serão realizadas ou não a juízo da autoridade.19
Em situações excepcionais, o  STJ já entendeu estar a
Durante o curso do processo judicial, é permitido às autoridade policial obrigada a atender a requerimentos de
partes, quanto à perícia: (Incluído pela Lei nº 11.690, diligências:
de 2008)
I – requerer a oitiva dos peritos para esclarecerem a Inquérito policial (natureza). Diligências (requerimento/
prova ou para responderem a quesitos, desde que o possibilidade). Habeas corpus (cabimento). 1. Embora
mandado de intimação e os quesitos ou questões a seja o inquérito policial procedimento preparatório da
serem esclarecidas sejam encaminhados com antece- ação penal (HCs nos 36.813, de 2005, e 44.305, de 2006),
dência mínima de 10 (dez) dias, podendo apresentar é ele garantia “contra apressados e errôneos juízos”
as respostas em laudo complementar; (Exposição de motivos de 1941). 2. Se bem que, tecnica-
II – indicar assistentes técnicos que poderão apresen- mente, ainda não haja processo – daí que não haveriam
tar pareceres em prazo a ser fixado pelo juiz ou ser de vir a pelo princípios segundo os quais ninguém será
inquiridos em audiência. (Incluído pela Lei nº 11.690, privado de liberdade sem processo legal e a todos são
de 2008) assegurados o contraditório e a ampla defesa –, é lícito
admitir possa haver, no curso do inquérito, momentos
Referido artigo não tem aplicação no inquérito policial. de violência ou de coação ilegal (HC nº 44.165, de 2007).
Não será contraditada perícia na fase policial. Assim, como 3. A lei processual, aliás, permite o requerimento de
visto, o contraditório será exercido apenas durante a fase diligências. Decerto fica a diligência a juízo da autori-
judicial, de forma diferida. dade policial, mas isso, obviamente, não impede possa
Há inquéritos com contraditório, tais como: 1) o inquérito o indiciado bater a outras portas. 4. Se, tecnicamente,
falimentar, previsto na antiga Lei de Falências (Decreto‑Lei inexiste processo, tal não haverá de constituir empeço
nº 7.661/1945), que, embora também se constitua de mera a que se garantam direitos sensíveis – do ofendido,
peça informativa, pressupõe contraditório prévio, à falta do do indiciado, etc. 5. Cabimento do habeas corpus
qual são inadmissíveis o oferecimento e o recebimento da (Constituição, art. 105, I, c). 6. Ordem concedida a fim
denúncia, (LF, art. 107) (STF, Primeira Turma, HC nº 82.222, de se determinar à autoridade policial que atenda as
DJ: 6/8/2004). Entretanto, referida modalidade de inqué- diligências requeridas. (STJ, Sexta Turma, HC nº 69.405/
rito foi revogada pela Lei nº 11.101/2005; e 2) o inquérito SP, DJ: 25/2/2008, p. 362)
da Polícia Federal para a expulsão de estrangeiro (art. 184
Sabe-se que em muitos casos a autoridade policial tem
da Lei nº 6.815/1980). No IP instaurado por requisição do
Noções de Direito Processual Penal

atribuições discricionárias.20
ministro da Justiça, objetivando a expulsão de estrangeiro,
Por outro lado, em inquérito policial, o poder discricionário
o contraditório é obrigatório.17 Referido inquérito não obje- da autoridade policial de realizar as diligências solicitadas pelo
tiva materialização de provas de crimes, mas sim de sanção ofendido ou seu representante legal deve ser mitigado quando
administrativa de expulsão a estrangeiro. se tratar de exame de corpo de delito. Deixando a infração

15
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/Defensoria Pública do Estado de
vestígios, deve a autoridade policial determinar a realização
Alagoas/Defensor Público de 1ª Classe/2003; Cespe/TJ‑PA/Analista Judiciário/Área do exame do corpo de delito. Dessa forma, levando a vítima,
Judiciária/2006; FGV/TJ‑SE/Analista Judiciário/2004; Vunesp/TRF 3ª Região/Ana- ou mesmo o autor dos fatos, ao conhecimento da autoridade
lista Judiciário/Área Judiciária/2002; OAB‑Nordeste/2º Exame de Ordem/2004; policial a notícia de que sofrera lesões, deve o delegado deter-
Cespe/1º Exame da Ordem/2006 (Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba,
Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Sergipe e Espírito Santo); OAB‑ES/2º
minar a realização da perícia. Isso porque não pode a confissão
Exame de Ordem/2004; Cespe/1º Exame da Ordem/2007 (Tocantins, Sergipe, Rio
Grande do Norte, Rio de Janeiro, Piauí, Pernambuco, Paraíba, Mato Grosso, Mato
18
Assunto cobrado nas seguintes provas: Delegado de Polícia Civil da Bahia/2001;
Grosso do Sul, Maranhão, Espírito Santo, Distrito Federal, Ceará, Bahia, Amazonas, PC‑PR/Delegado de Polícia Civil/2007; FCC/TRF 4ª Região/Analista Judiciário/
Amapá, Alagoas, Acre); Cespe/3º Exame de Ordem/2007; Cespe/TJ‑DF/Oficial de Área Judiciária/2007 e OAB‑MG/1º Exame de Ordem/2004.
Justiça Avaliador/1997; Cespe/TJ‑RR/Oficial de Justiça/2001; Cespe/1º Exame da
19
FCC/DPE-PA/Defensor Público/2009.
Ordem/2004 (Espírito Santo); Cespe/TJ‑RJ/Analista Judiciário/2008.
20
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/TRT 1ª Região/Técnico Judiciário/
16
Assunto cobrado na prova da OAB‑MG/1º Exame de Ordem/2004. Segurança/Questão 41/Item IV/2011 e FCC/TRT 1ª região/Técnico Judiciário/
17
Assunto cobrado na prova do Cespe/PC‑PB/Delegado de Polícia/2009. Segurança/Questão 41/Item II/2011.

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suprir a ausência de realização do exame de corpo de delito. segundo recentes precedentes do egrégio Supremo Tribunal
A autoridade policial também não pode recusar‑se a re- Federal e do Superior Tribunal de Justiça, pode o advogado
alizar diligências requisitadas por juiz ou Ministério Público, regularmente constituído pelo investigado obter acesso aos
ainda que entenda desnecessárias à elucidação do crime. autos do inquérito policial contra ele instaurado.23 (STJ, Sexta
É o que determina o art. 13, II, do CPP. Não se trata aqui Turma, RMS nº 20.484/ES, DJe: 12/8/2008)
de requerimento, mas sim de requisição que, sendo descum- Desta forma, constitui direito do investigado e do respec‑
prida, sujeita a autoridade policial a punições administrativas tivo defensor o acesso aos elementos coligidos no inquérito
e até mesmo penais. policial, ainda que este tramite sob segredo de justiça.24
O art. 156 (com a redação dada pela Lei nº 11.690, de No mesmo sentido, é direito do defensor, no interesse
2008) destaca inclusive que do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova
que, já documentados em procedimento investigatório
A prova da alegação incumbirá a quem a fizer, sendo, realizado por órgão com competência de polícia judiciária,
porém, facultado ao juiz de ofício ordenar, mesmo digam respeito ao exercício do direito de defesa.25
antes de iniciada a ação penal, a produção antecipada O STF editou a Súmula Vinculante nº 14, onde se destaca
de provas consideradas urgentes e relevantes, obser- que:
vando a necessidade, adequação e proporcionalidade
da medida. É direito do defensor, no interesse do representado,
ter acesso amplo aos elementos de prova que, já
Embora referido artigo seja passível de críticas – já que o documentados em procedimento investigatório reali-
juiz, ao atuar de ofício na busca de provas na fase preliminar, zado por órgão com competência de polícia judiciária,
está a atentar contra a sua imparcialidade –, reforça‑se a obriga- digam respeito ao exercício do direito de defesa.
toriedade de a autoridade policial atender à requisição judicial.
Desta forma, tal prerrogativa não se estende às provas
Sigiloso ainda não juntadas aos autos do inquérito, aos documentos
O art. 5º, LX, da CF/1988, determina que “a lei só poderá de terceiros, nem
restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa
da intimidade ou o interesse social o exigirem”. a atos que por sua própria natureza não dispensam a
Como exemplo: PM prende dupla que roubou relógio e R$ mitigação da publicidade (v.g., futuras interceptações
0,50 de aposentado em Salvador – BA. Dois assaltantes foram telefônicas, dados relativos a outros indiciados) (STJ,
presos após roubarem um aposentado em Salvador – BA. Quinta Turma, HC nº 95.979/SP. DJe: 18/8/2008).
Armados com um revólver, a dupla ameaçou o aposentado
e roubou um relógio, R$ 0,50 e alguns bilhetes de loteria que Assim, tendo em vista o enunciado da Súmula Vincu-
estavam na carteira da vítima, segundo a polícia. De acordo lante nº 14 do Supremo Tribunal Federal, quanto ao sigilo
com a polícia, após o roubo, os assaltantes tentaram fugir do inquérito policial, é correto afirmar que a autoridade
em uma motocicleta, porém um deles foi imobilizado por policial poderá negar ao advogado o acesso aos elementos
pedestres que presenciaram a cena. O segundo assaltante de prova que ainda não tenham sido documentados no
também foi preso momentos depois pela polícia, durante procedimento investigatório.26
tentativa de fuga. Os dois criminosos – que não tiveram as Se a escuta telefônica já não está mais em sigilo, por ter
identidades reveladas – foram presos e encaminhados à 3ª sido incorporada aos autos do inquérito, o que na linguagem
DP de Salvador, onde prestaram depoimento. O aposenta- policial se chama “abrir o grampo”, daí cabe a intervenção
do vítima do assalto não se feriu e recuperou os pertences de advogado. Nesse sentido, a  participação de Defensor
roubados. (Fonte: Folha On-Line, 22/6/2009). Nesse caso, Público no inquérito policial nos casos de crimes hediondos
não revelar a identidade dos assaltantes não fere o direito onde há decretação de sigilo por interceptação telefônica
fundamental à informação, tendo em vista que a autoridade é direito do indiciado solicitar intervenção diretamente à
pode impor o sigilo necessário à elucidação dos fatos.21 Defensoria Pública.27
Comumente se verifica abuso por parte de órgãos policiais Entretanto, não é absoluto o direito do advogado, con-
que, em evidente exploração midiática dos fatos, embora forme resta demonstrado no seguinte julgado:
limite o acesso aos fatos apurados ao investigado (restrição da
publicidade interna), expõe as investigações à imprensa (pu- Há de se ressaltar, porém, que, além da necessidade
blicidade externa), conduta que deve sempre ser combatida. da demonstração de que o seu cliente está sendo,
Dessa forma, pode o delegado limitar o acesso aos autos do efetivamente, alvo de investigação no inquérito
inquérito para a imprensa, testemunhas, vítima e até mesmo policial, o acesso conferido aos causídicos deverá se
para o investigado. Não são abrangidos pelo sigilo decretado limitar aos documentos já disponibilizados nos autos,
pela autoridade policial o juiz, nem o representante do Minis- não sendo possível, assim, sob pena de ineficácia do
Noções de Direito Processual Penal

tério Público. Isto porque o juiz fiscaliza a legalidade dos atos meio persecutó­rio, que a defesa tenha acesso, “à de-
efetivados no inquérito e o representante do Ministério Público cretação e às vicissitudes da execução de diligências
é o próprio destinatário dos atos de investigação, que irão em curso (HC nº 82.354/PR, Primeira Turma, Rel. Min.
formar a persuasão sobre o ajuizamento ou não da ação penal. Sepúlveda Pertence, DJ de 24/09/2004)”. (STJ, Quinta
De acordo com a recente orientação jurisprudencial do Turma, HC nº 58.377/RJ, DJe: 30/6/2008)
Supremo Tribunal Federal sobre a possibilidade de decretação
do sigilo do inquérito policial, não é possível a decretação Percebe‑se da leitura do julgado a necessidade de que
alcançando o advogado do investigado, por força do art. 5º, o advogado, para ter acesso aos autos, deva estar atuando
LXIII, da CF, e do art. 7º, XIV, da Lei nº 8.906/1994.22 Com efeito,
para o investigado. Entretanto, há julgados no sentido de que

21
Assunto cobrado na prova do Cespe/Sejus-ES/Agente Penitenciário/2009.

22
Assunto cobrado nas seguintes provas: Esaf/Procuradoria Geral do Distrito Fe- 23
Assunto cobrado na prova do Cespe/PC-RN/Delegado de Polícia Civil Substi-
deral/2007; NCE/Delegado da Polícia Civil do DF/2004; OAB‑RJ/30º Exame da tuto/2009.
Ordem; OAB‑RS/2º Exame de Ordem/2004; OAB‑RS/1º Exame de Ordem/2005 24
Funiversa/PC-DF/Delegado de Polícia/2009.
e Cespe/1º Exame da Ordem/2007 (Tocantins, Sergipe, Rio Grande do Norte, 25
FCC/DPE-SP/Questão 15/Item III/2012.
Rio de Janeiro, Piauí, Pernambuco, Paraíba, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, 26
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/TJ-PB/Juiz Substituto/Questão
Maranhão, Espírito Santo, Distrito Federal, Ceará, Bahia, Amazonas, Amapá, 54/Assertiva A/2011 e FGV/OAB/V/Questão 65/2011.
Alagoas, Acre). 27
Assunto cobrado na prova da FCC/DP‑MA/Defensor Público/2009.

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
é direito do advogado examinar em qualquer repar- do inquérito é servir de filtro processual e formar a opinio
tição policial, mesmo sem procuração nos autos de delicti da acusa­ção. A forma é a escrita. O motivo é a exis-
flagrante e de inquérito, findos ou em andamento, tência de um fato típico e não estar extinta a punibilidade.
ainda que conclusos à auto­ridade, podendo copiar O objeto são os atos de investigação.
peças e tomar apontamentos (art.  7º, XIV, da Lei Entretanto, a polícia judiciária exerce a função de inves-
nº 8.906/1994). tigação preliminar ao processo penal, sem exclusividade,
conforme adiante se verá quando forem abordados os
Entretanto, no mesmo julgado, ressaltou‑se, ao final, inquéritos extrapoliciais.

ao advogado que possui procuração nos autos e está Oficioso ou Obrigatório


no exercício da profissão, indispensável à administra- Nos crimes de ação pública, a instauração do inquérito
ção da justiça, não se pode impedir o acesso ao inqué- policial poderá ser feita de ofício.32
rito policial (RMS nº 20.719/RS, Min. Arnaldo Esteves A instauração do inquérito policial, nos crimes de ação
Lima, Quinta Turma, 24/4/2008, DJe 23/6/2008). penal pública incondicionada, é feita, de ofício, pela autori-
dade policial, que não depende de provocação do ofendido
Dessa forma, pode‑se entender que, quando o segredo ou de quem quer que seja, nos termos do art. 5º, I, do CPP.
das informações for imprescindível para as investigações, Referida característica deriva do princípio da legalidade, que
o  sigilo atingirá também o advogado, apenas se houver impõe à autoridade policial o dever, e não a faculdade, de
determinação judicial nesse sentido. determinar a instauração de inquérito policial sempre que
Em relação à retirada dos autos fora da secretaria do tomar conhecimento da ocorrência de infração penal de ação
juízo, o STJ entende que o direito do advogado de acesso penal pública incondicionada. Dessa forma, em se tratando
aos autos não é absoluto, pois, nos termos do Estatuto de crime de ação penal pública incondicionada, deve a
da Ordem dos Advogados do Brasil, o magistrado pode, autoridade policial instaurar o inquérito policial de ofício.33
de forma fundamentada, negar o pedido de vista fora do Nos crimes de ação penal pública incondicionada, nada
cartório, quando entender existir circunstância relevante impede que haja requerimento do ofendido. O requerimento
que justifique a permanência dos autos no cartório, como a da vítima pode servir para dar início ao inquérito policial
diversidade de réus e necessidade de juntada frequente de tanto nos crimes de ação penal pública incondicionada,
documentos de interesse de todas as partes (STJ, RMS nº quanto nos crimes de ação penal privada34. Desse modo,
20.100/SC, Min. Gilson Dipp, Quinta Turma, DJ 29/06/2007).28 pode ou não haver representação para a instauração de
O § 6º do art. 201 (nova redação dada pela Lei nº 11.690, inquérito nos crimes de ação penal pública incondicionada.
de 2008) determina, nesse sentido, que O mesmo não ocorre no caso de crimes de ação penal
pública condicionada e ação penal privada, em que a repre-
O juiz tomará as providências necessárias à preserva- sentação (ou requisição) e o requerimento, respectivamente,
ção da intimidade, vida privada, honra e imagem do são imprescindíveis para a instauração do inquérito policial.
ofendido, podendo, inclusive, determinar o segredo Assim, para que o delegado instaure o inquérito em
de justiça em relação aos dados, depoimentos e ou- crimes como o de ameaça (art. 147 do CP) ou o de lesões
tras informações constantes dos autos a seu respeito corporais leves (art. 129, caput, do CP), deve o ofendido ou
para evitar sua exposição aos meios de comunicação. seu representante legal oferecer representação na delega-
cia. Dessa forma, o inquérito, nos crimes em que a ação
De sua natureza eminentemente sigilosa, podem ser uti- pública depender de representação, não poderá sem ela
lizados em procedimento administrativo disciplinar, contra ser iniciado.35
outros servidores, cujos eventuais ilícitos administrativos No crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora
teriam despontado à colheita dessa prova29.
do Brasil, para a instauração de investigação no Brasil, é ne-
cessária a requisição do Ministro da Justiça (§ 3º do art. 7º
Autoritário ou oficial
do Código Penal).
O inquérito policial é presidido pela autoridade policial,
Nos casos de crimes de ação penal privada – exemplo:
ou seja, o  delegado de polícia, agente público dotado de
calúnia (art. 138 do CP), injúria (art. 139 do CP) e difamação
competência administrativa para tanto. É o que determina
o art. 4º do CPP: (art. 140 do CP) –, é necessário requerimento da vítima para
que se lavre uma portaria ou o auto de prisão em flagrante.
A polícia judiciária será exercida pelas autoridades Portanto, o requerimento, ou manifestação do ofendido,
policiais no território de suas respectivas circunscri- é indispensável para a instauração de inquérito policial vi-
ções e terá por fim a apuração das infrações penais sando apurar crime de ação penal exclusivamente privada.
Noções de Direito Processual Penal

e da sua autoria. Cabe lembrar que, em relação aos crimes que se proces-
sam mediante ação penal de iniciativa privada, é possível a
O inquérito policial não pode ser presidido por mem- prisão em flagrante, embora seja necessário requerimento
bro do Ministério Público ainda quando designado pelo da vítima para a lavratura do auto de prisão em flagrante
Procurador-Geral de Justiça, por ser a apuração do delito na delegacia.
for de interesse público.30 Se, em crime de ação penal privada, o ofendido formular
Não se deve confundir oficialidade com oficiosidade.31 requerimento para a abertura do inquérito, e o delegado de
O inquérito policial, embora seja peça meramente in- polícia, por despacho, indeferir o referido requerimento,
formativa, sujeita‑se aos requisitos do ato administrativo: caberá recurso ao chefe de polícia por parte do ofendido
competência, finalidade, forma, motivo e objeto. Não pode, (art. 5º, § 2º, do CPP). Aury Lopes (2008, p. 257) destaca que
assim, o auto de prisão em flagrante ser lavrado por escrivão,
mas apenas pelo delegado, autoridade policial. A finalidade FCC/TRE-PI/Analista Judiciário/2009.
32


33
Assunto cobrado nas seguintes provas: Vunesp/TJ-RJ/Questão 19/Assertiva
C/2012 e Cespe/PGE-PE/Procurador do Estado/Grupo II/2009.
28
Assunto cobrado: Cespe/DPE-ES/Defensor Público/2009.
34
OAB‑MS/81º Exame de Ordem/2005.
29
Assunto cobrado na prova do Cespe/PC-PB/Delegado de Polícia/2009.
35
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/TRE-AP/Analista Judiciário/
30
Assunto cobrado: FCC/DPE-MT/Defensor Público/2009. Área Administrativa/Questão 55/Assertiva C/2011; FGV/SSP‑RJ/Oficial de
31
Assunto cobrado na prova do Cespe/PC‑PB/Delegado de Polícia/2009. Cartório/2009 e Cespe/TRE‑GO/Analista Judiciário/Área Administrativa/2009.

14 Este eBook foi adquirido por ANA PAULA TORQUATO DA COSTA - CPF: 628.848.913-15.
A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
trata‑se de recurso inominado, de caráter adminis­trativo e delitos de lesão corporal simples significaria retirar
de pouca ou nehuma eficácia, sendo mais efetivo o questio- da vítima o direito de relacionar-se com o parceiro
namento da omissão via Mandado de Segurança. escolhido, ainda que considerado ofensor. (STJ; AgRg
O vício de consentimento do ofendido leva à nulidade nº REsp. nº 1.120.965 / MG; 6º Turma; Ministro OG
da representação deste mesmo ofendido, no instante em FERNANDES; DJe 31/5/2010)
que visa apurar crime de ação pública condicionada à
representação.36 Dispensável ou Facultativo
O inquérito policial é dispensável, já que o Ministério
Indisponível Público pode embasar seu pedido em peças de informação
Apenas o juiz poderá mandar arquivar os autos de in- que concretizem justa causa para a denúncia.43
quérito policial, sendo vedado tal ato ao delegado.37 Caso as informações obtidas por outros meios sejam
Em razão do princípio da indisponibilidade do inqué- suficientes para sustentar a inicial acusatória, o inquérito
rito policial, não pode este ser arquivado pela autoridade policial torna‑se dispensável.44
policial.38 (art. 17 do CPP). O inquérito policial é peça não imprescindível para o
Nem mesmo surgindo questões prejudiciais na fase oferecimento da denúncia ou queixa.45 Isso porque o art. 12
inquisitorial, como a anulação de um casamento na esfera do CPP determina que “o inquérito policial acompanhará a
cível devido a crime de bigamia, a autoridade policial não denúncia ou queixa, sempre que servir de base a uma ou
poderá suspender o inquérito policial.39 outra”.
O inquérito policial instaurado pela autoridade policial Assim, o titular da ação penal pode propor ação direta-
não pode ser por ela arquivado, ainda que não fique apu‑ mente com base em outras informações que não as do inqué-
rado quem foi o autor do delito.40 rito policial. O inquérito policial não é peça necessariamente
Decorre do princípio da indisponibilidade do processo a indispensável ao oferecimento de denúncia pelo Ministério
possibilidade do juiz discordar do pedido de arquivamento Público. Com efeito, em tema de investigação criminal,
do inquérito policial pleiteado pelo Ministério Público.41 o inquérito civil público é bastante a embasar persecução
O delegado não suspende nem arquiva as investigações. criminal judicial46. Assim, não é necessária a formalização
Entendendo a autoridade policial que o fato não constitui do procedimento criminal no próprio Ministério Público
crime, que já está extinta a punibilidade ou mesmo que não para o ajuizamento da denúncia.47 Por outro lado, pode o
há provas suficientes para o indiciamento, ela não poderá MP oferecer a denúncia antes de concluído e relatado o IP
determinar o arquivamento do inquérito policial, mas ape- pela autoridade policial.48
nas relatar o inquérito, destacando referida circunstância e Como exemplo, a mãe de Lívia foi atropelada em uma
submetendo à apreciação do magistrado.42 avenida à beira-mar. Inconformada pelo fato de o motorista
Nas hipóteses de crime de ação penal privada ou pública não ter prestado socorro à sua mãe, a filha investigou o
condicionada à representação, a  manifestação da vítima atropelamento por conta própria e descobriu o autor do
ainda durante o inquérito não permite ao delegado arquivar crime e as provas da materialidade do delito. Com base
as investigações, devendo a autoridade policial relatar o nessa situação hipotética, Lívia pode provocar a iniciativa
inquérito e encaminhar os autos ao juiz competente. do MP diretamente, fornecendo pessoalmente todas as
Referida assertiva ganha mais força em casos de vio- informações acerca do fato, sendo dispensável a instau‑
lência doméstica e familiar contra a mulher, o art. 16 da Lei ração de IP.49
nº 11.340/2006 determina que O inquérito não é indispensável para o ajuizamento da
ação penal. Entretanto, é indispensável que a ação venha
Nas ações penais públicas condicionadas à repre- acompanhada de justa causa, ou seja, elementos probató-
sentação da ofendida de que trata esta Lei, só será
rios mínimos a ensejar o início da fase judicial, sendo esses
admitida a renúncia à representação perante o juiz,
elementos de prova um inquérito policial, um inquérito
em audiência especialmente designada com tal fina-
administrativo de algum órgão público, uma representação
lidade, antes do recebimento da denúncia e ouvido
ou qualquer elemento de prova que caracterize, ainda que
o Ministério Público.
de forma superficial, a  materialidade do crime e indícios
suficientes de autoria.
Desta forma, se a vítima for à Delegacia se retratar, deve
Indícios é uma circunstância conhecida e comprovada
o delegado continuar as investigações, devendo, ao final das
que tem ligação com o fato probando no campo da prova
investigações, encaminhar os autos ao juiz.
A Terceira Seção do STJ no Direito Processual Penal.50

concluiu que, em sede de recurso submetido à siste- Funiversa/PC-DF/Delegado de Polícia/2009.


Noções de Direito Processual Penal

43

mática do art. 543-C do CPC, quando do julgamento 44


Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/OAB‑DF/2009; Cespe/OAB/
Exame de Ordem/2009 e Cespe/PGE-PE/Procurador do Estado/Grupo II/2009.
do Recurso Especial nº 1.097.042-DF, a Lei Maria 45
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/TJ‑DF/Oficial de Justiça Ava-
da Penha não alterou a natureza da ação penal por liador/1997; Cespe/TJ‑PE/Oficial de Justiça da 2ª Entrância/2001; Cespe/
crime de lesões corporais leves, que continua sendo TJ‑RR/Oficial de Justiça/2001; Procurador da República/2003; OAB‑PR/Exame
pública condicionada à representação da vítima. 03/2006; Cespe/TJ‑PA/Juiz Substituto/2001/2002; Cespe/Defensoria Pública
do Estado de Alagoas/Defensor Público de 1ª Classe/2003; TJ‑PI/Juiz Substitu-
No julgamento do aludido apelo, acentuou-se que to/2001; Cespe/Delegado da Polícia Civil de Roraima/2003; PC‑PR/Delegado
reconhecer a incondicionalidade da ação quanto aos de Polícia Civil/2007; Cespe/TJ‑PA/Analista Judiciário/Área Judiciária/2006;
Vunesp/TRF 3ª Região/Analista Judiciário/Área Judiciária/2002; OAB‑PR/Exa-
me 03/2006; OAB‑MS/81º Exame de Ordem/2005; OAB‑PR/Exame 03/2006;
36
Assunto cobrado nas seguintes provas: NCE/Delegado da Polícia Civil de 3ª OAB‑MS/80º Exame de Ordem/2004; OAB‑ES/2º Exame de Ordem/2004;
Classe do RJ/2002 e Cespe/PC‑PB/Delegado de Polícia/2009. OAB‑PR/3º Exame de Ordem/2004; Cespe/1º Exame da Ordem/2006 (Alagoas,
37
Assunto cobrado na prova da Movens/PC-PA/Delegado/2009. Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte,
38
Assunto cobrado nas seguintes provas: Promotor‑AP/2005; OAB‑Nordeste/1º Sergipe e Espírito Santo); Cespe/1º Exame da Ordem/2004 (Espírito Santo).
Exame de Ordem/2005; Cespe/PGE-PE/Procurador do Estado/Grupo II/2009 46
Assunto cobrado nas seguintes provas: Procurador da República/2003 e
e Funiversa/PC-DF/Delegado de Polícia/2009. MPDFT/28º Concurso/Promotor/2009.
39
Cespe/AGU/Advogado da União/2002. 47
Assunto cobrado na prova de Procurador da República/2003.
40
FCC/DPE-MT/Defensor Público/2009. 48
Asunto cobrado na seguinte prova: Cespe/PC‑PB/Delegado de Polícia/2009.
41
OAB‑MG/2º Exame de Ordem/2003. 49
Cespe/PC-RN/Escrivão de Polícia Civil Substituto/2009.
42
Assunto cobrado na prova do Cespe/OAB/Exame de Ordem/2009. 50
Fumarc/DPE-MG/Defensor Público/2009.

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Valor Probatório prova produzida em contraditório judicial, não podendo
fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos
As provas colhidas no inquérito policial não podem informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas
servir como fundamento único para a sentença penal con- cautelares, não repetíveis e antecipadas. Arremata Rangel
denatória, pois aquele, como procedimento administrativo (2009, p. 76) que
inquisitório, não é regido pelo princípio do contraditório e
da ampla defesa.51 a lei veda, expressamente, que o juiz condene o réu
A decisão judicial pode se fundamentar no inquérito com base apensa nas provas (rectius = informações)
policial desde que não exclusivamente.52 colhidas durante a fase do inquérito policial, sem
Evidencia Lopes Júnior (2003, p. 131) o reduzido valor que elas sejam corroboradas no curso do processo
probatório do inquérito policial, ponderando que os atos ali judicial, sob o crivo do contraditório, pois a ‘instrução’
realizados são meros atos de investigação, produzidos pela policial ocorreu sem a cooperação do indiciado e,
autoridade policial, e não atos de prova, produzidos perante portanto, inquisitorialmente.
o juiz na fase judicial. Sobre a diferenciação entre essas duas
categorias de atos destaca: Vícios ou Irregularidade

Sobre os atos de prova, podemos afirmar que: Vícios formais verificados no inquérito policial não
a) Estão dirigidos a convencer o juiz da verdade de ensejam a nulidade da respectiva ação penal.53
uma afirmação; O STF entende que as nulidades processuais concernem,
b) Estão a serviço do processo e integram o processo tão somente, aos defeitos de ordem jurídica que afetam os
penal; atos praticados ao longo da ação penal condenatória, sendo
c) Dirigem‑se a formar um juízo de certeza – tutela que o inquérito constitui peça informativa e que eventuais
de segurança; vícios nele existentes não contaminam a ação penal. Debateu
d) Servem à sentença; a Corte Suprema questão interessante, no sentido de saber se
e) Exigem estrita observância da publicidade, contra- a delação dos corréus, retratada em juízo, poderia amparar
dição e imediação; a condenação do paciente. O  STF admite a invocação da
f) São praticados ante o juiz que julgará o processo. delação, desde que não seja o motivo exclusivo da conde-
Substancialmente distintos, os atos de investigação nação. Se as delações feitas na fase policial forem retratadas
(instrução preliminar): em juízo, onde não se produziu outra prova conclusiva que
a) Não se referem a uma afirmação, mas a uma pudesse implicar a responsabilidade penal do paciente,
hipótese; impõe‑se a absolvição. (STF, Primeira Turma, HC nº 94.034/
b) Estão a serviço da instrução preliminar, isto é, da SP, Rel. Min. Cármen Lúcia, 10/6/2008, Inf. nº 510)
fase pré‑processual e para o cumprimento de seus Assim, irregularidades verificadas no inquérito policial a
objetivos; ele se resumem. Por exemplo, o auto de prisão em flagrante
c) Servem para formar um juízo de probabilidade, presidido, lavrado e assinado por um escrivão de polícia
e não de certeza; perde completamente o seu caráter coercitivo, visto que
d) Não exigem estrita observância da publicidade, o inquérito policial, apesar de ser uma peça meramente
contradição e imediação, pois podem ser restringidas; informativa, se sujeita aos requisitos do ato administrati-
e) Servem para a formação da opinio delicti do vo.54 Referida nulidade não impede que o Ministério Público
acusador; ajuíze denúncia com base em outros elementos de prova.
f) Não estão destinados à sentença, mas a demons- As irregularidades verificadas no inquérito têm o condão
trar a probabilidade do fumus commissi delicti para de diminuir-lhe o valor probatório.
justificar o processo (recebimento da ação penal) ou As irregularidades ocorridas no inquérito policial não
o não processo (arquivamento); repercutem na validade do processo penal quando a conde-
g) Também servem de fundamento para decisões nação se apoia em elementos de provas colhidos em juízo.55
interlocutórias de imputação (indiciamento) e ado- Eventuais vícios do inquérito policial não contaminam o
ção de medidas cautelares pessoais, reais ou outras acervo probatório arrecadado na fase judicial sob o crivo
restrições de caráter provisional; do contraditório, sendo, portanto, prematura a aplicação da
h) Podem ser praticados pelo Ministério Público ou teoria dos frutos da árvore envenenada nessa fase.56 Os ví‑
pela Polícia Judiciária. cios ocorridos no curso do inquérito policial, em regra, não
repercutem na futura ação penal, ensejando, apenas, a nu‑
Dessa forma, as  provas colhidas no inquérito policial lidade da peça informativa, salvo quando houver violações
devem ser renovadas em juízo não sendo provas absolutas. de garantias constitucionais e legais expressas e nos casos
Com relação a provas que não podem ser renovadas em juízo, em que o órgão ministerial, na formação da opinio delicti,
Noções de Direito Processual Penal

o contraditório será feito de forma diferida. não consiga afastar os elementos informativos maculados
Especificamente em relação à prova pericial, Rangel
para persecução penal em juízo, ocorrendo, desse modo, a
(2009, p. 74) destaca que

o exame de corpo de delito, prova dita não renovável,


53
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑PR/Exame 03/2006; OAB‑ES/2º
é realizado nos estritos limites dos arts. 158 e seguin- Exame de Ordem/2004; Cespe/1º Exame da Ordem/2006 (Alagoas, Bahia,
Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Sergipe
tes do CPP (princípio da legalidade) e, portanto, até e Espírito Santo); Cespe/TRF 5ª Região/Juiz Federal Substituto/2006; Delegado
que se prove em contrário, é presumido legítimo, de Polícia Substituto de Santa Catarina/2001; Delegado da Polícia Civil de
pois elaborado por agente público (perito criminal) São Paulo/2002; FCC/TRE‑PB/Analista Judiciário/Área Administrativa/2007;
Cespe/1º Exame da Ordem/2004 (Espírito Santo); Cespe/TJ‑PA/Analista Ju-
investido das atribuições legais inerentes ao cargo. diciário/Área Judiciária/2006; OAB‑MS/79º Exame de Ordem/2004; Cespe/
TJ‑DF/Oficial de Justiça Avaliador/1997; Cespe/TJ‑RR/Oficial de Justiça/2001;
O entendimento contido no art. 155 do CPP arremata Procurador da República/2003; Promotor‑DF/2002; OAB‑MG/1º Exame de
que o juiz formará sua convicção pela livre apreciação da Ordem/2005.

54
Assunto cobrado na prova do Cespe/Defensoria Pública do Estado de Sergipe/
Defensor Público de 2º Categoria/2005.

51
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑RS/1º Exame de Ordem/2005;
55
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/TJ‑PA/Juiz Substituto/2001/2002
Cespe/TRE‑TO/Analista Judiciário/2004-2005/Área Administrativa. e Cespe/PC‑PB/Delegado de Polícia/2009.

52
Assunto cobrado: Cespe/PGE-PE/Procurador do Estado/Grupo II/2009.
56
Cespe/TSE/Analista Judiciário/Área Judiciária/2007.

16 Este eBook foi adquirido por ANA PAULA TORQUATO DA COSTA - CPF: 628.848.913-15.
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extensão da nulidade à eventual ação penal.57 No entanto, Entretanto, as diligências feitas em circunscrição diversa
se o inquérito policial for lastreado, unicamente, em busca da autoridade investigante podem também ser efetivadas
e apreensão considerada ilegal, aplicar‑se‑á a doutrina do por meio de carta precatória.
fruits of the poisonous tree.58 Por outro lado, também com Por outro lado, a investigação feita por autoridade policial
base no entendimento do STF, se o ip for instaurado com sem atribuição específica não gera a nulidade do processo
base em apreensão ilícita de documentos, o eventual vício penal.
na primeira apreensão não contaminará a segunda, se esta Capez (2005, p. 69), ressaltando não existir o princípio do
for precedida de autorização judicial. Assim, não caberá o delegado natural, entendido este como o delegado previa-
trancamento do inquérito.59 mente investido para apurar os fatos, destaca que
Em recente orientação jurisprudencial, o  STF entendeu
que o poder jurídico que as partes têm de requerer e produ- não obstante as disposições sobre a competência das
zir provas que julguem necessárias à apuração da verdade autoridades policiais, tem‑se entendido que a falta de
encontra limite intransponível no seu eventual caráter ilícito, atribuição destas não invalida os seus atos, ainda que
repudiado pela Constituição (art. 5º, LVI). (STF, Segunda Turma, se trate de prisão em flagrante, pois, não exercendo
HC nº 82.862/SP, Rel. Min. Cezar Peluso, 19/2/2008, Inf. nº 495) a Polícia atividade jurisdicional, não se submete ela
As provas ilícitas eventualmente obtidas no inquérito não à competência jurisdicional ratione loci.
contaminam as obtidas na fase judicial que com aquelas não
guarde qualquer relação. Repercutindo no território de sua atribuição, a  auto-
O privilégio contra a autoincriminação (nemo tenetur se ridade policial de uma circunscrição pode investigar fatos
detegere), erigido em garantia fundamental pela Constitui‑ criminosos praticados em outra, sem ocasionar a nulidade
ção, além da inconstitucionalidade superveniente da parte da ação penal.63
final do art. 186 do CPP, importou compelir o inquiridor, A incompetência da autoridade policial não anula as
na polícia ou em juízo, ao dever de advertir o interrogado investigações realizadas, podendo gerar apenas reflexos
do seu direito ao silêncio. A falta da advertência, e da sua de ilegalidade na prisão.64
documentação formal, faz ilícita a prova.60 Considere que o delegado de polícia de determinada
O custodiado tem o direito de ficar em silêncio quando circunscrição tenha ordenado diligências em outra, sem
de seu interrogatório policial, e deve ser informado pela ter expedido carta precatória, requisições ou solicitações.
própria polícia, antes de falar, que tem direito de comuni- Nessa situação, não há nulidade no inquérito policial res-
car‑se com seu advogado ou com seus familiares. pectivo.65
Na oitiva do indiciado, no interrogatório policial, o ter- Entretanto, gera constrangimento ilegal a instauração,
mo respectivo deve conter a assinatura de duas testemu- em paralelo, pela autoridade policial estadual, de inquérito
nhas que lhe tenham ouvido a leitura.61 sobre crimes de competência da Justiça Federal, já objetos
Entretanto, se, na fase policial, o delegado não assegurar de investigação em inquérito da Polícia Federal.66
o direito ao silêncio, isso, por si só, não anulará o processo Nesse sentido, o STF entende que não se aplica às ativi-
judicial, que for pautado em outros elementos probatórios dades de polícia judiciária a determinação contida no art. 5º,
lícitos não decorrentes da confissão obtida na fase policial. LIII, da CF/1988, pois

Área de Exercício das Atribuições ao expressar que a polícia judiciária é exercida pelas
autoridades policiais no território de suas respectivas
O art. 4º do CPP estabelece que jurisdições (rectius: circunscrição), o art. 4º do Código
de Processo Penal não impede que autoridade policial
a polícia judiciária será exercida pelas autoridades de uma circunscrição (estados ou municípios) investi-
policiais no território de suas respectivas circunscri- gue os fatos criminosos que, praticados noutra, hajam
ções e terá por fim a apuração das infrações penais repercutido na de sua competência. (STF, Primeira
e da sua autoria. Turma, HC nº 54.933/SP, 14/12/1976, DJ: 4/3/1977)

A polícia investiga o crime cometido dentro dos limites Isso por serem os atos de investigação inquisitórios.
de suas circunscrições, salvo a existência de delegacias espe-
cializadas, como a de repressão a tráfico de drogas, roubos Instauração
e furtos, de crimes de violência doméstica etc.
A polícia atua no local onde exerce suas atribuições. O inquérito policial pode se iniciar apenas de duas formas.
Entretanto, no Distrito Federal e nas comarcas em que Ou se inicia com a apresentação, na delegacia, de alguém
houver mais de uma circunscrição policial, o art. 22 do CPP preso em flagrante delito ou, então, após o conhecimento
pela autoridade policial da eventual prática de um crime.
Noções de Direito Processual Penal

determina que
A notícia de crime levada ou que chega ao conhecimento da
A autoridade com exercício em uma delas poderá, autoridade policial é chamada de notitia criminis. A notitia
nos inquéritos a que esteja procedendo, ordenar criminis é o conhecimento, espontâneo ou provocado, pela
diligências em circunscrição de outra, independen- autoridade policial de um fato aparentemente criminoso.67
temente de precatórias ou requisições, e bem assim A notitia criminis pode chegar ao conhecimento da
providenciará, até que compareça a autoridade autoridade policial através da prisão em flagrante.68
competente, sobre qualquer fato que ocorra em
sua presença, noutra circunscrição.62 63
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/TJ‑RR/Oficial de Justiça/2001;
Delegado de Polícia Substituto de Santa Catarina/2001.
57
Cespe/TRF 1ª Região/Juiz Federal Substituto/Questão 22/Assertiva B/2012. 64
TRF 4ª Região/Juiz Federal Substituto/2005.
58
Assunto cobrado na prova de Procurador da República/2003. 65
Asunto cobrado na seguinte prova: Cespe/Delegado Federal/2004.
59
Cespe/TJ‑AC/Juiz de Direito Substituto/2007. 66
Assunto cobrado na seguinte prova: Delegado de Polícia Substituto de Santa
60
Esaf/Procuradoria Geral do Distrito Federal/Procurador do Distrito Fe­ Catarina/2001.
deral/2007. 67
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/TRT 1ª Região/Técnico Judiciário/
61
Assunto cobrado nas seguintes provas: ACP/Delegado da Polícia Civil de São Segurança/Questão 38/Assertiva A/2011 e FCC/TRT 1ª Região/Técnico Judi-
Paulo/2002 e Acadepol/SP/Delegado de Polícia de São Paulo/2003. ciário/Segurança/Questão 38/Assertiva E/2011.
62
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/TJ-PB/Juiz Substituto/Questão 54/ 68
Asunto cobrado na seguinte prova: FCC/TRT 1ª Região/Técnico Judiciário/
Assertiva B/2011. Segurança/Questão 38/Assertiva B/2011.

Este eBook foi adquirido por ANA PAULA TORQUATO DA COSTA - CPF: 628.848.913-15. 17
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No caso de ser apresentado alguém preso em flagrante, Espécies de Notitia Criminis
lavra‑se o auto de prisão em flagrante, cujas formalidades
estão descritas nos termos dos arts. 301 a 310 do CPP, que Tem‑se as seguintes espécies de notitia criminis:
serão oportunamente abordados. a) de cognição direta ou imediata (espontânea ou não
Se não houve prisão em flagrante, mas chegou ao conheci- qualificada) – A notitia criminis é classificada como direta
mento da autoridade policial, por qualquer forma, a notícia da ou indireta.76 A direta ocorre quando a autoridade policial,
prática de uma possível infração penal (notitia criminis), deve por exemplo, toma conhecimento de algum crime por meio
o inquérito policial se iniciar por peça denominada portaria. de jornal ou mesmo quando está em diligências policiais.
Assim, havendo prisão em flagrante, não haverá necessidade Notitia criminis de cognição direta, imediata ou es-
de instauração do inquérito policial mediante portaria. pontânea é aquela em que o conhecimento da infração
A portaria, documento hábil a instaurar inquérito policial, penal pelo destinatário ocorre direta e imediatamente
será editada apenas pelo delegado de polícia, não podendo pela autoridade policial, no exercício de sua atividade
ser suprida pelo Boletim de Ocorrência ou pelo Boletim de funcional.77 Portanto, não é considerada notitia criminis
Acidente de Trânsito.69 Portanto, o inquérito policial deve espontânea quando o autor do delito, espontaneamente,
ser instaurado através de portaria e encerrado mediante comparece perante as autoridades policiais e confessa o
relatório da autoridade policial.70 crime, logo após o seu cometimento, indicando ou não as
Ressalte‑se que na doutrina, citam-se várias formas de se
provas; nem aquela em que o conhecimento da infração
iniciar o inquérito policial: a) portaria; b) auto de prisão em
flagrante; c) requerimento do ofendido ou de seu represen- penal pelo destinatário ocorre por comunicação formal
tante legal; d) requisição do juiz; e) requisição do Ministério da vítima que, espontaneamente, comparece perante as
Público; f) representação do ofendido ou seu representante autoridades policiais e noticia o delito; bem como quando
legal; g) requisição do Ministro da Justiça. o conhecimento da infração penal pelo destinatário ocorre
Entendemos, no entanto, que só há duas peças inaugurais por comunicação formal do Ministério Público ou do juiz de
do inquérito policial: o auto de prisão em flagrante e a portaria. direito que determina a instauração de inquérito policial.78
Nos casos de requerimento, representação ou requisição, b) de cognição indireta ou mediata (provocada ou
o delegado, com base, em tais peças, terá de formalizar a qualificada)  – Verifica‑se quando há comunicação formal
portaria para se iniciar o inquérito. Referida distinção não é (documento de autoridade pública, representação ou re-
feita pela maioria da doutrina. Pacheco (2006, p. 144), em- querimento, por exemplo) ou mesmo pela figura de um
bora destaque haver várias formas de se iniciar o inquérito, interlocutor.
assevera que Qualquer pessoa do povo que tomar conhecimento de
um crime pode comunicá-lo à autoridade policial.79
nada impede – e é até recomendável – que a primeira Sobre o inquérito policial, a pessoa que tiver conheci-
peça seja sempre a portaria da autoridade policial mento da existência de infração penal em que caiba ação
determinando a instauração do inquérito, na qual
constará, obviamente, se está sendo de ofício, por pública poderá, verbalmente ou por escrito, comunicá-la à
requisição do Ministério Público etc. autoridade policial.80
Quando o interlocutor, seja qualquer do povo, uma tes-
Isso guarda total consonância com a prática verificada temunha, a vítima ou mesmo o próprio autor dos fatos, leva
em sede policial. ao conhecimento da autoridade policial, de forma verbal ou
O boletim policial não é documento hábil à comprova‑ escrita, a notitia criminis, tem‑se a chamada delatio criminis.
ção da efetiva ocorrência de fato nele narrado.71 A delatio criminis efetivada por testemunha somente
Se ocorrer prisão em flagrante, não haverá necessidade autorizará a instauração do inquérito policial nos crimes
de instauração do inquérito policial mediante portaria, pois de ação penal pública incondicionada.81 A comunicação de
o que dará início ao inquérito é o próprio auto de prisão crimes efetivada por testemunha, ou mesmo por pessoa
em flagrante.72 Portanto, não é correto dizer que o inquérito estranha aos fatos, é chamada de notitia criminis “popular”
inicia‑se, em qualquer hipótese, pela portaria.73 e somente autorizará a instauração do inquérito policial nos
Mas se dois investigadores policiais, quando do cumpri- crimes de ação penal pública incondicionada, uma vez que
mento de mandado de prisão, necessitaram utilizar‑se de nos demais casos a atuação da vítima é condição sine qua
meios para se defender de violência praticada pelo sujeito
non para a instauração do inquérito policial.
a ser capturado e, ao final do procedimento, o preso apre-
sentou algumas lesões corporais compatíveis com os atos O art. 5º do CPP estabelece que, nos crimes de ação
praticados pelos policiais para sua defesa durante o estrito pública, o inquérito policial será iniciado de ofício, pela auto-
cumprimento de dever legal, ao tomar conhecimento do ridade policial, podendo o delegado ser instigado a instaurar
fato, a autoridade policial deverá lavrar o auto de resistên- o inquérito mediante requisição da autoridade judiciária,
do Ministério Público ou a requerimento do ofendido ou de
Noções de Direito Processual Penal

cia à prisão, e não auto de prisão em flagrante contra os


policiais ou termo de compromisso.74 quem tiver qualidade para representá‑lo. O § 5º do referido
Obs.: Contra eventuais infrações penais praticadas por artigo complementa estabelecendo que, nos crimes de ação
gestores públicos cujos atos e contas estejam submetidos privada, a autoridade policial somente poderá proceder a
à apreciação do TCU, nos termos do atual entendimento inquérito a requerimento de quem tenha qualidade para
dos tribunais superiores, poderá ser instaurado inquérito intentá‑la.82
policial ou deflagrada a persecução penal em juízo ainda
que não encerrada a via administrativa.75 76
Promotor/2005.
77
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/Procuradoria Geral do Estado do
69
Assunto cobrado na seguinte prova: Delegado de Polícia Substituto de Santa Maranhão/Procurador do Estado – 3ª Classe/2003; Cespe/Tribunal de Justiça
Catarina/2001. do Estado de Roraima/Técnico Judiciário/2006.
70
Assunto cobrado na seguinte prova: FCC/TRF 4ª Região/Analista Judiciário/ 78
Assunto cobrado na seguinte prova: FCC/Procuradoria Geral do Estado do
Área Judiciária/2007. Maranhão/Procurador do Estado – 3ª Classe/2003.
71
TJDFT/Juiz de Direito Substituto/2007. 79
Assunto cobrado na prova do MPDFT/28º Concurso/Promotor/2009.
72
Assunto cobrado na prova da NCE/Delegado da Polícia Civil do DF/2004. 80
Assunto cobrado na seguinte prova: FCC/Procuradoria Geral do Estado do
73
Assunto cobrado na seguinte prova: Ipad/PC‑PE/Perito Criminal/2006. Maranhão/Procurador do Estado – 3ª Classe/2003.
74
Assunto cobrado na prova do Cesgranrio/PC‑RJ/Investigador Policial/2006. 81
Assunto cobrado na seguinte prova: NCE/Delegado da Polícia Civil do DF/2004.
75
Assunto cobrado na prova do Cespe/TRF 1ª Região/Juiz Federal Substituto/ 82
Assunto cobrado nas seguintes provas: Vunesp/TJ-RJ/Questão 19/Assertiva
Questão 23/Assertiva A/2011. B/2012 e Consulplan/Sejus-RN/Agente Penitenciário/2009.

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
Acrescente‑se que qualquer pessoa do povo que tiver persecução e, diante dessa hipótese, a autoridade policial
conhecimento da existência de infração penal em que verifique que não houve infração penal, mesmo assim
caiba ação pública poderá, verbalmente ou por escrito, estará obrigada a atender tal requisição e, ao seguir tal pro-
comunicá‑la à autoridade policial para que seja instaurado cedimento, não responderá pelo constrangimento ilegal.88
inquérito83. É o que estabelece § 3º do art. 5º do CPP. Desta forma, a polícia judiciária não tem total autonomia
Nos crimes de ação pública incondicionada, qualquer em relação ao MP.89
pessoa – ainda que não seja vítima, ou esteja envolvida no Sendo o crime de ação penal pública incondicionada, se
crime – pode ser autora de notitia criminis, provocando a o promotor de justiça com atribuições para tanto requisitar
iniciativa da autoridade policial ou do Ministério Público. a instauração do IP, a autoridade policial não pode deixar
Não se trata de obrigação e sim de faculdade da pessoa de de instaurá‑lo, ainda se entender descabida a investigação,
oferecer uma delatio criminis. Isso porque não vigora no Bra- ante a presença de causa excludente de antijuridicidade.90
sil a regra geral da notícia crime obrigatória.84 Dessa forma, A requisição de inquérito por parte de magistrado tem
pessoa que toma conhecimento do crime não é obrigada a sofrido críticas, em face do princípio do processo penal
levar o conhecimento dos fatos à autoridade policial. acusatório e da imparcialidade do magistrado. Oliveira (2008,
Já a delatio criminis feita pela vítima ou mesmo pelo autor p. 45) destaca que
dos fatos é chamada de “postulatória”. A representação ou o
requerimento do ofendido, dessa forma, constituem notícia hoje, com a afirmação da privatividade da ação penal
crime qualificada85. O mesmo se diga do autor dos fatos que pública para o Ministério Público, pensamos ser ab-
se apresenta espontaneamente perante a autoridade policial. solutamente inadmissível a requisição de inquérito
Como não pode ser preso em flagrante, o inquérito policial policial pela autoridade judiciária.
será instaurado mediante portaria.
c) de cognição coercitiva ou obrigatória – Ocorre quando Não somos partidários da corrente que denomina noti-
a autoridade policial recebe requisição do juiz, do Ministério tia criminis de cognição coercitiva a hipótese de prisão em
Público (5º, II, do CPP) ou mesmo do Ministro da Justiça flagrante (CAPEZ, 2005, p. 78). Ora, como visto, se há prisão
(arts. 7º, § 3º, b, e 141, I, c/c art. 145, parágrafo único, do em flagrante, não há que se falar em notícia de crime, mas
Código Penal). Nesses casos, a autoridade policial, ainda que sim do próprio flagrante, que será materializado por meio da
entenda não haver crime, deve instaurar o inquérito por lavratura do competente auto de prisão e não de portaria.
meio de portaria. Se a autoridade policial desatende, pode
incorrer em infração administrativa ou mesmo no delito de d) “anônima” ou delação apócrifa – Ocorre quando o
prevaricação. interlocutor não se identifica ou mesmo envia à autoridade
Duclerc (2008, p. 98/99) ressalta que policial um documento sem assinatura, ou seja, apócrifo.
No que se refere à notitia criminis anônima, ou apócrifa,
parece clara a possibilidade de responsabilização que não identifica o delator, embora seja corrente sua ocor-
da autoridade policial, e até mesmo sua prisão em rência por meio dos “Disque‑Denúncias”, o STF não vinha
flagrante pelo crime de prevaricação, previsto no admitindo instauração de inquérito com base em documento
art.  319 do CP, mas a grande dificuldade, nesses sem identificação de autor. Vejamos jurisprudência noticiada
casos, é fazer a prova de que o delegado deixou de em informativo daquela Corte:
atender à requisição... para satisfazer interesse ou
sentimento pessoal... Por essa razão, alguns autores Em recente orientação jurisprudencial do STF foi
pretendem enquadrar a conduta omissiva do agente deferido habeas corpus para trancar, por falta de
na hipótese genérica do art. 330 do CP, que prevê o justa causa, notícia‑crime, instaurada no STJ com base
crime de desobediência e não exige qualquer elemen- unicamente em denúncia anônima. Entendeu‑se que
to subjetivo para a configuração do tipo. O problema, a instauração de procedimento criminal originada
aqui, é que o crime de desobediência está capitulado apenas em documento apócrifo seria contrária à or-
como crime praticado pelo particular contra a admi- dem jurídica constitucional, que veda expressamente
nistração pública, o que elimina a possibilidade de o anonimato. Salientando‑se a necessidade de se
ser praticado por funcionário público. preservar a dignidade da pessoa humana, afirmou‑se
que o acolhimento da delação anônima permitiria
Segundo o STJ, a recusa da autoridade policial em cum- a prática do denuncismo inescrupuloso, voltado
prir requisição judicial relativa a cumprimento de diligências a prejudicar desafetos, impossibilitando eventual
não configura o crime de desobediência86. indenização por danos morais ou materiais, o que
É certo que o delegado, para instaurar inquérito policial, ofenderia os princípios consagrados nos incisos V e
Noções de Direito Processual Penal

deve verificar hipótese de justa causa. Entretanto, hipóteses X do art. 5º da CF. Ressaltou‑se, ainda, a existência
de justa causa são as requisições do juiz e do representante da Resolução nº 290/2004, que criou a Ouvidoria do
do Ministério Público. Como decorrência, incumbirá também STF, cujo inciso II do art. 4º impede o recebimento de
à autoridade policial realizar as diligências requisitadas por reclamações, críticas ou denúncias anônimas. O Min.
juiz ou pelo Ministério Público, ainda que desnecessárias à Sepúlveda Pertence, com ressalvas no tocante à tese
elucidação do crime, bem como cumprir os mandados de de imprestabilidade abstrata de toda e qualquer
prisão expedidos pelas autoridades judiciárias.87 notícia‑crime anônima, asseverou que, no caso,
Portanto, caso um promotor de justiça requisite a os vícios da inicial seriam de duas ordens: a vagueza
instauração de inquérito policial sem fundamento para a da própria notícia anônima e a ausência de base
empírica mínima. (Primeira Turma, HC nº 84.827/
83
PC‑PR/Delegado de Polícia Civil/2007. TO, Rel. Min. Marco Aurélio, Inf. nº 475)
84
Assunto cobrado na prova do NCE/Delegado da Polícia Civil de 3ª Classe do
RJ/2002.
85
Assunto cobrado na prova do NCE/Delegado da Polícia Civil de 3ª Classe do
88
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/Ministério Público do Estado de
RJ/2002. Tocantins/Analista Ministerial/Especialidade: Ciências Jurídicas/2006.

86
Assunto cobrado: Cespe/DPU/Defensor Público Federal/2010/Questão 74.
89
Assunto cobrado: Cespe/PGE-PE/Procurador do Estado/Grupo II/2009.

87
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/TJ‑DF/Oficial de Justiça Avalia-
90
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/PC‑PB/Delegado de Polícia/2009
dor/1997 e Esaf/Promotor‑CE/2001. e MPDFT/28º Concurso para Promotor/2009.

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Referida orientação é por demais abrangente, sendo de Para viabilizar a responsabilização criminal, admite-se
perfeita aplicação às hipótese de ajuizamento de ação penal a notitia criminis anônima.93
e não de instauração de inquérito.
O inquérito policial serve como filtro processual e, na Justa Causa para a Instauração do Inquérito Policial
realidade pátria, em que o Estado não consegue dar uma
digna proteção às testemunhas ou a seus familiares, exigir O inquérito policial não deve ser instaurado se a au-
que se identifiquem a fim de que se instaure o inquérito toridade policial verificar que não há justa causa para o
policial é providência desnecessária e não recomendável. procedimento, como, por exemplo, se o fato denunciado for
Oliveira (2008, p. 44), nesse sentido, destaca que atípico ou quando a punibilidade já estiver extinta94. Nesse
sentido, o delegado de polícia poderá indeferir requerimen-
a chamada delação anônima, com efeito, não pode to do ofendido para o início do inquérito policial.95 E, do
ser submetida a critérios rígidos e abstratos de inter- despacho da autoridade policial que indeferir o pedido de
pretação. O único dado objetivo que se pode extrair abertura de inquérito policial, caberá recurso ao chefe de
dela é a vedação à instauração de ação penal, com polícia.96 É o que determina o § 2º do art. 5º do CPP.
base, unicamente, em documento apócrifo. Se a autoridade policial concluir que o fato apurado no
inquérito não constitui crime, não deverá abrir inquérito
Em interpretação mais branda, há entendimento do policial contra a pessoa que deu início à investigação poli-
Pleno do STF, que rejeitou questão de ordem suscitada pelo cial.97. Para a instauração de inquérito policial é necessário
que tenha ocorrido um fato típico. Não se instaura inquérito
Ministro Marco Aurélio, que discutia a validade da notitia
para apurar adultério, dívidas ou mesmo furto de uso, hipó-
criminis anônima para deflagrar procedimento de investi-
teses que não são tipificadas pela nossa legislação penal.
gação. O Ministro Celso de Melo, em abordagem coerente Interessante questão surge quando da instauração
do tema, destacou que: de inquérito policial nas hipóteses de crimes tributários.
Entende‑se que a circunstância de não conclusão do pro-
a) os escritos anônimos não podem justificar, só cedimento administrativo fiscal visando à constituição do
por si, desde que isoladamente considerados, a crédito tributário não impede a investigação policial e a
imediata instauração da persecutio criminis, eis que instauração de inquérito policial do crime contra a ordem
peças apócrifas não podem ser incorporadas, formal- tributária sobre o mesmo fato.98
mente, ao processo, salvo quando tais documentos Entretanto, o STJ entende que
forem produzidos pelo acusado, ou, ainda, quando
constituírem, eles próprios, o corpo de delito (como antes de constituído definitivamente o crédito tribu-
sucede com bilhetes de resgate no delito de extorsão tário, não há justa causa para a instauração de inqué-
mediante sequestro, ou como ocorre com cartas rito policial com base no art. 1º da Lei nº 8.137/1990,
que evidenciem a prática de crimes contra a honra, tendo em vista que os delitos ali tipificados são ma-
ou que corporifiquem o delito de ameaça ou que teriais ou de resultado, isto é, somente se consumam
materializem o crimen falsi, p. ex); com a ocorrência concreta do resultado previsto
b) nada impede, contudo, que o Poder Público, pro- abstratamente (redução ou elisão do tributo) (...)
vocado por delação anônima (‘disque-denúncia’, p. Tendo em vista que somente a Autoridade Fiscal pode
ex.), adote medidas informais destinadas a apurar, realizar o lançamento tributário, impõe‑se concluir
previamente, em averiguação sumária, ‘com pru- que o trâmite de IPL em matéria tributária, quando
dência e discrição’, a possível ocorrência de eventual ainda pendente a exigibilidade de crédito, constitui
situação de ilicitude penal, desde que o faça com o algo desnecessário ou mesmo incabível, já que à
objetivo de conferir a verossimilhança dos fatos nela Autoridade Policial não compete realizar atividade
denunciados, em ordem a promover, então, em caso alguma, no que tange à apuração de créditos tribu-
positivo, a formal instauração da persecutio criminis, tários. (STJ, Quinta Turma, RHC nº 22.300/RJ, Min.
mantendo-se, assim, completa desvinculação desse Napoleão Nunes Maia Filho, DJe: 5/5/2008)
procedimento estatal com relação às peças apócri-
fas (STF, Inq. nº 1.957/PR, Rel. Min. Carlos Velloso, O inquérito policial é passível de trancamento por meio
Tribunal Pleno, Julgamento: 11/5/2005). de habeas corpus quando o fato investigado não for crime.99
O mesmo se diga nas hipóteses de já se encontrar extinta
Por isso, se a autoridade policial receber uma notitia a punibilidade, haver coisa julgada ou litispendência sobre
criminis anônima imputando a um indivíduo a prática os fatos a serem apurados, ou mesmo se faltar alguma das
de algum crime, apesar do princípio da obrigatoriedade, condições de procedibilidade.
Noções de Direito Processual Penal

Thiago Pierobom (2009, p. 173) acrescenta que


caberá à autoridade policial preliminarmente proceder
com cautela às investigações preliminares, no sentido de
Não impedem a instauração do inquérito policial o
apurar a verossimilhança das informações recebidas, para,
desconhecimento da autoria ou a circunstância de
havendo indícios da ocorrência dos ilícitos penais, instaurar
o procedimento regular.91

93
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/TJ-BA/Questão 18/Assertiva
O STJ destaca não haver “impedimento de que o A/2012 e Cespe/Sejus-ES/Agente Penitenciário/2009.
inquérito policial tenha se iniciado após denúncias
94
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/TJ‑AP/Analista Judiciá­rio/Área
anônimas”. (STJ, Sexta Turma, HC nº 97.212/PE, Min. Jane Sil- Judiciária/2003/2004.

95
Assunto cobrado na prova da NCE/Delegado da Polícia Civil do DF/2004.
va [desembargadora convocada do TJ‑MG], DJe: 30/6/2008)
96
Assunto cobrado nas seguintes provas: Vunesp/TJ-RJ/Questão 19/Assertiva
Assim, a jurisprudência do STJ admite a possibilidade de D/2012; FGV/OAB/IV Exame Unificado//Questão 69/Assertiva B/2011; FCC/
instauração de procedimento investigativo com base em TRE-AP/Analista Judiciário/Área Administrativa/Questão 55/Assertiva A/2011;
Promotor‑BA/2004; Delegado de Polícia Substituto de Santa Catarina/2001;
denúncia anônima, desde que acompanhada de outros Cespe/TRE‑GO/Analista Judiciário/Área Administrativa/2009 e MPDFT/28º
elementos.92 Concurso para Promotor/2009.

97
Assunto cobrado na prova da OAB‑SP/121º Exame de Ordem/2003.

98
Assunto cobrado na prova do Cespe/STJ/Analista Judiciário/Área Judiciá-

91
Assunto cobrado na prova do Cespe/Delegado da Polícia Federal/2002. ria/2004.

92
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/AGU/Advogado/Questão 14/2012.
99
Vunesp/TRF 3ª Região/Analista Judiciário/Área Judiciária/2002.

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o fato típico ter sido cometido com excludentes da Condicionada
ilicitude (CP, art. 23: estado de necessidade, legítima O inquérito policial não pode ser instaurado de ofício,
defesa, estrito cumprimento de dever legal, exercício quando se tratar de ação penal pública condicionada.104
regular de direito). O inquérito, nos crimes em que a ação pública depender
de representação, não poderá sem ela ser iniciado (§ 4º do
Por outro lado, quando se perceber nítido abuso da art. 5º do CPP), ainda que requisitado por juiz ou membro
autoridade policial na instauração de um inquérito policial, do Ministério Público ou mesmo nos casos de grande
ou a condução das investigações na direção de determinada repercussão social.105 Portanto, recebendo notitia criminis
pessoa sem a menor base probatória, é cabível, por via de de crime em que a ação penal depende de representação,
habeas corpus, o  trancamento da atividade persecutória a  autoridade policial, depois de lavrar Boletim de Ocor‑
do Estado. rência, deve aguardar a representação para instaurar o
Dessa forma, o IP representa procedimento investigató‑ inquérito policial.106
rio, levado a efeito pelo Estado‑administrador, no exercício Exige poderes especiais, quando assinada por procura-
de atribuições referentes à polícia judiciária e, assim, so‑ dor, a representação do ofendido, solicitando a instaura-
mente deve ser trancado quando for manifesta a ilegalidade ção de inquérito policial, em crime de ação penal pública
ou patente o abuso de autoridade, por exemplo.100 condicionada.107
Sobre a possibilidade de o delegado de polícia analisar A requisição do Ministro da Justiça para a instauração do
o fato à luz do princípio da insignificância para não instaurar inquérito também é imprescindível nos casos em que ela é
inquérito policial, pela atipicidade do fato, a interpretação de exigida como condição. Na hipótese, por exemplo, do crime
julgado do STJ admite a interpretação de que a autoridade cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil, para
policial não é obrigada a instaurar inquérito caso não exista a instauração de investigação no Brasil, é necessária requisi-
justa causa em face do reconhecimento da atipicidade do ção do Ministro da Justiça (§ 3º do art. 7º do Código Penal).
fato. O julgado HC nº 72.234/PE, relatado pelo Ministro Na-
poleão Nunes Maia Filho, da Quinta Turma, DJ 5/11/2007, Nos Crimes de Ação Penal Privada
permite o trancamento de inquérito policial instaurado sem O inquérito policial, procedimento persecutório de
justa causa por atipicidade em face da aplicação do princí- caráter administrativo instaurado pela autoridade policial,
pio da bagatela ou insignificância. Se o inquérito pode ser em algumas hipóteses, tem como destinatário imediato o
trancado por ausência de justa causa, sequer deveria ter ofendido ou seu representante legal, titular único e exclusivo
sido instaurado. da ação penal privada. Concluído o inquérito, tratando‑se
de crime em que somente se procede mediante queixa,
Instauração do Inquérito Policial em Face dos Tipos os autos serão remetidos ao juízo competente,108 onde
de Ação Penal aguardarão a iniciativa do ofendido ou de seu represen‑
tante legal, ou serão entregues ao requerente, se o pedir,
A instauração do inquérito policial depende do tipo de mediante traslado (art. 19 do CPP).109
ação penal prevista para cada delito. Se o crime for de alçada privada, o inquérito policial
não poderá ser iniciado mediante portaria do delegado
Nos Crimes de Ação Penal Pública de polícia110, sem que o ofendido apresente à autoridade
O inquérito policial, procedimento persecutório de policial requerimento para a instauração do procedimento
caráter administrativo instaurado pela autoridade policial, investigatório.111 Com efeito, o § 5º do art. 5º do CPP diz que,
tem como destinatário imediato o Ministério Público, titular “nos crimes de ação privada, a autoridade policial somente
único e exclusivo da ação penal pública.101 poderá proceder a inquérito a requerimento de quem tenha
qualidade para intentá‑la”.112
Incondicionada Nos crimes de ação penal privada, o inquérito policial
Com base no disposto no Código de Processo Penal, inicia‑se por requerimento do ofendido, ou quem legalmen-
nos crimes de ação pública incondicionada, o inquérito te o represente, ou mediante auto de prisão em flagrante.113
policial será iniciado de ofício, mediante requisição da Portanto, não poderá iniciar‑se: por determinação do juiz de
autoridade judiciária ou do Ministério Público, ou ainda direito, por pedido formulado pelo Ministério Público, por
a requerimento do ofendido ou de quem tiver qualidade
para representá‑lo.102 104
Assunto cobrado na provas do Cespe/OAB‑DF/2009.
Quando o ofendido fizer requerimento para o delegado 105
Assunto cobrado nas seguintes provas: FGV/TJ‑SE/Analista Judiciário/Área Di-
com o escopo de instaurar procedimento investigatório, deve reito/2004; OAB‑PR/Exame 1/2006; OAB‑MG/1º Exame de Ordem/2004; FCC/
abranger, sempre que possível, a) a narração do fato, com Procuradoria Geral do Estado de Pernambuco/Procurador do Estado/2004;
FCC/TRE‑SP/Analista Judiciário/Área Judiciária/2006; FCC/TRE-2ª Região/
Noções de Direito Processual Penal

todas as circunstâncias; b)  a individualização do indiciado Analista Judiciário/Área Judiciá­ria/2007 e Promotor‑BA/2004.


ou seus sinais característicos e as razões de convicção ou de 106
FCC/TRF 2ª Região/Analista Judiciário/Área Judiciária/2007.
presunção de ser ele o autor da infração, ou os motivos de Assunto cobrado na seguinte prova: Acadepol‑SP/Delegado de Polícia de São
107

Paulo/2003.
impossibilidade de o fazer; c) a nomeação das testemunhas, 108
OAB‑DF/1º Exame de Ordem/2004.
com indicação de sua profissão e residência (art. 5º, § 1º). 109
Cespe/TJ‑DF/Oficial de Justiça Avaliador/1997.
Para tais crimes, vigorará o princípio da obrigatoriedade 110
Assunto cobrado na prova de Delegado de Polícia Substituto de Santa Cata-
rina/2001.
para a autoridade policial.103  111
Assunto cobrado na seguinte prova: FCC/DPE-MT/Defensor Público/2009.
112
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/TRE-RJ/Analista Judiciário/Área
Administrativa/Questão 17/2012; FCC/TJ-RJ/Técnico de Atividade Judiciária/
100
Cespe/PC‑PB/Delegado de Polícia/2009. Questão 63/2012; FGV/OAB/IV Exame Unificado/Questão 69/Assertiva A/2011
101
Assunto cobrado na prova do Cespe/Delegado de Polícia Civil de 1ª Clas- e Ieses/TJ-MA/Analista Judiciário/Questão 81/Item/I2011.
se/2008. 113
Assunto cobrado nas seguintes provas: NCE/Delegado da Polícia Civil de 3ª
102
Assunto cobrado nas seguintes provas: Acafe/Ministério Público do Estado Classe do RJ/2002; FCC/TRE‑SP/Analista Judiciário/Área Judiciária/2006; De-
de Santa Catarina/Oficial de Diligência/2004; FCC/TRE‑PB/Analista Judiciário/ legado de Polícia/2006; OAB‑PR/3º Exame de Ordem/2004; Cespe/TJ‑RR/Ana-
Área Administrativa/2007; OAB‑PR/Exame 1/2007; Cespe/TJ‑PE/Oficial de Jus- lista Processual/2006; Delegado de Polícia Substituto de Santa Catarina/2001;
tiça da 1ª Entrância/2001; TJ‑RN/Oficial de Justiça/2002; FGV/SSP‑RJ/Oficial de Cespe/TJ‑RR/Analista Processual/2006; Cespe/TJ‑DF/Analista Judiciário/Área
Cartório/2009 e FGV/SSP‑RJ/Oficial de Cartório/2009. Judiciária/Atividade Processual/2003; OAB‑MS/79º Exame de Ordem/2004;
103
Assunto cobrado nas seguintes provas: NCE/Delegado da Polícia Civil do Promotor‑RN/2004; Cespe/DFTrans/Analista/Direito e Legislação/2008;
DF/2004; OAB‑MG/2º Exame de Ordem/2003. Cespe/TJ‑RJ/Analista Judiciário/2008.

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notícia da prática do crime efetuado por qualquer cidadão tal hipótese, o prazo decorrido da instauração do inquérito
à autoridade policial, tampouco por portaria do delegado até a descoberta do autor não é computado. O prazo para
de polícia, após tomar conhecimento do fato por qualquer o ajuizamento da queixa só passa a ser computado a partir
pessoa do povo. 114 do conhecimento da autoria do fato delitivo.
Vejamos exemplo corriqueiro cobrado por banca de
concurso público: determinado empregado de um super- Diligências Investigativas
mercado foi acusado pelo gerente do estabelecimento de
ter subtraído várias mercadorias; porém, todos sabiam que Noções Introdutórias
o verdadeiro responsável pelo furto era uma empregada
com quem o gerente mantinha um relacionamento amo- Além de ser o titular das investigações efetivadas por
roso. Nessa situação, confirmada a calúnia e chegando ao meio do inquérito policial, o art. 13 do CPP lista, exemplifica-
conhecimento da autoridade policial os fatos citados, esta tivamente, outras atividades conferidas à autoridade policial:
não poderá instaurar, de ofício, inquérito policial, uma vez
que o crime de calúnia também é de ação penal privada.115 I – fornecer às autoridades judiciárias as informações
O inquérito policial não é instaurado através de quei‑ necessárias à instrução e julgamento dos processos;
xa‑crime.116 Esta dá início à fase judicial do processo penal. II  – realizar as diligências requisitadas pelo juiz ou
Embora seja imperiosa a prisão em flagrante de quem es- pelo Ministério Público;
teja cometendo delito de ação penal privada, para a lavratura III – cumprir os mandados de prisão expedidos pelas
do auto de prisão em flagrante, é necessária manifestação autoridades judiciárias;
da vítima ou seu representante legal. Com efeito, é exigida IV – representar acerca da prisão preventiva.
a autorização da vítima ou de seu representante legal para
a formalização da prisão em flagrante em crime de ação Incumbirá à autoridade policial realizar as diligências
penal privada.117 requisitadas por juiz ou pelo Ministério Público, ainda que
Em face do exposto, percebe‑se que há diferença entre desnecessárias à elucidação do crime, bem como cumprir
os termos requerimento, requisição e representação. Fala‑se os mandados de prisão expedidos pelas autoridades judi-
em requerimento quando o ofendido ou seu representante ciárias.119
legal comparece na delegacia para solicitar a instauração de O ofendido, ou seu representante legal, e o indiciado
inquérito policial quando ocorrer crime de ação penal privada poderão requerer a realização de perícia ou qualquer outra
ou pública incondicionada. Se a solicitação for para se apurar diligência, podendo a autoridade indeferir ou não o pedido,
crime de ação penal pública condicionada, o pedido passa a caso entenda conveniente à investigação que preside120
se chamar representação. Já quando é o ministério público (art. 14 do CPP).
que entende deva ser instaurado inquérito policial, tem‑se Mesmo quando já relatado o inquérito, a  autoridade
a requisição, que deve ser atendida pela autoridade policial. policial deve atender a requisições judiciais em relação aos
fatos já apurados. Com efeito, a autoridade policial não po-
Instauração do Inquérito Policial e Prazo Decadencial derá recusar‑se a prestar testemunho em processo crime,
O pedido de instauração de inquérito policial, na hi- quando presidiu o inquérito policial sobre o fato.
pótese de crime de ação privada, não tem o condão de Nem toda diligência a ser realizada pela autoridade po-
interromper o prazo decadencial.118 licial precisa ser autorizada pelo magistrado competente121.
Como regra, nos casos de ação penal privada, o prazo da
decadência é de 6 (seis) meses contados a partir do momento Com relação ao inquérito policial, a interceptação
em que a vítima toma conhecimento da autoria (art. 38 do telefônica não poderá ser determinada pela autori-
CPP). Em se tratando de causa de extinção da punibilidade, dade policial, no curso da investigação, ainda que o
referido prazo tem natureza penal, devendo ser contado nos faça de forma motivada e observando os requisitos
termos do art. 10 do Código Penal e não de acordo com o legais122. Apenas com ordem judicial pode‑se ter
art. 798, § 1º, do Código de Processo Penal, o que implica interceptação telefônica, nos termos do art. 5º, XII,
dizer que se inclui o dia do conhecimento do crime (dies a da CF/1988.
quo) no cômputo do prazo.
Tem‑se que o prazo decadencial não se suspende e nem De acordo com o Código de Processo Penal, sendo o
se interrompe. Dessa forma, conhecida a autoria pela vítima fato de difícil elucidação, estando os indiciados soltos,
ou seu representante legal, o prazo de 6 meses passa a ser a autoridade policial poderá requerer ao juiz a devolução
contado. Oliveira (2008, p. 144) destaca que o prazo flui dos autos para ulteriores diligências, que serão realizadas
no prazo a ser marcado pelo juiz.123
Noções de Direito Processual Penal

independentemente da data do início ou da eventual Se o delegado relata o inquérito policial, o Ministério


morosidade das investigações, desde que, por óbvio, Público não pode requerer a sua devolução à autoridade
já se saiba previamente acerca da autoria do fato. policial senão para novas diligências imprescindíveis ao
oferecimento da denúncia.124
Situação diversa ocorre quando não se sabe a autoria
e, no curso do inquérito, descobre‑se o autor do delito. Em
119
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/TJ‑DF/Oficial de Justiça Avalia-
114
Assunto cobrado nas seguintes provas: Acafe/Ministério Público do Estado de dor/1997 e Esaf/Promotor‑CE/2001.
Santa Catarina/Oficial de Diligência/2004; OAB‑DF/2º Exame de Ordem/2004; 120
Assunto cobrado nas seguintes provas: Vunesp/Prefeitura de São José do Rio
Cespe/1º Exame da Ordem/2006 (Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Preto-SP/Procurador Municipal/Questão 64/2011 e Delegado de Polícia Civil
Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Sergipe e Espírito Santo); OAB‑DF/2º da Bahia/2001; PC‑PR/Delegado de Polícia Civil/2007; FCC/TRF 4ª Região/
Exame de Ordem/2004 e Vunesp/OAB‑SP/130º Exame. Analista Judiciário/Área Judiciária/2007 e OAB‑MG/1º Exame de Ordem/2004.
115
Assunto cobrado na prova do Cespe/TJ‑DF/2003/Analista Judiciário/Área 121
Assunto cobrado na seguinte prova: OAB‑PR/Exame 1/2006.
Judiciária – Atividade Processual. 122
Assunto cobrado na prova do Cespe/3º Exame de Ordem/2007.
116
OAB‑Nordeste/1º Exame de Ordem/2003. 123
Assunto cobrado na prova da UEG/Delegado de Polícia de 3ª Classe de Goiás/
117
TRF 4ª Região/Juiz Federal Substituto/2005. 2003.
118
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/TJ‑PA/Juiz Substituto/2001/2002; 124
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/TRE‑SP/Analista Judiciário/Área
Vunesp/TRF 3ª Região/Analista Judiciário/Área Judiciária/2002; NCE/Delegado Judiciária/2006; Cespe/TJ‑AP/Analista Judiciário/Área Judiciária/2003-2004;
da Polícia Civil do DF/2004; TJ‑GO/Juiz Substituto/2004-2005. Cespe/TJ‑RJ/Analista Judiciário/2008; Cespe/OAB‑DF/2009.

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Preservação do Estado das Coisas testemunha, é necessária autorização judicial. Outros
entendem que esse poder de condução seria uma
Nos termos do art. 6º, inciso I, do CPP, logo que a auto- extensão da possibilidade de prisão em flagrante
ridade policial tiver conhecimento da prática da infração (pelo possível delito de desobe­diência à intimação),
penal, deverá dirigir‑se ao local, providenciando para que que, no caso, se limitaria à mera condução, colheita
não se alterem o estado e a conservação das coisas.125 Isso do depoimento e liberação.
para permitir a atuação da polícia técnica, composta por
peritos criminais. Rangel (2009, p. 148) defende que a autoridade policial
Nas hipóteses de acidente de trânsito, o art. 1º da Lei não pode determinar a condução coercitiva de testemunha
nº 5.970/1973, a autoridade ou agente policial que primeiro que se recuse a comparecer para ser ouvida
tomar conhecimento do fato poderá autorizar, indepen-
dentemente de exame do local, a imediata remoção das a uma, porque as regras restritivas de direito não
pessoas que tenham sofrido lesão, bem como dos veículos comportam interpretação extensiva nem analógica.
nele envolvidos, se estiverem no leito da via pública e pre- A duas, porque a condução coercitiva da testemunha
judicarem o tráfego. implica a violação de seu domicílio, que é proibida
pela Constituição Federal.
Apreensão de Instrumentos e Outros Objetos
As características da prova testemunhal serão abordadas
O Código de Processo Penal permite que a autoridade em momento próprio.
policial efetue a apreensão dos objetos que tiverem relação
com o fato, após liberados pelos peritos criminais. É o que Oitiva do Indiciado
determina o art. 6º, inciso II, do CPP.
A autoridade policial deve também colher todas as pro- Nos termos do art. 6º, inciso V, do CPP, o delegado pode
vas que servirem para o esclarecimento do fato e das suas ouvir o indiciado, que é aquele sobre o qual recaem suspeitas
circunstâncias (art. 6º, III, do CPP). fundamentadas de ter cometido a infração penal.
Os instrumentos do crime, bem como os objetos que in‑
teressarem à prova, acompanharão os autos de inquérito126 Direito ao Silêncio
(art. 11 do CPP). O art. 91, II, do Código Penal assenta, ainda, O indiciado tem direito, no curso do inquérito policial,
que são efeitos da condenação a perda em favor da União, de permanecer em silêncio.127 Tal prerrogativa é manifes-
ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa‑fé, dos tação do direito de defesa pessoal negativa, que assegura
instrumentos do crime, desde que consistam em coisas cujo ao sujeito passivo a possibilidade de não declarar, bem
fabrico, alienação, uso, porte ou detenção constitua fato ilíci- como de não praticar, nenhum ato de prova, sem que dessa
to, bem como a perda do produto do crime ou de qualquer negativa decorra qualquer prejuízo.128
bem ou valor que constitua proveito auferido pelo agente
com a prática do fato criminoso. Incomunicabilidade do Indiciado
Destaque‑se que, não sendo hipótese de flagrante delito, O art. 21 do CPP dispõe que “a incomunicabilidade do
para a busca e apreensão domiciliar é necessária ordem indiciado dependerá sempre de despacho nos autos e so-
judicial. O delegado só pode efetuar desde logo a apreensão mente será permitida quando o interesse da sociedade ou a
de objetos e documentos quando relacionados à flagrante conveniência da investigação o exigir”. Referido artigo não foi
de prática delitiva. recepcionado pelo art. 136, § 3º, IV, da CF/1988, que, nem
em estados de exceção, admite a incomunicabilidade. Com
Oitiva da Vítima, Testemunhas, Reconhecimentos e efeito, o ordenamento jurídico não prevê a incomunicabi-
Acareações lidade do preso durante o estado de defesa.129
Nem nos processos cuja imputação seja o delito de ter-
rorismo, tráfico de entorpecentes ou tortura, a autoridade
O delegado deve ouvir a vítima (art. 6º, IV, do CPP) bem
policial poderá decretar a incomunicabilidade do preso.130
como qualquer pessoa que tenha conhecimento dos fatos
No entanto, algumas bancas examinadoras de concursos
por meio de seus sentidos (art. 202 do CPP).
públicos, possivelmente embasadas em doutrinadores como
A autoridade policial deverá, ainda, durante o inquérito
Damásio e Vicente Greco, entendem ser ainda aplicável a
policial, realizar o reconhecimento da vítima e fazer as aca-
incomunicabilidade, desde que preenchidos os requisitos
reações (art. 6º, VI, do CPP). A normatização da realização do art. 21 do Código de Processo Penal, entre os quais o de
do reconhecimento de pessoas está prevista nos arts. 226 que a incomunicabilidade ocorra sempre por despacho nos
a 228 do CPP e a da acareação, nos arts. 229 e 230 do CPP. autos e o da proibição de que ela se estenda ao advogado
O § 1º do art. 201 do CPP determina que se, intimado do indiciado.131
Noções de Direito Processual Penal

para esse fim, deixar de comparecer sem motivo justo,


o ofendido poderá ser conduzido à presença da autoridade. Exames Periciais
O mesmo se diga em relação à testemunha, nos termos
do art. 218 do CPP que determina que, se regularmente O art. 6º, inciso VII, do CPP autoriza que a autoridade
intimada, a testemunha deixar de comparecer sem motivo policial determine, se for caso, que se proceda a exame de
justificado, o juiz poderá requisitar à autoridade policial a
corpo de delito e a quaisquer outras perícias.132
sua apresentação ou determinar seja conduzida por oficial
de justiça, que poderá solicitar o auxílio da força pública. 127
Assunto cobrado na prova do Cespe/1º Exame da Ordem/2007 (Tocantins,
Pierobom (2009, p. 198) destaca que Sergipe, Rio Grande do Norte, Rio de Janeiro, Piauí, Pernambuco, Paraíba,
Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Maranhão, Espírito Santo, Distrito Federal,
Esses dispositivos aplicam‑se tanto na fase de investi- Ceará, Bahia, Amazonas, Amapá, Alagoas, Acre).
128
Assunto cobrado na prova da OAB‑RS/1º Exame de Ordem/2005.
gações preliminares quanto em juízo. Há doutrinador 129
Assunto cobrado na prova do MPDFT/28º Concurso/Promotor/2009.
que defende que, para realizar a condução coercitiva 130
Assunto cobrado na prova da OAB‑PR/1º Exame de Ordem/2005.
sendo necessário violar o domicílio da vítima ou da 131
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑MS/80º Exame de Ordem/2004;
OAB‑MG/1º Exame de Ordem/2004; Cespe/Delegado da Polícia Fe­deral/2002;
Promotor‑DF/2002; Cespe/TJ‑RJ/Analista Judiciário/2008.
Assunto cobrado na prova da OAB‑PR/Exame 1/2007.
125 132
Assunto cobrado na prova do Cespe/PC-RN/Agente de Polícia Civil Substi-
OAB‑PR/Exame 1/2007.
126
tuto/2009.

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Em inquérito policial, o poder discricionário da autorida- em flagrante – em que, mais que indícios, têm‑se evidências
de policial de realizar as diligências solicitadas pelo ofendido de que o acusado é o autor do crime – ou, quando iniciado
ou seu representante legal deve ser mitigado quando se o inquérito por portaria, pode ocorrer durante o inquérito
tratar de exame de corpo de delito.133 ou mesmo no relatório final feito pela autoridade policial.
Em regra, não vigora, no inquérito policial, o princípio Quanto ao objeto do crime, o indício não é classificado
do contraditório. Tratando‑se de provas não renováveis, pela doutrina unânime como prova direta. Diante da impos-
a exemplo do exame de corpo de delito, o contraditório será sibilidade de produção de outras provas, é  inadmissível a
exercido apenas na fase judicial. É o chamado contraditório condenação do réu com base apenas em indício, ainda que o
diferido.134 Entretanto, há entendimento doutrinário no julgador fundamente sua decisão. O art. 239 do CPP determi-
sentido de se admitir assistente técnico também na fase do na que se considera indício a circunstância conhecida e pro-
inquérito, como destaca Pierobom (2009, p. 200). vada, que, tendo relação com o fato, autorize, por indução,
concluir-se a existência de outra ou outras circunstâncias.
Reprodução Simulada dos Fatos Cabe fazer a diferenciação em relação à nomenclatura do
sujeito passivo do processo penal. Com efeito, ao sujeito que
Como peça de investigação, o inquérito policial admite praticou os fatos delitivos dá‑se o nome de autor dos fatos.
a reconstituição do crime135, ao ditar o Código do Processo Entretanto, este muitas vezes não é, de pronto, conhecido.
Penal, no art. 7º: Surge a figura do suspeito. Se se instaurar inquérito policial
visando apurar a conduta de algum suspeito, este passa a
Para verificar a possibilidade de haver a infração se chamar investigado durante toda a investigação policial.
sido praticada de determinado modo, a autoridade Reunidos elementos de autoria quanto ao investigado, o de-
policial poderá proceder à reprodução simulada dos legado pode indiciá‑lo, surgindo a figura do indiciado, o que
fatos, desde que esta não contrarie a moralidade ou torna imperiosa a realização do boletim de vida pregressa e
a ordem pública.136 da identificação criminal, se presentes as hipóteses legais.
Uma vez que a Acusação, pública ou privada, verifique haver
Temos, no enunciado em apreço, a consagração do fortes indícios de autoria delitiva em relação ao indiciado,
Princípio da discricionariedade.137 oferece‑se a ação penal, passando o indiciado a se chamar
Nos termos do art. 5º, LXIII, da CF/1988, o investigado acusado, o que só ocorre na fase judicial do processo penal.
tem o direito de ficar calado. Com base em tal direito, Sobrevindo sentença penal condenatória transitada em jul-
pode‑se afirmar que não é obrigado o investigado a produzir gado, o acusado passa a se chamar condenado. Iniciada a
prova contra si. Com efeito, o suspeito ou indiciado não é execução penal, tem‑se a figura do apenado. A diferenciação
obrigado a participar da reconstituição do crime, durante tem importância na medida em que, durante as diversas fases
a fase do inquérito policial. E, o princípio que autoriza tal do processo penal, uma ou outra nomenclatura é a correta.
direito é o detegere nemo tenetur se detegere.138 Deve ser destacado que, para haver a figura do acusa­do,
Caso se negue a participar da reprodução simulada dos não necessariamente tenha de haver a figura do indiciado,
fatos, não comete crime de desobediência. Por outro lado, pois a Acusação pode dispensar o inquérito policial e emba-
se for obrigado a fornecer elementos para a reconstituição sar a acusação com base em outras peças probatórias. Por
delitiva, a autoridade pode responder por abuso de autori- outro lado, “não se admite a determinação de indiciamento,
dade e, se a exigência se der por meio de violência física ou medida própria do inquérito policial, quando o feito já se
psíquica, responde por crime de tortura. encontra na fase judicial” (STJ, Sexta Turma, HC nº 82.497/
SP, Min. Maria Thereza de Assis Moura, DJe: 2/6/2008).
Isso porque “com o recebimento da denúncia, encontra‑se
Indiciamento encerrada a fase investigatória e o indiciamento dos réus,
neste momento, configura coação desnecessária e ilegal”
Noções Introdutórias
(STJ, Quinta Turma, HC nº 84.142/SP, Min. Napoleão Nunes
Maia Filho, DJe: 28/4/2008.)
O ato da autoridade policial de imputação a alguém Nos termos do parágrafo único do art. 20 do CPP,
da prática de ilícito penal nos autos do IP é denominado
indiciamento. Nos atestados de antecedentes que lhe forem soli-
Para dar ao investigado a condição de indiciado, a auto- citados, a autoridade policial não poderá mencionar
ridade policial deve estar embasada, no mínimo, em indícios quaisquer anotações referentes à instauração de
de autoria. O  investigado passa a ser indiciado quando a inquérito contra os requerentes, salvo no caso de
autoridade policial angaria indícios de que o investigado é existir condenação anterior.
o autor do crime. Indício, como prova indireta, é a circuns‑
tância conhecida e provada, que, tendo relação com o fato,
Noções de Direito Processual Penal

Caso a autoridade policial descubra indícios de partici-


autorize, por indução, concluir‑se a existência de outra ou pação de autoridade com prerrogativa de foro, deverá ime-
outras circunstâncias.139 diatamente encaminhar os autos do inquérito à auto­ridade
Não há um momento fixo para o indiciamento. Ele pode judiciária competente para julgar o suspeito.140 A autoridade
ocorrer no início do inquérito iniciado por auto de prisão policial não pode indiciar investigados que tenham foro por
prerrogativa de função, como juízes, membros do Ministério
133
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/TJ‑AP/Analista Judiciário/Área Público, deputados e senadores.
Judiciária/2003-2004. O art. 41 da Lei nº 8.625/1993 destaca, por exemplo,
134
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/Defensoria Pública do Estado de
Sergipe/Defensor Público de 2ª Categoria/2005. que constituem prerrogativas dos membros do Ministério
135
Assunto cobrado na prova do Cespe/TJ-BA/Questão 18/Assertiva E/2012. Público, no exercício de sua função, não ser indiciado em
136
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/TRE-AP/Analista Judiciário/Área inquérito policial, além de ressaltar também que,
Administrativa/Questão 55/Assertiva B/2011 e FGV/OAB/IV Exame Unificado/
Questão 69/2011.
137
Assunto cobrado na prova da Defensoria Pública do Estado do Ceará/Defensor Quando no curso de investigação, houver indício da
Público/2002. prática de infração penal por parte de membro do
138
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑RO/42° Exame; 20º Concurso
Público para Procurador da República/2003; Cespe/Delegado da Polícia
Federal/2002 e Delegado da Polícia Civil de Roraima/2003. Assunto cobrado nas seguintes provas: MPDFT/28º Concurso para Promo-
140
139
TRF 1ª Região/Juiz Federal Substituto. tor/2009 e Cespe/TRF 5ª Região/Juiz Federal Substituto/2001.

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Ministério Público, a autoridade policial, civil ou militar VI – o indiciado ou acusado não comprovar, em qua-
remeterá, imediatamente, sob pena de responsabilida- renta e oito horas, sua identificação civil.
de, os respectivos autos ao Procurador‑Geral de Justi-
ça, a quem competirá dar prosseguimento à apuração. Destaque‑se que a Lei nº 10.054/2000 era taxativa no que
se referia às hipóteses de identificação criminal, revogando,
São as decorrências do foro por prerrogativa de função inclusive, o art. 5º da Lei nº 9.034/2000. É o que destaca o STJ:
que têm também reflexos na fase preliminar do processo
penal. O art. 3º, caput e incisos, da Lei nº 10.054/2000,
enumerou, de forma incisiva, os casos nos quais
Consequências do Indiciamento o civilmente identificado deve, necessariamente,
sujeitar‑se à identificação criminal, não constando,
Com o indiciamento, realizam‑se o boletim de vida pre- entre eles, a hipótese em que o acusado se envolve
gressa e a identificação criminal (verificação das impressões com a ação praticada por organizações criminosas.
digitais e também de fotografias), se verificadas as hipóteses Com efeito, restou revogado o preceito contido no
previstas em lei. art. 5º da Lei nº 9.034/1995, o qual exige que a iden-
Identificação Criminal tificação criminal de pessoas envolvidas com o crime
Admite‑se no inquérito policial, quanto ao indiciado, organizado seja realizada independentemente da
o  procedimento de identificação datiloscópica. É o que existência de identificação civil. (STJ, Quinta Turma,
determina o art. 6º, inciso VIII, do CPP. RHC nº 12.968/DF, Min. Felix Fischer, DJ: 20/9/2004).
A já superada Súmula nº 568 do STF previa que
Dessa forma, durante o inquérito policial, era deter‑
a identificação criminal não constitui constrangi- minada a identificação criminal do autuado por crime de
mento ilegal, ainda que o indiciado já tenha sido homicídio doloso, mesmo se já civilmente identificado.
identificado civilmente. Ocorre que a Lei nº 12.037/2009 revogou a Lei nº
10.054/2000. Agora, nos termos do art. 3º da referida Lei,
Referida súmula não mais subsiste em face da Constitui- embora apresentado documento de identificação, poderá
ção Federal de 1988, que, em seu art. 5º, inciso LVIII, esta-
ocorrer identificação criminal quando:
belece que “o civilmente identificado não será submetido a
identificação criminal, salvo nas hipóteses previstas em lei”.
I – o documento apresentar rasura ou tiver indício
Havia discussão corrente sobre a possibilidade de o in-
diciado no inquérito policial ser identificado criminalmente, de falsificação;
mesmo estando identificado civilmente, portando seu do- II – o documento apresentado for insuficiente para
cumento de identificação, como carteira nacional de habi- identificar cabalmente o indiciado;
litação, registro civil emitido pelas secretarias de segurança III – o indiciado portar documentos de identidade
pública, passaporte ou carteira funcional. distintos, com informações conflitantes entre si;
O art. 1º da Lei nº 10.054/2000 havia posto fim às di- IV – a identificação criminal for essencial às investi-
vergências determinando que o preso em flagrante delito, gações policiais, segundo despacho da autoridade
o indiciado em inquérito policial, aquele que pratica infra- judiciária competente, que decidirá de ofício ou
ção penal de menor gravidade, assim como aqueles contra mediante representação da autoridade policial, do
os quais tenha sido expedido mandado de prisão judicial, Ministério Público ou da defesa;
desde que não identificados civilmente, serão submetidos à V – constar de registros policiais o uso de outros
identificação criminal, inclusive pelo processo datiloscópico nomes ou diferentes qualificações;
e fotográfico. Ressaltava também que a prova de identifi- VI – o estado de conservação ou a distância temporal
cação civil far‑se‑á mediante apresentação de documento ou da localidade da expedição do documento apre-
de identidade reconhecido pela legislação (art.  2º da Lei sentado impossibilite a completa identificação dos
nº 10.054/2000). caracteres essenciais.
Desta forma, se o acusado apresentasse identidade civil
válida, não poderia ser novamente identificado, salvo se in- Quando houver necessidade de identificação criminal,
corresse em uma das hipóteses descritas na lei. Assim sendo, a autoridade encarregada tomará as providências necessá-
havia hipóteses em que, mesmo havendo apresentação de rias para evitar o constrangimento do identificado (art. 4º
documento de identidade, haveria identificação criminal, da Lei nº 12.037/2009). A identificação criminal incluirá o
inclusive pelo processo datiloscópico e fotográfico, o que se processo datiloscópico e o fotográfico, que serão juntados
dava, de acordo com o art. 3º da Lei nº 10.054/2000, quando: aos autos da comunicação da prisão em flagrante, ou do
inquérito policial ou outra forma de investigação (art. 5º da
Noções de Direito Processual Penal

I – estiver indiciado ou acusado pela prática de Lei nº 12.037/2009).


homicídio doloso141, crimes contra o patrimônio pra-
ticados mediante violência ou grave ameaça, crime Antecedentes e Vida Pregressa
de receptação qualificada, crimes contra a liberdade
sexual ou crime de falsificação de documento público; O inciso IX do art. 6º do CPP determina que compete à
II – houver fundada suspeita de falsificação ou adul- autoridade policial
teração do documento de identidade;
III – o estado de conservação ou a distância temporal averiguar a vida pregressa do indiciado, sob o ponto
da expedição de documento apresentado impossibili- de vista indivi­dual, familiar e social, sua condição
te a completa identificação dos caracteres essenciais; econômica, sua atitude e estado de ânimo antes e
IV  – constar de registros policiais o uso de outros depois do crime e durante ele, e quaisquer outros
nomes ou diferentes qualificações; elementos que contribuírem para a apreciação do
V  – houver registro de extravio do documento de seu temperamento e caráter.
identidade;
Resta assentada a jurisprudência do Superior Tribunal de
Assunto cobrado na prova da FCC/DP-SP/Questão 15/Item I/2012.
141 Justiça no sentido de que,

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por maus antecedentes criminais, em virtude do que dias, prorrogáveis por igual período no caso de comprovada
dispõe o artigo 5º, inciso LVII, da Constituição de Re- necessidade para a investigação, a contar da data do recebi-
pública, deve‑se entender a condenação transitada mento da requisição ou requerimento ou notitia criminis146
em julgado, excluída aquela que configura reincidência (art. 10 do CPP). Reiterando, o prazo para conclusão do IP
(art. 64, I, CP), excluindo‑se processo criminal em curso é de 30 dias, quando o indiciado estiver solto, podendo ser
e indiciamento em inquérito policial (HC nº 31.693/ prorrogado pela autoridade competente para cumprimento
MS, Rel. Min. Paulo Medina, DJ: 6/12/2004). de diligências.147
O inquérito deverá terminar no prazo de 10 (dez) dias,
A Súmula nº 444/STJ determina que “é vedada a utili- se o indiciado tiver sido preso em flagrante, ou estiver preso
zação de inquéritos policiais e ações penais em curso para preventivamente, contado o prazo, nesta hipótese, a partir
agravar a pena-base”. do dia em que se executar a ordem de prisão, ou no prazo
de 30 (trinta) dias, quando estiver solto, mediante fiança
O Indiciamento de “Menor” ou sem ela.148
Entretanto, o inquérito policial, para o indiciado preso,
O art. 15 do Código de Processo Penal estabelece que não deve terminar em 10 dias, em qualquer hipótese.149
“se o indiciado for menor, ser‑lhe‑á nomeado curador pela Com efeito, nos crimes de competência da Justiça Federal,
autoridade policial”. estando o indiciado preso, o prazo será de quinze dias
No entanto, o menor a que se refere tal artigo não é o (art. 66 da Lei nº 5.010/1966), prorrogáveis por igual
menor de 18 anos, uma vez que este é sequer investigado período, após apresentação do preso ao juízo. Estando o
por meio de inquérito policial, afinal, esse indivíduo não indiciado solto, o prazo será de trinta dias150. Dessa forma,
pratica crime, mas sim ato infracional, assegurando‑lhe o estando preso em flagrante o indiciado pela prática de
Estatuto da Criança e do Adolescente modalidade diversa crime contra a Administração Pública Federal, o prazo para
de investigação. a conclusão do inquérito policial é de 15 dias prorrogáveis
O menor em análise no art. 15 do CPP era o indivíduo que por igual prazo.151
tinha entre 18 anos completos e 21 anos incompletos. No Já para apuração do crime de tráfico ilícito de entorpe-
entanto, atualmente, a determinação do art. 15 do Código centes, o prazo para conclusão do inquérito policial é de 30
de Processo Penal perdeu o sentido, uma vez que o novo dias, para o indiciado preso, e de 90 dias se o indiciado esti-
Código Civil diz possuir maioridade absoluta quem completa ver solto152 (art. 51 da Lei nº 11.343/2006). Nesse sentido, se
18 anos de idade.142 determinado indivíduo está sendo investigado pela prática
Assim, ao indiciado menor de 21 e maior ou igual a 18 do delito de tráfico ilícito de entorpecentes encontrando‑se
anos, não há mais a necessidade de se nomear curador para solto, a autoridade policial dispõe, para concluir o referido
inquérito policial, do prazo de 90 dias.153 O parágrafo único
acompanhar o inquérito e o processo.143
do referido artigo estabelece que
Nesse sentido, interrogatório de indiciado menor de 21
anos de idade desacompanhado de curador não nulifica o
os prazos a que se refere este artigo podem ser dupli-
inquérito policial.144
cados pelo juiz, ouvido o Ministério Público, mediante
Capez (2005) já destaca referido entendimento em suas pedido justificado da autoridade de polícia judiciária.
Notas à 10ª Edição de sua obra, ressaltando que
Por sua vez, nos crimes contra a economia popular (Lei
se o sujeito for menor de 18 anos, não poderá ser nº 1.521/1951) é de 10 dias o prazo para conclusão do
indiciado, já que é inimputável; se for maior de 18, inquérito policial, estando o indiciado preso ou solto.154
não poderá mais ser considerado menor, ante sua Quanto aos crimes que se processam mediante ação
maioridade civil e a plena capacidade para praticar penal de iniciativa privada, os autos, em regra, deverão ser
atos civis, dentre os quais os processuais. conclusos nos mesmos prazos dos inquéritos que apuram os
crimes que se processam por ação penal pública.
Portanto, as  disposições relativa a curador constantes Apesar de se tratar de procedimento administrativo,
no CPP (art. 15, 262 e 564, III, c, do CPP) não se aplicam ao o prazo para conclusão do inquérito policial é proces­
investigado, salvo se este for portador de alguma deficiência sual155. Dessa forma, o prazo é contado segundo as regras
mental (art. 149, § 2º, do CPP). O mesmo raciocínio se aplica do art. 798, § 1º, do CPP, que estabelece que todos os prazos
à dispensa de representante também para a vítima quando correrão em cartório e serão contínuos e peremptórios, não
esta for maior de 18 anos e não apresentar nenhuma debili- se interrompendo por férias, domingo ou dia feriado, sendo
dade mental, perdendo aplicação os arts. 34 e 50, parágrafo que não se computará no prazo o dia do começo (dies a
único, do CPP. quo), incluindo‑se, porém, o do vencimento (dies ad quem).
Noções de Direito Processual Penal

Prazos para a Conclusão do Inquérito Policial 146


Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑MS/81º Exame de Ordem/2005;
OAB‑MS/79º Exame de Ordem/2004; Delegado de Polícia Substituto de Santa
Catarina/2001; FCC/TRE‑SP/Analista Judiciário/Área Judiciária/2006; FCC/
O inquérito policial possui prazos estipulados para sua TRE‑PB/Analista Judiciário/Área Administrativa/2007; Vunesp/OAB‑SP/128º
conclusão. Assim, nos crimes de competência da Justiça Exame; FCC/TRF 1ª Região/Analista Judiciário/Área Judiciária/2001; Vunesp/
Estadual, estando o indiciado preso, salvo disposição em OAB‑SP/128º Exame; Cespe/TJ‑DF/Oficial de Justiça Avaliador/1997; OAB‑PR/
Exame 1/2006; Promotor- BA/2004.
contrário, o prazo para conclusão será de dez dias impror- 147
Cespe/PC-RN/Agente de Polícia Civil Substituto/2009.
rogáveis, contados da efetivação da medida restritiva de 148
Consulplan/Sejus-RN/Agente Penitenciário/2009.
direito145. Estando o indiciado solto, o prazo será de trinta 149
Assunto cobrado na prova da OAB‑PR/3º Exame de Ordem/2004.
150
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑MS/79º Exame de Ordem/2004;
TRF 3ª Região/Juiz Federal Substituto; Procurador da República/2002.
142
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/Defensoria Pública do Estado 151
Procurador da República.
de Alagoas/Defensor Público de 1ª Classe/2003; Cespe/TJ‑DF/Oficial de Justiça 152
Assunto cobrado nas seguintes provas: NCE/Faepol/Delegado da Polícia Civil
Avaliador/1997; OAB‑MS/81º Exame de Ordem/2005. do Rio de Janeiro/2001; OAB‑DF/1º Exame de Ordem/2005; OAB‑GO/1º Exame
143
Assunto cobrado na prova do MPDFT/28º Concurso para Promotor/2009. de Ordem/2003.
144
Assunto cobrado na prova do Cespe/TJ/DF/Analista Judiciário/Área Judiciá­ 153
Assunto cobrado na prova do MPDFT/28º Concurso para Promotor/2009.
ria/2003 154
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑MS/79º Exame de Ordem e
145
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/TJ-RJ/Técnico de Atividade Judi- MPDFT/28º Concurso para Promotor/2009.
ciária/Questão 62/2012 e FCC/MPE-SE/Analista/Direito/2009. 155
Cespe/TJ‑AP/Analista Judiciário/Área Judiciária/2003-2004.

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Capez, apud Mirabete, destaca que do art. 10 do CPP, no relatório poderá a autoridade indicar
testemunhas que não tiverem sido inquiridas, mencionando
não se aplica a regra segundo a qual a contagem do o lugar onde possam ser encontradas. Isso porque, na fase
prazo cujo termo a quo cai na sexta inicia‑se somente policial, bastam meros indícios para a formação da opinio
no primeiro dia útil, porquanto na Polícia Judiciária delicti sobre os fatos pela autoridade policial.
há expediente aos sábados, domingos e feriados, em Se a autoridade policial não conseguir relatar o inquérito
tempo integral, graças a plantões e rodízios. dentro do prazo legal, pode solicitar ao juiz prorrogação de
prazo para a continuidade das investigações (art. 10, § 3º,
Entretanto, iniciando‑se o inquérito por auto de prisão do CPP ).
em flagrante, o prazo é contado a partir da data da prisão, O relatório final da autoridade policial não é peça
não se excluindo o dia em que se iniciou a medida restritiva imprescindível para a sua conclusão e oferecimento de
da liberdade. Contudo, referida assertiva não é pacífica na denúncia.161
doutrina. Pierobom (2009, p. 206) atenta para a divergência Não se aplicam às atividades desenvolvidas no inquérito
de entendimentos, destacando que os princípios da atividade jurisdicional, não encerrando o
inquérito um juízo de formação de culpa com um veredic-
Existe controvérsia quanto ao termo inicial para a con- to de possibilidade ou não da ação penal.162 Isto porque o
tagem do prazo, estando o indiciado preso. Segundo inquérito é dispensável e não vincula a autoridade judiciária
parte da doutrina, o prazo seria de Direito Material, ou a acusação no que se refere às conclusões levadas a cabo
incluindo o dia da realização da prisão no prazo, por pela autoridade policial.
tratar‑se de prazo que interfere no jus libertatis (CP, O promotor de justiça poderá oferecer denúncia mesmo
art.  10). Nesse sentido: Tourinho Filho, Mirabete, que o inquérito policial seja enviado ao Ministério Público
Rangel e Nucci. Em sentido contrário, entendendo sem o seu relatório conclusivo, mas, para tanto, o promotor
que se trata de prazo de Direito Processual, portanto, tem que entender já existirem elementos suficientes para
exclui‑se o dia do início, nos termos do art. 798, § 1º, a propositura da ação penal.163
do CPP: Damásio e Capez). Por outro lado, o Ministério Público não pode requerer a
devolução do inquérito policial à autoridade policial senão
A não conclusão do inquérito policial no prazo legal não para novas diligências, imprescindíveis ao oferecimento da
implica no encerramento das investigações, não acarretan‑ denúncia164 (art. 16 do CPP).
do nulidade do feito.156 Consoante a jurisprudência do STF, ainda que não se per‑
De acordo com o art. 10, § 3º, do CPP, sendo o fato de mita ao MP a condução do inquérito policial propriamente
difícil elucidação, estando o indiciado solto, a autoridade dito, não há vedação legal para que este órgão proceda
policial poderá requerer ao juiz a devolução dos autos a investigações e colheita de provas para a formação da
para ulteriores diligências, que serão realizadas no prazo a opinio delicti.165
ser marcado pelo juiz157. Em face ao pedido da dilação de Assim, embora já relatado o inquérito policial, o  re-
prazo ao término da investigação policial, o prazo é o que presentante do Ministério Público poderá determinar a
é concedido pelo juiz.158 realização de exame pericial, por exemplo, na faca que teria
Mesmo estando o investigado preso, pode haver sido utilizada pelos indiciados para constranger a vítima à
prorrogação do prazo do inquérito para a conclusão das conjunção carnal.
investigações. Nessa hipótese, entretanto, para que a prisão O que não se admite é que, uma vez relatado o inquérito
seja mantida, deverá ser decretada a prisão temporária ou pela autoridade, o membro do Ministério Público requisite
preventiva do investigado. A prisão temporária não influencia a devolução para investigações genéricas ou para que se
no prazo de conclusão do inquérito. façam quaisquer diligências. É permitido ao juiz indeferir
requerimento de devolução dos autos do inquérito, mesmo
Encerramento do Inquérito Policial quando o órgão do Ministério Público entender conveniente
a coleta de mais evidências166. Se ocorrer referida hipótese,
O término do inquérito policial é caracterizado pela entretanto, é dado ao Ministério Público requerer diretamen-
elaboração de um relatório e por sua juntada pela te as diligências à autoridade policial, nos termos do art. 13,
autoridade policial responsável, que pode, nesse II, do CPP. Há entendimento no sentido de que o juiz não pode
relatório, indicar testemunhas que não tiverem negar pedido de novas diligências feito pelo representante
sido inquiridas.159 É o que determina o § 2º, do art. do Ministério Público, cabendo, do indeferimento, recurso
10 do CPP. de correição parcial (ÁVILA, 2009, p. 207)
Polastri (2009, p. 100) também destaca que
Noções de Direito Processual Penal

Na conclusão do inquérito, incumbe à autoridade


policial que presidir os autos fazer relatório minucioso ao não se pode cogitar, à luz da Constituição de 1988, é
término das investigações, enviando‑o ao juiz competente o magistrado examinar e aferir a imprescindibilidade
(§ 1º do art. 10 do CPP), que não fica vinculado no que diz de diligências requisitadas pelo Ministério Público em
respeito à tipificação do fato praticado pelo indiciado.160 As- sede de procedimento inquisitorial, o que atenta con-
sim, o conteúdo do inquérito policial não vincula o juiz ou tra a Carta Magna e desvirtua o princípio acusatório
o promotor. adotado pela legislação pátria, retirando a necessária
A autoridade policial deve relatar o inquérito quando imparcialidade do Judiciário.
entender estar ou não suficientemente evidenciada a prova
de materialidade e autoria. Com efeito, nos termos do § 2º 161
Assunto cobrado na prova do MPDFT/28º Concurso/Promotor/2009.
162
Assunto cobrado na prova do Cespe/Bacen/Procurador/2009.
156
MPDFT/28º Concurso/Promotor/2009. 163
Assunto cobrado na seguinte prova: OAB‑GO/1º Exame de Ordem/2003.
157
Assunto cobrado na seguinte prova: UEG/Delegado de Polícia de 3ª Classe de 164
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/TRE‑SP/Analista Judiciário/Área
Goiás/2003. Judiciária/2006; Cespe/TJ‑AP/Analista Judiciário/Área Judiciária, 2003-2004;
158
TRF 3ª Região/Juiz Federal Substituto. Cespe/TJ‑RJ/Analista Judiciário/2008.
159
Assunto cobrado na prova do Cespe/DPF/Agente/2009. 165
Cespe/TJ-PB/Juiz Substituto/Questão 54/Assertiva D/2011.
160
Assunto cobrado na prova do Cespe/Defensoria Pública do Estado de Alagoas/ 166
Assunto cobrado na prova de Procurador da República/1999. Assunto aborda-
Defensor Público de 1ª Classe/2003. do por Fernando Capez (2005, p. 91), que entende como correta tal assertiva.

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Entretanto, em tema de investigação criminal, não cabe policial não poderá mandar arquivar autos de inquérito,
ao juiz, rejeitando a denúncia, indicar os dados de inves- uma vez que tal arquivamento é de competência da auto-
tigação ausentes na peça acusatória e, então, devolver os ridade judicial.168
autos ao Ministério Público para a complementação das Estando o indiciado preso e sendo pedido o arquiva-
investigações.167 mento do inquérito, o juiz, aceitando o pedido, ordenará a
Ocorre que a Lei nº 11.690/2008 alterou a redação do soltura do indiciado.
art. 156 do CPP permitindo ao juiz determinar diligências Assim, cabe exclusivamente ao juiz de direito determi-
ainda durante a fase de inquérito sem a denúncia do Minis- nar o arquivamento do inquérito policial, sendo necessá-
tério Público, nos seguintes termos: rio o requerimento do membro do Ministério Público169.
Magistrado não pode arquivar inquérito policial de ofício,
A prova da alegação incumbirá a quem a fizer, sendo, dependendo sempre de requerimento do Parquet.
porém, facultado ao juiz de ofício: I – ordenar, mesmo Em tema de arquivamento de inquérito policial, o ato
antes de iniciada a ação penal, a produção antecipada judicial, em tal procedimento, não é decisório170, mas sim
de provas consideradas urgentes e relevantes, obser- decisão administrativo‑judicial, por ser oriundo do Poder
vando a necessidade, adequação e proporcionalidade Judiciário (LIMA, 2006, p. 133).
da medida. Portanto, a autoridade policial, após a instauração do
inquérito policial, não pode, em hipótese alguma, deter-
O art. 23 do CPP determina que,
minar o seu arquivamento, mesmo que descubra pela
Ao  fazer a remessa dos autos do inquérito ao juiz inexistência do fato ou que o fato praticado não é crime,
competente, a  autoridade policial oficiará ao Ins- devendo relatar o ocorrido, sugerindo o arquivamento do
tituto de Identificação e Estatística, ou repartição inquérito, e encaminhá‑lo ao juízo171.
congênere, mencionando o juízo a que tiverem sido No mesmo sentido, ainda que o delito seja apenado
distribuídos, e os dados relativos à infração penal e apenas com detenção, ou não exista suficiente fumus
à pessoa do indiciado. commissi delicti ou, ainda, que o indiciado venha a falecer,
não poderá também a autoridade policial arquivar os autos
Uma vez remetidos os autos do inquérito ao juiz, este de inquérito.172
abre vista ao promotor caso se trate de crime de ação pe- Segundo o disciplinamento do inquérito policial no
nal pública. O promotor, recebendo os autos do inquérito Código de Processo Penal, só o Ministério Público pode
policial, conforme ressalta Pacheco (2006, p. 158), tem as requerer seu arquivamento.173 Dessa forma, o órgão do
seguintes opções: Ministério Público poderá, entendendo pública a ação penal,
mas discordando das conclusões da autoridade policial no
a) requerimento de devolução dos autos à autoridade relatório que encerrou o inquérito policial, requerer ao juiz
policial, para a realização de diligências imprescindíveis competente o arquivamento dos autos, por falta de provas
ao oferecimento da denúncia (art. 16, CPP); b) reque- da materialidade do crime.
rimento para que os autos permaneçam em cartório, O membro do Ministério Público pode pedir ao juiz o
aguardando a iniciativa do ofendido ou de quem possa arquivamento por entender não constituir o fato um crime,
representá‑lo, no caso de crime de ação penal privada por já estar extinta a punibilidade ou mesmo por não haver
exclusiva ou personalíssima (art. 19 do CPP); c) alega- provas suficientes para o exercício da ação penal.
ção de incompetência e requerimento da remessa dos Não cabe o ajuizamento de ação privada subsidiária
autos de inquérito a outro juízo [...]; d) requerimento quando houver pedido de arquivamento do inquérito
de declaração da extinção da punibilidade, se identi- policial pelo promotor de justiça, pois o pedido de arqui-
ficar causa de extinção da punibilidade. Observação: vamento não pode ser equiparado à omissão174.
há quem entenda que o promotor deva requerer o Levando‑se em conta o Código de Processo Penal, da
arquivamento dos autos, com fundamento no art. 43, II, decisão que arquiva o inquérito policial, a pedido do Mi-
CPP, pois, se oferecesse a denúncia, ela seria rejeitada;
e) requerimento de arquivamento do inquérito policial
(art. 43 do CPP, a contrario sensu), em razão da atipici- 168
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/TRE-AP/Analista Judiciário/Área
dade penal do fato, coisa julgada etc. (A referência ao Administrativa/Questão 55/Assertiva D/2011; Cespe/TJ-PB/Juiz Substituto//
Questão 54/Assertiva E/2011; Ieses/TJ-MA/Analista Judiciário/Questão 81/
art. 43 do CPP, em face da Lei nº 7.719/2008, agora se Item IV/2011; FGV/OAB/IV Exame Unificado/Questão 69/Assertiva D/2011;
encontra acobertada pelo art. 395 do CPP). Cespe/OAB‑DF/2009 e Cespe/TRE‑GO/Analista Judiciário/Área Administra-
tiva/2009.
169
Assunto cobrado nas seguintes provas: Delegado de Polícia Substituto de
Em caso de ação penal privada, os autos do inquérito são Santa Catarina/2001 e OAB‑SP/124º Exame de Ordem/2004.
enviados ao juiz, nos termos do art. 19 do CPP: Assunto cobrado na prova de Procurador da República/2001.
Noções de Direito Processual Penal

170
171
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑PR/3º Exame de Ordem/2004;
Nos crimes em que não couber ação pública, os autos UEG/Delegado de Polícia de 3ª Classe de Goiás/2003; TJ‑PI/Juiz Substitu-
to/2001; Cespe/Delegado da Polícia Federal/2002; FCC/TRE‑SP/Analista
do inquérito serão remetidos ao juízo competente, Judiciário/Área Judiciária/2006; FCC/TRE‑PB/Analista Judiciário/Área Admi-
onde aguardarão a iniciativa do ofendido ou de seu nistrativa/2007; Cespe/Ministério Público do Estado de Tocantins/Analista
representante legal, ou serão entregues ao reque- Ministerial/Especialidade: Ciências Jurídicas/2006; OAB‑PR/Exame 1/2007;
rente, se o pedir, mediante traslado. OAB‑PR/Exame 1/2007; FGV/TJ‑SE/Analista Judiciário/Área Direito/2004;
OAB‑MS/80º Exame de Ordem/2004; OAB‑RS/1º Exame de Ordem/2005;
OAB‑DF/2º Exame de Ordem/2004; OAB‑DF/3º Exame de Ordem/2003;
Arquivamento OAB‑SP/124º Exame de Ordem/2004; Cespe/Ministério Público do Estado
do Tocantins/Analista Ministerial/Área Ciências Jurídicas/2006; Cespe/TRF 1ª
Região/Juiz Federal Substituto/2004; TJ‑DF/Oficial de Justiça Avaliador/1997;
Arquivamento na Hipótese de Crime de Ação Penal OAB‑SP/121º Exame de Ordem/2003; OAB/1º Exame de Ordem/2004;
Pública OAB‑SP/121º Exame de Ordem/2003; Cespe/TJ‑RJ/Analista Judiciário/2008.
172
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑PR/3º Exame de Ordem/2004;
OAB‑RS/1º Exame de Ordem/2005; Cespe/TJ‑PE/Oficial de Justiça da 1ª
O art. 17 do CPP é taxativo: “A autoridade policial não Entrância/2001.
poderá mandar arquivar autos de inquérito.” A autoridade 173
Assunto cobrado na prova da OAB‑DF/2º Exame de Ordem/2004.
174
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/TJ‑PA/Juiz Substitu-
to/2001/2002; Cespe/TJ‑AP/Analista Judiciário/Área Judiciária/2003-2004;
Assunto cobrado na prova de Procurador da República/2003.
167
TRF 1ª Região/Juiz Federal Substituto/2005, Procurador da República.

28 Este eBook foi adquirido por ANA PAULA TORQUATO DA COSTA - CPF: 628.848.913-15.
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nistério Público, não cabe qualquer recurso, mesmo que Discordância do Juiz sobre o Pedido de Arquivamento
evidente o erro de interpretação.175  Não pode a vítima do Parquet
sequer se valer de alguma medida judicial, como o mandado
de segurança, para obrigar o Ministério Público a ajuizar a Caso um membro do Ministério Público requeira o arqui-
denúncia. vamento de um inquérito policial fundamentado na ausência
A decisão de arquivamento é irrecorrível. Luiz Bivar de base para denúncia, por entender inexistente o crime
(2009, p. 52) destaca algumas exceções: apurado ou mesmo por já estar extinta a punibilidade, e o juiz
discorde, considerando improcedentes as razões invocadas,
Exceção 1: a decisão que arquiva o inquérito policial por ser fiscal do princípio da obrigatoriedade da ação penal,
ou absolve o réu nos crimes contra a saúde pública deverá encaminhar os autos ao Procurador‑Geral de Justiça
ou economia popular estão sujeitas ao ‘recurso de (chefe do Ministério Público Estadual), nos termos do art. 28
ofício’ (reexame necessário ou remessa obrigatória do CPP. Recebendo os autos do inquérito, o Procurador‑Geral
– art. 7º da Lei nº 1.521/1951). de Justiça oferecerá a denúncia, designará outro órgão do
Exceção 2: a decisão que arquiva o inquérito quando Ministério Público para oferecê‑la ou insistirá no pedido de ar-
se tratar das contravenções previstas nos arts. 58 e quivamento, ao qual só então estará o juiz obrigado a atender.
60 do Decreto-Lei nº 6.259/1944 (jogo do bicho e Se, por outro lado, o juiz discordar das razões aduzidas,
aposta em competições esportivas) está sujeita ao não deve atender imediatamente ao pedido de arquiva-
recurso em sentido estrito. mento formulado pelo órgão do Ministério Público.178 No
entanto, o juiz é obrigado a arquivar o inquérito policial caso
O arquivamento do inquérito policial não impede a o Procurador‑Geral insista no arquivamento já solicitado
propositura de ação civil.176 pelo órgão do Ministério Público.179
Se não houver inquérito, mas sim peças de informação Dessa forma, verifica‑se a existência de três possibili-
obtidas pelo próprio Ministério Público, por meio de parti- dades para o chefe do Ministério Público, quais sejam: 1)
culares ou de órgãos públicos, não haverá pronunciamento oferecer a denúncia; 2) designar outro órgão do Ministé-
judicial sobre referidas peças, salvo se houver práticas de rio Público para oferecê‑la180; ou 3) insistir no pedido de
atos a serem determinados exclusivamente por magistrados, arquivamento. Não cabe ao chefe do Ministério Público
como as medidas constritivas de bens ou de liberdade. solicitar remessa dos autos à polícia para que se façam mais
Haverá, entretanto, pronunciamento judicial se houver diligências. Dessa forma, em relação à atuação de membro
pedido de arquivamento por parte do representante do do Ministério Público, há ofensa ao princípio do promotor
Ministério Público. natural quando o Procurador‑Geral, invocando a aplicação
O arquivamento do inquérito policial pode se dar em analógica do art. 28, decide sobre pedido de baixa dos autos
virtude da promoção ministerial no sentido da incidência de à complementação de diligências181.
causa excludente de ilicitude (STJ, RHC nº 17.389/SE, Min. Ao juiz não resta alternativa senão concordar com o
Laurita Vaz, Quinta Turma, DJe 7/4/2008). pedido de arquivamento feito pela chefia do Ministério Pú-
blico. O juiz é obrigado a arquivar o inquérito policial caso o
Arquivamento na Hipótese de Crime de Ação Penal Procurador‑Geral insista no arquivamento já solicitado pelo
Privada órgão do Ministério Público.
Se o juiz se negar a arquivar os autos do inquérito em tal
Sobre o arquivamento do inquérito na hipótese de ação hipótese, caberá correição parcial, por error in procedendo,
penal privada, ressalta‑se que essa hipótese é difícil de ser sendo nulo o prosseguimento das investigações eventual-
verificada. Com efeito, se o ofendido, ciente da autoria, faz mente determinadas pelo magistrado, já que ao juiz não é
o pedido de arquivamento após o prazo decadencial de 6 permitido dar início ao procedimento ex officio.
meses, o juiz promove o arquivamento, embasado na deca- Por outro lado, conforme jurisprudência recente do STF,
dência e não no pedido de arquivamento propriamente dito. não ofende o princípio do promotor natural o fato de ter sido
Já se o pedido de arquivamento é efetivado dentro do pedido o arquivamento dos autos do inquérito policial por
prazo decadencial para o oferecimento da queixa, o  juiz um promotor de justiça e, posteriormente, apresentada a de-
determinará o arquivamento, embasado na renúncia ex- núncia por outro promotor, indicado pelo Procurador‑Geral
pressa, não mais podendo os autos do inquérito serem de Justiça, depois de o juízo singular haver reputado impro-
desarquivados, uma vez que a renúncia é causa extintiva cedente o pedido de arquivamento. (Primeira Turma, HC
de punibilidade. nº 92.885/CE, Rel. Min. Cármen Lúcia. Inf. nº 504.)
O mesmo se diga se o ofendido não souber quem é o O membro do Ministério Público designado pelo
autor da infração penal. Se decidir pelo pedido de arquiva- Procurador‑Geral – ou pelo órgão colegiado que detenha
tal atribuição – para denunciar não pode negar‑se a fazê‑lo,
Noções de Direito Processual Penal

mento das peças de informação, ao juiz não cabe decidir de


forma contrária. invocando o princípio constitucional da independência fun-
A decisão judicial que determina o trancamento de um cional.182 Ademais, tal membro, designado à denúncia, não
inquérito policial admite, por parte do defensor da vítima, se limita à extensão do decidido pelo Procurador‑Geral, ou
reabertura do inquérito policial, desde que novas provas pelo órgão colegiado que detenha tal atribuição.183
surjam acerca da materialidade ou da autoria.177
Se, posteriormente, surgirem novas provas que atestem Arquivamento Implícito
a autoria, o prazo decadencial passa a correr, podendo o
ofendido oferecer a queixa ou pedir novo arquivamento, Não é difícil de se verificar a hipótese em que o repre-
o  que agora configurará causa extintiva da punibilidade sentante do Ministério Público oferece denúncia contra um
pela renúncia.
178
Assunto cobrado na prova do TJ‑DF/Oficial de Justiça Avaliador/1997.
179
Assunto cobrado na prova do Cespe/TJ‑AP/Analista Judiciário/Área Judiciá­
175
Assunto cobrado nas seguintes provas: Vunesp/OAB‑SP/130º Exame; ria/2003-2004.
OAB‑SP/125º Exame de Ordem/2005; TRF 4ª Região/Juiz Federal Substitu- 180
Assunto cobrado na prova do MPDFT/28º Concurso/Promotor/2009.
to/2005. 181
Procurador da República/2003.
176
Assunto cobrado na prova da OAB‑GO/1º Exame de Ordem/2003. 182
Assunto cobrado na prova de Procurador da República/2001.
177
Vunesp/OAB‑SP/132º Exame. 183
Assunto cobrado na prova de Procurador da República/2001.

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agente, mas não denuncia um outro agente, por não verificar a recusa de oferecer denúncia por considerar incom-
suporte fático suficiente a embasar a ação penal quanto a petente o juiz, que, no entanto, julga‑se competente,
este, sendo que não faz qualquer manifestação expressa não suscita um conflito de atribuições, mas um pedi-
sobre as razões pelas quais não o denunciou e, muito menos, do de arquivamento indireto que deve ser tratado à
pede o arquivamento do inquérito em face do agente contra luz do art. 28 do CPP. (STF, Tribunal Pleno, Rel. Min.
o qual não há elementos probatórios mínimos de autoria. Rafael Mayer, 1º/4/1982)
Poder‑se‑ia, entender, portanto, que em relação a tal agente,
ocorreria o chamado “arquivamento implícito”. No mesmo sentido é a jurisprudência do STJ que destaca
Referida hipótese não deve ser admitida, uma vez que, que
em face do princípio da obrigatoriedade e divisibilidade da
ação penal pública, pode o Parquet, durante o processo, se o magistrado discorda da manifestação minis-
promover ao aditamento da denúncia, fazendo referência a terial, que entende ser o juízo incompetente, deve
corréu não denunciado na primeira oportunidade. encaminhar os autos ao Procurador‑Geral de Justiça,
Dessa forma, o arquivamento implícito do inquérito para, na forma do art. 28 do CPP, dar solução ao
policial não tem lugar quando houver falta de descrição da caso, vendo‑se, na hipótese, um pedido indireto de
conduta de algum dos autores do crime de ação penal públi- arquivamento. (STJ, Terceira Seção, Min. Anselmo
ca, tampouco diz respeito à revelação da inércia do membro Santiago, DJ: 4/8/1997)
do Ministério Público e do juiz que não exerceu a fiscalização
sobre o princípio da oportunidade da ação penal.184 O juiz criminal, diante do pedido de arquivamento do
O mesmo se diga em relação a inquérito policial formulado pelo promotor, por incompe-
tência do Juízo, considera‑se competente. Nessa situação,
eventuais omissões na denúncia quanto a elementos deve o juiz provocar a audiência do Procurador‑Geral de
acidentais do delito, como as qualificadoras, que não Justiça, conforme preceitua o art. 28 do Código de Processo
configuram arquivamento implícito, o que pode ser Penal187.
sanado mediante aditamento, sendo que, nos termos Em se tratando de dissenso entre Procurador da Repú-
da Súmula nº 524 do STF, blica, que conclui pela incompetência do juiz federal, e este,
que se tem por competente, cria pedido de arquivamento
novas provas são exigidas para o desarquiva- indireto a ser resolvido pela Câmara Criminal do Ministério
mento do inquérito policial apenas quando seu Público Federal188.
arquivamento houver sido determinado mediante Se o promotor pede arquivamento do inquérito por ser o
decisão judicial, a  pedido do representante do juiz estadual incompetente para julgar os fatos e o juiz con-
Parquet. (STJ, HC nº 111.972/RJ, Min. Jane Silva corda, nada impede que o Procurador da República ofereça
(Desembargadora convocada do TJ/MG), Sexta a denúncia perante o juízo federal competente. Hipótese
Turma, DJe 2/2/2009). análoga ocorre em caso de foro privilegiado em que a com-
petência para apurar os fatos é de tribunal de segunda ins-
Se o promotor denuncia apenas um dos autores, pode o tância. A título de exemplo: considera‑se que, em face de sua
juiz velar pela obrigatoriedade. Com efeito, Polastri (2009, incompetência, o Tribunal de Justiça do Estado determinou
p. 182), destaca que: o arquivamento de inquérito policial instaurado pela Polícia
Estadual para apurar o desvio, em um município, de recur-
Tratando-se de ação penal pública, conhecidos to- sos federais do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento
dos os autores, estes deverão ser denunciados, isto do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério
não sendo, obviamente, caso de arquivamento em (Fundef). Nessa situação, diante do arquivamento da peça
relação a alguns, mas, como já visto, ocorrendo falta informativa, a Procuradoria Regional da República poderá
de qualificação ou mesmo de outros elementos em requerer ao TRF a instauração de outro inquérito policial
relação a maior esclarecimento sobre a identificação para apurar a infração penal189.
ou particular contribuição de um dos agentes, nada
impedirá o posterior oferecimento de aditamento Determinação de Arquivamento do Inquérito por Juiz
naquele processo ou mesmo nova denúncia, se findo Incompetente
o processo original.
Situação interessante surge quando juiz incompetente
O princípio da indivisibilidade, aqui, está contido no determina o arquivamento dos autos do inquérito. Para
princípio maior da obrigatoriedade da ação penal pública, determinar o arquivamento, o juiz teve, necessariamente,
Noções de Direito Processual Penal

e, assim, havendo elementos para a denúncia e não tendo de firmar sua competência. A título de exemplo, vejamos
o promotor denunciado o agente, o juiz poderá, na forma hipótese em que um Procurador da República, por entender
do art. 28 do CPP, remeter os autos ao Procurador-Geral de não ser da Justiça Federal a competência para processar e
Justiça, pois a hipótese se equivale ao arquivamento. julgar crime ambiental de desmatamento da floresta nativa
O STF185 não tem acolhido a tese do arquivamento im- da Mata Atlântica, requer o arquivamento dos autos. Na
plícito do inquérito policial186. hipótese, o juiz federal deveria não arquivar o inquérito, mas
remetê‑lo à Justiça Estadual, eis que, para determinar o ar-
Arquivamento Indireto quivamento, deve o magistrado firmar pela sua competência.
Por outro lado, vejamos a hipótese em que um Pro­
Referida modalidade ocorreria quando o membro do curador da República requer o arquivamento de inquérito em
Ministério Público, entendendo ser o juiz incompetente, não que se apura crime ambiental de desmatamento da floresta
oferece a denúncia. Nesse caso, o STF entende que nativa da Mata Atlântica, por não haver provas suficientes
187
Assunto cobrado na prova da Esaf/Promotor‑CE/2001.
184
17º Concurso para Procurador da República/1999/Grupo III. 188
Assunto cobrado nas seguintes provas: Procurador da República/1996; Pro-
185
STF, Primeira Turma, RHC nº 93.247/GO, Min. Marco Aurélio, 18/3/2008. curador da República/Grupo III.
186
Assunto cobrado na prova do Cespe/Tribunal de Justiça do Acre/Juiz de Direito 189
Assunto cobrado na prova de Cespe/TRF  5ª Região/Juiz Federal Substitu-
Substituto/2007. to/2004.

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a embasar a ação penal. Arquivado o inquérito, os  fatos gada apenas formalmente. Isso significa que se a ação penal
são relatados a um promotor estadual, que entende haver for proposta sem novas provas, pode ser trancada em face
provas suficientes de materialidade e indícios de autoria do ajuizamento de habeas corpus.
que permitem o ajuizamento da ação penal no âmbito da Diante de novas provas, o Delegado não pode, de ofício,
Justiça Estadual. desarquivar inquérito já encerrado.192
Caso o promotor de justiça ofereça a denúncia e o juiz Se o promotor pede o arquivamento por falta de provas,
estadual, por ser competente para apreciar o caso, resolve pode o inquérito ser desarquivado, mediante pedido feito ao
receber a ação, resta configurado conflito entre juízes não juiz. Polastri (2009, p. 120) traz posicionamento no sentido
vinculados ao mesmo Tribunal, sendo competência do STJ de que sequer é necessário pedido ao juiz. Ressalta que
resolver tal conflito de competência, nos termos do art. 105,
I, d, da CF/1988. O fato de a decisão de arquivamento ser judicial não
permite o entendimento de que o requerimento de
Arquivamento dos Autos do Inquérito em Decorrência
desarquivamento deva ser submetido ao Judiciário,
da Prescrição Punitiva Antecipada pela Pena em
Perspectiva pois, como já visto, é o Ministério Público que sempre
dará a última palavra quanto à pertinência ou não
Muitas vezes, o órgão do Ministério Público, ao apreciar do arquivamento, e, consequentemente, ao mesmo
a data em que se verificaram os fatos delitivos, bem como a cabe decidir sobre o desarquivamento. Ao Ministério
situação do autor dos fatos, como a primariedade, percebe Público cabe, privativamente, a promoção da ação
que a eventual pena a ser aplicada quando da prolação da penal pública, e o Judiciário não pode obrigar à Ins-
sentença será atingida pela prescrição. Dessa forma, optaria tituição ou seus membros a tal promoção, ou seja,
o Parquet por requerer o arquivamento dos autos, em face a desarquivar procedimentos e oferecer denúncia,
da ausência de interesse processual, por não se verificar a como também, segundo o mesmo raciocínio, não
utilidade do provimento jurisdicional a ser eventualmente pode impedir o desarquivamento do inquérito.
proferido. Isso porque ocorreria a extinção da punibilidade
da pena in concreto. Porém, Ao juiz, então, o que cabe, segundo os termos do art. 28,
é o controle sobre o arquivamento do inquérito, e não sobre
O Supremo Tribunal Federal tem rechaçado a aplica- seu desarquivamento.
ção do instituto da prescrição antecipada reconhecida Não é possível que o magistrado, em busca da verdade
antes mesmo do oferecimento da denúncia, (STF, real, determine diligências em IP, na situação de crime de
HC nº 83.458/BA, DJ: 6/2/2004) ação penal pública incondicionada em que o membro do
MP já tenha pugnado pelo arquivamento dos autos.193
A Suprema Corte salienta que, Em tal caso, a decisão sobre o pedido de desarquiva-
mento, em surgindo novas provas, cabe ao representante
Antes da sentença, a pena é abstratamente comina- do Ministério Público. É condição sine qua non para o de-
da e o prazo prescricional se calcula pelo máximo, sarquivamento do inquérito o surgimento de novas provas.
não podendo ser concretizada por simples presun- É o que determina a Súmula nº 524 do STF:
ção (STF, Primeira Turma, RHC  nº  66.913/DF. DJ:
18/11/1988) Arquivado o inquérito policial, por despacho do juiz,
a requerimento do promotor de justiça, não pode a
Dessa forma, verificando o juiz que a denúncia, ofere-
ação penal ser iniciada, sem novas provas.194
cida pelo promotor de justiça, narra um crime, cuja pena
máxima já foi alcançada pela prescrição, deverá rejeitar a
ação penal.190 O STF entende que o membro do Ministério Público não
pode simplesmente se retratar de pedido de arquivamento
Desarquivamento dos Autos do Inquérito anteriormente feito. (STF, Tribunal Pleno, Inq. nº 2.054/DF,
Rel. Min. Ellen Gracie, 29/3/2006). Ele tem de fundamentar
O inquérito policial, como visto, pode ser arquivado a o pedido com base em novas provas.
pedido do membro do Ministério Público que, em face do Mirabete (2005, p. 106) destaca que
princípio da obrigatoriedade, deve fundamentar o pedido,
por exemplo, por não ser o fato tido como criminoso, por essas novas provas, capazes de autorizar início da
já estar extinta a punibilidade ou mesmo por não haver ele- ação penal, são somente aquelas que produzem
mentos probatórios mínimos para o exercício da ação penal. alteração no panorama probatório dentro do qual foi
Noções de Direito Processual Penal

Determinado o arquivamento do inquérito policial concebido e acolhido o pedido de arquivamento do


por falta de base para a denúncia, poderá ele voltar a ser inquérito. A nova prova há de ser substancialmente
objeto de investigações pela autoridade policial diante da inovadora, e não apenas formalmente inovadora.
informação de novas provas (art. 18 do CPP), uma vez que
a decisão de arquivamento não faz coisa julgada material, No entanto, o arquivamento do inquérito policial a re-
nem causa preclusão, pois se trata de uma decisão tomada querimento do Ministério Público poderá, em determinadas
rebus sic stantibus191, configurando‑se hipótese de coisa jul- hipóteses, fazer coisa julgada material.195 Com efeito, quan-
do o inquérito policial é arquivado com base na atipicidade
Assunto cobrado na prova de Promotor‑RN/2004.
190

Assunto cobrado nas seguintes provas: TRF 3ª Região/Juiz Federal Substituto;


191 do fato ou sob a alegação de já estar extinta a punibilidade,
Vunesp/TRF 3ª Região/Analista Judiciário/Área Judiciária/2002; OAB‑ES/2º
Exame de Ordem/2004; Cespe/TJ‑AC/Juiz de Direito Substituto/2007; TJ‑PI/ 192
Assunto cobrado na prova do MPDFT/28º Concurso/Promotor/2009.
Juiz Substituto/2001; OAB‑ES/2º Exame de Ordem/2004; Cespe/TJ‑PA/ 193
Assunto cobrado na prova do Cespe/PC-RN/Delegado de Polícia Civil Substi-
Analista Judiciário/Área Judiciária/2006; OAB‑RJ/30º Exame; OAB‑MT/2º tuto/2009.
Exame de Ordem/2004; OAB‑DF/2º Exame de Ordem/2004; OAB‑SP/126º 194
Assunto cobra nas seguintes provas: Funiversa/PC-DF/Delegado de Polí-
Exame de Ordem/2005; Cespe/1º Exame da Ordem/2004; Procurador da cia/2009 e MS/TRE-SC/Analista Judiciário/2009.
República/2003; Esaf/Promotor‑CE/2001; Cespe/PC-RN/Delegado de Polícia 195
Assunto cobrado na seguinte prova: MPDFT/28º Concurso para Promotor/
Civil Substituto/2009. 2009.

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
tal decisão tem eficácia de coisa julgada material e gera fato e a vítima, providenciando‑se as requisições dos
preclusão, mesmo que a decisão seja emanada de juiz exames periciais necessários.
absolutamente incompetente, o que impede a instauração
de processo que tenha por objeto os mesmos fatos, ainda O parágrafo único determina, ainda, que
que a denúncia se baseie em novos elementos de prova196.
Por outro lado, não se impede o desarquivamento do Ao autor do fato que, após a lavratura do termo, for
inquérito policial com vistas a prosseguir as investigações imediatamente encaminhado ao juizado ou assumir
nas hipóteses de decisões judiciais, reconhecendo a pre- o compromisso de a ele comparecer, não se imporá
sença de alguma excludente de ilicitude.197 prisão em flagrante, nem se exigirá fiança.
Caso o representante do Ministério Público requeira fun-
damentadamente o arquivamento de um inquérito policial Dessa forma, nas infrações de menor potencial ofensivo,
por entender que a conduta do indiciado era atípica ou por ou seja, nas contravenções penais e nos crimes em que a
entender já estar extinta a punibilidade, acatando o juiz as pena máxima cominada seja igual ou inferior a dois anos,
razões e determinando o arquivamento do inquérito, não não haverá inquérito policial, mas tão somente a lavratura
será admitido que, posteriormente, um outro membro do de um termo circunstanciado.199 Nas hipóteses de incidência
Ministério Público oferte denúncia, pois a decisão do juiz da Lei nº 9.099/1995, a autoridade não deverá instaurar
transita em julgado. inquérito policial e nem proceder ao indiciamento do
Se os fatos apurados forem de ação penal privada, para acusado, de imediato200. A título de exemplo, o crime de
haver o desarquivamentos dos autos do inquérito, deve-se constrangimento ilegal, cuja pena é de detenção de três
atentar para o prazo decadencial para o oferecimento da meses a um ano ou multa, é da alçada do Juizado Especial
queixa caso já seja conhecida a autoria dos fatos. Criminal. Nessa situação, o delegado de polícia não deve
lavrar o auto de prisão em flagrante, mas termo circunstan-
Inquérito Policial e os Juizados Especiais Criminais ciado, desde que o autor da infração seja imediatamente
encaminhado para o juizado ou assuma o compromisso de
Os Juizados Especiais Criminais têm previsão no art. 98, fazê‑lo201.
I, e § 1º, da CF/1988. Como maior exemplificação: Iramar da Silva, com von‑
O art. 61 da Lei nº 9.099/1995 ressalta que tade livre, consciente e com nítido intento de ultrajar e
desprestigiar, desacatou – quando cumpriam mandado de
Consideram‑se infrações penais de menor potencial penhora e avaliação extraído da execução promovida em
ofensivo, para os efeitos desta Lei, as contravenções desfavor da companheira dele, portanto, no pleno exercício
penais e os crimes a que a lei comine pena máxima das atribuições dos cargos públicos que exercem – as ofi‑
não superior a 2 (dois) anos, cumulada ou não com cialas de Justiça Cacilda e Irinéia, chamando‑as de ladras
multa. e afirmando que nada seria penhorado em sua residência.
Preso em flagrante pelo crime de desacato (art. 331, CP),
São exemplos de crimes que, quando de seu pro‑ que prevê uma pena de detenção de seis meses a dois anos,
cessamento e julgamento, obedecerão às regras da Lei ou multa, Iramar foi encaminhado à delegacia de polícia.
nº 9.099/1995 e deverão ser julgados pelos Juizados Espe‑ Considerando o entendimento predominante na doutrina e
ciais Criminais: lesão corporal leve ou culposa (art. 129 do na jurisprudência, o(a) delegado(a) de polícia encarregado
CP); perigo de contágio venéreo (art. 130 do CP); omissão desse caso deverá lavrar um termo circunstanciado de ocor‑
de socorro da qual resulta lesão corporal de natureza grave rência e encaminhá‑lo imediatamente ao Juizado Especial
(art. 135, § 1º, do CP); e exercício arbitrário das próprias Criminal com o autor do fato e as vítimas202.
razões (art. 345 do CP)198. Se o autor dos fatos se negar a ir de imediato ao Juizado
O conceito de infração de menor potencial ofensivo Especial Criminal ou mesmo a assumir o compromisso de
abrange inclusive os crimes que tenham procedimento espe- ali comparecer quando for chamado, pode‑se impor a ele a
cial, como os de abuso de autoridade. Entretanto, em relação prisão em flagrante, que, por si só, configura peça inicial de
à Justiça Militar, a Lei nº 9.099/1995 não tem aplicação, nos inquérito policial. Também pode ser instaurado inquérito
termos de seu art. 90-A. O rito dos Juizados Especiais Crimi- policial quando, após envolvimento em infração penal de
nais também não se aplica às infrações de menor potencial menor potencial ofensivo, o autor dos fatos for encami-
ofensivo, se praticadas em razão de violência doméstica e nhado ao Juizado Especial Criminal, onde o promotor de
familiar contra a mulher, nos termos da Lei nº 11.340/2006. justiça requererá a abertura de inquérito policial em face
Quanto à Justiça Federal, há previsão específica na Lei da complexidade do caso, o que impedirá a formulação
nº 10.259/2001. O procedimento sumaríssimo do Juizado imediata da denúncia203.
Noções de Direito Processual Penal

Especial Criminal se aplica na Justiça Federal. Lembre‑se


de que a Justiça Federal não julga contravenção, ainda que 199
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/TJ‑DF/Analista Judiciá­rio/Área
praticada em detrimento da União, suas autarquias e em- Judiciária  – Atividade Processual/2003; TJ‑PA/Juiz Substituto/2001-2002;
presas públicas. Havendo contravenção, será competente OAB‑RS/1º Exame/2006.
200
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/TJ‑PA/Juiz Substituto/2001-2002.
para julgamento a Justiça Estadual. 201
Cespe/Defensoria Pública do Estado de Sergipe/Defensor Público de 2ª
O art. 69 da Lei nº 9.099/1995 destaca como se dá a Categoria/2005.
apuração das infrações penais de menor potencial ofensivo:
202
UEG/Delegado de Polícia de 3ª Classe de Goiás/2003.
203
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/Defensoria Pública do Estado do
Amazonas/Defensor Público de 4ª/2003. Hipótese semelhante se encontra na
A autoridade policial que tomar conhecimento da seguinte prova: NCE/Faepol/Delegado da Polícia Civil do Rio de Janeiro/2001:
ocorrência lavrará termo circunstanciado e o enca- Em um sábado à noite, Pompílio solicita a presença de policiais militares,
alegando que seu vizinho, Josafá, conhecido e temido na região por seu
minhará imediatamente ao juizado, com o autor do temperamento agressivo, o estaria ameaçando gravemente, na presença dos
filhos da vítima. De fato, os policiais militares chegam ao condomínio onde
196
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/TJ‑AC/Juiz de Direito Substitu- vivem Pompílio e Josafá e presenciam Josafá e Manoel, cunhado de Pompílio,
to/2007; TRF 5ª Região/Juiz Federal Substituto/2005 e Cespe/PC-RN/Delegado em concurso, ameaçarem de morte a vítima, que havia se recusado a pagar
de Polícia Civil Substituto/2009. uma dívida contraída com a empresa de que são sócios Josafá e Manoel.
197
Assunto cobrado na prova do Cespe/DPE-AL/Defensor Público de 1ª Todos são levados à presença da autoridade policial e Pompílio representa
Classe/2009. expressamente pelo processo criminal em face de Josafá, por crime de
198
TJ‑MA/Juiz/2003. ameaça, que é de ação pública condicionada à representação e prevê pena

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
Dessa forma, em relação à Lei nº 9.099/1995, a instau‑ quência, em tema de mandado de segurança ou de
ração do inquérito policial torna‑se medida de exceção. Sua habeas corpus, ao  controle jurisdicional originário
simples instauração não pode determinar a modificação da do Supremo Tribunal Federal (CF, art. 102, I, d e i).
competência do Juizado Especial Criminal204. [...] LIMITAÇÕES AOS PODERES INVESTIGATÓRIOS
Polastri (2009, p. 82) destaca, por sua vez, que, nas DA COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUÉRITO.  – A
infrações de menor potencial ofensivo, em somente duas Constituição da República, ao outorgar às Comissões
hipóteses poderá ser instaurado inquérito pela polícia judi- Parlamentares de Inquérito “poderes de investigação
ciária: 1) quando não houver autor ou vítima conhecidos; e próprios das autoridades judiciais” (art.  58, §  3º),
2) quando a complexidade ou as circunstâncias do caso não claramente delimitou a natureza de suas atribuições
permitirem a imediata formulação de denúncia. institucionais, restringindo‑as, unicamente, ao cam-
po da indagação probatória, com absoluta exclusão
Inquéritos Extrapoliciais de quaisquer outras prerrogativas que se incluem,
ordinariamente, na esfera de competência dos ma-
O parágrafo único do art. 4º do CPP ressalva que as atri- gistrados e Tribunais, inclusive aquelas que decorrem
buições da Polícia Judiciária no que se refere à investigação do poder geral de cautela conferido aos juízes, como
criminal não excluirão as de autoridades administrativas, o poder de decretar a indisponibilidade dos bens
a quem por lei seja cometida a mesma função. pertencentes a pessoas sujeitas à investigação parla-
Desse modo, a  investigação criminal não está mono- mentar. A circunstância de os poderes investigatórios
polizada no trabalho policial205, pois há outros órgãos que de uma CPI serem essencialmente limitados levou a
também têm atribuição para apurar delitos. jurisprudência constitucional do Supremo Tribunal
Podem ser consideradas formas de investigação prelimi- Federal a advertir que as Comissões Parlamentares de
nar: o inquérito parlamentar, o inquérito policial militar206, Inquérito não podem formular acusações e nem punir
o inquérito civil, o inquérito administrativo, o inquérito rea- delitos (RDA 199/205, Rel. Min. Paulo Brossard), nem
lizado pelas polícias da Câmara dos Deputados e do Senado desrespeitar o privilégio contra a autoincriminação
Federal e inquéritos judiciais. que assiste a qualquer indiciado ou testemunha (RDA
As Comissões Parlamentares de Inquérito têm poderes 196/197, Rel. Min. Celso de Mello – HC nº 79.244-
de investigação próprios da autoridade judiciária, para a DF, Rel. Min. Sepúlveda Pertence), nem decretar a
apuração de fato determinado e por prazo certo, no en- prisão de qualquer pessoa, exceto nas hipóteses
tanto, suas conclusões não serão encaminhadas à mesa do de flagrância (RDA 196/195, Rel. Min. Celso de
Senado ou da Câmara para promover a responsabilidade Mello – RDA 199/205, Rel. Min. Paulo Brossard). [...]
civil e criminal207, mas sim ao Ministério Público. As CPIs, A QUEBRA DO SIGILO CONSTITUI PODER INERENTE
nos termos do art. 58, § 3º, da CF/1988, terão poderes de À COMPETÊNCIA INVESTIGATÓRIA DAS COMISSÕES
investigação próprios das autoridades judiciais. Entretanto PARLAMENTARES DE INQUÉRITO. – O sigilo bancário,
há limitação em face dos atos que se constituem reserva de o sigilo fiscal e o sigilo telefônico (sigilo este que in-
jurisdição, conforme já ressaltou o STF: cide sobre os dados/registros telefônicos e que não
se identifica com a inviolabilidade das comunicações
EMENTA: COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUÉRI- telefônicas) – ainda que representem projeções es-
TO  – PODERES DE INVESTIGAÇÃO (CF, ART. 58, § pecíficas do direito à intimidade, fundado no art. 5º,
3º) – LIMITAÇÕES CONSTITUCIONAIS – LEGITIMIDA- X, da Carta Política – não se revelam oponíveis, em
DE DO CONTROLE JURISDICIONAL – POSSIBILIDADE nosso sistema jurídico, às Comissões Parlamentares
DE A CPI ORDENAR, POR AUTORIDADE PRÓPRIA, de Inquérito, eis que o ato que lhes decreta a quebra
A QUEBRA DOS SIGILOS BANCÁRIO, FISCAL E TELE- traduz natural derivação dos poderes de investigação
FÔNICO – NECESSIDADE DE FUNDAMENTAÇÃO DO que foram conferidos, pela própria Constituição da
ATO DELIBERATIVO  – DELIBERAÇÃO DA CPI QUE, República, aos órgãos de investigação parlamentar.
SEM FUNDAMENTAÇÃO, ORDENOU MEDIDAS DE As Comissões Parlamentares de Inquérito, no entan-
RESTRIÇÃO A DIREITOS – MANDADO DE SEGURANÇA to, para decretarem, legitimamente, por autoridade
DEFERIDO. COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUÉ- própria, a quebra do sigilo bancário, do sigilo fiscal
RITO  – COMPETÊNCIA ORIGINÁRIA DO SUPREMO e/ou do sigilo telefônico, relativamente a pessoas
TRIBUNAL FE­DERAL. – Compete ao Supremo Tribu- por elas investigadas, devem demonstrar, a  partir
nal Federal processar e julgar, em sede originária, de meros indícios, a existência concreta de causa
mandados de segurança e habeas corpus impetra- provável que legitime a medida excepcional (rup-
tura da esfera de intimidade de quem se acha sob
Noções de Direito Processual Penal

dos contra Comissões Parlamentares de Inquérito


constituídas no âmbito do Congresso Nacional ou investigação), justificando a necessidade de sua efe-
no de qualquer de suas Casas. É que a Comissão Par- tivação no procedimento de ampla investigação dos
lamentar de Inquérito, enquanto projeção orgânica fatos determinados que deram causa à instauração
do Poder Legislativo da União, nada mais é senão a do inquérito parlamentar, sem prejuízo de ulterior
longa manus do próprio Congresso Nacional ou das controle jurisdicional dos atos em referência (CF,
Casas que o compõem, sujeitando‑se, em conse- art. 5º, XXXV). (...) A QUESTÃO DA DIVULGAÇÃO DOS
DADOS RESERVADOS E O DEVER DE PRESERVAÇÃO
de detenção de um a seis meses ou multa, não se referindo a Manoel. Nesse DOS REGISTROS SIGILOSOS.  – A Comissão Parla-
caso, a autoridade policial: lavrará termo circunstanciado, indicando como mentar de Inquérito, embora disponha, ex propria
autores do fato Josafá e Manoel, independentemente de a representação da
vítima mencionar com exclusividade Josafá, tomando o compromisso de que auctoritate, de competência para ter acesso a da-
Josafá e Manoel comparecerão ao Juizado Especial Criminal competente. dos reservados, não pode, agindo arbitrariamente,

204
NCE/Delegado da Polícia Civil do DF/2004. conferir indevida publicidade a registros sobre os

205
Assunto cobrado nas seguintes provas: Procurador da República/2003; Tri-
bunal de Justiça do DF e Territórios/Juiz de Direito Substituto/2007. quais incide a cláusula de reserva derivada do sigilo

206
Assunto cobrado na prova da OAB‑PR/Exame 3/2006. bancário, do sigilo fiscal e do sigilo telefônico. Com a

207
Assunto cobrado nas seguintes provas: Vunesp/OAB‑SP/131º Exame; Cespe/ transmissão das informações pertinentes aos dados
Delegado da Polícia Federal/2002; Cespe/OAB/1º Exame de Ordem/2008.

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reservados, transmite‑se à Comissão Parlamentar de Nos casos de crimes de competência originária de tribu-
Inquérito – enquanto depositária desses elementos nais, fala‑se em inquérito judicial209. Versando o inquérito
informativos –, a nota de confidencialidade relativa sobre ato de autoridade com foro privativo, este tramitará
aos registros sigilosos. Constitui conduta altamente perante o Tribunal competente.210 Não é possível que
censurável – com todas as consequências jurídicas autoridade policial, de ofício, investigue e indicie pessoa
(inclusive aquelas de ordem penal) que dela possam com foro especial, sem a devida supervisão de magistrado
resultar – a transgressão, por qualquer membro de naturalmente competente para julgar tal detentor de prer‑
uma Comissão Parlamentar de Inquérito, do dever rogativa funcional.211
jurídico de respeitar e de preservar o sigilo concer- Também era chamado inquérito judicial a investigação
nente aos dados a ela transmitidos. Havendo justa que o próprio juiz fazia pessoalmente (juiz de instrução), nos
causa – e achando‑se configurada a necessidade de termos do art. 3º da Lei nº 9.034/1995. Entretanto, o STF, na
revelar os dados sigilosos, seja no relatório final dos Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 1.570-2, declarou a
trabalhos da Comissão Parlamentar de Inquérito inconstitucionalidade da referida previsão legal.
(como razão justificadora da adoção de medidas a O parágrafo único do art. 41 da Lei Orgânica Nacional
serem implementadas pelo Poder Público), seja para do Ministério Público (Lei nº 8.625/1993) determina que,
efeito das comunicações destinadas ao Ministério
Público ou a outros órgãos do Poder Público, para os Quando no curso de investigação, houver indício da
fins a que se refere o art. 58, § 3º, da Constituição, prática de infração penal por parte de membro do
seja, ainda, por razões imperiosas ditadas pelo inte- Ministério Público, a autoridade policial, civil ou mi-
resse social – a divulgação do segredo, precisamente litar remeterá, imediatamente, sob pena de respon-
porque legitimada pelos fins que a motivaram, não sabilidade, os respectivos autos ao Procurador‑Geral
configurará situação de ilicitude, muito embora
de Justiça, a quem competirá dar prosseguimento à
traduza providência revestida de absoluto grau de
apuração.
excepcionalidade. POSTULADO CONSTITUCIONAL
DA RESERVA DE JURISDIÇÃO: UM TEMA AINDA PEN-
Quanto aos magistrados, o parágrafo único do art. 33 da
DENTE DE DEFINIÇÃO PELO SUPREMO TRIBUNAL
FEDERAL. O postulado da reserva constitucional de Lei Orgânica da Magistratura Nacional dispõe que
jurisdição importa em submeter, à esfera única de
decisão dos magistrados, a prática de determinados Quando, no curso de investigação, houver indício da
atos cuja realização, por efeito de explícita determi- prática de crime por parte do magistrado, a autori-
nação constante do próprio texto da Carta Política, dade policial, civil ou militar, remeterá os respectivos
somente pode emanar do juiz, e não de terceiros, autos ao Tribunal ou órgão especial competente para
inclusive daqueles a quem se haja eventualmente o julgamento, a fim de que prossiga na investigação.
atribuído o exercício de “poderes de investigação
próprios das autoridades judiciais”. A cláusula cons- Dessa forma, por determinação legal, não podem ser
titucional da reserva de jurisdição – que incide sobre presididas por delegado de polícia as investigações criminais
determinadas matérias, como a busca domiciliar (CF, contra promotores de justiça e magistrado212.
art. 5º, XI), a interceptação telefônica (CF, art. 5º, XII) Há, por fim, intenso debate sobre a investigação criminal
e a decretação da prisão de qualquer pessoa, ressal- levada a cabo pelo Ministério Público, ou seja, a hipótese
vada a hipótese de flagrância (CF, art. 5º, LXI) – traduz do Promotor Investigador, que seria o titular da instrução.
a noção de que, nesses temas específicos, assiste ao É grande, no Brasil, o movimento jurídico nesse sentido213.
Poder Judiciário, não apenas o direito de proferir a O Ministério Público atuaria diretamente na investigação.
última palavra, mas, sobretudo, a  prerrogativa de Embora caiba ao Ministério Público o controle da ativi-
dizer, desde logo, a primeira palavra, excluindo‑se, dade policial, há divergências doutrinárias e jurisprudenciais
desse modo, por força e autoridade do que dispõe sobre a possibilidade de esse órgão realizar investigações de
a própria Constituição, a possibilidade do exercício infrações penais.
de iguais atribuições, por parte de quaisquer outros Doutrinadores de escol apresentam o entendimento de
órgãos ou autoridades do Estado. Doutrina. – O que o Parquet pode realizar atos de investigação para fins
princípio constitucional da reserva de jurisdição, de eventual oferecimento de denúncia, podendo requisitar
embora reconhecido por cinco (5) Juízes do Supremo esclarecimentos ou diligenciar de forma direta, buscando
Tribunal Federal – Min. Celso de Mello (Relator), Min. subsídios para a propositura da ação penal (nesse sentido:
Marco Aurélio, Min. Sepúlveda Pertence, Min. Néri
Noções de Direito Processual Penal

FERNANDES, 2002, p. 254-255; MIRABETE, 2001, p. 75. Em


da Silveira e Min. Carlos Velloso (Presidente) – não sentido contrário: TOURINHO FILHO, 2003, p. 207; OLIVEI-
foi objeto de consideração por parte dos demais RA, 2008, p. 72; LIMA, 2006, p. 80). O Superior Tribunal de
eminentes Ministros do Supremo Tribunal Federal, Justiça apresenta entendimentos cristalizados nesse sentido,
que entenderam suficiente, para efeito de concessão in verbis:
do writ mandamental, a falta de motivação do ato
impugnado. (STF, MS nº 23.452/RJ, Rel. Min. Celso CRIMINAL. HC. DETERMINAÇÃO DE COMPARECIMEN-
de Mello, Tribunal Pleno, Julgamento: 16/9/1999) TO AO NÚCLEO DE INVES­TIGAÇÃO DO MINISTÉRIO
PÚBLICO PARA DEPOR. CONSTRANGIMENTO ILEGAL
Além disso, nos termos da Súmula nº 397 do STF, o poder
de polícia da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, 209
Assunto cobrado na prova de Promotor‑BA/2004.
em caso de crime cometido nas suas dependências, com‑ 210
Assunto cobrado na seguinte prova: MPDFT/28º Concurso/Promotor/2009.
preende a prisão em flagrante do agente e a realização do 211
Cespe/PC-RN/Delegado de Polícia Civil Substituto/2009.
212
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/Delegado da Polícia Fe-
inquérito.208 deral/2002; Cespe/OAB/1º Exame de Ordem/2008.
213
Na internet, há diversas ponderações nesse sentido, em textos, sobretudo,
de membros do Ministério Público, podendo ser citados, entre outros: SILVA,
Cespe/OAB/1º Exame de Ordem//2008.
208
E.; SILVA, A., ARAÚJO, CORRÊA; MOREIRA.

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NÃO CONFIGURADO. ORDEM DENEGADA. Tem‑se administrativos; (3) pode propor ação penal sem o
como válidos os atos investigatórios realizados pelo inquérito policial, desde que disponha de elementos
Ministério Público, que pode requisitar esclarecimen- suficientes. (Segunda Turma, RE nº 233.072/RJ, DJ:
tos ou diligenciar diretamente, visando à instrução 3/5/2002)
de seus procedimentos administrativos, para fins de EMENTA: CONSTITUCIONAL. PROCESSUAL PENAL.
oferecimento de denúncia. Ordem denegada. (Quinta MINISTÉRIO PÚBLICO: ATRIBUIÇÕES. INQUÉRITO.
Turma, HC nº 13.368/DF, DJ: 3/4/2001) REQUISIÇÃO DE INVESTIGAÇÕES. CRIME DE DESO-
CRIMINAL. RHC. ABUSO DE AUTORIDADE. TRANCA- BEDIÊNCIA. C.F., art. 129, VIII; art. 144, §§ 1º e 4º.
MENTO DE AÇÃO PENAL. COLHEITA DE ELEMENTOS I  – Inocorrência de ofensa ao art. 129, VIII, CF, no
PELO MINISTÉRIO PÚBLICO. CONSTRANGIMENTO fato de a autoridade administrativa deixar de aten-
ILEGAL NÃO CONFIGURADO. LIMINAR CASSADA. der requisição de membro do Ministério Público no
RECURSO DESPROVIDO. Tem‑se como válidos os atos sentido da realização de investigações tendentes à
investigatórios realizados pelo Ministério Público, que apuração de infrações penais, mesmo porque não
pode requisitar esclarecimentos ou diligenciar dire- cabe ao membro do Ministério Público realizar,
tamente, visando à instrução de seus procedimentos diretamente, tais investigações, mas requisitá‑las à
administrativos, para fins de oferecimento da peça autoridade policial, competente para tal (CF, art. 144,
acusatória. A simples participação na fase investiga- §§ 1º e 4º). Ademais, a hipótese envolvia fatos que
tória, coletando elementos para o oferecimento da estavam sendo investigados em instância superior.
denúncia, não incompatibiliza o Representante do II – R.E. não conhecido. (Segunda Turma, RE nº
Parquet para a proposição da ação penal. A atuação 205.473/AL, DJ: 19/3/1999)
do Órgão Ministerial não é vinculada à existência do EMENTA: RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS.
procedimento investigatório policial – o qual pode MINISTÉRIO PÚBLICO. INQUÉRITO ADMINISTRATIVO.
ser eventualmente dispensado para a proposição NÚCLEO DE INVESTIGAÇÃO CRIMINAL E CONTROLE
da acusação. (Quinta Turma, RHC nº  8.106/DF, DJ: EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL/DF. PORTARIA.
4/6/2001) PUBLICIDADE. ATOS DE INVESTIGAÇÃO. INQUIRI-
PROCESSUAL PENAL. INQUÉRITO POLICIAL. DISPEN- ÇÃO. ILEGITIMIDADE. 1. PORTARIA. PUBLICIDADE
SABILIDADE. PROPOSIÇÃO DE AÇÃO PENAL PÚBLICA. A Portaria que criou o Núcleo de Investigação Cri-
MINISTÉRIO PÚBLICO. INVESTIGAÇÃO CRIMINAL. minal e Controle Externo da Atividade Policial no
POSSIBILIDADE. DENÚNCIA. DESPACHO DE RECEBI- âmbito do Ministério Público do Distrito Federal,
MENTO. FALTA DE FUNDAMENTAÇÃO. NÃO OCOR- no que tange a publicidade, não foi examinada no
RÊNCIA. INÉPCIA. INEXISTÊNCIA. CRIME EM TESE. STJ. Enfrentar a matéria neste Tribunal ensejaria
AÇÃO PENAL. TRANCAMENTO. IMPOSSIBILIDADE. supressão de instância. Precedentes. 2. INQUIRIÇÃO
1 – Esta Corte tem entendimento pacificado no sen- DE AUTORIDADE ADMINISTRATIVA. ILEGITIMIDADE.
tido da dispensabilidade do inquérito policial para A  Constituição Federal dotou o Ministério Público
propositura de ação penal pública, podendo o Par- do poder de requisitar diligências investigatórias e a
quet realizar atos investigatórios para fins de eventual instauração de inquérito policial (CF, art. 129, VIII).
oferecimento de denúncia, principalmente quando os A norma constitucional não contemplou a possibili-
envolvidos são autoridades policiais, submetidos ao dade do Parquet realizar e presidir inquérito policial.
controle externo do órgão ministerial. (Sexta Turma, Não cabe, portanto, aos seus membros inquirir
RHC nº 11.670/RS, DJ: 4/2/2002) diretamente pessoas suspeitas de autoria de crime.
Mas requisitar diligência nesse sentido à autoridade
O STJ não adotou a tese da necessidade do Promotor policial. Precedentes. O  recorrente é delegado de
Prevento, conforme se percebe do entendimento cristalizado polícia e, portanto, autoridade administrativa. Seus
na Súmula nº 397 do STJ: atos estão sujeitos aos órgãos hierárquicos próprios
da Corporação, Chefia de Polícia, Corregedoria.
A participação de membro do Ministério Público Recurso conhecido e provido. (Segunda Turma,
na fase investigatória criminal não acarreta o seu RHC nº 81.326/DF, DJ: 1/8/2003)
impedimento ou suspeição para o oferecimento da
denúncia. Entretanto, em recente decisão, a  Segunda Turma do
STF acena com mudança de entendimento ao destacar que:
Já o Supremo Tribunal Federal tem entendimento to-
Noções de Direito Processual Penal

talmente contrário214, conforme se percebe das seguintes Ministério Público e Poder Investigatório – Relativa-
decisões, in verbis:
mente à possibilidade de o Ministério Público pro-
mover procedimento administrativo de cunho inves-
MINISTÉRIO PÚBLICO. INQUÉRITO ADMINISTRATIVO.
tigatório, asseverou‑se, não obstante a inexistência de
INQUÉRITO PENAL. LEGITIMIDADE. O  Ministério
um posicionamento do Pleno do STF a esse respeito,
Público (1) não tem competência para promover
ser perfeitamente possível que o órgão ministerial
inquérito administrativo em relação à conduta de ser-
promova a colheita de determinados elementos de
vidores públicos; (2) nem competência para produzir
prova que demonstrem a existência da autoria e da
inquérito penal sob o argumento de que tem possi-
materialidade de determinado delito. Entendeu‑se
bilidade de expedir notificações nos procedimentos
que tal conduta não significaria retirar da Polícia Ju-
diciária as atribuições previstas constitucionalmente,
Em recente acórdão proferido no ROHC nº  81.326-7/DF, relator ministro
214

Nelson Jobim, trata‑se da matéria objeto de análise, citando‑se, inclusive, mas apenas harmonizar as normas constitucionais
o histórico da controvérsia. A questão está novamente sendo debatida no (arts.  129 e 144), de modo a compatibilizá‑las para
âmbito da Corte Constitucional, o que ocorre no Inq. nº 1.968/DF, relator permitir não apenas a correta e regular apuração
ministro Marco Aurélio, 1º/9/2004, estando concluso para vista do ministro
Cézar Peluso. dos fatos, mas também a formação da opinio delicti.

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Ressaltou‑se que o art. 129, I, da CF, atribui ao parquet Tal sistema tem sido adotado, por exemplo, na Itália
a privatividade na promoção da ação penal pública, (1988), na Alemanha (1974) e em Portugal (1995).
bem como, a seu turno, o Código de Processo Penal
estabelece que o inquérito policial é dispensável, já A supervalorização do Ministério Público na Itália
que o Ministério Público pode embasar seu pedido tem uma justificação histórica calcada no combate
em peças de informação que concretizem justa causa ao crime a qualquer custo, ainda que para isso se
para a denúncia. Aduziu‑se que é princípio basilar da cometam algumas injustiças. A Itália do pós‑guerra
hermenêutica constitucional o dos poderes implícitos, estava completamente assolada pela corrupção dos
segundo o qual, quando a Constituição Federal conce- órgãos públicos, pela máfia e pelo crime organizado.
de os fins, dá os meios. Destarte, se a atividade‑fim – A reforma realizada em 1988 pretendia, de uma vez
promoção da ação penal pública – foi outorgada ao por todas, mudar esse panorama a qualquer custo.
parquet em foro de privatividade, é inconcebível não (LOPES JÚNIOR, 2003, p. 90)
lhe oportunizar a colheita de prova para tanto, já que A reforma processual levada a cabo na Alemanha,
o CPP autoriza que peças de informação embasem em 1974, foi produto da pressa do legislador em
a denúncia. Considerou‑se, ainda, que, no presente combater a qualquer custo o terrorismo do grupo
caso, os delitos descritos na denúncia teriam sido Baader‑Meinhof. O que importava era dar armas
praticados por policiais, o  que, também, justificaria para a acusação, aumentando a eficácia da instrução
a colheita dos depoimentos das vítimas pelo Minis- em respeito ao fim punitivo pretendido, ainda que
tério Público. Observou‑se, outrossim, que, pelo que com claros prejuízos para o sujeito passivo. (LOPES
consta dos autos, a denúncia também fora lastreada JÚNIOR, 2003, p. 90)
em documentos (termos circunstanciados) e em
depoimentos prestados por ocasião das audiências Foi constatado em um estudo realizado pelo Instituto
preliminares realizadas no juizado especial criminal de Max‑Plank, no ano de 1978, que nos países que já
origem. Por fim, concluiu‑se não haver óbice legal para adotam a investigação a cargo do promotor, como,
que o mesmo membro do parquet que tenha tomado por exemplo, Alemanha, na grande maioria dos ca-
conhecimento de fatos em tese delituosos – ainda que sos, a instrução preliminar era realizada pela polícia
por meio de oitiva de testemunhas – ofereça denúncia e o promotor só tomava conhecimento do realizado
em relação a eles. (HC nº 91.661/PE, Rel. Min. Ellen depois da conclusão das investigações policiais.
Gracie, 10/3/2009). O  promotor investiga muito pouco pessoalmente
e, na prática, não pode modificar substancialmente
o resultado da atuação policial, pois esta já chega
Parece ser mais acertado o entendimento antigo do Su-
concluída, caráter inibitório. Segundo a autora, é uma
premo Tribunal, com algumas ressalvas, conforme a seguir
prática habitual que a investigação recaia, quase que
se aduzirão.
exclusivamente, na polícia, limitando‑se o promotor
Podem‑se resumir, com a lição de Lopes Júnior (2003, p.
a uma mera revisão formal posterior. (LOPES JÚNIOR,
86-97), os prós e contras de a titularidade da investigação
2003, p. 96)
preliminar ficar a cargo do Ministério Público. Destaca o au-
tor os prós: 1) o promotor, embora fosse parte no processo,
Permitindo‑se ao Ministério Público dirigir, por si próprio,
seria imparcial; 2) a atividade prévia à ação penal deve estar
as atividades investigatórias, com benefícios incomensurá-
a cargo do titular da ação penal; 3) a imparcialidade do MP
veis à acusação, restaria, com certeza, ferido o princípio da
permitiria, de forma justa, se este deveria acusar ou não,
paridade de armas no processo penal. A função parcial do
sendo que a investigação poderia também favorecer a defesa;
Parquet, que decorre de sua própria natureza como órgão
4) celeridade e economia processual; e os contras: 1) o mo-
de acusação, dificilmente seria afastada quando ele atuasse
delo está associado ao combate do crime a qualquer custo;
nas investigações, quando o apurador do fato e da autoria
2) elevação dos casos de abuso de autoridade e perseguição deve ser totalmente imparcial.
política, devendo o modelo ser aplicado com cautelas; 3) De início, cumpre salientar que o Ministério Público é
impossibilidade prática e humana de que uma pessoa possa órgão, por natureza, parcial. É a incorporação da litigiosidade
conciliar tarefas que se repelem, acusar e defender; 4) um típica de uma lide, que, entretanto, não deveria existir no
órgão de natureza acusatória, ao agir de forma imparcial, processo penal.
atenta contra a sua própria existência; 5) quanto maior a Ao atuar na fase de inquérito, o representante do Mi-
parcialidade dos litigantes, maior a parcialidade do juiz; 6) nistério Público, ao invés de se despir de sua parcialidade,
por ser um órgão acusador, está o MP inclinado a produzir
Noções de Direito Processual Penal

estaria potencializando‑a, uma vez que sua atuação funcional


provas contra o imputado; 7) o MP teria de realizar atividades também visaria ser útil à ação penal, o que poderia gerar
totalmente alheias à sua função, em nome de uma suposta abusos. As  almejadas celeridade e economia processual,
atuação em benefício do acusado; 8) seria necessário criar com certeza, atentariam contra a igualdade processual dos
a figura do promotor prevenido, ou seja, o membro do MP sujeitos processuais.
que investiga não poderia acusar, em face de diversos prejul- Não subsiste o argumento de que a atividade prévia à
gamentos que ocorreriam; 9) a atividade pré‑processual, por ação penal deve estar a cargo do titular da ação penal. Um
estar voltada para a acusação, atentaria contra o princípio dos objetivos do inquérito policial é justamente evitar a ação
da igualdade de armas; 10) a maioria dos acusados não teria penal, eis que serve de filtro processual, evitando ações
recursos financeiros para contratar um bom profissional infundadas. Se a desigualdade entre acusação e defesa no
para fazer com que a instrução também fosse ao seu favor; processo já é descomunal durante o processo penal, em
11) o acusado, impedido de se valer da fase pré‑processual, que há o contraditório, o que teremos se essa desigualdade
teria de produzir todas as provas no curso do processo; também se estender à investigação preliminar?
12) estaria inviabilizada a função da investigação preliminar As desvantagens em se adotar o sistema do Promotor
de filtrar provas; 13) a investigação, em países que adotam Investigador ou do juiz instrutor são estruturais e não en-
tal sistema, acabaria recaindo na polícia. contram guarida na Constituição Federal.

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
Controle Externo da Atividade Policial FOUCAULT, Michel. A verdade e as formas jurídicas. 3. ed.
Rio de Janeiro: Nau Editora, 2003.
O art. 129, VIII, da CF/1988 estabelece que é função insti-
tucional do Ministério Público exercer o controle externo da GIORDANI, Mário Curtis. Direito Penal romano. 3. ed. Rio
atividade policial. Moldando referida norma constitucional, de Janeiro: Lúmen Juris, 1997.
o art. 3º da LC nº 75/1993 estabelece que o Ministério Público
da União exercerá o controle externo da atividade policial LIMA, Marcellus Polastri. Curso de Processo Penal. 3. ed. Rio
tendo em vista: a) o respeito aos fundamentos do Estado de Janeiro: Lumen Juris, 2006, v. I.
Democrático de Direito, aos objetivos fundamentais da Re-
pública Federativa do Brasil, aos princípios informadores das LOPES Júnior, Aury. Sistemas de investigação preliminar
relações internacionais, bem como aos direitos assegurados no processo penal. 2. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2003.
na Constituição Federal e na lei; b) a preservação da ordem
pública, da incolumidade das pessoas e do patrimônio pú- ______. Direito processual penal e sua conformidade
blico; c) a prevenção e a correção de ilegalidade ou de abuso constitucional). Volume 1. Rio de Janeiro: Editora Lúmen
de poder; d) a indisponibilidade da persecução penal; e) a Júris, 2008.
competência dos órgãos incumbidos da segurança pública.
O art. 9º da referida Lei determina que o Ministério Público
MEIRELLES, Hely Lopes. Administrativo brasileiro. 25. ed.
da União exercerá o controle externo da atividade policial
por meio de medidas judiciais e extrajudiciais podendo: São Paulo: Malheiros, 2000.
I – ter livre ingresso em estabelecimentos policiais ou
prisionais; MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Admi-
II – ter acesso a quaisquer documentos relativos à nistrativo. 12. ed. São Paulo: Malheiros, 2000.
atividade‑fim policial;
III – representar à autoridade competente pela adoção de MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo penal. 12. ed. São Paulo:
providências para sanar a omissão indevida, ou para prevenir Atlas, 2001.
ou corrigir ilegalidade ou abuso de poder;
IV – requisitar à autoridade competente para instauração ______. Processo penal. 17. ed. São Paulo: Atlas, 2005.
de inquérito policial sobre a omissão ou fato ilícito ocorrido
no exercício da atividade policial; MOREIRA, Rômulo de Andrade. Ministério público e poder
V – promover a ação penal por abuso de poder. investigatório criminal. Disponível em: <http://www1.jus.
Rangel (2009, p. 96) destaca que com.br/doutrina/texto.asp?id=1055>.

o papel institucional do Ministério Público não sig- OLIVEIRA, Eugênio Pacelli de. Curso de Processo Penal. 10.
nifica ingerência nos assuntos interna corporis da ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008.
polícia, muito menos subordinação desta ao Parquet,
mas, sim, controle da legalidade dos atos praticados PACHECO, Denilson Feitoza. Direito processual penal: teoria,
no inquérito policial e/ou das diligências realizadas crítica e práxis. 4. ed. Com Emenda Constitucional da “Refor-
visando à instauração deste. ma do Judiciário”. Niterói, RJ: Impetus, 2006.

Referências LIMA, Marcellus Polastri. Manual de Processo Penal. 2. ed.


Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009.
ÁVILA, Thiago André Pierobom de. Direito processual penal.
15. ed., Brasília: Vestcon, 2009. PRADO, Geraldo. Sistema Acusatório: a conformidade
constitucional das leis processuais penais. Rio de Janeiro:
BAIGENT, Michael; LEIGH, Richard. A inquisição. Tradução: Lumen Juris, 1999.
Marcos Santarrita. Rio de Janeiro: Imago, 2001.
RANGEL. Paulo. Direito processual penal. 16. ed. ver., atu-
BARBOSA, Manoel Messias. Inquérito policial. 3. ed. São al. e de acordo com as reformas processuais penais e a Lei
Paulo: Método, 2002. 11.900/2009, 2009.
CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal. 12. ed. São SILVA, Aloísio Firmo Guimarães da; ARAÚJO, Maria Emília
Noções de Direito Processual Penal

Paulo: Saraiva, 2005. Moraes de; CORRÊA, Paulo Fernando. Ainda e sempre
a investigação criminal direta pelo ministério público.
CARVALHO, Salo de. Pena e garantias. 2. ed. Rio de Janeiro:
Disponível em: <http://www1.jus.com.br/doutrina/texto.
Lumen Juris, 2003.
asp?id=1054>.
CORRÊA JR, Luiz Carlos Bivar. Direito processual penal. 4. ed.
Brasília: Vestcon, 2009. SILVA, Edmar Carmo da. Ministério Público e a titularidade
privativa do jus postulandi para a ação penal pública e
DUCLERC, Elmir. Direito Processual Penal. Rio de Janeiro: procedimentos incidentes. Disponível em: <http://www1.
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EYMERICH, Nicolau. Manual dos inquisidores. Lisboa: Edi- TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo penal. 25.
ções Afrodite, 1972. ed. São Paulo: Saraiva, 2003, v. I.

FERNANDES, Antônio Scarance. Processo penal constitu- TUCCI, Rogério Lauria. Lineamentos do processo penal
cional. 3. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2002. romano. São Paulo: Bushatsky, 1976.

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ação PENAL uma relação jurídica com o réu. Portanto, do resultado das
referidas ações é que poderia se falar ou não na existência
Introdução do direito material.

Na graduação, é  comum, na maioria das faculdades, Teoria da ação como direito autônomo
se não em todas, a existência de uma cadeira denominada Em meados do século XIX, a polêmica Windscheid‑Mu-
Teoria Geral do Processo. ther teve como saldo a ampla aceitação do direito de ação
Grande parte da doutrina1 pátria também evidencia a como um direito autônomo, desassociado do direito mate-
existência de um tronco comum que define os conceitos e rial. Windscheid desenvolveu trabalho sobre a actio romana.
princípios do processo, que é o instrumento do qual se vale Muther, rebatendo algumas ideias de Windscheid, distinguiu
o Estado para dar solução a lides ou litígios, aplicando a lei nitidamente direito lesado e direito de ação, destacando a
ao caso concreto. existência de dois direitos, ambos de natureza pública: o di-
Em regra, o  estudo do processo penal é realizado reito do ofendido à tutela jurídica do Estado (dirigido contra
tomando‑se por base princípios do processo civil. Isso em o Estado) e o direito do Estado à eliminação da lesão, contra
face da argumentação de que faltaria rigor técnico ao pro- aquele que a praticou.
cesso penal, o que não deixa de ser verdade, uma vez que
nosso Estatuto Processual Penal entrou em vigor em 1º de Teoria concreta
janeiro de 1942, durante o terceiro mandato do Presidente Avançando na autonomia, em 1888, Adolpho Wach,
Getúlio Vargas, época em que prevaleciam os interesses do jurista alemão, tratou da ação declaratória negativa, arre-
Estado sobre os do cidadão. Veja as Exposições de Motivos matando que o direito de ação era autônomo do direito
do Código de Processo Penal, item II: material em disputa, pois nas ações declaratórias busca‑se
o reconhecimento de relação jurídica, enquanto, nas ações
Urge que seja abolida a injustificável primazia do in- declaratórias negativas, busca‑se a declaração de inexistência
teresse do indivíduo sobre o da tutela social. Não se da relação jurídica.
pode continuar a contemporizar com pseudodireitos Wach destacava que o direito de ação era autônomo e
individuais em prejuízo do bem comum. O indivíduo, público, definindo‑o como um direito concreto. Para ele,
principalmente quando vem de se mostrar rebelde à somente haveria ação se fosse reconhecido o direito mate-
disciplina jurídico‑penal da vida em sociedade, não rial, ao final do processo, ou seja, caso a ação fosse julgada
pode invocar, em face do Estado, outras franquias procedente.Assim, o direito de ação só competiria a quem
ou imunidades além daquelas que o assegurem é titular de um interesse real e não imaginário. Houve várias
contra o exercício do poder público fora da medida críticas, eis que não se conseguia justificar a natureza dos atos
reclamada pelo interesse social. Este o critério que realizados até a prolação da sentença, quando esta julgava
presidiu à elaboração do presente projeto de Códi- os pedidos improcedentes.
go. No seu texto, não são reproduzidas as fórmulas Destaque‑se que a teoria da ação como direito potestati-
tradicionais de um mal‑avisado favorecimento legal vo, do italiano Giuseppe Chiovenda (1903), também se afilia
aos criminosos. à teoria concreta. Referida teoria destacava que a ação devia
ser entendida como uma potestação jurídica para obter,
Há, ainda, a  nítida tendência de “civilizar” o processo contra o adversário, um resultado favorável no processo.
penal, conforme destaca Tucci (2002, p. 54). Com efeito, são Para ele, da ação não resulta nenhuma obrigação para o réu,
simplesmente transplantadas as definições do processo civil apenas sujeitando‑o aos efeitos jurídicos por ela visados.
para o ramo adjetivo penal, tendo em vista a existência de Referida teoria também sofreu várias críticas. Alfredo
farta doutrina tratando dos temas processuais civis2, quase Rocco ponderava que a ausência de qualquer obrigação,
sempre com supedâneo em uma Teoria Geral do Processo. por parte do réu, em decorrência do exercício de um direito
potestativo, por parte do autor, geraria uma relação jurídica
atípica.
Teorias da Ação
Teoria abstrata
Teoria imanentista
Prega o desligamento total do direito material do direito
A teoria imanentista da ação, conhecida também como
de ação. O húngaro Plósz (1876) e o alemão Degenkolb (1877)
clássica ou civilista, sendo defendida com afinco por Savigny,
elaboraram o supedâneo da teoria abstrata da ação. Oskar
apregoa que o direito de ação seria imanente, ou seja,
Von Bülow publicou obra que traz conceitos que sistemati-
integrado ao direito material, eis que todo direito, material
zam o direito processual como ciência.
ou substancial, possui uma reação à sua violação. Referida
Noções de Direito Processual Penal

teoria sofreu críticas, eis que, com base em sua tese, ficaria
Teoria eclética
sem explicação a justificativa à ação meramente declarató-
Pinçando um pouco das teorias concreta e abstrata, nas-
ria ou à ação declaratória negativa, já que o próprio autor
ceu a teoria eclética, de obra do jurista italiano Enrico Tullio
pede que seja declarada a existência ou inexistência de
Liebman e exposta, pela primeira vez, na aula inaugural da

1
Theodoro Júnior (2000, p. 6), in verbis: “Para regular esse método de com- Universidade de Turim, em 24 de novembro de 1949. Lieb-
posição dos litígios, cria o Estado normas jurídicas que formam o direito man, incorporando as teorias concreta e abstrata, afirmava
processual, também denominado formal ou instrumental, por servir de forma que a ação é um direito abstrato, mas não genérico, eis que
ou instrumento de atuação da vontade concreta das leis de direito material
ou substancial, que há de solucionar o conflito de interesses estabelecido há uma situação fática concreta. Referida concretude era
entre as partes, sob a forma de lide.” Para os doutrinadores Cintra; Grinover; verificada por meio da presença das condições da ação – pos-
Dinamarco (2001, p. 23) processo é o “instrumento por meio do qual os sibilidade jurídica do pedido, interesse de agir e legitimidade
órgãos jurisdicionais atuam para pacificar as pessoas conflitantes, eliminado
os conflitos e fazendo cumprir o preceito jurídico pertinente a cada caso que ad causam. Não havendo qualquer dessas condições da ação,
lhes é apresentado em busca de solução”. o autor é julgado carecedor do direito de ação, o que não

2
Cintra; Grinover; Dinamarco (2001, p. 43) destacam que “houve clima me- permite ao juízo que se pronuncie sobre o meritum causae.
todológico, então, para o desenvolvimento de uma teoria geral do processo,
favorecendo o progresso científico do processo penal, historicamente muito
Não se pode negar que o Direito Processual Civil evoluiu
menos aprimorado que o processo civil”. cientificamente com mais rapidez que o Direito Processual

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Penal, sendo adotadas, no ramo adjetivo civil, teorias como se de outra, na consecução de um bem desejado por ambas.
a das condições da ação e dos pressupostos processuais, Essa subordinação de interesses ficou conhecida, graças aos
que são sempre adaptadas às peculiaridades da relação ensinamentos de Carnelutti (1944, p. 44), como pretensão.
processual criminal. Esta é definida como “exigência de subordinação de um inte-
Entretanto, não há que se perder de vista a dificuldade resse alheio ao interesse próprio”. Seria, ademais, resistida,
em se amalgamar ambos os ramos processuais. É bastante quando houvesse uma atitude contrária à pretensão.
escassa a bibliografia estrangeira relativa à Teoria Geral Teríamos, portanto, pretensão, no processo penal? Teria
do Processo, tendo como principal expoente e precursor o Ministério Público interesse em sobrepor o jus puniendi
Francesco Carnelutti. Ele trata da referida visão unificada, do Estado ao interesse do acusado de permanecer em liber-
partindo, contudo, do aspecto civil, conforme se percebe dade? Poderia essa pretensão do Parquet não ser resistida,
em sua obra Sistema do Direito Processual Civil (1944), em podendo‑se, então, condenar o acusado em face de sua
que destaca, na página 4, que a Teoria Geral do Processo confissão e vontade de ser submetido à lei penal? Haveria
lide no processo penal?
representa uma ulterior evolução da fase prece- Cremos que não e justificamos tão somente pelo fato de
dente, inspirada no desejo de se alcançar uma mais se tratar, no bojo do processo penal, de interesses indispo-
alta síntese dos princípios de direito processual, níveis, além de ser o Ministério Público, acima de tudo, um
compreensiva não só das instituições do processo fiscal da lei, que tem por missão não a de assumir a condição
de conhecimento, senão das de qualquer outro tipo de parte extremamente litigiosa e combativa, mas a de tentar
de processo, e, portanto, quer se refira ao processo buscar, por meio de atividade recognitiva, a  evidenciação
de conhecimento quer se refira ao processo de do cometimento de conduta delituosa. Apenas tentativa, já
execução, e quer se trate do processo civil ou do que a verdade propriamente dita e, muito menos, a deno-
(processo) penal. minada “verdade real” dos fatos não podem ser alcançadas
pelos homens4.
Entre nós, José Frederico Marques revelou‑se um entu- Nesse sentido, Tucci (2002, p. 35) tece coerentes argu-
siasta da elaboração de uma Teoria Geral do Processo, que mentações, destacando que
tem procurado reduzir as desigualdades do dualismo proces-
sual. Já em 1952, em seu Ensaio sobre a jurisdição voluntária, [...] apresentando‑se ela (a pretensão) como elemen-
defendia a unificação. Manteve essa linha de pensamento to caracterizador da ocorrência de lide  – seja pela
em sua obra Instituições de Direito Processual Civil. resistência oposta pelo sujeito passivo da relação
Ocorre que já é tempo de se obter uma ótica própria jurídica, cuja definição constitui a meta do processo
para o Direito Processual Penal, com o escopo de conferir‑lhe extrapenal de conhecimento; seja pela insatisfação
um incremento científico. Há diversas vozes nesse sentido3. do direito neste reconhecido, ou reconhecível, dada
Já se pode ter a diferenciação entre a ação penal e a a omissão ou, mesmo, atuação da parte vencida ou
ação civil pela verificação dos caracteres pe­culiares da pró- demandada –, é, igualmente, irrelevante no âmbito
pria relação jurídica existente no âmbito do processo penal do processo penal, para cuja existência se mostra
(BULOW, 1964, p. 2). suficiente a ocorrência (suposta que seja) de infração,
Sabemos que a jurisdição é atividade principal do Poder por membro da comunidade, a norma penal material.
Judiciário, efetivada por meio do processo. Este, por sua
vez, decorre do exercício do direito de ação. Esse poder Ademais, como já visto, é a pretensão, na realidade, uma
autônomo do Estado tem o condão, no âmbito penal, de declaração de vontade impositiva, formulada em face de
aplicar concretamente a pena contida na norma penal incri- outrem, a fim de se obter a satisfação de um interesse. Por-
minadora quando do julgamento de acusados pela prática tanto, somente é verificável concretamente, ou seja, como
de infrações penais. fato da vida, ocorrente entre duas ou mais pessoas, com
Mas no processo penal haveria julgamento da “preten- efetiva atuação (“exigência de subordinação de interesse de
são” punitiva do Ministério Público? Estaríamos diante da outrem ao próprio”, na relembrada e insuperada formulação
presença de “ato jurisdicional decorrente de litígio”, que de Carnelutti) de uma das partes e negação da outra. E isso
impõe ao infrator da norma penal a devida punição? Haveria não acontece, ou melhor, não deveria ocorrer, em âmbito
lide no processo penal? Esse resgate temático é essencial penal (TUCCI, 2002, p. 35).
para se entender a lógica do desenvolvimento da investi- Na mesma linha segue Calamandrei apud Tucci (2002,
gação processual preliminar ao processo penal. Vejamos. p. 33-34), in verbis:
O conceito imortalizado e consagrado de lide é oriundo
das lições de Carnelutti (1973, p. 28): conflito de interesses O processo penal não tem, de fato, o escopo de remo-
Noções de Direito Processual Penal

qualificado por uma pretensão resistida. Segundo referido ver um desacordo existente entre acusador e acusado
autor, poder‑se‑ia dizer que bem é a coisa apta à satisfação de a respeito da existência do crime ou da medida da
uma necessidade humana, e interesse seria a posição favorá- pena, de sorte a perder sua razão de ser onde tal de-
vel à satisfação das necessidades. Como os bens da vida são sacordo seja amigavelmente composto entre os dois
limitados e os interesses ilimitados, surgem os conflitos de “litigantes”; mas tem lugar porque, em nosso ordena-
interesses entre os membros de uma sociedade. O interesse mento jurídico, a punição do culpado só pode ocorrer
de uma pessoa consistiria, então, em sobrepor‑se ao interes-

4
Coutinho (2002, p. 175): “Justamente porque a coisa é uma parte; ela é e não
é; pode ser comparada a uma moeda sobre cuja cara está gravada o seu ser

3
Lopes Júnior (IBCCRIM, nº 39, p. 104); Mirabete (2001, p. 30), in verbis: e, sobre a sua coroa, o seu não ser. Mas para conhecer a verdade da coisa,
“Embora a doutrina predominante se concentre numa concepção unitária ou digamos, precisamente, da parte, necessita‑se conhecer, tanto a sua cara,
do processo, porque a teoria geral do processo é uma consequência inarre- quanto a sua coroa: uma rosa é uma rosa, ensinava Francesco, porque não é
dável do estudo sistemático das diversas categorias processuais, o conteúdo alguma outra flor; queria dizer que para conhecer verdadeiramente a rosa,
do processo penal, que é a pretensão punitiva, individualiza o ramo jurídico isto é, para chegar à verdade, é necessário conhecer não somente aquilo que
denominado Direito Processual Penal.” No mesmo sentido, Tucci (2002, p. a rosa é, mas também aquilo que ela não é. Por isso, a verdade de uma coisa
51), in verbis: “A pretensa comunidade ou analogia de fins e meios nunca nos foge até que nós não possamos conhecer todas as outras coisas e, assim,
ultrapassaria o domínio puramente formal, além de que iria por certo, não não podemos conseguir senão um conhecimento parcial dessa coisa. E quando
poucas vezes, fazer violência à necessária autonomia funcional e teleológica digo uma coisa, refiro‑me, também, a um homem. Em síntese, a verdade está
de cada tipo.” no todo, não na parte; e o todo é demais para nós”.

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mediante pronunciamento jurisdicional. O processo Quanto à afirmação da existência de lide no processo
penal tem, portanto, em qualquer caso, para atingir penal, Lopes Júnior (IBCCRIM nº 39, p. 110) pondera ser
o efeito jurídico da punição do réu, aquele mesmo partidário
caráter de necessidade (nulla poena sine judicio),
que, no campo civil, para obter efeitos jurídicos que [...] da existência de uma lide de natureza penal, pois,
as partes não podem conseguir através de contrato, no processo penal, como aponta Leone, existe sem-
é próprio do processo de tipo inquisitório. pre um conflito, um contraste de interesses, e a atu-
ação das partes pode ser delineada no conflito entre
Assim, não há que se falar em pretensão no processo o poder de penar do Estado e o direito de liberdade
penal, muito menos em pretensão resistida, em face da do imputado. Até porque, para o conceito de lide,
indisponibilidade do direito do acusado (isso ocorre, entre- basta um conflito potencial, isto é, uma lide latente.
tanto, nos crimes de menor potencial ofensivo, nos termos do
art. 76 da Lei nº 9.099/1995, que trata da transação penal). Também aqui, com a máxima vênia, não verificamos, em
Desse modo, não vislumbramos, também, a possibilidade tese, a existência de lide no processo penal, não se podendo
de encarar o processo penal à luz da Teoria da Situação Jurí- falar em contenciosidade no referido processo.
dica, de James Goldschmidt. Com efeito, Goldschimidt, confe- O próprio criador do conceito de lide, Francesco Car-
nelutti, mudou seu entendimento, retirando do conteúdo
rindo uma visão dinâmica ao processo, afirma que os vínculos
da ação de natureza condenatória o conceito de pretensão
existentes entre as partes processuais criam expectativas de
punitiva, in verbis:
uma decisão favorável ou não, dependendo do modo como
elas atuam no processo. Assim, a sorte do acusado depen-
Esta primeira observação [...] induz‑me a corrigir
deria de ele se desvencilhar das cargas processuais que lhe um erro, no qual eu próprio havia caído, ainda
são atribuídas, além de aproveitar satisfatoriamente todas depois de já ter afirmado o caráter voluntário do
as possibilidades processuais (COUTINHO, 2001, p. 184). processo penal; uma afirmação da qual em princípio
Não “deveria” o processo ser analisado sob o prisma da eu não lograra tirar todas as consequências. Ora o
situação jurídica. Entretanto, em face da inversão de papéis erro consistiu em eu ter posto, como conteúdo da
existente no Direito Processual Penal, com a total ausência demanda do Ministério Público, a pretensão penal
de segurança jurídica e a inexistência de uma verdade real [...] O conceito de pretensão, tão diversamente
a ser alcançada, reconhecemos que a noção de “situações entendido, havia sido por mim definido, depois de
jurídicas”, de Goldschmidt, ganha amplo espaço prático. algumas vacilações, como exigência da satisfação de
Com efeito, na prática corrente, resta verificado no processo um interesse próprio perante um interesse alheio;
penal a litigiosidade exacerbada entre acusação e defesa e como tal, a pretensão é um elemento da lide. E no
a sujeição do acusado a diversos ônus existentes, tal como primeiro intento de estudo de processo penal adap-
ocorre no processo civil. O processo penal, ao invés de pro- tei, a este, tal conceito, definindo a pretensão penal
porcionar a atividade recognitiva, submete‑se a vaidades da como um erro por várias razões: em primeiro lugar,
acusação ou a deslizes do investigado. É sempre tortuoso e porque uma exigência só se coloca face a outrem
incerto o caminho do acusado no percurso até a decisão final que a deva satisfazer, enquanto o Ministério Público,
(GOLDSCHMIDT, 1936, p. 8). que está investido no magistério punitivo, não tem
Atento ao que se verifica na realidade processual pátria motivo nem possibilidade de exigir o seu exercício,
e destacando que o objeto do processo penal seria não uma de alguma outra pessoa, e menos ainda do imputa-
condenação, mas uma acusação, Lopes Júnior (IBCCRIM do; em segundo lugar porque, admitindo‑se mesmo
nº 39, p. 119) ressalta, in verbis: que o castigo do culpado satisfaz um interesse da
sociedade, personificada no Estado, tal satisfação não
O objeto do processo penal é uma pretensão acu- está a cargo do imputado, o qual, até pelo contrário,
satória, vista como a faculdade de solicitar a tutela enquanto culpado tem um interesse, solidário com
jurisdicional, afirmando a existência de um delito, o Estado em ser castigado.5
para ver ao final concretizado o poder punitivo
estatal pelo juiz através de uma pena ou medida de Assim, se não há lide, não há que se falar em jurisdição
segurança. O titular da pretensão acusatória será o contenciosa no processo penal. A jurisdição, atividade prin-
Ministério Público. Ao acusador (público ou privado) cipal do Poder Judiciário, existe para solucionar um conflito.
corresponde apenas o poder de invocação (acusa- Que atividade seria, então, desempenhada pelo magistrado
ção), pois o Estado é o titular soberano do poder de no processo penal?
Noções de Direito Processual Penal

punir, que será exercido no processo penal através Existem muitos atos jurídicos da vida privada que se re-
vestem de importância que transcende os limites da esfera de
do juiz e não do Ministério Público (tampouco do
interesses das pessoas diretamente envolvidas, interessando
acusador privado)
a toda a coletividade. Atento a esse aspecto, o próprio Estado
prevê em seu ordenamento jurídico que, para a validade
Opomos resistência a tal entendimento. O  objeto do desses atos de repercussão na vida social, é  necessária a
processo penal é a futura condenação ou absolvição profe- participação de um órgão público. É a administração pública
rida pelo juiz na sentença, mas postuladas já na denúncia, de interesses privados.
defesa prévia ou em sede de alegações finais. A acusação ou Tutelam alguns interesses privados: a) órgãos extrajudi-
invocação do poder estatal para que se condene e, conforme ciais (os tabeliães, no registro de imóveis; os registradores
destaca Lopes Júnior (IBCCRIM nº 39, p. 109), sua contrapo- civis, nas documentações de nascimentos, casamentos e
sição, “materializada no exercício do direito de defesa, com óbitos; os oficiais de protesto; e a arbitragem); b) órgãos
todos os instrumentos processuais que lhe oferece o orde- administrativos (intervenção do Ministério Público, no ato
namento jurídico”, no nosso entender, são apenas atividades
desempenhadas no bojo do processo penal para se buscar
Carnelutti (1946, p. 129-130); Carnelutti (1971, p. 94-95); Tucci
5
um dos resultados pedidos: a condenação ou a absolvição. (In: CARNELUTTI, 1971, p. 36).

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de criação das fundações; e as Juntas Comerciais, no arqui- Pacelli (2009, p. 87) destaca que
vamento dos estatutos da sociedade; e c) órgãos judiciais.
Ao Poder Judiciário, pelo conhecimento jurídico, idonei- a noção deveria anteceder a de processo, até mesmo
dade e, sobretudo, “em tese” pela independência e imparcia- do ponto de vista lógico. Enquanto a ação qualificaria
lidade de seus membros, são submetidos alguns interesses. os meios de provocação de jurisdição, o  processo
No processo civil, há todo um capítulo que trata desses inte- seria o instrumental manejado para tal finalidade.
resses (arts. 1.103 a 1.210 do CPC), entre os quais podem ser
destacados: 1) publicação em juízo do testamento particular Características do Direito de Ação
(art. 1.130 do CPC); 2) separação consensual (art. 1.120 do
CPC); 3) curatela de interditos (art. 1.177 do CPC). Por não se confundir com o direito material, o direito de
Isso é a chamada jurisdição voluntária, que trata de inte- ação é autônomo. Por não guardar relação com o provimento
resses não necessariamente em conflito. Há a necessidade do judicial final, diz abstrato o direito de ação. Por ser exercido
processo, o chamado processo necessário. Veja o exemplo do pelo Estado, que tem o dever de prestar a atividade jurisdi-
divórcio. Ainda que duas pessoas queiram se divorciar, elas cional, o direito de ação é considerado público.
não podem simplesmente acordar pela manhã e se divorciar.
É necessária a intervenção judicial, ainda que as partes não Fundamento Constitucional da Ação Penal
divirjam em qualquer aspecto.
Vislumbramos, assim, que a jurisdição promovida por A ação penal se encontra fundamentada no art. 5º,
meio do processo penal é a jurisdição voluntária. Não há XXXV, da Constituição Federal de 1988, que destaca que “a
lide no processo penal, não havendo que se falar em conten- lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou
ameaça a direito”.
ciosidade. O MP apenas requer a imposição da ação penal
O Poder Judiciário tem a atribuição de examinar todas
ao processado em caso de restar comprovado em sede do
as demandas que lhe forem propostas, mesmo que, poste-
processo que o réu participara de fato tido por criminoso6. riormente, as considere improcedentes. Só o Judiciário pode
Carvalho (2003, p. 43), conceituando a relação existente realizar a atividade jurisdicional, sendo vedado ao particular
no âmbito do processo penal, traz importantes elementos que exerça justiça com as próprias mãos.
para se caracterizar as peculiaridades da ação penal:
Condições da Ação
[...] A lei penal – geral, anterior, taxativa e abstrata
(legalidade) – advém de contrato social (jusnaturalis- São condições da ação penal, que devem ser analisadas
mo antropológico), livre e conscientemente aderido pelo juiz quando do recebimento da denúncia ou da queixa
por pessoa capaz (culpabilidade/livre arbítrio), que a possibilidade jurídica do pedido, o interesse de agir e a
se submete à penalidade (retributiva) em decorrência legitimação para agir.7
da violação do pacto por atividade externamente Na falta de quaisquer das condições da ação penal
perceptível e danosa (direito penal do fato), recons- pública, o juiz poderá rejeitar liminarmente a peça inicial.8
tituída e comprovada em processo contraditório As condições da ação são mecanismos que permitem
e público, orientado pela presunção de inocência, o exercício regular do direito de ação, conduzindo o juiz ao
com atividade imparcial de magistrado que valora exame do mérito. Há, ainda, na seara penal, uma dificuldade
livremente a prova (sistema processual acusatório). em se diferenciar as condições da ação dos pressupostos
processuais. Pacheco (2006, p. 181) destaca que
Aury Lopes (2008, p. 323) destaca que tendo em vista as peculiaridades do processo penal,
é perfeitamente possível, em princípio, concluir‑se
O conceito de ação processual penal, na estrutura que as “condições da ação”, e os “pressupostos pro-
da pretensão acusatória, circunscreve‑se a um po- cessuais” não apenas integram a mesma “categoria”,
der jurídico constitucional de invocação da tutela mas não se distinguem entre si mesmos.9
jurisdicional e que se exterioriza por meio de uma
declaração petitória (acusação formalizada) de que Desde o momento em que é exercido pelo autor da de-
existe o direito potestativo de acusar e que procede manda, o direito de ação da acusação se submete às regras
a aplicação do poder punitivo estatal. processuais, devendo respeitar as condições previstas no
CPP, que, uma vez presentes, permitem sua admissibilidade
Assim, no processo penal, a ação penal não materializa regular pelo Poder Judiciário, dando ensejo a que, no pro-
Noções de Direito Processual Penal

uma pretensão da acusação, mas dá início a processo cri- cesso de conhecimento, profira‑se decisão de mérito sobre o
minal para apurar fato previsto como crime por lei prévia cometimento e as circunstâncias do fato delitivo (WAMBIER,
e, como consequência, aplicar penalidade em decorrência 1997, p. 140).
da violação, após a conduta delitiva restar reconstituída e Por mérito, conforme destaca Oliveira (2008, p. 91),
comprovada em processo que observa o contraditório e a entende‑se:
ampla defesa.
a) a existência de um fato (materialidade);

6
Nesse sentido: Tucci (2002, p. 46); Lacerda (2001, p. 17). Em sentido contrário:
b) ser este fato imputável ao acusado (autoria);
Mirabete (2001, p. 163), in verbis: “[...] na relação processual, acha‑se de
um lado o titular da persecutio criminis, e, de outro, o acusado, ameaçado
em sua liberdade, havendo, pois, um conflito que será dirimido pelo Juízo,
7
Assunto cobrado na provas da FCC/TJ-SE/Analista Judiciário/Questão 72/
podemos dizer que a jurisdição penal é o poder de dirimir o conflito entre Assertivas A, B, C, D e E/2009.
a pretensão punitiva e os direitos concernentes à liberdade do indivíduo.”;
8
MS/TRE-SC/Analista Judiciário/Questão 63/Assertiva B/2009.
Cintra; Grinover; Dinamarco (2001, p. 65); Tourinho Filho (2003, p. 20), in
9
Ressalta, ainda, na p. 183, que “se a denominação é ‘pressupostos processuais’,
verbis: “A distinção que se faz entre jurisdição penal e jurisdição civil assen- ‘condições da ação’ ou, como diria Bülow, outra mais adequada para expressar
ta, única e exclusivamente, na divisão do trabalho.”; Nucci (2003, p. 99), in o conceito, pouco importa, o fato é que integram a mesma categoria, e não
verbis: “Através da ação, tendo em vista a existência de uma infração penal duas categorias distintas. São institutos processuais, submetidos ao mesmo
precedente, o Estado consegue realizar a sua pretensão de punir o infrator.” regime jurídico e integrantes da mesma categoria”.

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c) constituir este fato uma ação típica, ilícita e cul- Isso de modo a propiciar o pleno exercício do direito de
pável (a materialidade normativa, ou, em uma pa- defesa. É inepta a ação penal que formula acusação genérica
lavra, o crime, na sua definição dogmática [conceito ou que não aponta de modo circunstanciado o fato punível
analítico]); imputado ao acusado.
d) não se encontrar extinta a punibilidade. Com efeito, a inicial acusatória deve expor fatos que, em
tese, constituam crimes, descrevendo as suas circunstâncias
Ao contrário do que ocorre com os pressupostos pro- e apontado os respectivos tipos penais. Além disso, deve de-
cessuais, a lei enumera as condições da ação. Com efeito, terminar a conduta do acusado. Em caso de coautoria, deve
segundo a moderna doutrina, constituem condições da ação também individualizar cada acusado e indicar o rol de testemu-
penal: a possibilidade jurídica do pedido, a  legitimidade nhas. Só com a satisfação dos requisitos do art. 41 do Código
de partes, o interesse de agir e a justa causa.10 A moderna de Processo Penal não haverá inépcia da peça acusatória.
doutrina já vinha destacando a existência de uma quarta A falta de descrição de uma elementar na denúncia
condição da ação, a justa causa, materializada na necessidade provoca sua inépcia.16
de se ter suporte probatório mínimo para o ajuizamento da Arrematando, o STJ destaca:
ação penal. Referida condição da ação foi incorporada ao
ordenamento processual penal pela Lei nº 11.719, de 2008, A denúncia deve atender os requisitos do art. 41
que a inseriu no art. 395 do CPP. do Código de Processo Penal – expondo o fato tido
Assim, considera-se fundamento para rejeição da de‑
como delituoso, suas circunstâncias, a qualificação do
núncia oferecida pelo Ministério Público a ausência de justa
acusado, a classificação do crime, o pedido de conde-
causa para o exercício da ação penal pública.11
O art. 43 do CPP, revogado pela Lei nº 11.719, de 2008, nação e a apresentação do rol de testemunhas –, sob
trazia as condições da ação como sendo: 1) a narração de pena de ser considerada inepta.17 (STJ, Quinta Turma,
fato criminoso; 2) não estar extinta a punibilidade; 3) ilegiti- HC nº 111.073/SC, Habeas Corpus 2008/0156228-5,
midade da parte ou outra condição exigida por lei, a exemplo Min. Arnaldo Esteves Lima, 18/11/2008)
da necessidade de representação ou requisição nas ações
penais públicas condicionadas. O vício de legitimidade Entretanto, não acarreta, por si só, a inépcia da denún‑
leva à carência da ação e, no processo penal, é causa de cia por erro na designação dos meses de competência das
nulidade absoluta.12 contribuições sociais no crime de apropriação previsto na
Agora, as condições da ação estão vislumbradas, de Lei de Custeio da Seguridade Social.18
forma mais ampla e genérica, no art. 395 do CPP, que es- O art. 41 do CPP torna também imperioso que na inicial
tabelece que conste da qualificação do acusado ou de esclarecimentos pelos
quais se possa identificá‑lo. Na ação penal, devem estar nome,
A denúncia ou queixa será rejeitada quando: naturalidade, filiação, endereço e número de documentos
I – for manifestamente inepta;13 de identificação do acusado. A ação penal poderá deixar de
II – faltar pressuposto processual ou condição para o ter o nome do acusado, desde que tenham sido prestados
exercício da ação penal; ou esclarecimentos pelos quais o réu possa ser identificado19,
III – faltar justa causa para o exercício da ação penal. como apelido (alcunha), ta­tuagem, características físicas que
deem individualidade e outros sinais característicos.
Verifica-se que o texto trouxe a justa causa destacada das A denúncia deve conter a identificação e qualificação
condições da ação, o que não significa que a justa causa não do denunciado, de maneira que não haja dúvida sobre a
pode ser considerada uma condição da ação. Entretanto, há autoria, e a descrição do fato criminoso em todas as circuns-
entendimento doutrinário que não considera a justa causa tâncias.20 Não se exige que a denúncia contenha o histórico
como condição da ação. Polastri (2008, p. 218) destaca que da vida pregressa do denunciado, a opinio doctorum sobre o
a justa causa não é uma condição da ação, mas sim um delito, tipificando o delinquente e a vítima e estabelecendo
requisito especial para o recebimento da inicial, ou seja, é as medidas de controle social cabíveis.21
uma condição de admissibilidade. A denúncia deve primar pela concisão, limitando-se
a apontar os fatos cometidos pelo autor, sem juízo de
Inépcia da Ação Penal valoração.22
A impossibilidade de identificação do acusado com o seu
A ação penal, nos termos do art. 41 do CPP, deve conter verdadeiro nome ou outros qualificativos não retardará a
a narração do fato criminoso, com todas as suas circunstân- ação penal, desde que certa a identidade física.23
cias, indicação precisa da conduta impetrada ao acusado,
sua qualificação ou esclarecimentos pelos quais se possa
O art. 259 do CPP determina que
identificá‑lo, a classificação do crime e, quando necessário,
Noções de Direito Processual Penal

o rol das testemunhas.


É inepta a denúncia que, contendo narração incon- A impossibilidade de identificação do acusado com
gruente dos fatos, impossibilita o exercício pleno do direito o seu verdadeiro nome ou outros qualificativos não
de defesa.14 retardará a ação penal, quando certa a identidade
O interesse de agir é instrumental e secundário e, desta física. A qualquer tempo, no curso do processo,
maneira, a ausência de justa causa para a persecutio cri- do julgamento ou da execução da sentença, se for
minis torna inepta a acusação.15 16
Cespe/Bacen/Procurador/Questão 83/Assertiva D/2009.
17
Assunto cobrado na prova do IESES/TJ-MA/Analista Judiciário – Direito/Nível
10
OAB‑DF/3º Exame de Ordem/2003. Superior/2011/Questão 82/Item III.
11
IBFC/MPE-SP/Oficial de Promotoria/Questão 51/2011. 18
TRF 3ª Região/IX Concurso para Juiz Federal Substituto.
12
Cespe/Bacen/Procurador/Questão 82/Item II/2009. 19
Assunto cobrado na seguinte prova: TJ‑RJ/Oficial de Justiça Avaliador.
13
Assunto cobrado na seguinte prova: OAB‑MG/Comissão de Exame de 20
Assunto cobrado na prova do Cespe/Bacen/Procurador/Questão 83/Assertiva
Ordem/2008. A/2009.
14
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/1º Exame da Ordem/2007 21
Assunto cobrado na prova do Cespe/Bacen/Procurador/Questão 83/Assertiva
(Tocantins, Sergipe, Rio Grande do Norte, Rio de Janeiro, Piauí, Pernambuco, B/2009.
Paraíba, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Maranhão, Espírito Santo, Distrito 22
Ieses/TJ-MA/Analista Judiciário/Direito/Questão 82/Item IV/2011.
Federal, Ceará, Bahia, Amazonas, Amapá, Alagoas, Acre) e Cespe/OAB‑SP/2008. 23
Assunto cobrado na seguinte prova: FCC/TRE-AP/Analista Judiciári/Área
15
Promotor‑BA/2004. Judiciária/Questão 54/Assertiva a/2011.

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descoberta a sua qualificação, far‑se‑á a retificação, Havendo prova de causa de exclusão de culpabilidade
por termo, nos autos, sem prejuízo da validade dos (como erro de proibição, por exemplo), pré‑constitu-
atos precedentes. ída na investigação preliminar, está o juiz autorizado
a rejeitar a acusação.
Polastri (2008, p. 257) destaca que
Após a resposta, também analisa o magistrado, como
no caso de coautoria, se conhecida a qualificação de mérito:
um agente e não conhecida ao menos a identidade I – a existência manifesta de causa excludente da ilicitude
física do coautor, a denúncia só deve ser oferecida do fato;
contra aquele, ficando pendente de posterior adita- II – a existência manifesta de causa excludente da culpa-
mento para incluir o que venha a ser futuramente bilidade do agente, salvo inimputabilidade;
identificado ou qualificado. III – se o fato narrado evidentemente não constitui
crime; ou
O crime também deve ser devidamente classificado. Ca- IV – se está extinta a punibilidade do agente.
rece haver a indicação do tipo penal no qual incide a conduta. Entretanto, o  art.  395 do CPP, também com redação
É inadmissível a denúncia alternativa, em respeito ao princípio dada pela Lei nº 11.719/2008, destaca que será hipótese de
da ampla defesa. A conduta do acusado deve se amoldar a rejeição da denúncia ou queixa quando:
alguma infração penal, crime ou contravenção. A acusação I – for manifestamente inepta;
deve indicar qual o artigo da lei que se amolda à conduta II – faltar pressuposto processual ou condição para o
descrita na ação penal. A errônea capitulação legal do crime exercício da ação penal; ou
na denúncia, com excesso na classificação, não a torna inep- III – faltar justa causa para o exercício da ação penal. (In-
ta, pois se trata de irregularidade sanável até a sentença.24 cluído pela Lei nº 11.719, de 2008)
Quando necessário, deve constar também do rol das Ora, a doutrina clássica conceitua, como condições da ação,
testemunhas. A denúncia pode ou não conter rol de teste- a possibilidade jurídica, a legitimidade e o interesse de agir.
munhas, de acordo com a necessidade.25 Para a acusação, Dessa forma, o magistrado analisará a tipicidade do fato
o momento adequado para indicar testemunhas é no ofe- em dois momentos. Após o oferecimento da denúncia ou
recimento da ação penal. Se não constar do rol de testemu- queixa, que poderão ser rejeitadas. Caso o magistrado não
nhas na denúncia ou queixa, há preclusão da faculdade de as rejeite de plano, determinará a citação do acusado para
produzir prova testemunhal. Pode, entretanto, ser solicitado que ele apresente defesa escrita em 10 dias. Então o juiz ou
ao magistrado que uma ou outra testemunha seja ouvida receberá a ação penal e marcará audiência de instrução ou
como testemunha do juízo (art. 209 do CPP). absolverá sumariamente o réu (art. 399 do CPP). Percebe‑se,
Quando inepta, a denúncia deve ser rejeitada, sendo assim, ausência de técnica do legislador na diferenciação
que, se não o for, possível trancar a ação penal por meio entre as condições da ação, os pressupostos processuais e
de habeas corpus.26 as questões de mérito, bem como em relação ao momento
da análise de referidos institutos processuais.
Possibilidade Jurídica do Pedido ou Fumus Commissi Todavia, havendo dúvidas quanto ao reconhecimento
Delicti27 (Criminalidade Aparente, Tipicidade Aparente ou não da excludente, deve a ação penal ser recebida. Para
ou Tipicidade Subjetiva) o seu recebimento ou não, incide o princípio in dubio pro
societatis. Nesse caso, apenas quando do julgamento dos
Na ação penal, deve vir descrita uma conduta criminosa, fatos por meio da sentença é que se reconhecerá ou não
para que se materialize a possibilidade jurídica do pedido, uma excludente de ilicitude.
que ocorre quando se admite juridicamente, de forma abs- Nesse sentido, o STF destaca que
trata, o que se está a pleitear, de forma concreta (WAMBIER,
1997, p. 42). a denúncia somente pode ser rejeitada quando a
Na seara penal, a possibilidade jurídica do pedido se evi- imputação se referir a fato atípico certo e delimitado,
dencia quando imputada ao acusado um crime, uma vez que, apreciável desde logo, sem necessidade de produção
apenas em face de condutas delitivas previstas em lei geral e de qualquer meio de prova, eis que o juízo é de cog-
anterior, pode‑se dar início ao processo penal. Deve, assim, nição imediata, incidente, acerca da correspondência
haver preceito legal penal que se amolde à conduta do autor. do fato à norma jurídica, partindo‑se do pressuposto
O fato descrito na ação penal deve ser um crime, ou seja, de sua veracidade, tal como narrado na peça acu-
um fato típico e antijurídico. Tratando‑se de hipótese de ex- satória. (STF, Tribunal Pleno, Inq.  nº  1.926/DF, Rel.
cludente da ilicitude (estado de necessidade, legítima defesa, Min. Ellen Gracie, Julgamento: 9/10/2008, DJe: 222,
Noções de Direito Processual Penal

estrito cumprimento de dever legal ou exercício regular de Divulgação: 20/11/2008, Publicação: 21/11/2008)
direito), deve o juiz rejeitar a ação penal se o juiz de plano
se convencer da existência da excludente. Já se a excluden- A jurisprudência do STF é no sentido de que o princípio da
te não for de plano constada, mas apenas com a resposta insignificância é reconhecido como capaz de tornar atípico o fato
apresentada pelo réu, o juiz deve absolver sumariamente o denunciado, como se percebe da leitura da seguinte ementa:
réu, nos termos do art. 397, I, do CPP.
O  juiz analisa referidas circunstâncias para rejeitar a EMENTA: RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS.
denúncia, manifestando‑se sobre as condições da ação e PENAL MILITAR. PROCESSUAL PENAL MILITAR. FUR-
sobre os pressupostos processuais. Aury Lopes (2008, p. TO. INEXISTÊNCIA DE LESÃO A BEM JURIDICAMENTE
338) destaca que PROTEGIDO. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. AU-
SÊNCIA DE JUSTA CAUSA PARA A PROPOSITURA DA

24
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/Promotor‑AM/2001; TRF 3ª
AÇÃO PENAL MILITAR. 1. Os  bens subtraídos pelo
Região/X Concurso para Juiz Federal Substituto. Paciente não resultaram em dano ou perigo concreto

25
Assunto cobrado na prova da OAB‑MS/81º Exame de Ordem/2005. relevante, de modo a lesionar ou colocar em perigo o

26
Assunto cobrado na prova do Cespe/Bacen/Procurador/Questão 83/Assertiva
E/2009.
bem jurídico reclamado pelo princípio da ofensivida-

27
Lopes Júnior (2008, p. 351). de. Tal fato não tem importância relevante na seara

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penal, pois, apesar de haver lesão a bem juridica- cuperado pela vítima no mesmo dia –, insere‑se na
mente tutelado pela norma penal, incide, na espécie, concepção doutrinária e jurisprudencial de crime de
o princípio da insignificância, que reduz o âmbito de bagatela. 2. Em caso de furto, para considerar que o
proibição aparente da tipicidade legal e, por conse- fato não lesionou o bem jurídico tutelado pela norma,
quência, torna atípico o fato denunciado. É manifesta excluindo a tipicidade penal, deve‑se conjugar o dano
a ausência de justa causa para a propositura da ação ao patrimônio da vítima com a mínima periculosidade
penal contra o ora Recorrente. Não há se subestimar social e o reduzido grau de reprovabilidade do com-
a natureza subsidiária, fragmentária do Direito Penal, portamento do agente, elementos que estão presen-
que só deve ser acionado quando os outros ramos do tes na espécie, porque o desvalor da ação é mínimo e
direito não sejam suficientes para a proteção dos bens o fato não causou qualquer consequência danosa. 3.
jurídicos envolvidos. 2. Recurso provido. (STF, Primeira Precedentes do Supremo Tribunal Federal. 4. Ordem
Turma, RHC  nº  89.624/RS, Rel. Min. Cármen Lúcia, concedida para anular a decisão condenatória. (STJ,
Julgamento: 10/10/2006, DJ: 7/12/2006) Quinta Turma, HC nº 114.176/SP, Min. Laurita Vaz,
DJe: 15/12/2008)
O STJ também segue referida orientação:
PENAL. HABEAS CORPUS. TENTATIVA DE FURTO. AU-
HABEAS CORPUS. FURTO QUALIFICADO PELO CON- SÊNCIA DE DEFENSOR NA FASE POLICIAL. QUESTÃO
CURSO DE PESSOAS. 02 CARTELAS DE PILHAS E 05 QUE NÃO FOI EXAMINADA PELO TRIBUNAL ESTADUAL.
CD´S, ESTIMADOS EM MENOS DE R$ 50,00. PENA DE CONHECIMENTO PARCIAL. OBJETO CUJO VALOR NÃO
02 ANOS E 05 MESES DE RECLUSÃO. ANTECEDENTES ULTRAPASSA R$68,00 – IMEDIATA DEVOLUÇÃO DO
CRIMINAIS DESFAVORÁVEIS. PRINCÍPIO DA INSIGNI- BEM À PESSOA DA VÍTIMA. APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO
FICÂNCIA. APLICABILIDADE. ORDEM CONCEDIDA. 1. DA INSIGNIFICÂNCIA OU BAGATELA. POSSIBILIDADE.
O princípio da insignificância, que está diretamente PEDIDO CONCEDIDO. 1. Se o bem tutelado é de
ligado aos postulados da fragmentariedade e inter- ínfimo valor e nem mesmo chegou a ser ofendido,
venção mínima do Estado em matéria penal, tem sido não há relevância na conduta praticada e o princípio
acolhido pelo magistério doutrinário e jurispruden- da insignificância deve ser aplicado, afastando‑se a
cial tanto desta Corte, quanto do colendo Supremo tipicidade. 2. Ordem concedida. (STJ, Sexta Turma,
Tribunal Federal, como causa supra‑legal de exclusão HC nº 110.875/RS, Min. Jane Silva – desembargadora
de tipicidade. Vale dizer, uma conduta que se subsu- convocada do TJMG, DJe: 1/12/2008)
ma perfeitamente ao modelo abstrato previsto na
legislação penal pode vir a ser considerada atípica HABEAS CORPUS. PENAL. TENTATIVA DE FURTO. PRE-
por força deste postulado. 2. No caso em apreço, TENSÃO DE APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFI-
o valor total dos bens furtados pelo recorrente, CÂNCIA. AUSÊNCIA DE TIPICIDADE MATERIAL. TEORIA
além de ser ínfimo, não afetou de forma expressiva CONSTITUCIONALISTA DO DELITO. INEXPRESSIVA
o patrimônio da vítima, razão pela qual incide na LESÃO AO BEM JURÍDICO TUTELADO. ORDEM CON-
espécie o princípio da insignificância. Precedentes. CEDIDA. 1. O princípio da insignificância surge como
3. Firme é o posicionamento desta Corte Superior instrumento de interpretação restritiva do tipo penal
quanto à possibilidade de incidência do princípio que, de acordo com a dogmática moderna, não deve
da insignificância, mesmo diante da existência de ser considerado apenas em seu aspecto formal, de
antecedentes criminais desfavoráveis ao acusa­do. subsunção do fato à norma, mas, primordialmente,
(STF, Quinta Turma, HC nº 110.384/DF, Min. Napoleão em seu conteúdo material, de cunho valorativo, no
Nunes Maia Filho, 24/11/2008, DJe: 9/12/2008) sentido da sua efetiva lesividade ao bem jurídico
tutelado pela norma penal, consagrando os postula-
HABEAS CORPUS. TENTATIVA DE FURTO QUALIFICA- dos da fragmentariedade e da intervenção mínima.
DO. TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. PRINCÍPIO DA 2. Indiscutível a sua relevância, na medida em que
INSIGNIFICÂNCIA. 1. A intervenção do Direito Penal exclui da incidência da norma penal aquelas condutas
apenas se justifica quando o bem jurídico tutelado cujo desvalor da ação e/ou do resultado (dependen-
tenha sido exposto a um dano com relevante lesivida- do do tipo de injusto a ser considerado) impliquem
de. Inocorrência de tipicidade material, mas apenas uma ínfima afetação ao bem jurídico. 3. A tentativa
a formal, quando a conduta não possui relevância de subtrair uma calha de água pluvial, embora se
jurídica, afastando‑se, por consequên­cia, a ingerência amolde à definição jurídica do crime de furto tenta-
da tutela penal, em face do postulado da intervenção do, não ultrapassa o exame da tipicidade material,
Noções de Direito Processual Penal

mínima. 2. No caso, não há como deixar de reconhe- mostrando‑se desproporcional a imposição de pena
cer a mínima ofensividade do comportamento do pa- privativa de liberdade, uma vez que a ofensividade
ciente, que subtraiu, juntamente com outra pessoa, da conduta se mostrou mínima; não houve nenhuma
do interior de um estabelecimento comercial, uma periculosidade social da ação; a reprovabilidade do
garrafa de bebida e um pacote de goma de mascar, comportamento foi de grau reduzidíssimo e a lesão
sendo de rigor o reconhecimento da atipicidade da ao bem jurídico se revelou inexpressiva. 4. Ordem
conduta. 3. Ordem concedida. (STJ, Sexta Turma, HC concedida para determinar a extinção da ação penal
nº 118.481/SP, Min. Og Fernandes, DJe: 9/12/2008) instaurada contra o paciente, invalidando, por conse-
quência, a condenação penal contra ele imposta. (STJ,
HABEAS CORPUS. FURTO QUALIFICADO DE UM BONÉ. Quinta Turma, HC nº  83.302/SP, Rel. Min. Arnaldo
PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. APLICABILIDADE. Esteves Lima. DJe: 1/12/2008)
MÍNIMO DESVALOR DA AÇÃO. BEM SUBTRAÍDO
RESTITUÍDO À VÍTIMA. IRRELEVÂNCIA DA CONDUTA AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. PENAL.
NA ESPERA PENAL. PRECEDENTES DO SUPREMO DESCAMINHO. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA.
TRIBUNAL FE­DERAL. 1. A conduta perpetrada pelo APLICABILIDADE. 1. A Segunda Turma do Supremo
agente – furto qualificado de um boné, que foi re- Tribunal Federal, no julgamento do HC nº 92.438/PR,

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Relator o Ministro Joaquim Barbosa, firmou entendi- Entretanto, nos crimes praticados em concurso de pes­
mento no sentido de ser aplicável, na prática de des- soas, seja o concurso necessário ou o eventual (autoria
caminho, o princípio da insignificância quando o valor coletiva ou multitudinários), há entendimentos de que se ad-
do tributo suprimido é inferior a R$ 10.000,00. 2. No mite a narração genérica do fato, principalmente nos crimes
caso, o valor do tributo sonegado é de R$ 1.698,64, societários. Com efeito, nos crimes multitudinários, como
que não excede o limite de R$ 10.000,00 adotado comumente ocorre nos praticados contra a ordem tributá-
pela Lei nº 11.033/2004, sendo de rigor a extinção ria, pode o promotor narrar genericamente a participação
do crédito tributário. 3. Agravo regimental provido. de cada agente.29 Nos crimes de autoria coletiva, a denúncia
(STJ, Sexta Turma, AgRg no REsp nº  1.021.805/SC, também pode narrar genericamente a participação, ficando,
Rel. Min. Hamilton Carvalhido, Rel. p/ acórdão: Min. para a instrução criminal, a individualização da conduta.30
Paulo Gallotti, DJe: 17/11/2008) Assim tem considerado a jurisprudência do STF:

O princípio da insignificância não é aplicável a todos os em sede de crime societário, não se exige a individu-
tipos de crime, indistintamente. Com efeito, o STJ destaca ser alização pormenorizada de condutas, mesmo porque
normalmente a comunhão de desígnios e vontades
inaplicável, aos crimes de roubo, o princípio da insig- quanto à divisão de tarefas e atos executó­rios para
nificância – causa supralegal de exclusão de ilicitude, a prática do crime somente é conhecida pelos pró-
pois tratando‑se de delito complexo, em que há ofensa prios sócios, e não por terceiros, como exatamente
a bens jurídicos diversos (o patrimônio e a integridade ocorre no caso em tela. (STF, Segunda Turma, HC
da pessoa), é inviável a afirmação do desinteresse es- nº  94.773/SP, Rel. Min. Ellen Gracie, Julgamento:
tatal à sua repressão. (STJ, Sexta Turma, AgRg no REsp 2/9/2008, DJe: 202, Divulgação: 23/10/2008, Publi-
nº 823.787/GO, Rel. Min. Jane Silva – desembargadora cação: 24/10/2008)
convocada do TJMG, DJe: 9/12/2008)
Nos crimes societários, de acordo com o entendimento
O pedido também deve ser juridicamente possível, ou do STJ, é dispensável na denúncia a descrição minuciosa
seja, deve ser de uma pena admitida, nos termos do art. 5º, e individualizada da conduta de cada acusado, bastando,
XLVI, da CF/1988: a) privação ou restrição da liberdade; b) para tanto, que seja narrada à conduta delituo­sa de forma
perda de bens; c) multa; d) prestação social alternativa; e) a possibilitar o exercício da ampla defesa.31
suspensão ou interdição de direitos.
Nos termos do art.  5º, XLVII, da CF/1988, não haverá Condição da Ação ou Pressuposto Processual para o
penas: a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos Exercício da Ação Penal
termos do art. 84, XIX; b) de caráter perpétuo; c) de trabalhos
forçados; d) de banimento; e e) cruéis. Como condição da ação, temos também, de forma indi-
Uma vez instaurada, o habeas corpus pode trancar ação vidualizada, trazida pela doutrina, a legitimidade de parte,
penal cujo pedido seja juridicamente impossível.28 o interesse de agir e as condições de procedibilidade.
Legitimidade possuirá todo aquele que for titular da
Indicação Precisa da Conduta e suas Circunstâncias relação jurídica de direito material afirmada em juízo. Há
também a possibilidade de a lei atribuir legitimação a quem
Além de descrever um fato criminoso e pedir uma pena não é titular dessa relação hipotética, o que ocorre com a
admitida, a conduta deve vir suficientemente esclarecida, legitimação extraordinária, no caso da ação penal privada,
a fim de que o acusado possa, plenamente, exercer o seu em que a vítima substitui o Estado na persecução penal.
direito de defesa. Deve ser clara a narrativa quanto à exis- Segundo Wambier (1997, p. 44), “a legitimidade é um liame
tência de fatos aparentemente delituosos. que se estabelece entre um sujeito, um objeto e um outro
O fato deve ser exposto de forma clara, com todos os sujeito”. Trata‑se da pertinência subjetiva da ação.
elementos e todas as circunstâncias. As condutas dos acusa- O Ministério Público é titular da ação penal pública e a víti-
dos devem ser descritas de forma específica e não genérica. ma (ou seu representante ou sucessor) da ação penal privada
A ação penal deve permitir o contraditório e ampla defesa, (substituição processual). Trata‑se do polo ativo da ação penal.
não podendo, assim, conter elementos genéricos que não Quanto ao polo passivo, deve ser dirigida a ação penal
permitam com que o réu se defenda. ao autor dos fatos criminosos apontados pelas provas ou
pelos indícios. O acusado não é parte legítima apenas por
Denúncias genéricas, que não descrevem os fatos na sua
ser homônimo do autor dos fatos, ou mesmo, por ser apenas
devida conformação, não se coadunam com os postu-
uma testemunha. A conduta deve estar bem evidenciada na
lados básicos do Estado de Direito. (HC nº 84.768/PE.
Noções de Direito Processual Penal

acusação quanto à autoria.


Relator p/ Acórdão: ministro Gilmar Mendes)
Pessoa jurídica pode figurar tanto no polo ativo, quando
no polo passivo de uma ação penal. No polo ativo, pode, por
Sem tais especificações, a peça exordial se consubstancia
meio de seu representante, apresentar queixa em relação,
em “denúncia genérica” ou “denúncia arbitrária”.
por exemplo, ao delito de difamação. No polo passivo, pode
A conduta do acusado deve ser suficientemente indivi-
figurar como ré em processo que apura crime ambiental.
dualizada, com o objetivo de se efetivar um juízo positivo
de admissibilidade da imputação feita na denúncia. Deve a Quando houver a rejeição da denúncia ou queixa, em
acusação narrar o modus operandi utilizado pelo acusado. razão de manifesta ilegitimidade da parte, não se obstará
O órgão de acusação deve demonstrar o vínculo do o exercício da ação penal, desde que promovida por parte
acusado com a atividade ilícita supostamente desenvolvi-
29
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/STJ/Analista Judiciá­rio/Área
da, descrevendo, com elementos concretos, a conduta do Judiciária/2004; Procurador da República/2001.
paciente, evidenciando como concorreu o acusado para o
30
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/Defensoria Pública do Estado
delito, bem como demonstrando a sua adesão subjetiva à do Amazonas/Defensor Público de 4ª Classe/2003 e Cespe/TRF 5ª Região/
Juiz Federal Substituto/2006.
vontade de eventual corréu.
31
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/TJ-BA/2012; Cespe/TJ-PB/
Juiz Substituto/Questão 52/Assertiva c/2011 e Cespe/TJ‑CE/Juiz Substitu-

28
Cespe/Bacen/Procurador/Questão 82/Item III/2009. to/2004-2005.

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legítima. A decisão de rejeição por ilegitimidade faz apenas requisição, como ocorre nos crimes comuns de
coisa julgada formal. injúria, difamação e calúnia contra o presidente da
O interesse de agir caracteriza‑se pela utilidade potencial República (por exemplo, art. 145, parágrafo único,
da jurisdição (punibilidade concreta), consistente na aptidão e 7º, § 3º, b, CP);
da decisão em produzir alguma vantagem jurídica para o a.3) o trânsito em julgado da sentença que, por mo-
pedido do autor. Theodoro Júnior (2000, p. 50) destaca que, tivo de erro ou impedimento, anule o casamento,
na seara cível, nos crimes de induzimento a erro essencial e de
ocultação de impedimento de casamento (art. 236,
o interesse processual, a um só tempo, haverá de parágrafo único, CP);
traduzir‑se numa relação de necessidade e também a.4) as “novas provas”, após o trânsito em julgado
numa relação de adequação do provimento postu- da impronúncia, nos crimes dolosos contra vida de
lado, diante do conflito de direito material trazido à competência do tribunal do júri (art. 409, parágrafo
solução judicial. único, CPP); (Artigo alterado pela Lei nº 11.689/2008)
a.5) o exame pericial dos objetos que constituam
Na esfera penal, também é necessária a utilidade do pro- o corpo de delito, no processo por crime contra a
vimento jurisdicio­nal. Como não há possibilidade de se fazer propriedade imaterial (art. 525, CPP);
justiça com as próprias mãos, sempre é necessário se dirigir a.6) a sentença declaratória de falência em crimes
ao Estado, para que, por meio do processo penal, seja aplicada falimentares do DL 7.661/1945 (o art. 183 da Lei
a lei penal ao caso concreto. Quanto à utilidade do provimen- nº 11.101/2005 estabelece que se trata de condição
to jurisdicional, ela não existirá quando já estiver extinta a objetiva de punibilidade);
punibilidade, pela morte do autor dos fatos, pela prescrição a.7) a exibição do jornal ou periódico, nos crimes
ou decadência, pela abolitio criminis, pela renúncia ou pela de imprensa (art. 43, caput, da Lei nº 5.250/1967);
perempção e demais hipóteses previstas no art. 107 do CP. b) relativas a certos autores do fato:
A denúncia ou queixa será rejeitada quando já estiver b.1) a autorização, por dois terços dos membros da
extinta a punibilidade, pela prescrição ou por outra causa. Câmara dos Deputados, de instauração de processo
Como condição da ação, pode ainda ser feita referência contra o presidente da República, o vice‑presidente
às condições objetivas de procedibilidade (condições de da República e os ministros de Estados (art. 51, I, CR);
perseguibilidade, condições especiais à ação ou condições b.2) por simetria constitucional, a autorização da As-
específicas da ação). A manifestação do ofendido ou seu sembleia Legislativa paulista, pelo voto de 2/3 dos seus
representante legal, no sentido de demonstrar seu interesse membros, para ser instaurado processo contra gover-
em ver apurado o crime praticado e autorizar a persecução nador de Estado, quanto aos crimes comuns e crimes
estatal, constitui condição objetiva de procedibilidade da de responsabilidade (art. 49 da Constituição paulista);
ação penal pública condicionada à representação.32 b.3) por simetria constitucional, a autorização, por
Pode‑se citar, como exemplo, a representação da vítima dois terços dos membros da Assembléia Legislativa
ou a requisição do Ministro da Justiça, no caso das ações mineira, de instauração de processo contra o gover-
penais públicas condicionadas. O mesmo se diga em relação nador e o vice‑governador do Estado, nos crimes de
à entrada do agente no território nacional, nas hipóteses responsabilidade, e, contra o secretário de Estado,
do CP, art. 7º, § 3º, a e b, bem como em relação à defesa nos crimes de responsabilidade nos conexos com os
preliminar nos crimes de responsabilidade dos funcionários do governador (art. 62, XIII, da Constituição mineira);
públicos (CPP, art. 516). Há na doutrina entendimento de b.4) a qualidade de militar da ativa regular, nos crimes
que o art. 516 do CPP teria sido revogado em face das dis- militares de deserção (mais especificamente, a rein-
posições do art. 394, § 4º, do CPP, o que afastaria referida clusão da praça sem estabilidade que foi excluída e
condição de procedibilidade nos crimes de responsabilidade a reversão da praça estável, conforme art. 457, §§ 2º
do funcionário público. (ÁVILA, 2009, p. 238) e 3º, do CPPM);
Corroborando o afirmado anteriormente, na ação penal c) relativas a certas situações:
pública condicionada à representação, a representação do c.1) a entrada do agente no território brasileiro, nos
ofendido é condição objetiva de procedibilidade.33 Também casos de extraterritorialidade condicionada (art. 7º,
é condição específica de procedibilidade da ação penal a § 2º, b, e § 3º, caput, do CP).
requisição do Ministro da Justiça.34
Pacheco (2006, p. 203-204), de forma didática, elenca A falta das referidas condições de procedibilidade impede
um rol de condições de procedibilidade: a propositura da ação penal.
Pode ser citado como pressuposto processual de exis-
Noções de Direito Processual Penal

Há condições de procedibilidade: tência o órgão investido de jurisdição e uma acusação for-


a) relativas a certas infrações penais: malmente efetivada. No que se refere aos pressupostos de
a.1) representação do ofendido (ou do represen- validade, Oliveira (2008, p. 106) destaca:
tante legal, ou dos “sucessores processuais”), nos a) Em relação aos requisitos subjetivos, pode‑se
crimes sujeitos à ação penal pública condicionada à arrolar a competência e a imparcialidade, ou seja,
representação, como ocorre nos crimes comuns de a ausência de hipóteses de suspeição, impedimento
ameaça (por exemplo, art. 147, parágrafo único, do ou incompatibilidade, ainda que o art.  564, I, do
CP e art. 88 da Lei nº 9.099/1995); CPP, refira‑se apenas à suspeição e ao suborno do
a.2) requisição do ministro da Justiça, nos crimes magistrado. Como vimos, a imparcialidade do juiz é
sujeitos à ação penal pública condicionada a tal regra imanente do sistema processual constitucional.
b) Quanto às partes:

32
MS/TRE-SC/Analista Judiciário/Questão 64/Assertiva D/2009. b.1) a capacidade processual ou legitimatio ad

33
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/TJ‑PE/Analista Judiciário/2007 e processum, isto é, a  capacidade de estar em juízo
TRF 5ª Região/Juiz Federal Substituto/2001. (exemplificativamente, relembre‑se do caso do ofen-

34
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/AGU/Procurador Federal de 2ª
Categoria/2004 e FGV/SSP‑RJ/Oficial de Cartório/2009. dido menor de 18 anos que somente pode exercer o

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direito de ação por meio de seu representante legal, A vítima ou seu representante, na ação penal privada, e o
conforme art. 30, CPP). Note‑se, ainda, que o menor membro do Ministério Público, na ação penal pública, devem
de 18 anos também não tem capacidade para integrar trazer elementos probatórios mínimos a embasarem a ação
a relação processual nem mesmo como réu (além da penal. No caso de atuação do parquet, se o representante
inimputabilidade penal, de natureza material); julgar necessário maiores esclarecimentos e documentos
b.2) a capacidade postulatória, devendo a parte, se complementares ou novos elementos de convicção, deverá
não for habilitada, ser representada por advogado requisitá‑los, diretamente, de quaisquer autoridades ou fun-
regularmente habilitado nos quadros da Ordem dos cionários que devam ou possam fornecê‑los (art. 47 do CPP).
Advogados do Brasil, à exceção da ação de habeas Entretanto, segundo entendimento do Superior Tribunal
corpus (art. 654, CPP), ação de revisão criminal de Justiça,
(art. 623, CPP), recursos (art. 577, CPP), e incidentes
de execução, tais como pedido de reconhecimento não se exige, na primeira fase da persecutio criminis,
de anistia ou indulto (art. 187, Lei de Execução Penal) que a autoria e a materialidade da prática de um
e de reabilitação (art. 743, CPP). delito sejam definitivamente provadas, uma vez
que a verificação de justa causa para a ação penal
Quanto aos requisitos objetivos de validade, a dou- pauta‑se em juízo de probabilidade, e não de certeza.
trina costuma arrolar: (STJ, Quinta Turma, HC nº 116.820/SP, Rel. Arnaldo
a) Citação válida, cujo vício poderá ser suprido pelo Esteves Lima, 11/11/2008)
comparecimento espontâneo (art. 570, CPP). Salien-
te‑se, aqui, que há autores que sustentam a inexistên- O STF entende que o lançamento do tributo pendente
cia, e não a nulidade, da relação processual – e não do de decisão definitiva do processo administrativo configura
processo! – quando ausente a citação do réu. Ainda falta de justa causa para a ação penal, devendo ser, porém,
que nos pareça sedutora a observação, o fato é que suspenso o curso da prescrição enquanto obstada a sua
nosso ordenamento processual cuida da matéria como propositura pela falta do lançamento definitivo. Vejamos:
hipótese de nulidade absoluta (art. 564, III, e, CPP). Crime material contra a ordem tributária (Lei
b) Observância das exigências legais atinentes aos re- nº  8.137/1990, art.  1º): lançamento do tributo pendente
de decisão definitiva do processo administrativo: falta de
quisitos da denúncia ou queixa (art. 41, CPP), no que
justa causa para a ação penal, suspenso, porém, o curso da
se refere à idoneidade formal da peça de ingresso.
prescrição enquanto obstada a sua propositura pela falta
do lançamento definitivo. 1. Embora não condicionada a
A existência de coisa julgada e também da litispendência,
denúncia à representação da autoridade fiscal (ADInMC
pressupostos processuais de validade, impedem a proposi- nº 1.571), falta justa causa para a ação penal pela prática
tura da ação penal. Trata‑se do princípio do ne bis in idem. do crime tipificado no art. 1º da Lei nº 8.137/1990 – que é
O sujeito não pode ser perseguido criminalmente, seja na material ou de resultado – enquanto não haja decisão de-
fase preliminar, seja na fase judicial, novamente ou simulta- finitiva do processo administrativo de lançamento, quer se
neamente pelos mesmos fatos. considere o lançamento definitivo uma condição objetiva de
No que se refere à coisa julgada, a Convenção Americana punibilidade ou um elemento normativo de tipo. 2. Por outro
sobre Direitos Humanos (CADH ou Pacto de São José da Costa lado, admitida por lei a extinção da punibilidade do crime
Rica), cujas normas foram incorporadas ao ordenamento pela satisfação do tributo devido, antes do recebimento da
jurídico pátrio, pelo Decreto nº 878/1992, estabelece, em denúncia (Lei nº 9.249/1995, art. 34), princípios e garantias
seu art. 8º, item 4, que “o acusado absolvido por sentença constitucionais eminentes não permitem que, pela anteci-
transitada em julgado não poderá ser submetido a novo pada propositura da ação penal, se subtraia do cidadão os
processo pelos mesmos fatos”. meios que a lei mesma lhe propicia para questionar, perante
Assim, as condições da ação, bem como os pressupostos o Fisco, a exatidão do lançamento provisório, ao qual se de-
processuais devem estar presentes obrigatoriamente na re- vesse submeter para fugir ao estigma e às agruras de toda
lação processual, para que o juiz possa receber a ação penal sorte do processo criminal. 3. No entanto, enquanto dure,
e, ao final, decidir sobre os fatos imputados ao acusado. por iniciativa do contribuinte, o processo administrativo sus-
pende o curso da prescrição da ação penal por crime contra
Justa Causa para o Exercício da Ação Penal a ordem tributária que dependa do lançamento definitivo
(STF, HC nº 81.611/DF, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, Tribunal
A justa causa é condição de procedibilidade para o Pleno, Julgamento: 10/12/2003).
legítimo exercício do direito de ação penal. Há autores, Se a rejeição da ação penal se der por falta de justa cau-
a exemplo de Oliveira (2008, p. 103), que a tratam como sa, a decisão do juiz produz apenas coisa julgada formal, eis
Noções de Direito Processual Penal

condição da ação. que a ação penal pode novamente ser ajuizada caso venha
A peça inicial acusatória deve trazer consigo um substra- acompanhada de novas provas.37
to fático‑probatório mínimo e suficiente para o recebimento
da ação penal, a afastar a alegação de ausência de justa causa Conceito da Ação Penal
para a ação penal. A denúncia deve apresentar um conjunto
de fatos conhecidos e minimamente provados com base nos A ação penal pode ser conceituada como o direito
elementos colhidos durante o inquérito. público subjetivo de pleitear ao Estado-Juiz a aplicação do
O juízo de admissibilidade da denúncia ou queixa não direito penal objetivo ao caso concreto.38
exige apenas a viabilidade do direito de ação e a viabilidade
da relação processual.35 O oferecimento de denúncia ou Classificação da Ação Penal
queixa pressupõe a existência de elementos probatórios
mínimos que justifiquem a abertura de ação penal.36 O próprio Código Penal, quando descreve a conduta típi-
ca, já estabelece o tipo de ação que dará início ao processo

35
Assunto cobrado na prova de Promotor‑BA/2004.

36
Cespe/2º Exame da Ordem/2006 (Alagoas, Amazonas, Bahia, Ceará, Espírito
Santo, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Paraíba, Rio Grande do Norte e Per-
37
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/TRE-MS/Analista Judiciário/2013.
nambuco.
38
MS/TRE-SC/Analista Judiciário/Questão 63/Assertiva a/2009.

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penal para apurar cada crime. O legislador buscou diferenciar Ação Penal Pública
os crimes nos quais o interesse estatal na repressão e punição
é relevante dos crimes onde o interesse subjetivo da vítima Aspectos Gerais
sobrepõe‑se ao jus puniendi estatal. A ação penal pública é proposta pelo órgão do Estado ao
Do ponto de vista constitucional e processual é correto qual a Constituição atribui essa função de forma privativa
afirmar que a ação penal é de direito público, apesar de (art. 129, I, da CF/1988), qual seja, o membro do Ministério
ser classificada subjetivamente como “pública” e “priva‑ Público (Promotor de Justiça no âmbito estadual ou Procu-
da”, sendo que a “pública” pode ser incondicionada ou rador da República, no federal).
condicionada.39
A regra para determinar se a ação penal é privada ou Titularidade da Ação Penal Pública
pública encontra‑se, portanto, na própria lei, seja o Código A ação penal pública, seja ela condicionada ou incondi-
Penal ou a lei penal extravagante. Portanto, se a lei que cionada, inicia‑se por denúncia do órgão estatal encarrega-
descreve o delito não determina a ação penal, automatica- do de deduzir a pretensão punitiva junto ao Estado‑juiz.46
mente ela é pública. Dessa feita, só será privada quando a Portanto, compete privativamente ao Ministério Público
lei expressamente assim determinar.40 Entretanto, ainda promover a ação penal pública.47 É o que estabelece o art. 24
de acordo com o Código de Processo Penal, seja qual for o do CPP, que determina que, “nos crimes de ação pública,
crime, quando praticado em detrimento do patrimônio ou esta será promovida por denúncia do Ministério Público”.
interesse da União, Estado e Município, a ação penal será Ainda quando a lei exigir requisição do Ministro da Justiça
pública, ainda que a lei penal determine o contrário (§ 2º ou representação do ofendido, caberá ao Ministério Público
do art. 24 do CPP)41. ajuizar a ação, desde que a condição da requisição ou da
Destaque-se que, muitas vezes, quando o legislador se representação seja satisfeita.
refere a ação penal pública, está querendo se referir à ação Assim, nos crimes de ação pública, esta é promovida
penal pública incondicionada, eis que quando se trata da por denúncia do Ministério Público, mas depende, quando
ação penal pública condicionada, o legislador é expresso, a lei o exige, de requisição do Ministro da Justiça, ou de
como ocorre no art. 147 do CP. representação do ofendido ou de quem tenha qualidade
O caso de violação de direitos de autor de programa de para representá‑lo.48
computador que resulte em crime contra a ordem tributária Não mais subsistem as disposições do art. 26 do CPP,
será considerado de ação penal pública.42 que estabeleciam que
A ação penal pública e a ação penal privada diferem quanto
à sua titularidade. Enquanto naquela o titular é o Ministério a ação penal, nas contravenções, será iniciada com o
Público, nesta é o ofendido ou seu representante legal.43 auto de prisão em flagrante ou por meio de portaria
A ação penal pública subdivide‑se em condicionada e expedida pela autoridade judiciária ou policial.
incondicionada e a privada pode ser exclusiva, personalís-
sima ou subsidiária.44 A ação pública não pode ser iniciada por flagrante ou
Assim, quando o Código Penal silencia sobre o tipo de por portaria da autoridade policial ou judicial.49
ação, entende‑se que o delito é de ação penal pública in-
condicionada, que é a regra geral (CP, art. 100, caput). Nos Prazo para o oferecimento da denúncia:
casos em que seja cabível a ação pública, qualquer pessoa Ao receber os autos do inquérito policial, o Ministério
do povo poderá provocar a iniciativa do Ministério Público45 Público deverá oferecer denúncia no prazo de cinco dias,
(art. 27 do CPP). se o réu estiver preso, ou quinze dias, se ele estiver solto50.
Quando o Código Penal dispõe que “somente se procede Com efeito, o art. 46 do CPP impõe que
mediante representação”, trata‑se de ação penal pública
condicionada, como se verifica quanto aos crimes descritos O prazo para oferecimento da denúncia, estando o
nos arts. 130, § 2º, 141, II, c/c 145, parágrafo único, 147, réu preso, será de 5 dias, contado da data em que
parágrafo único, 151, § 4º, 152, parágrafo único, 153, § 1º, o órgão do Ministério Público receber os autos do
154, parágrafo único, 156, § 1º, 176, parágrafo único, do Có- inquérito policial, e de 15 dias, se o réu estiver solto
digo Penal e quanto aos crimes contra o patrimônio quando ou afiançado. No último caso, se houver devolução do
verificadas as condições do art. 182 também do CP. inquérito à autoridade policial (art. 16), contar‑se‑á o
Quando o estatuto repressivo dispõe que “somente prazo da data em que o órgão do Ministério Público
se procede mediante queixa”, trata‑se de delito de ação receber novamente os autos.
penal privada. É o que ocorre nos tipos penais descritos nos
arts. 138 a 145; 161, § 3º; 163, IV; 164; 179, parágrafo único; Quando o Ministério Público dispensar o inquérito po-
Noções de Direito Processual Penal

184 c/c 186, I; e 345, parágrafo único, todos do Código Penal. licial, o prazo para o oferecimento da denúncia contar‑se‑á
da data em que tiver recebido as peças de informações ou
39
Ieses/TJ-MA/Analista Judiciário - Direito/2009. a representação (§ 1º do art. 46 do CPP).
40
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/Ministério Público do Esta-
do de Tocantins/Oficial de Diligências/Especialidade: Institucional/2006; 46
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/Instituto de Previdência e
OAB‑ES/2º Exame de Ordem/2004; Cespe/TRE‑PA/Analista Judiciário/Área Assistência dos Servidores do Estado do Espírito Santo/Advogado/2006 e TRF
Judiciária/2005; OAB‑PR/Exame 2/2006; Cespe/1º Exame da Ordem/2004; 5ª Região/Juiz Federal Substituto/2001.
Procuradoria Geral do Estado de Santa Catarina/Procurador do Estado/2003
47
Assunto cobrado nas seguintes provas: Fepese/Prefeitura de Florianópolis/
e OAB‑ES/2º Exame de Ordem/2004. Procurador/2011/Questão 75/Assertiva a/2011; OAB‑Nordeste/1º Exame de
41
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/TRE-AP/Analista Judiciário/Área Ordem/2003; Cespe/1º Exame da Ordem/2006 (Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão,
Administrativa/Questão 56/Item II/2011; TRF 3ª Região/IX Concurso para Juiz Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Sergipe e Espírito Santo); TJ‑SC/
Federal Substituto; OAB‑PR/Exame 1/2007; TJ‑RN/Oficial de Justiça/2002; Oficial de Justiça/2003; OAB‑Nordeste/1º Exame de Ordem/2003 e Cespe/TRE‑PA/
Promotor‑AP/2005; Procuradoria Geral do Estado de Santa Catarina/Procurador Analista Judiciário/Área Judiciária/2005.
do Estado/2003 e Cespe/TRE‑GO/Analista Judiciário/Área Administrativa/2009. 48
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/TJ‑RR/Analista Proces­sual/2006;
42
Assunto cobrado na prova da OAB‑GO/3º Exame de Ordem/2003. Cespe/TRE‑PA/Analista Judiciário/Área Judiciária/2005.
43
Assunto cobrado na prova do Cespe/TJ‑AP/Técnico Judiciá­rio/Áreas Judiciária 49
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/Bacen/Procurador/Questão 82/
e Administrativa/2003-2004. Item V/2009; FCC/DPE-MT/Defensor Público/Questão 18/Assertiva A/2009.
44
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑PR/Exame 3/2006; FGV/TJ‑SE/ 50
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/Defensoria Pública do Estado
Técnico Judiciário/Áreas Administrativa e Judiciária/2004. de Alagoas/Defensor Público de 1ª Classe/2003; MPE‑PA/UFPA/Bacharel em
45
Assunto cobrado na provas da OAB‑PR/Exame 1/2007. Direito/2004; FCC/TRF 2ª Região/Analista Judi­ciário/Área Judiciária/2007.

48 Este eBook foi adquirido por ANA PAULA TORQUATO DA COSTA - CPF: 628.848.913-15.
A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
Há prazos diferenciados na legislação penal extravagante. movida por órgão oficial estatal, no caso, o representante do
Na apuração dos crimes de abuso de autoridade, a de- Ministério Público, considerado dominus litis.
núncia deve ser ofertada em até 48 horas, nos termos do Não foi recepcionado pelo art. 129, I, da CF/1988 o art. 26
art. 13 da Lei nº 4.898/1965. do CPP, que dizia que, em se tratando de contravenções,
Nos crimes contra a economia popular, o prazo para caberia a instauração da ação penal por auto de prisão em
oferecimento da denúncia será de 2 dias, esteja ou não o flagrante ou portaria expedida pelo delegado ou pelo juiz de
réu preso (art. 10, § 2º, da Lei nº 1.521/1951). direito. Assim, não é compatível com a Constituição Federal
Tratando‑se de crime de imprensa (art. 40, § 1º, da Lei de 1988 o processo iniciado, de ofício, pela autoridade po-
nº 5.250/1967), o prazo era de dez dias para oferecimento licial ou judiciária.57 A possibilidade de o próprio juiz iniciar
da denúncia.51 Entretanto, o STF julgou procedente pedido o processo penal, o que era denominado procedimento ju-
formulado em arguição de descumprimento de preceito fun- dicialiforme, não foi recepcionada pela Constituição Federal.
damental para o efeito de declarar como não recepcionado Somente a ação penal pública rege‑se pelo princípio
pela Constituição Federal todo o conjunto de dispositivos da oficialidade.58
da Lei nº 5.250/1967, Lei de Imprensa (ADPF nº 130/DF, Rel. O titular da ação penal pública é exercido com monopólio
Min. Carlos Britto, 30/4/2009). pelo Ministério Público. Entretanto, o princípio da oficiali-
A nova Lei de Tóxicos (art. 54 da Lei nº 11.343/1936) dade não legitima o simples repúdio da queixa‑subsidiária
confere ao Ministério Público o prazo de 10 dias para o re- pelo Procurador da República.59
presentante do Ministério Público ajuizar a denúncia. Destaque‑se que a existência de ações penais privadas
A Lei nº 11.101/2005, que regula a recuperação judicial, não desnaturam o princípio da oficialidade, de aplicação
a  extrajudicial e a falência do empresário e da sociedade apenas às ações penais públicas. Com efeito, as “exceções”
empresária, estabelece que o Ministério Público, estando ao princípio da oficialidade estão nos arts. 29 e 30 do CPP,
o réu solto ou afiançado, terá o prazo de 15 (quinze) dias que tratam, respectivamente, da ação penal privada subsi-
para oferecimento da denúncia, somente no caso de decidir diária da pública e da ação penal privada. Existe uma outra
aguardar a apresentação da exposição circunstanciada a possível exceção à oficialidade da ação penal. Trata‑se da
ser apresentada pelo administrador judicial.52 ação penal popular, instituída no art. 14 da Lei nº 1.079/1950,
O prazo para o Ministério Público ofertar denúncia ou que cuida dos “crimes” de responsabilidade do Presidente
pedir arquivamento é de 15 (quinze) dias, nos crimes de da República. A  sanção prevista para referidos crimes é a
ação penal pública de competência originária nos Tribunais perda do cargo com a inabilitação para a função pública.
(art. 1º da Lei nº 8.038/1990).53 A ação para apurar referidos “crimes”, que, na verdade, são
Embora a lei fixe o prazo para o ajuizamento da ação infrações político‑administrativas, pode ser ajuizada por
penal pública, a denúncia ofertada fora do prazo legal não qualquer do povo.
é nula de pleno direito.54 A não observância do prazo pelo
parquet não impossibilita o recebimento da ação penal Princípio da Legalidade
pelo magistrado. O promotor pode apresentar a denúncia Para a propositura da ação penal, o Ministério Público
enquanto não estiver extinta a punibilidade pela prescrição se embasa em previsão constitucional (art. 129, I, da Cons-
ou outra causa. tituição Federal) e legal (art. 24 do CPP).
Entretanto, há consequências se o promotor não observa Dessa forma, qualquer previsão legal sobre outra forma
o prazo legal. A principal delas é que surge a possibilidade de início da persecução penal em crimes de ação penal públi-
do ajuizamento da ação penal privada subsidiária da pública. ca está eivada de vício de ilegalidade e inconstitucionalidade.
Também é consequência do não ajuizamento da denún-
cia no prazo a possibilidade de ensejar punição administrativa Princípio da Obrigatoriedade ou Oficiosidade60
ao promotor ou mesmo consubstanciar o delito de prevari- Não é facultado ao representante do Ministério Público
cação. Portanto, o promotor desidioso, no oferecimento da avaliar a conveniência ou não da propositura da ação penal
denúncia, poderá sofrer as sanções do art. 319 do Código pública. Ocorrendo delito de ação penal pública, o membro
Penal (prevaricação).55 do MP é obrigado a ajuizar a ação penal.
Tem‑se, ainda, que, em caso de o autor dos fatos estar Se entender que não há base para denúncia, pode pedir
preso, a não observância do prazo acarreta o relaxamento diligências ao órgão policial para posterior propositura da
da prisão, salvo se decretada pelo magistrado a prisão ação penal pública. Entendendo ser caso de arquivamento
preventiva. do inquérito policial ou das peças de informação, o pedido
ao magistrado deve ser feito de forma fundamentada.
Princípios que Regem a Ação Penal Pública Alguns promotores também deixam de ajuizar ação penal
quando a lesão do crime afeta minimamente a ordem jurídi-
Noções de Direito Processual Penal

Princípio da Oficialidade, Autoritariedade ou da De‑ ca, o que é permitido com base no princípio da insignificância,
manda por ser o fato, em tal caso, considerado atípico, o que enseja
A ação penal pública pode ser promovida somente pelo pedido de arquivamento das peças de informação.
Ministério Público.56 Com base no princípio da obrigatoriedade, o pedido de
Apenas o representante do Ministério Público (órgão arquivamento do inquérito policial ou das peças de informa-
oficial) pode ajuizar ação penal pública. Não o pode qualquer ção deve ser sempre fundamentado.
outra autoridade pública ou privada. Segundo o princípio da Segundo o mesmo princípio, o órgão do Ministério Públi-
oficialidade, a ação penal pública é obrigatoriamente pro- co não pode recusar‑se a promover a competente ação penal,
quando identificar hipótese na qual a lei exija sua atuação.

51
Assunto cobrado na prova do Cespe/Defensoria Pública do Estado de Alagoas/ Entretanto, tal princípio encontra‑se atenuado pela previ-
Defensor Público de 1ª Classe/2003.
52
DRS/Acadepol/Polícia Civil do Estado de Minas Gerais/Delegado de Polí-
cia/2007.
57
Assunto cobrado na prova do Cespe/OAB/3º Exame de Ordem/2007.
53
Promotor‑AP/2005.
58
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑PR/2º Exame de Ordem/2004 e
54
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑MS/80º Exame de Ordem/2004 OAB‑GO/2º Exame de Ordem/2004.
e Cespe/TJ‑DF/Oficial de Justiça Avaliador/1997.
59
Assunto cobrado na prova para Procurador da República/1997.
55
UFPA/MPE‑PA/Bacharel em Direito/2004.
60
Alguns autores também denominam referido princípio como princípio da
56
FCC/TRE-PI/Analista Judiciário/Questão 64/Assertivas A, B, C, D e E/2009. legalidade.

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são de transação nas infrações penais de menor potencial No tocante à indisponibilidade da ação penal, o Minis-
ofensivo.61 Com efeito, nos juizados especiais, o princípio da tério Público pode pedir a absolvição do réu nas alegações
obrigatoriedade é mitigado pela possibilidade de se fazer a finais, mas o fato não vincula o juiz, que, ainda assim, pode
transação penal. Fala‑se, portanto, em discricionariedade condenar.70
regrada para a acusação no que se refere ao oferecimento O instituto da suspensão condicional do processo confi-
da ação penal nos juizados especiais criminais (art. 76 da gura exceção ao princípio da indisponibilidade. Com base nas
Lei nº 9.099/1995). disposições do art. 89 da Lei nº 9.099/1995 que determina
O princípio da obrigatoriedade impede que se fale em que nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou
decadência processual para o Ministério Público.62 Com inferior a um ano, abrangidos ou não por esta Lei, o Ministério
efeito, o promotor apenas poderá pedir o arquivamento do Público, ao oferecer a denúncia, poderá propor a suspensão
inquérito policial ou das peças de informação em decorrência do processo, por dois a quatro anos, desde que o acusado não
de prazo quando o crime já se encontrar prescrito, o que gera esteja sendo processado ou não tenha sido condenado por
a extinção da punibilidade. outro crime, presentes os demais requisitos que autorizariam
É o princípio da obrigatoriedade da ação penal pública a suspensão condicional da pena (art. 77 do Código Penal).
que torna inaplicáveis, no Brasil, os  institutos do plea
bargaining e do pentitismo, em toda a plenitude que têm Princípio da (In)Divisibilidade
eles nos Estados Unidos e na Itália, respectivamente.63 Nos Há na doutrina certa divergência sobre a aplicação do
Estados Unidos, a titulariedade da proposição da ação penal princípio da indivisibilidade à ação penal pública. Já se
é do Ministério Público. Entretanto, pode deixar de propor afirmou que o princípio da indivisibilidade é previsto ex-
a ação ou mesmo prosseguir com ação já ajuizada sem pressamente para as hipóteses de ação penal de iniciativa
qualquer interferência do Poder Judiciário, podendo fazer privada e aplicado, por analogia, às hipóteses de ação penal
acordos com a Defesa. No direito italiano, o pentitismo trata pública, condicionada e incondicionada.71 Já foi inclusive
dos “colaboradores da Justiça”. Com base em tal instituto, objeto de cobrança em concurso público que o princípio da
o  coautor que, submetido a processo penal, confessava indivisibilidade aplica‑se à ação penal pública, no instante
sua própria responsabilidade e fornecia às autoridades em que o oferecimento da denúncia contra um dos acu-
notícias úteis à individualização dos demais responsáveis, sados possibilita posterior acusação de outro envolvido.72
era beneficiado.64 A confusão é meramente terminológica e de verificação
das consequências.
Princípio da Indisponibilidade Quando do ajuizamento da ação penal, o representante
Uma vez ajuizada a ação penal pública, não pode o do Ministério Público pode ajuizar a ação penal em face
representante do Ministério Público desistir da ação, nem de alguns dos autores delitivos, sem que, posteriormente,
se estiver provada a inexistência do fato ou da autoria65. esteja impedido ou tenha renunciado ao direito de aditar
Pode, entretanto, pedir absolvição em sede de alegações a ação penal ou mesmo de oferecer nova denúncia contra
finais, o  que, de qualquer forma, não vincula o juiz, que eventual coautor.73
pode condenar, ainda que o autor da denúncia peça uma Por isso, afirma‑se que a ação penal pública é divisível.
absolvição (art. 385 do CPP). Também não se pode desistir A acusação pública pode ajuizar ação apenas contra parte
de eventual recurso interposto66 (CPP, art. 576). dos coautores. Isso não ocorre na ação penal privada, pois
O Ministério Público não pode, assim, em hipótese al- esta é indivisível. Se a vítima ajuíza ação apenas em relação
guma, desistir da ação penal ou de recurso já interposto67 a um dos coautores, há reflexo em relação aos demais, uma
(arts. 42 e 576 do CPP). vez que há renúncia ao direito de queixa, extinguindo‑se a
Não se considera perempta a ação penal pública condi- punibilidade em relação a todos os autores do fato.
cionada quando, após seu início, o MP deixa de promover Há vários estudiosos com fortes argumentos sobre a
o andamento do processo durante trinta dias seguidos.68 aplicação à ação penal pública do princípio da indivisibilida-
Dessa forma, se o MP ofereceu denúncia por crime de de, a exemplo de Capez (2005, p. 108). Lopes Júnior (2008,
roubo e, no decorrer do processo, entendeu pela impro- p. 368) aborda o tema, destacando a irrelevância de não
cedência da ação em face da inexistência do crime, não se ter consequências práticas o fato de o representante do
poderá, mesmo diante da situação apresentada, desistir Ministério Público não denunciar todos os autores do fato:
da ação penal proposta.69
A ação penal de iniciativa pública é regida pelo prin-

61
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/Defensoria Pública do Estado cípio da indivisibilidade, disso não temos dúvida.
de Alagoas/Defensor Público de 1ª Classe/2003; OAB‑PR/2º Exame de Or- Contudo, há que se destacar um problema de eficá-
dem/2004.
Noções de Direito Processual Penal


62
Procurador da República/2003.
cia: se o MP não denunciar a todos, qual é a sanção

63
Assunto cobrado na seguinte prova: MPDFT/28º Concurso para Promo- processual? Nenhuma. Não existe, como na ação de
tor/2009 e MPDFT/28º Concurso/Promotor – Nova Prova/2009. iniciativa privada, a sanção prevista no art. 49 (extin-

64
Assunto cobrado na seguinte prova: MPDFT/28º Concurso para Promotor/
2009. ção da punibilidade para todos). Esse é o problema

65
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/PC-CE/Insp/2012; FCC/TJ- e que gera algumas interpretações equivocadas no
GO/2012; MPDFT/28º Concurso/Promotor/2009; Cespe/PGE-PE/Procurador sentido de que o princípio da indivisibilidade não
do Estado – grupo II/Questão 81/Assertiva D/2009 e FCC/DPE-MT/Defensor
Público/Questão 18/Assertiva B/2009. vigeria na ação pública. Ele vige, mas não tem uma

66
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/PC-CE/Insp/2012. sanção processual pela sua inobservância. Mas isso

67
Assunto cobrado nas seguintes provas: TJ‑PI/Juiz Substituto/2001; Pro­curador não é novidade, pois inúmeros outros casos de princí-
da República/1997; OAB‑Nordeste/1º Exame de Ordem/2003; TRF 3ª Região/
Juiz Federal; OAB‑MS/80º Exame de Ordem/2004; OAB‑PR/1º Exame de
Ordem/2004; FGV/TJ‑SE/Analista Judiciário/Área Direito/2004; OAB‑MS/79º 70
Assunto cobrado nas seguintes provas: TRF 1ª Região/Juiz Federal Substitu-
Exame de Ordem/2004; OAB‑MS/79º Exame de Ordem/2004; OAB‑RS/1º to/2004 e Promotor‑AP/2005.
Exame de Ordem/2004; Cespe/TJ‑DF/ Oficial de Justiça Avaliador/1997; Cespe/ 71
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑PR/3º Exame de Ordem/2004 e
TJ‑PE/Oficial de Justiça da 1ª Entrância/2001; TJ‑RN/Oficial de Justiça/2002. Procurador da República/2003.

68
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/DPE-AL/Defensor Público de 1ª
72
Assunto cobrado nas seguintes provas: NCE/Delegado da Polícia Civil de 3ª Classe
Classe/Questão 107/2009. do RJ/2002 e Cespe/1º Exame da Ordem (Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão,

69
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/Ministério Público do Estado de Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Sergipe e Espírito Santo).
Tocantins/Oficial de Diligências/Institucional/2006.
73
Assunto cobrado na seguinte prova: Esaf/AFC/CGU/Correição/2012.

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pios sem sanção existem no processo penal brasileiro, Entretanto, a ação penal pública deverá ser promovida
a começar pela falta de sanção pela inobservância contra todos aqueles que participarem da ação delituosa e
dos prazos de duração do inquérito, da instrução forem conhecidos quando do oferecimento da ação penal
etc., como explicamos ao tratar do prazo razoável. e houver justa causa para tanto. Isso em face do princípio
da obrigatoriedade e não da indivisibilidade da ação penal
A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal é no senti- pública. Dessa forma, não é correta a assertiva de que seria
do de que o princípio da indivisibilidade não se aplica à ação causa de rejeição da denúncia, por ofensa ao princípio da
penal pública (STF, Primeira Turma, HC nº 93.524/RN, Rel. indivisibilidade da ação, a circunstância de haver o Minis‑
Min. Cármen Lúcia, Julgamento: 19/8/2008) tério Público formulado a imputação penal contra apenas
Assim, o fato de terem sido denunciados apenas alguns um dos indiciados no inquérito policial.80 Estaria correta a
entre todos os supostamente envolvidos em crime não assertiva se fosse feita referência ao princípio da obrigatorie-
conduz à inviabilidade da inicial acusatória. dade. Com efeito, se o representante do Ministério Público
A Suprema Corte entende que o princípio da indivisibilidade tem conhecimento da participação de todos os autores e não
é aplicável apenas às ações penais privadas, destacando que, denuncia todos, em face do princípio da obrigatoriedade,
pode responder administrativa ou penalmente.
tratando‑se de ação penal privada, o oferecimento Seguindo tal raciocínio, nos crimes de ação penal pública
de queixa‑crime somente contra um ou alguns dos condicionada, o órgão do Ministério Público poderá ofe-
supostos autores ou partícipes da prática delituosa, recer denúncia contra coautores ou partícipes da infração
com exclusão dos demais envolvidos, configura penal não referidos na representação, desde que descober-
hipótese de violação ao princípio da indivisibilidade tos pela autoridade policial após a apresentação daquela
(CPP, art. 48), implicando, por isso mesmo, renúncia peça pelo ofendido.81
tácita ao direito de querela (CPP, art. 49), cuja efi-
cácia extintiva da punibilidade estende‑se a todos Princípio da Intranscendência
quantos alegadamente hajam intervindo no suposto Pelo princípio da intranscendência, a ação penal deve
cometimento da infração penal (CP, art. 107, V, c/c ser proposta, por um princípio lógico, em relação à pessoa
o art. 104). (STF, Segunda Turma, HC nº 88.165/RJ, ou às pessoas a quem se imputa a prática do ilícito.82 Assim,
Rel. Min. Celso de Mello, Julgamento: 18/4/2006) o art. 5º, XLV, da CF/1988 estabelece que,
Assim, se o promotor souber da participação de apenas Art. 5º [...]
um ou de alguns autores na prática delitiva quando do XLV – nenhuma pena passará da pessoa do conde-
ajuizamento da ação penal, ou mesmo quando possua justa nado, podendo a obrigação de reparar o dano e a
causa apenas em relação a alguns dos autores, nada impede decretação do perdimento de bens ser, nos termos
que depois adite a denúncia ou mesmo ofereça uma nova da lei, estendidas aos sucessores e contra eles execu-
ação penal pública em face dos não acusados na peça inicial. tadas, até o limite do valor do patrimônio transferido.
Analisemos a seguinte situação hipotética: Roberto,
promotor de justiça, denunciou Gilvan pelo crime de lesões Dessa forma, a acusação deve se basear em fatos co-
corporais seguidas de morte. Ficou evidenciado, no curso da metidos pelo acusado, não podendo a responsabilidade ser
instrução criminal, que Gilvan atuou com intenção de matar. transferida ou compartilhada por seus sucessores, familiares,
Nessa situação, será imprescindível, para que Gilvan seja responsáveis. Quanto a estes apenas há responsabilidade
julgado pelo crime de homicídio, o aditamento da denúncia, civil e nos limites do patrimônio do autor dos fatos tidos
abrindo‑se o prazo para a defesa.74 como criminosos.
No mesmo sentido, tendo sido oferecida denúncia pela Referido princípio também se aplica às ações penais
prática de furto simples, poderá o magistrado proferir privadas.
sentença condenatória por furto qualificado pelo repouso
noturno, desde que baixe o feito ao Ministério Público para Espécies de Ação Penal Pública
aditamento da denúncia e, aditada, abra vista à defesa, A ação penal pública pode ser incondicionada ou condi-
ainda que, em alegações finais, o  parquet tenha pedido cionada. Naquela, não há qualquer requisito ou condição a
condenação por furto simples.75 ser preenchido para a atuação do representante do Minis-
Recebido o aditamento, que corresponde ao recebimen- tério Público. Já a ação penal pública condicionada é pro‑
to da denúncia, não pode o magistrado voltar à capitulação
movida pelo Ministério Público, mas depende de requisição
anterior.76
do Ministro da Justiça ou de representação do ofendido ou
O aditamento da peça acusatória não conduz, necessa‑
de quem tiver qualidade para representá‑lo.83
riamente, à nova citação do réu.77
Noções de Direito Processual Penal

Embora não destacada na divisão clássica, tem‑se a ação


Em caso de ação penal pública, uma denúncia poderá
penal popular de responsabilidade prevista no art. 14 da
ser aditada a qualquer tempo para incluir qualificadora
Lei nº 1.079/1950 (Define os crimes de responsabilidade e
que não conste expressamente da inicial, desde que ocorra
regula o respectivo processo de julgamento), que determina
antes da prolação da sentença de pronúncia.78 Tratando‑se
que é permitido a qualquer cidadão denunciar o Presidente
de queixa, o Promotor de Justiça na ação penal privada não
pode, mesmo que evidente, ampliar a extensão temática da República ou Ministro de Estado, por crime de respon-
da pretensão punitiva.79 sabilidade, perante a Câmara dos Deputados. O art. 41 da
referida lei estabelece, ainda, que é permitido a todo cidadão
74
Cespe/Defensoria Pública da União/Defensor Público da União de 2ª Catego- denunciar perante o Senado Federal, os Ministros do Supre-
ria/2004. mo Tribunal Federal e o Procurador Geral da República, pelos
75
Cespe/Defensoria Pública do Estado do Amazonas/Defensor Público de 4ª crimes de responsabilidade que cometerem.
Classe/2003.
76
Assunto cobrado na prova do TJDFT/Juiz de Direito Substituto/2007.
77
Procurador da República/2003. 80
Promotor‑DF/2002.
78
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/Defensoria Pública do Estado 81
Assunto cobrado na prova do Cespe/TJ‑RR/Oficial de Justiça/2001.
do Amazonas/Defensor Público de 4ª Classe/2003; Cespe/TRF 5ª Região/Juiz 82
OAB‑MS/80º Exame de Ordem/2004.
Federal Substituto/2006. 83
FCC/Procuradoria Geral do Estado do Maranhão/Procurador do Estado – 3ª
79
Procurador da República/1997. Classe/2003.

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Ação Penal Pública Incondicionada O titular da ação penal, que continua sendo o repre-
Na ação penal pública incondicionada, a atuação do sentante do Ministério Público, inicia a ação por meio da
Ministério Público não depende da vontade do ofendido denúncia. Entretanto, na ação pública condicionada, o re-
ou seu representante legal.84 presentante do MP não poderá ajuizá‑la enquanto não for
A ação penal pública incondicionada será iniciada por satisfeita a condição da representação do próprio ofendido
denúncia oferecida pelo representante do Ministério Pú- ou da requisição do Ministro da Justiça.
blico. Do mesmo modo se dá com a ação penal pública A ação penal pública condicionada não é iniciada por
condicionada. A diferença é que, sendo a ação penal pública meio de representação do ofendido ou seu representante
incondicionada, não se exige nenhuma condição para que legal, ou requisição do Ministro da Justiça.92
o representante do Ministério Público ajuíze a denúncia. Em determinados tipos de crime, o Estado, mesmo
O delito será de ação penal pública incondicionada mantendo a titularidade da persecução do crime, deixa a
sempre que a lei silenciar a respeito da sua titularidade ou critério da vítima a decisão de permitir ou não o início da
da legitimação para agir, a exemplo dos crimes previstos nos
ação penal, uma vez que questões de foro individual podem
arts. 121 a 128 do CP. O mesmo se diga em relação a crimes
fazê‑la preferir deixar os fatos no anonimato ou sem apu-
constantes da legislação penal extravagante. A  título de
exemplo, é pública incondicionada a ação penal por crime de ração, buscando evitar o “escândalo do processo (strepitus
sonegação fiscal85, bem como os crimes previstos no Estatu‑ judicii ou strepitus processus)”93.
to do Idoso (Lei nº 10.741/2003), que são exclusivamente de A denúncia rejeitada pelo juiz por falta de representação
ação penal pública incondicionada, inadmitindo‑se o início faz coisa julgada formal, podendo ser renovada e recebida
da ação por representação.86 (art. 95 da Lei nº 10.741/2003) quando o requisito for preenchido.
Quanto ao procedimento aplicado aos crimes falimen‑ Quando o Código Penal ou a legislação extravagante
tares, via de regra, referidos crimes são apurados mediante dispuser que “somente se procede mediante representação”,
ação penal pública incondicionada.87 trata‑se de ação penal pública condicionada, como se verifica
Mesmo nos crimes apurados mediante ação penal públi- nos seguintes crimes:
ca incondicionada, o inquérito policial poderá ser dispensável • crime de perigo de contágio venéreo (art. 130, § 2º,
para o oferecimento de denúncia88. Com efeito, dispondo o do CP);
Ministério Público de elementos suficientes para a propositura • crime contra a honra praticado contra funcionário
da ação penal, pode, desde já, ajuizar a ação penal. público no exercício de suas funções (art. 141, II, c/c
Como dito, a ação penal pública incondicionada não fica 145, parágrafo único, do CP)  – neste caso, também
vinculada a qualquer condição, inclusive nas infrações de é admitida ação penal privada, como se percebe na
menor potencial ofensivo. leitura da Súmula nº 714 do STF:
Nos termos da Lei nº 9.099/1995, a composição dos
danos civis, que deve ser reduzida a termo e valer como É concorrente a legitimidade do ofendido, median-
título executivo judicial, não impede a proposição da ação te queixa, e do Ministério Público, condicionada à
penal quando esta for pública incondicionada.89 Com efei- representação do ofendido, para a ação penal por
to, apenas quando há transação penal, nas ações penais crime contra a honra de servidor público em razão
privadas e públicas condicionadas à representação, entre do exercício de suas funções;94
o autor dos fatos e o representante do Ministério Público é
que se impede o ajuizamento da ação penal, nos crimes de • crime de ameaça (art. 147, parágrafo único, do CP);
menor potencial ofensivo. Isto porque a transação é exceção
• crime de violação de correspondência (art. 151, § 4º,
ao princípio da obrigatoriedade da ação penal pública.90
Destaque-se que o art. 17 da Lei de Contravenções Penais do CP);
(Decreto-Lei nº 3.688, de 3 de outubro de 1941) determina • crime de violação de correspondência comercial
que a ação penal é pública, devendo a autoridade proceder (art. 152, parágrafo único, do CP);
de ofício. O STF entende que • crime de divulgação de segredo (art. 153, § 1º, do CP);
• crime de violação de segredo profissional (art.  154,
a regra do art. 17 LCP – segundo a qual a perse­cução parágrafo único, do CP);
das contravenções penais se faz mediante ação • crime de furto de coisa comum (art. 156, § 1º, do CP);
pública incondicionada – não foi alterada, sequer • crime de tomar refeição em restaurante, alojar‑se em
com relação à de vias de fato, pelo art. 88 da Lei hotel ou utilizar‑se de meio de transporte sem dispor
nº 9.099/1995, que condicionou à representação a de recursos para efetuar o pagamento (art. 176, pará-
ação penal por lesões corporais leves (HC nº 80.617, grafo único, do CP);
Pertence, RTJ nº 177/866). (STF, HC nº 86.058/RJ, • crimes contra o patrimônio quando verificadas as
Rel. Min. Sepúlveda Pertence, Primeira Turma, Jul- condições do art. 182 do Código Penal;
Noções de Direito Processual Penal

gamento: 25/10/2005) • crimes de lesões corporais leves e lesões corporais


culposas (art. 88 da Lei nº 9.099/1995);
Ação Penal Pública Condicionada a Representação
Na ação pública condicionada, o Estado não delega ao 92

Assunto cobrado na prova do MS/TRE-SC/Analista Judiciário/Questão 64/
ofendido o direito de ação.91 Assertiva A/2009.
93
Oliveira (2008, p. 116), in verbis: “Conquanto a regra relativamente à legitima-

84
Assunto cobrado na prova do MS/TRE-SC/Analista Judiciário/Questão 64/ ção para a persecução processual penal evidencie o interesse público de toda
Assertiva B/2009. a comunidade na repressão da atividade criminosa, daí se atribuir ao Estado
85
Assunto cobrado nas seguintes provas: TRF 4ª Região/Juiz Federal Substitu- tal função, há casos em que outra ordem de interesses, igualmente relevantes,
to/2005 e Procuradoria Geral do Estado de Santa Catarina/Procurador do devem ser tutelados pelo ordenamento processual. Trata‑se da proteção da
Estado/2003. vítima de determinados crimes contra os deletérios efeitos que, eventualmente,
86
Promotor‑BA/2004. podem vir a ser causados pela divulgação pública do fato. Por isso, em razão do
87
Cespe/PGE-PE/Procurador do Estado – grupo II/Questão 85/Assertiva A/2009. que a doutrina convencionou chamar de strepitus iudicii (escândalo provocado
88
Assunto cobrado na prova do OAB‑MS/81º Exame de Ordem/2005. pelo ajuizamento da ação penal), reserva‑se a ela o juízo de oportunidade e
89
Assunto cobrado na prova do Cespe/Defensoria Pública do Estado de Sergipe/ conveniência da instauração da ação penal, com o objetivo de evitar a produção
Defensor Público de 2ª Categoria/2005. de novos danos em seu patrimônio – moral, social, psicológico etc. – diante de
90
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/TJ-ES/Analista Judiciário/Questão possível repercussão negativa trazida pelo conhecimento generalizado do fato
102/2011. criminoso.”
91
Assunto cobrado na prova do MPDFT/28º Concurso para Promotor/2009. 94
Cespe/MPE-SE/Promotor Substituto/2010/Questão 16/Assertiva A.

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• crimes contra o patrimônio cometidos contra cônjuge Vejamos ementa sobre o tema:
separado judi­cialmente, irmãos e tio ou sobrinho, com
quem o agente coabita, quando não forem os crimes PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS. LESÃO COR-
praticados com vio­lência ou grave ameaça ou, ainda, PORAL LEVE PRATICADA COM VIOLÊNCIA FAMILIAR
que não praticados com violência ou grave ameaça ou CONTRA A MULHER. INAPLICABILIDADE DA LEI Nº
que tenham como vítimas pessoas com idade igual ou 9.099/1995 E, COM ISSO, DE SEU ART. 88, QUE
superior a 60 anos (arts. 182 e 183 do CP); e DISPÕE SER CONDICIONADA À REPRESENTAÇÃO O
• crimes contra a liberdade sexual95 (art. 225 do Código REFERIDO CRIME. AUSÊNCIA DE NULIDADE NA NÃO
Penal, com a redação dada pela Lei nº 12.015/2009), DESIGNAÇÃO DA AUDIÊNCIA PREVISTA NO ART. 16
desde que a vítima não seja menor de 18 anos, pes- DA LEI MARIA DA PENHA, CUJO ÚNICO PROPÓSITO
soa vulnerável ou tenha o crime sido praticado com É A RETRATAÇÃO DA REPRESENTAÇÃO. PARECER
violência real. MINISTERIAL PELA CONCESSÃO DO WRIT. ORDEM
DENEGADA. 1. Esta Corte, interpretando o art. 41 da
Suponha que Marcos ofendeu a integridade corporal Lei nº 11.340/2006, que dispõe não serem aplicáveis
de Maria, esbofeteando‑a por duas vezes e causando‑lhe aos crimes nela previstos a Lei dos Juizados Especiais,
lesão corporal leve. No caso analisado, Maria deve repre- já resolveu que a averiguação da lesão corporal de
sentar para que Marcos possa ser denunciado pelo MP, uma natureza leve praticada com violência doméstica e
vez que tal crime é de ação penal pública condicionada à familiar contra a mulher independe de representa-
representação.96 ção. Para esse delito, a Ação Penal é incondicionada
No mesmo sentido: Jair, dirigindo de maneira impru‑ (REsp. nº  1.050.276/DF, Rel. Min. Jane Silva, DJu
dente, causou a colisão de seu veículo com o de Maria, que 24/11/2008). 2. Se está na Lei nº 9.099/1990, que
sofreu lesão corporal grave, consistente na amputação de regula os Juizados Especiais, a previsão de que de-
membro inferior, conforme comprovado por laudo produ‑ penderá de representação a ação penal relativa aos
zido pelo perito que realizou seu exame de corpo de delito. crimes de lesões corporais e lesões culposas (art. 88)
Nesse caso, a ação penal é pública condicionada à represen‑ e a Lei Maria da Penha afasta a incidência desse diplo-
tação da vítima, tendo Maria o prazo decadencial de seis ma despenalizante, inviável a pretensão de aplicação
meses, contado da data em que tomou conhecimento de daquela regra aos crimes cometidos sob a égide desta
que o autor da lesão foi Jair, para contra ele representar.97 Lei. 3. Ante a inexistência da representação como
A falta de representação constitui‑se em vício que in- condição de procedibilidade da ação penal em que
viabiliza o início do processo penal.98 se apura lesão corporal de natureza leve, não há
Dessa forma, deve‑se providenciar a representação para como cogitar qualquer nulidade decorrente da não
permitir o ajuizamento da ação penal. realização da audiência prevista no art. 16 da Lei
nº 11.340/2006, cujo único propósito é a retratação
Representação e Lesão Corporal Contra a Mulher (STJ, HC nº  91.540/MS, Rel. Min. Napoleão Nunes
em Caso de Violência Doméstica Maia Filho, Quinta Turma, DJe 13/4/2009).

Nas hipóteses de crimes que decorram de violência O STJ passou a adotar entendimento contrário em
doméstica e familiar contra a mulher, o  art.  16 da Lei 24/2/2010, tendo noticiado que, por maioria, a Terceira Se-
nº 11.340/2006 destaca que, nas ações penais públicas condi- ção do Superior Tribunal de Justiça entendeu ser necessária
cionadas à representação da ofendida de que trata esta lei, só a representação da vítima no casos de lesões corporais de
será admitida a renúncia à representação perante o juiz, em natureza leve, decorrentes de violência doméstica, para a
audiência especialmente designada com tal finalidade, antes propositura da ação penal pelo Ministério Público.
do recebimento da denúncia e ouvido o Ministério Público. Vejamos:
Entretanto, deve‑se verificar, no caso de lesão corporal
leve no âmbito de violência doméstica e familiar contra a A Seção, ao julgar recurso sob o regime do art. 543-C
mulher, não se tratar mais de infração de menor potencial do CPC c/c a Res. nº 8/2008-STJ, firmou, por maio-
ofensivo, tendo em vista a pena máxima de três anos ria, o entendimento de que, para propositura da
prevista no art. 129, § 9º, do Código Penal. Dessa forma, ação penal pelo Ministério Público, é necessária a
não teriam aplicação as disposições da Lei nº 9.099/1995, representação da vítima de violência doméstica nos
notadamente o art. 88 da referida lei, que diz ser a ação casos de lesões corporais leves (Lei nº 11.340/2006
pública condicionada à representação da ofendida.99 – Lei Maria da Penha), pois se cuida de uma ação
Nesse sentido, o STJ destaca que pública condicionada. Observou-se, que entender
Noções de Direito Processual Penal

a ação como incondicionada resultaria subtrair da


a lesão corporal praticada contra a mulher no âmbito mulher ofendida o direito e o anseio de livremente
doméstico é qualificada por força do art. 129, § 9º, se relacionar com quem quer que seja escolhido
do Código Penal e se disciplina segundo as diretrizes como parceiro, o que significaria negar-lhe o direito
desse diploma legal, sendo a ação penal pública à liberdade de se relacionar, direito de que é titular,
incondicionada. (STJ, HC nº 106.805/MS, Min. Jane para tratá-la como se fosse submetida à vontade dos
Silva(desembargadora convocada do TJ/MG), Sexta agentes do Estado. Argumentou-se, citando a dou-
Turma, DJe 9/3/2009) trina, que não há como prosseguir uma ação penal
depois de o juiz ter obtido a reconciliação do casal

95
Assunto cobrado na prova do Cespe/DPE-AL/Defensor Público de 1ª Classe/ ou ter homologado a separação com a definição de
Questão 104/2009. alimentos, partilha de bens, guarda e visitas. Assim,
96
Assunto cobrado na prova do Cespe/TJDF/Analista Judiciário/Área Judiciária –
Atividade Processual/2003.
a possibilidade de trancamento de inquérito policial
97
Cespe/MPE-TO/2012. em muito facilitaria a composição dos conflitos
98
Assunto cobrado na prova da Procuradoria Geral do Estado de Santa Catarina/ envolvendo as questões de Direito de Família, mais
Procurador do Estado/2003.
99
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/TJ-PB/Juiz Substituto/Questão 52/
relevantes do que a imposição de pena criminal ao
Assertiva D/2011. agressor. Para os votos vencidos, a Lei nº 11.340/2006

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afastou expressamente, no art. 41, a incidência da Destaque-se que o rol contido no § 1º do art. 24 do CPP
Lei nº 9.099/1995 nos casos de crimes de violência é taxativo, não abrangendo o companheiro da vítima falecida
doméstica e familiares praticados contra a mulher. (LIMA, 2008, p. 242).
Com respaldo no art. 100 do CP, entendiam ser de A representação será exercida por curador nomeado
ação pública incondicionada o referido crime sujeito quando for menor o ofendido, e seus interesses estiverem
à Lei Maria da Penha. Entendiam, também, que a em conflito com o de seus genitores/responsáveis.103
citada lei pretendeu punir com maior rigor a violência
doméstica, criando uma qualificadora ao crime de Prazo para a apresentação da representação:
lesão corporal (art. 129, § 9º, do CP). Nesse contexto, O prazo para o oferecimento da representação será
defendiam não se poder exigir representação como decadencial de 6 (seis) meses, contados do dia em que a
condição da ação penal e deixar ao encargo da vítima vítima ou seu representante tomou conhecimento do autor
a deflagração da perse­cução penal. (STJ; Resp. nº da infração.104
1.097.042-DF, Rel. originário Min. Napoleão Nunes O art. 38 do CPP determina que:
Maia Filho, Rel. para acórdão Min. Jorge Mussi, jul-
gado em 24/2/2010) Salvo disposição em contrário, o ofendido, ou seu
representante legal, decairá no direito de repre-
Titularidade do direito de representação: sentação, se não o exercer dentro do prazo de seis
O art. 39 do CPP, por sua vez, estabelece que meses, contado do dia em que vier a saber quem é
o autor do crime.105
O direito de representação poderá ser exercido,
pessoalmente ou por procurador com poderes O prazo decadencial para o exercício do direito de re-
especiais, mediante declaração, escrita ou oral, presentação não pode ser interrompido.106
feita ao juiz, ao órgão do Ministério Público, ou à O prazo para exercício do direito de representação é de
autoridade policial.100 direito material, devendo ser computado o dia do começo
e excluído o dia final.107
Assim, com base no disposto no Código de Processo Referido prazo também tem incidência em relação aos
Penal, nos crimes em que a ação pública depender de re- sucessores, nos termos do § 1º dos arts. 24 e 31 do CPP.
presentação, não poderá sem ela ser iniciada.101 Desse modo, admitindo‑se a hipótese de crime de ação
No caso de morte do ofendido ou quando declarado penal pública condicionada à representação, esta, a repre-
ausente por decisão judicial, o direito de representação sentação (e não a denúncia), deverá ser oferecida no prazo de
passará ao cônjuge, aos ascendentes, descendentes ou seis meses, contados a partir da data em que o ofendido ou o
irmãos.102 (§ 1º do art. 24 do CPP). Trata-se de caso de subs- seu representante legal tomou conhecimento da autoria do
tituição processual, em que se houver mais de um desses crime (art. 38 do CPP). Destaque‑se que prazo de decadência
legitimados para substituir a vítima, deve-se aplicar a regra da representação se conta do conhecimento inequívoco da
do art. 36 do CPP, que estabelece que terá preferência o autoria, não de meras suspeitas (STF, Segunda Turma, RHC
cônjuge, e, em seguida, o parente mais próximo na ordem nº 64.384, 4/11/1986, Carlos Madeira, RTJ nº 120/191).
de enumeração constante do art. 31, qual seja, ascendente, Sendo a vítima menor de idade ou se, ainda que maior,
descendente ou irmão, sendo que se uma delas exerce o não gozar de suas faculdades mentais em sua plenitude,
direito de representação, nada pode ser feito pelos demais a representação pode ser feita por seu representante legal.108
(LIMA, 2008, p. 242). Neste caso, o prazo decadencial para o oferecimento de
Sobre o prazo decadencial para a representação, Polastri queixa ou de representação deve ser contado separadamente
(2008, p. 243) destaca que a contagem começa a fluir da para o ofendido e para o seu representante legal, ainda que
data que uma das pessoas enumeradas no § 1º, do art. 24 a data da ciência da autoria do crime tenha sido a mesma.109
do CPP, vem a saber quem é o autor do fato. Exemplifica que É o que se percebe da leitura da seguinte ementa:

se após a morte da vítima, v. g., o seu pai vem a saber DECADÊNCIA DO DIREITO DE QUEIXA OU DE RE‑RE-
da autoria de crime em que se procede mediante PRESENTAÇÃO. 1) NO SISTEMA DO C.PR.PEN. HÁ
ação penal pública condicionada contra a falecida, AUTONOMIA DO DIREITO DE QUEIXA OU DE REPRE-
terá seis meses, deste conhecimento, para repre- SENTAÇÃO, QUE PODE SER EXERCIDO PELO OFENDIDO
sentar, salvo se demonstrado que a vítima antes de OU POR SEU REPRESENTANTE LEGAL. APLICAÇÃO
morrer já sabia da autoria e deixou passar o prazo DOS ARTS. 34, 38 E 50, PARÁGRAFO ÚNICO. 2) O
PRAZO DE DECADÊNCIA, CUJO TERMO INICIAL É, EM
decadencial ou seu pai também já sabia da autoria
PRINCÍPIO, CONFORME O ART. 38, O DIA EM QUE O
antes da morte. Por outro lado, se o pai já sabia e
Noções de Direito Processual Penal

TITULAR DO DIREITO VIER A SABER QUEM É O AUTOR


nada fez, e depois de esgotados seis meses a cônjuge
DO CRIME, CORRE, SEPARADAMENTE, EM RELAÇÃO
quiser representar, também não será possível a repre-
AO QUE TIVER ESSE CONHECIMENTO. OPERADA A
sentação, já que nessa hipótese, um dos legitimados
DECADÊNCIA, PARA UM, CONTINUARÁ TITULAR DO
já deixou de passar o prazo in albis.
DIREITO DE QUEIXA OU REPRESENTAÇÃO O QUE NÃO
100
Assunto cobrado nas seguintes provas: Fepese/Prefeitura de Florianópolis/
Procurador/Questão 71/Assertiva d/2011 e FCC/TRE-AP/Analista Judiciário/ 103
Delegado de Polícia Civil da Bahia/2001.
Área Administrativa/Questão 56/Item III/2011. 104
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/TRE‑PA/Analista Judiciário/
101
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/Tribunal de Justiça do Estado Área Judiciária/2005; OAB‑RS/2º Exame/2006; OAB‑SP/126º Exame de
de Roraima/Analista Processual/2006; Esaf/Procurador da Fazenda Na- Ordem/2005; Vunesp/OAB‑SP/128º Exame; Vunesp/OAB‑SP/130º Exame;
cional/2004; FCC/TRE‑SP/Analista Judiciário/Área Judiciária/2006; Cespe/ Delegado de Polícia Civil da Bahia/2001.
TRE‑PA/Analista Judiciário/Área Judiciária/2005; Cespe/TJ‑RR/Analista Pro- 105
Assunto cobrado na seguinte prova: IBFC/MPE-SP/Oficial de Promotoria/
cessual/2006. Questão 49/Assertiva A/2011.
102
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/TJ-GO/2012; Fepese/Prefeitura de 106
Assunto cobrado na seguinte prova: IBFC/MPE-SP/Oficial de Promotoria/
Florianópolis/Procurador/Questão 71/Assertiva C/2011; IBFC/MPE-SP/Oficial Questão 49/Assertiva C/2011.
de Promotoria/Nível Médio/Questão 49/Assertiva D/2011; FCC/TRE‑SP/Ana- 107
FCC/TJ-SE/Analista Judiciário/Questão 73/Assertiva C/2009.
lista Judiciário/Área Judiciária/2006; OAB‑RS/2º Exame/2006; Cespe/TJ‑AP/ 108
Assunto cobrado na prova do FCC/TJ-SE/Analista Judiciário/Questão 73/As-
Analista Judiciário/Área Judiciária/2003-2004 e FCC/TRF 1ª Região/Analista sertiva D/2009.
Judiciário/Área Judiciária/2001. 109
Cespe/TJ‑AP/Oficial de Justiça Avaliador/2004.

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TIVER NOTÍCIA DO CRIME. 3) RECURSO ORDINÁRIO 2) requerer novas diligências ao órgão policial; 3) pedir ao
IMPROVIDO. (STF, Primeira Turma, RHC nº 49.052/GO, juiz o arquivamento do inquérito. Por isso, afirma‑se que a
Rel. Min. Barros Monteiro, Julgamento: 14/9/1971) representação não obriga o promotor.
Agora, se o promotor, mesmo recebendo a represen-
Em caso de crime de ação penal pública condicionada à tação, ficar inerte, sem tomar quaisquer das providências
representação, a decadência do direito de representar em acima referidas, a  inércia trará consequências, como a
relação ao ofendido não impede, segundo orientação do responsabilização administrativa ou criminal do promotor.
Supremo Tribunal Federal, o oferecimento de representação E mais: em um crime de ação penal pública condicio‑
por representante legal.110 nada, se a vítima representar e o Ministério Público ficar
Trata-se da Súmula nº 594 do STF, que estabelece que inerte, poderá o ofendido ajuizar queixa substitutiva da
denúncia, desde que o faça no prazo legal.116
os direitos de queixa e de representação podem ser
exercidos, independentemente, pelo ofendido ou por Eficácia objetiva e subjetiva da representação
seu representante legal. Nos crimes de ação penal pública condicionada, o ór-
gão do Ministério Público pode oferecer denúncia contra
Quando o ofendido for declarado ausente por decisão ju- coautores ou partícipes da infração penal não referidos
dicial não haverá caducidade do direito de representação.111 na representação, por exemplo, quando descobertos pela
A representação é subordinada às regras de direito autoridade policial após a apresentação daquela peça pelo
material, sendo, portanto, o prazo decadencial contado ofendido.117 Isso porque à ação penal pública condicionada
incluindo‑se o dia do início. também se aplica o princípio da obrigatoriedade. Assim,
Nos crimes de ação penal pública condicionada à re- a representação tem eficácia objetiva, em relação aos fatos
presentação, tendo a vítima ou seu representante legal delitivos, e, subjetiva, em relação a todos os coautores.
oferecido a representação dentro do prazo decadencial,
é irrelevante que a denúncia do órgão do Ministério Público Possibilidade de retratação da representação:
tenha sido apresentada após os seis meses fatais.112 Ainda que iniciado o inquérito policial, a representação,
no caso de ação penal pública a ela condicionada, não será
Forma da representação: irretratável.118
Não há a necessidade de a representação ser formal.113 Ocorrendo crime que enseje ação penal pública condicio-
A representação pode ser efetivada ao representante do nada à representação, a retratação do ofendido somente po-
Ministério Público por qualquer meio de manifestação, não derá ser recebida até a data do oferecimento da denúncia119.
se exigindo formalidades especiais. Pode ser oral ou escrita. Com efeito, nos termos do art. 25 do CPP, “a representação
Neste último caso, o documento não precisa ser apresentado será irretratável, depois de oferecida a denúncia”.120
com firma reconhecida. Destaque-se que a retratação é até a data do ofere-
Nos crimes de ação penal pública condicionada à re- cimento e não do recebimento da ação penal, que pode
presentação, não se exige rigor formal na representação ocorrer em momento diverso.121
do ofendido ou de seu representante legal.114 Com efeito, Por outro lado, a retratação da retratação, que se equi-
o parágrafo 1º do art. 39 do CPP determina que: para a uma nova representação, pode ser efetivada, desde
que dentro dos 6 meses do conhecimento da autoria delitiva.
A representação feita oralmente ou por escrito, sem
assinatura devidamente autenticada do ofendido, de Representação e inquérito policial:
seu representante legal ou procurador, será reduzida A representação é condição necessária para o início
a termo, perante o juiz ou autoridade policial, pre- da ação penal, bem como para a instauração do inquérito
sente o órgão do Ministério Público, quando a este policial.122
houver sido dirigida.
116
OAB‑RS/1º Exame de Ordem/2004.
Embora seja peça informal, a  representação conterá 117
Assunto cobrado na prova do Cespe/TJ‑RR/Oficial de Justiça/2001.
todas as informações que possam servir à apuração do fato 118
Assunto cobrado na prova do Cespe/TRE‑GO/Analista Judiciário/Área Admi-
e da autoria (§ 2º do art. 39 do CPP). nistrativa/2009.
119
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/TJ-GO/2012; Vunesp/TJ-SP/Juiz/
Se for apresentada por procurador, a procuração tem de Questão 42/Item III/2011; Fepese/Prefeitura de Florianópolis/Procurador/
conferir poderes especiais ao representante. Logo, exige po- Questão 71/Assertiva A/2011; IBFC/MPE-SP/Oficial de Promotoria/Questão 49/
deres especiais, quando assinada por procurador, a petição Assertiva B/2011; FCC/Procuradoria Geral do Estado de Roraima/Procurador
de queixa ou representação.115 do Estado/2006; OAB‑RS/2º Exame/2006; OAB‑ES/2º Exame de Ordem/2004;
Cespe/3º Exame da Ordem/2006 (Alagoas, Amazonas, Bahia, Ceará, Espírito
Assim, a representação criminal não exige formalidades e
Noções de Direito Processual Penal

Santo, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Paraíba, Pernambuco, Sergipe, Rio Gran-
pode ser dirigida também ao juiz ou ao delegado de polícia. de do Norte); Cespe/1º Exame da Ordem/2004 (Espírito Santo); Delegado de
Polícia Civil da Bahia/2001; FCC/Procuradoria Geral do Estado de Pernambuco/
Não vinculação do representante do Ministério Público Procurador do Estado/2004; Esaf/Procurador da Fazenda Nacional/2004; FCC/
Defensoria Pública do Estado do Maranhão/Defensor Público de 1ª Classe/2003;
à representação: Covest/MPE‑MT/Analista Jurídico/2004; OAB‑ES/2º Exame de Ordem/2004;
Mesmo havendo representação, o representante do Cespe/TJ‑PA/Analista Judiciário/Área Judiciária/2006; TJ‑RR/Analista Proces-
Ministério Público tem sempre três opções: 1) denunciar; sual/2006; OAB‑PR/Exame 1/2007; OAB‑RS/2º Exame/2006; Fundação Cefet
Bahia/TJ‑BA/Atendente Judiciário/2006; OAB‑PR/Exame 1/2006; Vunesp/
110
Assunto cobrado na prova do TRF 5ª Região/Juiz Federal Substituto/2001. OAB‑SP/128º Exame; OAB‑DF/2º Exame de Ordem/2004; OAB‑GO/3º Exame
111
Assunto cobrado na prova do Cespe/TRE‑GO/Analista Judiciário/Área Admi- de 2006; OAB‑RO/40º Exame; FCC/TRF 5ª Região/Analista Judiciário/Área Judi-
nistrativa/2009. ciária/2003; Cespe/TJ‑DF/Oficial de Justiça Avaliador/1997; Cespe/TJ‑PE/Oficial
112
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/Delegado da Polícia Civil de de Justiça da 1ª Entrância/2001; Cespe/TJ‑RR/Analista Processual/2006; FCC/
Roraima/2003. TCE‑AL/Procurador/2008; Ieses/TJ-MA/Analista Judiciário/Direito/2009. FCC/
113
Assunto cobrado na prova do MPDFT/28º Concurso para Promotor/2009. DPE-MT/Defensor Público/Questão 18/Assertiva C/2009 e MS/TRE-SC/Analista
114
Assunto cobrado na provas do Cespe/3º Exame da Ordem/1ª Fase/2006 Judiciário/Questão 64/Assertiva C/2009.
(Alagoas, Amazonas, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Maranhão, Mato Grosso 120
Assunto cobrado na prova: FCC/TRF 4ª Região/Analista Judiciário-Área Judi-
do Sul, Paraíba, Pernambuco, Sergipe, Rio Grande do Norte). ciária/2010/Questão 49/Assertiva C.
115
Assunto cobrado nas seguintes provas: Acadepol/Delegado de Polícia de São 121
Assunto cobrado na prova do MPDFT/28º Concurso/Promotor – Nova Prova/2009.
Paulo/2003 e Delegado de Polícia Civil da Bahia/2001; OAB‑MS/79º Exame 122
Assunto cobrado na prova da FCC/TJ-SE/Analista Judiciário/Questão 73/
de Ordem/2004. Assertiva A/2009.

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Em crime de ação penal pública condicionada à representa- o Ministro da Justiça poderá oferecê‑la a qualquer tempo, en-
ção, não pode ser instaurado inquérito, por auto de prisão em quanto não estiver extinta a punibilidade, pela prescrição.127
flagrante ou portaria, sem a necessária representação da vítima. Uma vez feita a requisição, não pode o Ministro da Justiça
Apenas quando oferecida ou reduzida a termo a repre- se retratar da requisição apresentada. Não há previsão legal
sentação, a  autoridade policial procederá a inquérito ou, para tanto. Assim, não existe a possibilidade de retratação
não sendo competente, remetê‑lo‑á à autoridade que o for da requisição.128 Entretanto, há divergência doutrinária sobre
(§ 3º do art. 39 do CPP). Nesse sentido, recebendo noticia a possibilidade de o Ministro da Justiça se retratar. Pacheco
criminis de crime em que a ação penal depende de repre‑ (2006, p. 226), admitindo a possibilidade de retratação até
sentação, a autoridade policial, depois de lavrar boletim de o oferecimento da denúncia, destaca que
ocorrência, deve aguardar a representação para instaurar
o inquérito policial.123 há posições contra (José Frederico Marques, Hélio
No entanto, cumpre observar que o delegado de polícia Tornagui, Fernando da Costa Tourinho Filho e Júlio
poderá prender o autor do crime em flagrante, mesmo sem Fabbrini Mirabete) e a favor da retratabilidade da
a referida representação.124 A prisão em flagrante difere da requisição (Damásio Evangelista de Jesus, Fernando
lavratura do auto de prisão em flagrante, peça que dá início A. Pedroso e José Alberto Romeiro).
ao inquérito policial.
Conforme já estudado, o inquérito, nos crimes em que a A requisição do Ministro da Justiça, exigida em lei, como
ação pública depender de representação, não poderá sem condição para o oferecimento de denúncia, não obriga o
ela ser iniciado.125 Ministério Público a promover a ação penal.129
Efetivada a representação perante órgão do Ministério
Ação Penal Privada
Público, se já houver elementos probatórios a autorizarem a
ação penal, já é possível oferecer a denúncia. Caso contrário,
Aspectos Gerais
a representação também pode ser enviada para a autoridade O legislador penal entendeu que alguns crimes são de
policial para que esta proceda às investigações. Com efeito, interesse exclusivo do próprio ofendido, cabendo a este
o § 5º do art. 39 do CPP dispõe que: propor ou não a ação penal. Assim, nem toda ação penal
deve ser proposta pelo Ministério Público.130
O órgão do Ministério Público dispensará o inquérito, A queixa é o instrumento pelo qual o titular da ação pe-
se com a representação forem oferecidos elementos nal privada, a vítima ou seu representante legal, provoca o
que o habilitem a promover a ação penal, e, neste Estado a efetivar a tutela jurisdicional. A queixa é direcionada
caso, oferecerá a denúncia no prazo de quinze dias. diretamente ao magistrado e não ao promotor.
Somente lei expressa pode estabelecer a legitimação
A representação, quando feita ao juiz ou perante este extraordinária do ofendido ou de terceiro, que, embora
reduzida a termo, será remetida à autoridade policial para possam movimentar o aparelho repressivo estatal, não
que esta proceda a inquérito (§ 4º do art. 39 do CPP). O juiz titularizam o ius puniendi em nome do Estado.131
também pode enviar a representação ao Ministério Público, No caso da ação penal privada, há substituição proces‑
eis que, nos termos do art. 40 do CPP, sual, pois o seu titular age em nome próprio, mas defende
interesse alheio que é o direito de punir do Estado.132 Embora
Quando, em autos ou papéis de que conhecerem, defenda interesse do Estado, segue a ação penal privada
os  juízes ou tribunais verificarem a existência de caminhos autônomos, pois a vítima decide se ajuí­za ou não
crime de ação pública, remeterão ao Ministério a ação penal, e, mesmo ajuizada, pode desistir do prosse-
Público as cópias e os documentos necessários ao guimento do processo.
oferecimento da denúncia. Sujeito ativo, como autor, no processo penal, é o Estado.
O Ministério Público, órgão estatal da pretensão punitiva
Ação Penal Pública Condicionada e Juizado Especial e da ação penal, é o sujeito ativo material e processual na
No Juizado Especial Criminal, a composição civil, em relação jurídica que se forma com a instauração da instância
ação penal pública condicionada, acarreta a extinção da penal. Nos delitos em que cabe a ação penal privada, o que‑
punibilidade.126 relante atua como substituto processual, ocupa a posição
Ação Penal Pública Condicionada à Requisição do Mi‑ de autor, mas tão só sob o aspecto formal.133
nistro da Justiça A atividade do Estado na persecução do crime fica intei-
Se houver determinação no tipo penal de que somente se ramente submissa à vontade da vítima. Tanto a fase judicial
procede mediante requisição, é necessária a intervenção do quanto a fase preliminar ao processo penal não podem ter
Ministro da Justiça, como se dá na hipótese de crime come- início sem que a vítima manifeste interesse para tanto.
Noções de Direito Processual Penal

tido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil (art. 7º, Nos crimes que se processam mediante ação penal de
iniciativa privada, o  inquérito policial só será instaurado
§ 3º, b, do CP) e crimes contra a honra do Presidente da
após o requerimento de quem tenha qualidade para
República ou contra chefe de governo estrangeiro (art. 145,
intentá‑lo.134 Uma vez apresentado o requerimento, a auto-
parágrafo único, do CP).
A titularidade da ação continua sendo do Ministério 127
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/TJ‑PA/Analista Judiciário/Área
Público por meio da denúncia. Entretanto, deve ser apresen- Judiciária/2006; 20º Concurso Público para Procurador da República/2003;
tada requisição do Ministro da Justiça ao representante do OAB‑PR/Exame 1/2006 e Cespe/PC-RN/Delegado de Polícia Civil Substi-
Ministério Público para este ajuizar a denúncia. tuto/2009.
128
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/Defensoria Pública do Estado do
O Código de Processo Penal é omisso a respeito do prazo Maranhão/Defensor Público de 1ª Classe/2003 e Vunesp/OAB‑SP/129º Exame.
para o oferecimento da requisição, portanto, entende‑se que 129
Assunto cobrado na prova do TRF 4ª Região/Juiz Federal Substituto.
130
Assunto cobrado na prova da OAB‑PR/1º Exame de Ordem/2004.
131
Assunto cobrado na prova do Cespe/Bacen/Procurador/Questão 82/Item
123
FCC/TRF 2ª Região/Analista Judiciário/Área Judiciária/2007. I/2009.
124
Assunto cobrado na prova do Cespe/Delegado Federal/2004. 132
Cespe/MPE‑TO/Oficial de Diligências/Especialidade: Institucional/2006.
125
Assunto cobrado nas seguintes provas: FGV/TJ‑SE/Analista Judiciá­rio/2004; 133
Ieses/TJ-MA/Analista Judiciário/Direito/2009.
OAB‑RS/2º Exame/2006 e OAB‑RO/41º Exame; Cespe/TJ‑PE/Oficial de Justiça 134
Assunto cobrado nas seguintes provas: Delegado de Polícia Civil da Bahia/2001;
da 1ª Entrância/2001. FCC/TRE‑SP/Analista Judiciário/Área Judiciária/2006; OAB‑MS/79º Exame de
126
FGV/TJ‑AM/Serviços Notariais e de Registro/2005. Ordem/2004 e Vunesp/OAB‑SP/130º Exame.

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
ridade policial tem o dever de atuar. Além disso, nos crimes sem privar‑se dos recursos indispensáveis ao próprio susten-
de ação penal privada, os autos deverão ser concluídos nos to ou da família.” É prova suficiente de pobreza o atestado da
mesmos prazos dos inquéritos que apuram os crimes que autoridade policial em cuja circunscrição residir o ofendido.
se processam por ação penal pública incondicionada.135 Se o querelante assinar a queixa juntamente com seu
Embora para a lavratura do auto de prisão em flagrante, advogado, dispensa‑se procuração com poderes especiais.
que inicia o inquérito policial, seja necessário requerimento No caso de sucessor, que tem vez em caso de morte ou de-
da vítima, é cabível a prisão em flagrante em crime de ação claração de ausência da vítima, a ordem preferencial é a seguinte:
penal privada.136 Também é cabível, em tais crimes, a de- cônjuge, ascendente, descendente e irmão (art. 31 do CPP).
cretação de prisão preventiva.137 Assim, nos termos do art. 36,
Para que o crime seja de ação penal privada, deve o tipo
penal trazer tal exigência, o que ocorre quando o artigo do Se comparecer mais de uma pessoa com direito de
crime destaca que “somente se procede mediante queixa”, queixa, terá preferência o cônjuge, e, em seguida,
como ocorre nos crimes contra a honra – injúria, difamação o parente mais próximo na ordem de enumeração
e calúnia (art. 145 do CP). constante do art. 31, podendo, entretanto, qualquer
Ainda como exemplos de crimes de ação penal privada há delas prosseguir na ação, caso o querelante desista
o crime de alteração de limites e o de usurpação de águas, da instância ou a abandone.144
praticados sem violência e quando a propriedade é particular
(art. 161, § 3º, do CP); o crime de dano simples, de dano Exige poderes especiais, quando assinada por procura‑
praticado por motivo egoístico ou com prejuízo considerável dor, a petição de queixa ou representação.145 Desse modo,
para a vítima; de introdução ou abandono de animais em o art. 44 do CP determina que
propriedade alheia (art. 167 do CP); de fraude à execução
(art. 179, parágrafo único, do CP); de violação de direito au- A queixa poderá ser dada por procurador com po‑
toral (art. 186, I, do CP); de induzimento a erro ou ocultação deres especiais, devendo constar do instrumento
de impedimento para casamento (art. 236, parágrafo único, do mandato o nome do querelante e a menção do
do CP); e de exercício arbitrário das próprias razões, sem fato criminoso, salvo quando tais esclarecimentos
violência (art. 345, parágrafo único, do CP). dependerem de diligências que devem ser previa‑
Conforme entendimento do STF, o funcionário público mente requeridas no juízo criminal. 146
atingido em sua honra, em razão da função que exerce, tem
legitimidade alternativa para oferecer queixa‑crime, a des- As pessoas jurídicas têm legitimidade para propor ação
peito de haver previsão legal de que a ação penal, nesse penal privada147, o fazendo por meio de seu representante
caso, é pública, condicionada à representação do ofendido.138 legal (art. 37 do CPP).
O art. 33 do CPP determina que,
Titularidade da Ação Penal Privada
O art. 30 do CPP dispõe que “ao ofendido ou a quem Se o ofendido for menor de 18 anos, ou mentalmente
tenha qualidade para representá‑lo caberá intentar a ação enfermo, ou retardado mental, e não tiver represen‑
privada”. Portanto, a ação penal privada poderá ser inten- tante legal, ou colidirem os interesses deste com os
tada mediante queixa, tanto pelo ofendido como por seu daquele, o direito de queixa poderá ser exercido por
representante legal, ocasião em que serão denominados curador especial, nomeado, de ofício ou a requeri‑
querelantes.139 mento do Ministério Público, pelo juiz competente
Haverá nulidade absoluta no caso de queixa-crime pro‑ para o processo penal.
posta por amiga da vítima menor de 18 (dezoito) anos.140
A mulher casada poderá exercer o direito de queixa sem A título de exemplo, se o ofendido for retardado mental e
o consentimento do marido.141 colidirem os interesses dele com os de seu representante legal,
o direito de queixa poderá ser exercido por curador especial,
Em crime de ação penal privada não pode haver denúncia
nomeado pelo juiz competente para o processo penal.148
do Ministério Público. Dessa forma, se determinado indiví- O prazo decadencial para o oferecimento de queixa
duo foi acusado, em juízo, pelo cometimento de um crime deve ser contado separadamente para o ofendido e para o
sujeito, exclusivamente, à ação penal privada, a peça de seu representante legal no caso de vítima menor, ainda que
acusação, seguramente, foi uma queixa.142 a data da ciência da autoria do crime tenha sido a mesma.
A queixa deve ser ajuizada por intermédio de advogado
(art. 44 do CPP), sendo necessário procuração com poderes
especiais, com menção do fato criminoso e do nome do Prazo para o Oferecimento da Queixa
querelado, para que se determine, eventualmente, responsa-
Com relação à ação penal privada, o direito de queixa
bilidade por eventual denunciação caluniosa (art. 339 do CP).
deve ser exercido no prazo decadencial de 6 meses contados
Nos crimes de ação privada, o juiz, a requerimento da do conhecimento da autoria.149
Noções de Direito Processual Penal

parte que comprovar a sua pobreza, nomeará advogado


para promover a ação penal143 (art. 32 do CPP). Conside- Aditamento pelo Ministério Público
rar‑se‑á pobre, nos termos dos §§ 1º e 2º do referido artigo, A queixa, ainda quando a ação penal for privativa do
“a pessoa que não puder prover às despesas do processo, ofendido, poderá ser aditada pelo MP.150

135
Delegado de Polícia Civil da Bahia/2001. 144
Assunto cobrado na seguinte prova: FCC/TRE-AP/Analista Judiciário/Área
136
Assunto cobrado nas seguintes provas: Promotor‑RN/2004; Delegado de Administrativa/Questão 56/Item I/2011.
Polícia Civil da Bahia/2001 e Cespe/Delegado da Polícia Federal/2002. 145
Acadepol/Delegado de Polícia de São Paulo/2003.
137
Assunto cobrado na prova do Cespe/Delegado Federal/2004. 146
FCC/Procuradoria Geral do Estado do Maranhão/Procurador do Estado da 3ª
138
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/TSE/Analista Judiciário/Área Classe/2003.
Judiciária/2007; Promotor‑DF/2002 e Cespe/AGU/Advogado da União/2004. 147
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/TJ‑AP/Oficial de Justiça Ava-
139
Assunto cobrado na prova da OAB‑MS/79º Exame de Ordem/2004; OAB‑PR/ liador/2004; Cespe/TJ‑DF/Oficial de Justiça Avaliador/1997 e FCC/TCE‑AL/
Exame 1/2006; OAB‑PR/Exame 2/2006 e OAB‑SP/122º Exame de Ordem/2003. Procurador/2008.
140
FCC/TRE-AM/Analista Judiciário – Área Judiciária/Questão 54/Assertiva e/2010. 148
Assunto cobrado nas seguintes provas: FGV/SSP‑RJ/Oficial de Cartório/2009;
141
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/TJ‑DF/Oficial de Justiça Avalia- Assunto cobrado: FCC/TJ-SE/Analista Judiciário/Questão 73/Assertiva E/2009.
dor/1997 e FGV/SSP‑RJ/Oficial de Cartório/2009. 149
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/TJ-GO/2012 e Movens/PC-PA/
142
Assunto cobrado na prova da OAB‑Nordeste/2º Exame de Ordem/2004. Delegado/Questão 30/Assertiva B/2009.
143
Assunto cobrado na seguintes provas: OAB‑Nordeste/2º Exame de Or- 150
Assunto cobrado na prova do Cespe/TRE‑GO/Analista Judiciário/Área Admi-
dem/2004; OAB‑GO/1º Exame de Ordem/2005. nistrativa/2009.

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
O Ministério Público não pode ajuizar a ação quando se repressivo criminal estatal contra seu agressor, ficando
tratar de hipótese de crime de ação penal privada. No Brasil, contudo reservada privativamente, sempre, ao  Estado,
portanto, não há a possibilidade de ação penal adesiva, que a possibilidade de executar a pena deste último, se con-
ocorre quando o representante do Ministério Público pode denado.159
propor a ação mesmo em relação aos crimes sujeitos à ação Ao ofendido é dada a liberdade de julgar sobre a conveni-
penal privada, como ocorre no Direito alemão (PACHECO, ência ou não da propositura da ação penal. A propositura da
2006, p. 207). ação penal é mera faculdade e não uma obrigação. A vítima
Mesmo sendo a ação penal privada, o Ministério Público pode renunciar ao direito de queixa se quiser.
deve intervir obrigatoriamente em todos os atos do processo A ação penal de iniciativa privada rege‑se pelo princípio
como fiscal da lei, sob pena de nulidade relativa, a ser alega- da oportunidade, isto é, o legitimado decide se exercita ou
da no momento oportuno, devendo‑se, ainda, demonstrar não o direito de ação, de acordo com sua conveniência.160
prejuízo (CPP, art. 564, III, d).
O Ministério Público, na ação penal privada subsidiária Princípio da Disponibilidade
da pública, não pode deixar de funcionar quando discordar Após o início do processo, com a materialização do exer-
dos termos da queixa.151 cício do direito de queixa, pode o querelante desistir do seu
O Ministério Público tem poderes de atuação, poden- prosseguimento, seja por meio do perdão (arts. 51 a 58 do
do acrescentar à queixa dados acessórios. Nos termos do CPP), seja pela perempção, consubstanciada no abandono
art. 45 do CPP, do processo (art. 60, CPP). Assim, a disponibilidade da ação
penal privada manifesta‑se após a propositura por meio da
A queixa, ainda quando a ação penal for privativa perempção e do perdão.
do ofendido, poderá ser aditada pelo Ministério O princípio da disponibilidade refere‑se à ação penal
Público, a quem caberá intervir em todos os termos de iniciativa privada.161
subsequentes do processo.152
Princípio da Indivisibilidade
O prazo para o aditamento por parte do Ministério Pú- Em crime de ação penal privada, o ofendido terá de for-
blico é de 3 dias (art. 46, § 2º, do CPP). mular a queixa, obrigatoriamente, contra todos os autores,
A intervenção do Ministério Público na ação penal coautores ou partícipes da prática delituosa, em obediência
privada se dá na qualidade de fiscal da lei, cabendo‑lhe a ao princípio da indivisibilidade da ação (art. 49, CPP).162
tarefa de aditar a queixa, para corrigir defeitos ou suprir Ou processa todos ou não processa nenhum.
omissões, e intervir em todos os termos do processo.153 Portanto, de acordo com o art. 48 do CPP, “a queixa
Na ação penal privada, o Ministério Público tem legiti‑ contra qualquer dos autores do crime obrigará ao processo
midade para recorrer buscando agravar a pena.154 de todos, e o Ministério Público velará pela sua indivisi-
No caso de queixa subsidiária, o Ministério Público bilidade163”. Tendo verificado o Ministério Público que foi
poderá aditá‑la, repudiá‑la ou oferecer denúncia substitu‑ proposta ação penal privada por meio de queixa dirigida
tiva.155 Assim, tratando‑se de ação penal privada ajuizada em a três dos quatro ofensores conhecidos, em virtude de
face da inércia do representante do Ministério Público, são perdão concedido expressamente, deverá manifestar‑se
ainda mais amplos os poderes dele, pois, originariamente, pela renúncia do direito de queixa contra o excluído, que
trata‑se de crimes de ação penal pública. De qualquer forma,
o princípio da oficialidade não legitima o simples repúdio beneficiará a todos os ofensores.164
da queixa subsidiária pelo procurador da República.156 Caso O princípio da indivisibilidade é previsto expressamente
vá oferecer denúncia substitutiva, deve indicar o porquê da para as hipóteses de ação penal de iniciativa privada.165
inépcia da queixa subsidiária.
O prazo para o aditamento da queixa será de 3 (três) Princípio da Intranscendência
dias, contado da data em que o órgão do Ministério Pelo princípio da intranscendência, a ação penal deve
Público receber os autos, e, se este não se pronunciar ser proposta, por um princípio lógico, em relação à pessoa
dentro do tríduo, entender‑se‑á que não tem o que aditar, ou às pessoas a quem se imputa a prática do ilícito.166 Isso
prosseguindo‑se nos demais termos do processo157 (§ 2º em decorrência das disposições do art. 5º, XLV, da CF/1988,
do art. 46 do CPP). que estabelece que

Princípios que Regem a Ação Penal Privada nenhuma pena passará da pessoa do condenado,
São princípios que regem a ação penal de iniciativa podendo a obrigação de reparar o dano e a decre-
privada: oportunidade, disponibilidade e indivisibilidade.158 tação do perdimento de bens ser, nos termos da lei,
Noções de Direito Processual Penal

estendidas aos sucessores e contra eles executadas,


Princípio da Oportunidade ou Conveniência até o limite do valor do patrimônio transferido.
O princípio da oportunidade da ação penal privada
transfere ao particular a decisão de movimentar o aparato Dessa forma, o princípio da intranscendência se aplica
tanto à ação penal pública quanto à ação penal privada.
151
FCC/TRE-PE/Analista Judiciário/Área Judiciária/Questão 57/Assertiva A/2011.
152
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/TRE-PE/Analista Judiciário/Área 159
Assunto cobrado nas seguintes provas: MPDFT/28º Concurso para Promo-
Judiciária/Questão 57/Assertiva E/2011 e Vunesp/TJ-SP/Juiz/Questão 42/Item tor/2009 e MPDFT/28º Concurso/Promotor - Nova Prova/2009.
IV/2011. 160
OAB‑PR/2º Exame de Ordem/2004.
153
Assunto cobrado na provas do Cespe/TRE‑MA/Analista Judiciário/Área Judiciá­ 161
OAB‑RJ/22º Exame de Ordem/2003.
ria/2005. 162
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑MS/79º Exame de Ordem/2004
154
MPDFT/28º Concurso/Promotor - Nova Prova/2009. e FCC/TRF 3ª Região/Analista Judiciário/Área Judiciária/2007.
155
TRF 4ª Região/Juiz Federal Substituto. 163
Assunto cobrado na prova do Cespe/TRE‑GO/Analista Judiciário/Área Admi-
156
Assunto cobrado na prova de Procurador da República/1997. nistrativa/2009.
157
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/TRF 3ª Região/Analista Judiciário/ 164
Assunto cobrado na prova do MPDFT/28º Concurso/Promotor – Nova
Área Judiciária/2007; FCC/TRF 2ª Região/Analista Judiciário/Área Judiciá- Prova/2009.
ria/2007 e Promotor‑BA/2004. 165
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑PR/3º Exame de Ordem/2004;
158
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑R/32º Exame. FCC/TJ-PI/Analista Procurador da República/2003 e OAB‑RJ/22º Exame de Ordem/2003.
Judiciário – Área Administrativa/Questão 56/Assertivas A, B, C, D e E/2009. 166
OAB‑MS/80º Exame de Ordem/2004.

58 Este eBook foi adquirido por ANA PAULA TORQUATO DA COSTA - CPF: 628.848.913-15.
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Espécies de Ação Penal Privada Como exemplo de crime que somente se procede
Têm‑se as seguintes espécies de ação penal privada: 1) mediante ação penal privada personalíssima, há o de indu-
Ação penal privada genérica ou propriamente dita (ação pe- zimento a erro essencial e ocultação de impedimento ao
nal privada exclusiva ou ação penal exclusivamente privada); casamento (art. 236 do CP).
2) Ação penal privada personalíssima; 3) Ação penal privada
subsidiária da pública. Ação Privada Subsidiária da Pública (Ou supletiva)
Trata‑se de modalidade de ação penal secundária,
Ação Penal Privada Genérica (Exclusivamente privada, que ocorre quando a lei estabelece um titular ou uma
comum, principal ou propriamente dita) modalidade de ação penal para determinado crime, mas
A ação penal privada genérica ou propriamente dita mediante o surgimento de circunstâncias especiais, prevê,
poderá ser intentada mediante queixa, tanto pelo ofendido secundariamente, uma nova espécie de ação penal para
como por seu representante legal167. aquela mesma infração.173
Nesse tipo de ação, na hipótese de morte do ofendido, Caberá ação penal privada subsidiária da pública se
o direito de prosseguir na ação passará ao cônjuge, as- o representante do parquet se mantiver inerte, não ofe‑
cendente, descendente ou irmão.168 Quando for decretada recendo a denúncia, no prazo legal, desde que não tenha
judicialmente a ausência do ofendido ou mesmo por ter a ele, tempestivamente, pugnado pela necessidade de novas
vítima falecido, os seus sucessores poderão iniciar o processo diligências a serem realizadas pela autoridade policial,
ou dar‑lhe continuidade, se este já estiver em andamento nem tenha se manifestado pelo arquivamento dos autos.174
(art. 31 do CPP). Conforme define o professor Nestor Távora (2009, p.
Os sucessores são: cônjuge, ascendente, descendente 147), a ação penal secundária175 ocorre quando “as cir-
e irmão. Trata‑se de ordem preferencial. Havendo cônjuge, cunstâncias aplicadas ao caso fazem variar a modalidade de
o direito de ajuizar queixa ou prosseguir no processo lhe é ação a ser intentada”, como no exemplo dos crimes contra
dado com prioridade sobre os demais legitimados. a liberdade sexual, em que ação penal, em regra, é de ação
Na ação penal exclusivamente privada, o juiz não deve penal pública condicionada à representação, mas será pública
limitar‑se à oitiva das testemunhas arroladas pelas partes,
incondicionada será volência real.
pois, ainda que a ação seja de iniciativa do ofendido, cabe
O direito de ação penal privada subsidiária da publica
ao órgão julgador a iniciativa da inquirição de outras tes-
está previsto na Constituição bem como no Código de
temunhas.169
Processo Penal.176
Ação Penal Privada Persona­líssima A Constituição Federal prevê, expressamente, a  ação
A ação penal privada personalíssima somente pode ser penal privada subsidiária da pública.177 Com efeito, o art. 5º,
intentada pelo ofendido, não havendo sucessão por morte LIX, da CF/1988 determina que “será admitida ação privada
ou ausência.170 Assim, em caso de morte, ou declaração nos crimes de ação pública, se esta não for intentada no
de ausência por decisão judicial da vítima, não haverá a prazo legal”.
transmissão do direito de ajuizar queixa aos sucessores, não Regulamenta referido dispositivo o art. 29 do CPP, no qual
podendo estes, ainda, prosseguir no processo caso tenha se ressalta ainda que cabe ao Ministério Público aditar a quei-
sido iniciado pela vítima. xa, repudiá‑la e oferecer denúncia substitutiva, intervir em
Dessa forma, no caso de crime de induzimento a erro todos os termos do processo, fornecer elementos de prova,
essencial e ocultação de impedimento, previsto no art. 236 interpor recurso e, a todo tempo, no caso de negligência do
do Código Penal, a ação penal não poderá ser intentada querelante, retomar a ação como parte principal.
diante do falecimento do ofendido, uma vez que tal crime Diante da inércia do Ministério Público a ação penal
é de ação privada personalíssima.171 O trânsito em julgado privada subsidiária da pública pode ser ajuizada pelo
da sentença é condição de procedibilidade da ação penal. ofendido ou por quem tenha qualidade para representá‑lo,
Portanto, se a vítima ajuíza uma queixa e, no curso do desde que a ação penal pública não tenha sido intentada
processo falece ou vem a ser declarada ausente por decisão no prazo legal.178
judicial, o direito de intentar a ação não se transmite ao côn- Nos crimes decorrentes de relação de consumo, conso-
juge, ascendente, descendente ou irmão da vítima. Assim, se ante as disposições constantes do art. 80, c/c art. 82, III, da
José da Silva foi vítima do crime de adultério e propôs ação Lei nº 8.078/1990, as entidades e os órgãos da Administração
penal privada, mas, por uma fatalidade, veio a falecer no Pública, direta ou indireta, ainda que sem personalidade
curso do processo, deverá o juiz extinguir o processo, sem jurídica, especificamente destinados à defesa dos interesses
julgamento do mérito.172 Referida assertiva não tem mais e direitos protegidos pelo CDC, bem como as associações
aplicação, eis que o art. 240 do Código Penal, que previa o legalmente constituídas há pelo menos um ano e que incluam
crime de adultério, foi revogado pela Lei nº 11.106/2005. entre seus fins institucionais a defesa dos interesses e direitos
Noções de Direito Processual Penal

A morte ou ausência da vítima é causa extintiva da protegidos pelo CDC, podem ajuizar ação penal subsidiária
punibilidade. em caso de inércia do Ministério Público.
Não se admite a ação penal privada subsidiária nos
167
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑MS/79º Exame de Ordem/2004; crimes de ação pública após ser decretado o arquivamento
OAB‑PR/Exame 1/2006; OAB‑PR/Exame 2/2006 e OAB‑SP/122º Exame de do inquérito policial ou das peças de informação pelo juiz,
Ordem/2003.
168
Assunto cobrado nas seguintes provas: FGV/TJ‑AM/Serviços Notariais e de acolhendo a pedido do órgão do MP.
Registro/2005; FCC/TRF 3ª Região/Analista Judiciário/Área Judiciária/2007;
OAB‑MG/1º Exame de Ordem/2005; OAB‑PR/Exame 2/2006; FCC/TJ‑PE/
Analista Judiciário/2007; OAB‑RS/1º Exame de Ordem/2004 e FCC/TCE‑AL/ 173
Cespe/TJ‑SE/Juiz Substituto/2008.
Procurador/2008. 174
Cespe/DPE-PI/Defensor Público/Questão 37/Assertivas A, B, C, D e E/2009.
169
Assunto cobrado na prova do Cespe/MPE‑TO/Analista Ministerial/Área Ciên- 175
Assunto cobrado na prova do Cespe/TRE-MA/Analista Judiciário/2009.
cias Jurídicas/2006. 176
Cespe/TRE‑GO/Analista Judiciário/Área Administrativa/2009.
170
Assunto cobrado nas seguintes provas: Vunesp/TJ-SP/Juiz/Questão 42/Item 177
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑SP/123º Exame de Ordem/2004
V/2011; Cespe/Defensoria Pública do Estado de Alagoas/Defensor Público de e FGV/TJ‑SE/Analista Judiciário/Área Direito/2004.
1ª Classe/2003; OAB‑SP/126º Exame de Ordem/2005; OAB‑MS/79º Exame 178
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/TRF 1ª Região/Analista Judiciário/
de Ordem/2004 e Cespe/TRE-MA/Analista Judiciário/2009. Área Judiciária/2006; OAB‑ES/2º Exame de Ordem/2005; Cespe/Defensoria
171
Assunto cobrado nas seguintes provas: DRS/Acadepol/Polícia Civil do Estado de Pública do Estado de Alagoas/Defensor Público de 1ª Classe/2003; OAB‑PR/
Minas Gerais/Delegado de Polícia/2007 e OAB‑GO/3º Exame de Ordem/2003. Exame 1/2007; OAB‑PR/Exame 2/2006; Cespe/TJ‑PE/Oficial de Justiça da 2ª
172
OAB‑MG/1º Exame de Ordem/2005. Entrância/2001; OAB‑PR/Exame 1-2006.

Este eBook foi adquirido por ANA PAULA TORQUATO DA COSTA - CPF: 628.848.913-15. 59
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Assim, quando o Ministério Público pede arquivamento E, uma vez oferecida a queixa, a negligência do quere-
da representação, descabe o ajuizamento de ação penal lante não causa a perempção, devendo o Ministério Público
privada subsidiária da ação penal pública, já que não houve retomar a ação como parte principal.186 Pode, entretanto,
omissão do Ministério Público.179 o querelante, quando for negligente e tiver perdido a titu-
Com efeito, é inadmissível a ação penal privada subsi- laridade da ação, habilitar‑se como assistente da acusação.
diária da pública caso o Ministério Público já tenha pedido Vejamos o caso a seguir: A viúva de Normando Reis, diante
o arquivamento do inquérito ou das peças de informação. da inércia do Ministério Público, o qual ultrapassou o prazo
O mesmo se diga quando já tenha oferecido a denúncia ou legal de dar a denúncia e não o fez, ingressou em juízo com
solicitado novas diligências, no prazo legal, por não haver uma queixa, movendo, desta maneira, uma ação penal de
em tais casos inércia do parquet. iniciativa privada subsidiária da pública. Por negligência
Se o Ministério Público, ao invés de denunciar ou reque- da autora da ação, o Ministério Público retomou a ação
rer o arquivamento, pedir novas diligências, após o retorno como parte principal, passando, desta maneira, a ser o
dos autos da delegacia, será aberto novo prazo ao Ministério dominus litis. Nesse caso, a viú­va pode retornar ao prélio
Público para o oferecimento da denúncia. Caso não observe como assistente do Ministério Público.187
o prazo, abre‑se a possibilidade de a vítima ajuizar a ação Não se admite o perdão na ação penal privada subsi-
penal privada subsidiária da pública. diária da pública.188
Como a ação penal privada subsidiária da pública trata
de crimes de ação penal pública, continuam sendo amplos Prazo para o Oferecimento da Queixa
os poderes do Ministério Público eis que continuam sendo A regra geral dispõe que o ofendido decairá do direito
aplicáveis os princípios da ação penal pública. O art. 29 do de queixa se não o exercer dentro do prazo de 6 meses,
CPP determina que pode o contado do dia em que vier a saber quem é o autor do
crime189 (art. 38 do CPP). Referido prazo também tem in-
Ministério Público aditar a queixa, repudiá‑la e ofere- cidência em relação aos sucessores do ofendido que vier
cer denúncia substitutiva, intervir em todos os termos a óbito ou for declarado ausente, nos termos do § 1º do
do processo, fornecer elementos de prova, interpor art. 24 e 31, do CPP.
recurso e, a todo tempo, no caso de negligência do No entanto, o prazo para oferecimento de queixa
querelante, retomar a ação como parte principal. substitutiva de denúncia, em caso de ação penal privada
subsidiária da pública, é de seis meses, a contar da data em
Assim, em caso de ação privada subsidiária da pública, que se esgotar o prazo para o Ministério Público oferecer
o Ministério Público pode aditar a queixa, repudiá‑la e denúncia190 (art. 38 do CPP).
oferecer denúncia substitutiva.180 O Ministério Público se Ultrapassado o prazo de seis meses sem o oferecimento
manifesta após a manifestação do titular de ação penal da queixa, verifica‑se a decadência, que é causa extintiva da
subsidiária da pública.181
punibilidade. Não se verifica decadência no caso de ação
A decadência, fator extintivo da punibilidade no proces‑
penal privada subsidiária da pública, uma vez que o repre-
so penal, como perda do direito de propor a ação penal,
sentante do Ministério Público pode ajuizar a ação, enquanto
cabe tanto na ação privada exclusiva como na ação privada
não prescrito o crime.
subsidiária e na pública condicionada.182 Entretanto, na
Em caso de crime continuado, o prazo da queixa é con-
ação penal privada subsidiária da pública se se entender
tado isoladamente em relação a cada delito.
que o não ajuizamento da queixa subsidiária no prazo de 06
meses contados da inércia do ministério público configura Se o crime for permanente, o início do prazo é de quando
decadência, esta não extingue a punibilidade, eis que o mi- a vítima toma conhecimento da autoria do fato, não impor-
nistério público pode propor a ação penal pública enquanto tando a data da cessação da atividade delitiva.
o crime não tiver prescrito. O prazo de decadência para o exercício do direito de
Na ação penal privada subsidiária da pública, o ofen‑ queixa ou representação não deve ser suspenso pela ins‑
dido dispõe de prazo decadencial para propor a queixa tauração de inquérito policial.191
subsidiária, diante da inércia do Ministério Público.183 Tal Não corre o prazo até a vítima completar 18 anos,
prazo é de 6 meses, a contar da data em que se esgotar o quando o representante da vítima não ajuizar a queixa.
prazo para o Ministério Público oferecer denúncia.184 Isso porque o prazo decadencial para o oferecimento de
Já o prazo para oferecimento de denúncia é de cinco dias, queixa ou de representação deve ser contado separada-
estando o indiciado preso, ou de quinze dias, estando solto. mente para o ofendido e para o seu representante legal,
A não intervenção do Ministério Público em todos os ainda que a data da ciência da autoria do crime tenha
sido a mesma.192
Noções de Direito Processual Penal

termos do processo por crime de ação penal privada sub-


sidiária acarreta nulidade relativa.185
186
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/MPU/Analista/Área Proces-
179
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/TSE/Analista Judiciário/Área sual/2007; Acadepol/Delegado de Polícia de São Paulo/2003; FCC/Pro-
Judiciária/2007; Cespe/Promotor‑AM/2001; Vunesp/OAB‑SP/130º Exame e curadoria Geral do Estado de Pernambuco/Procurador do Estado/2004 e
Cespe/TJ‑RR/Oficial de Justiça/2001 e FCC/DPE-MT/Defensor Público/Questão Promotor‑RN/2004.
18/Assertiva E/2009. 187
Defensoria Pública do Estado do Ceará/Defensor Público/2002.
180
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/Procuradoria Geral do Estado de 188
Assunto cobrado na prova do Cespe/TJDF/Analista Judiciário/Área Judiciária –
Roraima/Procurador do Estado/2006; Cespe/Defensoria Pública do Estado de Atividade Processual/2003.
Alagoas/Defensor Público de 1ª Classe/2003; Vunesp/OAB‑SP/128º Exame e 189
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/Procuradoria Geral do Estado de
FCC/MPU/Analista/Área Processual/2007. Roraima/Procurador do Estado/2006; FCC/Procuradoria Geral do Estado de
181
Promotor‑AP/2005. Pernambuco/Procurador do Estado/2004; TRF 4ª Região/Juiz Federal Substitu-
182
FCC/TJ-PI/Analista Judiciário – Escrivão Judicial/Questão 47/Assertivas A, B, to; OAB‑SP/124º Exame de Ordem/2004; OAB‑RJ/32º Exame; Cespe/1º Exame
C, D e E/2009. da Ordem/2006 (Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco,
183
TRF 1ª Região/Juiz Federal Substituto/2004. Piauí, Rio Grande do Norte, Sergipe e Espírito Santo); Vunesp/OAB‑SP/128º
184
Assunto cobrado nas seguintes provas: TJ‑RJ/Oficial de Justiça Avaliador e Exame; OAB‑MS/80º Exame de Ordem/2004; Vunesp/OAB‑SP/130º Exame.
MPDFT/28º Concurso para Promotor/2009. 190
TJ‑RJ/Oficial de Justiça Avaliador.
185
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/TJ‑AP/Oficial de Justiça Ava- 191
Cespe/TJ‑AP/Oficial de Justiça Avaliador/2004.
liador/2004; OAB‑PR/2º Exame de Ordem/2004 e FCC/MPU/Analista/Área 192
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/TJ‑AP/Oficial de Justiça Avalia-
Processual/2007. dor/2004 e Promotor‑AP/2005.

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Ação Penal nos Crimes Contra a Liberdade Sexual e Assim, se determinada mulher tivesse sido vítima de
Contra Pessoa Vulnerável estupro praticado mediante violência real e não ofertasse
a representação, não faltaria condição de procedibilidade
A Lei nº 12.015, de 2009, trouxe alteração em relação para a instauração da ação penal, uma vez que a ação penal
à persecução penal em relação aos antigos crimes contra neste caso seria pública incondicionada.195
os costumes. Por outro lado, o art. 225, § 1º, II, do CPP, com a redação
Com a lei, tem‑se os seguintes crimes contra a liberdade anterior à Lei nº 12.015/2009, estabelecia que se o crime
sexual: fosse cometido com abuso do pátrio poder, ou da qualidade
1) estupro e atentado violento ao pudor que foram amal- de padrasto, tutor ou curador a ação seria pública incon-
gamados em única figura penal, o art. 213 do Código Penal; dicionada. Referida disposição não foi renovada, eis que,
2) violação sexual mediante fraude (art. 215 do Código agora, se o crime for cometido contra menor de 18 anos ou
Penal); e pessoa vulnerável (contra menor de 14 (catorze) anos ou
3) assédio sexual (art. 216-A do Código Penal). contra alguém que, por enfermidade ou deficiência mental,
Têm‑se, ainda, os crimes sexuais contra vulnerável: não tem o necessário discernimento para a prática do ato,
1) estupro de vulnerável (art. 217-A; ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resis-
2) corrupção de menores (art. 218 do Código Penal); tência (art. 217 do CP).
3) satisfação de lascívia mediante presença de criança Ressalte-se, ainda, que o art. 232 do ECA estabelece ser
ou adolescente (art. 218-A, do Código Penal); crime de ação penal publica incondicionada submeter criança
4) favorecimento da prostituição ou outra forma de ou adolescente sob sua autoridade, guarda ou vigilância a
exploração sexual de vulnerável (art. 218-B). vexame ou a constrangimento. Nos termos do art. 101 do
Nos termos do art. 225 do Código Penal, com a redação Código Penal, que trata da ação penal no crime complexo,
dada pela Lei nº 12.015/2009, nos crimes acima definidos, estabelece que quando a lei considera como elemento ou
procede‑se mediante ação penal pública condicionada à re- circunstâncias do tipo legal fatos que, por si mesmos, cons-
presentação. Desta forma, agora, o MP possui legitimidade tituem crimes, cabe ação pública em relação àquele, desde
para propor ação penal pública condicionada à representa- que, em relação a qualquer destes, se deva proceder por
ção pela suposta prática do delito de estupro ainda quando, iniciativa do Ministério Público.
não obstante a pobreza da vítima, o estado-membro possua
DPE devidamente aparelhada.193 Institutos Específicos de Ação Penal Privada
Entretanto, a ação se iniciará mediante ação penal pública
incondicionada se a vítima é menor de 18 (dezoito) anos ou Renúncia
pessoa vulnerável. A renúncia ao direito de queixa tem lugar quando,
Não há expressa previsão legal de que, nos crimes durante o prazo decadencial de 6 meses do conhecimento
de estupro ou de atentado violento ao pudor praticados da autoria, o ofendido abdica do direito de oferecer a ação
mediante violência física real, a ação penal será pública penal. Assim, é possível a renúncia no caso de ação penal
incondicionada.194 privada.196
Entretanto, em sendo os crimes cometidos em sua for- Admite‑se a renúncia tácita no processo penal brasilei-
ma qualificada, ou seja, se resultar lesão corporal grave ou ro.197 Ocorre, por exemplo, quando o ofendido pratica ato
morte, a ação penal será pública incondicionada. Trata-se da incompatível com o direito de queixa, como passar a namorar
ação penal em crime complexo. O art. 101 do Código Penal com o autor de uma calúnia. O recebimento de indenização,
estabelece que, de acordo com o Código Penal, não caracteriza renúncia
tácita, diversamente do que ocorre nos delitos aos quais
quando a lei considera como elemento ou circuns- se aplique a Lei nº 9.099/95 (Lei dos Juizados Especiais
tâncias do tipo legal fatos que, por si mesmos, cons- Criminais).198
tituem crimes, cabe ação pública em relação àquele, Aury Lopes (2008) destaca que
desde que, em relação a qualquer destes, se deva
proceder por iniciativa do Ministério Público. Também deve ser considerado como renúncia o pedi-
do de arquivamento do inquérito policial (instaurado
Trata-se da ação penal pública extensiva. para apuração de um delito de iniciativa privada) feito
pelo ofendido ao juiz.
Em relação ao estupro e atentado violento ao pudor, que
podem ser cometidos mediante violência ou grave ameaça, Em matéria de ação penal, a renúncia tácita e o perdão
Noções de Direito Processual Penal

tácito admitirão todos os meios de prova.199


se houver lesão corporal (violência real), ainda que leve, o
A renúncia poderá também ser expressa, quando feita
STF, por meio de sua Súmula nº 608, entende que: “No crime
verbalmente ou por escrito pelo ofendido. A renúncia
de estupro, praticado mediante violência real, a ação penal
expressa constará de declaração assinada pelo ofendido,
é pública incondicionada”. Referida disposição também tem
por seu representante legal ou procurador com poderes
aplicação para a figura do atentado violento ao pudor, que
especiais200 (art. 50 do CPP).
agora foi colocado na mesma figura típica do estupro (art.
É comum haver confusão entre os institutos da renúncia
213 do CP).
e decadência do direito de queixa. A renúncia pressupõe
Destaque-se que o STF tem o entendimento, no sentido
de que, tendo havido lesão corporal ainda que leve, continua 195
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/TJ-AP/Analista Judiciário/Área
em vigor a Súmula nº 608 daquela Corte (STF, HC nº 72.088/ Judiciária/2003-2004 e OAB-RJ/26º Exame de Ordem/Prova 1ª Fase/2004.
GO, Rel. Min. Moreira Alves, Primeira Turma, Julgamento: 196
Assunto cobrado nas seguintes provas: Esaf/Procurador da Fazenda Nacio-
nal/2004 e OAB‑ES/2º Exame de Ordem/2004.
14/3/1995). 197
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑MS/79º Exame de Ordem/2004 e
NCE/Faepol/Delegado da Polícia Civil do Rio de Janeiro/2001.
193
Assunto cobrado na prova do Cespe/DPE-AL/Defensor Público de 1ª Classe/ 198
OAB‑PR/1º Exame de Ordem/2004.
Questão 104/2009. 199
FGV/TJ‑AM/Serviços Notariais e de Registro/2005.
194
Assunto cobrado na prova do MPDFT/28º Concurso/Promotor – Nova Prova/2009. 200
NCE/Faepol/Delegado da Polícia Civil do Rio de Janeiro/2001.

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conduta da vítima, expressa ou tácita, no prazo decadencial A aceitação do perdão fora do processo constará de
de seis meses. Se nada fizer não resta configurada renúncia, declaração assinada pelo querelado, por seu repre-
mas sim decadência. Entretanto, vejamos exemplo trazido sentante legal ou procurador com poderes especiais.
por banca de concurso: Nei, agente comunitário de saúde
do Distrito Federal, foi acusado de cometer crime contra O perdão judicial pode ser expresso ou tácito.207
a honra de Maria, sua colega de trabalho. Acerca dessa Será expresso, quando efetivado em algum documento
situação hipotética, caso Maria resolva não se manifestar ou mesmo quando dado verbalmente perante o juiz ou
quanto à sua intenção em ver aberta a instrução processual, testemunhas.
ter-se-á como ocorrida a renúncia, que é forma de extinção Será tácito, quando resultar da prática de ato incompa-
da punibilidade antes da instauração da ação penal.201 Ora, tível com a vontade de prosseguir com a ação penal, sendo
na hipótese trazida, em que não há qualquer manifestação, admitidas todas as modalidades de prova para sua compro-
mas sim resta materializada o fenômeno da decadência. vação (art. 57 do CPP).
A renúncia ao exercício do direito de queixa é pré‑pro- O acordo para a composição dos danos civis não implica
cessual, ou seja, só é cabível antes da instauração da ação em perdão do ofendido nos termos do art. 74, parágrafo
penal.202 único da Lei nº 9.099/1995.208 Com efeito, aplica-se o insti-
Nos termos do art. 49 do CPP, “a renúncia ao exercício tuto da renúncia e não do perdão.
do direito de queixa, em relação a um dos autores do crime, O perdão concedido a um dos querelados será apro-
a todos se estenderá” 203. veitado para todos, no entanto, não produzirá efeito em
Além disso, no parágrafo único do art. 50 do CPP consta relação ao que o recusar209 (art. 50 do CPP).
que O perdão é ato bilateral, ou seja, só produzirá efeitos se
aceito pelo querelado. Caso o querelado não aceite o perdão,
A  renúncia do representante legal do menor que não se extinguirá a punibilidade.
houver completado dezoito anos não privará este do Nas ações penais privadas, o perdão do ofendido, a
direito de queixa, nem a renúncia do último excluirá despeito da disponibilidade que as rege, não dispensa a
o direito do primeiro.204 aceitação pelo ofensor e não produz efeitos ipso jure eis
que apenas o juiz pode decretar extinta a punibilidade.210
No entanto, em face de a maioridade civil se dar, agora, O fato do perdão, para produzir seus efeitos, impres-
aos 18 anos, conforme determinação do Novo Código Civil, cindir da aceitação do réu, não retira a potestatividade do
referida disposição do Código de Processo Penal não mais direito de exercê-lo, por parte da vítima.211
subsiste. Concedido o perdão, mediante declaração expressa nos
A renúncia é ato unilateral, de sorte que não necessita autos, o querelado será intimado a dizer, dentro de 3 dias,
de aceitação por parte do autor do fato. se o aceita. O art. 58 do CPP estabelece ainda que deve o
querelado, ao mesmo tempo, ser cientificado de que o seu
Perdão silêncio importará aceitação. Assim, analisemos a seguinte
Admite‑se o perdão somente nos crimes de ação situação hipotética: Roberto foi acusado, em juízo, pelo
privada, e tal instituto tem o condão de extinguir a puni- cometimento de um crime sujeito, exclusivamente, à ação
bilidade.205 penal privada. No caso em questão, recebida a peça de
O perdão só é admitido depois de formada a relação acusação, se o ofendido vier a conceder perdão a Roberto,
processual, tratando‑se de fenômeno processual. Entretanto, o juiz não deverá extinguir a ação penal, se Roberto recusar
uma vez iniciado o processo pelo recebimento da queixa e o perdão.212
citação do querelado, o perdão pode ser dado nos autos do Não se esqueça: a aceitação do perdão pode ser tácita
processo ou de forma extraprocessual, devendo, em qual- ou expressa.213
quer caso, ser reconhecido pelo juiz, uma vez que somente A lei processual penal exige que o advogado ou mesmo o
este pode declarar extinta a punibilidade. Por isso, pode‑se procurador tenham poderes especiais para aceitar o perdão
afirmar que o perdão do ofendido, nos crimes de ação penal do ofendido214 (art. 55 do CPP).
privada, é sempre processual.206 O art. 53 do CPP determina, ainda, que se colidirem os
Do perdão, quando dado de forma extraproces­sual, deve interesses do representante com os do querelado, a acei-
constar declaração assinada pelo ofendido, por seu repre- tação do perdão caberá ao curador que o juiz lhe nomear.
sentante legal ou procurador com poderes especiais (art. 56
do CPP). É o que estabelece o art. 59 do CPP: 207
Assunto cobrado na prova do Cespe/TRE‑GO/Analista Judiciário/Área Admi-
nistrativa/2009.
208
Assunto cobrado na seguinte prova: MPDFT/28º Concurso para Promotor/
2009.
Noções de Direito Processual Penal

201
Funiversa/PC-DF/Delegado de Polícia/Questão 26/Assertivas A, B, C, D e 209
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑Nordeste/2º Exame de Or-
E/2009. dem/2004; Cespe/AGU/Procurador Federal de 2ª Categoria/2007; FCC/TRF
202
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/TRF 1ª Região/Analista Judiciário/ 1ª Região/Analista Judiciário/Judiciária/2001; Cespe/Defensoria Pública do
Área Judiciária/2001; Cespe/TJ‑PA/Analista Judiciário/Área Judiciária/2006; Estado de Alagoas/Defensor Público de 1ª Classe/2003; FCC/TRF 1ª Região/
Cespe/AGU/Advogado da União/2002 e Cespe/AGU/Procurador Federal de Analista Judiciário/Área Judiciária/2006; Cespe/TJDF/Oficial de Justiça
2ª Categoria/2004. Avaliador/1997; OAB‑PR/3º Exame de Ordem/2004; OAB‑PR/1º Exame de
203
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/Procuradoria Geral do Estado Ordem/2004; OAB‑MS/80º Exame de Ordem/2004; OAB‑MS/79º Exame de
de Roraima/Procurador do Estado/2006; OAB‑Nordeste/2º Exame de Or- Ordem/2004; Cespe/TRE‑GO/Analista Judiciário/Área Administrativa/2009 e
dem/2004; Cespe/AGU/Procurador Federal de 2ª Categoria/2007; FCC/TRF MPDFT/28º Concurso para Promotor/2009.
1ª Região/Analista Judiciário/Área Judiciária/2001; OAB‑Nordeste/2º Exame 210
Assunto cobrado na prova do Cespe/MPE-SE/Promotor Substituto/2010/
de Ordem/2004 e FGV/TJ‑AM/Serviços Notariais e de Registro/2005. Questão 14/Assertiva A.
204
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/TRF 1ª Região/Analista Judiciá­ 211
Assunto cobrado na prova do MPDFT/28º Concurso/Promotor - Nova
rio/Área Judiciária/2001 e UFRJ/Faepol/Delegado da Polícia Civil do Rio de Prova/2009.
Janeiro/2001. 212
OAB‑Nordeste/2º Exame de Ordem/2004.
205
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/Defensoria Pública do Estado de 213
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑MS/79º Exame de Ordem/2004;
Alagoas/Defensor Público de 1ª Classe/2003; Cespe/3º Exame da Ordem/2006 Cespe/TJDF/Oficial de Justiça Avaliador/1997 e TRF 3ª Região/Juiz Federal
(Alagoas, Amazonas, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Maranhão, Mato Grosso Substituto.
do Sul, Paraíba, Pernambuco, Sergipe, Rio Grande do Norte); Cespe/OAB/3º 214
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑DF/1º Exame de Ordem/2004;
Exame de Ordem/2007 e Cespe/TSE/Analista Judiciário/Área Judiciária/2007. Acadepol/Delegado de Polícia de São Paulo/2003; OAB‑GO/1º Exame de
206
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/1º Exame da Ordem/2004 Ordem/2005; Promotor‑AP/2005; OAB‑MS/81º Exame de Ordem/2005 e
(Espírito Santo); OAB‑ES/2º Exame de Ordem/2004. FCC/TRF 1ª Região/Analista Judiciário/Área Judiciária/2006.

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Não cabe perdão pelo ofendido em caso de ação penal a qualquer ato do processo a que deva estar presente222
privada subsidiária da pública215. (art. 60, inciso III, do CPP). A título de exemplo, tratando‑se
O perdão pode ocorrer mesmo após proferida a sentença de ação penal privada por crime de menor potencial ofen‑
condenatória, desde que a sentença não tenha transitado sivo, a ausência injustificada do querelante e de seu advo‑
em julgado (art. 106, § 2º, do Código Penal). gado, na audiência de instrução e julgamento, ocasionará
Os arts. 52 e 54 do CPP não têm mais aplicação, uma vez a perempção, que é causa de extinção da punibilidade.223
que o novo Código Civil equiparou a capacidade civil com a A perempção ocorrerá também quando o querelante,
penal, sendo o indivíduo capaz, em ambos os casos, quando após o início da ação, deixar de promover o andamento
completa 18 anos. do processo durante 30 dias seguidos224 (art. 60, inciso I,
do CPP).
Distinção entre Perdão e Renúncia Nos casos em que somente se procede mediante quei-
A diferença entre a renúncia e o perdão nos crimes de xa, considera‑se perempta a ação quando, falecendo o
ação penal privada é que a renúncia ocorre antes de ser querelante, não comparecer em juízo para prosseguir no
apresentada a queixa e o perdão, depois da formulação processo, dentro do prazo de 60 dias, qualquer pessoa a
da queixa.216 Diz‑se, por isso, ser a renúncia fenômeno quem couber fazê‑lo225 (art. 60, inciso II, do CPP).
pré‑processual e o perdão fenômeno processual. Considerar‑se‑á perempta a ação penal quando, sendo
São institutos exclusivos da ação penal exclusivamente o querelante pessoa jurídica, nos casos em que somente
privada a renúncia e o perdão extraprocessual.217 Tais insti- se procede mediante queixa, a empresa se extinguir sem
tutos são também aplicáveis às ações penais personalíssimas. deixar sucessor226 (art. 60, inciso IV, do CPP).
A referência a perdão extraprocessual tem lugar quando o Também se dá a perempção se o querelante, em pro-
perdão é dado fora da relação processual, como declaração cesso por crime de ação penal privada, deixar de formular
efetivada por escrito. Entretanto, para valer como causa de pedido de condenação nas alegações finais227. Assim, o juiz
extinção do processo, tem que ser juntado perdão extrapro- não poderá proferir sentença condenatória se o querelante
cessual ao processo e ser reconhecido pelo juiz como causa tiver formulado pedido de absolvição nas alegações finais.
de extinção de punibilidade. Com a redação do art. 403 do CPP, dada pela Lei nº 11.719, de
Enquanto a renúncia decorre do princípio da oportu- 2008, serão oferecidas alegações finais orais por 20 minutos,
nidade ou conveniência, o perdão decorre do princípio da respectivamente, pela acusação e pela defesa, prorrogáveis
disponibilidade. por mais 10, proferindo o juiz, a  seguir, sentença. Assim,
A renúncia não depende de aceitação da parte contrá- as  alegações finais escritas passaram a se consubstanciar
ria, sendo por isso unilateral. Já o perdão é bilateral, pode em exceção, só tendo lugar quando, nos termos do § 3º do
depender de aceitação do querelado. referido artigo, o juiz, considerando a complexidade do caso
ou o número de acusados, conceder às partes o prazo de
Perempção 5 dias sucessivamente para a apresentação de memoriais.
Uma vez ajuizada uma ação penal, cabe à Acusa­ção, Dessa forma, seja em alegações finais orais ou escritas
ao longo dos atos processuais, ser diligente, com o fim de (memoriais), o juiz não poderá proferir sentença condenató-
se chegar ao provimento final que porá fim ao processo, ria se o querelante não tiver formulado pedido de absolvição,
a sentença. eis que estará extinta a punibilidade pela perempção.
A decadência e a perempção não se confundem. A pe- A perempção é instituto exclusivo da ação penal priva-
rempção não pode ser verificada antes do início da ação da, no entanto, não se aplica a todas as hipóteses de tal
penal privada.218 A perda do direito de representar ou de ação.228 Assim, é inadmissível a perempção quando se tratar
oferecer queixa, em razão do decurso do prazo fixado para de ação penal privada subsidiária da pública.229
o seu exercício, e o de continuar a movimentar a ação penal Também não há se falar em perempção nas ações penais
privada, causada pela inércia processual do querelante, públicas.230
configuram, respectivamente, decadência e perempção.219 Não ocorre a perempção quando o querelante não
Pelos mesmos motivos, também não há que se confundir comparece à audiência realizada por precatória.231
perempção com renúncia, sendo esta também fenômeno A perempção só pode ocorrer antes da sentença penal
pré‑processual. Com efeito, não é causa de perempção o condenatória, tenha ou não ela transitado em julgado.
ajuizamento desta contra apenas um dos vários indiciados
em inquérito policial instaurado para apurar crime de ação
penal privada.220 Referida hipótese configura‑se renúncia ao
222
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑MT/2º Exame de Ordem/2004;
OAB‑RO/41º Exame; Cespe/PGE‑CE/Procurador de Estado/2008; FCC/DPE-PA/
direito de queixa. Defensor Público.
Se a ação penal for privada, em face do princípio da dis- 223
Cespe/AGU/2002.
ponibilidade, caso haja abandono do processo por parte do Assunto cobrado nas seguintes provas: TJ‑RJ/Oficial de Justiça Avaliador;
Noções de Direito Processual Penal

224

OAB‑MT/2º Exame de Ordem/2004; OAB‑RO/41º Exame; Esaf/Procurador da


querelante, será declarada extinta a punibilidade, nos termos Fazenda Nacional/2002/2003 e Cespe/PGE‑CE/Procurador de Estado/2008.
do art. 107, IV, do CP, por restar verificada a perempção, que 225
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑MT/2º Exame de Ordem/2004;
pode ocorrer nos casos descritos no art. 60 do CPP. Extingue OAB‑RO/41º Exame.
226
Assunto cobrado nas seguintes provas: Esaf/Procurador da Fazenda Nacio-
a punibilidade do agente a perempção, nos crimes de ação nal/2002/2003; OAB‑RO/41º Exame; OAB‑MT/2º Exame de Ordem/2004 e
penal privada.221 Cespe/PGE‑CE/Procurador de Estado/2008.
Considerar‑se‑á perempta a ação penal quando o 227
Assunto cobrado nas seguintes provas: PUC-PR/TJ-RO/Juiz Substituto/Ques-
tão 57/2011; FCC/Procuradoria Geral do Estado de Roraima/Procurador do
querelante, sem motivo justificado, deixar de comparecer Estado/2006; OAB‑SC/3º Exame de Ordem/2003; Vunesp/TRF 3ª Região/
Analista Judiciário/Área Judiciária/2002; Cespe/TJ‑PA/Analista Judiciário/Área
215
Assunto cobrado na prova do MPDFT/28º Concurso/Promotor – Nova Judiciária/2006; Cespe/PGE‑CE/Procurador de Estado/2008; FCC/DPE-PA/
Prova/2009. Defensor Público/2009; MPDFT/28º Concurso/Promotor/2009.
216
OAB‑SP/123º Exame de Ordem/2004. 228
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑PR/Exame 3/2006; TRF 3ª Região/
217
12º Concurso Público para Procurador da República. Juiz Federal Substituto e Esaf/Procurador da Fazenda Nacional/2002-2003.
218
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑PR/1º Exame de Ordem/2004 e 229
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/TJDF/Oficial de Justiça Avalia-
13º Concurso Público para Procurador da República. dor/1997; Esaf/Procurador da Fazenda Nacional 2002-2003 e FCC/Procura-
219
FCC/Procuradoria Geral do Estado de Sergipe/Procurador do Estado de 2ª doria Geral do Estado de Pernambuco/Procurador do Estado/2004.
Classe/2005. 230
Assunto cobrado na prova do Cespe/DPE-AL/Defensor Público de 1ª Classe/
220
Assunto cobrado na prova do MPDFT/28º Concurso para Promotor/2009. Questão 107/2009.
221
Cespe/OAB/3º Exame de Ordem/2007. 231
Cespe/TJ‑AP/Oficial de Justiça Avaliador/2004.

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Reconhecimento da Extinção da Punibilidade ser a sentença penal transitada em julgado título executivo
“Em qualquer fase do processo, o  juiz, se reconhecer judicial, para a reparação do dano, os herdeiros da vítima
extinta a punibilidade, deverá declará‑lo de ofício” (art. 61 poderão executá‑la no juízo cível contra André.238
do CPP). Destaca, ainda, referido dispositivo legal que, Mesmo com a possibilidade de execução da sentença
penal condenatória conforme acima destacado, o art. 64 do
No caso de requerimento do Ministério Público, do CPP permite que a ação para ressarcimento do dano possa
querelante ou do réu, o juiz mandará autuá‑lo em apar- ser proposta no juízo cível, contra o autor do crime e, se for o
tado, ouvirá a parte contrária e, se o julgar conveniente, caso, contra o responsável civil. Entretanto, proposta a ação
concederá o prazo de cinco dias para a prova, proferindo penal, o juiz da ação civil poderá suspender o curso deste até
a decisão dentro de cinco dias ou reservando‑se para o julgamento daquela239 (parágrafo único do art. 64 do CPP).
apreciar a matéria na sentença final. Por outro lado, a possibilidade de o juízo criminal e o
juízo cível proferirem decisões divergentes a partir de uma
O art. 62 do CPP determina que, única causa de pedir não constitui justificação para que o
processo em trâmite no primeiro fique suspenso, aguar-
No caso de morte do acusado, o juiz somente à vista dando a decisão do segundo. Apenas se a decisão sobre a
da certidão de óbito, e depois de ouvido o Ministério existência da infração depender da solução de controvérsia,
Público, declarará extinta a punibilidade. que o juiz repute séria e fundada, sobre o estado civil das
pessoas, o curso da ação penal ficará suspenso até que no
Ação Civil Ex Delicto juízo cível seja a controvérsia dirimida por sentença passada
em julgado, sem prejuízo, entretanto, da inquirição das
Do sistema de jurisdições separadas, como o adotado testemunhas e de outras provas de natureza urgente.240
no Brasil, decorre que duas demandas podem ser ajuizadas, A ação civil poderá ser proposta ainda nas seguintes hi-
uma na Justiça Cível e outra na Justiça Penal, tendo como póteses: 1) quando, não obstante a sentença absolutória no
causa de pedir o mesmo ato ilícito.232 juízo criminal, não tiver sido, categoricamente, reconhecida
O art. 63 do CPP determina que, a inexistência material do fato; 2) quando houver sido profe-
rido despacho de arquivamento do inquérito ou das peças
Transitada em julgado a sentença condenatória, de informação241 – com efeito, o despacho de arquivamento
poderão promover‑lhe a execução, no juízo cível, do inquérito não impede a propositura de ação civil242 – ; 3)
para o efeito da reparação do dano, o ofendido, seu quando houver sido prolatada decisão que julgar extinta a
representante legal ou seus herdeiros.233 punibilidade243; dessa forma, sobre a influência do julgado
penal no cível, não impede a propositura da ação civil a
Polastri (2009, p. 238) destaca que a indenização da es- decisão que julgar extinta a punibilidade244; 4) quando hou-
fera penal se baseia somente no dano patrimonial e não no ver sido prolatada sentença absolutória que decidir que o
moral, pois este será objeto de discussão no cível. fato imputado não constitui crime245 (arts. 66 e 67 do CPP).
Sendo um dos efeitos da condenação criminal tornar Assim, segundo o Código de Processo Penal, a ação civil
certa a obrigação de indenizar, decorrente do fato praticado, pode ser proposta mesmo em caso de sentença absolutória
fica, portanto, impedido o juízo cível de rediscutir a autoria no juízo criminal.246 No entanto, faz coisa julgada no cível a
e a materialidade do fato, devendo ele se ater apenas à
sentença absolutória quando reconhecida categoricamente
liquidação e execução da sentença penal condenatória.234
Com relação à obrigação de indenizar pelo dano emer- a inexistência material do fato, não podendo, nessa hipóte-
gente do crime, a decisão penal condenatória irrecorrível é se, ser proposta ação civil para o reconhecimento do fato
título executivo cível, mas depende de liquidação.235 Entre- objeto da sentença penal.247
tanto, nos termos do parágrafo único do art. 63, com a redação Por outro lado, a prolação de sentença penal absolutória
dada pela Lei nº  11.719, de 2008, transitada em julgado a fundada na atipicidade do fato não impede a apuração da
sentença condenatória, a execução poderá ser efetuada pelo responsabilidade civil do réu.248
valor mínimo236 fixado pelo juiz na sentença condenatória, Nesse sentido, o sistema brasileiro privilegia a separa-
para reparação dos danos causados pela infração, conside- ção da jurisdição, fazendo que a ação penal destine-se a
rando os prejuízos sofridos pelo ofendido, sem prejuízo da condenação do agente pela prática da infração penal e a
liquidação para a apuração do dano efetivamente sofrido. ação civil tenha por finalidade a reparação do dano, quando
Assim, conforme jurisprudência do STJ, na hipótese de houver. Apesar dessa consagrada separação, prevalece a
ação indenizatória ex delicto, o prazo prescricional começa justiça penal sobre a civil, quando se tratar da indenização
a fluir a partir do trânsito em julgado na sentença penal de crime que inexistiu fato ou tiver afastado a autoria.249
condenatória.237
Acompanhe a seguinte situação hipotética: submetido
238
Cespe/AGU/Advogado da União/2002.
239
Assunto cobrado nas seguintes provas: TJ‑PI/Juiz Substituto/2001; Acadepol/
a julgamento pelo tribunal do júri pela prática do crime Delegado de Polícia de São Paulo/2003; OAB‑MS/79º Exame de Ordem/2004;
Noções de Direito Processual Penal

de homicídio, André obteve a desclassificação da infração TJ‑PR/Juiz Substituto/2006; Cespe/TJ‑BA/Juiz Substituto/2004 e Cespe/TJ‑SE/
penal e foi condenado pela prática de crime de lesão cor‑ Juiz Substituto/2003-2004 e FCC/DPE-MT/Defensor Público/Questão 20/As-
poral seguida de morte. A sentença penal condenatória sertiva d/2009.
240
OAB‑GO/3º Exame de Ordem/2004.
transitou em julgado para as partes. Nessa situação, por 241
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/MPE-TO/2012.
242
Assunto cobrado nas seguintes provas: TJ‑PR/Juiz Substituto/2006 e FCC/
DPE-MT/Defensor Público/Questão 20/Assertiva B/2009.
232
Assunto cobrado na seguinte prova: MPDFT/28º Concurso para Promotor/ 243
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/MPE-TO/2012.
2009. 244
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑SP/127º Exame de Ordem/2005;
233
Assunto cobrado na prova da FCC/DPE-MT/Defensor Público/Questão 20/ OAB‑MT/1º Exame de Ordem/2005; OAB‑GO/1º Exame de Ordem/2003;
Assertiva e/2009. TJ‑PR/Juiz Substituto/2006 e TJ‑PI/Juiz Substituto/2001 e FCC/DPE-MT/Defen-
234
Assunto cobrado na seguinte prova: MPDFT/28º Concurso para Promotor/ sor Público/Questão 20/Assertiva c/2009.
2009. 245
Assunto cobrado na seguinte prova: FCC/DPE-MT/Defensor Público/Questão 20/
235
Assunto cobrado nas seguintes provas: TRF 3ª Região/Juiz Federal Substituto Assertiva a/2009.
e Cespe/TJ‑SE/Juiz Substituto/2003-2004. 246
TJ‑MG/Ejef/Juiz Substituto/2005.
236
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/PC-RN/Delegado de Polícia 247
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/Defensoria Pública do Estado
Civil Substituto/2009 e Cespe/DPE-AL/Defensor Público de 1ª Classe/Questão de Sergipe/Defensor Público de 2ª Categoria/2005; Acadepol/Delegado de
108/2009. Polícia de São Paulo/2003; OAB‑RO/42º Exame e Promotor‑AP/2005.
237
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/TRE-RJ/Analista Judiciário/ 248
Assunto cobrado na prova da FGV/TJ‑PA/Juiz de Direito/2009.
Área Judiciária/2012; Cespe/AL-ES/Procurador/Questão 75/Assertiva a/2011 249
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/MPE-TO/2012; Cespe/
e Cespe/TJ-PB/Juiz Substituto/Questão 52/Assertiva A/2011. TJ-BA/2012 e FCC/DPE-MT/Defensor Público/Questão 20/Assertiva a/2009.

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A absolvição por insuficiência de provas para a conde- ______. Lezioni sul processo penale. Roma: Ateneo, 1946,
nação também não impossibilita a propositura da ação civil v. I.
de reparação de danos.250
______. Principios del proceso penal. Tradução de Caste-
Assim, diferentemente da sentença penal condenatória,
lhana de Santiago Sentís Melendo. Buenos Aires: Eje, 1971.
a  absolutória com fundamento na insuficiência de provas
da autoria ou da materialidade criminosa não produz coisa ______. Instituciones del proceso civil. Tradução de Santiago
julgada no juízo cível.251 Sentís Melendo. Buenos Aires, 1973, v. I.
O art. 65 do CPP determina que
CARVALHO, Salo de. Pena e garantias. 2. ed. Rio de Janeiro:
Faz coisa julgada no cível a sentença penal que reco- Lumen Juris, 2003.
nhecer ter sido o ato praticado em estado de neces- CINTRA, Antônio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini;
sidade, em legítima defesa, em estrito cumprimento DINAMARCO, Cândido Rangel. Teoria geral do Processo. 17.
de dever legal ou no exercício regular de direito252. ed. São Paulo: Malheiros, 2001.

Assim, a sentença penal, se excludente de ilicitude, faz COUTINHO, Jacinto Nelson de Miranda (Coord.). Crítica à
coisa julgada no cível, nos moldes do art. 65 do Código de teoria geral do direito processual penal. Rio de Janeiro:
Processo Penal.253 Renovar, 2001.
O fato praticado sob alguma excludente de ilicitude ______. Glosas ao verdade, dúvida e certeza de Francesco
não enseja reparação civil, exceto na hipótese de estado Carnelutti, para os operadores do direito. Anuário Ibe-
de necessidade agressivo e de legítima defesa, no caso ro‑Americano de Direitos Humanos. Rio de Janeiro: Lumen
de ser atingido, por erro na execução, terceiro inocente.254 Juris, 2002.
No mesmo sentido, a reparação do dano é obrigatória
quando o autor do crime praticado em legítima defesa ti‑ GOLDSCHMIDT. James. Derecho procesal civil. Tradução de
ver incorrido nas hipóteses de aberratio ictus ou aberratio Leonardo Prieto Castro. Editorial Labor, 1936.
criminis.255 LACERDA, Galeno. Comentários ao código de processo civil,
Polastri (2009, p. 240) destaca que v. VIII, tomo I. Rio de Janeiro: Forense, 2001.

no julgamento do Júri, negados os quesitos sobre LIMA, Marcellus Polastri. Curso de Processo Penal. Vol. I. 4.
autoria e materialidade, também não fica impedida ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008.
a propositura da ação civil, já que o fato não foi ___________________. Manual de Processo Penal. 2. ed.
afastado, comportando nova discussão da via cível. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009)
O MP detém legitimidade para promover ação civil LOPES JÚNIOR, Aury. Direito processual penal e sua con-
indenizatória ex delicto em favor de necessitado, se a sua in- formidade constitucional. Vol. 1, Rio de Janeiro: Lumen
tervenção decorre da inexistência de defensoria pública no Juris, 2008.
Estado.256 No entanto, ainda que haja advogado na comarca, LOPES JÚNIOR, Aury. (Re)discutindo o objeto do processo
poderá o membro do Ministério Público promover a ação, no penal com Jaime Guasp e James Goldschimidt. Revista
juízo cível, de reparação de dano em favor de vítima pobre, IBCCRIM, nº 39.
contra o autor do crime.257 Basta que não exista Defensoria
Pública constituída de fato. ______. Direito processual penal e sua conformidade cons-
titucional. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008.
Referências MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo penal. 12. ed. São Paulo:
Atlas, 2001.
ÁVILA, Thiago André Pierobom de. Direito processual penal.
15. ed., Brasília: Vestcon, 2009. NUCCI. Guilherme de Souza, Código de processo penal
comentado. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003.
BÜLOW, Oskar von. La teoria de las excepciones procesales y
los presupuestos procesales. Buenos Aires: Europa‑America, OLIVEIRA, Eugênio Pacelli de. Curso de Processo Penal. 11.
1964. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009.

CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal. 12. ed. São OLIVEIRA, Eugênio Pacelli de. Curso de Processo Penal. 10.
Paulo: Saraiva, 2005. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008.
PACHECO, Denilson Feitoza. Direito processual penal: teoria,
Noções de Direito Processual Penal

CARNELUTTI, Francesco. Sistema de derecho procesal civil.


Tradução de Niceto Alcalá‑Zamora y Castillo; Santiago Sentis crítica e práxis. 4 ed. Atualizada com Emenda Constitucional
Melendo. Buenos Aires, 1944. da “Reforma do Judiciário”. Niterói, RJ: Impetus, 2006.
TÁVORA, Nestor e ALENCAR, Rosmar Rodrigues. Curso de
250
Assunto cobrado nas seguintes provas: TJ‑PI/Juiz Substituto/2001; Cespe/ direito processual penal. 3 ed. rev. atual. e ampl. Salvador,
Promotor‑AM/2001 e OAB‑MT/1º Exame de Ordem/2005. 2009.
251
MPDFT/28º Concurso para Promotor/2009.
252
Assunto cobrado nas seguintes provas: TJ‑PR/Juiz Substituto/2006; TJ‑PI/Juiz THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual
Substituto/2001; Acadepol/Delegado de Polícia de São Paulo/2003; Vunesp/
OAB‑SP/130º Exame; 16º Concurso Público para Procurador da Repúbli- civil. 33. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2000, v. I.
ca/1997; OAB‑GO/1º Exame de Ordem/2003; Cespe/Defensoria Pública do
Estado do Amazonas/Defensor Público de 4ª Classe/2003 e TRF 4ª Região/ TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo penal. 25.
Juiz Federal Substituto. ed. São Paulo: Saraiva, 2003, v. 1.
253
OAB‑GO/1º Exame de Ordem/2003.
254
OAB‑GO/1º Exame de Ordem/2003. TUCCI, Rogério Lauria. Teoria do Direito Processual Penal.
255
Cespe/TJ‑SE/Juiz Substituto/2003-2004. São Paulo: RT, 2002.
256
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/TJ-PB/Juiz Substituto/Questão
52/Assertiva B/2011 e Cespe/Promotor‑AM/2001. WAMBIER, Tereza Arruda Alvim. Nulidades do processo e
257
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/TJ‑BA/Juiz Substituto/2004 e
OAB‑GO/1º Exame de Ordem/2003. da sentença. 4. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997.

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JURISDIÇÃO E COMPETÊNCIA Judiciário6. Acerca desse princípio, é correto afirmar que ele
assegura o direito de pleitear prestação jurisdicional sempre
Jurisdição que algum direito for lesado ou ameaçado.7
O princípio da acessibilidade ampla ao Poder Judiciário
A jurisdição é o poder do Estado que, substituindo‑se está previsto de forma explícita na Constituição de 19888.
à vontade das partes, aplica o direito material a um caso Com efeito, o art. 5º, XXXV, da CF/1988, determina que “a
concreto, de forma definitiva. lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou
Sobre o conceito de Jurisdição, tem-se que a Estadual e ameaça a direito”9. Trata‑se de uma garantia.10
a Federal são denominadas de comum enquanto a Militar
de especial, possuindo, esta, atração sobre aquelas, nos Princípio da indelegabilidade
casos de conexão e continência.1 Não viola o princípio da indelegabilidade a possibilidade
de se transferir determinados atos de um juízo para outro,
Princípios da Jurisdição como ocorre com as cartas precatórias ou de ordem (dele-
gação externa), ou mesmo quando a delegação é interna (do
A indeclinabilidade e a improrrogabilidade também são juiz titular para o substituto).
princípios regentes da jurisdição criminal.2 O STJ inclusive destaca o entendimento de que

Princípio do juiz natural as cartas precatórias expedidas por juiz fe­deral


A Constituição Federal vigente, dispondo que “não ha- podem e devem ser cumpridas por juiz estadual,
verá juiz ou tribunal de exceção”3, e ainda que “ninguém da comarca onde reside a testemunha, com o in-
será processado nem sentenciado senão pela autoridade tuito de realizar os atos de forma mais simples e
competente”, trata do princípio do juiz natural, traz princí- rápida, menos onerosa as partes e terceiros. (STJ,
pio segundo o qual somente os juízes, tribunais e órgãos CC nº 17.551/SC, Min. José Arnaldo da Fonseca, 3ª
jurisdicionais anteriormente previstos na Constituição têm Seção; DJ 10/11/1997)
o poder de julgar.4
A Constituição Federal, entretanto aceita as justiças Princípio da improrrogabilidade
especializadas contempladas pelas leis de organização Apenas de forma excepcional tem‑se a prorrogação da
judiciária, visto que elas não se enquadram na proibição competência (prorrogatio fori). Com efeito, nas hipóteses de
de juízos de exceção.5 fixação da competência em razão do lugar, como se trata de
hipótese de nulidade relativa, caso não seja alegada a incom-
Princípio da investidura petência no momento oportuno, prorroga‑se a competência.
O art. 93, I, da CF/1988, determina que o ingresso na O mesmo se aplica se não se alegar de forma temporal a
carreira, cujo cargo inicial será o de juiz substituto, se dará exceção de suspeição.
mediante concurso público de provas e títulos, com a par- Já a incompetência por prerrogativa de função e por
ticipação da Ordem dos Advogados do Brasil em todas as definição da matéria, como a incompetência pertinente
fases, exigindo‑se do bacharel em Direito, no mínimo, três
a crimes dolosos contra a vida, crimes militares e crimes
anos de atividade jurídica e obedecendo‑se, nas nomeações,
eleitorais, é absoluta e improrrogável.11
à ordem de classificação.
O art. 94 da CF/1988, por sua vez, determina que um Princípio do devido processo legal
quinto dos lugares dos Tribunais Regionais Federais, dos O princípio do devido processo legal, como garantia
Tribunais dos Estados e do Distrito Federal e Territórios processual e material de direitos fundamentais, foi intro-
serão compostos por membros do Ministério Público, com duzido no Brasil pela Constituição de 198812. Aplica-se aos
mais de dez anos de carreira, e de advogados de notório processos judiciais e administrativos com o sentido formal
saber jurídico e de reputação ilibada, com mais de dez anos e substantivo de proteção de direitos fundamentais.13
de efetiva atividade profissional, indicados em lista sêxtupla
O art. 5º, LIV, da CF/1988, estabelece que “ninguém será
pelos órgãos de representação das respectivas classes.
privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo
Princípio da titularidade ou inércia ou iniciativa das partes legal”. Assim, no direito constitucional brasileiro, de acordo
A jurisdição deve ser provocada. No âmbito do processo com a Constituição de 1988, sem o devido processo legal,
penal, para a propositura da ação penal, o Ministério Público ninguém será privado de sua liberdade ou propriedade.14
se embasa em previsão constitucional (art. 129, I, da Cons- O devido processo legal configura dupla proteção ao
tituição Federal) e legal (art. 24 do CPP). O mesmo se aplica indivíduo, atuando tanto no âmbito material, como instru-
em relação à vítima, seu representante e seus sucessores mento de defesa dos direitos individuais, quanto no âmbito
processual, assegurando um regular processo penal, civil
Noções de Direito Processual Penal

(arts. 29 a 31 do CPP).
O magistrado não pode iniciar o processo penal de ofício. e administrativo15. Configura, assim, ampla proteção ao
Não foi recepcionado pela Constituição Federal o procedi- indivíduo, atuando tanto no âmbito material de proteção
mento judicial conforme previsto no art. 26 do CPP. ao direito de liberdade e propriedade quanto no âmbito
Dessa forma, qualquer previsão legal sobre outra forma formal, ao assegurar‑lhe paridade total de condições com
de início da persecução penal em crimes de ação penal está o Estado‑persecutor e plenitude de defesa.16
eivada de vício de ilegalidade e inconstitucionalidade.
6
Promotor‑SP/2005.
7
Cespe/Promotor‑AM/2001.
Princípio da inevitabilidade (irrecusabilidade, indeclina- 8
Promotor‑PR/2002.
bilidade, inderrogabilidade ou inafastabilidade) 9
Assunto cobrado nas seguintes provas: 14º Concurso Público para Procurador
O princípio constitucional da inafastabilidade da juris- da República e 17º Concurso Público para Procurador da República/1999.
dição implica a consagração do direito de acesso ao Poder
10
Cespe/OAB/Exame de Ordem/2007.
11
OAB‑RJ/27º Exame de Ordem/2005.
12
FCC/Defensoria Pública do Estado do Maranhão/Defensor Público de 1ª
1
Ieses/TJ-MA/Analista Judiciário/Questão 84/Item III/2011. Classe/2003.
2
Ieses/TJ-MA/Analista Judiciário/Questão 83/Item IV/2011. 13
TRF 5ª Região/Juiz Federal Substituto/2001.
3
Assunto cobrado na prova da OAB‑PR/1º Exame de Ordem/2004. 14
14º Concurso Público para Procurador da República.
4
FCC/TRT-21ª Região/Analista Judiciário/2003. 15
OAB‑RJ/27º Exame de Ordem/2005.
5
Assunto cobrado no concurso da FCC/TRT-21ª Região/Analista Judiciário/2003. 16
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Princípio da correlação Têm‑se, assim, de forma reduzida, os seguintes critérios
Deve haver correlação entre os fatos narrados na ação de fixação da competência:
penal e os apreciados pelo juiz. O juiz não pode julgar fato
não descrito na inicial (extra petita), reconhecer quali­ficadora 1) Fixação da competência por matéria (ratione materiae)
não constante da ação penal ou de seu aditamento (ultra É estabelecida em razão do crime praticado, nos termos
petita) ou quando a acusação pediu condenação em face do do art. 69, III, do CPP.
acusado por dois crimes e, na sentença, o juiz não aprecia
nada em relação a um dos crimes (infra petita). 2) Fixação da competência por prerrogativa de função
Aplicam‑se, entretanto, os institutos da emendatio (ratione personae)
(art. 383 do CPP) e mutatio libelli (art. 384 do CPP). A CF cuida de regular a chamada competência absoluta,
tratando também da competência de foro, regulada por
Princípio da perpetuação da jurisdição (perpetuatio legislação infraconstitucional.22
jurisdictionis) É estabelecida de acordo com o cargo ocupa­do pelo autor
do fato delitivo, nos termos do art. 69, inciso VII, do CPP.
O princípio da perpetuação da jurisdição significa que,
uma vez estabelecida a competência em relação ao juízo, não 3) Fixação da competência pelo lugar/territorial
(ratione loci)
se deve alterá‑la, salvo em casos excepcionais. O art. 87 do
Nos termos do art. 69, I, do CPP, a competência será, em
Código de Processo Penal, aplicado de forma subsidiária ao
regra, determinada pelo lugar em que se consumar a infra-
Código de Processo Penal, estabelece que determina‑se a
ção, ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que for praticado
competência no momento em que a ação é proposta, sendo
o último ato de execução (art. 70 do CPP). A competência
irrelevantes as modificações do estado de fato ou de direito
em razão do lugar também pode ser fixada pelo domicílio
ocorridas posteriormente, salvo quando suprimirem o órgão do réu, prevenção ou conexão e continência, nos termos do
judiciário ou alterarem a competência em razão da matéria art. 69, incisos II, V e VI, do CPP.
ou da hierarquia.
Desta forma, a título de exemplo, Tício, policial militar, 4) Fixação da competência pelas regras de distribuição
praticou homicídio contra um civil. Após ser denuncia‑ A distribuição é feita de acordo com a função desempe-
do perante a justiça castrense, entrou em vigor a Lei nº nhada pelos juízes e regras de organização judiciária (art. 69,
9.299/1996, que determina que os crimes dolosos contra IV, do CPP).
a vida praticados por policial militar contra civil passam a
ser da competência da justiça comum. Nesse caso, a Lei nº Indagações para se determinar a competência
9.299/1996 deve ser aplicada de imediato, com a remessa Para que se defina a competência, basta fazer as seguin-
dos autos à justiça comum.17 tes indagações:
1) Qual o juiz competente em razão da matéria?
Competência 2) Qual o juiz competente em razão da existência de foro
por prerrogativa de função?
A jurisdição, como função estatal destinada a dirimir 3) Qual o juiz competente em razão do local?
conflitos, é única, o que equivale a dizer que todos os juízes 4) Qual o juiz competente em razão da organização
devidamente investidos no cargo contam com jurisdição, judiciária?
mas só podem dirimir os conflitos dentro da sua respectiva A resposta a cada indagação define, respectivamente,
competência.18 o  juiz competente em face das espécies de competência
O juiz não pode aplicar o direito para todos os fatos de- suprarreferidas.
litivos. A função jurisdicional é delimitada entre os diversos Vejamos, então, as espécies de competência.
órgãos judiciais.
A competência é o limite ou a delimitação da jurisdição. Competência em razão da matéria
A delimitação da jurisdição é feita previamente pelas Qual o juiz competente em razão da matéria?
Constituições Federal e Estaduais. Esta delimitação denota Ao responder esta pergunta, descobre‑se a competência
dos princípios do juiz natural (art. 5º, LIII, da CF/1988) e da ratione materiae. A Constituição Federal, as Constituições de
cada Estado e a Lei Orgânica do Distrito Federal definem a
proibição do tribunal de exceção (art. 5º, XXXVII, da CF/1988).
competência material.
Denomina‑se competência absoluta a hipótese de fixa‑
A Constituição Federal, com base na estruturação do
ção de competência que não admite prorrogação. Assim,
Poder Judiciário (arts. 92 a 126 da CF) dividiu a competência
deve o processo ser remetido ao juiz natural determinado
Noções de Direito Processual Penal

em razão da matéria. Há, portanto, as seguintes justiças com


por normas constitucionais ou processuais penais, sob pena
atribuições para julgar crimes:
de nulidade do feito.19 1) Especializada, composta da eleitoral, jurisdição política
e militar. Não incluiremos a justiça trabalhista na análise
Espécies de Competência por não ter atribuição para julgar crimes, embora seja uma
Determinarão a competência jurisdicional: o lugar da justiça especializada.
infração, o domicílio ou residência do réu, a natureza da 2) Comum, composta da Justiça Federal e Justiça Estadual.
infração, a distribuição, a conexão ou continência, a pre-
Justiça Eleitoral
venção e a prerrogativa de função.20
A Justiça Eleitoral, constituída nos termos dos arts. 118
No entanto, a requisição judicial e a nacionalidade da
a 121 da CF/1988, em matéria criminal, tem competência
vítima não determinam a competência jurisdicional.21
para julgar os crimes eleitorais. Isto nos termos do art. 35,
17
Cespe/Promotor‑AM/2001. II, do Código Eleitoral (Lei nº 4.737/1965), que estabelece
18
Cespe/Governo do Estado do Espírito Santo/Escrivão de Polícia/2006. que compete aos juízes eleitorais
19
Cespe/TJ‑RR/Analista Processual/2006.
20
Assunto cobrado na prova da OAB‑RJ/32º Exame.
21
Assunto cobrado na prova da OAB‑RJ/32º Exame.
22
Assunto cobrado na prova do Cespe/TRE-MA/Analista Judiciário/2009.

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processar e julgar os crimes eleitorais e os comuns pública. Entretanto, no art. 52, parágrafo único, da CF/1988,
que lhe forem conexos, ressalvada a competência ori- no processo e julgamento do Presidente, do Vice‑Presidente
ginária do Tribunal Superior e dos Tribunais Regionais. da República, dos Ministros de Estado, dos Comandantes da
Marinha, do Exército e da Aeronáutica nos crimes da mesma
Os crimes eleitorais estão previstos nos arts. 289 a 354 natureza conexos com aqueles, dos Ministros do Supremo
do Código Eleitoral. Tribunal Federal, dos membros do Conselho Nacional de
Justiça e do Conselho Nacional do Ministério Público, do
Jurisdição Política Procurador‑Geral da República e do Advogado‑Geral da União
O Poder Legislativo Federal, Estadual e Municipal, de nos crimes de responsabilidade, somente será proferida, por
forma atípica, tem competência para julgar os crimes de dois terços dos votos do Senado Federal, a perda do cargo,
responsabilidade de determinadas autoridades. com inabilitação, por oito anos, para o exercício de função
Com efeito, nos termos do art. 52 da CF/1988, pública, sem prejuízo das demais sanções judiciais cabíveis.
Esta lei também constitui crimes de responsabilidade dos
Compete privativamente ao Senado Federal: membros dos Tribunais Superiores, dos Tribunais de Contas,
I – processar e julgar o Presidente e o Vice‑Presidente dos Tribunais Regionais Federais, do Trabalho e Eleitorais,
da República nos crimes de responsabilidade, bem dos Tribunais de Justiça e de Alçada dos Estados e do Distrito
como os Ministros de Estado e os Comandantes da Federal, e aos Juízes Diretores de Foro ou função equivalente
Marinha, do Exército e da Aeronáutica nos crimes da no primeiro grau de jurisdição, do Procurador‑Geral da Repú-
mesma natureza conexos com aqueles; blica, ou de seu substituto quando no exercício da chefia do
II – processar e julgar os Ministros do Supremo Tri- Ministério Público da União, bem como ao Advogado‑Geral
bunal Federal, os membros do Conselho Nacional de da União, aos Procuradores‑Gerais do Trabalho, Eleitoral e
Justiça e do Conselho Nacional do Ministério Público, Militar, aos  Procuradores‑Gerais de Justiça dos Estados e
o Procurador‑Geral da República e o Advogado‑Geral do Distrito Federal, aos Procuradores‑Gerais dos Estados e
da União nos crimes de responsabilidade. do Distrito Federal, e  aos membros do Ministério Público
da União e dos Estados, da Advocacia‑Geral da União, das
O Supremo Tribunal Federal também julga crimes de Procuradorias dos Estados e do Distrito Federal, quando
responsabilidade praticados por determinadas autoridades no exercício de função de chefia das unidades regionais ou
(art. 102 da CF/1988). O mesmo se aplica em relação ao Su- locais das respectivas instituições, dos governadores dos
perior Tribunal de Justiça (art. 105 da CF/1988), aos Tribunais Estados ou dos seus Secretários (arts. 39-A, e 40-A, e 74 da
Regionais Federais (art. 108 da CF) e aos Tribunais de Justiça Lei nº 1.079/1950).
(art. 96, III, da CF/1988). É permitido a qualquer cidadão denunciar o Presidente
O rol de autoridades que têm foro por prerrogativa de da República ou Ministro de Estado por crime de responsa-
cargo será listado quando da análise da competência em bilidade, perante a Câmara dos Deputados (art. 14 da Lei
razão do foro por prerrogativa de função. nº 1.079/1950).
Na Constituição Federal, há ainda previsão de outros
Crimes de responsabilidade crimes de responsabilidade.
Em relação ao Presidente da República, a Constituição, Quanto ao prefeito, o  §  2º do art.  29-A, da CF/1988,
em rol meramente exemplificativo, define quais são os crimes destaca que
de responsabilidade passíveis que podem ser cometidos
por ele. Constitui crime de responsabilidade do Prefeito
O art. 85 diz que: Municipal:
I – efetuar repasse que supere os limites definidos
São crimes de responsabilidade os atos do Presiden- neste artigo;
te da República que atentem contra a Constituição II – não enviar o repasse até o dia vinte de cada
Federal e, especialmente, contra: mês;23
I – a existência da União; III – enviá‑lo a menor em relação à proporção fixada
II – o livre exercício do Poder Legislativo, do Poder na Lei Orçamentária.
Judiciário, do Ministério Público e dos Poderes cons-
Os repasses são relacionados aos limites de gastos
titucionais das unidades da Federação;
do Poder Público Municipal.
III – o exercício dos direitos políticos, individuais e
sociais;
Em relação às infrações político‑administrativas prati-
IV – a segurança interna do País;
Noções de Direito Processual Penal

cadas por prefeitos não previstas no art. 4º do Decreto‑Lei


V – a probidade na administração;
nº  201/1967, a  competência para julgamento será das
VI – a lei orçamentária;
Câmaras Municipais, o que cessa com a perda do mandato.
VII – o cumprimento das leis e das decisões judiciais.
Nesse sentido, o STJ destaca que:
A Constituição diz ainda que tais crimes exigem definição O art.  4º do Decreto‑Lei nº 201/1967 elenca as
por lei especial, que estabelecerá as normas de processo e infrações político‑administrativas, em que se prevê
julgamento. Isso ocorre pela Lei nº 1.079/1950, que define a perda do mandato, sendo julgadas pela Câmara
os crimes de responsabilidade e regula o respectivo processo Municipal. A cassação do exercício do cargo de
de julgamento (impeachment). prefeito impede a instauração ou o prosseguimento
O art. 2º da referida lei determina que os crimes nela do processo político‑disciplinar, regulado no art. 5º
definidos, ainda quando simplesmente tentados, são passí- do referido decreto‑lei, em face da perda do objeto.
veis da pena de perda do cargo, com inabilitação, até cinco (STJ, Resp nº 38.469/SC, Ministro Vicente Leal, Sexta
anos, para o exercício de qualquer função pública, imposta Turma, DJ 5/6/1995)
pelo Senado Federal nos processos contra o Presidente da
República ou Ministros de Estado, contra os Ministros do Su-
premo Tribunal Federal ou contra o Procurador‑Geral da Re- Promotor‑PR/2002.
23

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Constitui crime de responsabilidade do Presidente da o  juiz natural para o julgamento será o Tribunal do Júri
Câmara Municipal o desrespeito à determinação de que a (art. 9º, parágrafo único, do CPM). O militar que praticar
Câmara Municipal não gastará mais de setenta por cento de crime doloso contra a vida de um civil no exercício da fun-
sua receita com folha de pagamento, incluído o gasto com ção não deverá ser processado perante a Justiça Militar26.
o subsídio de seus vereadores (art. 29-A, § 3º, da CF/1988). Compete ao Tribunal do Júri da Justiça Estadual Comum
O art. 50 da Constituição Federal prevê crimes de res- julgar crime de homicídio doloso cometido por militar
ponsabilidade em relação aos Ministros de Estado ou de contra civil.27
autoridades do Poder Executivo. Estabelece que: Suponhamos que um policial militar e um policial civil,
em concurso, sejam acusados de cometer crime de homicí-
A Câmara dos Deputados e o Senado Fe­deral, ou dio doloso, tendo atingido uma vítima que estava passando
qualquer de suas Comissões, poderão convocar pela rua. Quanto ao juízo competente para processá‑los,
Ministro de Estado ou quaisquer titulares de órgãos é correto afirmar que os policiais serão julgados, juntos, no
diretamente subordinados à Presidência da República Tribunal do Júri, e não na Justiça Militar.28
para prestarem, pessoalmente, informações sobre A título de exemplo, no erro de execução, um militar
assunto previamente determinado, importando cri- mata outro militar, quando pretendia matar um civil. No
me de responsabilidade a ausência sem justificação caso em análise, a competência não é da Justiça Castrense.29
adequada. Na hipótese de desclassificação do crime doloso prati‑
cado por militar contra civil, feita pelo próprio Tribunal do
O mesmo se aplica em relação ao desatendimento a con- Júri, de acordo com o entendimento do STF, ao invés de o
vocações das Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Juiz‑Presidente proferir a sentença deverá encaminhar os
Federal (art. 50, § 2º, da CF/1988). autos à Justiça Militar, que tem jurisdição para o julgamento
Nos termos do § 6º do art. 100 da CF/1988, do feito.30
Dessa forma, o que é essencial para a determinação da
O Presidente do Tribunal competente que, por ato competência da Justiça Militar Estadual é a verificação de se
comissivo ou omissivo, retardar ou tentar frustrar a tratar de crimes militares. Estes estão definidos no Código
liquidação regular de precatório incorrerá em crime Penal Militar (Decreto‑Lei nº 1.001/1969).
de responsabilidade. Dentro do mesmo estatuto penal, constam os crimes
militares em tempo de paz e os crimes militares em tempo
Justiça Militar de guerra.
Compete à Justiça Militar processar e julgar crimes Nos termos do art. 9º do Código Penal Militar:
cometidos pelos militares.24
Consideram‑se crimes militares, em tempo de paz:
Justiça Militar Estadual I – os crimes de que trata este Código, quando defi-
Determina o § 3º do art. 125 da CF/1988: nidos de modo diverso na lei penal comum, ou nela
não previstos, qualquer que seja o agente, salvo
A lei estadual poderá criar, mediante proposta do disposição especial;
Tribunal de Justiça, a Justiça Militar Esta­dual, cons- II – os crimes previstos neste Código, embora também
tituída, em primeiro grau, pelos juízes de direito o sejam com igual definição na lei penal comum,
e pelos Conselhos de Justiça e, em segundo grau, quando praticados:
pelo próprio Tribunal de Justiça, ou por Tribunal de a) por militar em situação de atividade ou asseme-
Justiça Militar nos Estados em que o efetivo militar lhado, contra militar na mesma situação ou asse-
seja superior a vinte mil integrantes. melhado;
b) por militar em situação de atividade ou assemelha-
O § 4º do referido artigo determina que do, em lugar sujeito à administração militar, contra
militar da reserva, ou reformado, ou assemelhado,
Compete à Justiça Militar Estadual processar e julgar ou civil;
os militares dos Estados, nos crimes militares defini- c) por militar em serviço ou atuando em razão da
dos em lei e as ações judiciais contra atos disciplinares função, em comissão de natureza militar, ou em
militares, ressalvada a competência do júri quando formatura, ainda que fora do lugar sujeito à adminis-
a vítima for civil, cabendo ao tribunal competente tração militar contra militar da reserva, ou reformado,
decidir sobre a perda do posto e da patente dos ou civil;
oficiais e da graduação das praças. d) por militar durante o período de manobras ou
exercício, contra militar da reserva, ou reformado,
Noções de Direito Processual Penal

Por sua vez, o § 5º estabelece que ou assemelhado, ou civil;


e) por militar em situação de atividade, ou assemelha-
Compete aos juízes de direito do juízo militar pro- do, contra o patrimônio sob a administração militar,
cessar e julgar, singularmente, os crimes militares ou a ordem administrativa militar;
cometidos contra civis e as ações judiciais contra III – os crimes praticados por militar da reserva, ou re-
atos disciplinares militares, cabendo ao Conselho formado, ou por civil, contra as instituições militares,
de Justiça, sob a presidência de juiz de direito, pro- considerando‑se como tais não só os compreendidos
cessar e julgar os demais crimes militares.25 no inciso I, como os do inciso II, nos seguintes casos:
a) contra o patrimônio sob a administração militar,
Assim, tem‑se que a Justiça Militar Estadual, em regra, ou contra a ordem administrativa militar;
julga os crimes militares cometidos por militares, ainda que
a vítima de eventual crime militar possa ser um civil, exceto 26
Assunto cobrado na prova do Cespe/OAB/1º Exame de Ordem/2008.
quando se tratar de crime doloso contra a vida. Neste caso,
27
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑SP/126º Exame de Ordem/2005
e OAB‑PR/Exame 02/2006.
28
Assunto cobrado na prova da OAB‑RO/43º Exame.
24
Assunto cobrado na prova da OAB‑MG/2º Exame de Ordem/2004. 29
Assunto cobrado na prova do MPDFT/28º Concurso para Promotor/2009.
25
Assunto cobrado na prova da OAB‑SP/127º Exame de Ordem/2005. 30
TJDFT/Juiz de Direito Substituto/2007.

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b) em lugar sujeito à administração militar contra MANTIDA EM FACE DE CONTINUAR VIGENTE A REGRA
militar em situação de atividade ou assemelhado, ou LEGAL SOBRE CONCEITUAR‑SE COMO MILITAR O
contra funcionário de Ministério militar ou da Justiça CRIME PRATICADO COM USO DE ARMA DA CORPORA-
Militar, no exercício de função inerente ao seu cargo; ÇÃO. (CC nº 10518/SP; CONFLITO DE COMPETÊNCIA,
c) contra militar em formatura, ou durante o período 1994/0026799-1, Min. José Dantas, 3ª Seção do STJ,
de prontidão, vigilância, observação, exploração, DJ 11/3/1996 p. 6.561)
exercício, acampamento, acantonamento ou ma-
nobras; Entretanto, a alínea f do inciso II do art. 9º do Código
d) ainda que fora do lugar sujeito à administração Penal Militar foi revogada pela Lei nº 9.299/1996, o que faz
militar, contra militar em função de natureza militar, concluir que compete à Justiça Comum processar e julgar
ou no desempenho de serviço de vigilância, garan- crime cometido por militar contra civil, com emprego de
tia e preservação da ordem pública, administrativa arma pertencente à corporação, não estando em serviço e
ou judiciária, quando legalmente requisitado para nem atuando em razão de suas funções.
aquele fim, ou em obediência a determinação legal Tem‑se, ainda, que compete à Justiça Militar processar
superior. Os crimes de que trata este artigo, quando e julgar policial de corporação estadual, ainda que o delito
dolosos contra a vida e cometidos contra civil, serão tenha sido praticado em outra unidade federativa (Súmula
da competência da Justiça Comum. nº 78/STJ).
Por outro lado, compete à Justiça Comum Estadual pro-
Nos termos do art. 10 do Código Penal Militar, constam cessar e julgar o policial militar por crime de promover ou
os crimes militares praticados em tempo de guerra. facilitar a fuga de preso de estabelecimento penal (Súmula
nº 75/STJ). Não compete à Justiça Militar processar e julgar
Consideram‑se crimes militares, em tempo de guerra: o policial militar por crime de promover ou facilitar a fuga
I – os especialmente previstos neste Código para o de preso de estabelecimento penal.31
tempo de guerra; Portanto, analise a seguinte situação hipotética: na
II – os crimes militares previstos para o tempo de paz; Comarca de Coelho Neto, terra de grandes escritores, dois
III – os crimes previstos neste Código, embora tam- presos fugiram da cadeia pública. Foi instaurado inquérito
bém o sejam com igual definição na lei penal comum policial militar, e se apurou que a fuga foi facilitada por dois
ou especial, quando praticados, qualquer que seja policiais militares que ali prestavam serviço. O Promotor de
o agente: Justiça ofereceu denúncia contra os policiais militares pela
a) em território nacional, ou estrangeiro, militar- prática do crime de fuga de pessoa presa, previsto tanto no
mente ocupado; art. 351 do Código Penal como no art. 178 do Código Penal
b) em qualquer lugar, se comprometem ou podem Militar. Com esses dados podemos afirmar: os denunciados
comprometer a preparação, a eficiência ou as opera- deverão ser julgados pelo Juiz de Direito da Comarca de
ções militares ou, de qualquer outra forma, atentam Coelho Neto, onde o crime ocorreu, pois mesmo sendo
contra a segurança externa do País ou podem expô‑la praticado por militares, trata‑se de crime comum contra a
a perigo; administração da justiça.32
IV – os crimes definidos na lei penal comum ou es- Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar
pecial, embora não previstos neste Código, quando delito decorrente de acidente de trânsito envolvendo viatu-
praticados em zona de efetivas operações militares ra de polícia militar, salvo se autor e vítima forem policiais
ou em território estrangeiro, militarmente ocupado. militares em situação de atividade (Súmula nº 6/STJ). 33
De acordo com o entendimento predominante na juris‑
Dessa forma, a  prática de homicídio culposo, roubo, dição federal superior, compete à Justiça Comum julgar o
latrocínio e dos demais crimes praticados por militar em crime de abuso de autoridade praticado por militar, ainda
serviço ou em razões de suas funções, será julgada pela que em serviço.34 Com efeito, se o crime não é militar, não
Justiça Militar, ressalvada a prática de crime doloso contra há que se falar em competência da Justiça Militar. É o que
a vida de civil. determina a Súmula nº 172 do STJ. Não compete à Justiça
Militar julgar o crime de abuso de autoridade cometido por
Assim, a prática de lesões corporais por militar em serviço
policial militar em serviço.35
contra civil é julgada pela Justiça Militar, eis que há previsão
Se houver prática conjunta de crime sujeito à jurisdição
no art. 209 do Código Penal Militar.
militar e de crime sujeito à Justiça Comum, haverá separa-
Competia à Justiça Militar processar e julgar crime
ção dos processos. A conexão e a continência importarão
cometido por militar contra civil, com emprego de arma
unidade de processo e julgamento, salvo no concurso entre
pertencente à corporação, mesmo não estando em serviço
a jurisdição comum e a militar.36
Noções de Direito Processual Penal

(Súmula nº 47/STJ). Esta súmula tinha aplicação em face da


Nesse sentido, compete à Justiça Estadual Militar pro-
alínea f do inciso II do art. 9º do Código Penal Militar, que
cessar e julgar o policial militar pela prática do crime militar,
considerava militar o crime praticado e à Comum pela prática do crime comum simultâneo àquele
(Súmula nº 90/STJ).
por militar em situação de atividade ou assemelhado A título de exemplo, o policial militar Marcelo, ao abor-
que, embora não estando em serviço, use armamento dar José, desferiu‑lhe vários socos e chutes, jogando‑o, em
de propriedade militar ou qualquer material bélico,
sob guarda, fiscalização ou administração militar, para 31
Assunto cobrado na prova da OAB‑GO/2º Exame de Ordem/2003.
a prática de ato ilegal. 32
Assunto cobrado na prova do TJ‑MA/Juiz/2003.
33
Promotor‑RN/2004.
Este era o fundamento da referida súmula, conforme se 34
Assunto cobrado na prova do Cespe/PC-RN/Delegado de Polícia Civil Substi-
tuto/2009.
infere da leitura da seguinte ementa: 35
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/AGU/Procurador Federal de 2ª
Categoria/2004 e OAB‑DF/3º Exame de Ordem/2003.
CRIMINAL. POLICIAL MILITAR. ASSALTO. USO DE 36
Assunto cobrado nas seguintes provas: CPC/Polícia Civil do Estado do Paraná/
Delegado de Polícia Civil/2007; NCE/Delegado da Polícia Civil de 3ª Classe
ARMA PERTENCENTE A CORPORAÇÃO. PROCES- do RJ/2002; OAB‑PR/Exame 02/2006; OAB‑PR/1º Exame de Ordem/2005 e
SO‑CRIME. COMPETÊNCIA. SÚMULA Nº 47/STJ, Cespe/OAB‑SP/136º Exame da Ordem/2008.

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seguida, no compartimento traseiro de uma viatura policial. gurança externa do Estado, a caracterizarem, ambas
Após circular com o veículo por aproximadamente vinte as hipóteses, a excludente de concessão de extradi-
minutos, Marcelo libertou José, não sem antes lembrar‑lhe ção. (STF, Ext. 700-QO, Rel. Min. Octavio Gallotti, DJ
que sabia onde morava e seu nome. Saliente‑se que não 5/11/1999)
havia nenhum motivo para as agressões, tampouco para o
tolhimento da liberdade de José. Nessa situação hipotética • Crimes praticados em desfavor de bens, serviços ou
e de acordo com o CPP, a competência para julgamento de interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou
Marcelo é da Justiça Militar estadual para o crime de lesão empresas públicas, excluídas as contravenções penais e
corporal, e da Justiça Estadual para o crime de abuso de ressalvada a competência da Justiça Militar e da Justiça
autoridade.37 Eleitoral39 (art. 109, IV, da CF/1988)
A justiça militar estadual só julga réus militares. Por isso, O referido dispositivo pode ser assim desmembrado:
o civil que praticar um crime contra as instituições militares – Entidades tidas como vítimas
estaduais será processado na justiça comum estadual, não Os crimes que atentam contra bens, recursos, servidores
na justiça militar.38 da Presidência da República, dos Ministérios ou seus órgãos
A Justiça Militar Estadual não julga civil, ainda que este e Autarquias serão julgados pela Justiça Federal.
pratique crimes militares contra as instituições militares ou O mesmo se aplica em relação às empresas públicas
seus agentes. Com efeito, compete à Justiça Comum Estadual federais. Na hipótese de restar configurada a prática de
processar e julgar civil acusado de prática de crime contra delito em detrimento de bem de empresa pública federal,
instituições militares estaduais (Súmula nº 53/STJ). compete à Justiça Federal o processo e julgamento da res‑
As disposições acima tratam apenas da competência pectiva ação penal.40
envolvendo a Justiça Militar Estadual. É da jurisprudência do STF que, em regra, os  crimes
Mirabete (2005, p. 208) destaca: praticados em detrimento da Caixa Econômica Federal, por
ser esta empresa pública federal, devem ser processados
Quanto à Justiça Militar Federal, a situação é diversa. e julgados pela Justiça Federal  – CF, art.  109, IV (STF, HC
Dispondo a Constituição Federal que compete a ela nº 68.895, Celso de Mello, Primeira Turma, DJ 21/2/1992;
‘processar e julgar os crimes militares definidos em 71.027, Ilmar Galvão, Primeira Turma, DJ 9/9/1994; 70.541,
lei’ (art. 124, caput), não se referindo ao agente, Sydney Sanches, Primeira Turma, DJ 18/3/1994), regra ge-
adotou um critério exclusivamente objetivo na atri- ral da qual o presente caso não constitui exceção. (STF, RE
buição dessa competência, ao contrário da anterior, nº 332.597, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, DJ 11/2/2004)
que se referia apenas a ‘militares e assemelhados’. Dessa forma,
Assim, por força do artigo 82, do CPPM, parágrafo
único, estende‑se a competência da Justiça Militar Em face de a Caixa Econômica Federal – CEF haver
aos militares da reserva, aos reformados e aos civis, suportado os ônus decorrentes da emissão de che-
quando autores de crimes contra as instituições que sem suficiente provisão de fundos, o estelionato
militares, como tais definidos em lei. subsume‑se à moldura do § 3º, do art. 171, do CP
e não naquela descrita no caput do dispositivo,
Com efeito, o  art.  124 da CF/1988 estabelece apenas porquanto, mais do que instituição financeira, a CEF
que à Justiça Militar Federal compete processar e julgar os qualifica‑se como entidade de economia popular.
crimes militares definidos em lei. Não há a ressalva da prática (STJ, REsp nº 175.419/PR, Min. Fernando Gonçalves,
de crimes dolosos praticados por militar das forças armadas Sexta Turma, DJ 1/3/1999)
contra a vida de civil e nem mesmo a exigência de que o crime
seja praticado apenas por militar, podendo, assim, um civil Entretanto,
ser julgado pela Justiça Militar Federal.
tendo a agência da Caixa Econômica Federal devol-
Justiça Federal vido os cheques sem fundo, não sofrendo, portanto,
A Justiça Federal tem competência para julgar os delitos qualquer prejuízo, não há crime de competência da
definidos no art. 109 da CF/1988). Justiça Federal. (STJ, CC nº  4.466/MG, Min. Edson
São eles: Vidigal, Terceira Seção, DJ 31/5/1993)
• Crimes políticos (art. 109, IV, da CF/1988)
Os crimes políticos estão previstos na Lei de Segurança Considere a seguinte situação hipotética. Ismael, servi-
Nacional (Lei nº 7.170/1983). Nos termos do art. 1º da dor efetivo da ECT, foi abordado, durante o exercício de suas
referida lei, são crimes que atentam contra a integridade funções, por dois meliantes, que lhe subtraíram, mediante
territorial e a soberania nacional, o regime representativo violência, um malote contendo cartões de crédito e taloná-
Noções de Direito Processual Penal

e democrático, a Federação e o Estado de Direito e contra a rios de cheques, emitidos por empresa financeira privada
pessoa dos chefes dos Poderes da União. e destinados a vários clientes. Nessa situação, como houve
O art. 5º, LII, da CF/1988, determina que não será con- ofensa específica e direta a bem da ECT, a competência para
cedida extradição de estrangeiro por crime político ou de processar e julgar o delito será da justiça federal.41
opinião. A Justiça Federal não tem competência para julgar socie-
Jurisprudência do STF: dades de economia mista. Não há qualquer referência no
referido dispositivo sobre a competência da Justiça Fe­deral
Extraditando acusado de transmitir ao Iraque segredo para processar e julgar crimes cometidos em detrimento
de estado do Governo requerente (República Federal a bens, serviços ou interesses de sociedades de economia
da Alemanha), utilizável em projeto de desenvolvi- mista, o que faz com que caiba à Justiça Comum Estadual o
mento de armamento nuclear. Crime político puro, julgamento de crimes que afetem seus interesses.
cujo conceito compreende não só o cometido contra
a segurança interna, como o praticado contra a se- 39
OAB‑PR/Exame 01/2006.
40
Cespe/TRF 5ª Região/Juiz Federal Substituto/2006.

37
Cespe/TJ‑PE/Oficial de Justiça da 3ª Entrância/2001. 41
Assunto cobrado na prova do Cespe/TRF 1ª Região/ Juiz Federal Substituto /

38
Cespe/PC-RN/Delegado de Polícia Civil Substituto/2009. Questão 23/Assertiva E/2009.

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Nesse sentido, estabelecem as Súmulas nºs 556 do STF: Segundo o STJ,
“É competente a Justiça Comum para julgar as causas em
que é parte sociedade de economia mista”42; e 42 do STJ: na esfera penal, somente se verifica a competência
da Justiça Federal caso tenha havido ofensa direta e
Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar efetiva a bens, serviços ou interesse da União ou de
as causas cíveis em que é parte sociedade de econo- suas entidades autárquicas ou empresas públicas.
mia mista e os crimes praticados em seu detrimento. Apesar de a comercialização de combustível estar
sujeita a fiscalização federal, basicamente de res-
A título de exemplo: Adão e Bento, previamente ajus‑ ponsabilidade da ANP, a colocação desse produto
tados e com unidade de desígnios, adentraram em uma adulterado no mercado, em desconformidade com
agência de uma sociedade de economia mista e, mediante as normas vigentes, tem como agentes passivos, em
graves ameaças exercidas com o emprego de revólveres tese, a ordem econômica e as relações de consumo.
municiados, subtraíram do interior do cofre a importância Não tendo as Leis nºs 8.137/1990 e 8.176/1991
de 100 mil reais. Nessa situação, de acordo com a orienta‑ disposto expressamente sobre a competência da
ção do STJ, será competente a Justiça Comum Estadual para Justiça Federal para o processo e o julgamento
processar e julgar o crime de roubo qualificado.43 dos crimes nelas previstos, nos termos do inciso
Sendo o Banco do Brasil uma sociedade de economia VI do art. 109 da CF, não há que se falar na incom-
mista, competirá à Justiça Comum Estadual processar e julgar petência do Juízo singular estadual para conduzir
os crimes em que figura como vítima. É o que estabelece o feito instaurado contra os pacientes. (STJ; HC nº
a Súmula nº 508 do STF: “Compete à Justiça Estadual, em 38.580 / SP; Ministro GILSON DIPP; Quinta Turma;
ambas as instâncias, processar e julgar as causas em que for DJ 29/8/2005)46
parte o Banco do Brasil S.A”.
Como exemplo: um indivíduo adentrou uma agência – Contravenções
do Banco do Brasil S. A. e subtraiu, do seu interior, vários Na vigência da atual Constituição, compete à Justiça
Estadual Comum o processo por contravenção penal pra-
computadores, impressoras e mobiliários. Nessa situação,
ticada em detrimento de bens, serviços ou interesses da
competirá à Justiça Comum Estadual processar e julgar o
União ou de suas entidades.47
crime de furto.44 Uma hipótese de crime em que a com-
Nos termos da Súmula nº 38 do STJ,
petência não é da Justiça Federal é a do crime de lavagem
de dinheiro conexo com roubo de bens pertencentes ao
Compete à Justiça Estadual Comum, na vigência
Banco do Brasil.45 da Constituição de 1988, o  processo por contra-
Compete à Justiça Federal julgar crimes que atentem con- venção penal, ainda que praticada em detrimento
tra as Fundações Federais. As fundações são constituídas pela de bens, serviços ou interesse da União ou de suas
personificação de patrimônio da União, além de constituírem entidades.48
modalidade de autarquias. Nesse sentido, o STF destaca:
– Crimes de interesse federal:
A Fundação Nacional do Índio – Funai constitui pes- Crimes relativos a entorpecentes
soa jurídica de direito público interno. Trata‑se de A Súmula nº 522 do STF estabelece que
fundação de direito público que se qualifica como
entidade governamental dotada de capacidade Salvo ocorrência de tráfico com o exterior quando,
administrativa, integrante da Administração Pública então, a competência será da Justiça Federal, com-
descentralizada da União, subsumindo‑se, no plano pete à justiça dos Estados o processo e o julgamento
de sua organização institucional, ao conceito de dos crimes relativos a entorpecentes.
típica autarquia fundacional, como tem sido rei-
teradamente proclamado pela jurisprudência do O art. 70 da Lei nº 11.343/2006 estabelece que o pro-
Supremo Tribunal Federal, inclusive para o efeito cesso e o julgamento dos crimes previstos nos arts. 33 a 37
de reconhecer, nas causas em que essa instituição da referida lei, se caracterizado ilícito transnacional, são da
intervém ou atua, a caracterização da competência competência da Justiça Federal.
jurisdicional da Justiça Federal (RTJ 126/103  – RTJ
127/426 – RTJ 134/88 – RTJ 136/92 – RTJ 139/131). Não caracterizada a transnacionalidade do crime de
Tratando‑se de entidade autárquica instituída pela tráfico de entorpecente, não há o que se falar em
União Federal, torna‑se evidente que, nas causas competência da Justiça Federal, nos termos do art. 70
contra ela instauradas, incide, de maneira plena,
Noções de Direito Processual Penal

da Lei nº 11.343/2006. (STJ, CC nº 94.398/AM, Min.


a regra constitucional de competência da Justiça Fe- Jorge Mussi, terceira Seção, DJe 17/11/2008)
deral inscrita no art. 109, I, da Carta Política. (STF, RE
nº 183.188, Rel. Min. Celso de Mello, DJ 14/2/1997) Nesse sentido:

Quanto ao Sesi, por não ser pessoa jurídica incluída no PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO
rol do art. 109 da Constituição, mas sim entidade de direito DE RECURSO ORDINÁRIO. ART. 33, CAPUT, DA LEI Nº
privado que recebe e aplica contribuições parafiscais, os cri- 11.343/2006. TRÁFICO ILÍCITO DE ENTORPECENTES.
mes do qual o Sesi for vítima não serão julgados pela Justiça INEXISTÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DA TRANSNA-
Federal. Nesse sentido, a Súmula nº 516 do STF destaca: “O CIONALIDADE DA CONDUTA. COMPETÊNCIA DA
Serviço Social da Indústria (Sesi) está sujeito à jurisdição da
Justiça Estadual”.
46
Assunto cobrado na prova do Cespe/TRF 1ª Região/ Juiz Federal Substituto /
Questão 23/Assertiva A/2009.

47
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/Defensoria Pública da União/
42
Cespe/ TRF 2ª Região/Juiz Substituto/Questão 22/Assertiva E/2009. Defensor Público da União de 2ª Categoria/2001 e TRF 1ª Região/XI Concurso/
43
Cespe/AGU/Advogado da União/2004. Juiz Federal Substituto.
44
Cespe/Delegado da Polícia Civil de Roraima/2003.
48
Assunto cobrado na prova do Cespe/ TRF 2ª Região/Juiz Substituto/Questão
45
OAB‑SP/125º Exame de Ordem/2005. 22/Assertiva C/2009.

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JUSTIÇA ESTA­DUAL. PRECEDENTES DESTA CORTE. pete à Justiça Federal processar e julgar prefeito municipal
I – 1. A competência para processar e julgar crimes por desvio de verba sujeita a prestação de contas perante
de tráfico ilícito de entorpecentes é, em regra, da órgão federal (Súmula nº 208/STJ).
Justiça Estadual; tratando‑se, no entanto, de crime Dessa forma, compete à Justiça Federal processar e
internacional, isto é, à  distância, que possui base julgar crimes de desvio de verbas oriundas de órgãos fe-
em mais de um país, passa a ser da competência da derais, sujeitas ao controle do TCU e não incorporadas ao
Justiça Federal. 2. Sendo apenas a provável origem patrimônio do município.51
estrangeira da droga, não se tem o crime necessa-
riamente como transnacional, reclamando, para Falsidade de documentos federais
tanto, prova contundente da internacionalidade da
conduta, de sorte a atrair a competência da Justiça Falsidade material
Federal. 3. Não restando comprovada, de forma ca- Compete à Justiça Comum Federal processar e julgar ação
tegórica, que a droga tenha procedência da Bolívia, penal relativa a crime de falsificação e uso de documento
não há como afirmar a internacionalidade do tráfico falso, quando a falsificação incide sobre documentos fe-
de entorpecentes, sobressaindo, por conseguinte, derais. Isto se a falsidade for material, ou seja, do próprio
a competência da Justiça Estadual para conhecer do documento em seu aspecto físico.
feito. (CC 86.021/SP, 3ª Seção, Rel. Min. Napoleão Compete à Justiça Federal processar e julgar a falsificação
Nunes Maia Filho, DJu de 3/9/2007) II – Na hipótese, de carteira funcional da OAB, bem como de título de eleitor.
não há dados suficientes que permitam concluir com Entre os documentos federais, podem também ser cita-
segurança pela transnacionalidade do crime apurado dos os passaportes, carteiras de trabalhos e CPFs. Segundo
na ação penal em destaque. De fato, a paciente, jun- o STJ,
tamente com a corré, foi presa em flagrante trazendo
consigo substância entorpecente no interior de um O documento de CPF é expedido pela Secretaria da
ônibus que fazia o transporte intermunicipal (Brasi- Receita Federal, órgão do Ministério da Fazenda,
leia/AC – Rio Branco/AC). Além disso, as afirmações
pertencente à estrutura da União Federal, confi-
da paciente de que a droga foi adquirida na Bolívia
gurando‑se, pois, a hipótese prevista no art. 109,
não são confirmadas pela corré, o  que serve para
inciso IV, da Constituição Federal de 1988, a atrair
demonstrar o quadro nebuloso apresentado nos
a competência da Justiça Federal para o julgamento
autos. Habeas corpus denegado. (STJ, HC nº 102.829/
do processo (STJ, HC nº 44.701/SP, Rel. Min. Gilson
AC, Min. Felix Fischer, Quinta Turma, DJe 17/11/2008)
Dipp, Quinta Turma, DJ 19/12/2005).
Concluindo,
Entretanto, há entendimento mais atual da referida
A competência para processar e julgar crimes de Quinta Turma do STJ, no sentido de competir à Justiça Esta-
tráfico ilícito de entorpecentes é, em regra, da Justiça dual processar e julgar crime de falsificação de CPF, quando
Estadual. Tratando‑se, no entanto, de crime interna- ausente qualquer ofensa a interesses, bens ou serviços da
cional, isto é, à distância, que possui base em mais União, suas autarquias ou empresas públicas, nos termos
de um país, passa a ser da competência da Justiça do art. 109, inciso IV, da Constituição Federal, sendo que
Federal. (STJ, CC nº 86.021/SP, Min. Napoleão Nunes
Maia Filho, Terceira Seção, DJ 3/9/2007) O simples fato do órgão expedidor do documen­to
falsificado (CPF) ser federal não atrai a competência
Na hipótese de tráfico interestadual de substâncias entor- para referida esfera, notadamente se aludido re-
pecentes, a atribuição é da Justiça Estadual, embora a Polícia gistro foi utilizado na abertura de conta em Bancos
Federal possa realizar as atividades de investigação preliminar privados, não havendo prejuízo à União (STJ, REsp
ao processo penal, nos termos do art. 1º da Lei nº 10.446/2002. nº 993.153/MG, Rel. Min. Jorge Mussi, Quinta Turma,
Quando ocorrido o crime de tráfico internacional de entor- DJe 15/9/2008).
pecente em local que não era sede de vara da Justiça Federal,
excepcionalmente, o juízo estadual era competente para pro- Falsidade ideológica
cessar e julgar o feito.49 Entretanto, a nova Lei de Tóxicos (Lei Se a falsidade for apenas ideológica, ou seja, com a inser-
nº 11.343/2006) determina no parágrafo único do art. 70 que ção de dados falsos em documento verdadeiro, ainda assim,
só será competente a Justiça Federal se houver prejuízo à
Os crimes praticados nos Municípios que não sejam instituição federal em face da utilização do documento.
sede de vara federal serão processados e julgados na O STJ entende que “empregada a falsidade como meio
Noções de Direito Processual Penal

vara federal da circunscrição respectiva. de prova perante a Justiça do Trabalho, o interesse supos-
tamente violado escapa da simples esfera individual dos
Desvio de verbas federais praticado por prefeitos litigantes na ação trabalhista. Havendo clara intenção do
Compete à Justiça Estadual processar e julgar prefeito indiciado em induzir em erro a Justiça do Trabalho, é de se
por desvio de verba transferida e incorporada ao patrimônio reconhecer a ofensa a interesse da União e a consequente
municipal (Súmula nº 209/STJ). Se a verba ainda não houver competência da Justiça Federal. Aplicação, por analogia,
sido transferida e incorporada ou se ainda estiver sujeita da Súmula nº 165/STJ: Compete à Justiça Federal processar
a prestação de contas para o Tribunal de Contas da União, e julgar crime de falso testemunho cometido no processo
a competência será da Justiça Federal50. Com efeito, com- trabalhista. (STJ; CC 85803 / SP; Ministro NAPOLEÃO NUNES
MAIA FILHO; Terceira Seção; DJ 27/8/2007)52

49
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/TRF 5ª Região/Juiz Federal
Substituto/2006; Cespe/Defensoria Pública da União/Defensor Público da
União de 2ª Categoria/2001; TRF 3ª Região/XIII Concurso/Juiz Federal Substi-
tuto; TRF 1ª Região/X Concurso/Juiz Federal Substituto; Cespe/TJ‑RR/Analista
51
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/1º Exame da Ordem/2007 e
Processual/2006 e Cespe/TJ‑RR/Analista Processual/2006. OAB‑Nordeste/1º Exame de Ordem/2004.

50
Assunto cobrado na seguinte prova: MPF/MPF/Procurador da República/
52
Assunto cobrado: Cespe/TRF 1ª Região/ Juiz Federal Substituto /Questão 23/
Questão 112/Item IV/2011. Assertiva C/2009.

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Falsificação e uso de documento falso relativo a esta‑ Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade
belecimento particular de ensino como testemunha, perito, contador, tradutor ou
Nos termos da Súmula nº 104 do STJ, intérprete em processo judicial, ou administrativo,
inquérito policial, ou em juízo arbitral.
Compete à Justiça Estadual o processo e julgamento
dos crimes de falsificação e uso de documento falso O delito mencionado, quando cometido em juízo tra-
relativo a estabelecimento particular de ensino. balhista, constitui atentado à administração da Justiça do
Trabalho, que é uma Justiça Federal especializada, atrain-
Falsa anotação na carteira de trabalho e previdência do, portanto, a competência do Juízo Federal (art. 109, IV,
social CF/1988). (STJ, Terceira Seção, CC nº  11.492/SP, Rel. Min.
Nesse sentido, o STJ entende que Edson Vidigal, j. 4/5/1995) É o que consta na Súmula nº 165,
do STJ: “Compete à Justiça Federal processar e julgar crime
de falso testemunho cometido no processo trabalhista”.
a falsificação de histórico escolar e guia de transferên-
cia de estabelecimento de ensino particular para fazer Crimes contra o meio ambiente
prova junto a outra entidade, também de ensino par- Em regra, o processo e o julgamento dos crimes ambien-
ticular, não constitui infração contra serviço da União tais não são de competência da Justiça Federal.56 Não há,
federal, cujo interesse genérico pelo fiel cumprimento no ordenamento jurídico brasileiro, dispositivo constitucio-
das leis penais não é motivo bastante para atrair a nal ou legal que atribua exclusivamente à Justiça Federal o
competência da justiça federal. (STJ, CC nº 6.672, Min. processamento e o julgamento de crimes praticados contra
Anselmo Santiago, Terceira Seção, DJ 5/12/1994) o meio ambiente. (STJ, Terceira Seção, CC nº 27.848/SP, Min.
Hamilton Carvalhido, j. 19/2/2001)
O STJ firmou, nos termos da Súmula nº 62, entendimento Por ser a proteção ao meio ambiente matéria de
no sentido de que competência comum da União, dos estados, do DF e dos
municípios, e inexistir, quanto aos crimes ambientais,
Compete à Justiça Estadual processar e julgar o dispositivo constitucional ou legal expresso sobre qual a
crime de falsa anotação na Carteira de Trabalho e justiça competente para o seu julgamento, tem‑se que o
Previdência Social, atribuído à empresa privada53. processo e o julgamento dos crimes ambientais, em regra,
são de competência da Justiça Comum Estadual.57
Não se evidenciando qualquer falsidade material da Nesse sentido: agentes do IBAMA abordaram um ca‑
própria CTPS, mas apenas seu preenchimento com dados minhão que transportava toras de madeira das espécies
falsos que apenas mascaram as relações empregatícias, jacarandá e sucupira, retiradas em propriedade particular,
a  competência para julgar o delito é da Justiça Comum sem cobertura de autorização para transporte de produto
Estadual. Em suma, compete à Justiça Estadual processar e florestal. Nessa situação, de acordo com o entendimento
julgar sócio‑gerente de empresa privada por anotação falsa jurisprudencial dominante, caberá à Justiça Comum a
em carteira de trabalho e previdência social.54 competência para processar e julgar futura ação penal por
crime ambiental.58
Estelionato praticado mediante falsificação das guias Prevalece, assim, o entendimento de que compete à
de recolhimento das contribuições previdenciárias Justiça Comum Estadual, de regra, o  processamento e o
Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar cri- julgamento dos feitos que visem à apuração de delitos am-
me de estelionato praticado mediante falsificação das guias bientais (STJ, Terceira Seção, AgRg no CC nº 36.405/MG, Rel.
de recolhimento das contribuições previdenciárias, quando Min. Arnaldo Esteves Lima, j. 24/8/2005). A competência só
não ocorrente lesão a autarquia federal (Súmula nº 107/STJ). será da Justiça Federal se restar materializada lesão a bens,
serviços ou interesses da União, ou de suas autarquias ou
empresas públicas, nos termos do art. 109, IV, da CF/1988.
Uso de passaporte falso
Nesse sentido, o STF entende que
O Juízo Federal competente para processar e julgar
acusado de crime de uso de passaporte falso é o do lugar Comprovado que a gleba pertence ao patrimônio
onde o delito se consumou (Súmula nº 200/STJ). da União, incide a regra prevista no art. 109, IV, da
Constituição Federal, sendo competência da Justiça
Delito de moeda falsa Federal julgar e processar a ação penal proposta para
A Súmula nº 73 do STJ dispõe que apurar parcelamento irregular de terras (STF, RHC
nº  86.081/RO, Rel. Min. Gilmar Mendes, Segunda
A utilização de papel‑moeda grosseiramente falsifi- Turma, Julgamento: 25/10/2005).
Noções de Direito Processual Penal

cado configura, em tese, o crime de estelionato, da


competência da Justiça Estadual. Assim, compete à Justiça Federal processar e julgar os
crimes contra o meio ambiente caso haja lesão a bens,
Crime de falso testemunho prestado na justiça do serviços ou interesses da União59. Uma vez comprovado
trabalho que a gleba pertence ao patrimônio da União, incide a regra
Compete à Justiça Federal julgar crime de falso teste- prevista no art. 109, IV, da Constituição Federal, sendo com-
munho prestado na justiça do trabalho.55 petência da Justiça Federal julgar e processar a ação penal
As infrações penais praticadas em detrimento de bens, proposta para apurar parcelamento irregular de terras. (STF,
serviços ou interesse da Justiça do Trabalho deverão ser RHC nº 86.081, Rel. Min. Gilmar Mendes, DJ 18/11/2005)
processadas e julgadas pela Justiça Federal. Isto se dá tam-
bém com relação ao delito de falso testemunho previsto no
56
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/TRF 5ª Região/Juiz Federal
art. 342 do CP: Substituto/2006; Cespe/Delegado da Polícia Civil de Roraima/2003 e Cespe/3º
Exame da Ordem/2006.

53
Assunto cobrado nas seguintes provas: TRF 4ª Região/Juiz Federal Substitu-
57
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/1º Exame da Ordem/2007 e
to/2005 e Cespe/Delegado da Polícia Civil de Roraima/2003. Cespe/3º Exame da Ordem/2006.

54
Cespe/Delegado da Polícia Civil de Roraima/2003.
58
Cespe/PGE‑ES/Procurador de Estado/2008.

55
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/Delegado da Polícia Civil de
59
Assertiva elaborada a partir de proposição falsa constante da prova do Cespe/
Roraima/2003 e OAB‑Nordeste/1º Exame de Ordem/2004. Delegado da Polícia Civil de Roraima/2003.

74 Este eBook foi adquirido por ANA PAULA TORQUATO DA COSTA - CPF: 628.848.913-15.
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O interesse da União na proteção ao meio ambiente é A Súmula nº 147 do STJ estabelece que
indireto e genérico, o que, por si só, não é suficiente para
atrair a competência da Justiça Federal. (STF, Primeira Turma, Compete à Justiça Federal processar e julgar os
RE nº 349.196/TO, Rel. Min. Moreira Alves, j. 17/9/2002).60 crimes praticados contra servidor público federal,
No crime contra a fauna silvestre praticado em terra no exercício de suas funções.68
pertencente à União, a competência será da Justiça Fe­
deral pelo fato de o crime ter sido praticado em terra do Por sua vez, a Súmula nº 254 do extinto TFR destacava
domínio da União.61 competir
O mesmo se aplica aos crimes contra a fauna. Havia a
Súmula nº 91 do STJ, que estabelecia que “compete à Jus- à Justiça Federal processar e julgar os delitos pratica-
dos por funcionário público federal, no exercício de
tiça Federal processar e julgar os crimes praticados contra
suas funções e com estas relacionados.
a fauna”. Entretanto, na sessão de 8/11/2000, a Terceira
Seção do STJ deliberou pelo cancelamento da referida sú- É necessário que haja relação direta entre a prática do
mula. Assim, compete à Justiça Federal processar e julgar delito e as funções exercidas pelo funcionário público federal,
os crimes contra a fauna, caso haja lesão a bens, serviços a fim de atrair a competência da Justiça Federal. Se o crime
ou interesses da União. for praticado contra ou pelo servidor público federal, sem
Assim, os crimes contra a fauna, em regra, são de com- que as circunstâncias indiquem que a conduta delitiva se
petência da Justiça Estadual.62 dera em razão do serviço público, a competência será da
Segundo o STJ, “uma vez que o crime tenha ocorrido em Justiça Comum Estadual, visto que o simples fato de o autor
área sujeita à restrição administrativa ao uso da propriedade ou a vítima ser servidor público federal não é suficiente para
privada, subsiste assim o interesse direto e específico da União atrair a competência da Justiça Federal.
na causa, a atrair a competência da Justiça Federal para o des- Vejamos a jurisprudência do STF sobre o tema:
linde do feito. Patente o interesse do Ibama na preservação
da área atingida, mormente a informação trazida aos autos A circunstância de o paciente, simples motorista da
de que a autarquia federal foi a responsável pela concessão Polícia Federal, utilizar‑se de apetrechos subtraídos
da licença para as ações ali desenvolvidas, posteriormente da instituição, para a prática do crime de extorsão
revogada por ter sido reconhecida ilegal”. (STJ; CC 80.905 / mediante sequestro, não atrai a competência da
RJ; Ministro OG FERNANDES; Terceira Seção; DJe 24/6/2009)63 Justiça Federal, porquanto não há ofensa a bens,
Ademais, a competência para processar e julgar conduta serviços ou interesse da União. Situação diversa é a
delituosa de liberação no meio ambiente de OGM, tal como que respeita ao delito de peculato, pelo qual, aliás,
sementes de soja transgênica, é da justiça federal, possuin- o paciente foi condenado. (STF, HC nº 87.376, Rel.
do a justiça estadual uma competência apenas residual.64 Min. Eros Grau, DJ 24/3/2006)
Contrabando e descaminho
Como exemplo: um industrial, inconformado com o auto
A competência para o processo e julgamento por crime
de infração lavrado por fiscal da Receita Federal, agrediu‑o fisi-
de contrabando ou descaminho define‑se pela prevenção
camente com socos e pontapés, causando‑lhe lesões corporais
do Juízo Federal do lugar da apreensão dos bens – Súmula
de natureza grave. Nessa situação, competirá à Justiça Federal
nº 151 do STJ.65
processar e julgar o industrial pelo crime de lesão corporal.69
Entretanto, não compete à Justiça Federal processar e
Em caso de crime doloso contra a vida que tenha como
julgar o crime de porte ilegal de arma de fogo de proce-
vítima funcionário público federal, é competente o Tribunal
dência estrangeira.66 Com efeito, não se caracterizando o
do Júri, presidido por um Juiz Federal.
contrabando, não se atrai a competência da Justiça Federal.
Em caso de prática de crime que tenha pena máxima
Para o STJ,
não superior a dois anos, é competente para o julgamento
a conduta de comercializar CD’s falsificados caracte- o Juizado Especial Criminal, instituído no âmbito da Justiça
riza apenas o delito de violação de direito autoral, Federal (Lei nº 10.259/2001).
em atenção ao princípio da especialidade. Não
havendo indícios da introdução ilegal no país de Crimes praticados em faixa de fronteira
outras mercadorias, afastada está a competência O STJ entende que compete à Justiça Comum Esta­dual
da Justiça Federal para o exame do feito. A mera processar e julgar ilícito praticado em área de fronteira
confissão do acusado quanto a origem estrangeira quando não ocorre prejuízo a bens, serviços ou interesses
da mercadoria é insuficiente para a configuração da União. (STJ, CC nº  10.913/PR, Min. Anselmo Santiago,
Terceira Seção, DJ 5/8/1996)
Noções de Direito Processual Penal

dos delitos previstos no art. 334, caput e alíneas,


do Código Penal. (STJ; CC nº 48.178 / SP; Ministro
OG FERNANDES; Terceira Seção; DJe 24/4/2009)67 • Crimes previstos em tratado ou convenção internacio-
nal, quando, ini­ciada a execução no País, o resultado tenha
Crimes praticados por ou contra funcionário público ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente
federal no exercício de suas funções ou em razão dela (art. 109, V, da CF/1988)
Compete à Justiça Comum Federal processar e julgar o
60
TRF 1ª Região/Juiz Federal Substituto/2004. delito imputado a agente que fotografou, filmou e publicou,
61
TRF 1ª Região/Juiz Federal Substituto/2004. na rede internacional, imagens de menor retratando a prática
62
Assunto cobrado na prova do MPE-PR/Promotor de Justiça Substituto/Questão de atos libidinosos, inclusive sexo explícito. Assim, considere
62/Item II/2011.
63
Assunto cobrado na prova do Cespe/TRF 1ª Região/ Juiz Federal Substituto / que Diego, residente em Fortaleza, tenha divulgado, pela
Questão 25/Assertiva A/2009. Internet, fotografias pornográficas de cenas de sexo explí‑
64
Assunto cobrado na prova do Cespe/TRF 5ªRegião/Juiz Federal Substituto/
Questão 23/Assertiva B/2011.
68
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/TJ-PB/Juiz Substituto/Questão
65
TRF 4ª Região/Juiz Federal Substituto/2005. 55/Assertiva C/2011; Cespe/TRF 5ª Região/Juiz Federal Substituto/Questão
66
Assunto cobrado na prova do Cespe/Delegado da Polícia Federal/2002. 26/Assertiva B/2011; OAB‑MG/2º Exame de Ordem/2004 e OAB‑SP/126º
67
Assunto cobrado na prova do Cespe/TRF 1ª Região/ Juiz Federal Substituto / Exame de Ordem/2005.
Questão 24/Assertiva E/2009.
69
Cespe/Delegado da Polícia Civil de Roraima/2003.

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cito envolvendo crianças e adolescente, tendo o acesso ao inércia das autoridades estaduais, conforme se percebe em
endereço eletrônico se dado além das fronteiras nacionais. precedente do STJ:
Nessa situação, compete à Justiça Federal processar e julgar
o crime praticado por Diego.70 CONSTITUCIONAL. PENAL E PROCESSUAL PENAL.
O delito de vender ou expor à venda, pela rede mundial HOMICÍDIO DOLOSO QUALIFICADO. (VÍTIMA IRMÃ
de computadores, fotografia com cena de sexo explícito ou DOROTHY STANG). CRIME PRATICADO COM GRAVE
pornografia envolvendo criança ou adolescente ocorre no VIOLAÇÃO AOS DIREITOS HUMANOS. INCIDENTE DE
momento da publicação da imagem, ou seja, no lançamento DESLOCAMENTO DE COMPETÊNCIA – IDC. INÉPCIA
da fotografia na Internet. Por isso, segundo o STJ, o local em DA PEÇA INAUGURAL. NORMA CONSTITUCIONAL
que se encontre sediado o provedor de acesso ao ambiente DE EFICÁCIA CONTIDA. PRELIMINARES REJEITADAS.
virtual não é relevante para a fixação da competência.71 VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DO JUIZ NATURAL E À AU-
O tráfico internacional de mulheres (“escravas brancas”) TONOMIA DA UNIDADE DA FEDERAÇÃO. APLICAÇÃO
é da competência da Justiça Federal.72 DO PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE. RISCO DE
Vejamos a Jurisprudência do STF: DESCUMPRIMENTO DE TRATADO INTERNACIONAL
FIRMADO PELO BRASIL SOBRE A MATÉRIA NÃO CON-
A Turma, por maioria, indeferiu habeas corpus impe- FIGURADO NA HIPÓTESE. INDEFERIMENTO DO PEDI-
trado em favor de condenado pela prática dos crimes DO. 1. Todo homicídio doloso, independentemente
previstos no art. 241 do Estatuto da Criança e do da condição pessoal da vítima e/ou da repercussão do
Adolescente – ECA e no art. 218 do CP, consistente fato no cenário nacional ou internacional, representa
na publicação de fotos de conteúdo pornográfico e grave violação ao maior e mais importante de todos
de sexo explícito envolvendo crianças e adolescentes,
os direitos do ser humano, que é o direito à vida,
em servidor de arquivos, na internet. (...) Inicialmen-
previsto no art. 4º, nº 1, da Convenção Americana
te, citou‑se o entendimento firmado pelo STF no
sentido de que o verbo ‘publicar’ deve ser entendido sobre Direitos Humanos, da qual o Brasil é signatário
como o emprego de qualquer meio hábil a viabilizar a por força do Decreto nº 678, de 6/11/1992, razão
divulgação de imagens ao público em geral e que, em por que não há falar em inépcia da peça inaugural.
se tratando de norma aberta, a consumação do ilícito 2. Dada a amplitude e a magnitude da expressão
se opera por qualquer meio tecnicamente idôneo. “direitos humanos”, é verossímil que o constituinte
Entendeu‑se que, no ambiente virtual, a consumação derivado tenha optado por não definir o rol dos
da conduta ‘publicar’, na modalidade de disponibi- crimes que passariam para a competência da Justiça
lização de imagens, como na hipótese, é imediata e Federal, sob pena de restringir os casos de incidência
ocorre no momento em que a informação pode ser do dispositivo (CF, art. 109, § 5º), afastando‑o de sua
acessada pelo receptor, o que se dá simultaneamente finalidade precípua, que é assegurar o cumprimento
à transmissão dos dados. Dessa forma, considerou‑se de obrigações decorrentes de tratados internacionais
que a competência da Justiça Federal teria se fixada firmados pelo Brasil sobre a matéria, examinando‑se
com base no fato de que a consumação do ilícito cada situação de fato, suas circunstâncias e pecu-
ocorrera além das fronteiras nacionais, visto que as liaridades detidamente, motivo pelo qual não há
imagens foram comprovadamente captadas no exte- falar em norma de eficácia limitada. Ademais, não
rior, sendo irrelevante o momento em que o crime se é próprio de texto constitucional tais definições.
exaurira. Ademais, asseverou‑se a adesão do Brasil à 3. Aparente incompatibilidade do IDC, criado pela
Convenção sobre os Direitos da Criança, adotada pela Emenda Constitucional nº  45/2004, com qualquer
Assembleia‑Geral das Nações Unidas, aprovada pelo outro princípio constitucional ou com a sistemática
Decreto Legislativo 28, de 14/9/1990. (HC nº 86.289, processual em vigor deve ser resolvida aplicando‑se
Rel. Min. Ricardo Lewandowski, Informativo nº 430) os princípios da proporcionalidade e da razoabilidade.
4. Na espécie, as autoridades estaduais encontram‑se
Embora o Brasil seja signatário de tratado para reprimir empenhadas na apuração dos fatos que resultaram
a tortura, nem todo caso de tortura será julgado pela Justiça na morte da missionária norte‑americana Dorothy
Federal.
Stang, com o objetivo de punir os responsáveis, re-
fletindo a intenção de o Estado do Pará dar resposta
– Federalização dos crimes violadores dos direitos
eficiente à violação do maior e mais importante dos
humanos
Nos termos do § 5º do art. 109 da CF/1988, direitos humanos, o que afasta a necessidade de des-
locamento da competência originária para a Justiça
Nas hipóteses de grave violação de direitos humanos, Federal, de forma subsidiária, sob pena, inclusive, de
Noções de Direito Processual Penal

o Procurador‑Geral da República, com a finalidade de dificultar o andamento do processo criminal e atrasar


assegurar o cumprimento de obrigações decorrentes o seu desfecho, utilizando‑se o instrumento criado
de tratados internacionais de direitos humanos dos pela aludida norma em desfavor de seu fim, que é
quais o Brasil seja parte, poderá suscitar, perante o combater a impunidade dos crimes praticados com
Superior Tribunal de Justiça, em qualquer fase do grave violação de direitos humanos. 5. O deslocamen-
inquérito ou processo, incidente de deslocamento to de competência – em que a existência de crime
de competência para a Justiça Federal. praticado com grave violação aos direitos humanos
é pressuposto de admissibilidade do pedido – deve
Na hipótese de deslocamento de competência, admite‑
-se a ratificação dos atos decisórios praticados por órgão atender ao princípio da proporcionalidade (adequa-
jurisdicional absolutamente incompetente.73 ção, necessidade e proporcionalidade em sentido
Entretanto, para que o incidente seja suscitado perante estrito), compreendido na demonstração concreta de
o STJ, o  Procurador‑Geral da República deve demonstrar risco de descumprimento de obrigações decorrentes
de tratados internacionais firmados pelo Brasil, resul-
70
Cespe/TRF 5ª Região/Juiz Federal Substituto/2007. tante da inércia, negligência, falta de vontade política
71
Cespe/TRF 1ª Região/ Juiz Federal Substituto /Questão 24/Assertiva C/2009. ou de condições reais do Estado‑membro, por suas
72
TRF 4ª Região/Juiz Federal Substituto/2005.
73
Cespe/MPE-RN/Promotor de Justiça/2009. instituições, em proceder à devida persecução penal.

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No caso, não há a cumulatividade de tais requisitos, Execução de penas oriundas da justiça federal
a justificar que se acolha o incidente. 6. Pedido in- Com relação a competência do juízo, para a execução
deferido, sem prejuízo do disposto no art. 1º, inc. III, penal das penas impostas pela Justiça Federal é correto afir-
da Lei nº 10.446, de 8/5/2002. (STJ, IDC 1/PA, Min. mar que compete ao juízo das execuções penais do estado
Arnaldo Esteves Lima, Terceira Seção, DJ 10/10/2005) a execução das penas impostas a sentenciados pela justiça
federal, quando recolhidos a estabelecimentos sujeitos a
• Crimes contra a organização do trabalho (art. 109, administração estadual.78
VI, da CF/1988)
O processo e julgamento dos crimes contra a organi- • Crimes contra o sistema financeiro e a ordem econômi-
zação do trabalho, previstos no pertinente capítulo do co‑financeira nas hipóteses legais (art. 109, VI, da CF/1988)
Código Penal, dá‑se na Justiça Federal quando for atingida Os crimes contra a ordem econômica ou contra o SFN
a categoria profissional como um todo, e na Justiça Estadual somente são julgados na justiça federal se houver previsão
quando a lesão for individual.74 expressa em lei ordinária. Para os crimes contra o SFN, a
No mesmo sentido, compete à justiça federal o julga- previsão encontra-se na Lei nº 7.492/1986; quanto aos
mento dos crimes contra a organização do trabalho, que crimes contra a ordem econômica, a Lei nº 8.137/1990
acarretem lesão a direito dos trabalhadores coletivamente não contém dispositivo que fixe a competência da justiça
considerados ou à organização geral do trabalho.75 federal, de forma que o julgamento destes compete, em
Mirabete (2005, p. 213) destaca que, regra, à justiça estadual. Porém, segundo o STJ, a norma
não afasta, de plano, a competência federal, desde que o
tratando‑se de mera lesão a direito individual de delito contra a ordem econômica tenha sido praticado em
natureza patrimonial, sem que tenha tido por objeto detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou de
a organização geral do trabalho, onde são atacados suas entidades autárquicas ou empresas públicas.79
direitos dos trabalhadores considerados como um No que se refere aos crimes contra o sistema financeiro,
todo, a competência é da Justiça Comum. a Lei nº 7.492/1986 é expressa em afirmar, em seu art. 26,
que a ação penal será promovida pelo Ministério Público
Dessa forma, ao se tratar de ofensa endereçada a tra- Federal, perante a Justiça Federal.
balhadores individualmente considerados, a competência é Os sócios‑gerentes de empresa administradora de consór-
estadual. (STJ, RHC nº 15.755/MT, Min. Nilson naves, Sexta cios, não registrada no Banco Central, efetuaram empréstimos
Turma, DJ 22/5/2006) de dinheiro desta a outra sociedade, controlada pelos ascen-
Entretanto, se houver ofensa ao sistema composto de dentes deles, o que é vedado pelo art. 17 da Lei nº 7.492/1986.
órgãos, instituições ou mesmo que afete grande quantidade A competência para a ação penal é federal, porque a referida
de trabalhadores, a  competência será da Justiça Federal. lei assim determina, em se tratando de crime contra o sistema
A título de exemplo, financeiro nacional, que é irrelevante que não tenha havido
prejuízo concreto a bens, interesses ou serviços da União.80
o número de cento e oitenta pessoas reduzidas a É competente a Justiça Federal para o processo e
condição análoga à de escravo é suficiente à caracteri- julgamento de delito financeiro praticado no âmbito de
zação do delito contra a organização do trabalho, cujo instituição previdenciária privada, porque equiparada à
julgamento compete à Justiça Federal (CB, art. 109, instituição financeira.81
inc. VI). (STF, HC nº 91959/TO, Rel. Min. Eros Grau, • Crimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves, ressal-
Segunda Turma, Julgamento: 9/10/2007) vada a competência da Justiça Militar (art. 109, IX, da CF/1988)
No caso de navios, estes devem ser de grande cabotagem
Compete à Justiça Federal processar e julgar crime de que realizem viagens internacionais.
aliciamento de trabalhadores que são levados de uma É da Justiça Federal a competência para apreciar crime
unidade da Federação para outra.76 cometido a bordo de qualquer aeronave, mesmo que não
Entretanto, na hipótese de crime de redução à condição esteja em vôo; mas a competência será da Justiça Estadual
análoga à de escravo, basta lesão a um único trabalhador. se o crime ocorrer a bordo de embarcação que não seja de
Com efeito, o  Plenário do Supremo Tribunal Federal, no grande porte, e esteja aportada ou navegando.82
julgamento do RE nº 398.041 (Rel. Min. Joaquim Barbosa, O crime de roubo cometido no interior de aeronave que
sessão de 30/11/2006), fixou a competência da Justiça fe- se encontre em solo atrai a competência da justiça federal
deral para julgar os crimes de redução à condição análoga à para processá-lo e julgá-lo.83
de escravo, por entender Vejamos julgado sobre o tema:

Que quaisquer condutas que violem não só o sistema Competência da Justiça Federal: crime praticado
de órgãos e instituições que preservam, coletivamente, a bordo de navios ou aeronaves (art.  109, IX, da
Noções de Direito Processual Penal

os direitos e deveres dos trabalhadores, mas também Constituição): Precedente (HC nº 80.730, Jobim, DJ
o homem trabalhador, atingindo‑o nas esferas em que 22/3/2002). É  da jurisprudência do STF que, para
a Constituição lhe confere proteção máxima, enqua- o fim de determinação de competência, a incidên-
dram‑se na categoria dos crimes contra a organização cia do art.  109, IX, da Constituição, independe da
do trabalho, se praticadas no contexto de relações de espécie do crime cometido “a bordo de navios ou
trabalho (STF, RE nº 541.627/PA, Rel. Min. Ellen Gracie, aeronaves”, cuja persecução, só por isso, incumbe
Segunda Turma, Julgamento: 14/10/2008). por força da norma constitucional à Justiça Federal.
(HC nº 85.059/MS, Min. Sepúlveda Pertence, Primeira
Desta forma, em qualquer hipótese, a competência para Turma, STF, DJ 29/4/2005 PP-30)
o processo e julgamento do crime de redução à condição
78
Assunto cobrado na prova da Funrio/Agente Penitenciário Fe­deral/2009.
análoga à de escravo é da justiça federal.77
79
Cespe/TRF 1ª Região/ Juiz Federal Substituto /Questão 23/Assertiva B/2009.

80
Assunto cobrado na prova do TRF 4ª Região/XI Concurso/Juiz Federal Subs-

74
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑PR/Exame 01/2006 e TRF 4ª tituto.
Região/Juiz Federal Substituto/2005.
81
TRF 4ª Região/Juiz Federal Substituto/2005.

75
Assunto cobrado na prova do Cespe/TJ-PB/Juiz Substituto/Questão 55/
82
Assunto cobrado nas seguintes provas: TRF 3ª Região/XIII Concurso/Juiz
Assertiva A/2011. Federal Substituto e OAB‑PR/Exame 01/2006.

76
Cespe/TRF 5ª Região/Juiz Federal Substituto/2007.
83
Assunto cobrado na prova do Cespe/TRF 5ª Região/Juiz Federal Substituto/

77
Cespe/PC-RN/Delegado de Polícia Civil Substituto/2009. Questão 26/Assertiva E/2011.

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É ressalvada, entretanto, a competência da Justiça Mi- Já quando se trata de genocídio contra a população
litar. Assim, o  crime cometido a bordo de uma aeronave indígena ou mesmo crimes em que haja interesse direto da
pertencente à Aeronáutica não será processado e julgado população indígena, a competência será da Justiça Federal,
pela Justiça Federal.84 eis que é evidente o atentado contra a própria existência da
Em relação ao crime de tráfico transnacional de entor- população indígena, tendo o crime caráter atentatório contra
pecentes cometido em aeronaves, tem‑se firmada a compe- os direitos dos índios em geral.
tência da justiça federal: Assim, compete à Justiça Federal, de acordo com en‑
tendimento do STF, processar e julgar crimes de abuso de
EMENTA: HABEAS CORPUS. PENAL. PROCESSO PE- autoridade e de lesões corporais praticados por policiais
NAL. CONSTITUCIONAL. TRÁFICO INTERNACIONAL militares contra silvícola, no interior de reserva indígena.88
DE ENTORPECENTES. CRIME COMETIDO A BORDO Isto porque estes crimes atentam contra os serviços da União,
DE AERONAVE. CONSUMAÇÃO E COMPETÊNCIA. que devem resguardar a devida proteção ao indígena. (STF,
O tráfico internacional de entorpecentes, praticado RE nº 206.608/RR, Min. Néri da Silveira, Segunda Turma, DJ
a bordo de aeronave, é da competência da Justiça 17/09/1999)
Federal (CF, art. 109, IX). Quando a aeronave ingressa Seguindo o mesmo raciocínio: Em razão de disputas
no espaço aéreo brasileiro, incide a referida com- sobre posse de terras pertencentes à comunidade indígena,
petência. Ela não se desloca para a Justiça Estadual agricultores praticaram lesões corporais de natureza grave
em índios de determinada nação indígena. Nessa situação,
porque a apreensão foi feita no interior de aeronave.
a competência para processar e julgar as infrações penais
(HC nº 80.730/MS – Mato Grosso do Sul, Min. Nelson
será da Justiça Federal.89
Jobim, Segunda Turma, STF, DJ 14/12/2001 PP-25)
Justiça Estadual
A jurisprudência entendia, quando vigorava a Lei Em relação à Justiça Federal, a competência da Justiça
nº 6.368/1976, que a Justiça Estadual tinha competência caso Estadual é remanescente ou residual.90
não houvesse Vara da Justiça Federal no lugar onde o delito O que não for atribuído à Justiça Especial ou à Comum
foi praticado. Entretanto, o art. 70 da Lei nº  11.343/2006 Federal, ou mesmo o que não for objeto de foro por prerro-
(Nova Lei de Tóxicos) determina que os crimes praticados nos gativa de função, será de competência da Justiça Estadual,
municípios que não forem sede de vara federal serão proces- que não tem rol de crimes a serem por ela julgados na
sados e julgados na vara federal da circunscrição respectiva. Constituição. Diz‑se, portanto, que a competência da Justiça
Estadual é residual.
• Crimes de ingresso de estrangeiro ou permanência Tem‑se, nos termos da Súmula nº 192 do STJ, que
irregular de estrangeiro (CP, art. 338, e Lei nº 6.815/1980) –
(art. 109, X, CF/1988) Compete ao Juízo das Execuções Penais do Estado a
Também são de competência da Justiça Federal os crimes execução das penas impostas a sentenciados pela Jus-
de ingresso ou permanência irregular de estrangeiro. tiça Federal, Militar ou Eleitoral, quando recolhidos a
estabelecimentos sujeitos a administração estadual.
• Crimes que tenham indígena como autor ou vítima
Não compete à justiça federal o processo e o julgamento do
(art. 109, XI, CF/1988)
delito de interceptação telefônica sem autorização judicial.91
A Súmula nº 140 do STJ preceitua que “compete à Justiça
Admite-se, na forma da legislação de regência, o afasta‑
Comum Estadual processar e julgar crime em que o indí- mento de sigilo bancário por comissão de inquérito adminis‑
gena figure como autor ou vitima”. Desta forma, a Justiça trativo destinada a apurar responsabilidade de servidor pú‑
Federal não é competente para julgar crimes cometidos blico, por infração praticada no exercício de suas atribuições
por silvícolas.85 ou que tenha relação com as atribuições do cargo, mediante
Na ação penal proposta contra um índio, por ter matado prévia autorização do Poder Judiciário, independentemente
outro índio, dentro das terras da respectiva aldeia a compe‑ da existência de processo judicial em curso, constituindo a
tência é da Justiça Estadual, pois a tutela que a Constituição violação do sigilo das operações de instituições financeiras
Fe­deral (art. 231) e a lei (Lei nº 6.001/73 – arts. 7º e 8º) delito de competência da justiça federal.92
reserva à União, em relação aos indígenas, é de natureza A Súmula nº 498 do STF preceitua que
civil e não criminal.86
No mesmo sentido, na ação penal proposta contra um ín- Compete à justiça dos estados, em ambas as instân-
dio por ter matado outro índio dentro das terras da respec- cias, o processo e o julgamento dos crimes contra a
tiva aldeia, a jurisprudência sumulada do STJ, no particular, economia popular. 93
afirma que compete à Justiça Estadual processar e julgar
crime em que o indígena figure como autor ou vítima.87
Noções de Direito Processual Penal

Competência do Tribunal do Júri


O STF também entende que A competência do Tribunal do Júri é privativa e encontra
respaldo constitucional, cabendo‑lhe julgar os crimes dolosos
Os crimes cometidos por silvícolas ou contra estes, contra a vida, previstos em capítulo próprio do Código Penal.
não configurando disputa sobre direitos indígenas e Entretanto, quando os jurados concluírem que a infração
nem, tampouco, infrações praticadas em detrimento não é de sua competência, caberá ao juiz presidente julgar
de bens e interesse da União ou de suas autarquias e o processo e decidir o caso.94
empresas públicas, não se inserem na competência Já se os jurados, nas respostas aos quesitos, absolverem
privativa da Justiça Federal (CF, art. 109, inciso XI). (RE o acusado pelo crime de homicídio doloso, continuarão com
nº 263.010, Rel. Min. Ilmar Galvão, DJ 10/11/2000)
88
Cespe/TRF 5ª Região/Juiz Federal Substituto/2005.
84
Assunto cobrado na prova da OAB‑MG/1º Exame de Ordem/2005. 89
Cespe/TRF 5ª Região/Juiz Federal Substituto/2004.
85
Assunto cobrado nas seguintes provas: TRF 3ª Região/IX Concurso/Juiz Federal 90
OAB‑RJ/27º Exame de Ordem/2005.
Substituto; TRF 1ª Região/X Concurso/Juiz Federal Substituto e Cespe/1º 91
Assunto cobrado no Cespe/MPE-RN/Promotor de Justiça/2009.
Exame da Ordem/2007. 92
Cespe/TRF 1ªRegião/Juiz Federal Substituto/Questão 26/Assertiva B/2011.
86
TRF 1ª Região/X Concurso/Juiz Federal Substituto. 93
Cespe/AGU/Procurador Federal de 2ª Categoria/2007.
87
Assunto cobrado nas seguintes provas: TRF 1ª Região/X Concurso/Juiz Federal 94
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/TJ‑RR/Analista Proces­sual/2006;
Substituto; Cespe/1º Exame da Ordem/2007 e OAB‑Nordeste/1º Exame de OAB‑MG/2º Exame de Ordem/2004 e Cespe/Governo do Estado do Espírito
Ordem/2004. Santo/Secretaria de Justiça/Agente de Escolta e Vigilância Penitenciário/2007.

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competência para prosseguir na votação e julgar o crime, Competência em razão do cargo, ratione personae (foro
conexo, de estupro.95 por prerrogativa de função)
Quando os fatos criminosos forem reunidos em um Definida qual será a justiça competente, cabe indagar:
mesmo processo, e ainda que ocorra a morte do acusado qual o juiz competente em razão do cargo funcional ocupado
que praticou o crime doloso contra a vida, a competência do pelo autor dos fatos?
Tribunal do Júri para julgar o delito remanescente imputado Ao se responder referida indagação, descobre‑se a
ao corréu deve ser mantida.96 competência ratione personae. A Constituição Federal e as
Assim, verifica‑se a regra de competência ratione mate‑ Constituições Estaduais definem a competência em razão da
riae do Tribunal do Júri para processar e julgar os crimes dolo- função. Consideram para tanto a relevância e a importância
sos contra a vida. São crimes dolosos contra a vida: homicídio do cargo exercido por determinadas autoridades e não a pes-
doloso (art. 121 do CP), participação em suicídio (art. 122 do soa que as exerce. Esta definição visa resguardar a atuação
CP), infanticídio (art. 123 do CP) e aborto (arts. 124 a 128 do do agente no exercício de sua função.
CP), sejam na forma consumada ou tentada.97 Há inclusive doutrinadores que rechaçam o uso do nome
Caso o crime doloso contra a vida tenha como vítima “foro privilegiado”, que seria estabelecido como privilégio
servidor federal, haverá a instauração de Júri Federal. a determinadas pessoas, preferindo, portanto, falar‑se em
Não compete ao Tribunal do Júri processar e julgar “foro por prerrogativa de função”, estabelecido como garan-
todos os crimes contra a vida.98 O homi­cídio culposo não é tia inerente ao exercício de determinada função. (TOURINHO
julgado pelo Júri Popular por não se tratar de delito doloso. FILHO, 2004, p. 268)
O latrocínio (CP, art. 157, § 3º, 2ª parte – roubo seguido O foro especial por prerrogativa de função está restrito ao
de morte) não é jul­gado pelo Tribunal do Júri por tratar‑se debate das causas penais, não alcançando as ações cíveis de
de delito contra o patrimônio (Súmula nº 603/STF).99 reparação de dano.105 Por outro lado, não existe foro por prer-
Da mesma forma, os  demais delitos qualificados pelo rogativa de função nas ações de improbidade administrativa.106
resultado morte (lesão corporal seguida de morte, extorsão Entretanto, “compete ao Supremo Tribunal Federal julgar
seguida de morte, estupro seguido de morte etc.) não são ação de improbidade contra seus membros” (QO na Pet. 3.211-
julgados pelo Tribunal do Júri. 0, Min. Menezes Direito, DJ 27/6/2008). Considerou, para tanto,
Na determinação da competência por conexão ou con- que a prerrogativa de foro, em casos tais, decorre diretamente
tinência, no concurso entre a competência do júri e a de do sistema de competências estabelecido na Constituição, que
não se compatibiliza com a viabilidade de conferir a juiz de
outro órgão da jurisdição comum, prevalecerá a do júri.100
primeira instância competência para processar e julgar causa
Segundo orientação sumulada do Supremo Tribunal
promovida contra ministro do Supremo Tribunal Federal cuja
Federal, a competência constitucional do Tribunal do Júri
procedência pode acarretar a sanção de perda do cargo. Esse
prevalece sobre o foro por prerrogativa de função estabe- precedente afirma a tese da existência, na Constituição, de
lecida exclusivamente pela Constituição Estadual.101 Dessa competências implícitas complementares, deixando claro que,
forma, segundo o entendimento do Supremo Tribunal Fe‑ inobstante a declaração de inconstitucionalidade do art. 84 e
deral, a prerrogativa de foro não é absoluta, eis que, nos parágrafos do CPP, na redação dada pela Lei nº 10.628, de 2002
crimes contra a vida, prevalece a competência do Júri se (ADI nº 2.860-0, Min. Sepúlveda Pertence, DJ 19/12/2006), a
aquela for determinada apenas em Constituição Estadual.102 prerrogativa de foro, em ações de improbidade, tem base para
Assim, de acordo com o entendimento do STF, considere ser sustentada, implicitamente, na própria Carta Constitucional.
que a Constituição de um estado brasileiro determina que o (STF; AgRg na Rcl nº 2.115 / AM; Ministro TEORI ALBINO ZAVAS-
secretário de Estado de Educação será julgado pelo Tribunal CKI; Corte Especial; DJe 16/12/2009)
de Justiça. Nessa situação, prevalecerá a competência do Os seguintes cargos exigem, segundo a Constituição Fe-
Tribunal do Júri em caso de crime de homicídio cometido deral, foro privilegiado quando do cometimento de crimes
pelo referido secretário em concurso de agentes com pessoa comuns e/ou de responsabilidade, crimes a serem julgados
sem foro por prerrogativa de função.103 pelos tribunais a seguir descritos:
O mesmo não ocorre se o foro por prerrogativa de função
for estabelecido na Constituição Federal. Não compete ao Competência do Senado Federal
Tribunal do Júri o processo e o julgamento de magistrado Nos crimes de responsabilidade (art. 52, I e II, da
que pratica crime doloso contra a vida, tendo em vista o CF/1988):
foro por prerrogativa de função.104 • Presidente da República;
• Vice‑Presidente da República;
Competência dos Juizados Especiais Criminais • Ministros de Estado (em crimes conexos aos do Presi-
Tem‑se, ainda, que, nos termos do art. 98, I, da CF/1988, dente e Vice‑Presidente da República);
a Carta Magna estabelece a competência em razão da • Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáu-
matéria dos Juizados Especiais Criminais para conciliação, tica (em crimes conexos aos do Presidente e Vice‑Presidente
Noções de Direito Processual Penal

julgamento e execução das infrações de menor potencial da República);107


ofensivo, consubstanciando‑se estas nas contravenções e • Ministros do Supremo Tribunal Federal;
crimes que tenham a pena máxima igual ou inferior a 2 anos. • Membros do Conselho Nacional de Justiça;
• Membros do Conselho Nacional do Ministério Público;
95
Promotor‑DF/2002. Os membros do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e
96
Cespe/TJ‑AP/Analista Judiciário/2003-2004. do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) não
97
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑GO/1º Exame de Ordem/2005 e
TRF 3ª Região/X Concurso/Juiz Federal Substituto.
possuem foro por prerrogativa de função perante o STF, eis
98
Assunto cobrado na prova da OAB‑MG/2º Exame de Ordem/2004. que, nos termos do art. 102, I, r, da CF/1988,
99
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑MS/81º Exame de Ordem/2005
e OAB‑GO/1º Exame de Ordem/2004. o que a Constituição, com a EC nº 45/2004, inseriu na
100
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑RO/41º Exame; Cespe/ competência originária do Supremo Tribunal foram as
Nordeste/1º Exame da Ordem/2006; Cespe/OAB‑SP/136º Exame da Or-
dem/2008; OAB‑GO/3º Exame de Ordem/2004 e Unama/Defensoria Pública ações contra os respectivos colegiados, e não, aque-
do Estado do Pará/Defensor Público de 1ª Entrância do Estado do Pará/2006. las em que se questione a responsabilidade pessoal
101
Assunto cobrado na prova da OAB‑SP/127º Exame de Ordem/2005.
102
TJ‑PR/Juiz Substituto/2006. 105
Promotor‑MG/2006.
103
Cespe/Nacional/Delegado Federal//2004. 106
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/3º Exame da Ordem/2006 e
104
Assunto cobrado na prova do Cespe/Defensoria Pública da União/Defensor Cespe/Delegado da Polícia Federal/2002.
Público da União de 2ª Categoria/2001. 107
Assunto cobrado na prova do MPDFT/28º Concurso para Promotor/2009.

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de um ou mais dos conselheiros (STF, Pet nº 3.674 comuns os comandantes da Marinha, do Exército e da
QO/DF, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, Tribunal Pleno, Aeronáutica.114
Julgamento: 4/10/2006). • Membros dos Tribunais Superiores (STJ, STM, TSE, TST).
Compete ao Supremo Tribunal Federal processar e jul‑
• Procurador‑Geral da República;108 gar originariamente, dentre outros, nas infrações penais
• Advogado‑Geral da União. comuns, os membros do Tribunal Superior Eleitoral.115
• Membros do Tribunal de Contas da União;
Competência do Supremo Tribunal Federal • Chefes de missão diplomática de caráter permanente.
Nos crimes comuns (art. 102, I, b e c, da CF/1988):
Nos crimes de responsabilidade (art. 102, I, c, da
• Presidente da República;109 CF/1988):
• Vice‑Presidente da República; • Ministros de Estado e os Comandantes da Marinha,
• Ministros do Supremo Tribunal Federal. do Exército e da Aeronáutica, salvo nos crimes da mesma
Compete ao Supremo Tribunal Federal o julgamento natureza conexos com os do Presidente e Vice‑Presidente
dos próprios ministros nas infrações penais comuns, uma da República (art. 52, I, da CF/1988). O parágrafo único do
vez que se trata de hipótese de competência originária art. 25 da Lei nº 10.683/2006 estabelece que
decorrente de prerrogativa de função.110
Membros do Congresso Nacional. São Ministros de Estado os titulares dos Ministérios,
Pela prática de crimes comuns, os  parlamentares fe‑ o Chefe da Casa Civil da Presidência da República,
derais gozam de foro por prerrogativa de função junto ao o Chefe do Gabinete de Segurança Institucional da
Supremo Tribunal Federal.111 Presidência da República, o Chefe da Secretaria‑Geral
Ao STF compete julgar processo‑crime que tenha de- da Presidência da República, o Chefe da Secretaria de
putado federal licenciado para o exercício de funções de Relações Institucionais da Presidência da República,
secretário de Estado como réu.112 Com efeito, o  Chefe da Secretaria de Comunicação Social da
Presidência da República, o Chefe da Secretaria de
o membro do Congresso Nacional que se licencia do Assuntos Estratégicos da Presidência da República,
mandato para investir‑se no cargo de Ministro de Es- o Chefe da Secretaria Especial de Políticas de Promo-
ção da Igualdade Racial, o Advogado‑Geral da União,
tado não perde os laços que os unem, organicamente,
o Ministro de Estado do Controle e da Transparência,
ao Parlamento (...),
e o Presidente do Banco Central do Brasil.116
continuando a “subsistir em seu favor a garantia constitucio-
O § 1º do art. 38 da referida lei determina, ainda, que os
nal da prerrogativa de foro em matéria penal”. (STF, MS‑MC
cargos de natureza especial de Secretário Especial do Conse-
nº 25.579/DF, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, Tribunal Pleno,
lho de Desenvolvimento Econômico e Social, de Secretário
DJe 23/8/2007)
Especial de Aquicultura e Pesca, de Secretário Especial dos
Quanto à competência do STF para julgar suplente de Direitos Humanos e de Secretário Especial de Políticas para
parlamentar, o STF entende que as Mulheres da Presidência da República têm prerrogativas,
garantias, vantagens e direitos equivalentes aos de Ministro
A prerrogativa de foro conferida aos membros do de Estado. Entretanto, o STF entende que,
Congresso Nacional, vinculada à liberdade máxima
necessária ao bom desempenho do ofício legislativo, Para efeito de definição da competência penal
estende‑se ao suplente respectivo apenas durante o originária do Supremo Tribunal Federal, não se
período em que este permanecer no efetivo exercício consideram Ministros de Estado os titulares de
da atividade parlamentar (...) cargos de natureza especial da estrutura orgânica
da Presidência da República, malgrado lhes confira
sendo que a lei prerrogativas, garantias, vantagens e direitos
equivalentes aos dos titulares dos Ministérios: é o
O retorno do deputado ou do senador titular às caso do Secretário Especial de Aquicultura e Pesca
funções normais implica a perda, pelo suplente, do da Presidência da República (STF, Inq nº 2.044 QO/
direito de ser investigado, processado e julgado no SC, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, Tribunal Pleno,
Supremo Tribunal Federal (STF, Inq. nº  2.421 AgR/ Julgamento: 17/12/2004).
MS, Rel. Min. Menezes Direito, Tribunal Pleno, Jul-
Noções de Direito Processual Penal

gamento: 14/2/2008). • Membros dos Tribunais Superiores (STJ, STM, TSE, TST);
• Membros do Tribunal de Contas da União;
Procurador‑Geral da República;113 • Chefes de missão diplomática de caráter permanente.
• Ministros de Estado; Compete originariamente ao STF a execução de sen-
• Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáu- tenças nas causas de sua competência originária, cabendo
tica. tal função ao juízo competente de primeiro grau do local
Compete ao STF, e não ao Superior Tribunal Militar, do fato.117 É o que determina o art. 102, I, m, da CF/1988.
processar e julgar, originariamente, nas infrações penais
Competência do Superior Tribunal de Justiça
Nos crimes comuns (art. 105, I, a, da CF/1988):
108
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑GO/3º Exame de Ordem/2004 e
OAB‑DF/1º Exame de Ordem/2004.
109
Assunto cobrado na prova da OAB‑DF/1º Exame de Ordem/2004. • Governadores dos Estados e do Distrito Federal;
110
Assunto cobrado na prova da OAB‑DF/1º Exame de Ordem/2004.
111
Cespe/TJ‑DF/Oficial de Justiça Avaliador/1997. 114
Cespe/TJ‑PA/Juiz Substituto/2001-2002.
112
Assunto cobrado na prova do Cespe/Defensoria Pública da União/Defensor 115
FCC/TRF 4ª Região/Analista Judiciário2007.
Público da União de 2ª Categoria/2001. 116
Assunto cobrado na prova da Funiversa/PC-DF/Delegado de Polícia/Questão
113
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑GO/3º Exame de Ordem/2004 e 24/Assertiva C/2009.
OAB‑DF/1º Exame de Ordem/2004. 117
Assunto cobrado na prova do Cespe/TRE-MA/Analista Judiciário/2009.

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A competência originária para julgar Governador de É o caso, por exemplo, do Procurador‑Geral de Justiça do
Estado é do Superior Tribunal de Justiça.118 Isto apenas Distrito Federal, que não é julgado perante o TJDFT em razão
nos crimes comuns. Com efeito, não é da competência de infrações penais comuns126, mas sim pelo STJ, eis que é
do Superior Tribunal de Justiça julgar originariamente os membro do MPU e oficia perante tribunais.
Governadores de Estados e do Distrito Federal nos crimes Dessa forma, não compete ao Supremo Tribunal Federal
de responsabilidade.119 processar e julgar originariamente, dentre outros, nas infra-
O Vice‑Governador do Distrito Federal não tem foro ções penais comuns, os membros dos Tribunais Regionais
privilegiado no STJ para as infrações penais comuns.120 do Trabalho, os membros dos Tribunais Regionais Federais
Nesse sentido, o STJ entende que e os membros do Tribunal de Contas do Distrito Federal.127
Nos crimes de responsabilidade (art. 105, I, a, da
a prerrogativa de foro do Superior Tribunal de Justiça
CF/1988):
para, originariamente, processar e julgar nos crimes
• Desembargadores dos Tribunais de Justiça dos Estados
comuns os Governadores de Estado não se estende
aos Vice‑Governadores ainda que a prática delituosa e do Distrito Federal;
tenha ocorrido quando, por motivo de viagem do • Membros dos Tribunais de Contas dos Estados e do
titular do cargo, estivesse o Vice‑Governador em Distrito Federal;
exercício interino das funções de Governador (STJ, • Membros dos Tribunais Regionais Federais;
Rcl nº 980/AP, Min. Cesar Asfor Rocha, Corte Especial, • Membros dos Tribunais Regionais Eleitorais;
DJ 7/4/2003, p. 208). • Membros dos Tribunais Regionais do Trabalho;
• Membros dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos
Desembargadores dos Tribunais de Justiça dos Estados Municípios;
e do Distrito Federal; • Membros do Ministério Público da União que oficiem
A competência penal para julgar Desembargador do perante tribunais.
Tribunal de Justiça de Estado da Fe­deração, acusado da A competência do STJ é, portanto, taxativa. Não compete,
prática de crime comum, é do Superior Tribunal de Justiça.121 portanto, ao Superior Tribunal de Justiça processar e julgar
Segundo o STJ, originariamente, nas infrações penais comuns os chefes de
missão diplomática de caráter permanente, os membros
os Juízes de 1º grau em substituição nos Tribunais do Superior Tribunal de Justiça, os membros do Tribunal
de Justiça não possuem a prerrogativa de foro de Contas da União e o Procurador‑Geral da República.128
assegurada pelo art. 105, inciso I, da Constituição Também não é da competência do Superior Tribunal de
da República122 (STJ; AgRg na Rp 368 / BA; Minis- Justiça (STJ), dentre outras atribuições, processar e julgar
tro ARNALDO ESTEVES LIMA; Corte Especial; DJe originariamente, nas infrações penais comuns os coman-
15/5/2008). dantes de forças, os ministros de estado e os chefes de
missão diplomática de caráter permanente.129
Membros dos Tribunais Regionais Federais;
Compete ao Superior Tribunal de Justiça processar No mesmo sentido, o Vice‑Governador do Distrito Federal
e julgar originariamente, nas infrações penais comuns, não tem foro privilegiado no STJ para as infrações penais
os membros dos Tribunais Regionais Federais.123 comuns ou de responsabilidade.130
• Membros dos Tribunais Regionais Eleitorais; A homologação de sentenças estrangeiras e a concessão
• Membros dos Tribunais Regionais do Trabalho; de exequatur às cartas rogatórias é de competência origi‑
• Membros dos Tribunais de Contas dos Estados e do nária do STJ, abrangendo todos os pedidos ainda em curso
Distrito Federal; de processamento no STF.131 Com efeito, a competência
• Membros dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos para tais atos foi transferida do STF para o STJ por meio da
Municípios; Emenda Constitucional nº 45/2004.
Compete ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), dentre O pedido de revisão criminal de julgamento proferido
outras atribuições, processar e julgar originariamente, nas pelo Superior Tribunal de Justiça será julgado pelo próprio
infrações penais comuns, os membros dos Tribunais de Superior Tribunal de Justiça.132
Contas dos Municípios.124
Nesse sentido, analise a seguinte situação. Ademir, Competência dos Tribunais de Justiça
membro do Tribunal de Contas do Município de São Paulo, Nos crimes comuns (art. 29, X, da CF/1988, e art. 1º do
foi preso em flagrante quando guardava em sua casa de Decreto‑Lei nº 201/1967):
praia, na cidade de Maricá, Estado do Rio de Janeiro, para • Prefeitos
Noções de Direito Processual Penal

fim de tráfico, dois quilos de cocaína. A autoridade judiciária É preceito constitucional o julgamento do Prefeito pe-
competente para o processo e julgamento de Ademir é o rante o Tribunal de Justiça do Estado.133
Superior Tribunal de Justiça.125
Assim, os crimes de lavagem de dinheiro praticados por
• Membros do Ministério Público da União que oficiem
prefeito municipal durante o exercício do mandato não são
perante tribunais.
de competência do Supremo Tribunal Federal, do Superior
118
Assunto cobrado nas seguintes provas: Vunesp/OAB‑SP/131º Exame; Tribunal de Justiça ou do Tribunal Regional Federal.134
OAB‑GO/1º Exame de Ordem/2003; OAB‑MG/1º Exame de Ordem/2005 e
13º Concurso Público para Procurador da República. 126
Assunto cobrado na prova do MPDFT/28º Concurso para Promotor/2009.
119
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑DF/1º Exame de Ordem/2004 e 127
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/TRF 4ª Região/Analista Judiciá-
FCC/TRF 4ª Região/Analista Judiciário/2007. rio/2007; FCC/TRF 4ª Região/Analista Judiciário/2007; FCC/TRF 4ª Região/
120
Assunto cobrado na prova do MPDFT/28º Concurso para Promotor/2009. Analista Judiciário/2007 e OAB‑GO/3º Exame de Ordem/2004.
121
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/TRF 5ª Região/Analista Judiciá­ 128
Assunto cobrado na prova da FCC/TRF 1ª Região/Analista Judiciário/2006.
rio/2003 e OAB‑GO/2º Exame de Ordem/2003. 129
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/TRF 4ª Região/Analista Judiciá-
122
Assunto cobrado na prova do Cespe/TRF 1ª Região/ Juiz Federal Substituto / rio/2004 e OAB‑GO/2º Exame de Ordem/2003.
Questão 27/Assertiva B/2009. 130
Assunto cobrado na prova do MPDFT/28º Concurso para Promotor/2009.
123
FCC/TRF 1ª Região/Analista Judiciário/2006. 131
Cespe/TRF 5ª Região/Juiz Federal Substituto/2005.
124
FCC/TRF 4ª Região/Analista Judiciário/2004. 132
13º Concurso Público para Procurador da República.
125
Assunto cobrado na prova de NCE/Delegado da Polícia Civil do Rio de Janei- 133
Promotor‑ES/2005.
ro/2001 e Faepol. 134
Assunto cobrado na prova da OAB‑MG/Comissão de Exame de Ordem/2008.

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Referido foro prevalece inclusive se o prefeito praticar • Juízes do Distrito Federal e Territórios;
crime doloso contra a vida.135 • Membros dos Ministérios Públicos Estaduais.
Entende‑se que se o crime for praticado em detrimento
de bens, serviços ou interesse da União, a  competência Os Juízes Estaduais e do Distrito Federal, bem como os
será do Tribunal Regional Federal. Em se tratando de crime membros do Ministério Público Estadual são julgados pelo
eleitoral, será do Tribunal Regional Eleitoral. Nesse sentido, Tribunal de Justiça do Estado onde exerce as suas funções,
o STF destaca: pouco importando seja o crime federal ou estadual.
Em relação aos membros do Ministério Público do Dis-
As atribuições jurisdicionais originárias do Tribunal trito Federal, o STJ entende que
de Justiça – constitucionalmente definido como juiz
natural dos Prefeitos Municipais – restringem‑se, no se a legislação infraconstitucional, seguindo os dita-
que concerne aos processos penais condenatórios, mes constitucionais, coloca o Ministério Público do
unicamente as hipóteses pertinentes aos delitos Distrito Federal e Territórios no âmbito do Ministério
sujeitos a competência da Justiça local.136 Preceden- Público da União, a competência para o julgamento
te: HC nº 68.967-PR, Pleno. – Nos crimes praticados dos seus membros compete ao Tribunal Regional
contra bens, serviços ou interesse da União, de suas Federal, ex vi dos arts. 108, I, a da CF, e 18, II, c, da
autarquias ou de empresas públicas federais, a com-
LC nº 75/1993. (STJ, REsp nº 336.857/DF, Min. Gilson
petência originaria para processar e julgar os Prefeitos
Dipp, Quinta Turma, DJ 7/11/2005)
Municipais pertence ao Tribunal Regional Federal.
Precedente: RE nº 141.021-SP, Pleno. – Tratando‑se
de delitos eleitorais, o Prefeito Municipal e processa- Dessa forma, o Promotor de Justiça do MPDFT, em razão
do e julgado, originariamente, pelo Tribunal Regional de suas prerrogativas de função, é processado perante o
Eleitoral. (STF, Inq‑QO nº 406/SC, Rel. Min. Celso de Tribunal Regional Federal e não perante o Tribunal de Justiça
Mello, Tribunal Pleno, Julgamento: 1/7/1993) do Distrito Federal e Territórios.141
Nesse sentido é a jurisprudência do STF:
A competência do tribunal de justiça para julgar prefei‑
tos restringe-se aos crimes de competência da justiça co‑ EMENTA:  – Recurso extraordinário. Competência.
mum estadual; nos demais casos, a competência originária Habeas Corpus. 2. Acórdão do TJDF que afastou pre-
caberá ao respectivo tribunal de segundo grau.137 liminar de incompetência para conhecer de habeas
Referido entendimento se encontra cristalizado na Sú- corpus contra ato de Promotor de Justiça do Distrito
mula nº 702 do STF: Federal e Territórios 3. Conflito entre disposições
constitucionais sobre competência jurisdicional que
A competência do Tribunal de Justiça para julgar há de se resolver com a invocação do princípio da
prefeitos restringe‑se aos crimes de competência da especialidade. 4. Se a Constituição Federal situa o
Justiça Comum Estadual; nos demais casos, a com- Ministério Público do Distrito Federal e Territórios
petência originária caberá ao respectivo Tribunal de no âmbito do Ministério Público da União, força será
Segundo Grau. emprestar a consequência da aplicação da regra es-
Dessa forma, cometendo crime doloso contra a vida e pecífica do art. 108, I, a, da Lei Maior, ao dispor sobre
delitos eleitorais, o Prefeito Municipal deverá ser julgado a competência dos Tribunais Regionais Federais para
respectivamente pelo Tribunal de Justiça e Tribunal Regional o processo e julgamento, na respectiva área de juris-
Eleitoral.138 dição, dos membros do Ministério Público da União,
Assim, na repartição das competências, a Constituição entre eles, os do Distrito Federal e dos Territórios, nos
outorgou aos prefeitos municipais foro por prerrogativa crimes comuns e de responsabilidade. 5. Não cabe ao
de função nos tribunais de segundo grau. Pela organização TJDF processar e julgar habeas corpus contra ato de
do Poder Judiciário brasileiro, se um prefeito, no exercício membro do Ministério Público do Distrito Federal e
do mandato, perpetrar crime de competência da Justiça dos Territórios. Precedente RE 141.209-SP. 6. Recurso
Federal, a ação penal deverá ser julgada pelo respectivo Tri- extraordinário conhecido e provido para cassar o
bunal Regional Federal. Se o mesmo ato configurar improbi- acórdão recorrido do TJDF e determinar a remessa
dade administrativa, também caberá ao Ministério Público dos autos ao TRF da 1ª Região, competente para pro-
Federal processá‑lo. Neste caso, a ação por improbidade cessar e julgar habeas corpus contra ato de membro
deverá ser ajuizada no primeiro grau da Justiça Federal, do MPDFT. (STF, RE nº  315.010/DF, Rel. Min. Néri
pois a prerrogativa de função não alcança esse processo.139 da Silveira, Julgamento: 8/4/2002, Segunda Turma)
Noções de Direito Processual Penal

Mesmo raciocínio se aplica aos Secretário de Estado,


cujo foro geralmente é trazido por constituições estaduais. As Constituições Estaduais ou Lei Orgânica do DF podem
Nesse sentido, secretário de estado possui foro privativo estabelecer outros foros por prerrogativa de função a serem
junto ao tribunal regional federal, quando se tratar de julgados pelos Tribunais de Justiça, como têm feito com o
crime federal.140 vice‑governador, os secretários de Estado, os deputados
estaduais, o procurador‑geral de Justiça, o procurador‑geral
Nos crimes comuns e de responsabilidade ressalvada a do Estado, Defensor Público geral, delegado‑geral da polícia
competência da Justiça Eleitoral (art. 96, III, da CF) e comandante‑geral da polícia militar.
• Juízes Estaduais; Entretanto, o Tribunal de Justiça não poderá julgar re-
feridos agentes por crimes eleitorais, por crimes praticados
135
Promotor‑ES/2005.
136
Assunto cobrado na prova da Funiversa/PC-DF/Delegado de Polícia/Questão contra bens serviços ou interesse da União, ou mesmo crimes
24/Assertiva A/2009. comuns cometidos em outros Estados, os quais serão julga-
137
Cespe/PC-RN/Delegado de Polícia Civil Substituto/2009. dos na segunda instância respectiva. (CAPEZ, 2009, p. 16)
138
Acadepol‑MG/Delegado da Polícia Civil de Minas Gerais/2003.
139
Promotor‑RR/2001.
140
Assunto cobrado na prova da Funiversa/PC-DF/Delegado de Polícia/Questão
24/Assertiva D/2009. MPDFT/28º Concurso para Promotor/2009.
141

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Competência dos Tribunais Regionais Federais garantir independência para cargos importantes da
Nos crimes comuns e de responsabilidade ressalvada a República: Advogado‑Geral da União; Comandantes
competência da Justiça Eleitoral (art. 108, I, a, da CF/1988): das Forças Armadas; Chefes de Missões Diplomáticas.
• Juízes Federais; 9. Não‑violação do princípio da separação de pode-
• Juízes da Justiça Militar; res, inclusive por causa da participação do Senado
• Juízes da Justiça do Trabalho; Federal na aprovação dos indicados ao cargo de
• Membros do Ministério Público da União. Presidente e Diretores do Banco Central (art. 52, III,
d, da CF/1988). 10. Prerrogativa de foro como reforço
Dessa forma, nos crimes comuns, compete aos Tribunais à independência das funções de poder na República
Regionais Federais processar e julgar originariamente os adotada por razões de política constitucional. 11.
juízes federais da área de sua jurisdição, incluídos os da Situação em que se justifica a diferenciação de trata-
Justiça Militar e da Justiça do Trabalho.142 mento entre agentes políticos em virtude do interes-
Se o titular do foro privilegiado garantido por Consti- se público evidente. 12. Garantia da prerrogativa de
tuição Estadual, que lhe confere julgamento por tribunal, foro que se coaduna com a sociedade hipercomplexa
praticar crime federal, será julgado pelo TRF. A título de e pluralista, a qual não admite um código unitari-
exemplo, determinado Deputado Estadual de Minas Gerais zante dos vários sistemas sociais. 13. Ação direta de
envolveu-se na prática de crime contra o sistema financei‑ inconstitucionalidade julgada improcedente. (STF,
ro, na cidade de Porteira Velha, RO. Descoberto o fato, a ADI nº 3.289/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, Tribunal
competência para processar e julgar o parlamentar pela Pleno, Julgamento: 5/5/2005)
infração penal comum será do TRF, 1ª Região.143
As Constituições Estaduais e a Lei Orgânica do Distrito
Abrangência da expressão “crimes comuns” Federal também estabelecem foro privilegiado. É  o que
Quando a Constituição Federal trata dos crimes comuns, ocorre, por exemplo, em alguns Estados, em relação ao
esta abrange todas as modalidades de infrações penais, Vice‑Governador, Secretários de Estado, Deputados Estadu-
inclusive os crimes dolosos contra a vida. ais, Vereadores, Defensores Públicos, Delegados Gerais de
Polícia Civil e Comandantes Gerais da Polícia Militar, quanto
A jurisprudência do Supremo Tribunal Fe­deral fir- aos crimes comuns e de responsabilidade.
mou‑se no sentido de definir a locução constitucional Entretanto, o STJ tem entendimento no sentido de que
crimes comuns como expressão abrangente a todas as Constituições Estaduais e a Lei Orgânica do DF só podem
as modalidades de infrações penais, estendendo‑se instituir foro por prerrogativa de função que guardem sime-
aos delitos eleitorais e alcançando, até mesmo, tria com os foros previstos na Constituição Federal:
as próprias contravenções penais. (STF, Rcl nº 511,
Rel. Min. Celso de Mello, DJ 15/9/1995). A Constituição Estadual pode atribuir competência ao
respectivo tribunal de justiça para processar e julgar,
Quando a Constituição quer ressalvar a competência da originariamente, vereador, por ser agente político,
Justiça Eleitoral, ela própria faz a exceção, como ocorre em ocupante de cargo eletivo, integrante do Legislativo
relação ao foro privilegiado dos Tribunais de Justiça Estaduais municipal, o qual encontra simetria com os cargos
e dos Tribunais Regionais Federais. de deputados estaduais, federais e senadores, sendo
que estes, por força do disposto na própria Cons-
Legitimação para a criação de foro privilegiado tituição Federal (art. 102, inciso I, b), têm foro por
O foro por prerrogativa de função deve vir estabelecido prerrogativa de função perante o Supremo Tribunal
na Constituição Federal. Entretanto, o STF já admitiu foro Federal, e aqueles perante os respectivos tribunais
por prerrogativa de função criado por medida provisória em de justiça, conforme Cartas estaduais, tendo em
relação ao Presidente do Banco Central: vista, inclusive, a  regra que se contém no art.  25,
parte final, da Carta da República. (HC nº 40.388/RJ,
EMENTA: Ação direta de inconstitucionalidade Quinta Turma, Rel. p/ acórdão Min. Arnaldo Esteves
contra a Medida Provisória nº 207, de 13 de agosto
Lima, DJ 10/10/2005)
de 2004 (convertida na Lei nº  11.036/2004), que
alterou disposições das Leis nº 10.683/2003 e Lei
PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. VEREADOR.
nº 9.650/1998, para equiparar o cargo de natureza
COMPETÊNCIA POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO.
especial de Presidente do Banco Central ao cargo de
FORO PRIVILEGIADO ESTABELECIDO PELA CONSTITUI-
Ministro de Estado. 2. Prerrogativa de foro para o
ÇÃO ESTADUAL. POSSIBILIDADE DIANTE DA SIMETRIA
Presidente do Banco Central. 3. Ofensa aos arts. 2º,
Noções de Direito Processual Penal

ENTRE CARGOS NAS ESFERAS MUNICIPAL, ESTADUAL


52, III, d, 62, § 1º, I, b, § 9º, 69 e 192, todos da Consti-
E FEDERAL. ORDEM CONCEDIDA. 1. A  redação da
tuição Federal. 4. Natureza política da função de Pre-
sidente do Banco Central que autoriza a transferência Súmula nº 721/STF, no sentido de que “A compe-
de competência. 5. Sistemas republicanos compara- tência constitucional do Tribunal do Júri prevalece
dos possuem regulamentação equivalente para pre- sobre o foro por prerrogativa de função estabelecido
servar garantias de independência e imparcialidade. exclusivamente pela Constituição Estadual”, indica,
6. Inexistência, no texto constitucional de 1988, de claramente, a possibilidade de atribuição de foro pri-
argumento normativo contrário à regulamentação vilegiado por prerrogativa de função estabelecido –
infraconstitucional impugnada. 7. Não caracterização exclusivamente – por Constituição Estadual. 2. Com
de modelo linear ou simétrico de competências por efeito, prescreve o art. 125 da Carta da República,
prerrogativa de foro e ausência de proibição de sua que “Os Estados organizarão sua Justiça, observa-
extensão a Presidente e ex‑Presidentes de Banco Cen- dos os princípios estabelecidos nesta Constituição”,
tral. 8. Sistemas singulares criados com o objetivo de acrescentando, ainda, no § 1º, que “A competência
dos tribunais será definida na Constituição do Estado,
FCC/TRF 1ª Região/Analista Judiciário/2001.
142 sendo a lei de organização judiciária de iniciativa do
Fumarc/DPE-MG/Defensor Público/2009.
143 Tribunal de Justiça”. 3. A  análise da jurisprudência

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
do Supremo Tribunal Federal – visto que se trata de Assim, Deputado Estadual que comete crime cuja
matéria constitucional  – aponta para a declaração competência é constitucionalmente da Justiça Federal de-
de inconstitucionalidade ou para a suspensão, em verá ser julgado pelo Tribunal Regional Federal, e não pelo
sede de liminares, da eficácia de dispositivos de Tribunal de Justiça do Estado, conforme entendimento do
Constituições estaduais que outorgam competência STF e STJ.145
penal originária a seus tribunais para processar e
julgar ações instauradas contra seus agentes públicos, Regras Especiais em Relação ao Foro por Prerrogativa
cujos símiles, no âmbito federal, não detenham prer- de Função
rogativas de foro conferidas pela Carta da República 1) A competência por prerrogativa de função se estende
(ADINs nºs 2.587-2/GO, DJ de 6/9/2002; 882-0/MT,
aos crimes cometidos antes do exercício do cargo ou função.
DJ de 23/6/2004 e 2.553-8/MA, DJ de 22/10/2004).
Com o exercício funcional, o processo se iniciará perante
4. Assim sendo, por opção de natureza política – que
comporta juízo discricionário do constituinte – ma- o Tribunal competente ainda que o crime tenha sido prati-
téria infensa a exame pelo Judiciário, a Constituição cado antes do exercício da função. Caso o processo já tenha
Estadual pode atribuir competência ao respectivo iniciado por ocasião do exercício da função, os autos devem
tribunal de justiça para processar e julgar, originaria- ser remetidos ao Tribunal competente em face da prerroga-
mente, vereador, por ser agente político, ocupante tiva de foro. Nessa hipótese, os atos processuais praticados
de cargo eletivo, integrante do Legislativo municipal, antes da diplomação, inclusive o recebimento da denúncia,
o qual encontra simetria com os cargos de deputados são válidos em face do princípio do tempus regit actum (STF,
estaduais, federais e senadores, sendo que estes, por Inq nº 1.567 QO/AC, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, Tribunal
força do disposto na própria Constituição Federal Pleno, Julgamento: 23/5/2002). Se o processo já estiver em
(art. 102, inciso I, b), têm foro por prerrogativa de fun- grau de recurso quando da diplomação, por já se ter exercido
ção perante o Supremo Tribunal Federal, e aqueles a jurisdição, não haverá remessa ao Tribunal competente em
perante os respectivos tribunais de justiça, conforme face do foro (STJ, EDcl na QO na APn nº 237/DF, Rel. Min.
Cartas estaduais, tendo em vista, inclusive, a regra Luiz Fux, Corte Especial, DJ 6/12/2004).
que se contém no art.  25, parte final, da Carta da
República. 5. No caso, o paciente, que exerce o car- 2) Encerrado o exercício da função pública, não subsiste
go de vereador, foi condenado por Juízo de 1º grau, a prerrogativa de foro, ainda que o crime tenha sido come‑
não obstante a competência originária do respectivo tido durante o exercício da função.
Tribunal de Justiça prevista na Constituição Estadual, Sobre o tema, deve se destacar a existência da Súmula
o  que enseja a nulidade absoluta da sentença. 6.
nº 394 do STF, que estabelecia que
Ordem concedida. (STJ, HC nº 40.388/RJ, Min. Gilson
Dipp, Quinta Turma, DJ 10/10/2005)
Cometido o crime durante o exercício funcional,
No mesmo sentido, o Supremo Tribunal Federal: prevalecia a competência especial por prerrogativa
de função, ainda que o inquérito ou a ação penal
EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDA- fossem iniciados apos a cessação daquele exercício.
DE. MEDIDA CAUTELAR. ARTIGO 46, III, ALÍNEA e,
DA CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DE GOIÁS: COMPE- O Supremo, entretanto, cancelou referida súmula, pas-
TÊNCIA DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA PARA PROCESSAR sando a entender que, uma vez cessado o exercício funcional,
E JULGAR DETERMINADOS SERVIDORES. VIOLAÇÃO não havia de se falar em permanência do foro privilegiado,
AOS ARTIGOS 5º, I E LIII; 22, I; 25 E 125, DA CARTA devendo o processo, em face do crime cometido, iniciar‑se
FEDERAL. 1. Os  Estados‑membros têm competên- ou ser remetido ao juízo de primeiro grau.
cia para organizar a sua Justiça, com observância Entretanto, o legislador, por meio da Lei nº 10.628/2002,
do modelo federal (CF, art. 125). 2. A Constituição modificou o art. 84 do CPP, estabelecendo, em seu parágrafo
Estadual não pode conferir competência originária primeiro, que
ao Tribunal de Justiça para processar e julgar os
Procuradores do Estado e da Assembleia Legislativa, A competência especial por prerrogativa de função,
os Defensores Públicos e os Delegados de Polícia, por relativa a atos administrativos do agente, prevalece
crimes comuns e de responsabilidade, visto que não ainda que o inquérito ou a ação judicial sejam inicia-
gozam da mesma prerrogativa os servidores públi-
dos após a cessação do exercício da função pública.
cos que desempenham funções similares na esfera
Noções de Direito Processual Penal

federal. Medida cautelar deferida. (ADI‑MC 2.587/


GO – Goiás, Min. Maurício Corrêa, Tribunal Pleno, No § 2º do referido artigo, estendeu ainda as hipóteses de
STF, DJ 6/9/2002 PP-66) foro privilegiado para os atos de improbidade administrativa.
O Plenário do Supremo Tribunal Federal julgou proceden-
Quanto aos Deputados Estaduais, que, em regra, são te a Ação Direta de Inconstitucionalidade 2.797/DF,
julgados pelo Tribunal de Justiça, dependendo do crime co-
metido, podem se submeter a julgamento perante o Tribunal para declarar a inconstitucionalidade da Lei nº 10.628,
Regional Federal ou o Tribunal Regional Eleitoral. de 24 de dezembro de 2002, que acresceu os §§ 1º e
Com efeito, considerou‑se que compete à Justiça Federal 2º ao art. 84 do Código de Processo Penal (Rel. Min.
julgar os crimes contra o Sistema Financeiro (CF, art. 109, Sepúlveda Pertence, DJ de 26/9/2005, p. 36).
VI) e que, em face da prerrogativa de foro do deputado
estadual, a competência é do Tribunal Regional Federal144. Assim, encerrado o exercício da função pública, não
(HC nº 80.612, Rel. Min. Sydney Sanches, DJ 4/5/2001) subsiste a prerrogativa de foro. A competência especial
por prerrogativa da função relativa a atos administrativos
Assunto cobrado na prova do Cespe/TRF 5ª Região/Juiz Federal Substituto/
144

Questão 26/Assertiva A/2011. Cespe/TJ‑PA/Juiz Substituto/2001-2002.


145

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do agente não prevalecerá se o inquérito ou a ação forem quando encerrado o exercício funcional que a justificava,
iniciados após a cessação do exercício da função pública.146 ainda que se trate de Magistrado ou membro do Ministério
Dessa forma, analise a seguinte situação hipotética: Público. (STJ; HC nº 145.675/DF, Rel. Min. FRANCISCO FAL-
um Deputado Federal do Estado do Pará é acusado de CÃO, DJe 3/9/2009).
matar sua esposa. O crime ocorreu no curso do mandato
parlamentar na cidade de Belém. Encerrado o inquérito 3) A competência especial por prerrogativa de função
policial, a denúncia foi oferecida contra o deputado perante não se estende ao crime cometido após a cessação definitiva
o Supremo Tribunal Federal. O processo seguiu seu curso do exercício funcional (Súmula nº 451/STF).
ao longo dos anos e o deputado foi reeleito para outros Praticado ao crime após o exercício do cargo, não há que
dois mandatos, quando finalmente o Ministro Relator da se falar em foro por prerrogativa de função.
ação penal originária pediu data para que fosse iniciado
o julgamento pelo Plenário.Com receio de ser condenado 4) A competência determinada pelo foro por prerroga‑
pelo Supremo Tribunal Federal, o deputado renunciou a tiva de função exclui a regra do foro pelo lugar da infração.
seu cargo e seu advogado requereu ao Supremo que se Com efeito, como pontuado por Mirabete (2005, p. 202)
declarasse incompetente para processar e julgar aquela
ação penal, remetendo‑a para um dos Tribunais do Júri estende‑se a competência do Tribunal de Justiça do
de Belém. Nesse caso, o Supremo Tribunal Federal deve Estado sobre seu jurisdicionado a qualquer região do
acolher o pedido do advogado e declinar da competência território nacional. O Tribunal de Justiça competente
para um dos Tribunais do Júri de Belém.147 é o do Estado da respectiva autoridade, ainda que o
Nesse sentido é a jurisprudência do STF: crime tenha sido praticado em outro Estado.

EMENTA: AÇÃO PENAL. QUESTÕES DE ORDEM. Assim, a persecução penal por crime de trânsito pratica‑
CRIME DOLOSO CONTRA A VIDA IMPUTADO A do por juiz federal substituto é da competência do TRF a que
PARLAMENTAR FEDERAL. COMPETÊNCIA DO SU- o juiz estiver subordinado.148 Nesse sentido, o crime doloso
PREMO TRIBUNAL FEDERAL VERSUS COMPETÊNCIA contra a vida praticado, em Manaus, por Juiz do Trabalho de
DO TRIBUNAL DO JÚRI. NORMA CONSTITUCIONAL Florianópolis é processado e julgado no Tribunal Regional
ESPECIAL. PREVALÊNCIA. RENÚNCIA AO MANDATO. Federal da 4ª Região.149
ABUSO DE DIREITO. NÃO RECONHECIMENTO. EXTIN- Por outro lado, Juiz de Direito de primeiro grau de Justiça
ÇÃO DA COMPETÊNCIA DO STF PARA JULGAMENTO. Estadual que comete crime contra bens da União deve ser
REMESSA DOS AUTOS AO JUÍZO DE PRIMEIRO GRAU. processado e julgado pelo Tribunal de Justiça.150
1. O réu, na qualidade de detentor do mandato de A título de exemplo, um juiz de direito, julgando em
parlamentar federal, detém prerrogativa de foro primeira instância ação movida contra a União Federal,
perante o Supremo Tribunal Federal, onde deve ser decidiu, após acordo com advogado do autor, conceder a
julgado pela imputação da prática de crime doloso este bilionária indenização, que não lhe era devida, rece‑
contra a vida. 2. A norma contida no art. 5º, XXXVIII, bendo pela sentença um automóvel de luxo. Comprovados
da Constituição da República, que garante a institui- esses fatos em inquérito instaurado pela polícia federal,
ção do júri, cede diante do disposto no art. 102, I, b, o magistrado deverá ser processado perante o Tribunal
da Lei Maior, definidor da competência do Supremo de Justiça.151
Tribunal Federal, dada a especialidade deste último. Será julgado pelo Tribunal de Justiça o juiz de direito ou
Os crimes dolosos contra a vida estão abarcados pelo o promotor de justiça, mas não o prefeito, acusado de crime
conceito de crimes comuns. Precedentes da Corte. de competência da Justiça Federal, praticado no exercício
3. A renúncia do réu produz plenos efeitos no plano do cargo, sujeito o prefeito a julgamento perante o Tribunal
processual, o que implica a declinação da competên- Regional Federal.152
cia do Supremo Tribunal Federal para o juízo criminal
de primeiro grau. Ausente o abuso de direito que os 5) A competência constitucional do Tribunal do Júri pre-
votos vencidos vislumbraram no ato. 4. Autos en- valece sobre o foro por prerrogativa de função estabelecido
caminhados ao juízo atualmente competente. (STF, exclusivamente pela Constituição Estadual.153
AP nº 333/PB, Rel. Min. Joaquim Barbosa, Rev. Min. Se o foro por prerrogativa de função vier estabelecido na
Eros Grau, Julgamento: 5/12/2007, Tribunal Pleno) própria Constituição Federal, deverá o foro prevalecer sobre
a competência do Tribunal do Júri. Dessa forma, se um pro-
Por outro lado, o STJ entende que motor cometer crime doloso contra a vida, o julgamento será
efetivado pelo Tribunal de Justiça da Unidade da Federação
Noções de Direito Processual Penal

Ocorrendo a cessação da competência por prerroga- na qual o promotor atua.


tiva de função, em face da aposentadoria da autori- O STJ destaca que
dade, impõe‑se a remessa imediata do autos ao juízo
supervenientemente competente ratione personae o foro por prerrogativa de função relativo aos Prefei-
(STJ, EDcl na QO na APn nº 237/DF, Rel. Min. Luiz Fux, tos Municipais tem assento na Constituição Federal.
Corte Especial, DJ 6/12/2004). Embora a competência do Tribunal do Júri também
decorra de norma constitucional, o foro do Tribunal
O STJ consolidou o entendimento no sentido de que de Justiça prevalece sobre o Colegiado Popular,
a competência especial por prerrogativa de função cessa em razão da maior graduação daquele sobre este,
146
Assunto cobrado nas seguintes provas: TRF 4ª Região/IX Concurso/Juiz Federal 148
TRF 1ª Região/Juiz Federal Substituto/2004.
Substituto; TRF 1ª Região/X Concurso/Juiz Federal Substituto; Cespe/Delega- 149
TRF 4ª Região/Juiz Federal Substituto/2005.
do da Polícia Federal/2002; TJ‑PR/Juiz Substituto/2006; Unama/Defensoria 150
12º Concurso Público para Procurador da República.
Pública do Estado do Pará/Defensor Público de 1ª Entrância do Estado do 151
13º Concurso Público para Procurador da República.
Pará/2006; Cespe/Defensoria Pública da União/Defensor Público da União 152
Assunto cobrado nas seguintes provas: TRF 1ª Região/Juiz Federal Substitu-
de 2ª Categoria/2001; Cespe/AGU/Procurador Federal de 2ª Categoria/2002 to/2005 e MPDFT/28º Concurso para Promotor/2009.
e Funiversa/PC-DF/Delegado de Polícia/Questão 24/Assertiva E/2009. 153
Assunto cobrado nas seguintes provas: MPF/Procurador da República/Questão
147
Assunto cobrado na prova da FGV/TJ‑PA/Juiz de Direito/2009. 112/Item I/2011 e NCE/Delegado da Polícia Civil do DF/2004.

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conforme dispõe o artigo 78, inciso III, do Código de Não concordamos com referido entendimento.
Processo Penal. (STJ, HC nº  42.576/MG, Min. José Pela interpretação da Súmula nº 721 do STF, a competên-
Arnaldo da Fonseca, Quinta Turma, DJ 27/6/2005) cia parece ser do Tribunal de 2º Grau, podendo‑se concluir
que a súmula revigorou a antiga orientação jurisprudencial
Quanto aos que têm foro por prerrogativa de função do STF.
estabelecido nas Constituições Estaduais ou na Lei Orgânica Com efeito, a súmula destaca que a competência cons-
do Distrito Federal, discutia‑se sobre a possibilidade da regra titucional do Tribunal do Júri prevalece sobre o foro por
prevista em normas infraconstitucionais prevalecer sobre o prerrogativa de função estabelecido exclusivamente pela
foro do Tribunal do Júri no tocante aos crimes dolosos contra Constituição Estadual.
a vida (5º, XXXVIII, d, da CF/1988), havendo forte divergência Ora, foro “estabelecido exclusivamente pela Constituição
jurisprudencial e doutrinária. Estadual” só pode se referir àqueles que não guardam simetria
A jurisprudência do STJ inclinava para a compreensão com a Constituição. Seria o caso, por exemplo, de foro por
de que prerrogativa de função criado na Constituição Estadual para
Delegado de Polícia. Não há qualquer paralelismo nesse caso.
a prerrogativa de função atribuída pela Constituição Inclusive, o STF vem destacando inconstitucionalidade de dis-
Estadual a vereador, para ser processado e julgado positivos de Constituição Estadual que criam foro sem garantia
pelo Tribunal de Justiça, não prevalece sobre a com- equivalente na Constituição Federal. Nesse sentido, o STF
petência do Tribunal do Júri calcada na Carta Magna.
(STJ, HC nº  11.749/PI, Min. Felix Fischer; Quinta consagrou tese no sentido da impossibilidade de
Turma, DJ 14/8/2000) estender‑se a prerrogativa de foro, ainda que por
previsão da Carta Estadual, em face da ausência de
No mesmo sentido, tinha‑se a jurisprudência do STF. (STF, previsão simétrica no modelo federal. (STF, ADI nº
RHC nº 80.477/PI, Rel. Min. Néri da Silveira, Segunda Turma, 882/MT, Rel. Min. Maurício Corrêa, Tribunal Pleno,
Julgamento: 31/10/2000). Entretanto, esta possuía decisão Julgamento: 19/2/2004)
antiga no sentido de que
Já no que se refere a deputados estaduais, verea­dores,
pode a constituição do Estado‑membro, com base procuradores‑gerais de justiça e secretários de estado, por
no poder implícito que reconhece a este de atribuir exemplo, há simetria com a Constituição, podendo se falar
a seus agentes políticos as mesmas prerrogativas de em foro não “estabelecido exclusivamente pela Constituição
função de natureza processual penal que a Constitui- Estadual”.
ção Federal outorga aos seus que lhes são correspon- De que outro foro poderia estar se referindo a súmula?
dentes, estabelecer que o foro por prerrogativa de Não parece ser o foro previsto também na Constituição Fe-
função de deputado estadual e o Tribunal de Justiça deral, como o do prefeito, já que isto incorreria em repetição
do Estado, para todos os crimes da competência da desnecessária em Constituições Estaduais.
justiça desse Estado‑membro, inclusive os dolosos Com base na análise dos precedentes que geraram a
contra a vida. (STF, HC nº 58.410/RJ; Rel.Min. Moreira Súmula nº 721 do STF, percebe‑se que nosso entendimento
Alves, Tribunal Pleno, Julgamento: 18/3/1981) ganha força. Vejamos um dos julgados:

Visando a pacificar o tema, foi editada a Súmula nº 721 EMENTA: – Habeas Corpus. 2. Procurador do Estado
do STF que preceitua: da Paraíba condenado por crime doloso contra a
vida. 3. A Constituição do Estado da Paraíba prevê,
A competência constitucional do Tribunal do Júri no art.  136, XII, foro especial por prerrogativa de
prevalece sobre o foro por prerrogativa de função função, dos procuradores do Estado, no Tribunal de
estabelecido exclusivamente pela Constituição Justiça, onde devem ser processados e julgados nos
Estadual.154 crimes comuns e de responsabilidade. 4. O art. 136,
XII, da Constituição da Paraíba, não pode prevalecer,
Com base na referida súmula, Capez (2009 p. 215), por em confronto com o art. 5º, XXXVIII, letra d, da Cons-
exemplo, destaca que tituição Federal, porque somente regra expressa da
Lei Magna da República, prevendo foro especial por
com a Súmula nº 721 do STF, no entanto, essa dis- prerrogativa de função, para autoridade estadual, nos
crimes comuns e de responsabilidade, pode afastar
cussão encontra‑se, ao menos por hora superada.
a incidência do art. 5º, XXXVIII, letra d, da Constitui-
Deputado estadual que cometer crime doloso contra
ção Federal, quanto à competência do Júri. 5. Em se
Noções de Direito Processual Penal

a vida será julgado pelo Júri Popular, e não pelo Tri-


tratando, portanto, de crimes dolosos contra a vida,
bunal de Justiça local.
os procuradores do Estado da Paraíba hão de ser
processados e julgados pelo Júri. 6. Habeas Corpus
Dessa forma, segundo o entendimento do Supremo
deferido para anular, ab initio, o processo, desde a
Tribunal Federal, a  prerrogativa de foro não é absoluta,
denúncia inclusive, por incompetência do Tribunal
eis que, nos crimes contra a vida, prevalece a competência
de Justiça do Estado, devendo os autos ser reme-
do Júri se aquela for determinada apenas em Constituição
tidos ao Juiz de Direito da comarca de Taperoá, PB,
Esta­dual.155 Desta forma, caso determinada autoridade do
determinando‑se a expedição de alvará de soltura do
estado do Rio Grande do Norte, detentora de foro especial
paciente, se por ali não houver de permanecer pre-
por prerrogativa de função no TJRN, cuja previsão encontra‑
so. (STF, HC nº 78.168/PB; Rel. Min. Néri da Silveira,
-se apenas na respectiva constituição estadual, cometa
Tribunal Pleno, Julgamento: 18/11/1998)
crime doloso contra a vida, a competência para processá-la
e julgá-la deve ser do tribunal do júri.156
Ora, o cargo de Procurador do Estado não guarda simetria
com as previsões da Constituição Federal. Verifica‑se que
154
Funiversa/PC-DF/Delegado de Polícia/Questão 24/Assertiva B/2009.
155
TJ‑PR/Juiz Substituto/2006.
sequer se fala do Chefe dos Procuradores Estaduais, o que,
156
Cespe/MPE-RN/Promotor de Justiça/2009. de certa forma, guardaria simetria com o que a Constituição

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Federal destaca em relação ao Advogado‑Geral da União, que ACUSADOS – INEXISTÊNCIA DE ATRAÇÃO – PREVA-
tem apenas foro privilegiado. LÊNCIA DO JUIZ NATURAL  – TRIBUNAL DO JÚRI  –
Dessa forma, ressalvamos nosso entendimento no sen- SEPARAÇÃO DOS PROCESSOS. 1. A competência do
tido de que deputado estadual que cometer crime doloso Tribunal do Júri não é absoluta. Afasta‑a a própria
contra a vida será julgado pelo Tribunal de Justiça local e não Constituição Federal, no que prevê, em face da
pelo Júri Popular, o mesmo devendo ocorrer em relação a dignidade de certos cargos e da relevância destes
outras autoridades que tenham foro previsto em Constitui- para o estado, a competência de tribunais – arts.
ção Estadual e que guardem simetria com o estabelecido na 29, inciso VIII; 96, inciso III; 108, inciso I, alínea a;
Constituição Federal. 105, inciso I, alínea a e 102, inciso I, alínea b e c. 2.
Assim, se a competência por prerrogativa de função A conexão e a continência – arts. 76 e 77 do Código
estiver estabelecida na CF/1988, prevalecerá sobre a com- de Processo Penal – não consubstanciam formas de
petência constitucional do Tribunal do Júri em razão da fixação da competência, mas de alteração, sendo que
função. Se a competência por prerrogativa de função estiver nem sempre resultam na unidade de julgamentos –
estabelecida na Constituição Estadual, prevalecerá a compe- arts. 79, incisos I, II e §§ 1º e 2º e 80 do Código de
tência constitucional do júri. Se a previsão da Constituição Processo Penal. 3. O  envolvimento de corréus em
Estadual guardar paralelismo com a Constituição Federal no crime doloso contra a vida, havendo em relação a
que se refere à fixação da competência, pode‑se entender um deles a prerrogativa de foro como tal definida
que prevalece o foro por prerrogativa de função. constitucionalmente, não afasta, quanto ao outro,
o juiz natural revelado pela alínea d do inciso XXXVIII
6) Caso o crime tenha sido praticado por dois ou mais do art. 5º da carta federal. A  continência, porque
agentes em concurso, sendo um dos autores possuidor de disciplinada mediante normas de índole instrumental
foro por prerrogativa de função, todos os coautores ou comum, não é conducente, no caso, a reunião dos
partícipes deverão ser julgados perante esse juízo especial, processos. A atuação de órgãos diversos integrantes
havendo reunião dos processos. do judiciário, com duplicidade de julgamento, decorre
Nesse sentido, determina a Súmula nº 704 do STF: do próprio texto constitucional, isto por não se lhe
poder sobrepor preceito de natureza estritamente
Não viola as garantias do juiz natural, da ampla de-
legal. 4. Envolvidos em crime doloso contra a vida
fesa e do devido processo legal a atração por conti-
conselheiro de tribunal de contas de município e cida-
nência ou conexão do processo do corréu ao foro por
dão comum, biparte‑se a competência, processando
prerrogativa de função de um dos denunciados.157
e julgando o primeiro o superior tribunal de justiça e
Havendo conexão entre crimes de competência estadual o segundo o Tribunal do Júri. Conflito aparente entre
e federal, firma-se a segunda para conhecer, processar e jul- as normas dos arts. 5º, inciso XXXVIII, alínea d, 105,
gar o feito, consoante preceito contido em verbete sumular inciso I, alínea a da Lei Básica Federal e 76, 77 e 78 do
do STJ e, se sobrevier declaração de extinção da punibilida- Código de Processo Penal. 5. A avocação do processo
de em relação ao crime que atraiu a competência federal, o relativo ao corréu despojado da prerrogativa de foro,
processo deverá ser julgado pela justiça estadual.158 elidindo o crivo do juiz natural que lhe é assegurado,
Há atração inclusive se um dos autores tiver foro previsto implica constrangimento ilegal, corrigível na via do
pela Constituição Federal e outro pela Constituição Estadual, habeas corpus. (STF, HC nº 69.325/GO, Rel. Min. Néri
devendo haver julgamento único perante o órgão competen- da Silveira, Tribunal Pleno, Julgamento: 17/6/1992)
te previsto pela Constituição Federal.
Se, entretanto, ambas as autoridades têm foro privile- Entretanto, há julgado mais recente de Turma do STF,
giado, em face de o foro estar previsto na Constituição, deve decidindo pela unificação de processos:
haver separação de processos. Com efeito, se os foros têm
previsão constitucional, a regra de natureza processual não COMPETÊNCIA. CRIME DOLOSO CONTRA A VIDA.
pode prevalecer. Particularmente, entendemos que a Súmula ATRAÇÃO POR CONEXÃO DO CORRÉU AO FORO POR
nº 704 do STF não abrange a hipótese de dois autores com PRERROGATIVA DE FUNÇÃO. 1. Tendo em vista que
foros privilegiados distintos. um dos denunciados por crime doloso contra a vida é
Entretanto, este entendimento não é pacífico. Capez desembargador, detentor de foro por prerrogativa de
(2009, p. 224) destaca que, se um dos autores tem foro por função (CF, art. 105, I, a), todos os demais coautores
prerrogativa de função no STF e outro no TRF, prevalece a com- serão processados e julgados perante o Superior
petência do STF, destacando que tal posicionamento, embora Tribunal de Justiça, por força do princípio da conexão.
decorrente de orientação jurisprudencial, é passível de críticas. Incidência da Súmula nº 704/STF. A  competência
do Tribunal do Júri é mitigada pela própria Carta
Noções de Direito Processual Penal

7) Coautor ou partícipe em crime doloso contra a vida da República. Precedentes. 2. HC indeferido. (STF,
com foro privilegiado. HC  nº  83.583/PE, Rel. Min. Ellen Gracie, Segunda
Como a competência do Tribunal do Júri é prevista Turma, Julgamento: 20/4/2004)
pelo art. 5º, XXXVIII, da Constituição Federal, deveria haver
separação dos processos, sob pena de norma de status A questão não é pacífica. O STJ, em entendimento mais
infraconstitucional prevalecer sobre esta. acertado, fazendo referência a precedentes próprios, bem
Nesse sentido, tem‑se o seguinte julgado do Pleno do como do STF, destaca que
STF que destaca a necessidade de separação dos processos:
em caso de coautoria em crime doloso contra a vida,
COMPETÊNCIA – CRIME DOLOSO CONTRA A VIDA – o privilégio de foro ostentado por um dos agentes,
COAUTORIA – PRERROGATIVA DE FORO DE UM DOS porque desembargador, não atrai para competência
do Superior Tribunal de Justiça o julgamento do outro
157
Assunto cobrado nas seguintes provas: MPDFT/28º Concurso/Promotor-Nova envolvido, que deve ser julgado pelo Tribunal do Júri,
Prova/2009 e Cespe/ TRF 2ª Região/Juiz Substituto/Questão 18/Assertivas A, seu juiz natural. Precedentes do STF e do STJ (STJ; Rcl
B, C, D e E/2009.
158
Assunto cobrado na prova do Cespe/TRF 1ª Região/Juiz Federal Substituto/
2125/CE; Ministro HAMILTON CARVALHIDO; Corte
Questão 23/Assertiva D/2011. Especial; DJe 5/2/2009)

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
Se o crime cometido em coautoria não for doloso contra Recebida a denúncia contra o Senador ou Deputado,
a visa, mais imperiosa ainda é a separação. por crime ocorrido após a diplomação, o Supremo
Supostamente, Milton, João e Maria desviam em pro- Tribunal Federal dará ciência à Casa respectiva, que,
veito próprio bens e valores do patrimônio do Instituto por iniciativa de partido político nela representado e
de Previdência dos Parlamentares. O  fato efetivamente pelo voto da maioria de seus membros, poderá, até
é apurado e a autoridade responsável pela investigação a decisão final, sustar o andamento da ação, o que
reúne provas de sua existência e indícios da autoria relati- configura condição impeditiva de procedibilidade.
vamente aos três agentes. Milton é deputado federal. João
era deputado federal ao tempo do fato, todavia elegeu‑se Permite‑se, assim, que deputados e senadores sejam
prefeito municipal e está em pleno exercício do mandato. processados criminalmente sem a necessidade de prévia
Maria também era deputada federal ao tempo do fato – licença da Casa respectiva. Apenas é permitida eventual
no entanto, renunciou para dedicar‑se exclusivamente às sustação do processo.
suas empresas particulares. Quanto à competência para
julgar os três agentes, é correto afirmar que Milton e Maria 10) Prévia licença da Assembleia Legislativa estadual
serão julgados pelo Supremo Tribunal Federal, e João pelo para que haja o prosseguimento da ação penal contra
Tribunal de Justiça do Estado.159 governador
O STJ entende que
8) Excepto com foro privilegiado
Nos processos por crime contra a honra, em que caiba A demora da Assembleia Legislativa em autorizar
exceção da verdade, se esta for oposta e o excepto (querelan- o curso do processo criminal, perante o Superior
te) gozar de foro privilegiado, o processo deve ser remetido Tribunal de Justiça, contra Governador de Estado,
para o juízo do foro privilegiado, o que não atrai o julgamento enseja a suspensão da prescrição em relação a este
também do processo principal (art. 85 do CPP). desde o recebimento pela Assembleia Legislativa do
Nesse sentido, referido pedido de autorização. (STJ, AgRg na APn nº
364/SC, Min. Carlos Alberto Menezes Direito, Corte
É da competência do Superior Tribunal de Justiça Especial, DJ 1/8/2005)
o julgamento da exceção da verdade quando o ex-
cepto é autoridade com foro privilegiado sujeito à 11) Os dispositivos constitucionais sobre a prerrogativa
sua jurisdição160. (STJ, ExVerd 42/ES, Min. Hamilton de função alteraram o disposto nos arts. 86 e 87 do CPP
Carvalhido, Corte Especial, DJ 3/9/2007)
Referidos dispositivos são anteriores à Carta Magna e,
segundo ela, devem ser interpretados.
Por outro lado, é competente o Tribunal de Justiça para
julgar exceção da verdade em ação penal que tem como
12) A nulidade decorrente da não observância das
excepto promotor de justiça e excipiente vereador.161 Posta
regras de competência em razão da matéria ou da função
exceção da verdade em ação penal por crime de calúnia,
gera nulidade absoluta
o julgamento do incidente deverá ocorrer no tribunal onde
Devido ao fato de as regras de competência em razão
o excepto possui foro por prerrogativa de função.162
da matéria ou em razão da função serem estabelecidas
A exceção da verdade, quando oposta e admitida, será
na Constituição Federal, elas ensejam a total nulidade do
julgada pelo Supremo Tribunal Federal, quando na ação
processo, não havendo se falar em qualquer tipo de pre-
penal por crime contra a honra figurarem como querelantes
clusão. A incompetência do juízo anula somente os atos
Senadores e Ministros de Estado.163 decisórios165. Desta forma, apenas os atos não decisórios
Segundo o STJ, configurada hipótese em que excipiente
poderiam ser ratificados.
e excepto têm direito a foro excepcional, pela prerrogativa
Entretanto, o STF, hodiernamente, vem admitindo a
de função, há prevalência, em tal hipótese, da competência
ratificação dos atos decisórios praticados por órgão jurisdi-
do órgão jurisdicional de maior hierarquia (STJ, ExVerd nº 9/
cional absolutamente incompetente.166 (STF; HC nº 94.372/
DF, Rel. Min. Antônio de Pádua Ribeiro, Corte Especial, DJ
SP; Relator Ministro Joaquim Barbosa; Segunda Turma;
3/12/1990).
Julgamento: 9/12/2008)
Ainda a título de exemplo, Sóstenes, deputado federal,
ajuizou ação penal contra Davi perante a vara criminal de
Competência em razão do lugar (de foro, ratione loci)
Noções de Direito Processual Penal

Goiânia, acusando‑o de ter praticado o crime de calúnia.


Davi opôs e foi admitida exceção da verdade Nessa hipó‑ Há três teorias sobre a definição do local do crime:
tese, a exceção deverá ser julgada pelo STF.164 1) Teoria da Atividade. O lugar da conduta importa para a
fixação da competência por ser o local da infração do agente,
9) Sustação do processo contra parlamentar seja ela comissiva ou omissiva, pouco importando o local do
Consoante as disposições previstas no § 3º, do art. 53, resultado (consumação). Esta teoria foi adotada pela Lei dos
da CF/1988, Juizados Especiais Criminais (art. 63 da Lei nº 9.099/1995).
2) Teoria do Resultado. O que determina a fixação do
local da infração é o local da consumação do crime, pouco
importando o local da conduta. Foi esta a teoria adotada
159
Assunto cobrado na prova da NCE/Delegado da Polícia Civil de 3ª Classe do
RJ/2002.
pelo nosso Código de Processo Penal, conforme se percebe
160
Assunto cobrado na prova do Cespe/TRF 5ªregião/Juiz Federal Substituto/
Questão 23/Assertiva C/2011.
161
Promotor‑RN/2004. 165
Assunto cobrado na seguinte prova: FCC/DPE-MT/Defensor Público/Questão
162
Promotor‑DF/2002. 28/Assertivas A, B, C, D e E/2009.
163
13º Concurso Público para Procurador da República. 166
Assunto cobrado na prova do Cespe/PC-RN/Delegado de Polícia Civil Substi-
164
Cespe/TRE‑GO/Analista Judiciário/Área Judiciária/2009. tuto/2009.

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da leitura do art. 70, caput, do CPP167. Dessa forma, nos Se o juiz for considerado prevento, eventual ação
crimes plurilocais, prevalece o local da consumação do crime. penal será distribuída por dependência.
3) Teoria da Ubiquidade. Adotada pelo art. 6º do Código
Penal. Para a fixação da competência internacional, o lugar Não é necessária citação válida para gerar a prevenção,
da infração pode ser tanto o da conduta quanto o do re- como o é no processo civil. Basta o conhecimento por parte
sultado. do magistrado.
Em regra, no processo penal, há prevenção quando,
O processo e julgamento do crime de furto qualifica- havendo dois ou mais juízes igualmente competentes ou
do pela fraude, consistente na subtração de valores de com jurisdição cumulativa, um deles tiver antecedido os
conta-corrente, mediante transferência pela Internet sem outros na prática de algum ato do processo ou de medida
o consentimento do correntista, será da competência do relativa a este, ainda que seja anterior ao oferecimento da
juízo do lugar em que for sediada a agência detentora da denúncia ou queixa.173
conta lesada.168 Nesse sentido, a distribuição realizada para o efeito da
No mesmo sentido, crime contra a honra praticado por concessão de fiança ou da decretação de prisão preventiva
meio de reportagem veiculada na Internet enseja a com- ou de qualquer diligência anterior à denúncia ou queixa
petência do juízo do local onde tenha sido concluída a ação torna o juízo prevento para a futura ação penal relativa a
delituosa, ou seja, onde se encontrava o responsável pela tais diligências.174
veiculação e divulgação de tais notícias.169 Se um juiz, por exemplo, decidir sobre decretação de
Definição de competência no Código de Processo Penal prisão preventiva175, liberdade provisória, busca e apreensão,
A competência será, de regra, determinada pelo lugar quebra de sigilo telefônico ou de dados ou mesmo concessão
em que se consumar a infração, ou, no caso de tentativa, de fiança enquanto o inquérito policial ainda estiver em cur-
pelo lugar em que foi praticado o último ato de execução.170 so, a ação penal, quando for ajuizada, será distribuída para
Assim, têm‑se as seguintes regras, a serem observadas o magistrado que primeiro tiver decidido sobre referidas
de forma subsidiária: medidas na fase preliminar ao processo penal em detrimento
de outro magistrado que venha a tomar conhecimento dos
1) Local da consumação fatos em momento posterior. Reiterando, é prevento para a
Para o Código de Processo Penal, o juiz competente para ação penal o juiz que primeiro toma conhecimento da causa
o julgamento do crime será o da comarca onde o delito se e examina a representação policial relativa aos pedidos
consumou (local do resultado).
de prisão temporária, busca e apreensão e interceptação
No entanto, a competência nem sempre será fixada pelo
telefônica.176
local em que se consumar a infração.171
É legítima a atuação de membro do Ministério Público
Se o crime for apenas tentado, a competência será de-
que, após requerer o arquivamento de notitia criminis,
terminada pelo “lugar em que for praticado o último ato de
oferece denúncia pela prática de denunciação caluniosa
execução”, nos termos da segunda parte do art. 70, caput,
no mesmo juízo que determinou o arquivamento, em face
do CPP.
da competência por conexão.177
Se, iniciada a execução no território nacional, a infração
se consumar fora dele, a competência será determinada pelo Admite‑se a consideração de prevenção para fixação
lugar em que tiver sido praticado, no Brasil, o último ato de do juízo natural.178 A regra da prevenção se aplica também
execução (art. 70, § 1º, do CPP). nas instâncias superiores.179 No direito processual penal,
Nos termos do § 2º do art. 70 do CPP, quando o último diferentemente do que ocorre no direito processual civil, a
ato de execução for praticado fora do território nacional, competência por prevenção é reconhecível de ofício pelo juiz
será competente o juiz do lugar em que o crime, embora da causa, de forma que é absoluta a nulidade decorrente
parcialmente, tenha produzido ou deveria produzir seu da inobservância de tal espécie de competência.180
resultado172. As regras sobre prevenção somente se aplicam se confi‑
gurada concorrência de juízos igualmente competentes.181
2) Prevenção Nem sempre se sabe com certeza o local de consumação do
A prevenção é um critério de fixação de competência pre- crime. Nesse caso, pode haver mais de um juiz igualmente
visto no art. 69, inciso VI, do CPP. A prevenção se verifica em competente.182
relação ao juiz que primeiro toma conhecimento do crime. Nem todos os atos praticados pelo magistrado na fase
Nesse sentido, estabelece o art. 83 do CPP: preliminar ao processo penal geram prevenção. O pedido de
habeas corpus, a comunicação do flagrante ou o encaminha-
Noções de Direito Processual Penal

Verificar‑se‑á a competência por prevenção toda vez mento ao Ministério Público não previnem a jurisdição. Não
que, concorrendo dois ou mais juízes igualmente há prevenção pelos atos judiciais de urgência, realizados
competentes ou com jurisdição cumulativa, um deles sem distribuição.183
tiver antecedido aos outros na prática de algum ato
do processo ou de medida a este relativa, ainda que
173
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/OAB/Secção de São Paulo/2008;
FCC/TRE‑AP/Analista Judiciário/2006.
anterior ao oferecimento da denúncia ou da queixa. 174
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/PGE‑CE/Procurador de Esta-
do/2008 e OAB‑MT/1º Exame de Ordem/2004.
167
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/MPE-RN/Promotor de 175
OAB‑MS/81º Exame de Ordem/2005.
Justiça/2009; MPDFT/28º Concurso/Promotor/Nova Prova/2009. 176
Assunto cobrado na prova do Cespe/DPE-PI/Defensor Público/2009/Questão
168
Assunto cobrado na prova do Cespe/AL-ES/Procurador/Questão 76/Assertiva 35/Assertiva B.
D/2011. 177
Cespe/STJ/Analista Judiciário/2004.
169
Assunto cobrado na prova do Cespe/TJ-PB/Juiz Substituto/Questão 55/ 178
Assunto cobrado na prova do Cespe/OAB/Secção de São Paulo/2008.
Assertiva B/2011. 179
Assunto cobrado na prova do Cespe/OAB/Secção de São Paulo/2008.
170
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/IPAJM/Advogado/2006; TRF 180
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/TRF 5ª Região/Juiz Federal
3ª Região/XIII Concurso/Juiz Federal Substituto; FCC/TRE‑PB/Analista Judi- Substituto/2009; MPDFT/28º Concurso/Promotor/Nova Prova/2009.
ciário/2007. 181
TRF 4ª Região/IX Concurso/Juiz Federal Substituto.
171
Assunto cobrado na prova da Fepese/Prefeitura de Florianópolis/Procurador/ 182
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/PGE‑CE/Procurador de Estado
Questão 72/Assertiva E/2011. e OAB‑MT/1º Exame de Ordem/2004.
172
FCC/TRE-AP/Analista Judiciário/Área Judiciária/Questão 56/Item II/2011. 183
TRF 4ª Região/Juiz Federal Substituto/2005.

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Hipóteses configuradoras da fixação da competência do CPP). Trata‑se de foro subsidiário que só será aplicado
pela prevenção quando não for conhecido o lugar da infração. Deve ser
Estabelece o § 3º do art. 70 do CPP que, destacado que o desconhecimento do local da infração
deve ser total, eis que se o limite entre as circunscrições for
Quando incerto o limite territorial entre duas ou incerto, ou se for incerto o local de consumação da infração,
mais jurisdições, ou quando incerta a jurisdição a competência será fixada pela prevenção.
por ter sido a infração consumada ou tentada nas Foro subsidiário é aquele fixado na hipótese em que não
divisas de duas ou mais jurisdições, a competência for conhecido o lugar da infração, passando o foro a ser o
firmar‑se‑á pela prevenção184. do domicílio ou residência do réu.193 A competência não
será, de regra, determinada pelo domicílio ou residência
Dessa forma, quando o limite territorial entre duas do réu.194 Trata‑se apenas de regra de caráter subsidiário,
comarcas for incerto, se a infração for praticada na divisa, a se verificar quando é totalmente desconhecido o local da
a competência será firmada pela prevenção.185 infração.
O mesmo se diga quando se tem infração continuada ou A competência jurisdicional não é determinada em
permanente, bem como nos casos em que não se pode firmar função do domicílio ou residência da vítima.195
a competência pela conexão ou continência, nos termos do
art. 78, II, c. Nesse caso, o art. 71 do CPP também determina 3.1) Fixação da competência quando o réu tiver mais de
que se utilize o critério da prevenção para se definir o juízo um domicílio ou tiver em local incerto e não sabido
competente. Se o réu tiver mais de uma residência, a competência
Portanto, define‑se a competência pela prevenção em firmar‑se‑á pela prevenção196 (art. 72, § 1º, do CPP). Se o réu
caso de crime continuado.186 No crime permanente, cometi- não tiver residência certa ou for ignorado o seu paradeiro,
do no território de duas ou mais jurisdições, a competência será competente o juiz que primeiro tomar conhecimento
será definida pela prevenção.187 do fato (art. 72, § 2º, do CPP), ou seja, quando ocorrer a
Por haver dois ou mais juízes igualmente competentes prevenção.
para o julgamento em face de não se saber ao certo onde o
crime se consumou ou pela infração se consumar em vários 4) Fixação de competência nos crimes de ação penal
foros, o juiz que determinar certos atos, mesmo antes do privada
recebimento da ação penal, tornar‑se‑á prevento para o Nos casos de ação exclusiva de iniciativa privada, o que-
julgamento da ação penal. Assim, em hipótese de extor- relante poderá preferir o foro de domicílio ou da residência
são mediante sequestro, em que a vítima foi subtraída do réu, ainda quando conhecido o lugar da infração (art. 73
em Campinas, o resgate pago em Rio Claro e a prisão dos do CPP).197
autores ocorrida em Itu, a competência será firmada pela Dessa forma, em tema de competência, é correto afir-
prevenção.188 mar que em crime de exclusiva ação privada, o acusador
Noutro exemplo: Constatada a existência de dois crimes poderá preferir o foro do domicílio ou da residência do
conexos de competência da justiça comum estadual (uso de réu ainda quando conhecido o lugar da infração penal.198
documento falso e falsidade ideológica), consumados em
municípios de estados-membros diversos, a competência 5) Crimes praticados fora do território brasileiro
será fixada pela prevenção, ou seja, será do primeiro juízo No processo por crimes praticados fora do território
que conhecer dos fatos.189 brasileiro, será competente o juízo da Capital do Estado
Não se define a competência pela prevenção nos onde houver por último residido o acusado.199
casos de conexão, continência, crime a distância e crime Se este nunca tiver residido no Brasil, será competente
plurilocal.190 o juízo da Capital da República (art. 88 do CPP).
Não é absoluta a nulidade decorrente da inobservância
da competência penal por prevenção.191 6) Crimes cometidos em embarcação
Os crimes cometidos em qualquer embarcação nas águas
3) Competência pelo domicílio ou residência do réu territoriais da República, ou nos rios e lagos fronteiriços,
Não sendo conhecido o lugar da infração, a competência bem como a bordo de embarcações nacionais em alto‑mar,
regular‑se‑á pelo domicílio ou residência do réu192 (art. 72 serão processados e julgados pela justiça do primeiro porto
brasileiro em que tocar a embarcação, após o crime, ou,
quando se afastar do País, pela justiça do último em que
Noções de Direito Processual Penal

184
Assunto cobrado na prova da FCC/TRE-CE/Analista Judiciário/Judiciária/
Questão 59/Item II/2012. houver tocado (art. 89 do CPP).
185
Assunto cobrado nas seguintes provas: Vunesp/OAB‑SP/130º Exame e TJ‑RJ/
Oficial de Justiça Avaliador.
186
Assunto cobrado nas seguintes provas: Acadepol‑MG/Delegado da Polícia 7) Crimes praticados a bordo de aeronave nacional
Civil de Minas Gerais/2003 e OAB‑SP/122º Exame de Ordem/2003. Os crimes praticados a bordo de aeronave nacional, den-
187
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/TRE-CE/Analista Judiciário/Área
Judiciária/Questão 59/Item I/2012; Instituto Cidades/DPE-AM/Defensor Públi- tro do espaço aéreo correspondente ao território brasileiro,
co/Questão 63/Item V/2011; Fepese/Prefeitura de Florianópolis/Procurador/
Questão 72/Assertiva D/2011; OAB‑MG/1º Exame de Ordem/2005; Unama/ 193
Assunto cobrado nas seguintes provas: CPC/Polícia Civil do Estado do Paraná/
Defensoria Pública do Estado do Pará/Defensor Público de 1ª Entrância do Delegado de Polícia Civil/2007; OAB‑RO/42º Exame e Funrio/Agente Peniten-
Estado do Pará/2006 e OAB‑SP/122º Exame de Ordem/2003. ciário Federal/2009.
188
Assunto cobrado na prova da Acadepol‑SP/Delegado de Polícia de São Pau- 194
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/trE‑PB/Analista Judiciá­rio/2007
lo/2003. e OAB‑MS/79º Exame de Ordem/2004.
189
Cespe/AL-ES/Procurador/Questão 76/Assertiva E/2011. 195
Cespe/OAB/Exame de Ordem/2007.
190
Assunto cobrado nas seguintes provas: Acadepol‑MG/Delegado da Polícia 196
Assunto cobrado na prova do Instituto Cidades/DPE-AM/Defensor Público/
Civil de Minas Gerais/2003 e Vunesp/OAB‑SP/131º Exame. Questão 63/Item III/2011.
191
Assunto cobrado na prova da OAB‑GO/1º Exame de Ordem/2004. 197
Assunto cobrado nas seguintes provas: Vunesp/OAB‑SP/130º Exame/Vunesp;
192
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/TRE-CE/Analista Judiciário/Área OAB‑MT/1º Exame de Ordem/2004; NCE/Delegado da Polícia Civil de 3ª
Judiciária/Questão 59/Item III/2012; Fepese/Prefeitura de Florianópolis/Pro- Classe do RJ/2002 e TRF 3ª Região/XIII Concurso/Juiz Federal Substituto.
curador/Questão 72/Assertiva A/2011 e Instituto Cidades/DPE-AM/Defensor 198
NCE/Delegado da Polícia Civil de 3ª Classe do RJ/2002.
Público/Questão 63/Item II/2011. 199
CPC/Polícia Civil do Estado do Paraná/Delegado de Polícia Civil/2007.

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ou ao alto‑mar, ou a bordo de aeronave estrangeira dentro – Crime de estelionato cometido mediante falsificação
do espaço aéreo correspondente ao território nacional, se- de cheque
rão processados e julgados pela justiça da comarca em cujo O STJ pacificou o entendimento, nos termos da Súmula
território se verificar o pouso após o crime, ou pela justiça da nº 48 do STJ, no sentido de que
comarca de onde houver partido a aeronave (art. 90 do CPP).
Compete ao juízo do local da obtenção da vantagem
Regras especiais sobre a competência em razão do lugar ilícita processar e julgar crime de estelionato come-
– Homicídio tido mediante falsificação de cheque.201
Quando a morte é produzida em local diverso daquele em
que foi realizada a conduta, segundo as regras do Código de Como exemplo, José adquiriu, em um supermercado
Processo Penal, a competência seria a do lugar do resultado. situado no município de Alto Alegre, mercadorias no valor
Entretanto, embora colida frontalmente com as dis- de R$ 980,00, efetuando o pagamento por meio de um
posições do art. 70 do CPP, o STJ entende que, no caso de cheque do Banco do Brasil, agência do município de Boa
homicídio, competente é o juiz do local da conduta: Vista, falsificando a assinatura do correntista. Ao ser apre-
sentado, o cheque foi devolvido pelo banco sacado pelo
PROCESSUAL PENAL. RECURSO EM HABEAS CORPUS. fato de a assinatura aposta na cártula não conferir com a
HOMICÍDIO CULPOSO. JUÍZO COMPETENTE. RATIONE do correntista. Nessa situação, competirá ao juízo criminal
LOCI. LOCALIDADE DA OCORRÊNCIA DA INFRAÇÃO. da Comarca de Alto Alegre processar e julgar o crime de
CONSTRANGIMENTO ILEGAL INEXISTENTE. Tendo estelionato praticado por José.202
sido a vítima removida para hospital de outro muni- Outro exemplo: Estelionildo de Sousa, residente na cidade
cípio, que não o da ocorrência da infração, não faz o de Anápolis‑GO, adquiriu folhas de cheque em branco, na
juízo desse, incompetente para o processamento do Feira do Furtado, situada em Caldas Novas‑GO, pagando a
feito. A competência, ratione loci, é determinada pela quantia de R$ 50,00 por folha. As referidas cártulas perten-
localidade da ocorrência da infração, e não pelo local ciam a Pedro, correntista do Banco do Brasil S.A., agência de
da morte da vítima. Não existe o alegado constrangi- Caldas Novas. De posse das folhas de cheque, Estelionildo
mento ilegal, por ser o juiz do feito o competente para comprou de Sílvio, na cidade de Bela Vista de Goiás‑GO, uma
o mesmo. Recurso não provido. (STJ, RHC nº  793/ motocicleta, marca Yamaha DT 180. Como forma de paga-
SP, Min. Edson Vidigal, Quinta Turma, DJ 5/11/1990) mento, emitiu em favor de Sílvio um cheque no valor de R$
1.000,00, pertencente ao correntista Pedro. No dia seguinte,
Como exemplo, Antônio, com intenção homicida, desfe- ainda na cidade de Bela Vista de Goiás, Estelionildo comprou
chou dois tiros de pistola em Bruno, na cidade de Altamira- de Acácio uma moto CG 125, pagando por ela a quantia de R$
-PA. Gravemente ferido, Bruno foi levado para Belém, onde 2.000,00. Para tanto, também emitiu um cheque personaliza-
foi internado em unidade hospitalar com melhor estrutura do em nome de Pedro. Ambos os títulos foram apresentados
que aquela do município onde ocorreram os disparos. ao Banco do Brasil S.A, agência de Goiânia‑GO, no dia 2 de
Apesar do esforço dos integrantes da equipe médica, Bru- março de 2003, não podendo, porém, ser compensados, uma
no veio a falecer seis meses após o fato, em consequência vez que foram sustados pelo correntista em face ao furto.
dos ferimentos provocados pela arma de Antônio. Assim, a Diante do fato narrado, e de acordo com entendimento
competência para processar e julgar o delito é do tribunal majoritário da doutrina e jurisprudência, o juízo competente
do júri de Altamira-PA, pois embora o Código de Processo para conhecer e julgar a(s) conduta(s) de Estelionildo será a
Penal, em relação ao lugar do crime, tenha adotado a teoria comarca de Bela Vista de Goiás.203
do resultado, especificamente em relação ao homicídio, a
jurisprudência aplica a teoria da atividade, tem em vista a – Devolução de cheque em face de encerramento de
maior facilidade para a obtenção das provas.200 conta corrente

– Competência para julgamento dos crimes com resul‑ Tratando‑se de transações efetuadas por meio da
tado morte emissão de cheques, devolvidos em função do en-
Compete ao Tribunal do Júri os julgamentos dos crimes cerramento das contas correntes, resta caracteriza-
dolosos contra a vida, nos termos do art.  5º, XXXVIII, da do, em princípio, o delito do art. 171, caput, do CP,
Noções de Direito Processual Penal

CF/1988. Não se enquadram na referida disposição o crime firmando‑se a competência do juízo do local onde
de extorsão qualificada pelo resultado morte, o de lesão cor- se deu a obtenção da vantagem ilícita em prejuízo
poral seguida de morte e nem o de latrocínio. Nesse sentido, alheio. (CC nº 23.536/PR, Rel. Min. Gilson Dipp, STJ,
estabelece a Súmula nº 603 do STF: “A competência para o Terceira Seção, julgado em 22/11/2000)
processo e julgamento de latrocínio é do juiz singular e não
do Tribunal do Júri”. – Devolução de cheque em face de ausência de fundos
Se envolver crimes federais, a competência será do Júri A Súmula nº 521 do STF dispõe que:
Federal, a exemplo de homicídio praticado por agente de
polícia federal no exercício de suas funções, ou quando au- O foro competente para o processo e julgamento
ditores do Ministério do Trabalho são feridos mortalmente dos crimes de estelionato, sob a modalidade da
em fiscalização de rotina, ou mesmo quando haja homicídio emissão dolosa de cheque sem provisão de fundos,
praticado a bordo de aeronave.
201
OAB‑GO/2º Exame de Ordem/2003.
202
Assertiva feita a partir de modificação de proposição falsa constante da prova
Assunto cobrado na prova da Movens/PC-PA/Delegado/Questão 29/Assertiva
200
do Cespe/Delegado da Polícia Civil de Roraima/2003.
A/2009. 203
UEG/Delegado de Polícia de 3ª Classe de Goiás/2003.

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e o do local onde se deu a recusa do pagamento nega ou cala a verdade, razão pela qual, para a sua
pelo sacado.204 apuração, sobressai a competência do Juízo do local
onde foi prestado o depoimento, sendo irrelevante
É o que estabelece também a Súmula nº  244 do STJ: o fato de ter sido realizado por intermédio de carta
“Compete ao foro do local da recusa processar e julgar o precatória. (STJ, CC nº 30.309/PR, Min. Gilson Dipp,
crime de estelionato mediante cheque sem provisão de Terceira Seção DJ 11/3/2002)
fundos”.
Como exemplo, Silvio Alves é proprietário de loja de ele- Com efeito, o juízo deprecado é o competente para
trodomésticos sediada em Indiaroba (SE). Lá, o comerciante processar e julgar crime de falso testemunho praticado
realiza todas as operações de compra de mercadorias, man- mediante carta precatória.209
tendo sua movimentação financeira na agência do Banco X
de Tobias Barreto (SE) por conveniência mercantil. Estando – Prestação de contas nos crimes de apropriação in‑
em sua residência, situada na cidade de Simão Dias (SE), débita
no último dia de finados, foi procurado pelo fornecedor A consumação do delito de apropriação indébita (art. 168
Átilo Aguiar, que reside em Buguim (SE) e lá está estabe- do CP) se dá no momento da inversão da posse e o agente
lecido com atacado de refrigeradores, o qual pretendia passa a dispor da coisa como sua. Se há dificuldade em saber
cobrar‑lhe antiga dívida. Silvio Alves decidiu saldar o debi- o local da inversão da posse, entende‑se por competente o
to e emitiu um cheque de sua conta corrente no valor de local onde o agente deveria prestar contas. Dessa forma,
R$ 3.000,00, datando‑o de Simão Dias e entregando‑o ao Arlindo, empregado como caminhoneiro em Brasília‑DF,
credor. Dias após, Átilo Aguiar depositou o cheque em sua recebeu ordem do empregador para entregar um carrega‑
conta corrente na agência do Banco Y de Lagarto (SE), e o mento de ouro em Goiânia‑GO. Arlindo, apesar de ter saído
mesmo retornou porque “não possuía provisão de fundos”. de Brasília com a carga, não entregou o ouro e desapareceu.
Sentindo‑se fraudado, Átilo Aguiar procurou o defensor Quanto à competência e às questões prejudiciais no con‑
público de Lagarto a fim de orientar‑se quanto às provi- texto dessa situação hipotética, considera‑se como lugar
dências criminais a serem adotadas contra o estelionatário. da infração o local onde o agente devia prestar contas.210
O defensor aconselhou a vítima a procurar as autoridades
do foro competente para o processo e o julgamento desse Competência por conexão e continência
crime, ou seja, a Comarca que exerce jurisdição sobre a Em regra, deveria haver um processo para cada crime.
cidade de Tobias Barreto.205 Entretanto, há casos em que é recomendável, por imperati-
Portanto, na emissão de cheque sem fundos, o foro vos de economia processual e coerência, a reunião de vários
competente não é o lugar onde se deu a fraude.206 crimes para serem julgados em um único processo para
Não compete ao juízo do local da emissão da cártula melhor atuação da Justiça, com a consequente redução de
processar e julgar crime de estelionato mediante emissão gastos processuais e diminuição de decisões contraditórias.
de cheque sem fundo.207 Trata‑se de critérios não de fixação, mas sim de modifi-
O mesmo raciocínio se aplica na hipótese de clonagem cação de competência, eis que este procedimento atrai, para
de cartão magnético. Como exemplo: o frentista José de um determinado juízo, processo que seria da competência
Souza, usando um dispositivo conhecido como chupa‑cabra, de outro juízo.
logrou clonar cartão magnético do Banco do Brasil, de Nas hipóteses de conexão e continência tem‑se a pror-
titularidade de Maria da Glória, quando esta o utilizou em rogação necessária.
posto de gasolina localizado em Belém. No dia seguinte, Fala‑se em prorrogação voluntária nas hipóteses de
José viajou para Altamira, local em que utilizou o cartão separação dos processos quando as infrações tiverem sido
clonado em caixas eletrônicos, ao longo de três dias, tendo praticadas em circunstâncias de tempo e/ou de lugar distin-
sacado a importância total de R$ 1.500,00. Ao perceber a tas ou, quando pelo excessivo número de acusados e para
ocorrência dos saques, Maria registrou ocorrência na de- não lhes prolongar a prisão provisória ou por outro motivo
legacia de polícia da comarca de Castanhal, local em que relevante, o juiz reputar conveniente a separação (art. 80 do
reside e onde está localizada a agência do Banco do Brasil CPP). Também se materializa na hipótese do art. 73 do CPP,
na qual Maria possui conta. Dias após, José de Souza foi em que, nos casos de exclusiva ação privada, o querelante
preso em flagrante, em Altamira, quando tentava mais poderá preferir o foro de domicílio ou da residência do réu,
uma vez usar o cartão clonado para efetuar um saque. No ainda quando conhecido o lugar da infração.
Noções de Direito Processual Penal

caso em análise, João praticou furto mediante fraude e Como se verá a seguir, nem sempre a ocorrência de
a competência para processo e julgamento é do juízo da conexão e continência tornará a reunião de processos impe-
comarca de Castanhal.208 rativa (simultaneus processus). Há casos em que é necessário
separar os processos.
– Falso testemunho praticado por precatória
O STJ entende que Conexão
A união de processos em razão da conexão tem, entre
o crime de falso testemunho consuma‑se com o outras, a finalidade de otimizar a apreciação da prova pelo
encerramento do depoimento prestado pela teste- juiz, evitando‑se, por conseguinte, decisões conflitantes.211
munha, quando a mesma profere afirmação falsa, A palavra conexão traz a ideia de vínculo, de ligação entre
infrações, sendo que o art. 76 do CPP traz as hipóteses em
204
Assunto cobrado nas seguintes provas: Vunesp/OAB‑SP/130º Exame; Cespe/ que se considera existente o vínculo a fazer os crimes serem
Regional/Delegado Federal/2004 e OAB‑GO/1º Exame de Ordem/2004.
205
Defensoria Pública do Estado de Sergipe/Defensor Público/2000.
206
Assunto cobrado na prova do MPDFT/28º Concurso para Promotor/2009. 209
Cespe/PC‑PB/Delegado de Polícia/2009.
207
Assunto cobrado na prova do Cespe/PC‑PB/Delegado de Polícia/2009. 210
Cespe/TJ‑SE/Juiz Substituto/2003-2004.
208
Assunto cobrado na prova da FGV/TJ‑PA/Juiz de Direito/2009. 211
Cespe/TRF 5ª Região/Juiz Federal Substituto/2006.

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julgados em um único processo. Assim, tem‑se que a conexão Conexão objetiva (lógica, teleológica ou material)
pressupõe sempre dois ou mais fatos. Entende‑se a conexão objetiva ou lógica quando uma
A competência por conexão existe quando duas ou mais infração é praticada para facilitar ou ocultar a outra; ou
infrações estiverem entrelaçadas por um vínculo, um nexo ainda, quando uma é praticada para obter impunidade ou
que aconselha a reunião dos processos “a fim de que sejam vantagem em relação a outra.217
julgados pelo mesmo juiz, diante do mesmo compêndio Neste tipo de conexão, não é necessário que as diversas
probatório e com isso se evitem decisões contraditórias”, infrações sejam praticadas por mais de uma pessoa, mas sim
como pontua Capez (2005, p. 214). que haja uma relação entre as infrações. É o que estabelece
As ligações que determinam a conexão podem ser: 1) in- o art. 76, II, do CPP, que diz que haverá conexão
tersubjetivas, que, de acordo com o art. 76, I, do CPP, podem
ser: por simultaneidade (1ª parte); por concurso (2ª parte); se, no mesmo caso, houverem sido umas praticadas
ou por reciprocidade (parte final); 2) objetiva, apresentada para facilitar ou ocultar as outras, ou para conseguir
no art. 76, II, do CPP; ou 3) instrumental ou probatória, impunidade ou vantagem em relação a qualquer
conforme prevê o art. 76, III, do mesmo Código. delas.
Vejamos:
Como exemplo de conexão objetiva para facilitação218,
Conexão intersubjetiva (ou subjetiva) pode‑se citar a hipótese de um agente que, para efetivar a
Os vários fatos são cometidos por mais de uma pessoa. extorsão mediante sequestro da vítima (art. 159 do CP), mata
Em referida modalidade, a competência será determinada o segurança deste (art. 121, § 2º, V, do CP).
pela conexão se duas ou mais infrações tiverem sido pra- Para vislumbrar a hipótese de conexão objetiva para
ticadas ao mesmo tempo, por várias pessoas reunidas, ou ocultação, pode‑se citar o caso de um incêndio (art. 250 do
por várias pessoas em concurso, embora em diverso tempo CP) para ocultar um furto (art. 155 do CP).
Para a consecução da impunidade, podem‑se citar
e lugar, ou por várias pessoas, umas contra as outras.212
as hipóteses de ameaça (art. 147 do CP) para que não se
A conexão intersubjetiva pode ser:
comunique às autoridades policiais o cometimento de um
estupro (art. 213 do CP). Assim, se “A” mata “B” e, para
Por simultaneidade
assegurar a impunidade, mata “C”, que era testemunha
Nos termos do art. 76, inciso I, primeira parte, do CPP, se
do fato. Haverá unidade de processo e de julgamento dos
diversas pessoas que assistem a um jogo de futebol, oca-
crimes cometidos por “A” por estar configurada a hipótese
sionalmente reunidas, praticam depredações no estádio,
de conexão objetiva consequencial.219 Seguindo o mesmo
se trata de conexão intersubjetiva por simultaneidade213. raciocínio, analise a situação a seguir: determinado cidadão,
Dessa forma, haverá conexão, acarretando a instauração logo depois de ter cometido delito de estupro, é perseguido
de um só processo, quando duas ou mais infrações forem por Policial Militar. Para assegurar a impunidade do crime
praticadas por várias pessoas reunidas.214 praticado, o indivíduo efetua diversos disparos de arma de
Há ainda referência na doutrina a este tipo de conexão fogo contra seu perseguidor, produzindo‑lhe lesões que dão
como conexão material. Destaca‑se que haverá conexão causa à sua morte. Nesse caso, identificando‑se a prática
material, acarretando a instauração de um só processo, de duas infrações penais cometidas nas circunstâncias
quando duas ou mais infrações forem praticadas por várias retratadas, a competência será determinada pela conexão
pessoas reunidas.215 objetiva, lógica ou material.220
Para assegurar vantagem de crime anterior, pode‑se citar
Por concurso/concursal o caso de autor que comete o homicídio (art. 121, § 2º, V,
Ocorre quando há concurso de crimes, embora haja dife- do CP) de seu comparsa para ficar com todo o produto de
rença de tempo e lugar em que foram praticados. Assim, por um roubo (art. 157 do CP) anterior.
exemplo, se quatro pessoas resolvem praticar vários roubos
a diversos bancos de uma determinada cidade, caracteriza‑se Conexão instrumental/probatória/processual
a conexão concursal. Ocorre a conexão instrumental quando a prova de uma
infração ou de qualquer das circunstâncias elementares
Por reciprocidade influir na prova de outra infração.221
Caso diversas infrações sejam praticadas por diversas Nesse sentido, se para condenar aquele que adquiriu,
Noções de Direito Processual Penal

pessoas, umas contra as outras, configurar-se-á conexão dolosamente, um objeto roubado, é necessário demonstrar
intersubjetiva por reciprocidade.216 que a coisa adquirida era produto de crime, tem‑se a cone‑
Em um mesmo fato, o autor dos fatos também é consi- xão instrumental.222
derado vítima. É o caso de lesões corporais recíprocas, que Está prevista no art. 76, III, do CPP, que estabelece que
ocorre, por exemplo, quando grupos rivais se agridem. Se haverá conexão “quando a prova de uma infração ou de
forem praticadas agressões entre os participantes de dois qualquer de suas circunstâncias elementares influir na prova
grupos de pessoas em algum lugar, está presente a conexão de outra infração”.
intersubjetiva, por reciprocidade.
217
Promotor‑BA/2004.
218
Cespe/Defensoria Pública da União/Defensor Público da União de 2ª Catego-
ria/2004.
212
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/TRE‑PB/Analista Judiciá­rio/2007; 219
Assunto cobrado na prova da Unemat/MPE‑MT/Analista Jurídico/2004.
FCC/TRE‑PB/Analista Judiciário/2007 e OAB‑MT/1º Exame de Ordem/2004. 220
Promotor‑MG/2006.
213
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/TRE‑MG/Analista Judiciário/2005 221
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/TRE-AP/Analista Judiciário/Área
e FCC/TRE‑MG/Analista Judiciário/2005. Judiciária/Questão 56/Item III/2011; FCC/TRE‑AP/Analista Judiciário/2006;
214
Cespe/TJ‑AP/Analista Judiciário/2003-2004. Cespe/Defensoria Pública da União/Defensor Público da União de 2ª Cate-
215
Cespe/TJ‑AP/Analista Judiciário/2003-2004. goria/2004 e Cespe/PC‑PB/Delegado de Polícia/2009.
216
Cespe/TJ-ES/Analista Judiciário/Direito/Questão 104/2011. 222
FCC/TRE‑MG/Analista Judiciário/2005.

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Conforme entendimento dos tribunais superiores, não Foro Prevalente
é suficiente para a configuração da conexão instrumental, Verifica‑se que, nos casos em que ocorrem a conexão ou
a mera conveniência no simultaneus processus, sendo a continência, deve haver unidade de processos.
necessário o vínculo objetivo entre os diversos fatos cri- A lei determina qual o foro competente quando se ma-
minosos.223 terializarem as hipóteses de conexão ou continência. Nos
A não observância das regras de conexão não gera termos do art. 78 do CPP, na determinação da competência
nulidade absoluta, mas sim relativa.224 por conexão ou continência, serão observadas as seguintes
regras:
Continência I – no concurso entre a competência do júri e a de outro
Significa que uma coisa está contida em outra. Não é órgão da jurisdição comum, prevalecerá a competência
necessário, assim como ocorre com os casos de conexão, que do júri;
haja mais de um fato, embora isso possa ocorrer também A fixação da competência do Tribunal do Júri tem status
em relação às hipóteses de continência. constitucional (art.  5º, XXXVIII, da CF), atraindo a compe-
Nos termos do art. 77 do CPP, a competência será de- tência para julgar os crimes que, com o doloso contra a
terminada pela continência quando duas ou mais pes­soas vida, guardem relação ou continência. Assim, o plenário do
forem acusadas pela mesma infração225. Trata‑se da hipótese Tribunal do Júri pode julgar, em alguns casos, crimes que
de concurso de pessoas, nos termos do art. 29 do CP (cumu- não sejam dolosos contra vida.232
lação subjetiva). Na determinação da competência por conexão ou conti-
Também haverá continência no caso de concurso formal nência, será observada a seguinte regra, no concurso entre
de crimes (art. 70 do CP), em que, com uma mesma conduta, a competência do júri e a de outro órgão da jurisdição
o  agente pratica mais de uma infração penal (cumulação comum, prevalecerá a do júri.233
objetiva).226 II – no concurso de jurisdições da mesma categoria;
Na hipótese de erro na execução (aberractio ictus), em Em tais casos, observam‑se as seguintes regras em ca-
que, por acidente ou erro na utilização dos meios de execu- ráter subsidiário: a) preponderará a competência do lugar
ção do crime, além de atingir a pessoa almejada, atinge‑se da infração no qual for cominada a pena mais grave234;
também um terceiro (art. 73 do CP) também se tem hipó- Ex.: Um veículo foi furtado em Curitiba-PR e levado a
tese de modificação de competência pela continência.227 Joinville-SC, onde foi receptado por alguém que sabia ser
Também na hipótese de resultado diverso do pretendido o veículo produto de crime, onde a polícia tomou conheci-
(aberratio criminis), quando ocorre o resultado pretendido mento dos crimes, apreendendo o objeto furtado. A com-
(art.  74 do CP), utiliza‑se a continência para modificar a petência será a do lugar da infração, à qual for cominada a
competência. pena mais grave.235 b) prevalecerá a do lugar em que houver
Dessa forma, há continência por cumulação objetiva nos ocorrido o maior número de infrações se as respectivas penas
casos de infrações com unidade de conduta, nas modali- forem de igual gravidade; c) firmar‑se‑á a competência pela
dades do art. 70 (concurso formal), art. 73, segunda parte prevenção nos outros casos. Considera‑se pena mais grave
(concurso formal na aberratio ictus), e art. 74, segunda aquela que durar mais tempo. Entre as penas admitidas,
parte (concurso formal na aberratio delicti), todos do CP.228 a mais grave é a pena de morte, admitida apenas em caso
Nesse sentido, observa-se a seguinte assertiva de pro- de guerra declarada. Depois desta, vêm as penas de privação
va: Continência, significa a hipótese de um fato criminoso ou restrição da liberdade e, por último, as de multa. A pena
conter outros, tornando todos uma unidade indivisível. de reclusão é mais grave que a de detenção, e esta é mais
Assim, pode ocorrer continência no concurso de pessoas, grave que a prisão simples.
quando vários agentes são acusados da prática de uma Na determinação da competência por conexão ou
mesma infração penal e também quando houver concurso continência, se houver concurso de jurisdições da mesma
formal, com seus desdobramentos previstos nas hipóteses categoria e forem idênticas as penas cominadas aos delitos
de “aberratio”.229 e o número de infrações praticadas, firmar‑se‑á a compe‑
Concurso material não corresponde, necessariamente, tência por prevenção.
a uma hipótese de continência.230 Com efeito, vimos que,
havendo várias infrações praticadas em concurso de pessoas, III – no concurso de jurisdições de diversas categorias,
tem‑se hipótese de conexão intersubjetiva por concurso. predominará a de maior graduação;
A competência também será determinada pela conti- Nos crimes conexos de competências das justiças co-
Noções de Direito Processual Penal

muns federal e estadual, não haverá separação de proces-


nência quando duas ou mais pessoas forem acusadas pela
so.236 Prevalece a jurisdição comum federal.237
mesma infração.231
A jurisdição estadual só terá lugar quando previamente
afastadas a competência militar, eleitoral e federal.238
223
Assunto cobrado na prova do Cespe/TRF 5ª Região/Juiz Federal Substituto/ 232
OAB‑PR/Exame 03/2006.
Questão 24/Assertiva B/2011. 233
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑RO/41º Exame; Cespe/
224
Assunto cobrado na prova do Cespe/MPE-RN/Promotor de Justiça/2009. Nordeste/1º Exame da Ordem/2006; Cespe/OAB‑SP/136º Exame da Or-
225
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/DP‑MA/Defensor Público/2009 dem/2008; OAB‑GO/3º Exame de Ordem/2004 e Unama/Defensoria Pública
e MS/TRE-SC/Analista Judiciário/Questão 65/Item III/2009. do Estado do Pará/Defensor Público de 1ª Entrância do Estado do Pará/2006.
226
Assunto cobrado na prova do MPDFT/28º Concurso/Promotor/Nova 234
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/OAB‑SP/136º Exame da Or-
Prova/2009. dem/2008; FCC/TJ‑RR/Juiz de Direito Substituto/2008; FCC/DPE-PA/Defensor
227
Cespe/TJ‑AP/Analista Judiciário/2003-2004. Público/2009 e FCC/TRE-PI/Analista Judiciário/Questão 65/Item I/2009.
228
Assunto cobrado nas seguintes provas: Promotor‑DF/2002 e Cespe/TJ‑AP/ 235
Assunto cobrado na prova do MPE-PR/Promotor de Justiça Substituto/Questão
Analista Judiciário/2003-2004. 70/Item III/2011.
229
Ieses/TJ-MA/Analista Judiciário/Questão 84/Item I/2011. 236
Assunto cobrado na prova da OAB‑GO/3º Exame/2006.
230
Assunto cobrado na prova da Vunesp/TJ‑SP/Juiz/2005. 237
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑GO/3º Exame/2006; FCC/TRE-
231
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/TRE‑PB/Analista Judiciário/2007; PI/Analista Judiciário/Questão 65/Item III/2009 e Cespe/ TRF 2ª Região/Juiz
Cespe/PGE‑CE/Procurador de Estado/2008 e FCC/DP‑MA/Defensor Públi- Substituto/Questão 22/Assertiva D/2009.
co/2009. 238
MPE-PR/Promotor de Justiça Substituto/Questão 70/Item I/2011.

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Se houver conexão ou continência entre crimes federal O parágrafo único do referido artigo destaca ainda que,
e estadual, a Justiça Federal será o foro prevalente sobre a
Justiça Estadual, por ser esta, nos termos da Constituição Reconhecida inicialmente ao júri a competência por
Federal, residual, conforme estabelece a Súmula nº  122 conexão ou continência, o juiz, se vier a desclassificar
do STJ: a infração ou impronunciar ou absolver o acusado, de
maneira que exclua a competência do júri, remeterá
Compete à Justiça Federal o processo e julgamento o processo ao juízo competente.
unificado dos crimes conexos de competência federal
e estadual, não se aplicando a regra do art. 78, II, a,
O art. 82 dispõe que
do Código de Processo Penal.

Compete à Justiça Federal o processo e julgamento Se, não obstante a conexão ou continência, forem
unificado dos crimes conexos de competência federal e instaurados processos diferentes, a autoridade de
estadual, não se aplicando, neste caso, a regra processual, jurisdição prevalente deverá avocar os processos que
na qual, no concurso de jurisdições da mesma categoria, corram perante os outros juízes, salvo se já estiverem
preponderará a do lugar da infração, em que for cominada com sentença definitiva. Neste caso, a unidade dos
a pena mais grave.239 processos só se dará, ulteriormente, para o efeito de
Assim, nos crimes conexos de competência das justiças soma ou de unificação das penas.
comuns federal e estadual, prevalece a jurisdição comum
federal.240Analise a seguinte situação hipotética: um indiví‑ Não viola as garantias do juiz natural, da ampla defesa
duo foi indiciado pela prática do crime de tráfico ilícito de e do devido processo legal a atração por continência ou
entorpecentes com conexão probatória com crime contra conexão do processo do corréu ao foro por prerrogativa
a ordem tributária, consistente na sonegação de receita de função de um dos denunciados.246
na declaração de imposto de renda de pessoa física (IRPF).
Nessa situação, a competência para processar e julgar Separação de processos
o indivíduo pelas duas infrações penais será da Justiça Nem sempre a conexão e a continência importarão uni-
Federal.241
dade de processo e julgamento.247 Ex.: Havendo concurso de
Diz, ainda, o § 2º do art. 74 do CPP que
pessoas na prática de crime doloso contra a vida cometido
por um desembargador e outra pessoa que não goza de
Se, iniciado o processo perante um juiz, houver
desclassificação para infração da competência de prerrogativa de função, deve ser determinada a separação
outro, a este será remetido o processo, salvo se mais dos processos, remetendo o caso a julgamento do desem‑
graduada for a jurisdição do primeiro, que, em tal bargador pelo STJ e do coautor pelo Tribunal do Júri.248
caso, terá sua competência prorrogada. O CPP prevê exceções à regra de que, caso haja conexão
ou continência, os processos deveriam ser unificados. O art. 79
IV – no concurso entre a jurisdição comum e a especial, do CPP determina que a conexão e a continência importarão
prevalece a última.242 unidade de processo e julgamento, salvo no concurso entre
Na determinação da competência por conexão ou conti- a jurisdição comum e a militar249, bem como na hipótese de
nência, será observada a seguinte regra, no concurso entre concurso entre a jurisdição comum e a do juízo de menores.250
a jurisdição comum e a especial, prevalecerá a especial.243 A Súmula nº 90 do STJ diz que
Dessa forma, praticado um crime eleitoral conexo com
um crime de competência da Justiça Comum, seja ela Federal Compete à Justiça Estadual Militar processar e julgar
ou Estadual, prevalece a competência da Justiça Eleitoral. Na o policial militar pela prática do crime militar, e  a
hipótese de ocorrer crime eleitoral e crime comum conexos, comum pela prática do crime comum simultâneo
a competência para julgá‑los é da Justiça Eleitoral.244 àquele.
Nos termos do art. 81 do CPP,
Nos termos do § 1º do art. 79 do CPP, se um dos corréus
Verificada a reunião dos processos por conexão ou
continência, ainda que no processo da sua compe- for acometido por doença mental, suspende‑se o processo
tência própria venha o juiz ou tribunal a proferir sen- em relação a este, seguindo em relação ao acusa­do dotado
tença absolutória ou que desclassifique a infração de suas faculdades mentais. Assim, em caso de coautoria,
Noções de Direito Processual Penal

para outra que não se inclua na sua competência, cessará a unidade dos processos se com relação a algum
continuará competente em relação aos demais deles for constatada a superveniência de doença mental
processos245. (após a prática da infração penal).251

239
Promotor‑RN/2004. 246
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/TJ‑PA/Analista Judiciário/2006;
240
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑GO/3º Exame/2006 e TRF 3ª OAB‑GO/1º Exame de Ordem/2004; Cespe/Nordeste/1º Exame da Or-
Região/IX Concurso/Juiz Federal Substituto. dem/2006; Cespe/OAB/1º Exame de Ordem/2008 e MPDFT/28º Concurso
241
Cespe/AGU/Advogado da União/2002. para Promotor/2009.
242
Assunto cobrado na prova da FCC/TRE-PI/Analista Judiciário/Questão 65/Item 247
Assunto cobrado na prova do Ministério Público do Estado do Paraná  –
II/2009. MPE‑PR/2002.
243
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑RO/41º Exame; Cespe/ 248
MPE-PR/Promotor de Justiça Substituto/Questão 70/Item II/2011.
OAB‑SP/136º Exame da Ordem/2008; 13º Concurso Público para Procurador 249
Assunto cobrado na prova do MPDFT/28º Concurso/Promotor/Nova
da República e OAB‑GO/3º Exame de Ordem/2004. Prova/2009.
244
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/TJ‑AP/Analista Judiciá- 250
Assunto cobrado nas seguintes provas: CPC/Polícia Civil do Estado do Paraná/
rio/2003-2004; Promotor‑AP/2005 e 18º Concurso Público para Procurador Delegado de Polícia Civil/2007; NCE/Delegado da Polícia Civil de 3ª Classe
da República/2001. do RJ/2002; OAB‑PR/Exame 02/2006; OAB‑PR/1º Exame de Ordem/2005 e
245
Assunto cobrado na prova do Cespe/TJ-PB/Juiz Substituto/Questão 55/ Cespe/OAB‑SP/136º Exame da Ordem/2008.
Assertiva E/2011. 251
OAB‑PR/1º Exame de Ordem/2005.

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
O art. 80 do CPP estabelece, por fim, que No parágrafo único do referido artigo, consta que

Será facultativa a separação dos processos quando A distribuição realizada para o efeito da concessão
as infrações tiverem sido praticadas em circunstân- de fiança ou da decretação de prisão preventiva ou
cias de tempo ou de lugar diferentes, ou, quando de qualquer diligência anterior à denúncia ou queixa
pelo excessivo número de acusados e para não lhes prevenirá a da ação penal.
prolongar a prisão provisória, ou por outro motivo
relevante, o juiz reputar conveniente a separação. Este critério busca repartir as atribuições dos magistra-
dos para evitar a sobrecarga de alguns, fazendo‑se sempre
Quando os fatos criminosos forem reunidos em um a compensação necessária.
mesmo processo, e ainda que ocorra a morte do acusado Deve ser ainda destacada a competência funcional, que
que praticou o crime doloso contra a vida, a competência do é a que se verifica com base no andamento do processo. Daí
Tribunal do Júri para julgar o delito remanescente imputado se fala em juiz do processo de conhecimento, de segundo
grau (competência funcional vertical), da execução e até
ao corréu deve ser mantida.252
mesmo para julgamento no caso do Conselho de Sentença.
Nulidade em face da não observância das regras de
Conflito de competência
competência em razão do local Compete ao STF dirimir conflito de atribuições entre
A não observância das regras de fixação da competência membro do Ministério Público Federal e membro de Mi-
em razão do local gera nulidade relativa. Nos termos da nistério Público Estadual.255
Súmula nº 706 do STF, “É relativa a nulidade decorrente da No entanto, o órgão competente para dirimir conflito de
inobservância da competência penal por prevenção”. competência entre Tribunal Regional Federal e Tribunal de
Por sua vez, a Súmula nº 33 do STJ estabelece que “A Justiça não é o Supremo Tribunal Federal.256
incompetência relativa não pode ser declarada de oficio”. O Superior Tribunal de Justiça (STJ) é competente para
Entretanto, referida súmula tem aplicação na seara cível. processar e julgar, originariamente, o conflito negativo de
No âmbito penal, o STF já externou entendimento de competência entre Juiz de Direito da Justiça do DF e Juiz
a competência de foro estar sujeita a preclusão temporal, Federal de qualquer região.257 É o que determina o art. 105, I,
embora possa o juiz declará‑la de ofício.253 d, da Constituição Federal. O mesmo se aplica em relação ao
Tem‑se, assim, que a incompetência em razão do lugar, conflito de competência entre o Tribunal de Justiça do DF e o
da prevenção, do domicílio do réu, ou mesmo em relação Tribunal Regional Federal.258 Também compete ao STJ julgar
às regras de conexão e continência, deve ser declarada no conflito de jurisdição entre o Tribunal Regional Federal e
interesse das partes, se houver prejuízo, quando alegada no o Tribunal Regional Eleitoral259. Idêntico raciocínio permite
momento oportuno. concluir que um conflito de competência existente entre um
Dessa forma, Alcineu, residente no município de juiz do trabalho e um juiz federal deve ser julgado pelo STJ.260
Betim‑MG, cometeu crime de roubo no município de Belo
Horizonte‑MG. A vítima levou a notitia criminis ao delegado Tribunal Penal Internacional
do município de Betim, onde foi instaurado o inquérito Sobre Direitos Fundamentais, o Brasil se submete à
policial e, posteriormente, onde a denúncia foi oferecida. jurisdição de Tribunal Penal Internacional a cuja criação
O processo transcorreu regularmente, tendo Alcineu consti- tenha manifestado adesão.261
tuído advogado para a apresentação de defesa. Condenado Nos termos do art.  5º, §  4º, da CF/1988, o  Brasil se
a cinco anos de reclusão e multa, Alcineu apresentou recur- submete à jurisdição de Tribunal Penal Internacional a cuja
so alegando a incompetência do juízo, uma vez que o foro criação tenha manifestado adesão. Referido Tribunal, com
para o julgamento deveria ser o do local da infração e não sede em Haia, na Holanda, foi criado em 1998, pelo Estatuto
o do domicílio do réu, por se tratar de crime de ação penal de Roma, tendo o Brasil aprovado o tratado por meio do
pública e ser conhecido o local da infração. O tribunal, con- Decreto Legislativo nº 112/2002.
tudo, não deu provimento ao recurso, sob o fundamento de
que tal circunstância deveria ter sido questionada antes de Referências
proferida a sentença. Nessa situação, foi correta a decisão
proferida pelo tribunal.254 CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal. 16. ed. rev.
e atual. São Paulo: Saraiva, 2009.
Noções de Direito Processual Penal

Com efeito, a  competência do juiz em razão do lugar


fica prorrogada caso a exceção declinatória não seja arguida
oportunamente pelo réu. MIRABETE, Julio Fabbrini. Processo penal. 17. ed. revisada
e atualizada até dezembro de 2004. São Paulo: Atlas, 2005.
Competência por distribuição
Estabelece o art. 75 do CPP que TOURINHO FILHO. Fernando da Costa. Manual de processo
penal. 6. ed. rev., atual. e ampliada. São Paulo: Saraiva, 2004.
A precedência da distribuição fixará a competência 255
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/TRF 5ª Região/Juiz Federal
quando, na mesma circunscrição judiciária, houver Substituto/2006; TJDFT/Juiz de Direito Substituto/2007 e Cespe/MPE-RN/
mais de um juiz igualmente competente. Promotor de Justiça/2009.
256
Assunto cobrado na prova da NCE/Delegado da Polícia Civil do DF/2004.
257
Cespe/TJ‑DF/Oficial de Justiça Avaliador/1997.
258
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/TJ‑DF/Oficial de Justiça Ava-
liador/1997; NCE/Delegado da Polícia Civil do DF/2004 e TRF 3ª Região/XIII
252
Cespe/TJ‑AP/Analista Judiciário/2003-2004. Concurso/Juiz Federal Substituto.
253
OAB‑RJ/27º Exame de Ordem/2005. 259
Assunto cobrado no MPDFT/28º Concurso/Promotor/Nova Prova/2009.
254
Cespe/Defensoria Pública da União/Defensor Público da União de 2ª Catego- 260
Cespe/Nacional/OAB/2007.
ria/2004. 261
OAB‑MS/81º Exame de Ordem/2005.

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PROVAS alto juízo de certeza, e, não plenas, ou semiplenas, que se
baseiam em probabilidades, possibilidades; c) quanto ao
O objeto das provas abrange o fato criminoso e sua objeto a ser provado, podem ser as provas reais, quando con-
autoria, todas as circunstâncias objetivas e subjetivas que sistirem de coisa ou bem fora do indivíduo, ou, pessoais, que
podem influir na responsabilidade penal e na fixação da exprimem o conhecimento atribuído a uma pessoa; d) quanto
pena ou na imposição da medida de segurança.1 à forma, podem ser documentais, testemunhais e materiais.
Nesse sentido, Mirabete (2000, p. 157) conclui que a
prova não abrange apenas o fato criminoso e sua autoria, Fatos que Dependem e Independem de Prova
mas também as “circunstâncias objetivas e subjetivas que
possam influir na responsabilidade penal e na fixação da Na instrução processual, nem todos os fatos relevantes
pena ou na imposição de medida de segurança”, ou seja, devem ser submetidos à atividade probatória.6
tudo aquilo que, de uma forma ou de outra, seja relevante Ensina Nucci (2003, p. 298-299) que alguns fatos não
para formar o convencimento do órgão julgador. necessitam ser provados, a exemplo dos fatos notórios,
Guilherme Nucci (2003, p. 293) explica a origem da cujo conhecimento integra a cultura do homem mediano,
palavra no latim – probatio – que significa ensaio, exame, abrangendo: a) aqueles decorrentes das diversas ciências;
aprovação ou confirmação. Arremata o autor que, desse b) os decorrentes da lógica (fatos intuitivos); c) os originários
termo, deriva o verbo provar – probare – significando ensaiar, de presunção legal absoluta (juris et de jure), os quais não
examinar, reconhecer por experiência, aprovar, estar satisfei- admitem prova em contrário; d) os fatos impossíveis, como
to com algo, persuadir alguém a alguma coisa ou demonstrar. dizer que “o réu estava na lua no dia do crime”; e e) os irre-
A finalidade da prova é convencer o julgador a respeito levantes ou impertinentes, assim considerados aqueles que
da verdade de um fato que as partes pretendem demonstrar. não dizem respeito à solução da causa.
O magistrado é o destinatário dos atos de prova. Já os fatos incontroversos dependem de prova. No pro-
Mirabete (2000, p. 256) destaca que provar é cesso penal, deve ser objeto de prova o fato incontroverso,
ou seja, alegado pela acusa­ção e admitido pelo réu.7 Ainda
produzir um estado de certeza, na consciência e que o acusado confesse, a acusação deve comprovar a ma-
mente do juiz, para sua convicção, a respeito da exis- terialidade e autoria delitiva. A própria confissão pode ser
tência ou inexistência de um fato, ou da verdade ou questionada pelo julgador.
falsidade de uma afirmação sobre uma situação de Em regra, o direito não precisa ser provado, eis que o
fato, que se considera de interesse para uma decisão juiz deve conhecê‑lo (jura novit curia). Isto em relação ao
judicial ou a solução de um processo. direito federal, já que o direito estadual, distrital, municipal,
alienígena ou consuetudinário deve ser provado pela parte.8
Os indícios são admitidos como elementos de convicção O nosso ordenamento jurídico admite a condenação
e integram o sistema de articulação de provas, pois com base em prova indiciária. Trata‑se de prova circunstan-
autorizam, por indução, concluir-se a existência de cial, baseada em indícios. Indício, por sua vez, é 
circunstâncias relacionadas ao delito.2
O direito à prova deriva da garantida constitucional do toda circunstância conhecida e provada, a  partir
due process of law. (GRINOVER et al, 2001, p. 122-126) da qual, mediante raciocínio lógico, pelo método
O direito processual regula os meios de prova, que são indutivo, obtém‑se a conclusão sobre um outro
os instrumentos que trazem os elementos de convicção aos fato. A indução parte do particular e chega ao geral.
autos. A finalidade da prova é o convencimento do juiz, que (CAPEZ, 2005, p. 334).
é seu destinatário.3
Desta forma, a prova indiciária tem a mesma força pro-
Conceito e Classificação bante que qualquer outra prova direta, como a testemunhal,
a documental ou a pericial.9
Prova é geradora da convicção do juiz para que se pro- Referida afirmação não é pacífica, já tendo sido assevera-
nuncie acerca de determinado fato, declarando a existência do em certames públicos que não se admite a condenação do
da responsabilidade criminal e impondo, conforme o caso, réu com base apenas em indício, diante da impossibilidade
a sanção penal.4 de produção de outras provas, ainda que o julgador funda-
O termo prova, segundo Grinover, Scarance e Gomes mente sua decisão.
Filho (2001, p. 120-121), pode ser distinguido em fontes
Noções de Direito Processual Penal

de prova (os fatos percebidos pelo juiz), meios de prova Sistemas de Apreciação da Prova
(instrumentos pelos quais os fatos se apresentam ao juiz) e
objetos de prova (os fatos a serem provados). Sistema da Persuasão Racional/Livre Apreciação/Livre
Mirabete (2000, p. 258) traz a seguinte classificação das Convencimento Motivado
provas: a) quanto ao objeto, diretas, quando se referirem
imediatamente ao fato a ser provado, ou, indiretas, quando O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da
se referem a outros fatos ligados ao fato a ser provado;5 b) prova, não ficando adstrito a critérios valorativos, sendo
quanto ao efeito ou valor, plenas, quando completas e com livre a sua escolha, aceitação e valoração.10
1
Assunto cobrado nas seguintes provas: 17º Concurso Público para Procurador
6
Assunto cobrado na prova do Cespe/Bacen/Procurador/Questão 84/Assertiva
da República/1999 e Cespe/TJ‑AP/Analista Judiciário/2003-2004. c/2009.
2
MPE-MS/Promotor de Justiça Substituto/Questão 38/Item III/2011.
7
Assunto cobrado na prova da Funiversa/PC-DF/Delegado de Polícia/Questão
3
Cespe/Bacen/Procurador/Questão 84/Assertiva a/2009. 23/Assertiva b/2009.
4
Enunciado de questão do Cespe/TJ‑AP/Oficial de Justiça Avaliador/2004;
8
Assunto cobrado na prova do Cespe/Bacen/Procurador/Questão 84/Assertiva d/
Assunto cobrado na prova do Ieses/TJ‑MA/Analista Judiciário/Direito/2009. 2009.
5
Assunto cobrado na prova do Cespe/Bacen/Procurador/Questão 84/Assertiva
9
MPDFT/28º Concurso/Promotor/2009.
b/2009. 10
Funiversa/PC-DF/Delegado de Polícia/Questão 21/Assertiva D/2009.

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da Admitem‑se no processo penal inclusive os meios
prova produzida em contraditório judicial, não podendo de prova não arrolados no Código de Processo Penal.19
fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos O juiz não está restrito ao rol contido no Código de Processo
informativos colhidos na investigação, ressalvadas as pro- Penal. No entanto, o princípio da liberdade probatória não
vas cautelares, não repetíveis e antecipadas.11 Trata‑se do é absoluto.20
princípio da par conditio.12
Não há hierarquia entre as provas. O  juiz as aprecia
Assim, as provas cautelares antecipadas podem ser
e lhes dá o valor que entender devido, sempre de forma
consideradas pelo juiz na formação da sua convicção, ainda
fundamentada.
que não reproduzidas perante o contraditório.13
Sabendo‑se que a busca da verdade real e o sistema do
Vige em nosso sistema processual penal o princípio do
livre convencimento do juiz (que conduzem ao princípio
livre convencimento motivado ou da persuasão racional, se-
da liberdade probatória) levam a doutrina a constatar
gundo o qual compete ao juiz processante valorar com ampla
que os meios de prova permitidos na legislação brasileira
liberdade os elementos de prova dos autos, desde que o faça
não se esgotam nos arts. 158 e 250 do Código de Processo
motivadamente, devendo suas conclusões ser pautadas em
Penal, conclui‑se que a previsão legal não é exaustiva,
parâmetros de legalidade e razoabilidade. O juiz formará sua
mas exemplificativa, sendo admitidas as chamadas provas
convicção pela livre apreciação da prova.14
inominadas.21 Polastri (2009, p. 355) lista como exemplos
O supedâneo do referido sistema tem sede constitucional
de provas inominadas a inspeção judicial e a utilização de
(art. 93, IX, CF/1988).
gravações fonográficas e visuais.
Cintra, Grinover e Dinamarco (2000, p. 352) asseveram
que Como corolário do sistema da verdade real, o juiz pode
ouvir testemunhas arroladas extemporaneamente pelas
partes, como testemunhas do juízo. Essa oitiva pode ser
persuasão racional, no sistema do devido processo le- efetivada mesmo após o término da instrução ou mesmo
gal, significa convencimento formado com liberdade após oferecidas as alegações finais.22 (STJ, HC nº 61.001/
intelectual, mas sempre apoiado na prova constante RS, Min. Gilson Dipp, Quinta Turma, DJ 18/6/2007, p. 280)
dos autos e acompanhado do dever de fornecer a
motivação dos caminhos do raciocínio que conduzi-
Sistema da Prova Legal ou Tarifada
ram o juiz à conclusão.
Não vigora mais entre nós o sistema das provas tarifadas,
Por isso, a confissão do réu, quando desarmônica com as
segundo o qual o legislador estabelecia previamente o valor,
demais provas do processo, deve ser valorada com reservas.
a força probante de cada prova. Referido sistema teve ampla
Segundo o STJ,
aplicação na Idade Média, em face da utilização do sistema
processual inquisitório. O princípio da valoração legal não
a palavra do corréu, condenado no mesmo proces- é aplicável às provas no processo penal pátrio.23
so, é importante elemento de convicção do juiz, No entanto, há resquícios deste sistema em nossa le-
quando se ajusta ao conjunto da prova dos autos, gislação. Quanto ao estado das pessoas, serão observadas
principalmente, se de forma veemente15 (STJ, REsp as restrições estabelecidas na lei civil (parágrafo único do
nº 194.714/MG, Min. Hamilton Carvalhido, Sexta art. 155 do CPP). Com efeito, no juízo penal, não se obser-
Turma, DJ 17/9/2001, p. 200). vam, na produção de provas, as restrições da lei civil, salvo
quanto ao estado das pessoas.24
O processo penal adota o princípio da identidade física Assim, no caso de morte do acusado, o juiz somente à
do juiz, mas não é o contato do juiz com qualquer prova vista da certidão de óbito, e depois de ouvido o Ministério
que o vincula ao julgamento do feito. Apenas em caso de Público, declarará extinta a punibilidade.25
colheita de prova oral ficará adstrito a julgar a causa.16 Há ainda outra hipótese de prova tarifada em nossa legis-
A prova deve ser produzida em contraditório judicial, lação processual penal. Nos crimes que deixarem vestígios,
não podendo fundamentar o magistrado sua decisão exclu- é obrigatório o exame de corpo de delito.
sivamente nos elementos informativos colhidos na inves-
tigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e
Sistema da Convicção Íntima
antecipadas, sobre as quais o contraditório é efetivado na
Noções de Direito Processual Penal

fase judicial (art. 155 do CP).17


Com base no princípio do livre convencimento, pode o Existe ainda no ordenamento brasileiro resquício de
juiz, de ofício, determinar a produção de provas.18 julgamento por convicção íntima.26
Nem todos os juízes e membros de tribunais penais
formarão a sua convicção pela livre apreciação da prova,
11
Assunto cobrado nas seguintes provas: MPE-MS/Promotor de Justiça Subs-
tituto/Questão 38/Item II/2011; Vunesp/TJ-SP/Juiz/Questão 50/Item I/2011
e FGV/SSP‑RJ/Oficial de Cartório/2009. 19
Assunto cobrado na prova da FCC/TJ‑RR/Juiz de Direito Substituto/2008.
12
Cespe/TRE‑MA/Analista Judiciário/2009. 20
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑DF/2º Exame de Ordem/2004 e
13
Vunesp/TJ-SP/Juiz/Questão 50/Item II/2011 NCE/Delegado da Polícia Civil do DF/2004.
14
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑DF/1º Exame de Ordem/2005; 21
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/TRE‑MT/Analista Judiciá-
TJ‑RJ/Oficial de Justiça Avaliador; Vunesp/OAB‑SP/128º Exame e Cespe/ rio/2004-2005.
TRE‑AL/Analista Judiciário/2004. 22
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/Juiz Substituto/TJ‑CE/2005-2004.
15
Assunto cobrado na prova do Cespe/PC‑RN/Delegado de Polícia Civil Substi- 23
Assunto cobrado na prova da OAB‑RO/40º Exame.
tuto/2009. 24
Assunto cobrado nas seguintes provas: TRF 4ª Região/IX Concurso/Juiz Federal
16
Ieses/TJ-MA/Analista Judiciário/Questão 87/Item IV/2011. Substituto e TJ‑RN/Oficial de Justiça/2002.
17
Assunto cobrado na prova da FGV/SSP‑RJ/Oficial de Cartório/2009. 25
Assunto cobrado nas seguintes provas: IBFC/MPE-SP/Oficial de Promotoria/
18
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑DF/2º Exame de Ordem/2004; Questão 50/Item I/2011; OAB‑MS/81º Exame de Ordem/2005; TJ‑RN/Oficial
Cespe/PC‑PB/Perito Oficial Criminal/2009; Cespe/PM‑DF/Soldado/2009 e de Justiça/2002 e TJ‑RJ/Oficial de Justiça Avaliador.
Movens/PC-PA/Delegado/Questão 30/Assertiva A/2009. 26
Assunto cobrado na prova da FCC/TJ‑RR/Juiz de Direito Substituto/2008.

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
fundamentando todas as suas decisões, sob pena de nulida- Princípio da Publicidade
de27. Com efeito, nos termos do art. 5º, XXXVIII, da CF/1988,
no julgamento dos crimes dolosos contra a vida, os jurados A Constituição Federal estabelece:
devem guardar sigilo em relação aos motivos pelos quais
entendem ser o réu culpado ou inocente.
a) a lei só poderá restringir a publicidade dos atos
Segundo o STF, o convencimento do juiz‑presidente do
processuais quando a defesa da intimidade ou o
Tribunal do Júri, exigido na lei,
interesse social o exigirem (art. 5º, LX);
não é obviamente a convicção íntima do jurado, b) todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciá-
que os princípios repeliriam, mas convencimento rio são públicos, e fundamentadas todas as decisões,
fundado na prova: donde, a exigência – que aí cobre sob pena de nulidade, podendo a lei, se o interesse
tanto a da existência do crime, quanto da ocorrên- público o exigir, limitar a presença, em determina-
cia de indícios de autoria, de que o juiz decline, na dos atos, às próprias partes e a seus advogados, ou
decisão, ‘os motivos do seu convencimento’. (STF, somente a estes (art. 93, IX); e
HC  nº  81.646/PE, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, c) todos têm direito a receber dos órgãos públicos
Primeira Turma, Julgamento: 4/6/2002) informações de seu interesse particular, ou de inte-
resse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo
Princípios das Provas da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas
aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança
São princípios gerais aplicáveis às provas no processo da sociedade e do Estado (art. 5º, XXXIII).
penal pátrio: oralidade, publicidade, concentração28,
licitude da prova, verdade real29, liberdade probatória, Com base em tais princípios, o art. 792 do CPP deter-
comunhão da prova (aquisição), persuasão racional, con- mina que
traditório, proporcionalidade e não autoincriminação.
As audiências, sessões e os atos processuais serão,
Princípio da Oralidade em regra, públicos e se realizarão nas sedes dos
juízos e tribunais, com assistência dos escrivães, do
Com base no princípio da oralidade, tanto quanto possí- secretário, do oficial de justiça que servir de porteiro,
vel, busca‑se, com um mínimo de atuação judicante, a má- em dia e hora certos, ou previamente designados.
xima eficácia das normas que compõem a ordem jurídica.
Pode ser considerado, ainda, como princípio da oralidade a
necessidade de que o juiz que presidiu a instrução deve ser O juiz pode restringir a publicidade na fase judicial. A tí-
o mesmo a proferir a sentença, materializando o princípio tulo de exemplo, o § 1º do art. 792 do CPP determina que
da identidade física do juiz.30 (art. 399, § 2º, do CPP, incluído
pela Lei nº 11.719, de 2008). Se da publicidade da audiência, da sessão ou do ato
processual, puder resultar escândalo, inconveniente
Princípio da Concentração grave ou perigo de perturbação da ordem, o juiz, ou
o tribunal, câmara, ou turma, poderá, de ofício ou
O princípio da oralidade traz consigo o princípio da a requerimento da parte ou do Ministério Público,
concentração. Os atos processuais devem, sempre que determinar que o ato seja realizado a portas fecha-
possível, praticar‑se em uma só audiência ou em audiências das, limitando o número de pessoas que possam
de tal modo próximas no tempo que as impressões do juiz estar presentes.
colhidas na audiência não se apaguem da sua memória.
Com base em tal princípio, o art. 400 do CPP, com a O § 6º do art. 201 do CPP, incluído pela Lei nº 11.690, de
redação dada pela Lei nº 11.719, de 2008, prevê a audi- 2008, determina ainda que
ência de instrução e julgamento, a ser realizada no prazo
máximo de 60 (sessenta) dias, onde se procederá à tomada O juiz tomará as providências necessárias à preserva-
de declarações do ofendido, à inquirição das testemunhas ção da intimidade, vida privada, honra e imagem do
arroladas pela acusação e pela defesa, nesta ordem, bem ofendido, podendo, inclusive, determinar o segredo
como aos esclarecimentos dos peritos, às acarea­ções e ao
de justiça em relação aos dados, depoimentos e ou-
Noções de Direito Processual Penal

reconhecimento de pessoas e coisas, interrogando‑se, em


tras informações constantes dos autos a seu respeito
seguida, o acusado. O art. 403 determina que, ao final da
para evitar sua exposição aos meios de comunicação.
referida audiência, o juiz proferirá a sentença.
Daí decorre a necessidade de o juiz que presidiu a ins-
trução ser o mesmo a proferir a sentença, materializando Também é mitigado o princípio da publicidade em sede
o princípio da identidade física do juiz (art. 399, § 2º, do da investigação preliminar ao processo penal. Com efeito,
CPP, incluído pela Lei nº 11.719, de 2008). É o princípio da pela natureza inquisitiva do Inquérito Policial, a autoridade
continuidade da audiência, que resguarda os princípios da assegurará no Inquérito o sigilo necessário à elucidação
imediação, da concentração e da celeridade processuais. dos fatos.

Princípio da Liberdade Probatória


27
TJ‑RJ/Oficial de Justiça Avaliador, assertiva feita a partir de proposição falsa.
28
Assunto cobrado na prova da OAB‑RO/40º Exame.
29
Assunto cobrado no concurso do Tribunal de Justiça do DF e Territórios/Juiz Em regra, o  juiz é livre na admissão e valoração das
de Direito Substituto/2007. provas, salvo as hipóteses de prova tarifada e determinadas
30
Assunto cobrado na prova da Funiversa/PC-DF/Delegado de Polícia/Questão
23/Assertiva A/2009. hipóteses de provas ilícitas.

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Princípio da Licitude da Prova Por outro lado, é lícita a prova obtida mediante escuta
telefônica que incrimina outra pessoa e não o investigando
Cintra, Grinover e Dinamarco (2000, p. 349) notam que, em cujo nome constava telefone objeto da autorização
como é por meio da atividade probatória que se procura judicial prevista na Lei nº 9.296/1996.36 Tem‑se, ainda,
demonstrar a ocorrência ou não dos fatos tidos por crimino- que não constitui prova ilícita a quebra do sigilo bancário,
sos, em tese, não deveriam existir limitações ou restrições sem autorização judicial, quando o réu, corroborando as
à admissibilidade de quaisquer meios de catalogação fática. informações prestadas pela instituição bancária, as utiliza
Entretanto, o princípio da liberdade probatória não é para sustentar sua defesa.37 (STF; HC nº 74.197/RS; Relator
absoluto. A verdade real não pode ser utilizada para abusos Ministro Francisco Rezek; Segunda Turma; Julgamento:
e arbitrariedades. Nesse sentido, a Carta Magna, em seu 26/11/1996)
art.  5º, LVI, declarou serem “inadmissíveis, no processo, A gravação que não interessar à prova será inutiliza-
as provas obtidas por meio ilícito”. da por decisão judicial, durante o inquérito, a instrução
Alexandre de Moraes (2003, p. 261) destaca que processual ou, após esta, em virtude de requerimento do
Ministério Público ou da parte interessada.38
a inadmissibilidade das provas ilícitas no processo Preclusa a decisão de desentranhamento da prova decla-
deriva da posição preferente dos direitos fundamen- rada inadmissível, esta será inutilizada por decisão judicial,
tais no ordenamento jurídico, tornando impossível facultado às partes acompanhar o incidente. (art. 157, § 3º
a violação de uma liberdade pública para obtenção do CPP).
de qualquer prova. Prova ilegítima – é assim denominada quando houver
violação de normas de direito processual, como a violação
A prova ilegal, que afronta norma legal ou princípio, do contraditório (não se abrindo vista às partes para se ma-
seja de natureza processual ou material, subdivide‑se em: nifestar sobre algum documento juntado ou mesmo ouvindo
Prova ilícita – quando for obtida com a inobservância
testemunhas da defesa antes da acusação), da ampla defesa
de normas de direito material, principalmente com status
(indeferimento de prova apta a ingressar no processo), da
constitucional31, tais como a violação à vida privada, às co-
utilização de prova emprestada, sem a participação do
municações telefônicas (gravação ou escuta clandestina),
acusado no processo originário etc. São aquelas produzidas
à correspondência, ao domicílio (busca e apreensão sem
com violação das normas processuais colocadas em função
autorização judicial), aos  dados bancários (violação de
extrato bancário sem autorização judicial), à utilização de de interesses atinentes à lógica e à finalidade do processo.39
tortura (violência física ou psicologia para obter confissão Constitui, em regra, modalidade de prova ilegítima a jun‑
na esfera policial), bem como à integridade física (utilização tada de documentos no momento da apresentação das
de bafômetro, exame de sangue, contra a vontade do réu). alegações finais no rito do Júri.40
Assim, ilícitas são as provas que afrontam norma de A vedação da produção de provas obtidas por meios ilí-
direito material.32 citos previstas na CF/1988 refere‑se tanto às provas obtidas
As provas ilícitas, assim entendidas as obtidas em viola- com a inobservância de normas de direito material quanto
ção a normas constitucionais ou legais, são inadmissíveis, às normas de direito processual (art. 5º, LVI, CF/1988).
devendo ser desentranhadas do processo quando forem Referida proibição, apesar de possuir natureza de ga-
entendidas como tal (art. 157 do CPP).33 rantia constitucional, não deve ser interpretada de forma
Considera‑se prova ilícita a quebra do sigilo das co- absoluta. Portanto, existe no processo penal a possibilidade
municações telefônicas para fins de investigação criminal, de avaliação de prova obtida por meios ilícitos.41
por ordem judicial, antes do advento da Lei nº 9.296/1996 Pelo princípio da instrumentalidade das formas, não se
(interceptação telefônica).34 declarará nulo o ato processual que não houver influído na
Não se admite a interceptação de comunicações apuração da verdade substancial ou na decisão da causa.42
telefônicas quando o fato investigado constitui infração Eventuais vícios do inquérito policial, por exemplo, não
penal punida, no máximo, com pena de detenção.35 Nesse contaminam o acervo probatório arrecadado na fase judicial
sentido, o art. 2º da Lei nº 9.296/1996 estabelece que não sob o crivo do contraditório, sendo, portanto, prematura
será admitida a interceptação de comunicações telefônicas a aplicação da teoria dos frutos da árvore envenenada
quando ocorrer qualquer das seguintes hipóteses: I – não
Noções de Direito Processual Penal

nessa fase.43
houver indícios razoáveis da autoria ou participação em Assim, a regra de não se admitir as provas ilícitas em um
infração penal; II – a prova puder ser feita por outros meios processo tem exceções, dado que os direitos fundamentais
disponíveis; III – o fato investigado constituir infração penal não são absolutos. A prova colhida com infringência a
punida, no máximo, com pena de detenção.
Destaca, ainda, que, em qualquer das hipóteses, deve
36
Cespe/Defensoria Pública da União/Defensor Público da União de 2ª Catego-
ser descrita com clareza a situação objeto da investigação, ria/2001.
inclusive com a indicação e qualificação dos investigados,
37
Assunto cobrado na prova do Cespe/Defensoria Pública da União/Defensor
Público da União de 2ª Categoria/2001.
salvo impossibilidade manifesta, devidamente justificada.
38
Assunto cobrado na prova do Cespe/TRF 1ª Região/Juiz Federal Substituto/
Questão 26/Assertiva A/2011.

31
Assunto cobrado na seguinte prova: OAB‑MG/Comissão de Exame de
39
Assunto cobrado na prova do MPE-MS/Promotor de Justiça Substituto/
Ordem/2008. Questão 38/Item I/2011.

32
Cespe/TRE- MT/Analista Judiciário/2004-2005.
40
NCE/Delegado da Polícia Civil do DF/2004.

33
Assunto cobrado na prova do Cespe/TRF 5ª Região/Juiz Federal Substi-
41
Assunto cobrado nas seguintes provas: NCE/Delegado da Polícia Civil do
tuto/2009. DF/2004 e Cespe/TJ‑AP/Oficial de Justiça Avaliador/2004.

34
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/Defensoria Pública da União/
42
OAB‑SP/121º Exame de Ordem/2003.
Defensor Público da União de 2ª Categoria/2001.
43
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/TSE/Analista Judiciário/2007

35
Cespe/DPE-ES/Defensor Público/Questão 55/2009. e Cespe/TSE/Analista Judiciário/2007.

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direitos fundamentais previstos na Constituição Federal sob a ótica da defesa, consubstanciando em manifestação
de 1988 pode, em determinadas hipóteses, ser utilizada do princípio do favor rei. Como exemplo, cita‑se hipótese de
no processo penal.44 gravação de conversa telefônica por parte do acusado para
Dessa forma, são consideradas provas ilícitas aquelas provar sua própria inocência.
que ao serem produzidas violam normas constitucionais.45 Uma vez não admitida a prova, por ser ilícita, eis que não
Há teorias que explicam o possível ingresso de provas ultrapassados os parâmetros destacados acima, todas as pro-
ilícitas no processo, como a teoria da proporcionalidade. vas que dela decorrerem imediatamente também passarão
Teoria da Proporcionalidade  – visa a admitir provas a ser ilícitas, ainda que obtidas de forma lícita.
ilícitas em casos de extrema gravidade. Em tais casos, de Trata‑se do princípio das provas ilícitas por derivação.
forma excepcional, admite‑se a prova ilícita para o fim de Com base nele, são também inadmissíveis as provas deri-
se equilibrar os direitos fundamentais, sendo requisitos para vadas das ilícitas, salvo quando não evidenciado o nexo de
tanto a adequação, a necessidade e a proporcionalidade no causalidade entre umas e outras, ou quando as derivadas
que se refere ao choque entre os direitos. puderem ser obtidas por uma fonte independente das
primeiras (art. 157, § 1º, do CPP)49. Também há que se falar
Alexandre de Moraes (2003, p. 263), tratando da atenu-
na exceção da descoberta inevitável, que tem lugar quando
ação do princípio da proibição das provas obtidas por meios
a obtenção da prova derivada ocorreria mesmo sem a utili-
ilícitos, destaca, in verbis:
zação da prova ilícita.
Produzida prova ilícita em sede inquisitiva, as provas
Essa atenuação prevê, com base no Princípio da Pro-
que dela derivarem, mesmo que produzidas exclusiva‑
porcionalidade, hipóteses de admissibilidade das pro-
mente em fase acusatória, serão consideradas ilícitas por
vas ilícitas, que, sempre em caráter excepcional e em
derivação.50
casos extremamente graves, poderão ser utilizadas,
A teoria da prova ilícita por derivação está fundada na
pois nenhuma liberdade pública é absoluta, havendo
conhecida teoria fruits of the poisoned tree, da Suprema Cor-
possibilidade, em casos delicados, em que se perceba
te americana, segundo a qual o vício da planta se transmite
que o direito tutelado é mais importante que o direito
a todos os seus frutos.
à intimidade, segredo, liberdade de comunicação, por
Trata‑se de princípio implícito, dado que a Constituição
exemplo, de permitir‑se sua utilização.
Federal não consagra expressamente a conhecida teoria
dos frutos da árvore envenenada em matéria criminal.51
Traz‑se, ainda, entendimento no STF no sentido de que
A título de exemplo: se Joaquim, indiciado em inquérito
policial, em seu interrogatório na esfera policial, foi cons‑
a gravação de conversa telefônica feita por um dos
trangido ilegalmente a indicar uma testemunha presencial
interlocutores, sem conhecimento do outro, quan-
do crime de que era acusado. A testemunha foi regularmente
do ausente causa legal de sigilo ou de reserva da
ouvida e em seu depoimento apontou Joaquim como autor do
conversação não é considerada prova ilícita,46 (STF,
delito. Nessa situação, o depoimento da testemunha, apesar
AI 578.858 AgR/RS, Rel. Min. Ellen Gracie, Segunda
de lícito em si mesmo, é considerado ilícito por derivação,
Turma, Julgamento: 4/8/2009).
uma vez que foi produzido a partir de uma prova ilícita.52
Verifica‑se que a ilicitude da obtenção da prova trans-
A gravação de conversa telefônica por um dos interlo‑
mite‑se às provas subsequentes que dela são derivadas,
cutores não é considerada interceptação telefônica, ainda
sendo todas desentranhadas do processo, demonstrando
que tenha sido feita com a ajuda de um repórter, pois, nesse
a aplicação da teoria dos frutos da árvore envenenada.53
caso, a gravação é clandestina, mas não ilícita, nem ilícito
Isto ocorrerá se a prova originária for absolutamente deter-
é seu uso, em particular como meio de prova.47
minante para o descobrimento das provas derivadas. Com
Tem‑se ainda que caso o chefe do crime organizado de
efeito, se a prova decorrente também deriva de outras fontes
determinado estado, custodiado em presídio de segurança
independentes, não há contaminação.
máxima, receba carta de um comparsa com informações
Considera‑se fonte independente aquela que por si só,
acerca do sequestro do governador desse estado, que seria
seguindo os trâmites típicos e de praxe, próprios da investi-
realizado no dia seguinte, o ordenamento jurídico não pro-
gação ou instrução criminal, seria capaz de conduzir ao fato
íbe que a administração penitenciária intercepte a referida
objeto da prova. (art. 157, § 2º, do CPP).
carta, em respeito à garantia constitucional do sigilo de
Vejamos ementa elucidativa do STF sobre o tema:
correspondência; além disso, caso ocorra a interceptação,
Noções de Direito Processual Penal

o conteúdo da carta poderá ser considerado meio de prova


contra o destinatário.48 A QUESTÃO DA DOUTRINA DOS FRUTOS DA ÁRVORE
Teoria da Proporcionalidade e prova ilícita pro reo – é ENVENENADA (FRUITS OF THE POISONOUS TREE): A
praticamente unânime a possibilidade de utilização, no QUESTÃO DA ILICITUDE POR DERIVAÇÃO. – Ninguém
processo penal, da prova favorável ao acusado, ainda que pode ser investigado, denunciado ou condenado com
colhida com infringência a direitos fundamentais seus ou de base, unicamente, em provas ilícitas, quer se trate
terceiros, em face da necessidade de se resguardar o jus liber- de ilicitude originária, quer se cuide de ilicitude por
tatis. Trata‑se de aplicação do princípio da proporcionalidade, derivação. Qualquer novo dado probatório, ainda que


44
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/TJ‑AP/Oficial de Justiça Avaliador/
49
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/TRE‑MA/Analista Judi-
2004, assertiva feita a partir de item falso. ciário/2009 e Funiversa/PC-DF/Delegado de Polícia/Questão 23/Assertiva

45
OAB‑MG/Comissão de Exame de Ordem/2008. D/2009.

46
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/AGU/Advogado/2012 e Cespe/
50
FCC/DPE-SP/Assertiva E/2012.
TJ-PB/Juiz Substituto/Questão 50/Assertiva B/2011 e Funiversa/PC-DF/Del-
51
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑SP/123º Exame de Ordem/2004
egado de Polícia/Questão 21/Assertiva B/2009. e FCC/TJ‑RR/Juiz de Direito Substituto/2008.

47
Cespe/TRF 5ª Região/Juiz Federal Substituto/2009.
52
Cespe/PGE‑ES/Procurador de Estado/2008.

48
Assunto cobrado na prova do Cespe/TRE‑MA/Analista Judiciário/2009.
53
Assunto cobrado na prova da Vunesp/TJ-SP/Juiz/Questão 50/Item IV/2011.

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produzido, de modo válido, em momento subsequen- Já no que se refere ao Processo Penal, que tutela direitos
te, não pode apoiar‑se, não pode ter fundamento indisponíveis, o interesse público se sobrepõe ao privado,
causal nem derivar de prova comprometida pela o que confere poderes ao magistrado para que promova
mácula da ilicitude originária. – A exclusão da prova a livre investigação das provas. Trata‑se do princípio da
originariamente ilícita – ou daquela afetada pelo vício verdade real.
da ilicitude por derivação – representa um dos meios Este princípio não é absoluto. Com efeito, têm aplicação
mais expressivos destinados a conferir efetividade à no processo penal os fenômenos da preclusão temporal e
garantia do due process of law e a tornar mais intensa, consumativa, bem como institutos de aplicação nas ações
pelo banimento da prova ilicitamente obtida, a tutela penais privadas, como o perdão e a perempção.
constitucional que preserva os direitos e prerrogati-
vas que assistem a qualquer acusado em sede pro- Princípio da Comunhão da Prova (Aquisição)
cessual penal. Doutrina. Precedentes. – A doutrina da
ilicitude por derivação (teoria dos “frutos da árvore O princípio da comunhão da prova determina que a prova
envenenada”) repudia, por constitucionalmente inad- não pertence à parte que a produziu. Uma vez inserida no
missíveis, os meios probatórios, que, não obstante processo, passa a integrá‑lo, podendo ser usada tanto pela
produzidos, validamente, em momento ulterior, acusação quanto pela defesa. Não pode a parte, ainda, pre-
acham‑se afetados, no entanto, pelo vício (gravíssi- tender utilizar a prova só no que lhe aproveita, sendo, por
mo) da ilicitude originária, que a eles se transmite, isso, a prova chamada de divisível.
contaminando‑os, por efeito de repercussão causal.
Hipótese em que os novos dados probatórios somen- Princípio da Persuasão Racional
te foram conhecidos, pelo Poder Público, em razão
de anterior transgressão praticada, originariamente, Não há hierarquia entre as provas. O  juiz as aprecia
pelos agentes estatais, que desrespeitaram a garantia e lhes dá o valor que entender devido, sempre de forma
constitucional da inviolabilidade domiciliar. – Reve- fundamentada.
lam‑se inadmissíveis, desse modo, em decorrência
da ilicitude por derivação, os elementos probatórios Princípio do Contraditório (Bilateralidade/Audiên­cia
a que os órgãos estatais somente tiveram acesso em Contraditória)
razão da prova originariamente ilícita, obtida como
resultado da transgressão, por agentes públicos, Toda juntada de material probatório admite que seja
de direitos e garantias constitucionais e legais, cuja oportunizada a realização de contraprova, e as partes podem
eficácia condicionante, no plano do ordenamento participar da produção das provas.
positivo brasileiro, traduz significativa limitação de Grinover, Scarance e Gomes Filho (2000, p. 122) destacam
ordem jurídica ao poder do Estado em face dos que o direito à prova
cidadãos. – Se, no entanto, o órgão da persecução
penal demonstrar que obteve, legitimamente, novos não tem como objetivo a defesa entendida em sen-
elementos de informação a partir de uma fonte autô- tido negativo – como oposição ou resistência – mas
noma de prova – que não guarde qualquer relação de sim principalmente a defesa vista em sua dimensão
dependência nem decorra da prova originariamente positiva, como influência, ou seja, como direito de
ilícita, com esta não mantendo vinculação causal –, incidir ativamente sobre o desenvolvimento e o
tais dados probatórios revelar‑se‑ão plenamente ad- resultado do processo.
missíveis, porque não contaminados pela mácula da
ilicitude originária. – A QUESTÃO DA FONTE AUTÔNO- Mesmo ao determinar a produção de ofício de deter-
MA DE PROVA (AN INDEPENDENT SOURCE) E A SUA minada prova, o  juiz oportuniza às partes o exercício do
DESVIN­CULAÇÃO CAUSAL DA PROVA ILICITAMENTE contraditório.
OBTIDA – DOUTRINA – PRECEDENTES DO SUPREMO Dessa forma, as provas antecipadas serão produzidas
TRIBUNAL FEDERAL (RHC nº 90.376/RJ, Rel. Min. na presença do Ministério Público e do defensor dativo.55
Celso de Mello, v.g.) – JURISPRUDÊNCIA COMPARADA
(A EXPERIÊNCIA DA SUPREMA CORTE AMERICANA): Princípio da Proporcionalidade
CASOS “SILVERTHORNE LUMBER CO. V. UNITED STA-
TES (1920); SEGURA V. UNITED STATES (1984); NIX V. No processo penal, a produção das provas deve se nor-
WILLIAMS (1984); MURRAY V. UNITED STATES (1988)”, tear pelo princípio da proporcionalidade. A necessidade do
Noções de Direito Processual Penal

v.g.. (STF, HC nº 93.050/RJ, Rel. Min. Celso de Mello, ato probatório deve ser indispensável, já que a liberdade
e dignidade da pessoa humana também são princípios do
Segunda Turma, Julgamento: 10/6/2008)
processo. Dessa forma, pode‑se promover uma busca e
apreensão de documentos em vez de se decretar uma prisão
Conclui‑se, assim, que são inadmissíveis no processo as
preventiva com o objetivo de garantir a instrução criminal se
provas obtidas por meios ilícitos. Adicionalmente, segundo
ambas tiverem o mesmo efeito prático.
entendimento majoritário do STF, decreta‑se a nulidade das
provas subsequentes obtidas com fundamento na ilícita
Princípio da Não Autoincriminação
(prova ilícita por derivação).54
Princípio da Verdade Real Na Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto
de São José da Costa Rica), foi reconhecido o princípio do
Na seara do processo civil, o juiz pode satisfazer‑se com a nemo tenetur se detegere entre as garantias mínimas a serem
verdade formal, consubstanciada na verdade criada por atos observadas ao acusado. Desta forma, toda pessoa acusada
ou omissões das partes, presunções, ficções e transações. de um crime tem direito a não se autoincriminar.


54
Cespe/Delegado de Polícia Federal/2002.
55
TJ‑SP/Comarca de Santos/Oficial de Justiça/1999.

102 Este eBook foi adquirido por ANA PAULA TORQUATO DA COSTA - CPF: 628.848.913-15.
A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
Este direito pode ser exercido no curso do inquérito nosso país o princípio do processo acusatório que assegura
policial ou na fase judicial. a imparcialidade do magistrado, o juiz poderá, no curso da
Ada Pellegrini Grinover (1984, p. 111) inclui, ainda, instrução ou antes de proferir sentença, determinar, de ofí-
o direito de mentir como resguardo da prerrogativa consti- cio, diligências para dirimir dúvida sobre ponto relevante.60
tucional de defesa:
Prova Emprestada
O réu, sujeito da defesa, não tem obrigação nem
dever de fornecer elementos de prova que o preju- É a prova, em regra pericial ou testemunhal, produzida
diquem. Pode calar‑se ou até mesmo mentir. Ainda em um processo, sendo trasladada por cópia ou certidão,
que se quisesse ver no interrogatório um meio de para outro processo, onde terá caráter documental. É aquela
prova, só seria em sentido meramente eventual, em produzida em um processo de natureza jurisdicional para
face da faculdade dada ao acusa­do de não responder. nele gerar efeitos e transportada para outro na forma de
A autoridade judiciária não pode dispor do réu como documento, conservando o seu valor originário.61 Grande
meio de prova, diversamente do que ocorre com as parte da doutrina entende que a prova emprestada só pode
testemunhas; deve respeitar sua liberdade, no sen- gerar efeito se, no processo originário, for produzida entre
tido de defender‑se como entender melhor, falando as mesmas partes do processo destinatário.
ou calando‑se, e  ainda advertindo‑o da faculdade Para a prova emprestada ser admitida, não é necessá-
de não responder. [...] o único arbítrio há de ser rio que as partes sejam iguais às constantes no processo
sua consciência, cuja liberdade há de ser garantida utilizado.62 Isto porque no processo penal, exige‑se apenas
em um dos momentos mais dramáticos para a vida que o réu seja o mesmo, pouco importando se a acusação
de um homem e mais delicado para a tutela de sua foi feita, em um processo, por representante do Ministério
dignidade. Público Estadual e em outro por representante do Ministério
Público Federal ou mesmo pelo querelante.
Ônus da Prova Com efeito, Grinover, Scarance e Gomes Filho (2000, p.
125-126) destacam que
Segundo Capez (2005, p. 273), o ônus da prova é “o encar-
go que têm os litigantes de provar, pelos meios admissíveis, o princípio constitucional do contraditório exige que a
a verdade dos fatos”. prova emprestada somente possa ter valia se produ-
O ônus da prova é de quem alegar. No processo penal, zida, no primeiro processo, perante quem suportará
quem deve provar a materialidade e a autoria é a acusação, seus efeitos no segundo, com a possibilidade de ter
eis que o processo penal se inicia por uma alegação de ma- contado, naquele, com todos os meios possíveis de
terialidade e autoria. Não compete, portanto, ao acusa­do contrariá‑la. Em hipótese alguma poderá a prova
provar ser inocente. Entretanto, se o réu alegar que agiu emprestada gerar efeitos contra quem não tenha
acobertado por uma excludente de ilicitude, culpabilidade, participado da prova no processo originário.
punibilidade, que lhe aproveitam circunstâncias atenu-
antes de pena ou benefícios legais, deve provar os fatos Segundo o STF, os 
alegados.56
A prova da alegação incumbirá a quem a fizer, mas o dados obtidos em interceptação de comunicações
juiz poderá, de ofício, ordenar a produção antecipada de telefônicas, judicialmente autorizadas para produção
provas consideradas urgentes e relevantes mesmo antes de de prova em investigação criminal ou em instrução
iniciada a ação penal, observando a necessidade, adequa- processual penal, bem como documentos colhidos
ção e proporcionalidade da medida.57 O juiz pode também na mesma investigação, podem ser usados em pro-
determinar, no curso da instrução, ou antes de proferir cedimento administrativo disciplinar, contra a mesma
sentença, a realização de diligências para dirimir dúvida ou as mesmas pessoas em relação às quais foram
sobre ponto relevante58 (art. 156 do CPP). Polastri (2009, p. colhidos, ou contra outros servidores cujos supostos
348) critica referido artigo, destacando que ilícitos teriam despontado à colheita dessas provas.
(STF, Pet nº 3.683 QO/MG, Rel. Min. Cezar Peluso;
deve ser entendido, em uma interpretação conforme Tribunal Pleno, Julgamento: 13/8/2008).
Noções de Direito Processual Penal

a Constituição, no sentido de que tal ‘ordenar do Juiz’


pressupõe pedido da parte se for em fase inquisito- Desta forma, percebe-se que o STF adota entendimento
rial, só podendo o juiz assim agir se já houver proces- que modifica os requisitos da prova emprestada, dispen-
so, sob pena de se incidir em inconstitucionalidade. sando identidade de réus e exercício do contraditório no
processo originário.
Dessa forma, a regra de que o ônus incumbe a quem faz
a alegação não é absoluta.59 Com efeito, embora vigore em Providência Cautelar de Busca e Apreensão


56
Assunto cobrado na prova da Funiversa/PC-DF/Delegado de Polícia/Questão A decisão exarada pela autoridade judiciária, para a
23/Assertiva C/2009. busca e apreensão, precisa ser fundamentada.63 Por con-
57
Assunto cobrado na prova da Vunesp/TJ-SP/Juiz/Questão 50/Item III/2011.
58
Assunto cobrado nas seguintes provas: TJ‑RN/Oficial de Justiça/2002;
OAB‑DF/1º Exame de Ordem/2005; TRF 5ª Região/Juiz Federal Substitu-
60
Assunto cobrado na seguinte prova: TJ‑RN/Oficial de Justiça/2002.
to/2001; Cespe/TSE/Analista Judiciário/2007 e TRF 3ª Região/XII Concurso/
61
Assunto cobrado na seguinte prova: Ieses/TJ-MA/Analista Judiciário/Questão
Juiz Federal Substituto. 84/Item II/2011.
59
Assunto cobrado na prova do 17º Concurso Público para Procurador da
62
Assunto cobrado na prova do Cespe/TJ‑AP/Analista Judiciário/2003-2004.
República/1999.
63
Assunto cobrado na prova da OAB‑GO/2º Exame de Ordem/2004.

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
seguinte, a busca e apreensão domiciliar requerem ordem A busca domiciliar determinada pela autoridade policial
judicial, salvo hipótese de flagrante delito e desastre.64 é incompatível com a Constituição Federal de 1988.73 Desta
Embora estejam inseridas no capítulo das provas, a bus- forma, a apreensão de objetos durante o inquérito depende,
ca e a apreensão têm características genuínas de medida em regra, de autorização judicial74. Apenas em caso de situa-
acautelatória.65 ção flagrancial, pode haver apreensão sem ordem judicial.
Por outro lado, a distribuição de pedido preparatório de Nesse sentido, a busca domiciliar, com o intuito de rea-
busca e apreensão acarreta a competência do juízo para a lizar apreensão de coisas, não pode ser realizada durante
respectiva ação penal.66 o dia com base em mandado expedido pela autoridade
As buscas e apreensões podem ser realizadas antes policial, sendo necessário mandado judicial.75
da instauração do inquérito, durante a sua elaboração, Se restar verificada situação de flagrante, o ingresso pode
no curso da instrução criminal e até mesmo na fase da ocorrer durante o dia ou à noite, independentemente de
execução penal.67 consentimento do morador ou de ordem judicial. Isto porque
Em casos em que não tenha sido instaurado inquérito dizer que a pessoa é fugitivo da justiça não é o mesmo que
policial, não é proibida a expedição de mandado judicial dizer que está em situação flagrancial. Por outro lado, uma
de busca e apreensão domiciliar fundamentado em peças denúncia anônima informou à polícia que, em determinada
de informação.68 casa, estaria ocorrendo um crime. Comparecendo ao local,
A busca será domiciliar ou pessoal (art. 240 do CPP). a polícia constatou que muito provavelmente a denúncia era
verídica. Em face dessa situação e considerando que já era
Busca Domiciliar noite, a polícia poderá invadir a casa independentemente
de ordem judicial.76
Como regra, a Constituição Federal estabelece que a casa A busca domiciliar, por ser medida de natureza cautelar,
é asilo inviolável do indivíduo. Nesse caso, ninguém pode só se justifica quando presente o fumus boni juris, ou seja,
penetrá‑la sem consentimento do morador, salvo em caso somente quando fundadas razões a autorizarem.77
de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, Proceder‑se‑á à busca domiciliar, quando fundadas
ainda que de noite.69 razões a autorizarem, para: a) prender criminosos; b) apre-
A casa é asilo inviolável da pessoa. Contudo, a Consti- ender coisas achadas ou obtidas por meios criminosos; c)
tuição autoriza expressamente que outras pessoas ingres- apreender instrumentos de falsificação ou de contrafação
sem neste recinto, sem o consentimento do morador e a e objetos falsificados ou contrafeitos; d) apreender armas
e munições, instrumentos utilizados na prática de crime ou
qualquer hora, para prestar socorro, em casos de desastre
destinados a fim delituoso; e) descobrir objetos necessários
e nos casos de flagrante delito.70
à prova de infração ou à defesa do réu; f) apreender cartas,
Preceitua a Constituição Federal que a casa é asilo
abertas ou não, destinadas ao acusado ou em seu poder,
inviolável do indivíduo, estabelecendo o que a doutrina
quando houver suspeita de que o conhecimento do seu
denomina de inviolabilidade do domicílio, cujo conteúdo conteúdo possa ser útil à elucidação do fato; g) apreender
também inclui o local onde o indivíduo exerce sua profissão, pessoas vítimas de crimes; h) colher qualquer elemento de
desde que não aberto ao público.71 convicção78 (art. 240, § 1º, do CPP).
Segundo o STF, A busca e apreensão domiciliar podem ser realizadas à
noite apenas com a concordância do morador.79
para os fins da proteção jurídica a que se refere o Quando a própria autoridade judiciária não a realizar
art. 5º, XI, da Constituição da República, o conceito pessoalmente, a busca domiciliar deverá ser precedida da
normativo de “casa” revela‑se abrangente e, por expedição de mandado80 (art. 241 do CPP). Dessa forma,
estender‑se a qualquer compartimento privado não é possível a ocorrência da apreensão sem a busca.81
aberto ao público, onde alguém exerce profissão ou A busca poderá ser determinada de ofício ou a reque-
atividade (CP, art. 150, § 4º, III), compreende, obser- rimento de qualquer das partes (art. 242 do CPP). Quando
vada essa específica limitação espacial (área interna requerida, entretanto, só deve ser deferida pelo juiz quando
não acessível ao público), os escritórios profissionais, houver fundadas razões para a diligência como, por exem-
inclusive os de contabilidade, “embora sem conexão plo, a existência de indícios de ocorrência de ilícito penal e
com a casa de moradia propriamente dita”. (STF, da necessidade de prova.82
HC nº 93.050/RJ, Rel.Min. Celso de Mello, Segunda
Turma, Julgamento: 10/6/2008). 73
Assunto cobrado na prova do Cespe/OAB/3º Exame de Ordem/2007.
74
Assunto cobrado na prova do MPDFT/28º Concurso/Promotor/Nova
A casa é o asilo inviolável da pessoa, que não pode ser Prova/2009.
Noções de Direito Processual Penal

transformada em garantia de impunidade de crimes prati-


75
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/Defensoria Pública do Estado
do Maranhão/Defensor Público de 1ª Classe/2003; OAB‑RO/42º Exame e
cados em seu interior. Por outro lado, existe a possibilidade OAB‑RO/42º Exame.
de invasão domiciliar durante o dia, que, entretanto, está 76
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/Delegado PC‑GO/1998.
sujeita à denominada cláusula de reserva jurisdicional, com
77
OAB‑SP/127º Exame de Ordem/2005.
78
Assunto cobrado na seguinte prova: TJ‑RN/Oficial de Justiça/2002.
total exclusão de qualquer outro órgão estatal.72 79
Assunto cobrado nas seguintes provas: Delegado de Polícia Civil da Bahia/2001,
OAB‑PR/1º Exame de Ordem/2004, OAB‑PR/Exame 01/2007; OAB‑RO/42º
Exame; FCC/Defensoria Pública do Estado do Maranhão/Defensor Público
64
Assunto cobrado nas seguintes provas: Delegado de Polícia Civil da Bahia/2001 de 1ª Classe/2003; OAB‑RS/1º Exame de Ordem/2005; OAB‑SP/125º Exame
e OAB‑PR/1º Exame de Ordem/2004. de Ordem/2005; OAB‑RO/42º Exame; OAB‑PR/1º Exame de Ordem/2004 e
65
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/TJ‑AP/Oficial de Justiça Avalia- OAB‑RS/2º Exame de Ordem/2004.
dor/2004 e OAB‑GO/2º Exame de Ordem/2004. 80
Assunto cobrado nas seguintes provas: UEG/Delegado de Polícia de 3ª Classe de
66
TRF 3ª Região/IX Concurso/Juiz Federal Substituto. Goiás/2003; Delegado de Polícia Substituto de Santa Catarina/2001; OAB‑GO/2º
67
UEG/Delegado de Polícia de 3ª Classe de Goiás/2003. Exame de Ordem/2004; TRF 1ª Região/Juiz Federal Substituto/2005; OAB‑PR/1º
68
Assunto cobrado na prova do Cespe/TJ‑MT/Juiz Substituto/2004. Exame de Ordem/2004, OAB‑SP/123º Exame de Ordem/2004.
69
Assunto cobrado nas seguintes provas: UEG/Delegado de Polícia de 3ª Classe 81
Assunto cobrado na seguinte prova: UEG/Delegado de Polícia de 3ª Classe de
de Goiás/2003; FGV/TJ‑SE/Analista Judiciário/2004. Goiás/ 2003.
70
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/AGU/Advogado da União/2006. 82
Assunto cobrado nas seguintes provas: TJ‑PR/Juiz Substituto/2006; Delegado
71
OAB‑AL/2º Exame de Ordem/2004. de Polícia Substituto de Santa Catarina/2001; NCE/Faepol/Delegado da Polícia
72
Assunto cobrado na seguinte prova: FCC/TRE‑BA/Analista Judiciário/2003. Civil do Rio de Janeiro/2001 e OAB‑SP/125º Exame de Ordem/2005.

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O mandado de busca deverá: I – indicar, o mais precisa- Em casa habitada, a busca será feita de modo que não
mente possível, a casa em que será realizada a diligência e o moleste os moradores mais do que o indispensável para o
nome do respectivo proprietário ou morador; ou, no caso de êxito da diligência (art. 248 do CPP).
busca pessoal, o nome da pessoa que terá de sofrê‑la ou os A autoridade ou seus agentes poderão penetrar no
sinais que a identifiquem; II – mencionar o motivo e os fins território de jurisdição alheia, ainda que de outro Estado,
da diligência; III – ser subscrito pelo escrivão e assinado pela quando, para o fim de apreensão, forem no seguimento de
autoridade que o fizer expedir (art. 243 do CPP). pessoa ou coisa, devendo apresentar‑se à autoridade local
Se houver ordem de prisão, constará do próprio texto do competente antes ou após a diligência, conforme a urgência
mandado de busca (art. 243, § 1º, do CPP). desta (art. 250 do CPP).
A busca e apreensão domiciliar, ainda que realizada com Entender‑se‑á que a autoridade ou seus agentes vão em
o intuito de somente prender alguém, poderá apreender seguimento da pessoa ou coisa quando: a) tendo conheci-
objetos ilícitos que estejam relacionados com o inquérito mento direto de sua remoção ou transporte, a seguirem
onde a diligência é efetuada.83 Dessa forma, é possível a sem interrupção, embora depois a percam de vista; b) ainda
ocorrência da apreensão sem a busca.84 que não a tenham avistado, mas sabendo, por informações
Não será permitida a apreensão de documento em fidedignas ou circunstâncias indiciárias, que está sendo
poder do defensor do acusado, salvo quando constituir removida ou transportada em determinada direção, forem
elemento do corpo de delito85 (art. 243, § 2º, do CPP). ao seu encalço (art. 245, § 1º, do CPP).
A busca para “colher qualquer elemento de convic‑ Se as autoridades locais tiverem fundadas razões para
ção” relacionado com o inquérito policial, em escritório duvidar da legitimidade das pessoas que, nas referidas dili-
gências, entrarem pelos seus distritos, ou da legalidade dos
de advogado, reclama mandado da autoridade judicial
mandados que apresentarem, as primeiras poderão exigir as
e acompanhamento, na execução, de representante da
provas dessa legitimidade, mas de modo que não se frustre
OAB.86 Entretanto, houve alterações da lei da OAB. Com
a diligência. (art. 250, § 2º, do CPP).
efeito, o art. 7º, II, da Lei nº 8.906/1994, modificada pela Lei
nº 11.767/2008, não mais prevê a necessidade de acompa- Busca Pessoal
nhamento por representante da OAB quando for realizada
uma busca e apreensão. Proceder‑se‑á à busca pessoal quando houver fundada
As buscas domiciliares serão executadas de dia, salvo suspeita de que alguém oculte consigo arma proibida ou para
se o morador consentir que se realizem à noite, e, antes apreender: coisas achadas ou obtidas por meios criminosos;
de penetrarem na casa, os executores mostrarão e lerão o instrumentos de falsificação ou de contrafação e objetos
mandado ao morador, ou a quem o represente, intimando‑o, falsificados ou contrafeitos; armas e munições; instrumentos
em seguida, a abrir a porta (art. 245 do CPP). utilizados na prática de crime ou destinados a fim delituoso;
Se a própria autoridade der a busca, declarará previa- cartas, abertas ou não, destinadas ao acusa­do ou em seu po-
mente sua qualidade e o objeto da diligência (art. 245, § 1º, der, quando houver suspeita de que o conhecimento do seu
do CPP). conteúdo possa ser útil à elucidação do fato; para descobrir
Em caso de desobediência, será arrombada a porta e objetos necessários à prova de infração ou à defesa do réu,
forçada a entrada (art. 245, § 2º, do CPP). bem como para colher qualquer elemento de convicção.
Recalcitrando o morador, será permitido o emprego de Segundo o STF,
força contra coisas existentes no interior da casa, para o
descobrimento do que se procura (art. 245, § 3º, do CPP). a ‘fundada suspeita’, prevista no art. 244 do CPP, não
Também se procederá assim quando os moradores estiverem pode fundar‑se em parâmetros unicamente subjeti-
ausentes. Neste caso, qualquer vizinho, caso haja ou esteja vos, exigindo elementos concretos que indiquem a
presente, deve ser intimado a assistir a diligência (art. 245, necessidade da revista, em face do constrangimento
§ 4º, do CPP). que causa. (STF, HC nº 81.305/GO, Rel. Min. Ilmar
Se é determinada a pessoa ou coisa que se vai procurar, Galvão, Primeira Turma, Julgamento: 13/11/2001).
o morador será intimado a mostrá‑la (art. 245, § 5º, do CPP).
Descoberta a pessoa ou coisa que se procura, esta será Assim, deve‑se proceder busca pessoal para apreender
imediatamente apreendida e posta sob custódia da autori- cartas destinadas ao acusado quando houver suspeita de
que o conteúdo dessas missivas possa elucidar o crime,
dade ou de seus agentes (art. 245, § 6º, do CPP).
ainda que tal busca seja efetivada em terceira pessoa, que
Finda a diligência, os executores lavrarão auto circuns-
não esteja envolvida no objeto da investigação.87
Noções de Direito Processual Penal

tanciado, assinando‑o com duas testemunhas presenciais A busca pessoal independerá de mandado, no caso de
(art. 245, § 7º, do CPP). prisão ou quando houver fundada suspeita de que a pessoa
Aplicar‑se‑á também esse procedimento quando se tiver esteja na posse de arma proibida ou de objetos ou papéis
de proceder à busca em compartimento habitado, ou em que constituam corpo de delito88, ou quando a medida for
aposento ocupado de habitação coletiva, ou em comparti- determinada no curso de busca domiciliar89 (art. 244 do CPP).
mento não aberto ao público em que alguém exerça profissão A busca em mulher será feita por outra mulher, se não
ou atividade (art. 246 do CPP). importar retardamento ou prejuízo da diligência90 (art. 249
Não sendo encontrada a pessoa ou coisa procurada, do CPP).
os  motivos da diligência serão comunicados a quem tiver
sofrido a busca, se o requerer (art. 247 do CPP).

87
Cespe/TJ‑MT/Juiz Substituto/2004.

88
Assunto cobrado nas seguintes provas: UEG/Delegado de Polícia de 3ª Classe

83
Assunto cobrado na prova de Delegado de Polícia Civil da Bahia/2001. de Goiás/2003; Cespe/TJ‑AP/Oficial de Justiça Avaliador/2004 e Cespe/TJ‑SE/

84
Assunto cobrado na prova da UEG/Delegado de Polícia de 3ª Classe de Goi- Juiz Substituto/2008.
ás/2003.
89
Assunto cobrado na seguinte prova: OAB‑PR/Exame 01/2007.
85
Assunto cobrado nas seguintes provas: Delegado de Polícia Civil da Bahia/2001
90
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑SP/125º Exame de Ordem/2005;
e Cespe/TJ‑AP/Oficial de Justiça Avaliador/2004. OAB‑PR/Exame 01/2007 e Cespe/TJ‑MT/Juiz Substituto/2004 e UESPI/Agente
86
Esaf/Promotor‑CE/2001. Penitenciário/2006.

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É legal a busca e apreensão, sem mandado judicial, lavrará o auto respectivo, que será assinado pelos peritos
realizada em automóvel conduzido por pessoa sobre quem e, se presente ao exame, também pela autoridade (art. 179
pesem fundadas suspeitas de estar na posse de objetos que do CPP).
constituam corpo de delito.91
A busca não pode ser realizada de modo a causar Compromisso
constrangimentos desnecessários e abusivos, sob pena de Somente os peritos não oficiais deverão prestar o com-
configuração de abuso de autoridade. promisso de bem e fielmente desempenhar o encargo, sob
pena de nulidade do laudo98 (art. 159, § 2º, do CPP)
Perícias As partes não intervirão na nomeação do perito99
(art. 276 do CPP).
Dos Peritos, das Perícias e do Exame de Corpo de O perito nomeado pela autoridade será obrigado a
Delito aceitar o encargo, sob pena de multa de cem a quinhentos
mil réis, salvo escusa atendível. Incorrerá na mesma multa
Dos peritos o perito que, sem justa causa, provada imediatamente: a)
O perito, ainda quando não oficial, estará sujeito à deixar de acudir à intimação ou ao chamado da autoridade;
disciplina judiciária92 (art. 275 do CPP). b) não comparecer no dia e local designados para o exame;
c) não der o laudo, ou concorrer para que a perícia não seja
Os peritos elaborarão o laudo pericial, onde descreverão
feita, nos prazos estabelecidos (art. 277 do CPP).
minuciosamente o que examinarem, e responderão aos
No caso de não comparecimento do perito, sem justa
quesitos formulados (art. 160 do CPP).
causa, a autoridade poderá determinar a sua condução
coercitiva100 (art. 278 do CPP).
Quantidade de peritos
Não poderão ser peritos: I – os que estiverem sujeitos à
O art. 159 do CPP, com a redação dada pela Lei nº 11.690, interdição de direito mencionada nos incisos I e IV do art. 69
de 2008, determina que o exame de corpo de delito e outras do Código Penal; II – os que tiverem prestado depoimento no
perícias serão realizados por perito oficial, portador de processo ou opinado anteriormente sobre o objeto da perí-
diploma de curso superior.93 Não são mais necessários dois cia; III – os analfabetos e os menores de 21 anos (art. 279).
peritos oficiais para firmar o laudo. Não tem mais aplicação É extensivo aos peritos, no que lhes for aplicável, o dis-
a Súmula nº 361 do STF no que diz respeito à determinação posto sobre suspeição dos juízes101 (art. 280 do CPP).
de que, no processo penal, era nulo o exame realizado por
um só perito. Do laudo pericial
Tratando‑se de perícia complexa que abranja mais de O laudo pericial é uma emissão de conhecimento técnico
uma área de conhecimento especializado, poder‑se‑á desig- científico.102
nar a atuação de mais de um perito oficial, e a parte indicar O laudo pericial será elaborado no prazo máximo de 10
mais de um assistente técnico (art. 159, § 7º, do CPP).94 dias, podendo este prazo ser prorrogado, em casos excep-
Não é nulo o laudo pericial contendo divergências entre cionais, a requerimento dos peritos103 (art. 160, parágrafo
os peritos.95 único, do CPP). Em tal hipótese, o laudo, que poderá ser
Se houver divergência entre os peritos, as declarações datilografado, será subscrito e rubricado em suas folhas pelo
de um e de outro serão consignadas no auto do exame, ou perito (art. 179 do CPP).
cada um redigirá separadamente o seu laudo, e a autoridade Na hipótese de ser o perito oficial, o exame será requisi-
nomeará um terceiro; se este divergir de ambos, a autoridade tado pela autoridade ao diretor da repartição, juntando‑se
poderá mandar proceder a novo exame por outros peritos ao processo o laudo assinado pelo perito (art. 178 do CPP).
(art. 180 do CPP).96 No caso de inobservância de formalidades, ou no caso
de omissões, obscuridades ou contradições, a autoridade
Espécie de peritos judiciária mandará suprir a formalidade, complementar ou
Na falta de perito oficial, o exame será realizado por 2 esclarecer o laudo104 (art. 181 do CPP). A autoridade poderá
(duas) pessoas idôneas, portadoras de diploma de curso também ordenar que se proceda a novo exame, por outros
superior preferencialmente na área específica, dentre as peritos, se julgar conveniente.
O juiz não ficará adstrito ao laudo, podendo aceitá‑lo
que tiverem habilitação técnica relacionada com a natureza
ou rejeitá‑lo, no todo ou em parte105 (art. 182 do CPP).
do exame97 (art. 159, § 1º, do CPP). Neste caso, o escrivão
Noções de Direito Processual Penal

O magistrado pode utilizar outros elementos provados nos


autos para a formação de sua convicção.106
91
Promotor‑DF/2002.
92
OAB‑GO/3º Exame de Ordem/2004.
Nesse sentido, considere que, em determinada ação
93
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/PC-CE/Inspetor de Polícia/2012 penal, foi realizada perícia de natureza contábil, nos moldes
e Cespe/DPF/Agente/2012.
94
Assunto cobrado na prova da Funrio/Agente Penitenciário Federal/2009.
95
Assunto cobrado na provas do Cespe/TJ‑AP/Oficial de Justiça Avaliador/2004. 98
Assunto cobrado na prova da OAB‑MT/1º Exame de Ordem/2004.
96
Assunto cobrado na prova do Cespe/PC‑PB/Delegado de Polícia/2009. 99
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑GO/3º Exame de Ordem/2004 e
97
Assertiva adaptada em face da minirreforma do Código de Processo Penal. Vunesp/OAB‑SP/128º Exame.
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/Departamento da Polícia 100
Assunto cobrado nas seguintes provas: Acadepol‑SP/Delegado de Polícia de
Federal/Agente/2012; TJ‑PR/Juiz Substituto/2006; Cespe/Secad‑TO/Dele- São Paulo/2003; OAB‑GO/3º Exame de Ordem/2004.
gado de Polícia Civil 1ª Classe/2008; OAB‑MT/1º Exame de Ordem/2004; 101
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑GO/3º Exame de Ordem/2004 e
OAB‑PR/Exame 02/2006; OAB‑PR/1º Exame de Ordem/2005; Cespe/TJ‑RR/ OAB‑PR/Exame 02/2006.
Analista Processual/2006; FGV/TJ‑SE/Analista Judiciário/2004; Cespe/TJ‑AP/ 102
Fumarc/DPE‑MG/Defensor Público/2009.
Analista Judiciário/2003-2004; FGV/TJ‑SE/Analista Judiciário/2004; OAB‑PR/ 103
Assunto cobrado na prova da Acadepol‑SP/Delegado de Polícia de São
Exame 01/2007; OAB‑MT/1º Exame de Ordem/2004; OAB‑SP/127º Exame Paulo/2003.
de Ordem/2005; TRF 5ª Região/Juiz Federal Substituto/2001; IPAD/Polícia 104
Assunto cobrado na prova do Cespe/PC-PB/Delegado de Polícia/2009.
Civil Pernambuco/Perito Criminal/2006; NCE/Polícia Civil RJ/Papiloscopista 105
Assunto cobrado na prova da OAB‑DF/1º Exame de Ordem/2005.
Civil/2002; OAB‑PR/Exame 01/2007; Cespe/TJ‑RR/Oficial de Justiça/2001; 106
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/OAB/1º Exame da Ordem/2007;
Cespe/TJ‑RR/Analista Processual/2006. e OAB‑DF/1º Exame de Ordem/2005.

106 Este eBook foi adquirido por ANA PAULA TORQUATO DA COSTA - CPF: 628.848.913-15.
A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
determinados pela legislação pertinente, o que resultou na evidência da morte, como ausência de movimentos res-
elaboração do laudo de exame pericial competente. Na fase piratórios, desaparecimento do pulso ou enregelamento
decisória, o juiz discordou das conclusões dos peritos e, de do corpo.115
forma fundamentada, descartou o laudo pericial ao exarar Desta forma, o laudo de exame cadavérico não é peça
a sentença. Nesta situação, a sentença não é nula, pois o imprescindível para se aferir a materialidade do crime de
exame pericial não vincula o juiz da causa.107 homicídio.116
Nos crimes de competência dos juizados especiais cri‑ Em caso de exumação para exame cadavérico, a auto-
minais, não é necessário o exame de corpo de delito para ridade providenciará para que, em dia e hora previamente
o oferecimento da denúncia.108 marcados, se realize a diligência, da qual se lavrará auto
circunstanciado117 (art. 163 do CPP).
Do assistente técnico O administrador de cemitério público ou particular
Serão facultadas ao Ministério Público, ao assistente indicará o lugar da sepultura, sob pena de desobediência.
de acusação, ao ofendido, ao querelante e ao acusado a No caso de recusa ou de falta de quem indique a sepultura,
formulação de quesitos e indicação de assistente técnico109 ou de encontrar‑se o cadáver em lugar não destinado a
(art. 159, § 3º, do CPP). inumações, a autoridade procederá às pesquisas neces-
sárias, o que tudo constará do auto (art. 163, parágrafo
Das perícias em geral único, do CPP).
Durante o curso do processo judicial, é permitido às par- Para representar as lesões encontradas no cadáver,
tes, quanto à perícia: I – requerer a oitiva dos peritos para os peritos, quando possível, juntarão ao laudo do exame
esclarecerem a prova ou para responderem a quesitos, des- provas fotográficas, esquemas ou desenhos, devidamente
de que o mandado de intimação e os quesitos ou questões a rubricados118 (art. 165 do CPP).
serem esclarecidas sejam encaminhados com antecedência Havendo dúvida sobre a identidade do cadáver exu-
mínima de 10 (dez) dias, podendo apresentar as respostas mado, proceder‑se‑á ao reconhecimento pelo Instituto
em laudo complementar110; II – indicar assistentes técnicos de Identificação e Estatística ou repartição congênere
que poderão apresentar pareceres em prazo a ser fixado pelo ou pela inquirição de testemunhas, lavrando‑se auto de
juiz ou ser inquiridos em audiência (art. 159, § 5º, do CPP). reconhecimento e de identidade, no qual se descreverá
Salvo o caso de exame de corpo de delito, o juiz ou a o cadáver, com todos os sinais e indicações (art. 166 do
autoridade policial negará a perícia requerida pelas partes CPP). Em qualquer caso, serão arrecadados e autenticados
quando não for necessária ao esclarecimento da verdade111 todos os objetos encontrados que possam ser úteis para a
(art. 184 do CPP). identificação do cadáver.
Nos crimes de ação penal privada, também será realizado Nesse sentido, em caso de acidente de tráfego e sobre‑
exame pericial se for o caso (art. 183 do CPP). vindo a morte da vítima, é dispensável o exame interno
A autoridade e as partes poderão formular quesitos até do cadáver quando as lesões externas permitirem uma
o ato da diligência112 (art. 176 do CPP). conclusão acerca da causa da morte.119
No exame por precatória, a nomeação dos peritos
far‑se‑á no juízo deprecado. Havendo, porém, no caso de Do exame em lesões corporais
ação privada, acordo das partes, essa nomeação poderá ser Em caso de lesões corporais, se o primeiro exame
feita pelo juiz deprecante113 (art. 177 do CPP). Os quesitos pericial tiver sido incompleto, proceder‑se‑á a exame
do juiz e das partes serão transcritos na precatória. complementar por determinação da autoridade policial
ou judiciária, de ofício, ou a requerimento do Ministério
Da autópsia (necropsia) Público, do ofendido ou do acusado, ou de seu defensor
A autópsia será feita pelo menos 6 (seis) horas depois (art. 168 do CPP).
do óbito, salvo se os peritos, pela evidência dos sinais de No exame complementar, os peritos terão presente o
morte, julgarem que possa ser feita antes daquele prazo, auto de corpo de delito, a fim de suprir‑lhe a deficiência
o que declararão no auto.114 ou retificá‑lo (art. 168, § 1º, do CPP).
Por determinação legal, o exame necroscópico ou ca- Se o exame tiver por fim precisar a classificação do delito
davérico deve ser realizado pelo menos seis horas após o no art. 129, § 1º, I, do Código Penal, deverá ser feito logo
Noções de Direito Processual Penal

óbito. Todavia, tal obrigatoriedade é dispensada se houver que decorra o prazo de 30 dias contados da data do crime
(art. 168, § 2º, do CPP).
107
Assunto cobrado na prova do Cespe/Secad‑TO/Delegado de Polícia Civil 1ª
A falta de exame complementar poderá ser suprida pela
Classe/2008. prova testemunhal (art. 168, § 3º, do CPP).
108
OAB‑PR/2º Exame de Ordem/2004.
109
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/Departamento da Polícia
Em caso de lesões corporais, se o primeiro exame
Federal/Agente/2012 e Cespe/PC‑PB/Delegado de Polícia/2009. pericial tiver sido incompleto, proceder‑se‑á a exame
110
Assertiva adaptada em face da minirreforma do Código de Processo Penal. complementar por determinação da autoridade policial
Assunto cobrado nas seguintes provas: TRF 4ª Região/IX Concurso/Juiz Federal
Substituto; OAB‑PR/1º Exame de Ordem/2004; Cespe/TJ‑RR/Analista Proces- ou judiciária, de ofício, ou a requerimento do MP, ou do
sual/2006; OAB‑MT/1º Exame de Ordem/2004; OAB‑PR/Exame 02/2006 e
Cespe/TJ‑RR/Analista Processual/2006. 115
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/Secad‑TO/Delegado de Polícia
111
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/OAB‑SP/136º Exame da Or- Civil 1ª Classe/2008; FCC/TRE‑RN/Analista Judiciário/2005; FCC/TRE‑RN/
dem/2008; DRS‑Acadepol/Polícia Civil do Estado de Minas Gerais/SSP‑MG/ Analista Judiciário/2005 e FCC/TRE‑RN/Analista Judiciário/2005.
Delegado de Polícia/2007 e OAB‑GO/1º Exame de Ordem/2005. 116
Assunto cobrado na prova do MPDFT/28º Concurso/Promotor/Nova
112
Assunto cobrado na prova do Cespe/TJ‑PE/Oficial de Justiça da 1ª Entrân- Prova/2009.
cia/2001. 117
Assunto cobrado na prova do FCC/TRE‑RN/Analista Judiciário/2005.
113
Assunto cobrado na prova do Cespe/PC‑PB/Delegado de Polícia/2009. 118
Assunto cobrado na seguinte prova: FCC/TRT 1/Técnico Judiciário/Segurança/
114
Assunto cobrado na seguinte prova: FCC/TRT 1ª Região/Técnico Judiciário/ Questão 44/Assertiva C/2011.
Segurança/Questão 44/Assertiva A/2011. 119
Cespe/TJ‑AP/Analista Judiciário/2003-2004.

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ofendido ou do acusado, ou de seu defensor. A falta desse No exame para o reconhecimento de escritos, por compa-
exame poderá ser suprida pela prova testemunhal.120 ração de letra, observar‑se‑á o seguinte: I – a pessoa a quem
Seguindo a mesma linha de raciocínio, considere a se atribua ou se possa atribuir o escrito será intimada para
seguinte situação hipotética: João, imputável, agrediu o ato, se for encontrada; II – para a comparação, poderão
fisicamente Francisco, produzindo‑lhe lesões corporais servir quaisquer documentos que a dita pessoa reconhecer
leves. Transcorridos alguns dias após a agressão, Francisco ou que já tiverem sido judicialmente reconhecidos como
compareceu à repartição policial, onde noticiou o crime. de seu punho, ou sobre cuja autenticidade não houver
Encaminhado para exame pericial, ficou constatado que dúvida; III – a autoridade, quando necessário, requisitará,
não mais existiam lesões. Nessa situação, por terem desa‑ para o exame, os documentos que existirem em arquivos ou
parecido os vestígios, a materialidade do delito poderá ser estabelecimentos públicos, ou nestes realizará a diligência
demonstrada por meio de prova testemunhal.121 se daí não puderem ser retirados; IV – quando não houver
O exame de corpo de delito direito ocorre quando é escritos para a comparação ou forem insuficientes os exibi-
feito o exame de corpo de delito. Se estes desaparecerem, dos, a autoridade mandará que a pessoa escreva o que lhe
pode‑se usar a prova testemunhal, denominada exame de for ditado. Se estiver ausente a pessoa, mas em lugar certo,
corpo de delito indireto.122 esta última diligência poderá ser feita por precatória, em
que se consignarão as palavras que a pessoa será intimada
Exame de local a escrever (art. 174 do CPP).
Para o efeito de exame do local onde houver sido pratica-
da a infração, a autoridade imediatamente tomará providên- Do exame de corpo de delito
cias para que não se altere o estado das coisas até a chegada Faz‑se distinção entre corpo de delito e exame de corpo
dos peritos, que poderão instruir seus laudos com fotografias, de delito.125 Corpo de delito são os vestígios materiais dei-
desenhos ou esquemas elucidativos (art. 169 do CPP). xados em face da prática da infração penal. Exame de corpo
Os peritos registrarão, no laudo, as alterações do estado de delito é o laudo pericial que analisa o corpo de delito.
das coisas e discutirão, no relatório, as consequências dessas O “corpo de delito” é a prova da existência do crime, que
alterações na dinâmica dos fatos (art. 169, parágrafo único pode ser feita de modo direto ou indireto.126
do CPP). Quando a infração deixar vestígios, será indis­pensável o
Nos crimes cometidos com destruição ou rompimento exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo
de obstáculo a subtração da coisa, ou por meio de escalada, supri‑lo a confissão do acusado127 (art. 158 do CPP). O refe-
os peritos, além de descrever os vestígios, indicarão com que rido artigo estabelece que a confissão não supre o exame
instrumentos, por que meios e em que época eles presumem de corpo de delito, guarda nítida ligação com o sistema de
que o fato foi praticado (art. 171 do CPP). prova tarifada ou da certeza moral do legislador.128
No caso de incêndio, os peritos verificarão a causa e o Polastri (2009) destaca que o art. 158 do CPP atenta
lugar em que houver começado, o perigo para a vida ou para contra o livre convencimento do juiz, eis que a lei dá primazia
o patrimônio alheio que dele tiver resultado, a extensão do à prova pericial, citando julgado do STJ, que traria entendi-
dano e o seu valor e as demais circunstâncias que interes- mento de estar derrogada a parte final do referido artigo:
sarem à elucidação do fato (art. 173 do CPP).
HC – CONSTITUCIONAL – PROCESSUAL PENAL – COR-
Perícias laboratoriais PO DE DELITO – O CORPO DE DELITO, NA CLÁSSICA
Nas perícias de laboratório, os peritos guardarão ma- DEFINIÇÃO DE JOÃO MENDES, É O CONJUNTO DOS
terial suficiente para a eventualidade de nova perícia123. ELEMENTOS SENSÍVEIS DO FATO CRIMINOSO. DIZ-SE
Sempre que conveniente, os  laudos serão ilustrados com DIRETO QUANDO REÚNE ELEMENTOS MATERIAIS
DO FATO IMPUTADO INDIRETO, SE, POR QUALQUER
provas fotográficas ou microfotográficas, desenhos ou es-
MEIO, EVIDENCIA A EXISTÊNCIA DO ACONTECIMEN-
quemas (art. 170 do CPP).
TO DELITUOSO. A CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA RES-
GUARDA SEREM ADMITIDAS AS PROVAS QUE NÃO
Da avaliação
FOREM PROIBIDAS POR LEI. RESTOU, ASSIM, AFETA-
Proceder‑se‑á, quando necessário, à avaliação de coisas
DA A CLÁUSULA FINAL DO ART. 158, CPP, OU SEJA,
destruídas, deterioradas ou que constituam produto do crime A CONFISSÃO NÃO SER IDÔNEA PARA CONCORRER
(art. 172 do CPP). PARA O EXAME DE CORPO DE DELITO. NO PROCESSO
Noções de Direito Processual Penal

Se impossível a avaliação direta, os peritos procederão


à avaliação por meio dos elementos existentes nos autos e 125
Assunto cobrado na prova do Cespe/Secad‑TO/Delegado de Polícia Civil 1ª
dos que resultarem de diligências. Classe/2008.
126
Ieses/TJ-MA/Analista Judiciário/Questão 85/Item I/2011.
127
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/TRT 1ª Região/Técnico Judiciário/
Exame grafotécnico Segurança/Questão 44/Assertiva D/2011; Vunesp/TJ-SP/Juiz/Questão 50/Item
V/2011; Cespe/OAB‑SP/136º Exame da Ordem/2008; Cespe/STF/Analista Ju-
O fornecimento de material para exame grafotécnico diciário/2008; FCC/TRE‑RN/Analista Judiciário/2005; FCC/Defensoria Pública
não é obrigatório para o acusado.124 do Estado do Maranhão/Defensor Público de 1ª Classe/2003; Cespe/AGU/
Procurador Federal de 2ª Categoria/2004; DRS‑Acadepol/Polícia Civil do Estado
de Minas Gerais/SSP‑MG/Delegado de Polícia/2007; Cespe/TJ‑RR/Analista
120
Assunto cobrado nas seguintes provas: Esaf/AFC/CGU)/Correição/Asser- Processual/2006; OAB‑MS/81º Exame de Ordem/2005; FGV/TJ‑SE/Analista Ju-
tiva D/2012; Cespe/STF/Analista Judiciário/2008; OAB‑SC/3º Exame de diciário/2004; Cespe/TJ‑DF/Analista Judiciário/2003; OAB‑PR/Exame 02/2006;
Ordem/2003; Acadepol‑SP/Delegado de Polícia de São Paulo/2003; Cespe/ OAB‑PR/Exame 01/2007; Vunesp/OAB‑SP/128º Exame; OAB‑MT/2º Exame
Delegado da Polícia Federal/2002; OAB‑PR/Exame 01/2007; Cespe/TJ‑RR/ de Ordem/2004; OAB‑DF/2º Exame de Ordem/2004; OAB‑GO/1º Exame de
Oficial de Justiça/2001 e Cespe/TJ‑PE/Oficial de Justiça da 1ª Entrância/2001. Ordem/2005; FCC/TRE‑RN/Analista Judiciário/2005; Cespe/TJ‑PE/Oficial de
121
Cespe/Secad‑TO/Delegado de Polícia Civil 1ª Classe/2008. Justiça da 1ª Entrância/2001; TJ‑RN/Oficial de Justiça/2002; Cespe/TJ‑RR/
122
Assunto cobrado na prova do IESES/TJMA/Analista Judiciário/Direito/2009. Oficial de Justiça/2001; Cespe/2º Exame da Ordem/2006 e Funiversa/PC-DF/
123
Assunto cobrado na prova da Acadepol‑SP/Delegado de Polícia de São Pau- Delegado de Polícia/Questão 21/Assertiva A/2009.
lo/2003. 128
Cespe/Defensoria Pública do Estado de Sergipe/Defensor Público de 2ª
124
MPDFT/28º Concurso/Promotor/Nova Prova/2009. Categoria/2005.

108 Este eBook foi adquirido por ANA PAULA TORQUATO DA COSTA - CPF: 628.848.913-15.
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MODERNO, NÃO HÁ HIERARQUIA DE PROVAS, NEM As públicas‑formas só terão valor quando conferidas com
PROVAS ESPECÍFICAS PARA DETERMINADO CASO. o original, em presença da autoridade (art. 237 do CPP).
TUDO QUE LÍCITO FOR, IDÔNEO SERÁ PARA PROJETAR O reconhecimento da menoridade, para efeitos penais,
A VERDADE REAL. NO CASO CONCRETO, ALÉM DA pressupõe a demonstração mediante prova documental
CONFISSÃO, HOUVE DEPOIMENTO DE TESTEMUNHA específica e idônea.
(STJ, HC nº 1.394/RN, Min. Luiz Vicente Cernicchiaro, Nesse sentido, considere: Zeca e Juca, previamente ajus-
Sexta Turma, DJ 15/3/1993). tados, adentraram em uma agência da Caixa Econômica Fe-
deral e, mediante ameaça, com o emprego de armas de fogo
Referida tese não prevaleceu, eis que, como visto, as (revólveres), subtraíram a importância de R$ 20.000,00, que
bancas de concurso público dão total aplicação às disposições se encontrava no interior do cofre da instituição financeira.
do art. 158 do CPP. Logo depois da ocorrência, os autores da subtração foram
O exame de corpo de delito e outras perícias serão encontrados por policiais militares, alguns quarteirões
realizados por perito oficial, portador de diploma de curso distantes da agência, em atitude suspeita (carregando
superior (art. 159, do CPP).129 sacolas e com armas na cintura), momento em que foram
O exame de corpo de delito poderá ser feito em qual- abordados e posteriormente presos. As armas do crime
quer dia e a qualquer hora130 (art. 161 do CPP). foram apreendidas e parte da res furtiva recuperada. Juca
Não sendo possível o exame de corpo de delito por de- alegou ter menos de dezoito anos de idade. Diante dessa
saparecimento dos vestígios, a prova testemunhal poderá situação hipotética, o reconhecimento da menoridade de
suprir‑lhe a falta131 (art. 167 do CPP). Assim, o exame de cor- Juca requererá prova por documento hábil.134
po de delito é sempre obrigatório na apuração de infrações Os temas relativos à prova testemunhal, interrogató-
que deixem vestígios, somente podendo ser suprido pela rio, reconhecimento de pessoas e coisas e acareação são
prova testemunhal nos casos em que a prova pericial for estudados no capítulo Sujeitos Processuais e sua atuação
inviabilizada em razão do desaparecimento dos vestígios.132 probatória.

Prova Documental Referências


Salvo os casos expressos em lei, as partes poderão apre-
CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal. 12. ed. rev.
sentar documentos em qualquer fase do processo (art. 231
e atual. São Paulo: Saraiva, 2005.
do CPP).
Os documentos, como meios de prova utilizados pela
acusação e pela defesa para demonstrar as suas afirmações, FERNANDES SCARANCE, Antônio. Processo penal constitu-
podem ser apresentados em qualquer fase do processo, cional. 3. ed. São Paulo: RT, 2002.
salvo os casos expressos em lei, como a vedação para a
juntada de documento na fase das alegações das partes GRINOVER, Ada Pellegrini et al. As nulidades no processo
que antecedem a decisão de pronúncia.133 penal. 7. ed. São Paulo: RT, 2001.
Consideram‑se documentos quaisquer escritos, instru-
mentos ou papéis, públicos ou particulares (art. 232 do CPP). _______. Ada Pellegrini. O processo em sua unidade. São
À fotografia do documento, devidamente autenticada, se Paulo: Saraiva, 1984.
dará o mesmo valor do original (art. 232, parágrafo único,
do CPP). _______. SCARANCE FERNANDES, Antônio; GOMES FILHO,
As cartas poderão ser exibidas em juízo pelo respectivo Antônio Magalhães. As nulidades no processo penal. 7. ed.
destinatário para a defesa de seu direito, ainda que não haja São Paulo: RT, 2001.
consentimento do signatário (art. 233, parágrafo único, do
CPP). FERNANDES SCARANCE, Antônio. Processo penal constitu-
A letra e firma dos documentos particulares serão sub- cional. 3. ed. São Paulo: RT, 2002.
metidas a exame pericial, quando contestada a sua autenti-
cidade (art. 235 do CPP). LIMA, Marcellus Polastri. Manual de Processo Penal. 2. ed,
Noções de Direito Processual Penal

Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009.


129
Assunto cobrado nas seguintes provas: FGV/SSP‑RJ/Oficial de Cartório/2009
e OAB‑MG/Comissão de Exame de Ordem/2008.
130
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/TRT 1ª Região/Técnico Judiciário/ MIRABETE, Julio Fabbrini. Processo penal. 10. ed. São Paulo:
Segurança/Questão 44/Assertiva B/2011; Cespe/TJ‑RR/Analista Proces­ Atlas, 2000.
sual/2006; FGV/TJ‑SE/Analista Judiciário/2004; Cespe/TJ‑RR/Analista Pro-
cessual/2006 e Funiversa/PC-DF/Delegado de Polícia/Questão 21/Assertiva
E/2009. MORAES, Alexandre de. Direitos humanos fundamentais –
131
Assunto cobrado na prova da OAB‑PR/1º Exame de Ordem/2004.
132
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/OAB‑SP/136º Exame da Or- teoria geral – comentários aos arts. 1º e 5º da Constituição da
dem/2008; Cespe/STF/Analista Judiciário/2008; TJ‑PE/Juiz Substituto/2006; República Federativa do Brasil. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2003.
Cespe/AGU/Procurador Federal de 2ª Categoria/2004; Cespe/STJ/Técnico
Judiciário/2004; MPE‑PR/Assessor Jurídico/2002; Cespe/TJ‑RR/Analista Proces-
sual/2006; FGV/TJ‑SE/Analista Judiciário/2004; Cespe/TJ‑RR/Analista Proces- NUCCI, Guilherme de Souza. Código de processo penal
sual/2006; Cespe/TJ‑PE/Oficial de Justiça da 1ª Entrância/2001 e OAB‑MG/1º
Exame de Ordem/2004. comentado. 2. ed. São Paulo: RT, 2003.
133
Assunto cobrado nas seguintes provas: CPC/Polícia Civil do Estado do Paraná/
Delegado de Polícia Civil/2007; OAB‑PR/3º Exame de Ordem/2004; OAB‑MT/1º
Exame de Ordem/2005; OAB‑RO/41º Exame; OAB‑SP/124º Exame de Or-
dem/2004 e Cespe/TJ‑AC/Juiz de Direito Substituto/2007. Assunto cobrado na prova do TRF 5ª Região/Juiz Federal Substituto/2001.
134

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Lei nº 9.296, de 24 de Julho de 1996 Parágrafo único. A apensação somente poderá ser re-
alizada imediatamente antes do relatório da autoridade,
Regulamenta o inciso XII, par- quando se tratar de inquérito policial (Código de Processo
te final, do art. 5º da Constituição Penal, art.10, § 1º) ou na conclusão do processo ao juiz para
Federal. o despacho decorrente do disposto nos arts. 407, 502 ou 538
do Código de Processo Penal.
O  PRESIDENTE  DA   REPÚBLICA Faço saber que o Con- Art. 9º A gravação que não interessar à prova será inuti-
gresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: lizada por decisão judicial, durante o inquérito, a instrução
Art. 1º A interceptação de comunicações telefônicas, de processual ou após esta, em virtude de requerimento do
qualquer natureza, para prova em investigação criminal e em Ministério Público ou da parte interessada.
instrução processual penal, observará o disposto nesta Lei e Parágrafo único. O incidente de inutilização será assisti-
dependerá de ordem do juiz competente da ação principal, do pelo Ministério Público, sendo facultada a presença do
sob segredo de justiça. acusado ou de seu representante legal.
Parágrafo único. O disposto nesta Lei aplica-se à intercep- Art. 10. Constitui crime realizar interceptação de comuni-
tação do fluxo de comunicações em sistemas de informática cações telefônicas, de informática ou telemática, ou quebrar
e telemática. segredo da Justiça, sem autorização judicial ou com objetivos
Art. 2º Não será admitida a interceptação de comuni- não autorizados em lei.
cações telefônicas quando ocorrer qualquer das seguintes Pena: reclusão, de dois a quatro anos, e multa.
hipóteses: Art. 11. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
I – não houver indícios razoáveis da autoria ou participa- Art. 12. Revogam-se as disposições em contrário.
ção em infração penal;
II – a prova puder ser feita por outros meios disponíveis; Brasília, 24 de julho de 1996; 175º da Independência e
III – o fato investigado constituir infração penal punida, 108º da República.
no máximo, com pena de detenção.
Parágrafo único. Em qualquer hipótese deve ser descrita FERNANDO HENRIQUE CARDOSO
com clareza a situação objeto da investigação, inclusive com Nelson A. Jobim
a indicação e qualificação dos investigados, salvo impossibi-
lidade manifesta, devidamente justificada. Sujeitos Processuais e
Art. 3º A interceptação das comunicações telefônicas po- sua atuação probatória
derá ser determinada pelo juiz, de ofício ou a requerimento: (Arts. 251 a 281 e 185 a 225 do CPP)
I – da autoridade policial, na investigação criminal;
II – do representante do Ministério Público, na investiga-
Sujeitos do Processo
ção criminal e na instrução processual penal.
Art. 4º O pedido de interceptação de comunicação te- Os sujeitos processuais são as pessoas que participam
lefônica conterá a demonstração de que a sua realização é da relação processual. Podem ser:
necessária à apuração de infração penal, com indicação dos • principais: juiz, representante do Ministério Público,
meios a serem empregados. querelante, réu e advogado;
§ 1º Excepcionalmente, o juiz poderá admitir que o pedi- • secundário ou acessório: assistente da acusação (víti-
do seja formulado verbalmente, desde que estejam presen- ma ou seus sucessores);
tes os pressupostos que autorizem a interceptação, caso em • terceiros: testemunhas, auxiliares da justiça, peritos,
que a concessão será condicionada à sua redução a termo. intérpretes tradutores etc.
§ 2º O juiz, no prazo máximo de vinte e quatro horas,
decidirá sobre o pedido.
Art. 5º A decisão será fundamentada, sob pena de nuli-
Juiz
dade, indicando também a forma de execução da diligência,
que não poderá exceder o prazo de quinze dias, renovável Como órgão do Estado, a primeira condição para que
por igual tempo uma vez comprovada a indispensabilidade possa uma pessoa exercer a função de Juiz é que nela tenha
do meio de prova. sido investida. O princípio fundamental da jurisdição é o
Art. 6º Deferido o pedido, a autoridade policial condu- princípio da investidura.1
zirá os procedimentos de interceptação, dando ciência ao O art. 251 do CPP destaca que, ao juiz incumbirá prover
Ministério Público, que poderá acompanhar a sua realização. à regularidade do processo e manter a ordem no curso dos
§ 1º No caso de a diligência possibilitar a gravação da co- respectivos atos, podendo, para tal fim, requisitar a força
Noções de Direito Processual Penal

pública.
municação interceptada, será determinada a sua transcrição.
O juiz é sujeito imparcial da relação processual, sendo
§ 2º Cumprida a diligência, a autoridade policial enca-
estranho ao conflito (super et inter partes).
minhará o resultado da interceptação ao juiz, acompanhado
Vigora no processo penal o princípio da identidade física
de auto circunstanciado, que deverá conter o resumo das
do juiz, segundo o qual o juiz que presidiu a instrução deve
operações realizadas.
proferir a sentença.2
§ 3º Recebidos esses elementos, o juiz determinará a
Sua atividade é regulada pela Lei Orgânica da Magistra-
providência do art. 8º , ciente o Ministério Público. tura Nacional (Lei Complementar nº 35/1979).
Art. 7º Para os procedimentos de interceptação de que No primeiro grau de jurisdição, há os órgãos monocrá-
trata esta Lei, a autoridade policial poderá requisitar servi- ticos (juízes) e, em segundo grau de jurisdição, os  órgãos
ços e técnicos especializados às concessionárias de serviço colegiados. O Tribunal do Júri constitui hipótese de órgão
público. colegiado de primeiro grau de jurisdição.
Art. 8º A interceptação de comunicação telefônica, de O juiz exerce poderes de polícia ou administrativos,
qualquer natureza, ocorrerá em autos apartados, apensa- mantendo a ordem durante o transcurso do processo. Nos
dos aos autos do inquérito policial ou do processo criminal,
preservando-se o sigilo das diligências, gravações e trans- 1
Ieses/TJ-MA/Analista Judiciário/Direito/2009.
crições respectivas. 2
Cespe/PC‑PB/Delegado de Polícia/2009.

110 Este eBook foi adquirido por ANA PAULA TORQUATO DA COSTA - CPF: 628.848.913-15.
A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
termos do art. 794 do CPP, a polícia das audiências e das do Brasil em todas as fases, exigindo‑se do bacharel
sessões compete aos respectivos juízes que poderão deter- em Direito, no mínimo, três anos de atividade jurídica
minar o que for conveniente à manutenção da ordem. Para e obedecendo‑se, nas nomeações, à ordem de clas-
tal fim, requisitarão força pública, que ficará exclusivamente sificação; II – promoção de entrância para entrância,
à sua disposição. alternadamente, por antiguidade e merecimento,
Caso a publicidade da audiência, da sessão ou do ato atendidas às seguintes normas: a) é obrigatória a
processual possa resultar em escândalo, inconveniente grave promoção do juiz que figure por três vezes consecu-
ou perigo de perturbação da ordem, o juiz poderá, de ofício tivas ou cinco alternadas em lista de merecimento;
ou a requerimento da parte ou do Ministério Público, deter- b) a promoção por merecimento pressupõe dois anos
minar que o ato seja realizado a portas fechadas, limitando de exercício na respectiva entrância e integrar o juiz
o número de pessoas que possam estar presentes (art. 792, à primeira quinta parte da lista de antiguidade desta,
§ 1º, do CPP). salvo se não houver com tais requisitos quem aceite
O juiz pode, inclusive, determinar que as audiências, o lugar vago; c) aferição do merecimento conforme
as sessões e os atos processuais, em caso de necessidade, o desempenho e pelos critérios objetivos de produ-
sejam realizadas em sua residência, ou em outra casa por ele tividade e presteza no exercício da jurisdição e pela
especialmente designada (art. 792, § 2º, do CPP). frequência e aproveitamento em cursos oficiais ou
O magistrado também exerce poderes jurisdicionais, reconhecidos de aperfeiçoamento; d) na apuração de
conduzindo a sequência dos atos processuais até a senten- antiguidade, o tribunal somente poderá recusar o juiz
ça, designando audiências, aplicando prisões cautelares, mais antigo pelo voto fundamentado de dois terços
determinando as comunicações processuais, velando pela de seus membros, conforme procedimento próprio,
aplicação dos princípios fundamentais do processo penal, e assegurada ampla defesa, repetindo‑se a votação
e conduzindo a instrução do processo, para ao final, formar até fixar‑se a indicação; e) não será promovido o juiz
a sua convicção. que, injustificadamente, retiver autos em seu poder
O juiz tem também poderes de instrução processual, além do prazo legal, não podendo devolvê‑los ao
podendo requisitar a produção de provas de ofício. Com cartório sem o devido despacho ou decisão; III – o
efeito, o art. 156 do CPP determina que a prova da alegação acesso aos tribunais de segundo grau far‑se‑á por
incumbirá a quem a fizer, sendo, porém, facultado ao juiz de antiguidade e merecimento, alternadamente, apu-
ofício: I – ordenar, mesmo antes de iniciada a ação penal, rados na última ou única entrância; IV – previsão de
a produção antecipada de provas consideradas urgentes e cursos oficiais de preparação, aperfeiçoamento e
relevantes, observando a necessidade, adequação e propor- promoção de magistrados, constituindo etapa obri-
cionalidade da medida; II – determinar, no curso da instrução, gatória do processo de vitaliciamento a participação
ou antes de proferir sentença, a realização de diligências para em curso oficial ou reconhecido por escola nacional
dirimir dúvida sobre ponto relevante. de formação e aperfeiçoamento de magistrados;
Não há vedação expressa no ordenamento jurídico à V – o subsídio dos Ministros dos Tribunais Superiores
atividade investigatória do juiz.3 corresponderá a noventa e cinco por cento do sub-
O juiz tem forte atuação também no que se refere à sídio mensal fixado para os Ministros do Supremo
limitação da atividade probatória das partes, podendo, por Tribunal Federal e os subsídios dos demais magis-
exemplo, negar perícias (art. 184 do CPP), não se vinculando trados serão fixados em lei e escalonados, em nível
ao laudo pericial (art. 182 do CPP); determinar o compa- federal e estadual, conforme as respectivas catego-
recimento do ofendido (art. 201 do CPP), da testemunha rias da estrutura judiciária nacional, não podendo a
(art. 218 do CPP) e do próprio acusado (art. 260 do CPP); e diferença entre uma e outra ser superior a dez por
complementar ou limitar a pergunta das partes às testemu- cento ou inferior a cinco por cento, nem exceder a
nhas (art. 212 do CPP). noventa e cinco por cento do subsídio mensal dos
Capez (2005, p. 159) destaca que Ministros dos Tribunais Superiores, obedecido, em
qualquer caso, o disposto nos arts. 37, XI, e 39, § 4º;
o juiz penal exerce, ainda, funções anômalas, tais VI – a aposentadoria dos magistrados e a pensão de
como fiscalizar o princípio da obrigatoriedade da seus dependentes observarão o disposto no art. 40;
ação penal (CPP, art. 28), requisitar a instauração VII  – o juiz titular residirá na respectiva comarca,
de inquérito (CPP, art. 5º, II), bem como arquivá‑lo, salvo autorização do tribunal; VIII – o ato de remo-
receber a notitia criminis (CPP, art. 39) e levá‑la ao ção, disponibilidade e aposentadoria do magistrado,
Ministério Público (CPP, art. 40) etc. por interesse público, fundar‑se‑á em decisão por
voto da maioria absoluta do respectivo tribunal ou
Percebe‑se, dessa forma, que o juiz exerce atividade do Conselho Nacional de Justiça, assegurada ampla
Noções de Direito Processual Penal

administrativa, além da função jurisdicional, com o objetivo defesa; VIII – a remoção a pedido ou a permuta de
de assegurar a ordem no decorrer do processo, podendo magistrados de comarca de igual entrância atende-
requisitar o concurso da polícia.4 rá, no que couber, ao disposto nas alíneas a, b, c e e
As normas basilares sobre a carreira e suas garantias para do inciso II; IX – todos os julgamentos dos órgãos do
o bom desempenho das funções são trazidas pela própria Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas
Constituição Federal. todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo
O art. 93 da CF/1988 traz os princípios atinentes à carreira a lei limitar a presença, em determinados atos,
da magistratura: às próprias partes e a seus advogados, ou somente
a estes, em casos nos quais a preservação do direito
I – ingresso na carreira, cujo cargo inicial será o de juiz à intimidade do interessado no sigilo não prejudique
substituto, mediante concurso público de provas e o interesse público à informação; X – as decisões
títulos, com a participação da Ordem dos Advogados administrativas dos tribunais serão motivadas e em
sessão pública, sendo as disciplinares tomadas pelo
voto da maioria absoluta de seus membros; XI  –

3
Assunto cobrado na prova do MPDFT/28º Concurso/Promotor - Nova
Prova/2009. nos tribunais com número superior a vinte e cinco

4
FCC/TRF 4ª Região/Analista Judiciário/2004. julgadores, poderá ser constituído órgão especial,

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com o mínimo de onze e o máximo de vinte e cinco até e incluindo o terceiro grau, for parte ou diretamente
membros, para o exercício das atribuições adminis- interessado no feito.6
trativas e jurisdicionais delegadas da competência As limitações de parentesco ao terceiro grau atingem
do tribunal pleno, provendo‑se metade das vagas apenas a linha colateral, sendo parentes de terceiro grau,
por antiguidade e a outra metade por eleição pelo por exemplo, tios e sobrinhos e não os primos, que já se
tribunal pleno; XII  – a atividade jurisdicional será vinculam pelo quarto grau. Na linha reta, ascendente ou
ininterrupta, sendo vedado férias coletivas nos juí- descendente, não há qualquer limitação de grau, alcançando
zos e tribunais de segundo grau, funcionando, nos filhos, netos, bisnetos, tataranetos, genitores, avós, bisavós e
dias em que não houver expediente forense normal, tataravós etc. No parentesco por afinidade entram o sogro,
juízes em plantão permanente; XIII – o número de genro, padrasto, enteado, cunhado etc.
juízes na unidade jurisdicional será proporcional à Também no art. 253 do CPP, se estabelece que
efetiva demanda judicial e à respectiva população;
XIV  – os servidores receberão delegação para a nos juízos coletivos, não poderão servir no mesmo
prática de atos de administração e atos de mero processo os juízes que forem entre si parentes, con-
expediente sem caráter decisório; XV – a distribui- sanguíneos ou afins, em linha reta ou colateral até o
ção de processos será imediata, em todos os graus terceiro grau, inclusive.
de jurisdição.
Trata‑se de hipótese de impedimento, sendo que há na
O art. 95 da CF/1988 traz as garantias e vedações: doutrina entendimento de que referida hipótese se deno-
minaria incompatibilidade.
I – vitaliciedade, que, no primeiro grau, só será A título de exemplo, estará impedido de atuar no pro-
adquirida após dois anos de exercício, dependendo cesso o magistrado ou membro do tribunal cujo sobrinho
a perda do cargo, nesse período, de deliberação do desempenhe a mesma função no órgão coletivo julgador.7
tribunal a que o juiz estiver vinculado, e, nos demais Por outro lado, o juiz não poderá exercer jurisdição no
casos, de sentença judicial transitada em julgado; processo em que sua cônjuge funcionou como autoridade
II – inamovibilidade, salvo por motivo de interesse policial8, nem no que atuou como testemunha9, ou mesmo que
público, na forma do art. 93, VIII; III – irredutibilidade no processo em que tiver funcionado como juiz de outra instân‑
de subsídio, ressalvado o disposto nos arts. 37, X e cia, pronunciando‑se de fato ou de direito, sobre a questão.10
XI, 39, § 4º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I. O juiz é sujeito imparcial da relação processual; portan-
Parágrafo único. Aos juízes é vedado: I – exercer, ainda to, não poderá exercer jurisdição no processo em que figurar
que em disponibilidade, outro cargo ou função, salvo como parte, parente colateral até o 3º grau.11
uma de magistério; II  – receber, a  qualquer título Ocorrendo impedimento do juiz, os prazos não correrão.12
ou pretexto, custas ou participação em processo; Em face das disposições do art. 252, III, do CPP, que
III  – dedicar‑se à atividade político‑partidária; IV  – estabelece que o juiz não poderá exercer jurisdição no pro-
receber, a  qualquer título ou pretexto, auxílios ou cesso em que tiver funcionado como juiz de outra instância,
contribuições de pessoas físicas, entidades públicas pronunciando‑se, de fato ou de direito, sobre a questão,
ou privadas, ressalvadas as exceções previstas em lei; pode‑se afirmar que, em relação ao magistrado, este pode
V – exercer a advocacia no juízo ou tribunal do qual votar em pleito de habeas corpus, cujo fundamento está na
se afastou, antes de decorridos três anos do afasta- nulidade da citação editalícia quando, na instância a quo,
mento do cargo por aposentadoria ou exoneração. presidira a produção da prova testemunhal.13
As disposições do art. 252, II, do CPP, também exigem
Se declarada a insubsistência da nomeação do magis‑
atuação efetiva em relação ao ato gerador do impedimento,
trado, que haja participado de julgamento, mesmo assim
sendo que a prática de atos isolados quando o magistrado
não há nulidade do julgamento.5
estiver em função anterior, Nesse sentido, o Procurador da
Impedimentos e Suspeição República, com vista dos autos, apresenta quesitos à prova
pericial, tendo sido este o único ato que titulou na ação
Além de ser competente, o  juiz deve ser imparcial. penal, porque depois assumiu o cargo de juiz federal nesta
Perdendo a imparcialidade, o magistrado não deve julgar o situação funcional, os mesmos autos chegam‑lhe e ele pro-
feito. O Código de Processo Penal traz as hipóteses de im- fere decisão condenatória, forte até mesmo na conclusão
pedimento e suspeição, condutas que tornam o juiz parcial pericial. Nesse caso, não há impedimento.14
e permitem o questionamento do juiz para julgar os fatos
contidos na ação penal. Hipóteses de Suspeição
Noções de Direito Processual Penal

Hipóteses de Impedimento Já as hipóteses geradoras de suspeição (causas subjetivas)


encontram‑se arroladas no art. 254 do CPP, que determina que o
As hipóteses de impedimento (causas objetivas) estão juiz dar‑se‑á por suspeito, e, se não o fizer, poderá ser recusado
descritas no art.  252 do CPP, consignando que o juiz não por qualquer das partes: I – se for amigo íntimo ou inimigo ca-
poderá exercer jurisdição no processo em que: I  –  tiver
funcionado seu cônjuge ou parente, consanguíneo ou afim,
6
Assunto cobrado na seguinte prova: FCC/TRF 4ª Região/Analista Judiciário/Área
em linha reta ou colateral até e incluindo o terceiro grau, Judiciária/2010/Questão 52.

7
Assunto cobrado na prova da FCC/TCE‑AL/Procurador/2008.
como defensor ou advogado, órgão do Ministério Público,
8
OAB‑MG/2º Exame de Ordem/2003.
autoridade policial, auxiliar da justiça ou perito; II  –  ele
9
OAB‑MG/2º Exame de Ordem/2003.
próprio houver desempenhado qualquer dessas funções 10
TJ‑RN/Oficial de Justiça/2002.
11
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/TRE‑PB/Analista Judiciário/2007
ou servido como testemunha; III – tiver funcionado como e FCC/TRF 1ª Região/Analista Judiciário/2001.
juiz de outra instância, pronunciando‑se, de fato ou de di- 12
OAB‑DF/1º Exame de Ordem/2005.
reito, sobre a questão; IV – ele próprio ou seu cônjuge ou 13
Assunto cobrado no 20º Concurso Público para Procurador da República/2003.
parente, consanguíneo ou afim em linha reta ou colateral Com efeito, tendo o magistrado, na instância anterior, atuado apenas na fase
da instrução probatória, e não quando da determinação da citação, não se
verifica hipótese de impedimento.

5
20º Concurso Público para Procurador da República/2003. 14
Assunto cobrado no 14º Concurso Público para Procurador da República.

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pital de qualquer deles; II – se ele, seu cônjuge, ascendente ou De acordo com o art. 105 do CP, as partes poderão tam-
descendente estiver respondendo a processo por fato análogo, bém arguir de suspeitos os peritos, os intérpretes e os serven-
sobre cujo caráter criminoso haja controvérsia; III – se ele, seu tuários ou funcionários de justiça, decidindo o juiz de plano
cônjuge, ou parente, consanguíneo, ou afim, até e incluindo o e sem recurso, à vista da matéria alegada e prova imediata.
terceiro grau, sustentar demanda ou responder a processo que É extensivo aos intérpretes, no que lhes for aplicável,
tenha de ser julgado por qualquer das partes; IV – se tiver acon- o disposto sobre suspeição dos juízes25 (art. 280 do CPP).
selhado qualquer das partes; V – se for credor ou devedor, tutor O procedimento para a exceção de suspeição está previsto
ou curador, de qualquer das partes; VI – se for sócio, acionista nos arts. 96 a 107 do CPP.
ou administrador de sociedade interessada no processo15.
Dessa forma, a título de exemplo, o juiz deve de­clarar‑se Partes
suspeito para o julgamento de ação penal em que seja
amigo íntimo da parte.16 No entanto, não precisará dar‑se‑á A capacidade de ser parte é uma projeção processual da
por suspeito se for amigo íntimo do advogado do réu.17 capacidade jurídica de natureza material.26 Entretanto, no
O mesmo se aplica se houver inimizade capital entre a parte processo penal, há particularidades em face de a possibilidade
e o juiz. Entretanto, o art. 256 do CPP determina que a suspei- de o próprio Estado, por meio do Ministério Público, poder
ção do juiz não poderá ser declarada nem reconhecida, quando ser o titular da ação penal.
a parte injuriar o juiz ou de propósito der motivo para criá‑la.18
A suspeição do juiz poderá ser declarada ou reconheci-
da, quando o juiz tiver aconselhado qualquer das partes.19 Ministério Público
O juiz dar‑se‑á por suspeito, se for credor ou devedor
de qualquer das partes.20 Conceituação
O juiz dar‑se‑á por suspeito se for acionista de sociedade
interessada no processo.21 O Ministério Público é instituição permanente, essencial
O art. 255 do CPP determina que à função jurisdicional do Estado, incumbindo‑lhe a defesa da
ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais
o impedimento ou suspeição decorrente de paren- e individuais indisponíveis (art. 127 da CF/1988).
tesco por afinidade cessará pela dissolução do casa- Pierobom (2009, p. 291) destaca que
mento que lhe tiver dado causa, salvo sobrevindo
descendentes; mas, ainda que dissolvido o casa- em sua gênese histórica, o  Ministério Público ori-
mento sem descendentes, não funcionará como juiz ginou‑se do Poder Executivo, haja vista sua função
o sogro, o padrasto, o cunhado, o genro ou enteado administrativa de dar aplicação às leis. Todavia, consi-
de quem for parte no processo. derando seu atual grau de independência, destacou‑se
desse Poder. Segundo alguns autores, o  Ministério
A suspeição e o impedimento do juiz – causas de nuli- Público seria um verdadeiro quarto Poder do Estado,
dade – podem ser opostas pelas partes e pelo assistente haja vista que é independente dos demais poderes,
de acusação mediante a oposição de “exceção” assinada possuindo dotação orçamentária própria, em seme-
pelo próprio excipiente ou procurador dotado de poderes lhança ao Poder Judiciário.
especiais, com documentos e rol testemunhal, se houver. Se
o juiz negá‑la, responderá por escrito e com rol testemunhal O Ministério Público detém autonomia funcional e ad-
e documentação. A exceção será processada e julgada no ministrativa, por possuir dotação orçamentária própria, não
tribunal, com citação das partes e oitiva de testemunhas;
tendo que prestar contas ao poder executivo.
considerada procedente, serão anulados os atos processuais
Abrange a instituição do Ministério Público, nos termos
praticados sob a direção do excepto.22
A exceção de suspeição não afasta o juízo do julgamento do art.  128 da CF/1988: I  – o Ministério Público da União,
do crime. O afastamento só ocorre com o provimento da que compreende: a) o Ministério Público Federal; b) o Minis-
exceção ou com o próprio reconhecimento, pelo juiz de tério Público do Trabalho; c) o Ministério Público Militar; d)
hipótese, que caracterize suspeição, não lhe sendo exigida o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios; II – os
qualquer fundamentação sobre os motivos pelos quais en- Ministérios Públicos dos Estados.
tende estar suspeito. Em cada estado da Federação, há um Ministério Público
A arguição de suspeição precederá a qualquer outra, estadual, chefiado pelo procurador‑geral de justiça e composto
salvo quando fundada em motivo superveniente.23 por promotores de justiça, que atuam no primeiro grau de
Não se poderá opor suspeição às autoridades policiais jurisdição e, procuradores de justiça, que atuam perante o
nos atos do inquérito, mas deverão elas declarar‑se suspei- Tribunal de Justiça do estado.
tas quando ocorrer motivo legal24 (art. 107 do CPP). O Ministério Publico Federal tem por chefe o pro­
Noções de Direito Processual Penal

curador‑geral da República e é composto pelos procuradores


15
Assunto cobrado na seguinte prova: FCC/TRF 4ª Região/Analista Judiciário/ da República, que atuam perante a justiça federal, pelos
Execução de Mandados/Questão 60/2010. procuradores regionais da República, que atuam junto aos
16
Assunto cobrado na provas da FCC/TRF 2ª Região/Analista Judiciário/2007.
17
Assunto cobrado na prova da OAB‑MG/2º Exame de Ordem/2003. tribunais regionais federais e pelos subpro­curadores‑gerais
18
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/TRF 2ª Região/Analista Judiciá- da República, com atuação perante o STF e STJ.
rio/2007; FGV/TJ‑SE/Analista Judiciário/2004; Vunesp/OAB‑SP/128º Exame; O § 5º do art. 128 da CF/1988 traz as garantias e vedações
Cespe/TJ‑DF/Oficial de Justiça Avaliador/1997; DRS‑Acadepol/Polícia Civil do
Estado de Minas Gerais/Delegado de Polícia/2007; FCC/TRF 1ª Região/Analista
impostas aos seus membros.
Judiciário/2001 e Cespe/OAB/1º Exame de Ordem/2008. Tem como garantias: a) vitaliciedade, após dois anos de
19
Assunto cobrado na prova da FCC/TRF 2ª Região/Analista Judiciá­rio/2007. exercício, não podendo perder o cargo senão por sentença
20
Assunto cobrado na seguinte prova: TJ‑PR/Juiz Substituto/2006. judicial transitada em julgado; b) inamovibilidade, salvo
21
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/TRF 1ª Região/Analista Judiciá-
rio/2001; OAB‑MG/2º Exame de Ordem/2003 e FCC/TRF 2ª Região/Analista por motivo de interesse público, mediante decisão do ór-
Judiciário/2007. gão colegiado competente do Ministério Público, pelo voto
22
Assunto cobrado nas seguintes provas: XIII Concurso/TRF 3ª Região/Juiz da maioria absoluta de seus membros, assegurada ampla
Federal Substituto; Promotor‑BA/2004 e TJ‑PR/Juiz Substituto/2006.
23
Cespe/OAB/2º Exame de Ordem/2007.
24
Assunto cobrado nas seguintes provas: FGV/OAB/IV Exame Unificado/Questão
25
DRS‑Acadepol/SSP‑MG/Polícia Civil do Estado de Minas Gerais/Delegado de
68/Assertiva C/2011; NCE/Delegado da Polícia Civil de 3ª Classe do RJ/2002; Polícia Civil/2007.
TJ‑PR/Juiz Substituto/2006 e Cespe/Delegado Federal Nacional/2004. 26
Promotor‑BA/2004.

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defesa; c) irredutibilidade de subsídio, fixado na forma do Funções
art. 39, § 4º, e ressalvado o disposto nos arts. 37, X e XI, 150,
II, 153, III, 153, § 2º, I; Tem por funções institucionais, nos termos do art. 129 da
Suas vedações são: a) receber, a qualquer título e sob CF/1988, estando destacadas as de natureza penal ou proces-
qualquer pretexto, honorários, percentagens ou custas sual penal, e em negrito aquelas com maior reflexo na seara
processuais; b) exercer a advocacia; c) participar de socie- penal: I – promover, privativamente, a ação penal pública,
dade comercial, na forma da lei; d) exercer, ainda que em
na forma da lei; II – zelar pelo efetivo respeito dos Poderes
disponibilidade, qualquer outra função pública, salvo uma de
Públicos e dos serviços de relevância pública aos direitos
magistério; e) exercer atividade político‑partidária; f) receber,
a qualquer título ou pretexto, auxílios ou contribuições de assegurados nesta Constituição, promovendo as medidas
pessoas físicas, entidades públicas ou privadas, ressalvadas necessárias a sua garantia; III – promover o inquérito civil e
as exceções previstas em lei. a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público
No processo penal, o Ministério Público é parte im‑ e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos
parcial.27 Embora esta assertiva seja encontrada com certa e coletivos; IV – promover a ação de inconstitucionalidade
frequência em bancas que realizam concursos para o cargo de ou representação para fins de intervenção da União e dos
membro do Ministério Público, a doutrina atenta demonstra Estados, nos casos previstos nesta Constituição; V – defender
a impropriedade de tal afirmação. Com efeito, Aury Lopes judicialmente os direitos e interesses das populações indíge-
(2003, p. 86-97), analisando a possibilidade de a investigação nas; VI – expedir notificações nos procedimentos adminis-
preliminar ser dirigida pelo Ministério Público, traz impor- trativos de sua competência, requisitando informações e
tantes elementos que afastam a tese de que o representante documentos para instruí‑los, na forma da lei complementar
do MP seria parte imparcial: respectiva; VII  – exercer o controle externo da atividade
policial, na forma da lei complementar mencionada no ar-
4) um órgão de natureza acusatória, ao agir de forma
imparcial, atenta contra a sua própria existência; 5) tigo anterior; VIII – requisitar diligências investigatórias e a
quanto maior a parcialidade dos litigantes, maior a instauração de inquérito policial, indicados os fundamentos
parcialidade do juiz; 6) por ser um órgão acusador, jurídicos de suas manifestações processuais; IX – exercer
está o MP inclinado a produzir provas contra o impu- outras funções que lhe forem conferidas, desde que compa-
tado; 7) o MP teria que realizar atividades totalmente tíveis com sua finalidade, sendo‑lhe vedada a representação
alheias à sua função, em nome de uma suposta atua- judicial e a consultoria jurídica de entidades públicas.
ção em benefício do acusado; 8) seria necessário criar O art. 257 do CPP determina caber ao Ministério Público:
a figura do promotor prevenido, ou seja, o membro I – promover, privativamente, a ação penal pública, na forma
do MP que investiga não poderia acusar, em face de estabelecida neste Código; e II – fiscalizar a execução da lei
diversos prejulgamentos que ocorreria. (custos legis).
O membro do Ministério Público, no processo criminal,
Parte da doutrina afirma que a intervenção do Ministé‑
não poderá por critérios de conveniência e oportunidade,
rio Público pleiteando a condenação, nos recursos de ape‑
lação interpostos pelo réu, Parte da doutrina afirma que a deixar de promover a ação penal.33
intervenção do Ministério Público pleiteando a condenação, Segundo o STJ,
nos recursos de apelação interpostos pelo réu, em segunda
instância, já estando o feito contra-arrazoado, ofende os o não comparecimento do representante do Ministé-
princípios do contraditório e da ampla defesa, por não rio Público à audiência de instrução, seja para oitiva
haver previsão de manifestação da defesa contraditando de testemunhas ou mesmo para o interrogatório, por
tal parecer ministerial.28 si só, não enseja nulidade, pois depende da compro-
O afastamento e substituição de agentes do Ministério vação de prejuízo. (STJ, HC nº 60.442/MS, Min. Gilson
Público das atividades que lhes são próprias, sem previsão Dipp, Quinta Turma, DJ 11/9/2006).
legal correspondente constitui ofensa ao princípio do Pro‑
motor Natural29.
O membro do Ministério Público pode requisitar infor-
Princípios mações e documentos a entidades privadas e a autoridades
da Administração Pública; arguir nulidade, impetrar habeas
O princípio da unidade e da indivisibilidade do Ministé- corpus, interpor recurso e pedir absolvição a favor do réu,
rio Público não implica vinculação de pronunciamentos de em nome da correta aplicação da lei; ter livre acesso a
Noções de Direito Processual Penal

seus órgãos no processo que oficiarem, podendo ocorrer quaisquer documentos relativos à atividade‑fim da polícia e
mudanças de orientação.30 livre ingresso em estabelecimentos prisionais ou policiais.34
O princípio do promotor natural, citado na doutrina, O membro do Ministério Público, no exercício de suas
não impede a designação de outro promotor de justiça atribuições de natureza criminal, não pode determinar a
para atuar em conjunto com o promotor de justiça titular.31 condução coercitiva do indiciado, para ato do inquérito
policial para cuja realização seja imprescindível a sua
O afastamento e substituição de agentes do Ministério
presença.35
Público das atividades que lhes são próprias, sem previsão
legal correspondente constitui ofensa ao princípio do Pro‑ É defeso ao Ministério Público presidir inquérito policial
motor Natural.32 propriamente dito.36

27
17º Concurso Público para Procurador da República/1999.
33
Assunto cobrado na prova da OAB‑SP/127º Exame de Ordem/2005.
28
Cespe/DPU/Defensor Público Federal/2010/Questão 72.
34
Assunto cobrado nas seguintes provas: Promotor‑DF/2002; FCC/TRF-4ª Re-
29
MPE-PR/Promotor de Justiça Substituto/Questão 66/Item II/2011. gião/Analista Judiciário/2004; OAB‑MG/2º Exame de Ordem/2004; Cespe/
30
Assunto cobrado na prova do Cespe/Promotor‑AM/2001. Promotor‑AM/2001 e OAB‑RS/2º Exame de Ordem/2004.
31
Assunto cobrado na prova da OAB‑GO/1º Exame de Ordem/2003.
35
Promotor‑DF/ 2002.
32
MPE-PR/Promotor de Justiça Substituto/Questão 66/Item II/2011.
36
Assunto cobrado na prova do TJDFT/Juiz de Direito Substituto/2007.

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
O membro do Ministério Público, no processo criminal, Se o conflito envolver os membros do Ministério Público
não tem atribuição expressa do Código de Processo Penal da União, no âmbito do Ministério Público do Trabalho ou
para investigar crimes praticados por agentes policiais.37 No Ministério Público Militar, a solução do conflito será dada
entanto, a Constituição determina que o órgão acusatório pelo Procurador‑Geral respectivo. Em se tratando de conflito
deve exercer o controle externo na atividade policial, sendo entre membros do Ministério Público Federal ou mesmo do
que, se houver condutas delitivas a serem apuradas por ação Ministério Público do Distrito Federal, a definição das atribui-
penal pública, o órgão tem a obrigatoriedade de atuação em ções é feita pelo Procurador‑Geral da República.
face dos policiais com desvio de condutas. Se a divergência se der entre ramos distintos do Minis-
O art. 9º da Lei Complementar nº 75/1993 determina que tério Público, como entre membros de ministérios públicos
o Ministério Público da União exercerá o controle externo estaduais diversos ou entre Ministério Público estadual e
da atividade policial por meio de medidas judiciais e extraju- Ministério Público Federal, a definição das atribuições é feita
diciais, podendo: I – ter livre ingresso em estabelecimentos pelo STF, seja o conflito positivo ou negativo, eis que àquela
policiais ou prisionais; II – ter acesso a quaisquer documentos Corte, nos termos do art. 102, I, f, da CF/1988, compete
relativos à atividade-fim policial; III – representar à autori- julgar as causas e os conflitos entre a União e os Estados,
dade competente pela adoção de providências para sanar a União e o Distrito Federal, ou entre uns e outros. (STF, ACO
a omissão indevida, ou para prevenir ou corrigir ilegalidade 889/RJ, Rel. Min. Ellen Gracie, Tribunal Pleno, Julgamento:
ou abuso de poder; IV – requisitar à autoridade competente 11/9/2008). Desta forma, tem-se que a competência para
a instauração de inquérito policial sobre a omissão ou fato julgar conflito negativo de atribuições entre órgãos do MP
ilícito ocorrido no exercício da atividade policial; V – promo- de estados-membros diversos é do STF.42
ver a ação penal por abuso de poder. Se houver, na dúvida sobre as atribuições dos membros
do Ministério Público, interveniência de algum juiz, resta
Suspeição e Impedimento configurado conflito de competência a ser solucionado pelo
STJ, nos termos do art. 105, I, d, da CF/1988.
O art. 258 do CPP estabelece que
Ofendido e Querelante
Os órgãos do Ministério Público não funcionarão nos
processos em que o juiz ou qualquer das partes for A vítima, ou ofendido, é  o sujeito passivo da infração
seu cônjuge, ou parente, consanguíneo ou afim, em penal. No processo penal, já na fase policial, podem atuar, eis
linha reta ou colateral, até o terceiro grau, inclusive, que o art. 14 do CPP destaca que pode o ofendido requerer
e a eles se estendem, no que lhes for aplicável, qualquer diligência, que será realizada, ou não, a juízo da
as  prescrições relativas à suspeição e aos impedi- autoridade policial.
mentos dos juízes. O ofendido pode atuar como sujeito ativo da relação
processual, nos termos do art. 30 do CPP, figurando no polo
Desta forma, aos órgãos do Ministério Público se esten- ativo do processo, eis que, nos crimes em que não couber
dem, no que lhes for aplicável, as prescrições relativas às ação pública, os autos do inquérito serão remetidos ao juízo
suspeições e aos impedimentos dos juízes.38 competente. Do juízo, aguardarão a iniciativa do ofendido
Desta forma, na fase judicial, não pode servir como ou de seu representante legal, ou serão entregues ao reque-
testemunha membro do MP que tenha exercido função rente, se o pedir, mediante traslado. Poderá a vítima, então,
própria do parquet no inquérito policial, componente do
ajuizar a ação penal privada.
mesmo processo‑crime.39
A vítima poderá atuar inclusive nos crimes de ação penal
A suspeição do órgão do Ministério Público, quando não
pública, caso haja inércia do representante do Ministério
declarada espontaneamente, depende de manifestação
Público, nos termos do art. 5º, LIX, da CF/1988.
pessoal do acusado.40
Pode, ainda, condicionar a atuação do Ministério Público
A participação de membro do Ministério Público na fase
e da Polícia Judiciária, nos termos do art. 24 do CPP.
investigatória criminal não acarreta o seu impedimento
Determina o art.  63 do CPP, transitada em julgado a
ou suspeição para o oferecimento da denúncia.41 É o que
sentença condenatória, poderá o ofendido promover‑lhe a
determina a Súmula nº 234/STJ.
execução, no juízo cível, para o efeito da reparação do dano.
Independentemente de atuação no polo ativo da relação
Conflito de Atribuições
processual penal, nos termos do art. 201 do CPP, sempre que
possível, o ofendido será qualificado e perguntado sobre as
Caso haja divergência de entendimentos entre membros
Noções de Direito Processual Penal

circunstâncias da infração, quem seja ou presuma ser o seu


do Ministério Público estadual sobre suas atribuições, em
autor, as provas que possa indicar, tomando‑se por termo
atuação positiva ou negativa, a solução do conflito será dada
as suas declarações.
pelo Procurador‑Geral de Justiça.
Se, intimado para esse fim, deixar de comparecer sem
motivo justo, o ofendido poderá ser conduzido à presença

37
Assunto cobrado na prova da OAB‑SP/127º Exame de Ordem/2005.

38
Assunto cobrado nas seguintes provas: Ieses/TJ-MA/Analista Judiciário/Ques-
da autoridade43 (art. 201, § 1º, do CPP).
tão 85/Item IV/2011 e Vunesp/OAB‑SP/128º Exame de Ordem e OAB‑PR/3º Será comunicado dos atos processuais relativos ao ingres-
Exame de Ordem/2004. so e à saída do acusado da prisão, à designação de data para
39
Cespe/Promotor‑AM/2001.
40
17º Concurso Público para Procurador da República/1999.
audiência e à sentença e respectivos acórdãos que a mante-
41
Assunto cobrado nas seguintes provas: MPE-PR/Promotor de Justiça Substitu- nham ou modifiquem. As comunicações ao ofendido deverão
to/Questão 62/Item I/2011; Cespe/OAB/1º Exame de Ordem/2008; TJ‑PR/Juiz ser feitas no endereço por ele indicado, admitindo‑se, por
Substituto/2006; Cespe/TRF 5ª Região/Juiz Federal Substituto/2004; TJ‑MA/
Juiz/2003; TJDFT/Juiz de Direito Substituto/2007; Cespe/AGU/Procurador opção do ofendido, o uso de meio eletrônico (art. 201, §§ 2º
Federal de 2ª Categoria/2002; OAB‑SP/125º Exame de Ordem/2005; Cespe/ e 3º, do CPP).
TRF 5ª Região/Juiz Federal Substituto/2004; Cespe/3º Exame da Ordem/2006;
TRF 1ª Região/Juiz Federal Substituto/2005; Cespe/Promotor‑AM/2001;
Cespe/OAB/1º Exame de Ordem/2008 e Cespe/PC-RN/Delegado de Polícia
42
Assunto cobrado na prova do Cespe/MPE-RN/Promotor de Justiça/2009.
Civil Substituto/2009.
43
OAB‑MG/Comissão de Exame de Ordem/2008.

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Antes do início da audiência e durante a sua realização, Por direito de presença, entende‑se a oportunidade de
será reservado espaço separado para o ofendido (art. 201, o acusado acompanhar, ao lado de seu defensor, todos os
§ 4º, do CPP). atos do processo, assegurando a sua maior proximidade com
Se o juiz entender necessário, poderá encaminhar o o juiz, as razões e as provas. (STJ, HC nº 114.225/SP, Min.
ofendido para atendimento multidisciplinar, especialmente Arnaldo Esteves Lima, Quinta Turma, DJe 2/3/2009)
nas áreas psicossocial, de assistência jurídica e de saúde, O réu tem direito de presença e de participação ativa
a expensas do ofensor ou do Estado (art. 201, § 5º, do CPP). nos atos de interrogatório judicial dos demais litisconsortes
O juiz tomará as providências necessárias à preservação penais passivos, quando existentes.47 Assiste, a cada um
da intimidade, vida privada, honra e imagem do ofendido, dos litisconsortes penais passivos, o direito – fundado em
podendo, inclusive, determinar o segredo de justiça em rela- cláusulas constitucionais –, de formular reperguntas aos
ção aos dados, depoimentos e outras informações constantes demais corréus, que, entretanto, não serão obrigados a
dos autos a seu respeito para evitar sua exposição aos meios respondê-las.48 A arbitrária recusa em permitir ao corréu a
de comunicação (art. 201, § 6º, do CPP). formulação de reperguntas qualifica-se como causa gera-
dora de nulidade processual absoluta, por implicar trans-
Acusado gressão ao estatuto constitucional do direito de defesa.49
O direito de audiência, por sua vez, traduz a possibilidade
Acusado é a pessoa contra quem se propõe a ação penal, de o acusado influir pessoalmente na formação do conven-
ou seja, o sujeito passivo da pretensão punitiva, parte da cimento do magistrado, o que ocorre no momento do inter-
relação processual. O Código de Processo Penal também rogatório judicial, já que poderá oferecer a sua versão dos
usa o termo Acusado para os atos de inquérito policial, fatos, invocar o direito ao silêncio etc. (STJ, HC nº 114.225/
no que está errado, pois o processo não se inicia com a SP, Min. Arnaldo Esteves Lima, Quinta Turma, DJe 2/3/2009)
investigação policial.44 Por isso, o acusado que comparecer perante a autoridade
O acusado é o sujeito passivo da relação processual e o judiciária, no curso do processo penal, será qualificado e
possível sujeito ativo da infração penal. Deve ter legitimidade interrogado na presença de seu defensor, constituído ou
ad processum, o que se dá com os indivíduos que possuem nomeado (art. 185 do CP).
18 anos ou mais. Quanto aos deficientes mentais, podem ser O acusado tem o direito de presença aos atos do processo
sujeitos passivos da relação processual, eis que a eles poderá penal que apura fatos contra si, esteja ou não preso, sendo
ser aplicada medida de segurança, na sentença absolutória que, no último caso, pouco importa se se encontra detido
imprópria (art. 97 do CP e 386, parágrafo único, III, do CPP). em estabelecimento prisional que se encontra localizado
O art. 259 do CPP determina que a impossibilidade de fora da circunscrição do juiz processante.
identificação do acusado com o seu verdadeiro nome ou ou- Nesse sentido, o STF destaca:
tros qualificativos não retardará a ação penal, quando certa a
identidade física. A qualquer tempo, no curso do processo, do E M E N T A: HABEAS CORPUS – INSTRUÇÃO PRO-
julgamento ou da execução da sentença, se for descoberta a CESSUAL – RÉU PRESO – PRETENDIDO COMPARECI-
sua qualificação, far‑se‑á a retificação, por termo, nos autos, MENTO À AUDIÊNCIA PENAL – PLEITO RECUSADO –
sem prejuízo da validade dos atos precedentes. Dessa forma, REQUISIÇÃO JUDICIAL NEGADA SOB FUNDAMENTO
a impossibilidade de identificação do acusado com o seu DA PERICULOSIDADE DO ACUSADO  – INADMIS-
verdadeiro nome não impede o oferecimento da denúncia.45 SIBILIDADE  – A GARANTIA CONSTITUCIONAL DA
PLENITUDE DE DEFESA: UMA DAS PROJEÇÕES CON-
Direito de Presença e Audiência CRETIZADORAS DA CLÁUSULA DO DUE PROCESS OF
LAW – CARÁTER GLOBAL E ABRANGENTE DA FUNÇÃO
A Constituição Federal, em seu art. 5º, inciso LV, assegura DEFENSIVA: DEFESA TÉCNICA E AUTODEFESA (DIREI-
a garantia do devido processo legal, tornando o processo TO DE AUDIÊNCIA E DIREITO DE PRESENÇA) – PACTO
penal um instrumento de garantias ao acusado, asseguran- INTERNACIONAL SOBRE DIREITOS CIVIS E POLÍTICOS/
do‑lhe o contraditório e a ampla defesa, com todos os meios ONU (ART. 14, Nº 3, D) E CONVENÇÃO AMERICANA
e recursos inerentes. DE DIREITOS HUMANOS/OEA (ART. 8º, § 2º, D E F) –
O princípio constitucional da ampla defesa divide‑se em DEVER DO ESTADO DE ASSEGURAR, AO RÉU PRESO,
defesa técnica e autodefesa. Aquela é exercida por advo­gado, O  EXERCÍCIO DESSA PRERROGATIVA ESSENCIAL,
devidamente habilitado, não podendo ser renunciada pelo ESPECIALMENTE A DE COMPARECER À AUDIÊNCIA
próprio acusado. Já a autodefesa é exercida exclusiva e pes- DE INQUIRIÇÃO DAS TESTEMUNHAS, AINDA MAIS
Noções de Direito Processual Penal

soalmente pelo acusado, consubstanciando‑se nos direitos QUANDO ARROLADAS PELO MINISTÉRIO PÚBLI-
de presença e audiência. CO – RAZÕES DE CONVENIÊNCIA ADMINISTRATIVA
No processo penal, a defesa apresenta-se sob dois OU GOVERNAMENTAL NÃO PODEM LEGITIMAR O
aspectos: defesa técnica e autodefesa. Há manifestação DESRESPEITO NEM COMPROMETER A EFICÁCIA E A
da autodefesa nos seguintes atos: interrogatório, compa‑ OBSERVÂNCIA DESSA FRANQUIA CONSTITUCIONAL –
recimento no ato de produção de prova e possibilidade de NULIDADE PROCESSUAL ABSOLUTA – AFASTAMENTO,
recurso.46 EM CARÁTER EXCEPCIONAL, NO CASO CONCRETO, DA
A Súmula nº 523 do STF estabelece que INCIDÊNCIA DA SÚMULA Nº 691 do STF – HABEAS
CORPUS CONCEDIDO DE OFÍCIO. – O acusado, em-
no processo penal, a falta da defesa constitui nulidade bora preso, tem o direito de comparecer, de assistir
absoluta, mas a sua deficiência só o anulará se houver e de presenciar, sob pena de nulidade absoluta,
prova de prejuízo para o réu. os atos processuais, notadamente aqueles que se
44
Assunto cobrado na prova do Ieses/TJ-MA/Analista Judiciário/Direito/2009. 47
Cespe/DPE-PI/Defensor Público/2009.
45
Cespe/TJ‑DF/Oficial de Justiça Avaliador/1997. 48
Assunto cobrado na prova do Cespe/DPE-PI/Defensor Público/2009.
46
FCC/DPE-PA/Defensor Público/2009. 49
Assunto cobrado na prova do Cespe/DPE-PI/Defensor Público/2009.

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produzem na fase de instrução do processo penal, necessário, por exemplo, para audiência de reco-
que se realiza, sempre, sob a égide do contraditó- nhecimento. Nem mesmo ao interrogatório estará
rio. São irrelevantes, para esse efeito, as alegações obrigado a comparecer, mesmo porque as respostas
do Poder Público concernentes à dificuldade ou às perguntas formuladas fica ao seu alvedrio. (STJ,
inconveniência de proceder à remoção de acusados REsp nº 346.677/RJ, Min. Fernando Gonçalves, Sexta
presos a outros pontos do Estado ou do País,50 eis Turma, DJ 30/9/2002)
que razões de mera conveniência administrativa
não têm – nem podem ter – precedência sobre as Com efeito, a presença do réu em juízo não é indispensá-
inafastáveis exigências de cumprimento e respeito ao vel, ficando a critério do acusado comparecer ou não. A au-
que determina a Constituição. Doutrina. Jurisprudên- sência, inclusive, pode ser tida como estratégia defensiva.
cia. – O direito de audiência, de um lado, e o direito Em relação a tais atos, o art. 260 do CPP diz que,
de presença do réu, de outro, esteja ele preso ou
não, traduzem prerrogativas jurídicas essenciais que Se o acusado não atender à intimação para o inter-
derivam da garantia constitucional do due process of rogatório, reconhecimento ou qualquer outro ato
law e que asseguram, por isso mesmo, ao acusado, que, sem ele, não possa ser realizado, a autoridade
o direito de comparecer aos atos processuais a serem poderá mandar conduzi‑lo à sua presença, sendo que
realizados perante o juízo processante, ainda que o mandado conterá, além da ordem de condução,
situado este em local diverso daquele em que esteja os requisitos mencionados no art. 352 do CPP, no
custodiado o réu. Pacto Internacional sobre Direitos que lhe for aplicável.
Civis e Políticos/ONU (art. 14, nº 3, d) e Convenção
Americana de Direitos Humanos/OEA (art. 8º, § 2º, Assim, percebe‑se que referido artigo pode ter sua consti-
d e f). – Essa prerrogativa processual re­veste‑se de tucionalidade questionada quando determina que o acusado
caráter fundamental, pois compõe o próprio esta- deve ser conduzido coercitivamente ao ato de interrogatório.
tuto constitucional do direito de defesa, enquanto Parte da doutrina manifesta-se contrariamente à expressa
complexo de princípios e de normas que amparam previsão legal de cabimento da condução coercitiva de‑
qualquer acusado em sede de persecução criminal, terminada para simples interrogatório do acusado, como
mesmo que se trate de réu processado por suposta corolário do direito ao silêncio52.
prática de crimes hediondos ou de delitos a estes Tem‑se, ademais, que o só fato de o réu, quando inves-
equiparados. Precedentes. (STF, HC nº 86.634/RJ, Rel. tigado, indiciado, acusado ou réu, não ter comparecido à
Min. Celso de Mello, Segunda Turma, DJ 23/2/2007) delegacia de polícia, Ministério Público ou em juízo para
prestar depoimento, isto, por si só, não lhe autoriza decreto
Entretanto, o STJ destaca que da prisão preventiva. (STF, HC nº 89.503/RS, Rel. Min. Cezar
Peluso, Segunda Turma, Julgamento: 3/4/2007)
não há ofensa ao direito de ampla defesa a retirada
do réu da sessão plenária ante o receio da vítima em Interrogatório do Acusado
prestar depoimento, pois o direito de presença do
acusado não é absoluto. (STJ, Min. Arnaldo Esteves Características
Lima, Quinta Turma, DJ 18/12/2006) O interrogatório judicial está vinculado ao direito de
audiência do acusado.53 Constitui meio de defesa e as de-
Nesse sentido, o art. 217 do CPP, com a redação dada clarações oportunamente prestadas pelo acusado podem
pela Lei nº 11.690/2008, determina que servir de fonte de prova.54 Também constitui o interrogatório
meio de prova (LIMA, 2008, p. 138).
Se o juiz verificar que a presença do réu poderá
O interrogatório é ato privativo e não preclusivo do
causar humilhação, temor, ou sério constrangimento
juiz.55
à testemunha ou ao ofendido, de modo que preju-
Com efeito, o art. 185 do CPP destaca que
dique a verdade do depoimento, fará a inquirição
por videoconferência e, somente na impossibili-
O acusado que comparecer perante a autoridade
dade dessa forma, determinará a retirada do réu,
judiciária, no curso do processo penal, será quali-
prosseguindo na inquirição, com a presença do seu
defensor.51 ficado e interrogado na presença de seu defensor,
constituído ou nomeado. 56
Noções de Direito Processual Penal

Desta forma,
Diz-se que o interrogatório é ato privativo do juiz porque,
titulariza, pois, o Juiz o poder‑dever legal de proteger no rito ordinário, nos termos do art. 188 do CPP, após pro-
a produção da prova oral, assegurando, em obséquio ceder ao interrogatório, o juiz indagará das partes se restou
da verdade real, a liberdade subjetiva das testemu- algum fato para ser esclarecido, formulando as perguntas
nhas e vítimas. (STJ, HC nº 41.233/SP, Min. Hamilton correspondentes se o entender pertinente e relevante. No
Carvalhido, Sexta Turma, DJ 6/2/2006) rito ordinário, é o juiz quem formula as perguntas. Diferen-
temente ocorre no interrogatório realizado no plenário do
O STJ destaca que Tribunal do Júri. Como efeito, o art. 474, § 1º, do CPP, esta-

o comparecimento do réu aos atos processuais, em 52


Cespe/DPU/Defensor Público Federal/2010/Questão 71.
princípio, é um direito e não um dever, sem embargo
53
OAB‑RJ/22º Exame de Ordem/2003.
54
Assunto cobrado na prova do Cespe/OAB‑SP/2008.
da possibilidade de sua condução coercitiva, caso 55
Cespe/TJ‑AP/Analista Judiciário/2003-2004.
56
Assunto cobrado nas seguintes provas: CPC/Polícia Civil do Estado do Pa-

50
Assunto cobrado na prova do Cespe/DPE-PI/Defensor Público/2009. raná/Delegado de Polícia Civil/2007; OAB‑RS/1º Exame de Ordem/2005 e

51
Assunto cobrado na prova do Ieses/TJ-MA/Analista Judiciário/Direito/2009. OAB‑RO/40º Exame.

Este eBook foi adquirido por ANA PAULA TORQUATO DA COSTA - CPF: 628.848.913-15. 117
A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
belece que “o Ministério Público, o assistente, o querelante criminação que a persistência planetária dos abusos
e o defensor, nessa ordem, poderão formular, diretamente, policiais não deixa perder atualidade. II – Em princí-
perguntas ao acusado”, o que caracteriza o interrogatório ali pio, ao invés de constituir desprezível irregularidade,
realizado como não privativo (sistema cruzado). a omissão do dever de informação ao preso dos seus
Por outro lado, a todo tempo o juiz poderá proceder a direitos, no momento adequado, gera efetivamente
novo interrogatório, de ofício ou a pedido fundamentado a nulidade e impõe a desconsideração de todas as
de qualquer das partes57 (art. 196 do CPP). informações incriminatórias dele anteriormente
É indispensável a presença do defensor no interroga- obtidas, assim como das provas delas derivadas. III –
tório.58 A constituição de defensor independerá de instru‑ Mas, em matéria de direito ao silêncio e à informação
mento de mandato, se o acusado o indicar por ocasião do oportuna dele, a apuração do gravame há de fazer-se
interrogatório.59 a partir do comportamento do réu e da orientação
Antes do advento da Lei nº 10.792/2003, que deu de sua defesa no processo: o direito à informação
nova redação ao art. 185 do CPP, entendia-se que não era oportuna da faculdade de permanecer calado visa a
imprescindível a presença do defensor no interrogatório60 assegurar ao acusado a livre opção entre o silêncio –
(STF, RHC nº 84.178/RS, Rel. Min. Gilmar Mendes, Segunda que faz recair sobre a acusação todo o ônus da prova
Turma, Julgamento: 29/6/2004). do crime e de sua responsabilidade – e a intervenção
O art. 185, § 5º, do CPP, estabelece que em qualquer ativa, quando oferece versão dos fatos e se propõe
modalidade de interrogatório, o juiz garantirá ao réu o di- a prová-la: a opção pela intervenção ativa implica
reito de entrevista prévia e reservada com o seu defensor61; abdicação do direito a manter-se calado e das conse-
se realizado por videoconferência, fica também garantido o quências da falta de informação oportuna a respeito
acesso a canais telefônicos reservados para comunicação (STF, HC nº 78.708/SP, Rel. Min. Sepúlveda Pertence,
entre o defensor que esteja no presídio e o advogado pre- Primeira Turma, Julgamento: 9/3/1999).
sente na sala de audiência do Fórum, e entre este e o preso.
Depois de devidamente qualificado e cientificado do Em sede de persecução penal, o interrogatório judicial
inteiro teor da acusação, o acusado será informado pelo qualifica-se como ato de defesa do réu, que não é obrigado
juiz, antes de iniciar o interrogatório, do seu direito de a responder a qualquer indagação feita pelo magistrado
permanecer calado e de não responder perguntas que lhe processante, não podendo o réu sofrer alguma restrição em
forem formuladas (art. 186 do CPP)62. Se o interrogando sua esfera jurídica em virtude do exercício dessa especial
negar a acusação, no todo ou em parte, poderá prestar es- prerrogativa.63
clarecimentos e indicar provas (art. 189 do CPP). Inclusive, foi revogado o antigo dispositivo do Código
de Processo Penal que estabelecia que as perguntas que o
Direito ao silêncio (autodefesa negativa) réu deixava de responder e as razões que invocava para não
São assegurados aos presos os direitos ao silêncio (CF, fazê‑lo, deveriam ser consignadas.
art. 5º, LXIII) e à não autoincriminação (Pacto de São José O direito ao silêncio é manifestação do direito de de‑
da Costa Rica, art. 14, 3, g). fesa pessoal negativa, que assegura ao sujeito passivo a
Nos termos do art. 5º, LXIII, da CF/1988, possibilidade de não declarar bem como de não praticar
nenhum ato de prova, sem que dessa negativa decorra
o preso será informado de seus direitos, entre os qualquer prejuízo.64
quais o de permanecer calado, sendo‑lhe assegurada O silêncio do acusado não importará em confissão e
a assistência da família e de advogado. não poderá ser interpretado em prejuízo da defesa.65 Nesse
sentido, o STF destaca:
A ausência de informação ao direito ao silêncio não traz
consequência de nulidade se o réu, mesmo sem tal adver- O exercício do direito de permanecer em silêncio não
tência, mas acompanhado de seu advogado, passa a exercer autoriza os órgãos estatais a dispensarem qualquer
o direito de intervenção ativa. Nesse sentido: tratamento que implique restrição à esfera jurídica
daquele que regularmente invocou essa prerrogativa
Informação do direito ao silêncio (CF, art. 5º, LXIII): fundamental. Precedentes. O direito ao silêncio – en-
relevância, momento de exigibilidade, consequências quanto poder jurídico reconhecido a qualquer pessoa
da omissão: elisão, no caso, pelo comportamento relativamente a perguntas cujas respostas possam
incriminá‑la (nemo tenetur se detegere) – impede,
Noções de Direito Processual Penal

processual do acusado. I – O direito à informação da


quando concretamente exercido, que aquele que o
faculdade de manter-se silente ganhou dignidade
invocou venha, por tal específica razão, a ser preso,
constitucional, porque instrumento insubstituível
ou ameaçado de prisão, pelos agentes ou pelas
da eficácia real da vetusta garantia contra a autoin-
autoridades do Estado. – Ninguém pode ser tratado
como culpado, qualquer que seja a natureza do ilícito
57
Assunto cobrado nas seguintes provas: CPC/Polícia Civil‑PA/Delegado de penal cuja prática lhe tenha sido atribuída, sem que
Polícia Civil/2007; OAB‑MT/2º Exame de Ordem/2004; OAB‑RS/1º Exame de
Ordem/2004; OAB‑MS/81º Exame de Ordem/2005; OAB‑MT/2º Exame de exista, a esse respeito, decisão judicial condenatória
Ordem/2004; OAB‑DF/1º Exame de Ordem/2005; TRF 3ª Região/Juiz Federal transitada em julgado. O  princípio constitucional
Substituto e OAB‑SP/121º Exame de Ordem/2003.
58
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑GO/3º Exame de Ordem/2003;
OAB‑MG/2º Exame de Ordem/2004; Cespe/OAB/3º Exame de Ordem/2007;
63
Assunto cobrado na prova do Cespe/DPE-PI/Defensor Público/2009.
Cespe/TJ‑CE/Juiz Substituto/2004-2005; OAB‑RS/2º Exame de Ordem/2004.
64
OAB‑RS/1º Exame de Ordem/2005.
59
OAB‑RS/1º Exame de Ordem/2004.
65
Assunto cobrado nas seguintes provas: Ieses/TJ-MA/Analista/Questão 84/
60
Assunto cobrado na prova do Cespe/TJ-CE/Juiz Substituto/2004-2005. Item IV/2011; OAB‑DF/1º Exame de Ordem/2005; Cespe/OAB‑SP/136º Exame
61
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑PR/Exame 03/2006 e OAB‑DF/1º da Ordem/2008; Unemat‑Covest/MPE‑MT/Analista Jurídico/2004; OAB‑RS/2º
Exame de Ordem/2005. Exame de Ordem/2004; OAB‑RJ/23º Exame de Ordem/2003; OAB‑RJ/22º Exame
62
Assunto cobrado na provas da FCC/DP‑MA/Defensor Público/2009 e Cespe/ de Ordem/2003; 17º Concurso Público para Procurador da República/1999 e
PC-RN/Agente de Polícia Civil Substituto/2009. OAB‑RS/1º Exame/2006.

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
da não culpabilidade, em nosso sistema jurídico, A título de exemplo, a autoridade policial, após deter,
consagra uma regra de tratamento que impede o sem flagrante e sem ordem judicial, o suspeito de chefiar
Poder Público de agir e de se comportar, em relação uma quadrilha de traficantes de substâncias entorpecentes,
ao suspeito, ao indiciado, ao denunciado ou ao réu, em conversa informal gravou em uma fita cassete, sem au‑
como se estes já houvessem sido condenados defi- torização, a sua confissão e a revelação do modus operandi
nitivamente por sentença do Poder Judiciário. (STF, do bando. Nessa situação, consoante orientação do STF,
trata‑se de prova ilícita em face da detenção ilegal e, por
HC nº 79.812/SP, Rel. Min. Celso de Mello, Tribunal ter sido a conversa informal uma modalidade de interro‑
Pleno, Julgamento: 8/11/2000) gatório sub‑reptício, realizado sem as formalidades legais
e sem o indiciado ser advertido do seu direito ao silêncio.67
Por isso e conforme destacado, pode‑se, inclusive, criticar
as disposições do art. 198 do CPP. Com efeito, o STJ destaca Autodefesa positiva
que “o silêncio do réu não pode ser usado, de per si, para O réu tem o direito de permanecer calado, mas caso o
fundamentar um juízo condenatório”. (STJ, REsp nº 363.548/ réu abra mão de sua prerrogativa constitucional do silên-
SC, Min. Felix Fischer, Quinta Turma, DJ 10/6/2002) cio e responda às questões, não é obrigatório que só diga
a verdade naquilo que lhe for perguntado.68 Ou seja, se
Ausência da advertência do direito ao silêncio mentir, isso por si só não lhe trará consequências jurídicas
Sobre as consequências de não se advertir o réu do como ocorre com as testemunhas que são devidamente
direito ao silêncio, o STJ destaca que compromissadas.
Decorre do direito ao silêncio reconhecido pela Consti-
tuição da República que o acusado não tem a obrigação de
Não há que se falar em nulidade do processo por falta dizer a verdade contra si mesmo. E mais, “a existência de
de aviso ao réu do direito ao silêncio no ato do inter- várias versões dadas ao fato pelo acusado e a ausência de
rogatório judicial, se não se observa a comprovação confissão não apresentam maior importância na aferição
do efetivo prejuízo para a defesa, ainda mais estando de sua personalidade em especial” (STJ, Min. Paulo Medina,
o réu acompanhado de seu advogado, que deteve‑se Sexta Turma, DJ 6/12/2004), o que não pode ser levado como
em silêncio no momento da alegada omissão, eis efeito para majoração da pena eventualmente aplicada.
que, segundo o princípio pas de nullité sans grief, O STJ destaca, ademais, ser
evidenciado no art. 563 do CPP, não há que se falar
em declaração de nulidade se não estiver concreta- atípica a conduta do acusado que, ao ser preso em
mente demonstrado o prejuízo. (STJ, HC nº 66.298/ flagrante, declara, perante a autoridade policial,
PE, Min. Felix Fischer, Quinta Turma, DJ 5/11/2007) e após, ao Ministério Público, nome e idade falsos,
haja vista a natureza de autodefesa da conduta,
O STF, por sua vez, tem garantido que o direito ao silên- garantida constitucionalmente, consubstanciada no
cio deva ser oportunizado quando a autoridade policial ou direito ao silêncio. (STJ, HC nº 35.309/RJ, Min. Paulo
agentes de polícia, informalmente, interrogam o investigado: Medina, Sexta Turma, DJ 21/11/2005)

Gravação clandestina de “conversa informal” do indi- Entretanto, se o acusado imputa falsamente a conduta
ciado com policiais. 3. Ilicitude decorrente – quando a outrem, pode responder pelo tipo do art. 339 do Código
não da evidência de estar o suspeito, na ocasião, Penal, que trata da denunciação caluniosa, quando restar
ilegalmente preso ou da falta de prova idônea do seu caracterizado seu dolo específico, o que ocorre quando o
assentimento à gravação ambiental – de constituir, réu deve saber que a imputação do crime recai sobre um
dita “conversa informal”, mo­dalidade de “interroga- inocente. Mas
tório” sub‑reptício, o qual – além de realizar‑se sem
as formalidades legais do interrogatório no inquérito a acusação por crime de denunciação caluniosa deve
policial (C. Pr. Pen., art. 6º, V) –, se faz sem que o conter um lastro probatório mínimo, no sentido de
indiciado seja advertido do seu direito ao silêncio. demonstrar que a instauração de investigação poli-
4. O  privilégio contra a autoincriminação  – nemo cial, processo judicial, investigação administrativa,
tenetur se detegere  –, erigido em garantia funda- inquérito civil ou ação de improbidade administrati-
mental pela Constituição – além da inconstituciona- va teve por única motivação o interesse de atribuir
lidade superveniente da parte final do art. 186 C.Pr. crime a uma pessoa que se sabe ser inocente. (STF,
Pen. – importou compelir o inquiridor, na polícia RHC nº 85.023/TO, Rel. Min. Joaquim Barbosa, Se-
gunda Turma, Julgamento: 8/5/2007)
Noções de Direito Processual Penal

ou em juízo, ao dever de advertir o interrogado do


seu direito ao silêncio: a falta da advertência – e da
sua documentação formal – faz ilícita a prova que, Se o interrogando negar a acusação, no todo ou em parte,
contra si mesmo, forneça o indiciado ou acusado no poderá prestar esclarecimentos e indicar provas (art. 189 do
interrogatório formal e, com mais razão, em “con- CPP). Trata‑se do exercício da autodefesa positiva, em que o
versa informal” gravada, clandestinamente ou não. acusado tem o direito de respaldar as suas alegações.
(STF, HC nº 80.949/RJ, Rel. Min. Sepúlveda Pertence,
Primeira Turma, Julgamento: 30/10/2001) Confissão
Se confessar a autoria, será perguntado sobre os motivos
Desta forma, o  custodiado tem o direito de ficar em e circunstâncias do fato e se outras pessoas concorreram para
silêncio quando de seu interrogatório policial e deve ser a infração, e quais sejam (art. 190 do CPP).
informado pela própria polícia, antes de falar, que tem O valor da confissão se aferirá pelos critérios adotados
direito de comunicar‑se com seu advogado ou com seus para os outros elementos de prova, e para a sua apreciação,
familiares.66

67
Cespe/Juiz Substituto/TJ-BA/2005.

68
Assunto cobrado nas seguintes provas: CPC/Polícia Civil‑PR/Delegado de

66
Cespe/OAB‑ES/Exame de Ordem/2006. Polícia Civil/2007 e OAB‑RJ/22º Exame de Ordem/2003.

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o juiz deverá confrontá‑la com as demais provas do processo, A confissão do acusado não constitui prova plena de
verificando se entre ela e estas existe compatibilidade ou sua culpabilidade.79
concordância (art. 197 do CPP). A confissão obtida mediante tortura será considerada
A confissão, quando feita fora do interrogatório, será prova inválida, ainda que corroborada por outras provas.80
tomada por termo nos autos69 (art. 199 do CPP).
A confissão será divisível e retratável, sem prejuízo do Delação
livre convencimento do juiz, fundado no exame das provas O instituto da delação premiada consiste em ato do
em conjunto70 (art. 200 do CPP). acusado que, admitindo a participação no delito, fornece
A confissão tem caráter divisível. Isto porque o réu pode às autoridades elementos capazes de facilitar a resolução
retratar‑se da confissão, bem como pode confessar a totali- do crime. Em nosso sistema penal, a delação eficaz é con-
dade ou apenas uma parte do fato que lhe foi imputado.71 siderada prova lícita.81
Uma vez confessado o crime, é  de ser reconhecido o O sistema geral de delação premiada está previsto na
benefício da atenuante do art. 65, III, alínea d, do CP. Lei nº 9.807/1999, e, apesar da previsão em outras leis, os
Assim, a confissão extrajudicial retratada em juízo não requisitos gerais ali estabelecidos devem ser preenchidos
deve ser sempre desconsiderada.72 para a concessão do benefício, que, conforme as condicio‑
Se o acusado confessa o crime perante o juiz, na pre- nantes legais, assume a natureza jurídica de perdão judicial,
sença de seu advogado, é ainda necessário confrontar a o que implica a extinção da punibilidade, ou de causa de
confissão com as demais provas do processo para a verifi- diminuição de pena82.
cação de compatibilidade ou concordância.73 É prevista na legislação em relação a determinados
O juiz não pode condenar só com base na confissão do crimes praticados em coautoria. A minorante da delação
acusado, devendo, sempre, existir elementos probatórios premiada, por ser circunstância, e não elementar, é incomu‑
que corroborem a confissão. nicável e incabível no que se refere à aplicação automática,
E mais, quando se tratar de infração não transeunte (que por extensão, no caso de concurso de pessoas.83
deixa vestígios), será indispensável o exame de corpo de O art. 25, § 2º, da Lei nº 7.492/1986, que trata dos cri-
delito, direto ou indireto, não podendo supri‑lo a confissão mes contra o Sistema Financeiro Nacional, destaca que, em
do acusado.74
referidos crimes,
O silêncio do acusado não importa em confissão ficta
ou presumida.75
cometidos em quadrilha ou coautoria, o coautor ou
Nesse sentido, o acusado poderá recusar‑se a participar
de acareações e, tal recusa, não importará em confissão partícipe que através de confissão espontânea revelar
nem poderá ser utilizada em prejuízo da sua defesa.76 à autoridade policial ou judicial toda a trama delitu-
A declaração do corréu que, confessando sua participação osa terá a sua pena reduzida de um a dois terços.
no delito, aponta o seu comparsa, merece credibilidade.77 O STJ destaca que

Valor Probatório Para a configuração da delação premiada (art.  25,


O valor da confissão se aferirá pelos critérios adotados § 2º, da Lei nº 7.492/1986) ou da atenuante da
para os outros elementos de prova, e para a sua apreciação, confissão espontânea (art. 65, III, d, do CP), é pre-
o juiz deverá confrontá‑la com as demais provas do proces- ciso o preenchimento dos requisitos legais exigidos
so, verificando se entre ela e estas existe compatibilidade para cada espécie, não bastando, contudo, o mero
ou concordância.78 reconhecimento, pelo réu, da prática do ato a ele im-
69
Assunto cobrado na prova do TJ‑RN/Oficial de Justiça/2002. putado, sendo imprescindível, também, a admissão
70
Assunto cobrado na prova da Fumarc/DPE-MG/Defensor Público/2009. da ilicitude da conduta e do crime a que responde.
71
Assunto cobrado nas seguintes provas: TJ‑PR/Juiz Substituto/2006; Ces- (STJ, REsp nº  934.004/RJ, Min. Jane Silva [desem-
pe/OAB‑SP/136º Exame da Ordem/2008; TJ‑RN/Oficial de Justiça/2002
e OAB‑GO/1º Exame de Ordem/2005. bargadora convocada do TJ‑MG], Quinta Turma, DJ
72
Assunto cobrado na prova do 13º Concurso Público para Procurador da 26/11/2007, p. 239)
República.
73
Assunto cobrado na prova do Cespe/OAB‑SP/136º Exame da Ordem/2008.
74
Assunto cobrado nas seguintes provas: DRS‑Acadepol/Polícia Civil do Estado de O art. 41 da Lei nº 11.343/2006 (Lei de Tóxicos) deter-
Minas Gerais/Delegado de Polícia/2007; FCC/TRE‑RN/Analista Judiciário/2005; mina que
FGV/TJ‑SE/Analista Judiciário/2004; Vunesp/OAB‑SP/128º Exame; Cespe/
TJ‑DF/Analista Judiciário/2003; OAB‑MS/81º Exame de Ordem/2005; Cespe/
OAB‑SP/136º Exame da Ordem/2008; Cespe/STF/Analista Judiciário/2008; o indiciado ou acusado que colaborar voluntariamen-
FCC/TRE‑RN/Analista Judiciário/2005; FCC/Defensoria Pública do Estado do
Maranhão/Defensor Público de 1ª Classe/2003; Cespe/AGU/Procurador Federal te com a investigação policial e o processo criminal na
Noções de Direito Processual Penal

de 2ª Categoria/2004; DRS‑Acadepol/Polícia Civil do Estado de Minas Gerais/ identificação dos demais coautores ou partícipes do
Delegado de Polícia/2007; Cespe/TJ‑RR/Analista Processual/2006; OAB‑MS/81º
Exame de Ordem/2005; FGV/TJ‑SE/ Analista Judiciário/2004; Cespe/TJ‑DF/ crime e na re­cuperação total ou parcial do produto
Analista Judiciário/2003; OAB‑PR/Exame 02/2006; OAB‑PR/Exame 01/2007; do crime, no caso de condenação, terá pena reduzida
Vunesp/OAB‑SP/128º Exame; OAB‑MT/2º Exame de Ordem/2004; OAB‑DF/2º
Exame de Ordem/2004; OAB‑GO/1º Exame de Ordem/2005; FCC/TRE‑RN/
de um terço a dois terços.
Analista Judiciário/2005; Cespe/TJ‑PE/Oficial de Justiça da 1ª Entrância/2001;
TJ‑RN/Oficial de Justiça/2002; Cespe/TJ‑RR/Oficial de Justiça/2001 e Cespe/2º Dessa forma, referido artigo tem incidência quan-
Exame da Ordem/1ª Fase/2006.
75
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑SC/1º Exame de Ordem/2004; do, “na prática de qualquer dos delitos previstos na Lei
Cespe/OAB‑SP/136º Exame da Ordem/2008; OAB‑GO/1º Exame de Or- nº 11.343/2006, o agente perpetrar a conduta em concurso
dem/2005; TRF 3ª Região/X Concurso/Juiz Federal Substituto; OAB‑DF/1º
Exame de Ordem/2005; Cespe/OAB‑SP/136º Exame da Ordem/2008;
de pessoas”. (STJ, HC nº 99.422/PR, Ministro Napoleão Nunes
Unemat‑Covest/MPE‑MT/Analista Jurídico/2004; OAB‑RS/2º Exame de Maia Filho, Quinta Turma, DJe 22/9/2008)
Ordem/2004; OAB‑RJ/23º Exame de Ordem/2003; OAB‑RJ/22º Exame de
Ordem/2003, 17º Concurso Público para Procurador da República/1999;
OAB‑RS/1º Exame/2006; TJ‑RN/Oficial de Justiça/2002 e OAB‑GO/1º Exame
79
Assunto cobrado na prova da OAB‑DF/2º Exame de Ordem/2004.
de Ordem/2005.
80
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑PR/1º Exame de Ordem/2004 e
76
OAB‑RS/1º Exame de Ordem/2004. Promotor‑MG/2006.
77
Assunto cobrado na prova do TJDFT/Juiz de Direito Substituto/2007. 81
Assunto cobrado na prova da OAB‑MS/80º Exame de Ordem/2004.
78
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑GO/1º Exame de Ordem/2005 e 82
Cespe/TRF 5ª Região/Juiz Federal Substituto/Questão 24/Assertiva D/2011.
OAB‑DF/1º Exame de Ordem/2005. 83
Cespe/MPE‑RO/Promotor/2008.

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Também tem aplicação para os crimes de extorsão me- Partes do Interrogatório
diante sequestro. O § 4º do art. 159 do Código Penal estabe- O interrogatório é constituído de duas partes: sobre a
lece que, se o crime é cometido em concurso, o concorrente pessoa do acusado e sobre os fatos que lhes são imputados
que o denunciar à autoridade, facilitando a libertação do (art. 187 do CPP).84
sequestrado, terá sua pena reduzida de um a dois terços. Na primeira parte, o interrogando será perguntado sobre
Referida causa de diminuição da pena tem incidência, por a residência, meios de vida ou profissão, oportunidades
exemplo, quando da libertação da vítima de sequestro por sociais, lugar onde exerce a sua atividade, vida pregressa,
corréu, antes do recebimento do resgate. notadamente se foi preso ou processado alguma vez. Em
Por outro lado, o STJ entende que caso afirmativo, será interrogado também sobre o juízo do
processo, se houve suspensão condicional ou condenação,
a liberação da vítima após configurada a expectativa qual a pena imposta, se a cumpriu e outros dados familiares
de êxito da prática delituosa – recebimento do di- e sociais (art. 187, § 1º, do CPP).
nheiro – , ainda que nenhuma outra violência tenha Na segunda parte será perguntado sobre:
sido praticada contra ela, não se mostra como uma I – ser verdadeira a acusação que lhe é feita;
conduta própria a autorizar a benesse legal inserta no II – não sendo verdadeira a acusação, se tem algum
art. 159, § 4º, do CP. 2. A regra do § 4º do art. 159 do motivo particular a atribuí‑la, se conhece a pessoa ou pes-
Código Penal, acrescentada pela Lei nº 8.072/1990, soas a quem deva ser imputada a prática do crime, e quais
pressupõe a delação à autoridade e o efeito de ha- sejam, e se com elas esteve antes da prática da infração ou
ver‑se facilitado a liberação do sequestrado. (STF, HC depois dela;
nº 69.328/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, DJ 5/6/1992) III – onde estava ao tempo em que foi cometida a infração
e se teve notícia desta;
O art. 8º, parágrafo único, da Lei nº 8.072/1990, determi- IV – as provas já apuradas;
na que, em relação aos crimes hediondos, prática da tortura, V – se conhece as vítimas e testemunhas já inquiridas ou
tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins ou terrorismo, por inquirir, e desde quando, e se tem o que alegar contra
o participante e o associado que denunciar à autoridade o elas;
bando ou quadrilha, possibilitando seu desmantelamento, VI – se conhece o instrumento com que foi praticada a
terá a pena reduzida de um a dois terços. É requisito es- infração, ou qualquer objeto que com esta se relacione e
tenha sido apreendido;
sencial o desmantelamento de quadrilha ou bando. (STJ,
VII – todos os demais fatos e pormenores que conduzam
HC nº  41.758/SP, Min. Hamilton Carvalhido, Sexta Turma,
à elucidação dos antecedentes e circunstâncias da infração;
DJ 5/2/2007)
VIII – se tem algo mais a alegar em sua defesa (art. 187,
O art. 14 da Lei nº 9.807/1999, que trata da proteção a
§ 1º, do CPP).
vítimas e a testemunhas ameaçadas, permite a aplicação do
instituto da delação premiada para quaisquer modalidades
Reperguntas
delitivas, ao destacar que
Após proceder ao interrogatório, o juiz indagará das par-
tes se restou algum fato para ser esclarecido, formulando
o indiciado ou acusado que colaborar voluntariamen- as perguntas correspondentes se o entender pertinente e
te com a investigação policial e o processo criminal relevante85 (art. 188 do CPP).
na identificação dos demais coautores ou partícipes Assim, a defesa técnica pode se manifestar na realização
do crime, na localização da vítima com vida e na do interrogatório.86 O defensor poderá formular perguntas
recuperação total ou parcial do produto do crime, ao acusado.87
no caso de condenação, terá pena reduzida de um
a dois terços. Pluralidade de Acusados
Havendo mais de um acusado, os réus serão interroga-
O STF entende como requisito para o reconhecimento dos separadamente88 (art. 191 do CPP).
da delação premiada
Acusado Surdo e/ou Mudo, Analfabeto e/ou Estrangeiro
a efetiva e voluntária colaboração de agente do crime Nos termos do art. 192 do CPP, o interrogatório do mudo,
para a investigação e processo penal deve resultar do surdo ou do surdo‑mudo será feito pela forma seguinte:
Noções de Direito Processual Penal

na identificação dos coautores ou partícipes do cri- I – ao surdo serão apresentadas por escrito as perguntas,
me, na localização da vítima com integridade física que ele responderá oralmente; II – ao mudo as perguntas
preservada ou na recuperação total ou parcial do serão feitas oralmente, e ele as responderá por escrito; III –
produto do crime. (STF, HC nº 89.847/BA, Rel. Min. ao surdo‑mudo, as perguntas serão formuladas por escrito
Ellen Gracie, Segunda Turma, Julgamento: 10/6/2008) e as respostas serão dadas da mesma forma.89

Por sua vez, o STJ destaca que, 84


Assunto cobrado nas seguintes provas: Unemat‑Covest/MPE‑MT/Analista
Jurídico/2004, OAB‑RO/40º Exame, Vunesp/OAB‑SP/128º Exame e OAB‑DF/1º
Exame de Ordem/2005.
para a configuração da delação premiada, não basta 85
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑RS/1º Exame de Ordem/2004, TRF 4ª
Região/Juiz Federal Substituto/2005 e Unemat‑Covest/MPE‑MT/Analista
a admissão, por parte do réu, da prática do crime a Jurídico/2004.
ele imputado, sendo necessário o fornecimento de 86
Assunto cobrado na prova do Cespe/OAB/Secção de São Paulo/2008.
informações eficazes, capazes de contribuir para a
87
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑GO/3º Exame de Ordem/2003;
OAB‑PR/3º Exame de Ordem/2004, OAB‑RJ/23º Exame de Ordem/2003;
identificação dos comparsas e da trama delituosa. Promotor‑RN/2004 e OAB‑SP/123º Exame de Ordem/2004.
(STJ, HC nº 92.922/SP, Min. Jane Silva [desembargado-
88
Assunto cobrado nas seguintes provas: Unemat‑Covest/MPE‑MT/Analista
Jurídico/2004 e OAB‑RO/40º Exame.
ra convocada do TJ‑MG], Sexta Turma, DJe 10/3/2008) 89
Assunto cobrado na prova do Cespe/PC‑PB/Perito Oficial Criminal/2009.

Este eBook foi adquirido por ANA PAULA TORQUATO DA COSTA - CPF: 628.848.913-15. 121
A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
Caso o interrogando não saiba ler ou escrever, intervirá Segundo entendimento do STF, os senadores e deputa‑
no ato, como intérprete e sob compromisso, pessoa habili- dos Federais dispõem da prerrogativa processual de serem
tada a entendê‑lo. inquiridos em local, dia e hora previamente ajustados entre
Quando o interrogando não falar a língua nacional, eles e a autoridade competente, quando ostentarem a
o interrogatório será feito por meio de intérprete90 (art. 193 condição de ofendidos.95
do CPP).
Se o interrogado não souber escrever, não puder ou não Videoconferência
quiser assinar, tal fato será consignado no termo (art. 195 Os meios globais de interação em massa, notadamente
do CPP). a televisão, o telefone celular, a realidade virtual e a internet
têm efeitos intensos na redução da noção de espaço e de
Momento do interrogatório tempo, eis que fazem transcender nossas limitações físicas,
Antes da reforma ocorrida em 2008, o acusado era citado aumentando as extensões de nosso corpo.
já para ser interrogado, sendo que era ouvido antes da vítima Kerckhove (1997, p. 32) destaca que
e das testemunhas. Já nos processos dos Juizados Especiais
Criminais, o interrogatório, na audiência única de instrução, estamos de facto a tornar‑nos cyborgs e de que,
debates e julgamento, é feito após serem inquiridas as
à medida que cada tecnologia estende uma das
testemunhas de acusação e de defesa.91
nossas faculdades e transcende as nossas limitações
Com a edição da Lei nº 11.719, de 2008, o acusado
físicas, desejamos adquirir as melhores extensões do
também no rito ordinário é citado para apresentar defesa
nosso corpo.
preliminar, sendo que, após o recebimento desta, o  juiz
marcará audiência de instrução e julgamento, em que o réu
será ouvido por último. É o que determina o art. 400 do CPP: Nesse sentido, o autor, na p. 73, destaca, ainda:

Na audiência de instrução e julgamento, a  ser Inteligência artificial, sistemas periciais e redes neu-
realizada no prazo máximo de 60 (sessenta) dias, rais estão a invadir todos os media integrando as
proceder‑se‑á à tomada de declarações do ofendido, tecnologias electrónicas  – através da digitalização
à inquirição das testemunhas arroladas pela acusação universal – fazendo convergir o áudio, o vídeo, as te-
e pela defesa, nesta ordem, ressalvado o disposto no lecomunicações e as tecnologias computacionais.
art. 222 deste Código, bem como aos esclarecimen-
tos dos peritos, às acareações e ao reconhecimento O espaço passou a ser um problema. O homem sente
de pessoas e coisas, interrogando‑se, em seguida, a necessidade de se deslocar sem se mover, o que é per-
o acusado. mitido por meio das transmissões de imagens e de dados.
Eventualmente, em caso de ser o deslocamento realmente
O interrogatório do acusado somente se realizará após necessário, este tem que ser o mais proveitoso possível, com
a apresentação da defesa e, na audiência una de instrução, a utilização de celulares, iPods e notebooks.
após a inquirição do ofendido, das testemunhas e até dos De acordo com Paul Virilio (1993, p. 30):
esclarecimentos dos peritos, acareações e demais diligên‑
cias probatórias que devam ali ser realizadas.92 No Japão, a  televisão invadiu já os táxis e os ele-
Nos termos do art. 196 do CPP, resta consignado, en- vadores das torres mais altas. Proibido, como os
tretanto, que, a todo tempo o juiz poderá proceder a novo cães, de circular nas praças, o automóvel deixou de
interrogatório de ofício ou a pedido fundamentado de qual- frequentar as zonas para peões de certos bairros
quer das partes (art. 196 do CPP). centrais, refugiando‑se no periférico, à  espera do
superperiférico parisiense ou ainda do sistema laser
Local do interrogatório ultrarrápido e subterrâneo onde o automóvel se
O interrogatório do réu preso será realizado em sala confundirá com o metrô.
própria, no estabelecimento em que estiver recolhido,
desde que estejam garantidas a segurança do juiz, do Os meios de interação tecnológicos se, de um lado, tor-
membro do Ministério Público e dos auxiliares bem como nam infindáveis as possibilidades do indivíduo, permitindo‑o
a presença do defensor e a publicidade do ato (art. 185 do manipular o mundo no espaço para analisá‑lo no tempo, por
CP e § 1º do CPP).93 outro lado surge a dúvida se somos mestres ou escravos dos
Noções de Direito Processual Penal

Caso a audiência não seja realizada no estabelecimento instrumentos da nova era. Um exemplo das modificações
prisional, será requisitada a apresentação do réu preso em mais evidentes é que a internet, o mundo virtual e a televisão
juízo (art. 185, § 7º, do CPP).
permitem o estudo do corpo social pelas empresas e pelos
É válido o interrogatório do réu feito por precatória.94
governos. A intensificação da vigilância policial onipresente e,
O STF entende ainda que a necessidade de expedição de
mais profundamente, as mudanças na relação casa/trabalho
carta precatória para citação e interrogatório do réu não
também oferecem exemplos claros desta questão, como
caracteriza o excesso de prazo na instrução criminal. (STF,
HC nº 85.763/MT, Rel. Min. Carlos Velloso, Segunda Turma, pontuado por Kerckhove (1997, p. 97):
Julgamento: 20/9/2005)
As pessoas passarão muito tempo longe de seu local
90
Assunto cobrado na prova do Cespe/PC‑PB/Perito Oficial Criminal/2009. de trabalho, no conforto e paz das segundas casas,
91
Vunesp/OAB‑SP/131º Exame. as casas de campo. Os que vivem nos subúrbios
92
Funiversa/PC-DF/Delegado de Polícia/2009.
93
Assertiva adaptada em face da minirreforma do Código de Processo Penal.
voltarão a andar de comboio porque estes lhes pro-
Assunto cobrado nas seguintes provas: CPC/Polícia Civil do Estado do Paraná/ porcionam a liberdade de movimentos necessária
Delegado de Polícia Civil/2007; OAB‑RO/40º Exame e Cespe/MPE‑TO/Analista
Ministerial/2006.
94
TRF 1ª Região/Juiz Federal Substituto/2005.
95
Cespe/DPE-PI/Defensor Público/2009.

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para manipular uma máquina inteligente, o com- Inquirição de oito testemunhas de defesa, de 15 a 18
putador portátil ou um telefone celular, e  isso é de outubro de 2002.
preferível a controlar uma máquina estúpida como O art. 706-71 do Code de Procedure Penale, introdu-
é o automóvel. zido pela Lei nº 1.062, de 15 de novembro de 2001,
na França, prevê a utilização de meios eletrônicos
As atuais sociedades são “tecnodependentes”, pois se de comunicação para a oitiva de testemunhas e o
utilizam em progressão geométrica da informação e da interrogatório dos acusados.
tecnologia, e  esta dependência permeia o cotidiano das O art. 10 do Tratado de Assistência Judicial em Ma-
famílias, comunidades, instituições e governos. Dá‑se des- téria Penal da União Europeia, desde 2000, criou a
taque especial às pessoas e órgãos que, com a utilização de possibilidade de realização de atos processuais com
recursos tecnológicos, processam e interpretam as redes a utilização de tecnologias audiovisuais.
de informações. Os arts. 18, § 18 e 24, § 2º, b, da Convenção das Na-
As tecnologias da informação são vitais para a imple- ções Unidas contra o Crime Organizado Transnacional,
mentação das atividades de reconstituição delitiva, pro- também conhecido como Tratado de Palermo, do qual
piciando uma investigação mais precisa, com redução de o Brasil é signatário (Decreto nº 5.015, de 12 de março
erros humanos. Isto é possível em face do atual estágio de de 2004), também preveem o uso da tecnologia.
desenvolvimento, que permite experimentar possibilidades
infinitas de vigilância sobre o dia a dia dos cidadãos. No Brasil, tem‑se que a Constituição Federal, em seu
Entretanto, há que se destacar que o uso desta tecnolo- art. 24, XI, estabelece que compete à União, aos Estados e
gia tem seus contras, podendo ser usada para transformar ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre proce-
os cidadãos em prisioneiros. A técnica corrente já é capaz dimentos em matéria processual.
de fazê‑lo, mas encontra obstáculos éticos e de direitos Com base em tal dispositivo constitucional, os Estados da
fundamentais. O Estado Policial não deve realizar invasões Federação passaram a adotá‑la, tanto nos processos penais
indevidas na vida das pessoas. Quando estas navegam na
de conhecimento quanto nos de execução, notadamente em
rede mundial de computadores, por exemplo, seja para con-
face do transtorno causado pelo deslocamento de presos de
versações, entretenimento, pesquisas, compras eletrônicas
alta periculosidade entre cidades para tomadas de depoi-
e até sexo virtual, seus rastros digitais podem ser facilmente
mentos, sendo a videoconferência mais eficiente e segura.
usados de maneira indevida. É  preciso, assim, definir de
Vários questionamentos em face de tais práticas chega-
forma democrática quais são os limites de uso da tecnologia
ram à apreciação do STF.
para fins de investigação criminal.
Considerando a ausência de legislação específica sobre o
Uma vertente da utilização de tecnologia revolucioná-
ria do processo penal se deu com a utilização da video­ tema a 2ª Turma do STF afastou a possibilidade de utilização
conferência ao redor do mundo. de referida modalidade tecnológica:
Bezerra (2008) destaca:
EMENTA: AÇÃO PENAL. Ato processual. Interro-
No Direito de nações estrangeiras, a  utilização da gatório. Realização mediante videoconferência.
videoconferência é aplaudida, vez que facilita a Inadmissibilidade. Forma singular não prevista no
repressão aos crimes transnacionais. Diante disso, ordenamento jurídico. Ofensa a cláusulas do justo
a  Organização das Nações Unidas já inseriu em processo da lei (due process of law). Limitação ao
documentos internacionais o uso do sistema em co- exercício da ampla defesa, compreendidas a autode-
mento, incentivando a regulamentação pelos Estados fesa e a defesa técnica. Insulto às regras ordinárias do
participantes. local de realização dos atos processuais penais e às
Como exemplos ilustrativos têm‑se o art. 32 do Cri- garantias constitucionais da igualdade e da publici-
minal Justice Act, de 1998, no Reino Unido; art. 273 dade. Falta, ademais, de citação do réu preso, apenas
do Criminal Procedure Scotland Act, de 1995; a Ley instado a comparecer à sala da cadeia pública, no dia
de Protección a Testigos; Ley Orgânica Del Poder do interrogatório. Forma do ato determinada sem
Judicial e Ley de Enjuiciamiento Criminal, reformado motivação alguma. Nulidade processual caracteriza-
pela Lei Orgânica nº 13, de 24 de outubro de 2003, da. HC concedido para renovação do processo desde
na Espanha; os arts. 32, § 2º e 46, § 18 da Convenção o interrogatório, inclusive. Inteligência dos arts. 5º,
das Nações Unidas contra a Corrupção. LIV, LV, LVII, XXXVII e LIII, da CF, e 792, caput e § 2º,
Noções de Direito Processual Penal

Nos Estados Unidos, desde 1983, o videolink tem sua 403, 2ª parte, 185, caput e § 2º, 192, parágrafo único,
previsão na legislação processual, tanto no âmbito 193, 188, todos do CPP. Enquanto modalidade de
federal como no estadual, sendo possível a realiza- ato processual não prevista no ordenamento jurídico
ção de depoimentos e interrogatórios com o fito de vigente, é absolutamente nulo o interrogatório penal
evitar o contato das vítimas com seus agressores e realizado mediante videoconferência, sobretudo quan-
preservar a integridade dos acusados nos casos de do tal forma é determinada sem motivação alguma,
grande repercussão social. nem citação do réu. (STF, HC nº 88.914/SP, Rel. Min.
A Itália também adotou esse sistema em 1992, Cezar Peluso, Segunda Turma, Julgamento: 14/8/2007)
visando a reprimir a máfia. Atualmente emprega
a tecnologia para a oitiva de presos perigosos, em Excepcionalmente96, o juiz, por decisão fundamentada,
hipóteses definidas por sua legislação. de ofício ou a requerimento das partes, poderá realizar o
O art. 69, nº 2, do Tratado de Roma, que criou o interrogatório do réu preso por sistema de videoconferên-
Tribunal Penal Internacional e foi introduzido na cia ou outro recurso tecnológico de transmissão de sons e
legislação brasileira pelo Decreto nº 4.388, de 25 imagens em tempo real, desde que a medida seja necessária
de setembro de 2002, também prevê. Foi utilizado
também para a antiga Iugoslávia, no sistema para a
96
Assunto cobrado na prova da FCC/DPE-SP/Assertiva D/2012.

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para atender a uma das finalidades descritas no Código de casos, fica garantido o acompanhamento do ato processual
Processo Penal, no art. 185, § 2º, incisos I ao IV.97 pelo acusado e seu defensor (art. 185, § 9º, do CPP).
A título de exemplo: Tício está preso na Penitenciária de
Presidente Venceslau, cumprindo pena por crimes de ho‑ Da Pessoa Jurídica como Ré no Processo Penal
micídio e sequestro, e responde a outro processo por crime
de latrocínio na comarca de São Paulo, Capital. Há prova, Sempre houve bastante discussão doutrinária e juris-
nos autos, de que o agente integra uma facção criminosa e prudencial sobre a possibilidade de a pessoa jurídica ser ré
notícia de uma tentativa de resgate do detento durante o no processo penal.
seu deslocamento até a cidade de São Paulo para participar A Constituição Federal de 1988 tem permitido a possi-
de um determinado ato processual. Designada audiência de bilidade de persecução penal em face de pessoa jurídica.
instrução, interrogatório, debates e julgamento, o Juiz que O art. 173, § 5º, da CF/1988, destaca que
preside o processo que tramita contra Tício pelo delito de
latrocínio, em decisão fundamentada, poderá, em caráter A lei, sem prejuízo da responsabilidade individual
excepcional, realizar o interrogatório de Tício por meio de dos dirigentes da pessoa jurídica, estabelecerá a
videoconferência, intimando-se as partes com dez dias de responsabilidade desta, sujeitando‑a às punições
antecedência, assegurando ao preso o acompanhamento de compatíveis com sua natureza, nos atos praticados
todos os atos da audiência única de instrução e julgamento,
contra a ordem econômica e financeira e contra a
bem como entrevista prévia e reservada com seu defensor98.
economia popular.
A Lei nº 11.900, de 2009, suprindo a ausência legislativa,
trouxe a possibilidade de o interrogatório do réu preso ser
O mesmo se aplica às condutas lesivas ao meio ambiente.
realizado por videoconferência. O § 1º do art. 185 do CPP
O art. 225, § 3º, da CF/1988, estabelece que
autoriza que, excepcionalmente, o juiz, por decisão funda-
mentada, de ofício ou a requerimento das partes, realize o
As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio
interrogatório do réu preso por sistema de videoconferência
ou outro recurso tecnológico de transmissão de sons e ima- ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou
gens em tempo real, desde que a medida seja necessária para jurídicas, a sanções penais e administrativas, inde-
atender a uma das seguintes finalidades: I – prevenir risco à pendentemente da obrigação de reparar os danos
segurança pública quando existir fundada suspeita de que causados.
o preso integre organização criminosa ou de que, por outra
razão, possa fugir durante o deslocamento; II – viabilizar a A Lei nº 9.605/1998, por sua vez, estabeleceu que as
participação do réu no referido ato processual quando hou- pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil
ver relevante dificuldade para seu comparecimento em juízo, e penalmente conforme o disposto nesta lei nos casos em
por enfermidade ou outra circunstância pessoal; III – impedir que a infração for cometida por decisão de seu representante
a influência do réu no ânimo de testemunha ou da vítima, legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse
desde que não seja possível colher o depoimento destas por ou benefício da sua entidade.
videoconferência, nos termos do art. 217 deste Código; IV – E mais: a responsabilidade das pessoas jurídicas não
responder à gravíssima questão de ordem pública. exclui a das pessoas físicas, autoras, coautoras ou partícipes
Da decisão que determinar a realização de interrogatório do mesmo fato, nos termos do parágrafo único do referido
por videoconferência, as partes serão intimadas com 10 (dez) artigo. O art. 21 da referida lei traz as penas a serem aplica-
dias de antecedência (art. 185, § 3º, do CPP). das às pessoas jurídicas: I – multa; II – restritivas de direitos;
Antes do interrogatório por videoconferência, o preso III – prestação de serviços à comunidade.
poderá acompanhar, pelo mesmo sistema tecnológico, a re- Segundo o STJ,
alização de todos os atos da audiência única de instrução e
julgamento (art. 185, § 4º, do CPP). admite-se a responsabilidade penal da pessoa jurídica
Em qualquer modalidade de interrogatório, o  juiz ga- em crimes ambientais desde que haja a imputação
rantirá ao réu o direito de entrevista prévia e reservada simultânea do ente moral e da pessoa física que atua
com o seu defensor; se realizado por videoconferência, fica em seu nome ou em seu benefício, uma vez que não
também garantido o acesso a canais telefônicos reservados se pode compreender a responsabilização do ente
para comunicação entre o defensor que esteja no presídio e moral dissociada da atuação de uma pessoa física,
o advogado presente na sala de audiência do Fórum, e entre que age com elemento subjetivo próprio (STJ, REsp
nº 889.528/SC, Rel. Min. Felix Fischer, DJ 18/6/2007).
Noções de Direito Processual Penal

este e o preso (art. 185, § 5º, do CPP).


A sala reservada no estabelecimento prisional para a
realização de atos processuais por sistema de videoconfe- Acrescente-se que
rência será fiscalizada pelos corregedores e pelo juiz de cada
causa, assim como pelo Ministério Público e pela Ordem dos a conduta omissiva não deve ser tida como irrelevan-
Advogados do Brasil (art. 185, § 6º, do CPP). te para o crime ambiental, devendo da mesma forma
Também poderão ser realizados por videoconferência ser penalizado aquele que, na condição de diretor,
administrador, membro do conselho e de órgão
outros atos processuais que dependam da participação de
técnico, auditor, gerente, preposto ou mandatário
pessoa que esteja presa, como acareação, reconhecimento
da pessoa jurídica, tenha conhecimento da conduta
de pessoas e coisas, e inquirição de testemunha ou tomada
de declarações do ofendido (art. 185, § 8º, do CPP). Em tais criminosa e, tendo poder para impedi-la, não o fez
(STJ, HC nº 92.822/SP, Min. Arnaldo Esteves Lima,

97
Assertiva adaptada em face da minirreforma do Código de Processo Penal. Quinta Turma, DJe 13/10/2008).
Assunto cobrado nas seguintes provas: Unemat‑Covest/MPE‑MT/Analista
Jurídico/2004; FCC/TJ‑RR/Juiz de Direito Substituto/2008 e OAB‑SP/123º Permite-se o trancamento do inquérito policial ou da
Exame de Ordem/2004.

98
FCC/TRE-SP/Analista Judiciário/Área Administrativa/2012. ação penal se o

124 Este eBook foi adquirido por ANA PAULA TORQUATO DA COSTA - CPF: 628.848.913-15.
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delito foi imputado tão somente à pessoa jurídica, Se o advogado renunciar ao mandato na pendência de
não descrevendo a denúncia a participação de pessoa recurso a ser apreciado, nos termos da Súmula nº 708 do
física que teria atuado em seu nome ou proveito, STF, é nulo o julgamento da apelação se, após a manifes-
inviabilizando, assim, a instauração da persecutio tação nos autos da renúncia do único defensor, o réu não
criminis in iudicio (STJ, RMS nº 20.601/SP, Min. Felix foi previamente intimado para constituir outro106, eis que a
Fischer, Quinta Turma, DJ 14/8/2006). atuação do causídico pode ser decisiva na sustentação oral
ou mesmo na interposição de nova modalidade recursal.
Por outro lado, entende a Corte que Entretanto, se não houver renúncia e o defensor constituído
for devidamente intimado para acompanhar a sessão de
o pedido de trancamento do inquérito policial instau- julgamento, não há que se falar em nulidade, se não com-
rado contra pessoa jurídica não pode ser deduzido via parecer para o ato e não for nomeado defensor dativo. (STF,
habeas corpus, pois este tutela apenas a liberdade
HC nº 73.761/PI; Relator Ministro Maurício Corrêa; Segunda
de locomoção, mediata ou imediata da pessoa física.
Tem-se admitido a pessoa jurídica como paciente, Turma; Julgamento: 20/8/1996)
apenas nos casos de crimes ambientais, quando as A presença de defensor na audiência é imprescindível.
pessoas físicas também se apresentam nesta quali- A audiência poderá ser adiada se, por motivo justificado107,
dade, no mesmo pedido, por estarem a sofrer coação o defensor não puder comparecer (art. 265, § 1º, do CPP).
ilegal à sua liberdade de ir e vir (STJ, RHC nº 24.933/ Incumbe ao defensor provar o impedimento até a aber-
RJ, Min. Celso Limongi, Sexta Turma, DJe 16/3/2009). tura da audiência. Não o fazendo, o juiz não determinará
o adiamento de ato algum do processo, devendo nomear
Figurando apenas a pessoa jurídica no polo passivo da defensor substituto, ainda que provisoriamente ou só para
Ação Penal Ambiental, o Mandado de Segurança é a ação o efeito do ato108 (art. 265, § 1º, do CPP). Dessa forma, a au-
adequada para se buscar o seu trancamento (STJ, AgRg nº diência será adiada se o defensor (dativo ou constituído)
MS 13.533/SC, Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Terceira não comparecer por motivo justo.109
Seção, DJe 4/8/2008). O art.  266 do CPP determina que a constituição de
defensor independerá de instrumento de mandato se o
Defensor acusado o indicar por ocasião do interrogatório.110
Nos termos do art. 267 do CPP, não funcionarão como
A indisponibilidade do direito de defesa é uma defensores os parentes do juiz. Durante o interrogatório,
decorrência da indisponibilidade do direito à liberdade, o defensor tem atuação ativa, podendo formular perguntas
razão pela qual o réu, ainda que não queira, terá nomeado ao acusado.111
um defensor, habilitado para a função, para o patrocínio
de sua defesa – caso não o tenha indicado no tempo e
Defensor Constituído
modo legal.99
Nenhum acusado, inclusive o revel, será processado ou
julgado sem defensor.100 Ao acusado sem defensor constituído, é facultado,
A exigência de defesa técnica, para a observância do a qualquer momento, constituir um, afastando‑se, desde
devido processo legal, impõe a presença do profissional então, aquele que esteja promovendo a defesa.112
da advocacia na audiência de interrogatório do acusado, O advogado constituído pelo réu não pode ser subs-
sendo essa uma formalidade de cunho nitidamente cons‑ tituído por outro indicado pelo Ministério Público113 ou
titucional.101 mesmo pelo juiz.
A defesa criminal patrocinada por pessoa não inscrita na No processo penal, admite‑se processo com acusa­do
OAB (falso advogado), ainda que constituída pelo réu, que revel, ainda que tenha defensor constituído.114 O efeito da
redundou em sentença penal condenatória, é causa de nu‑ revelia, no processo penal, é o de não comunicar ao réu os
lidade absoluta do processo, por falta de defesa técnica.102 atos processuais. O art. 367 do CPP determina que o processo
Nesse sentido, é indispensável a presença de defensor seguirá sem a presença do acusado que, citado ou intimado
no interrogatório.103 A Súmula nº 523 do STF estabelece pessoalmente para qualquer ato, deixar de comparecer sem
que “no processo penal, a falta da defesa constitui nulidade motivo justificado, ou, no caso de mudança de residência,
absoluta, mas a sua deficiência só o anulará se houver prova não comunicar o novo endereço ao juízo.
de prejuízo para o réu”.
O defensor, entretanto, é  imprescindível, ainda que o
O advogado poderá entrevistar‑se pessoal e reserva‑
damente com o seu cliente antes das audiências, inclusive réu seja considerado revel, devendo o patrono ser comu-
a do interrogatório.104 nicado de todos os atos processuais sob pena de nulidade
Noções de Direito Processual Penal

O art. 265 do CPP estabelece que absoluta.

O defensor não poderá abandonar o processo senão 106


OAB-MS/79º Exame de Ordem/2004.
por motivo imperioso, comunicado previamente o juiz, 107
Assunto cobrado na prova do MPDFT/28º Concurso/Promotor/2009.
sob pena de multa de 10 (dez) a 100 (cem) salários‑mí- 108
Assunto cobrado na seguinte prova: FCC/TRE-AP/Analista Judiciário/Área
nimos, sem prejuízo das demais sanções cabíveis.105 Judiciária/Questão 54/Assertiva c/2011.
109
Adaptada em virtude da inclusão do art. 265 do Código de Processo Penal pela
Lei nº 11.719, de 2008 e Assunto cobrado nas seguintes provas: TJ‑SC/Oficial

99
Ieses/TJ-MA/Analista Judiciário/Questão 86/Item II/2011. de Justiça/2003; OAB‑RO/43º Exame e FGV/SSP‑RJ/Oficial de Cartório/2009.
100
Cespe/TJ‑DF/Oficial de Justiça Avaliador/1997. 110
Assunto cobrado nas seguintes provas: TJ‑SC/Oficial de Justiça/2003; Cespe/
101
Cespe/TJDFT/Titularidade de Serviços Notariais e de Registro no Distrito TJ‑DF/Oficial de Justiça Avaliador/1997; OAB‑RO/43º Exame; OAB‑PR/Exa-
Federal/2008. me 03/2006; Vunesp/OAB‑SP/128º Exame; Vunesp/OAB‑SP/128º Exame;
102
Cespe/TJ-BA/Juiz Substituto - Prova Ondina/2005. Cespe/1º Exame da Ordem/2006; FCC/TRF-4ª Região/Analista Judiciário/2004
103
Assunto cobrado na prova da OAB‑GO/3º Exame de Ordem/2003. e Cespe/DPE-ES/Defensor Público/2009.
104
OAB‑PR/Exame 03/2006. 111
Assunto cobrado na prova da OAB‑GO/3º Exame de Ordem/2003.
105
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/TRE-AP/Analista Judiciário/Área 112
19º Concurso Público para Procurador da República/2002.
Judiciária/Questão 54/Assertiva E/2011; OAB‑RO/43º Exame; OAB‑MS/79º 113
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑PR/Exame 03/2006 e  TRF 3ª
Exame de Ordem/2004; Cespe/PC-RN/Delegado de Polícia Civil Substitu- Região/XII Concurso/Juiz Federal Substituto.
to/2009 e Cespe/DPE-ES/Defensor Público/2009. 114
Assunto cobrado na seguinte prova: Vunesp/OAB‑SP/131º Exame.

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
A constituição de defensor independerá de instrumento Se, em determinado processo criminal findo, em que a
de mandato, se o acusado o indicar por ocasião do inter- defesa estava sendo patrocinada pela defensoria pública
rogatório.115 estadual, houver a intimação pessoal do corregedor-geral
dessa instituição, na data de julgamento do recurso de
Defensor Dativo apelação da defesa, sem que seja feita a intimação do
defensor que efetivamente atuava no feito, não se poderá
O art. 5º, LXXIV, da CF/1988, determina que “o Estado falar em nulidade por ausência de intimação pessoal, pois
prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que com- as prerrogativas inerentes à mencionada função foram
provarem insuficiência de recursos”. devidamente respeitadas.122
No processo penal é mais forte a necessidade de as-
A não intimação do denunciado para o oferecimento
sistência jurídica, eis que, independentemente de ter que
de contrarrazões ao recurso interposto contra a rejeição da
comprovar insuficiência de recursos, o  art.  263 do CPP
denúncia, constitui nulidade, ainda que tenha o feito sido
determina que, se o acusado não tiver defensor, ser‑lhe‑á
nomeado um pelo juiz, ressalvado o seu direito de, a todo contra-arrazoado por defensor dativo.123
tempo, nomear outro de sua confiança ou defender a si Se o acusado tiver habilitação para o exercício da advo-
mesmo, caso tenha habilitação.116 Arremate‑se que o acusa- cacia, pode exercer sua própria defesa técnica.
do, que não for pobre, será obrigado a pagar os honorários A título de exemplo, se o religioso Cacciola, formado em
do defensor dativo, arbitrados pelo juiz.117 Direito, foi indiciado e posteriormente denunciado pelo Mi‑
Como exemplo, considere que Maria, uma rica empre‑ nistério Público por homicídio doloso (art. 121, CP). Ao ser
sária, tenha sido denunciada pela prática de estelionato, e interrogado pela autoridade judiciária, confessa em deta‑
que, recebida a denúncia, tenha sido iniciada a ação penal. lhes o crime e diz‑se arrependido, querendo prestar contas
Maria negou-se a contratar advogado para o patrocínio de a Deus. Em decorrência da confissão e por considerar‑se
sua defesa e, por determinação do juízo, os autos foram conhecedor das leis, Cacciola decide não constituir defensor,
encaminhados à defensoria pública estadual. Nessa situa‑ renunciando ao direito de ser defendido por advogado(a).
ção, o defensor público designado pode negar a atuação no Nesse caso, não sendo Cacciola devidamente habilitado
feito, e, se aceitar o encargo, pode, ao final da demanda, para o exercício da advocacia, deverá o juiz designar de‑
postular a condenação da ré ao pagamento de honorários fensor dativo.124
a serem arbitrados pelo juiz.118 Há também a figura do defensor ad hoc ou substituto,
Entendemos que o defensor público não pode se negar a que é nomeado para determinado ato, em caso de falta
atender acusado em face de sua condição social elevada, em injustificada do defensor constituído (art. 365, § 2º, do CPP).
face do princípio da ampla defesa, que envolve a necessidade A não interposição de recurso, por si só, não caracteriza
de defesa técnica. deficiência da defesa técnica do acusado, eis que o STF en-
O § 2º do art. 396-A do CPP estabelece que, não apresen-
tende pela não obrigatoriedade de recurso pelo defensor.
tada a resposta no prazo legal, ou se o acusa­do, citado, não
(STF, HC nº 84.442/SP, Rel. Min. Carlos Britto, Primeira Turma,
constituir defensor, o juiz nomeará defensor para oferecê‑la,
concedendo‑lhe vista dos autos por 10 (dez) dias. Julgamento: 30/11/2004). Entretanto, o STF entende que, se
O art. 264 do CPP determina que, salvo motivo relevante, ao acusado foi dada defesa dativa, mas esta não ofereceu
os advogados e solicitadores serão obrigados, sob pena de contra‑razões ao recurso do Ministério Público contra a
multa de cem a quinhentos mil réis, a prestar seu patrocínio sentença absolutória, já falta de defesa capaz de determinar
aos acusados, quando nomeados pelo juiz. Assim, o defensor a anulação, desde então, do processo. (STF, HC nº 50.951/
dativo não pode recusar a nomeação, salvo se tiver motivo SP; Relator Ministro Antonio Neder; Segunda Turma; Julga-
relevante.119 mento: 15/6/1973)
O defensor público e o dativo têm a prerrogativa de O STJ entende, ainda, que, em geral, é  da Defensoria
intimação pessoal.120 Entretanto, Pública da União a atribuição para a atuação perante o STJ
e STF, sendo que, “apenas diante da existência de expressa
é pacífica a jurisprudência do STF no sentido de que, previsão legal é que as Defensorias Públicas dos Estados
em obediência ao princípio do tempus regit actum, podem atuar diretamente perante os Tribunais Superiores,
somente a partir da edição da Lei nº 9.271/1996 (que caso contrário, suas atribuições se limitam à interposição
adicionou o § 4º ao art. 370 do CPP) é que se tornou dos recursos cabíveis. (STJ, AgRg HC nº 118.758/MS, Min.
obrigatória a intimação pessoal do defensor nomea- Jane da Silva (Desembargadora convocada do TJ/MG), Sexta
do pelo Juízo (Defensor Dativo). (STF, HC nº 90.964/ Turma, DJe 2/2/2009)
Noções de Direito Processual Penal

SP; Relator Ministro Carlos Britto; Primeira Turma; É função institucional da Defensoria Pública patroci‑
Julgamento: 11/9/2007) nar tanto a ação penal privada quanto a subsidiária da
pública, não havendo nenhuma incompatibilidade com a
A prerrogativa da DP de intimação pessoal é incompa‑ função acusatória, mais precisamente a de assistência da
tível com o rito dos juizados especiais.121 acusação.125

115
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/TRE-AP/Analista Judiciário/Área
Curador
Judiciária/Questão 54/Assertiva B/2011 e Fepese/Prefeitura de Florianópolis/
Procurador/Questão 75/Assertiva d/2011. O art. 262 do CPP determina que ao acusado menor
116
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/TRE-AP/Analista Judiciário/Área
Judiciária/Questão 54/Assertiva d/2011; FCC/TRF 4ª Região/Analista Judici-
dar‑se‑á curador. Entretanto, com as disposições do art. 5º
ário/2004; Cespe/TJ‑DF/Oficial de Justiça Avaliador/1997. do Novo Código Civil, a menoridade cessa aos dezoito anos
117
Assunto cobrado nas seguintes provas: Acadepol‑SP/Delegado de Polícia/2003
e TJ‑SC/Oficial de Justiça/2003.
118
Cespe/DPE-ES/Defensor Público/2009. 122
Cespe/DPE-ES/Defensor Público/2009.
119
TJ‑SC/Oficial de Justiça/2003. 123
MPE-PR/Promotor de Justiça Substituto/Questão 68/Item I/2011.
120
Assunto cobrado na prova do Cespe/2º Exame de Ordem/2006. 124
UEG/Delegado de Polícia de 3ª Classe de Goiás/2003.
121
Cespe/DPE-AL/Defensor Público de 1ª Classe/2009. 125
Cespe/DPE-AL/Defensor Público de 1ª Classe/2009.

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completos, quando a pessoa fica habilitada à prática de todos Dessa forma, o assistente de acusação pode apelar, ainda
os atos da vida civil, sendo absolutamente capaz, o que fez que o MP também o faça.134 Com efeito, no Direito Processual
com que o art. 262 do CPP perdesse a aplicabilidade. Penal é consagrada a viabilidade de se interpor recurso de
apelação criminal pelo assistente da acusação, sendo certo,
Assistente da Acusação ainda, que o ofendido ou quaisquer das pessoas enumera-
das no art. 31 do CPP, mesmo que não estejam habilitadas
O assistente da acusação é também chamado de parte como assistentes da acusação, poderão interpor apelação,
supletiva ou adesiva da acusação pública. desde que o Ministério Público não o tenha feito.135
Quando o ofendido, ou seu representante, ingressa no
Assim, nos termos do art. 581, VIII, do CPP, o assistente de
processo penal para atuar ao lado do Ministério Público,
temos a figura do assistente. Assim, o assistente de acusa- acusação pode interpor recurso em sentido estrito da decisão
ção pode funcionar somente nos processos de ação penal que extingue a punibilidade.136 Por outro lado, o assistente
pública.126 Não há que se falar em assistente da acusação nas de acusação não pode recorrer da decisão que, nos termos
ações penais privadas, já que a vítima, seu representante ou do Código de Processo Penal, sumariamente absolver o réu
sucessores já atuam como parte principal. denunciado pela prática de homicídio doloso.137 Entretanto,
Segundo Polastri (2008, p. 223 e 231), a corrente dou- não pode recorrer o assistente da decisão do juiz de arquiva-
trinária preponderante na jurisprudência é de opinião que mento dos autos do inquérito a pedido do Ministério Público,
a função do assistente guarda relação com a relação da eis que, antes do ajuizamento da ação penal, sequer há se
sentença penal condenatória com a esfera cível, mas reco- falar na figura do assistente da acusação.138
nhece também estar presente o aninus da vingança privada, O assistente de acusação, consoante entendimentos do
agindo o assistente não na condição de parte, mas de terceiro
STJ e STF, tem legitimidade para, no silêncio do Ministério
interveniente, com poderes limitados pela lei.
O art. 268 do CPP estabelece, em ordem preferencial, que Público, interpor recurso em sentido estrito contra sentença
de pronúncia, objetivando o reconhecimento de causa de
Em todos os termos da ação pública, poderá intervir, qualificação do homicídio.139 (STJ, HC nº  61.001/RS, Min.
como assistente do Ministério Público, o  ofendido Gilson Dipp, Quinta Turma, DJ 18/6/2007 p. 280; STF, HC
ou seu representante legal, ou, na falta, cônjuge, nº 71.453/GO, Min. Paulo Brossard, DJ de 27/10/1994 )
ascendente, descendente ou irmão. O juiz, ouvido o Ministério Público, decidirá acerca da
realização das provas propostas pelo assistente (art. 271,
Dessa forma, não é obrigatória a sua atuação, podendo, § 1º, do CPP).
portanto, ser considerado o assistente da acusação parte O processo prosseguirá independentemente de nova
desnecessária.127 intimação do assistente, quando este, intimado, deixar
É admissível o ingresso de pessoas jurídicas, de direito
público ou privado, como assistentes de acusação.128 de comparecer a qualquer dos atos da instrução ou do
A vítima pode intervir no processo penal por intermé- julgamento, sem motivo de força maior devidamente com-
dio de advogado, como assistente da acusa­ção, depois de provado140 (art. 271, § 2º, do CPP).
iniciada a ação penal e enquanto não transitada em julgado O Ministério Público será ouvido previamente sobre a
a decisão final.129 Com efeito, o  assistente será admitido admissão do assistente.141 (Art. 272 do CPP).
enquanto não passar em julgado a sentença, e receberá Nos termos do art. 273 do CPP, do despacho que ad-
a causa no estado em que se achar (art. 269 do CPP), não mitir, ou não, o assistente, não caberá recurso,142 devendo,
podendo intervir em fases processuais pretéritas.130 entretanto, constar dos autos o pedido e a decisão. Polastri
Nos termos da legislação processual penal vigente, não (2009, p. 464) destaca também ser cabível correção parcial.
se admite, no curso regular da persecução penal, na fase É cabível no entanto o ajuizamento de mandado de segurança.
pré-processual, a possibilidade de habilitar-se o assistente
Para que o assistente do Ministério Público, por meio
de acusação131.
de seu procurador, possa atuar no plenário do Júri, deve
A assistência de acusação deverá ser exercida por ad-
vogado legalmente habilitado, o qual postulará, através estar habilitado com antecedência de pelo menos 5 dias,143
de petição, em nome do ofendido ou sucessores, a  sua nos termos do art. 430 do CPP.
admissão no feito, após a oitiva do Ministério Público.132 O assistente do Ministério Público, consoante entendi-
Ao assistente será permitido propor meios de prova, re- mento do STF, tem legitimidade para interpor recurso em
querer perguntas às testemunhas, participar do debate oral sentido estrito da pronúncia, visando obter o reconheci-
e arrazoar os recursos interpostos pelo Ministério Público ou
Noções de Direito Processual Penal

por ele próprio (art. 271 do CPP). A legislação não faculta 134


OAB‑DF/2º Exame de Ordem/2003.
ao assistente de acusação arrolar testemunhas para serem 135
Assunto cobrado na prova da Unama/Defensoria Pública do Estado do Pará/
ouvidas durante a fase de instrução.133 Defensor Público de 1ª Entrância/2006.
136
OAB‑MS/81º Exame de Ordem/2005.
137
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/TJ‑DF/Oficial de Justiça Avalia-
126
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑SP/122º Exame de Ordem/2003; dor/1997 e Cespe/OAB/1º Exame de Ordem/2008.
OAB‑MG/2006 e CPC/Polícia Civil‑PR/Delegado de Polícia Civil/2007. 138
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/TJ-PB/Juiz Substituto/Questão 49/
127
17º Concurso Público para Procurador da República. Assertiva A/2011.
128
Ieses/TJ-MA/Analista Judiciário/Questão 81/Item III/2011. 139
Cespe/Juiz SubstitutoTJ‑CE/2005/2004
129
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/OAB/1º Exame de Ordem/2008; 140
Assunto cobrado na prova da FCC/TRF 2ª Região/Analista Judiciá­rio/2007.
OAB‑GO/1º Exame de Ordem/2005; EJEF/TJ‑MG/Juiz Substituto/2005; FCC/ 141
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑GO/1º Exame de Ordem/2005;
TRF 1ª Região/Analista Judiciário/2006; OAB‑MS/81º Exame de Ordem/2005; FCC/TRF 1ª Região/Analista Judiciário/2006; OAB‑MS/81º Exame de Or-
OAB‑GO/1º Exame de Ordem/2005; Cespe/TJ‑DF/Oficial de Justiça Avalia- dem/2005; OAB‑GO/1º Exame de Ordem/2005 e Cespe/TJ‑DF/Oficial de
dor/1997; Promotor‑BA/2004 e Cespe/OAB/1º Exame de Ordem/2008. Justiça Avaliador/1997.
130
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/TRF-4ª Região/Analista Judiciá­ 142
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/TRF 1ª Região/Analista Judi­
rio/2004; OAB‑MG/2006 e Cespe/TRE-MA/Analista Judiciário/2009. ciário/2006; OAB‑Nordeste/1º Exame de Ordem/2004; Cespe/TJ‑DF/Oficial de
131
Assunto cobrado na prova do Cespe/DPU/Defensor Público Fe­deral/2010/ Justiça Avaliador/1997; TRF 3ª Região/Juiz Federal Substituto e FCC/TCE‑AL/
Questão 88. Procurador/2008.
132
Assunto cobrado na prova do MPDFT/28º Concurso para Promotor/2009. 143
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑GO/1º Exame/2007 e 13º Con-
133
Assunto cobrado na prova do MPDFT/28º Concurso/Promotor - Nova curso Público para Procurador da República, com adaptações em face da Lei
Prova/2009. nº 11.689, de 2008.

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mento da qualificação do homicídio.144 O art. 581, IV, do CPP, Prova Testemunhal
destaca que cabe recurso em sentido estrito da decisão de
pronúncia. Cabe ao assistente de acusação recorrer, eis que Características
pode ter interesse em ver reconhecida uma qualificadora.
(STF, HC nº  84.022/CE, Rel. Min. Carlos Velloso, Segunda A doutrina aponta como características do depoi‑
Turma, Julgamento: 14/9/2004) mento prestado pela testemunha: a judicialidade,
Ao assistente será permitido propor meios de prova, a oralidade, a objetividade e a retrospectividade.153
requerer perguntas às testemunhas, aditar o libelo e os
articulados, participar do debate oral e arrazoar os recur- A prova testemunhal tem o caráter da retrospectivi-
sos interpostos pelo Ministério Público ou por ele próprio, dade, eis que a testemunha deve se limitar a depor sobre
nos casos dos arts. 584, § 1º, e 598.145 É o que determina a fatos já ocorridos, não devendo fazer ilações sobre o futuro.
O caráter da oralidade não admite testemunho por escrito,
Súmula nº 210/STF.
sendo permitida apenas a breve consulta a apontamentos154
O corréu no mesmo processo não poderá intervir como
(art. 204 do CPP). A objetividade da prova testemunhal
assistente do Ministério Público.146 (Art. 270 do CPP). impõe que a testemunha evite emitir juízos de valor sobre
O assistente da acusação não pode intervir no processo os fatos, limitando‑se a destacar os fatos ocorridos, salvo
de habeas corpus, na condição de assistente em ação penal quando inseparáveis da narrativa do fato (art. 213 do CPP).
pública, visto que, no habeas corpus, o Ministério Público A judicialidade da prova testemunhal impõe que seja presta-
atua como fiscal da lei.147 Por sua vez, a Súmula nº 208 do do o depoimento perante o juiz. Apenas autoridade como o
STF estabelece que “o assistente do Ministério Público não Presidente e o Vice‑Presidente da República, os presidentes
pode recorrer, extraordinariamente, de decisão concessiva do Senado Federal, da Câmara dos Deputados e do Supremo
de habeas corpus”. Tribunal Federal, que poderão optar pela prestação de de-
O assistente da acusação não é obrigatório nos crimes poimento por escrito, caso em que as perguntas, formuladas
contra o sistema financeiro.148 Tem‑se entendido que o pelas partes e deferidas pelo juiz, Ihes serão transmitidas
Poder Público não pode intervir como assistente uma vez por ofício (art. 221, § 1º, do CPP). Nesse sentido, inquirido
que, se o Ministério Público, parte acusadora, atua em seu o presidente da República como testemunha, poderá ele
nome, a ingerência da Administração Pública seria uma optar pela prestação de depoimento por escrito, caso em
superfetação prejudicial à defesa.149 que as perguntas, formuladas pelas partes e deferidas pelo
Em sentido contrário, Polastri (2009, p. 463) destaca juiz, lhes serão transmitidas por ofício.155
que, nos crimes contra a Administração Pública, a Fazenda Testemunha é toda pessoa que viu ou tomou conheci‑
Pública poderia ingressar no processo como assistente, eis mento do fato e, sob palavra de honra, compromete-se a
que cabe à mesma defender o seu interesse patrimonial. dizer a verdade.156
Referido autor destaca ainda que nas infrações que não têm A prova testemunhal é aquela obtida por qualquer dos 5
ofendido determinado e o sujeito passivo é a coletividade, sentidos. Não se admite, entretanto, prova obtida com base
não há que se falar em assistente. em um “sexto sentido”.
A prova testemunhal não tem valor superior em relação
Auxiliares da Justiça às demais provas.157
Desaparecidos os vestígios da infração penal, a prova
São auxiliares da justiça os servidores tais como os es- testemunhal poderá suprir o exame de corpo de delito
direto158 (art. 167 do CPP).
crivães, intérpretes, oficiais de justiça, depositários, peritos,
tradutores etc.
Classificação das testemunhas
As disposições legais sobre suspeição dos juízes são
• Numerárias: são as testemunhas arroladas pelas partes
aplicáveis aos serventuários da justiça.150 É o que determina
dentro do número legal.
o art. 274 do CPP.
• Extranumerárias: não se compreendem no número
É extensivo aos intérpretes, no que lhes for aplicável,
legal, como as testemunhas do juízo (art. 209 do CPP).
o disposto sobre suspeição dos juízes.151 • Referidas: são as pessoas a que as testemunhas se
O termo de conclusão, o cumprimento do mandado de referirem, que podem ser ouvidas, se ao juiz parecer
citação e a certidão, são, respectivamente, atos processuais conveniente (art. 209, § 1º, do CPP).
praticados pelos auxiliares da justiça de movimentação, • Não computadas: não serão computadas como teste-
Noções de Direito Processual Penal

execução e documentação da audiência.152 munha as pessoas que nada souberem que interesse
à decisão da causa (art. 209, § 2º, do CPP).
144
Assunto cobrado nas seguintes provas: TJDFT/Juiz de Direito Substituto/2007 • Declarantes ou informantes: são as testemunhas que
e Cespe/TJ‑CE/Juiz Substituto/2004-2005. não prestam compromisso, como os doentes e defi-
145
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/TRF 1ª Região/Analista Judiciá-
rio/2006; Cespe/TJ‑DF/Oficial de Justiça Avaliador/1997; OAB‑GO/1º Exame de
cientes mentais, os menores de 14 (quatorze) anos,
Ordem/2005; OAB‑MG/agosto de 2006 e OAB‑MS/81º Exame de Ordem/2005. o ascendente ou descendente, o afim em linha reta,
146
Assunto cobrado nas seguintes provas: Fepese/Prefeitura de Florianópolis/
Procurador/Questão 75/Assertiva C/2011; OAB‑GO/1º Exame de Ordem/2005;
FCC/TRF-1ª Região/Analista Judiciário/2006; OAB‑MG/agosto de 2006; Cespe/ 153
FCC/TJ-PI/Analista Judiciário/Área Administrativa/2009.
TJ‑DF/Oficial de Justiça Avaliador/1997 e TJ‑RJ/Oficial de Justiça Avaliador. 154
Assunto cobrado na prova da Movens/PC-PA/Delegado/2009.
147
Assunto cobrado nas seguintes provas: 12º Concurso Público para Procurador 155
Cespe/PC-CE/nspetor de Polícia/2012.
da República; OAB‑GO/1º Exame de Ordem/2004 e OAB‑GO/2º Exame de 156
Fumarc/DPE-MG/Defensor Público/2009.
Ordem/2003. 157
Assunto cobrado na prova da OAB‑PR/1º Exame de Ordem/2004.
148
Assunto cobrado no 17º Concurso Público para Procurador da República/1999. 158
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/OAB‑SP/136º Exame da Or-
149
13º Concurso Público para Procurador da República. dem/2008; Cespe/STF/Analista Judiciário/2008; TJ‑PR/Juiz Substituto/2006;
150
Cespe/TJ‑DF/Oficial de Justiça Avaliador/1997. Cespe/AGU/Procurador Federal de 2ª Categoria/2004; Cespe/TJ‑RR/Analista
151
DRS‑Acadepol/Polícia Civil do Estado de Minas Gerais/SSP‑MG/Delegado de Processual/2006; FGV/TJ‑SE/Analista Judiciário/2004; Cespe/TJ‑RR/Analista
Polícia/2007. Processual/2006; Cespe/TJ‑PE/Oficial de Justiça da 1ª Entrância/2001 e
152
FCC/TJ-PE/Técnico Judiciário/Judiciária e Administrativa/Questão 59/2012. OAB‑MG/1º Exame de Ordem/2004.

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o  cônjuge, ainda que desquitado, o  irmão e o pai, Estão livres do compromisso de dizer a verdade os doen‑
a mãe, ou o filho adotivo do acusado (art. 208 do CPP). tes, deficientes mentais e menores de 14 (quatorze) anos.167
• Instrumentária: quando o acusado se recusar a assi- Assim, o menor de 14 anos de idade pode ser testemu-
nar, não souber ou não puder fazê‑lo, o auto de prisão nha, mas está desobrigado de prestar o compromisso de
em flagrante será assinado por duas testemunhas, dizer a verdade.168
que tenham ouvido sua leitura na presença deste159
(art. 304, § 3º, do CPP). Falso Testemunho
• De apresentação: caso não haja testemunha presen- Se o juiz, ao pronunciar sentença final, reconhecer que
cial, deverão assinar o termo do auto de prisão em alguma testemunha fez afirmação falsa, calou ou negou a
flagrante pelo menos duas pessoas (testemunhas de verdade, remeterá cópia do depoimento à autoridade policial
apresentação ou indiretas) que tenham presenciado para a instauração de inquérito (art. 211 do CPP). Nos termos
a apresentação do preso à autoridade, colhendo‑se, do parágrafo único do referido artigo, tendo o depoimento
após cada oitiva, suas respectivas assinaturas160 sido prestado em plenário de julgamento, o  juiz, no caso
(art. 304, § 2º, do CPP). de proferir decisão na audiência (art. 538, § 2º), o tribunal
• De beatificação: é aquela que presta informação (art. 561), ou o conselho de sentença, após a votação dos
apenas em relação aos antecedentes.161 quesitos, poderão fazer apresentar imediatamente a teste-
munha à autoridade policial.
Quem Pode ser Testemunha O STJ entende que não é necessário aguardar a prolação
da sentença:
Toda pessoa poderá ser testemunha162 (art. 202 do CPP).
Seguindo tal raciocínio, até mesmo uma criança pode ser O delito de falso testemunho consuma‑se com o en-
testemunha.163 cerramento do depoimento prestado, quando se faz
Surgindo dúvida sobre a identidade da testemunha, a afirmação falsa, embora o Código de Processo Penal
o juiz procederá à verificação pelos meios ao seu alcance, admita que a retratação seja efetivada até a prolação da
podendo, entretanto, tomar‑lhe o depoimento desde lo- sentença no feito em que o ilícito teria sido cometido.
go.164 (Art. 205 do CPP). IV – A even­tual absolvição do réu pelo Tribunal não afas-
ta a consumação do delito, mesmo que tal testemunho
Do Comparecimento e do Compromisso não tenha influído no resultado do julgamento, pois a
ação que viola a lei é o próprio depoimento prestado
Se, regularmente intimada, a testemunha deixar de com- com o fim de subverter a verdade dos fatos, causando
parecer sem motivo justificado, o juiz poderá requisitar165 dano à Justiça. V – Esta Turma já firmou o posicionamen-
à autoridade policial a sua apresentação ou determinar seja to no sentido de que não é imprescindível a sentença,
conduzida por oficial de justiça, que poderá solicitar o auxílio no feito principal, para o início da ação penal por crime
da força pública (art. 218 do CPP). de falso testemunho, ainda que se faça a ressalva de
Para que a testemunha possa ser conduzida pelo oficial que a decisão sobre o perjúrio não deve preceder à do
de justiça, é preciso que tenha sido regularmente intimada, feito principal. (STJ, HC nº 73.059/SP, Min. Gilson Dipp,
tenha deixado de comparecer e que assim tenha agido sem Quinta Turma, DJ 29/6/2007)
motivo justificado.166
O juiz poderá aplicar à testemunha faltosa a multa pre- Se o juiz, ao pronunciar sentença final, reconhecer que
vista no art. 453, sem prejuízo do processo penal por crime alguma testemunha fez afirmação falsa, calou ou negou
de desobediência, e condená‑la ao pagamento das custas a verdade, remeterá cópia do depoimento à autoridade
da diligência (art. 219 do CPP). policial para a instauração de inquérito.169
A testemunha fará, sob palavra de honra, a promessa de A pedido de qualquer das partes, poderá ser questiona‑
dizer a verdade do que souber e lhe for perguntado, devendo da a ocorrência de falso testemunho aos jurados, cabendo
declarar seu nome, sua idade, seu estado e sua residência, ao conselho de sentença fazer apresentar a testemunha à
sua profissão, lugar onde exerce sua atividade, se é parente, autoridade policial.170
e em que grau, de alguma das partes, ou quais suas relações Antes de iniciado o depoimento, as partes poderão con-
com qualquer delas, e relatar o que souber, explicando traditar a testemunha ou arguir circunstâncias ou defeitos,
sempre as razões de sua ciência ou as circunstâncias pelas que a tornem suspeita de parcialidade, ou indigna de fé.
quais possa avaliar‑se de sua credibilidade (art. 203 do CPP). O juiz fará consignar a contradita ou arguição e a resposta
da testemunha, mas só excluirá a testemunha ou não lhe
Noções de Direito Processual Penal

Informantes deferirá compromisso nos casos previstos nos arts. 207 e


Não se deferirá o compromisso aos doentes e deficientes 208 (art. 214 do CPP).
mentais e aos menores de 14 (quatorze) anos, nem ao ascen- Não constitui prerrogativa do advogado orientar a
dente ou descendente, ao afim em linha reta, ao cônjuge, testemunha a mentir.171
ainda que desquitado, ao irmão e ao pai, à mãe, ou ao filho O Superior Tribunal de Justiça
adotivo do acusado (art. 208 do CPP).
firmou compreensão de que, apesar do crime de
159
Assunto cobrado na seguinte prova: FCC/MP-AP/Analista Ministerial/Assertiva falso testemunho ser de mão própria, pode haver a
C/2012. participação do advogado no seu cometimento (STJ,
160
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/TJ‑SE/Juiz Substituto/2008.
161
Fumarc/DPE-MG/Defensor Público/2009. HC nº 30.858/RS, Min. Paulo Gallotti, Sexta Turma,
162
TJ‑RJ/Oficial de Justiça Avaliador. DJ 1º/8/2006).
163
Assunto cobrado na prova do 12º Concurso Público para Procurador da
República.
164
Assunto cobrado na prova da OAB- Nordeste/2º Exame de Ordem/2003. 167
OAB‑PR/Exame 01/2006.
165
Assunto cobrado na prova do Ieses/TJ-MA/Oficial de Justiça/2009. 168
Assunto cobrado na prova do Cespe/TJ‑SE/Juiz Substituto/2008.
166
Assunto cobrado nas seguintes provas: TJ‑RJ/Oficial de Justiça Avaliador, 169
Cespe/OAB/Exame de Ordem/2007.
Defensoria Pública do Estado do Ceará/Defensor Público/2002; TJ‑SC/Oficial 170
Cespe/TJ‑BA/Juiz Substituto/2004.
de Justiça/2003 e TJ‑SP/Comarca de Santos/Oficial de Justiça/1999. 171
Assunto cobrado na prova da Vunesp/OAB‑SP/133º Exame.

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Formalidades do Depoimento A dispensa de testemunha durante o julgamento em
plenário há de ser precedida da concordância dos jurados
O depoimento será prestado oralmente, não sendo per- e da parte contrária, ainda que tacitamente, mesmo que
mitido à testemunha trazê‑lo por escrito, sendo admitida, não a tenha arrolado.178
porém, a breve consulta a apontamentos172 (art. 204 do A mera reiteração do depoimento prestado na fase do
CPP). Há exceções à natureza escrita do depoimento, o que inquérito tem valor probatório.179
ocorre em relação ao depoimento do mudo, do surdo ou do
surdo-mudo (art. 192 do CPP), bem como do Presidente e
Presença do Acusado
do Vice-Presidente da República, dos presidentes do Senado
Federal, da Câmara dos Deputados e do Supremo Tribunal
Federal (art. 221, § 1º, do CPP), para os quais se dispensa Se o juiz verificar que a presença do réu poderá causar
depoimento escrito. humilhação, temor, ou sério constrangimento à testemu-
As testemunhas serão inquiridas cada uma de per si, de nha ou ao ofendido, de modo que prejudique a verdade
modo que umas não saibam nem ouçam os depoimentos do depoimento, fará a inquirição por videoconferência e,
das outras, devendo o juiz adverti‑las das penas comi- somente na impossibilidade dessa forma, determinará a
nadas ao falso testemunho,173 sendo que, antes do início retirada do réu, prosseguindo na inquirição, com a presença
da audiência e durante a sua realização, serão reservados do seu defensor, devendo referida medida constar do texto
espaços separados para a garantia da incomunicabilidade junto com os seus motivos determinantes (art. 217 do CPP).
das testemunhas (art. 210 do CPP).
As perguntas serão formuladas pelas partes direta- Programa de proteção às testemunhas
mente à testemunha174, não admitindo o juiz aquelas que
puderem induzir a resposta, não tiverem relação com a causa
ou importarem na repetição de outra já respondida (art. 212 A Lei nº 9.807/1999 estabelece normas para a organi-
do CPP). Sobre os pontos não esclarecidos, o  juiz poderá zação e a manutenção de programas especiais de proteção
complementar a inquirição. a vítimas e a testemunhas ameaçadas, além de instituir o
Portanto, a partir da nova redação do art. 212 do Código Programa Federal de Assistência a Vítimas e a Testemunhas
de Processo Penal, adotando o sistema do cross examination, Ameaçadas, protegendo também acusados ou condenados
se o juiz proceder diretamente a oitiva das testemunhas, que tenham voluntariamente prestado efetiva colaboração
concedendo a palavra às partes para reperguntas, somente à investigação policial e ao processo criminal. O art. 7º da
após sua inquirição pessoal, resta caracterizada a ofensa referida lei traz medidas a serem adotadas pelos progra-
ao devido processo legal.175 mas de proteção, aplicáveis isolada ou cumulativamente
Assim, as testemunhas poderão ser contraditadas pelas em benefício da pessoa protegida, segundo a gravidade e
partes.176 as circunstâncias de cada caso: I segurança na residência,
Polastri (2008, p. 175) destaca que o CPP abandonou o incluindo o controle de telecomunicações; II – escolta
sistema judicial ou presidencial, sendo que e segurança nos deslocamentos da residência, inclusive
para fins de trabalho ou para a prestação de depoimentos;
prestigia-se agora com a reforma a inquirição dire- III – transferência de residência ou acomodação provisória
ta, o que é um grande avanço, e se não é como o em local compatível com a proteção; IV – preservação da
verdadeiro exame cruzado americano, dele muito identidade, imagem e dados pessoais; V – ajuda financeira
se aproxima. mensal para prover as despesas necessárias à subsistência
individual ou familiar, no caso de a pessoa protegida estar
O juiz permitirá que a testemunha manifeste suas apre- impossibilitada de desenvolver trabalho regular ou de
ciações pessoais, desde que inseparáveis da narrativa do inexistência de qualquer fonte de renda; VI  – suspensão
fato.177 (Art. 213 do CPP). temporária das atividades funcionais, sem prejuízo dos
Na redação do depoimento, o juiz deverá cingir‑se, tanto respectivos vencimentos ou vantagens, quando servidor
quanto possível, às expressões usadas pelas testemunhas,
público ou militar; VII – apoio e assistência social, médica e
reproduzindo fielmente as suas frases (art. 215 do CPP).
psicológica; VIII – sigilo em relação aos atos praticados em
O depoimento da testemunha será reduzido a termo,
virtude da proteção concedida; IX – apoio do órgão execu-
assinado por ela, pelo juiz e pelas partes. Se a testemunha
não souber assinar ou não puder fazê‑lo, pedirá a alguém tor do programa para o cumprimento de obrigações civis e
Noções de Direito Processual Penal

que o faça por ela, depois de lido na presença de ambos administrativas que exijam o comparecimento pessoal. Nos
(art. 216 do CPP). termos do art. 9º da Lei, em casos excepcionais e conside-
rando as características e gravidade da coação ou ameaça,
172
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/TRE-PE/Analista Judiciário/Área
poderá o conselho deliberativo encaminhar requerimento
Administrativa/Questão 59/Assertiva B/2011; OAB‑PR/Exame 03/2006; 12º da pessoa protegida ao juiz competente para registros pú-
Concurso Público para Procurador da República; OAB‑PR/Exame 03/2006 e blicos objetivando a alteração de nome completo.
Cespe/OAB/Exame de Ordem/2007.
173
Assertiva adaptada em face da minirreforma do Código de Processo Penal.
Assunto cobrado nos seguintes provas: FCC/TJ-GO/2012; FCC/TRE-PE/Analista Pessoas Dispensadas de Depor
Judiciário/Área Administrativa/Questão 59/Assertiva C/2011; Cespe/OAB/
Exame de Ordem/2007 e Cespe/DPE-ES/Defensor Público/2009.
174
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/TRE-PE/Analista Judiciário/Área
Administrativa/Questão 59/Assertiva A/2011 e OAB‑MG/Comissão de Exame
A testemunha não poderá eximir‑se da obrigação de
de Ordem/2008-3. depor. Entretanto, o ascendente ou descendente, o afim
175
MPE-PR/Promotor de Justiça Substituto/Questão 64/Item II/2011.
176
Assunto cobrado na prova da FCC/TRE-PE/Analista Judiciário/Área Adminis-
trativa/Questão 59/Assertiva D/2011. Cespe/TJ‑BA/Juiz Substituto/2004.
178
177
Assunto cobrado na prova da DRS‑Acadepol/Polícia Civil do Estado de Minas Assunto cobrado na prova do 12º Concurso Público para Procurador da
179

Gerais/SSP‑MG/Delegado de Polícia/2007. República.

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em linha reta, o cônjuge, ainda que desquitado, o irmão Caso as testemunhas de defesa não sejam encontradas
e o pai, a  mãe, ou o filho adotivo do acusado poderão e o acusado, devidamente intimado, não indicar outras
recusar‑se a fazê‑lo, salvo quando não for possível obter em substituição, prosseguir‑se‑á nos demais termos do
ou integrar a prova do fato e de suas circunstâncias por processo.188
outro modo180 (art. 206 do CPP). O juiz, quando julgar necessário, poderá ouvir outras
Constatam‑se os laços de parentesco e afinidade da testemunhas, além das indicadas pelas partes. Se ao juiz
testemunha, no momento do depoimento e não na data parecer conveniente, serão ouvidas as pessoas a que as
do fato criminoso.181 testemunhas se referirem. Não será computada como tes-
A mãe da vítima pode ser ouvida na qualidade de in- temunha a pessoa que nada souber que interesse à decisão
formante (sem prestar compromisso).182 da causa (art. 209 do CPP).
A pedido de algum dos jurados, o juiz‑presidente poderá
Pessoas Proibidas de Depor ordenar o comparecimento de testemunha não arrolada
pelas partes durante a sessão de julgamento, uma vez que
São proibidas de depor as pessoas que, em razão de fun- o juiz tem a incumbência de produzir as provas que pareçam
ção, ministério, ofício ou profissão, devam guardar segredo, úteis aos jurados para o esclarecimento dos fatos.189
salvo se, desobrigadas pela parte interessada, quiserem dar O número máximo de testemunhas que podem ser
o seu testemunho183 (art. 207 do CPP) arroladas pelas partes depende, como regra, do rito a ser
Nesse sentido, senadores e deputados federais não são seguido no processo.190
obrigados a testemunhar sobre informações recebidas no Nos processos por crimes punidos com reclusão, o acu-
exercício da função.184 sado pode arrolar até oito testemunhas.191
A simples condição de policial que atuou no inquérito No processo e julgamento de crimes contra a proprie-
policial não torna a testemunha impedida ou suspeita.185 dade imaterial, poderá a acusação arrolar até oito teste-
Considera‑se prova ilegítima o depoimento de teste- munhas também.192
munha obrigada a guardar sigilo por dever funcional.186 O juiz, se julgar necessário, poderá ouvir outras teste-
munhas além das indicadas pelas partes.193
Número de Testemunhas
Local do Depoimento
O número de testemunhas depende do rito seguido:
• Procedimento comum ordinário: 8 testemunhas As pessoas impossibilitadas, por enfermidade ou por
(art. 401 do CPP). velhice, de comparecer para depor, serão inquiridas onde
• Procedimento comum sumário: 5 testemunhas estiverem (art. 220 do CPP).
(art. 532 do CPP). A testemunha que morar fora da jurisdição do juiz será
• Procedimento comum sumaríssimo: há divergências: inquirida pelo juiz do lugar de sua residência, expedindo‑se,
1) 3 testemunhas, por aplicação analógica do art. 34 para esse fim, carta precatória, com prazo razoável, intimadas
da Lei nº 9.099/1995; 2) 5 testemunhas, por analogia as partes (art. 222 do CPP). A Súmula nº 155 do STF estabe-
em relação ao rito ordinário; 3) 3 testemunhas se a lece ser relativa a nulidade do processo criminal por falta
infração de menor potencial ofensivo for contravenção. de intimação da expedição de precatória para inquirição
• Instrução preliminar no rito do júri: 8 testemunhas de testemunha.194
(art. 406, § 3º, do CPP). A expedição da precatória não suspenderá a instrução
• Instrução plenária do rito do júri: 5 testemunhas criminal (art. 222, § 1º, do CPP). Desta forma, é possível a
(art. 422 do CPP). oitiva das testemunhas de defesa antes que sejam ouvidas
as testemunhas da a acusação a serem ouvidas por carta
Existe diferença entre o direito de arrolar testemunha precatória. Como o rito ordinário prevê audiência única de
e o direito de requerer a inquirição de testemunha.187 A instrução e julgamento, se a carta precatória for juntada
acusação arrola testemunhas na ação penal. Já o réu o faz aos autos antes da data marcada para a audiência de ins-
na defesa prévia, também chamada de resposta preliminar. trução e julgamento no juízo processante não há maiores
Caso não se arrolem nos referidos momentos, para que a problemas. Caso não seja devolvida a precatória antes da
testemunha seja ouvida, deve haver requerimento a ser ou referida audiên­cia, o acusado tem direito a ser ouvido em
não deferido pelo juiz. outra audiência após a juntada da precatória devidamente
cumprida em face do princípio da ampla defesa.
Noções de Direito Processual Penal

180
Assunto cobrado nas seguintes provas: Unama/Defensoria Pública do Estado Findo o prazo marcado, poderá realizar‑se o julgamento,
do Pará/Defensor Público de 1ª Entrância do Estado do Pará/2006; TRF 3ª mas, a todo tempo, a precatória, uma vez devolvida, será
Região/XII Concurso/Juiz Federal Substituto; Cespe/Defensoria Pública da
União/Defensor Público da União de 2ª Categoria/2004; Unama/Defensoria junta aos autos (art. 222, § 2º, do CPP).
Pública do Estado do Pará/Defensor Público de 1ª Entrância do Estado do Na hipótese de carta precatória, a oitiva de testemunha
Pará/2006 e DRS‑Acadepol/Polícia Civil do Estado de Minas Gerais/SSP‑MG/
Delegado de Polícia/2007. poderá ser realizada por meio de videoconferência ou outro
181
Unama/Defensoria Pública do Estado do Pará/Defensor Público de 1ª Entrância recurso tecnológico de transmissão de sons e imagens em
do Estado do Pará/2006.
182
Assunto cobrado na prova da OAB‑DF/2º Exame de Ordem/2003. 188
Assunto cobrado nas seguintes provas: CPC/Polícia Civil do Estado do Paraná/
183
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑PR/Exame 01/2006 e Unama/ Delegado de Polícia Civil/2007; OAB‑PR/Exame 03/2006; TRF 3ª Região/IX
Defensoria Pública do Estado do Pará/Defensor Público de 1ª Entrância do Concurso/Juiz Federal Substituto e TJDFT/Juiz de Direito Substituto/2007.
Estado do Pará/2006. 189
Cespe/TJ‑BA/Juiz Substituto/2004.
184
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑Nordeste/2º Exame de Or- 190
Assunto cobrado na seguinte prova: OAB‑PR/Exame 01/2006,.
dem/2003; DRS‑Acadepol/Polícia Civil do Estado de Minas Gerais/SSP/ 191
Assunto cobrado na prova da Vunesp/OAB‑SP/130º Exame.
MG/Delegado de Polícia/Nível Superior/2007 e 17º Concurso Público para 192
Assunto cobrado na prova da OAB‑GO/1º Exame de Ordem/2003.
Procurador da República/1999. 193
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB/Nordeste/2º Exame de Pro-
185
Assunto cobrado na seguinte prova: OAB‑Nordeste/2º Exame de Ordem/2003. va/2003; Cespe/MPE‑TO/Analista Ministerial/2006; Cespe/OAB/Exame de
186
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/AGU/Procurador Federal de 2ª Ordem/2007 e OAB‑PR/3º Exame de Ordem/2004.
Categoria/2004. 194
Assunto cobrado na seguinte prova: Vunesp/TJ-SP/Juiz/Questão 45/Item
187
Assunto cobrado na prova da OAB‑SP/127º Exame de Ordem/2005. V/2011.

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tempo real, permitida a presença do defensor e podendo servirem, com indicação do dia e da hora marcados (art. 221,
ser realizada, inclusive, durante a realização da audiência de § 3º, do CPP).
instrução e julgamento (art. 222, § 3º, do CPP). Quando a testemunha não conhecer a língua nacional,
A oitiva de testemunha por videoconferência, na forma será nomeado intérprete para traduzir as perguntas e res-
do art. 222, § 3º, do Código de Processo Penal exige a de‑ postas (art. 223 do CPP). Tratando‑se de mudo, surdo ou
signação de defensores nos dois locais (no juízo deprecante surdo‑mudo, proceder‑se‑á da forma prevista no art. 192
e no juízo deprecado).195 do CPP, que estabelece o seguinte: I – ao surdo serão
As cartas rogatórias só serão expedidas se demonstrada apresentadas por escrito as perguntas, que ele responderá
previamente a sua imprescindibilidade, arcando a parte oralmente; II – ao mudo as perguntas serão feitas oralmente,
requerente com os custos de envio (art. 222-A do CPP). Sua respondendo-as por escrito; III – ao surdo-mudo as pergun-
expedição não suspenderá a instrução criminal, sendo que, tas serão formuladas por escrito e do mesmo modo dará as
uma vez findo o prazo, o julgamento será realizado. respostas. Caso o interrogando não saiba ler ou escrever,
Thiago Pierobom (2009, p. 495) destaca que, intervirá no ato, como intérprete e sob compromisso, pessoa
habilitada a entendê-lo.
apesar de o art. 222-A não estabelecer a possibilidade
de realização de colheita de testemunho no exterior Reconhecimento de Pessoas e Coisas
por videoconferência, entendemos que essa pos-
sibilidade existe e emana diretamente do disposto O art. 226 do CPP determina que, quando houver ne-
no art.18 do Decreto nº 5.015/2004 (Convenção de cessidade de fazer‑se o reconhecimento de pessoa, proce-
Palermo ou Convenção das Nações Unidas contra o der‑se‑á pela seguinte forma: I – a pessoa que tiver de fazer
Crimes Organizado). o reconhecimento será convidada a descrever a pessoa que
deva ser reconhecida; II – a pessoa, cujo reconhecimento
Os enfermos que não puderem comparecer à audiên­cia, se pretender, será colocada, se possível, ao lado de outras
em decorrência da condição de saúde, não estão desobri‑ que com ela tiverem qualquer semelhança, convidando‑se
gados do dever de prestar depoimento.196 quem tiver de fazer o reconhecimento a apontá‑la; III – se
Seguindo essa mesma linha de raciocínio, analise a se- houver razão para recear que a pessoa chamada para o re-
guinte situação hipotética: Taciana, testemunha arrolada conhecimento, por efeito de intimidação ou outra influência,
pela defesa em ação penal, está impossibilitada de compa‑ não diga a verdade em face da pessoa que deve ser reco-
recer à audiência, porque tem 90 anos e quebrou a perna. nhecida, a autoridade providenciará para que esta não veja
O juiz, ao tomar conhecimento da justificativa apresentada, aquela (não tem aplicação na fase da instrução criminal ou
deverá ouvi‑la onde estiver, colhendo, assim, a prova.197 em plenário de julgamento); IV – do ato de reconhecimento
Ainda que a testemunha more fora da jurisdição do lavrar‑se‑á auto pormenorizado, subscrito pela autoridade,
juiz, poderá ser arrolada pelas partes.198 Assim, tal teste- pela pessoa chamada para proceder ao reconhecimento e
munha será inquirida pelo juiz do lugar de sua residência, por duas testemunhas presenciais.
expedindo‑se, para esse fim, carta precatória.199 Quando for necessário fazer o reconhecimento judicial
do acusado, não é obrigatório que ele seja colocado ao lado
Regras Especiais de outras pessoas que com ele guardem semelhança.202
O reconhecimento de acusados feito através de álbuns
O Presidente e o Vice‑Presidente da República, os sena- de fotografias de marginais encontrados nas delegacias
dores e deputados federais, os ministros de Estado, os go- policiais é válido, desde que em consonância com os demais
vernadores de Estados e Territórios, os secretários de Estado, elementos do conjunto probatório.203 Referido reconhe-
os prefeitos do Distrito Federal e dos Municípios, os depu- cimento é tido como prova inominada e possui reduzido
tados das Assembleias Legislativas Estaduais, os membros valor probatório.
do Poder Judiciário, os ministros e juízes dos Tribunais de Por outro lado, feito o reconhecimento em sede policial,
Contas da União, dos Estados, do Distrito Federal, bem como a presença do advogado é dispensável, em face da inquisi-
os do Tribunal Marítimo serão inquiridos em local, dia e hora torialidade do inquérito policial.
previamente ajustados entre eles e o juiz (art. 221 do CPP). No reconhecimento de objeto, proceder‑se‑á com as
Os deputados estaduais, no caso de serem arrolados cautelas estabelecidas no artigo anterior, no que for aplicável
como testemunhas, deverão ser inquiridos em local, dia e (art. 227 do CPP).
hora previamente ajustados entre eles e o juiz.200 Estão previstos, expressamente, os reconhecimentos de
Noções de Direito Processual Penal

Caso o Presidente da República venha ser intimado a pessoas e de coisas, mas não o de vozes e o de imagens.204
depor como testemunha, poderá combinar, com o juiz, local, Polastri (2008, p. 184) destaca que o reconhecimento por voz
tem valor probatório, sendo modalidade de prova inominada,
dia e hora para seu depoimento.201
ressaltando ser esse o entendimento de Frederico Marques
Os militares deverão ser requisitados à autoridade supe-
e Ada Pellegrini.
rior (art. 221, § 2º, do CPP).
Aos funcionários públicos, aplicar‑se‑á o disposto no
art.  218, devendo, porém, a  expedição do mandado ser Acareação
imediatamente comunicada ao chefe da repartição em que
A acareação é meio de prova admitido no inquérito
policial e em juízo.205
195
MPE-PR/Promotor de Justiça Substituto/Questão 64/Item I/2011.
196
Promotor‑MG/2006.
197
OAB‑MT/2º Exame de Ordem/2004. 202
Cespe/DPE-ES/Defensor Público/2009.
198
Assunto cobrado na prova da OAB‑SP/121º Exame de Ordem/2003. 203
19º Concurso Público para Procurador da República/2002.
199
Assunto cobrado na prova da OAB‑SP/121º Exame de Ordem/2003. 204
Assunto cobrado nas seguintes provas: Vunesp/OAB‑SP/129º Exame e Vunesp/
200
Cespe/Defensoria Pública da União/Defensor Público da União de 2ª Catego- OAB‑SP/128º Exame.
ria/2004. 205
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑RO/41º Exame e OAB‑GO/1º
201
OAB‑PR/Exame 01/2006. Exame/2006.

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A acareação será admitida entre acusados, entre acusa­ PRISÃO, LIBERDADE PROVISÓRIA E
do e testemunha, entre testemunhas, entre acusa­do ou MEDIDAS CAUTELARES
testemunha e a pessoa ofendida, e entre as pessoas ofen-
didas, sempre que divergirem, em suas declarações, sobre
fatos ou circunstâncias relevantes206 (art. 229 do CPP). Nos Introdução
termos do parágrafo único do referido artigo, os acareados
Trata‑se de modalidade de restrição da liberdade por
serão reperguntados, para que expliquem os pontos de di-
ordem judicial ou em hipótese de flagrante delito.
vergências, reduzindo‑se a termo o ato de acareação.
O art. 5º, LXI, da CF/1988, estabelece que ninguém será
A acareação, uma vez requerida pela defesa, não é di-
preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e
reito subjetivo do acusado, não sendo passível de revisão fundamentada de autoridade judiciá­ria competente, salvo
criminal a sentença penal condenatória transitada na qual nos casos de transgressão militar ou crime propriamente
o juiz tenha indeferido o pedido de acareação formulado militar, definidos em lei.
no momento oportuno, ainda mais quando a sentença O art. 283 do CPP com a redação da Lei nº 12.403/2011
não se tenha fundado apenas no depoimento do corréu.207 determina que
Se ausente alguma testemunha, cujas declarações di-
virjam das de outra, que esteja presente, a  esta se darão ninguém poderá ser preso senão em flagrante delito
a conhecer os pontos da divergência, consignando‑se no ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade
auto o que explicar ou observar. Se subsistir a discordância, judiciária competente, em decorrência de sentença
expedir‑se‑á precatória à autoridade do lugar onde reside a condenatória transitada em julgado ou, no curso da
testemunha ausente, transcrevendo‑se as declarações desta investigação ou do processo, em virtude de prisão
e as da testemunha presente, nos pontos em que divergirem, temporária ou prisão preventiva.
bem como o texto do referido auto, a fim de que se complete
a diligência, ouvindo‑se a testemunha ausente pela mesma O art.  139, II, da CF/1988, permite prisão sem ordem
forma estabelecida para a testemunha presente. Esta diligên- judicial ou prisão em flagrante. Com efeito, na vigência do
cia só se realizará quando não importar demora prejudicial ao estado de sítio decretado em face de comoção grave de re-
processo e o juiz entendê‑la conveniente (art. 230 do CPP). percussão nacional ou ocorrência de fatos que comprovem
O indiciado poderá recusar‑se a participar dos atos de a ineficácia de medida tomada durante o estado de defesa,
reconstituição do crime e de acareação, bem como a subme- as pessoas poderão ser detidas em edifício não destinado a
ter‑se a exame de DNA, sem que da recusa decorra qualquer acusados ou condenados por crimes comuns.
presunção de culpabilidade ou inversão do ônus da prova.208 O art. 684 do CPP estabelece, ainda, que “a recaptura do
Admite‑se a acareação por meio de carta precatória.209 réu evadido não depende de prévia ordem judicial e poderá
ser efetuada por qualquer pessoa”.
Referências
Decretação das Medidas Cautelares durante o
ÁVILA, Thiago André Pierobom de. Direito processual penal. Inquérito Policial e na Fase Judicial
15. ed., Brasília: Vestcon, 2009.
As medidas cautelares serão decretadas pelo juiz, de
BEZERRA, Bruno Gurgel. A aceitação do interrogatório por ofício ou a requerimento das partes ou, quando no curso
videoconferência no Brasil. Disponível em http://www.lfg. da investigação criminal, por representação da autoridade
com.br, 9 de setembro de 2008. policial ou mediante requerimento do Ministério Público
(art. 282, § 2º, do CPP, com a redação da Lei nº 12.403/2011).
CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal. 12 ed. rev. O § 1º do art. 283 do CPP determina que as medidas caute-
e atual. São Paulo: Saraiva, 2005. lares não se aplicam à infração a que não for isolada, cumulativa
ou alternativamente cominada pena privativa de liberdade.
LOPES JR. Aury. Sistemas de investigação preliminar no Ressalvados os casos de urgência ou de perigo de ine-
processo penal. 2. ed. rev. atual. ampl. Rio de Janeiro: Lumen ficácia da medida, o  juiz, ao  receber o pedido de medida
Juris, 2003. cautelar, determinará a intimação da parte contrária, acom-
panhada de cópia do requerimento e das peças necessárias,
KERCKHOVE, Derrick de. A pele da cultura – uma investiga- permanecendo os autos em juízo (art. 282, § 3º, do CPP, com
ção sobre a nova realidade electrónica. Tradução de Luís a redação da Lei nº 12.403/2011).
Soares e Catarina Carvalho. Lisboa: Relógio d’Água, 1997. No caso de descumprimento de qualquer das obrigações
Noções de Direito Processual Penal

impostas nas medidas cautelares, o juiz, de ofício ou median-


te requerimento do Ministério Público, de seu assistente ou
LIMA, Marcellus Polastri. Curso de Processo Penal. Vol. II. 3. do querelante, poderá substituir a medida, impor outra em
ed. rev. e atual, Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008. cumulação, ou, em último caso, decretar a prisão preventi-
va (art. 312, parágrafo único) (art. 282, § 4º, do CPP, com a
________. Manual de Processo Penal. 2. ed, Rio de Janeiro: redação da Lei nº 12.403/2011).
Lumen Juris, 2009. O juiz poderá revogar a medida cautelar ou substituí-la
quando verificar a falta de motivo para que subsista, bem como
VIRILIO, Paul. A inércia polar. Lisboa: Publicações Dom voltar a decretá-la, se sobrevierem razões que a justifiquem
Quixote, 1993. (art. 282, § 5º, do CPP, com a redação da Lei nº 12.403/2011).
A prisão preventiva será determinada quando não for
206
Assunto cobrado na prova do TRF 3ª Região/Juiz Federal Substituto. cabível a sua substituição por outra medida cautelar previs-
207
Assunto cobrado na prova do Cespe/TRF-5ª Região/Juiz Federal Substi-
tuto/2009.
ta no art. 319 (art. 282, § 6º, do CPP, com a redação da Lei
208
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑RS/1º Exame de Ordem/2004 e nº 12.403/2011).
OAB‑RS/2º Exame de Ordem/2004. Portanto, ausentes os requisitos que autorizam a decre-
209
Assunto cobrado na prova da DRS‑Acadepol/Polícia Civil do Estado de Minas
Gerais/SSP‑MG/Delegado de Polícia/2007.
tação da prisão preventiva, o juiz deverá conceder liberdade

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provisória, impondo, se for o caso, as medidas cautelares Em geral, a custódia de um indivíduo por parte da polícia
previstas no art. 319 deste Código e observados os critérios com o uso de algemas não se encontra regulada na legislação.
constantes do art. 282 deste Código. A legislação regula o tema apenas de forma pontual.
Trata-se de modalidade de liberdade provisória, quando Com efeito, não se permite o uso de algemas no acusa­do
determina que, quando o juiz verificar, pelo auto de prisão durante o período em que permanecer no plenário do júri,
em flagrante, a inocorrência de qualquer das hipóteses que salvo se absolutamente necessário à ordem dos trabalhos,
autorizam a prisão preventiva (arts. 311 a 313 do CPP), de- à segurança das testemunhas ou à garantia da integridade
verá conceder a liberdade provisória. física dos presentes (art. 474, § 3º, do CPP).
No que diz respeito à prisão e à liberdade provisória, Já o art. 234, § 1º, do Código de Processo Penal Militar,
a Constituição Federal elegeu alguns delitos como inafiançá‑ determina que o emprego de algemas deve ser evitado,
veis. Quanto a algumas infrações penais, declarou, de forma desde que não haja perigo de fuga ou de agressão da parte
expressa, a inafiançabilidade e, quanto a outras, subordinou do preso, e de modo algum será permitido quando o preso
a vedação da fiança aos termos da lei ordinária. Os tribunais for uma das seguintes autoridades:
superiores sedimentaram o entendimento de possibilidade
da liberdade provisória, nos termos estabelecidos pelo CPP, a) os ministros de Estado;
mesmo para o caso de inafiançabilidade proclamada expres‑ b) os governadores ou interventores de Estados, ou
samente pela Lei Fundamental.210 Com efeito, o art. 310, III, do Territórios, o prefeito do Distrito Federal, seus res-
CPP com a redação da Lei nº 12.403/2011 autoriza a concessão pectivos secretários e chefes de Polícia;
da liberdade provisória, com ou sem fiança. c) os membros do Congresso Nacional, dos Conselhos
da União e das Assembleias Legislativas dos Estados;
Momento da prisão d) os cidadãos inscritos no Livro de Mérito das ordens
militares ou civis reconhecidas em lei;
O § 2º do art. 283 do CPP determina que “a prisão poderá e) os magistrados;
ser efetuada em qualquer dia e a qualquer hora, respeitadas f) os oficiais das Forças Armadas, das Polícias e dos
as restrições relativas à inviolabilidade do domicílio”. Corpos de Bombeiros, Militares, inclusive os da re-
serva, remunerada ou não, e os reformados;
a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela g) os oficiais da Marinha Mercante Nacional;
podendo penetrar sem consentimento do morador, h) os diplomados por faculdade ou instituto superior
salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para de ensino nacional;
prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação i) os ministros do Tribunal de Contas;
judicial. j) os ministros de confissão religiosa.

Se houver violação a tais determinações, configura‑se o O STF, em face da ausência de legislação sobre o tema,
delito de abuso de autoridade previsto no art. 4º, a, da Lei editou a Súmula nº 11, que estabelece:
nº 4.898/1965.
Sobre o conceito dia, com base no critério cronológico, Só é lícito o uso de algemas em casos de resistência e
seria o período compreendido das 6 às 18 horas. Referido de fundado receio de fuga ou de perigo à integridade
critério é comumente utilizado pelas autoridades policiais e física própria ou alheia, por parte do preso ou de
públicas, eis que se tem dado objetivo da materialização dos terceiros, justificada a excepcionalidade por escrito,
procedimentos de entrada em domicílios. Outro critério seria sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal
o astronômico, que considera o período em que há luz solar, do agente ou da autoridade e de nulidade da prisão
definindo dia como o período entre a aurora e o crepúsculo. ou do ato processual a que se refere, sem prejuízo
da responsabilidade civil do Estado.
Uso de algemas
Com base na referida súmula, já existem diversos pedi-
Se houver, ainda que por parte de terceiros, resistência dos de relaxamento de prisão em face do uso injustificado
à prisão em flagrante ou à ordenada por autoridade com‑ de algemas.
petente, o executor e as pessoas que o auxiliarem poderão Segundo o STJ,
usar dos meios necessários para defender‑se ou para vencer
a resistência, do que tudo se lavrará auto subscrito também O emprego de algemas é degradante, desonroso,
por duas testemunhas211 (art. 292 do CPP). humilhante e indigno, devendo ser utilizadas quando,
Noções de Direito Processual Penal

Para a efetivação das prisões não será permitido o em- e somente quando, demonstrada a sua necessidade.
prego de força, salvo a indispensável no caso de resistência (STJ, HC nº 111.112/DF, Rel. Min. Jane Silva [desem-
ou de tentativa de fuga do preso212 (art. 284 do CPP). Se o bargadora convocada do TJ‑MG], Terceira Seção, DJe
sujeito passivo da prisão vier a ser lesionado, em face da 2/3/2009).
autorização legal do uso da força quando necessária e no
limite necessário, não haverá crime por parte do sujeito Para o STF,
ativo da prisão, em face da verificação das excludentes de
ilicitude como estrito cumprimento de dever legal por parte O uso legítimo de algemas não é arbitrário, sendo
dos policiais ou mesmo ou como o exercício regular de di- de natureza excepcional, a ser adotado nos casos e
reito no caso do particular. Caso haja abuso, podem restar com as finalidades de impedir, prevenir ou dificul-
configurados os delitos de abuso de autoridade ou lesão tar a fuga ou reação indevida do preso, desde que
corporal, respectivamente. haja fundada suspeita ou justificado receio de que
tanto venha a ocorrer, e para evitar agressão do
210
Cespe/DPU/Defensor Público Federal/2010/Questão 89. preso contra os próprios policiais, contra terceiros
211
NCE/Delegado da Polícia Civil de 3ª Classe do RJ/2002. ou contra si mesmo. O emprego dessa medida tem
212
Assunto cobrado nas seguintes provas: NCE/Delegado da Polícia Civil de 3ª
Classe do RJ/2002 e ACP/Delegado da Polícia Civil de São Paulo/2002. como balizamento jurídico necessário os princípios

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da proporcionalidade e da razoabilidade. (STF, HC e, logo que amanheça, arrombará as portas e efetuará a
nº 89.429/RO, Rel. Min. Cármen Lúcia, Primeira prisão219 (art. 293 do CPP).
Turma, Julgamento: 22/8/2006). O morador que se recusar a entregar o réu oculto em
sua casa será levado à presença da autoridade, para que se
Prisão por mandado judicial proceda contra ele como for de direito (art. 293, parágrafo
único, do CPP).
O art. 285 do CPP determina que a autoridade que Nos termos do art. 236 do Código Eleitoral, nenhuma
ordenar a prisão fará expedir o respectivo mandado de autoridade poderá, desde 5 (cinco) dias antes e até 48
prisão, que: (quarenta e oito) horas depois do encerramento da eleição,
a) será lavrado pelo escrivão e assinado pela prender ou deter qualquer eleitor, salvo em flagrante delito
autoridade;213 ou em virtude de sentença criminal condenatória por crime
b) designará a pessoa, que tiver de ser presa, por seu inafiançável. Não cabe, portanto, a prisão em face de cum-
nome, alcunha ou sinais característicos. Desta forma, o man‑ primento de mandado de prisão temporária ou preventiva.
dado de prisão poderá ser cumprido ainda que nele não A recaptura do réu evadido não depende de prévia or‑
conste o nome da pessoa a ser presa;214 dem judicial e poderá ser efetuada por qualquer pessoa.220
c) mencionará a infração penal que motivar a prisão. O art. 1º da Lei nº 11.473/2007 estabelece que a União
O ato que determina a expedição de mandado de prisão – poderá firmar convênio com os Estados e o Distrito Federal
ainda que proveniente de tribunal (do relator de apelação, para executar atividades e serviços imprescindíveis à preser-
por exemplo) – não dispensa fundamentação;215 vação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do
d) declarará o valor da fiança arbitrada, quando afian- patrimônio. O art. 3º da referida lei considera atividades e
çável a infração; serviços imprescindíveis à preservação da ordem pública e
e) será dirigido a quem tiver qualidade para dar‑lhe da incolumidade das pessoas e do patrimônio, para os fins
execução.
de convênio:
O mandado de captura poderá ser cumprido por oficial
I – o policiamento ostensivo;
de justiça ou por autoridade policial.216
II – o cumprimento de mandados de prisão;
O art. 297 do CPP determina que
III – o cumprimento de alvarás de soltura;
Para o cumprimento de mandado expedido pela IV – a guarda, a vigilância e a custódia de presos;
autoridade judiciária, a  autoridade policial poderá V – os serviços técnico‑periciais, qualquer que seja
expedir tantos outros quantos necessários às dili- sua modalidade;
gências, devendo neles ser fielmente reproduzido o VI – o registro de ocorrências policiais.
teor do mandado original.
Registro do Mandado de Prisão em Banco de Dados
O mandado será passado em duplicata, e o executor en- mantido pelo CNJ
tregará ao preso, logo depois da prisão, um dos exemplares
com declaração do dia, hora e lugar da diligência. Da entrega O juiz competente providenciará o imediato registro
deverá o preso passar recibo no outro exemplar; se recusar, do mandado de prisão em banco de dados mantido pelo
não souber ou não puder escrever, o fato será mencionado Conselho Nacional de Justiça para essa finalidade (art. 289-A
em declaração, assinada por duas testemunhas217 (art. 286 com a redação da Lei nº 12.403/2011).
do CPP). Isso, com o objetivo de permitir que qualquer agente
Se a infração for inafiançável, a  falta de exibição do policial possa efetuar a prisão determinada no mandado
mandado não obstará à prisão, e o preso, em tal caso, será de prisão registrado no Conselho Nacional de Justiça, ainda
imediatamente apresentado ao juiz que tiver expedido o que fora da competência territorial do juiz que o expediu
mandado218 (art. 287 do CPP). (art. 289-A, § 1º, com a redação da Lei nº 12.403/2011).
A prisão em virtude de mandado entender‑se‑á feita des- Ainda que sem registro no Conselho Nacional de Justiça,
de que o executor, fazendo‑se conhecer do réu, apresente‑lhe qualquer agente policial poderá efetuar a prisão decretada,
o mandado e o intime a acompanhá‑lo (art. 291 do CPP). adotando as precauções necessárias para averiguar a auten-
Se houver, ainda que por parte de terceiros, resistência à ticidade do mandado e comunicando ao juiz que a decretou,
prisão em flagrante ou à determinada por autoridade com- devendo este providenciar, em seguida, o registro do man-
petente, o executor e as pessoas que o auxiliarem poderão dado na forma do caput deste artigo (art. 289-A, § 2º, com
usar dos meios necessários para defender‑se ou para vencer a redação da Lei nº 12.403/2011).
a resistência, do que tudo se lavrará auto subscrito também A prisão será imediatamente comunicada ao juiz do local
Noções de Direito Processual Penal

por duas testemunhas (art. 292 do CPP). de cumprimento da medida o qual providenciará a certidão
Se o executor do mandado verificar, com segurança, que extraída do registro do Conselho Nacional de Justiça e infor-
o réu entrou ou se encontra em alguma casa, o  morador mará ao juízo que a decretou (art. 289-A, § 3º, com a redação
será intimado a entregá‑lo, à vista da ordem de prisão. Se da Lei nº 12.403/2011).
não for obedecido imediatamente, o executor convocará O preso será informado de seus direitos, nos termos do
duas testemunhas e, sendo dia, entrará à força na casa, inciso LXIII do art. 5º da Constituição Federal e, caso o autu-
arrombando as portas, se preciso; sendo noite, o executor, ado não informe o nome de seu advogado, será comunicado
depois da intimação ao morador, se não for atendido, fará à Defensoria Pública (art. 289-A, § 4º, com a redação da Lei
guardar todas as saídas, tornando a casa incomunicável, nº 12.403/2011). Agora a comunicação à Defensoria Pública
não ocorre mais apenas quando da finalização do auto de
213
Assunto cobrado na prova da OAB‑MS/81º Exame de Ordem/2005. prisão em flagrante. Quando do cumprimento do mandado
214
Cespe/TJ‑BA/Oficial de Justiça/2005. de prisão, também deve ser feita a comunicação quando o
215
Assunto cobrado na prova do Cespe/1º Exame da Ordem/2007.
216
Assunto cobrado na prova do Ieses/TJ-MA/Oficial de Justiça/2009. custodiado não tiver advogado.
217
Assunto cobrado na prova do Cespe/TJ‑BA/Oficial de Justiça/2005.
218
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/DPE-RO/Assertiva E/2012 e 219
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/DPE-RO/Assertiva A/2012 e NCE/
DRS‑Acadepol/SSP‑MG/Polícia Civil do Estado de Minas Gerais/Delegado de Delegado da Polícia Civil de 3ª Classe do RJ/2002.
Polícia/2007. 220
Cespe/TJ-SE/Juiz Substituto/2008.

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Havendo dúvidas das autoridades locais sobre a legitimi- tantes nessa cidade goiana. Nessa situação, a prisão é legal,
dade da pessoa do executor ou sobre a identidade do preso, podendo a prisão se dar em outra unidade da Federação.221
poderão custodiar o sujeito passivo do mandado de prisão, Entender‑se‑á que o executor vai em perseguição do réu,
até que fique esclarecida a dúvida (art. 289-A, § 5º, com a quando: a) tendo‑o avistado, for perseguindo‑o sem interrup-
redação da Lei nº 12.403/2011). ção, embora depois o tenha perdido de vista; b) sabendo, por
O Conselho Nacional de Justiça deve regulamentar o re- indícios ou informações fidedignas, que o réu tenha passado,
gistro do mandado de prisão (art. 289-A, § 6º, com a redação há pouco tempo, em tal ou qual direção, pelo lugar em que o
da Lei nº 12.403/2011). procure, for no seu encalço (art. 290, § 1º, do CPP).
Quando as autoridades locais tiverem razões fundamen-
tadas para duvidar da legitimidade da pessoa do executor ou
Prisão fora do território do juiz da legalidade do mandado que apresentar, poderão pôr em
custódia o réu até que fique esclarecida a dúvida (art. 290,
Quando o acusado estiver no território nacional, fora da § 2º, do CPP).
jurisdição do juiz processante, a sua prisão será deprecada,
devendo constar da precatória o inteiro teor do mandado. Espécies de Prisão
Em havendo urgência, o juiz poderá requisitar a prisão por
qualquer meio de comunicação, do qual deverá constar o Têm‑se as seguintes modalidades de prisão:
motivo da prisão, bem como o valor da fiança se arbitrada. a) Prisão‑pena
A autoridade deprecada a quem se fizer a requisição tomará É imposta em virtude do trânsito em julgado de sentença
as precauções necessárias para averiguar a autenticidade da penal condenatória. Configura‑se durante o processo de exe-
comunicação. Por sua vez, o juiz processante deverá provi- cução, com base nas disposições da Lei de Execuções Penais,
denciar a remoção do preso no prazo máximo de 30 (trinta) materializando o caráter repressivo da pena de prisão.
dias, contados da efetivação da medida (art. 289 do CPP com
a redação da Lei nº 12.403/2011). b) Prisão processual (cautelar ou provisória)
O STF entende que a ausência de expedição de precatória A Constituição Federal estipula várias disposições perti-
constitui mera irregularidade. Vejamos: nentes ao processo penal, com eficácia imediata. A natureza
jurídica da necessidade do decreto de uma prisão cautelar,
sob este viés, é o de medida excepcional.222
EMENTA: HABEAS CORPUS. ILEGALIDADE DA PRI-
Modernamente, admite-se que a prisão do réu ocorra
SÃO OCORRIDA EM COMARCA DIVERSA DAQUELA antes do trânsito em julgado da sentença condenatória,
EM QUE SE DETERMINARA A PRISÃO PREVENTIVA, mesmo diante do princípio constitucional penal do “estado
SEM EXPEDIÇÃO DE CARTA PRECATÓRIA E SEM A de inocência”.223
PRESENÇA DE AUTORIDADES LOCAIS. VIOLAÇÃO É compatível com a Constituição Federal de 1988 a
DO ART. 289 DO CÓDIGO PENAL. A não expedição prisão processual224, eis que é sempre determinada por
de precatória acarreta mera irregularidade admi- ordem judicial ou se verifica em face do flagrante de prática
nistrativa, perfeitamente sanável. Situação de fato delitiva. Com efeito, em face da possibilidade da prisão em
inalterada, que não impediria a imediata expedição flagrante, pode‑se afirmar que nem todas as modalidades
de novo decreto prisional, porquanto persistem os de prisão processual dependem de ordem fundamentada
pressupostos e fundamentos da prisão preventiva do juízo competente.225
constantes do art. 312 do Código de Processo Penal. Chama‑se prisão provisória a prisão decretada antes
(STF, HC nº 85.712/GO, Rel. Min. Joaquim Barbosa, ou durante o processo penal, em sua fase judicial, ainda
Segunda Turma, Julgamento: 3/5/2005) que já tenha sido prolatada sentença penal condenatória.
Compreende:
1) a prisão em flagrante226 (arts. 301 a 310 do CPP);
Prisão em perseguição
2) a prisão preventiva227 (arts. 311 a 316 do CPP);
3) a prisão decorrente de pronúncia (art. 413, § 3º, do CPP);
Se o réu, sendo perseguido, passar ao território de outro 4) a prisão decorrente de sentença penal condenatória
município ou comarca, o executor poderá efetuar‑lhe a prisão sem trânsito em julgado (art. 387, parágrafo único, do CPP);
no lugar onde o alcançar, apresentando‑o imediatamente à 5) a prisão temporária228 (Lei nº 7.960/1989).
autoridade local, que providenciará para a remoção do preso A decisão judicial que decreta prisão cautelar deve ser
depois de lavrado, se for o caso, o auto de flagrante (art. 290 sempre fundamentada. Assim, com referência à prisão
do CPP). Segundo o STF, cautelar requerida pelo Ministério Público após o ofere-
cimento de denúncia, o deferimento da medida cautelar
Noções de Direito Processual Penal

não havendo autoridade no local em que se tiver efe- deve ter como fundamento os pressupostos previstos no
tuado a prisão, deverá o preso ser, para a lavratura do Código de Processo Penal, devendo o juiz fundamentar a
auto de flagrante, apresentado à mais próxima”, sen- sua decisão.229
do que “equivale a não haver a autoridade, recusar‑se O art. 300 do CPP determinava que, sempre que possível,
a autoridade local a tomar qualquer providência. (STF, as pessoas presas provisoriamente deveriam ficar separadas
RHC nº 33.825, Rel. Min. Mário Guimarães, Primeira das que já estivessem definitivamente condenadas. Com a
Turma, Julgamento: 19/10/1955) 221
Assunto cobrado na prova da Movens/PC-PA/Delegado/Questão 30/Assertiva D/
2009.
Entretanto, tem‑se que não há nulidade do auto de prisão 222
Assunto cobrado na seguinte prova: FCC/DP‑MA/Defensor Público/2009.
223
Assunto cobrado na prova do Ieses/TJ-MA/Analista Judiciário/Direito/2009.
em flagrante se lavrado em local diverso. 224
Cespe/OAB/3º Exame de Ordem/2007.
Ainda como exemplo, após assaltarem uma loja comer- 225
Assunto cobrado na prova da OAB‑PR/Exame 02/2006.
cial no centro de Sobradinho – DF, Lauro e Tadeu fugiram 226
Assunto cobrado na prova da NCE/Polícia Civil RJ/2002 e OAB‑RJ/24º Exame
de Ordem/2004.
em direção a Formosa – GO. Alguns policiais militares do 227
Assunto cobrado na prova da NCE/Polícia Civil RJ/Papiloscopista Civil/2002 e
DF que passavam próximo ao local do assalto saíram em OAB‑RJ/24º Exame de Ordem/2004.
perseguição aos bandidos e efetuaram a prisão dos assal- 228
Assunto cobrado na prova da OAB‑RJ/24º Exame de Ordem/2004.
229
Assunto cobrado na prova do Cespe/TJ‑RR/Analista Processual/2006.

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edição da Lei nº 12.403/2011, agora a separação é obriga- O mesmo se aplica em relação ao advogado, já que o Es-
tória, eis que a nova redação do dispositivo determina que tatuto da Advocacia, em seu art. 7º, inciso V, estabelece que
o advogado não pode ser recolhido preso antes de sentença
as pessoas presas provisoriamente ficarão separadas transitada em julgado, senão em sala de Estado Maior, com
das que já estiverem definitivamente condenadas, instalações e comodidades condignas (não sendo necessário
nos termos da lei de execução penal. que sejam assim consideradas pela OAB, conforme determi-
na a ADin nº 1.127-8), e, na sua falta, em prisão domiciliar.
c) Prisão especial Segundo o STF, entende-se que referida dependência
Trata‑se de forma de submissão diferenciada da prisão se trata de
provisória, em face da função de determinadas pessoas.
As regras sobre prisão especial só se aplicam antes da con- compartimento de qualquer unidade militar que,
denação definitiva.230 Em geral, a prisão especial somente ainda que potencialmente, possa ser utilizado pelo
poderá ser concedida durante o processo ou inquérito grupo de Oficiais que assessoram o Comandante da
policial, cessando o benefício após o trânsito em julgado.231 organização militar para exercer suas funções, o local
Nos termos do art. 295 do CPP, serão recolhidos a deve oferecer instalações e comodidades condignas
quartéis ou a prisão especial, à  disposição da autoridade (STF, Rcl nº 6.387/SC, Rel. Min. Ellen Gracie, Tribunal
competente, quando sujeitos a prisão antes de condenação Pleno, 21/11/2008).
definitiva:
I – os ministros de Estado232; Ainda segundo referido julgado, a questão referente à
II – os governadores ou interventores de Estados ou existência de grades nas dependências da Sala de Estado-
Territórios, o prefeito do Distrito Federal, seus respectivos -Maior onde o advogado deve ser recolhido, por si só, não
secretários, os prefeitos municipais, os vereadores e os impede o reconhecimento do perfeito atendimento ao
chefes de Polícia; disposto no art. 7º, V, da Lei nº 8.906/1994 (Rcl. 5.192, Rel.
III – os membros do Parlamento Nacional, do Conselho Min. Menezes Direito).237
de Economia Nacional e das Assembleias Legislativas dos Também têm direito à prisão especial:
Estados;
IV – os cidadãos inscritos no “Livro de Mérito”233; a) juízes de paz (art. 112, § 2º, da Lei Complementar
V – os oficiais das Forças Armadas e os militares dos nº 35/1979);
Estados, do Distrito Federal e dos Territórios. Determina, b) Defensores Públicos (art. 44, III, da Lei Comple-
ainda, o parágrafo único do art. 300 do CPP, com a redação mentar nº 80/1994);
dada pela Lei nº 12.403/2011, que c) membros do Ministério Público (art. 18, II, e, da
Lei Complementar nº  75/1993; e art.  40, V, da Lei
o militar preso em flagrante delito, após a lavratura nº 8.625/1993);
dos procedimentos legais, será recolhido a quartel d) Dirigentes e empregados, eleitos, dos sindicatos
da instituição a que pertencer, onde ficará preso à (Lei nº 2.860/1966);
disposição das autoridades competentes; e) Jornalistas profissionais (art. 66, da Lei
nº 5.250/1967), em qualquer caso;
VI – os magistrados; f) Oficiais da Marinha Mercante (Lei nº  799/1949,
VII – os diplomados por qualquer das faculdades supe-
e Lei nº 5.606/1970);
riores da República234;
g) Pilotos de aeronaves mercantes nacionais (Lei
VIII – os ministros de confissão religiosa;
nº 3.988/1961);
IX – os ministros do Tribunal de Contas;
h) Professores de primeiro e segundo graus (Lei
X – os cidadãos que já tiverem exercido efetivamente a
nº 7.172/1983);
função de jurado, salvo quando excluídos da lista por mo-
i) Cidadãos que já tiverem exercido efetivamente a
tivo de incapacidade para o exercício daquela função;235 O
função de jurado do Tribunal do Júri (art. 439 do CPP);
legislador, no art. 439 com a redação da Lei nº 12.403/2011,
Com a edição da Lei nº 12.403/2011, o art. 439 do
retirou a previsão de prisão especial para os jurados, mas
CPP passou não mais assegurar a prisão especial para
não alterou o art. 295, X, do CPP, que continua prevendo a
o jurado, determinando apenas que “o exercício efe-
prisão especial para jurado.
XI – os delegados de polícia e os guardas‑civis dos Estados tivo da função de jurado constituirá serviço público
e Territórios, ativos e inativos. relevante e estabelecerá presunção de idoneidade
moral”. Entretanto, o art. 295, X, continua prevendo
Noções de Direito Processual Penal

Nos termos do art. 296 do CPP, os inferiores e praças, onde a prisão especial para jurado, conforme já destacado;
for possível, serão recolhidos à prisão, em estabelecimentos j) membro do Conselho Tutelar da Criança e do Ado-
militares, de acordo com os respectivos regulamentos. lescente (art. 135, da Lei nº 8.069/1990);
Há, ainda, diversas outras leis que preveem prisão espe- k) vogais e suplentes, juízes e Ministros classistas da
cial. Com efeito, tem direito à prisão especial o dirigente de Justiça do Trabalho (art. 665, da CLT);
entidade sindical.236 l) funcionário da administração da justiça criminal
(arts. 84, § 2º, e 106, § 3º, da Lei de Execução Penal –
230
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑PR/Exame 02/2006; Cespe/TJ‑SE/ Lei nº 7.210/1984);
Juiz Substituto/2008 e 13º Concurso Público para Procurador da República. m) colaborador, nas hipóteses dos §§1º e 3º, da Lei
231
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/TJ‑SE/Juiz Substituto/2008; 13º
Concurso Público para Procurador da República e OAB‑PR/Exame 02/2006. nº 9.807/1999, que trata da proteção de acusados
232
Assunto cobrado nas seguintes provas: TJ‑RN/Oficial de Justiça/2002 e TJ‑PR/ ou condenados que tenham voluntariamente pres-
Juiz Substituto/2006. tado efetiva colaboração à investigação policial e ao
233
Assunto cobrado nas seguintes provas: TJ‑RN/Oficial de Justiça/2002 e TJ‑PR/
Juiz Substituto/2006. processo criminal.
234
Assunto cobrado nas seguintes provas: TJ‑RN/Oficial de Justiça/2002 e TJ‑PR/
Juiz Substituto/2006.
235
Assunto cobrado na seguinte prova: FGV/SSP‑RJ/Oficial de Cartório/2009. Assunto cobrado na prova do Cespe/PC-RN/Delegado de Polícia Civil Substitu-
237
236
Assunto cobrado na prova da OAB‑GO/1º Exame de Ordem/2003. to/2009.

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
A prisão especial consiste exclusivamente no recolhimen- votos dos respectivos membros, conforme exigência do § 3º
to em local distinto da prisão comum para os presos provisó- do art. 5º da CF/1988, o STF tem ressaltado que o referido
rios (art. 295, § 1º, do CPP), que, nos termos do art. 102 da tratado tem hierarquia intermediária de norma supralegal
Lei de Execuções Penais, são segregados nas cadeias públicas que autoriza afastar regra ordinária brasileira que possibilite
(ou centros de detenção provisória). a prisão civil por dívida, no caso, os arts. 652 do Código
Não havendo estabelecimento específico para o preso es- Civil e 904, parágrafo único, do Código de Processo Civil,
pecial, este será recolhido em cela distinta da cadeia pública mesmo que a Constituição Federal, em seu art. 5º, LXVII,
(art. 295, § 2º, do CPP). De acordo com a orientação do STJ, de eficácia restringível, permita a prisão do depositário
o direito do advogado, ou de qualquer outro preso especial, infiel, e sejam as disposições do Código Civil posteriores
deve circunscrever‑se à garantia de recolhimento em local às do referido Pacto:
distinto da prisão comum. Não havendo estabelecimento
específico, poderá o preso ser recolhido à cela distinta da EMENTA: HABEAS CORPUS. SALVO‑CONDUTO. PRI-
prisão comum, observadas as condições mínimas de salu- SÃO CIVIL. DEPOSITÁRIO JUDICIAL. DÍVIDA DE CA-
bridade e dignidade da pessoa humana.238 RÁTER NÃO ALIMENTAR. IMPOSSIBILIDADE. ORDEM
Dessa forma, o  que não é permitido é que o preso CONCEDIDA. 1. O  Plenário do Supremo Tribunal
especial fique em mesma cela que o preso comum. A cela Federal firmou a orientação de que só é possível a
especial poderá consistir em alojamento coletivo (desde prisão civil do “responsável pelo inadimplemento
que todos os que ali se encontrem sejam presos especiais), voluntário e inescusável de obrigação alimentícia”
atendidos os requisitos de salubridade do ambiente, pela (inciso LXVII do art.  5º da CF/1988). Precedentes:
concorrência dos fatores de aeração, insolação e condicio- HCs nos 87.585 e 92.566, da relatoria do Min. Marco
namento térmico adequados à existência humana (art. 292, Aurélio. 2. A  norma que se extrai do inciso LXVII
§ 3º, do CPP). Na hipótese de acomodações adequadas ao do art. 5º da Constituição Federal é de eficácia res-
preso especial, o titular do benefício poderá ser segregado tringível. Pelo que as duas exceções nela contidas
em estabelecimentos militares. podem ser aportadas por lei, quebrantando, assim,
Há possibilidade de prisão especial mesmo após o trânsi- a força protetora da proibição, como regra geral,
to em julgado. Com efeito, o art. 84, § 2º, da Lei de Execuções da prisão civil por dívida. 3. O Pacto de São José da
Penais, estabelece que o preso que, ao tempo do fato, era Costa Rica (ratificado pelo Brasil – Decreto nº 678,
funcionário da Administração da Justiça Criminal ficará em de 6 de novembro de 1992), para valer como norma
dependência separada, não se referindo ao fato de o preso jurídica interna do Brasil, há de ter como fundamento
ser apenas provisório. O mesmo se diga em relação a Defen- de validade o § 2º do art. 5º da Magna Carta. A se
sores Públicos e membros do Ministério Público. contrapor, então, a qualquer norma ordinária origi-
O art. 292, § 4º, do CPP, estabelece, ainda, que o preso nariamente brasileira que preveja a prisão civil por
especial não será transportado juntamente com o preso dívida. Noutros termos: o Pacto de São José da Costa
comum, sendo os demais direitos e deveres do preso espe- Rica, passando a ter como fundamento de validade
cial os mesmos do preso comum239 (art. 292, § 5º, do CPP). o § 2º do art. 5º da CF/1988, prevalece como nor-
A Súmula nº 717 do STF destaca que ma supralegal em nossa ordem jurídica interna e,
assim, proíbe a prisão civil por dívida. Não é norma
não impede a progressão de regime de execução da constitucional – à falta do rito exigido pelo § 3º do
pena, fixada em sentença não transitada em julgado, art. 5º –, mas a sua hierarquia intermediária de norma
o fato de o réu se encontrar em prisão especial. supralegal autoriza afastar regra ordinária brasileira
que possibilite a prisão civil por dívida. 4. No caso,
d) Prisão civil o paciente corre o risco de ver contra si expedido
O art. 5º, LXVII, da CF/1988, estabelece que não haverá mandado prisional por se encontrar na situação de
prisão civil por dívida, salvo a do responsável pelo inadim- infiel depositário judicial. 5. Ordem concedida. (STF,
plemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia HC  nº  94.013/SP, Rel. Min. Carlos Britto, Primeira
e a do depositário infiel. Turma, Julgamento: 10/2/2009)
Quanto à prisão do depositário infiel, não é mais ad-
mitida.240
e) Prisão administrativa
Com efeito, nos termos do art.  5º, §  2º, da CF/1988,
Prisão administrativa é a decretada por autoridade admi-
os direitos e garantias expressos na Constituição não excluem
nistrativa. Essa modalidade de prisão não foi recepcionada
outros decorrentes do regime e dos princípios por ela ado-
pela Constituição de 1988. Era prevista na antiga redação do
Noções de Direito Processual Penal

tados, ou dos tratados internacionais em que a República


art. 319 do CPP, que falava sobre a prisão administrativa de
Federativa do Brasil seja parte.
quem não pagasse tributo ou de estrangeiro desertor. Referi-
Por sua vez, o Pacto de São José da Costa Rica (ratificado
da modalidade de prisão foi retirada de nosso ordenamento
pelo Brasil – Decreto nº 678, de 6 de novembro de 1992), em
jurídico com a edição da Lei nº 12.403/2011. Era prevista:
seu art. 7º, item 7, estabelece que ninguém deve ser detido
1) no art. 319 do CPP241, que falava sobre a prisão admi-
por dívidas, salvo nas hipóteses de mandados de autoridade
nistrativa de quem não pagasse tributo ou de estrangeiro
judiciária competente expedidos em virtude de inadimple-
desertor;
mento de obrigação alimentar. Assim, a única exceção seria
2) no art. 35 da antiga Lei de Falências, quando o falido
a possibilidade de prisão civil do responsável pelo inadim-
plemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia. não cumpria suas obrigações;
Embora o referido Pacto não tenha caráter de emenda 3) nos arts. 81 e 84, caput, da Lei nº 6.815/1980, que
constitucional, eis que não foi aprovado, em cada Casa do previa a possibilidade de o Ministro da Justiça decretar prisão
Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos para fins de expulsão ou extradição de estrangeiro.

238
Assunto cobrado na prova do Cespe/TRF 5ª Região/Juiz Federal Substituto/2005. Assunto cobrado nas seguintes provas: TRF 1ª Região/X Concurso/Juiz Federal
241
239
Assunto cobrado na prova da FGV/SSP‑RJ/Oficial de Cartório/2009. Substituto; NCE/Delegado da Polícia Civil do DF/2004 e OAB‑DF/3º Exame de
240
Assunto cobrado: Cespe/DPE-ES/Defensor Público/Questão 46/2009. Ordem/2003.

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No procedimento administrativo de extradição, Capez o indiciado ou acusado permanecer distante desses locais
(2009, p. 255) destaca a existência de julgado do STF per- para evitar o risco de novas infrações;
mitindo a prisão administrativa, desde que decretada por III – proibição de manter contato com pessoa determi-
juiz, posicionamento com o qual não concorda e por nós é nada quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva
tangenciado, tendo em vista as disposições constitucionais. o indiciado ou acusado dela permanecer distante;
Referidos artigos não foram recepcionados pelo art. 5º, IV – proibição de ausentar-se da Comarca quando a per-
LXI e LXVII, da CF/1988, que exige decisão judicial para a manência seja conveniente ou necessária para a investigação
decretação da prisão. ou instrução;
V – recolhimento domiciliar no período noturno e nos
f) Prisão disciplinar dias de folga quando o investigado ou acusado tenha resi-
O art. 5º, LXI, da CF/1988, permite a prisão disciplinar de dência e trabalho fixos;
militar para o caso de transgressão militar. E mais, o art. 142, VI  – suspensão do exercício de função pública ou de
§ 2º, da CF/1988, estabelece não caber habeas corpus em atividade de natureza econômica ou financeira quando
relação a punições disciplinares militares. houver justo receio de sua utilização para a prática de in-
A jurisprudência tem abrandado o rigor de tal proibição frações penais;
permitindo o questionamento por habeas corpus. Nesse VII – internação provisória do acusado nas hipóteses de
sentido, o STF destaca que
crimes praticados com violência ou grave ameaça, quando
os peritos concluírem ser inimputável ou semi-imputável
a legalidade da imposição de punição constritiva da li-
(art. 26 do Código Penal) e houver risco de reiteração;
berdade, em procedimento administrativo castrense,
pode ser discutida por meio de ha­beas corpus. (STF, VIII – fiança, nas infrações que a admitem, para assegurar
RHC nº 88.543/SP, Rel.Min. Ricardo Lewandowski, Ór- o comparecimento a atos do processo, evitar a obstrução
gão Julgador: Primeira Turma, Julgamento: 3/4/2007) do seu andamento ou em caso de resistência injustificada
à ordem judicial;
Se a punição disciplinar militar atender aos pressupostos IX – monitoração eletrônica.
de legalidade, quais sejam, a hierarquia, o poder disciplinar,
o ato ligado à função e a pena susceptível de ser aplicada Prisão em Flagrante
disciplinarmente, é incabível a impetração de habeas corpus,
eis que não se pode questionar, com base em referida ação Conceito
autônoma de impugnação, questões referentes ao mérito da
punição disciplinar. (STF, RE nº 338.840/RS, Rel. Min. Ellen A Prisão em Flagrante é um ato administrativo do Es‑
Gracie, Segunda Turma, Julgamento: 19/8/2003) tado, como deixa entrever o Código de Processo Penal; é
uma medida cautelar de natureza processual que dispensa
g) Prisão para averiguação ordem escrita e é prevista expressamente na Constituição
É incompatível com a Constituição Federal de 1988 a Federal.244
prisão para averiguação.242 Além de inconstitucional, o au-
tor de prisão para averiguação comete o crime de abuso de Natureza jurídica
autoridade previsto no art. 3º, a e i da Lei nº 4.898/1965.243
A equipe policial, para constatar se há algum mandado Trata‑se de modalidade de prisão que dispensa ordem
contra o agente, deve se valer de seus meios de comunica- judicial, sendo prevista na própria Constituição Federal245,
ção. Só poderá efetivar a prisão se restar configurada alguma tendo cabimento quando o agente:
das modalidades de flagrante ou se houver ordem judicial 1) está cometendo a infração penal;
contra o sujeito. 2) acaba de cometê‑la;
Entretanto, poderá haver prisão em flagrante se o sujeito 3) é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo ofendi-
recusar a fornecer à autoridade quando esta, justificadamen- do ou por qualquer pessoa, em situação que faça presumir
te, solicitar ou exigir dados ou indicações concernentes à ser autor da infração; ou
própria identidade, estado, profissão, domicílio e residência, 4) é encontrado, logo depois, com instrumentos, armas,
pois o sujeito incidirá, assim, na contravenção prevista no
objetos ou papéis que façam presumir ser ele autor da in-
art. 68 do Decreto‑Lei nº 3.688/1941. Isso mesmo se for
fração (art. 302 do CPP).
uma infração em que o agente se livre solto, por não ser
É possível a prisão em flagrante não só de quem esteja
punida com pena privativa de liberdade. Já se o sujeito fizer
declarações inverídicas a respeito de sua identidade pessoal, cometendo crime, mas também a de quem esteja cometendo
Noções de Direito Processual Penal

estado, profissão, domicílio e residência, também responde contravenção.


pela referida contravenção, que, no caso, prevê pena priva- É cabível a prisão em flagrante em crime de ação penal
tiva de liberdade. privada.246 Entretanto, nos crimes de ação penal privada
a lavratura do auto de prisão em flagrante depende de
Medidas Cautelares Diversas da Prisão requerimento do ofendido.247 Deve-se, portanto, diferen-
ciar a prisão em flagrante da lavratura do auto de prisão
O art. 319 com a redação da Lei nº 12.403/2011 trouxe em flagrante.
as seguintes medidas cautelares diversas da prisão: Em crime de ação penal pública condicionada à re-
I  – comparecimento periódico em juízo, no prazo e presentação, o delegado de polícia também não poderá
nas condições fixadas pelo juiz, para informar e justificar
atividades;
244
Delegado de Polícia Substituto de Santa Catarina/2001.
245
Assunto cobrado na seguinte prova: FGV/TJ‑SE/Analista Judiciário/2004.
II – proibição de acesso ou frequência a determinados 246
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/Delegado da Polícia Fe­deral/2002;
lugares quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva OAB‑DF/2º Exame de Ordem/2004; Cespe/TJ‑RR/Oficial de Justiça/2001;
OAB‑DF/2º Exame de Ordem/2004; Cespe/TJ‑RR/Oficial de Justiça/2001;
Cespe/Delegado da Polícia Federal/2002; OAB‑DF/2º Exame de Ordem/2004
Assunto cobrado na prova do Cespe/3º Exame de Ordem/2007.
242
e OAB‑DF/2º Exame de Ordem/2004.
Assunto cobrado na prova do Cespe/TRE-MA/Analista Judiciário/2009.
243 247
OAB‑DF/3º Exame de Ordem/2003.

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prender o autor do crime em flagrante sem a referida imediata transferência de Semprônio para hospital de
representação.248 custódia e tratamento.252
O estado de flagrante delito é uma das exceções cons- 2) A pessoa do agente diplomático não poderá ser
titucionais à inviolabilidade do domicílio, nos termos da objeto de nenhuma forma de detenção ou prisão (Decreto
Constituição Federal.249 nº 56.435/1965, que promulgou a Convenção de Viena sobre
Relações Diplomáticas).
Momento Os funcionários consulares não poderão ser detidos ou
presos preventivamente, exceto em caso de crime grave e
A prisão pode ser efetuada em qualquer dia e a qualquer em decorrência de decisão de autoridade judiciária compe-
hora, respeitadas as restrições relativas à inviolabilidade do tente (Decreto nº 61.078/1967, que promulgou a Convenção
domicílio. de Viena sobre Relações Consulares). Entretanto, pode ser
sujeito passivo do flagrante o diplomata253 nacional.
Sujeito ativo 3) O presidente da República, nos termos do art. 86, § 3º,
da CF/1988, que estabelece que, enquanto não sobrevier
Qualquer do povo poderá e as autoridades policiais e sentença condenatória, nas infrações comuns, o Presidente
seus agentes deverão prender quem quer que seja encon- da República não estará sujeito a prisão.
trado em flagrante delito250 (art. 301 do CPP). Tal proteção poderá não alcançar os governadores,
Com relação à possibilidade de qualquer do povo efetuar ainda que haja previsão nas constituições estaduais.254
prisão em flagrante, tem‑se hipótese de flagrante facultati- Nesse sentido, citemos a seguinte emenda do STF:
vo, sendo que até mesmo a vítima do crime pode prender
aquele que for encontrado em flagrante delito, não havendo, AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE – CONS-
entretanto, qualquer obrigatoriedade, mas sim possibilidade TITUIÇÃO DO ESTADO DE MATO GROSSO – OUTORGA
de que se efetue a prisão. DE PRERROGATIVA DE CARÁTER PROCESSUAL PENAL
Já as autoridades policiais e seus agentes têm o dever AO GOVERNADOR DO ESTADO – IMUNIDADE A PRI-
legal de efetivar a prisão, sendo hipótese de flagrante obri- SÃO CAUTELAR – INADMISSIBILIDADE – USURPAÇÃO
gatório ou compulsório.251 DE COMPETÊNCIA LEGISLATIVA DA UNIÃO – PRER-
ROGATIVA INERENTE AO PRESIDENTE DA REPÚBLICA
Sujeito passivo ENQUANTO CHEFE DE ESTADO (CF/1988, art. 86,
§ 3º) – AÇÃO DIRETA PROCEDENTE. IMUNIDADE
É o indivíduo que se encontra em situação flagrancial, A PRISÃO CAUTELAR – PRERROGATIVA DO PRESI-
sendo que qualquer pessoa pode ser sujeito passivo de DENTE DA REPÚBLICA – IMPOSSIBILIDADE DE SUA
prisão em flagrante. EXTENSÃO, MEDIANTE NORMA DA CONSTITUIÇÃO
Entretanto, não são sujeitos passivos de flagrante: ESTADUAL, AO GOVERNADOR DO ESTADO. O ESTADO-
1) Menores de 18 anos, nos termos do art. 228 da -MEMBRO, AINDA QUE EM NORMA CONSTANTE
CF/1988 e do art.  27 do Código Penal, que consideram o DE SUA PRÓPRIA CONSTITUIÇÃO, NÃO DISPÕE DE
menor inimputável. Com efeito, nos termos do art. 172 do COMPETÊNCIA PARA OUTORGAR AO GOVERNADOR
Estatuto da Criança e do Adolescente, o adolescente apre-
A PRERROGATIVA EXTRAORDINÁRIA DA IMUNIDADE
endido em flagrante de ato infracional será, desde logo, en-
À PRISÃO EM FLAGRANTE, A PRISÃO PREVENTIVA E A
caminhado à autoridade policial competente. Não há prisão
PRISÃO TEMPORÁRIA, POIS A DISCIPLINAÇÃO DESSAS
em flagrante e nem lavratura de auto de prisão em flagrante.
MODALIDADES DE PRISÃO CAUTELAR SUBMETE-SE,
Obs.: Se a inimputabilidade for por doença mental,
COM EXCLUSIVIDADE, AO PODER NORMATIVO DA
não há óbice à prisão. Nesse sentido, vejamos o seguinte
UNIÃO FEDERAL, POR EFEITO DE EXPRESSA RESERVA
exemplo: em um sábado à noite, Lúcia, enfermeira do hos-
CONSTITUCIONAL DE COMPETÊNCIA DEFINIDA PELA
pital psiquiátrico Dr. PINEL, solicita a presença de policiais
militares, alegando que Semprônio, paciente portador de CARTA DA REPÚBLICA. A NORMA CONSTANTE DA
grave distúrbio mental que o impede inteiramente de en- CONSTITUIÇÃO ESTADUAL – QUE IMPEDE A PRISÃO
tender o caráter ilícito de seu próprio comportamento, está DO GOVERNADOR DE ESTADO ANTES DE SUA CON-
agredindo dolosamente o zelador Nilo. De fato, os policiais DENAÇÃO PENAL DEFINITIVA – NÃO SE REVESTE
militares chegam ao hospital e flagram Semprônio ofendendo DE VALIDADE JURÍDICA E, CONSEQUENTEMENTE,
a integridade corporal de Nilo. Diante da intervenção dos mi- NÃO PODE SUBSISTIR EM FACE DE SUA EVIDENTE
licianos, Semprônio é detido e levado, juntamente com Nilo e INCOMPATIBILIDADE COM O TEXTO DA CONSTI-
Lúcia, à presença da autoridade policial. Nilo imediatamente TUIÇÃO FEDERAL. PRERROGATIVAS INERENTES AO
Noções de Direito Processual Penal

representa pelo processo criminal em face do agressor e é PRESIDENTE DA REPÚBLICA ENQUANTO CHEFE DE
encaminhado a exame de corpo de delito, constatando os ESTADO. – OS ESTADOS-MEMBROS NÃO PODEM
peritos que foram leves as lesões suportadas pela vítima. REPRODUZIR EM SUAS PRÓPRIAS CONSTITUIÇÕES O
Encontrando‑se suficientemente demonstradas as informa- CONTEÚDO NORMATIVO DOS PRECEITOS INSCRITOS
ções anteriores, a autoridade policial deverá lavrar auto de NO ART. 86, §§ 3º E 4º, DA CARTA FEDERAL, POIS AS
prisão em flagrante e, diante da notícia de que o autor do PRERROGATIVAS CONTEMPLADAS NESSES PRECEITOS
fato é doente mental, representar à autoridade judiciária DA LEI FUNDAMENTAL – POR SEREM UNICAMENTE
pela instauração de incidente de insanidade mental e pela COMPATÍVEIS COM A CONDIÇÃO INSTITUCIONAL
DE CHEFE DE ESTADO – SÃO APENAS EXTENSÍVEIS
248
Assunto cobrado na prova do Cespe/Delegado da Polícia Federal/2002.
AO PRESIDENTE DA REPÚBLICA. PRECEDENTE:
249
Cespe/2º Exame da Ordem/2006.
250
Assunto cobrado na prova da Vunesp/TJ-SP /Juiz/Questão 48/Item III/2011. 252
Assunto cobrado nas seguintes provas: NCE/Faepol/Delegado da Polícia Civil
251
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑DF/1º Exame de Ordem/2005; do Rio de Janeiro/2001 e Defensoria Pública do Estado do Ceará/Defensor
OAB‑PR/Exame 01/2006; OAB‑RS/1º Exame/2007; FGV/TJ‑SE/Analista Judici- Público/2002.
ário/2004; OAB‑DF/1º Exame de Ordem/2004; TJ‑SC/Oficial de Justiça/2003; 253
Assunto cobrado na prova da DRS‑Acadepol/Polícia Civil do Estado de Minas
Cespe/Defensoria Pública da União/Defensor Público da União de 2ª Catego- Gerais/SSP/MG/Delegado de Polícia/2007.
ria/2001 e Unama/Defensoria Pública do Estado do Pará/Defensor Público de 254
Assunto cobrado na prova do Cespe/PC-RN/Delegado de Polícia Civil Substitu-
1ª Entrância do Estado do Pará/2006. to/2009.

140 Este eBook foi adquirido por ANA PAULA TORQUATO DA COSTA - CPF: 628.848.913-15.
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ADIN Nº 978-PB, REL. P/ O ACÓRDÃO MIN. CELSO DE flagrante, por motivo ligado ao exercício da advocacia, para
MELLO (STF, ADI nº 1.010/MT, Rel. Min. Ilmar Galvão, lavratura do auto respectivo, sob pena de nulidade e, nos
Tribunal Pleno, DJ 17/11/1995). demais casos, a comunicação expressa à seccional da OAB.
8) A autoridade policial que tomar conhecimento da ocor-
4) Desde a expedição do diploma, os membros do Congres- rência de infração de menor potencial ofensivo lavrará termo
so Nacional não poderão ser presos, salvo em flagrante de cri- circunstanciado e o encaminhará imediatamente ao juizado,
me inafiançável. Nesse caso, os autos serão remetidos dentro com o autor do fato e a vítima, providenciando‑se as requisi-
de vinte e quatro horas à Casa respectiva, para que, pelo voto ções dos exames periciais necessários. Ao autor do fato que,
da maioria de seus membros, resolva sobre a prisão (art. 53, após a lavratura do termo, for imediatamente encaminhado
§ 2º, da CF/1988). Trata‑se da imunidade formal (processual ao juizado ou assumir o compromisso de a ele comparecer,
ou relativa). Nos termos do art. 27, § 1º, da CF/1988, os de- não se imporá prisão em flagrante256, nem se exigirá fiança
putados estaduais também possuem imunidade relativa. Já (art. 69, parágrafo único, da Lei nº 9.099/1995). Assim, há
os vereadores não têm imunidade processual. Os senadores, possibilidade de se lavrar auto de prisão em flagrante no caso
os deputados federais e estaduais e os vereadores (no exercício de infrações de menor potencial ofensivo, bastando o autor se
do mandato e na circunscrição do Município) também gozam recusar a assinar o compromisso de comparecer ao juizado.
de imunidade material, nos termos dos arts. 53, caput, e 29, Entretanto, após a lavratura do auto de prisão em flagrante,
VIII, da CF/1988, sendo invioláveis, civil e penalmente, por muitas vezes será colocado em liberdade se restar configu-
quaisquer de suas opiniões, palavras e votos. Não cometem, rada, por exemplo, hipótese em que o agente se livre solto,
portanto, os crimes contra a honra (arts. 138 a 140 do CP) e pelo fato de a figura penal não prever pena de prisão, como
apologia ao crime (art. 287 do CP). ocorre com a conduta prevista no art. 28 da Lei de Drogas (Lei
Assim, se um deputado federal foi surpreendido e detido nº 11.343/2006), embora haja na doutrina entendimento de
por agentes de polícia, em um restaurante, no momento que não é cabível sequer a prisão em flagrante (CAPEZ, 2009,
em que efetuou seis disparos de revólver contra um desa‑ p. 269). Nesse sentido, observa‑se que o crime de constran‑
feto, ceifando‑lhe a vida. A autoridade policial autuou o gimento ilegal, cuja pena é de detenção de três meses a um
parlamentar em flagrante delito, remetendo os autos, em ano ou multa, é da alçada do juizado especial criminal. Nessa
dezesseis horas, à Câmara dos Deputados. Nessa situação, situação, o delegado de polícia não deve lavrar o auto de
a Câmara dos Deputados, pelo voto secreto da maioria de prisão em flagrante, mas termo circunstanciado, desde que
seus membros, resolverá sobre a prisão e autorizará, ou o autor da infração seja imediatamente encaminhado para
não, a formação de culpa.255 o juizado ou assuma o compromisso de fazê‑lo.257
Por outro lado, o STF entende que o art. 53 da Consti- Seguindo a mesma linha de raciocínio, na manhã de
tuição da República dispõe que os Senadores, Depu­tados segunda‑feira, dia normal de trabalho, agentes peniten-
Federais e Estaduais são isentos de enquadramento penal por ciários de serviço na Penitenciária de Bangu prendem em
suas opiniões, palavras e votos, ou seja, têm imunidade ma- flagrante João, que estava agredindo José. Tanto João como
terial no exercício da função parlamentar, ou seja, as palavras José cumprem pena na referida instituição, condenados que
devem estar absolutamente ligadas ao exercício do mandato. foram, definitivamente, a oito anos de reclusão por tráfico
(STF, Inq. nº 2.297/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, Tribunal Pleno, de drogas. Levados à presença do Diretor da unidade, este
Julgamento: 20/9/2007) determinou a condução do agressor, da vítima e das teste-
O mesmo ocorre em relação aos vereadores, sendo que munhas para a delegacia de polícia da área, uma vez que José
manifestou a vontade de representar pelo processo em face
o Supremo Tribunal Federal fixou entendimento de de João. Na delegacia de polícia, José ratifica a representação
que a imunidade material concedida aos vereadores e é levado a exame de corpo de delito, constatando os peri-
sobre suas opiniões, palavras e votos não é absoluta, tos que se trata de lesão corporal de natureza leve. Diante
e  é limitada ao exercício do mandato parlamentar disso, a autoridade policial lavrará termo circunstanciado e
sendo respeitada a pertinência com o cargo e o inte- providenciará o imediato encaminhamento do autor do fato
resse municipal. (STF, RE‑AgR nº 583.559/RS, Rel. Min. ao Juizado Especial Criminal competente.258
Eros Grau, Segunda Turma, Julgamento: 10/6/2008) 9) A apresentação espontânea do acusado à autorida-
de impedirá sua prisão em flagrante, por não configurar a
5) São prerrogativas do magistrado não ser preso senão apresentação espontânea hipótese prevista no art. 302 do
por ordem escrita do Tribunal ou do órgão especial compe- CPP. Entretanto, o CPP não veda expressamente a prisão em
tente para o julgamento, salvo em flagrante de crime inafian- flagrante do agente que se apresente à autoridade policial,
çável (neste caso, a autoridade fará imediata comunicação ainda que logo após a prática de crime.259 Não tem cabi-
e apresentação do magistrado ao Presidente do Tribunal mento a prisão em flagrante do agente que, horas depois
Noções de Direito Processual Penal

a que esteja vinculado). (art.  33, II, da Lei Complementar do delito, entrega‑se espontaneamente à polícia, que não
nº 35/1979 – Lei Orgânica da Magistratura Nacional) o perseguia, e confessa o crime diante da autoridade poli-
6) Constituem prerrogativas dos membros do Ministé- cial.260 Assim, Jorge imediatamente após matar a esposa e o
rio Público ser preso somente por ordem judicial escrita, amante desta, flagrados em adultério, Jorge, arrependido,
salvo em flagrante de crime inafiançável (neste caso, a au- procurou autoridade policial e confessou a autoria do crime,
toridade fará, no prazo máximo de vinte e quatro horas, até então desconhecido pela polícia. Nessa situação, Jorge
a comunicação) e a apresentação do membro do Ministério poderá ser preso, mas não em flagrante.261
Público ao Procurador‑Geral de Justiça (art.  40, III, da Lei
nº 8.625/1993 – Lei Orgânica Nacional do Ministério Público). 256
Assunto cobrado na seguinte prova: OAB‑MG/1º Exame de Ordem/2005.
7) O advogado somente poderá ser preso em flagrante, 257
Cespe/Defensoria Pública do Estado de Sergipe/Defensor Público de 2ª Cate-
por motivo de exercício da profissão, em caso de crime ina- goria/2005.
258
Assunto cobrado na prova da NCE/Faepol/Delegado da Polícia Civil do Rio de
fiançável (art. 7º, § 3º, da Lei nº 8.906/1994). O art. 7º, IV, da Janeiro/2001.
Lei nº 8.906/1994 estabelece ainda que o advogado tem di- 259
Assunto cobrado na prova do Cespe/ TRF 2ª Região/Juiz Substituto/2009/
reito à presença de representante da OAB, quando preso em Questão 19/Assertiva C.
260
Assunto cobrado na prova de Delegado de Polícia Substituto de Santa Ca­
tarina/2001.
Cespe/Delegado da Polícia Federal/2002.
255 261
Cespe/TJ‑MT/Juiz Substituto/2004.

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Nada obstará, entretanto, seja decretada prisão pre- chegar ao local, levantar as primeiras evidências e sair no
ventiva nos casos em que a lei a autoriza. Havia disposição encalço do suspeito, dando início à perseguição.
expressa nesse sentido na antiga redação do art. 317 do Uma vez iniciada a perseguição, não há prazo para o seu
CPP, que foi suprimido pela Lei nº 12.403/2011. Entretanto, término, desde que seja ininterrupta. Assim, não é nula a
entendemos que ainda é cabível a prisão preventiva se pre- prisão em flagrante realizada 24 horas após o crime.270
sentes as hipóteses dos arts. 312 e 313 do CPP, com a redação Diligências policiais montadas com o objetivo de prender
dada pela Lei nº 12.403/2011. Caso alguém, após matar sua o agente configuram “perseguição”.
companheira, apresente-se, voluntariamente, à autoridade A perseguição exigida no flagrante impróprio pode
policial, comunicando o ocorrido e indicando o local do cri- ser caracterizada pelo patrulhamento e guarda visando
me, essa apresentação voluntária tornará inviável a prisão à prisão do autor do delito, uma vez que a legislação não
em flagrante mas não a preventiva, caso, por exemplo, esse explicita as diligências que a caracteriza.271
indivíduo dê argumentos de que fugirá do país.262
10) Ao condutor de veículo, nos casos de acidentes de Flagrante presumido (ficto ou assinalado)
trânsito de que resulte vítima, não se imporá a prisão em Nos termos do art. 302, IV, do CPP, considera‑se flagrante
flagrante263, nem se exigirá fiança, se prestar pronto e integral presumido quando o agente é encontrado, logo depois do
socorro àquela (art. 301 da Lei nº 9.503/1997). crime, com instrumentos, armas, objetos ou papéis que
façam presumir seja ele o autor da infração.272
Espécies de flagrante A título de exemplo: José, mediante grave ameaça,
subtraiu de João uma carteira, contendo dinheiro, cartões
Segundo a lei processual penal, são consideradas de crédito e diversos papéis, tendo, em seguida, fugido do
espécies de prisão em flagrante: próprio, impróprio e local. João avisou a polícia, que, logo depois, encontrou
presumido.264 José de posse de um recibo de depósito bancário realizado
na conta de João, que estava dentro da carteira subtraída.
Flagrante próprio (real, propriamente dito ou verda- Ao ser abordado, José não resistiu e se entregou, confes‑
deiro) sando a autoria do crime de roubo. Nesse caso, José pode
São duas as possibilidades, nos termos do art. 301, I e ser preso em flagrante, porque foi encontrado, logo depois
II, do CPP. O flagrante próprio ocorre quando o agente está do crime, de posse de papel que faz presumir ter sido ele o
cometendo a infração penal ou acaba de cometê‑la.265 autor da infração.273
Na primeira hipótese, o agente é encontrado praticando O que caracteriza a referida modalidade de flagrante é o
os atos executórios do delito. agente ter sido “encontrado”, seja por uma viatura policial
Já na segunda hipótese, os  atos executórios já foram em ronda de rotina ou mesmo por uma blitz montada alea-
realizados, sendo o agente preso imediatamente após o toriamente sem visar prender o agente.
cometimento da infração no local dos fatos. A  título de A expressão “logo depois” permite a prisão após lapso
exemplo, um policial rodoviário federal, durante um patru‑ temporal maior do que o necessário no flagrante impró-
lhamento ostensivo, foi alvejado com um tiro de revólver prio. Entretanto, não se pode ter um lapso temporal muito
desfechado pelo condutor‑infrator de um veículo, sofrendo dilatado, sob pena de se descaracterizar o flagrante. Nesse
lesões corporais de natureza gravíssima, que ocasionaram sentido, em uma ronda de rotina, policiais militares avis-
deformidade permanente. Neste caso, estará configurado o taram Euclides, primário, mas com maus antecedentes,
denominado flagrante próprio, na hipótese de o condutor portando várias jóias e relógios. Consultando o sistema
do veículo ter sido preso ao acabar de desfechar o tiro de de comunicação da viatura policial, via rádio, os policiais
revólver no policial rodoviário federal.266 foram informados de que havia uma ocorrência policial de
furto no interior de uma residência na semana anterior, no
Flagrante impróprio (irreal ou quase‑flagrante) qual foram subtraídos vários relógios e joias, que, pelas ca-
Denomina‑se flagrante impróprio a prisão daquele racterísticas, indicavam serem os mesmos encontrados em
que é perseguido, logo após cometer o delito, em situação poder de Euclides. Com relação a essa situação hipotética,
que faça presumir ser o mesmo o autor da infração267, nos Euclides não deverá ser preso, pois não há que se falar em
termos do art. 302, III, do CPP. flagrante no caso mencionado.274
No flagrante irreal, o  agente é perseguido logo após Ainda como exemplo, Motorista, cujo carro fora roubado
cometer o ilícito, em situação que faça presumir ser ele o em rodovia federal, dirige-se imediatamente ao Posto da
autor da infração.268 Polícia Rodoviária Federal mais próximo e relata o fato. O
A título de exemplo: Quem, logo após o cometimento agente policial registra a ocorrência e alerta, pelo rádio,
de furto, é encontrado na posse do bem subtraído, pode ser todos os policiais rodoviários federais que patrulham aquela
Noções de Direito Processual Penal

preso em flagrante delito, ainda que inexistam testemunhas rodovia. Vinte minutos depois, dois policiais interceptam
da infração.269 o veículo roubado, que estava sendo conduzido por um
A perseguição deve ser iniciada “logo após”, ou seja, deve homem cuja descrição coincide com a que fora feita pela
haver um pequeno intervalo de tempo entre o fato e o início vítima. Considerando essa narrativa, os policiais devem
da perseguição, como, por exemplo, o prazo para a polícia apreender o carro roubado e efetuar a prisão em flagrante
do suspeito, pois a hipótese é de flagrante presumido.275
262
Assunto cobrado na prova do Cespe/PC-RN/Delegado de Polícia Civil Substi-
tuto/2009. 270
Assunto cobrado na prova da OAB‑DF/1º Exame de Ordem/2005.
263
Assunto cobrado na seguinte prova: TJ‑PI/Juiz Substituto/2001. 271
Cespe/Defensoria Pública do Estado do Amazonas/Defensor Público de 4ª
264
FCC/TJ-PI/Analista Judiciário/Escrivão Judicial/Questão 50/Assertivas A, B, C, Classe/2003.
D e E/2009. 272
Assunto cobrado nas seguintes provas: PUC-PR/TJ-RO/Juiz Substituto/Questão
265
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/TRE‑RN/Analista Judiciá­rio e FCC/ 55/2011; TRF 3ª Região/X Concurso/Juiz Federal Substituto; Cespe/TRE‑AL/
TRE‑RN/Analista Judiciário/2005. Analista Judiciário/2004; OAB‑MG/1º Exame de Ordem/2005; Fapeu/TRE‑SC/
266
Cespe/PRF/2004. Analista Judiciário/2005 e MS/TRE-SC/Analista Judiciário/Questão 66/Assertiva
267
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/Defensoria Pública do Estado B/2009.
de Alagoas/Defensor Público de 1ª Classe/2003; Cespe/TJ‑DF/Analista Judiciá- 273
FCC/TRT 1ª Região/Técnico Judiciário/Segurança/Questão 42/2011.
rio/2003; Cespe/IPAJM/Advogado/2006 e FCC/TRE‑RN/Analista Judiciário/2005. 274
Assunto cobrado na prova do Cespe/TJ‑RJ/Analista Judiciário/2008.
268
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/PC‑PB/Delegado de Polícia/2009. 275
Funrio/PRF/Policial Rodoviário Federal/Questão 71/Assertivas A, B, C, D e
269
Vunesp/TJ-SP/Juiz/Questão 48/Item I/2011 E/2009.

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A caracterização do flagrante presumido prescinde da É legal a prisão decorrente de flagrante esperado.287 No
perseguição ao agente logo depois da infração.276 flagrante esperado, a polícia aguarda e observa a atuação
do agente, sem ocorrer indução ou provocação de crime.288
Flagrante preparado (provocado, putativo por obra do É válida a prisão em flagrante se chega à polícia a infor‑
agente provocador, de ensaio, de expe­riência) mação da iminente prática de um delito e esta se desloca
No flagrante preparado, o crime é impossível.277 para o local onde ocorrerá a suposta infração e aguarda o
O chamado flagrante preparado não é admitido no início da realização dos atos de execução, impedindo sua
processo penal, por ser a conduta do suposto autor do consumação e exaurimento.289
delito obra do agente provocador.278 A vontade do agente, A título de exemplo, a corretora de imóveis Carla foi
que existe perfeitamente, é, entretanto, viciada, eis que a indiciada em inquérito policial, juntamente com os três
ele foi instigada ou, de qualquer forma, facilitada a prática
sócios, pela prática reiterada do crime de estelionato. Seu
do delito, por uma simulação.
Além disso, tomam‑se as precauções para que o delito modus operandi era vender o mesmo imóvel a mais de uma
não se consume. Assim, não há crime quando a preparação pessoa. Em uma de suas empreitadas, ofereceu um lote a
do flagrante pela polícia torna impossível a sua consuma- Vasco, que, sabedor da conduta de Carla, foi a uma dele‑
ção.279 É o teor da Súmula nº 145 do STF280. gacia e noticiou o fato à autoridade policial, comunicando
Tem‑se, portanto, que o flagrante preparado traz a hipó- data, horário e local marcado por ela para concretizarem o
tese de crime impossível, eis que se afasta a possibilidade negócio. Na data informada e no momento em que Carla e
de produção do resultado ou mesmo da fuga. Vasco estavam no caixa do banco objetivando transferir a
No flagrante provocado ou preparado, não haverá, em quantia de uma conta para outra, surgiu a polícia. Quanto
nenhuma hipótese, a consumação do delito, exceto no caso a essa situação hipotética e à prisão em flagrante, o fato
de drogas, em razão de a eventual conduta precedente já em consideração trata do flagrante esperado, podendo
configurar o delito consumado.281 Com efeito, se um policial, ser lavrado o auto de prisão respectivo por tentativa de
passando‑se por viciado, com o fim de comprar drogas, estelionato.290
deu voz de prisão ao traficante, conduzindo‑o à presença
da autoridade policial competente, à qual apresentou o Flagrante forjado (maquinado ou fabricado)
conduzido, juntamente com grande quantidade de droga Não há crime quando a preparação do flagrante pela
apreendida em seu poder no ato da suposta venda. Em rela‑ polícia torna impossível a sua consumação.
ção a essa situação hipotética, caberá à autoridade policial
a autuação em flagrante do conduzido não pela venda da Flagrante preparado não é sinônimo de flagrante for-
substância, mas porque trazia ou tinha em depósito subs‑
jado.291
tância entorpecente destinada ao comércio ilícito, sendo
tais condutas preexistentes à ação policial.282 Entretanto, No flagrante forjado, os policiais ou mesmo algum par-
verifica‑se flagrante preparado na conduta do policial que dá ticular criam provas de um crime inexistente. Por exemplo,
voz de prisão em flagrante a agente que, induzido por policial intitula‑se flagrante forjado a hipótese em que é colocada,
a fornecer‑lhe a droga que, no momento não possuía, mas no bolso de quem se submete a revista pessoal, quantidade
que retorna com a substância entorpecente. de substância entorpecente, no intuito de criar falsa prova
Assim, tem‑se como exemplo do chamado “flagrante de crime inexistente.292
preparado” e não do “flagrante esperado”, a prisão oriunda Na hipótese de flagrante forjado, a prisão é totalmente
da conduta da vítima que, proprietária de lanchonete, per‑ ilegal, além de o “forjador” da prisão responder por abuso
cebendo a subtração de alguns gêneros alimentícios de seu de autoridade, se policial, ou denunciação caluniosa se for
estabelecimento, deixa bandeja de petisco cuidadosamente particular.
arranjada, com linguiça, azeitona, refrigerante e cerveja,
para atrair os prováveis meliantes.283 Flagrante prorrogado ou retardado (ou ação controlada)
Os conceitos de flagrante preparado e esperado não se O flagrante retardado tem previsão no art. 2º, II, da Lei
confundem.284 Não há o chamado “flagrante preparado”, do Crime Organizado, devendo ser concretizado no momen-
mas, sim, o “flagrante esperado”, se os policiais, com base to mais eficaz para a formação de provas e o fornecimento
em escuta telefônica, efetuaram busca e apreensão na de informações.293
residência do suspeito, ali encontrando vários papelotes O referido dispositivo legal estabelece que
de cocaína, dando‑lhe, em consequência, voz de prisão no
ato.285 Na modalidade referida, não houve qualquer insti-
a ação controlada, que consiste em retardar a inter-
gação ou facilitação para a prática do crime, não estando a
vontade do agente viciada por atuação do agente provocador. dição policial do que se supõe ação praticada por
organizações criminosas ou a ela vinculado, desde
Noções de Direito Processual Penal

Flagrante esperado que mantida sob observação e acompanhamento


O nosso ordenamento Jurídico não repudia o flagrante para que a medida legal se concretize no momento
esperado.286 mais eficaz do ponto de vista da formação de provas
e fornecimento de informações.
276
MPE-MS/Promotor de Justiça Substituto/Questão 38/Item V/2011.
277
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/MPE-TO/Promotor/Assertiva
C/2012 e Cespe/PC‑PB/Delegado de Polícia/2009.
278
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑PR/3º Exame de Ordem/2004; 287
Assunto cobrado na prova da OAB‑DF/2º Exame de Ordem/2004.
OAB‑DF/3º Exame de Ordem/2003 e Cespe/Espírito Santo/1º Exame da Or- 288
Assunto cobrado na prova da FCC/TRE‑RN/Analista Judiciário/2005.
dem/2004. 289
MPE-PR/Promotor de Justiça Substituto/Questão 69/Item II/2011.
279
Assunto cobrado nas seguintes provas: TJ‑PR/Juiz Substituto/2006 e OAB‑MG/1º 290
Cespe/TJ‑SE/Juiz Substituto/2003-2004.
Exame de Ordem/2005. 291
Assunto cobrado na prova da OAB‑DF/3º Exame de Ordem/2003.
280
Assunto cobrado na prova do Cespe/PC-RN/Delegado de Polícia Civil Substitu- 292
Cespe/Defensoria Pública do Estado de Alagoas/Defensor Público de 1ª Clas-
to/2009. se/2003.
281
Cespe/TJ‑RR/Técnico Judiciário/2006. 293
Assunto cobrado nas seguintes provas: TRF 3ª Região/X Concurso/Juiz Federal
282
Cespe/TJ‑RR/Analista Processual/2006. Substituto; Cespe/Defensoria Pública do Estado de Alagoas/ Defensor Público
283
UEG/Delegado de Polícia de 3ª Classe de Goiás/2003. de 1ª Classe/2003; TJ‑PI/Juiz Substituto/2001; NCE/Delegado da Polícia Civil
284
Assunto cobrado na prova do Cespe/2º Exame da Ordem/2006. do DF/2004; OAB‑MG/1º Exame de Ordem/2005; OAB‑MS/80º Exame de
285
UEG/Delegado de Polícia de 3ª Classe de Goiás/2003. Ordem/2004; FGV/TJ‑SE/Analista Judiciário/2004 e OAB‑DF/3º Exame de
286
Assunto cobrado na prova do MPDFT/28º Concurso para Promotor/2009. Ordem/2003.

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Referida lei permite inclusive a infiltração de agentes anônima. Ao  realizar a prisão os policiais identificaram
nas organizações criminosas, que é prática admitida em Manoela a partir da descrição fornecida pela denúncia
nosso ordenamento.294 anônima. A prisão é ilegal, pois não está presente nenhu-
Há entendimentos doutrinários, como o de Capez (2009, ma das situações autorizadoras da prisão em flagrante.297
p. 266 a 267) de que esta modalidade de flagrante só é cabí-
vel nas ações praticadas por organizações criminosas. Nesse Prisão em flagrante e crimes permanentes
sentido, determinada organização criminosa voltada para
a prática do tráfico de armas de fogo esperava um grande Nas infrações permanentes, entende‑se o agente em
carregamento de armas para dia e local previamente de‑ flagrante delito enquanto não cessar a permanência298
terminados. Durante a investigação policial dessa organi‑ (art. 303 do CPP). Como exemplo: Considere que, no curso
zação criminosa, a autoridade policial recebeu informações de investigação policial para apurar a prática de crime de
seguras de que parte do bando estava reunida em um bar extorsão mediante sequestro contra um gerente do Banco X,
e receberia o dinheiro com o qual pagaria o carregamento agentes da Polícia Federal tenham perseguido os suspeitos,
das armas, repassando, ainda no local, grande quantidade que fugiram com a vítima, por dois dias consecutivos. Nessa
de droga em troca do dinheiro. Mantido o local sob obser‑ situação, enquanto mantiverem a privação da liberdade da
vação, decidiu a autoridade policial retardar a prisão dos vítima, os suspeitos poderão ser presos em flagrante, por
integrantes que estavam no bar de posse da droga, para que se tratar de infração permanente.299
os policiais pudessem segui‑los, identificar o fornecedor das A apreensão de moeda falsa na residência do agente e
armas e, enfim, prendê‑los em flagrante. Nessa situação, simultânea prisão em local diverso caracteriza o flagrante
não obstante as regras previstas no Código de Processo delito.300
Penal, são válidas as diligências policiais e as eventuais Sabe‑se que a lavratura do Auto de Prisão em Flagrante
prisões, em face da denominada ação controlada, prevista inaugura o Inquérito Policial. No entanto, quando diante de
na lei do crime organizado.295 crimes permanentes, haverá a possibilidade de prisão em
Entretanto, a  figura do flagrante prorrogado é muito flagrante, mesmo que já haja a instauração do Inquérito
comum na apuração de diversos tipos de crimes, principal- Policial.301
mente em crimes permanentes, sendo prática corriqueira da
polícia que age com discricionariedade para buscar o melhor
Prisão em flagrante e crimes continuados
momento para efetuar a prisão, buscando o maior resultado
possível com a medida restritiva de liberdade. Seguindo o
O crime continuado tem previsão no art. 71 do CP e se
mesmo raciocínio, analise a seguinte situação hipotética:
após força‑tarefa policial que consistiu em investigação verifica
detalhada das ações de um grupo do qual José faz parte,
houve a efetivação, mediante autorização judicial, de busca Quando o agente, mediante mais de uma ação ou
e apreensão e de interceptação telefônica e concluiu‑se pela omissão, pratica dois ou mais crimes da mesma
coautoria de José em crime de tráfico de entorpecentes. espécie e, pelas condições de tempo, lugar, maneira
Na situação apresentada, o policial poderá prender José de execução e outras semelhantes, devem os subse-
em flagrante no momento da venda de drogas, não sendo quentes ser havidos como continuação do primeiro,
obrigado a prendê‑lo imediatamente, tendo em vista que é aplica‑se‑lhe a pena de um só dos crimes, se idên-
cabível, na hipótese, o flagrante prorrogado ou esperado.296 ticas, ou a mais grave, se diversas, aumentada, em
Embora haja doutrinadores que destaquem que o flagran- qualquer caso, de um sexto a dois terços.
te prorrogado também teria previsão na Lei nº 11.343/2006
(CAPEZ, 2009, p. 267), na referida lei há previsão de moda- Trata‑se da modalidade de concurso de crimes.
lidade diversa do flagrante retardado. Com efeito, o que se Em tais crimes, as condutas por si só já configuram cri-
prevê no art. 53, II, da referida lei é a possibilidade de mes, podendo haver a prisão em flagrante.

a não atuação policial sobre os portadores de dro- Prisão em flagrante e crimes habituais
gas, seus precursores químicos ou outros produtos
utilizados em sua produção, que se encontrem no O crime habitual configura‑se quando há reiteração de
território brasileiro, com a finalidade de identificar práticas que, por si só, não configuram modalidade delitiva.
e responsabilizar maior número de integrantes de Apenas quando as práticas forem configuradas como um
operações de tráfico e distribuição, sem prejuízo da todo, como estilo ou modalidade de vida, que o delito será
Noções de Direito Processual Penal

ação penal cabível. materializado.


A título de exemplo, tem‑se:
Esta medida, nos termos do parágrafo único do artigo 1) Casa de prostituição (art.  229 do CP). Manter, por
citado, exige‑se autorização judicial, que só será concedida conta própria ou de terceiro, casa de prostituição ou lugar
caso sejam conhecidos o itinerário provável e a identificação destinado a encontros para fim libidinoso, haja ou não intuito
dos agentes do delito ou de colaboradores. de lucro ou mediação direta do proprietário ou gerente.
Se não restar configurada alguma das hipóteses de fla-
2) Rufianismo (art. 230 do CP). Tirar proveito da pros-
grante acima delineadas, a prisão será ilegal. Desta forma,
tituição alheia, participando diretamente de seus lucros
analise a situação: Manoela de Jesus foi presa em flagrante,
ou fazendo‑se sustentar, no todo ou em parte, por quem
quando estava em sua casa assistindo à televisão, porque
supostamente teria jogado um bebê recém nascido no rio. a exerça.
Os responsáveis pela prisão foram dois policiais civis que 297
Assunto cobrado na prova da FGV/TJ‑PA/Juiz de Direito/2009.
realizavam diligências no local a partir de uma denúncia 298
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑DF/2º Exame de Ordem/2004 e
OAB‑RS/1º Exame/2007 e Cespe/DPE-ES/Defensor Público/Questão 61/2009.
294
Assunto cobrado na prova do MPDFT/28º Concurso para Promotor/2009. 299
Cespe/DPF/Agente/2012 e Cespe/Polícia Federal/Papiloscopista/2012.
295
Cespe/PGE‑ES/Procurador de Estado/2008. 300
TRF 3ª Região/IX Concurso/Juiz Federal Substituto.
296
Assunto cobrado na prova do Cespe/TJ‑PA/Analista Judiciário/2006. 301
NCE/Delegado da Polícia Civil do DF/2004.

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3) Exercício ilegal da medicina, arte dentária ou farma- não sendo descartada a hipótese de o policial assumir a
cêutica (art. 282 do CP). Exercer, ainda que a título gratuito, condução do preso, por circunstância verificada no ato da
a profissão de médico, dentista ou farmacêutico, sem auto- prisão, quando, por exemplo, o sujeito passivo é detido por
rização legal ou excedendo‑lhe os limites. diversas pessoas do povo. Após sua oitiva, colhe‑se, desde
4) Charlatanismo (art. 283 do CP). Inculcar ou anunciar logo, sua assinatura, entregando a este cópia do termo e
cura por meio secreto ou infalível. recibo de entrega do preso, nos termos do art. 304 do CPP,
5) Curandeirismo (art. 284 do CP). Exercer o curandeiris- o que faz com que o condutor seja desde logo liberado,
mo: I – prescrevendo, ministrando ou aplicando, habitual- sem necessidade de aguardar a confecção de todo o auto
mente, qualquer substância; II – usando gestos, palavras ou de prisão em flagrante.306
qualquer outro meio; III – fazendo diagnósticos. 2) Oitiva das testemunhas, presenciais ou não, sem qual-
Há controvérsia na doutrina sobre o cabimento da prisão quer limitação máxima ou mínima, com a colheita, desde
em flagrante nos crimes habituais, que são aqueles em que logo, de sua assinatura (art. 304 do CPP).
o crime se aperfeiçoa com a reiteração de condutas. (CAPEZ, 3) Caso não haja testemunha presencial, deverão assinar
2009, p. 267) o termo pelo menos duas pessoas (testemunhas de apresen-
O crime habitual, cuja consumação se dá por meio tação ou indiretas) que tenham presenciado a apresentação
da prática de várias condutas, como o delito de casa de do preso à autoridade, colhendo‑se, após cada oitiva, suas
prostituição, de acordo com o STF (STF, HC nº 36.723, Min. respectivas assinaturas (art. 304, § 2º, do CPP).
Nelson Hungria, Tribunal Pleno, Julgamento: 27/5/1959) e Dessa forma, a falta de testemunhas da infração não
STJ, admite prisão em flagrante.302 impedirá o auto de prisão em flagrante, mas, nesse caso,
com o condutor, deverão assiná‑lo pelo menos duas pes-
Auto de prisão em flagrante soas que hajam testemunhado a apresentação do preso à
autoridade.307
Ao se deparar com uma situação flagrancial, o delegado A título de exemplo: Horácio, policial militar, estava
decide se homologa ou não o flagrante lhe apresentado, caminhando sozinho, em seu período de folga, quando
ratificando ou não a voz de prisão do condutor que deteve percebeu que Lúcio havia arrombado a janela de uma loja
o sujeito passivo. A autoridade policial pode, por exemplo, e estava saindo do local portando um aparelho de DVD.
verificar que o fato ocorrido não é típico. Sobre as hipóteses Alex, delegado, recebeu Lúcio na delegacia, conduzido
de exclusão de antijuridicidade, há doutrina no sentido de apenas pelo policial Horácio. Alex lavrou o auto de prisão
que pode‑se deixar de lavrar o auto quando for evidente em flagrante. Com base nessa situação hipotética, o refe-
a exclusão. Capez (2009, p. 271) destaca, entretanto, que rido auto de prisão em flagrante deverá ser assinado por
pelo menos duas pessoas que tenham testemunhado a
nessa fase, vigora o princípio do in dubio pro societate, apresentação do preso.308
não podendo o delegado de polícia embrenhar‑se em Na lavratura do auto de prisão em flagrante, para in‑
questões doutrinárias de alta indagação, sob pena de tegrar o mínimo legal, a autoridade policial poderá ouvir o
antecipar indevidamente a fase judicial de apreciação condutor do preso como testemunha, considerando‑o como
de provas; permanecendo a dúvida ou diante de fatos testemunha numerária.309
aparentemente criminosos, deverá ser formalizada a 4) Oitiva da vítima, sendo referida oitiva absolutamente
prisão em flagrante. necessárias nos crimes de ação penal privada ou pública
condicionada à representação, se ainda não formalizado
Entendemos que, ainda que seja evidente uma excluden- o requerimento ou representação, condições objetivas de
te de ilicitude, o delegado deve instaurar o inquérito para procedibilidade.
que, quando relatá‑lo, a acusação forme ou não sua opinio 5) Nas oitivas, a  autoridade policial deverá zelar pela
delicti sobre os fatos apurados. incomunicabilidade entre condutor, vítima e testemunhas,
Caso a autoridade policial não homologue a prisão, como sendo todos inquiridos separadamente.
ainda não se formalizou a prisão, não se configura relaxa- 6) Interrogatório do suspeito sobre os fatos lhe imputa-
mento de prisão, modalidade que só pode ser efetivada por dos, sendo que, antes do interrogatório, deve ser assegurado
meio de autoridade judicial. o direito ao silêncio, além do direito de ser assistido por
Uma vez homologada a prisão, far‑se‑á a lavratura do advogado, nos termos do art. 5º, LXIII, da CF/1988.
auto de prisão em flagrante. Na falta ou no impedimento Não é essencial a presença de advogado para lavratura
do escrivão, qualquer pessoa designada pela autoridade do auto de prisão em flagrante.310 O direito à assistência de
lavrará o auto, depois de prestado o compromisso legal303 advogado deve ser assegurado. Entretanto, se não houver
(art. 305 do CPP).
Noções de Direito Processual Penal

advogado, procede‑se normalmente ao interrogatório.


Dessa forma, a  prisão em flagrante deve ser seguida Entretanto, o delegado não pode negar ao investigado,
da lavratura do respectivo auto de prisão em flagrante, de forma arbitrária ou sem embasamento legal, o direito ao
que deve observar todos os requisitos legais, sob pena de advogado. Observe a situação: Batista é preso em flagrante
tornar ilegal a prisão.304 Isto porque o auto de prisão em por populares porque estava oferecendo drogas à venda,
flagrante é ato administrativo e como tal goza de presun‑ sendo levado imediatamente à Delegacia de Polícia. Na
ção de veracidade e legalidade, posto que juris tantum.305 delegacia, a autoridade policial inicia uma conversa infor-
A lavratura do auto de prisão em flagrante seguirá se- mal com João, que confessa a prática do crime. Os policiais
guintes etapas:
1) Oitiva do condutor, pessoa pública ou privada que 306
Assunto cobrado na prova da Vunesp/TJ-SP/Juiz/Questão 48/Item V/2011.
conduziu o preso à presença da autoridade policial. Geral- 307
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/TRF 4ª Região/Analista Judici-
mente, o condutor é quem efetuou a prisão em flagrante, ário/2007; DRS‑Acadepol/SSP‑MG/Polícia Civil do Estado de Minas Gerais/
Delegado de Polícia/2007; Cespe/TJ‑PA/Analista Judiciário/2006 e FGV/TJ‑SE/
Analista Judiciário/2004.
302
Assunto cobrado na prova TJDFT/Juiz de Direito Substituto/2007. 308
Assunto cobrado na prova do Cespe/PC‑PB/Papiloscopista e Técnico em Perí-
303
Vunesp/TJ-SP/Juiz/Questão 48/Item IV/2011. cia/2009.
304
OAB‑PR/Exame 01/2006. 309
Cespe/Delegado da Polícia Federal/2002.
305
OAB‑DF/2º Exame de Ordem/2003. 310
Assunto cobrado na prova do TRF 3ª Região/Juiz Federal Substituto.

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
indagam ainda de João onde estaria escondido o restante boletim de vida pregressa e identificação criminal, se pre-
da droga que ele pretendia traficar, bem como o nome do sentes as hipóteses da Lei nº 12.037/2009. Assim, o preso
traficante de quem adquirira a droga. João indica o escon- em flagrante delito, desde que não identificado civilmente,
derijo onde guardava a droga, bem como declina o nome deve ser submetido à identificação criminal.313
do traficante de quem comprara a droga. No momento em 9) Recolhimento à prisão – resultando das respostas
que seria realizado seu interrogatório policial, João exige a fundada suspeita contra o conduzido, a autoridade mandará
presença de um advogado dativo ou defensor público, o que recolhê‑lo à prisão, exceto no caso de livrar‑se solto ou de
lhe é negado pelo Delegado, sob o argumento de que não prestar fiança, e prosseguirá nos atos do inquérito ou pro-
há previsão legal para essa assistência gratuita. João fica cesso, se para isso for competente; se não o for, enviará os
contrariado e, quando o interrogatório formal é iniciado, autos à autoridade que o seja (art. 304, § 1º, do CPP).
modifica suas declarações negando a propriedade da droga. 10) Entrega da nota de culpa – também no prazo de 24
Contudo, o delegado gravara a confissão de João durante horas será entregue ao preso, mediante recibo, a nota de
a conversa informal. Nessa situação, João tem direito à culpa, assinada pela autoridade, com o motivo da prisão,
assistência de advogado dativo no momento da lavratura o nome do condutor e o das testemunhas314. Com efeito,
do auto de prisão, constituindo constrangimento ilegal a a Constituição é imperativa, em seu art. 5º, LXIV, no sentido
atitude do delegado de negá‑lo.311 de que o preso tem direito à identificação dos responsáveis
O STF entende que é ilícita a prova conseguida com base por sua prisão ou por seu interrogatório policial.
em conversa informal, em que não se assegurou o direito 11) Comunicação da prisão – nos termos dos arts. 306 do
ao silêncio: CPP, e 5º, LXII, da CF/1988, a prisão de qualquer pessoa e o
local onde se encontre serão comunicados imediatamente
Gravação clandestina de “conversa informal” do indi- ao juiz competente, ao Ministério Público, à família do preso
ciado com policiais. 3. Ilicitude decorrente – quando ou à pessoa por ele indicada.315 Não tem mais aplicação o
não da evidência de estar o suspeito, na ocasião, art. 21 do CPP.
ilegalmente preso ou da falta de prova idônea do seu Com a redação dada ao art. 306 do CPP pela Lei
assentimento à gravação ambiental – de constituir, nº  12.403/2011, a  prática de também comunicar ao Mi-
dita “conversa informal”, modalidade de “interroga- nistério Público a prisão de alguém agora é exigência legal.
tório” sub‑reptício, o qual – além de realizar‑se sem Tem-se, ainda, que,
as formalidades legais do interrogatório no inquérito
policial (CPP, art. 6º, V) –, se faz sem que o indiciado em até 24 (vinte e quatro) horas após a realização
seja advertido do seu direito ao silêncio. 4. O privi- da prisão, será encaminhado ao juiz competente o
légio contra a autoincriminação – nemo tenetur se auto de prisão em flagrante e, caso o autuado não
detegere  –, erigido em garantia fundamental pela
informe o nome de seu advogado, cópia integral
Constituição – além da inconstitucionalidade super-
para a Defensoria Pública316 (art. 306, § 1º, do CPP
veniente da parte final do art. 186 do CPP – importou
com a redação da Lei nº 12.403/2011).
compelir o inquiridor, na polícia ou em juízo, ao dever
de advertir o interrogado do seu direito ao silêncio:
a falta da advertência – e da sua documentação for- Percebe-se que não é, em qualquer caso, que é remetida
mal – faz ilícita a prova que, contra si mesmo, forneça cópia integral para a defensoria pública317.
o indiciado ou acusado no interrogatório formal e, Embora a Lei nº 12.403/2011 não tenha repetido a
com mais razão, em “conversa informal” gravada, exigência de que o auto de prisão em flagrante deva ser
clandestinamente ou não. (STF, HC nº 80.949/RJ, Rel. acompanhado de todas as oitivas colhidas, entendemos
Min. Sepúlveda Pertence, Primeira Turma, Julgamen- que o legislador apenas retirou excesso legislativo, eis que
to: 30/10/2001) o auto de prisão em flagrante, necessariamente, é composto
da oitiva de condutor, de eventual vítima, das testemunhas,
7) Assinaturas – as assinaturas são colhidas após cada sejam presenciais ou de apresentação, bem como do inter-
depoimento. Se a vítima, testemunha ou condutor não rogatório do flagranteado.
souberem ou não puderem assinar o seu depoimento ou A prisão de qualquer pessoa, assim como o local onde
mesmo o auto de prisão em flagrante, alguém assinará a ela se encontra, deve ser comunicada imediatamente ao juiz
rogo, depois de lido na presença de ambos, nos termos do competente e à família do preso ou à pessoa indicada por
art. 216 do CPP. ele. Além disso, deve ser entregue a ele, em 24 horas, a nota
Quando o acusado se recusar a assinar, não souber ou de culpa, assinada pela autoridade e na qual constem o mo‑
não puder fazê‑lo, o auto de prisão em flagrante será assi- tivo da prisão e o nome do condutor e das testemunhas.318
Noções de Direito Processual Penal

nado por duas testemunhas, que tenham ouvido sua leitura De acordo com o CPP, após uma prisão em flagrante,
na presença deste (art. 304, § 3º, do CPP). São as chamadas deve a autoridade policial que lavrar o auto providenciar,
testemunhas instrumentárias. Como exemplo, preso em
flagrante por porte de um fuzil, municiado, Martins, oficial 313
Assunto cobrado na prova do Cespe/Nordeste/1º Exame da Ordem/2006.
de justiça aposentado, recusa‑se a assinar o auto de prisão 314
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cesgranrio/Polícia Civil do Estado do Rio
em flagrante. Caberá à autoridade policial, neste caso, lavrar de Janeiro/Investigador Policial/2006; Vunesp/OAB‑SP/128º Exame; OAB‑SC/3º
Exame de Ordem/2003; OAB‑SP/126º Exame de Ordem/2005; FGV/TJ‑SE/
o auto de prisão em flagrante, desde que haja duas teste- Técnico Judiciário/2004; Cefet/TJ‑BA/Atendente Judiciário/2006; Ipad/Polícia
munhas da leitura do auto ao indiciado, além do condutor Civil de Pernambuco/Perito Criminal/2006; UESPI/Agente Penitenciário/2006;
e das testemunhas da prisão.312 Cespe/Ministério da Justiça/Agente da Polícia Federal/1997; Delegado de Polícia
Substituto de Santa Catarina/2001 e Acadepol‑SP/Delegado de Polícia de São
8) Indiciamento – como, com a lavratura do auto de Paulo/2003, art. 306, § 2º, do CPP, com a redação dada pela Lei nº 12.403/2011.
prisão em flagrante, há mais que indícios de materialidade 315
Assunto cobrado na prova do Cespe/TRE-MS/Analista Judiciário/Área Adminis-
e autoria, a autoridade policial promoverá o indiciamento trativa/Assertiva B/2013.
316
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/PC-RN/Agente de Polícia Civil
do flagrado, o que trará por consequência a confecção do Substituto/2009 e FCC/TRF 4ª Região/Analista Judiciário/Área Judiciária/2010/
Questão 50/Item III.
Assunto cobrado na prova da FGV/TJ‑PA/Juiz de Direito/2009.
311 317
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/Polícia Civil do Estado do Espírito
Assunto cobrado na prova do NCE/Faepol/Delegado da Polícia Civil do Rio de
312
Santo/Perito Criminal/2011/Questão 69.
Janeiro/2001. 318
Cespe/Sejus-ES/Agente Penitenciário/2009/Questão 102.

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com o imediatismo possível, a comunicação para a família na circunscrição, a lavratura de auto de prisão em flagrante
do preso, ou pessoa por ele indicada, ao juiz competente em local diverso da prisão não ocasiona a sua nulidade.328
e à defensoria pública, no caso de não haver advogado já Analise a seguinte situação hipotética: na noite de 17 de
constituído.319 dezembro do ano passado, Inácio, juntamente com Letício,
Assim, a autoridade policial deverá comunicar a prisão armados com um revólver, renderam o proprietário de um
ao juiz competente dentro do prazo de 24 (vinte e quatro) veículo Ford Ranger na cidade de Itumbiara‑GO. Logo após
horas, segundo o Código de Processo Penal.320 a subtração do automóvel, os agentes foram perseguidos
A homologação do auto de prisão em flagrante, mera por policiais militares comunicados do roubo. Depois de
formalidade legal, não exige fundamentação, salvo para uma troca de tiros, os  dois assaltantes abandonaram a
relaxar a prisão. (STJ, HC nº 72.391/RS, Min. Felix Fischer, caminhonete na estrada e continuaram à fuga num Fiat
Quinta Turma, DJ 10/9/2007) modelo Tipo. Enquanto os perseguidores verificavam a
A demora na comunicação da prisão em flagrante à caminhonete abandonada, foram comunicados que poli-
autoridade judiciária não desnatura o auto de prisão, desde ciais rodo­viários, em Caldas Novas‑GO, abordaram o Fiat
que observadas as demais formalidades legais, podendo, Tipo e deram voz de prisão aos ocupantes do carro, depois
em tese, configurar ilícito administrativo e/ou penal.321 de encontrar dentro do veículo um capuz, um rolo de fita,
Assim, a  demora na comunicação à autoridade judiciária uma embalagem vazia de dez cartuchos de balas calibre 38,
competente da prisão em flagrante do paciente não acarreta, além de munição intacta. Em seguida, Inácio e Letício foram
por si só, nulidade no auto de prisão (STJ, HC nº 72.391/RS, conduzidos à Delegacia de Furtos e Roubos do município
Min. Felix Fischer, Quinta Turma, DJ 10/9/2007). Até mesmo de Goiânia‑GO, local onde a autoridade policial autuou‑os
a ausência de comunicação da prisão em flagrante ao juiz em flagrante por roubo qualificado. Diante do caso narrado,
competente não ocasiona nulidade. (STJ, HC nº 28.575/BA, considerando o entendimento doutrinário e jurisprudencial
Min. Felix Fischer, Quinta Turma, DJ 28/10/2003)322 majoritário, além da ocorrência do flagrante delito, o auto
Por outro lado, não constitui irregularidade apta a lavrado por autoridade diversa da do local das prisões dos
anular o auto de prisão a comunicação tardia feita à família assaltantes é considerado válido.329
do paciente quando de sua prisão em flagrante. (STJ, RHC Quando o fato for praticado em presença da autoridade,
nº 10.220/SP, Min. Gilson Dipp, Quinta Turma, DJ 23/4/2001) ou contra esta, no exercício de suas funções, constarão do
A comunicação da prisão em flagrante a juiz de jurisdição auto a narração deste fato: a voz de prisão, as declarações
diversa não constitui, por si só, constrangimento ilegal (STJ, que fizer o preso e os depoimentos das testemunhas. Tudo
REsp. nº 242.808/RJ, Min. Fernando Gonçalves, Sexta Turma, isto será assinado pela autoridade, pelo preso e pelas tes-
DJ 12/11/2001). temunhas, e será remetido imediatamente ao juiz a quem
Lavrado o auto de prisão em flagrante, resta instaurado couber tomar conhecimento do fato delituoso, se não o for
o inquérito policial. a autoridade que houver presidido o auto (art. 307 do CPP).
Considere a seguinte situação hipotética. Intimado para
Sobre a possibilidade de o inquérito já iniciar a ação
prestar declarações em um inquérito policial, um cidadão
penal, quando efetivado em face do cometimento de con-
desacatou a autoridade policial que o presidia, rasgando
travenção, nos termos do art. 26 do CPP, referido artigo não
peças dos autos e atirando‑as ao chão, além de proferir
foi recepcionado pelo art. 129, I, da CF/1988. Com efeito,
palavras de baixo calão à sua pessoa. Nessa situação,
a ação penal não pode ser iniciada com o auto de prisão a autoridade policial poderá presidir a lavratura do auto
em flagrante, em se tratando de contravenção penal.323 de prisão em flagrante.330
A prisão, em flagrante delito, de uma pessoa, pela Não havendo autoridade no lugar em que se tiver efetu-
polícia federal será sempre comunicada à Justiça e ao ado a prisão, o preso será logo apresentado à do lugar mais
Ministério Público.324 próximo (art. 308 do CPP).
Não invalida a prisão em flagrante a audiência do con‑
Local e autoridade perante a qual será lavrado o auto duzido no leito de hospital, subsequentemente à lavratura
de prisão em flagrante. do auto na delegacia, quando impossibilitado de ser inter‑
O auto de prisão em flagrante deve ser lavrado pela rogado por ter sido baleado durante perseguição policial.331
autoridade policial. O auto de prisão em flagrante presidi-
do, lavrado e assinado por um escrivão de polícia perde o Do Relaxamento da Prisão em Flagrante, da
seu caráter coercitivo, visto que o inquérito policial é um Concessão da Liberdade Provisória e da Conversão da
procedimento administrativo, que se sujeita aos requisitos Prisão em Flagrante em Prisão Preventiva
do ato administrativo.325
A autoridade policial que efetuou a prisão deverá lavrar No caso do flagrante delito, mesmo a prisão se dando
o auto de prisão em flagrante, mesmo que o fato delituoso
Noções de Direito Processual Penal

sem ordem judicial prévia, a autoridade policial não é mais


tenha ocorrido em outro local.326 a responsável legal pela detenção e pela tutela da liberdade
Não havendo autoridade no lugar em que se tiver efetu- após comunicada a prisão e recebido o auto de flagrante
ado a prisão, o preso será logo apresentado à do lugar mais pelo juiz competente332, que passa a ser possível autoridade
próximo.327 Entretanto, mesmo havendo autoridade policial coatora caso mantenha prisão ilegal.
O art. 310 do CPP, com a redação dada pela Lei
319
Assunto cobrado na prova do Cespe/PC-RN/Delegado de Polícia Civil Substitu- nº 12.403/2011, estabelece que, ao receber o auto de prisão
to/2009.
320
Assunto cobrado na prova da OAB‑PR/Exame 01/2006.
em flagrante, o juiz deverá fundamentadamente: I – relaxar
321
Assunto cobrado na prova do MPE-PR/Promotor de Justiça Substituto/Questão a prisão ilegal; ou II – converter a prisão em flagrante em
69/Item III/2011.
322
Assunto cobrado na prova do Cespe/OAB‑ES/Exame de Ordem/2006. 328
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/Delegado da Polícia Fe­deral/2002;
323
Assunto cobrado nas seguintes provas: FGV/TJ‑SE/Analista Judiciário/2004 e DRS‑Acadepol/SSP‑MG/Polícia Civil do Estado de Minas Gerais/Delegado de
OAB‑RS/1º Exame/2007. Polícia/2007 e Cespe/TJ‑RR/Oficial de Justiça/2001.
324
19º Concurso Público para Procurador da República/2002. 329
Assunto cobrado na prova de UEG/Delegado de Polícia de 3ª Classe de
325
Assunto cobrado na prova do Cespe/Defensoria Pública do Estado de Sergipe/ Goiás/2003.
Defensor Público de 2ª Categoria/2005. 330
Cespe/Delegado da Polícia Federal/2002.
326
Assunto cobrado na prova do Cespe/Delegado da Polícia Civil de Roraima/2003. 331
Cespe/Delegado da Polícia Federal/2002.
327
Assunto cobrado nas seguintes provas: Vunesp/OAB‑SP/128º Exame e 332
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/Polícia Civil do Estado do Espírito
OAB‑GO/1º Exame de Ordem/2005. Santo/Perito Papiloscópico/2011/Questão 74.

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preventiva, quando presentes os requisitos constantes verifique a necessidade de assegurar a aplicação da lei
do art. 312 deste Código, e se revelarem inadequadas ou penal, havendo prova da existência de crime doloso punido
insuficientes as medidas cautelares diversas da prisão; com reclusão e indício suficiente de autoria, poderá, não
ou III – conceder liberdade provisória, com ou sem fiança.333 restabelecer essa prisão em flagrante, mas sim decretar a
O parágrafo único do referido dispositivo dispõe, ainda, prisão preventiva.342
que, se o juiz verificar, pelo auto de prisão em flagrante, A liberdade provisória somente pode ser concedida
que o agente praticou o fato em estado de necessidade, em ao réu preso em flagrante delito.343 Desta forma, apenas
legítima defesa, em estrito cumprimento de dever legal ou admite‑se liberdade provisória em substituição a prisão
no exercício regular de direito, poderá, fundamentadamente, em flagrante.344 Não se admite liberdade provisória em
conceder ao acusado liberdade provisória, mediante termo substituição a prisão temporária, prisão domiciliar, prisão
de comparecimento a todos os atos processuais, sob pena civil e prisão preventiva.345
de revogação. A contracautela, própria da prisão em flagrante legal,
Detalhemos referidas hipóteses. porém desnecessária, dispensável, ou seja, quando ausen-
tes os pressupostos que legitimam a manutenção da segre-
Relaxamento da prisão em flagrante gação cautelar do indivíduo, é a liberdade provisória, com
ou sem fiança, conforme o caso.346 Com efeito, conforme se
A prisão em flagrante ilegal deverá ser relaxada.334 percebe da leitura do art. 310 do CPP com a redação da Lei
Assim, considere a seguinte situação hipotética: Dorvali‑ nº 12.403/2011, são modalidades autônomas as solturas por
no, primário e de bons antecedentes, é preso em flagrante ser a prisão ilegal e por ser hipótese de liberdade provisória.
pela prática de crime de furto (art. 155, CP), para o qual Nos termos da lei processual penal, a liberdade provi-
está prevista pena de um a quatro anos, e multa. Encerrada sória pode ser obrigatória, permitida ou vedada.347
a lavratura do auto, a autoridade policial mandou recolher
Têm‑se as seguintes modalidades de liberdade provisória:
Dorvalino à prisão. Havendo ilegalidade na elaboração do
auto de prisão em flagrante, é cabível ao preso pleitear ao
Liberdade Provisória sem Fiança (obrigatória348)
juiz o relaxamento da prisão em flagrante.335
A presença dos requisitos para a concessão da liberdade
As hipóteses de liberdade provisória obrigatória e des-
provisória requerida não prejudica a análise do pedido de
vinculada que ocorria nas hipóteses de o réu se livrar solto
relaxamento do flagrante.336
foram revogadas pelo art. 321 do CPP com a redação da Lei
Eventuais defeitos porventura existentes no auto de
nº 12.403/2011.
prisão em flagrante não têm o condão de, por si só, conta-
Verificava-se quando o indiciado se livrava solto, nos ter-
minar o processo e ensejar a soltura do réu.337
Se ocorrer excesso de prazo na conclusão do processo, mos da redação antiga art. 321 do CPP. Destacava o referido
que não pode ser atribuído à acusação ou ao juízo porque dispositivo que, não sendo o réu vadio ou reincidente em
decorre da complexidade do caso e da necessidade de se- crime doloso apenado com pena privativa de liberdade,
rem ouvidas testemunhas e cumpridas diligências em outras após a lavratura do auto de prisão em flagrante tem o direito
comarcas, não há de ser relaxada a prisão.338 Por outro lado, de se livrar solto349 quando cometesse: I – infração, a que
a demora na instrução processual devida à instauração de não for, isolada, cumulativa ou alternativamente, cominada
incidente de insanidade mental em benefício da defesa não pena privativa de liberdade; ou II – quando o máximo da
gera constrangimento ilegal a permitir que o acusado seja pena privativa de liberdade, isolada, cumulativa ou alter-
imediatamente posto em liberdade.339 nativamente cominada, não exceder a três meses.350
Contra decisão que defere pedido de relaxamento de Referida modalidade de liberdade provisória não mais
prisão em flagrante cabe recurso em sentido estrito.340 existe.
Se o acusado se livrava solto, não deveria permanecer
Liberdade provisória após a lavratura do auto de preso, depois de lavrado o auto de prisão em flagrante.351
prisão em flagrante Destaque-se que, em se livrando solto, o  investigado
não tinha nenhuma obrigação para com o processo, sendo
Com base no instituto da liberdade provisória, o acusado sua liberdade provisória concedida sem fiança ou qualquer
tem o direito de aguardar, durante o processo, o seu julga- outra vinculação.
mento em liberdade, substituindo, portanto, as  hipóteses Com a nova Lei a liberdade provisória na hipótese, não
de prisão em flagrante. pode ser caso de prisão preventiva ou de aplicação de alguma
O relaxamento de prisão tem como causa uma prisão medida cautelar.
em flagrante ilegal, ou seja, em desconformidade com o que Em se tratando de infração de menor potencial ofensivo,
o art. 69 da Lei nº 9.099/1995 estabelece que o sujeito será
Noções de Direito Processual Penal

determina o CPP, enquanto a liberdade provisória tem como


liberado independentemente de pagamento de fiança se
causa uma prisão em flagrante legal e, como consequência,
assumir o compromisso de comparecer perante o juizado
a liberdade vinculada do autor do fato.341
Após o relaxamento da prisão em flagrante por falta 342
Assunto cobrado na prova do MS/TRE-SC/Analista Judiciário/Questão 66/
de formalidade essencial no auto de prisão, caso o juiz Assertiva A/2009.
343
Assunto cobrado na prova do 19º Concurso Público para Procurador da Repú-
blica/2002.
333
Assunto cobrado na prova do Cespe/DPE-RO/Assertiva B/2012. 344
TJ‑PI/Juiz Substituto/2001.
334
Assunto cobrado nas seguintes provas: NCE/Delegado da Polícia Civil de 3ª 345
Assunto cobrado na prova do TJ‑PI/Juiz Substituto/2001.
Classe do RJ/2002; Cespe/TJ‑AP/Analista Judiciário/2003-2004 e OAB‑PR/1º 346
OAB‑RJ/25º Exame de Ordem/2004.
Exame de Ordem/2004. 347
Assunto cobrado na prova da FCC/TJ-PI/Analista Judiciário – Área Administra-
335
UEG/Delegado de Polícia de 3ª Classe de Goiás/2003. tiva/Questão 54/Assertivas A, B, C, D e E/2009.
336
TRF 3ª Região/XII Concurso/Juiz Federal Substituto. 348
Cespe/Defensoria Pública do Estado de Alagoas/Defensor Público de 1ª Clas-
337
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/2º Exame da Ordem/2006. se/2003.
338
Assunto cobrado na prova do Cespe/PGE‑CE/Procurador de Estado/2008. 349
Assunto, antes da Lei nº 12.403/2011, cobrado na seguinte prova: Cespe/MPE-
339
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/PGE-CE/Procurador de Estado/2008. -SE/Promotor Substituto/2010/Questão 19/Assertiva c.
340
Assunto cobrado na prova da OAB‑RS/3º Exame/2006. 350
Assunto, antes da Lei nº 12.403/2011, cobrado na seguinte prova: TJ-RN/Oficial
341
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/Defensoria Pública do Estado de Justiça/2002.
de Sergipe/Defensor Público de 2ª Categoria/2005; OAB‑SP/126º Exame de 351
Assunto, antes da Lei nº 12.403/2011, cobrado na seguinte prova: OAB-GO/1º
Ordem/2005 e 20º Concurso Público para Procurador da República/2003. Exame de Ordem/2005.

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especial criminal. Caso não queira assinar o termo de com- Feitoza (2009, p. 914) defende, inclusive, a  concessão
promisso entendemos que a autoridade policial deve lavrar o de liberdade provisória para as hipóteses de verificação de
auto de prisão em flagrante para depois verificar se trata-se causas excludentes de culpabilidade, como a coação moral
de hipótese de liberdade provisória. irresistível e estrita obediência a ordem não manifestamente
ilegal de superior hierárquico (art. 22 do CP). Referida orien-
Liberdade provisória por ter sido o ato praticado em tação não foi incorporada pelo legislador com a edição da
manifesta condição de excludente de ilicitude (art. 310, pa- Lei nº 12.403/2011, eis que o parágrafo único do art. 310
rágrafo único, do CPP com a redação da Lei nº 12.403/2011). continua se referindo apenas às hipóteses de excludente
A prisão em flagrante não deve subsistir nos casos de de ilicitude.
exclusão de ilicitude.352 Uma vez concedida a liberdade provisória, o  único
A nova redação do parágrafo único do art. 310 do CPP compromisso do liberado é comparecer a todos os atos do
determina que, quando o juiz verificar, pelo auto de prisão processo o que, se não for feito, autoriza o restabelecimento
em flagrante, que o agente praticou o fato, nas condições da prisão em flagrante.
do art. 23 do Código Penal que tratam das excludentes de O art. 314 do CPP, com a redação da Lei nº 12.403/2011
ilicitude (estado de necessidade, legítima defesa, estrito determina, por sua vez, que a prisão preventiva em nenhum
cumprimento de dever legal ou no exercício regular de caso será decretada se o juiz verificar pelas provas constantes
direito), poderá conceder ao réu liberdade provisória, dos autos ter o agente praticado em situação de excludente
mediante termo de comparecimento a todos os atos do de ilicitude.
processo, sob pena de revogação.353 Não se exige mais prévia Liberdade provisória por não ser caso de prisão pre-
oitiva do Ministério Público, como se fazia necessária antes ventiva com a possibilidade de imposição de medida
da edição da Lei nº 12.403/2011. cautelar (art. 321 do CPP, com a redação dada pela Lei
Desta forma, o Ministério Público não mais deverá ser nº 12.403/2011).
ouvido nos autos antes da concessão da liberdade provisória A prisão em flagrante não deve subsistir quando não
vinculada decorrente do reconhecimento de prática do ato conviver com alguma hipótese que autorize a prisão pre‑
em situação de excludente de ilicitude. Referida exigência ventiva.356
também é dispensável em se tratando de hipótese de pe- O art. 321 do CPP, com a redação dada pela Lei
dido de liberdade provisória com fiança.354 nº 12.403/2011, determina que, uma vez ausentes os re-
Assim, é cabível a concessão de liberdade provisória quisitos que autorizam a decretação da prisão preventiva,
ao agente que pratica fato em estrito cumprimento do o juiz deverá conceder liberdade provisória, impondo, se for
dever legal.355 o caso, medidas cautelares.
A palavra antiga “poderá” constante no art. 310 foi subs- O art. 282 do CPP, com a redação da Lei nº 12.403/2011,
tituída por “deverá”. Era uma exigência doutrinária que foi inovou na legislação pátria, trazendo medidas cautelares
incorporada pelo Legislador, eis que uma vez verificadas as diversas da prisão.
situações caracterizadoras de excludente de ilicitude, tem-se Segundo o art. 319, com a redação da Lei nº 12.403/2011,
são medidas cautelares diversas da prisão, a serem aplicadas
direito público subjetivo do flagranteado aguardar o julga-
isolada ou cumulativamente:
mento em liberdade. Pouco importa ser o crime afiançável
ou inafiançável.
I – comparecimento periódico em juízo, no prazo
Deve-se interpretar extensivamente o disposto no pará-
e nas condições fixadas pelo juiz, para informar e
grafo único do art. 310 do CPP, para abranger hipóteses de
justificar atividades;
exclusão de ilicitude previstas na parte especial do Código
II – proibição de acesso ou frequência a determina-
Penal ou mesmo na legislação extravagante, a exemplo do dos lugares quando, por circunstâncias relacionadas
que ocorre nas hipóteses de aborto necessário ou realizado ao fato, deva o indiciado ou acusado permanecer
no caso de gravidez resultante de estupro (art. 128, I e II, distante desses locais para evitar o risco de novas
do CP); de injúria ou difamação decorrentes: 1) de ofensas infrações;
irrogadas em juízo, na discussão da causa, pela parte ou por III – proibição de manter contato com pessoa deter-
seu procurador; 2) da opinião desfavorável da crítica literária, minada quando, por circunstâncias relacionadas ao
artística ou científica, salvo quando inequívoca a intenção de fato, deva o indiciado ou acusado dela permanecer
injuriar ou difamar; 3) da emissão de conceito desfavorável distante;
emitido por funcionário público, em apreciação ou informa- IV – proibição de ausentar-se da Comarca quando a
ção que preste no cumprimento de dever do ofício (art. 142, permanência seja conveniente ou necessária para a
I, II e III, do CPP); da intervenção médica ou cirúrgica, sem investigação ou instrução.
o consentimento do paciente ou de seu representante
Noções de Direito Processual Penal

legal, se justificada por iminente perigo de vida e a coação O art. 320 do CPP com a redação da Lei nº 12.403/2011
exercida para impedir suicídio, que não configuram o crime estabelece que a proibição de ausentar-se do País será co-
de constrangimento ilegal, nos termos do art. 146, § 3º, I municada pelo juiz às autoridades encarregadas de fiscalizar
e II, do CP; de entrada ou permanência em casa alheia ou as saídas do território nacional, intimando-se o indiciado ou
em suas dependências, durante o dia, com observância das acusado para entregar o passaporte, no prazo de 24 (vinte
formalidades legais, para efetuar prisão ou outra diligência, e quatro) horas.
bem como a qualquer hora do dia ou da noite, quando algum
crime está sendo ali praticado ou na iminência de o ser, que V – recolhimento domiciliar no período noturno e
não constituem o crime de violação de domicílio, nos termos nos dias de folga quando o investigado ou acusado
do art. 150, § 3º, I e II, do CP. tenha residência e trabalho fixos;
VI – suspensão do exercício de função pública ou
352
TRF 1ª Região/X Concurso/Juiz Federal Substituto.
353
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑GO/1º Exame de Ordem/2005; de atividade de natureza econômica ou financeira
Promotor-MG/2006 e Cespe/MPE-SE/Promotor Substituto/2010/Questão 19/ quando houver justo receio de sua utilização para a
Assertiva d. prática de infrações penais;
354
Assunto cobrado na seguinte prova: Promotor-MG/2006.
355
Assunto cobrado na seguinte prova: Cesgranrio/Polícia Civil do Estado do Rio
de Janeiro/Investigador Policial/2006. TRF 1ª Região/X Concurso/Juiz Federal Substituto.
356

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VII – internação provisória do acusado nas hipóteses clusão. O juiz entendeu que não estavam presentes os
de crimes praticados com violência ou grave ameaça, requisitos da prisão preventiva e agiu corretamente ao
quando os peritos concluírem ser inimputável ou dar liberdade provisória, independentemente de fiança.360
semi-imputável (art. 26 do Código Penal) e houver Seguindo tal raciocínio: João e Pedro, ambos com deze‑
risco de reiteração; nove anos de idade, após subtraírem mediante violência
VIII  – fiança, nas infrações que a admitem, para bens pertencentes a Antônio, fogem. São imediatamente
assegurar o comparecimento a atos do processo, perseguidos por policiais que, depois de uma hora, en‑
evitar a obstrução do seu andamento ou em caso de contram João com parte dos bens subtraídos. O juiz pode
resistência injustificada à ordem judicial. conceder liberdade provisória sem fiança, se não estiverem
presentes os requisitos da preventiva, embora se trate de
Nos termos do § 4º do art. 319 do CPP, a fiança pode ser crime cometido mediante violência.361
cumulada com outras medidas cautelares.
Deve o juiz criminal, sob pena de incidir em error
IX – monitoração eletrônica. in procedendo, apreciar, quando da verificação dos
pressupostos de validade formal do flagrante delito,
Nos termos do art. 282 do CPP, com a redação da Lei os pressupostos materiais da prisão preventiva.362
nº 12.403/2011, para a aplicação das medidas cautelares
previstas no art. 319 do CPP, deve-se observar a: No mesmo sentido, o STJ destaca que

I – necessidade: não basta ao juiz fazer a simples análise da legalidade


I.I – para aplicação da lei penal, da prisão, cingindo-se a verificar o preenchimento
I.II – para a investigação ou das formalidades legais, especialmente quando
I.III – para a instrução criminal e, é provocado por petição da defesa requerendo a
I.IV – nos casos expressamente previstos, para evitar liberdade provisória do preso, devendo, quando
a prática de infrações penais; da comunicação da prisão em flagrante, justificar a
manutenção da prisão, especificando os motivos que
II – adequação da medida: o levaram a entender incabível a liberdade provisória
II.I – à gravidade do crime, na espécie.363
II.II – às circunstâncias do fato e;
II.III – às condições pessoais do indiciado ou acusado. Há entendimento jurisprudencial no STJ no sentido de
que,
No caso de descumprimento de qualquer das obrigações
impostas nas medidas cautelares, o juiz, de ofício ou median- para a manutenção da prisão em flagrante, deve
te requerimento do Ministério Público, de seu assistente ou ser demonstrada, concretamente, a necessidade da
do querelante, poderá substituir a medida, impor outra em custódia, notadamente com alguma das hipóteses
cumulação, ou, em último caso, decretar a prisão preventiva, previstas no art. 312 do Código de Processo Penal,
nos termos do art. 312, parágrafo único, do CPP (art. 282, não se admitindo a prisão ex legis.364
§ 4º, do CPP, com a redação da Lei nº 12.403/2011).
A prisão preventiva só será determinada quando não Também para a concessão de liberdade provisória é
for cabível a sua substituição por outra medida cautelar necessária fundamentação, conforme destaca o STF:
prevista no art. 319 (art. 282, § 6º, do CPP, com a redação
da Lei nº 12.403/2011). a prisão em flagrante, em delito de reconhecida gra-
O juiz poderá revogar a medida cautelar ou substituí- vidade, exige que o magistrado explicite a presença
-la quando verificar a falta de motivo para que subsista, dos requisitos legais para a concessão de liberdade
bem como voltar a decretá-la, se sobrevierem razões que provisória.365
a justifiquem (art. 282, § 5º, do CPP, com a redação da Lei
Com a edição da Lei nº 12.403/2011, referida orientação
nº 12.403/2011).
jurisprudencial foi incorporada ao direito pátrio. Com efeito,
Senão restar materializada qualquer das hipóteses
a nova redação do art. 310 do CPP impõe ao juiz que, quando
que autorizam a prisão preventiva, deverá o juiz conceder
este receber o auto de prisão em flagrante, deverá funda-
liberdade provisória.357
mentadamente: I – relaxar a prisão ilegal; ou II – converter
Se restarem verificados os pressupostos da prisão pre-
a prisão em flagrante em preventiva, quando presentes os
ventiva a prisão em flagrante será convertida em prisão
requisitos constantes do art. 312 deste Código, e se reve-
Noções de Direito Processual Penal

preventiva.
larem inadequadas ou insuficientes as medidas cautelares
A circunstância de ser réu primário e de ter bons an-
diversas da prisão; ou III – conceder liberdade provisória,
tecedentes, por si só, não dá ao réu o direito a responder
com ou sem fiança.
ao processo em liberdade.358 Devem ser analisados os fun- Liberdade provisória com fiança (art. 319, VIII, do CPP,
damentos do art. 312 do CPP. Nas hipóteses de cabimento com a redação da Lei nº 12.403/2011).
de prisão preventiva, a liberdade provisória é vedada, por Nos casos em que couber fiança, o juiz, verificando ser
força da legislação processual penal.359 impossível ao réu prestá-la, por motivo de pobreza, poderá
Para a concessão da liberdade provisória, pouco importa
ser ou não fixada fiança. 360
FGV/TJ‑SE/Analista Judiciário/2004.
Dessa forma, Peterpan foi autuado em flagrante pela 361
TRF 5ª Região/Juiz Federal Substituto/2001.
prática de crime cuja pena mínima é de seis anos de re‑ 362
STF; HC nº 92.133/CE; Rel. Min. Ricardo Lewandowski, Primeira Turma, Julga-
mento: 25/9/2007.
363
STJ; HC nº 86.027/PR; Min. Maria Thereza de Assis Moura, Sexta Turma, DJe
357
Assunto cobrado nas seguintes provas: Vunesp/OAB‑SP/128º Exame e TRF 3ª 1º/9/2008.
Região/X Concurso/Juiz Federal Substituto. 364
STJ; HC nº 86.833/PR; Min. Maria Thereza de Assis Moura, Sexta Turma, DJ
358
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/OAB/Exame de Ordem/2007. 18/2/2008.
359
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/TRE‑MG/Analista Judiciário/2005; 365
STF; HC nº 93.862/SP; Rel. Min. Ricardo Lewandowski, Primeira Turma, Julga-
FCC/TRE‑MG/Analista Judiciário/2005 e FCC/TRE‑MG/Analista Judiciário/2005. mento: 10/6/2008.

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conceder-lhe a liberdade provisória, sujeitando-o às obri‑ Nos termos do parágrafo único do art. 322, do CPP, se a
gações previstas no Código de Processo Penal.366 pena prevista para infração for superior a 4 (quatro) anos,
O art. 350 do CPP com a redação da Lei nº 12.403/2011 a fiança será requerida ao juiz, que decidirá em 48 (quarenta
estabelece que, nos casos em que couber fiança, o juiz, veri- e oito) horas.
ficando a situação econômica do preso, poderá (entenda-se Em caso de prisão por mandado, também será compe‑
“deverá”) conceder-lhe liberdade provisória, sujeitando-o às tente para conceder fiança a autoridade policial a quem
obrigações constantes dos arts. 327 e 328 deste Código e a tiver sido requisitada a prisão.370
outras medidas cautelares, se for o caso. Recusando ou retardando a autoridade policial a conces-
Desta forma, será obrigado o afiançado a comparecer são da fiança, o preso, ou alguém por ele, poderá prestá-la,
perante a autoridade, todas as vezes que for intimado para mediante simples petição, perante o juiz competente, que
atos do inquérito e da instrução criminal e para o julga- decidirá em 48 (quarenta e oito) horas (art. 335 do CPP com
mento. Quando o réu não comparecer, a fiança será havida a redação da Lei nº 12.403/2011). Não há mais necessidade
como quebrada (art. 327 do CPP). Também se exige que o de oitiva prévia da autoridade policial para a decisão do
afiançado não poderá, sob pena de quebramento da fiança, juiz, sendo que agora fixou-se prazo para que o juiz analise
mudar de residência, sem prévia permissão da autoridade o pedido de fiança.
processante, ou ausentar-se por mais de 8 (oito) dias de sua Depois de prestada a fiança, que será concedida inde-
residência, sem comunicar àquela autoridade o lugar onde pendentemente de audiência do Ministério Público, este terá
será encontrado (art. 328 do CPP). O juiz também poderá vista do processo a fim de requerer o que julgar conveniente
determinar que o afiançado cumpra alguma obrigação de (art. 331 do CPP). Dessa forma, segundo o Código de Processo
medida cautelar prevista no art. 319 do CPP, com redação Penal, a fiança é concedida pela autoridade independente-
da Lei nº 12.403/2011. mente da oitiva do Ministério Público.371
Nos termos do parágrafo único do art. 350 do CPP com A fiança, nos casos em que é admitida, pode ser con-
a redação da Lei nº 12.403/2011, se o beneficiado descum- cedida sempre pela autoridade competente.372 Entretanto,
prir, sem motivo justo, qualquer das obrigações ou medidas o “pode” deve ser entendido como “deve”, eis que, uma
impostas, o  juiz, de ofício ou mediante requerimento do vez verificadas as hipóteses legalmente previstas, o flagrado
Ministério Público, de seu assistente ou do querelante, tem direito subjetivo ao arbitramento. Assim, a fiança é, em
poderá substituir a medida, impor outra em cumulação, regra, obrigatória, devendo ser arbitrada sempre que não
ou, em último caso, decretar a prisão preventiva (art. 312, existirem óbices legais, não se tratando de faculdade das
parágrafo único). autoridades.373
Com a edição da Lei nº 12.403/2011, que revogou o
§ 2º do art. 325 do CPP não há mais forma diferenciada de Objeto de Fiança
concessão ou fixação de valor de fiança para os casos de A fiança é uma garantia real, que consiste no pagamen‑
prisão em flagrante pela prática de crime contra a economia to em dinheiro ao Estado, visando assegurar ao agente o
popular ou de crime de sonegação fiscal. direito de permanecer solto, durante o trâmite do processo
criminal.374
Liberdade Provisória com Fiança A fiança, que será sempre definitiva, poderá se con‑
sistir também em depósito de pedras, objetos ou metais
Momento da Concessão da Fiança preciosos, títulos da dívida pública, federal, estadual ou
A fiança poderá ser prestada em qualquer termo do municipal, ou em hipoteca inscrita em primeiro lugar375
processo, enquanto não transitar em julgado a sentença (art. 330 do CPP).
condenatória (art.  334 do CPP). Nesse sentido, a  fiança Nos casos em que a fiança tiver sido prestada por meio
pode ser prestada pelo réu por ocasião da interposição do de hipoteca, a execução será promovida no juízo cível pelo
recurso especial sendo irrelevante a inexistência de efeito órgão do Ministério Público (art. 348 do CPP).
suspensivo do recurso e de a prisão dele decorrente cons‑ Se a fiança consistir em pedras, objetos ou metais pre-
tituir execução provisória da condenação.367 ciosos, o juiz determinará a venda por leiloeiro ou corretor
(art. 349 do CPP).
Autoridade Competente para Conceder A avaliação de imóvel ou de pedras, objetos ou metais
A fiança deverá ser concedida pela autoridade policial preciosos será feita imediatamente por perito nomeado pela
ou pela autoridade judiciária de acordo com a gravidade autoridade (art. 330, § 1º, do CPP).
do crime.368 Quando a fiança consistir em caução de títulos da dívida
Em caso de prisão em flagrante, a autoridade que presidir pública, o valor será determinado pela sua cotação em Bolsa,
o respectivo auto será competente para conceder a fiança, e, sendo nominativos, exigir-se-á prova de que se acham
e, em caso de prisão por mandado, o  juiz que o houver
Noções de Direito Processual Penal

livres de ônus (art. 330, § 1º, do CPP).


expedido ou a autoridade judiciária ou policial a quem tiver
sido requisitada a prisão (art. 332 do CPP). Valor da Fiança
A autoridade policial somente poderá conceder fiança O valor da fiança será fixado pela autoridade que a con-
nos casos de infração cuja pena privativa de liberdade ceder nos seguintes limites:
máxima não seja superior a 4 (quatro) anos369 (art. 322 do I – de 1 (um) a 100 (cem) salários mínimos, quando se
CPP com a redação da Lei nº 12.403/2011). tratar de infração cuja pena privativa de liberdade, no grau má-
ximo, não for superior a 4 (quatro) anos; A título de exemplo:
366
MS/TRE-SC/Analista Judiciário/2009/Questão 66/Assertiva c. Determinada autoridade policial instaurou inquérito para
367
Cespe/Defensoria Pública da União/Defensor Público da União de 2ª Catego- investigar Júlio pela prática de constrangimento ilegal, crime
ria/2001.
368
MPDFT/28º Concurso para Promotor/2009.
369
Assunto cobrado nas seguintes provas antes da Lei nº  12.403/2011: NCE/ 370
FGV/TJ‑AM/Serviços Notariais e de Registro/2005.
Faepol/Delegado da Polícia Civil do Rio de Janeiro/2001; OAB‑SP/123º Exame 371
Assunto cobrado na seguinte prova: OAB‑MS/81º Exame de Ordem/2005.
de Ordem/2004; OAB‑RO/42º Exame; Vunesp/OAB‑SP/130º Exame; OAB- 372
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB-Nordeste/1º Exame de Or-
-Nordeste/1º Exame de Ordem/2005; OAB‑SP/127º Exame de Ordem/2005; dem/2005 e OAB‑PR/3º Exame de Ordem/2004.
NCE/Faepol/Delegado da Polícia Civil do Rio de Janeiro/2001; FGV/TJ‑AM/ 373
Delegado de Polícia Civil da Bahia/2001.
Serviços Notariais e de Registro/2005 e DRS‑Acadepol/SSP‑MG/Polícia Civil do 374
Promotor-AP/2005.
Estado de Minas Gerais/Delegado de Polícia/2007. 375
OAB‑PR/Exame 1/2006.

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que ele nega ter praticado. Júlio afirma querer demonstrar IV – resistir injustificadamente a ordem judicial; V – praticar
cabalmente sua inocência. Uma das testemunhas alega ter nova infração penal dolosa381 (art. 341 do CPP, com a redação
sido por ele ameaçada. A partir dessa situação hipotética, dada pela Lei nº 12.403/2011).
sendo afiançável o crime de constrangimento ilegal, será Se vier a ser reformado o julgamento em que se declarou
possível, caso Júlio seja preso, o arbitramento pela autori‑ quebrada a fiança, esta subsistirá em todos os seus efeitos
dade policial de fiança em valores entre um e cem salários (art. 342 do CPP).
mínimos.376 O quebramento injustificado da fiança importará na
II – de 10 (dez) a 200 (duzentos) salários mínimos, quan- perda de metade do seu valor382, cabendo ao juiz decidir
do o máximo da pena privativa de liberdade cominada for sobre a imposição de outras medidas cautelares ou, se for
superior a 4 (quatro) anos.377 (Art. 325 do CPP, com a redação o caso, a decretação da prisão preventiva (art. 343 do CPP
da Lei nº 12.403/2011). com a redação da Lei nº 12.403/2011).
Nos termos do § 1º do referido artigo, se assim reco- No caso de quebramento de fiança, feitas as deduções
mendar a situação econômica do preso, a fiança poderá ser: previstas no art. 345 do CPP, o valor restante será recolhido
I – dispensada, na forma do art. 350 do CPP; ao fundo penitenciário, na forma da lei (art. 346 do CPP com
II – reduzida até o máximo de 2/3 (dois terços); ou a redação da Lei nº 12.403/2011).
III – aumentada em até 1.000 (mil) vezes.378
Livro de Fiança
O § 2º do art. 325 do CPP, que estabelecia procedimento Nos juízos criminais e delegacias de polícia, haverá um
diferenciado os casos de prisão em flagrante pela prática de livro especial, com termos de abertura e de encerramento,
crime contra a economia popular ou de crime de sonegação numerado e rubricado em todas as suas folhas pela autorida-
fiscal,379 foi revogado. de, destinado especialmente aos termos de fiança. O termo
Para determinar o valor da fiança, a autoridade terá em será lavrado pelo escrivão e assinado pela autoridade e
consideração a natureza da infração, as condições pessoais por quem prestar a fiança, e dele extrair-se-á certidão para
de fortuna e vida pregressa do acusado, as circunstâncias juntar-se aos autos (art. 329 do CPP).
indicativas de sua periculosidade, bem como a importân-
cia provável das custas do processo, até final julgamento Destino da Fiança
(art. 326 do CPP). O valor em que consistir a fiança será recolhido à re-
partição arrecadadora federal ou estadual, ou entregue ao
Reforço da Fiança depositário público, juntando-se aos autos os respectivos
Será exigido o reforço da fiança: I – quando a autoridade conhecimentos (art. 331 do CPP).
tomar, por engano, fiança insuficiente; II – quando houver Nos lugares em que o depósito não se puder fazer de
depreciação material ou perecimento dos bens hipoteca- pronto, o valor será entregue ao escrivão ou pessoa abonada,
dos ou caucionados, ou depreciação dos metais ou pedras a critério da autoridade, e dentro de três dias dar-se-á ao
preciosas; III – quando for inovada a classificação do delito valor o destino que lhe assina este artigo, o que tudo cons-
(art. 340 do CPP). tará do termo de fiança (art. 331, parágrafo único, do CPP).
A fiança ficará sem efeito e o réu será recolhido à prisão,
quando, nas hipóteses acima referidas, não for reforçada380 Destino da Fiança
(art. 340, parágrafo único, do CPP). O dinheiro ou objetos dados como fiança servirão ao
pagamento das custas, da indenização do dano, da prestação
Obrigações do Beneficiário da Fiança pecuniária e da multa, se o réu for condenado, ainda em caso
A fiança tomada por termo obrigará o afiançado a de prescrição depois da sentença condenatória (Código Pe-
comparecer perante a autoridade todas as vezes que for nal, art. 110 e seu parágrafo) (art. 336 do CPP com a redação
intimado para atos do inquérito e da instrução criminal e da Lei nº 12.403/2011).
para o julgamento. Quando o réu não comparecer, a fiança
será considerada quebrada (art. 327 do CPP). Cassação da Fiança
O réu e quem prestar a fiança serão, pelo escrivão, no- A fiança que se reconheça não ser cabível na espécie
tificados das obrigações e da sanção previstas nos arts. 327 será cassada em qualquer fase do processo383 (art. 338 do
e 328, o que constará dos autos (art. 329, parágrafo único, CPP). Será também cassada a fiança quando reconhecida
do CPP ). a existência de delito inafiançável, no caso de inovação na
O réu afiançado não poderá, sob pena de quebramento classificação do delito (art. 339 do CPP).
da fiança, mudar de residência sem prévia permissão da Nesse sentido, a fiança será cassada caso o represen‑
autoridade processante ou ausentar-se por mais de 8 (oito) tante do MP, no oferecimento da denúncia, tipifique como
Noções de Direito Processual Penal

dias de sua residência sem comunicar àquela autoridade o crime inafiançável conduta provisoriamente considerada
lugar onde será encontrado (art. 328 do CPP). afiançável, na fase de inquérito policial inaugurado por
força de auto de prisão em flagrante.384
Quebra da Fiança
Julgar-se-á quebrada a fiança quando o acusado: I – re- Perda da Fiança
gularmente intimado para ato do processo, deixar de com- Entender-se-á perdido, na totalidade, o valor da fiança,
parecer, sem motivo justo; II – deliberadamente praticar ato se, condenado, o acusado não se apresentar para o início do
de obstrução ao andamento do processo; III – descumprir cumprimento da pena definitivamente imposta (art. 344 do
medida cautelar imposta cumulativamente com a fiança; CPP com a redação da Lei nº 12.403/2011).
No caso de perda da fiança, o seu valor, deduzidas as
376
Cespe/TJ-AC/Juiz Substituto. custas e mais encargos a que o acusado estiver obrigado, será
377
Assunto cobrado na seguinte prova: FCC/TRE-CE/Analista Judiciário/Área
Administrativa/Questão 60/2012.
378
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/MPE-TO/Promotor/Assertiva 381
Assunto cobrado, antes da Lei nº 12.403/2011, na seguinte prova: TRF 3ª Região/
E/2012 e FCC/TRE-CE/Analista Judiciário/Área Administrativa/Questão 60/2012. IX Concurso/Juiz Federal Substituto.
379
Assunto cobrado, antes da Lei nº 12.403/2011, na seguinte prova: OAB‑MG/ 382
Assunto cobrado na seguinte prova: TRF 3ª Região/IX Concurso/Juiz Federal
Comissão de Exame de Ordem/2008. Substituto.
380
Assunto cobrado nas seguintes provas: Acadepol-SP/Delegado de Polícia de 383
OAB‑MT/1º Exame de Ordem/2004.
São Paulo/2003 e OAB‑PR/Exame 1/2006. 384
Cespe/MPE-TO/Promotor/Assertiva D/2012.

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recolhido ao fundo penitenciário, na forma da lei (art. 345 hediondos (arts.  5º, XLIII, da CF/1988; art.  2º, II, da Lei
do CPP com a redação da Lei nº 12.403/2011). nº 8.072/1990, art. 1º, §§ 1º e 6º, da Lei nº 9.455/1997, e 33,
caput, da Lei nº 11.343/2006);
Devolução do Valor da Fiança III – nos crimes cometidos por grupos armados, civis ou
Se a fiança for declarada sem efeito ou passar em julga- militares, contra a ordem constitucional e o Estado Demo-
do sentença que houver absolvido o acusado ou declarada crático (art. 5º, XLIV, da CF/1988);
extinta a ação penal, o  valor que a constituir, atualizado, IV  – aos que, no mesmo processo, tiverem quebrado
será restituído sem desconto, salvo em ocorrendo prescrição fiança anteriormente concedida ou infringido, sem motivo
depois da sentença condenatória (art. 337 do CP). justo, qualquer das obrigações a que se referem os arts. 327
Não ocorrendo hipótese de perda da fiança, o  saldo e 328 do CPP;
será entregue a quem houver prestado a fiança, depois de V – em caso de prisão civil ou militar388. Reiterando, não
deduzidos os encargos a que o réu estiver obrigado (art. 347 será concedida fiança em caso de prisão por mandado do
do CPP). juiz do cível.389;
VI – quando presentes os motivos que autorizam a de-
Fiança e Recurso cretação da prisão preventiva (art. 312).
Da decisão do juiz que conceder,385 negar, arbitrar, A Nova Lei mudou completamente a sistemática da
cassar ou julgar inidônea a fiança, ou que a julgar quebrada inafiançabilidade.
ou determinar o perdimento do seu valor, cabe recurso em Não há mais vedação da concessão de fiança: 1) a con-
sentido estrito, nos termos do art. 581, V e VII, do CPP. Se travenções de vadiagem nos termos do art. 59 da Lei de Con-
negar, é cabível a ação autônoma de impugnação de habeas travenções Penais (Decreto-Lei nº 3.688/1941); 2) a Crimes
corpus, nos termos do art. 648, V, do CPP. punidos com reclusão em que a pena mínima cominada for
superior a 2 (dois) anos, não tendo mais aplicação a nº 81
Liberdade provisória e infrações de menor potencial do STJ; 3) a crimes dolosos punidos com pena privativa
ofensivo da liberdade, se o réu já tiver sido condenado por outro
O Juizado Especial Criminal tem competência para a crime doloso, em sentença transitada em julgado;390 4) se
conciliação, o julgamento e a execução das infrações penais houver no processo prova de ser o réu vadio; 5) nos crimes
de menor potencial ofensivo, consubstanciadas as contra- punidos com reclusão, que provoquem clamor público ou
venções penais e os crimes a que a lei comine pena máxima que tenham sido cometidos com violência contra a pessoa
não superior a 2 (dois) anos (art. 61 da Lei nº 9.099/1995). ou grave ameaça; 6) ao que estiver no gozo de suspensão
Em referidas infrações, a princípio não há lavratura do condicional da pena ou de livramento condicional; e 7) crimes
auto de prisão em flagrante, mas sim de termo circuns- contra o sistema financeiro.
tanciado. O art. 69, parágrafo único, da Lei nº 9.099/1995
determina que Hipóteses de vedação da liberdade provisória seja o
delito afiançável ou não
ao autor do fato que, após a lavratura do termo, for 1) Membros ativos de organização criminosa (art.  7º
imediatamente encaminhado ao juizado ou assumir da Lei nº 9.034/1995). Em sendo o indivíduo membro de
o compromisso de a ele comparecer, não se imporá organização criminosa (estrutura hierárquica com divisão
prisão em flagrante, nem se exigirá fiança. de tarefas e funções de seus membros), entende‑se que
isso, por si só, já faz restar presentes os requisitos da prisão
Para Pacheco (2009, p. 913), se o autor dos fatos se negar preventiva. Nesse sentido, o STF destaca que
a assumir o compromisso, a consequência é a lavratura do
auto de prisão em flagrante. Após a lavratura, poderá se livrar a regra do art. 7º da Lei nº 9.034/1995, consoante
solto, com ou sem o pagamento de fiança, dependendo do a qual não será concedida liberdade provisória, com
delito cometido e de suas circunstâncias pessoais. ou sem fiança, aos agentes que tenham tido intensa
e efetiva participação na organização criminosa, com
Liberdade provisória vedada386
efeito, revela‑se coerente com o disposto no art. 312,
Tendo‑se em conta as garantias processuais penais inscri-
do CPP. (STF, HC nº 94.739/SP, Rel. Min. Ellen Gracie,
tas no art. 5º da Constituição Federal, é correto afirmar‑se
Segunda Turma, Julgamento: 7/10/2008)
que a prisão em flagrante por crime inafiançável não
impede a concessão de liberdade provisória, quando a lei
2) Crimes de “lavagem” ou ocultação de bens, direitos
admitir.387 Com efeito, mesmo em sendo o crime inafiançá-
e valores (art. 3º da Lei nº 9.613/1998). O STJ entende que
vel, cabe ao flagranteado pleitear junto ao juiz a concessão
a “vedação à liberdade provisória, que reforça a necessi-
de liberdade provisória se não restarem presentes os pres-
Noções de Direito Processual Penal

supostos da prisão preventiva. dade de manutenção da prisão preventiva, contida na Lei


9.034/1995, constitui importante instrumento de que dispõe
Hipóteses de Vedação da Liberdade Provisória em o Estado para desarticular organizações criminosas”. (STJ,
Face da Inafiançabilidade do Delito HC nº 28.671/MT, Min. Jorge Scartezzini, Quinta Turma, DJ
5/4/2004)
Nos termos dos art. 323 e 324 do CPP com a redação da Com relação aos chamados crimes de “lavagem” ou
Lei nº 12.403/2011, não será concedida fiança: ocultação de bens, direitos e valores oriundos de outras
I – nos crimes de racismo previstos na Lei nº 7.716/1989, infrações, tratados na Lei nº 9.613/1998, não haverá con‑
nos termos do art. 5º, XLII, da CF/1988; cessão de liberdade provisória, ainda que sob fiança, mas
II – nos crimes de tortura, tráfico ilícito de entorpecen- não está retirada a possibilidade de o réu apelar solto.391
tes e drogas afins, terrorismo e nos definidos como crimes Com efeito, estabelece o art. 3º da referida lei que, em caso

385
Assunto cobrado na seguinte prova: OAB‑Nordeste/2º Exame de Ordem/2003. 388
Assunto cobrado, antes da Lei nº 12.403/2011, na seguinte prova: Cespe/PM-DF/
386
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/Defensoria Pública do Estado de Soldado/2009.
Alagoas/Defensor Público de 1ª Classe/2003. 389
Vunesp/OAB-SP/133º Exame.
387
Assunto cobrado na seguinte prova: TRF 3ª Região/X Concurso/Juiz Federal 390
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/MPE-TO/Promotor/Assertiva A/2012
Substituto. 391
TRF 3ª Região/Juiz Federal Substituto.

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de sentença condenatória, o  juiz decidirá fundamentada- a vedação da liberdade provisória a que se refere
mente se o réu poderá apelar em liberdade. o art. 44 da Lei nº 11.343/2006, por ser norma de
3) O art. 21 do Estatuto do Desarmamento destacava caráter especial, não foi revogada por diploma legal
que os crimes de posse ou porte ilegal de arma de fogo de de caráter geral, qual seja, a Lei nº 11.464/2007. (STF,
uso restrito, comércio ilegal de arma de fogo392 e tráfico in- HC nº 93.000/MG, Rel. Min. Ricardo Lewandowski,
ternacional de arma de fogo eram insuscetíveis de liberdade Primeira Turma, Julgamento: 1/4/2008)
provisória. Entretanto, o referido dispositivo foi declarado
inconstitucional, nos termos da Adin nº 3.112-1. Vejamos jurisprudência elucidativa sobre o tema:
4) Os crimes hediondos, a prática da tortura, o tráfico
ilícito de entorpecentes e drogas afins e o terrorismo eram A proibição de concessão do benefício de liberdade
insuscetíveis de liberdade provisória, nos termos do art. 2º, provisória para os autores do crime de tráfico ilícito
inciso II, da Lei nº 8.072/1990. de entorpecentes está prevista no art. 44 da Lei
Quanto aos crimes hediondos e terrorismo, a  Lei nº 11.343/2006, que é, por si, fundamento suficien-
nº 11.464, de 2007, revogou a proibição de concessão da li- te por se tratar de norma especial especificamente
berdade provisória. O inciso II do art. 2º da Lei nº 8.072/1990 em relação ao parágrafo único do art. 310 do CPP.
(Lei dos Crimes Hediondos) não veda mais a possibilidade IV – Precedentes do Pretório Excelso (AgReg no HC
da liberdade provisória aos agentes que cometerem crimes nº 85.711-6/ES, Primeira Turma, Rel. Min. Sepúlveda
hediondos.393 Pertence; HC nº 86.118-1/DF, Primeira Turma, Rel.
Dessa forma, os  referidos crimes continuam apenas Min. Cezar Peluso; HC nº 83.468-0/ES, Primeira Tur-
sendo inafiançáveis. Entretanto, em face de continuarem ma, Rel. Min. Sepúlveda Pertence; HC nº 82.695-4/
sendo inafiançáveis, continua impossível a concessão de RJ, Segunda Turma, Rel. Min. Carlos Velloso). V – “De
liberdade provisória sem fiança, conforme entendimento outro lado, é certo que a Lei nº 11.464/2007 – em
que se encontra consolidado no STF: vigor desde 29/3/2007 – deu nova redação ao art. 2º,
II, da Lei nº 8.072/1990, para excluir do dispositivo
Se o crime é inafiançável, e  preso o acusado em a expressão “e liberdade provisória”. Ocorre que –
flagrante, o  instituto da liberdade provisória não sem prejuízo, em outra oportunidade, do exame
tem como operar. O inciso II do art. 2º da Lei mais detido que a questão requer –, essa alteração
nº 8.072/1990, quando impedia a “fiança e a li- legal não resulta, necessariamente, na virada da
berdade provisória”, de certa forma incidia em jurisprudência predominante do Tribunal, firme
redundância, dado que, sob o prisma constitucional em que da “proibição da liberdade provisória nos
(inciso XLIII do art. 5º da CF/1988), tal ressalva era processos por crimes hediondos (...) não se subtrai a
desnecessária. Redundância que foi reparada pelo hipótese de não ocorrência no caso dos motivos au-
legislador ordinário (Lei nº 11.464/2007), ao retirar o torizadores da prisão preventiva” (v.g., HC nº 83.468,
excesso verbal e manter, tão somente, a vedação do Primeira Turma, 11/9/2003, Pertence, DJ 27/2/2004;
instituto da fiança. 3. Manutenção da jurisprudência nº  82.695, Segunda Turma, 1/5/2003, Velloso, DJ
desta Primeira Turma, no sentido de que “a proibição 6/6/2003; nº  79.386, Segunda Turma, 5/10/1999,
da liberdade provisória, nessa hipótese, deriva logi- Marco Aurélio, DJ 4/8/2000; nº 78.086, Primeira
camente do preceito constitucional que impõe a ina- Turma, 11/12/1998, Pertence, DJ 9/4/1999). Nos
fiançabilidade das referidas infrações penais: ... seria precedentes, com efeito, há ressalva expressa no
ilógico que, vedada pelo art. 5º, XLIII, da Constituição, sentido de que a proibição de liberdade provisória
a  liberdade provisória mediante fiança nos crimes decorre da própria “inafiançabilidade imposta pela
hediondos, fosse ela admissível nos casos legais de Constituição” (CF, art. 5º, XLIII). (STF, HC nº 91.550/
liberdade provisória sem fiança...” (HC nº 83.468, da SP, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, DJ 6/6/2007).
relatoria do Min. Sepúlveda Pertence). Precedente: VI  – Ademais, em decisão recente publicada no
HC nº 93.302, da relatoria da Min. Cármen Lúcia (STF,
Informativo de Jurisprudência nº  508, o  Pretório
HC nº  95.060/SP, Rel. Min. Carlos Britto, Primeira
Excelso assim se manifestou sobre o tema: ‘A Turma
Turma, Julgamento: 16/12/2008)
indeferiu habeas corpus em que pleiteada a soltura
da paciente, presa em flagrante desde novembro
Com relação ao crime de tortura, há legislação específica.
de 2006, por suposta infringência dos arts. 33 e
Nos termos do § 6º do art. 1º da Lei nº 9.455/1997, a tor-
35, ambos da Lei nº 11.343/2006. A defesa aduzia
tura é apenas crime inafiançável, não havendo ali previsão
que a paciente teria direito à liberdade provisória,
de proibição de liberdade provisória. Entretanto, conforme
Noções de Direito Processual Penal

visto acima, o fato de ser inafiançável, por si só, impede a bem como sustentava a inocorrência dos requisitos
concessão de liberdade provisória sem fiança. para a prisão cautelar e a configuração de excesso
No que se refere ao crime de tráfico ilícito de entorpecen- de prazo nessa custódia. Afirmou‑se que esta Corte
tes e drogas afins, o art. 44 da Lei nº 11.343/2006 estabeleceu tem adotado orientação segundo a qual há proibição
que os crimes de tráfico ilícito de drogas, tráfico ou manuten- legal para a concessão da liberdade provisória em
ção de maquinários, associação para o tráfico, financiamento favor dos sujeitos ativos do crime de tráfico ilícito
do tráfico e sua associação para tanto e colaboração como de drogas, o que, por si só, seria fundamento para
informante do tráfico, previstos no art.  33, caput e § 1º, denegar‑se esse benefício. Enfatizou‑se que a aludida
e arts. 34 a 37 da referida lei, são inafiançáveis e insuscetíveis Lei nº 11.343/2006 cuida de norma especial em rela-
de liberdade provisória. No particular, o STF entende que ção àquela contida no art. 310, parágrafo único, do
CPP, em consonância com o disposto no art. 5º, XLIII,
da CF. Desse modo, a redação conferida ao art. 2º, II,
Assunto cobrado na seguinte prova: OAB‑SP/125º Exame de Ordem/2005.
392 da Lei nº 8.072/1990, pela Lei nº 11.464/2007, não
Gabarito adaptado em face da alteração do art. 2º, inciso II, da Lei
393 prepondera sobre o disposto no art. 44 da citada Lei
nº 8.072/1990. Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/Secad-TO/De- nº 11.343/2006, eis que esta se refere explicitamente
legado de Polícia Civil 1ª Classe/2008; Cespe/TJ‑RR/Analista Proces­sual/2006;
OAB‑MS/79º Exame de Ordem/2004 e OAB‑ES/2º Exame de Ordem/2004. à proibição da concessão de liberdade provisória em

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se tratando de delito de tráfico ilícito de substância Legitimidade para o Requerimento
entorpecente. Asseverou‑se, ainda, que, de acordo
com esse mesmo art. 5º, XLIII, da CF, são inafiançá- Em qualquer fase da investigação policial ou do processo
veis os crimes hediondos e equiparados, sendo que penal, caberá a prisão preventiva decretada pelo juiz, de
o art. 2º, II, da Lei nº 8.072/1990 apenas atendeu ofício, se no curso da ação penal, ou a requerimento do
ao comando constitucional’ (HC nº 92.495/PE. Rel. Ministério Público, do querelante ou do assistente, ou por
Min. Ellen Gracie, julgado em 27/5/2008). Ordem representação da autoridade policial401 (art. 311 do CPP com
denegada. (STJ, HC nº 106.143/AM, Min. Felix Fischer, a redação da Lei nº 12.403/2011).
Quinta Turma, DJe 6/10/2008) O juiz só pode decretar a prisão preventiva de ofício na
fase judicial. Não pode mais decretar a prisão preventiva de
As referências constantes no julgado acima feitas ao ofício na fase do inquérito policial.
art. 310, parágrafo único, do CPP, são anteriores à Lei nº O assistente da acusação agora tem legitimidade para
12.403/2011, sendo que agora a base das referências cons- requerer a prisão preventiva.
tantes acima é o inciso II do art. 310 do CPP.
A jurisprudência do STJ pacificou-se no sentido de que Ordem judicial fundamentada
a proibição da liberdade provisória para os autores de trá-
fico de drogas, prevista na Lei nº 11.343/2006, é, por si só,
A prisão preventiva é decretada pelo juiz, mediante re-
fundamento suficiente para a denegação do benefício.394
querimento ou mesmo de ofício402, se no curso da ação penal.
Dessa forma, a vedação constitucional da fiança implica
A decisão que decretar, substituir ou denegar a prisão
que não cabe liberdade provisória também sem fiança, o que
traz, como consequência imediata, a desnecessidade de o juiz preventiva será sempre motivada (art.  315 do CPP com a
ter que fundamentar e motivar previamente a manutenção redação da Lei nº 12.403/2011).
de eventual prisão em flagrante, sendo que, no caso, cabe ao A decisão que decreta a prisão preventiva deve ser
flagranteado comprovar a ausência de necessidade da prisão sempre fundamentada. A que a nega também imprescinde
cautelar para conseguir responder ao processo em liberdade, de fundamentação.403
demonstrando não estarem presentes os requisitos da prisão A título de exemplo, com referência à prisão cautelar
preventiva. Assim, verifica‑se a “irrelevância da existência, ou requerida pelo Ministério Público após o oferecimento de
não, de fundamentação cautelar para a prisão em flagrante por denúncia, o deferimento da medida cautelar deve ter como
crimes hediondos ou equiparados”. (STF, HC nº 95.584/SP, Rel. fundamento os pressupostos previstos no Código de Pro-
Min. Cármen Lúcia, Primeira Turma, Julgamento: 21/10/2008) cesso Penal, devendo o juiz fundamentar a sua decisão.404
A proibição de liberdade provisória, nos casos de crimes A decretação de prisão preventiva pode tornar prevento
hediondos e equiparados, decorre da própria inafiançabili‑ o juízo.405
dade imposta pela CF à legislação ordinária.395 A prisão preventiva também pode ser decretada por
Dessa forma, continua aplicável a Súmula nº 697 do STF, tribunal, seja nos casos de competência originária, seja
no sentido de que “a proibição de liberdade provisória nos recursal, sendo limite apenas a verificação da coisa julgada.
processos por crimes hediondos não veda o relaxamento da Desta forma, analise a situação: Nicolas Santíssimo foi
prisão processual por excesso de prazo”.396 (CAPEZ, 2009, preso em flagrante como suspeito do assassinato de sua es-
p. 288) posa. Durante o inquérito, permaneceu preso, assim como
durante toda a instrução criminal que se seguiu à denúncia
Recursos em face da concessão da liberdade provisória por homicídio privilegiado que foi oferecida em seu desfa-
Da decisão do juiz que conceder liberdade provisória, vor. Ao ser interrogado, confessou o crime. No momento
cabe recurso em sentido estrito, nos termos do art. 581, V, da pronúncia, o juiz revogou a prisão por constatar que não
do CPP. Se negar, é cabível a ação autônoma de impugnação estavam presentes os requisitos da preventiva. Julgado pelo
de habeas corpus, nos termos do art. 648, I, do CPP, eis que Tribunal do Júri, Nicolas foi condenado à pena de seis anos
haverá coação sem justa causa. de reclusão em regime inicial fechado, sendo‑lhe facultado
o direito de apelar em liberdade. O apelo de Nicolas não
Prisão Preventiva foi provido pelo Tribunal que, ao denegar a apelação,
decretou a prisão de Nicolas, na forma do art. 312, devido
Conceito às evidências contidas nos autos de que ele pretendia se
furtar à aplicação da lei. Nicolas interpôs recurso especial
Trata-se de prisão cautelar e processual,397 de natu- e extraordinário, os  quais foram admitidos, processados
reza excepcional, vinculada às hipóteses previstas em lei e aguardam remessa para julgamento nos tribunais supe-
Noções de Direito Processual Penal

decretada por ordem judicial fundamentada398 sem prazo riores. Considerando que Nicolas já ficara preso durante
específico,399 seja na fase de investigação preliminar ao pro-
quase quatro anos, a defesa de Nicolas requereu, e o
cesso penal ou na fase judicial antes do trânsito em julgado.
Tribunal determinou a extração de carta de execução de
Por decorrer de ordem judicial, considerando os princí‑
sentença e sua remessa à Vara de Execuções Penais (VEP)
pios constitucionais aplicáveis ao processo penal, a prisão
preventiva está prevista na Constituição Federal.400 401
Assunto cobrado, antes da Lei nº  12.403/2011, nas seguintes provas: FCC/
TRF 1ª Região/Analista Judiciário/2001; NCE/Delegado da Polícia Civil de 3ª
Classe do RJ/2002; UEG/Delegado de Polícia de 3ª Classe de Goiás/2003;
394
Assunto cobrado na prova do Cespe/TRF 1ª Região/ Juiz Federal Substituto / Cespe/Defensoria Pública do Estado de Alagoas/Defensor Público de 1ª Clas-
Questão 25/Assertiva D/2009; STJ; HC nº 14.4448 / PR; Ministro Celso Limongi; se/2003; Acadepol-SP/Delegado de Polícia de São Paulo/2003; FGV/TJ‑SE/
Sexta Turma; DJe 18/12/2009. Técnico Judiciário/2004; Cespe/Prefeitura Municipal de Vitória/Procurador
395
Cespe/DPE-PI/Defensor Público/Questão 35/Assertiva A/2009. Municipal/2007; FCC/TRF 5ª Região/Analista Judiciário/2003; OAB‑PR/Exame
396
MPE-PR/Promotor de Justiça Substituto/Questão 69/Item I/2011. 2/2006 e OAB‑ES/2º Exame de Ordem/2005.
397
FCC/TRF 1ª Região/Analista Judiciário/2001. 402
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/MPE-SE/Promotor Substituto/2010/
398
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/TRF 1ª Região/Analista Judiciá- Questão 19/Assertiva e.
rio/2001; OAB‑RS/2º Exame de Ordem/2004; Vunesp/TRF 3ª Região/Analista 403
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/PC‑PB/Agente de Investigação e
Judiciário/2002 e OAB‑GO/1º Exame de Ordem/2005. Escrivão de Polícia/2009.
399
FCC/TRE‑AP/Analista Judiciário/2006. 404
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/TJ‑RR/Analista Processual/2006.
400
FGV/TJ‑SE/Analista Judiciário/2004. 405
OAB‑MS/81º Exame de Ordem/2005.

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para imediata execução da sentença. A prisão decretada estipulado o regime inicial semiaberto para cum-
não viola o princípio da presunção de inocência, ao passo primento da pena, mostra‑se incompatível com a
que a extração de carta de execução de sentença antes condenação a manutenção da prisão preventiva,
do trânsito em julgado é adequada, porque ensejará uma ainda que a acusação tenha recorrido.413/414
situação mais benéfica ao réu.406
Entretanto, há entendimento contrário no próprio STJ,
Recurso cabível no sentido de que

Nos termos do art. 581, V, do CPP, cabe recurso em sen- não há incompatibilidade entre a fixação do regime
tido estrito da decisão que indeferir requerimento de prisão semiaberto e a manutenção da custódia provisória,
preventiva ou revogá‑la. desde que presentes os requisitos do art. 312 do
Se houver determinação de prisão preventiva ou mesmo Código de Processo Penal.415
indeferimento do pedido de revogação, cabe habeas corpus,
nos termos do art. 648, I, do CPP. Por outro lado, segundo o STF,
Caso o delegado de polícia represente pela prisão pre‑
ventiva do indiciado, e se o juiz entender que não há ne‑ existe constrangimento ilegal quando a decisão do
cessidade de se decretá‑la, o delegado não poderá interpor Tribunal, ao alterar o regime de cumprimento de
qualquer recurso contra a decisão judicial.407 pena, do semiaberto para o aberto, não se pronuncia
quanto ao pedido de recolhimento do mandado de
Momento prisão.416
A prisão preventiva somente pode ser decretada pela Prazo
autoridade judiciária, o que o faz em qualquer fase do
inquérito policial ou do processo.408
A prisão preventiva não tem prazo determinado em lei,
Em qualquer fase da investigação policial ou do processo
podendo ser readequada em havendo alteração na situação
penal, caberá a prisão preventiva decretada pelo juiz, de
fática que a autorizou.417
ofício, se no curso da ação penal, ou a requerimento do
Embora a lei não determine prazo para a manutenção
Ministério Público, do querelante ou do assistente, ou por
da prisão preventiva, o art. 316 do CPP determina que o juiz
representação da autoridade policial409 (art. 311 do CPP,
com a redação da Lei nº 12.403/2011). poderá revogar a prisão preventiva se, no correr do processo,
A prisão preventiva poderá ser decretada, ainda que verificar a falta de motivo para que subsista, bem como de
a prisão em flagrante venha a ser anulada por vício de novo decretá‑la, se sobrevierem razões que a justifiquem.
forma.410 Por outro lado, indiretamente quando a lei fixa prazo para
Pode também ser decretada a prisão preventiva, mes- a finalização da instrução criminal quando o acusado estiver
mo sem a instauração de inquérito policial, caso sejam preso, há reflexos no prazo da prisão preventiva. Com efeito,
verificadas as hipóteses de cabimento da prisão preventiva. o art. 8º da Lei nº 9.034/1995 determina 81 dias como sendo
Nesse sentido, a falta de inquérito policial não impede a o prazo para encerramento da instrução criminal, quando o
decretação da prisão preventiva, se embasada em peças acusado estiver preso.
informativas da existência do crime e em indícios da autoria Em se tratando de rito ordinário, com a soma dos prazos
apresentados pelo órgão do MP.411 processuais antes previstos, entendia‑se que a prisão pre-
Ao tribunal ad quem é permitido, em sede recursal, ventiva poderia durar, no máximo, 81 dias, sendo referido
ordenar a prisão do condenado quando improvido o re- prazo global o lapso temporal para se concluir a instrução
curso por este interposto, conforme previsão expressa no processual, com a oitiva das testemunhas da acusação, não
Código de Processo Penal.412 É o que determina o art. 675, se considerando, entretanto, os prazos de forma isolada.
§ 1º, do CPP. Para a referida prisão, devem restar presentes O STF destaca inclusive que
os requisitos da prisão preventiva.
Durante o processo penal, a limitação é o trânsito em jul- a proibição de liberdade provisória nos processos por
gado. Se houver condenação, mas ainda não houver trânsito crimes hediondos não veda o relaxamento da prisão
em julgado, é cabível a manutenção da prisão preventiva se processual por excesso de prazo (Súmula nº 697/STF).
materializadas as suas hipóteses. Entretanto, também será Entretanto, a Súmula nº 52 do STJ estabelece que,
analisado para a decretação ou não da prisão preventiva o
Noções de Direito Processual Penal

regime fixado na condenação. Nesse sentido, encerrada a instrução criminal, fica superada a
alegação de constrangimento por excesso de prazo.
406
Assunto cobrado na seguinte prova: FGV/TJ‑PA/Juiz de Direito/2009.
407
Cespe/TJ‑DF/Técnico Judiciário/2003. Também restou sedimentado que
408
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/DPF/Agente/2012; Cespe/Polícia
Federal/Papiloscopista/2012; Cespe/DPE-SP/Estagiário de Direito/2008; FCC/
TRE-RN/Analista Judiciário/2005 e Cespe/PC-PB/Agente de Investigação e
pronunciado o réu, fica superada a alegação do cons-
Escrivão de Polícia/2009. trangimento ilegal da prisão por excesso de prazo na
409
Assunto cobrado antes da Lei nº  12.403/2011, nas seguintes provas: UEG/ instrução (Súmula nº 21/STJ).
Delegado de Polícia de 3ª Classe de Goiás/2003; Cespe/Defensoria Pública
do Estado de Alagoas/Defensor Público de 1ª Classe/2003; FGV/TJ‑SE/Técnico
Judiciário/2004; OAB‑ES/2º Exame de Ordem/2005; OAB‑DF/1º Exame de
Ordem/2004; Cespe/TJ‑RR/Oficial de Justiça/2001; OAB‑MT/1º Exame de 413
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/PGE‑CE/Procurador de Estado/2008.
Ordem/2004 e Cespe/TJ‑PE/Oficial de Justiça da 2ª Entrância/2001. 414
STJ; HC nº  80.631/SP; Ministro Arnaldo Esteves Lima, Quinta Turma, DJ
410
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/Defensoria Pública do Estado de 22/10/2007.
Alagoas/Defensor Público de 1ª Classe/2003. 415
STJ; HC nº 89.773/RJ; Ministro Nilson Naves, Sexta Turma, DJe 28/10/2008.
411
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/MPE-TO/Promotor/Assertiva 416
STF; HC nº 93.899/SP; Relator Ministro Ricardo Lewandowski, Primeira Turma,
A/2012 e Cespe/Delegado da Polícia Federal/2002. Julgamento: 15/4/2008.
412
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/1º Exame da Ordem/2007. 417
Assunto cobrado na seguinte prova: FCC/TRE‑AP/Analista Judiciário/2006.

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
E mais, Estabelece o Código do Processo Penal, no art. 312, que

não constitui constrangimento ilegal o excesso de a prisão preventiva poderá ser decretada como
prazo na instrução, provocado pela defesa (Súmula garantia da ordem pública, da ordem econômica,
nº 64/STJ). por conveniência da instrução criminal, ou para
assegurar a aplicação da lei penal, quando houver
O STF sedimentou o entendimento de que o referido prova de existência do crime e indícios suficientes
prazo de 81 dias para o término da instrução processual de autoria.420
não seria absoluto, devendo o prazo da prisão preventiva
ser cotejado com critérios de razoabilidade e com base nas No dispositivo em apreço, temos a configuração de
circunstâncias de cada caso. Ressalta a Corte que defesa da sociedade e do indivíduo contra o arbítrio do
Estado. É o que nos dita o Princípio Político.421
a razoável duração do processo (CF, art. 5º, LXXVIII), A decretação da prisão preventiva apenas poderá ter
logicamente, deve ser harmonizada com outros fundamento nas seguintes hipóteses: como garantia da
princípios e valores constitucionalmente adotados ordem pública, da ordem econômica, por conveniência
no Direito brasileiro, não podendo ser considerada da instrução criminal, ou para assegurar a aplicação da lei
de maneira isolada e descontextualizada do caso penal, quando houver prova da existência do crime e indício
relacionado à lide penal que se instaurou a partir da suficiente de autoria.422
prática dos ilícitos. Assim, a prisão preventiva não pode ser decretada para
assegurar a incolumidade física do acusado da prática de
Sendo que a prisão cautelar, um crime.423
Para que seja decretada a prisão preventiva, o juiz deve
ainda que com prazo superior a 81 dias, pode se verificar a existência dos pressupostos e, no mínimo, de uma
justificar com base no parâmetro da razoabilidade, das circunstâncias ou condições de admissibilidade abaixo
em se tratando de instruções criminais de caráter destacadas.
complexo.418
Pressupostos ou requisitos (fumus commissi delicti)
Com a reforma do rito ordinário, têm‑se os seguintes
prazos para a duração do julgamento, o que reflete nos prazos Aury Lopes Jr. (2008, p. 95) destaca que
da prisão preventiva:
• Inquérito Policial: 10 dias para investigado preso o fumus commissi delicti exige a existência de sinais
(art. 10 do CPP). externos, com suporte fático real, extraídos dos atos
• Denúncia: 5 dias para acusado preso (art. 46 do CPP). de investigação levados a cabo, em que por meio de
• Recebimento da Denúncia: 5 dias (art. 800, II, do CPP). um raciocínio lógico, sério e desapaixonado, permita
• Resposta da Defesa: 10 dias (art. 396 do CPP). deduzir com maior ou menor veemência a comissão
• Designação da audiência de instrução: 60 dias con- de um delito, cuja realização e consequências apre-
tados do despacho de recebimento da resposta da sentam como responsável um sujeito concreto.
defesa (art. 400 do CPP).
• Memoriais, caso não se efetivem as alegações orais A prisão preventiva poderá ser decretada quando houver
em audiência de instrução e julgamento: 5 dias para prova da existência do crime e indício suficiente de autoria
a Acusação e 5 dias para a Defesa (art. 403, § 3º, do (art. 312 do CPP).
CPP). Indícios de autoria e prova da materialidade do crime
• Sentença, caso não proferida na audiência de instru- são pressupostos para a decretação da prisão preventiva.424
ção e julgamento: 10 dias (art. 403, § 3º, e art. 404, A prisão preventiva pode fundar-se em indícios su-
parágrafo único, do CPP). ficientes da autoria, não havendo necessidade de haver
prova cabal.425
Desta forma, o prazo para a conclusão do procedimento A prova da existência do crime exige indícios da materia-
ordinário poderia chegar a 110 dias. Entretanto, a caracte- lidade do crime, por meio de provas documentais, periciais,
rização do prazo de conclusão do rito ainda não é unânime testemunhais etc. O mesmo se diga em relação à autoria,
na doutrina. Pierobom (2009, p. 418) destaca: que também exige elementos idôneos que permitam, pelo
menos, de forma preliminar, imputar a conduta delitiva ao
O prazo máximo para a conclusão do processo será de
Noções de Direito Processual Penal

autor dos fatos. Dessa forma, a prisão preventiva não pode


95 dias (dez dias para o IP, cinco dias para a denúncia,
ser decretada contra a testemunha que, regularmente
60 dias do recebimento da denúncia até a audiência
intimada, não comparece ao depoimento perante a auto-
de instrução, cinco + cinco dias para alegações finais
ridade judiciária.426
escritas e dez dias para a sentença), se não houver
No entanto, para a decretação da prisão preventiva,
requerimento de diligências complementares.
não bastam a prova da materialidade do crime e indícios
Cabimento 420
Assunto cobrado na prova da FCC/TRT 1ª Região/Técnico Judiciário/Segurança/
Questão 40/Assertiva C/2011.
De acordo com as categorias jurídicas próprias do 421
Assunto cobrado na seguinte prova: Defensoria Pública do Estado do Ceará/
Defensor Público/2002.
processo penal, o requisito para decretação de prisão 422
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/DP‑MA/Defensor Público/2009;
preventiva é o fumus commissi delicti, e seu fundamento Cespe/PC‑PB/Agente de Investigação e Escrivão de Polícia/2009 e Cespe/PC‑PB/
constitui o periculum libertatis.419 Delegado de Polícia/2009.
423
FCC/TRT 1ª Região/Técnico Judiciário/Segurança/Questão 40/Assertiva D/2011.
424
Cespe/Polícia Civil de RR/Agente de Polícia/2003.
418
STF; HC nº 97.983/SP; Relator Ministro Ellen Gracie, Segunda Turma, Julgamen- 425
Assunto cobrado na prova da FCC/TRT 1/Técnico Judiciário/Segurança/Questão
to: 2/6/2009. 40/Assertiva A/2011.
419
OAB‑RS/2º Exame de Ordem/2004. 426
Assunto cobrado na seguinte prova: OAB‑DF/1º Exame de Ordem/2005.

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suficientes da autoria.427 Também devem estar presentes Com efeito, ainda que o agente seja primário, com
um de seus fundamentos e uma de suas condições de ad- residência fixa, emprego definido e com bons ante-
missibilidade. cedentes, o juiz, considerando a perspectiva social,
poderá decretar a prisão preventiva caso constate,
Fundamentos ou circunstâncias (periculum libertatis) baseado em dados concretos, que os fatos praticados
são de extrema gravidade, geram intranquilidade
Os fundamentos da prisão preventiva encontram‑se no para a sociedade e seus malefícios coletivos são
art. 312 do CPP. Para a decretação da prisão preventiva, no
indiscutíveis.435
mínimo uma das circunstâncias abaixo deve estar configurada:

a) Garantia da ordem pública428 Entretanto, a mera gravidade do crime em abstrato não


Feitoza (2009, p. 862) destaca que a garantia da ordem configura hipótese de prisão preventiva436 (RTJ nº 137/287,
pública pode ser analisada na perspectiva individual e/ou Relator Ministro Sepúlveda Pertence).
social. Para exemplo,
No aspecto individual, tem‑se que, se o sujeito for rein-
cidente ou com diversos maus antecedentes, somente isso a  grande quantidade de droga apreendida em po-
já pode demonstrar sua periculosidade. Essa condição tem der de traficantes,437 a apreensão de bombas de
sido usada para a decretação da prisão preventiva, eis que fabricação caseira e grande quantidade de armas ou
objetiva munição de uso restrito,438 bem como a propensão
à pedofilia,439 materializam a gravidade concreta dos
a garantia da ordem pública, entre outras coisas, fatos imputados como justificativa da necessidade de
evitar a reiteração delitiva, assim resguardando a garantia da ordem pública.440 O mesmo se diga em
sociedade de maiores danos.429
relação ao modus operandi em que se deu o ilícito.441
A periculosidade do agente pode restar demonstrada
na hipótese de policiais que extorquem criminoso sob Outro exemplo,
sua guarda,430 colaboração do paciente na atuação de
associação criminosa,431 ou quando é legítimo o decreto de prisão preventiva que res-
salta, objetivamente, a  necessidade de garantir a
a personalidade do acusado é voltada para o crime, ordem pública, não em virtude da hediondez do
haja vista os diversos inquéritos policiais contra si crime praticado, mas pela gravidade dos fatos inves-
instaurados, inclusive para apuração de tráfico ilícito tigados na ação penal (sequestro de criança com 6
de entorpecentes, e  a condenação pela prática de anos de idade pelo período de 2 meses), que bem
corrupção passiva, também em face da função de demonstram a personalidade dos pacientes e dos
Policial Rodoviário.432 demais envolvidos, sendo evidente a necessidade de
mantê-los segregados, especialmente pela organiza-
Entretanto, a presença de condições subjetivas favoráveis ção e o modo de agir da quadrilha.442
ao paciente não obsta a segregação cautelar. Se presentes
os requisitos legais, a primariedade do acusado, os bons
antecedentes, a residência fixa no distrito da culpa e família Tem‑se, ainda, que
constituída não são circunstâncias que obstam a decretação
da prisão preventiva.433 a preservação da ordem pública não se restringe
Nesse sentido, analise esta situação hipotética: o órgão às medidas preventivas da irrupção de conflitos e
do MP ofereceu denúncia e requereu, fundamentadamente, tumultos, mas abrange também a promoção da-
a decretação da prisão preventiva de Xisto, que foragiu do quelas providências de resguardo à integridade das
distrito da culpa tão logo foi descoberto o crime perpetra- instituições, à sua credibilidade social e ao aumento
do. O juiz recebeu a exordial acusatória e, fundamentado da confiança da população nos mecanismos oficiais
no requerimento do Parquet, decretou a custódia cautelar de repressão às diversas formas de delinquência.443
do réu. O defensor de Xisto, alegando a primariedade e os
bons antecedentes deste, requereu a revogação do decreto. Por outro lado,
Em face dessa situação hipotética e da legislação correlata,
ao decretar a prisão preventiva, o magistrado agiu correta- a mera alusão à gravidade genérica do delito não é
Noções de Direito Processual Penal

mente e adotou como razões de decidir os fundamentos do


suficiente para a manutenção da custódia cautelar
requerimento formulado pelo órgão do MP.434

427
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/Defensoria Pública do Estado de 435
STF; HC nº 96.424/MS; Relator Ministro Ellen Gracie, Segunda Turma, Julga-
Alagoas/Defensor Público de 1ª Classe/2003. mento: 10/3/2009.
428
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/PC-RN/Agente de Polícia Civil 436
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/TRE-BA/Analista Judiciário/Área
Substituto/2009. Administrativa/2010/Questão 102.
429
STF; HC nº 84.658/PE; Relator Ministro Joaquim Barbosa, DJ 3/6/2005. 437
STF; HC nº 95.060/SP; Relator Ministro Carlos Britto, Primeira Turma, Julga-
430
STF, HC nº 95.721/SP; Relator Ministro Cármen Lúcia, Primeira Turma, Julga- mento: 16/12/2008.
mento: 2/12/2008. 438
STJ; RHC nº 24.970/RJ; Ministro Napoleão Nunes Maia Filho, Quinta Turma,
431
STF, HC nº 95.065/SP; Relator Ministro Cármen Lúcia, Primeira Turma, Julga- DJe 16/3/2009.
mento: 25/11/2008. 439
STJ; HC nº 114.034/RS; Ministro Napoleão Nunes Maia Filho, Quinta Turma,
432
STJ; RHC nº 23.409/RS; Ministro Napoleão Nunes Maia Filho, Quinta Turma, DJe 2/3/2009.
DJe 16/2/2009. 440
STF; HC nº 95.060/SP; Relator Ministro Carlos Britto, Primeira Turma, Julga-
433
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/MPE-TO/Promotor/Assertiva mento: 16/12/2008.
D/2012; Cespe/TJ‑RR/Oficial de Justiça/2001; OAB‑Nordeste/2º Exame de 441
STJ; HC nº 108.057/SP; Ministro Jorge Mussi, Quinta Turma, DJe 23/3/2009.
Ordem/2004; Cespe/Secad-TO/Delegado de Polícia Civil de 1ª Classe/2008; 442
STF; HC nº  94.947/SP; Relator Ministro Menezes Direito,  Primeira Turma,
FCC/TRE‑RN/Analista Judiciário/2005 e Vunesp/TRF 3ª Região/Analista Judiciá­ Julgamento: 9/12/2008.
rio/2002. 443
STJ; RHC nº 23.409/RS; Ministro Napoleão Nunes Maia Filho, Quinta Turma,
434
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe-AM/Promotor/2001. DJe 16/2/2009.

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fundada na hipótese de garantia da ordem pública444 Nesse sentido, o STF entende que
ou clamor público.445
a garantia da ordem econômica autoriza a custó­dia
Assim, as justificativas para a decretação da prisão pre- cautelar, se as atividades ilícitas do grupo criminoso a
ventiva não incluem a gravidade do delito.446 que, supostamente, pertence o paciente reper­cutem
Por outro lado, no rol de requisitos e pressupostos para negativamente no comércio lícito e, portanto, alcan-
a decretação da prisão preventiva do art. 312 do CPP, não çam um indeterminado contingente de trabalhadores
consta o da satisfação do clamor público causado pelo e comerciantes honestos.453
crime.447 E mais:
Como exemplo: Alan praticou um grave homicídio quali-
ficado contra a sua esposa, morta por tiros à queima roupa, segundo entendimento jurisprudencial do STF, a ga-
na porta de sua residência. O crime chocou os moradores rantia da ordem econômica, por sua vez, funda-se
da pequena e pacata cidade do interior onde mora Alan, não somente na magnitude da lesão causada, mas
gerando clamor público considerável. Nessa situação, con- também na necessidade de se resguardar a credibi-
soante entendimento do STF e do STJ, o clamor público e a lidade das instituições públicas.454
credibilidade das instituições não autorizam a decretação
da prisão preventiva de Alan.448 c) Conveniência da instrução criminal
Devem ser usados fundamentos concretos. Como O STJ entende que
exemplo,
a prisão provisória para a conveniência da instrução
o modus operandi do crime de homicídio qualificado,
criminal somente pode ser determinada caso se
praticado friamente, por motivo fútil e contra menor,
demonstre, com base em fatores concretos, que o
demonstra a personalidade do acusado voltada
agente, em liberdade, possa vir a atrapalhar a correta
para a prática criminosa, a ponto de justificar a sua
custódia preventiva, eis que indicativa de afronta à instrução processual, sendo inadmissível sua invoca-
ordem pública.449 ção tão somente em razão da natureza dos crimes
que lhe foram atribuídos.455
Assim, de acordo com a jurisprudência majoritária, a pri‑
são preventiva pode ser decretada para garantir a ordem A título de exemplo: João de Souza é investigado junta-
pública em face da periculosidade do agente, demonstrada mente com outras duas pessoas pelo crime de homicídio
pela gravidade, pela violência ou pelas circunstâncias em em um inquérito policial. Intimado para prestar depoi-
que o crime foi perpetrado.450 mento na delegacia, deixa de comparecer sem oferecer
Por outro lado, o simples fato de um acusado ser mo- nenhuma justificativa. Novamente intimado, igualmente
rador de rua, não possuindo residência fixa nem ocupação não comparece. O delegado representa pela sua prisão
lícita, não é motivo legal para a decretação da custódia preventiva sob o argumento de que João se recusa a co-
cautelar.451 Com efeito, devem estar presentes os pressu- laborar com as investigações. O Ministério Público opina,
postos ou requisitos da prisão preventiva, bem como suas favoravelmente, à representação e o juiz decreta sua
condições de admissibilidade. prisão. Posteriormente, é oferecida e recebida denúncia
em face dos três investigados. Na audiência de instrução
b) Garantia da ordem econômica e julgamento, os dois corréus prestam depoimento e con-
Para o crime atingir a ordem econômica, deve trazer fessam, ao passo que João nega, falsamente, as acusações,
prejuízo ao Erário ou afetar a livre concorrência e a livre arrolando inclusive testemunhas que também mentiram
iniciativa, não bastando o crime ter conotação econômi- em juízo. Todos são condenados, sendo certo que João é
ca, e ser previsto, por exemplo, em relação aos crimes mantido preso “por conveniência da instrução criminal,
previstos na Lei de Falências (Lei nº  11.101/2005), na lei já que continua se recusando a colaborar com a justiça”,
que reprime os crimes contra o Sistema Financeiro Nacio- ao passo que os corréus têm reconhecido o direito de
nal (Lei nº 7.492/1986), na Lei de Economia Popular (Lei apelar em liberdade. A pena de João é levemente agravada
nº 1.521/1951), na lei que define as infrações contra a ordem devido ao fato de ter mentido em juízo e indicado teste-
econômica (Lei nº 8.884/1994) e na Lei que define os crimes munhas que também mentiram, o  que permite avaliar
contra a ordem tributária, econômica e relações de consumo sua personalidade como desviada dos valores morais da
Noções de Direito Processual Penal

(Lei nº 8.137/1990). sociedade. A partir do episódio narrado, a prisão preven-


tiva decretada na fase policial e sua manutenção na fase
Ao lado de tais crimes, deve restar evidenciada a judicial, pelos motivos apresentados, não são corretas.456
magnitude da lesão.452 Ainda como exemplo, Robson, policial militar, denuncia‑
do pela prática de homicídio qualificado cometido contra
444
STJ; HC nº 119.757/SP; Ministro Arnaldo Esteves Lima, DJe 16/3/2009. civil, passou a ameaçar testemunhas do processo. Nessa
445
STF; HC nº 91.616/RS; Relator Ministro Carlos Britto, Primeira Turma, Julga- situação, para o juiz decretar a prisão preventiva, deverão
mento: 30/10/2007.
446
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/PC‑PB/Papiloscopista e Técnico em
estar presentes os seguintes requisitos: prova da existência
Perícia/2009.
447
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑RJ/32º Exame; NCE/Delegado da
Polícia Civil do DF/2004 e Cespe/TJ‑SE/Juiz Substituto/2008. 453
STF; HC nº 91.285/SP; Relator Ministro Carlos Britto, Primeira Turma, Julga-
448
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/TJ‑BA/Juiz Substituto/2005. mento: 13/11/2007.
449
STJ; RHC nº 23.358/MG; Ministro Laurita Vaz, Quinta Turma, DJe 28/10/2008. 454
STF; HC nº 85.615/RJ; Relator Ministro Gilmar Mendes, Segunda Turma, Julga-
450
Cespe/Delegado da Polícia Federal/2002. mento: 13/12/2005.
451
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/DPE-PI/Defensor Público/2009/ 455
STJ; HC nº 115.345/MG; Ministro Jane Silva (Desembargadora convocada do
Questão 39/Assertiva a. TJ-MG), Sexta Turma.
452
STJ; HC nº 100.315/SP; Ministro Laurita Vaz, Quinta Turma, DJe 2/6/2008. 456
Assunto cobrado na seguinte prova: FGV/TJ‑PA/Juiz de Direito/2009.

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do crime, indícios de autoria e necessidade de garantir a Reiterando, a simples fuga do acusado do distrito da
instrução criminal457. culpa, tão logo descoberto o crime, já justifica o decreto
Deve haver elementos concretos de que as testemunhas de prisão preventiva para garantir a aplicação da lei penal
chegaram a ser influenciadas ou intimidadas,458 de que a e a conveniência da instrução criminal.468
vítima está sendo coagida, o que por si só já será demons- Concluindo, a prisão preventiva poderá ser decretada
trado caso algumas delas estejam incluídas em programa como garantia da ordem pública, da ordem econômica,
de proteção, ou mesmo quando houver elementos de que por conveniência da instrução criminal ou para assegurar a
o autor dos fatos esteja destruindo documentos. aplicação da lei penal, quando houver prova da existência
Por outro lado, a prisão preventiva não tem como fina- do crime e indício suficiente de autoria.469
lidade permitir a realização de diligências imprescindíveis e) Em caso de descumprimento de qualquer das obri-
à investigação de um fato delituoso.459 É ilegal o decreto gações impostas por força de outras medidas cautelares
de prisão preventiva fundamentado na necessidade de As medidas cautelares serão decretadas pelo juiz, de
identificação dos corréus e de prevenção de reincidência.460 ofício ou a requerimento das partes ou, quando no curso
da investigação criminal, por representação da autoridade
d) Para assegurar a aplicação da lei penal policial ou mediante requerimento do Ministério Público
A finalidade da prisão preventiva é garantir a execução (art. 282, § 2º, do CPP, com a redação da Lei nº 12.403/2011).
da lei penal. Ressalvados os casos de urgência ou de perigo de ine-
Para a decretação da prisão preventiva, não é suficien- ficácia da medida, o  juiz, ao  receber o pedido de medida
te a constatação de que em liberdade o suspeito poderá cautelar, determinará a intimação da parte contrária, acom-
colocar em risco a aplicação da lei penal.461 panhada de cópia do requerimento e das peças necessárias,
permanecendo os autos em juízo (art. 282, § 3º, do CPP, com
São indicativos de que o autor dos fatos não irá se a redação da Lei nº 12.403/2011).
furtar à aplicação da lei penal, como o fato de ter No caso de descumprimento de qualquer das obrigações
residência fixa ou emprego definido, o que não se impostas nas medidas cautelares, o juiz, de ofício ou median-
verifica, por exemplo, com estrangeiro sem qualquer te requerimento do Ministério Público, de seu assistente ou
vínculo com o Brasil,462 ou mesmo pelo grande decur- do querelante, poderá substituir a medida, impor outra em
so de tempo em que o réu se encontra foragido.463 cumulação, ou, em último caso, decretar a prisão preventi-
va (art. 312, parágrafo único) (art. 282, § 4º, do CPP, com a
O STJ entende que redação da Lei nº 12.403/2011).
O juiz poderá revogar a medida cautelar ou substituí-
o perigo para aplicação da lei penal e a conveniência -la quando verificar a falta de motivo para que subsista,
da instrução criminal não defluem do simples fato bem como voltar a decretá-la, se sobrevierem razões que
de se encontrar o réu em lugar incerto e não sabido. a justifiquem (art. 282, § 5º, do CPP, com a redação da Lei
Não há se confundir evasão com não localização.464 nº 12.403/2011).
A prisão preventiva será determinada quando não for
Dessa forma, não é motivo suficiente para a decretação cabível a sua substituição por outra medida cautelar previs-
da prisão cautelar o fato de o réu jamais ter sido localizado, ta no art. 319 (art. 282, § 6º, do CPP, com a redação da Lei
tendo sido citado em edital e tendo deixado de comparecer nº 12.403/2011).
em juízo na data aprazada para seu interrogatório.465
Entretanto, se o acusado de crime de homicídio qualifi- Condições de admissibilidade
cado, sendo citado por edital, não comparece, o juiz deve
suspender o processo e decretar, se for o caso, a prisão O art. 313 do CPP com a redação da Lei nº 12.403/2011
preventiva.466 traz as condições de admissibilidade da prisão preventiva, que
É pacífica a jurisprudência do STF autorizam a segregação se uma delas restar materializada.
no sentido de que a fuga do réu, logo após o cometi- Crimes dolosos punidos com pena privativa de
mento do crime e antes da decretação da prisão pre- liberdade máxima superior a 4 (quatro) anos
ventiva, é motivo bastante para a medida constritiva,
justificada pela conveniência da instrução criminal e A prisão preventiva poderá ser decretada nos crimes
garantia da aplicação da lei penal.467
Noções de Direito Processual Penal

dolosos470 punidos com pena privativa de liberdade máxima


superior a 4 (quatro) anos.471
Com a nova Lei, agora para a decretação da prisão
457
Cespe/Polícia Civil do Estado do Espírito Santo/Escrivão de Polícia/2011/ preventiva, importa o quantum de pena prevista. Não mais
Questão 88.
458
STJ; HC nº 108.469/RS; Ministro Jorge Mussi, Quinta Turma, DJe 23/3/2009. importa se o crime é apenado com detenção ou reclusão.
459
Assunto cobrado na seguinte prova: FCC/TRE‑AP/Analista Judiciário/2006.
460
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/3º Exame da Ordem/2006. 468
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/Delegado da Polícia Federal/2002.
461
Assunto cobrado na seguinte prova: NCE/Delegado da Polícia Civil de 3ª Classe 469
Assunto cobrado nas seguintes provas: TJ‑RN/Oficial de Justiça/2002; Cefet/
do RJ/2002. TJ‑BA/Atendente Judiciário/2006; TRF 4ª Região/Juiz Federal Substituto/2005;
462
STJ; HC nº 109.677/SC; Ministro Jorge Mussi, Quinta Turma, DJe 23/3/2009. OAB‑SC/1º Exame de Ordem/2004; Promotor‑BA/2004; OAB‑RS/2º Exame de
463
STJ; HC nº 116.709/RJ; Ministro Napoleão Nunes Maia Filho, Quinta Turma, Ordem/2004; UEG/Delegado de Polícia de 3ª Classe de Goiás/2003; Uespi/
DJe 16/2/2009. Agente Penitenciário/2006; FCC/TRF 1ª Região/Analista Judiciário/2001;
464
STJ; HC nº 118.942/TO; Ministro Maria Thereza de Assis Moura, Sexta Turma, OAB‑Nordeste/2º Exame de Ordem/2004; FCC/TRF 4ª Região/Analista Judiciá­
DJe 19/12/2008. rio/2004 e FCC/TRE‑RN/Analista Judiciário/2005.
465
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/PGE‑CE/Procurador de Estado/2008. 470
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/PC‑PB/Necrotomista/2009.
466
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑SP/123º Exame de Ordem/2004; 471
Assunto cobrado, antes da Lei nº 12.403/2011, nas seguintes provas: Acade-
Vunesp/TJ‑SP/Escrevente Técnico Judiciário/2006 e CPC/Polícia Civil do Estado pol‑MG/Delegado da Polícia Civil de Minas Gerais/2003; FGV/TJ‑SE/Técnico
do Paraná/Delegado de Polícia Civil/2007. Judiciário/2004; Vunesp/TRF 3ª Região/Analista Judiciário/2002; Cespe/PC-RN/
467
STF; HC nº 96.006/PA; Relator Ministro Menezes Direito, Primeira Turma, Julga- Agente de Polícia Civil Substituto/2009 e MPDFT/28º Concurso/Promotor/Nova
mento: 3/2/2009. Prova/2009.

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Assim, não é mais possível a decretação de prisão preventiva Se o crime envolver violência doméstica e familiar contra
do autor de crime punido com reclusão, cuja pena máxima a mulher, nos termos da lei específica, para garantir a exe­
seja inferior a quatro anos.472 cução das medidas protetivas de urgência, caberá a decreta-
Entretanto, não importa para a decretação da prisão pre- ção da prisão preventiva nos casos de violência doméstica e
ventiva o tipo de ação penal. Em face de crime de ação penal familiar contra a mulher481 (Lei nº 11.340, de 2006).
privada, é cabível a decretação de prisão preventiva.473 Nos termos do art. 5º da referida lei, configura violên-
O decreto de prisão preventiva não é cabível nos crimes cia doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou
culposos.474 Esta modalidade de prisão só é admitida em omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão,
crimes dolosos.475 sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou
Assim, não cabe prisão preventiva do denunciado patrimonial: i – no âmbito da unidade doméstica, compre-
por crime culposo que tenta evadir-se do país durante o endida como o espaço de convívio permanente de pessoas,
processo.476 com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente
Seguindo a mesma linha de raciocínio, não é cabível a pri- agregadas; ii – no âmbito da família, compreendida como a
são preventiva de indivíduo acusado da prática de homicídio comunidade formada por indivíduos que são ou se conside-
culposo, ainda que a prisão seja decretada para assegurar a ram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou
aplicação da lei penal e que haja prova do crime e indícios por vontade expressa; iii – em qualquer relação íntima de
de autoria.477 Como exemplo, Márcio atropelou Cláudio, que afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a
atravessava via pública fora da faixa de pedestres e veio a ofendida, independentemente de coabitação.
falecer. Durante o processo, verificou-se que Márcio tentava A prisão preventiva poderá ser decretada nos crimes
impedir a produção de provas, ameaçando testemunhas. punidos com detenção, se envolverem violência doméstica
ou familiar contra a mulher.482
Nessa situação, não poderá ser decretada a prisão preven-
Há doutrina no sentido de que caberia prisão preventiva,
tiva de Márcio, para a conveniência da instrução criminal.478
inclusive, em relação a crimes culposos, desde que a conduta
Não será cabível a prisão preventiva do autor de le-
negligente assim o fosse, em razão da condição da mulher
sões corporais culposas praticadas em veículo automotor
(PACHECO, 2009, p. 858). Dessa forma, restando configurado
(art. 303 da Lei nº 9.503/1997), mesmo que presente o
crime que admita a modalidade culposa, pode ser decretada
periculum libertatis.479 a prisão preventiva para garantir as medidas protetivas de
Não é cabível a decretação de prisão preventiva em urgência previstas nos arts. 22 e 23 da referida lei.
desfavor de autor de contravenção penal, mesmo presentes Com a edição da Lei nº 12.403/2011, ganha força tal cor-
os fundamentos da custódia cautelar.480 rente, eis que o inciso III do art. 313 do CPP, com a redação
Se o crime doloso for punido com detenção, em sendo da Lei nº 12.403/2011, não exige, na hipótese, que seja o
a pena máxima superior a 4 (quatro) anos , não é mais ne- crime doloso.
cessário se apurar se o indiciado é vadio. Entretanto, a referida hipótese é de difícil verificação, eis
que, nos termos do art. 18, II, do CP, diz‑se crime culposo
Reincidente em crime doloso qualquer que seja a quando o agente deu causa ao resultado por imprudência,
pena máxima prevista negligência ou imperícia, não cabendo, dentro da hipótese,
dolo específico diante dos atos que configurem violência
Nos crimes dolosos, qualquer que seja a pena máxima doméstica e familiar contra a mulher.
prevista, se tiver sido o réu condenado por outro crime Sobre o cabimento da prisão preventiva para assegurar
doloso, em sentença transitada em julgado, caberá prisão a aplicação das medidas protetivas de urgência previstas
preventiva. na Lei Maria da Penha, Távora e Alencar (2009, p. 483-484)
Não prevalece a condenação anterior, se entre a data do ponderam:
cumprimento ou extinção da pena e a infração posterior tiver
decorrido período de tempo superior a 5 (cinco) anos, com- Ressalta Rômulo Moreira (2007) que se revela “mais
putado o período de prova da suspensão ou do livramento um absurdo e uma inconstitucionalidade da Lei
condicional, se não ocorrer (art. 64, I, do CP). Maria da Penha. Permite-se que qualquer que seja
o crime (doloso), ainda que apenado com detenção
Crime que Envolve Violência Doméstica e Familiar (uma ameaça, por exemplo), seja decretada a prisão
Contra a Mulher, Criança, Adolescente, Idoso, Enfermo preventiva, bastando que estejam presentes o fumus
Noções de Direito Processual Penal

ou Pessoa com Deficiência, para Garantir a Execução das commissi delict (indícios da autoria e prova da exis-
Medidas Protetivas de Urgência tência do crime – art. 312, CPP) e que a prisão seja
necessária para garantir a execução das medidas
protetivas de urgência. A  lei criou, portanto, este
472
Assunto cobrado antes da Lei nº 12.403/2011, na seguinte prova: Cespe/PC‑PB/
Necrotomista/2009.
novo requisito a ensejar a prisão preventiva. Não seria
473
Cespe/Nacional/Delegado Federal/2004. mais necessária a demonstração daqueles outros
474
Assunto cobrado nas seguintes provas: Vunesp/TRF 3ª Região/Analista requisitos (garantia da ordem pública ou econômica,
Judiciário/2002; Cespe/TRE‑TO/Analista Judiciário/2004-2005; OAB‑RS/3º
Exame/2006; OAB‑MS/81º Exame de Ordem/2005 e OAB‑ES/2º Exame de conveniência da instrução criminal, e aplicação da
Ordem/2005. lei penal, além da magnitude da lesão causada  –
475
Cespe/PC-RN/Agente de Polícia Civil Substituto/2009.
476
Juiz Substituto/TJ‑PR/2006. art. 30 da Lei nº 7.492/1986, que define os crimes
477
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/Regional/Delegado Federal/2004.
478
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/AGU/Procurador Federal de 2ª
Categoria/2004. 481
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/PC-RN/Agente de Polícia Civil
479
Assunto cobrado na seguinte prova: NCE/Delegado da Polícia Civil do DF/2004. Substituto/2009.
480
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/Delegado da Polícia Civil de 482
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/DPE-MT/Defensor Público/2009/
Roraima/2003; Cespe/Ministério da Justiça/Agente da Polícia Federal/2004; Questão 22/Assertivas a, b, c, d e e; FCC/Defensoria Pública do Estado do Rio
OAB‑ES/2º Exame de Ordem/2005 e Cespe/TRE-MA/Analista Judiciário/2009. Grande de Sul/Defensor Público de Classe Inicial/2011/Questão 62.

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contra o sistema financeiro nacional). Conclui assim Prisão preventiva e verificação de excludente de ilici-
o autor que a preventiva não teria cabimento por tude
esse fundamento. A prisão preventiva não deve ser decretada se o juiz
Rechaçamos a hipótese da preventiva figurar como verificar, pelas provas constantes dos autos, ter o agente
verdadeira prisão de cunho obrigacional, para praticado o fato sob causa excludente de ilicitude483.
imprimir efeito coativo à realização das medidas Se o juiz verificar, pelo auto de prisão em flagrante, que
protetivas. E dizemos isso pela própria previsão do o agente praticou o fato em estado de necessidade, em
§ 3º do art. 22, Lei nº 11.340/2006, autorizando ao legítima defesa, em estrito cumprimento de dever legal ou
magistrado valer-se da força policial, a qualquer no exercício regular de direito, poderá, fundamentadamente,
tempo, para dar efetividade às medidas protetivas, conceder ao acusado liberdade provisória, mediante termo
sem para isso ter que decretar prisão cautelar. Da de comparecimento a todos os atos processuais, sob pena
mesma forma, o § 4º do referido dispositivo invoca de revogação. Com efeito, estabelece o art. 314 do CPP, com
a aplicação dos §§ 5º e 6º do art. 461 do CPC, que a redação da Lei nº 12.403/2011, que a prisão preventiva
tratam das ferramentas de coação para dar efetivi- em nenhum caso será decretada se o juiz verificar pelas
dade às obrigações de fazer ou de não fazer, como provas constantes dos autos ter o agente praticado o fato
imposição de multa, busca e apreensão, remoção de nas condições de excludente de ilicitude484.
pessoas e coisas etc. Assim, não será possível a decretação de prisão pre‑
Entendemos que durante a persecução penal por ventiva quando se apurar que o agente praticou o fato em
crime de violência doméstica, seja ele apenado com exercício regular do direito.485
reclusão ou detenção, para que tenha cabimento a Por outro lado, o CPP proíbe a decretação da prisão
preventiva, os pressupostos da mesma devem estar preventiva de quem, pelas provas constantes nos autos,
presentes, leia-se, indícios de autoria e prova da claramente tenha agido em legítima defesa.486
materialidade (fumus commissi delicti), além de uma Assim, considere a seguinte situação hipotética: um
das hipóteses de decretação, quais sejam, garantia da cidadão foi denunciado pelo MP sob a acusação de haver
ordem pública, econômica, conveniência da instru- cometido crime de lesões corporais. No curso do processo,
ção ou ainda para evitar fuga. Estas são as hipóteses veio aos autos prova de as lesões haverem surgido como
legais autorizadoras. O descumprimento de uma consequência do estrito cumprimento do dever legal do
medida protetiva pelo infrator durante a persecução, acusado. Não obstante, o membro do MP entendeu, a certa
pode revelar que o mesmo, se solto permanecer, altura, cabível a decretação da prisão preventiva do réu,
continuará a delinquir, ofendendo a ordem pública, motivo por que a requereu. Nessa situação, em face da
o que caracterizaria o atendimento ao requisito legal prova mencionada, a  prisão preventiva não poderia ser
autorizador de decretação da segregação cautelar. validamente decretada.487
O desatendimento de uma medida protetiva, por via
transversa, pode desaguar na necessidade da prisão, Revogação e Redecretação
se enquadrável em uma das hipóteses de decretação
do art. 312 do CPP. Se não for assim, o dispositivo é Constatando que desapareceram os motivos que le-
insustentável. varam o juiz a decretar a prisão preventiva, este deverá
Por força do art. 21 da Lei nº 11.340/2006, a ofendida revogar o decreto de prisão.488 São as determinações do
deve ser informada do ingresso e saída do agressor do art. 316 do CPP.
cárcere, justamente para não ser tomada de surpresa, Revogada a prisão preventiva, pode o juiz novamente
podendo novamente ser vitimizada. decretá‑la, se sobrevierem razões que a justifiquem.489 Com
efeito, o magistrado, caso acolha o requerimento de revo-
A Lei nº 12.403/2011 também permite prisão preventiva gação da prisão preventiva, poderá restabelecê‑la, desde
quando cometido crime que envolve violência doméstica e que diante da ocorrência de fatos novos supervenientes.490
familiar contra criança, adolescente, idoso, enfermo ou pes- Não há limites para as verificações de revogações e rede-
soa com deficiência, para garantir a execução das medidas cretações.491
protetivas de urgência.
Quando houver dúvida sobre a identidade civil da pessoa
ou quando esta não fornecer elementos suficientes para Cespe/Tribunal Regional Eleitoral do Espírito Santo/Analista Judiciário/Área
483
Noções de Direito Processual Penal

Administrativa/2011/Questão 63.
esclarecê-la, devendo o preso ser colocado imediatamente 484
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/Polícia Civil/RR/Agente de
em liberdade após a identificação, salvo se outra hipótese Polícia/2003; Cespe/Polícia Civil/PA/Papiloscopista Civil/2006 e FCC/TRE‑RN/
Analista Judiciário/2005.
recomendar a manutenção da medida. 485
Cespe/PC‑PB/Necrotomista/2009.
Antes da Lei nº 12.403/2011, quando a autoridade esti- 486
Cespe/PC‑PB/Agente de Investigação e Escrivão de Polícia/2009.
487
Cespe/Ministério da Justiça/Departamento de Polícia Federal/Escrivão de Polícia
vesse em dúvida sobre a identidade civil da pessoa ou quando Federal/2002.
esta não fornecesse elementos suficientes para esclarecê-la, 488
Assunto cobrado nas seguintes provas: TJ‑RJ/Oficial de Justiça Avaliador e UESPI/
poderia, nos termos do art. 1º da Lei nº 7.960/1989, ser de- Agente Penitenciário/2006.
489
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/Defensoria Pública do Estado de
cretada pelo juiz a prisão temporária, apenas se cometidos Alagoas/Defensor Público de 1ª Classe/2003; NCE/Delegado da Polícia Civil de
quaisquer dos crimes previstos no rol taxativo da referida lei. 3ª Classe do RJ/2002; FGV/TJ‑SE/Analista Judiciário/2004; FCC/TRF 1ª Região/
Analista Judiciário/2001; OAB‑SP/127º Exame de Ordem/2005; Cespe/AM/
Com o novo requisito de admissibilidade da prisão Promotor/2001 e OAB‑ES/2º Exame de Ordem/2005.
preventiva, não há qualquer exigência de cometimento 490
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/AM/Promotor/2001; OAB‑ES/2º
Exame de Ordem/2005; Cespe/Defensoria Pública do Estado de Alagoas/De-
de determinado crime ou mesmo da quantidade da pena fensor Público de 1ª Classe/2003; NCE/Delegado da Polícia Civil de 3ª Classe
prevista para o crime para que se permita a segregação em do RJ/2002; FGV/TJ‑SE/Analista Judiciário/2004; FCC/TRF 1ª Região/Analista
face de dúvida ou ausência no que se refere à identificação Judiciário/2001 e OAB‑SP/127º Exame de Ordem/2005.
491
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/PC-RN/Agente de Polícia Civil Substitu-
de alguma pessoa. to/2009.

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Apresentação espontânea Não é mais exigível o recolhimento do réu à prisão para
Antes da edição da Lei nº 12.403/2011, o art. 317 esta- a admissibilidade da apelação.495
belecia que a apresentação espontânea do acusado à au- Nesse sentido, o parágrafo único do art. 387 do CPP, com
toridade não impedia a decretação da prisão preventiva492. a redação dada pela Lei nº 11.719/2008, determina que o
Embora referido artigo tenha sido revogado, nada im- juiz decidirá, fundamentadamente, sobre a manutenção ou,
pede que haja prisão preventiva em caso de apresentação se for o caso, imposição de prisão preventiva ou de outra
espontânea, desde que presentes as condições de cabimento medida cautelar, sem prejuízo do conhecimento da apelação
da prisão preventiva. Assim, ainda é possível a decretação que vier a ser interposta.
de prisão preventiva se o agente se apresentar esponta- Desta forma, foi revogado o disposto no art. 393 do
neamente perante a autoridade policial após a prática do CPP, pela Lei nº 12.403/2011, que estabelecia ser efeito da
delito.493 sentença condenatória recorrível o réu ser preso ou conser-
vado na prisão, assim nas infrações inafiançáveis, como nas
afiançáveis, enquanto não prestada fiança.
Substituição da Prisão Preventiva por Prisão
Até mesmo em crimes graves, como os crimes hediondos,
Domiciliar já havia previsão legal sobre a necessidade de o juiz funda-
mentar a prisão em face dos requisitos da prisão preventiva
A prisão domiciliar consiste no recolhimento do indiciado quando prolatava sentença penal condenatória, nos termos
ou acusado em sua residência, só podendo dela ausentar-se do art. 2º, § 3º, da Lei nº 8.072/1990.
com autorização judicial. (art. 317 do CPP, com a redação da A prolação de sentença condenatória no Tribunal do
Lei nº 12.403/2011) Júri não impede a revogação da prisão preventiva do con‑
Poderá o juiz substituir a prisão preventiva pela domiciliar denado, mesmo tendo este sido mantido preso durante a
quando o agente for: i – maior de 80 (oitenta) anos; ii – ex- instrução do feito496.
tremamente debilitado por motivo de doença grave;  iii  – Quanto aos delitos de tráfico de substância entorpecente,
im­prescindível aos cuidados especiais de pessoa menor de associação para o tráfico, financiamento do tráfico, finan-
6 (seis) anos de idade ou com deficiência; iv – gestante a ciamento ou custeio do tráfico e ser informante de grupo,
partir do 7º (sétimo) mês de gravidez ou sendo esta de alto organização ou associação destinados à prática de tráfico de
risco (art. 318 do CPP com, a redação da Lei nº 12.403/2011). substâncias entorpecentes, o art. 59 da Lei nº 11.343/2006
Para a substituição, o juiz exigirá prova idônea dos requi- determina que o réu não poderá apelar sem recolher‑se à
sitos acima referidos (art. 318, parágrafo único, do CPP, com prisão, salvo se for primário e de bons antecedentes, assim
a redação da Lei nº 12.403/2011). reconhecido na sentença condenatória.
Entretanto, a  jurisprudência tem atenuado o rigor da
Prisão Decorrente de Pronúncia (art. 413, § 3º, do lei, destacando que, para que a prisão seja determinada,
Cpp) a sentença penal condenatória deve evidenciar, de forma
bem fundamentada, a necessidade de ser o condenado preso
para a interposição de recurso, por ser o réu, por exemplo,
No julgamento de crimes dolosos contra a vida, quan-
do houver sentença de pronúncia, nos termos do § 3º do
art. 413 do CPP, com a redação dada pela Lei nº 11.689/2008, pessoa perigosa, disposta a se evadir do distrito da
determina que o juiz decidirá, motivadamente, no caso culpa para evitar a futura aplicação da lei penal, e,
de manutenção, revogação ou substituição da prisão ou ainda, porque o grau de sintonia, a inteligência e o
medida restritiva de liberdade anteriormente decretada poder aquisitivo dela poderia estimular a fuga e a
e, tratando‑se de acusado solto, sobre a necessidade da perpetuação de práticas criminosas.497
decretação da prisão preventiva.
Desta forma, não há mais obrigatoriedade da prisão.494 Não se verificando presentes os pressupostos da prisão
preventiva, o réu tem o direito de apelar em liberdade, in-
Por ocasião da sentença de pronúncia, se o réu estiver
clusive em havendo recurso aos tribunais superiores. Dessa
solto, será determinada sua segregação cautelar se estiverem
forma, só é cabível a execução da pena após o trânsito em
presentes os pressupostos, fundamentos e condições de
julgado da sentença penal condenatória. O STF entende
admissibilidade da prisão preventiva.
Noções de Direito Processual Penal

no sentido de não admitir a execução provisória da


Prisão Decorrente de Sentença Penal pena privativa de liberdade quando houver interpo-
Condenatória sem Trânsito em Julgado (art. 387, sição e recebimento de recurso especial e/ou recurso
Parágrafo Único, do Cpp) extraordinário.498

Com base na sistemática atual, para que o réu seja preso Vejamos jurisprudência sobre o tema:
se a sentença penal condenatória ainda não tiver transitado
em julgado, deve‑lhe ser decretada a prisão preventiva. No julgamento do HC nº 84.078, da relatoria do
Ministro Eros Grau, o Plenário do Supremo Tribunal
492
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑RS/2º Exame de Ordem/2004;
OAB‑DF/1º Exame de Ordem/2005; Cefet/TJ‑BA/Atendente Judiciário/2006; 495
OAB‑MG/Comissão de Exame de Ordem/2008.
OAB‑MS/81º Exame de Ordem/2005; OAB‑MT/1º Exame de Ordem/2004; 496
FCC/Defensoria Pública do Estado do Rio Grande de Sul/Defensor Público de
TJ‑PI/Juiz Substituto/2001 e Cespe/TJ‑SE/Juiz Substituto/2003-2004. Classe Inicial/2011/Questão 62.
493
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/PC‑PB/Necrotomista/2009. 497
STF; HC nº 89.305/RJ; Relator Ministro Cármen Lúcia, Primeira Turma, Julga-
494
Assunto cobrado nas seguintes provas: TRF 1ª Região/X Concurso/Juiz Federal mento: 18/12/2006.
Substituto e OAB‑SP/122º Exame de Ordem/2003. 498
STF; RHC nº 89.550/SP; Relator Ministro Eros Grau, DJ 27/4/2007.

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Federal assentou, por maioria de votos, a  incons- do MP, não sendo permitida a sua decretação de ofício504.
titucionalidade da execução provisória da pena. Em caso de representação da autoridade policial, o juiz,
Isto por entender que o exaurimento das instâncias antes de decidir, deve ouvir o MP505 e, em qualquer caso,
ordinárias não afasta, automaticamente, o  direito deve decidir fundamentadamente sobre o decreto de prisão
à presunção de não culpabilidade. 2. Em matéria temporária dentro do prazo de 24 horas, contadas a partir
de prisão provisória, a garantia da fundamentação do recebimento da representação ou do requerimento.506
das decisões judiciais consiste na demonstração da (art. 2º, caput, e §§ 1º e 2º, da Lei nº 7.960/1989)
necessidade da custódia cautelar, a teor do inciso LXI Pode representar pela prisão temporária de um inves-
do art. 5º da Carta Magna e do art. 312 do Código de tigado, estando legitimado para tanto a autoridade poli-
Processo Penal. A falta de fundamentação do decreto cial.507 No entanto, não podem representar por tal prisão o
de prisão inverte a lógica elementar da Constituição, procurador do estado e a vítima.508
que presume a não culpabilidade do indivíduo até o Não poderá o juiz, de ofício, decretar a prisão tempo-
momento do trânsito em julgado de sentença penal rária.509
condenatória (inciso LVII do art.  5º da CF). 3. Na Com efeito a prisão temporária não pode ser decretada
concreta situação dos autos, contra o paciente que
pelo juiz de ofício, mas apenas em decorrência de repre-
aguardou em liberdade o julgamento da apelação
sentação da autoridade policial ou do Ministério Público.510
interposta pela defesa foi expedido mandado de
Nesse sentido, o juiz não pode decretar, de ofício, a prisão
prisão sem nenhum fundamento idôneo. 4. Ordem
temporária do indiciado que não tem residência fixa ou
concedida.499
não fornece elementos necessários ao esclarecimento de
sua identidade.511
Por fim,
O Juiz poderá, de ofício ou a requerimento do Ministério
Público e do Advogado, determinar que o preso lhe seja
é pacífica a jurisprudência do STF de que não há lógica apresentado, solicitar informações e esclarecimentos da
em permitir que o réu, preso preventivamente duran- autoridade policial e submetê‑lo a exame de corpo de delito
te toda a instrução criminal, aguarde em liberdade o (art. 2º, § 3º, da Lei nº 7.960/1989).
trânsito em julgado da causa, se mantidos os motivos
da segregação cautelar.500
Prazo

Prisão Temporária
A prisão temporária será decretada pelo Juiz, em face da
representação da autoridade policial ou de requerimento
Conceito
do Ministério Público, e terá o prazo de cinco dias, prorro-
gável por igual período em caso de extrema e comprovada
A prisão temporária é modalidade de prisão processual necessidade512 (art. 2º da Lei nº 7.960/1989). Referido prazo
ou cautelar e constitui medida de investigação policial, a ser não é computado na duração do prazo para a conclusão do
determinada em alguns crimes e quando imprescindível inquérito policial513, não afetando o prazo global determinado
para a busca dos elementos probatórios de autoria e ma- para a conclusão do processo-crime.
terialidade.
Assim, o prazo máximo de duração da prisão temporária
em crime de roubo impróprio é de cinco dias, prorrogável
Momento por igual período em caso de extrema e comprovada ne-
cessidade.514
A prisão temporária será decretada apenas na fase do Não são em todos os casos legais que a prisão tempo-
inquérito policial.501 Com relação à prisão temporária – Lei rária terá a duração de cinco dias, prorrogável por igual
nº 7.960/1989 – , só é cabível durante a fase de inquérito período em caso de extrema e comprovada necessidade.515
policial, sendo vedada a sua decretação no curso da ação
penal.502
504
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/PC-RN/Agente de Polícia Civil
Não há que se falar que a prisão temporária só pode ser Substituto/2009 e Cespe/PC-RN/Delegado de Polícia Civil Substituto/2009.
decretada em se tratando de investigação policial referente 505
Assunto cobrado na seguinte prova: OAB‑SC/1º Exame de Ordem/2004.
Noções de Direito Processual Penal

à prática de crime hediondo.503


506
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/STF/Analista Judiciá­rio/2008;
Cespe/TJ‑SE/Juiz Substituto/2008; FCC/TRE‑AP/Analista Judiciário/2006.
507
Assunto cobrado na seguinte prova: OAB‑GO/2º Exame/2006.
508
Assunto cobrado na prova da OAB‑GO/2º Exame/2006.
Legitimidade para o requerimento e decretação 509
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/PC‑PB/Delegado de Polícia/2009
e OAB‑MG/Comissão de Exame de Ordem/2008.
510
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/TRF 1ª Região/Analista Judiciá-
A prisão temporária deve ser decretada pelo juiz após rio/2006; OAB‑PR/Exame 01/2007; DRS‑Acadepol/SSP‑MG/Polícia Civil do
representação da autoridade policial ou de requerimento Estado de Minas Gerais/Delegado de Polícia/2007; FCC/TRE‑SP/Analista Judi-
ciário/2006; NCE/Delegado da Polícia Civil do DF/2004; Acadepol‑SP/Delegado
de Polícia de São Paulo/2003; FGV/TJ‑SE/Analista Judiciário/2004; OAB‑SP/126º
Exame de Ordem/2005; OAB‑DF/1º Exame de Ordem/2004 e OAB‑PR/3º Exame
499
STF; HC nº 93.062/MG; Relator Ministro Carlos Britto, Primeira Turma, Julga- de Ordem/2004.
mento: 10/2/2009. 511
Cespe/TJ‑SE/Juiz Substituto/2003-2004.
500
STF; HC nº 89.824/MS; Relator Ministro Carlos Britto, DJ 28/8/2008. 512
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑SC/1º Exame de Ordem/2004;
501
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/Defensoria Pública do Estado de OAB‑SC/1º Exame de Ordem/2004; FCC/TRF 1ª Região/Analista Judi­ciário/2006;
Alagoas/Defensor Público de 1ª Classe/2003; TJ‑PI/Juiz Substituto/2001; FCC/ FCC/TRE‑SP/Analista Judiciário/2006; FCC/TRE‑AP/Analista Judiciário/2006 e
TRE‑AP/Analista Judiciário/2006; OAB‑PR/Exame 02/2006; OAB‑RS/1º Exame OAB‑SC/1º Exame de Ordem/2004.
de Ordem/2004 e Vunesp/TJ‑SP/Juiz/2005. 513
Assunto cobrado na prova do MPDFT/28º Concurso para Promotor/2009.
502
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/PC‑PB/Delegado de Polícia/2009 514
Assunto cobrado na prova do NCE/Delegado da Polícia Civil de 3ª Classe do
e MPDFT/28º Concurso/Promotor – Nova Prova/2009. RJ/2002.
503
Assunto cobrado na prova da Vunesp/TJ‑SP/Juiz/2005. 515
Assunto cobrado na prova do TRF 1ª Região/X Concurso/Juiz Federal Substituto.

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O § 4º do art. 2º da Lei nº 8.072/1990 determina que a Requisitos
prisão temporária nos crimes referidos na referida lei terá
o prazo de 30 dias, prorrogável por igual período em caso Nos termos do art. 1º da Lei nº 7.960/1989, caberá prisão
de extrema e comprovada necessidade.516 temporária:
São os seguintes crimes tentados ou consumados: I – quando imprescindível para as investigações do in-
I – homicídio (art. 121), quando praticado em atividade quérito policial;
típica de grupo de extermínio, ainda que cometido por um II – quando o indiciado não tiver residência fixa ou não
só agente, e homicídio qualificado (art. 121, § 2º, I, II, III, IV fornecer elementos necessários ao esclarecimento de sua
e V, do CP); identidade;
II – latrocínio (art. 157, § 3º, in fine, do CP); III – quando houver fundadas razões, de acordo com
III – extorsão qualificada pela morte (art. 158, § 2º, do qualquer prova admitida na legislação penal, de autoria ou
CP); participação do indiciado nos seguintes crimes:
IV – extorsão mediante sequestro e na forma qualificada a) homicídio doloso (art. 121, caput e § 2º, do CP).
(art. 159, caput, e §§ lº, 2º e 3º, do CP); b) sequestro ou cárcere privado (art. 148, caput e §§ 1º
V – estupro e atentado violento ao pudor (art. 213 do CP); e 2º, do CP).
VII – epidemia com resultado morte (art. 267, § 1º, do c) roubo (art. 157, caput e §§ 1º, 2º e 3º, do CP);
CP); d) extorsão (art. 158, caput e §§ 1º e 2º, do CP);
VIII – falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de e) extorsão mediante sequestro (art. 159, caput e §§ 1º,
produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais (art. 273, 2º e 3º, do CP);
caput e § 1º, § 1º‑A e § 1º‑B, do CP); f) estupro e atentado violento ao pudor (art. 213, do CP);
IX – o crime de genocídio previsto nos arts. 1º, 2º e 3º g) epidemia com resultado morte (art. 267, § 1º, do CP);
da Lei nº 2.889/1956; h) envenenamento de água potável ou substância alimen-
X – os crimes equiparados a hediondo, quais sejam a prá- tícia ou medicinal qualificado pela morte (art. 270, caput,
tica da tortura (Lei nº 9.455/1997), o tráfico ilícito de entor- combinado com o art. 285 do CP);
pecentes e drogas afins (Lei nº 11.343/2006) e o terrorismo. i) quadrilha ou bando (art. 288 do CP);
Dessa forma, confrontadas as Leis nos 7.960/1989 j) genocídio (arts. 1º, 2º e 3º da Lei nº 2.889/1956), em
e 8.072/1990, o prazo máximo de duração da prisão tem‑ qualquer de suas formas típicas;
porária em crime de extorsão é de cinco dias, prorrogável l) tráfico de drogas (Lei nº 11.343/2006);
por igual período em caso de extrema e comprovada ne‑
m) crimes contra o sistema financeiro (Lei nº 7.492/1986).
cessidade.517 Já nos crimes de tráfico de entorpecentes ou
Entende‑se na doutrina que, para o cabimento da prisão
tortura, o prazo da prisão preventiva se estende para 30
temporária, é necessário o cometimento de um dos crimes
dias, prorrogáveis por igual período, em caso de extrema
arrolados no item III e mais o preenchimento das hipóteses
e comprovada necessidade.518
do item I ou II (CAPEZ, 2009, p. 284 e PACHECO, 2009, p. 879).
Nesse sentido, José Carlos foi detido por policiais civis,
Com efeito, em sede de prisão temporária, as hipóteses à
por fundada suspeita de estar traficando entorpecentes em
sua decretação devem ser combinadas entre si.524
frente a uma escola de 2º grau. Seu efetivo indiciamento,
Justifica‑se a decretação da prisão temporária de pessoa
entretanto, depende ainda de algumas diligências. Assim,
envolvida em crimes de roubo e homicídio qualificado que,
o Delegado de Polícia, para ultimar as investigações, poderá
por se encontrar foragida, impede a autoridade policial de
representar ao juiz, requerendo a prisão temporária por 30
concluir o inquérito policial.525 No curso de Inquérito Policial
dias, prorrogáveis por mais 30.519
que apura homicídio qualificado, a autoridade policial que
Pode se afirmar que o limite legal da prisão temporá‑
o preside verifica que o investigado está em vias de fugir
ria, em se tratando de criminalidade organizada, é cinco
para outro Estado. Em tal situação pode postular, no lugar
dias prorrogáveis, uma vez, por igual período em caso de
da prisão preventiva, a prisão temporária do investigado,
comprovada e extrema necessidade.520
havendo diligências importantes a realizar.526
Encerrado o período da prisão temporária, sem pror-
Também caberá prisão temporária, apenas durante o
rogação, a pessoa presa deve ser imediatamente posta em
inquérito policial, quando houver fundadas razões de auto‑
liberdade, independentemente de expedição de alvará de
ria ou participação do indiciado em crime contra o sistema
Noções de Direito Processual Penal

soltura pelo juiz.521


financeiro nacional (Lei nº 7.492/1986).527
Em caso de prisão temporária, o tempo da prisão efeti-
Por outro lado, em face dos elementos que constituem
vamente cumprido, pode ser computado na pena eventual-
as medidas cautelares de coerção, no processo penal,
mente imposta.522 Entretanto, o prazo da prisão temporária
é correto assinalar que a prisão temporária não poderá ser
não deve contar para efeito do prazo global determinado
decretada em inquérito policial para apurar crime de furto
para a conclusão do processo crime.523
simples, atribuído a agente primário, ainda quando na pre-
516
Assunto cobrado na prova da Funiversa/PC‑DF/Agente de Polícia/2009.
sença de indícios de autoria e prova da existência do delito
517
Assunto cobrado na prova do NCE/Delegado da Polícia Civil do DF/2004. e estando comprovado que o indiciado não tem residência
518
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/Secad/TO/Delegado de Polícia fixa, porque estará ausente o requisito da homogeneidade
Civil 1ª Classe/2008; Cespe/Secad/TO/Delegado de Polícia Civil 1ª Classe/ 2008;
Cespe/TJ‑RR/Analista Processual/2006 e OAB‑DF/1º Exame de Ordem/2005. ou proporcionalidade.528
519
Assunto cobrado na prova da OAB‑MT/2º Exame de Ordem/2004.
520
TRF 4ª Região/Juiz Federal Substituto/2005. 524
20º Concurso Público para Procurador da República/2003.
521
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑SP/127º Exame de Ordem/1ª 525
Cespe/Delegado da Polícia Federal/2002.
Fase/2005 e FCC/TRF 1ª Região/Analista Judiciário/2006. 526
Delegado de Polícia Civil da Bahia/2001.
522
Assunto cobrado na prova do Cespe/Defensoria Pública do Estado de Sergipe/ 527
TJ-PR/Juiz Substituto/2006.
Defensor Público de 2ª Categoria/2005. 528
Assunto cobrado nas seguintes provas: NCE/Delegado da Polícia Civil de 3ª
523
Assunto cobrado na prova do MPDFT/28º Concurso para Promotor/2009. Classe do RJ/2002 e Cespe/TJ‑CE/Juiz Substituto/2004-2005.

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Não cabe prisão temporária nas contravenções nem em Procedimento dos Crimes de
crimes culposos.529
Responsabilidade dos Funcionários
Incabível a prisão temporária em caso de furto quali‑
ficado.530
Públicos
Mesmo com a reforma aplicada ao Código de Proces-
Procedimento so Penal pela Lei nº 11.719, de 20/6/2008, os crimes de
responsabilidade cometidos pelos funcionários públicos
A prisão temporária será decretada pelo Juiz, em face da não passaram a ser processados pelo rito comum, não se
representação da autoridade policial ou de requerimento do revogando o rito especial outrora existente.532
Ministério Público (art. 2º da Lei nº 7.960/1989). O processo e julgamento dos crimes de responsabilidade
Em todas as comarcas e seções judiciárias, haverá um (crimes funcionais) dos funcionários públicos competirão
plantão permanente de 24 (vinte e quatro) horas do Poder aos juízes de direito. A queixa ou a denúncia destes crimes
Judiciário e do Ministério Público para apreciação dos pe- será instruída com documentos ou justificação que façam
didos de prisão temporária (art. 5º da Lei nº 7.960/1989). presumir a existência do delito ou com declaração funda-
O despacho que decretar a prisão temporária deverá mentada da impossibilidade de apresentação de qualquer
ser fundamentado e prolatado dentro do prazo de 24 dessas provas (art. 513 do CPP).
(vinte e quatro) horas, contadas a partir do recebimento O conceito de funcionário publico está previsto no
da representação ou do requerimento (art. 2º, § 2º, da Lei art. 327 do Código Penal:
nº 7.960/1989).
O Juiz poderá, de ofício, ou a requerimento do Ministério Considera‑se funcionário público, para os efeitos
Público e do Advogado, determinar que o preso lhe seja penais, quem, embora transitoriamente ou sem
apresentado, solicitar informações e esclarecimentos da remuneração, exerce cargo, emprego ou função pú-
autoridade policial e submetê‑lo a exame de corpo de delito blica. Equipara‑se a funcionário público quem exerce
(art. 2º, § 3º, da Lei nº 7.960/1989). cargo, emprego ou função em entidade paraestatal,
e quem trabalha para empresa prestadora de serviço
Decretada a prisão temporária, expedir‑se‑á mandado
contratada ou conveniada para a execução de ativi-
de prisão, em duas vias, uma das quais será entregue ao
dade típica da Administração Pública.
indiciado e servirá como nota de culpa.531 (Art. 2º, § 4º, da
Lei nº 7.960/1989).
O rito não abrange os crimes praticados por ex‑funcionários.
A prisão somente poderá ser executada depois da expedi- O Código de Processo Penal prevê rito especial para o
ção de mandado judicial (art. 2º, § 5º, da Lei nº 7.960/1989). processo e o julgamento dos crimes de responsabilidade
Efetuada a prisão, a autoridade policial informará o pre- dos funcionários públicos (arts. 312 a 326 do CP). Esse rito
so dos direitos previstos no art. 5º da Constituição Federal especial permite ao acusado se defender antes de ser re-
(art. 2º, § 6º, da Lei nº 7.960/1989). cebida a denúncia, se o crime for afiançável.533
Decorrido o prazo de cinco dias de detenção, o preso Reiterando, nos casos de crimes afiançáveis de respon‑
deverá ser posto imediatamente em liberdade, salvo se já sabilidade do funcionário público, a legislação processual
tiver sido decretada sua prisão preventiva (art. 2º, § 7º, da penal prevê o contraditório antes do recebimento da denún‑
Lei nº 7.960/1989). cia ou da queixa, com a apresentação do que se denomina
Os presos temporários deverão permanecer, obrigato- defesa preliminar.534 Tratando‑se de crime inafiançável
riamente, separados dos demais detentos (art. 3º da Lei cometido por funcionário público, inaplicável o disposto
nº 7.960/1989). no art. 514 do Código de Processo Penal.535
Nos termos do art. 4º, i, da Lei nº 4.898/1965, constitui Em recente entendimento, o STF passou a ter nova
abuso de autoridade prolongar a execução de prisão tem- orientação no sentido de que, no procedimento dos crimes
porária. de responsabilidade de funcionários públicos, a  notifica‑
ção prévia do art. 514 do CPP não é dispensada quando
a denúncia se apoiar em inquérito policial. 536 (STF, HC nº
Referências 95.969/SP, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, Primeira Turma,
Julgamento: 12/5/2009)
Noções de Direito Processual Penal

ÁVILA, Thiago André Pierobom de. Direito processual penal. Desta forma, o Ministério Público do Distrito Federal
15. ed., Brasília: Vestcon, 2009. e dos Territórios, com base em elementos de informação
obtidos em inquérito policial, denunciou João, agente da
polícia civil, por ter supostamente solicitado propina ao
CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal. 16. ed. rev.
comerciante de peças de automóvel Manoel, com o objetivo
e atual. São Paulo: Saraiva, 2009.
de não efetuar contra este a prisão em flagrante em razão
de haver adquirido mercadoria oriunda de crime. Acerca
PACHECO, Denilson Feitoza. Direito processual penal: teoria,
crítica e práxis. 6. ed. rev. ampl. e atual. com Emenda Cons- 532
Ieses/TJ-MA/Analista Judiciário/Direito/2009.
titucional da “Reforma do Judi­ciário”. Niterói, RJ: Impetus, 533
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/TCE‑AL/Procurador/2008; Cespe/
2009. TRE‑TO/Analista Judiciário/Área Administrativa/2004-2005; Acadepol‑MG/
Delegado da Polícia Civil de Minas Gerais/2003 e Cespe/TJ‑PE/Oficial de
Justiça da 2ª Entrância/2001.
534
Cespe/Defensoria Pública do Estado de Sergipe/Defensor Público de 2ª
529
Assunto cobrado na prova do Cespe/PC‑PB/Delegado de Polícia/2009. Categoria/2005.
530
FCC/MPE-SE/Analista - Direito/2009. 535
TRF-3ª Região/XII Concurso/Juiz Federal Substituto.
531
Assunto cobra na prova da FCC/TRE‑SP/Analista Judiciário/2006. 536
Cespe/MPE‑RO/Promotor/2008 e Cespe/PC-PB/Delegado de Polícia/2009.

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dessa situação hipotética, o fato de a denúncia ter sido ção, a melhora de sua situação jurídica ou a anulação do
respaldada em elementos de informação colhidos no inqué‑ processo541.
rito policial não dispensa a obrigatoriedade da notificação Trata‑se de ação autônoma que tem por objetivo im-
prévia do acusado para apresentar defesa preliminar.537 pugnar sentença já transitada em julgado. É a ação penal
O procedimento dos crimes de responsabilidade dos rescisória promovida originariamente perante o tribunal
funcionários públicos não é cabível para todos os crimes competente, e visa a desconstituir uma decisão condenatória
praticados por servidor público.538 Apenas nos crimes (ou absolutória imprópria – que aplica medida de segurança)
afiançáveis, estando a denúncia ou queixa em devida for- proferida em processo já com trânsito em julgado.
ma, o juiz mandará autuá‑la e ordenará a notificação do
acusado, para responder por escrito, dentro do prazo de Natureza Jurídica
quinze dias539 (art. 514 do CPP).
Como crimes não afiançáveis, pode-se citar o excesso de A revisão criminal não possui natureza jurídica de recurso,
exação (art. 316, § 1º, do CP) e a facilitação de contrabando dado que forma nova relação jurídica processual, em pro-
e descaminho (art. 318 do CP), que possuem pena mínima cesso diverso do qual fora proferida a decisão já transitada
superior a dois anos. em julgado. Dá origem a um novo processo, distinto daquele
Entretanto, ainda que o particular saiba da condição em que se proferiu a decisão que está sendo atacada. Por
de funcionário público do coautor, Polastri (2006, p. 69) isso, a revisão criminal não tem natureza de recurso des-
constitutivo.542
destaca que:
Trata‑se, sim, de ação com natureza constitutiva, pois
seu escopo é a rescisão do julgado, desconstituindo a con-
No caso de particular que pratica o crime próprio em
denação imposta e propiciando novo exame da causa a fim
coautoria ou participação com o funcionário, tendo
de reparar eventual erro judiciário. Dessa forma, para ser
ciência deste fato, apesar de, para efeitos penais, se
juridicamente possível, deve haver sentença penal conde-
comunicar a condição de caráter pes­soal (art. 30 do natória (ou absolutória imprópria).
CP), não terá direito ao rito especial. Dessa forma, de acordo com a doutrina majoritária, a re-
visão criminal é considerada ação impugnativa, pois apesar
Se não for conhecida a residência do acusado, ou este se de mencionada como recurso no Código de Processo Penal,
achar fora da jurisdição do juiz, ser‑lhe‑á nomeado defensor, não tem essa natureza.543 O pleito de revisão criminal não
a quem caberá apresentar a resposta preliminar540 (art. 514, constitui reiteração do recurso de apelação anteriormente
parágrafo único, do CPP). Durante o prazo concedido para a interposto pelo condenado.544
resposta, os autos permanecerão em cartório, onde poderão
ser examinados pelo acusado ou por seu defensor (art. 515 Legitimidade
do CPP).
A resposta poderá ser instruída com documentos e jus- O art. 623 do CPP determina que a revisão poderá ser
tificações (art. 515, parágrafo único, do CPP). pedida pelo próprio réu ou por procurador legalmente habili-
O juiz rejeitará a queixa ou denúncia, em despacho fun- tado ou, no caso de morte do réu, pelo cônjuge, ascendente,
damentado, se convencido, pela resposta do acusado ou do descendente ou irmão.
seu defensor, da inexistência do crime ou da improcedência Pelo princípio do favor rei, é cabível apenas à defesa
da ação (art. 516 do CPP). requerer ação rescisória penal – revisão criminal.545 Não se
Recebida a denúncia ou a queixa, será o acusado citado admite no processo penal a revisão criminal pro societate.546
(art. 517 do CPP). O próprio condenado tem legitimidade ativa para inter-
Na instrução criminal e nos demais termos do processo, por tal ação, bem como seus representantes. Pode a revisão
deve‑se observar o disposto para o rito ordinário (art. 518 criminal ser promovida por quem não seja advogado, mas
do CPP). não está tal pessoa habilitada a exercitar recursos e susten-
tações nos tribunais.547
AÇÕES AUTÔNOMAS DE IMPUGNAÇÃO Nesse sentido, a revisão poderá ser pedida pelo próprio
réu ou por procurador legalmente habilitado ou, no caso
de morte do réu, pelo cônjuge, ascendente, descendente
Revisão Criminal ou irmão.548
O STF entende que o art. 133 da CF não é incompatível
Noções de Direito Processual Penal

Conceito com as disposições do art. 623 do CPP, eis que a legislação


A revisão criminal, que é um dos aspectos diferencia‑ infraconstitucional pode excepcionar a necessidade de advo-
dores do mero direito à defesa e do direito à ampla defesa,
este caracterizador do direito processual penal, tem por
541
Cespe/DPU/Defensor Público Federal/2010/Questão 78.
finalidade o reexame do processo já alcançado pela coisa 542
Assunto cobrado na prova da OAB‑MS/80º Exame de Ordem/2004.
julgada, de forma a possibilitar ao condenado a absolvi‑ 543
Assunto cobrado na prova da Vunesp/OAB‑SP/129º Exame.
544
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/TSE/Analista Judiciá­rio/2007
e OAB‑PR/Exame 01/2006.
537
Funiversa/PC-DF/Delegado de Polícia/Questão 19/Assertivas A, B, C, D e 545
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑Nordeste/1º Exame de Ordem/2005;
E/2009. OAB‑RJ/21º Exame de Ordem/2003 e Cespe/OAB/3º Exame de Ordem/2007.
538
Assunto cobrado na prova do Cespe/TJ‑AC/Juiz de Direito Substituto/2007. 546
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑MS/81º Exame de Ordem/2005;
539
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/Procuradoria Geral do Estado do OAB‑RJ/21º Exame de Ordem/2003 e OAB‑SP/126º Exame de Ordem/2005.
Maranhão/Procurador do Estado/3ª Classe/2003; FCC/TJ‑PE/Analista Judiciá- 547
Assunto cobrado nas seguintes provas: TRF-4ª Região/Juiz Federal Substitu-
rio/2007; FCC/TRE‑RN/Analista Judiciário/Área Judiciária/2005; FCC/TRE‑RN/ to/2005 e Cespe/TJ‑BA/Juiz Substituto/2005.
Analista Judiciário/Área Judiciária/2005; TJ‑RJ/Oficial de Justiça Avaliador; Ces- 548
Assunto cobrado nas seguintes provas: Ejef/TJ‑MG/Juiz Substituto/2005; Cespe/
pe/TJ‑RR/Analista Processual/2006; Cespe/TJ‑RR/Analista Processual/2006; TSE/Analista Judiciário/2007; OAB‑ES/2º Exame de Ordem/2005; OAB‑MT/1º
Cespe/TRE-GO/Analista Judiciário/Área Administrativa/2009. Exame de Ordem/2005; OAB‑SP/126º Exame de Ordem/2005; OAB‑SP/126º
540
Assunto cobrado na prova da Acadepol‑SP/Delegado de Polícia de São Pau- Exame de Ordem/2005; 13º Concurso Público para Procurador da República;
lo/2003. OAB‑DF/1º Exame de Ordem/2004; Vunesp/OAB‑SP/130º Exame.

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gado (STF, RvC nº 4.886/SP, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, Rel. de constrangimento ilegal passível de declaração
p/ Acórdão: Min. Celso de Mello, Tribunal Pleno, Julgamento: a qualquer tempo. (STJ, REsp nº  762.826/SP, Min.
29/3/1990). Não impede o condenado de ajuizar a ação o fato Laurita Vaz, Quinta Turma, DJ 30/10/2006)
de o art. 1º, inciso I, do Estatuto da OAB (Lei nº 8.906/1994),
considerar ser privativa de advogado a postulação a órgãos A revisão criminal também é instrumento processual
do Judiciário. apto para o reconhecimento da continuidade delitiva, que
Entretanto, apenas o condenado ou seus represen­tantes não se confunde com revisão da individualização da pena.
podem promover a revisão criminal sem assistência de (STJ, REsp nº 579.652/RS, Min. Laurita Vaz, Quinta Turma,
advogado. Se o fizerem por meio de advogado legalmente DJ 7/11/2005)
habilitado, não é necessário conferir poderes especiais. (STJ, Para se desconstituir um julgado condenatório por ser
REsp nº 21.046/PE, Rel. Min. Assis Toledo, Quinta Turma, DJ contrário à prova dos autos, não é suficiente solicitar mero
8/9/1992, p. 14.372) reexame do conjunto probatório já evidenciado.
A legitimidade não é tão ampla como no caso do habeas O STJ entende que
corpus, que pode ser ajuizado por qualquer pessoa.
O Código de Processo Penal não admite que o Minis- é imprescindível a prova reexaminada, por si só, ser
tério Público requeira revisão criminal.549 A ação é possível bastante para rescindir o julgado, sendo que se outra
apenas pro reo e não pro societate. Assim, suponhamos que prova “continuar a respaldar o decreto condenatório,
X mantém em cárcere privado testemunhas oculares de ainda que falha, ou imprópria, a prova impugnada
crime que praticou. Absolvido, e alcançado o trânsito em não será suficiente para alterar a sentença conde-
julgado, libera as testemunhas. O caso não admite a revisão natória”. (STJ, REsp nº 165.469/DF, Min. Luiz Vicente
pro societate da decisão absolutória.550 Cernicchiaro, Segunda Turma, DJ 26/10/1998)
Analisamos outra hipótese. Antônio assassinou sua
esposa e fugiu logo em seguida. Reunidos os elementos Ocorre referida hipótese legal de revisão criminal quando
necessários ao início da persecução criminal, Antônio foi a condenação não tem apoio em provas idôneas, mas em
denunciado dois meses após o fato. O advogado contratado meros indícios, ou que não se utiliza de ponderações lógicas
pela família do foragido apresentou certidão de óbito falsa ao para condenação. Pode inclusive ser ajuizada em face de
juízo processante, que, sem perceber a falsidade, extinguiu a condenação feita pelo Tribunal do Júri. No sistema brasileiro,
punibilidade do réu, tendo o decisum transitado em julgado. em relação à revisão criminal, é cabível ainda quando se
Para essa situação, não há revisão criminal pro societate, tratar de decisão proferida pelo Tribunal do Júri.553
para se ver desconstituída a decisão judicial. Entretanto, Nesse sentido, é admissível revisão criminal para anular
o STF entende que a decisão que reconheceu a extinção sentença condenatória irrecorrível proferida pelo tribunal
da punibilidade configura ato que pode ser revogado, o do júri.554
que permite a punição penal de Antônio551. Nesse sentido, Não se presta a revisão criminal para uniformizar a
destaca o STF que jurisprudência sobre questão controvertida nos tribunais.
(STJ, REsp nº 61.552/RJ, Min. Vicente Leal, Sexta Turma, DJ
a decisão que, com base em certidão de óbito falsa, 14/10/1996)
julga extinta a punibilidade do réu pode ser revogada, Não é cabível a revisão criminal para assegurar a apli-
dado que não gera coisa julgada em sentido estrito cação da lei nova mais benéfica.555 Se lei posterior deixa
(STF; HC nº 84525/MG; Relator(a): Min. CARLOS de considerar o fato como crime, não cabe revisão criminal
VELLOSO; 2ª Turma; DJ 3/12/2004). sob pena de supressão de instância, na medida em que a
competência é do juiz da execução de primeira instância
No polo passivo da ação figura o Estado. Com efeito, nos (Súmula nº  611/STF: “Transitada em julgado a sentença
julgados de revisão criminal, costuma‑se citar o condenado condenatória, compete ao Juízo das Execuções a aplicação
como requerente e requerido ou também sem se fazer re- de lei mais benigna” e 66, I, da LEP).
ferência a qualquer requerido. Antônio foi condenado pela prática do delito X pelo
juízo da 5ª vara criminal de Maceió, sendo certo que a
Hipóteses de Cabimento condenação foi mantida pelo Tribunal de Justiça do Estado
de Alagoas. Transitado em julgado o decisum e iniciado o
As hipóteses de cabimento da revisão criminal estão pre- cumprimento da pena privativa de liberdade, foi publicada
Noções de Direito Processual Penal

vistas no art. 621 do CPP, que estabelece, de forma taxativa, pelo Congresso Nacional lei ordinária reduzindo pela meta-
que a revisão dos processos findos será admitida: de a pena cominada ao delito X. Nessa situação, compete ao
I – Quando a sentença condenatória for contrária ao juízo da execução criminal da capital alagoana a aplicação
texto expresso da lei penal ou à evidência dos autos552 da lei penal mais benigna.556
O STJ entende ser Aplicando‑se o princípio da fungibilidade entre o habeas
corpus e a revisão criminal, é possível desconstituir decisão
perfeitamente cabível reconhecer na ação revisional transitada em julgado por meio de habeas corpus, se veri‑
que a condenação se deu por fato atípico, porquanto,
ficada a existência de flagrante ilegalidade.557
além de contrariar expressamente a lei penal, trata‑se

549
Assunto cobrado na prova da OAB‑MG/2º Exame de Ordem/2004. 553
Assunto cobrado na prova da OAB‑SP/126º Exame de Ordem/2005.
550
Assunto cobrado na seguinte prova: 20º Concurso Público para Procurador 554
Cespe/TRE‑GO/Analista Judiciário/Área Judiciária/2009.
da República/2003. 555
Assunto cobrado na prova do Cespe/TRE‑GO/Analista Judiciário/Área Judici-
551
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/DPE-AL/Defensor Público de 1ª ária/2009.
Classe/Questão 112/2009. 556
Assunto cobrado na prova do Cespe/DPE-AL/Defensor Público de 1ª Classe/
552
Assunto cobrado nas seguintes provas: FGV/ TJ‑AM/Serviços Notariais e de Questão 117/2009.
Registro/2005 e Cespe/OAB/1º Exame de Ordem /2008. 557
Cespe/TSE/Analista Judiciário/2007.

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II – Quando a sentença condenatória se fundar em Com base na análise das hipóteses de cabimento da
depoimentos, exames ou documentos comprovadamente revisão criminal acima descritas, tem‑se que a Revisão Cri‑
falsos558 minal é ação de fundamentação vinculada, taxativa, não
Não se faz prova da falsidade nos autos da própria revisão admitindo ampliação.562
criminal, devendo o condenado se utilizar do expediente de Nos termos do parágrafo único do art. 622 do CPP, não
justificação, ou mesmo se valer de uma sentença declarató- será admissível a reiteração do pedido, salvo se fundado
ria, bem como dos autos de um processo criminal por falso em novas provas.563
testemunho ou falsa perícia. Não se admite discussão sobre Percebe‑se que todos os incisos que tratam dos permis-
a validade do documento no próprio processo de revisão. sivos da revisão criminal exigem sentença condenatória.
A falsidade deve ser comprovada, sendo que Não cabe revisão criminal se a sentença for absolutória.
Acrescente‑se que a sentença penal absolutória transitada
meros indícios de fraude nas provas apresentadas em
em julgado, proferida por juiz incompetente, é válida.564 No
juízo não são suficientes para que a decisão judicial,
processo penal, a sentença absolutória faz coisa julgada
que nelas se baseou, seja desconsiderada. (STJ, PExt
no HC nº 101.494/RS, Min. Jane Silva [Desembargado- material.565
ra Convocada do TJ/MG], Sexta Turma, DJe 8/9/2008) Nesse sentido:

III – Quando, após a sentença, se descobrirem novas HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL. SENTENÇA
provas de inocência do condenado ou de circunstância que ABSOLUTÓRIA PROFERIDA POR JUIZ DA INFÂNCIA
determine ou autorize diminuição especial da pena E DA JUVENTUDE. OCORRÊNCIA DE TRÂNSITO EM
O STJ destaca que, JULGADO. REPRESENTADO MAIOR DE IDADE. RE-
MESSA À JUSTIÇA COMUM. CONSTRANGIMENTO
transitada em julgado a decisão condenatória para ILEGAL. ORDEM CONCEDIDA. 1. A sentença abso-
a defesa, o exame de novas provas somente pode lutória transitada em julgado, ainda que emanada
ocorrer em sede de revisão criminal, desde que elas de juiz absolutamente incompetente não pode ser
tenham sido produzidas mediante ação cautelar de anulada e dar ensejo a novo processo pelos mesmos
justificação, sob pena de ser afrontada a garantia fatos. 2. Incide, na espécie, o princípio do ne bis in
constitucional do contraditório. (STJ, HC nº 31.977/ idem, impedindo a instauração de processo‑crime
RS, Min. Jane Silva [Desembargadora Convocada do pelos mesmos fatos por que foi o paciente absolvido
TJ/MG], Sexta Turma, DJe 26/5/2008) perante Juízo absolutamente incompetente. 3. Não
havendo no ordenamento jurídico brasileiro revisão
Destaca ainda ser o habeas corpus, meio processual criminal pro societate, impõe‑se acatar a autoridade
adequado para da coisa julgada material, para garantir‑se a segurança
e a estabilidade que o ordenamento jurídico deman-
se questionar decisão que indeferiu liminarmente
da. 4. Ordem concedida. (STJ, HC nº 36.091/RJ, Min.
pedido de justificação judicial cujo objetivo era a pro-
dução de novas provas para posterior ajuizamento de Hélio Quaglia Barbosa, Sexta Turma, DJ 14/3/2005)
revisão criminal. (STJ, RHC nº 18.963/SP, Min. Maria
Thereza de Assis Moura, Sexta Turma, DJ 17/12/2007) A título de exemplo, Caio foi processado e julgado, acu‑
sado da prática de furto. Proferida sentença absolutória,
Se interessa ao impetrante que o paciente comprove por falta de prova da autoria, e tendo transitado em julgado
álibi que o inocente do crime pelo qual se acha condenado, esta sentença, chega ao conhecimento da autoridade poli‑
assiste‑lhe o direito de requerer a realização de justificação cial, mediante novas provas, que o crime realmente ocorreu
judicial. Não constitui, porém, nulidade, reparável por habe- e que Caio teria empregado grave ameaça contra a pessoa
as corpus, a falta de determinação ex officio da providência da vítima. No caso em análise, o acusado não poderá ser
em recurso de revisão.559 submetido a novo processo, porque foi absolvido por sen‑
A revisão criminal não se presta à mera reapreciação tença passada em julgado, pelo mesmo fato.566
de prova já examinada. Se a defesa já tiver apresentado as
provas quando de seu primeiro julgamento não há se falar Prazo para Interposição da Revisão Criminal
em “prova nova” apta a determinar o reexame da condena-
Noções de Direito Processual Penal

ção. (STJ, HC nº 42.063/GO, Min. Laurita Vaz, Quinta Turma, Não há prazo específico para o ajuizamento da revisão
DJ 20/6/2005) criminal (art. 622 do CPP).
Assim, não se admite o pedido revisional que busca a A revisão dos processos findos poderá ser requerida em
desclassificação do crime e diminuição da pena sem que qualquer tempo, tanto antes da extinção da pena quanto
exista elemento novo capaz de convencer de ter sido a após567. A revisão criminal pode ser proposta ainda que
decisão contrária a evidência dos autos.560
extinta a punibilidade do réu.568
Conforme entendimento do STF, se novas provas de
circunstâncias que autorizam a diminuição da pena forem 562
Promotor‑BA/2004.
descobertas, a decisão do juiz da execução penal que indefe- 563
Assunto cobrado nas seguintes provas: Ejef/TJ‑MG/Juiz Substituto/2005;
riu pedido de unificação de penas, em face da continuidade Vunesp/OAB‑SP/130º Exame e OAB‑PR/Exame 01/2006.
564
Assunto cobrado na prova da Vunesp/OAB‑SP/132º Exame.
delitiva, comporta, em tese, revisão criminal.561 565
OAB‑PR/3º Exame de Ordem/2004.
566
NCE/Delegado da Polícia Civil do Rio de Janeiro/2001 e Faepol.
558
Assunto cobrado nas seguintes provas: ESMESC/TJ‑SC/Juiz/2004; OAB‑DF/1º 567
Assunto cobrado nas seguintes provas: Vunesp/OAB‑SP/132º Exame; 13º
Exame de Ordem/2004 e Cespe/TJ‑DF/Oficial de Justiça Avaliador/1997. Concurso Público para Procurador da República; Promotor‑DF/2002; OAB‑ES/2º
559
TJDFT/Juiz de Direito Substituto/2007. Exame de Ordem/2005; Cespe/TRE‑GO/Analista Judiciário/Área Judiciária/2009
560
Assunto cobrado na prova do TJDFT/Juiz de Direito Substituto/2007. e Funiversa/PC-DF/Delegado de Polícia/Questão 22/Assertiva c/2009.
561
Assunto cobrado na prova do Cespe/TJ‑CE/Juiz Substituto/2004-2005. 568
OAB‑PR/Exame 03-2006.

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O objetivo da revisão criminal, mais do que evitar uma Para a instrução, deve constar certidão de trânsito em
condenação injusta, é restaurar o status dignitatis do con- julgado da sentença condenatória e com peças necessárias
denado. para comprovar os fatos alegados (art. 625, § 1º, do CPP).
Por isso, ainda que já estiver o condenado morto569, a le- Na revisão criminal, o recorrente não poderá apresentar
gitimidade passará ao seu cônjuge, ascendente, descendente suas razões na superior instância.575
ou irmão (art. 623 do CPP). Caso a peça esteja em ordem, é distribuído a um relator
que não tenha participado anteriormente do julgamento na-
Efeitos da Revisão Criminal quele processo (art. 625 do CPP). O relator pode entender ser
o caso de indeferimento liminar caso não sejam preenchidas
Aplica‑se, no julgamento de revisão criminal, o efeito as hipóteses legais (art. 625, § 3º, do CPP).
extensivo inerente aos recursos criminais.570 Prevalece o Caso entenda que a peça merece prosseguimento,
entendimento de que é possível, na revisão criminal, o jul- o relator pode mandar juntar os autos do processo anterior
gamento extra petita favorável ao réu.571 (art. 625, § 2º, do CPP).
Distribuída a ação, a peça inicial irá para manifestação
Processamento do Ministério Público para oferecimento de parecer em 10
dias (art. 625, § 5º, do CPP).
A competência para julgar a revisão criminal é do Tribu- O ajuizamento da revisão criminal não tem o condão
de suspender a execução de sentença penal condenatória.
nal de Justiça ou dos Tribunais Federais, quando se visa a
Por outro lado, estando solto o acusado, nos termos
desconstituir decisão transitada em julgado dos respectivos
da Súmula nº 393 do STF, “Para requerer revisão criminal,
juízes estaduais ou federais de primeira instância.
o condenado não é obrigado a recolher‑se à prisão”.576
Também compete aos Tribunais de 2ª Instância o julga-
Assim, considere a seguinte situação hipotética: Zelito foi
mento da revisão criminal que ataque decisões proferidas
denunciado pelo crime de latrocínio, tendo sido condenado
por eles mesmos, seja em única ou em última instância. a pena de 20 anos de reclusão, embora tenha alegado não
É cabível revisão criminal no âmbito dos juizados espe- ser o autor do delito. Após a condenação, decretada decreto
ciais criminais, não cabendo o julgamento ao Tribunal de de sua prisão, Zelito desapareceu, não se apresentando para
Justiça ou ao Tribunal Regional Federal, mas sim às Turmas o cumprimento da pena. Dois anos depois, Zelito, por meio
Recursais572. (STJ, CC nº 47.718/RS, Ministra Jane Silva [De- de advogado regularmente constituído, ingressou com pe-
sembargadora Convocada do TJ/MG], Terceira Seção, DJe dido de revisão criminal, alegando terem sido descobertas
26/8/2008) novas provas de sua inocência. Nessa situação, o pedido de
Assim, a revisão criminal é cabível para desconstituir revisão poderá ser apreciado ainda que Zelito não tenha se
sentenças condenatórias por contravenções penais.573 apresentado para o cumprimento da pena.577
As revisões criminais serão processadas e julgadas pelo Depois volta para o relator, para que este apresente, em
Supremo Tribunal Federal, quanto às condenações por ele 10 dias, relatório, não tomando ainda qualquer posiciona-
proferidas, o mesmo se dando em relação ao Superior mento (art. 625, § 4º do CPP). Daí seguem os autos para
Tribunal de Justiça.574 um revisor que examina os autos e, em até 10 dias, pede
Ao STF compete rever, em benefício dos condenados, prazo para julgamento.
as decisões criminais quando o próprio Tribunal condenou O julgamento será feito pelo Plenário, grupo de Câmaras
ou manteve a condenação (art. 102, I, j, da CF/1988). Ao STJ ou de Turmas, dependendo do que dispuser o Regimento
compete, também, quando dele tiver emanado a decisão Interno no Tribunal (art. 624, § 2º).
condenatória (art. 105, I, e, da CF/1988). Referidas Cortes Julgando procedente a revisão criminal, o tribunal
Superiores não são competentes para apreciar revisão poderá alterar a classificação da infração, absolver o réu,
criminal quando não tiverem conhecimento do recurso modificar a pena ou anular o processo, mas não poderá,
originariamente interposto. Exige‑se a apreciação, por parte em nenhuma hipótese, agravar a pena imposta pela decisão
das referidas cortes, do mérito da ação penal, o que não se revista.578
verifica quando o julgado a ser rescindido manifestou‑se O resultado do julgamento pode servir para absolver
apenas sobre a admissibilidade do recurso. o condenado, hipótese em que se restabelecem todos os
O requerimento deve ser dirigido ao Presidente do Tribu- direitos perdidos em virtude da sentença condenatória, nos
nal competente. Este pode rejeitar liminarmente a ação se termos do art. 627 do CPP. Uma vez desconstituído o julgado,
a revisão criminal permite, por exemplo, que seja alterada
Noções de Direito Processual Penal

esta não constituir hipótese prevista no art. 621 do CPP, se


não estiver instruída de forma adequada ou se for reiteração a classificação do delito ou que seja anulado o processo.579
de pedido anterior sem novas provas. Por exemplo, é possível que o Tribunal competente reconhe‑
É necessário o trânsito em julgado. Assim, também ha- ça, na própria revisão criminal, desde que requerido pelo
verá rejeição se a sentença puder ser atacada por recurso autor, o direito a uma justa indenização do injustiçado, caso
(como apelação, embargos infringentes, recurso especial conclua que houve erro no primeiro julgamento.580
ou extraordinário).
575
Assunto cobrado na prova da OAB‑RJ/21º Exame de Ordem/2005.
576
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑GO/1º Exame de Ordem/2004/
569
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑RS/1º Exame de Ordem/2005; Vunesp/OAB‑SP/130º Exame e 12º Concurso Público para Procurador da
OAB‑MT/1º Exame de Ordem/2005 e OAB‑PR/Exame 01/2006. República.
570
Promotor‑DF/2002. 577
Assunto cobrado na prova do Cespe/Defensoria Pública da União/Defensor
571
Assunto cobrado na prova para Promotor‑DF/2002. Público da União de 2ª Categoria/2004.
572
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/MPE-SE/Promotor Substituto/ 578
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/AGU/Procurador Federal de 2ª
Questão 16/Assertiva E/2010. Categoria/2007; OAB‑ES/2º Exame de Ordem/2005; OAB‑MT/1º Exame de
573
Assunto cobrado na prova do Cespe/TRE‑GO/Analista Judiciário/Área Judiciá­ Ordem/2005; OAB‑MS/80º Exame de Ordem/2004 e Vunesp/OAB‑SP/130º
ria/2009. Exame.
574
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑ES/2º Exame de Ordem/2005 e 579
Ejef/TJ‑MG/Juiz Substituto/2005.
Promotor‑DF/2002. 580
OAB‑PR/Exame 01/2006.

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O condenado pode requerer indenização por erro judi- efeito suspensivo; III – de decisão judicial transitada em jul-
ciário, nos termos do art. 5º, LXXV, da CF/1988. gado (art. 5º da Lei nº 12.016/2009). Entretanto, nos termos
Em caso de anulação do processo, não se pode aplicar da Súmula nº 202 do STJ, “A impetração de segurança por
pena maior do que a anterior no novo processo. terceiro, contra ato judicial, não se condiciona à interposição
Em caso de empate, prevalece a votação mais favorável de recurso”.
ao acusado. Com efeito, basta o impetrante demonstrar direito líqui-
do e certo, comprovado de plano, que comprove ilegalidade
Mandado de Segurança ou abuso de poder.
O STF entende que “Controvérsia sobre matéria de direito
Conceito não impede concessão de mandado de segurança” (Súmula
nº 625/STF). Entretanto, o MS, em matéria criminal, não se
O mandado de segurança é garantia prevista na Consti- presta à discussão de provas.583
tuição Federal, nos termos do art. 5º, LXIX, determina que
conceder‑se‑á mandado de segurança para proteger direito Legitimidade Ativa
líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas
data, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de O impetrante deve buscar resguardar direito líquido e
poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica certo do qual é titular, pouco importando se for pessoa física
no exercício de atribuições do Poder Público.581 ou jurídica, desde que o faça por advogado.
Quando o direito ameaçado ou violado couber a várias
Natureza Jurídica pessoas, qualquer delas poderá requerer o mandado de
segurança (art. 1º, § 3º da Lei nº 12.016/2009).
Trata‑se de ação e não modalidade recursal, e, assim O titular de direito líquido e certo decorrente de direito,
como a revisão criminal, forma nova relação jurídica. Era re- em condições idênticas, de terceiro poderá impetrar manda-
gulado pela Lei nº 1.533/1951, sendo atualmente regulado do de segurança a favor do direito originário, se o seu titular
pela Lei nº 12.016/2009. não o fizer, no prazo de 30 (trinta) dias, quando notificado
Conceder‑se‑á mandado de segurança para proteger judicialmente (art.  3º da Lei nº  12.016/2009). O  exercício
direito líquido e certo, não amparado por habeas corpus do direito submete‑se ao prazo de 120 dias, contado da
ou habeas data, sempre que, ilegalmente ou com abuso de notificação (art. 3º, parágrafo único, da Lei nº 12.016/2009).
poder, qualquer pessoa física ou jurídica sofrer violação ou O Mandado de Segurança, em matéria criminal, pode
houver justo receio de sofrê‑la por parte de autoridade, seja ser impetrado pelo Ministério Público584, nos termos do
de que categoria for e sejam quais forem as funções que art. 31, I, da Lei nº 8.625/1993. Pode ser impetrado em face
exerça (art. 1º da Lei nº 12.016/2009). de ato de autoridade judicial ou mesmo em face de ato da
autoridade policial, sem prejuízo de sanções disciplinares
Características do Mandado de Segurança e penais contra a mesma.585
No mandado de segurança impetrado pelo Ministério
Admite‑se impetração de mandado de segurança para Público contra decisão proferida em processo penal, é obri-
resguardo de interesse violado em feitos penais.582 A Carta gatória a citação do réu como litisconsorte passivo586 (Súmu-
Magna não diferencia os atos ilegais ou abusivos de autori- la nº 701/STF). Por outro lado, a Súmula nº 631 do STF diz:
dades civis ou criminais.
Pode ter caráter repressivo, caso a ilegalidade já tenha Extingue‑se o processo de mandado de se­gurança
ocorrido ou mesmo preventivo, caso a ilegalidade ainda se o impetrante não promove, no prazo assinado,
esteja a ocorrer, guardando assim, similitude com o habeas a citação do litisconsorte passivo necessário.
corpus.
A título de exemplo, é cabível mandado de segurança Legitimidade Passiva – Autoridade Coatora
para atrair a competência de órgão julgador criminal
Considera‑se autoridade coatora aquela que tenha pra-
na hipótese em que o ato apontado coator na impe- ticado o ato impugnado ou da qual emane a ordem para a
tração originária foi a ação policial de fechamento do sua prática (art. 6º, § 3º, da Lei nº 12.016/2009).
estabelecimento onde se explorava Jogo de Bingo, As autoridades públicas, pessoas físicas no desempenho
realizado por requisição da 2ª Promotoria de Justiça
Noções de Direito Processual Penal

de suas funções, são sujeitas ao mandamus quando agirem


Criminal de Pelotas/RS, inclusive com a determinação de forma ilegal ou com abuso de poder, que não diga respeito
de lavratura de Termo Circunstanciado para apuração diretamente ao direito de ir e vir.
de contravenção penal. (STJ, CC nº 101.459/RS, Min. Equiparam‑se às autoridades, autoridades coatoras,
Laurita Vaz, Corte Especial, DJe 9/3/2009) os representantes ou órgãos de partidos políticos e os
administradores de entidades autárquicas, bem como os
Apesar de ser cabível o mandado de segurança em ma- dirigentes de pessoas jurídicas ou as pessoas naturais no
téria criminal, o autor carece do direito de ação quando o exercício de atribuições do poder público, somente no
ato fustigado for despacho ou decisão judicial que comportar que disser respeito a essas atribuições (art. 1º, § 1º da Lei
recurso com previsão legal. Não se concederá mandado de nº 12.016/2009).
segurança quando se tratar: I – de ato do qual caiba recurso
administrativo com efeito suspensivo, independentemente 583
Delegado de Polícia Civil da Bahia/2001.
de caução; II – de decisão judicial da qual caiba recurso com 584
Assunto cobrado na prova de Delegado de Polícia Civil da Bahia/2001.
585
Assunto cobrado na prova de Delegado de Polícia Civil da Bahia/2001.
586
Assunto cobrado nas seguintes provas: Vunesp/TJ-RJ/2012; TRF 4ª Região/
Assunto cobrado na seguinte prova: Promotor‑ES/2005.
581
Juiz Federal Substituto/2005; OAB‑GO/1º Exame de Ordem/2004 e Cespe/
Assunto cobrado na prova do Cespe/OAB/Secção de São Paulo/2008.
582
DPE-AL/Defensor Público de 1ª Classe/Questão 109/2009.

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
Considerar‑se‑á federal a autoridade coatora se as conse- h) contra decisão que não admite o assistente da
quências de ordem patrimonial do ato contra o qual se requer acusação592;
o mandado houverem de ser suportadas pela União ou enti- i) contra apreensão de objetos sem qualquer relação
dade por ela controlada (art. 2º da Lei nº 1.201.620/2009). com o crime;
Cabe, por exemplo, contra ato de Delegado, Ministro da j) para garantir o processamento da correição parcial
Justiça, Promotor, Juiz, inclusive de juizados especiais, bem (ou reclamação), quando seu processamento for denegado
como de Tribunais, quando no exercício de suas atribuições pelo Juiz corrigido.
com reflexos penais.
Se o ato for executado por autoridade, no exercício de Inadmissibilidade
competência delegada, cabe contra ela o mandado de segu-
rança ou a medida judicial (Súmula nº 510/STF). O STF destaca algumas hipóteses de não cabimento do
mandado de segurança: 1) contra lei em tese (Súmula nº 266/
Hipóteses de Cabimento STF); 2) contra ato judicial passível de recurso ou correição
(Súmula nº 267/STF); 3) contra decisão judicial com trânsito
Será concedido mandado de segurança para tutela de em julgado (Súmula nº 268/STF).
direito líquido e certo, comprovado de plano, não amparado Por outro lado, não se admite como ordinário recurso
por habeas corpus ou habeas data, quando o responsável extraordinário de decisão denegatória de mandado de
pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública segurança (Súmula nº 272/STF). Também são inadmissíveis
ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do embargos infringentes contra decisão do Supremo Tribunal
poder público.587 Federal em mandado de segurança (Súmula nº 294/STF).
Em caso de indeferimento de pedido de determinado O mandado de segurança não se presta para atribuir
Estado para ingressar em processo criminal como assis- efeito suspensivo ao recurso em sentido estrito interposto
tente, sob o argumento de que não se admite assistência pelo Ministério Público contra decisão que revoga prisão
por parte de pessoa jurídica de direito público, não cabe preventiva. (STJ, HC nº  120.692/SP, Ministra Jane Silva
recurso, mas é possível o uso de mandado de segurança.588 (Desembargadora Convocada do TJ/MG), Sexta Turma, DJe
Reiterando, contra a decisão do juiz penal que indefere 2/2/2009)
pedido do particular como assistente do Ministério Público O Superior Tribunal de Justiça tem aplicado reiterada-
é cabível Mandado de Segurança.589 mente o entendimento de que não é possível, por meio
Também é cabível mandado de segurança contra a de- de mandado de segurança, emprestar efeito suspensivo a
cisão do juiz penal que indefere transação penal.590 recurso de agravo em execução interposto pelo Ministério
Maria, condenada por crime de venda de substância Público – em razão de sua ilegitimidade ativa ad causam –
entorpecente, veio a dar à luz durante o tempo de cumpri‑ com o fim de desconstituir a decisão do Juízo das Execuções
mento da pena. Ainda durante o período de amamentação, Criminais que assegura ao condenado o direito à progressão
a autoridade penitenciária responsável pelo encarceramen‑ carcerária. (STJ, RMS nº 25736/SP, Min. Laurita Vaz, Quinta
to entrega a criança à entidade de proteção a Crianças e Turma, DJe 22/4/2008)
Adolescentes, apesar de alertada de que a Constituição da Também não se admite a revisão criminal para se plei-
República assegura às presidiárias o direito de permanece‑ tear a progressão de regime prisional, ainda que já tenha
rem com seus filhos durante tal período. Dando por certo ocorrido trânsito em julgado da sentença condenatória.593
que a unidade prisional dispõe de condições para assegurar
a permanência da criança ao lado da mãe, para reaver seu Prazo para Interposiçao do Mandado de Segurança
filho, Maria poderá lançar mão de Mandado de Segurança
em matéria penal.591 O direito de requerer mandado de segurança extin-
A absolvição criminal não prejudica a medida de seguran- guir‑se‑á decorridos 120 (cento e vinte) dias, contados da
ça, quando couber, ainda que importe privação da liberdade ciência, pelo interessado, do ato impugnado (art. 23 da Lei
(Súmula nº 422/STF). nº 12.016/2009).
Pierobom (2009, p. 710) lista exemplos de utilização do O pedido de mandado de segurança poderá ser reno-
mandado de segurança em matéria penal: vado dentro do prazo decadencial se a decisão denegatória
a) direito de vista de inquérito policial ao advogado; não lhe houver apreciado o mérito (art.  6º, §  6º, da Lei
(Súmula Vinculante nº 14); nº 12.016/2009). O STF, por meio da Súmula nº 632, desta-
b) direito do advogado de acompanhar seu cliente na ca que é constitucional lei que fixa o prazo de decadência
Noções de Direito Processual Penal

fase do inquérito; para a impetração de mandado de segurança em matéria


c) direito do advogado de entrevistar seu cliente; penal.594
d) direito de obter certidões; A existência de recurso administrativo com efeito sus-
e) direito de juntar documentos em qualquer fase do pensivo não impede o uso do mandado de se­gurança contra
processo penal (CPP, art. 231); omissão da autoridade (Súmula nº 429/STF). Tem‑se ainda
f) direito de obter efeito suspensivo em recurso; que o Mandado de Segurança não suspende o curso do
g) direito de terceiro de boa‑fé à restituição de coisas inquérito policial quando impetrado contra a autoridade
apreendidas; policial.595 Por outro lado, pedidos de reconsideração na via
administrativa não interrompem o prazo para o mandado de
587
Cespe/OAB/Secção de São Paulo/2008. segurança (Súmula nº 430/STF).
588
Assunto cobrado na prova da FCC/Procuradoria‑Geral do Estado de Roraima/
Procurador do Estado/2006.
589
Assunto cobrado nas seguintes provas: Acadepol‑MG/Delegado da Polícia 592
Cespe/DPE-RO/2012.
Civil de Minas Gerais/2003 e FCC/TCE‑AL/Procurador/2008. 593
Assunto cobrado na prova do Cespe/DPU/Defensor Público Fe­deral/Questão
590
Assunto cobrado na prova da Acadepol‑MG/Delegado da Polícia Civil de Minas 79/2010.
Gerais/2003. 594
Assunto cobrado na prova da OAB‑GO/1º Exame de Ordem/2004.
591
NCE/Delegado da Polícia Civil de 3ª Classe do RJ/2002. 595
Assunto cobrado na prova de Delegado de Polícia Civil da Bahia/2001.

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Competência duzidos na segunda e indicará, além da autoridade coatora,
a pessoa jurídica que esta integra, à qual se acha vinculada
A competência para julgar a ação de mandado de segu- ou da qual exerce atribuições (art. 6º da Lei nº 12.016/2009).
rança é definida tendo em vista a qualidade da autoridade No caso em que o documento necessário à prova do
coatora. alegado se ache em repartição ou estabelecimento público
Os juízes estaduais, a título de exemplo, julgarão man- ou em poder de autoridade que se recuse a fornecê‑lo por
dados de segurança quando a autoridade coatora for um certidão ou de terceiro, o juiz ordenará, preliminarmente, por
delegado de polícia civil. Já se for delegado de polícia federal ofício, a exibição desse documento em original ou em cópia
ou policial rodoviário federal, a competência caberá ao juiz autêntica e marcará, para o cumprimento da ordem, o prazo
federal. de 10 (dez) dias. O escrivão extrairá cópias do documento
Já em relação a mandado de segurança impetrado contra para juntá‑las à segunda via da petição (art. 6º, § 1º, da Lei
ato judicial, competente será o tribunal competente para nº 12.016/2009).
julgar eventual recurso. Se a autoridade que tiver procedido dessa maneira for a
Nos termos da Súmula nº 376 do STJ, “Compete à turma própria coatora, a ordem far‑se‑á no próprio instrumento da
recursal processar e julgar o mandado de segurança contra notificação (art. 6º, § 2º, da Lei nº 12.016/2009).
ato de juizado especial”. E mais, o STF entende que a
Indeferimento da petição inicial
Competência originária para conhecer de mandado A inicial será desde logo indeferida, por decisão motivada,
de segurança contra coação imputada a Turma Re- quando não for o caso de mandado de segurança ou lhe faltar
cursal dos Juizados Especiais é dela mesma (STF, MS algum dos requisitos legais ou quando decorrido o prazo legal
nº 24.691 QO/MG, Rel. Min. Marco Aurélio, Tribunal para a impetração (art. 10 da Lei nº 12.016/2009).
Pleno, Julgamento: 4/12/2003). Do indeferimento da inicial pelo juiz de primeiro grau
caberá apelação e, quando a competência para o julgamen-
Nos termos do art. 102, I, d, da CF/1988, compete ao to do mandado de segurança couber originariamente a um
Supremo Tribunal Federal processar e julgar, originariamente, dos tribunais, do ato do relator caberá agravo para o órgão
o mandado de segurança contra atos do Presidente da Re- competente do tribunal que integre (art. 10, § 1º, da Lei
pública, das Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado nº 12.016/2009).
Federal, do Tribunal de Contas da União, do Procurador‑Geral
da República e do próprio Supremo Tribunal Federal. Notificação
Compete ao STF ainda, nos termos do art. 102, II, a, da Ao despachar a inicial, o juiz ordenará que se notifique o
CF/1988, julgar o mandado de segurança em recurso ordiná- coator do conteúdo da petição inicial, enviando‑lhe a segun-
rio, decidido em única instância pelos Tribunais Superiores, da via apresentada com as cópias dos documentos, a fim de
caso a decisão seja denegatória. que, no prazo de 10 (dez) dias, preste as informações, bem
Dessa forma, o  Supremo Tribunal Federal não é com- como que se dê ciência do feito ao órgão de representação
petente para conhecer de mandado de segurança contra judicial da pessoa jurídica interessada, enviando‑lhe cópia
atos dos tribunais de justiça dos estados (Súmula nº 330/ da inicial sem documentos, para que, querendo, ingresse no
STF). Também “Não compete ao Supremo Tribunal Federal feito (art. 7º da Lei nº 12.016/2009).
conhecer originariamente de mandado de segurança contra O ingresso de litisconsorte ativo não será admitido
atos de outros tribunais” (Súmula nº 624/STF). após o despacho da petição inicial (art.  10, §  2º, da Lei
Por outro lado, nos termos do art. 105, I, b, da CF/1988, nº 12.016/2009).
compete ao Superior Tribunal de Justiça processar e julgar Feitas as notificações, o serventuário em cujo cartório
originariamente os mandados de segurança contra ato de
corra o feito juntará aos autos cópia autêntica dos ofícios
Ministro de Estado, dos Comandantes da Marinha, do Exér-
endereçados ao coator e ao órgão de representação judicial
cito e da Aeronáutica ou do próprio Tribunal.
da pessoa jurídica interessada, bem como a prova da entrega
Entretanto, o Superior Tribunal de Justiça é incompetente
a estes ou da sua recusa em aceitá‑los ou dar recibo e, no
para processar e julgar originariamente mandado de segu-
caso de impetração do mandado de segurança por telegrama,
rança contra ato de órgão colegiado presidido por Ministro
radiograma, fax ou outro meio eletrônico de autenticidade
de Estado (Súmula nº 177/STJ).
Compete também ao STJ julgar, em recurso ordinário, comprovada, a comprovação da remessa (art. 11 da Lei
os  mandados de segurança decididos em única instância nº 12.016/2009).
Noções de Direito Processual Penal

pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dos


Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando denegatória Liminar
a decisão (art. 105, II, b, da CF/1988). No despacho, pode também o magistrado determinar
Dessa forma, o Superior Tribunal de Justiça não tem com- que se suspenda o ato que deu motivo ao pedido, quando
petência para processar e julgar originariamente mandado de houver fundamento relevante e do ato impugnado puder
segurança contra ato de outros tribunais ou dos respectivos resultar a ineficácia da medida, caso seja finalmente deferi-
órgãos (Súmula nº 41/STJ). da, sendo facultado exigir do impetrante caução, fiança ou
depósito, com o objetivo de assegurar o ressarcimento à
Procedimento em Mandado de Segurança pessoa jurídica (art. 7º da Lei nº 12.016/2009).
Da decisão do juiz de primeiro grau que conceder ou
Procedimento denegar a liminar caberá agravo de instrumento, observado
o disposto na Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973 – Código
Petição inicial de Processo Civil (art. 7º, § 1º, da Lei nº 12.016/2009).
A petição inicial, que deverá preencher os requisitos es- Os efeitos da medida liminar, salvo se revogada ou cas-
tabelecidos pela lei processual, será apresentada em 2 (duas) sada, persistirão até a prolação da sentença (art. 7º, § 3º, da
vias com os documentos que instruírem a primeira repro- Lei nº 12.016/2009).

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Deferida a medida liminar, o processo terá prioridade o presidente do tribunal ao qual couber o conhecimento do
para julgamento (art. 7º, § 4º, da Lei nº 12.016/2009). respectivo recurso suspender, em decisão fundamentada,
As vedações relacionadas com a concessão de liminares a execução da liminar e da sentença, dessa decisão caberá
previstas neste artigo se estendem à tutela antecipada a que agravo, sem efeito suspensivo, no prazo de 5 (cinco) dias,
se referem os arts. 273 e 461 do Código de Processo Civil que será levado a julgamento na sessão seguinte à sua in-
(art. 7º, § 5º, da Lei nº 12.016/2009). terposição (art. 15 da Lei nº 12.016/2009).
Será decretada a perempção ou caducidade da medida A Súmula nº 626/STF determina que
liminar ex officio ou a requerimento do Ministério Público
quando, concedida a medida, o impetrante criar obstáculo a suspensão da liminar em mandado de segurança,
ao normal andamento do processo ou deixar de promover, salvo determinação em contrário da decisão que a
por mais de 3 (três) dias úteis, os atos e as diligências que deferir, vigorará até o trânsito em julgado da decisão
lhe cumprirem (art. 8º da Lei nº 12.016/2009). definitiva de concessão da segurança ou, havendo
As autoridades administrativas, no prazo de 48 (quarenta recurso, até a sua manutenção pelo Supremo Tribu-
e oito) horas da notificação da medida liminar, remeterão nal Federal, desde que o objeto da liminar deferida
ao Ministério ou órgão a que se acham subordinadas e ao coincida, total ou parcialmente, com o da impetração.
Advogado‑Geral da União ou a quem tiver a representação
judicial da União, do Estado, do Município ou da entidade Indeferido o pedido de suspensão ou provido o agravo,
apontada como coatora cópia autenticada do mandado
caberá novo pedido de suspensão ao presidente do tribunal
notificatório, assim como indicações e elementos outros
competente para conhecer de eventual recurso especial ou
necessários às providências a serem tomadas para a eventual
extraordinário (art. 15, § 1º, da Lei nº 12.016/2009).
suspensão da medida e defesa do ato apontado como ilegal
É cabível também novo pedido de suspensão quando
ou abusivo de poder (art. 9º da Lei nº 12.016/2009).
negado provimento a agravo de instrumento interposto
Manifestação do Ministério Público contra a liminar do Presidente do Tribunal (art. 15, § 2º, da
Findo o prazo de 10 dias para que o coator preste as Lei nº 12.016/2009).
informações, o  juiz ouvirá o representante do Ministério A interposição de agravo de instrumento contra liminar
Público (na qualidade de custos legis), que opinará, den- concedida nas ações movidas contra o poder público e seus
tro do prazo improrrogável de 10 (dez) dias (art. 12 da Lei agentes não prejudica nem condiciona o julgamento do pe-
nº 12.016/2009). dido de suspensão a que se refere este artigo (art. 15, § 3º,
da Lei nº 12.016/2009).
Decisão O presidente do tribunal poderá conferir ao pedido efeito
Com ou sem o parecer do Ministério Público, os autos suspensivo liminar se constatar, em juízo prévio, a plausi-
serão conclusos ao juiz, para a decisão, a qual deverá ser bilidade do direito invocado e a urgência na concessão da
necessariamente proferida em 30 (trinta) dias (art. 12, pa- medida (art. 15, § 4º, da Lei nº 12.016/2009).
rágrafo único, da Lei nº 12.016/2009). As liminares cujo objeto seja idêntico poderão ser
Concedido o mandado, o juiz transmitirá em ofício, por suspensas em uma única decisão, podendo o presidente
intermédio do oficial do juízo, ou pelo correio, mediante do tribunal estender os efeitos da suspensão a liminares
correspondência com aviso de recebimento, o inteiro teor da supervenientes, mediante simples aditamento do pedido
sentença à autoridade coatora e à pessoa jurídica interessada original (art. 15, § 5º, da Lei nº 12.016/2009).
(art. 13 da Lei nº 12.016/2009).
Em caso de urgência, poderá o juiz observar o dis- Mandado de Segurança em matéria de competência
posto no art. 4º desta Lei (art. 13, parágrafo único, da Lei originária de Tribunais
nº 12.016/2009). Nos casos de competência originária dos tribunais,
Da sentença, denegando ou concedendo o mandado, caberá ao relator a instrução do processo, sendo assegu-
cabe apelação596 (art. 14 da Lei nº 12.016/2009). rada a defesa oral na sessão do julgamento (art. 16 da Lei
Concedida a segurança, a sentença estará sujeita obri- nº 12.016/2009).
gatoriamente ao duplo grau de jurisdição (art. 14, § 1º, da Da decisão do relator que conceder ou denegar a medida
Lei nº 12.016/2009). liminar caberá agravo ao órgão competente do tribunal que
Estende‑se à autoridade coatora o direito de recorrer integre (art. 16, parágrafo único, da Lei nº 12.016/2009).
(art. 14, § 2º, da Lei nº 12.016/2009). Nas decisões proferidas em mandado de segurança e
Noções de Direito Processual Penal

A sentença que conceder o mandado de segurança pode nos respectivos recursos, quando não publicado, no prazo
ser executada provisoriamente, salvo nos casos em que for de 30 (trinta) dias, contado da data do julgamento, o acórdão
vedada a concessão da medida liminar (art. 14, § 3º, da Lei será substituído pelas respectivas notas taquigráficas, inde-
nº 12.016/2009).
pendentemente de revisão (art. 17 da Lei nº 12.016/2009).
Constitui crime de desobediência, nos termos do Código
Das decisões em mandado de segurança proferidas
Penal, o não cumprimento das decisões proferidas em man-
em única instância pelos tribunais cabe recurso especial e
dado de segurança, sem prejuízo das sanções administrativas
e da aplicação da Lei nº 1.079/1950, quando cabíveis (art. 26 extraordinário, nos casos legalmente previstos, e recurso
da Lei nº 12.016/2009). ordinário, quando a ordem for denegada (art. 18 da Lei
nº 12.016/2009).
Suspensão da execução da sentença ou da liminar
Quando, a requerimento de pessoa jurídica de direito pú- Coisa julgada
blico interessada ou do Ministério Público e para evitar grave A sentença ou o acórdão que denegar mandado de segu-
lesão à ordem, à saúde, à seguran­ça e à economia públicas, rança, sem decidir o mérito, não impedirá que o requerente,
por ação própria, pleiteie os seus direitos e os respectivos
Assunto cobrado na prova da OAB‑PR/Exame 01-2007.
596 efeitos patrimoniais (art. 19 da Lei nº 12.016/2009).

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Prioridade Em 29 de setembro de 1871, o Decreto nº 2.033 confe-
Os processos de mandado de segurança e os respectivos riu ao habeas corpus caráter preventivo e o estendeu para
recursos terão prioridade sobre todos os atos judiciais, salvo estrangeiros.
habeas corpus (art. 20 da Lei nº 12.016/2009). Contudo, somente a partir da Constituição de 1891 o
Na instância superior, deverão ser levados a julgamen- habeas corpus integrou‑se como um dos direitos e garantias
to na primeira sessão que se seguir à data em que forem individuais ao nosso Direito Constitucional. O § 22 do art. 72
conclusos ao relator (art. 20, § 1º, da Lei nº 12.016/2009). da referida Carta estabelecia:
O prazo para a conclusão dos autos não poderá exceder
de 5 (cinco) dias (art. 20, § 2º, da Lei nº 12.016/2009). Dar‑se‑á o habeas corpus, sempre que o indivíduo
A Súmula nº 169 do STJ destaca que “são inadmissíveis sofrer ou se achar em iminente perigo de sofrer vio-
embargos infringentes no processo de mandado de seguran- lência ou coação por ilegalidade ou abuso de poder.
ça”. Já a Súmula nº 512/STF prevê que “não cabe condenação
em honorários de advogado na ação de mandado de segu- Na Constituição de 1934, em seu art.  113, item 23,
rança”. No mesmo sentido, a Súmula nº 105/STJ assentou também houve previsão de habeas corpus, já excluindo sua
que “na ação de mandado de segurança não se admite utilização em relação às infrações disciplinares:
condenação em honorários advocatícios”. O art. 25, da Lei
nº 12.016/2009, incorporou o entendimento das referidas Dar‑se‑á habeas corpus sempre que alguém sofrer,
súmulas, destacando que “não cabem, no processo de man- ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação
em sua liberdade, por ilegalidade ou abuso de poder.
dado de segurança, a interposição de embargos infringentes
Nas transgressões, disciplinares não cabe o habeas
e a condenação ao pagamento dos honorários advocatícios,
corpus.
sem prejuízo da aplicação de sanções no caso de litigância
de má‑fé” (art. 25 da Lei nº 12.016/2009). O item 16 do art. 122 da Constituição de 1937, o § 23
do art. 141 da Carta de 1946 e o § 20 do art. 150 da Cons-
Habeas Corpus tituição de 1967 mantiveram as disposições referentes ao
mandamus.
Considerações Históricas Na atual Carta Magna, em seu art. 5º, LXVIII, destaca‑se
que:
O habeas corpus tem origem na Magna Carta da Ingla-
terra de 1215, outorgada pelo Rei João Sem Terra (King John conceder‑se‑á habeas corpus sempre que alguém
Lackand). sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou
A Petition of Rights, em 1628, também tratou sobre o coação em sua liberdade de locomoção, por ilega-
tema. Focava principalmente nos seguintes pilares básicos: lidade ou abuso de poder.597
combate à taxação sem aprovação do parlamento, às prisões
arbitrárias determinadas pelo rei, bem como sujeição das O art. 647 do CPP estabelece que
punições às leis.
Entretanto, as ilegalidades nas prisões só sofreram um Dar‑se‑á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou
golpe significativo com a edição, na Inglaterra, do Habeas se achar na iminência de sofrer violência ou coação
Corpus Act, o que se deu em 1679. Por meio do writ of habeas ilegal na sua liberdade de ir e vir, salvo nos casos de
corpus (“ordeno que tomes [habeas] o corpo [corpus] desse punição disciplinar.
detido e o traga à corte”), a pessoa que estivesse sofrendo
restrição à sua liberdade poderia pedir ao magistrado a ex- Tipos de Habeas Corpus
pedição de uma ordem para que o responsável pela prisão
O habeas corpus pode ser liberatório ou preventivo.598
ilegal o apresentasse perante o magistrado, para que esse
Pierobom (2009, p. 694) destaca que
verificasse a legalidade ou não do encarceramento.
Tal instituto influenciou a Constituição norte‑americana
O habeas corpus repressivo é utilizável não apenas
de 1778 e a maioria das constituições modernas. Em 1789,
quando o réu está preso599, mas quando a ilegali-
o  habeas corpus foi incluído na Declaração Universal dos dade ou o abuso de poder já se implementaram. Se
Direitos do Homem e do Cidadão. a coação já é presente, mesmo que o paciente não
Em 1816, outro habeas corpus act deu abrangência ao esteja preso, o habeas corpus cabível será repressivo.
instituto, não mais limitado apenas em casos de acusa­ções
de crimes.
Noções de Direito Processual Penal

Em sede de habeas corpus, se o paciente sofrer apenas


O instituto figurou pela primeira vez como lei ordinária ameaça de coação ilegal é caso de habeas corpus preven‑
no direito pátrio, eis que a Constituição do Império de 1824 tivo600, com expedição de salvo‑conduto601. Dessa forma,
não tratou expressamente do tema, embora alguns doutri- quando ainda não há constrangimento ilegal à liberdade de
nadores digam que ali havia os delineamentos básicos. locomoção, mas apenas perigo iminente a essa liberdade,
Foi consagrado pelo Código de Processo Criminal de 1832 tendo o habeas corpus caráter preventivo, será expedido
que, no seu art. 340, estabelecia: um salvo‑conduto, assinado pela autoridade judiciária
competente.602
todo cidadão que entender que ele ou outrem sofre
uma prisão ou constrangimento ilegal em sua liber- 597
Assunto cobrado na seguinte prova: Movens/PC-PA/Delegado/Questão 32/
dade tem direito de pedir uma ordem de habeas Assertiva a/2009.
corpus em seu favor. 598
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/TJ‑PE/Oficial de Justiça da 1ª
Entrância/2001.
599
Assunto cobrado na prova da Movens/PC-PA/Delegado/Questão 32/Assertiva
Assim, em um primeiro momento, houve o habeas corpus b/2009.
liberatório ou repressivo, que fazia cessar um constrangimen- 600
Promotor‑ES/2005.
601
Assunto cobrado na seguinte prova: FCC/TRE‑RN/Analista Judiciário/2005.
to à liberdade de locomoção. 602
Assunto cobrado na seguinte prova: FCC/TRF-4ª Região/Analista Judiciário/2004.

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São remédios constitucionais de caráter preventivo também pode fazê‑lo609. O Código de Processo Penal, em
e repressivo, simultaneamente, a Ação Popular, Habeas seu art. 654, faculta ao Ministério impetrar habeas corpus.
Corpus e Mandado de Se­gurança.603 Pessoa jurídica pode impetrar habeas corpus em favor
de pessoa física.610
Conceito O delegado pode impetrar se o fizer como cidadão, eis
que não há nas normas que estabelecem as atribuições da
Da doutrina, podem ser citados os seguintes conceitos autoridade policial previsão legal da referida impetração
de habeas corpus. Para Alexandre de Moraes (1997, p. 112), em suas funções.
Mirabete (2005, p. 773) entende que
habeas corpus é uma garantia individual ao direito
pode qualquer funcionário público impetrar habeas
de locomoção, consubstanciada em uma ordem
corpus por estar ao abrigo da expressão qualquer
dada pelo Juiz ou Tribunal ao coator, fazendo cessar
pessoa constante do artigo 654 do CPP. Assim, tam-
a ameaça ou coação à liberdade de locomoção em
bém o delegado de polícia pode fazê‑lo.
sentido amplo – o direito do indivíduo de ir, vir e ficar.
Entretanto, o autor, no mesmo parágrafo em que traz a asser-
Para Michel Temer (1997, p. 193), “o habeas corpus pro- tiva acima referida, parece se contradizer, já que afirma que
tege um direito líquido e certo: a liberdade de locomoção”.
O habeas corpus é remédio processual simples e rápido também é inadmissível o pedido por parte de qual-
destinado a restabelecer o direito à liberdade de ir, vir e quer funcionário que impetra habeas corpus no
permanecer, quando já violado, ou preservá‑lo, quando sob desempenho de funções de comando ou de autori-
ameaça concreta, atual ou iminente, contra ilegalidade ou dade e não como qualquer do povo, em substituição
abuso de poder.604 processual.

Natureza Jurídica O juiz, enquanto magistrado, não pode impetrar habeas


corpus. Entretanto, poderá o juiz ou o tribunal, de ofício,
A natureza jurídica do habeas corpus corresponde a conceder a ordem de habeas corpus.611 Com efeito, os juízes
uma ação penal constitucional que tutela a liberdade de e os tribunais têm competência para expedir de ofício ordem
locomoção, notadamente quando evidenciadas as hipóteses de habeas corpus, quando no curso de processo verificarem
previstas no art. 648 do CPP. que alguém sofre ou está na iminência de sofrer coação ilegal
(art. 654, § 2º, do CPP). A respeito do habeas corpus, o juiz
Apesar de se achar disciplinado como recurso no Código
não terá competência para conhecer do pedido quando a co‑
de Processo Penal, a doutrina o considera como ação.605
ação provier de autoridade judiciária de igual jurisdição.612
A concessão do habeas corpus não obstará nem porá
A respeito do habeas corpus, poderá ser impetrado pelo
termo ao processo, desde que este não esteja em conflito
Ministério Público.613
com os fundamentos daquela.606
Legitimidade Passiva – Autoridade Coatora
Legitimidade Ativa – Impetrante
Em regra, é apresentado em face de autoridades públi-
O habeas corpus pode ser ajuizado por qualquer pessoa, cas, principalmente juiz, delegado, membro de Comissão
em favor de si ou de terceiros, sendo conhecido, assim, por Parlamentar de Inquérito, Ministro da Justiça e promotor.
ação popular (art. 654 do CPP). O Ministério Público terá legitimidade passiva nas ações
Ademais, o HC não necessita da representação de advo- de habeas corpus quando requisitar diretamente à autori-
gado. Pode o habeas corpus ser promovido por quem não dade policial diligências em inquérito policial. Entretanto, se
seja advogado, mas não está tal pessoa habilitada a exer- requerer ao juiz e for deferida a realização de diligências
citar recursos e sustentações nos tribunais.607 Isto em face em inquérito policial, a autoridade coatora será o juiz que
das determinações do § 1º, do art. 1º, da Lei nº 8.906/1994, deferiu a medida.614
que estabelece que não se inclui na ati­vidade privativa de Ou seja, o  habeas corpus é cabível em relação às au-
advocacia a impetração de habeas corpus em qualquer toridades públicas que tenham atribuição atividades que
instância ou tribunal. possam afetar o direito individual de locomoção. Em face de
Para a promoção de habeas corpus, não importa a idade, autoridades públicas, a conduta ilegal ou arbitrária de coação
Noções de Direito Processual Penal

estado mental da pessoa ou mesmo se há ou não representa- ou ameaça de coação à liberdade de locomoção pode, em
ção legal. Não importa se o impetrante está ou não no gozo tese, configurar delitos como abuso de autoridade, previstos
de seus direitos políticos. na Lei de Abuso de Autoridade (Lei nº 4.898/1965).
É cabível o habeas corpus para atacar decisão de juiz cível
Se o habeas corpus for ajuizado em favor de terceiro, se
que decreta a prisão de depositário infiel.
este se opor, por entender que a medida pode prejudicá‑lo,
O habeas corpus é instrumento adequado para se im-
o pedido não deve ser conhecido.
pugnar ordem de juiz de primeiro grau de quebra de sigilo
Estrangeiro pode impetrar em favor de si, seja ou não
residente no país, ou em favor de terceiros.608 O promotor 609
Assunto cobrado na seguinte prova: NCE/Delegado da Polícia Civil do DF/2004
e Promotor‑RN/2000.
610
Assunto cobrado nas seguintes provas: Promotor‑RN/2000 e NCE/Delegado
603
Assunto cobrado na seguinte prova: OAB‑MG/2º Exame de Ordem/2004. da Polícia Civil do DF/2004.
604
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/OAB‑ES/Exame de Ordem/2006. 611
Assunto cobrado na prova da FCC/TRE-PI/Analista Judiciário/Questão 63/
605
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/TJ‑DF/Oficial de Justiça Avaliador/1997. Assertiva A/2009.
606
Cespe/TRE‑GO/Analista Judiciário/Área Administrativa/2009. 612
Assunto cobrado na seguinte prova: FCC/TRE-PI/Analista Judiciário/Questão
607
Assunto cobrado nas seguintes provas: TRF-4ª Região/Juiz Federal Substitu- 63/Assertiva E/2009.
to/2005 e FCC/TRE-PI/Analista Judiciário/Questão 63/Assertiva C/2009 613
Assunto cobrado na prova da FCC/TRE-PI/Analista Judiciário/Questão 63/
608
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑RS/2º Exame de Ordem/2004; Assertiva D/2009.
Movens/PC-PA/Delegado/Questão 32/Assertiva D/2009. 614
Assunto cobrado na seguinte prova: Promotor‑RN/2000.

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bancário.615 (STF, HC nº 86.094/PE, Relator Ministro Marco a esfera administrativa, condição objetiva de puni-
Aurélio, Primeira Turma, Julgamento: 20/9/2005). bilidade com relação ao delito material inserto no
Prevalece o entendimento de que o habeas corpus pode art. 1º da Legislação Especial, no caso, por ausência
ser impetrado inclusive em face de ato de particular616. de justa causa, impõe a interrupção da investigação
Como definido no texto constitucional, o  habeas corpus pertinente ao crime contra a ordem tributária. Prece-
poderá ser utilizado para fazer cessar coação à liberdade dentes (STF e STJ). 3. Ordem concedida para trancar o
de locomoção promovida por ato ilegal de particular.617 inquérito policial. (STJ, HC nº 110.726/SP, Min. Jorge
O ato do particular que age com abuso comumente con- Mussi, Quinta Turma, DJe 30/3/2009)
figura também o crime de constrangimento ilegal (art. 146
do CP), ameaça (art. 147 do CP) ou mesmo sequestro ou Também deve haver justa causa para a existência do
cárcere privado (art. 148 do CP), podendo a coação cessar próprio processo penal. Com efeito, o art. 395 do CPP estabe-
inclusive pela prisão em flagrante caso esteja configurado lece que a denúncia ou queixa será rejeitada quando: I – for
o estado correspondente. Ex.: filho que interna pai idoso manifestamente inepta; II – faltar pressuposto processual
em manicômio ou asilo para se livrar do genitor; diretor de ou condição para o exercício da ação penal; III – faltar justa
hospital que não permite a saída de paciente que está in- causa para o exercício da ação penal.
ternado; empregador que detém estrangeiro ou trabalhador O STJ619 destaca que o trancamento da ação penal por
rural para pagamento de eventuais dívidas. meio do habeas corpus se situa no campo da excepciona-
O habeas corpus é medida idônea para impugnar deci- lidade620, sendo medida que somente deve ser adotada
são judicial que autoriza a quebra de sigilos fiscal e bancário quando houver comprovação de plano, da atipicidade da
em procedimento criminal, visto que a quebra do sigilo, por conduta, da incidência de causa de extinção da punibilidade
si só, pode repercutir no direito de ir e vir do indivíduo.618 ou da ausência de indícios de autoria ou de prova sobre a
materialidade do delito.621
Paciente Nesse sentido, vejamos as seguintes hipóteses de cabi-
mento de habeas corpus para trancar a ação penal:
Tem que ser impetrado em favor de pessoa que seja
conhecida. Não se admite impetração em favor de pessoa
PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS. HOMICÍDIO
indeterminada ou mesmo de uma coletividade.
DOLOSO. MÉDICO PLANTONISTA. SINDICÂNCIA.
CRM. ATUAÇÃO MÉDICA LEGAL E TECNICAMENTE
Hipóteses de Cabimento
CORRETA. JUSTA CAUSA. AUSÊNCIA. 1. Não há falar
em justa causa quando o comportamento imputado
As hipóteses de admissibilidade estão elencadas no
manifestamente mostra‑se atípico. Diante dos princí-
art. 648 do CPP. Destaca‑se:
pios do Direito Penal, que o reconhecem como ultima
I – Quando não houver justa causa ratio, esmaece a persecução penal diante de atuação
São necessários fundamentos jurídicos e fáticos a em- médica reconhecida pelo Conselho Regional de
basar a prisão ou mesmo a instauração de termo circuns- Medicina, em sindicância requerida pelo Ministério
tanciado (STJ, HC nº 92.341/MT, Min. Napoleão Nunes Maia Público Federal, como legal e tecnicamente correta.
Filho, Quinta Turma, DJe 30/3/2009), inquérito policial e In casu, o Tribunal a quo reconheceu a atipicidade da
processo judicial. ação dos demais corréus que, acatando a orientação
Para a prisão, há justa causa em caso de flagrante ou do paciente, deixaram de realizar cateterismo, diante
mandado judicial. da precariedade do quadro clínico apresentado pela
Para a instauração do inquérito policial, o fato deve ser suposta vítima. 2. Ordem concedida para trancar
típico e não pode estar extinta a punibilidade. A título de a ação penal. (STJ, HC nº 82.742/MG, Min. Maria
exemplo: Thereza de Assis Moura, Sexta Turma) HABEAS COR-
PUS. ESTELIONATO. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA.
HABEAS CORPUS. INQUÉRITO POLICIAL. TRANCA- APLICABILIDADE. VALOR IRRISÓRIO. IRRELEVÂNCIA
MENTO. CRIME CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA. DA CONDUTA NA ESPERA PENAL. TRANCAMENTO
DELITO MATERIAL. PROCEDIMENTO INICIADO SEM A DA AÇÃO PENAL. AUSÊNCIA DE JUSTA CAUSA. OR-
CONSTITUIÇÃO DEFINITIVA DE CRÉDITO DECORREN- DEM CONCEDIDA. 1. O prejuízo causado (R$ 26,00)
TE DE TRIBUTO. INVESTIGAÇÃO QUE SE CINGE AO não justifica a expedição de decreto condenatório.
ILÍCITO DISPOSTO NO ART. 1º DA LEI Nº 8.137/1990. Além do que a ação perpetrada não ocasionou pe-
Noções de Direito Processual Penal

INTERRUPÇÃO DA APURAÇÃO PERTINENTE À IN- rigo concreto que lesionasse de forma grave o bem
FRAÇÃO DE SONEGAÇÃO FISCAL QUE SE IMPÕE. 1. jurídico tutelado. 2. O  trancamento da ação penal
O  trancamento de inquérito policial, em sede de se faz necessário, diante da ausência de justa causa
habeas corpus, somente deve ser acolhido se restar, proveniente da atipicidade da conduta imputada ao
de forma indubitável, a ocorrência de circunstância paciente. 2. Ordem concedida para trancar a ação
extintiva da punibilidade, de ausência de indícios de penal que tramita em desfavor do paciente. (STJ, HC
autoria ou de prova da materialidade do delito e ain- nº 122.435/MG, Min. Celso Limongi [Desembargador
da da atipicidade da conduta. 2. Constatada a falta de Convocado do TJ/SP], Sexta Turma, DJe 6/4/2009)
constituição definitiva de crédito tributário perante
Referido raciocínio também se aplica ao inquérito poli-
615
Assunto cobrado nas seguintes provas: Esaf/Procurador da Fazenda Nacio- cial. Dessa forma, não é cabível habeas corpus postulando
nal/2002-2003; Cespe/AGU/Procurador Federal de 2ª Categoria/2002.
616
Assunto cobrado nas seguintes provas: Promotor‑ES/2005 e Promo-
tor‑ES/2005. 619
STJ, HC nº 82286/SP, Min. Felix Fischer, Quinta Turma, DJe 16/3/2009.
617
Assunto cobrado na seguinte prova: Esaf/AFRF/Área Tributária e Aduanei- 620
STF, HC nº 901.320/MG, Primeira Turma, Rel. Min. Marco Aurélio, DJU de
ra/2005. 25/5/2007
618
Assunto cobrado na prova do Cespe/Procuradoria‑Geral do Estado da Paraíba/ 621
STF, HC nº  87.324/SP, Primeira Turma, Rel. Min. Cármen Lúcia, DJU de
Procurador de Estado/2008. 18/5/2007.

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trancamento do inquérito, por falta de justa causa, dirigido rápido o procedimento, isto é, que o julgamento se re-
ao juiz de 1ª instância competente, postulando arquivamento alize dentro de prazo razoável. Foi escrito o seguinte:
de inquérito iniciado por flagrante cujas comunicações foram toda pessoa detida tem direito de ser julgada dentro
devidamente formuladas.622 de prazo razoável (Convenção Americana sobre Direi-
Em caso de prisão, instauração de inquérito, recebimento tos Humanos, art. 7º); a todos é assegurada a razoável
da ação ou prosseguimento do processo judicial sem justa duração do processo (Constituição, art. 5º, LXXVIII).
causa, é cabível a ação de habeas corpus. 2. Há coação ilegal quando alguém se encontra preso
É cabível habeas corpus principalmente quando não há por mais tempo do que determina a lei, mormente
previsão de recurso para atacar o ato. Do despacho que quando, pronunciado o réu, o Tribunal de Justiça, no
indefere a instauração do incidente de sanidade mental julgamento do recurso em sentido estrito interposto,
não é cabível a interposição de recurso em sentido estrito, houve por bem anular, por ausência de fundamen-
mas sim de habeas corpus.623 tação das qualificadoras, a sentença de pronúncia.
Ainda que seja cabível alguma modalidade recursal, 3. Havendo prisão provisória por quase dois anos,
cabível a impetração do habeas corpus. Arguida matéria enquadra‑se o caso no art. 648, II, do Cód. de Pr.
fática em recurso de apelação, nada obsta a impetração Penal. 4. Ordem concedida. (STJ, HC nº 113.703/RJ,
de habeas corpus versando sobre matéria exclusivamente Min. Nilson Naves, Sexta Turma, DJe 19/12/2008)
de direito.624
O fato de o réu ter se comprometido a se submeter à Caso os prazos referidos sejam desobedecidos, haverá
suspensão condicional do processo não impede a impetração constrangimento ilegal, o que acarreta o relaxamento da
de habeas corpus a demonstrar ausência de justa causa para prisão. A Súmula nº 697 do STF determina ainda que
a ação penal. Analise a seguinte situação hipotética: Felipe
foi denunciado pelo Ministério Público pela prática de crime A proibição de liberdade provisória nos processos por
de furto. Presentes as condições objetivas e subjetivas para crimes hediondos não veda o relaxamento da prisão
tanto, o promotor de justiça ofereceu proposta de suspen‑ processual por excesso de prazo.
são condicional do processo, nos termos do art. 89 da Lei
nº 9.099/1995. Felipe aceitou as condições, tendo sido o A Súmula nº 52 do STJ determina, por sua vez, que “En-
acordo homologado pelo juiz e suspenso o processo pelo cerrada a instrução criminal, fica superada a alegação de
prazo de dois anos, estabelecido para o cumprimento das constrangimento por excesso de prazo”. Entretanto,
condições avençadas. No caso hipotético, Felipe poderá im‑
petrar habeas corpus para trancamento da ação penal por encerrada a instrução criminal no caso, tanto que
ausência de justa causa, apesar de ter aceitado a proposta já foram ouvidas as testemunhas, é ilegal, evidente-
de suspensão condicional do processo.625 mente, a prisão cautelar de mais de quatro anos sem
O habeas corpus é meio processual idôneo à impug- que o feito tenha sido sentenciado, ainda que se trate
nação de provas ilícitas já realizadas, bem assim para de crime cometido com violência ou grave ameaça a
postular‑se seu desentranhamento de autos de investigação pessoa. (STJ, HC nº 99.629/MA, Min. Nilson Naves,
se desta puder resultar condenação à pena privativa de Sexta Turma, DJe 2/2/2009)
liberdade626. Na interpretação das normas constitucionais
e infraconstitucionais que versam sobre direitos fundamen- Em julgamento efetivado pelo Tribunal do Júri, nos
tais, o STF tem admitido habeas corpus para desentranha- termos da Súmula nº  21 do STJ: “Pronunciado o réu, fica
mento de prova ilícita em procedimento penal.627 superada a alegação do constrangimento ilegal da prisão
por excesso de prazo na instrução”.
II – Quando alguém estiver preso por mais tempo do Em qualquer caso, não há que se falar em excesso de
que determina a lei prazo se a própria defesa dá causa ao excesso nos termos da
Em regra, o processo penal em que o acusado é preso Súmula nº 64 do STJ: “Não constitui constrangimento ilegal
tem prazo estabelecido em face da contagem dos diversos o excesso de prazo na instrução, provocado pela defesa”.
prazos processuais. Exemplos são o prazo para a conclusão A prisão temporária também prevê prazos para o seu
do inquérito policial (art. 10 do CPP), para o ajuizamento da término.
ação penal (art. 46 do CPP), para a apresentação da defesa Também é cabível habeas corpus quando o apenado
preliminar (art. 396 e § 2º do art. 396-A do CPP), para a já tem requisito objetivo e subjetivo para a progressão de
marcação da audiência de instrução e julgamento (art. 400 regime, bem como para ser beneficiado por livramento
Noções de Direito Processual Penal

do CPP), para a apresentação de memoriais (art. 403, § 3º, condicional.


do CPP) e até mesmo para a sentença (art. 403, § 3º, do CPP).
Como prisões ilegais por excesso de prazo, cita‑se os III – Quando quem ordenar a coação não tiver compe-
seguintes julgados: tência para fazê‑lo
O habeas corpus é remédio processual apropriado para
Tribunal do Júri (processo de sua competência). se discutir questão de competência quando esta implica em
Prisão preventiva (caso). Sentença de pronúncia coação ilegal na liberdade de ir e vir. (STJ, RHC nº 276/PA,
(anulação). Demora no julgamento (excesso de pra- Min. Edson Vidigal, Quinta Turma, DJ 4/12/1989)
zo). Coação (ilegalidade). Cód. de Pr. Penal, art. 648, Só juiz competente pode determinar a prisão de algum
II (aplicação). 1. Estando preso o réu, impõe‑se seja indivíduo. A incompetência absoluta pode ser levantada em
sede de habeas corpus.
622
Assunto cobrado na prova do MPDFT/28º Concurso para Promotor/2009.
623
Assunto cobrado na prova do Cespe/TJ‑PA/Juiz Substituto/2001-2002.
Um indivíduo cometeu delito de competência da Justiça
624
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/AGU/Procurador Federal de 2ª Federal, mas, em lugar de o inquérito policial ser enviado
Categoria/2002. ao Ministério Público Federal, o indivíduo foi alvo de de-
625
Cespe/PGE‑CE/Procurador de Estado/2008.
626
Assunto cobrado na prova do Cespe/Nacional/Delegado Federal/2002. núncia oferecida por promotor de justiça. O juiz de Direito,
627
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/Promotor‑TO/2004. igualmente, não se apercebeu da própria incompetência e,

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ao final do processo‑crime, proferiu sentença condenatória, A jurisprudência da Suprema Corte consolidou‑se no
em ofensa à norma penal que sancionava a conduta ilícita sentido de que
em questão apenas com pena de multa. O réu apelou ao
respectivo tribunal de justiça, que negou provimento ao re- A coisa julgada estabelecida no processo condenató-
curso. Inconformado, o condenado impetrou habeas corpus rio não é empecilho, por si só, à concessão de habeas
ao STJ, em face da nulidade da condenação, derivada da corpus por órgão jurisdicional de gradação superior,
incompetência da Justiça Comum. Nessa situação, o habeas de modo a desconstituir a decisão coberta pela
preclusão máxima (STF, RHC nº 82.045/SP, Rel. Min.
corpus não era meio adequado para a pretendida anulação
Sepúlveda Pertence, Primeira Turma, DJ 25/10/2002).
do processo penal, não obstante ser correta a alegação de
incompetência. Acertou o impetrante, contudo, quanto à VII – Quando extinta a punibilidade630
competência para o habeas corpus, ao ajuizá‑lo perante o As causas extintivas de punibilidade estão explicitadas
STJ, para atacar acórdão de tribunal de justiça.628 no art. 107 do CP: I – pela morte do agente; II – pela anistia,
graça ou indulto; III  – pela retroatividade de lei que não
IV – Quando houver cessado o motivo que autorizou mais considera o fato como criminoso; IV – pela prescrição,
a coação decadência ou perempção; V – pela renúncia do direito de
Quando não se fazem mais presentes, por exemplo, queixa ou pelo perdão aceito, nos crimes de ação privada;
os requisitos da prisão preventiva previstos no art. 312 do VI  – pela retratação do agente, nos casos em que a lei a
CPP, cabe o ajuizamento de habeas corpus. admite; IX – pelo perdão judicial, nos casos previstos em lei.

Inadmissibilidade
V – Quando não for alguém admitido a prestar fiança,
nos casos em que a lei a autoriza De conformidade com o texto da Constituição Federal,
O instituto da fiança está previsto nos arts. 323 a 325 art.  5º, LXVIII, conceder‑se‑á habeas corpus sempre que
do CPP. alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência
ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade
VI – Quando o processo for manifestamente nulo ou abuso de poder. Pode‑se ainda afirmar que não poderá
É o que ocorre, por exemplo, com processo que tramita o habeas corpus ser utilizado para correção de qualquer
perante juiz absolutamente incompetente em razão da inidoneidade que não implique coação ou iminência direta
matéria ou mesmo por prerrogativa de função, ou mesmo de coação à liberdade de ir e vir.631
em processo que prossegue sem a nomeação de advogado Não cabe habeas corpus em relação às punições discipli-
ao réu. nares militares632 (art. 142, § 2º, da CF). O mesmo se aplica
Como exemplo de ajuizamento de habeas corpus, tem- em relação à exclusão de militar ou perda da patente ou de
-se: Augusto foi denunciado pela prática de crime de ho‑ função pública: “Não cabe habeas corpus contra a imposição
da pena de exclusão de militar ou de perda de patente ou
micídio qualificado. Regularmente processado e assistido de função pública” (Súmula nº 694/STF). Em caso de ordem
pela DP, Augusto arrolou uma testemunha, com a nota de emanada de autoridade militar, é cabível o habeas corpus
imprescindibilidade, em tempo oportuno, para ser ouvida apenas para se verificar a legalidade da determinação, ou
na sessão plenária de julgamento. Apesar de ter sido inti‑ seja, verificar a competência do militar para determinar a
mada, a referida testemunha não compareceu à sessão de prisão e a previsão legal da própria prisão.
julgamento, providenciando, no entanto, mediante atesta‑ O art.  139 da CF/1988 determina que, na vigência do
do médico, adequada justificação para a sua ausência. Na estado de sítio decretado com comoção grave de repercussão
ocasião da sessão de julgamento, em que era assistido por nacional ou ocorrência de fatos que comprovem a ineficácia
um DP, Augusto manifestou expressamente a sua vontade de medida tomada durante o estado de defesa, poderão
de ser defendido por seu advogado particular. Não obstan‑ ser tomadas contra as pessoas as medidas de obrigação
te a defesa houvesse insistido no depoimento de referida de permanência em localidade determinada e detenção
testemunha, no que obteve aquiescência do próprio MP, o em edifício não destinado a acusados ou condenados por
crimes comuns. Com base em tal dispositivo, encontra‑se na
juiz-presidente do tribunal do júri indeferiu ambos os pleitos
doutrina entendimento de que é inadmissível a utilização do
defensivos e determinou a realização do julgamento, no habeas corpus na hipótese de estado de sítio (ÁVILA, p. 693).
qual Augusto restou condenado a 12 anos de reclusão. Com Só cabe habeas corpus se houver perigo ou violação do
base nessa situação hipotética, cabe habeas corpus para direito de locomoção. Daí o teor das Súmulas nº 395 do STF:
cassar a decisão condenatória proferida por tribunal do júri “Não se conhece de recurso de habeas corpus cujo objeto
e determinar que outra seja prolatada, assegurando-se ao seja resolver sobre o ônus das custas, por não estar mais
Noções de Direito Processual Penal

réu o direito de ver inquirida em plenário a testemunha que em causa a liberdade de locomoção”633; e nº 695 do STF:
arrolara com a nota de imprescindibilidade e, também, de “Não cabe habeas corpus quando já extinta a pena privativa
ser defendido por defensor técnico de sua própria escolha.629 de liberdade”.
O STJ entende que “é necessário, porém, que se trate Não cabe habeas corpus para questionar dosimetria da
de nulidade manifesta; caso contrário, o meio idôneo para pena de multa634, dado que ela não pode mais ser convertida
reconhecê‑la é a apelação”. (STJ, RHC nº 2.831/RS, Min. Pedro em pena restritiva de liberdade: “Não cabe habeas corpus
Acioli, Sexta Turma, DJ 27/9/1993) contra decisão condenatória a pena de multa, ou relativo
O art. 651 do CPP determina que a concessão do habeas
corpus não obstará, nem porá termo ao processo, desde que
630
Assunto cobrado na prova da FCC/TRE-PI/Analista Judiciário/Questão 63/Assertiva
B/2009.
este não esteja em conflito com os fundamentos daquela. Já 631
Assunto cobrado nas seguintes provas: Promotor‑RN/2000; Promotor‑PR/2002
o art. 652 do CPP impõe que, se o habeas corpus for concedi- e ACP/Delegado da Polícia Civil de São Paulo.
632
Assunto cobrado nas seguintes provas: Promotor‑PR/2002 e ACP/Delegado
do em virtude de nulidade do processo, este será renovado. da Polícia Civil de São Paulo/2002.
633
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/TJ‑PE /Oficial de Justiça da 1ª
628
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/AGU/Procurador Federal de 2ª Entrância/2001.
Categoria/2002. 634
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/DPE-RO/2012; Vunesp/TJ-RJ/
629
Cespe/DPE-PI/Defensor Público/Questão 38/Assertivas a, b, c, d e e/2009. 2012 e Promotor‑DF/2002.

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a processo em curso por infração penal a que a pena pe- Falece competência ao Supremo Tribunal Federal para
cuniária seja a única cominada”635 (Súmula nº 693/STF). conhecer e julgar o presente habeas corpus, sob pena de
Resumindo, é incabível a ordem concessiva de habeas dupla supressão de instância (STF, HC nº 90.038/MG, Rel.
corpus quando já extinta a pena privativa de liberdade, ou Min. Ellen Gracie, Segunda Turma; Julgamento: 10/6/2008).
contra decisão condenatória somente a pena de multa ou, Considerando o entendimento mais recente do STJ
ainda, em relação a processo em curso por infração penal sobre a realização do exame de alcoolemia, popularmente
a que a pena pecuniária seja a única cominada.636 denominado bafômetro, não cabe habeas corpus preventivo
Não cabe habeas corpus contra suspensão dos direitos para discutir o tema, pois não se pode considerar como
políticos como consequência de condenação criminal tran- fundado receio o simples temor de, porventura, ter de se
sitada em julgado.637 submeter ao exame ao trafegar pelas ruas em veículo auto‑
Não cabe habeas corpus nos afastamentos dos cargos motor, sem a existência de procedimento investigatório640.
públicos por questões penais ou administrativas nem na
preservação de direitos fundamentais que não a liberda‑ Competência
de de locomoção de ir e vir, salvo manifesta teratologia a
repercutir na liberdade de locomoção638. 1) Do juiz de direito de primeira instância
Cabe aos juízes estaduais e federais o julgamento do ha-
É incabível habeas corpus visando a exame aprofundado beas corpus em relação a autoridades públicas e particulares.
de provas. Veja, por exemplo, o disposto na Súmula nº 692 É comum o juiz analisar habeas corpus para trancamento
do STF: de inquérito policial, salvo se a requisição do procedimento
investigatório prévio for oriunda de Magistrado ou represen-
Não se conhece de habeas corpus contra omissão de
tante do Ministério Público. Nesta hipótese, a competência
relator de extradição, se fundado em fato ou direito
para julgar o mandamus é do Tribunal, já que o juiz não
estrangeiro cuja prova não constava dos autos, nem
pode conceder a ordem sobre ato de autoridade judiciária
foi ele provocado a respeito.
do mesmo grau. Nesse sentido, o § 1º do art. 650 do CPP
É incabível habeas corpus visando a uma nova avaliação determina que a competência do juiz cessará sempre que a
sobre a valoração do conjunto probatório, sob o pretexto violência ou coação provier de autoridade judiciária de igual
de que as novas provas produzidas em procedimento de ou superior jurisdição.
justificação em sede de revisão criminal teriam logrado des- O art. 109, VII, da CF/1988 determina que aos juízes fede-
fazer o conjunto probatório produzido na ação penal, já que rais compete processar e julgar os habeas corpus em matéria
ensejaria uma análise por demais aprofundada no âmbito do criminal de sua competência ou quando o constrangimento
habeas corpus, o que é incompatível com o procedimento provier de autoridade cujos atos não estejam diretamente
célere deste writ. (STJ, HC nº 83.058/PR, Min. Maria Thereza sujeitos a outra jurisdição.
de Assis Moura, Sexta Turma, DJe 23/6/2008)
Dessa forma, o habeas corpus, posto que não admite 2) Dos Tribunais de Justiça
dilação probatória em seu processamento, não é instru- Quando a coação for atribuída a juiz estadual ou a
mento inidôneo a permitir, em sede de processo penal, representante do Ministério Público Estadual, eis que se o
o exame aprofundado de matéria fática e a análise valora- Tribunal é competente para julgar os crimes cometidos pelo
tiva e minuciosa de elementos de prova.639 Nesse sentido, Promotor ou juiz, também deve o ser para julgar eventuais
o STF destaca que abusos praticados por esses.
A título de exemplo, a pedido do MP do Estado da
A via estreita do habeas corpus não comporta dilação Bahia, foi determinada pelo juízo da 1ª vara criminal da
probatória, exame aprofundado de matéria fática justiça estadual da capital baiana a quebra do sigilo tele‑
ou nova valoração dos elementos de prova (STF, fônico de diversos suspeitos da prática de crimes contra a
HC nº  95.701/SP, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, administração pública. Diante do caráter interestadual dos
Primeira Turma, Julgamento: 2/6/2009). fatos apurados, a investigação, iniciada naquela unidade
da Federação, foi desmembrada e todas as informações
É firme a jurisprudência do STF no sentido da inadmis- repassadas à Seção Judiciária de Natal – RN. O mencionado
sibilidade de impetração sucessiva de habeas corpus sem o juízo baiano, após proceder à remessa de todo o conjunto
julgamento definitivo do writ anteriormente impetrado (STF, probatório à justiça potiguar, arquivou, em seguida, o
HC nº 97.075 AgR/MT, Rel. Min. Carlos Britto, Primeira Turma, procedimento original. Nesse passo, após analisar a docu‑
Julgamento: 4/8/2009). Nesse sentido, a Súmula nº 691 do mentação recebida, o MP do Rio Grande do Norte ofereceu
STF determina que denúncia contra todos os envolvidos, sendo certo que a ação
penal respectiva foi instaurada perante a 2ª vara criminal
Noções de Direito Processual Penal

Não compete ao supremo tribunal federal conhecer


de habeas corpus impetrado contra decisão do relator estadual de Natal. Nessa situação hipotética, a competência
que, em habeas corpus requerido a tribunal superior, para julgar habeas corpus, impetrado com a finalidade de
indefere a liminar. anulação da referida interceptação telefônica, cuja irregu‑
laridade reste comprovada, será do TJ-RN.641
Para que o Tribunal julgue o habeas corpus, deve ter A competência para processar e julgar, originalmente,
havido debate explícito sobre a matéria no juízo a quo. Se o habeas corpus, cuja autoridade coatora for um Secretário
não houve apreciação da questão pelo Tribunal de Justiça de Estado, é do Tribunal de Justiça do respectivo Estado642.
ou Tribunal Regional Federal, Não ofende a Constituição Federal de 1988 dispositivo
constitucional estadual que, ampliando as hipóteses de
competência originária dos Tribunais de Justiça para julga-
635
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/TJ-BA/2012. mento de habeas corpus previstas no art. 650, do Código
636
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/TRE-SP/Analista Judiciário/Área
Judiciária/2012 e Cespe/DPE-AL/Defensor Público de 1ª Classe/Questão de Processo Penal, confere ao Tribunal de Justiça local
116/2009.
637
Assunto cobrado na seguinte prova: NCE/Delegado da Polícia Civil de 3ª Classe
do RJ/2002. 640
Cespe/MPE-SE/Promotor Substituto/Questão 15/2010.
638
Cespe/PC-CE/Insp/2012. 641
Cespe/MPE-RN/Promotor de Justiça/2009.
639
Assunto cobrado na prova da OAB‑RJ/21º Exame de Ordem/2003. 642
FCC/TRE-SP/Analista Judiciário/Área Judiciária/2012.

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competência originária para julgar habeas corpus contra 6) Da Justiça Eleitoral
ato de Promotor de Justiça.643 Permite-se a impetração de habeas corpus na justiça
No julgamento do HC nº 86.834, da relatoria do ministro eleitoral. Assim, atos de autoridades policiais que possam
Marco Aurélio, o Supremo Tribunal Federal firmou o entendi- consubstanciar violação à liberdade de locomoção de eleitor
mento de que não cabe ao STF julgar habeas corpus impetra- podem ser questionados por habeas corpus, sendo respei‑
do contra ato de turma recursal de Juizado Especial Criminal tada, no entanto, a competência originária dos tribunais
(STF, HC nº 85.240/SP, Rel. Min. Carlos Britto, Tribunal Pleno, eleitorais647.
Julgamento: 14/2/2008). Foi cancelada, portanto, a Súmula Nos termos do art. 121, § 3º, da CF/1988, são irrecorrí-
nº 690 do STF. Portanto, compete ao Tribunal de Justiça do veis as decisões do Tribunal Superior Eleitoral, salvo, entre
Estado processar e julgar habeas corpus impetrado contra outras, as denegatórias de habeas corpus648. Nos termos do
ato emanado de Turma Recursal. § 4º, do referido artigo, das decisões dos Tribunais Regionais
Eleitorais somente caberá recurso quando, entre outras,
3) Dos Tribunais Regionais Federais denegarem habeas corpus.649
O art. 108, I, d, da CF/1988, estabelece que, compete
aos Tribunais Regionais Federais processar e julgar, origina- 7) do Supremo Tribunal Federal
riamente os habeas corpus, quando a autoridade coatora O art.  102 da CF/1988 estabelece que compete ao
for juiz federal. Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a  guarda da
Também é competente o TRF quando a autoridade coa- Constituição, cabendo‑lhe:
tora for membro do Ministério Público que atua em 1º grau. I – processar e julgar, originariamente o habeas corpus,
O STF entende que o TRF da 1ª Região também é competente sendo paciente:
para julgar membro do Ministério Público do Distrito Federal 7.1) o Presidente da República;
e Territórios. Com efeito, a Corte Suprema já decidiu que 7.2) o Vice‑Presidente;
7.3) os membros do Congresso Nacional
Não cabe ao Tribunal de Justiça do Distrito Federal,
7.4) os Ministros do STF;
mas ao Tribunal Regional Federal da 1ª Região,
7.5) o Procurador‑Geral da República;
conhecer de habeas corpus contra ato de membro
7.6) os Ministros de Estado;
do Ministério Público do Distrito Federal (STF, RE
nº 467.923/DF, Rel. Min. Cezar Peluso, Primeira Tur- 7.7) os Comandantes da Marinha, do Exército e da Ae-
ma, Julgamento: 18/4/2006). ronáutica;
7.8) os membros dos Tribunais Superiores;
4) Do Superior Tribunal de Justiça 7.9) os membros do Tribunal de Contas da União;
Compete ao Superior Tribunal de Justiça, nos termos do 7.10) os chefes de missão diplomática de caráter per-
art. 105, I, c, da CF/1988, processar e julgar originariamente manente.
os habeas corpus, ressalvada a competência da Justiça Elei- Também compete ao STF julgar o habeas corpus quando
toral, quando o coator ou paciente for: o coator for:
4.1) Governadores dos Estados e do Distrito Federal; 7.11) Tribunal Superior.650
4.2) Desembargadores dos Tribunais de Justiça dos Esta- O Supremo Tribunal Federal é competente para pro-
dos e do Distrito Federal; cessar e julgar originariamente o habeas corpus quando
4.3) membros dos Tribunais de Contas dos Estados e do o ato de coação emanar de decisão colegiada de Tribunal
Distrito Federal; Superior.651
4.4) membros dos Tribunais Regionais Federais; Entretanto, nos termos da Súmula nº 691 do STF:
4.5) membros dos Tribunais Regionais Eleitorais;
4.6) membros dos Tribunais Regionais do Trabalho; Não compete ao Supremo Tribunal Federal conhecer
4.7) membros dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos de habeas corpus impetrado contra decisão do relator
Municípios; que, em habeas corpus requerido a tribunal superior,
4.8) membros do Ministério Público da União que oficiem indefere a liminar.
perante tribunais
Também é competente o STJ quando o coator for; Ou quando o coator ou o paciente for:
4.9) tribunal sujeito à sua jurisdição; 7.12) autoridade ou funcionário cujos atos estejam su-
4.10) Ministro de Estado;644 jeitos diretamente à jurisdição do Supremo Tribunal Federal
4.11) Comandante da Marinha, do Exército ou da Ae- O Supremo Tribunal Federal é competente para pro-
ronáutica. Desta forma, o habeas corpus, de acordo com cessar e julgar o habeas corpus contra ato de Comissão
a CF, será de competência do STJ quando o coator for o Parlamentar de Inquérito constituída por qualquer uma
comandante do Exército.645 das Casas do Congresso Nacional.652
Noções de Direito Processual Penal

Também compete ao STJ, nos termos do art. 105, II, a, Compete ao STF processar e julgar originariamente os
da CF/1988, julgar, em recurso ordinário, os habeas corpus mandados de segurança e habeas corpus impetrados contra
decididos em única ou última instância pelos Tribunais Re- o Conselho Nacional do Ministério Público.653
gionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito 7.13) quando trata‑se de crime sujeito à mesma jurisdi-
Federal e Territórios, quando a decisão for denegatória.646 ção em uma única instância
Era a hipótese de habeas corpus contra decisão de Turma
5) Da Justiça Trabalhista
Recursal dos Juizados Especiais Criminais, nos termos da
O art. 114, IV, da CF/1988, impõe que compete à Justiça
do Trabalho processar e julgar os habeas corpus quando o Súmula nº 690 do STF:
ato questionado envolver matéria sujeita à sua jurisdição. 647
Cespe/TRE-BA/Analista Judiciário – Área Judiciária/Questão 103/2010.
648
Assunto cobrado na seguinte prova: FCC/TRE‑BA/Analista Judiciário/2003.
649
Assunto cobrado na seguinte prova: FCC/TRE‑MG/Analista Judiciário/2005.
650
Assunto cobrado nas seguintes provas: Promotor‑DF/2002 e OAB‑MG/2º
643
Assunto cobrado na seguinte prova: DPE-CE/Defensor Público/2002. Exame de Ordem/2003.
644
Assunto cobrado na seguinte prova: Esaf/TCU/Analista de Controle Exter- 651
Assunto cobrado na seguinte prova: OAB‑SC/1º Exame de Ordem/2004.
no/2006. 652
Assunto cobrado na prova do NCE/Faepol/Delegado da Polícia Civil do Rio de
645
Cespe/PC-RN/Delegado de Polícia Civil Substituto/2009. Janeiro/2001.
646
Assunto cobrado na seguinte prova: OAB‑RJ/21º Exame de Ordem/2003. 653
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/1º Exame da Ordem/2007.

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Compete originariamente ao Supremo Tribunal Fe- não puder ser apresentado por motivo de doença (art. 657,
deral o julgamento de habeas corpus contra decisão parágrafo único, do CPP).
de turma recursal de juizados especiais criminais654. Se o juiz ou o tribunal verificar que já cessou a violência ou
coação ilegal, julgará prejudicado o pedido (art. 659 do CPP).
Entretanto, referida súmula foi cancelada. Efetuadas as diligências, e interrogado o paciente, o juiz
No julgamento do HC nº 86.834, da relatoria do minis-
decidirá, fundamentadamente, dentro de 24 (vinte e quatro)
tro Marco Aurélio, o  Supremo Tribunal Federal firmou o
entendimento de que não cabe ao STF julgar habeas corpus horas (art. 660 do CPP). Se a decisão for favorável ao paciente,
impetrado contra ato de turma recursal de Juizado Especial será logo posto em liberdade, salvo se este, por outro motivo,
Criminal, sendo a competência para o julgamento do Tribunal deve ser mantido na prisão (art. 660, § 1º, do CPP). Se os docu-
de Justiça ou do Tribunal Regional Federal. mentos que instruírem a petição evidenciarem a ilegalidade da
Cabe ainda ao STF julgar, nos termos do art. 102, II, a, coação, o juiz ou o tribunal ordenará que cesse imediatamente
da CF/1988, julgar, em recurso ordinário, o ha­beas corpus o constrangimento (art. 660, § 2º, do CPP). Se a ilegalidade
decidido em única instância pelos Tribunais Superiores, se decorrer do fato de não ter sido o paciente admitido a prestar
denegatória a decisão.655 fiança, o juiz arbitrará o valor desta, que poderá ser prestada
Acrescenta‑se que “não é ilegal a decisão que arquiva perante ele. Nesse caso, os respectivos autos serão enviados
os autos de habeas corpus impetrado perante a autoridade
incompetente”. (STJ, RHC nº 6.320/GO, Min. Edson Vidigal, à autoridade para serem anexados aos do inquérito policial
Quinta Turma, DJ 8/9/1998) ou aos do processo judicial (art. 660, § 3º, do CPP).
Se a ordem de habeas corpus for concedida para evitar
Procedimento ameaça de violência ou coação ilegal, dar‑se‑á ao paciente
salvo‑conduto assinado pelo juiz (art. 660, § 4º, do CPP). Será
A petição de habeas corpus conterá: a) o nome da pessoa incontinenti enviada cópia da decisão à autoridade que tiver
que sofre ou está ameaçada de sofrer violência ou coação ordenado a prisão ou tiver o paciente à sua disposição, a fim
e o de quem exercer a violência, coação ou ameaça; b) a de juntar‑se aos autos do processo (art. 660, § 5º, do CPP).
declaração da espécie de constrangimento ou, em caso de Quando o paciente estiver preso em lugar que não seja o
simples ameaça de coação, as razões em que se funda o te-
mor; c) a assinatura do impetrante, ou de alguém a seu rogo, da sede do juízo ou do tribunal que conceder a ordem, o alvará
quando não souber ou não puder escrever, e a designação de soltura será expedido pelo telégrafo (se houver), sendo
das respectivas residências (art. 654, § 1º, do CPP). observadas as formalidades estabelecidas no art. 289, pará-
As ações de habeas corpus são gratuitas656. É o que de- grafo único, in fine, ou por via postal (art. 660, § 6º, do CPP).
termina o art. 5º, LXXVII, da CF/1988, não se exigindo que Ordenada a soltura do paciente em virtude de habeas
o impetrante seja reconhecidamente pobre.657 corpus, será condenada nas custas a autoridade que, por
Na apreciação do habeas corpus, o órgão judicante não má‑fé ou evidente abuso de poder, tiver determinado a
se vincula à causa de pedir ou ao pedido formulado pelo coação659 (art.  653 do CPP). Neste caso, será remetida ao
impetrante.658 Ministério Público cópia das peças necessárias para ser pro-
O carcereiro ou o diretor da prisão, o escrivão, o oficial de
movida a responsabilidade da autoridade (art. 653, parágrafo
justiça ou a autoridade judiciária ou policial que embaraçar
ou procrastinar a expedição de ordem de habeas corpus, único, do CPP).
as informações sobre a causa da prisão, a condução e apre- A título de exemplo: Hugo foi preso em flagrante delito
sentação do paciente, ou a sua soltura, será multado, sem e, após determinação do juiz de direito no sentido de ele
prejuízo das penas em que incorrer. As multas serão impostas ser colocado em liberdade, em face de decisão de liberdade
pelo juiz do tribunal que julgar o habeas corpus, salvo quan- provisória com fiança, o  delegado de polícia, por má‑fé,
do se tratar de autoridade judiciária, caso em que caberá manteve Hugo preso por mais duas semanas. Nessa situação,
ao Tribunal competente impor as multas (art. 655 do CPP). ordenada a soltura de Hugo em virtude de habeas corpus,
Recebida a petição de habeas corpus, o  juiz, se julgar o delegado de polícia será condenado nas custas.660
necessário e estiver preso o paciente, mandará que este lhe
Nesse sentido, a ausência de justa causa tanto pode ser
seja imediatamente apresentado em dia e hora que designar
(art. 656 do CPP). condição para sustentar o trancamento de ação penal como
Em caso de desobediência, será expedido mandado de para promover a soltura do réu.661
prisão contra o detentor, que será processado na forma da O habeas corpus não conta, no procedimento respectivo,
lei, e o juiz providenciará para que o paciente seja tirado da com a intervenção do Ministério Público em primeira instân-
prisão e apresentado em juízo (art.  656, parágrafo único, cia662. Já se a impetração for perante Tribunal, é necessária
Noções de Direito Processual Penal

do CPP). manifestação do Ministério Público.


Se o paciente estiver preso, nenhum motivo escusará a Em tema de habeas corpus, é correto afirmar que é im-
sua apresentação, salvo: I – grave enfermidade do paciente; positiva a intimação do querelante, quando o impetrante
II – não estar ele sob a guarda da pessoa a quem se atribui
postula a extinção do processo condenatório em caso de
a detenção; III – se o comparecimento não tiver sido deter-
exclusiva ação privada.663
minado pelo juiz ou pelo tribunal (art. 657 do CPP). O juiz
Segundo entendimento do STF, a ação do habeas corpus
poderá ir ao local em que o paciente se encontrar se este
qualifica-se como típica ação penal popular.664
Da decisão do juiz singular que negar ordem de habeas
654
Assunto cobrado na seguinte prova: Promotor‑DF/2002; Esaf/Procurador da
Fazenda Nacional/2002-2003 e UFPA/MPE‑PA/Bacharel em Direito/2004.
655
Assunto cobrado na seguinte prova: Assunto cobrado na prova de Promo- 659
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/TJ-BA/2012; Cespe/TRE-RJ/
tor‑RN/2000. Analista Judiciário/Área Administrativa/2012 e Cespe/TRE‑GO/Analista Judi-
656
Assunto cobrado na seguinte prova: OAB‑RJ/25º Exame de Ordem/2004. ciário/Área Administrativa/2009.
657
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/TRT-3ª Região/Analista Judi­ 660
Cespe/TJ‑RJ/Analista Judiciário/2008.
ciário/2005; Cespe/3º Exame da Ordem/2006; 17º Concurso Público para 661
Cespe/PC-CE/Insp/2012.
Procurador da República/1999; 20º Concurso Público para Procurador da 662
Assunto cobrado na seguinte prova: Vunesp/TRF 3ª Região/2002.
República/2003 e FCC/TRT-23ª Região/Técnico Judiciário/2004. 663
Assunto cobrado na seguinte prova: TJ‑RJ/Oficial de Justiça Avaliador.
658
Cespe/AGU/Advogado da União/2002. 664
Cespe/DPE-PI/Defensor Público/Questão 34/Assertivas A, B, C, D e E/2009.

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corpus, cabe recurso em sentido estrito.665 EXERCÍCIOS
Da decisão que conceder o habeas corpus, a sentença,
para a eficácia, está sujeita à análise pelo Tribunal, em face João, aproveitando-se de distração de Marcos, juiz de direito,
da figura do reexame necessário (ou recurso ex officio), subtraiu para si uma sacola de roupas usadas a ele perten-
previsto no art. 574, I, do CPP. Referido artigo também se centes. Marcos pretendia doá-las a instituição de caridade.
aplica à Justiça Federal. Com efeito, a sentença de primeira João foi perseguido e preso em flagrante delito por policiais
instância concessiva de habeas corpus, em caso de crime que presenciaram o ato. Instaurado e concluído o inquérito
praticado em detrimento de bens, serviços ou interesses da policial, o Ministério Público não ofereceu denúncia nem
união, está sujeita a recurso ex officio (Súmula nº 344 do STF). praticou qualquer ato no prazo legal.
Nos tribunais, se a petição contiver os requisitos, o pre- (Cespe/DPU/Analista Técnico Administrativo/2016) Conside-
sidente, se necessário, requisitará da autoridade indicada rando a situação hipotética descrita, julgue os itens a seguir.
como coatora informações por escrito. Faltando, porém, 1. Em razão da omissão do Ministério Público, a vítima
quaisquer daqueles requisitos, o presidente mandará pre- poderá oferecer ação privada subsidiária da pública.
enchê‑los logo que lhe for apresentada a petição (art. 662 2. O fato de a vítima ser juiz de direito demonstra maior
do CPP). As diligências referidas não serão ordenadas se o reprovabilidade da conduta de João, o que impede o
presidente entender que o habeas corpus deva ser indeferido reconhecimento do princípio da insignificância.
in limine. Nesse caso, levará a petição ao tribunal, câmara ou 3. O juiz, vítima do fato, poderá oficiar como juiz da causa
no processo criminal eventualmente instaurado para a
turma para que delibere a respeito (art. 663 do CPP).
sua apuração.
Poderá o tribunal conceder liminar se verificar a plau-
sibilidade do direito do paciente e a urgência em atender (Cespe/TJDFT/Analista Judiciário/2015) Com relação ao in-
ao pedido. quérito policial e à ação penal, julgue os itens que se seguem.
Uma vez recebidas ou dispensadas as informações, 4. Segundo o entendimento jurisprudencial dos tribunais
o habeas corpus será julgado na primeira sessão, podendo, superiores, para a persecução penal relativa a crime de
entretanto, adiar‑se o julgamento para a sessão seguinte lesão corporal praticado no contexto de violência do-
(art. 664 do CPP). A decisão será tomada por maioria de vo- méstica contra a mulher, é necessária a representação
tos. Havendo empate, se o presidente não tiver tomado parte da ofendida.
na votação, proferirá voto de desempate; caso contrário, 5. A doutrina e a jurisprudência majoritárias admitem o
prevalecerá a decisão mais favorável ao paciente (art. 664, denominado arquivamento implícito, que consiste no
parágrafo único, do CPP). fato de o oferecimento de denúncia pelo Ministério
Da decisão denegatória de habeas corpus de compe- Público por apenas alguns dos crimes imputados ao
tência originária do Tribunal de Justiça, é cabível Recurso indiciado impedir que os demais sejam objeto de futura
Ordinário para o STJ.666 ação penal.
Os regimentos dos Tribunais estabelecerão as normas
complementares para o processo e julgamento do pedido (Cespe/TJDFT/Analista Judiciário/2015)Paulo e Jean foram
de habeas corpus de sua competência originária (art. 666 denunciados pela prática do crime de furto de joias, prati-
do CPP). cado contra Maria, tia sexagenária de Paulo. A subtração foi
Não cabe habeas corpus originário para o tribunal pleno facilitada pelo fato de Paulo residir com a vítima. Quando
do STF de decisão de turma ou do plenário, proferida em ha- da citação, Paulo não foi encontrado no novo endereço que
beas corpus, ou no respectivo recurso (Súmula nº 606/STF). havia fornecido na fase do inquérito, tendo sido o mandado
A liminar indeferida em sede de habeas corpus proposto entregue a outro morador, que se comprometeu a entregá-lo
ao STJ não pode ser combatida por intermédio de interpo- ao destinatário. Jean, que retornou para a França, seu país de
sição de novo habeas corpus ao STF.667 origem, havia fornecido seu endereço completo ao delegado.
O assistente do ministério público não pode recorrer A partir dessa situação hipotética, julgue o item a seguir.
Em razão do parentesco de Paulo e Maria, assim como do fato
extraordinariamente de decisão concessiva de habeas corpus
de ambos residirem juntos, é correto afirmar que se tratou de
(Súmula nº 208/STF).
ação penal pública condicionada à representação da vítima.

Referências (Cespe/AGU/Advogado/2015) No que se refere a crime de


abuso de autoridade e ao seu processamento, julgue o pró-
ÁVILA, Thiago André Pierobom de. Direito processual penal. ximo item.
Noções de Direito Processual Penal

15. ed., Brasília: Vestcon, 2009. 7. De acordo com a legislação pertinente, a ação penal por
crime de abuso de autoridade é pública incondiciona-
MIRABETE, Julio Fabbrini. Processo Penal. 1. ed. Revisada da, devendo o MP apresentar a denúncia no prazo de
e atualizada até dezembro de 2004. São Paulo: Atlas, 2005. quarenta e oito horas.

MORAES, Alexandre. Direito Constitucional. 2. ed. São Paulo: (Cespe/AGU/Advogado/2015) Ao receber uma denúncia anô-
Atlas: 1997. nima por telefone, a autoridade policial realizou diligências
investigatórias prévias à instauração do inquérito policial com
TEMER, Michel. Elementos do Direito Constitucional. 1. ed. a finalidade de obter elementos que confirmassem a veraci-
São Paulo: Revistas dos Tribunais, 1997. dade da informação. Confirmados os indícios da ocorrência
de crime de extorsão, o inquérito foi instaurado, tendo o
delegado requerido à companhia telefônica o envio de lista
com o registro de ligações telefônicas efetuadas pelo suspeito
665
Assunto cobrado na seguinte prova: FCC/TRF 5ª Região/Analista Judiciá- para a vítima. Prosseguindo na investigação, o delegado, sem
rio/2003.
666
Assunto cobrado na prova da OAB‑MG/Comissão de Exame de Ordem/2008.
autorização judicial, determinou a instalação de grampo tele-
667
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/AGU/Advogado da União/2006. fônico no telefone do suspeito, o que revelou, sem nenhuma

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dúvida, a materialidade e a autoria delitivas. O inquérito foi 14. Devido à gravidade do delito de que Camila é acusada,
relatado, com o indiciamento do suspeito, e enviado ao MP. o juiz que receber o auto de prisão em flagrante está
8. Nessa situação hipotética, considerando as normas legalmente impedido de, de ofício, conceder-lhe liber-
relativas à investigação criminal, são nulos os atos de dade provisória ou aplicar-lhe medidas cautelares.
investigação realizados antes da instauração do inqué-
rito policial, pois violam o princípio da publicidade do (Cespe/DPU/Defensor Público/2015) Júlio foi preso em
procedimento investigatório, bem como a obrigação de flagrante pela prática de furto de um caixa eletrônico da
documentação dos atos policiais. CEF. Júlio responde a outros processos por crime contra o
patrimônio. A respeito dessa situação hipotética, julgue o
(Cespe/AGU/Advogado/2015) Com referência à prisão, julgue seguinte item.
o item subsequente. 15. O representante da CEF poderá habilitar-se como assis-
9. A prisão temporária somente poderá ser decretada tente da acusação a partir da instauração do inquérito
em situações excepcionais, quando for imprescindível policial, não cabendo impugnação da decisão judicial
para a realização de diligências investigatórias ou para que negar a habilitação.
a obtenção de provas durante o processo judicial.
(Cespe/DPU/Defensor Público/2016) Júlio foi preso em
(Cespe/STJ/Analista Judiciário/2015) Tendo em vista que a flagrante pela prática de furto de um caixa eletrônico da
atividade de segurança é abrangente e envolve técnicas ope- CEF. Júlio responde a outros processos por crime contra o
racionais, armamento, técnicas de tiro e de defesa pessoal, patrimônio. A respeito dessa situação hipotética, julgue o
julgue o item a seguir. seguinte item.
10. A fim de evitar constrangimentos e garantir os direitos 16. No caso de Júlio ter praticado furto simples, a própria
da mulher, a legislação pertinente veta a realização de autoridade policial poderia ter arbitrado a fiança com
busca pessoal em mulher por profissional do sexo mas- relação a este crime.
culino.
(Cespe/DPU/Defensor Público/2016) Júlio foi preso em
(Cespe/TRE-GO/Analista Judiciário/Área Judiciária/2015) flagrante pela prática de furto de um caixa eletrônico da
Julgue as situações hipotéticas.
CEF. Júlio responde a outros processos por crime contra o
11. Após a realização de inquérito policial iniciado median-
patrimônio. A respeito dessa situação hipotética, julgue o
te requerimento da vítima, Marcos foi indiciado pela
seguinte item.
autoridade policial pela prática do crime de furto qua-
17. Ao ser comunicado da prisão e verificando a necessida-
lificado por arrombamento. Nessa situação hipotética,
de de evitar a prática de infrações penais, ao juiz será
de acordo com o disposto no Código de Processo Penal
e na atual jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça vedado aplicar qualquer medida cautelar alternativa à
acerca de inquérito policial, o Ministério Público pode prisão, mesmo que sejam preenchidos os requisitos da
requerer ao juiz a devolução do inquérito à autoridade necessidade e da adequação previstos no CPP.
policial, se necessária a realização de nova diligência
imprescindível ao oferecimento da denúncia, como, por (Cespe/DPU/Defensor Público/2016) José foi denunciado
exemplo, de laudo pericial do local arrombado. pela prática de homicídio doloso contra Carlos, em Brasí-
12. Após a realização de inquérito policial iniciado median- lia. A vítima era policial federal e estava investigando crime
te requerimento da vítima, Marcos foi indiciado pela de falsificação de moeda que teria sido praticado por José
autoridade policial pela prática do crime de furto qua- em Goiânia. O juiz determinou a citação de José por edital,
lificado por arrombamento. Nessa situação hipotética, devido ao fato de ele não ter sido encontrado no endereço
de acordo com o disposto no Código de Processo Penal que constava dos autos. Com referência a essa situação hi-
e na atual jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça potética, julgue o item a seguir.
acerca de inquérito policial, embora fosse possível a 18. A citação por edital deverá conter a transcrição da de-
instauração do inquérito mediante requisição do juiz, núncia oferecida contra José, ou, pelo menos, o resumo
somente a autoridade policial poderia indiciar Marcos dos fatos, sob pena de nulidade absoluta por violação
como o autor do delito. dos princípios do contraditório e da ampla defesa.
13. Após a realização de inquérito policial iniciado median-
te requerimento da vítima, Marcos foi indiciado pela (Cespe/DPU/Defensor Público/2016) Em relação a coisa jul-
autoridade policial pela prática do crime de furto qua- gada, prova criminal e restituição de bens, medidas assecu-
Noções de Direito Processual Penal

lificado por arrombamento. Nessa situação hipotética, ratórias e cautelares no direito processual penal, julgue os
de acordo com o disposto no Código de Processo Penal itens subsequentes.
e na atual jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça 19. Na hipótese de uma investigação policial pelo crime de
acerca de inquérito policial, o prazo legal para que o latrocínio, a prisão temporária poderá ser decretada
delegado de polícia termine o inquérito policial é de pelo prazo de trinta dias, prorrogáveis por igual período,
trinta dias, se Marcos estiver solto, ou de dez dias, se sem prejuízo da possibilidade de decretação da prisão
preso preventivamente pelo juiz, contado esse prazo, preventiva. Nesse caso, o inquérito deverá ser concluído
em ambos os casos, da data da portaria de instauração. no prazo, sob pena de constrangimento ilegal.
20. No âmbito do juizado especial criminal, no intuito de
(Cespe/TRE-GO/Analista Judiciário/Área Judiciária/2015) comprovar a materialidade do crime, o exame de corpo
Camila foi presa em flagrante delito pela suposta prática de de delito pode ser substituído por boletim médico ou
tráfico de drogas. Após ser citada da ação penal, manifestou prova equivalente.
interesse em ser assistida pela defensoria pública. Com rela-
ção a essa situação hipotética, julgue o próximo item, com (Cespe/DPU/Defensor Público/2016) Julgue os itens sub-
base na jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça e nas secutivos, à luz do entendimento sumulado dos tribunais
disposições do Código de Processo Penal. superiores.

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21. Conforme posição do STF, será anulável o julgamento (Cespe/DPE-PE/Defensor Público/2015) Com relação a ha-
da apelação se, após a renúncia do defensor, o réu não beas corpus e nulidades, julgue o item a seguir.
tiver sido previamente intimado para constituir outro. 27. Os tribunais superiores não mais têm admitido o ma-
22. Segundo o STJ, a interposição de recurso especial antes nejo do habeas corpus originário como meio de impug-
da publicação do acórdão dos embargos de declaração nação substitutivo da interposição de recurso ordinário
implica a inadmissibilidade desse recurso, salvo se hou- constitucional.
ver ratificação.
(Cespe/Polícia Federal/Agente de Polícia/2014) Julgue o item.
(Cespe/DPU/Defensor Público/2016) Em relação a habeas 28. Logo que tiver conhecimento da prática de infração pe-
corpus e revisão criminal, julgue o item a seguir. nal, a autoridade policial deverá determinar, se for caso,
23. Se a defesa de um indivíduo impetrar habeas corpus em a realização das perícias que se mostrarem necessárias
tribunal regional federal para trancar ação penal con- e proceder a acareações.
tra ele proposta, e esse tribunal denegar a ordem por
maioria de votos, a defesa deverá manejar embargos (Cespe/Polícia Federal/Agente de Polícia/2014) A respeito da
infringentes. prisão temporária, julgue o item que se segue.
29. Nos crimes de tráfico de drogas, em caso de necessidade
(Cespe/DPE-PE/Defensor Público/2015) Acerca de aspectos extrema comprovada, poderá ser decretada a prisão
diversos do processo penal brasileiro, o próximo item apre- temporária pela autoridade policial, que terá o prazo
senta uma situação hipotética, seguida de uma assertiva a de vinte e quatro horas para comunicar a prisão e enca-
ser julgada. minhar a representação pertinente ao juiz competente.
24. Maurício foi processado pelo delito de latrocínio ten-
tado e respondeu ao processo em liberdade. Ao final (Cespe/TJ-SE/Analista Judiciário/2014) Acerca do inquérito
ele foi condenado, mas foi-lhe concedido o direito de policial, da ação penal e da competência, julgue os próximos
recorrer em liberdade. Maurício aguarda o julgamen- itens.
to de recurso extraordinário pelo STF. Nessa situação, 30. Ainda que não tenha legitimidade para, em ação penal
conforme o entendimento do próprio STF e do STJ, de iniciativa privada, aditar a queixa com o intuito de
ofenderia o princípio da não culpabilidade a execução nela incluir outros réus, o MP poderá acrescentar ao
da pena privativa de liberdade antes do trânsito em processo elementos que influam na fixação da pena,
julgado da sentença condenatória. no exercício da função de custos legis.
31. Em caso de conexão ou continência, é facultativa a
(Cespe/DPE-PE/Defensor Público/2015) Acerca de aspectos separação dos processos caso os crimes tenham sido
diversos do processo penal brasileiro, os próximos itens apre- cometidos em tempo e lugares diferentes.
sentam uma situação hipotética, seguida de uma assertiva 32. Comprovada, durante as diligências para a apuração de
a ser julgada. infração penal, a existência de excludente de ilicitude
25. Alberto e Adriano foram presos em flagrante delito. que beneficie o investigado, o delegado de polícia de-
O juiz que analisou a prisão em flagrante concedeu a verá determinar o arquivamento do inquérito policial.
Alberto a liberdade provisória mediante o recolhimento 33. Em virtude do princípio in dubio pro societate, o juiz não
de fiança arbitrada em um salário mínimo. Quanto a está autorizado a rejeitar denúncia por falta de lastro
Adriano, foi-lhe decretada a prisão preventiva. Antes probatório mínimo que demonstre a idoneidade e a
que o autuado Alberto recolhesse o valor da fiança e verossimilhança da acusação.
que a DP impetrasse habeas corpus em favor de Adria-
no, entrou em vigor lei processual penal nova mais (Cespe/Câmara dos Deputados/Analista Legislativo/2014) À
gravosa, que tratou tanto da fiança quanto da prisão luz do CPP e da jurisprudência do STJ, julgue os seguintes
preventiva. Nessa situação, a lei processual penal nova itens, relativos à prisão, aos recursos, aos atos e aos princípios
que tratou da fiança aplicar-se-á desde logo, sem preju- processuais penais.
ízo da validade dos atos realizados sob a vigência da lei 34. O atraso na conclusão da ação penal pode ser justificado
anterior. Entretanto, à prisão preventiva aplicar-se-ão os pelas peculiaridades do caso concreto, à luz do princípio
dispositivos que forem mais favoráveis ao interessado. da razoabilidade, bem como por diversas causas justifi-
26. Ana, conduzindo veículo automotor em via pública, cantes da dilação da instrução penal reconhecidas pela
colidiu com o veículo de Elza, que conduzia regular- jurisprudência, tais como a complexidade dos crimes
mente seu automóvel. Elza sofreu lesões leves em seus envolvidos, das diligências necessárias à instrução, além
Noções de Direito Processual Penal

braços e pernas, comprovadas por exame pericial. Ana da quantidade de réus ou de defensores distintos.
trafegava à velocidade de 85 km/h, quando o máximo 35. Dado o princípio tempus regit actum, as normas pro-
permitido para a via era de 40 km/h. Na delegacia de cessuais penais têm aplicação imediata, não alcançando
polícia, Elza fez constar na ocorrência policial que não crimes ocorridos em data anterior à sua vigência.
desejava representar criminalmente contra Ana. Ficou
demonstrado ainda, durante o inquérito policial, que (Cespe/Câmara dos Deputados/Analista Legislativo/2014)
Ana não conduzia o veículo sob efeito de álcool e tam- Julgue os itens, relativos à assistência judiciária da defenso-
bém não participava de corrida não autorizada pela ria pública, ao habeas corpus, à execução penal, ao processo
autoridade competente. Ana foi denunciada pelo MP nos crimes de violência doméstica e familiar contra a mulher
pelo delito de lesão corporal culposa (art. 303 do CTB). e ao sigilo bancário.
Argumentou o representante do parquet que o delito 36. O habeas corpus, em virtude de sua função constitucio-
era de ação penal pública incondicionada, haja vista que nal, é admitido livremente e sem racionalizacão, para
Ana trafegava a uma velocidade superior ao dobro da contestar decisão contra a qual exista previsão de re-
permitida para a via. Nessa situação, agiu acertadamen- curso específico no ordenamento jurídico.
te o MP ao oferecer denúncia contra Ana com respaldo 37. Conforme o entendimento do STF, em caso de crime de
no CTB. lesão corporal praticado mediante violência doméstica

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e familiar contra a mulher, a ação penal será pública (Cespe/PGE-BA/Procurador do Estado/2014) Acerca das
condicionada à representação. provas, das sentenças e dos princípios do direito processual
38. Informações contidas em dados bancários obtidos pela penal, julgue os itens a seguir.
Receita Federal mediante requisição direta a institui- 46. De acordo com a jurisprudência do STF, é vedado ao
ções bancárias, sem prévia autorização judicial, no juiz requisitar novas diligências probatórias caso o MP
âmbito de processo administrativo fiscal, poderão ser tenha-se manifestado pelo arquivamento do feito.
utilizadas pelo Ministério Público para instauração de 47. Em razão do princípio constitucional da presunção de
ação penal. inocência, é vedado à autoridade policial mencionar
39. Os integrantes de núcleos de prática jurídica e os ad- anotações referentes à instauração de inquérito nos
vogados dativos, dada a relevância dos serviços que atestados de antecedentes que lhe forem solicitados.
prestam, gozam de prerrogativas similares às dos mem- 48. Considere que Marina tenha sido processada por cri-
bros da defensoria pública, podendo atuar em juízo me de furto supostamente cometido contra seu primo
independentemente da existência de procuração ou de André e que, após a fase de produção de provas, o MP,
nomeação judicial. convencido de sua inocência, tenha opinado por sua
absolvição. Nessa situação hipotética, segundo o Código
(Cespe/Câmara dos Deputados/Analista Legislativo/2014)
de Processo Penal, o juiz não poderá proferir sentença
Acerca dos juizados especiais criminais, do processo de
condenatória contra Marina.
responsabilidade administrativa, civil e penal nos casos de
abuso de autoridade, do processo dos crimes ambientais
e da interceptação de comunicações telefônicas, julgue o (Cespe/PGE-BA/Procurador do Estado/2014) Julgue os itens
item a seguir. subsequentes, no que se refere aos recursos, à ação penal e
40. Segundo o STJ, para fins de deflagração da persecução à competência no processo penal brasileiro.
penal pelo crime de lesões corporais leves, é desneces- 49. Em ação penal privada que envolva vários agentes do
sária a ratificação, em juízo, de representação formula- ato delituoso, é permitido ao querelante, em razão do
da em sede policial. princípio da disponibilidade, escolher contra quem
proporá a queixa-crime, sem que esse fato acarrete a
(Cespe/Câmara dos Deputados/Analista Legislativo/2014) extinção da punibilidade dos demais agentes conheci-
Acerca dos juizados especiais criminais, do processo de dos e nela não incluídos.
responsabilidade administrativa, civil e penal nos casos de 50. Considere que Cássio, jogador de futebol residente na
abuso de autoridade, do processo dos crimes ambientais cidade de Montes Claros — MG, tenha declarado, em
e da interceptação de comunicações telefônicas, julgue o entrevista a jornais de circulação local no município de
item a seguir. Governador Valadares — MG, que Emílio, árbitro de fu-
41. O policial militar que, em serviço, praticar crime de tebol, recebia dinheiro de agremiações para influenciar
abuso de autoridade será julgado pela justiça militar. os resultados das partidas que arbitrava. Nessa situação
hipotética, caso Emílio se considere caluniado e decida
(Cespe/Câmara dos Deputados/Analista Legislativo/2014) defender seus direitos na esfera criminal, ele poderá
Julgue o seguinte item, relativo ao mandado de segurança em optar por propor a queixa-crime no foro de Montes
matéria penal, à investigação criminal, ao Ministério Público, Claros-MG.
ao processo referente a ilícitos de improbidade administrati-
va, ao processo dos crimes de lavagem ou ocultação de bens, (Cespe/PGE-BA/Procurador do Estado/2014) Em relação à
direitos e valores, à sentença e à proteção de acusados ou assistência no processo penal, julgue os itens subsecutivos.
condenados colaboradores. 51. O assistente de acusação, de acordo com a jurisprudên-
42. Em se tratando de crimes de lavagem de dinheiro, o cia do STJ, não tem direito a manejar recurso de apela-
processo e o julgamento será da competência da justi- ção que objetive o aumento da pena do sentenciado.
ça federal quando a infração penal antecedente for de 52. Segundo a jurisprudência do STJ, o assistente de acu-
competência da justiça federal. sação não detém legitimidade para recorrer de decisão
judicial que conceda a suspensão condicional do pro-
(Cespe/Câmara dos Deputados/Analista Legislativo/2014) cesso.
Acerca da prova no processo penal, julgue o item abaixo.
53. A interveniência do assistente de acusação não é per-
43. A teoria dos frutos da árvore envenenada, de origem
mitida no curso do inquérito policial ou da execução
norte-americana e consagrada na CF, proclama a mácula
penal.
de provas supostamente lícitas e admissíveis, obtidas,
Noções de Direito Processual Penal

todavia, a partir de provas declaradas nulas pela forma


ilícita de sua colheita. (Cespe/STF/Analista Judiciário/Área Judiciária/2013) A res-
peito de nulidade e de questões incidentes, julgue o item
(Cespe/Câmara dos Deputados/Analista Legislativo/2014) seguinte.
No que diz respeito ao sistema penitenciário e à legislação 54. O tribunal ad quem não poderá reconhecer de ofício
penal e processual penal aplicada à segurança pública, julgue a nulidade da sentença absolutória de primeiro grau
os itens seguintes. proferida por juiz incompetente, contra a qual tenha o
44. Em investigação demandada à autoridade policial para Ministério Público interposto recurso, sem, no entanto,
apurar crime de ação pública, se houver indeferimento alegar o vício de incompetência absoluta.
de abertura de inquérito, o recurso deverá ser destina-
do ao chefe de polícia. (Cespe/STF/Analista Judiciário/Área Judiciária/2013) A res-
45. O Código Penal brasileiro, ao tratar da competência cri- peito da citação e do recurso, julgue o item a seguir.
minal quanto ao tempo do crime, adota a teoria mista 55. Nos casos de competência do juizado especial criminal,
ou da ubiquidade, que considera o momento da ação o acusado será citado pessoalmente ou por hora certa,
ou da omissão típica, independentemente do resultado se, por qualquer motivo, não puder ser encontrado em
danoso. nenhum dos endereços indicados nos autos.

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
(Cespe/PG-DF/Procurador/2013) Considerando as normas (Cespe/Segesp-AL/Papiloscopista/2013) Acerca de diligên-
referentes ao inquérito policial, julgue os itens a seguir. cias e outras providências em caso de investigação criminal,
56. Segundo as normas processuais penais vigentes, a au- julgue os itens subsequentes.
toridade policial não pode determinar o arquivamento 68. A busca domiciliar deve ser feita durante o dia, sem
do inquérito, salvo se o MP, previamente consultado, necessidade de mandado judicial quando realizada pela
concordar com tal determinação. própria autoridade policial pessoalmente.
57. De acordo com o CPP, qualquer pessoa do povo, ao to- 69. A prisão temporária somente pode ser decretada du-
mar conhecimento da prática de atos delituosos, deverá rante o inquérito policial e por ordem judicial. Uma vez
comunicá-los à autoridade policial, seja verbalmente, esgotado o prazo legal, o preso deve ser imediatamente
seja por via formal. solto, independentemente de alvará de soltura.

(Cespe/Segesp-AL/Papiloscopista/2013) Acerca do processo


(Cespe/PG-DF/Procurador/2013) Julgue os itens subsequen-
penal brasileiro, julgue os itens subsecutivos.
tes, a respeito da participação do MP no curso das investi- 70. A lei dispõe que o assistente de acusação será admitido
gações criminais, na instrução processual e na fase recursal. durante o curso da ação penal pública, mas é omissa
58. Nos termos da legislação processual vigente, o MP não quanto à sua habilitação durante o inquérito policial.
está limitado à prévia instauração de inquéritos policiais 71. A ação penal privada subsidiária da pública é admitida
para promover ações penais públicas, ainda que a apu- nos casos em que o Ministério Público perde o prazo
ração dos crimes seja complexa. para o oferecimento da denúncia, mas vedada quando
59. Conforme jurisprudência pacificada no STJ, a participa- ele requer o arquivamento do inquérito policial.
ção de membro do MP na fase investigatória criminal 72. A lei processual penal tem aplicação imediata, sem re-
acarreta, por esse fato, a sua suspeição para o ofereci- troagir, independentemente de seu conteúdo ser mais
mento da respectiva denúncia. benéfico para o acusado.

(Cespe/AGU/Advogado/2015) Acerca da competência, da (Cespe/MPU/Nível Superior/2013) Com base no Código de


coisa julgada e dos recursos no processo penal, julgue os Processo Penal (CPP) e no Código de Processo Civil (CPC),
itens a seguir à luz do entendimento dos tribunais superiores julgue o próximo item, referente a perícia e meios de prova.
e da doutrina majoritária. 73. De acordo com o CPP, na falta de perito oficial para
60. Diante da importância da ação constitucional do habeas realizar as perícias, o exame poderá ser realizado por
corpus como instrumento de salvaguarda do direito am- uma pessoa idônea, portadora de diploma de curso
bulatorial do cidadão, a mais recente jurisprudência do superior, preferencialmente em área relacionada com
STF e do STJ tem admitido o habeas corpus substitutivo a natureza do exame.
do recurso ordinário.
(Cespe/PRF/Policial Rodoviário Federal/2013) No que con-
61. Aos juízes federais compete processar e julgar, nos ca-
cerne às disposições preliminares do Código de Processo
sos determinados por lei, os crimes contra o sistema
Penal (CPP), ao inquérito policial e à ação penal, julgue os
financeiro e a ordem econômico-financeira. próximos itens.
62. A competência da justiça federal para processar e julgar 74. Tratando-se de lei processual penal, não se admite,
os crimes contra a organização do trabalho alcança os salvo para beneficiar o réu, a aplicação analógica.
delitos referentes a direitos individuais, e não, a direitos 75. Após regular instrução processual, mesmo que se con-
que visem a toda uma categoria de trabalhadores. vença da falta de prova de autoria do crime que inicial-
mente atribuíra ao acusado, não poderá o Ministério
(Cespe/PC-DF/Agente de Polícia/2013) Considerando, por hi- Público desistir da ação penal.
pótese, que, devido ao fato de estar sendo investigado pela 76. O Ministério Público pode oferecer a denúncia ainda
prática de latrocínio, José tenha contratado um advogado que não disponha do inquérito relatado pela autoridade
para acompanhar as investigações, julgue os itens a seguir. policial.
63. Caso seja imprescindível para as investigações, a prisão 77. É condicionada à representação da vítima a ação penal
temporária de José poderá ser decretada de ofício pelo por crime de dano praticado contra ônibus de transpor-
juiz, visto que o crime de latrocínio admite essa moda- te coletivo pertencente a empresa concessionária de
lidade de prisão. serviço público.
64. Embora o inquérito policial seja um procedimento si-
giloso, será assegurado ao advogado de José o acesso (Cespe/PRF/Policial Rodoviário Federal/2013) A respeito das
Noções de Direito Processual Penal

aos autos. espécies de prisão e do habeas corpus, julgue os itens que


se seguem.
(Cespe/Segesp-AL/Papiloscopista/2013) Mário foi surpre- 78. O habeas corpus pode ser impetrado, perante qualquer
instância do Poder Judiciário, por qualquer pessoa do
endido no momento em que praticava crime de ação penal
povo em favor de outrem, podendo, ainda, a autoridade
pública condicionada à representação. A partir dessa situação
judicial competente concedê-lo de ofício.
hipotética, julgue os itens a seguir. 79. O juiz poderá substituir a prisão preventiva por prisão
65. Mário será identificado criminalmente pelo processo domiciliar sempre que a agente for gestante.
datiloscópico, procedimento obrigatório e indispensá- 80. A prisão temporária só poderá ser decretada mediante
vel em caso de indiciamento. representação da autoridade policial ou a requerimento
66. Na hipótese de ser o crime inafiançável, Mário perma- do Ministério Público, vedada sua decretação de ofício
necerá preso durante toda a investigação criminal. pelo juiz.
67. A nota de culpa deve ser entregue a Mario no momento
da prisão em flagrante, sob pena de a autuação poste- (Cespe/PRF/Policial Rodoviário Federal/2013) Com base no
rior tornar-se ilegal e passível de livramento imediato disposto no CPP e na jurisprudência do Superior Tribunal de
por habeas corpus. Justiça, julgue os seguintes itens.

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
81. A prova declarada inadmissível pela autoridade judicial a instauração do procedimento policial, é necessário
por ter sido obtida por meios ilícitos deve ser juntada que a autoridade policial obtenha prévia autorização
em autos apartados dos principais, não podendo servir da Câmara dos Deputados ou do STF.
de fundamento à condenação do réu. 89. José foi indiciado em inquérito policial por crime de
82. Compete à justiça federal processar e julgar a contraven- contrabando e, devidamente intimado, compareceu pe-
ção penal praticada em detrimento de bens e serviços rante a autoridade policial para interrogatório. Ao ser
da União. indagado a respeito de seus dados qualificativos para
o preenchimento da primeira parte do interrogatório,
(Cespe/PRF/Policial Rodoviário Federal/2013) Julgue o item José arguiu o direito ao silêncio, nada respondendo.
seguinte, relativo à lei do crime organizado e a crimes resul- Nessa situação hipotética, cabe à autoridade policial
tantes de preconceitos de raça e cor. alertar José de que a sua recusa em prestar as infor-
83. Durante o inquérito policial, é necessária a autorização mações solicitadas acarreta responsabilidade penal,
judicial para que um agente policial se infiltre em orga- porque a lei é taxativa quanto à obrigatoriedade da
nização criminosa com fins investigativos. qualificação do acusado.
90. Uma quadrilha, em determinado lapso temporal, reali-
(Cespe/DPE/Perito Criminal/2013) Com relação às condutas zou, em larga escala, diversos roubos de cargas e valo-
típicas previstas no Código Penal brasileiro e em leis especí-
res transportados por empresas privadas em inúmeras
ficas, e ainda, no que se refere às disposições gerais sobre a
operações interestaduais, o que ensejou a atuação da
prova (CPP, Cap. I, Tít. VII), julgue o item seguinte.
Polícia Federal na coordenação das investigações e a
84. Segundo a jurisprudência do Superior Tribunal de Justi-
ça, a ausência do corpo da vítima em suposto crime de instauração do competente inquérito policial. Nessa
homicídio impede o ajuizamento da ação penal, haja situação hipotética, findo o procedimento policial, os
vista a impossibilidade da realização de exame de corpo autos deverão ser remetidos à justiça estadual, pois a
de delito, não sendo admitidos, nessa situação, outros atuação da Polícia Federal não transfere à justiça federal
meios de provas. a competência para processar e julgar o crime.

(Cespe/DPE/Delegado de Polícia/2013) Acerca da custódia (Cespe/DPE/Delegado de Polícia/2013) A respeito dos pro-


cautelar e suas modalidades, dos atos processuais e seus cessos em espécie, dos princípios que orientam o processo
sujeitos, bem como da ação penal, julgue os itens que se penal e da sentença criminal, julgue o próximo item.
seguem. 91. Nos casos de crimes afiançáveis de responsabilidade do
85. Em se tratando de ações penais privadas, prevalece, no funcionário público, a legislação processual antecipa o
processo penal, a competência de foro, com prepon- contraditório antes de inaugurada a ação penal, com a
derância do interesse do queixoso no que diz respeito apresentação da defesa preliminar.
à distribuição territorial da competência.
86. Considere que, no curso de inquérito policial em que (Cespe/DPE/Delegado de Polícia/2013) No que se refere aos
se apure crime de ação pública incondicionada, quando crimes de lavagem de dinheiro, julgue os itens subsecutivos
da primeira remessa dos autos ao Poder Judiciário com com base no direito processual penal.
solicitação de retorno para novas diligências, a vítima 92. Compete à justiça federal processar e julgar os acusados
do delito requeira a sua habilitação nos autos como da prática de crimes de lavagem de dinheiro, uma vez
assistente de acusação. Nessa situação, o pedido deve que a repressão a esses crimes é imposta por tratado
ser negado, visto que a figura do assistente é admitida internacional.
no processo somente após o recebimento da denúncia 93. A simples existência de indícios da prática de um dos
e antes do trânsito em julgado da sentença. crimes que antecedem o delito de lavagem de dinhei-
ro, conforme previsão legal, autoriza a instauração de
(Cespe/DPE/Delegado de Polícia/2013) É apresentada uma inquérito policial para apurar a ocorrência do referido
situação hipotética, seguida de uma assertiva a ser julgada delito, não sendo necessária a prévia punição dos acu-
em relação ao inquérito policial e suas peculiaridades, às sados do ilícito antecedente.
atribuições da Polícia Federal e ao sistema probatório no
94. Conforme a jurisprudência do STJ, não impede o pros-
processo penal brasileiro.
seguimento da apuração de cometimento do crime de
87. Uma quadrilha efetuou ilegalmente diversas transações
lavagem de dinheiro a extinção da punibilidade dos
bancárias na modalidade de saques e transferências
delitos antecedentes.
Noções de Direito Processual Penal

eletrônicas em contas de inúmeros clientes de determi-


nada agência do Banco do Brasil. A instituição financeira 95. No que se refere à legitimidade para o polo passivo da
ressarciu todos os clientes lesados e arcou integralmen- ação penal por lavagem de capitais, é dispensável a par-
te com os prejuízos resultantes das fraudes perpetradas ticipação do acusado do crime de lavagem de dinheiro
pelo grupo. Nessa situação hipotética, cabe à Polícia nos delitos a ele antecedentes, sendo suficiente que
Federal a instauração do inquérito policial, porquanto ele tenha conhecimento da ilicitude dos valores, dos
a ela compete, com exclusividade, a apuração de crimes bens ou de direitos cuja origem, localização, disposição,
praticados contra bens e serviços da União. movimentação ou propriedade tenha sido ocultada ou
88. Um delegado da Polícia Federal instaurou inquérito po- dissimulada.
licial, mediante portaria, para investigar a conduta de
deputado federal suspeito da prática de crimes contra (Cespe/DPE/Perito Criminal/2013) Acerca do inquérito po-
a administração pública. Intimado para oitiva nos autos, licial, julgue o item seguinte.
o parlamentar impetrou habeas corpus contra o ato 96. O valor probatório do inquérito policial, como regra, é
da autoridade policial, sob o argumento de usurpação considerado relativo, entretanto, nada obsta que o juiz
de competência originária do STF. Nessa situação hi- absolva o réu por decisão fundamentada exclusivamen-
potética, assiste razão ao impetrante, visto que, para te em elementos informativos colhidos na investigação.

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(Cespe/DPE/Perito Criminal/2013) A respeito da prova no
processo penal, julgue os itens subsequentes.
97. A consequência processual da declaração de ilegalidade
de determinada prova obtida com violação às normas
constitucionais ou legais é a nulidade do processo com
a absolvição do réu.
98. A confissão extrajudicial do réu e outros elementos indi-
ciários de participação no crime nos autos do processo
são subsídios suficientes para autorizar-se a prolação
de sentença condenatória.

(Cespe/DPE/Perito Criminal/2013) No que tange à prisão em


flagrante, à prisão preventiva e à prisão temporária, julgue os
itens que se seguem, à luz do Código de Processo Penal (CPP).
99. Admite-se a prisão preventiva para todos os crimes em
que é prevista prisão temporária, sendo esta realizada
com o objetivo específico de tutelar a investigação po-
licial.
100. O CPP dispõe expressamente que na ocorrência de pri-
são em flagrante tem a autoridade policial o dever de
comunicar o fato, em até vinte e quatro horas, ao juízo
competente, ao Ministério Público, à família do preso
ou à pessoa por ele indicada e, ainda, à defensoria pú-
blica, se o aprisionado não indicar advogado no ato da
autuação.

GABARITO
1. c 26. e 51. e 76. c
2. e 27. c 52. c 77. e
3. e 28. c 53. c 78. c
4. e 29. e 54. c 79. e
5. e 30. c 55. e 80. c
6. e 31. c 56. e 81. e
7. c 32. e 57. e 82. e
8. e 33. e 58. c 83. c
9. e 34. c 59. e 84. e
10. e 35. e 60. e 85. e
11. c 36. e 61. c 86. c
12. c 37. e 62. e 87. e
13. e 38. e 63. e 88. e
14. e 39. e 64. c 89. c
15. e 40. c 65. e 90. c
16. c 41. e 66. e 91. c
17. e 42. c 67. e 92. e
18. e 43. c 68. e 93. c
19. c 44. c 69. c 94. c
20. c 45. e 70. c 95. c
21. e 46. c 71. c 96. c
22. c 47. c 72. c 97. e
23. e 48. e 73. e 98. e
Noções de Direito Processual Penal

24. c 49. e 74. e 99. c


25. e 50. c 75. c 100. e

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PRF

SUMÁRIO

Legislação Especial

Lei nº 10.826/2003 e alterações (Estatuto do Desarmamento) ........................................................................................... 3

Lei nº 7.716/1989 e alterações (crimes resultantes de preconceitos de raça ou de cor) ..................................................14

Lei nº 5.553/1968 (apresentação e uso de documentos de identificação pessoal) ........................................................... 17

Lei nº 4.898/1965 (direito de representação e processo de responsabilidade administrativa, civil e penal, nos casos
de abuso de autoridade) ..................................................................................................................................................... 17

Lei nº 9.455/1997 (definição dos crimes de tortura) .......................................................................................................... 23

Lei nº 8.069/1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente):


Título II, Capítulos I e II, Título III, Capítulo II, Seção III, Título V e Título VII .................................................................... 26

Lei nº 10.741/2003 e alterações (Estatuto do Idoso) .......................................................................................................... 32

Lei nº 9.034/1995 e alterações (crime organizado) ............................................................................................................ 41

Lei nº 9.099/1995 e alterações (juizados especiais cíveis e criminais):


Capítulo III ........................................................................................................................................................................ 47

Lei nº 10.259/2001 e alterações (juizados especiais cíveis e criminais no âmbito da Justiça Federal) .............................60

Lei nº 11.340/2006 (Maria da Penha – violência doméstica e familiar contra a mulher)..................................................62

Lei nº 11.343/2006 (sistema nacional de políticas públicas sobre drogas) ........................................................................ 70

Decreto-Lei nº 3.688/1941 (Lei das contravenções penais)

Lei nº 9.605/1998 e alterações (Lei dos crimes contra o meio ambiente):


Capítulos III e V ................................................................................................................................................................. 92

Decretos nº 5.948/2006, nº 6.347/2008 e nº 7.901/2013 (Tráfico de pessoas) ................................................................. 96

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Legislação Especial
Gladson Miranda

Gladson Miranda policial civil, é obrigatório fazer o registro da arma no ór-


gão competente. (Jurisprudência noticiada no Informativo nº
Estatuto do Desarmamento 719/STF – RHC nº 111.931, Relator(a): Min. Gilmar Mendes,
Segunda Turma, julgado em 4/6/2013, Processo Eletrônico
(Lei nº 10.826/2003) DJe-117, Divulg 18/6/2013, Public 19/6/2013).
O interessado em adquirir arma de fogo de uso permiti-
O Estatuto do Desarmamento (Lei nº 10.826/2003) dis-
do, além de declarar a efetiva necessidade, deverá atender
põe sobre o registro, posse e comercialização de armas de
fogo e munição, sobre o Sistema Nacional de Armas (Sinarm), a determinados requisitos5. São três requisitos: o primeiro é
além de definir crimes e dar outras providências. Entrou em a comprovação de idoneidade, com a apresentação de cer-
vigor na data da sua publicação, em 22 de dezembro de 2003, tidões negativas de antecedentes criminais fornecidas pela
e revogou a Lei nº 9.437/1997 (art. 36). Justiça Federal, Estadual, Militar e Eleitoral e de não estar
respondendo a inquérito policial ou a processo criminal, que
poderão ser fornecidas por meios eletrônicos; o segundo é
Do Sistema Nacional de Armas a apresentação de documento comprobatório de ocupação
lícita e de residência certa; e o terceiro requisito é a compro-
O Sistema Nacional de Armas (Sinarm), instituído no Mi-
vação de capacidade técnica e de aptidão psicológica para
nistério da Justiça, no âmbito da Polícia Federal, tem circuns-
o manuseio de arma de fogo, que serão atestadas na forma
crição em todo o território nacional1 (art. 1º). Será mediante o
do regulamento (art. 4º e incisos). Com relação ao terceiro
cadastro da arma de fogo que o Sinarm identificará as carac-
requisito, observa-se que este poderá ser dispensado quando
terísticas e a propriedade da arma de fogo2. Além disso, com-
o interessado em adquirir arma de fogo de uso permitido
pete também ao Sinarm cadastrar as armas de fogo produzidas,
comprove estar autorizado a portar arma com as mesmas
importadas e vendidas no País, cadastrar as autorizações de
características daquela a ser adquirida (art. 4º, § 8º).
porte de arma de fogo e as renovações expedidas pela Polícia
Federal, cadastrar as transferências de propriedade, extravio, Atendidos os requisitos, o Sinarm expedirá autoriza-
furto, roubo e outras ocorrências suscetíveis de alterar os dados ção de compra de arma de fogo em nome do requerente e
cadastrais, inclusive as decorrentes de fechamento de empresas para a arma indicada, sendo intransferível esta autorização
de segurança privada e de transporte de valores, identificar as (art. 4º, § 1º). Ressalta-se que a concessão dessa autorização,
modificações que alterem as características ou o funcionamento ou mesmo a sua recusa com a devida fundamentação, se dará
de arma de fogo, e integrar no cadastro os acervos policiais já no prazo de 30 dias úteis, contados da data do requerimen-
existentes (art. 2º, incisos I a V). to (art. 4º, § 6º). Já com relação à aquisição de munição,
Compete, ainda, ao Sinarm cadastrar as apreensões de esta só poderá ser feita no calibre correspondente à arma
armas de fogo, inclusive as vinculadas a procedimentos po- registrada e na quantidade estabelecida no regulamento
liciais e judiciais, cadastrar os armeiros em atividade no País, (Decreto nº 5.123/2004)6 (art. 4º, § 2º).
bem como conceder licença para exercer a atividade, cadas- A empresa que comercializar arma de fogo em territó-
trar mediante registro os produtores, atacadistas, varejistas, rio nacional é obrigada a comunicar a venda à autoridade
exportadores e importadores autorizados de armas de fogo, competente7, como também a manter banco de dados com
acessórios e munições, cadastrar a identificação do cano da todas as características da arma e cópia dos documentos
arma, as características das impressões de raiamento e de que foram necessários para adquirir a autorização para
microestriamento de projétil disparado, conforme marca- aquisição da arma8 (art. 4º, § 3º).
ção e testes obrigatoriamente realizados pelo fabricante e Com relação às armas de fogo, acessórios e munições,
informar às Secretarias de Segurança Pública dos Estados e estes são de responsabilidade da empresa que as comercia-
do Distrito Federal os registros e autorizações de porte de liza, ficando registradas como de sua propriedade enquanto
armas de fogo nos respectivos territórios, bem como manter não forem vendidas (art. 4º, § 4º). Este registro em nome da
o cadastro atualizado para consulta (incisos VII a XI do art. 2º). empresa trata-se de registro precário e, por isso, prescinde
Ressalta-se que essas competências do Sinarm não al- de cumprir os requisitos que são exigidos do interessado
cançam as armas de fogo das Forças Armadas e Auxiliares, em adquirir arma de fogo de uso permitido (art. 4º, § 7º).
bem como as demais que constem dos seus registros próprios No caso de se dar entre pessoas físicas, a comercialização
(art. 2º, parágrafo único). somente será efetivada mediante autorização do Sinarm9
(art. 4º, § 5º).
Do Registro O certificado de Registro de Arma de Fogo tem valida-
de em todo o território nacional e é expedido pela Polícia
Com relação ao registro, o Estatuto prevê que é obriga- Federal após a obtenção da autorização do Sinarm10. Este
tório que se proceda ao registro de arma de fogo no órgão certificado autoriza o seu proprietário a manter a arma
competente3. As armas de fogo de uso restrito serão regis- de fogo exclusivamente no interior de sua residência ou
tradas no Comando do Exército4 (art. 3º e parágrafo único). domicílio, ou dependência desses, ou, ainda, no seu local
O STF já se posicionou que mesmo no caso de o indivíduo de trabalho, desde que seja ele o titular ou o responsável
Legislação Especial

possuir autorização para portar arma de fogo em decor-


rência do cargo que ocupa, que no caso do julgado era um
5
Assunto cobrado na prova: UESPI/PC-PI/Escrivão de Polícia Civil/2014.
6
Assunto cobrado na prova: Cespe/STF/Técnico Judiciário/Segurança Judiciá-
1
Movens/PC-PA/Escrivão de Polícia Civil/2009. ria/2013.
2
FCC/TRT 1ª Região (RJ)/Técnico Judiciário/Segurança/2011. 7
Assunto cobrado na prova: UESPI/PC-PI/Escrivão de Polícia Civil/2014.
3
Assunto cobrado nas seguintes provas: UESPI/PC-PI/Escrivão de Polícia Ci- 8
Assunto cobrado na prova: EJEF/TJ-MG/Juiz/2006.
vil/2014; Movens/PC-PA/Investigador/2009. 9
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/Polícia Federal/Agente Admi-
4
Assunto cobrado nas seguintes provas: Movens/PC-PA/Escrivão de Polícia Ci- nistrativo/2014; Cespe/STF/Técnico Judiciário/Segurança Judiciária/2013.
vil/2009; Fepese/DPE-SC/Analista Técnico/2013; FCC/TRF 4ª Região/Técnico 10
Assunto cobrado na prova: Fundação Sousândrade/Emap/Guarda Portuá-
Judiciário/Segurança e Transporte/2014. rio/2012.

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legal pelo estabelecimento ou empresa (art. 5º, § 1º)11. Para União e dos Estados, para uso exclusivo de servidores de
que haja a renovação do Certificado de Registro de Arma seus quadros pessoais que efetivamente estejam no exer-
de Fogo, é preciso que os três requisitos que devem ser cício de funções de segurança, na forma de regulamento a
cumpridos pelo interessado em adquirir arma de fogo de ser emitido pelo Conselho Nacional de Justiça – CNJ e pelo
uso permitido sejam comprovados periodicamente, em um Conselho Nacional do Ministério Público – CNMP (art. 6º e
período não inferior a 3 (três) anos (art. 5º, § 2º)12. incisos IX a XI).
O Estatuto do desarmamento prevê que aquele proprie- As exceções acima citadas dizem respeito à exceção ge-
tário de arma de fogo com certificados de registro de proprie- ral. Passamos agora a analisar as peculiaridades de algumas
dade expedido por órgão estadual ou do Distrito Federal até dessas exceções.
a data da publicação do Estatuto, que se deu em 22 de de- Com relação aos integrantes das Forças Armadas; aos
zembro de 2003, e que não optou pela entrega espontânea, integrantes da polícia federal, polícia rodoviária federal, po-
deveria renová-lo mediante o pertinente registro federal, lícia ferroviária federal, polícias civis e polícias militares e
até o dia 31 de dezembro de 2008, ante a apresentação de corpos de bombeiros militares; aos integrantes das guardas
documento de identificação pessoal e comprovante de resi- municipais das capitais dos Estados e dos Municípios com
dência fixa, sendo dispensado do pagamento de taxas e do mais de 500.000 (quinhentos mil) habitantes; aos agen-
cumprimento dos três requisitos que devem ser cumpridos tes operacionais da Agência Brasileira de Inteligência e os
pelo interessado em adquirir arma de fogo de uso permitido agentes do Departamento de Segurança do Gabinete de
(art. 5º, § 3º). Ressalta-se que a Lei nº 11.922, de 2009, pror- Segurança Institucional da Presidência da República e aos
rogou este prazo para o dia 31 de dezembro de 2009. Para integrantes dos órgãos policiais da Câmara dos Deputados
o cumprimento dessa renovação que mencionamos aqui, o e Senado Federal existe o direito de portar arma de fogo de
proprietário poderia obter no Departamento de Polícia Fede- propriedade particular ou fornecida pela respectiva corpo-
ral, certificado de registro provisório, expedido pela internet ração ou instituição, mesmo fora de serviço. Esse direito terá
com validade de 90 (noventa) dias e revalidação pela unidade validade em âmbito nacional, salvo para os integrantes das
do Departamento de Polícia Federal do certificado de registro guardas municipais das capitais dos Estados e dos Municípios
provisório pelo prazo que estimar como necessário para a
com mais de 500.000 (quinhentos mil) habitantes que ficará
emissão definitiva do certificado de registro de propriedade
adstrito ao território dos respectivos Estados e Municípios
(art. 5º, § 4º, I e II).
(art. 6º, § 1º).
A autorização para o porte de arma de fogo aos agentes
Do Porte operacionais da Agência Brasileira de Inteligência e os agentes
do Departamento de Segurança do Gabinete de Segurança
Em regra, é proibido o porte de arma de fogo em todo o Institucional da Presidência da República; aos integrantes dos
território nacional13. A exceção é com relação aos integran- órgãos policiais da Câmara dos Deputados e Senado Federal;
tes das Forças Armadas; aos integrantes da polícia federal,
aos integrantes do quadro efetivo dos agentes e guardas pri-
polícia rodoviária federal, polícia ferroviária federal, polícias
sionais, os integrantes das escoltas de presos e as guardas
civis e polícias militares e corpos de bombeiros militares; aos
portuárias e aos integrantes das Carreiras de Auditoria da
integrantes das guardas municipais das capitais dos Estados
Receita Federal do Brasil e de Auditoria-Fiscal do Trabalho,
e dos Municípios com mais de 500.000 (quinhentos mil)
cargos de Auditor-Fiscal e Analista Tributário condiciona-se à
habitantes14; aos integrantes das guardas municipais dos
Municípios com mais de 50.000 (cinquenta mil) e menos de comprovação de capacidade técnica e de aptidão psicológica
500.000 (quinhentos mil) habitantes, quando em serviço15; para o manuseio de arma de fogo (art. 6º, § 2º).
aos agentes operacionais da Agência Brasileira de Inteligência Já a autorização para o porte de arma de fogo das guar-
e os agentes do Departamento de Segurança do Gabinete das municipais está condicionada à formação funcional de
de Segurança Institucional da Presidência da República; aos seus integrantes em estabelecimentos de ensino de atividade
integrantes dos órgãos policiais da Câmara dos Deputados policial e à existência de mecanismos de fiscalização e de
e Senado Federal; aos integrantes do quadro efetivo dos controle interno, com a supervisão do Ministério da Justiça
agentes e guardas prisionais, aos integrantes das escoltas (art. 6º, § 3º). Além disso, somente quando em serviço, será
de presos e as guardas portuárias; às empresas de segurança autorizado o porte de arma de fogo aos guardas municipais
privada e de transporte de valores constituídas, nos termos dos municípios que integrem regiões metropolitanas nos
do Estatuto do Desarmamento16 (art. 6º e incisos I a VIII). estados da Federação18 (art. 6º, § 7º).
A exceção também se aplica para os integrantes das enti- Ressalta-se, ainda, que são dispensados de demons-
dades de desporto legalmente constituídas, cujas atividades trar o cumprimento dos três requisitos para adquirir arma
esportivas demandem o uso de armas de fogo, nos termos do de fogo de uso permitido os integrantes das Forças Arma-
Estatuto do Desarmamento, e com observância à legislação das, das polícias federais e estaduais e do Distrito Federal,
ambiental; para os integrantes das Carreiras de Auditoria da bem como os militares dos Estados e do Distrito Federal19
Receita Federal do Brasil e de Auditoria-Fiscal do Trabalho, (art. 6º, § 4º).
cargos de Auditor-Fiscal e Analista Tributário17 e para os O porte de arma de fogo aos maiores de 25 anos re-
tribunais do Poder Judiciário e os Ministérios Públicos da sidentes em áreas rurais, que comprovem depender do
emprego de arma de fogo para prover sua subsistência,
Assunto cobrado nas seguintes provas: UESPI/PC-PI/Escrivão de Polícia Ci- será autorizado, na forma prevista no regulamento dessa
11

vil/2014; Cespe/STF/Técnico Judiciário/Segurança Judiciária/2013; EJEF/


Lei, o porte de arma de fogo na categoria “caçador”20, de
Legislação Especial

TJ-MG/Juiz/2006; FCC/TRF 4ª Região/Técnico Judiciário/Segurança e Trans-


porte/2014. uma arma de uso permitido, de tiro simples, com 1 (um) ou
12
Assunto cobrado na prova: FCC/TRF 4ª Região/Técnico Judiciário/Segurança 2 (dois) canos, de alma lisa e de calibre igual ou inferior a
e Transporte/2014.
13
Assunto cobrado na prova: FCC/TRF 4ª Região/Técnico Judiciário/Segurança 16 (dezesseis), desde que o interessado comprove a efetiva
e Transporte/2014. necessidade em requerimento e que anexe o documento de
14
Assunto cobrado na prova: FCC/TRF 4ª Região/Técnico Judiciário/Segurança
e Transporte/2014. identificação pessoal, o comprovante de residência em área
15
Assunto cobrado na prova: Movens/PC-PA/Investigador/2009.
16
Assunto cobrado na prova: Cesgranrio/Bacen/Técnico do Banco Central/Área 18
Cespe/STF/Técnico Judiciário/Segurança Judiciária/2013.
2/2010. 19
Assunto cobrado na prova: Cespe/Polícia Federal/Agente Administrativo/2014.
17
Assunto cobrado na prova: Movens/PC-PA/Escrivão de Polícia Civil/2009. 20
Ejef/TJ-MG/Juiz/2006.

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rural e atestado de bons antecedentes (art. 6º, § 5º, I, II e III). à Polícia Federal e somente será concedida após autoriza-
O caçador para subsistência que der outro uso à sua arma ção do Sinarm24. Essa autorização pode ser concedida com
de fogo, independentemente de outras tipificações penais, eficácia temporária e territorial limitada e depende da de-
responderá, conforme o caso, por porte ilegal ou por disparo monstração efetiva da necessidade por exercício de atividade
de arma de fogo de uso permitido21 (art. 6º, § 6º). profissional de risco ou de ameaça à sua integridade física;
Uma das exceções à proibição do porte de arma é com além da demonstração dos requisitos para adquirir arma de
relação às empresas de segurança privada e de transporte fogo e a apresentação de propriedade de arma de fogo, bem
de valores. As armas de fogo utilizadas pelos empregados como o seu devido registro no órgão competente (art. 10, §
destas empresas serão de propriedade, responsabilidade 1º, I, II e III). Destaca-se que ocorrerá a perda automática
e guarda das respectivas empresas, somente podendo ser da eficácia dessa autorização caso o portador dela seja de-
utilizadas quando em serviço, devendo essas observar as tido ou abordado em estado de embriaguez ou sob efeito
condições de uso e de armazenagem estabelecidas pelo de substâncias químicas ou alucinógenas25 (art. 10, § 2º).
órgão competente, sendo o certificado de registro e a au- Conforme o que foi dito acima, em regra a competência
torização de porte expedidos pela Polícia Federal em nome para a autorização de arma de fogo de uso permitido é da
da empresa22 (art. 7º). Essas empresas devem, ainda, apre- Polícia Federal. Ocorre que há duas exceções. A primeira é que
sentar a documentação comprobatória dos requisitos com a autorização de porte de arma para os responsáveis pela se-
relação aos empregados que portarão arma de fogo, além de gurança de cidadãos estrangeiros em visita ao Brasil ou aqui
atualizar semestralmente a listagem dos empregados junto sediados é de responsabilidade do Ministério da Justiça.26 A
ao Sinarm (art. 7º, §§ 2º e 3º). segunda exceção é que será de competência do Comando
O proprietário ou diretor responsável responderá por do Exército o registro e a concessão de porte de trânsito de
omissão de cautela, prevista no parágrafo único do art. arma de fogo para colecionadores, atiradores e caçadores e
13 do Estatuto do Desarmamento, se deixar de registrar de representantes estrangeiros em competição internacional
ocorrência policial e de comunicar à Polícia Federal perda, oficial de tiro realizada no território nacional27 (art. 9º).
furto, roubo ou outras formas de extravio de armas de fogo, Haverá a cobrança de taxa pela prestação de serviços
acessórios e munições que estejam sob sua guarda, nas relativos ao registro de arma de fogo; à renovação de regis-
primeiras 24 (vinte e quatro) horas depois de ocorrido o tro de arma de fogo; à expedição de segunda via de registro
fato23. Esta responsabilidade ocorre sem prejuízo das sanções de arma de fogo; à expedição de porte federal de arma de
administrativas e civis (art. 7º, § 1º). fogo; à renovação de porte de arma de fogo e à expedição de
Com relação às armas de fogo que são utilizadas pelos segunda via de porte federal de arma de fogo. Esses valores
servidores dos Tribunais do Poder Judiciário e dos Ministérios destinam-se ao custeio e à manutenção das atividades do
Públicos da União e dos Estados, responsabilidade e guarda Sinarm, da Polícia Federal e do Comando do Exército, no
dessas serão das respectivas instituições, somente podendo
âmbito de suas respectivas responsabilidades. As empresas
ser utilizadas quando em serviço, devendo estas observar as
de segurança privada e de transporte de valores, os integran-
condições de uso e de armazenagem estabelecidas pelo órgão
tes das entidades de desporto cujas atividades esportivas
competente, sendo o certificado de registro e a autorização de
demandem o uso de armas de fogo e os tribunais do Poder
porte expedidos pela Polícia Federal em nome da instituição,
independentemente do pagamento de taxa (art. 7º-A e § 1º). Judiciário e os Ministérios Públicos da União e dos Estados,
O presidente do tribunal ou o chefe do Ministério Público para uso exclusivo de servidores de seus quadros pessoais
designará os servidores de seus quadros pessoais no exercício que efetivamente estejam no exercício de funções de segu-
de funções de segurança que poderão portar arma de fogo, rança deverão pagar as taxas, sendo as demais pessoas e
sendo esta listagem atualizada semestralmente no Sinarm. entidades do art. 6º isentas do pagamento (art. 11, incisos
Destaca-se que deve ser observado o limite máximo de 50% e §§ 1º e 2º).
(cinquenta por cento) do número de servidores que exerçam O Ministério da Justiça é o órgão responsável por disci-
funções de segurança. O porte de arma para esses servidores plinar a forma e as condições do credenciamento de profis-
condiciona-se à apresentação dos documentos que compro- sionais pela Polícia Federal para comprovação da aptidão
vem o atendimento aos requisitos para adquirir arma de psicológica e da capacidade técnica para o manuseio de arma
fogo de uso permitido, além da formação funcional em es- de fogo. O valor cobrado pelo psicólogo, na comprovação
tabelecimentos de ensino de atividade policial e à existência da aptidão psicológica, não poderá exceder ao valor médio
de mecanismos de fiscalização e de controle interno. Essas dos honorários profissionais para realização de avaliação
instituições têm a obrigação de registrar ocorrência policial psicológica constante do item 1.16 da tabela do Conselho
e comunicar à Polícia Federal eventual perda, furto, roubo Federal de Psicologia. Já com relação à comprovação da ca-
ou outras formas de extravio de armas de fogo, acessórios pacidade técnica, versa o Estatuto do Desarmamento que o
e munições que estejam sob sua guarda, nas primeiras 24 valor cobrado não poderá exceder R$ 80,00 (oitenta reais),
(vinte e quatro) horas depois de ocorrido o fato (art. 7º-A, mais o valor da munição. Caso ocorra a cobrança de valores
§§ 2º, 3º, 4º, 5º). superiores, a consequência será o descredenciamento do
As armas de fogo utilizadas em entidades desportivas profissional pela Polícia Federal (art. 11-A e parágrafos).
legalmente constituídas devem obedecer às condições de uso
e de armazenagem estabelecidas pelo órgão competente. Dos Crimes e das Penas
Legislação Especial

O possuidor ou o autorizado a portar a arma responde pela


sua guarda (art. 8º). O Estatuto do Desarmamento define em seu texto sete
Em regra, a autorização para o porte de arma de fogo crimes:
de uso permitido, em todo o território nacional, compete
24
Assunto cobrado na prova: FCC/TRT 1ª Região (RJ)/Técnico Judiciário/Segu-
21
Fepese/DPE-SC/Analista Técnico/2013. rança/2011.
22
Assunto cobrado na prova: Ejef/TJ-MG/Juiz/2006. 25
Assunto cobrado na prova: UESPI/PC-PI/Escrivão de Polícia Civil/2014.
23
Assunto cobrado nas seguintes provas: Movens/PC-PA/Investigador/2009; 26
Cespe/STF/Técnico Judiciário/Segurança Judiciária/2013.
Cespe/PC-DF/Escrivão de Polícia/2013; MPE-SP/Promotor de Justiça/2006; 27
Assunto cobrado na prova: Cespe/STF/Técnico Judiciário/Segurança Judiciá-
PC-SP/Delegado de Polícia/2011; TJ-PR/Assessor Jurídico/2012. ria/2013.

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
• posse irregular de arma de fogo de uso permitido; contempla crime de mera conduta, sendo suficiente a ação
• omissão de cautela; de portar ilegalmente a arma de fogo, ainda que desmu-
• porte ilegal de arma de fogo de uso permitido; niciada. (Jurisprudência noticiada no Informativo nº 699/
• disparo de arma de fogo; STF – HC nº 95073, Relator(a): Min. Ellen Gracie, Relator(a)
• posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso restrito; p/ Acórdão: Min. Teori Zavascki, Segunda Turma, julgado em
• comércio ilegal de arma de fogo; 19/3/2013, DJe-066, divulg. 10/4/2013, public. 11/4/2013,
• tráfico internacional de arma de fogo. EMENT VOL-02687-01 PP-00001). Neste mesmo sentido,
A posse irregular de arma de fogo de uso permitido temos o posicionamento do STJ que para a configuração do
consiste na conduta de possuir ou manter sob sua guarda tipo penal de porte ilegal de arma de fogo, é irrelevante o
arma de fogo, acessório ou munição, de uso permitido, em fato de a arma estar desmuniciada, visto se tratar de delito
desacordo com determinação legal ou regulamentar, no in- de mera conduta ou de perigo abstrato (STJ/AgRg no AREsp
terior de sua residência ou dependência desta, ou, ainda no 603.097/RO, Rel. Ministro Nefi Cordeiro, Sexta Turma, julgado
seu local de trabalho, desde que seja o titular ou o respon- em 3/2/2015, DJe 13/2/2015).
sável legal do estabelecimento ou empresa28. A pena é de Ainda sobre o porte ilegal de arma de fogo de uso permi-
detenção de um a três anos e multa (art. 12). Então, aquele tido, destacamos que o STJ entende que é típica a conduta
que é o responsável legal pela empresa e, em desacordo do praticante de tiro desportivo que transportava a arma
com determinação legal ou regulamentar, possui arma de municiada em desacordo com a guia de tráfego que auto-
fogo de uso permitido no seu local de trabalho, comete, rizava o transporte da arma desmuniciada. (Jurisprudência
em tese, o crime de posse irregular de arma de fogo de uso noticiada no Informativo nº 540/STJ – RHC nº 34.579/RS, Rel.
permitido29 e não omissão de cautela. Ministra Maria Thereza de Assis Moura, Sexta Turma, julgado
Já a omissão de cautela ocorre quando deixar de obser- em 24/4/2014, DJe 6/5/2014).
var as cautelas necessárias para impedir que menor de 18 O disparo de arma de fogo ocorre mediante a conduta
(dezoito) anos ou pessoa portadora de deficiência mental de disparar arma de fogo ou acionar munição em lugar habi-
se apodere de arma de fogo que esteja sob sua posse ou tado ou em suas adjacências, em via pública ou em direção
que seja de sua propriedade30, sujeito à pena de detenção a ela, desde que essa conduta não tenha como finalidade
de um a dois anos e multa (art. 13). Incorrerá no crime de a prática de outro crime36. No parágrafo único do art. 15,
omissão de cautela, nas mesmas penas, o proprietário ou também há previsão de que seria delito inafiançável, po-
diretor responsável de empresa de segurança e transporte rém, este parágrafo também foi julgado inconstitucional
de valores que deixarem de registrar ocorrência policial e de na ADIN 3.112-137. A previsão de pena é de reclusão de 2 a
comunicar à Polícia Federal perda, furto, roubo ou outras 4 anos e multa (art. 15 e parágrafo único).
formas de extravio de arma de fogo, acessório ou munição O delito de posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso
que estejam sob sua guarda, nas primeiras 24 (vinte quatro) restrito ocorre com a conduta de possuir, deter, portar, ad-
horas depois de ocorrido o fato31 (art. 13, parágrafo único). quirir, fornecer, receber, ter em depósito, transportar, ceder,
O porte ilegal de arma de fogo de uso permitido é a ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar,
conduta de portar, deter, adquirir, fornecer, receber, ter manter sob sua guarda ou ocultar arma de fogo, acessório
em depósito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente, ou munição de uso proibido ou restrito, sem autorização e
emprestar, remeter, empregar, manter sob guarda ou ocul- em desacordo com determinação legal ou regulamentar38,
com pena de reclusão de 3 a 6 anos e multa. Nas mesmas
tar arma de fogo, acessório ou munição, de uso permitido,
penas incorrerá quem suprimir ou alterar marca, numeração
sem autorização e em desacordo com determinação legal
ou qualquer sinal de identificação de arma de fogo ou arte-
ou regulamentar32. Há a previsão no texto legal, no pará-
fato; modificar as características de arma de fogo, de forma
grafo único do art. 14, de que este crime é inafiançável,
a torná-la equivalente a arma de fogo de uso proibido ou
salvo quando a arma de fogo estiver registrada em nome
restrito ou para fins de dificultar ou de qualquer modo induzir
do agente. Entretanto, o STF julgou inconstitucional o que
a erro autoridade policial, perito ou juiz; possuir, detiver,
consta no parágrafo único, conforme a ADIN 3.112-133. Feita
fabricar ou empregar artefato explosivo ou incendiário, sem
esta ressalva, a pena para o delito aqui é de reclusão de 2 a
autorização ou em desacordo com determinação legal ou re-
4 anos e multa34 (art. 14 e parágrafo único). Tem-se, ainda,
gulamentar; portar, possuir, adquirir, transportar ou fornecer
que em caso de porte ilegal de munição, a ausência de po- arma de fogo com numeração, marca ou qualquer outro
tencialidade lesiva, vez que a munição não pode ser usada sinal de identificação raspado, suprimido ou adulterado39;
sozinha, configura o crime, por ser ele de mera conduta35. vender, entregar ou fornecer, ainda que gratuitamente, arma
Ressalta-se que, segundo o STF, o tipo penal do art. 14 de fogo, acessório, munição ou explosivo a criança ou ado-
da Lei n° 10.826/2003, ao prever as condutas de portar, lescente; e produzir, recarregar ou reciclar, sem autorização
deter, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, transpor- legal, ou adulterar, de qualquer forma, munição ou explosivo.
tar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, Ressalta-se que o crime de posse ou porte ilegal de arma de
empregar, manter sob guarda ou ocultar arma de fogo, fogo de uso restrito é classificado como de perigo abstrato40
acessório ou munição, de uso permitido, sem autorização (art. 16 e parágrafo único).
e em desacordo com determinação legal e regulamentar, Destacamos aqui que é típica a conduta de possuir arma
de fogo de uso permitido com numeração, marca ou qual-
28
Assunto cobrado na prova: Movens/PC-PA/Investigador/2009. quer outro sinal de identificação raspado, suprimido ou
29
Vunesp/MPE-SP/Analista de Promotoria I/2010.
Legislação Especial

30
Assunto cobrado nas seguintes provas: Fumarc/PM-MG/Oficial da Polícia adulterado, praticada após 23/10/2005, pois, em relação
Militar/2011; UFPR/DPE-PR/Defensor Público/2014. a esse delito, a abolitio criminis temporária cessou nessa
31
Assunto cobrado nas seguintes provas: Fumarc/PM-MG/Oficial da Polícia
Militar/2011; Cespe/Polícia Federal/Agente da Polícia Federal/2012; PC-SP/
Delegado de Polícia/2011; Cespe/TRF 5ª Região/Juiz Federal/2013; IBFC/PC-RJ/ 36
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/Polícia Federal/Agente Admi-
Oficial de Cartório/2013; Cespe/PM-CE/Oficial da Polícia Militar/2014. nistrativo/2014; TJ-PR/Assessor Jurídico/2012.
32
Assunto cobrado nas seguintes provas: Movens/PC-PA/Investigador/2009; 37
Assunto cobrado na prova: Vunesp/PC-CE/Delegado de Polícia Civil de 1a
Cespe/PC-DF/Escrivão de Polícia/2013; MPE-SP/Promotor de Justiça/2006; Classe/2015.
PC-SP/Delegado de Polícia/2011; TJ-PR/Assessor Jurídico/2012. 38
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/MPE-RS/Secretário de Diligên-
33
Assunto cobrado na prova: IBFC/PC-RJ/Oficial de Cartório/2013. cias/2010; Vunesp/PC-CE/Delegado de Polícia Civil de 1ª Classe/2015.
34
Assunto cobrado na prova: Cespe/PC-AL/Agente de Polícia/2012. 39
Assunto cobrado na prova: IBFC/PC-RJ/Oficial de Cartório/2013.
35
COMVEST/UEPB/PM-PB/Soldado da Polícia Militar/2008. 40
Officium/TJ-RS/Juiz/2012.

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
data, termo final da prorrogação dos prazos previstos na Ressalta-se aqui que no texto do Estatuto do Desarma-
redação original dos arts. 30 e 32 da Lei nº 10.826/2003. A mento há a previsão de que os crimes de posse ou porte
nova redação do art. 32 da Lei nº 10.826/2003, trazida pela ilegal de arma de fogo de uso restrito, o comércio ilegal de
Lei nº 11.706/2008, não mais suspendeu, temporariamente, arma de fogo e o tráfico internacional de arma de fogo são
a vigência da norma incriminadora ou instaurou uma abo- insuscetíveis de liberdade provisória (art. 21). Ocorre que
litio criminis temporária – conforme operado pelo art. 30 o STF, na já mencionada aqui ADIN nº 3.112-1, declarou
da mesma lei –, mas instituiu uma causa permanente de ex- inconstitucional essa vedação da lei47.
clusão da punibilidade, consistente na entrega espontânea
da arma. (Jurisprudência noticiada no Informativo nº 519/ Disposições Gerais
STJ – REsp 1311408/RN, Rel. Ministro Sebastião Reis Júnior,
Terceira Seção, julgado em 13/3/2013, DJe 20/5/2013). Ade- O Estatuto do Desarmamento traz algumas disposições
mais, o porte de arma de fogo com numeração raspada, gerais sobre a matéria de seu texto. Entre elas, está a possi-
previsto no parágrafo único, inciso IV, do art. 16, refere-se bilidade de o Ministério da Justiça celebrar convênios para
tanto à arma de fogo de uso permitido como à arma de o cumprimento do que é previsto neste Estatuto (art. 22).
fogo de uso proibido/restrito41. Traz, também, que serão disciplinadas, em ato do chefe
Uma observação importante aqui é com relação aos do Poder Executivo Federal, mediante proposta do Coman-
delitos dos arts. 12, 14 e 16 do Estatuto do Desarmamen- do do Exército a classificação legal, técnica e geral bem como
to. O STJ posiciona-se no sentido de que para a caracte- a definição das armas de fogo e demais produtos controla-
rização desses delitos não é necessário que a arma seja dos, de usos proibidos, restritos, permitidos ou obsoletos
apreendida e periciada, uma vez que são crimes de perigo e de valor histórico48 (art. 23).
abstrato. Ocorre que, uma vez apreendidas e periciadas, Todas as munições comercializadas no País deverão estar
se ficar demonstrado que a arma é totalmente inapta a acondicionadas em embalagens com sistema de código de
realizar disparos, não estará caracterizado o crime, desde barras, gravado na caixa, visando possibilitar a identificação
que desmuniciada. (Jurisprudência noticiada no Informativo do fabricante e do adquirente, além de outras informações
nº 544 STJ – AgRg no AREsp 397.473/DF, Rel. Ministro Marco definidas no regulamento do Estatuto do Desarmamento
Aurélio Bellizze, Quinta Turma, julgado em 19/8/2014, DJe (art. 23, § 1º). Observa-se que, para os órgãos mencionados
25/8/2014). como exceção à regra da proibição de porte de arma de fogo
O comércio ilegal de arma de fogo é a conduta de ad- no território nacional (art. 6º), somente serão expedidas au-
quirir, alugar, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em torizações de compra de munição com identificação do lote
depósito, desmontar, montar, remontar, adulterar, vender, e do adquirente no culote dos projéteis (art. 23, §§ 1º e 2º).
expor à venda, ou de qualquer forma utilizar, em proveito As armas de fogo que forem fabricadas a partir de um
próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou ano da data de publicação deste Estatuto, ou seja, a partir
industrial, arma de fogo, acessório ou munição, sem auto- de 22 de dezembro de 2003, conterão dispositivo intrínseco
rização ou em desacordo com determinação legal ou regu- de segurança e de identificação, gravado no corpo da arma,
lamentar42. Será equiparada à atividade comercial ou indus- definido pelo regulamento desta Lei, exclusive para os órgãos
trial, para efeito deste artigo, qualquer forma de prestação previstos no art. 6o (art. 23, § 3º). Ademais, é possível que
de serviços, fabricação ou comércio irregular ou clandestino, as instituições de ensino policial e as guardas municipais
inclusive o exercido em residência. A pena prevista para este adquiram insumos e máquinas de recarga de munição para
delito é de 4 a 8 anos e multa (art. 17 e parágrafo único). o fim exclusivo de suprimento de suas atividades, mediante
Por fim, tem-se o crime de tráfico internacional de autorização concedida nos termos definidos em regulamento
arma de fogo que é importar, exportar, favorecer a entrada (art. 23, § 4º).
ou saída do território nacional, a qualquer título, de arma Excetuadas as atribuições do Sinarm, é de competência
do Comando do Exército autorizar e fiscalizar a produção,
de fogo, acessório ou munição, sem autorização da auto-
exportação, importação, desembaraço alfandegário e o co-
ridade competente, com pena de reclusão de 4 a 8 anos e
mércio de armas de fogo e demais produtos controlados,
multa43 (art. 18).
inclusive o registro e o porte de trânsito de arma de fogo de
Em havendo a utilização de armas de fogo, acessórios
colecionadores, atiradores e caçadores (art. 24).
ou munições de uso proibido ou restrito, terá a pena au- As armas de fogo que forem apreendidas, após a elabo-
mentada da metade o crime de comércio ilegal de arma ração do laudo pericial e sua juntada aos autos, quando não
de fogo44 e tráfico internacional de arma de fogo (art. 19). A mais interessarem à persecução penal serão encaminhadas
pena também será aumentada da metade, com relação aos pelo juiz competente ao Comando do Exército, no prazo máxi-
crimes de porte ilegal de arma de fogo de uso permitido, mo de 48 (quarenta e oito) horas, para destruição ou doação
disparo de arma de fogo, posse ou porte ilegal de arma aos órgãos de segurança pública ou às Forças Armadas, na
de fogo de uso restrito, comércio ilegal de arma de fogo e forma do regulamento (art. 25). As que receberam parecer
tráfico internacional caso esses delitos sejam praticados por favorável à doação, obedecidos o padrão e a dotação de
integrantes dos órgãos que mencionamos como exceções à cada Força Armada ou órgão de segurança pública, atendidos
proibição do porte de arma45 (art. 6º), além de os integran- os critérios de prioridade estabelecidos pelo Ministério da
tes empregados das empresas de segurança privada e de Justiça e ouvido o Comando do Exército, serão arroladas em
transporte de valores e com uso de armas de fogo utilizadas relatório reservado trimestral a ser encaminhado àquelas
Legislação Especial

em entidades desportivas46 (art. 20). instituições, abrindo-se-lhes prazo para manifestação de in-
41
Vunesp/PC-CE/Delegado de Polícia Civil de 1ª Classe/2015.
teresse (art. 25, § 1º). A relação das armas a serem doadas
42
Assunto cobrado nas seguintes provas: PC-SP/Delegado de Polícia/2011; TJ-PR/ será enviada pelo Comando do Exército ao juiz competen-
Assessor Jurídico/2012. te, que determinará o perdimento em favor da instituição
43
Assunto cobrado nas seguintes provas: MPE-SP/Promotor de Justiça/2006; beneficiada (art. 25, § 2º). O transporte das armas doadas
PC-SP/Delegado de Polícia/2011; TJ-PR/Assessor Jurídico/2012.
44
FCC/TRF 4ª Região/Técnico Judiciário/Segurança e Transporte/2014.
45
Assunto cobrado na prova: Cespe/TJ-RO/Analista Judiciário/Oficial de Justi- 47
Assunto cobrado nas seguintes provas: IBFC/PC-RJ/Oficial de Cartório/2013;
ça/2012. UFPR/DPE-PR/Defensor Público/2014.
46
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/MPE-PI/Promotor de Justi- 48
Assunto cobrado na prova: FCC/TRT 1ª Região (RJ)/Técnico Judiciário/ Segu-
ça/2012; Cespe/DPE-RR/Defensor Público/2013. rança/2011; PC-SP/Delegado de Polícia/2011.

Este eBook foi adquirido por ANA PAULA TORQUATO DA COSTA - CPF: 628.848.913-15. 7
A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
será de responsabilidade da instituição beneficiada, que previsto no Estatuto para solicitar o registro é até o dia 31
deverá proceder ao cadastramento no Sinarm (armas de uso de dezembro de 2008. A Lei nº 11.922 é que prorrogou para
permitido) ou no Sigma (armas de uso restrito), conforme 31 de dezembro de 2009.
o caso49 (art. 25, § 3º). Para cumprir a exigência de registro das armas ainda não
Há a disposição para que o Poder Judiciário institua ins- registradas, o proprietário de arma de fogo poderá obter,
trumentos para o encaminhamento ao Sinarm ou ao Sigma, no Departamento de Polícia Federal, certificado de registro
conforme se trate de arma de uso permitido ou de uso res- provisório, expedido na forma do § 4º do art. 5º desta Lei
trito, semestralmente, da relação de armas acauteladas em (parágrafo único do art. 30). Destaca-se que a abolitio cri-
juízo, mencionando suas características e o local onde se minis temporária prevista na Lei nº 10.826/2003 aplica-se
encontram (art. 25, § 5º). ao crime de posse de arma de fogo de uso permitido com
Ressalta-se que, pelo Estatuto do Desarmamento, são numeração, marca ou qualquer outro sinal de identificação
vedadas a fabricação, a venda, a comercialização e a im- raspado, suprimido ou adulterado, praticado somente até
portação de brinquedos, réplicas e simulacros de armas 23/10/2005 (Súmula nº 513, STJ). Ainda sobre a abolitio
de fogo, que com estas se possam confundir. A exceção criminis, a jurisprudencia do STJ é pacífica no sentido de
à vedação fica com relação às réplicas e aos simulacros ser atípica a conduta de possuir arma de fogo ou munição,
destinados à instrução, ao adestramento, ou à coleção de seja de uso permitido ou restrito, sem autorização ou em
usuário autorizado, nas condições fixadas pelo Comando desconformidade com determinação legal ou regulamentar,
do Exército50 (art. 26 e parágrafo único). Destacamos aqui no período abrangido pela abolitio criminis temporária pre-
que, para efeito de tipificação dos crimes do Estatuto do vista no art. 30 da Lei nº 10.826/2003, cujo prazo de entrega
Desarmamento, as réplicas e simulacros de armas de fogo foi prorrogado pelas Leis nº 10.884/2004, 11.118/2005 e
nunca se equiparam às armas de fogo51. 11.191/2005, permitindo a devolução das armas e munições
Caberá ao Comando do Exército autorizar, excepcio- até 23 de outubro de 2005. (Jurisprudência noticiada no
nalmente, a aquisição de armas de fogo de uso restrito52. Informativo nº 506/STJ – HC nº 187.023/MS, Rel. Ministro
Entretanto, isso não se aplica às aquisições dos Comandos Marco Aurélio Bellizze, Quinta Turma, julgado em 9/10/2012,
Militares (art. 27 e parágrafo único). DJe 17/10/2012).
Nos termos do Estatuto do Desarmamento é vedado O Estatuto prevê que os possuidores e proprietários de
ao menor de 25 (vinte e cinco) anos adquirir arma de fogo, armas de fogo adquiridas regularmente poderão, a qualquer
ressalvados os integrantes das Forças Armadas; os inte- tempo, entregá-las à Polícia Federal, mediante recibo e inde-
grantes de órgãos referidos nos incisos do caput do art. nização (art. 31). Além disso, poderão entregar a arma de
144 da Constituição Federal; os integrantes das guardas fogo, espontaneamente, mediante recibo, e, presumindo-se
municipais das capitais dos Estados e dos Municípios com de boa-fé, serão indenizados, na forma do regulamento,
mais de 500.000 (quinhentos mil) habitantes, nas condições ficando extinta a punibilidade de eventual posse irregular
estabelecidas no regulamento desta Lei; os agentes ope- da referida arma54 (art. 32). Sobre o assunto, é pacífico no STF
racionais da Agência Brasileira de Inteligência; os agentes que a conduta de posse de arma de fogo com numeração
do Departamento de Segurança do Gabinete de Segurança raspada não está abrangida pela vacatio legis prevista nos
Institucional da Presidência da República; os integrantes arts. 30 a 32 da Lei 10.826/200355.
dos órgãos policiais referidos no art. 51, IV, e no art. 52, Há, ainda, previsão de multa de R$ 100.000,00 (cem mil
XIII, da Constituição Federal; os integrantes do quadro efe- reais) a R$ 300.000,00 (trezentos mil reais), conforme espe-
tivo dos agentes e guardas prisionais; os integrantes das cificar o regulamento desta Lei, à empresa de transporte aé-
escoltas de presos; as guardas portuárias; e os integrantes reo, rodoviário, ferroviário, marítimo, fluvial ou lacustre que
das Carreiras de Auditoria da Receita Federal do Brasil e deliberadamente, por qualquer meio, faça, promova, facilite
de Auditoria- Fiscal do Trabalho, cargos de Auditor-Fiscal ou permita o transporte de arma ou munição sem a devida
e Analista Tributário53 (art. 28). autorização ou com inobservância das normas de seguran-
As autorizações de porte de armas de fogo já concedidas ça e também será aplicada multa à empresa de produção
expirar-se-ão 90 (noventa) dias após a publicação do Estatuto ou comércio de armamentos que realize publicidade para
do Desarmamento. Poderá o detentor de autorização com venda, estimulando o uso indiscriminado de armas de fogo,
prazo de validade superior a 90 (noventa) dias renová-la, exceto nas publicações especializadas56 (art. 33 e incisos).
perante a Polícia Federal, no prazo de 90 dias após a publi- Por fim, os promotores de eventos em locais fechados,
cação, sem ônus para o requerente (art. 29). com aglomeração superior a mil pessoas, adotarão, sob pena
Com relação aos possuidores e proprietários de arma de responsabilidade, as providências necessárias para evi-
de fogo de uso permitido ainda não registrada, deverão tar o ingresso de pessoas armadas, ressalvados os eventos
solicitar seu registro até o dia 31 de dezembro de 2009, garantidos pelo inciso VI do art. 5o da Constituição Federal
mediante apresentação de documento de identificação (art. 34 e parágrafo único).
pessoal e comprovante de residência fixa, acompanhados
de nota fiscal de compra ou comprovação da origem lícita Disposições Finais
da posse, pelos meios de prova admitidos em direito, ou
declaração firmada na qual constem as características da Pelas disposições finais, é proibida a comercialização
arma e a sua condição de proprietário, ficando este dis- de arma de fogo e munição em todo o território nacional57,
Legislação Especial

pensado do pagamento de taxas e do cumprimento das salvo para as entidades previstas no art. 6º, que já listamos
demais exigências (art. 30). Ressalta-se aqui que o prazo quando tratamos do capítulo “Do porte”. Entretanto, essa ve-
dação dependia de aprovação mediante referendo popular,
49
Assunto cobrado na prova: Cespe/STF/Técnico Judiciário/Segurança Judiciá- que ocorreu em outubro de 2005. A pergunta do referendo
ria/2013.
50
Assunto cobrado nas seguintes provas: Fepese/DPE-SC/Analista Técnico/2013; 54
Assunto cobrado na prova: OFFICIUM /TJ-RS/Juiz/2012.
Officium/TJ-RS/Juiz/2012. 55
STF/HC nº 117206, Relator(a): Min. Cármen Lúcia, Segunda Turma, julgado em
51
UFPR/DPE-PR/Defensor Público/2014. 5/11/2013, Processo Eletrônico DJe-228 divulg 19/11/2013 public 20/11/2013.
52
Assunto cobrado na prova: Movens/PC-PA/Escrivão de Polícia Civil/2009. 56
Cespe/PC-RN/Escrivão de Polícia Civil/2009.
53
TJ-PR/Juiz/2010; Cespe/TJ-RO/Analista Judiciário/Oficial de Justiça/2012. 57
Assunto cobrado na prova: Movens/PC-PA/Investigador/2009.

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foi “o comércio de armas de fogo e munição deve ser proi- I – comprovação de idoneidade, com a apresentação de
bido no Brasil?” e a resposta vencedora foi “não”. Como não certidões negativas de antecedentes criminais fornecidas
houve aprovação do referendo, a proibição não entrou em pela Justiça Federal, Estadual, Militar e Eleitoral e de não
vigor (art. 35, §§ 1º e 2º). estar respondendo a inquérito policial ou a processo criminal,
que poderão ser fornecidas por meios eletrônicos; (Redação
Lei no 10.826, de 22 de Dezembro de 2003 dada pela Lei nº 11.706, de 2008)
II – apresentação de documento comprobatório de ocu-
Dispõe sobre registro, posse e pação lícita e de residência certa;
comercialização de armas de fogo III – comprovação de capacidade técnica e de aptidão
e munição, sobre o Sistema Na- psicológica para o manuseio de arma de fogo, atestadas na
cional de Armas – Sinarm, define forma disposta no regulamento desta Lei.
crimes e dá outras providências. § 1o O Sinarm expedirá autorização de compra de arma
de fogo após atendidos os requisitos anteriormente esta-
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso belecidos, em nome do requerente e para a arma indicada,
Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: sendo intransferível esta autorização.
§ 2o A aquisição de munição somente poderá ser feita no
CAPÍTULO I calibre correspondente à arma registrada e na quantidade
Do Sistema Nacional de Armas estabelecida no regulamento desta Lei. (Redação dada pela
Lei nº 11.706, de 2008)
Art. 1o O Sistema Nacional de Armas – Sinarm, instituído § 3o A empresa que comercializar arma de fogo em terri-
no Ministério da Justiça, no âmbito da Polícia Federal, tem tório nacional é obrigada a comunicar a venda à autoridade
circunscrição em todo o território nacional. competente, como também a manter banco de dados com
Art. 2o Ao Sinarm compete: todas as características da arma e cópia dos documentos
I – identificar as características e a propriedade de armas previstos neste artigo.
de fogo, mediante cadastro; § 4o A empresa que comercializa armas de fogo, acessó-
II – cadastrar as armas de fogo produzidas, importadas rios e munições responde legalmente por essas mercadorias,
e vendidas no País; ficando registradas como de sua propriedade enquanto não
III – cadastrar as autorizações de porte de arma de fogo forem vendidas.
e as renovações expedidas pela Polícia Federal; § 5o A comercialização de armas de fogo, acessórios e
IV – cadastrar as transferências de propriedade, extravio, munições entre pessoas físicas somente será efetivada me-
furto, roubo e outras ocorrências suscetíveis de alterar os diante autorização do Sinarm.
dados cadastrais, inclusive as decorrentes de fechamento de § 6o A expedição da autorização a que se refere o § 1o
empresas de segurança privada e de transporte de valores;
será concedida, ou recusada com a devida fundamentação,
V – identificar as modificações que alterem as caracte-
no prazo de 30 (trinta) dias úteis, a contar da data do reque-
rísticas ou o funcionamento de arma de fogo;
rimento do interessado.
VI – integrar no cadastro os acervos policiais já existentes;
§ 7o O registro precário a que se refere o § 4o prescinde do
VII – cadastrar as apreensões de armas de fogo, inclusive
cumprimento dos requisitos dos incisos I, II e III deste artigo.
as vinculadas a procedimentos policiais e judiciais;
§ 8o Estará dispensado das exigências constantes do in-
VIII – cadastrar os armeiros em atividade no País, bem
ciso III do caput deste artigo, na forma do regulamento, o
como conceder licença para exercer a atividade;
IX – cadastrar mediante registro os produtores, atacadis- interessado em adquirir arma de fogo de uso permitido que
tas, varejistas, exportadores e importadores autorizados de comprove estar autorizado a portar arma com as mesmas
armas de fogo, acessórios e munições; características daquela a ser adquirida. (Incluído pela Lei nº
X – cadastrar a identificação do cano da arma, as caracte- 11.706, de 2008)
rísticas das impressões de raiamento e de microestriamento Art. 5o O certificado de Registro de Arma de Fogo, com
de projétil disparado, conforme marcação e testes obrigato- validade em todo o território nacional, autoriza o seu pro-
riamente realizados pelo fabricante; prietário a manter a arma de fogo exclusivamente no interior
XI – informar às Secretarias de Segurança Pública dos de sua residência ou domicílio, ou dependência desses, ou,
Estados e do Distrito Federal os registros e autorizações de ainda, no seu local de trabalho, desde que seja ele o titular
porte de armas de fogo nos respectivos territórios, bem como ou o responsável legal pelo estabelecimento ou empresa.
manter o cadastro atualizado para consulta. (Redação dada pela Lei nº 10.884, de 2004)
Parágrafo único. As disposições deste artigo não alcan- § 1o O certificado de registro de arma de fogo será ex-
çam as armas de fogo das Forças Armadas e Auxiliares, bem pedido pela Polícia Federal e será precedido de autorização
como as demais que constem dos seus registros próprios. do Sinarm.
§ 2o Os requisitos de que tratam os incisos I, II e III do art.
CAPÍTULO II 4o deverão ser comprovados periodicamente, em período
Do Registro não inferior a 3 (três) anos, na conformidade do estabelecido
no regulamento desta Lei, para a renovação do Certificado
Legislação Especial

Art. 3o É obrigatório o registro de arma de fogo no órgão de Registro de Arma de Fogo.


competente. § 3o O proprietário de arma de fogo com certificados
Parágrafo único. As armas de fogo de uso restrito serão de registro de propriedade expedido por órgão estadual ou
registradas no Comando do Exército, na forma do regula- do Distrito Federal até a data da publicação desta Lei que
mento desta Lei. não optar pela entrega espontânea prevista no art. 32 desta
Art. 4o Para adquirir arma de fogo de uso permitido o Lei deverá renová-lo mediante o pertinente registro federal,
interessado deverá, além de declarar a efetiva necessidade, até o dia 31 de dezembro de 2008, ante a apresentação de
atender aos seguintes requisitos: documento de identificação pessoal e comprovante de resi-

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dência fixa, ficando dispensado do pagamento de taxas e do ração ou instituição, mesmo fora de serviço, nos termos do
cumprimento das demais exigências constantes dos incisos regulamento desta Lei, com validade em âmbito nacional
I a III do caput do art. 4o desta Lei. (Redação dada pela Lei para aquelas constantes dos incisos I, II, V e VI. (Redação
nº 11.706, de 2008) dada pela Lei nº 11.706, de 2008)
§ 4o Para fins do cumprimento do disposto no § 3o deste § 1º (Revogado pela Lei nº 11.706, de 2008)
artigo, o proprietário de arma de fogo poderá obter, no De- § 1º-B. Os integrantes do quadro efetivo de agentes e
partamento de Polícia Federal, certificado de registro provi- guardas prisionais poderão portar arma de fogo de proprie-
sório, expedido na rede mundial de computadores – internet, dade particular ou fornecida pela respectiva corporação ou
na forma do regulamento e obedecidos os procedimentos a instituição, mesmo fora de serviço, desde que estejam: (In-
seguir: (Redação dada pela Lei nº 11.706, de 2008) cluído pela Lei nº 12.993, de 2014)
I – emissão de certificado de registro provisório pela in- I – submetidos a regime de dedicação exclusiva; (Incluído
ternet, com validade inicial de 90 (noventa) dias; e (Incluído pela Lei nº 12.993, de 2014)
pela Lei nº 11.706, de 2008) II – sujeitos à formação funcional, nos termos do regula-
II – revalidação pela unidade do Departamento de Polí- mento; e (Incluído pela Lei nº 12.993, de 2014)
cia Federal do certificado de registro provisório pelo prazo III – subordinados a mecanismos de fiscalização e de con-
que estimar como necessário para a emissão definitiva do trole interno. (Incluído pela Lei nº 12.993, de 2014)
certificado de registro de propriedade. (Incluído pela Lei nº § 1º-C. (Vetado). (Incluído pela Lei nº 12.993, de 2014)
11.706, de 2008) § 2o A autorização para o porte de arma de fogo aos in-
tegrantes das instituições descritas nos incisos V, VI, VII e X
CAPÍTULO III do caput deste artigo está condicionada à comprovação do
Do Porte requisito a que se refere o inciso III do caput do art. 4o desta
Lei nas condições estabelecidas no regulamento desta Lei.
Art. 6o É proibido o porte de arma de fogo em todo o (Redação dada pela Lei nº 11.706, de 2008)
território nacional, salvo para os casos previstos em legis- § 3o A autorização para o porte de arma de fogo das guar-
lação própria e para: das municipais está condicionada à formação funcional de
I – os integrantes das Forças Armadas; seus integrantes em estabelecimentos de ensino de atividade
II – os integrantes de órgãos referidos nos incisos do caput policial, à existência de mecanismos de fiscalização e de con-
do art. 144 da Constituição Federal; trole interno, nas condições estabelecidas no regulamento
III – os integrantes das guardas municipais das capitais desta Lei, observada a supervisão do Ministério da Justiça.
dos Estados e dos Municípios com mais de 500.000 (qui- (Redação dada pela Lei nº 10.884, de 2004)
nhentos mil) habitantes, nas condições estabelecidas no § 4o Os integrantes das Forças Armadas, das polícias fede-
regulamento desta Lei; rais e estaduais e do Distrito Federal, bem como os militares
IV – os integrantes das guardas municipais dos Municípios dos Estados e do Distrito Federal, ao exercerem o direito
com mais de 50.000 (cinquenta mil) e menos de 500.000 descrito no art. 4o, ficam dispensados do cumprimento do
(quinhentos mil) habitantes, quando em serviço; (Redação disposto nos incisos I, II e III do mesmo artigo, na forma do
dada pela Lei nº 10.867, de 2004) regulamento desta Lei.
V – os agentes operacionais da Agência Brasileira de § 5o Aos residentes em áreas rurais, maiores de 25 (vinte
Inteligência e os agentes do Departamento de Segurança e cinco) anos que comprovem depender do emprego de arma
do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da de fogo para prover sua subsistência alimentar familiar será
República; concedido pela Polícia Federal o porte de arma de fogo, na
VI – os integrantes dos órgãos policiais referidos no art. categoria caçador para subsistência, de uma arma de uso
51, IV, e no art. 52, XIII, da Constituição Federal; permitido, de tiro simples, com 1 (um) ou 2 (dois) canos,
VII – os integrantes do quadro efetivo dos agentes e de alma lisa e de calibre igual ou inferior a 16 (dezesseis),
guardas prisionais, os integrantes das escoltas de presos e desde que o interessado comprove a efetiva necessidade em
as guardas portuárias; requerimento ao qual deverão ser anexados os seguintes
VIII – as empresas de segurança privada e de transporte documentos: (Redação dada pela Lei nº 11.706, de 2008)
de valores constituídas, nos termos desta Lei; I – documento de identificação pessoal; (Incluído pela
IX – para os integrantes das entidades de desporto legal- Lei nº 11.706, de 2008)
mente constituídas, cujas atividades esportivas demandem II – comprovante de residência em área rural; e (Incluído
o uso de armas de fogo, na forma do regulamento desta pela Lei nº 11.706, de 2008)
Lei, observando-se, no que couber, a legislação ambiental. III – atestado de bons antecedentes. (Incluído pela Lei
X – integrantes das Carreiras de Auditoria da Receita Fe- nº 11.706, de 2008)
deral do Brasil e de Auditoria-Fiscal do Trabalho, cargos de § 6o O caçador para subsistência que der outro uso à
Auditor-Fiscal e Analista Tributário. (Redação dada pela Lei sua arma de fogo, independentemente de outras tipificações
nº 11.501, de 2007) penais, responderá, conforme o caso, por porte ilegal ou por
XI – os tribunais do Poder Judiciário descritos no art. 92 da disparo de arma de fogo de uso permitido. (Redação dada
Constituição Federal e os Ministérios Públicos da União e dos pela Lei nº 11.706, de 2008)
Legislação Especial

Estados, para uso exclusivo de servidores de seus quadros § 7o Aos integrantes das guardas municipais dos Muni-
pessoais que efetivamente estejam no exercício de funções cípios que integram regiões metropolitanas será autorizado
de segurança, na forma de regulamento a ser emitido pelo porte de arma de fogo, quando em serviço. (Incluído pela
Conselho Nacional de Justiça – CNJ e pelo Conselho Nacional Lei nº 11.706, de 2008)
do Ministério Público – CNMP. (Incluído pela Lei nº 12.694, Art. 7o As armas de fogo utilizadas pelos empregados
de 2012) das empresas de segurança privada e de transporte de valo-
§ 1o As pessoas previstas nos incisos I, II, III, V e VI do res, constituídas na forma da lei, serão de propriedade, res-
caput deste artigo terão direito de portar arma de fogo de ponsabilidade e guarda das respectivas empresas, somente
propriedade particular ou fornecida pela respectiva corpo- podendo ser utilizadas quando em serviço, devendo essas

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observar as condições de uso e de armazenagem estabeleci- tantes estrangeiros em competição internacional oficial de
das pelo órgão competente, sendo o certificado de registro tiro realizada no território nacional.
e a autorização de porte expedidos pela Polícia Federal em Art. 10. A autorização para o porte de arma de fogo de
nome da empresa. uso permitido, em todo o território nacional, é de compe-
§ 1o O proprietário ou diretor responsável de empresa tência da Polícia Federal e somente será concedida após
de segurança privada e de transporte de valores responderá autorização do Sinarm.
pelo crime previsto no parágrafo único do art. 13 desta Lei, § 1o A autorização prevista neste artigo poderá ser con-
sem prejuízo das demais sanções administrativas e civis, se cedida com eficácia temporária e territorial limitada, nos ter-
deixar de registrar ocorrência policial e de comunicar à Polícia mos de atos regulamentares, e dependerá de o requerente:
Federal perda, furto, roubo ou outras formas de extravio de I – demonstrar a sua efetiva necessidade por exercício
armas de fogo, acessórios e munições que estejam sob sua de atividade profissional de risco ou de ameaça à sua inte-
guarda, nas primeiras 24 (vinte e quatro) horas depois de gridade física;
ocorrido o fato. II – atender às exigências previstas no art. 4o desta Lei;
§ 2o A empresa de segurança e de transporte de valores III – apresentar documentação de propriedade de arma
deverá apresentar documentação comprobatória do pre- de fogo, bem como o seu devido registro no órgão compe-
enchimento dos requisitos constantes do art. 4o desta Lei tente.
quanto aos empregados que portarão arma de fogo. § 2o A autorização de porte de arma de fogo, prevista
§ 3o A listagem dos empregados das empresas referidas neste artigo, perderá automaticamente sua eficácia caso o
neste artigo deverá ser atualizada semestralmente junto ao portador dela seja detido ou abordado em estado de embria-
Sinarm. guez ou sob efeito de substâncias químicas ou alucinógenas.
Art. 7o-A. As armas de fogo utilizadas pelos servidores Art. 11. Fica instituída a cobrança de taxas, nos valores
das instituições descritas no inciso XI do art. 6o serão de constantes do Anexo desta Lei, pela prestação de serviços
propriedade, responsabilidade e guarda das respectivas relativos:
instituições, somente podendo ser utilizadas quando em I – ao registro de arma de fogo;
serviço, devendo estas observar as condições de uso e de II – à renovação de registro de arma de fogo;
armazenagem estabelecidas pelo órgão competente, sendo III – à expedição de segunda via de registro de arma de
o certificado de registro e a autorização de porte expedidos fogo;
pela Polícia Federal em nome da instituição. (Incluído pela IV – à expedição de porte federal de arma de fogo;
Lei nº 12.694, de 2012) V – à renovação de porte de arma de fogo;
§ 1o A autorização para o porte de arma de fogo de que VI – à expedição de segunda via de porte federal de arma
trata este artigo independe do pagamento de taxa. (Incluído de fogo.
pela Lei nº 12.694, de 2012) § 1o Os valores arrecadados destinam-se ao custeio e à
§ 2o O presidente do tribunal ou o chefe do Ministério manutenção das atividades do Sinarm, da Polícia Federal
Público designará os servidores de seus quadros pessoais no e do Comando do Exército, no âmbito de suas respectivas
exercício de funções de segurança que poderão portar arma responsabilidades.
de fogo, respeitado o limite máximo de 50% (cinquenta por § 2o São isentas do pagamento das taxas previstas neste
cento) do número de servidores que exerçam funções de
artigo as pessoas e as instituições a que se referem os incisos
segurança. (Incluído pela Lei nº 12.694, de 2012)
I a VII e X e o § 5o do art. 6o desta Lei. (Redação dada pela Lei
§ 3o O porte de arma pelos servidores das instituições de
nº 11.706, de 2008)
que trata este artigo fica condicionado à apresentação de do-
Art. 11-A. O Ministério da Justiça disciplinará a forma e
cumentação comprobatória do preenchimento dos requisitos
as condições do credenciamento de profissionais pela Polícia
constantes do art. 4o desta Lei, bem como à formação fun-
Federal para comprovação da aptidão psicológica e da capa-
cional em estabelecimentos de ensino de atividade policial
cidade técnica para o manuseio de arma de fogo. (Incluído
e à existência de mecanismos de fiscalização e de controle
pela Lei nº 11.706, de 2008)
interno, nas condições estabelecidas no regulamento desta
Lei. (Incluído pela Lei nº 12.694, de 2012) § 1o Na comprovação da aptidão psicológica, o valor co-
§ 4o A listagem dos servidores das instituições de que brado pelo psicólogo não poderá exceder ao valor médio
trata este artigo deverá ser atualizada semestralmente no dos honorários profissionais para realização de avaliação
Sinarm. (Incluído pela Lei nº 12.694, de 2012) psicológica constante do item 1.16 da tabela do Conselho
§ 5o As instituições de que trata este artigo são obrigadas Federal de Psicologia. (Incluído pela Lei nº 11.706, de 2008)
a registrar ocorrência policial e a comunicar à Polícia Federal § 2o Na comprovação da capacidade técnica, o valor co-
eventual perda, furto, roubo ou outras formas de extravio brado pelo instrutor de armamento e tiro não poderá exce-
de armas de fogo, acessórios e munições que estejam sob der R$ 80,00 (oitenta reais), acrescido do custo da munição.
sua guarda, nas primeiras 24 (vinte e quatro) horas depois (Incluído pela Lei nº 11.706, de 2008)
de ocorrido o fato. (Incluído pela Lei nº 12.694, de 2012) § 3o A cobrança de valores superiores aos previstos nos
Art. 8o As armas de fogo utilizadas em entidades despor- §§ 1o e 2o deste artigo implicará o descredenciamento do
tivas legalmente constituídas devem obedecer às condições profissional pela Polícia Federal. (Incluído pela Lei nº 11.706,
de 2008)
Legislação Especial

de uso e de armazenagem estabelecidas pelo órgão compe-


tente, respondendo o possuidor ou o autorizado a portar a
arma pela sua guarda na forma do regulamento desta Lei. CAPÍTULO IV
Art. 9o Compete ao Ministério da Justiça a autorização Dos Crimes e das Penas
do porte de arma para os responsáveis pela segurança de
cidadãos estrangeiros em visita ou sediados no Brasil e, ao Posse irregular de arma de fogo de uso permitido
Comando do Exército, nos termos do regulamento desta Lei, Art. 12. Possuir ou manter sob sua guarda arma de fogo,
o registro e a concessão de porte de trânsito de arma de fogo acessório ou munição, de uso permitido, em desacordo com
para colecionadores, atiradores e caçadores e de represen- determinação legal ou regulamentar, no interior de sua re-

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
sidência ou dependência desta, ou, ainda no seu local de Comércio ilegal de arma de fogo
trabalho, desde que seja o titular ou o responsável legal do Art. 17. Adquirir, alugar, receber, transportar, conduzir,
estabelecimento ou empresa: ocultar, ter em depósito, desmontar, montar, remontar, adul-
Pena – detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. terar, vender, expor à venda, ou de qualquer forma utilizar,
Omissão de cautela em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade co-
Art. 13. Deixar de observar as cautelas necessárias para mercial ou industrial, arma de fogo, acessório ou munição,
impedir que menor de 18 (dezoito) anos ou pessoa portadora sem autorização ou em desacordo com determinação legal
de deficiência mental se apodere de arma de fogo que esteja ou regulamentar:
sob sua posse ou que seja de sua propriedade: Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.
Pena – detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos, e multa. Parágrafo único. Equipara-se à atividade comercial ou
Parágrafo único. Nas mesmas penas incorrem o pro- industrial, para efeito deste artigo, qualquer forma de pres-
prietário ou diretor responsável de empresa de segurança tação de serviços, fabricação ou comércio irregular ou clan-
e transporte de valores que deixarem de registrar ocorrência destino, inclusive o exercido em residência.
policial e de comunicar à Polícia Federal perda, furto, roubo
ou outras formas de extravio de arma de fogo, acessório ou Tráfico internacional de arma de fogo
munição que estejam sob sua guarda, nas primeiras 24 (vinte Art. 18. Importar, exportar, favorecer a entrada ou saída
quatro) horas depois de ocorrido o fato. do território nacional, a qualquer título, de arma de fogo,
acessório ou munição, sem autorização da autoridade com-
Porte ilegal de arma de fogo de uso permitido petente:
Art. 14. Portar, deter, adquirir, fornecer, receber, ter em Pena – reclusão de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.
depósito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente, em- Art. 19. Nos crimes previstos nos arts. 17 e 18, a pena
prestar, remeter, empregar, manter sob guarda ou ocultar é aumentada da metade se a arma de fogo, acessório ou
arma de fogo, acessório ou munição, de uso permitido, sem munição forem de uso proibido ou restrito.
autorização e em desacordo com determinação legal ou re- Art. 20. Nos crimes previstos nos arts. 14, 15, 16, 17 e
gulamentar: 18, a pena é aumentada da metade se forem praticados por
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. integrante dos órgãos e empresas referidas nos arts. 6o, 7o
Parágrafo único. O crime previsto neste artigo é inafian- e 8o desta Lei.
çável, salvo quando a arma de fogo estiver registrada em Art. 21. Os crimes previstos nos arts. 16, 17 e 18 são
nome do agente. (Vide Adin 3.112-1) insuscetíveis de liberdade provisória. (Vide Adin 3.112-1)

Disparo de arma de fogo CAPÍTULO V


Art. 15. Disparar arma de fogo ou acionar munição em Disposições Gerais
lugar habitado ou em suas adjacências, em via pública ou
em direção a ela, desde que essa conduta não tenha como Art. 22. O Ministério da Justiça poderá celebrar convênios
finalidade a prática de outro crime: com os Estados e o Distrito Federal para o cumprimento do
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. disposto nesta Lei.
Art. 23. A classificação legal, técnica e geral bem como a
Parágrafo único. O crime previsto neste artigo é inafian-
definição das armas de fogo e demais produtos controlados,
çável. (Vide Adin 3.112-1)
de usos proibidos, restritos, permitidos ou obsoletos e de
valor histórico serão disciplinadas em ato do chefe do Poder
Posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso restrito
Executivo Federal, mediante proposta do Comando do Exér-
Art. 16. Possuir, deter, portar, adquirir, fornecer, receber,
cito. (Redação dada pela Lei nº 11.706, de 2008)
ter em depósito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente,
§ 1o Todas as munições comercializadas no País deverão
emprestar, remeter, empregar, manter sob sua guarda ou
estar acondicionadas em embalagens com sistema de código
ocultar arma de fogo, acessório ou munição de uso proibido de barras, gravado na caixa, visando possibilitar a identifica-
ou restrito, sem autorização e em desacordo com determi- ção do fabricante e do adquirente, entre outras informações
nação legal ou regulamentar: definidas pelo regulamento desta Lei.
Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa. § 2o Para os órgãos referidos no art. 6o, somente serão
Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre quem: expedidas autorizações de compra de munição com identi-
I – suprimir ou alterar marca, numeração ou qualquer ficação do lote e do adquirente no culote dos projéteis, na
sinal de identificação de arma de fogo ou artefato; forma do regulamento desta Lei.
II – modificar as características de arma de fogo, de for- § 3o As armas de fogo fabricadas a partir de 1 (um) ano da
ma a torná-la equivalente a arma de fogo de uso proibido data de publicação desta Lei conterão dispositivo intrínseco
ou restrito ou para fins de dificultar ou de qualquer modo de segurança e de identificação, gravado no corpo da arma,
induzir a erro autoridade policial, perito ou juiz; definido pelo regulamento desta Lei, exclusive para os órgãos
III – possuir, detiver, fabricar ou empregar artefato explo- previstos no art. 6o.
sivo ou incendiário, sem autorização ou em desacordo com § 4o As instituições de ensino policial e as guardas munici-
determinação legal ou regulamentar;
Legislação Especial

pais referidas nos incisos III e IV do caput do art. 6o desta Lei e


IV – portar, possuir, adquirir, transportar ou fornecer no seu § 7o poderão adquirir insumos e máquinas de recarga
arma de fogo com numeração, marca ou qualquer outro sinal de munição para o fim exclusivo de suprimento de suas ativi-
de identificação raspado, suprimido ou adulterado; dades, mediante autorização concedida nos termos definidos
V – vender, entregar ou fornecer, ainda que gratuitamen- em regulamento. (Incluído pela Lei nº 11.706, de 2008)
te, arma de fogo, acessório, munição ou explosivo a criança Art. 24. Excetuadas as atribuições a que se refere o art.
ou adolescente; e 2º desta Lei, compete ao Comando do Exército autorizar e
VI – produzir, recarregar ou reciclar, sem autorização le- fiscalizar a produção, exportação, importação, desembaraço
gal, ou adulterar, de qualquer forma, munição ou explosivo. alfandegário e o comércio de armas de fogo e demais pro-

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dutos controlados, inclusive o registro e o porte de trânsito taxas e do cumprimento das demais exigências constantes
de arma de fogo de colecionadores, atiradores e caçadores. dos incisos I a III do caput do art. 4o desta Lei. (Redação dada
Art. 25. As armas de fogo apreendidas, após a elaboração pela Lei nº 11.706, de 2008)
do laudo pericial e sua juntada aos autos, quando não mais Parágrafo único. Para fins do cumprimento do disposto
interessarem à persecução penal serão encaminhadas pelo juiz no caput deste artigo, o proprietário de arma de fogo po-
competente ao Comando do Exército, no prazo máximo de 48 derá obter, no Departamento de Polícia Federal, certificado
(quarenta e oito) horas, para destruição ou doação aos órgãos de registro provisório, expedido na forma do § 4o do art. 5o
de segurança pública ou às Forças Armadas, na forma do regu- desta Lei. (Incluído pela Lei nº 11.706, de 2008)
lamento desta Lei. (Redação dada pela Lei nº 11.706, de 2008) Art. 31. Os possuidores e proprietários de armas de
§ 1o As armas de fogo encaminhadas ao Comando do fogo adquiridas regularmente poderão, a qualquer tempo,
Exército que receberem parecer favorável à doação, obede- entregá-las à Polícia Federal, mediante recibo e indenização,
cidos o padrão e a dotação de cada Força Armada ou órgão nos termos do regulamento desta Lei.
de segurança pública, atendidos os critérios de prioridade Art. 32. Os possuidores e proprietários de arma de fogo
estabelecidos pelo Ministério da Justiça e ouvido o Comando poderão entregá-la, espontaneamente, mediante recibo,
do Exército, serão arroladas em relatório reservado trimes- e, presumindo-se de boa-fé, serão indenizados, na forma
tral a ser encaminhado àquelas instituições, abrindo-se-lhes do regulamento, ficando extinta a punibilidade de eventual
prazo para manifestação de interesse. (Incluído pela Lei nº posse irregular da referida arma. (Redação dada pela Lei nº
11.706, de 2008) 11.706, de 2008)
§ 2o O Comando do Exército encaminhará a relação das Parágrafo único. (Revogado pela Lei nº 11.706, de 2008)
armas a serem doadas ao juiz competente, que determinará Art. 33. Será aplicada multa de R$ 100.000,00 (cem mil
o seu perdimento em favor da instituição beneficiada. (In- reais) a R$ 300.000,00 (trezentos mil reais), conforme espe-
cluído pela Lei nº 11.706, de 2008) cificar o regulamento desta Lei:
§ 3o O transporte das armas de fogo doadas será de res- I – à empresa de transporte aéreo, rodoviário, ferroviá-
ponsabilidade da instituição beneficiada, que procederá ao rio, marítimo, fluvial ou lacustre que deliberadamente, por
seu cadastramento no Sinarm ou no Sigma. (Incluído pela qualquer meio, faça, promova, facilite ou permita o trans-
Lei nº 11.706, de 2008) porte de arma ou munição sem a devida autorização ou com
§ 4o (Vetado). (Incluído pela Lei nº 11.706, de 2008) inobservância das normas de segurança;
§ 5o O Poder Judiciário instituirá instrumentos para o en- II – à empresa de produção ou comércio de armamen-
caminhamento ao Sinarm ou ao Sigma, conforme se trate de tos que realize publicidade para venda, estimulando o uso
arma de uso permitido ou de uso restrito, semestralmente, indiscriminado de armas de fogo, exceto nas publicações
da relação de armas acauteladas em juízo, mencionando suas especializadas.
características e o local onde se encontram. (Incluído pela Art. 34. Os promotores de eventos em locais fechados,
Lei nº 11.706, de 2008) com aglomeração superior a 1000 (um mil) pessoas, adota-
Art. 26. São vedadas a fabricação, a venda, a comercia- rão, sob pena de responsabilidade, as providências necessá-
lização e a importação de brinquedos, réplicas e simulacros rias para evitar o ingresso de pessoas armadas, ressalvados
de armas de fogo, que com estas se possam confundir. os eventos garantidos pelo inciso VI do art. 5o da Constituição
Parágrafo único. Excetuam-se da proibição as réplicas e Federal.
os simulacros destinados à instrução, ao adestramento, ou Parágrafo único. As empresas responsáveis pela presta-
à coleção de usuário autorizado, nas condições fixadas pelo ção dos serviços de transporte internacional e interestadual
Comando do Exército. de passageiros adotarão as providências necessárias para
Art. 27. Caberá ao Comando do Exército autorizar, excep- evitar o embarque de passageiros armados.
cionalmente, a aquisição de armas de fogo de uso restrito.
Parágrafo único. O disposto neste artigo não se aplica às CAPÍTULO VI
aquisições dos Comandos Militares. Disposições Finais
Art. 28. É vedado ao menor de 25 (vinte e cinco) anos
adquirir arma de fogo, ressalvados os integrantes das enti- Art. 35. É proibida a comercialização de arma de fogo e
dades constantes dos incisos I, II, III, V, VI, VII e X do caput do munição em todo o território nacional, salvo para as entida-
art. 6o desta Lei. (Redação dada pela Lei nº 11.706, de 2008) des previstas no art. 6o desta Lei.
Art. 29. As autorizações de porte de armas de fogo já § 1o Este dispositivo, para entrar em vigor, dependerá de
concedidas expirar-se-ão 90 (noventa) dias após a publicação aprovação mediante referendo popular, a ser realizado em
desta Lei. (Vide Lei nº 10.884, de 2004) outubro de 2005.
Parágrafo único. O detentor de autorização com prazo § 2o Em caso de aprovação do referendo popular, o dis-
de validade superior a 90 (noventa) dias poderá renová-la, posto neste artigo entrará em vigor na data de publicação
perante a Polícia Federal, nas condições dos arts. 4o, 6o e 10 de seu resultado pelo Tribunal Superior Eleitoral.
desta Lei, no prazo de 90 (noventa) dias após sua publicação, Art. 36. É revogada a Lei no 9.437, de 20 de fevereiro
sem ônus para o requerente. de 1997.
Art. 30. Os possuidores e proprietários de arma de fogo Art. 37. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Legislação Especial

de uso permitido ainda não registrada deverão solicitar seu


registro até o dia 31 de dezembro de 2008, mediante apre- Brasília, 22 de dezembro de 2003; 182o da Independência
sentação de documento de identificação pessoal e compro- e 115o da República.
vante de residência fixa, acompanhados de nota fiscal de
compra ou comprovação da origem lícita da posse, pelos LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA
meios de prova admitidos em direito, ou declaração firmada Márcio Thomaz Bastos
na qual constem as características da arma e a sua condição José Viegas Filho
de proprietário, ficando este dispensado do pagamento de Marina Silva

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ANEXO
(Redação dada pela Lei nº 11.706, de 2008)
TABELA DE TAXAS

ATO ADMINISTRATIVO R$
I – Registro de arma de fogo:
- até 31 de dezembro de 2008 Gratuito
(art. 30)
- a partir de 1o de janeiro de 2009 60,00
II – Renovação do certificado de registro de arma de fogo:
Gratuito
- até 31 de dezembro de 2008 (art. 5o, § 3o)

- a partir de 1o de janeiro de 2009 60,00


III – Registro de arma de fogo para empresa de segurança privada e de transporte 60,00
de valores
IV – Renovação do certificado de registro de arma de fogo para empresa de
segurança privada e de transporte de valores:

- até 30 de junho de 2008 30,00

- de 1o de julho de 2008 a 31 de outubro de 2008 45,00

- a partir de 1o de novembro de 2008 60,00


V – Expedição de porte de arma de fogo 1.000,00
VI – Renovação de porte de arma de fogo 1.000,00
VII – Expedição de segunda via de certificado de registro de arma de fogo 60,00
VIII – Expedição de segunda via de porte de arma de fogo 60,00

Crimes Resultantes de Preconceitos ou Indireta, bem como das concessionárias de serviços pú-
de Raça OU de Cor blicos60, sob pena de reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos (art.
3º). Incorrerá nas mesmas penas quem, por motivo de discri-
(Lei nº 7.716/1989 e alterações) minação de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional,
obstar a promoção funcional61 (parágrafo único, art. 3º).
A Lei nº 7.716/1989 define os crimes resultantes de pre-
conceito de raça ou de cor e entrou em vigor na data de sua Negar ou obstar emprego na empresa privada
publicação, no dia 5 de janeiro de 1989 (art. 21).
O referido diploma legal versa que serão punidos, na
Outro crime é a conduta de negar ou obstar emprego em
forma desta lei, os crimes resultantes de discriminação ou
empresa privada62, com previsão de pena de reclusão de 2
preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência na-
(dois) a 5 (cinco) anos63 (art. 4º). Incorrerá nas mesmas penas
cional58 (art. 1º). Atente-se que só se enquadrará nesta lei em
questão se forem condutas de discriminação ou preconceito quem, por motivo de discriminação de raça ou de cor ou práticas
conforme listado aqui. A Lei nº 7.716/1989, que define os resultantes do preconceito de descendência ou origem nacional
crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor, não prevê ou étnica, deixar de conceder os equipamentos necessários ao
figuras típicas que incriminem o preconceito em razão de empregado em igualdade de condições com os demais traba-
sexo, estado civil e opção sexual59. lhadores64; impedir a ascensão funcional do empregado ou
obstar outra forma de benefício profissional65; proporcionar ao
empregado tratamento diferenciado no ambiente de trabalho,
Dos Crimes especialmente quanto ao salário (art. 4º, § 1º e incisos I, II e III).
Ao longo de 13 artigos são previstos os tipos penais que Ficará sujeito às penas de multa e de prestação de serviços
esta lei define. à comunidade, incluindo atividades de promoção da igual-
dade racial, quem, em anúncios ou qualquer outra forma de
Impedir ou obstar acesso a cargo na administração recrutamento de trabalhadores, exigir aspectos de aparência
Legislação Especial

direta ou indireta próprios de raça ou etnia para emprego cujas atividades não
justifiquem essas exigências, com pena de reclusão de 2 (dois)
É crime impedir ou obstar o acesso de alguém, devida- a 5 (cinco) anos (art. 4º, § 2º).
mente habilitado, a qualquer cargo da Administração Direta 60
Assunto cobrado na prova: Cespe/TJ-PB/Juiz/2011.
61
Assunto cobrado na prova: IBFC/PC-RJ/Oficial de Cartório/2013.
58
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/Câmara dos Deputados/Técnico 62
Assunto cobrado nas seguintes provas: IBFC/PC-RJ/Oficial de Cartório/2013;
Legislativo/Agente de Polícia Legislativa/2014; IBFC/PC-RJ/Oficial de Cartó- PGT/MPT/Procurador/2009.
rio/2013; TJ-PR/Juiz/2011; MPE-MG/Promotor de Justiça/50º Concurso/2010. 63
Assunto cobrado na prova: PGT/MPT/Procurador/2009.
59
Acafe/PC-SC/Delegado de Polícia/2008; Fundep/TJ-MG/Oficial de Apoio Judi- 64
Assunto cobrado na prova: COPS-UEL/PC-PR/Delegado de Polícia/2013.
cial/2010. 65
Assunto cobrado na prova: Cespe/AGU/Advogado da União/2012.

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Recusar ou impedir acesso a estabelecimento comercial em salões de cabeleireiros, barbearias, termas ou casas de
massagem ou estabelecimento com as mesmas finalidades,
Mais uma conduta típica é a de recusar ou impedir acesso pena de reclusão de 1 (um) a 3 (três) anos (art. 10).
a estabelecimento comercial, negando-se a servir, atender
ou receber cliente ou comprador66. A pena para este delito é Impedir o acesso às entradas sociais em edifícios
de reclusão de 1 (um) a 3 (três) anos (art. 5º). públicos ou residenciais e elevadores ou escada de
acesso aos mesmos
Recusar, negar, impedir inscrição ou ingresso em
estabelecimento de ensino público ou particular A conduta típica de impedir o acesso às entradas sociais
em edifícios públicos ou residenciais e elevadores ou escada
Também é crime a conduta de recusar, negar ou impe- de acesso aos mesmos74 prevê pena de reclusão de 1 (um) a
dir a inscrição ou ingresso de aluno em estabelecimento de 3 (três) anos (art. 11). A respeito deste último delito mencio-
ensino público ou privado de qualquer grau67, com pena de nado, ressalta-se que não incorrerá em crime o síndico que
reclusão de 3 (três) a 5 (cinco) anos (art. 6º). Caso este crime proíbe a circulação, nos elevadores sociais de edifício resi-
seja praticado contra menor de 18 (dezoito) anos a pena é dencial, de todos os empregados domésticos que trabalham
agravada de 1/3 (um terço)68 (art. 6º, parágrafo único). para os condôminos. Isso porque a vedação é a respeito de
todos aqueles que estão em horário de trabalho e esta lei
Impedir o acesso ou recusar hospedagem em hotel, não prevê esta conduta como crime75.
pensão, estalagem ou qualquer estabelecimento similar
Impedir o acesso ou uso de transportes públicos, como
Há a conduta de impedir o acesso ou recusar hospedagem
aviões, navios, barcas, barcos, ônibus, trens, metrô ou
em hotel, pensão, estalagem, ou qualquer estabelecimento
qualquer outro meio de transporte concedido
similar69, com pena de reclusão de 3 (três) a 5 (cinco) anos70
(art. 7º).
A lei prevê, ainda, conduta de impedir o acesso ou uso
Impedir o acesso ou recusar atendimento em de transportes públicos, como aviões, navios, barcas, barcos,
restaurantes, bares, confeitarias, ou locais semelhantes ônibus, trens, metrô ou qualquer outro meio de transporte
abertos ao público concedido76, pena de reclusão de 1 (um) a 3 (três) anos (art. 12).

A conduta de impedir o acesso ou recusar atendimento Impedir ou obstar o acesso de alguém ao serviço em
em restaurantes, bares, confeitarias, ou locais semelhantes qualquer ramo das forças armadas
abertos ao público71, tem pena de reclusão de 1 (um) a 3
(três) anos (art. 8º). O crime de impedir ou obstar o acesso de alguém ao
serviço em qualquer ramo das Forças Armadas77 tem pena
Impedir o acesso ou recusar atendimento em de reclusão de dois a quatro anos (art. 13).
estabelecimentos esportivos, casas de diversões, ou
clubes sociais abertos ao público Impedir ou obstar, por qualquer meio ou forma, o
casamento ou convivência familiar e social
Outro crime é o de impedir o acesso ou recusar atendi-
mento em estabelecimentos esportivos, casas de diversões, Também há a conduta típica de impedir ou obstar, por qual-
ou clubes sociais abertos ao público72, com pena de reclusão quer meio ou forma, o casamento ou convivência familiar e
de 1 (um) a 3 (três) anos (art. 9º). Sobre este, o STJ tem pre- social78, com pena de reclusão de dois a quatro anos (art. 14).
cedente de que a recusa de admissão no quadro associativo
de clube social, em razão de preconceito de raça ou de cor, Efeitos da condenação
caracteriza o tipo inserto no art. 9º da Lei nº 7.716/1989, en-
quanto modo da conduta impedir, que lhe integra o núcleo. A Como efeito da condenação, a lei prevê a perda do cargo
faculdade, estatutariamente atribuída à diretoria, de recusar ou função pública, para o servidor público79, e a suspensão
propostas de admissão em clubes sociais, sem declinação dos do funcionamento do estabelecimento particular por prazo
motivos, não lhe atribui a natureza especial de fechado, de não superior a 3 (três) meses80 (art. 16). Estes efeitos não
maneira a subtraí-lo da incidência da lei73. (Jurisprudência do são automáticos e devem ser motivadamente declarados
STJ – RHC nº 12.809/MG, Rel. Ministro Hamilton Carvalhido, na sentença81 (art. 18).
Sexta Turma, julgado em 22/3/2005, DJ 11/4/2005, p. 381).
Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito
Impedir atendimento em salões de cabeleireiros, de raça, cor, etnia, religião, ou procedência nacional
barbearias, termas ou casas de massagem ou
estabelecimento com as mesmas finalidades
Há ainda a previsão do delito de praticar, induzir ou incitar
a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou
Dando continuidade às condutas típicas, também são cri-
mes as condutas de impedir o acesso ou recusar atendimento
74
Assunto cobrado nas seguintes provas: Vunesp/TJ-SP/Advogado/2013; MPT/
Legislação Especial

66
Assunto cobrado nas seguintes provas: IBFC/PC-RJ/ Oficial de Cartório/2013; Procurador/2012; Fundep/TJ-MG/Oficial de Apoio Judicial/2010; Vunesp/DPE-
FCC/TRT/1ª Região (RJ)/Técnico Judiciário/Segurança/2011; Cespe/MPU/Téc- -MS/Defensor Público/2008.
nico de Apoio Especializado/Transporte/2010. 75
Assunto cobrado na prova: Cespe/MPU/Técnico de Apoio Especializado/Trans-
67
Assunto cobrado na prova: ESAF/PGFN/Procurador da Fazenda Nacional/2003. porte/2010.
68
Assunto cobrado na prova: ESAF/PGFN/Procurador da Fazenda Nacional/2003. 76
Assunto cobrado na prova: Vunesp/TJ-SP/Advogado/2013.
69
Assunto cobrado na prova: Cespe/Polícia Federal/Escrivão da Polícia Federal/ 77
Assunto cobrado na prova: IBFC/PC-RJ/Oficial de Cartório/2013.
Regional/2004. 78
Assunto cobrado nas seguintes provas: IBFC/PC-RJ/Oficial de Cartório2013; Vunesp/
70
Assunto cobrado na prova: TJ-PR/Juiz/2011. TJ-SP/Advogado/2013; Cespe/Polícia Federal/Delegado de Polícia/Regional/2004.
71
Assunto cobrado nas seguintes provas Vunesp/TJ-SP/Advogado/2013; MPT/ 79
Assunto cobrado na prova: Esaf/PGFN/Procurador da Fazenda Nacional/2003.
Procurador/2012. 80
Assunto cobrado na prova: Esaf/PGFN/Procurador da Fazenda Nacional/2003.
72
Assunto cobrado na prova: Vunesp/TJ-SP/Advogado/2013. 81
Assunto cobrado nas seguintes provas: TJ-PR/TJ-PR/Juiz/2011; FCC/DPE-MT/
73
Cespe/PRF/Policial Rodoviário Federal/2013. Defensor Público/2009; Esaf/PGFN/Procurador da Fazenda Nacional/2003.

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procedência nacional82, com pena de reclusão de 1 (um) a 3 computadores estabelece-se pelo local de onde partiram as
(três) anos e multa (art. 20). Ressaltamos aqui que responde manifestações tidas por racistas89. (Jurisprudência noticiada
pela prática do crime de injúria racial, disposto no § 3º do art. no Informativo nº 515/STJ – CC nº 116.926/SP, Rel. Ministro
140 do Código Penal Brasileiro e não pelo art. 20 da Lei nº Sebastião Reis Júnior, Terceira Seção, julgado em 4/2/2013, DJe
7.716/1989 (Discriminação Racial) pessoa que ofende uma só 15/2/2013). Além disso, é da Justiça estadual a competência
pessoa, chamando-lhe de macaco e negro sujo83. Isso porque para processar e julgar o crime de incitação à discriminação
a injúria racial é direcionada a uma pessoa em específico, com racial por meio da internet cometido contra pessoas deter-
o intuito de atingir a honra subjetiva desta pessoa e o que a minadas e cujo resultado não ultrapassou as fronteiras ter-
Lei nº 7.716/1989 visa punir é a segregação racial e proteger ritoriais brasileiras. (Jurisprudência noticiada no Informativo
a dignidade humana de uma determinada coletividade. Há nº 744/STF – HC nº 121283, Relator(a): Min. Roberto Barroso,
precedente no STJ em que um comissário de bordo america- Primeira Turma, julgado em 29/4/2014, Processo Eletrônico
no ofendeu um brasileiro durante uma discussão em pleno DJe-091, divulg. 13/5/2014, public. 14/5/2014).
voo. A Corte entendeu que a conduta enquadrou-se na Lei Ressalta-se que aquele que pratica racismo responderá
nº 7.716, e não em injúria racial, uma vez que o comissário por crime inafiançável e imprescritível, sujeitando-se à pena
de bordo teve a intenção de ofender o passageiro pelo fato de reclusão prevista na lei90. Isto está previsto no art. 5º, inciso
de ele ser brasileiro, ocorrendo assim em preconceito com XLII, da Constituição Federal de 1988. Além disso, os crimes
relação à procedência nacional84 (Jurisprudência do STJ no previstos nesta lei são de ação pública incondicionada91. Por
voto do relator – HC nº 63.350/RJ, Rel. Ministro Felix Fischer, fim, anote-se que os tipos penais previstos nesta lei são ape-
Quinta Turma, julgado em 27/3/2007, DJ 14/5/2007, p. 341). nas condutas dolosas, uma vez que não há previsão de tipo
Anote-se que o STF já se posicionou que o disposto no ar- penal culposo na Lei nº 7.716/198992.
tigo 20 da Lei nº 7.716/1989 tipifica o crime de discriminação
ou preconceito considerada a raça, a cor, a etnia, a religião
ou a procedência nacional, não alcançando a decorrente de
Lei nº 9.459, de 13 de Maio de 1997
opção sexual. (Jurisprudência noticiada no Informativo nº
754 do STF – (Inq. nº 3590, Relator(a): Min. Marco Aurélio, Altera os arts. 1º e 20 da Lei
Primeira Turma, julgado em 12/8/2014, Acórdão Eletrônico nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989,
DJe-17, divulg. 11/9/2014, public. 12/9/2014). que define os crimes resultantes
de preconceito de raça ou de cor,
Fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, e acrescenta parágrafo ao art. 140
emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda do Decreto-lei nº 2.848, de 7 de
que utilizem a cruz suástica ou gamada, para fins de dezembro de 1940.
divulgação do nazismo
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congres-
Por fim, a conduta típica prevê que aquele que fabricar, so Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas, Art. 1º Os arts. 1º e 20 da Lei nº 7.716, de 5 de janeiro
ornamentos, distintivos ou propaganda que utilizem a cruz de 1989, passam a vigorar com a seguinte redação:
suástica ou gamada, para fins de divulgação do nazismo85,
estará sujeito à pena de reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos Art. 1º Serão punidos, na forma desta Lei, os crimes
e multa86 (art. 20, § 1º). resultantes de discriminação ou preconceito de raça,
No caso de um dos delitos previstos no caput do art. 20 for cor, etnia, religião ou procedência nacional.”
cometido por intermédio dos meios de comunicação social ou Art.  20. Praticar, induzir ou incitar a discriminação
publicação de qualquer natureza, a pena será de reclusão de 2 ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou pro-
(dois) a 5 (cinco) anos e multa (art. 20, § 2º). Neste caso, o juiz cedência nacional.
poderá determinar, ouvido o Ministério Público ou a pedido Pena: reclusão de um a três anos e multa.
deste, ainda antes do inquérito policial, sob pena de desobe- § 1º Fabricar, comercializar, distribuir ou veicular sím-
diência o recolhimento imediato ou a busca e apreensão dos bolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propa-
exemplares do material respectivo; a cessação das respecti- ganda que utilizem a cruz suástica ou gamada, para
vas transmissões radiofônicas, televisivas, eletrônicas ou da fins de divulgação do nazismo.
publicação por qualquer meio; e a interdição das respectivas Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa.
mensagens ou páginas de informação na rede mundial de § 2º Se qualquer dos crimes previstos no caput é
computadores87 (art. 20, § 3º, incisos I, II e III). Além disso, cometido por intermédio dos meios de comunicação
constitui efeito da condenação, após o trânsito em julgado da social ou publicação de qualquer natureza:
decisão, a destruição do material apreendido88 (art. 20, § 4º). Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa.
§ 3º No caso do parágrafo anterior, o juiz poderá de-
Da Competência para o Processo e Julgamento terminar, ouvido o Ministério Público ou a pedido
deste, ainda antes do inquérito policial, sob pena de
Destacamos aqui que a competência para processar e desobediência:
julgar o crime de racismo praticado na rede mundial de I – o recolhimento imediato ou a busca e apreensão
Legislação Especial

dos exemplares do material respectivo;


82
Assunto cobrado nas seguintes provas: COPS-UEL/PC-PR/Delegado de Polí- II – a cessação das respectivas transmissões radiofô-
cia/2013; MPT/Procurador/2012; TJ-PR/Juiz/2011; Cespe/Abin/Oficial Técnico
de Inteligência/2010. nicas ou televisivas.
83
Fepese/MPE-SC/Promotor de Justiça/2014; Vunesp/TJ-PA/Juiz de Direito
Substituto/2014; COPS-UEL/PC-PR/Delegado de Polícia/2013; Cespe/MPE-
-PI/Promotor de Justiça/2012. 89
Cespe/AGU/Advogado da União/2012.
84
Assunto cobrado na prova: Funcab/PC-ES/Delegado de Polícia/2013. 90
Cespe/TJ-CE/Analista Judiciário/Execução de Mandados/2014; FCC/PGE-BA/
85
Assunto cobrado na prova: Esaf/PGFN/Procurador da Fazenda Nacional/2003. Analista de Procuradoria/Área de Apoio Jurídico/2013; PaqTcPB/UEPB/Técnico
86
Assunto cobrado na prova: FCC/DPE-MT/Defensor Público/2009. de Enfermagem/2012; Movens/PC-PA/Delegado de Polícia/2009.
87
Assunto cobrado na prova: COPS-UEL/PC-PR/Delegado de Polícia/2013. 91
Assunto cobrado na prova: COPS-UEL/PC-PR/Delegado de Polícia/2013.
88
Assunto cobrado na prova: Esaf/PGFN/Procurador da Fazenda Nacional/2003. 92
Assunto cobrado na prova: MPE-SP/Promotor de Justiça/2006.

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
§ 4º Na hipótese do § 2º, constitui efeito da con- Art. 5º Revogam-se as disposições em contrário.
denação, após o trânsito em julgado da decisão, a
destruição do material apreendido. Brasília, 6 de dezembro de 1968; 147º da Independência
e 80º da República.
Art. 2º O art. 140 do Código Penal fica acrescido do se- A. COSTA E SILVA
guinte parágrafo: Luís Antônio da Gama e Silva
Art. 140. [...] Augusto Hamann Rademaker Grunewald
§ 3º Se a injúria consiste na utilização de elementos Aurélio de Lyra Tavares
referentes a raça, cor, etnia, religião ou origem: José de Magalhães Pinto
Pena: reclusão de um a três anos e multa. Antônio Delfim Netto
Mário David Andreazza
Art. 3º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. Raymundo Bruno Marussig
Art. 4º Revogam-se as disposições em contrário, espe- Tarso Dutra
cialmente o art. 1º da Lei nº 8.081, de 21 de setembro de Jarbas G. Passarinho
1990, e a Lei nº 8.882, de 3 de junho de 1994. Marcio de Souza e Mello
Leonel Miranda
Brasília, 13 de maio de 1997; 176º da Independência e José Costa Cavalcanti
109º da República. Edmundo de Macedo Soares
Hélio Beltrão
FERNANDO HENRIQUE CARDOSO Afonso A. Lima
Milton Seligman Carlos F. de Simas

LEI Nº 5.553, DE 6 DE DEZEMBRO DE 1968 Abuso de autoridade


(Lei nº 4.898/1965)
Dispõe sobre a apresentação
e uso de documentos de identifi- A Lei nº 4.898, de 9 de dezembro de 1965, regula o
cação pessoal. direito de representação e o processo de Responsabili-
dade Administrativa Civil e Penal, nos casos de abuso de
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA. Faço saber que o Congres- autoridade.
so Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
Art. 1º A nenhuma pessoa física, bem como a nenhuma Da Representação
pessoa jurídica, de direito público ou de direito privado,
é lícito reter qualquer documento de identificação pesso- O direito de representação e o processo de responsa-
al, ainda que apresentado por fotocópia autenticada ou bilidade administrativa civil e penal, contra as autoridades
pública-forma, inclusive comprovante de quitação com o que, no exercício de suas funções, cometerem abusos, são
serviço militar, título de eleitor, carteira profissional, cer- regulados pela Lei nº 4.898/1965 (art. 1º). O direito de re-
tidão de registro de nascimento, certidão de casamento, presentação será exercido por meio de petição dirigida
comprovante de naturalização e carteira de identidade de à autoridade superior que tiver competência legal para
estrangeiro. aplicar, à autoridade civil ou militar culpada, a respectiva
Art. 2º Quando, para a realização de determinado ato, sanção; dirigida ao órgão do Ministério Público que tiver
for exigida a apresentação de documento de identificação, competência para iniciar processo-crime contra a autori-
a pessoa que fizer a exigência fará extrair, no prazo de até dade culpada93 (art. 2º, a e b).
5 (cinco) dias, os dados que interessarem devolvendo em A representação será feita em duas vias e conterá a
seguida o documento ao seu exibidor. exposição do fato constitutivo do abuso de autoridade, com
§ 1º Além do prazo previsto neste artigo, somente por todas as suas circunstâncias, a qualificação do acusado e
ordem judicial poderá ser retirado qualquer documento de o rol de testemunhas, no máximo de três, se as houver94
identificação pessoal. (Renumerado pela Lei nº 9.453, de (art. 2º, parágrafo único).
20/3/1997) Verifica-se que a autoridade policial e o Ministério Públi-
§ 2º Quando o documento de identidade for indispen- co, tendo conhecimento dos fatos e havendo indícios da prá-
sável para a entrada de pessoa em órgãos públicos ou par- tica de crime de abuso de autoridade, devem agir de ofício,
ticulares, serão seus dados anotados no ato e devolvido o independente da representação ou manifestação de vontade
documento imediatamente ao interessado. (Incluído pela Lei da vítima95. O art. 1º da lei trata do direito de representação,
nº 9.453, de 20/3/1997) sendo esta nada mais do que o direito de petição estampado
Art. 3º Constitui contravenção penal, punível com pena no art. 5º, inciso XXXIV, da Constituição Federal.96
de prisão simples de 1 (um) a 3 (três) meses ou multa de
NCR$ 0,50 (cinqüenta centavos) a NCR$ 3,00 (três cruzeiros
novos), a retenção de qualquer documento a que se refere Do Abuso de Autoridade
esta Lei.
A lei prevê que constitui abuso de autoridade qualquer
Legislação Especial

Parágrafo único. Quando a infração for praticada por


preposto ou agente de pessoa jurídica, considerar-se-á res- atentado à liberdade de locomoção97; à inviolabilidade do do-
ponsável quem houver ordenado o ato que ensejou a reten- 93
Assunto cobrado nas provas: Cespe/PC-RN/Delegado de Polícia/2009; Cespe/
ção, a menos que haja , pelo executante, desobediência ou PC-RN/Escrivão de Polícia Civil/2009; Cespe/PC-PB/Agente de Investigação e
Agente de Polícia/2009.
inobservância de ordens ou instruções expressas, quando, 94
Assunto cobrado na prova: UEG/PM-GO/Cadete da Polícia Militar/2013.
então, será este o infrator. 95
UEG/PM-GO/Cadete da Polícia Militar/2013.
Art. 4º O Poder Executivo regulamentará a presente Lei 96
COPS-UEL/PC-PR/Delegado de Polícia/2013.
97
Assunto cobrado nas provas: Funiversa/Detran-DF/Agente de Trânsito/2012;
dentro do prazo de 60 (sessenta) dias, a contar da data de Fundep/TJ-MG/Assistente Social/2010; Funcab/PC-RO/Agente de Polícia/2009;
sua publicação. Funrio/Depen/Agente Penitenciário/2009.

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
micílio98; ao sigilo da correspondência99; à liberdade de cons- tentada, pois seus tipos penais incluem-se entre os crimes
ciência e de crença100; ao livre exercício do culto religioso101; de atentado, contudo, em tese, é possível a tentativa nos
à liberdade de associação102; aos direitos e garantias legais crimes previstos no art. 4º, da mesma Lei115.
assegurados ao exercício do voto103; ao direito de reunião104; Ressalta-se que não existe a modalidade culposa com
à incolumidade física do indivíduo105; aos direitos e garantias relação aos crimes de abuso de autoridade. Assim, no que
legais assegurados ao exercício profissional106 (art. 3º, a a j). se refere ao crime de abuso de autoridade, admitem-se as
Também constitui abuso de autoridade ordenar ou modalidades dolosas, apenas116. Destaca-se que os crimes
executar medida privativa da liberdade individual, sem as de abuso de autoridade podem ser comissivos ou omissi-
formalidades legais ou com abuso de poder107; submeter vo117. Os crimes previstos nesta lei são de dupla subjetivida-
pessoa sob sua guarda ou custódia a vexame ou a cons- de passiva: o sujeito passivo imediato, direto e eventual, e
trangimento não autorizado em lei108; deixar de comunicar, o sujeito passivo mediato, indireto ou permanente.118
imediatamente, ao juiz competente a prisão ou detenção de A punição à prática do crime de abuso de autoridade
qualquer pessoa109; deixar o Juiz de ordenar o relaxamento condiciona-se à presença do elemento subjetivo do injusto,
de prisão ou detenção ilegal que lhe seja comunicada110; consistente na vontade consciente do agente de praticar
levar à prisão e nela deter quem quer que se proponha a as condutas mediante o exercício exorbitante do seu po-
prestar fiança, permitida em lei111 (art. 4º, a a e). der na defesa social119. Assim, não tendo a intenção ou o
Outras condutas que constituem abuso de autoridade ânimo específico de exorbitar do poder que lhe for con-
são as de cobrar o carcereiro ou agente de autoridade po- ferido legalmente, não haverá a configuração de abuso
licial carceragem, custas, emolumentos ou qualquer outra de autoridade.120
despesa, desde que a cobrança não tenha apoio em lei, quer Além disso, o crime de abuso de autoridade não ab-
quanto à espécie quer quanto ao seu valor; recusar o carce- sorve as demais infrações penais perpetradas na mesma
reiro ou agente de autoridade policial recibo de importância circunstância121. Com isso, a incolumidade pública tutelada
recebida a título de carceragem, custas, emolumentos ou na referida lei não abrange o crime de lesões corporais,
de qualquer outra despesa112; o ato lesivo da honra ou do admitindo-se o concurso entre os delitos.122
patrimônio de pessoa natural ou jurídica, quando praticado
com abuso ou desvio de poder ou sem competência legal113; Da Autoridade
prolongar a execução de prisão temporária, de pena ou
de medida de segurança, deixando de expedir em tempo Será considerada autoridade, para os efeitos da lei de
oportuno ou de cumprir imediatamente ordem de liberda- abuso de autoridade, quem exerce cargo, emprego ou fun-
de114 (art. 4º, f a i). ção pública, de natureza civil, ou militar, ainda que transi-
Sobre as condutas que constituem abuso de autoridade, toriamente e sem remuneração123 (art. 5º). É preciso que o
as hipóteses previstas no art. 3º da Lei não admitem a forma agente esteja no exercício da função para que haja a carac-
98
Assunto cobrado nas provas: Uespi/PC-PI/Escrivão de Polícia Civil/2014; Fu- terização de crime de abuso de autoridade. Se o agente agiu
niversa/Seplag-DF/Auditor Fiscal de Atividades Urbanas/Controle Ambien- de maneira abusiva, mas em razão de sua função, sem que
tal/2011; Cespe/PC-ES/Escrivão de Polícia/Específicos/2011; Funcab/PM-GO/ esteja em exercício de sua função, não haverá o crime de
Soldado da Polícia Militar/2010; Funrio/Depen/Agente Penitenciário/2009.
99
Assunto cobrado nas provas: Uespi/PC-PI/Escrivão de Polícia Civil/2014; Esaf/ abuso de autoridade, podendo a conduta ser enquadrada
Receita Federal/Auditor Fiscal da Receita Federal/2012; Fundep/TJ-MG/Assis- em outro delito.124
tente Social/2010; Cespe/TRE-MA/Analista Judiciário/Área Judiciária/2009.
100
Assunto cobrado nas provas: Uespi/PC-PI/Escrivão de Polícia Civil/2014; Funiver-
Ressaltamos aqui que terceiros que não exerçam funções
sa/Seplag-DF/Auditor Fiscal de Atividades Urbanas/Controle Ambiental/2011. públicas poderão ser penalmente responsabilizados a título
101
Assunto cobrado nas provas: Uespi/C-PI/Escrivão de Polícia Civil/2014; Cespe/ de coautoria, nos termos do art. 29 do Código Penal, uma
TRE-MA/Analista Judiciário/Área Judiciária/2009.
102
Assunto cobrado nas provas: Cespe/TRE-MA/Analista Judiciário/Área Judi­
vez que a qualidade de autoridade é elementar dos tipos
ciária/2009; Funrio/Depen/Agente Penitenciário/2009. penais da Lei125. A partir disto, considere que um agente
103
Assunto cobrado na prova: Uespi/PC-PI/Escrivão de Polícia Civil/2014.
104
Assunto cobrado nas provas: Uespi/PC-PI/Escrivão de Polícia Civil/2014; Fun- 115
MPE-PR/Promotor/2014; Funcab/PC-RO/Delegado de Polícia/2009; Funiversa/
cab/PC-RO/Agente de Polícia/2009. PC-DF/Agente de Polícia/2009.
105
Assunto cobrado nas provas: TRT 3ª Região/TRT 3ª Região (MG)/Juiz do Tra- 116
Assunto cobrado na prova: Cespe/Câmara dos Deputados/Técnico Legislativo/
balho/2012; Fundep/TJ-MG/Assistente Social/2010; Cespe/Secont-ES/Auditor Agente de Polícia Legislativa/2014; Cespe/PRF/2013; Cespe/DPE-RR/Defen-
do Estado/2009. sor Público/2013; UEG/PC-GO/Agente de Polícia/2013; Funiversa/Detran-DF/
106
Assunto cobrado nas provas: FCC/TRT 18ª Região (GO)/Juiz do Trabalho/2014; Agente de Trânsito/2012; Funcab/PM-GO/Soldado da Polícia Militar/2010;
MPT/Procurador/2013; UFPR/PC-PR/Delegado de Polícia/2007; PGT/Procura- Cespe/TJ-SE/Juiz/2008; Cespe/TSE/Analista Judiciário/Área Judiciária/2007.
dor/2006; Esaf/PGFN/Procurador da Fazenda Nacional/2003; Funrio/Depen/ 117
Cespe/DPE-RR/Defensor Público/2013.
Agente Penitenciário/2009. 118
Cespe/MPE-TO/Promotor de Justiça/2012.
107
Assunto cobrado nas provas: Funcab/PC-ES/Perito em Telecomunicação/2013; 119
Cespe/TJ-DF/Analista Judiciário/Oficial de Justiça Avaliador/2013.
Funrio/PRF/2009; Uespi/PC-PI/Delegado de Polícia/2009. 120
Assunto cobrado na prova: Cespe/PC-AL/Escrivão de Polícia/2012.
108
Assunto cobrado nas provas: Funcab/PC-ES/Perito em Telecomunicação/2013; 121
Assunto cobrado nas provas: Cespe/DPE-RR/Defensor Público/2013; Cespe/
Cespe/PC-ES/Perito Papiloscópico/2011; TJ-SC/Juiz/2010; Funcab/PC-RO/ PC-AL/Escrivão de Polícia/2012; Cespe/MPU/Analista Processual/2010.
Agente de Polícia/2009; Uespi/PC-PI/Delegado de Polícia/2009; FGV/PC-RJ/ 122
UEG/PC-GO/Agente de Polícia/2013.
Oficial de Cartório/2008. 123
Assunto cobrado nas provas: Fepese/MPE-SC/Promotor de Justiça/2014;
109
Assunto cobrado nas provas: Vunesp/PC-SP/Investigador de Polícia/2014; FCC/TRT 18ª Região (GO)/Juiz do Trabalho/2014; Cespe/Depen/Agente Pe-
Funcab/PC-ES/Perito em Telecomunicação/2013; Funcab/PC-RO/Agente de nitenciário/2013; COPS-UEL/PC-PR/Delegado de Polícia/2013; COPS-UEL/
Polícia/2009; Uespi/PC-PI/Delegado de Polícia/2009; Cespe/DPE-ES/Defen- PC-PR/Delegado de Polícia/2013; Cespe/DPE-RR/Defensor Público/2013;
sor Público/2009; FGV/PC-RJ/Oficial de Cartório/2008; FGV/TCM-RJ/Pro­ UEG/PC-GO/Agente de Polícia/2013; FCC/TRT 4ª REGIÃO (RS)/Juiz do Tra-
curador/2008. balho/2012; FCC/TRE-AP/Analista Judiciário/Área Judiciária/2011; Funcab/
110
Assunto cobrado nas provas: Cespe/Depen/Agente Penitenciário/2013; PM-GO/Soldado da Polícia Militar/2010; Funcab/PC-RO/Delegado de Polí-
Legislação Especial

Funiversa/Seplag-DF/Auditor Fiscal de Atividades Urbanas/Controle Am- cia/2009; Funcab/PC-RO/Agente de Polícia/2009; CEPERJ/PC-RJ/Delegado


biental/2011; Cespe/DPE-ES/Defensor Público/2009; FGV/TCM-RJ/Procura- de Polícia/2009; Cespe/PC-RN/Escrivão de Polícia Civil/2009; IESES/TJ-MA/
dor/2008. Titular de Serviços de Notas e de Registros/2008; Cespe/TJ-SE/Juiz/2008;
111
Assunto cobrado nas provas: TRT 3ª Região(MG)/Juiz do Trabalho/2012; Uespi/ UFPR/PC-PR/Delegado de Polícia/2007; Cespe/CBM-DF/Advogado/2007;
PC-PI/Delegado de Polícia/2009; FGV/PC-RJ/Oficial de Cartório/2008; FGV/ Cespe/TJ-RR/Analista Judiciário/Área Judiciária/2006; Fundec/TRT 9ª RE-
TCM-RJ/Procurador/2008. GIÃO (PR)/Juiz do Trabalho/2003.
112
Assunto cobrado na prova: Funcab/PC-ES/Perito em Telecomunicação/2013. 124
Assunto cobrado na prova: Cespe/STM/Analista Judiciário/Execução de Man-
113
Assunto cobrado nas provas: Funiversa/Seplag-DF/Auditor Fiscal de Ativida- dados/2011.
des Urbanas/Controle Ambiental/2011; PGT/Procurador/2008; FGV/TCM-RJ/ 125
Assunto cobrado nas provas: MPE-PR/Promotor/2014; Cespe/DPE-RR/De-
Procurador/2008. fensor Público/2013; Cespe/MPU/Analista Processual/2010; Cespe/TCE-ES/
114
Assunto cobrado nas provas: FGV/PC-RJ/Oficial de Cartório/2008; Cespe/Polícia Procurador Especial de Contas/2009; Cespe/PC-RN/Delegado de Polícia/2009;
Federal/Agente Federal da Polícia Federal/2000. Cespe/TJ-SE/Juiz/2008.

18 Este eBook foi adquirido por ANA PAULA TORQUATO DA COSTA - CPF: 628.848.913-15.
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policial, acompanhado de um amigo estranho aos quadros Do abuso cometido por autoridade policial, civil ou
da administração pública, mas com pleno conhecimento da militar, de qualquer categoria
condição funcional do primeiro, efetuem a prisão ilegal de
um cidadão. Nesse caso, ambos responderão pelo crime de Quando o abuso for cometido por agente de autoridade
abuso de autoridade, independentemente da condição de policial, civil ou militar, de qualquer categoria, poderá ser
particular do coautor.126 cominada a pena autônoma ou acessória, de não poder o
acusado exercer funções de natureza policial ou militar no
Das Sanções município da culpa, por prazo de 1 (um) a 5 (cinco) anos139
(art. 6º, § 5º).
Das sanções administrativas
Do processo administrativo
O abuso de autoridade sujeitará o seu autor à sanção
administrativa, civil e penal127 (art. 6º). Assim, a condenação Após ser recebida a representação em que for solicitada
penal do servidor público pela prática de abuso de auto- a aplicação de sanção administrativa, a autoridade civil ou
ridade não impede as sanções administrativa e civil pelo militar competente determinará a instauração de inquérito
mesmo fato.128 para apurar o fato140 (art. 7º).
A sanção administrativa será aplicada de acordo com a Este inquérito administrativo obedecerá às normas es-
gravidade do abuso cometido e consistirá em advertência129; tabelecidas nas leis municipais, estaduais ou federais, civis
repreensão130; suspensão do cargo, função ou posto por ou militares, que estabeleçam o respectivo processo (art. 7º,
prazo de 5 (cinco) a 180 (cento e oitenta) dias, com perda § 1º). A Lei de Abuso de Autoridade prevê que, não existin-
de vencimentos e vantagens131; destituição de função132; do no Município, no Estado ou na legislação militar normas
demissão; demissão, a bem do serviço público133 (art. 6º, reguladoras do inquérito administrativo serão aplicadas su-
§ 1º, a a f). pletivamente, as disposições dos arts. 219 a 225 da Lei nº
1.711, de 28 de outubro de 1952 - Estatuto dos Funcionários
Da sanção cível Públicos Civis da União (art. 7º, § 2º) Anote-se que esta Lei
nº 1.711 foi revogada pela Lei nº 8.112/1990.
A sanção civil, caso não seja possível fixar o valor do O processo administrativo não poderá ser sobrestado
dano, consistirá no pagamento de uma indenização de qui- para o fim de aguardar a decisão da ação penal ou civil141
nhentos a dez mil cruzeiros134 (art. 6º, § 2º). Ressalta-se que (art. 7º, § 3º). Caso haja aplicação de sanção administrativa,
a lei é do ano de 1965 e, por isso, traz os valores na moeda esta será anotada na ficha funcional da autoridade civil ou
corrente à época. militar (art. 8º).

Da sanção penal Da ação civil

A sanção penal será aplicada de acordo com as regras Simultaneamente com a representação dirigida à auto-
dos arts. 42 a 56 do Código Penal e consistirá em multa de ridade administrativa ou independentemente dela, poderá
cem a cinco mil cruzeiros135; detenção por 10 (dez) dias a ser promovida pela vítima do abuso, a responsabilidade
6 (seis) meses136; perda do cargo e a inabilitação para o civil ou penal ou ambas, da autoridade culpada142 (art. 9º).
exercício de qualquer outra função pública por prazo até 3 Serão aplicáveis as normas do Código de Processo Civil à
(três) anos137 (art. 6º, § 3º, a a c). Estas penas poderão ser ação civil (art. 11).
aplicadas autônoma ou cumulativamente138 (art. 6º, § 4º).
Da ação penal
126
Cespe/PC-ES/Delegado de Polícia/2011.
127
Assunto cobrado nas provas: Funiversa/Detran-DF/Agente de Trânsito/2012; A ação penal será iniciada, independentemente de in-
TRT 3ª Região/TRT 3ª Região (MG)/Juiz do Trabalho/2012; Cespe/Caixa/Ad-
vogado/2010; Cespe/PC-RN/Delegado de Polícia/2009; Fundec/TRT 9ª Região quérito policial ou justificação por denúncia do Ministério
(PR)/Juiz do Trabalho/2003; Cespe/TJ-DF/Analista Judiciário/Área Judiciária/ Público, instruída com a representação da vítima do abuso143
Execução de Mandados/2003. (art. 12). Ressalta-se que a falta de representação do ofendi-
128
Cespe/TJ-DF/Analista Judiciário/Área Judiciária/Execução de Mandados/2003.
129
Assunto cobrado nas provas: FCC/TCE-SE/Analista de Controle Externo/Coor- do, nos casos de abuso de autoridade, não obsta a iniciativa
denadoria Jurídica/2011; Fundep/TJ-MG/Técnico Judiciário/2010. ou o curso de ação pública. Isto está previsto no art. 1º da Lei
130
Assunto cobrado na prova: Funiversa/Seplag-DF/Auditor Fiscal de Atividades
Urbanas/Transportes/2011. nº 5.249/1967144. Em se tratando de crime de abuso de auto-
131
Assunto cobrado nas provas: CAIP-IMES/Câmara Municipal de São Caetano
do Sul-SP/Procurador/2012; Fundep/TJ-MG/Técnico Judiciário/2010; UFPR/ ria/2014; Vunesp/SPTrans/Advogado Pleno Cível/2012; MPE-SP/Promotor de
PC-PR/Delegado de Polícia/2007. Justiça/2010; Funiversa/PC-DF/Delegado de Polícia/Objetiva/2009; Cespe/TJ-
132
Assunto cobrado nas provas: Vunesp/SPTrans/Advogado Pleno Cível/2012; -CE/Oficial de Justiça/2008.
FCC/PGM/Joao Pessoa-PB/Procurador Municipal/2012; Funiversa/Seplag-DF/ 139
Assunto cobrado nas provas: FCC/TJ-AP/Analista Judiciário/Área Judiciária/Execu-
Auditor Fiscal de Atividades Urbanas/Transportes/2011. ção de Mandados/2014; IBFC/TRE-AM/Analista Judiciário/Área Judiciária/2014;
133
Assunto cobrado nas provas: FCC/PGM-Joao Pessoa-PB/Procurador Munici- Cespe/TJ-BA/Titular de Serviços de Notas e de Registros/Remoção/2013; FCC/
pal/2012; Funiversa/Seplag-DF/Auditor Fiscal de Atividades Urbanas/Trans- PGM/Joao Pessoa-PB/Procurador Municipal/2012; FCC/TRE-AP/Analista Judici-
portes/2011. ário/Área Judiciária/2011; Cespe/PC-ES/Perito Papiloscópico/Específicos/2011;
134
Assunto cobrado na prova: FCC/PGM/Joao Pessoa-PB/Procurador Municipal/2012. Cespe/PC-RN/Escrivão de Polícia Civil/2009; Funiversa/PC-DF/Agente de Polí-
135
Assunto cobrado nas provas: FCC/TRT 18ª Região (GO)/Juiz do Trabalho/2014; cia/2009; Cespe/TJ-RR/Analista Judiciário/Área Judiciária/2006.
Cespe/Câmara dos Deputados/Técnico Legislativo/Agente de Polícia Legisla- 140
Assunto cobrado nas provas: MPT/Procurador/2013; Cespe/CBM-DF/Advoga-
Legislação Especial

tiva/2014; FCC/TCE-SE/Analista de Controle Externo/Coordenadoria Jurídi- do/2007.


ca/2011; Cespe/TJ-CE/Oficial de Justiça/2008. 141
Assunto cobrado nas provas: Cespe/PC-DF/Escrivão de Polícia/2013; Vunesp/
136
Assunto cobrado nas provas: FCC/TRT 18ª Região (GO)/Juiz do Trabalho/2014; SPTrans/Advogado Pleno Cível2012; FCC/TRE-AP/Analista Judiciário/Área Ju-
Cespe/Câmara dos Deputados/Técnico Legislativo/Agente de Polícia Legisla- diciária/2011; Cespe/PC-ES/Perito Papiloscópico/Específicos/2011; Funcab/
tiva/2014; FCC/TCE-SE/Analista de Controle Externo/Coordenadoria Jurídi- PC-RO/Delegado de Polícia/2009; Cespe/PC-RN/Escrivão de Polícia Civil/2009;
ca/2011; Cespe/TJ-CE/Oficial de Justiça/2008. Fundec/TRT 9ª Região (PR)/Juiz do Trabalho/2003.
137
Assunto cobrado nas provas: Cespe/TJ-DF/Juiz de Direito Substituto/2014; 142
Assunto cobrado nas provas: MPT/Procurador/2013; Cespe/PC-RN/Delegado
Cespe/Câmara dos Deputados/Técnico Legislativo/Agente de Polícia Legisla- de Polícia/2009.
tiva/2014; Cespe/TJ-BA/Titular de Serviços de Notas e de Registros/Remo- 143
Assunto cobrado nas provas: Vunesp/MPE-ES/Promotor de Justiça/2013; Vu-
ção/2013; MPT/Procurador/2013; FCC/TCE-SE/Analista de Controle Externo/ nesp/SPTrans/Advogado Pleno Cível/2012.
Coordenadoria Jurídica/2011; Cespe/TJ-CE/Oficial de Justiça/2008. 144
Assunto cobrado nas provas: MPE-PR/Promotor/2014; Funcab/PC-RO/Delegado
138
Assunto cobrado nas provas: IBFC/TRE-AM/Analista Judiciário/Área Judiciá­ de Polícia/2009; Cespe/PC-PB/Agente de Investigação e Agente de Polícia/2009.

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ridade (Lei nº 4.898/1965) eventual falha na representação, nhas qualificadas, a representação poderá contar a indicação
ou mesmo sua falta, não obsta a instauração da ação penal. de mais 2 (duas) testemunhas (art. 14, § 2º).
Isso nos exatos termos do art. 1º da Lei nº 5.249/1967, que
prevê, expressamente, não existir, quanto aos delitos de que Do pedido de arquivamento da representação
trata, qualquer condição de procedibilidade. (Jurisprudência
do STJ – HC nº 59.591/RN, Rel. Ministro Felix Fischer, Quinta Se o órgão do Ministério Público, ao invés de apresentar a
Turma, julgado em 15/8/2006, DJ 4/9/2006, p. 317) denúncia requerer o arquivamento da representação, o Juiz,
Logo, o Ministério Público, mesmo sem haver a repre- no caso de considerar improcedentes as razões invocadas,
sentação, pode oferecer a denúncia145. Assim, o crime de fará remessa da representação ao Procurador-Geral e este
abuso de autoridade se procede mediante ação penal pública oferecerá a denúncia, ou designará outro órgão do Ministério
incondicionada.146 Público para oferecê-la ou insistirá no arquivamento, ao qual
Destaca-se que compete à justiça comum processar e só então deverá o Juiz atender (art. 15).
julgar militar por crime de abuso de autoridade, ainda que
praticado em serviço, nos termos da Súmula nº 172 do Su- Do cabimento da ação privada
perior Tribunal de Justiça147. Ademais, eventual reconheci-
mento da coisa julgada ou da extinção da punibilidade do Caso o órgão do Ministério Público não oferecer a de-
crime de abuso de autoridade na Justiça comum não teria o núncia no prazo fixado nesta lei, será admitida ação priva-
condão de impedir o processamento do Paciente na Justiça da150. O órgão do Ministério Público poderá, porém, aditar a
Castrense pelos crimes de lesão corporal leve e violação de queixa, repudiá-la e oferecer denúncia substitutiva e inter-
domicílio. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal fir-
vir em todos os termos do processo, interpor recursos e, a
mou entendimento no sentido de que, por não estar inserido
todo tempo, no caso de negligência do querelante, retomar
no Código Penal Militar, o crime de abuso de autoridade
a ação como parte principal151 (art. 16).
seria da competência da Justiça comum, e os crimes de lesão
corporal e de violação de domicílio, por estarem estabele-
cidos nos arts. 209 e 226 do Código Penal Militar, seriam Do recebimento ou rejeição da denúncia
da competência da Justiça Castrense. (Jurisprudência do
STF – HC nº 92912, Relator(a): Min. Cármen Lúcia, Primeira Após serem recebidos os autos, o Juiz, dentro do prazo de
Turma, julgado em 20/11/2007, DJe-165, divulg. 18/12/2007, 48 (quarenta e oito) horas, proferirá despacho, recebendo ou
public. 19/12/2007, DJ 19/12/2007, PP-00055 EMENT VOL- rejeitando a denúncia (art. 17). No despacho em que receber
02304-02 PP-00362 RTJ VOL-00205-01 PP-00365) a denúncia, o Juiz designará, desde logo, dia e hora para a
Depois de apresentada ao Ministério Público a repre- audiência de instrução e julgamento, que deverá ser realizada,
sentação da vítima, o MP, no prazo de 48 (quarenta e oito) improrrogavelmente, dentro de 5 (cinco) dias (art. 17, § 1º).
horas, denunciará o réu, desde que o fato narrado constitua
abuso de autoridade, e requererá ao Juiz a sua citação, e, Da citação do réu e da intimação das testemunhas
bem assim, a designação de audiência de instrução e jul-
gamento148 (art. 13). Esta denúncia do MP será apresentada A citação do réu para se ver processar, até julgamento fi-
em duas vias (art. 13, § 1º). nal e para comparecer à audiência de instrução e julgamento,
será feita por mandado sucinto que, será acompanhado da
Do abuso de autoridade que houver deixado vestígios segunda via da representação e da denúncia (art. 17, § 2º).
Com relação às testemunhas de acusação e de defesa,
Se a ato ou fato constitutivo do abuso de autoridade estas poderão ser apresentadas em juízo, independentemen-
houver deixado vestígios o ofendido ou o acusado poderá te de intimação (art. 18).
promover a comprovação da existência de tais vestígios149, Não serão deferidos pedidos de precatória para a au-
por meio de duas testemunhas qualificadas; requerer ao Juiz, diência ou a intimação de testemunhas ou, salvo o caso
até 72 (setenta e duas) horas antes da audiência de instru- previsto no art. 14, b, requerimentos para a realização de
ção e julgamento, a designação de um perito para fazer as diligências, perícias ou exames, a não ser que o Juiz, em des-
verificações necessárias (art. 14, a e b). O perito ou as teste- pacho motivado, considere indispensáveis tais providências
munhas farão o seu relatório e prestarão seus depoimentos (art. 18, parágrafo único). Este art. 14, b, versa que se abuso
verbalmente, ou o apresentarão por escrito, querendo, na de autoridade houver deixado vestígios e, o ofendido ou o
audiência de instrução e julgamento (art. 14, § 1º). acusado, requerer ao juiz, até 72 horas antes da audiência
No caso em que o acusado puder promover a comprova- de instrução e julgamento, a designação de um perito para
ção da existência de tais vestígios, por meio de duas testemu- fazer as verificações necessárias.
145
Assunto cobrado nas provas: Cespe/MPE-AC/2014; COPS-UEL/PC-PR/Delega-
do de Polícia/2013; Funiversa/PC-DF/Agente de Polícia/2009; Cespe/PC-PB/
Da audiência
Agente de Investigação e Agente de Polícia/2009.
146
Assunto cobrado nas seguintes provas: IBFC/MPE-SP/Analista de Promotoria À hora marcada, o Juiz mandará que o porteiro dos au-
II/2013; COPS-UEL/PC-PR /Delegado de Polícia/2013; UEG/PC-GO/Agente de
Polícia/2013; Cespe/MPE-TO/Promotor de Justiça/2012; Funiversa/Detran-DF/ ditórios ou o oficial de justiça declare aberta a audiência,
Legislação Especial

Agente de Trânsito/2012; Funcab/PM-GO/Soldado da Polícia Militar/2010; apregoando em seguida o réu, as testemunhas, o perito,
Cespe/PC-PB/Agente de Investigação e Agente de Polícia/2009; Cespe/TJ-RR/
Analista Judiciário/Área Judiciária/2006. o representante do Ministério Público ou o advogado que
147
Assunto cobrado nas provas: FCC/TRT 18ª Região (GO)/Juiz do Traba- tenha subscrito a queixa e o advogado ou defensor do réu
lho/2014; COPS-UEL/PC-PR/Delegado de Polícia/2013; MPDFT/Promotor de (art. 19). Esta audiência somente deixará de realizar-se se
Justiça/2011; Cespe/PC-ES/Escrivão de Polícia/Específicos/2011; Cespe/TRE-
-MA/Analista Judiciário/Área Judiciária/2009; Cespe/PRF/Policial Rodoviário ausente o Juiz (art. 19, parágrafo único). Se até meia hora
Federal/2008; Cespe/TJ-SE/Juiz/2008; Cespe/TJ-RR/Analista Judiciário/Área depois da hora marcada o Juiz não houver comparecido, os
Judiciária/2006.
148
Assunto cobrado nas provas: FCC/TRE-AP/Analista Judiciário/Área Judiciá-
ria/2011; Cespe/PC-RN/Escrivão de Polícia Civil/2009. 150
Assunto cobrado na prova: Vunesp/SPTrans/Advogado Pleno Cível/2012.
149
Assunto cobrado na prova: Cespe/PC-ES/Perito Criminal/Específicos/2011. 151
Assunto cobrado na prova: Cespe/PC-RN/Escrivão de Polícia Civil/2009.

20 Este eBook foi adquirido por ANA PAULA TORQUATO DA COSTA - CPF: 628.848.913-15.
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presentes poderão retirar-se, devendo o ocorrido constar do d) à liberdade de consciência e de crença;
livro de termos de audiência (art. 20). e) ao livre exercício do culto religioso;
A audiência de instrução e julgamento será pública, se f) à liberdade de associação;
contrariamente não dispuser o Juiz, e será realizada em dia g) aos direitos e garantias legais assegurados ao exercício
útil, entre dez (10) e dezoito (18) horas, na sede do Juízo do voto;
ou, excepcionalmente, no local que o Juiz designar (art. 21). h) ao direito de reunião;
Aberta a audiência o Juiz fará a qualificação e o inter- i) à incolumidade física do indivíduo;
rogatório do réu, se estiver presente (art. 22). Caso não j) aos direitos e garantias legais assegurados ao exercício
compareça nem o réu nem o seu advogado, o Juiz nomeará profissional. (Incluído pela Lei nº 6.657,de 5/6/1979)
imediatamente defensor para funcionar na audiência e nos Art. 4º Constitui também abuso de autoridade:
ulteriores termos do processo (art. 22, parágrafo único). a) ordenar ou executar medida privativa da liberdade in-
Depois de ouvidas as testemunhas e o perito, o Juiz dará dividual, sem as formalidades legais ou com abuso de poder;
a palavra sucessivamente, ao Ministério Público ou ao ad- b) submeter pessoa sob sua guarda ou custódia a vexame
vogado que houver subscrito a queixa e ao advogado ou ou a constrangimento não autorizado em lei;
defensor do réu, pelo prazo de 15 (quinze) minutos para c) deixar de comunicar, imediatamente, ao juiz compe-
cada um, prorrogável por mais 10 (dez), a critério do Juiz tente a prisão ou detenção de qualquer pessoa;
(art. 23). Encerrado o debate, o Juiz proferirá imediatamente d) deixar o Juiz de ordenar o relaxamento de prisão ou
a sentença (art. 24). detenção ilegal que lhe seja comunicada;
Será lavrado em livro próprio, pelo escrivão, o ocorrido na e) levar à prisão e nela deter quem quer que se proponha
audiência ditado pelo juiz, termo que conterá, em resumo, a prestar fiança, permitida em lei;
os depoimentos e as alegações da acusação e da defesa, os f) cobrar o carcereiro ou agente de autoridade policial
requerimentos e, por extenso, os despachos e a sentença carceragem, custas, emolumentos ou qualquer outra des-
(art. 25). Subscreverão este termo o Juiz, o representante pesa, desde que a cobrança não tenha apoio em lei, quer
do Ministério Público ou o advogado que houver subscrito a quanto à espécie quer quanto ao seu valor;
queixa, o advogado ou defensor do réu e o escrivão (art. 26). g) recusar o carcereiro ou agente de autoridade policial
Nas comarcas onde os meios de transporte forem difíceis recibo de importância recebida a título de carceragem, cus-
e não permitirem a observância dos prazos fixados nesta lei, tas, emolumentos ou de qualquer outra despesa;
o juiz poderá aumentá-las, sempre motivadamente, até o h) o ato lesivo da honra ou do patrimônio de pessoa
dobro (art. 27). Nos casos omissos, serão aplicáveis as normas natural ou jurídica, quando praticado com abuso ou desvio
do Código de Processo Penal, sempre que compatíveis com o de poder ou sem competência legal;
sistema de instrução e julgamento regulado por esta lei (art. i) prolongar a execução de prisão temporária, de pena
28). Caberão os recursos e apelações previstas no Código de ou de medida de segurança, deixando de expedir em tempo
oportuno ou de cumprir imediatamente ordem de liberdade.
Processo Penal das decisões, despachos e sentenças (art. 28,
(Incluído pela Lei nº 7.960, de 21/12/1989)
parágrafo único).
Art. 5º Considera-se autoridade, para os efeitos desta
lei, quem exerce cargo, emprego ou função pública, de na-
Lei nº 4.898, de 9 de Dezembro de 1965 tureza civil, ou militar, ainda que transitoriamente e sem
remuneração.
Regula o Direito de Represen- Art. 6º O abuso de autoridade sujeitará o seu autor à
tação e o processo de Responsabi- sanção administrativa civil e penal.
lidade Administrativa Civil e Penal, § 1º A sanção administrativa será aplicada de acordo com
nos casos de abuso de autoridade. a gravidade do abuso cometido e consistirá em:
a) advertência;
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso b) repreensão;
Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: c) suspensão do cargo, função ou posto por prazo de
Art. 1º O direito de representação e o processo de res- cinco a cento e oitenta dias, com perda de vencimentos e
ponsabilidade administrativa civil e penal, contra as autori- vantagens;
dades que, no exercício de suas funções, cometerem abusos, d) destituição de função;
são regulados pela presente lei. e) demissão;
Art. 2º O direito de representação será exercido por meio f) demissão, a bem do serviço público.
de petição: § 2º A sanção civil, caso não seja possível fixar o valor
a) dirigida à autoridade superior que tiver competência do dano, consistirá no pagamento de uma indenização de
legal para aplicar, à autoridade civil ou militar culpada, a quinhentos a dez mil cruzeiros.
respectiva sanção; § 3º A sanção penal será aplicada de acordo com as regras
b) dirigida ao órgão do Ministério Público que tiver com- dos artigos 42 a 56 do Código Penal e consistirá em:
petência para iniciar processo-crime contra a autoridade a) multa de cem a cinco mil cruzeiros;
culpada. b) detenção por dez dias a seis meses;
Legislação Especial

Parágrafo único. A representação será feita em duas vias c) perda do cargo e a inabilitação para o exercício de
e conterá a exposição do fato constitutivo do abuso de au- qualquer outra função pública por prazo até três anos.
toridade, com todas as suas circunstâncias, a qualificação § 4º As penas previstas no parágrafo anterior poderão
do acusado e o rol de testemunhas, no máximo de três, se ser aplicadas autônoma ou cumulativamente.
as houver. § 5º Quando o abuso for cometido por agente de autori-
Art. 3º Constitui abuso de autoridade qualquer atentado: dade policial, civil ou militar, de qualquer categoria, poderá
a) à liberdade de locomoção; ser cominada a pena autônoma ou acessória, de não poder
b) à inviolabilidade do domicílio; o acusado exercer funções de natureza policial ou militar no
c) ao sigilo da correspondência; município da culpa, por prazo de um a cinco anos.

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art. 7º recebida a representação em que for solicitada § 1º No despacho em que receber a denúncia, o Juiz de-
a aplicação de sanção administrativa, a autoridade civil ou signará, desde logo, dia e hora para a audiência de instrução
militar competente determinará a instauração de inquérito e julgamento, que deverá ser realizada, improrrogavelmente.
para apurar o fato. dentro de cinco dias.
§ 1º O inquérito administrativo obedecerá às normas § 2º A citação do réu para se ver processar, até julga-
estabelecidas nas leis municipais, estaduais ou federais, civis mento final e para comparecer à audiência de instrução e
ou militares, que estabeleçam o respectivo processo. julgamento, será feita por mandado sucinto que, será acom-
§ 2º não existindo no município no Estado ou na legisla- panhado da segunda via da representação e da denúncia.
ção militar normas reguladoras do inquérito administrativo Art. 18. As testemunhas de acusação e defesa poderão
serão aplicadas supletivamente, as disposições dos arts. 219 ser apresentada em juízo, independentemente de intimação.
a 225 da Lei nº 1.711, de 28 de outubro de 1952 (Estatuto Parágrafo único. Não serão deferidos pedidos de preca-
dos Funcionários Públicos Civis da União). tória para a audiência ou a intimação de testemunhas ou,
§ 3º O processo administrativo não poderá ser sobresta- salvo o caso previsto no artigo 14, letra “b”, requerimentos
do para o fim de aguardar a decisão da ação penal ou civil. para a realização de diligências, perícias ou exames, a não ser
Art. 8º A sanção aplicada será anotada na ficha funcional que o Juiz, em despacho motivado, considere indispensáveis
da autoridade civil ou militar. tais providências.
Art. 9º Simultaneamente com a representação dirigida à Art. 19. A hora marcada, o Juiz mandará que o porteiro
autoridade administrativa ou independentemente dela, po- dos auditórios ou o oficial de justiça declare aberta a audiên-
derá ser promovida pela vítima do abuso, a responsabilidade cia, apregoando em seguida o réu, as testemunhas, o perito,
civil ou penal ou ambas, da autoridade culpada. o representante do Ministério Público ou o advogado que
Art. 10. Vetado tenha subscrito a queixa e o advogado ou defensor do réu.
Art. 11. À ação civil serão aplicáveis as normas do Código Parágrafo único. A audiência somente deixará de realizar-
de Processo Civil. -se se ausente o Juiz.
Art. 12. A ação penal será iniciada, independentemente Art. 20. Se até meia hora depois da hora marcada o Juiz
de inquérito policial ou justificação por denúncia do Minis- não houver comparecido, os presentes poderão retirar-se,
tério Público, instruída com a representação da vítima do devendo o ocorrido constar do livro de termos de audiência.
abuso. Art. 21. A audiência de instrução e julgamento será pú-
Art. 13. Apresentada ao Ministério Público a represen- blica, se contrariamente não dispuser o Juiz, e realizar-se-á
tação da vítima, aquele, no prazo de quarenta e oito horas, em dia útil, entre dez (10) e dezoito (18) horas, na sede do
denunciará o réu, desde que o fato narrado constitua abuso Juízo ou, excepcionalmente, no local que o Juiz designar.
de autoridade, e requererá ao Juiz a sua citação, e, bem Art. 22. Aberta a audiência o Juiz fará a qualificação e o
assim, a designação de audiência de instrução e julgamento. interrogatório do réu, se estiver presente.
Parágrafo único. Não comparecendo o réu nem seu advo-
§ 1º A denúncia do Ministério Público será apresentada
gado, o Juiz nomeará imediatamente defensor para funcionar
em duas vias.
na audiência e nos ulteriores termos do processo.
Art. 14. Se a ato ou fato constitutivo do abuso de auto-
Art. 23. Depois de ouvidas as testemunhas e o perito, o
ridade houver deixado vestígios o ofendido ou o acusado
Juiz dará a palavra sucessivamente, ao Ministério Público ou
poderá:
ao advogado que houver subscrito a queixa e ao advogado
a) promover a comprovação da existência de tais vestí-
ou defensor do réu, pelo prazo de quinze minutos para cada
gios, por meio de duas testemunhas qualificadas;
um, prorrogável por mais dez (10), a critério do Juiz.
b) requerer ao Juiz, até setenta e duas horas antes da
Art. 24. Encerrado o debate, o Juiz proferirá imediata-
audiência de instrução e julgamento, a designação de um mente a sentença.
perito para fazer as verificações necessárias. Art. 25. Do ocorrido na audiência o escrivão lavrará no
§ 1º O perito ou as testemunhas farão o seu relatório livro próprio, ditado pelo Juiz, termo que conterá, em resu-
e prestarão seus depoimentos verbalmente, ou o apresen- mo, os depoimentos e as alegações da acusação e da defesa,
tarão por escrito, querendo, na audiência de instrução e os requerimentos e, por extenso, os despachos e a sentença.
julgamento. Art. 26. Subscreverão o termo o Juiz, o representante
§ 2º No caso previsto na letra a deste artigo a represen- do Ministério Público ou o advogado que houver subscrito
tação poderá conter a indicação de mais duas testemunhas. a queixa, o advogado ou defensor do réu e o escrivão.
Art. 15. Se o órgão do Ministério Público, ao invés de Art. 27. Nas comarcas onde os meios de transporte forem
apresentar a denúncia requerer o arquivamento da represen- difíceis e não permitirem a observância dos prazos fixados
tação, o Juiz, no caso de considerar improcedentes as razões nesta lei, o juiz poderá aumentá-las, sempre motivadamente,
invocadas, fará remessa da representação ao Procurador- até o dobro.
-Geral e este oferecerá a denúncia, ou designará outro órgão Art. 28. Nos casos omissos, serão aplicáveis as normas
do Ministério Público para oferecê-la ou insistirá no arquiva- do Código de Processo Penal, sempre que compatíveis com
mento, ao qual só então deverá o Juiz atender. o sistema de instrução e julgamento regulado por esta lei.
Art. 16. Se o órgão do Ministério Público não oferecer a Parágrafo único. Das decisões, despachos e sentenças,
denúncia no prazo fixado nesta lei, será admitida ação pri-
Legislação Especial

caberão os recursos e apelações previstas no Código de Pro-


vada. O órgão do Ministério Público poderá, porém, aditar a cesso Penal.
queixa, repudiá-la e oferecer denúncia substitutiva e intervir Art. 29. Revogam-se as disposições em contrário.
em todos os termos do processo, interpor recursos e, a todo
tempo, no caso de negligência do querelante, retomar a ação Brasília, 9 de dezembro de 1965; 144º da Independência
como parte principal. e 77º da República.
Art. 17. Recebidos os autos, o Juiz, dentro do prazo de
quarenta e oito horas, proferirá despacho, recebendo ou H. CASTELLO BRANCO
rejeitando a denúncia. Juracy Magalhães

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
Lei de Tortura (Lei nº 9.455/1997) que no crime de tortura em que a pessoa presa ou sujeita
a medida de segurança é submetida a sofrimento físico ou
A Lei nº 9.455, publicada em 7 de abril de 1997, define mental, por intermédio da prática de ato não previsto em lei
os crimes de tortura e dá outras providências. A lei entrou ou não resultante de medida legal, não é exigido, para seu
em vigor na data da sua publicação (art. 3º) e revogou o aperfeiçoamento, especial fim de agir por parte do agente,
art. 233 da Lei nº 8.069/1990 do Estatuto da Criança e do bastando, portanto, para a configuração do crime, o dolo
Adolescente. de praticar a conduta descrita no tipo objetivo161.
A Constituição Federal tem como cláusula pétrea a ga- Ademais, a denominada tortura para a prática de crime
rantia de que ninguém será submetido a tortura nem a ocorre quando o agente usa de violência ou grave ameaça
tratamento desumano ou degradante152. Isto está previsto para obrigar a vítima a realizar ação ou omissão de natu-
no art. 5º, III, CF. Além disso, o crime de tortura é crime reza criminosa. Assim, essa forma de tortura não abrange
contra o Direito Internacional e interno, tendo em vista a
a provocação de ação contravencional162.
Convenção contra a Tortura e outros Tratamentos ou Penas
Cruéis, Desumanos ou Degradantes e a Lei nº 9.455/1997, Em regra, o crime de tortura é considerado crime co-
que define e pune crime de tortura, por ele respondendo mum, uma vez que não se exige qualidade ou condição
os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-lo, se especial do agente que o pratica, ou seja, qualquer pessoa
omitirem153 (art. 5º, XLIII). pode ser considerada sujeito ativo desse crime163. Assim, o
art. 1.º da Lei nº 9.455/1997, ao tipificar o crime de tortura
Das Condutas Consideradas Crimes como crime comum, não ofendeu o que já determinava
o art. 1º da Convenção da ONU Contra a Tortura e Ou-
Tortura tros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degra-
dantes, de 1984, em face da própria ressalva contida no
Esta lei prevê que constitui crime de tortura constran- texto ratificado pelo Brasil164 (Jurisprudência do STJ – REsp
ger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, 1299787/PR, Rel. Ministra Laurita Vaz, Quinta Turma, julgado
causando-lhe sofrimento físico ou mental154 com o fim de em 10/12/2013, DJe 3/2/2014).
obter informação, declaração ou confissão da vítima ou
de terceira pessoa155; para provocar ação ou omissão de Tortura por omissão
natureza criminosa156; em razão de discriminação racial ou
religiosa157 (art. 1º, inciso I, a, b, c). Observa-se que cons- Registra-se que, aquele que se omite em face dessas
tranger alguém com emprego de violência ou grave ame-
condutas, quando tinha o dever de evitá-las ou apurá-las165,
aça, causando-lhe sofrimento físico ou mental, em razão
incorre na pena de detenção de (1) um a 4 (quatro) anos166
de discriminação sexual não constitui crime de tortura158.
Isto porque a discriminação sexual como tortura não está (art. 1º, § 2º). A figura típica prevista no § 2º do art. 1º
prevista na Lei nº 9.455/1997. da Lei de Tortura constitui-se em crime próprio, porquanto
Também é crime de tortura submeter alguém, sob sua exige condição especial do sujeito. Ou seja, é um delito que
guarda, poder ou autoridade, com emprego de violência somente pode ser praticado por pessoa que, ao presen-
ou grave ameaça, a intenso sofrimento físico ou mental, ciar tortura, omite-se, a despeito do “dever de evitá-las ou
como forma de aplicar castigo pessoal ou medida de caráter apurá-las” 167 (Jurisprudência do STJ – HC nº 131.828/RJ, Rel.
preventivo, com previsão de pena de reclusão, de 2 (dois) Ministra Laurita Vaz, Quinta Turma, julgado em 19/11/2013,
a 8 (oito) anos159 (art. 1º, II). DJe 2/12/2013)
Na mesma pena incorre quem submete pessoa presa Assim, conclui-se que a tortura, conduta expressamente
ou sujeita a medida de segurança a sofrimento físico ou proibida pela Constituição Federal e lei específica, pode ser
mental, por intermédio da prática de ato não previsto em lei praticada por meio de uma conduta comissiva (positiva,
ou não resultante de medida legal160 (art. 1º, § 1º). Anote-se por via de uma ação) ou omissiva (negativa, por via de
uma abstenção)168.
152
Vunesp/MPE/SP/Promotor de Justiça/2008.
153
FCC/SEAD/AP/Agente Penitenciário/2002.
154
Assunto cobrado nas seguintes provas: Instituto Cidades/DPE-GO/Defensor
Público/2010; Cespe/PC-PB/Agente de Investigação e Agente de Polícia/2009;
Cespe/Polícia Federal/Agente da Polícia Federal/Regional/2004. Jurídicas/2012; FCC/DPE/SP/Defensor Público/2006.
155
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/TJ/CE/Analista Judiciário/Execu- 161
Cespe/PC/ES/Escrivão de Polícia/2011.
ção de Mandados/2014; IOBV/PM/SC/Soldado da Polícia Militar/2013; FGV/ 162
Cespe/TJ-RR/Analista Judiciário/Área Judiciária/2006.
OAB/Exame de Ordem Unificado III/Primeira Fase/2011; Cespe/PM/DF/Aspi- 163
Funiversa/PM/DF/Soldado da Polícia Militar/Combatente/2013; Upnet/Seres/
rante/Quadro de Praças Especiais/2010; PC/SP/Escrivão de Polícia Civil/2010; PE/Agente Penitenciário/2010; Cespe/TJ/RR/Analista Judiciário/Área Judiciá-
Cespe/PC/PB/Delegado de Polícia/2009. ria/2006; FCC/DPE-SP/Defensor Público/2006.
156
Assunto cobrado nas seguintes provas: IOBV/PM/SC/Soldado da Polícia Mili- 164
FCC/DPE/PB/Defensor Público/2014; FCC/MPE/PE/Promotor de Justiça/2014;
tar/2013; Instituto Cidades/DPE/AM/Defensor Público/2011. Cespe/TJ/CE/ Analista Judiciário/Execução de Mandados/2014; Cespe/MPE/
157
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/DPU/Defensor Público Fede- AC/2014.
ral de Segunda Categoria/2015; FCC/DPE/PB/Defensor Público/2014; IOBV/ 165
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/DPE/RS/Defensor Público/2014;
PM/SC/Soldado da Polícia Militar/2013; Vunesp/Sejus/ES/Agente Penitenci- FCC/MPE/PE/Promotor de Justiça/2014; IBFC/MPE/SP/Analista de Promotoria
ário/2013; Copese/UFT/DPE/TO/Analista em Gestão Especializado/ Ciências II/2013; Cespe/PC/DF/Escrivão de Polícia/2013; Cespe/PC/BA/Delegado de
Jurídicas/2012; Fumarc/PM/MG/Oficial da Polícia Militar/2011; Ceperj/PC-RJ/ Polícia/2013; Fumarc/PM/MG/Oficial da Polícia Militar/2011; Funcab/PM-GO/
Legislação Especial

Delegado de Polícia/2009; Cespe/DPF/Agente da Polícia Federal/2009; FCC/ Soldado da Polícia Militar/2010; Funcab/PC/RO/Delegado de Polícia/2009; Ces-
DPE/SP/Defensor Público/2006. pe/PC/RN/Escrivão de Polícia Civil/2009; FCC/DPE-SP/Defensor Público/2009;
158
TJ/SC/Juiz/2010. Cespe/MPE/RR/Promotor de Justiça/2008.
159
Assunto cobrado nas seguintes provas: IOBV/PM/SC/Soldado da Polícia Mi- 166
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/TJ/CE/Analista Judiciário/Execu-
litar/2013; Vunesp/Sejus/ES/Agente Penitenciário/2013; Instituto Cidades/ ção de Mandados/2014; Instituto Cidades/DPE/AM/Defensor Público/2011;
DPE-AM/Defensor Público/2011; Cespe/MPU/Técnico de Apoio Especializado/ Cespe/PC/PB/Delegado de Polícia/2009; Funrio/Depen/Agente Penitenciá-
Transporte/2010; Funiversa/PC/DF/Agente de Polícia/2009; Funrio/Depen/ rio/2009.
Agente Penitenciário/2009; FGV/PCRJ/Oficial de Cartório/2008; Cespe/Polícia 167
FCC/DPE/PB/Defensor Público/2014; FCC/MPE/PE/Promotor de Justiça/2014;
Federal/Agente Federal da Polícia Federal/Nacional/2004. FCC/DPE/SP/Defensor Público/2006.
160
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/PC/DF/Agente de Polícia/2013; 168
Assunto cobrado nas seguintes provas: FGV/OAB/Exame de Ordem Unificado
Cespe/Depen/Agente Penitenciário/2013; Vunesp/Sejus/ES/ Agente Peniten- III/2011; Cespe/PM/DF/Aspirante/Quadro de Praças Especiais/2010; Cespe/
ciário/2013; Copese/UFT/DPE/TO/Analista em Gestão Especializado/Ciências PC/PB/Agente de Investigação e Agente de Polícia/2009.

Este eBook foi adquirido por ANA PAULA TORQUATO DA COSTA - CPF: 628.848.913-15. 23
A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
Tortura em que resulta lesão corporal ou morte SP, Rel. Ministra Maria Thereza de Assis Moura, Sexta Turma,
(tortura qualificada) julgado em 20/6/2013, DJe 28/6/2013)
Tem-se, ainda, que para fins da Lei nº 9.455/1997, a
Se da tortura resulta lesão corporal de natureza grave ou perda do cargo público, função ou emprego público é efeito
gravíssima, a pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos169. extrapenal da sentença condenatória; e em se tratando de
No caso de resultar morte, a reclusão é de 8 (oito) a 16 condenação de oficial da Polícia Militar pela prática do cri-
(dezesseis) anos170 (art. 1º, § 3º). me de tortura, a competência para decretar a perda do ofi-
Atente-se que as lesões leves suportadas pela vítima cialato, como efeito da condenação, é da Justiça Comum178.
serão absorvidas pelo crime de tortura171. Das vedações e regime de cumprimento da pena

Causas de aumento da pena O crime de tortura é inafiançável e insuscetível de graça


ou anistia179 (art. 1º, § 6º). Além disso, o condenado por crime
Aumenta-se a pena de 1/6 (um sexto) até 1/3 (um terço) de tortura, salvo no caso de tortura por omissão prevista no
se o crime é cometido por agente público172; se o crime é art. 1º, § 2º, desta lei, iniciará o cumprimento da pena em
cometido contra criança, gestante, portador de deficiência, regime fechado180 (art. 1º, § 7º). Entretanto, isto foi declarado
adolescente ou maior de 60 (sessenta) anos173; se o crime inconstitucional pelo STF no julgamento do HC nº 111.840181
é cometido mediante sequestro174 (art. 1º, § 4º, incisos I, (Julgamento do STF – HC nº 111840, Relator(a): Min. Dias Toffo-
II e III). li, Tribunal Pleno, julgado em 27/6/2012, Processo Eletrônico
DJe-249, divulg. 16/12/2013, public. 17/12/2013)
Efeitos da condenação
Da progressão do regime prisional e do livramento
A condenação acarretará a perda do cargo, função ou condicional
emprego público e a interdição para seu exercício pelo do-
bro do prazo da pena aplicada175 (art. 1º, § 5º). Ressalta-se
Registre-se que não há óbice à progressão de regime
que esses efeitos da condenação são automáticos176 (Juris-
prudência noticiada no Informativo nº 419 do STJ – HC nº prisional ao condenado por crime de tortura182. Sobre o
47.846/MG, Rel. Ministro Og Fernandes, Sexta Turma, julga- assunto, tem-se a Súmula nº 471 do Superior Tribunal de
do em 11/12/2009, DJe 22/2/2010). Assim, prescindem de Justiça que prevê que os condenados por crimes hedion-
motivação177 (Jurisprudência do STJ – AgRg no Ag 1388953/ dos ou assemelhados cometidos antes da vigência da Lei nº
11.464/2007 sujeitam-se ao disposto no art. 112 da Lei nº
169
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/TJ/DF/Juiz de Direito Substitu- 7.210/1984 (Lei de Execução Penal) para a progressão de
to/2014; IBFC/SEDS/MG/Agente de Segurança Socioeducativo/2014; Funcab/ regime prisional. Ou seja, se sujeitarão ao cumprimento de
PC/MT/Investigador/Escrivão de Polícia/2014; Cespe/TJ/AC/Técnico Judiciário/
Área Judiciária/2012; TJ/SC/Juiz/2010; PC/SP/Escrivão de Polícia Civil/2010; 1/6 (um sexto) da pena.
Funrio/Depen/Agente Penitenciário/2009. O condenado pela prática de crime de tortura, por ex-
170
Assunto cobrado nas seguintes provas: IBFC/SEDS/MG/Agente de Segurança pressa previsão legal, não poderá ser beneficiado por livra-
Socioeducativo/2014; Funcab/PM/GO/Soldado da Polícia Militar/2010; Cespe/
PC/PB/Delegado de Polícia/2009. mento condicional, se for reincidente específico em crimes
171
Vunesp/PC/CE/Delegado de Polícia Civil de 1ª Classe/2015; Funrio/Depen/ dessa natureza183. Isto está previsto no Código Penal, art. 83,
Agente Penitenciário/2009; Cespe/TJ/RR/Analista Judiciário/Área Judiciá-
ria/2006; Cespe/Polícia Federal/Agente Federal da Polícia Federal/2000.
V, que versa que o juiz poderá conceder livramento condi-
172
Assunto cobrado nas seguintes provas: IBFC/SEDS/MG/ Agente de Segurança cional ao condenado a pena privativa de liberdade igual ou
Penitenciária/2014; Aroeira/PC/TO/Escrivão de Polícia Civil/2014; Vunesp/ superior a 2 (dois) anos, desde que cumprido mais de 2/3
SejusES/Agente Penitenciário/2013; Copese/UFT//DPE/TO/Analista Jurídico
de Defensoria Pública/2012; Vunesp/TJ/MG/Juiz/2012; FGV/OAB/Exame de (dois terços) da pena, nos casos de condenação por crime
Ordem Unificado III/Primeira Fase/2011; FCC/SJCDH/BA/Agente Penitenciá- hediondo, prática da tortura, tráfico ilícito de entorpecentes
rio/2010; Funcab/PM/GO/Soldado da Polícia Militar/2010; Vunesp/Fundação e drogas afins, e terrorismo, se o apenado não for reincidente
Casa/Analista Administrativo/Direito/2010; Cespe/PC/RN/ Escrivão de Polícia
Civil/2009; Cespe/PC/PB/Agente de Investigação e Agente de Polícia/2009; específico em crimes dessa natureza.
PC/RJ/ PC/RJ/Inspetor de Polícia/2008.
173
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/DPE/RS/Defensor Público/2014;
IBFC/SEDS/MG/Agente de Segurança Penitenciária/2014; Aroeira/PC/TO/Es- 178
MPE/SC/Promotor de Justiça/2013.
crivão de Polícia Civil/2014; Vunesp/PC/SP/ Escrivão de Polícia/2014; IBFC/ 179
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/DPE/PB/Defensor Público/2014;
MPE/SP/Analista de Promotoria II/2013; Copese/UFT/DPE/TO/Analista Jurídico Aroeira/PC/TO/Escrivão de Polícia Civil/2014; Cespe/TJ-CE/Analista Judiciá-
de Defensoria Pública/2012; FEC/PC/RJ/Inspetor de Polícia/6ª Classe/2012; rio/Execução de Mandados/2014; IBFC/SEDS/MG/Agente de Segurança So-
FCC/SJCDH/BA/Agente Penitenciário/2010; Vunesp/Fundação Casa/Analista cioeducativo/2014; Vunesp/ PC/SP/Escrivão de Polícia/2014; IBFC/MPE/SP/
Administrativo/Direito/2010; Cespe/PC-RN/Escrivão de Polícia Civil/2009; Analista de Promotoria II/2013; Funiversa/PM-DF/Soldado da Polícia Militar/
Funiversa/PC/DF/Agente de Polícia/2009. Combatente/2013; Vunesp/Sejus-ES/Agente Penitenciário/2013; Vunesp/PC/
174
Assunto cobrado nas seguintes provas: IBFC/SEDS/MG/Agente de Segurança SP/Investigador de Polícia/2013; Copese/UFT/DPE/TO/Analista em Gestão
Penitenciária/2014; Aroeira/PC/TO/Escrivão de Polícia Civil/2014; Fumarc/PM/ Especializado/Ciências Jurídicas/2012; Instituto Cidades/DPE/AM/Defensor
MG/Oficial da Polícia Militar/2011; FCC/SJCDH/BA/Agente Penitenciário/2010; Público/2011; FGV/OAB/Exame de Ordem Unificado III/Primeira Fase/2011;
Vunesp/Fundação Casa/Analista Administrativo /Direito/2010; Ceperj/PC-RJ/ Cespe/MPU/Técnico de Apoio Especializado/Segurança/2010; Cespe/MPU/
Delegado de Polícia2009; Cespe/PC/RN/Escrivão de Polícia Civil/2009; MPE/ Técnico de Apoio Especializado/Transporte/2010; TJ-SC/ Técnico Judiciário/
SP/Promotor de Justiça/2006. Auxiliar/2010; Fundep/TJ/MG/Assistente Social/2010; Funcab/PM-GO/Solda-
175
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/MPE-PE/Promotor de Justi- do da Polícia Militar/2010; Funiversa/PC/DF/Agente de Polícia/2009; Funrio/
ça2014; Aroeira/PC/TO/Escrivão de Polícia Civil/2014; Cespe/PG/DF/Pro- Depen/Agente Penitenciário/2009; Cespe/Polícia Federal/Delegado de Polícia/
curador/2013; Cespe/Depen/Agente Penitenciário/2013; Vunesp/Sejus/ES/ Regional/2004.
Agente Penitenciário/2013; Vunesp/PC/SP/Investigador de Polícia/2013; Ins- 180
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/DPE/RS/Defensor Público/2014;
tituto Cidades/DPE/AM/Defensor Público/2011; Funiversa/PC/DF/Agente de IBFC/MPE/SP/Analista de Promotoria II/2013; Vunesp/Sejus-ES/Agente Pe-
Legislação Especial

Polícia/2009; Cespe/PC/PB/Delegado de Polícia/2009; Funrio/Depen/Agente nitenciário/2013; Vunesp/PC/SP/Investigador de Polícia/2013; Copese/UFT/


Penitenciário/2009; FGV/PC/RJ/Oficial de Cartório/2008; Cespe/MPE/RR/ DPE/TO/Analista em Gestão Especializado/Ciências Jurídicas/2012; TJ-SC/
Promotor de Justiça/2008; Cespe/Polícia Federal/Escrivão da Polícia Federal/ Juiz/2010.
Regional/2004. 181
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/MPE/PE/Promotor de Justiça/2014;
176
Assunto cobrado nas seguintes provas: Vunesp/PC/CE/Delegado de Polícia Aroeira/PC/TO/Escrivão de Polícia Civil/2014; Vunesp/PC-SP/Escrivão de Po-
Civil de 1ª Classe/2015; Cespe/MPE/AC/2014; TJ/SC/Juiz/2013; Cespe/TJ/RO/ lícia/2014; Funiversa/PM-DF/Soldado da Polícia Militar/Combatente/2013;
Analista/Processual/2012; Funcab/PM/GO/Soldado da Polícia Militar/2010; Cespe/TJ-AC/Técnico Judiciário/Área Judiciária/2012; Cespe/PC-ES/Escrivão
Upnet/2010/Seres/PE/Agente Penitenciário; Vunesp/MPE/SP/Promotor de de Polícia/Específicos/2011; Upenet/ Seres/PE/Agente Penitenciário/2010;
Justiça/2008. Cespe/PC-PB/Delegado de Polícia/2009.
177
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/PG/DF/Procurador/2013; Ces- 182
Assunto cobrado nas seguintes provas: Upnet/Seres/PE/ Agente Penitenciá-
pe/Polícia Federal/Agente da Polícia Federal/2012; Cespe/PC/PB/Agente de rio/2010; Cespe/DPU/Defensor Público/2007.
Investigação e Agente de Polícia/2009. 183
Cespe/STJ/Analista Judiciário/Área Judiciária/2008.

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Do crime de tortura equiparado aos crimes hediondos Concurso material de crimes

Importante ressaltar que o crime de tortura não é cri- Há concurso de crimes de abuso de autoridade e de tortura
me hediondo. Na verdade, é crime equiparado aos crimes se, em um mesmo contexto, mas com desígnios autônomos,
hediondos184. Isto significa que deve receber o mesmo tra- dois agentes torturam preso para que ele confesse a autoria
tamento que os crimes hediondos, mas com eles não se de delito e, em seguida, o exibem, sem autorização, para as
confunde. redes de televisão como suposto autor confesso do crime191.

Da extraterritorialidade da aplicação da lei de tortura Lei nº 9.455, de 7 de Abril de 1997


Pela lei que define os crimes de tortura, o legislador Define os crimes de tortura e
incluiu, no ordenamento jurídico brasileiro, mais uma hi- dá outras providências.
pótese de extraterritorialidade da lei penal brasileira, qual
seja, a de o delito não ter sido praticado no território e a O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congres-
vítima ser brasileira, ou encontrar-se o agente em local sob so Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
a jurisdição nacional185 (art. 2º). Art. 1º Constitui crime de tortura:
Em regra, a competência de julgamento é da Justiça Co- I – constranger alguém com emprego de violência ou
mum Estadual. O STJ já se posicionou no sentido de que o grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental:
fato de o crime de tortura, praticado contra brasileiros, ter a) com o fim de obter informação, declaração ou confis-
ocorrido no exterior não torna, por si só, a Justiça Federal são da vítima ou de terceira pessoa;
competente para processar e julgar os agentes estrangeiros. b) para provocar ação ou omissão de natureza criminosa;
(Jurisprudência noticiada no Informativo nº 549 do STJ – CC c) em razão de discriminação racial ou religiosa;
107.397/DF, Rel. Ministro Nefi Cordeiro, Terceira Seção, jul- II – submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autori-
gado em 24/9/2014, DJe 1/10/2014). dade, com emprego de violência ou grave ameaça, a intenso
sofrimento físico ou mental, como forma de aplicar castigo
Da competência para processo e julgamento pessoal ou medida de caráter preventivo.
Pena – reclusão, de dois a oito anos.
O crime de tortura, tipificado na Lei nº 9.455/1997, não § 1º Na mesma pena incorre quem submete pessoa pre-
se qualifica como delito de natureza castrense, achando-se sa ou sujeita a medida de segurança a sofrimento físico ou
incluído, por isso mesmo, na esfera de competência penal mental, por intermédio da prática de ato não previsto em
da Justiça comum (federal ou local, conforme o caso), ain- lei ou não resultante de medida legal.
da que praticado por membro das Forças Armadas ou por § 2º Aquele que se omite em face dessas condutas, quan-
integrante da Polícia Militar186 (Jurisprudência do STF – AI do tinha o dever de evitá-las ou apurá-las, incorre na pena
769637 AgR-ED-ED, Relator(a): Min. Celso de Mello, Segunda de detenção de um a quatro anos.
Turma, julgado em 25/6/2013, Acórdão Eletrônico DJe-205, § 3º Se resulta lesão corporal de natureza grave ou gra-
divulg. 15/10/2013, public. 16/10/2013). Isto porque não há víssima, a pena é de reclusão de quatro a dez anos; se resulta
crime de tortura previsto no Código Penal Militar, razão pela morte, a reclusão é de oito a dezesseis anos.
qual a conduta típica de tortura por policial militar enseja § 4º Aumenta-se a pena de um sexto até um terço:
a aplicação da Lei nº 9.455/1997187. I – se o crime é cometido por agente público;
Ademais, para que um cidadão seja processado e julga- II – se o crime é cometido contra criança, gestante, por-
tador de deficiência, adolescente ou maior de 60 (sessenta)
do por crime de tortura, é prescindível que esse crime deixe
anos; (Redação dada pela Lei nº 10.741, de 2003)
vestígios de ordem física188.
III – se o crime é cometido mediante sequestro.
§ 5º A condenação acarretará a perda do cargo, função
Da ação penal pública incondicionada
ou emprego público e a interdição para seu exercício pelo
dobro do prazo da pena aplicada.
A ação penal para o crime de tortura é de ação penal § 6º O crime de tortura é inafiançável e insuscetível de
pública incondicionada189. Logo, o defensor público, ao to- graça ou anistia.
mar conhecimento de que o réu, preso pelo processo, sofreu § 7º O condenado por crime previsto nesta Lei, salvo a
tortura nos termos da Lei nº 9.455/1997, por agente público, hipótese do § 2º, iniciará o cumprimento da pena em regime
deverá representar ao órgão do Ministério Público que tiver fechado.
competência para iniciar processo crime contra a autorida- Art. 2º O disposto nesta Lei aplica-se ainda quando o
de culpada190. Isto porque o MP é que detém a legitimidade crime não tenha sido cometido em território nacional, sendo
de promover privativamente a ação penal pública. a vítima brasileira ou encontrando-se o agente em local sob
jurisdição brasileira.
Art. 3º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
184
Assunto cobrado na prova: Cespe/Sejus/ES/Agente Penitenciário/2009. Art. 4º Revoga-se o art. 233 da Lei nº 8.069, de 13 de julho
185
Cespe/DPE/BA/Defensor Público/2010; FCC/DPE/PB/Defensor Público/2014;
FCC/MPE/PE/Promotor de Justiça/2014; Aroeira/PC/TO/Escrivão de Polícia de 1990 – Estatuto da Criança e do Adolescente.
Legislação Especial

Civil/2014; IBFC/SEDS/MG/Agente de Segurança Socioeducativo/2014; IBFC/


MPE/SP/Analista de Promotoria II/2013; Funiversa/PM/DF/Soldado da Polícia
Militar/Combatente/2013; Vunesp/PC-SP/Investigador de Polícia/2013; FGV/
Brasília, 7 de abril de 1997; 176º da Independência e
PC-RJ/Oficial de Cartório/2008; Vunesp/MPE-SP/ Promotor de Justiça/2008. 109º da República.
186
Vunesp/PC/CE/Delegado de Polícia Civil de 1ª Classe/2015; Cespe/PG-DF/Pro-
curador/2013; Cespe/PC/ES/Delegado de Polícia/Específicos/2011; Cespe/PC/
PB/Agente de Investigação e Agente de Polícia/2009.
FERNANDO HENRIQUE CARDOSO
187
Assunto cobrado na prova: TJ/SC/Juiz/2010. Nelson A. Jobim
188
Cespe/PRF/Policial Rodoviário Federal/2013; Cespe/PC-BA/Delegado de Po-
lícia/2013.
189
Assunto cobrado na prova: MPE-SP/Promotor de Justiça/2006.
190
FCC/DPE-SP/Defensor Público/2006. 191
Cespe/PC/AL/Escrivão de Polícia/2012; Cespe/MPU/Analista/Processual/2010.

Este eBook foi adquirido por ANA PAULA TORQUATO DA COSTA - CPF: 628.848.913-15. 25
A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
Busca Informatizada Vestcon § 9º A atenção primária à saúde fará a busca ativa da
gestante que não iniciar ou que abandonar as consultas de
Estatuto da Criança e do pré-natal, bem como da puérpera que não comparecer às
consultas pós-parto. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)
Adolescente § 10. Incumbe ao poder público garantir, à gestante e à
mulher com filho na primeira infância que se encontrem sob
Lei nº 8.069, de 13 de Julho de 1990 custódia em unidade de privação de liberdade, ambiência
que atenda às normas sanitárias e assistenciais do Sistema
Dispõe sobre o Estatuto da Único de Saúde para o acolhimento do filho, em articulação
Criança e do Adolescente e dá com o sistema de ensino competente, visando ao desen-
outras providências. volvimento integral da criança. (Incluído pela Lei nº 13.257,
de 2016)
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA: Faço saber que o Congres- Art. 9º O poder público, as instituições e os emprega-
so Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: dores propiciarão condições adequadas ao aleitamento
[...] materno, inclusive aos filhos de mães submetidas a medida
privativa de liberdade.
TÍTULO II
§ 1º Os profissionais das unidades primárias de saúde
Dos Direitos Fundamentais
desenvolverão ações sistemáticas, individuais ou coletivas,
visando ao planejamento, à implementação e à avaliação
CAPÍTULO I
de ações de promoção, proteção e apoio ao aleitamento
Do Direito à Vida e à Saúde
materno e à alimentação complementar saudável, de forma
Art. 7º A criança e o adolescente têm direito a proteção contínua. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)
à vida e à saúde, mediante a efetivação de políticas sociais § 2º Os serviços de unidades de terapia intensiva neona-
públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento tal deverão dispor de banco de leite humano ou unidade de
sadio e harmonioso, em condições dignas de existência. coleta de leite humano. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)
Art. 8º É assegurado a todas as mulheres o acesso aos pro- Art. 10. Os hospitais e demais estabelecimentos de
gramas e às políticas de saúde da mulher e de planejamento atenção à saúde de gestantes, públicos e particulares, são
reprodutivo e, às gestantes, nutrição adequada, atenção hu- obrigados a:
manizada à gravidez, ao parto e ao puerpério e atendimento I – manter registro das atividades desenvolvidas, através
pré-natal, perinatal e pós-natal integral no âmbito do Sistema de prontuários individuais, pelo prazo de dezoito anos;
Único de Saúde. (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016) II – identificar o recém-nascido mediante o registro de
§ 1º O atendimento pré-natal será realizado por pro- sua impressão plantar e digital e da impressão digital da mãe,
fissionais da atenção primária. (Redação dada pela Lei nº sem prejuízo de outras formas normatizadas pela autoridade
13.257, de 2016) administrativa competente;
§ 2º Os profissionais de saúde de referência da gestante III – proceder a exames visando ao diagnóstico e terapêu-
garantirão sua vinculação, no último trimestre da gestação, tica de anormalidades no metabolismo do recém-nascido,
ao estabelecimento em que será realizado o parto, garanti- bem como prestar orientação aos pais;
do o direito de opção da mulher. (Redação dada pela Lei nº IV – fornecer declaração de nascimento onde constem
13.257, de 2016) necessariamente as intercorrências do parto e do desenvol-
§ 3º Os serviços de saúde onde o parto for realizado as- vimento do neonato;
segurarão às mulheres e aos seus filhos recém-nascidos alta V – manter alojamento conjunto, possibilitando ao neo-
hospitalar responsável e contrarreferência na atenção primá- nato a permanência junto à mãe.
ria, bem como o acesso a outros serviços e a grupos de apoio Art. 11. É assegurado acesso integral às linhas de cuidado
à amamentação. (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016) voltadas à saúde da criança e do adolescente, por intermédio
§ 4º Incumbe ao poder público proporcionar assistência do Sistema Único de Saúde, observado o princípio da equi-
psicológica à gestante e à mãe, no período pré e pós-natal, in- dade no acesso a ações e serviços para promoção, proteção
clusive como forma de prevenir ou minorar as consequências e recuperação da saúde. (Redação dada pela Lei nº 13.257,
do estado puerperal. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) de 2016)
§ 5º A assistência referida no § 4º deste artigo deverá § 1º A criança e o adolescente com deficiência serão
ser prestada também a gestantes e mães que manifestem atendidos, sem discriminação ou segregação, em suas ne-
interesse em entregar seus filhos para adoção, bem como a cessidades gerais de saúde e específicas de habilitação e
gestantes e mães que se encontrem em situação de privação reabilitação. (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016)
de liberdade. (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016) § 2º Incumbe ao poder público fornecer gratuitamente,
§ 6º A gestante e a parturiente têm direito a 1 (um) acom- àqueles que necessitarem, medicamentos, órteses, próte-
panhante de sua preferência durante o período do pré-natal, ses e outras tecnologias assistivas relativas ao tratamento,
do trabalho de parto e do pós-parto imediato. (Incluído pela habilitação ou reabilitação para crianças e adolescentes, de
Lei nº 13.257, de 2016) acordo com as linhas de cuidado voltadas às suas necessida-
§ 7º A gestante deverá receber orientação sobre alei- des específicas. (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016)
tamento materno, alimentação complementar saudável e § 3º Os profissionais que atuam no cuidado diário ou
Legislação Especial

crescimento e desenvolvimento infantil, bem como sobre frequente de crianças na primeira infância receberão for-
formas de favorecer a criação de vínculos afetivos e de esti- mação específica e permanente para a detecção de sinais
mular o desenvolvimento integral da criança. (Incluído pela de risco para o desenvolvimento psíquico, bem como para
Lei nº 13.257, de 2016) o acompanhamento que se fizer necessário. (Incluído pela
§ 8º A gestante tem direito a acompanhamento saudá- Lei nº 13.257, de 2016)
vel durante toda a gestação e a parto natural cuidadoso, Art. 12. Os estabelecimentos de atendimento à saúde,
estabelecendo-se a aplicação de cesariana e outras inter- inclusive as unidades neonatais, de terapia intensiva e de
venções cirúrgicas por motivos médicos. (Incluído pela Lei cuidados intermediários, deverão proporcionar condições
nº 13.257, de 2016) para a permanência em tempo integral de um dos pais ou

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responsável, nos casos de internação de criança ou adoles- Art. 18. É dever de todos velar pela dignidade da criança e
cente. (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016) do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento de-
Art. 13. Os casos de suspeita ou confirmação de castigo sumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor.
físico, de tratamento cruel ou degradante e de maus-tratos Art. 18-A. A criança e o adolescente têm o direito de
contra criança ou adolescente serão obrigatoriamente comu- ser educados e cuidados sem o uso de castigo físico ou de
nicados ao Conselho Tutelar da respectiva localidade, sem tratamento cruel ou degradante, como formas de correção,
prejuízo de outras providências legais. (Redação dada pela disciplina, educação ou qualquer outro pretexto, pelos pais,
Lei nº 13.010, de 2014) pelos integrantes da família ampliada, pelos responsáveis,
§ 1º As gestantes ou mães que manifestem interesse pelos agentes públicos executores de medidas socioeduca-
em entregar seus filhos para adoção serão obrigatoriamente tivas ou por qualquer pessoa encarregada de cuidar deles,
encaminhadas, sem constrangimento, à Justiça da Infância e tratá-los, educá-los ou protegê-los. (Incluído pela Lei nº
da Juventude. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016) 13.010, de 2014)
§ 2º Os serviços de saúde em suas diferentes portas de Parágrafo único. Para os fins desta Lei, considera-se: (In-
entrada, os serviços de assistência social em seu componen- cluído pela Lei nº 13.010, de 2014)
te especializado, o Centro de Referência Especializado de I – castigo físico: ação de natureza disciplinar ou punitiva
Assistência Social (Creas) e os demais órgãos do Sistema de aplicada com o uso da força física sobre a criança ou o adoles-
Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente deverão cente que resulte em: (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014)
conferir máxima prioridade ao atendimento das crianças na a) sofrimento físico; ou (Incluído pela Lei nº 13.010, de
faixa etária da primeira infância com suspeita ou confirma- 2014)
ção de violência de qualquer natureza, formulando projeto b) lesão; (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014)
terapêutico singular que inclua intervenção em rede e, se II – tratamento cruel ou degradante: conduta ou forma
necessário, acompanhamento domiciliar. (Incluído pela Lei cruel de tratamento em relação à criança ou ao adolescente
nº 13.257, de 2016) que: (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014)
Art. 14. O Sistema Único de Saúde promoverá progra- a) humilhe; ou (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014)
mas de assistência médica e odontológica para a prevenção b) ameace gravemente; ou (Incluído pela Lei nº 13.010,
das enfermidades que ordinariamente afetam a população de 2014)
infantil, e campanhas de educação sanitária para pais, edu- c) ridicularize. (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014)
cadores e alunos. Art. 18-B. Os pais, os integrantes da família ampliada,
§ 1º É obrigatória a vacinação das crianças nos casos os responsáveis, os agentes públicos executores de medidas
recomendados pelas autoridades sanitárias. (Renumerado socioeducativas ou qualquer pessoa encarregada de cuidar
do parágrafo único pela Lei nº 13.257, de 2016) de crianças e de adolescentes, tratá-los, educá-los ou pro-
§ 2º O Sistema Único de Saúde promoverá a atenção à tegê-los que utilizarem castigo físico ou tratamento cruel ou
saúde bucal das crianças e das gestantes, de forma trans- degradante como formas de correção, disciplina, educação
versal, integral e intersetorial com as demais linhas de cui- ou qualquer outro pretexto estarão sujeitos, sem prejuízo
dado direcionadas à mulher e à criança. (Incluído pela Lei de outras sanções cabíveis, às seguintes medidas, que serão
nº 13.257, de 2016)
aplicadas de acordo com a gravidade do caso: (Incluído pela
§ 3º A atenção odontológica à criança terá função educa-
Lei nº 13.010, de 2014)
tiva protetiva e será prestada, inicialmente, antes de o bebê
I – encaminhamento a programa oficial ou comunitário
nascer, por meio de aconselhamento pré-natal, e, posterior-
de proteção à família; (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014)
mente, no sexto e no décimo segundo anos de vida, com
II – encaminhamento a tratamento psicológico ou psiqui-
orientações sobre saúde bucal. (Incluído pela Lei nº 13.257,
átrico; (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014)
de 2016)
§ 4º A criança com necessidade de cuidados odontoló- III – encaminhamento a cursos ou programas de orien-
gicos especiais será atendida pelo Sistema Único de Saúde. tação; (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014)
(Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016) IV  – obrigação de encaminhar a criança a tratamento
especializado; (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014)
CAPÍTULO II V – advertência. (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014)
Do Direito à Liberdade, ao Respeito e à Dignidade Parágrafo único. As medidas previstas neste artigo se-
rão aplicadas pelo Conselho Tutelar, sem prejuízo de outras
Art. 15. A criança e o adolescente têm direito à liberda- providências legais. (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014)
de, ao respeito e à dignidade como pessoas humanas em [...]
processo de desenvolvimento e como sujeitos de direitos
civis, humanos e sociais garantidos na Constituição e nas leis. TÍTULO III
Art. 16. O direito à liberdade compreende os seguintes Da Prevenção
aspectos: [...]
I – ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços co- CAPÍTULO II
munitários, ressalvadas as restrições legais; Da Prevenção Especial
II – opinião e expressão; [...]
III – crença e culto religioso; Seção III
IV – brincar, praticar esportes e divertir-se; Da Autorização para Viajar
Legislação Especial

V – participar da vida familiar e comunitária, sem dis-


criminação; Art. 83. Nenhuma criança poderá viajar para fora da co-
VI – participar da vida política, na forma da lei; marca onde reside, desacompanhada dos pais ou responsá-
VII – buscar refúgio, auxílio e orientação. vel, sem expressa autorização judicial.
Art. 17. O direito ao respeito consiste na inviolabilidade § 1º A autorização não será exigida quando:
da integridade física, psíquica e moral da criança e do adoles- a) tratar-se de comarca contígua à da residência da
cente, abrangendo a preservação da imagem, da identidade, criança, se na mesma unidade da Federação, ou incluída na
da autonomia, dos valores, ideias e crenças, dos espaços e mesma região metropolitana;
objetos pessoais. b) a criança estiver acompanhada:

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1) de ascendente ou colateral maior, até o terceiro grau, CAPÍTULO II
comprovado documentalmente o parentesco; Das Atribuições do Conselho
2) de pessoa maior, expressamente autorizada pelo pai,
mãe ou responsável. Art. 136. São atribuições do Conselho Tutelar:
§ 2º A autoridade judiciária poderá, a pedido dos pais I – atender as crianças e adolescentes nas hipóteses pre-
ou responsável, conceder autorização válida por dois anos. vistas nos arts. 98 e 105, aplicando as medidas previstas no
Art. 84. Quando se tratar de viagem ao exterior, a auto- art. 101, I a VII;
rização é dispensável, se a criança ou adolescente: II – atender e aconselhar os pais ou responsável, aplican-
I – estiver acompanhado de ambos os pais ou respon- do as medidas previstas no art. 129, I a VII;
sável; III  – promover a execução de suas decisões, podendo
II – viajar na companhia de um dos pais, autorizado ex- para tanto:
pressamente pelo outro através de documento com firma a) requisitar serviços públicos nas áreas de saúde, educa-
reconhecida. ção, serviço social, previdência, trabalho e segurança;
Art. 85. Sem prévia e expressa autorização judicial, ne- b) representar junto à autoridade judiciária nos casos de
nhuma criança ou adolescente nascido em território nacional descumprimento injustificado de suas deliberações.
poderá sair do País em companhia de estrangeiro residente IV – encaminhar ao Ministério Público notícia de fato que
constitua infração administrativa ou penal contra os direitos
ou domiciliado no exterior.
da criança ou adolescente;
[...]
V – encaminhar à autoridade judiciária os casos de sua
PARTE ESPECIAL
competência;
[...] VI – providenciar a medida estabelecida pela autoridade
TÍTULO V judiciária, dentre as previstas no art. 101, de I a VI, para o
Do Conselho Tutelar adolescente autor de ato infracional;
VII – expedir notificações;
CAPÍTULO I VIII – requisitar certidões de nascimento e de óbito de
Disposições Gerais criança ou adolescente quando necessário;
IX – assessorar o Poder Executivo local na elaboração da
Art. 131. O Conselho Tutelar é órgão permanente e autô- proposta orçamentária para planos e programas de atendi-
nomo, não jurisdicional, encarregado pela sociedade de zelar mento dos direitos da criança e do adolescente;
pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente, X – representar, em nome da pessoa e da família, contra
definidos nesta Lei. a violação dos direitos previstos no art. 220, § 3º, inciso II,
Art. 132. Em cada Município e em cada Região Adminis- da Constituição Federal;
trativa do Distrito Federal haverá, no mínimo, 1 (um) Conse- XI  – representar ao Ministério Público para efeito das
lho Tutelar como órgão integrante da administração pública ações de perda ou suspensão do poder familiar, após es-
local, composto de 5 (cinco) membros, escolhidos pela po- gotadas as possibilidades de manutenção da criança ou do
pulação local para mandato de 4 (quatro) anos, permitida adolescente junto à família natural. (Redação dada pela Lei
1 (uma) recondução, mediante novo processo de escolha. nº 12.010, de 2009)
(Redação dada pela Lei nº 12.696, de 2012) XII – promover e incentivar, na comunidade e nos gru-
Art. 133. Para a candidatura a membro do Conselho Tu- pos profissionais, ações de divulgação e treinamento para o
telar, serão exigidos os seguintes requisitos: reconhecimento de sintomas de maus-tratos em crianças e
I – reconhecida idoneidade moral; adolescentes. (Incluído pela Lei nº 13.046, de 2014)
II – idade superior a vinte e um anos; Parágrafo único. Se, no exercício de suas atribuições, o
III – residir no município. Conselho Tutelar entender necessário o afastamento do con-
Art. 134. Lei municipal ou distrital disporá sobre o local, vívio familiar, comunicará incontinenti o fato ao Ministério
dia e horário de funcionamento do Conselho Tutelar, inclu- Público, prestando-lhe informações sobre os motivos de tal
sive quanto à remuneração dos respectivos membros, aos entendimento e as providências tomadas para a orientação,
quais é assegurado o direito a: (Redação dada pela Lei nº o apoio e a promoção social da família. (Incluído pela Lei nº
12.696, de 2012) 12.010, de 2009)
I – cobertura previdenciária; (Incluído pela Lei nº 12.696, Art. 137. As decisões do Conselho Tutelar somente pode-
de 2012) rão ser revistas pela autoridade judiciária a pedido de quem
II – gozo de férias anuais remuneradas, acrescidas de 1/3 tenha legítimo interesse.
(um terço) do valor da remuneração mensal; (Incluído pela
CAPÍTULO III
Lei nº 12.696, de 2012)
Da Competência
III – licença-maternidade; (Incluído pela Lei nº 12.696,
de 2012)
Art. 138. Aplica-se ao Conselho Tutelar a regra de com-
IV  – licença-paternidade; (Incluído pela Lei nº 12.696, petência constante do art. 147.
de 2012)
V  – gratificação natalina. (Incluído pela Lei nº 12.696, CAPÍTULO IV
de 2012) Da Escolha dos Conselheiros
Legislação Especial

Parágrafo único. Constará da lei orçamentária municipal


e da do Distrito Federal previsão dos recursos necessários Art. 139. O processo para a escolha dos membros do Con-
ao funcionamento do Conselho Tutelar e à remuneração e selho Tutelar será estabelecido em lei municipal e realizado
formação continuada dos conselheiros tutelares. (Redação sob a responsabilidade do Conselho Municipal dos Direitos
dada pela Lei nº 12.696, de 2012) da Criança e do Adolescente, e a fiscalização do Ministério
Art. 135. O exercício efetivo da função de conselheiro Público. (Redação dada pela Lei nº 8.242, de 12.10.1991)
constituirá serviço público relevante e estabelecerá presun- § 1º O processo de escolha dos membros do Conselho
ção de idoneidade moral. (Redação dada pela Lei nº 12.696, Tutelar ocorrerá em data unificada em todo o território na-
de 2012) cional a cada 4 (quatro) anos, no primeiro domingo do mês

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de outubro do ano subsequente ao da eleição presidencial. Parágrafo único. Incide na mesma pena aquele que pro-
(Incluído pela Lei nº 12.696, de 2012) cede à apreensão sem observância das formalidades legais.
§ 2º A posse dos conselheiros tutelares ocorrerá no dia Art. 231. Deixar a autoridade policial responsável pela
10 de janeiro do ano subsequente ao processo de escolha. apreensão de criança ou adolescente de fazer imediata co-
(Incluído pela Lei nº 12.696, de 2012) municação à autoridade judiciária competente e à família
§ 3º No processo de escolha dos membros do Conselho do apreendido ou à pessoa por ele indicada:
Tutelar, é vedado ao candidato doar, oferecer, prometer ou Pena – detenção de seis meses a dois anos.
entregar ao eleitor bem ou vantagem pessoal de qualquer Art. 232. Submeter criança ou adolescente sob sua auto-
natureza, inclusive brindes de pequeno valor. (Incluído pela ridade, guarda ou vigilância a vexame ou a constrangimento:
Lei nº 12.696, de 2012) Pena – detenção de seis meses a dois anos.
Art. 233. (Revogado pela Lei nº 9.455, de 7.4.1997:
CAPÍTULO V Art. 234. Deixar a autoridade competente, sem justa cau-
Dos Impedimentos sa, de ordenar a imediata liberação de criança ou adolescen-
te, tão logo tenha conhecimento da ilegalidade da apreensão:
Art. 140. São impedidos de servir no mesmo Conselho Pena – detenção de seis meses a dois anos.
marido e mulher, ascendentes e descendentes, sogro e genro Art. 235. Descumprir, injustificadamente, prazo fixado
ou nora, irmãos, cunhados, durante o cunhadio, tio e sobri- nesta Lei em benefício de adolescente privado de liberdade:
nho, padrasto ou madrasta e enteado. Pena – detenção de seis meses a dois anos.
Parágrafo único. Estende-se o impedimento do conselhei- Art. 236. Impedir ou embaraçar a ação de autoridade
ro, na forma deste artigo, em relação à autoridade judiciária judiciária, membro do Conselho Tutelar ou representante do
e ao representante do Ministério Público com atuação na Ministério Público no exercício de função prevista nesta Lei:
Justiça da Infância e da Juventude, em exercício na comarca, Pena – detenção de seis meses a dois anos.
foro regional ou distrital. Art. 237. Subtrair criança ou adolescente ao poder de
[...] quem o tem sob sua guarda em virtude de lei ou ordem
TÍTULO VII judicial, com o fim de colocação em lar substituto:
Dos Crimes e Das Pena – reclusão de dois a seis anos, e multa.
Infrações Administrativas Art. 238. Prometer ou efetivar a entrega de filho ou pupilo
a terceiro, mediante paga ou recompensa:
CAPÍTULO I Pena – reclusão de um a quatro anos, e multa.
Dos Crimes Parágrafo único. Incide nas mesmas penas quem oferece
ou efetiva a paga ou recompensa.
Seção I Art. 239. Promover ou auxiliar a efetivação de ato des-
Disposições Gerais tinado ao envio de criança ou adolescente para o exterior
com inobservância das formalidades legais ou com o fito de
Art. 225. Este Capítulo dispõe sobre crimes praticados obter lucro:
contra a criança e o adolescente, por ação ou omissão, sem Pena – reclusão de quatro a seis anos, e multa.
prejuízo do disposto na legislação penal. Parágrafo único. Se há emprego de violência, grave ame-
Art. 226. Aplicam-se aos crimes definidos nesta Lei as aça ou fraude: (Incluído pela Lei nº 10.764, de 12.11.2003)
normas da Parte Geral do Código Penal e, quanto ao proces- Pena – reclusão, de 6 (seis) a 8 (oito) anos, além da pena
so, as pertinentes ao Código de Processo Penal. correspondente à violência.
Art. 227. Os crimes definidos nesta Lei são de ação pú- Art. 240. Produzir, reproduzir, dirigir, fotografar, filmar
blica incondicionada ou registrar, por qualquer meio, cena de sexo explícito ou
pornográfica, envolvendo criança ou adolescente: (Redação
Seção II dada pela Lei nº 11.829, de 2008)
Dos Crimes em Espécie Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.
(Redação dada pela Lei nº 11.829, de 2008)
Art. 228. Deixar o encarregado de serviço ou o dirigen- § 1º Incorre nas mesmas penas quem agencia, facilita,
te de estabelecimento de atenção à saúde de gestante de recruta, coage, ou de qualquer modo intermedeia a parti-
manter registro das atividades desenvolvidas, na forma e cipação de criança ou adolescente nas cenas referidas no
prazo referidos no art. 10 desta Lei, bem como de fornecer à caput deste artigo, ou ainda quem com esses contracena.
parturiente ou a seu responsável, por ocasião da alta médica, (Redação dada pela Lei nº 11.829, de 2008)
declaração de nascimento, onde constem as intercorrências § 2º Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se o agente
do parto e do desenvolvimento do neonato: comete o crime: (Redação dada pela Lei nº 11.829, de 2008)
Pena – detenção de seis meses a dois anos. I – no exercício de cargo ou função pública ou a pretexto
Parágrafo único. Se o crime é culposo: de exercê-la; (Redação dada pela Lei nº 11.829, de 2008)
Pena – detenção de dois a seis meses, ou multa. II – prevalecendo-se de relações domésticas, de coabi-
Art. 229. Deixar o médico, enfermeiro ou dirigente de tação ou de hospitalidade; ou (Redação dada pela Lei nº
estabelecimento de atenção à saúde de gestante de identi- 11.829, de 2008)
ficar corretamente o neonato e a parturiente, por ocasião do III – prevalecendo-se de relações de parentesco consan-
parto, bem como deixar de proceder aos exames referidos güíneo ou afim até o terceiro grau, ou por adoção, de tutor,
Legislação Especial

no art. 10 desta Lei: curador, preceptor, empregador da vítima ou de quem, a


Pena – detenção de seis meses a dois anos. qualquer outro título, tenha autoridade sobre ela, ou com
Parágrafo único. Se o crime é culposo: seu consentimento. (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008)
Pena – detenção de dois a seis meses, ou multa. Art. 241. Vender ou expor à venda fotografia, vídeo ou
Art. 230. Privar a criança ou o adolescente de sua liber- outro registro que contenha cena de sexo explícito ou por-
dade, procedendo à sua apreensão sem estar em flagrante nográfica envolvendo criança ou adolescente: (Redação dada
de ato infracional ou inexistindo ordem escrita da autoridade pela Lei nº 11.829, de 2008)
judiciária competente: Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.
Pena – detenção de seis meses a dois anos. (Redação dada pela Lei nº 11.829, de 2008)

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Art. 241-A. Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre quem: (In-
distribuir, publicar ou divulgar por qualquer meio, inclusive cluído pela Lei nº 11.829, de 2008)
por meio de sistema de informática ou telemático, fotografia, I – facilita ou induz o acesso à criança de material con-
vídeo ou outro registro que contenha cena de sexo explícito tendo cena de sexo explícito ou pornográfica com o fim de
ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente: (Incluído com ela praticar ato libidinoso; (Incluído pela Lei nº 11.829,
pela Lei nº 11.829, de 2008) de 2008)
Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa. (In- II – pratica as condutas descritas no caput deste artigo
cluído pela Lei nº 11.829, de 2008) com o fim de induzir criança a se exibir de forma pornográ-
§ 1º Nas mesmas penas incorre quem: (Incluído pela Lei fica ou sexualmente explícita. (Incluído pela Lei nº 11.829,
nº 11.829, de 2008) de 2008)
I – assegura os meios ou serviços para o armazenamento Art. 241-E. Para efeito dos crimes previstos nesta Lei, a
das fotografias, cenas ou imagens de que trata o caput deste expressão “cena de sexo explícito ou pornográfica” compre-
artigo; (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008) ende qualquer situação que envolva criança ou adolescente
II – assegura, por qualquer meio, o acesso por rede de em atividades sexuais explícitas, reais ou simuladas, ou exibi-
computadores às fotografias, cenas ou imagens de que trata ção dos órgãos genitais de uma criança ou adolescente para
o caput deste artigo.(Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008) fins primordialmente sexuais. (Incluído pela Lei nº 11.829,
§ 2º As condutas tipificadas nos incisos I e II do § 1º deste de 2008)
artigo são puníveis quando o responsável legal pela prestação Art. 242. Vender, fornecer ainda que gratuitamente ou
do serviço, oficialmente notificado, deixa de desabilitar o entregar, de qualquer forma, a criança ou adolescente arma,
acesso ao conteúdo ilícito de que trata o caput deste artigo. munição ou explosivo:
(Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008) Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos. (Redação dada
Art. 241-B. Adquirir, possuir ou armazenar, por qualquer pela Lei nº 10.764, de 12.11.2003)
meio, fotografia, vídeo ou outra forma de registro que con- Art. 243. Vender, fornecer, servir, ministrar ou entregar,
tenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo ainda que gratuitamente, de qualquer forma, a criança ou
criança ou adolescente: (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008) a adolescente, bebida alcoólica ou, sem justa causa, outros
Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. produtos cujos componentes possam causar dependência
(Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008) física ou psíquica: (Redação dada pela Lei nº 13.106, de 2015)
§ 1º A pena é diminuída de 1 (um) a 2/3 (dois terços) se Pena – detenção de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa,
de pequena quantidade o material a que se refere o caput se o fato não constitui crime mais grave. (Redação dada pela
deste artigo. (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008) Lei nº 13.106, de 2015)
§ 2º Não há crime se a posse ou o armazenamento tem Art. 244. Vender, fornecer ainda que gratuitamente ou
a finalidade de comunicar às autoridades competentes a entregar, de qualquer forma, a criança ou adolescente fogos
ocorrência das condutas descritas nos arts. 240, 241, 241- de estampido ou de artifício, exceto aqueles que, pelo seu
A e 241-C desta Lei, quando a comunicação for feita por: reduzido potencial, sejam incapazes de provocar qualquer
(Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008) dano físico em caso de utilização indevida:
I – agente público no exercício de suas funções; (Incluído Pena – detenção de seis meses a dois anos, e multa.
pela Lei nº 11.829, de 2008) Art. 244-A. Submeter criança ou adolescente, como tais
II – membro de entidade, legalmente constituída, que definidos no caput do art. 2º desta Lei, à prostituição ou à
inclua, entre suas finalidades institucionais, o recebimento, exploração sexual: (Incluído pela Lei nº 9.975, de 23.6.2000)
o processamento e o encaminhamento de notícia dos crimes Pena – reclusão de quatro a dez anos, e multa.
referidos neste parágrafo; (Incluído pela Lei nº 11.829, de § 1º Incorrem nas mesmas penas o proprietário, o ge-
2008) rente ou o responsável pelo local em que se verifique a sub-
III – representante legal e funcionários responsáveis de missão de criança ou adolescente às práticas referidas no
provedor de acesso ou serviço prestado por meio de rede caput deste artigo. (Incluído pela Lei nº 9.975, de 23.6.2000)
de computadores, até o recebimento do material relativo à § 2º Constitui efeito obrigatório da condenação a cassa-
notícia feita à autoridade policial, ao Ministério Público ou ção da licença de localização e de funcionamento do estabe-
ao Poder Judiciário. (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008) lecimento. (Incluído pela Lei nº 9.975, de 23.6.2000)
§ 3º As pessoas referidas no § 2º deste artigo deverão Art. 244-B. Corromper ou facilitar a corrupção de menor
manter sob sigilo o material ilícito referido. (Incluído pela Lei de 18 (dezoito) anos, com ele praticando infração penal ou
nº 11.829, de 2008) induzindo-o a praticá-la: (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)
Art. 241-C. Simular a participação de criança ou adoles- Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos. (Incluído
cente em cena de sexo explícito ou pornográfica por meio de pela Lei nº 12.015, de 2009)
adulteração, montagem ou modificação de fotografia, vídeo § 1º Incorre nas penas previstas no caput deste artigo
ou qualquer outra forma de representação visual: (Incluído quem pratica as condutas ali tipificadas utilizando-se de
pela Lei nº 11.829, de 2008) quaisquer meios eletrônicos, inclusive salas de bate-papo
Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. (In- da internet. (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)
cluído pela Lei nº 11.829, de 2008) § 2º As penas previstas no caput deste artigo são au-
Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas quem vende, mentadas de um terço no caso de a infração cometida ou
expõe à venda, disponibiliza, distribui, publica ou divulga induzida estar incluída no rol do art. 1º da Lei nº 8.072, de
Legislação Especial

por qualquer meio, adquire, possui ou armazena o material 25 de julho de 1990. (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)
produzido na forma do caput deste artigo. (Incluído pela Lei
nº 11.829, de 2008) CAPÍTULO II
Art. 241-D. Aliciar, assediar, instigar ou constranger, por Das Infrações Administrativas
qualquer meio de comunicação, criança, com o fim de com
ela praticar ato libidinoso: (Incluído pela Lei nº 11.829, de Art. 245. Deixar o médico, professor ou responsável por
2008) estabelecimento de atenção à saúde e de ensino fundamen-
Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. (In- tal, pré-escola ou creche, de comunicar à autoridade com-
cluído pela Lei nº 11.829, de 2008) petente os casos de que tenha conhecimento, envolvendo

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suspeita ou confirmação de maus-tratos contra criança ou Art. 253. Anunciar peças teatrais, filmes ou quaisquer
adolescente: representações ou espetáculos, sem indicar os limites de
Pena – multa de três a vinte salários de referência, apli- idade a que não se recomendem:
cando-se o dobro em caso de reincidência. Pena – multa de três a vinte salários de referência, dupli-
Art. 246. Impedir o responsável ou funcionário de enti- cada em caso de reincidência, aplicável, separadamente, à
dade de atendimento o exercício dos direitos constantes nos casa de espetáculo e aos órgãos de divulgação ou publicidade.
incisos II, III, VII, VIII e XI do art. 124 desta Lei: Art. 254. Transmitir, através de rádio ou televisão, es-
Pena – multa de três a vinte salários de referência, apli- petáculo em horário diverso do autorizado ou sem aviso de
cando-se o dobro em caso de reincidência. sua classificação:
Art. 247. Divulgar, total ou parcialmente, sem autoriza- Pena – multa de vinte a cem salários de referência; dupli-
ção devida, por qualquer meio de comunicação, nome, ato cada em caso de reincidência a autoridade judiciária poderá
determinar a suspensão da programação da emissora por
ou documento de procedimento policial, administrativo ou
até dois dias.
judicial relativo a criança ou adolescente a que se atribua Art. 255. Exibir filme, trailer, peça, amostra ou congêne-
ato infracional: re classificado pelo órgão competente como inadequado às
Pena – multa de três a vinte salários de referência, apli- crianças ou adolescentes admitidos ao espetáculo:
cando-se o dobro em caso de reincidência. Pena – multa de vinte a cem salários de referência; na
§ 1º Incorre na mesma pena quem exibe, total ou parcial- reincidência, a autoridade poderá determinar a suspensão
mente, fotografia de criança ou adolescente envolvido em do espetáculo ou o fechamento do estabelecimento por até
ato infracional, ou qualquer ilustração que lhe diga respeito quinze dias.
ou se refira a atos que lhe sejam atribuídos, de forma a per- Art. 256. Vender ou locar a criança ou adolescente fita
mitir sua identificação, direta ou indiretamente. de programação em vídeo, em desacordo com a classificação
§ 2º Se o fato for praticado por órgão de imprensa ou atribuída pelo órgão competente:
emissora de rádio ou televisão, além da pena prevista neste Pena – multa de três a vinte salários de referência; em
artigo, a autoridade judiciária poderá determinar a apreen- caso de reincidência, a autoridade judiciária poderá deter-
são da publicação ou a suspensão da programação da emis- minar o fechamento do estabelecimento por até quinze dias.
sora até por dois dias, bem como da publicação do periódico Art. 257. Descumprir obrigação constante dos arts. 78
até por dois números.(Expressão declarada inconstitucional e 79 desta Lei:
pela ADIN 869-2). Pena – multa de três a vinte salários de referência, du-
Art. 248. Deixar de apresentar à autoridade judiciária de plicando-se a pena em caso de reincidência, sem prejuízo de
seu domicílio, no prazo de cinco dias, com o fim de regula- apreensão da revista ou publicação.
rizar a guarda, adolescente trazido de outra comarca para Art. 258. Deixar o responsável pelo estabelecimento ou o
a prestação de serviço doméstico, mesmo que autorizado empresário de observar o que dispõe esta Lei sobre o acesso
pelos pais ou responsável: de criança ou adolescente aos locais de diversão, ou sobre
Pena – multa de três a vinte salários de referência, apli- sua participação no espetáculo: (Vide Lei nº 12.010, de 2009)
Pena – multa de três a vinte salários de referência; em
cando-se o dobro em caso de reincidência, independente-
caso de reincidência, a autoridade judiciária poderá deter-
mente das despesas de retorno do adolescente, se for o caso. minar o fechamento do estabelecimento por até quinze dias.
Art. 249. Descumprir, dolosa ou culposamente, os deve- Art. 258-A. Deixar a autoridade competente de providen-
res inerentes ao poder familiar ou decorrente de tutela ou ciar a instalação e operacionalização dos cadastros previstos
guarda, bem assim determinação da autoridade judiciária no art. 50 e no § 11 do art. 101 desta Lei: (Incluído pela Lei
ou Conselho Tutelar: (Expressão alterada pela Lei nº 12.010, nº 12.010, de 2009)
de 2009) Pena – multa de R$ 1.000,00 (mil reais) a R$ 3.000,00
Pena – multa de três a vinte salários de referência, apli- (três mil reais). (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)
cando-se o dobro em caso de reincidência. Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas a autorida-
Art. 250. Hospedar criança ou adolescente desacompa- de que deixa de efetuar o cadastramento de crianças e de
nhado dos pais ou responsável, ou sem autorização escrita adolescentes em condições de serem adotadas, de pessoas
desses ou da autoridade judiciária, em hotel, pensão, motel ou casais habilitados à adoção e de crianças e adolescentes
ou congênere: (Redação dada pela Lei nº 12.038, de 2009). em regime de acolhimento institucional ou familiar. (Incluído
Pena – multa. (Redação dada pela Lei nº 12.038, de 2009). pela Lei nº 12.010, de 2009)
§ 1º Em caso de reincidência, sem prejuízo da pena de Art. 258-B. Deixar o médico, enfermeiro ou dirigente de
multa, a autoridade judiciária poderá determinar o fecha- estabelecimento de atenção à saúde de gestante de efetuar
mento do estabelecimento por até 15 (quinze) dias. (Incluído imediato encaminhamento à autoridade judiciária de caso
pela Lei nº 12.038, de 2009). de que tenha conhecimento de mãe ou gestante interessa-
§ 2º Se comprovada a reincidência em período inferior da em entregar seu filho para adoção: (Incluído pela Lei nº
a 30 (trinta) dias, o estabelecimento será definitivamente 12.010, de 2009)
fechado e terá sua licença cassada. (Incluído pela Lei nº Pena – multa de R$ 1.000,00 (mil reais) a R$ 3.000,00
12.038, de 2009). (três mil reais). (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)
Art. 251. Transportar criança ou adolescente, por qual- Parágrafo único. Incorre na mesma pena o funcionário
de programa oficial ou comunitário destinado à garantia do
quer meio, com inobservância do disposto nos arts. 83, 84
direito à convivência familiar que deixa de efetuar a comu-
e 85 desta Lei: nicação referida no caput deste artigo. (Incluído pela Lei nº
Legislação Especial

Pena – multa de três a vinte salários de referência, apli- 12.010, de 2009)


cando-se o dobro em caso de reincidência. Art. 258-C. Descumprir a proibição estabelecida no inciso
Art. 252. Deixar o responsável por diversão ou espetáculo II do art. 81: (Redação dada pela Lei nº 13.106, de 2015)
público de afixar, em lugar visível e de fácil acesso, à entrada Pena – multa de R$ 3.000,00 (três mil reais) a R$ 10.000,00
do local de exibição, informação destacada sobre a natureza (dez mil reais); (Redação dada pela Lei nº 13.106, de 2015)
da diversão ou espetáculo e a faixa etária especificada no Medida Administrativa - interdição do estabelecimento
certificado de classificação: comercial até o recolhimento da multa aplicada. (Redação
Pena – multa de três a vinte salários de referência, apli- dada pela Lei nº 13.106, de 2015)
cando-se o dobro em caso de reincidência. [...]

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LEI Nº 10.741, DE 1º DE OUTUBRO DE 2003 de janeiro de 1994, zelarão pelo cumprimento dos direitos
do idoso, definidos nesta Lei.
Dispõe sobre o Estatuto do
Idoso e dá outras providências. TÍTULO II
Dos Direitos Fundamentais
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso
Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: CAPÍTULO I
Do Direito à Vida
TÍTULO I
Disposições Preliminares Art. 8º O envelhecimento é um direito personalíssimo e
a sua proteção um direito social, nos termos desta Lei e da
Art. 1º É instituído o Estatuto do Idoso, destinado a re- legislação vigente.
gular os direitos assegurados às pessoas com idade igual ou Art. 9º É obrigação do Estado, garantir à pessoa idosa a
superior a 60 (sessenta) anos. proteção à vida e à saúde, mediante efetivação de políticas
Art. 2º O idoso goza de todos os direitos fundamentais sociais públicas que permitam um envelhecimento saudável
inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção in- e em condições de dignidade.
tegral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhe, por lei ou
por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, para CAPÍTULO II
preservação de sua saúde física e mental e seu aperfeiçoa- Do Direito à Liberdade, ao Respeito e à Dignidade
mento moral, intelectual, espiritual e social, em condições
de liberdade e dignidade. Art. 10. É obrigação do Estado e da sociedade, assegurar
Art. 3º É obrigação da família, da comunidade, da so- à pessoa idosa a liberdade, o respeito e a dignidade, como
ciedade e do Poder Público assegurar ao idoso, com abso- pessoa humana e sujeito de direitos civis, políticos, individu-
luta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à ais e sociais, garantidos na Constituição e nas leis.
alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao § 1º O direito à liberdade compreende, entre outros, os
trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito seguintes aspectos:
e à convivência familiar e comunitária. I – faculdade de ir, vir e estar nos logradouros públicos e
Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende: espaços comunitários, ressalvadas as restrições legais;
I – atendimento preferencial imediato e individualizado II – opinião e expressão;
junto aos órgãos públicos e privados prestadores de serviços III – crença e culto religioso;
à população; IV – prática de esportes e de diversões;
II – preferência na formulação e na execução de políticas V – participação na vida familiar e comunitária;
sociais públicas específicas; VI – participação na vida política, na forma da lei;
III – destinação privilegiada de recursos públicos nas áre- VII – faculdade de buscar refúgio, auxílio e orientação.
as relacionadas com a proteção ao idoso; § 2º O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da
IV – viabilização de formas alternativas de participação, integridade física, psíquica e moral, abrangendo a preser-
ocupação e convívio do idoso com as demais gerações; vação da imagem, da identidade, da autonomia, de valores,
V – priorização do atendimento do idoso por sua própria ideias e crenças, dos espaços e dos objetos pessoais.
família, em detrimento do atendimento asilar, exceto dos que § 3º É dever de todos zelar pela dignidade do idoso, colo-
não a possuam ou careçam de condições de manutenção da cando-o a salvo de qualquer tratamento desumano, violento,
própria sobrevivência; aterrorizante, vexatório ou constrangedor.
VI – capacitação e reciclagem dos recursos humanos nas
áreas de geriatria e gerontologia e na prestação de serviços CAPÍTULO III
aos idosos; Dos Alimentos
VII – estabelecimento de mecanismos que favoreçam a
divulgação de informações de caráter educativo sobre os Art. 11. Os alimentos serão prestados ao idoso na forma
aspectos biopsicossociais de envelhecimento; da lei civil.
VIII – garantia de acesso à rede de serviços de saúde e Art. 12. A obrigação alimentar é solidária, podendo o
de assistência social locais. idoso optar entre os prestadores.
IX – prioridade no recebimento da restituição do Imposto Art. 13. As transações relativas a alimentos poderão ser
de Renda. (Incluído pela Lei nº 11.765, de 2008) celebradas perante o Promotor de Justiça ou Defensor Pú-
Art. 4º Nenhum idoso será objeto de qualquer tipo de blico, que as referendará, e passarão a ter efeito de título
negligência, discriminação, violência, crueldade ou opressão, executivo extrajudicial nos termos da lei processual civil.
e todo atentado aos seus direitos, por ação ou omissão, será (Redação dada pela Lei nº 11.737, de 2008)
punido na forma da lei. Art. 14. Se o idoso ou seus familiares não possuírem con-
§ 1º É dever de todos prevenir a ameaça ou violação aos dições econômicas de prover o seu sustento, impõe-se ao Po-
direitos do idoso. der Público esse provimento, no âmbito da assistência social.
§ 2º As obrigações previstas nesta Lei não excluem da pre-
Legislação Especial

venção outras decorrentes dos princípios por ela adotados. CAPÍTULO IV


Art. 5º A inobservância das normas de prevenção im- Do Direito à Saúde
portará em responsabilidade à pessoa física ou jurídica nos
termos da lei. Art. 15. É assegurada a atenção integral à saúde do idoso,
Art. 6º Todo cidadão tem o dever de comunicar à auto- por intermédio do Sistema Único de Saúde – SUS, garantindo-
ridade competente qualquer forma de violação a esta Lei -lhe o acesso universal e igualitário, em conjunto articulado e
que tenha testemunhado ou de que tenha conhecimento. contínuo das ações e serviços, para a prevenção, promoção,
Art. 7º Os Conselhos Nacional, Estaduais, do Distrito Fe- proteção e recuperação da saúde, incluindo a atenção es-
deral e Municipais do Idoso, previstos na Lei nº 8.842, de 4 pecial às doenças que afetam preferencialmente os idosos.

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§ 1º A prevenção e a manutenção da saúde do idoso Art. 19. Os casos de suspeita ou confirmação de violência
serão efetivadas por meio de: praticada contra idosos serão objeto de notificação compul-
I – cadastramento da população idosa em base territorial; sória pelos serviços de saúde públicos e privados à autorida-
II – atendimento geriátrico e gerontológico em ambu- de sanitária, bem como serão obrigatoriamente comunicados
latórios; por eles a quaisquer dos seguintes órgãos: (Redação dada
III – unidades geriátricas de referência, com pessoal es- pela Lei nº 12.461, de 2011)
pecializado nas áreas de geriatria e gerontologia social; I – autoridade policial;
IV – atendimento domiciliar, incluindo a internação, para II – Ministério Público;
a população que dele necessitar e esteja impossibilitada de III – Conselho Municipal do Idoso;
se locomover, inclusive para idosos abrigados e acolhidos por IV – Conselho Estadual do Idoso;
instituições públicas, filantrópicas ou sem fins lucrativos e V – Conselho Nacional do Idoso.
eventualmente conveniadas com o Poder Público, nos meios § 1º Para os efeitos desta Lei, considera-se violência con-
urbano e rural; tra o idoso qualquer ação ou omissão praticada em local
V – reabilitação orientada pela geriatria e gerontologia, público ou privado que lhe cause morte, dano ou sofrimento
para redução das seqüelas decorrentes do agravo da saúde. físico ou psicológico. (Incluído pela Lei nº 12.461, de 2011)
§ 2º Incumbe ao Poder Público fornecer aos idosos, gra- § 2º Aplica-se, no que couber, à notificação compulsória
tuitamente, medicamentos, especialmente os de uso con- prevista no caput deste artigo, o disposto na Lei nº 6.259, de
tinuado, assim como próteses, órteses e outros recursos 30 de outubro de 1975. (Incluído pela Lei nº 12.461, de 2011)
relativos ao tratamento, habilitação ou reabilitação.
§ 3º É vedada a discriminação do idoso nos planos de saú- CAPÍTULO V
de pela cobrança de valores diferenciados em razão da idade. Da Educação, Cultura, Esporte e Lazer
§ 4º Os idosos portadores de deficiência ou com limi-
tação incapacitante terão atendimento especializado, nos Art. 20. O idoso tem direito a educação, cultura, esporte,
termos da lei. lazer, diversões, espetáculos, produtos e serviços que respei-
§ 5º É vedado exigir o comparecimento do idoso enfermo tem sua peculiar condição de idade.
perante os órgãos públicos, hipótese na qual será admitido o Art. 21. O Poder Público criará oportunidades de acesso
seguinte procedimento: (Incluído pela Lei nº 12.896, de 2013) do idoso à educação, adequando currículos, metodologias
I – quando de interesse do poder público, o agente pro- e material didático aos programas educacionais a ele des-
moverá o contato necessário com o idoso em sua residência; tinados.
ou (Incluído pela Lei nº 12.896, de 2013) § 1º Os cursos especiais para idosos incluirão conteúdo
II – quando de interesse do próprio idoso, este se fará relativo às técnicas de comunicação, computação e demais
representar por procurador legalmente constituído. (Incluído avanços tecnológicos, para sua integração à vida moderna.
pela Lei nº 12.896, de 2013) § 2º Os idosos participarão das comemorações de cará-
§ 6º É assegurado ao idoso enfermo o atendimento do- ter cívico ou cultural, para transmissão de conhecimentos e
miciliar pela perícia médica do Instituto Nacional do Seguro vivências às demais gerações, no sentido da preservação da
Social – INSS, pelo serviço público de saúde ou pelo serviço memória e da identidade culturais.
privado de saúde, contratado ou conveniado, que integre Art. 22. Nos currículos mínimos dos diversos níveis de en-
o Sistema Único de Saúde – SUS, para expedição do laudo sino formal serão inseridos conteúdos voltados ao processo
de saúde necessário ao exercício de seus direitos sociais e de envelhecimento, ao respeito e à valorização do idoso, de
de isenção tributária. (Incluído pela Lei nº 12.896, de 2013) forma a eliminar o preconceito e a produzir conhecimentos
Art. 16. Ao idoso internado ou em observação é assegu- sobre a matéria.
rado o direito a acompanhante, devendo o órgão de saúde Art. 23. A participação dos idosos em atividades culturais
proporcionar as condições adequadas para a sua permanên- e de lazer será proporcionada mediante descontos de pelo
cia em tempo integral, segundo o critério médico. menos 50% (cinquenta por cento) nos ingressos para eventos
Parágrafo único. Caberá ao profissional de saúde res- artísticos, culturais, esportivos e de lazer, bem como o acesso
ponsável pelo tratamento conceder autorização para o preferencial aos respectivos locais.
acompanhamento do idoso ou, no caso de impossibilidade, Art. 24. Os meios de comunicação manterão espaços
justificá-la por escrito. ou horários especiais voltados aos idosos, com finalidade
Art. 17. Ao idoso que esteja no domínio de suas faculda- informativa, educativa, artística e cultural, e ao público sobre
des mentais é assegurado o direito de optar pelo tratamento o processo de envelhecimento.
de saúde que lhe for reputado mais favorável. Art. 25. O Poder Público apoiará a criação de universidade
Parágrafo único. Não estando o idoso em condições de aberta para as pessoas idosas e incentivará a publicação de
proceder à opção, esta será feita: livros e periódicos, de conteúdo e padrão editorial adequa-
I – pelo curador, quando o idoso for interditado; dos ao idoso, que facilitem a leitura, considerada a natural
II – pelos familiares, quando o idoso não tiver curador ou redução da capacidade visual.
este não puder ser contactado em tempo hábil;
III – pelo médico, quando ocorrer iminente risco de vida e CAPÍTULO VI
Legislação Especial

não houver tempo hábil para consulta a curador ou familiar; Da Profissionalização e do Trabalho
IV – pelo próprio médico, quando não houver curador
ou familiar conhecido, caso em que deverá comunicar o fato Art. 26. O idoso tem direito ao exercício de atividade
ao Ministério Público. profissional, respeitadas suas condições físicas, intelectuais
Art. 18. As instituições de saúde devem atender aos e psíquicas.
critérios mínimos para o atendimento às necessidades do Art. 27. Na admissão do idoso em qualquer trabalho
idoso, promovendo o treinamento e a capacitação dos pro- ou emprego, é vedada a discriminação e a fixação de limite
fissionais, assim como orientação a cuidadores familiares e máximo de idade, inclusive para concursos, ressalvados os
grupos de auto-ajuda. casos em que a natureza do cargo o exigir.

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Parágrafo único. O primeiro critério de desempate em Art. 35. Todas as entidades de longa permanência, ou
concurso público será a idade, dando-se preferência ao de casa-lar, são obrigadas a firmar contrato de prestação de
idade mais elevada. serviços com a pessoa idosa abrigada.
Art. 28. O Poder Público criará e estimulará programas § 1º No caso de entidades filantrópicas, ou casa-lar, é
de: facultada a cobrança de participação do idoso no custeio
I – profissionalização especializada para os idosos, apro- da entidade.
veitando seus potenciais e habilidades para atividades regu- § 2º O Conselho Municipal do Idoso ou o Conselho Mu-
lares e remuneradas; nicipal da Assistência Social estabelecerá a forma de par-
II – preparação dos trabalhadores para a aposentadoria, ticipação prevista no § 1º, que não poderá exceder a 70%
com antecedência mínima de 1 (um) ano, por meio de estí- (setenta por cento) de qualquer benefício previdenciário ou
mulo a novos projetos sociais, conforme seus interesses, e de assistência social percebido pelo idoso.
de esclarecimento sobre os direitos sociais e de cidadania; § 3º Se a pessoa idosa for incapaz, caberá a seu represen-
III – estímulo às empresas privadas para admissão de tante legal firmar o contrato a que se refere o caput deste
idosos ao trabalho. artigo.
Art. 36. O acolhimento de idosos em situação de risco
CAPÍTULO VII social, por adulto ou núcleo familiar, caracteriza a depen-
Da Previdência Social dência econômica, para os efeitos legais.

Art. 29. Os benefícios de aposentadoria e pensão do CAPÍTULO IX


Regime Geral da Previdência Social observarão, na sua con- Da Habitação
cessão, critérios de cálculo que preservem o valor real dos
salários sobre os quais incidiram contribuição, nos termos Art. 37. O idoso tem direito a moradia digna, no seio da
da legislação vigente. família natural ou substituta, ou desacompanhado de seus
Parágrafo único. Os valores dos benefícios em manu- familiares, quando assim o desejar, ou, ainda, em instituição
tenção serão reajustados na mesma data de reajuste do pública ou privada.
salário-mínimo, pro rata, de acordo com suas respectivas § 1º A assistência integral na modalidade de entidade de
datas de início ou do seu último reajustamento, com base em longa permanência será prestada quando verificada inexis-
percentual definido em regulamento, observados os critérios tência de grupo familiar, casa-lar, abandono ou carência de
estabelecidos pela Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991. recursos financeiros próprios ou da família.
§ 2º Toda instituição dedicada ao atendimento ao idoso
Art. 30. A perda da condição de segurado não será consi-
fica obrigada a manter identificação externa visível, sob pena
derada para a concessão da aposentadoria por idade, desde
de interdição, além de atender toda a legislação pertinente.
que a pessoa conte com, no mínimo, o tempo de contribuição
§ 3º As instituições que abrigarem idosos são obrigadas
correspondente ao exigido para efeito de carência na data
a manter padrões de habitação compatíveis com as necessi-
de requerimento do benefício.
dades deles, bem como provê-los com alimentação regular
Parágrafo único. O cálculo do valor do benefício previsto e higiene indispensáveis às normas sanitárias e com estas
no caput observará o disposto no caput e § 2º do art. 3º da condizentes, sob as penas da lei.
Lei nº 9.876, de 26 de novembro de 1999, ou, não havendo Art. 38. Nos programas habitacionais, públicos ou sub-
salários-de-contribuição recolhidos a partir da competência sidiados com recursos públicos, o idoso goza de prioridade
de julho de 1994, o disposto no art. 35 da Lei nº 8.213, de na aquisição de imóvel para moradia própria, observado o
1991. seguinte:
Art. 31. O pagamento de parcelas relativas a benefícios, I – reserva de pelo menos 3% (três por cento) das unida-
efetuado com atraso por responsabilidade da Previdência des habitacionais residenciais para atendimento aos idosos;
Social, será atualizado pelo mesmo índice utilizado para os (Redação dada pela Lei nº 12.418, de 2011)
reajustamentos dos benefícios do Regime Geral de Previdên- II – implantação de equipamentos urbanos comunitários
cia Social, verificado no período compreendido entre o mês voltados ao idoso;
que deveria ter sido pago e o mês do efetivo pagamento. III – eliminação de barreiras arquitetônicas e urbanísticas,
Art. 32. O Dia Mundial do Trabalho, 1º de Maio, é a data- para garantia de acessibilidade ao idoso;
-base dos aposentados e pensionistas. IV – critérios de financiamento compatíveis com os ren-
dimentos de aposentadoria e pensão.
CAPÍTULO VIII Parágrafo único. As unidades residenciais reservadas para
Da Assistência Social atendimento a idosos devem situar-se, preferencialmente,
no pavimento térreo. (Incluído pela Lei nº 12.419, de 2011)
Art. 33. A assistência social aos idosos será prestada, de
forma articulada, conforme os princípios e diretrizes previs- CAPÍTULO X
tos na Lei Orgânica da Assistência Social, na Política Nacio- Do Transporte
nal do Idoso, no Sistema Único de Saúde e demais normas
pertinentes. Art. 39. Aos maiores de 65 (sessenta e cinco) anos fica
Legislação Especial

Art. 34. Aos idosos, a partir de 65 (sessenta e cinco) anos, assegurada a gratuidade dos transportes coletivos públi-
que não possuam meios para prover sua subsistência, nem cos urbanos e semi-urbanos, exceto nos serviços seletivos
de tê-la provida por sua família, é assegurado o benefício e especiais, quando prestados paralelamente aos serviços
mensal de 1 (um) salário-mínimo, nos termos da Lei Orgânica regulares.
da Assistência Social – Loas. (Vide Decreto nº 6.214, de 2007) § 1º Para ter acesso à gratuidade, basta que o idoso
Parágrafo único. O benefício já concedido a qualquer apresente qualquer documento pessoal que faça prova de
membro da família nos termos do caput não será computa- sua idade.
do para os fins do cálculo da renda familiar per capita a que § 2º Nos veículos de transporte coletivo de que trata este
se refere a Loas. artigo, serão reservados 10% (dez por cento) dos assentos

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para os idosos, devidamente identificados com a placa de TÍTULO IV
reservado preferencialmente para idosos. Da Política de Atendimento ao Idoso
§ 3º No caso das pessoas compreendidas na faixa etária
entre 60 (sessenta) e 65 (sessenta e cinco) anos, ficará a CAPÍTULO I
critério da legislação local dispor sobre as condições para Disposições Gerais
exercício da gratuidade nos meios de transporte previstos
no caput deste artigo. Art. 46. A política de atendimento ao idoso far-se-á por
Art. 40. No sistema de transporte coletivo interestadu- meio do conjunto articulado de ações governamentais e não-
al observar-se-á, nos termos da legislação específica: (Vide -governamentais da União, dos Estados, do Distrito Federal
Decreto nº 5.934, de 2006) e dos Municípios.
I – a reserva de 2 (duas) vagas gratuitas por veículo para Art. 47. São linhas de ação da política de atendimento:
idosos com renda igual ou inferior a 2 (dois) salários-mínimos; I – políticas sociais básicas, previstas na Lei nº 8.842, de
II – desconto de 50% (cinquenta por cento), no mínimo, 4 de janeiro de 1994;
no valor das passagens, para os idosos que excederem as II – políticas e programas de assistência social, em caráter
vagas gratuitas, com renda igual ou inferior a 2 (dois) salários- supletivo, para aqueles que necessitarem;
-mínimos. III – serviços especiais de prevenção e atendimento às
Parágrafo único. Caberá aos órgãos competentes definir vítimas de negligência, maus-tratos, exploração, abuso, cruel-
os mecanismos e os critérios para o exercício dos direitos dade e opressão;
previstos nos incisos I e II. IV – serviço de identificação e localização de parentes ou
Art. 41. É assegurada a reserva, para os idosos, nos responsáveis por idosos abandonados em hospitais e insti-
termos da lei local, de 5% (cinco por cento) das vagas nos tuições de longa permanência;
estacionamentos públicos e privados, as quais deverão ser V – proteção jurídico-social por entidades de defesa dos
posicionadas de forma a garantir a melhor comodidade ao direitos dos idosos;
idoso. VI – mobilização da opinião pública no sentido da partici-
Art. 42. São asseguradas a prioridade e a segurança do pação dos diversos segmentos da sociedade no atendimento
idoso nos procedimentos de embarque e desembarque nos do idoso.
veículos do sistema de transporte coletivo. (Redação dada
pela Lei nº 12.899, de 2013) CAPÍTULO II
Das Entidades de Atendimento ao Idoso
TÍTULO III
Das Medidas de Proteção Art. 48. As entidades de atendimento são responsáveis
pela manutenção das próprias unidades, observadas as
normas de planejamento e execução emanadas do órgão
CAPÍTULO I
competente da Política Nacional do Idoso, conforme a Lei
Das Disposições Gerais
nº 8.842, de 1994.
Parágrafo único. As entidades governamentais e não
Art. 43. As medidas de proteção ao idoso são aplicáveis
governamentais de assistência ao idoso ficam sujeitas à ins-
sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem ame-
crição de seus programas, junto ao órgão competente da
açados ou violados:
Vigilância Sanitária e Conselho Municipal da Pessoa Idosa,
I – por ação ou omissão da sociedade ou do Estado;
e em sua falta, junto ao Conselho Estadual ou Nacional da
II – por falta, omissão ou abuso da família, curador ou Pessoa Idosa, especificando os regimes de atendimento, ob-
entidade de atendimento; servados os seguintes requisitos:
III – em razão de sua condição pessoal. I – oferecer instalações físicas em condições adequadas
de habitabilidade, higiene, salubridade e segurança;
CAPÍTULO II II – apresentar objetivos estatutários e plano de trabalho
Das Medidas Específicas de Proteção compatíveis com os princípios desta Lei;
III – estar regularmente constituída;
Art. 44. As medidas de proteção ao idoso previstas nesta IV – demonstrar a idoneidade de seus dirigentes.
Lei poderão ser aplicadas, isolada ou cumulativamente, e Art. 49. As entidades que desenvolvam programas de
levarão em conta os fins sociais a que se destinam e o forta- institucionalização de longa permanência adotarão os se-
lecimento dos vínculos familiares e comunitários. guintes princípios:
Art. 45. Verificada qualquer das hipóteses previstas no I – preservação dos vínculos familiares;
art. 43, o Ministério Público ou o Poder Judiciário, a reque- II – atendimento personalizado e em pequenos grupos;
rimento daquele, poderá determinar, dentre outras, as se- III – manutenção do idoso na mesma instituição, salvo
guintes medidas: em caso de força maior;
I – encaminhamento à família ou curador, mediante ter- IV – participação do idoso nas atividades comunitárias,
mo de responsabilidade; de caráter interno e externo;
II – orientação, apoio e acompanhamento temporários;
Legislação Especial

V – observância dos direitos e garantias dos idosos;


III – requisição para tratamento de sua saúde, em regime VI – preservação da identidade do idoso e oferecimento
ambulatorial, hospitalar ou domiciliar; de ambiente de respeito e dignidade.
IV – inclusão em programa oficial ou comunitário de au- Parágrafo único. O dirigente de instituição prestadora de
xílio, orientação e tratamento a usuários dependentes de atendimento ao idoso responderá civil e criminalmente pelos
drogas lícitas ou ilícitas, ao próprio idoso ou à pessoa de sua atos que praticar em detrimento do idoso, sem prejuízo das
convivência que lhe cause perturbação; sanções administrativas.
V – abrigo em entidade; Art. 50. Constituem obrigações das entidades de aten-
VI – abrigo temporário. dimento:

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
I – celebrar contrato escrito de prestação de serviço com I – as entidades governamentais:
o idoso, especificando o tipo de atendimento, as obrigações a) advertência;
da entidade e prestações decorrentes do contrato, com os b) afastamento provisório de seus dirigentes;
respectivos preços, se for o caso; c) afastamento definitivo de seus dirigentes;
II – observar os direitos e as garantias de que são titulares d) fechamento de unidade ou interdição de programa;
os idosos; II – as entidades não governamentais:
III – fornecer vestuário adequado, se for pública, e ali- a) advertência;
mentação suficiente; b) multa;
IV – oferecer instalações físicas em condições adequadas c) suspensão parcial ou total do repasse de verbas pú-
de habitabilidade; blicas;
V – oferecer atendimento personalizado; d) interdição de unidade ou suspensão de programa;
VI – diligenciar no sentido da preservação dos vínculos e) proibição de atendimento a idosos a bem do interesse
familiares; público.
VII – oferecer acomodações apropriadas para recebimen- § 1º Havendo danos aos idosos abrigados ou qualquer
to de visitas; tipo de fraude em relação ao programa, caberá o afastamen-
VIII – proporcionar cuidados à saúde, conforme a neces- to provisório dos dirigentes ou a interdição da unidade e a
sidade do idoso; suspensão do programa.
IX – promover atividades educacionais, esportivas, cul- § 2º A suspensão parcial ou total do repasse de verbas
turais e de lazer; públicas ocorrerá quando verificada a má aplicação ou desvio
X – propiciar assistência religiosa àqueles que desejarem, de finalidade dos recursos.
de acordo com suas crenças; § 3º Na ocorrência de infração por entidade de atendi-
XI – proceder a estudo social e pessoal de cada caso; mento, que coloque em risco os direitos assegurados nesta
XII – comunicar à autoridade competente de saúde toda Lei, será o fato comunicado ao Ministério Público, para as
ocorrência de idoso portador de doenças infectocontagiosas; providências cabíveis, inclusive para promover a suspensão
XIII – providenciar ou solicitar que o Ministério Público das atividades ou dissolução da entidade, com a proibição
requisite os documentos necessários ao exercício da cidada- de atendimento a idosos a bem do interesse público, sem
nia àqueles que não os tiverem, na forma da lei; prejuízo das providências a serem tomadas pela Vigilância
XIV – fornecer comprovante de depósito dos bens móveis Sanitária.
que receberem dos idosos; § 4º Na aplicação das penalidades, serão consideradas a
XV – manter arquivo de anotações onde constem data e natureza e a gravidade da infração cometida, os danos que
circunstâncias do atendimento, nome do idoso, responsável, dela provierem para o idoso, as circunstâncias agravantes ou
parentes, endereços, cidade, relação de seus pertences, bem atenuantes e os antecedentes da entidade.
como o valor de contribuições, e suas alterações, se houver,
e demais dados que possibilitem sua identificação e a indi- CAPÍTULO IV
vidualização do atendimento; Das Infrações Administrativas
XVI – comunicar ao Ministério Público, para as providên-
cias cabíveis, a situação de abandono moral ou material por
Art. 56. Deixar a entidade de atendimento de cumprir as
parte dos familiares;
determinações do art. 50 desta Lei:
XVII – manter no quadro de pessoal profissionais com
Pena – multa de R$ 500,00 (quinhentos reais) a R$
formação específica.
3.000,00 (três mil reais), se o fato não for caracterizado como
Art. 51. As instituições filantrópicas ou sem fins lucrativos
crime, podendo haver a interdição do estabelecimento até
prestadoras de serviço ao idoso terão direito à assistência
que sejam cumpridas as exigências legais.
judiciária gratuita.
Parágrafo único. No caso de interdição do estabelecimen-
CAPÍTULO III to de longa permanência, os idosos abrigados serão transfe-
Da Fiscalização das Entidades de Atendimento ridos para outra instituição, a expensas do estabelecimento
interditado, enquanto durar a interdição.
Art. 52. As entidades governamentais e não-governa- Art. 57. Deixar o profissional de saúde ou o responsável
mentais de atendimento ao idoso serão fiscalizadas pelos por estabelecimento de saúde ou instituição de longa per-
Conselhos do Idoso, Ministério Público, Vigilância Sanitária manência de comunicar à autoridade competente os casos
e outros previstos em lei. de crimes contra idoso de que tiver conhecimento:
Art. 53. O art. 7º da Lei nº 8.842, de 1994, passa a vigorar Pena – multa de R$ 500,00 (quinhentos reais) a R$
com a seguinte redação: 3.000,00 (três mil reais), aplicada em dobro no caso de
reincidência.
Art. 7º Compete aos Conselhos de que trata o art. Art. 58. Deixar de cumprir as determinações desta Lei
6º desta Lei a supervisão, o acompanhamento, a fis- sobre a prioridade no atendimento ao idoso:
calização e a avaliação da política nacional do idoso, Pena – multa de R$ 500,00 (quinhentos reais) a R$
no âmbito das respectivas instâncias político-admi- 1.000,00 (um mil reais) e multa civil a ser estipulada pelo
nistrativas. juiz, conforme o dano sofrido pelo idoso.
Legislação Especial

Art. 54. Será dada publicidade das prestações de contas CAPÍTULO V


dos recursos públicos e privados recebidos pelas entidades Da Apuração Administrativa de Infração
de atendimento. às Normas de Proteção ao Idoso
Art. 55. As entidades de atendimento que descumpri-
rem as determinações desta Lei ficarão sujeitas, sem prejuízo Art. 59. Os valores monetários expressos no Capítulo IV
da responsabilidade civil e criminal de seus dirigentes ou serão atualizados anualmente, na forma da lei.
prepostos, às seguintes penalidades, observado o devido Art. 60. O procedimento para a imposição de penalidade
processo legal: administrativa por infração às normas de proteção ao idoso

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terá início com requisição do Ministério Público ou auto de TÍTULO V
infração elaborado por servidor efetivo e assinado, se pos- Do Acesso à Justiça
sível, por duas testemunhas.
§ 1º No procedimento iniciado com o auto de infração CAPÍTULO I
poderão ser usadas fórmulas impressas, especificando-se a Disposições Gerais
natureza e as circunstâncias da infração.
§ 2º Sempre que possível, à verificação da infração seguir- Art. 69. Aplica-se, subsidiariamente, às disposições des-
-se-á a lavratura do auto, ou este será lavrado dentro de 24 te Capítulo, o procedimento sumário previsto no Código de
(vinte e quatro) horas, por motivo justificado. Processo Civil, naquilo que não contrarie os prazos previstos
Art. 61. O autuado terá prazo de 10 (dez) dias para a nesta Lei.
apresentação da defesa, contado da data da intimação, que Art. 70. O Poder Público poderá criar varas especializadas
será feita: e exclusivas do idoso.
I – pelo autuante, no instrumento de autuação, quando Art. 71. É assegurada prioridade na tramitação dos pro-
for lavrado na presença do infrator; cessos e procedimentos e na execução dos atos e diligências
II – por via postal, com aviso de recebimento. judiciais em que figure como parte ou interveniente pessoa
Art. 62. Havendo risco para a vida ou à saúde do idoso, com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos, em qual-
a autoridade competente aplicará à entidade de atendimen- quer instância.
to as sanções regulamentares, sem prejuízo da iniciativa e § 1º O interessado na obtenção da prioridade a que alude
das providências que vierem a ser adotadas pelo Ministério este artigo, fazendo prova de sua idade, requererá o benefício
Público ou pelas demais instituições legitimadas para a fis- à autoridade judiciária competente para decidir o feito, que
calização. determinará as providências a serem cumpridas, anotando-
Art. 63. Nos casos em que não houver risco para a vida ou -se essa circunstância em local visível nos autos do processo.
a saúde da pessoa idosa abrigada, a autoridade competente § 2º A prioridade não cessará com a morte do benefi-
aplicará à entidade de atendimento as sanções regulamen- ciado, estendendo-se em favor do cônjuge supérstite, com-
tares, sem prejuízo da iniciativa e das providências que vie- panheiro ou companheira, com união estável, maior de 60
rem a ser adotadas pelo Ministério Público ou pelas demais (sessenta) anos.
instituições legitimadas para a fiscalização. § 3º A prioridade se estende aos processos e procedi-
mentos na Administração Pública, empresas prestadoras de
CAPÍTULO VI serviços públicos e instituições financeiras, ao atendimento
Da Apuração Judicial de Irregularidades em Entidade de preferencial junto à Defensoria Publica da União, dos Estados
Atendimento e do Distrito Federal em relação aos Serviços de Assistência
Judiciária.
Art. 64. Aplicam-se, subsidiariamente, ao procedimento § 4º Para o atendimento prioritário será garantido ao
administrativo de que trata este Capítulo as disposições das idoso o fácil acesso aos assentos e caixas, identificados com
Leis nºs 6.437, de 20 de agosto de 1977, e 9.784, de 29 de a destinação a idosos em local visível e caracteres legíveis.
janeiro de 1999.
Art. 65. O procedimento de apuração de irregularidade CAPÍTULO II
em entidade governamental e não-governamental de atendi- Do Ministério Público
mento ao idoso terá início mediante petição fundamentada
de pessoa interessada ou iniciativa do Ministério Público. Art. 72. (Vetado).
Art. 66. Havendo motivo grave, poderá a autoridade ju- Art. 73. As funções do Ministério Público, previstas nesta
diciária, ouvido o Ministério Público, decretar liminarmente Lei, serão exercidas nos termos da respectiva Lei Orgânica.
o afastamento provisório do dirigente da entidade ou outras Art. 74. Compete ao Ministério Público:
medidas que julgar adequadas, para evitar lesão aos direitos I – instaurar o inquérito civil e a ação civil pública para
do idoso, mediante decisão fundamentada. a proteção dos direitos e interesses difusos ou coletivos, in-
Art. 67. O dirigente da entidade será citado para, no prazo dividuais indisponíveis e individuais homogêneos do idoso;
de 10 (dez) dias, oferecer resposta escrita, podendo juntar II – promover e acompanhar as ações de alimentos, de
documentos e indicar as provas a produzir. interdição total ou parcial, de designação de curador espe-
Art. 68. Apresentada a defesa, o juiz procederá na con- cial, em circunstâncias que justifiquem a medida e oficiar
formidade do art. 69 ou, se necessário, designará audiência em todos os feitos em que se discutam os direitos de idosos
de instrução e julgamento, deliberando sobre a necessidade em condições de risco;
de produção de outras provas. III – atuar como substituto processual do idoso em si-
§ 1º Salvo manifestação em audiência, as partes e o Mi- tuação de risco, conforme o disposto no art. 43 desta Lei;
nistério Público terão 5 (cinco) dias para oferecer alegações IV – promover a revogação de instrumento procuratório
finais, decidindo a autoridade judiciária em igual prazo. do idoso, nas hipóteses previstas no art. 43 desta Lei, quando
§ 2º Em se tratando de afastamento provisório ou defi- necessário ou o interesse público justificar;
nitivo de dirigente de entidade governamental, a autoridade V – instaurar procedimento administrativo e, para instruí-lo:
judiciária oficiará a autoridade administrativa imediatamente a) expedir notificações, colher depoimentos ou esclareci-
Legislação Especial

superior ao afastado, fixando-lhe prazo de 24 (vinte e quatro) mentos e, em caso de não comparecimento injustificado da
horas para proceder à substituição. pessoa notificada, requisitar condução coercitiva, inclusive
§ 3º Antes de aplicar qualquer das medidas, a autoridade pela Polícia Civil ou Militar;
judiciária poderá fixar prazo para a remoção das irregulari- b) requisitar informações, exames, perícias e documentos
dades verificadas. Satisfeitas as exigências, o processo será de autoridades municipais, estaduais e federais, da adminis-
extinto, sem julgamento do mérito. tração direta e indireta, bem como promover inspeções e
§ 4º A multa e a advertência serão impostas ao dirigente diligências investigatórias;
da entidade ou ao responsável pelo programa de atendi- c) requisitar informações e documentos particulares de
mento. instituições privadas;

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VI – instaurar sindicâncias, requisitar diligências investiga- IV – as associações legalmente constituídas há pelo me-
tórias e a instauração de inquérito policial, para a apuração nos 1 (um) ano e que incluam entre os fins institucionais a
de ilícitos ou infrações às normas de proteção ao idoso; defesa dos interesses e direitos da pessoa idosa, dispensada
VII – zelar pelo efetivo respeito aos direitos e garantias a autorização da assembléia, se houver prévia autorização
legais assegurados ao idoso, promovendo as medidas judi- estatutária.
ciais e extrajudiciais cabíveis; § 1º Admitir-se-á litisconsórcio facultativo entre os Mi-
VIII – inspecionar as entidades públicas e particulares de nistérios Públicos da União e dos Estados na defesa dos in-
atendimento e os programas de que trata esta Lei, adotando teresses e direitos de que cuida esta Lei.
de pronto as medidas administrativas ou judiciais necessárias § 2º Em caso de desistência ou abandono da ação por
à remoção de irregularidades porventura verificadas; associação legitimada, o Ministério Público ou outro legiti-
IX – requisitar força policial, bem como a colaboração mado deverá assumir a titularidade ativa.
dos serviços de saúde, educacionais e de assistência social, Art. 82. Para defesa dos interesses e direitos protegi-
públicos, para o desempenho de suas atribuições; dos por esta Lei, são admissíveis todas as espécies de ação
X – referendar transações envolvendo interesses e direi- pertinentes.
tos dos idosos previstos nesta Lei. Parágrafo único. Contra atos ilegais ou abusivos de au-
§ 1º A legitimação do Ministério Público para as ações toridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício
cíveis previstas neste artigo não impede a de terceiros, nas de atribuições de Poder Público, que lesem direito líquido
mesmas hipóteses, segundo dispuser a lei. e certo previsto nesta Lei, caberá ação mandamental, que
§ 2º As atribuições constantes deste artigo não excluem se regerá pelas normas da lei do mandado de segurança.
outras, desde que compatíveis com a finalidade e atribuições Art. 83. Na ação que tenha por objeto o cumprimento
do Ministério Público. de obrigação de fazer ou não-fazer, o juiz concederá a tutela
§ 3º O representante do Ministério Público, no exercício específica da obrigação ou determinará providências que
de suas funções, terá livre acesso a toda entidade de aten- assegurem o resultado prático equivalente ao adimplemento.
dimento ao idoso. § 1º Sendo relevante o fundamento da demanda e haven-
Art. 75. Nos processos e procedimentos em que não for do justificado receio de ineficácia do provimento final, é lícito
parte, atuará obrigatoriamente o Ministério Público na defe- ao juiz conceder a tutela liminarmente ou após justificação
sa dos direitos e interesses de que cuida esta Lei, hipóteses prévia, na forma do art. 273 do Código de Processo Civil.
em que terá vista dos autos depois das partes, podendo jun- § 2º O juiz poderá, na hipótese do § 1º ou na sentença,
tar documentos, requerer diligências e produção de outras impor multa diária ao réu, independentemente do pedido
provas, usando os recursos cabíveis. do autor, se for suficiente ou compatível com a obrigação,
Art. 76. A intimação do Ministério Público, em qualquer fixando prazo razoável para o cumprimento do preceito.
caso, será feita pessoalmente. § 3º A multa só será exigível do réu após o trânsito em
Art. 77. A falta de intervenção do Ministério Público acar- julgado da sentença favorável ao autor, mas será devida des-
reta a nulidade do feito, que será declarada de ofício pelo de o dia em que se houver configurado.
juiz ou a requerimento de qualquer interessado. Art. 84. Os valores das multas previstas nesta Lei rever-
terão ao Fundo do Idoso, onde houver, ou na falta deste, ao
CAPÍTULO III Fundo Municipal de Assistência Social, ficando vinculados
Da Proteção Judicial dos Interesses Difusos, ao atendimento ao idoso.
Parágrafo único. As multas não recolhidas até 30 (trinta)
Coletivos e Individuais Indisponíveis ou Homogêneos dias após o trânsito em julgado da decisão serão exigidas por
Art. 78. As manifestações processuais do representante meio de execução promovida pelo Ministério Público, nos
do Ministério Público deverão ser fundamentadas. mesmos autos, facultada igual iniciativa aos demais legiti-
Art. 79. Regem-se pelas disposições desta Lei as ações de mados em caso de inércia daquele.
responsabilidade por ofensa aos direitos assegurados ao ido- Art. 85. O juiz poderá conferir efeito suspensivo aos re-
so, referentes à omissão ou ao oferecimento insatisfatório de: cursos, para evitar dano irreparável à parte.
I – acesso às ações e serviços de saúde; Art. 86. Transitada em julgado a sentença que impuser
II – atendimento especializado ao idoso portador de de- condenação ao Poder Público, o juiz determinará a remessa
ficiência ou com limitação incapacitante; de peças à autoridade competente, para apuração da respon-
III – atendimento especializado ao idoso portador de sabilidade civil e administrativa do agente a que se atribua
doença infecto-contagiosa; a ação ou omissão.
IV – serviço de assistência social visando ao amparo do Art. 87. Decorridos 60 (sessenta) dias do trânsito em
idoso. julgado da sentença condenatória favorável ao idoso sem que
Parágrafo único. As hipóteses previstas neste artigo não o autor lhe promova a execução, deverá fazê-lo o Ministério
excluem da proteção judicial outros interesses difusos, co- Público, facultada, igual iniciativa aos demais legitimados,
letivos, individuais indisponíveis ou homogêneos, próprios como assistentes ou assumindo o pólo ativo, em caso de
do idoso, protegidos em lei. inércia desse órgão.
Art. 80. As ações previstas neste Capítulo serão propostas Art. 88. Nas ações de que trata este Capítulo, não haverá
no foro do domicílio do idoso, cujo juízo terá competência adiantamento de custas, emolumentos, honorários periciais
Legislação Especial

absoluta para processar a causa, ressalvadas as competências e quaisquer outras despesas.


da Justiça Federal e a competência originária dos Tribunais Parágrafo único. Não se imporá sucumbência ao Minis-
Superiores. tério Público.
Art. 81. Para as ações cíveis fundadas em interesses di- Art. 89. Qualquer pessoa poderá, e o servidor deverá,
fusos, coletivos, individuais indisponíveis ou homogêneos, provocar a iniciativa do Ministério Público, prestando-lhe
consideram-se legitimados, concorrentemente: informações sobre os fatos que constituam objeto de ação
I – o Ministério Público; civil e indicando-lhe os elementos de convicção.
II – a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios; Art. 90. Os agentes públicos em geral, os juízes e tri-
III – a Ordem dos Advogados do Brasil; bunais, no exercício de suas funções, quando tiverem

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conhecimento de fatos que possam configurar crime de ação perigo, ou recusar, retardar ou dificultar sua assistência à
pública contra idoso ou ensejar a propositura de ação para saúde, sem justa causa, ou não pedir, nesses casos, o socorro
sua defesa, devem encaminhar as peças pertinentes ao Mi- de autoridade pública:
nistério Público, para as providências cabíveis. Pena – detenção de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa.
Art. 91. Para instruir a petição inicial, o interessado po- Parágrafo único. A pena é aumentada de metade, se da
derá requerer às autoridades competentes as certidões e omissão resulta lesão corporal de natureza grave, e triplicada,
informações que julgar necessárias, que serão fornecidas se resulta a morte.
no prazo de 10 (dez) dias. Art. 98. Abandonar o idoso em hospitais, casas de saúde,
Art. 92. O Ministério Público poderá instaurar sob sua entidades de longa permanência, ou congêneres, ou não
presidência, inquérito civil, ou requisitar, de qualquer pes- prover suas necessidades básicas, quando obrigado por lei
soa, organismo público ou particular, certidões, informações, ou mandado:
exames ou perícias, no prazo que assinalar, o qual não poderá Pena – detenção de 6 (seis) meses a 3 (três) anos e multa.
ser inferior a 10 (dez) dias. Art. 99. Expor a perigo a integridade e a saúde, física ou
§ 1º Se o órgão do Ministério Público, esgotadas todas as psíquica, do idoso, submetendo-o a condições desumanas
diligências, se convencer da inexistência de fundamento para ou degradantes ou privando-o de alimentos e cuidados in-
a propositura da ação civil ou de peças informativas, deter- dispensáveis, quando obrigado a fazê-lo, ou sujeitando-o a
minará o seu arquivamento, fazendo-o fundamentadamente. trabalho excessivo ou inadequado:
§ 2º Os autos do inquérito civil ou as peças de informação Pena – detenção de 2 (dois) meses a 1 (um) ano e multa.
arquivados serão remetidos, sob pena de se incorrer em falta § 1º Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:
Pena – reclusão de 1 (um) a 4 (quatro) anos.
grave, no prazo de 3 (três) dias, ao Conselho Superior do
§ 2º Se resulta a morte:
Ministério Público ou à Câmara de Coordenação e Revisão
Pena – reclusão de 4 (quatro) a 12 (doze) anos.
do Ministério Público. Art. 100. Constitui crime punível com reclusão de 6 (seis)
§ 3º Até que seja homologado ou rejeitado o arquiva- meses a 1 (um) ano e multa:
mento, pelo Conselho Superior do Ministério Público ou por I – obstar o acesso de alguém a qualquer cargo público
Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público, as por motivo de idade;
associações legitimadas poderão apresentar razões escritas II – negar a alguém, por motivo de idade, emprego ou
ou documentos, que serão juntados ou anexados às peças trabalho;
de informação. III – recusar, retardar ou dificultar atendimento ou deixar
§ 4º Deixando o Conselho Superior ou a Câmara de Co- de prestar assistência à saúde, sem justa causa, a pessoa
ordenação e Revisão do Ministério Público de homologar a idosa;
promoção de arquivamento, será designado outro membro IV – deixar de cumprir, retardar ou frustrar, sem justo
do Ministério Público para o ajuizamento da ação. motivo, a execução de ordem judicial expedida na ação civil
a que alude esta Lei;
TÍTULO VI V – recusar, retardar ou omitir dados técnicos indispen-
Dos Crimes sáveis à propositura da ação civil objeto desta Lei, quando
requisitados pelo Ministério Público.
CAPÍTULO I Art. 101. Deixar de cumprir, retardar ou frustrar, sem
Disposições Gerais justo motivo, a execução de ordem judicial expedida nas
ações em que for parte ou interveniente o idoso:
Art. 93. Aplicam-se subsidiariamente, no que couber, as Pena – detenção de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa.
disposições da Lei nº 7.347, de 24 de julho de 1985. Art. 102. Apropriar-se de ou desviar bens, proventos,
Art. 94. Aos crimes previstos nesta Lei, cuja pena máxi- pensão ou qualquer outro rendimento do idoso, dando-lhes
ma privativa de liberdade não ultrapasse 4 (quatro) anos, aplicação diversa da de sua finalidade:
aplica-se o procedimento previsto na Lei nº 9.099, de 26 de Pena – reclusão de 1 (um) a 4 (quatro) anos e multa.
setembro de 1995, e, subsidiariamente, no que couber, as Art. 103. Negar o acolhimento ou a permanência do ido-
disposições do Código Penal e do Código de Processo Penal. so, como abrigado, por recusa deste em outorgar procuração
(Vide ADI 3.096-5 – STF) à entidade de atendimento:
Pena – detenção de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa.
CAPÍTULO II Art. 104. Reter o cartão magnético de conta bancária
Dos Crimes em Espécie relativa a benefícios, proventos ou pensão do idoso, bem
como qualquer outro documento com objetivo de assegurar
Art. 95. Os crimes definidos nesta Lei são de ação penal recebimento ou ressarcimento de dívida:
pública incondicionada, não se lhes aplicando os arts. 181 e Pena – detenção de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos e multa.
182 do Código Penal. Art. 105. Exibir ou veicular, por qualquer meio de comu-
nicação, informações ou imagens depreciativas ou injuriosas
Art. 96. Discriminar pessoa idosa, impedindo ou difi-
à pessoa do idoso:
cultando seu acesso a operações bancárias, aos meios de
Pena – detenção de 1 (um) a 3 (três) anos e multa.
transporte, ao direito de contratar ou por qualquer outro Art. 106. Induzir pessoa idosa sem discernimento de seus
meio ou instrumento necessário ao exercício da cidadania, atos a outorgar procuração para fins de administração de
Legislação Especial

por motivo de idade: bens ou deles dispor livremente:


Pena – reclusão de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa. Pena – reclusão de 2 (dois) a 4 (quatro) anos.
§ 1º Na mesma pena incorre quem desdenhar, humi- Art. 107. Coagir, de qualquer modo, o idoso a doar, con-
lhar, menosprezar ou discriminar pessoa idosa, por qualquer tratar, testar ou outorgar procuração:
motivo. Pena – reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos.
§ 2º A pena será aumentada de 1/3 (um terço) se a vítima Art. 108. Lavrar ato notarial que envolva pessoa idosa
se encontrar sob os cuidados ou responsabilidade do agente. sem discernimento de seus atos, sem a devida represen-
Art. 97. Deixar de prestar assistência ao idoso, quando tação legal:
possível fazê-lo sem risco pessoal, em situação de iminente Pena – reclusão de 2 (dois) a 4 (quatro) anos.

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
TÍTULO VII Art. 21. [...]
Disposições Finais e Transitórias Parágrafo único. Aumenta-se a pena de 1/3 (um ter-
ço) até a metade se a vítima é maior de 60 (sessenta)
Art. 109. Impedir ou embaraçar ato do representante do anos.
Ministério Público ou de qualquer outro agente fiscalizador:
Pena – reclusão de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa. Art. 112. O inciso II do § 4º do art. 1º da Lei nº 9.455, de
Art. 110. O Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 7 de abril de 1997, passa a vigorar com a seguinte redação:
1940, Código Penal, passa a vigorar com as seguintes alte-
rações: Art. 1º [...]
§ 4º [...]
Art. 61. [...] II – se o crime é cometido contra criança, gestante,
II – [...] portador de deficiência, adolescente ou maior de 60
h) contra criança, maior de 60 (sessenta) anos, en- (sessenta) anos;
fermo ou mulher grávida; [...]
[...]
Art. 121. [...] Art. 113. O inciso III do art. 18 da Lei nº 6.368, de 21 de
§ 4º No homicídio culposo, a pena é aumentada de outubro de 1976, passa a vigorar com a seguinte redação:
1/3 (um terço), se o crime resulta de inobservância
de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o Art. 18. [...]
agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, III – se qualquer deles decorrer de associação ou vi-
não procura diminuir as consequências do seu ato, sar a menores de 21 (vinte e um) anos ou a pessoa
ou foge para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos ou
o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) a quem tenha, por qualquer causa, diminuída ou
se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 suprimida a capacidade de discernimento ou de au-
(quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos. todeterminação:
[...] [...]
Art. 133. [...]
§ 3º [...] Art. 114. O art 1º da Lei nº 10.048, de 8 de novembro de
III – se a vítima é maior de 60 (sessenta) anos.
2000, passa a vigorar com a seguinte redação:
Art. 140. [...]
§ 3º Se a injúria consiste na utilização de elementos
Art. 1º As pessoas portadoras de deficiência, os ido-
referentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a con-
sos com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos,
dição de pessoa idosa ou portadora de deficiência:
as gestantes, as lactantes e as pessoas acompanhadas
[...]
por crianças de colo terão atendimento prioritário,
Art. 141. [...]
nos termos desta Lei.
IV – contra pessoa maior de 60 (sessenta) anos ou
portadora de deficiência, exceto no caso de injúria.
[...] Art. 115. O Orçamento da Seguridade Social destinará
Art. 148. [...] ao Fundo Nacional de Assistência Social, até que o Fundo
§ 1º [...] Nacional do Idoso seja criado, os recursos necessários, em
I – se a vítima é ascendente, descendente, cônjuge cada exercício financeiro, para aplicação em programas e
do agente ou maior de 60 (sessenta) anos. ações relativos ao idoso.
[...] Art. 116. Serão incluídos nos censos demográficos dados
Art. 159. [...] relativos à população idosa do País.
§ 1º Se o sequestro dura mais de 24 (vinte e quatro) Art. 117. O Poder Executivo encaminhará ao Congresso
horas, se o sequestrado é menor de 18 (dezoito) ou Nacional projeto de lei revendo os critérios de concessão do
maior de 60 (sessenta) anos, ou se o crime é cometido Benefício de Prestação Continuada previsto na Lei Orgânica
por bando ou quadrilha. da Assistência Social, de forma a garantir que o acesso ao
[...] direito seja condizente com o estágio de desenvolvimento
Art. 183. [...] socioeconômico alcançado pelo País.
III – se o crime é praticado contra pessoa com idade Art. 118. Esta Lei entra em vigor decorridos 90 (noventa)
igual ou superior a 60 (sessenta) anos. dias da sua publicação, ressalvado o disposto no caput do art.
Art. 244. Deixar, sem justa causa, de prover a subsis- 36, que vigorará a partir de 1º de janeiro de 2004.
tência do cônjuge, ou de filho menor de 18 (dezoito)
anos ou inapto para o trabalho, ou de ascendente Brasília, 1º de outubro de 2003; 182º da Independência
inválido ou maior de 60 (sessenta) anos, não lhes e 115º da República.
proporcionando os recursos necessários ou faltando
LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA
Legislação Especial

ao pagamento de pensão alimentícia judicialmente


acordada, fixada ou majorada; deixar, sem justa cau- Márcio Thomaz Bastos
sa, de socorrer descendente ou ascendente, grave- Antonio Palocci Filho
mente enfermo: Rubem Fonseca Filho
[...] Humberto Sérgio Costa Lima
Guido Mantega
Art. 111. O O art. 21 do Decreto-Lei nº 3.688, de 3 de Ricardo José Ribeiro Berzoini
outubro de 1941, Lei das Contravenções Penais, passa a vi- Benedita Souza da Silva Sampaio
gorar acrescido do seguinte parágrafo único: Álvaro Augusto Ribeiro Costa

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Gladson Miranda criminosa prevê pena de reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos,
e multa, sem prejuízo das penas correspondentes às demais
Crime Organizado infrações penais praticadas (art. 2º).
Nas mesmas penas incorre quem impede ou, de qual-
(Lei nº 12.850/2013) quer forma, embaraça a investigação de infração penal que
A Lei nº 12.850, publicada em 2 de agosto de 2013, envolva organização criminosa (art. 2º, § 2º).
define organização criminosa e dispõe sobre a investigação
criminal, os meios de obtenção da prova, infrações penais Do Aumento de Pena
correlatas e o procedimento criminal; altera o Decreto-Lei
no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal); revoga As penas aumentam-se até a metade se na atuação da
a Lei no 9.034, de 3 de maio de 1995 (art. 26); e dá outras organização criminosa houver emprego de arma de fogo (art.
providências. Entrou em vigor 45 dias após a data de sua 2º, § 2º). A pena é agravada para quem exerce o comando,
publicação (art. 27). individual ou coletivo, da organização criminosa, ainda que
não pratique pessoalmente atos de execução (art. 2º, § 3º).
Da Organização Criminosa A pena é aumentada de 1/6 (um sexto) a 2/3 (dois ter-
ços) se há participação de criança ou adolescente198; se há
Esta lei define organização criminosa e dispõe sobre a in- concurso de funcionário público, valendo-se a organização
vestigação criminal, os meios de obtenção da prova, infrações criminosa dessa condição para a prática de infração penal199;
penais correlatas e o procedimento criminal a ser aplicado (art. se o produto ou proveito da infração penal destinar-se, no todo
1º). Será considerada organização criminosa a associação de ou em parte, ao exterior; se a organização criminosa mantém
4 (quatro) ou mais pessoas192 estruturalmente ordenada e ca- conexão com outras organizações criminosas independen-
racterizada pela divisão de tarefas, ainda que informalmente, tes200; se as circunstâncias do fato evidenciarem a transnacio-
com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de nalidade da organização201 (art. 2º, § 4º, incisos I a V).
qualquer natureza, mediante a prática de infrações penais
cujas penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos193, Funcionário Público e o Afastamento Cautelar
ou que sejam de caráter transnacional194 (art. 2º).
Atente-se ao fato de que é possível a formação de orga- Caso haja indícios suficientes de que o funcionário públi-
nização criminosa com o intuito de praticar infração cuja co integra organização criminosa, poderá o juiz determinar
pena máxima cominada seja inferior a 4 (quatro) anos195. seu afastamento cautelar do cargo, emprego ou função, sem
Isto porque se a organização criminosa for para cometer crime prejuízo da remuneração, quando a medida se fizer neces-
de caráter transnacional, não haverá essa limitação de pena sária à investigação ou instrução processual (art. 2º, § 5º).
máxima superior a 4 (quatro) anos. Outro ponto importante é A condenação com trânsito em julgado acarretará ao
que esta lei também se aplica às organizações criminosas que
funcionário público a perda do cargo, função, emprego ou
pratiquem contravenções penais, uma vez que a Lei nº 12.850
mandato eletivo e a interdição para o exercício de função ou
fala em “infrações penais” e não apenas em “crimes”196.
cargo público pelo prazo de 8 (oito) anos subsequentes ao
Considerando a Convenção das Nações Unidas contra o
crime organizado transnacional, grupo criminoso organiza- cumprimento da pena (art. 2º, § 6º).
do é conceituado como o grupo estruturado de 3 (três) ou
mais pessoas, existente há algum tempo e atuando concer- Da Participação de Policial
tadamente com o propósito de cometer uma ou mais infra-
ções graves ou enunciadas na convenção, com a intenção Se houver indícios de participação de policial nos crimes
de obter, direta ou indiretamente, um benefício econômico de que trata esta Lei, a Corregedoria de Polícia instaurará
ou outro benefício material197. inquérito policial e comunicará ao Ministério Público, que
Esta lei se aplica também às infrações penais previstas em designará membro para acompanhar o feito até a sua con-
tratado ou convenção internacional quando, iniciada a exe- clusão (art. 2º, § 7º).
cução no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no
estrangeiro, ou reciprocamente; às organizações terroristas Da Investigação e dos Meios de Obtenção de Prova
internacionais, reconhecidas segundo as normas de direito
internacional, por foro do qual o Brasil faça parte, cujos atos A lei prevê que em qualquer fase da persecução penal,
de suporte ao terrorismo, bem como os atos preparatórios ou serão permitidos, sem prejuízo de outros já previstos em
de execução de atos terroristas, ocorram ou possam ocorrer lei, os seguintes meios de obtenção da prova: colaboração
em território nacional (art. 1º, § 2º, incisos I e II). premiada; captação ambiental de sinais eletromagnéticos,
ópticos ou acústicos; ação controlada202; acesso a registros
Do Crime de Promover, Constituir, Financiar ou de ligações telefônicas e telemáticas, a dados cadastrais
Integrar, Pessoalmente ou por Interposta Pessoa, constantes de bancos de dados públicos ou privados e a in-
Organização Criminosa formações eleitorais ou comerciais; interceptação de comu-
nicações telefônicas e telemáticas, nos termos da legislação
A conduta típica de promover, constituir, financiar ou específica203; afastamento dos sigilos financeiro, bancário e
Legislação Especial

integrar, pessoalmente ou por interposta pessoa, organização fiscal, nos termos da legislação específica; infiltração, por
policiais, em atividade de investigação204; e a cooperação
192
Assunto cobrado nas provas; Vunesp/PC/CE/Delegado de Polícia Civil de 1ª
Classe/2015; Cespe/Caixa/Advogado/2010. entre instituições e órgãos federais, distritais, estaduais e
193
Assunto cobrado nas provas: Vunesp/PC/CE/Delegado de Polícia Civil de 1ª
Classe/2015; FGV/OAB/Exame de Ordem Unificado XV/Tipo 1/Branca/2014; 198
Assunto cobrado na prova: IBFC/PC-RJ/Papiloscopista Policial de 3ª Classe/2014.
Cespe/TJ/SE/Analista Judiciário/Direito/2014; Cespe/Caixa/Advogado/2010; 199
Assunto cobrado na prova: IBFC/PC-RJ/Papiloscopista Policial de 3ª Classe/2014.
MPE/PR/Promotor de Justiça/2008. 200
Assunto cobrado na prova: IBFC/PC-RJ/Papiloscopista Policial de 3ª Classe/2014.
194
Assunto cobrado nas provas: Fundep/TJ/MG/Juiz/2014; FGV/TJ/PA/Juiz/2009. 201
Assunto cobrado na prova: IBFC/PC-RJ/Papiloscopista Policial de 3ª Classe/2014.
195
Fundep/TJ/MG/Juiz/2014. 202
Assunto cobrado na prova: FGV/TJ-PA/Juiz/2009.
196
MPE/SC/Promotor de Justiça/2013. 203
Assunto cobrado nas provas: Cespe/MPE-SE/Promotor de Justiça/2010; FGV/
197
Cespe/TRF 2ª Região/Juiz Federal/2009.
TJ/PA/Juiz/2009.
204
Assunto cobrado na prova: FGV/TJ-PA/Juiz/2009.

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municipais na busca de provas e informações de interesse da Da Participação do Juiz
investigação ou da instrução criminal (art. 3º, incisos I a VIII).
Havendo necessidade justificada de manter sigilo sobre O juiz não participará das negociações realizadas entre
a capacidade investigatória, poderá ser dispensada licitação as partes para a formalização do acordo de colaboração,
para contratação de serviços técnicos especializados, aquisição que ocorrerá entre o delegado de polícia, o investigado e
ou locação de equipamentos destinados à polícia judiciária o defensor, com a manifestação do Ministério Público, ou,
para o rastreamento e obtenção de provas de captação am- conforme o caso, entre o Ministério Público e o investigado
biental de sinais eletromagnéticos, ópticos ou acústicos; e ou acusado e seu defensor210 (art. 4º, § 6º).
interceptação de comunicações telefônicas e telemáticas, Realizado o acordo na forma do § 6o, o respectivo termo,
nos termos da legislação específica (art. 3º, § 1º). Assim, acompanhado das declarações do colaborador e de cópia
nestes casos, fica dispensada a publicação de que trata o da investigação, será remetido ao juiz para homologação,
parágrafo único do art. 61 da Lei nº 8.666, de 21 de junho de o qual deverá verificar sua regularidade, legalidade e vo-
1993, devendo ser comunicado o órgão de controle interno luntariedade, podendo para este fim, sigilosamente, ouvir
da realização da contratação (art. 3º, § 2º). o colaborador, na presença de seu defensor (art. 4º, § 7º).
O juiz poderá recusar homologação à proposta que não
Da Colaboração Premiada atender aos requisitos legais, ou adequá-la ao caso concreto
(art. 4º,§ 8º). Depois de homologado o acordo, o colaborador
O juiz poderá, a requerimento das partes, conceder o poderá, sempre acompanhado pelo seu defensor, ser ouvido
perdão judicial, reduzir em até 2/3 (dois terços) a pena pri- pelo membro do Ministério Público ou pelo delegado de
vativa de liberdade ou substituí-la por restritiva de direitos polícia responsável pelas investigações (art. 4º, § 9º).
daquele que tenha colaborado efetiva e voluntariamente
com a investigação e com o processo criminal, desde que Da Retratação
dessa colaboração advenha um ou mais dos seguintes resul-
tados205: a identificação dos demais coautores e partícipes As partes podem retratar-se da proposta, caso em que
da organização criminosa e das infrações penais por eles as provas autoincriminatórias produzidas pelo colaborador
praticadas206; a revelação da estrutura hierárquica e da divi- não poderão ser utilizadas exclusivamente em seu desfavor
são de tarefas da organização criminosa207; a prevenção de (art. 4º, § 10).
infrações penais decorrentes das atividades da organização
criminosa208; a recuperação total ou parcial do produto ou Da Sentença
do proveito das infrações penais praticadas pela organi-
zação criminosa209; e a localização de eventual vítima com A sentença apreciará os termos do acordo homologado
a sua integridade física preservada (art. 4º, incisos I a VIII). e sua eficácia (art. 4º, § 11). Ainda que beneficiado por per-
Em qualquer caso, a concessão do benefício levará em dão judicial ou não denunciado, o colaborador poderá ser
conta a personalidade do colaborador, a natureza, as circuns- ouvido em juízo a requerimento das partes ou por iniciativa
tâncias, a gravidade e a repercussão social do fato criminoso da autoridade judicial (art. 4º, § 12).
e a eficácia da colaboração (art. 4º, § 1º). Ressalta-se que nenhuma sentença condenatória será
Considerando a relevância da colaboração prestada, o proferida com fundamento apenas nas declarações de agente
Ministério Público, a qualquer tempo, e o delegado de polí- colaborador (art. 4º, § 16).
cia, nos autos do inquérito policial, com a manifestação do
Ministério Público, poderão requerer ou representar ao juiz Da Declaração
pela concessão de perdão judicial ao colaborador, ainda que
esse benefício não tenha sido previsto na proposta inicial, Sempre que possível, o registro dos atos de colaboração será
aplicando-se, no que couber, o art. 28 do Código de Processo feito pelos meios ou recursos de gravação magnética, estenoti-
Penal (art. 4º, § 2º). pia, digital ou técnica similar, inclusive audiovisual, destinados a
O prazo para oferecimento de denúncia ou o proces- obter maior fidelidade das informações (art. 4º, § 13).
so, relativos ao colaborador, poderá ser suspenso por até 6 Nos depoimentos que prestar, o colaborador renunciará,
(seis) meses, prorrogáveis por igual período, até que sejam na presença de seu defensor, ao direito ao silêncio e estará
cumpridas as medidas de colaboração, suspendendo-se o sujeito ao compromisso legal de dizer a verdade (art. 4º, § 14).
Acrescenta-se que em todos os atos de negociação, con-
respectivo prazo prescricional (art. 4º, § 3º).
firmação e execução da colaboração, o colaborador deverá
Nas mesmas hipóteses em que cabe a colaboração
estar assistido por defensor (art. 4º, § 15).
premiada, o Ministério Público poderá deixar de oferecer
denúncia se o colaborador: não for o líder da organização
criminosa; for o primeiro a prestar efetiva colaboração nos Direitos do Colaborador
termos da colaboração premiada (art. 4º, § 4º).
Se a colaboração for posterior à sentença, a pena poderá São direitos do colaborador usufruir das medidas de pro-
ser reduzida até a metade ou será admitida a progressão teção previstas na legislação específica; ter nome, qualifica-
ção, imagem e demais informações pessoais preservados; ser
de regime ainda que ausentes os requisitos objetivos (art.
conduzido, em juízo, separadamente dos demais coautores
Legislação Especial

4º, § 5º).
e partícipes; participar das audiências sem contato visual
com os outros acusados; não ter sua identidade revelada
205
Assunto cobrado nas provas: TRF 4ª Região/Juiz Federal/2010; Cespe/MPE-ES/
pelos meios de comunicação, nem ser fotografado ou filma-
Promotor de Justiça/2010; Cespe/Polícia Federal/Escrivão da Polícia Federal/ do, sem sua prévia autorização por escrito; e cumprir pena
Regional/2004. em estabelecimento penal diverso dos demais corréus ou
206
Assunto cobrado na prova: Cespe/AGU/Procurador Federal/2010; Cespe/PC-
-PB/Delegado de Polícia/2009.
condenados (art. 5º, incisos I a VI).
207
Assunto cobrado na prova: MPE-MG/Promotor de Justiça/2014.
208
Assunto cobrado na prova: MPE-MG/Promotor de Justiça/2014. 210
Assunto cobrado na prova: Vunesp/PC-CE/Delegado de Polícia Civil de 1ª
209
Assunto cobrado na prova: MPE-MG/Promotor de Justiça/2014. Classe/2015

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Termo de Acordo da Colaboração Premiada pelo Ministério Público, após manifestação técnica do dele-
gado de polícia quando solicitada no curso de inquérito po-
O termo de acordo da colaboração premiada deverá ser licial, será precedida de circunstanciada, motivada e sigilosa
feito por escrito e conter o relato da colaboração e seus autorização judicial, que estabelecerá seus limites215 (art.
possíveis resultados; as condições da proposta do Ministério 10). Na hipótese de representação do delegado de polícia, o
Público ou do delegado de polícia; a declaração de aceitação juiz competente, antes de decidir, ouvirá o Ministério Público
do colaborador e de seu defensor; as assinaturas do repre- (art. 10, § 1º).
sentante do Ministério Público ou do delegado de polícia, do Será admitida a infiltração se houver indícios de infração
colaborador e de seu defensor; a especificação das medidas penal de que trata o art. 1o e se a prova não puder ser pro-
de proteção ao colaborador e à sua família, quando neces- duzida por outros meios disponíveis (art. 10, § 2º).
sário (art. 6º, incisos I a V). A infiltração será autorizada pelo prazo de até 6 (seis)
meses, sem prejuízo de eventuais renovações, desde que
comprovada sua necessidade (art. 10, § 3º). Findo este prazo,
Do Sigilo do Acordo de Colaboração Premiada o relatório circunstanciado será apresentado ao juiz compe-
tente, que imediatamente cientificará o Ministério Público
O pedido de homologação do acordo será sigilosamente
(art. 10, § 4º).
distribuído, contendo apenas informações que não possam
No curso do inquérito policial, o delegado de polícia po-
identificar o colaborador e o seu objeto (art. 7º). As infor- derá determinar aos seus agentes, e o Ministério Público
mações pormenorizadas da colaboração serão dirigidas di- poderá requisitar, a qualquer tempo, relatório da atividade
retamente ao juiz a que recair a distribuição, que decidirá no de infiltração (art. 10, § 5º).
prazo de 48 (quarenta e oito) horas (art. 7º, § 1º).
O acesso aos autos será restrito ao juiz, ao Ministério
Público e ao delegado de polícia, como forma de garantir
Dos Requisitos do Requerimento ou
o êxito das investigações, assegurando-se ao defensor, no Representação para Infiltração de Agentes
interesse do representado, amplo acesso aos elementos de
prova que digam respeito ao exercício do direito de defesa, O requerimento do Ministério Público ou a represen-
devidamente precedido de autorização judicial, ressalvados tação do delegado de polícia para a infiltração de agen-
os referentes às diligências em andamento (art. 7º, § 2º). tes conterão a demonstração da necessidade da medida,
O acordo de colaboração premiada deixa de ser sigiloso o alcance das tarefas dos agentes e, quando possível, os
nomes ou apelidos das pessoas investigadas e o local da
assim que recebida a denúncia (art. 7º, § 3º).
infiltração (art. 11).
O pedido de infiltração será sigilosamente distribuído,
Da Ação Controlada de forma a não conter informações que possam indicar a
operação a ser efetivada ou identificar o agente que será
A ação controlada consiste em retardar a intervenção infiltrado (art. 12).
policial ou administrativa relativa à ação praticada por or- As informações quanto à necessidade da operação de
ganização criminosa ou a ela vinculada, desde que mantida infiltração serão dirigidas diretamente ao juiz competente,
sob observação e acompanhamento para que a medida que decidirá no prazo de 24 (vinte e quatro) horas, após
legal se concretize no momento mais eficaz à formação de manifestação do Ministério Público na hipótese de represen-
provas e obtenção de informações211 (art. 8º). tação do delegado de polícia, devendo-se adotar as medidas
O retardamento da intervenção policial ou administra- necessárias para o êxito das investigações e a segurança do
tiva será previamente comunicado ao juiz competente que, agente infiltrado (art. 12, § 1º).
se for o caso, estabelecerá os seus limites e comunicará ao Os autos contendo as informações da operação de in-
Ministério Público212 (art. 8º, § 1º). Esta comunicação será filtração acompanharão a denúncia do Ministério Público,
sigilosamente distribuída de forma a não conter informações quando serão disponibilizados à defesa, assegurando-se a
que possam indicar a operação a ser efetuada213 (art. 8º, § 2º). preservação da identidade do agente (art. 12, § 2º). Caso
Até o encerramento da diligência, o acesso aos autos haja indícios seguros de que o agente infiltrado sofre risco
será restrito ao juiz, ao Ministério Público e ao delegado de iminente, a operação será sustada mediante requisição do
polícia, como forma de garantir o êxito das investigações214 Ministério Público ou pelo delegado de polícia, dando-se
(art. 8º, §3º). Ao término da diligência, elaborar-se-á auto imediata ciência ao Ministério Público e à autoridade judicial
circunstanciado acerca da ação controlada (art. 8º, § 4º). (art. 12, § 3º).
Se a ação controlada envolver transposição de fronteiras,
o retardamento da intervenção policial ou administrativa so- Dos Excessos Praticados na Infiltração de Agentes
mente poderá ocorrer com a cooperação das autoridades dos
países que figurem como provável itinerário ou destino do O agente que não guardar, em sua atuação, a devida
investigado, de modo a reduzir os riscos de fuga e extravio do proporcionalidade com a finalidade da investigação, respon-
produto, objeto, instrumento ou proveito do crime (art. 9º). derá pelos excessos praticados (art. 13). Entretanto, não é
punível, no âmbito da infiltração, a prática de crime pelo
Da Infiltração de Agentes agente infiltrado no curso da investigação, quando inexigível
conduta diversa (art. 13, parágrafo único).
Legislação Especial

A infiltração de agentes de polícia em tarefas de investi-


gação, representada pelo delegado de polícia ou requerida Dos Direitos do Agente Infiltrado
211
Assunto cobrado nas provas: IBFC/PC-SE/Agente de Polícia Judiciária/Subs-
tituto A/2014; Vunesp/PC-SP/Delegado de Polícia/2014; MPE-SP/Promotor
São direitos do agente recusar ou fazer cessar a atuação
de Justiça/2010; Cespe/MPE-SE/Promotor de Justiça/2010; Cespe/PC-PB/ infiltrada; ter sua identidade alterada, aplicando-se, no que
Agente de Investigação e Agente de Polícia/2009; Cespe/PGE-ES/Procurador
do Estado/2008; Cespe/PC-TO/Delegado de Polícia/2008. 215
Assunto cobrado nas provas: Vunesp/PC-CE/Delegado de Polícia Civil de 1ª
212
Assunto cobrado na prova: IBFC/PC-SE/Agente de Polícia Judiciária/2014. Classe/2015; Cespe/Abin/Oficial Técnico de Inteligência/Área de Direito/2010;
213
Assunto cobrado na prova: IBFC/PC-SE/Agente de Polícia Judiciária/2014. TRF 4ª Região/Juiz Federal/2010; Cespe/PC-PB/Agente de Investigação e Agen-
214
Assunto cobrado na prova: IBFC/PC-SE/Agente de Polícia Judiciária/2014. te de Polícia/2009.

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
couber, o disposto no art. 9o da Lei no 9.807, de 13 de julho O sigilo da investigação poderá ser decretado pela au-
de 1999, bem como usufruir das medidas de proteção a tes- toridade judicial competente, para garantia da celeridade e
temunhas; ter seu nome, sua qualificação, sua imagem, sua da eficácia das diligências investigatórias, assegurando-se
voz e demais informações pessoais preservadas durante a ao defensor, no interesse do representado, amplo acesso
investigação e o processo criminal, salvo se houver decisão aos elementos de prova que digam respeito ao exercício do
judicial em contrário; e não ter sua identidade revelada, nem direito de defesa, devidamente precedido de autorização
ser fotografado ou filmado pelos meios de comunicação, sem judicial, ressalvados os referentes às diligências em anda-
sua prévia autorização por escrito (art. 14, incisos I a IV). mento (art. 23).
Determinado o depoimento do investigado, seu defensor
Do Acesso a Registros, Dados Cadastrais, terá assegurada a prévia vista dos autos, ainda que classifi-
Documentos e Informações cados como sigilosos, no prazo mínimo de 3 (três) dias que
antecedem ao ato, podendo ser ampliado, a critério da auto-
O delegado de polícia e o Ministério Público terão acesso, ridade responsável pela investigação (art. 23, parágrafo único).
independentemente de autorização judicial, apenas aos da- A Lei nº 12.850 alterou, aumentando para 2 (dois) a 4
dos cadastrais do investigado que informem exclusivamente (quatro)anos e multa, as penas previstas para o delito do art.
a qualificação pessoal, a filiação e o endereço mantidos pela 342 do Código Penal – Crime de falso testemunho –217 (art. 25).
Justiça Eleitoral, empresas telefônicas, instituições financei-
ras, provedores de internet e administradoras de cartão de Lei nº 12.850, de 2 de Agosto de 2013
crédito (art. 15).
As empresas de transporte possibilitarão, pelo prazo de Define organização criminosa
5 (cinco) anos, acesso direto e permanente do juiz, do Minis- e dispõe sobre a investigação cri-
tério Público ou do delegado de polícia aos bancos de dados minal, os meios de obtenção da
de reservas e registro de viagens (art. 16). prova, infrações penais correlatas
As concessionárias de telefonia fixa ou móvel manterão, e o procedimento criminal; altera
pelo prazo de 5 (cinco) anos, à disposição do delegado de o Decreto-Lei no 2.848, de 7 de
polícia e do Ministério Público registros de identificação dos dezembro de 1940 (Código Penal);
números dos terminais de origem e de destino das ligações revoga a Lei no 9.034, de 3 de maio
telefônicas internacionais, interurbanas e locais. (art. 17). de 1995; e dá outras providências.

Dos Crimes Ocorridos na Investigação e na A PRESIDENTA DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso
Obtenção da Prova Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

A conduta de revelar a identidade, fotografar ou filmar CAPÍTULO I


o colaborador, sem sua prévia autorização por escrito, tem Da Organização Criminosa
previsão de pena de reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e
multa (art. 18). Art. 1o Esta Lei define organização criminosa e dispõe
Aquele que imputar falsamente, sob pretexto de colabo- sobre a investigação criminal, os meios de obtenção da pro-
ração com a Justiça, a prática de infração penal a pessoa que va, infrações penais correlatas e o procedimento criminal a
sabe ser inocente, ou revelar informações sobre a estrutura ser aplicado.
de organização criminosa que sabe inverídicas, estará sujeito à § 1o Considera-se organização criminosa a associação de
pena de reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa (art. 19). 4 (quatro) ou mais pessoas estruturalmente ordenada e ca-
O crime de descumprir determinação de sigilo das inves- racterizada pela divisão de tarefas, ainda que informalmente,
tigações que envolvam a ação controlada e a infiltração de com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de
agentes, terá pena de reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, qualquer natureza, mediante a prática de infrações penais
e multa (art. 20). cujas penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou
A conduta de recusar ou omitir dados cadastrais, re- que sejam de caráter transnacional.
gistros, documentos e informações requisitadas pelo juiz, § 2o Esta Lei se aplica também:
Ministério Público ou delegado de polícia, no curso de inves- I – às infrações penais previstas em tratado ou conven-
tigação ou do processo, tem previsão de pena de reclusão, ção internacional quando, iniciada a execução no País, o
de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa (art. 21). Na mesma resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou
pena incorre quem, de forma indevida, se apossa, propala, reciprocamente;
divulga ou faz uso dos dados cadastrais de que trata esta Lei II – às organizações terroristas, entendidas como aquelas
(art. 21, parágrafo único). voltadas para a prática dos atos de terrorismo legalmente
definidos. (Redação dada pela lei nº 13.260, de 2016)
Disposições Finais Art. 2o Promover, constituir, financiar ou integrar, pesso-
almente ou por interposta pessoa, organização criminosa:
Os crimes previstos nesta Lei e as infrações penais co- Pena – reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa, sem
nexas serão apurados mediante procedimento ordinário prejuízo das penas correspondentes às demais infrações
Legislação Especial

previsto no Código de Processo Penal (art. 22). penais praticadas.


A instrução criminal deverá ser encerrada em prazo § 1o Nas mesmas penas incorre quem impede ou, de
razoável, o qual não poderá exceder a 120 (cento e vinte) qualquer forma, embaraça a investigação de infração penal
dias quando o réu estiver preso, prorrogáveis em até igual que envolva organização criminosa.
período, por decisão fundamentada, devidamente motiva- § 2o As penas aumentam-se até a metade se na atuação
da pela complexidade da causa ou por fato procrastinatório da organização criminosa houver emprego de arma de fogo.
atribuível ao réu216 (art. 22, parágrafo único).
217
Assunto cobrado na prova: Vunesp/PC-CE/Delegado de Polícia Civil de 1ª
216
Assunto cobrado na prova: TRF 4ª Região/Juiz Federal/2010. Classe/2015.

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
§ 3o A pena é agravada para quem exerce o comando, pena privativa de liberdade ou substituí-la por restritiva de
individual ou coletivo, da organização criminosa, ainda que direitos daquele que tenha colaborado efetiva e voluntaria-
não pratique pessoalmente atos de execução. mente com a investigação e com o processo criminal, desde
§ 4o A pena é aumentada de 1/6 (um sexto) a 2/3 (dois que dessa colaboração advenha um ou mais dos seguintes
terços): resultados:
I – se há participação de criança ou adolescente; I – a identificação dos demais coautores e partícipes da
II – se há concurso de funcionário público, valendo-se organização criminosa e das infrações penais por eles pra-
a organização criminosa dessa condição para a prática de ticadas;
infração penal; II – a revelação da estrutura hierárquica e da divisão de
III – se o produto ou proveito da infração penal destinar- tarefas da organização criminosa;
-se, no todo ou em parte, ao exterior; III – a prevenção de infrações penais decorrentes das
IV – se a organização criminosa mantém conexão com atividades da organização criminosa;
outras organizações criminosas independentes; IV – a recuperação total ou parcial do produto ou do
V – se as circunstâncias do fato evidenciarem a transna- proveito das infrações penais praticadas pela organização
cionalidade da organização. criminosa;
§ 5o Se houver indícios suficientes de que o funcionário V – a localização de eventual vítima com a sua integridade
público integra organização criminosa, poderá o juiz determi- física preservada.
nar seu afastamento cautelar do cargo, emprego ou função, § 1o Em qualquer caso, a concessão do benefício levará
sem prejuízo da remuneração, quando a medida se fizer ne- em conta a personalidade do colaborador, a natureza, as
cessária à investigação ou instrução processual. circunstâncias, a gravidade e a repercussão social do fato
§ 6o A condenação com trânsito em julgado acarretará criminoso e a eficácia da colaboração.
ao funcionário público a perda do cargo, função, emprego
§ 2o Considerando a relevância da colaboração prestada,
ou mandato eletivo e a interdição para o exercício de função
o Ministério Público, a qualquer tempo, e o delegado de
ou cargo público pelo prazo de 8 (oito) anos subsequentes
polícia, nos autos do inquérito policial, com a manifestação
ao cumprimento da pena.
§ 7o Se houver indícios de participação de policial nos cri- do Ministério Público, poderão requerer ou representar ao
mes de que trata esta Lei, a Corregedoria de Polícia instaurará juiz pela concessão de perdão judicial ao colaborador, ainda
inquérito policial e comunicará ao Ministério Público, que de- que esse benefício não tenha sido previsto na proposta ini-
signará membro para acompanhar o feito até a sua conclusão. cial, aplicando-se, no que couber, o art. 28 do Decreto-Lei nº
3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código de Processo Penal).
CAPÍTULO II § 3o O prazo para oferecimento de denúncia ou o proces-
Da Investigação e dos Meios de Obtenção da Prova so, relativos ao colaborador, poderá ser suspenso por até 6
(seis) meses, prorrogáveis por igual período, até que sejam
Art. 3o Em qualquer fase da persecução penal, serão cumpridas as medidas de colaboração, suspendendo-se o
permitidos, sem prejuízo de outros já previstos em lei, os respectivo prazo prescricional.
seguintes meios de obtenção da prova: § 4o Nas mesmas hipóteses do caput, o Ministério Público
I – colaboração premiada; poderá deixar de oferecer denúncia se o colaborador:
II – captação ambiental de sinais eletromagnéticos, óp- I – não for o líder da organização criminosa;
ticos ou acústicos; II – for o primeiro a prestar efetiva colaboração nos ter-
III – ação controlada; mos deste artigo.
IV – acesso a registros de ligações telefônicas e telemá- § 5o Se a colaboração for posterior à sentença, a pena
ticas, a dados cadastrais constantes de bancos de dados pú- poderá ser reduzida até a metade ou será admitida a pro-
blicos ou privados e a informações eleitorais ou comerciais; gressão de regime ainda que ausentes os requisitos objetivos.
V – interceptação de comunicações telefônicas e telemá- § 6o O juiz não participará das negociações realizadas
ticas, nos termos da legislação específica; entre as partes para a formalização do acordo de colabora-
VI – afastamento dos sigilos financeiro, bancário e fiscal, ção, que ocorrerá entre o delegado de polícia, o investigado
nos termos da legislação específica; e o defensor, com a manifestação do Ministério Público, ou,
VII – infiltração, por policiais, em atividade de investiga- conforme o caso, entre o Ministério Público e o investigado
ção, na forma do art. 11; ou acusado e seu defensor.
VIII – cooperação entre instituições e órgãos federais, § 7o Realizado o acordo na forma do § 6o, o respectivo
distritais, estaduais e municipais na busca de provas e infor- termo, acompanhado das declarações do colaborador e de
mações de interesse da investigação ou da instrução criminal. cópia da investigação, será remetido ao juiz para homolo-
§ 1o Havendo necessidade justificada de manter sigilo gação, o qual deverá verificar sua regularidade, legalidade e
sobre a capacidade investigatória, poderá ser dispensada li- voluntariedade, podendo para este fim, sigilosamente, ouvir
citação para contratação de serviços técnicos especializados, o colaborador, na presença de seu defensor.
aquisição ou locação de equipamentos destinados à polícia § 8o O juiz poderá recusar homologação à proposta que
judiciária para o rastreamento e obtenção de provas previs- não atender aos requisitos legais, ou adequá-la ao caso con-
tas nos incisos II e V. (Incluído pela Lei nº 13.097, de 2015) creto.
§ 2o No caso do § 1o, fica dispensada a publicação de
§ 9o Depois de homologado o acordo, o colaborador po-
que trata o parágrafo único do art. 61 da Lei nº 8.666, de
derá, sempre acompanhado pelo seu defensor, ser ouvido
Legislação Especial

21 de junho de 1993, devendo ser comunicado o órgão de


pelo membro do Ministério Público ou pelo delegado de
controle interno da realização da contratação. (Incluído pela
Lei nº 13.097, de 2015) polícia responsável pelas investigações.
§ 10. As partes podem retratar-se da proposta, caso em
Seção I que as provas autoincriminatórias produzidas pelo colabo-
Da Colaboração Premiada rador não poderão ser utilizadas exclusivamente em seu
desfavor.
Art. 4o O juiz poderá, a requerimento das partes, con- § 11. A sentença apreciará os termos do acordo homo-
ceder o perdão judicial, reduzir em até 2/3 (dois terços) a logado e sua eficácia.

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
§ 12. Ainda que beneficiado por perdão judicial ou não se concretize no momento mais eficaz à formação de provas
denunciado, o colaborador poderá ser ouvido em juízo a e obtenção de informações.
requerimento das partes ou por iniciativa da autoridade § 1o O retardamento da intervenção policial ou adminis-
judicial. trativa será previamente comunicado ao juiz competente
§ 13. Sempre que possível, o registro dos atos de co- que, se for o caso, estabelecerá os seus limites e comunicará
laboração será feito pelos meios ou recursos de gravação ao Ministério Público.
magnética, estenotipia, digital ou técnica similar, inclusive § 2o A comunicação será sigilosamente distribuída de
audiovisual, destinados a obter maior fidelidade das infor- forma a não conter informações que possam indicar a ope-
mações. ração a ser efetuada.
§ 14. Nos depoimentos que prestar, o colaborador re- § 3o Até o encerramento da diligência, o acesso aos autos
nunciará, na presença de seu defensor, ao direito ao silêncio será restrito ao juiz, ao Ministério Público e ao delegado de
e estará sujeito ao compromisso legal de dizer a verdade. polícia, como forma de garantir o êxito das investigações.
§ 15. Em todos os atos de negociação, confirmação e § 4o Ao término da diligência, elaborar-se-á auto circuns-
execução da colaboração, o colaborador deverá estar assis- tanciado acerca da ação controlada.
tido por defensor. Art. 9o Se a ação controlada envolver transposição de
§ 16. Nenhuma sentença condenatória será proferida fronteiras, o retardamento da intervenção policial ou admi-
com fundamento apenas nas declarações de agente cola- nistrativa somente poderá ocorrer com a cooperação das
borador. autoridades dos países que figurem como provável itinerário
Art. 5o São direitos do colaborador: ou destino do investigado, de modo a reduzir os riscos de
I – usufruir das medidas de proteção previstas na legis- fuga e extravio do produto, objeto, instrumento ou proveito
lação específica; do crime.
II – ter nome, qualificação, imagem e demais informações
pessoais preservados; Seção III
III – ser conduzido, em juízo, separadamente dos demais Da Infiltração de Agentes
coautores e partícipes;
IV – participar das audiências sem contato visual com os Art. 10. A infiltração de agentes de polícia em tarefas
outros acusados; de investigação, representada pelo delegado de polícia ou
V – não ter sua identidade revelada pelos meios de co- requerida pelo Ministério Público, após manifestação técnica
municação, nem ser fotografado ou filmado, sem sua prévia do delegado de polícia quando solicitada no curso de inqué-
autorização por escrito; rito policial, será precedida de circunstanciada, motivada e
VI – cumprir pena em estabelecimento penal diverso dos sigilosa autorização judicial, que estabelecerá seus limites.
demais corréus ou condenados. § 1o Na hipótese de representação do delegado de polí-
Art. 6o O termo de acordo da colaboração premiada de- cia, o juiz competente, antes de decidir, ouvirá o Ministério
verá ser feito por escrito e conter: Público.
I – o relato da colaboração e seus possíveis resultados; § 2o Será admitida a infiltração se houver indícios de in-
II – as condições da proposta do Ministério Público ou fração penal de que trata o art. 1o e se a prova não puder
do delegado de polícia; ser produzida por outros meios disponíveis.
III – a declaração de aceitação do colaborador e de seu § 3o A infiltração será autorizada pelo prazo de até 6
defensor; (seis) meses, sem prejuízo de eventuais renovações, desde
IV – as assinaturas do representante do Ministério Público que comprovada sua necessidade.
ou do delegado de polícia, do colaborador e de seu defensor; § 4o Findo o prazo previsto no § 3o, o relatório circuns-
V – a especificação das medidas de proteção ao colabo- tanciado será apresentado ao juiz competente, que imedia-
rador e à sua família, quando necessário. tamente cientificará o Ministério Público.
Art. 7o O pedido de homologação do acordo será sigilo- § 5o No curso do inquérito policial, o delegado de polícia
samente distribuído, contendo apenas informações que não poderá determinar aos seus agentes, e o Ministério Público
possam identificar o colaborador e o seu objeto. poderá requisitar, a qualquer tempo, relatório da atividade
§ 1o As informações pormenorizadas da colaboração se- de infiltração.
rão dirigidas diretamente ao juiz a que recair a distribuição, Art. 11. O requerimento do Ministério Público ou a repre-
que decidirá no prazo de 48 (quarenta e oito) horas. sentação do delegado de polícia para a infiltração de agentes
§ 2o O acesso aos autos será restrito ao juiz, ao Ministério conterão a demonstração da necessidade da medida, o al-
Público e ao delegado de polícia, como forma de garantir cance das tarefas dos agentes e, quando possível, os nomes
o êxito das investigações, assegurando-se ao defensor, no ou apelidos das pessoas investigadas e o local da infiltração.
interesse do representado, amplo acesso aos elementos de Art. 12. O pedido de infiltração será sigilosamente dis-
prova que digam respeito ao exercício do direito de defesa, tribuído, de forma a não conter informações que possam
devidamente precedido de autorização judicial, ressalvados indicar a operação a ser efetivada ou identificar o agente
os referentes às diligências em andamento. que será infiltrado.
§ 3o O acordo de colaboração premiada deixa de ser si- § 1o As informações quanto à necessidade da operação
giloso assim que recebida a denúncia, observado o disposto de infiltração serão dirigidas diretamente ao juiz competen-
Legislação Especial

no art. 5o. te, que decidirá no prazo de 24 (vinte e quatro) horas, após
manifestação do Ministério Público na hipótese de represen-
Seção II tação do delegado de polícia, devendo-se adotar as medidas
Da Ação Controlada necessárias para o êxito das investigações e a segurança do
agente infiltrado.
Art. 8o Consiste a ação controlada em retardar a interven- § 2o Os autos contendo as informações da operação de
ção policial ou administrativa relativa à ação praticada por infiltração acompanharão a denúncia do Ministério Público,
organização criminosa ou a ela vinculada, desde que mantida quando serão disponibilizados à defesa, assegurando-se a
sob observação e acompanhamento para que a medida legal preservação da identidade do agente.

46 Este eBook foi adquirido por ANA PAULA TORQUATO DA COSTA - CPF: 628.848.913-15.
A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
§ 3o Havendo indícios seguros de que o agente infiltrado Parágrafo único. Na mesma pena incorre quem, de forma
sofre risco iminente, a operação será sustada mediante re- indevida, se apossa, propala, divulga ou faz uso dos dados
quisição do Ministério Público ou pelo delegado de polícia, cadastrais de que trata esta Lei.
dando-se imediata ciência ao Ministério Público e à autori-
dade judicial. CAPÍTULO III
Art. 13. O agente que não guardar, em sua atuação, a Disposições Finais
devida proporcionalidade com a finalidade da investigação,
responderá pelos excessos praticados. Art. 22. Os crimes previstos nesta Lei e as infrações penais
Parágrafo único. Não é punível, no âmbito da infiltração, conexas serão apurados mediante procedimento ordinário
a prática de crime pelo agente infiltrado no curso da investi- previsto no Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941
gação, quando inexigível conduta diversa. (Código de Processo Penal), observado o disposto no pará-
Art. 14. São direitos do agente: grafo único deste artigo.
I – recusar ou fazer cessar a atuação infiltrada; Parágrafo único. A instrução criminal deverá ser encerra-
II – ter sua identidade alterada, aplicando-se, no que da em prazo razoável, o qual não poderá exceder a 120 (cento
couber, o disposto no art. 9o da Lei no 9.807, de 13 de ju- e vinte) dias quando o réu estiver preso, prorrogáveis em
lho de 1999, bem como usufruir das medidas de proteção até igual período, por decisão fundamentada, devidamente
a testemunhas; motivada pela complexidade da causa ou por fato procras-
III – ter seu nome, sua qualificação, sua imagem, sua tinatório atribuível ao réu.
voz e demais informações pessoais preservadas durante a Art. 23. O sigilo da investigação poderá ser decretado pela
investigação e o processo criminal, salvo se houver decisão autoridade judicial competente, para garantia da celeridade
judicial em contrário; e da eficácia das diligências investigatórias, assegurando-se
IV – não ter sua identidade revelada, nem ser fotografa- ao defensor, no interesse do representado, amplo acesso aos
do ou filmado pelos meios de comunicação, sem sua prévia elementos de prova que digam respeito ao exercício do direi-
autorização por escrito. to de defesa, devidamente precedido de autorização judicial,
ressalvados os referentes às diligências em andamento.
Seção IV Parágrafo único. Determinado o depoimento do investi-
Do Acesso a Registros, Dados Cadastrais, gado, seu defensor terá assegurada a prévia vista dos autos,
ainda que classificados como sigilosos, no prazo mínimo de
Documentos e Informações
3 (três) dias que antecedem ao ato, podendo ser ampliado,
a critério da autoridade responsável pela investigação.
Art. 15. O delegado de polícia e o Ministério Público
Art. 24. O art. 288 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de de-
terão acesso, independentemente de autorização judicial,
zembro de 1940 (Código Penal), passa a vigorar com a se-
apenas aos dados cadastrais do investigado que informem
guinte redação:
exclusivamente a qualificação pessoal, a filiação e o endereço “Associação Criminosa
mantidos pela Justiça Eleitoral, empresas telefônicas, institui- Art. 288. Associarem-se 3 (três) ou mais pessoas, para
ções financeiras, provedores de internet e administradoras o fim específico de cometer crimes:
de cartão de crédito. Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos.
Art. 16. As empresas de transporte possibilitarão, pelo Parágrafo único. A pena aumenta-se até a metade se
prazo de 5 (cinco) anos, acesso direto e permanente do juiz, a associação é armada ou se houver a participação
do Ministério Público ou do delegado de polícia aos bancos de criança ou adolescente.” (NR)
de dados de reservas e registro de viagens.
Art. 17. As concessionárias de telefonia fixa ou móvel Art. 25. O art. 342 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de de-
manterão, pelo prazo de 5 (cinco) anos, à disposição das zembro de 1940 (Código Penal), passa a vigorar com a se-
autoridades mencionadas no art. 15, registros de identifi- guinte redação:
cação dos números dos terminais de origem e de destino
das ligações telefônicas internacionais, interurbanas e locais. Art. 342. [...]
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.
Seção V [...]
Dos Crimes Ocorridos na Investigação
e na Obtenção da Prova Art. 26. Revoga-se a Lei no 9.034, de 3 de maio de 1995.
Art. 27. Esta Lei entra em vigor após decorridos 45 (qua-
Art. 18. Revelar a identidade, fotografar ou filmar o co- renta e cinco) dias de sua publicação oficial.
laborador, sem sua prévia autorização por escrito:
Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. Brasília, 2 de agosto de 2013; 192o da Independência e
Art. 19. Imputar falsamente, sob pretexto de colaboração 125o da República.
com a Justiça, a prática de infração penal a pessoa que sabe
ser inocente, ou revelar informações sobre a estrutura de DILMA ROUSSEFF
organização criminosa que sabe inverídicas: José Eduardo Cardozo
Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
LEI Nº 9.099, DE 26 DE SETEMBRO DE 1995
Legislação Especial

Art. 20. Descumprir determinação de sigilo das inves-


tigações que envolvam a ação controlada e a infiltração de
agentes: Procedimento Sumaríssimo
Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
Art. 21. Recusar ou omitir dados cadastrais, registros, O rito sumaríssimo é o reservado para as infrações
documentos e informações requisitadas pelo juiz, Ministério penais de menor potencial ofensivo.218
Público ou delegado de polícia, no curso de investigação ou
do processo:
Assunto cobrado na prova da FGV/OAB/IV Exame Unificado/Questão 65/
218
Pena – reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa. Assertiva D/2011.

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
A previsão constitucional do julgamento diferenciado O crime de constrangimento ilegal, cuja pena é de de-
para as infrações de menor potencial ofensivo está prevista tenção de três meses a um ano ou multa, é da alçada do
no art. 98, I, § 1º, da CF/1988. juizado especial criminal. Nessa situação, o  delegado de
O Juizado Especial Criminal tem competência para a polícia não deve lavrar o auto de prisão em flagrante, mas
conciliação, o julgamento e a execução das infrações penais termo circunstanciado, desde que o autor da infração seja
de menor potencial ofensivo219 (art. 60 da Lei nº 9.099/1995). imediatamente encaminhado para o juizado ou assuma o
Consideram‑se infrações penais de menor potencial compromisso de fazê‑lo.224
ofensivo as contravenções penais e os crimes a que a lei Conforme destaca o STJ:
comine pena máxima não superior a 2 (dois) anos220 (art. 61
da Lei nº 9.099/1995). A Lei dos Juizados Especiais incide nos crimes sujeitos
Cita‑se os seguintes exemplos de infrações de menor a procedimentos especiais, desde que obedecidos
potencial ofensivo: os requisitos autorizadores, permitindo a transação
• Lesão corporal leve221 (art. 129, caput, do Código e a suspensão condicional do processo inclusive nas
Penal); ações penais de competência da Justiça Eleitoral. (STJ,
• Lesão corporal culposa (art. 129, § 6º, do Código Penal); CC nº 37.595/SC, Min. Gilson Dipp, Terceira Seção,
• Perigo de contágio venéreo222 (art. 130 Código Penal); DJ 23/6/2003)
• Omissão de socorro (art. 135 do Código Penal);
• Maus-tratos (art. 136 do Código Penal); O STJ tem se manifestado favoravelmente quanto à
• Rixa (art. 137 do Código Penal);
possibilidade da aplicação da Lei dos Juizados Criminais
• Constrangimento ilegal (art. 146 do Código Penal);
Federais ao delito de uso de entorpecentes.225
• Ameaça (art. 147 do Código Penal);
Em relação à Justiça Militar, a Lei nº 9.099/1995 não tem
• Violação de domicílio (art. 150 do Código Penal);
• Dano (art. 163 do Código Penal); aplicação (art. 90-A da Lei nº 9.099/1995).
• Receptação culposa (art. 180, § 3º, do Código Penal); Na Justiça Federal, há previsão específica na Lei
• Ato obsceno (art. 233 do Código Penal); nº 10.259/2001, aplicando‑se o rito da Lei nº 9.099/1995.
• Abandono intelectual (art. 246 do Código Penal); Desta forma, a respeito das normas de competência defi-
• Exercício ilegal de medicina, arte dentária ou farma- nidoras do juiz natural, o processamento de contravenções
cêutica (art. 282 do Código Penal); penais relacionadas com bens, serviços e interesses da
• Curandeirismo (art. 284 do Código Penal); União será da competência dos juizados especiais criminais
• Falsa identidade (arts. 307 e 308 do Código Penal); da Justiça Estadual.226 Nos juizados especiais criminais fe-
• Prevaricação (art. 319 do Código Penal); derais, a transação aplica‑se a qualquer crime que tenha
• Usurpação de função pública (art. 328 do Código Penal); pena máxima igual ou inferior a 2 anos de prisão.227 O
• Resistência (art. 329 do Código Penal); juizado especial criminal federal não julga contravenção,
• Desobediência (art. 330 do Código Penal); ainda que praticada em detrimento de bens, serviços ou
• Desacato (art. 331 do Código Penal); interesses da União.
• Comunicação falsa de crime ou contravenção (art. 340 Princípios
do Código Penal); O processo perante o Juizado Especial deve orientar‑se
• Autoacusação falsa (art. 341 do Código Penal); pelos critérios da oralidade, informalidade, econo­mia pro-
• Exercício arbitrário das próprias razões223 (art. 345 do cessual e celeridade, objetivando, sempre que possível,
Código Penal); a reparação dos danos sofridos pela vítima e a aplicação
• Contravenções penais (DL nº 3.688/1941); de pena não privativa de liberdade 228 (art. 62 da Lei
• Crimes de abuso de autoridade (Lei nº 4.868/1965); nº 9.099/1995).
• Lesão corporal no trânsito (art. 303 da Lei nº 9.503/1997); Vejamos a aplicação dos princípios no rito sumaríssimo:
• Omissão de socorro em acidente de trânsito (art. 304 1) Oralidade  – substitui‑se o inquérito policial pelo
da Lei nº 9.503/1997); termo circunstanciado; a audiência preliminar é oral, e há
• Fuga após acidente de trânsito (art.  305 da Lei possibilidade de denúncia ou queixa orais, de debates orais
nº 9.503/1997); e possibilidade de sentença oral, o que torna necessária a
• Violação de proibição de dirigir (art.  307 da Lei aplicação do princípio da identidade física do juiz. Serão
nº 9.503/1997); objeto de registro escrito exclusivamente os atos tidos como
• Racha (art. 308 da Lei nº 9.503/1997); essenciais. Os  atos realizados em audiência de instrução
• Direção sem habilitação com perigo de dano (art. 309 e julgamento poderão ser gravados em fita magnética ou
da Lei nº 9.503/1997); equivalente (art. 65, § 3º, da Lei nº 9.099/1995).
• Empréstimo de veículo a pessoa que não pode dirigir 2) Informalidade – predomina o sistema das nulidades
(art. 310 da Lei nº 9.503/1997); relativas, em que, para se declarar a nulidade do ato, é neces-
• Direção perigosa próxima a estabelecimentos (art. 311
sário prejuízo manifesto (art. 65, § 1º, da Lei nº 9.099/1995).
da Lei nº 9.503/1997);
Sobre o procedimento adotado no Juizado Especial
• Alteração de local de acidente (art.  312 da Lei nº
Criminal: não se pronunciará qualquer nulidade sem que
9.503/1997);
• A conduta de adquirir, guardar, manter em depósito, tenha havido prejuízo.229
transportar ou trazer consigo, para consumo pes­ 3) Economia processual  – nenhum ato será adiado,
Legislação Especial

soal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinando o Juiz, quando for imprescindível, a condu-
determinação legal ou regulamentar (art. 28 da Lei nº ção coercitiva de quem deve comparecer (art. 80 da Lei
11.343/2006).
224
Cespe/Defensoria Pública do Estado de Sergipe/Defensor Público de 2ª
Categoria/2005.
219
OAB‑MG/2º Exame de Ordem/2004. 225
Cespe/TRF 5ª Região/Juiz Federal Substituto/2006.
220
Assunto cobrado na prova da OAB‑RS/1º Exame/2006. 226
OAB‑MG/1º Exame de Ordem/2005.
221
Assunto cobrado na prova do TJ‑MA/Juiz/2003. 227
19º Concurso Público para Procurador da República/2002.
222
Assunto cobrado na prova do TJ‑MA/Juiz/2003. 228
Assunto cobrado na prova do Cespe/OAB/Exame de Ordem/2009.
223
Assunto cobrado na prova do TJ‑MA/Juiz/2003. 229
OAB‑PR/Exame 02/2006.

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nº 9.099/1995). Há concentração de atos em duas audiên- hipótese não é de discordância do pedido de arquivamen-
cias, a preliminar e a de instrução e julgamento. to, mas, pura e simplesmente, reconhecimento da falta de
4) Celeridade – não se admitem atos que possam frustrar competência.237
tal critério; todas as provas serão produzidas na audiência
de instrução e julgamento, podendo o Juiz limitar ou ex- Atos processuais
cluir aquelas que considerar excessivas, impertinentes ou Os atos processuais serão públicos e poderão realizar‑se
protelatórias (art. 81, § 1º, da Lei nº 9.099/1995); não se em horário noturno e em qualquer dia da semana, conforme
admite citação por edital (art.  66, parágrafo único, da Lei dispuserem as normas de organização judiciária (art. 64 da
nº 9.099/1995). Lei nº 9.099/1995).
A título de exemplo, a Dra. Ângela, Juíza do 1º Juizado
Objetivos Especial Criminal de São Luís, designou para amanhã, dia
No rito sumaríssimo, sempre que possível, se objetiva 27 de maio de 2001, domingo, três audiências de instrução
a reparação dos danos sofridos pela vítima e a aplicação e julgamento em processos em tramitação no seu juizado,
de pena não privativa de liberdade. Concluindo, a Lei nº que serão realizadas a partir das 19 horas. Em relação a
9.099/1995, ao dispor sobre os Juizados Especiais Criminais, esses fatos, agiu corretamente a Dra. Ângela, pois a Lei
prevê como um de seus objetivos principais a reparação dos nº 9.099/1995 permite a realização de atos processuais em
danos sofridos pela vítima do crime.230 qualquer dia da semana desde que autorizado pela Lei de
Organização Judiciária local.238
Aplicação de institutos da Lei nº 9.099/1995 nos ritos Os atos processuais serão válidos sempre que preenche-
comum e do júri rem as finalidades para as quais foram realizados (art. 65
Na reunião de processos em face de conexão e conti- da Lei nº  9.099/1995). Trata‑se de aplicação expressa do
nência, o processo será julgado pelo juízo comum ou pelo princípio da instrumentalidade das formas. Assim, não se
tribunal do júri, devendo também serem ali aplicados os pronunciará qualquer nulidade sem que tenha havido pre-
institutos da transação penal e da composição dos danos juízo (art. 65, § 1º, da Lei nº 9.099/1995).
civis231 (art. 60, parágrafo único, da Lei nº 9.099/1995). A prática de atos processuais em outras comarcas pode-
rá ser solicitada por qualquer meio hábil de comunicação239
Competência (art. 60, § 2º, Lei nº 9.099/1995).
Ao contrário do que ocorre no Código de Processo Penal, O STJ entende também que:
no procedimento dos Juizados Especiais Criminais a com-
petência será determinada pelo lugar em que foi praticada Mesmo nos procedimentos afetos aos Juizados Es-
a infração penal232 (art. 63 da Lei nº 9.099/1995). Trata‑se peciais Criminais, é  possível a produção de provas
de fixação de competência ratione loci. Quanto ao lugar do mediante carta precatória, pois os princípios que os
crime a Lei nº 9.099/1995, que trata dos Juizados Especiais norteiam (simplicidade, oralidade, informalidade,
Criminais, adotou a teoria da atividade.233 celeridade e economia processual) não podem se so-
Sobre a competência para o julgamento das infrações de brepor à garantia constitucional da ampla defesa (STJ,
menor potencial ofensivo, tem‑se hipótese de competência HC nº 112.074/PR, Min. Jane Silva [desembargadora
absoluta. Com efeito, no foro onde estiver instalada vara convocada do TJ/MG], Sexta Turma, DJe 2/3/2009).
do juizado especial, a competência deste é absoluta.234 Isto
se dá tanto para os juizados especiais estaduais quanto para Serão objeto de registro escrito exclusivamente os atos
o juizado federal. considerados essenciais. Os atos realizados em audiência de
Na hipótese de concurso de crimes, a pena considerada instrução e julgamento poderão ser gravados em fita mag-
para fins de fixação de competência dos juizados especiais nética ou equivalente (art. 65, § 3º, da Lei nº 9.099/1995).
será o resultado da soma, no caso de concurso material, ou
a exasperação, na hipótese de concurso formal ou crime Intimações e notificações
continua­do, das penas máximas cominadas aos delitos.235 A intimação far‑se‑á por correspondência, com aviso
Compete ao Superior Tribunal de Justiça dirimir conflito de recebimento pessoal ou, tratando‑se de pessoa jurídica
de competência entre Tribunal de Justiça ou Tribunal Regio- ou firma individual, mediante entrega ao encarregado
nal Federal e Turma Recursal do Juizado Especial Criminal.236 da recepção, que será obrigatoriamente identificado, ou,
sendo necessário, por oficial de justiça, independentemente
Realizado pedido de arquivamento pelo Ministério
de mandado ou carta precatória240, ou ainda por qualquer
Público quando o processo tramitava perante o juizado
meio idôneo de comunicação (art. 67 da Lei nº 9.099/1995).
especial criminal, o oferecimento e recebimento da denún-
As partes, os interessados e defensores devem conside-
cia, já pelo juiz da vara criminal, em face da incompetência
rar‑se cientes desde logo dos atos praticados em audiência
do juizado, dado que se constatou versar a espécie lesões
(art. 67, parágrafo único, Lei nº 9.099/1995).
corporais graves, não rende ensejo a nulidade, tampouco
Do ato de intimação do autor do fato e do mandado de
aplicação do art. 28 do Código de Processo Penal, pois a
citação do acusado, constará a necessidade de seu compa-
recimento acompanhado de advogado, com a advertência
230
TRF 5ª Região/Juiz Federal Substituto/2001. de que, na sua falta, ser‑lhe‑á designado defensor público
Legislação Especial

231
Assunto cobrado na proav do Cespe/TRF 1ª Região/ Juiz Federal Substituto /
Questão 27/Assertiva C/2009. (art. 68 da Lei nº 9.099/1995).
232
Assunto cobrado nas seguintes provas: TJ‑PA/Juiz Substituto/2005 e De acordo com o STF, não é aplicável nos juizados es-
OAB‑SP/126º Exame de Ordem/2005. peciais criminais a intimação pessoal do defensor público,
233
Assunto cobrado nas seguintes provas: FGV/OAB/IV Exame Unificado/Questão
60/Assertiva A/2011; Instituto Cidades/DPE-AM/Defensor Público/Questão
63/Item I/2011; OAB‑RO/40º Exame; Acadepol‑SP/Delegado de Polícia de São 237
Assunto cobrado na prova do Cespe/TJ-PB/Juiz Substituto/Questão 47/
Paulo/2003 e Cespe/MPE-RN/Promotor de Justiça/2009. Assertiva C/2011.
234
Cespe/AGU/Procurador Federal de 2ª Categoria/2007. 238
TJ‑MA/Juiz/2003.
235
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/TJ-PB/Juiz Substituto/Questão 239
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑PR/Exame 02/2006 e Fundep/
47/Assertiva D/2011 e Cespe/TSE/Analista Judiciário/Área Judiciária/2007. TJ‑MG/Oficial de Justiça/2005.
236
TRF 3ª Região/XIII Concurso/Juiz Federal Substituto. 240
Fundep/TJ‑MG/Oficial de Justiça/2005.

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sendo que a inobservância de intimação pessoal não traz da vítima. De fato, os policiais militares chegam ao condo-
como corolário a nulidade do procedimento.241 mínio onde vivem Pompílio e Josafá e presenciam Josafá e
Manoel, cunhado de Pompílio, em concurso, ameaçarem
Fase Preliminar Policial de morte a vítima, que havia se recusado a pagar uma
A autoridade policial que tomar conhecimento da dívida contraída com a empresa de que são sócios Josafá
ocorrência de infração de menor potencial ofensivo lavrará e Ma­noel. Todos são levados à presença da autoridade
termo circunstanciado242 e o encaminhará imediatamente ao policial e Pompílio representa expressamente pelo processo
Juizado, com o autor do fato e a vítima, providenciando‑se as criminal em face de Josafá, por crime de ameaça, que é de
requisições dos exames periciais necessários (art. 69 da Lei ação pública condicionada à representação e prevê pena
nº 9.099/1995). de detenção de um a seis meses ou multa, não se referindo
Ao autor do fato que, após a lavratura do termo, for a Manoel. Nesse caso, a autoridade policial lavrará termo
imediatamente encaminhado ao juizado ou assumir o com- circunstanciado, indicando como autores do fato Josafá e
promisso de comparecer ao mesmo, não se imporá prisão em Manoel, independentemente de a representação da vítima
flagrante nem se exigirá fiança. Desta forma, nas hipóteses de mencionar com exclusividade Josafá, tomando o compro-
incidência da Lei nº 9.099/1995, a autoridade não deverá, misso de que Josafá e Manoel comparecerão ao Juizado
em qualquer caso, instaurar inquérito policial, bem como Especial Criminal competente.247
proceder ao indiciamento do acusado.243 4) Marcos ofendeu a integridade corporal de Maria,
Como exemplo, o crime de constrangimento ilegal, cuja esbofeteando‑a por duas vezes e causando‑lhe lesão corporal
pena é de detenção de três meses a um ano ou multa, é da leve. Acerca da situação hipotética acima e sabendo que a
alçada do juizado especial criminal. Nessa situação, o delega- conduta ali descrita pode ser tipificada no caput do art. 129
do de polícia não deve lavrar o auto de prisão em flagrante, do CP, com pena de detenção de três meses a um ano: Em vez
mas termo circunstanciado, desde que o autor da infração de inquérito policial, a autoridade policial poderá elaborar
seja imediatamente encaminhado para o juizado ou assuma termo circunstanciado.248
o compromisso de fazê‑lo.244 Em caso de violência doméstica, o juiz poderá determi-
É comum a cobrança de tal hipótese em certames públi- nar, como medida de cautela, o afastamento do infrator do
cos. Vejamos: lar, domicílio ou local de convivência com a vítima (art. 69,
1) Iramar da Silva, com vontade livre, consciente e nítido parágrafo único, da Lei nº 9.099/1995). A título de exemplo,
intento de ultrajar e desprestigiar, desacatou, quando cum- Cornélio, marido de Pedrita, agride‑a com frequência,
priam mandado de penhora e avaliação extraído da execução causando‑lhe lesões corporais leves. Não aguentando mais
promovida em desfavor da companheira deste, portanto, a violência doméstica, Pedrita noticia essas infrações na
no pleno exercício das atribuições dos cargos públicos que delegacia de polícia. Nesse caso, de acordo com a Lei dos
exercem, as oficialas de Justiça Cacilda e Irinéia, chaman- Juizados Especiais Criminais e com a doutrina majoritária,
do‑as de ladras e afirmando que nada seria penhorado em somente o juiz poderá determinar, como medida de cautela,
sua residência. Preso em flagrante pelo crime de desacato em decisão fundamentada, o afastamento de Cornélio do
(art. 331, CP), que prevê uma pena de detenção de seis meses lar, do domicílio ou local de convivência com Pedrita.249
a dois anos, ou multa, Iramar foi encaminhado à delegacia Em relação à Lei nº 9.099/1995, a instauração do In-
de polícia. Considerando o entendimento predominante na quérito Policial torna‑se medida de exceção. Sua simples
doutrina e na jurisprudência, o delegado(a) de polícia encar- instauração não pode determinar a modificação da com-
regado desse caso deverá lavrar um termo circunstanciado petência do Juizado Especial Criminal.250
de ocorrência e encaminhá‑lo imediatamente ao Juizado Sobre o arquivamento do Termo Circunstanciado, Polastri
Especial Criminal com o autor do fato e as vítimas.245 (2009, p. 108) destaca que
2) Na manhã de segunda‑feira, dia normal de trabalho,
agentes penitenciários de serviço na Penitenciária de Bangu o arquivamento poderá ser feito por escrito, logo que
prendem em flagrante João, que estava agredindo José. o promotor receba os autos, em sua primeira ciência,
Tanto João como José cumprem pena na referida instituição, ou, posteriormente, em audiên­cia de forma oral, a
condenados que foram, definitivamente, a oito anos de re- exemplo da denúncia.
clusão por tráfico de drogas. Levados à presença do Diretor
da unidade, este determinou a condução do agressor, da Audiência preliminar (audiência de conciliação)
vítima e das testemunhas para a delegacia de polícia da área,
uma vez que José manifestou a vontade de representar pelo Comparecendo o autor do fato e a vítima, e não sendo
processo em face de João. Na delegacia de polícia, José rati- possível a realização imediata da audiência preliminar, será
fica a representação e é levado a exame de corpo de delito, designada data próxima, da qual ambos sairão cientes (art. 70
constatando os peritos que se trata de lesão corporal de na- da Lei nº 9.099/1995).
tureza leve. Diante disso, a autoridade policial lavrará termo Na falta do comparecimento de qualquer dos envolvidos,
circunstanciado e providenciará o imediato encaminhamento a Secretaria providenciará sua intimação e, se for o caso, a do
do autor do fato ao Juizado Especial Criminal competente.246 responsável civil (art. 71 da Lei nº 9.099/1995).
3) Em um sábado à noite, Pompílio solicita a presença de No rito sumaríssimo dos crimes de menor potencial
policiais militares, alegando que seu vizinho, Josafá, conhe- ofensivo, de competência do juizado especial criminal,
Legislação Especial

cido e temido na região por seu temperamento agressivo, especificamente em relação ao delito de lesões corporais
o estaria ameaçando gravemente, na presença dos filhos simples, caso não compareça a vítima à audiência preli-
minar, por não ter sido localizada para a indispensável
241
Assunto cobrado na prova do TJDFT/Juiz de Direito Substituto/2007. tentativa de conciliação, arquivam-se provisoriamente as
242
Assunto cobrado nas seguintes provas: FGV/TJ‑SE/Analista Judiciário/2004 e peças informativas, seja do termo circunstanciado, seja do
OAB‑GO/1º Exame de Ordem/2003.
243
Assunto cobrado na prova do Cespe/TJ‑PA/Juiz Substituto/2001-2002.
244
Cespe/Defensoria Pública do Estado de Sergipe/Defensor Público de 2ª 247
NCE/Faepol/Delegado da Polícia Civil do Rio de Janeiro/2001.
Categoria/2005. 248
Cespe/TJ‑DF/Analista Judiciário/Área Judiciária/2003.
245
UEG/Delegado de Polícia de 3ª Classe de Goiás/2003. 249
UEG/Delegado de Polícia de 3ª Classe de Goiás/2003.
246
NCE/Faepol/Delegado da Polícia Civil do Rio de Janeiro/2001. 250
NCE/Delegado da Polícia Civil do DF/2004.

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inquérito policial, diferentemente do disposto no CPP e no nistração Pública Federal, compete ao advogado‑geral da
verbete sumular sobre o tema, podendo ser desarquivadas União expedir instruções referentes à atuação da AGU dos
enquanto não estiver extinta a punibilidade.251 órgãos jurídicos das autarquias e fundações nas causas de
Quanto ao procedimento a ser adotado nos Juizados competência dos juizados especiais fe­derais, bem como
Especiais Criminais, a audiência preliminar visa à transação fixar as diretrizes básicas para conciliação, transação e
civil e à transação penal.252 desistência do pedido e de recurso interposto.258
A introdução dos institutos da transação e da compo- Em matéria relativa aos Juizados Especiais Criminais,
sição em nosso ordenamento jurídico, com a edição da a sentença homologatória de composição dos danos civis
Lei nº 9.099/1995, significa uma mitigação do princípio da é irrecorrível.259
indisponibilidade da ação penal. O mesmo não ocorre em relação às ações penais pú-
blicas incondicionadas, que não são afetadas em face da
Composição civil de danos realização do acordo, não acarretando o acordo a extinção
A Lei nº 9.099/1995 inaugura no sistema jurídico Brasi- do processo.260 Com efeito, no âmbito dos Juizados Espe-
leiro a mitigação do princípio da indisponibilidade da ação ciais Criminais, o acordo civil entre ofendido (direto ou de
penal e inclui a vítima na resolução dos conflitos penais. A modo secundário) e autor do fato, homologado pelo juiz,
tendência mundial simplificadora do procedimento criminal em crime de ação pública incondicionada implicará: a so-
expressa no consenso amolda-se ao compromisso do Estado lução da questão civil que não obstará o prosseguimento
Brasileiro na resolução pacífica de controvérsias, contida do procedimento, mediante apresentação de proposta de
no preâmbulo da Constituição Federal.253 transação penal ou de denúncia.261
Na audiência preliminar, diante do representante do Não sendo obtida a composição dos danos civis, será
Ministério Público, o autor do fato e a vítima e, se possível, dada imediatamente ao ofendido a oportunidade de exercer
o responsável civil, acompanhados por seus advogados, o Juiz o direito de representação verbal, que será reduzida a termo
esclarecerá sobre a possibilidade da composição dos danos (art. 75 da Lei nº 9.099/1995).
(art. 72 da Lei nº 9.099/1995). O não oferecimento da representação na audiên­cia
A conciliação será conduzida pelo Juiz ou por conciliador preliminar não implica decadência do direito, que poderá
sob sua orientação (art. 73 da Lei nº 9.099/1995). ser exercido no prazo previsto em lei262 (art. 75, parágrafo
Os conciliadores são auxiliares da Justiça, recrutados, único, da Lei nº 9.099/1995).
na forma da lei local, preferencialmente entre bacharéis em
Direito, sendo excluídos aqueles que exercerem funções na Transação Penal
administração da Justiça Criminal (art. 73, parágrafo único, O advento da Lei nº 9.099/1995, que dispõe sobre os
Lei nº 9.099/1995). juizados especiais criminais, flexibilizou o princípio da obri-
A composição dos danos civis será reduzida a escrito e, gatoriedade do exercício da ação penal pública ao permitir
homologada pelo Juiz mediante sentença irrecorrível, terá que o Ministério Público deixe de exercê‑la com a proposta
eficácia de título a ser executado no juízo civil competente254 de transação.263
(art. 74 da Lei nº 9.099/1995). Segundo o princípio da obrigatoriedade, o  órgão do
Tratando‑se de ação penal de iniciativa privada ou de Ministério Público não pode recusar‑se a promover a com-
ação penal pública condicionada à representação, o acordo petente ação penal, quando identificar hipótese na qual a
homologado acarreta a renúncia ao direito de queixa ou re- lei exija sua atuação. Entretanto, tal princípio encontra‑se
presentação (art. 74, parágrafo único, da Lei nº 9.099/1995). atenuado mediante a previsão de conciliação e transação
Com efeito, o  acordo firmado entre o autor do fato e a nas infrações penais de menor potencial ofensivo.264
vítima, quanto à composição dos danos civis, desde que A transação penal é cabível nos casos de ação penal
homologado, extingue a punibilidade dos crimes de ação pública.265 Ou seja, tem aplicação tanto para as hipóteses de
privada ou pública condicionada.255 ação penal pública incondicionada quanto para os casos de
Como exemplo: na manhã do dia 15/12/2008, Luana ação penal pública condicionada a representação. Com efei-
agrediu Roberta, causando-lhe lesões corporais leves, crime to, o Ministério Público, oferecida a representação, poderá
de ação penal pública condicionada à representação, cuja propor diretamente a transação penal, independentemente
pena é de detenção, de três meses a um ano. Foi lavrado do comparecimento da vítima à audiência preliminar.266
termo circunstanciado, marcando-se a audiência de conci- É cabível a transação penal nos crimes que se apuram
liação para o dia 20/12/2008. Considerando essa situação mediante ação penal privada, que deve ser apresentada
hipotética, havendo a composição de danos na audiência pelo querelante.267 Com efeito,
de conciliação, não poderá o MP formular a proposta de
transação penal.256 o benefício previsto no art. 76 da Lei nº 9.099/1995,
O recebimento de indenização, de acordo com o Código
mediante a aplicação da analogia in bonam partem,
Penal, não caracteriza renúncia tácita, diversamente do que
prevista no art. 3º do Código de Processo Penal, é
ocorre nos delitos aos quais se aplique a Lei nº 9.099/1995
(Lei dos Juizados Especiais Criminais)257.
Nas hipóteses de crimes que tenham por vítima a Admi- 258
Cespe/AGU/Procurador Federal de 2ª Categoria/2007.
259
Ejef/TJ‑MG/Juiz Substituto/2005.
260
Assunto cobrado na prova do TJ‑PA/Juiz Substituto/2005.
Legislação Especial

251
Cespe/TRF 1ª Região/Juiz Federal Substituto/Questão 27/Assertiva D/2011. 261
Assunto cobrado nas seguintes provas: NCE/Delegado da Polícia Civil de 3ª
252
FGV/TJ‑SE/Analista Judiciário/2004. Classe do RJ/2002 e Cespe/Defensoria Pública do Estado de Sergipe/Defensor
253
FCC/DPE-PA/Defensor Público/2009. Público de 2ª Categoria/2005.
254
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/Defensoria Pública do Estado 262
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/OAB/Exame de Ordem/2009
de Sergipe/Defensor Público de 2ª Categoria/2005. e Cespe/DPE-ES/Defensor Público/Questão 63/2009.
255
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/Defensoria Pública do Estado 263
Assunto cobrado nas seguintes provas: Unemat‑Covest/MPE‑MT/Analista
de Alagoas/Defensor Público de 1ª Classe/2003; Unama/Defensoria Pública Jurídico/2004 e MPDFT/28º Concurso/Promotor/Nova Prova/2009.
do Estado do Pará/Defensor Público de 1ª Entrância do Estado do Pará/2006; 264
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/Defensoria Pública do Estado
Cespe/TRE‑MA/Analista Judiciário/Área Judiciária/2005. de Alagoas/Defensor Público de 1ª Classe/2003.
256
Assunto cobrado na prova do Cespe/TRE-GO/Analista Judiciário/Área Judi­ 265
OAB‑PR/Exame 01/2006.
ciária/2009. 266
TJ‑MA/Juiz/2003.
257
OAB‑PR/1º Exame de Ordem/2004. 267
Cespe/TJ‑CE/Juiz Substituto/2004-2005.

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
cabível também nos casos de crimes apurados através Segundo o STJ,
de ação penal privada. (STJ, HC nº 31.527/SP, Min.
Paulo Gallotti, Sexta Turma, DJ 28/3/2005) havendo elementos que, em tese, justifiquem a
transação penal e recusando‑se o Ministério Públi-
Encontra‑se consolidado no STJ o entendimento sobre a co a oferecer a proposta respectiva, faz‑se mister a
impossibilidade de oferecimento, de ofício, pelo magistrado, aplicação analógica do art. 28 do Código de Processo
de transação penal, conforme prevista na Lei dos Juizados Penal; defeso, portanto, transferir a iniciativa ao
Especiais Criminais, uma vez que se cuida de atribuição Judiciário (STJ, HC nº 43.512/SP, Min. Nilson Naves,
exclusiva do Ministério Público.268 Sexta Turma, DJ 10/4/2006).275
Dessa forma, havendo representação ou tratando‑se
de crime de ação penal pública incondicionada, se não for Aceitação da proposta de transação penal
um caso de arquivamento, o  Ministério Público poderá Sendo a proposta aceita pelo autor da infração e seu
propor a aplicação imediata de pena restritiva de direitos defensor, a mesma será submetida à apreciação do Juiz276
ou multas, que será especificada na proposta269 (art. 76 da (art. 76, § 3º, Lei nº 9.099/1995).
Lei nº 9.099/1995). Acolhendo a proposta do Ministério Público aceita pelo
Embora a lei use o termo “poderá propor”, havendo ele- autor da infração, o Juiz aplicará a pena restritiva de direitos
mentos que, em tese, justifiquem a transação penal, o exame ou multa, que não importará em reincidência, sendo regis-
do caso deve ser feito à luz dos textos legais pertinentes; é trada apenas para impedir novamente o mesmo benefício
defeso, portanto, deixar o Ministério Público de fazê‑lo ao no prazo de cinco anos (art. 76, § 4º, Lei nº 9.099/1995).
abrigo de eventual poder discricionário. (STJ, HC nº 36.557/ Da sentença que aplicar a pena restritiva de direitos ou
SP, Min. Nilson Naves, Sexta Turma, DJ 2/5/2005) multa, caberá apelação (art. 76, § 5º, Lei nº 9.099/1995).
Por outro lado, não é característica do instituto da tran- Assim, da decisão homologatória de transação penal caberá
sação penal a formação prévia da opinio delicti por membro o recurso de apelação.277
do Ministério Público. Não se analisa o mérito do fato delitivo A imposição da sanção da pena restritiva de direitos ou
para se oferecer ou não o ajuizamento da ação penal. multa não constará de certidão de antecedentes criminais,
A vítima do delito não interfere de nenhuma forma na
salvo para os fins de impedimento de oferecimento de nova
transação penal a ser apresentada pelo Ministério Público.
transação penal, e não terá efeitos civis, cabendo aos inte-
Nas hipóteses de a pena de multa ser a única aplicável,
ressados propor ação cabível no juízo cível (art. 76, § 6º, Lei
o Juiz poderá reduzi‑la até a metade270 (art. 76, § 1º, da Lei
nº 9.099/1995).
nº 9.099/1995).
Dessa forma, a aplicação de pena restritiva de direito
A transação penal prevista na lei que dispõe acerca dos
juizados especiais criminais implica suspensão do curso ou multa, proposta pelo Ministério Público e aceita pelo
processual até o prazo final do acordo transacional, não autor da infração, não importará em reincidência.278 A título
resultando em reincidência, sendo vedado o registro do de comparação, a remissão, prevista no ECA, não implica
feito em certidão de antecedentes criminais.271 o reconhecimento ou comprovação de responsabilidade,
No procedimento dos Juizados Especiais Criminais: bem como não prevalece para efeitos de antecedentes,
caberá apelação da decisão que homologar a proposta de equiparando‑se ao instituto da transação previsto no âm-
transação penal feita pelo Ministério Público.272 bito dos Juizados Especiais Criminais.279
Descumprimento das condições da transação penal
Inadmissibilidade da proposta de transação penal Homologada a transação penal, o descumprimento da
A lei estabelece diversos requisitos para a proposta pena restritiva de direitos não deverá ser convertida em
de transação penal pelo Ministério Público, tal como não privativa de liberdade.280
ter sido o autor da infração condenado, pela prática de A transformação automática da pena restritiva de di-
outro crime, à pena privativa de liberdade, por sentença reitos, aplicada em transação ocorrida no Juizado Especial
definitiva.273 Criminal, em pena privativa da liberdade, discrepa da ga-
Com efeito, não se admitirá a proposta se ficar com- rantia constitucional do devido processo legal. Descumprido
provado: o termo de transação o mesmo torna‑se insubsistente,
I – que o autor da infração foi condenado, pela prática de cabendo ao Ministério Público requerer a instauração de
crime, à pena privativa de liberdade, por sentença definitiva; inquérito policial ou oferecer a denúncia.281
II – que o agente foi beneficiado anteriormente, no prazo Se restar descumprida a pena de multa,
de cinco anos, pela aplicação de pena restritiva ou multa,
nos termos deste artigo; não mais sendo possível sua conversão em pena
III – que os antecedentes, a conduta social e a persona- privativa de liberdade, revogado que está implici-
lidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias, tamente o art. 85 da Lei nº 9.099/1995, nem em
não indicam ser necessária e suficiente a adoção da medida pena restritiva de direito, por falta de previsão legal,
(art. 76, § 2º, da Lei nº 9.099/1995). deve‑se promover a execução nos termos do art. 51
Não ofende ao princípio constitucional da inocência a do Código Penal, e do art. 6º e ss. da Lei nº 6.830, que
negativa do Ministério Público em oferecer proposta de sus- trata da execução de dívida ativa da Fazenda Pública.
pensão condicional do processo pelo fato de o denunciado (MIRABETE, 2002, p. 152)
responder a outro processo, em que sequer foi realizado o
Legislação Especial

interrogatório.274 275
Assunto cobrado na prova do Cespe/Defensoria Pública do Estado do
Amazonas/Defensor Público de 4ª Classe/2003.
268
Cespe/2º Exame da Ordem/1ª Fase/2006. 276
Assunto cobrado na prova do Ieses/TJ-MA/Analista Judiciário/Questão 89/
269
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/OAB/Exame de Ordem/2009. Item II/2011.
270
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/OAB/Exame de Ordem/2009. 277
NCE/Delegado da Polícia Civil do DF/2004.
271
Cespe/Secad-TO/Delegado de Polícia Civil 1ª Classe/2008. 278
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/Defensoria Pública do Estado
272
Assunto cobrado na prova do TJ‑PA/Juiz Substituto/2005. de Alagoas/Defensor Público de 1ª Classe/2003 e OAB-PR/Exame 01-2006.
273
OAB‑PR/Exame 01/2006. 279
TJDFT/Juiz de Direito Substituto/2007.
274
Cespe/Defensoria Pública do Estado do Amazonas/Defensor Público de 4ª 280
Assunto cobrado na prova de Promotor‑MG/2006.
Classe/2003. 281
TRF 3ª Região/XIII Concurso/Juiz Federal Substituto.

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Dessa forma, uma vez descumprida a pena de multa, não A citação pessoal, no sistema vigente, é, de regra, reali-
há mais que se falar em nova possibilidade de oferecimento zada por mandado. No juizado especial criminal, inverte‑se
de denúncia por parte do promotor. a regra: a citação deve ocorrer, de preferência, no próprio
juizado e, somente quando isso não for possível, deve ser
Ação penal efetuada por mandado.286 Com efeito, a citação será pessoal
Ainda na audiência preliminar, na ação penal de iniciativa e far‑se‑á no próprio Juizado, sempre que possível, ou por
pública, quando não houver aplicação de pena pela ausên- mandado287 (art. 66, Lei nº 9.099/1995).
cia do autor do fato ou pela não ocorrência da hipótese Não é prevista na Lei dos Juizados Especiais Criminais,
permissiva de proposta de transação penal, o  Ministério Lei nº 9.099/1995, a citação por edital.288 Não encontrado o
Público oferecerá ao Juiz, de imediato, denúncia oral, caso acusado para ser citado, o Juiz encaminhará as peças existen-
não haja necessidade de diligências imprescindíveis (art. 77 tes ao Juízo comum para adoção do procedimento previsto
da Lei nº 9.099/1995). em lei (art. 60, parágrafo único, da Lei nº 9.099/1995).
Para o oferecimento da denúncia, que será elaborada A título de exemplo, em um processo que tramita corre-
com base no termo circunstanciado, com dispensa do tamente perante o 1º Juizado Especial Criminal da Comarca
inquérito policial, prescindir‑se‑á do exame do corpo de de Anápolis, Goiás, não sendo o acusado encontrado para
delito quando a materialidade do crime estiver aferida ser citado, o  procedimento a ser seguido, segundo a lei
por boletim médico ou prova equivalente (art. 77, § 1º, Lei específica (9.099/1995), é o processo ser remetido a uma
nº 9.099/1995). Assim, em relação à Lei nº 9.099/1995, das Varas Criminais da Comarca de Anápolis, Goiás, para
mesmo havendo delito de fato permanente, a denúncia será que seja, então, o processo regido pelo rito do Código de
oferecida com base no termo circunstanciado, prescindindo Processo Penal brasileiro, quando será o acusado citado
do exame de corpo de delito quando a materialidade estiver por edital.289
aferida por boletim médico.282 Não é necessário o exame de Não estando presentes à audiência preliminar o ofendido
corpo de delito para o oferecimento da denúncia.283 e o responsável civil, os mesmos serão intimados para com-
Se a complexidade ou circunstâncias do caso não per- parecerem à audiência de instrução e julgamento (art. 78,
mitirem a formulação da denúncia, o  Ministério Público § 2º, Lei nº 9.099/1995).
poderá requerer ao Juiz o encaminhamento das peças As testemunhas arroladas serão intimadas por correspon-
existentes para prosseguimento no rito sumário284 (art. 77, dência, com aviso de recebimento pessoal ou, tratando‑se
§ 2º, Lei nº 9.099/1995). de pessoa jurídica ou firma individual, mediante entrega
Dessa forma, após envolvimento em infração penal de ao encarregado da recepção, que será obrigatoriamente
menor potencial ofensivo, Tício foi encaminhado ao juizado identificado, ou, sendo necessário, por oficial de justiça,
especial criminal, onde o promotor de justiça requereu a independentemente de mandado ou carta precatória, ou
abertura de inquérito policial em face da complexidade do ainda por qualquer meio idôneo de comunicação (art. 78,
caso, o que impediu a formulação imediata da denúncia. § 3º, Lei nº 9.099/1995).
Posteriormente, foi oferecida, perante o juízo criminal da
comarca, denúncia, que tramitou pelo rito sumário, fin- Audiência de instrução e julgamento
dando pela absolvição. O assistente de acusação recorreu, No dia e hora designados para a audiência de instrução
e  o recurso foi distribuído à turma recursal, que lhe deu e julgamento, se na fase preliminar não tiver havido possibi-
provimento e condenou Tício a dois meses de detenção, lidade de tentativa de conciliação e de oferecimento de pro-
pena substituída por prestação pecuniária à vítima. Com posta pelo Ministério Público, deve‑se proceder à tentativa
base nessa situação hipotética, mesmo tratando‑se de de composição dos danos civis (art. 79 da Lei nº 9.099/1995).
infração penal de menor potencial ofensivo, a ação penal É corrente se afirmar que a transação penal mitiga o princípio
poderá ser processada perante o juízo comum, em face dos da obrigatoriedade da ação penal pública. Entretanto, como a
argumentos aduzidos pelo promotor de justiça.285 proposta de transação penal pode ser renovada na audiência
Na ação penal de iniciativa do ofendido, poderá ser de instrução e julgamento, também se pode afirmar que o
oferecida queixa oral, cabendo ao Juiz verificar se a com- princípio da indisponibilidade foi mitigado com o advento
plexidade e as circunstâncias do caso determinam o envio dos juizados especiais criminais, diante da possibilidade de
ao rito comum sumário (art. 77, § 3º, Lei nº 9.099/1995). se efetuar transação em matéria penal.290
Aberta a audiência, será dada a palavra ao defensor para
Citação e notificação para a audiência de instrução e
responder à acusação. Em procedimento previsto na Lei dos
julgamento
Juizados Especiais (Lei nº 9.099/1995), após infrutíferas as
Oferecida a denúncia ou queixa, a mesma será reduzida
propostas de conciliação e de transação penal, aberta a
a termo, entregando‑se cópia ao acusado na própria audi-
audiência de instrução e julgamento (art. 81), o primeiro
ência preliminar, que com ela ficará citado e imediatamente
ato processual será a concessão da palavra ao defensor
cientificado da designação de dia e hora para a audiência
para responder à acusação.291
de instrução e julgamento. Também tomarão ciência desta
Dessa forma, o rito das ações penais originárias e o rito
designação o Ministério Público, o ofendido, o responsável
dos Juizados Especiais Criminais admitem manifestação da
civil e seus advogados (art. 78 da Lei nº 9.099/1995).
defesa antes do juízo de admissibilidade da inicial acusa-
Se o acusado não estiver presente à audiência prelimi-
nar, o  mesmo será citado por mandado e cientificado da tória (denúncia ou queixa).292 Reiterando: em matéria de
Legislação Especial

data da audiência de instrução e julgamento, devendo a ela juizado especial criminal, a denúncia ou queixa não será
trazer suas testemunhas ou apresentar requerimento para recebida imediatamente, sendo imprescindível a citação
intimação em no mínimo cinco dias antes de sua realização 286
Cespe/TRE‑MA/Analista Judiciário/Área Judiciária/2005.
(art. 78, § 1º, Lei nº 9.099/1995). 287
OAB‑PR/Exame 02/2006.
288
Assunto cobrado nas seguintes provas: MPE-MS/Promotor de Justiça Substi-
282
NCE/Delegado da Polícia Civil do DF/2004. tuto/Questão 37/Assertiva C/2011 e Cespe/OAB/Exame de Ordem/2009.
283
OAB‑PR/2º Exame de Ordem/2004. 289
OAB‑GO/2º Exame/2006.
284
Assunto cobrado na seguinte prova: TJ‑RJ/Oficial de Justiça Avaliador. 290
Cespe/DPE-AL/Defensor Público de 1ª Classe/Questão 105/2009.
285
Cespe/Defensoria Pública do Estado do Amazonas/Defensor Público de 4ª 291
OAB‑RS/3º Exame/2006.
Classe/2003. 292
OAB‑PR/Exame 02/2006.

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do acusado, que será intimado a constituir defensor, que recorrente302 (art. 82, § 1º, Lei nº 9.099/1995). Assim, em
poderá responder à acusação.293 tema de juizado especial criminal, a apelação deverá ser
Após a defesa preliminar, o Juiz receberá, ou não, a de- interposta com as razões.303
núncia ou queixa. No juizado especial criminal, cabe ape- O recorrido será intimado para oferecer resposta escrita
lação da decisão que rejeitar a denúncia, que poderá ser no prazo de dez dias (art. 82, § 2º, Lei nº 9.099/1995).
julgada por turma de três juízes em exercício no primeiro
grau de jurisdição, reunidos na sede do juizado.294 (art. 82 Embargos de Declaração
da Lei nº 9.099/1995). Caberão embargos de declaração quando, em sentença
Havendo recebimento, a vítima será ouvida. Tratando‑se ou acórdão, houver obscuridade, contradição, omissão ou
de ação penal privada por crime de menor potencial ofen- dúvida (art. 83 da Lei nº 9.099/1995).
sivo, a ausência injustificada do querelante e de seu advo- Assim, são cabíveis embargos declaratórios quando
gado, na audiência de instrução e julgamento, ocasionará houver na decisão embargada qualquer contradição,
a perempção, que é causa de extinção da punibilidade.295 omissão ou obscuridade a ser sanada, ou para a correção
Após a oitiva da vítima, serão ouvidas as testemunhas de eventual erro material, portanto admite-se, a alteração
de acusação e defesa. Em se tratando de contravenção, do decisum embargado.304
as partes poderão arrolar até três testemunhas e, em se Os embargos de declaração serão opostos por escrito
tratando de crime, o número admitido é de cinco testemu- ou oralmente, no prazo de cinco dias, contados da ciência
nhas, mesmo na hipótese de concurso de crimes.296 da decisão305 (art. 83, § 1º, Lei nº 9.099/1995).
Nenhum ato será adiado. O  Juiz determinará, quando Quando opostos contra sentença, os  embargos de
imprescindível, a condução coercitiva de quem deve com- declaração suspenderão o prazo para o recurso306 (art. 83,
parecer (art. 80 da Lei nº 9.099/1995). § 2º, Lei nº 9.099/1995).
Ao final, será interrogado o acusado, se presente, pas- Os erros materiais podem ser corrigidos de ofício (art. 83,
sando‑se imediatamente aos debates orais e à prolação da § 3º, Lei nº 9.099/1995). Assim, em tema de juizado especial
sentença (art. 81 da Lei nº 9.099/1995). Nos processos dos criminal, os erros materiais na sentença podem ser corri-
Juizados Especiais Criminais, o interrogatório, na audiência gidos de ofício.307
única de instrução, debates e julgamento, é feito após se- Ademais, a jurisprudência do STJ é firme no sentido de
rem inquiridas as testemunhas de acusação e de defesa.297 que os embargos de declaração, quando opostos com o obje-
Após o interrogatório, passa‑se imediatamente aos tivo de prequestionamento visando à interposição de recurso
debates orais e à prolação da sentença (art. 81 da Lei extraordinário, poderão ser acolhidos, desde que exista
nº 9.099/1995). omissão, contradição ou obscuridade na decisão recorrida.308
Configura uma das características dos procedimentos
perante os Juizados Especiais Criminais a adoção do prin- Turmas recursais
cípio da identidade física do juiz.298 O julgamento da apelação oriundo de juiz de juizado
Com efeito, todas as provas serão produzidas na audiên­ especial criminal é de competência de turma composta
cia de instrução e julgamento, podendo o Juiz limitar ou de três juízes em exercício no primeiro grau de jurisdição,
excluir aquelas que forem consideradas excessivas, imper- reunidos na sede do Juizado (colégios recursais dos Juizados
tinentes ou protelatórias (art. 81, § 1º, Lei nº 9.099/1995). Especiais Criminais).309
Será lavrado termo de todo o ocorrido na audiência, As partes serão intimadas da data da sessão de julga-
assinado pelo Juiz e pelas partes, contendo breve resumo mento pela imprensa (art. 82, § 4º, Lei nº 9.099/1995). Se
dos fatos relevantes ocorridos em audiência e a sentença a sentença for confirmada pelos próprios fundamentos,
(art. 81, § 2º, Lei nº 9.099/1995). a súmula do julgamento servirá de acórdão (art. 82, § 5º,
A sentença, dispensado o relatório, mencionará os ele- Lei nº 9.099/1995).
mentos de convicção do Juiz (art. 81, § 3º, Lei nº 9.099/1995). A ausência de intimação pessoal do defensor público não
A respeito do procedimento dos Juizados Especiais relativos acarreta nulidade absoluta. Com efeito, o STF entende que
a crimes de menor potencial ofensivo, o relatório não é
requisito da sentença e pode ser dispensado pelo juiz.299 o julgamento dos recursos pela Turma Recursal dos
Juizados Especiais Criminais prescinde da intimação
Recursos pessoal dos defensores públicos, bastando a intima-
Segundo disposição da Lei nº 9.099/1995, o recurso pre- ção pela imprensa oficial. (STF, HC nº 84.277/MS,
visto para as Turmas Julgadoras é o de apelação, cabendo Rel.  Min. Carlos Velloso, Julgamento: 21/9/2004,
embargos de declaração, quando em sentença ou acórdão Segunda Turma).
houver obscuridade, contradição, omissão ou dúvida.300
Assim, apesar de o Código de Processo Penal dispor
Apelação que a intimação do defensor nomeado seja pessoal, o STF
Da sentença, caberá apelação, que será interposta orienta‑se no sentido de que não se aplica essa regra no
no prazo de dez dias301, contados da ciência da sentença juizado especial criminal. Assim, o julgamento dos recursos
pelo Ministério Público, pelo réu e seu defensor, por pe- 302
Cespe/Defensoria Pública do Estado de Alagoas/Defensor Público de 1ª
tição escrita, da qual constarão as razões e o pedido do Classe/2003.
Legislação Especial

303
TJ‑RJ/Oficial de Justiça Avaliador.
293
TJ‑RJ/Oficial de Justiça Avaliador. 304
Assunto cobrado na prova do Cespe/AL-ES/Procurador/Questão 77/Assertiva
294
Assunto cobrado nas seguintes provas: PUC-PR/TJ-RO/Juiz Substituto/Questão A/2011.
60/2011 e Cespe/Tribunal de Justiça do Acre/Juiz de Direito Substituto/2007 305
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑GO/2º Exame/2006; Vunesp/
e OAB‑MG/1º Exame de Ordem/2004. OAB‑SP/129º Exame e Cespe/Defensoria Pública do Estado de Alagoas/
295
Cespe/AGU/Advogado da União/2002. Defensor Público de 1ª Classe/2003.
296
TJ‑MA/Juiz/2003. 306
FCC/MPE-SE/Analista – Direito/2009.
297
Vunesp/OAB‑SP/131º Exame. 307
TJ‑RJ/Oficial de Justiça Avaliador.
298
NCE/Delegado da Polícia Civil de 3ª Classe do RJ/2002. 308
Assunto cobrado na prova do Cespe/AL-ES/Procurador/Questão 77/Assertiva
299
FCC/DPE-MT/Defensor Público/Questão 24/Assertiva B/2009. B/2011.
300
Promotor‑BA/2004. 309
Assunto cobrado na prova do MPE-MS/Promotor de Justiça Substituto/
301
Vunesp/TJ‑SP/Juiz/2005. Questão 34/Item I/2011.

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pela turma recursal dos juizados especiais criminais prescin- Não compete originariamente ao Supremo Tribunal Federal
de da intimação pessoal dos defensores públicos, bastando o julgamento do habeas corpus contra a decisão da Turma
a intimação pela imprensa oficial.310 Recursal.319
São incabíveis embargos infringentes com base em voto
vencido proferido no julgamento de decisões das Turmas Suspensão condicional do processo (sursis processual)
Recursais de Juizado Especial.311 Os institutos da Transação Penal e da Suspensão Con-
A brevidade dos Juizados Especiais não dispensa o con- dicional do Processo mitigaram, respectivamente, os prin-
trole de constitucionalidade de normas, estando as decisões cípios da obrigatoriedade e indisponibilidade.320
de turmas recursais sujeitas a recurso312. Com efeito, nos O instituto da suspensão condicional do processo, embo-
termos da Súmula nº 640 do STF, ra esteja previsto na Lei nº 9.099/1995, não tem aplicação
apenas às infrações de menor potencial ofensivo.321
é cabível recurso extraordinário contra decisão Dessa forma, a  suspensão condicional do processo é
proferida por juiz de primeiro grau nas causas de cabível em qualquer crime cuja pena mínima cominada
alçada, ou por turma recursal de juizado especial for igual ou inferior a 1 ano.322 Como exemplo, Marcos
cível e criminal.313 ofendeu a integridade corporal de Maria, esbofeteando‑a
por duas vezes e causando‑lhe lesão corporal leve. Acerca
Dessa forma, quanto aos crimes de competência dos da situação hipotética acima e sabendo que a conduta ali
juizados especiais, das decisões das turmas recursais cabe descrita pode ser tipificada no caput do art.  129 do CP,
recurso extraordinário.314 com pena de detenção de três meses a um ano. Caso o MP
Por sua vez, a Súmula nº 727 do STF estabelece que ofereça denúncia, poderá propor a suspensão do processo,
atendidas as condições legais.323
Não pode o magistrado deixar de encaminhar ao Por outro lado, a suspensão condicional do processo,
Supremo Tribunal Federal o agravo de instrumento desde que presentes os requisitos legais, é cabível, inclusive,
interposto da decisão que não admite recurso extra- em crimes que não são de competência do Juizado Especial
ordinário, ainda que referente a causa instaurada no Criminal.324 Admite suspensão condicional do processo o
âmbito dos juizados especiais. delito de estelionato.325
Para a suspensão condicional do processo, exige‑se
Consoante jurisprudência dos tribunais superiores, como requisitos: que o acusado não esteja sendo proces-
compete a corte estadual da justiça o julgamento de pedido sado ou não tenha sido condenado por outro crime e se
de habeas corpus caso a autoridade coatora seja turma façam presentes os requisitos do art. 77 do Código Penal.326
recursal dos juizados especiais.315 Com efeito, nos crimes em que a pena mínima cominada
Ademais, a competência para apreciar as decisões das tur- for igual ou inferior a um ano, abrangidos ou não pela Lei
mas recursais dos juizados especiais criminais não é do STF.316 nº 9.099/1995, o Ministério Público, ao oferecer a denúncia,
poderá propor a suspensão do processo por dois a quatro
Habeas Corpus anos327, desde que o acusado não esteja sendo processado
A Súmula nº 690 do STF estabelecia competir ao “Supre- ou não tenha sido condenado por outro crime328, presentes
mo Tribunal Federal o julgamento de habeas corpus contra os demais requisitos que autorizariam a suspensão condi-
decisão de turma recursal de juizados especiais criminais.” cional da pena:
Entretanto, a referida súmula não tem mais aplicação. No I  – que o condenado não seja reincidente em crime
julgamento do HC nº 86.834, da relatoria do ministro Marco doloso;
Aurélio, o Supremo Tribunal Federal firmou o entendimento II – a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e
de que não cabe ao STF julgar habeas corpus impetrado personalidade do agente, bem como os motivos e as circuns-
contra ato de turma recursal de Juizado Especial Criminal tâncias autorizem a concessão do benefício;
(STF, HC nº 85.240/SP, Rel. Min. Carlos Britto, Tribunal Pleno, III  – não seja indicada ou cabível a substituição da
Julgamento: 14/2/2008).317 pena prevista no art.  44 do Código Penal (art.  89 da Lei
Não mais compete ao STF processar e julgar habeas nº 9.099/1995).
corpus impetrado contra ato de Turma Recursal do Juizado Antônio foi denunciado por receptação simples (art.
Especial Criminal.318 A competência para o julgamento de 180, caput, do Código Penal), e o juiz, verificando que seria
habeas corpus contra ato de Turma Recursal é do respectivo caso, em tese, da apresentação de proposta de suspensão
Tribunal de Justiça. condicional do processo (art. 89, da Lei nº 9.099/95),
Assim, analise a seguinte situação hipotética: Caio é determina a abertura de vista dos autos ao Promotor de
condenado por um Juizado Especial Criminal à pena pri- Justiça para tal finalidade. O Promotor, porém, recusa-se a
vativa de liberdade. O processo é nulo, mas a sentença é oferecer a proposta de suspensão, alegando que o crime de
confirmada pela Turma Recursal do Juizado Especial. Esta receptação é incompatível com o benefício, pois incentiva
decisão transita em julgado e inicia‑se a execução da pena. a prática de furtos, roubos e até mesmo de latrocínios, e
requer o prosseguimento do feito. A medida que o juiz,
310
Cespe/TJ‑BA/Juiz Substituto/2005.
311
TRF 3ª Região/XIII Concurso/Juiz Federal Substituto. 319
Assunto cobrado na prova do TRF 4ª Região/XI Concurso/Juiz Federal Subs-
312
Promotor‑BA/2004. tituto.
Legislação Especial

313
TRF 3ª Região/XIII Concurso/Juiz Federal Substituto. 320
Acadepol‑MG/Delegado da Polícia Civil de Minas Gerais/2003.
314
Unama/Defensoria Pública do Estado do Pará/Defensor Público de 1ª Entrância 321
TJ‑RJ/Oficial de Justiça Avaliador.
do Estado do Pará/2006. 322
OAB‑RO/40º Exame.
315
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/TJ-PB/Juiz Substituto/Questão 323
Cespe/TJ‑DF/Analista Judiciário/2003.
47/Assertiva E/2011 e Cespe/TJ-PB/Juiz Substituto/Questão 47/Assertiva 324
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑RS/1º Exame de Ordem/2004 e
B/2011. OAB‑PR/2º Exame de Ordem/2004.
316
Assunto cobrado na prova do Cespe/AL-ES/Procurador/Questão 76/Assertiva 325
OAB‑GO/3º Exame de Ordem/2003.
C/2011. 326
Esaf/Procuradoria Geral do Distrito Federal/Procurador do Distrito Fe­
317
Assunto cobrado na prova do TRF 3ª Região/XIII Concurso/Juiz Federal Subs- deral/2004.
tituto. 327
Assunto cobrado na seguinte prova: Ieses/TJ-MA/Analista Judiciário - Di-
318
Assunto cobrado nas seguintes provas: TJDFT/Juiz de Direito Substituto/2007 reito/2009.
e Acadepol‑MG/Delegado da Polícia Civil de Minas Gerais/2003. 328
Assunto cobrado na seguinte prova: OAB‑PR/1º Exame de Ordem/2005.

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caso discorde do posicionamento do Promotor, deve tomar efeito, vejamos a seguinte situação hipotética. A autorida-
é remeter os autos à apreciação do Procurador Geral de de policial de determinado município representou ao juiz
Justiça, mediante aplicação analógica do art. 28, do Código competente pela prisão preventiva de Joaquim, indiciado
de Processo Penal.329 em inquérito policial pela prática de furto simples, cuja
De acordo com a jurisprudência do STJ, a legislação que pena é de reclusão de um a quatro anos e multa. Consta
instituiu os juizados especiais não alterou as regras estabe- que Joaquim é primário e não registra envolvimento em
lecidas pela Lei nº 9.099/1995 para a suspensão condicional outros delitos, tendo residência fixa e ocupação lícita.
do processo, que continua sendo cabível apenas para crimes Nessa situação, não é cabível a custódia preventiva, pois
cuja pena mínima cominada seja igual ou inferior a um o crime de furto simples permite a suspensão condicional
ano.330 Em relação à Lei nº 9.099/1995, no entendimento do processo e, mesmo em caso de condenação, não haverá
do Supremo Tribunal Federal, a  Lei nº 10.259/2001 não pena privativa de liberdade em face da possibilidade de
produziu qualquer efeito para oferecimento de suspensão substituição pela pena restritiva de direitos.341
condicional do processo.331 Não caracteriza os institutos da transação penal e da
O benefício da suspensão do processo não é aplicável suspensão condicional do processo a formação prévia da
em relação às infrações penais cometidas em concurso opinio delicti pelo membro do Ministério Público.342
material, concurso formal ou continuidade delitiva, quan- Havendo negativa do promotor de justiça em oferecer
do a pena mínima cominada, seja pelo somatório, seja proposta de sursis processual, por entender ausentes os
pela incidência da majorante, ultrapassar o limite de um
elementos objetivos, o  magistrado não poderá oferecer
1 ano.332 Assim, não se admite a suspensão condicional do
diretamente a proposta.343
processo por crime continuado se a soma da pena mínima
Com base no entendimento do STF, determinado in-
da infração mais grave com o aumento mínimo de um sexto
for superior a um ano.333 divíduo reúne todos os requisitos objetivos e subjetivos
Na jurisprudência atual, vindo o acórdão da Corte de Ape- permissivos da suspensão condicional do processo. Não obs-
lação a excluir a condenação de crime mais grave e restando tante, e apesar de haver o juiz intimado o Ministério Público
apenas crime com pena mínima de até um ano, abrir‑se‑á para manifestar‑se sobre o assunto, o promotor de justiça
vista ao Ministério Público para que examine a possibilidade recusou‑se a oferecer a proposta de suspensão do processo.
de propor a suspensão condicional do processo.334 Nessa situação, se o juiz dissentir da conduta do promotor,
É cabível a suspensão condicional do processo no caso deverá encaminhar os autos ao procurador‑geral de justiça.344
de desclassificação, operada em sede de sentença conde- A título de exemplo: o Ministério Público oferece denún-
natória, do crime capitulado na vestibular acusatória pelo cia contra Paulo Souza, pelos fatos a seguir: “No dia 8 de
procurador da República. Nesse caso, o  juiz deve ouvir outubro de 2008, às 10h30min da manhã, utilizando uma
previamente o órgão do Ministério Público acerca do sursis chave falsa, o réu ingressou na residência de Pedro Pereira
processual.335 e, aproveitando-se da ausência do morador, apropriou-se
No Tribunal do Júri, operada desclassificação em plenário de jóias e de dez mil dólares, que estavam guardados no ar-
do crime de homicídio tentado para o de lesão corporal de mário do quarto da vítima. Ao sair do local com a res furtiva,
natureza grave, cuja pena mínima não é superior a um ano, Paulo Souza deparou-se com o policial militar Sargento Cruz,
deve ser oportunizada, conforme entendimento do STJ, a ma- o qual, desconfiado de seu comportamento, o abordou.
nifestação do órgão do Ministério Público para que ofereça, se Paulo, contudo, empreendeu fuga, tendo sido perseguido
for o caso, a proposta de suspensão condicional do processo.336 pelo policial e preso em flagrante alguns minutos depois.
Com base no disposto no art. 89 da Lei nº 9.099/1995, Em vista do exposto, Paulo Souza está incurso no art. 155,
não ofende ao princípio constitucional da inocência a ne- § 4º, III, do Código Penal, com pena cominada de 2 a 8 anos
gativa do Ministério Público em oferecer proposta de sus- de reclusão e multa”. Examinando a denúncia, o juiz diverge
pensão condicional do processo pelo fato de o denunciado da classificação típica dada pelo promotor, entendendo
responder a outro processo, em que sequer foi realizado o que a narrativa da denúncia corresponde ao crime de furto
interrogatório.337 qualificado pelo uso de chave falsa na modalidade tentada,
A suspensão condicional do processo não pode ocorrer incidindo o art. 14, II, do Código Penal. Nesse caso, o juiz
antes do oferecimento da denúncia.338 Dessa forma, o ór- poderá desde logo modificar a classificação dada aos fatos
gão ministerial poderá propor a suspensão condicional do na denúncia e, em razão disso, instar o promotor de justiça
processo quando já houver o oferecimento formal da peça a oferecer ao réu proposta de suspensão condicional do
acusatória339. Também não pode ser oferecida a proposta processo. Eventual divergência entre o juiz e o promotor
após o trânsito em julgado. Não pode o juiz das execuções sobre o cabimento da suspensão deve ser resolvida por
decidir sobre suspensão condicional do processo.340 órgão superior do Ministério Público.345
O cabimento da suspensão condicional do processo pode Com efeito, vejamos jurisprudência do STF sobre o tema:
inclusive ter reflexo no cabimento da prisão preventiva. Com
O benefício da suspensão condicional do processo
329
Vunesp/TJ-SP/Juiz/Questão 44/2011. não traduz direito subjetivo do acusado. Presentes os
330
Cespe/TJ‑MT/Juiz Substituto/2004.
331
NCE/Delegado da Polícia Civil do DF/2004.
pressupostos objetivos da Lei nº 9.099/1995 (art. 89)
332
Promotor‑RN/2004 e Cespe/Defensoria Pública do Estado do Amazonas/ poderá o Ministério Público oferecer a proposta, que
Defensor Público de 4ª Classe/2003. ainda passará pelo crivo do magistrado processante.
Legislação Especial

333
Assunto cobrado nas seguintes provas: TRF 4ª Região/Juiz Federal Substitu-
to/2005; Cespe/TRE-MA/Analista Judiciário/2009.
334
TRF 4ª Região/Juiz Federal Substituto/2005. 341
Cespe/Secad‑TO/Delegado de Polícia Civil 1ª Classe/2008.
335
Cespe/TRF 5ª Região/Juiz Federal Substituto/2005. 342
Assunto cobrado na prova do Cespe/Defensoria Pública do Estado do Ama-
336
Cespe/TJ‑CE/Juiz Substituto/2004-2005. zonas/Defensor Público de 4ª Classe/2003.
337
Cespe/Defensoria Pública do Estado do Amazonas/Defensor Público de 4ª 343
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/Defensoria Pública do Estado
Classe/2003. do Amazonas/Defensor Público de 4ª Classe/2003; MPDFT/28º Concurso/
338
Assunto cobrado na prova da OAB‑PR/1º Exame de Ordem/2005. Promotor/Nova Prova/2009.
339
Assunto cobrado na prova do TRF 3ª Região/X Concurso/Juiz Federal Substi- 344
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/Regional/Delegado Fede-
tuto. ral//2004; OAB‑GO/1º Exame de Ordem/2004; Promotor‑RN/2004 e Cespe/
340
Assunto cobrado nas seguintes provas: Vunesp/OAB‑SP/133º Exame e FGV/ Promotor‑AM/2001 e Cespe/TRE-MA/Analista Judiciário/2009.
TJ‑SE/Analista Judiciário/2004. 345
Assunto cobrado na prova da FGV/TJ-PA/Juiz de Direito/2009.

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Em havendo discordância do juízo quanto à negativa A suspensão poderá ser revogada se o acusa­do vier a
do Parquet, deve‑se aplicar, por analogia, a norma do ser processado, no curso do prazo, por contravenção354,
art. 28 do CPP, remetendo‑se os autos à Procurado- ou descumprir qualquer outra condição imposta (art.  89,
ria‑Geral de Justiça (Súmula nº 696/STF). Não há que se § 4º, Lei nº 9.099/1995). Considerando a orientação do STJ,
falar em obrigatoriedade do Ministério Público quanto o  descumprimento injustificado das condições impostas
ao oferecimento do benefício da suspensão condicio- pelo magistrado por ocasião da suspensão condicional do
nal do processo. Do contrário, o titular da ação penal processo acarreta a revogação do benefício, com o conse-
seria compelido a sacar de um instrumento de índole quente prosseguimento da ação penal.355
tipicamente transacional, como é o sursis processual. A suspensão condicional do processo pode ser revogada
O que desnaturaria o próprio instituto da suspensão, após o seu termo final, se comprovado que o motivo de
eis que não se pode falar propriamente em transação sua revogação ocorreu durante o período do benefício.356
quando a uma das partes (o órgão de acusação, no Com efeito, se um indivíduo foi denunciado pelo Ministério
caso) não é dado o poder de optar ou não por ela. Público pela prática do crime de estelionato, sendo benefi-
Também não se concede o benefício da suspensão con- ciado com a suspensão condicional do processo pelo prazo
dicional da execução da pena como direito subjetivo do de dois anos. Expirado o período de prova, mas antes da
condenado, podendo ela ser indeferida quando o juiz sentença extintiva da punibilidade, o órgão do Ministério
processante demonstrar, concretamente, a ausência Público verificou que o acusado veio a ser processado por
dos requisitos do art. 77 do CP. Ordem denegada. (STF, outro crime durante o período de prova, sem sentença pro-
HC nº 84.342/RJ, Rel. Min. Carlos Britto, Julgamento: latada. Nessa situação, conforme orientação do STJ, cabe a
12/4/2005, Primeira Turma). revogação do sursis processual, não ocorrendo a violação
dos princípios da presunção de inocência e coisa julgada.357
Por outro lado, a  suspensão condicional do processo Expirado o prazo sem revogação, o juiz declarará extinta
não é direito público subjetivo do réu, podendo ou não ser a punibilidade, não se analisando o mérito de eventual
oferecida proposta pelo querelante, quando se tratar de absolvição ou condenação do acusado358 (art. 89, § 5º, Lei
ação penal privada.346 nº 9.099/1995).
Aceita a proposta pelo acusado e seu defensor347, na pre- Não correrá a prescrição durante o prazo de suspensão
sença do juiz, este, recebendo a denúncia, poderá suspender do processo359 (art. 89, § 6º, Lei nº 9.099/1995).
o processo, submetendo o acusado a período de prova, sob Se o acusado não aceitar a proposta prevista neste artigo,
as seguintes condições: o processo prosseguirá em seus termos ulteriores (art. 89,
I – reparação do dano, salvo impossibilidade de fazê‑lo; § 7º, Lei nº 9.099/1995).
II – proibição de frequentar determinados lugares; Cabe suspensão condicional do processo nos feitos de
III – proibição de ausentar‑se da comarca onde reside competência da Justiça Federal, desde que a pena privati-
sem autorização do juiz; va de liberdade cominada ao crime, em seu mínimo legal,
IV – comparecimento pessoal e obrigatório a juízo, men- não seja superior a um ano e o acusado não esteja sendo
salmente, para informar e justificar suas atividades (art. 89, processado ou não tenha sido condenado por outro crime,
§ 1º, da Lei nº 9.099/1995). preenchidos os demais requisitos que autorizariam a con-
O Juiz poderá especificar outras condições a que cessão do sursis.360
fica subordinada a suspensão, desde que adequadas ao Não pode ser concedida a suspensão condicional do pro-
fato e à situação pessoal do acusado348 (art. 89, § 2º, Lei cesso quando o acusado esteja foragido ou seu paradeiro seja
nº 9.099/1995). Assim, o magistrado não está adstrito à desconhecido, ainda que o defensor constituído tenha poderes
proposta apresentada pelo Ministério Público e nem às especiais para aceitar a proposta e as condições impostas.361
condições estabelecidas na lei, pois poderá especificar ou-
tras condições, desde que adequadas ao fato e à situa­ção Lei nº 9.099, de 26 de Setembro de 1995
pessoal do acusado.349
A suspensão condicional do processo é impeditiva de [...]
ação privada subsidiária.350 CAPÍTULO III
O prazo de efetiva suspensão do processo, para autores Dos Juizados Especiais Criminais
de crimes ambientais, pode ultrapassar quatro anos.351 É o
que determina o art. 28, II, da Lei nº 9.605/1998. Disposições Gerais
A suspensão será revogada se, no curso do prazo, o be-
neficiário vier a ser processado por outro crime352 ou não Art. 60. O Juizado Especial Criminal, provido por juízes
efetuar, sem motivo justificado, a  reparação do dano353
togados ou togados e leigos, tem competência para a con-
(art. 89, § 3º, Lei nº 9.099/1995).
ciliação, o julgamento e a execução das infrações penais de
346
Cespe/Defensoria Pública do Estado do Amazonas/Defensor Público de 4ª menor potencial ofensivo, respeitadas as regras de conexão
Classe/2003. e continência. (Redação dada pela Lei nº 11.313, de 2006)
347
Assunto cobrado na prova da OAB‑PR/1º Exame de Ordem/2005.
348
Esaf/Procuradoria Geral do Distrito Federal/Procurador do Distrito Fe­
deral/2004. 354
Assunto cobrado nas seguintes provas: MPE-MS/Promotor de Justiça Substitu-
349
Promotor‑RN/2004. to/Questão 34/Item III/2011; FCC/TRE-AP/Analista Judiciário/Área Judiciária/
Legislação Especial

350
17º Concurso Público para Procurador da República/1999. Questão 53/Assertiva E/2011; FCC/TRE-AP/Analista Judiciário/Área Judiciária/
351
Promotor‑DF/2002. Questão 53/Assertiva A/2011 e Cespe/TJ‑MT/Juiz Substituto/2004.
352
Assunto cobrado nas seguintes provas: MPE-MS/Promotor de Justiça 355
Cespe/Promotor‑AM/2001.
Substituto/Questão 34/Item III/2011; FCC/TRE-AP/Analista Judiciário/Área 356
Cespe/TRF 5ª Região/Juiz Federal Substituto/2007.
Judiciária/Questão 53/Assertiva E/2011; FCC/TRE-AP/Analista Judiciário/Área 357
Cespe/AGU/Advogado da União/2006.
Judiciária/Questão 53/Assertiva A/2011 e Cespe/Espírito Santo/1º Exame da 358
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑GO/1º Exame/2006; OAB-
Ordem/2004. Nordeste/2º Exame de Ordem/2003; OAB‑ES/2º Exame de Ordem/2004.
353
Assunto cobrado nas seguintes provas: MPE-MS/Promotor de Justiça Substitu- 359
Assunto cobrado nas seguintes provas: OAB‑ES/2º Exame de Ordem/2004;
to/Questão 34/Item III/2011; FCC/TRE-AP/Analista Judiciário/Área Judiciária/ Cespe/Espírito Santo/1º Exame da Ordem/2004 e TJ‑RJ/Oficial de Justiça
Questão 53/Assertiva E/2011; FCC/TRE-AP/Analista Judiciário/Área Judiciária/ Avaliador.
Questão 53/Assertiva A/2011; OAB‑ES/2º Exame de Ordem/2004; Cespe/ 360
TRF 3ª Região/X Concurso/Juiz Federal Substituto.
Espírito Santo/1º Exame da Ordem/2004 e Promotor‑RN/2004. 361
TRF 3ª Região/X Concurso/Juiz Federal Substituto.

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Parágrafo único. Na reunião de processos, perante o juízo prisão em flagrante, nem se exigirá fiança. Em caso de vio-
comum ou o tribunal do júri, decorrentes da aplicação das lência doméstica, o juiz poderá determinar, como medida
regras de conexão e continência, observar-se-ão os institutos de cautela, seu afastamento do lar, domicílio ou local de
da transação penal e da composição dos danos civis. (Incluído convivência com a vítima. (Redação dada pela Lei nº 10.455,
pela Lei nº 11.313, de 2006) de 13.5.2002))
Art. 61. Consideram-se infrações penais de menor po- Art. 70. Comparecendo o autor do fato e a vítima, e não
tencial ofensivo, para os efeitos desta Lei, as contravenções sendo possível a realização imediata da audiência preliminar,
penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não su- será designada data próxima, da qual ambos sairão cientes.
perior a 2 (dois) anos, cumulada ou não com multa. (Redação Art. 71. Na falta do comparecimento de qualquer dos
dada pela Lei nº 11.313, de 2006) envolvidos, a Secretaria providenciará sua intimação e, se
Art. 62. O processo perante o Juizado Especial orientar- for o caso, a do responsável civil, na forma dos arts. 67 e
-se-á pelos critérios da oralidade, informalidade, economia 68 desta Lei.
processual e celeridade, objetivando, sempre que possível, Art. 72. Na audiência preliminar, presente o represen-
a reparação dos danos sofridos pela vítima e a aplicação de tante do Ministério Público, o autor do fato e a vítima e, se
pena não privativa de liberdade. possível, o responsável civil, acompanhados por seus advo-
gados, o Juiz esclarecerá sobre a possibilidade da composição
Seção I dos danos e da aceitação da proposta de aplicação imediata
Da Competência e dos Atos Processuais de pena não privativa de liberdade.
Art. 73. A conciliação será conduzida pelo Juiz ou por
Art. 63. A competência do Juizado será determinada pelo conciliador sob sua orientação.
lugar em que foi praticada a infração penal. Parágrafo único. Os conciliadores são auxiliares da Justi-
Art. 64. Os atos processuais serão públicos e poderão ça, recrutados, na forma da lei local, preferentemente entre
realizar-se em horário noturno e em qualquer dia da semana, bacharéis em Direito, excluídos os que exerçam funções na
conforme dispuserem as normas de organização judiciária. administração da Justiça Criminal.
Art. 65. Os atos processuais serão válidos sempre que Art. 74. A composição dos danos civis será reduzida a
preencherem as finalidades para as quais foram realizados, escrito e, homologada pelo Juiz mediante sentença irrecor-
atendidos os critérios indicados no art. 62 desta Lei. rível, terá eficácia de título a ser executado no juízo civil
§ 1º Não se pronunciará qualquer nulidade sem que te- competente.
nha havido prejuízo. Parágrafo único. Tratando-se de ação penal de iniciativa
§ 2º A prática de atos processuais em outras comarcas po- privada ou de ação penal pública condicionada à represen-
derá ser solicitada por qualquer meio hábil de comunicação. tação, o acordo homologado acarreta a renúncia ao direito
§ 3º Serão objeto de registro escrito exclusivamente os de queixa ou representação.
atos havidos por essenciais. Os atos realizados em audiên- Art. 75. Não obtida a composição dos danos civis, será
cia de instrução e julgamento poderão ser gravados em fita dada imediatamente ao ofendido a oportunidade de exercer
magnética ou equivalente. o direito de representação verbal, que será reduzida a termo.
Art. 66. A citação será pessoal e far-se-á no próprio Jui- Parágrafo único. O não oferecimento da representação
na audiência preliminar não implica decadência do direito,
zado, sempre que possível, ou por mandado.
que poderá ser exercido no prazo previsto em lei.
Parágrafo único. Não encontrado o acusado para ser cita-
Art. 76. Havendo representação ou tratando-se de crime
do, o Juiz encaminhará as peças existentes ao Juízo comum
de ação penal pública incondicionada, não sendo caso de
para adoção do procedimento previsto em lei.
arquivamento, o Ministério Público poderá propor a aplica-
Art. 67. A intimação far-se-á por correspondência, com
ção imediata de pena restritiva de direitos ou multas, a ser
aviso de recebimento pessoal ou, tratando-se de pessoa ju-
especificada na proposta.
rídica ou firma individual, mediante entrega ao encarregado § 1º Nas hipóteses de ser a pena de multa a única apli-
da recepção, que será obrigatoriamente identificado, ou, sen- cável, o Juiz poderá reduzi-la até a metade.
do necessário, por oficial de justiça, independentemente de § 2º Não se admitirá a proposta se ficar comprovado:
mandado ou carta precatória, ou ainda por qualquer meio I – ter sido o autor da infração condenado, pela prática de
idôneo de comunicação. crime, à pena privativa de liberdade, por sentença definitiva;
Parágrafo único. Dos atos praticados em audiência con- II – ter sido o agente beneficiado anteriormente, no prazo
siderar-se-ão desde logo cientes as partes, os interessados de cinco anos, pela aplicação de pena restritiva ou multa,
e defensores. nos termos deste artigo;
Art. 68. Do ato de intimação do autor do fato e do man- III – não indicarem os antecedentes, a conduta social e
dado de citação do acusado, constará a necessidade de seu a personalidade do agente, bem como os motivos e as cir-
comparecimento acompanhado de advogado, com a adver- cunstâncias, ser necessária e suficiente a adoção da medida.
tência de que, na sua falta, ser-lhe-á designado defensor § 3º Aceita a proposta pelo autor da infração e seu de-
público. fensor, será submetida à apreciação do Juiz.
§ 4º Acolhendo a proposta do Ministério Público aceita
Seção II pelo autor da infração, o Juiz aplicará a pena restritiva de
Da Fase Preliminar direitos ou multa, que não importará em reincidência, sendo
Legislação Especial

registrada apenas para impedir novamente o mesmo bene-


Art. 69. A autoridade policial que tomar conhecimento fício no prazo de cinco anos.
da ocorrência lavrará termo circunstanciado e o encaminhará § 5º Da sentença prevista no parágrafo anterior caberá
imediatamente ao Juizado, com o autor do fato e a vítima, a apelação referida no art. 82 desta Lei.
providenciando-se as requisições dos exames periciais ne- § 6º A imposição da sanção de que trata o § 4º deste
cessários. artigo não constará de certidão de antecedentes criminais,
Parágrafo único. Ao autor do fato que, após a lavratura salvo para os fins previstos no mesmo dispositivo, e não terá
do termo, for imediatamente encaminhado ao juizado ou efeitos civis, cabendo aos interessados propor ação cabível
assumir o compromisso de a ele comparecer, não se imporá no juízo cível.

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Seção III § 2º O recorrido será intimado para oferecer resposta
Do Procedimento Sumariíssimo escrita no prazo de dez dias.
§ 3º As partes poderão requerer a transcrição da gravação
Art. 77. Na ação penal de iniciativa pública, quando não da fita magnética a que alude o § 3º do art. 65 desta Lei.
houver aplicação de pena, pela ausência do autor do fato, § 4º As partes serão intimadas da data da sessão de jul-
ou pela não ocorrência da hipótese prevista no art. 76 des- gamento pela imprensa.
ta Lei, o Ministério Público oferecerá ao Juiz, de imediato, § 5º Se a sentença for confirmada pelos próprios funda-
denúncia oral, se não houver necessidade de diligências mentos, a súmula do julgamento servirá de acórdão.
imprescindíveis. Art. 83. Cabem embargos de declaração quando, em sen-
§ 1º Para o oferecimento da denúncia, que será elaborada tença ou acórdão, houver obscuridade, contradição ou omis-
com base no termo de ocorrência referido no art. 69 desta são. (Redação dada pela Lei nº 13.105, de 2015) (Vigência)
Lei, com dispensa do inquérito policial, prescindir-se-á do § 1º Os embargos de declaração serão opostos por escrito
exame do corpo de delito quando a materialidade do crime ou oralmente, no prazo de cinco dias, contados da ciência
estiver aferida por boletim médico ou prova equivalente. da decisão.
§ 2º Se a complexidade ou circunstâncias do caso não § 2º Os embargos de declaração interrompem o prazo
permitirem a formulação da denúncia, o Ministério Públi-
para a interposição de recurso. (Redação dada pela Lei nº
co poderá requerer ao Juiz o encaminhamento das peças
13.105, de 2015) (Vigência)
existentes, na forma do parágrafo único do art. 66 desta Lei.
§ 3º Os erros materiais podem ser corrigidos de ofício.
§ 3º Na ação penal de iniciativa do ofendido poderá ser
oferecida queixa oral, cabendo ao Juiz verificar se a comple-
xidade e as circunstâncias do caso determinam a adoção das Seção IV
providências previstas no parágrafo único do art. 66 desta Lei. Da Execução
Art. 78. Oferecida a denúncia ou queixa, será reduzida a
termo, entregando-se cópia ao acusado, que com ela ficará Art. 84. Aplicada exclusivamente pena de multa, seu
citado e imediatamente cientificado da designação de dia cumprimento far-se-á mediante pagamento na Secretaria
e hora para a audiência de instrução e julgamento, da qual do Juizado.
também tomarão ciência o Ministério Público, o ofendido, Parágrafo único. Efetuado o pagamento, o Juiz declarará
o responsável civil e seus advogados. extinta a punibilidade, determinando que a condenação não
§ 1º Se o acusado não estiver presente, será citado na fique constando dos registros criminais, exceto para fins de
forma dos arts. 66 e 68 desta Lei e cientificado da data da requisição judicial.
audiência de instrução e julgamento, devendo a ela trazer Art. 85. Não efetuado o pagamento de multa, será feita
suas testemunhas ou apresentar requerimento para intima- a conversão em pena privativa da liberdade, ou restritiva de
ção, no mínimo cinco dias antes de sua realização. direitos, nos termos previstos em lei.
§ 2º Não estando presentes o ofendido e o responsável Art. 86. A execução das penas privativas de liberdade e
civil, serão intimados nos termos do art. 67 desta Lei para restritivas de direitos, ou de multa cumulada com estas, será
comparecerem à audiência de instrução e julgamento. processada perante o órgão competente, nos termos da lei.
§ 3º As testemunhas arroladas serão intimadas na forma
prevista no art. 67 desta Lei. Seção V
Art. 79. No dia e hora designados para a audiência de Das Despesas Processuais
instrução e julgamento, se na fase preliminar não tiver havido
possibilidade de tentativa de conciliação e de oferecimento Art. 87. Nos casos de homologação do acordo civil e apli-
de proposta pelo Ministério Público, proceder-se-á nos ter- cação de pena restritiva de direitos ou multa (arts. 74 e 76,
mos dos arts. 72, 73, 74 e 75 desta Lei. § 4º), as despesas processuais serão reduzidas, conforme
Art. 80. Nenhum ato será adiado, determinando o Juiz, dispuser lei estadual.
quando imprescindível, a condução coercitiva de quem deva
comparecer. Seção VI
Art. 81. Aberta a audiência, será dada a palavra ao defen- Disposições Finais
sor para responder à acusação, após o que o Juiz receberá,
ou não, a denúncia ou queixa; havendo recebimento, serão
Art. 88. Além das hipóteses do Código Penal e da legisla-
ouvidas a vítima e as testemunhas de acusação e defesa,
ção especial, dependerá de representação a ação penal rela-
interrogando-se a seguir o acusado, se presente, passando-se
tiva aos crimes de lesões corporais leves e lesões culposas.
imediatamente aos debates orais e à prolação da sentença.
§ 1º Todas as provas serão produzidas na audiência de Art. 89. Nos crimes em que a pena mínima cominada for
instrução e julgamento, podendo o Juiz limitar ou excluir as igual ou inferior a um ano, abrangidas ou não por esta Lei, o
que considerar excessivas, impertinentes ou protelatórias. Ministério Público, ao oferecer a denúncia, poderá propor a
§ 2º De todo o ocorrido na audiência será lavrado termo, suspensão do processo, por dois a quatro anos, desde que
assinado pelo Juiz e pelas partes, contendo breve resumo o acusado não esteja sendo processado ou não tenha sido
dos fatos relevantes ocorridos em audiência e a sentença. condenado por outro crime, presentes os demais requisitos
§ 3º A sentença, dispensado o relatório, mencionará os que autorizariam a suspensão condicional da pena (art. 77
Legislação Especial

elementos de convicção do Juiz. do Código Penal).


Art. 82. Da decisão de rejeição da denúncia ou queixa § 1º Aceita a proposta pelo acusado e seu defensor, na
e da sentença caberá apelação, que poderá ser julgada por presença do Juiz, este, recebendo a denúncia, poderá sus-
turma composta de três Juízes em exercício no primeiro grau pender o processo, submetendo o acusado a período de
de jurisdição, reunidos na sede do Juizado. prova, sob as seguintes condições:
§ 1º A apelação será interposta no prazo de dez dias, I – reparação do dano, salvo impossibilidade de fazê-lo;
contados da ciência da sentença pelo Ministério Público, pelo II – proibição de frequentar determinados lugares;
réu e seu defensor, por petição escrita, da qual constarão as III – proibição de ausentar-se da comarca onde reside,
razões e o pedido do recorrente. sem autorização do Juiz;

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IV – comparecimento pessoal e obrigatório a juízo, men- III – para a anulação ou cancelamento de ato adminis-
salmente, para informar e justificar suas atividades. trativo federal, salvo o de natureza previdenciária e o de
§ 2º O Juiz poderá especificar outras condições a que fica lançamento fiscal;
subordinada a suspensão, desde que adequadas ao fato e à IV – que tenham como objeto a impugnação da pena de
situação pessoal do acusado. demissão imposta a servidores públicos civis ou de sanções
§ 3º A suspensão será revogada se, no curso do prazo, disciplinares aplicadas a militares.
o beneficiário vier a ser processado por outro crime ou não § 2º Quando a pretensão versar sobre obrigações vincen-
efetuar, sem motivo justificado, a reparação do dano. das, para fins de competência do Juizado Especial, a soma
§ 4º A suspensão poderá ser revogada se o acusado vier de doze parcelas não poderá exceder o valor referido no
a ser processado, no curso do prazo, por contravenção, ou art. 3º, caput.
descumprir qualquer outra condição imposta. § 3º No foro onde estiver instalada Vara do Juizado Es-
§ 5º Expirado o prazo sem revogação, o Juiz declarará pecial, a sua competência é absoluta.
extinta a punibilidade. Art. 4º O Juiz poderá, de ofício ou a requerimento das
§ 6º Não correrá a prescrição durante o prazo de sus- partes, deferir medidas cautelares no curso do processo, para
pensão do processo. evitar dano de difícil reparação.
§ 7º Se o acusado não aceitar a proposta prevista neste Art. 5º Exceto nos casos do art. 4º, somente será admitido
artigo, o processo prosseguirá em seus ulteriores termos. recurso de sentença definitiva.
Art. 90. As disposições desta Lei não se aplicam aos pro- Art. 6º Podem ser partes no Juizado Especial Federal
cessos penais cuja instrução já estiver iniciada. (Vide ADIN Cível:
nº 1.719-9) I – como autores, as pessoas físicas e as microempresas e
Art. 90-A. As disposições desta Lei não se aplicam no empresas de pequeno porte, assim definidas na Lei nº 9.317,
âmbito da Justiça Militar. (Artigo incluído pela Lei nº 9.839, de 5 de dezembro de 1996;
de 27.9.1999) II – como rés, a União, autarquias, fundações e empresas
Art. 91. Nos casos em que esta Lei passa a exigir represen- públicas federais.
tação para a propositura da ação penal pública, o ofendido Art. 7º As citações e intimações da União serão feitas na
ou seu representante legal será intimado para oferecê-la no forma prevista nos arts. 35 a 38 da Lei Complementar nº 73,
prazo de trinta dias, sob pena de decadência. de 10 de fevereiro de 1993.
Art. 92. Aplicam-se subsidiariamente as disposições dos Parágrafo único. A citação das autarquias, fundações e
Códigos Penal e de Processo Penal, no que não forem incom- empresas públicas será feita na pessoa do representante
patíveis com esta Lei. máximo da entidade, no local onde proposta a causa, quan-
do ali instalado seu escritório ou representação; se não, na
LEI Nº 10.259, DE 12 DE JULHO DE 2001 sede da entidade.
Art. 8º As partes serão intimadas da sentença, quando
Dispõe sobre a instituição dos não proferida esta na audiência em que estiver presente seu
Juizados Especiais Cíveis e Crimi- representante, por ARMP (aviso de recebimento em mão
nais no âmbito da Justiça Federal. própria).
§ 1º As demais intimações das partes serão feitas na pes-
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso soa dos advogados ou dos Procuradores que oficiem nos
Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: respectivos autos, pessoalmente ou por via postal.
Art. 1º São instituídos os Juizados Especiais Cíveis e Cri- § 2º Os tribunais poderão organizar serviço de intimação
minais da Justiça Federal, aos quais se aplica, no que não das partes e de recepção de petições por meio eletrônico.
conflitar com esta Lei, o disposto na Lei nº 9.099, de 26 de Art. 9º Não haverá prazo diferenciado para a prática de
setembro de 1995. qualquer ato processual pelas pessoas jurídicas de direito pú-
Art. 2º Compete ao Juizado Especial Federal Criminal pro- blico, inclusive a interposição de recursos, devendo a citação
cessar e julgar os feitos de competência da Justiça Federal para audiência de conciliação ser efetuada com antecedência
relativos às infrações de menor potencial ofensivo, respeita- mínima de trinta dias.
das as regras de conexão e continência. (Redação dada pela Art. 10. As partes poderão designar, por escrito, repre-
Lei nº 11.313, de 2006) sentantes para a causa, advogado ou não.
Parágrafo único. Na reunião de processos, perante o juízo Parágrafo único. Os representantes judiciais da União,
comum ou o tribunal do júri, decorrente da aplicação das autarquias, fundações e empresas públicas federais, bem
regras de conexão e continência, observar-se-ão os institutos como os indicados na forma do caput, ficam autorizados a
da transação penal e da composição dos danos civis. (Reda- conciliar, transigir ou desistir, nos processos da competência
ção dada pela Lei nº 11.313, de 2006) dos Juizados Especiais Federais.
Art. 3º Compete ao Juizado Especial Federal Cível pro- Art. 11. A entidade pública ré deverá fornecer ao Juiza-
cessar, conciliar e julgar causas de competência da Justiça do a documentação de que disponha para o esclarecimento
Federal até o valor de sessenta salários mínimos, bem como da causa, apresentando-a até a instalação da audiência de
executar as suas sentenças. conciliação.
Legislação Especial

§ 1º Não se incluem na competência do Juizado Especial Parágrafo único. Para a audiência de composição dos
Cível as causas: danos resultantes de ilícito criminal (arts. 71, 72 e 74 da Lei
I – referidas no art. 109, incisos II, III e XI, da Constituição nº 9.099, de 26 de setembro de 1995), o representante da
Federal, as ações de mandado de segurança, de desapropria- entidade que comparecer terá poderes para acordar, desistir
ção, de divisão e demarcação, populares, execuções fiscais e ou transigir, na forma do art. 10.
por improbidade administrativa e as demandas sobre direitos Art. 12. Para efetuar o exame técnico necessário à con-
ou interesses difusos, coletivos ou individuais homogêneos; ciliação ou ao julgamento da causa, o Juiz nomeará pessoa
II – sobre bens imóveis da União, autarquias e fundações habilitada, que apresentará o laudo até cinco dias antes da
públicas federais; audiência, independentemente de intimação das partes.

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§ 1º Os honorários do técnico serão antecipados à con- Art. 17. Tratando-se de obrigação de pagar quantia certa,
ta de verba orçamentária do respectivo Tribunal e, quando após o trânsito em julgado da decisão, o pagamento será
vencida na causa a entidade pública, seu valor será incluído efetuado no prazo de sessenta dias, contados da entrega
na ordem de pagamento a ser feita em favor do Tribunal. da requisição, por ordem do Juiz, à autoridade citada para a
§ 2º Nas ações previdenciárias e relativas à assistência so- causa, na agência mais próxima da Caixa Econômica Federal
cial, havendo designação de exame, serão as partes intimadas ou do Banco do Brasil, independentemente de precatório.
para, em dez dias, apresentar quesitos e indicar assistentes. § 1º Para os efeitos do § 3º do art. 100 da Constituição
Art. 13. Nas causas de que trata esta Lei, não haverá Federal, as obrigações ali definidas como de pequeno valor, a
reexame necessário. serem pagas independentemente de precatório, terão como
Art. 14. Caberá pedido de uniformização de interpreta- limite o mesmo valor estabelecido nesta Lei para a compe-
ção de lei federal quando houver divergência entre decisões tência do Juizado Especial Federal Cível (art. 3º, caput).
sobre questões de direito material proferidas por Turmas § 2º Desatendida a requisição judicial, o Juiz determi-
Recursais na interpretação da lei. nará o sequestro do numerário suficiente ao cumprimento
§ 1º O pedido fundado em divergência entre Turmas da da decisão.
mesma Região será julgado em reunião conjunta das Turmas § 3º São vedados o fracionamento, repartição ou quebra
em conflito, sob a presidência do Juiz Coordenador. do valor da execução, de modo que o pagamento se faça,
§ 2º O pedido fundado em divergência entre decisões em parte, na forma estabelecida no § 1º deste artigo, e, em
de turmas de diferentes regiões ou da proferida em contra- parte, mediante expedição do precatório, e a expedição de
riedade a súmula ou jurisprudência dominante do STJ será precatório complementar ou suplementar do valor pago.
julgado por Turma de Uniformização, integrada por juízes § 4º Se o valor da execução ultrapassar o estabelecido no
de Turmas Recursais, sob a presidência do Coordenador da § 1º, o pagamento far-se-á, sempre, por meio do precatório,
Justiça Federal. sendo facultado à parte exequente a renúncia ao crédito do
§ 3º A reunião de juízes domiciliados em cidades diversas valor excedente, para que possa optar pelo pagamento do
será feita pela via eletrônica. saldo sem o precatório, da forma lá prevista.
§ 4º Quando a orientação acolhida pela Turma de Unifor- Art. 18. Os Juizados Especiais serão instalados por deci-
mização, em questões de direito material, contrariar súmula são do Tribunal Regional Federal. O Juiz presidente do Juizado
ou jurisprudência dominante no Superior Tribunal de Justiça designará os conciliadores pelo período de dois anos, admi-
-STJ, a parte interessada poderá provocar a manifestação tida a recondução. O exercício dessas funções será gratuito,
deste, que dirimirá a divergência. assegurados os direitos e prerrogativas do jurado (art. 437
§ 5º No caso do § 4º, presente a plausibilidade do direito do Código de Processo Penal).
invocado e havendo fundado receio de dano de difícil repara- Parágrafo único. Serão instalados Juizados Especiais Ad-
ção, poderá o relator conceder, de ofício ou a requerimento juntos nas localidades cujo movimento forense não justifique
do interessado, medida liminar determinando a suspensão a existência de Juizado Especial, cabendo ao Tribunal desig-
dos processos nos quais a controvérsia esteja estabelecida. nar a Vara onde funcionará.
§ 6º Eventuais pedidos de uniformização idênticos, rece- Art. 19. No prazo de seis meses, a contar da publicação
bidos subsequentemente em quaisquer Turmas Recursais, desta Lei, deverão ser instalados os Juizados Especiais nas
ficarão retidos nos autos, aguardando-se pronunciamento capitais dos Estados e no Distrito Federal.
do Superior Tribunal de Justiça. Parágrafo único. Na capital dos Estados, no Distrito Fe-
§ 7º Se necessário, o relator pedirá informações ao Presi- deral e em outras cidades onde for necessário, neste últi-
dente da Turma Recursal ou Coordenador da Turma de Uni- mo caso, por decisão do Tribunal Regional Federal, serão
formização e ouvirá o Ministério Público, no prazo de cinco instalados Juizados com competência exclusiva para ações
dias. Eventuais interessados, ainda que não sejam partes previdenciárias.
no processo, poderão se manifestar, no prazo de trinta dias. Art. 20. Onde não houver Vara Federal, a causa poderá
§ 8º Decorridos os prazos referidos no § 7º, o relator ser proposta no Juizado Especial Federal mais próximo do
incluirá o pedido em pauta na Seção, com preferência sobre foro definido no art. 4º da Lei nº 9.099, de 26 de setembro
todos os demais feitos, ressalvados os processos com réus de 1995, vedada a aplicação desta Lei no juízo estadual.
presos, os habeas corpus e os mandados de segurança. Art. 21. As Turmas Recursais serão instituídas por decisão
§ 9º Publicado o acórdão respectivo, os pedidos retidos do Tribunal Regional Federal, que definirá sua composição e
referidos no § 6º serão apreciados pelas Turmas Recursais, área de competência, podendo abranger mais de uma seção.
que poderão exercer juízo de retratação ou declará-los pre- § 1º (Revogado pela Lei nº 12.665, de 2012)
judicados, se veicularem tese não acolhida pelo Superior § 2º (Revogado pela Lei nº 12.665, de 2012)
Tribunal de Justiça. Art. 22. Os Juizados Especiais serão coordenados por Juiz
§ 10. Os Tribunais Regionais, o Superior Tribunal de Jus- do respectivo Tribunal Regional, escolhido por seus pares,
tiça e o Supremo Tribunal Federal, no âmbito de suas com- com mandato de dois anos.
petências, expedirão normas regulamentando a composição Parágrafo único. O Juiz Federal, quando o exigirem as cir-
dos órgãos e os procedimentos a serem adotados para o cunstâncias, poderá determinar o funcionamento do Juizado
processamento e o julgamento do pedido de uniformização Especial em caráter itinerante, mediante autorização prévia
e do recurso extraordinário. do Tribunal Regional Federal, com antecedência de dez dias.
Legislação Especial

Art. 15. O recurso extraordinário, para os efeitos desta Art. 23. O Conselho da Justiça Federal poderá limitar,
Lei, será processado e julgado segundo o estabelecido nos por até três anos, contados a partir da publicação desta Lei,
§§ 4º a 9º do art. 14, além da observância das normas do a competência dos Juizados Especiais Cíveis, atendendo à
Regimento. necessidade da organização dos serviços judiciários ou ad-
Art. 16. O cumprimento do acordo ou da sentença, com ministrativos.
trânsito em julgado, que imponham obrigação de fazer, não Art. 24. O Centro de Estudos Judiciários do Conselho da
fazer ou entrega de coisa certa, será efetuado mediante ofí- Justiça Federal e as Escolas de Magistratura dos Tribunais
cio do Juiz à autoridade citada para a causa, com cópia da Regionais Federais criarão programas de informática neces-
sentença ou do acordo. sários para subsidiar a instrução das causas submetidas aos

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Juizados e promoverão cursos de aperfeiçoamento destina- necessárias para o efetivo exercício desses direitos enume-
dos aos seus magistrados e servidores. rados. (Art. 3º, § 2º)
Art. 25. Não serão remetidas aos Juizados Especiais as Na interpretação desta lei, serão considerados os fins
demandas ajuizadas até a data de sua instalação. sociais a que ela se destina e, especialmente, as condições
Art. 26. Competirá aos Tribunais Regionais Federais pres- peculiares das mulheres em situação de violência doméstica
tar o suporte administrativo necessário ao funcionamento e familiar. (Art. 4º)
dos Juizados Especiais.
Art. 27. Esta Lei entra em vigor seis meses após a data Da Violência Doméstica e Familiar contra a
de sua publicação. Mulher
Brasília, 12 de julho de 2001; 180º da Independência e Disposições Gerais
113º da República.
Para os efeitos desta lei, configura violência do-
FERNANDO HENRIQUE CARDOSO méstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou
Paulo de Tarso Tamos Ribeiro omissão baseada no gênero que lhe cause morte, le-
Roberto Brant são, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano
Gilmar Ferreira Mendes moral ou patrimonial363 no âmbito da unidade domés-
tica, compreendida como o espaço de convívio per-
Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/2006) manente de pessoas, com ou sem vínculo familiar,
inclusive as esporadicamente agregadas364 (art. 5º, I);
A Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006, cria mecanismos no âmbito da família, compreendida como a comunidade
para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, formada por indivíduos que são ou se consideram apa-
nos termos do § 8o do art. 226 da Constituição Federal, da rentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por
Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discri- vontade expressa365 (art. 5º, II); em qualquer relação íntima
minação contra as Mulheres e da Convenção Interamericana de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido
para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher; com a ofendida, independentemente de coabitação366.
dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica (Art. 5º, III)
e Familiar contra a Mulher; altera o Código de Processo Pe- Destaca-se que essas relações pessoais independem
nal, o Código Penal e a Lei de Execução Penal; e dá outras de orientação sexual367 (art. 5º, parágrafo único). Assim, se
providências. Esta Lei entrou em vigor 45 (quarenta e cinco) duas mulheres mantiverem uma relação homoafetiva há
dias após sua publicação. (Art. 46) mais de dois anos, e uma delas praticar violência moral
e psicológica contra a outra, tal conduta estará sujeita à
Disposições Preliminares incidência da Lei Maria da Penha, ainda que elas residam
em lares diferentes368.
Esta lei cria mecanismos para coibir e prevenir a violên- Sintetizando, o conceito de violência doméstica e fami-
cia doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § liar utilizado para fins de definição de conduta típica trazido
8o do art. 226 da Constituição Federal, da Convenção sobre pela Lei é o de ação ou omissão baseada no gênero (art. 5º,
a Eliminação de Todas as Formas de Violência contra a Mu- caput), que cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou
lher, da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e psicológico e ainda, dano moral ou patrimonial369.
Erradicar a Violência contra a Mulher e de outros tratados Ressaltamos, ainda, que a violência doméstica e familiar
internacionais ratificados pela República Federativa do Brasil; contra a mulher constitui uma das formas de violação dos
dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e direitos humanos370. (Art. 6º)
Familiar contra a Mulher; e estabelece medidas de assistência Informação importante é que a Lei Maria da Pe-
e proteção às mulheres em situação de violência doméstica nha tem aplicação quando se trata de briga  de ex-namora-
e familiar. (Art. 1º) dos decorrente do anterior relacionamento371. Este enten-
Versa a lei que toda mulher, independentemente de dimento tem sido aceito pelo Superior Tribunal de Justiça
classe, raça, etnia, orientação sexual362, renda, cultura, nível que, analisando o tema em voga, vem manifestando seu
educacional, idade e religião, goza dos direitos fundamentais
inerentes à pessoa humana, sendo-lhe asseguradas as opor- 363
Assunto cobrado nas seguintes provas: Movens/PC-PA/Delegado de Polí-
tunidades e facilidades para viver sem violência, preservar cia/2009; Cespe/OAB/Exame de Ordem 3/2009.
sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral, in- 364
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/DPE-RR/Defensor Públi-
telectual e social. (Art. 2º) co/2013; Cespe/TJ-AC/Técnico Judiciário/Área Judiciária/2012; Cespe/PC-
-AL/Escrivão de Polícia/2012; FCC/TJ-PI/Assessor Jurídico/2010; FGV/Senado
Serão asseguradas às mulheres as condições para o Federal/Advogado/2008.
exercício efetivo dos direitos à vida, à segurança, à saúde, 365
Assunto cobrado nas seguintes provas: MPE-PR/Promotor/2014; Cespe/
à alimentação, à educação, à cultura, à moradia, ao acesso DPE-RR/Defensor Público/2013; Cespe/PC-AL/Escrivão de Polícia/2012; FCC/
à justiça, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à TJ-PI/Assessor Jurídico/2010.
366
Assunto cobrado nas seguintes provas: MPE-PR/Promotor/2014; Fepese/
liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar MPE-SC/Promotor de Justiça/2014; Cespe/PC-DF/Escrivão de Polícia/2013;
e comunitária. (Art. 3º) Cespe/TJ-RR/Titular de Serviços de Notas e de Registros/2013; MPE-MS/Pro-
Legislação Especial

O poder público desenvolverá políticas que visem garantir motor de Justiça/2013; Cespe/PC-AL/Escrivão de Polícia/2012; FEC/PC-RJ/
os direitos humanos das mulheres no âmbito das relações Inspetor de Polícia 6ª Classe/2012; FCC/TJ-PI/Assessor Jurídico/2010; FCC/
TJ-SE/Analista Judiciário/Psicologia/2009; Cespe/OAB/2009; FGV/Senado
domésticas e familiares no sentido de resguardá-las de toda Federal/Advogado/2008; FAPERP/TJ-PB/Analista Judiciário/2012.
forma de negligência, discriminação, exploração, violência, 367
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/PC-DF/Escrivão de Polí-
crueldade e opressão (art. 3º, § 1º). A lei prevê que cabe à cia/2013; FEC/PC-RJ/Inspetor de Polícia 6ª Classe/2012.
família, à sociedade e ao poder público criar as condições
368
Cespe/PC-DF/Escrivão de Polícia/2013.
369
MPE-PR/Promotor/2014.
370
Assunto cobrado na prova: Vunesp/PC-SP/Desenhista Técnico/Pericial/2014.
362
Assunto cobrado na seguinte prova: FCC/TJ-PI/Analista Judiciário/Assistência 371
Assunto cobrado nas seguintes provas: FGV/Susam/Advogado/2014. Cespe/
Social/2010. PRF/2013; Cespe/TJ-PB/Juiz Leigo/2013.

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
entendimento jurisprudencial no sentido da configuração de encontra verdadeira limitação de aplicação em razão das
violência doméstica contra a mulher, ensejando a aplicação imunidades fixadas pelos arts. 181 e 182 do Código Penal377.
da Lei nº 11.340/2006, à agressão cometida por ex-namora- E, por fim, a violência moral, entendida como qualquer
do. (Jurisprudência do STJ – HC nº 182.411/RS, Rel. Ministro conduta que configure calúnia, difamação ou injúria378.
Adilson Vieira Macabu (Desembargador Convocado do TJ/RJ), (Art. 7º, V)
Quinta Turma, julgado em 14/8/2012, DJe 3/9/2012). Seguin-
do a lógica, se a lei é aplicada nos casos de agressão por ex- Da Assistência à Mulher em Situação de Violência
-namorado, também será aplicada nos casos de agressão por Doméstica e Familiar 
atual namorado, de acordo com o Superior Tribunal de Justiça.
(Jurisprudência STJ – REsp 1416580/RJ, Rel. Ministra Laurita Das Medidas Integradas de Prevenção
Vaz, Quinta Turma, julgado em 1/4/2014, DJe 15/4/2014)
Outra informação também importante é que nos termos A política pública que visa coibir a violência doméstica e
da Lei no 11.340/2006 — Lei Maria da Penha —, a empre- familiar contra a mulher far-se-á por meio de um conjunto
gada doméstica poderá ser sujeito passivo de violência articulado de ações da União, dos Estados, do Distrito Fede-
praticada por seus empregadores372. ral e dos Municípios e de ações não governamentais, tendo
por diretrizes a integração operacional do Poder Judiciário,
Das Formas de Violência Doméstica e Familiar do Ministério Público e da Defensoria Pública com as áreas
contra a Mulher de segurança pública, assistência social, saúde, educação,
trabalho e habitação; a promoção de estudos e pesquisas,
A lei versa que são cinco formas de violência doméstica estatísticas e outras informações relevantes, com a perspec-
e familiar contra a mulher, entre outras (art. 7º). A primeira tiva de gênero e de raça ou etnia, concernentes às causas,
forma de violência contra a mulher é a violência física, en- às consequências e à frequência da violência doméstica e
tendida como qualquer conduta que ofenda sua integridade familiar contra a mulher, para a sistematização de dados, a
ou saúde corporal373. (Art. 7º, I) serem unificados nacionalmente, e a avaliação periódica dos
A violência psicológica é aquela entendida como qual- resultados das medidas adotadas; o respeito, nos meios de
quer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição comunicação social, dos valores éticos e sociais da pessoa e
da autoestima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno da família, de forma a coibir os papéis estereotipados que
desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas legitimem ou exacerbem a violência doméstica e familiar, de
acordo com o estabelecido no inciso III do art. 1o, no inciso IV
ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante
do art. 3o e no inciso IV do art. 221 da Constituição Federal;
ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação,
a implementação de atendimento policial especializado para
isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz,
as mulheres, em particular nas Delegacias de Atendimento
insulto, chantagem, ridicularização, exploração e limitação
à Mulher. (Art. 8º, I a IV)
do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cau-
São também diretrizes a promoção e a realização de cam-
se prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação374. panhas educativas de prevenção da violência doméstica e
(Art. 7º, II) familiar contra a mulher, voltadas ao público escolar e à so-
A violência sexual, entendida como qualquer conduta ciedade em geral, e a difusão desta Lei e dos instrumentos de
que a constranja a presenciar, a manter ou a participar de proteção aos direitos humanos das mulheres; a celebração de
relação sexual não desejada, mediante intimidação, ame- convênios, protocolos, ajustes, termos ou outros instrumen-
aça, coação ou uso da força; que a induza a comercializar tos de promoção de parceria entre órgãos governamentais
ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a ou entre estes e entidades não governamentais, tendo por
impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a objetivo a implementação de programas de erradicação da
force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, violência doméstica e familiar contra a mulher; a capacitação
mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou permanente das Polícias Civil e Militar, da Guarda Municipal,
que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e do Corpo de Bombeiros e dos profissionais pertencentes aos
reprodutivos375. (Art. 7º, III) órgãos e às áreas de segurança pública, assistência social,
Há, também, a violência patrimonial, entendida como saúde, educação, trabalho e habitação quanto às questões
qualquer conduta que configure retenção, subtração, des- de gênero e de raça ou etnia; a promoção de programas
truição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de educacionais que disseminem valores éticos de irrestrito
trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou respeito à dignidade da pessoa humana com a perspectiva
recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer de gênero e de raça ou etnia; e o destaque, nos currículos
suas necessidades376 (art. 7º, IV). Observa-se que esta previsão escolares de todos os níveis de ensino, para os conteúdos
relativos aos direitos humanos, à equidade de gênero e de
372
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/PC-DF/Agente de Polícia/2013.
Cespe/DPE-ES/Defensor Público/2012; Vunesp/MPE-SP/Promotor de Justi-
raça ou etnia e ao problema da violência doméstica e familiar
ça/2008. contra a mulher. (Art. 8º, V a IX)
373
Assunto cobrado nas seguintes provas: FGV/PC-MA/Escrivão de Polícia/2012; Ressaltamos que, para a aplicação da Lei Maria da Penha,
Instituto Cidades/DPE-AM/Defensor Público/2011; Vunesp/PC-CE/Inspetor sujeito passivo da violência doméstica, objeto da referida
de Polícia Civil de 1ª Classe/2015; Instituto Cidades/DPE-AM/Defensor Públi-
co/2011.
lei, é a mulher. Sujeito ativo pode ser tanto o homem quanto
374
Assunto cobrado nas seguintes provas: MPDFT/Promotor de Justiça/2013;
Legislação Especial

Cespe/PC-BA/Delegado de Polícia/2013; FGV/PC-MA/Escrivão de Polí- tiça/2012; MPDFT/Promotor de Justiça/2011; Instituto Cidades/DPE-AM/


cia/2012; Instituto Cidades/DPE-AM/Defensor Público/2011; FCC/SJCDH- Defensor Público/2011; FCC/SJCDH-BA/Agente Penitenciário/2010; FGV/Se-
-BA/Agente Penitenciário/2010; FCC/DPE-SP/Agente de Defensoria/Psicólo- nado Federal/Advogado/2008; Vunesp/MPE-SP/Promotor de Justiça/2008;
go/2010; Vunesp/PC-CE/Inspetor de Polícia Civil de 1ª Classe/2015; Instituto Vunesp/PC-CE/Inspetor de Polícia Civil de 1ª Classe/2015; Instituto Cidades/
Cidades/DPE-AM/Defensor Público/2011. DPE-AM/Defensor Público/2011.
375
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/PC-AL/Escrivão de Polí- 377
MPE-PR/Promotor/2014.
cia/2012; Instituto Cidades/DPE-AM/Defensor Público/2011; FCC/SJCDH- 378
Assunto cobrado nas seguintes provas: Vunesp/PC-SP/Desenhista Técnico
-BA/Agente Penitenciário/2010; Vunesp/PC-CE/Inspetor de Polícia Civil de Pericial/2014; MPDFT/Promotor de Justiça/2013; Instituto Cidades/DPE-
1ª Classe/2015; Instituto Cidades/DPE-AM/Defensor Público/2011. -AM/Defensor Público/2011; FCC/SJCDH-BA/Agente Penitenciário/2010; Vu-
376
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/TJ-RR/Titular de Serviços de nesp/MPE-SP/Promotor de Justiça/2008; Vunesp/PC-CE/Inspetor de Polícia
Notas e de Registros/2013; Cespe/TJ-RO/Analista Judiciário/Oficial de Jus- Civil de 1ª Classe/2015; Instituto Cidades/DPE-AM/Defensor Público/2011.

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
a mulher, desde que fique caracterizado o vínculo de relação a representação a termo, se apresentada385; colher todas
doméstica, familiar ou de afetividade.379 (Jurisprudência do as provas que servirem para o esclarecimento do fato e de
STJ. (CC 88.027/MG, Rel. Ministro Og Fernandes, Terceira suas circunstâncias386; remeter, no prazo de 48 (quarenta
Seção, julgado em 5/12/2008, DJe 18/12/2008). e oito) horas, expediente apartado ao juiz com o pedido
da ofendida, para a concessão de medidas protetivas de
Da Assistência à Mulher em Situação de Violência urgência387; determinar que se proceda ao exame de corpo
Doméstica e Familiar de delito da ofendida e requisitar outros exames periciais
necessários388; ouvir o agressor e as testemunhas; ordenar a
A assistência à mulher em situação de violência domés- identificação do agressor e fazer juntar aos autos sua folha de
tica e familiar será prestada de forma articulada e conforme antecedentes criminais, indicando a existência de mandado
os princípios e as diretrizes previstos na Lei Orgânica da de prisão ou registro de outras ocorrências policiais contra
Assistência Social, no Sistema Único de Saúde, no Sistema ele; remeter, no prazo legal, os autos do inquérito policial ao
Único de Segurança Pública, entre outras normas e políticas juiz e ao Ministério Público. (Art. 12, I ao VII)
públicas de proteção, e emergencialmente quando for o O pedido da ofendida será tomado a termo pela au-
caso380. (Art. 9º) toridade policial e deverá conter qualificação da ofendida
O juiz determinará, por prazo certo, a inclusão da mulher e do agressor; nome e idade dos dependentes; descrição
em situação de violência doméstica e familiar no cadastro sucinta do fato e das medidas protetivas solicitadas pela
de programas assistenciais do governo federal, estadual e ofendida389 (art. 12, § 1º). A autoridade policial deverá ane-
municipal (art. 9º, § 1º). Além disso, o juiz assegurará à xar ao documento o boletim de ocorrência e cópia de todos
mulher em situação de violência doméstica e familiar, para os documentos disponíveis em posse da ofendida (art. 12,
preservar sua integridade física e psicológica, acesso prio- § 2º). Serão admitidos como meios de prova os laudos ou
ritário à remoção quando servidora pública, integrante da prontuários médicos fornecidos por hospitais e postos de
administração direta ou indireta381; manutenção do vínculo saúde. (Art. 12, § 3º)
trabalhista, quando necessário o afastamento do local de
trabalho, por até seis meses.382 (Art. 9º, § 2º) Dos Procedimentos
A assistência à mulher em situação de violência domés-
tica e familiar compreenderá o acesso aos benefícios decor- Disposições Gerais
rentes do desenvolvimento científico e tecnológico, incluindo
os serviços de contracepção de emergência, a profilaxia das Ao processo, ao julgamento e à execução das causas
Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) e da Síndrome da cíveis e criminais decorrentes da prática de violência domés-
Imunodeficiência Adquirida (AIDS) e outros procedimentos tica e familiar contra a mulher aplicar-se-ão as normas dos
médicos necessários e cabíveis nos casos de violência sexual. Códigos de Processo Penal e Processo Civil e da legislação
(Art. 9º, § 3º) específica relativa à criança, ao adolescente e ao idoso que
não conflitarem com o estabelecido nesta Lei.390 (Art. 13)
Do Atendimento pela Autoridade Policial Os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a
Mulher, órgãos da Justiça Ordinária com competência cível
Na hipótese da iminência ou da prática de violência do- e criminal, poderão ser criados pela União, no Distrito Fe-
méstica e familiar contra a mulher, a autoridade policial que deral e nos Territórios, e pelos Estados, para o processo, o
tomar conhecimento da ocorrência adotará, de imediato, as julgamento e a execução das causas decorrentes da prática
providências legais cabíveis (art. 10). Isto também se aplica ao de violência doméstica e familiar contra a mulher391 (art. 14).
descumprimento de medida protetiva de urgência deferida. Os atos processuais poderão realizar-se em horário noturno,
(Art. 10, parágrafo único). conforme dispuserem as normas de organização judiciária.
No atendimento à mulher em situação de violência do- (Art. 14, parágrafo único)
méstica e familiar, a autoridade policial deverá, entre outras É competente, por opção da ofendida, para os proces-
providências, garantir proteção policial, quando necessário, sos cíveis regidos por esta Lei, o Juizado do seu domicílio
comunicando de imediato ao Ministério Público e ao Poder ou de sua residência; do lugar do fato em que se baseou
Judiciário383; encaminhar a ofendida ao hospital ou posto de a demanda; do domicílio do agressor.392 (Art. 15, I, II e III)
saúde e ao Instituto Médico Legal; fornecer transporte para Nas ações penais públicas condicionadas à representa-
a ofendida e seus dependentes para abrigo ou local seguro, ção da ofendida de que trata esta Lei, só será admitida a
quando houver risco de vida; se necessário, acompanhar a renúncia à representação perante o juiz, em audiência es-
ofendida para assegurar a retirada de seus pertences do pecialmente designada com tal finalidade, antes do recebi-
local da ocorrência ou do domicílio familiar384; informar à mento da denúncia e ouvido o Ministério Público393 (art. 16).
ofendida os direitos a ela conferidos nesta Lei e os serviços Observa-se, entretanto, que essa renúncia à representação
disponíveis. (Art. 11, I a V) só se aplica no caso de crime de ameaça e os cometidos
Em todos os casos de violência doméstica e familiar con- 385
Assunto cobrado nas seguintes provas: MPE-MS/Promotor de Justiça/2013;
tra a mulher, feito o registro da ocorrência, deverá a autorida- Faurgs/TJ-RS/Oficial Escrevente/2010.
de policial adotar, de imediato, os seguintes procedimentos, 386
Assunto cobrado na seguinte prova: MPE-MS/Promotor de Justiça/2013.
sem prejuízo daqueles previstos no Código de Processo Pe- 387
Assunto cobrado nas seguintes provas: MPE-MS/Promotor de Justiça/2013;
nal: ouvir a ofendida, lavrar o boletim de ocorrência e tomar Faurgs/TJ-RS/Oficial Escrevente/2010.
388
Assunto cobrado na seguinte prova: MPE-MS/Promotor de Justiça/2013.
Legislação Especial

389
Assunto cobrado na seguinte prova: Idecan/Prefeitura de Duque de Caxias-
379
Assunto cobrado na seguinte prova: Vunesp/PC-CE/Inspetor de Polícia Civil -RJ/Assistente Social/2014.
de 1ª Classe/2015. 390
Assunto cobrado na seguinte prova: TJ-SC/Assistente Social/2010.
380
Assunto cobrado na seguinte prova: FCC/TRT - 18ª Região (GO)/Analista Judi- 391
Assunto cobrado na seguinte prova: FCC/TJ-PI/Analista Judiciário/Assistência
ciário/Serviço Social/2008. Social/2010.
381
Assunto cobrado na seguinte prova: FCC/TRT - 18ª Região (GO)/Analista Judi- 392
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/OAB/Exame de Ordem – 3/2009.
ciário/Serviço Social/2008. 393
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/MPE-PE/Promotor de Justi-
382
Assunto cobrado na seguinte prova: FCC/DPE-MT/Defensor Público/2009. ça/2014; Instituto Cidades/DPE-AM/Defensor Público/2011; PUC-PR/TJ-RO/
383
Assunto cobrado na seguinte prova: FCC/TJ-PI/Analista Judiciário/Assistência Juiz/2011; FCC/TJ-PI/Analista Judiciário/Assistência Social/2010; FGV/Sena-
Social/2010. do Federal/Advogado/2008; Cespe/OAB-SP/Exame de Ordem – 1/2008; Ces-
384
Assunto cobrado na seguinte prova: Cespe/PC-AL/Escrivão de Polícia/2012. pe/TJ-DF/Analista Judiciário/Área Judiciária/2008.

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
contra a dignidade sexual394. Isso porque no julgamento da 20). O juiz poderá revogar a prisão preventiva se, no curso
Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 4.424, o Supremo do processo, verificar a falta de motivo para que subsista,
Tribunal Federal assentou a natureza de ação pública in- bem como de novo decretá-la, se sobrevierem razões que
condicionada da ação penal no caso de crime de lesão cor- a justifiquem403. (Art. 20, § 1º)
poral, independentemente da extensão da lesão, praticado A ofendida deverá ser notificada dos atos processuais
contra a mulher no âmbito doméstico, mas acentuou que a relativos ao agressor, especialmente dos pertinentes ao
representação permanece necessária nos casos de ameaça ingresso e à saída da prisão, sem prejuízo da intimação do
e crimes contra a dignidade sexual.395 (Jurisprudência do STF advogado constituído ou do defensor público404 (art. 21).
–ADI 4424, Relator(a):  Min. Marco Aurélio, Tribunal Pleno, Ressalta-se que a ofendida não poderá entregar intimação
julgado em 9/2/2012, Processo Eletrônico DJe-148, divulg. ou notificação ao agressor405. (Art. 21, parágrafo único)
31/7/2014, public. 1/8/2014)
É vedada a aplicação, nos casos de violência doméstica e Das Medidas Protetivas de Urgência que Obrigam o
familiar contra a mulher, de penas de cesta básica ou outras Agressor
de prestação pecuniária, bem como a substituição de pena
que implique o pagamento isolado de multa.396 (Art. 17) Constatada a prática de violência doméstica e familiar
contra a mulher, nos termos desta Lei, o juiz poderá aplicar,
Das Medidas Protetivas de Urgência de imediato, ao agressor, em conjunto ou separadamente,
as seguintes medidas protetivas de urgência406, entre ou-
Disposições Gerais tras: suspensão da posse ou restrição do porte de armas,
com comunicação ao órgão competente, nos termos da Lei
Recebido o expediente com o pedido da ofendida, ca- no 10.826, de 22 de dezembro de 2003407; afastamento do
berá ao juiz, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, conhe- lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida408;
cer do expediente e do pedido e decidir sobre as medidas (art. 22, I e II). Poderá, ainda, aplicar a medida de proibição
protetivas de urgência397; determinar o encaminhamento de determinadas condutas, entre as quais a aproximação da
da ofendida ao órgão de assistência judiciária, quando for ofendida, de seus familiares e das testemunhas, fixando o
o caso398; comunicar ao Ministério Público para que adote limite mínimo de distância entre estes e o agressor; contato
as providências cabíveis.399 (Art. 18, I, II e III) com a ofendida, seus familiares e testemunhas por qualquer
As medidas protetivas de urgência poderão ser conce- meio de comunicação409; frequentação de determinados lu-
didas pelo juiz, a requerimento do Ministério Público ou a gares a fim de preservar a integridade física e psicológica da
pedido da ofendida400 (art. 19). Essas medidas poderão ser ofendida. (Art. 22, III, a, b, c).
concedidas de imediato, independentemente de audiência Outras medidas protetivas de urgência que podem ser
das partes e de manifestação do Ministério Público, de- aplicadas são a restrição ou suspensão de visitas aos depen-
vendo este ser prontamente comunicado.401 (Art. 19, § 1º) dentes menores, ouvida a equipe de atendimento multi-
As medidas protetivas de urgência serão aplicadas isolada disciplinar ou serviço similar410; e a prestação de alimentos
ou cumulativamente, e poderão ser substituídas a qualquer provisionais ou provisórios411. (Art. 22, IV e V).
tempo por outras de maior eficácia, sempre que os direitos Essas medidas não impedem a aplicação de outras pre-
reconhecidos nesta Lei forem ameaçados ou violados (art. vistas na legislação em vigor, sempre que a segurança da
19, § 2º). Poderá o juiz, a requerimento do Ministério Público ofendida ou as circunstâncias o exigirem, devendo a provi-
ou a pedido da ofendida, conceder novas medidas proteti- dência ser comunicada ao Ministério Público. (Art. 22, § 1º)
vas de urgência ou rever aquelas já concedidas, se entender Na hipótese da aplicação da medida de suspensão da
necessário à proteção da ofendida, de seus familiares e de posse ou restrição do porte de armas, com comunicação ao
seu patrimônio, ouvido o Ministério Público. (Art. 19, § 3º) órgão competente, nos termos da Lei no 10.826, de 22 de
Em qualquer fase do inquérito policial ou da instrução dezembro de 2003, encontrando-se o agressor nas condições
criminal, caberá a prisão preventiva do agressor, decretada mencionadas no caput e incisos do art. 6º da Lei nº 10.826,
pelo juiz, de ofício, a requerimento do Ministério Público de 22 de dezembro de 2003, o juiz comunicará ao respectivo
ou mediante representação da autoridade policial402 (art. órgão, corporação ou instituição as medidas protetivas de
urgência concedidas e determinará a restrição do porte de
394
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/MPE-PE/Promotor de Justi- armas, ficando o superior imediato do agressor responsável
ça/2014; UEG/PC-GO/Escrivão de Polícia Civil/2013; Cespe/DPE-AC/Defen- pelo cumprimento da determinação judicial, sob pena de
sor Público/2012.
395
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/TJ-DF/Analista Judiciário/Ofi- incorrer nos crimes de prevaricação ou de desobediência,
cial de Justiça Avaliador/2013; Cespe/TJ-RR/Analista Judiciário/Área Judiciá- conforme o caso. (Art. 22, § 2º)
ria/2006.
396
Assunto cobrado nas seguintes provas: Fundep/TJ-MG/Juiz/2014; Cespe/TJ-BA/ Civil de 1ª Classe/2015; FCC/TRE-PE/Analista Judiciário/Assistência So-
Titular de Serviços de Notas e de Registros/2013; Cespe/TJ-AL/Analista Judiciário/ cial/2011; Cespe/OAB-SP/Exame de Ordem – 1/2008.
Serviço Social/2012; Instituto Cidades/DPE-AM/Defensor Público/2011; PUC- 403
Assunto cobrado na seguinte prova: FCC/TJ-PI/Analista Judiciário/Assistência
-PR/TJ-RO/Juiz/2011; FCC/TJ-PI/Analista Judiciário/Assistência Social/2010; FCC/ Social/2010.
TRT 3ª Região (MG)/Analista Judiciário/Serviço Social/2009; FGV/ Senado Fede- 404
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/TRE-PE/Analista Judiciário/Assis-
ral/Advogado/2008; Cespe/OAB-SP/Exame de Ordem – 1/2008. tência Social/2011; FCC/TJ-PI/Analista Judiciário/Assistência Social/2010.
397
Assunto cobrado nas seguintes provas: Copese/UFT/DPE-TO/Analista Jurí- 405
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/TJ-PI/Analista Judiciário/Assis-
dico/Defensoria Pública/2012; FCC/TJ-PI/Analista Judiciário/Assistência So- tência Social/2010; Cespe/TJ-DF/Analista Judiciário/Serviço Social/2008.
cial/2010. 406
Assunto cobrado nas seguintes provas: TJ-SC/Juiz/2009; FGV/Senado Fede-
398
Assunto cobrado na seguinte prova: Copese/UFT/DPE-TO/Analista Jurídico/ ral/Advogado/2008.
Legislação Especial

Defensoria Pública/2012. 407


Assunto cobrado nas seguintes provas: Vunesp/TJ-SP/Juiz/2013; NCE-UFRJ/
399
Assunto cobrado na seguinte prova: Copese/UFT/DPE-TO/Analista Jurídico/ MPE-RJ /Analista/Processual/2007.
Defensoria Pública/2012. 408
Assunto cobrado nas seguintes provas: Vunesp/PC-CE/Inspetor de Polícia
400
Assunto cobrado nas seguintes provas: FGV/PC-MA/Escrivão de Polícia/2012; Civil de 1ª Classe/2015; FCC/MPE-SE/Analista do Ministério Público/Especia-
FCC/TJ-PI/Analista Judiciário/Assistência Social/2010. lidade Serviço Social/2009.
401
Assunto cobrado nas seguintes provas: DPE-PE/Estagiário de Direito/2015; 409
Assunto cobrado nas seguintes provas: Vunesp/TJ-MT/Juiz/2009; NCE-UFRJ/
Instituto Cidades/DPE-AM/Defensor Público/2011; FCC/TJ-PI/Analista Judici- MPE-RJ/Analista/Processual/2007.
ário/Assistência Social/2010; TJ-SC/Juiz/2009; Cespe/OAB/Exame de Ordem 410
Assunto cobrado nas seguintes provas: Vunesp/TJ-SP/Juiz/2013; TJ-SC/
– 3/2009; Cespe/STF/Analista Judiciário/Área Judiciária/ Execução de Man- Juiz/2009; NCE-UFRJ/Analista/Processual/2007.
dados/2008; Cespe/OAB-SP/Exame de Ordem – 1/2008. 411
Assunto cobrado na seguinte prova: NCE-UFRJ/MPE-RJ/Analista – Processu-
402
Assunto cobrado nas seguintes provas: Vunesp/PC-CE/Inspetor de Polícia al/2007.

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
Para garantir a efetividade das medidas protetivas de ur- outros; fiscalizar os estabelecimentos públicos e particulares
gência, poderá o juiz requisitar, a qualquer momento, auxílio de atendimento à mulher em situação de violência doméstica
da força policial (art. 22, § 3º). Aplica-se a essas hipóteses, e familiar, e adotar, de imediato, as medidas administrativas
no que couber, o disposto no caput e nos §§ 5o e 6º do art. ou judiciais cabíveis no tocante a quaisquer irregularidades
461 da Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973 (Código de constatadas; cadastrar os casos de violência doméstica e
Processo Civil) (art. 22, § 4º), que versam: familiar contra a mulher. (Art. 26, I, II e III)

Art. 461. [...] Da Assistência Judiciária


§ 5o Para a efetivação da tutela específica ou a obten-
ção do resultado prático equivalente, poderá o juiz, Em todos os atos processuais, cíveis e criminais, a mu-
de ofício ou a requerimento, determinar as medidas lher em situação de violência doméstica e familiar deverá
necessárias, tais como a imposição de multa por tem- estar acompanhada de advogado, ressalvado o previsto
po de atraso, busca e apreensão, remoção de pessoas no art. 19 desta Lei, que trata das medidas protetivas de
e coisas, desfazimento de obras e impedimento de urgência418. (Art. 27)
atividade nociva, se necessário com requisição de É garantido a toda mulher em situação de violência
força policial. doméstica e familiar o acesso aos serviços de Defensoria
§ 6o O juiz poderá, de ofício, modificar o valor ou a Pública ou de Assistência Judiciária Gratuita, nos termos
periodicidade da multa, caso verifique que se tornou
da lei, em sede policial e judicial, mediante atendimento
insuficiente ou excessiva.
específico e humanizado419. (Art. 28)
Das Medidas Protetivas de Urgência à Ofendida
Da Equipe de Atendimento Multidisciplinar
Poderá o juiz, quando necessário, sem prejuízo de outras
medidas412, encaminhar a ofendida e seus dependentes a Os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a
programa oficial ou comunitário de proteção ou de atendi- Mulher que vierem a ser criados poderão contar com uma
mento; determinar a recondução da ofendida e a de seus equipe de atendimento multidisciplinar, a ser integrada por
dependentes ao respectivo domicílio, após afastamento do profissionais especializados nas áreas psicossocial, jurídica
agressor; determinar o afastamento da ofendida do lar, sem e de saúde. (Art. 29)
prejuízo dos direitos relativos a bens, guarda dos filhos e ali- Compete à equipe de atendimento multidisciplinar, entre
mentos; determinar a separação de corpos413. (Art. 23, I a IV) outras atribuições que lhe forem reservadas pela legislação
Para a proteção patrimonial dos bens da sociedade local, fornecer subsídios por escrito ao juiz, ao Ministério Pú-
conjugal ou daqueles de propriedade particular da mulher, blico e à Defensoria Pública, mediante laudos ou verbalmente
o juiz poderá determinar, liminarmente, as seguintes me- em audiência, e desenvolver trabalhos de orientação, enca-
didas, entre outras414, restituição de bens indevidamente minhamento, prevenção e outras medidas, voltados para a
subtraídos pelo agressor à ofendida415; proibição temporária ofendida, o agressor e os familiares, com especial atenção
para a celebração de atos e contratos de compra, venda e às crianças e aos adolescentes. (Art. 30)
locação de propriedade em comum, salvo expressa auto- Quando a complexidade do caso exigir avaliação mais
rização judicial416; suspensão das procurações conferidas aprofundada, o juiz poderá determinar a manifestação de
pela ofendida ao agressor417; prestação de caução provisória, profissional especializado, mediante a indicação da equipe
mediante depósito judicial, por perdas e danos materiais de- de atendimento multidisciplinar. (Art. 31)
correntes da prática de violência doméstica e familiar contra O Poder Judiciário, na elaboração de sua proposta orça-
a ofendida (art. 24, I a IV). Deverá o juiz oficiar ao cartório mentária, poderá prever recursos para a criação e manuten-
competente com relação à proibição temporária para a ce- ção da equipe de atendimento multidisciplinar, nos termos
lebração de atos e contratos de compra, venda e locação de da Lei de Diretrizes Orçamentárias. (Art. 32)
propriedade em comum, salvo expressa autorização judicial
e à suspensão das procurações conferidas pela ofendida ao Disposições Transitórias
agressor, tais medidas. (Art. 24, parágrafo único)
Destaca-se que há o entendimento pacificado no Supe- Enquanto não estruturados os Juizados de Violência Do-
rior Tribunal de Justiça de que o descumprimento de medidas méstica e Familiar contra a Mulher, as varas criminais acu-
protetivas previstas na Lei Maria da Penha não configura o mularão as competências cível e criminal para conhecer e
crime de desobediência. (Jurisprudência do STJ 0150 AgRg julgar as causas decorrentes da prática de violência domésti-
no REsp nº 1454609/RS, Rel. Ministro Gurgel de Faria, Quinta ca e familiar contra a mulher, observadas as previsões do Tí-
Turma, julgado em 7/5/2015, DJe 26/5/2015) tulo IV desta Lei, subsidiada pela legislação processual per-
tinente420 (art. 33). Será garantido o direito de preferência,
Da Atuação do Ministério Público nas varas criminais, para o processo e o julgamento dessas
causas421. (Art. 33, parágrafo único)
O Ministério Público intervirá, quando não for parte, nas
causas cíveis e criminais decorrentes da violência doméstica
e familiar contra a mulher. (Art. 25) Disposições Finais
Caberá ao MP, sem prejuízo de outras atribuições, nos ca-
Legislação Especial

sos de violência doméstica e familiar contra a mulher, quando A instituição dos Juizados de Violência Doméstica e Fami-
necessário, requisitar força policial e serviços públicos de saú- liar contra a Mulher poderá ser acompanhada pela implan-
de, de educação, de assistência social e de segurança, entre
418
Assunto cobrado na seguinte prova: FCC/TRE-PE/Analista Judiciário/Assis-
412
Assunto cobrado na seguinte prova: DPE-PE/DPE-PE/Estagiário de Direito/2015. tência Social/2011.
413
Assunto cobrado na seguinte prova: FCC/MPE-SE/Analista/Serviço Social/2009. 419
Assunto cobrado na seguinte prova: DPE-PE/Estagiário de Direito/2015.
414
Assunto cobrado na seguinte prova: FCC/MPE-SE/Analista/Serviço Social/2009. 420
Assunto cobrado nas seguintes provas: DPE-PE/Estagiário de Direito/2015.;
415
Assunto cobrado na seguinte prova: FCC/MPE-SE/Analista/Serviço Social/2009. MPE-MS/Promotor de Justiça/2013; FCC/TRE-PE/Analista Judiciário/Assis-
416
Assunto cobrado na seguinte prova: FCC/MPE-SE/Analista/Serviço Social/2009. tência Social/2011; Vunesp/TJ-MT/Juiz/2009.
417
Assunto cobrado na seguinte prova: FCC/MPE-SE/Analista/Serviço Social/2009. 421
Assunto cobrado na seguinte prova: Vunesp/TJ-MT/Juiz/2009.

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tação das curadorias necessárias e do serviço de assistência da alínea f do inciso II do artigo 61 do Código Penal (art. 43).
judiciária. (Art. 34) Assim, por alteração no dispositivo correspondente, passou
A União, o Distrito Federal, os Estados e os Municípios a ser considerada como circunstância agravante de pena,
poderão criar e promover, no limite das respectivas compe- se o agente cometer o crime com abuso de autoridade ou
tências, centros de atendimento integral e multidisciplinar prevalecendo-se de relações domésticas, de coabitação ou
para mulheres e respectivos dependentes em situação de de hospitalidade, ou com violência contra a mulher425.
violência doméstica e familiar; casas-abrigos para mulheres O artigo 44 alterou os §§ 9º e 11 do artigo 129 do Código
e respectivos dependentes menores em situação de violên- Penal (art. 44). Sobre este artigo do Código Penal, conforme
cia doméstica e familiar; delegacias, núcleos de defensoria entendimento do STJ, embora a Lei Maria da Penha vise à
pública, serviços de saúde e centros de perícia médico-legal proteção da mulher, o aumento da pena nela prevista para
especializados no atendimento à mulher em situação de a prática do crime de lesão corporal praticada mediante
violência doméstica e familiar; programas e campanhas de violência doméstica, tipificado no Código Penal, aplica-se
enfrentamento da violência doméstica e familiar; centros de também no caso de a vítima ser do sexo masculino426. O
educação e de reabilitação para os agressores. (Art. 35, I a V). Superior Tribunal de Justiça noticiou no informativo de ju-
A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios risprudência nº 501 que o aumento de pena do § 9º do
promoverão a adaptação de seus órgãos e de seus programas art. 129 do CP, alterado pela Lei nº 11.340/2006, aplica-se
às diretrizes e aos princípios desta Lei. (Art. 36) às lesões corporais cometidas contra homem no âmbito
A defesa dos interesses e direitos transindividuais previs- das relações domésticas. Apesar da Lei Maria da Penha ser
tos nesta Lei poderá ser exercida, concorrentemente, pelo destinada à proteção da mulher, o referido acréscimo visa
Ministério Público e por associação de atuação na área, re- tutelar as demais desigualdades encontradas nas relações
gularmente constituída há pelo menos um ano, nos termos domésticas. In casu, o paciente empurrou seu genitor, que
da legislação civil (art. 37). O requisito da pré-constituição com a queda sofreu lesões corporais. Assim, não há irregu-
poderá ser dispensado pelo juiz quando entender que não laridade em aplicar a qualificadora de violência doméstica
há outra entidade com representatividade adequada para o às lesões corporais contra homem. Contudo, os institutos
ajuizamento da demanda coletiva. (Art. 37, parágrafo único) peculiares da citada lei só se aplicam quando a vítima for
As estatísticas sobre a violência doméstica e familiar con- mulher427. Logo, não se pode afirmar que a pena mais grave
tra a mulher serão incluídas nas bases de dados dos órgãos atribuída ao delito de lesões corporais praticado no âmbito
oficiais do Sistema de Justiça e Segurança a fim de subsidiar o das relações domésticas seja aplicável apenas nos casos em
sistema nacional de dados e informações relativo às mulheres que a vítima é mulher, pelo simples fato de essa alteração
(art. 38). As Secretarias de Segurança Pública dos Estados e ter-se dado pela Lei nº 11.340/2006428.
do Distrito Federal poderão remeter suas informações cri- E, por fim, o artigo 45 alterou a redação do artigo 152
minais para a base de dados do Ministério da Justiça. (Art. da Lei de execução penal, que incluiu o parágrafo único que
38, parágrafo único) versa “nos casos de violência doméstica contra a mulher,
A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, o juiz poderá determinar o comparecimento obrigatório
no limite de suas competências e nos termos das respectivas do agressor a programas de recuperação e reeducação”429.
leis de diretrizes orçamentárias, poderão estabelecer dota- (Art. 45)
ções orçamentárias específicas, em cada exercício financeiro,
para a implementação das medidas estabelecidas nesta Lei. Lei nº 11.340, de 7 de Agosto de 2006
(Art. 39).
Importante ressaltar que as obrigações previstas nesta Cria mecanismos para coibir
Lei não excluem outras decorrentes dos princípios por ela a violência doméstica e familiar
adotados. (Art. 40)
contra a mulher, nos termos do
Outro ponto importante é que aos crimes praticados
§ 8o do art. 226 da Constituição
com violência doméstica e familiar contra a mulher, inde-
Federal, da Convenção sobre a Eli-
pendentemente da pena prevista, não se aplica a Lei no
minação de Todas as Formas de
9.099, de 26 de setembro de 1995422 (art. 41). Assim, não é
Discriminação contra as Mulheres
possível a aplicação da suspensão condicional do proces-
e da Convenção Interamericana
so, instituto previsto no artigo 89 da Lei nº 9.099/1995423.
para Prevenir, Punir e Erradicar
O Supremo Tribunal Federal já declarou que essa previsão
a Violência contra a Mulher; dis-
do artigo 41 da Lei Maria da Penha é constitucional. (Juris-
prudência do STF – ADC 19, Relator(a):  Min. Marco Aurélio, põe sobre a criação dos Juizados
Tribunal Pleno, julgado em 9/2/2012, Acórdão Eletrônico de Violência Doméstica e Familiar
DJe-080, divulg 28/4/2014, public 29/4/2014) contra a Mulher; altera o Código
Porém, em se tratando de crimes praticados com vio- de Processo Penal, o Código Penal
lência doméstica e familiar contra a mulher, é possível a e a Lei de Execução Penal; e dá ou-
concessão da suspensão condicional da pena424. Isso porque tras providências.
o instituto da suspensão condicional da pena está previsto
no art. 77 do Código de Direito Penal e não da Lei Maria da O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso
Penha. Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
Legislação Especial

O artigo 42 desta lei acrescentou o inciso IV ao artigo 313


do Código Penal (art. 42). Já o artigo 43 alterou a redação 425
Assunto cobrado nas seguintes provas: PUC-PR/TJ-RO/Juiz/2011.: FCC/DPE-
-MT/Defensor Público/2009.
426
Cespe/TJ-RR/Titular de Serviços de Notas e de Registros/2013.
422
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/TRE-PE/Analista Judiciário/ 427
Jurisprudência do STJ – RHC nº 27.622/RJ, Rel. Ministro Jorge Mussi, Quinta
Assistência Social/2011; Vunesp/TJ-MT/Juiz/2009; Cespe/DPE-PI/Defensor Turma, julgado em 7/8/2012, DJe 23/8/2012.
Público/2009; FCC/DPE-MT/Defensor Público/2009; Cespe/TJ-DF/Analista 428
MPE-MS/Promotor de Justiça/2013.
Judiciário/Área Judiciária/2008. 429
Assunto cobrado nas seguintes provas: PUC-PR/TJ-RO/Juiz/2011; FCC/DPE-
423
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/TJ-RR/Titular de Serviços de -MT/Defensor Público/2009; Cespe/TJ-DF/Analista Judiciário/Área Judiciá-
Notas e de Registros/2013; FGV/PC-MA/Escrivão de Polícia/2012. ria/Execução de Mandados/2008; Cespe/TJ-DF/Analista Judiciário/Área Ju-
424
Cespe/DPE-DF/Defensor Público/2013. diciária/2008.

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
TÍTULO I I – a violência física, entendida como qualquer conduta
DISPOSIÇÕES PRELIMINARES que ofenda sua integridade ou saúde corporal;
II – a violência psicológica, entendida como qualquer
Art. 1o Esta Lei cria mecanismos para coibir e prevenir a conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da au-
violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do toestima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desen-
§ 8o do art. 226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a volvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações,
Eliminação de Todas as Formas de Violência contra a Mulher, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça,
da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento,
a Violência contra a Mulher e de outros tratados internacionais vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chan-
ratificados pela República Federativa do Brasil; dispõe sobre a tagem, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir
criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde
a Mulher; e estabelece medidas de assistência e proteção às psicológica e à autodeterminação;
mulheres em situação de violência doméstica e familiar. III – a violência sexual, entendida como qualquer conduta
Art. 2o Toda mulher, independentemente de classe, raça, que a constranja a presenciar, a manter ou a participar de
etnia, orientação sexual, renda, cultura, nível educacional, relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça,
idade e religião, goza dos direitos fundamentais inerentes à coação ou uso da força; que a induza a comercializar ou a
pessoa humana, sendo-lhe asseguradas as oportunidades e utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça
facilidades para viver sem violência, preservar sua saúde físi- de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao ma-
ca e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual e social. trimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante
Art. 3o Serão asseguradas às mulheres as condições para coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite
o exercício efetivo dos direitos à vida, à segurança, à saúde, à ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos;
alimentação, à educação, à cultura, à moradia, ao acesso à jus- IV – a violência patrimonial, entendida como qualquer
tiça, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, conduta que configure retenção, subtração, destruição
à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária. parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho,
§ 1o O poder público desenvolverá políticas que visem documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos
garantir os direitos humanos das mulheres no âmbito das econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas ne-
relações domésticas e familiares no sentido de resguardá- cessidades;
-las de toda forma de negligência, discriminação, exploração, V – a violência moral, entendida como qualquer conduta
violência, crueldade e opressão. que configure calúnia, difamação ou injúria.
§ 2o Cabe à família, à sociedade e ao poder público criar [...]
as condições necessárias para o efetivo exercício dos direitos
enunciados no caput.
CAPÍTULO III
Art. 4o Na interpretação desta Lei, serão considerados
Do Atendimento pela Autoridade Policial
os fins sociais a que ela se destina e, especialmente, as con-
dições peculiares das mulheres em situação de violência
doméstica e familiar. Art. 10. Na hipótese da iminência ou da prática de vio-
lência doméstica e familiar contra a mulher, a autoridade
TÍTULO II policial que tomar conhecimento da ocorrência adotará, de
DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E imediato, as providências legais cabíveis.
FAMILIAR CONTRA A MULHER Parágrafo único. Aplica-se o disposto no caput deste ar-
tigo ao descumprimento de medida protetiva de urgência
CAPÍTULO I deferida.
Disposições Gerais Art. 11. No atendimento à mulher em situação de violên-
cia doméstica e familiar, a autoridade policial deverá, entre
Art. 5o Para os efeitos desta Lei, configura violência do- outras providências:
méstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão I – garantir proteção policial, quando necessário, co-
baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento municando de imediato ao Ministério Público e ao Poder
físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial: Judiciário;
(Vide Lei complementar nº 150, de 2015) II – encaminhar a ofendida ao hospital ou posto de saúde
I – no âmbito da unidade doméstica, compreendida como e ao Instituto Médico Legal;
o espaço de convívio permanente de pessoas, com ou sem III – fornecer transporte para a ofendida e seus depen-
vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas; dentes para abrigo ou local seguro, quando houver risco de
II – no âmbito da família, compreendida como a comu- vida;
nidade formada por indivíduos que são ou se consideram IV – se necessário, acompanhar a ofendida para assegurar
aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por a retirada de seus pertences do local da ocorrência ou do
vontade expressa; domicílio familiar;
III – em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agres- V – informar à ofendida os direitos a ela conferidos nesta
sor conviva ou tenha convivido com a ofendida, independen- Lei e os serviços disponíveis.
temente de coabitação. Art. 12. Em todos os casos de violência doméstica e fa-
Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas neste miliar contra a mulher, feito o registro da ocorrência, deverá
artigo independem de orientação sexual. a autoridade policial adotar, de imediato, os seguintes pro-
Legislação Especial

Art. 6o A violência doméstica e familiar contra a mulher cedimentos, sem prejuízo daqueles previstos no Código de
constitui uma das formas de violação dos direitos humanos. Processo Penal:
I – ouvir a ofendida, lavrar o boletim de ocorrência e
CAPÍTULO II tomar a representação a termo, se apresentada;
Das Formas de Violência Doméstica II – colher todas as provas que servirem para o esclare-
e Familiar Contra a Mulher cimento do fato e de suas circunstâncias;
III – remeter, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas,
Art. 7o São formas de violência doméstica e familiar con- expediente apartado ao juiz com o pedido da ofendida, para
tra a mulher, entre outras: a concessão de medidas protetivas de urgência;

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
IV – determinar que se proceda ao exame de corpo de Seção III
delito da ofendida e requisitar outros exames periciais ne- Das Medidas Protetivas de Urgência à Ofendida
cessários;
V – ouvir o agressor e as testemunhas; Art. 23. Poderá o juiz, quando necessário, sem prejuízo
VI – ordenar a identificação do agressor e fazer juntar de outras medidas:
aos autos sua folha de antecedentes criminais, indicando I – encaminhar a ofendida e seus dependentes a progra-
a existência de mandado de prisão ou registro de outras ma oficial ou comunitário de proteção ou de atendimento;
ocorrências policiais contra ele; II – determinar a recondução da ofendida e a de seus
VII – remeter, no prazo legal, os autos do inquérito policial dependentes ao respectivo domicílio, após afastamento do
ao juiz e ao Ministério Público. agressor;
§ 1o O pedido da ofendida será tomado a termo pela III – determinar o afastamento da ofendida do lar, sem pre-
autoridade policial e deverá conter: juízo dos direitos relativos a bens, guarda dos filhos e alimentos;
I – qualificação da ofendida e do agressor; IV – determinar a separação de corpos.
II – nome e idade dos dependentes; Art. 24. Para a proteção patrimonial dos bens da socie-
III – descrição sucinta do fato e das medidas protetivas dade conjugal ou daqueles de propriedade particular da mu-
solicitadas pela ofendida. lher, o juiz poderá determinar, liminarmente, as seguintes
§ 2o A autoridade policial deverá anexar ao documento medidas, entre outras:
referido no § 1o o boletim de ocorrência e cópia de todos os I – restituição de bens indevidamente subtraídos pelo
documentos disponíveis em posse da ofendida. agressor à ofendida;
§ 3o Serão admitidos como meios de prova os laudos II – proibição temporária para a celebração de atos e
ou prontuários médicos fornecidos por hospitais e postos contratos de compra, venda e locação de propriedade em
de saúde. comum, salvo expressa autorização judicial;
[...] III – suspensão das procurações conferidas pela ofendida
ao agressor;
Seção II IV – prestação de caução provisória, mediante depósito
Das Medidas Protetivas de judicial, por perdas e danos materiais decorrentes da prática
Urgência que Obrigam o Agressor de violência doméstica e familiar contra a ofendida.
Parágrafo único. Deverá o juiz oficiar ao cartório compe-
Art. 22. Constatada a prática de violência doméstica e tente para os fins previstos nos incisos II e III deste artigo.
familiar contra a mulher, nos termos desta Lei, o juiz poderá [...]
aplicar, de imediato, ao agressor, em conjunto ou separada-
mente, as seguintes medidas protetivas de urgência, entre TÍTULO VII
outras: DISPOSIÇÕES FINAIS
I – suspensão da posse ou restrição do porte de armas,
com comunicação ao órgão competente, nos termos da Lei Art. 34. A instituição dos Juizados de Violência Domés-
no 10.826, de 22 de dezembro de 2003; tica e Familiar contra a Mulher poderá ser acompanhada
II – afastamento do lar, domicílio ou local de convivência pela implantação das curadorias necessárias e do serviço
com a ofendida; de assistência judiciária.
III – proibição de determinadas condutas, entre as quais: Art. 35. A União, o Distrito Federal, os Estados e os Mu-
a) aproximação da ofendida, de seus familiares e das nicípios poderão criar e promover, no limite das respectivas
testemunhas, fixando o limite mínimo de distância entre competências:
estes e o agressor; I – centros de atendimento integral e multidisciplinar
b) contato com a ofendida, seus familiares e testemunhas para mulheres e respectivos dependentes em situação de
por qualquer meio de comunicação; violência doméstica e familiar;
c) frequentação de determinados lugares a fim de pre- II – casas-abrigos para mulheres e respectivos dependen-
servar a integridade física e psicológica da ofendida; tes menores em situação de violência doméstica e familiar;
IV – restrição ou suspensão de visitas aos dependentes III – delegacias, núcleos de defensoria pública, serviços
menores, ouvida a equipe de atendimento multidisciplinar de saúde e centros de perícia médico-legal especializados no
ou serviço similar; atendimento à mulher em situação de violência doméstica
V – prestação de alimentos provisionais ou provisórios. e familiar;
§ 1o As medidas referidas neste artigo não impedem a IV – programas e campanhas de enfrentamento da vio-
aplicação de outras previstas na legislação em vigor, sempre lência doméstica e familiar;
que a segurança da ofendida ou as circunstâncias o exigirem, V – centros de educação e de reabilitação para os agres-
devendo a providência ser comunicada ao Ministério Público. sores.
§ 2o Na hipótese de aplicação do inciso I, encontrando-se Art. 36. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Mu-
o agressor nas condições mencionadas no caput e incisos do nicípios promoverão a adaptação de seus órgãos e de seus
art. 6o da Lei no 10.826, de 22 de dezembro de 2003, o juiz programas às diretrizes e aos princípios desta Lei.
comunicará ao respectivo órgão, corporação ou instituição Art. 37. A defesa dos interesses e direitos transindividuais
as medidas protetivas de urgência concedidas e determinará previstos nesta Lei poderá ser exercida, concorrentemente,
a restrição do porte de armas, ficando o superior imediato pelo Ministério Público e por associação de atuação na área,
Legislação Especial

do agressor responsável pelo cumprimento da determinação regularmente constituída há pelo menos um ano, nos termos
judicial, sob pena de incorrer nos crimes de prevaricação ou da legislação civil.
de desobediência, conforme o caso. Parágrafo único. O requisito da pré-constituição poderá
§ 3o Para garantir a efetividade das medidas protetivas ser dispensado pelo juiz quando entender que não há outra
de urgência, poderá o juiz requisitar, a qualquer momento, entidade com representatividade adequada para o ajuiza-
auxílio da força policial. mento da demanda coletiva.
§ 4o Aplica-se às hipóteses previstas neste artigo, no que Art. 38. As estatísticas sobre a violência doméstica e fa-
couber, o disposto no caput e nos §§ 5o e 6º do art. 461 da Lei miliar contra a mulher serão incluídas nas bases de dados
nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973 (Código de Processo Civil). dos órgãos oficiais do Sistema de Justiça e Segurança a fim

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
de subsidiar o sistema nacional de dados e informações re- Lei de Drogas (Lei nº 11.343/2006)
lativo às mulheres.
Parágrafo único. As Secretarias de Segurança Pública dos A Lei de Drogas institui o Sistema Nacional de Políticas
Estados e do Distrito Federal poderão remeter suas informa- Públicas sobre Drogas (Sisnad); prescreve medidas para
ções criminais para a base de dados do Ministério da Justiça. prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social de
Art. 39. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Muni- usuários e dependentes de drogas; estabelece normas para
cípios, no limite de suas competências e nos termos das res- repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de
pectivas leis de diretrizes orçamentárias, poderão estabelecer drogas430; define crimes e dá outras providências (art. 1º).
dotações orçamentárias específicas, em cada exercício financei- Essa lei foi publicada em 23 de agosto de 2006 e entrou em
ro, para a implementação das medidas estabelecidas nesta Lei. vigor 45 dias depois da publicação (art. 74). Além disso, re-
Art. 40. As obrigações previstas nesta Lei não excluem vogou as Leis nºs 6.368/1976 e 10.409/2002 (art. 75).
outras decorrentes dos princípios por ela adotados.
Art. 41. Aos crimes praticados com violência doméstica e
familiar contra a mulher, independentemente da pena previs-
Disposições Preliminares
ta, não se aplica a Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995.
Para fins desta lei, serão consideradas como drogas as
Art. 42. O art. 313 do Decreto-Lei no 3.689, de 3 de ou-
substâncias ou os produtos capazes de causar dependência,
tubro de 1941 (Código de Processo Penal), passa a vigorar
assim especificados em lei ou relacionados em listas atuali-
acrescido do seguinte inciso IV:
zadas periodicamente pelo Poder Executivo da União (art.
1º, parágrafo único). No Brasil, é a Anvisa que, por meio de
Art. 313. [...]
portaria, edita a lista de substâncias que serão considera-
IV – se o crime envolver violência doméstica e familiar
contra a mulher, nos termos da lei específica, para ga- das drogas. Assim, trata-se de norma penal heterogênea
rantir a execução das medidas protetivas de urgência. em branco, já que o complemento da norma é dado por
uma norma de fonte normativa diferente da que precisa
Art. 43. A alínea f do inciso II do art. 61 do Decreto-Lei do complemento431.
no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), passa a Por essa lei, ficam proibidas, em todo o território nacio-
vigorar com a seguinte redação: nal, as drogas, bem como o plantio, a cultura, a colheita e
a exploração de vegetais e substratos dos quais possam ser
Art. 61. [...] extraídas ou produzidas drogas, ressalvada a hipótese de au-
II – [...] torização legal ou regulamentar, bem como o que estabelece
f) com abuso de autoridade ou prevalecendo-se de a Convenção de Viena, das Nações Unidas, sobre Substâncias
relações domésticas, de coabitação ou de hospitali- Psicotrópicas, de 1971, a respeito de plantas de uso estrita-
dade, ou com violência contra a mulher na forma da mente ritualístico-religioso (art. 2º). Entretanto, a União pode
lei específica; autorizar o plantio, a cultura e a colheita dos vegetais que,
[...] em regra, são proibidos, exclusivamente para fins medicinais
ou científicos, em local e prazo predeterminados, mediante
Art. 44. O art. 129 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de de- fiscalização, respeitadas as ressalvas supramencionadas (art.
zembro de 1940 (Código Penal), passa a vigorar com as se- 2º, parágrafo único).
guintes alterações: Fazemos aqui uma observação importante para as provas
de concurso: caso uma substância psicotrópica seja retirada
Art. 129. [...] da lista de uso proscrito da autoridade sanitária competen-
§ 9o Se a lesão for praticada contra ascendente, te, o princípio da aplicação da retroatividade da lei penal
descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou mais benéfica levaria à extinção da punibilidade, e não à
com quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, atipicidade da conduta, no caso de crime de porte e tráfico
prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de drogas cometido antes da exclusão da substância da lista
de coabitação ou de hospitalidade: mencionada432.
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos.
[...] Do Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre
§ 11. Na hipótese do § 9o deste artigo, a pena será Drogas
aumentada de um terço se o crime for cometido con-
tra pessoa portadora de deficiência. O Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre drogas
(Sisnad) tem a finalidade de articular, integrar, organizar e
Art. 45. O art. 152 da Lei no 7.210, de 11 de julho de 1984 coordenar as atividades relacionadas com a prevenção do
(Lei de Execução Penal), passa a vigorar com a seguinte redação: uso indevido433, a atenção e a reinserção social de usuários
e dependentes de drogas e a repressão da produção não
Art. 152. [...] autorizada e do tráfico ilícito de drogas (art. 3º e incisos).
Parágrafo único. Nos casos de violência doméstica
contra a mulher, o juiz poderá determinar o compa- Dos Princípios e dos Objetivos do Sistema
recimento obrigatório do agressor a programas de Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas
recuperação e reeducação.
Legislação Especial

O Sisnad é regido por 11 (onze) princípios. São eles: o res-


Art. 46. Esta Lei entra em vigor 45 (quarenta e cinco) dias
peito aos direitos fundamentais da pessoa humana, especial-
após sua publicação.
430
Assunto cobrado na prova: Copese/UFT/DPE-TO/Analista Jurídico/Defensoria
Brasília, 7 de agosto de 2006; 185o da Independência e Pública/2012.
118o da República. 431
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/Sejus/ES/Agente Penitenciá-
rio/2009; FGV/OAB/2013.
432
Assunto cobrado na prova: Cespe/TJ-SE/Titular de Serviços de Notas e de
LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA Registros/2014.
Dilma Rousseff 433
Assunto cobrado na prova: Movens/PC-PA/Delegado de Polícia/2009.

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
mente quanto à sua autonomia e à sua liberdade; o respeito os óbitos ocorridos, preservando a identidade das pessoas,
à diversidade e às especificidades populacionais existentes; conforme orientações emanadas da União436 (art. 16). Essas
a promoção dos valores éticos, culturais e de cidadania do informações serão transformadas em dados estatísticos. Com
povo brasileiro, reconhecendo-os como fatores de proteção isso, os dados estatísticos nacionais de repressão ao tráfico
para o uso indevido de drogas e outros comportamentos cor- ilícito de drogas integrarão sistema de informações do Poder
relacionados; a promoção de consensos nacionais, de ampla Executivo (art. 17).
participação social, para o estabelecimento dos fundamentos
e estratégias do Sisnad; a promoção da responsabilidade Das Atividades de Prevenção do Uso Indevido,
compartilhada entre Estado e Sociedade, reconhecendo a Atenção e Reinserção Social de Usuários e
importância da participação social nas atividades do Sisnad; o
reconhecimento da intersetorialidade dos fatores correlacio-
Dependentes de Drogas
nados com o uso indevido de drogas, com a sua produção não
Da prevenção
autorizada e o seu tráfico ilícito; a integração das estratégias
nacionais e internacionais de prevenção do uso indevido,
atenção e reinserção social de usuários e dependentes de Constituem atividades de prevenção do uso indevido de
drogas e de repressão à sua produção não autorizada e ao drogas, para efeito desta Lei, aquelas direcionadas para a
seu tráfico ilícito434 (art. 4º, incisos I a VII). redução dos fatores de vulnerabilidade e risco e para a pro-
Além dos já mencionados, ainda tem-se como princípios moção e o fortalecimento dos fatores de proteção (art. 18).
do Sisnad a articulação com os órgãos do Ministério Público Essas atividades devem observar os seguintes princípios e
e dos Poderes Legislativo e Judiciário visando à cooperação diretrizes: o reconhecimento do uso indevido de drogas como
mútua nas atividades do Sisnad; a adoção de abordagem mul- fator de interferência na qualidade de vida do indivíduo e na
tidisciplinar que reconheça a interdependência e a natureza sua relação com a comunidade à qual pertence; a adoção
complementar das atividades de prevenção do uso indevido, de conceitos objetivos e de fundamentação científica como
atenção e reinserção social de usuários e dependentes de forma de orientar as ações dos serviços públicos comunitá-
drogas, repressão da produção não autorizada e do tráfico rios e privados e de evitar preconceitos e estigmatização das
ilícito de drogas; a observância do equilíbrio entre as ativi- pessoas e dos serviços que as atendam; o fortalecimento
dades de prevenção do uso indevido, atenção e reinserção da autonomia e da responsabilidade individual em relação
social de usuários e dependentes de drogas e de repressão à ao uso indevido de drogas; o compartilhamento de respon-
sua produção não autorizada e ao seu tráfico ilícito, visando sabilidades e a colaboração mútua com as instituições do
a garantir a estabilidade e o bem-estar social e a observância setor privado e com os diversos segmentos sociais, incluindo
às orientações e normas emanadas do Conselho Nacional usuários e dependentes de drogas e respectivos familiares,
Antidrogas – Conad (art. 4º, incisos VIII a XI). por meio do estabelecimento de parcerias; a adoção de es-
Com relação aos objetivos do Sisnad, são eles: contribuir tratégias preventivas diferenciadas e adequadas às especi-
para a inclusão social do cidadão, visando a torná-lo menos ficidades socioculturais das diversas populações, bem como
vulnerável a assumir comportamentos de risco para o uso in- das diferentes drogas utilizadas; o reconhecimento do “não
devido de drogas, seu tráfico ilícito e outros comportamentos uso”, do “retardamento do uso” e da redução de riscos como
correlacionados; promover a construção e a socialização do resultados desejáveis das atividades de natureza preventiva,
conhecimento sobre drogas no país; promover a integração quando da definição dos objetivos a serem alcançados; o
entre as políticas de prevenção do uso indevido, atenção tratamento especial dirigido às parcelas mais vulneráveis da
e reinserção social de usuários e dependentes de drogas e população, levando em consideração as suas necessidades
de repressão à sua produção não autorizada e ao tráfico específicas (art. 19, incisos I a VII)
ilícito e as políticas públicas setoriais dos órgãos do Poder Além desses princípios e diretrizes, devem observar tam-
Executivo da União, Distrito Federal, Estados e Municípios435 bém a articulação entre os serviços e organizações que atuam
e assegurar as condições para a coordenação, a integração em atividades de prevenção do uso indevido de drogas e
e a articulação das atividades que são finalidade do Sisnad a rede de atenção a usuários e dependentes de drogas e
(art. 5º e incisos). respectivos familiares; o investimento em alternativas espor-
tivas, culturais, artísticas, profissionais, entre outras, como
Da Composição e da Organização do Sistema forma de inclusão social e de melhoria da qualidade de vida;
Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas o estabelecimento de políticas de formação continuada na
área da prevenção do uso indevido de drogas para profissio-
Tem-se que a organização do Sisnad assegura a orienta- nais de educação nos 3 (três) níveis de ensino; a implantação
ção central e a execução descentralizada das atividades rea- de projetos pedagógicos de prevenção do uso indevido de
lizadas em seu âmbito, nas esferas federal, distrital, estadual drogas, nas instituições de ensino público e privado, alinha-
e municipal e se constitui matéria definida no regulamento dos às Diretrizes Curriculares Nacionais e aos conhecimentos
desta Lei (art. 7º). relacionados a drogas; a observância das orientações e nor-
mas emanadas do Conad e o alinhamento às diretrizes dos
Da Coleta, Análise e Disseminação de órgãos de controle social de políticas setoriais específicas
Informações sobre Drogas (art. 19, incisos VIII a XIII).
Legislação Especial

Cumpre ressaltar que as atividades de prevenção do


O legislador se preocupou em determinar que as ins- uso indevido de drogas dirigidas à criança e ao adolescente
tituições com atuação nas áreas da atenção à saúde e da deverão estar em consonância com as diretrizes emanadas
assistência social que atendam usuários ou dependentes pelo Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Ado-
de drogas devem comunicar ao órgão competente do res- lescente – Conanda437 (art. 19, parágrafo único).
pectivo sistema municipal de saúde os casos atendidos e
436
Assunto cobrado na prova: Cespe/PC-CE/Inspetor de Polícia Civil/2012.
434
Assunto cobrado na prova: Cespe/PC-CE/Inspetor de Polícia Civil/2012. 437
Assunto cobrado na prova: Copese/UFT/DPE-TO/Analista Jurídico/Defensoria
435
Assunto cobrado na prova: CRSP/PMMG/Assistente Administrativo/2013. Pública/2012.

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Das atividades de atenção e de reinserção social de Droga para consumo pessoal
usuários ou dependentes de drogas
O delito que versa que quem adquirir, guardar, tiver
Para efeito desta lei, constituem atividades de atenção em depósito442, transportar ou trouxer consigo, para con-
ao usuário e dependente de drogas e respectivos familia- sumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo
res aquelas que visem à melhoria da qualidade de vida com determinação legal ou regulamentar será submetido
e à redução dos riscos e dos danos associados ao uso de às seguintes penas: advertência sobre os efeitos das drogas;
drogas438 (art. 20). Já as atividades de reinserção social do prestação de serviços à comunidade; medida educativa de
usuário ou do dependente de drogas e respectivos familiares comparecimento a programa ou curso educativo443 (art. 28
são aquelas direcionadas para sua integração ou reintegração e incisos). Com relação às penas de prestação de serviços
em redes sociais (art. 21). à comunidade e à medida educativa de comparecimento
Destaca-se que as atividades de atenção e as de rein- a programa ou curso educativo, estas serão aplicadas pelo
serção social do usuário e do dependente de drogas e res- prazo máximo de 5 (cinco) meses444 (art. 28, § 3º). Em caso
pectivos familiares devem observar os seguintes princípios de reincidência, o prazo máximo passa a ser de 10 (dez)
e diretrizes: respeito ao usuário e ao dependente de drogas, meses445 (art. 28, § 4º).
independentemente de quaisquer condições, observados os Ressaltamos aqui sobre a pena que, se o condenado pelo
direitos fundamentais da pessoa humana, os princípios e delito do art. 28 for adolescente, não será possível medida
diretrizes do Sistema Único de Saúde e da Política Nacional socioeducativa privativa de liberdade. Isso porque é vedada
de Assistência Social; a adoção de estratégias diferenciadas a submissão de adolescente a tratamento mais gravoso do
de atenção e reinserção social do usuário e do dependente
que aquele conferido ao adulto. Se nem mesmo é prevista
de drogas e respectivos familiares que considerem as suas
pena de privação de liberdade ao adulto, não se pode aplicar
peculiaridades socioculturais; definição de projeto terapêu-
pena de privação de liberdade ao adolescente, mesmo que
tico individualizado, orientado para a inclusão social e para a
redução de riscos e de danos sociais e à saúde; atenção ao seja caso de reiteração ou de descumprimento de medidas
usuário ou dependente de drogas e aos respectivos fami- anteriormente aplicadas. (Jurisprudência noticiada no Infor-
liares, sempre que possível, de forma multidisciplinar e por mativo nº 742 do STF – HC nº 119160, Relator(a): Min. Roberto
equipes multiprofissionais439; observância das orientações Barroso, Primeira Turma, julgado em 9/4/2014, Processo Ele-
e normas emanadas do Conad e o alinhamento às diretrizes trônico DJe-093, divulg. 15/5/2014, public. 16/5/2014)
dos órgãos de controle social de políticas setoriais específicas Outra observação com relação a este delito, é que não
(art. 22 e incisos). há o verbo “usar”, por exemplo. Assim, caso uma pessoa
As redes dos serviços de saúde da União, dos Estados, do injete em seu próprio organismo substância entorpecente
Distrito Federal, dos Municípios desenvolverão programas de e, em seguida, seja encontrada por policiais, se os agentes
atenção ao usuário e ao dependente de drogas, respeitadas não encontrarem as substâncias entorpecentes em poder
as diretrizes do Ministério da Saúde e os princípios expli- dessa pessoa, ela não responderá por crime de porte de
citados acima, sendo obrigatória a previsão orçamentária drogas, previsto no art. 28446.
adequada (art. 23). Continuando na análise, a essas mesmas medidas de
Ademais, a União, os Estados, o Distrito Federal e os Mu- advertência sobre os efeitos das drogas, prestação de servi-
nicípios poderão conceder benefícios às instituições privadas ços à comunidade e medida educativa de comparecimento
que desenvolverem programas de reinserção no mercado a programa ou curso educativo, também será submetido
de trabalho, do usuário e do dependente de drogas encami- quem, para seu consumo pessoal, semeia, cultiva ou colhe
nhados por órgão oficial (art. 24). Poderão receber recursos plantas destinadas à preparação de pequena quantidade
do Funad, condicionados à sua disponibilidade orçamentá- de substância ou produto capaz de causar dependência fí-
ria e financeira, as instituições da sociedade civil, sem fins sica ou psíquica447 (art. 28, § 1º). Para fim de determinar se
lucrativos, com atuação nas áreas da atenção à saúde e da a droga destinava-se a consumo pessoal, o juiz atenderá
assistência social, que atendam usuários ou dependentes à natureza e à quantidade da substância apreendida, ao
de drogas (art. 25). local e às condições em que se desenvolveu a ação, às cir-
O usuário e o dependente de drogas que, em razão da cunstâncias sociais e pessoais, bem como à conduta e aos
prática de infração penal, estiverem submetidos a medi- antecedentes do agente448 (art. 28, § 2º). Destaca-se aqui
da de segurança terão garantidos os mesmos serviços de que é pacífico na jurisprudência que o delito de porte de
atenção à sua saúde que tinham antes do início do cumpri- drogas é de perigo abstrato449. (Jurisprudência do STJ/RHC nº
mento de pena privativa de liberdade, independentemente 36.195/DF, Rel. Ministro Jorge Mussi, Quinta Turma, julgado
da posição do respectivo sistema penitenciário 440 (art. 26). em 20/6/2013, DJe 6/8/2013)

Dos Crimes e das Penas 442


Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/TJ-AC/Juiz/2012; Cespe/
OAB/2009.
Disposições gerais 443
Assunto cobrado nas seguintes provas: Vunesp/PC-SP/Investigador de Po-
lícia/2014; Vunesp/PC-SP/Escrivão de Polícia/2014; Cespe/TJ-BA/Titular de
Serviços de Notas e de Registros/2013; Cespe/OAB/2009; TRF 4ª Região/Juiz
Com relação às penas dos delitos que passaremos a Federal/2009; FGV/PC-AP/Delegado de Polícia/2010.
discorrer neste tópico, frise-se que poderão ser aplicadas 444
Assunto cobrado nas seguintes provas: Vunesp/TJ-RJ/Juiz/2013; FCC/SJCDH-
Legislação Especial

-BA/Agente Penitenciário/2010.
isolada ou cumulativamente, bem como substituídas a qual- 445
Assunto cobrado nas seguintes provas: UEG/PC-GO/Escrivão de Polícia Ci-
quer tempo, ouvidos o Ministério Público e o defensor441 vil/2013; FCC/MPE-AL/Promotor de Justiça/2012; FCC/SJCDH-BA/Agente
(art. 27). Penitenciário/2010; FCC/DPE-RS/Defensor Público/2011.
446
Assunto cobrado na prova: Cespe/PRF/Policial Rodoviário Federal/2013.
447
Assunto cobrado na prova: MPE-MS/Promotor de Justiça/2013; MPE-SP/
438
Assunto cobrado na prova: Copese/UFT/DPE-TO/Analista Jurídico/Defensoria Promotor de Justiça/2010; Movens/PC-PA/Investigador/2009; Cespe/TRF 3ª
Pública/2012. Região/Juiz Federal/2011.
439
Assunto cobrado na prova: Copese/UFT/DPE-TO/Analista Jurídico/Defensoria 448
Assunto cobrado nas seguintes provas: MPE-SC/Promotor de Justiça/20013;
Pública/2012. Cespe/MPE-ES/Promotor de Justiça/2010.
440
Cespe/PC-CE/Inspetor de Polícia Civil/2012. 449
Assunto cobrado na prova: Cespe/TJ-SE/Titular de Serviços de Notas e de
441
Assunto cobrado na prova: FCC/SJCDH-BA/Agente Penitenciário/2010. Registros/2014.

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Anote-se que o réu não tem o dever se comprovar que preparar, possuir, manter em depósito, importar, exportar,
a droga encontrada com ele trata-se de droga apenas para reexportar, remeter, transportar, expor, oferecer, vender,
consumo pessoal. O Supremo Tribunal Federal já se posicio- comprar, trocar, ceder ou adquirir, para qualquer fim, dro-
nou que cabe ao Ministério Público comprovar a imputação, gas ou matéria-prima destinada à sua preparação, obser-
contrariando o princípio da não culpabilidade a inversão vadas as demais exigências legais455 (art. 31). Assim, para
a ponto de concluir-se pelo tráfico de entorpecentes em comercializar produtos químicos que possam ser utilizados
razão de o acusado não haver feito prova da versão se- como insumo na elaboração de substâncias entorpecentes,
gundo a qual a substância se destinava ao uso próprio e o comerciante deverá ser cadastrado no Departamento
de grupo de amigos que se cotizaram para a aquisição. de Polícia Federal e possuir licença de funcionamento,
(Jurisprudência noticiada no Informativo nº 711 do STF – HC concedida pelo mesmo departamento456 (previsto na Lei
nº 107448, Relator(a): Min. Ricardo Lewandowski, Relator(a) nº 10.357, art. 4º).
p/ Acórdão: Min. Marco Aurélio, Primeira Turma, julgado em
As plantações ilícitas serão imediatamente destruídas
18/6/2013, Processo Eletrônico DJe-196, divulg. 3/10/2013,
public. 4/10/2013) pelo delegado de polícia, quando a apreensão da droga
A lei de drogas prevê que a prestação de serviços à ocorrer sem prisão em flagrante, no prazo máximo de 30
comunidade será cumprida em programas comunitários, dias da data da apreensão, guardando-se amostra necessá-
entidades educacionais ou assistenciais, hospitais, estabe- ria à realização do laudo definitivo. A autoridade policial re-
lecimentos congêneres, públicos ou privados sem fins lu- colherá quantidade suficiente para exame pericial, de tudo
crativos, que se ocupem, preferencialmente, da prevenção lavrando auto de levantamento das condições encontradas,
do consumo ou da recuperação de usuários e dependentes com a delimitação do local, asseguradas as medidas neces-
de drogas450 (art. 28, § 5º). sárias para a preservação da prova457 (art. 32).
Ressaltamos aqui que com relação à posse de droga para Em caso de ser utilizada a queimada para destruir a plan-
consumo pessoal, prevista no art. 28 da Lei nº 11.343/2006, tação, será observado, além das cautelas necessárias à prote-
no qual, para a Corte Suprema, tal conduta foi despenaliza- ção ao meio ambiente, o disposto no Decreto no 2.661, de 8
da451. Atentar para o fato de que não houve descriminaliza- de julho de 1998, que regulamenta o parágrafo único do art.
ção, ou seja, continua sendo crime. O que houve, segundo 27 da Lei nº 4.771, de 15 de setembro de 1965 (Código Flo-
o STF, foi a despenalização, ou seja, uma não aplicação de restal), mediante o estabelecimento de normas de precaução
pena privativa de liberdade452. relativas ao emprego do fogo em práticas agropastoris e flo-
Para o fim de garantir o cumprimento das medidas edu- restais, e dá outras providências, no que couber, dispensada
cativas, caso o agente injustificadamente se recuse, o juiz a autorização prévia do órgão próprio do Sistema Nacional
poderá submetê-lo, sucessivamente, a admoestação verbal do Meio Ambiente (Sisnama)458 (art. 32, § 3º).
e multa453 (art. 28, § 6º, I e II). Sobre esta pena de multa aqui As glebas cultivadas com plantações ilícitas serão expro-
mencionada, o juiz, atendendo à reprovabilidade da conduta,
priadas, conforme o disposto no art. 243 da Constituição
fixará o número de dias-multa, em quantidade nunca inferior
Federal, que versa que serão expropriadas e destinadas à
a 40 (quarenta) nem superior a 100 (cem), atribuindo depois
a cada um, segundo a capacidade econômica do agente, o reforma agrária e a programas de habitação popular, sem
valor de um trinta avos até 3 (três) vezes o valor do maior qualquer indenização ao proprietário e sem prejuízo de ou-
salário mínimo (art. 29). Os valores decorrentes da multa tras sanções previstas em lei, de acordo com a legislação
serão creditados à conta do Fundo Nacional Antidrogas em vigor459 (art. 32, § 4º).
(art. 29, parágrafo único).
Ademais, o juiz determinará ao Poder Público que colo- Dos Crimes
que à disposição do infrator, gratuitamente, estabelecimento
de saúde, preferencialmente ambulatorial, para tratamento Tráfico de Drogas
especializado (art. 28, § 7º).
Em vista do direito vigente, o crime de posse de drogas A lei de drogas tipifica a conduta de importar, exportar,
ilícitas para consumo pessoal tem prazo prescricional or- remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à
dinário de 2 (dois) anos454 (art. 30). venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo,
guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou for-
Da Repressão à Produção não Autorizada e ao necer drogas, ainda que gratuitamente460, sem autorização
Tráfico Ilícito de Drogas ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar,
com pena prevista de reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze)
Disposições Gerais anos e pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e qui-
nhentos) dias-multa (art. 33). Incorrerá nas mesmas penas
Tem-se que é indispensável a licença prévia da autorida- quem importa, exporta, remete, produz, fabrica, adquire,
de competente para produzir, extrair, fabricar, transformar, vende, expõe à venda, oferece, fornece, tem em depósito,
450
Assunto cobrado nas seguintes provas: UEPA/PC-PA/Escriturário/Investiga-
transporta, traz consigo ou guarda, ainda que gratuitamente,
dor/2013; Cespe/STJ/Analista Judiciário/Área Judiciária/2008; FCC/SJCDH-BA/ sem autorização ou em desacordo com determinação legal
Agente Penitenciário/2010. ou regulamentar, matéria-prima, insumo ou produto químico
451
Trata- se entendimento do STF (RE nº 430105 QO, Relator(a): Min. Sepúlveda
Pertence, Primeira Turma, julgado em 13/2/2007, DJe-004, divulg. 26/4/2007, destinado à preparação de drogas; semeia, cultiva ou faz a
Legislação Especial

public. 27/4/2007 DJ 27/4/2007 PP-00069 EMENT VOL-02273-04 PP-00729 colheita, sem autorização ou em desacordo com determi-
RB v. 19, nº 523, 2007, p. 17-21 RT v. 96, nº 863, 2007, p. 516-523). Assunto nação legal ou regulamentar, de plantas que se constituam
cobrado nas seguintes provas: Vunesp/TJ-PA/Juiz de Direito Substituto/2014;
Cespe/STF/Analista Judiciário/Área Judiciária/2008.
452
Assunto cobrado nas seguintes provas: FEC/PC-RJ/Inspetor de Polícia/2012; 455
Assunto cobrado nas seguintes provas: Funrio/PRF/Policial Rodoviário Fede-
Cespe/TJ-AC/Juiz/2012; Cespe/DPE-ES/Defensor Público/2009; Cespe/ ral/2009; Cespe/PC-CE/Inspetor de Polícia Civil/2012.
OAB/2010; Vunesp/TJ-MT/Juiz/2009; Cespe/PC-ES/Delegado de Polícia/2011. 456
Cespe/Polícia Federal/Escrivão da Polícia Federal/2013.
453
Assunto cobrado nas seguintes provas: UEG/PC-GO/Escrivão de Polícia Ci- 457
Assunto cobrado na prova: Acafe/PC-SC/Delegado de Polícia/2014.
vil/2013; FCC/TJ-GO/Juiz/2012; Cespe/OAB/2010; Cespe/PC-ES/Escrivão de 458
Assunto cobrado na prova: Acafe/PC-SC/Delegado de Polícia/2014.
Polícia/2011. 459
Assunto cobrado nas seguintes provas: FGV/Senado Federal/Advogado/2008;
454
FCC/DPE-PB/Defensor Público/2014; Assunto cobrado na prova: UEG/PC-GO/ Cespe/PC-CE/Inspetor de Polícia Civil/2012.
Escrivão de Polícia Civil/2013; FCC/SJCDH-BA/Agente Penitenciário/2010. 460
Assunto cobrado na prova: FCC/DPE-PB/Defensor Público/2014.

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em matéria-prima para a preparação de drogas e utiliza local advindo da aplicação da Lei nº 6.368/1976, sendo vedada
ou bem de qualquer natureza de que tem a propriedade, a combinação de leis469.
posse, administração, guarda ou vigilância461, ou consente Ainda sobre o crime de tráfico ilícito de drogas, é im-
que outrem dele se utilize, ainda que gratuitamente, sem portante também fazer algumas observações que são co-
autorização ou em desacordo com determinação legal ou bradas constantemente em provas de concursos. Tem-se
regulamentar, para o tráfico ilícito de drogas (art. 33, § 1º, que o crime de tráfico é um delito equiparado aos crimes
incisos I, II e III). O crime de tráfico de drogas é um crime hediondos, conforme art. 2º da Lei de Crimes Hediondos
de perigo abstrato462. (Lei nº 8.072). Esta lei versa, ainda, que a progressão de
Sobre as condutas acima explicitadas, a lei de drogas regime, no caso dos condenados aos crimes previstos
versa que as penas poderão ser reduzidas de um sexto a neste artigo, dar-se-á após o cumprimento de 2/5 (dois
dois terços, vedada a conversão em penas restritivas de quintos) da pena, se o apenado for primário, e de 3/5 (três
direitos, desde que o agente seja primário, de bons an- quintos), se reincidente470. Entretanto, a Súmula nº 471 do
tecedentes, não se dedique às atividades criminosas nem Superior Tribunal de Justiça versa que os condenados por
integre organização criminosa463 (art. 33, § 4º). Esses re- crimes hediondos ou assemelhados cometidos antes da
quisitos são subjetivos e cumulativos464. Aliás, destaca-se vigência da Lei nº 11.464/2007 sujeitam-se ao disposto
que a aplicação da causa especial de diminuição de pena no art. 112 da Lei nº 7.210/1984 (Lei de Execução Penal)
prevista no art. 33, § 4º, da Lei nº 11.343/2006 não cons- para a progressão de regime prisional. Assim, para o con-
titui mera discricionariedade do Juiz, mas, ao contrário,
denado por tráfico de drogas (bem como os condenados
representa direito subjetivo do condenado que cumprir os
por crimes hediondos e os outros equiparados), que forem
requisitos explicitados na norma, sendo, portanto, um dever
cometidos antes de 2007, deverão cumprir um sexto da
do aplicador da norma analisar a presença ou não desses
pena para fins de progressão de regime prisional, confor-
requisitos465. (Jurisprudência do STJ – HC nº 271.161/SP, Rel.
Ministra Marilza Maynard (Desembargadora Convocada do me art. 112 da LEP471.
TJ/SE), Sexta Turma, julgado em 22/4/2014, DJe 5/5/2014). Ademais, de acordo com entendimento jurisprudencial
Cumpre ressaltar aqui que, se um dos requisitos para o do Superior Tribunal de Justiça, se for adolescente, ele não
reconhecimento do tráfico privilegiado é que o agente não deverá obrigatoriamente receber medida socioeducativa de
integre organização criminosa, é tranquilo o entendimento internação. Este entendimento está na Súmula nº 492/STJ,
de que o agente não poderá ser processado e condenado que versa que o ato infracional análogo ao tráfico de dro-
pela prática de tráfico privilegiado em concurso material gas, por si só, não conduz obrigatoriamente à imposição
com associação para o tráfico, ainda que esses crimes sejam de medida socioeducativa de internação do adolescente472.
considerados crimes autônomos466. Para o STJ, é inaplicável
a causa especial de diminuição de pena do § 4º do art. 33 da Induzir, instigar, ou auxiliar ao uso indevido de droga
Lei nº 11.343/2006 ao réu também condenado pelo crime
de associação para o tráfico de drogas tipificado no art. Dando continuidade aos crimes na atual lei de drogas,
35 da mesma lei. (Jurisprudência noticiada no Informativo existe também tipificada a conduta de induzir, instigar ou
nº 517 do STJ – REsp nº 1199671/MG, Rel. Ministra Maria auxiliar alguém ao uso indevido de droga, com pena de de-
Thereza de Assis Moura, Sexta Turma, julgado em 26/2/2013, tenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa de 100 (cem) a
DJe 6/3/2013) 300 (trezentos) dias-multa (art. 33, § 2º). Destaca-se aqui a
Ainda sobre o tráfico privilegiado, a respeito da parte Adin 4.274-2, que deu interpretação conforme a Constitui-
que veda a conversão em penas restritivas de direitos, te- ção, para excluir aqui qualquer significado que vise proibir
mos a Resolução nº 5 do Senado Federal que suspendeu a manifestações de debates públicos sobre a descriminalização
execução dessa expressão. Assim, é possível sim que haja ou legalização de drogas.
a conversão em pena restritiva de direitos (art. 33, § 4º)467.
Ademais, importante saber que é pacífico no Superior Tri- Tráfico privilegiado
bunal de Justiça que essa causa de diminuição da pena não
afasta a hediondez do crime de tráfico de drogas (Súmula Também é típica conduta de oferecer droga, eventu-
nº 512 do STJ)468. almente e sem objetivo de lucro, a pessoa de seu rela-
Outra súmula que merece destaque é a Súmula 501/ cionamento, para juntos a consumirem473, com pena de
STJ, que versa que é cabível a aplicação retroativa da Lei nº detenção, de 6 (seis) meses a 1 (um) ano, e pagamento
11.343/2006, desde que o resultado da incidência das suas de 700 (setecentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa,
disposições, na íntegra, seja mais favorável ao réu do que o sem prejuízo das penas de advertência sobre os efeitos das
drogas, prestação de serviços à comunidade e medida edu-
461
Assunto cobrado na prova: Cespe/STF/Analista Judiciário/Área Judiciária/2008.
462
Assunto cobrado na prova: UEG/PC-GO/Delegado de Polícia/2013.
cativa de comparecimento a programa ou curso educativo474
463
Assunto cobrado nas seguintes provas: IESES/TJ-MS/Titular de Serviços de (art. 33, § 3º). Este tipo penal não estabelece distinção en-
Notas e de Registros/2014; Fepese/MPE-SC/Promotor de Justiça/2014; Cespe/
Polícia Federal/Escrivão da Polícia Federal/2013; TJ-SC/Juiz/2013; UEG/PM-
-GO/Cadete da Polícia Militar/2013; Cespe/STJ/Analista Judiciário/Área Judi- 469
Assunto tratado na prova: FCC/MPE-PA/Promotor de Justiça/2014.
ciária/2008; PUC-PR/TJ-RO/Juiz/2011; FCC/DPE-RS/Defensor Público/2011; 470
Assunto cobrado na prova: FCC/MPE-SE/Analista do Ministério Público/2009.
Legislação Especial

Cespe/MPU/Analista Processual/2010; MPE-MT/Promotor de Justiça/2012. 471


Assunto cobrado nas seguintes provas: Ieses/TJ-MS/Titular de Serviços de
464
Cespe/PC-AL/Escrivão de Polícia/2012. Notas e de Registros/2014; FCC/MPE-PA/Promotor de Justiça/2014.
465
Cespe/TJ-CE/Oficial de Justiça/2008. 472
Assunto cobrado na prova: Vunesp/TJ-RJ/Juiz/2013; Cespe/DPE-DF/Defensor
466
Cespe/TJ-SE/Titular de Serviços de Notas e de Registros/2014; Cespe/TJ-SE/ Público/2013.
Titular de Serviços de Notas e de Registros/2014; MPE-PR/Promotor de Jus- 473
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/STF/Analista Judiciário/Área
tiça/2011. Judiciária/2013; Cespe/PC-DF/Agente de Polícia/2013; UEPA/PC-PA/Delegado
467
Assunto cobrado nas seguintes provas: UFG/DPE-GO/Defensor Público/2014; de Polícia/2013; Cespe/TJ-AC/Técnico Judiciário/Área Judiciária/2012; Cespe/
Cespe/TJ-SE/Titular de Serviços de Notas e de Registros/2014; Cespe/DPE-ES/ OAB/2009; Vunesp/TJ-MT/Juiz/2009; UESPI/Delegado de Polícia/2009.
Defensor Público/2012; FCC/DPE-SP/Defensor Público/2012. 474
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/PC-DF/Escrivão de Polícia/2013;
468
Assunto cobrado nas seguintes provas: IBFC/PC-RJ/Papiloscopista Policial de 3ª Vunesp/TJ-RJ/Juiz/2013; FGV/Senado Federal/Advogado/2008; Vunesp/DPE-
Classe/2014; Vunesp/DPE-MS/Defensor Público/2014; FCC/MPE-PA/Promotor -MS/Defensor Público2008; Cespe/OAB/2010; Cespe/MPE-ES/Promotor de
de Justiça/2014; Officium/TJ-RS/Juiz/2012. Justiça/2010.

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tre a oferta dirigida a pessoa imputável ou inimputável475. Financiar ou custear o tráfico
Assim, vemos que há distinção entre o traficante e o forne-
cedor eventual de drogas, tendo a legislação abrandado a Para o delito de financiar ou custear a prática de qual-
punição deste em relação àquele, tratando a questão como quer dos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1o, e 34482,
crime de menor potencial ofensivo, desde que presentes, tem-se a pena de reclusão, de 8 (oito) a 20 (vinte) anos, e
além da eventualidade no fornecimento da droga, a ausên- pagamento de 1.500 (mil e quinhentos) a 4.000 (quatro mil)
cia de objetivo de lucro, a intenção de consumir droga em dias-multa (art. 36).
conjunto e o oferecimento da droga a pessoa de relaciona-
mento do agente476. Ressalta-se que o fornecedor eventual Informante
não é equiparado ao usuário, mas sim ao traficante477.
A conduta de colaborar, como informante, com grupo,
Fabricar, adquirir, utilizar, transportar, oferecer, organização ou associação destinados à prática de qualquer
vender, distribuir, entregar a qualquer título, possuir, dos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1o, e 34 desta
guardar ou fornecer, ainda que gratuitamente, Lei483, tem como previsão de pena a reclusão, de 2 (dois) a 6
maquinário, aparelho, instrumento ou qualquer (seis) anos, e pagamento de 300 (trezentos) a 700 (setecen-
objeto destinado à fabricação, preparação, produção tos) dias-multa (art. 37). Sobre este crime, o STJ entende que
ou transformação de drogas, sem autorização ou em o tipo penal trazido no art. 37 da Lei de Drogas se reveste de
desacordo com determinação legal ou regulamentar verdadeiro caráter de subsidiariedade, só ficando preenchi-
da a tipicidade quando não se comprovar a prática de crime
Outra conduta típica é a de fabricar, adquirir, utilizar, mais grave. De fato, cuidando-se de agente que participa
transportar, oferecer, vender, distribuir, entregar a qual- do próprio delito de tráfico ou de associação, a conduta
quer título, possuir, guardar ou fornecer, ainda que gratui- de colaborar com informações para o tráfico já é inerente
tamente, maquinário, aparelho, instrumento ou qualquer aos mencionados tipos. Considerar que o informante possa
objeto destinado à fabricação, preparação, produção ou ser punido duplamente, pela associação e pela colabora-
transformação de drogas, sem autorização ou em desacordo ção com a própria associação da qual faz parte, além de
com determinação legal ou regulamentar478, com pena de contrariar o princípio da subsidiariedade, revela indevido
reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e pagamento de 1.200 bis in idem. (Jurisprudência noticiada no Informativo nº 527
(mil e duzentos) a 2.000 (dois mil) dias-multa (art. 34). do STJ – HC 224.849/RJ, Rel. Ministro Marco Aurélio Bellizze,
Quinta Turma, julgado em 11/6/2013, DJe 19/6/2013)
Associação para o tráfico As penas para os delitos até aqui previstos são aumen-
tadas de 1 (um) sexto a 2 (dois) terços484, se a natureza, a
Já a conduta de associarem-se duas ou mais pessoas procedência da substância ou do produto apreendido e as
para o fim de praticar479, reiteradamente ou não, qualquer circunstâncias do fato evidenciarem a transnacionalidade
dos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1o, e 34 desta Lei do delito485; se o agente praticar o crime prevalecendo-se de
traz previsão de pena de reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, função pública ou no desempenho de missão de educação,
e pagamento de 700 (setecentos) a 1.200 (mil e duzentos) poder familiar, guarda ou vigilância486; se a infração tiver
dias-multa. Incorrerá nas mesmas penas quem se associa sido cometida nas dependências ou imediações de estabe-
para a prática reiterada de financiar ou custear a prática de lecimentos prisionais, de ensino ou hospitalares, de sedes
qualquer crime previsto nos art. 33, caput, e § 1º e art. 34 de entidades estudantis, sociais, culturais, recreativas, es-
da Lei de Drogas (art. 35 e parágrafo único). Anote-se que é portivas, ou beneficentes, de locais de trabalho coletivo,
pacífico na jurisprudência que o crime de associação para de recintos onde se realizem espetáculos ou diversões de
o tráfico não é equiparado aos crimes hediondos. (Jurispru- qualquer natureza, de serviços de tratamento de dependen-
dência do STJ/HC nº 123.945/RJ, Rel. Ministro Jorge Mussi, tes de drogas ou de reinserção social, de unidades militares
Quinta Turma, julgado em 6/9/2011, DJe 4/10/2011). Tem-se, ou policiais ou em transportes públicos487; se o crime tiver
ainda, que para a materialidade do crime de tráfico ilícito sido praticado com violência, grave ameaça, emprego de
de entorpecentes pressupõe-se a apreensão da droga, to- arma de fogo, ou qualquer processo de intimidação difusa
davia, o mesmo não ocorre para o crime de associação para ou coletiva488; caracterizado o tráfico entre Estados da Fe-
deração ou entre estes e o Distrito Federal489; se sua prática
o tráfico, cuja materialidade pode advir de outros meios
envolver ou visar a atingir criança ou adolescente ou a quem
de prova480.
tenha, por qualquer motivo, diminuída ou suprimida a ca-
Destacamos aqui que exige-se o dolo de se associar com
pacidade de entendimento e determinação e, por fim, se o
permanência e estabilidade para a caracterização do cri-
agente financiar ou custear a prática do crime490 (art. 40).
me de associação para o tráfico, previsto no art. 35 da Lei
nº 11.343/2006. Dessa forma, é atípica a conduta se não 482
UEPA/PC-PA/Delegado de Polícia/2013.
houver ânimo associativo permanente (duradouro), mas 483
Assunto cobrado nas seguintes provas: Vunesp/DPE-MS/Defensor Públi-
apenas esporádico (eventual)481. (Jurisprudência noticiada co/2014; Funcab/PC-ES/Delegado de Polícia/2013; FCC/DPE-SP/Defensor
no Informativo nº 509 do STJ/HC 139.942-SP, Rel. Min. Maria Público/2012; Cespe/Polícia Federal/Agente Federal da Polícia Federal/2009;
TRF 4ª Região/Juiz Federal/2009; Movens/PC-PA/Investigador/2009.
Thereza de Assis Moura, julgado em 19/11/2012) 484
Assunto cobrado na prova: Vunesp/DPE-MS/Defensor Público/2014.
485
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/TJ-SE/Titular de Serviços de
Legislação Especial

Notas e de Registros/2014; FCC/MPE-AL/Promotor de Justiça/2012; FCC/TJ-


475
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/Polícia Federal/Delegado de -GO/Juiz/2009.
Polícia/2013; UESPI/PC-PI/Delegado de Polícia/2009. 486
Assunto cobrado na prova: Copese/UFT/DPE-TO/Analista em Gestão Especia-
476
MPE-MS/Promotor de Justiça/2013. lizado/2012.
477
Assunto cobrado na prova: Cespe/TJ-AC/Juiz/2012. 487
Assunto cobrado na prova: IBFC/PC-SE/Agente de Polícia Judiciária/Substituto
478
Assunto cobrado na prova: Vunesp/DPE-MS/Defensor Público/2014. A/2014; Copese/UFT/DPE-TO/Analista em Gestão Especializado/2012; TJ-SC/
479
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/DPE-PB/Defensor Público/2014; Juiz/2009.
FCC/TJ-AP/Juiz/2014; FGV/Senado Federal/Advogado/2008; MPE-SP/Promotor 488
Assunto cobrado na prova: FCC/MPE-AP/Promotor de Justiça/2012.
de Justiça/2010; UESPI/PC-PI/Delegado de Polícia/2009; FCC/TJ-PE/Juiz/2011; 489
Assunto cobrado na prova: Cespe/TJ-SE/Titular de Serviços de Notas e de Re-
FCC/DPE-RS/Defensor Público/2011. gistros/2014; Cespe/MPE-RO/Promotor de Justiça/2013; FCC/TJ-GO/Juiz/2009.
480
Cespe/PC-AL/Delegado de Polícia/2012. 490
Assunto cobrado nas seguintes provas: Vunesp/DPE-MS/Defensor Públi-
481
Cespe/TJ-RR/Titular de Serviços de Notas e de Registros/2013. co/2014; FCC/TJ-GO/Juiz/2009.

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
Registre-se aqui que prescinde da efetiva transposição social do agente498 (art. 42). Anote-se aqui que a quantidade
das fronteiras estaduais a incidência da causa legal de au- e a espécie da droga apreendida, como indicativos do maior
mento de pena prevista para o tráfico de droga entre esta- ou menor envolvimento do agente no mundo das drogas,
dos da Federação491. (Jurisprudência do STF – HC nº 115893, constituem elementos que podem ser validamente sopesa-
Relator(a): Min. Ricardo Lewandowski, Segunda Turma, jul- dos no dimensionamento do benefício previsto no § 4º do
gado em 21/5/2013, Processo Eletrônico DJe-104, divulg. art. 33 da Lei nº 11.343/2006. Não se trata de bis in idem,
3/6/2013, public. 4/6/2013) ainda que tais elementos já tenham sido considerados no
dimensionamento da pena-base na condição de circuns-
Prescrever ou ministrar drogas tâncias do crime. (Jurisprudência noticiada no Informativo
nº 719 do STF – HC nº 117024, Relator(a): Min. Rosa Weber,
Prescrever ou ministrar, culposamente492, drogas, sem Primeira Turma, julgado em 10/9/2013, Processo Eletrônico
que delas necessite o paciente, ou fazê-lo em doses exces- DJe-188 divulg. 24/9/2013 public. 25/9/2013)
sivas ou em desacordo com determinação legal ou regula-
mentar é a conduta que tem como pena prevista a deten- Da fixação de multa
ção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e pagamento de 50
(cinquenta) a 200 (duzentos) dias-multa493. Neste delito, Já com relação à fixação de multa a que se referem os
o juiz comunicará a condenação ao Conselho Federal da artigos 33 a 39, atendendo ao que dispõe o art. 42 desta Lei,
categoria profissional a que pertença o agente494 (art. 38 o juiz determinará o número de dias-multa, atribuindo a
e parágrafo único). cada um, segundo as condições econômicas dos acusados,
valor não inferior a 1/30 (um trinta) avos nem superior a 5
Conduzir embarcação ou aeronave após consumo de (cinco) vezes o maior salário-mínimo499 (art. 43). Destaca-se
drogas que as multas, que em caso de concurso de crimes serão
impostas sempre cumulativamente, podem ser aumentadas
O ilícito de conduzir embarcação ou aeronave após o até o décuplo se, em virtude da situação econômica do
consumo de drogas, expondo a dano potencial a incolu- acusado, o juiz considerá-las ineficazes, ainda que aplicadas
midade de outrem495 tem como pena prevista a detenção, no máximo500 (art. 43, parágrafo único).
de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, além da apreensão do
veículo, cassação da habilitação respectiva ou proibição Das vedações
de obtê-la, pelo mesmo prazo da pena privativa de li-
berdade aplicada, e pagamento de 200 (duzentos) a 400 Já os crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1º, e 34
(quatrocentos) dias-multa496. As penas de prisão e multa a 37 desta Lei são inafiançáveis e insuscetíveis de sursis,
previstas aplicadas cumulativamente com as demais, serão graça, indulto, anistia e liberdade provisória, vedada a con-
de 4 (quatro) a 6 (seis) anos e de 400 (quatrocentos) a 600 versão de suas penas em restritivas de direitos501. Ademais,
(seiscentos) dias-multa, se o veículo referido no caput deste o livramento condicional para estes crimes se dará após o
artigo for de transporte coletivo de passageiros (art. 39 e cumprimento de dois terços da pena502, vedada a sua con-
parágrafo único). cessão ao reincidente específico (art. 44 e parágrafo único).
Sobre a vedação da conversão de suas penas em restritiva
Delação premiada de direitos, é importante ressaltar que essa expressão foi
declarada inconstitucional pelo STF no HC nº 9.7256/RS503
A lei prevê que, se o indiciado ou acusado que colabora (“Ordem parcialmente concedida tão somente para remo-
voluntariamente com a investigação policial e o processo ver o óbice da parte final do art. 44 da Lei nº 11.343/2006,
criminal na identificação dos demais coautores ou partícipes assim como da expressão análoga “vedada a conversão em
do crime e na recuperação total ou parcial do produto do penas restritivas de direitos”, constante do § 4º do art. 33 do
crime, no caso de condenação, ele terá a pena reduzida de mesmo diploma legal. Declaração incidental de inconstitucio-
um terço a dois terços497 (art. 41). nalidade, com efeito ex nunc, da proibição de substituição da
pena privativa de liberdade pela pena restritiva de direitos;
Circunstâncias preponderantes determinando-se ao Juízo da execução penal que faça a ava-
liação das condições objetivas e subjetivas da convolação em
Na Lei nº 11.343/2006, o legislador elegeu como cir- causa, na concreta situação do paciente”). Sobre a substitui-
cunstâncias preponderantes para fixação da pena, dentre ção da pena, anote-se que o STJ já afirmou que o fato de o
aquelas prevista no art. 59 do CP, a natureza e a quantidade
da substância ou do produto, a personalidade e a conduta 498
Vunesp/DPE-MS/Defensor Público/2014; MPE-SC/Promotor de Justiça/2013;
UEG/PC-GO/Delegado de Polícia/2013; OFFICIUM/TJ-RS/Juiz/2012; FCC/
MPE-AL/Promotor de Justiça/2012; FCC/TJ-GO/Juiz/2012; Vunesp/TJ-MG/
491
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/MPE-RO/Promotor de Justi- Juiz/2012; FGV/Senado Federal/Advogado/2008; Cespe/TJ-AL/Juiz/2008;
ça/2013; Cespe/TJ-RR/Titular de Serviços de Notas e de Registros/2013; UEG/ MPE-SP/Promotor de Justiça/2010.
PC-GO/Delegado de Polícia/2013. 499
Assunto cobrado na prova: FCC/MPE-AP/Promotor de Justiça/2012.
492
Assunto cobrado na prova: TJ-SC/Juiz/2009; FCC/DPE-RS/Defensor Públi- 500
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/MPE-AP/Promotor de Justiça/2012;
co/2011. FCC/TJ-GO/Juiz/2012.
Legislação Especial

493
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/DPE-AM/Defensor Público/2013; 501
Assunto cobrado na prova: TRF 4ª Região/TRF 4ª Região/Juiz Federal/2009;
Cespe/STJ/Analista Judiciário/Área Judiciária/2012. FGV/PC-AP/Delegado de Polícia/2010.
494
Assunto cobrado na prova: Cespe/STJ/Analista Judiciário/Área Judiciária/2012. 502
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/MPE-AP/Promotor de Justiça/2012;
495
Assunto cobrado nas seguintes provas: MPE-MS/Promotor de Justiça/2013; Cespe/OAB-SP/2008.
Funcab/PC-ES/Escrivão de Polícia/2013; Movens/PC-PA/Investigador/2009. 503
Jurisprudência do STF – HC nº 97256, Relator(a): Min. Ayres Britto, Tribunal
496
Assunto cobrado na prova: FCC/DPE-SP/Defensor Público/2012. Pleno, julgado em 1/9/2010, DJe-247, divulg. 15/2/2010, public. 16/2/2010,
497
Assunto cobrado na prova: Cespe/TJ-SE/Titular de Serviços de Notas e de ement vol-02452-01, pp-00113 RTJ vol-00220, pp-00402 RT v. 100, nº 909,
Registros/Provimento/2014; UEG/PM-GO/Cadete da Polícia Militar/2013; FCC/ 2011, p. 279-333). Assunto cobrado na prova: FCC/DPE-PB/Defensor Públi-
MPE-AL/Promotor de Justiça/2012; FCC/MPE-AP/Promotor de Justiça/2012; co/2014; Ieses/TJ-MS/Titular de Serviços de Notas e de Registros/2014; Cespe/
Fumarc/TJ-MG/Titular de Serviços de Notas e de Registros/Critério Provimen- MPE-RO/Promotor de Justiça/2013; Cespe/TJ-RR/Titular de Serviços de Notas
to/2012; Cespe/TJ-AL/Juiz/2008; Cespe/OAB-SP/2008; TJ-PR/Juiz/2010; TJDFT/ e de Registros/2013; MPE-SC/Promotor de Justiça/2013; MPE-MT/Promotor
Juiz/2011. de Justiça/2012.

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tráfico de drogas ter sido praticado no intuito de introduzir tal se proceda, observado o disposto no art. 26 desta Lei. Este
substâncias ilícitas em estabelecimento prisional, por si só, artigo versa que o usuário e o dependente de drogas que, em
não impede a substituição da pena privativa de liberdade razão da prática de infração penal, estiverem cumprindo pena
por restritivas de direitos, devendo essa circunstância ser privativa de liberdade ou submetidos a medida de segurança,
ponderada com os demais requisitos necessários para a têm garantidos os serviços de atenção à sua saúde, definidos
concessão da benesse. (Jurisprudência noticiada no Informa- pelo respectivo sistema penitenciário (art. 47).
tivo nº 536 do STJ – AgRg no REsp 1359941/DF, Rel. Ministro
Sebastião Reis Júnior, Sexta Turma, julgado em 4/2/2014, Do procedimento penal
DJe 20/2/2014)
Aliás, a vedação à liberdade provisória também já foi Os procedimentos dos crimes serão regidos pelas normas
declarada inconstitucional no HC nº 104.339 (O Plenário do que passaremos a analisar aqui, com aplicação subsidiária do
Supremo Tribunal Federal declarou a inconstitucionalidade Código de Processo Penal e da Lei de Execução Penal (art. 48).
da vedação legal à concessão de liberdade provisória para A lei de drogas prevê, com relação ao delito do artigo 28,
réu preso em flagrante por tráfico de entorpecentes, enun- que será processado e julgado na forma da lei de juizados
ciada no art. 44 da Lei nº 11.343/2006 (HC nº 104.339, Rel. especial criminal, salvo se houver concurso com os crimes
Min. Gilmar Mendes)504. previstos nos artigos 33 a 37508 (art. 48 e § 1º).
Vale ressaltar, ainda, que a previsão de regime inicial- Ainda sobre o delito do artigo 28, a conduta não impor-
mente fechado para os crimes hediondos e os equiparados tará em prisão em flagrante, devendo o autor do fato ser
(aqui se insere o crime de tráfico de drogas), prevista no imediatamente encaminhado ao juízo competente ou, na
art. 2º, § 2º da Lei nº 8.072/1990, também já teve sua in- falta deste, assumir o compromisso de a ele comparecer,
constitucionalidade declarada pelo STF no HC nº 111.840/ES.
lavrando-se termo circunstanciado e providenciando-se
(Jurisprudência do STF – HC nº 111840, Relator(a): Min. Dias
as requisições dos exames e perícias necessários509. Caso
Toffoli, Tribunal Pleno, julgado em 27/6/2012, Processo Ele-
a autoridade judicial estiver ausente, essas providências
trônico DJe-249, divulg. 16-12-2013, public. 17/12/2013)
podem ser tomadas de imediato pela autoridade policial,
Sobre o indulto, o STF entende que os crimes hedion-
dos e os equiparados (aqui se insere o tráfico de drogas) no local em que se encontrar, vedada a detenção do agente
são insuscetíveis ao indulto, não sendo possível ser conce- (art. 48, §§ 2º e 3º). Após a conclusão desses procedimen-
dido nem mesmo o indulto humanitário. (Jurisprudência tos, o agente será submetido a exame de corpo de delito,
noticiada no Informativo nº 745 do STF – HC nº 118213, se o requerer ou se a autoridade de polícia judiciária en-
Relator(a): Min. Gilmar Mendes, Segunda Turma, julgado em tender conveniente, e em seguida liberado. Para fins de
6/5/2014, Processo Eletrônico DJe-149, divulg. 1/8/2014, transação penal, prevista no artigo 76 da Lei nº 9.099, o
public. 4/8/2014) Ministério Público pode propor a aplicação imediata de
pena prevista no art. 28 desta Lei, a ser especificada na
Inimputabilidade e semi-imputabilidade proposta510 (art. 48, § 5º).
Quando se tratarem de condutas tipificadas nos arts.
Será isento de pena o agente que, em razão da depen- 33, caput e § 1o, e 34 a 37 desta Lei, o juiz, sempre que as
dência, ou sob o efeito, proveniente de caso fortuito ou circunstâncias o recomendem, empregará os instrumentos
força maior, de droga, era, ao tempo da ação ou da omis- protetivos de colaboradores e testemunhas previstos na Lei
são, qualquer que tenha sido a infração penal praticada, no 9.807, de 13 de julho de 1999 (art. 49).
inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato
ou de determinar-se de acordo com esse entendimento505 Da Investigação
(art. 45). Quanto este agente for absolvido, sendo reco-
nhecido por perícia que apresentava, à época dos fatos, as Da prisão em flagrante
condições aqui referidas, o juiz pode determinar na senten-
ça o encaminhamento para tratamento médico506 (art. 45, Ocorrendo prisão em flagrante, a autoridade de polícia
parágrafo único). Com relação à semi-imputabilidade, que judiciária fará, imediatamente, comunicação ao juiz compe-
ocorre quando o agente não possuía, ao tempo da ação tente, remetendo-lhe cópia do auto lavrado, do qual será
ou da omissão, a plena capacidade de entender o caráter dada vista ao órgão do Ministério Público, em 24 (vinte
ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse en- e quatro) horas511. É suficiente o laudo de constatação da
tendimento, as penas podem ser reduzidas de um a dois
natureza e quantidade da droga, firmado por perito oficial
terços507 (art. 46).
ou, na falta deste, por pessoa idônea, para efeito da la-
vratura do auto de prisão em flagrante e estabelecimento
Da sentença condenatória
da materialidade do delito512 (art. 50 e § 1º). O perito que
Na sentença condenatória, o juiz, com base em avaliação subscrever esse laudo não ficará impedido de participar da
que ateste a necessidade de encaminhamento do agente elaboração do laudo definitivo (art. 50, § 2º).
para tratamento, realizada por profissional de saúde com
competência específica na forma da lei, determinará que a 508
Assunto cobrado nas seguintes provas: Funcab/PC-RO/Delegado de Polí-
Legislação Especial

cia/2009; FCC/MPE-SE/Analista/2010.
509
Assunto cobrado nas seguintes provas: UEPA/PC-PA/Delegado de Polícia/2013;
504
Assunto cobrado na prova: Cespe/TJ-SE/Titular de Serviços de Notas e de Fumarc/TJ-MG/Titular de Serviços de Notas e de Registros/2012; Cespe/DPE-
Registros/2014. -ES/Defensor Público/2009; Cespe/PC-PB/Delegado de Polícia/2009; Cespe/
505
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/TJ-RR/Titular de Serviços de PC-ES/Delegado de Polícia/2011; FCC/MPE-SE/Analista/2010; FCC/MPE-SE/
Notas e de Registros/2013; FCC/MPE-AL/Promotor de Justiça/2012; FCC/ Analista/2010.
MPE-AP/Promotor de Justiça/2012; Cespe/OAB-SP/2008; Cespe/Polícia Fe- 510
Assunto cobrado na prova: FCC/MPE-SE/Analista/2010
deral/Agente/2009; Movens/PC-PA/Delegado de Polícia/2009; Cespe/DPF/ 511
Assunto cobrado na prova: Cespe/PC-PB/Agente de Investigação e Agente de
Agente/2009. Polícia/2009.
506
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/TRF 5ª Região/Juiz Federal/2009; 512
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/TJ-AL/Juiz/2008; Cespe/PC-PB/
FCC/MPE-RS/Secretário de Diligências/2010. Agente de Investigação e Agente de Polícia/2009; Cespe/PC-PB/Delegado de
507
Assunto cobrado na prova: Vunesp/TJ-RJ/Juiz/2013; FCC/TJ-PE/Juiz/2011. Polícia/2009; Funcab/PC-RO/Delegado de Polícia/2009.

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Após recebida cópia do auto de prisão em flagrante, o em lei, mediante autorização judicial e ouvido o Ministério
juiz, no prazo de 10 dias, certificará a regularidade formal do Público, a infiltração por agentes de polícia, em tarefas de
laudo de constatação e determinará a destruição das drogas investigação, constituída pelos órgãos especializados per-
apreendidas, guardando-se amostra necessária à realização tinentes517 e a não atuação policial sobre os portadores de
do laudo definitivo (art. 50, § 3º). drogas, seus precursores químicos ou outros produtos uti-
lizados em sua produção, que se encontrem no território
Da destruição das drogas apreendidas brasileiro, com a finalidade de identificar e responsabilizar
maior número de integrantes de operações de tráfico e dis-
A destruição das drogas será executada pelo delega- tribuição, sem prejuízo da ação penal cabível518 (art. 53, inci-
do de polícia competente no prazo de 15 (quinze) dias na sos I e II). Nesta hipótese de não atuação, a autorização será
presença do Ministério Público e da autoridade sanitária513 concedida desde que sejam conhecidos o itinerário provável
(art. 50, § 4º). O local será vistoriado antes e depois de efe- e a identificação dos agentes do delito ou de colaboradores
tivada a destruição das drogas, e será lavrado auto circuns- (art. 53, parágrafo único).
tanciado pelo delegado de polícia, certificando-se neste a
destruição total delas (art. 50, § 5º). Da Instrução Criminal
Com relação à destruição de drogas apreendidas sem a
ocorrência de prisão em flagrante, esta será feita por incine- Recebidos em juízo os autos do inquérito policial, de
ração, no prazo máximo de 30 (trinta) dias contado da data Comissão Parlamentar de Inquérito ou peças de informa-
da apreensão, guardando-se amostra necessária à realização ção, será dado vista ao Ministério Público para, no prazo
do laudo definitivo, aplicando-se, no que couber, o procedi- de 10 (dez) dias, adotar uma das seguintes providências:
mento descrito no parágrafo acima (art. 50-A). requerer o arquivamento; requisitar as diligências que en-
tender necessárias; oferecer denúncia, arrolar até 5 (cinco)
Prazo do inquérito policial na lei de drogas testemunhas e requerer as demais provas que entender
pertinentes519 (art. 54, incisos I, II e III).
O inquérito policial, com relação aos crimes previstos
na lei de drogas, será concluído no prazo de 30 (trinta) Da denúncia e resposta preliminar
dias, se o indiciado estiver preso, e de 90 (noventa) dias,
quando solto. Estes prazos podem ser duplicados pelo juiz, Após oferecida a denúncia, o juiz ordenará a notifica-
ouvido o Ministério Público, mediante pedido justificado ção do acusado para oferecer defesa prévia, por escrito,
da autoridade de polícia judiciária514 (art. 51 e parágrafo no prazo de 10 (dez) dias520 (art. 55). Na resposta, que con-
único). Ao término desses prazos, a autoridade de polícia siste em defesa preliminar e exceções, o acusado poderá
judiciária, remetendo os autos do inquérito ao juízo, rela- arguir preliminares e invocar todas as razões de defesa,
tará sumariamente as circunstâncias do fato, justificando oferecer documentos e justificações, especificar as provas
as razões que a levaram à classificação do delito515, indican- que pretende produzir e, até o número de 5 (cinco), arrolar
do a quantidade e natureza da substância ou do produto testemunhas521 (art. 55, § 1º). As exceções arguidas serão
apreendido, o local e as condições em que se desenvolveu processadas em autos apartados, conforme artigos 95 a 113
a ação criminosa, as circunstâncias da prisão, a conduta, a do Código de Processo Penal (art. 55, § 2º).
qualificação e os antecedentes do agente516; ou requererá Caso não seja apresentada resposta, o juiz nomeará
sua devolução para a realização de diligências necessárias defensor para oferecê-la em 10 (dez) dias, concedendo-
(art. 52, incisos I e II). -lhe vista dos autos no ato de nomeação (art. 55, § 3º).
Ocorre que a remessa dos autos far-se-á sem prejuízo Após apresentada a defesa, o juiz terá o prazo de 5 (cinco)
de diligências complementares necessárias ou úteis à plena dias para decidir (art. 55, § 4º). Entendendo imprescindível,
elucidação do fato, cujo resultado deverá ser encaminhado o juiz determinará, no prazo máximo de 10 (dez) dias), a
ao juízo competente até 3 (três) dias antes da audiência de apresentação do preso, realização de diligências, exames
instrução e julgamento; e sem prejuízo de diligências comple- e perícias (art. 55, § 5º).
mentares necessárias ou úteis à indicação dos bens, direitos Se o juiz receber a denúncia, ele designará dia e hora
e valores de que seja titular o agente, ou que figurem em para a audiência de instrução e julgamento, ordenará a
seu nome, cujo resultado deverá ser encaminhado ao juízo citação pessoal do acusado, a intimação do Ministério Pú-
competente até 3 (três) dias antes da audiência de instrução blico, do assistente, se for o caso, e requisitará os laudos
e julgamento (art. 52, parágrafo único, incisos I e II). periciais (art. 56). Quando se tratar das condutas previstas
nos artigos 33, caput e § 1º, e 34 a 37 desta Lei, o juiz, ao
Infiltração de agentes e flagrante diferido ou ação receber a denúncia, poderá decretar o afastamento cau-
controlada telar do denunciado de suas atividades, se for funcionário
público, comunicando ao órgão respectivo522 (art. 56, § 1º).
Em qualquer fase da persecução criminal relativa aos cri-
mes previstos nesta Lei, são permitidos, além dos previstos 517
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/OAB-SP/2008; Cespe/TJ-AL/
Juiz/2008; Cespe/TRF 5ª Região/Juiz Federal/2009; FGV/PC-AP/Delegado de
Legislação Especial

Polícia/2010; Funcab/PC-RO/Delegado de Polícia/2009.


513
Assunto cobrado na prova: Acafe/PC-SC/Delegado de Polícia/2014. 518
Assunto cobrado na prova: Fumarc/TJ-MG/Titular de Serviços de Notas e de Re-
514
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/PC-AL/Delegado de Polícia/2012; gistros/2012; Cespe/TJ-AL/Juiz/2008; Cespe/PC-PB/Delegado de Polícia/2009.
Fumarc/TJ-MG/Titular de Serviços de Notas e de Registros/2012; Cespe/TJ-AL/ 519
Assunto cobrado nas seguintes provas: Ieses/TJ-MS/Titular de Serviços de
Juiz/2008; FCC/MPE-SE/Analista do Ministério Público/2009; Cespe/PC-PB/ Notas e de Registros/2014; TJ-DFT/TJ-DF/Juiz/2011.
Agente de Investigação e Agente de Polícia/2009; Cespe/PC-PB/Delegado 520
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/MPE-SE/Analista do Ministério
de Polícia/2009; TJ-PR/Juiz/2010; Funcab/PC-RO/Delegado de Polícia/2009; Público/2009; Cespe/DPE-AL/Defensor Público/2009; FCC/DPE-MT/Defensor
Funcab/PC-RO/Escrivão de Polícia Civil/2009; Movens/PC-PA/Delegado de Público/2009.
Polícia/2009; Cespe/PC-CE/Inspetor de Polícia/Civil/2012. 521
Assunto cobrado na prova: FCC/MPE-SE/Analista do Ministério Público/2009;
515
Assunto cobrado na prova: Cespe/PC-PB/Delegado de Polícia/2009. Funcab/PC-RO/Delegado de Polícia/2009.
516
Assunto cobrado nas seguintes provas: FGV/PC-AP/Delegado de Polícia/2010; 522
Assunto cobrado nas seguintes provas: FMP-RS/MPE-MT/Promotor de Justi-
Movens/PC-PA/Investigador/2009. ça/2008; Vunesp/TJ-SP/Juiz/2008.

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A audiência designada será realizada dentro dos 30 (trin- Ministério Público, poderá suspender a ordem de apreen-
ta) dias seguintes ao recebimento da denúncia, salvo se são ou sequestro de bens, direitos ou valores quando a sua
determinada a realização de avaliação para atestar depen- execução imediata possa comprometer as investigações526
dência de drogas, quando se realizará em 90 (noventa) dias (art. 60, § 4º).
(art. 56, § 2º). Se não houver prejuízo para a produção da prova dos
fatos e comprovado o interesse público ou social, mediante
Da audiência de instrução e julgamento autorização do juízo competente, ouvido o Ministério Pú-
blico e cientificada a Senad, os bens apreendidos poderão
Na audiência de instrução e julgamento, primeiro ocor- ser utilizados pelos órgãos ou pelas entidades que atuam na
rerá o interrogatório do acusado e depois a inquirição das prevenção do uso indevido, na atenção e reinserção social de
testemunhas. Após, será dada a palavra, sucessivamente, usuários e dependentes de drogas e na repressão à produção
ao representante do Ministério Público e ao defensor do não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas, exclusivamente
acusado, para sustentação oral, pelo prazo de 20 (vinte) no interesse dessas atividades. No caso de a autorização
minutos para cada um, prorrogável por mais 10 (dez), a cri- recair em autorização sobre veículos, embarcações ou aero-
tério do juiz (art. 57). Com relação ao interrogatório, após naves, o juiz ordenará à autoridade de trânsito ou ao equiva-
proceder a este, o juiz indagará das partes se restou algum lente órgão de registro e controle a expedição de certificado
fato para ser esclarecido, formulando as perguntas corres- provisório de registro e licenciamento, em favor da instituição
pondentes se o entender pertinente e relevante (art. 57, à qual tenha deferido o uso, ficando esta livre do pagamento
parágrafo único). O art. 57 da Lei de Drogas dispõe que de multas, encargos e tributos anteriores, até o trânsito em
o interrogatório ocorrerá em momento anterior à oitiva julgado da decisão que decretar o seu perdimento em favor
das testemunhas, diferentemente do que prevê o art. 400 da União (art. 61 e parágrafo único).
do Código de Processo Penal. Com esta observação, o STF Entretanto, essa autorização não pode recair sobre os
decidiu que o interrogatório na lei de drogas deve seguir o veículos, embarcações, aeronaves e quaisquer outros meios
rito descrito no artigo 57 da Lei nº 11.343. Assim, não há de transporte, os maquinários, utensílios, instrumentos e
qualquer nulidade em, seguindo o rito da lei de drogas, o objetos de qualquer natureza, utilizados para a prática dos
interrogatório do réu ocorrer antes da inquirição das teste- crimes definidos nesta lei (ressalva prevista no artigo 61,
munhas. (Jurisprudência noticiada no Informativo nº 750 do primeira parte). Isto porque estes bens aqui enumerados,
STF – RHC nº 116713, Relator(a): Min. Ricardo Lewandowski, após a sua regular apreensão, ficarão sob custódia da auto-
Segunda Turma, julgado em 11/6/2013, Processo Eletrônico ridade de polícia judiciária, excetuadas as armas, que serão
DJe-120, divulg. 21-06-2013, public. 24/6/2013) recolhidas na forma de legislação específica527 (art. 62). Se
Tendo sido encerrados os debates, o juiz pode proferir for comprovado interesse público na utilização de qualquer
sentença imediatamente ou pode proferir a sentença em 10 dos bens mencionados, a autoridade de polícia judiciária
(dez) dias, ordenando que os autos para isso lhe sejam con- poderá fazer uso deles, sob sua responsabilidade e com o
clusos (art. 58). No caso dos crimes do arts. 33, caput e § 1º, objetivo de sua conservação, mediante autorização judicial,
e 34 a 37 desta Lei, o réu não poderá apelar sem recolher- ouvido o Ministério Público (art. 62, § 1º).
-se à prisão, salvo se for primário e de bons antecedentes, Feita a apreensão de veículos, embarcações, aeronaves
assim reconhecido na sentença condenatória523 (art. 59). e quaisquer outros meios de transporte, os maquinários,
utensílios, instrumentos e objetos de qualquer natureza,
Da Apreensão, Arrecadação e Destinação de Bens utilizados para a prática dos crimes definidos nesta lei, e
do Acusado recaído sobre dinheiro ou cheques emitidos como ordem
de pagamento, a autoridade de polícia judiciária que pre-
O juiz, de ofício, a requerimento do Ministério Públi- sidir o inquérito deverá, de imediato, requerer ao juízo
co ou mediante representação da autoridade de polícia competente a intimação do Ministério Público528 (art. 62,
judiciária, ouvido o Ministério Público, havendo indícios § 2º). Quando intimado, o MP deve querer ao juízo em
suficientes, poderá decretar, no curso do inquérito ou da caráter cautelar a conversão do numerário apreendido em
ação penal, a apreensão e outras medidas assecurató- moeda nacional, se for o caso, a compensação dos cheques
rias relacionadas aos bens móveis e imóveis ou valores emitidos após a instrução do inquérito, com cópias autên-
consistentes em produtos dos crimes previstos nesta Lei, ticas dos respectivos títulos, e o depósito das correspon-
ou que constituam proveito auferido com sua prática, dentes quantias em conta judicial, juntando-se aos autos
procedendo-se na forma dos arts. 125 a 144 do Código o recibo (art. 62, § 3º).
de Processo Penal524 (art. 60). O Ministério Público, após a instauração da competen-
Sendo decretadas quaisquer dessas medidas assecura- te ação penal, e em peça autônoma, irá requerer ao juízo
tórias, é facultado pelo juiz ao acusado, no prazo de 5 (cin- competente que, em caráter cautelar, proceda à alienação
co) dias, que apresente ou requeira a produção de provas dos bens apreendidos, excetuados aqueles que a União, por
acerca da origem lícita do produto, bem ou valor objeto intermédio da Senad, indicar para serem colocados sob uso
da decisão (art. 60, § 1º). Se provada a origem lícita, o e custódia da autoridade de polícia judiciária, de órgãos de
Legislação Especial

juiz decidirá pela sua liberação (art. 60, § 2º). Ressalta-se inteligência ou militares, envolvidos nas ações de preven-
que nenhum pedido de restituição será conhecido sem o ção ao uso indevido de drogas e operações de repressão à
comparecimento pessoal do acusado, e o juiz pode de- produção não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas, ex-
terminar a prática de atos necessários à conservação de
bens, direitos ou valores525 (art. 60, § 3º). O juiz, ouvido o 526
Assunto cobrado na prova: PC-SP/PC-SP/Delegado de Polícia/2011.
527
Assunto cobrado nas seguintes provas: Acafe/PC-SC/Delegado de Polícia/2014;
523
Assunto cobrado na prova: FCC/MPE-SE/Analista/2009. FMP-RS/MPE-MT/Promotor de Justiça/2008; PC-SP/PC-SP/Delegado de Polí-
524
Assunto cobrado na prova: Cespe/MPU/Analista Processual/2010. cia/2011.
525
Assunto cobrado na prova: PC-SP/PC-SP/Delegado de Polícia/2011. 528
Assunto cobrado na prova: Acafe/PC-SC/Delegado de Polícia/2014.

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clusivamente no interesse dessas atividades (art. 62, § 4º). dependentes e a atuação na repressão à produção não au-
Ressalvados esses bens, o requerimento de alienação deverá torizada e ao tráfico ilícito de drogas, com vistas na libera-
conter a relação de todos os demais bens apreendidos, com a ção de equipamentos e de recursos por ela arrecadados,
descrição e a especificação de cada um deles, e informações para a implantação e execução de programas relacionados
sobre quem os tem sob custódia e o local onde se encontram à questão das drogas (art. 64).
(art. 62, § 5º).
Essa petição que requer a alienação dos bens será autua- Da Cooperação Internacional
da em apartado, cujos autos terão tramitação autônoma em
relação aos da ação penal principal (art. 62, § 6º). Após isto, De conformidade com os princípios da não intervenção
os autos serão conclusos ao juiz, que, verificada a presença em assuntos internos, da igualdade jurídica e do respeito à in-
de nexo de instrumentalidade entre o delito e os objetos tegridade territorial dos Estados e às leis e aos regulamentos
utilizados para a sua prática e risco de perda de valor eco- nacionais em vigor, e observado o espírito das Convenções
nômico pelo decurso do tempo, determinará a avaliação dos das Nações Unidas e outros instrumentos jurídicos interna-
bens relacionados, cientificará a Senad e intimará a União, cionais relacionados à questão das drogas, de que o Brasil é
o Ministério Público e o interessado, este, se for o caso, por parte, o governo brasileiro prestará, quando solicitado, coo-
edital com prazo de 5 (cinco) dias (art. 62, § 7º). peração a outros países e organismos internacionais. Quando
Depois de feita a avaliação e dirimidas eventuais di- necessário, o governo brasileiro solicitará a colaboração deles
vergências sobre o respectivo laudo, o juiz, por sentença, nas áreas de intercâmbio de informações sobre legislações,
homologará o valor atribuído aos bens e determinará que experiências, projetos e programas voltados para atividades
sejam alienados em leilão (art. 62, § 8º). Ocorrido o leilão, de prevenção do uso indevido, de atenção e de reinserção
a quantia apurada ficará em conta judicial até o final da social de usuários e dependentes de drogas; intercâmbio
ação penal respectiva, quando será transferida ao Funad, de inteligência policial sobre produção e tráfico de drogas e
juntamente com os valores de que trata o § 3o do art. 60 delitos conexos, em especial o tráfico de armas, a lavagem
(art. 60, § 9º). de dinheiro e o desvio de precursores químicos; e intercâm-
Anote-se que os recursos com relação aos procedimen- bio de informações policiais e judiciais sobre produtores e
tos descritos aqui neste tópico terão efeito devolutivo (art. traficantes de drogas e seus precursores químicos (art. 65,
62, § 10). Ademais, quanto aos bens apreendidos, excetu- incisos I, II e III).
ados aqueles que a União, indicados conforme o § 4º do
art. 62, se recair a autorização sobre veículos, embarcações Disposições Finais e Transitórias
ou aeronaves, o juiz ordenará à autoridade de trânsito ou
ao equivalente órgão de registro e controle a expedição de
Nas disposições finais e transitórias, a lei de drogas versa
certificado provisório de registro e licenciamento, em favor
que, até que seja atualizada a terminologia da lista de que
da autoridade de polícia judiciária ou órgão aos quais tenha
quais substâncias serão consideradas drogas, serão deno-
deferido o uso, ficando estes livres do pagamento de multas,
minadas drogas substâncias entorpecentes, psicotrópicas,
encargos e tributos anteriores, até o trânsito em julgado da
precursoras e outras sob controle especial, da Portaria SVS/
decisão que decretar o seu perdimento em favor da União
MS no 344, de 12 de maio de 1998 (art. 66). Ressaltamos
(art. 62, § 11).
que esta lista já existe, é elaborada pela Anvisa por meio
de portaria.
Da sentença
Prevê, ainda, que a liberação dos recursos previstos na
Lei no 7.560/1986 (esta lei cria o Fundo de Prevenção, Recu-
No momento em que proferir a sentença, o juiz decidirá
peração e de Combate às Drogas de Abuso, dispõe sobre os
sobre o perdimento do produto, bem ou valor apreendido,
bens apreendidos e adquiridos com produtos de tráfico ilícito
sequestrado ou declarado indisponível (art. 63). Os valores
apreendidos em decorrência dos crimes tipificados na lei de drogas ou atividades correlatas, e dá outras providên-
de drogas e que não forem objeto de tutela cautelar, após cias), em favor de Estados e do Distrito Federal, dependerá
decretado o seu perdimento em favor da União, serão re- de sua adesão e respeito às diretrizes básicas contidas nos
vertidos diretamente ao Funad (art. 63, § 1º). convênios firmados e do fornecimento de dados necessários
É de competência do Senad a alienação dos bens apreen- à atualização do sistema previsto no art. 17 desta Lei, pelas
didos e não leiloados em caráter cautelar, cujo perdimento respectivas polícias judiciárias (art. 67).
já tenha sido decretado em favor da União (art. 63, § 2º). Há, também, a previsão de que a União, os Estados, o
Para isso, poderá firmar convênios de cooperação, a fim Distrito Federal e os Municípios poderão criar estímulos
de dar imediato cumprimento da alienação aqui referida fiscais e outros, destinados às pessoas físicas e jurídicas
(art. 63, § 3º). que colaborem na prevenção do uso indevido de drogas,
Depois do trânsito em julgado da sentença condenatória, atenção e reinserção social de usuários e dependentes e na
o juiz do processo, de ofício ou a requerimento do Ministério repressão da produção não autorizada e do tráfico ilícito de
Público, remeterá à Senad relação dos bens, direitos e valores drogas (art. 68).
Legislação Especial

declarados perdidos em favor da União, indicando, quanto No caso de falência ou liquidação extrajudicial de em-
aos bens, o local em que se encontram e a entidade ou o presas ou estabelecimentos hospitalares, de pesquisa, de
órgão em cujo poder estejam, para os fins de sua destinação ensino, ou congêneres, assim como nos serviços de saúde
nos termos da legislação vigente (art. 63, § 4º). que produzirem, venderem, adquirirem, consumirem, pres-
Por intermédio do Senad, a União poderá firmar con- creverem ou fornecerem drogas ou de qualquer outro em
vênio com os Estados, com o Distrito Federal e com or- que existam essas substâncias ou produtos, incumbe ao juízo
ganismos orientados para a prevenção do uso indevido perante o qual tramite o feito determinar, imediatamente à
de drogas, a atenção e a reinserção social de usuários ou ciência da falência ou liquidação, sejam lacradas suas insta-

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lações; ordenar à autoridade sanitária competente a urgente Lei nº 11.343, de 23 de Agosto de 2006
adoção das medidas necessárias ao recebimento e guarda,
em depósito, das drogas arrecadadas e dar ciência ao órgão Institui o Sistema Nacional de
do Ministério Público, para acompanhar o feito (art. 69, in- Políticas Públicas sobre Drogas –
cisos I, II e III). Sisnad; prescreve medidas para
Com relação à licitação para alienação de substâncias ou prevenção do uso indevido, aten-
produtos não proscritos arrecadados, só podem participar ção e reinserção social de usuários
pessoas jurídicas regularmente habilitadas na área de saúde e dependentes de drogas; estabe-
ou de pesquisa científica que comprovem a destinação lícita lece normas para repressão à pro-
a ser dada ao produto a ser arrematado (art. 69, § 1º). O dução não autorizada e ao tráfico
produto não arrematado será, ato contínuo à hasta pública, ilícito de drogas; define crimes e
dá outras providências.
destruído pela autoridade sanitária, na presença dos Con-
selhos Estaduais sobre Drogas e do Ministério Público (art. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso
69, § 2º), ressalvadas as especialidades farmacêuticas em Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
condições de emprego terapêutico, ficarão elas depositadas
sob a guarda do Ministério da Saúde, que as destinará à rede TÍTULO I
pública de saúde (art. 69, § 3º). DISPOSIÇÕES PRELIMINARES

Da competência para processo e julgamento Art. 1o Esta Lei institui o Sistema Nacional de Políticas
Públicas sobre Drogas – Sisnad; prescreve medidas para
Ressalta-se aqui que, em regra, a competência para o prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social de
processo e julgamento dos delitos previstos nos artigo 33 usuários e dependentes de drogas; estabelece normas para
a 37 é da Justiça Estadual529. Ocorre que, se caracterizado repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de
ilícito transnacional, serão de competência da Justiça Federal drogas e define crimes.
(art. 70). Ainda sobre a competência, o tráfico de drogas Parágrafo único. Para fins desta Lei, consideram-se como
transnacional, praticado nos Municípios que não sejam sede drogas as substâncias ou os produtos capazes de causar de-
de vara federal, serão processados e julgados na vara fede- pendência, assim especificados em lei ou relacionados em
ral da circunscrição respectiva530 (art. 70, parágrafo único). listas atualizadas periodicamente pelo Poder Executivo da
União.
Sobre o assunto, tem-se a Súmula nº 522 do STF que versa
Art. 2o Ficam proibidas, em todo o território nacional, as
que salvo ocorrência de tráfico para o exterior, quando, en-
drogas, bem como o plantio, a cultura, a colheita e a explora-
tão, a competência será da justiça federal, compete à justiça ção de vegetais e substratos dos quais possam ser extraídas
dos estados o processo e julgamento dos crimes relativos a ou produzidas drogas, ressalvada a hipótese de autorização
entorpecentes. legal ou regulamentar, bem como o que estabelece a Conven-
Destaca-se que o comércio ilegal de drogas envolven- ção de Viena, das Nações Unidas, sobre Substâncias Psico-
do mais de um estado faz surgir o tráfico interestadual trópicas, de 1971, a respeito de plantas de uso estritamente
de entorpecentes, deslocando-se a competência para ritualístico-religioso.
apuração e atuação da Polícia Federal, todavia, a com- Parágrafo único. Pode a União autorizar o plantio, a cul-
petência para processar e julgar o criminoso continua a tura e a colheita dos vegetais referidos no caput deste artigo,
ser da justiça estadual531. Ademais, o STJ já decidiu que, exclusivamente para fins medicinais ou científicos, em local
em relação à remessa de substâncias entorpecentes – e prazo predeterminados, mediante fiscalização, respeitadas
por via postal ou qualquer outro meio de transporte – a as ressalvas supramencionadas.
competência para os atos investigatórios e para processar
e julgar a ação penal correspondente é do juízo do lugar TÍTULO II
onde ocorreu a sua apreensão. (Jurisprudência noticiada DO SISTEMA NACIONAL DE
no Informativo nº 543 do STJ – CC nº 132.897/PR, Rel. POLÍTICAS PÚBLICAS SOBRE DROGAS
Ministro Rogerio Schietti Cruz, Terceira Seção, julgado em
Art. 3o O Sisnad tem a finalidade de articular, integrar,
28/5/2014, DJe 3/6/2014)
organizar e coordenar as atividades relacionadas com:
I – a prevenção do uso indevido, a atenção e a reinserção
Das disposições finais social de usuários e dependentes de drogas;
II – a repressão da produção não autorizada e do tráfico
Encerrado o processo penal ou arquivado o inquérito po- ilícito de drogas.
licial, o juiz, de ofício, mediante representação do delegado
de polícia ou a requerimento do Ministério Público, determi- CAPÍTULO I
nará a destruição das amostras guardadas para contraprova, Dos Princípios e dos Objetivos do Sistema
sendo isso certificado nos autos (art. 72). Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas
Por fim, a União poderá estabelecer convênios com os
Legislação Especial

Estados e o com o Distrito Federal, visando à prevenção e Art. 4o São princípios do Sisnad:
repressão do tráfico ilícito e do uso indevido de drogas, e I – o respeito aos direitos fundamentais da pessoa huma-
com os Municípios, com o objetivo de prevenir o uso inde- na, especialmente quanto à sua autonomia e à sua liberdade;
vido delas e de possibilitar a atenção e reinserção social de II – o respeito à diversidade e às especificidades popu-
usuários e dependentes de drogas (art. 73). lacionais existentes;
III – a promoção dos valores éticos, culturais e de cida-
dania do povo brasileiro, reconhecendo-os como fatores de
529
Assunto cobrado na prova: FMP-RS/MPE-MT/Promotor de Justiça/2008. proteção para o uso indevido de drogas e outros comporta-
530
FMP-RS/MPE-MT/Promotor de Justiça/2008.
531
Cespe/PC-AL/Delegado de Polícia/2012. mentos correlacionados;

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IV – a promoção de consensos nacionais, de ampla par- Art. 16. As instituições com atuação nas áreas da atenção
ticipação social, para o estabelecimento dos fundamentos à saúde e da assistência social que atendam usuários ou de-
e estratégias do Sisnad; pendentes de drogas devem comunicar ao órgão competente
V – a promoção da responsabilidade compartilhada entre do respectivo sistema municipal de saúde os casos atendidos
Estado e Sociedade, reconhecendo a importância da partici- e os óbitos ocorridos, preservando a identidade das pessoas,
pação social nas atividades do Sisnad; conforme orientações emanadas da União.
VI – o reconhecimento da intersetorialidade dos fatores Art. 17. Os dados estatísticos nacionais de repressão ao
correlacionados com o uso indevido de drogas, com a sua tráfico ilícito de drogas integrarão sistema de informações
produção não autorizada e o seu tráfico ilícito; do Poder Executivo.
VII – a integração das estratégias nacionais e interna-
cionais de prevenção do uso indevido, atenção e reinserção TÍTULO III
social de usuários e dependentes de drogas e de repressão Das Atividades de Prevenção do
à sua produção não autorizada e ao seu tráfico ilícito; Uso Indevido, Atenção e Reinserção Social
VIII – a articulação com os órgãos do Ministério Público de Usuários e Dependentes de Drogas
e dos Poderes Legislativo e Judiciário visando à cooperação
mútua nas atividades do Sisnad; CAPÍTULO I
IX – a adoção de abordagem multidisciplinar que reco- Da Prevenção
nheça a interdependência e a natureza complementar das
atividades de prevenção do uso indevido, atenção e reinser- Art. 18. Constituem atividades de prevenção do uso in-
ção social de usuários e dependentes de drogas, repressão devido de drogas, para efeito desta Lei, aquelas direcionadas
da produção não autorizada e do tráfico ilícito de drogas; para a redução dos fatores de vulnerabilidade e risco e para
X – a observância do equilíbrio entre as atividades de a promoção e o fortalecimento dos fatores de proteção.
prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social de Art. 19. As atividades de prevenção do uso indevido de
usuários e dependentes de drogas e de repressão à sua drogas devem observar os seguintes princípios e diretrizes:
produção não autorizada e ao seu tráfico ilícito, visando a I – o reconhecimento do uso indevido de drogas como
garantir a estabilidade e o bem-estar social; fator de interferência na qualidade de vida do indivíduo e na
XI – a observância às orientações e normas emanadas
sua relação com a comunidade à qual pertence;
do Conselho Nacional Antidrogas – Conad.
II – a adoção de conceitos objetivos e de fundamenta-
Art. 5o O Sisnad tem os seguintes objetivos:
ção científica como forma de orientar as ações dos serviços
I – contribuir para a inclusão social do cidadão, visando
públicos comunitários e privados e de evitar preconceitos e
a torná-lo menos vulnerável a assumir comportamentos de
estigmatização das pessoas e dos serviços que as atendam;
risco para o uso indevido de drogas, seu tráfico ilícito e outros
comportamentos correlacionados; III – o fortalecimento da autonomia e da responsabilidade
II – promover a construção e a socialização do conheci- individual em relação ao uso indevido de drogas;
mento sobre drogas no país; IV – o compartilhamento de responsabilidades e a cola-
III – promover a integração entre as políticas de preven- boração mútua com as instituições do setor privado e com
ção do uso indevido, atenção e reinserção social de usuários os diversos segmentos sociais, incluindo usuários e depen-
e dependentes de drogas e de repressão à sua produção não dentes de drogas e respectivos familiares, por meio do es-
autorizada e ao tráfico ilícito e as políticas públicas setoriais tabelecimento de parcerias;
dos órgãos do Poder Executivo da União, Distrito Federal, V – a adoção de estratégias preventivas diferenciadas
Estados e Municípios; e adequadas às especificidades socioculturais das diversas
IV – assegurar as condições para a coordenação, a inte- populações, bem como das diferentes drogas utilizadas;
gração e a articulação das atividades de que trata o art. 3o VI – o reconhecimento do “não-uso”, do “retardamento
desta Lei. do uso” e da redução de riscos como resultados desejáveis
das atividades de natureza preventiva, quando da definição
CAPÍTULO II dos objetivos a serem alcançados;
Da Composição e da Organização do VII – o tratamento especial dirigido às parcelas mais vul-
Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas neráveis da população, levando em consideração as suas
necessidades específicas;
Art. 6o (Vetado). VIII – a articulação entre os serviços e organizações que
Art. 7o A organização do Sisnad assegura a orientação atuam em atividades de prevenção do uso indevido de drogas
central e a execução descentralizada das atividades realiza- e a rede de atenção a usuários e dependentes de drogas e
das em seu âmbito, nas esferas federal, distrital, estadual e respectivos familiares;
municipal e se constitui matéria definida no regulamento IX – o investimento em alternativas esportivas, culturais,
desta Lei. artísticas, profissionais, entre outras, como forma de inclusão
Art. 8o (Vetado). social e de melhoria da qualidade de vida;
X – o estabelecimento de políticas de formação continu-
CAPÍTULO III ada na área da prevenção do uso indevido de drogas para
Legislação Especial

(Vetado) profissionais de educação nos 3 (três) níveis de ensino;


XI – a implantação de projetos pedagógicos de prevenção
Arts. 9o a 14. (Vetados). do uso indevido de drogas, nas instituições de ensino público
e privado, alinhados às Diretrizes Curriculares Nacionais e
CAPÍTULO IV aos conhecimentos relacionados a drogas;
Da Coleta, Análise e Disseminação XII – a observância das orientações e normas emanadas
de Informações sobre Drogas do Conad;
XIII – o alinhamento às diretrizes dos órgãos de controle
Art. 15. (Vetado). social de políticas setoriais específicas.

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Parágrafo único. As atividades de prevenção do uso in- tuídas a qualquer tempo, ouvidos o Ministério Público e o
devido de drogas dirigidas à criança e ao adolescente deve- defensor.
rão estar em consonância com as diretrizes emanadas pelo Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, trans-
Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente portar ou trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas sem
– Conanda. autorização ou em desacordo com determinação legal ou
regulamentar será submetido às seguintes penas:
CAPÍTULO II I – advertência sobre os efeitos das drogas;
Das Atividades de Atenção e de Reinserção II – prestação de serviços à comunidade;
Social de Usuários ou Dependentes de Drogas III – medida educativa de comparecimento a programa
ou curso educativo.
Art. 20. Constituem atividades de atenção ao usuário e § 1o Às mesmas medidas submete-se quem, para seu
dependente de drogas e respectivos familiares, para efeito consumo pessoal, semeia, cultiva ou colhe plantas destina-
desta Lei, aquelas que visem à melhoria da qualidade de das à preparação de pequena quantidade de substância ou
vida e à redução dos riscos e dos danos associados ao uso produto capaz de causar dependência física ou psíquica.
de drogas. § 2o Para determinar se a droga destinava-se a consu-
Art. 21. Constituem atividades de reinserção social do mo pessoal, o juiz atenderá à natureza e à quantidade da
usuário ou do dependente de drogas e respectivos fami- substância apreendida, ao local e às condições em que se
liares, para efeito desta Lei, aquelas direcionadas para sua desenvolveu a ação, às circunstâncias sociais e pessoais, bem
integração ou reintegração em redes sociais. como à conduta e aos antecedentes do agente.
Art. 22. As atividades de atenção e as de reinserção social § 3o As penas previstas nos incisos II e III do caput deste
do usuário e do dependente de drogas e respectivos fami- artigo serão aplicadas pelo prazo máximo de 5 (cinco) meses.
liares devem observar os seguintes princípios e diretrizes: § 4o Em caso de reincidência, as penas previstas nos in-
I – respeito ao usuário e ao dependente de drogas, in- cisos II e III do caput deste artigo serão aplicadas pelo prazo
dependentemente de quaisquer condições, observados os máximo de 10 (dez) meses.
direitos fundamentais da pessoa humana, os princípios e § 5o A prestação de serviços à comunidade será cumprida
diretrizes do Sistema Único de Saúde e da Política Nacional em programas comunitários, entidades educacionais ou as-
de Assistência Social; sistenciais, hospitais, estabelecimentos congêneres, públicos
II – a adoção de estratégias diferenciadas de atenção e ou privados sem fins lucrativos, que se ocupem, preferen-
reinserção social do usuário e do dependente de drogas e cialmente, da prevenção do consumo ou da recuperação de
respectivos familiares que considerem as suas peculiaridades usuários e dependentes de drogas.
socioculturais; § 6o Para garantia do cumprimento das medidas educati-
III – definição de projeto terapêutico individualizado, vas a que se refere o caput, nos incisos I, II e III, a que injus-
orientado para a inclusão social e para a redução de riscos tificadamente se recuse o agente, poderá o juiz submetê-lo,
e de danos sociais e à saúde; sucessivamente a:
IV – atenção ao usuário ou dependente de drogas e aos I – admoestação verbal;
respectivos familiares, sempre que possível, de forma mul- II – multa.
tidisciplinar e por equipes multiprofissionais; § 7o O juiz determinará ao Poder Público que coloque à
V – observância das orientações e normas emanadas do disposição do infrator, gratuitamente, estabelecimento de
Conad; saúde, preferencialmente ambulatorial, para tratamento
VI – o alinhamento às diretrizes dos órgãos de controle especializado.
social de políticas setoriais específicas. Art. 29. Na imposição da medida educativa a que se re-
Art. 23. As redes dos serviços de saúde da União, dos fere o inciso II do § 6o do art. 28, o juiz, atendendo à repro-
Estados, do Distrito Federal, dos Municípios desenvolverão vabilidade da conduta, fixará o número de dias-multa, em
programas de atenção ao usuário e ao dependente de drogas, quantidade nunca inferior a 40 (quarenta) nem superior a 100
respeitadas as diretrizes do Ministério da Saúde e os princí- (cem), atribuindo depois a cada um, segundo a capacidade
pios explicitados no art. 22 desta Lei, obrigatória a previsão econômica do agente, o valor de um trinta avos até 3 (três)
orçamentária adequada. vezes o valor do maior salário mínimo.
Art. 24. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Mu- Parágrafo único. Os valores decorrentes da imposição
nicípios poderão conceder benefícios às instituições privadas da multa a que se refere o § 6o do art. 28 serão creditados à
que desenvolverem programas de reinserção no mercado de conta do Fundo Nacional Antidrogas.
trabalho, do usuário e do dependente de drogas encaminha- Art. 30. Prescrevem em 2 (dois) anos a imposição e a
dos por órgão oficial. execução das penas, observado, no tocante à interrupção do
Art. 25. As instituições da sociedade civil, sem fins lu- prazo, o disposto nos arts. 107 e seguintes do Código Penal.
crativos, com atuação nas áreas da atenção à saúde e da
assistência social, que atendam usuários ou dependentes de TÍTULO IV
drogas poderão receber recursos do Funad, condicionados à DA REPRESSÃO À PRODUÇÃO NÃO
sua disponibilidade orçamentária e financeira. AUTORIZADA E AO TRÁFICO ILÍCITO DE DROGAS
Art. 26. O usuário e o dependente de drogas que, em
razão da prática de infração penal, estiverem cumprindo pena CAPÍTULO I
Legislação Especial

privativa de liberdade ou submetidos a medida de segurança, Disposições Gerais


têm garantidos os serviços de atenção à sua saúde, definidos
pelo respectivo sistema penitenciário. Art. 31. É indispensável a licença prévia da autoridade
competente para produzir, extrair, fabricar, transformar,
CAPÍTULO III preparar, possuir, manter em depósito, importar, exportar,
Dos Crimes e das Penas reexportar, remeter, transportar, expor, oferecer, vender,
comprar, trocar, ceder ou adquirir, para qualquer fim, drogas
Art. 27. As penas previstas neste Capítulo poderão ser ou matéria-prima destinada à sua preparação, observadas
aplicadas isolada ou cumulativamente, bem como substi- as demais exigências legais.

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Art. 32. As plantações ilícitas serão imediatamente des- guardar ou fornecer, ainda que gratuitamente, maquinário,
truídas pelo delegado de polícia na forma do art. 50-A, que aparelho, instrumento ou qualquer objeto destinado à fabri-
recolherá quantidade suficiente para exame pericial, de tudo cação, preparação, produção ou transformação de drogas,
lavrando auto de levantamento das condições encontradas, sem autorização ou em desacordo com determinação legal
com a delimitação do local, asseguradas as medidas neces- ou regulamentar:
sárias para a preservação da prova. (Redação dada pela Lei Pena – reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e pagamento
nº 12.961, de 2014) de 1.200 (mil e duzentos) a 2.000 (dois mil) dias-multa.
§ 1o (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 12.961, de Art. 35. Associarem-se duas ou mais pessoas para o fim
2014) de praticar, reiteradamente ou não, qualquer dos crimes
§ 2o (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 12.961, de previstos nos arts. 33, caput e § 1o, e 34 desta Lei:
2014) Pena – reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e pagamento
§ 3o Em caso de ser utilizada a queimada para destruir de 700 (setecentos) a 1.200 (mil e duzentos) dias-multa.
a plantação, observar-se-á, além das cautelas necessárias à Parágrafo único. Nas mesmas penas do caput deste artigo
proteção ao meio ambiente, o disposto no Decreto no 2.661, incorre quem se associa para a prática reiterada do crime
de 8 de julho de 1998, no que couber, dispensada a autori- definido no art. 36 desta Lei.
zação prévia do órgão próprio do Sistema Nacional do Meio Art. 36. Financiar ou custear a prática de qualquer dos
Ambiente – Sisnama. crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1o, e 34 desta Lei:
§ 4o As glebas cultivadas com plantações ilícitas serão ex- Pena – reclusão, de 8 (oito) a 20 (vinte) anos, e pagamento
propriadas, conforme o disposto no art. 243 da Constituição de 1.500 (mil e quinhentos) a 4.000 (quatro mil) dias-multa.
Federal, de acordo com a legislação em vigor. Art. 37. Colaborar, como informante, com grupo, orga-
nização ou associação destinados à prática de qualquer dos
CAPÍTULO II crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1o, e 34 desta Lei:
Dos Crimes Pena – reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e pagamento
de 300 (trezentos) a 700 (setecentos) dias-multa.
Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, Art. 38. Prescrever ou ministrar, culposamente, drogas,
fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em sem que delas necessite o paciente, ou fazê-lo em doses
depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, excessivas ou em desacordo com determinação legal ou re-
ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda gulamentar:
que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e
determinação legal ou regulamentar: pagamento de 50 (cinqüenta) a 200 (duzentos) dias-multa.
Pena – reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pa- Parágrafo único. O juiz comunicará a condenação ao
gamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) Conselho Federal da categoria profissional a que pertença
dias-multa. o agente.
§ 1o Nas mesmas penas incorre quem: Art. 39. Conduzir embarcação ou aeronave após o con-
I – importa, exporta, remete, produz, fabrica, adquire, sumo de drogas, expondo a dano potencial a incolumidade
vende, expõe à venda, oferece, fornece, tem em depósito, de outrem:
transporta, traz consigo ou guarda, ainda que gratuitamente, Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, além
sem autorização ou em desacordo com determinação legal da apreensão do veículo, cassação da habilitação respectiva
ou regulamentar, matéria-prima, insumo ou produto químico ou proibição de obtê-la, pelo mesmo prazo da pena privativa
destinado à preparação de drogas; de liberdade aplicada, e pagamento de 200 (duzentos) a 400
II – semeia, cultiva ou faz a colheita, sem autorização ou (quatrocentos) dias-multa.
em desacordo com determinação legal ou regulamentar, de Parágrafo único. As penas de prisão e multa, aplicadas
plantas que se constituam em matéria-prima para a prepa- cumulativamente com as demais, serão de 4 (quatro) a 6
ração de drogas; (seis) anos e de 400 (quatrocentos) a 600 (seiscentos) dias-
III – utiliza local ou bem de qualquer natureza de que tem -multa, se o veículo referido no caput deste artigo for de
a propriedade, posse, administração, guarda ou vigilância, transporte coletivo de passageiros.
ou consente que outrem dele se utilize, ainda que gratuita- Art. 40. As penas previstas nos arts. 33 a 37 desta Lei são
mente, sem autorização ou em desacordo com determinação aumentadas de um sexto a dois terços, se:
legal ou regulamentar, para o tráfico ilícito de drogas. I – a natureza, a procedência da substância ou do pro-
§ 2o Induzir, instigar ou auxiliar alguém ao uso indevido duto apreendido e as circunstâncias do fato evidenciarem a
de droga: (Vide ADI nº 4.274) transnacionalidade do delito;
Pena – detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa de II – o agente praticar o crime prevalecendo-se de função
100 (cem) a 300 (trezentos) dias-multa. pública ou no desempenho de missão de educação, poder
§ 3o Oferecer droga, eventualmente e sem objetivo de familiar, guarda ou vigilância;
lucro, a pessoa de seu relacionamento, para juntos a con- III – a infração tiver sido cometida nas dependências ou
sumirem: imediações de estabelecimentos prisionais, de ensino ou
Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 1 (um) ano, e paga- hospitalares, de sedes de entidades estudantis, sociais, cul-
mento de 700 (setecentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias- turais, recreativas, esportivas, ou beneficentes, de locais de
Legislação Especial

-multa, sem prejuízo das penas previstas no art. 28. trabalho coletivo, de recintos onde se realizem espetáculos
§ 4o Nos delitos definidos no caput e no § 1o deste artigo, ou diversões de qualquer natureza, de serviços de tratamen-
as penas poderão ser reduzidas de um sexto a dois terços, to de dependentes de drogas ou de reinserção social, de
vedada a conversão em penas restritivas de direitos, desde unidades militares ou policiais ou em transportes públicos;
que o agente seja primário, de bons antecedentes, não se IV – o crime tiver sido praticado com violência, grave
dedique às atividades criminosas nem integre organização ameaça, emprego de arma de fogo, ou qualquer processo
criminosa. (Vide Resolução nº 5, de 2012) de intimidação difusa ou coletiva;
Art. 34. Fabricar, adquirir, utilizar, transportar, ofere- V – caracterizado o tráfico entre Estados da Federação
cer, vender, distribuir, entregar a qualquer título, possuir, ou entre estes e o Distrito Federal;

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VI – sua prática envolver ou visar a atingir criança ou ado- § 2o Tratando-se da conduta prevista no art. 28 desta Lei,
lescente ou a quem tenha, por qualquer motivo, diminuída não se imporá prisão em flagrante, devendo o autor do fato
ou suprimida a capacidade de entendimento e determinação; ser imediatamente encaminhado ao juízo competente ou,
VII – o agente financiar ou custear a prática do crime. na falta deste, assumir o compromisso de a ele comparecer,
Art. 41. O indiciado ou acusado que colaborar volunta- lavrando-se termo circunstanciado e providenciando-se as
riamente com a investigação policial e o processo criminal na requisições dos exames e perícias necessários.
identificação dos demais coautores ou partícipes do crime e § 3o Se ausente a autoridade judicial, as providências
na recuperação total ou parcial do produto do crime, no caso previstas no § 2o deste artigo serão tomadas de imediato pela
de condenação, terá pena reduzida de um terço a dois terços. autoridade policial, no local em que se encontrar, vedada a
Art. 42. O juiz, na fixação das penas, considerará, com detenção do agente.
preponderância sobre o previsto no art. 59 do Código Pe- § 4o Concluídos os procedimentos de que trata o § 2o
nal, a natureza e a quantidade da substância ou do produto, deste artigo, o agente será submetido a exame de corpo de
a personalidade e a conduta social do agente. delito, se o requerer ou se a autoridade de polícia judiciária
Art. 43. Na fixação da multa a que se referem os arts. entender conveniente, e em seguida liberado.
33 a 39 desta Lei, o juiz, atendendo ao que dispõe o art. 42 § 5o Para os fins do disposto no art. 76 da Lei no 9.099, de
desta Lei, determinará o número de dias-multa, atribuindo 1995, que dispõe sobre os Juizados Especiais Criminais, o Mi-
a cada um, segundo as condições econômicas dos acusados, nistério Público poderá propor a aplicação imediata de pena
valor não inferior a um trinta avos nem superior a 5 (cinco) prevista no art. 28 desta Lei, a ser especificada na proposta.
vezes o maior salário-mínimo. Art. 49. Tratando-se de condutas tipificadas nos arts.
Parágrafo único. As multas, que em caso de concurso 33, caput e § 1o, e 34 a 37 desta Lei, o juiz, sempre que as
de crimes serão impostas sempre cumulativamente, podem circunstâncias o recomendem, empregará os instrumentos
ser aumentadas até o décuplo se, em virtude da situação protetivos de colaboradores e testemunhas previstos na Lei
econômica do acusado, considerá-las o juiz ineficazes, ainda no 9.807, de 13 de julho de 1999.
que aplicadas no máximo.
Art. 44. Os crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1o, e Seção I
34 a 37 desta Lei são inafiançáveis e insuscetíveis de sursis, Da Investigação
graça, indulto, anistia e liberdade provisória, vedada a con-
versão de suas penas em restritivas de direitos.
Art. 50. Ocorrendo prisão em flagrante, a autoridade de
Parágrafo único. Nos crimes previstos no caput deste ar-
polícia judiciária fará, imediatamente, comunicação ao juiz
tigo, dar-se-á o livramento condicional após o cumprimento
competente, remetendo-lhe cópia do auto lavrado, do qual
de dois terços da pena, vedada sua concessão ao reincidente
será dada vista ao órgão do Ministério Público, em 24 (vinte
específico.
e quatro) horas.
Art. 45. É isento de pena o agente que, em razão da de-
pendência, ou sob o efeito, proveniente de caso fortuito ou § 1o Para efeito da lavratura do auto de prisão em fla-
força maior, de droga, era, ao tempo da ação ou da omissão, grante e estabelecimento da materialidade do delito, é su-
qualquer que tenha sido a infração penal praticada, inteira- ficiente o laudo de constatação da natureza e quantidade
mente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de da droga, firmado por perito oficial ou, na falta deste, por
determinar-se de acordo com esse entendimento. pessoa idônea.
Parágrafo único. Quando absolver o agente, reconhe- § 2o O perito que subscrever o laudo a que se refere o § 1o
cendo, por força pericial, que este apresentava, à época do deste artigo não ficará impedido de participar da elaboração
fato previsto neste artigo, as condições referidas no caput do laudo definitivo.
deste artigo, poderá determinar o juiz, na sentença, o seu § 3o Recebida cópia do auto de prisão em flagrante, o juiz,
encaminhamento para tratamento médico adequado. no prazo de 10 (dez) dias, certificará a regularidade formal do
Art. 46. As penas podem ser reduzidas de um terço a laudo de constatação e determinará a destruição das drogas
dois terços se, por força das circunstâncias previstas no art. apreendidas, guardando-se amostra necessária à realização
45 desta Lei, o agente não possuía, ao tempo da ação ou da do laudo definitivo. (Incluído pela Lei nº 12.961, de 2014)
omissão, a plena capacidade de entender o caráter ilícito do § 4o A destruição das drogas será executada pelo dele-
fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. gado de polícia competente no prazo de 15 (quinze) dias na
Art. 47. Na sentença condenatória, o juiz, com base em presença do Ministério Público e da autoridade sanitária.
avaliação que ateste a necessidade de encaminhamento do (Incluído pela Lei nº 12.961, de 2014)
agente para tratamento, realizada por profissional de saúde § 5o O local será vistoriado antes e depois de efetivada a
com competência específica na forma da lei, determinará que destruição das drogas referida no § 3o, sendo lavrado auto cir-
a tal se proceda, observado o disposto no art. 26 desta Lei. cunstanciado pelo delegado de polícia, certificando-se neste
a destruição total delas. (Incluído pela Lei nº 12.961, de 2014)
CAPÍTULO III Art. 50-A. A destruição de drogas apreendidas sem a
Do Procedimento Penal ocorrência de prisão em flagrante será feita por incineração,
no prazo máximo de 30 (trinta) dias contado da data da apre-
Art. 48. O procedimento relativo aos processos por ensão, guardando-se amostra necessária à realização do lau-
Legislação Especial

crimes definidos neste Título rege-se pelo disposto neste do definitivo, aplicando-se, no que couber, o procedimento
Capítulo, aplicando-se, subsidiariamente, as disposições do dos §§ 3o a 5o do art. 50. (Incluído pela Lei nº 12.961, de 2014)
Código de Processo Penal e da Lei de Execução Penal. Art. 51. O inquérito policial será concluído no prazo de 30
§ 1o O agente de qualquer das condutas previstas no art. (trinta) dias, se o indiciado estiver preso, e de 90 (noventa)
28 desta Lei, salvo se houver concurso com os crimes pre- dias, quando solto.
vistos nos arts. 33 a 37 desta Lei, será processado e julgado Parágrafo único. Os prazos a que se refere este artigo
na forma dos arts. 60 e seguintes da Lei no 9.099, de 26 de podem ser duplicados pelo juiz, ouvido o Ministério Público,
setembro de 1995, que dispõe sobre os Juizados Especiais mediante pedido justificado da autoridade de polícia judi-
Criminais. ciária.

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Art. 52. Findos os prazos a que se refere o art. 51 desta § 5o Se entender imprescindível, o juiz, no prazo máxi-
Lei, a autoridade de polícia judiciária, remetendo os autos mo de 10 (dez) dias, determinará a apresentação do preso,
do inquérito ao juízo: realização de diligências, exames e perícias.
I – relatará sumariamente as circunstâncias do fato, justi- Art. 56. Recebida a denúncia, o juiz designará dia e hora
ficando as razões que a levaram à classificação do delito, indi- para a audiência de instrução e julgamento, ordenará a cita-
cando a quantidade e natureza da substância ou do produto ção pessoal do acusado, a intimação do Ministério Público,
apreendido, o local e as condições em que se desenvolveu do assistente, se for o caso, e requisitará os laudos periciais.
a ação criminosa, as circunstâncias da prisão, a conduta, a § 1o Tratando-se de condutas tipificadas como infração
qualificação e os antecedentes do agente; ou do disposto nos arts. 33, caput e § 1o, e 34 a 37 desta Lei, o
II – requererá sua devolução para a realização de dili- juiz, ao receber a denúncia, poderá decretar o afastamento
gências necessárias. cautelar do denunciado de suas atividades, se for funcionário
Parágrafo único. A remessa dos autos far-se-á sem pre- público, comunicando ao órgão respectivo.
juízo de diligências complementares: § 2o A audiência a que se refere o caput deste artigo
I – necessárias ou úteis à plena elucidação do fato, cujo será realizada dentro dos 30 (trinta) dias seguintes ao rece-
resultado deverá ser encaminhado ao juízo competente até bimento da denúncia, salvo se determinada a realização de
3 (três) dias antes da audiência de instrução e julgamento; avaliação para atestar dependência de drogas, quando se
II – necessárias ou úteis à indicação dos bens, direitos realizará em 90 (noventa) dias.
e valores de que seja titular o agente, ou que figurem em Art. 57. Na audiência de instrução e julgamento, após o
seu nome, cujo resultado deverá ser encaminhado ao juízo interrogatório do acusado e a inquirição das testemunhas,
competente até 3 (três) dias antes da audiência de instrução será dada a palavra, sucessivamente, ao representante do
e julgamento. Ministério Público e ao defensor do acusado, para susten-
Art. 53. Em qualquer fase da persecução criminal relati- tação oral, pelo prazo de 20 (vinte) minutos para cada um,
va aos crimes previstos nesta Lei, são permitidos, além dos prorrogável por mais 10 (dez), a critério do juiz.
previstos em lei, mediante autorização judicial e ouvido o Mi- Parágrafo único. Após proceder ao interrogatório, o juiz
nistério Público, os seguintes procedimentos investigatórios: indagará das partes se restou algum fato para ser esclareci-
I – a infiltração por agentes de polícia, em tarefas de do, formulando as perguntas correspondentes se o entender
investigação, constituída pelos órgãos especializados perti- pertinente e relevante.
Art. 58. Encerrados os debates, proferirá o juiz sentença
nentes;
de imediato, ou o fará em 10 (dez) dias, ordenando que os
II – a não-atuação policial sobre os portadores de drogas,
autos para isso lhe sejam conclusos.
seus precursores químicos ou outros produtos utilizados em
§§ 1º e 2º (Revogados pela Lei nº 12.961, de 2014)
sua produção, que se encontrem no território brasileiro, com
Art. 59. Nos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1o, e
a finalidade de identificar e responsabilizar maior número
34 a 37 desta Lei, o réu não poderá apelar sem recolher-se à
de integrantes de operações de tráfico e distribuição, sem
prisão, salvo se for primário e de bons antecedentes, assim
prejuízo da ação penal cabível. reconhecido na sentença condenatória.
Parágrafo único. Na hipótese do inciso II deste artigo, a
autorização será concedida desde que sejam conhecidos o CAPÍTULO IV
itinerário provável e a identificação dos agentes do delito Da Apreensão, Arrecadação e
ou de colaboradores. Destinação de Bens do Acusado
Seção II Art. 60. O juiz, de ofício, a requerimento do Ministério
Da Instrução Criminal Público ou mediante representação da autoridade de polícia
judiciária, ouvido o Ministério Público, havendo indícios su-
Art. 54. Recebidos em juízo os autos do inquérito policial, ficientes, poderá decretar, no curso do inquérito ou da ação
de Comissão Parlamentar de Inquérito ou peças de informa- penal, a apreensão e outras medidas assecuratórias relacio-
ção, dar-se-á vista ao Ministério Público para, no prazo de 10 nadas aos bens móveis e imóveis ou valores consistentes em
(dez) dias, adotar uma das seguintes providências: produtos dos crimes previstos nesta Lei, ou que constituam
I – requerer o arquivamento; proveito auferido com sua prática, procedendo-se na forma
II – requisitar as diligências que entender necessárias; dos arts. 125 a 144 do Decreto-Lei no 3.689, de 3 de outubro
III – oferecer denúncia, arrolar até 5 (cinco) testemunhas de 1941 – Código de Processo Penal.
e requerer as demais provas que entender pertinentes. § 1o Decretadas quaisquer das medidas previstas neste
Art. 55. Oferecida a denúncia, o juiz ordenará a notifica- artigo, o juiz facultará ao acusado que, no prazo de 5 (cinco)
ção do acusado para oferecer defesa prévia, por escrito, no dias, apresente ou requeira a produção de provas acerca da
prazo de 10 (dez) dias. origem lícita do produto, bem ou valor objeto da decisão.
§ 1o Na resposta, consistente em defesa preliminar e ex- § 2o Provada a origem lícita do produto, bem ou valor, o
ceções, o acusado poderá argüir preliminares e invocar todas juiz decidirá pela sua liberação.
as razões de defesa, oferecer documentos e justificações, § 3o Nenhum pedido de restituição será conhecido sem o
especificar as provas que pretende produzir e, até o número comparecimento pessoal do acusado, podendo o juiz deter-
Legislação Especial

de 5 (cinco), arrolar testemunhas. minar a prática de atos necessários à conservação de bens,


§ 2o As exceções serão processadas em apartado, nos direitos ou valores.
termos dos arts. 95 a 113 do Decreto-Lei no 3.689, de 3 de § 4o A ordem de apreensão ou sequestro de bens, direitos
outubro de 1941 – Código de Processo Penal. ou valores poderá ser suspensa pelo juiz, ouvido o Ministério
§ 3o Se a resposta não for apresentada no prazo, o juiz Público, quando a sua execução imediata possa comprometer
nomeará defensor para oferecê-la em 10 (dez) dias, conce- as investigações.
dendo-lhe vista dos autos no ato de nomeação. Art. 61. Não havendo prejuízo para a produção da prova
§ 4o Apresentada a defesa, o juiz decidirá em 5 (cinco) dos fatos e comprovado o interesse público ou social, ressal-
dias. vado o disposto no art. 62 desta Lei, mediante autorização

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do juízo competente, ouvido o Ministério Público e cienti- § 8o Feita a avaliação e dirimidas eventuais divergências
ficada a Senad, os bens apreendidos poderão ser utilizados sobre o respectivo laudo, o juiz, por sentença, homologará
pelos órgãos ou pelas entidades que atuam na prevenção o valor atribuído aos bens e determinará sejam alienados
do uso indevido, na atenção e reinserção social de usuários em leilão.
e dependentes de drogas e na repressão à produção não § 9o Realizado o leilão, permanecerá depositada em conta
autorizada e ao tráfico ilícito de drogas, exclusivamente no judicial a quantia apurada, até o final da ação penal respec-
interesse dessas atividades. tiva, quando será transferida ao Funad, juntamente com os
Parágrafo único. Recaindo a autorização sobre veículos, valores de que trata o § 3odeste artigo.
embarcações ou aeronaves, o juiz ordenará à autoridade de § 10. Terão apenas efeito devolutivo os recursos interpos-
trânsito ou ao equivalente órgão de registro e controle a ex- tos contra as decisões proferidas no curso do procedimento
pedição de certificado provisório de registro e licenciamento, previsto neste artigo.
em favor da instituição à qual tenha deferido o uso, ficando § 11. Quanto aos bens indicados na forma do § 4o deste
esta livre do pagamento de multas, encargos e tributos an- artigo, recaindo a autorização sobre veículos, embarcações
teriores, até o trânsito em julgado da decisão que decretar ou aeronaves, o juiz ordenará à autoridade de trânsito ou
o seu perdimento em favor da União. ao equivalente órgão de registro e controle a expedição de
Art. 62. Os veículos, embarcações, aeronaves e quaisquer certificado provisório de registro e licenciamento, em favor
outros meios de transporte, os maquinários, utensílios, ins- da autoridade de polícia judiciária ou órgão aos quais tenha
trumentos e objetos de qualquer natureza, utilizados para deferido o uso, ficando estes livres do pagamento de multas,
a prática dos crimes definidos nesta Lei, após a sua regular encargos e tributos anteriores, até o trânsito em julgado da
apreensão, ficarão sob custódia da autoridade de polícia ju- decisão que decretar o seu perdimento em favor da União.
diciária, excetuadas as armas, que serão recolhidas na forma Art. 63. Ao proferir a sentença de mérito, o juiz decidirá
de legislação específica. sobre o perdimento do produto, bem ou valor apreendido,
§ 1o Comprovado o interesse público na utilização de sequestrado ou declarado indisponível.
qualquer dos bens mencionados neste artigo, a autoridade § 1o Os valores apreendidos em decorrência dos crimes
de polícia judiciária poderá deles fazer uso, sob sua respon- tipificados nesta Lei e que não forem objeto de tutela cau-
sabilidade e com o objetivo de sua conservação, mediante telar, após decretado o seu perdimento em favor da União,
serão revertidos diretamente ao Funad.
autorização judicial, ouvido o Ministério Público.
§ 2o Compete à Senad a alienação dos bens apreendidos
§ 2o Feita a apreensão a que se refere o caput deste artigo,
e não leiloados em caráter cautelar, cujo perdimento já tenha
e tendo recaído sobre dinheiro ou cheques emitidos como
sido decretado em favor da União.
ordem de pagamento, a autoridade de polícia judiciária que
§ 3o A Senad poderá firmar convênios de cooperação, a
presidir o inquérito deverá, de imediato, requerer ao juízo
fim de dar imediato cumprimento ao estabelecido no § 2o
competente a intimação do Ministério Público.
deste artigo.
§ 3o Intimado, o Ministério Público deverá requerer ao § 4o Transitada em julgado a sentença condenatória, o
juízo, em caráter cautelar, a conversão do numerário apre- juiz do processo, de ofício ou a requerimento do Ministério
endido em moeda nacional, se for o caso, a compensação Público, remeterá à Senad relação dos bens, direitos e valores
dos cheques emitidos após a instrução do inquérito, com declarados perdidos em favor da União, indicando, quanto
cópias autênticas dos respectivos títulos, e o depósito das aos bens, o local em que se encontram e a entidade ou o
correspondentes quantias em conta judicial, juntando-se aos órgão em cujo poder estejam, para os fins de sua destinação
autos o recibo. nos termos da legislação vigente.
§ 4o Após a instauração da competente ação penal, o Art. 64. A União, por intermédio da Senad, poderá fir-
Ministério Público, mediante petição autônoma, requererá mar convênio com os Estados, com o Distrito Federal e com
ao juízo competente que, em caráter cautelar, proceda à organismos orientados para a prevenção do uso indevido
alienação dos bens apreendidos, excetuados aqueles que a de drogas, a atenção e a reinserção social de usuários ou
União, por intermédio da Senad, indicar para serem coloca- dependentes e a atuação na repressão à produção não au-
dos sob uso e custódia da autoridade de polícia judiciária, torizada e ao tráfico ilícito de drogas, com vistas na liberação
de órgãos de inteligência ou militares, envolvidos nas ações de equipamentos e de recursos por ela arrecadados, para a
de prevenção ao uso indevido de drogas e operações de implantação e execução de programas relacionados à ques-
repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de tão das drogas.
drogas, exclusivamente no interesse dessas atividades.
§ 5o Excluídos os bens que se houver indicado para os fins TÍTULO V
previstos no § 4o deste artigo, o requerimento de alienação DA COOPERAÇÃO INTERNACIONAL
deverá conter a relação de todos os demais bens apreendi-
dos, com a descrição e a especificação de cada um deles, e Art. 65. De conformidade com os princípios da não-
informações sobre quem os tem sob custódia e o local onde -intervenção em assuntos internos, da igualdade jurídica e
se encontram. do respeito à integridade territorial dos Estados e às leis e
§ 6o Requerida a alienação dos bens, a respectiva petição aos regulamentos nacionais em vigor, e observado o espírito
será autuada em apartado, cujos autos terão tramitação au- das Convenções das Nações Unidas e outros instrumentos
Legislação Especial

tônoma em relação aos da ação penal principal. jurídicos internacionais relacionados à questão das drogas,
§ 7o Autuado o requerimento de alienação, os autos serão de que o Brasil é parte, o governo brasileiro prestará, quando
conclusos ao juiz, que, verificada a presença de nexo de ins- solicitado, cooperação a outros países e organismos interna-
trumentalidade entre o delito e os objetos utilizados para a cionais e, quando necessário, deles solicitará a colaboração,
sua prática e risco de perda de valor econômico pelo decurso nas áreas de:
do tempo, determinará a avaliação dos bens relacionados, I – intercâmbio de informações sobre legislações, expe-
cientificará a Senad e intimará a União, o Ministério Público riências, projetos e programas voltados para atividades de
e o interessado, este, se for o caso, por edital com prazo de prevenção do uso indevido, de atenção e de reinserção social
5 (cinco) dias. de usuários e dependentes de drogas;

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II – intercâmbio de inteligência policial sobre produção determinará a destruição das amostras guardadas para con-
e tráfico de drogas e delitos conexos, em especial o tráfico traprova, certificando isso nos autos. (Redação dada pela Lei
de armas, a lavagem de dinheiro e o desvio de precursores nº 12.961, de 2014)
químicos; Art. 73. A União poderá estabelecer convênios com os
III – intercâmbio de informações policiais e judiciais so- Estados e o com o Distrito Federal, visando à prevenção e
bre produtores e traficantes de drogas e seus precursores repressão do tráfico ilícito e do uso indevido de drogas, e
químicos. com os Municípios, com o objetivo de prevenir o uso inde-
vido delas e de possibilitar a atenção e reinserção social de
TÍTULO VI usuários e dependentes de drogas. (Redação dada pela Lei
DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS nº 12.219, de 2010)
Art. 74. Esta Lei entra em vigor 45 (quarenta e cinco) dias
Art. 66. Para fins do disposto no parágrafo único do art. após a sua publicação.
1o desta Lei, até que seja atualizada a terminologia da lista Art. 75. Revogam-se a Lei no 6.368, de 21 de outubro de
mencionada no preceito, denominam-se drogas substâncias 1976, e a Lei no 10.409, de 11 de janeiro de 2002.
entorpecentes, psicotrópicas, precursoras e outras sob con-
trole especial, da Portaria SVS/MS no 344, de 12 de maio Brasília, 23 de agosto de 2006; 185o da Independência
de 1998. e 118o da República.
Art. 67. A liberação dos recursos previstos na Lei no 7.560,
de 19 de dezembro de 1986, em favor de Estados e do Distrito LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA
Federal, dependerá de sua adesão e respeito às diretrizes Márcio Thomaz Bastos
básicas contidas nos convênios firmados e do fornecimento Guido Mantega
de dados necessários à atualização do sistema previsto no Jorge Armando Felix
art. 17 desta Lei, pelas respectivas polícias judiciárias.
Art. 68. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Mu- Busca Informatizada Vestcon
nicípios poderão criar estímulos fiscais e outros, destinados
às pessoas físicas e jurídicas que colaborem na prevenção DECRETO-LEI Nº 3.688, DE 3 DE OUTUBRO
do uso indevido de drogas, atenção e reinserção social de DE 1941
usuários e dependentes e na repressão da produção não
autorizada e do tráfico ilícito de drogas. Lei das Contravenções Penais.
Art. 69. No caso de falência ou liquidação extrajudicial
de empresas ou estabelecimentos hospitalares, de pesqui- O Presidente da República, usando das atribuições que
sa, de ensino, ou congêneres, assim como nos serviços de lhe confere o artigo 180 da Constituição,
saúde que produzirem, venderem, adquirirem, consumirem, DECRETA:
prescreverem ou fornecerem drogas ou de qualquer outro
em que existam essas substâncias ou produtos, incumbe ao LEI DAS CONTRAVENÇÕES PENAIS
juízo perante o qual tramite o feito: PARTE GERAL
I – determinar, imediatamente à ciência da falência ou
liquidação, sejam lacradas suas instalações; Art. 1º Aplicam-se as contravenções às regras gerais do
II – ordenar à autoridade sanitária competente a urgente Código Penal, sempre que a presente lei não disponha de
adoção das medidas necessárias ao recebimento e guarda, modo diverso.
em depósito, das drogas arrecadadas; Art. 2º A lei brasileira só é aplicável à contravenção pra-
III – dar ciência ao órgão do Ministério Público, para ticada no território nacional.
acompanhar o feito. Art. 3º Para a existência da contravenção, basta a ação ou
§ 1o Da licitação para alienação de substâncias ou pro- omissão voluntária. Deve-se, todavia, ter em conta o dolo ou
dutos não proscritos referidos no inciso II do caput deste a culpa, se a lei faz depender, de um ou de outra, qualquer
artigo, só podem participar pessoas jurídicas regularmente efeito jurídico.
habilitadas na área de saúde ou de pesquisa científica que Art. 4º Não é punível a tentativa de contravenção.
comprovem a destinação lícita a ser dada ao produto a ser Art. 5º As penas principais são:
arrematado. I – prisão simples.
§ 2o Ressalvada a hipótese de que trata o § 3o deste ar- II – multa.
tigo, o produto não arrematado será, ato contínuo à hasta Art. 6º A pena de prisão simples deve ser cumprida, sem
pública, destruído pela autoridade sanitária, na presença dos rigor penitenciário, em estabelecimento especial ou seção
Conselhos Estaduais sobre Drogas e do Ministério Público. especial de prisão comum, em regime semiaberto ou aberto.
§ 3o Figurando entre o praceado e não arrematadas es- (Redação dada pela Lei nº 6.416, de 1977)
pecialidades farmacêuticas em condições de emprego tera- § 1º O condenado a pena de prisão simples fica sempre
pêutico, ficarão elas depositadas sob a guarda do Ministério separado dos condenados a pena de reclusão ou de detenção.
da Saúde, que as destinará à rede pública de saúde. § 2º O trabalho é facultativo, se a pena aplicada, não
Art. 70. O processo e o julgamento dos crimes previstos excede a quinze dias.
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nos arts. 33 a 37 desta Lei, se caracterizado ilícito transna- Art. 7º Verifica-se a reincidência quando o agente pratica
cional, são da competência da Justiça Federal. uma contravenção depois de passar em julgado a sentença
Parágrafo único. Os crimes praticados nos Municípios que que o tenha condenado, no Brasil ou no estrangeiro, por
não sejam sede de vara federal serão processados e julgados qualquer crime, ou, no Brasil, por motivo de contravenção.
na vara federal da circunscrição respectiva. Art. 8º No caso de ignorância ou de errada compreensão
Art. 71. (Vetado) da lei, quando escusáveis, a pena pode deixar de ser aplicada.
Art. 72. Encerrado o processo penal ou arquivado o in- Art. 9º A multa converte-se em prisão simples, de acor-
quérito policial, o juiz, de ofício, mediante representação do do com o que dispõe o Código Penal sobre a conversão de
delegado de polícia ou a requerimento do Ministério Público, multa em detenção.

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
Parágrafo único. Se a multa é a única pena cominada, a § 1º A pena é aumentada de um terço até metade, se o
conversão em prisão simples se faz entre os limites de quinze agente já foi condenado, em sentença irrecorrível, por vio-
dias e três meses. lência contra pessoa.
Art. 10. A duração da pena de prisão simples não pode, § 2º Incorre na pena de prisão simples, de quinze dias
em caso algum, ser superior a cinco anos, nem a importância a três meses, ou multa, de duzentos mil réis a um conto de
das multas ultrapassar cinquenta contos. réis, quem, possuindo arma ou munição:
Art. 11. Desde que reunidas as condições legais, o juiz a) deixa de fazer comunicação ou entrega à autoridade,
pode suspender por tempo não inferior a um ano nem su- quando a lei o determina;
perior a três, a execução da pena de prisão simples, bem b) permite que alienado menor de 18 anos ou pessoa
como conceder livramento condicional. (Redação dada pela inexperiente no manejo de arma a tenha consigo;
Lei nº 6.416, de 1977) c) omite as cautelas necessárias para impedir que dela se
Art. 12. As penas acessórias são a publicação da sentença apodere facilmente alienado, menor de 18 anos ou pessoa
e as seguintes interdições de direitos: inexperiente em manejá-la.
I – a incapacidade temporária para profissão ou atividade, Art. 20. Anunciar processo, substância ou objeto desti-
cujo exercício dependa de habilitação especial, licença ou nado a provocar aborto: (Redação dada pela Lei nº 6.734,
autorização do poder público; de 1979)
Pena – multa de hum mil cruzeiros a dez mil cruzeiros.
lI – a suspensão dos direitos políticos.
(Redação dada pela Lei nº 6.734, de 1979)
Parágrafo único. Incorrem:
Art. 21. Praticar vias de fato contra alguém:
a) na interdição sob nº I, por um mês a dois anos, o con- Pena – prisão simples, de quinze dias a três meses, ou
denado por motivo de contravenção cometida com abuso multa, de cem mil réis a um conto de réis, se o fato não
de profissão ou atividade ou com infração de dever a ela constitui crime.
inerente; Parágrafo único. Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) até
b) na interdição sob nº II, o condenado a pena privativa de a metade se a vítima é maior de 60 (sessenta) anos. (Incluído
liberdade, enquanto dure a execução do pena ou a aplicação pela Lei nº 10.741, de 2003)
da medida de segurança detentiva. Art. 22. Receber em estabelecimento psiquiátrico, e nele
Art. 13. Aplicam-se, por motivo de contravenção, os me- internar, sem as formalidades legais, pessoa apresentada
didas de segurança estabelecidas no Código Penal, à exceção como doente mental:
do exílio local. Pena – multa, de trezentos mil réis a três contos de réis.
Art. 14. Presumem-se perigosos, além dos indivíduos a § 1º Aplica-se a mesma pena a quem deixa de comunicar
que se referem os nos. I e II do art. 78 do Código Penal: a autoridade competente, no prazo legal, internação que
I – o condenado por motivo de contravenção cometido, tenha admitido, por motivo de urgência, sem as formalida-
em estado de embriaguez pelo álcool ou substância de efei- des legais.
tos análogos, quando habitual a embriaguez; § 2º Incorre na pena de prisão simples, de quinze dias a
II – o condenado por vadiagem ou mendicância; três meses, ou multa de quinhentos mil réis a cinco contos
III – (Revogado pela Lei nº 6.416, de 1977) de réis, aquele que, sem observar as prescrições legais, deixa
IV – (Revogado pela Lei nº 6.416, de 1977) retirar-se ou despede de estabelecimento psiquiátrico pessoa
Art. 15. São internados em colônia agrícola ou em insti- nele, internada.
tuto de trabalho, de reeducação ou de ensino profissional, Art. 23. Receber e ter sob custódia doente mental, fora
pelo prazo mínimo de um ano: do caso previsto no artigo anterior, sem autorização de quem
I – o condenado por vadiagem (art. 59); de direito:
II – o condenado por mendicância (art. 60 e seu pará- Pena – prisão simples, de quinze dias a três meses, ou
grafo); multa, de quinhentos mil réis a cinco contos de réis.
III – (Revogado pela Lei nº 6.416, de 1977)
Art. 16. O prazo mínimo de duração da internação em CAPÍLULO II
manicômio judiciário ou em casa de custódia e tratamento Das Contravenções Referentes ao Patrimônio
é de seis meses.
Parágrafo único. O juiz, entretanto, pode, ao invés de de- Art. 24. Fabricar, ceder ou vender gazua ou instrumento
cretar a internação, submeter o indivíduo a liberdade vigiada. empregado usualmente na prática de crime de furto:
Pena – prisão simples, de seis meses a dois anos, e multa,
Art. 17. A ação penal é pública, devendo a autoridade
de trezentos mil réis a três contos de réis.
proceder de ofício.
Art. 25. Ter alguém em seu poder, depois de condenado,
por crime de furto ou roubo, ou enquanto sujeito à liberda-
PARTE ESPECIAL de vigiada ou quando conhecido como vadio ou mendigo,
gazuas, chaves falsas ou alteradas ou instrumentos empre-
CAPÍTULO I gados usualmente na prática de crime de furto, desde que
Das Contravenções Referentes à Pessoa não prove destinação legítima:
Pena – prisão simples, de dois meses a um ano, e multa
Art. 18. Fabricar, importar, exportar, ter em depósito ou de duzentos mil réis a dois contos de réis.
Legislação Especial

vender, sem permissão da autoridade, arma ou munição: Art. 26. Abrir alguém, no exercício de profissão de ser-
Pena – prisão simples, de três meses a um ano, ou multa, ralheiro ou oficio análogo, a pedido ou por incumbência de
de um a cinco contos de réis, ou ambas cumulativamente, se pessoa de cuja legitimidade não se tenha certificado previa-
o fato não constitui crime contra a ordem política ou social. mente, fechadura ou qualquer outro aparelho destinado à
Art. 19. Trazer consigo arma fora de casa ou de depen- defesa de lugar nu objeto:
dência desta, sem licença da autoridade: Pena – prisão simples, de quinze dias a três meses, ou
Pena – prisão simples, de quinze dias a seis meses, ou multa, de duzentos mil réis a um conto de réis.
multa, de duzentos mil réis a três contos de réis, ou ambas Art. 27. (Revogado pela Lei nº 9.521, de 1997)
cumulativamente. Pena – (Revogado pela Lei nº 9.521, de 1997)

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CAPÍTULO III Art. 38. Provocar, abusivamente, emissão de fumaça,
Das Contravenções Referentes à Incolumidade Pública vapor ou gás, que possa ofender ou molestar alguém:
Pena – multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis.
Art. 28. Disparar arma de fogo em lugar habitado ou em
suas adjacências, em via pública ou em direção a ela: CAPÍTULO IV
Pena – prisão simples, de um a seis meses, ou multa, de Das Contravenções Referentes à Paz Pública
trezentos mil réis a três contos de réis.
Parágrafo único. Incorre na pena de prisão simples, de Art. 39. Participar de associação de mais de cinco pes-
quinze dias a dois meses, ou multa, de duzentos mil réis a soas, que se reúnam periodicamente, sob compromisso de
dois contos de réis, quem, em lugar habitado ou em suas ocultar à autoridade a existência, objetivo, organização ou
adjacências, em via pública ou em direção a ela, sem licença administração da associação:
da autoridade, causa deflagração perigosa, queima fogo de Pena – prisão simples, de um a seis meses, ou multa, de
artifício ou solta balão aceso. trezentos mil réis a três contos de réis.
Art. 29. Provocar o desabamento de construção ou, por § 1º Na mesma pena incorre o proprietário ou ocupante
erro no projeto ou na execução, dar-lhe causa: de prédio que o cede, no todo ou em parte, para reunião de
Pena – multa, de um a dez contos de réis, se o fato não associação que saiba ser de caráter secreto.
constitui crime contra a incolumidade pública. § 2º O juiz pode, tendo em vista as circunstâncias, deixar
Art. 30. Omitir alguém a providência reclamada pelo Es- de aplicar a pena, quando lícito o objeto da associação.
tado ruinoso de construção que lhe pertence ou cuja con- Art. 40. Provocar tumulto ou portar-se de modo incon-
servação lhe incumbe: veniente ou desrespeitoso, em solenidade ou ato oficial, em
Pena – multa, de um a cinco contos de réis. assembleia ou espetáculo público, se o fato não constitui
Art. 31. Deixar em liberdade, confiar à guarda de pessoa infração penal mais grave;
inexperiente, ou não guardar com a devida cautela animal Pena – prisão simples, de quinze dias a seis meses, ou
perigoso: multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis.
Pena – prisão simples, de dez dias a dois meses, ou multa, Art. 41. Provocar alarma, anunciando desastre ou peri-
de cem mil réis a um conto de réis. go inexistente, ou praticar qualquer ato capaz de produzir
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem: pânico ou tumulto:
a) na via pública, abandona animal de tiro, carga ou cor- Pena – prisão simples, de quinze dias a seis meses, ou
rida, ou o confia à pessoa inexperiente; multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis.
b) excita ou irrita animal, expondo a perigo a segurança Art. 42. Perturbar alguém o trabalho ou o sossego alheios:
alheia; I – com gritaria ou algazarra;
c) conduz animal, na via pública, pondo em perigo a se- II – exercendo profissão incômoda ou ruidosa, em desa-
gurança alheia. cordo com as prescrições legais;
Art. 32. Dirigir, sem a devida habilitação, veículo na via III – abusando de instrumentos sonoros ou sinais acús-
pública, ou embarcação a motor em aguas públicas: ticos;
Pena – multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis. IV – provocando ou não procurando impedir barulho
produzido por animal de que tem a guarda:
Art. 33. Dirigir aeronave sem estar devidamente licen-
Pena – prisão simples, de quinze dias a três meses, ou
ciado:
multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis.
Pena – prisão simples, de quinze dias a três meses, e
multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis.
CAPÍTULO V
Art. 34. Dirigir veículos na via pública, ou embarcações
Das Contravenções Referentes à Fé Pública
em águas públicas, pondo em perigo a segurança alheia:
Pena – prisão simples, de quinze das a três meses, ou
Art. 43. Recusar-se a receber, pelo seu valor, moeda de
multa, de trezentos mil réis a dois contos de réis. curso legal no país:
Art. 35. Entregar-se na prática da aviação, a acrobacias ou Pena – multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis.
a voos baixos, fora da zona em que a lei o permite, ou fazer Art. 44. Usar, como propaganda, de impresso ou obje-
descer a aeronave fora dos lugares destinados a esse fim: to que pessoa inexperiente ou rústica possa confundir com
Pena – prisão simples, de quinze dias a três meses, ou moeda:
multa, de quinhentos mil réis a cinco contos de réis. Pena – multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis.
Art. 36. Deixar do colocar na via pública, sinal ou obstá- Art. 45. Fingir-se funcionário público:
culo, determinado em lei ou pela autoridade e destinado a Pena – prisão simples, de um a três meses, ou multa, de
evitar perigo a transeuntes: quinhentos mil réis a três contos de réis.
Pena – prisão simples, de dez dias a dois meses, ou multa, Art. 46. Usar, publicamente, de uniforme, ou distintivo
de duzentos mil réis a dois contos de réis. de função pública que não exerce; usar, indevidamente, de
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem: sinal, distintivo ou denominação cujo emprego seja regulado
a) apaga sinal luminoso, destrói ou remove sinal de outra por lei. (Redação dada pelo Decreto-Lei nº 6.916, de 1944)
natureza ou obstáculo destinado a evitar perigo a transeun- Pena – multa, de duzentos a dois mil cruzeiros, se o fato
tes; não constitui infração penal mais grave. (Redação dada pelo
Legislação Especial

b) remove qualquer outro sinal de serviço público. Decreto-Lei nº 6.916, de 1944)


Art. 37. Arremessar ou derramar em via pública, ou em
lugar de uso comum, ou do uso alheio, coisa que possa ofen- CAPÍTULO VI
der, sujar ou molestar alguém: Das Contravenções Relativas
Pena – multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis. à Organização do Trabalho
Parágrafo único. Na mesma pena incorre aquele que,
sem as devidas cautelas, coloca ou deixa suspensa coisa que, Art. 47. Exercer profissão ou atividade econômica ou
caindo em via pública ou em lugar de uso comum ou de uso anunciar que a exerce, sem preencher as condições a que
alheio, possa ofender, sujar ou molestar alguém. por lei está subordinado o seu exercício:

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Pena – prisão simples, de quinze dias a três meses, ou Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem vende,
multa, de quinhentos mil réis a cinco contos de réis. expõe à venda, tem sob sua guarda. para o fim de venda,
Art. 48. Exercer, sem observância das prescrições legais, introduz ou tenta introduzir na circulação, bilhete de loteria
comércio de antiguidades, de obras de arte, ou de manus- estrangeira.
critos e livros antigos ou raros: Art. 53. Introduzir, para o fim de comércio, bilhete de
Pena – prisão simples de um a seis meses, ou multa, de loteria estadual em território onde não possa legalmente
um a dez contos de réis. circular:
Art. 49. Infringir determinação legal relativa à matrícula Pena – prisão simples, de dois a seis meses, e multa, de
ou à escrituração de indústria, de comércio, ou de outra um a três contos de réis.
atividade: Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem vende,
Pena – multa, de duzentos mil réis a cinco contos de réis. expõe à venda, tem sob sua guarda, para o fim de venda,
introduz ou tonta introduzir na circulação, bilhete de loteria
CAPÍTULO VII estadual, em território onde não possa legalmente circular.
Das Contravenções Relativas Art. 54. Exibir ou ter sob sua guarda lista de sorteio de
à Polícia de Costumes loteria estrangeira:
Pena – prisão simples, de um a três meses, e multa, de
Art. 50. Estabelecer ou explorar jogo de azar em lugar duzentos mil réis a um conto de réis.
público ou acessível ao público, mediante o pagamento de Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem exibe ou
entrada ou sem ele: (Vide Decreto-Lei nº 4.866, de 1942 e tem sob sua guarda lista de sorteio de loteria estadual, em
Decreto-Lei 9.215, de 1946) território onde está não possa legalmente circular.
Pena – prisão simples, de três meses a um ano, e multa, Art. 55. Imprimir ou executar qualquer serviço de feitura
de dois a quinze contos de réis, estendendo-se os efeitos de bilhetes, lista de sorteio, avisos ou cartazes relativos a
da condenação à perda dos moveis e objetos de decoração loteria, em lugar onde ela não possa legalmente circular:
do local. Pena – prisão simples, de um a seis meses, e multa, de
§ 1º A pena é aumentada de um terço, se existe entre os duzentos mil réis a dois contos de réis.
empregados ou participa do jogo pessoa menor de dezoito Art. 56. Distribuir ou transportar cartazes, listas de sor-
anos. teio ou avisos de loteria, onde ela não possa legalmente
§ 2o Incorre na pena de multa, de R$ 2.000,00 (dois mil re- circular:
ais) a R$ 200.000,00 (duzentos mil reais), quem é encontrado Pena – prisão simples, de um a três meses, e multa, de
a participar do jogo, ainda que pela internet ou por qualquer cem a quinhentos mil réis.
outro meio de comunicação, como ponteiro ou apostador. Art. 57. Divulgar, por meio de jornal ou outro impresso,
(Redação dada pela Lei nº 13.155, de 2015) de rádio, cinema, ou qualquer outra forma, ainda que dis-
§ 3º Consideram-se, jogos de azar: farçadamente, anúncio, aviso ou resultado de extração de
a) o jogo em que o ganho e a perda dependem exclusiva loteria, onde a circulação dos seus bilhetes não seria legal:
ou principalmente da sorte; Pena – multa, de um a dez contos de réis.
b) as apostas sobre corrida de cavalos fora de hipódromo Art. 58. Explorar ou realizar a loteria denominada jogo
ou de local onde sejam autorizadas;
do bicho, ou praticar qualquer ato relativo à sua realização
c) as apostas sobre qualquer outra competição esportiva.
ou exploração:
§ 4º Equiparam-se, para os efeitos penais, a lugar aces-
Pena – prisão simples, de quatro meses a um ano, e mul-
sível ao público:
ta, de dois a vinte contos de réis.
a) a casa particular em que se realizam jogos de azar,
Parágrafo único. Incorre na pena de multa, de duzentos
quando deles habitualmente participam pessoas que não
mil réis a dois contos de réis, aquele que participa da loteria,
sejam da família de quem a ocupa;
visando a obtenção de prêmio, para si ou para terceiro.
b) o hotel ou casa de habitação coletiva, a cujos hóspedes
e moradores se proporciona jogo de azar; Art. 59. Entregar-se alguém habitualmente à ociosidade,
c) a sede ou dependência de sociedade ou associação, sendo válido para o trabalho, sem ter renda que lhe asse-
em que se realiza jogo de azar; gure meios bastantes de subsistência, ou prover à própria
d) o estabelecimento destinado à exploração de jogo de subsistência mediante ocupação ilícita:
azar, ainda que se dissimule esse destino. Pena – prisão simples, de quinze dias a três meses.
Art. 51. Promover ou fazer extrair loteria, sem autori- Parágrafo único. A aquisição superveniente de renda,
zação legal: que assegure ao condenado meios bastantes de subsistên-
Pena – prisão simples, de seis meses a dois anos, e multa, cia, extingue a pena.
de cinco a dez contos de réis, estendendo-se os efeitos da Art. 60. (Revogado pela Lei nº 11.983, de 2009)
condenação à perda dos moveis existentes no local. Pena – (Revogado pela Lei nº 11.983, de 2009)
§ 1º Incorre na mesma pena quem guarda, vende ou Parágrafo único. (Revogado pela Lei nº 11.983, de 2009)
expõe à venda, tem sob sua guarda para o fim de venda, a) a c) (Revogadas pela Lei nº 11.983, de 2009)
introduz ou tenta introduzir na circulação bilhete de loteria Art. 61. Importunar alguém, em lugar público ou acessível
não autorizada. ao público, de modo ofensivo ao pudor:
§ 2º Considera-se loteria toda operação que, mediante a Pena – multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis.
Legislação Especial

distribuição de bilhete, listas, cupões, vales, sinais, símbolos Art. 62. Apresentar-se publicamente em estado de em-
ou meios análogos, faz depender de sorteio a obtenção de briaguez, de modo que cause escândalo ou ponha em perigo
prêmio em dinheiro ou bens de outra natureza. a segurança própria ou alheia:
§ 3º Não se compreendem na definição do parágrafo Pena – prisão simples, de quinze dias a três meses, ou
anterior os sorteios autorizados na legislação especial. multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis.
Art. 52. Introduzir, no país, para o fim de comércio, bi- Parágrafo único. Se habitual a embriaguez, o contraven-
lhete de loteria, rifa ou tômbola estrangeiras: tor é internado em casa de custódia e tratamento.
Pena – prisão simples, de quatro meses a um ano, e mul- Art. 63. Servir bebidas alcoólicas:
ta, de um a cinco contos de réis. I – (Revogado pela Lei nº 13.106, de 2015)

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II – a quem se acha em estado de embriaguez; LEI Nº 9.605, DE 12 DE FEVEREIRO DE 1998
III – a pessoa que o agente sabe sofrer das faculdades
mentais; Dispõe sobre as sanções pe-
IV – a pessoa que o agente sabe estar judicialmente proi- nais e administrativas derivadas
bida de frequentar lugares onde se consome bebida de tal
natureza: de condutas e atividades lesivas
Pena – prisão simples, de dois meses a um ano, ou multa, ao meio ambiente, e dá outras
de quinhentos mil réis a cinco contos de réis. providências.
Art. 64. Tratar animal com crueldade ou submetê-lo a
trabalho excessivo: O PRESIDENTEDAREPÚBLICA Faço saber que o Congresso
Pena – prisão simples, de dez dias a um mês, ou multa, Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
de cem a quinhentos mil réis. [...]
§ 1º Na mesma pena incorre aquele que, embora para
fins didáticos ou científicos, realiza em lugar público ou ex- CAPÍTULO III
posto ao público, experiência dolorosa ou cruel em animal Da Apreensão do Produto e do Instrumento
vivo.
de Infração Administrativa ou de Crime
§ 2º Aplica-se a pena com aumento de metade, se o
animal é submetido a trabalho excessivo ou tratado com
crueldade, em exibição ou espetáculo público. Art. 25. Verificada a infração, serão apreendidos seus
Art. 65. Molestar alguém ou perturbar-lhe a tranquilida- produtos e instrumentos, lavrando-se os respectivos autos.
de, por acinte ou por motivo reprovável: § 1oOs animais serão prioritariamente libertados em seu
Pena – prisão simples, de quinze dias a dois meses, ou habitat ou, sendo tal medida inviável ou não recomendá-
multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis. vel por questões sanitárias, entregues a jardins zoológicos,
fundações ou entidades assemelhadas, para guarda e cuida-
CAPÍTULO VIII dos sob a responsabilidade de técnicos habilitados.(Redação
Das Contravenções Referentes dada pela Lei nº 13.052, de 2014)
à Administração Pública § 2oAté que os animais sejam entregues às instituições
mencionadas no § 1o deste artigo, o órgão autuante zelará
Art. 66. Deixar de comunicar à autoridade competente:
I – crime de ação pública, de que teve conhecimento para que eles sejam mantidos em condições adequadas de
no exercício de função pública, desde que a ação penal não acondicionamento e transporte que garantam o seu bem-
dependa de representação; -estar físico.(Redação dada pela Lei nº 13.052, de 2014)
II – crime de ação pública, de que teve conhecimento § 3º Tratando-se de produtos perecíveis ou madeiras, se-
no exercício da medicina ou de outra profissão sanitária, rão estes avaliados e doados a instituições científicas, hospi-
desde que a ação penal não dependa de representação e a talares, penais e outras com fins beneficentes.(Renumerando
comunicação não exponha o cliente a procedimento criminal: do §2º para §3º pela Lei nº 13.052, de 2014)
Pena – multa, de trezentos mil réis a três contos de réis. § 4° Os produtos e subprodutos da fauna não perecíveis
Art. 67. Inumar ou exumar cadáver, com infração das serão destruídos ou doados a instituições científicas, culturais
disposições legais: ou educacionais. (Renumerando do §3º para §4º pela Lei nº
Pena – prisão simples, de um mês a um ano, ou multa,
13.052, de 2014)
de duzentos mil réis a dois contos de réis.
Art. 68. Recusar à autoridade, quando por esta, justifica- § 5º Os instrumentos utilizados na prática da infração
damente solicitados ou exigidos, dados ou indicações con- serão vendidos, garantida a sua descaracterização por meio
cernentes à própria identidade, estado, profissão, domicílio da reciclagem.(Renumerando do §4º para §5º pela Lei nº
e residência: 13.052, de 2014)
Pena – multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis. [...]
Parágrafo único. Incorre na pena de prisão simples, de
um a seis meses, e multa, de duzentos mil réis a dois contos CAPÍTULO V
de réis, se o fato não constitui infração penal mais grave, Dos Crimes Contra o Meio Ambiente
quem, nas mesmas circunstâncias, faz declarações inverídi-
cas a respeito de sua identidade pessoal, estado, profissão, Seção I
domicílio e residência.
Dos Crimes contra a Fauna
Art. 69. (Revogado pela Lei nº 6.815, de 1980)
Pena – (Revogado pela Lei nº 6.815, de 1980)
Art. 70. Praticar qualquer ato que importe violação do Art. 29. Matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espéci-
monopólio postal da União: mes da fauna silvestre, nativos ou em rota migratória, sem
Pena – prisão simples, de três meses a um ano, ou multa, a devida permissão, licença ou autorização da autoridade
de três a dez contos de réis, ou ambas cumulativamente. competente, ou em desacordo com a obtida:
Pena – detenção de seis meses a um ano, e multa.
DISPOSIÇÕES FINAIS § 1º Incorre nas mesmas penas:
I – quem impede a procriação da fauna, sem licença,
Legislação Especial

Art. 71. Ressalvada a legislação especial sobre florestas, autorização ou em desacordo com a obtida;
caça e pesca, revogam-se as disposições em contrário. II – quem modifica, danifica ou destrói ninho, abrigo ou
Art. 72. Esta lei entrará em vigor no dia 1º de janeiro
criadouro natural;
de 1942.
Rio de Janeiro, 3 de outubro de 1941; 120º da Indepen- III – quem vende, expõe à venda, exporta ou adquire,
dência e 58º da República. guarda, tem em cativeiro ou depósito, utiliza ou transporta
ovos, larvas ou espécimes da fauna silvestre, nativa ou em
GETULIO VARGAS rota migratória, bem como produtos e objetos dela oriun-
Francisco Campos dos, provenientes de criadouros não autorizados ou sem a

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
devida permissão, licença ou autorização da autoridade II – pesca quantidades superiores às permitidas, ou me-
competente. diante a utilização de aparelhos, petrechos, técnicas e mé-
§ 2º No caso de guarda doméstica de espécie silvestre todos não permitidos;
não considerada ameaçada de extinção, pode o juiz, consi- III – transporta, comercializa, beneficia ou industrializa
derando as circunstâncias, deixar de aplicar a pena. espécimes provenientes da coleta, apanha e pesca proibidas.
§ 3° São espécimes da fauna silvestre todos aqueles Art. 35. Pescar mediante a utilização de:
pertencentes às espécies nativas, migratórias e quaisquer I – explosivos ou substâncias que, em contato com a água,
outras, aquáticas ou terrestres, que tenham todo ou parte de produzam efeito semelhante;
seu ciclo de vida ocorrendo dentro dos limites do território II – substâncias tóxicas, ou outro meio proibido pela au-
brasileiro, ou águas jurisdicionais brasileiras. toridade competente:
§ 4º A pena é aumentada de metade, se o crime é pra- Pena – reclusão de um ano a cinco anos.
ticado: Art. 36. Para os efeitos desta Lei, considera-se pesca todo
I – contra espécie rara ou considerada ameaçada de ex- ato tendente a retirar, extrair, coletar, apanhar, apreender
tinção, ainda que somente no local da infração; ou capturar espécimes dos grupos dos peixes, crustáceos,
II – em período proibido à caça; moluscos e vegetais hidróbios, suscetíveis ou não de apro-
III – durante a noite; veitamento econômico, ressalvadas as espécies ameaçadas
IV – com abuso de licença; de extinção, constantes nas listas oficiais da fauna e da flora.
V – em unidade de conservação; Art. 37. Não é crime o abate de animal, quando realizado:
VI – com emprego de métodos ou instrumentos capazes I – em estado de necessidade, para saciar a fome do
de provocar destruição em massa. agente ou de sua família;
§ 5º A pena é aumentada até o triplo, se o crime decorre II – para proteger lavouras, pomares e rebanhos da ação
do exercício de caça profissional. predatória ou destruidora de animais, desde que legal e ex-
§ 6º As disposições deste artigo não se aplicam aos atos pressamente autorizado pela autoridade competente;
de pesca. III – (Vetado)
Art. 30. Exportar para o exterior peles e couros de an- IV – por ser nocivo o animal, desde que assim caracteri-
fíbios e répteis em bruto, sem a autorização da autoridade zado pelo órgão competente.
ambiental competente:
Pena – reclusão, de um a três anos, e multa. Seção II
Art. 31. Introduzir espécime animal no País, sem parecer Dos Crimes contra a Flora
técnico oficial favorável e licença expedida por autoridade
Art. 38. Destruir ou danificar floresta considerada de pre-
competente:
servação permanente, mesmo que em formação, ou utilizá-la
Pena – detenção, de três meses a um ano, e multa.
com infringência das normas de proteção:
Art. 32. Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mu-
Pena – detenção, de um a três anos, ou multa, ou ambas
tilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos
as penas cumulativamente.
ou exóticos:
Parágrafo único. Se o crime for culposo, a pena será re-
Pena – detenção, de três meses a um ano, e multa.
duzida à metade.
§ 1º Incorre nas mesmas penas quem realiza experiência
Art. 38-A.Destruir ou danificar vegetação primária ou
dolorosa ou cruel em animal vivo, ainda que para fins didá-
secundária, em estágio avançado ou médio de regeneração,
ticos ou científicos, quando existirem recursos alternativos.
do Bioma Mata Atlântica, ou utilizá-la com infringência das
§ 2º A pena é aumentada de um sexto a um terço, se normas de proteção:(Incluído pela Lei nº 11.428, de 2006)
ocorre morte do animal. Pena – detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, ou multa,
Art. 33. Provocar, pela emissão de efluentes ou carrea- ou ambas as penas cumulativamente. (Incluído pela Lei nº
mento de materiais, o perecimento de espécimes da fauna 11.428, de 2006)
aquática existentes em rios, lagos, açudes, lagoas, baías ou Parágrafo único. Se o crime for culposo, a pena será re-
águas jurisdicionais brasileiras: duzida à metade. (Incluído pela Lei nº 11.428, de 2006)
Pena – detenção, de um a três anos, ou multa, ou ambas Art. 39. Cortar árvores em floresta considerada de pre-
cumulativamente. servação permanente, sem permissão da autoridade com-
Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas: petente:
I – quem causa degradação em viveiros, açudes ou esta- Pena – detenção, de um a três anos, ou multa, ou ambas
ções de aquicultura de domínio público; as penas cumulativamente.
II – quem explora campos naturais de invertebrados Art. 40. Causar dano direto ou indireto às Unidades de
aquáticos e algas, sem licença, permissão ou autorização Conservação e às áreas de que trata o art. 27 do Decreto
da autoridade competente; nº 99.274, de 6 de junho de 1990, independentemente de
III – quem fundeia embarcações ou lança detritos de sua localização:
qualquer natureza sobre bancos de moluscos ou corais, de- Pena – reclusão, de um a cinco anos.
Legislação Especial

vidamente demarcados em carta náutica. § 1o Entende-se por Unidades de Conservação de Prote-


Art. 34. Pescar em período no qual a pesca seja proibida ção Integral as Estações Ecológicas, as Reservas Biológicas, os
ou em lugares interditados por órgão competente: Parques Nacionais, os Monumentos Naturais e os Refúgios
Pena – detenção de um ano a três anos ou multa, ou de Vida Silvestre. (Redação dada pela Lei nº 9.985, de 2000)
ambas as penas cumulativamente. § 2o A ocorrência de dano afetando espécies ameaçadas
Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas quem: de extinção no interior das Unidades de Conservação de Pro-
I – pesca espécies que devam ser preservadas ou espé- teção Integral será considerada circunstância agravante para
cimes com tamanhos inferiores aos permitidos; a fixação da pena.(Redação dada pela Lei nº 9.985, de 2000)

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§ 3º Se o crime for culposo, a pena será reduzida à me- Pena – reclusão de 2 (dois) a 4 (quatro) anos e multa.
tade. (Incluído pela Lei nº 11.284, de 2006)
Art. 40-A. (Vetado).(Incluído pela Lei nº 9.985, de 2000) § 1o Não é crime a conduta praticada quando necessária
§ 1o Entende-se por Unidades de Conservação de Uso à subsistência imediata pessoal do agente ou de sua família.
Sustentável as Áreas de Proteção Ambiental, as Áreas de (Incluído pela Lei nº 11.284, de 2006)
Relevante Interesse Ecológico, as Florestas Nacionais, as § 2o Se a área explorada for superior a 1.000 ha (mil
Reservas Extrativistas, as Reservas de Fauna, as Reservas de hectares), a pena será aumentada de 1 (um) ano por milhar
Desenvolvimento Sustentável e as Reservas Particulares do de hectare.(Incluído pela Lei nº 11.284, de 2006)
Patrimônio Natural.(Incluído pela Lei nº 9.985, de 2000) Art. 51. Comercializar motosserra ou utilizá-la em flo-
§ 2o A ocorrência de dano afetando espécies ameaçadas restas e nas demais formas de vegetação, sem licença ou
de extinção no interior das Unidades de Conservação de Uso registro da autoridade competente:
Sustentável será considerada circunstância agravante para a Pena – detenção, de três meses a um ano, e multa.
fixação da pena.(Incluído pela Lei nº 9.985, de 2000) Art. 52. Penetrar em Unidades de Conservação condu-
§ 3o Se o crime for culposo, a pena será reduzida à me- zindo substâncias ou instrumentos próprios para caça ou
tade. (Incluído pela Lei nº 9.985, de 2000) para exploração de produtos ou subprodutos florestais, sem
Art. 41. Provocar incêndio em mata ou floresta: licença da autoridade competente:
Pena – reclusão, de dois a quatro anos, e multa. Pena – detenção, de seis meses a um ano, e multa.
Parágrafo único. Se o crime é culposo, a pena é de de- Art. 53. Nos crimes previstos nesta Seção, a pena é au-
tenção de seis meses a um ano, e multa. mentada de um sexto a um terço se:
Art. 42. Fabricar, vender, transportar ou soltar balões I – do fato resulta a diminuição de águas naturais, a ero-
que possam provocar incêndios nas florestas e demais for- são do solo ou a modificação do regime climático;
mas de vegetação, em áreas urbanas ou qualquer tipo de II – o crime é cometido:
assentamento humano: a) no período de queda das sementes;
Pena – detenção de um a três anos ou multa, ou ambas b) no período de formação de vegetações;
as penas cumulativamente. c) contra espécies raras ou ameaçadas de extinção, ainda
Art. 43. (Vetado). que a ameaça ocorra somente no local da infração;
Art. 44. Extrair de florestas de domínio público ou con-
d) em época de seca ou inundação;
sideradas de preservação permanente, sem prévia autori-
e) durante a noite, em domingo ou feriado.
zação, pedra, areia, cal ou qualquer espécie de minerais:
Pena – detenção, de seis meses a um ano, e multa.
Seção III
Art. 45. Cortar ou transformar em carvão madeira de lei,
Da Poluição e outros Crimes Ambientais
assim classificada por ato do Poder Público, para fins indus-
triais, energéticos ou para qualquer outra exploração, eco-
Art. 54. Causar poluição de qualquer natureza em níveis
nômica ou não, em desacordo com as determinações legais:
Pena – reclusão, de um a dois anos, e multa. tais que resultem ou possam resultar em danos à saúde hu-
Art. 46. Receber ou adquirir, para fins comerciais ou in- mana, ou que provoquem a mortandade de animais ou a
dustriais, madeira, lenha, carvão e outros produtos de origem destruição significativa da flora:
vegetal, sem exigir a exibição de licença do vendedor, outor- Pena – reclusão, de um a quatro anos, e multa.
gada pela autoridade competente, e sem munir-se da via § 1º Se o crime é culposo:
que deverá acompanhar o produto até final beneficiamento: Pena – detenção, de seis meses a um ano, e multa.
Pena – detenção, de seis meses a um ano, e multa. § 2º Se o crime:
Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas quem ven- I – tornar uma área, urbana ou rural, imprópria para a
de, expõe à venda, tem em depósito, transporta ou guarda ocupação humana;
madeira, lenha, carvão e outros produtos de origem vege- II – causar poluição atmosférica que provoque a retirada,
tal, sem licença válida para todo o tempo da viagem ou do ainda que momentânea, dos habitantes das áreas afetadas,
armazenamento, outorgada pela autoridade competente. ou que cause danos diretos à saúde da população;
Art. 47. (Vetado). III – causar poluição hídrica que torne necessária a in-
Art. 48. Impedir ou dificultar a regeneração natural de terrupção do abastecimento público de água de uma co-
florestas e demais formas de vegetação: munidade;
Pena – detenção, de seis meses a um ano, e multa. IV – dificultar ou impedir o uso público das praias;
Art. 49. Destruir, danificar, lesar ou maltratar, por qual- V – ocorrer por lançamento de resíduos sólidos, líqui-
quer modo ou meio, plantas de ornamentação de logradou- dos ou gasosos, ou detritos, óleos ou substâncias oleosas,
ros públicos ou em propriedade privada alheia: em desacordo com as exigências estabelecidas em leis ou
Pena – detenção, de três meses a um ano, ou multa, ou regulamentos:
ambas as penas cumulativamente. Pena – reclusão, de um a cinco anos.
Parágrafo único. No crime culposo, a pena é de um a seis § 3º Incorre nas mesmas penas previstas no parágrafo
meses, ou multa. anterior quem deixar de adotar, quando assim o exigir a au-
Legislação Especial

Art. 50. Destruir ou danificar florestas nativas ou planta- toridade competente, medidas de precaução em caso de
das ou vegetação fixadora de dunas, protetora de mangues, risco de dano ambiental grave ou irreversível.
objeto de especial preservação: Art. 55. Executar pesquisa, lavra ou extração de recursos
Pena – detenção, de três meses a um ano, e multa. minerais sem a competente autorização, permissão, conces-
Art. 50-A. Desmatar, explorar economicamente ou degra- são ou licença, ou em desacordo com a obtida:
dar floresta, plantada ou nativa, em terras de domínio público Pena – detenção, de seis meses a um ano, e multa.
ou devolutas, sem autorização do órgão competente:(Incluído Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre quem deixa
pela Lei nº 11.284, de 2006) de recuperar a área pesquisada ou explorada, nos termos da

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autorização, permissão, licença, concessão ou determinação Art. 64. Promover construção em solo não edificável, ou
do órgão competente. no seu entorno, assim considerado em razão de seu valor
Art. 56. Produzir, processar, embalar, importar, exportar, paisagístico, ecológico, artístico, turístico, histórico, cultural,
comercializar, fornecer, transportar, armazenar, guardar, ter religioso, arqueológico, etnográfico ou monumental, sem au-
em depósito ou usar produto ou substância tóxica, perigosa torização da autoridade competente ou em desacordo com
ou nociva à saúde humana ou ao meio ambiente, em desa- a concedida:
cordo com as exigências estabelecidas em leis ou nos seus Pena – detenção, de seis meses a um ano, e multa.
regulamentos: Art. 65.Pichar ou por outro meio conspurcar edificação
Pena – reclusão, de um a quatro anos, e multa. ou monumento urbano: (Redação dada pela Lei nº 12.408,
§ 1oNas mesmas penas incorre quem:(Redação dada pela de 2011)
Lei nº 12.305, de 2010) Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa.
I – abandona os produtos ou substâncias referidos no (Redação dada pela Lei nº 12.408, de 2011)
caput ou os utiliza em desacordo com as normas ambientais § 1o Se o ato for realizado em monumento ou coisa tomba-
ou de segurança;(Incluído pela Lei nº 12.305, de 2010) da em virtude do seu valor artístico, arqueológico ou histórico,
II – manipula, acondiciona, armazena, coleta, transporta, a pena é de 6 (seis) meses a 1 (um) ano de detenção e multa.
reutiliza, recicla ou dá destinação final a resíduos perigosos (Renumerado do parágrafo único pela Lei nº 12.408, de 2011)
de forma diversa da estabelecida em lei ou regulamento. § 2o Não constitui crime a prática de grafite realizada com o
(Incluído pela Lei nº 12.305, de 2010) objetivo de valorizar o patrimônio público ou privado mediante
§ 2º Se o produto ou a substância for nuclear ou radioa- manifestação artística, desde que consentida pelo proprietário
tiva, a pena é aumentada de um sexto a um terço. e, quando couber, pelo locatário ou arrendatário do bem pri-
§ 3º Se o crime é culposo: vado e, no caso de bem público, com a autorização do órgão
Pena – detenção, de seis meses a um ano, e multa. competente e a observância das posturas municipais e das
Art. 57. (Vetado). normas editadas pelos órgãos governamentais responsáveis
Art. 58. Nos crimes dolosos previstos nesta Seção, as pela preservação e conservação do patrimônio histórico e ar-
penas serão aumentadas: tístico nacional. (Incluído pela Lei nº 12.408, de 2011)
I – de um sexto a um terço, se resulta dano irreversível
à flora ou ao meio ambiente em geral; Seção V
II – de um terço até a metade, se resulta lesão corporal Dos Crimes contra a Administração Ambiental
de natureza grave em outrem;
III – até o dobro, se resultar a morte de outrem. Art. 66. Fazer o funcionário público afirmação falsa ou
Parágrafo único. As penalidades previstas neste artigo so- enganosa, omitir a verdade, sonegar informações ou dados
mente serão aplicadas se do fato não resultar crime mais grave. técnico-científicos em procedimentos de autorização ou de
Art. 59. (Vetado). licenciamento ambiental:
Art. 60. Construir, reformar, ampliar, instalar ou fazer Pena – reclusão, de um a três anos, e multa.
funcionar, em qualquer parte do território nacional, esta- Art. 67. Conceder o funcionário público licença, autoriza-
belecimentos, obras ou serviços potencialmente poluidores, ção ou permissão em desacordo com as normas ambientais,
sem licença ou autorização dos órgãos ambientais compe- para as atividades, obras ou serviços cuja realização depende
tentes, ou contrariando as normas legais e regulamentares de ato autorizativo do Poder Público:
pertinentes: Pena – detenção, de um a três anos, e multa.
Pena – detenção, de um a seis meses, ou multa, ou ambas Parágrafo único. Se o crime é culposo, a pena é de três
as penas cumulativamente. meses a um ano de detenção, sem prejuízo da multa.
Art. 61. Disseminar doença ou praga ou espécies que Art. 68. Deixar, aquele que tiver o dever legal ou contra-
possam causar dano à agricultura, à pecuária, à fauna, à tual de fazê-lo, de cumprir obrigação de relevante interesse
flora ou aos ecossistemas: ambiental:
Pena – reclusão, de um a quatro anos, e multa. Pena – detenção, de um a três anos, e multa.
Parágrafo único. Se o crime é culposo, a pena é de três
Seção IV meses a um ano, sem prejuízo da multa.
Dos Crimes contra o Ordenamento Art. 69. Obstar ou dificultar a ação fiscalizadora do Poder
Urbano e o Patrimônio Cultural Público no trato de questões ambientais:
Pena – detenção, de um a três anos, e multa.
Art. 62. Destruir, inutilizar ou deteriorar: Art. 69-A. Elaborar ou apresentar, no licenciamento,
I – bem especialmente protegido por lei, ato administra- concessão florestal ou qualquer outro procedimento admi-
tivo ou decisão judicial; nistrativo, estudo, laudo ou relatório ambiental total ou par-
II – arquivo, registro, museu, biblioteca, pinacoteca, insta- cialmente falso ou enganoso, inclusive por omissão: (Incluído
lação científica ou similar protegido por lei, ato administrativo pela Lei nº 11.284, de 2006)
ou decisão judicial: Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa. (In-
Pena – reclusão, de um a três anos, e multa. cluído pela Lei nº 11.284, de 2006)
Legislação Especial

Parágrafo único. Se o crime for culposo, a pena é de seis § 1o Se o crime é culposo: (Incluído pela Lei nº 11.284,
meses a um ano de detenção, sem prejuízo da multa. de 2006)
Art. 63. Alterar o aspecto ou estrutura de edificação ou Pena – detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos. (Incluído pela
local especialmente protegido por lei, ato administrativo ou Lei nº 11.284, de 2006)
decisão judicial, em razão de seu valor paisagístico, ecológico, § 2o A pena é aumentada de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois
turístico, artístico, histórico, cultural, religioso, arqueológico, terços), se há dano significativo ao meio ambiente, em decor-
etnográfico ou monumental, sem autorização da autoridade rência do uso da informação falsa, incompleta ou enganosa.
competente ou em desacordo com a concedida: (Incluído pela Lei nº 11.284, de 2006)
Pena – reclusão, de um a três anos, e multa. [...]

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TRÁFICO DE PESSOAS § 2º O termo “rapto” descrito no caput deste artigo
deve ser entendido como a conduta definida no art. 148
Decreto nº 5.948, de 26 de Outubro de 2006 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940, Código
Penal Brasileiro, referente ao sequestro e cárcere privado.
Aprova a Política Nacional de § 3º A expressão “escravatura ou práticas similares à es-
Enfrentamento ao Tráfico de Pes- cravatura” deve ser entendida como:
soas e institui Grupo de Trabalho I – a conduta definida no art. 149 do Decreto-Lei no
Interministerial com o objetivo de 2.848, de 1940, referente à redução à condição análoga a
elaborar proposta do Plano Nacio- de escravo; e
nal de Enfrentamento ao Tráfico II – a prática definida no art. 1º da Convenção Suplemen-
de Pessoas – PNETP. tar sobre a Abolição da Escravatura, do Tráfico de Escravos
e das Instituições e Práticas Análogas à Escravatura, como
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que sendo o casamento servil.
lhe confere o art. 84, inciso VI, alínea a, da Constituição, § 4º A intermediação, promoção ou facilitação do recru-
DECRETA: tamento, do transporte, da transferência, do alojamento ou
Art. 1º Fica aprovada a Política Nacional de Enfrentamen- do acolhimento de pessoas para fins de exploração também
to ao Tráfico de Pessoas, que tem por finalidade estabelecer configura tráfico de pessoas.
princípios, diretrizes e ações de prevenção e repressão ao § 5º O tráfico interno de pessoas é aquele realizado den-
tráfico de pessoas e de atendimento às vítimas, conforme tro de um mesmo Estado-membro da Federação, ou de um
Anexo a este Decreto. Estado-membro para outro, dentro do território nacional.
Art. 2º ao Art. 9º (Revogados pelo Decreto nº 7.901, de § 6º O tráfico internacional de pessoas é aquele realizado
2013) entre Estados distintos.
Art. 10. Este Decreto entra em vigor na data de sua pu- § 7º O consentimento dado pela vítima é irrelevante para
blicação. a configuração do tráfico de pessoas.

Brasília, 26 de outubro de 2006; 185º da Independência CAPÍTULO II


e 118º da República. Princípios e Diretrizes

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA Seção I


Márcio Thomaz Bastos Princípios
ANEXO
POLÍTICA NACIONAL DE Art. 3º São princípios norteadores da Política Nacional
ENFRENTAMENTO AO TRÁFICO DE PESSOAS de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas:
I – respeito à dignidade da pessoa humana;
CAPÍTULO I II – não discriminação por motivo de gênero, orientação
Disposições Gerais sexual, origem étnica ou social, procedência, nacionalidade,
atuação profissional, raça, religião, faixa etária, situação mi-
Art. 1º A Política Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de gratória ou outro status;
Pessoas tem por finalidade estabelecer princípios, diretrizes III – proteção e assistência integral às vítimas diretas e
e ações de prevenção e repressão ao tráfico de pessoas e indiretas, independentemente de nacionalidade e de cola-
de atenção às vítimas, conforme as normas e instrumentos boração em processos judiciais;
nacionais e internacionais de direitos humanos e a legislação IV – promoção e garantia da cidadania e dos direitos
pátria. humanos;
Art. 2º Para os efeitos desta Política, adota-se a expres- V – respeito a tratados e convenções internacionais de
são “tráfico de pessoas” conforme o Protocolo Adicional à direitos humanos;
Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado VI – universalidade, indivisibilidade e interdependência
Transnacional Relativo à Prevenção, Repressão e Punição do dos direitos humanos; e
Tráfico de Pessoas, em especial Mulheres e Crianças, que a VII – transversalidade das dimensões de gênero, orienta-
define como o recrutamento, o transporte, a transferência, ção sexual, origem étnica ou social, procedência, raça e faixa
o alojamento ou o acolhimento de pessoas, recorrendo à etária nas políticas públicas.
ameaça ou uso da força ou a outras formas de coação, ao Parágrafo único. A Política Nacional de Enfrentamento
rapto, à fraude, ao engano, ao abuso de autoridade ou à ao Tráfico de Pessoas observará os princípios da proteção
situação de vulnerabilidade ou à entrega ou aceitação de integral da criança e do adolescente.
pagamentos ou benefícios para obter o consentimento de
uma pessoa que tenha autoridade sobre outra para fins de Seção II
Legislação Especial

exploração. A exploração incluirá, no mínimo, a exploração Diretrizes Gerais


da prostituição de outrem ou outras formas de exploração se-
xual, o trabalho ou serviços forçados, escravatura ou práticas Art. 4º São diretrizes gerais da Política Nacional de En-
similares à escravatura, a servidão ou a remoção de órgãos. frentamento ao Tráfico de Pessoas:
§ 1º O termo “crianças” descrito no caput deve ser en- I – fortalecimento do pacto federativo, por meio da atu-
tendido como “criança e adolescente”, de acordo com a Lei ação conjunta e articulada de todas as esferas de governo
nº 8.069, de 13 de julho de 1990, Estatuto da Criança e do na prevenção e repressão ao tráfico de pessoas, bem como
Adolescente. no atendimento e reinserção social das vítimas;

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II – fomento à cooperação internacional bilateral ou I – proteção e assistência jurídica, social e de saúde às
multilateral; vítimas diretas e indiretas de tráfico de pessoas;
III – articulação com organizações não-governamentais, II – assistência consular às vítimas diretas e indiretas de
nacionais e internacionais; tráfico de pessoas, independentemente de sua situação mi-
IV – estruturação de rede de enfrentamento ao tráfico gratória e ocupação;
de pessoas, envolvendo todas as esferas de governo e orga- III – acolhimento e abrigo provisório das vítimas de tráfico
nizações da sociedade civil; de pessoas;
V – fortalecimento da atuação nas regiões de fronteira, IV – reinserção social com a garantia de acesso à educa-
em portos, aeroportos, rodovias, estações rodoviárias e fer- ção, cultura, formação profissional e ao trabalho às vítimas
roviárias, e demais áreas de incidência; de tráfico de pessoas;
VII – verificação da condição de vítima e respectiva pro- V – reinserção familiar e comunitária de crianças e ado-
teção e atendimento, no exterior e em território nacional, lescentes vítimas de tráfico de pessoas;
bem como sua reinserção social; VI – atenção às necessidades específicas das vítimas, com
VIII – incentivo e realização de pesquisas, considerando especial atenção a questões de gênero, orientação sexual,
as diversidades regionais, organização e compartilhamento origem étnica ou social, procedência, nacionalidade, raça,
de dados; religião, faixa etária, situação migratória, atuação profissional
IX – incentivo à formação e à capacitação de profissio- ou outro status;
nais para a prevenção e repressão ao tráfico de pessoas, VII – proteção da intimidade e da identidade das vítimas
bem como para a verificação da condição de vítima e para de tráfico de pessoas; e
o atendimento e reinserção social das vítimas; VIII – levantamento, mapeamento, atualização e divul-
X – harmonização das legislações e procedimentos admi- gação de informações sobre instituições governamentais e
nistrativos nas esferas federal, estadual e municipal relativas não-governamentais situadas no Brasil e no exterior que
ao tema; prestam assistência a vítimas de tráfico de pessoas.
XI – incentivo à participação da sociedade civil em ins-
tâncias de controle social das políticas públicas na área de CAPÍTULO III
enfrentamento ao tráfico de pessoas; Ações
XII – incentivo à participação dos órgãos de classe e con-
selhos profissionais na discussão sobre tráfico de pessoas; e Art. 8º Na implementação da Política Nacional de Enfren-
tamento ao Tráfico de Pessoas, caberá aos órgãos e entida-
XIII – garantia de acesso amplo e adequado a informa-
des públicos, no âmbito de suas respectivas competências
ções em diferentes mídias e estabelecimento de canais de
e condições, desenvolver as seguintes ações:
diálogo, entre o Estado, sociedade e meios de comunicação,
I – na área de Justiça e Segurança Pública:
referentes ao enfrentamento ao tráfico de pessoas.
a) proporcionar atendimento inicial humanizado às víti-
mas de tráfico de pessoas que retornam ao País na condição
Seção III
de deportadas ou não admitidas nos aeroportos, portos e
Diretrizes Específicas
pontos de entrada em vias terrestres;
b) elaborar proposta intergovernamental de aperfeiçoa-
Art. 5º São diretrizes específicas de prevenção ao tráfico
mento da legislação brasileira relativa ao enfrentamento do
de pessoas: tráfico de pessoas e crimes correlatos;
I – implementação de medidas preventivas nas políticas c) fomentar a cooperação entre os órgãos federais, esta-
públicas, de maneira integrada e intersetorial, nas áreas de duais e municipais ligados à segurança pública para atuação
saúde, educação, trabalho, segurança, justiça, turismo, assis- articulada na prevenção e repressão ao tráfico de pessoas e
tência social, desenvolvimento rural, esportes, comunicação, responsabilização de seus autores;
cultura, direitos humanos, dentre outras; d) propor e incentivar a adoção do tema de tráfico de
II – apoio e realização de campanhas socioeducativas e de pessoas e direitos humanos nos currículos de formação dos
conscientização nos âmbitos internacional, nacional, regional profissionais de segurança pública e operadores do Direito,
e local, considerando as diferentes realidades e linguagens; federais, estaduais e municipais, para capacitação, quando
III – monitoramento e avaliação de campanhas com a do ingresso na instituição e de forma continuada, para o
participação da sociedade civil; enfrentamento a este tipo de crime;
IV – apoio à mobilização social e fortalecimento da so- e) fortalecer as rubricas orçamentárias existentes e criar
ciedade civil; e outras voltadas para a formação dos profissionais de seguran-
V – fortalecimento dos projetos já existentes e fomento à ça pública e de justiça na área de enfrentamento ao tráfico
criação de novos projetos de prevenção ao tráfico de pessoas. de pessoas;
Art. 6º São diretrizes específicas de repressão ao tráfico f) incluir nas estruturas específicas de inteligência policial
de pessoas e de responsabilização de seus autores: a investigação e repressão ao tráfico de pessoas;
I – cooperação entre órgãos policiais nacionais e inter- g) criar, nas Superintendências Regionais do Departa-
Legislação Especial

nacionais; mento de Polícia Federal e da Polícia Rodoviária Federal,


II – cooperação jurídica internacional; estruturas específicas para o enfrentamento do tráfico de
III – sigilo dos procedimentos judiciais e administrativos, pessoas e outros crimes contra direitos humanos;
nos termos da lei; e h) promover a aproximação dos profissionais de segu-
IV – integração com políticas e ações de repressão e res- rança pública e operadores do Direito com a sociedade civil;
ponsabilização dos autores de crimes correlatos. i) celebrar acordos de cooperação com organizações da
Art. 7º São diretrizes específicas de atenção às vítimas sociedade civil que atuam na prevenção ao tráfico de pessoas
do tráfico de pessoas: e no atendimento às vítimas;

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
j) promover e incentivar, de forma permanente, cursos b) acompanhar e sistematizar as notificações compul-
de atualização sobre tráfico de pessoas, para membros e sórias relativas ao tráfico de pessoas sobre suspeita ou
servidores dos órgãos de justiça e segurança pública, pre- confirmação de maus-tratos, violência e agravos por causas
ferencialmente por meio de suas instituições de formação; externas relacionadas ao trabalho;
l) articular os diversos ramos do Ministério Público dos c) propor a elaboração de protocolos específicos para a
Estados e da União, da Magistratura Estadual e Federal e dos padronização do atendimento às vítimas de tráfico de pes-
órgãos do sistema de justiça e segurança pública; soas; e
m) organizar e integrar os bancos de dados existentes d) capacitar os profissionais de saúde na área de atendi-
na área de enfrentamento ao tráfico de pessoas e áreas mento às vítimas de tráfico de pessoas;
correlatas; V – na área de Assistência Social:
n) celebrar acordos de cooperação técnica com entida- a) oferecer assistência integral às vítimas de tráfico de
des públicas e privadas para subsidiar a atuação judicial e pessoas no âmbito do Sistema Único de Assistência Social;
extrajudicial; b) propiciar o acolhimento de vítimas de tráfico, em arti-
o) incluir o tema de tráfico de pessoas nos cursos de culação com os sistemas de saúde, segurança e justiça;
combate à lavagem de dinheiro, ao tráfico de drogas e armas
c) capacitar os operadores da assistência social na área
e a outros crimes correlatos;
de atendimento às vítimas de tráfico de pessoas; e
p) desenvolver, em âmbito nacional, mecanismos de
d) apoiar a implementação de programas e projetos de
prevenção, investigação e repressão ao tráfico de pessoas
atendimento específicos às vítimas de tráfico de pessoas;
cometido com o uso da rede mundial de computadores, e
conseqüente responsabilização de seus autores; e VI – na área de Promoção da Igualdade Racial:
q) incluir a possível relação entre o desaparecimento e a) garantir a inserção da perspectiva da promoção da
o tráfico de pessoas em pesquisas e investigações policiais; igualdade racial nas políticas governamentais de enfrenta-
II – na área de Relações Exteriores: mento ao tráfico de pessoas;
a) propor e elaborar instrumentos de cooperação inter- b) apoiar as experiências de promoção da igualdade racial
nacional na área do enfrentamento ao tráfico de pessoas; empreendidas por Municípios, Estados e organizações da
b) iniciar processos de ratificação dos instrumentos in- sociedade civil voltadas à prevenção ao tráfico de pessoas e
ternacionais referentes ao tráfico de pessoas; atendimento às vítimas; e
c) inserir no Manual de Serviço Consular e Jurídico do c) promover a realização de estudos e pesquisas sobre
Ministério das Relações Exteriores um capítulo específico de o perfil das vítimas de tráfico de pessoas, com ênfase na
assistência consular às vítimas de tráfico de pessoas; população negra e outros segmentos étnicos da população
d) incluir o tema de tráfico de pessoas nos cursos de re- brasileira;
moção oferecidos aos servidores do Ministério de Relações VII – na área do Trabalho e Emprego:
Exteriores; a) orientar os empregadores e entidades sindicais sobre
e) promover a coordenação das políticas referentes ao aspectos ligados ao recrutamento e deslocamento de traba-
enfrentamento ao tráfico de pessoas em fóruns internacio- lhadores de uma localidade para outra;
nais bilaterais e multilaterais; b) fiscalizar o recrutamento e o deslocamento de tra-
f) propor e apoiar projetos de cooperação técnica inter- balhadores para localidade diversa do Município ou Estado
nacional na área de enfrentamento ao tráfico de pessoas; de origem;
g) coordenar e facilitar a participação brasileira em even- c) promover articulação com entidades profissionali-
tos internacionais na área de enfrentamento ao tráfico de zantes visando capacitar e reinserir a vítima no mercado de
pessoas; e trabalho; e
h) fortalecer os serviços consulares na defesa e proteção d) adotar medidas com vistas a otimizar a fiscalização
de vítimas de tráfico de pessoas; dos inscritos nos Cadastros de Empregadores que Tenham
III – na área de Educação: Mantido Trabalhadores em Condições Análogas a de Escravo;
a) celebrar acordos com instituições de ensino e pesquisa VIII – na área de Desenvolvimento Agrário:
para o desenvolvimento de estudos e pesquisas relacionados a) diminuir a vulnerabilidade do trabalhador e prevenir
ao tráfico de pessoas;
o recrutamento mediante políticas específicas na área de
b) incluir a questão do tráfico de pessoas nas ações e
desenvolvimento rural;
resoluções do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Edu-
b) promover ações articuladas com parceiros que atuam
cação do Ministério da Educação (FNDE/MEC);
nos Estados de origem dos trabalhadores recrutados;
c) apoiar a implementação de programas e projetos de
prevenção ao tráfico de pessoas nas escolas; c) formar parcerias no que tange à assistência técnica
d) incluir e desenvolver o tema do enfrentamento ao trá- para avançar na implementação da Política Nacional de As-
fico de pessoas nas formações continuadas da comunidade sistência Técnica e Extensão Rural;
escolar, em especial os trabalhadores da educação; d) excluir da participação em certames licitatórios e
e) promover programas intersetoriais de educação e restringir o acesso aos recursos do crédito rural a todas as
prevenção ao tráfico de pessoas para todos os atores en- pessoas físicas ou jurídicas que explorem o trabalho forçado
Legislação Especial

volvidos; e ou em condição análoga a de escravo;


f) fomentar a educação em direitos humanos com desta- e) promover a reinclusão de trabalhadores libertados
que ao enfrentamento ao tráfico de pessoas em todas mo- e de resgate da cidadania, mediante criação de uma linha
dalidades de ensino, inclusive no ensino superior; específica, em parceria com o Ministério da Educação, para
IV – na área de Saúde: alfabetização e formação dos trabalhadores resgatados, de
a) garantir atenção integral para as vítimas de tráfico de modo que possam atuar como agentes multiplicadores para a
pessoas e potencializar os serviços existentes no âmbito do erradicação do trabalho forçado ou do trabalho em condição
Sistema Único de Saúde; análoga a de escravo; e

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
f) incentivar os Estados, Municípios e demais parceiros XII – na área de Cultura:
a acolher e prestar apoio específico aos trabalhadores liber- a) desenvolver projetos e ações culturais com foco na
tados, por meio de capacitação técnica; prevenção ao tráfico de pessoas; e
IX – na área dos Direitos Humanos: b) fomentar e estimular atividades culturais, tais como
a) proteger vítimas, réus colaboradores e testemunhas programas regionais de rádio, peças e outros programas vei-
de crimes de tráfico de pessoas; culados por radiodifusores, que possam aumentar a cons-
b) receber denúncias de tráfico de pessoas através do cientização da população com relação ao tráfico de pessoas,
serviço de disque-denúncia nacional, dando o respectivo trabalho escravo e exploração sexual, respeitadas as carac-
encaminhamento; terísticas regionais.
c) incluir ações específicas sobre enfrentamento ao trá-
fico de pessoas e fortalecer ações existentes no âmbito de Decreto nº 6.347, de 8 de Janeiro de 2008
programas de prevenção à violência e garantia de direitos;
d) proporcionar proteção aos profissionais que atuam Aprova o Plano Nacional de
no enfrentamento ao tráfico de pessoas e que, em função Enfrentamento ao Tráfico de
de suas atividades, estejam ameaçados ou se encontrem Pessoas – PNETP e institui Grupo
em situação de risco; Assessor de Avaliação e Dissemi-
e) incluir o tema do tráfico de pessoas nas capacitações nação do referido Plano.
dos Conselhos de Direitos da Criança e do Adolescente e
Conselhos Tutelares; O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que
f) articular ações conjuntas de enfrentamento ao tráfico lhe confere o art. 84, inciso VI, alínea “a”, da Constituição,
de crianças e adolescentes em regiões de fronteira;
DECRETA:
g) promover, em parceira com os órgãos e entidades di-
Art. 1º Fica aprovado o Plano Nacional de Enfrentamento
retamente responsáveis, a prevenção ao trabalho escravo,
ao Tráfico de Pessoas – PNETP, com o objetivo de prevenir e
através da sensibilização de operadores de Direito, orien-
reprimir o tráfico de pessoas, responsabilizar os seus autores
tação a produtores rurais acerca dos direitos trabalhistas,
e garantir atenção às vítimas, nos termos da legislação em
educação e capacitação de trabalhadores rurais; e
vigor e dos instrumentos internacionais de direitos humanos,
h) disponibilizar mecanismos de acesso a direitos, incluin-
conforme Anexo a este Decreto.
do documentos básicos, preferencialmente nos Municípios
§ 1º O PNETP será executado no prazo de dois anos.
identificados como focos de aliciamento de mão-de-obra
§ 2º Compete ao Ministério da Justiça, em articulação
para trabalho escravo;
com o órgão responsável pelo cumprimento de cada meta
X – na área da Proteção e Promoção dos Direitos da Mu-
estabelecida no PNETP:
lher:
a) qualificar os profissionais da rede de atendimento à I – definir as metas de curto, médio e longo prazos; e
mulher em situação de violência para o atendimento à mu- II – definir os órgãos e entidades que atuarão como par-
lher traficada; ceiros no cumprimento de cada meta, levando-se em con-
b) incentivar a prestação de serviços de atendimento às sideração suas atribuições e competências institucionais.
mulheres traficadas nos Centros de Referência de Atendi- Art. 2º Caberá ao Ministério da Justiça a função de avaliar
mento à Mulher em Situação de Violência; e monitorar o PNETP.
c) apoiar e incentivar programas e projetos de qualifica- Art. 3º Fica instituído, no âmbito do Ministério da Justiça,
ção profissional, geração de emprego e renda que tenham o Grupo Assessor de Avaliação e Disseminação do PNETP,
como beneficiárias diretas mulheres traficadas; com as seguintes atribuições:
d) fomentar debates sobre questões estruturantes favo- I – apoiar o Ministério da Justiça no monitoramento e
recedoras do tráfico de pessoas e relativas à discriminação avaliação do PNETP;
de gênero; II – estabelecer a metodologia de monitoramento e
e) promover ações de articulação intersetoriais visando avaliação do PNETP e acompanhar a execução das ações,
a inserção da dimensão de gênero nas políticas públicas bá- atividades e metas estabelecidas;
sicas, assistenciais e especiais; III – efetuar ajustes na definição de suas prioridades;
f) apoiar programas, projetos e ações de educação não- IV – promover sua difusão junto a órgãos e entidades
-sexista e de promoção da diversidade no ambiente profis- governamentais e não-governamentais; e
sional e educacional; V – elaborar relatório semestral de acompanhamento.
g) participar das capacitações visando garantir a temática Art. 4º O Grupo Assessor será integrado por um represen-
de gênero; e tante, e respectivo suplente, de cada órgão a seguir indicado:
h) promover, em parceria com organizações governamen- I – Ministérios:
tais e não-governamentais, debates sobre metodologias de a) da Justiça, que o coordenará;
atendimento às mulheres traficadas; b) do Desenvolvimento Social e Combate à Fome;
XI – na área do Turismo: c) da Saúde;
Legislação Especial

a) incluir o tema do tráfico de pessoas, em especial mu- d) do Trabalho e Emprego;


lheres, crianças e adolescentes nas capacitações e eventos e) do Desenvolvimento Agrário;
de formação dirigidos à cadeia produtiva do turismo; f) da Educação;
b) cruzar os dados dos diagnósticos feitos nos Municípios g) das Relações Exteriores;
para orientar os planos de desenvolvimento turístico local h) do Turismo;
através do programa de regionalização; e i) da Cultura;
c) promover campanhas de sensibilização contra o turis- II – da Presidência da República:
mo sexual como forma de prevenção ao tráfico de pessoas; a) Secretaria Especial dos Direitos Humanos;

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
b) Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres; e Art. 5º As atividades desenvolvidas no âmbito do Grupo
c) Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igual- Assessor serão consideradas serviço público relevante, não
dade Racial; e remunerado.
III – Advocacia-Geral da União. Art. 6º Este Decreto entra em vigor na data de sua pu-
§ 1º Os integrantes do Grupo Assessor serão indicados blicação.
pelos titulares dos órgãos representados e designados pelo
Ministro de Estado da Justiça. Brasília, 8 de janeiro de 2008; 187º da Independência e
§ 2º Poderão ser convidados a participar das reuniões 1120º da República.
do Grupo Assessor representantes do Ministério Público Fe-
deral, do Ministério Público do Trabalho e de outros órgãos LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA
e entidades da administração pública e da sociedade civil. Tarso Genro

ANEXO
PLANO NACIONAL DE ENFRENTAMENTO AO TRÁFICO DE PESSOAS – PNETP
EIXO ESTRATÉGICO 1 – PREVENÇÃO AO TRÁFICO DE PESSOAS

Prioridade nº 1: Levantar, sistematizar, elaborar e divulgar estudos, pesquisas, informações e experiências sobre o tráfico
de pessoas.

Ação 1.A. Levantar, sistematizar e disseminar estudos, pesquisas, informações e experiências já


existentes no âmbito nacional ou internacional sobre tráfico de pessoas.

Atividade
1.A.1. Elaborar levantamento de pesquisas realizadas no Brasil ou em outros países.
Meta Um levantamento realizado e publicado. MJ

Atividade
1.A.2 Elaborar levantamento de boas práticas de serviços e experiências de prevenção ao
tráfico de crianças e adolescentes realizadas no Brasil ou em outros países.
Meta Um levantamento realizado e publicado. SEDH

Atividade
1.A.3. Realizar levantamento de serviços e experiências referenciais da Proteção Social Especial
no âmbito do Sistema Unificado de Assistência Social (SUAS) realizadas no Brasil.
Meta Um levantamento realizado e publicado. MDS

Atividade
1.A.4. Realizar jornada de debates para troca de experiências e conhecimentos.
Meta Uma jornada realizada. MJ

Atividade
1.A.5. Realizar evento de divulgação dos resultados.
Meta Um evento realizado. MJ

Atividade
1.A.6. Elaborar programa sobre Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas para
a TV Senasp.
Meta Um programa realizado. MJ

Atividade
Legislação Especial

1.A.7. Realizar seminário informativo envolvendo funcionários da área consular.


Meta Um seminário realizado. MRE

Atividade
1.A.8. Criar prêmio de incentivo a boas práticas.
Meta Uma premiação realizada. MJ

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
Atividade
1.A.9. Elaborar levantamento das políticas sociais básicas mais afetas aos grupos vulneráveis
ao tráfico de pessoas.
Meta Um levantamento realizado. MJ

Ação 1.B. Realizar estudos e pesquisas sobre tráfico de pessoas.

Atividade
1.B.1. Realizar mapeamento da dinâmica territorial do tráfico de pessoas no Brasil.
Meta Um mapeamento realizado e publicado. SEDH

Atividade
1.B.2 Realizar pesquisa sobre o perfil de atores relacionados ao tráfico de pessoas no Brasil.
Meta Uma pesquisa realizada e publicada. MJ

Atividade
1.B.3. Realizar pesquisa específica sobre tráfico para fins de remoção de órgão.
Meta Uma pesquisa realizada. MS

Atividade
1.B.4. Fomentar a elaboração de monografias nos cursos da Rede Nacional de Altos Estudos
em Segurança Pública (RENAESP).
Meta Uma estratégia de fomento implementada. MJ

Atividade
1.B.5. Produzir estudo sobre o processo de estruturação e disseminação dos dados.
Meta Um estudo realizado. MEC

Atividade
1.B.6. Desenvolver metodologias para identificação de interfaces do tráfico de pessoas com
outras situações de violências ou vulnerabilidade para subsidiar ações de prevenção ao
tráfico e atenção às vítimas.
Meta Uma metodologia que identifique a vulnerabilidade à DST/AIDS e o tráfico de pessoas MS
desenvolvida.
Meta Uma metodologia que identifique a vulnerabilidade à discriminação por procedência e SEDH
por tráfico de pessoas desenvolvida.
Meta Uma metodologia que identifique as interfaces entre trabalho degradante, situação MTE
migratória e o tráfico de pessoas desenvolvida.
Meta Uma metodologia que identifique a vulnerabilidade à discriminação homofóbica, les- SEDH
bofóbica e transfóbica e o tráfico de pessoas desenvolvida.
Meta Uma metodologia que identifique a relação entre discriminação étnico-racial e a vulne- SEPPIR
rabilidade ao tráfico de pessoas desenvolvida.
Meta Uma metodologia que identifique a vulnerabilidade de crianças, adolescentes e jovens SEDH
em relação ao tráfico de pessoas desenvolvida.
Meta Uma metodologia que identifique a vulnerabilidade de idosos em relação ao tráfico de SEDH
pessoas desenvolvida.

Atividade
Legislação Especial

1.B.7. Elaborar estudo sobre a legislação que disciplina o funcionamento de agências de re-
crutamento de trabalhadores, estudantes, esportistas, modelos, casamentos no Brasil
e no exterior, entre outros, propondo, se for o caso, sua alteração.
Meta Um estudo realizado e publicado. MJ

Ação 1.C. Incentivar a criação de linhas de pesquisa e extensão sobre tráfico de pessoas em uni-
versidades.

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
Atividade
1.C.1. Criar prêmio anual de pesquisas.
Meta Duas premiações realizadas. MJ

Atividade
1.C.2 Orientar a concessão de bolsas e apoio financeiro específicos, por meio de edital voltado
para os programas de Instituição de Ensino Superior (IES).
Meta Um edital publicado. MEC

Prioridade nº 2: Capacitar e formar atores envolvidos direta ou indiretamente com o enfrentamento ao tráfico de pessoas
na perspectiva dos direitos humanos.

Ação 2.A. Realizar cursos e oficinas, com a produção de material de referência quando necessário,
para profissionais e agentes específicos.

Atividade
2.A.1. Desenvolver material voltado para a formação dos trabalhadores da educação nos níveis
e modalidades de ensino.
Meta Um material voltado para os trabalhadores da educação sobre Educação em Direitos MEC
Humanos e Tráfico de Pessoas produzido.
Meta Um material voltado para os alunos sobre Educação em Direitos Humanos e Tráfico de MEC
Pessoas produzido.

Atividade
2.A.2 Capacitar profissionais de saúde e agentes, direta ou indiretamente envolvidos na pre-
venção ao tráfíco de pessoas.
Meta 250 agentes formadores envolvidos nas comunidades tradicionais capacitados. SEPPIR
Meta 500 equipes de Saúde da Família dos três Estados com maior índice de tráfico de pessoas MS
capacitados e 100% dos Centros de Referência do Trabalhador dos três Estados com
maior índice de tráfico de pessoas capacitados.
Meta Cinco capacitações regionais para profissionais de comunicação social realizadas. SEDH
Meta 500 trabalhadores da educação nos níveis e modalidades de ensino capacitados. MEC
Meta Cinco capacitações regionais para os operadores do sistema de garantia de direitos da SEDH
criança e do adolescente realizadas.
Meta 800 agentes multiplicadores para a promoção dos direitos da mulher capacitados. SPM
Meta 1.400 profissionais de segurança pública capacitados por meio da Rede Nacional de MJ
Ensino à Distância.

Prioridade nº 3: Mobilizar e sensibilizar grupos específicos e comunidade em geral sobre o tema do tráfico de pessoas.

Ação 3.A. Apoiar projetos artísticos e culturais com enfoque no enfrentamento ao tráfico de pes-
soas.

Atividade
3.A.1. Criar premiação para elaboração de slogan contra o tráfico de pessoas.
Meta Uma premiação nacional. MinC

Atividade
3.A.2 Estabelecer, nos editais de fomento à cultura, critérios condicionantes de divulgação de
slogan do enfrentamento ao tráfico de pessoas, de acordo com a linguagem do projeto
a ser financiado.
Meta 100 projetos condicionados. MinC
Legislação Especial

Ação 3.B. Promover e realizar campanhas nacionais de enfrentamento ao tráfico de pessoas.

Atividade
3.B.1. Realizar campanha nacional referente ao tráfico de pessoas.
Meta Uma campanha nacional dirigida aos usuários de produtos ou serviços oriundos do MJ
tráfico de pessoas realizada.

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
Meta Uma campanha de prevenção ao tráfico de pessoas realizada. SPM

Atividade
3.B.2. Apoiar campanhas promovidas por entidades envolvidas com o tema.
Meta Duas campanhas apoiadas. MJ

Ação 3.C. Sensibilizar atores de setores específicos com relação ao tráfico de pessoas.

Atividade
3.C.1. Realizar encontro com profissionais da indústria do turismo, seguindo o calendário de
encontros do Programa Turismo Sustentável e Infância (TSI), com inclusão do tema do
tráfico de pessoas.
Meta 18 encontros realizados. MTur

Atividade
3.C.2. Sensibilizar a cadeia produtiva do turismo através da realização de seminários e da
confecção de cartilhas educativas direcionadas a esse setor, nas regiões de maior vul-
nerabilidade.
Meta 5.000 cartilhas produzidas. MTur
Meta 18 seminários realizados. MTur

Atividade
3.C.3. Realizar encontros com as entidades de pais e mestres, e grupos de jovens.
Meta Dois encontros realizados. MS

Atividade
3.C.4. Realizar encontros técnicos com os gestores para a priorização dos grupos vulneráveis
ao tráfico de pessoas nas políticas sociais básicas.
Meta Dois encontros realizados. MJ

Prioridade nº 4: Diminuir a vulnerabilidade ao tráfico de pessoas de grupos sociais específicos.

Ação 4.A. Disponibilizar mecanismos de acesso a direitos, incluindo documentos básicos, prefe-
rencialmente nos Municípios e comunidades identificadas como focos de aliciamento
de vítimas de tráfico de pessoas.

Atividade
4.A.1. Fomentar e apoiar comitês interinstitucionais, balcões de direitos e outras iniciativas
que possibilitem o acesso a direitos.
Meta Cinco parcerias realizadas. SEDH

Atividade
4.A.2 Estabelecer parcerias com órgãos competentes para o fornecimento de documentação
civil básica.
Meta 12 parcerias estaduais estabelecidas. SEDH

Atividade
4.A.3. Elaborar e divulgar material informativo sobre condições de acesso a direitos.
Meta Cinco materiais elaborados e divulgados. SEDH
Legislação Especial

Ação 4.B. Promover a regularização do recrutamento, deslocamento e contratação de trabalha-


dores.

Atividade
4.B.1. Divulgar nas entidades representativas de empregadores e trabalhadores e em outras
instâncias, como a Polícia Rodoviária Federal, a obrigatoriedade da solicitação da certidão
liberatória para transportar trabalhadores recrutados em Municípios distintos daquele
onde se localiza a unidade produtiva.

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
Meta Uma cartilha produzida. MTE

Atividade
4.B.2. Elaborar e implementar projeto-piloto de centro público de intermediação de mão-de-
-obra rural em Município identificado como foco de aliciamento para o trabalho escravo.
Meta Um projeto-piloto elaborado e implementado. MTE

Atividade
4.B.3. Criar mecanismo de monitoramento da emissão da certidão liberatória, em articulação
com a Polícia Rodoviária Federal.
Meta Um mecanismo criado. MTE

Prioridade nº 5: Articular, estruturar e consolidar, a partir dos serviços e redes existentes, um sistema nacional de referência
e atendimento às vítimas de tráfico.

Ação 5.A. Formular e implementar um programa permanente e integrado de formação em aten-


dimento, na perspectiva dos direitos humanos.

Atividade
5.A.1. Inventariar os programas de capacitação e conteúdos existentes nos setores públicos
governamentais e não-governamentais, bem como nos organismos internacionais com
vistas a definir conteúdos básicos (referenciais mínimos) para a abordagem do tema.
Meta Um inventário elaborado. MJ

Atividade
5.A.2 Incentivar a incorporação dos conteúdos básicos (referenciais mínimos) referidos nos
programas de capacitação já existentes nos órgãos governamentais.
Meta Uma estratégia de incorporação de conteúdos básicos nos programas inventariada im- MJ
plementada.

Ação 5.B. Integrar, estruturar, fortalecer, articular e mobilizar os serviços e as redes de atendimento.

Atividade
5.B.1. Ampliar e consolidar serviços de recepção a brasileiros deportados e não admitidos
nos principais pontos de entrada e saída do País, como núcleos de enfrentamento ao
tráfico de pessoas.
Meta Dois serviços de recepção organizados. MJ

Atividade
5.B.2. Apoiar o desenvolvimento de núcleos de enfrentamento ao tráfico de pessoas.
Meta Dois núcleos apoiados. MJ

Atividade
5.B.3. Criar e fortalecer os Centros de Referência Especializados de Atendimento à Mulher.
Meta 120 centros de referência criados ou fortalecidos. SPM

Atividade
5.B.4. Desenvolver projeto-piloto a partir de um Centro de Referência Especializado no Aten-
dimento à Mulher em um Município selecionado para a estruturação de uma rede de
atendimento às mulheres vítimas de tráfico de pessoas.
Legislação Especial

Meta Um projeto-piloto desenvolvido. SPM

Atividade
5.B.5. Apoiar a estruturação da rede de acolhimento (abrigos) a mulheres vítimas de violência
ou traficadas e seus filhos.
Meta 138 abrigos estruturados. MDS

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
Atividade
5.B.6. Apoiar a estruturação dos Centros de Referência Especializado em Assistência Social
(CREAS) existentes para atender às vítimas de violência e tráfico.
Meta 996 CREAS mapeados e implantados. MDS

Atividade
5.B.7. Apoiar a estruturação de novos Centros de Referência Especializados em Assistência
Social (CREAS) para atender a violações dos direitos de vítimas de violência ou tráfico.
Meta 567 novos CREAS estruturados. MDS

Atividade
5.B.8. Incorporar o tema do tráfico de pessoas nas ações de atendimento das áreas de Saúde
do Sistema Único de Saúde (SUS).
Meta Três ações com tema de tráfico de pessoas incorporado. MS

Ação 5.C. Definir metodologias e fluxos de atendimento, procedimentos e responsabilidades nos


diferentes níveis de complexidade da atenção à vítima.

Atividade
5.C.1. Formalizar parceria entre órgãos de governo e entidades da sociedade civil, definindo
papéis e responsabilidades para o atendimento adequado às vítimas.
Meta Um protocolo de intenções formalizado. SEDH

Atividade
5.C.2. Desenvolver metodologia de atendimento às mulheres vítimas de tráfico de pessoas.
Meta Uma metodologia desenvolvida. SPM

Atividade
5.C.3. Avaliar as atuações dos escritórios estaduais, entre outras experiências, como subsídio
para apoiar a criação ou o desenvolvimento de núcleos de enfrentamento ao tráfico
de pessoas.
Meta Uma avaliação realizada. MJ

Atividade
5.C.4. Elaborar manual de orientação e acompanhamento jurídico na proteção, defesa e ga-
rantia dos direitos das vítimas de tráfico de pessoas para utilização nos serviços e redes
existentes.
Meta Um manual elaborado. SEDH

Atividade
5.C.5. Definir fluxos de atendimento, procedimentos e responsabilidades entre os órgãos de
defesa e responsabilização e os serviços de atendimento de saúde, assistência social,
justiça e direitos humanos atuantes nas áreas de fronteira internacional, bem como nos
casos de tráfico interestadual e intermunicipal.
Meta Um fluxograma definido conjuntamente pelos órgãos envolvidos. MJ

Atividade
5.C.6. Definir fluxos de atendimento e procedimentos entre a rede consular brasileira no exterior
e os serviços de atendimento às vítimas de tráfico de pessoas no Brasil.
Meta Um fluxograma definido conjuntamente pelos órgãos envolvidos. MRE
Legislação Especial

Ação 5.D. Realizar capacitações articuladas entre as três esferas de governo, organizações da so-
ciedade civil e outros atores estratégicos.

Atividade
5.D.1. Capacitar profissionais e demais atores no adequado encaminhamento ou atendimento
de vítimas de tráfico de pessoas.

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
Meta 400 militares e profissionais de segurança pública atuantes prioritariamente nas áreas MJ
de fronteira capacitados com foco na abordagem e encaminhamento das vítimas do
tráfico de pessoas.
Meta 100 profissionais atuantes no atendimento no Aeroporto Internacional de São Paulo/ MJ
Guarulhos capacitados em tráfico e migração, com vistas à integração com o serviço de
recepção a deportados e não-admitidos.
Meta Rede de assistência capacitada nos 996 CREAS e respectivos CRAS, a partir do cruzamento MDS
com as áreas de fronteira, capitais, pesquisas e experiências já existentes.
Meta 20.000 profissionais da Rede de Atendimento à Mulher capacitados na área de atendi- SPM
mento às vítimas de tráfico de pessoas.
Meta 500 profissionais de saúde capacitados na área de atendimento às vítimas de tráfico MS
de pessoas.

Ação 5.E. Realizar articulações internacionais para garantir os direitos das vítimas de tráfico de
pessoas.

Atividade
5.E.1. Fomentar debates com organizações internacionais atuantes no enfrentamento ao tráfico
de pessoas com ênfase em atenção às pessoas traficadas, na perspectiva do respeito
aos direitos humanos.
Meta Quatro debates realizados. MRE

Prioridade nº 6: Aperfeiçoar a legislação brasileira relativa ao enfrentamento ao tráfico de pessoas e crimes correlatos.

Ação 6.A. Criar um subgrupo de especialistas para elaborar proposta intergovernamental de aper-
feiçoamento da legislação brasileira relativa ao enfrentamento ao tráfico de pessoas e
crimes correlatos.

Atividade
6.A.1. Analisar projetos de lei sobre o tema e propor o aperfeiçoamento da legislação brasileira
para o enfrentamento ao tráfico de pessoas.
Meta Um relatório de análise legislativa com propostas de aperfeiçoamento elaborado. MJ

Atividade
6.A.2 Elaborar um anteprojeto de lei com proposta de uniformização do conceito de tráfico
de pessoas, em consonância com a Política Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de
Pessoas, com o Protocolo Adicional à Convenção das Nações Unidas contra o Crime Or-
ganizado Transnacional relativo à Prevenção, Repressão e Punição do Tráfico de Pessoas,
em especial Mulheres e Crianças (Protocolo de Palermo) e com acordos internacionais
ratificados pelo Brasil.
Meta Um anteprojeto de lei elaborado. MJ

Atividade
6.A.3. Elaborar um anteprojeto de lei com proposta de criação de Fundo específico para finan-
ciar ações de enfrentamento ao tráfico de pessoas.
Meta Um anteprojeto de lei elaborado. MJ

Prioridade nº 7: Ampliar e aperfeiçoar o conhecimento sobre o enfrentamento ao tráfico de pessoas nas instâncias e órgãos
envolvidos na repressão ao crime e responsabilização dos autores.

Ação 7.A. Capacitar profissionais de segurança pública e operadores do direito, federais, estaduais
e municipais.
Legislação Especial

Atividade
7.A.1. Elaborar material de formação com conteúdos básicos para capacitação dos diversos
atores envolvidos na repressão ao tráfico de pessoas.
Meta Uma apostila com conteúdo referencial elaborada. MJ

Atividade

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
7.A.2 Realizar oficinas regionais em matéria de investigação, fiscalização e controle do tráfico
de pessoas.
Meta Cinco oficinas realizadas. MJ

Atividade
7.A.3. Promover a realização de cursos sobre tráfico de pessoas, para membros e servidores dos
órgãos de justiça e segurança pública, preferencialmente por meio de suas instituições
de formação, em parceria com entidades de direitos humanos.
Meta Seis cursos realizados. MJ

Atividade
7.A.4. Incluir o tema do tráfico de pessoas nos currículos de formação dos profissionais de
órgãos de justiça e segurança pública federais, estaduais e municipais.
Meta Cinco propostas de inclusão do tema do tráfico de pessoas apresentadas. MJ

Atividade
7.A.5. Incluir o tema nos cursos realizados no âmbito da Estratégia Nacional de Combate à
Corrupção e Lavagem de Dinheiro (ENCCLA).
Meta 50 agentes públicos capacitados. MJ

Prioridade nº 8: Fomentar a cooperação entre os órgãos federais, estaduais e municipais envolvidos no enfrentamento
ao tráfico de pessoas para atuação articulada na repressão do tráfico de pessoas e responsabilização de seus autores.

Ação 8.A. Padronizar e fortalecer o intercâmbio de informações entre os órgãos de segurança


pública em matéria de investigação dos casos de tráfico de pessoas.

Atividade
8.A.1. Ampliar as ações do enfrentamento ao tráfico de pessoas no âmbito dos Gabinetes de
Gestão Integrada (GGIs).
Meta 27 GGIs com propostas de ampliação das ações negociadas. MJ

Atividade
8.A.2 Designar responsáveis nos Estados, indicados pelas corporações policiais, para inter-
câmbio de informações.
Meta Um representante por Estado designado. MJ
Atividade
8.A.3. Desenvolver mecanismo-piloto para coibir o aliciamento para fins de tráfico de pessoas,
por meio da rede mundial de computadores, e responsabilizar seus autores.
Meta Um mecanismo desenvolvido. MJ

Ação 8.B. Promover a aproximação e integração dos órgãos e instituições envolvidos no enfren-
tamento ao tráfico de pessoas.

Atividade
8.B.1. Realizar seminário de âmbito nacional para aproximação e troca de experiências de
repressão ao tráfico de pessoas e responsabilização de seus autores pelas várias moda-
lidades do tráfico de pessoas.
Meta Um seminário realizado. MJ

Prioridade nº 9: Criar e aprimorar instrumentos para o enfrentamento ao tráfico de pessoas.


Legislação Especial

Ação 9.A. Desenvolver, em âmbito nacional, mecanismos de repressão ao tráfico de pessoas e


conseqüente responsabilização de seus autores.

Atividade
9.A.1. Elaborar guia de referência para facilitar a identificação de vítimas de tráfico pelos pro-
fissionais envolvidos no enfrentamento, observando o princípio de não-discriminação
e o respeito aos direitos humanos.

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
Meta Um guia elaborado. MJ

Atividade
9.A.2 Capacitar os operadores do Ligue 100 de forma a incluir o tema do tráfico de pessoas
em todas as suas modalidades.
Meta Três capacitações realizadas. SEDH

Atividade
9.A.3. Capacitar os operadores da Central de Atendimento à Mulher – 180 de forma a incluir
o tema do tráfico de pessoas em todas as suas modalidades.
Meta 100 operadoras capacitados. SPM

Atividade
9.A.4. Definir de forma conjunta/articulada fluxo de encaminhamento que inclua competências
e responsabilidades das instituições inseridas no sistema do Ligue 100.
Meta Um fluxo de encaminhamento definido. SEDH

Atividade
9.A.5. Definir fluxo de encaminhamento que inclua competências e responsabilidades das
instituições inseridas no sistema da Central de Atendimento à Mulher- 180.
Meta Uma proposta de encaminhamento construída. SPM

Atividade
9.A.6. Apresentar, por meio de um grupo de trabalho, proposta de banco de dados sobre tráfico
de pessoas, a partir da análise dos bancos de dados existentes relacionados direta ou
indiretamente ao tema.
Meta Uma proposta de banco de dados elaborada. MJ

Prioridade nº 10: Estruturar órgãos responsáveis pela repressão ao tráfico de pessoas e responsabilização de seus autores.

Ação 10.A. 10.A. Ampliar os recursos humanos e estrutura logística das unidades específicas para o
enfrentamento ao tráfico de pessoas, como um dos crimes contra os direitos humanos,
nas Superintendências Regionais do Departamento de Polícia Federal.

Atividade
10.A.1. Criar estruturas específicas de repressão aos crimes contra os direitos humanos nas
Superintendências Regionais do Departamento de Polícia Federal, nos locais indicados
pela Coordenação-Geral de Defesa Institucional, dotando-as de recursos humanos e
estrutura logística.
Meta Duas propostas de criação negociadas. MJ

Prioridade nº 11: Fomentar a cooperação internacional para repressão ao tráfico de pessoas.

Ação 11.A. Propor e elaborar instrumentos de cooperação bilateral e multilateral na área de re-
pressão ao tráfico de pessoas.
Atividade
11.A.1. Fomentar a cooperação internacional por meio de oficiais de ligação nos três países que
mais recebem vítimas brasileiras de tráfico.
Meta Três negociações para designação de oficiais de ligação realizadas. MJ
Legislação Especial

Atividade
11.A.2 Estabelecer instrumentos de cooperação bilateral e multilateral que incluam o reconhe-
cimento e repressão ao tráfico de pessoas no exterior.
Meta Quatro instrumentos negociados. MRE

Atividade

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
11.A.3. Fomentar a utilização dos instrumentos internacionais que servem de base para a coo-
peração jurídica internacional para o efetivo enfrentamento ao tráfico internacional de
pessoas, proporcionando o correto desenvolvimento de ações penais.
Meta Quatro acordos bilaterais de cooperação jurídica internacional em matéria penal ne- MJ
gociados.

Atividade
11.A.4. Realizar evento para discussão da Convenção Internacional sobre a Proteção dos Direitos
de todos Trabalhadores Migrantes e dos Membros de suas Famílias e outros instrumen-
tos internacionais.
Meta Um evento realizado. MRE

Ação 11.B. Fortalecer e integrar projetos de cooperação internacional na área de enfrentamento


ao tráfico de pessoas.

Atividade
11.B.1. Identificar os projetos de cooperação com organismos internacionais relacionados direta
ou indiretamente ao tráfico de pessoas.
Meta Um levantamento elaborado. MRE

Atividade
11.B.2. Articular os projetos de cooperação internacional a fim de evitar sobreposição de ações.
Meta Uma estratégia de articulação elaborada. MRE

Ação 11.C. Articular ações conjuntas de enfrentamento ao tráfico de pessoas em regiões de fronteira.

Atividade
11.C.1. Incluir na agenda das reuniões bilaterais de fronteira com países vizinhos o tema da
repressão do tráfico de pessoas.
Meta Duas propostas de inclusão negociadas. MRE

Atividade
11.C.2. Incluir na agenda das comissões mistas bilaterais antidrogas o tema da repressão ao
tráfico de pessoas.
Meta Quatro propostas de inclusão negociadas. MRE

Decreto nº 7.901, de 4 de Fevereiro de 2013 III – Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da


República.
Institui a Coordenação Tripar- Art. 2º São atribuições da Coordenação Tripartite da
tite da Política Nacional de Enfren- Política Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas:
tamento ao Tráfico de Pessoas e o I – analisar e decidir sobre aspectos relacionados à coor-
Comitê Nacional de Enfrentamen- denação das ações de enfrentamento ao tráfico de pessoas
to ao Tráfico de Pessoas – CONA- no âmbito da administração pública federal;
TRAP. II – conduzir a construção dos planos nacionais de en-
frentamento ao tráfico de pessoas e coordenar os trabalhos
A PRESIDENTA DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que dos respectivos grupos interministeriais de monitoramento
lhe confere o art. 84, caput, inciso VI, alínea “a”, da Cons- e avaliação;
tituição, III – mobilizar redes de atores e parceiros envolvidos no
DECRETA: enfrentamento ao tráfico de pessoas;
Art. 1º Fica instituída a Coordenação Tripartite da Política IV – articular ações de enfrentamento ao tráfico de pes-
Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, para coor- soas com Estados, Distrito Federal e Municípios e com as
denar a gestão estratégica e integrada da Política Nacional de organizações privadas, internacionais e da sociedade civil;
Legislação Especial

Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, aprovada pelo Decreto V – elaborar relatórios para instâncias nacionais e inter-
nº 5.948, de 26 de outubro de 2006, e dos Planos Nacionais nacionais e disseminar informações sobre enfrentamento
de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas. ao tráfico de pessoas; e
Parágrafo único. A Coordenação Tripartite da Política Na- VI – subsidiar os trabalhos do Comitê Nacional de En-
cional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas será integrada frentamento ao Tráfico de Pessoas, propondo temas para
pelos seguintes órgãos: debates.
I – Ministério da Justiça; Art. 3º Ato conjunto dos Ministros de Estado com re-
II – Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidên- presentação na Coordenação Tripartite da Política Nacional
cia da República; e de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas disporá sobre o II

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas – II b) Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Ado-
PNETP, para o período de 2013 a 2016, e instituirá grupo lescente;
interministerial para seu monitoramento e avaliação. c) Conselho Nacional dos Direitos da Mulher;
§ 1º O II PNETP terá os seguintes objetivos: d) Comissão Nacional Para a Erradicação do Trabalho
I – ampliar e aperfeiçoar a atuação de instâncias e ór- Escravo;
gãos envolvidos no enfrentamento ao tráfico de pessoas, na e) Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial;
prevenção e repressão do crime, na responsabilização dos f) Conselho Nacional de Imigração;
autores, na atenção às vítimas e na proteção de seus direitos; g) Conselho Nacional de Saúde;
II – fomentar e fortalecer a cooperação entre órgãos pú- h) Conselho Nacional de Segurança Pública;
blicos, organizações da sociedade civil e organismos interna- i) Conselho Nacional de Turismo; e
cionais no Brasil e no exterior envolvidos no enfrentamento j) Conselho Nacional de Combate à Discriminação e Pro-
ao tráfico de pessoas; moção dos Direitos de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis
III – reduzir as situações de vulnerabilidade ao tráfico e Transexuais;
de pessoas, consideradas as identidades e especificidades III – um representante a ser indicado pelos Núcleos
dos grupos sociais; Estaduais de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas e pelos
IV – capacitar profissionais, instituições e organizações Postos Avançados de Atendimento Humanizado ao Migrante
envolvidas com o enfrentamento ao tráfico de pessoas; formalmente constituídos; e
V – produzir e disseminar informações sobre o tráfico de IV – um representante a ser indicado pelos comitês es-
pessoas e as ações para seu enfrentamento; e taduais e do Distrito Federal de enfrentamento ao tráfico
VI – sensibilizar e mobilizar a sociedade para prevenir de pessoas.
a ocorrência, os riscos e os impactos do tráfico de pessoas. § 2º O CONATRAP será presidido pelo Secretário Nacional
§ 2º O II PNETP deverá ser implementado por meio de de Justiça do Ministério da Justiça ou por pessoa por ele
ações articuladas nas esferas federal, estadual, distrital e designada.
municipal, e em colaboração com organizações da sociedade § 3º Os representantes titulares referidos nos incisos I,
civil e organismos internacionais. II, III e IV do caput e seus suplentes serão indicados pelos
§ 3º Os Ministérios responsáveis por ações desenvolvidas titulares dos órgãos que representam e designados por ato
no âmbito do II PNETP deverão ser consultados sobre seu do Ministro de Estado da Justiça.
conteúdo previamente à assinatura do ato conjunto de que § 4º Os representantes titulares referidos nos incisos I, II,
trata o caput. III e IV do §1º e seus suplentes serão designados por ato do
Ministro de Estado da Justiça, após indicação pelas entidades,
Art. 4º Fica instituído o Comitê Nacional de Enfrentamen-
conselhos, núcleos, postos ou comitês.
to ao Tráfico de Pessoas – CONATRAP, para articular a atuação
§ 5º A designação dos representantes titulares referidos
dos órgãos e entidades públicas e privadas no enfrentamento
nos incisos II, III e IV do § 1º e seus suplentes deverá aten-
ao tráfico de pessoas.
der à proporção de cinquenta por cento de representantes
Art. 5º São atribuições do CONATRAP:
governamentais e cinquenta por cento de representantes
I – propor estratégias para gestão e implementação de da sociedade civil, observada a paridade da composição do
ações da Política Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de CONATRAP, na forma do regimento interno.
Pessoas, aprovada pelo Decreto nº 5.948, de 2006; § 6º O mandato dos integrantes do CONATRAP referidos
II – propor o desenvolvimento de estudos e ações sobre nos incisos I, II, III e IV do § 1º será de dois anos, admitida
o enfrentamento ao tráfico de pessoas; apenas uma recondução, por igual período.
III – acompanhar a implementação dos planos nacionais § 7º Poderão ser convidados a participar das reuniões do
de enfrentamento ao tráfico de pessoas; CONATRAP especialistas e representantes de outros órgãos
IV – articular suas atividades àquelas dos Conselhos ou entidades públicas e privadas, com atribuições relacio-
Nacionais de políticas públicas que tenham interface com nadas ao enfrentamento ao tráfico de pessoas.
o enfrentamento ao tráfico de pessoas, para promover a Art. 7º A participação nos colegiados instituídos por este
intersetorialidade das políticas; Decreto será considerada prestação de serviço público rele-
V – articular e apoiar tecnicamente os comitês estaduais, vante, não remunerada.
distrital e municipais de enfrentamento ao tráfico de pessoas Art. 8º O Ministério da Justiça prestará suporte técnico e
na definição de diretrizes comuns de atuação, na regulamen- administrativo para a execução dos trabalhos e o funciona-
tação e no cumprimento de suas atribuições; mento dos colegiados instituídos por este Decreto.
VI – elaborar relatórios de suas atividades; e Art. 9º Este Decreto entra em vigor na data de sua pu-
VII – elaborar e aprovar seu regimento interno. blicação.
Art. 6º O CONATRAP será integrado por: Art. 10. Ficam revogados os arts. 2º a 9º do Decreto nº
I – quatro representantes do Ministério da Justiça; 5.948, de 26 de outubro de 2006.
II – um representante da Secretaria de Políticas para as
Mulheres da Presidência da República; Brasília, 4 de fevereiro de 2013; 192º da Independência
III – um representante da Secretaria de Direitos Humanos e 125º da República.
da Presidência da República; e
Legislação Especial

IV – um representante do Ministério de Desenvolvimento DILMA ROUSSEFF


Social e Combate à Fome. José Eduardo Cardozo
§ 1º Será assegurada, na composição da CONATRAP, a Carlos Daudt Brizola
participação de: Alexandre Rocha Santos Padilha
I – sete representantes de organizações da sociedade civil Tereza Campello
ou especialistas em enfrentamento ao tráfico de pessoas; Gastão Vieira
II – um representante de cada um dos seguintes cole- Luiza Helena de Bairros
giados: Eleonora Menicucci de Oliveira
a) Conselho Nacional de Assistência Social; Maria do Rosário Nunes

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EXERCÍCIOS conhecidos e continua a fazer as ligações. Apavorada
e em sofrimento psicológico, Maria procurou auxílio e
obteve do juiz competente medida protetiva urgente
1. (Cespe/TCE-PR/Auditor/2016) Assinale a opção correta
que obriga Lucas a não manter mais contato com ela
acerca da tipificação de condutas e das sanções penais
por qualquer meio de comunicação, ordem que ele,
constantes da Lei nº 4.898/1965 (abuso de autoridade).
porém, não obedeceu, pois continua a fazer as ligações.
a) As sanções penais previstas no citado diploma para
A respeito dessa situação hipotética, assinale a opção
os crimes de abuso de autoridade limitam-se a
correta com base na Lei nº 11.340/2006 e na jurispru-
detenção, perda do cargo e inabilitação para o exer-
cício de qualquer outra função pública por prazo de dência dos tribunais superiores.
até três anos. a) A medida protetiva de urgência concedida pelo juiz
b) As sanções e os tipos penais previstos na referida deverá ser considerada inválida, se Lucas não tiver
lei não se aplicam aos militares, que se sujeitam so- sido previamente intimado nem ouvido, pois isso
mente à legislação militar. caracterizaria flagrante desrespeito ao princípio do
c) Constitui abuso de autoridade previsto na lei men- contraditório.
cionada qualquer atentado ao sigilo de dados tele- b) Para garantir que Lucas cumpra a medida protetiva
fônicos constitucionalmente garantido. de urgência, o juiz pode requisitar auxílio da força
d) As sanções penais previstas no citado diploma para policial.
os crimes de abuso de autoridade restringem-se a c) Ao descumprir a medida protetiva imposta pelo juiz,
multa pecuniária e detenção. Lucas pratica o crime de desobediência.
e) Situação hipotética: José, suspeito da prática de d) Como não houve violência física, não ficou caracteri-
homicídio, foi conduzido – algemado e submetido zada violência doméstica que justificasse a aplicação
a violência física – à delegacia de polícia pela auto- da medida protetiva de urgência imposta a Lucas,
ridade policial, sem mandado judicial, para prestar que deve ser revogada.
depoimento a respeito de fatos em apuração naque- e) Para a aplicação e validade da medida protetiva de
la delegacia, tendo sido liberado somente setenta e urgência, eram imprescindíveis a coabitação e a prá-
duas horas depois. Assertiva: Essa situação, além de tica da violência no âmbito da unidade doméstica.
constituir conduta criminosa da autoridade policial,
com pena cominada pela lei em apreço, configura 4. (Cespe/TJ-PB/Juiz de Direito/2015) A condenação por
expressão concreta do que a doutrina moderna de- crime previsto na lei de abuso de autoridade (Lei nº
nomina Sistema Penal Subterrâneo. 4.898/1965) poderá importar na aplicação de sanção
penal de
2. (Cespe/TRE-RS/Analista Judiciário/2015) Ao participar a) inabilitação para contratar com a administração pú-
de uma blitz, Marcelo, policial militar, solicitou que de- blica por prazo determinado.
terminado condutor parasse o veículo que conduzia, b) reclusão.
para verificações de rotina. O condutor parou o veículo, c) inabilitação para o exercício de qualquer função pú-
mas recusou-se a apresentar os documentos do carro, blica por prazo determinado.
contrariando, reiteradamente, as ordens de Marcelo, d) advertência.
que, irritado, passou a agredir o motorista com socos e e) prisão simples.
pontapés. Os envolvidos foram encaminhados à dele-
gacia de polícia, onde foi aberto inquérito policial para 5. (Cespe/TJ-PB/Juiz de Direito/2015) Assinale a opção
apurar os fatos. Marcelo foi, então, ao Instituto Médi- correta a respeito das penas e efeitos da condenação
co Legal e, sem qualquer autorização, preencheu um previstos na Lei nº 7.716/1989, que define os crimes
formulário de exame de corpo de delito que estava em resultantes de preconceitos de raça ou de cor; na Lei
branco, de forma a fazer nele constar a inexistência de nº 9.455/1997, que define o crime de tortura; na Lei nº
lesões corporais no condutor, que, conforme apurado, 9.605/1998, que dispõe sobre as sanções penais deriva-
se chamava José. das de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente;
Nessa situação hipotética, Marcelo cometeu os crimes de e na Lei nº 11.343/2006, que define normas para re-
a) abuso de autoridade e falsidade ideológica, e José pressão ao tráfico ilícito de drogas.
praticou o crime de desobediência. a) A condenação por crime de tortura somente impor-
b) abuso de autoridade e falsificação de documento tará na perda do cargo, função ou emprego público
público, e José cometeu o crime de desobediência. em caso de aplicação de regime semiaberto ou fe-
c) abuso de autoridade e falsidade ideológica, e José chado para cumprimento de pena.
cometeu o delito de resistência. b) No caso de reincidência de pessoa jurídica na práti-
d) violência arbitrária e falsidade ideológica, e José ca de crimes previstos na lei que reprime condutas
praticou o delito de desobediência. e atividades lesivas ao meio ambiente, será efeito
e) violência arbitrária e falsificação de documento pú- automático da condenação a dissolução da pessoa
blico, e José praticou a infração penal de resistência. jurídica
c) A perda do cargo ou função pública pelo servidor
Legislação Especial

3. (Cespe/DPE-RN/Defensor Público/2015) Maria alegou público está prevista como efeito da condenação
ser vítima de violência doméstica praticada pelo seu por crimes resultantes de preconceito de raça ou
ex-companheiro Lucas, com quem conviveu por cin- de cor, no entanto, para que isso ocorra, deve o juiz
co anos, até dele se separar. Após a separação, Lucas declará-lo motivadamente na sentença.
passou a fazer frequentes ligações telefônicas para o d) O agente reincidente pelo crime de porte de substân-
aparelho celular da ex-mulher durante o dia, no período cias entorpecentes sem autorização para consumo
em que ela está trabalhando, à noite e de madrugada. pessoal deve ser punido com as penas de prestação
Embora Maria já tenha trocado de número telefônico de serviços à comunidade e medida educativa de
algumas vezes, Lucas consegue os novos números com comparecimento a programa ou curso educativo

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
que, cujo não cumprimento importará na conversão preencha os requisitos subjetivos exigidos, Wesley
automática da pena em privativa de liberdade. poderá ser beneficiado pela transação penal.
e) Haverá incidência de causa especial de aumento de c) Téo, réu primário e sem quaisquer antecedentes, foi
pena sempre que um dos crimes previstos na lei de preso em flagrante por ter cometido o delito de furto
entorpecentes for praticado com emprego de arma simples. Nessa situação, como o crime de furto não é
de fogo. de competência do juizado especial criminal, Téo não
poderá ser beneficiado pela suspensão condicional
6. (Cespe/TJ-DFT/Juiz de Direito/2015) Cada uma das pró- do processo.
ximas opções apresenta uma situação hipotética sobre d) Gabriel estava recolhendo, em via pública, apostas
crimes previstos no Estatuto do Desarmamento, segui- de transeuntes para o jogo de azar conhecido como
da de uma assertiva a ser julgada. Assinale a opção que jogo do bicho e, imediatamente após anotar a apos-
apresenta a assertiva correta. ta realizada por Ângelo, foi abordado por policiais.
a) Carlos foi preso em flagrante, durante o período de Nessa situação, a conduta de Gabriel é tipificada
vigência da Lei nº 10.826/2003 – prorrogada pela como contravenção penal, ao passo que a conduta
Lei nº 11.922/2009 –, devido ao fato de a polícia de Ângelo é caracterizada como atípica.
ter encontrado, em um armário de sua residência, e) Januário, maior e capaz, burlou, juntamente com
uma arma de fogo de uso restrito. Nessa situação, a José e Ricardo, ambos menores de dezoito anos, to-
conduta de Carlos caracterizou-se como atípica em dos com unidade de desígnios, a vigilância de uma
razão da incidência de abolitio criminis temporária. loja de departamentos e dela subtraíram, em horá-
b) Bruno, militar da Aeronáutica, em um dia de folga, rio comercial, três aparelhos de DVD novos. Os três
atirou com sua arma de fogo na rua onde residia foram presos em flagrante, na residência de José,
e assustou moradores e transeuntes que passavam duas horas depois de terem cometido o delito. Nessa
pelo local. Nessa situação, devido ao fato de Bruno situação, se ausentes quaisquer excludentes e com-
ter praticado crime de disparo com arma de fogo, provados os fatos, Januário deverá ser condenado
a causa do aumento de pena, prevista no Estatuto por crime de furto qualificado e dois delitos de cor-
do Desarmamento, deverá ser aplicada na sentença rupção de menores, todos em concurso formal.
durante a terceira fase da dosimetria.
c) André guardou em sua residência, de janeiro de 8. (Cespe/TJ-DFT/Juiz de direito/2015) Assinale a opção
2015 até sua prisão em flagrante na presente data, correta à luz da Lei nº 11.343/2006 (Lei de Drogas), do
uma arma de fogo de uso permitido, devidamente CP e da jurisprudência do STF.
municiada, mas com numeração de série suprimi- a) O crime de associação para o tráfico, caracterizado
da. Nessa situação, André praticou o crime de posse pela associação de duas ou mais pessoas para a prá-
irregular de arma de fogo de uso permitido e, por tica de alguns dos crimes previstos na Lei de Drogas,
isso, deve ser punido com pena de detenção. é delito equiparado a crime hediondo.
d) Ronaldo foi preso em flagrante imediatamente após b) O crime de porte de entorpecentes para consumo
efetuar – com intenção de matar, mas sem conse- pessoal, sem autorização ou em desacordo com de-
guir atingir a vítima – disparos de arma de fogo na terminação legal ou regulamentar, está sujeito aos
direção de José. Nessa situação, Ronaldo cometeu prazos prescricionais do CP.
homicídio na forma tentada e disparo de arma de c) instigar ou auxiliar alguém ao uso indevido de dro-
fogo em concurso formal. ga, poderá ser aplicada causa de redução de pena
e) Júlio, detentor de porte de arma e proprietário de se o agente for primário, tiver bons antecedentes e
arma de fogo devidamente registrada, vendeu para não se dedicar a atividades criminosas ou integrar
Tiago, de quatorze anos de idade, uma arma, de- organização criminosa.
vidamente municiada, acompanhada do seu docu- d) Quanto aos crimes previstos na Lei de Drogas, será
mento de registro. Nessa situação, ao permitir que isento de pena o agente que, por ser dependente
o adolescente se apoderasse da arma de fogo, Júlio de drogas, for, ao tempo do fato, totalmente incapaz
praticou o delito de omissão de cautela, previsto no de entender o caráter ilícito da ação praticada.
Estatuto do Desarmamento. e) Os crimes previstos na Lei de Drogas são insusce-
tíveis de anistia, graça e indulto, sendo impossível,
7. (Cespe/TJ-DFT/Juiz de Direito/2015) Cada uma das àqueles que os praticarem, a concessão de liberdade
próximas opções apresenta uma situação hipotética, provisória.
seguida de uma assertiva a ser julgada à luz do CP, da
Lei de Juizados Especiais (Lei nº 9.099/1995) e da legis- 9. (Cespe/TRF 5ª Região /Juiz Federal /2015) Com base na
lação penal especial. Assinale a opção que apresenta a Lei Antidrogas (Lei nº 11.343/2006) e no entendimento
assertiva correta. sumulado pelo STJ, assinale a opção correta.
a) O policial civil Cristiano, durante o expediente de a) Caso um juiz considere condenar um réu que co-
trabalho, algemou e conduziu Orlando a uma viatura, laborou, como informante, com uma organização
mediante ameaça com emprego de arma de fogo, e voltada para o tráfico, como consequência lógica,
Legislação Especial

o manteve detido no veículo por oito horas devido ele deverá condenar esse réu também pela prática
ao fato de, anteriormente, eles terem tido um desen- de associação para o tráfico.
tendimento. Nessa situação, a conduta de Cristiano b) Um réu condenado por associação para o tráfico não
caracterizou crime de constrangimento ilegal. pode ser reconhecido como agente de tráfico privile-
b) Wesley foi preso em flagrante porque estava pescan- giado no mesmo feito, haja vista a incompatibilidade
do em um local que, conforme prévia regulamen- de ordem objetiva preconizada pela Lei Antidrogas.
tação do órgão competente, era interditado para a c) No que diz respeito a crime de tráfico internacio-
pesca. Nessa situação, o crime descrito constitui de- nal de drogas e conforme entendimento sumulado
lito de menor potencial ofensivo, razão por que, caso de tribunal superior, o juiz, ao reconhecer, em sua

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sentença, que a conduta do réu caracteriza tráfico d) poderá aplicar qualquer uma, exceto a de internação.
privilegiado, não poderá impor a esse réu pena abai- e) poderá aplicar qualquer uma das previstas no artigo
xo do mínimo legal. 112 do Estatuto da Criança e do Adolescente.
d) O juiz pode aplicar causa majorante de pena de um
sexto a dois terços quando o crime de tráfico de dro- 13. (FCC/TJ-SE/Juiz de direito/2015) A conduta de quem
gas tiver sido perpetrado com emprego ostensivo de exige, para si ou para outrem, direta ou indiretamente,
arma de fogo para a intimidação difusa ou coletiva. ainda que fora da função ou antes de iniciar seu exercí-
Se a arma tiver sido utilizada em contexto diverso do cio, mas em razão dela, vantagem indevida, para deixar
de crime de tráfico, tratar-se-á de concurso material de lançar ou cobrar tributo ou contribuição social, ou
de crimes. cobrá-los parcialmente, configura um delito:
e) O ato infracional análogo ao crime de tráfico de a) tributário.
drogas cometido por adolescente, por si só, conduz b) de excesso de exação.
obrigatoriamente à imposição de medida socioedu- c) de concussão.
cativa de internação do jovem, salvo na modalidade d) de corrupção ativa.
de tráfico privilegiado. e) de corrupção passiva.
10. (FCC/TJ-PI/Juiz de direito/2015) A suspensão da habili- 14. (FCC/TRT 9ª Região (PR)/Técnico Judiciário/Área Admi-
tação para dirigir veículo automotor prevista no Código nistrativa/2015) Em relação às disposições da Lei nº
de Trânsito Brasileiro 10.826/2003 (Estatuto do Desarmamento), é correto
a) tem a duração máxima de cinco anos. afirmar:
b) não pode ser decretada cautelarmente. a) É permitido o porte de arma de fogo aos integrantes
c) deve ser fixada pelo mesmo tempo de duração da das guardas municipais dos Municípios com mais de
pena privativa de liberdade, por força de expressa 250.000 e menos de 500.000 habitantes, quando em
previsão legal. serviço.
d) não pode ser imposta como penalidade principal. b) Aos residentes em áreas rurais, maiores de 21 anos
e) não pode ser imposta cumulativamente com outras que comprovem depender do emprego de arma de
penalidades. fogo para prover sua subsistência alimentar familiar,
será concedido pela Polícia Federal o porte de arma
11. (FCC/DPE-RR/Assistente social/2015) Em relação à as-
de fogo na categoria caçador para subsistência, de
sistência judiciária prevista na Lei n° 11.340/2006 (Lei
uma arma de uso permitido, de tiro simples, com 1
Maria da Penha), é correto afirmar:
ou 2 canos, de alma lisa e de calibre igual ou inferior
a) Constitui-se como direito da mulher em situação
a 16, desde que o interessado comprove a efetiva
de violência doméstica estar acompanhada por
necessidade em requerimento.
um advogado exclusivamente nos atos processuais
criminais, pois para os cíveis não há necessidade e c) As armas de fogo utilizadas em entidades desportivas
garantia expressa na legislação. legalmente constituídas devem obedecer às condi-
b) Para todos os casos de violência doméstica e fami- ções de uso e de armazenagem estabelecidas pelo
liar contra a mulher, o registro da ocorrência para a órgão competente, respondendo o possuidor ou o
autoridade policial deverá ser realizado mediante a autorizado a portar a arma pela sua guarda na forma
presença do Defensor Público, sendo que o mesmo do regulamento desta lei.
adotará, de imediato, os procedimentos cabíveis, d) Os integrantes do quadro efetivo de agentes e
sem prejuízo daqueles previstos no Código de Pro- guardas prisionais poderão portar arma de fogo de
cesso Penal. propriedade particular ou fornecida pela respectiva
c) As medidas protetivas de urgência devem ser con- corporação ou instituição somente em serviço.
cedidas e aplicadas pelo advogado que compõe a e) As armas de fogo utilizadas pelos empregados das
equipe multidisciplinar da Defensoria Pública, a re- empresas de segurança privada e de transporte de
querimento do Ministério Público ou a pedido da valores, constituídas na forma da lei, serão de pro-
ofendida. priedade, responsabilidade e guarda das respectivas
d) Na aplicação de medidas protetivas de urgência empresas, podendo ser utilizadas em serviço ou fora
concedidas pelo juiz, é obrigatório que a mulher dele.
em situação de violência doméstica e familiar seja
acompanhada de advogado. 15. (FCC/TRT 9ª Região (PR)/Técnico Judiciário/Área Ad-
e) Em todos os atos processuais, cíveis e criminais, a ministrativa/2015) Para adquirir arma de fogo de uso
mulher em situação de violência doméstica e familiar permitido o interessado deverá, além de declarar a efe-
deverá estar acompanhada de advogado, ressalvado tiva necessidade, atender, dentre outros, ao requisito
na situação de aplicação de medidas protetivas de previsto na Lei nº 10.826/2003, de:
urgência concedidas pelo juiz. a) apresentar atestado de caçador fornecido pelo Ins-
tituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Legislação Especial

12. (FCC/TJ-SE/Juiz de direito/2015) Ocorrendo a prática de Naturais Renováveis − Ibama.


ato infracional, análogo ao delito do artigo 28 da Lei de b) apresentar documento comprobatório de ocupação
Drogas, e concluindo o juiz pela aplicação de medida lícita e de residência certa.
socioeducativa. c) apresentar autorização expedida pela autoridade po-
a) não poderá aplicar a restritiva de liberdade. licial que ateste estar o interessado sofrendo grave
b) não poderá aplicá-las, exceto a de advertência. ameaça contra si ou contra membro de sua família.
c) poderá aplicar a de restrição da liberdade somente d) ser brasileiro nato ou naturalizado há mais de 10
em caso de descumprimento de medida anterior- anos.
mente aplicada. e) estar em pleno exercício de seus direitos políticos.

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16. (FCC/DPE-SP/Assistente social/2015) De acordo com a cardo resolveu, então, solicitar para seu primo Rodrigo,
Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006 − Lei Maria da Policial Militar, abordar seu desafeto Pedro em plena via
Penha, configura-se como violência doméstica e familiar pública. No mês de abril deste ano, quando saía para
qualquer ação baseada em gênero que cause morte, le- trabalhar, Pedro foi abordado e algemado pelo Policial
são, sofrimento físico, sexual, psicológico e dano moral Militar Rodrigo, o qual realizou a busca pessoal e liberou
e/ou patrimonial. Sendo assim, considera-se violência Pedro algum tempo depois. Pedro apresentou repre-
familiar aquela que ocorre no âmbito sentação ao Ministério Público apontando a prática de
a) doméstico, composto pelo convívio de pessoas, com crime de abuso de autoridade prevista no artigo 4o,
ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamen- a, da Lei no 4.898/1965 (“ordenar ou executar medida
te agregadas. privativa da liberdade individual, sem as formalidades
b) doméstico entre indivíduos que não possuem vín- legais ou com abuso de poder”). Neste caso, Ricardo
culos naturais, apenas afinidade ou por vontade a) praticou crime de abuso de autoridade em coautoria
expressa. com Rodrigo, e estará sujeito às penas de detenção
c) doméstico, entre indivíduos e que se consideram por 10 dias a 6 meses, multa, além de inabilitação
aparentados pela proximidade, apesar de não pos- para o exercício de função pública pelo prazo de até
suem vínculos naturais. 3 anos, penas estas aplicadas de forma autônoma
d) da família, composta por indivíduos que são aparen- ou cumulativa.
tados, que possuem vínculos naturais e afinidades. b) não praticou crime de abuso de autoridade em co-
e) da família, composta por indivíduos que são ou se autoria com Rodrigo, por se tratar de crime próprio.
consideram aparentados, que possuem vínculos na- c) praticou crime de abuso de autoridade em coautoria
turais, de afinidade ou por vontade expressa. com Rodrigo, e estará sujeito às penas de detenção
por 10 dias a 6 meses, multa, além de inabilitação
17. (FCC/TRE-SE/Analista Judiciário/Área Administrativa/ para o exercício de função pública pelo prazo de até
2015) Analise as seguintes situações hipotéticas sobre 3 anos, penas estas aplicadas obrigatoriamente de
indivíduos indiciados, primários e de bons anteceden- forma cumulativa.
tes: d) praticou crime de abuso de autoridade em coautoria
I – Rodrigo cometeu crime de resistência, com pena de com Rodrigo, e estará sujeito às penas de detenção
detenção de 2 meses a 2 anos. de 6 meses a 2 anos, multa, além de inabilitação
II – Paulo cometeu crime de peculato culposo, com pena para o exercício de função pública pelo prazo de até
de detenção de 3 meses a 1 ano. 5 anos, penas estas aplicadas de forma autônoma
III – Ricardo cometeu crime de coação no curso do pro- ou cumulativa.
cesso, com pena de reclusão de 1 a 4 anos e multa. e) praticou crime de abuso de autoridade em coautoria
IV – Suzete cometeu crime de favorecimento pessoal, com Rodrigo, e estará sujeito às penas de detenção
com pena de detenção de 1 a 6 meses e multa. de 6 meses a 2 anos, multa, além de inabilitação
para o exercício de função pública pelo prazo de até
Nos termos estabelecidos pela Lei nº 9.099/1995 po- 5 anos, penas estas aplicadas obrigatoriamente de
derão ser beneficiados com a transação penal forma cumulativa.
a) Paulo, apenas.
20. (FCC/TJ-SC/Juiz de Direito/2015) Considere a seguinte
b) Paulo e Suzete, apenas.
conduta descrita: Publicar ilustração de recém-nascidos
c) Rodrigo, Paulo, Ricardo e Suzete.
afrodescendentes em fuga de sala da parto, associado
d) Suzete, apenas.
aos dizeres de um personagem (supostamente médico)
e) Rodrigo, Paulo e Suzete, apenas.
de cor branca “Segurança! É uma fuga em massa!”. Tal
conduta amolda-se à seguinte tipificação legal:
18. (FCC/DPE-MA/Defensor Público/2015) No delito de trá-
a) Não se amolda a tipificação legal por se tratar de
fico de entorpecente a pena poderá ser reduzida de um ofensa social e não de conteúdo racial.
sexto a dois terços desde que o agente seja primário, b) Injúria, prevista no art. 140 do Código Penal.
a) de bons antecedentes, não se dedique às atividades c) Crime de racismo, previsto na Lei no 7.716/1989.
criminosas e nem integre organização criminosa. d) Difamação, prevista no art. 139 do Código Penal.
b) não se dedique às atividades criminosas e nem in- e) Não se amolda a tipificação legal por se tratar de
tegre organização criminosa. liberdade de expressão − direito de charge.
c) de bons antecedentes, não se dedique às atividades
criminosas, não integre organização criminosa e co- 21. (FCC/TJ-SC/Juiz de Direito/2015) De acordo com pre-
labore voluntariamente com a investigação policial visão na Lei de Execução Penal, somente se admitirá
ou processo criminal. o recolhimento do beneficiário de regime aberto em
d) não se dedique às atividades criminosas, não integre residência particular quando se tratar de condenado(a):
organização criminosa e colabore voluntariamente a) maior de 70 (setenta) anos; não reincidente em cri-
com a investigação policial ou processo criminal. me doloso; que tenha reparado o dano.
e) de bons antecedentes, não se dedique às atividades b) maior de 70 (setenta) anos; acometido de doença
Legislação Especial

criminosas, não integre organização criminosa e des- grave; com filho menor ou deficiente físico ou men-
de que não tenha tido anteriormente conversão em tal; gestante.
penas restritivas de direitos. c) maior de 60 (sessenta) anos; acometido de doença
grave; não reincidente em crime doloso.
19. (FCC/MPE-PB/Técnico Ministerial/2015) Ricardo, en- d) acometido de doença grave; com filho menor ou
genheiro civil, era noivo de Maria e rompeu o relacio- deficiente físico ou mental; gestante; não reincidente
namento no final do ano de 2014. Maria começou a em crime doloso.
namorar Pedro. Ricardo, inconformado com o término e) maior de 70 (setenta) anos; mulher acometida de
da relação com Maria tornou-se desafeto de Pedro. Ri- doença grave; gestante; que tenha reparado o dano.

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22. (FCC/TJ-SC/Juiz de Direito/2015) Sobre os crimes rela- b) submeter pessoa sob sua guarda ou custódia a ve-
cionados ao tráfico de entorpecentes previstos na Lei xame ou a constrangimento, mesmo que autorizado
n° 11.343/2006, analise as seguintes assertivas: em lei.
I – A quantidade de droga apreendida não é um dos c) cobrar o carcereiro ou agente de autoridade policial
critérios legais que norteiam a atividade do juiz em seu carceragem, custas, emolumentos ou qualquer outra
julgamento ao tipificar determinada conduta no tráfico despesa, desde que a cobrança não tenha apoio em
de entorpecentes. lei, quer quanto à espécie, quer quanto ao seu valor.
II – O tráfico de drogas, na modalidade de conduta guar- d) deixar de comunicar, imediatamente, ao juiz com-
dar é considerado crime permanente e com tipo misto petente a prisão, a busca e apreensão ou detenção
alternativo, não havendo necessidade de mandado ju- de qualquer pessoa.
dicial para prisão em flagrante no interior de residência e) prolongar a execução de prisão em flagrante ou
do traficante. preventiva, ou de medida de segurança, deixando
III – É isento de pena o agente que, em razão da depen- de expedir em tempo oportuno ou de cumprir ime-
dência, ou sob o efeito, proveniente de caso fortuito diatamente ordem de liberdade.
ou força maior, de droga, era, ao tempo da ação ou
da omissão, qualquer que tenha sido a infração penal 25. (FCC/TJ-RR/Juiz de Direito/2015) Em matéria de penas
praticada, inteiramente incapaz de entender o caráter privativas de liberdade, correto afirmar que
ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse a) possível a fixação do regime inicial fechado para o
entendimento. condenado a pena de detenção, se reincidente.
IV – O indiciado ou acusado que colaborar voluntaria- b) o condenado por crime contra a Administração públi-
mente com a investigação policial e o processo criminal ca terá a progressão de regime do cumprimento de
na identificação dos demais coautores ou partícipes do pena condicionada à reparação do dano que causou,
crime e na recuperação total ou parcial do produto do ou à devolução do produto do ilícito praticado, com
crime, no caso de condenação, terá pena reduzida de os acréscimos legais.
um terço a dois terços. c) a determinação do regime inicial de cumprimento
da pena far-se-á com observância dos mesmos crité-
É correto o que se afirma apenas em rios previstos para a fixação da pena-base, mas nada
a) III e IV. impede a opção por regime mais gravoso do que o
b) II, III e IV. cabível em razão da pena imposta, se a gravidade
c) II e IV. abstrata do delito assim o justificar.
d) I e III. d) inadmissível a adoção do regime inicial semiaberto
e) I e II. para o condenado reincidente.
e) os condenados por crimes hediondos ou asseme-
23. (FCC/TJ-SC/Juiz de Direito/2015) Sobre os crimes de que lhados, independentemente da data em que prati-
tratam a Lei no 11.340/2006 (cria mecanismos para coi- cado o delito, só poderão progredir de regime após
bir a violência doméstica e familiar contra a mulher), é o cumprimento de 2/5 (dois quintos) da pena, se
incorreto afirmar:
primários, e de 3/5 (três quintos), se reincidentes.
a) As formas de violência doméstica e familiar contra a
mulher estão taxativamente previstas no art. 7o da
26. (FCC/TJ-RR/Juiz de Direito/2015) Segundo a lei antidrogas,
Lei no 11.340/2006, não sendo objeto de medidas
a) é isento de pena o agente que, em razão da depen-
protetivas de urgência outras senão aquelas elenca-
dência de droga, era, ao tempo da ação ou omissão
das nesse dispositivo.
relacionada apenas aos crimes previstos na própria
b) Nas ações penais públicas condicionadas à represen-
lei, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito
tação da ofendida de que trata a Lei no 11.340/2006,
só será admitida a renúncia à representação perante do fato ou de determinar-se de acordo com esse
o juiz, em audiência especialmente designada com entendimento.
tal finalidade, antes do recebimento da denúncia. b) incide nas penas do crime de associação para o
c) O crime de lesão corporal leve ou culposa, praticado tráfico quem se associa para a prática reiterada de
mediante violência doméstica (CP, art. 129, § 9o), é financiamento ou custeio do tráfico de drogas.
de ação penal pública incondicionada. c) é de dois anos o prazo de prescrição do crime de
d) É vedada a aplicação, nos casos de violência domés- posse de droga para consumo pessoal, não se ob-
tica e familiar contra a mulher, de penas de cesta servando as causas interruptivas previstas no Código
básica ou outras de prestação pecuniária, bem como Penal.
a substituição de pena que implique o pagamento d) o concurso de agentes é causa de aumento da pena
isolado de multa. no crime de tráfico de drogas.
e) Vínculos afetivos que refogem ao conceito de família e) a aplicação da causa de diminuição de pena prevista
e de entidade familiar nem por isso deixam de ser no art. 33, § 4°, da Lei n° 11.343/2006, conhecida
marcados pela violência. Assim, namorados e noivos, como tráfico privilegiado, afasta a hediondez do
mesmo que não vivam sob o mesmo teto, mas re- crime de tráfico de drogas, de acordo com enten-
Legislação Especial

sultando a situação de violência do relacionamento, dimento sumulado o Superior Tribunal de Justiça.


faz com que a mulher mereça o abrigo da Lei Maria
da Penha. 27. (FCC/TJ-RR/Juiz de Direito/2015) A Lei n° 9.099/1995
tem como princípio inspirador constante de seu artigo
24. (FCC/TRT 1ª Região (RJ)/Juiz do Trabalho/2015) Cons- 2° a simplicidade e a celeridade, buscando- se, sempre
titui abuso de autoridade que possível, a conciliação ou a transação. Nos termos
a) ordenar ou executar medida restritiva de liberdade da lei,
individual, mesmo com as formalidades legais ou a) a composição dos danos civis tem por objetivo a
com excesso de autoridade. reparação do dano à vítima, que poderá questionar

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os termos do acordo em recurso próprio de apelação d) a penalidade de multa reparatória consiste no pa-
direcionado à turma recursal. gamento, mediante depósito judicial em favor da
b) a composição dos danos civis decorrentes de crime vítima, ou seus sucessores, de quantia fixada em
promovido por meio de ação penal privada em nada salários mínimos.
interfere na propositura desta. e) a lei já não prevê a concentração de álcool por litro
c) a transação penal, que consiste em aplicação ime- de sangue necessária para a configuração do delito
diata somente de pena restritiva de direitos, poderá de embriaguez ao volante.
ser concedida pelo juiz de ofício.
d) da transação penal, acolhida pelo autor da infração 31. (FCC/TJ- GO/Juiz de Direito/2015) De acordo com a Lei
a proposta e sendo esta aplicada pelo juiz, caberá de Drogas,
apelação. a) a pena de prestação de serviços à comunidade, no
e) após a audiência preliminar, o não oferecimento da caso de condenação por posse de droga para con-
representação por parte da vítima implicará deca- sumo pessoal, pode ser aplicada pelo prazo máximo
dência do direito. de dez meses, se reincidente o agente.
b) configura crime associarem-se mais de três pessoas,
28. (FCC/TJ- PE/Juiz de Direito/2015) A figura do chamado no mínimo, para o fim de praticar, reiteradamente,
o tráfico de drogas.
tráfico privilegiado, prevista no art. 33, § 4o, da Lei no
c) é de três anos o prazo de prescrição no crime de
11.343/2006,
posse de droga para consumo pessoal, adotado o
a) constitui causa de diminuição da pena, podendo o
menor prazo previsto no Código Penal.
juiz levar em conta a natureza e a quantidade da d) constitui crime a organização de manifestação favo-
droga apreendida na escolha do redutor. rável à legalização do uso de drogas.
b) não admite aplicação retroativa e) vedada a substituição da pena privativa de liberdade
c) obsta a conversão da pena privativa de liberdade em por restritivas de direitos no caso de condenação por
restritiva de direitos. tráfico de drogas, ainda que se trate da chamada
d) é aplicável ao condenado reincidente, desde que a figura privilegiada do delito.
agravante não decorra da prática do mesmo crime,
segundo expressa disposição. 32. (Iades/Metrô-DF/Segurança Metroferroviário/2014)
e) também é aplicável ao crime de associação para o Com relação ao Decreto-Lei nº 3.688/1941, assinale a
tráfico. alternativa correta.
a) A vadiagem e a mendicância são contravenções pe-
29. (FCC/TJ- PE/Juiz de Direito/2015) Não constitui conduta nais.
equiparada a posse ou porte ilegal de arma de fogo de b) Jogo de azar e jogo do bicho são considerados ex-
uso restrito pressões sinônimas e que merecem idêntica repri-
a) produzir, recarregar ou reciclar, sem autorização menda penal.
legal, ou adulterar, de qualquer forma, munição ou c) O jogo do bicho é uma contravenção penal, que
explosivo. prevê punição tanto para quem explora a atividade
b) vender, entregar ou fornecer, ainda que gratuitamen- ilícita como para quem participa da loteria.
te, arma de fogo, acessório, munição ou explosivo a d) Caso um segurança metroferroviário, no exercício
criança ou adolescente. de sua função pública, perceba, nas imediações do
c) expor à venda, em proveito próprio ou alheio, no metrô, indivíduo bêbado colocando em risco a sua
exercício de atividade comercial ou industrial, arma própria segurança, nada poderá fazer, pois a conduta
de fogo, acessório ou munição, sem autorização ou só constituiria infração penal se colocasse em risco
em desacordo com determinação legal ou regula- a segurança de terceiro.
mentar e) Suponha que um indivíduo exiba, da varanda da pró-
d) portar, possuir, adquirir, transportar ou fornecer pria residência, os órgãos genitais para a vizinha da
arma de fogo com numeração, marca ou qualquer frente. Nesse caso, o indivíduo será detido em razão
outro sinal de identificação raspado, suprimido ou da prática de crime de importunação ofensiva ao
adulterado. pudor.
e) possuir, deter, fabricar ou empregar artefato explosi-
33. (Iades/Metrô-DF/Segurança Metroferroviário/2014)
vo ou incendiário, sem autorização ou em desacordo
Acerca dos juizados especiais criminais, previsto na
com determinação legal ou regulamentar.
Lei nº 9.099/1995, assinale a alternativa correta.
a) Compete ao juizado especial criminal julgar os cri-
30. (FCC/TJ- PE/Juiz de direito/2015) No tocante aos crimes mes e as contravenções penais de menor potencial
de trânsito, correto afirmar que ofensivo.
a) a suspensão ou a proibição de se obter a permissão b) O juizado especial criminal tem competência para
ou a habilitação para dirigir veículo automotor não julgar somente os crimes de menor potencial ofen-
pode ser imposta cumulativamente com outras pe- sivo.
Legislação Especial

nalidades. c) Compete ao juizado especial criminal julgar somente


b) imprescindível o perigo de dano para a tipificação as contravenções penais de menor potencial ofensivo.
do delito de direção de veículo automotor, em via d) Compete ao juizado especial criminal julgar tanto
pública, sem a devida Permissão para Dirigir ou Ha- os crimes como as contravenções penais, ainda que
bilitação ou, ainda, se cassado o direito de dirigir. sejam de médio potencial ofensivo.
c) a circunstância de o agente não possuir carteira de e) O juizado especial criminal tem competência para a
habilitação constitui causa de aumento da pena tão conciliação e o julgamento das infrações penais de
somente no crime de homicídio culposo na direção menor potencial ofensivo, não dispondo de legiti-
de veículo automotor midade para a execução de seus julgados.

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34. (Iades/Metrô-DF/Segurança Metroferroviário/2014) evitar que a polícia descobrisse seus antecedentes
Acerca da Lei nº 4.898/1965, assinale a alternativa criminais. Nessa situação, de acordo com a jurispru-
correta. dência do STF, a conduta de Felipe caracteriza-se
a) Quando o abuso for cometido por agente de auto- como atípica.
ridade policial, civil ou militar, de qualquer catego- d) Abel, em conversa com vários colegas de trabalho,
ria, não poderá ser cominada a pena autônoma ou entre eles Emílio, seu desafeto, referiu-se a este di-
acessória, de poder o acusado exercer funções de zendo “você é ladrão e hipócrita”. Nessa situação, a
natureza policial ou militar no município da culpa, frase proferida por Abel configura os delitos de calú-
por prazo de um a cinco anos. nia e difamação em concurso formal, com causa de
b) Não existindo no município, no Estado ou na legis- aumento de pena prevista na parte especial do CP.
lação militar normas reguladoras do inquérito ad- e) Cláudio, empregado celetista de empresa pública
ministrativo, serão aplicadas, alternativamente, as estadual que explora atividades e serviços bancá-
disposições dos arts. 219 a 225 da Lei nº 1.711/1952 rios, desviou, no exercício da função de gerente, da
(Estatuto dos Funcionários Públicos Civis da União). conta de uma cliente de oitenta anos de idade, cerca
c) O processo administrativo poderá ser sobrestado de R$ 10.000. Nessa situação, a conduta de Cláudio
para o fim de aguardar a decisão da ação penal ou caracteriza-se como estelionato.
civil.
d) À ação civil serão aplicáveis as normas do Código 37. (Cespe/TJ-DFT/Juiz de direito/2014) O MPDFT ofereceu
Civil brasileiro. denúncia contra Augusto, tendo-lhe imputado violação
e) A ação penal será iniciada, independentemente de ao mandamento proibitivo disposto no art. 307 do CP,
inquérito policial ou justificação por denúncia do porquanto o denunciado teria atribuído a si falsa iden-
Ministério Público, instruída com a representação tidade para obter vantagem em proveito próprio. O juiz
da vítima do abuso. de direito do juizado especial cível e criminal rejeitou a
denúncia ofertada. O parquet tomou ciência da decisão
35. (Cespe/TJ-DFT/Juiz de Direito/2014) Considerando as e dez dias depois interpôs recurso de apelação. O de-
leis que tratam das contravenções penais, de abuso nunciado não foi encontrado para ser intimado, estando
de autoridade, da tortura, dos crimes de trânsito e dos em lugar incerto e não sabido. Esgotadas as diligências
crimes contra a ordem tributária, assinale a opção cor- cabíveis para localizar o recorrido, o MP requereu sua
reta. intimação por meio de edital.
a) Dirigir veículo automotor, em via pública, sem a de- Nessa situação hipotética, o juiz de direito do juizado
vida permissão ou habilitação, gerando perigo de especial cível e criminal deve
dano, é classificado como delito de perigo abstrato. a) receber o recurso interposto pelo MP e determinar
b) O prazo prescricional do delito material contra a or- a intimação do recorrido por edital.
dem tributária começa a correr do dia da prática do b) receber o recurso interposto pelo MP e encaminhar
fato reputado como criminoso. os autos ao juízo comum para que o acusado seja
c) Na lei que trata das contravenções penais, não é pre- intimado por edital.
visto o instituto da suspensão condicional da pena. c) receber o apelo, rejeitar o pleito ministerial de inti-
d) Entre as sanções penais previstas na lei que dispõe so- mação por edital, visto que esse ato processual não
bre abuso de autoridade, incluem-se a perda do cargo é admitido no rito dos juizados especiais criminais,
público e a inabilitação para o exercício de qualquer e remeter os autos à instância ad quem para julga-
outra função pública por prazo de até três anos. mento do recurso.
e) O crime de tortura que resulta em lesão corporal d) inadmitir a apelação interposta pelo MP, que é in-
de natureza grave ou gravíssima é punível confor- tempestiva, e encaminhar os autos ao juízo comum
me as penas previstas para esse delito, acrescidas para que o acusado seja intimado por edital.
das referentes ao delito de lesão corporal grave ou e) inadmitir a apelação interposta pelo MP, incabível
gravíssima. para atacar decisão de rejeição da denúncia, e de-
terminar a intimação do denunciado por edital.
36. (Cespe/TJ-DFT/Juiz de Direito/2014) Em cada uma das
opções seguintes, é apresentada uma situação hipoté- 38. (Cespe/TJ-SE/Titular de Serviços de Notas e de Regis-
tica, seguida de uma assertiva a ser julgada de acordo tros/2014) Com base no que dispõe a Lei Antidrogas
com as disposições incriminadoras contidas no CP e nas (Lei nº 11.343/2006), assinale a opção correta.
leis penais extravagantes. Assinale a opção em que a a) Um agente pode ser processado e condenado por
assertiva está correta. tráfico privilegiado, em concurso material com as-
a) Douglas adquiriu gratuitamente vídeo com cenas de sociação para o tráfico, por serem autônomos os
sexo explícito envolvendo menores de idade, para crimes.
a satisfação de seus próprios desejos sexuais, sem b) Se uma substância psicotrópica for retirada da lista
expô-lo a terceiros. Nessa situação, Douglas praticou de uso proscrito da autoridade sanitária competen-
crime tipificado no ECA. te, o princípio da aplicação da retroatividade da lei
Legislação Especial

b) Jeremias foi abordado na via pública portando arma penal mais benéfica levaria atipicidade da condu-
branca na cintura. Nessa situação, dada a ausência ta no caso de crime de porte e tráfico de drogas
de tipificação penal na legislação específica para cometido antes da exclusão da substância da lista
porte de arma branca, a conduta de Jeremias deve mencionada.
ser considerada atípica, não configurando qualquer c) Considere que um traficante de drogas tenha sido
fato punível. preso em flagrante delito e posteriormente tenha
c) Felipe, durante período de livramento condicional, confessado espontaneamente seu crime. Suponha
foi preso em flagrante por roubo, tendo então se ainda que ele tenha sido condenado e recebido a
identificado com o nome de seu irmão Ernesto, para pena base no mínimo legal. Nesse caso, a possibili-

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dade de aplicação da atenuante de confissão espon- infração mais grave com o aumento máximo de dois
tânea está afastada. terços for superior a um ano.
d) Em relação ao crime de tráfico de drogas, é necessá- b) A participação de promotor de justiça na investi-
ria a efetiva transposição da fronteira estadual para gação criminal não acarreta seu impedimento ou
a incidência da causa de aumento de pena. suspeição para oferecer a denúncia.
e) O porte de entorpecente é crime de perigo real, e sua c) O benefício da suspensão condicional do processo é
tipificação visa tutelar a integridade da ordem social cabível para os casos de concurso material em que a
no que diz respeito à preservação da saúde pública, pena mínima cominada a cada um deles seja inferior
razão por que não há que se falar em ausência de a um ano, ainda que a soma das referidas penas
periculosidade social da ação. mínimas ultrapasse esse patamar.
d) O reconhecimento da menoridade do réu no processo
39. (Cespe/TJ-SE/Titular de Serviços de Notas e de Regis- penal pode ser obtido pela simples declaração de al-
tros/2014) No que se refere à ação penal, ao rito do guém que o conheça e ateste verbalmente a sua idade.
tribunal do júri e ao procedimento previsto na Lei nº e) É direito do defensor, no interesse do representado,
9.099/1995, assinale a opção correta. ter acesso amplo aos elementos de prova, inclusive
a) No tribunal do júri, a condenação do réu depende- interceptações telefônicas em curso e não documen-
rá dos votos de dois terços dos jurados. Caso não tadas no bojo dos autos da investigação.
sejam alcançados os votos necessários, o acusado
será absolvido. 42. (Cespe/TJ-CE/Analista Judiciário/Execução de Manda-
b) A denúncia, no procedimento sumaríssimo, poderá dos/2014) Considerando o disposto na Lei dos Juizados
ser oferecida oralmente na audiência preliminar, Especiais Cíveis e Criminais (Lei nº 9.099/1995) bem
caso não sejam necessárias diligências imprescin- como na doutrina e na jurisprudência, assinale a opção
díveis. correta.
c) A ação penal privada será promovida pelo MP, desde a) A prática de crime continuado não interfere na con-
que haja autorização do ofendido. cessão da suspensão condicional do processo, visto
d) No caso de morte do ofendido, ainda que durante o que as penas devem ser consideradas isoladamente
curso do prazo decadencial, não será mais possível para o deferimento do benefício.
o ajuizamento da ação penal privada. b) Se, no curso do prazo da suspensão do processo, o
e) Os jurados não poderão formular perguntas ao ofen- acusado vier a ser processado por contravenção, o
dido nem às testemunhas, em nenhuma hipótese. benefício poderá ser revogado.
c) Descumprida a transação penal, admite-se a conver-
40. (Cespe/TJ-SE/Titular de Serviços de Notas e de Regis- são da pena restritiva de direitos em pena privativa
tros/2014) Assinale a opção correta à luz das disposi- de liberdade.
ções da Lei Antidrogas (Lei nº 11.343/2006). d) Se, na sentença, o juiz desclassificar o crime me-
a) O juiz poderá conceder o perdão judicial ou reduzir diante nova classificação jurídica do fato, atribuindo
a pena pela delação premiada, se o réu colaborar de tipicidade diversa da constante da denúncia, não se
forma efetiva e voluntária e a relevância da informa- admite a suspensão condicional do processo, ainda
que a nova pena esteja dentro dos limites para o
ção prestada contribuir, de fato, com as investigações
benefício.
ou com o processo, por meio da identificação dos
e) Caso o acusado não seja encontrado para ser citado
corréus e partícipes do crime de tráfico de drogas.
pessoalmente, o juiz determinará a realização da ci-
b) A transnacionalidade do delito é circunstância agra-
tação por edital.
vante que se aplica ao tráfico de drogas, desde que a
substância entorpecente seja proveniente de outro
43. (Cespe/TJ-CE/Analista Judiciário - Execução de Manda-
país ou a outro país se destine, sendo irrelevante o
dos/2014) Assinale a opção correta, à luz do disposto
fato de ter sido produzida ou não no Brasil. nas leis que definem os crimes resultantes de precon-
c) A segregação cautelar do preso acusado da prática ceitos de raça ou de cor e os crimes de tortura.
dos crimes atinentes ao tráfico ilícito de entorpecen- a) Considere que um policial civil, após infligir sofrimen-
tes não pode ser afastada, haja vista o impeditivo to mental mediante privação do sono, exija que o
legal previsto na referida lei, que veda a liberdade acusado de roubo reconheça determinado homem
provisória. como sendo seu comparsa. Nessa situação, o referi-
d) O agente não poderá ser processado e condenado do policial não cometeu o delito de tortura, mas de
pela prática de tráfico privilegiado em concurso ma- constrangimento ilegal em concurso material com
terial com associação para o tráfico, ainda que esses cárcere privado.
crimes sejam considerados crimes autônomos. b) Por se tratar de crime próprio, o crime de tortura é
e) Em caso de crime de tráfico de drogas, não se admite caracterizado pelo fato de o agente que o pratica ser
a substituição da pena privativa de liberdade por funcionário público.
restritiva de direitos, ainda que o réu seja primário, c) Considera-se crime inafiançável e insuscetível de
com bons antecedentes e não se dedique a atividade graça ou anistia a prática do racismo, por ele res-
Legislação Especial

criminosa nem integre organização criminosa. pondendo os mandantes, os executores e os que,


podendo evitá-lo, se omitirem.
41. (Cespe/TJ-SE/Titular de Serviços de Notas e de Regis- d) Aquele que pratica racismo responderá por crime
tros/2014) Acerca da produção de provas, dos atores inafiançável e imprescritível, sujeitando-se à pena
processuais e dos juizados especiais criminais, assinale a de reclusão prevista na lei.
opção correta com base nos entendimentos sumulados e) Aquele que se omite em face de conduta tipificada
pelos tribunais superiores. como crime de tortura, quando tinha o dever de
a) Não se admite a suspensão condicional do processo evitá-la ou apurá-la, será punido com as mesmas
por crime continuado se a soma da pena mínima da penas do autor do crime de tortura.

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44. (FCC/DPE-RS/Defensor Público/2014) O instituto conhe- GABARITO
cido doutrinariamente como delação premiada não está
previsto
1. e 13. a 25. b 37. a
a) na Lei nº 11.343/2006 (Lei de Drogas).
2. b 14. c 26. b 38. c
b) na Lei nº 9.613/1998 (Lavagem de Dinheiro).
3. b 15. b 27. d 39. b
c) na Lei nº 8.137/1990 (Crimes Contra a Ordem Tribu-
tária, Econômica e Contra as Relações de Consumo). 4. c 16. e 28. a 40. d
d) na Lei nº 8.078/1990 (Proteção ao Consumidor). 5. c 17. e 29. c 41. b
e) no art. 159 do Código Penal, que trata da extorsão 6. b 18. a 30. b 42. b
mediante sequestro. 7. e 19. a 31. a 43. d
8. e 20. c 32. c 44. d
45. (FCC/DPE-RS/Defensor Público/2014) Sobre a Lei nº 9. d 21. b 33. a 45. b
9.455/1997 (Crimes de Tortura), é correto afirmar que 10. a 22. b 34. e 46. e
a) se a vítima da tortura for criança, a Lei nº 9.455/1997 11. e 23. a 35. d 47. e
deve ser afastada para incidência do tipo penal es- 12. a 24. c 36. a 48. a
pecífico de tortura previsto no Estatuto da Criança
e do Adolescente (art. 233 do ECA).
b) há previsão legal de crime por omissão.
c) é inviável a suspensão condicional do processo para
qualquer das modalidades típicas previstas na lei.
d) o regramento impõe, para todos os tipos penais que
prevê, que o condenado inicie o cumprimento da
pena em regime fechado.
e) há vedação expressa, no corpo da lei, de aplicação
do sursis para os condenados por tortura.

46. (FCC/DPE-RS/Defensor Público/2014) Segundo a lei bra-


sileira, tratando-se de condução de veículo automotor,
a) no homicídio culposo, incide causa de aumento
quando o crime é praticado em faixa de pedestre,
na calçada ou área de estacionamento de veículos.
b) não se aplicam as disposições da Lei nº 9.099/1995
ao crime de lesão corporal culposa.
c) constata-se o crime de conduta sob embriaguez com
a concentração de álcool por litro de sangue igual
ou superior a 4 decigramas.
d) afastar-se do local do acidente para fugir à respon-
sabilidade civil ou penal é uma faculdade do agente,
desde que não haja vítimas fisicamente lesionadas.
e) poderá haver crime de omissão de socorro ainda
que a vítima tenha sofrido morte instantânea.

47. (FCC/DPE-RS/Defensor Público/2014) Com relação à


tortura, cabe afirmar:
a) Genericamente trata-se de crime próprio.
b) Não está tipificada distintamente a conduta come-
tida com finalidade puramente discriminatória.
c) Na versão especificamente omissiva, trata-se de cri-
me comum.
d) Trata-se de crime insuscetível de graça, porém não
de anistia.
e) Pode ser aplicada a lei brasileira ao crime praticado
por brasileiro no estrangeiro.

48. (FCC/DPE-RS/Defensor Público/2014) Em vista do direi-


to vigente,
a) o crime de posse de drogas ilícitas para consumo
pessoal tem prazo prescricional ordinário de dois
anos.
b) o crime de associação para fins de tráfico reclama a
Legislação Especial

composição mínima de 3 agentes.


c) no tráfico de drogas é vedada a conversão em penas
restritivas de direitos, mesmo se cabível à luz dos
critérios da parte geral do Código Penal.
d) no tráfico de drogas com causa específica de dimi-
nuição é, em tese, viável a suspensão condicional da
pena.
e) a oferta gratuita de drogas não caracteriza a trafi-
cância.

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PRF

SUMÁRIO

Direitos Humanos e Cidadania

Teoria geral dos direitos humanos


Conceito ............................................................................................................................................................................. 3
terminologia ....................................................................................................................................................................... 3
estrutura normativa ........................................................................................................................................................... 4
fundamentação .................................................................................................................................................................. 4

Afirmação histórica dos direitos humanos ........................................................................................................................... 7

Direitos humanos e responsabilidade do Estado .................................................................................................................. 9

Direitos humanos na Constituição Federal ......................................................................................................................... 11

Institucionalização dos direitos e garantias fundamentais................................................................................................. 12

Política nacional de direitos humanos................................................................................................................................. 16

Programas nacionais de direitos humanos ......................................................................................................................... 16

Globalização e direitos humanos ........................................................................................................................................ 52

As três vertentes da proteção internacional da pessoa humana


Direitos humanos, direito humanitário e direito dos refugiados ..................................................................................... 52

A Constituição brasileira e os tratados internacionais de direitos humanos ..................................................................... 57

Aplicações da perspectiva sociológica a temas e problemas contemporâneos da sociedade brasileira:


a questão da igualdade jurídica e dos direitos de cidadania, o pluralismo jurídico, acesso à justiça ...............................64

Práticas judiciárias e policiais no espaço público ................................................................................................................ 67

Administração institucional de conflitos no espaço público .............................................................................................. 72

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Direitos Humanos e Cidadania
Welma Maia / Anderson Lopes

Welma Maia “liberdades públicas”, “direitos do cidadão”, “direitos da pessoa


humana”, “direitos do homem”, “direitos civis”, “direitos indivi-
TEORIA GERAL DOS DIREITOS HUMANOS duais”, “direitos fundamentais”, “direitos públicos subjetivos”. A
que mais se disseminou, todavia, é Direitos Humanos”.
Conceito Canotilho envidou esforços para distinguir várias dessas
expressões, examinando-as aos pares e chegando, entre ou-
Em relação à doutrina especializada, diversas são as de- tras, às seguintes conclusões:
finições sobre os direitos humanos. • Direitos do homem e Direitos do Cidadão: distinção
Atualmente, a definição consagrada na doutrina é a de presente na ‘Declaração dos Direitos do Homem e do
Antônio Peres Luño, que compatibilizando a evolução histó- Cidadão’ de 1789, editada como corolário da Revolução
rica dos direitos humanos com a necessidade de definição Francesa, segundo a qual os Direitos do Homem são
de seu conteúdo, considera direitos humanos direitos individuais, pertencendo-lhe “enquanto tal”,
ou seja, são inerentes à condição humana, ao passo
o conjunto de faculdades e instituições que, em cada que os Direitos do Cidadão são direitos políticos, que
momento histórico, concretizam as exigências de pertencem ao homem “enquanto ser social, isto é, como
dignidade, liberdade e igualdade humanas, as quais indivíduo vivendo em sociedade” e perante o Estado.
devem ser reconhecidas positivamente pelos orde- • Direitos Naturais e Direitos Civis: distinção próxima da
namentos jurídicos em nível nacional e internacional. anterior, encontrada no Título I da Constituição france-
sa de 1791, consoante a qual os Direitos Naturais são
Para o autor, há três tipos de definições sobre o que são inerentes ao indivíduo e os Direitos Civis são os que
os direitos humanos. O primeiro tipo seria a definição dita lhe cabem enquanto cidadão, encontrando-se procla-
tautológica, ou seja, a que não aporta nenhum elemento mados nas constituições e leis infraconstitucionais.
novo que permite caracterizar tais direitos. Assim, seria um • Direitos Políticos e Direitos Individuais: entre os Di-
exemplo desse tipo de definição a conceituação dos direitos reitos Civis destacam-se de um lado, os Direitos Políti-
humanos como sendo aqueles que correspondem ao homem cos, correspondentes a uma parcela atribuída apenas
pelo fato de ser homem. Todavia, como se sabe, todos os a determinados grupos de indivíduos, dotando-os de
direitos são titularizados pelo homem ou por suas emanações
aptidão para “tomar parte ativa na formação dos po-
(as pessoas jurídicas), de modo que a definição acima citada
deres públicos”; o que remanesce, naquela categoria,
encerra uma certa petição de princípio.
Um segundo tipo de definição seria aquela dita formal, depois de apartados dela os Direitos Políticos, são os
que, ao não especificar o conteúdo dos direitos humanos, Direitos Individuais.
limita-se a alguma indicação sobre o seu regime jurídico es- • Direitos e Liberdades Públicas: os Direitos Civis admi-
pecial. Esse tipo de definição consiste em estabelecer que tem, ainda, outro tipo de categorização, que coloca,
os direitos humanos são aqueles que pertencem ou devem de um lado, as Liberdades Públicas, consistentes em
pertencer a todos os homens e que não podem ser deles direitos dos indivíduos contra a intervenção do Estado
privados, em virtude de seu regime indisponível e sui generis. (e são conhecidos como ‘direitos negativos ou direitos
Por fim, há ainda a definição finalística ou teleológica, de negação), e de outro, simplesmente os Direitos (ou
na qual se utiliza objetivo ou fim para definir o conjunto “direitos positivos’), que conferem ao indivíduo status
de direitos humanos, como, por exemplo, na definição que ativo frente ao Estado, quer porque tenha a prerrogativa
estabelece que os direitos humanos são aqueles essenciais de participar ativamente na vida política (direito de votar
para o desenvolvimento digno da pessoa humana. e a de ser votado), que porque goze da possibilidade de
Para Dallari, os direitos humanos representam exigir as ‘prestações ao desenvolvimento pleno da exis-
tência individual (denominados ‘direitos à prestação’).
uma forma abreviada de mencionar os direitos fun-
damentais da pessoa humana. Esses direitos são con- Seguindo a tendência das provas de concurso, nesse es-
siderados fundamentais porque sem eles a pessoa tudo adota-se a designação Direitos Humanos (em sentido
humana não consegue existir ou não é capaz de se lato), aos direitos inerentes à condição humana e, que por
desenvolver e de participar plenamente da vida. este motivo, independem de norma positiva; direitos inter-
nacionais, ou direitos humanos em sentido estrito, os direitos
Também é relevante a definição já tradicional de Peces-
-Barba, para quem os direitos humanos são faculdades que humanos contemplados em tratados internacionais; e direi-
Direitos Humanos e Cidadania

o Direito atribui a pessoas e aos grupos sociais, expressão de tos humanos fundamentais, ou direitos fundamentais, àque-
suas necessidades relativas à vida, à liberdade, à igualdade, les assegurados, dentro do ordenamento jurídico interno,
à participação política, ou social ou a qualquer outro aspecto pelas autoridades político-legislativas de cada Estado-nação.
fundamental que afete o desenvolvimento integral das pessoas
em uma comunidade de homens livres, exigindo o respeito ou Para memorizar
a atuação dos demais homens, dos grupos sociais e do Estado,
e com garantia dos poderes públicos para restabelecer seu
exercício em caso de violação ou para realizar sua prestação.

Terminologia
Quanto à terminologia, vários são as expressões utilizadas:
“direitos naturais”, “direitos humanos”, “direitos fundamentais”,

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Estrutura das Normas de Direitos Humanos O problema fundamental em relação aos direitos do
homem, hoje, não é tanto o de justificá-los, mas o de
Os direitos humanos apresentam uma característica protegê-los. Trata-se de um problema não filosófico,
peculiar: têm, frequentemente, uma formulação normativa mas político.
aberta. De fato, as normas com textura aberta de direitos
humanos são comuns, sendo raras as formulações estritas. Bobbio afirma que os direitos humanos constituem uma
Segundo Alexy, em construção já muito conhecida, a classe de direitos variável, conforme mostra a evolução de
estrutura do ordenamento jurídico é dividida entre regras e seu rol. O rol de direitos humanos modificou-se e é lícito
princípios. As regras correspondem a enunciados jurídicos afirmar que alguns direitos que sequer são defendidos hoje
tradicionais, nos quais consta um pressuposto de fato e uma podem, amanhã, ser considerados como integrantes da ca-
consequência jurídica. “Aquele que matar outrem deve ser tegoria de “direitos humanos”, ou mesmo que haja exclusões
preso” é um exemplo básico de regra. Os princípios são, por dessa categoria. Logo, seria impossível fundamentar de modo
unívoco os direitos humanos, pois cada contexto histórico
seu turno, mandamentos de otimização de um determinado
possuiria sua própria “fundamentação”.
valor ou bem jurídico, ordenando que esse valor ou bem
Os direitos humanos constituem-se também em uma
jurídico seja realizado na maior medida do possível. categoria heterogênea, contendo pretensões muitas vezes
Assim, a norma “todos têm direito a processo com dura- conflitantes, a exigir a ponderação de interesses no caso con-
ção razoável e a um juízo imparcial, sujeito ao duplo grau de creto. Diante de tais conflitos, identificar um fundamento
jurisdição” possui uma estrutura de princípio. Não há aqui único, absoluto, poderia, na visão de Bobbio, até servir de
um pressuposto de fato, pois não há uma definição suficien- pretexto para impedir a evolução do rol dos direitos huma-
temente precisa de um tipo de situação na qual podem se nos.
achar pessoas ou coisas e tampouco há uma consequência Em breve síntese, veremos as principais correntes que
jurídica clara. buscam fundamentar os direitos humanos.
Além das diferenças de enunciados, as regras distinguem-
-se dos princípios também no momento da aplicação. Com Os Jusnaturalistas
efeito, as regras são aplicadas a partir da técnica da subsun-
ção, que consiste em determinar se o caso concreto ajusta-se Visão Jusnaturalista Religiosa
ou não ao pressuposto fático do enunciado jurídico. Caso a
resposta seja positiva (não que tal operação seja simples, Com antecedentes na Idade Antiga, mas desenvolvida na
podem existir dúvidas quanto à autoria do homicídio do Idade Média por São Tomás de Aquino, a visão jusnaturalista
exemplo visto acima etc.), aplica-se a consequência jurídica. de cunho religioso prega que a lei humana só detém validade
Por outro lado, os princípios são aplicados mediante a se conforme a lei divina, a qual salvaguarda interesses básicos
técnica da ponderação, que não acata a lógica do “tudo ou ligados à existência humana, os quais por sua vez, vigoram e
nada” das regras (ou o caso concreto se subsume ou não), prevalecem sobre eventuais normas positivadas pelo homem
mas sim responde à lógica do “mais ou menos”, que consiste e consigo desconformes.
na busca da maior otimização do valor ou bem jurídico nele
contido, na medida das possibilidades do caso concreto. As Visão Jusnaturalista Racional ou Contratualista
vaguezas e a indeterminabilidade dos enunciados contidos
nos princípios também excluem a possibilidade de uso da Adotada já na Idade Moderna, com Hugo Grotius, pre-
técnica de subsunção. cursor do Direto Internacional, e nos séculos seguintes, de-
Também cabe lembrar que a estrutura dos direitos hu- senvolvida pelos iluministas contratualistas (tais como Locke
manos é majoritariamente formada por princípios, mas há e Rousseau), a visão jusnaturalista racional apresenta uma
regras de direitos humanos, como, por exemplo, a regra de versão laica do fundamento dos direitos humanos, desa-
exigência de ordem judicial ou flagrante delito para que al- trelando-o das leis divinas e vinculando-o à razão humana
guém seja preso. entendida como o traço da natureza do Homem (não mais
A diferenciação das normas de direitos humanos em como dom de Deus) que o distingue dos demais seres vivos;
princípios e regras, como ensina Alexy, é essencial para a assim, é inerente à condição humana a vigência de direitos
compreensão do papel dos direitos humanos em um orde- apreensíveis pela razão, decorrentes do pressuposto Con-
namento, bem como é peça chave na análise da limitação e trato Social (pactuação coletiva que dá poderes limitados de
na colisão dos direitos humanos. A estrutura principiológica organização ao Estado, em nome do em comum) e tidos por
naturais porque independem da positivação pelos homens,
das normas de direitos humanos exige o estudo da concre-
cuja validade se perquire em face do direito natural.
tização judicial e de seus instrumentos (como o princípio
da proporcionalidade e a ponderação de interesses), para
auxiliar o intérprete na solução dos casos concretos. Os Positivistas
Direitos Humanos e Cidadania

Ao contrário das concepções jusnaturalistas, a visão po-


Fundamentação dos Direitos Humanos sitivista nega a ideia de preexistentes ao direito positivo,
fazendo prevalecer a compreensão segundo a qual direito
A despeito da diversidade terminológica, os diferentes válido é aquele reconhecido pelo Estado como tal.
pontos de vista convergem em apresentar, como eixo central Para a Escola positivista, o fundamento dos direitos hu-
dos direitos humanos, a dignidade da pessoa humana. manos consiste na existência da lei positiva (também conhe-
Para a doutrina este tema é complexo e abstrato, envol- cida como direito posto), cujo pressuposto de validade está
vendo conceitos históricos e discussões filosóficas. em sua edição conforme as regras estabelecidas na Cons-
Bobbio sustenta ser impossível a fundamentação (justi- tituição. Assim, os direitos humanos justificam-se graças a
ficativa) absoluta dos direitos humanos por diversas razões. sua validade formal.
Para o citado jurista italiano, o problema básico em relação O problema é quando a lei for omissa ou mesmo contrária
aos direitos do homem não é sua fundamentação, mas sim à dignidade da pessoa humana, caso em que a proteção dos
sua efetivação. direitos humanos restará prejudicada.

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Para Fábio Konder Comparato, novo positivismo é que se determina o Direito não somente
pelas fontes formais, mas também em sua aplicação. Com
é justamente aí que se põe, de forma aguda, a ques- isso, os direitos humanos definem-se como direitos morais,
tão do fundamento dos direitos humanos, pois a sua ou seja, como exigências éticas, que compõem os princípios
validade deve assentar-se em algo mais profundo e do ordenamento.
permanente que a ordenação estatal, ainda que esta Há assim uma fundamentação ética dos direitos hu-
se baseie numa Constituição. manos, que consiste no reconhecimento de condições im-
prescindíveis para uma vida digna e que se entroniza como
Hart, com concisão, assinala que a divergência entre princípio vetor do ordenamento jurídico.
os jusnaturalistas e os positivistas não reside no reconhe- Assim, as necessidades humanas são razões justificatórias
cimento ou não da existência de certos princípios de moral e argumentativas para que se possa incidir o regramento
e justiça passíveis de revelação pela razão humana (mesmo jurídico especial do conjunto de direitos humanos. Ou, no
que tenham origem divina). dizer de Añon Roig, são argumentos que apoiam uma res-
A divergência entre as duas Escolas jurídicas reside, sim, posta jurídico-normativa às demandas que exigem algo, que
na defesa, pela Escola jusnaturalista, da superioridade dos pode ser tanto o estabelecimento de um direito positivado
princípios de moral e justiça em face de leis incompatíveis. ou uma nova técnica positiva de proteção.
Para os positivistas, esses princípios de justiça não Assim, a fundamentação dos direitos humanos como di-
pertencem ao ordenamento jurídico, inexistindo qualquer reitos morais busca a conciliação entre os direitos humanos
choque ou antagonismo entre a lei posta e a Moral. Para entendidos como exigências éticas ou valores e os direitos
Hart, a Moral pode sim influenciar a formação do Direito no humanos entendidos como direitos positivados.
momento da produção legislativa e também no momento
do desempenho da atividade judicial.1 Os Negacionistas
A Fundamentação Moral Há ainda quem negue a possibilidade de se identificar,
com exatidão, qual seria ou quais seriam os fundamentos
O conceito de direitos morais, aprofundado por Dworkin, dos direitos humanos.
consiste no conjunto de direitos subjetivos originados dire- Baseados na assertiva que tais direitos são consagrados a
tamente de valores (contidos em princípios), independen- partir de juízos de valor, ou seja, de opções morais as quais,
temente da existência de prévias regras postas. por definição, não podem ser comprovadas ou justificadas,
Utilizando tal conceito, podemos ver que os direitos mas aceitas por convicção pessoal, há aqueles que negam a
humanos podem ser considerados direitos morais que, por existência de fundamentação racional dos direitos humanos.
definição, não aferem sua validade por normas positivadas, Devemos ainda citar, como mais um exemplo de corrente
mas diretamente de valores morais da coletividade humana. “negacionista”, aqueles que defendem a ideia de que os di-
Para o citado autor, a moralidade integra o ordenamento reitos humanos são apreendidos pelos sentimentos morais.
jurídico por meio de princípios mesmo que não positivados.
Assim, o juízo valorativo da superioridade dos direitos huma-
Princípios são, segundo esse autor, exigências de justiça, de
nos sobre todo ordenamento jurídico não pode ser justificado
equidade ou de qualquer outra dimensão da moral.
ou fundamentado, pois é juízo de persuasão, tradução de
Dworkin demonstra que, nos chamados casos-limite ou
emoção daquele que defende tal posição.
hard cases, quando os intérpretes debatem e decidem em
Contudo, a busca do fundamento para o reconhecimen-
termos de direitos e obrigações jurídicas, são utilizados pa-
to dos direitos humanos é de importância capital quando é
drões que não funcionam como regras, mas trabalham com
motivada pela existência de dúvidas ou contestações.
princípios.
Quando se afirma que os intérpretes empregam princí- É o que ocorre com os direitos humanos. De fato, a prote-
pios e não regras, está a se admitir que são duas as espécies ção dos direitos humanos foi conquista histórica, que, como
de normas, cuja diferença é de caráter lógico. Um princípio tal, necessitou de fundamentação teórica para sua afirmação
não determina as condições que tornam sua aplicação ne- frente ao absolutismo e outras formas de governo autori-
cessária. Ao revés, estabelece uma razão (fundamento) que tárias.
impele o intérprete numa direção, mas que não reclama uma Mas a necessidade de fundamentação não perdeu a razão
decisão específica, única. Daí acontecer que um princípio, de ser nos dias atuais, em especial quando a violação de di-
numa determinada situação, e frente a outro princípio, pode reitos humanos é patrocinada pelo Estado, por seus agentes
não prevalecer – o que não quer significar que ele perca a ou por suas leis. Como expõe Jorge Miranda, renunciar à
sua condição de princípio. fundamentação dos direitos humanos pode consistir, para
Assim, as normas de condutas são originadas de refle- muitos, na resignação perante as leis positivas vigentes ou
xões morais contidas nos princípios de qualquer ordenamen- perante as contingências de sua aplicação.
Direitos Humanos e Cidadania

to jurídico. Os direitos morais são mais do que exigências Os exemplos históricos mostram os riscos desse positi-
éticas oriundas do jusnaturalismo. São títulos, na acepção vismo exacerbado.
de pretensão, que permitem exercer direitos. Assim, a fundamentação dos direitos humanos é im-
Nino, por sua vez, sustenta que é na aplicação do direito portante na chamada relação “direitos humanos – direito
que os princípios de justiça e moralidade são invocados pelo posto”. Se os direitos humanos são aqueles declarados e
julgador. A diferença entre o jusnaturalismo clássico e esse reconhecidos pelo Estado, o que fazer quando não existe
esse prévio reconhecimento pelo Estado? Como protegê-los
1
Hart denomina essas regras de determinação do direito de regras de reconhe- com efetividade, então?
cimento, de acordo com as quais o ordenamento jurídico é formado por nor- A resposta está no referencial ético que justifica terem
mas primárias e por normas secundárias, sendo as primeiras as que contêm
direitos e obrigações, e as segundas aquelas que contêm os procedimentos os direitos humanos posição superior no ordenamento jurí-
para produzir ou concretizar as normas primárias, o que inclui as normas pro- dico, capaz inclusive de se sobrepor a eventual ausência de
cedimentais pelas quais os julgadores determinam o direito aplicável ao caso reconhecimento explícito por parte do Estado. Assim, urge
concreto (HART, Herbert L. A. O conceito de direito. 2. ed. (Trad. A. Ribeiro
Mendes). Lisboa: Fundação C. Gulbenkian, 1994, p. 104 e 142). o estudo da fundamentação dos direitos humanos.

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Universalismo e Relativismo Universalidade

Ainda com relação aos fundamentos dos direitos huma- Os direitos humanos são universais na medida em que
nos é importante conhecer dois pensamentos (divergentes abrangem todo e qualquer ser humano, sem distinção. Claro
também) acerca do assunto: o universalismo e o relativismo. que determinados direitos humanos incidem sobre comu-
Irrompe essa diferença na possibilidade de implantação nidade específica, como os direitos trabalhistas, os direitos
generalizada ou não de tais direitos, levando-se em conta os dos migrantes e os direitos das pessoas com deficiência, en-
fatores socioculturais de cada Estado. tre outros. A universalidade é característica que decorre da
A corrente relativista alega que os meios culturais e mo- proteção da igualdade (formal e material) como dimensão
rais de uma sociedade devem ser respeitados, ainda que em essencial da dignidade da pessoa humana. Não obstante, ser
prejuízo dos direitos humanos dessa mesma comunidade. O universal não significa ser absoluto.
relativismo pode ser forte (vê a cultura como fonte principal
de validade das normas morais ou jurídicas) ou fraco (vê a Irrenunciabilidade, indisponibilidade ou inalienabilidade
cultura como forma auxiliar de validade das normas morais
ou jurídicas). Destaque importante para o relativismo se dá Não cabe ao titular do direito humano renunciá-lo. Fun-
no sentido de se entender que o universalismo acarreta uma damenta-se esta característica na impossibilidade do homem
ocidentalização de costumes, destruindo as diferenças cultu- despir-se de sua dignidade. Essa característica é alvo de in-
rais e, propiciando, inclusive e lamentavelmente, a eclosão tensas críticas, na perspectiva do campo fático, haja vista
de atentados terroristas. não serem poucas as circunstâncias em que se admite que
A corrente universalista defende a implantação global dos o titular de gozar parte ou mesmo a integralidade de deter-
direitos humanos. Afirma Valério De Oliveira Mazzuoli que minado direito humano.

após um quarto de século da realização da primeira Relatividade


Conferência Mundial de Direitos Humanos, ocorrida
em Teerã, a segunda Conferência realizada em Viena Admite-se a relatividade dos direitos humanos como saí-
em 1993 consagrou os direitos humanos como glo- da teórica para uma insustentável (do ponto de vista prático)
bal, reafirmando sua universalidade, e consagrando concepção intransigente acerca das características da univer-
salidade e da irrenunciabilidade. Nessa linha, não se nega que
sua indivisibilidade, interdependência, e inter-
direitos humanos colidem entre si e podem sofrer restrições
-relacionalidade.
por ato estatal ou do próprio titular. O próprio Poder Consti-
tuinte Originário tratou, na Constituição Federal brasileira, de
Prevaleceu o entendimento da tese universalista quando
promover a saída, algumas restrições a direitos fundamentais,
da Declaração Universal da ONU (1948), pois o relativismo
do que são exemplos a vedação da associação para fins pa-
cultural não pode ser invocado para justificar violações de
ramilitares, a pena de morte em caso de guerra, a prisão em
direitos humanos.
flagrante delito (dispensada a autorização judicial), a garantia
A Conferência de Viena (1993) endossou o conteúdo da do direito de propriedade condicionado à observância de sua
Declaração Universal da ONU de 1948, reafirmando o uni- função social e o não cabimento de habeas corpus em relação
versalismo dos direitos humanos e introduzindo novos prin- a punições disciplinares de natureza militar.
cípios, quais sejam: a indivisibilidade2, a interdependência3
e a inter-relacionalidade4. Imprescritibilidade
Características dos Direitos Humanos Enquanto instituto aplicável, na essência, a direitos pa-
trimoniais, a prescrição não se aplica aos direitos humanos,
Objetivando destacar o papel central dos direitos huma- ante sua natureza personalíssima e seu escopo de salvaguar-
nos no ordenamento jurídico vigente, a doutrina costuma da da dignidade da pessoa humana. Sendo assim, a pre-
apontar certas características desses direitos, não o fazendo, venção, a repressão ou a reparação de violação a qualquer
todavia, de maneira uniforme. direito humano jamais poderá deixar de ser levada a efeito
O estudo dessas características é importante por duas por decurso de prazo.
razões básicas: em primeiro lugar, permite a compreensão
do atual estágio de desenvolvimento da proteção dos direitos Concorrência, complementariedade ou interdependência
humanos na esfera internacional.
Em segundo lugar, permite ao operador do Direito brasi- Os direitos humanos são passiveis de exercício concomi-
leiro o uso dessas características no âmbito interno, uma vez tante, como ocorre com a liberdade de expressão e a liber-
que o Brasil, além de ser signatário de dezenas de tratados dade de religião, quando dos discursos proferidos em ceri-
de direitos humanos, já reconheceu a jurisdição obrigatória
Direitos Humanos e Cidadania

monias e cultos, e com a liberdade de reunião e o direito de


da Corte Interamericana de Direito Humanos, cujas decisões greve, no caso das assembleias grevistas. Esta característica,
serviram para formar o quadro das principais características inclusive intrínseca a certos direitos humanos, nos casos em
dos direitos humanos na esfera internacional. que deriva do outro ou nele encontra suporte (complementa-
riedade ou interdependência), como, por exemplo, direito à
Historicidade vida/direito à saúde; direito à educação/direito à cultura;
liberdade de ir e vir/habeas corpus; direito à privacidade/
Os direitos humanos apresentam natureza histórica, ad- sigilo das comunicações; liberdade de associação/direito à
vindo do Cristianismo, superando diversas revoluções até a representação por sindicato etc.
chegada aos dias atuais.
Constitucionalização
2
Os direitos humanos não se sucedem em gerações, mas se acumulam em
dimensões.
3
Os direitos políticos e sociais devem reforçar-se mutuamente.
No plano doméstico, sob a ótica da consolidação da sua
4
Interatividade entre direitos humanos e os sistemas internacionais de proteção. qualificada força normativa, os direitos humanos são pre-

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vistos nas Constituições com vistas a obter proteção e cen- que teria privilégios especiais, sendo por isso reconhecida
tralidade, auferidas por estarem enunciados no documento como um foral.5
que direciona e vincula as demais normas do ordenamento Para Comparato, a Carta de 1215 deve ser reconhecida
jurídico, assim como pela experimentação dos efeitos da ri- como uma forma de reconhecimento de que o poder do rei
gidez constitucional, sobretudo verificados a partir dos insti- passava a ser limitado por benefícios aos integrantes das
tutos da cláusula pétrea e do controle de constitucionalidade ordens privilegiadas, não significando, portanto, delegação
(no Brasil, vigentes os sistemas concentrados e difuso desse de poderes reais.
controle). O real desenvolvimento da proteção de direitos, no entanto,
pôde ser visto nos instrumento que se seguiram à Carta Magna,
Supremacia principalmente no século XVII, com Petition of Rights, de 16286;
o Habeas-Corpus Act, de 16797; e a Bill of Rights, de 16898.
Decorrência da sua constitucionalização, os direitos hu- Antes ainda da Revolução Francesa, houve a independên-
manos alcançam força normativa destacada, dentro do or- cia norte-americana, que produziu a Declaração de Direitos
denamento jurídico, a ponto de direcionar, vincular, limitar da Virgínia, a Declaração de Independência Americana e sua
os poderes públicos constituídos. Subordinam-se aos direitos Constituição.
fundamentais os Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário Sob a independência Norte-Americana, a Revolução
(incluindo aqueles que agem por sua delegação), os quais Francesa de 1789 marcou de forma profunda a história da
devem zelar, cada qual em seu campo de atuação, pelo res- humanidade.
peito, proteção e promoção desses direitos. A supremacia Para Bobbio, a Revolução Francesa e a Declaração dos
dos direitos fundamentais é material e formal. Material, na Direitos do Homem e do Cidadão, de 26 de agosto de 1789,
medida em que nenhum ato ou norma dos poderes consti- foram momentos decisivos que marcaram o fim de uma épo-
tuídos pode, em seu conteúdo, afrontar os direitos funda- ca e o início de outra, proclamando a liberdade, a igualdade
mentais; e formal, porquanto o ordenamento jurídico não e a soberania popular, ao abolir o Antigo Regime.
autoriza a supressão de direitos fundamentais por ato dos A Declaração de 1789 é a mais conhecida de todas as
constituídos, incluindo o legislador ordinário. Como conse- Declarações e está em vigor até os dias atuais na França. Faz
quência prática desta supremacia material e formal, tem-se: parte do Bloco Constitucional Francês, sendo modelo para
a inconstitucionalidade de normas incompatíveis com os di- declarações de direitos desde então.
reitos fundamentais; a não recepção de normas anteriores O maior desenvolvimento dos direitos humanos, entre-
e não conformes à Constituição; e por fim, a exigência de tanto, se deu depois do final da Segunda Guerra Mundial
em 1945. Os Estados aliados se viram frente a frente com
aplicação das normas jurídicas infraconstitucionais com ado-
as atrocidades do Holocausto e, com a criação da Organiza-
ção de sentido compatível com os direitos fundamentais e
ção das Nações Unidas (OIT) no mesmo ano, começaram a
que melhor os otimize.
intensificar esforços no sentido da proteção internacional
dos direitos humanos.
Aplicabilidade Imediata Com receio de que as atrocidades nazistas voltassem a
acontecer e com a certeza de que elas poderiam ter sido evi-
Esta característica está inserta no § 1º do art. 5º da Cons- tadas se houvesse um engajamento internacional no sentido
tituição Federal, que estabelece que as ‘normas definidoras de proteger os direitos humanos nasceu o moderno Direito
dos direitos e garantias fundamentais tem aplicação imedia- dos Direitos Humanos, visando à proteção do ser humano,
ta’. Tal disposição na perspectiva do ordenamento jurídico não só no âmbito interno de seu país, como também aonde
nacional tem por finalidade marcar posição no sentido de quer que ele vá.
que as normas de direitos humanos não são meramente A Carta das Nações Unidas demonstrou pela primeira vez
programáticas ou simplesmente matrizes de outras normas, essa preocupação com a proteção internacional dos direitos
mas têm aptidão para regular ações estatais e particulares humanos.9 Já em seu preâmbulo estabeleceu:
(força normativa), de modo direito, ou seja, sem demandar
a intermediação de outra norma que a regulamente. A apli- NÓS, OS POVOS DAS NAÇÕES UNIDAS, RESOLVIDOS a
cabilidade imediata é característica que serve, sobretudo, à preservar as gerações vindouras do flagelo da guerra,
proteção dos direitos humanos frente ao Poder Judiciário, que por duas vezes, no espaço da nossa vida, trouxe
que neles encontra aptidão para a solução de casos concretos sofrimentos indizíveis à humanidade, e a reafirmar a
e não simples diretrizes ou inspiração. fé nos direitos fundamentais do homem, na dignidade
As arroladas características dos direitos humanos eleva-
-os à condição de normas nucleares do ordenamento jurídico 5
Legislação elaborada pelo rei para regulamentar a administração de terras
conquistadas e que dispunha ainda sobre a cobrança de tributos e quaisquer
brasileiro, de modo que sua supressão significa a implosão outros privilégios.
do próprio ordenamento. Não foi por outro motivo que o A Petição de Direitos, redigida pelo Parlamento e chancelada por Carlos I,
Direitos Humanos e Cidadania

representou uma tentativa de recobrar as tradicionais liberdades assinaladas


Poder Constituinte Originário tratou de colocar os direitos na Carta Magna. (LEWANDOWSKI, Enrique R. Proteção dos Direitos Humanos
fundamentais sob o manto das cláusulas pétreas. na Ordem Interna e Internacional. Rio de Janeiro: Editora Forense, 1984, p.
45).
7
O Habeas Corpus, criado para proteger o direito de locomoção, tornou-se a
AFIRMAÇÃO HISTÓRICA DOS DIREITOS matriz de todos os demais remédios constitucionais criados para a proteção
de outras liberdades fundamentais.
HUMANOS 8
O Bill of Rigths pôs fim, pela primeira vez, desde o seu surgimento na Europa
renascentista, ao regime de monarquia absoluta, no qual todo o poder emana
do rei e em seu nome é exercido. O Bill of Rights representou a instituciona-
A Carta Magna de 1215, assinada pelo Rei João sem Terra, lização da hoje conhecida e permanente separação dos poderes do Estado, à
da Inglaterra, e a Declaração de Direitos da Virgínia, de 1776, qual se referiu Montesquieu meio século depois.
são marcos na afirmação histórica dos direitos humanos.
9
A Carta das Nações Unidas foi assinada em São Francisco, a 26 de junho de
1945, após o término da Conferência das Nações Unidas sobre Organização
A Carta Magna trouxe, pela primeira vez, a vinculação Internacional, entrando em vigor a 24 de outubro daquele mesmo ano. O
entre os atos do monarca e as leis editadas por ele, tradu- Estatuto da Corte Internacional de Justiça é parte integrante da Carta. O Brasil
promulgou a Carta das Nações Unidas por meio do Decreto nº 19.841, de 22
zindo, na verdade, uma convenção entre o rei a nobreza, de outubro de 1945.

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e no valor do ser humano, na igualdade de direito Em dezembro de 1966, precisamente no dia 16, foram
dos homens e das mulheres, assim como das nações assinados o Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e
grandes e pequenas, e a estabelecer condições sob as Políticos, que entraram em vigor respectivamente, em 3
quais a justiça e o respeito às obrigações decorrentes de janeiro de 1976 e em 23 de março de 1976.
de tratados e de outras fontes do direito internacio- Importante destacar que a Declaração Universal dos
nal possam ser mantidos, e a promover o progresso Direitos Humanos (DUDH), o Pacto Internacional sobre os
social e melhores condições de vida dentro de uma Direitos Civis e Políticos (PIDCP) e o Pacto Internacional so-
liberdade ampla. bre os Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (PIDESC), em
E para tais fins praticar a tolerância e viver em paz, conjunto formam a chamada Carta Internacional de Direitos
uns com os outros, como bons vizinhos, e unir as Humanos (The International Bill of Human Rights).
nossas forças para manter a paz e a segurança inter- Os anos sessenta e setenta também viram o surgimento
nacionais, e a garantir, pela aceitação de princípios e a e o fortalecimento de Organizações Não Governamentais
instituição dos métodos, que a força armada não será (ONGs) que visam à proteção dos direitos humanos. O auge
usada a não ser no interesse comum, a empregar um desse fenômeno se deu em 1977 quando a Anistia Interna-
mecanismo internacional para promover o progresso cional ganhou o Prêmio Nobel da Paz. Essa ONG, fundada
econômico e social de todos os povos. em 1961, tem como finalidade investigar as violações aos
Resolvemos conjugar nossos esforços para a conse- direitos humanos, alertando o mundo sobre tais fatos.
cução desses objetivos. Em 1979, foi assinada a Convenção para a Eliminação
Em vista disso, nossos respectivos Governos, por de Todas as Formas de Discriminação Contra a Mulher, que
intermédio de representantes reunidos na cidade entrou em vigor internacionalmente em 1981.
de São Francisco, depois de exibirem seus plenos O avanço no sentido de incrementar o Sistema Interna-
poderes, que foram achados em boa e devida forma, cional de Proteção dos Direitos Humanos caminhou a passos
concordaram com a presente Carta das Nações Uni- largos nos anos oitenta. Além da proteção aos direitos da mu-
das e estabelecem, por meio dela, uma organização lher, a ONU, em 1984, adotou a Convenção Contra a Tortura
internacional que será conhecida pelo nome de e outros Tratamentos e Punições Cruéis, Desumanas e De-
Nações Unidas. gradantes, que entrou em vigor internacionalmente em 1987.
Apesar de todo o esforço da ONU e das ONGs, as dita-
O avanço foi dado com a criação do chamado Tribunal duras latino-americanas continuavam demonstrando certa
de Nuremberg que funcionou na Alemanha de 1945 a 1946. impenetrabilidade ante a esses avanços internacionais na
O Tribunal tinha por função julgar os nazistas por crimes de proteção dos direitos humanos. Tanto é verdade que somen-
guerra e contra a humanidade, novidade para a época, já que te em 1989 aconteceu a ratificação pelo Brasil do texto da
a Convenção da Liga das Nações não mencionava direitos Convenção Contra a Tortura. Por sua vez, a Lei que tipificou
humanos, que vieram à baila apenas com o surgimento da o crime de tortura somente foi promulgada em 1997 (Lei nº
Organização das Nações Unidas (ONU). 9.455, de 7 de abril).
A ONU nasceu assim, da necessidade de criação de um Se a ratificação não foi o resultado imediato da luta dos
sistema que concretizasse a preocupação mundial pela pro- organismos internacionais na proteção dos direitos humanos,
teção dos direitos humanos. é certo que essa batalha ajudou em muito o término dos
O sucesso da criação da ONU se deu principalmente pelo regimes autoritários em todo o mundo, inclusive no Brasil.
apoio norte-americano à ideia que ficando à margem da Liga Em 1968 foi elaborada pela ONU a Convenção Sobre os
das Nações, levaram-na ao naufrágio. Antes da criação da Direitos da Criança que entrou em vigor em 1990. Por essa
ONU, era visível a necessidade de criar-se uma nova organi- Convenção os países signatários se comprometeram a fazer
zação, uma vez que a Liga das Nações não demostrava força com que todo ser humano com menos de 18 anos de idade
alguma no final da Segunda Guerra. recebesse a proteção contra todas as formas de discrimina-
Já em 10 de dezembro de 1948, a Assembleia Geral da ção, além da concessão da assistência apropriada.
ONU aprova o texto da Declaração Universal dos Direitos O Brasil ratificou essa Convenção em 21 de novembro de
Humanos (DUDH). Destaca-se também que no dia 11 de 1990 (Decreto nº 77.910), após longos anos de discussão,
dezembro de 1948 foi assinada a Convenção para a Preven- mais precisamente em 1979, no Ano Internacional da Crian-
ção e a Repressão do Crime de Genocídio, em Paris, na II ça. Inclusive essa convenção serviu de base para a elaboração
Assembleia Geral das Nações Unidas. Percebe-se que o ce- do Estatuto da Criança e do Adolescente, aprovado pela Lei nº
nário internacional, no pós-guerra, estava completamente 8.069, de 13 de junho de 1990, que entrou em vigor no nosso
alterado, o que levaria ao surgimento de um condomínio ordenamento jurídico, em 13 de setembro no mesmo ano.
mundial, dividido pelas duas grandes potências nascidas Em 2006, foi celebrada a Convenção sobre os Direitos das
depois do conflito, Estados Unidos e União Soviética, sob a Pessoas com Deficiência, 2009, à qual o Brasil se vinculou
sombra da Guerra Fria. em 2009.
Direitos Humanos e Cidadania

Nascia, naquele momento, um mundo que viveu sob a Ressalte-se que a Convenção sobre os Direitos das Pes-
ameaça constante da guerra nuclear, que trouxe consequên- soas com Deficiência, juntamente com seu protocolo facul-
cias às gerações que se seguiram. Fruto do colapso da ordem tativo, foi o primeiro tratado internacional aprovado inter-
estabelecida pelo Pacto da Sociedade das Nações, a Segunda namente pelo Brasil pelo rito congressual especial previsto
Guerra é um marco para a história da humanidade, para a no parágrafo 3º, do art. 5º da Constituição Federal.
história do Direito Internacional, bem como para a Guerra
Fria, que a sucedeu. Teoria do Status e a Relação Estado-Indivíduo
Com a Guerra Fria, houve assim, uma desaceleração
do desenvolvimento da proteção internacional dos direitos A formação histórica dos diretos humanos, atrelada à
humanos. multifacetada dignidade da pessoa humana como seu fun-
Apenas em 1965, foi aberta para assinatura a Convenção damento permite perceber que sob o prisma das obrigações
Internacional para a Eliminação de Todas as Formas de Dis- estatais jurídicas envolvidas, inúmeras são as possibilidades
criminação Racial que entrou em vigor em 1969. de estabelecimento da relação Estado-Indivíduo.

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Para explicar tais possibilidades, a doutrina de Neto tem instrução e aos estabelecimentos de ensino, e por último à
se utilizado da classificação apresentada por George Jellinek, vida econômica.
no final século XIX, sob a denominação “Teoria do Status”. A Segunda Geração teve forte ligação com a igualdade
Para Jellinek, quatro são as categorias que expressam os pos- e com os anseios da classe operária que começaram a se
síveis status dos indivíduos envolvendo o Estado. A saber: manifestar contra o sistema capitalista vigente.
• Status passivo (ou status subjectionis) – Submissão do Percebe-se que o conteúdo dos direitos humanos cresce
indivíduo ao Estado consubstanciada no dever de obe- à medida que as pessoas têm seus direitos declarados e, mais
decer em nome do bem comum, à imposição estatal ainda quando eles são satisfeitos, o que faz surgir abertura
de conduta, revestida de uma ordem de fazer ou de para o surgimento de novas necessidades e, por conta disso,
uma restrição ou imposição às ações do cidadão; para a descoberta de novos direitos.
• Status negativo (ou status libertatis) – Respeito do Es-
tado à vida privada do indivíduo, por meio de limites A Terceira Geração: os Direitos de Solidariedade
à prerrogativa estatal de intervir nas liberdades e fa-
culdades do cidadão gerando, de um lado, um dever Como as necessidades humanas aumentam com o de-
de abstenção estatal (obrigação negativa) e, de outro, senvolvimento da sociedade e, principalmente, com a satis-
um “direito ou pretensão de resistência” do indivíduo fação das necessidades anteriores, a evolução dos direitos
em face da intervenção ilegítima do Estado; humanos, ou melhor, o implemento do conteúdo do objeto
• Status positivo (ou status civitatis) – Posição que dota de estudo dos direitos humanos não cessou com o surgi-
o indivíduo do direito de exigir do Estado prestações mento dos direitos sociais. Essa nova etapa na evolução dos
positivas no sentido de proteger e promover seus direi- direitos humanos ficou conhecida como direitos de solida-
tos (portanto, uma obrigação estatal), status normal- riedade ou de fraternidade.
mente relacionado aos direitos econômicos, sociais e Os direitos de solidariedade contemplam o direito à paz,
culturais;
ao desenvolvimento, ao meio ambiente sadio e ao patrimô-
• Status ativo (ou status activus) – Posição atrelada aos
nio comum da humanidade.
chamados “direitos políticos”, verifica-se no reconheci-
Esses direitos têm titularidade coletiva e o sujeito passivo,
mento estatal da capacidade do indivíduo de participar
da formação da vontade do Estado, tanto na qualidade é em regra o Estado. Podem ser colocados também como
de eleitor como na de postulante a cargos públicos. titulares desses direitos os Estados que tiveram a sua paz
turbada por atitudes de outros sujeitos de direito interna-
A Teoria do Status não está imune a críticas, muito pelo cional público.
contrário. Não obstante, sua competência didática ainda faz Há doutrinadores que já entendem existentes a quarta
gozar de intenso prestígio dentro dos estudos doutrinários e a quinta geração de direitos.
relativos aos direitos humanos, assim como influência, na A quarta geração seriam os direitos à democracia, à in-
perspectiva das obrigações jurídicas, outra célebre e polê- formação e o direito ao pluralismo. 10 Já a quinta geração de
mica classificação desses direitos: a Teoria das Gerações. direitos fundamentais seria o direito à paz.
A teoria das gerações vem sendo criticada por suposta-
Teoria das Gerações ou Dimensões de Direitos mente atentar contra a universalidade, a indivisibilidade e
Humanos a interdependência, características dos direitos humanos,
essenciais para a sua efetividade, como explicitado na Decla-
Sem maiores pretensões, a partir de uma relação mera- ração e Programa de Ação de Viena de 1993 (ONU). Por este
mente didática entre as etapas de reconhecimento dos direi- motivo, há uma predileção atual em substituir-se o termo
tos humanos e as cores da bandeira da França, associadas ao “gerações” pelo termo “dimensões”.
lema da Revolução Francesa, “Liberdade, Igualdade, Fraterni-
dade” atribuída ao jurista tcheco, naturalizado francês, Karel DIREITOS HUMANOS E RESPONSABILIDADE
Vasak, surgiu a Teoria das Gerações de Direitos Humanos. DO ESTADO
A Primeira Geração: os Direitos Individuais Condição de efetividade e equilíbrio do sistema jurídico
internacional voltado à proteção dos direitos humanos, a res-
A primeira das gerações compreende os chamados di- ponsabilidade e consequente reparação do ilícito merecem
reitos individuais. Foi a partir dos direitos individuais que os atenção especial. Sendo assim, saber quais figuras podem ser
direitos humanos se expandiram. responsabilizadas por violação de direitos humanos e quais
Os direitos individuais podem ser vistos como direitos
medidas de reparação podem ser impostas, é primordial para
subjetivos oponíveis ao Estado.
o esclarecimento do assunto.
A titularidade desses diretos é do indivíduo (singular)
Direitos Humanos e Cidadania

Não é novidade, até mesmo pela história da afirmação


enquanto que no polo passivo estão todos os demais e, prin-
do ser humano, nos planos nacional e internacional, calcada
cipalmente, o Estado. Alguns direitos individuais, todavia,
na busca de limites para o arbítrio estatal quanto aos seus
podem ser exercidos de forma coletiva, como é o caso da
direitos básicos, o Estado apresenta-se como o principal obri-
liberdade de associação.
gado pela violação de direitos humanos, seja por ação ou
A Segunda Geração: os Direitos Econômicos, Sociais e por omissão. Contudo, atualmente, o Direito Internacional
Culturais dos Direitos Humanos já admite a responsabilidade de indi-
víduos (perante o Tribunal Penal Internacional), corporações
Após a Primeira Guerra Mundial, veio com a Constituição e entes privados.
Alemã de 1919 (Constituição de Weimar) uma nova gama O conceito de responsabilidade internacional, todavia,
de direitos humanos, contidos na Parte II da Carta Maior não é de aplicação exclusiva para o Direito Internacional dos
do País. Além dos direitos individuais, a Carta Maior trouxe
BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 7ª Ed. São Paulo: Malheiros;
10
em seu corpo seções dedicadas à vida social, à religião, à 1998, p. 525.

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Direitos Humanos, mas, de uso geral, no âmbito do Direito mesmo que verificada a extrapolação de competência pelo
Internacional Público, em que podem ser encontradas as autor do fato (atos ultra vires).
regras sobre o tema. Ocorre que essas regras são de origem Atos de órgão de facto: responde, igualmente, o Estado
costumeira e não se encontram codificadas. pelos atos das pessoas privadas, físicas ou jurídicas, às quais
A despeito dessa ausência, no que diz respeito ao Es- tenha delegado atribuição, como concessionárias, permis-
tado, há, no entanto, parâmetros a serem seguidos, caso sionárias etc. Inserem-se no conceito de atos de órgãos de
não exista regramento específico constante de tratado em facto, em que pese a dificuldade de sua prova, as violações
vigor. Trata-se do “Draft Articles on Responsability of States de atores privados que contam com a instrução ou controle
for Internationally Wrongful Acts” (ou ILC – Draft Articles)11, estatal clandestino, situação normalmente verificada em ca-
redigido no âmbito da Comissão de Direito Internacional, a sos de milícias ou exércitos de mercenários que atuam sob
partir da compilação dos costumes internacionais vigentes a batuta oculta do Estado.
acerca do tema. Os ILC – Draft Articles foram aprovados pela A problemática, todavia, existe em relação aos demais ato-
Comissão de Direito Internacional em 2001 e encaminhados à res passiveis de responsabilização internacional por violação
Assembleia Geral da ONU, com recomendação de que fossem de direitos humanos, como pessoas privadas, corporações
discutidos e aprovados os seus termos, visando sua adoção transnacionais, organizações internacionais e outros grupos
na forma de convenção específica sobre a responsabilidade não governamentais, haja visto que apenas o Estado é parte
internacional dos Estados, o que não ocorreu, porém, até o nos tratados internacionais de direitos humanos e contribui,
momento. (NETO, 2015) ativamente, para a formação do costume internacional.
Já com relação à responsabilidade civil por violação de Portanto, é necessário avaliar a possibilidade de sua
direitos humanos, o Estado ostenta posição dual; é ao mesmo obrigação pelo DIDH com base no costume internacional,
tempo, garantidor desses direitos e seu potencial violador. caso a conduta não seja imputável ao Estado. Todavia, é de
Várias disposições de diversos tratados internacionais deixam fato muito difícil comprovar a existência de tais obrigações
clara a obrigação dúplice de respeito e garantia dos direitos em relação a esses atores, em particular, no que se refere à
humanos Como exemplo, cita-se o art. 2.1 do Pacto Interna- respectiva prática geral. No entanto, isso não significa que o
cional de Direitos Civis e Políticos de 1996,12 que estabelece: Direito Internacional Público descura ou até aceita ingerên-
cias nos âmbitos de proteção de direitos humanos por atores
ARTIGO 2 não estatais. Como já visto, o DIDH obriga o Estado a proteger
1. Os Estados Partes do presente pacto comprome- os indivíduos sob sua jurisdição contra quaisquer violações
tem-se a respeitar e garantir a todos os indivíduos que de direitos humanos, inclusive aquelas que advêm de ato-
se achem em seu território e que estejam sujeitos a res privados. No mais, o Direito Internacional Humanitário
sua jurisdição os direitos reconhecidos no presente obriga os partidos envolvidos em conflito armado, bem como
Pacto, sem discriminação alguma por motivo de raça, grupos armados não estatais, a respeitarem certos padrões
cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra mínimos de civilização. E, enfim, o Direito Penal Internacional
natureza, origem nacional ou social, situação econô- possibilita a condenação de indivíduos, em particular pelo
mica, nascimento ou qualquer condição. cometimento de crimes contra a humanidade e crimes de
guerra. Dessa maneira, ele também, indiretamente, crimi-
O desrespeito aos direitos humanos conduz o Estado à naliza, protege e pune violações graves e sistemáticas de
responsabilidade internacional por violação, não obstante, direitos humanos.14
há parâmetros básicos para esta responsabilidade, na medida
em que o Estado não responde por todo e qualquer ato de Pessoas Privadas
violação de direitos humanos.
Sven Peterke, esclarece que esses parâmetros encon- Quanto à possibilidade de responsabilizar pessoas pri-
tram-se evidenciados no ILC – Draft Articles. Segundo o autor, vadas que hajam violado bens jurídicos de indivíduos, mas
os ILC – Draft Articles partem do princípio de que o Estado é cuja conduta não pode ser imputada ao Estado, observa-se,
responsável por todos os atos dos seus órgão. Desse modo, primeiro, que o Estado é obrigado, ao cumprir seu dever de
ele apenas, excepcionalmente, responde por atos de pessoas garantir os direitos humanos, a adotar medidas legislativas
privadas ou outros entes. Portanto, o grande desafio jurídico e administrativas que visem prevenir, impedir ou reprimir
é distinguir atos privados de atos estatais.13 referidas violações. Isso implica, por um lado, a obrigação
Basicamente, segundo os ILC – Draft Articles, o Estado de criminalizar atos que constituam violações de direitos
responde por atos de órgãos de jure e por atos de órgão de humanos. Exemplo disso é a proibição da tortura pelo Código
facto. (NETO, 2015) Penal. Por outro, o Estado é obrigado a criar instituições que
Atos de órgão de jure: responde o Estado pelos atos se empenhem em prevenir e reprimir ameaças aos direitos
Direitos Humanos e Cidadania

praticados por agentes estatais de todas as suas instancias mais fundamentais de seus cidadãos, e que possam punir
(União, Estados e Municípios, bem como Poderes Executivo, aqueles que os violam. Nesse caso, o exemplo para a imple-
Legislativo e Judiciário), do Presidente da República ao ser- mentação desse dever é a criação de um aparelho policial
vidor municipal. A definição de agente público acatada será e o estabelecimento de tribunais com base no Estado de
aquela adotada pelo direito interno do próprio Estado. São de direito. Porém, a regra é que os tratados de direitos humanos
responsabilidade estatal os atos praticados por seus agentes, conferem garantias aos indivíduos sem, ao mesmo tempo,
11
Projecto de Artigos sobre Responsabilidade do Estado por Atos Internacional-
obrigá-los diretamente. Por isso, é notável que a Declaração
mente Ilícitos. Universal dos Direitos Humanos (DUDH), a Declaração Ameri-
O Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos de 1996 foi promulgado no cana dos Direitos Humanos (DADH) e a Convenção Americana
12

Brasil pelo Decreto nº 592, de 6 de julho de 1992.


13
Manual prático de direitos humanos internacionais/Coordenador: Sven Peterke; de Direitos Humanos (ConvADH) contenham artigos relativos
Colaboradores: André de Carvalho Ramos … [et al.] – Brasília: Escola Superior
do Ministério Público da União, 2009, p. 143. Disponível em: https://escola. Manual prático de direitos humanos internacionais/Coordenador: Sven Peterke;
14

mpu.mp.br/linha-editorial/outras-publicacoes/Manual_Pratico_Direitos_Hu- Colaboradores: André de Carvalho Ramos … [et al.] – Brasília: Escola Superior
manos_Internacioais.pdf do Ministério Público da União, 2009. p.148.

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
aos deveres do homem para com a comunidade e a humani- existente antes de cometido o ato ilícito, exceto se não for
dade15. Contudo, trata-se de normas de conteúdo material materialmente possível, ou envolver ônus desproporcio-
extremamente abstrato e, desse modo, é muito difícil derivar nal (excessiva onerosidade) ao Estado, a demandar, então
verdadeiras obrigações jurídicas delas. Observa-se que esses substituição pela indenização. Trata-se de forma ideal de
instrumentos não fazem referência ao Estado como possível reparação, conquanto sua implementação seja praticamente
destinatário desses deveres. (GOMES, 2009) impossível, à vista da dificuldade de eliminação de todos
os efeitos materiais e imateriais provocados por qualquer
Corporações (ou empresas) Transnacionais violação, razão pela qual as medidas de restituição são co-
mumente conjugadas com outras formas de reparação.
Apesar do potencial ofensivo aos direitos humanos, os- A indenização (art. 36 do ILC – Draft Articles) é ressarci-
tentado pelas corporações transnacionais, ainda não existe mento pecuniário, adicional à restituição, quando essa não
uma normativa convencional ou costumeira sobre a res- alcança a reparação integral do dano. A indenização deve
ponsabilidade internacional dessas empresas por violação. cobrir toda a lesão financeiramente avaliável, incluindo os
Iniciativas existentes neste sentido, sobretudo no âmbito da lucros cessantes. É a forma de reparação mais utilizada, ante
OCU, ainda não encontraram espaço político para o avanço. os mencionados obstáculos à restituição integral.
Comprovada, porém, a tolerância ou a conivência estatal Por fim, a satisfação (art. 37 – Draft Articles) tem lugar
com o ato violador, deverá o Estado responder, internacio- quando insuficientes para a integral satisfação dos danos
nalmente, em razão do ilícito. (NETO, 2015) as medidas de restituição e de indenização. As medidas de
satisfação não comportam rol exaustivo de providencias e
Agrupamentos Não Governamentais podem consistir em um reconhecimento da violação, uma
expressão de arrependimento, um pedido de desculpas
No que se refere à possibilidade de responsabilizar gru- formal ou outra modalidade adequada. Há, todavia, que se
pos não estatais por violações de direitos humanos, a situ- respeitar proporção entre as medidas adotadas e a lesão
ação jurídica é semelhante, embora em alguns detalhes se que pretendem reparar.
mostre um pouco diferente. Em particular, durante conflitos Antes, contudo, de se determinar a reparação do dano,
armados internos, assim como em situações de violência nos casos de violação continuada e ainda em marcha de
comparáveis a eles, há Estados que apoiam, mais ou menos direitos humanos, é preciso que se imponha ao violador a
clandestinamente, determinados grupos armados não es- cessão do ato ilícito. O art. 30 do ILC – Draft Articles prevê
tatais que lutam contra um governo estrangeiro no poder. que o Estado responsável internacionalmente pela violação
Como já visto, caso seja possível comprovar que esses Es- de direito humanos deve cessar o ato, se for contínuo, e
tados estrangeiros conseguem exercer controle sobre esses oferecer adequadas garantias de não repetição do ilícito, se
grupos, os atos podem ser imputados ao respectivo Estado. as circunstâncias assim o exigirem.
O mesmo vale, contudo, em relação ao Estado em que o
conflito ou rebelião acontece, caso os insurgentes consigam DIREITOS HUMANOS NA CONSTITUIÇÃO
se tornar governo de facto sobre (uma parte do) o território
FEDERAL
de Estado.16
A expressão direitos humanos abrange várias concep-
Organizações Intergovernamentais ções. Para o estudo dos direitos humanos na Constituição
Federal, adotaremos o conceito de direitos humanos funda-
Hoje, organizações intergovernamentais exercem muitas mentais ou direitos fundamentais, visto que compreendem
vezes funções quase governamentais. Por isso, abusos do àqueles direitos assegurados dentro do ordenamento jurídi-
poder por seus representantes não são raros. Portanto, faz co interno, pelas autoridades político-legislativas.
igualmente sentido pensar na possibilidade de responsabili- Em clara e indubitável resposta ao período da ditadura
zá-los por violações de direitos humanos. Importante, contu- militar, o ordenamento jurídico brasileiro definitivamente
do, lembrar que eles não são partes de tratados de direitos aderiu ao protagonismo dos direitos humanos como escudo
humanos. Ao mesmo tempo constata-se que a delegação face às arbitrariedades estatais, tendo pela primeira vez na
de determinadas competências a organismos internacionais história das Constituições do Brasil, antecedido o conteúdo
não libera completamente os Estados de suas obrigações dos direitos humanos fundamentais às normas de organi-
sob DIDH. zação estatal (divisão dos entes federativos, distribuição de
Tal qual ocorre com a responsabilidade internacional do competências, divisão dos Poderes etc.). Tal cenário apre-
Estado, as formas de reparação ainda não têm codificação senta-se como necessário desdobramento da elevação da
no Direito Internacional Público.
Direitos Humanos e Cidadania

dignidade da pessoa humana como um dos fundamentos


Assim, a doutrina de Ramos tem adotado o art. 34 do
da República Federativa do Brasil (art. 1º, III).
ILC – Draft Articles que estabelece que a reparação integral
Este mesmo anseio de promoção dos direitos humanos
do prejuízo causado pelo ato internacionalmente ilícito pode
fundamentais traduz-se em números: são 78 incisos cons-
assumir as formas de restituição, indenização ou satisfação,
tantes na declaração de direitos individuais e coletivos (art.
a serem aplicadas isoladamente ou de forma combinada,
5º), mais que o dobro, em comparação com todas as cons-
conforme o caso concreto.
tituições anteriores.
A restituição (ou restitutio in integrum – art. 35 do ILC
A Constituição Federal inovou, igualmente, quando in-
– Draft Articles) assegura o restabelecimento da situação
seriu os direitos sociais dentro do mesmo título dos direitos
15
Vide art. XXIX da DUDH; vide também os arts. XXIX-XXXVIII da DADH e art. 32
individuais, políticos e de nacionalidade, denotando seu
da ConvADH. compromisso com a preservação das liberdades do indiví-
16
Manual prático de direitos humanos internacionais/Coordenador: Sven Peterke; duo, bem como suas condições de subsistência e de desen-
Colaboradores: André de Carvalho Ramos … [et al.] – Brasília: Escola Superior
do Ministério Público da União, 2009, p. 151. volvimento.

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
A declaração de direitos humanos fundamentais está assim organizada na Carta de 1988:

Direitos e Deveres Individuais e Coletivos Para aprofundamento da declaração dos direitos huma-
nos fundamentais recomendamos o estudo do assunto na
O art. 5º da Constituição Federal contempla extensa lista matéria de Direito Constitucional.
de direitos fundamentais do indivíduo e de garantias funda-
mentais, destinadas, principalmente, à proteção contra o INSTITUCIONALIZAÇÃO DOS DIREITOS E
abuso do poder estatal.
GARANTIAS FUNDAMENTAIS
Direitos Sociais Compreender a forma pela qual o Texto Constitucional
consagra os direitos da cidadania impõe-se como requisito
Os direitos sociais integram o rol dos direitos fundamen- fundamental para o enfoque da relação entre a Constituição
tais, essencialmente destinados à busca da igualdade material. de 1988 e os tratados internacionais de direitos humanos.
Importante destacar que diversos dos direitos previstos no art.
Para tanto, como ponto de partida, Piovesan (2013) ele-
6º da Constituição Federal são retomados mais adiante, para
ge a análise do processo de democratização no Brasil como
além do Capítulo II, Título II, mais especificamente no Título
importante contexto no qual emerge a Carta de 1988.
VIII, que trata “Da Ordem Social”, por exemplo, a Seguridade
Social (arts. 194 e 195, da CF); a Saúde (arts. 196 a 200); a
Previdência Social (arts. 201 e 202); a Assistência Social (arts. O Processo de Democratização no Brasil e a
203 e 204); a Educação (arts. 205 a 214); a Cultura (arts. 215 Constituição Brasileira de 1988
a 216-A); o Desporto (art. 217); a Ciência e Tecnologia (arts.
218 e 219); a Comunicação Social (arts. 220 a 224); o Meio Após o longo período de vinte e um anos de regime mili-
ambiente (art. 225); a Família, a criança, o adolescente, o jo- tar ditatorial que perdurou de 1964 a 1985 no País, deflagrou-
vem e o idoso (arts. 226 a 230); e os índios (arts. 231 e 232). -se o processo de democratização no Brasil. Ainda que esse
Além do art. 6º, o Capítulo II dedicado aos Direitos Sociais processo tenha se iniciado, originariamente, pela liberali-
também protegeu, nos arts. 7º a 11, os direitos trabalhistas zação política do próprio regime autoritário — em face de
mais importantes. dificuldades em solucionar problemas internos —, as forças
de oposição da sociedade civil se beneficiaram do processo
Direitos da Nacionalidade de abertura, fortalecendo-se mediante formas de organiza-
ção, mobilização e articulação, que permitiram importantes
Por ser elementar à pessoa a condição de sujeito de di- conquistas sociais e políticas. A transição democrática, lenta
reitos, a nacionalidade, em si, também é um direito funda- e gradual, permitiu a formação de um controle civil sobre as
mental, previsto nos arts. 12 e 13 da Constituição Federal. forças militares. Exigiu ainda a elaboração de um novo código,
que refizesse o pacto político-social. Tal processo culminou,
Direitos Políticos e Partidos Políticos juridicamente, na promulgação de uma nova ordem consti-
tucional — nascia assim a Constituição de outubro de 1988.
Os direitos políticos, previstos nos arts. 14 a 16 da Cons- A Carta de 1988 institucionaliza a instauração de um
tituição são direitos fundamentais que visam preservar a regime político democrático no Brasil. Introduz também in-
essência dos direitos humanos contra o abuso do poder discutível avanço na consolidação legislativa das garantias e
Direitos Humanos e Cidadania

estatal pela via da salvaguarda da intransigente soberania direitos fundamentais e na proteção de setores vulneráveis
popular, traduzida no brocardo “todo poder emana do povo” da sociedade brasileira. A partir dela, os direitos humanos
(Princípio Democrático). ganham relevo extraordinário, situando-se a Carta de 1988
No que diz respeito aos partidos políticos, a Constituição como o documento mais abrangente e pormenorizado sobre
Federal estabelece a liberdade de sua criação, fusão, incor- os direitos humanos, jamais adotado no Brasil. Como atenta
poração e extinção, subordinadas ao resguardo da soberania Afonso da Silva (1990):
nacional, do regime democrático, do pluripartidarismo e dos
direitos fundamentais da pessoa humana, e atreladas à ob- É a Constituição cidadã, na expressão de Ulysses
servância dos seguintes preceitos: caráter nacional; proibi- Guimarães, Presidente da Assembleia Nacional
ção de recebimento de recursos financeiros de entidade ou Constituinte que a produziu, porque teve ampla
governo estrangeiro ou de subordinação a estes; prestação participação popular em sua elaboração e especial-
de contas à Justiça Eleitoral; e funcionamento parlamentar mente porque se volta decididamente para a plena
de acordo com a Lei (art. 17). realização da cidadania.

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A consolidação das liberdades fundamentais e das ins- prestações positivas que venham a concretizar a democracia
tituições democráticas no País, por sua vez, muda substan- econômica, social e cultural, a fim de efetivar na prática a
cialmente a política brasileira de direitos humanos, possi- dignidade da pessoa humana”.
bilitando um progresso significativo no reconhecimento de Infere-se desses dispositivos quão acentuada é a preo-
obrigações internacionais nesse âmbito — tema que será cupação da Constituição em assegurar os valores da digni-
abordado, com detalhamento, no Capítulo VIII deste estudo. dade e do bem-estar da pessoa humana, como imperativo
No caso brasileiro, as relevantes transformações internas de justiça social. Na lição de Antonio Enrique Pérez Luño:
tiveram acentuada repercussão no plano internacional. Vale “Os valores constitucionais possuem uma tripla dimensão:
dizer, o equacionamento dos direitos humanos no âmbito da a) fundamentadora — núcleo básico e informador de todo
ordem jurídica interna serviu como medida de reforço para o sistema jurídico-político; b) orientadora — metas ou fins
que a questão dos direitos humanos se impusesse como tema predeterminados, que fazem ilegítima qualquer disposição
fundamental na agenda internacional do País. Por sua vez, as normativa que persiga fins distintos, ou que obstaculize a
repercussões decorrentes dessa nova agenda internacional consecução daqueles fins enunciados pelo sistema axio-
provocaram mudanças no plano interno e no próprio orde- lógico constitucional; e c) crítica — para servir de critério
namento jurídico do Estado brasileiro. ou parâmetro de valoração para a interpretação de atos ou
Para que se compreenda o processo de internaciona- condutas. (...) Os valores constitucionais compõem, portan-
lização da proteção dos direitos humanos no Brasil, faz-se to, o contexto axiológico fundamentador ou básico para a
necessário se aproximar da Constituição de 1988, avaliando interpretação de todo o ordenamento jurídico; o postulado-
brevemente seu perfil e particularmente o universo dos di- -guia para orientar a hermenêutica teleológica e evolutiva
reitos e garantias fundamentais que enuncia. da Constituição; e o critério para medir a legitimidade das
Piovesan considera que a Carta de 1988, como marco diversas manifestações do sistema de legalidade”. Nesse
jurídico da transição ao regime democrático, alargou signi- sentido, o valor da dignidade da pessoa humana impõe-se
ficativamente o campo dos direitos e garantias fundamen- como núcleo básico e informador de todo o ordenamento
tais, colocando-se entre as Constituições mais avançadas do jurídico, como critério e parâmetro de valoração a orientar
mundo no que diz respeito à matéria. a interpretação e compreensão do sistema constitucional.
Desde o seu preâmbulo, a Carta de 1988 projeta a cons- Considerando que toda Constituição há de ser compre-
trução de um Estado Democrático de Direito, “destinado endida como unidade e como sistema que privilegia deter-
a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a minados valores sociais, pode-se afirmar que a Carta de 1988
liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a elege o valor da dignidade humana como valor essencial, que
igualdade e a justiça, como valores supremos de uma so- lhe dá unidade de sentido. Isto é, o valor da dignidade huma-
ciedade fraterna, pluralista e sem preconceitos (...)”. Se, no na informa a ordem constitucional de 1988, imprimindo-lhe
entender de José Joaquim Gomes Canotilho17, a juridicidade, uma feição particular.
a constitucionalidade e os direitos fundamentais são as três Sob o prisma histórico, a primazia jurídica do valor da
dimensões fundamentais do princípio do Estado de Direito, dignidade humana é resposta à profunda crise sofrida pelo
perceber-se-á que o Texto consagra amplamente essas di- positivismo jurídico, associada à derrota do fascismo na Itália
mensões, ao afirmar, em seus primeiros artigos (arts. 1º e e do nazismo na Alemanha. Esses movimentos políticos e mi-
3º), princípios que consagram os fundamentos e os objetivos litares ascenderam ao poder dentro do quadro da legalidade
do Estado Democrático de Direito brasileiro. e promoveram a barbárie em nome da lei, como leciona Luís
Dentre os fundamentos que alicerçam o Estado Demo- Roberto Barroso. Basta lembrar que os principais acusados
crático de Direito brasileiro, destacam-se a cidadania e a em Nuremberg invocaram o cumprimento da lei e a obedi-
dignidade da pessoa humana (art. 1º, II e III). Vê-se aqui o ência a ordens emanadas de autoridade competente como
encontro do princípio do Estado Democrático de Direito e justificativa para os crimes cometidos. A respeito, destaca-se
dos direitos fundamentais, fazendo-se claro que os direitos o julgamento de Eichmann em Jerusalém, em relação ao
fundamentais são um elemento básico para a realização do qual Hannah Arendt desenvolve a ideia da “banalidade do
princípio democrático, tendo em vista que exercem uma mal”, ao ver em Eichmann um ser esvaziado de pensamen-
função democratizadora. Como afirma Jorge Miranda: “A to e incapaz de atribuir juízos éticos às suas ações. Nesse
Constituição confere uma unidade de sentido, de valor e de contexto, ao final da Segunda Guerra Mundial, emergem a
concordância prática ao sistema dos direitos fundamentais. grande crítica e o repúdio à concepção positivista de um
E ela repousa na dignidade da pessoa humana, ou seja, na ordenamento jurídico indiferente a valores éticos, confinado
concepção que faz a pessoa fundamento e fim da sociedade à ótica meramente formal.
e do Estado”. É justamente sob o prisma da reconstrução dos direitos
Por sua vez, construir uma sociedade livre, justa e soli- humanos que é possível compreender, no Pós-Guerra, de
dária, garantir o desenvolvimento nacional, erradicar a po- um lado, a emergência do chamado Direito Internacional
breza e a marginalização, reduzir as desigualdades sociais dos Direitos Humanos, e, de outro, a nova feição do Direito
Direitos Humanos e Cidadania

e regionais e promover o bem de todos, sem preconceitos Constitucional ocidental, em resposta ao impacto das atro-
de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas cidades então cometidas. No âmbito do Direito Constitucio-
de discriminação, constituem os objetivos fundamentais do nal ocidental, são adotados Textos Constitucionais abertos a
Estado brasileiro, consagrados no art. 3º da Carta de 1988. princípios, dotados de elevada carga axiológica, com desta-
No entender de José Afonso da Silva: “É a primeira vez que que para o valor da dignidade humana. Esta será a marca das
uma Constituição assinala, especificamente, objetivos do Constituições europeias do Pós-Guerra. Observe-se que, na
Estado brasileiro, não todos, que seria despropositado, mas experiência brasileira e mesmo latino-americana, a abertura
os fundamentais, e entre eles, uns que valem como base das das Constituições a princípios e a incorporação do valor da
dignidade humana demarcarão a feição das Constituições
Cf. Canotilho: “Independentemente das densificações e concretizações que o
17 promulgadas ao longo do processo de democratização polí-
princípio do Estado de direito encontra implícita ou explicitamente no texto tica. Basta atentar à Constituição brasileira de 1988, em par-
constitucional, é possível sintetizar os pressupostos materiais subjacentes a ticular à previsão inédita de princípios fundamentais, entre
este princípio da seguinte forma: 1) juridicidade; 2) constitucionalidade; 3)
direitos fundamentais”. eles o princípio da dignidade da pessoa humana.

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Intenta-se a reaproximação da ética e do direito, e, nes- jurídico. O sistema jurídico define-se, pois, como uma or-
te esforço, surge a força normativa dos princípios, especial- dem axiológica ou teleológica de princípios jurídicos que
mente do princípio da dignidade humana. Há um reencontro apresentam verdadeira função ordenadora, na medida em
com o pensamento kantiano, com as ideias de moralidade, que salvaguardam valores fundamentais. A interpretação
dignidade, direito cosmopolita e paz perpétua. Para Kant, das normas constitucionais advém, desse modo, de crité-
as pessoas devem existir como um fim em si mesmo e ja- rio valorativo extraído do próprio sistema constitucional.
mais como um meio, a ser arbitrariamente usado para este Como atenta Habermas, os princípios morais, de origem
ou aquele propósito. Os objetos têm, por sua vez, um valor jus-racional, são, hoje, parte integrante do direito positivo.
condicional, enquanto irracionais, por isso são chamados Por essa razão, a interpretação constitucional assume uma
“coisas”, substituíveis que são por outras equivalentes. Os forma cada vez mais jusfilosófica.
seres racionais, ao revés, são chamados “pessoas”, porque À luz dessa concepção, infere-se que o valor da dignidade
constituem um fim em si mesmo, têm um valor intrínseco da pessoa humana e o valor dos direitos e garantias funda-
absoluto, são insubstituíveis e únicos, não devendo ser to- mentais vêm a constituir os princípios constitucionais que
mados meramente como meios18. As pessoas são dotadas incorporam as exigências de justiça e dos valores éticos, con-
de dignidade, na medida em que têm um valor intrínseco. ferindo suporte axiológico a todo o sistema jurídico brasileiro.
Desse modo, ressalta Kant, deve-se tratar a humanidade, Com efeito, a busca do Texto em resguardar o valor da
na pessoa de cada ser, sempre como um fim em si mesmo, dignidade humana é redimensionada, na medida em que, en-
nunca como um meio. Adiciona Kant que a autonomia é a faticamente, privilegia a temática dos direitos fundamentais.
base da dignidade humana e de qualquer criatura racional. Constata-se, assim, uma nova topografia constitucional: o
Lembra que a ideia de liberdade é intimamente conectada Texto de 1988, em seus primeiros capítulos, apresenta avan-
com a concepção de autonomia, por meio de um princípio çada Carta de direitos e garantias, elevando-os, inclusive, a
universal da moralidade, que, idealmente, é o fundamento cláusula pétrea, o que, mais uma vez, revela a vontade cons-
de todas as ações de seres racionais. Para Kant, o imperativo titucional de priorizar os direitos e as garantias fundamentais.
categórico universal dispõe: “Aja apenas de forma a que a Note-se que as Constituições anteriores primeiramente
sua máxima possa converter-se ao mesmo tempo em uma tratavam do Estado, para, somente então, disciplinarem os
lei universal”. direitos. Ademais, eram petrificados temas afetos ao Estado
Se, no plano internacional, o impacto desta vertente e não a direitos, destacando-se, por exemplo, a Constituição
“kantiana” se concretizou com a emergência do “Direito de 1967, ao consagrar como cláusulas pétreas a Federação
Internacional dos Direitos Humanos” (todo ele fundamen- e a República. A nova topografia constitucional inaugurada
tado no valor da dignidade humana, como valor intrínseco pela Carta de 1988 reflete a mudança paradigmática da lente
à condição humana), no plano dos constitucionalismos lo- ex parte principe para a lente ex parte populi. Isto é, de um
cais, a vertente “kantiana” se concretizou com a abertura das Direito inspirado pela ótica do Estado, radicado nos deveres
Constituições à força normativa dos princípios, com ênfase ao dos súditos, transita-se a um Direito inspirado pela ótica da
princípio da dignidade humana. Pontue-se, ainda, a interação cidadania, radicado nos direitos dos cidadãos. A Constituição
entre o Direito Internacional dos Direitos Humanos e os direi- de 1988 assume como ponto de partida a gramática dos
tos locais, na medida em que aquele passa a ser parâmetro direitos, que condiciona o constitucionalismo por ela invo-
e referência ética a inspirar o constitucionalismo ocidental. cado. Assim, é sob a perspectiva dos direitos que se afirma
A abertura das Constituições a valores e a princípios — o Estado e não sob a perspectiva do Estado que se afirmam
fenômeno que se densifica especialmente no Pós-Guerra — é os direitos. Há, assim, um Direito brasileiro pré e pós-88 no
assim captada por Canotilho: “O direito do Estado de Direito campo dos direitos humanos. O Texto Constitucional propicia
do século XIX e da primeira metade do século XX é o direito a reinvenção do marco jurídico dos direitos humanos, fomen-
das regras dos códigos; o direito do Estado Constitucional tando extraordinários avanços nos âmbitos da normatividade
Democrático e de Direito leva a sério os princípios, é um interna e internacional.
direito de princípios”. O Texto de 1988 ainda inova ao alargar a dimensão dos
Sustenta-se que é no princípio da dignidade humana que direitos e garantias, incluindo no catálogo de direitos funda-
a ordem jurídica encontra o próprio sentido, sendo seu ponto mentais não apenas os direitos civis e políticos, mas também
de partida e seu ponto de chegada, para a hermenêutica os sociais (ver Capítulo II do Título II da Carta de 1988). Trata-
constitucional contemporânea. Consagra-se, assim, a dig- -se da primeira Constituição brasileira a inserir na declara-
nidade humana como verdadeiro superprincípio, a orientar ção de direitos os direitos sociais, tendo em vista que nas
tanto o Direito Internacional como o Direito interno. Constituições anteriores as normas relativas a tais direitos
Para Paulo Bonavides, “nenhum princípio é mais valioso encontravam-se dispersas no âmbito da ordem econômica
para compendiar a unidade material da Constituição que o e social, não constando do título dedicado aos direitos e
princípio da dignidade da pessoa humana”. garantias. Desse modo, não há direitos fundamentais sem
Assim, seja no âmbito internacional, seja no âmbito in- que os direitos sociais sejam respeitados. Nessa ótica, a Carta
Direitos Humanos e Cidadania

terno (à luz do Direito Constitucional ocidental), a dignidade de 1988 acolhe o princípio da indivisibilidade e interdepen-
da pessoa humana é princípio que unifica e centraliza todo o dência dos direitos humanos, pelo qual o valor da liberdade
sistema normativo, assumindo especial prioridade. A dignida- se conjuga com o valor da igualdade, não havendo como
de humana simboliza, desse modo, verdadeiro superprincípio divorciar os direitos de liberdade dos direitos de igualdade.
constitucional, a norma maior a orientar o constitucionalismo Acrescente-se que a Constituição de 1988 prevê, além
contemporâneo, nas esferas local e global, dotando-lhe de dos direitos individuais, os direitos coletivos e difusos —
especial racionalidade, unidade e sentido. aqueles pertinentes a determinada classe ou categoria social
Compartilhando da concepção de Ronald Dworkin, e estes pertinentes a todos e a cada um. Nesse sentido, a
acredita-se que o ordenamento jurídico é um sistema no Carta de 1988, ao mesmo tempo que consolida a extensão
qual, ao lado das normas legais, existem princípios que de titularidade de direitos, acenando para a existência de
incorporam as exigências de justiça e dos valores éticos. Es- novos sujeitos de direitos, também consolida o aumento da
ses princípios constituem o suporte axiológico que confere quantidade de bens merecedores de tutela, por meio da
coerência interna e estrutura harmônica a todo o sistema ampliação de direitos sociais, econômicos e culturais.

14 Este eBook foi adquirido por ANA PAULA TORQUATO DA COSTA - CPF: 628.848.913-15.
A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
A Constituição vem a concretizar, desse modo, a concep- e a estimular a arbitragem internacional — Constituições
ção de que “os direitos fundamentais representam uma das republicanas de 1891 e de 1934 —, ou se atinham a prever
decisões básicas do constituinte, através da qual os princi- a possibilidade de aquisição de território, de acordo com o
pais valores éticos e políticos de uma comunidade alcançam Direito Internacional Público — Constituição de 1937 —, ou,
expressão jurídica. Os direitos fundamentais assinalam um por fim, reduziam-se a propor a adoção de meios pacíficos
horizonte de metas sociopolíticas a alcançar, quando estabe- para a solução de conflitos — Constituições de 1946 e de
lecem a posição jurídica dos cidadãos em suas relações com o 196746. Como explica Celso Lafer: “Na experiência brasileira,
Estado, ou entre si”, no dizer de Antonio Enrique Pérez Luño. o Império cuidou da independência e da preservação da uni-
Os direitos e garantias fundamentais são, assim, dotados de dade nacional e a República, tendo consolidado as fronteiras
especial força expansiva, projetando-se por todo o universo nacionais, afirmou a vocação pacífica do país, reconhecendo
constitucional e servindo como critério interpretativo de to- progressivamente a importância da cooperação internacional
das as normas do ordenamento jurídico. para a preservação da paz”.
Atente-se ainda que, no intuito de reforçar a imperati- Em face desse cenário, percebe-se que a Carta de 1988
vidade das normas que traduzem direitos e garantias fun- introduz inovações extremamente significativas no plano das
damentais, a Constituição de 1988 institui o princípio da relações internacionais. Se, por um lado, esta Constituição
aplicabilidade imediata dessas normas, nos termos do art. reproduz tanto a antiga preocupação vivida no Império no
5º, § 1º. Esse princípio realça a força normativa de todos os que se refere à independência nacional e à não intervenção
preceitos constitucionais referentes a direitos, liberdades e como reproduz ainda os ideais republicanos voltados à defesa
garantias fundamentais, prevendo um regime jurídico espe- da paz49, a Carta de 1988 inova ao realçar uma orientação
cífico endereçado a tais direitos. Vale dizer, cabe aos Poderes internacionalista jamais vista na história constitucional brasi-
Públicos conferir eficácia máxima e imediata a todo e qual- leira. A orientação internacionalista se traduz nos princípios
quer preceito definidor de direito e garantia fundamental. Tal da prevalência dos direitos humanos, da autodeterminação
princípio intenta assegurar a força dirigente e vinculante dos dos povos, do repúdio ao terrorismo e ao racismo e da co-
direitos e garantias de cunho fundamental, ou seja, objetiva operação entre os povos para o progresso da humanidade,
tornar tais direitos prerrogativas diretamente aplicáveis pelos nos termos do art. 4º, incisos II, III, VIII e IX.
Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário. No entender de Ao romper com a sistemática das Cartas anteriores, a
Canotilho, o sentido fundamental da aplicabilidade direta Constituição de 1988, ineditamente, consagra o primado do
está em reafirmar que “os direitos, liberdades e garantias são respeito aos direitos humanos, como paradigma propugnado
regras e princípios jurídicos, imediatamente eficazes e actu- para a ordem internacional. Esse princípio invoca a abertura
ais, por via direta da Constituição e não através da auctoritas da ordem jurídica interna ao sistema internacional de prote-
interpositio do legislador. Não são simples norma normarum, ção dos direitos humanos. A prevalência dos direitos huma-
mas norma normata, isto é, não são meras normas para a nos, como princípio a reger o Brasil no âmbito internacional,
produção de outras normas, mas sim normas diretamente não implica apenas o engajamento do País no processo de
reguladoras de relações jurídico-materiais”. elaboração de normas vinculadas ao Direito Internacional
É neste contexto que há de ser feita a leitura dos dispo- dos Direitos Humanos, mas sim a busca da plena integração
sitivos constitucionais pertinentes à proteção internacional de tais regras na ordem jurídica interna brasileira. Implica,
dos direitos humanos — e nesse tema o Texto Constitucional ademais, o compromisso de adotar uma posição política
também registra inéditos avanços. contrária aos Estados em que os direitos humanos sejam
gravemente desrespeitados.
Os Princípios Constitucionais a Reger o Brasil nas A partir do momento em que o Brasil se propõe a funda-
Relações Internacionais mentar suas relações com base na prevalência dos direitos
humanos, está ao mesmo tempo reconhecendo a existência
A Carta de 1988 é a primeira Constituição brasileira a de limites e condicionamentos à noção de soberania esta-
elencar o princípio da prevalência dos direitos humanos, tal. Isto é, a soberania do Estado brasileiro fica submetida a
como princípio fundamental a reger o Estado nas relações regras jurídicas, tendo como parâmetro obrigatório a preva-
internacionais. lência dos direitos humanos. Rompe-se com a concepção tra-
Na realidade, trata-se da primeira Constituição brasileira dicional de soberania estatal absoluta, reforçando o processo
a consagrar um universo de princípios para guiar o Brasil no de sua flexibilização e relativização, em prol da proteção dos
cenário internacional, fixando valores a orientar a agenda direitos humanos. Esse processo é condizente com as exigên-
internacional do Brasil — iniciativa sem paralelo nas expe- cias do Estado Democrático de Direito constitucionalmente
riências constitucionais anteriores. Com efeito, nos termos pretendido.
do art. 4º do Texto, fica determinado que o Brasil se rege, Vale dizer, surge a necessidade de interpretar os antigos
nas suas relações internacionais, pelos seguintes princípios: conceitos de soberania estatal e não intervenção, à luz de
independência nacional (inciso I), prevalência dos direitos princípios inovadores da ordem constitucional. Dentre eles,
Direitos Humanos e Cidadania

humanos (inciso II), autodeterminação dos povos (inciso III), destaque-se o princípio da prevalência dos direitos huma-
não intervenção (inciso IV), igualdade entre os Estados (inciso nos. Estes são os novos valores incorporados pelo Texto de
V), defesa da paz (inciso VI), solução pacífica dos conflitos 1988, e que compõem a tônica do constitucionalismo con-
(inciso VII), repúdio ao terrorismo e ao racismo (inciso VIII), temporâneo.
cooperação entre os povos para o progresso da humanidade Se para o Estado brasileiro a prevalência dos direitos hu-
(inciso IX) e concessão de asilo político (inciso X). O art. 4º manos é princípio a reger o Brasil no cenário internacional,
da Constituição simboliza a reinserção do Brasil na arena está-se consequentemente admitindo a concepção de que
internacional. os direitos humanos constituem tema de legítima preocu-
Até então, as Constituições anteriores à de 1988, ao pação e interesse da comunidade internacional. Os direitos
estabelecer tratamento jurídico às relações internacionais, humanos, nessa concepção, surgem para a Carta de 1988
limitavam-se a assegurar os valores da independência e so- como tema global.
berania do País — tema básico da Constituição imperial de Cabe ainda considerar que o princípio da prevalência
1824 — ou se restringiam a proibir a guerra de conquista dos direitos humanos contribuiu substantivamente para o

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sucesso da ratificação, pelo Estado brasileiro, de instrumen- • recomendar a inclusão de matéria específica de direi-
tos internacionais de proteção dos direitos humanos. Como tos humanos nos currículos escolares, especialmente
ponderou o então Ministro Celso Lafer: “O princípio da preva- nos cursos de formação das polícias e dos órgãos de
lência dos direitos humanos foi um argumento constitucional defesa do Estado e das instituições democráticas;
politicamente importante para obter no Congresso a trami- • dar especial atenção às áreas de maior ocorrência de
tação da Convenção Americana dos Direitos Humanos — o violações de direitos humanos, podendo nelas pro-
Pacto de San José. Foi em função dessa tramitação que logrei mover a instalação de representações do CNDH pelo
depositar na sede da OEA, nos últimos dias de minha gestão tempo que for necessário;
(25/9/1992), o instrumento correspondente de adesão do • representar:
Brasil a este significativo Pacto”. – à autoridade competente para a instauração de
Para o estudo das relações entre a Constituição de 1988 inquérito policial ou procedimento administrativo,
e o Direito Internacional dos Direitos Humanos, também de visando à apuração da responsabilidade por viola-
extrema relevância é o alcance da previsão do art. 5º, § 2º, ções aos direitos humanos ou por descumprimento
da Carta de 1988, ao determinar que os direitos e garantias de sua promoção, inclusive o estabelecido no inciso
expressos na Constituição não excluem outros decorrentes XI, e aplicação das respectivas penalidades;
dos tratados internacionais em que o Brasil seja parte. – ao Ministério Público para, no exercício de suas
atribuições, promover medidas relacionadas com a
POLÍTICA NACIONAL DE DIREITOS defesa de direitos humanos ameaçados ou violados;
– ao Procurador-Geral da República para fins de inter-
HUMANOS venção federal, na situação prevista na alínea b do
inciso VII do art. 34 da Constituição Federal;
Atualmente, a Política Nacional de Direitos Humanos é
– ao Congresso Nacional, visando a tornar efetivo o
desenvolvida no âmbito da Secretaria Especial de Direitos
exercício das competências de suas Casas e Comis-
Humanos do Ministério da Justiça e Cidadania. O Conselho
sões sobre matéria relativa a direitos humanos;
Nacional de Direitos Humanos (CNDH) é o órgão responsável
• realizar procedimentos apuratórios de condutas e
pela promoção e defesa dos direitos humanos, mediante
situações contrárias aos direitos humanos e aplicar
ações preventivas, protetivas, reparadoras e sancionadoras
sanções de sua competência;
das condutas e situações de ameaça ou violação desses di-
• pronunciar-se, por deliberação expressa da maio-
reitos (art. 2º da Lei nº 12.986, de 2 de junho de 2014).
ria absoluta de seus conselheiros, sobre crimes que
O CNDH é o órgão incumbido de velar pelo efetivo res-
devam ser considerados, por suas características e
peito aos direitos humanos por parte dos poderes públi-
repercussão, como violações a direitos humanos de
cos, dos serviços de relevância pública e dos particulares,
excepcional gravidade, para fins de acompanhamento
competindo-lhe:
das providências necessárias a sua apuração, processo
• promover medidas necessárias à prevenção, repressão,
e julgamento.
sanção e reparação de condutas e situações contrárias
aos direitos humanos, inclusive os previstos em trata-
Para a realização de procedimentos apuratórios de situ-
dos e atos internacionais ratificados no País, e apurar
ações ou condutas contrárias aos direitos humanos, o CNDH
as respectivas responsabilidades;
goza das seguintes prerrogativas:
• fiscalizar a política nacional de direitos humanos, po-
• requisitar informações, documentos e provas neces-
dendo sugerir e recomendar diretrizes para a sua efe-
sárias às suas atividades;
tivação;
• requisitar o auxílio da Polícia Federal ou de força po-
• receber representações ou denúncias de condutas ou
licial, quando necessário ao exercício de suas atribui-
situações contrárias aos direitos humanos e apurar as
ções;
respectivas responsabilidades;
• requerer aos órgãos públicos os serviços necessários
• expedir recomendações a entidades públicas e priva-
ao cumprimento de diligências ou à realização de vis-
das envolvidas com a proteção dos direitos humanos,
torias, exames ou inspeções e ter acesso a bancos de
fixando prazo razoável para o seu atendimento ou para
dados de caráter público ou relativo a serviços de re-
justificar a impossibilidade de fazê-lo;
levância pública.
• articular-se com órgãos federais, estaduais, do Distrito
Federal e municipais encarregados da proteção e de-
Vale destacar que todas as ações relacionadas com a
fesa dos direitos humanos;
Política Nacional de Direitos humanos devem ser exercidas
• manter intercâmbio e cooperação com entidades pú-
respeitando-se as diretrizes do Programa Nacional de Direitos
blicas ou privadas, nacionais ou internacionais, com
Humanos.
o objetivo de dar proteção aos direitos humanos e
Direitos Humanos e Cidadania

demais finalidades previstas neste artigo;


• acompanhar o desempenho das obrigações relativas PROGRAMAS NACIONAIS DE DIREITOS
à defesa dos direitos humanos resultantes de acordos HUMANOS
internacionais, produzindo relatórios e prestando a
colaboração que for necessária ao Ministério das Re- Atendendo a recomendação da Conferência Mundial de
lações Exteriores; Direitos Humanos, realizada em Viena em 1993, cujo Comi-
• opinar sobre atos normativos, administrativos e legisla- tê de Redação foi presidido pelo Brasil, o Governo Federal
tivos de interesse da política nacional de direitos huma- instituiu, por meio do Decreto nº 1.904, de 13 de maio de
nos e elaborar propostas legislativas e atos normativos 1996, o Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH I),
relacionados com matéria de sua competência; contendo diagnostico da situação dos Direitos Humanos no
• realizar estudos e pesquisas sobre direitos humanos e País e medidas específicas para sua defesa e promoção.
promover ações visando à divulgação da importância Em 2002, o Governo Federal lançou por meio do Decreto
do respeito a esses direitos; nº 4.229, de 13 de maio, revogando o Decreto de 1996, a

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segunda versão do Programa (PNDH II) em que foram incor- II – Eixo Orientador II: Desenvolvimento e Direitos Hu-
porados os direitos econômicos, sociais e culturais. manos:
A terceira versão do PNDH foi lançada em 2009, com a a) Diretriz 4: Efetivação de modelo de desenvolvimento
edição do Decreto nº 7.037, de 21 de dezembro, que revo- sustentável, com inclusão social e econômica, ambiental-
gou o Decreto de 2002. Essa terceira versão do Programa mente equilibrado e tecnologicamente responsável, cultural
Nacional de Direitos Humanos – PNDH-III dá continuidade e regionalmente diverso, participativo e não discriminatório;
ao processo histórico de consolidação das orientações para b) Diretriz 5: Valorização da pessoa humana como sujeito
concretizar a promoção e defesa dos Direitos Humanos no central do processo de desenvolvimento; e
Brasil. c) Diretriz 6: Promover e proteger os direitos ambientais
Diferente das versões anteriores, que listavam ações como Direitos Humanos, incluindo as gerações futuras como
programáticas em áreas de governo, o PNDH-III avançou, sujeitos de direitos;
incorporando a transversalidade nas diretrizes e nos objeti- III – Eixo Orientador III: Universalizar direitos em um con-
vos estratégicos propostos, na perspectiva de universalidade, texto de desigualdades:
indivisibilidade e interdependência, expressa na Declaração a) Diretriz 7: Garantia dos Direitos Humanos de forma
Universal dos Direitos Humanos (1948) e na Convenção e universal, indivisível e interdependente, assegurando a ci-
Programa de Ação de Viena (1993). dadania plena;
Nesse contexto, o novo PNDH foi estruturado em seis ei- b) Diretriz 8: Promoção dos direitos de crianças e ado-
xos orientadores, subdivididos em 25 diretrizes e 82 objetivos lescentes para o seu desenvolvimento integral, de forma
estratégicos que incorporam ou refletem os sete eixos, as 36 não discriminatória, assegurando seu direito de opinião e
diretrizes e as 700 resoluções da 11ª Conferência Nacional participação;
dos Direitos Humanos.18 O Programa tem ainda, como alicer- c) Diretriz 9: Combate às desigualdades estruturais; e
ce de sua construção, as resoluções das Conferências Nacio- d) Diretriz 10: Garantia da igualdade na diversidade;
nais temáticas, os Planos e Programas do governo federal, os IV – Eixo Orientador IV: Segurança Pública, Acesso à Jus-
Tratados internacionais ratificado pelo Estado brasileiro e as tiça e Combate à Violência:
Recomendações dos Comitês de Monitoramento de Tratados a) Diretriz 11: Democratização e modernização do siste-
da ONU e dos Relatores especiais. ma de segurança pública;
O Programa Nacional de Direitos Humanos – III consubs- b) Diretriz 12: Transparência e participação popular no
tancia, atualmente, o grande norte da política pública brasi- sistema de segurança pública e justiça criminal;
leira para o avanço da consolidação e efetivação dos direitos c) Diretriz 13: Prevenção da violência e da criminalidade
humanos no Brasil, e apesar de não juridicamente cogentes e profissionalização da investigação de atos criminosos;
per si, apresentam-se como fundamento para a contestação d) Diretriz 14: Combate à violência institucional, com
de condutas que confrontem ou violem, por ação ou omissão, ênfase na erradicação da tortura e na redução da letalidade
principalmente se invocados como desdobramentos dos co- policial e carcerária;
mandos normativos constitucionais e internacionais – esses, e) Diretriz 15: Garantia dos direitos das vítimas de crimes
sim, vinculantes do ponto de vista jurídico – que obrigam o e de proteção das pessoas ameaçadas;
estado brasileiro a proteger e promover os direitos humanos. f) Diretriz 16: Modernização da política de execução pe-
(NETO, 2015) nal, priorizando a aplicação de penas e medidas alternativas à
privação de liberdade e melhoria do sistema penitenciário; e
Decreto nº 7.037, de 21 de Dezembro de 2009 g) Diretriz 17: Promoção de sistema de justiça mais
acessível, ágil e efetivo, para o conhecimento, a garantia e
Aprova o Programa Nacional a defesa de direitos;
de Direitos Humanos – PNDH-3 e V – Eixo Orientador V: Educação e Cultura em Direitos
dá outras providências. Humanos:
a) Diretriz 18: Efetivação das diretrizes e dos princípios
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que da política nacional de educação em Direitos Humanos para
lhe confere o art. 84, inciso VI, alínea a, da Constituição, fortalecer uma cultura de direitos;
Decreta: b) Diretriz 19: Fortalecimento dos princípios da demo-
Art. 1º Fica aprovado o Programa Nacional de Direitos cracia e dos Direitos Humanos nos sistemas de educação
Humanos – PNDH-3, em consonância com as diretrizes, ob- básica, nas instituições de ensino superior e nas instituições
jetivos estratégicos e ações programáticas estabelecidos, na formadoras;
forma do Anexo deste Decreto. c) Diretriz 20: Reconhecimento da educação não formal
Art. 2º O PNDH-3 será implementado de acordo com os como espaço de defesa e promoção dos Direitos Humanos;
seguintes eixos orientadores e suas respectivas diretrizes: d) Diretriz 21: Promoção da Educação em Direitos Hu-
I – Eixo Orientador I: Interação democrática entre Estado manos no serviço público; e
Direitos Humanos e Cidadania

e sociedade civil: e) Diretriz 22: Garantia do direito à comunicação demo-


a) Diretriz 1: Interação democrática entre Estado e so- crática e ao acesso à informação para consolidação de uma
ciedade civil como instrumento de fortalecimento da demo- cultura em Direitos Humanos; e
cracia participativa; VI – Eixo Orientador VI: Direito à Memória e à Verdade:
b) Diretriz 2: Fortalecimento dos Direitos Humanos como a) Diretriz 23: Reconhecimento da memória e da verdade
instrumento transversal das políticas públicas e de interação como Direito Humano da cidadania e dever do Estado;
democrática; e b) Diretriz 24: Preservação da memória histórica e cons-
c) Diretriz 3: Integração e ampliação dos sistemas de trução pública da verdade; e
informações em Direitos Humanos e construção de meca- c) Diretriz 25: Modernização da legislação relacionada
nismos de avaliação e monitoramento de sua efetivação; com promoção do direito à memória e à verdade, fortale-
cendo a democracia.
A 11ª Conferência Nacional de Direitos Humanos foi convocada pelo Decreto
18
Parágrafo único. A implementação do PNDH-3, além dos
Presidencial de 29 de abril de 2008 com a finalidade central de Revisar e Atu-
alizar o Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH). responsáveis nele indicados, envolve parcerias com outros

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órgãos federais relacionados com os temas tratados nos eixos LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA
orientadores e suas diretrizes. Tarso Genro
Art. 3º As metas, prazos e recursos necessários para a Celso Luiz Nunes Amorim
implementação do PNDH-3 serão definidos e aprovados em Guido Mantega
Planos de Ação de Direitos Humanos bianuais. Alfredo Nascimento
Art. 4º Fica instituído o Comitê de Acompanhamento e José Geraldo Fontelles
Monitoramento do PNDH-3, com a finalidade de: Fernando Haddad
I – promover a articulação entre os órgãos e entidades André Peixoto Figueiredo Lima
envolvidos na implementação das suas ações programáticas; José Gomes Temporão
II – elaborar os Planos de Ação dos Direitos Humanos; Miguel Jorge
III – estabelecer indicadores para o acompanhamento, Edison Lobão
monitoramento e avaliação dos Planos de Ação dos Direitos Paulo Bernardo Silva
Humanos; Hélio Costa
IV – acompanhar a implementação das ações e reco- José Pimentel
mendações; e Patrus Ananias
V – elaborar e aprovar seu regimento interno. João Luiz Silva Ferreira
§ 1º O Comitê de Acompanhamento e Monitoramento Sérgio Machado Rezende
Carlos Minc
do PNDH-3 será integrado por um representante e respectivo
Orlando Silva de Jesus Junior
suplente de cada órgão a seguir descrito, indicados pelos
Luiz Eduardo Pereira Barretto Filho
respectivos titulares: Geddel Vieira Lima
I – Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presi- Guilherme Cassel
dência da República, que o coordenará; Márcio Fortes de Almeida
II – Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres da Altemir Gregolin
Presidência da República; Dilma Rousseff
III – Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igual- Luiz Soares Dulci
dade Racial da Presidência da República; Alexandre Rocha Santos Padilha
IV – Secretaria-Geral da Presidência da República; Samuel Pinheiro Guimarães Neto
V – Ministério da Cultura; Edson Santos
VI – Ministério da Educação;
VII – Ministério da Justiça; ANEXO
VIII – Ministério da Pesca e Aquicultura;
IX – Ministério da Previdência Social; Eixo Orientador I:
X – Ministério da Saúde; Interação democrática entre Estado e sociedade civil
XI – Ministério das Cidades;
XII – Ministério das Comunicações; A partir da metade dos anos 1970, começam a ressurgir
XIII – Ministério das Relações Exteriores; no Brasil iniciativas de rearticulação dos movimentos sociais,
XIV – Ministério do Desenvolvimento Agrário; a despeito da repressão política e da ausência de canais de-
XV – Ministério do Desenvolvimento Social e Combate mocráticos de participação. Fortes protestos e a luta pela
à Fome; democracia marcaram esse período. Paralelamente, surgiram
XVI – Ministério do Esporte; iniciativas populares nos bairros reivindicando direitos bási-
XVII – Ministério do Meio Ambiente; cos como saúde, transporte, moradia e controle do custo de
XVIII – Ministério do Trabalho e Emprego; vida. Em um primeiro momento, eram iniciativas atomizadas,
XIX – Ministério do Turismo; buscando conquistas parciais, mas que ao longo dos anos fo-
XX – Ministério da Ciência e Tecnologia; e ram se caracterizando como movimentos sociais organizados.
XXI – Ministério de Minas e Energia. Com o avanço da democratização do País, os movimentos
§ 2º O Secretário Especial dos Direitos Humanos da Presi- sociais multiplicaram-se. Alguns deles institucionalizaram-
dência da República designará os representantes do Comitê -se e passaram a ter expressão política. Os movimentos po-
de Acompanhamento e Monitoramento do PNDH-3. pulares e sindicatos foram, no caso brasileiro, os principais
§ 3º O Comitê de Acompanhamento e Monitoramento promotores da mudança e da ruptura política em diversas
épocas e contextos históricos. Com efeito, durante a etapa de
do PNDH-3 poderá constituir subcomitês temáticos para a
elaboração da Constituição Cidadã de 1988, esses segmentos
execução de suas atividades, que poderão contar com a par-
atuaram de forma especialmente articulada, afirmando-se
ticipação de representantes de outros órgãos do Governo
como um dos pilares da democracia e influenciando direta-
Federal.
Direitos Humanos e Cidadania

mente os rumos do País.


§ 4º O Comitê convidará representantes dos demais Po- Nos anos que se seguiram, os movimentos passaram a
deres, da sociedade civil e dos entes federados para partici- se consolidar por meio de redes com abrangência regional
parem de suas reuniões e atividades. ou nacional, firmando-se como sujeitos na formulação e
Art. 5º Os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e os monitoramento das políticas públicas. Nos anos 1990, de-
órgãos do Poder Legislativo, do Poder Judiciário e do Minis- sempenharam papel fundamental na resistência a todas as
tério Público, serão convidados a aderir ao PNDH-3. orientações do neoliberalismo de flexibilização dos direitos
Art. 6º Este Decreto entra em vigor na data de sua pu- sociais, privatizações, dogmatismo do mercado e enfraque-
blicação. cimento do Estado. Nesse mesmo período, multiplicaram-se
Art. 7º Fica revogado o Decreto nº 4.229, de 13 de maio pelo País experiências de gestão estadual e municipal em que
de 2002. lideranças desses movimentos, em larga escala, passaram a
desempenhar funções de gestores públicos.
Brasília, 21 de dezembro de 2009; 188º da Independên- Com as eleições de 2002, alguns dos setores mais or-
cia e 121º da República. ganizados da sociedade trouxeram reivindicações históricas

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acumuladas, passando a influenciar diretamente a atuação A adoção de tais medidas fortalecerá a democracia par-
do governo e vivendo de perto suas contradições internas. ticipativa, na qual o Estado atua como instância republicana
Nesse novo cenário, o diálogo entre Estado e sociedade da promoção e defesa dos Direitos Humanos e a sociedade
civil assumiu especial relevo, com a compreensão e a preserva- civil como agente ativo – propositivo e reativo – de sua im-
ção do distinto papel de cada um dos segmentos no processo plementação.
de gestão. A interação é desenhada por acordos e dissensos,
debates de ideias e pela deliberação em torno de propostas. Diretriz 1: Interação democrática entre Estado e socieda-
Esses requisitos são imprescindíveis ao pleno exercício da de- de civil como instrumento de fortalecimento da democracia
mocracia, cabendo à sociedade civil exigir, pressionar, cobrar, participativa.
criticar, propor e fiscalizar as ações do Estado.
Essa concepção de interação democrática construída en- Objetivo estratégico I:
tre os diversos órgãos do Estado e a sociedade civil trouxe Garantia da participação e do controle social das po-
consigo resultados práticos em termos de políticas públicas líticas públicas em Direitos Humanos, em diálogo plural e
e avanços na interlocução de setores do poder público com transversal entre os vários atores sociais.
toda a diversidade social, cultural, étnica e regional que ca- Ações programáticas:
racteriza os movimentos sociais em nosso País. Avançou-se a) Apoiar, junto ao Poder Legislativo, a instituição do Con-
fundamentalmente na compreensão de que os Direitos Hu- selho Nacional dos Direitos Humanos, dotado de recursos
manos constituem condição para a prevalência da dignidade humanos, materiais e orçamentários para o seu pleno funcio-
namento, e efetuar seu credenciamento junto ao Escritório
humana, e que devem ser promovidos e protegidos por meio
do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos
do esforço conjunto do Estado e da sociedade civil.
Humanos como “Instituição Nacional Brasileira”, como pri-
Uma das finalidades do PNDH-3 é dar continuidade à meiro passo rumo à adoção plena dos “Princípios de Paris”.
integração e ao aprimoramento dos mecanismos de parti- Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Huma-
cipação existentes, bem como criar novos meios de constru- nos da Presidência da República; Ministério das Relações
ção e monitoramento das políticas públicas sobre Direitos Exteriores
Humanos no Brasil. b) Fomentar a criação e o fortalecimento dos conselhos
No âmbito institucional o PNDH-3, amplia as conquistas de Direitos Humanos em todos os Estados e Municípios e no
na área dos direitos e garantias fundamentais, pois internaliza Distrito Federal, bem como a criação de programas estaduais
a diretriz segundo a qual a primazia dos Direitos Humanos de Direitos Humanos.
constitui princípio transversal a ser considerado em todas Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
as políticas públicas. da Presidência da República
As diretrizes deste capítulo discorrem sobre a importân- c) Criar mecanismos que permitam ação coordenada
cia de fortalecer a garantia e os instrumentos de participa- entre os diversos conselhos de direitos, nas três esferas da
ção social, o caráter transversal dos Direitos Humanos e a Federação, visando a criação de agenda comum para a im-
construção de mecanismos de avaliação e monitoramento plementação de políticas públicas de Direitos Humanos.
de sua efetivação. Isso inclui a construção de sistema de in- Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
dicadores de Direitos Humanos e a articulação das políticas da Presidência da República, Secretaria-Geral da Presidência
e instrumentos de monitoramento existentes. da República
O Poder Executivo tem papel protagonista na coorde- d) Criar base de dados dos conselhos nacionais, estadu-
nação e implementação do PNDH-3, mas faz-se necessária ais, distrital e municipais, garantindo seu acesso ao público
a definição de responsabilidades compartilhadas entre a em geral.
União, Estados, Municípios e do Distrito Federal na execução Responsáveis: Secretaria-Geral da Presidência da Repú-
de políticas públicas, tanto quanto a criação de espaços de blica; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidên-
participação e controle social nos Poderes Judiciário e Legis- cia da República
lativo, no Ministério Público e nas Defensorias, em ambiente e) Apoiar fóruns, redes e ações da sociedade civil que
de respeito, proteção e efetivação dos Direitos Humanos. O fazem acompanhamento, controle social e monitoramento
conjunto dos órgãos do Estado – não apenas no âmbito do das políticas públicas de Direitos Humanos.
Executivo Federal – deve estar comprometido com a imple- Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
mentação e monitoramento do PNDH-3. da Presidência da República; Secretaria-Geral da Presidência
Aperfeiçoar a interlocução entre Estado e sociedade ci- da República
vil depende da implementação de medidas que garantam à f) Estimular o debate sobre a regulamentação e efeti-
sociedade maior participação no acompanhamento e moni- vidade dos instrumentos de participação social e consulta
toramento das políticas públicas em Direitos Humanos, num popular, tais como lei de iniciativa popular, referendo, veto
diálogo plural e transversal entre os vários atores sociais e popular e plebiscito.
deles com o Estado. Ampliar o controle externo dos órgãos Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
Direitos Humanos e Cidadania

da Presidência da República; Secretaria-Geral da Presidência


públicos por meio de ouvidorias, monitorar os compromis-
da República
sos internacionais assumidos pelo Estado brasileiro, reali-
g) Assegurar a realização periódica de conferências de
zar conferências periódicas sobre a temática, fortalecer e
Direitos Humanos, fortalecendo a interação entre a socie-
apoiar a criação de conselhos nacional, distrital, estaduais dade civil e o poder público.
e municipais de Direitos Humanos, garantindo-lhes eficiên- Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
cia, autonomia e independência são algumas das formas da Presidência da República
de assegurar o aperfeiçoamento das políticas públicas por
meio de diálogo, de mecanismos de controle e das ações Objetivo estratégico II:
contínuas da sociedade civil. Fortalecer as informações em Ampliação do controle externo dos órgãos públicos.
Direitos Humanos com produção e seleção de indicadores Ações programáticas:
para mensurar demandas, monitorar, avaliar, reformular e a) Ampliar a divulgação dos serviços públicos voltados
propor ações efetivas, garante e consolida o controle social para a efetivação dos Direitos Humanos, em especial nos
e a transparência das ações governamentais. canais de transparência.

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos c) Criar selo nacional “Direitos Humanos”, a ser concedido
da Presidência da República às entidades públicas e privadas que comprovem atuação
b) Propor a instituição da Ouvidoria Nacional dos Direitos destacada na defesa e promoção dos direitos fundamentais.
Humanos, em substituição à Ouvidoria-Geral da Cidadania, Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
com independência e autonomia política, com mandato e da Presidência da República; Ministério da Justiça
indicação pelo Conselho Nacional dos Direitos Humanos, as-
segurando recursos humanos, materiais e financeiros para Diretriz 3: Integração e ampliação dos sistemas de infor-
seu pleno funcionamento. mação em Direitos Humanos e construção de mecanismos
Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos de avaliação e monitoramento de sua efetivação.
da Presidência da República
c) Fortalecer a estrutura da Ouvidoria Agrária Nacional. Objetivo estratégico I:
Responsável: Ministério do Desenvolvimento Agrário Desenvolvimento de mecanismos de controle social das
políticas públicas de Direitos Humanos, garantindo o mo-
Diretriz 2: Fortalecimento dos Direitos Humanos como nitoramento e a transparência das ações governamentais.
instrumento transversal das políticas públicas e de interação Ações programáticas:
democrática. a) Instituir e manter sistema nacional de indicadores em
Direitos Humanos, de forma articulada com os órgãos públi-
Objetivo estratégico I: cos e a sociedade civil.
Promoção dos Direitos Humanos como princípios orien- Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
tadores das políticas públicas e das relações internacionais. da Presidência da República
Ações programáticas: b) Integrar os sistemas nacionais de informações para
a) Considerar as diretrizes e objetivos estratégicos do elaboração de quadro geral sobre a implementação de po-
PNDH-3 nos instrumentos de planejamento do Estado, em líticas públicas e violações aos Direitos Humanos.
especial no Plano Plurianual, na Lei de Diretrizes Orçamen- Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
tárias e na Lei Orçamentária Anual. da Presidência da República
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos c) Articular a criação de base de dados com temas rela-
da Presidência da República; Secretaria-Geral da Presidên- cionados aos Direitos Humanos.
cia da República; Ministério do Planejamento, Orçamento Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
e Gestão da Presidência da República
b) Propor e articular o reconhecimento do status consti- d) Utilizar indicadores em Direitos Humanos para mensu-
tucional de instrumentos internacionais de Direitos Humanos rar demandas, monitorar, avaliar, reformular e propor ações
novos ou já existentes ainda não ratificados. efetivas.
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
da Presidência da República; Ministério da Justiça; Secretaria da Presidência da República; Secretaria Especial de Políticas
de Relações Institucionais da Presidência da República para as Mulheres da Presidência da República; Secretaria
c) Construir e aprofundar agenda de cooperação mul- Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da
tilateral em Direitos Humanos que contemple prioritaria- Presidência da República; Ministério da Saúde; Ministério
mente o Haiti, os países lusófonos do continente africano do Desenvolvimento Social e Combate à Fome; Ministério da
e o Timor-Leste. Justiça; Ministério das Cidades; Ministério do Meio Ambien-
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Huma- te; Ministério da Cultura; Ministério do Turismo; Ministério
nos da Presidência da República; Ministério das Relações do Esporte; Ministério do Desenvolvimento Agrário
Exteriores e) Propor estudos visando a criação de linha de finan-
d) Aprofundar a agenda Sul-Sul de cooperação bilateral ciamento para a implementação de institutos de pesquisa e
em Direitos Humanos que contemple prioritariamente os produção de estatísticas em Direitos Humanos nos Estados.
países lusófonos do continente africano, o Timor-Leste, Ca- Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
ribe e a América Latina. da Presidência da República
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Huma-
nos da Presidência da República; Ministério das Relações Objetivo estratégico II:
Exteriores Monitoramento dos compromissos internacionais
assumidos pelo Estado brasileiro em matéria de Direitos
Objetivo estratégico II: Humanos.
Fortalecimento dos instrumentos de interação demo- Ações programáticas:
crática para a promoção dos Direitos Humanos. a) Elaborar relatório anual sobre a situação dos Direitos
Ações programáticas: Humanos no Brasil, em diálogo participativo com a socie-
Direitos Humanos e Cidadania

a) Criar o Observatório Nacional dos Direitos Humanos dade civil.


para subsidiar, com dados e informações, o trabalho de mo- Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Huma-
nitoramento das políticas públicas e de gestão governamen- nos da Presidência da República; Ministério das Relações
tal e sistematizar a documentação e legislação, nacionais e Exteriores
internacionais, sobre Direitos Humanos. b) Elaborar relatórios periódicos para os órgãos de trata-
Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos dos da ONU, no prazo por eles estabelecidos, com base em
da Presidência da República fluxo de informações com órgãos do governo federal e com
b) Estimular e reconhecer pessoas e entidades com des- unidades da Federação.
taque na luta pelos Direitos Humanos na sociedade brasileira Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Huma-
e internacional, com a concessão de premiação, bolsas e nos da Presidência da República; Ministério das Relações
outros incentivos, na forma da legislação aplicável. Exteriores
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Huma- c) Elaborar relatório de acompanhamento das relações
nos da Presidência da República; Ministério das Relações entre o Brasil e o sistema ONU que contenha, entre outras,
Exteriores as seguintes informações:

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
• Recomendações advindas de relatores especiais do privações das liberdades não são apenas resultantes da es-
Conselho de Direitos Humanos da ONU; cassez de recursos, mas sim das desigualdades inerentes aos
• Recomendações advindas dos comitês de tratados do mecanismos de distribuição, da ausência de serviços públicos
Mecanismo de Revisão Periódica; e de assistência do Estado para a expansão das escolhas in-
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Huma- dividuais. Este conceito de desenvolvimento reconhece seu
nos da Presidência da República; Ministério das Relações caráter pluralista e a tese de que a expansão das liberdades
Exteriores não representa somente um fim, mas também o meio para
d) Definir e institucionalizar fluxo de informações, com seu alcance. Em consequência, a sociedade deve pactuar as
responsáveis em cada órgão do governo federal e unidades políticas sociais e os direitos coletivos de acesso e uso dos
da Federação, referentes aos relatórios internacionais de Di- recursos. A partir daí, a medição de um índice de desenvol-
reitos Humanos e às recomendações dos relatores especiais vimento humano veio substituir a medição de aumento do
do Conselho de Direitos Humanos da ONU e dos comitês PIB, uma vez que o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)
de tratados. combina a riqueza per capita indicada pelo PIB aos aspectos
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Huma- de educação e expectativa de vida, permitindo, pela primeira
nos da Presidência da República; Ministério das Relações vez, uma avaliação de aspectos sociais não mensurados pelos
Exteriores padrões econométricos.
e) Definir e institucionalizar fluxo de informações, com No caso do Brasil, por muitos anos o crescimento eco-
responsáveis em cada órgão do governo federal, referentes nômico não levou à distribuição justa de renda e riqueza,
aos relatórios da Comissão Interamericana de Direitos Hu- mantendo-se elevados índices de desigualdade. As ações
manos e às decisões da Corte Interamericana de Direitos de Estado voltadas para a conquista da igualdade socioe-
Humanos. conômica requerem ainda políticas permanentes, de longa
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Huma- duração, para que se verifique a plena proteção e promoção
nos da Presidência da República; Ministério das Relações dos Direitos Humanos. É necessário que o modelo de desen-
Exteriores volvimento econômico tenha a preocupação de aperfeiçoar
f) Criar banco de dados público sobre todas as recomen- os mecanismos de distribuição de renda e de oportunidades
dações dos sistemas ONU e OEA feitas ao Brasil, contendo para todos os brasileiros, bem como incorpore os valores
as medidas adotadas pelos diversos órgãos públicos para de preservação ambiental. Os debates sobre as mudanças
seu cumprimento. climáticas e o aquecimento global, gerados pela preocupa-
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Huma- ção com a maneira com que os países vêm explorando os
nos da Presidência da República; Ministério das Relações recursos naturais e direcionando o progresso civilizatório,
Exteriores está na agenda do dia. Esta discussão coloca em questão
os investimentos em infraestrutura e modelos de desen-
Eixo Orientador II: volvimento econômico na área rural, baseados, em grande
Desenvolvimento e Direitos Humanos parte, no agronegócio, sem a preocupação com a potencial
violação dos direitos de pequenos e médios agricultores e
O tema “desenvolvimento” tem sido amplamente deba- das populações tradicionais.
tido por ser um conceito complexo e multidisciplinar. Não O desenvolvimento pode ser garantido se as pessoas
existe modelo único e preestabelecido de desenvolvimento, forem protagonistas do processo, pressupondo a garantia
porém, pressupõe-se que ele deva garantir a livre determi- de acesso de todos os indivíduos aos direitos econômicos,
nação dos povos, o reconhecimento de soberania sobre seus sociais, culturais e ambientais, e incorporando a preocupação
recursos e riquezas naturais, respeito pleno à sua identidade com a preservação e a sustentabilidade como eixos estru-
cultural e a busca de equidade na distribuição das riquezas. turantes de proposta renovada de progresso. Esses direitos
têm como foco a distribuição da riqueza, dos bens e serviços.
Durante muitos anos, o crescimento econômico, medido
Todo esse debate traz desafios para a conceituação sobre
pela variação anual do Produto Interno Bruto (PIB), foi usado
os Direitos Humanos no sentido de incorporar o desenvol-
como indicador relevante para medir o avanço de um país.
vimento como exigência fundamental. A perspectiva dos
Acreditava-se que, uma vez garantido o aumento de bens e
Direitos Humanos contribui para redimensionar o desen-
serviços, sua distribuição ocorreria de forma a satisfazer as
volvimento. Motiva a passar da consideração de problemas
necessidades de todas as pessoas. Constatou-se, porém, que, individuais a questões de interesse comum, de bem-estar
embora importante, o crescimento do PIB não é suficiente coletivo, o que alude novamente o Estado e o chama à cor-
para causar, automaticamente, melhoria do bem estar para responsabilidade social e à solidariedade.
todas as camadas sociais. Por isso, o conceito de desenvol- Ressaltamos que a noção de desenvolvimento está sendo
vimento foi adotado por ser mais abrangente e refletir, de amadurecida como parte de um debate em curso na socie-
fato, melhorias nas condições de vida dos indivíduos. dade e no governo, incorporando a relação entre os direitos
A teoria predominante de desenvolvimento econômico
Direitos Humanos e Cidadania

econômicos, sociais, culturais e ambientais, buscando a ga-


o define como um processo que faz aumentar as possibili- rantia do acesso ao trabalho, à saúde, à educação, à alimen-
dades de acesso das pessoas a bens e serviços, propiciadas tação, à vida cultural, à moradia adequada, à previdência,
pela expansão da capacidade e do âmbito das atividades à assistência social e a um meio ambiente sustentável. A
econômicas. O desenvolvimento seria a medida qualitativa inclusão do tema Desenvolvimento e Direitos Humanos na
do progresso da economia de um país, refletindo transições 11a Conferência Nacional reforçou as estratégias governa-
de estágios mais baixos para estágios mais altos, por meio da mentais em sua proposta de desenvolvimento.
adoção de novas tecnologias que permitem e favorecem essa Assim, este capítulo do PNDH-3 propõe instrumentos de
transição. Cresce nos últimos anos a assimilação das ideias avanço e reforça propostas para políticas públicas de redução
desenvolvidas por Amartya Sem, que abordam o desenvolvi- das desigualdades sociais concretizadas por meio de ações de
mento como liberdade e seus resultados centrados no bem transferência de renda, incentivo à economia solidária e ao
estar social e, por conseguinte, nos direitos do ser humano. cooperativismo, à expansão da reforma agrária, ao fomento
São essenciais para o desenvolvimento as liberdades e da aquicultura, da pesca e do extrativismo e da promoção
os direitos básicos como alimentação, saúde e educação. As do turismo sustentável.

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
O PNDH-3 inova ao incorporar o meio ambiente saudável f) Fortalecer políticas públicas de apoio ao extrativismo
e as cidades sustentáveis como Direitos Humanos, propõe e ao manejo florestal comunitário ambientalmente susten-
a inclusão do item “direitos ambientais” nos relatórios de táveis.
monitoramento sobre Direitos Humanos e do item “Direitos Responsáveis: Ministério do Meio Ambiente; Ministério
Humanos” nos relatórios ambientais, assim como fomenta do Desenvolvimento Agrário; Ministério do Desenvolvimen-
pesquisas de tecnologias socialmente inclusivas. to, Indústria e Comércio Exterior
Nos projetos e empreendimentos com grande impacto g) Fomentar o debate sobre a expansão de plantios de
socioambiental, o PNDH-3 garante a participação efetiva das monoculturas que geram impacto no meio ambiente e na
populações atingidas, assim como prevê ações mitigatórias e cultura dos povos e comunidades tradicionais, tais como eu-
compensatórias. Considera fundamental fiscalizar o respei- calipto, cana-de-açúcar, soja, e sobre o manejo florestal, a
to aos Direitos Humanos nos projetos implementados pelas
grande pecuária, mineração, turismo e pesca.
empresas transnacionais, bem como seus impactos na ma-
Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
nipulação das políticas de desenvolvimento. Nesse sentido,
avalia como importante mensurar o impacto da biotecnologia da Presidência da República
aplicada aos alimentos, da nanotecnologia, dos poluentes h) Erradicar o trabalho infantil, bem como todas as formas
orgânicos persistentes, metais pesados e outros poluentes de violência e exploração sexual de crianças e adolescentes
inorgânicos em relação aos Direitos Humanos. nas cadeias produtivas, com base em códigos de conduta e
Alcançar o desenvolvimento com Direitos Humanos é ca- no Estatuto da Criança e do Adolescente.
pacitar as pessoas e as comunidades a exercerem a cidadania, Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
com direitos e responsabilidades. É incorporar, nos projetos, da Presidência da República; Ministério do Turismo
a própria população brasileira, por meio de participação ativa i) Garantir que os grandes empreendimentos e projetos
nas decisões que afetam diretamente suas vidas. É assegurar de infraestrutura resguardem os direitos dos povos indíge-
a transparência dos grandes projetos de desenvolvimento nas e de comunidades quilombolas e tradicionais, confor-
econômico e mecanismos de compensação para a garantia me previsto na Constituição e nos tratados e convenções
dos Direitos Humanos das populações diretamente atingidas. internacionais.
Por fim, este PNDH-3 reforça o papel da equidade no Pla- Responsáveis: Ministério da Justiça; Ministério dos Trans-
no Plurianual, como instrumento de garantia de priorização portes; Ministério da Integração Nacional; Ministério de Mi-
orçamentária de programas sociais. nas e Energia; Secretaria Especial de Políticas de Promoção
da Igualdade Racial da Presidência da República; Ministério
Diretriz 4: Efetivação de modelo de desenvolvimento do Meio Ambiente; Ministério do Desenvolvimento Social e
sustentável, com inclusão social e econômica, ambiental- Combate à Fome; Ministério da Pesca e Aquicultura; Secre-
mente equilibrado e tecnologicamente responsável, cultural taria Especial de Portos da Presidência da República
e regionalmente diverso, participativo e não discrimina- j) Integrar políticas de geração de emprego e renda e po-
tório.
líticas sociais para o combate à pobreza rural dos agricultores
familiares, assentados da reforma agrária, quilombolas, in-
Objetivo estratégico I:
Implementação de políticas públicas de desenvolvimen- dígenas, famílias de pescadores e comunidades tradicionais.
to com inclusão social. Responsáveis: Ministério do Desenvolvimento Social e
Ações programáticas: Combate à Fome; Ministério da Integração Nacional; Minis-
a) Ampliar e fortalecer as políticas de desenvolvimento tério do Desenvolvimento Agrário; Ministério do Trabalho
social e de combate à fome, visando a inclusão e a promoção e Emprego; Ministério da Justiça; Secretaria Especial de
da cidadania, garantindo a segurança alimentar e nutricional, Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência
renda mínima e assistência integral às famílias. da República; Ministério da Cultura; Ministério da Pesca e
Responsável: Ministério do Desenvolvimento Social e Aquicultura
Combate à Fome k) Integrar políticas sociais e de geração de emprego e
b) Expandir políticas públicas de geração e transferência renda para o combate à pobreza urbana, em especial de
de renda para erradicação da extrema pobreza e redução catadores de materiais recicláveis e população em situação
da pobreza. de rua.
Responsável: Ministério do Desenvolvimento Social e Responsáveis: Ministério do Trabalho e Emprego; Mi-
Combate à Fome nistério do Meio Ambiente; Ministério do Desenvolvimento
c) Apoiar projetos de desenvolvimento sustentável local Social e Combate à Fome; Ministério das Cidades; Secretaria
para redução das desigualdades inter e intrarregionais e o dos Direitos Humanos da Presidência da República
aumento da autonomia e sustentabilidade de espaços sub- l) Fortalecer políticas públicas de fomento à aquicultura
-regionais. e à pesca sustentáveis, com foco nos povos e comunidades
Direitos Humanos e Cidadania

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos tradicionais de baixa renda, contribuindo para a segurança
da Presidência da República; Ministério do Desenvolvimento
alimentar e a inclusão social, mediante a criação e geração
Agrário
de trabalho e renda alternativos e inserção no mercado de
d) Avançar na implantação da reforma agrária, como
forma de inclusão social e acesso aos direitos básicos, de trabalho.
forma articulada com as políticas de saúde, educação, meio Responsáveis: Ministério da Pesca e Aquicultura; Minis-
ambiente e fomento à produção alimentar. tério do Trabalho e Emprego; Ministério do Desenvolvimento
Responsável: Ministério do Desenvolvimento Agrário Social e Combate à Fome
e) Incentivar as políticas públicas de economia solidária, m) Promover o turismo sustentável com geração de tra-
de cooperativismo e associativismo e de fomento a pequenas balho e renda, respeito à cultura local, participação e inclusão
e micro empresas. dos povos e das comunidades nos benefícios advindos da
Responsáveis: Ministério do Trabalho e Emprego; Minis- atividade turística.
tério do Desenvolvimento Agrário; Ministério das Cidades; Responsáveis: Ministério do Turismo; Ministério do De-
Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome senvolvimento, Indústria e Comércio Exterior

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
Objetivo estratégico II: Responsáveis: Ministério de Ciência e Tecnologia; Mi-
Fortalecimento de modelos de agricultura familiar e nistério do Meio Ambiente; Ministério da Saúde; Ministério
agroecológica. das Cidades
Ações programáticas: e) Desenvolver e divulgar pesquisas públicas para diag-
a) Garantir que nos projetos de reforma agrária e agri- nosticar os impactos da biotecnologia e da nanotecnologia
cultura familiar sejam incentivados os modelos de produção em temas de Direitos Humanos.
agroecológica e a inserção produtiva nos mercados formais. Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
Responsáveis: Ministério do Desenvolvimento Agrário; da Presidência da República; Ministério da Saúde; Ministé-
Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exte- rio do Meio Ambiente; Ministério da Agricultura, Pecuária e
rior Abastecimento; Ministério de Ciência e Tecnologia
b) Fortalecer a agricultura familiar camponesa e a pesca f) Produzir, sistematizar e divulgar pesquisas econômi-
artesanal, com ampliação do crédito, do seguro, da assis- cas e metodologias de cálculo de custos socioambientais de
tência técnica, extensão rural e da infraestrutura para co- projetos de infraestrutura, de energia e de mineração que
mercialização. sirvam como parâmetro para o controle dos impactos de
Responsáveis: Ministério do Desenvolvimento Agrário; grandes projetos.
Ministério da Pesca e Aquicultura Responsáveis: Ministério da Ciência e Tecnologia; Mi-
c) Garantir pesquisa e programas voltados à agricultu- nistério de Minas e Energia; Ministério do Meio Ambiente;
ra familiar e pesca artesanal, com base nos princípios da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da Repú-
agroecologia. blica; Ministério da Integração Nacional
Responsáveis: Ministério do Desenvolvimento Agrário;
Ministério do Meio Ambiente; Ministério da Agricultura, Objetivo estratégico IV:
Pecuária e Abastecimento; Ministério da Pesca e Aquicul- Garantia do direito a cidades inclusivas e sustentáveis.
tura; Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Ações programáticas:
Exterior a) Apoiar ações que tenham como princípio o direito a
d) Fortalecer a legislação e a fiscalização para evitar a cidades inclusivas e acessíveis como elemento fundamental
contaminação dos alimentos e danos à saúde e ao meio am- da implementação de políticas urbanas.
biente causados pelos agrotóxicos. Responsáveis: Ministério das Cidades; Secretaria Especial
Responsáveis: Ministério da Agricultura, Pecuária e dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministé-
Abastecimento; Ministério do Meio Ambiente; Ministério rio do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior
da Saúde; Ministério do Desenvolvimento Agrário b) Fortalecer espaços institucionais democráticos, parti-
e) Promover o debate com as instituições de ensino su- cipativos e de apoio aos Municípios para a implementação
perior e a sociedade civil para a implementação de cursos de planos diretores que atendam aos preceitos da política
e realização de pesquisas tecnológicas voltados à temática urbana estabelecidos no Estatuto da Cidade.
socioambiental, agroecologia e produção orgânica, respei- Responsável: Ministério das Cidades
tando as especificidades de cada região. c) Fomentar políticas públicas de apoio aos Estados,
Responsáveis: Ministério da Educação; Ministério do Distrito Federal e Municípios em ações sustentáveis de ur-
Desenvolvimento Agrário
banização e regularização fundiária dos assentamentos de
população de baixa renda, comunidades pesqueiras e de
Objetivo estratégico III:
provisão habitacional de interesse social, materializando a
Fomento à pesquisa e à implementação de políticas para
função social da propriedade.
o desenvolvimento de tecnologias socialmente inclusivas,
Responsáveis: Ministério das Cidades; Ministério do
emancipatórias e ambientalmente sustentáveis.
Meio Ambiente; Ministério da Pesca e Aquicultura
Ações programáticas:
d) Fortalecer a articulação entre os órgãos de governo e
a) Adotar tecnologias sociais de baixo custo e fácil apli-
cabilidade nas políticas e ações públicas para a geração de os consórcios municipais para atuar na política de saneamen-
renda e para a solução de problemas socioambientais e de to ambiental, com participação da sociedade civil.
saúde pública. Responsáveis: Ministério das Cidades; Ministério do
Responsáveis: Ministério do Trabalho e Emprego; Mi- Meio Ambiente; Secretaria de Relações Institucionais da
nistério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome; Mi- Presidência da República
nistério do Meio Ambiente; Ministério do Desenvolvimento e) Fortalecer a política de coleta, reaproveitamento, tria-
Agrário; Ministério da Saúde gem, reciclagem e a destinação seletiva de resíduos sólidos e
b) Garantir a aplicação do princípio da precaução na pro- líquidos, com a organização de cooperativas de reciclagem,
teção da agrobiodiversidade e da saúde, realizando pesquisas que beneficiem as famílias dos catadores.
que avaliem os impactos dos transgênicos no meio ambiente Responsáveis: Ministério das Cidades; Ministério do Tra-
balho e Emprego; Ministério do Desenvolvimento Social e
Direitos Humanos e Cidadania

e na saúde.
Responsáveis: Ministério da Saúde; Ministério do Meio Combate à Fome; Ministério do Meio Ambiente
Ambiente; Ministério de Ciência e Tecnologia f) Fomentar políticas e ações públicas voltadas à mobili-
c) Fomentar tecnologias alternativas para substituir o uso dade urbana sustentável.
de substâncias danosas à saúde e ao meio ambiente, como Responsável: Ministério das Cidades
poluentes orgânicos persistentes, metais pesados e outros g) Considerar na elaboração de políticas públicas de de-
poluentes inorgânicos. senvolvimento urbano os impactos na saúde pública.
Responsáveis: Ministério de Ciência e Tecnologia; Minis- Responsáveis: Ministério da Saúde; Ministério das Ci-
tério do Meio Ambiente; Ministério da Saúde; Ministério da dades
Agricultura, Pecuária e Abastecimento; Ministério do Desen- h) Fomentar políticas públicas de apoio às organizações
volvimento, Indústria e Comércio Exterior de catadores de materiais recicláveis, visando à disponibili-
d) Fomentar tecnologias de gerenciamento de resíduos zação de áreas e prédios desocupados pertencentes à União,
sólidos e emissões atmosféricas para minimizar impactos à a fim de serem transformados em infraestrutura produtiva
saúde e ao meio ambiente. para essas organizações.

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
Responsáveis: Ministério do Planejamento, Orçamento h) Promover e fortalecer ações de proteção às popula-
e Gestão; Ministério das Cidades; Ministério do Trabalho e ções mais pobres da convivência com áreas contaminadas,
Emprego; Ministério do Desenvolvimento Social e Combate resguardando-as contra essa ameaça e assegurando-lhes
à Fome seus direitos fundamentais.
i) Estimular a produção de alimentos de forma comu- Responsáveis: Ministério do Meio Ambiente; Ministério
nitária, com uso de tecnologias de bases agroecológicas, das Cidades; Ministério do Desenvolvimento Social e Com-
em espaços urbanos e periurbanos ociosos e fomentar a bate à Fome; Ministério da Saúde
mobilização comunitária para a implementação de hortas,
viveiros, pomares, canteiros de ervas medicinais, criação de Objetivo estratégico II:
pequenos animais, unidades de processamento e beneficia- Afirmação dos princípios da dignidade humana e da
mento agroalimentar, feiras e mercados públicos populares. equidade como fundamentos do processo de desenvolvi-
Responsáveis: Ministério do Desenvolvimento Social mento nacional.
e Combate à Fome; Ministério da Agricultura, Pecuária e Ações programáticas:
Abastecimento a) Reforçar o papel do Plano Plurianual como instrumento
de consolidação dos Direitos Humanos e de enfrentamento
Diretriz 5: Valorização da pessoa humana como sujeito da concentração de renda e riqueza e de promoção da in-
clusão da população de baixa renda.
central do processo de desenvolvimento.
Responsável: Ministério do Planejamento, Orçamento
e Gestão
Objetivo estratégico I:
b) Reforçar os critérios da equidade e da prevalência dos
Garantia da participação e do controle social nas po- Direitos Humanos como prioritários na avaliação da progra-
líticas públicas de desenvolvimento com grande impacto mação orçamentária de ação ou autorização de gastos.
socioambiental. Responsável: Ministério do Planejamento, Orçamento
Ações programáticas: e Gestão
a) Fortalecer ações que valorizem a pessoa humana como c) Instituir código de conduta em Direitos Humanos para
sujeito central do desenvolvimento, enfrentando o quadro ser considerado no âmbito do poder público como critério
atual de injustiça ambiental que atinge principalmente as para a contratação e financiamento de empresas.
populações mais pobres. Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República
da Presidência da República; Ministério do Meio Ambiente d) Regulamentar a taxação do imposto sobre grandes
b) Assegurar participação efetiva da população na elabo- fortunas previsto na Constituição.
ração dos instrumentos de gestão territorial e na análise e Responsáveis: Ministério da Fazenda; Secretaria Especial
controle dos processos de licenciamento urbanístico e am- dos Direitos Humanos da Presidência da República
biental de empreendimentos de impacto, especialmente e) Ampliar a adesão de empresas ao compromisso de
na definição das ações mitigadoras e compensatórias por responsabilidade social e Direitos Humanos.
impactos sociais e ambientais. Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
Responsáveis: Ministério do Meio Ambiente; Ministério da Presidência da República; Ministério do Desenvolvimento,
das Cidades Indústria e Comércio Exterior
c) Fomentar a elaboração do Zoneamento Ecológico
Econômico (ZEE), incorporando o sócio e etnozoneamento. Objetivo estratégico III:
Responsáveis: Ministério das Cidades; Ministério do Fortalecimento dos direitos econômicos por meio de
Meio Ambiente políticas públicas de defesa da concorrência e de proteção
d) Assegurar a transparência dos projetos realizados, em do consumidor.
todas as suas etapas, e dos recursos utilizados nos grandes Ações programáticas:
projetos econômicos, para viabilizar o controle social. a) Garantir o acesso universal a serviços públicos essen-
Responsáveis: Ministério dos Transportes; Ministério ciais de qualidade.
da Integração Nacional; Ministério de Minas e Energia; Se- Responsáveis: Ministério da Saúde; Ministério da Educa-
cretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da ção; Ministério de Minas e Energia; Ministério do Desenvol-
República vimento Social e Combate à Fome; Ministério das Cidades
b) Fortalecer o sistema brasileiro de defesa da concorrên-
e) Garantir a exigência de capacitação qualificada e par-
cia para coibir condutas anticompetitivas e concentradoras
ticipativa das comunidades afetadas nos projetos básicos
de renda.
de obras e empreendimentos com impactos sociais e am-
Responsáveis: Ministério da Justiça; Ministério da Fa-
bientais. zenda
Responsáveis: Ministério da Integração Nacional; Minis-
Direitos Humanos e Cidadania

c) Garantir o direito à informação do consumidor, fortale-


tério de Minas e Energia; Secretaria Especial dos Direitos cendo as ações de acompanhamento de mercado, inclusive
Humanos da Presidência da República a rotulagem dos transgênicos.
f) Definir mecanismos para a garantia dos Direitos Hu- Responsáveis: Ministério da Justiça; Ministério do De-
manos das populações diretamente atingidas e vizinhas aos senvolvimento, Indústria e Comércio Exterior; Ministério da
empreendimentos de impactos sociais e ambientais. Agricultura, Pecuária e Abastecimento
Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos d) Fortalecer o combate à fraude e a avaliação da con-
da Presidência da República formidade dos produtos e serviços no mercado.
g) Apoiar a incorporação dos sindicatos de trabalhadores Responsáveis: Ministério da Justiça; Ministério do De-
e centrais sindicais nos processos de licenciamento ambien- senvolvimento, Indústria e Comércio Exterior
tal de empresas, de forma a garantir o direito à saúde do
trabalhador. Diretriz 6: Promover e proteger os direitos ambientais
Responsáveis: Ministério do Meio Ambiente; Ministério como Direitos Humanos, incluindo as gerações futuras como
do Trabalho e Emprego; Ministério da Saúde sujeitos de direitos.

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Objetivo estratégico I: Os objetivos estratégicos direcionados à promoção da
Afirmação dos direitos ambientais como Direitos Hu- cidadania plena preconizam a universalidade, indivisibilidade
manos. e interdependência dos Direitos Humanos, condições para
Ações programáticas: sua efetivação integral e igualitária. O acesso aos direitos de
a) Incluir o item Direito Ambiental nos relatórios de mo- registro civil, alimentação adequada, terra e moradia, traba-
nitoramento dos Direitos Humanos. lho decente, educação, participação política, cultura, lazer,
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos esporte e saúde, deve considerar a pessoa humana em suas
da Presidência da República; Ministério do Meio Ambiente múltiplas dimensões de ator social e sujeito de cidadania.
b) Incluir o tema dos Direitos Humanos nos instrumentos À luz da história dos movimentos sociais e de programas
e relatórios dos órgãos ambientais. de governo, o PNDH-3 orienta-se pela transversalidade, para
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos que a implementação dos direitos civis e políticos transitem
da Presidência da República; Ministério do Meio Ambiente pelas diversas dimensões dos direitos econômicos, sociais,
c) Assegurar a proteção dos direitos ambientais e dos culturais e ambientais. Caso contrário, grupos sociais afeta-
Direitos Humanos no Código Florestal. dos pela pobreza, pelo racismo estrutural e pela discrimina-
Responsável: Ministério do Meio Ambiente ção dificilmente terão acesso a tais direitos.
d) Implementar e ampliar políticas públicas voltadas para As ações programáticas formuladas visam enfrentar o
a recuperação de áreas degradadas e áreas de desmatamen- desafio de eliminar as desigualdades, levando em conta as
to nas zonas urbanas e rurais. dimensões de gênero e raça nas políticas públicas, desde o
Responsáveis: Ministério do Meio Ambiente; Ministério planejamento até a sua concretização e avaliação. Há, neste
das Cidades sentido, propostas de criação de indicadores que possam
e) Fortalecer ações que estabilizem a concentração de mensurar a efetivação progressiva dos direitos.
gases de efeito estufa em nível que permita a adaptação Às desigualdades soma-se a persistência da discrimina-
natural dos ecossistemas à mudança do clima, controlando ção, que muitas vezes se manifesta sob a forma de violência
a interferência das atividades humanas (antrópicas) no sis- contra sujeitos que são histórica e estruturalmente vulne-
tema climático. rabilizados.
Responsável: Ministério do Meio Ambiente O combate à discriminação mostra-se necessário, mas
f) Garantir o efetivo acesso a informação sobre a degra- insuficiente enquanto medida isolada. Os pactos e conven-
ções que integram o sistema regional e internacional de pro-
dação e os riscos ambientais, e ampliar e articular as bases
teção dos Direitos Humanos apontam para a necessidade
de informações dos entes federados e produzir informativos
de combinar estas medidas com políticas compensatórias
em linguagem acessível.
que acelerem a construção da igualdade, como forma ca-
Responsável: Ministério do Meio Ambiente
paz de estimular a inclusão de grupos socialmente vulnerá-
g) Integrar os atores envolvidos no combate ao trabalho
veis. Além disso, as ações afirmativas constituem medidas
escravo nas operações correntes de fiscalização ao desma- especiais e temporárias que buscam remediar um passado
tamento e ao corte ilegal de madeira. discriminatório. No rol de movimentos e grupos sociais que
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos demandam políticas de inclusão social encontram-se crian-
da Presidência da República; Ministério do Trabalho e Em- ças, adolescentes, mulheres, pessoas idosas, lésbicas, gays,
prego; Ministério do Meio Ambiente bissexuais, travestis, transexuais, pessoas com deficiência,
pessoas moradoras de rua, povos indígenas, populações
Eixo Orientador III: negras e quilombolas, ciganos, ribeirinhos, varzanteiros e
Universalizar direitos em um contexto de desigualdades pescadores, entre outros.
Definem-se, neste capítulo, medidas e políticas que de-
A Declaração Universal dos Direitos Humanos afirma em vem ser efetivadas para reconhecer e proteger os indivíduos
seu preâmbulo que o “reconhecimento da dignidade ineren- como iguais na diferença, ou seja, para valorizar a diversidade
te a todos os membros da família humana e de seus direitos presente na população brasileira para estabelecer acesso
iguais e inalienáveis é o fundamento da liberdade, da justiça igualitário aos direitos fundamentais. Trata-se de reforçar
e da paz no mundo”. No entanto, nas vicissitudes ocorridas os programas de governo e as resoluções pactuadas nas di-
no cumprimento da Declaração pelos Estados signatários, versas conferências nacionais temáticas, sempre sob o foco
identificou-se a necessidade de reconhecer as diversidades dos Direitos Humanos, com a preocupação de assegurar o
e diferenças para concretização do princípio da igualdade. respeito às diferenças e o combate às desigualdades, para
No Brasil, ao longo das últimas décadas, os Direitos Hu- o efetivo acesso aos direitos.
manos passaram a ocupar uma posição de destaque no orde- Por fim, em respeito à primazia constitucional de prote-
namento jurídico. O País avançou decisivamente na proteção ção e promoção da infância, do adolescente e da juventude,
e promoção do direito às diferenças. Porém, o peso negativo o capítulo aponta suas diretrizes para o respeito e a garantia
Direitos Humanos e Cidadania

do passado continua a projetar no presente uma situação de das gerações futuras. Como sujeitos de direitos, as crianças,
profunda iniquidade social. os adolescentes e os jovens são frequentemente subestima-
O acesso aos direitos fundamentais continua enfrentando das em sua participação política e em sua capacidade deci-
barreiras estruturais, resquícios de um processo histórico, até sória. Preconiza-se o dever de assegurar-lhes, desde cedo, o
secular, marcado pelo genocídio indígena, pela escravidão e direito de opinião e participação.
por períodos ditatoriais, práticas que continuam a ecoar em Marcadas pelas diferenças e por sua fragilidade tempo-
comportamentos, leis e na realidade social. ral, as crianças, os adolescentes e os jovens estão sujeitos a
O PNDH-3 assimila os grandes avanços conquistados ao discriminações e violências. As ações programáticas promo-
longo destes últimos anos, tanto nas políticas de erradicação vem a garantia de espaços e investimentos que assegurem
da miséria e da fome, quanto na preocupação com a mora- proteção contra qualquer forma de violência e discriminação,
dia e saúde, e aponta para a continuidade e ampliação do bem como a promoção da articulação entre família, socie-
acesso a tais políticas, fundamentais para garantir o respeito dade e Estado para fortalecer a rede social de proteção que
à dignidade humana. garante a efetividade de seus direitos.

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Diretriz 7: Garantia dos Direitos Humanos de forma • Desenvolver a padronização do registro civil (certidão
universal, indivisível e interdependente, assegurando a de nascimento, de casamento e de óbito) em território na-
cidadania plena. cional.
• Garantir a emissão gratuita de Registro Geral e Cadastro
Objetivo estratégico I: de Pessoa Física aos reconhecidamente pobres.
Universalização do registro civil de nascimento e am- • Desenvolver estudo sobre a política nacional de docu-
pliação do acesso à documentação básica. mentação civil básica.
Ações programáticas: Responsáveis: Ministério da Saúde; Ministério do De-
a) Ampliar e reestruturar a rede de atendimento para a senvolvimento Social e Combate à Fome; Ministério do Pla-
emissão do registro civil de nascimento visando a sua uni- nejamento, Orçamento e Gestão; Ministério da Fazenda;
versalização. Ministério da Justiça; Ministério do Trabalho e Emprego;
• Interligar maternidades e unidades de saúde aos car- Ministério da Previdência Social; Secretaria Especial dos Di-
tórios, por meio de sistema manual ou informatizado, para reitos Humanos da Presidência da República
emissão de registro civil de nascimento logo após o parto, d) Incluir no questionário do censo demográfico per-
garantindo ao recém nascido a certidão de nascimento antes guntas para identificar a ausência de documentos civis na
da alta médica. população.
• Fortalecer a Declaração de Nascido Vivo (DNV), emitida Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
pelo Sistema Único de Saúde , como mecanismo de acesso ao da Presidência da República
registro civil de nascimento, contemplando a diversidade na
emissão pelos estabelecimentos de saúde e pelas parteiras. Objetivo estratégico II:
• Realizar orientação sobre a importância do registro Acesso à alimentação adequada por meio de políticas
civil de nascimento para a cidadania por meio da rede de estruturantes.
atendimento (saúde, educação e assistência social) e pelo Ações programáticas:
sistema de Justiça e de segurança pública. a) Ampliar o acesso aos alimentos por meio de programas
• Aperfeiçoar as normas e o serviço público notarial e de e ações de geração e transferência de renda, com ênfase na
registro, em articulação com o Conselho Nacional de Justiça, participação das mulheres como potenciais beneficiárias.
para garantia da gratuidade e da cobertura do serviço de Responsáveis: Ministério do Desenvolvimento Social e
registro civil em âmbito nacional. Combate à Fome; Secretaria Especial de Políticas para as
Responsáveis: Ministério da Saúde; Ministério do De- Mulheres da Presidência da República
senvolvimento Social e Combate à Fome; Ministério da Pre- b) Vincular programas de transferência de renda à garan-
vidência Social; Ministério da Justiça; Ministério do Planeja- tia da segurança alimentar da criança, por meio do acom-
mento, Orçamento e Gestão; Secretaria Especial dos Direitos panhamento da saúde e nutrição e do estímulo de hábitos
Humanos da Presidência da República alimentares saudáveis, com o objetivo de erradicar a des-
b) Promover a mobilização nacional com intuito de re- nutrição infantil.
duzir o número de pessoas sem registro civil de nascimento Responsáveis: Ministério do Desenvolvimento Social
e documentação básica. e Combate à Fome; Ministério da Educação; Ministério da
• Instituir comitês gestores estaduais, distrital e muni- Saúde
cipais com o objetivo de articular as instituições públicas e c) Fortalecer a agricultura familiar e camponesa no de-
as entidades da sociedade civil para a implantação de ações senvolvimento de ações específicas que promovam a geração
que visem à ampliação do acesso à documentação básica. de renda no campo e o aumento da produção de alimentos
• Realizar campanhas para orientação e conscientização agroecológicos para o autoconsumo e para o mercado local.
da população e dos agentes responsáveis pela articulação e Responsáveis: Ministério do Desenvolvimento Agrário;
pela garantia do acesso aos serviços de emissão de registro Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome
civil de nascimento e de documentação básica. d) Ampliar o abastecimento alimentar, com maior au-
• Realizar mutirões para emissão de registro civil de nas- tonomia e fortalecimento da economia local, associado a
cimento e documentação básica, com foco nas regiões de programas de informação, de educação alimentar, de capa-
difícil acesso e no atendimento às populações específicas citação, de geração de ocupações produtivas, de agricultura
como os povos indígenas, quilombolas, ciganos, pessoas em familiar camponesa e de agricultura urbana.
situação de rua, institucionalizadas e às trabalhadoras rurais. Responsáveis: Ministério do Desenvolvimento Social e
Responsáveis: Ministério da Saúde; Ministério do Desen- Combate à Fome; Ministério da Agricultura, Pecuária e Abas-
volvimento Social e Combate à Fome; Ministério da Defesa; tecimento; Ministério do Desenvolvimento Agrário
Ministério da Fazenda; Ministério do Trabalho e Emprego; e) Promover a implantação de equipamentos públicos
Ministério da Justiça; Secretaria Especial dos Direitos Huma- de segurança alimentar e nutricional, com vistas a ampliar
nos da Presidência da República o acesso à alimentação saudável de baixo custo, valorizar as
Direitos Humanos e Cidadania

c) Criar bases normativas e gerenciais para garantia da culturas alimentares regionais, estimular o aproveitamento
universalização do acesso ao registro civil de nascimento e integral dos alimentos, evitar o desperdício e contribuir para
à documentação básica. a recuperação social e de saúde da sociedade.
• Implantar sistema nacional de registro civil para inter- Responsável: Ministério do Desenvolvimento Social e
ligação das informações de estimativas de nascimentos, de Combate à Fome
nascidos vivos e do registro civil, a fim de viabilizar a busca f) Garantir que os hábitos e contextos regionais sejam
ativa dos nascidos não registrados e aperfeiçoar os indica- incorporados nos modelos de segurança alimentar como
dores para subsidiar políticas públicas. fatores da produção sustentável de alimentos.
• Desenvolver estudo e revisão da legislação para garantir Responsável: Ministério do Desenvolvimento Social e
o acesso do cidadão ao registro civil de nascimento em todo Combate à Fome
o território nacional. g) Realizar pesquisas científicas que promovam ganhos
• Realizar estudo de sustentabilidade do serviço nota- de produtividade na agricultura familiar e assegurar estoques
rial e de registro no País. reguladores.

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Responsáveis: Ministério do Desenvolvimento Social e Responsável: Ministério das Cidades
Combate à Fome; Ministério do Desenvolvimento Agrário; k) Garantir as condições para a realização de acampa-
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento mentos ciganos em todo o território nacional, visando a
preservação de suas tradições, práticas e patrimônio cultural.
Objetivo estratégico III: Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
Garantia do acesso à terra e à moradia para a população da Presidência da República; Ministério das Cidades
de baixa renda e grupos sociais vulnerabilizados.
Ações programáticas: Objetivo estratégico IV:
a) Fortalecer a reforma agrária com prioridade à imple- Ampliação do acesso universal a sistema de saúde de
mentação e recuperação de assentamentos, à regularização qualidade.
do crédito fundiário e à assistência técnica aos assentados, Ações programáticas:
atualização dos índices Grau de Utilização da Terra (GUT) e a) Expandir e consolidar programas de serviços básicos
Grau de Eficiência na Exploração (GEE), conforme padrões de saúde e de atendimento domiciliar para a população de
atuais e regulamentação da desapropriação de áreas pelo baixa renda, com enfoque na prevenção e diagnóstico pré-
descumprimento da função social plena. vio de doenças e deficiências, com apoio diferenciado às
Responsável: Ministério do Desenvolvimento Agrário; pessoas idosas, indígenas, negros e comunidades quilom-
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento bolas, pessoas com deficiência, pessoas em situação de rua,
b) Integrar as ações de mapeamento das terras públicas lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais, crianças e
da União. adolescentes, mulheres, pescadores artesanais e população
Responsável: Ministério do Planejamento, Orçamento de baixa renda.
e Gestão Responsáveis: Ministério da Saúde; Secretaria Especial
c) Estimular o saneamento dos serviços notariais de regis- de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência
tros imobiliários, possibilitando o bloqueio ou o cancelamen- da República; Secretaria Especial de Políticas para as Mu-
to administrativo dos títulos das terras e registros irregulares. lheres da Presidência da República; Ministério da Pesca e
Responsáveis: Ministério da Justiça; Ministério do De- Aquicultura
senvolvimento Agrário b) Criar programas de pesquisa e divulgação sobre tra-
d) Garantir demarcação, homologação, regularização tamentos alternativos à medicina tradicional no sistema de
e desintrusão das terras indígenas, em harmonia com os saúde.
projetos de futuro de cada povo indígena, assegurando seu Responsável: Ministério da Saúde
etnodesenvolvimento e sua autonomia produtiva. c) Reformular o marco regulatório dos planos de saúde,
Responsável: Ministério da Justiça de modo a diminuir os custos para a pessoa idosa e fortalecer
e) Assegurar às comunidades quilombolas a posse dos o pacto intergeracional, estimulando a adoção de medidas
seus territórios, acelerando a identificação, o reconhecimen- de capitalização para gastos futuros pelos planos de saúde.
to, a demarcação e a titulação desses territórios, respeitando Responsável: Ministério da Saúde
e preservando os sítios de valor simbólico e histórico. d) Reconhecer as parteiras como agentes comunitárias
Responsáveis: Secretaria Especial de Políticas de Pro- de saúde.
moção da Igualdade Racial da Presidência da República; Mi- Responsáveis: Ministério da Saúde; Secretaria Especial
nistério da Cultura; Ministério do Desenvolvimento Agrário de Políticas para as Mulheres da Presidência da República
f) Garantir o acesso a terra às populações ribeirinhas, e) Aperfeiçoar o programa de saúde para adolescentes,
varzanteiras e pescadoras, assegurando acesso aos recursos especificamente quanto à saúde de gênero, à educação se-
naturais que tradicionalmente utilizam para sua reprodução xual e reprodutiva e à saúde mental.
física, cultural e econômica. Responsáveis: Ministério da Saúde; Secretaria Especial
Responsáveis: Ministério do Desenvolvimento Agrário; de Políticas para as Mulheres da Presidência da República;
Ministério do Meio Ambiente Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da
g) Garantir que nos programas habitacionais do governo República
sejam priorizadas as populações de baixa renda, a população f) Criar campanhas e material técnico, instrucional e
em situação de rua e grupos sociais em situação de vulnera- educativo sobre planejamento reprodutivo que respeite os
bilidade no espaço urbano e rural, considerando os princípios direitos sexuais e reprodutivos, contemplando a elaboração
da moradia digna, do desenho universal e os critérios de de materiais específicos para a população jovem e adoles-
acessibilidade nos projetos. cente e para pessoas com deficiência.
Responsáveis: Ministério das Cidades; Ministério do De- Responsáveis: Ministério da Saúde; Secretaria Especial
senvolvimento Social e Combate à Fome de Políticas para as Mulheres da Presidência da República;
h) Promover a destinação das glebas e edifícios vazios Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da
ou subutilizados pertencentes à União, para a população de República
Direitos Humanos e Cidadania

baixa renda, reduzindo o déficit habitacional. g) Estimular programas de atenção integral à saúde das
Responsáveis: Ministério das Cidades; Ministério do Pla- mulheres, considerando suas especificidades étnico-raciais,
nejamento, Orçamento e Gestão geracionais, regionais, de orientação sexual, de pessoa com
i) Estabelecer que a garantia da qualidade de abrigos e deficiência, priorizando as moradoras do campo, da floresta
albergues, bem como seu caráter inclusivo e de resgate da e em situação de rua.
cidadania à população em situação de rua, estejam entre os Responsáveis: Ministério da Saúde; Secretaria Especial
critérios de concessão de recursos para novas construções e de Políticas para as Mulheres da Presidência da República;
manutenção dos existentes. Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade
Responsáveis: Ministério das Cidades; Ministério do De- Racial da Presidência da República; Ministério do Desenvol-
senvolvimento Social e Combate à Fome vimento Social e Combate à Fome
j) Apoiar o monitoramento de políticas de habitação de h) Ampliar e disseminar políticas de saúde pré e neonatal,
interesse social pelos conselhos municipais de habitação, ga- com inclusão de campanhas educacionais de esclarecimento,
rantindo às cooperativas e associações habitacionais acesso visando à prevenção do surgimento ou do agravamento de
às informações. deficiências.

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
Responsáveis: Ministério da Saúde; Secretaria Especial Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
de Políticas para as Mulheres da Presidência da República; da Presidência da República; Ministério da Saúde
Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da w) Reconhecer, pelo Estado brasileiro, as violações de
República direitos às pessoas atingidas pela hanseníase no período da
i) Expandir a assistência pré-natal e pós-natal por meio internação e do isolamento compulsórios, apoiando inicia-
de programas de visitas domiciliares para acompanhamento tivas para agilizar as reparações com a concessão de pensão
das crianças na primeira infância. especial prevista na Lei nº 11.520/2007.
Responsável: Ministério da Saúde Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
j) Apoiar e financiar a realização de pesquisas e interven- da Presidência da República
ções sobre a mortalidade materna, contemplando o recorte x) Proporcionar as condições necessárias para conclusão
étnico-racial e regional. do trabalho da Comissão Interministerial de Avaliação para
Responsáveis: Ministério da Saúde; Secretaria Especial análise dos requerimentos de pensão especial das pessoas
de Políticas para as Mulheres da Presidência da República atingidas pela hanseníase, que foram internadas e isoladas
k) Assegurar o acesso a laqueaduras e vasectomias ou compulsoriamente em hospitais-colônia até 31 de dezembro
reversão desses procedimentos no sistema público de saú- de 1986.
de, com garantia de acesso a informações sobre as escolhas Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
individuais. da Presidência da República
Responsáveis: Ministério da Saúde; Secretaria Especial
de Políticas para as Mulheres da Presidência da República Objetivo estratégico V:
l) Ampliar a oferta de medicamentos de uso contínuo, Acesso à educação de qualidade e garantia de perma-
especiais e excepcionais, para a pessoa idosa. nência na escola.
Responsável: Ministério da Saúde Ações programáticas:
m) Realizar campanhas de diagnóstico precoce e trata- a) Ampliar o acesso a educação básica, a permanência
mento adequado às pessoas que vivem com HIV/AIDS para na escola e a universalização do ensino no atendimento à
evitar o estágio grave da doença e prevenir sua expansão e educação infantil.
disseminação. Responsável: Ministério da Educação
Responsável: Ministério da Saúde b) Assegurar a qualidade do ensino formal público com
n) Proporcionar às pessoas que vivem com HIV/AIDS pro- seu monitoramento contínuo e atualização curricular.
gramas de atenção no âmbito da saúde sexual e reprodutiva. Responsáveis: Ministério da Educação; Secretaria Espe-
Responsáveis: Ministério da Saúde; Secretaria Especial cial dos Direitos Humanos da Presidência da República
de Políticas para as Mulheres da Presidência da República c) Desenvolver programas para a reestruturação das es-
o) Capacitar os agentes comunitários de saúde que reali- colas como pólos de integração de políticas educacionais,
zam a triagem e a captação nas hemorredes para praticarem culturais e de esporte e lazer.
abordagens sem preconceito e sem discriminação. Responsáveis: Ministério da Educação; Ministério da
Responsáveis: Ministério da Saúde; Secretaria Especial Cultura; Ministério do Esporte
dos Direitos Humanos da Presidência da República d) Apoiar projetos e experiências de integração da escola
p) Garantir o acompanhamento multiprofissional a pesso- com a comunidade que utilizem sistema de alternância.
as transexuais que fazem parte do processo transexualizador Responsável: Ministério da Educação
no Sistema Único de Saúde e de suas famílias. e) Adequar o currículo escolar, inserindo conteúdos que
Responsáveis: Ministério da Saúde; Secretaria Especial valorizem as diversidades, as práticas artísticas, a necessi-
dos Direitos Humanos da Presidência da República dade de alimentação adequada e saudável e as atividades
q) Apoiar o acesso a programas de saúde preventiva e de físicas e esportivas.
proteção à saúde para profissionais do sexo. Responsáveis: Ministério da Educação; Ministério da
Responsáveis: Ministério da Saúde; Secretaria Especial Cultura; Ministério do Esporte; Ministério da Saúde
de Políticas para as Mulheres da Presidência da República f) Integrar os programas de alfabetização de jovens e
r) Apoiar a implementação de espaços essenciais para adultos aos programas de qualificação profissional e educa-
higiene pessoal e centros de referência para a população ção cidadã, apoiando e incentivando a utilização de meto-
em situação de rua. dologias adequadas às realidades dos povos e comunidades
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos tradicionais.
da Presidência da República; Ministério do Desenvolvimento Responsáveis: Ministério da Educação; Ministério do
Social e Combate à Fome Desenvolvimento Social e Combate à Fome; Ministério do
s) Investir na política de reforma psiquiátrica fomentando Trabalho e Emprego; Ministério da Pesca e Aquicultura
programas de tratamentos substitutivos à internação, que g) Estimular e financiar programas de extensão universi-
garantam às pessoas com transtorno mental a possibilidade tária como forma de integrar o estudante à realidade social.
Direitos Humanos e Cidadania

de escolha autônoma de tratamento, com convivência fa- Responsável: Ministério da Educação


miliar e acesso aos recursos psiquiátricos e farmacológicos. h) Fomentar as ações afirmativas para o ingresso das po-
Responsáveis: Ministério da Saúde; Secretaria Especial pulações negra, indígena e de baixa renda no ensino superior.
dos Direitos Humanos da Presidência da República; Minis- Responsáveis: Ministério da Educação; Secretaria Espe-
tério da Cultura cial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presi-
t) Implementar medidas destinadas a desburocratizar dência da República; Ministério da Justiça
os serviços do Instituto Nacional de Seguro Social para a i) Ampliar o ensino superior público de qualidade por
concessão de aposentadorias e benefícios. meio da criação permanente de universidades federais, cur-
Responsável: Ministério da Previdência Social sos e vagas para docentes e discentes.
u) Estimular a incorporação do trabalhador urbano e rural Responsável: Ministério da Educação
ao regime geral da previdência social. j) Fortalecer as iniciativas de educação popular por meio
Responsável: Ministério da Previdência Social da valorização da arte e da cultura, apoiando a realização
v) Assegurar a inserção social das pessoas atingidas pela de festivais nas comunidades tradicionais e valorizando as
hanseníase isoladas e internadas em hospitais-colônias. diversas expressões artísticas nas escolas e nas comunidades.

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
Responsáveis: Ministério da Educação; Ministério da responsabilidade e para o combate ao preconceito quanto
Cultura; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Pre- à inserção das mulheres no mercado de trabalho.
sidência da República Responsáveis: Secretaria Especial de Políticas para as
k) Ampliar o acesso a programas de inclusão digital para Mulheres da Presidência da República; Ministério do Tra-
populações de baixa renda em espaços públicos, especial- balho e Emprego
mente escolas, bibliotecas e centros comunitários. j) Elaborar diagnósticos com base em ações judiciais
Responsáveis: Ministério da Educação; Ministério da que envolvam atos de assédio moral, sexual e psicológico,
Cultura; Ministério da Ciência e Tecnologia; Ministério da com apuração de denúncias de desrespeito aos direitos das
Pesca e Aquicultura trabalhadoras e trabalhadores, visando orientar ações de
l) Fortalecer programas de educação no campo e nas combate à discriminação e abuso nas relações de trabalho.
comunidades pesqueiras que estimulem a permanência dos Responsáveis: Ministério do Trabalho e Emprego; Secre-
estudantes na comunidade e que sejam adequados às res- taria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial
pectivas culturas e identidades. da Presidência da República; Secretaria Especial de Políticas
Responsáveis: Ministério da Educação; Ministério do para as Mulheres da Presidência da República; Secretaria
Desenvolvimento Agrário; Ministério da Pesca e Aquicultura Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República
k) Garantir a igualdade de direitos das trabalhadoras e
Objetivo estratégico VI: trabalhadores domésticos com os dos demais trabalhadores.
Garantia do trabalho decente, adequadamente remu- Responsáveis: Ministério do Trabalho e Emprego; Secre-
nerado, exercido em condições de equidade e segurança. taria Especial de Políticas para as Mulheres da Presidência
Ações programáticas: da República; Ministério da Previdência Social
a) Apoiar a agenda nacional de trabalho decente por l) Promover incentivos a empresas para que empreguem
meio do fortalecimento do seu comitê executivo e da efeti- os egressos do sistema penitenciário.
vação de suas ações. Responsáveis: Ministério da Fazenda; Ministério do Tra-
Responsável: Ministério do Trabalho e Emprego balho e Emprego; Ministério da Justiça
b) Fortalecer programas de geração de emprego, am- m) Criar cadastro nacional e relatório periódico de em-
pliando progressivamente o nível de ocupação e priorizando pregabilidade de egressos do sistema penitenciário.
a população de baixa renda e os Estados com elevados índices Responsável: Ministério da Justiça
de emigração.
n) Garantir os direitos trabalhistas e previdenciários de
Responsável: Ministério do Trabalho e Emprego
profissionais do sexo por meio da regulamentação de sua
c) Ampliar programas de economia solidária, mediante
profissão.
políticas integradas, como alternativa de geração de traba-
Responsáveis: Ministério do Trabalho e Emprego; Secre-
lho e renda, e de inclusão social, priorizando os jovens das
taria Especial de Políticas para as Mulheres da Presidência
famílias beneficiárias do Programa Bolsa Família.
Responsáveis: Ministério do Trabalho e Emprego; Minis- da República.
tério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome
d) Criar programas de formação, qualificação e inserção Objetivo estratégico VII:
profissional e de geração de emprego e renda para jovens, Combate e prevenção ao trabalho escravo.
população em situação de rua e população de baixa renda. Ações programáticas:
Responsáveis: Ministério do Trabalho e Emprego; Mi- a) Promover a efetivação do Plano Nacional para Erradi-
nistério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome; Mi- cação do Trabalho Escravo.
nistério da Educação Responsáveis: Ministério do Trabalho e Emprego; Se-
e) Integrar as ações de qualificação profissional às ativi- cretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da
dades produtivas executadas com recursos públicos, como República
forma de garantir a inserção no mercado de trabalho. b) Apoiar a coordenação e implementação de planos es-
Responsáveis: Ministério do Trabalho e Emprego; Minis- taduais, distrital e municipais para erradicação do trabalho
tério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome escravo.
f) Criar programas de formação e qualificação profissio- Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
nal para pescadores artesanais, industriais e aquicultores da Presidência da República
familiares. c) Monitorar e articular o trabalho das comissões esta-
Responsáveis: Ministério do Trabalho e Emprego; Minis- duais, distrital e municipais para a erradicação do trabalho
tério da Pesca e Aquicultura escravo.
g) Combater as desigualdades salariais baseadas em dife- Responsáveis: Ministério do Trabalho e Emprego; Se-
renças de gênero, raça, etnia e das pessoas com deficiência. cretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da
Responsáveis: Ministério do Trabalho e Emprego; Se- República
Direitos Humanos e Cidadania

cretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da d) Apoiar a alteração da Constituição para prever a ex-
República propriação dos imóveis rurais e urbanos nos quais forem
h) Acompanhar a implementação do Programa Nacional encontrados trabalhadores reduzidos à condição análoga a
de Ações Afirmativas, instituído pelo Decreto nº 4.228/2002, de escravos.
no âmbito da administração pública federal, direta e indireta, Responsáveis: Ministério do Trabalho e Emprego; Secre-
com vistas à realização de metas percentuais da ocupação taria de Relações Institucionais da Presidência da República;
de cargos comissionados pelas mulheres, população negra Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da
e pessoas com deficiência. República
Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos e) Identificar periodicamente as atividades produtivas
da Presidência da República em que há ocorrência de trabalho escravo adulto e infantil.
i) Realizar campanhas envolvendo a sociedade civil orga- Responsáveis: Ministério do Trabalho e Emprego; Se-
nizada sobre paternidade responsável, bem como ampliar a cretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da
licença-paternidade, como forma de contribuir para a cor- República

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
f) Propor marco legal e ações repressivas para erradicar Objetivo estratégico IX:
a intermediação ilegal de mão de obra. Garantia da participação igualitária e acessível na vida
Responsáveis: Ministério do Trabalho e Emprego; Se- política.
cretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da Ações programáticas:
República; Secretaria Especial de Políticas de Promoção da a) Apoiar campanhas para promover a ampla divulgação
Igualdade Racial do direito ao voto e participação política de homens e mu-
g) Promover a destinação de recursos do Fundo de Ampa- lheres, por meio de campanhas informativas que garantam
ro ao Trabalhador (FAT) para capacitação técnica e profissio- a escolha livre e consciente.
nalizante de trabalhadores rurais e de povos e comunidades Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial
tradicionais, como medida preventiva ao trabalho escravo, de Políticas para as Mulheres da Presidência da República
assim como para implementação de política de reinserção b) Apoiar o combate ao crime de captação ilícita de su-
social dos libertados da condição de trabalho escravo. frágio, inclusive com campanhas de esclarecimento e cons-
Responsáveis: Ministério do Trabalho e Emprego; Se- cientização dos eleitores.
cretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da Responsável: Ministério da Justiça
República c) Apoiar os projetos legislativos para o financiamento
h) Atualizar e divulgar semestralmente o cadastro de público de campanhas eleitorais.
empregadores que utilizaram mão de obra escrava. Responsável: Ministério da Justiça
Responsáveis: Ministério do Trabalho e Emprego; Se- d) Garantir acesso irrestrito às zonas eleitorais por meio
cretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da de transporte público e acessível e apoiar a criação de zonas
República eleitorais em áreas de difícil acesso.
Responsáveis: Ministério da Justiça; Ministério das Ci-
Objetivo estratégico VIII: dades
Promoção do direito à cultura, lazer e esporte como e) Promover junto aos povos indígenas ações de educa-
elementos formadores de cidadania. ção e capacitação sobre o sistema político brasileiro.
Ações programáticas: Responsável: Ministério da Justiça
a) Ampliar programas de cultura que tenham por finalida- f) Apoiar ações de formação política das mulheres em
de planejar e implementar políticas públicas para a proteção sua diversidade étnico-racial, estimulando candidaturas e
e promoção da diversidade cultural brasileira, em formatos votos de mulheres em todos os níveis.
acessíveis. Responsável: Secretaria Especial de Políticas para as Mu-
Responsáveis: Ministério da Cultura; Ministério do Es- lheres da Presidência da República
porte g) Garantir e estimular a plena participação das pesso-
b) Elaborar programas e ações de cultura que conside- as com deficiência no ato do sufrágio, seja como eleitor ou
rem os formatos acessíveis, as demandas e as características candidato, assegurando os mecanismos de acessibilidade
específicas das diferentes faixas etárias e dos grupos sociais. necessários, inclusive a modalidade do voto assistido.
Responsável: Ministério da Cultura Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
c) Fomentar políticas públicas de esporte e lazer, consi- da Presidência da República
derando as diversidades locais, de forma a atender a todas
as faixas etárias e aos grupos sociais. Diretriz 8: Promoção dos direitos de crianças e ado-
Responsável: Ministério do Esporte lescentes para o seu desenvolvimento integral, de forma
d) Elaborar inventário das línguas faladas no Brasil. não discriminatória, assegurando seu direito de opinião e
Responsável: Ministério da Cultura participação.
e) Ampliar e desconcentrar os pólos culturais e pontos
de cultura para garantir o acesso das populações de regiões Objetivo estratégico I:
periféricas e de baixa renda. Proteger e garantir os direitos de crianças e adolescentes
Responsável: Ministério da Cultura por meio da consolidação das diretrizes nacionais do ECA,
f) Fomentar políticas públicas de formação em esporte da Política Nacional de Promoção, Proteção e Defesa dos
e lazer, com foco na intersetorialidade, na ação comunitária Direitos da Criança e do Adolescente e da Convenção sobre
na intergeracionalidade e na diversidade cultural. os Direitos da Criança da ONU.
Responsável: Ministério do Esporte Ações programáticas:
g) Ampliar o desenvolvimento de programas de produção a) Formular plano de médio prazo e decenal para a po-
audiovisual, musical e artesanal dos povos indígenas. lítica nacional de promoção, proteção e defesa dos direitos
Responsáveis: Ministério da Cultura; Ministério da Justiça da criança e do adolescente.
h) Assegurar o direito das pessoas com deficiência e em Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
sofrimento mental de participarem da vida cultural em igual- da Presidência da República
Direitos Humanos e Cidadania

dade de oportunidade com as demais, e de desenvolver e b) Desenvolver e implementar metodologias de acom-


utilizar o seu potencial criativo, artístico e intelectual. panhamento e avaliação das políticas e planos nacionais
Responsáveis: Ministério do Esporte; Ministério da Cultu- referentes aos direitos de crianças e adolescentes.
ra; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
da República da Presidência da República
i) Fortalecer e ampliar programas que contemplem par- c) Elaborar e implantar sistema de coordenação da po-
ticipação dos idosos nas atividades de esporte e lazer. lítica dos direitos da criança e do adolescente em todos os
Responsáveis: Ministério do Esporte; Secretaria Especial níveis de governo, para atender às recomendações do Comitê
dos Direitos Humanos da Presidência da República sobre Direitos da Criança, dos relatores especiais e do Comitê
j) Potencializar ações de incentivo ao turismo para pes- sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais da ONU.
soas idosas. Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Huma-
Responsáveis: Ministério do Turismo; Secretaria Especial nos da Presidência da República; Ministério das Relações
dos Direitos Humanos da Presidência da República Exteriores

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d) Criar sistema nacional de coleta de dados e monitora- b) Desenvolver programas nas redes de assistência social,
mento junto aos Municípios, Estados e Distrito Federal acerca de educação e de saúde para o fortalecimento do papel das
do cumprimento das obrigações da Convenção dos Direitos famílias em relação ao desenvolvimento infantil e à disciplina
da Criança da ONU. não violenta.
Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Huma-
da Presidência da República nos da Presidência da República; Ministério da Educação;
e) Assegurar a opinião das crianças e dos adolescentes Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome;
que estiverem capacitados a formular seus próprios juízos, Ministério da Saúde
conforme o disposto no artigo 12 da Convenção sobre os c) Propor marco legal para a abolição das práticas de
Direitos da Criança, na formulação das políticas públicas vol- castigos físicos e corporais contra crianças e adolescentes.
tadas para estes segmentos, garantindo sua participação nas Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
conferências dos direitos das crianças e dos adolescentes. da Presidência da República; Ministério da Justiça
Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos d) Implantar sistema nacional de registro de ocorrência
da Presidência da República de violência escolar, incluindo as práticas de violência gratuita
e reiterada entre estudantes (bullying), adotando formulário
Objetivo estratégico II: unificado de registro a ser utilizado por todas as escolas.
Consolidar o Sistema de Garantia de Direitos de Crianças Responsável: Ministério da Educação
e Adolescentes, com o fortalecimento do papel dos Conse- e) Apoiar iniciativas comunitárias de mobilização de crian-
lhos Tutelares e de Direitos. ças e adolescentes em estratégias preventivas, com vistas a
Ações programáticas: minimizar sua vulnerabilidade em contextos de violência.
a) Apoiar a universalização dos Conselhos Tutelares e Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
de Direitos em todos os Municípios e no Distrito Federal, e da Presidência da República; Ministério da Justiça; Ministério
instituir parâmetros nacionais que orientem o seu funcio- do Esporte; Ministério do Turismo
namento. f) Extinguir os grandes abrigos e eliminar a longa perma-
Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos nência de crianças e adolescentes em abrigamento, adequan-
da Presidência da República do os serviços de acolhimento aos parâmetros aprovados
b) Implantar escolas de conselhos nos Estados e no Distri- pelo CONANDA e CNAS.
to Federal, com vistas a apoiar a estruturação e qualificação Responsável: Ministério do Desenvolvimento Social e
da ação dos Conselhos Tutelares e de Direitos. Combate à Fome
Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos g) Fortalecer as políticas de apoio às famílias para a redu-
da Presidência da República ção dos índices de abandono e institucionalização, com prio-
c) Apoiar a capacitação dos operadores do sistema de ridade aos grupos familiares de crianças com deficiências.
garantia dos direitos para a proteção dos direitos e promo- Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
ção do modo de vida das crianças e adolescentes indígenas, da Presidência da República; Ministério do Desenvolvimento
afrodescendentes e comunidades tradicionais, contemplan- Social e Combate à Fome
do ainda as especificidades da população infanto-juvenil com h) Ampliar a oferta de programas de famílias acolhedo-
deficiência. ras para crianças e adolescentes em situação de violência,
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos com o objetivo de garantir que esta seja a única opção para
da Presidência da República; Ministério da Justiça crianças retiradas do convívio com sua família de origem na
d) Fomentar a criação de instâncias especializadas e re- primeira infância.
gionalizadas do sistema de justiça, de segurança e defenso- Responsável: Ministério do Desenvolvimento Social e
rias públicas, para atendimento de crianças e adolescentes Combate à Fome
vítimas e autores de violência. i) Estruturar programas de moradia coletivas para ado-
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos lescentes e jovens egressos de abrigos institucionais.
da Presidência da República; Ministério da Justiça Responsável: Ministério do Desenvolvimento Social e
e) Desenvolver mecanismos que viabilizem a participação Combate à Fome
de crianças e adolescentes no processo das conferências dos j) Fomentar a adoção legal, por meio de campanhas
direitos, nos conselhos de direitos, bem como nas escolas, educativas, em consonância com o ECA e com acordos in-
nos tribunais e nos procedimentos judiciais e administrativos ternacionais.
que os afetem. Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Huma-
Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos nos da Presidência da República; Ministério das Relações
da Presidência da República Exteriores
f) Estimular a informação às crianças e aos adolescentes k) Criar serviços e aprimorar metodologias para identifi-
sobre seus direitos, por meio de esforços conjuntos na esco- cação e localização de crianças e adolescentes desaparecidos.
Direitos Humanos e Cidadania

la, na mídia impressa, na televisão, no rádio e na Internet. Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República
da Presidência da República; Ministério da Educação l) Exigir em todos os projetos financiados pelo Gover-
no Federal a adoção de estratégias de não discriminação
Objetivo estratégico III: de crianças e adolescentes em razão de classe, raça, etnia,
Proteger e defender os direitos de crianças e adoles- crença, gênero, orientação sexual, identidade de gênero,
centes com maior vulnerabilidade. deficiência, prática de ato infracional e origem.
Ações programáticas: Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
a) Promover ações educativas para erradicação da vio- da Presidência da República
lência na família, na escola, nas instituições e na comunidade m) Reforçar e centralizar os mecanismos de coleta e
em geral, implementando as recomendações expressas no análise sistemática de dados desagregados da infância e
Relatório Mundial de Violência contra a Criança da ONU. adolescência, especialmente sobre os grupos em situação
Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos de vulnerabilidade, historicamente vulnerabilizados, vítimas
da Presidência da República de discriminação, de abuso e de negligência.

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos b) Fortalecer políticas de saúde que contemplem pro-
da Presidência da República gramas de desintoxicação e redução de danos em casos de
n) Estruturar rede de canais de denúncias (Disques) de dependência química.
violência contra crianças e adolescentes, integrada aos Con- Responsável: Ministério da Saúde
selhos Tutelares.
Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos Objetivo estratégico VI:
da Presidência da República Erradicação do trabalho infantil em todo o território
o) Estabelecer instrumentos para combater a discrimina- nacional.
ção religiosa sofrida por crianças e adolescentes. Ações programáticas:
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos a) Erradicar o trabalho infantil, por meio das ações inter-
da Presidência da República setoriais no Governo Federal, com ênfase no apoio às famílias
e educação em tempo integral.
Objetivo estratégico IV: Responsáveis: Ministério do Trabalho e Emprego; Minis-
Enfrentamento da violência sexual contra crianças e tério da Educação; Secretaria Especial dos Direitos Humanos
adolescentes. da Presidência da República
Ações programáticas: b) Fomentar a implantação da Lei de Aprendizagem (Lei
a) Revisar o Plano Nacional de Enfrentamento à Violência nº 10.097/2000), mobilizando empregadores, organizações
Sexual contra Crianças e Adolescentes, em consonância com de trabalhadores, inspetores de trabalho, Judiciário, orga-
as recomendações do III Congresso Mundial sobre o tema. nismos internacionais e organizações não governamentais.
Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos Responsável: Ministério do Trabalho e Emprego
da Presidência da República c) Desenvolver pesquisas, campanhas e relatórios perió-
b) Ampliar o acesso e qualificar os programas especializa- dicos sobre o trabalho infantil, com foco em temas e públicos
dos em saúde, educação e assistência social, no atendimento que requerem abordagens específicas, tais como agricultura
a crianças e adolescentes vítimas de violência sexual e de familiar, trabalho doméstico, trabalho de rua.
suas famílias Responsáveis: Ministério do Trabalho e Emprego; Secre-
Responsáveis: Ministério da Saúde; Ministério da Edu- taria Especial de Políticas para as Mulheres da Presidência
cação; Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à da República; Ministério do Desenvolvimento Agrário; Se-
Fome; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presi- cretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da
dência da República República; Ministério do Desenvolvimento Social e Combate
c) Desenvolver protocolos unificados de atendimento à Fome; Ministério da Justiça
psicossocial e jurídico a vítimas de violência sexual.
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos Objetivo estratégico VII:
da Presidência da República; Ministério da Saúde; Ministério Implementação do Sistema Nacional de Atendimento
do Desenvolvimento Social e Combate à Fome; Secretaria Socioeducativo (SINASE).
Especial de Políticas para as Mulheres da Presidência da Ações programáticas:
República a) Elaborar e implementar um plano nacional socioeduca-
d) Desenvolver ações específicas para combate à vio- tivo e sistema de avaliação da execução das medidas daquele
lência e à exploração sexual de crianças e adolescentes em sistema, com divulgação anual de seus resultados e estabe-
situação de rua. lecimento de metas, de acordo com o estabelecido no ECA.
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
da Presidência da República; Ministério do Desenvolvimento da Presidência da República
Social e Combate à Fome. b) Implantar módulo específico de informações para o
e) Estimular a responsabilidade social das empresas para sistema nacional de atendimento educativo junto ao Sistema
ações de enfrentamento da exploração sexual e de combate de Informação para a Infância e Adolescência, criando base
ao trabalho infantil em suas organizações e cadeias produ- de dados unificada que inclua as varas da infância e juven-
tivas. tude, as unidades de internação e os programas municipais
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos em meio aberto.
da Presidência da República; Ministério do Trabalho e Em- Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
prego; Ministério do Turismo; da Presidência da República
f) Combater a pornografia infanto-juvenil na Internet, por c) Implantar centros de formação continuada para os
meio do fortalecimento do Hot Line Federal e da difusão de operadores do sistema socioeducativo em todos os Estados
procedimentos de navegação segura para crianças, adoles- e no Distrito Federal.
centes, famílias e educadores. Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
Direitos Humanos e Cidadania

Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial da Presidência da República; Ministério da Educação; Minis-
dos Direitos Humanos da Presidência da República; Minis- tério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome
tério da Educação d) Desenvolver estratégias conjuntas com o sistema de
justiça, com vistas ao estabelecimento de regras específicas
Objetivo estratégico V: para a aplicação da medida de privação de liberdade em
Garantir o atendimento especializado a crianças e ado- caráter excepcional e de pouca duração.
lescentes em sofrimento psíquico e dependência química. Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
Ações programáticas: da Presidência da República
a) Universalizar o acesso a serviços de saúde mental para e) Apoiar a expansão de programas municipais de aten-
crianças e adolescentes em cidades de grande e médio por- dimento socioeducativo em meio aberto.
te, incluindo a garantia de retaguarda para as unidades de Responsáveis: Ministério do Desenvolvimento Social e
internação socioeducativa. Combate à Fome; Secretaria Especial dos Direitos Humanos
Responsável: Ministério da Saúde da Presidência da República

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
f) Apoiar os Estados e o Distrito Federal na implementa- d) Realizar levantamento de informações para produção
ção de programas de atendimento ao adolescente em priva- de relatórios periódicos de acompanhamento das políticas
ção de liberdade, com garantia de escolarização, atendimen- contra a discriminação racial, contendo, entre outras, in-
to em saúde, esporte, cultura e educação para o trabalho, formações sobre inclusão no sistema de ensino (básico e
condicionando a transferência voluntária de verbas federais superior), inclusão no mercado de trabalho, assistência inte-
à observância das diretrizes do plano nacional. grada à saúde, número de violações registradas e apuradas,
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos recorrências de violações, e dados populacionais e de renda.
da Presidência da República; Ministério da Educação; Minis- Responsáveis: Secretaria Especial de Políticas de Pro-
tério da Saúde; Ministério do Esporte; Ministério da Cultura; moção da Igualdade Racial da Presidência da República;
Ministério do Trabalho e Emprego Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da
g) Garantir aos adolescentes privados de liberdade e suas República
famílias informação sobre sua situação legal, bem como aces- e) Analisar periodicamente os indicadores que apontam
so à defesa técnica durante todo o período de cumprimento desigualdades visando à formulação e implementação de
da medida socioeducativa. políticas públicas afirmativas que valorizem a promoção da
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos igualdade racial.
da Presidência da República; Ministério da Justiça Responsáveis: Secretaria Especial de Políticas de Pro-
h) Promover a transparência das unidades de internação moção da Igualdade Racial da Presidência da República;
de adolescentes em conflito com a lei, garantindo o contato Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da
com a família e a criação de comissões mistas de inspeção República; Ministério da Educação; Ministério do Trabalho e
e supervisão. Emprego; Ministério do Desenvolvimento Social e Combate
Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos à Fome; Ministério da Saúde
da Presidência da República f) Fortalecer a integração das políticas públicas em todas
i) Fomentar a desativação dos grandes complexos de uni- as comunidades remanescentes de quilombos localizadas no
dades de internação, por meio do apoio à reforma e cons- território brasileiro.
trução de novas unidades alinhadas aos parâmetros estabe- Responsáveis: Secretaria Especial de Políticas de Pro-
lecidos no SINASE e no ECA, em especial na observância da moção da Igualdade Racial da Presidência da República;
separação por sexo, faixa etária e compleição física. Ministério da Cultura
Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos g) Fortalecer os mecanismos existentes de reconheci-
da Presidência da República mento das comunidades quilombolas como garantia dos seus
j) Desenvolver campanhas de informação sobre o ado- direitos específicos .
lescente em conflito com a lei, defendendo a não redução Responsáveis: Ministério do Desenvolvimento Agrário;
da maioridade penal. Ministério da Cultura; Secretaria Especial de Política de Pro-
Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos moção da Igualdade Racial da Presidência da República
da Presidência da República h) Fomentar programas de valorização do patrimônio
k) Estabelecer parâmetros nacionais para a apuração cultural das populações negras.
administrativa de possíveis violações dos direitos e casos Responsável: Ministério da Cultura; Secretaria Especial
de tortura em adolescentes privados de liberdade, por meio
de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República
de sistema independente e de tramitação ágil.
i) Assegurar o resgate da memória das populações negras,
Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
mediante a publicação da história de resistência e resgate
da Presidência da República
de tradições das populações das diásporas.
Responsável: Secretaria Especial de Políticas de Promo-
Diretriz 9: Combate às desigualdades estruturais.
ção da Igualdade Racial da Presidência da República
Objetivo estratégico I:
Igualdade e proteção dos direitos das populações ne- Objetivo estratégico II:
gras, historicamente afetadas pela discriminação e outras Garantia aos povos indígenas da manutenção e resgate
formas de intolerância. das condições de reprodução, assegurando seus modos de
Ações programáticas: vida.
a) Apoiar, junto ao Poder Legislativo, a aprovação do Es- Ações programáticas:
tatuto da Igualdade Racial. a) Assegurar a integridade das terras indígenas para
Responsáveis: Secretaria Especial de Políticas de Pro- proteger e promover o modo de vida dos povos indígenas.
moção da Igualdade Racial da Presidência da República; Responsável: Ministério da Justiça
Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da b) Proteger os povos indígenas isolados e de recente con-
República tato para garantir sua reprodução cultural e etnoambiental.
Responsável: Ministério da Justiça
Direitos Humanos e Cidadania

b) Promover ações articuladas entre as políticas de edu-


cação, cultura, saúde e de geração de emprego e renda, vi- c) Aplicar os saberes dos povos indígenas e das comuni-
sando incidir diretamente na qualidade de vida da população dades tradicionais na elaboração de políticas públicas, res-
negra e no combate à violência racial. peitando a Convenção nº 169 da OIT.
Responsáveis: Secretaria Especial de Políticas de Pro- Responsável: Ministério da Justiça
moção da Igualdade Racial da Presidência da República; d) Apoiar projetos de lei com objetivo de revisar o Esta-
Ministério da Educação; Ministério do Trabalho e Emprego; tuto do Índio com base no texto constitucional de 1988 e na
Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome; Convenção nº 169 da OIT.
Ministério da Saúde Responsável: Ministério da Justiça
c) Elaborar programas de combate ao racismo institucio- e) Elaborar relatório periódico de acompanhamento das
nal e estrutural, implementando normas administrativas e políticas indigenistas que contemple dados sobre os proces-
legislação nacional e internacional. sos de demarcações das terras indígenas, dados sobre intru-
Responsável: Secretaria Especial de Políticas de Promo- sões e conflitos territoriais, inclusão no sistema de ensino
ção da Igualdade Racial da Presidência da República (básico e superior), assistência integrada à saúde, número de

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
violações registradas e apuradas, recorrências de violações e) Ampliar o financiamento de abrigos para mulheres em
e dados populacionais. situação de vulnerabilidade, garantindo plena acessibilidade.
Responsável: Ministério da Justiça Responsáveis: Secretaria Especial de Políticas para as
f) Proteger e promover os conhecimentos tradicionais e Mulheres da Presidência da República; Ministério do De-
medicinais dos povos indígenas. senvolvimento Social e Combate à Fome
Responsáveis: Ministério da Justiça; Ministério da Saúde f) Propor tratamento preferencial de atendimento às
g) Implementar políticas de proteção do patrimônio dos mulheres em situação de violência doméstica e familiar nos
povos indígenas, por meio dos registros material e imaterial, Conselhos Gestores do Fundo Nacional de Habitação de In-
mapeando os sítios históricos e arqueológicos, a cultura, as teresse Social e junto ao Fundo de Desenvolvimento Social.
línguas e a arte. Responsáveis: Secretaria Especial de Políticas para as Mu-
Responsáveis: Ministério da Cultura; Ministério da Justiça lheres da Presidência da República; Ministério das Cidades;
h) Promover projetos e pesquisas para resgatar a história Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome
dos povos indígenas. g) Considerar o aborto como tema de saúde pública, com
Responsável: Ministério da Justiça a garantia do acesso aos serviços de saúde. (Redação dada
i) Promover ações culturais para o fortalecimento da edu- pelo Decreto nº 7.177, de 2010)
cação escolar dos povos indígenas, estimulando a valorização Responsáveis: Ministério da Saúde; Secretaria Especial
de suas próprias formas de produção do conhecimento. de Políticas para as Mulheres da Presidência da República;
Responsáveis: Ministério da Cultura; Ministério da Justiça Ministério da Justiça
j) Garantir o acesso à educação formal pelos povos indí- h) Realizar campanhas e ações educativas para descons-
genas, bilíngues e com adequação curricular formulada com truir os estereótipos relativos às profissionais do sexo.
a participação de representantes das etnias indigenistas e Responsável: Secretaria Especial de Políticas para as Mu-
especialistas em educação. lheres da Presidência da República
Responsáveis: Ministério da Justiça; Ministério da Edu-
cação Diretriz 10: Garantia da igualdade na diversidade.
k) Assegurar o acesso e permanência da população in-
dígena no ensino superior, por meio de ações afirmativas e Objetivo estratégico I:
respeito à diversidade étnica e cultural. Afirmação da diversidade para construção de uma so-
Responsáveis: Ministério da Justiça; Ministério da Edu- ciedade igualitária.
cação Ações programáticas:
l) Adotar medidas de proteção dos direitos das crianças a) Realizar campanhas e ações educativas para descons-
indígenas nas redes de ensino, saúde e assistência social, trução de estereótipos relacionados com diferenças étnico-
em consonância com a promoção dos seus modos de vida. -raciais, etárias, de identidade e orientação sexual, de pesso-
Responsáveis: Ministério da Educação; Ministério da as com deficiência, ou segmentos profissionais socialmente
Saúde; Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à discriminados.
Fome; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presi- Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
dência da República da Presidência da República; Secretaria Especial de Políticas
de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da Repú-
Objetivo estratégico III: blica; Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres da
Garantia dos direitos das mulheres para o estabeleci- Presidência da República; Ministério da Cultura
mento das condições necessárias para sua plena cidadania. b) Incentivar e promover a realização de atividades de va-
Ações programáticas: lorização da cultura das comunidades tradicionais, entre elas
a) Desenvolver ações afirmativas que permitam incluir ribeirinhos, extrativistas, quebradeiras de coco, pescadores
plenamente as mulheres no processo de desenvolvimento do artesanais, seringueiros, geraizeiros, varzanteiros, pantanei-
País, por meio da promoção da sua autonomia econômica e ros, comunidades de fundo de pasto, caiçaras e faxinalenses.
de iniciativas produtivas que garantam sua independência. Responsáveis: Ministério da Cultura; Ministério do De-
Responsável: Secretaria Especial de Políticas para as Mu- senvolvimento Social e Combate à Fome; Ministério do Es-
lheres da Presidência da República porte
b) Incentivar políticas públicas e ações afirmativas para c) Fomentar a formação e capacitação em Direitos Hu-
a participação igualitária, plural e multirracial das mulheres manos, como meio de resgatar a autoestima e a dignidade
nos espaços de poder e decisão. das comunidades tradicionais, rurais e urbanas.
Responsável: Secretaria Especial de Políticas para as Mu- Responsáveis: Secretaria Especial de Políticas de Promo-
lheres da Presidência da República ção da Igualdade Racial da Presidência da República; Minis-
c) Elaborar relatório periódico de acompanhamento tério da Justiça; Ministério da Cultura
das políticas para mulheres com recorte étnico-racial, que d) Apoiar políticas de acesso a direitos para a população
Direitos Humanos e Cidadania

contenha dados sobre renda, jornada e ambiente de tra- cigana, valorizando seus conhecimentos e cultura.
balho, ocorrências de assédio moral, sexual e psicológico, Responsável: Ministério do Desenvolvimento Social e
ocorrências de violências contra a mulher, assistência à Combate à Fome
saúde integral, dados reprodutivos, mortalidade materna e e) Apoiar e valorizar a associação das mulheres quebra-
escolarização. deiras de coco, protegendo e promovendo a continuidade
Responsável: Secretaria Especial de Políticas para as Mu- de seu trabalho extrativista.
lheres da Presidência da República Responsável: Ministério do Desenvolvimento Social e
d) Divulgar os instrumentos legais de proteção às mu- Combate à Fome
lheres, nacionais e internacionais, incluindo sua publicação f) Elaborar relatórios periódicos de acompanhamento das
em formatos acessíveis, como braile, CD de áudio e demais políticas direcionadas às populações e comunidades tradi-
tecnologias assistivas. cionais, que contenham, entre outras, informações sobre
Responsável: Secretaria Especial de Políticas para as Mu- população estimada, assistência integrada à saúde, número
lheres da Presidência da República de violações registradas e apuradas, recorrência de violações,

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
lideranças ameaçadas, dados sobre acesso à moradia, terra financiamento público; sua inclusão nos sistemas de atendi-
e território e conflitos existentes. mento; número de profissionais capacitados; pessoas idosas
Responsáveis: Ministério da Justiça; Ministério da Saúde; atendidas; proporção dos casos com resoluções; taxa de rein-
Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade cidência; pessoas idosas seguradas e aposentadas; famílias
Racial da Presidência da República; Secretaria Especial dos providas por pessoas idosas; pessoas idosas em abrigos;
Direitos Humanos da Presidência da República pessoas idosas em situação de rua; principal fonte de renda
dos idosos; pessoas idosas atendidas, internadas e mortas
Objetivo estratégico II: por violência ou maus-tratos.
Proteção e promoção da diversidade das expressões Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
culturais como Direito Humano. da Presidência da República; Ministério da Saúde; Ministério
Ações programáticas: da Previdência Social; Ministério da Justiça; Ministério do
a) Promover ações de afirmação do direito à diversidade Desenvolvimento Social e Combate à Fome
das expressões culturais, garantindo igual dignidade e res-
peito para todas as culturas. Objetivo estratégico IV:
Responsável: Ministério da Cultura Promoção e proteção dos direitos das pessoas com de-
b) Incluir nos instrumentos e relatórios de políticas cul- ficiência e garantia da acessibilidade igualitária.
turais a temática dos Direitos Humanos. Ações programáticas:
Responsável: Ministério da Cultura a) Garantir às pessoas com deficiência igual e efetiva
proteção legal contra a discriminação.
Objetivo estratégico III: Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
Valorização da pessoa idosa e promoção de sua parti- da Presidência da República; Ministério da Justiça
cipação na sociedade. b) Garantir salvaguardas apropriadas e efetivas para pre-
Ações programáticas: venir abusos a pessoas com deficiência e pessoas idosas.
a) Promover a inserção, a qualidade de vida e a prevenção Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
de agravos aos idosos, por meio de programas que fortale- da Presidência da República
çam o convívio familiar e comunitário, garantindo o acesso c) Assegurar o cumprimento do Decreto de Acessibilidade
a serviços, ao lazer, à cultura e à atividade física, de acordo (Decreto nº 5.296/2004), que garante a acessibilidade pela
com sua capacidade funcional. adequação das vias e passeios públicos, semáforos, mobi-
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos liários, habitações, espaços de lazer, transportes, prédios
da Presidência da República; Ministério da Cultura; Ministério públicos, inclusive instituições de ensino, e outros itens de
do Esporte uso individual e coletivo.
b) Apoiar a criação de centros de convivência e desen- Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
volver ações de valorização e socialização da pessoa idosa da Presidência da República; Ministério do Trabalho e Em-
nas zonas urbanas e rurais. prego; Ministério das Cidades
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos d) Garantir recursos didáticos e pedagógicos para atender
da Presidência da República; Ministério da Cultura às necessidades educativas especiais.
c) Fomentar programas de voluntariado de pessoas ido- Responsável: Ministério da Educação
sas, visando valorizar e reconhecer sua contribuição para o e) Disseminar a utilização dos sistemas braile, tadoma,
desenvolvimento e bem-estar da comunidade. escrita de sinais e libras tátil para inclusão das pessoas com
Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos deficiência em todo o sistema de ensino.
da Presidência da República Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
d) Desenvolver ações que contribuam para o protagonis- da Presidência da República; Ministério da Educação
mo da pessoa idosa na escola, possibilitando sua participação f) Instituir e implementar o ensino da Língua Brasileira
ativa na construção de uma nova percepção intergeracional. de Sinais como disciplina curricular facultativa.
Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
da Presidência da República da Presidência da República; Ministério da Educação
e) Potencializar ações com ênfase no diálogo intergera- g) Propor a regulamentação das profissões relativas à
cional, valorizando o conhecimento acumulado das pessoas implementação da acessibilidade, tais como: instrutor de Li-
idosas. bras, guia-intérprete, tradutor-intérprete, transcritor, revisor
Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos e ledor da escrita braile e treinadores de cães-guia.
da Presidência da República Responsável: Ministério do Trabalho e Emprego
f) Desenvolver ações intersetoriais para capacitação con- h) Elaborar relatórios sobre os Municípios que possuam
tinuada de cuidadores de pessoas idosas. frota adaptada para subsidiar o processo de monitoramento
Responsáveis: Ministério da Saúde; Ministério da Cultura do cumprimento e implementação da legislação de acessi-
Direitos Humanos e Cidadania

g) Desenvolver política de humanização do atendimento bilidade.


ao idoso, principalmente em instituições de longa perma- Responsáveis: Ministério das Cidades; Secretaria Especial
nência. dos Direitos Humanos da Presidência da República
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
da Presidência da República; Ministério da Cultura Objetivo estratégico V:
h) Elaborar programas de capacitação para os operadores Garantia do respeito à livre orientação sexual e identi-
dos direitos da pessoa idosa. dade de gênero.
Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos Ações programáticas:
da Presidência da República. a) Desenvolver políticas afirmativas e de promoção de
i) Elaborar relatório periódico de acompanhamento das cultura de respeito à livre orientação sexual e identidade de
políticas para pessoas idosas que contenha informações gênero, favorecendo a visibilidade e o reconhecimento social.
sobre os Centros Integrados de Atenção a Prevenção à Vio- Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
lência, tais como: quantidade existente; sua participação no da Presidência da República

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
b) Apoiar projeto de lei que disponha sobre a união civil Responsáveis: Ministério da Educação; Secretaria Espe-
entre pessoas do mesmo sexo. cial dos Direitos Humanos da Presidência da República
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos e) Realizar relatório sobre pesquisas populacionais rela-
da Presidência da República; Ministério da Justiça tivas a práticas religiosas, que contenha, entre outras, infor-
c) Promover ações voltadas à garantia do direito de ado- mações sobre número de religiões praticadas, proporção de
ção por casais homoafetivos. pessoas distribuídas entre as religiões, proporção de pessoas
Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial que já trocaram de religião, número de pessoas religiosas não
dos Direitos Humanos da Presidência da República; Secre- praticantes e número de pessoas sem religião.
taria Especial de Políticas para as Mulheres da Presidência Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
da República da Presidência da República
d) Reconhecer e incluir nos sistemas de informação do
serviço público todas as configurações familiares constituídas Eixo Orientador IV:
por lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais, com Segurança Pública, Acesso à Justiça e Combate à Vio-
base na desconstrução da heteronormatividade. lência
Responsável: Ministério do Planejamento, Orçamento
e Gestão Por muito tempo, alguns segmentos da militância em Di-
e) Desenvolver meios para garantir o uso do nome social reitos Humanos mantiveram-se distantes do debate sobre as
de travestis e transexuais. políticas públicas de segurança no Brasil. No processo de con-
Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos solidação da democracia, por diferentes razões, movimentos
da Presidência da República sociais e entidades manifestaram dificuldade no tratamento
f) Acrescentar campo para informações sobre a identi- do tema. Na base dessa dificuldade, estavam a memória
dade de gênero dos pacientes nos prontuários do sistema dos enfrentamentos com o aparato repressivo ao longo de
de saúde. duas décadas de regime ditatorial, a postura violenta vigente,
Responsável: Ministério da Saúde muitas vezes, em órgãos de segurança pública, a percepção
g) Fomentar a criação de redes de proteção dos Direitos do crime e da violência como meros subprodutos de uma
Humanos de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexu- ordem social injusta a ser transformada em seus próprios
ais (LGBT), principalmente a partir do apoio à implementação fundamentos.
de Centros de Referência em Direitos Humanos de Prevenção Distanciamento análogo ocorreu nas universidades, que,
e Combate à Homofobia e de núcleos de pesquisa e pro- com poucas exceções, não se debruçaram sobre o modelo de
moção da cidadania daquele segmento em universidades polícia legado ou sobre os desafios da segurança pública. As
públicas. polícias brasileiras, nos termos de sua tradição institucional,
Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos pouco aproveitaram da reflexão teórica e dos aportes ofere-
da Presidência da República cidos pela criminologia moderna e demais ciências sociais,
h) Realizar relatório periódico de acompanhamento das já disponíveis há algumas décadas às polícias e aos gestores
políticas contra discriminação à população LGBT, que conte- de países desenvolvidos. A cultura arraigada de rejeitar as
nha, entre outras, informações sobre inclusão no mercado de evidências acumuladas pela pesquisa e pela experiência de
trabalho, assistência à saúde integral, número de violações reforma das polícias no mundo era a mesma que expressava
registradas e apuradas, recorrências de violações, dados po- nostalgia de um passado de ausência de garantias individuais,
pulacionais, de renda e conjugais. e que identificava na idéia dos Direitos Humanos não a mais
Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos generosa entre as promessas construídas pela modernidade,
da Presidência da República mas uma verdadeira ameaça.
Estavam postas as condições históricas, políticas e cul-
Objetivo estratégico VI: turais para que houvesse um fosso aparentemente intrans-
Respeito às diferentes crenças, liberdade de culto e ga- ponível entre os temas da segurança pública e os Direitos
rantia da laicidade do Estado. Humanos.
Ações programáticas: Nos últimos anos, contudo, esse processo de estranha-
a) Instituir mecanismos que assegurem o livre exercício mento mútuo passou a ser questionado. De um lado, articu-
das diversas práticas religiosas, assegurando a proteção do lações na sociedade civil assumiram o desafio de repensar
seu espaço físico e coibindo manifestações de intolerância a segurança pública a partir de diálogos com especialistas
religiosa. na área, policiais e gestores. De outro, começaram a ser im-
Responsáveis: Ministério da Justiça; Ministério da Cultu- plantadas as primeiras políticas públicas buscando caminhos
ra; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência alternativos de redução do crime e da violência, a partir de
da República projetos centrados na prevenção e influenciados pela cultura
b) Promover campanhas de divulgação sobre a diversi- de paz.
Direitos Humanos e Cidadania

dade religiosa para disseminar cultura da paz e de respeito A proposição do Sistema Único de Segurança Pública, a
às diferentes crenças. modernização de parte das nossas estruturas policiais e a
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos aprovação de novos regimentos e leis orgânicas das polícias,
da Presidência da República; Ministério da Cultura; Secretaria a consciência crescente de que políticas de segurança pública
Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da são realidades mais amplas e complexas do que as iniciativas
Presidência da República possíveis às chamadas “forças da segurança”, o surgimento
c) (Revogado pelo Decreto nº 7.177, de 2010) de nova geração de policiais, disposta a repensar práticas e
Responsável: (Revogado pelo Decreto nº 7.177, de 2010) dogmas e, sobretudo, a cobrança da opinião pública e a maior
d) Estabelecer o ensino da diversidade e história das re- fiscalização sobre o Estado, resultante do processo de demo-
ligiões, inclusive as derivadas de matriz africana, na rede cratização, têm tornado possível a construção de agenda de
pública de ensino, com ênfase no reconhecimento das dife- reformas na área.
renças culturais, promoção da tolerância e na afirmação da O Programa Nacional de Segurança Pública com Cidada-
laicidade do Estado. nia (Pronasci) e os investimentos já realizados pelo Governo

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
Federal na montagem de rede nacional de altos estudos em O PNDH-3 apresenta neste eixo, fundamentalmente,
segurança pública, que têm beneficiado milhares de policiais propostas para que o Poder Público se aperfeiçoe no de-
em cada Estado, simbolizam, ao lado do processo de debates senvolvimento de políticas públicas de prevenção ao crime e
da 1ª Conferência Nacional de Segurança Pública, acúmulos à violência, reforçando a noção de acesso universal à Justiça
históricos significativos, que apontam para novas e mais im- como direito fundamental, e sustentando que a democra-
portantes mudanças. cia, os processos de participação e transparência, aliados
As propostas elencadas neste eixo orientador do PNDH-3 ao uso de ferramentas científicas e à profissionalização das
articulam-se com tal processo histórico de transformação e instituições e trabalhadores da segurança, assinalam os ro-
exigem muito mais do que já foi alcançado. Para tanto, parte- teiros mais promissores para que o Brasil possa avançar no
-se do pressuposto de que a realidade brasileira segue sendo caminho da paz pública.
gravemente marcada pela violência e por severos impasses
estruturais na área da segurança pública. Diretriz 11: Democratização e modernização do sistema
Problemas antigos, como a ausência de diagnósticos, de de segurança pública
planejamento e de definição formal de metas, a desvaloriza-
ção profissional dos policiais e dos agentes penitenciários, o Objetivo estratégico I:
desperdício de recursos e a consagração de privilégios dentro Modernização do marco normativo do sistema de se-
das instituições, as práticas de abuso de autoridade e de gurança pública.
violência policial contra grupos vulneráveis e a corrupção Ações programáticas:
dos agentes de segurança pública, demandam reformas tão a) Propor alteração do texto constitucional, de modo a
urgentes quanto profundas. considerar as polícias militares não mais como forças auxi-
As propostas sistematizadas no PNDH-3 agregam, nes- liares do Exército, mantendo-as apenas como força reserva.
se contexto, as contribuições oferecidas pelo processo da Responsável: Ministério da Justiça
11ª Conferência Nacional dos Direitos Humanos e avançam b) Propor a revisão da estrutura, treinamento, controle,
também sobre temas que não foram objeto de debate, tra- emprego e regimentos disciplinares dos órgãos de segurança
zendo para o PNDH-3 parte do acúmulo crítico que tem sido pública, de forma a potencializar as suas funções de combate
proposto ao País pelos especialistas e pesquisadores da área. ao crime e proteção dos direitos de cidadania, bem como
Em linhas gerais, o PNDH-3 aponta para a necessidade de garantir que seus órgãos corregedores disponham de carreira
ampla reforma no modelo de polícia e propõe o aprofunda- própria, sem subordinação à direção das instituições policiais.
mento do debate sobre a implantação do ciclo completo de Responsável: Ministério da Justiça
policiamento às corporações estaduais. Prioriza transparên- c) Propor a criação obrigatória de ouvidorias de polícias
cia e participação popular, instando ao aperfeiçoamento das independentes nos Estados e no Distrito Federal, com ouvi-
estatísticas e à publicação de dados, assim como à reformu- dores protegidos por mandato e escolhidos com participação
lação do Conselho Nacional de Segurança Pública. Contempla da sociedade.
a prevenção da violência e da criminalidade como diretriz, Responsável: Ministério da Justiça
ampliando o controle sobre armas de fogo e indicando a d) Assegurar a autonomia funcional dos peritos e a mo-
necessidade de profissionalização da investigação criminal. dernização dos órgãos periciais oficiais, como forma de incre-
Com ênfase na erradicação da tortura e na redução da le- mentar sua estruturação, assegurando a produção isenta e
talidade policial e carcerária, confere atenção especial ao es- qualificada da prova material, bem como o princípio da ampla
tabelecimento de procedimentos operacionais padronizados, defesa e do contraditório e o respeito aos Direitos Humanos.
que previnam as ocorrências de abuso de autoridade e de Responsável: Ministério da Justiça
violência institucional, e confiram maior segurança a policiais e) Promover o aprofundamento do debate sobre a insti-
e agentes penitenciários. Reafirma a necessidade de criação tuição do ciclo completo da atividade policial, com compe-
de ouvidorias independentes em âmbito federal e, inspirado tências repartidas pelas polícias, a partir da natureza e da
em tendências mais modernas de policiamento, estimula gravidade dos delitos.
as iniciativas orientadas por resultados, o desenvolvimento Responsável: Ministério da Justiça
do policiamento comunitário e voltado para a solução de f) Apoiar a aprovação do Projeto de Lei nº 1.937/2007,
problemas, elencando medidas que promovam a valorização que dispõe sobre o Sistema Único de Segurança Pública.
dos trabalhadores em segurança pública. Contempla, ainda, Responsável: Ministério da Justiça
a criação de sistema federal que integre os atuais sistemas
de proteção a vítimas e testemunhas, defensores de Direitos Objetivo estratégico II:
Humanos e crianças e adolescentes ameaçados de morte. Modernização da gestão do sistema de segurança pú-
Também como diretriz, o PNDH-3 propõe profunda blica.
reforma da Lei de Execução Penal que introduza garantias Ações programáticas:
fundamentais e novos regramentos para superar as práti- a) Condicionar o repasse de verbas federais à elaboração
Direitos Humanos e Cidadania

cas abusivas, hoje comuns. E trata as penas privativas de e revisão periódica de planos estaduais, distrital e municipais
liberdade como última alternativa, propondo a redução da de segurança pública que se pautem pela integração e pela
demanda por encarceramento e estimulando novas formas responsabilização territorial da gestão dos programas e ações.
de tratamento dos conflitos, como as sugeridas pelo meca- Responsável: Ministério da Justiça
nismo da Justiça Restaurativa. b) Criar base de dados unificada que permita o fluxo de
Reafirma-se a centralidade do direito universal de acesso informações entre os diversos componentes do sistema de
à Justiça, com a possibilidade de acesso aos tribunais por toda segurança pública e a Justiça criminal.
a população, com o fortalecimento das defensorias públicas Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial
e a modernização da gestão judicial, de modo a garantir res- dos Direitos Humanos da Presidência da República
postas judiciais mais céleres e eficazes. Destacam-se, ainda, c) Redefinir as competências e o funcionamento da Ins-
o direito de acesso à Justiça em matéria de conflitos agrários petoria-Geral das Polícias Militares e Corpos de Bombeiros
e urbanos e o necessário estímulo aos meios de soluções Militares.
pacíficas de controvérsias. Responsáveis: Ministério da Justiça; Ministério da Defesa

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
Objetivo estratégico III: Diretriz 13: Prevenção da violência e da criminalidade
Promoção dos Direitos Humanos dos profissionais do e profissionalização da investigação de atos criminosos.
sistema de segurança pública, assegurando sua formação
continuada e compatível com as atividades que exercem. Objetivo estratégico I:
Ações programáticas: Ampliação do controle de armas de fogo em circulação
a) Proporcionar equipamentos para proteção individual no País.
efetiva para os profissionais do sistema federal de segurança Ações programáticas:
pública. a) Realizar ações permanentes de estímulo ao desarma-
Responsável: Ministério da Justiça mento da população.
b) Condicionar o repasse de verbas federais aos Estados, Responsável: Ministério da Justiça
ao Distrito Federal e aos Municípios, à garantia da efetiva b) Propor reforma da legislação para ampliar as restrições
disponibilização de equipamentos de proteção individual e os requisitos para aquisição de armas de fogo por particu-
aos profissionais do sistema nacional de segurança pública. lares e empresas de segurança privada.
Responsável: Ministério da Justiça Responsável: Ministério da Justiça
c) Fomentar o acompanhamento permanente da saúde c) Propor alteração da legislação para garantir que as
mental dos profissionais do sistema de segurança pública, armas apreendidas em crimes que não envolvam disparo
mediante serviços especializados do sistema de saúde pú- sejam inutilizadas imediatamente após a perícia.
blica. Responsável: Ministério da Justiça
Responsáveis: Ministério da Justiça; Ministério da Saúde d) Registrar no Sistema Nacional de Armas todas as armas
d) Propor projeto de lei instituindo seguro para casos de fogo destruídas.
de acidentes incapacitantes ou morte em serviço para os Responsável: Ministério da Defesa
profissionais do sistema de segurança pública.
Responsável: Ministério da Justiça; Objetivo estratégico II:
e) Garantir a reabilitação e reintegração ao trabalho dos Qualificação da investigação criminal.
profissionais do sistema de segurança pública federal, nos Ações programáticas:
casos de deficiência adquirida no exercício da função. a) Propor projeto de lei para alterar o procedimento do
Responsável: Ministério da Justiça; inquérito policial, de modo a admitir procedimentos orais
gravados e transformar em peça ágil e eficiente de investi-
gação criminal voltada à coleta de evidências.
Diretriz 12: Transparência e participação popular no
Responsável: Ministério da Justiça
sistema de segurança pública e justiça criminal.
b) Fomentar o debate com o objetivo de unificar os meios
de investigação e obtenção de provas e padronizar procedi-
Objetivo estratégico I:
mentos de investigação criminal.
Publicação de dados do sistema federal de segurança Responsável: Ministério da Justiça
pública. c) Promover a capacitação técnica em investigação crimi-
Ação programática nal para os profissionais dos sistemas estaduais de segurança
a) Publicar trimestralmente estatísticas sobre: pública.
• Crimes registrados, inquéritos instaurados e concluídos, Responsável: Ministério da Justiça
prisões efetuadas, flagrantes registrados, operações realiza- d) Realizar pesquisas para qualificação dos estudos sobre
das, armas e entorpecentes apreendidos pela Polícia Federal técnicas de investigação criminal.
em cada Estado da Federação; Responsável: Ministério da Justiça
• Veículos abordados, armas e entorpecentes apreendi-
dos e prisões efetuadas pela Polícia Rodoviária Federal em Objetivo estratégico III:
cada Estado da Federação; Produção de prova pericial com celeridade e procedi-
• Presos provisórios e condenados sob custódia do siste- mento padronizado.
ma penitenciário federal e quantidade de presos trabalhando Ações programáticas:
e estudando por sexo, idade e raça ou etnia; a) Propor regulamentação da perícia oficial.
• Vitimização de policiais federais, policiais rodoviários Responsável: Ministério da Justiça
federais, membros da Força Nacional de Segurança Pública b) Propor projeto de lei para proporcionar autonomia
e agentes penitenciários federais; administrativa e funcional dos órgãos periciais federais.
• Quantidade e tipos de laudos produzidos pelos órgãos Responsável: Ministério da Justiça
federais de perícia oficial. c) Propor padronização de procedimentos e equipamen-
Responsável: Ministério da Justiça tos a serem utilizados pelas unidades periciais oficiais em
todos os exames periciais criminalísticos e médico-legais.
Direitos Humanos e Cidadania

Objetivo estratégico II: Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial


Consolidação de mecanismos de participação popular dos Direitos Humanos da Presidência da República
na elaboração das políticas públicas de segurança. d) Desenvolver sistema de dados nacional informatizado
Ações programáticas: para monitoramento da produção e da qualidade dos laudos
a) Reformular o Conselho Nacional de Segurança Pública, produzidos nos órgãos periciais.
assegurando a participação da sociedade civil organizada em Responsável: Ministério da Justiça
sua composição e garantindo sua articulação com o Conselho e) Fomentar parcerias com universidades para pesquisa
Nacional de Política Criminal e Penitenciária. e desenvolvimento de novas metodologias a serem implan-
Responsável: Ministério da Justiça tadas nas unidades periciais.
b) Fomentar mecanismos de gestão participativa das po- Responsável: Ministério da Justiça
líticas públicas de segurança, como conselhos e conferências, f) Promover e apoiar a educação continuada dos profis-
ampliando a Conferência Nacional de Segurança Pública. sionais da perícia oficial, em todas as áreas, para a formação
Responsável: Ministério da Justiça técnica e em Direitos Humanos.

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
dos Direitos Humanos da Presidência da República da Presidência da República; Ministério da Saúde; Ministério
do Desenvolvimento Social e Combate à Fome; Ministério
Objetivo estratégico IV: da Educação; Secretaria Especial de Políticas de Promoção
Fortalecimento dos instrumentos de prevenção à vio- da Igualdade Racial da Presidência da República
lência. d) Promover campanhas educativas e pesquisas voltadas
Ações programáticas: à prevenção da violência contra pessoas com deficiência,
a) Elaborar diretrizes para as políticas de prevenção à idosos, mulheres, indígenas, negros, crianças, adolescentes,
violência com o objetivo de assegurar o reconhecimento das lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, travestis e pessoas em
diferenças geracionais, de gênero, étnico-racial e de orien- situação de rua.
tação sexual. Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial da Presidência da República; Ministério do Desenvolvimento
de Políticas para as Mulheres da Presidência da República; Social e Combate à Fome; Secretaria Especial de Políticas
Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da Repú-
Racial da Presidência da República blica; Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres da
b) Realizar anualmente pesquisas nacionais de vitimi- Presidência da República; Ministério da Justiça; Ministério
zação. do Turismo; Ministério do Esporte
Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial e) Fortalecer unidade especializada em conflitos indígenas
dos Direitos Humanos da Presidência da República na Polícia Federal e garantir sua atuação conjunta com a FU-
c) Fortalecer mecanismos que possibilitem a efetiva fisca- NAI, em especial nos processos conflituosos de demarcação.
lização de empresas de segurança privada e a investigação e Responsável: Ministério da Justiça
responsabilização de policiais que delas participem de forma f) Fomentar cursos de qualificação e capacitação sobre
direta ou indireta. aspectos da cultura tradicional dos povos indígenas e sobre
Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial legislação indigenista para todas as corporações policiais,
dos Direitos Humanos da Presidência da República principalmente para as polícias militares e civis especialmen-
d) Desenvolver normas de conduta e fiscalização dos ser- te nos Estados e Municípios em que as aldeias indígenas
viços de segurança privados que atuam na área rural. estejam localizadas nas proximidades dos centros urbanos.
Responsável: Ministério da Justiça Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial
e) Elaborar diretrizes para atividades de policiamento dos Direitos Humanos da Presidência da República
comunitário e policiamento orientado para a solução de g) Fortalecer mecanismos para combater a violência
problemas, bem como catalogar e divulgar boas práticas contra a população indígena, em especial para as mulheres
dessas atividades. indígenas vítimas de casos de violência psicológica, sexual
Responsável: Ministério da Justiça e de assédio moral.
f) Elaborar diretrizes para atuação conjunta entre os ór- Responsáveis: Ministério da Justiça; Ministério da Saúde;
gãos de trânsito e os de segurança pública para reduzir a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres da Presi-
violência no trânsito. dência da República
h) Apoiar a implementação do pacto nacional de enfren-
Responsáveis: Ministério da Justiça; Ministério das Ci-
tamento à violência contra as mulheres de forma articulada
dades
com os planos estaduais de segurança pública e em con-
g) Realizar debate sobre o atual modelo de repressão e
formidade com a Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/2006).
estimular a discussão sobre modelos alternativos de trata-
Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial
mento do uso e tráfico de drogas, considerando o paradigma
de Políticas para as Mulheres da Presidência da República;
da redução de danos.
Ministério da Saúde; Secretaria Especial dos Direitos Huma-
Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial
nos da Presidência da República
dos Direitos Humanos da Presidência da República; Gabinete i) Avaliar o cumprimento da Lei Maria da Penha com
de Segurança Institucional; Ministério da Saúde base nos dados sobre tipos de violência, agressor e vítima.
Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial
Objetivo estratégico V: de Políticas para as Mulheres da Presidência da República
Redução da violência motivada por diferenças de gê- j) Fortalecer ações estratégicas de prevenção à violência
nero, raça ou etnia, idade, orientação sexual e situação de contra jovens negros.
vulnerabilidade. Responsáveis: Secretaria Especial de Políticas de Pro-
Ações programáticas: moção da Igualdade Racial da Presidência da República;
a) Fortalecer a atuação da Polícia Federal no combate e Ministério da Justiça
na apuração de crimes contra os Direitos Humanos. k) Estabelecer política de prevenção de violência contra
Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial
Direitos Humanos e Cidadania

a população em situação de rua, incluindo ações de capaci-


dos Direitos Humanos da Presidência da República tação de policiais em Direitos Humanos.
b) Garantir aos grupos em situação de vulnerabilidade Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial
o conhecimento sobre serviços de atendimento, atividades dos Direitos Humanos da Presidência da República
desenvolvidas pelos órgãos e instituições de segurança e l) Promover a articulação institucional, em conjunto com
mecanismos de denúncia, bem como a forma de acioná-los. a sociedade civil, para implementar o Plano de Ação para o
Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial Enfrentamento da Violência contra a Pessoa Idosa.
dos Direitos Humanos da Presidência da República; Secreta- Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
ria Especial de Políticas para as Mulheres da Presidência da da Presidência da República; Ministério da Justiça; Ministério
República; Secretaria Especial de Políticas de Promoção da do Desenvolvimento Social e Combate à Fome; Ministério
Igualdade Racial da Presidência da República da Saúde
c) Desenvolver e implantar sistema nacional integrado m) Fomentar a implantação do serviço de recebimento e
das redes de saúde, de assistência social e educação para a encaminhamento de denúncias de violência contra a pessoa
notificação de violência. idosa em todas as unidades da Federação.

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos tério da Justiça; Secretaria Especial de Políticas para as Mu-
da Presidência da República lheres da Presidência da República
n) Capacitar profissionais de educação e saúde para iden-
tificar e notificar crimes e casos de violência contra a pessoa Diretriz 14: Combate à violência institucional, com ên-
idosa e contra a pessoa com deficiência. fase na erradicação da tortura e na redução da letalidade
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos policial e carcerária.
da Presidência da República; Ministério da Saúde; Ministério
da Educação Objetivo estratégico I:
o) Implementar ações de promoção da cidadania e Di- Fortalecimento dos mecanismos de controle do sistema
reitos Humanos das lésbicas, gays, bissexuais, transexuais de segurança pública.
e travestis, com foco na prevenção à violência, garantindo Ações programáticas:
redes integradas de atenção. a) Criar ouvidoria de polícia com independência para
Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial exercer controle externo das atividades das Polícias Federais
dos Direitos Humanos da Presidência da República e da Força Nacional de Segurança Pública, coordenada por
um ouvidor com mandato.
Objetivo estratégico VI: Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial
Enfrentamento ao tráfico de pessoas. dos Direitos Humanos da Presidência da República
Ações programáticas: b) Fortalecer a Ouvidoria do Departamento Penitenci-
a) Desenvolver metodologia de monitoramento, disse- ário Nacional, dotando-a de recursos humanos e materiais
minação e avaliação das metas do Plano Nacional de En- necessários ao desempenho de suas atividades, propondo
frentamento ao Tráfico de Pessoas, bem como construir e sua autonomia funcional.
implementar o II Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico Responsável: Ministério da Justiça
de Pessoas. c) Condicionar a transferência voluntária de recursos
Responsáveis: Ministério da Justiça; Ministério do Tu- federais aos Estados e ao Distrito Federal ao plano de im-
rismo; Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres da plementação ou à existência de ouvidorias de polícia e do
Presidência da República; Ministério do Trabalho e Emprego; sistema penitenciário, que atendam aos requisitos de coorde-
Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da nação por ouvidor com mandato, escolhidos com participa-
República ção da sociedade civil e com independência para sua atuação.
b) Estruturar, a partir de serviços existentes, sistema na- Responsável: Ministério da Justiça
cional de atendimento às vítimas do tráfico de pessoas, de d) Elaborar projeto de lei para aperfeiçoamento da legis-
reintegração e diminuição da vulnerabilidade, especialmente lação processual penal, visando padronizar os procedimentos
de crianças, adolescentes, mulheres, transexuais e travestis. da investigação de ações policiais com resultado letal.
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos Responsável: Ministério da Justiça; Secretaria Especial
da Presidência da República; Secretaria Especial de Políticas dos Direitos Humanos da Presidência da República
para as Mulheres da Presidência da República; Ministério e) Dotar as Corregedorias da Polícia Federal, da Polícia
da Justiça Rodoviária Federal e do Departamento Penitenciário Na-
cional de recursos humanos e materiais suficientes para o
c) Implementar as ações referentes a crianças e adoles-
desempenho de suas atividades, ampliando sua autonomia
centes previstas na Política e no Plano Nacional de Enfren-
funcional.
tamento ao Tráfico de Pessoas.
Responsável: Ministério da Justiça
Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial
f) Fortalecer a inspetoria da Força Nacional de Seguran-
dos Direitos Humanos da Presidência da República
ça Pública e tornar obrigatória a publicação trimestral de
d) Consolidar fluxos de encaminhamento e monitora-
estatísticas sobre procedimentos instaurados e concluídos
mento de denúncias de casos de tráfico de crianças e ado- e sobre o número de policiais desmobilizados.
lescentes. Responsável: Ministério da Justiça
Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial g) Publicar trimestralmente estatísticas sobre procedi-
dos Direitos Humanos da Presidência da República; Secre- mentos instaurados e concluídos pelas Corregedorias da
taria Especial de Políticas para as Mulheres da Presidência Polícia Federal e da Polícia Rodoviária Federal, e sobre a
da República quantidade de policiais infratores e condenados, por cargo
e) Revisar e disseminar metodologia para atendimento e tipo de punição aplicada.
de crianças e adolescentes vítimas de tráfico. Responsável: Ministério da Justiça
Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos h) Publicar trimestralmente informações sobre pessoas
da Presidência da República mortas e feridas em ações da Polícia Federal, da Polícia Ro-
f) Fomentar a capacitação de técnicos da gestão pública, doviária Federal e da Força Nacional de Segurança Pública.
organizações não governamentais e representantes das ca-
Direitos Humanos e Cidadania

Responsável: Ministério da Justiça


deias produtivas para o enfrentamento ao tráfico de pessoas. i) Criar sistema de rastreamento de armas e de veícu-
Responsável: Ministério do Turismo los usados pela Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal e
g) Desenvolver metodologia e material didático para Força Nacional de Segurança Pública, e fomentar a criação
capacitar agentes públicos no enfrentamento ao tráfico de de sistema semelhante nos Estados e no Distrito Federal.
pessoas. Responsável: Ministério da Justiça
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
da Presidência da República; Ministério do Turismo; Minis- Objetivo estratégico II:
tério da Justiça; Secretaria Especial de Políticas para as Mu- Padronização de procedimentos e equipamentos do
lheres da Presidência da República sistema de segurança pública.
h) Realizar estudos e pesquisas sobre o tráfico de pessoas, Ações programáticas:
inclusive sobre exploração sexual de crianças e adolescentes. a) Elaborar procedimentos operacionais padronizados
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos para as forças policiais federais, com respeito aos Direitos
da Presidência da República; Ministério do Turismo; Minis- Humanos.

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial
dos Direitos Humanos da Presidência da República dos Direitos Humanos da Presidência da República
b) Elaborar procedimentos operacionais padronizados g) Capacitar e apoiar a qualificação dos agentes da perí-
sobre revistas aos visitantes de estabelecimentos prisionais, cia oficial, bem como de agentes públicos de saúde, para a
respeitando os preceitos dos Direitos Humanos. identificação de tortura.
Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial
dos Direitos Humanos da Presidência da República; Secre- dos Direitos Humanos da Presidência da República
taria Especial de Políticas para as Mulheres da Presidência h) Incluir na formação de agentes penitenciários federais
da República curso com conteúdos relativos ao combate à tortura e sobre
c) Elaborar diretrizes nacionais sobre uso da força e de a importância dos Direitos Humanos.
armas de fogo pelas instituições policiais e agentes do sis- Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial
tema penitenciário. dos Direitos Humanos da Presidência da República
Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial i) Realizar campanhas de prevenção e combate à tortura
dos Direitos Humanos da Presidência da República nos meios de comunicação para a população em geral, além
d) Padronizar equipamentos, armas, munições e veículos de campanhas específicas voltadas às forças de segurança
apropriados à atividade policial a serem utilizados pelas for- pública, bem como divulgar os parâmetros internacionais de
ças policiais da União, bem como aqueles financiados com combate às práticas de tortura.
recursos federais nos Estados, no Distrito Federal e nos Mu- Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
nicípios. da Presidência da República
Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial j) Estabelecer procedimento para a produção de relató-
dos Direitos Humanos da Presidência da República rios anuais, contendo informações sobre o número de casos
e) Disponibilizar para a Polícia Federal, a Polícia Rodovi- de torturas e de tratamentos desumanos ou degradantes
ária Federal e para a Força Nacional de Segurança Pública levados às autoridades, número de perpetradores e de sen-
munição, tecnologias e armas de menor potencial ofensivo. tenças judiciais.
Responsável: Ministério da Justiça Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
da Presidência da República
Objetivo estratégico III:
Consolidação de política nacional visando à erradicação Objetivo estratégico IV:
da tortura e de outros tratamentos ou penas cruéis, desu- Combate às execuções extrajudiciais realizadas por
manos ou degradantes. agentes do Estado.
Ações programáticas: Ações programáticas:
a) Elaborar projeto de lei visando a instituir o Mecanismo a) Fortalecer ações de combate às execuções extrajudi-
Preventivo Nacional, sistema de inspeção aos locais de deten- ciais realizadas por agentes do Estado, assegurando a inves-
ção para o monitoramento regular e periódico dos centros de tigação dessas violações.
privação de liberdade, nos termos do protocolo facultativo Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial
à convenção da ONU contra a tortura e outros tratamentos dos Direitos Humanos da Presidência da República
b) Desenvolver e apoiar ações específicas para investiga-
ou penas cruéis, desumanos ou degradantes.
ção e combate à atuação de milícias e grupos de extermínio.
Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial
Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial
dos Direitos Humanos da Presidência da República; Minis-
dos Direitos Humanos da Presidência da República
tério das Relações Exteriores;
b) Instituir grupo de trabalho para discutir e propor atua-
Diretriz 15: Garantia dos direitos das vítimas de crimes
lização e aperfeiçoamento da Lei nº 9.455/1997, que define
e de proteção das pessoas ameaçadas.
os crimes de tortura, de forma a atualizar os tipos penais, ins-
tituir sistema nacional de combate à tortura, estipular marco Objetivo estratégico I:
legal para a definição de regras unificadas de exame médico- Instituição de sistema federal que integre os programas
-legal, bem como estipular ações preventivas obrigatórias de proteção.
como formação específica das forças policiais e capacitação Ações programáticas:
de agentes para a identificação da tortura. a) Propor projeto de lei para integração, de forma sistê-
Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos mica, dos programas de proteção a vítimas e testemunhas
da Presidência da República ameaçadas, defensores de Direitos Humanos e crianças e
c) Promover o fortalecimento, a criação e a reativação adolescentes ameaçados de morte.
dos comitês estaduais de combate à tortura. Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República
da Presidência da República
Direitos Humanos e Cidadania

b) Desenvolver sistema nacional que integre as informa-


d) Propor projeto de lei para tornar obrigatória a filma- ções das ações de proteção às pessoas ameaçadas.
gem dos interrogatórios ou audiogravações realizadas du- Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
rante as investigações policiais. da Presidência da República
Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial c) Ampliar os programas de proteção a vítimas e tes-
dos Direitos Humanos da Presidência da República temunhas ameaçadas, defensores dos Direitos Humanos e
e) Estabelecer protocolo para a padronização de proce- crianças e adolescentes ameaçados de morte para os Estados
dimentos a serem realizados nas perícias destinadas a ave- em que o índice de violência aponte a criação de programas
riguar alegações de tortura. locais.
Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
dos Direitos Humanos da Presidência da República da Presidência da República
f) Elaborar matriz curricular e capacitar os operadores d) Garantir a formação de agentes da Polícia Federal para
do sistema de segurança pública e justiça criminal para o a proteção das pessoas incluídas nos programas de proteção
combate à tortura. de pessoas ameaçadas, observadas suas diretrizes.

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial d) Desenvolver programas de enfrentamento da violência
dos Direitos Humanos da Presidência da República letal contra crianças e adolescentes e divulgar as experiências
e) Propor ampliação os recursos orçamentários para a bem sucedidas.
realização das ações dos programas de proteção a vítimas e Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
testemunhas ameaçadas, defensores dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério da Justiça
e crianças e adolescentes ameaçados de morte.
Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos Objetivo estratégico IV:
da Presidência da República Garantia de proteção dos defensores dos Direitos Hu-
manos e de suas atividades.
Objetivo estratégico II: Ações programáticas:
Consolidação da política de assistência a vítimas e a a) Fortalecer a execução do Programa Nacional de Pro-
testemunhas ameaçadas. teção aos Defensores dos Direitos Humanos, garantindo se-
Ações programáticas: gurança nos casos de violência, ameaça, retaliação, pressão
a) Propor projeto de lei para aperfeiçoar o marco legal ou ação arbitrária, e a defesa em ações judiciais de má-fé,
do Programa Federal de Assistência a Vítimas e Testemunhas em decorrência de suas atividades.
Ameaçadas, ampliando a proteção de escolta policial para Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
as equipes técnicas do programa, e criar sistema de apoio à da Presidência da República
b) Articular com os órgãos de segurança pública de Di-
reinserção social dos usuários do programa.
reitos Humanos nos Estados para garantir a segurança dos
Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial
defensores dos Direitos Humanos.
dos Direitos Humanos da Presidência da República
Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial
b) Regulamentar procedimentos e competências para a dos Direitos Humanos da Presidência da República
execução do Programa Federal de Assistência a Vítimas e c) Capacitar os operadores do sistema de segurança
Testemunhas Ameaçadas, em especial para a realização de pública e de justiça sobre o trabalho dos defensores dos
escolta de seus usuários. Direitos Humanos.
Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
dos Direitos Humanos da Presidência da República da Presidência da República
c) Fomentar a criação de centros de atendimento a víti- d) Fomentar parcerias com as Defensorias Públicas dos
mas de crimes e a seus familiares, com estrutura adequada e Estados e da União para a defesa judicial dos defensores dos
capaz de garantir o acompanhamento psicossocial e jurídico Direitos Humanos nos processos abertos contra eles.
dos usuários, com especial atenção a grupos sociais mais Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
vulneráveis, assegurando o exercício de seus direitos. da Presidência da República
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos e) Divulgar em âmbito nacional a atuação dos defensores
da Presidência da República; Secretaria Especial de Políticas e militantes dos Direitos Humanos, fomentando cultura de
para as Mulheres da Presidência da República respeito e valorização de seus papéis na sociedade.
d) Incentivar a criação de unidades especializadas do Ser- Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
viço de Proteção ao Depoente Especial da Polícia Federal nos da Presidência da República
Estados e no Distrito Federal.
Responsável: Ministério da Justiça; Secretaria Especial Diretriz 16: Modernização da política de execução penal,
dos Direitos Humanos da Presidência da República priorizando a aplicação de penas e medidas alternativas à
e) Garantir recursos orçamentários e de infraestrutu- privação de liberdade e melhoria do sistema penitenciário.
ra ao Serviço de Proteção ao Depoente Especial da Polícia
Federal, necessários ao atendimento pleno, imediato e de Objetivo estratégico I:
qualidade aos depoentes especiais e a seus familiares, bem Reestruturação do sistema penitenciário.
como o atendimento às demandas de inclusão provisória Ações programáticas:
no programa federal. a) Elaborar projeto de reforma da Lei de Execução Penal
Responsável: Ministério da Justiça (Lei nº 7.210/1984), com o propósito de:
• Adotar mecanismos tecnológicos para coibir a entrada
Objetivo estratégico III: de substâncias e materiais proibidos, eliminando a prática
de revista íntima nos familiares de presos;
Garantia da proteção de crianças e adolescentes ame-
• Aplicar a Lei de Execução Penal também a presas e
açados de morte.
presos provisórios e aos sentenciados pela Justiça Especial;
Ações programáticas:
• Vedar a divulgação pública de informações sobre perfil
a) Ampliar a atuação federal no âmbito do Programa de psicológico do preso e eventuais diagnósticos psiquiátricos
Proteção a Crianças e Adolescentes Ameaçados de Morte
Direitos Humanos e Cidadania

feitos nos estabelecimentos prisionais;


nas unidades da Federação com maiores taxas de homicídio • Instituir a obrigatoriedade da oferta de ensino pelos
nessa faixa etária. estabelecimentos penais e a remição de pena por estudo;
Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos • Estabelecer que a perda de direitos ou a redução de
da Presidência da República acesso a qualquer direito ocorrerá apenas como consequ-
b) Formular política nacional de enfrentamento da vio- ência de faltas de natureza grave;
lência letal contra crianças e adolescentes. • Estabelecer critérios objetivos para isolamento de pre-
Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos sos e presas no regime disciplinar diferenciado;
da Presidência da República • Configurar nulidade absoluta dos procedimentos disci-
c) Desenvolver e aperfeiçoar os indicadores de morte plinares quando não houver intimação do defensor do preso;
violenta de crianças e adolescentes, assegurando publicação • Estabelecer o regime de condenação como limite para
anual dos dados. casos de regressão de regime;
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos • Assegurar e regulamentar as visitas íntimas para a po-
da Presidência da República; Ministério da Saúde pulação carcerária LGBT.

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
Responsável: Ministério da Justiça • Estabelecer requisitos objetivos para decretação de
b) Elaborar decretos extraordinários de indulto a conde- prisões preventivas que consagrem sua excepcionalidade;
nados por crimes sem violência real, que reduzam substan- • Vedar a decretação de prisão preventiva em casos que
cialmente a população carcerária brasileira. envolvam crimes com pena máxima inferior a quatro anos,
Responsável: Ministério da Justiça excetuando crimes graves como formação de quadrilha e
c) Fomentar a realização de revisões periódicas processu- peculato;
ais dos processos de execução penal da população carcerária. • Estabelecer o prazo máximo de oitenta e um dias para
Responsável: Ministério da Justiça prisão provisória.
d) Vincular o repasse de recursos federais para constru- Responsável: Ministério da Justiça
ção de estabelecimentos prisionais nos Estados e no Distrito b) Alterar a legislação sobre abuso de autoridade, tipifi-
Federal ao atendimento das diretrizes arquitetônicas que
cando de modo específico as condutas puníveis.
contemplem a existência de alas específicas para presas grá-
Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial
vidas e requisitos de acessibilidade.
Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República
de Políticas para as Mulheres da Presidência da República
e) Aplicar a Política Nacional de Saúde Mental e a Política Objetivo estratégico III:
para a Atenção Integral a Usuários de Álcool e outras Drogas Tratamento adequado de pessoas com transtornos
no sistema penitenciário. mentais.
Responsáveis: Ministério da Justiça; Ministério da Saúde Ações programáticas:
f) Aplicar a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde a) Estabelecer diretrizes que garantam tratamento ade-
da Mulher no contexto prisional, regulamentando a assistên- quado às pessoas com transtornos mentais, em consonância
cia pré-natal, a existência de celas específicas e período de com o princípio de desinstitucionalização.
permanência com seus filhos para aleitamento. Responsáveis: Ministério da Justiça; Ministério da Saúde
Responsáveis: Ministério da Justiça; Ministério da Saúde; b) Propor projeto de lei para alterar o Código Penal, pre-
Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres da Presi- vendo que o período de cumprimento de medidas de segu-
dência da República rança não deve ultrapassar o da pena prevista para o crime
g) Implantar e implementar as ações de atenção integral praticado, e estabelecendo a continuidade do tratamento
aos presos previstas no Plano Nacional de Saúde no Sistema fora do sistema penitenciário quando necessário.
Penitenciário. Responsáveis: Ministério da Justiça; Ministério da Saúde
Responsável: Ministério da Justiça; Ministério da Saúde c) Estabelecer mecanismos para a reintegração social dos
h) Promover estudo sobre a viabilidade de criação, em internados em medida de segurança quando da extinção
âmbito federal, da carreira de oficial de condicional, trabalho desta, mediante aplicação dos benefícios sociais correspon-
externo e penas alternativas, para acompanhar os condena- dentes.
dos em liberdade condicional, os presos em trabalho externo,
Responsáveis: Ministério da Justiça; Ministério da Saúde;
em qualquer regime de execução, e os condenados a penas
Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome
alternativas à prisão.
Responsáveis: Ministério da Justiça; Ministério do Pla-
nejamento, Orçamento e Gestão Objetivo estratégico IV:
i) Avançar na implementação do Sistema de Informações Ampliação da aplicação de penas e medidas alterna-
Penitenciárias (InfoPen), financiando a inclusão dos estabele- tivas.
cimentos prisionais dos Estados e do Distrito Federal e con- Ações programáticas:
dicionando os repasses de recursos federais à sua efetiva a) Desenvolver instrumentos de gestão que assegurem a
integração ao sistema. sustentabilidade das políticas públicas de aplicação de penas
Responsável: Ministério da Justiça e medidas alternativas.
j) Ampliar campanhas de sensibilização para inclusão Responsáveis: Ministério da Justiça
social de egressos do sistema prisional. b) Incentivar a criação de varas especializadas e de cen-
Responsável: Ministério da Justiça trais de monitoramento do cumprimento de penas e medidas
k) Estabelecer diretrizes na política penitenciária nacional alternativas.
que fortaleçam o processo de reintegração social dos presos, Responsável: Ministério da Justiça
internados e egressos, com sua efetiva inclusão nas políticas c) Desenvolver modelos de penas e medidas alternativas
públicas sociais. que associem seu cumprimento ao ilícito praticado, com pro-
Responsáveis: Ministério da Justiça; Ministério do Desen- jetos temáticos que estimulem a capacitação do cumpridor,
volvimento Social e Combate à Fome; Ministério da Saúde; bem como penas de restrição de direitos com controle de
Ministério da Educação; Ministério do Esporte frequência.
Direitos Humanos e Cidadania

l) Debater, por meio de grupo de trabalho interministe- Responsável: Ministério da Justiça


rial, ações e estratégias que visem assegurar o encaminha-
d) Desenvolver programas-piloto com foco na educação,
mento para o presídio feminino de mulheres transexuais e
para aplicação da pena de limitação de final de semana.
travestis que estejam em regime de reclusão.
Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial Responsáveis: Ministério da Justiça; Ministério da Edu-
dos Direitos Humanos da Presidência da República; Secre- cação
taria Especial de Políticas para as Mulheres da Presidência
da República Diretriz 17: Promoção de sistema de justiça mais aces-
sível, ágil e efetivo, para o conhecimento, a garantia e a
Objetivo estratégico II: defesa dos direitos.
Limitação do uso dos institutos de prisão cautelar.
Ações programáticas: Objetivo estratégico I:
a) Propor projeto de lei para alterar o Código de Processo Acesso da população à informação sobre seus direitos e
Penal, com o objetivo de: sobre como garanti-los.

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
Ações programáticas: a) Fomentar iniciativas de mediação e conciliação, estimu-
a) Difundir o conhecimento sobre os Direitos Humanos e lando a resolução de conflitos por meios autocompositivos,
sobre a legislação pertinente com publicações em linguagem voltados à maior pacificação social e menor judicialização.
e formatos acessíveis. Responsáveis: Ministério da Justiça; Ministério do De-
Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial senvolvimento Agrário; Ministério das Cidades
dos Direitos Humanos da Presidência da República b) Fortalecer a criação de núcleos de justiça comunitá-
b) Fortalecer as redes de canais de denúncia (disque- ria, em articulação com os Estados, o Distrito Federal e os
-denúncia) e sua articulação com instituições de Direitos Municípios, e apoiar o financiamento de infraestrutura e de
Humanos. capacitação.
Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos Responsável: Ministério da Justiça
da Presidência da República c) Capacitar lideranças comunitárias sobre instrumentos
c) Incentivar a criação de centros integrados de serviços e técnicas de mediação comunitária, incentivando a resolu-
públicos para prestação de atendimento ágil à população, ção de conflitos nas próprias comunidades.
inclusive com unidades itinerantes para obtenção de docu- Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial
mentação básica. dos Direitos Humanos da Presidência da República
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos d) Incentivar projetos pilotos de Justiça Restaurativa,
da Presidência da República; Ministério da Justiça como forma de analisar seu impacto e sua aplicabilidade
d) Fortalecer o governo eletrônico com a ampliação da no sistema jurídico brasileiro.
disponibilização de informações e serviços para a população Responsável: Ministério da Justiça
via Internet, em formato acessível. e) Estimular e ampliar experiências voltadas para a so-
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos lução de conflitos por meio da mediação comunitária e dos
da Presidência da República Centros de Referência em Direitos Humanos, especialmente
em áreas de baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)
Objetivo estratégico II: e com dificuldades de acesso a serviços públicos.
Garantia do aperfeiçoamento e monitoramento das Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
normas jurídicas para proteção dos Direitos Humanos. da Presidência da República; Ministério da Justiça
Ações programáticas:
a) Implementar o Observatório da Justiça Brasileira, em Objetivo estratégico IV:
parceria com a sociedade civil. Garantia de acesso universal ao sistema judiciário.
Responsável: Ministério da Justiça Ações programáticas:
b) Aperfeiçoar o sistema de fiscalização de violações aos a) Propor a ampliação da atuação da Defensoria Pública
Direitos Humanos, por meio do aprimoramento do arcabou- da União.
ço de sanções administrativas. Responsável: Ministério da Justiça
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos b) Fomentar parcerias entre Municípios e entidades de
da Presidência da República; Ministério da Saúde; Ministério proteção dos Direitos Humanos para atendimento da popu-
da Justiça; Ministério do Trabalho e Emprego lação com dificuldade de acesso ao sistema de justiça, com
base no mapeamento das principais demandas da população
c) Ampliar equipes de fiscalização sobre violações dos
local e no estabelecimento de estratégias para atendimento e
Direitos Humanos, em parceria com a sociedade civil.
ações educativas e informativas.
Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial
Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial
dos Direitos Humanos da Presidência da República
dos Direitos Humanos da Presidência da República
d) Propor projeto de lei buscando ampliar a utilização das
c) Apoiar a capacitação periódica e constante dos ope-
ações coletivas para proteção dos interesses difusos, coleti-
radores do Direito e servidores da Justiça na aplicação dos
vos e individuais homogêneos, garantindo a consolidação de
Direitos Humanos voltada para a composição de conflitos.
instrumentos coletivos de resolução de conflitos. Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial
Responsável: Ministério da Justiça dos Direitos Humanos da Presidência da República
e) Propor projetos de lei para simplificar o processamento d) Dialogar com o Poder Judiciário para assegurar o efeti-
e julgamento das ações judiciais; coibir os atos protelatórios; vo acesso das pessoas com deficiência à justiça, em igualdade
restringir as hipóteses de recurso ex officio e reduzir recursos de condições com as demais pessoas.
e desjudicializar conflitos. Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial
Responsável: Ministério da Justiça dos Direitos Humanos da Presidência da República
f) Aperfeiçoar a legislação trabalhista, visando ampliar e) Apoiar os movimentos sociais e a Defensoria Pública
novas tutelas de proteção das relações do trabalho e as na obtenção da gratuidade das perícias para as demandas
medidas de combate à discriminação e ao abuso moral no judiciais, individuais e coletivas, e relacionadas a violações
trabalho.
Direitos Humanos e Cidadania

de Direitos Humanos.
Responsáveis: Ministério do Trabalho e Emprego; Mi- Responsável: Ministério da Justiça
nistério da Justiça; Secretaria Especial de Políticas para as
Mulheres da Presidência da República Objetivo estratégico V:
g) Implementar mecanismos de monitoramento dos Modernização da gestão e agilização do funcionamento
serviços de atendimento ao aborto legalmente autorizado, do sistema de justiça.
garantindo seu cumprimento e facilidade de acesso. Ações programáticas:
Responsáveis: Ministério da Saúde; Secretaria Especial a) Propor legislação de revisão e modernização dos ser-
de Políticas para as Mulheres da Presidência da República viços notariais e de registro.
Responsável: Ministério da Justiça
Objetivo estratégico III: b) Desenvolver sistema integrado de informações do
Utilização de modelos alternativos de solução de con- Poder Executivo e Judiciário e disponibilizar seu acesso à
flitos. sociedade.
Ações programáticas: Responsável: Ministério da Justiça

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
Objetivo estratégico VI: desde cedo, sentimento de convivência pacífica. Conhecer
Acesso à Justiça no campo e na cidade. o diferente, desde a mais tenra idade, é perder o medo do
Ações programáticas: desconhecido, formar opinião respeitosa e combater o pre-
a) Assegurar a criação de marco legal para a prevenção conceito, às vezes arraigado na própria família.
e mediação de conflitos fundiários urbanos, garantindo o No PNDH-3, essa concepção se traduz em propostas de
devido processo legal e a função social da propriedade. mudanças curriculares, incluindo a educação transversal e
Responsáveis: Ministério da Justiça; Ministério das Ci- permanente nos temas ligados aos Direitos Humanos e, mais
dades especificamente, o estudo da temática de gênero e orien-
b) Propor projeto de lei voltado a regulamentar o cumpri- tação sexual, das culturas indígena e afro-brasileira entre as
mento de mandados de reintegração de posse ou correlatos, disciplinas do ensino fundamental e médio.
garantindo a observância do respeito aos Direitos Humanos. No ensino superior, as metas previstas visam a incluir
Responsáveis: Ministério da Justiça; Ministério das Cida- os Direitos Humanos, por meio de diferentes modalidades
des; Ministério do Desenvolvimento Agrário como disciplinas, linhas de pesquisa, áreas de concentração,
c) Promover o diálogo com o Poder Judiciário para a ela- transversalização incluída nos projetos acadêmicos dos dife-
boração de procedimento para o enfrentamento de casos de rentes cursos de graduação e pós-graduação, bem como em
conflitos fundiários coletivos urbanos e rurais. programas e projetos de extensão.
Responsáveis: Ministério das Cidades; Ministério da Jus- A educação não formal em Direitos Humanos é orientada
tiça; Ministério do Desenvolvimento Agrário pelos princípios da emancipação e da autonomia, configu-
d) Propor projeto de lei para institucionalizar a utilização rando-se como processo de sensibilização e formação da
da mediação nas demandas de conflitos coletivos agrários consciência crítica. Desta forma, o PNDH-3 propõe inclusão
e urbanos, priorizando a oitiva do INCRA, institutos de ter- da temática de Educação em Direitos Humanos nos progra-
ras estaduais, Ministério Público e outros órgãos públicos mas de capacitação de lideranças comunitárias e nos pro-
especializados, sem prejuízo de outros meios institucionais gramas de qualificação profissional, alfabetização de jovens
para solução de conflitos. (Redação dada pelo Decreto nº e adultos, entre outros. Volta-se, especialmente, para o es-
7.177, de 2010) tabelecimento de diálogo e parcerias permanentes como o
Responsáveis: Ministério do Desenvolvimento Agrário; vasto leque brasileiro de movimentos populares, sindicatos,
Ministério da Justiça igrejas, ONGs, clubes, entidades empresariais e toda sorte de
agrupamentos da sociedade civil que desenvolvem atividades
Eixo Orientador V: formativas em seu cotidiano.
Educação e cultura em Direitos Humanos A formação e a educação continuada em Direitos Hu-
manos, com recortes de gênero, relações étnico-raciais e de
A educação e a cultura em Direitos Humanos visam à orientação sexual, em todo o serviço público, especialmente
formação de nova mentalidade coletiva para o exercício da entre os agentes do sistema de Justiça de segurança públi-
solidariedade, do respeito às diversidades e da tolerância. ca, são fundamentais para consolidar o Estado Democráti-
Como processo sistemático e multidimensional que orienta co e a proteção do direito à vida e à dignidade, garantindo
a formação do sujeito de direitos, seu objetivo é combater tratamento igual a todas as pessoas e o funcionamento de
o preconceito, a discriminação e a violência, promovendo a sistemas de Justiça que promovam os Direitos Humanos.
Por fim, aborda-se o papel estratégico dos meios de co-
adoção de novos valores de liberdade, justiça e igualdade.
municação de massa, no sentido de construir ou desconstruir
A educação em Direitos Humanos, como canal estraté-
ambiente nacional e cultura social de respeito e proteção aos
gico capaz de produzir uma sociedade igualitária, extrapola
Direitos Humanos. Daí a importância primordial de introdu-
o direito à educação permanente e de qualidade. Trata-se
zir mudanças que assegurem ampla democratização desses
de mecanismo que articula, entre outros elementos: a) a
meios, bem como de atuar permanentemente junto a todos
apreensão de conhecimentos historicamente construídos
os profissionais e empresas do setor (seminários, debates,
sobre Direitos Humanos e a sua relação com os contextos reportagens, pesquisas e conferências), buscando sensibi-
internacional, regional, nacional e local; b) a afirmação de lizar e conquistar seu compromisso ético com a afirmação
valores, atitudes e práticas sociais que expressem a cultura histórica dos Direitos Humanos.
dos Direitos Humanos em todos os espaços da sociedade;
c) a formação de consciência cidadã capaz de se fazer pre- Diretriz 18: Efetivação das diretrizes e dos princípios da
sente nos níveis cognitivo, social, ético e político; d) o de- política nacional de educação em Direitos Humanos para
senvolvimento de processos metodológicos participativos fortalecer cultura de direitos.
e de construção coletiva, utilizando linguagens e materiais
didáticos contextualizados; e) o fortalecimento de políticas Objetivo estratégico I:
que gerem ações e instrumentos em favor da promoção, da Implementação do Plano Nacional de Educação em Di-
proteção e da defesa dos Direitos Humanos, bem como da
Direitos Humanos e Cidadania

reitos Humanos – PNEDH


reparação das violações. Ações programáticas:
O PNDH-3 dialoga com o Plano Nacional de Educação a) Desenvolver ações programáticas e promover articu-
em Direitos Humanos (PNEDH) como referência para a po- lação que viabilizem a implantação e a implementação do
lítica nacional de Educação e Cultura em Direitos Humanos, PNEDH.
estabelecendo os alicerces a serem adotados nos âmbitos Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
nacional, estadual, distrital e municipal. da Presidência da República; Ministério da Educação; Minis-
O PNEDH, refletido neste programa, se desdobra em tério da Justiça
cinco grandes áreas: b) Implantar mecanismos e instrumentos de monito-
Na educação básica, a ênfase do PNDH-3 é possibilitar, ramento, avaliação e atualização do PNEDH, em processos
desde a infância, a formação de sujeitos de direito, prio- articulados de mobilização nacional.
rizando as populações historicamente vulnerabilizadas. A Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
troca de experiências entre crianças de diferentes raças e da Presidência da República; Ministério da Educação; Minis-
etnias, imigrantes, com deficiência física ou mental, fortalece, tério da Justiça

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
c) Fomentar e apoiar a elaboração de planos estaduais e Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
municipais de educação em Direitos Humanos. da Presidência da República; Ministério da Educação.
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos i) Fomentar o acesso de estudantes, professores e demais
da Presidência da República; Ministério da Educação; Minis- profissionais da educação às tecnologias da informação e
tério da Justiça comunicação.
d) Apoiar técnica e financeiramente iniciativas em edu- Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
cação em Direitos Humanos, que estejam em consonância da Presidência da República; Ministério da Educação
com o PNEDH.
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos Diretriz 19: Fortalecimento dos princípios da democracia
da Presidência da República; Ministério da Educação; Minis- e dos Direitos Humanos nos sistemas de educação básica,
tério da Justiça nas instituições de ensino superior e outras instituições
e) Incentivar a criação e investir no fortalecimento dos co- formadoras.
mitês de educação em Direitos Humanos em todos os Estados
e no Distrito Federal, como órgãos consultivos e propositivos Objetivo Estratégico I:
da política de educação em Direitos Humanos. Inclusão da temática de Educação e Cultura em Direi-
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos tos Humanos nas escolas de educação básica e em outras
da Presidência da República; Ministério da Justiça instituições formadoras.
Ações Programáticas:
a) Estabelecer diretrizes curriculares para todos os níveis
Objetivo Estratégico II:
e modalidades de ensino da educação básica para a inclusão
Ampliação de mecanismos e produção de materiais pe- da temática de educação e cultura em Direitos Humanos,
dagógicos e didáticos para Educação em Direitos Humanos. promovendo o reconhecimento e o respeito das diversidades
Ações programáticas: de gênero, orientação sexual, identidade de gênero, geracio-
a) Incentivar a criação de programa nacional de formação nal, étnico-racial, religiosa, com educação igualitária, não
em educação em Direitos Humanos. discriminatória e democrática.
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
da Presidência da República; Ministério da Educação; Mi- da Presidência da República; Ministério da Educação; Secre-
nistério da Justiça; Secretaria Especial de Políticas para as taria Especial de Políticas para as Mulheres da Presidência
Mulheres da Presidência da República da República
b) Estimular a temática dos Direitos Humanos nos edi- b) Promover a inserção da educação em Direitos Huma-
tais de avaliação e seleção de obras didáticas do sistema nos nos processos de formação inicial e continuada de todos
de ensino. os profissionais da educação, que atuam nas redes de ensi-
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos no e nas unidades responsáveis por execução de medidas
da Presidência da República; Ministério da Educação; socioeducativas.
c) Estabelecer critérios e indicadores de avaliação de pu- Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
blicações na temática de Direitos Humanos para o monitora- da Presidência da República; Ministério da Educação
mento da escolha de livros didáticos no sistema de ensino. c) Incluir, nos programas educativos, o direito ao meio
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos ambiente como Direito Humano.
da Presidência da República; Ministério da Educação Responsáveis: Ministério do Meio Ambiente; Secretaria
d) Atribuir premiação anual de educação em Direitos Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República;
Humanos, como forma de incentivar a prática de ações e Ministério da Educação
projetos de educação e cultura em Direitos Humanos. d) Incluir conteúdos, recursos, metodologias e formas de
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos avaliação da educação em Direitos Humanos nos sistemas
da Presidência da República; Ministério da Educação de ensino da educação básica.
e) Garantir a continuidade da “Mostra Cinema e Direitos Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
Humanos na América do Sul” e o “Festival dos Direitos Hu- da Presidência da República; Ministério da Educação
manos” como atividades culturais para difusão dos Direitos e) Desenvolver ações nacionais de elaboração de estra-
Humanos. tégias de mediação de conflitos e de Justiça Restaurativa
Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos nas escolas, e outras instituições formadoras e instituições
da Presidência da República de ensino superior, inclusive promovendo a capacitação de
docentes para a identificação de violência e abusos contra
f) Consolidar a revista “Direitos Humanos” como ins-
crianças e adolescentes, seu encaminhamento adequado e
trumento de educação e cultura em Direitos Humanos, ga-
a reconstrução das relações no âmbito escolar.
rantindo o caráter representativo e plural em seu conselho
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
editorial.
Direitos Humanos e Cidadania

da Presidência da República; Ministério da Educação; Minis-


Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos tério da Justiça
da Presidência da República f) Publicar relatório periódico de acompanhamento da
g) Produzir recursos pedagógicos e didáticos especializa- inclusão da temática dos Direitos Humanos na educação for-
dos e adquirir materiais e equipamentos em formato aces- mal que contenha, pelo menos, as seguintes informações:
sível para a educação em Direitos Humanos, para todos os • Número de Estados e Municípios que possuem planos
níveis de ensino. de educação em Direitos Humanos;
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos • Existência de normas que incorporam a temática de
da Presidência da República; Ministério da Educação Direitos Humanos nos currículos escolares;
h) Publicar materiais pedagógicos e didáticos para a • Documentos que atestem a existência de comitês de
educação em Direitos Humanos em formato acessível para educação em Direitos Humanos;
as pessoas com deficiência, bem como promover o uso da • Documentos que atestem a existência de órgãos go-
Língua Brasileira de Sinais (Libras) em eventos ou divulgação vernamentais especializados em educação em Direitos Hu-
em mídia. manos.

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
da Presidência da República da Presidência da República; Ministério da Educação; Secre-
g) Desenvolver e estimular ações de enfrentamento ao taria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial
bullying e ao cyberbulling. da Presidência da República; Secretaria Especial de Políticas
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos para as Mulheres da Presidência da República
da Presidência da República; Ministério da Educação b) Fomentar núcleos de pesquisa de educação em Direi-
h) Implementar e acompanhar a aplicação das leis que tos Humanos em instituições de ensino superior e escolas
dispõem sobre a inclusão da história e cultura afro-brasileira públicas e privadas, estruturando-as com equipamentos e
e dos povos indígenas em todos os níveis e modalidades da materiais didáticos.
educação básica. Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério da Educação; Minis-
da Presidência da República; Ministério da Educação tério da Ciência e Tecnologia
c) Fomentar e apoiar, no Conselho Nacional de Desenvol-
Objetivo Estratégico II: vimento Científico e Tecnológico (CNPq) e na Coordenação
Inclusão da temática da Educação em Direitos Humanos de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes),
nos cursos das Instituições de Ensino Superior. a criação da área “Direitos Humanos” como campo de co-
Ações Programáticas: nhecimento transdisciplinar e recomendar às agências de
a) Propor a inclusão da temática da educação em Direitos fomento que abram linhas de financiamento para atividades
Humanos nas diretrizes curriculares nacionais dos cursos de de ensino, pesquisa e extensão em Direitos Humanos.
graduação. Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério da Educação; Minis-
da Presidência da República; Ministério da Educação tério da Fazenda
b) Incentivar a elaboração de metodologias pedagógicas d) Implementar programas e ações de fomento à exten-
de caráter transdisciplinar e interdisciplinar para a educação são universitária em direitos humanos, para promoção e de-
em Direitos Humanos nas Instituições de Ensino Superior. fesa dos Direitos Humanos e o desenvolvimento da cultura
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos e educação em Direitos Humanos.
da Presidência da República; Ministério da Educação Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
c) Elaborar relatórios sobre a inclusão da temática dos da Presidência da República; Ministério da Educação
Direitos Humanos no ensino superior, contendo informações
sobre a existência de ouvidorias e sobre o número de: Diretriz 20: Reconhecimento da educação não formal
• cursos de pós-graduação com áreas de concentração como espaço de defesa e promoção dos Direitos Humanos.
em Direitos Humanos;
• grupos de pesquisa em Direitos Humanos; Objetivo Estratégico I:
• cursos com a transversalização dos Direitos Humanos Inclusão da temática da educação em Direitos Humanos
nos projetos políticos pedagógicos; na educação não formal.
• disciplinas em Direitos Humanos; Ações programáticas:
• teses e dissertações defendidas; a) Fomentar a inclusão da temática de Direitos Humanos
• associações e instituições dedicadas ao tema e com as na educação não formal, nos programas de qualificação pro-
quais os docentes e pesquisadores tenham vínculo; fissional, alfabetização de jovens e adultos, extensão rural,
• núcleos e comissões que atuam em Direitos Humanos; educação social comunitária e de cultura popular.
• educadores com ações no tema Direitos Humanos; Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
• projetos de extensão em Direitos Humanos; da Presidência da República; Ministério do Desenvolvimen-
Responsáveis: Ministério da Educação; Secretaria Espe- to Agrário; Secretaria Especial de Políticas de Promoção da
cial dos Direitos Humanos da Presidência da República Igualdade Racial da Presidência da República; Ministério da
d) Fomentar a realização de estudos, pesquisas e a im- Cultura; Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres da
plementação de projetos de extensão sobre o período do Presidência da República
regime 1964-1985, bem como apoiar a produção de material b) Apoiar iniciativas de educação popular em Direitos
didático, a organização de acervos históricos e a criação de Humanos desenvolvidas por organizações comunitárias, mo-
centros de referências. vimentos sociais, organizações não governamentais e outros
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos agentes organizados da sociedade civil.
da Presidência da República; Ministério da Educação; Minis- Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
tério da Justiça da Presidência da República; Secretaria Especial de Políticas
e) Incentivar a realização de estudos, pesquisas e produ- de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da Repú-
ção bibliográfica sobre a história e a presença das populações blica; Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres da
Direitos Humanos e Cidadania

tradicionais. Presidência da República; Ministério da Cultura; Ministério


Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Justiça
da Presidência da República; Ministério da Educação; Secre- c) Apoiar e promover a capacitação de agentes multipli-
taria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial cadores para atuarem em projetos de educação em Direitos
da Presidência da República; Ministério da Justiça Humanos.
Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
Objetivo Estratégico III: da Presidência da República
Incentivo à transdisciplinariedade e transversalidade d) Apoiar e desenvolver programas de formação em
nas atividades acadêmicas em Direitos Humanos. comunicação e Direitos Humanos para comunicadores co-
Ações Programáticas: munitários.
a) Incentivar o desenvolvimento de cursos de graduação, Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
de formação continuada e programas de pós-graduação em da Presidência da República; Ministério das Comunicações;
Direitos Humanos. Ministério da Cultura

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
e) Desenvolver iniciativas que levem a incorporar a te- Objetivo Estratégico II:
mática da educação em Direitos Humanos nos programas Formação adequada e qualificada dos profissionais do
de inclusão digital e de educação à distância. sistema de segurança pública.
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos Ações programáticas:
da Presidência da República; Ministério da Educação; Minis- a) Oferecer, continuamente e permanentemente, cursos
tério das Comunicações; Ministério de Ciência e Tecnologia em Direitos Humanos para os profissionais do sistema de
f) Apoiar a incorporação da temática da educação em segurança pública e justiça criminal.
Direitos Humanos nos programas e projetos de esporte, lazer Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial
e cultura como instrumentos de inclusão social. dos Direitos Humanos da Presidência da República; Secreta-
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos ria Especial de Políticas para as Mulheres da Presidência da
da Presidência da República; Ministério da Educação; Minis- República; Secretaria Especial de Políticas de Promoção da
tério da Cultura; Ministério do Esporte Igualdade Racial da Presidência da República
g) Fortalecer experiências alternativas de educação para b) Oferecer permanentemente cursos de especialização
os adolescentes, bem como para monitores e profissionais aos gestores, policiais e demais profissionais do sistema de
do sistema de execução de medidas socioeducativas. segurança pública.
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos Responsável: Ministério da Justiça
da Presidência da República; Ministério da Educação; Minis- c) Publicar materiais didático-pedagógicos sobre segu-
tério da Justiça rança pública e Direitos Humanos.
Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial
Objetivo estratégico II: dos Direitos Humanos da Presidência da República
Resgate da memória por meio da reconstrução da his- d) Incentivar a inserção da temática dos Direitos Huma-
tória dos movimentos sociais. nos nos programas das escolas de formação inicial e conti-
Ações programáticas: nuada dos membros das Forças Armadas.
a) Promover campanhas e pesquisas sobre a história dos Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
movimentos de grupos historicamente vulnerabilizados, tais da Presidência da República; Ministério da Defesa
como o segmento LGBT, movimentos de mulheres, quebra- e) Criar escola nacional de polícia para educação conti-
deiras de coco, castanheiras, ciganos, entre outros. nuada dos profissionais do sistema de segurança pública,
com enfoque prático.
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
Responsável: Ministério da Justiça
da Presidência da República; Secretaria Especial de Políticas
f) Apoiar a capacitação de policiais em direitos das crian-
para as Mulheres da Presidência da República
ças, em aspectos básicos do desenvolvimento infantil e em
b) Apoiar iniciativas para a criação de museus voltados
maneiras de lidar com grupos em situação de vulnerabilida-
ao resgate da cultura e da história dos movimentos sociais.
de, como crianças e adolescentes em situação de rua, vítimas
Responsáveis: Ministério da Cultura; Secretaria Especial de exploração sexual e em conflito com a lei.
dos Direitos Humanos da Presidência da República Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial
dos Direitos Humanos da Presidência da República
Diretriz 21: Promoção da Educação em Direitos Huma-
nos no serviço público. Diretriz 22: Garantia do direito à comunicação demo-
crática e ao acesso à informação para consolidação de uma
Objetivo Estratégico I: cultura em Direitos Humanos.
Formação e capacitação continuada dos servidores
públicos em Direitos Humanos, em todas as esferas de Objetivo Estratégico I:
governo. Promover o respeito aos Direitos Humanos nos meios de
Ações programáticas: comunicação e o cumprimento de seu papel na promoção
a) Apoiar e desenvolver atividades de formação e capa- da cultura em Direitos Humanos.
citação continuadas interdisciplinares em Direitos Humanos Ações Programáticas:
para servidores públicos. a) Propor a criação de marco legal, nos termos do art.
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos 221 da Constituição, estabelecendo o respeito aos Direitos
da Presidência da República; Ministério da Educação; Mi- Humanos nos serviços de radiodifusão (rádio e televisão)
nistério da Justiça; Ministério da Saúde; Ministério do Pla- concedidos, permitidos ou autorizados. (Redação dada pelo
nejamento, Orçamento e Gestão; Ministério das Relações decreto nº 7.177, de 2010)
Exteriores Responsáveis: Ministério das Comunicações; Secretaria
b) Incentivar a inserção da temática dos Direitos Huma- Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República;
nos nos programas das escolas de formação de servidores Ministério da Justiça; Ministério da Cultura
Direitos Humanos e Cidadania

vinculados aos órgãos públicos federais. b) Promover diálogo com o Ministério Público para pro-
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos posição de ações objetivando a suspensão de programação
da Presidência da República; Secretaria Especial de Políticas e publicidade atentatórias aos Direitos Humanos.
para as Mulheres da Presidência da República; Secretaria Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial
Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da dos Direitos Humanos da Presidência da República
Presidência da República c) Suspender patrocínio e publicidade oficial em meios
c) Publicar materiais didático-pedagógicos sobre Direitos que veiculam programações atentatórias aos Direitos Hu-
Humanos e função pública, desdobrando temas e aspectos manos.
adequados ao diálogo com as várias áreas de atuação dos Responsáveis: Ministério das Comunicações; Secretaria
servidores públicos. Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República;
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos Ministério da Justiça
da Presidência da República; Ministério do Planejamento, d) (Revogado pelo decreto nº 7.177, de 2010)
Orçamento e Gestão Responsáveis: (Revogado pelo decreto nº 7.177, de 2010)

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
e) Desenvolver programas de formação nos meios de própria identidade, a democracia se fortalece. As tentações
comunicação públicos como instrumento de informação e totalitárias são neutralizadas e crescem as possibilidades de
transparência das políticas públicas, de inclusão digital e de erradicação definitiva de alguns resquícios daquele período
acessibilidade. sombrio, como a tortura, por exemplo, ainda persistente no
Responsáveis: Ministério das Comunicações; Secretaria cotidiano brasileiro.
Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; O trabalho de reconstituir a memória exige revisitar o
Ministério da Cultura; Ministério da Justiça passado e compartilhar experiências de dor, violência e mor-
f) Avançar na regularização das rádios comunitárias e pro- tes. Somente depois de lembrá-las e fazer seu luto, será pos-
mover incentivos para que se afirmem como instrumentos sível superar o trauma histórico e seguir adiante. A vivência
permanentes de diálogo com as comunidades locais. do sofrimento e das perdas não pode ser reduzida a conflito
Responsáveis: Ministério das Comunicações; Secretaria privado e subjetivo, uma vez que se inscreveu num contexto
Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; social, e não individual.
Ministério da Cultura; Ministério da Justiça A compreensão do passado por intermédio da narrativa
g) Promover a eliminação das barreiras que impedem o da herança histórica e pelo reconhecimento oficial dos acon-
acesso de pessoas com deficiência sensorial à programação tecimentos possibilita aos cidadãos construírem os valores
em todos os meios de comunicação e informação, em con- que indicarão sua atuação no presente. O acesso a todos os
formidade com o Decreto nº 5.296/2004, bem como acesso arquivos e documentos produzidos durante o regime mili-
a novos sistemas e tecnologias, incluindo Internet. tar é fundamental no âmbito das políticas de proteção dos
Responsáveis: Ministério das Comunicações; Secretaria Direitos Humanos.
Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Desde os anos 1990, a persistência de familiares de mor-
Ministério da Justiça tos e desaparecidos vem obtendo vitórias significativas nessa
luta, com abertura de importantes arquivos estaduais sobre
Objetivo Estratégico II: a repressão política do regime ditatorial. Em dezembro de
Garantia do direito à comunicação democrática e ao 1995, coroando difícil e delicado processo de discussão entre
acesso à informação. esses familiares, o Ministério da Justiça e o Poder Legislativo
Ações Programáticas: Federal, foi aprovada a Lei nº 9.140/95, que reconheceu a
a) Promover parcerias com entidades associativas de responsabilidade do Estado brasileiro pela morte de oposi-
mídia, profissionais de comunicação, entidades sindicais e tores ao regime de 1964.
populares para a produção e divulgação de materiais sobre Essa Lei instituiu Comissão Especial com poderes para
Direitos Humanos. deferir pedidos de indenização das famílias de uma lista ini-
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
cial de 136 pessoas e julgar outros casos apresentados para
da Presidência da República; Ministério da Cultura; Ministério
seu exame. No art. 4º, inciso II, a Lei conferiu à Comissão
das Comunicações
Especial também a incumbência de envidar esforços para
b) Incentivar pesquisas regulares que possam identificar
a localização dos corpos de pessoas desaparecidas no caso
formas, circunstâncias e características de violações dos Di-
de existência de indícios quanto ao local em que possam
reitos Humanos na mídia.
Responsáveis: Ministério das Comunicações; Secretaria estar depositados.
Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República Em 24 de agosto de 2001, foi criada, pela Medida Provisó-
c) Incentivar a produção de filmes, vídeos, áudios e simi- ria nº 2151-3, a Comissão de Anistia do Ministério da Justiça.
lares, voltada para a educação em Direitos Humanos e que Esse marco legal foi reeditado pela Medida Provisória nº 65,
reconstrua a história recente do autoritarismo no Brasil, bem de 28 de agosto de 2002, e finalmente convertido na Lei nº
como as iniciativas populares de organização e de resistência. 10.559, de 13 de novembro de 2002. Essa norma regulamen-
Responsáveis: Ministério das Comunicações; Secretaria tou o art. 8º do Ato das Disposições Constitucionais Transitó-
Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; rias (ADCT) da Constituição de 1988, que previa a concessão
Ministério da Cultura; Ministério da Justiça de anistia aos que foram perseguidos em decorrência de sua
oposição política. Em dezembro de 2005, o Governo Federal
Eixo Orientador VI: determinou que os três arquivos da Agência Brasileira de
Direito à Memória e à Verdade Inteligência (ABIN) fossem entregues ao Arquivo Nacional,
subordinado à Casa Civil, onde passaram a ser organizados
A investigação do passado é fundamental para a constru- e digitalizados.
ção da cidadania. Estudar o passado, resgatar sua verdade Em agosto de 2007, em ato oficial coordenado pelo Pre-
e trazer à tona seus acontecimentos caracterizam forma de sidente da República, foi lançado, pela Secretaria Especial
transmissão de experiência histórica, que é essencial para a dos Direitos Humanos da Presidência da República e pela
constituição da memória individual e coletiva. Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, o
Direitos Humanos e Cidadania

O Brasil ainda processa com dificuldades o resgate da livro-relatório “Direito à Memória e à Verdade”, registrando
memória e da verdade sobre o que ocorreu com as vítimas os onze anos de trabalho daquela Comissão e resumindo a
atingidas pela repressão política durante o regime de 1964. história das vítimas da ditadura no Brasil.
A impossibilidade de acesso a todas as informações oficiais A trajetória de estudantes, profissionais liberais, trabalha-
impede que familiares de mortos e desaparecidos possam dores e camponeses que se engajaram no combate ao regime
conhecer os fatos relacionados aos crimes praticados e não militar aparece como documento oficial do Estado brasileiro.
permite à sociedade elaborar seus próprios conceitos sobre O Ministério da Educação e a Secretaria Especial dos Direitos
aquele período. Humanos formularam parceria para criar portal que incluirá
A história que não é transmitida de geração a geração o livro-relatório, ampliado com abordagem que apresenta
torna-se esquecida e silenciada. O silêncio e o esquecimento o ambiente político, econômico, social e principalmente os
das barbáries geram graves lacunas na experiência coletiva aspectos culturais do período. Serão distribuídas milhares
de construção da identidade nacional. Resgatando a memória de cópias desse material em mídia digital para estudantes
e a verdade, o País adquire consciência superior sobre sua de todo o País.

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
Em julho de 2008, o Ministério da Justiça e a Comissão sumidos pelo Brasil e a insuscetibilidade de graça ou anistia
de Anistia promoveram audiência pública sobre “Limites e do crime de tortura.
Possibilidades para a Responsabilização Jurídica dos Agen- Em abril de 2009, o Ministério da Defesa, no contexto
tes Violadores de Direitos Humanos durante o Estado de da decisão transitada em julgado da referida ação judicial
Exceção no Brasil”, que discutiu a interpretação da Lei de de 1982, criou Grupo de Trabalho para realizar buscas de
Anistia de 1979 no que se refere à controvérsia jurídica e restos mortais na região do Araguaia, sendo que, por ordem
política, envolvendo a prescrição ou imprescritibilidade dos expressa do Presidente da República, foi instituído Comitê
crimes de tortura. Interinstitucional de Supervisão, com representação dos fa-
A Comissão de Anistia já realizou setecentas sessões miliares de mortos e desaparecidos políticos, para o acom-
de julgamento e promoveu, desde 2008, trinta caravanas, panhamento e orientação dos trabalhos. Após três meses de
possibilitando a participação da sociedade nas discussões, buscas intensas, sem que tenham sido encontrados restos
e contribuindo para a divulgação do tema no País. Até 1º mortais, os trabalhos foram temporariamente suspensos
de novembro de 2009, já haviam sido apreciados por essa devido às chuvas na região, prevendo-se sua retomada ao
Comissão mais de cinquenta e dois mil pedidos de concessão final do primeiro trimestre de 2010.
de anistia, dos quais quase trinta e cinco mil foram deferidos Em maio de 2009, o Presidente da República coordenou
e cerca de dezessete mil, indeferidos. Outros doze mil pedi- o ato de lançamento do projeto Memórias Reveladas, sob
dos aguardavam julgamento, sendo possível, ainda, a apre- responsabilidade da Casa Civil, que interliga digitalmente
sentação de novas solicitações. Em julho de 2009, em Belo o acervo recolhido ao Arquivo Nacional após dezembro de
Horizonte, o Ministro de Estado da Justiça realizou audiência 2005, com vários outros arquivos federais sobre a repressão
pública de apresentação do projeto Memorial da Anistia Po- política e com arquivos estaduais de quinze unidades da fe-
lítica do Brasil, envolvendo a remodelação e construção de deração, superando cinco milhões de páginas de documentos
novo edifício junto ao antigo “Coleginho” da Universidade (www.memoriasreveladas.arquivonacional.gov.br).
Federal de Minas Gerais (UFMG), onde estará disponível para Cabe, agora, completar esse processo mediante recolhi-
pesquisas todo o acervo da Comissão de Anistia. mento ao Arquivo Nacional de todo e qualquer documento
No âmbito da sociedade civil, foram levadas ao Poder indevidamente retido ou ocultado, nos termos da Portaria
Judiciário importantes ações que provocaram debate sobre Interministerial assinada na mesma data daquele lançamen-
a interpretação das leis e a apuração de responsabilidades. to. Cabe também sensibilizar o Legislativo pela aprovação do
Em 1982, um grupo de familiares entrou com ação na Justiça Projeto de Lei nº 5.228/2009, assinado pelo Presidente da
República, que introduz avanços democratizantes nas normas
Federal para a abertura de arquivos e localização dos restos
reguladoras do direito de acesso à informação.
mortais dos mortos e desaparecidos políticos no episódio
Importância superior nesse resgate da história nacional
conhecido como “Guerrilha do Araguaia”. Em 2003, foi pro-
está no imperativo de localizar os restos mortais de pelo
ferida sentença condenando a União, que recorreu e, poste-
menos cento e quarenta brasileiros e brasileiras que foram
riormente, criou Comissão Interministerial pelo Decreto nº
mortos pelo aparelho de repressão do regime ditatorial. A
4.850, de 2 de outubro de 2003, com a finalidade de obter
partir de junho de 2009, a Secretaria de Comunicação Social
informações que levassem à localização dos restos mortais da Presidência da República planejou, concebeu e veiculou
de participantes da “Guerrilha do Araguaia”. Os trabalhos da abrangente campanha publicitária de televisão, internet, rá-
Comissão Interministerial encerraram-se em março de 2007, dio, jornais e revistas de todo o Brasil buscando sensibilizar
com a divulgação de seu relatório final. os cidadãos sobre essa questão. As mensagens solicitavam
Em agosto de 1995, o Centro de Estudos para a Justiça e o que informações sobre a localização de restos mortais ou
Direito Internacional (CEJIL) e a Human Rights Watch/Améri- sobre qualquer documento e arquivos envolvendo assuntos
ca (HRWA), em nome de um grupo de familiares, apresenta- da repressão política entre 1964 e 1985 sejam encaminhados
ram petição à Comissão Interamericana de Direitos Humanos ao Memórias Reveladas. Seu propósito é assegurar às famílias
(CIDH), denunciando o desaparecimento de integrantes da o exercício do direito sagrado de prantear seus entes queri-
“Guerrilha do Araguaia”. Em 31 de outubro de 2008, a CIDH dos e promover os ritos funerais, sem os quais desaparece
expediu o Relatório de Mérito nº 91/08, onde fez recomen- a certeza da morte e se perpetua angústia que equivale a
dações ao Estado brasileiro. Em 26 de março de 2009, a nova forma de tortura.
CIDH submeteu o caso à Corte Interamericana de Direitos As violações sistemáticas dos Direitos Humanos pelo
Humanos, requerendo declaração de responsabilidade do Estado durante o regime ditatorial são desconhecidas pela
Estado brasileiro sobre violações de direitos humanos ocor- maioria da população, em especial pelos jovens. A radiografia
ridas durante as operações de repressão àquele movimento. dos atingidos pela repressão política ainda está longe de
Em 2005 e 2008, duas famílias iniciaram, na Justiça Ci- ser concluída, mas calcula-se que pelo menos cinquenta mil
vil, ações declaratórias para o reconhecimento das torturas pessoas foram presas somente nos primeiros meses de 1964;
sofridas por seus membros, indicando o responsável pelas cerca de vinte mil brasileiros foram submetidos a torturas
Direitos Humanos e Cidadania

sevícias. Ainda em 2008, o Ministério Público Federal em São e cerca de quatrocentos cidadãos foram mortos ou estão
Paulo propôs Ação Civil Pública contra dois oficiais do exército desaparecidos. Ocorreram milhares de prisões políticas não
acusados de determinarem prisão ilegal, tortura, homicídio registradas, cento e trinta banimentos, quatro mil, oitocentos
e desaparecimento forçado de dezenas de cidadãos. e sessenta e duas cassações de mandatos políticos, uma cifra
Tramita também, no âmbito do Supremo Tribunal Fede- incalculável de exílios e refugiados políticos.
ral, Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental, As ações programáticas deste eixo orientador têm como
proposta pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados finalidade assegurar o processamento democrático e repu-
do Brasil, que solicita a mais alta corte brasileira posiciona- blicano de todo esse período da história brasileira, para que
mento formal para saber se, em 1979, houve ou não anistia se viabilize o desejável sentimento de reconciliação nacional.
dos agentes públicos responsáveis pela prática de tortura, E para se construir consenso amplo no sentido de que as
homicídio, desaparecimento forçado, abuso de autoridade, violações sistemáticas de Direitos Humanos registradas entre
lesões corporais e estupro contra opositores políticos, con- 1964 e 1985, bem como no período do Estado Novo, não
siderando, sobretudo, os compromissos internacionais as- voltem a ocorrer em nosso País, nunca mais.

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Diretriz 23: Reconhecimento da memória e da verdade • A Comissão Nacional da Verdade deverá apresentar,
como Direito Humano da cidadania e dever do Estado. anualmente, relatório circunstanciado que exponha as ati-
vidades realizadas e as respectivas conclusões, com base
Objetivo Estratégico I: em informações colhidas ou recebidas em decorrência do
Promover a apuração e o esclarecimento público das exercício de suas atribuições.
violações de Direitos Humanos praticadas no contexto da
repressão política ocorrida no Brasil no período fixado pelo Diretriz 24: Preservação da memória histórica e cons-
art. 8º do ADCT da Constituição, a fim de efetivar o direito à trução pública da verdade.
memória e à verdade histórica e promover a reconciliação
nacional. Objetivo Estratégico I:
Ação Programática: Incentivar iniciativas de preservação da memória his-
a) Designar grupo de trabalho composto por represen- tórica e de construção pública da verdade sobre períodos
tantes da Casa Civil, do Ministério da Justiça, do Ministério autoritários.
da Defesa e da Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Ações programáticas:
Presidência da República, para elaborar, até abril de 2010, a) Disponibilizar linhas de financiamento para a criação
projeto de lei que institua Comissão Nacional da Verdade, de centros de memória sobre a repressão política, em todos
composta de forma plural e suprapartidária, com mandato os Estados, com projetos de valorização da história cultural
e prazo definidos, para examinar as violações de Direitos e de socialização do conhecimento por diversos meios de
Humanos praticadas no contexto da repressão política no difusão.
período mencionado, observado o seguinte: Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
• O grupo de trabalho será formado por representantes da Presidência da República; Ministério da Justiça; Ministério
da Casa Civil da Presidência da República, que o presidirá, do da Cultura; Ministério da Educação
Ministério da Justiça, do Ministério da Defesa, da Secretaria b) Criar comissão específica, em conjunto com departa-
Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República, mentos de História e centros de pesquisa, para reconstituir
do presidente da Comissão Especial sobre Mortos e Desapa- a história da repressão ilegal relacionada ao Estado Novo
recidos Políticos, criada pela Lei nº 9.140/95 e de represen- (1937-1945). Essa comissão deverá publicar relatório con-
tante da sociedade civil, indicado por esta Comissão Especial; tendo os documentos que fundamentaram essa repressão, a
descrição do funcionamento da justiça de exceção, os respon-
• Com o objetivo de promover o maior intercâmbio de in-
sáveis diretos no governo ditatorial, registros das violações,
formações e a proteção mais eficiente dos Direitos Humanos,
bem como dos autores e das vítimas.
a Comissão Nacional da Verdade estabelecerá coordenação
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
com as atividades desenvolvidas pelos seguintes órgãos:
da Presidência da República; Ministério da Educação; Minis-
 Arquivo Nacional, vinculado à Casa Civil da Presidência
tério da Justiça; Ministério da Cultura
da República;
c) Identificar e tornar públicos as estruturas, os locais,
 Comissão de Anistia, vinculada ao Ministério da Justiça; as instituições e as circunstâncias relacionados à prática de
 Comissão Especial criada pela Lei nº 9.140/95, vincula- violações de direitos humanos, suas eventuais ramificações
da à Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência nos diversos aparelhos estatais e na sociedade, bem como
da República; promover, com base no acesso às informações, os meios e
 Comitê Interinstitucional de Supervisão instituído pelo recursos necessários para a localização e identificação de
Decreto Presidencial de 17 de julho de 2009; corpos e restos mortais de desaparecidos políticos. (Redação
 Grupo de Trabalho instituído pela Portaria nº 567/MD, dada pelo Decreto nº 7.177, de 2010)
de 29 de abril de 2009, do Ministro de Estado da Defesa; Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
 No exercício de suas atribuições, a Comissão Nacional da Presidência da República; Casa Civil da Presidência da
da Verdade poderá realizar as seguintes atividades: República; Ministério da Justiça; Secretaria de Relações Ins-
– requisitar documentos públicos, com a colaboração das titucionais da Presidência da República
respectivas autoridades, bem como requerer ao Judiciário o d) Criar e manter museus, memoriais e centros de docu-
acesso a documentos privados; mentação sobre a resistência à ditadura.
– colaborar com todas as instâncias do Poder Público para Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
a apuração de violações de Direitos Humanos, observadas da Presidência da República; Ministério da Justiça; Ministério
as disposições da Lei nº 6.683, de 28 de agosto de 1979; da Cultura; Secretaria de Relações Institucionais da Presi-
– promover, com base em seus informes, a reconstrução dência da República
da história dos casos de violação de Direitos Humanos, bem e) Apoiar técnica e financeiramente a criação de obser-
como a assistência às vítimas de tais violações; vatórios do Direito à Memória e à Verdade nas universidades
– promover, com base no acesso às informações, os e em organizações da sociedade civil.
Direitos Humanos e Cidadania

meios e recursos necessários para a localização e identifica- Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
ção de corpos e restos mortais de desaparecidos políticos; da Presidência da República; Ministério da Educação
– identificar e tornar públicas as estruturas utilizadas para f) Desenvolver programas e ações educativas, inclusive a
a prática de violações de Direitos Humanos, suas ramificações produção de material didático-pedagógico para ser utilizado
nos diversos aparelhos do Estado e em outras instâncias da pelos sistemas de educação básica e superior sobre graves
sociedade; violações de direitos humanos ocorridas no período fixado
– registrar e divulgar seus procedimentos oficiais, a fim no art. 8º do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias
de garantir o esclarecimento circunstanciado de torturas, da Constituição de 1988. (Redação dada pelo Decreto nº
mortes e desaparecimentos, devendo-se discriminá-los e 7.177, de 2010)
encaminhá-los aos órgãos competentes; Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Huma-
– apresentar recomendações para promover a efetiva nos da Presidência da República; Ministério da Educação;
reconciliação nacional e prevenir no sentido da não repetição Ministério da Justiça; Ministério da Cultura; Ministério de
de violações de Direitos Humanos. Ciência e Tecnologia

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Diretriz 25: Modernização da legislação relacionada com econômico, social, cultural ou humanitário, e para
promoção do direito à memória e à verdade, fortalecendo promover e estimular o respeito aos direitos huma-
a democracia. nos e às liberdades fundamentais para todos, sem
distinção de raça, sexo, língua ou religião; e
Objetivo Estratégico I: 4. Ser um centro destinado a harmonizar a ação das
Suprimir do ordenamento jurídico brasileiro eventuais nações para a consecução desses objetivos comuns.19
normas remanescentes de períodos de exceção que afron-
tem os compromissos internacionais e os preceitos consti- Se por um lado, atualmente, existe uma grande preo-
tucionais sobre Direitos Humanos. cupação na tutela dos direitos humanos, por outro lado,
Ações Programáticas: evidencia-se que lesões de toda ordem são processadas e
a) Criar grupo de trabalho para acompanhar, discutir e que aviltam a dignidade humana.
articular, com o Congresso Nacional, iniciativas de legislação Não se pode negar que muitas dessas lesões provêm do
propondo: momento em que vivemos: a globalização.
• revogação de leis remanescentes do período 1964-1985 A Globalização por mais impreciso que seja o seu con-
que sejam contrárias à garantia dos Direitos Humanos ou ceito, mostra-se como um processo que vem transformando
tenham dado sustentação a graves violações; de maneira fundamental as relações internacionais, o qual
• revisão de propostas legislativas envolvendo retroces- para muitos não pode ser considerado como um paradigma
das ciências sociais, mas sim como mais um fenômeno que
sos na garantia dos Direitos Humanos em geral e no direito
deve ser analisado por esta.
à memória e à verdade.
A escolha por determinar a globalização como fenômeno
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos e não paradigma vem de encontro com o objetivo de mostrar
da Presidência da República; Ministério da Justiça; Secretaria que ela é um acontecimento modelador da realidade.
de Relações Institucionais da Presidência da República A globalização mostra-se como um fenômeno que inten-
b) Propor e articular o reconhecimento do status consti- sifica as relações em escala mundial, que ao mesmo tempo
tucional de instrumentos internacionais de Direitos Humanos pode ser considerado amplo e limitado. Amplo porque cobre
novos ou já existentes ainda não ratificados. transformações políticas, econômicas e culturais, de consu-
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos mo e muito mais; limitado por não se tratar de um processo
da Presidência da República; Ministério da Justiça; Secreta- completo e terminado, e por não afetar a todos da mesma
ria de Relações Institucionais da Presidência da República; maneira, e por isso um fenômeno complexo e não um pa-
Ministério das Relações Exteriores radigma que possa explicar a realidade, independente da
c) Fomentar debates e divulgar informações no sentido vertente teórica utilizada para sua abordagem.
de que logradouros, atos e próprios nacionais ou prédios O fato é que, em razão da globalização, o Estado deixa
públicos não recebam nomes de pessoas identificadas re- de exercer o papel de proporcionar o bem-estar dos seus
conhecidamente como torturadores. (Redação dada pelo cidadãos, propiciando grandes desigualdades sociais.
Decreto nº 7.177, de 2010) Segundo Flores (2005), a nova fase da globalização apre-
Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial senta quatro fases articuladas: a proliferação de centros de
dos Direitos Humanos da Presidência da República; Casa Civil poder; a intrincada rede de interconexões financeira; a de-
da Presidência da República; Secretaria de Relações Institu- pendência de uma informação que produz efeito em tempo
cionais da Presidência da República real; e o ataque frontal aos direitos sociais e trabalhistas.
d) Acompanhar e monitorar a tramitação judicial dos pro- Estas características estão provocando uma mudança signi-
cessos de responsabilização civil sobre casos que envolvam ficativa em matéria de direitos humanos.
graves violações de direitos humanos praticadas no perío- Alves, alargando a discussão, aponta alguns efeitos cola-
do fixado no art. 8º do Ato das Disposições Constitucionais terais da globalização: a busca obsessiva da eficiência faz au-
Transitórias da Constituição de 1988. (Redação dada pelo mentar continuamente o número dos que por ela são margi-
Decreto nº 7.177, de 2010) nalizados, inclusive nos países desenvolvidos; a mecanização
da agricultura provocou êxodo rural, inflando cidades e suas
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos
periferias; com a informatização da indústria e dos serviços
da Presidência da República; Ministério da Justiça
o trabalho especializado torna-se supérfluo e o desemprego
estrutural; a mão de obra barata, ainda imprescindível na
GLOBALIZAÇÃO E DIREITOS HUMANOS produção, é, muitas vezes, recrutada fora do espaço nacional
pelas filiais de grandes corporações instaladas no exterior.
O marco no processo de internacionalização dos Direitos Com isso, evidencia-se uma dilapidação dos direitos hu-
humanos foi a Carta das Nações Unidas de 1945, que logo no manos em suas diversas dimensões alcançando, inclusive,
art. 1º deixa claro seus propósitos, quais sejam: países ricos e países emergentes (como o Brasil), e o aumento
da miséria e da penúria social nos países pobres.
1. Manter a paz e a segurança internacionais e, para
Direitos Humanos e Cidadania

esse fim: tomar, coletivamente, medidas efetivas para AS TRÊS VERTENTES DA PROTEÇÃO
evitar ameaças à paz e reprimir os atos de agressão INTERNACIONAL DA PESSOA HUMANA.
ou outra qualquer ruptura da paz e chegar, por meios
pacíficos e de conformidade com os princípios da DIREITOS HUMANOS, DIREITO
justiça e do direito internacional, a um ajuste ou HUMANITÁRIO E DIREITO DOS
solução das controvérsias ou situações que possam REFUGIADOS
levar a uma perturbação da paz;
2. Desenvolver relações amistosas entre as nações, ba- A doutrina clássica reconhece a existência de três verten-
seadas no respeito ao princípio de igualdade de direitos tes do direito Internacional orientado à proteção da pessoa
e de autodeterminação dos povos, e tomar outras me- humana:
didas apropriadas ao fortalecimento da paz universal;
A Carta das Nações Unidas foi ratificada pelo governo brasileiro em 12 de
19
3. Conseguir uma cooperação internacional para setembro de 1945, tendo sido promulgada pelo Decreto nº 19.841, de 22 de
resolver os problemas internacionais de caráter outubro de 1945.

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• O Direito Internacional Humanitário; motivos de raça, religião, nacionalidade, pertencimento a
• O Direito Internacional dos Direitos Humanos; e grupo social, opinião política ou grave e generalizada violação
• O Direito Internacional dos Refugiados. de direitos humanos, tiver de deixar seu território natal ou
residência habitual.
O Direito Internacional Humanitário é o ramo do Direito Por fim, o Direito Internacional dos Direitos Humanos
Público Internacional dedicado à proteção do ser humano, é o ramo do Direito Internacional Público, mais abrangen-
civil ou militar, em contexto de conflito armado e identificado te, pois contempla a proteção da pessoa humana e de sua
pelo grupo das chamadas “quatro correntes”: o ‘Direito de dignidade em todos os seus aspectos (liberdades públicas,
Genebra’; o ‘Direito de Haia’; o ‘Direito de Nova York’; e o direitos políticos, direitos sociais, direitos econômicos, so-
‘Direito de Roma’. ciais e culturais, direitos de solidariedade etc.), na esteira da
Já o Direito Internacional dos Refugiados é o ramo do Direi- Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH), docu-
to Internacional Público que tem por finalidade a proteção da mento normativo nuclear, a partir do qual se construiu o atual
pessoa do refugiado. A despeito dos sistemáticos alargamentos Sistema Internacional de Proteção dos Direitos Humanos.
que vêm experimentando, o conceito de refugiado, estabelecido
no art. 1º da Convenção Relativa ao Estatuto dos Refugiados da Concepção Clássica
ONU, de 1951, ainda é a referência central desse ramo.

Art. 1º Definição do termo “refugiado”


A. Para os fins da presente Convenção, o termo “re-
fugiado” se aplicará a qualquer pessoa:
1) Que foi considerada refugiada nos termos dos
Ajustes de 12 de maio de 1926 e de 30 de junho de
1928, ou das Convenções de 28 de outubro de 1933
e de 10 de fevereiro de 1938 e do Protocolo de 14
de setembro de 1939, ou ainda da Constituição da
Organização Internacional dos Refugiados;20
Vale destacar que a concepção moderna do Direito Inter-
2) Que, em consequência dos acontecimentos ocorri-
nacional dos Direitos Humanos refuta, entretanto o estabele-
dos antes de 1º de janeiro de 1951 e temendo ser per-
cimento de uma distinção estanque entre as três vertentes.
seguida por motivos de raça, religião, nacionalidade,
Todavia, é notável o ponto central que as une: a proteção da
grupo social ou opiniões políticas, se encontra fora do
país de sua nacionalidade e que não pode ou, em vir- pessoa humana. A convergência, segundo diversos autores,
tude desse temor, não quer valer-se da proteção desse revela-se pela existência, em cada uma delas, de normas
país, ou que, se não tem nacionalidade e se encontra dedicadas à proteção do mesmo bem jurídico, do que são
fora do país no qual tinha sua residência habitual em exemplos as disposições sobre a proibição de tortura e de
consequência de tais acontecimentos, não pode ou, tratamento cruel ou degradante, de discriminação, de pri-
devido ao referido temor, não quer voltar a ele.21 são e de detenção arbitrárias, além das garantias do devido
processo legal, entre outras. (GUERRA, 2015)
Corroborando as disposições da referida Convenção, o De fato, o Direito Internacional Humanitário é amplamente
art. 1º da Lei Federal nº 9.474, de 22 de julho de 1997, que acatado como a fonte de inspiração do modelo de proteção
define mecanismos para a implementação do Estatuto dos internacional dos direitos humanos desenvolvido, sobretudo,
Refugiados de 1951, estabelece: após a Segunda Guerra Mundial. A Declaração Universal de
Direitos Humanos de 1948 consubstancia-se como ponto de
Art. 1º Será reconhecido como refugiado todo indi- partida desse modelo, inclusive no que tange do Direito Inter-
víduo que: nacional dos Refugiados, na medida em que preceitua, no seu
I – devido a fundados temores de perseguição por art. XIV, que “todo ser humano, vítima de perseguição, tem
motivos de raça, religião, nacionalidade, grupo social o direito de procurar asilo e de gozar asilo em outros países”.
ou opiniões políticas encontre-se fora de seu país de Nessa direção, vige, pois, tendência de se admitir que o Direito
nacionalidade e não possa ou não queira acolher-se Internacional dos Direitos Humanos abrange igualmente as
à proteção de tal país; outras duas vertente, que se dedicam à mesma missão de
II – não tendo nacionalidade e estando fora do país salvaguarda da pessoa humana, embora em situações espe-
onde antes teve sua residência habitual, não possa cíficas (conflitos armados e refúgio). (NETO, 2015)
ou não queira regressar a ele, em função das circuns-
tâncias descritas no inciso anterior; Concepção Moderna
III – devido a grave e generalizada violação de direitos
Direitos Humanos e Cidadania

humanos, é obrigado a deixar seu país de nacionali-


dade para buscar refúgio em outro país.

No mesmo sentido, Almeida e Apolinário (2011) assim


definem a figura do refugiado: homem ou mulher que, de-
vido a bem fundado temor em razão de perseguição por
20
As decisões de inabilitação tomadas pela Organização Internacional dos Refu-
giados durante o período do seu mandato, não constituem obstáculo a que a
qualidade de refugiados seja reconhecida a pessoas que preencham as condi-
ções previstas no parágrafo 2, da presente seção.
21
No caso de uma pessoa que tem mais de uma nacionalidade, a expressão "do
país de sua nacionalidade" se refere a cada um dos países dos quais ela é na-
cional. Uma pessoa que, sem razão válida fundada sobre um temor justificado,
não se houver valido da proteção de um dos países de que é nacional, não será
considerada privada da proteção do país de sua nacionalidade.

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Lei nº 9.474, de 22 de Julho de 1997 Art. 5º O refugiado gozará de direitos e estará sujeito
aos deveres dos estrangeiros no Brasil, ao disposto nesta
Define mecanismos para a Lei, na Convenção sobre o Estatuto dos Refugiados de 1951
implementação do Estatuto dos e no Protocolo sobre o Estatuto dos Refugiados de 1967,
Refugiados de 1951, e determina cabendo-lhe a obrigação de acatar as leis, regulamentos e
outras providências. providências destinados à manutenção da ordem pública.
Art. 6º O refugiado terá direito, nos termos da Conven-
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso ção sobre o Estatuto dos Refugiados de 1951, a cédula de
Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: identidade comprobatória de sua condição jurídica, carteira
de trabalho e documento de viagem.
TÍTULO I
Dos Aspectos Caracterizadores TÍTULO II
Do Ingresso no Território
CAPÍTULO I Nacional e do Pedido de Refúgio
Do Conceito, da Extensão e da Exclusão
Art. 7º O estrangeiro que chegar ao território nacional
Seção I poderá expressar sua vontade de solicitar reconhecimento
Do Conceito como refugiado a qualquer autoridade migratória que se en-
contre na fronteira, a qual lhe proporcionará as informações
Art. 1º Será reconhecido como refugiado todo indivíduo necessárias quanto ao procedimento cabível.
que: § 1º Em hipótese alguma será efetuada sua deportação
I – devido a fundados temores de perseguição por moti- para fronteira de território em que sua vida ou liberdade
vos de raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opiniões esteja ameaçada, em virtude de raça, religião, nacionalidade,
políticas encontre-se fora de seu país de nacionalidade e grupo social ou opinião política.
não possa ou não queira acolher-se à proteção de tal país; § 2º O benefício previsto neste artigo não poderá ser
II – não tendo nacionalidade e estando fora do país onde invocado por refugiado considerado perigoso para a segu-
antes teve sua residência habitual, não possa ou não queira rança do Brasil.
regressar a ele, em função das circunstâncias descritas no Art.  8º O ingresso irregular no território nacional não
inciso anterior; constitui impedimento para o estrangeiro solicitar refúgio
III – devido a grave e generalizada violação de direitos às autoridades competentes.
humanos, é obrigado a deixar seu país de nacionalidade para Art. 9º A autoridade a quem for apresentada a solicitação
buscar refúgio em outro país. deverá ouvir o interessado e preparar termo de declaração,
que deverá conter as circunstâncias relativas à entrada no
Seção II Brasil e às razões que o fizeram deixar o país de origem.
Da Extensão Art.  10. A solicitação, apresentada nas condições pre-
vistas nos artigos anteriores, suspenderá qualquer proce-
Art. 2º Os efeitos da condição dos refugiados serão ex- dimento administrativo ou criminal pela entrada irregular,
tensivos ao cônjuge, aos ascendentes e descendentes, assim instaurado contra o peticionário e pessoas de seu grupo
como aos demais membros do grupo familiar que do refugia- familiar que o acompanhem.
do dependerem economicamente, desde que se encontrem § 1º Se a condição de refugiado for reconhecida, o pro-
em território nacional.
cedimento será arquivado, desde que demonstrado que a
infração correspondente foi determinada pelos mesmos fatos
Seção III
que justificaram o dito reconhecimento.
Da Exclusão
§ 2º Para efeito do disposto no parágrafo anterior, a so-
licitação de refúgio e a decisão sobre a mesma deverão ser
Art. 3º Não se beneficiarão da condição de refugiado os
comunicadas à Polícia Federal, que as transmitirá ao órgão
indivíduos que:
I – já desfrutem de proteção ou assistência por parte onde tramitar o procedimento administrativo ou criminal.
de organismo ou instituição das Nações Unidas que não o
Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados TÍTULO III
– ACNUR; Do Conare
II – sejam residentes no território nacional e tenham di-
reitos e obrigações relacionados com a condição de nacional Art. 11. Fica criado o Comitê Nacional para os Refugia-
brasileiro; dos – CONARE, órgão de deliberação coletiva, no âmbito do
Ministério da Justiça.
Direitos Humanos e Cidadania

III – tenham cometido crime contra a paz, crime de guer-


ra, crime contra a humanidade, crime hediondo, participado
de atos terroristas ou tráfico de drogas; CAPÍTULO I
IV – sejam considerados culpados de atos contrários aos Da Competência
fins e princípios das Nações Unidas.
Art. 12. Compete ao CONARE, em consonância com a
CAPÍTULO II Convenção sobre o Estatuto dos Refugiados de 1951, com
Da Condição Jurídica de Refugiado o Protocolo sobre o Estatuto dos Refugiados de 1967 e com
as demais fontes de direito internacional dos refugiados:
Art. 4º O reconhecimento da condição de refugiado, nos I – analisar o pedido e declarar o reconhecimento, em
termos das definições anteriores, sujeitará seu beneficiário primeira instância, da condição de refugiado;
ao preceituado nesta Lei, sem prejuízo do disposto em ins- II – decidir a cessação, em primeira instância, ex officio
trumentos internacionais de que o Governo brasileiro seja ou mediante requerimento das autoridades competentes,
parte, ratifique ou venha a aderir. da condição de refugiado;

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III – determinar a perda, em primeira instância, da con- grau de escolaridade do solicitante e membros do seu gru-
dição de refugiado; po familiar, bem como relato das circunstâncias e fatos que
IV – orientar e coordenar as ações necessárias à eficácia fundamentem o pedido de refúgio, indicando os elementos
da proteção, assistência e apoio jurídico aos refugiados; de prova pertinentes.
V – aprovar instruções normativas esclarecedoras à exe- Art. 20. O registro de declaração e a supervisão do pre-
cução desta Lei. enchimento da solicitação do refúgio devem ser efetuados
Art. 13. O regimento interno do CONARE será aprovado por funcionários qualificados e em condições que garantam
pelo Ministro de Estado da Justiça. o sigilo das informações.
Parágrafo único. O regimento interno determinará a pe-
riodicidade das reuniões do CONARE. CAPÍTULO II
Da Autorização de Residência Provisória
CAPÍTULO II
Da Estrutura e do Funcionamento Art. 21. Recebida a solicitação de refúgio, o Departamen-
to de Polícia Federal emitirá protocolo em favor do solicitante
Art. 14. O CONARE será constituído por: e de seu grupo familiar que se encontre no território nacio-
I – um representante do Ministério da Justiça, que o nal, o qual autorizará a estada até a decisão final do processo.
presidirá; § 1º O protocolo permitirá ao Ministério do Trabalho
II – um representante do Ministério das Relações Exte- expedir carteira de trabalho provisória, para o exercício de
riores; atividade remunerada no País.
III – um representante do Ministério do Trabalho; § 2º No protocolo do solicitante de refúgio serão men-
IV – um representante do Ministério da Saúde; cionados, por averbamento, os menores de quatorze anos.
V – um representante do Ministério da Educação e do Art. 22. Enquanto estiver pendente o processo relativo à
Desporto; solicitação de refúgio, ao peticionário será aplicável a legisla-
VI – um representante do Departamento de Polícia Fe- ção sobre estrangeiros, respeitadas as disposições específicas
deral; contidas nesta Lei.
VII – um representante de organização não-governamen-
tal, que se dedique a atividades de assistência e proteção de CAPÍTULO III
refugiados no País. Da Instrução e do Relatório
§ 1º O Alto Comissariado das Nações Unidas para Re-
fugiados – ACNUR será sempre membro convidado para as Art. 23. A autoridade competente procederá a eventuais
reuniões do CONARE, com direito a voz, sem voto. diligências requeridas pelo CONARE, devendo averiguar to-
§ 2º Os membros do CONARE serão designados pelo Pre- dos os fatos cujo conhecimento seja conveniente para uma
sidente da República, mediante indicações dos órgãos e da justa e rápida decisão, respeitando sempre o princípio da
entidade que o compõem. confidencialidade.
§ 3º O CONARE terá um Coordenador-Geral, com a atri- Art. 24. Finda a instrução, a autoridade competente ela-
buição de preparar os processos de requerimento de refúgio borará, de imediato, relatório, que será enviado ao Secretá-
e a pauta de reunião. rio do CONARE, para inclusão na pauta da próxima reunião
daquele Colegiado.
Art.  15. A participação no CONARE será considerada
Art. 25. Os intervenientes nos processos relativos às so-
serviço relevante e não implicará remuneração de qualquer
licitações de refúgio deverão guardar segredo profissional
natureza ou espécie.
quanto às informações a que terão acesso no exercício de
Art. 16. O CONARE reunir-se-á com quorum de quatro
suas funções.
membros com direito a voto, deliberando por maioria sim-
ples.
CAPÍTULO IV
Parágrafo único. Em caso de empate, será considerado Da Decisão, da Comunicação e do Registro
voto decisivo o do Presidente do CONARE.
Art. 26. A decisão pelo reconhecimento da condição de
TÍTULO IV refugiado será considerada ato declaratório e deverá estar
Do Processo de Refúgio devidamente fundamentada.
Art. 27. Proferida a decisão, o CONARE notificará o solici-
CAPÍTULO I tante e o Departamento de Polícia Federal, para as medidas
Do Procedimento administrativas cabíveis.
Art.  28. No caso de decisão positiva, o refugiado será
Art. 17. O estrangeiro deverá apresentar-se à autoridade registrado junto ao Departamento de Polícia Federal, de-
competente e externar vontade de solicitar o reconhecimen-
Direitos Humanos e Cidadania

vendo assinar termo de responsabilidade e solicitar cédula


to da condição de refugiado. de identidade pertinente.
Art. 18. A autoridade competente notificará o solicitante
para prestar declarações, ato que marcará a data de abertura CAPÍTULO V
dos procedimentos. Do Recurso
Parágrafo único. A autoridade competente informará o
Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados – AC- Art. 29. No caso de decisão negativa, esta deverá ser fun-
NUR sobre a existência do processo de solicitação de refúgio damentada na notificação ao solicitante, cabendo direito de
e facultará a esse organismo a possibilidade de oferecer su- recurso ao Ministro de Estado da Justiça, no prazo de quinze
gestões que facilitem seu andamento. dias, contados do recebimento da notificação.
Art. 19. Além das declarações, prestadas se necessário Art. 30. Durante a avaliação do recurso, será permitido
com ajuda de intérprete, deverá o estrangeiro preencher a ao solicitante de refúgio e aos seus familiares permanecer
solicitação de reconhecimento como refugiado, a qual deve- no território nacional, sendo observado o disposto nos
rá conter identificação completa, qualificação profissional, §§ 1º e 2º do art. 21 desta Lei.

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Art. 31. A decisão do Ministro de Estado da Justiça não CAPÍTULO II
será passível de recurso, devendo ser notificada ao CONARE, Da Perda da Condição de Refugiado
para ciência do solicitante, e ao Departamento de Polícia
Federal, para as providências devidas. Art. 39. Implicará perda da condição de refugiado:
Art. 32. No caso de recusa definitiva de refúgio, ficará o I – a renúncia;
solicitante sujeito à legislação de estrangeiros, não devendo II – a prova da falsidade dos fundamentos invocados para
ocorrer sua transferência para o seu país de nacionalidade o reconhecimento da condição de refugiado ou a existência
ou de residência habitual, enquanto permanecerem as cir- de fatos que, se fossem conhecidos quando do reconheci-
cunstâncias que põem em risco sua vida, integridade física mento, teriam ensejado uma decisão negativa;
e liberdade, salvo nas situações determinadas nos incisos III III – o exercício de atividades contrárias à segurança na-
e IV do art. 3º desta Lei.
cional ou à ordem pública;
IV – a saída do território nacional sem prévia autorização
TÍTULO V
Dos Efeitos do Estatuto de Refugiados do Governo brasileiro.
Sobre a Extradição e a Expulsão Parágrafo único. Os refugiados que perderem essa condi-
ção com fundamento nos incisos I e IV deste artigo serão en-
CAPÍTULO I quadrados no regime geral de permanência de estrangeiros
Da Extradição no território nacional, e os que a perderem com fundamento
nos incisos II e III estarão sujeitos às medidas compulsórias
Art. 33. O reconhecimento da condição de refugiado obs- previstas na Lei nº 6.815, de 19 de agosto de 1980.
tará o seguimento de qualquer pedido de extradição baseado
nos fatos que fundamentaram a concessão de refúgio. CAPÍTULO III
Art. 34. A solicitação de refúgio suspenderá, até decisão Da Autoridade Competente e do Recurso
definitiva, qualquer processo de extradição pendente, em
fase administrativa ou judicial, baseado nos fatos que fun- Art. 40. Compete ao CONARE decidir em primeira ins-
damentaram a concessão de refúgio. tância sobre cessação ou perda da condição de refugiado,
Art. 35. Para efeito do cumprimento do disposto nos arts. cabendo, dessa decisão, recurso ao Ministro de Estado da
33 e 34 desta Lei, a solicitação de reconhecimento como re- Justiça, no prazo de quinze dias, contados do recebimento
fugiado será comunicada ao órgão onde tramitar o processo da notificação.
de extradição. § 1º A notificação conterá breve relato dos fatos e fun-
damentos que ensejaram a decisão e cientificará o refugiado
CAPÍTULO II do prazo para interposição do recurso.
Da Expulsão § 2º Não sendo localizado o estrangeiro para a notifica-
ção prevista neste artigo, a decisão será publicada no Diário
Art. 36. Não será expulso do território nacional o refu-
Oficial da União, para fins de contagem do prazo de inter-
giado que esteja regularmente registrado, salvo por motivos
de segurança nacional ou de ordem pública. posição de recurso.
Art. 37. A expulsão de refugiado do território nacional Art. 41. A decisão do Ministro de Estado da Justiça é irre-
não resultará em sua retirada para país onde sua vida, liber- corrível e deverá ser notificada ao CONARE, que a informará
dade ou integridade física possam estar em risco, e apenas ao estrangeiro e ao Departamento de Polícia Federal, para
será efetivada quando da certeza de sua admissão em país as providências cabíveis.
onde não haja riscos de perseguição.
TÍTULO VII
TÍTULO VI Das Soluções Duráveis
Da Cessação e da Perda
da Condição de Refugiado CAPÍTULO I
Da Repatriação
CAPÍTULO I
Da Cessação da Condição de Refugiado Art. 42. A repatriação de refugiados aos seus países de
origem deve ser caracterizada pelo caráter voluntário do re-
Art. 38. Cessará a condição de refugiado nas hipóteses torno, salvo nos casos em que não possam recusar a proteção
em que o estrangeiro: do país de que são nacionais, por não mais subsistirem as
I – voltar a valer-se da proteção do país de que é nacional; circunstâncias que determinaram o refúgio.
II – recuperar voluntariamente a nacionalidade outrora
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perdida; CAPÍTULO II
III – adquirir nova nacionalidade e gozar da proteção do
Da Integração Local
país cuja nacionalidade adquiriu;
IV – estabelecer-se novamente, de maneira voluntária,
no país que abandonou ou fora do qual permaneceu por Art. 43. No exercício de seus direitos e deveres, a condi-
medo de ser perseguido; ção atípica dos refugiados deverá ser considerada quando
V – não puder mais continuar a recusar a proteção do país da necessidade da apresentação de documentos emitidos
de que é nacional por terem deixado de existir as circuns- por seus países de origem ou por suas representações di-
tâncias em consequência das quais foi reconhecido como plomáticas e consulares.
refugiado; Art. 44. O reconhecimento de certificados e diplomas,
VI – sendo apátrida, estiver em condições de voltar ao os requisitos para a obtenção da condição de residente e o
país no qual tinha sua residência habitual, uma vez que te- ingresso em instituições acadêmicas de todos os níveis de-
nham deixado de existir as circunstâncias em consequência verão ser facilitados, levando-se em consideração a situação
das quais foi reconhecido como refugiado. desfavorável vivenciada pelos refugiados.

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CAPÍTULO III Não necessariamente os tratados internacionais consa-
Do Reassentamento gram novas regras de Direito Internacional. Por vezes, aca-
bam por codificar regras preexistentes, consolidadas pelo
Art. 45. O reassentamento de refugiados em outros paí- costume internacional, ou, ainda, optam por modificá-las.
ses deve ser caracterizado, sempre que possível, pelo caráter A necessidade de disciplinar e regular o processo de for-
voluntário. mação dos tratados internacionais resultou na elaboração
Art.  46. O reassentamento de refugiados no Brasil se da Convenção de Viena, concluída em 1969, que teve por
efetuará de forma planificada e com a participação coorde- finalidade servir como a Lei dos Tratados. Contudo, limitou-se
nada dos órgãos estatais e, quando possível, de organizações aos tratados celebrados entre os Estados, não envolvendo
não-governamentais, identificando áreas de cooperação e aqueles dos quais participam organizações internacionais.
de determinação de responsabilidades. Se assim é, a primeira regra a ser fixada é a de que os
tratados internacionais só se aplicam aos Estados-partes, ou
TÍTULO VIII seja, aos Estados que expressamente consentiram em sua
Das Disposições Finais adoção. Os tratados não podem criar obrigações para os
Estados que neles não consentiram, ao menos que preceitos
Art. 47. Os processos de reconhecimento da condição de constantes do tratado tenham sido incorporados pelo costu-
refugiado serão gratuitos e terão caráter urgente. me internacional. Como dispõe a Convenção de Viena: “Todo
Art. 48. Os preceitos desta Lei deverão ser interpretados tratado em vigor é obrigatório em relação às partes e deve
em harmonia com a Declaração Universal dos Direitos do ser cumprido por elas de boa-fé”. Acrescenta o art. 27 da
Convenção: “Uma parte não pode invocar disposições de seu
Homem de 1948, com a Convenção sobre o Estatuto dos
direito interno como justificativa para o não cumprimento
Refugiados de 1951, com o Protocolo sobre o Estatuto dos
do tratado”. Consagra-se, assim, o princípio da boa-fé, pelo
Refugiados de 1967 e com todo dispositivo pertinente de
qual cabe ao Estado conferir plena observância ao tratado
instrumento internacional de proteção de direitos humanos de que é parte, na medida em que, no livre exercício de sua
com o qual o Governo brasileiro estiver comprometido. soberania, o Estado contraiu obrigações jurídicas no plano
Art. 49. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. internacional.
Enfatize-se que os tratados são, por excelência, expressão
Brasília, 22 de julho de 1997; 176º da Independência e de consenso. Apenas pela via do consenso podem os tratados
109º da República. criar obrigações legais, uma vez que Estados soberanos, ao
aceitá-los, comprometem-se a respeitá-los. A exigência de
FERNANDO HENRIQUE CARDOSO consenso é prevista pelo art. 52 da Convenção de Viena,
Iris Rezende quando dispõe que o tratado será nulo se a sua aprovação
for obtida mediante ameaça ou pelo uso da força, em viola-
A CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA E OS ção aos princípios de Direito Internacional consagrados pela
TRATADOS INTERNACIONAIS DE DIREITOS Carta da ONU.
Em geral, os tratados permitem sejam formuladas reser-
HUMANOS vas, o que pode contribuir para a adesão de maior número
de Estados. Nos termos da Convenção de Viena, as reservas
Antes de iniciar a disciplina constitucional conferida aos constituem “uma declaração unilateral feita pelo Estado,
tratados internacionais de direitos humanos, faz-se neces- quando da assinatura, ratificação, acessão, adesão ou apro-
sário abordar, ainda que brevemente, o significado jurídico vação de um tratado, com o propósito de excluir ou modificar
dos tratados internacionais — seu conceito, seu processo o efeito jurídico de certas previsões do tratado, quando de
de formação e seus efeitos. Tais considerações auxiliarão sua aplicação naquele Estado”. Entretanto, são inadmissíveis
não apenas a análise a respeito da Constituição de 1988 e as reservas que se mostrem incompatíveis com o objeto e
dos tratados internacionais de direitos humanos, mas em propósito do tratado, nos termos do art. 19 da Convenção.
especial o estudo do impacto jurídico desses tratados no
Direito interno brasileiro. O Processo de Formação dos Tratados
Piovesan esclarece que os tratados internacionais, en- Internacionais
quanto acordos internacionais juridicamente obrigatórios e
vinculantes (pacta sunt servanda), constituem hoje a prin- A sistemática concernente ao exercício do poder de cele-
cipal fonte de obrigação do Direito Internacional. Foi com o brar tratados é deixada a critério de cada Estado. Por isso, as
crescente positivismo internacional que os tratados se torna- exigências constitucionais relativas ao processo de formação
ram a fonte maior de obrigação no plano internacional, papel dos tratados variam significativamente.
até então reservado ao costume internacional. Tal como no Em geral, o processo de formação dos tratados tem início
Direitos Humanos e Cidadania

âmbito interno, em virtude do movimento do Pós-Positivis- com os atos de negociação, conclusão e assinatura do trata-
mo, os princípios gerais de direito passam a ganhar cada do, que são da competência do órgão do Poder Executivo. A
vez maior relevância como fonte do Direito Internacional na assinatura do tratado, por si só, traduz um aceite precário e
ordem contemporânea. provisório, não irradiando efeitos jurídicos vinculantes. Trata-
O termo “tratado” é geralmente usado para se referir -se da mera aquiescência do Estado em relação à forma e
aos acordos obrigatórios celebrados entre sujeitos de Direito ao conteúdo final do tratado. A assinatura do tratado, via
Internacional, que são regulados pelo Direito Internacional. de regra, indica tão somente que o tratado é autêntico e
Além do termo “tratado”, diversas outras denominações são definitivo.
usadas para se referir aos acordos internacionais. As mais Após a assinatura do tratado pelo Poder Executivo, o
comuns são Convenção, Pacto, Protocolo, Carta, Convênio, segundo passo é a sua apreciação e aprovação pelo Poder
como também, Tratado ou Acordo Internacional. Alguns ter- Legislativo.
mos são usados para denotar solenidade (por exemplo, Pacto Em sequência, aprovado o tratado pelo Legislativo, há
ou Carta) ou a natureza suplementar do acordo (Protocolo). o seu ato de ratificação pelo Poder Executivo. A ratificação

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significa a subsequente confirmação formal por um Estado sistemática constitucional, ao manter ampla discricionarie-
de que está obrigado ao tratado. Significa, pois, o aceite de- dade aos Poderes Executivo e Legislativo no processo de
finitivo, pelo qual o Estado se obriga pelo tratado no plano formação dos tratados, acaba por contribuir para a afronta
internacional. A ratificação é ato jurídico que irradia neces- ao princípio da boa-fé vigente no Direito Internacional. A
sariamente efeitos no plano internacional. respeito, cabe mencionar o emblemático caso da Convenção
A respeito, a Convenção de Viena estabelece, em linhas de Viena sobre o Direito dos Tratados, assinada pelo Estado
gerais: “O consentimento do Estado em obrigar-se por um brasileiro em 1969 e encaminhada à apreciação do Congresso
tratado pode ser expresso mediante a assinatura, troca de Nacional apenas em 1992, tendo sido aprovada pelo Decre-
instrumentos constituintes do tratado, ratificação, aceitação, to Legislativo nº 496, em 17 de julho de 2009 – dezessete
aprovação ou adesão, ou através de qualquer outro meio anos após. Em 25 de setembro de 2009, o Estado brasileiro
acordado” (arts. 11 a 17 da Convenção). Por sua vez, o art. finalmente efetuou o depósito do instrumento de ratificação.
12 da Convenção fixa as hipóteses em que a ratificação é De todo modo, considerando o processo de formação dos
necessária, em adição à assinatura, no sentido de estabele- tratados e reiterando a concepção de que apresentam força
cer a aceitação do Estado no que toca à obrigatoriedade do jurídica obrigatória e vinculante, resta frisar que a violação
tratado. Vale dizer, não obstante a assinatura pelo órgão do de um tratado implica a violação de obrigações assumidas
Poder Executivo, a efetividade do tratado fica, via de regra, no âmbito internacional. O descumprimento de tais deveres
condicionada à sua aprovação pelo órgão legislativo e poste- implica, portanto, responsabilização internacional do Estado
rior ratificação pela autoridade do órgão executivo — matéria violador.
disciplinada pelo Direito interno.
A ratificação é, pois, ato necessário para que o trata- A Hierarquia dos Tratados Internacionais de
do passe a ter obrigatoriedade no âmbito internacional e Direitos Humanos
interno. Como etapa final, o instrumento de ratificação há
de ser depositado em um órgão que assuma a custódia do A Carta de 1988 consagra de forma inédita, ao fim da ex-
instrumento — por exemplo, na hipótese de um tratado das tensa Declaração de Direitos por ela prevista, que os direitos
Nações Unidas, o instrumento de ratificação deve ser deposi- e garantias expressos na Constituição “não excluem outros
tado na própria ONU; se o instrumento for do âmbito regional decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou
interamericano, deve ser depositado na OEA. dos tratados internacionais em que a República Federativa
No caso brasileiro, a Constituição de 1988, em seu art. 84, do Brasil seja parte” (art. 5º, § 2º).
VIII, determina que é da competência privativa do Presidente Ao efetuar a incorporação, a Carta atribui aos direitos in-
da República celebrar tratados, convenções e atos interna- ternacionais uma natureza especial e diferenciada, qual seja,
cionais, sujeitos a referendo do Congresso Nacional. Por sua a natureza de norma constitucional. Os direitos enunciados
vez, o art. 49, I, da mesma Carta prevê ser da competência nos tratados de direitos humanos de que o Brasil é parte in-
exclusiva do Congresso Nacional resolver definitivamente tegram, portanto, o elenco dos direitos constitucionalmente
sobre tratados, acordos ou atos internacionais. Consagra- consagrados. Essa conclusão advém ainda de interpretação
-se, assim, a colaboração entre Executivo e Legislativo na sistemática e teleológica do Texto, especialmente em face
conclusão de tratados internacionais, que não se aperfeiçoa da força expansiva dos valores da dignidade humana e dos
enquanto a vontade do Poder Executivo, manifestada pelo direitos fundamentais, como parâmetros axiológicos a orien-
Presidente da República, não se somar à vontade do Con- tar a compreensão do fenômeno constitucional.
gresso Nacional. Logo, os tratados internacionais deman- Acredita-se, todavia, que essa classificação peca ao
dam, para seu aperfeiçoamento, um ato complexo no qual equiparar os direitos decorrentes dos tratados internacio-
se integram a vontade do Presidente da República, que os nais aos decorrentes do regime e dos princípios adotados
celebra, e a do Congresso Nacional, que os aprova, mediante pela Constituição. Se estes últimos “não são nem explícita
decreto legislativo. nem implicitamente enumerados, mas provêm ou podem
Considerando o histórico das Constituições anteriores, vir a prover do regime adotado”, sendo direitos de “difícil
constata-se que, no Direito brasileiro, a conjugação de von- caracterização a priori”, o mesmo não pode ser afirmado
tades entre Executivo e Legislativo sempre se fez necessária quanto aos direitos constantes dos tratados internacionais
para a conclusão de tratados internacionais. Não gera efeitos dos quais o Brasil seja parte. Esses direitos internacionais
a simples assinatura de um tratado se não for referendado são expressos, enumerados e claramente elencados, não
pelo Congresso Nacional, já que o Poder Executivo só pode podendo ser considerados de “difícil caracterização a priori”.
promover a ratificação depois de aprovado o tratado pelo Há que enfatizar ainda que, enquanto os demais tratados
Congresso Nacional. Há, portanto, dois atos completamente internacionais têm força hierárquica infraconstitucional, os
distintos: a aprovação do tratado pelo Congresso Nacional, direitos enunciados em tratados internacionais de proteção
por meio de um decreto legislativo, e a ratificação pelo Pre- dos direitos humanos apresentam valor de norma constitu-
sidente da República, seguida da troca ou depósito do ins- cional. Observe-se que a hierarquia infraconstitucional dos
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trumento de ratificação. Assim, celebrado por representante demais tratados internacionais é extraída do art. 102, III, b,
do Poder Executivo, aprovado pelo Congresso Nacional e, por da Constituição Federal de 1988, que confere ao Supremo
fim, ratificado pelo Presidente da República, passa o tratado Tribunal Federal a competência para julgar, mediante recur-
a produzir efeitos jurídicos. so extraordinário, “as causas decididas em única ou última
Contudo, cabe observar que a Constituição brasileira de instância, quando a decisão recorrida declarar a inconstitu-
1988, ao estabelecer apenas esses dois dispositivos supraci- cionalidade de tratado ou lei federal”.
tados (os arts. 49, I, e 84, VIII), traz uma sistemática lacunosa, Sustenta-se, assim, que os tratados tradicionais têm hie-
falha e imperfeita: não prevê, por exemplo, prazo para que o rarquia infraconstitucional, mas supralegal. Esse posiciona-
Presidente da República encaminhe ao Congresso Nacional mento se coaduna com o princípio da boa-fé, vigente no
o tratado por ele assinado. Não há ainda previsão de prazo direito internacional (o pacta sunt servanda), e que tem como
para que o Congresso Nacional aprecie o tratado assinado, reflexo o art. 27 da Convenção de Viena, segundo o qual não
tampouco previsão de prazo para que o Presidente da Repú- cabe ao Estado invocar disposições de seu Direito interno
blica ratifique o tratado, se aprovado pelo Congresso. Essa como justificativa para o não cumprimento de tratado.

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À luz do mencionado dispositivo constitucional, uma Atente-se que as cláusulas pétreas resguardam o núcleo ma-
tendência da doutrina brasileira, contudo, passou a acolher terial da Constituição, que compõe os valores fundamentais
a concepção de que os tratados internacionais e as leis fede- da ordem constitucional. Nesse sentido, os valores da sepa-
rais apresentavam a mesma hierarquia jurídica, sendo, por- ração dos Poderes e da federação — valores que asseguram
tanto, aplicável o princípio “lei posterior revoga lei anterior a descentralização orgânica e espacial do poder político —,
que seja com ela incompatível”. Essa concepção não apenas o valor do voto direto, universal e periódico e dos direitos e
compromete o princípio da boa-fé, mas constitui afronta à garantias individuais — valores que asseguram o princípio
Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados. democrático —, compõem a tônica do constitucionalismo
No sentido de responder à polêmica doutrinária e juris- inaugurado com a transição democrática. Os direitos enun-
prudencial concernente à hierarquia dos tratados interna- ciados em tratados internacionais em que o Brasil seja parte
cionais de proteção dos direitos humanos, a Emenda Cons- ficam resguardados pela cláusula pétrea “direitos e garantias
titucional nº 45, de 8 de dezembro de 2004, introduziu o § individuais”, prevista no art. 60, § 4º, IV, da Carta.
3º no art. 5º, dispondo: Entretanto, embora os direitos internacionais sejam al-
cançados pelo art. 60, § 4º, e não possam ser eliminados via
Os tratados e convenções internacionais sobre direi- emenda constitucional, os tratados internacionais de direi-
tos humanos que forem aprovados, em cada Casa tos humanos materialmente constitucionais são suscetíveis
do Congresso Nacional, em dois turnos, por três de denúncia por parte do Estado signatário. Com efeito, os
quintos dos votos dos respectivos membros, serão tratados internacionais de direitos humanos estabelecem
equivalentes às emendas à Constituição. regras específicas concernentes à possibilidade de denúncia
por parte do Estado signatário. Os direitos internacionais po-
Em face de todo o exposto, sustenta-se que a hierar- derão ser subtraídos pelo mesmo Estado que os incorporou,
quia constitucional já se extrai de interpretação conferida em face das peculiaridades do regime de direito internacio-
ao próprio art. 5º, § 2º, da Constituição de 1988. Vale dizer, nal público. Vale dizer, cabe ao Estado-parte tanto o ato de
seria mais adequado que a redação do aludido § 3º do art. ratificação do tratado como o de denúncia, ou seja, o ato
5º endossasse a hierarquia formalmente constitucional de de retirada do mesmo tratado. Os direitos internacionais
todos os tratados internacionais de proteção dos direitos apresentam, assim, natureza constitucional diferenciada.
humanos ratificados, afirmando que os tratados internacio- Cabe considerar, todavia, que seria mais coerente aplicar
nais de proteção de direitos humanos ratificados pelo Estado ao ato da denúncia o mesmo procedimento aplicável ao ato
brasileiro têm hierarquia constitucional. de ratificação. Isto é, se para a ratificação é necessário um ato
No entanto, estabelece o § 3º do art. 5º que os tratados complexo, fruto da conjugação de vontades do Executivo e
internacionais de direitos humanos aprovados, em cada Casa Legislativo, para o ato de denúncia também este deveria ser
do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos o procedimento. Propõe-se aqui a necessidade do requisito
votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emen- de prévia autorização pelo Legislativo de ato de denúncia de
das à Constituição. determinado tratado internacional pelo Executivo, o que de-
Desde logo, há que afastar o entendimento segundo o mocratizaria o processo, como assinala o Direito comparado.
qual, em face do § 3º do art. 5º, todos os tratados de direi- Entretanto, no Direito brasileiro, a denúncia continua a cons-
tos humanos já ratificados seriam recepcionados como lei tituir ato privativo do Executivo, que não requer qualquer
federal, pois não teriam obtido o quórum qualificado de três participação do Legislativo. Defende-se a posição de Celso
quintos, demandado pelo aludido parágrafo. D. de Albuquerque Mello: “A revisão a nosso ver deve ser
Vale dizer, com o advento do § 3º do art. 5º surgem duas no sentido de se restringir a autonomia do Executivo para
categorias de tratados internacionais de proteção de direi- condução da política externa. Ela deve ser feita no sentido
tos humanos: a) os materialmente constitucionais; e b) os de se exigir a aprovação do Legislativo para a denúncia de
material e formalmente constitucionais. Frise-se: todos os tratados relativos aos direitos do homem, às convenções
tratados internacionais de direitos humanos são material- internacionais do trabalho, os que criam organizações in-
mente constitucionais, por força do § 2º do art. 5º. Para ternacionais e às convenções de direito humanitário. (...)
além de serem materialmente constitucionais, poderão, a O controle pelo Legislativo é o meio de se democratizar a
partir do § 3º do mesmo dispositivo, acrescer a qualidade de política externa e de ela vir a atender os anseios da nação”.
formalmente constitucionais, equiparando-se às emendas à Diversamente dos tratados materialmente constitucio-
Constituição, no âmbito formal. nais, os tratados material e formalmente constitucionais não
Ainda que todos os tratados de direitos humanos se- podem ser objeto de denúncia. Isto porque os direitos neles
jam recepcionados em grau constitucional, por veicularem enunciados receberam assento no Texto Constitucional, não
matéria e conteúdo essencialmente constitucional, importa apenas pela matéria que veiculam, mas pelo grau de legi-
realçar a diversidade de regimes jurídicos que se aplica aos timidade popular contemplado pelo especial e dificultoso
tratados apenas materialmente constitucionais e aos trata- processo de sua aprovação, concernente à maioria de três
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dos que, além de materialmente constitucionais, também quintos dos votos dos membros, em cada Casa do Congresso
são formalmente constitucionais. E a diversidade de regimes Nacional, em dois turnos de votação. Ora, se tais direitos
jurídicos atém-se à denúncia, que é o ato unilateral pelo qual internacionais passaram a compor o quadro constitucional,
um Estado se retira de um tratado. Enquanto os tratados não só no campo material, mas também no formal, não há
materialmente constitucionais podem ser suscetíveis de de- como admitir que um ato isolado e solitário do Poder Exe-
núncia, os tratados material e formalmente constitucionais, cutivo subtraia tais direitos do patrimônio popular — ainda
por sua vez, não podem ser denunciados. que a possibilidade de denúncia esteja prevista nos próprios
Ao se admitir a natureza constitucional de todos os tra- tratados de direitos humanos ratificados, como já apontado.
tados de direitos humanos, há que ressaltar que os direitos É como se o Estado houvesse renunciado a essa prerrogativa
constantes nos tratados internacionais, como os demais di- de denúncia, em virtude da “constitucionalização formal” do
reitos e garantias individuais consagrados pela Constituição, tratado no âmbito jurídico interno.
constituem cláusula pétrea e não podem ser abolidos por Em suma: os tratados de direitos humanos materialmen-
meio de emenda à Constituição, nos termos do art. 60, § 4º. te constitucionais são suscetíveis de denúncia, em virtude das

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peculiaridades do regime de Direito Internacional público, Importa esclarecer que, ao lado da sistemática da “incor-
sendo de rigor a democratização do processo de denúncia, poração automática” do Direito Internacional, existe a siste-
com a necessária participação do Legislativo. Já os tratados mática da “incorporação legislativa” do Direito Internacional.
de direitos humanos material e formalmente constitucionais Isto é, se, em face da incorporação automática, os tratados
são insuscetíveis de denúncia. internacionais incorporam-se de imediato ao Direito nacional
em virtude do ato da ratificação, no caso da incorporação
A Incorporação dos Tratados Internacionais de legislativa os enunciados dos tratados ratificados não são
Direitos Humanos incorporados de plano pelo Direito nacional; ao contrário,
dependem necessariamente de legislação que os implemen-
Anteriormente apontou-se para o inédito princípio da te. Essa legislação, reitere-se, é ato inteiramente distinto do
aplicabilidade imediata dos direitos e garantias fundamen- ato da ratificação do tratado.
tais, assegurado pelo art. 5º, § 1º, da Constituição de 1988. Em suma, em face da sistemática da incorporação au-
Ora, se as normas definidoras dos direitos e garantias funda- tomática, o Estado reconhece a plena vigência do Direito
mentais demandam aplicação imediata e se, por sua vez, os Internacional na ordem interna, mediante uma cláusula geral
tratados internacionais de direitos humanos têm por objeto de recepção automática plena. Com o ato da ratificação, a
justamente a definição de direitos e garantias, conclui-se que regra internacional passa a vigorar de imediato tanto na or-
tais normas merecem aplicação imediata. dem jurídica internacional como na interna, sem necessidade
de uma norma de direito nacional que a integre ao sistema
Portanto, como pontua Antônio Augusto Cançado Trin-
jurídico. Essa sistemática da incorporação automática reflete
dade,
a concepção monista, pela qual o Direito Internacional e o
direito interno compõem uma mesma unidade, uma única
se para os tratados internacionais em geral, se tem
ordem jurídica, inexistindo qualquer limite entre a ordem
exigido a intermediação pelo Poder Legislativo de
jurídica internacional e a ordem interna.
ato com força de lei de modo a outorgar às suas
Por sua vez, na sistemática da incorporação legislativa,
disposições vigência ou obrigatoriedade no plano do
o Estado recusa a vigência imediata do Direito Internacional
ordenamento jurídico interno, distintamente no caso
na ordem interna. Por isso, para que o conteúdo de uma
dos tratados de proteção internacional dos direitos norma internacional vigore na ordem interna, faz-se ne-
humanos em que o Brasil é parte, os direitos funda- cessária sua reprodução ou transformação por uma fonte
mentais neles garantidos, consoante os arts. 5º (2) interna. Nesse sistema, o Direito Internacional e o Direito
e 5º (1) da Constituição brasileira de 1988, passam interno são duas ordens jurídicas distintas, pelo que aquele
a integrar o elenco dos direitos constitucionalmente só vigorará na ordem interna se e na medida em que cada
consagrados e direta e imediatamente exigíveis no norma internacional for transformada em Direito Interno. A
plano do ordenamento jurídico interno. sistemática de incorporação não automática reflete a con-
cepção dualista, pela qual há duas ordens jurídicas diversas,
Em outras palavras, não será mais possível a sustenta- independentes e autônomas: a ordem jurídica nacional e
ção da tese segundo a qual, com a ratificação, os tratados a ordem internacional, que não apresentam contato nem
obrigam diretamente aos Estados, mas não geram direitos qualquer interferência.
subjetivos para os particulares, enquanto não advém a re- Diante dessas duas sistemáticas diversas, conclui-se que
ferida intermediação legislativa. Vale dizer, torna-se possível o Direito brasileiro faz opção por um sistema misto, no qual,
a invocação imediata de tratados e convenções de direitos aos tratados internacionais de proteção dos direitos huma-
humanos, dos quais o Brasil seja signatário, sem a necessi- nos — por força do art. 5º, § 1º —, aplica-se a sistemática
dade de edição de ato com força de lei, voltado à outorga de incorporação automática, enquanto aos demais tratados
de vigência interna aos acordos internacionais. internacionais se aplica a sistemática de incorporação legis-
A incorporação automática do Direito Internacional dos lativa, na medida em que se tem exigido a intermediação de
Direitos Humanos pelo direito brasileiro — sem que se faça um ato normativo para tornar o tratado obrigatório na ordem
necessário um ato jurídico complementar para sua exigibili- interna. Com efeito, salvo na hipótese de tratados de direitos
dade e implementação — traduz relevantes consequências humanos, no Texto Constitucional não há dispositivo cons-
no plano jurídico. De um lado, permite ao particular a invo- titucional que enfrente a questão da relação entre o Direito
cação direta dos direitos e liberdades internacionalmente as- Internacional e o interno. Isto é, não há menção expressa a
segurados, e, por outro, proíbe condutas e atos violadores a qualquer das correntes, seja à monista, seja à dualista. Por
esses mesmos direitos, sob pena de invalidação. Consequen- isso, a doutrina predominante tem entendido que, em face
temente, a partir da entrada em vigor do tratado internacio- do silêncio constitucional, o Brasil adota a corrente dualista,
nal, toda norma preexistente que seja com ele incompatível pela qual há duas ordens jurídicas diversas (a ordem interna
perde automaticamente a vigência. Ademais, passa a ser e a ordem internacional).
Direitos Humanos e Cidadania

recorrível qualquer decisão judicial que violar as prescrições Para que o tratado ratificado produza efeitos no orde-
do tratado — eis aqui uma das sanções aplicáveis na hipótese namento jurídico interno, faz-se necessária a edição de um
de inobservância dos tratados. Nesse sentido, a Carta de 1988 ato normativo nacional — no caso brasileiro, esse ato tem
atribui ao Superior Tribunal de Justiça a competência para sido um decreto de execução, expedido pelo Presidente da
julgar, mediante recurso especial, as causas decididas pelos República, com a finalidade de conferir execução e cumpri-
Tribunais Regionais Federais ou pelos Tribunais dos Estados, mento ao tratado ratificado no âmbito interno. Embora seja
“quando a decisão recorrida contrariar tratado ou lei federal, essa a doutrina predominante, este trabalho sustenta que tal
ou negar-lhes vigência”, nos termos do art. 105, III, a. Isto interpretação não se aplica aos tratados de direitos humanos,
é, cabe ao Poder Judiciário declarar inválida e antijurídica que, por força do art. 5º, § 1º, têm aplicação imediata. Isto
conduta violadora de tratado internacional. Eventualmente, a é, diante do princípio da aplicabilidade imediata das normas
depender do caso, cabe a esse Poder a imposição de sanções definidoras de direitos e garantias fundamentais, os tratados
pecuniárias em favor da vítima que sofreu violação em seu de direitos humanos, assim que ratificados, devem irradiar
direito internacionalmente assegurado. efeitos na ordem jurídica internacional e interna, dispen-

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sando a edição de decreto de execução. Já no caso dos tra- ção não imediata (por força do art. 102, III, b, da Carta de
tados tradicionais, há a exigência do aludido decreto, tendo 1988 e da inexistência de dispositivo constitucional que lhes
em vista o silêncio constitucional acerca da matéria. Logo, assegure aplicação imediata).
defende-se que a Constituição adota um sistema jurídico Resta, por fim, avaliar qual o impacto jurídico do Direito
misto, já que, para os tratados de direitos humanos, acolhe Internacional dos Direitos Humanos no Direito brasileiro. Esta
a sistemática da incorporação automática, enquanto para os análise remete a toda e qualquer possível consequência ju-
tratados tradicionais acolhe a sistemática da incorporação rídica decorrente da incorporação de normas internacionais
não automática. de direitos humanos pelo ordenamento brasileiro.
O § 3º do art. 5º tão somente veio a fortalecer o enten- Em relação ao impacto jurídico dos tratados internacio-
dimento em prol da incorporação automática dos tratados nais de direitos humanos no direito brasileiro, e considerando
de direitos humanos. Isto é, não parece razoável, a título a hierarquia constitucional desses tratados, três hipóteses
ilustrativo, que, após todo o processo solene e especial de poderão ocorrer. O direito enunciado no tratado interna-
aprovação do tratado de direitos humanos (com a obser- cional poderá: a) coincidir com o direito assegurado pela
vância do quorum exigido pelo art. 60, § 2º), fique a sua Constituição (neste caso a Constituição reproduz preceitos do
incorporação no âmbito interno condicionada a um decreto Direito Internacional dos Direitos Humanos); b) integrar, com-
do Presidente da República. Note-se, todavia, que a expe- plementar e ampliar o universo de direitos constitucional-
dição de tal decreto tem sido exigida pela jurisprudência mente previstos; ou c) contrariar preceito do Direito interno.
do STF, como um “momento culminante” no processo de Com efeito, no ângulo estritamente jurídico, um primei-
incorporação dos tratados, sendo uma “manifestação essen- ro impacto observado se atém ao fato de o Direito interno
cial e insuprimível”, por assegurar a promulgação do tratado brasileiro, e em particular a Constituição de 1988, conter
internamente, garantir o princípio da publicidade e conferir inúmeros dispositivos que reproduzem fielmente enunciados
executoriedade ao texto do tratado ratificado, que passa, constantes dos tratados internacionais de direitos humanos.
somente então, a vincular e a obrigar no plano do direito A título de exemplo, merece referência o disposto no art.
positivo interno. 5º, III, da Constituição, que, ao prever que “ninguém será
Ao tratar do sistema misto, afirmam André Gonçalves submetido a tortura nem a tratamento cruel, desumano ou
Pereira e Fausto de Quadros: degradante”, é reprodução literal do art. V da Declaração
Universal de 1948, do art. 7º do Pacto Internacional dos Di-
No sistema misto o Estado não reconhece a vigência reitos Civis e Políticos e ainda do art. 5º (2) da Convenção
automática de todo o Direito Internacional, mas Americana. Também o princípio de que “todos são iguais
reconhece-o só sobre certas matérias. As normas perante a lei”, consagrado no art. 5º, caput, da Carta bra-
internacionais respeitantes a essas matérias vigoram, sileira, reflete cláusula internacional no mesmo sentido, de
portanto, na ordem interna independentemente de acordo com o art. VII da Declaração Universal, o art. 26 do
transformação; ao contrário, todas as outras vigoram Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos e o art. 24
apenas mediante transformação. Este sistema é co- da Convenção Americana. Por sua vez, o princípio da inocên-
nhecido por sistema da cláusula geral da recepção cia presumida, ineditamente previsto pela Constituição de
semiplena. Este sistema resulta da adoção cumulativa 1988 em seu art. 5º, LVII, também é resultado de inspiração
de concepções monistas e dualistas quanto às rela- no Direito Internacional dos Direitos Humanos, nos termos
ções entre o Direito Internacional e o Direito Interno. do art. XI da Declaração Universal, do art. 14 (3) do Pacto
Internacional dos Direitos Civis e Políticos e do art. 8º (2) da
Em síntese, relativamente aos tratados internacionais Convenção Americana. Cabe ainda menção ao inciso LXXVIII
de proteção dos direitos humanos, a Constituição brasileira do art. 5º da Constituição de 1988, introduzido pela Emen-
de 1988, em seu art. 5º, § 1º, acolhe a sistemática da incor- da Constitucional n. 45, de 8 de dezembro de 2004, que,
poração automática dos tratados, o que reflete a adoção ao assegurar a todos, no âmbito judicial e administrativo, o
da concepção monista. Ademais, como apreciado no tópico direito à razoável duração do processo, é reflexo do art. 7º
anterior, a Carta de 1988 confere aos tratados de direitos (5) da Convenção Americana de Direitos Humanos. Esses são
humanos o status de norma constitucional, por força do apenas alguns exemplos que buscam comprovar quanto o
art. 5º, §§ 2º e 3º. O regime jurídico diferenciado conferido Direito interno brasileiro tem como inspiração, paradigma
aos tratados de direitos humanos não é, todavia, aplicável e referência o Direito Internacional dos Direitos Humanos.
aos demais tratados, isto é, aos tradicionais. No que tange A reprodução de disposições de tratados internacionais
a estes, adota-se a sistemática da incorporação legislativa, de direitos humanos na ordem jurídica brasileira não apenas
exigindo que, após a ratificação, um ato com força de lei (no reflete o fato de o legislador nacional buscar orientação e
caso brasileiro esse ato é um decreto expedido pelo Executi- inspiração nesse instrumental, mas ainda revela a preocupa-
vo) confira execução e cumprimento aos tratados no plano ção do legislador em equacionar o Direito interno, de modo
interno. Desse modo, no que se refere aos tratados em geral, a ajustá-lo, com harmonia e consonância, às obrigações in-
Direitos Humanos e Cidadania

acolhe-se a sistemática da incorporação não automática, o ternacionalmente assumidas pelo Estado brasileiro. Nesse
que reflete a adoção da concepção dualista. Ainda no que caso, os tratados internacionais de direitos humanos estarão
tange a esses tratados tradicionais e nos termos do art. 102, a reforçar o valor jurídico de direitos constitucionalmente
III, b, da Carta Maior, o Texto lhes atribui natureza de norma assegurados, de forma que eventual violação do direito
infraconstitucional. importará em responsabilização não apenas nacional, mas
Eis o sistema misto propugnado pela Constituição brasi- também internacional.
leira de 1988, que combina regimes jurídicos diversos — um Um segundo impacto jurídico decorrente da incorpora-
aplicável aos tratados internacionais de proteção dos direi- ção do Direito Internacional dos Direitos Humanos pelo Di-
tos humanos e o outro aos tratados em geral. Enquanto os reito interno resulta no alargamento do universo de direitos
tratados internacionais de proteção dos direitos humanos nacionalmente garantidos. Com efeito, os tratados interna-
apresentam status constitucional e aplicação imediata (por cionais de direitos humanos reforçam a Carta de direitos
força do art. 5º, §§ 1º e 2º, da Carta de 1988), os tratados prevista constitucionalmente, inovando-a, integrando-a e
tradicionais apresentam status infraconstitucional e aplica- completando-a com a inclusão de novos direitos.

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A partir dos instrumentos internacionais ratificados pelo Esse elenco de direitos enunciados em tratados interna-
Estado brasileiro, é possível elencar inúmeros direitos que, cionais de que o Brasil é parte inova e amplia o universo de
embora não previstos no âmbito nacional, encontram-se direitos nacionalmente assegurados, na medida em que não
enunciados nesses tratados e, assim, passam a se incorpo- se encontram previstos no Direito interno. Observe-se que o
rar ao Direito brasileiro. elenco não é exaustivo: tem por finalidade apenas apontar,
A título de ilustração, cabe mencionar os seguintes di- exemplificativamente, direitos consagrados nos instrumentos
reitos: internacionais ratificados pelo Brasil e que se incorporaram
• direito de toda pessoa a um nível de vida adequado à ordem jurídica interna brasileira. Desse modo, percebe-se
para si próprio e sua família, inclusive à alimentação, como o Direito Internacional dos Direitos Humanos inova,
vestimenta e moradia, nos termos do art. 11 do Pacto estende e amplia o universo dos direitos constitucionalmente
Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Cul- assegurados. Como reconhece o Ministro Ricardo Lewando-
turais; wski, os tratados internacionais de direitos humanos consti-
• proibição de qualquer propaganda em favor da guer- tuem o ‘bloco de constitucionalidade’, ampliando o núcleo
ra e de qualquer apologia ao ódio nacional, racial ou mínimo de direitos e o próprio parâmetro de controle de
religioso, que constitua incitamento à discriminação, constitucionalidade. (RE nº 597.285, Rel. Min. Ricardo Lewan-
à hostilidade ou à violência, em conformidade com dowski, j. 14/5/2010, DJe, 18/5/2010)
o art. 20 do Pacto Internacional dos Direitos Civis e O Direito Internacional dos Direitos Humanos ainda
Políticos e o art. 13 (5) da Convenção Americana; c) permite, em determinadas hipóteses, o preenchimento de
direito das minorias étnicas, religiosas ou linguísticas lacunas apresentadas pelo Direito brasileiro.
a ter sua própria vida cultural, professar e praticar sua Em síntese, o Direito Internacional dos Direitos Humanos
própria religião e usar sua própria língua, nos termos pode reforçar a imperatividade de direitos constitucional-
do art. 27 do Pacto Internacional dos Direitos Civis e mente garantidos — quando os instrumentos internacionais
Políticos e do art. 30 da Convenção sobre os Direitos complementam dispositivos nacionais, ou quando estes re-
da Criança; produzem preceitos enunciados da ordem internacional —
• direito de não ser submetido a experiências médicas ou ainda estender o elenco dos direitos constitucionalmente
garantidos — quando os instrumentos internacionais adicio-
ou científicas sem consentimento do próprio indivíduo,
nam direitos não previstos pela ordem jurídica interna. Con-
de acordo com o art. 7º, 2ª parte, do Pacto dos Direitos
tudo, ainda se faz possível uma terceira hipótese no campo
Civis e Políticos;
jurídico: eventual conflito entre o Direito Internacional dos
• proibição do restabelecimento da pena de morte nos
Direitos Humanos e o Direito interno. Esta terceira hipótese
Estados que a hajam abolido, de acordo com o art. 4º
é a que encerra maior problemática, suscitando a seguinte
(3) da Convenção Americana;
indagação: como solucionar eventual conflito entre a Cons-
• direito da criança que não tenha completado quinze tituição e determinado tratado internacional de proteção
anos a não ser recrutada pelas Forças Armadas para dos direitos humanos?
participar diretamente de conflitos armados, nos Poder-se-ia imaginar, como primeira alternativa, a adoção
termos do art. 38 da Convenção sobre os Direitos da do critério “lei posterior revoga lei anterior com ela incom-
Criança; patível”, considerando a natureza constitucional dos tratados
• possibilidade de adoção pelos Estados de medidas, internacionais de direitos humanos. Contudo, exame mais
no âmbito social, econômico e cultural, que assegu- cauteloso da matéria aponta para um critério de solução
rem a adequada proteção de certos grupos raciais, no diferenciado, absolutamente peculiar ao conflito em tela, que
sentido de que a eles seja garantido o pleno exercício se situa no plano dos direitos fundamentais. E o critério a ser
dos direitos humanos e liberdades fundamentais, em adotado se orienta pela escolha da norma mais favorável à
conformidade com o art. 1º (4) da Convenção sobre a vítima. Vale dizer, prevalece a norma mais benéfica ao indiví-
Eliminação de todas as formas de Discriminação Racial; duo, titular do direito. O critério ou princípio da aplicação do
• possibilidade de adoção pelos Estados de medidas tem- dispositivo mais favorável à vítima não é apenas consagrado
porárias e especiais que objetivem acelerar a igualdade pelos próprios tratados internacionais de proteção dos di-
de fato entre homens e mulheres, nos termos do art. 4º reitos humanos, mas também encontra apoio na prática ou
da Convenção sobre a Eliminação de todas as formas jurisprudência dos órgãos de supervisão internacionais. Na
de Discriminação contra as Mulheres; lição lapidar de Antônio Augusto Cançado Trindade,
• vedação da utilização de meios destinados a obstar a
comunicação e a circulação de ideias e opiniões, nos desvencilhamo-nos das amarras da velha e ociosa
termos do art. 13 da Convenção Americana; polêmica entre monistas e dualistas; neste campo
• direito ao duplo grau de jurisdição como garantia ju- de proteção, não se trata de primazia do Direito In-
dicial mínima, nos termos dos arts. 8º, h, e 25 da Con- ternacional ou do Direito interno, aqui em constante
Direitos Humanos e Cidadania

venção Americana; interação: a primazia é, no presente domínio, da


• direito do acusado a ser ouvido, nos termos do art. 8º norma que melhor proteja, em cada caso, os direitos
da Convenção Americana; consagrados da pessoa humana, seja ela uma norma
• direito de toda pessoa detida ou retida a ser julgada em de Direito Internacional ou de Direito interno.
prazo razoável ou ser posta em liberdade, sem prejuízo
de que prossiga o processo, nos termos do art. 7º da Isto é, no plano de proteção dos direitos humanos intera-
Convenção Americana; gem o Direito Internacional e o Direito interno movidos pelas
• proibição da extradição ou expulsão de pessoa a outro mesmas necessidades de proteção, prevalecendo as normas
Estado quando houver fundadas razões de que poderá que melhor protejam o ser humano, tendo em vista que a pri-
ser submetida a tortura ou a outro tratamento cruel, mazia é da pessoa humana. Os direitos internacionais constan-
desumano ou degradante, nos termos do art. 3º da tes dos tratados de direitos humanos apenas vêm a aprimorar
Convenção contra a Tortura e do art. 22, VIII, da Con- e fortalecer, nunca a restringir ou debilitar, o grau de proteção
venção Americana. dos direitos consagrados no plano normativo constitucional.

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Logo, na hipótese de eventual conflito entre o Direito Outro caso a merecer enfoque refere-se à previsão do
Internacional dos Direitos Humanos e o Direito interno, art. 11 do Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos:
adota-se o critério da prevalência da norma mais favorável “Ninguém poderá ser preso apenas por não poder cumprir
à vítima. Em outras palavras, a primazia é da norma que me- com uma obrigação contratual”. Enunciado semelhante é
lhor proteja, em cada caso, os direitos da pessoa humana. A previsto pelo art. 7º da Convenção Americana, que estabe-
respeito, elucidativo é o art. 29 da Convenção Americana de lece que ninguém deve ser detido por dívida, acrescentando
Direitos Humanos, que, ao estabelecer regras interpretativas, que tal princípio não limita os mandados judiciais expedidos
determina que “nenhuma disposição da Convenção pode em virtude de inadimplemento de obrigação alimentar.
ser interpretada no sentido de limitar o gozo e exercício de Novamente, há que lembrar que o Brasil ratificou ambos
qualquer direito ou liberdade que possam ser reconhecidos os instrumentos internacionais em 1992, sem efetuar qual-
em virtude de leis de qualquer dos Estados-partes ou em quer reserva sobre a matéria.
virtude de Convenções em que seja parte um dos referidos Ora, a Carta Constitucional de 1988, no art. 5º, LXVII,
Estados”. Consagra-se, assim, o princípio da norma mais favo- determina que “não haverá prisão civil por dívida, salvo a do
rável, seja ela do Direito Internacional, seja do Direito interno. responsável pelo inadimplemento voluntário e inescusável
Ressalte-se que o Direito Internacional dos Direitos Humanos de obrigação alimentícia e a do depositário infiel”. Logo, a
apenas vem aprimorar e fortalecer o grau de proteção dos Constituição brasileira consagra o princípio da proibição da
direitos consagrados no plano normativo interno. A escolha prisão civil por dívida, admitindo, todavia, duas exceções: a
da norma mais benéfica ao indivíduo é tarefa que caberá hipótese do inadimplemento de obrigação alimentícia e a
fundamentalmente aos Tribunais nacionais e a outros órgãos do depositário infiel.
aplicadores do Direito, no sentido de assegurar a melhor Observe-se que, enquanto o Pacto dos Direitos Civis e Po-
proteção possível ao ser humano. líticos não prevê exceção ao princípio da proibição da prisão
Cláusulas de abertura constitucional e o princípio para civil por dívida, a Convenção Americana excepciona o caso
o ser humano inspirador dos tratados de direitos humanos de inadimplemento de obrigação alimentar. Ora, se o Brasil
compõem os dois vértices — nacional e internacional — a ratificou esses instrumentos sem qualquer reserva no que
fomentar o diálogo em matéria de direitos humanos. tange à matéria, é de questionar a possibilidade jurídica da
Um exemplo de conflito entre Direito internacionalmente prisão civil do depositário infiel.
garantido e dispositivo constitucional atém-se ao caso da Mais uma vez, atendo-se ao critério da prevalência da nor-
liberdade sindical. Nos termos do art. 22 do Pacto Interna- ma mais favorável à vítima no plano da proteção dos direitos
cional dos Direitos Civis e Políticos, fica estabelecido o direito humanos, conclui-se que merece ser afastado o cabimento
de toda pessoa de fundar, com outras, sindicatos e de filiar-se da possibilidade de prisão do depositário infiel, conferindo-se
ao sindicato de sua escolha, sujeitando-se unicamente às prevalência à norma do tratado. Observe-se que, se a situação
restrições previstas em lei e que sejam necessárias, em uma fosse inversa — se a norma constitucional fosse mais benéfica
sociedade democrática, ao interesse da segurança nacional que a normatividade internacional —, aplicar-se-ia a norma
ou da ordem pública, ou para proteger os direitos e as liber- constitucional, muito embora os aludidos tratados tivessem
dades alheias. Idêntico preceito encontra-se previsto no art. hierarquia constitucional e houvessem sido ratificados após
8º do Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais o advento da Constituição. Vale dizer, as próprias regras inter-
e Culturais, bem como no art. 16 da Convenção Americana pretativas dos tratados internacionais de proteção aos direitos
de Direitos Humanos. humanos apontam nessa direção quando afirmam que os tra-
A Constituição brasileira de 1988, por sua vez, consagra tados internacionais só se aplicam se ampliarem e estenderem
o princípio da unicidade sindical, nos termos de seu art. 8º, o alcance da proteção nacional dos direitos humanos.
II. Esse dispositivo prevê que “é vedada a criação de mais Em síntese, essas considerações têm o fito de revelar
de uma organização sindical, em qualquer grau, represen- quão intenso é o impacto jurídico do Direito Internacional dos
tativa de categoria profissional ou econômica, na mesma Direitos Humanos no ordenamento interno. Considerando
base territorial”. a natureza constitucional dos direitos enunciados nos trata-
Ora, ainda que internacionalmente a ampla liberdade de dos internacionais de proteção dos direitos humanos, três
fundação de sindicatos esteja sujeita a restrições “previstas hipóteses poderão ocorrer. O direito enunciado no tratado
em lei e que sejam necessárias, em uma sociedade democrá- internacional poderá:
tica, ao interesse da segurança nacional ou da ordem pública, • reproduzir direito assegurado pela Constituição;
ou para proteger os direitos e as liberdades alheias”, susten- • inovar o universo de direitos constitucionalmente pre-
ta-se que no caso brasileiro não se verifica qualquer dessas vistos; e
hipóteses. Isto é, a unicidade sindical não parece constituir • contrariar preceito constitucional.
necessidade de uma sociedade democrática, e nem mesmo
parece responder ao interesse da segurança nacional ou da Na primeira hipótese, os tratados internacionais de direitos
ordem pública, ou ainda à proteção de direitos e de liber- humanos estarão a reforçar o valor jurídico de direitos consti-
Direitos Humanos e Cidadania

dades alheias. Trata-se, portanto, de restrição injustificada tucionalmente assegurados. Na segunda, esses tratados esta-
à ampla liberdade de associação, que pressupõe a liberdade rão a ampliar e estender o elenco dos direitos constitucionais,
de fundar sindicatos. complementando e integrando a declaração constitucional
Acolhendo o princípio da prevalência da norma mais de direitos. Por fim, quanto à terceira hipótese, prevalecerá
favorável ao indivíduo e considerando que os direitos pre- a norma mais favorável à proteção da vítima. Vale dizer, os
vistos em tratados internacionais de que o Brasil é parte são tratados internacionais de direitos humanos inovam significa-
incorporados pela Constituição, que lhes atribui natureza de tivamente o universo dos direitos nacionalmente consagrados
norma constitucional e aplicação imediata, conclui-se que a — ora reforçando sua imperatividade jurídica, ora adicionando
ampla liberdade de criar sindicatos merece prevalecer sobre novos direitos, ora suspendendo preceitos que sejam menos
a restrição da unicidade sindical. favoráveis à proteção dos direitos humanos. Em todas as três
Acrescente-se ainda que o Brasil, ao ratificar os Pactos hipóteses, os direitos internacionais constantes dos tratados
Internacionais e a Convenção Americana em 1992, não for- de direitos humanos apenas vêm aprimorar e fortalecer, nunca
mulou qualquer reserva em relação à matéria. Logo, aceitou restringir ou debilitar, o grau de proteção dos direitos consa-
o princípio da ampla liberdade de criação de sindicatos. grados no plano normativo interno.

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APLICAÇÕES DA PERSPECTIVA nova concepção do político e do jurídico e uma crescente
SOCIOLÓGICA A TEMAS E PROBLEMAS autonomia das ciências, livres do domínio religioso. Na ân-
sia da sociedade buscar um direito mais justo e acessível é
CONTEMPORÂNEOS DA SOCIEDADE que surge o desejo de utilizar, de diferentes formas, as leis
BRASILEIRA: A QUESTÃO DA IGUALDADE instituídas pelo Estado a fim de resolver os conflitos, como
JURÍDICA E DOS DIREITOS DE CIDADANIA, uma alternativa válida.
Assim, o pluralismo jurídico surge para preencher a la-
O PLURALISMO JURÍDICO, ACESSO À cuna promovida pela ausência do Estado em determinadas
JUSTIÇA localidades”. (SANTOS, 1988)
Para Wolkmer (2001), o termo pluralismo jurídico pode
A Questão da Igualdade Jurídica e dos Direitos de ser definido como
Cidadania
a multiplicidade de práticas jurídicas existentes num
Inicialmente, convém destacar que a cidadania constitui mesmo espaço sociopolítico, interagidas por conflitos
dentro do nosso ordenamento jurídico pátrio, juntamente, ou consensos, podendo ser ou não oficiais e tendo
com a Soberania, a dignidade da pessoa humana, os valores sua razão de ser nas necessidades existenciais e
sociais do trabalho e da livre iniciativa; e o pluralismo políti- culturais.
co, objetivo fundamental da República Federativa do Brasil.
Segundo Anchieschi & Santos (2004), Ressalta-se, todavia, que nem toda prática que se apre-
sente como extraoficial e não abrangida pelos códigos deve
cidadania é o exercício equilibrado e harmonioso dos ser entendida como pluralismo jurídico. O simples fato de
direitos e deveres de todos e de cada um: mas os uma prática ser não oficial não é suficiente para sua legiti-
direitos de uns nunca devem se firmar em detrimento midade; deve fundamentar-se em preceitos de democracia
dos direitos dos outros. e justiça. (BORTOLOZZI, 2005)
Como se vê, os conceitos de pluralismo jurídico são am-
A cidadania, segundo Marshall, plos e não definem essencialmente o conceito em si, restan-
do claro que se refere a múltiplos ordenamentos com vistas
é um status concedido àqueles que são membros à satisfação das necessidades de associações de indivíduos,
integrais de uma comunidade. Todos aqueles que contrariando a unicidade do direito positivista, para o qual
possuem o status são iguais com respeito aos direitos o direito é único e exclusivo e advém do Estado.
e obrigações pertinentes ao status. Ocorre que a sociedade é formada por meio da soma das
vontades individuais e coletivas, e dessas surgem demandas
Viegas (2002) ressalta que a primeira fase de desenvol- que necessitam ser resolvidas. Quando a busca pela resolu-
ção desses conflitos se torna difícil, ou até mesmo impossí-
vimento da cidadania no Brasil registrou o surgimento dos
vel, através do ordenamento jurídico formal, os indivíduos
direitos sociais, em meados de 1930, no Governo de Getúlio
buscam alternativas para problemas resolvidos.
de Vargas, e que os direitos civis e políticos vieram com a
Portanto, reconhecer as ações das associações na busca
Constituição de 1988.
pela resolução dos conflitos é uma realidade e realmente
A Constituição cidadã de 1988 assegurou liberdade polí-
funciona como modelos alternativos de justiça, totalmente
tica e outras liberdades à população brasileira, conquistadas
adequados principalmente nas comunidades periféricas mar-
após o período de ditadura militar, quando houve a institui-
ginalizadas, inseridas em determinados modelos culturais
ção de muitos direitos sociais, sobretudo na área trabalhista. e referindo-se à criação de modelos mais democráticos de
Como se vê, o acesso a uma ordem jurídica justa está justiça.
intrinsecamente atrelado à questão da cidadania, sobretudo
porque o direito de acesso à justiça é um direito garantidor
de outros direitos e uma maneira de assegurar efetividade
Acesso à Justiça
aos direitos de cidadania.
O acesso ao Poder Judiciário constitui direito fundamen-
De acordo com Bucci (2006) existem fatores políticos que
tal de todo o indivíduo, nos termos do art. 5º da Constituição
podem limitar ou comprometer o sucesso das instituições
Federal.
jurídicas e assim impedir a materialização dos direitos, fato
O papel para a resolução de conflitos, pela atuação efe-
que demanda ações estatais efetivas. Nesta perspectiva, a
tiva do Poder Judiciário frente aos problemas que residem
ação do Estado deve voltar-se para formulação e execução numa sociedade diversificada e em busca da pacificação,
de políticas públicas, dispondo na sua estrutura burocrática deveria ser do Estado. Ocorre que o Judiciário carece de
de funções e órgãos capazes de instrumentalizar o exercício urgentes reformas para atender às novas demandas de mul-
Direitos Humanos e Cidadania

da cidadania, com o efetivo acesso à justiça, possibilitando tidões cada vez mais exigentes e diferentes.
ao cidadão que reivindique seus direitos. Os problemas que assolam o efetivo acesso à justiça são
Desse modo, é dever do Estado garantir o acesso à Justiça trazidos como obstáculos que precisam ser transpostos.
a todos os cidadãos a fim de evitar que se instaure o caos e Mesmo não existindo um conceito sobre efetividade, a sua
a subversão da ordem jurídica por meio do pluralismo de or- ausência é significado de inacessibilidade à justiça.
dens jurídicas ou da realização de justiça pelas próprias mãos. O acesso à justiça “é ir além do acesso aos fóruns, tribu-
nais, processos, a fim de assegurar direitos e exigir deveres;
Pluralismo Jurídico o acesso à tutela jurisdicional da função estatal compete
ao Poder Judiciário, mas o acesso à justiça não somente
Com o fim da Idade Média e com o surgimento dos esta- restringe-se aos meandros da função deste órgão”.
dos modernos, a discussão do pluralismo jurídico abre espaço O primeiro entrave na busca pelo acesso à justiça, e que
para uma nova proposta, fundamentada na ideologia liberal. muitas vezes leva o indivíduo a pensar duas vezes antes de
A consolidação de uma nova sociedade capitalista impõe uma exercer seus direitos, é a lentidão do Poder Judiciário. Elen-

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cam-se ainda como obstáculos a burocracia, o pagamento falha ou, por vezes, inexistente. Enfatize-se, contudo, que a
de custas, o valor dos honorários advocatícios, sem falar no ação internacional é sempre uma ação suplementar, consti-
alto custo para interpor um recurso. tuindo garantia adicional de proteção dos direitos humanos.
As desigualdades e injustiças sociais estão claramente Essas transformações decorrentes do movimento de in-
visíveis na sociedade, em especial nas classes mais pobres, ternacionalização dos direitos humanos contribuíram ainda
o que afasta estes indivíduos da procura de meios viáveis para o processo de democratização do próprio cenário inter-
para propor demandas formais. nacional, já que, além do Estado, novos sujeitos de direito
É preciso que o Estado abra as portas do Poder Judiciário passam a participar da arena internacional, como os indiví-
e informe aos indivíduos seus direitos, para que eles possam duos e as organizações não governamentais.
ser conhecedores que o órgão é acessível a todos e busca Segundo a autora, os indivíduos convertem-se em sujei-
uma sociedade mais justa e democrática. tos de Direito Internacional — tradicionalmente, uma arena
em que só os Estados podiam participar. Com efeito, na me-
Bezerra (2002)afirma que: dida em que guardam relação direta com os instrumentos
internacionais de direitos humanos — que lhes atribuem
Quando o ordenamento é por demais rígido e distan- direitos fundamentais imediatamente aplicáveis —, os indiví-
te das realidades e necessidades sociais as comuni- duos passam a ser concebidos como sujeitos de Direito Inter-
dades criam seus próprios mecanismos e ignoram as nacional. Nessa condição, cabe aos indivíduos o acionamento
leis os remédios estatais. Quando o acesso à justiça é direto de mecanismos internacionais. É o caso das petições
negado a determinados segmentos da sociedade, ob- ou comunicações, mediante as quais um indivíduo, grupos
viamente aos mais pobres, a comunidade como que de indivíduos ou, por vezes, entidades não governamentais
cria mecanismos de sobrevivência e acaba por ins- podem submeter aos órgãos internacionais competentes
tituir regras próprias que lhes possibilite sobreviver. denúncias de violação de direito enunciado em tratados
internacionais. É correto afirmar, no entanto, que ainda se
Portanto, resta claro que o pluralismo jurídico tem pre- faz necessário democratizar determinados instrumentos e
sença incontestável na sociedade, que diante das dificulda- instituições internacionais, de modo que possam prover um
des de acessibilidade à justiça, almejam a todo momento a espaço participativo mais eficaz, que permita maior atuação
resolução de seus conflitos, sendo o pluralismo, portanto, de indivíduos e de entidades não governamentais, median-
um canal alternativo à resolução de suas demandas. te legitimação ampliada nos procedimentos e instâncias
Voltando ainda ao tema da cidadania, Piovesan (2013)
internacionais. A propósito, a autora ilustra a Convenção
examina a dinâmica da relação entre o processo de interna-
Americana que estabelecer, no art. 61, que apenas os Esta-
cionalização dos direitos humanos, e seu impacto e repercus-
dos-partes e a Comissão Interamericana podem submeter
são no processo de redefinição e reconstrução da cidadania
casos à decisão da Corte. Isto é, a Convenção Americana,
no âmbito brasileiro.
lamentavelmente, não atribui ao indivíduo ou a entidades
Em sua obra Direitos Humanos e o Direito Constitucional
não governamentais legitimidade para encaminhar casos à
Internacional, a autora encerra seus estudos evidenciando
que o Direito Internacional dos Direitos Humanos constitui apreciação da Corte Interamericana de Direitos Humanos.
um movimento extremamente recente na história, surgin- Note-se que, no caso brasileiro, a incorporação do Direito
do, a partir do pós-guerra, como resposta às atrocidades Internacional dos Direitos Humanos e de seus importantes
cometidas durante o nazismo; nesse cenário que se desenha instrumentos é consequência do processo de democratiza-
o esforço de reconstrução dos direitos humanos, como pa- ção, iniciado em 1985. Esse processo possibilitou a reinserção
radigma e referencial ético a orientar a ordem internacional do Brasil na arena internacional de proteção dos direitos
contemporânea. (PIOVESAN, 2013) humanos — embora relevantes medidas ainda necessitem
Nesse sentido, a autora destaca que uma das principais ser adotadas pelo Estado brasileiro para o completo alinha-
preocupações deste movimento foi converter os direitos mento do País com a causa da plena vigência dos direitos
humanos em tema de legítimo interesse da comunidade in- humanos. Nesse sentido, constatou-se a dinâmica e a dialé-
ternacional, o que implicou os processos de universalização tica da relação entre democracia e direitos humanos, tendo
e internacionalização dos mesmos direitos. Tais processos em vista que, se o processo de democratização permitiu a
levaram, por sua vez, à formação de um sistema normativo ratificação de relevantes tratados internacionais de direitos
internacional de proteção de direitos humanos, de âmbito humanos, por sua vez, essa ratificação permitiu o fortale-
global e regional, como também de âmbito geral e específico. cimento do processo democrático, por meio da ampliação
Adotando o valor da primazia da pessoa humana, esses e do reforço do universo de direitos fundamentais por ele
sistemas se complementam, interagindo com o sistema na- assegurado. Se a busca democrática não se atém apenas ao
cional de proteção, a fim de proporcionar a maior efetividade modo pelo qual o poder político é exercido, mas envolve
possível na tutela e promoção de direitos fundamentais. A também a forma pela qual direitos fundamentais são imple-
Direitos Humanos e Cidadania

sistemática internacional, como garantia adicional de pro- mentados, este estudo possibilitou enfocar a contribuição da
teção, institui mecanismos de responsabilização e controle sistemática internacional de proteção dos direitos humanos
internacional, acionáveis quando o Estado se mostra falho para o aperfeiçoamento do sistema de tutela desses direitos
ou omisso na tarefa de implementar direitos e liberdades no Brasil. Por esse prisma, o aparato internacional permite
fundamentais. intensificar as respostas jurídicas ante casos de violação de
Ao acolher o aparato internacional de proteção, bem direitos humanos, e, consequentemente, ao reforçar a sis-
como as obrigações internacionais dele decorrentes, o Estado temática de proteção de direitos, o aparato internacional
passa a aceitar o monitoramento internacional no que se permite o aperfeiçoamento do próprio regime democráti-
refere ao modo pelo qual os direitos fundamentais são res- co. Atentou-se, assim, para o modo pelo qual os direitos
peitados em seu território. O Estado passa, assim, a consentir humanos internacionais inovam a ordem jurídica brasileira,
no controle e na fiscalização da comunidade internacional complementando e integrando o elenco dos direitos nacio-
quando, em casos de violação a direitos fundamentais, a nalmente consagrados e nele introduzindo novos direitos,
resposta das instituições nacionais se mostra insuficiente e até então não previstos pelo ordenamento jurídico interno.

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Enfatiza a autora que a Constituição brasileira de 1988, — o princípio vem a consolidar o alcance interpretativo que
como marco jurídico da institucionalização dos direitos se propõe relativamente aos parágrafos do art. 5º do Texto.
humanos e da transição democrática no País, ineditamen- Em favor da natureza constitucional dos direitos enuncia-
te consagra o primado do respeito aos direitos humanos dos nos tratados internacionais, adicione-se também o fato
como paradigma propugnado para a ordem internacional. de o processo de globalização ter implicado a abertura da
Esse princípio invoca a abertura da ordem jurídica brasileira Constituição à normação internacional. Tal abertura resultou
ao sistema internacional de proteção dos direitos humanos na ampliação do bloco de constitucionalidade. Este passou a
e, ao mesmo tempo, exige nova interpretação de princípios incorporar preceitos enunciadores de direitos fundamentais
tradicionais, como a soberania nacional e a não intervenção, que, embora decorrentes de fonte internacional, veiculam
impondo a flexibilização e relativização desses valores. Se matéria e conteúdo de inegável natureza constitucional. Ad-
a prevalência dos direitos humanos é princípio a reger o mitir o contrário traduziria o equívoco de consentir na exis-
Brasil no cenário internacional, está-se consequentemente a tência de duas categorias diversas de direitos fundamentais
admitir a concepção de que os direitos humanos constituem — uma de status constitucional e outra de status ordinário.
tema de legítima preocupação e interesse da comunidade Há que ser também afastada a frágil argumentação de que
internacional. Os direitos humanos, para a Carta de 1988, os direitos internacionais integrariam o universo impreciso
surgem como tema global. e indefinido dos direitos implícitos, decorrentes do regime
O Texto democrático ainda rompe com as Constituições ou dos princípios adotados pela Constituição. Ainda que não
anteriores ao estabelecer um regime jurídico diferenciado explícitos no Texto Constitucional, os direitos internacionais
aplicável aos tratados internacionais de proteção dos direi- são expressos, bastando para tanto a menção aos dispositivos
tos humanos. À luz desse regime, os tratados de direitos dos tratados internacionais de proteção dos direitos huma-
humanos são incorporados automaticamente pelo Direito nos, que demarcam um catálogo claro, preciso e definido
brasileiro e passam a apresentar hierarquia de norma cons- de direitos. Em suma, todos esses argumentos se reúnem
titucional, diversamente dos tratados tradicionais, os quais no sentido de endossar o regime constitucional privilegia-
se sujeitam à sistemática da incorporação legislativa e detêm do conferido aos tratados de proteção de direitos humanos
status hierárquico infraconstitucional. Por força do art. 5º, — regime este semelhante ao que é conferido aos demais
§ 2º, da Constituição Federal de 1988, todos os tratados de direitos e garantias constitucionais.
direitos humanos, independentemente do quórum de sua Quanto ao impacto jurídico do Direito Internacional dos
aprovação, são materialmente constitucionais, compon-
Direitos Humanos no Direito brasileiro, acrescente-se que
do o bloco de constitucionalidade. O quórum qualificado
os direitos internacionais — por força do princípio da norma
introduzido pelo § 3º do mesmo artigo (fruto da Emenda
mais favorável à vítima, que assegura a prevalência da norma
Constitucional nº 45/2004), ao reforçar a natureza constitu-
que melhor e mais eficazmente proteja os direitos humanos
cional dos tratados de direitos humanos, vem a adicionar um
— apenas vêm a aprimorar e fortalecer, jamais a restringir
lastro formalmente constitucional aos tratados ratificados,
propiciando a “constitucionalização formal” dos tratados de ou debilitar, o grau de proteção dos direitos consagrados no
direitos humanos no âmbito jurídico interno. Nessa hipótese, plano normativo constitucional. A sistemática internacional
os tratados de direitos humanos formalmente constitucionais de proteção vem ainda a permitir a tutela, a supervisão e o
são equiparados às emendas à Constituição, isto é, passam monitoramento de direitos por organismos internacionais.
a integrar formalmente o Texto Constitucional. Embora incipiente no Brasil, verificou-se que a advoca-
A Carta de 1988 acolhe, desse modo, um sistema misto, cia do Direito Internacional dos Direitos Humanos tem sido
que combina regimes jurídicos diferenciados — um aplicável capaz de propor relevantes ações internacionais, invocando
aos tratados internacionais de proteção dos direitos huma- a atenção da comunidade internacional para a fiscalização
nos e outro aplicável aos tratados tradicionais. Esse sistema e o controle de graves casos de violação de direitos huma-
misto se fundamenta na natureza especial dos tratados in- nos. No momento em que tais violações são submetidas à
ternacionais de direitos humanos que — distintamente dos arena internacional, elas se tornam mais visíveis, salientes
tratados tradicionais, que objetivam assegurar uma relação e públicas. Diante da publicidade de casos de violações de
de equilíbrio e reciprocidade entre Estados pactuantes — direitos humanos e de pressões internacionais, o Estado se
priorizam a busca em assegurar a proteção da pessoa huma- vê “compelido” a prover justificativas, o que tende a implicar
na, até mesmo contra o próprio Estado pactuante. alterações na própria prática do Estado em relação aos direi-
A autora persiste em lembrar que a Constituição de 1988, tos humanos, permitindo, por vezes, um sensível avanço na
por força dos arts. 5º, §§ 1º, 2º e 3º, atribuiu aos direitos forma pela qual tais direitos são nacionalmente respeitados
humanos internacionais hierarquia de norma constitucio- e implementados.
nal, incluindo-os no elenco dos direitos constitucionalmente Seja em face da sistemática de monitoramento interna-
garantidos, que apresentam aplicabilidade imediata. Como cional que proporciona, seja em face do extenso universo
este trabalho pôde demonstrar, a conclusão advém de in- de direitos que assegura, o Direito Internacional dos Direitos
Direitos Humanos e Cidadania

terpretação sistemática e teleológica do Texto de 1988, Humanos vem a instaurar o processo de redefinição do pró-
especialmente em face da força expansiva dos valores da prio conceito de cidadania no âmbito brasileiro. O conceito
dignidade humana e dos direitos fundamentais, como parâ- de cidadania se vê, assim, alargado e ampliado, na medi-
metros axiológicos a orientar a compreensão do fenômeno da em que passa a incluir não apenas direitos previstos no
constitucional. Com a Carta democrática de 1988, a digni- plano nacional, mas também direitos internacionalmente
dade da pessoa humana, bem como os direitos e garantias enunciados. A sistemática internacional de accountability
fundamentais, vem a constituir os princípios constitucionais vem ainda a integrar esse conceito renovado de cidadania
que incorporam as exigências de justiça e dos valores éticos, tendo em vista que às garantias nacionais são adicionadas
conferindo suporte axiológico a todo o sistema jurídico brasi- garantias de natureza internacional. Consequentemente, o
leiro. Com esse raciocínio se conjuga o princípio da máxima desconhecimento dos direitos e garantias internacionais im-
efetividade das normas constitucionais, particularmente das porta no desconhecimento de parte substancial dos direitos
normas concernentes a direitos e garantias fundamentais, da cidadania, por significar a privação do exercício de direitos
que hão de alcançar a maior carga de efetividade possível acionáveis e defensáveis na arena internacional.

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Finaliza a autora afirmando que a realização plena e não Assembléia Geral das Nações Unidas, em  sua XL Sessão,
apenas parcial dos direitos da cidadania envolve o exercício realizada em Nova York em 10 de dezembro de 1984 e pro-
efetivo e amplo dos direitos humanos, nacional e interna- mulgada pelo Decreto nº 40, de 15 de fevereiro de 1991;
cionalmente assegurados. Considerando a necessidade de orientação e padroniza-
ção dos procedimentos da atuação dos agentes de segurança
PRÁTICAS JUDICIÁRIAS E POLICIAIS NO pública aos princípios internacionais sobre o uso da força;
Considerando o objetivo de reduzir paulatinamente os
ESPAÇO PÚBLICO índices de letalidade resultantes de ações envolvendo agen-
tes de segurança pública; e,
Em 2013, quando da realização da prova para Policial
Considerando as conclusões do Grupo de Trabalho, criado
Rodoviário Federal, a banca Cespe optou por colocar gene-
para elaborar proposta de Diretrizes sobre Uso da Força,
ricamente o tópico “Práticas judiciárias e policiais no espa-
composto por representantes das Polícias Federais, Estaduais
ço público”, que remete diretamente ao estudo da Portaria
e Guardas Municipais, bem como com representantes da
Interministerial nº 4.226, de 31 de dezembro de 2010, edi-
sociedade civil, da Secretaria de Direitos Humanos da Pre-
tada pelo Ministério da Justiça e pela Secretaria de Direitos
sidência da República e do Ministério da Justiça, resolvem:
Humanos.
Art.  1º Ficam estabelecidas Diretrizes sobre o Uso da
Essa Portaria contempla 25 regras que visam preservar
Força pelos Agentes de Segurança Pública, na forma do
os direitos humanos e a segurança de civis. As normas foram
Anexo I desta Portaria.
elaboradas levando-se em conta que a concepção do direito
Parágrafo único. Aplicam‑se às Diretrizes estabelecidas no
à segurança pública com cidadania demanda a sedimentação
Anexo I, as definições constantes no Anexo II desta Portaria.
de políticas públicas pautadas no respeito aos direitos huma-
Art.  2º A observância das diretrizes mencionadas no
nos e tem o objetivo de reduzir paulatinamente os índices
artigo anterior passa a ser obrigatória pelo Departamento
de letalidade resultantes de ações envolvendo agentes de
de Polícia Federal, pelo Departamento de Polícia Rodoviária
segurança pública.
Federal, pelo Departamento Penitenciário Nacional e pela
Atualmente, foi editada a Lei nº 13.060, de 22 de dezem-
Força Nacional de Segurança Pública.
bro de 2014, disciplinando o uso dos instrumentos de menor
§ 1º As unidades citadas no caput deste artigo terão 90
potencial ofensivo pelos agentes de segurança pública, e é
dias, contados a partir  da publicação desta portaria, para
provável que quando sair o novo edital, a banca novamente
adequar seus procedimentos operacionais e seu processo
cobre o tópico de forma genérica, ampliando, todavia, a base
de formação e treinamento às diretrizes supramencionadas.
jurídica do seu estudo.
§ 2º As unidades citadas no caput deste artigo terão 60
Portanto, disponibilizamos os dois instrumentos norma-
dias, contados a partir da publicação desta portaria, para fixar
tivos para que você não perca nenhum item de sua prova;
a normatização mencionada na diretriz Nº 9 e para criar a
primeiramente a Portaria Interministerial, que foi a base da
comissão mencionada na diretriz Nº 23.
construção das duas questões cobradas na prova de 2013,
§ 3º As unidades citadas no caput deste artigo terão 60
e em seguida a Lei.
dias, contados a partir da publicação desta portaria, para ins-
tituir Comissão responsável por avaliar sua situação interna
PORTARIA INTERMINISTERIAL Nº 4.226, DE em relação às diretrizes não mencionadas nos parágrafos
31 DE DEZEMBRO DE 2010 anteriores e propor medidas para assegurar as adequações
necessárias.
Estabelece Diretrizes sobre o Art. 3º A Secretaria de Direitos Humanos da Presidência
Uso da  Força pelos Agentes de da República e o Ministério da Justiça estabelecerão meca-
Segurança Pública. nismos para estimular e monitorar iniciativas que visem à im-
plementação de ações para efetivação das diretrizes tratadas
O MINISTRO DE ESTADO DA JUSTIÇA e o MINISTRO DE nesta portaria pelos entes federados, respeitada a repartição
ESTADO CHEFE DA SECRETARIA DE DIREITOS HUMANOS DA de competências prevista no art. 144 da Constituição Federal.
PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA, no uso das atribuições que lhes Art. 4º A Secretaria Nacional de Segurança Pública do
conferem os incisos I e II, do parágrafo único, do art. 87, da Ministério da Justiça levará em consideração a observância
Constituição Federal e, das diretrizes tratadas nesta portaria no repasse de recursos
Considerando que a concepção do direito à segurança aos entes federados.
pública com cidadania demanda a sedimentação de políti- Art.  5º Esta portaria entra em vigor na data de sua
cas públicas de segurança pautadas no respeito aos direitos publicação.
humanos;
Considerando o disposto no Código de Conduta para os LUIZ PAULO BARRETO
Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei, adotado Ministro de Estado da Justiça
Direitos Humanos e Cidadania

pela Assembléia Geral das Nações Unidas na sua Resolução PAULO DE TARSO VANNUCHI
34/169, de 17 de dezembro de 1979, nos Princípios Básicos Ministro de Estado Chefe da Secretaria de Direitos
sobre o Uso da Força e Armas de Fogo pelos Funcionários Humanos da Presidência da República
Responsáveis pela Aplicação da Lei, adotados pelo Oitavo
Congresso das Nações Unidas para a Prevenção do Crime e ANEXO I
o Tratamento dos Delinquentes, realizado em Havana, Cuba, DIRETRIZES SOBRE O USO DA FORÇA E ARMAS DE FOGO
de 27 de Agosto a 7 de setembro de 1999, nos Princípios PELOS AGENTES DE SEGURANÇA PÚBLICA
orientadores para a Aplicação Efetiva do Código de Conduta
para os Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei, 1. O uso da força pelos agentes de segurança pública
adotados  pelo Conselho Econômico e Social das Nações deverá se pautar nos documentos internacionais de proteção
Unidas na sua resolução 1989/61, de 24 de maio de 1989 aos direitos humanos e deverá considerar, primordialmente:
e na Convenção Contra a Tortura e outros Tratamentos ou a) ao Código de Conduta para os Funcionários Respon-
penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes, adotado pela sáveis pela Aplicação da Lei, adotado pela Assembleia Geral

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das Nações Unidas na sua Resolução 34/169, de 17 de d) preencher o relatório individual correspondente sobre
dezembro de 1979; o uso da força, disciplinado na Diretriz nº 22.
b) os  Princípios orientadores para a Aplicação Efetiva 11. Quando o uso da força causar lesão ou morte de
do Código de Conduta para os Funcionários Responsáveis pessoa(s), o órgão de segurança pública deverá realizar as
pela Aplicação da Lei, adotados pelo Conselho Econômico seguintes ações:
e Social das Nações Unidas na sua resolução 1989/1961, de a) facilitar a assistência e/ou auxílio médico dos feridos;
24 de maio de 1989; b) recolher e identificar as armas e munições de todos os
c) os Princípios Básicos sobre o Uso da Força e Armas de envolvidos, vinculando‑as aos seus respectivos portadores
Fogo pelos Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei, no momento da ocorrência;
adotados pelo Oitavo Congresso das Nações Unidas para a c) solicitar perícia criminalística para o exame de local e
Prevenção do Crime e o Tratamento dos Delinquentes, rea- objetos bem como exames médico‑legais;
lizado em Havana, Cuba, de 27 de Agosto a 7 de setembro d) comunicar os fatos aos familiares ou amigos da(s)
de 1999; pessoa(s) ferida(s) ou morta(s);
d) a Convenção Contra a Tortura e outros Tratamentos e) iniciar, por meio da Corregedoria da instituição, ou
ou penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes, adotada pela órgão equivalente, investigação imediata dos fatos e circuns-
Assembléia Geral das Nações Unidas, em sua XL Sessão, tâncias do emprego da força;
realizada em Nova York em 10 de dezembro de 1984 e pro- f) promover a assistência médica às pessoas feridas em
mulgada pelo Decreto nº 40, de 15 de fevereiro de 1991. decorrência da intervenção, incluindo atenção às possíveis
2. O uso da força por agentes de segurança pública sequelas;
deverá obedecer aos princípios da legalidade, necessidade, g) promover o devido acompanhamento psicológico aos
proporcionalidade, moderação e conveniência. agentes de segurança pública envolvidos, permitindo‑lhes su-
3. Os agentes de segurança pública não deverão disparar perar ou minimizar os efeitos decorrentes do fato ocorrido; e
armas de fogo contra pessoas, exceto em casos de legítima h) afastar temporariamente do serviço operacional, para
defesa própria ou de terceiro contra perigo iminente  de avaliação psicológica e redução do estresse, os agentes de
morte ou lesão grave. segurança pública envolvidos diretamente em ocorrências
4. Não é legítimo o uso de armas de fogo contra pessoa com resultado letal.
em fuga que esteja desarmada ou que, mesmo na posse de 12. Os critérios de recrutamento e seleção para os agen-
algum tipo de arma, não represente risco imediato de mor- tes de segurança pública deverão levar em consideração o
te ou de lesão grave aos agentes de segurança pública ou perfil psicológico necessário para lidar com situações  de
terceiros. estresse e uso da força e arma de fogo.
5. Não é legítimo o uso de armas de fogo contra veículo 13. Os processos seletivos para ingresso nas instituições
que desrespeite bloqueio policial em via pública, a não ser de segurança pública e os cursos de formação e especializa-
que o ato represente um risco imediato de morte ou lesão ção dos agentes de segurança pública devem incluir conte-
grave aos agentes de segurança pública ou terceiros. údos relativos a direitos humanos.
6. Os chamados “disparos de advertência” não são consi- 14. As atividades de treinamento fazem parte do traba-
derados prática aceitável, por não atenderem aos princípios
lho rotineiro do agente de segurança pública e não deverão
elencados na Diretriz nº 2 e em razão da imprevisibilidade
ser realizadas em seu horário de folga, de maneira a serem
de seus efeitos.
preservados os períodos de descanso, lazer e convivência
7. O ato de apontar arma de fogo contra pessoas durante
sócio‑familiar.
os procedimentos de abordagem não deverá ser uma prática
15. A seleção de instrutores para ministrarem aula em
rotineira e indiscriminada.
qualquer assunto que englobe o uso da força deverá levar
8. Todo agente de segurança pública que, em razão da
em conta análise rigorosa de seu currículo formal e tem-
sua função, possa vir  a se envolver em situações de uso
da força, deverá portar no mínimo 2 (dois) instrumentos po de serviço, áreas de atuação, experiências anteriores em
de menor potencial ofensivo e equipamentos de proteção atividades fim, registros funcionais, formação em direitos
necessários à atuação específica, independentemente de humanos e nivelamento em ensino. Os instrutores deverão
portar ou não arma de fogo. ser submetidos à aferição de conhecimentos teóricos e
9. Os órgãos de segurança pública deverão editar atos práticos e sua atuação deve ser avaliada.
normativos disciplinando o uso da força por seus agentes, 16. Deverão ser elaborados procedimentos de habilitação
definindo objetivamente: para o uso de cada tipo de arma de fogo e instrumento de
a) os tipos de instrumentos e técnicas autorizadas; menor potencial ofensivo que incluam avaliação técnica,
b) as  circunstâncias técnicas adequadas à sua utiliza- psicológica, física e treinamento específico, com previsão
ção, ao ambiente/entorno e ao risco potencial a terceiros de revisão periódica mínima.
não envolvidos no evento; 17. Nenhum agente de segurança pública deverá portar
armas de fogo ou instrumento de menor potencial ofensivo
Direitos Humanos e Cidadania

c) o conteúdo e a carga horária mínima para habilitação


e atualização periódica ao uso de cada tipo de instrumento; para o qual não esteja devidamente habilitado e sempre que
d) a proibição de uso de armas de fogo e munições que um novo tipo de arma ou instrumento de menor potencial
provoquem lesões desnecessárias e risco injustificado; e e. ofensivo for introduzido  na instituição deverá ser estabe-
o controle sobre a guarda e utilização de armas e munições lecido um módulo de treinamento específico com vistas à
pelo agente de segurança pública. habilitação do agente.
10. Quando o uso da força causar lesão ou morte de 18. A  renovação da habilitação para uso de armas de
pessoa(s), o agente de segurança pública envolvido deverá fogo em serviço deve ser feita com periodicidade mínima
realizar as seguintes ações: de 1 (um) ano.
a) facilitar a prestação de socorro ou assistência médica 19. Deverá ser estimulado e priorizado, sempre que pos-
aos feridos; sível, o uso de técnicas e instrumentos de menor potencial
b) promover a correta preservação do local da ocorrência; ofensivo pelos agentes de segurança pública, de acordo com
c) comunicar o fato ao seu superior imediato e à autori- a especificidade da função operacional e sem se restringir às
dade competente; e unidades especializadas.

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20. Deverão ser incluídos nos currículos dos cursos de Força: Intervenção coercitiva imposta à pessoa ou grupo
formação e programas de educação continuada conteúdos de pessoas por parte do agente de segurança pública com a
sobre técnicas e instrumentos de menor potencial ofensivo. finalidade de preservar a ordem pública e a lei.
21. As armas de menor potencial ofensivo deverão ser Instrumentos de menor potencial ofensivo: Conjunto
separadas e identificadas de forma diferenciada, conforme de armas, munições e equipamentos desenvolvidos com a
a necessidade operacional. finalidade de preservar vidas e minimizar danos à integridade
22. O uso de técnicas de menor potencial ofensivo deve das pessoas.
ser constantemente avaliado. Munições de menor potencial ofensivo: Munições proje-
23. Os órgãos de segurança pública deverão criar comis- tadas e empregadas, especificamente, para conter, debilitar
sões internas de controle e acompanhamento da letalidade, ou incapacitar temporariamente pessoas, preservando vidas
com o objetivo de monitorar o uso efetivo da força pelos e minimizando danos a integridade das pessoas envolvidas.
seus agentes. Nível do Uso da Força: Intensidade da força escolhida
24. Os agentes de segurança pública deverão preencher pelo agente de segurança pública em resposta a uma ameaça
um relatório individual todas as vezes que dispararem arma real ou potencial.
de fogo e/ou fizerem uso de instrumentos de  menor po- Princípio da Conveniência: A força não poderá ser empre-
tencial ofensivo, ocasionando lesões ou mortes. O relatório gada quando, em função do contexto, possa ocasionar danos
deverá ser encaminhado  à comissão interna mencionada de maior relevância do que os objetivos legais pretendidos.
na Diretriz nº 23 e deverá conter no mínimo as seguintes Princípio da Legalidade: Os agentes de segurança pública
informações: só poderão utilizar a força para a consecução de um objetivo
a) circunstâncias e justificativa que levaram o uso da força legal e nos estritos limites da lei.
ou de arma de fogo por parte do agente de segurança pública; Princípio da Moderação: O emprego da força pelos agen-
b) medidas adotadas antes de efetuar os disparos/usar tes de segurança pública deve sempre que possível, além
instrumentos de menor potencial ofensivo, ou as razões pelas de proporcional, ser moderado, visando sempre reduzir o
quais elas não puderam ser contempladas; emprego da força.
c) tipo de arma e de munição, quantidade de disparos efe- Princípio da Necessidade: Determinado nível de força
tuados, distância e pessoa contra a qual foi disparada a arma; só pode ser empregado quando níveis de menor intensi-
d) instrumento(s) de menor potencial ofensivo dade não forem suficientes para atingir os objetivos legais
utilizado(s), especificando a frequência, a distância e a pes- pretendidos.
soa contra a qual foi utilizado o instrumento; Princípio da Proporcionalidade: O nível da força utilizado
e) quantidade de agentes de segurança pública feridos deve sempre ser compatível com a gravidade da ameaça
ou mortos na ocorrência, meio e natureza da lesão; representada pela ação do opositor e com os objetivos pre-
f) quantidade de feridos e/ou mortos atingidos pelos tendidos pelo agente de segurança pública.
disparos efetuados pelo(s) agente(s) de segurança pública; Técnicas de menor potencial ofensivo: Conjunto de pro-
g) número de feridos e/ou mortos atingidos pelos ins- cedimentos empregados em intervenções que demandem
trumentos de  menor potencial ofensivo utilizados pelo(s) o uso da força, através do uso de instrumentos de menor
agente(s) de segurança pública; potencial ofensivo, com intenção de preservar vidas e mini-
h) número total de feridos e/ou mortos durante a missão; mizar danos à integridade das pessoas.
i) quantidade de projéteis disparados que atingiram Uso Diferenciado da Força: Seleção apropriada do nível
pessoas e as respectivas regiões corporais atingidas; de uso da força em resposta a uma ameaça real ou poten-
j) quantidade de pessoas atingidas pelos instrumentos de cial visando limitar o recurso a meios que possam causar
menor potencial ofensivo e as respectivas regiões corporais ferimentos ou mortes.
atingidas;
k) ações realizadas para facilitar a assistência e/ou auxílio Anderson Lopes
médico, quando for o caso; e l. se houve preservação do local
e, em caso negativo, apresentar justificativa.
25. Os órgãos de segurança pública deverão, observada ADMINISTRAÇÃO INSTITUCIONAL DE
a legislação pertinente, oferecer possibilidades de reabili- CONFLITOS NO ESPAÇO PÚBLICO
tação e reintegração ao trabalho aos agentes de segurança
pública que adquirirem deficiência física em decorrência do O Espaço Público é entendido como área de apropriação
desempenho de suas atividades. pública. São espaços públicos aqueles com certa restrição
de uso, muitas vezes funcionalizados ou que se destinam a
ANEXO II determinado grupo social, como escolas, hospitais, creches,
GLOSSÁRIO instituições etc. Há ainda aqueles de acesso sem restrições
à população e de livre circulação, como os espaços de lazer,
Direitos Humanos e Cidadania

Armas de menor potencial ofensivo: Armas projetadas recreação (parques, ginásios poliesportivos etc.) ou aqueles
e/ou empregadas, especificamente, com a finalidade de destinados aos movimentos de veículos e pessoas, como os
conter, debilitar ou incapacitar temporariamente pessoas, logradouros públicos (ruas, praças etc.).
preservando vidas e minimizando danos à sua integridade. Todas essas áreas têm em comum o fato de serem
Equipamentos de menor potencial ofensivo: Todos os áreas do poder público geridas pelo Estado. Pertencentes,
artefatos, excluindo armas e munições, desenvolvidos e em- enfim, à coletividade e com valor de uso. E, como valor de
pregados com a finalidade de conter, debilitar ou incapacitar uso, o espaço público tem também a importância de ser o
temporariamente pessoas, para preservar vidas e minimizar espaço criativo, da espontaneidade, da beleza das obras e
danos à sua integridade. das festas etc.
Equipamentos de proteção: Todo dispositivo ou produto, Parece não haver grandes demandas de produção de es-
de uso individual (EPI) ou coletivo (EPC) destinado a redu- paços públicos para a recreação e o lazer nas grandes cidades
ção de riscos à integridade física ou à vida dos agentes de de países subdesenvolvidos, na medida em que há necessi-
segurança pública. dades básicas que antecedem tal carência. As necessidades

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
referentes a hospitais, infraestrutura de transportes, escolas, regras, mas principalmente a competência para a interpre-
obras que se tornarão espaços públicos são, quase sempre, tação correta da aplicação particularizada das prescrições
prioritárias. Essas necessidades têm grande capacidade de gerais, sempre realizada através de formas implícitas e de
aglutinar pessoas e grupos a fim de reivindicar tais direitos acesso privilegiado.
do cidadão. Movimentos sociais nascem a partir dessas O domínio público é o lugar apropriado de forma particu-
necessidades, que uma vez satisfeitas, vemos diminuir e lar, seja pelo Estado, seja por outros membros da sociedade,
desaparecer. Durante o processo reivindicatório, há grande autorizados ou não por ele, e, por isso, sempre, aparente-
mobilização da população, com reuniões, manifestações etc. mente, opaco, caótico e imprevisível ao olhar coletivo, onde
Na fase seguinte, conquistados alguns tópicos da pauta de tudo pode acontecer e de onde “quero tudo o que tenho
reivindicação, muitas vezes, os participantes do movimento direito”, significando não só que reivindico aquilo que sei
atuam com sua própria mão de obra em finais de semana, na merecer, mas que desejo ter, substantivamente, tudo o que
construção de edifícios e casas. No entanto, atendidas essas os outros têm e cujo conteúdo e significação, eventualmente,
necessidades de sobrevivência, o movimento perde força. posso até mesmo desconhecer. A liberdade, neste contexto,
Ao invés de se partir para novas reivindicações, as famílias não é associada à liberdade de escolher no mercado onde
e os indivíduos se dedicam a cuidar, cada qual a seu modo, as opções dadas foram previamente negociadas, mas à
da sua sobrevivência e da construção daquilo que interpre- possibilidade aberta de todos poderem “ter” tudo. A ideia
tam como cidadania e inserção na cidade: o trabalho, bens de igualdade, assim, torna‑se substantiva, associada à seme-
materiais etc. Deixa‑se, assim, o espaço político promovido lhança e não à diferença entre as pessoas. Neste contexto,
pela construção de espaços públicos. as  negociações se tornam deslocamentos estruturais que
De outro lado, o arrefecimento dos movimentos popu- afetam posições desiguais em uma hierarquia excludente,
lares interessa ao Estado, uma vez que este deixa de ser não composições que visam à produção de uma hierarquia
pressionado e de estar em conflito direto com diversos social includente.
interesses: dos movimentos sociais, do mercado imobiliá- O espaço público tem de estar sempre submetido a regras
rio, de partidos de oposição política, dos financiadores de gerais, nunca locais. Essas regras, que não se originam dos
campanhas políticas etc. Assim, evita‑se não apenas o gasto cidadãos envolvidos nos conflitos, como devem ser aplicadas
dos cofres públicos com investimentos sociais, mas também de forma particular, pressupõem uma competição entre
o desgaste político perante a população. os envolvidos pelo favorecimento de sua aplicação e uma
suposta neutralidade do aplicador em relação às partes.
No Brasil os modelos jurídicos de controle social não pos- O sistema, assim, coloca todos juntos, mas separados e
suem como origem “a vontade do povo”, enquanto reflexo hierarquizados na conquista dos melhores lugares em uma
das normas que regem seu estilo de vida, mas são resultado estrutura que pode ser representada como piramidal. E como
destas formulações legais especializadas, legislativa ou judi- toda estrutura hierarquizada, piramidal, constituída de partes
cialmente. Nestas circunstâncias não é difícil compreender desiguais mas complementares, está rejeita a explicitação
que, ao não ser considerada como fórmula ideal a “aplicação do conflito, uma força disruptora que ameaça desarrumá‑la.
da lei pelo povo”, valores legais, quando se aplicam, tendem Quem está no topo, no vértice, é o único que tudo vê, cuja
a ser vistos como constrangimentos externos ao comporta- perspectiva é a verdadeira, pois os demais elementos têm
mento dos indivíduos. Em consequência, o capital simbólico apenas visões parciais do conjunto, tanto mais distorcidas
do campo do direito não reproduz ampliadamente seu valor quanto mais próximos à base se encontrem. Só vale a pena
porque expressa a “vontade do povo”, ou um conjunto de saber aquilo que poucos sabem, pois só assim tenho a ga-
prescrições morais partilhadas e internalizadas pelo cidadão rantia de obter efeitos confiáveis; a informação a que todos
comum, mas como uma imposição das “autoridades”, não têm acesso de nada vale.
importa quão legal e legitimadamente produzidas e postas Há nesse modelo adotado no Brasil um espaço para o
em vigor. reconhecimento explícito da desigualdade entre os cidadãos,
A obediência ou a desobediência às leis e regras que re- manifestada em nosso dia a dia pelos rituais do “Você sabe
gem a apropriação e uso dos espaços públicos não se coloca com quem está falando?” e, mesmo, no reconhecimento
como questão de transgressão moral a regulamentos explíci- jurídico a direitos diferentes explicitamente atribuídos a pes-
tos facilmente acessíveis, a serem literalmente interpretados, soas supostamente desiguais, como é o caso dos privilégios
mas como o resultado da escolha entre a liberdade de agir e concedidos oficialmente a certas categorias de cidadãos pelo
o constrangimento externo, a opção entre a implementação instituto da prisão especial.
do desejo individual e da reprodução social de cada um, O que possibilita, portanto, a ordem social em um siste-
por um lado, e a submissão a um interesse geral e difuso, ma, que se constrói a partir da explicitação dos conflitos de
quase certamente manipulado em benefício da reprodução interesses individualizados, em franca oposição, gerando a
alheia, por outro. construção coletiva de regras explícitas, de aplicação literal
Como consequência, aqui, o domínio do público, a res e universal, o que se constitui em legitimação de sua ordem
Direitos Humanos e Cidadania

publica, a “coisa pública”, contraditoriamente ao domínio da jurídica, em que a concepção de igualdade é formal B o direi-
sociedade, não é representada como o locus da regra local e to igual de todos à diferença, é o que dificulta a existência do
explícita, de aplicação universal, a todos acessível e, portanto, outro, fundado na conciliação forçada dos conflitos, visando
a todos aplicável por igual, que é a condição indispensável e a imposição da harmonia e do status que, para manter a
necessária para a interação social entre indivíduos diferentes hierarquia e a complementaridade entre elementos subs-
mas iguais, de acordo com a representação anglo‑americana tantivamente diferenciados do sistema, produtor de regras
da sociedade que, explicitamente, é  enfatizada naquele gerais, sempre interpretadas de forma separada pelos de-
sistema. Ao  contrário, a  ênfase jurídica na definição do tentores do saber privilegiado para fazer justiça adequada
domínio do público, seja moral, intelectual ou até mesmo a todos esses segmentos diferenciados.
o espaço físico, é a de que este é o lugar controlado pelo Em nossa sociedade esta tradição jurídica particularista
Estado, de acordo com “suas” regras. Neste espaço tudo é coexiste, aparentemente, com os anseios de universalidade
possivelmente permitido, até que seja proibido ou reprimido de uma cultura jurídico‑política explícita, de caráter indivi-
pela “autoridade”, que tem acesso não só ao conteúdo das dualista e igualitário, que precisa fundar‑se em mecanismos

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
universais de administração de conflitos pela produção de especificamente para, com baixa probabilidade de causar
verdades negociadas. Ao contrário da tradição dos Estados mortes ou lesões permanentes, conter, debilitar ou incapa-
Unidos, onde os princípios processuais são constitucionais citar temporariamente pessoas.
e disponíveis, aplicando‑se universal e localmente, a tensão Art. 5º O poder público tem o dever de fornecer a todo
entre o político e o jurídico, entre o constitucional e o judicial, agente de segurança pública instrumentos de menor poten-
cada vez mais, se faz presente em nossa sociedade, opondo cial ofensivo para o uso racional da força.
uma concepção de generalidade fundada em diferenças subs- Art. 6º Sempre que do uso da força praticada pelos agen-
tantivas entre as pessoas e as coisas, próprias dos sistemas tes de segurança pública decorrerem ferimentos em pessoas,
hierárquicos e particularistas, a uma universalidade fundada deverá ser assegurada a imediata prestação de assistência
na aplicação local de regras consensuais e na estratificação e socorro médico aos feridos, bem como a comunicação do
das igualdades formais, próprias dos sistemas individualistas. ocorrido à família ou à pessoa por eles indicada.
A questão relevante, portanto, não é apenas a das con- Art. 7º O Poder Executivo editará regulamento classifican-
tradições entre as formas de apropriação e uso do público do e disciplinando a utilização dos instrumentos não letais.
e do privado, mas principalmente entre os sistemas inter- Art. 8º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
pretativos de aplicação particularista de regras gerais, ou
aqueles de aplicação universalista de regras locais e literais. Brasília, 22 de dezembro de 2014; 193º da Independência
Se, a princípio, o processo de atendimento às demandas e 126o da República.
de movimentos sociais pode ser desgastante para o Estado,
numa etapa posterior, já com as demandas atendidas, o go- DILMA ROUSSEFF
verno, através de seus políticos, procura colher os ganhos José Eduardo Cardozo
políticos. Construções como hospitais, creches, conjuntos Claudinei do Nascimento
habitacionais e escolas, têm, para os governos que as inau-
guram, grande poder político e propagandista. A propaganda
dessas obras procura sempre associá‑las a um partido ou
Referências
a uma figura política. E, para ampliar esses ganhos, usa‑se
amplamente a linguagem publicitária. O Estado age, com o AFONSO DA SILVA, José. Curso de direito constitucional
discurso de prestar contas à população, também, de acordo positivo. 6. ed., Imprenta: São Paulo, Revista dos Tribunais.
com interesses imediatos: apresentar a conclusão de serviços 1990, p. 80.
através de números e estatísticas, expor obras vistosas etc., ALMEIDA, Guilherme de Assis; APOLINÁRIO, Sílvia Menicucci
quase sempre com vistas às próximas eleições. E não é difícil de O. S. Direitos Humanos – Série Leituras Jurídicas Provas
imaginar políticos que usam dessas mesmas obras como e Concursos. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2011, p. 13.
cartão de visita repetido a cada eleição. Assim, estabelece‑se
uma personificação, um estilo de criar obras públicas. ANÕN ROIG, Maria José. Fundamentación de los Derechos
Privatiza‑se a obra pública porque ela fica personificada. Humanos y Necesidades Básicas, in BALLESTEROS, Jesús.
Derechos humanos. Madrid: Tecnos, 1992, p. 100-115.
Lei nº 13.060, de 22 de Dezembro de 2014 BARROSO, Luís Roberto. Fundamentos teóricos e filosóficos
do novo direito constitucional brasileiro (pós-modernidade,
Disciplina o uso dos instrumen- teoria crítica e pós-positivismo). Revista Forense, v. 358, p. 10.
tos de menor potencial ofensivo
pelos agentes de segurança públi- BEZERRA, Paulo Cesar Santos. Acesso à justiça: um problema
ca, em todo o território nacional. ético-social no plano da realização do direito. Rio de Janeiro:
Renovar, 2002. p. 101.
A PRESIDENTA DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso BOBBIO, Norberto. A era dos Direitos. Trad. Carlos Nelson
Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: Coutinho. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004, p. 99.
Art. 1º Esta Lei disciplina o uso dos instrumentos de me-
nor potencial ofensivo pelos agentes de segurança pública ______. ______. São Paulo: Campus, 1992, p. 24, apud, RA-
em todo o território nacional. MOS, André de Carvalho. Teoria geral dos direitos humanos
Art. 2º Os órgãos de segurança pública deverão priorizar na ordem internacional, 2. ed., São Paulo: Saraiva, 2012.
a utilização dos instrumentos de menor potencial ofensivo,
BUCCI, Maria Paula Dallari. Direito administrativo e Políticas
desde que o seu uso não coloque em risco a integridade física
Públicas.1.ed. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 36.
ou psíquica dos policiais, e deverão obedecer aos seguintes
princípios: BORTOLOZZI JUNIOR, Flavio. Pluralismo jurídico e a crise
I – legalidade; da modernidade. Curitiba, 2005. 66 f. Monografia (curso de
II – necessidade; direito). Pontifícia Universidade Católica do Paraná. p. 38.
Direitos Humanos e Cidadania

III – razoabilidade e proporcionalidade.


Parágrafo único. Não é legítimo o uso de arma de fogo: CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito Constitucional.
I – contra pessoa em fuga que esteja desarmada ou que 3. ed. São Paulo: Saraiva, 1993, p. 357.
não represente risco imediato de morte ou de lesão aos ______. Direito constitucional e teoria da constituição. 7.
agentes de segurança pública ou a terceiros; e ed. Coimbra: Almeidina, 2003.
II – contra veículo que desrespeite bloqueio policial em
via pública, exceto quando o ato represente risco de morte COMPARATO, Fábio Konder. Fundamentos dos direitos hu-
ou lesão aos agentes de segurança pública ou a terceiros. manos. Revista Consulex, v. 48, dez. 2000, p. 43.
Art. 3º Os cursos de formação e capacitação dos agentes DALLARI, Dalmo de Abreu. Direitos humanos e cidadania.
de segurança pública deverão incluir conteúdo programático São Paulo: Moderna, 1998.
que os habilite ao uso dos instrumentos não letais.
Art. 4º Para os efeitos desta Lei, consideram-se instru- DIEZ-PICAZO, Luis Maria. Sistema de derechos fundamen-
mentos de menor potencial ofensivo aqueles projetados tales. Madrid: Thomson-Civitas.

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
DWORKIN, Ronald. Uma questão de princípio. São Paulo: determinado grupo social, como escolas, hospitais, creches,
Martins Fontes, 2000. instituições etc. Há ainda aqueles de acesso sem restrições
à população e de livre circulação, como os espaços de lazer,
GOMES, L. F.; Mazzuoli, V. de Oliveira. Comentários à Con-
recreação (parques, ginásios poliesportivos etc.) ou aqueles
venção Americana sobre Direitos Humanos: Pacto de San
destinados aos movimentos de veículos e pessoas, como os
José da Costa Rica. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais,
logradouros públicos (ruas, praças etc.).
2009, p. 194.
Todas essas áreas têm em comum o fato de serem
GUERRA, Sidney, apud. FLORES, Joaquim Herrera. Los dere- áreas do poder público geridas pelo Estado. Pertencentes,
chos humanos como productos culturales: critica del huma- enfim, à coletividade e com valor de uso. E, como valor de
nismo abstracto. Madrid: Catarata, 2005, p. 226. uso, o espaço público tem também a importância de ser o
espaço criativo, da espontaneidade, da beleza das obras e
GUERRA, Sidney. Direito Internacional dos direitos huma-
das festas etc.
nos. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 30.
Parece não haver grandes demandas de produção de es-
NETO, Sílvio Beltramelli. Direitos Humanos. Coleção Concur- paços públicos para a recreação e o lazer nas grandes cidades
sos Públicos. 2. ed. Revista, ampliada e atualizada. Editora: de países subdesenvolvidos, na medida em que há necessi-
JusPodivm, 2015, p. 87. dades básicas que antecedem tal carência. As necessidades
referentes a hospitais, infraestrutura de transportes, escolas,
NETO, Sílvio Beltramelli. Direitos Humanos. Salvador: Jus-
Podivm. 2. ed. 2015, p. 213. obras que se tornarão espaços públicos são, quase sempre,
prioritárias. Essas necessidades têm grande capacidade de
PERES LUÑO, Antônio. Derechos humanos, Estado de dere- aglutinar pessoas e grupos a fim de reivindicar tais direitos
cho y Constitución. 5. ed. Madrid: Tecnos, 1995. do cidadão. Movimentos sociais nascem a partir dessas
PECES-BARBA MARTÍNEZ, Gregorio et al. Derecho positivo necessidades, que uma vez satisfeitas, vemos diminuir e
de los derechos humanos. Madrid: Debate, 1987. desaparecer. Durante o processo reivindicatório, há grande
mobilização da população, com reuniões, manifestações etc.
PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e o direito constitucio- Na fase seguinte, conquistados alguns tópicos da pauta de
nal internacional. 14. ed., rev. e atual. – São Paulo: Saraiva, reivindicação, muitas vezes, os participantes do movimento
2013, p. 86. atuam com sua própria mão de obra em finais de semana, na
RAMOS, André de Carvalho. Teoria geral dos direitos huma- construção de edifícios e casas. No entanto, atendidas essas
nos na ordem internacional. 2. ed. — São Paulo: Saraiva, necessidades de sobrevivência, o movimento perde força.
2012, p. 29, apud ALEXY, Robert. Teoría de los derechos fun- Ao invés de se partir para novas reivindicações, as famílias
damentales. Centro de Estudios Constitucionales, Madrid, e os indivíduos se dedicam a cuidar, cada qual a seu modo,
1997, e também, em especial, a análise complementar do da sua sobrevivência e da construção daquilo que interpre-
próprio Alexy à sua teoria em ALEXY, Robert. “Epílogo a la tam como cidadania e inserção na cidade: o trabalho, bens
Teoría de los Derechos Fundamentales”, 66 Revista Española materiais etc. Deixa‑se, assim, o espaço político promovido
de Derecho Constitucional (2002), p. 43-6. pela construção de espaços públicos.
De outro lado, o arrefecimento dos movimentos popu-
______. Teoria geral dos direitos humanos na ordem inter- lares interessa ao Estado, uma vez que este deixa de ser
nacional. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 35, apud NINO, pressionado e de estar em conflito direto com diversos
Carlos Santiago. Ética y derechos humanos: un ensayo de interesses: dos movimentos sociais, do mercado imobiliá-
fundamentación. Barcelona. Ariel, 1989, p. 16-21. rio, de partidos de oposição política, dos financiadores de
______. Responsabilidade internacional por violação de campanhas políticas etc. Assim, evita‑se não apenas o gasto
direitos humanos. Rio de Janeiro: Renovar, 2004. p. 246-255. dos cofres públicos com investimentos sociais, mas também
o desgaste político perante a população.
SANTOS, Boaventura Sousa. O discurso e o poder. Ensaios
sobre a sociologia retórica jurídica. Porto Alegre: SAFE, 1988. No Brasil os modelos jurídicos de controle social não pos-
TRINDADE, Antônio Augusto Cançado. A interação entre o suem como origem “a vontade do povo”, enquanto reflexo
direito internacional e o direito interno. 1993. das normas que regem seu estilo de vida, mas são resultado
destas formulações legais especializadas, legislativa ou judi-
TRUYOL Y SERRA, Antônio. Los derechos humanos. Madrid: cialmente. Nestas circunstâncias não é difícil compreender
Tecnos, 1994. que, ao não ser considerada como fórmula ideal a “aplicação
VIEGAS, Weverson. Cidadania e participação popular. Jus- da lei pelo povo”, valores legais, quando se aplicam, tendem
navegandi, 2002. a ser vistos como constrangimentos externos ao comporta-
Direitos Humanos e Cidadania

mento dos indivíduos. Em consequência, o capital simbólico


WOLKMER, Antonio Carlos. Pluralismo Jurídico: fundamen- do campo do direito não reproduz ampliadamente seu valor
tos de uma nova cultura no direito. 3. ed. São Paulo: Alfa porque expressa a “vontade do povo”, ou um conjunto de
Omega, 2001. prescrições morais partilhadas e internalizadas pelo cidadão
comum, mas como uma imposição das “autoridades”, não
Anderson Lopes importa quão legal e legitimadamente produzidas e postas
em vigor.
ADMINISTRAÇÃO INSTITUCIONAL DE A obediência ou a desobediência às leis e regras que re-
CONFLITOS NO ESPAÇO PÚBLICO gem a apropriação e uso dos espaços públicos não se coloca
como questão de transgressão moral a regulamentos explíci-
O Espaço Público é entendido como área de apropriação tos facilmente acessíveis, a serem literalmente interpretados,
pública. São espaços públicos aqueles com certa restrição mas como o resultado da escolha entre a liberdade de agir e
de uso, muitas vezes funcionalizados ou que se destinam a o constrangimento externo, a opção entre a implementação

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
do desejo individual e da reprodução social de cada um, concedidos oficialmente a certas categorias de cidadãos pelo
por um lado, e a submissão a um interesse geral e difuso, instituto da prisão especial.
quase certamente manipulado em benefício da reprodução O que possibilita, portanto, a ordem social em um siste-
alheia, por outro. ma, que se constrói a partir da explicitação dos conflitos de
Como consequência, aqui, o domínio do público, a res interesses individualizados, em franca oposição, gerando a
publica, a “coisa pública”, contraditoriamente ao domínio da construção coletiva de regras explícitas, de aplicação literal
sociedade, não é representada como o locus da regra local e e universal, o que se constitui em legitimação de sua ordem
explícita, de aplicação universal, a todos acessível e, portanto, jurídica, em que a concepção de igualdade é formal B o direi-
a todos aplicável por igual, que é a condição indispensável e to igual de todos à diferença, é o que dificulta a existência do
necessária para a interação social entre indivíduos diferentes outro, fundado na conciliação forçada dos conflitos, visando
mas iguais, de acordo com a representação anglo‑americana a imposição da harmonia e do status que, para manter a
da sociedade que, explicitamente, é  enfatizada naquele hierarquia e a complementaridade entre elementos subs-
sistema. Ao  contrário, a  ênfase jurídica na definição do tantivamente diferenciados do sistema, produtor de regras
domínio do público, seja moral, intelectual ou até mesmo gerais, sempre interpretadas de forma separada pelos de-
o espaço físico, é a de que este é o lugar controlado pelo tentores do saber privilegiado para fazer justiça adequada
Estado, de acordo com “suas” regras. Neste espaço tudo é a todos esses segmentos diferenciados.
possivelmente permitido, até que seja proibido ou reprimido Em nossa sociedade esta tradição jurídica particularista
pela “autoridade”, que tem acesso não só ao conteúdo das coexiste, aparentemente, com os anseios de universalidade
regras, mas principalmente a competência para a interpre- de uma cultura jurídico‑política explícita, de caráter indivi-
tação correta da aplicação particularizada das prescrições dualista e igualitário, que precisa fundar‑se em mecanismos
gerais, sempre realizada através de formas implícitas e de universais de administração de conflitos pela produção de
acesso privilegiado. verdades negociadas. Ao contrário da tradição dos Estados
O domínio público é o lugar apropriado de forma particu- Unidos, onde os princípios processuais são constitucionais
lar, seja pelo Estado, seja por outros membros da sociedade, e disponíveis, aplicando‑se universal e localmente, a tensão
autorizados ou não por ele, e, por isso, sempre, aparente- entre o político e o jurídico, entre o constitucional e o judicial,
mente, opaco, caótico e imprevisível ao olhar coletivo, onde cada vez mais, se faz presente em nossa sociedade, opondo
tudo pode acontecer e de onde “quero tudo o que tenho uma concepção de generalidade fundada em diferenças subs-
direito”, significando não só que reivindico aquilo que sei tantivas entre as pessoas e as coisas, próprias dos sistemas
merecer, mas que desejo ter, substantivamente, tudo o que hierárquicos e particularistas, a uma universalidade fundada
os outros têm e cujo conteúdo e significação, eventualmente, na aplicação local de regras consensuais e na estratificação
posso até mesmo desconhecer. A liberdade, neste contexto, das igualdades formais, próprias dos sistemas individualistas.
não é associada à liberdade de escolher no mercado onde A questão relevante, portanto, não é apenas a das con-
as opções dadas foram previamente negociadas, mas à tradições entre as formas de apropriação e uso do público
possibilidade aberta de todos poderem “ter” tudo. A ideia e do privado, mas principalmente entre os sistemas inter-
de igualdade, assim, torna‑se substantiva, associada à seme- pretativos de aplicação particularista de regras gerais, ou
lhança e não à diferença entre as pessoas. Neste contexto, aqueles de aplicação universalista de regras locais e literais.
as  negociações se tornam deslocamentos estruturais que Se, a princípio, o processo de atendimento às demandas
afetam posições desiguais em uma hierarquia excludente, de movimentos sociais pode ser desgastante para o Estado,
não composições que visam à produção de uma hierarquia numa etapa posterior, já com as demandas atendidas, o go-
social includente. verno, através de seus políticos, procura colher os ganhos
O espaço público tem de estar sempre submetido a regras políticos. Construções como hospitais, creches, conjuntos
gerais, nunca locais. Essas regras, que não se originam dos habitacionais e escolas, têm, para os governos que as inau-
cidadãos envolvidos nos conflitos, como devem ser aplicadas guram, grande poder político e propagandista. A propaganda
de forma particular, pressupõem uma competição entre dessas obras procura sempre associá‑las a um partido ou
os envolvidos pelo favorecimento de sua aplicação e uma a uma figura política. E, para ampliar esses ganhos, usa‑se
suposta neutralidade do aplicador em relação às partes. amplamente a linguagem publicitária. O Estado age, com o
O sistema, assim, coloca todos juntos, mas separados e discurso de prestar contas à população, também, de acordo
hierarquizados na conquista dos melhores lugares em uma com interesses imediatos: apresentar a conclusão de serviços
estrutura que pode ser representada como piramidal. E como através de números e estatísticas, expor obras vistosas etc.,
toda estrutura hierarquizada, piramidal, constituída de partes quase sempre com vistas às próximas eleições. E não é difícil
desiguais mas complementares, está rejeita a explicitação imaginar políticos que usam dessas mesmas obras como
do conflito, uma força disruptora que ameaça desarrumá‑la. cartão de visita repetido a cada eleição. Assim, estabelece‑se
Direitos Humanos e Cidadania

Quem está no topo, no vértice, é o único que tudo vê, cuja uma personificação, um estilo de criar obras públicas.
perspectiva é a verdadeira, pois os demais elementos têm Privatiza‑se a obra pública porque ela fica personificada.
apenas visões parciais do conjunto, tanto mais distorcidas
quanto mais próximos à base se encontrem. Só vale a pena
saber aquilo que poucos sabem, pois só assim tenho a ga- Exercícios
rantia de obter efeitos confiáveis; a informação a que todos
têm acesso de nada vale. (Cespe/DPE-PE/Defensor Público/2015) Julgue o item subse-
Há nesse modelo adotado no Brasil um espaço para o cutivo, a respeito de aspectos gerais e históricos dos direitos
reconhecimento explícito da desigualdade entre os cidadãos, humanos.
manifestada em nosso dia a dia pelos rituais do “Você sabe 1. As três vertentes da proteção internacional da pessoa
com quem está falando?” e, mesmo, no reconhecimento humana, a saber, os direitos humanos, o direito huma-
jurídico a direitos diferentes explicitamente atribuídos a pes- nitário e o direito dos refugiados, foram consagradas
soas supostamente desiguais, como é o caso dos privilégios nas conferências mundiais da última década de 90. Não

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
obstante, a implementação dessas vertentes deve aten- mas internacionais de direitos humanos, o Estado não
der às demandas de cada região, mesmo que não haja poderá ser responsabilizado no plano internacional por
sistemas regionais de proteção. essa decisão.
12. O sistema global de proteção dos direitos humanos foi
(Cespe/DPE-PE/Defensor Público/2015) Considerando as instaurado pela Carta Internacional dos Direitos Huma-
disposições constitucionais relativas aos direitos humanos e nos.
aos tratados que versam sobre o tema, julgue os itens sub-
sequentes. (Cespe/PRF/Policial Rodoviário Federal/2013) No que concer-
2. O procurador-geral da República poderá, ouvido o Con- ne as práticas policiais no espaço público e a administração
selho Nacional do Ministério Público, suscitar, peran- institucional de conflitos no espaço público, julgue os itens
te o STF, incidente de deslocamento de competência seguintes.
para a justiça federal quando julgar que o processo 13. Ainda que, durante manifestação que resulte no blo-
envolve grave violação de direitos humanos e exige o queio de rodovia federal, os manifestantes entrem em
cumprimento de obrigações decorrentes de tratados conflito com motoristas que trafeguem nessa rodovia,
internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil o PRF responsável pela segurança no local não poderá
seja parte. efetuar, a título de advertência, disparos de arma de
3. Uma das condições para que os tratados e convenções fogo para o alto.
internacionais sobre direitos humanos sejam conside- 14. Caso um veículo em movimento desrespeite bloqueio
rados equivalentes às normas constitucionais é a sua feito pela PRF em determinada rodovia federal, ainda
aprovação, em cada casa do Congresso Nacional, pelo que esse fato não represente risco imediato de morte
mesmo processo legislativo previsto para a aprovação ou de lesão grave aos agentes de segurança publica ou
de proposta de emenda constitucional. a terceiros, o PRF que estiver atuando no bloqueio po-
derá, para paralisar o veículo, empregar arma de fogo.
(Cespe/PRF/Policial Rodoviário Federal/2013) Acerca dos
direitos de cidadania e do pluralismo jurídico, julgue o item (Cespe/DPE-ES/Defensor Público/2012) Julgue os seguintes
que se segue. itens, sobre a teoria geral, a afirmação histórica, os funda-
4. No Brasil, o pluralismo jurídico configura-se, por exem- mentos e a universalidade dos direitos humanos.
plo, quando da aplicação de regras criadas por mem- 15. A hermenêutica diatópica constitui proposta de su-
bros de organizações criminosas, distintas das regras
peração do debate sobre universalismo e relativismo
jurídicas estabelecidas pelo Estado.
cultural.
16. A universalidade e a indivisibilidade são características
(Cespe/PRF/Policial Rodoviário Federal/2013) Considerando
próprias da concepção contemporânea dos direitos hu-
o disposto na Constituição Federal de 1988 (CF), julgue os
manos.
itens a seguir, relativos aos direitos humanos.
5. A possibilidade de extensão aos estrangeiros que este- 17. A concepção contemporânea dos direitos humanos sur-
jam no Brasil, mas que não residam no país, dos direitos giu com o término da Primeira Grande Guerra Mundial.
individuais previstos na CF deve-se ao princípio da pri- 18. As três gerações de direitos humanos demonstram que
mazia dos direitos humanos nas relações internacionais visões de mundo diferentes refletem-se nas normas
do Brasil. jurídicas voltadas à proteção da pessoa.
6. Equivalem às normas constitucionais originárias os tra-
tados internacionais sobre direitos humanos aprovados, (Cespe/AGU/Advogado da União/2012) No que se refere à
em cada casa do Congresso Nacional, em dois turnos, responsabilidade internacional dos Estados e às fontes do
por três quintos dos votos dos respectivos membros. direito internacional e sua relação com o direito interno bra-
sileiro, julgue o item a seguir.
(Cespe/PRF/Policial Rodoviário Federal/2013) No que se refe- 19. Por decisão do STF, os costumes e tratados de direitos
re à fundamentação dos direitos humanos e à sua afirmação humanos adotados pelo Brasil antes da edição da Emen-
histórica, julgue os itens subsecutivos. da Constitucional nº 45/2003 adquiriram, no direito
7. A expressão direitos humanos de primeira geração brasileiro, estatuto de normas supralegais.
refere-se aos direitos sociais, culturais e econômicos.
8. Conforme a teoria positivista, os direitos humanos (Cespe/DPE- BA /Defensor Público/2010) Julgue os seguintes
fundamentam-se em uma ordem superior, universal, itens, acerca da teoria geral do direito internacional dos di-
imutável e inderrogável. reitos humanos e à incorporação dos tratados internacionais
de direitos humanos no Brasil.
(Cespe/PRF/Policial Rodoviário Federal/2013) Julgue os próxi- 20. A sistemática concernente ao exercício do poder de
Direitos Humanos e Cidadania

mos itens, relativos aos direitos humanos, à responsabilidade celebrar tratados é deixada a critério de cada Estado.
do Estado e à Política Nacional de Direitos Humanos. Em matéria de direitos humanos, são estabelecidas, na
9. A aplicação das normas de direito internacional hu- CF, duas categorias de tratados internacionais: a dos
manitário e de direito internacional dos refugiados materialmente constitucionais e a dos materialmente
impossibilita a aplicação das normas básicas do direito e formalmente constitucionais.
internacional dos direitos humanos. 21. Considere que Melchior, devido a fundado temor de
10. A Política Nacional de Direitos Humanos contempla me- perseguição por motivo de raça, se encontre fora de seu
didas voltadas à proteção dos direitos civis, tais como país de nacionalidade e que, tendo ingressado no Brasil,
os projetos que tratam da parceria entre pessoas do se tenha dirigido à Defensoria Pública e indagado acerca
mesmo sexo e da obrigatoriedade de atendimento do da possibilidade de permanência no país, em condição
aborto legal pela rede pública de saúde. de asilo. Nesse caso, é correto que o defensor público
11. Caso o Poder Judiciário, ao fundamentar decisão em recomende a Melchior que requeira refúgio, com base
lei ou norma constitucional interna, descumpra nor- na lei que normatiza o assunto.

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22. A Corte Interamericana de Direitos Humanos profere c) São fundamentais para consolidar o Estado Demo-
sentenças recorríveis pelos interessados, as quais decla- crático e a proteção do direito à vida e à dignidade, a
ram eventual violação de direito protegido por tratado, formação em todo o serviço público, especialmente
não lhe competindo, no caso concreto, determinar pa- entre os agentes do sistema de Justiça e segurança
gamento de indenização à parte lesada. privada, abordando os recortes de gênero, relações
23. O Direito Internacional Humanitário, campo das ciên- étnico-raciais e de orientação sexual.
cias jurídicas com o objetivo de prestar assistência às d) Os meios de comunicação de massa têm papel es-
vítimas de guerra, surgiu, efetivamente, com a primeira tratégico no sentido de construir ou desconstruir um
convenção de Genebra, em 1864. ambiente nacional e uma cultura social de respeito
24. Ao contrário do direito internacional dos direitos huma- e proteção aos Direitos Humanos. Daí a importância
nos, o direito internacional humanitário não se vale de primordial de introduzir mudanças que assegurem
tribunais para sua implementação, já que não se espera ampla democratização desses meios, bem como de
que partes em conflito aberto submetam-se a decisões atuar permanentemente junto a todos os profissio-
judiciais. nais e empresas do setor.
25. De acordo com a jurisprudência do STF, desde 1988 os
tratados sobre direitos humanos podem ser incorpo- 29. (FCC/TRT 3ª Região (MG)/Analista/Serviço Social/2015)
rados ao ordenamento jurídico nacional com força de O Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH) foi
emenda constitucional. elaborado pela primeira vez em 1996 e enfatizava os
26. Nas hipóteses de grave violação de direitos humanos, direitos civis e políticos. Em 2002 foi reformulado e
o Procurador-Geral da República, com a finalidade de incorporou os direitos econômicos, sociais, culturais
assegurar cumprimento de obrigações decorrentes de e ambientais. Está em vigor o programa lançado em
tratados internacionais de direitos humanos dos quais 2010 que incorpora o debate sobre a necessidade de
o Brasil seja parte, poderá suscitar, perante o STJ, em ampliação dos mecanismos de participação e a criação
qualquer fase do inquérito ou processo, incidente de e construção de monitoramento das políticas públicas
deslocamento de competência para a justiça federal. de Direitos Humanos no Brasil. O programa está estru-
turado em
27. (Funcab/Segep-MA/Agente Penitenciário/2016) A ca- a) seis eixos orientadores.
b) nove diretrizes sociais.
racterística que consiste no reconhecimento de que
c) quatro ordenamentos jurídicos.
todos os direitos humanos possuem a mesma proteção
d) dois pilares estruturantes.
jurídica, uma vez que são essenciais para uma vida digna
e) sete ações principais.
corresponde à:
a) indivisibilidade.
30. (Vunesp/MPE-SP/Analista de Promotoria/Assistente Ju-
b) universalidade. rídico/2015) Assinale a alternativa que corretamente
c) indisponibilidade. disserta sobre aspectos conceituais dos direitos huma-
d) inalienabilidade. nos em sua evolução histórica.
e) imprescritibilidade. a) Os direitos humanos da terceira dimensão marcam a
passagem de um Estado autoritário para um Estado de
28. (Fauel/Cismepar-PR/Assistente Social/2016) “A educa- Direito e, nesse contexto, o respeito às liberdades indi-
ção e a cultura em Direitos Humanos visam à formação viduais, em uma perspectiva de absenteísmo estatal,
de nova mentalidade coletiva para o exercício da soli- fruto do pensamento liberal-burguês do século XVIII.
dariedade, do respeito às diversidades e da tolerância. b) Os direitos de quarta dimensão, ou direitos de liber-
Seu objetivo é combater o preconceito, a discriminação dade, têm como titular o indivíduo, são oponíveis ao
e a violência, promovendo a adoção de novos valores de Estado, traduzem-se como faculdades ou atributos
liberdade, justiça e igualdade. Como canal estratégico da pessoa e ostentam uma subjetividade que é seu
capaz de produzir uma sociedade igualitária, extrapo- traço mais característico, sendo, assim, direitos de
la o direito à educação permanente e de qualidade. resistência ou oposição ao Estado.
Trata-se de mecanismo que articula conhecimentos, c) Os direitos fundamentais da primeira dimensão
cultura, consciência cidadã, processos metodológicos são marcados pela alteração da sociedade por pro-
e o fortalecimento de políticas, dentre outros elemen- fundas mudanças na comunidade internacional,
tos”. (PNDH – 3 – Secretaria de Direitos Humanos da identificando-se consequentes alterações nas re-
Presidência da República, 2010). lações econômico-sociais, sobretudo na sociedade
A este respeito, é correto afirmar que: de massa, fruto do desenvolvimento tecnológico e
a) O Programa Nacional de Direitos Humanos – 3 pro- científico.
Direitos Humanos e Cidadania

põe exclusão da temática de Educação em Direitos d) Os direitos da quinta dimensão são direitos transindi-
Humanos nos programas de capacitação de lideran- viduais que transcendem os interesses do indivíduo
ças comunitárias e nos programas de qualificação e passam a se preocupar com o gênero humano,
profissional, alfabetização de jovens e adultos, in- com altíssimo teor de humanismo e universalidade,
cluindo, prioritariamente, na educação de crianças inserindo-se o ser humano em uma coletividade que
e adolescentes. passa a ter direitos de solidariedade ou de fraterni-
b) A Educação em Direitos Humanos volta-se, especial- dade.
mente, para o estabelecimento de diálogo e par- e) A evidenciação de direitos sociais, culturais e eco-
cerias temporárias com o vasto leque brasileiro de nômicos, correspondendo aos direitos de igualdade,
movimentos populares, sindicatos, igrejas, ONGs, sob o prisma substancial, real e material, e não me-
clubes, entidades empresariais e toda sorte de ramente formal, mostra-se marcante nos documen-
agrupamentos da sociedade civil que desenvolvem tos pertencentes ao que se convencionou classificar
atividades formativas em seu cotidiano. como segunda dimensão dos direitos humanos.

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31. (MPT/MPT/Procurador do trabalho/2015) Sobre a evo- e) a cultura é a única fonte de validade de um direito
lução histórica dos direitos humanos, assinale a alter- ou regra moral.
nativa correta.
a) O Bill of Rights dos Estados Unidos da América con- 34. (Fumarc/PC-MG/Investigador de Polícia/2014) Nos ter-
siste em um rol de direitos fundamentais inserido na mos do inciso LXVII do art. 5º da Constituição Federal
Declaração de Independência proclamada por Tho- de 1988, “não haverá prisão civil por dívida, salvo a do
mas Jefferson em 1776, posteriormente incorporado responsável pelo inadimplemento voluntário e inescu-
aos Artigos da Confederação. sável de obrigação alimentícia e a do depositário infiel”.
b) O Bill of Rights dos Estados Unidos da América À luz de decisão do Supremo Tribunal Federal, consi-
constitui-se de normas originárias constantes da derando os termos do Pacto Internacional dos Direitos
Constituição aprovada na Convenção da Filadélfia Civis e Políticos, assim como da Convenção Americana
em 1787. de Direitos Humanos, é correto afirmar sobre a previsão
c) O Bill of Rights dos Estados Unidos da América foi constitucional da prisão civil do depositário infiel que
inserido somente em 1791 na Constituição ameri- a) é cláusula pétrea e, por tal razão, nenhum tratado
cana, sob a forma de emendas constitucionais. internacional tem força suficiente para afastar a sua
d) O Bill of Rights formalmente não é uma norma fe- aplicabilidade sobre os casos concretos.
deral nos Estados Unidos da América, mas sim uma b) foi revogada.
interpretação extensiva da Declaração de Direitos da c) não foi revogada e, exatamente por isso, continua
Virginia promovida pela jurisprudência da Suprema sendo aplicável pelo poder judiciário brasileiro.
Corte americana. d) não foi revogada, porém deixou de ter aplicabilidade
e) Não respondida. diante do efeito paralisante desses tratados.

32. (FMP/DPE-PA/Defensor Público/2015) 0 Sobre as carac- 35. (CS-UFG/DPE-GO/Defensor Público/2014) Os direitos


terísticas dos direitos humanos, é correto afirmar que: humanos ganharam nas últimas décadas especial aten-
a) o historicismo é característica inerente aos direitos ção da sociedade e dos meios internacionais e já se
humanos, o qual determina a possibilidade de que encontram incorporados ao pensamento jurídico do
tais direitos sejam reconhecidos e, posteriormente, século XXI. Estudiosos da matéria sustentam que o seu
suprimidos, conforme a evolução do pensamento fundamento filosófico e a justificativa estão ligados a
humano. movimentos históricos, políticos e jurídico-sociais que
b) a defesa da característica da universalidade dos direi- marcaram a história da humanidade. Nessa perspectiva,
tos humanos contempla a proibição de tratamento a) o fim da II Guerra Mundial e a negação do valor do
diferenciado a determinados grupos sociais ou cul- ser humano fazem nascer os ideais representativos
dos direitos humanos, quais sejam, igualdade, liber-
turais, em qualquer circunstância.
dade e fraternidade.
c) a irrenunciabilidade reconhecida aos direitos huma-
b) as primeiras declarações de direitos humanos in-
nos significa a impossibilidade de que o seu titular
cluem a Declaração dos Direitos do Homem e do
abra mão de direitos previstos em tratados interna-
Cidadão, na França, com a Queda da Bastilha no
cionais, os quais, entretanto, podem sofrer restrições
século XIX.
por lei ordinária, conforme o ordenamento jurídico c) a Idade Moderna, por meio dos racionalistas, pre-
de cada país. conizava o direito divino que pode ser despojado
d) os direitos humanos são caracterizados pela indi- quando entra em sociedade.
visibilidade e complementariedade, de forma que d) as concepções positivistas, apesar de importante
compõem um único conjunto de direitos, cuja ob- movimento, preconizavam que as leis, uma vez pre-
servância deve ser sistêmica e lastreada no princípio vistas no ordenamento jurídico, podem ser exigidas,
da dignidade da pessoa humana. pouco contribuindo para os direitos humanos.
e) a imprescritibilidade dos direitos humanos determi- e) o reconhecimento dos direitos humanos teve como
na a inexistência de prazo para ajuizamento de ações um dos seus fundamentos filosóficos o movimento
em face do Estado a respeito de eventuais violações denominado “jusnaturalismo”.
desses direitos.
36. (CS-UFG/DPE-GO/Defensor Público/2014) Os tratados
33. (FCC/DPE-RS/Defensor Público/2014) Na teoria geral internacionais só se aplicam aos Estados-parte que
dos direitos humanos, um dos debates mais relevantes expressamente consentiram com sua adoção, não
diz respeito ao dilema dos seus fundamentos filosóficos. podendo criar obrigações aos Estados que com eles
Duas correntes bem distintas lideram a discussão: o não consentiram. No ordenamento jurídico brasileiro
relativismo cultural e o universalismo. Os adeptos da compreende-se que,
Direitos Humanos e Cidadania

doutrina universalista defendem a visão de que a) é da competência privativa do Presidente da Repú-


a) não há uma moral universal, pois a história do mun- blica celebrar tratados, convenções e atos interna-
do é a história de uma pluralidade de culturas. cionais, que devem ser referendados pelo Congresso
b) na medida em que todas as culturas possuem con- Nacional
cepções de dignidade humana, deve-se aumentar b) é da competência do Senado deliberar de maneira
a consciência das incompletudes culturais mútuas, decisiva, sobre tratados e acordos internacionais que
como pressuposto para um diálogo intercultural. acarretam gravosos encargos ao patrimônio público.
c) a noção de direitos está estritamente relacionada ao c) é equivalente à emenda constitucional todo tratado
sistema político, cultural, econômico, moral e social internacional sobre direitos humanos.
vigente em determinada sociedade. d) é considerada inconstitucional pelo Supremo Tribu-
d) os direitos humanos decorrem da dignidade hu- nal Federal a prisão civil do devedor de alimentos.
mana, na qualidade de valor intrínseco à condição e) é considerado definitivamente o aceite e a ratifica-
humana, concebendo-se uma noção de direitos ba- ção, pelo qual o Estado se obrigue ao ato jurídico
seada em um mínimo ético irredutível. internacional

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37. (Aroeira/PC-TO/Escrivão de Polícia Civil/2014) A edição perante os órgãos de supervisão internacional, mas
da Emenda Constitucional nº 45, de 2004, inaugurou carecem de capacidade processual nesse sistema.
um novo panorama nos acordos internacionais relativos b) No campo dos direitos humanos, desde a Declaração
a direitos humanos na República Federativa do Brasil. Universal de 1948, verifica-se a coexistência de diver-
Quanto às formalidades exigidas para a incorporação de sos instrumentos de proteção estabelecendo regras
normas internacionais em geral e tratados de direitos de efeitos e conteúdo essencialmente formais.
humanos, essa Emenda determina que c) A resolução de conflitos nos casos concretos de
a) os tratados internacionais deverão ser propostos por violações de direitos humanos é tema de interesse
um terço, no mínimo, dos membros da Câmara dos exclusivamente nacional dos Estados.
Deputados ou do Senado Federal para serem admi- d) Os tratados podem agir como normas de direito
tidos e enviados à votação do Plenário do Congresso interno, desde que ratificados e incorporados, po-
Nacional. dendo influenciar a alteração, ou criação, de regu-
b) os tratados e as convenções internacionais sobre di- lamentação nacional específica.
reitos humanos que forem aprovados pelo Senado e) A partir de 1950, depois de estabelecida uma uni-
Federal e pela Câmara dos Deputados, em um só dade conceitual dos direitos humanos, sua proteção
turno de discussão e votação, serão equivalentes internacional viu-se em acentuado declínio.
às emendas constitucionais, após a sanção do Pre-
sidente da República. 41. (UFMT/MPE-MT/Promotor de Justiça/2014) De acordo
c) os tratados internacionais deverão ser propostos por com a atual jurisprudência do Supremo Tribunal Fede-
um terço, no mínimo, dos membros da Câmara dos ral, os Tratados Internacionais de Direitos Humanos,
Deputados ou do Senado Federal, devendo serem dos quais o Brasil tenha sido signatário, internalizados
discutidos e votados em cada Casa, em dois turnos, antes da Emenda Constitucional nº 45,
e serão aprovados se obtiverem, em ambas, três a) ingressam como normas constitucionais de acordo
quintos dos votos dos seus respectivos membros. com o art. 5º, § 2º da Constituição Federal brasileira.
d) os tratados e as convenções internacionais sobre b) ingressam como leis ordinárias de acordo com a
direitos humanos que forem aprovados em cada regra de internalização dos tratados internacionais
Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por prevista na Constituição Federal brasileira.
três quintos dos votos dos respectivos membros, c) precisam ser ratificados pelo Congresso Nacional por
serão equivalentes às emendas constitucionais. 3/5 dos seus membros em dois turnos de votação
para terem status constitucional.
38. (Vunesp/PC-SP/Investigador de Polícia/2014) Na evo- d) possuem caráter supralegal, ou seja, nível hierár-
lução histórica dos direitos humanos, surgem o que se quico superior às leis, mas abaixo da Constituição
convencionou denominar de “gerações dos direitos”, Federal brasileira.
que representam a valorização de determinados direi- e) são apenas horizontes interpretativos, visto que o
tos em momentos históricos distintos. Assim sendo, que prevalece no Brasil é seu direito interno.
assinale a alternativa que contempla direitos perten-
centes à primeira geração dos direitos humanos. 42. (Fepese/SJC-SC/Agente de Ação Social/2013) Norma in-
ternacional Incorporada ao sistema jurídico brasileiro
a) Direitos econômicos e de igualdade
tem hierarquia de qual espécie normativa?
b) Vida e liberdade.
a) decreto executivo.
c) Direitos trabalhistas e previdenciários.
b) decreto legislativo.
d) Direitos civis e direito à paz.
c) resolução do Senado.
e) Fraternidade e direitos sociais
d) tratado internacional.
e) norma constitucional.
39. (Vunesp/PC-SP/ Delegado de Polícia/2014) No direito
brasileiro, considerando os tratados internacionais de 43. (Fepese/SJC-SC/Agente Penitenciário/2013) Assinale a
direitos humanos, bem como o entendimento atual do alternativa correta acerca da classificação dos Direitos
Supremo Tribunal Federal, é correto afirmar, a respeito Humanos em gerações.
da prisão civil, que a) A quarta geração de direitos é marcada pelos avan-
a) são admitidas apenas duas possibilidades de prisão ços sociais.
civil: a do depositário infiel e a do devedor de pensão b) As liberdades políticas e civis marcam a segunda
alimentícia. geração de direitos.
b) é ilícita a prisão do depositário infiel, qualquer que c) A terceira geração de direitos constitui direitos de
seja a modalidade do depósito. igualdade.
c) foram abolidas todas e quaisquer hipóteses legais
Direitos Humanos e Cidadania

d) Os direitos de fraternidade, como o progresso e a


de prisão civil. paz, são elementos dos direitos de primeira geração.
d) é ilícita a prisão do devedor de pensão alimentícia, e) A quarta geração de direitos é ligada aos direitos
sendo admitida apenas a prisão do depositário infiel. tecnológicos, como o direito de informação.
e) se admite, atualmente, no direito pátrio, a prisão
civil somente em âmbito federal, desde que haja 44. (Fepese/SJC-SC/Agente Penitenciário/2013) Assinale a
decisão judicial transitada em julgado. alternativa correta a respeito da incorporação de trata-
dos internacionais no sistema jurídico brasileiro.
40. (Vunesp/PC-SP/ Delegado de Polícia/2014) Consideran- a) Devidamente aprovados, terão o caráter de emenda
do a sua evolução histórica, bem como o sistema inter- constitucional.
nacional de proteção dos direitos humanos, assinale a b) Após aprovados pelo Congresso Nacional, serão con-
alternativa correta. vertidos em decreto legislativo.
a) No sistema processual de proteção dos direitos hu- c) O Presidente da República os regulamentará como
manos, as pessoas físicas são titulares de direitos decreto executivo.

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d) Após a resolução do Senado, o tratado servirá como
princípio interpretativo.
e) Apesar de incorporados ao sistema jurídico brasilei-
ro, serão considerados norma infraconstitucuional.

45. (Fepese/SJC-SC/Agente Penitenciário/2013) Assinale a


alternativa correta em matéria de Direitos Humanos.
a) A proteção aos Direitos Humanos, no Estado brasi-
leiro, está limitada às relações de trabalho.
b) O sistema jurídico brasileiro não incorporou nenhu-
ma norma internacional de Direitos Humanos
c) A prevalência dos direitos humanos como vetor de
política internacional não obriga sua observância nas
relações domésticas.
d) Pelo fato de o Brasil não ter participado na Segunda
Guerra Mundial, a Declaração Universal dos Direitos
Humanos não teve reflexo no sistema jurídico interno.
e) A Constituição de 1988 estabelece a prevalência dos
direitos humanos como princípio do Estado brasilei-
ro em suas relações internacionais.

Gabarito
1. c 13. c 25. e 37. d
2. e 14. e 26. e 38. b
3. c 15. c 27. a 39. b
4. c 16. c 28. d 40. d
5. c 17. e 29. a 41. d
6. e 18. c 30. e 42. e
7. e 19. e 31. c 43. e
8. e 20. c 32. d 44. e
9. e 21. c 33. d 45. e
10. c 22. e 34. d
11. e 23. c 35. e
12. c 24. e 36. a
Direitos Humanos e Cidadania

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PRF

SUMÁRIO

Legislação Relativa à DPRF

Lei nº 9.503/1997 – Código de Trânsito Brasileiro, e suas atualizações................................................................................ 3

Perfil constitucional:
funções institucionais ....................................................................................................................................................... 54

Lei nº 9.654/1982 ................................................................................................................................................................ 55

Decreto nº 6.061/2007 (Revogado pelo Decreto nº 8.668, de 11 de fevereiro de 2016)...................................................60

Decreto nº 1.655/1995 ........................................................................................................................................................ 55

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Legislação Relativa à DPRF
Wagner Miranda/Fabrício Sarmanho/Eduardo Muniz
Machado Cavalcanti/Welma Maia

Wagner Miranda qual somente se admite uma legislação de trânsito que


seja válida, efetivamente, para todo o País.
LEI Nº 9.503, DE 23 DE SETEMBRO DE 1997 O CTB dispôs, ainda, que o trânsito é um direito de todos
e dever dos órgãos e entidades componentes do Sistema
Institui o Código de Trânsito Nacional de Trânsito, a estes cabendo, no âmbito das
Brasileiro. respectivas competências, adotar as medidas destinadas
a assegurar esse direito, dando prioridade em suas ações
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso à defesa da vida, nela incluídas a preservação da saúde
Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: e do meio ambiente. Ademais, responderão, no âmbito
das respectivas competências, objetivamente, por danos
CAPÍTULO I causados aos cidadãos em virtude de ação, omissão ou
Disposições Preliminares erro na execução e manutenção de programas, projetos
e serviços que garantam o exercício do direito do trânsito
Art. 1º O trânsito de qualquer natureza nas vias terres- seguro.
tres do território nacional, abertas à circulação, rege-se por O ponto exigido pelas bancas examinadoras de concur-
este Código. sos públicos refere-se à responsabilidade do Estado,
§ 1º Considera-se trânsito a utilização das vias por pes- devendo-se destacar que é objetiva a culpa da Adminis-
soas, veículos e animais, isolados ou em grupos, conduzidos tração, ou seja, todo ato, omissão ou erro na execução
ou não, para fins de circulação, parada, estacionamento e e manutenção de programas, projeto e serviços dos ór-
operação de carga ou descarga. gãos e entidades componentes do Sistema Nacional de
§ 2º O trânsito, em condições seguras, é um direito de Trânsito, desde que lesivo e injusto, é sujeito à reparação
todos e dever dos órgãos e entidades componentes do Sis- pela Fazenda Pública, podendo citar, por exemplo, prece-
tema Nacional de Trânsito, a estes cabendo, no âmbito das dente do Supremo Tribunal Federal, no sentido de que,
respectivas competências, adotar as medidas destinadas a “ficando evidenciado que a documentação do veículo se
assegurar esse direito. mostrou falsa e já havia comunicação da ocorrência do
§ 3º Os órgãos e entidades componentes do Sistema furto, passando esses dados despercebidos pela Admi-
Nacional de Trânsito respondem, no âmbito das respecti- nistração Pública, responde esta pelos danos causados, a
vas competências, objetivamente, por danos causados aos teor do disposto no § 6º do art. 37 da Constituição Fede-
cidadãos em virtude de ação, omissão ou erro na execução e
ral”. (STF – AI nº 209.190 AgRg, Rel. Min. Marco Aurélio,
manutenção de programas, projetos e serviços que garantam
Segunda Turma, julgado em 28/8/1998, DJ 4/12/1998,
o exercício do direito do trânsito seguro.
PP-00015 EMENT).
§ 4º (Vetado).
§ 5º Os órgãos e entidades de trânsito pertencentes ao
Art. 2º São vias terrestres urbanas e rurais as ruas, as
Sistema Nacional de Trânsito darão prioridade em suas ações
avenidas, os logradouros, os caminhos, as passagens, as es-
à defesa da vida, nela incluída a preservação da saúde e do
meio-ambiente. tradas e as rodovias, que terão seu uso regulamentado pelo
órgão ou entidade com circunscrição sobre elas, de acordo
Comentário: com as peculiaridades locais e as circunstâncias especiais.
O artigo 1º do Código de Trânsito Brasileiro (CTB) deter- Parágrafo único. Para os efeitos deste Código, são consi-
minou sua área de atuação, instituindo que “o trânsito deradas vias terrestres as praias abertas à circulação pública,
de qualquer natureza” nas vias terrestres do território as vias internas pertencentes aos condomínios constituídos
nacional, abertas à circulação, rege-se por este Código. por unidades autônomas e as vias e áreas de estacionamento
Trânsito, conforme definição dada pelo Anexo I do CTB, de estabelecimentos privados de uso coletivo. (Redação dada
é a movimentação e imobilização de veículos, pessoas pela Lei nº 13.146, de 2015)
e animais nas vias terrestres. Para restringir sua área de
abrangência, o CTB estabeleceu, no § 1º, que trânsito Comentário:
é “a utilização das vias por pessoas, veículos e animais, Via, segundo o Anexo I do CTB, “é a superficie por onde
isolados ou em grupos, conduzidos ou não, para fins de transitam veículos, pessoas e animais, compreendendo
circulação, parada, estacionamento e operação de carga a pista, a calçada, o acostamento, a ilha e o canteiro
ou descarga”. central.” Por outro lado, o caput do art. 2º estabelece
Legislação Relativa à DPRF

Assim, quando da utilização da via, por veículos, pedes- que são vias urbanas e rurais as ruas, as avenidas, os
tres ou animais, para fins de circulação, parada, estacio- logradouros, os caminhos, as passagens, as estradas e
namento e operação de carga ou descarga, é obrigatório as rodovias, as praias abertas à circulação pública e as
o atendimento das regras impostas pelo CTB. vias internas pertencentes aos condomínios constituídos
Partindo dessas premissas, constata-se que o CTB visa por unidades autônomas.
regulamentar apenas a utilização de via, sendo certo O STJ firmou entendimento no sentido de que, mesmo
que o transporte aéreo ou aquático (marítimo, fluvial em vias particulares ou situadas em propriedades pri-
ou lacustre) regula-se por normas próprias. vadas, incide o CTB, porquanto a regulamentação não
Na Carta Magna encontramos o dispositivo legal que faz qualquer distinção, limitando-se a mencionar que se
confere à União a competência privativa para legislar aplicam as suas regras ao trânsito de qualquer natureza,
sobre trânsito e transportes (art. 22, XI), motivo pelo nas vias terrestres e abertas à circulação.

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
Quanto aos crimes cometidos nessas propriedades, res- da legislação de trânsito. (Incluído pela Lei nº 12.058, de
salta-se que as figuras típicas dos arts. 302 e 303 pres- 2009)
cindem de estar ou não em via pública, ao contrário das § 1o O convênio valerá para toda a área física do porto
figuras descritas nos arts. 306, 308 e 309 do CTB. organizado, inclusive, nas áreas dos terminais alfandegados,
nas estações de transbordo, nas instalações portuárias pú-
Art. 3º As disposições deste Código são aplicáveis a qual- blicas de pequeno porte e nos respectivos estacionamentos
quer veículo, bem como aos proprietários, condutores dos ou vias de trânsito internas. (Incluído pela Lei nº 12.058, de
veículos nacionais ou estrangeiros e às pessoas nele expres- 2009)
samente mencionadas. §§ 2o e 3º (Vetados). (Incluídos pela Lei nº 12.058, de
Art. 4º Os conceitos e definições estabelecidos para os 2009)
efeitos deste Código são os constantes do Anexo I. Art.  8º Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios
organizarão os respectivos órgãos e entidades executivos de
CAPÍTULO II trânsito e executivos rodoviários, estabelecendo os limites
Do Sistema Nacional de Trânsito circunscricionais de suas atuações.
Art. 9º O Presidente da República designará o ministério
Seção I
ou órgão da Presidência responsável pela coordenação máxi-
Disposições Gerais
ma do Sistema Nacional de Trânsito, ao qual estará vinculado
o CONTRAN e subordinado o órgão máximo executivo de
Art. 5º O Sistema Nacional de Trânsito é o conjunto de
trânsito da União.
órgãos e entidades da União, dos Estados, do Distrito Fede-
ral e dos Municípios que tem por finalidade o exercício das
atividades de planejamento, administração, normatização, Comentários:
pesquisa, registro e licenciamento de veículos, formação, O Sistema Nacional de Trânsito é o conjunto de órgãos e
habilitação e reciclagem de condutores, educação, enge- entidades da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
nharia, operação do sistema viário, policiamento, fiscali- Municípios. De acordo com art. 1º do Decreto n° 4.711,
zação, julgamento de infrações e de recursos e aplicação de 29/5/2003, que regulamenta o art. 9º do CTB, compe-
de penalidades. te ao Ministério das Cidades a coordenação máxima do
Art.  6º São objetivos básicos do Sistema Nacional de SNT, vinculado, obviamente, ao Presidente da República.
Trânsito: O Sistema Nacional de Trânsito é composto por:
I – estabelecer diretrizes da Política Nacional de Trân- a) órgãos normativos ou consultivos;
sito, com vistas à segurança, à fluidez, ao conforto, à defe- b) órgãos executivos;
sa ambiental e à educação para o trânsito, e fiscalizar seu c) órgãos policiais; e
cumprimento; d) órgãos recursais.
II – fixar, mediante normas e procedimentos, a padro- A saber, são Órgãos Normativos ou Consultivos:
nização de critérios técnicos, financeiros e administrativos I – o Conselho Nacional de Trânsito (Contran);
para a execução das atividades de trânsito; II – os Conselhos Estaduais de Trânsito (Cetran); e
III – estabelecer a sistemática de fluxos permanentes de III – o Conselho de Trânsito do Distrito Federal (Contran-
informações entre os seus diversos órgãos e entidades, a fim dife).
De outra parte, os órgãos executivos são divididos
de facilitar o processo decisório e a integração do Sistema. em órgãos executivos de trânsito e órgãos executivos
rodoviários da União, dos Estados, do Distrito Federal e
Seção II dos Municípios.
Da Composição e da Competência Teremos, então, como Órgãos Executivos de Trânsito:
do Sistema Nacional de Trânsito I – o Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) –
União;
Art. 7º Compõem o Sistema Nacional de Trânsito os se- II – os Departamentos de Trânsito dos Estados (Detran); e
guintes órgãos e entidades: III – os órgãos municipais – cada Município tem seu órgão
I – o Conselho Nacional de Trânsito – CONTRAN, coorde-
executivo de trânsito (art. 24).
nador do Sistema e órgão máximo normativo e consultivo;
São Órgãos Executivos Rodoviários:
II – os Conselhos Estaduais de Trânsito – CETRAN e o
I – o Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Trans-
Conselho de Trânsito do Distrito Federal – CONTRANDIFE,
portes (DNIT) – União;
órgãos normativos, consultivos e coordenadores;
III – os órgãos e entidades executivos de trânsito da II – o Departamento de Estrada e Rodagem (DER) dos
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios; Estados e do Distrito Federal;
IV – os órgãos e entidades executivos rodoviários da III – os órgãos municipais – cada Município tem seu órgão
Legislação Relativa à DPRF

União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios; executivo rodoviário (art. 21).
V – a Polícia Rodoviária Federal; Ainda compondo o Sistema Nacional de Trânsito, temos
VI – as Polícias Militares dos Estados e do Distrito Fe- os Órgãos Policiais, quais sejam:
deral; e I – Polícia Rodoviária Federal (PRF); e
VII – as Juntas Administrativas de Recursos de Infrações II – Polícias Militares dos Estados e do Distrito Federal
– JARI. (PMs).
Art.  7o-A. A autoridade portuária ou a entidade con- Por fim, pertencem ao Sistema Nacional de Trânsito os
cessionária de porto organizado poderá celebrar convênios Órgãos Recursais, composto pelas Juntas Administrativas
com os órgãos previstos no art. 7o, com a interveniência dos de Recursos de Infrações (Jaris).
Municípios e Estados, juridicamente interessados, para o Para melhor visualização, vejamos o organograma do
fim específico de facilitar a autuação por descumprimento Sistema Nacional de Trânsito.

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Art. 10. O Conselho Nacional de Trânsito (Contran), com V – estabelecer seu regimento interno e as diretrizes para
sede no Distrito Federal e presidido pelo dirigente do órgão o funcionamento dos CETRAN e CONTRANDIFE;
máximo executivo de trânsito da União, tem a seguinte com- VI – estabelecer as diretrizes do regimento das JARI;
posição: (Redação dada pela Lei nº 12.865, de 2013) VII – zelar pela uniformidade e cumprimento das normas
I – (vetado); contidas neste Código e nas resoluções complementares;
II – (vetado); VIII – estabelecer e normatizar os procedimentos para a
III – um representante do Ministério da Ciência e Tec- imposição, a arrecadação e a compensação das multas por
nologia; infrações cometidas em unidade da Federação diferente da
IV – um representante do Ministério da Educação e do do licenciamento do veículo;
Desporto; IX – responder às consultas que lhe forem formuladas,
V – um representante do Ministério do Exército; relativas à aplicação da legislação de trânsito;
VI – um representante do Ministério do Meio Ambiente X – normatizar os procedimentos sobre a aprendizagem,
e da Amazônia Legal; habilitação, expedição de documentos de condutores, e re-
VII – um representante do Ministério dos Transportes; gistro e licenciamento de veículos;
VIII a XIX – (vetados); XI – aprovar, complementar ou alterar os dispositivos
XX – um representante do ministério ou órgão coorde- de sinalização e os dispositivos e equipamentos de trânsito;
nador máximo do Sistema Nacional de Trânsito; XII – apreciar os recursos interpostos contra as decisões
XXI – (vetado); das instâncias inferiores, na forma deste Código;
XXII – um representante do Ministério da Saúde. (Incluído XIII – avocar, para análise e soluções, processos sobre
pela Lei nº 9.602, de 1998) conflitos de competência ou circunscrição, ou, quando ne-
XXIII – 1 (um) representante do Ministério da Justiça. cessário, unificar as decisões administrativas; e
(Incluído pela Lei nº 11.705, de 2008) XIV – dirimir conflitos sobre circunscrição e competência
XXIV – 1 (um) representante do Ministério do Desenvol- de trânsito no âmbito da União, dos Estados e do Distrito
vimento, Indústria e Comércio Exterior; (Incluído pela Lei nº Federal.
12.865, de 2013) Art. 13. As Câmaras Temáticas, órgãos técnicos vinculados
Legislação Relativa à DPRF

XXV – 1 (um) representante da Agência Nacional de ao CONTRAN, são integradas por especialistas e têm como
Transportes Terrestres (ANTT). (Incluído pela Lei nº 12.865, objetivo estudar e oferecer sugestões e embasamento técnico
de 2013) sobre assuntos específicos para decisões daquele colegiado.
§§ 1º, 2º e 3º (Vetados) § 1º Cada Câmara é constituída por especialistas repre-
Art. 11. (Vetado). sentantes de órgãos e entidades executivos da União, dos
Art. 12. Compete ao CONTRAN: Estados, ou do Distrito Federal e dos Municípios, em igual
I – estabelecer as normas regulamentares referidas neste número, pertencentes ao Sistema Nacional de Trânsito, além
Código e as diretrizes da Política Nacional de Trânsito; de especialistas representantes dos diversos segmentos da
II – coordenar os órgãos do Sistema Nacional de Trânsito, sociedade relacionados com o trânsito, todos indicados se-
objetivando a integração de suas atividades; gundo regimento específico definido pelo CONTRAN e de-
III – (vetado); signados pelo ministro ou dirigente coordenador máximo do
IV – criar Câmaras Temáticas; Sistema Nacional de Trânsito.

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§ 2º Os segmentos da sociedade, relacionados no pa- III – encaminhar aos órgãos e entidades executivos de
rágrafo anterior, serão representados por pessoa jurídica e trânsito e executivos rodoviários informações sobre proble-
devem atender aos requisitos estabelecidos pelo CONTRAN. mas observados nas autuações e apontados em recursos, e
§ 3º Os coordenadores das Câmaras Temáticas serão que se repitam sistematicamente.
eleitos pelos respectivos membros. Art. 18. (Vetado).
§ 4º (Vetado). Art. 19. Compete ao órgão máximo executivo de trânsito
I a IV – (vetados). da União:
Art. 14. Compete aos Conselhos Estaduais de Trânsito I – cumprir e fazer cumprir a legislação de trânsito e a
– CETRAN e ao Conselho de Trânsito do Distrito Federal – execução das normas e diretrizes estabelecidas pelo CON-
CONTRANDIFE: TRAN, no âmbito de suas atribuições;
I – cumprir e fazer cumprir a legislação e as normas de II – proceder à supervisão, à coordenação, à correição dos
trânsito, no âmbito das respectivas atribuições; órgãos delegados, ao controle e à fiscalização da execução
II – elaborar normas no âmbito das respectivas compe- da Política Nacional de Trânsito e do Programa Nacional de
tências; Trânsito;
III – responder a consultas relativas à aplicação da legis- III – articular-se com os órgãos dos Sistemas Nacionais de
lação e dos procedimentos normativos de trânsito; Trânsito, de Transporte e de Segurança Pública, objetivando o
IV – estimular e orientar a execução de campanhas edu- combate à violência no trânsito, promovendo, coordenando
cativas de trânsito; e executando o controle de ações para a preservação do
V – julgar os recursos interpostos contra decisões: ordenamento e da segurança do trânsito;
a) das JARI; IV – apurar, prevenir e reprimir a prática de atos de impro-
b) dos órgãos e entidades executivos estaduais, nos casos bidade contra a fé pública, o patrimônio, ou a administração
de inaptidão permanente constatados nos exames de aptidão pública ou privada, referentes à segurança do trânsito;
física, mental ou psicológica; V – supervisionar a implantação de projetos e programas
VI – indicar um representante para compor a comissão relacionados com a engenharia, educação, administração,
examinadora de candidatos portadores de deficiência física policiamento e fiscalização do trânsito e outros, visando à
à habilitação para conduzir veículos automotores; uniformidade de procedimento;
VII – (vetado). VI – estabelecer procedimentos sobre a aprendizagem
VIII – acompanhar e coordenar as atividades de admi- e habilitação de condutores de veículos, a expedição de
nistração, educação, engenharia, fiscalização, policiamento documentos de condutores, de registro e licenciamento de
ostensivo de trânsito, formação de condutores, registro e veículos;
licenciamento de veículos, articulando os órgãos do Sistema VII – expedir a Permissão para Dirigir, a Carteira Nacional
no Estado, reportando-se ao CONTRAN; de Habilitação, os Certificados de Registro e o de Licencia-
IX – dirimir conflitos sobre circunscrição e competência mento Anual mediante delegação aos órgãos executivos dos
de trânsito no âmbito dos Municípios; e Estados e do Distrito Federal;
X – informar o CONTRAN sobre o cumprimento das exi- VIII – organizar e manter o Registro Nacional de Carteiras
gências definidas nos §§ 1º e 2º do art. 333. de Habilitação – RENACH;
XI – designar, em caso de recursos deferidos e na hipóte- IX – organizar e manter o Registro Nacional de Veículos
se de reavaliação dos exames, junta especial de saúde para Automotores – RENAVAM;
examinar os candidatos à habilitação para conduzir veículos X – organizar a estatística geral de trânsito no território
automotores. (Incluído pela Lei nº 9.602, de 1998) nacional, definindo os dados a serem fornecidos pelos de-
Parágrafo único. Dos casos previstos no inciso V, julgados mais órgãos e promover sua divulgação;
pelo órgão, não cabe recurso na esfera administrativa. XI – estabelecer modelo padrão de coleta de informações
Art. 15. Os presidentes dos CETRAN e do CONTRANDIFE sobre as ocorrências de acidentes de trânsito e as estatísticas
são nomeados pelos Governadores dos Estados e do Distrito do trânsito;
Federal, respectivamente, e deverão ter reconhecida expe- XII – administrar fundo de âmbito nacional destinado à
riência em matéria de trânsito. segurança e à educação de trânsito;
§ 1º Os membros dos CETRAN e do CONTRANDIFE são XIII – coordenar a administração da arrecadação de mul-
nomeados pelos Governadores dos Estados e do Distrito tas por infrações ocorridas em localidade diferente daquela
Federal, respectivamente. da habilitação do condutor infrator e em unidade da Fe­
§ 2º Os membros do CETRAN e do CONTRANDIFE deverão deração diferente daquela do licenciamento do veículo;
ser pessoas de reconhecida experiência em trânsito. XIV – fornecer aos órgãos e entidades do Sistema Nacio-
§ 3º O mandato dos membros do CETRAN e do CONTRAN- nal de Trânsito informações sobre registros de veículos e de
DIFE é de dois anos, admitida a recondução. condutores, mantendo o fluxo permanente de informações
Art. 16. Junto a cada órgão ou entidade executivos de com os demais órgãos do Sistema;
trânsito ou rodoviário funcionarão Juntas Administrativas de XV – promover, em conjunto com os órgãos competentes
Legislação Relativa à DPRF

Recursos de Infrações – JARI, órgãos colegiados responsáveis do Ministério da Educação e do Desporto, de acordo com as
pelo julgamento dos recursos interpostos contra penalidades diretrizes do CONTRAN, a elaboração e a implementação de
por eles impostas. programas de educação de trânsito nos estabelecimentos
Parágrafo único. As JARI têm regimento próprio, observa- de ensino;
do o disposto no inciso VI do art. 12, e apoio administrativo XVI – elaborar e distribuir conteúdos programáticos para
e financeiro do órgão ou entidade junto ao qual funcionem. a educação de trânsito;
Art. 17. Compete às JARI: XVII – promover a divulgação de trabalhos técnicos sobre
I – julgar os recursos interpostos pelos infratores; o trânsito;
II – solicitar aos órgãos e entidades executivos de trân- XVIII – elaborar, juntamente com os demais órgãos e
sito e executivos rodoviários informações complementares entidades do Sistema Nacional de Trânsito, e submeter à
relativas aos recursos, objetivando uma melhor análise da aprovação do CONTRAN, a complementação ou alteração
situação recorrida; da sinalização e dos dispositivos e equipamentos de trânsito;

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
XIX – organizar, elaborar, complementar e alterar os ma- o leitor atente-se aos 29 incisos do art. 19 do CTB, que
nuais e normas de projetos de implementação da sinalização, tratam da competência do Denatran, o que lhe garantirá
dos dispositivos e equipamentos de trânsito aprovados pelo um apoio para os tópicos seguintes deste Código, bem
CONTRAN; como lhe garantirá duas ou mais questões em eventuais
XX – expedir a permissão internacional para conduzir concursos públicos.
veículo e o certificado de passagem nas alfândegas mediante
delegação aos órgãos executivos dos Estados e do Distrito Art. 20. Compete à Polícia Rodoviária Federal, no âmbito
Federal ou a entidade habilitada para esse fim pelo poder das rodovias e estradas federais:
público federal; (Redação dada pela lei nº 13.258, de 2016) I – cumprir e fazer cumprir a legislação e as normas de
XXI – promover a realização periódica de reuniões re- trânsito, no âmbito de suas atribuições;
gionais e congressos nacionais de trânsito, bem como pro- II – realizar o patrulhamento ostensivo, executando ope-
por a representação do Brasil em congressos ou reuniões rações relacionadas com a segurança pública, com o objetivo
internacionais; de preservar a ordem, incolumidade das pessoas, o patrimô-
XXII – propor acordos de cooperação com organismos nio da União e o de terceiros;
internacionais, com vistas ao aperfeiçoamento das ações III – aplicar e arrecadar as multas impostas por infrações
inerentes à segurança e educação de trânsito; de trânsito, as medidas administrativas decorrentes e os va-
XXIII – elaborar projetos e programas de formação, trei- lores provenientes de estada e remoção de veículos, objetos,
namento e especialização do pessoal encarregado da execu- animais e escolta de veículos de cargas superdimensionadas
ção das atividades de engenharia, educação, policiamento ou perigosas;
ostensivo, fiscalização, operação e administração de trânsito, IV – efetuar levantamento dos locais de acidentes de
propondo medidas que estimulem a pesquisa científica e o trânsito e dos serviços de atendimento, socorro e salvamento
ensino técnico-profissional de interesse do trânsito, e pro- de vítimas;
movendo a sua realização; V – credenciar os serviços de escolta, fiscalizar e adotar
XXIV – opinar sobre assuntos relacionados ao trânsito medidas de segurança relativas aos serviços de remoção de
interestadual e internacional; veículos, escolta e transporte de carga indivisível;
XXV – elaborar e submeter à aprovação do CONTRAN as VI – assegurar a livre circulação nas rodovias federais,
normas e requisitos de segurança veicular para fabricação e podendo solicitar ao órgão rodoviário a adoção de medidas
montagem de veículos, consoante sua destinação; emergenciais, e zelar pelo cumprimento das normas legais
XXVI – estabelecer procedimentos para a concessão do relativas ao direito de vizinhança, promovendo a interdição
código marca-modelo dos veículos para efeito de registro, de construções e instalações não autorizadas;
emplacamento e licenciamento; VII – coletar dados estatísticos e elaborar estudos sobre
XXVII – instruir os recursos interpostos das decisões do
acidentes de trânsito e suas causas, adotando ou indicando
CONTRAN, ao ministro ou dirigente coordenador máximo do
medidas operacionais preventivas e encaminhando-os ao
Sistema Nacional de Trânsito;
órgão rodoviário federal;
XXVIII – estudar os casos omissos na legislação de trânsito
VIII – implementar as medidas da Política Nacional de
e submetê-los, com proposta de solução, ao Ministério ou
Segurança e Educação de Trânsito;
órgão coordenador máximo do Sistema Nacional de Trânsito;
XXIX – prestar suporte técnico, jurídico, administrativo e IX – promover e participar de projetos e programas de
financeiro ao CONTRAN. educação e segurança, de acordo com as diretrizes estabe-
§ 1º Comprovada, por meio de sindicância, a deficiên- lecidas pelo CONTRAN;
cia técnica ou administrativa ou a prática constante de atos X – integrar-se a outros órgãos e entidades do Sistema
de improbidade contra a fé pública, contra o patrimônio ou Nacional de Trânsito para fins de arrecadação e compensação
contra a administração pública, o órgão executivo de trân- de multas impostas na área de sua competência, com vistas
sito da União, mediante aprovação do CONTRAN, assumirá à unificação do licenciamento, à simplificação e à celeridade
diretamente ou por delegação, a execução total ou parcial das transferências de veículos e de prontuários de conduto-
das atividades do órgão executivo de trânsito estadual que res de uma para outra unidade da Federação;
tenha motivado a investigação, até que as irregularidades XI – fiscalizar o nível de emissão de poluentes e ruído
sejam sanadas. produzidos pelos veículos automotores ou pela sua car-
§ 2º O regimento interno do órgão executivo de trânsito ga, de acordo com o estabelecido no art. 66, além de dar
da União disporá sobre sua estrutura organizacional e seu apoio, quando solicitado, às ações específicas dos órgãos
funcionamento. ambientais.
§ 3º Os órgãos e entidades executivos de trânsito e exe-
cutivos rodoviários da União, dos Estados, do Distrito Federal Comentários:
e dos Municípios fornecerão, obrigatoriamente, mês a mês, A Polícia Rodoviária Federal (PRF), órgão permanente, or-
os dados estatísticos para os fins previstos no inciso X. ganizado e mantido pela União e estruturado em carreira,
destina-se, na forma da lei, ao patrulhamento ostensivo
Legislação Relativa à DPRF

Comentários: das rodovias federais (CF, art. 144, § 2º).


O Denatran é o órgão máximo executivo de trânsito da O Departamento de Polícia Rodoviária Federal, órgão
União, que tem por obrigação supervisionar, coordenar, específico singular, integrante da Estrutura Regimental
controlar e fiscalizar a política do Programa Nacional de do Ministério da Justiça, tem por finalidade exercer as
Trânsito, não devendo confundir-se com o Contran, que competências estabelecidas na Constituição Federal (art.
é órgão máximo normativo e consultivo da União, como 144, § 2º), no art. 20 do CTB e no Decreto nº 1.655, de
vimos anteriormente. 3 de outubro de 1995.
As Portarias editadas pelo Denatran, complementando A competência da PRF é tema que reiteradamente vem
ou regulamentando as determinações do Contran, pos- sendo exigido nos diversos concursos públicos, especifi-
suem validade em todo o território nacional. camente, no concurso da PRF, sendo necessário o estudo
Ressalta-se, aqui, que é de fundamental importância que aprofundado desse tópico.

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
Art. 21. Compete aos órgãos e entidades executivos ro- e por sete diretores nomeados pelo Presidente da Re-
doviários da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos pública e conta com recursos da União para a execução
Municípios, no âmbito de sua circunscrição: das obras.
I – cumprir e fazer cumprir a legislação e as normas de Os Departamentos de Estradas e Rodagens, órgãos exe-
trânsito, no âmbito de suas atribuições; cutivos rodoviários dos Estados e do Distrito Federal, são
II – planejar, projetar, regulamentar e operar o trânsito autarquias vinculadas, geralmente, a alguma Secretaria
de veículos, de pedestres e de animais, e promover o desen- Estadual, e possuem, como principal objetivo, planejar
volvimento da circulação e da segurança de ciclistas; o sistema rodoviário estadual e aprovar os planos rodo-
III – implantar, manter e operar o sistema de sinalização, viários municipais.
os dispositivos e os equipamentos de controle viário; Os Municípios poderão criar seus respectivos órgãos exe-
IV – coletar dados e elaborar estudos sobre os acidentes cutivos rodoviários, vinculados a uma Secretaria do Mu-
de trânsito e suas causas; nicípio, geralmente, a Secretaria de Obras e Transportes.
V – estabelecer, em conjunto com os órgãos de policia-
mento ostensivo de trânsito, as respectivas diretrizes para Art.  22. Compete aos órgãos ou entidades executivos
o policiamento ostensivo de trânsito; de trânsito dos Estados e do Distrito Federal, no âmbito de
VI – executar a fiscalização de trânsito, autuar, aplicar as sua circunscrição:
penalidades de advertência, por escrito, e ainda as multas e I – cumprir e fazer cumprir a legislação e as normas de
medidas administrativas cabíveis, notificando os infratores trânsito, no âmbito das respectivas atribuições;
e arrecadando as multas que aplicar; II – realizar, fiscalizar e controlar o processo de formação,
VII – arrecadar valores provenientes de estada e remoção aperfeiçoamento, reciclagem e suspensão de condutores,
de veículos e objetos, e escolta de veículos de cargas super- expedir e cassar Licença de Aprendizagem, Permissão para
dimensionadas ou perigosas; Dirigir e Carteira Nacional de Habilitação, mediante delega-
VIII – fiscalizar, autuar, aplicar as penalidades e medidas ção do órgão federal competente;
administrativas cabíveis, relativas a infrações por excesso de III – vistoriar, inspecionar quanto às condições de segu-
peso, dimensões e lotação dos veículos, bem como notificar rança veicular, registrar, emplacar, selar a placa, e licenciar ve-
e arrecadar as multas que aplicar; ículos, expedindo o Certificado de Registro e o Licenciamento
IX – fiscalizar o cumprimento da norma contida no art. Anual, mediante delegação do órgão federal competente;
95, aplicando as penalidades e arrecadando as multas nele IV – estabelecer, em conjunto com as Polícias Militares,
previstas; as diretrizes para o policiamento ostensivo de trânsito;
X – implementar as medidas da Política Nacional de Trân- V – executar a fiscalização de trânsito, autuar e aplicar
sito e do Programa Nacional de Trânsito; as medidas administrativas cabíveis pelas infrações previstas
XI – promover e participar de projetos e programas de neste Código, excetuadas aquelas relacionadas nos incisos
educação e segurança, de acordo com as diretrizes estabe- VI e VIII do art. 24, no exercício regular do Poder de Polícia
lecidas pelo CONTRAN; de Trânsito;
XII – integrar-se a outros órgãos e entidades do Sistema VI – aplicar as penalidades por infrações previstas neste
Nacional de Trânsito para fins de arrecadação e compensação Código, com exceção daquelas relacionadas nos incisos VII
de multas impostas na área de sua competência, com vistas e VIII do art. 24, notificando os infratores e arrecadando as
à unificação do licenciamento, à simplificação e à celeridade multas que aplicar;
das transferências de veículos e de prontuários de conduto- VII – arrecadar valores provenientes de estada e remoção
res de uma para outra unidade da Federação; de veículos e objetos;
XIII – fiscalizar o nível de emissão de poluentes e ruído VIII – comunicar ao órgão executivo de trânsito da União a
produzidos pelos veículos automotores ou pela sua carga, suspensão e a cassação do direito de dirigir e o recolhimento
de acordo com o estabelecido no art. 66, além de dar apoio da Carteira Nacional de Habilitação;
às ações específicas dos órgãos ambientais locais, quando IX – coletar dados estatísticos e elaborar estudos sobre
solicitado; acidentes de trânsito e suas causas;
XIV – vistoriar veículos que necessitem de autorização X – credenciar órgãos ou entidades para a execução de
especial para transitar e estabelecer os requisitos técnicos a atividades previstas na legislação de trânsito, na forma es-
serem observados para a circulação desses veículos. tabelecida em norma do CONTRAN;
Parágrafo único. (Vetado). XI – implementar as medidas da Política Nacional de
Trânsito e do Programa Nacional de Trânsito;
Comentários: XII – promover e participar de projetos e programas de
O art. 21 refere-se às competências do Departamento educação e segurança de trânsito de acordo com as diretrizes
Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), dos De- estabelecidas pelo CONTRAN;
partamentos de Estrada e Rodagens (DERs) e dos órgãos XIII – integrar-se a outros órgãos e entidades do Sistema
executivos rodoviários de cada Município, no âmbito de Nacional de Trânsito para fins de arrecadação e compensação
Legislação Relativa à DPRF

suas circunscrições. Esses órgãos possuirão as compe- de multas impostas na área de sua competência, com vistas
tências previstas no mencionado artigo, indistintamente. à unificação do licenciamento, à simplificação e à celeridade
O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transpor- das transferências de veículos e de prontuários de conduto-
tes (DNIT), órgão executor da política de transportes de- res de uma para outra unidade da Federação;
terminada pelo Governo Federal, é uma autarquia federal XIV – fornecer, aos órgãos e entidades executivos de trân-
vinculada ao Ministério dos Transportes, implantada em sito e executivos rodoviários municipais, os dados cadastrais
fevereiro de 2002, para desempenhar as funções relativas dos veículos registrados e dos condutores habilitados, para
à construção, à manutenção e à operação de infraestru- fins de imposição e notificação de penalidades e de arreca-
tura dos segmentos do Sistema Federal de Viação, sob dação de multas nas áreas de suas competências;
administração direta da União nos modais rodoviário, XV – fiscalizar o nível de emissão de poluentes e ruído
ferroviário e aquaviário, conforme Decreto nº 4.129, de produzidos pelos veículos automotores ou pela sua carga,
13/2/2002. É dirigido por um Conselho Administrativo de acordo com o estabelecido no art. 66, além de dar apoio,

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
quando solicitado, às ações específicas dos órgãos ambien- VII – aplicar as penalidades de advertência por escrito e
tais locais; multa, por infrações de circulação, estacionamento e parada
XVI – articular-se com os demais órgãos do Sistema Na- previstas neste Código, notificando os infratores e arrecadan-
cional de Trânsito no Estado, sob coordenação do respectivo do as multas que aplicar;
CETRAN. VIII – fiscalizar, autuar e aplicar as penalidades e medidas
administrativas cabíveis relativas a infrações por excesso de
Comentários: peso, dimensões e lotação dos veículos, bem como notificar
O art. 22 determina as competências dos Detrans Estadu- e arrecadar as multas que aplicar;
ais e do Distrito Federal, sendo de suma importância seu IX – fiscalizar o cumprimento da norma contida no art.
estudo para as provas dos concursos públicos realizados 95, aplicando as penalidades e arrecadando as multas nele
por esses órgãos. Ao contrário do afirmado no artigo an- previstas;
terior, as atribuições do art. 22 referem-se, apenas, aos X – implantar, manter e operar sistema de estacionamen-
Detrans dos Estados e do Distrito Federal, não fazendo to rotativo pago nas vias;
alusão aos órgãos executivos de trânsito da União ou dos XI – arrecadar valores provenientes de estada e remoção
Municípios, tendo em vista que suas atribuições estão de veículos e objetos, e escolta de veículos de cargas super-
previstas, respectivamente, nos arts. 19 e 24 do CTB. dimensionadas ou perigosas;
Atente-se, também, para as exceções previstas nos inci- XII – credenciar os serviços de escolta, fiscalizar e adotar
sos V e VI do art. 22, que fazem referência aos incisos VI medidas de segurança relativas aos serviços de remoção de
e VII do art. 24, em que consta que compete às entida- veículos, escolta e transporte de carga indivisível;
des e aos órgãos executivos de trânsito dos Municípios XIII – integrar-se a outros órgãos e entidades do Sistema
executar a fiscalização de trânsito, autuar e aplicar as Nacional de Trânsito para fins de arrecadação e compensação
medidas administrativas cabíveis por infrações de circu- de multas impostas na área de sua competência, com vistas
lação, estacionamento e parada previstas no Código, no à unificação do licenciamento, à simplificação e à celeridade
exercício regular do Poder de Polícia de Trânsito, bem das transferências de veículos e de prontuários dos condu-
como fiscalizar, autuar e aplicar as penalidades e medidas tores de uma para outra unidade da Federação;
administrativas cabíveis, relativas a infrações por excesso XIV – implantar as medidas da Política Nacional de Trân-
de peso, dimensões e lotação dos veículos, e ainda noti- sito e do Programa Nacional de Trânsito;
ficar e arrecadar as multas que aplicar. XV – promover e participar de projetos e programas de
Nesses casos, a fiscalização e autuação serão aplicadas educação e segurança de trânsito de acordo com as diretrizes
pelo órgão executivo de trânsito dos Municípios, e não estabelecidas pelo CONTRAN;
pelos Detrans dos Estados ou do Distrito Federal. XVI – planejar e implantar medidas para redução da cir-
culação de veículos e reorientação do tráfego, com o objetivo
Art. 23. Compete às Polícias Militares dos Estados e do de diminuir a emissão global de poluentes;
Distrito Federal: XVII – registrar e licenciar, na forma da legislação, ve-
I e II – (vetados); ículos de tração e propulsão humana e de tração animal,
III – executar a fiscalização de trânsito, quando e confor-
fiscalizando, autuando, aplicando penalidades e arrecadando
me convênio firmado, como agente do órgão ou entidade
multas decorrentes de infrações; (Redação dada pela Lei nº
executivos de trânsito ou executivos rodoviários, concomi-
13.154, de 2015)
tantemente com os demais agentes credenciados;
XVIII – conceder autorização para conduzir veículos de
IV a VII – (vetados).
propulsão humana e de tração animal;
Parágrafo único. (Vetado)
XIX – articular-se com os demais órgãos do Sistema Na-
cional de Trânsito no Estado, sob coordenação do respectivo
Comentários:
Percebe-se, aqui, que as Polícias Militares, além de outras CETRAN;
atribuições, possuem competência para executar e fis- XX – fiscalizar o nível de emissão de poluentes e ruído
calizar o trânsito, como agente do órgão ou da entidade produzidos pelos veículos automotores ou pela sua carga,
executivos de trânsito ou executivos rodoviários, desde de acordo com o estabelecido no art. 66, além de dar apoio
que firmado convênio com esses órgãos. às ações específicas de órgão ambiental local, quando so-
licitado;
Art. 24. Compete aos órgãos e entidades executivos de XXI – vistoriar veículos que necessitem de autorização
trânsito dos Municípios, no âmbito de sua circunscrição: especial para transitar e estabelecer os requisitos técnicos a
(Redação dada pela Lei nº 13.154, de 2015) serem observados para a circulação desses veículos.
I – cumprir e fazer cumprir a legislação e as normas de § 1º As competências relativas a órgão ou entidade mu-
trânsito, no âmbito de suas atribuições; nicipal serão exercidas no Distrito Federal por seu órgão ou
II – planejar, projetar, regulamentar e operar o trânsito entidade executivos de trânsito.
de veículos, de pedestres e de animais, e promover o desen- § 2º Para exercer as competências estabelecidas neste
Legislação Relativa à DPRF

volvimento da circulação e da segurança de ciclistas; artigo, os Municípios deverão integrar-se ao Sistema Nacio-
III – implantar, manter e operar o sistema de sinalização, nal de Trânsito, conforme previsto no art. 333 deste Código.
os dispositivos e os equipamentos de controle viário;
IV – coletar dados estatísticos e elaborar estudos sobre Comentários:
os acidentes de trânsito e suas causas; Por fim, o art. 24 dispôs sobre as competências dos órgãos
V – estabelecer, em conjunto com os órgãos de polícia e das entidades executivos de trânsito dos Municípios,
ostensiva de trânsito, as diretrizes para o policiamento os- no âmbito de sua circunscrição, ressaltando que, para
tensivo de trânsito; executá-las, deverão integrar-se ao Sistema Nacional de
VI – executar a fiscalização de trânsito, autuar e aplicar as Trânsito, conforme previsto no art. 333 (CTB, art. 24, § 2º).
medidas administrativas cabíveis, por infrações de circulação, Para os Municípios ingressarem no Sistema Nacional
estacionamento e parada previstas neste Código, no exercício de Trânsito, exercendo plenamente suas competências,
regular do Poder de Polícia de Trânsito; precisam criar o órgão municipal executivo de trânsito,

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previsto no art. 8º do CTB e na Resolução nº 106/1999 do II – o condutor deverá guardar distância de segurança
Contran, com estrutura para desenvolver atividades de lateral e frontal entre o seu e os demais veículos, bem como
engenharia de tráfego, fiscalização de trânsito, educação em relação ao bordo da pista, considerando-se, no momento,
de trânsito e controle e análise de estatística. a velocidade e as condições do local, da circulação, do veículo
Conforme o porte do Município, poderá ser reestruturada e as condições climáticas;
uma secretaria já existente, criando uma divisão ou coor- III – quando veículos, transitando por fluxos que se cru-
denação de trânsito, um departamento, uma autarquia, zem, se aproximarem de local não sinalizado, terá preferência
de acordo com as necessidades e o interesse do prefeito. de passagem:
Assim, para efetivar a integração do Município ao Sis- a) no caso de apenas um fluxo ser proveniente de rodovia,
tema Nacional de Trânsito, deverão ser encaminhados aquele que estiver circulando por ela;
ao Denatran: b) no caso de rotatória, aquele que estiver circulando
• a legislação de criação do órgão municipal executivo por ela;
de trânsito com os serviços de engenharia do trânsito, c) nos demais casos, o que vier pela direita do condutor;
educação para o trânsito, controle e análise de dados IV – quando uma pista de rolamento comportar várias
estatísticos e fiscalização; faixas de circulação no mesmo sentido, são as da direita des-
• legislação de criação da Jari e cópia do seu regimento tinadas ao deslocamento dos veículos mais lentos e de maior
interno; porte, quando não houver faixa especial a eles destinada, e as
• ato de nomeação do dirigente máximo do órgão exe- da esquerda, destinadas à ultrapassagem e ao deslocamento
cutivo de trânsito (autoridade de trânsito); dos veículos de maior velocidade;
• nomeação dos membros da Jari, conforme Resolução V – o trânsito de veículos sobre passeios, calçadas e nos
Contran nº 233; acostamentos, só poderá ocorrer para que se adentre ou
• endereço, telefone, e-mail, fax do órgão ou entidade se saia dos imóveis ou áreas especiais de estacionamento;
executivos de trânsito e rodoviários. VI – os veículos precedidos de batedores terão prioridade
de passagem, respeitadas as demais normas de circulação;
Como é sabido, ao Distrito Federal é vedada a sua divi- VII – os veículos destinados a socorro de incêndio e salva-
são em Municípios, porém este possui as competências mento, os de polícia, os de fiscalização e operação de trânsito
reservadas aos Estados e Municípios (CF, art. 32, caput e e as ambulâncias, além de prioridade de trânsito, gozam de
§ 1º). Nesse diapasão, segundo determina o art. 24, § 1º, livre circulação, estacionamento e parada, quando em servi-
do CTB, o Distrito Federal exercerá as competências dos ço de urgência e devidamente identificados por dispositivos
órgãos executivos estaduais e as relativas aos órgãos ou regulamentares de alarme sonoro e iluminação vermelha
à entidade municipal, existindo, portanto, o Detran e o intermitente, observadas as seguintes disposições:
Transporte Urbano do Distrito Federal (DFTrans), compe- a) quando os dispositivos estiverem acionados, indicando
tentes pelas atribuições dos órgãos executivos estaduais a proximidade dos veículos, todos os condutores deverão
e municipais, respectivamente. deixar livre a passagem pela faixa da esquerda, indo para a
direita da via e parando, se necessário;
Art.  25. Os órgãos e entidades executivos do Sistema b) os pedestres, ao ouvir o alarme sonoro, deverão aguar-
Nacional de Trânsito poderão celebrar convênio delegando dar no passeio, só atravessando a via quando o veículo já
as atividades previstas neste Código, com vistas à maior efi- tiver passado pelo local;
ciência e à segurança para os usuários da via. c) o uso de dispositivos de alarme sonoro e de iluminação
Parágrafo único. Os órgãos e entidades de trânsito po-
vermelha intermitente só poderá ocorrer quando da efetiva
derão prestar serviços de capacitação técnica, assessoria e
prestação de serviço de urgência;
monitoramento das atividades relativas ao trânsito durante
d) a prioridade de passagem na via e no cruzamento deve-
prazo a ser estabelecido entre as partes, com ressarcimento
rá se dar com velocidade reduzida e com os devidos cuidados
dos custos apropriados.
de segurança, obedecidas as demais normas deste Código;
VIII – os veículos prestadores de serviços de utilidade pú-
CAPÍTULO III
Das Normas Gerais de Circulação e Conduta blica, quando em atendimento na via, gozam de livre parada
e estacionamento no local da prestação de serviço, desde
Art. 26. Os usuários das vias terrestres devem: que devidamente sinalizados, devendo estar identificados
I – abster-se de todo ato que possa constituir perigo na forma estabelecida pelo CONTRAN;
ou obstáculo para o trânsito de veículos, de pessoas ou de IX – a ultrapassagem de outro veículo em movimento
animais, ou ainda causar danos a propriedades públicas ou deverá ser feita pela esquerda, obedecida a sinalização re-
privadas; gulamentar e as demais normas estabelecidas neste Código,
II – abster-se de obstruir o trânsito ou torná-lo perigoso, exceto quando o veículo a ser ultrapassado estiver sinalizan-
atirando, depositando ou abandonando na via objetos ou do o propósito de entrar à esquerda;
substâncias, ou nela criando qualquer outro obstáculo. X – todo condutor deverá, antes de efetuar uma ultra-
Legislação Relativa à DPRF

Art. 27. Antes de colocar o veículo em circulação nas vias passagem, certificar-se de que:
públicas, o condutor deverá verificar a existência e as boas a) nenhum condutor que venha atrás haja começado
condições de funcionamento dos equipamentos de uso obri- uma manobra para ultrapassá-lo;
gatório, bem como assegurar-se da existência de combustível b) quem o precede na mesma faixa de trânsito não haja
suficiente para chegar ao local de destino. indicado o propósito de ultrapassar um terceiro;
Art.  28. O condutor deverá, a todo momento, ter do- c) a faixa de trânsito que vai tomar esteja livre numa
mínio de seu veículo, dirigindo-o com atenção e cuidados extensão suficiente para que sua manobra não ponha em
indispensáveis à segurança do trânsito. perigo ou obstrua o trânsito que venha em sentido contrário;
Art. 29. O trânsito de veículos nas vias terrestres abertas XI – todo condutor ao efetuar a ultrapassagem deverá:
à circulação obedecerá às seguintes normas: a) indicar com antecedência a manobra pretendida, acio-
I – a circulação far-se-á pelo lado direito da via, admitin- nando a luz indicadora de direção do veículo ou por meio de
do-se as exceções devidamente sinalizadas; gesto convencional de braço;

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b) afastar-se do usuário ou usuários aos quais ultrapassa, I – ao sair da via pelo lado direito, aproximar-se o máximo
de tal forma que deixe livre uma distância lateral de segu- possível do bordo direito da pista e executar sua manobra
rança; no menor espaço possível;
c) retomar, após a efetivação da manobra, a faixa de trân- II – ao sair da via pelo lado esquerdo, aproximar-se o
sito de origem, acionando a luz indicadora de direção do máximo possível de seu eixo ou da linha divisória da pista,
veículo ou fazendo gesto convencional de braço, adotando quando houver, caso se trate de uma pista com circulação
os cuidados necessários para não pôr em perigo ou obstruir nos dois sentidos, ou do bordo esquerdo, tratando-se de
o trânsito dos veículos que ultrapassou; uma pista de um só sentido.
XII – os veículos que se deslocam sobre trilhos terão Parágrafo único. Durante a manobra de mudança de di-
preferência de passagem sobre os demais, respeitadas as reção, o condutor deverá ceder passagem aos pedestres e
normas de circulação. ciclistas, aos veículos que transitem em sentido contrário
§ 1º As normas de ultrapassagem previstas nas alíneas a pela pista da via da qual vai sair, respeitadas as normas de
e b do inciso X e a e b do inciso XI aplicam-se à transposição preferência de passagem.
de faixas, que pode ser realizada tanto pela faixa da esquerda Art. 39. Nas vias urbanas, a operação de retorno deverá
como pela da direita. ser feita nos locais para isto determinados, quer por meio
§ 2º Respeitadas as normas de circulação e conduta esta- de sinalização, quer pela existência de locais apropriados,
belecidas neste artigo, em ordem decrescente, os veículos de ou, ainda, em outros locais que ofereçam condições de se-
maior porte serão sempre responsáveis pela segurança dos gurança e fluidez, observadas as características da via, do
menores, os motorizados pelos não motorizados e, juntos, veículo, das condições meteorológicas e da movimentação
pela incolumidade dos pedestres. de pedestres e ciclistas.
Art.  30. Todo condutor, ao perceber que outro que o Art. 40. O uso de luzes em veículo obedecerá às seguintes
segue tem o propósito de ultrapassá-lo, deverá: determinações:
I – se estiver circulando pela faixa da esquerda, deslocar- I – o condutor manterá acesos os faróis do veículo, utili-
-se para a faixa da direita, sem acelerar a marcha; zando luz baixa, durante a noite e durante o dia nos túneis
II – se estiver circulando pelas demais faixas, manter- providos de iluminação pública;
-se naquela na qual está circulando, sem acelerar a marcha. II – nas vias não iluminadas o condutor deve usar luz alta,
Parágrafo único. Os veículos mais lentos, quando em fila, exceto ao cruzar com outro veículo ou ao segui-lo;
deverão manter distância suficiente entre si para permitir III – a troca de luz baixa e alta, de forma intermitente e por
que veículos que os ultrapassem possam se intercalar na curto período de tempo, com o objetivo de advertir outros
fila com segurança. motoristas, só poderá ser utilizada para indicar a intenção
Art. 31. O condutor que tenha o propósito de ultrapassar de ultrapassar o veículo que segue à frente ou para indicar a
um veículo de transporte coletivo que esteja parado, efe- existência de risco à segurança para os veículos que circulam
tuando embarque ou desembarque de passageiros, deverá no sentido contrário;
reduzir a velocidade, dirigindo com atenção redobrada ou IV – o condutor manterá acesas pelo menos as luzes de
parar o veículo com vistas à segurança dos pedestres. posição do veículo quando sob chuva forte, neblina ou cer-
Art. 32. O condutor não poderá ultrapassar veículos em ração;
vias com duplo sentido de direção e pista única, nos trechos V – O condutor utilizará o pisca-alerta nas seguintes si-
em curvas e em aclives sem visibilidade suficiente, nas pas- tuações:
sagens de nível, nas pontes e viadutos e nas travessias de a) em imobilizações ou situações de emergência;
pedestres, exceto quando houver sinalização permitindo a b) quando a regulamentação da via assim o determinar;
ultrapassagem. VI – durante a noite, em circulação, o condutor manterá
Art. 33. Nas interseções e suas proximidades, o condutor acesa a luz de placa;
não poderá efetuar ultrapassagem. VII – o condutor manterá acesas, à noite, as luzes de
Art. 34. O condutor que queira executar uma manobra posição quando o veículo estiver parado para fins de em-
deverá certificar-se de que pode executá-la sem perigo para barque ou desembarque de passageiros e carga ou descarga
os demais usuários da via que o seguem, precedem ou vão de mercadorias.
cruzar com ele, considerando sua posição, sua direção e sua Parágrafo único. Os veículos de transporte coletivo regu-
velocidade. lar de passageiros, quando circularem em faixas próprias a
Art. 35. Antes de iniciar qualquer manobra que implique eles destinadas, e os ciclos motorizados deverão utilizar-se
um deslocamento lateral, o condutor deverá indicar seu pro- de farol de luz baixa durante o dia e a noite.
pósito de forma clara e com a devida antecedência, por meio Art. 41. O condutor de veículo só poderá fazer uso de
da luz indicadora de direção de seu veículo, ou fazendo gesto buzina, desde que em toque breve, nas seguintes situações:
convencional de braço. I – para fazer as advertências necessárias a fim de evitar
Parágrafo único. Entende-se por deslocamento lateral a acidentes;
Legislação Relativa à DPRF

transposição de faixas, movimentos de conversão à direita, II – fora das áreas urbanas, quando for conveniente ad-
à esquerda e retornos. vertir a um condutor que se tem o propósito de ultrapassá-lo.
Art. 36. O condutor que for ingressar numa via, proce- Art. 42. Nenhum condutor deverá frear bruscamente seu
dente de um lote lindeiro a essa via, deverá dar preferência veículo, salvo por razões de segurança.
aos veículos e pedestres que por ela estejam transitando. Art. 43. Ao regular a velocidade, o condutor deverá ob-
Art. 37. Nas vias providas de acostamento, a conversão servar constantemente as condições físicas da via, do veículo
à esquerda e a operação de retorno deverão ser feitas nos e da carga, as condições meteorológicas e a intensidade do
locais apropriados e, onde estes não existirem, o condutor trânsito, obedecendo aos limites máximos de velocidade
deverá aguardar no acostamento, à direita, para cruzar a estabelecidos para a via, além de:
pista com segurança. I – não obstruir a marcha normal dos demais veículos em
Art. 38. Antes de entrar à direita ou à esquerda, em outra circulação sem causa justificada, transitando a uma veloci-
via ou em lotes lindeiros, o condutor deverá: dade anormalmente reduzida;

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II – sempre que quiser diminuir a velocidade de seu veí- Art.  53. Os animais isolados ou em grupos só podem
culo deverá antes certificar-se de que pode fazê-lo sem risco circular nas vias quando conduzidos por um guia, observado
nem inconvenientes para os outros condutores, a não ser o seguinte:
que haja perigo iminente; I – para facilitar os deslocamentos, os rebanhos deverão
III – indicar, de forma clara, com a antecedência neces- ser divididos em grupos de tamanho moderado e separados
sária e a sinalização devida, a manobra de redução de ve- uns dos outros por espaços suficientes para não obstruir o
locidade. trânsito;
Art. 44. Ao aproximar-se de qualquer tipo de cruzamento, II – os animais que circularem pela pista de rolamento
o condutor do veículo deve demonstrar prudência especial, deverão ser mantidos junto ao bordo da pista.
transitando em velocidade moderada, de forma que pos- Art.  54. Os condutores de motocicletas, motonetas e
sa deter seu veículo com segurança para dar passagem a ciclomotores só poderão circular nas vias:
pedestre e a veículos que tenham o direito de preferência. I – utilizando capacete de segurança, com viseira ou ócu-
Art. 45. Mesmo que a indicação luminosa do semáforo los protetores;
lhe seja favorável, nenhum condutor pode entrar em uma in- II – segurando o guidom com as duas mãos;
terseção se houver possibilidade de ser obrigado a imobilizar III – usando vestuário de proteção, de acordo com as
o veículo na área do cruzamento, obstruindo ou impedindo especificações do CONTRAN.
a passagem do trânsito transversal. Art.  55. Os passageiros de motocicletas, motonetas e
Art. 46. Sempre que for necessária a imobilização tem- ciclomotores só poderão ser transportados:
porária de um veículo no leito viário, em situação de emer- I – utilizando capacete de segurança;
gência, deverá ser providenciada a imediata sinalização de II – em carro lateral acoplado aos veículos ou em assento
advertência, na forma estabelecida pelo CONTRAN. suplementar atrás do condutor;
Art.  47. Quando proibido o estacionamento na via, a III – usando vestuário de proteção, de acordo com as
parada deverá restringir-se ao tempo indispensável para especificações do CONTRAN.
embarque ou desembarque de passageiros, desde que não Art. 56. (Vetado).
interrompa ou perturbe o fluxo de veículos ou a locomoção Art. 57. Os ciclomotores devem ser conduzidos pela di-
de pedestres. reita da pista de rolamento, preferencialmente no centro da
Parágrafo único. A operação de carga ou descarga será faixa mais à direita ou no bordo direito da pista sempre que
regulamentada pelo órgão ou entidade com circunscrição não houver acostamento ou faixa própria a eles destinada,
sobre a via e é considerada estacionamento. proibida a sua circulação nas vias de trânsito rápido e sobre
Art. 48. Nas paradas, operações de carga ou descarga e as calçadas das vias urbanas.
nos estacionamentos, o veículo deverá ser posicionado no Parágrafo único. Quando uma via comportar duas ou
sentido do fluxo, paralelo ao bordo da pista de rolamento mais faixas de trânsito e a da direita for destinada ao uso
e junto à guia da calçada (meio-fio), admitidas as exceções exclusivo de outro tipo de veículo, os ciclomotores deverão
devidamente sinalizadas. circular pela faixa adjacente à da direita.
§ 1º Nas vias providas de acostamento, os veículos pa- Art. 58. Nas vias urbanas e nas rurais de pista dupla, a
rados, estacionados ou em operação de carga ou descarga circulação de bicicletas deverá ocorrer, quando não houver
deverão estar situados fora da pista de rolamento. ciclovia, ciclofaixa, ou acostamento, ou quando não for pos-
§ 2º O estacionamento dos veículos motorizados de duas sível a utilização destes, nos bordos da pista de rolamento,
rodas será feito em posição perpendicular à guia da calçada no mesmo sentido de circulação regulamentado para a via,
(meio-fio) e junto a ela, salvo quando houver sinalização que com preferência sobre os veículos automotores.
determine outra condição. Parágrafo único. A autoridade de trânsito com circunscri-
§ 3º O estacionamento dos veículos sem abandono do ção sobre a via poderá autorizar a circulação de bicicletas no
condutor poderá ser feito somente nos locais previstos neste sentido contrário ao fluxo dos veículos automotores, desde
Código ou naqueles regulamentados por sinalização espe- que dotado o trecho com ciclofaixa.
cífica. Art. 59. Desde que autorizado e devidamente sinalizado
Art. 49. O condutor e os passageiros não deverão abrir pelo órgão ou entidade com circunscrição sobre a via, será
a porta do veículo, deixá-la aberta ou descer do veículo sem permitida a circulação de bicicletas nos passeios.
antes se certificarem de que isso não constitui perigo para Art. 60. As vias abertas à circulação, de acordo com sua
eles e para outros usuários da via. utilização, classificam-se em:
Parágrafo único. O embarque e o desembarque devem I – vias urbanas:
ocorrer sempre do lado da calçada, exceto para o condutor. a) via de trânsito rápido;
Art. 50. O uso de faixas laterais de domínio e das áreas b) via arterial;
adjacentes às estradas e rodovias obedecerá às condições de c) via coletora;
segurança do trânsito estabelecidas pelo órgão ou entidade d) via local;
com circunscrição sobre a via. II – vias rurais:
Legislação Relativa à DPRF

Art. 51. Nas vias internas pertencentes a condomínios a) rodovias;


constituídos por unidades autônomas, a sinalização de re- b) estradas.
gulamentação da via será implantada e mantida às expensas Art. 61. A velocidade máxima permitida para a via será
do condomínio, após aprovação dos projetos pelo órgão ou indicada por meio de sinalização, obedecidas suas caracte-
entidade com circunscrição sobre a via. rísticas técnicas e as condições de trânsito.
Art. 52. Os veículos de tração animal serão conduzidos § 1º Onde não existir sinalização regulamentadora, a
pela direita da pista, junto à guia da calçada (meio-fio) ou velocidade máxima será de:
acostamento, sempre que não houver faixa especial a eles I – nas vias urbanas:
destinada, devendo seus condutores obedecer, no que cou- a) oitenta quilômetros por hora, nas vias de trânsito rá-
ber, às normas de circulação previstas neste Código e às que pido:
vierem a ser fixadas pelo órgão ou entidade com circunscri- b) sessenta quilômetros por hora, nas vias arteriais;
ção sobre a via. c) quarenta quilômetros por hora, nas vias coletoras;

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d) trinta quilômetros por hora, nas vias locais; o do tempo de direção desde que não ultrapassadas 5 (cinco)
II – nas vias rurais: horas e meia contínuas no exercício da condução. (Incluído
a) nas rodovias: pela Lei nº 13.103, de 2015)
1) 110 (cento e dez) quilômetros por hora para automó- § 1o-A. Serão observados 30 (trinta) minutos para descan-
veis, camionetas e motocicletas; (Redação dada pela Lei nº so a cada 4 (quatro) horas na condução de veículo rodoviário
10.830, de 2003) de passageiros, sendo facultado o seu fracionamento e o
2) noventa quilômetros por hora, para ônibus e microô- do tempo de direção. (Incluído pela Lei nº 13.103, de 2015)
nibus; § 2o Em situações excepcionais de inobservância justifica-
3) oitenta quilômetros por hora, para os demais veículos; da do tempo de direção, devidamente registradas, o tempo
b) nas estradas, sessenta quilômetros por hora. de direção poderá ser elevado pelo período necessário para
§ 2º O órgão ou entidade de trânsito ou rodoviário com que o condutor, o veículo e a carga cheguem a um lugar que
circunscrição sobre a via poderá regulamentar, por meio de ofereça a segurança e o atendimento demandados, desde
sinalização, velocidades superiores ou inferiores àquelas es- que não haja comprometimento da segurança rodoviária.
tabelecidas no parágrafo anterior. (Incluído pela Lei nº 13.103, de 2015)
Art. 62. A velocidade mínima não poderá ser inferior à § 3o O condutor é obrigado, dentro do período de 24
metade da velocidade máxima estabelecida, respeitadas as (vinte e quatro) horas, a observar o mínimo de 11 (onze)
condições operacionais de trânsito e da via. horas de descanso, que podem ser fracionadas, usufruídas
Art. 63. (Vetado). no veículo e coincidir com os intervalos mencionados no § 1o,
Art. 64. As crianças com idade inferior a dez anos devem observadas no primeiro período 8 (oito) horas ininterruptas
ser transportadas nos bancos traseiros, salvo exceções regu- de descanso. (Incluído pela Lei nº 13.103, de 2015)
lamentadas pelo CONTRAN. § 4o Entende-se como tempo de direção ou de condução
Art. 65. É obrigatório o uso do cinto de segurança para apenas o período em que o condutor estiver efetivamente
condutor e passageiros em todas as vias do território na- ao volante, em curso entre a origem e o destino. (Incluído
cional, salvo em situações regulamentadas pelo CONTRAN. pela Lei nº 13.103, de 2015)
Art. 66. (Vetado). § 5o Entende-se como início de viagem a partida do veícu-
Art. 67. As provas ou competições desportivas, inclusive lo na ida ou no retorno, com ou sem carga, considerando-se
seus ensaios, em via aberta à circulação, só poderão ser rea- como sua continuação as partidas nos dias subsequentes até
lizadas mediante prévia permissão da autoridade de trânsito o destino. (Incluído pela Lei nº 13.103, de 2015)
com circunscrição sobre a via e dependerão de: § 6o O condutor somente iniciará uma viagem após o
I – autorização expressa da respectiva confederação des- cumprimento integral do intervalo de descanso previsto no
portiva ou de entidades estaduais a ela filiadas; § 3o deste artigo. (Incluído pela Lei nº 13.103, de 2015)
II – caução ou fiança para cobrir possíveis danos mate- § 7o Nenhum transportador de cargas ou coletivo de pas-
riais à via; sageiros, embarcador, consignatário de cargas, operador de
III – contrato de seguro contra riscos e acidentes em favor terminais de carga, operador de transporte multimodal de
de terceiros; cargas ou agente de cargas ordenará a qualquer motorista a
IV – prévio recolhimento do valor correspondente aos seu serviço, ainda que subcontratado, que conduza veículo
referido no caput sem a observância do disposto no § 6o.
custos operacionais em que o órgão ou entidade permis-
(Incluído pela Lei nº 13.103, de 2015)
sionária incorrerá.
Art. 67-D. (Vetado). (Incluído Lei nº 12.619, de 2012)
Parágrafo único. A autoridade com circunscrição sobre
Art.  67-E. O motorista profissional é responsável por
a via arbitrará os valores mínimos da caução ou fiança e do
controlar e registrar o tempo de condução estipulado no
contrato de seguro.
art. 67-C, com vistas à sua estrita observância. (Incluído pela
Lei nº 13.103, de 2015)
CAPÍTULO III-A
§ 1o A não observância dos períodos de descanso esta-
(Incluído Lei nº 12.619, de 2012) belecidos no art. 67-C sujeitará o motorista profissional às
penalidades daí decorrentes, previstas neste Código. (Inclu-
CAPÍTULO III-A ído pela Lei nº 13.103, de 2015)
Da Condução de Veículos por Motoristas Profissionais § 2o O tempo de direção será controlado mediante regis-
trador instantâneo inalterável de velocidade e tempo e, ou
Art. 67-A. O disposto neste Capítulo aplica-se aos mo- por meio de anotação em diário de bordo, ou papeleta ou
toristas profissionais: (Redação dada pela Lei nº 13.103, de ficha de trabalho externo, ou por meios eletrônicos instala-
2015) dos no veículo, conforme norma do Contran. (Incluído pela
I – de transporte rodoviário coletivo de passageiros; (In- Lei nº 13.103, de 2015)
cluído pela Lei nº 13.103, de 2015) § 3o O equipamento eletrônico ou registrador deverá fun-
II – de transporte rodoviário de cargas. (Incluído pela Lei cionar de forma independente de qualquer interferência do
nº 13.103, de 2015) condutor, quanto aos dados registrados. (Incluído pela Lei nº
Legislação Relativa à DPRF

§§ 1o a 7º (Revogados). (Redação dada pela Lei nº 13.103, 13.103, de 2015)


de 2015) § 4o A guarda, a preservação e a exatidão das informações
§ 8o (Vetado). (Incluído Lei nº 12.619, de 2012) contidas no equipamento registrador instantâneo inalterável
Art. 67-B. (Vetado). (Incluído Lei nº 12.619, de 2012) de velocidade e de tempo são de responsabilidade do con-
Art. 67-C. É vedado ao motorista profissional dirigir por dutor. (Incluído pela Lei nº 13.103, de 2015)
mais de 5 (cinco) horas e meia ininterruptas veículos de trans-
porte rodoviário coletivo de passageiros ou de transporte CAPÍTULO IV
rodoviário de cargas. (Redação dada pela Lei nº 13.103, de Dos Pedestres e Condutores
2015) de Veículos não Motorizados
§ 1o Serão observados 30 (trinta) minutos para descanso
dentro de cada 6 (seis) horas na condução de veículo de Art. 68. É assegurada ao pedestre a utilização dos pas-
transporte de carga, sendo facultado o seu fracionamento e seios ou passagens apropriadas das vias urbanas e dos acos-

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tamentos das vias rurais para circulação, podendo a autori- CAPÍTULO V
dade competente permitir a utilização de parte da calçada Do Cidadão
para outros fins, desde que não seja prejudicial ao fluxo de
pedestres. Art. 72. Todo cidadão ou entidade civil tem o direito de
§ 1º O ciclista desmontado empurrando a bicicleta equi- solicitar, por escrito, aos órgãos ou entidades do Sistema
para-se ao pedestre em direitos e deveres. Nacional de Trânsito, sinalização, fiscalização e implantação
§ 2º Nas áreas urbanas, quando não houver passeios ou de equipamentos de segurança, bem como sugerir altera-
quando não for possível a utilização destes, a circulação de ções em normas, legislação e outros assuntos pertinentes
pedestres na pista de rolamento será feita com prioridade a este Código.
sobre os veículos, pelos bordos da pista, em fila única, exceto Art. 73. Os órgãos ou entidades pertencentes ao Sistema
em locais proibidos pela sinalização e nas situações em que Nacional de Trânsito têm o dever de analisar as solicitações
a segurança ficar comprometida. e responder, por escrito, dentro de prazos mínimos, sobre a
§ 3º Nas vias rurais, quando não houver acostamento possibilidade ou não de atendimento, esclarecendo ou jus-
ou quando não for possível a utilização dele, a circulação de tificando a análise efetuada, e, se pertinente, informando ao
pedestres, na pista de rolamento, será feita com prioridade solicitante quando tal evento ocorrerá.
sobre os veículos, pelos bordos da pista, em fila única, em Parágrafo único. As campanhas de trânsito devem es-
sentido contrário ao deslocamento de veículos, exceto em clarecer quais as atribuições dos órgãos e entidades perten-
locais proibidos pela sinalização e nas situações em que a centes ao Sistema Nacional de Trânsito e como proceder a
segurança ficar comprometida. tais solicitações.
§ 4º (Vetado).
§ 5º Nos trechos urbanos de vias rurais e nas obras de CAPÍTULO VI
arte a serem construídas, deverá ser previsto passeio des- Da Educação para o Trânsito
tinado à circulação dos pedestres, que não deverão, nessas
condições, usar o acostamento. Art. 74. A educação para o trânsito é direito de todos e
§ 6º Onde houver obstrução da calçada ou da passagem constitui dever prioritário para os componentes do Sistema
para pedestres, o órgão ou entidade com circunscrição sobre Nacional de Trânsito.
a via deverá assegurar a devida sinalização e proteção para § 1º É obrigatória a existência de coordenação educa-
circulação de pedestres. cional em cada órgão ou entidade componente do Sistema
Art. 69. Para cruzar a pista de rolamento o pedestre to- Nacional de Trânsito.
mará precauções de segurança, levando em conta, principal- § 2º Os órgãos ou entidades executivos de trânsito de-
mente, a visibilidade, a distância e a velocidade dos veículos, verão promover, dentro de sua estrutura organizacional ou
utilizando sempre as faixas ou passagens a ele destinadas mediante convênio, o funcionamento de Escolas Públicas de
sempre que estas existirem numa distância de até cinqüenta Trânsito, nos moldes e padrões estabelecidos pelo CONTRAN.
metros dele, observadas as seguintes disposições: Art. 75. O CONTRAN estabelecerá, anualmente, os temas
I – onde não houver faixa ou passagem, o cruzamento da e os cronogramas das campanhas de âmbito nacional que
via deverá ser feito em sentido perpendicular ao de seu eixo; deverão ser promovidas por todos os órgãos ou entidades
II – para atravessar uma passagem sinalizada para pedes- do Sistema Nacional de Trânsito, em especial nos períodos
tres ou delimitada por marcas sobre a pista: referentes às férias escolares, feriados prolongados e à Se-
mana Nacional de Trânsito.
a) onde houver foco de pedestres, obedecer às indica-
§ 1º Os órgãos ou entidades do Sistema Nacional de Trân-
ções das luzes;
sito deverão promover outras campanhas no âmbito de sua
b) onde não houver foco de pedestres, aguardar que
circunscrição e de acordo com as peculiaridades locais.
o semáforo ou o agente de trânsito interrompa o fluxo de
§ 2º As campanhas de que trata este artigo são de caráter
veículos;
permanente, e os serviços de rádio e difusão sonora de sons
III – nas interseções e em suas proximidades, onde não
e imagens explorados pelo poder público são obrigados a
existam faixas de travessia, os pedestres devem atravessar
difundi-las gratuitamente, com a freqüência recomendada
a via na continuação da calçada, observadas as seguintes pelos órgãos competentes do Sistema Nacional de Trânsito.
normas: Art. 76. A educação para o trânsito será promovida na
a) não deverão adentrar na pista sem antes se certificar pré-escola e nas escolas de 1º, 2º e 3º graus, por meio de
de que podem fazê-lo sem obstruir o trânsito de veículos; planejamento e ações coordenadas entre os órgãos e enti-
b) uma vez iniciada a travessia de uma pista, os pedestres dades do Sistema Nacional de Trânsito e de Educação, da
não deverão aumentar o seu percurso, demorar-se ou parar União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,
sobre ela sem necessidade. nas respectivas áreas de atuação.
Art. 70. Os pedestres que estiverem atravessando a via Parágrafo único. Para a finalidade prevista neste artigo,
sobre as faixas delimitadas para esse fim terão prioridade
Legislação Relativa à DPRF

o Ministério da Educação e do Desporto, mediante proposta


de passagem, exceto nos locais com sinalização semafórica, do CONTRAN e do Conselho de Reitores das Universidades
onde deverão ser respeitadas as disposições deste Código. Brasileiras, diretamente ou mediante convênio, promoverá:
Parágrafo único. Nos locais em que houver sinalização I – a adoção, em todos os níveis de ensino, de um cur-
semafórica de controle de passagem será dada preferência rículo interdisciplinar com conteúdo programático sobre
aos pedestres que não tenham concluído a travessia, mesmo segurança de trânsito;
em caso de mudança do semáforo liberando a passagem II – a adoção de conteúdos relativos à educação para
dos veículos. o trânsito nas escolas de formação para o magistério e o
Art. 71. O órgão ou entidade com circunscrição sobre treinamento de professores e multiplicadores;
a via manterá, obrigatoriamente, as faixas e passagens de III – a criação de corpos técnicos interprofissionais para
pedestres em boas condições de visibilidade, higiene, segu- levantamento e análise de dados estatísticos relativos ao
rança e sinalização. trânsito;

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IV – a elaboração de planos de redução de acidentes de III – multa de 1.000 (um mil) a 5.000 (cinco mil) vezes o
trânsito junto aos núcleos interdisciplinares universitários valor da Unidade Fiscal de Referência (Ufir), ou unidade que
de trânsito, com vistas à integração universidades-sociedade a substituir, cobrada do dobro até o quíntuplo, em caso de
na área de trânsito. reincidência. (Incluído pela Lei nº 12.006, de 2009)
Art. 77. No âmbito da educação para o trânsito caberá § 1o As sanções serão aplicadas isolada ou cumulativa-
ao Ministério da Saúde, mediante proposta do CONTRAN, mente, conforme dispuser o regulamento. (Incluído pela Lei
estabelecer campanha nacional esclarecendo condutas a se- nº 12.006, de 2009)
rem seguidas nos primeiros socorros em caso de acidente § 2o Sem prejuízo do disposto no caput deste artigo, qual-
de trânsito. quer infração acarretará a imediata suspensão da veiculação
Parágrafo único. As campanhas terão caráter permanente da peça publicitária até que sejam cumpridas as exigências
por intermédio do Sistema Único de Saúde – SUS, sendo in- fixadas nos arts. 77-A a 77-D. (Incluído pela Lei nº 12.006,
tensificadas nos períodos e na forma estabelecidos no art. 76. de 2009)
Art. 77-A. São assegurados aos órgãos ou entidades com- Art.  78. Os Ministérios da Saúde, da Educação e do
ponentes do Sistema Nacional de Trânsito os mecanismos Desporto, do Trabalho, dos Transportes e da Justiça, por
instituídos nos arts. 77-B a 77-E para a veiculação de men- intermédio do CONTRAN, desenvolverão e implementarão
sagens educativas de trânsito em todo o território nacional, programas destinados à prevenção de acidentes.
em caráter suplementar às campanhas previstas nos arts. 75 Parágrafo único. O percentual de dez por cento do total
e 77. (Incluído pela Lei nº 12.006, de 2009) dos valores arrecadados destinados à Previdência Social, do
Art. 77-B. Toda peça publicitária destinada à divulgação Prêmio do Seguro Obrigatório de Danos Pessoais causados
ou promoção, nos meios de comunicação social, de produto por Veículos Automotores de Via Terrestre – DPVAT, de que
oriundo da indústria automobilística ou afim, incluirá, obri- trata a Lei nº 6.194, de 19 de dezembro de 1974, serão re-
gatoriamente, mensagem educativa de trânsito a ser con- passados mensalmente ao Coordenador do Sistema Nacional
juntamente veiculada. (Incluído pela Lei nº 12.006, de 2009) de Trânsito para aplicação exclusiva em programas de que
§ 1o Para os efeitos dos arts. 77-A a 77-E, consideram- trata este artigo.
-se produtos oriundos da indústria automobilística ou afins: Art.  79. Os órgãos e entidades executivos de trânsito
(Incluído pela Lei nº 12.006, de 2009) poderão firmar convênio com os órgãos de educação da
I – os veículos rodoviários automotores de qualquer es- União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,
pécie, incluídos os de passageiros e os de carga; (Incluído objetivando o cumprimento das obrigações estabelecidas
pela Lei nº 12.006, de 2009) neste capítulo.
II – os componentes, as peças e os acessórios utilizados
nos veículos mencionados no inciso I. (Incluído pela Lei nº CAPÍTULO VII
12.006, de 2009) Da Sinalização de Trânsito
§ 2o O disposto no caput deste artigo aplica-se à pro-
paganda de natureza comercial, veiculada por iniciativa do Art. 80. Sempre que necessário, será colocada ao lon-
fabricante do produto, em qualquer das seguintes modali- go da via, sinalização prevista neste Código e em legislação
dades: (Incluído pela Lei nº 12.006, de 2009) complementar, destinada a condutores e pedestres, vedada
I – rádio; (Incluído pela Lei nº 12.006, de 2009) a utilização de qualquer outra.
II – televisão; (Incluído pela Lei nº 12.006, de 2009) § 1º A sinalização será colocada em posição e condições
III – jornal; (Incluído pela Lei nº 12.006, de 2009) que a tornem perfeitamente visível e legível durante o dia e a
IV – revista; (Incluído pela Lei nº 12.006, de 2009) noite, em distância compatível com a segurança do trânsito,
V – outdoor. (Incluído pela Lei nº 12.006, de 2009) conforme normas e especificações do CONTRAN.
§ 3o Para efeito do disposto no § 2o, equiparam-se ao § 2º O CONTRAN poderá autorizar, em caráter experi-
fabricante o montador, o encarroçador, o importador e o mental e por período prefixado, a utilização de sinalização
revendedor autorizado dos veículos e demais produtos dis- não prevista neste Código.
criminados no § 1o deste artigo. (Incluído pela Lei nº 12.006, Art. 81. Nas vias públicas e nos imóveis é proibido colocar
de 2009) luzes, publicidade, inscrições, vegetação e mobiliário que
Art.  77-C. Quando se tratar de publicidade veiculada possam gerar confusão, interferir na visibilidade da sinali-
em outdoor instalado à margem de rodovia, dentro ou fora zação e comprometer a segurança do trânsito.
da respectiva faixa de domínio, a obrigação prevista no art. Art. 82. É proibido afixar sobre a sinalização de trânsito
77-B estende-se à propaganda de qualquer tipo de produto e respectivos suportes, ou junto a ambos, qualquer tipo de
e anunciante, inclusive àquela de caráter institucional ou publicidade, inscrições, legendas e símbolos que não se re-
eleitoral. (Incluído pela Lei nº 12.006, de 2009) lacionem com a mensagem da sinalização.
Art. 77-D. O Conselho Nacional de Trânsito (Contran) es- Art. 83. A afixação de publicidade ou de quaisquer le-
pecificará o conteúdo e o padrão de apresentação das mensa- gendas ou símbolos ao longo das vias condiciona-se à prévia
gens, bem como os procedimentos envolvidos na respectiva aprovação do órgão ou entidade com circunscrição sobre
Legislação Relativa à DPRF

veiculação, em conformidade com as diretrizes fixadas para a via.


as campanhas educativas de trânsito a que se refere o art. Art. 84. O órgão ou entidade de trânsito com circuns-
75. (Incluído pela Lei nº 12.006, de 2009) crição sobre a via poderá retirar ou determinar a imediata
Art. 77-E. A veiculação de publicidade feita em desacor- retirada de qualquer elemento que prejudique a visibilidade
do com as condições fixadas nos arts. 77-A a 77-D constitui da sinalização viária e a segurança do trânsito, com ônus para
infração punível com as seguintes sanções: (Incluído pela Lei quem o tenha colocado.
nº 12.006, de 2009) Art. 85. Os locais destinados pelo órgão ou entidade de
I – advertência por escrito; (Incluído pela Lei nº 12.006, trânsito com circunscrição sobre a via à travessia de pedes-
de 2009) tres deverão ser sinalizados com faixas pintadas ou demar-
II – suspensão, nos veículos de divulgação da publicidade, cadas no leito da via.
de qualquer outra propaganda do produto, pelo prazo de Art. 86. Os locais destinados a postos de gasolina, ofici-
até 60 (sessenta) dias; (Incluído pela Lei nº 12.006, de 2009) nas, estacionamentos ou garagens de uso coletivo deverão

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ter suas entradas e saídas devidamente identificadas, na II – sinalização de advertência – tem por finalidade alertar
forma regulamentada pelo CONTRAN. os usuários da via para condições potencialmente peri-
Art. 86-A. As vagas de estacionamento regulamentado gosas, indicando sua natureza e sua forma. Geralmente,
de que trata o inciso XVII do art. 181 desta Lei deverão ser é quadrada, devendo uma das diagonais ficar na posição
sinalizadas com as respectivas placas indicativas de desti- vertical. À sinalização de advertência estão associadas as
nação e com placas informando os dados sobre a infração cores amarela e preta.
por estacionamento indevido. (Incluído pela Lei nº 13.146,
de 2015)
Art. 87. Os sinais de trânsito classificam-se em:
I – verticais;
II – horizontais;
III – dispositivos de sinalização auxiliar;
IV – luminosos;
V – sonoros;
VI – gestos do agente de trânsito e do condutor.

Comentário:
Os sinais de trânsito são regulamentados pelas Reso- Constituem exceções:
luções nos 561/1980, 160/2004, 180/2005, 236/2007 e • quanto à cor:
243/2007 do Contran. – o sinal A-24 – Obras, que possui fundo e orla externa
Segundo o Anexo II do CTB, aprovado pela Resolução nº na cor laranja;
160/2004 do Contran, os sinais classificam da seguinte
maneira:
a) verticais – é um subsistema da sinalização viária cujo
meio de comunicação está na posição vertical, normal-
mente em placa, fixado ao lado ou suspenso sobre a
pista, transmitindo mensagens de caráter permanente
e, eventualmente, variáveis, por meio de legendas e/
ou símbolos pré-reconhecidos e legalmente instituídos.
A sinalização vertical é classificada de acordo com sua
função, compreendendo os seguintes tipos:
I – sinalização de regulamentação – tem por finalidade in-
– o sinal A-14 – Semáforo à frente, que possui símbolo
formar aos usuários as condições, proibições, obrigações nas cores preta, vermelha, amarela e verde;
ou restrições no uso das vias. Suas mensagens são impe-
rativas e o desrespeito a elas constitui infração, sendo
identificadas pela forma circular e as cores são vermelha,
preta e branca, salvo as sinalizações de regulamentação
R-1 (Parada Obrigatória) e R-2 (Dê a Preferência), pois
possuem outras características, conforme as figuras:

– todos os sinais que, quando utilizados na sinalização


de obras, possuem fundo na cor laranja.
• quanto à forma:
– o sinal A-26a – Sentido Único;
Sendo necessário acrescentar informações para com- – o sinal A-26b – Sentido Duplo; e
plementar os sinais de re­gulamentação, como período – o sinal A-41 – Cruz de Santo André.
de validade, características e uso do veículo, condições
de estacionamento, além de outras, deve ser utilizada
uma placa adicional ou incorporada à placa principal,
formando um só conjunto, na forma retangular, com as
mesmas cores do sinal de regulamentação, não se ad-
Legislação Relativa à DPRF

mitindo acrescentar informação complementar para os


sinais R-1 (Parada Obrigatória) e R-2 (Dê a Preferência).

Quando não for possível a utilização dos sinais apresen-


tados, poderá ser empregada a Sinalização Especial de
Advertência, que possui formato retangular, de tamanho
variável em função das informações nelas contidas, e
cujas cores são amarela e preta, com exceção da sina-

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lização de obras, que terá o fundo e a orla externa na pintados ou apostos sobre o pavimento das vias. Têm
cor laranja. como função organizar o fluxo de veículos e pedestres;
controlar e orientar os deslocamentos em situações com
problemas de geometria, topografia ou frente a obstá-
culos e complementar os sinais verticais de regulamen-
tação, advertência ou indicação. Em casos específicos,
tem poder de regulamentação.
Remetemos o leitor, nesse ponto, ao item 2, Anexo II,
do CTB, para melhor identificação dos sinais horizontais.
c) dispositivos de sinalização auxiliar – são elementos
aplicados ao pavimento da via, junto a ela, ou nos obstá-
culos próximos, de forma a tornar mais eficiente e segura
a operação da via. São constituídos de materiais, formas
e cores diversos, dotados ou não de refletividade, com
as funções de:
Havendo necessidade de fornecer informações comple- – incrementar a percepção da sinalização, do alinhamen-
mentares aos sinais de advertência, estas devem ser ins- to da via ou de obstáculos à circulação;
critas em placa adicional ou incorporada à placa principal, – reduzir a velocidade praticada;
formando um só conjunto, na forma retangular, admitida – oferecer proteção aos usuários;
a exceção para a placa adicional contendo o número de – alertar os condutores quanto a situações de perigo
linhas férreas que cruzam a pista. As cores da placa adi- potencial ou que requeiram maior atenção.
cional devem ser as mesmas dos sinais de advertência. Remeteremos o leitor ao item 3 do Anexo II do CTB para
visualização dos dispositivos de sinalização auxiliar.
d) luminosos – são dispositivos que se utilizam de recur-
sos luminosos para proporcionar melhores condições de
visualização da sinalização, ou que, conjugados a elemen-
tos eletrônicos, permitem a variação da sinalização ou
de mensagens, como:
– advertência de situação inesperada à frente;
– mensagens educativas visando ao comportamento
adequado dos usuários da via;
– orientação em praças de pedágio e pátios públicos de
estacionamento;
– informação sobre condições operacionais das vias;
III – sinalização de indicação – tem por finalidade identi- – orientação do trânsito para a utilização de vias alter-
ficar as vias e os locais de interesse, bem como orientar nativas;
condutores de veículos quanto aos percursos, os des- – regulamentação de uso da via.
tinos, as distâncias e os serviços auxiliares, podendo e) sonoros – são os sinais de apito realizados em con-
também ter como função a educação do usuário. Suas junto com os gestos do agente de trânsito, indicando da
mensagens possuem caráter informativo ou educativo. seguinte forma:
I – um silvo breve – significa “siga”, utilizado para liberar
o trânsito na direção indicada pelo agente;
II – dois silvos breves – indicam ordem de “pare”;
III – um silvo longo – significa diminuir a marcha, quando
for necessário fazer diminuir a marcha dos veículos.
f) gestos do agente de trânsito e do condutor – os gestos
do condutor são utilizados para indicar que o condutor
pretende realizar alguma manobra. Por outro lado, os
gestos do agente de trânsito indicam alguma ordem, que
b) horizontais – é um subsistema da sinalização viária prevalecem sobre as regras de circulação e as normas de-
que se utiliza de linhas, marcações, símbolos e legendas, finidas por outros sinais de trânsito. Os gestos podem ser:

Significado Sinal
Legislação Relativa à DPRF

Ordem de parada obrigatória para todos os veículos.


Quando executada em interseções, os veículos que já
se encontrem nela não são obrigados a parar.

Braço levantado verticalmente, com a palma da mão


para a frente.

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Ordem de parada para todos os veículos que venham
de direções que cortem ortogonalmente a direção
indicada pelos braços estendidos, qualquer que seja
o sentido de seu deslocamento.

Braços estendidos horizontalmente, com a palma da


mão para a frente.

Ordem de parada para todos os veículos que venham


de direções que cortem ortogonalmente a direção
indicada pelo braço estendido, qualquer que seja o
sentido de seu deslocamento.

Braço estendido horizontalmente, com a palma da


mão para frente, do lado do transito a que se destina.

Ordem de diminuição da velocidade.

Braço estendido horizontalmente, com a palma da


mão para baixo, fazendo movimentos verticais.

Ordem de parada para os veículos aos quais a luz é


dirigida.

Braço estendido horizontalmente, agitando uma luz


vermelha para um determinado veículo.
Legislação Relativa à DPRF

Ordem de seguir.

Braço levantado, com movimento de antebraço da


frente para a retaguarda e a palma da mão voltada
para trás.

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Ressalta-se, for fim, que o Anexo II do CTB disciplina colocar em risco sua segurança, será iniciada sem permissão
outros tipos de sinalizações, tais como a sinalização se- prévia do órgão ou entidade de trânsito com circunscrição
mafórica e de obras, e a utilização de dispositivos de uso sobre a via.
temporário, como cones, cilindros, balizador móvel etc. § 1º A obrigação de sinalizar é do responsável pela exe-
cução ou manutenção da obra ou do evento.
Art. 88. Nenhuma via pavimentada poderá ser entregue § 2º Salvo em casos de emergência, a autoridade de trân-
após sua construção, ou reaberta ao trânsito após a realiza- sito com circunscrição sobre a via avisará a comunidade, por
ção de obras ou de manutenção, enquanto não estiver devi- intermédio dos meios de comunicação social, com quarenta
damente sinalizada, vertical e horizontalmente, de forma a e oito horas de antecedência, de qualquer interdição da via,
garantir as condições adequadas de segurança na circulação. indicando-se os caminhos alternativos a serem utilizados.
Parágrafo único. Nas vias ou trechos de vias em obras § 3º A inobservância do disposto neste artigo será pu-
deverá ser afixada sinalização específica e adequada. nida com multa que varia entre cinqüenta e trezentas UFIR,
Art. 89. A sinalização terá a seguinte ordem de preva- independentemente das cominações cíveis e penais cabíveis.
lência: § 4º Ao servidor público responsável pela inobservância
I – as ordens do agente de trânsito sobre as normas de de qualquer das normas previstas neste e nos arts. 93 e 94,
circulação e outros sinais; a autoridade de trânsito aplicará multa diária na base de
II – as indicações do semáforo sobre os demais sinais; cinqüenta por cento do dia de vencimento ou remuneração
III – as indicações dos sinais sobre as demais normas devida enquanto permanecer a irregularidade.
de trânsito.
CAPÍTULO IX
Comentário: Dos Veículos
Esse artigo é de fundamental importância, pois as ban-
cas examinadoras de concurso público podem inverter Seção I
a ordem de prevalência da sinalização para confundir o Disposições Gerais
candidato. Dessa forma, é necessário ter especial aten-
ção à ordem: Art. 96. Os veículos classificam-se em:
1º) sempre as ordens dos agentes de trânsito têm prio- I – quanto à tração:
ridade sobre as demais normas; a) automotor;
2º) em seguida devem ser obedecidas as do semáforo; b) elétrico;
3º) por fim devem ser obedecidas as indicações dos sinais. c) de propulsão humana;
d) de tração animal;
Art. 90. Não serão aplicadas as sanções previstas neste e) reboque ou semi-reboque;
Código por inobservância à sinalização quando esta for in- II – quanto à espécie:
suficiente ou incorreta. a) de passageiros:
§ 1º O órgão ou entidade de trânsito com circunscrição 1 – bicicleta;
sobre a via é responsável pela implantação da sinalização, 2 – ciclomotor;
respondendo pela sua falta, insuficiência ou incorreta co- 3 – motoneta;
locação. 4 – motocicleta;
§ 2º O CONTRAN editará normas complementares no 5 – triciclo;
que se refere à interpretação, colocação e uso da sinalização. 6 – quadriciclo;
7 – automóvel;
CAPÍTULO VIII 8 – microônibus;
Da Engenharia de Tráfego, da Operação, da Fiscalização e 9 – ônibus;
do Policiamento Ostensivo de Trânsito 10 – bonde;
11 – reboque ou semi-reboque;
Art. 91. O CONTRAN estabelecerá as normas e regula- 12 – charrete;
mentos a serem adotados em todo o território nacional quan- b) de carga:
do da implementação das soluções adotadas pela Engenharia 1 – motoneta;
de Tráfego, assim como padrões a serem praticados por todos 2 – motocicleta;
os órgãos e entidades do Sistema Nacional de Trânsito. 3 – triciclo;
Art. 92. (Vetado). 4 – quadriciclo;
Art. 93. Nenhum projeto de edificação que possa trans- 5 – caminhonete;
formar-se em pólo atrativo de trânsito poderá ser aprovado 6 – caminhão;
sem prévia anuência do órgão ou entidade com circunscrição 7 – reboque ou semi-reboque;
sobre a via e sem que do projeto conste área para estaciona- 8 – carroça;
Legislação Relativa à DPRF

mento e indicação das vias de acesso adequadas. 9 – carro-de-mão;


Art. 94. Qualquer obstáculo à livre circulação e à seguran- c) misto:
ça de veículos e pedestres, tanto na via quanto na calçada, 1 – camioneta;
caso não possa ser retirado, deve ser devida e imediatamente 2 – utilitário;
sinalizado. 3 – outros;
Parágrafo único. É proibida a utilização das ondulações d) de competição;
transversais e de sonorizadores como redutores de velo- e) de tração:
cidade, salvo em casos especiais definidos pelo órgão ou 1 – caminhão-trator;
entidade competente, nos padrões e critérios estabelecidos 2 – trator de rodas;
pelo CONTRAN. 3 – trator de esteiras;
Art. 95. Nenhuma obra ou evento que possa perturbar 4 – trator misto;
ou interromper a livre circulação de veículos e pedestres, ou f) especial;

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g) de coleção; local, não sendo admitida qualquer tolerância sobre o
III – quanto à categoria: peso declarado. Nesse caso, o agente de trânsito verifica
a) oficial; o peso declarado na nota fiscal e o PBT ou PBTC indicado
b) de representação diplomática, de repartições consu- pelo fabricante, aplicando a infração se houver excesso.
lares de carreira ou organismos internacionais acreditados A segunda infração ocorre na hipótese de o veículo ou
junto ao Governo brasileiro; a combinação de veículos ultrapassarem a Capacidade
c) particular; Máxima de Tração (CMT) da unidade tratora (CTB, art.
d) de aluguel; 231, X).
e) de aprendizagem. CMT é o peso máximo que a unidade de tração é capaz
Art. 97. As características dos veículos, suas especifica- de tracionar, indicado pelo fabricante, baseado em con-
ções básicas, configuração e condições essenciais para re- dições sobre suas limitações de geração e multiplicação
gistro, licenciamento e circulação serão estabelecidas pelo de momento de força e resistência dos elementos que
CONTRAN, em função de suas aplicações. compõem a transmissão.

Comentário: Art.  100. Nenhum veículo ou combinação de veículos


Os examinadores gostam de fazer os famosos “pegui- poderá transitar com lotação de passageiros, com peso bruto
nhas” com este tipo de artigo alterando o Contran como total, ou com peso bruto total combinado com peso por
órgão responsável pelo Denatran, Detran. Por isso, o can- eixo, superior ao fixado pelo fabricante, nem ultrapassar a
didato deve ficar atento. capacidade máxima de tração da unidade tratora.
Os veículos serão registrados, licenciados de acordo com Parágrafo único. O CONTRAN regulamentará o uso de
suas características, especificações básicas, configuração pneus extralargos, definindo seus limites de peso.
e condições essenciais estabelecidas pelo Contran, em Art. 101. Ao veículo ou combinação de veículos utilizado
função de suas aplicações. no transporte de carga indivisível, que não se enquadre nos
limites de peso e dimensões estabelecidos pelo CONTRAN,
Art.  98. Nenhum proprietário ou responsável poderá, poderá ser concedida, pela autoridade com circunscrição
sem prévia autorização da autoridade competente, fazer ou sobre a via, autorização especial de trânsito, com prazo certo,
ordenar que sejam feitas no veículo modificações de suas válida para cada viagem, atendidas as medidas de segurança
características de fábrica. consideradas necessárias.
Parágrafo único. Os veículos e motores novos ou usa- § 1º A autorização será concedida mediante requerimen-
dos que sofrerem alterações ou conversões são obrigados to que especificará as características do veículo ou combi-
a atender aos mesmos limites e exigências de emissão de nação de veículos e de carga, o percurso, a data e o horário
poluentes e ruído previstos pelos órgãos ambientais compe- do deslocamento inicial.
tentes e pelo CONTRAN, cabendo à entidade executora das § 2º A autorização não exime o beneficiário da responsa-
modificações e ao proprietário do veículo a responsabilidade bilidade por eventuais danos que o veículo ou a combinação
pelo cumprimento das exigências. de veículos causar à via ou a terceiros.
Art. 99. Somente poderá transitar pelas vias terrestres o § 3º Aos guindastes autopropelidos ou sobre caminhões
veículo cujo peso e dimensões atenderem aos limites esta- poderá ser concedida, pela autoridade com circunscrição
belecidos pelo CONTRAN. sobre a via, autorização especial de trânsito, com prazo de
§ 1º O excesso de peso será aferido por equipamento de seis meses, atendidas as medidas de segurança consideradas
pesagem ou pela verificação de documento fiscal, na forma necessárias.
estabelecida pelo CONTRAN.
§ 2º Será tolerado um percentual sobre os limites de peso Comentário:
bruto total e peso bruto transmitido por eixo de veículos Trata-se, neste artigo, das Combinações de Veículos de
à superfície das vias, quando aferido por equipamento, na Carga (CVC), com mais de duas unidades, incluída a uni-
forma estabelecida pelo CONTRAN. dade tratora, com Peso Bruto Total acima de 57 tonela-
§ 3º Os equipamentos fixos ou móveis utilizados na pesa- das ou com comprimento total acima de 19,8 metros,
gem de veículos serão aferidos de acordo com a metodologia conforme estabelecido pela Resolução nº 210/2006 do
e na periodicidade estabelecidas pelo CONTRAN, ouvido o Contran. São aqueles veículos que transportam cargas
órgão ou entidade de metrologia legal. indivisíveis de dimensões excedentes.
Carga indivisível é a carga unitária representada por uma
Comentário: única peça estrutural ou um conjunto de peças fixadas
Cabe fazermos algumas ponderações quanto à aplicabili- por rebitagem, solda ou qualquer outro processo, com
dade à infração, tendo em vista que o examinador poderá o fim de ser utilizada diretamente, como peça acabada
citar um caso de excesso de peso, porém colocando como ou parte integrante de conjuntos de montagem, máqui-
penalidade outra infração de trânsito, ou seja, envolver nas ou equipamentos e que, devido a sua complexidade,
Legislação Relativa à DPRF

a infração contida no art. 231, V, com a do art. 231, X. somente possa ser montada em instalações apropriadas,
Nesse diapasão, observe que há duas infrações de trân- tais como turbinas e geradores de usinas hidrelétricas2.
sito no caso de excesso de peso. A primeira refere-se ao Esses veículos só poderão circular portando Autorização
veículo ou combinação de veículos que transitar com Especial de Trânsito (AET), concedida pela autoridade
peso bruto total (PBT) ou com peso bruto total combi- com circunscrição sobre a via, com prazo certo, válida
nado (PBTC) com peso por eixo, superior ao fixado pelo para cada viagem, atendidas as medidas de segurança
fabricante, aferido por equipamento de pesagem (balan- consideradas necessárias.
ça rodoviária) ou, na impossibilidade, pelo documento Tal autorização será concedida mediante requerimen-
fiscal (CTB, art. 231, V). to que especificará as características do veículo ou da
A fiscalização dos limites de peso dos veículos, por meio combinação de veículos e de carga, o percurso, a data e
do peso declarado na Nota Fiscal, Conhecimento ou Ma- o horário do deslocamento inicial, não eximindo o be-
nifesto de carga poderá ser feita em qualquer tempo ou neficiário da responsabilidade por eventuais danos que

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o veículo ou a combinação de veículos causar à via ou II – para os veículos de transporte e de condução escolar,
a terceiros. os de transporte de passageiros com mais de dez lugares e
Aos guindastes autopropelidos ou sobre caminhões po- os de carga com peso bruto total superior a quatro mil, qui-
derá ser concedida, pela autoridade com circunscrição nhentos e trinta e seis quilogramas, equipamento registrador
sobre a via, Autorização Especial de Trânsito, com prazo instantâneo inalterável de velocidade e tempo;
de seis meses, atendidas as medidas de segurança con- III – encosto de cabeça, para todos os tipos de veículos
sideradas necessárias. automotores, segundo normas estabelecidas pelo CONTRAN;
Cabe ressaltar que, para os guindastes autopropelidos IV – (vetado);
ou sobre caminhões, a AET terá o prazo de seis meses. V – dispositivo destinado ao controle de emissão de gases
Já os veículos ou as combinações de veículos utilizados poluentes e de ruído, segundo normas estabelecidas pelo
no transporte de carga indivisível, a AET é concedida com CONTRAN.
validade para cada viagem. Assim, cuidado com as inda- VI – para as bicicletas, a campainha, sinalização noturna
gações do examinador. dianteira, traseira, lateral e nos pedais, e espelho retrovisor
A inobservância dessas normas importará nas infrações do lado esquerdo.
do art. 231, VI, do CTB. Vejamos: VII – equipamento suplementar de retenção – air bag
frontal para o condutor e o passageiro do banco dianteiro.
Art. 231. Transitar com o veículo: (Incluído pela Lei nº 11.910, de 2009)
[...]. § 1º O CONTRAN disciplinará o uso dos equipamentos
VI – em desacordo com a autorização especial, expe- obrigatórios dos veículos e determinará suas especificações
dida pela autoridade competente para transitar com técnicas.
dimensões excedentes, ou quando a mesma estiver § 2º Nenhum veículo poderá transitar com equipamento
vencida: ou acessório proibido, sendo o infrator sujeito às penalidades
Infração – grave; e medidas administrativas previstas neste Código.
Penalidade – multa e apreensão do veículo; § 3º Os fabricantes, os importadores, os montadores, os
Medida administrativa – remoção do veículo; encarroçadores de veículos e os revendedores devem comer-
cializar os seus veículos com os equipamentos obrigatórios
Art. 102. O veículo de carga deverá estar devidamente definidos neste artigo, e com os demais estabelecidos pelo
equipado quando transitar, de modo a evitar o derramamen- CONTRAN.
§ 4º O CONTRAN estabelecerá o prazo para o atendimen-
to da carga sobre a via.
to do disposto neste artigo.
Parágrafo único. O CONTRAN fixará os requisitos mínimos
§ 5o A exigência estabelecida no inciso VII do caput deste
e a forma de proteção das cargas de que trata este artigo, de
artigo será progressivamente incorporada aos novos pro-
acordo com a sua natureza.
jetos de automóveis e dos veículos deles derivados, fabri-
cados, importados, montados ou encarroçados, a partir do
Seção II 1o(primeiro) ano após a definição pelo Contran das especifi-
Da Segurança dos Veículos cações técnicas pertinentes e do respectivo cronograma de
implantação e a partir do 5o (quinto) ano, após esta definição,
Art. 103. O veículo só poderá transitar pela via quando para os demais automóveis zero quilômetro de modelos ou
atendidos os requisitos e condições de segurança estabele- projetos já existentes e veículos deles derivados. (Incluído
cidos neste Código e em normas do CONTRAN. pela Lei nº 11.910, de 2009)
§ 1º Os fabricantes, os importadores, os montadores e § 6o A exigência estabelecida no inciso VII do caput deste
os encarroçadores de veículos deverão emitir certificado de artigo não se aplica aos veículos destinados à exportação.
segurança, indispensável ao cadastramento no RENAVAM, (Incluído pela Lei nº 11.910, de 2009)
nas condições estabelecidas pelo CONTRAN. Art. 106. No caso de fabricação artesanal ou de modi-
§ 2º O CONTRAN deverá especificar os procedimentos ficação de veículo ou, ainda, quando ocorrer substituição
e a periodicidade para que os fabricantes, os importadores, de equipamento de segurança especificado pelo fabrican-
os montadores e os encarroçadores comprovem o atendi- te, será exigido, para licenciamento e registro, certificado
mento aos requisitos de segurança veicular, devendo, para de segurança expedido por instituição técnica credenciada
isso, manter disponíveis a qualquer tempo os resultados dos por órgão ou entidade de metrologia legal, conforme norma
testes e ensaios dos sistemas e componentes abrangidos pela elaborada pelo CONTRAN.
legislação de segurança veicular. Art. 107. Os veículos de aluguel, destinados ao transporte
Art. 104. Os veículos em circulação terão suas condições individual ou coletivo de passageiros, deverão satisfazer, além
de segurança, de controle de emissão de gases poluentes e das exigências previstas neste Código, às condições técnicas e
de ruído avaliadas mediante inspeção, que será obrigatória, aos requisitos de segurança, higiene e conforto estabelecidos
na forma e periodicidade estabelecidas pelo CONTRAN para pelo poder competente para autorizar, permitir ou conceder
Legislação Relativa à DPRF

os itens de segurança e pelo CONAMA para emissão de gases a exploração dessa atividade.
poluentes e ruído.
§§ 1º a 4º (Vetados). Comentários:
§ 5º Será aplicada a medida administrativa de retenção Vale enfatizar que, ao mencionar “veículos de aluguel”, o
aos veículos reprovados na inspeção de segurança e na de CTB não se refere à mera locação de veículos, como a re-
emissão de gases poluentes e ruído. alizada por empresas de locação de veículos. Os “veículos
Art. 105. São equipamentos obrigatórios dos veículos, de aluguel” a que se refere o CTB são aqueles destinados
entre outros a serem estabelecidos pelo CONTRAN: ao transporte público individual ou coletivo de passa-
I – cinto de segurança, conforme regulamentação espe- geiros, ou seja, usados como táxi ou em fretamentos.
cífica do CONTRAN, com exceção dos veículos destinados ao Esse tipo de atividade é considerada um serviço público
transporte de passageiros em percursos em que seja permi- e depende de delegação por parte do Poder Público.
tido viajar em pé; O transporte é considerado serviço público, podendo ser

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objeto de concessão ou permissão por parte do Poder características, além do ano de fabricação, que não poderá
Público. Sendo remunerada a atividade de transporte ser alterado.
individual de passageiros, é indispensável a prévia au- § 2º As regravações, quando necessárias, dependerão
torização do Poder Público competente, nos termos do de prévia autorização da autoridade executiva de trânsito
art. 135 do CTB, sob pena de se praticar ato punível com e somente serão processadas por estabelecimento por ela
multa e retenção do veículo, de acordo com o art. 231, credenciado, mediante a comprovação de propriedade do
VIII, do mesmo dispositivo legal. veículo, mantida a mesma identificação anterior, inclusive
Assim, conforme determina o artigo em comento, o Poder o ano de fabricação.
concedente da exploração dessa atividade poderá exigir, § 3º Nenhum proprietário poderá, sem prévia permissão
além das exigências previstas neste Código, as condições da autoridade executiva de trânsito, fazer, ou ordenar que se
técnicas e os requisitos de segurança, higiene e conforto. faça, modificações da identificação de seu veículo.
Um dos requisitos necessários para a concessão de au- Art. 115. O veículo será identificado externamente por
torização é a apresentação de Certidão Negativa do Re- meio de placas dianteira e traseira, sendo esta lacrada em
gistro de Distribuição Criminal relativamente aos crimes sua estrutura, obedecidas as especificações e modelos es-
de homicídio, roubo, estupro e corrupção de menores, tabelecidos pelo CONTRAN.
renovável a cada cinco anos, junto ao órgão responsável § 1º Os caracteres das placas serão individualizados para
pela respectiva concessão ou autorização, conforme o cada veículo e o acompanharão até a baixa do registro, sendo
art. 329 do CTB. vedado seu reaproveitamento.
§ 2º As placas com as cores verde e amarela da Ban-
Art.  108. Onde não houver linha regular de ônibus, a deira Nacional serão usadas somente pelos veículos de re-
autoridade com circunscrição sobre a via poderá autorizar, presentação pessoal do Presidente e do Vice-Presidente da
a título precário, o transporte de passageiros em veículo de República, dos Presidentes do Senado Federal e da Câmara
carga ou misto, desde que obedecidas as condições de segu- dos Deputados, do Presidente e dos Ministros do Supremo
rança estabelecidas neste Código e pelo CONTRAN. Tribunal Federal, dos Ministros de Estado, do Advogado-Geral
Parágrafo único. A autorização citada no caput não pode- da União e do Procurador-Geral da República.
rá exceder a doze meses, prazo a partir do qual a autoridade § 3º Os veículos de representação dos Presidentes dos
pública responsável deverá implantar o serviço regular de Tribunais Federais, dos Governadores, Prefeitos, Secretários
transporte coletivo de passageiros, em conformidade com Estaduais e Municipais, dos Presidentes das Assembléias
a legislação pertinente e com os dispositivos deste Código. Legislativas, das Câmaras Municipais, dos Presidentes dos
(Incluído pela Lei nº 9.602, de 1998) Tribunais Estaduais e do Distrito Federal, e do respectivo
Art. 109. O transporte de carga em veículos destinados chefe do Ministério Público e ainda dos Oficiais Generais
ao transporte de passageiros só pode ser realizado de acordo das Forças Armadas terão placas especiais, de acordo com
com as normas estabelecidas pelo CONTRAN. os modelos estabelecidos pelo CONTRAN.
Art. 110. O veículo que tiver alterada qualquer de suas § 4o Os aparelhos automotores destinados a puxar ou
características para competição ou finalidade análoga só a arrastar maquinaria de qualquer natureza ou a executar
poderá circular nas vias públicas com licença especial da trabalhos de construção ou de pavimentação são sujeitos
autoridade de trânsito, em itinerário e horário fixados. ao registro na repartição competente, se transitarem em
Art. 111. É vedado, nas áreas envidraçadas do veículo: via pública, dispensados o licenciamento e o emplacamento.
I – (vetado); (Redação dada pela Lei nº 13.154, de 2015)
II – o uso de cortinas, persianas fechadas ou similares nos § 4o-A. Os tratores e demais aparelhos automotores desti-
veículos em movimento, salvo nos que possuam espelhos nados a puxar ou a arrastar maquinaria agrícola ou a executar
retrovisores em ambos os lados. trabalhos agrícolas, desde que facultados a transitar em via
III – aposição de inscrições, películas refletivas ou não, pública, são sujeitos ao registro único, sem ônus, em cadastro
painéis decorativos ou pinturas, quando comprometer a se- específico do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abasteci-
gurança do veículo, na forma de regulamentação do CON- mento, acessível aos componentes do Sistema Nacional de
TRAN. (Incluído pela Lei nº 9.602, de 1998) Trânsito. (Redação dada pela Lei nº 13.154, de 2015)
Parágrafo único. É proibido o uso de inscrição de caráter § 5º O disposto neste artigo não se aplica aos veículos
publicitário ou qualquer outra que possa desviar a atenção de uso bélico.
dos condutores em toda a extensão do pára-brisa e da tra- § 6º Os veículos de duas ou três rodas são dispensados
seira dos veículos, salvo se não colocar em risco a segurança da placa dianteira.
do trânsito. § 7o Excepcionalmente, mediante autorização específi-
Art. 112. (Revogado pela Lei nº 9.792, de 1999) ca e fundamentada das respectivas corregedorias e com a
Art. 113. Os importadores, as montadoras, as encarroça- devida comunicação aos órgãos de trânsito competentes,
doras e fabricantes de veículos e autopeças são responsáveis os veículos utilizados por membros do Poder Judiciário e do
civil e criminalmente por danos causados aos usuários, a ter- Ministério Público que exerçam competência ou atribuição
Legislação Relativa à DPRF

ceiros, e ao meio ambiente, decorrentes de falhas oriundas criminal poderão temporariamente ter placas especiais, de
de projetos e da qualidade dos materiais e equipamentos forma a impedir a identificação de seus usuários específicos,
utilizados na sua fabricação. na forma de regulamento a ser emitido, conjuntamente, pelo
Conselho Nacional de Justiça – CNJ, pelo Conselho Nacional
Seção III do Ministério Público – CNMP e pelo Conselho Nacional de
Da Identificação do Veículo Trânsito – CONTRAN. (Incluído pela Lei nº 12.694, de 2012)
§ 8o Os veículos artesanais utilizados para trabalho agrí-
Art. 114. O veículo será identificado obrigatoriamente cola (jericos), para efeito do registro de que trata o § 4o-A,
por caracteres gravados no chassi ou no monobloco, repro- ficam dispensados da exigência prevista no art. 106. (Incluído
duzidos em outras partes, conforme dispuser o CONTRAN. pela Lei nº 13.154, de 2015)
§ 1º A gravação será realizada pelo fabricante ou monta- Art. 116. Os veículos de propriedade da União, dos Esta-
dor, de modo a identificar o veículo, seu fabricante e as suas dos e do Distrito Federal, devidamente registrados e licen-

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ciados, somente quando estritamente usados em serviço dastro do RENAVAM e exigirá do proprietário os seguintes
reservado de caráter policial, poderão usar placas particu- documentos:
lares, obedecidos os critérios e limites estabelecidos pela I – nota fiscal fornecida pelo fabricante ou revendedor,
legislação que regulamenta o uso de veículo oficial. ou documento equivalente expedido por autoridade com-
Art. 117. Os veículos de transporte de carga e os coletivos petente;
de passageiros deverão conter, em local facilmente visível, a II – documento fornecido pelo Ministério das Relações
inscrição indicativa de sua tara, do peso bruto total (PBT), do Exteriores, quando se tratar de veículo importado por mem-
peso bruto total combinado (PBTC) ou capacidade máxima de bro de missões diplomáticas, de repartições consulares de
tração (CMT) e de sua lotação, vedado o uso em desacordo carreira, de representações de organismos internacionais e
com sua classificação. de seus integrantes.
Art. 123. Será obrigatória a expedição de novo Certificado
CAPÍTULO X de Registro de Veículo quando:
Dos Veículos em Circulação Internacional I – for transferida a propriedade;
II – o proprietário mudar o Município de domicílio ou
Art. 118. A circulação de veículo no território nacional, in- residência;
dependentemente de sua origem, em trânsito entre o Brasil e III – for alterada qualquer característica do veículo;
os países com os quais exista acordo ou tratado internacional, IV – houver mudança de categoria.
reger-se-á pelas disposições deste Código, pelas convenções § 1º No caso de transferência de propriedade, o pra-
e acordos internacionais ratificados. zo para o proprietário adotar as providências necessárias
Art. 119. As repartições aduaneiras e os órgãos de con- à efetivação da expedição do novo Certificado de Registro
trole de fronteira comunicarão diretamente ao RENAVAM a de Veículo é de trinta dias, sendo que nos demais casos as
entrada e saída temporária ou definitiva de veículos. providências deverão ser imediatas.
Parágrafo único. Os veículos licenciados no exterior não § 2º No caso de transferência de domicílio ou residên-
poderão sair do território nacional sem prévia quitação de cia no mesmo Município, o proprietário comunicará o novo
débitos de multa por infrações de trânsito e o ressarcimento endereço num prazo de trinta dias e aguardará o novo licen-
de danos que tiverem causado a bens do patrimônio público, ciamento para alterar o Certificado de Licenciamento Anual.
respeitado o princípio da reciprocidade. § 3º A expedição do novo certificado será comunicada
ao órgão executivo de trânsito que expediu o anterior e ao
CAPÍTULO XI
RENAVAM.
Do Registro de Veículos
Art. 124. Para a expedição do novo Certificado de Registro
de Veículo serão exigidos os seguintes documentos:
Art.  120. Todo veículo automotor, elétrico, articulado,
I – Certificado de Registro de Veículo anterior;
reboque ou semi-reboque, deve ser registrado perante o
órgão executivo de trânsito do Estado ou do Distrito Federal, II – Certificado de Licenciamento Anual;
no Município de domicílio ou residência de seu proprietário, III – comprovante de transferência de propriedade, quan-
na forma da lei. do for o caso, conforme modelo e normas estabelecidas pelo
§ 1º Os órgãos executivos de trânsito dos Estados e do CONTRAN;
Distrito Federal somente registrarão veículos oficiais de pro- IV – Certificado de Segurança Veicular e de emissão de
priedade da administração direta, da União, dos Estados, poluentes e ruído, quando houver adaptação ou alteração
do Distrito Federal e dos Municípios, de qualquer um dos de características do veículo;
poderes, com indicação expressa, por pintura nas portas, V – comprovante de procedência e justificativa da pro-
do nome, sigla ou logotipo do órgão ou entidade em cujo priedade dos componentes e agregados adaptados ou mon-
nome o veículo será registrado, excetuando-se os veículos tados no veículo, quando houver alteração das características
de representação e os previstos no art. 116. originais de fábrica;
§ 2º O disposto neste artigo não se aplica ao veículo de VI – autorização do Ministério das Relações Exteriores,
uso bélico. no caso de veículo da categoria de missões diplomáticas,
de repartições consulares de carreira, de representações de
Comentário: organismos internacionais e de seus integrantes;
Constata-se, desde logo, que todos os veículos, com ex- VII – certidão negativa de roubo ou furto de veículo, ex-
ceção do veículo de uso bélico, os de representação e os pedida no Município do registro anterior, que poderá ser
veículos de uso reservado de caráter policial, devem estar substituída por informação do RENAVAM;
registrados perante os Detrans dos Estados ou do Distrito VIII – comprovante de quitação de débitos relativos a
Federal, inclusive os veículos oficiais de propriedade da tributos, encargos e multas de trânsito vinculados ao veícu-
Administração direta, da União, dos Estados, do Distrito lo, independentemente da responsabilidade pelas infrações
Federal e dos Municípios, de qualquer um dos poderes, cometidas;
Legislação Relativa à DPRF

deverão ser registrados, desde que possuam indicação IX – (Revogado pela Lei nº 9.602, de 1998)
expressa, por pintura nas portas, do nome, sigla ou lo- X – comprovante relativo ao cumprimento do disposto no
gotipo do órgão ou entidade em cujo nome o veículo art. 98, quando houver alteração nas características originais
será registrado. do veículo que afetem a emissão de poluentes e ruído;
XI – comprovante de aprovação de inspeção veicular e
Art. 121. Registrado o veículo, expedir-se-á o Certificado de poluentes e ruído, quando for o caso, conforme regula-
de Registro de Veículo – CRV de acordo com os modelos e mentações do CONTRAN e do CONAMA.
especificações estabelecidos pelo CONTRAN, contendo as Art. 125. As informações sobre o chassi, o monobloco,
características e condições de invulnerabilidade à falsificação os agregados e as características originais do veículo deverão
e à adulteração. ser prestadas ao RENAVAM:
Art.  122. Para a expedição do Certificado de Registro I – pelo fabricante ou montadora, antes da comercializa-
de Veículo o órgão executivo de trânsito consultará o ca- ção, no caso de veículo nacional;

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
II – pelo órgão alfandegário, no caso de veículo importado semirreboque, como exceção dos de uso bélico, deve-
por pessoa física; rá ser licenciado anualmente pelo órgão executivo de
III – pelo importador, no caso de veículo importado por trânsito do Estado, ou do Distrito Federal, onde estiver
pessoa jurídica. registrado o veículo.
Parágrafo único. As informações recebidas pelo RENA- O art. 230, inciso V, define como infração o ato de con-
VAM serão repassadas ao órgão executivo de trânsito respon- duzir veículo sem que esteja registrado e devidamente
sável pelo registro, devendo este comunicar ao RENAVAM, licenciado.
tão logo seja o veículo registrado.
Art.  126. O proprietário de veículo irrecuperável, ou Art. 131. O Certificado de Licenciamento Anual será ex-
destinado à desmontagem, deverá requerer a baixa do re- pedido ao veículo licenciado, vinculado ao Certificado de
gistro, no prazo e forma estabelecidos pelo Contran, vedada Registro, no modelo e especificações estabelecidos pelo
a remontagem do veículo sobre o mesmo chassi de forma a CONTRAN.
manter o registro anterior. (Redação dada pela Lei nº 12.977, § 1º O primeiro licenciamento será feito simultaneamen-
de 2014) te ao registro.
Parágrafo único. A obrigação de que trata este artigo § 2º O veículo somente será considerado licenciado
é da companhia seguradora ou do adquirente do veículo estando quitados os débitos relativos a tributos, encargos
destinado à desmontagem, quando estes sucederem ao e multas de trânsito e ambientais, vinculados ao veículo,
proprietário. independentemente da responsabilidade pelas infrações
Art. 127. O órgão executivo de trânsito competente só cometidas.
efetuará a baixa do registro após prévia consulta ao cadastro § 3º Ao licenciar o veículo, o proprietário deverá com-
do RENAVAM. provar sua aprovação nas inspeções de segurança veicular
Parágrafo único. Efetuada a baixa do registro, deverá ser e de controle de emissões de gases poluentes e de ruído,
esta comunicada, de imediato, ao RENAVAM. conforme disposto no art. 104.
Art. 128. Não será expedido novo Certificado de Registro Art. 132. Os veículos novos não estão sujeitos ao licen-
de Veículo enquanto houver débitos fiscais e de multas de ciamento e terão sua circulação regulada pelo CONTRAN
trânsito e ambientais, vinculadas ao veículo, independente- durante o trajeto entre a fábrica e o Município de destino.
mente da responsabilidade pelas infrações cometidas. § 1o O disposto neste artigo aplica-se, igualmente, aos
veículos importados, durante o trajeto entre a alfândega ou
Comentário: entreposto alfandegário e o Município de destino. (Renume-
Para a expedição de novo certificado, todos os débitos rado do parágrafo único pela Lei nº 13.103, de 2015)
referentes ao veículo devem estar quitados. § 2o (Revogado pela Lei nº 13.154, de 2015)
Todavia, cabe asseverar que, de acordo com o entendi- Art. 133. É obrigatório o porte do Certificado de Licen-
mento do STJ, “é ilegal condicionar a renovação da licença ciamento Anual.
de veículo ao pagamento de multa, da qual o infrator não
Art.  134. No caso de transferência de propriedade, o
foi notificado.” (Súmula nº 127/STJ)
proprietário antigo deverá encaminhar ao órgão executivo de
trânsito do Estado dentro de um prazo de trinta dias, cópia
Art. 129. O registro e o licenciamento dos veículos de
autenticada do comprovante de transferência de proprieda-
propulsão humana e dos veículos de tração animal obedece-
de, devidamente assinado e datado, sob pena de ter que se
rão à regulamentação estabelecida em legislação municipal
responsabilizar solidariamente pelas penalidades impostas
do domicílio ou residência de seus proprietários. (Redação
dada pela Lei nº 13.154, de 2015) e suas reincidências até a data da comunicação.
Art. 129-A. O registro dos tratores e demais aparelhos Parágrafo único. O comprovante de transferência de
automotores destinados a puxar ou a arrastar maquinaria propriedade de que trata o caput poderá ser substituído
agrícola ou a executar trabalhos agrícolas será efetuado, sem por documento eletrônico, na forma regulamentada pelo
ônus, pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abasteci- Contran. (Incluído pela Lei nº 13.154, de 2015)
mento, diretamente ou mediante convênio. (Incluído pela
Lei nº 13.154, de 2015) Comentários:
O novo proprietário não tem nenhuma responsabilidade
CAPÍTULO XII de comunicar ou encaminhar documentação de trans-
Do Licenciamento ferência de propriedade ao órgão executivo de trânsito
do Estado (Detrans), isso deve ser realizado pelo antigo
Art.  130. Todo veículo automotor, elétrico, articulado, proprietário no prazo máximo de 30 dias.
reboque ou semi-reboque, para transitar na via, deverá ser Caso o prazo não seja respeitado, o antigo proprietário
licenciado anualmente pelo órgão executivo de trânsito do se responsabilizará solidariamente pelas penalidades
Estado, ou do Distrito Federal, onde estiver registrado o ve- sofridas até a data da comunicação. Além disso, a inob-
servância do prazo constitui infração de natureza grave,
Legislação Relativa à DPRF

ículo.
§ 1º O disposto neste artigo não se aplica a veículo de com penalidade de multa e medida administrativa de
uso bélico. retenção do veículo para regularização, conforme art.
§ 2º No caso de transferência de residência ou domicílio, 233 do CTB:
é válido, durante o exercício, o licenciamento de origem.
Art. 233. Deixar de efetuar o registro de veículo no
Comentários: prazo de trinta dias, junto ao órgão executivo de
Licenciamento, segundo o Anexo I do presente Código, trânsito, ocorridas as hipóteses previstas no art. 123:
é procedimento anual, relativo a obrigações do proprie- Infração – grave;

tário de veículo, comprovado por meio de documento Penalidade – multa;
específico (Certificado de Licenciamento Anual). Medida administrativa – retenção do veículo para
Todo veículo automotor, elétrico, articulado, reboque ou regularização.

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
Todavia, não é somente a transferência de propriedade Art. 137. A autorização a que se refere o artigo anterior
do automóvel junto ao Detran que elide a responsabili- deverá ser afixada na parte interna do veículo, em local vi-
dade do antigo proprietário, podendo esse fazer prova da sível, com inscrição da lotação permitida, sendo vedada a
alienação por outros meios, conforme o REsp nº 599.620/ condução de escolares em número superior à capacidade
RS, Primeira Turma, Min. Luiz Fux, DJ 17/5/2004. estabelecida pelo fabricante.

Art. 135. Os veículos de aluguel, destinados ao transporte Comentários:


individual ou coletivo de passageiros de linhas regulares ou Caso o condutor não esteja portando a autorização, ele
empregados em qualquer serviço remunerado, para registro, estará cometendo uma infração grave, com a penalidade
licenciamento e respectivo emplacamento de característica de multa e apreensão do veículo, conforme art. 230, inci-
comercial, deverão estar devidamente autorizados pelo po- so XX, do CTB. Caso seja excedida a lotação máxima per-
der público concedente. mitida, o condutor cometerá uma infração média, com
a penalidade de multa e retenção do veículo, conforme
Comentários: art. 231, inciso VII, do CTB.
O transporte é considerado serviço público, podendo ser
objeto de concessão ou permissão por parte do Poder Art. 138. O condutor de veículo destinado à condução de
Público, razão pela qual os veículos de aluguel, destina- escolares deve satisfazer os seguintes requisitos:
dos ao transporte individual ou coletivo de passageiros I – ter idade superior a vinte e um anos;
de linhas regulares ou empregados em qualquer serviço II – ser habilitado na categoria D;
remunerado, para registro, licenciamento e respectivo III – (Vetado);
emplacamento de característica comercial, deverão estar IV – não ter cometido nenhuma infração grave ou gra-
devidamente autorizados pelo Poder Público concedente. víssima, ou ser reincidente em infrações médias durante os
Sendo remunerada a atividade de transporte individual doze últimos meses;
de passageiros, é indispensável a prévia autorização do V – ser aprovado em curso especializado, nos termos da
Poder Público competente, nos termos do art. 135 do regulamentação do CONTRAN.
CTB, sob pena de se praticar ato punível com multa e Art. 139. O disposto neste Capítulo não exclui a compe-
retenção do veículo, de acordo com o art. 231, inciso
tência municipal de aplicar as exigências previstas em seus
VIII, do mesmo dispositivo legal.
regulamentos, para o transporte de escolares.
Ademais, esses veículos deverão satisfazer, além das exi-
gências previstas neste Código, às condições técnicas e
CAPÍTULO XIII-A
aos requisitos de segurança, higiene e conforto estabe-
Da Condução de Moto-Frete
lecidos pelo Poder competente para autorizar, permitir
ou conceder a exploração dessa atividade (CTB, art. 107). (Incluído pela Lei nº 12.009, de 2009)
Um dos requisitos necessários para a concessão de au-
torização é a apresentação de certidão negativa do re- Art. 139-A. As motocicletas e motonetas destinadas ao
gistro de distribuição criminal relativamente aos crimes transporte remunerado de mercadorias – moto-frete – so-
de homicídio, roubo, estupro e corrupção de menores, mente poderão circular nas vias com autorização emitida
renovável a cada cinco anos, junto ao órgão responsável pelo órgão ou entidade executivo de trânsito dos Estados
pela respectiva concessão ou autorização, conforme o e do Distrito Federal, exigindo-se, para tanto: (Incluído pela
art. 329 do CTB. Lei nº 12.009, de 2009)
I – registro como veículo da categoria de aluguel; (Incluído
CAPÍTULO XIII pela Lei nº 12.009, de 2009)
Da Condução de Escolares II – instalação de protetor de motor mata-cachorro, fi-
xado no chassi do veículo, destinado a proteger o motor e a
Art. 136. Os veículos especialmente destinados à condu- perna do condutor em caso de tombamento, nos termos de
ção coletiva de escolares somente poderão circular nas vias regulamentação do Conselho Nacional de Trânsito – Contran;
com autorização emitida pelo órgão ou entidade executivos (Incluído pela Lei nº 12.009, de 2009)
de trânsito dos Estados e do Distrito Federal, exigindo-se, III – instalação de aparador de linha antena corta-pipas,
para tanto: nos termos de regulamentação do Contran; (Incluído pela
I – registro como veículo de passageiros; Lei nº 12.009, de 2009)
II – inspeção semestral para verificação dos equipamen- IV – inspeção semestral para verificação dos equipamen-
tos obrigatórios e de segurança; tos obrigatórios e de segurança. (Incluído pela Lei nº 12.009,
III – pintura de faixa horizontal na cor amarela, com de 2009)
quarenta centímetros de largura, à meia altura, em toda a § 1o A instalação ou incorporação de dispositivos para
extensão das partes laterais e traseira da carroçaria, com o transporte de cargas deve estar de acordo com a regula-
Legislação Relativa à DPRF

dístico ESCOLAR, em preto, sendo que, em caso de veículo mentação do Contran. (Incluído pela Lei nº 12.009, de 2009)
de carroçaria pintada na cor amarela, as cores aqui indicadas § 2o É proibido o transporte de combustíveis, produtos
devem ser invertidas; inflamáveis ou tóxicos e de galões nos veículos de que trata
IV – equipamento registrador instantâneo inalterável de este artigo, com exceção do gás de cozinha e de galões con-
velocidade e tempo; tendo água mineral, desde que com o auxílio de side-car,
V – lanternas de luz branca, fosca ou amarela dispostas nos termos de regulamentação do Contran. (Incluído pela
nas extremidades da parte superior dianteira e lanternas de Lei nº 12.009, de 2009)
luz vermelha dispostas na extremidade superior da parte Art. 139-B. O disposto neste Capítulo não exclui a com-
traseira; petência municipal ou estadual de aplicar as exigências pre-
VI – cintos de segurança em número igual à lotação; vistas em seus regulamentos para as atividades de moto-
VII – outros requisitos e equipamentos obrigatórios es- -frete no âmbito de suas circunscrições. (Incluído pela Lei
tabelecidos pelo CONTRAN. nº 12.009, de 2009)

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CAPÍTULO XIV Cabe fazermos algumas ponderações com relação a cada
Da Habilitação categoria de habilitação, nos seguintes termos:
I – Categoria A: aplica-se a todos os veículos automotores
Art. 140. A habilitação para conduzir veículo automotor e e elétricos, de duas ou três rodas, com ou sem carro la-
elétrico será apurada por meio de exames que deverão ser re- teral (side car). Não se aplica, portanto, aos quadriciclos,
alizados junto ao órgão ou entidade executivos do Estado ou em função da quantidade de rodas.
do Distrito Federal, do domicílio ou residência do candidato, II – Categoria B: por se referir ao PBT, não superior a três
ou na sede estadual ou distrital do próprio órgão, devendo mil e quinhentos quilogramas, e à lotação, não excedente
o condutor preencher os seguintes requisitos: a oito lugares, o condutor habilitado nessa categoria está
I – ser penalmente imputável; limitado à condução de veículos de pequeno porte, das
II – saber ler e escrever; camionetas e de quase todas as caminhonetes com ca-
III – possuir Carteira de Identidade ou equivalente. bine dupla, cujo PBT não exceda ao peso acima referido.
Parágrafo único. As informações do candidato à habili- Não obstante, há diversas caminhonetes no mercado que
tação serão cadastradas no RENACH. possuem PBT superior a 3.500 Kg, exigindo-se, portanto,
Art.  141. O processo de habilitação, as normas relati- para a condução desses veículos, a categoria C.
vas à aprendizagem para conduzir veículos automotores e Da mesma forma, deve-se observar a capacidade de lo-
elétricos e à autorização para conduzir ciclomotores serão tação do veículo, que é a carga útil máxima, incluindo
regulamentados pelo CONTRAN. o condutor e os passageiros que o veículo transporta.
§ 1º A autorização para conduzir veículos de propulsão Na categoria B, admite-se, portanto, o transporte de até
humana e de tração animal ficará a cargo dos Municípios. nove pessoas, incluindo o condutor. Ultrapassado esse
§ 2º (Vetado). limite, exige-se a habilitação de categoria D e E, como
Art.  142. O reconhecimento de habilitação obtida em veremos a seguir.
outro país está subordinado às condições estabelecidas em III – Categoria C: é exigida para os condutores de ca-
convenções e acordos internacionais e às normas do CON- minhões e caminhonetes de grande porte, destinados
TRAN. ao transporte de carga, cujo peso bruto total exceda a
Art. 143. Os candidatos poderão habilitar-se nas catego- 3.500 Kg. Poderá tracionar reboque, desde que o PBT do
rias de A a E, obedecida a seguinte gradação: mesmo não seja superior a 6.000 Kg, pois, ultrapassado
esse limite, exigir-se-á a categoria E.
I – Categoria A – condutor de veículo motorizado de duas
O § 1° do presente artigo impõe alguns requisitos para o
ou três rodas, com ou sem carro lateral;
condutor alterar a categoria de sua habilitação, exigindo,
II – Categoria B – condutor de veículo motorizado, não
para categoria C, estar habilitado no mínimo há um ano
abrangido pela categoria A, cujo peso bruto total não exceda
na categoria B e não ter cometido nenhuma infração
a três mil e quinhentos quilogramas e cuja lotação não exceda
grave ou gravíssima, ou ser reincidente em infrações mé-
a oito lugares, excluído o do motorista;
dias, durante os últimos doze meses. Ressaltamos que o
III – Categoria C – condutor de veículo motorizado utili- período de permissão para dirigir é válido para atender
zado em transporte de carga, cujo peso bruto total exceda ao prazo de carência para alteração de categoria.
a três mil e quinhentos quilogramas; IV – Categoria D: destina-se aos condutores de veículos
IV – Categoria D – condutor de veículo motorizado uti- utilizados no transporte de passageiros, tais como os
lizado no transporte de passageiros, cuja lotação exceda a ônibus, micro-ônibus e as vans, desde que a capacidade
oito lugares, excluído o do motorista; de lotação seja superior a 8 (oito) passageiros, excluído
V – Categoria E – condutor de combinação de veículos em o do motorista, ainda que o veículo esteja vazio.
que a unidade tratora se enquadre nas categorias B, C ou D V – Categoria E: exige-se esta categoria para o condutor
e cuja unidade acoplada, reboque, semirreboque, trailer ou de combinação de veículos automotores e elétricos, em
articulada tenha 6.000 kg (seis mil quilogramas) ou mais de que a unidade tratora se enquadre nas categorias B, C ou
peso bruto total, ou cuja lotação exceda a 8 (oito) lugares. D; cuja unidade acoplada, reboque, semirreboque, arti-
(Redação dada pela Lei nº 12.452, de 2011) culada, ou ainda com mais de uma unidade tracionada,
§ 1º Para habilitar-se na categoria C, o condutor deverá tenha 6.000 Kg ou mais, de peso bruto total, enquadrados
estar habilitado no mínimo há um ano na categoria B e não na categoria trailer.
ter cometido nenhuma infração grave ou gravíssima, ou ser O § 3° do artigo em comento determina que, indepen-
reincidente em infrações médias, durante os últimos doze dentemente da capacidade de tração ou do peso bruto
meses. total, o condutor da combinação de veículos com mais
§ 2o São os condutores da categoria B autorizados a con- de uma unidade tracionada deverá possuir habilitação
duzir veículo automotor da espécie motor-casa, definida nos na categoria E.
termos do Anexo I deste Código, cujo peso não exceda a Geralmente, ao iniciar os estudos do CTB, surge uma
6.000 kg (seis mil quilogramas), ou cuja lotação não exceda dúvida: existe prevalência de categorias, isto é, quem
Legislação Relativa à DPRF

a 8 (oito) lugares, excluído o do motorista. (Incluído pela Lei é habilitado na categoria D pode dirigir veículo da cate-
nº 12.452, de 2011) goria C ou B?
§ 3º Aplica-se o disposto no inciso V ao condutor da com- Resumindo, quem é habilitado na categoria E poderá diri-
binação de veículos com mais de uma unidade tracionada, gir veículo das categorias B, C e D e assim sucessivamente.
independentemente da capacidade de tração ou do peso Porém atenção, pois só poderão conduzir veículo de duas
bruto total. (Renumerado pela Lei nº 12.452, de 2011) ou três rodas os habilitados na categoria A.
Os condutores que dirigirem veículos que exigem outra
Comentários: categoria que não seja a sua está infringindo o disposto
O leitor deve ficar atento ao veículo indicado em cada no art. 162, III, do CTB, que dispõe:
categoria, pois, é muito comum as bancas examinadoras
tentarem confundir o candidato trocando os tipos de Art. 162. Dirigir veículo:

veículos. [...]

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
III – com Carteira Nacional de Habilitação ou Permis- § 3o O exame previsto no § 2o incluirá avaliação psicoló-
são para Dirigir de categoria diferente da do veículo gica preliminar e complementar sempre que a ele se subme-
que esteja conduzindo:
 ter o condutor que exerce atividade remunerada ao veículo,
Infração – gravíssima; incluindo-se esta avaliação para os demais candidatos apenas
Penalidade – multa (três vezes) e apreensão do ve- no exame referente à primeira habilitação. (Redação dada
ículo; pela Lei nº 10.350, de 2001)
Medida administrativa – recolhimento do documento § 4º Quando houver indícios de deficiência física, men-
de habilitação. tal, ou de progressividade de doença que possa diminuir a
capacidade para conduzir o veículo, o prazo previsto no § 2º
Art. 144. O trator de roda, o trator de esteira, o trator poderá ser diminuído por proposta do perito examinador.
misto ou o equipamento automotor destinado à movimen- (Incluído pela Lei nº 9.602, de 1998)
tação de cargas ou execução de trabalho agrícola, de ter- § 5o O condutor que exerce atividade remunerada ao veí-
raplenagem, de construção ou de pavimentação só podem culo terá essa informação incluída na sua Carteira Nacional de
ser conduzidos na via pública por condutor habilitado nas Habilitação, conforme especificações do Conselho Nacional
categorias C, D ou E. de Trânsito – Contran. (Incluído pela Lei nº 10.350, de 2001)
Parágrafo único. O trator de roda e os equipamentos au- Art. 147-A. Ao candidato com deficiência auditiva é as-
tomotores destinados a executar trabalhos agrícolas poderão segurada acessibilidade de comunicação, mediante empre-
ser conduzidos em via pública também por condutor habilita- go de tecnologias assistivas ou de ajudas técnicas em todas
do na categoria B. (Redação dada pela Lei nº 13.097, de 2015) as etapas do processo de habilitação. (Incluído pela Lei nº
Art. 145. Para habilitar-se nas categorias D e E ou para 13.146, de 2015)
conduzir veículo de transporte coletivo de passageiros, de § 1o O material didático audiovisual utilizado em aulas
escolares, de emergência ou de produto perigoso, o candi- teóricas dos cursos que precedem os exames previstos no
dato deverá preencher os seguintes requisitos: art. 147 desta Lei deve ser acessível, por meio de subtitula-
I – ser maior de vinte e um anos; ção com legenda oculta associada à tradução simultânea em
II – estar habilitado: Libras. (Incluído pela Lei nº 13.146, de 2015)
a) no mínimo há dois anos na categoria B, ou no mínimo § 2o É assegurado também ao candidato com deficiência
auditiva requerer, no ato de sua inscrição, os serviços de in-
há um ano na categoria C, quando pretender habilitar-se na
térprete da Libras, para acompanhamento em aulas práticas
categoria D; e
e teóricas. (Incluído pela Lei nº 13.146, de 2015)
b) no mínimo há um ano na categoria C, quando preten-
Art. 148. Os exames de habilitação, exceto os de dire-
der habilitar-se na categoria E;
ção veicular, poderão ser aplicados por entidades públicas
III – não ter cometido nenhuma infração grave ou gra-
ou privadas credenciadas pelo órgão executivo de trânsito
víssima ou ser reincidente em infrações médias durante os dos Estados e do Distrito Federal, de acordo com as normas
últimos doze meses; estabelecidas pelo CONTRAN.
IV – ser aprovado em curso especializado e em curso de § 1º A formação de condutores deverá incluir, obrigato-
treinamento de prática veicular em situação de risco, nos riamente, curso de direção defensiva e de conceitos básicos
termos da normatização do CONTRAN. de proteção ao meio ambiente relacionados com o trânsito.
Parágrafo único. A participação em curso especializado § 2º Ao candidato aprovado será conferida Permissão
previsto no inciso IV independe da observância do disposto para Dirigir, com validade de um ano.
no inciso III. (Incluído pela Lei nº 12.619, de 2012) § 3º A Carteira Nacional de Habilitação será conferida
§ 2o (Vetado). (Incluído pela Lei nº 13.154, de 2015) ao condutor no término de um ano, desde que o mesmo
Art. 145-A. Além do disposto no art. 145, para conduzir não tenha cometido nenhuma infração de natureza grave ou
ambulâncias, o candidato deverá comprovar treinamento gravíssima ou seja reincidente em infração média.
especializado e reciclagem em cursos específicos a cada 5 § 4º A não obtenção da Carteira Nacional de Habilitação,
(cinco) anos, nos termos da normatização do Contran. (In- tendo em vista a incapacidade de atendimento do disposto
cluído pela Lei nº 12.998, de 2014) no parágrafo anterior, obriga o candidato a reiniciar todo o
Art. 146. Para conduzir veículos de outra categoria o con- processo de habilitação.
dutor deverá realizar exames complementares exigidos para § 5º O Conselho Nacional de Trânsito – CONTRAN po-
habilitação na categoria pretendida. derá dispensar os tripulantes de aeronaves que apresenta-
Art. 147. O candidato à habilitação deverá submeter-se rem o cartão de saúde expedido pelas Forças Armadas ou
a exames realizados pelo órgão executivo de trânsito, na pelo Departamento de Aeronáutica Civil, respectivamente,
seguinte ordem: da prestação do exame de aptidão física e mental. (Incluído
I – de aptidão física e mental; pela Lei nº 9.602, de 1998)
II – (Vetado) Art. 148-A. Os condutores das categorias C, D e E deve-
III – escrito, sobre legislação de trânsito; rão submeter-se a exames toxicológicos para a habilitação
Legislação Relativa à DPRF

IV – de noções de primeiros socorros, conforme regula- e renovação da Carteira Nacional de Habilitação. (Incluído
mentação do CONTRAN; pela Lei nº 13.103, de 2015)
V – de direção veicular, realizado na via pública, em veí- § 1o O exame de que trata este artigo buscará aferir o
culo da categoria para a qual estiver habilitando-se. consumo de substâncias psicoativas que, comprovadamente,
§ 1º Os resultados dos exames e a identificação dos res- comprometam a capacidade de direção e deverá ter janela
pectivos examinadores serão registrados no RENACH. (Re- de detecção mínima de 90 (noventa) dias, nos termos das
numerado do parágrafo único, pela Lei nº 9.602, de 1998) normas do Contran. (Incluído pela Lei nº 13.103, de 2015)
§ 2º O exame de aptidão física e mental será preliminar § 2o Os condutores das categorias C, D e E com Carteira
e renovável a cada cinco anos, ou a cada três anos para con- Nacional de Habilitação com validade de 5 (cinco) anos deve-
dutores com mais de sessenta e cinco anos de idade, no local rão fazer o exame previsto no § 1o no prazo de 2 (dois) anos
de residência ou domicílio do examinado. (Incluído pela Lei e 6 (seis) meses a contar da realização do disposto nocaput.
nº 9.602, de 1998) (Incluído pela Lei nº 13.103, de 2015)

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
§ 3o Os condutores das categorias C, D e E com Carteira Art. 153. O candidato habilitado terá em seu prontuá-
Nacional de Habilitação com validade de 3 (três) anos deve- rio a identificação de seus instrutores e examinadores, que
rão fazer o exame previsto no § 1o no prazo de 1 (um) ano e serão passíveis de punição conforme regulamentação a ser
6 (seis) meses a contar da realização do disposto nocaput. estabelecida pelo CONTRAN.
(Incluído pela Lei nº 13.103, de 2015) Parágrafo único. As penalidades aplicadas aos instrutores
§ 4o É garantido o direito de contraprova e de recurso e examinadores serão de advertência, suspensão e cancela-
administrativo no caso de resultado positivo para o exame mento da autorização para o exercício da atividade, conforme
de que trata o caput, nos termos das normas do Contran. a falta cometida.
(Incluído pela Lei nº 13.103, de 2015) Art. 154. Os veículos destinados à formação de condu-
§ 5o A reprovação no exame previsto neste artigo terá tores serão identificados por uma faixa amarela, de vinte
como consequência a suspensão do direito de dirigir pelo centímetros de largura, pintada ao longo da carroçaria, à
período de 3 (três) meses, condicionado o levantamento da meia altura, com a inscrição AUTO-ESCOLA na cor preta.
suspensão ao resultado negativo em novo exame, e veda- Parágrafo único. No veículo eventualmente utilizado para
da a aplicação de outras penalidades, ainda que acessórias. aprendizagem, quando autorizado para servir a esse fim,
(Incluído pela Lei nº 13.103, de 2015) deverá ser afixada ao longo de sua carroçaria, à meia altura,
§ 6o O resultado do exame somente será divulgado para faixa branca removível, de vinte centímetros de largura, com
o interessado e não poderá ser utilizado para fins estranhos a inscrição AUTO-ESCOLA na cor preta.
ao disposto neste artigo ou no § 6o do art. 168 da Consolida-
ção das Leis do Trabalho – CLT, aprovada pelo Decreto-Lei no Comentário:
5.452, de 1o de maio de 1943. (Incluído pela Lei nº 13.103, Trata o presente artigo das exigências para os veículos
de 2015) destinados à formação de condutores. O leitor deve fi-
§ 7o O exame será realizado, em regime de livre concor- car atento às exigências aqui descritas por serem muito
rência, pelos laboratórios credenciados pelo Departamento parecidas com as exigências para veículos utilizados na
Nacional de Trânsito – DENATRAN, nos termos das normas condução coletiva de escolares.
do Contran, vedado aos entes públicos: (Incluído pela Lei nº A saber, o art. 136, inciso III, do CTB determina que os
13.103, de 2015) veículos destinados à condução coletiva de escolares
I – fixar preços para os exames; (Incluído pela Lei nº
deverão ter pintura de faixa horizontal na cor amarela,
13.103, de 2015)
com 40 centímetros de largura, à meia altura, em toda
II – limitar o número de empresas ou o número de locais
a extensão das partes laterais e traseira da carroçaria,
em que a atividade pode ser exercida; e (Incluído pela Lei nº
com o dístico ESCOLAR, em preto, sendo que, em caso
13.103, de 2015)
de veículo de carroçaria pintada na cor amarela, as cores
III – estabelecer regras de exclusividade territorial. (In-
cluído pela Lei nº 13.103, de 2015) aqui indicadas devem ser invertidas.
Art. 149. (Vetado). Por sua vez, os veículos destinados à formação de con-
Art. 150. Ao renovar os exames previstos no artigo an- dutores serão identificados por uma faixa amarela, de 20
terior, o condutor que não tenha curso de direção defensiva centímetros de largura, pintada ao longo da carroçaria, à
e primeiros socorros deverá a eles ser submetido, conforme meia altura, com a inscrição AUTOESCOLA na cor preta.
normatização do CONTRAN. Percebe-se, assim, que os veículos possuem as seguintes
Parágrafo único. A empresa que utiliza condutores con- diferenças:
tratados para operar a sua frota de veículos é obrigada a a) a largura da faixa horizontal: escolar (40 centímetros);
fornecer curso de direção defensiva, primeiros socorros e autoescola (20 centímetros);
outros conforme normatização do CONTRAN. b) dístico: ESCOLAR; AUTOESCOLA.
Art. 151. No caso de reprovação no exame escrito sobre
legislação de trânsito ou de direção veicular, o candidato só Art. 155. A formação de condutor de veículo automotor
poderá repetir o exame depois de decorridos quinze dias da e elétrico será realizada por instrutor autorizado pelo órgão
divulgação do resultado. executivo de trânsito dos Estados ou do Distrito Federal,
Art. 152. O exame de direção veicular será realizado pe- pertencente ou não à entidade credenciada.
rante uma comissão integrada por três membros designados Parágrafo único. Ao aprendiz será expedida autorização
pelo dirigente do órgão executivo local de trânsito, para o para aprendizagem, de acordo com a regulamentação do
período de um ano, permitida a recondução por mais um CONTRAN, após aprovação nos exames de aptidão física,
período de igual duração. mental, de primeiros socorros e sobre legislação de trânsito.
§ 1º Na comissão de exame de direção veicular, pelo (Incluído pela Lei nº 9.602, de 1998)
menos um membro deverá ser habilitado na categoria igual Art. 156. O CONTRAN regulamentará o credenciamento
ou superior à pretendida pelo candidato. para prestação de serviço pelas auto-escolas e outras enti-
§ 2º Os militares das Forças Armadas e Auxiliares que pos- dades destinadas à formação de condutores e às exigências
Legislação Relativa à DPRF

suírem curso de formação de condutor, ministrado em suas necessárias para o exercício das atividades de instrutor e
corporações, serão dispensados, para a concessão da Cartei- examinador.
ra Nacional de Habilitação, dos exames a que se houverem Art. 157. (Vetado)
submetido com aprovação naquele curso, desde que neles Art. 158. A aprendizagem só poderá realizar-se: (Vide Lei
sejam observadas as normas estabelecidas pelo CONTRAN. nº 12.217, de 2010)
§ 3º O militar interessado instruirá seu requerimento I – nos termos, horários e locais estabelecidos pelo órgão
com ofício do Comandante, Chefe ou Diretor da organiza- executivo de trânsito;
ção militar em que servir, do qual constarão: o número do II – acompanhado o aprendiz por instrutor autorizado.
registro de identificação, naturalidade, nome, filiação, idade § 1º Além do aprendiz e do instrutor, o veículo utilizado
e categoria em que se habilitou a conduzir, acompanhado na aprendizagem poderá conduzir apenas mais um acompa-
de cópias das atas dos exames prestados. nhante. (Renumerado do parágrafo único pela Lei nº 12.217,
§ 4º (Vetado). de 2010)

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§ 2o Parte da aprendizagem será obrigatoriamente re- que as infrações cometidas em relação às Resoluções do
alizada durante a noite, cabendo ao CONTRAN fixar-lhe a Contran terão suas penalidades e medidas administrati-
carga horária mínima correspondente. (Incluído pela Lei nº vas definidas nas próprias Resoluções.
12.217, de 2010)
Art. 159. A Carteira Nacional de Habilitação, expedida Art. 162. Dirigir veículo:
em modelo único e de acordo com as especificações do I – sem possuir Carteira Nacional de Habilitação ou Per-
CONTRAN, atendidos os pré-requisitos estabelecidos neste missão para Dirigir:
Código, conterá fotografia, identificação e CPF do condutor, Infração – gravíssima;
terá fé pública e equivalerá a documento de identidade em Penalidade – multa (três vezes) e apreensão do veículo;
todo o território nacional. II – com Carteira Nacional de Habilitação ou Permissão
§ 1º É obrigatório o porte da Permissão para Dirigir ou da para Dirigir cassada ou com suspensão do direito de dirigir:
Carteira Nacional de Habilitação quando o condutor estiver Infração – gravíssima;
à direção do veículo. Penalidade – multa (cinco vezes) e apreensão do veículo;
§ 2º (Vetado). III – com Carteira Nacional de Habilitação ou Permissão
§ 3º A emissão de nova via da Carteira Nacional de Ha- para Dirigir de categoria diferente da do veículo que esteja
bilitação será regulamentada pelo CONTRAN. conduzindo:
§ 4º (Vetado). Infração – gravíssima;
§ 5º A Carteira Nacional de Habilitação e a Permissão para Penalidade – multa (três vezes) e apreensão do veículo;
Dirigir somente terão validade para a condução de veículo Medida administrativa – recolhimento do documento
quando apresentada em original. de habilitação;
§ 6º A identificação da Carteira Nacional de Habilitação IV – (Vetado);
expedida e a da autoridade expedidora serão registradas V – com validade da Carteira Nacional de Habilitação
no RENACH. vencida há mais de trinta dias:
§ 7º A cada condutor corresponderá um único registro no Infração – gravíssima;
RENACH, agregando-se neste todas as informações. Penalidade – multa;
§ 8º A renovação da validade da Carteira Nacional de Medida administrativa – recolhimento da Carteira Nacio-
Habilitação ou a emissão de uma nova via somente será re- nal de Habilitação e retenção do veículo até a apresentação
alizada após quitação de débitos constantes do prontuário de condutor habilitado;
do condutor. VI – sem usar lentes corretoras de visão, aparelho auxiliar
§ 9º (Vetado). de audição, de prótese física ou as adaptações do veículo
§ 10. A validade da Carteira Nacional de Habilitação está impostas por ocasião da concessão ou da renovação da li-
condicionada ao prazo de vigência do exame de aptidão física cença para conduzir:
e mental. (Incluído pela Lei nº 9.602, de 1998) Infração – gravíssima;
§ 11. A Carteira Nacional de Habilitação, expedida na Penalidade – multa;
vigência do Código anterior, será substituída por ocasião do Medida administrativa – retenção do veículo até o sa-
vencimento do prazo para revalidação do exame de aptidão neamento da irregularidade ou apresentação de condutor
física e mental, ressalvados os casos especiais previstos nesta habilitado.
Lei. (Incluído pela Lei nº 9.602, de 1998)
Art. 160. O condutor condenado por delito de trânsito Comentários:
deverá ser submetido a novos exames para que possa voltar Faremos um comentário sobre cada infração descrita no
a dirigir, de acordo com as normas estabelecidas pelo CON- presente artigo:
TRAN, independentemente do reconhecimento da prescri- I – sem possuir Carteira Nacional de Habilitação ou Per-
ção, em face da pena concretizada na sentença. missão para Dirigir: a infração fica caracterizada pela não
§ 1º Em caso de acidente grave, o condutor nele en- existência da habilitação, isto é, o condutor não é habi-
volvido poderá ser submetido aos exames exigidos neste litado. Esta punição é diferente da de quem dirige sem
artigo, a juízo da autoridade executiva estadual de trânsito, portar a CNH, cuja infração esta descrita no art. 232 (“Di-
assegurada ampla defesa ao condutor. rigir veículo sem os documentos de porte obrigatório”).
§ 2º No caso do parágrafo anterior, a autoridade execu- O art. 162 do CTB visa punir o condutor de veículo que
tiva estadual de trânsito poderá apreender o documento dirigir sem possuir Carteira Nacional de Habilitação ou
de habilitação do condutor até a sua aprovação nos exames Permissão para Dirigir. Já o art. 164 do mesmo Diploma
realizados. Legal tem por objetivo punir o proprietário, que tem o
dever de zelar pelo veículo automotor, uma vez que, con-
CAPÍTULO XV forme determina o § 3º do art. 257 do CTB, ao condutor
Das Infrações cabe a responsabilidade pelas infrações decorrentes de
atos praticados na direção do veículo.
Legislação Relativa à DPRF

Art. 161. Constitui infração de trânsito a inobservância de Todavia, o proprietário do veículo que permite uma pes-
qualquer preceito deste Código, da legislação complementar soa não habilitada conduzir seu automóvel não pode ser
ou das resoluções do CONTRAN, sendo o infrator sujeito às punido como se fosse o condutor do mesmo. Dessa for-
penalidades e medidas administrativas indicadas em cada ma, não incidirá a norma do § 7º do art. 257 do CTB, sob
artigo, além das punições previstas no Capítulo XIX. pena de bis in idem, pois a solidariedade exigida nesse
Parágrafo único. As infrações cometidas em relação às último dispositivo somente se manifestará quando o
resoluções do CONTRAN terão suas penalidades e medidas proprietário ou condutor incidam na hipótese descrita
administrativas definidas nas próprias resoluções. na norma, cujo infrator não se possa identificar. Neste
caso, ao proprietário cabe tão somente a infração do
Comentários: art. 164 (nesse sentido: REsp nº 912.985/RS, Rel. Min.
Ressaltamos, ainda, que o rol das infrações não é exaus- Eliana Calmon, Segunda Turma, julgado em 19/8/2008,
tivo, pois o parágrafo único do presente artigo determina DJe 24/9/2008).

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A infração nesse caso é gravíssima (sete pontos), com Comentários:
penalidade de multa triplicada e apreensão do veículo. Entregar é passar a posse a alguém, ou seja, a pessoa
II – com Carteira Nacional de Habilitação ou Permissão que entrega a direção do veículo está acompanhando
para Dirigir cassada ou com suspensão do direito de o condutor que não tem condições para tal. Pode ser o
dirigir: a infração fica caracterizada quando o condutor proprietário do veículo ou qualquer pessoa, pois terão a
tem o seu direito de dirigir cassado ou suspenso e é fla- obrigação social de saber se o condutor a quem entrega
grado dirigindo veículo. Cabe ressaltar que há, também, o veículo preenche as condições do art. 162.
o tipo penal descrito no art. 307 (“violar a suspensão As consequências para quem entrega o veículo são as
ou a proibição de se obter a permissão ou a habilitação mesmas para o infrator do art. 162. Exemplificando: X
para dirigir veículo automotor imposta com fundamento está com a CNH vencida há mais de 30 dias. Não obs-
neste Código”). tante, Y, mesmo ciente do fato, entrega a X a condução
Impõe-se, nesse caso, a infração gravíssima (sete pontos), de veículo automotor, sendo flagrado pela PRF Fabia-
porém a penalidade é superior ao do item anterior, pois na, momentos depois. Nesse caso, X cometeu infração
a multa será multiplicada por cinco vezes e ocorrerá a gravíssima, com penalidade de multa e recolhimento da
apreensão do veículo. CNH, prevista no art. 162, V, do CTB. Por sua vez, Y, que
III – com Carteira Nacional de Habilitação ou Permissão entregou o veículo, cometeu a infração do art. 163 do
para Dirigir de categoria diferente da do veículo que CTB, ou seja, infração gravíssima, com penalidade mul-
esteja conduzindo: caracterizada quando o condutor ta. Todavia, por expressa previsão do art. 163, a medida
é flagrado dirigindo um veículo para o qual não esteja administrativa a ser aplicada a Y será o recolhimento do
devidamente habilitado, isto é, um condutor habilitado documento de habilitação, razão pela qual não poderá
na categoria B é flagrado dirigindo uma moto, cuja habi- sair conduzindo o veículo.
litação exigida é a categoria A. Inicialmente, o condutor
é habilitado nas categorias A ou B e, após atender as Art.  164. Permitir que pessoa nas condições referidas
exigências descritas no art. 145 do CTB, poderá alterar nos incisos do art. 162 tome posse do veículo automotor e
a categoria de sua habilitação, haja vista que para dirigir passe a conduzi-lo na via:
veículos de cargas ou de transporte de passageiros exige- Infração – as mesmas previstas nos incisos do art. 162;
-se do condutor maior perícia. Penalidade – as mesmas previstas no art. 162;
Medida administrativa – a mesma prevista no inciso III
Descumprindo esse preceito, o condutor cometerá infra-
do art. 162.
ção gravíssima (sete pontos), com penalidade de multa
multiplicada por três vezes e apreensão do veículo. Ade-
Comentários:
mais, aplica-se a medida administrativa de recolhimento
Permitir é autorizar, consentir. Nesse caso, a pessoa que
do documento de habilitação.
permite não está acompanhando o condutor que esteja
V – com validade da Carteira Nacional de Habilitação em uma das condições do art. 162. Exemplo comum é do
vencida há mais de 30 dias: a validade da CNH está condi- pai que permite seu filho, nas condições do art. 162, diri-
cionada ao prazo de vigência do exame de aptidão física e gir veículo na via pública sem, no entanto, o acompanhar.
mental. Após este prazo, o condutor terá até 30 dias para Da mesma forma que no artigo anterior, o condutor e o
renovar sua habilitação. Se for flagrado dirigindo, depois proprietário são punidos com as mesmas penalidades,
de decorrido esse prazo, estará caracterizada a infração salvo a medida administrativa, pois, a depender do caso,
gravíssima (sete pontos) descrita neste inciso, como pe- será diferenciada, como visto anteriormente.
nalidade de multa e recolhimento da CNH. Ressalta-se,
neste caso, que o veículo será retido até a apresentação Art. 165. Dirigir sob a influência de álcool ou de qualquer
de um condutor habilitado para conduzi-lo. outra substância psicoativa que determine dependência: (Re-
VI – sem usar lentes corretoras de visão, aparelho au- dação dada pela Lei nº 11.705, de 2008)
xiliar de audição, de prótese física ou as adaptações Infração – gravíssima; (Redação dada pela Lei nº 11.705,
do veículo impostas por ocasião da concessão ou da de 2008)
renovação da licença para conduzir: a condução de ve- Penalidade – multa (dez vezes) e suspensão do direito
ículo automotor ou elétrico exige que o condutor esteja de dirigir por 12 (doze) meses. (Redação dada pela Lei nº
em plenas condições física e mental. Não obstante, caso 12.760, de 2012)
condutor possua alguma limitação (de visão ou locomo- Medida administrativa – recolhimento do documento de
tora, por exemplo), poderá ser concedida (ou renovada) a habilitação e retenção do veículo, observado o disposto no
licença para dirigir, desde que faça uso de próteses, lentes § 4o do art. 270 da Lei no 9.503, de 23 de setembro de 1997
corretoras de visão ou adaptações ao veículo, conforme – do Código de Trânsito Brasileiro. (Redação dada pela Lei
cada caso. nº 12.760, de 2012)
Entretanto, caso o condutor seja flagrado dirigindo sem Parágrafo único. Aplica-se em dobro a multa prevista no
Legislação Relativa à DPRF

utilizar tais adaptações, estará caracterizada a infração caput em caso de reincidência no período de até 12 (doze)
gravíssima (sete pontos) descrita neste inciso, com pe- meses. (Redação dada pela Lei nº 12.760, de 2012)
nalidade de multa e retenção do veículo até o sanea- Art. 166. Confiar ou entregar a direção de veículo a pes-
mento da irregularidade ou apresentação de condutor soa que, mesmo habilitada, por seu estado físico ou psíquico,
habilitado. não estiver em condições de dirigi-lo com segurança:
Infração – gravíssima;
Art. 163. Entregar a direção do veículo a pessoa nas con- Penalidade – multa.
dições previstas no artigo anterior:
Infração – as mesmas previstas no artigo anterior; Comentários:
Penalidade – as mesmas previstas no artigo anterior; A condução de veículo automotor ou elétrico exige que
Medida administrativa – a mesma prevista no inciso III o condutor esteja em plenas condições física e mental,
do artigo anterior. caso alguém entregue ou confie (permita) a direção do

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veículo a uma pessoa que, mesmo habilitada, não esteja Portando o condutor flagrado disputando corrida por es-
em condições de dirigi-lo com segurança, cometerá a pírito de emulação poderá ser punido com multa multipli-
infração aqui descrita. cada por três e suspensão do direito de dirigir, obedecido
Ademais, esta conduta é tipificada como crime pelo CTB, o devido processo administrativo, e apreensão do veículo,
senão vejamos o que determina seu art. 310: além de ter o documento de habilitação recolhido e o
veículo removido.
Art. 310. Permitir, confiar ou entregar a direção de Ademais, os condutores que estiverem participando dos
veículo automotor a pessoa não habilitada, com ha- “pegas” poderão ser punidos pelo crime previsto no art.
bilitação cassada ou com o direito de dirigir suspenso, 308 deste Código, que prevê como crime:
ou, ainda, a quem, por seu estado de saúde, física ou Participar, na direção de veículo automotor, em via pú-
mental, ou por embriaguez, não esteja em condições blica, de corrida, disputa ou competição automobilística
de conduzi-lo com segurança: não autorizada pela autoridade competente, desde que
Penas – detenção, de seis meses a um ano, ou multa. resulte dano potencial à incolumidade pública ou priva-
da:
Penas – detenção, de seis meses a dois anos, multa
Art. 167. Deixar o condutor ou passageiro de usar o cinto e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a
de segurança, conforme previsto no art. 65: habilitação para dirigir veículo automotor.
Infração – grave;
Penalidade – multa; Art. 174. Promover, na via, competição, eventos organi-
Medida administrativa – retenção do veículo até coloca- zados, exibição e demonstração de perícia em manobra de
ção do cinto pelo infrator. veículo, ou deles participar, como condutor, sem permissão
Art. 168. Transportar crianças em veículo automotor sem da autoridade de trânsito com circunscrição sobre a via: (Re-
observância das normas de segurança especiais estabeleci- dação dada pela Lei nº 12.971, de 2014)
das neste Código: Infração – gravíssima;
Infração – gravíssima; Penalidade – multa (dez vezes), suspensão do direito de
Penalidade – multa; dirigir e apreensão do veículo; (Redação dada pela Lei nº
Medida administrativa – retenção do veículo até que a 12.971, de 2014)
irregularidade seja sanada. Medida administrativa – recolhimento do documento de
Art. 169. Dirigir sem atenção ou sem os cuidados indis- habilitação e remoção do veículo.
pensáveis à segurança: § 1o As penalidades são aplicáveis aos promotores e aos
Infração – leve; condutores participantes. (Incluído pela Lei nº 12.971, de
Penalidade – multa. 2014)
Art. 170. Dirigir ameaçando os pedestres que estejam § 2o Aplica-se em dobro a multa prevista no caput em caso
atravessando a via pública, ou os demais veículos: de reincidência no período de 12 (doze) meses da infração
Infração – gravíssima; anterior. Incluído pela Lei nº 12.971, de 2014)
Penalidade – multa e suspensão do direito de dirigir;
Comentários:
Medida administrativa – retenção do veículo e recolhi-
De acordo com o art. 67 do CTB, as provas ou compe-
mento do documento de habilitação.
tições esportivas, inclusive seus ensaios, em via aberta
Art. 171. Usar o veículo para arremessar, sobre os pe-
à circulação, só poderão ser realizadas mediante prévia
destres ou veículos, água ou detritos:
permissão da autoridade de trânsito com circunscrição
Infração – média;
sobre a via e dependerão de:
Penalidade – multa.
I – autorização expressa da respectiva confederação des-
Art. 172. Atirar do veículo ou abandonar na via objetos
portiva ou de entidades estaduais a ela filiadas;
ou substâncias: II – caução ou fiança para cobrir possíveis danos mate-
Infração – média; riais à via;
Penalidade – multa. III – contrato de seguro contra riscos e acidentes em favor
Art.  173. Disputar corrida: (Redação dada pela Lei nº de terceiros;
12.971, de 2014) IV – prévio recolhimento do valor correspondente aos
Infração – gravíssima; custos operacionais em que o órgão ou entidade per-
Penalidade – multa (dez vezes), suspensão do direito de missionária incorrerá.
dirigir e apreensão do veículo; (Redação dada pela Lei nº Logo, para que tais eventos ocorram em via aberta à
12.971, de 2014) circulação, deverão possuir prévia permissão da autori-
Medida administrativa – recolhimento do documento de dade de trânsito com circunscrição sobre a via. Também
habilitação e remoção do veículo. poderão ser punidos os promotores, organizadores e os
Parágrafo único. Aplica-se em dobro a multa prevista no condutores envolvidos em tais eventos.
caput em caso de reincidência no período de 12 (doze) meses
Legislação Relativa à DPRF

Ademais, configura crime de trânsito, previsto no art.


da infração anterior. (Incluído pela Lei nº 12.971, de 2014) 308 do CTB, participar, na direção de veículo automotor,
em via pública, de corrida, disputa ou competição auto-
Comentários: mobilística não autorizada pela autoridade competente,
Entre os fatores que contribuem para ocorrências de desde que resulte dano potencial à incolumidade pública
acidentes de trânsito, temos o excesso de velocidade. ou privada.
Logo, ao disputar uma corrida, os condutores dos veí-
culos envolvidos estarão dirigindo acima da velocidade Art. 175. Utilizar-se de veículo para demonstrar ou exibir
permitida para a via em uso, pondo em risco a segurança manobra perigosa, mediante arrancada brusca, derrapagem
dos demais veículos e pedestres. Trata-se dos conhecidos ou frenagem com deslizamento ou arrastamento de pneus:
“pe gas” ou “rachas”, nos quais os condutores disputam (Redação dada pela Lei nº 12.971, de 2014)
corrida para demonstrar quem é melhor ao volante. Infração – gravíssima;

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
Penalidade – multa (dez vezes), suspensão do direito de O CTB pune o condutor envolvido em acidente de trânsito
dirigir e apreensão do veículo; (Redação dada pela Lei nº que, tendo condições, não presta ou não providencia
12.971, de 2014) socorro à vítima, tal como chamar o Corpo de Bombei-
Medida administrativa – recolhimento do documento de ros, a Polícia, a ambulância etc. Se o condutor não puder
habilitação e remoção do veículo. realizar as condutas ora descritas, devido ao estado de
Parágrafo único. Aplica-se em dobro a multa prevista no saúde, por exemplo, não será punido.
caput em caso de reincidência no período de 12 (doze) meses Ressalta-se, oportunamente, que a omissão de socorro
da infração anterior. (Incluído pela Lei nº 12.971, de 2014) do condutor envolvido em acidente de trânsito, ou quan-
do este altera o local do acidente no qual houve vítima,
Comentários: configura crime previsto nos arts. 304 e 312 do CTB:
Temos no Capítulo III do CTB as Normas Gerais de Circu-
lação e Conduta, que deverão ser seguidas por condu- Art. 304. Deixar o condutor do veículo, na ocasião do
tores e pedestres quando circularem por vias públicas. acidente, de prestar imediato socorro à vítima, ou,
Contudo, alguns condutores ainda insistem em utilizar não podendo fazê-lo diretamente, por justa causa,
o veículo para demonstrar ou exibir manobras perigo- deixar de solicitar auxílio da autoridade pública:
sas, arrancadas bruscas, derrapagem ou frenagem com Penas – detenção, de seis meses a um ano, ou multa,
deslizamento ou arrastamento de pneus. Tais condutas, se o fato não constituir elemento de crime mais grave.
quando realizadas por pessoas sem o devido preparo, Parágrafo único. Incide nas penas previstas neste ar-
podem resultar em acidentes. tigo o condutor do veículo, ainda que a sua omissão
Trata-se dos famosos “cavalos de pau”, “zerinhos”, “to- seja suprida por terceiros ou que se trate de vítima
tós”, “cantar pneus”, “drifts” etc. O condutor flagrado com morte instantânea ou com ferimentos leves.
praticando tais manobras poderá ser punido com multa,
suspensão do direito de dirigir e apreensão do veículo, Art. 312. Inovar artificiosamente, em caso de aciden-
além de ter o documento de habilitação recolhido e o te automobilístico com vítima, na pendência do res-
veículo removido. pectivo procedimento policial preparatório, inquérito
Lembre-se de que quando essas manobras são realiza- policial ou processo penal, o estado de lugar, de coisa
das por pilotos profissionais, em locais especialmente ou de pessoa, a fim de induzir a erro o agente policial,
preparados e autorizados pela autoridade competente, o perito, ou juiz:
não se caracterizará infração. Penas – detenção, de seis meses a um ano, ou multa.
Ressalta-se, por oportuno, o tipo penal previsto no art. Parágrafo único. Aplica-se o disposto neste artigo,
308 do CTB: ainda que não iniciados, quando da inovação, o pro-
Participar, na direção de veículo automotor, em via pú- cedimento preparatório, o inquérito ou o processo
blica, de corrida, disputa ou competição automobilística aos quais se refere.
não autorizada pela autoridade competente, desde que
resulte dano potencial à incolumidade pública ou priva- Não há, aqui, que se falar em bis in idem na aplicação
da:
Penas – detenção, de seis meses a dois anos, multa cumulativa de sanções administrativa e penal, sendo o
e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a
condutor infrator punido em ambas as esferas.
habilitação para dirigir veículo automotor.
Não há, aqui, que se falar em bis in idem na aplicação
Art. 177. Deixar o condutor de prestar socorro à vítima
cumulativa de sanções administrativa e penal, pois o con-
de acidente de trânsito quando solicitado pela autoridade
dutor infrator é punido em ambas as esferas.
e seus agentes:
Infração – grave;
Art. 176. Deixar o condutor envolvido em acidente com
Penalidade – multa.
vítima:
I – de prestar ou providenciar socorro à vítima, podendo
fazê-lo; Comentários:
II – de adotar providências, podendo fazê-lo, no sentido Neste caso, o condutor não está envolvido no acidente,
de evitar perigo para o trânsito no local; mas está passando pelo local e a autoridade ou seus
III – de preservar o local, de forma a facilitar os trabalhos agentes solicitam prestação de socorro à vítima. Ocor-
da polícia e da perícia; rendo a negativa do condutor, este poderá ser punido
IV – de adotar providências para remover o veículo do com infração grave (cinco pontos) e penalidade de multa.
local, quando determinadas por policial ou agente da auto-
ridade de trânsito; Atenção: o examinador poderá confundir o candidato em
V – de identificar-se ao policial e de lhe prestar infor- relação à aplicação das penalidades, porque o condutor
mações necessárias à confecção do boletim de ocorrência: envolvido em acidente que deixar de prestar socorro ou
Infração – gravíssima; providenciá-lo á vítima responderá pela infração gravís-
Legislação Relativa à DPRF

Penalidade – multa (cinco vezes) e suspensão do direito sima do art. 176, com penalidade de multa multiplicada
de dirigir; por cinco e suspensão do direito de dirigir, bem como
Medida administrativa – recolhimento do documento será aplicada a medida administrativa de recolhimento
de habilitação. do documento de habilitação do condutor.
De outra parte, se o condutor não estiver envolvido em
Comentários: acidente e deixar de prestar socorro à vítima, mesmo
Caso os condutores envolvidos em acidente de trânsito quando solicitado pela autoridade ou seus agentes, in-
não cumpram as medidas descritas acima, cometerão correrá na infração grave do art. 177, com penalidade
infração gravíssima (sete pontos), cuja penalidade será de multa.
multa multiplicada por cinco e suspensão do direito de
dirigir. Ademais, será aplicada a medida administrativa Art. 178. Deixar o condutor, envolvido em acidente sem
de recolhimento do documento de habilitação. 
 vítima, de adotar providências para remover o veículo do

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local, quando necessária tal medida para assegurar a segu- Penalidade – multa;
rança e a fluidez do trânsito: Medida administrativa – remoção do veículo;
Infração – média; X – impedindo a movimentação de outro veículo:
Penalidade – multa. Infração – média;
Art. 179. Fazer ou deixar que se faça reparo em veículo na Penalidade – multa;
via pública, salvo nos casos de impedimento absoluto de sua Medida administrativa – remoção do veículo;
remoção e em que o veículo esteja devidamente sinalizado: XI – ao lado de outro veículo em fila dupla:
I – em pista de rolamento de rodovias e vias de trânsito Infração – grave;
rápido: Penalidade – multa;
Infração – grave; Medida administrativa – remoção do veículo;
Penalidade – multa; XII – na área de cruzamento de vias, prejudicando a cir-
Medida administrativa – remoção do veículo; culação de veículos e pedestres:
II – nas demais vias: Infração – grave;
Infração – leve; Penalidade – multa;
Penalidade – multa. Medida administrativa – remoção do veículo;
Art. 180. Ter seu veículo imobilizado na via por falta de XIII – onde houver sinalização horizontal delimitadora
combustível: de ponto de embarque ou desembarque de passageiros de
Infração – média; transporte coletivo ou, na inexistência desta sinalização, no
Penalidade – multa; intervalo compreendido entre dez metros antes e depois do
Medida administrativa – remoção do veículo. marco do ponto:
Art. 181. Estacionar o veículo: Infração – média;
I – nas esquinas e a menos de cinco metros do bordo do Penalidade – multa;
alinhamento da via transversal: Medida administrativa – remoção do veículo;
Infração – média; XIV – nos viadutos, pontes e túneis:
Penalidade – multa; Infração – grave;
Medida administrativa – remoção do veículo; Penalidade – multa;
II – afastado da guia da calçada (meio-fio) de cinqüenta Medida administrativa – remoção do veículo;
centímetros a um metro: XV – na contramão de direção:
Infração – leve; Infração – média;
Penalidade – multa; Penalidade – multa;
Medida administrativa – remoção do veículo; XVI – em aclive ou declive, não estando devidamente
III – afastado da guia da calçada (meio-fio) a mais de freado e sem calço de segurança, quando se tratar de veí-
um metro: culo com peso bruto total superior a três mil e quinhentos
Infração – grave; quilogramas:
Penalidade – multa; Infração – grave;
Medida administrativa – remoção do veículo; Penalidade – multa;
IV – em desacordo com as posições estabelecidas neste Medida administrativa – remoção do veículo;
Código: XVII – em desacordo com as condições regulamentadas
Infração – média; especificamente pela sinalização (placa – Estacionamento
Penalidade – multa; Regulamentado):
Medida administrativa – remoção do veículo; Infração – grave; (Redação dada pela Lei nº 13.146, de
V – na pista de rolamento das estradas, das rodovias, das 2015)
vias de trânsito rápido e das vias dotadas de acostamento: Penalidade – multa;
Infração – gravíssima; Medida administrativa – remoção do veículo;
Penalidade – multa; XVIII – em locais e horários proibidos especificamente
Medida administrativa – remoção do veículo; pela sinalização (placa – Proibido Estacionar):
VI – junto ou sobre hidrantes de incêndio, registro de Infração – média;
água ou tampas de poços de visita de galerias subterrâneas, Penalidade – multa;
desde que devidamente identificados, conforme especifica- Medida administrativa – remoção do veículo;
ção do CONTRAN: XIX – em locais e horários de estacionamento e parada
Infração – média; proibidos pela sinalização (placa – Proibido Parar e Estacio-
Penalidade – multa; nar):
Medida administrativa – remoção do veículo; Infração – grave;
VII – nos acostamentos, salvo motivo de força maior: Penalidade – multa;
Infração – leve; Medida administrativa – remoção do veículo.
Legislação Relativa à DPRF

Penalidade – multa; § 1º Nos casos previstos neste artigo, a autoridade de


Medida administrativa – remoção do veículo; trânsito aplicará a penalidade preferencialmente após a re-
VIII – no passeio ou sobre faixa destinada a pedestre, moção do veículo.
sobre ciclovia ou ciclofaixa, bem como nas ilhas, refúgios, ao § 2º No caso previsto no inciso XVI é proibido abandonar
lado ou sobre canteiros centrais, divisores de pista de rola- o calço de segurança na via.
mento, marcas de canalização, gramados ou jardim público: Art. 182. Parar o veículo:
Infração – grave; I – nas esquinas e a menos de cinco metros do bordo do
Penalidade – multa; alinhamento da via transversal:
Medida administrativa – remoção do veículo; Infração – média;
IX – onde houver guia de calçada (meio-fio) rebaixada Penalidade – multa;
destinada à entrada ou saída de veículos: II – afastado da guia da calçada (meio-fio) de cinqüenta
Infração – média; centímetros a um metro:

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Infração – leve; Art. 186. Transitar pela contramão de direção em:
Penalidade – multa; I – vias com duplo sentido de circulação, exceto para
III – afastado da guia da calçada (meio-fio) a mais de ultrapassar outro veículo e apenas pelo tempo necessário,
um metro: respeitada a preferência do veículo que transitar em sentido
Infração – média; contrário:
Penalidade – multa; Infração – grave;
IV – em desacordo com as posições estabelecidas neste Penalidade – multa;
Código: II – vias com sinalização de regulamentação de sentido
Infração – leve; único de circulação:
Penalidade – multa; Infração – gravíssima;
V – na pista de rolamento das estradas, das rodovias, Penalidade – multa.
das vias de trânsito rápido e das demais vias dotadas de Art. 187. Transitar em locais e horários não permitidos
acostamento: pela regulamentação estabelecida pela autoridade compe-
Infração – grave; tente:
Penalidade – multa; I – para todos os tipos de veículos:
VI – no passeio ou sobre faixa destinada a pedestres, Infração – média;
nas ilhas, refúgios, canteiros centrais e divisores de pista de Penalidade – multa;
rolamento e marcas de canalização: II – (Revogado pela Lei nº 9.602, de 1998)
Infração – leve; Art. 188. Transitar ao lado de outro veículo, interrom-
Penalidade – multa; pendo ou perturbando o trânsito:
VII – na área de cruzamento de vias, prejudicando a cir- Infração – média;
culação de veículos e pedestres: Penalidade – multa.
Infração – média; Art. 189. Deixar de dar passagem aos veículos precedidos
Penalidade – multa; de batedores, de socorro de incêndio e salvamento, de polí-
VIII – nos viadutos, pontes e túneis: cia, de operação e fiscalização de trânsito e às ambulâncias,
Infração – média; quando em serviço de urgência e devidamente identificados
Penalidade – multa; por dispositivos regulamentados de alarme sonoro e ilumi-
IX – na contramão de direção: nação vermelha intermitentes:
Infração – média; Infração – gravíssima;
Penalidade – multa; Penalidade – multa.
X – em local e horário proibidos especificamente pela Art. 190. Seguir veículo em serviço de urgência, estando
sinalização (placa – Proibido Parar): este com prioridade de passagem devidamente identificada
Infração – média; por dispositivos regulamentares de alarme sonoro e ilumi-
Penalidade – multa. nação vermelha intermitentes:
Art. 183. Parar o veículo sobre a faixa de pedestres na Infração – grave;
mudança de sinal luminoso: Penalidade – multa.
Infração – média; Art. 191. Forçar passagem entre veículos que, transitando
Penalidade – multa. em sentidos opostos, estejam na iminência de passar um pelo
Art. 184. Transitar com o veículo: outro ao realizar operação de ultrapassagem:
I – na faixa ou pista da direita, regulamentada como de Infração – gravíssima;
circulação exclusiva para determinado tipo de veículo, exceto Penalidade – multa (dez vezes) e suspensão do direito de
para acesso a imóveis lindeiros ou conversões à direita: dirigir. (Redação dada pela Lei nº 12.971, de 2014)
Infração – leve; Parágrafo único. Aplica-se em dobro a multa prevista no
Penalidade – multa; caput em caso de reincidência no período de até 12 (doze)
II – na faixa ou pista da esquerda regulamentada como meses da infração anterior. (Incluído pela Lei nº 12.971, de
de circulação exclusiva para determinado tipo de veículo: 2014)
Infração – grave; Art. 192. Deixar de guardar distância de segurança late-
Penalidade – multa. ral e frontal entre o seu veículo e os demais, bem como em
III – na faixa ou via de trânsito exclusivo, regulamentada relação ao bordo da pista, considerando-se, no momento, a
com circulação destinada aos veículos de transporte público velocidade, as condições climáticas do local da circulação e
coletivo de passageiros, salvo casos de força maior e com do veículo:
autorização do poder público competente: (Incluído pela Lei Infração – grave;
nº 13.154, de 2015) Penalidade – multa.
Infração – gravíssima; (Incluído pela Lei nº 13.154, de Art. 193. Transitar com o veículo em calçadas, passeios,
2015) passarelas, ciclovias, ciclofaixas, ilhas, refúgios, ajardinamen-
Legislação Relativa à DPRF

Penalidade – multa e apreensão do veículo; (Incluído pela tos, canteiros centrais e divisores de pista de rolamento,
Lei nº 13.154, de 2015) acostamentos, marcas de canalização, gramados e jardins
Medida Administrativa – remoção do veículo. (Incluído públicos:
pela Lei nº 13.154, de 2015) Infração – gravíssima;
Art. 185. Quando o veículo estiver em movimento, deixar Penalidade – multa (três vezes).
de conservá-lo: Art. 194. Transitar em marcha à ré, salvo na distância
I – na faixa a ele destinada pela sinalização de regula- necessária a pequenas manobras e de forma a não causar
mentação, exceto em situações de emergência; riscos à segurança:
II – nas faixas da direita, os veículos lentos e de maior Infração – grave;
porte: Penalidade – multa.
Infração – média; Art. 195. Desobedecer às ordens emanadas da autorida-
Penalidade – multa. de competente de trânsito ou de seus agentes:

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Infração – grave; V – onde houver marcação viária longitudinal de divisão
Penalidade – multa. de fluxos opostos do tipo linha dupla contínua ou simples
contínua amarela:
Comentários: Infração – gravíssima; (Redação dada pela Lei nº 12.971,
Nos termos do art. 89, I, do CTB, as ordens do agente de de 2014)
trânsito têm prevalência sobre as normas de circulação Penalidade – multa (cinco vezes). (Redação dada pela
e outros sinais. O condutor que desobedecer a essas Lei nº 12.971, de 2014)
ordens cometerá a infração grave, com penalidade de Parágrafo único. Aplica-se em dobro a multa prevista no
multa prevista no artigo em comento. caput em caso de reincidência no período de até 12 (doze)
Ressalta-se, por oportuno, que a recusa de motorista em meses da infração anterior. (Incluído pela Lei nº 12.971, de
atender à ordem de apresentar documentos do veículo 2014)
que dirige quando legalmente solicitado não configura Art.  204. Deixar de parar o veículo no acostamento à
crime de desobediência, previsto no art. 330 do Código direita, para aguardar a oportunidade de cruzar a pista ou
Penal, uma vez que a Jurisprudência do Supremo Tri- entrar à esquerda, onde não houver local apropriado para
bunal Federal (STF) entendeu que não há esse delito operação de retorno:
quando a inexecução da ordem emanada de servidor Infração – grave;
público estiver sujeita a punição administrativa, como Penalidade – multa.
na espécie (STF – HC nº 88.452/RS, Rel. Min. Eros Grau, Art. 205. Ultrapassar veículo em movimento que integre
DJ 19/5/2006, PP-00043). cortejo, préstito, desfile e formações militares, salvo com
autorização da autoridade de trânsito ou de seus agentes:
Art. 196. Deixar de indicar com antecedência, mediante Infração – leve;
gesto regulamentar de braço ou luz indicadora de direção do Penalidade – multa.
veículo, o início da marcha, a realização da manobra de parar Art. 206. Executar operação de retorno:
o veículo, a mudança de direção ou de faixa de circulação: I – em locais proibidos pela sinalização;
Infração – grave; II – nas curvas, aclives, declives, pontes, viadutos e túneis;
Penalidade – multa. III – passando por cima de calçada, passeio, ilhas, ajar-
Art. 197. Deixar de deslocar, com antecedência, o veículo
dinamento ou canteiros de divisões de pista de rolamento,
para a faixa mais à esquerda ou mais à direita, dentro da
refúgios e faixas de pedestres e nas de veículos não moto-
respectiva mão de direção, quando for manobrar para um
rizados;
desses lados:
IV – nas interseções, entrando na contramão de direção
Infração – média;
da via transversal;
Penalidade – multa.
Art. 198. Deixar de dar passagem pela esquerda, quando V – com prejuízo da livre circulação ou da segurança,
solicitado: ainda que em locais permitidos:
Infração – média; Infração – gravíssima;
Penalidade – multa. Penalidade – multa.
Art. 199. Ultrapassar pela direita, salvo quando o veículo Art. 207. Executar operação de conversão à direita ou à
da frente estiver colocado na faixa apropriada e der sinal de esquerda em locais proibidos pela sinalização:
que vai entrar à esquerda: Infração – grave;
Infração – média; Penalidade – multa.
Penalidade – multa. Art. 208. Avançar o sinal vermelho do semáforo ou o de
Art. 200. Ultrapassar pela direita veículo de transporte parada obrigatória:
coletivo ou de escolares, parado para embarque ou desem- Infração – gravíssima;
barque de passageiros, salvo quando houver refúgio de se- Penalidade – multa.
gurança para o pedestre: Art. 209. Transpor, sem autorização, bloqueio viário com
Infração – gravíssima; ou sem sinalização ou dispositivos auxiliares, deixar de aden-
Penalidade – multa. trar às áreas destinadas à pesagem de veículos ou evadir-se
Art.  201. Deixar de guardar a distância lateral de um para não efetuar o pagamento do pedágio:
metro e cinqüenta centímetros ao passar ou ultrapassar Infração – grave;
bicicleta: Penalidade – multa.
Infração – média; Art. 210. Transpor, sem autorização, bloqueio viário po-
Penalidade – multa. licial:
Art. 202. Ultrapassar outro veículo: Infração – gravíssima;
I – pelo acostamento; Penalidade – multa, apreensão do veículo e suspensão
II – em interseções e passagens de nível; do direito de dirigir;
Legislação Relativa à DPRF

Infração – gravíssima; (Redação dada pela Lei nº 12.971, Medida administrativa – remoção do veículo e recolhi-
de 2014) mento do documento de habilitação.
Penalidade – multa (cinco vezes). (Redação dada pela Art.  211. Ultrapassar veículos em fila, parados em ra-
Lei nº 12.971, de 2014) zão de sinal luminoso, cancela, bloqueio viário parcial ou
Art. 203. Ultrapassar pela contramão outro veículo: qualquer outro obstáculo, com exceção dos veículos não
I – nas curvas, aclives e declives, sem visibilidade sufi- motorizados:
ciente; Infração – grave;
II – nas faixas de pedestre; Penalidade – multa.
III – nas pontes, viadutos ou túneis; Art.  212. Deixar de parar o veículo antes de transpor
IV – parado em fila junto a sinais luminosos, porteiras, linha férrea:
cancelas, cruzamentos ou qualquer outro impedimento à Infração – gravíssima;
livre circulação; Penalidade – multa.

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
Art. 213. Deixar de parar o veículo sempre que a respec- Penalidade – multa [3 (três) vezes], suspensão imediata
tiva marcha for interceptada: do direito de dirigir e apreensão do documento de habilita-
I – por agrupamento de pessoas, como préstitos, passe- ção. (Incluído pela Lei nº 11.334, de 2006)
atas, desfiles e outros: Art. 219. Transitar com o veículo em velocidade inferior
Infração – gravíssima; à metade da velocidade máxima estabelecida para a via, re-
Penalidade – multa. tardando ou obstruindo o trânsito, a menos que as condições
II – por agrupamento de veículos, como cortejos, forma- de tráfego e meteorológicas não o permitam, salvo se estiver
ções militares e outros: na faixa da direita:
Infração – grave; Infração – média;
Penalidade – multa. Penalidade – multa.
Art. 214. Deixar de dar preferência de passagem a pe- Art. 220. Deixar de reduzir a velocidade do veículo de
destre e a veículo não motorizado: forma compatível com a segurança do trânsito:
I – que se encontre na faixa a ele destinada; I – quando se aproximar de passeatas, aglomerações,
II – que não haja concluído a travessia mesmo que ocorra cortejos, préstitos e desfiles:
sinal verde para o veículo; Infração – gravíssima;
III – portadores de deficiência física, crianças, idosos e Penalidade – multa;
gestantes: II – nos locais onde o trânsito esteja sendo controlado
Infração – gravíssima; pelo agente da autoridade de trânsito, mediante sinais so-
Penalidade – multa. noros ou gestos;
IV – quando houver iniciado a travessia mesmo que não III – ao aproximar-se da guia da calçada (meio-fio) ou
haja sinalização a ele destinada; acostamento;
V – que esteja atravessando a via transversal para onde IV – ao aproximar-se de ou passar por interseção não
se dirige o veículo: sinalizada;
Infração – grave; V – nas vias rurais cuja faixa de domínio não esteja cer-
Penalidade – multa. cada;
Art. 215. Deixar de dar preferência de passagem: VI – nos trechos em curva de pequeno raio;
I – em interseção não sinalizada: VII – ao aproximar-se de locais sinalizados com advertên-
a) a veículo que estiver circulando por rodovia ou ro- cia de obras ou trabalhadores na pista;
tatória; VIII – sob chuva, neblina, cerração ou ventos fortes;
b) a veículo que vier da direita; IX – quando houver má visibilidade;
II – nas interseções com sinalização de regulamentação X – quando o pavimento se apresentar escorregadio,
de Dê a Preferência: defeituoso ou avariado;
Infração – grave; XI – à aproximação de animais na pista;
Penalidade – multa. XII – em declive;
Art. 216. Entrar ou sair de áreas lindeiras sem estar ade- XIII – ao ultrapassar ciclista:
quadamente posicionado para ingresso na via e sem as pre- Infração – grave;
cauções com a segurança de pedestres e de outros veículos: Penalidade – multa;
Infração – média; XIV – nas proximidades de escolas, hospitais, estações
Penalidade – multa. de embarque e desembarque de passageiros ou onde haja
Art. 217. Entrar ou sair de fila de veículos estacionados intensa movimentação de pedestres:
sem dar preferência de passagem a pedestres e a outros Infração – gravíssima;
veículos: Penalidade – multa.
Infração – média; Art. 221. Portar no veículo placas de identificação em
Penalidade – multa. desacordo com as especificações e modelos estabelecidos
Art. 218. Transitar em velocidade superior à máxima per- pelo CONTRAN:
mitida para o local, medida por instrumento ou equipamento Infração – média;
hábil, em rodovias, vias de trânsito rápido, vias arteriais e Penalidade – multa;
demais vias: (Redação dada pela Lei nº 11.334, de 2006) Medida administrativa – retenção do veículo para regu-
I – quando a velocidade for superior à máxima em até larização e apreensão das placas irregulares.
20% (vinte por cento): (Redação dada pela Lei nº 11.334, Parágrafo único. Incide na mesma penalidade aquele
de 2006) que confecciona, distribui ou coloca, em veículo próprio ou
Infração – média; (Redação dada pela Lei nº 11.334, de de terceiros, placas de identificação não autorizadas pela
2006) regulamentação.
Penalidade – multa; (Redação dada pela Lei nº 11.334, Art. 222. Deixar de manter ligado, nas situações de aten-
de 2006) dimento de emergência, o sistema de iluminação vermelha
Legislação Relativa à DPRF

II – quando a velocidade for superior à máxima em mais intermitente dos veículos de polícia, de socorro de incêndio e
de 20% (vinte por cento) até 50% (cinqüenta por cento): salvamento, de fiscalização de trânsito e das ambulâncias,
(Redação dada pela Lei nº 11.334, de 2006) ainda que parados:
Infração – grave; (Redação dada pela Lei nº 11.334, de Infração – média;
2006) Penalidade – multa.
Penalidade – multa; (Redação dada pela Lei nº 11.334, Art.  223. Transitar com o farol desregulado ou com o
de 2006) facho de luz alta de forma a perturbar a visão de outro con-
III – quando a velocidade for superior à máxima em mais dutor:
de 50% (cinqüenta por cento): (Incluído pela Lei nº 11.334, Infração – grave;
de 2006) Penalidade – multa;
Infração – gravíssima; (Incluído pela Lei nº 11.334, de Medida administrativa – retenção do veículo para re-
2006) gularização.

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
Art. 224. Fazer uso do facho de luz alta dos faróis em vias XIV – com registrador instantâneo inalterável de velocida-
providas de iluminação pública: de e tempo viciado ou defeituoso, quando houver exigência
Infração – leve; desse aparelho;
Penalidade – multa. XV – com inscrições, adesivos, legendas e símbolos de
Art. 225. Deixar de sinalizar a via, de forma a prevenir caráter publicitário afixados ou pintados no pára-brisa e em
os demais condutores e, à noite, não manter acesas as luzes toda a extensão da parte traseira do veículo, excetuadas as
externas ou omitir-se quanto a providências necessárias para hipóteses previstas neste Código;
tornar visível o local, quando: XVI – com vidros total ou parcialmente cobertos por
I – tiver de remover o veículo da pista de rolamento ou películas refletivas ou não, painéis decorativos ou pinturas;
permanecer no acostamento; XVII – com cortinas ou persianas fechadas, não autori-
II – a carga for derramada sobre a via e não puder ser zadas pela legislação;
retirada imediatamente: XVIII – em mau estado de conservação, comprometendo
Infração – grave; a segurança, ou reprovado na avaliação de inspeção de segu-
Penalidade – multa. rança e de emissão de poluentes e ruído, prevista no art. 104;
Art. 226. Deixar de retirar todo e qualquer objeto que XIX – sem acionar o limpador de pára-brisa sob chuva:
tenha sido utilizado para sinalização temporária da via: Infração – grave;
Infração – média; Penalidade – multa;
Penalidade – multa. Medida administrativa – retenção do veículo para re-
Art. 227. Usar buzina: gularização;
I – em situação que não a de simples toque breve como XX – sem portar a autorização para condução de escola-
advertência ao pedestre ou a condutores de outros veículos; res, na forma estabelecida no art. 136:
II – prolongada e sucessivamente a qualquer pretexto; Infração – grave;
III – entre as vinte e duas e as seis horas; Penalidade – multa e apreensão do veículo;
IV – em locais e horários proibidos pela sinalização; XXI – de carga, com falta de inscrição da tara e demais
V – em desacordo com os padrões e freqüências estabe- inscrições previstas neste Código;
lecidas pelo CONTRAN: XXII – com defeito no sistema de iluminação, de sinaliza-
Infração – leve; ção ou com lâmpadas queimadas:
Penalidade – multa. Infração – média;
Art. 228. Usar no veículo equipamento com som em volu- Penalidade – multa.
me ou freqüência que não sejam autorizados pelo CONTRAN: XXIII – em desacordo com as condições estabelecidas
Infração – grave; no art. 67-C, relativamente ao tempo de permanência do
Penalidade – multa; condutor ao volante e aos intervalos para descanso, quan-
Medida administrativa – retenção do veículo para re- do se tratar de veículo de transporte de carga ou coletivo
gularização. de passageiros: (Redação dada pela Lei nº 13.103, de 2015)
Art.  229. Usar indevidamente no veículo aparelho de Infração – média; (Redação dada pela Lei nº 13.103, de
alarme ou que produza sons e ruído que perturbem o sossego 2015)
público, em desacordo com normas fixadas pelo CONTRAN: Penalidade – multa; (Redação dada pela Lei nº 13.103,
Infração – média; de 2015)
Penalidade – multa e apreensão do veículo; Medida administrativa – retenção do veículo para cum-
Medida administrativa – remoção do veículo. primento do tempo de descanso aplicável. (Redação dada
Art. 230. Conduzir o veículo: pela Lei nº 13.103, de 2015)
I – com o lacre, a inscrição do chassi, o selo, a placa ou XXIV – (vetado). (Incluído pela Lei nº 12.619, de 2012)
qualquer outro elemento de identificação do veículo violado § 1o Se o condutor cometeu infração igual nos últimos
ou falsificado; 12 (doze) meses, será convertida, automaticamente, a pe-
II – transportando passageiros em compartimento de car- nalidade disposta no inciso XXIII em infração grave. (Incluído
ga, salvo por motivo de força maior, com permissão da auto- pela Lei nº 13.103, de 2015)
ridade competente e na forma estabelecida pelo CONTRAN; § 2o Em se tratando de condutor estrangeiro, a liberação
III – com dispositivo anti-radar; do veículo fica condicionada ao pagamento ou ao depósito,
IV – sem qualquer uma das placas de identificação; judicial ou administrativo, da multa. (Incluído pela Lei nº
V – que não esteja registrado e devidamente licenciado; 13.103, de 2015)
VI – com qualquer uma das placas de identificação sem Art. 231. Transitar com o veículo:
condições de legibilidade e visibilidade: I – danificando a via, suas instalações e equipamentos;
Infração – gravíssima; II – derramando, lançando ou arrastando sobre a via:
Penalidade – multa e apreensão do veículo; a) carga que esteja transportando;
Medida administrativa – remoção do veículo; b) combustível ou lubrificante que esteja utilizando;
Legislação Relativa à DPRF

VII – com a cor ou característica alterada; c) qualquer objeto que possa acarretar risco de acidente:
VIII – sem ter sido submetido à inspeção de segurança Infração – gravíssima;
veicular, quando obrigatória; Penalidade – multa;
IX – sem equipamento obrigatório ou estando este ine- Medida administrativa – retenção do veículo para re-
ficiente ou inoperante; gularização;
X – com equipamento obrigatório em desacordo com o III – produzindo fumaça, gases ou partículas em níveis
estabelecido pelo CONTRAN; superiores aos fixados pelo CONTRAN;
XI – com descarga livre ou silenciador de motor de ex- IV – com suas dimensões ou de sua carga superiores aos
plosão defeituoso, deficiente ou inoperante; limites estabelecidos legalmente ou pela sinalização, sem
XII – com equipamento ou acessório proibido; autorização:
XIII – com o equipamento do sistema de iluminação e de Infração – grave;
sinalização alterados; Penalidade – multa;

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
Medida administrativa – retenção do veículo para re- Art. 234. Falsificar ou adulterar documento de habilitação
gularização; e de identificação do veículo:
V – com excesso de peso, admitido percentual de to- Infração – gravíssima;
lerância quando aferido por equipamento, na forma a ser Penalidade – multa e apreensão do veículo;
estabelecida pelo CONTRAN: Medida administrativa – remoção do veículo.
Infração – média;
Penalidade – multa acrescida a cada duzentos quilogra- Comentários:
mas ou fração de excesso de peso apurado, constante na A falsificação ou adulteração de documento de habilita-
seguinte tabela: ção ou de identificação do veículo importará em sanção
a) até seiscentos quilogramas – 5 (cinco) UFIR; administrativa, prevista neste Código, com multa e apre-
b) de seiscentos e um a oitocentos quilogramas – 10 ensão do veículo, removido para o depósito fixado pelo
(dez) UFIR; órgão ou pela entidade competente, com circunscrição
c) de oitocentos e um a um mil quilogramas – 20 (vinte) sobre a via.
UFIR; Ressalta-se, ainda, que a falsificação e a adulteração de
d) de um mil e um a três mil quilogramas – 30 (trinta) documento público, como a CNH e o CRLV, é crime pre-
UFIR; visto no art. 297 do Código Penal. Vejamos:
e) de três mil e um a cinco mil quilogramas – 40 (qua-
renta) UFIR; Art. 297. Falsificar, no todo ou em parte, documento
f) acima de cinco mil e um quilogramas – 50 (cinqüenta) público, ou alterar documento público verdadeiro:
UFIR; Pena – reclusão, de dois a seis anos, e multa.
Medida administrativa – retenção do veículo e transbor-
do da carga excedente; Art. 235. Conduzir pessoas, animais ou carga nas partes
VI – em desacordo com a autorização especial, expedida externas do veículo, salvo nos casos devidamente autori-
pela autoridade competente para transitar com dimensões zados:
excedentes, ou quando a mesma estiver vencida: Infração – grave;
Infração – grave; Penalidade – multa;
Penalidade – multa e apreensão do veículo; Medida administrativa – retenção do veículo para trans-
bordo.
Medida administrativa – remoção do veículo;
Art. 236. Rebocar outro veículo com cabo flexível ou cor-
VII – com lotação excedente;
da, salvo em casos de emergência:
VIII – efetuando transporte remunerado de pessoas ou
Infração – média;
bens, quando não for licenciado para esse fim, salvo casos de
Penalidade – multa.
força maior ou com permissão da autoridade competente:
Art. 237. Transitar com o veículo em desacordo com as
Infração – média;
especificações, e com falta de inscrição e simbologia neces-
Penalidade – multa; sárias à sua identificação, quando exigidas pela legislação:
Medida administrativa – retenção do veículo; Infração – grave;
IX – desligado ou desengrenado, em declive: Penalidade – multa;
Infração – média; Medida administrativa – retenção do veículo para re-
Penalidade – multa; gularização.
Medida administrativa – retenção do veículo; Art. 238. Recusar-se a entregar à autoridade de trânsito
X – excedendo a capacidade máxima de tração: ou a seus agentes, mediante recibo, os documentos de ha-
Infração – de média a gravíssima, a depender da relação bilitação, de registro, de licenciamento de veículo e outros
entre o excesso de peso apurado e a capacidade máxima de exigidos por lei, para averiguação de sua autenticidade:
tração, a ser regulamentada pelo CONTRAN; Infração – gravíssima;
Penalidade – multa; Penalidade – multa e apreensão do veículo;
Medida Administrativa – retenção do veículo e transbor- Medida administrativa – remoção do veículo.
do de carga excedente. Art. 239. Retirar do local veículo legalmente retido para
Parágrafo único. Sem prejuízo das multas previstas nos regularização, sem permissão da autoridade competente ou
incisos V e X, o veículo que transitar com excesso de peso ou de seus agentes:
excedendo à capacidade máxima de tração, não computado Infração – gravíssima;
o percentual tolerado na forma do disposto na legislação, Penalidade – multa e apreensão do veículo;
somente poderá continuar viagem após descarregar o que Medida administrativa – remoção do veículo.
exceder, segundo critérios estabelecidos na referida legisla- Art. 240. Deixar o responsável de promover a baixa do
ção complementar. registro de veículo irrecuperável ou definitivamente des-
Art. 232. Conduzir veículo sem os documentos de porte montado:
Legislação Relativa à DPRF

obrigatório referidos neste Código: Infração – grave;


Infração – leve; Penalidade – multa;
Penalidade – multa; Medida administrativa – Recolhimento do Certificado de
Medida administrativa – retenção do veículo até a apre- Registro e do Certificado de Licenciamento Anual.
sentação do documento. Art. 241. Deixar de atualizar o cadastro de registro do
Art. 233. Deixar de efetuar o registro de veículo no prazo veículo ou de habilitação do condutor:
de trinta dias, junto ao órgão executivo de trânsito, ocorridas Infração – leve;
as hipóteses previstas no art. 123: Penalidade – multa.
Infração – grave; Art. 242. Fazer falsa declaração de domicílio para fins de
Penalidade – multa; registro, licenciamento ou habilitação:
Medida administrativa – retenção do veículo para re- Infração – gravíssima;
gularização. Penalidade – multa.

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
Art.  243. Deixar a empresa seguradora de comunicar Infração – média;
ao órgão executivo de trânsito competente a ocorrência de Penalidade – multa.
perda total do veículo e de lhe devolver as respectivas placas § 3o A restrição imposta pelo inciso VI do caput deste
e documentos: artigo não se aplica às motocicletas e motonetas que tra-
Infração – grave; cionem semi-reboques especialmente projetados para esse
Penalidade – multa; fim e devidamente homologados pelo órgão competente.
Medida administrativa – Recolhimento das placas e dos (Incluído pela Lei nº 10.517, de 2002)
documentos. Art.  245. Utilizar a via para depósito de mercadorias,
Art. 244. Conduzir motocicleta, motoneta e ciclomotor: materiais ou equipamentos, sem autorização do órgão ou
entidade de trânsito com circunscrição sobre a via:
Comentários: Infração – grave;
O presente artigo dispõe sobre as infrações cometidas Penalidade – multa;
por condutores de motocicleta, motoneta e ciclomotor. Medida administrativa – remoção da mercadoria ou do
Cabe analisarmos o conceito desses veículos segundo o material.
Anexo I do CTB. Vejamos: Parágrafo único. A penalidade e a medida administrativa
a) Motocicleta: veículo automotor de duas rodas, com ou incidirão sobre a pessoa física ou jurídica responsável.
sem side car, dirigido por condutor em posição montada. Art. 246. Deixar de sinalizar qualquer obstáculo à livre
b) Motoneta: veículo automotor de duas rodas, dirigido circulação, à segurança de veículo e pedestres, tanto no lei-
por condutor em posição sentada. to da via terrestre como na calçada, ou obstaculizar a via
c) Ciclomotor: veículo de duas ou três rodas, provido indevidamente:
de um motor de combustão interna, cuja cilindrada não Infração – gravíssima;
exceda a 50 centímetros cúbicos (3,05 polegadas cúbicas) Penalidade – multa, agravada em até cinco vezes, a crité-
e cuja velocidade máxima de fabricação não exceda a 50 rio da autoridade de trânsito, conforme o risco à segurança.
quilômetros por hora. Parágrafo único. A penalidade será aplicada à pessoa físi-
ca ou jurídica responsável pela obstrução, devendo a autori-
I – sem usar capacete de segurança com viseira ou óculos dade com circunscrição sobre a via providenciar a sinalização
de proteção e vestuário de acordo com as normas e especi-
de emergência, às expensas do responsável, ou, se possível,
ficações aprovadas pelo CONTRAN;
promover a desobstrução.
II – transportando passageiro sem o capacete de segu-
Art. 247. Deixar de conduzir pelo bordo da pista de ro-
rança, na forma estabelecida no inciso anterior, ou fora do
lamento, em fila única, os veículos de tração ou propulsão
assento suplementar colocado atrás do condutor ou em carro
humana e os de tração animal, sempre que não houver acos-
lateral;
III – fazendo malabarismo ou equilibrando-se apenas em tamento ou faixa a eles destinados:
uma roda; Infração – média;
IV – com os faróis apagados; Penalidade – multa.
V – transportando criança menor de sete anos ou que Art. 248. Transportar em veículo destinado ao transporte
não tenha, nas circunstâncias, condições de cuidar de sua de passageiros carga excedente em desacordo com o esta-
própria segurança: belecido no art. 109:
Infração – gravíssima; Infração – grave;
Penalidade – multa e suspensão do direito de dirigir; Penalidade – multa;
Medida administrativa – Recolhimento do documento Medida administrativa – retenção para o transbordo.
de habilitação; Art. 249. Deixar de manter acesas, à noite, as luzes de
VI – rebocando outro veículo; posição, quando o veículo estiver parado, para fins de em-
VII – sem segurar o guidom com ambas as mãos, salvo barque ou desembarque de passageiros e carga ou descarga
eventualmente para indicação de manobras; de mercadorias:
VIII – transportando carga incompatível com suas espe- Infração – média;
cificações ou em desacordo com o previsto no § 2o do art. Penalidade – multa.
139-A desta Lei; (Redação dada pela Lei nº 12.2009, de 2009) Art. 250. Quando o veículo estiver em movimento:
IX – efetuando transporte remunerado de mercadorias I – deixar de manter acesa a luz baixa:
em desacordo com o previsto no art. 139-A desta Lei ou com a) durante a noite;
as normas que regem a atividade profissional dos motota- b) de dia, nos túneis providos de iluminação pública;
xistas: (Incluído pela Lei nº 12.2009, de 2009) c) de dia e de noite, tratando-se de veículo de transporte
Infração – grave; (Incluído pela Lei nº 12.2009, de 2009) coletivo de passageiros, circulando em faixas ou pistas a eles
Penalidade – multa; (Incluído pela Lei nº 12.2009, de destinadas;
2009) d) de dia e de noite, tratando-se de ciclomotores;
Legislação Relativa à DPRF

Medida administrativa – apreensão do veículo para re- II – deixar de manter acesas pelo menos as luzes de po-
gularização. (Incluído pela Lei nº 12.2009, de 2009) sição sob chuva forte, neblina ou cerração;
§ 1º Para ciclos aplica-se o disposto nos incisos III, VII e III – deixar de manter a placa traseira iluminada, à noite;
VIII, além de: Infração – média;
a) conduzir passageiro fora da garupa ou do assento es- Penalidade – multa.
pecial a ele destinado; Art. 251. Utilizar as luzes do veículo:
b) transitar em vias de trânsito rápido ou rodovias, salvo I – o pisca-alerta, exceto em imobilizações ou situações
onde houver acostamento ou faixas de rolamento próprias; de emergência;
c) transportar crianças que não tenham, nas circunstân- II – baixa e alta de forma intermitente, exceto nas se-
cias, condições de cuidar de sua própria segurança. guintes situações:
§ 2º Aplica-se aos ciclomotores o disposto na alínea b a) a curtos intervalos, quando for conveniente advertir a
do parágrafo anterior: outro condutor que se tem o propósito de ultrapassá-lo;

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b) em imobilizações ou situação de emergência, como Penalidade – multa, em 50% (cinqüenta por cento) do
advertência, utilizando pisca-alerta; valor da infração de natureza leve.
c) quando a sinalização de regulamentação da via deter- VII – (Vetado). (Incluído pela Lei nº 13. 281, de 2016)
minar o uso do pisca-alerta: §§ 1º a 3º (Vetados). (Incluído pela Lei nº 13. 281, de
Infração – média; 2016)
Penalidade – multa. Art. 255. Conduzir bicicleta em passeios onde não seja
Art. 252. Dirigir o veículo: permitida a circulação desta, ou de forma agressiva, em de-
I – com o braço do lado de fora; sacordo com o disposto no parágrafo único do art. 59:
II – transportando pessoas, animais ou volume à sua es- Infração – média;
querda ou entre os braços e pernas; Penalidade – multa;
III – com incapacidade física ou mental temporária que Medida administrativa – remoção da bicicleta, mediante
comprometa a segurança do trânsito; recibo para o pagamento da multa.
IV – usando calçado que não se firme nos pés ou que
comprometa a utilização dos pedais; CAPÍTULO XVI
V – com apenas uma das mãos, exceto quando deva fazer Das Penalidades
sinais regulamentares de braço, mudar a marcha do veículo,
ou acionar equipamentos e acessórios do veículo; Art. 256. A autoridade de trânsito, na esfera das compe-
VI – utilizando-se de fones nos ouvidos conectados a tências estabelecidas neste Código e dentro de sua circunscri-
aparelhagem sonora ou de telefone celular; ção, deverá aplicar, às infrações nele previstas, as seguintes
Infração – média; penalidades:
Penalidade – multa. I – advertência por escrito;
VII – realizando a cobrança de tarifa com o veículo em II – multa;
movimento: (Incluído pela Lei nº 13.154, de 2015) III – suspensão do direito de dirigir;
Infração – média; (Incluído pela Lei nº 13.154, de 2015) IV – apreensão do veículo;
Penalidade – multa. (Incluído pela Lei nº 13.154, de 2015) V – cassação da Carteira Nacional de Habilitação;
Art. 253. Bloquear a via com veículo: VI – cassação da Permissão para Dirigir;
Infração – gravíssima; VII – freqüência obrigatória em curso de reciclagem.
Penalidade – multa e apreensão do veículo; § 1º A aplicação das penalidades previstas neste Código
Medida administrativa – remoção do veículo. não elide as punições originárias de ilícitos penais decor-
Art. 253-A. Usar qualquer veículo para, deliberadamente, rentes de crimes de trânsito, conforme disposições de lei.
interromper, restringir ou perturbar a circulação na via sem § 2º (Vetado).
autorização do órgão ou entidade de trânsito com circunscri- § 3º A imposição da penalidade será comunicada aos
ção sobre ela: (Incluído pela Lei nº 13. 281, de 2016) órgãos ou entidades executivos de trânsito responsáveis pelo
Infração – gravíssima; (Incluído pela Lei nº 13. 281, de licenciamento do veículo e habilitação do condutor.
2016)
Penalidade – multa (vinte vezes) e suspensão do direito Comentarios:
de dirigir por 12 (doze) meses; (Incluído pela Lei nº 13. 281, As penalidades serão aplicadas pela autoridade máxima
de 2016) do órgão de trânsito com circunscrição sobre a via. Ao
Medida administrativa – remoção do veículo. (Incluído agente de trânsito resta apenas lavrar o Auto de Infração
pela Lei nº 13. 281, de 2016) (AI), que será encaminhado ao dirigente do órgão de
§ 1º Aplica-se a multa agravada em 60 (sessenta) vezes trânsito para, depois de obedecido os requisitos legais,
aos organizadores da conduta prevista no caput. (Incluído aplicar as penalidades cabíveis em cada caso, não poden-
pela Lei nº 13. 281, de 2016) do o dirigente do órgão de trânsito aplicar penalidades
§ 2º Aplica-se em dobro a multa em caso de reincidência diversas daquelas previstas em lei, isto é, se há somente a
no período de 12 (doze) meses. (Incluído pela Lei nº 13. 281, previsão de penalidade de multa, não poderia o dirigente
de 2016) suspender a CNH do condutor ou apreender o veículo,
§ 3º As penalidades são aplicáveis a pessoas físicas ou pois estaria agindo na ilegalidade (excesso de poder).
jurídicas que incorram na infração, devendo a autoridade Extrai-se da interpretação do art. 256, § 1º, do CTB que
com circunscrição sobre a via restabelecer de imediato, se as infrações e os crimes de trânsito estão sujeitos à apli-
possível, as condições de normalidade para a circulação na cação cumulativa das penalidades previstas nas respec-
via. (Incluído pela Lei nº 13. 281, de 2016) tivas esferas –administrativa e penal –, independentes
Art. 254. É proibido ao pedestre: entre si, uma vez que a responsabilidade administrativa
I – permanecer ou andar nas pistas de rolamento, exceto fundamenta-se no poder de polícia, inerente à Adminis-
para cruzá-las onde for permitido; tração, que, nas palavras de Hely Lopes Meirelles (2006,
Legislação Relativa à DPRF

II – cruzar pistas de rolamento nos viadutos, pontes, ou p. 131), é a “faculdade de que dispõe a Administração
túneis, salvo onde exista permissão; Pública para condicionar e restringir o uso e gozo de bens,
III – atravessar a via dentro das áreas de cruzamento, atividades e direitos individuais, em benefício da coleti-
salvo quando houver sinalização para esse fim; vidade ou do próprio Estado”.
IV – utilizar-se da via em agrupamentos capazes de per- A responsabilidade criminal é aquela que decorre do co-
turbar o trânsito, ou para a prática de qualquer folguedo, metimento de alguma figura típica definida como crime.
esporte, desfiles e similares, salvo em casos especiais e com
a devida licença da autoridade competente; Art. 257. As penalidades serão impostas ao condutor, ao
V – andar fora da faixa própria, passarela, passagem aérea proprietário do veículo, ao embarcador e ao transportador,
ou subterrânea; salvo os casos de descumprimento de obrigações e deveres
VI – desobedecer à sinalização de trânsito específica; impostos a pessoas físicas ou jurídicas expressamente men-
Infração – leve; cionados neste Código.

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§ 1º Aos proprietários e condutores de veículos serão conservação e inalterabilidade de suas caracterís-
impostas concomitantemente as penalidades de que trata ticas, componentes, agregados, habilitação legal e
este Código toda vez que houver responsabilidade solidária compatível de seus condutores, a exemplo, entregar o
em infração dos preceitos que lhes couber observar, res- veículo a condutor sem habilitação; se licenciamento
pondendo cada um de per si pela falta em comum que lhes vencido; sem equipamentos obrigatórios e com alte-
for atribuída. ração de características do veículo.
§ 2º Ao proprietário caberá sempre a responsabilidade
pela infração referente à prévia regularização e preenchimen- Caso o proprietário não seja o condutor que cometeu
to das formalidades e condições exigidas para o trânsito do a infração, ou o veículo seja de propriedade de pessoa
veículo na via terrestre, conservação e inalterabilidade de jurídica, terá o prazo de 15 dias, após a Notificação da
suas características, componentes, agregados, habilitação Autuação, para identificar o condutor infrator, sob pena
legal e compatível de seus condutores, quando esta for exi- de ser considerado como responsável pela infração.
gida, e outras disposições que deva observar. A Resolução nº 149/2003 determina que, sendo a infra-
§ 3º Ao condutor caberá a responsabilidade pelas infra- ção de responsabilidade do condutor, quando este não
ções decorrentes de atos praticados na direção do veículo. for identificado no ato do cometimento da infração, deve-
§ 4º O embarcador é responsável pela infração relativa rá fazer parte da Notificação da Autuação o Formulário de
ao transporte de carga com excesso de peso nos eixos ou Identificação do Condutor Infrator, que será preenchido
no peso bruto total, quando simultaneamente for o único pelo proprietário, retornando ao órgão executivo de trân-
remetente da carga e o peso declarado na nota fiscal, fatura sito para efetivar a pontuação ao prontuário do condutor
ou manifesto for inferior àquele aferido. responsável pelo cometimento da infração.
§ 5º O transportador é o responsável pela infração rela- Todavia, o proprietário do veículo, ainda que pessoa ju-
tiva ao transporte de carga com excesso de peso nos eixos rídica, é o responsável pelo pagamento das multas por
ou quando a carga proveniente de mais de um embarcador infrações de trânsito, independentemente da indicação
ultrapassar o peso bruto total. do infrator, pois a indicação do condutor infrator é para
§ 6º O transportador e o embarcador são solidariamente a efetivação da pontuação (REsp nº 345.726/RJ, Rel. Min.
responsáveis pela infração relativa ao excesso de peso bruto Francisco Peçanha Martins, Segunda Turma, julgado em
total, se o peso declarado na nota fiscal, fatura ou manifesto 11/10/2005, DJ 14/11/2005, p. 236).
for superior ao limite legal. Cabe ao condutor a responsabilidade pelas infrações
§ 7º Não sendo imediata a identificação do infrator, o advindas de atos praticados na direção do automóvel,
proprietário do veículo terá quinze dias de prazo, após a tais como excesso de velocidade, embriaguez ao volan-
notificação da autuação, para apresentá-lo, na forma em te, ultrapassagens em faixa contínua, estacionamentos
que dispuser o CONTRAN, ao fim do qual, não o fazendo, irregulares e retornos em locais proibidos. Sendo o con-
será considerado responsável pela infração. dutor o infrator, é ele, e não o proprietário do veículo,
§ 8º Após o prazo previsto no parágrafo anterior, não quem deve receber Notificação da Penalidade (REsp nº
havendo identificação do infrator e sendo o veículo de pro- 669.810/SP, Rel. Min. Francisco Falcão, DJ 10/4/2006).
priedade de pessoa jurídica, será lavrada nova multa ao pro- Agravo regimental improvido (AgRg REsp nº 1.022.571/
prietário do veículo, mantida a originada pela infração, cujo SP, Rel. Min. Humberto Martins, Segunda Turma, julgado
valor é o da multa multiplicada pelo número de infrações em 16/9/2008, DJ 13/10/2008).
iguais cometidas no período de doze meses. Por outro lado, o § 8º do presente artigo traz uma res-
§ 9º O fato de o infrator ser pessoa jurídica não o exime ponsabilidade extra às pessoas jurídicas proprietárias de
do disposto no § 3º do art. 258 e no art. 259. veículos. A saber: elas estarão obrigadas a identificar, jun-
to ao órgão executivo de trânsito, o infrator na condução
Comentarios: de veículo de sua propriedade, no prazo de 15 (quinze)
Estabelece o presente dispositivo o sujeito ativo de cada dias, sob pena de ser lavrada nova multa à empresa,
infração de trânsito. Assim, as penalidades serão aplica- independentemente da infração originária.
das ao proprietário, condutor, transportador, embarca- A omissão da pessoa jurídica, além de descumprir dis-
dor e ainda a pessoas físicas ou jurídicas expressamente positivo expresso no CTB, contribui para o aumento da
mencionadas no CTB. impunidade, descaracterizando a finalidade primordial
Aos proprietários e condutores de veículos serão impos- do Código, que é a de garantir ao cidadão o direito a um
tas concomitantemente as penalidades de que trata este trânsito seguro.
Código, toda vez que houver responsabilidade solidária, O valor dessa penalidade de multa será calculado so-
nas infrações que lhes couber observar, respondendo mando-se o valor da multa cometida pelo infrator não
cada um, de per si, pela falta em comum que lhes for identificado pela empresa ao valor da multa multiplicada
atribuída. Podemos citar, como hipótese de responsabi- pelo número de infrações iguais cometidas no período de
lidade solidária, a previsão do art. 134, senão vejamos: doze meses, não considerando as multas por infrações
Legislação Relativa à DPRF

cometidas por condutor infrator identificado.


Art. 134. No caso de transferência de propriedade, De acordo com a Resolução nº 151/2003, infrações iguais
o proprietário antigo deverá encaminhar ao órgão são aquelas que utilizam o mesmo “código de infração”
executivo de trânsito do Estado dentro de um prazo previsto em regulamentação específica do órgão máximo
de trinta dias, cópia autenticada do comprovante de executivo de trânsito da União (art. 2º, § 1º).
transferência de propriedade, devidamente assina- No caso de infrações por excesso de peso, o responsável
do e datado, sob pena de ter que se responsabilizar será:
solidariamente pelas penalidades impostas e suas a) o embarcador, quando for o único remetente da carga
reincidências até a data da comunicação. e o peso declarado na nota fiscal, fatura ou manifesto for
O proprietário do veículo é responsável pelas infra- inferior àquele aferido;
ções referentes à regularização do veículo, preen- b) o transportador, quando a carga proveniente de mais
chimento das formalidades, condições do veículo, de um embarcador ultrapassar o peso bruto total; e

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c) o transportador e embarcador, se o peso declarado de 20 (vinte) pontos, conforme pontuação indicada no art.
na nota fiscal, fatura ou manifesto for superior ao limite 259. (Redação dada pela Lei nº 12.547, de 2011)
legal. § 2º Quando ocorrer a suspensão do direito de dirigir, a
Carteira Nacional de Habilitação será devolvida a seu titular
Art. 258. As infrações punidas com multa classificam-se, imediatamente após cumprida a penalidade e o curso de
de acordo com sua gravidade, em quatro categorias: reciclagem.
I – infração de natureza gravíssima, punida com multa de § 3o A imposição da penalidade de suspensão do direito
valor correspondente a 180 (cento e oitenta) UFIR; de dirigir elimina os 20 (vinte) pontos computados para fins
II – infração de natureza grave, punida com multa de valor de contagem subsequente. (Incluído pela Lei nº 12.547, de
correspondente a 120 (cento e vinte) UFIR; 2011)
III – infração de natureza média, punida com multa de § 4o (Vetado). (Incluído pela Lei nº 12.619, de 2012)
valor correspondente a 80 (oitenta) UFIR; § 5o O condutor que exerce atividade remunerada em
IV – infração de natureza leve, punida com multa de valor veículo, habilitado na categoria C, D ou E, será convocado
correspondente a 50 (cinqüenta) UFIR. pelo órgão executivo de trânsito estadual a participar de
§ 1º Os valores das multas serão corrigidos no primeiro curso preventivo de reciclagem sempre que, no período de
dia útil de cada mês pela variação da UFIR ou outro índice um ano, atingir quatorze pontos, conforme regulamentação
legal de correção dos débitos fiscais. do Contran. (Incluído pela Lei nº 13.154, de 2015)
§ 2º Quando se tratar de multa agravada, o fator multipli- § 6o Concluído o curso de reciclagem previsto no § 5o,
cador ou índice adicional específico é o previsto neste Código. o condutor terá eliminados os pontos que lhe tiverem sido
§§ 3º e 4º (Vetados). atribuídos, para fins de contagem subsequente. (Incluído pela
Art. 259. A cada infração cometida são computados os Lei nº 13.154, de 2015)
seguintes números de pontos: § 7o Após o término do curso de reciclagem, na forma
I – gravíssima – sete pontos; do § 5o, o condutor não poderá ser novamente convocado
II – grave – cinco pontos; antes de transcorrido o período de um ano. (Incluído pela
III – média – quatro pontos; Lei nº 13.154, de 2015)
IV – leve – três pontos. § 8o A pessoa jurídica concessionária ou permissionária
§§ 1º a 3º (Vetados). de serviço público tem o direito de ser informada dos pontos
§ 4o Ao condutor identificado no ato da infração será atribuídos, na forma do art. 259, aos motoristas que integrem
atribuída pontuação pelas infrações de sua responsabilida- seu quadro funcional, exercendo atividade remunerada ao
de, nos termos previstos no § 3o do art. 257, excetuando-se volante, na forma que dispuser o Contran. (Incluído pela Lei
aquelas praticadas por passageiros usuários do serviço de nº 13.154, de 2015)
transporte rodoviário de passageiros em viagens de longa Art. 262. O veículo apreendido em decorrência de pena-
distância transitando em rodovias com a utilização de ônibus, lidade aplicada será recolhido ao depósito e nele permane-
em linhas regulares intermunicipal, interestadual, internacio- cerá sob custódia e responsabilidade do órgão ou entidade
nal e aquelas em viagem de longa distância por fretamento e apreendedora, com ônus para o seu proprietário, pelo prazo
turismo ou de qualquer modalidade, excetuadas as situações de até trinta dias, conforme critério a ser estabelecido pelo
regulamentadas pelo Contran a teor do art. 65 da Lei no 9.503, CONTRAN.
de 23 de setembro de 1997 – Código de Trânsito Brasileiro. § 1º No caso de infração em que seja aplicável a penali-
(Incluído pela Lei nº 13.103, de 2015) dade de apreensão do veículo, o agente de trânsito deverá,
Art. 260. As multas serão impostas e arrecadadas pelo desde logo, adotar a medida administrativa de recolhimento
órgão ou entidade de trânsito com circunscrição sobre a via do Certificado de Licenciamento Anual.
onde haja ocorrido a infração, de acordo com a competência § 2º A restituição dos veículos apreendidos só ocorrerá
estabelecida neste Código. mediante o prévio pagamento das multas impostas, taxas e
§ 1º As multas decorrentes de infração cometida em uni- despesas com remoção e estada, além de outros encargos
dade da Federação diversa da do licenciamento do veículo previstos na legislação específica.
serão arrecadadas e compensadas na forma estabelecida § 3º A retirada dos veículos apreendidos é condicionada,
pelo CONTRAN. ainda, ao reparo de qualquer componente ou equipamento
§ 2º As multas decorrentes de infração cometida em obrigatório que não esteja em perfeito estado de funcio-
unidade da Federação diversa daquela do licenciamento namento.
do veículo poderão ser comunicadas ao órgão ou entidade § 4º Se o reparo referido no parágrafo anterior deman-
responsável pelo seu licenciamento, que providenciará a dar providência que não possa ser tomada no depósito, a
notificação. autoridade responsável pela apreensão liberará o veículo
§ 3º (Revogado pela Lei nº 9.602, de 1998) para reparo, mediante autorização, assinando prazo para a
§ 4º Quando a infração for cometida com veículo licen- sua reapresentação e vistoria.
ciado no exterior, em trânsito no território nacional, a multa § 5o O recolhimento ao depósito, bem como a sua manu-
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respectiva deverá ser paga antes de sua saída do País, res- tenção, ocorrerá por serviço público executado diretamente
peitado o princípio de reciprocidade. ou contratado por licitação pública pelo critério de menor
Art. 261. A penalidade de suspensão do direito de dirigir preço. (Incluído pela Lei nº 12.760, de 2012)
será aplicada, nos casos previstos neste Código, pelo prazo Art. 263. A cassação do documento de habilitação dar-
mínimo de um mês até o máximo de um ano e, no caso de -se-á:
reincidência no período de doze meses, pelo prazo mínimo I – quando, suspenso o direito de dirigir, o infrator con-
de seis meses até o máximo de dois anos, segundo critérios duzir qualquer veículo;
estabelecidos pelo CONTRAN. II – no caso de reincidência, no prazo de doze meses, das
§ 1o Além dos casos previstos em outros artigos deste infrações previstas no inciso III do art. 162 e nos arts. 163,
Código e excetuados aqueles especificados no art. 263, a 164, 165, 173, 174 e 175;
suspensão do direito de dirigir será aplicada quando o in- III – quando condenado judicialmente por delito de trân-
frator atingir, no período de 12 (doze) meses, a contagem sito, observado o disposto no art. 160.

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
§ 1º Constatada, em processo administrativo, a irregula- infração descrita no art. 232 uma única vez, mesmo que
ridade na expedição do documento de habilitação, a autori- ele não esteja portando os dois documentos exigidos.
dade expedidora promoverá o seu cancelamento.
§ 2º Decorridos dois anos da cassação da Carteira Na- Art. 267. Poderá ser imposta a penalidade de advertência
cional de Habilitação, o infrator poderá requerer sua rea- por escrito à infração de natureza leve ou média, passível de
bilitação, submetendo-se a todos os exames necessários à ser punida com multa, não sendo reincidente o infrator, na
habilitação, na forma estabelecida pelo CONTRAN. mesma infração, nos últimos doze meses, quando a autori-
dade, considerando o prontuário do infrator, entender esta
Comentarios: providência como mais educativa.
A penalidade de cassação do direito de dirigir é aplicada § 1º A aplicação da advertência por escrito não elide o
após decisão fundamentada da autoridade de trânsito. A acréscimo do valor da multa prevista no § 3º do art. 258,
autoridade competente para aplicação dessa penalidade imposta por infração posteriormente cometida.
é o órgão executivo de trânsito do Estado ou Distrito § 2º O disposto neste artigo aplica-se igualmente aos
Federal (Detran), conforme art. 22, inciso II, do CTB. pedestres, podendo a multa ser transformada na participa-
A penalidade de cassação do direito de dirigir será apli- ção do infrator em cursos de segurança viária, a critério da
cada nos seguintes casos: autoridade de trânsito.
a) condutor que estiver com o direito de dirigir suspenso
e conduzir qualquer veículo: a suspensão só se inicia com Comentários:
o recolhimento do documento de habilitação. Assim, se A penalidade de advertência por escrito é aplicada aos
um infrator for penalizado com suspensão, notificado da infratores que têm um bom comportamento no trânsito
penalidade, e ainda não tiver entregado a habilitação, ao longo de sua vida. A advertência substitui a multa, ou
não estará com o direito de dirigir suspenso; seja, em vez de pagar uma quantia em dinheiro, o infrator
b) reincidência das seguintes infrações do CTB, no prazo recebe apenas uma advertência.
de 12 meses, mesmo que não haja na própria infração a A substituição só pode ocorrer quando observados, obri-
previsão de penalidade de suspensão do direito de dirigir: gatoriamente, os seguintes requisitos:
• art. 162, III (CNH de categoria diferente da do veículo); a) a infração for de natureza leve ou média;
• art. 163 (entregar a direção nas condições do art. 162); b) o infrator não seja reincidente na mesma infração nos
• art. 164 (permitir nas condições do art. 162);
 últimos 12 meses. Mesma infração é aquela que possui
• art. 165 (embriaguez); o mesmo código, nos termos da Portaria nº 59/2007 do
• art. 173 (“pega” ou “racha”);
 Denatran.
• art. 174 (promover ou participar de competição não O agente de trânsito nunca poderá aplicar essa penalida-
autorizada); e
 de, tendo em vista que tal competência é da autoridade
• art. 175 (manobra perigosa, arrancada brusca). de trânsito. Muito menos poderá advertir verbalmente,
c) condutor condenado judicialmente por delito de trânsi- já que tal procedimento não encontra amparo na legis-
to – necessário o trânsito em julgado da decisão judicial.
 lação atual.
O artigo em comento refere-se a dois tipos de proce- Percebe-se, ainda, que o § 1º do presente artigo refere-se
ao § 3º do art. 258 do CTB. Todavia, esse artigo foi vetado,
dimentos, de cassação e cancelamento do documento
para evitar com que se privilegie o propósito arrecada-
de habilitação. A diferença consiste na legalidade do
tório em detrimento do escopo educativo, não sendo,
processo: na cassação, o documento é valido e foi expe-
portanto, aplicável o acréscimo citado.
dido de forma legal, porém seu detentor foi penalizado
Não obstante, a infração que motivou a autuação é consi-
com a cassação do documento de habilitação, nos ter-
derada praticada, tanto que foi aplicada a penalidade de
mos anteriormente comentados; já no cancelamento, o
advertência, havendo, portanto, o cômputo dos pontos
documento de habilitação foi obtido de forma irregular referentes à infração.
(burlando alguma exigência para sua expedição), logo Por fim, ressalta-se que, considerando o caráter educa-
não é considerado válido e, após constatação de tal fato, tivo do CTB, a critério da autoridade de trânsito, poderá
resta à autoridade do órgão expedidor promover o can- transformar-se a multa aplicada aos pedestres na sua
celamento. participação em cursos de segurança viária.
Art. 264. (Vetado). Art. 268. O infrator será submetido a curso de reciclagem,
Art. 265. As penalidades de suspensão do direito de di- na forma estabelecida pelo CONTRAN:
rigir e de cassação do documento de habilitação serão apli- I – quando, sendo contumaz, for necessário à sua ree-
cadas por decisão fundamentada da autoridade de trânsito ducação;
competente, em processo administrativo, assegurado ao II – quando suspenso do direito de dirigir;
infrator amplo direito de defesa. III – quando se envolver em acidente grave para o qual
Art. 266. Quando o infrator cometer, simultaneamente, haja contribuído, independentemente de processo judicial;
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duas ou mais infrações, ser-lhe-ão aplicadas, cumulativamen- IV – quando condenado judicialmente por delito de trân-
te, as respectivas penalidades. sito;
V – a qualquer tempo, se for constatado que o condutor
Comentários: está colocando em risco a segurança do trânsito;
Suponha que um condutor, sem utilizar o cinto de se- VI – em outras situações a serem definidas pelo CON-
gurança, seja flagrado realizando retorno por cima do TRAN.
canteiro central. O agente de trânsito deverá autuá-lo
pelas infrações dos arts. 206, III, e 167, tendo em vista CAPÍTULO XVII
que as penalidades são aplicadas cumulativamente. Das Medidas Administrativas
Porém, se, ao ser abordado, um condutor não estiver
portando nem o CRLV e nem a sua CNH, considerados Art. 269. A autoridade de trânsito ou seus agentes, na
documentos de portes obrigatórios, será autuado pela esfera das competências estabelecidas neste Código e dentro

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de sua circunscrição, deverá adotar as seguintes medidas Art. 271. O veículo será removido, nos casos previstos
administrativas: neste Código, para o depósito fixado pelo órgão ou entidade
I – retenção do veículo; competente, com circunscrição sobre a via.
II – remoção do veículo; § 1o A restituição do veículo removido só ocorrerá me-
III – recolhimento da Carteira Nacional de Habilitação; diante prévio pagamento de multas, taxas e despesas com
IV – recolhimento da Permissão para Dirigir; remoção e estada, além de outros encargos previstos na
V – recolhimento do Certificado de Registro; legislação específica. (Incluído pela Lei nº 13.160, de 2015)
VI – recolhimento do Certificado de Licenciamento Anual; § 2o A liberação do veículo removido é condicionada ao
VII – (vetado); reparo de qualquer componente ou equipamento obriga-
VIII – transbordo do excesso de carga; tório que não esteja em perfeito estado de funcionamento.
IX – realização de teste de dosagem de alcoolemia ou (Incluído pela Lei nº 13.160, de 2015)
perícia de substância entorpecente ou que determine de- § 3º Se o reparo referido no § 2º demandar providência
pendência física ou psíquica; que não possa ser tomada no depósito, a autoridade respon-
X – recolhimento de animais que se encontrem soltos nas sável pela remoção liberará o veículo para reparo, na forma
vias e na faixa de domínio das vias de circulação, restituindo- transportada, mediante autorização, assinalando prazo para
-os aos seus proprietários, após o pagamento de multas e reapresentação. (Redação dada pela Lei nº 13. 281, de 2016)
encargos devidos. § 4º Os serviços de remoção, depósito e guarda de veículo
XI – realização de exames de aptidão física, mental, de poderão ser realizados por órgão público, diretamente, ou
legislação, de prática de primeiros socorros e de direção vei- por particular contratado por licitação pública, sendo o pro-
cular. (Incluído pela Lei nº 9.602, de 1998) prietário do veículo o responsável pelo pagamento dos custos
§ 1º A ordem, o consentimento, a fiscalização, as medidas desses serviços. (Redação dada pela Lei nº 13. 281, de 2016)
administrativas e coercitivas adotadas pelas autoridades de § 5o O proprietário ou o condutor deverá ser notificado,
trânsito e seus agentes terão por objetivo prioritário a pro- no ato de remoção do veículo, sobre as providências ne-
teção à vida e à incolumidade física da pessoa. cessárias à sua restituição e sobre o disposto no art. 328,
§ 2º As medidas administrativas previstas neste artigo conforme regulamentação do CONTRAN. (Incluído pela Lei
não elidem a aplicação das penalidades impostas por infra- nº 13.160, de 2015)
ções estabelecidas neste Código, possuindo caráter comple- § 6º Caso o proprietário ou o condutor não esteja pre-
mentar a estas. sente no momento da remoção do veículo, a autoridade de
trânsito, no prazo de 10 (dez) dias contado da data da re-
§ 3º São documentos de habilitação a Carteira Nacional
moção, deverá expedir ao proprietário a notificação prevista
de Habilitação e a Permissão para Dirigir.
no § 5º, por remessa postal ou por outro meio tecnológico
§ 4º Aplica-se aos animais recolhidos na forma do inciso
hábil que assegure a sua ciência, e, caso reste frustrada, a
X o disposto nos arts. 271 e 328, no que couber.
notificação poderá ser feita por edital. (Redação dada pela
Art. 270. O veículo poderá ser retido nos casos expressos
Lei nº 13. 281, de 2016)
neste Código.
§ 7o A notificação devolvida por desatualização do en-
§ 1º Quando a irregularidade puder ser sanada no local dereço do proprietário do veículo ou por recusa desse de
da infração, o veículo será liberado tão logo seja regularizada recebê-la será considerada recebida para todos os efeitos
a situação. (Incluído pela Lei nº 13.160, de 2015)
§ 2o Não sendo possível sanar a falha no local da infra- § 8o Em caso de veículo licenciado no exterior, a notifica-
ção, o veículo, desde que ofereça condições de segurança ção será feita por edital. (Incluído pela Lei nº 13.160, de 2015)
para circulação, poderá ser liberado e entregue a condutor § 9o Não caberá remoção nos casos em que a irregula-
regularmente habilitado, mediante recolhimento do Certifi- ridade puder ser sanada no local da infração. (Incluído pela
cado de Licenciamento Anual, contra apresentação de recibo, Lei nº 13.160, de 2015)
assinalando-se prazo razoável ao condutor para regularizar a § 10. O pagamento das despesas de remoção e estada
situação, para o que se considerará, desde logo, notificado. será correspondente ao período integral, contado em dias,
(Redação dada pela Lei nº 13.160, de 2015) em que efetivamente o veículo permanecer em depósito,
§ 3º O Certificado de Licenciamento Anual será devolvido limitado ao prazo de 6 (seis) meses. (Incluído pela Lei nº 13.
ao condutor no órgão ou entidade aplicadores das medidas 281, de 2016)
administrativas, tão logo o veículo seja apresentado à auto- § 11. Os custos dos serviços de remoção e estada pres-
ridade devidamente regularizado. tados por particulares poderão ser pagos pelo proprietário
§ 4º Não se apresentando condutor habilitado no local da diretamente ao contratado. (Incluído pela Lei nº 13. 281,
infração, o veículo será recolhido ao depósito, aplicando-se de 2016)
neste caso o disposto nos parágrafos do art. 262. § 12. O disposto no § 11 não afasta a possibilidade de
§ 5º A critério do agente, não se dará a retenção imediata, o respectivo ente da Federação estabelecer a cobrança por
quando se tratar de veículo de transporte coletivo transpor- meio de taxa instituída em lei. (Incluído pela Lei nº 13. 281,
tando passageiros ou veículo transportando produto perigo-
Legislação Relativa à DPRF

de 2016)
so ou perecível, desde que ofereça condições de segurança § 13. No caso de o proprietário do veículo objeto do
para circulação em via pública. recolhimento comprovar, administrativa ou judicialmente,
§ 6º Não efetuada a regularização no prazo a que se re- que o recolhimento foi indevido ou que houve abuso no
fere o § 2o, será feito registro de restrição administrativa no período de retenção em depósito, é da responsabilidade do
Renavam por órgão ou entidade executivo de trânsito dos ente público a devolução das quantias pagas por força deste
Estados e do Distrito Federal, que será retirada após compro- artigo, segundo os mesmos critérios da devolução de multas
vada a regularização. (Incluído pela Lei nº 13.160, de 2015) indevidas. (Incluído pela Lei nº 13. 281, de 2016)
§ 7o O descumprimento das obrigações estabelecidas Art. 271-A. Os serviços de recolhimento, depósito e guar-
no § 2o resultará em recolhimento do veículo ao depósito, da de veículo poderão ser executados por ente público ou
aplicando-se, nesse caso, o disposto no art. 271. (Incluído por particular contratado. (Incluído pela Medida Provisória
pela Lei nº 13.160, de 2015) nº 699, de 2015)

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§ 1o Os custos relativos ao disposto no caput são de § 3o Serão aplicadas as penalidades e medidas adminis-
responsabilidade do proprietário do veículo. (Incluído pela trativas estabelecidas no art. 165 deste Código ao condutor
Medida Provisória nº 699, de 2015) que se recusar a se submeter a qualquer dos procedimentos
§ 2o Os custos da contratação de particulares serão pagos previstos no caput deste artigo. (Incluído pela Lei nº 11.705,
pelo proprietário diretamente ao contratado. (Incluído pela de 2008)
Medida Provisória nº 699, de 2015) Art. 278. Ao condutor que se evadir da fiscalização, não
§ 3o A contratação de particulares poderá ser feita por submetendo veículo à pesagem obrigatória nos pontos de
meio de pregão. (Incluído pela Medida Provisória nº 699, pesagem, fixos ou móveis, será aplicada a penalidade pre-
de 2015) vista no art. 209, além da obrigação de retornar ao ponto
§ 4o O disposto neste artigo não afasta a possibilidade de evasão para fim de pesagem obrigatória.
de o ente da federação respectivo estabelecer a cobrança Parágrafo único. No caso de fuga do condutor à ação
por meio de taxa instituída em lei. (Incluído pela Medida policial, a apreensão do veículo dar-se-á tão logo seja loca-
Provisória nº 699, de 2015) lizado, aplicando-se, além das penalidades em que incorre,
§ 5o No caso de o proprietário do veículo objeto do reco- as estabelecidas no art. 210.
lhimento comprovar, administrativamente ou judicialmente, Art. 279. Em caso de acidente com vítima, envolvendo
que o recolhimento foi indevido ou que houve abuso no veículo equipado com registrador instantâneo de velocidade
período de retenção em depósito, é da responsabilidade do e tempo, somente o perito oficial encarregado do levanta-
ente público a devolução das quantias pagas por força deste mento pericial poderá retirar o disco ou unidade armazena-
artigo, segundo os mesmos critério da devolução de multas dora do registro.
indevidas. (Incluído pela Medida Provisória nº 699, de 2015)
Art. 272. O recolhimento da Carteira Nacional de Habili- CAPÍTULO XVIII
tação e da Permissão para Dirigir dar-se-á mediante recibo, Do Processo Administrativo
além dos casos previstos neste Código, quando houver sus-
peita de sua inautenticidade ou adulteração. Seção I
Art. 273. O recolhimento do Certificado de Registro dar- Da Autuação
-se-á mediante recibo, além dos casos previstos neste Código,
quando: Art. 280. Ocorrendo infração prevista na legislação de
I – houver suspeita de inautenticidade ou adulteração; trânsito, lavrar-se-á auto de infração, do qual constará:
II – se, alienado o veículo, não for transferida sua pro- I – tipificação da infração;
priedade no prazo de trinta dias. II – local, data e hora do cometimento da infração;
Art. 274. O recolhimento do Certificado de Licenciamento III – caracteres da placa de identificação do veículo, sua
Anual dar-se-á mediante recibo, além dos casos previstos marca e espécie, e outros elementos julgados necessários
neste Código, quando: à sua identificação;
I – houver suspeita de inautenticidade ou adulteração; IV – o prontuário do condutor, sempre que possível;
II – se o prazo de licenciamento estiver vencido; V – identificação do órgão ou entidade e da autoridade ou
III – no caso de retenção do veículo, se a irregularidade agente autuador ou equipamento que comprovar a infração;
não puder ser sanada no local. VI – assinatura do infrator, sempre que possível, valendo
Art.  275. O transbordo da carga com peso excedente esta como notificação do cometimento da infração.
é condição para que o veículo possa prosseguir viagem e § 1º (Vetado).
será efetuado às expensas do proprietário do veículo, sem § 2º A infração deverá ser comprovada por declaração
prejuízo da multa aplicável. da autoridade ou do agente da autoridade de trânsito, por
Parágrafo único. Não sendo possível desde logo atender aparelho eletrônico ou por equipamento audiovisual, rea-
ao disposto neste artigo, o veículo será recolhido ao depósi- ções químicas ou qualquer outro meio tecnologicamente
to, sendo liberado após sanada a irregularidade e pagas as disponível, previamente regulamentado pelo CONTRAN.
despesas de remoção e estada. § 3º Não sendo possível a autuação em flagrante, o agen-
Art. 276. Qualquer concentração de álcool por litro de te de trânsito relatará o fato à autoridade no próprio auto de
sangue ou por litro de ar alveolar sujeita o condutor às pe- infração, informando os dados a respeito do veículo, além
nalidades previstas no art. 165. (Redação dada pela Lei nº dos constantes nos incisos I, II e III, para o procedimento
12.760, de 2012) previsto no artigo seguinte.
Parágrafo único. O Contran disciplinará as margens de to- § 4º O agente da autoridade de trânsito competente para
lerância quando a infração for apurada por meio de aparelho lavrar o auto de infração poderá ser servidor civil, estatutário
de medição, observada a legislação metrológica. (Redação ou celetista ou, ainda, policial militar designado pela auto-
dada pela Lei nº 12.760, de 2012) ridade de trânsito com jurisdição sobre a via no âmbito de
Art. 277. O condutor de veículo automotor envolvido em sua competência.
acidente de trânsito ou que for alvo de fiscalização de trân-
sito poderá ser submetido a teste, exame clínico, perícia ou Seção II
Legislação Relativa à DPRF

outro procedimento que, por meios técnicos ou científicos, Do Julgamento das Autuações e Penalidades
na forma disciplinada pelo Contran, permita certificar influ-
ência de álcool ou outra substância psicoativa que determine Art. 281. A autoridade de trânsito, na esfera da compe-
dependência. (Redação dada pela Lei nº 12.760, de 2012) tência estabelecida neste Código e dentro de sua circuns-
§ 1o (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 12.760, de crição, julgará a consistência do auto de infração e aplicará
2012) a penalidade cabível.
§ 2o A infração prevista no art. 165 também poderá ser Parágrafo único. O auto de infração será arquivado e seu
caracterizada mediante imagem, vídeo, constatação de sinais registro julgado insubsistente:
que indiquem, na forma disciplinada pelo Contran, altera- I – se considerado inconsistente ou irregular;
ção da capacidade psicomotora ou produção de quaisquer II – se, no prazo máximo de trinta dias, não for expedida
outras provas em direito admitidas. (Redação dada pela Lei a notificação da autuação. (Redação dada pela Lei nº 9.602,
nº 12.760, de 2012) de 1998)

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Comentarios: Art. 287. Se a infração for cometida em localidade diver-
Primeiramente, cabe ressaltar que o agente de trânsi- sa daquela do licenciamento do veículo, o recurso poderá
to não aplica penalidade, mas expede o Auto de Infra- ser apresentado junto ao órgão ou entidade de trânsito da
ção, encaminhando-o, posteriormente, à autoridade de residência ou domicílio do infrator.
trânsito competente para julgar sua consistência, isto é, Parágrafo único. A autoridade de trânsito que receber o
conferir se o Auto foi lavrado de acordo com as exigên- recurso deverá remetê-lo, de pronto, à autoridade que im-
cias constantes no art. 280 do CTB. Não encontrando pôs a penalidade acompanhado das cópias dos prontuários
inconsistências, a autoridade de trânsito aplicará as pe- necessários ao julgamento.
nalidades cabíveis. Art. 288. Das decisões da JARI cabe recurso a ser inter-
Caso a autoridade de trânsito encontre alguma incon- posto, na forma do artigo seguinte, no prazo de trinta dias
sistência ou irregularidade na lavratura do Auto de In- contado da publicação ou da notificação da decisão.
fração, este deverá ser arquivado e seu registro julgado § 1º O recurso será interposto, da decisão do não pro-
insubsistente. vimento, pelo responsável pela infração, e da decisão de
provimento, pela autoridade que impôs a penalidade.
Art. 282. Aplicada a penalidade, será expedida notifica- § 2º (Revogado pela Lei nº 12.249, de 2010)
ção ao proprietário do veículo ou ao infrator, por remessa Art. 289. O recurso de que trata o artigo anterior será
postal ou por qualquer outro meio tecnológico hábil, que apreciado no prazo de trinta dias:
assegure a ciência da imposição da penalidade. I – tratando-se de penalidade imposta pelo órgão ou en-
§ 1º A notificação devolvida por desatualização do en- tidade de trânsito da União:
dereço do proprietário do veículo será considerada válida a) em caso de suspensão do direito de dirigir por mais
para todos os efeitos. de seis meses, cassação do documento de habilitação ou
§ 2º A notificação a pessoal de missões diplomáticas, de penalidade por infrações gravíssimas, pelo CONTRAN;
repartições consulares de carreira e de representações de or- b) nos demais casos, por colegiado especial integrado
ganismos internacionais e de seus integrantes será remetida pelo Coordenador-Geral da JARI, pelo Presidente da Junta
ao Ministério das Relações Exteriores para as providências que apreciou o recurso e por mais um Presidente de Junta;
cabíveis e cobrança dos valores, no caso de multa. II – tratando-se de penalidade imposta por órgão ou en-
§ 3º Sempre que a penalidade de multa for imposta a tidade de trânsito estadual, municipal ou do Distrito Federal,
pelos CETRAN E CONTRANDIFE, respectivamente.
condutor, à exceção daquela de que trata o § 1º do art. 259,
Parágrafo único. No caso da alínea b do inciso I, quando
a notificação será encaminhada ao proprietário do veículo,
houver apenas uma JARI, o recurso será julgado por seus
responsável pelo seu pagamento.
próprios membros.
§ 4º Da notificação deverá constar a data do término do
Art. 290. A apreciação do recurso previsto no art. 288
prazo para apresentação de recurso pelo responsável pela
encerra a instância administrativa de julgamento de infrações
infração, que não será inferior a trinta dias contados da data
e penalidades.
da notificação da penalidade. (Incluído pela Lei nº 9.602, Parágrafo único. Esgotados os recursos, as penalidades
de 1998) aplicadas nos termos deste Código serão cadastradas no
§ 5º No caso de penalidade de multa, a data estabelecida RENACH.
no parágrafo anterior será a data para o recolhimento de seu
valor. (Incluído pela Lei nº 9.602, de 1998) CAPÍTULO XIX
Art. 283. (Vetado). Dos Crimes de Trânsito
Art. 284. O pagamento da multa poderá ser efetuado até
a data do vencimento expressa na notificação, por oitenta Seção I
por cento do seu valor. Disposições Gerais
Parágrafo único. Não ocorrendo o pagamento da multa
no prazo estabelecido, seu valor será atualizado à data do Art. 291. Aos crimes cometidos na direção de veículos
pagamento, pelo mesmo número de UFIR fixado no art. 258. automotores, previstos neste Código, aplicam-se as normas
Art. 285. O recurso previsto no art. 283 será interposto gerais do Código Penal e do Código de Processo Penal, se este
perante a autoridade que impôs a penalidade, a qual remetê- Capítulo não dispuser de modo diverso, bem como a Lei nº
-lo-á à JARI, que deverá julgá-lo em até trinta dias. 9.099, de 26 de setembro de 1995, no que couber.
§ 1º O recurso não terá efeito suspensivo. § 1o Aplica-se aos crimes de trânsito de lesão corporal
§ 2º A autoridade que impôs a penalidade remeterá o culposa o disposto nos arts. 74, 76 e 88 da Lei no 9.099, de
recurso ao órgão julgador, dentro dos dez dias úteis subse- 26 de setembro de 1995, exceto se o agente estiver: (Re-
qüentes à sua apresentação, e, se o entender intempestivo, numerado do parágrafo único pela Lei nº 11.705, de 2008)
assinalará o fato no despacho de encaminhamento. I – sob a influência de álcool ou qualquer outra substância
§ 3º Se, por motivo de força maior, o recurso não for psicoativa que determine dependência; (Incluído pela Lei nº
Legislação Relativa à DPRF

julgado dentro do prazo previsto neste artigo, a autoridade 11.705, de 2008)


que impôs a penalidade, de ofício, ou por solicitação do re- II – participando, em via pública, de corrida, disputa ou
corrente, poderá conceder-lhe efeito suspensivo. competição automobilística, de exibição ou demonstração
Art. 286. O recurso contra a imposição de multa poderá de perícia em manobra de veículo automotor, não autorizada
ser interposto no prazo legal, sem o recolhimento do seu pela autoridade competente; (Incluído pela Lei nº 11.705,
valor. de 2008)
§ 1º No caso de não provimento do recurso, aplicar-se-á III – transitando em velocidade superior à máxima per-
o estabelecido no parágrafo único do art. 284. mitida para a via em 50 km/h (cinqüenta quilômetros por
§ 2º Se o infrator recolher o valor da multa e apresentar hora). (Incluído pela Lei nº 11.705, de 2008)
recurso, se julgada improcedente a penalidade, ser-lhe-á § 2o Nas hipóteses previstas no § 1o deste artigo, deverá
devolvida a importância paga, atualizada em UFIR ou por ser instaurado inquérito policial para a investigação da infra-
índice legal de correção dos débitos fiscais. ção penal. (Incluído pela Lei nº 11.705, de 2008)

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
Comentarios: Assim, qual seria a norma aplicável, a do art. 292 (fa-
O art. 291 do CTB dispõe sobre a aplicação subsidiária cultativa) ou a dos artigos específicos (obrigatória)? De
do Código Penal ou do Código de Processo Penal ao Có- acordo com as regras básicas de hermenêutica jurídica,
digo de Trânsito Brasileiro, determinando que as normas a lei especial derroga a geral, e a regra do art. 302 é es-
contidas nesses Institutos sejam aplicadas toda vez que pecial em relação a do art. 292. Esta, inclusive, admite a
o CTB não dispuser de modo diverso. Assim, no silêncio aplicação cumulativa da pena restritiva de direitos com
do Código de Trânsito, aplicam-se, subsidiariamente, as a privativa de liberdade.
normas contidas naqueles consagrados Diplomas. Dessa forma, não há qualquer conflito entre as duas nor-
Da mesma forma, a Lei nº 9.099/1995, que dispõe sobre mas e, se houvesse, a norma especial teria prevalência
os Juizados Especiais Criminais, será aplicada, no que sobre a geral, sendo certo que, nos crimes que preveem
couber, aos crimes dispostos no presente Código de como penalidade a suspensão ou a proibição de obter a
Trânsito, por serem considerados, na maioria das vezes, permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor
crimes de menor potencial ofensivo, ou seja, aqueles que (arts. 302, 303, 306 e 308), esta será obrigatória, cumu-
a lei comine pena máxima não superior a 2 (dois) anos, lativa com as outras penas previstas. Por exemplo: se o
cumulada ou não com multa. condutor cometer o crime previsto no art. 302 (homicídio
culposo), a ele serão aplicadas as penalidades de deten-
Art. 292. A suspensão ou a proibição de se obter a per- ção, de dois a quatro anos, e suspensão ou proibição de
missão ou a habilitação para dirigir veículo automotor pode obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo
ser imposta isolada ou cumulativamente com outras pena- automotor, obrigatoriamente.
lidades. (Redação dada pela Lei nº 12.971, de 2014) Em contrapartida, para os demais crimes previstos no
Art. 293. A penalidade de suspensão ou de proibição de CTB, o juiz poderá impor como penalidade principal,
se obter a permissão ou a habilitação, para dirigir veículo isolada ou cumulativamente com outras penalidades a
automotor, tem a duração de dois meses a cinco anos. suspensão ou proibição de obter a permissão ou a habi-
§ 1º Transitada em julgado a sentença condenatória, litação para dirigir veículo automotor.
o réu será intimado a entregar à autoridade judiciária, em Exemplificando: no caso do cometimento do crime pre-
quarenta e oito horas, a Permissão para Dirigir ou a Carteira visto no art. 311 do CTB, em que a penalidade é detenção,
de Habilitação. de seis meses a um ano, ou multa, poderá o juiz aplicar
§ 2º A penalidade de suspensão ou de proibição de se somente a penalidade de suspensão ou a proibição de
obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo au- obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo
tomotor não se inicia enquanto o sentenciado, por efeito automotor (art. 292), ou, ainda, aplicar essa penalidade
de condenação penal, estiver recolhido a estabelecimento cumulada com a detenção ou com a multa.
prisional. A penalidade tem a duração de dois meses a cinco anos
(art. 293, caput), sendo o réu intimado a entregar à auto-
Comentarios: ridade judiciária, em quarenta e oito horas, a Permissão
Os arts. 292 a 296 tratam das penalidades de suspensão para Dirigir ou a Carteira de Habilitação, após o trânsito
para dirigir veículo automotor ou a proibição de se obter em julgado da sentença condenatória.
a permissão ou a habilitação, no caso de cometimento
Ressalta-se que a suspensão ou a proibição de se obter a
dos crimes previstos no CTB.
permissão ou a habilitação para dirigir veículo automo-
Percebe-se, assim, que há duas espécies de penalidade
tor não se inicia enquanto o sentenciado, por efeito de
de suspensão do direito de dirigir, a depender da auto-
condenação penal, estiver recolhido a estabelecimento
ridade que a aplicará, uma no âmbito administrativo e
prisional. Após ser colocado em liberdade é que iniciará
outra no criminal.
o prazo estabelecido na sentença condenatória.
No âmbito administrativo, como visto, as penalidades
de suspensão do direito de dirigir serão aplicadas por
decisão fundamentada da autoridade de trânsito com-
petente, em processo administrativo, assegurado ao Art. 294. Em qualquer fase da investigação ou da ação
infrator amplo direito de defesa (art. 265), pelo prazo penal, havendo necessidade para a garantia da ordem pú-
mínimo de um mês até o máximo de um ano e, no caso blica, poderá o juiz, como medida cautelar, de ofício, ou
de reincidência no período de doze meses, pelo prazo a requerimento do Ministério Público ou ainda mediante
mínimo de seis meses até o máximo de dois anos, se- representação da autoridade policial, decretar, em decisão
gundo critérios estabelecidos pelo Contran (art. 261). motivada, a suspensão da permissão ou da habilitação para
Além disso, a suspensão do direito de dirigir será aplicada dirigir veículo automotor, ou a proibição de sua obtenção.
sempre que o infrator atingir a contagem de vinte pontos, Parágrafo único. Da decisão que decretar a suspensão ou
prevista no art. 259. a medida cautelar, ou da que indeferir o requerimento do
Por outro lado, o art. 292 e seguintes dizem respeito ao Ministério Público, caberá recurso em sentido estrito, sem
aspecto criminal da medida, pois será aplicada apenas efeito suspensivo.
Legislação Relativa à DPRF

no cometimento dos crimes em espécie ali arrolados. Art. 295. A suspensão para dirigir veículo automotor ou a
Uma questão que não é pacificada diz respeito à apli- proibição de se obter a permissão ou a habilitação será sem-
cação obrigatória ou não da penalidade de suspensão pre comunicada pela autoridade judiciária ao Conselho Na-
do direito de dirigir. A saber, o art. 292 determina que cional de Trânsito – CONTRAN, e ao órgão de trânsito do Es-
“a suspensão ou a proibição de se obter a permissão tado em que o indiciado ou réu for domiciliado ou residente.
ou a habilitação para dirigir veículo automotor pode ser Art. 296. Se o réu for reincidente na prática de crime pre-
imposta como penalidade principal, isolada ou cumula- visto neste Código, o juiz aplicará a penalidade de suspensão
tivamente com outras penalidades”. da permissão ou habilitação para dirigir veículo automotor,
Não obstante, entre as penas dos crimes elencados nos sem prejuízo das demais sanções penais cabíveis. (Redação
arts. 302, 303, 306 e 308 encontram-se a de suspensão dada pela Lei nº 11.705, de 2008)
ou proibição de obter a permissão ou a habilitação para Art. 297. A penalidade de multa reparatória consiste no
dirigir veículo automotor. pagamento, mediante depósito judicial em favor da vítima,

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ou seus sucessores, de quantia calculada com base no dis- para dirigir veículo automotor. (Incluído dada pela Lei nº
posto no § 1º do art. 49 do Código Penal, sempre que houver 12.971, de 2014)
prejuízo material resultante do crime. Art. 303. Praticar lesão corporal culposa na direção de
§ 1º A multa reparatória não poderá ser superior ao valor veículo automotor:
do prejuízo demonstrado no processo. Penas – detenção, de seis meses a dois anos e suspensão
§ 2º Aplica-se à multa reparatória o disposto nos arts. 50 ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para
a 52 do Código Penal. dirigir veículo automotor.
§ 3º Na indenização civil do dano, o valor da multa repa- Parágrafo único. Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço)
ratória será descontado. à metade, se ocorrer qualquer das hipóteses do § 1o do art.
Art. 298. São circunstâncias que sempre agravam as pe- 302. (Redação dada pela Lei nº 12.971, de 2014)
nalidades dos crimes de trânsito ter o condutor do veículo Art. 304. Deixar o condutor do veículo, na ocasião do
cometido a infração: acidente, de prestar imediato socorro à vítima, ou, não po-
I – com dano potencial para duas ou mais pessoas ou com dendo fazê-lo diretamente, por justa causa, deixar de solicitar
grande risco de grave dano patrimonial a terceiros; auxílio da autoridade pública:
II – utilizando o veículo sem placas, com placas falsas Penas – detenção, de seis meses a um ano, ou multa, se
ou adulteradas; o fato não constituir elemento de crime mais grave.
III – sem possuir Permissão para Dirigir ou Carteira de Parágrafo único. Incide nas penas previstas neste artigo o
Habilitação; condutor do veículo, ainda que a sua omissão seja suprida por
IV – com Permissão para Dirigir ou Carteira de Habilitação terceiros ou que se trate de vítima com morte instantânea
de categoria diferente da do veículo; ou com ferimentos leves.
V – quando a sua profissão ou atividade exigir cuidados Art. 305. Afastar-se o condutor do veículo do local do
especiais com o transporte de passageiros ou de carga; acidente, para fugir à responsabilidade penal ou civil que
VI – utilizando veículo em que tenham sido adulterados lhe possa ser atribuída:
equipamentos ou características que afetem a sua segurança Penas – detenção, de seis meses a um ano, ou multa.
ou o seu funcionamento de acordo com os limites de veloci- Art. 306. Conduzir veículo automotor com capacidade
dade prescritos nas especificações do fabricante; psicomotora alterada em razão da influência de álcool ou
VII – sobre faixa de trânsito temporária ou permanente- de outra substância psicoativa que determine dependência:
mente destinada a pedestres. (Redação dada pela Lei nº 12.760, de 2012)
Art. 299. (Vetado). Penas – detenção, de seis meses a três anos, multa e
Art. 300. (Vetado). suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habi-
Art. 301. Ao condutor de veículo, nos casos de acidentes litação para dirigir veículo automotor.
de trânsito de que resulte vítima, não se imporá a prisão em § 1o As condutas previstas no caput serão constatadas
flagrante, nem se exigirá fiança, se prestar pronto e integral por: (Incluído pela Lei nº 12.760, de 2012)
socorro àquela. I – concentração igual ou superior a 6 decigramas de
álcool por litro de sangue ou igual ou superior a 0,3 miligra-
Seção II ma de álcool por litro de ar alveolar; ou (Incluído pela Lei nº
Dos Crimes em Espécie 12.760, de 2012)
II – sinais que indiquem, na forma disciplinada pelo Con-
Art. 302. Praticar homicídio culposo na direção de veículo tran, alteração da capacidade psicomotora. (Incluído pela Lei
automotor: nº 12.760, de 2012)
Penas – detenção, de dois a quatro anos, e suspensão § 2o A verificação do disposto neste artigo poderá ser
ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para obtida mediante teste de alcoolemia ou toxicológico, exame
dirigir veículo automotor. clínico, perícia, vídeo, prova testemunhal ou outros meios de
§ 1o No homicídio culposo cometido na direção de veículo prova em direito admitidos, observado o direito à contrapro-
automotor, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) à metade, va. (Redação dada pela Lei nº 12.971, de 2014)
se o agente: (Incluído pela Lei nº 12.971, de 2014) § 3o O Contran disporá sobre a equivalência entre os
I – não possuir Permissão para Dirigir ou Carteira de Ha- distintos testes de alcoolemia ou toxicológicos para efeito
bilitação; (Incluído pela Lei nº 12.971, de 2014) de caracterização do crime tipificado neste artigo. (Redação
II – praticá-lo em faixa de pedestres ou na calçada; (In- dada pela Lei nº 12.971, de 2014)
cluído pela Lei nº 12.971, de 2014) Art. 307. Violar a suspensão ou a proibição de se obter
III – deixar de prestar socorro, quando possível fazê-lo a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor
sem risco pessoal, à vítima do acidente; (Incluído pela Lei imposta com fundamento neste Código:
nº 12.971, de 2014) Penas – detenção, de seis meses a um ano e multa, com
IV – no exercício de sua profissão ou atividade, estiver nova imposição adicional de idêntico prazo de suspensão
conduzindo veículo de transporte de passageiros. (Incluído ou de proibição.
Legislação Relativa à DPRF

pela Lei nº 12.971, de 2014) Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre o condenado
V – (Revogado pela Lei nº 11.705, de 2008) que deixa de entregar, no prazo estabelecido no § 1º do art.
§ 2o Se o agente conduz veículo automotor com capaci- 293, a Permissão para Dirigir ou a Carteira de Habilitação.
dade psicomotora alterada em razão da influência de álcool Art. 308. Participar, na direção de veículo automotor, em
ou de outra substância psicoativa que determine dependên- via pública, de corrida, disputa ou competição automobilís-
cia ou participa, em via, de corrida, disputa ou competição tica não autorizada pela autoridade competente, gerando
automobilística ou ainda de exibição ou demonstração de situação de risco à incolumidade pública ou privada: (Reda-
perícia em manobra de veículo automotor, não autorizada ção dada pela Lei nº 12.971, de 2014)
pela autoridade competente: (Incluído pela Lei nº 12.971, Penas – detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, multa
de 2014) e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a ha-
Penas – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e suspen- bilitação para dirigir veículo automotor. (Redação dada pela
são ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação Lei nº 12.971, de 2014)

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
§ 1o Se da prática do crime previsto no caput resultar Art. 318. (Vetado).
lesão corporal de natureza grave, e as circunstâncias demons- Art. 319. Enquanto não forem baixadas novas normas
trarem que o agente não quis o resultado nem assumiu o pelo CONTRAN, continua em vigor o disposto no art. 92 do
risco de produzi-lo, a pena privativa de liberdade é de reclu- Regulamento do Código Nacional de Trânsito – Decreto nº
são, de 3 (três) a 6 (seis) anos, sem prejuízo das outras penas 62.127, de 16 de janeiro de 1968.
previstas neste artigo. (Incluído pela Lei nº 12.971, de 2014) Art. 320. A receita arrecadada com a cobrança das multas
§ 2o Se da prática do crime previsto no caput resultar de trânsito será aplicada, exclusivamente, em sinalização,
morte, e as circunstâncias demonstrarem que o agente não engenharia de tráfego, de campo, policiamento, fiscalização
quis o resultado nem assumiu o risco de produzi-lo, a pena e educação de trânsito.
privativa de liberdade é de reclusão de 5 (cinco) a 10 (dez) Parágrafo único. O percentual de cinco por cento do valor
anos, sem prejuízo das outras penas previstas neste artigo. das multas de trânsito arrecadadas será depositado, men-
(Incluído pela Lei nº 12.971, de 2014) salmente, na conta de fundo de âmbito nacional destinado
Art. 309. Dirigir veículo automotor, em via pública, sem à segurança e educação de trânsito.
a devida Permissão para Dirigir ou Habilitação ou, ainda, se Art. 320-A. Os órgãos e as entidades do Sistema Nacional
cassado o direito de dirigir, gerando perigo de dano: de Trânsito poderão integrar-se para a ampliação e o apri-
Penas – detenção, de seis meses a um ano, ou multa. moramento da fiscalização de trânsito, inclusive por meio
Art. 310. Permitir, confiar ou entregar a direção de veículo do compartilhamento da receita arrecadada com a cobrança
automotor a pessoa não habilitada, com habilitação cassada das multas de trânsito. (Redação dada pela Lei nº 13. 281,
ou com o direito de dirigir suspenso, ou, ainda, a quem, por de 2016)
seu estado de saúde, física ou mental, ou por embriaguez, Arts. 321 e 322. (Vetados).
não esteja em condições de conduzi-lo com segurança: Art. 323. O CONTRAN, em cento e oitenta dias, fixará a
Penas – detenção, de seis meses a um ano, ou multa. metodologia de aferição de peso de veículos, estabelecendo
Art.  310-A. (Vetado). (Incluído pela Lei nº 12.619, de percentuais de tolerância, sendo durante este período sus-
2012) pensa a vigência das penalidades previstas no inciso V do art.
Art.  311. Trafegar em velocidade incompatível com a 231, aplicando-se a penalidade de vinte UFIR por duzentos
segurança nas proximidades de escolas, hospitais, estações quilogramas ou fração de excesso.
de embarque e desembarque de passageiros, logradouros Parágrafo único. Os limites de tolerância a que se refere
estreitos, ou onde haja grande movimentação ou concen- este artigo, até a sua fixação pelo CONTRAN, são aqueles
tração de pessoas, gerando perigo de dano: estabelecidos pela Lei nº 7.408, de 25 de novembro de 1985.
Penas – detenção, de seis meses a um ano, ou multa. Art. 324. (Vetado).
Art. 312. Inovar artificiosamente, em caso de acidente Art. 325. As repartições de trânsito conservarão por cinco
automobilístico com vítima, na pendência do respectivo pro- anos os documentos relativos à habilitação de condutores
cedimento policial preparatório, inquérito policial ou proces- e ao registro e licenciamento de veículos, podendo ser mi-
so penal, o estado de lugar, de coisa ou de pessoa, a fim de crofilmados ou armazenados em meio magnético ou óptico
induzir a erro o agente policial, o perito, ou juiz: para todos os efeitos legais.
Penas – detenção, de seis meses a um ano, ou multa. Art. 326. A Semana Nacional de Trânsito será comemo-
Parágrafo único. Aplica-se o disposto neste artigo, ain- rada anualmente no período compreendido entre 18 e 25
da que não iniciados, quando da inovação, o procedimento de setembro.
preparatório, o inquérito ou o processo aos quais se refere. Art. 327. A partir da publicação deste Código, somente
poderão ser fabricados e licenciados veículos que obede-
CAPÍTULO XX çam aos limites de peso e dimensões fixados na forma desta
Disposições Finais e Transitórias Lei, ressalvados os que vierem a ser regulamentados pelo
CONTRAN.
Art. 313. O Poder Executivo promoverá a nomeação dos Parágrafo único. (Vetado)
membros do CONTRAN no prazo de sessenta dias da publi- Art. 328. O veículo apreendido ou removido a qualquer
cação deste Código. título e não reclamado por seu proprietário dentro do prazo
Art. 314. O CONTRAN tem o prazo de duzentos e qua- de sessenta dias, contado da data de recolhimento, será ava-
renta dias a partir da publicação deste Código para expedir liado e levado a leilão, a ser realizado preferencialmente por
as resoluções necessárias à sua melhor execução, bem como meio eletrônico. (Redação dada pela Lei nº 13.160, de 2015)
revisar todas as resoluções anteriores à sua publicação, dan- § 1o Publicado o edital do leilão, a preparação poderá ser
do prioridade àquelas que visam a diminuir o número de iniciada após trinta dias, contados da data de recolhimento
acidentes e a assegurar a proteção de pedestres. do veículo, o qual será classificado em duas categorias: (In-
Parágrafo único. As resoluções do CONTRAN, existentes cluído pela Lei nº 13.160, de 2015)
até a data de publicação deste Código, continuam em vigor I – conservado, quando apresenta condições de segu-
naquilo em que não conflitem com ele. rança para trafegar; e (Incluído pela Lei nº 13.160, de 2015)
Legislação Relativa à DPRF

Art. 315. O Ministério da Educação e do Desporto, me- II – sucata, quando não está apto a trafegar. (Incluído pela
diante proposta do CONTRAN, deverá, no prazo de duzentos e Lei nº 13.160, de 2015)
quarenta dias contado da publicação, estabelecer o currículo § 2o Se não houver oferta igual ou superior ao valor da
com conteúdo programático relativo à segurança e à educa- avaliação, o lote será incluído no leilão seguinte, quando
ção de trânsito, a fim de atender o disposto neste Código. será arrematado pelo maior lance, desde que por valor não
Art. 316. O prazo de notificação previsto no inciso II do inferior a cinquenta por cento do avaliado. (Incluído pela Lei
parágrafo único do art. 281 só entrará em vigor após duzentos nº 13.160, de 2015)
e quarenta dias contados da publicação desta Lei. § 3o Mesmo classificado como conservado, o veículo que
Art. 317. Os órgãos e entidades de trânsito concederão for levado a leilão por duas vezes e não for arrematado será
prazo de até um ano para a adaptação dos veículos de con- leiloado como sucata. (Incluído pela Lei nº 13.160, de 2015)
dução de escolares e de aprendizagem às normas do inciso § 4o É vedado o retorno do veículo leiloado como sucata à
III do art. 136 e art. 154, respectivamente. circulação. (Incluído pela Lei nº 13.160, de 2015)

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
§ 5o A cobrança das despesas com estada no depósito cinco anos, junto ao órgão responsável pela respectiva con-
será limitada ao prazo de seis meses. (Incluído pela Lei nº cessão ou autorização.
13.160, de 2015) Art. 330. Os estabelecimentos onde se executem refor-
§ 6o Os valores arrecadados em leilão deverão ser utili- mas ou recuperação de veículos e os que comprem, vendam
zados para custeio da realização do leilão, dividindo-se os ou desmontem veículos, usados ou não, são obrigados a
custos entre os veículos arrematados, proporcionalmente possuir livros de registro de seu movimento de entrada e
ao valor da arrematação, e destinando-se os valores rema- saída e de uso de placas de experiência, conforme modelos
nescentes, na seguinte ordem, para: (Incluído pela Lei nº aprovados e rubricados pelos órgãos de trânsito.
13.160, de 2015) § 1º Os livros indicarão:
I – as despesas com remoção e estada; (Incluído pela Lei I – data de entrada do veículo no estabelecimento;
nº 13.160, de 2015) II – nome, endereço e identidade do proprietário ou
II – os tributos vinculados ao veículo, na forma do § 10; vendedor;
(Incluído pela Lei nº 13.160, de 2015) III – data da saída ou baixa, nos casos de desmontagem;
III – os credores trabalhistas, tributários e titulares de IV – nome, endereço e identidade do comprador;
crédito com garantia real, segundo a ordem de preferência V – características do veículo constantes do seu certifi-
estabelecida no art. 186 da Lei no 5.172, de 25 de outubro cado de registro;
de 1966 (Código Tributário Nacional); (Incluído pela Lei nº VI – número da placa de experiência.
13.160, de 2015) § 2º Os livros terão suas páginas numeradas tipografica-
IV – as multas devidas ao órgão ou à entidade responsável mente e serão encadernados ou em folhas soltas, sendo que,
pelo leilão; (Incluído pela Lei nº 13.160, de 2015) no primeiro caso, conterão termo de abertura e encerramen-
V – as demais multas devidas aos órgãos integrantes do to lavrados pelo proprietário e rubricados pela repartição
Sistema Nacional de Trânsito, segundo a ordem cronológica; de trânsito, enquanto, no segundo, todas as folhas serão
e (Incluído pela Lei nº 13.160, de 2015) autenticadas pela repartição de trânsito.
VI – os demais créditos, segundo a ordem de preferência § 3º A entrada e a saída de veículos nos estabelecimentos
legal. (Incluído pela Lei nº 13.160, de 2015) referidos neste artigo registrar-se-ão no mesmo dia em que
§ 7o Sendo insuficiente o valor arrecadado para quitar se verificarem assinaladas, inclusive, as horas a elas corres-
os débitos incidentes sobre o veículo, a situação será comu- pondentes, podendo os veículos irregulares lá encontrados
nicada aos credores. (Incluído pela Lei nº 13.160, de 2015) ou suas sucatas ser apreendidos ou retidos para sua completa
§ 8o Os órgãos públicos responsáveis serão comunicados regularização.
do leilão previamente para que formalizem a desvinculação § 4º As autoridades de trânsito e as autoridades policiais
dos ônus incidentes sobre o veículo no prazo máximo de dez terão acesso aos livros sempre que o solicitarem, não poden-
dias. (Incluído pela Lei nº 13.160, de 2015) do, entretanto, retirá-los do estabelecimento.
§ 9o Os débitos incidentes sobre o veículo antes da aliena- § 5º A falta de escrituração dos livros, o atraso, a fraude
ção administrativa ficam dele automaticamente desvincula- ao realizá-lo e a recusa de sua exibição serão punidas com a
dos, sem prejuízo da cobrança contra o proprietário anterior. multa prevista para as infrações gravíssimas, independente
(Incluído pela Lei nº 13.160, de 2015) das demais cominações legais cabíveis.
§ 10. Aplica-se o disposto no § 9o inclusive ao débito § 6o Os livros previstos neste artigo poderão ser substi-
relativo a tributo cujo fato gerador seja a propriedade, o tuídos por sistema eletrônico, na forma regulamentada pelo
domínio útil, a posse, a circulação ou o licenciamento de Contran. (Incluído pela Lei nº 13.154, de 2015)
veículo. (Incluído pela Lei nº 13.160, de 2015) Art.  331. Até a nomeação e posse dos membros que
§ 11. Na hipótese de o antigo proprietário reaver o ve- passarão a integrar os colegiados destinados ao julgamento
ículo, por qualquer meio, os débitos serão novamente vin- dos recursos administrativos previstos na Seção II do Capítulo
culados ao bem, aplicando-se, nesse caso, o disposto nos §§ XVIII deste Código, o julgamento dos recursos ficará a cargo
1o, 2o e 3o do art. 271. (Incluído pela Lei nº 13.160, de 2015) dos órgãos ora existentes.
§ 12. Quitados os débitos, o saldo remanescente será Art. 332. Os órgãos e entidades integrantes do Sistema
depositado em conta específica do órgão responsável pela Nacional de Trânsito proporcionarão aos membros do CON-
realização do leilão e ficará à disposição do antigo proprietá- TRAN, CETRAN e CONTRANDIFE, em serviço, todas as facili-
rio, devendo ser expedida notificação a ele, no máximo em dades para o cumprimento de sua missão, fornecendo-lhes
trinta dias após a realização do leilão, para o levantamento as informações que solicitarem, permitindo-lhes inspecionar
do valor no prazo de cinco anos, após os quais o valor será a execução de quaisquer serviços e deverão atender pronta-
transferido, definitivamente, para o fundo a que se refere mente suas requisições.
o parágrafo único do art. 320. (Incluído pela Lei nº 13.160, Art. 333. O CONTRAN estabelecerá, em até cento e vin-
de 2015) te dias após a nomeação de seus membros, as disposições
§ 13. Aplica-se o disposto neste artigo, no que couber, previstas nos arts. 91 e 92, que terão de ser atendidas pelos
ao animal recolhido, a qualquer título, e não reclamado por órgãos e entidades executivos de trânsito e executivos ro-
Legislação Relativa à DPRF

seu proprietário no prazo de sessenta dias, a contar da data doviários para exercerem suas competências.
de recolhimento, conforme regulamentação do CONTRAN. § 1º Os órgãos e entidades de trânsito já existentes terão
(Incluído pela Lei nº 13.160, de 2015) prazo de um ano, após a edição das normas, para se ade-
§ 14. Não se aplica o disposto neste artigo ao veículo quarem às novas disposições estabelecidas pelo CONTRAN,
recolhido a depósito por ordem judicial ou ao que esteja à conforme disposto neste artigo.
disposição de autoridade policial. (Incluído pela Lei nº 13.160, § 2º Os órgãos e entidades de trânsito a serem criados
de 2015) exercerão as competências previstas neste Código em cum-
Art. 329. Os condutores dos veículos de que tratam os primento às exigências estabelecidas pelo CONTRAN, con-
arts. 135 e 136, para exercerem suas atividades, deverão forme disposto neste artigo, acompanhados pelo respectivo
apresentar, previamente, certidão negativa do registro de CETRAN, se órgão ou entidade municipal, ou CONTRAN, se
distribuição criminal relativamente aos crimes de homicídio, órgão ou entidade estadual, do Distrito Federal ou da União,
roubo, estupro e corrupção de menores, renovável a cada passando a integrar o Sistema Nacional de Trânsito.

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
Art. 334. As ondulações transversais existentes deverão BALANÇO TRASEIRO – distância entre o plano vertical
ser homologadas pelo órgão ou entidade competente no pra- passando pelos centros das rodas traseiras extremas e o
zo de um ano, a partir da publicação deste Código, devendo ponto mais recuado do veículo, considerando-se todos os
ser retiradas em caso contrário. elementos rigidamente fixados ao mesmo.
Art. 335. (Vetado) BICICLETA – veículo de propulsão humana, dotado de
Art. 336. Aplicam-se os sinais de trânsito previstos no duas rodas, não sendo, para efeito deste Código, similar à
Anexo II até a aprovação pelo CONTRAN, no prazo de trezen- motocicleta, motoneta e ciclomotor.
tos e sessenta dias da publicação desta Lei, após a manifes- BICICLETÁRIO – local, na via ou fora dela, destinado ao
tação da Câmara Temática de Engenharia, de Vias e Veículos estacionamento de bicicletas.
e obedecidos os padrões internacionais. BONDE – veículo de propulsão elétrica que se move so-
Art. 337. Os CETRAN terão suporte técnico e financeiro bre trilhos.
dos Estados e Municípios que os compõem e, o CONTRAN- BORDO DA PISTA – margem da pista, podendo ser de-
DIFE, do Distrito Federal. marcada por linhas longitudinais de bordo que delineiam a
Art. 338. As montadoras, encarroçadoras, os importado- parte da via destinada à circulação de veículos.
res e fabricantes, ao comerciarem veículos automotores de CALÇADA – parte da via, normalmente segregada e em ní-
qualquer categoria e ciclos, são obrigados a fornecer, no ato vel diferente, não destinada à circulação de veículos, reserva-
da comercialização do respectivo veículo, manual contendo da ao trânsito de pedestres e, quando possível, à implantação
normas de circulação, infrações, penalidades, direção de- de mobiliário urbano, sinalização, vegetação e outros fins.
fensiva, primeiros socorros e Anexos do Código de Trânsito CAMINHÃO-TRATOR – veículo automotor destinado a
Brasileiro. tracionar ou arrastar outro.
Art. 339. Fica o Poder Executivo autorizado a abrir crédito CAMINHONETE – veículo destinado ao transporte de
especial no valor de R$ 264.954,00 (duzentos e sessenta e carga com peso bruto total de até três mil e quinhentos
quatro mil, novecentos e cinqüenta e quatro reais), em favor quilogramas.
do ministério ou órgão a que couber a coordenação máxima CAMIONETA – veículo misto destinado ao transporte de
do Sistema Nacional de Trânsito, para atender as despesas passageiros e carga no mesmo compartimento.
decorrentes da implantação deste Código. CANTEIRO CENTRAL – obstáculo físico construído como
Art. 340. Este Código entra em vigor cento e vinte dias separador de duas pistas de rolamento, eventualmente subs-
após a data de sua publicação. tituído por marcas viárias (canteiro fictício).
Art. 341. Ficam revogadas as Leis nºs 5.108, de 21 de CAPACIDADE MÁXIMA DE TRAÇÃO – máximo peso que
setembro de 1966, 5.693, de 16 de agosto de 1971, 5.820, a unidade de tração é capaz de tracionar, indicado pelo fa-
de 10 de novembro de 1972, 6.124, de 25 de outubro de bricante, baseado em condições sobre suas limitações de
1974, 6.308, de 15 de dezembro de 1975, 6.369, de 27 de geração e multiplicação de momento de força e resistência
outubro de 1976, 6.731, de 4 de dezembro de 1979, 7.031, dos elementos que compõem a transmissão.
de 20 de setembro de 1982, 7.052, de 02 de dezembro de CARREATA – deslocamento em fila na via de veículos au-
1982, 8.102, de 10 de dezembro de 1990, os arts. 1º a 6º tomotores em sinal de regozijo, de reivindicação, de protesto
e 11 do Decreto-lei nº 237, de 28 de fevereiro de 1967, e cívico ou de uma classe.
osDecretos-leis nºs 584, de 16 de maio de 1969, 912, de 2
CARRO DE MÃO – veículo de propulsão humana utilizado
de outubro de 1969, e 2.448, de 21 de julho de 1988.
no transporte de pequenas cargas.
CARROÇA – veículo de tração animal destinado ao trans-
Brasília, 23 de setembro de 1997; 176º da Independência
porte de carga.
e 109º da República.
CATADIÓPTRICO – dispositivo de reflexão e refração da
luz utilizado na sinalização de vias e veículos (olho-de-gato).
FERNANDO HENRIQUE CARDOSO
CHARRETE – veículo de tração animal destinado ao trans-
Iris Rezende
Eliseu Padilha porte de pessoas.
CICLO – veículo de pelo menos duas rodas a propulsão
ANEXO I humana.
DOS CONCEITOS E DEFINIÇÕES CICLOFAIXA – parte da pista de rolamento destinada
à circulação exclusiva de ciclos, delimitada por sinalização
Para efeito deste Código adotam-se as seguintes defi- específica.
nições: CICLOMOTOR – veículo de duas ou três rodas, provido de
ACOSTAMENTO – parte da via diferenciada da pista de um motor de combustão interna, cuja cilindrada não exceda
rolamento destinada à parada ou estacionamento de veícu- a cinqüenta centímetros cúbicos (3,05 polegadas cúbicas) e
los, em caso de emergência, e à circulação de pedestres e cuja velocidade máxima de fabricação não exceda a cinqüen-
bicicletas, quando não houver local apropriado para esse fim. ta quilômetros por hora.
AGENTE DA AUTORIDADE DE TRÂNSITO – pessoa, civil CICLOVIA – pista própria destinada à circulação de ciclos,
Legislação Relativa à DPRF

ou policial militar, credenciada pela autoridade de trânsito separada fisicamente do tráfego comum.
para o exercício das atividades de fiscalização, operação, po- CONVERSÃO – movimento em ângulo, à esquerda ou à
liciamento ostensivo de trânsito ou patrulhamento. direita, de mudança da direção original do veículo.
AR ALVEOLAR – ar expirado pela boca de um indivíduo, CRUZAMENTO – interseção de duas vias em nível.
originário dos alvéolos pulmonares. (Incluído pela Lei nº DISPOSITIVO DE SEGURANÇA – qualquer elemento que
12.760, de 2012) tenha a função específica de proporcionar maior segurança
AUTOMÓVEL – veículo automotor destinado ao trans- ao usuário da via, alertando-o sobre situações de perigo que
porte de passageiros, com capacidade para até oito pessoas, possam colocar em risco sua integridade física e dos demais
exclusive o condutor. usuários da via, ou danificar seriamente o veículo.
AUTORIDADE DE TRÂNSITO – dirigente máximo de ór- ESTACIONAMENTO – imobilização de veículos por tempo
gão ou entidade executivo integrante do Sistema Nacional superior ao necessário para embarque ou desembarque de
de Trânsito ou pessoa por ele expressamente credenciada. passageiros.

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ESTRADA – via rural não pavimentada. LUZ DE FREIO – luz do veículo destinada a indicar aos
ETILÔMETRO – aparelho destinado à medição do teor demais usuários da via, que se encontram atrás do veículo,
alcoólico no ar alveolar. (Incluído pela Lei nº 12.760, de 2012) que o condutor está aplicando o freio de serviço.
FAIXAS DE DOMÍNIO – superfície lindeira às vias rurais, LUZ INDICADORA DE DIREÇÃO (pisca-pisca) – luz do ve-
delimitada por lei específica e sob responsabilidade do ór- ículo destinada a indicar aos demais usuários da via que o
gão ou entidade de trânsito competente com circunscrição condutor tem o propósito de mudar de direção para a direita
sobre a via. ou para a esquerda.
FAIXAS DE TRÂNSITO – qualquer uma das áreas longitu- LUZ DE MARCHA À RÉ – luz do veículo destinada a ilu-
dinais em que a pista pode ser subdividida, sinalizada ou não minar atrás do veículo e advertir aos demais usuários da via
por marcas viárias longitudinais, que tenham uma largura que o veículo está efetuando ou a ponto de efetuar uma
suficiente para permitir a circulação de veículos automotores. manobra de marcha à ré.
FISCALIZAÇÃO – ato de controlar o cumprimento das LUZ DE NEBLINA – luz do veículo destinada a aumentar
normas estabelecidas na legislação de trânsito, por meio a iluminação da via em caso de neblina, chuva forte ou nu-
do poder de polícia administrativa de trânsito, no âmbito de vens de pó.
circunscrição dos órgãos e entidades executivos de trânsito LUZ DE POSIÇÃO (lanterna) – luz do veículo destinada a
e de acordo com as competências definidas neste Código. indicar a presença e a largura do veículo.
FOCO DE PEDESTRES – indicação luminosa de permissão MANOBRA – movimento executado pelo condutor para
ou impedimento de locomoção na faixa apropriada. alterar a posição em que o veículo está no momento em
FREIO DE ESTACIONAMENTO – dispositivo destinado a relação à via.
manter o veículo imóvel na ausência do condutor ou, no caso MARCAS VIÁRIAS – conjunto de sinais constituídos de
de um reboque, se este se encontra desengatado. linhas, marcações, símbolos ou legendas, em tipos e cores
FREIO DE SEGURANÇA OU MOTOR – dispositivo des- diversas, apostos ao pavimento da via.
tinado a diminuir a marcha do veículo no caso de falha do MICRO-ÔNIBUS – veículo automotor de transporte cole-
freio de serviço. tivo com capacidade para até vinte passageiros.
FREIO DE SERVIÇO – dispositivo destinado a provocar a MOTOCICLETA – veículo automotor de duas rodas, com
diminuição da marcha do veículo ou pará-lo. ou sem side-car, dirigido por condutor em posição montada.
GESTOS DE AGENTES – movimentos convencionais de MOTONETA – veículo automotor de duas rodas, dirigido
braço, adotados exclusivamente pelos agentes de autori- por condutor em posição sentada.
dades de trânsito nas vias, para orientar, indicar o direito MOTOR-CASA (MOTOR-HOME) – veículo automotor cuja
de passagem dos veículos ou pedestres ou emitir ordens, carroçaria seja fechada e destinada a alojamento, escritório,
sobrepondo-se ou completando outra sinalização ou norma comércio ou finalidades análogas.
constante deste Código. NOITE – período do dia compreendido entre o pôr-do-sol
GESTOS DE CONDUTORES – movimentos convencionais e o nascer do sol.
de braço, adotados exclusivamente pelos condutores, para ÔNIBUS – veículo automotor de transporte coletivo com
orientar ou indicar que vão efetuar uma manobra de mu- capacidade para mais de vinte passageiros, ainda que, em
dança de direção, redução brusca de velocidade ou parada. virtude de adaptações com vista à maior comodidade destes,
ILHA – obstáculo físico, colocado na pista de rolamen- transporte número menor.
to, destinado à ordenação dos fluxos de trânsito em uma OPERAÇÃO DE CARGA E DESCARGA – imobilização do
interseção. veículo, pelo tempo estritamente necessário ao carrega-
INFRAÇÃO – inobservância a qualquer preceito da legis- mento ou descarregamento de animais ou carga, na forma
lação de trânsito, às normas emanadas do Código de Trân- disciplinada pelo órgão ou entidade executivo de trânsito
sito, do Conselho Nacional de Trânsito e a regulamentação competente com circunscrição sobre a via.
estabelecida pelo órgão ou entidade executiva do trânsito. OPERAÇÃO DE TRÂNSITO – monitoramento técnico ba-
INTERSEÇÃO – todo cruzamento em nível, entronca- seado nos conceitos de Engenharia de Tráfego, das condições
mento ou bifurcação, incluindo as áreas formadas por tais de fluidez, de estacionamento e parada na via, de forma
cruzamentos, entroncamentos ou bifurcações. a reduzir as interferências tais como veículos quebrados,
INTERRUPÇÃO DE MARCHA – imobilização do veículo acidentados, estacionados irregularmente atrapalhando o
para atender circunstância momentânea do trânsito. trânsito, prestando socorros imediatos e informações aos
LICENCIAMENTO – procedimento anual, relativo a obri- pedestres e condutores.
gações do proprietário de veículo, comprovado por meio de PARADA – imobilização do veículo com a finalidade e pelo
documento específico (Certificado de Licenciamento Anual). tempo estritamente necessário para efetuar embarque ou
LOGRADOURO PÚBLICO – espaço livre destinado pela desembarque de passageiros.
municipalidade à circulação, parada ou estacionamento de PASSAGEM DE NÍVEL – todo cruzamento de nível entre
veículos, ou à circulação de pedestres, tais como calçada, uma via e uma linha férrea ou trilho de bonde com pista
parques, áreas de lazer, calçadões. própria.
Legislação Relativa à DPRF

LOTAÇÃO – carga útil máxima, incluindo condutor e pas- PASSAGEM POR OUTRO VEÍCULO – movimento de pas-
sageiros, que o veículo transporta, expressa em quilogramas sagem à frente de outro veículo que se desloca no mesmo
para os veículos de carga, ou número de pessoas, para os sentido, em menor velocidade, mas em faixas distintas da via.
veículos de passageiros. PASSAGEM SUBTERRÂNEA – obra de arte destinada à
LOTE LINDEIRO – aquele situado ao longo das vias urba- transposição de vias, em desnível subterrâneo, e ao uso de
nas ou rurais e que com elas se limita. pedestres ou veículos.
LUZ ALTA – facho de luz do veículo destinado a iluminar PASSARELA – obra de arte destinada à transposição de
a via até uma grande distância do veículo. vias, em desnível aéreo, e ao uso de pedestres.
LUZ BAIXA – facho de luz do veículo destinada a ilumi- PASSEIO – parte da calçada ou da pista de rolamento,
nar a via diante do veículo, sem ocasionar ofuscamento ou neste último caso, separada por pintura ou elemento físico
incômodo injustificáveis aos condutores e outros usuários separador, livre de interferências, destinada à circulação ex-
da via que venham em sentido contrário. clusiva de pedestres e, excepcionalmente, de ciclistas.

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PATRULHAMENTO – função exercida pela Polícia Rodo- e acessórios, da roda sobressalente, do extintor de incêndio
viária Federal com o objetivo de garantir obediência às nor- e do fluido de arrefecimento, expresso em quilogramas.
mas de trânsito, assegurando a livre circulação e evitando TRAILER – reboque ou semi-reboque tipo casa, com duas,
acidentes. quatro, ou seis rodas, acoplado ou adaptado à traseira de
PERÍMETRO URBANO – limite entre área urbana e área automóvel ou camionete, utilizado em geral em atividades
rural. turísticas como alojamento, ou para atividades comerciais.
PESO BRUTO TOTAL – peso máximo que o veículo trans- TRÂNSITO – movimentação e imobilização de veículos,
mite ao pavimento, constituído da soma da tara mais a lo- pessoas e animais nas vias terrestres.
tação. TRANSPOSIÇÃO DE FAIXAS – passagem de um veículo
PESO BRUTO TOTAL COMBINADO – peso máximo trans- de uma faixa demarcada para outra.
mitido ao pavimento pela combinação de um caminhão- TRATOR – veículo automotor construído para realizar tra-
-trator mais seu semi-reboque ou do caminhão mais o seu balho agrícola, de construção e pavimentação e tracionar
reboque ou reboques. outros veículos e equipamentos.
PISCA-ALERTA – luz intermitente do veículo, utilizada em ULTRAPASSAGEM – movimento de passar à frente de
caráter de advertência, destinada a indicar aos demais usu- outro veículo que se desloca no mesmo sentido, em menor
ários da via que o veículo está imobilizado ou em situação velocidade e na mesma faixa de tráfego, necessitando sair
de emergência. e retornar à faixa de origem.
PISTA – parte da via normalmente utilizada para a circu- UTILITÁRIO – veículo misto caracterizado pela versatili-
lação de veículos, identificada por elementos separadores dade do seu uso, inclusive fora de estrada.
ou por diferença de nível em relação às calçadas, ilhas ou VEÍCULO ARTICULADO – combinação de veículos aco-
aos canteiros centrais. plados, sendo um deles automotor.
PLACAS – elementos colocados na posição vertical, VEÍCULO AUTOMOTOR – todo veículo a motor de pro-
fixados ao lado ou suspensos sobre a pista, transmitindo pulsão que circule por seus próprios meios, e que serve nor-
mensagens de caráter permanente e, eventualmente, va- malmente para o transporte viário de pessoas e coisas, ou
riáveis, mediante símbolo ou legendas pré-reconhecidas e para a tração viária de veículos utilizados para o transporte
legalmente instituídas como sinais de trânsito. de pessoas e coisas. O termo compreende os veículos conec-
POLICIAMENTO OSTENSIVO DE TRÂNSITO – função tados a uma linha elétrica e que não circulam sobre trilhos
exercida pelas Polícias Militares com o objetivo de preve- (ônibus elétrico).
nir e reprimir atos relacionados com a segurança pública e VEÍCULO DE CARGA – veículo destinado ao transporte
de garantir obediência às normas relativas à segurança de de carga, podendo transportar dois passageiros, exclusive
trânsito, assegurando a livre circulação e evitando acidentes. o condutor.
PONTE – obra de construção civil destinada a ligar mar- VEÍCULO DE COLEÇÃO – aquele que, mesmo tendo sido
gens opostas de uma superfície líquida qualquer. fabricado há mais de trinta anos, conserva suas característi-
REBOQUE – veículo destinado a ser engatado atrás de cas originais de fabricação e possui valor histórico próprio.
um veículo automotor. VEÍCULO CONJUGADO – combinação de veículos, sendo
REGULAMENTAÇÃO DA VIA – implantação de sinalização o primeiro um veículo automotor e os demais reboques ou
de regulamentação pelo órgão ou entidade competente com equipamentos de trabalho agrícola, construção, terraplena-
circunscrição sobre a via, definindo, entre outros, sentido de gem ou pavimentação.
direção, tipo de estacionamento, horários e dias. VEÍCULO DE GRANDE PORTE – veículo automotor desti-
REFÚGIO – parte da via, devidamente sinalizada e pro- nado ao transporte de carga com peso bruto total máximo
tegida, destinada ao uso de pedestres durante a travessia superior a dez mil quilogramas e de passageiros, superior a
da mesma. vinte passageiros.
RENACH – Registro Nacional de Condutores Habilitados. VEÍCULO DE PASSAGEIROS – veículo destinado ao trans-
RENAVAM – Registro Nacional de Veículos Automotores. porte de pessoas e suas bagagens.
RETORNO – movimento de inversão total de sentido da VEÍCULO MISTO – veículo automotor destinado ao trans-
direção original de veículos. porte simultâneo de carga e passageiro.
RODOVIA – via rural pavimentada. VIA – superfície por onde transitam veículos, pessoas e
SEMI-REBOQUE – veículo de um ou mais eixos que se animais, compreendendo a pista, a calçada, o acostamento,
apóia na sua unidade tratora ou é a ela ligado por meio de ilha e canteiro central.
articulação. VIA DE TRÂNSITO RÁPIDO – aquela caracterizada por
SINAIS DE TRÂNSITO – elementos de sinalização viária acessos especiais com trânsito livre, sem interseções em
que se utilizam de placas, marcas viárias, equipamentos de nível, sem acessibilidade direta aos lotes lindeiros e sem
controle luminosos, dispositivos auxiliares, apitos e gestos, travessia de pedestres em nível.
destinados exclusivamente a ordenar ou dirigir o trânsito VIA ARTERIAL – aquela caracterizada por interseções
dos veículos e pedestres. em nível, geralmente controlada por semáforo, com aces-
Legislação Relativa à DPRF

SINALIZAÇÃO – conjunto de sinais de trânsito e disposi- sibilidade aos lotes lindeiros e às vias secundárias e locais,
tivos de segurança colocados na via pública com o objetivo possibilitando o trânsito entre as regiões da cidade.
de garantir sua utilização adequada, possibilitando melhor VIA COLETORA – aquela destinada a coletar e distribuir o
fluidez no trânsito e maior segurança dos veículos e pedestres trânsito que tenha necessidade de entrar ou sair das vias de
que nela circulam. trânsito rápido ou arteriais, possibilitando o trânsito dentro
SONS POR APITO – sinais sonoros, emitidos exclusiva- das regiões da cidade.
mente pelos agentes da autoridade de trânsito nas vias, para VIA LOCAL – aquela caracterizada por interseções em
orientar ou indicar o direito de passagem dos veículos ou nível não semaforizadas, destinada apenas ao acesso local
pedestres, sobrepondo-se ou completando sinalização exis- ou a áreas restritas.
tente no local ou norma estabelecida neste Código. VIA RURAL – estradas e rodovias.
TARA – peso próprio do veículo, acrescido dos pesos da VIA URBANA – ruas, avenidas, vielas, ou caminhos e
carroçaria e equipamento, do combustível, das ferramentas similares abertos à circulação pública, situados na área ur-

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
bana, caracterizados principalmente por possuírem imóveis Corpo de Bombeiros: tem a função de executar ativida-
edificados ao longo de sua extensão. des de defesa civil, especialmente o combate a incêndios
VIAS E ÁREAS DE PEDESTRES – vias ou conjunto de vias e acidentes1.
destinadas à circulação prioritária de pedestres. * As Polícias Militares e Corpo de Bombeiros Militares
VIADUTO – obra de construção civil destinada a transpor são forças auxiliares e reserva do Exército, podendo atuar
uma depressão de terreno ou servir de passagem superior. externamente em caso de guerra declarada.
Guarda Municipal: os Municípios poderão constituir
Fabrício Sarmanho/Eduardo Muniz Machado Cavalcanti Guardas Municipais destinadas à proteção de seus bens,
serviços e instalações. É importante dizer que muitos mu-
SEGURANÇA PÚBLICA nicípios têm se utilizado da Guarda Municipal como polícia
repressiva. Contudo, tal atividade não se reveste de emba-
Busca garantir a todos os cidadãos a proteção de seus di- samento constitucional.
reitos, individuais e sociais, proporcionando um convívio social * A remuneração dos servidores policiais será feita por
mais harmônico. É dever do Estado manter uma segurança subsídio fixado em parcela única, vedado o acréscimo de
pública, assim como é direito e responsabilidade de todos os qualquer gratificação, adicional, abono, prêmio, verba de
cidadãos manter a ordem pública e a salvaguarda das pessoas representação ou outra espécie remuneratória.
e do patrimônio. Isso significa que as pessoas não são obrigadas A EC nº 82/2014 inseriu no capítulo da Segurança Pública
a manter a segurança pública, sob pena de regresso à vingança previsão expressa acerca da segurança viária, exercido por
privada, mas revela que é imprescindível a participação dos órgãos ou entidades executivos e agentes de trânsito no
cidadãos no cumprimento das leis e no respeito ao próximo, âmbito dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. Tais
fomentando a consciência de cidadania na sociedade. carreiras, estruturadas em Carreira, são responsáveis pela
A segurança pública brasileira pode ser preventiva, de na- preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas
tureza administrativa, ou judiciária, de natureza repressiva. e do seu patrimônio nas vias públicas, por meio de políticas
• Preventiva: é aquela que atua no sentido de evitar a que envolvam educação, engenharia e fiscalização de trânsito.
prática de condutas delituosas. Função administrativa de
manter a tranquilidade pública, evitando a prática de ilícitos Dispositivos Constitucionais
(Polícia administrativa).
• Judiciária: é aquela que visa descobrir a autoria de in- TÍTULO V
frações criminais já praticadas. Função de investigar os delitos Da Defesa do Estado e Das
praticados, no sentido de embasar uma futura ação penal, se for Instituições Democráticas
o caso. É importante dizer que o termo Judiciária aqui empre- .............................................................................................
gado não significa propriamente que a Polícia exerce função CAPÍTULO III
judiciária, exclusiva do Poder Judiciário (Polícia judiciária). Da Segurança Pública
Órgãos da Segurança Pública
I – Polícia Federal; Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito
II – Polícia Rodoviária Federal; e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação
III – Polícia Ferroviária Federal; da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do pa-
IV – Polícias Civis; trimônio, através dos seguintes órgãos:
V – Polícias Militares e Corpo de Bombeiros Militares. I – polícia federal;
II – polícia rodoviária federal;
Esfera de Segurança Pública III – polícia ferroviária federal;
• nível federal: Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal IV – polícias civis;
e Polícia Ferroviária Federal; V – polícias militares e corpos de bombeiros militares.
• nível estadual: Polícia Civil, Polícia Militar e Corpo de § 1º A polícia federal, instituída por lei como órgão per-
Bombeiros; manente, organizado e mantido pela União e estruturado
• nível municipal: Guarda Municipal. em carreira, destina-se a:
I – apurar infrações penais contra a ordem política e
Polícia Federal: é organizada em carreira e tem natureza social ou em detrimento de bens, serviços e interesses da
de polícia preventiva e repressiva. A Polícia Federal tem como União ou de suas entidades autárquicas e empresas públicas,
atribuição evitar a prática de ilícitos penais, apurar as infrações assim como outras infrações cuja prática tenha repercussão
penais praticadas, especialmente, contra bens, serviços e inte- interestadual ou internacional e exija repressão uniforme,
resses da União ou de suas entidades autárquicas e empresas segundo se dispuser em lei;
públicas, assim como os crimes de repercussão interestadual, II – prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e
internacional ou que exigem repressão uniforme. A polícia drogas afins, o contrabando e o descaminho, sem prejuízo da
judiciária no âmbito federal é de sua exclusividade. Incluem- ação fazendária e de outros órgãos públicos nas respectivas
-se, portanto, nessas atribuições, prevenir e reprimir o tráfico áreas de competência;
Legislação Relativa à DPRF

de entorpecentes e drogas afins, o contrabando; policiar os III – exercer as funções de polícia marítima, aeroportuária
aeroportos, mares e as fronteiras do País, entre outras. e de fronteiras;
Polícia Rodoviária Federal: tem a função de patrulhar IV – exercer, com exclusividade, as funções de polícia
as rodovias federais, tanto para evitar acidentes como para judiciária da União2.
impedir a prática de crimes. § 2º A polícia rodoviária federal, órgão permanente,
Polícia Ferroviária Federal: tem a função de patrulhar organizado e mantido pela União e estruturado em carreira,
as ferrovias federais. destina-se, na forma da lei, ao patrulhamento ostensivo
Polícia Civil: é o exercício da Polícia Judiciária, ou seja, das rodovias federais3.
apuração de infrações cometidas, exceto as infrações mili-
tares e aquelas reservadas à Polícia Federal. 1
Assunto cobrado na prova da Esaf/Ministério da Integração Nacional/Secretaria
Polícia Militar: tem a função de repressão, ou seja, im- Nacional de Defesa Civil/2012.
2
Assunto cobrado na prova do Cespe/PRF/Agente Administrativo/2012.
pedir a prática de infrações. 3
Assunto cobrado na prova do Cespe/PRF/Agente Administrativo/2012.

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§ 3º A polícia ferroviária federal, órgão permanente, A Polícia Rodoviária Federal (PRF) está presente em
organizado e mantido pela União e estruturado em carreira, todas as unidades da federação e é administrada pelo
destina-se, na forma da lei, ao patrulhamento ostensivo das Departamento de Polícia Rodoviária Federal (DPRF), com
ferrovias federais. sede em Brasília. Os  Estados são divididos em unidades
§ 4º Às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia administrativas chamadas de Regionais. Uma regional pode
de carreira, incumbem, ressalvada a competência da União, ser uma “Superintendência”, no caso de Estados maiores,
as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações ou um “Distrito”, em Estados menores. Algumas regionais
penais, exceto as militares. englobam mais de um Estado brasileiro. As  regionais são
§ 5º Às polícias militares cabem a polícia ostensiva e a divididas em “Delegacias”, que coordenam os postos (bases)
preservação da ordem pública; aos corpos de bombeiros
de fiscalização.
militares, além das atribuições definidas em lei, incumbe a
Para cumprir sua missão institucional, a Polícia Rodovi-
execução de atividades de defesa civil.
ária Federal conta com frota de viaturas, distribuídas entre
§ 6º As polícias militares e corpos de bombeiros mi­litares,
forças auxiliares e reserva do Exército, subor­dinam-se, junta- veículos de policiamento e resgate, e de aeronaves, também
mente com as polícias civis, aos Governadores dos Estados, configuradas para as ações de fiscalização e remoção de
do Distrito Federal e dos Territórios. vítimas de acidentes.
§ 7º A lei disciplinará a organização e o funcionamento Apesar do trabalho uniformizado, o  DPRF não é uma
dos órgãos responsáveis pela segurança pública, de maneira instituição militar e não existe uma hierarquia rígida entre
a garantir a eficiência de suas atividades. os policiais. Toda a hierarquia é baseada nas funções de
§ 8º Os Municípios poderão constituir guardas municipais chefia, que podem ser ocupadas por qualquer policial, por
destinadas à proteção de seus bens, serviços e instalações, exemplo, pode acontecer de um Agente Especial ser chefe
conforme dispuser a lei. de um Inspetor.
§ 9º A remuneração dos servidores policiais integrantes A PRF, assim como outras Polícias, também é dotada de
dos órgãos relacionados neste artigo será fixada na forma núcleos de policiamento especializados, como o Núcleo de
do § 4º do art. 39. Operações Especiais (NOE), onde seus integrantes recebem
§ 10. A segurança viária, exercida para a preservação treinamento especializado para atuar em ações específicas –
da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do seu como em Operações de Controle de Distúrbios, Ações Táticas,
patrimônio nas vias públicas: Anti e Contra Bombas, Tiro de Precisão etc.
I – compreende a educação, engenharia e fiscalização de
trânsito, além de outras atividades previstas em lei, que asse- Missão da DPRF
gurem ao cidadão o direito à mobilidade urbana eficiente; e
II – compete, no âmbito dos Estados, do Distrito Federal
Preservar a vida e promover a paz pública com segurança
e dos Municípios, aos respectivos órgãos ou entidades exe-
cutivos e seus agentes de trânsito, estruturados em Carreira, cidadã.
na forma da lei. (Parágrafo e incisos acrescidos pela Emenda
Constitucional nº 82, de 16/7/2014) Visão
...................................................................................................
Ser referência como instituição de policiamento ostensivo
Welma Maia e indutora de políticas públicas de valorização da vida, com
reconhecimento internacional.
LEI Nº 9.654, DE 2 DE JUNHO DE 1998 E Valores:
DECRETO Nº 1.655, DE 3 DE OUTUBRO • ética;
DE 1995 • comprometimento;
• honestidade;
Histórico da Polícia Rodoviária Federal • urbanidade;
• profissionalismo;
Inicialmente, convém conhecer o histórico dessa insti- • lealdade;
tuição. • equidade;
A Polícia Rodoviária Federal foi criada pelo presidente • coragem;
Washington Luiz no dia 24 de julho de 1928 (dia da Polícia • orgulho de pertencer.
Rodoviária Federal), com a denominação inicial de “Polícia
de Estradas”. Noções gerais
Em 23 de julho de 1935 (dia do Policial Rodoviário Fe­ A Lei nº 9.654, de 2 de junho de 1998, criou a carreira de
Legislação Relativa à DPRF

deral) foi criado o primeiro quadro de policiais da hoje Polícia


Policial Rodoviário Federal, no âmbito do Poder Executivo.
Rodoviária Federal, denominados, à época, “Inspetores de
Inicialmente convém destacar que a Polícia Rodoviária
Tráfego”. No ano de 1945, já com a denominação de Polícia
Rodoviária Federal, a  corporação foi vinculada ao extinto Federal é um órgão organizado e mantido pela União, e está
Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (DNER). vinculado ao Ministério da Justiça.
Finalmente, em 1988, com o advento da Constituinte, A principal atribuição da Polícia Rodoviária Federal está
a Polícia Rodoviária Federal foi integrada ao Sistema Nacional prevista na Constituição Federal:
de Segurança Pública, recebendo como missão exercer o
patrulhamento ostensivo das rodovias federais. Desde 1991, § 2º A polícia rodoviária federal, órgão permanente,
a Polícia Rodoviária Federal integra a estrutura organizacio- organizado e mantido pela União e estruturado em
nal do Ministério da Justiça, como Departamento de Polícia carreira, destina‑se, na forma da lei, ao patrulhamen-
Rodoviária Federal. to ostensivo das rodovias federais.

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
Atenção: Atualmente, com as alterações trazidas pela Lei
O Decreto nº 1.655/1995 estabeleceu as seguintes com- nº 12.775, de 28 de dezembro de 2012, a Carreira de Policial
petências da Polícia Rodoviária Federal (art. 1º): Rodoviário Federal passa a ser estruturada nas seguintes
• realizar o patrulhamento ostensivo, executando ope- classes: Terceira, Segunda, Primeira e Especial.
rações relacionadas com a segurança pública, com o Para fins de enquadramento na Terceira Classe, será
objetivo de preservar a ordem, a incolumidade das observado o tempo de exercício do servidor, de acordo com
pessoas, o patrimônio da União e o de terceiros; os seguintes critérios:
• exercer os poderes de autoridade de polícia de trânsi- • menos de 1 (um) ano de exercício na classe de Agente:
to, cumprindo e fazendo cumprir a legislação e demais Padrão I;
normas pertinentes, inspecionar e fiscalizar o trânsito, • de 1 (um) ano completo até menos de 2 (dois) anos
assim como efetuar convênios específicos com outras de exercício na classe de Agente: Padrão II; e
organizações similares; • 2 (dois) anos completos ou mais de exercício na classe
• aplicar e arrecadar as multas impostas por infrações de Agente: Padrão III.
de trânsito e os valores decorrentes da prestação de
serviços de estadia e remoção de veículos, objetos, O tempo que exceder o período mínimo de 1 (um) ano
animais e escolta de veículos de cargas excepcionais; para enquadramento no padrão acima citado será compu-
• executar serviços de prevenção, atendimento de aci- tado para fins da progressão ou promoção subsequente.
dentes e salvamento de vítimas nas rodovias federais; Importante ressaltar que antes do advento da Lei
• realizar perícias, levantamentos de locais boletins nº 12.775/2012, o ingresso na carreira se dava no padrão
de ocorrências, investigações, testes de dosagem único da classe de Agente, onde o titular deveria permanecer
alcoólica e outros procedimentos estabelecidos em por pelo menos 3 (três) anos ou até obter o direito à pro-
leis e regulamentos, imprescindíveis à elucidação dos moção à classe subsequente. Atualmente, a investidura no
acidentes de trânsito; cargo de Policial Rodoviário Federal dar‑se‑á no padrão inicial
• credenciar os serviços de escolta, fiscalizar e adotar da Terceira Classe, devendo permanecer preferencialmente
medidas de segurança relativas aos serviços de re- no local de sua primeira lotação por um período mínimo de
moção de veículos, escolta e transporte de cargas 3 (três) anos exercendo atividades de natureza operacional
indivisíveis; voltadas ao patrulhamento ostensivo e à fiscalização de
• assegurar a livre circulação nas rodovias federais, trânsito, sendo sua remoção condicionada a concurso de
podendo solicitar ao órgão rodoviário a adoção de remoção, permuta ou ao interesse da administração.
medidas emergenciais, bem como zelar pelo cum- Os ocupantes de cargos da carreira de Policial Rodoviá­
primento das normas legais relativas ao direito de rio Federal ficam sujeitos a integral e exclusiva dedicação
vizinhança, promovendo a interdição de construções, às atividades do cargo e à jornada de trabalho de quarenta
obras e instalações não autorizadas; horas semanais.
• executar medidas de segurança, planejamento e es- Por fim, a lei assinala que os cargos em comissão e as
coltas nos deslocamentos do Presidente da República, funções de confiança do Departamento de Polícia Rodo-
Ministros de Estado, Chefes de Estados e diplomatas viária Federal serão preenchidos, preferencialmente, por
estrangeiros e outras autoridades, quando necessário,
servidores integrantes da carreira que tenham comporta-
e sob a coordenação do órgão competente;
mento exemplar e que estejam posicionados nas classes
• efetuar a fiscalização e o controle do tráfico de meno-
finais, ressalvados os casos de interesse da administração,
res nas rodovias federais, adotando as providências
conforme normas a serem estabelecidas pelo Ministro de
cabíveis contidas na Lei nº 8.069, de 13 junho de 1990
Estado da Justiça.
(Estatuto da Criança e do Adolescente);
• colaborar e atuar na prevenção e repressão aos crimes
contra a vida, os costumes, o patrimônio, a ecologia, LEI Nº 9.654, DE 2 DE JUNHO DE 1998
o meio ambiente, os furtos e roubos de veículos e bens,
o tráfico de entorpecentes e drogas afins, o contraban- Cria a carreira de Policial
do, o descaminho e os demais crimes previstos em leis. Rodoviário Federal e dá outras
providências.
O Decreto também conferiu aos servidores policiais da
Polícia Rodoviária Federal o livre porte de arma e franco O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congres-
acesso aos locais sob fiscalização do órgão, assegurando- so Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
-lhes, quando em serviço, prioridade em todos os tipos de Art.  1º Fica criada, no âmbito do Poder Executivo,
transporte e comunicação (art. 2º). a carreira de Policial Rodoviário Federal, com as atribuições
O ingresso na carreira de Policial Rodoviário Federal previstas na Constituição Federal, no Código de Trânsito
dá‑se mediante aprovação em concurso público, constituído Brasileiro e na legislação específica.
de duas fases, ambas eliminatórias e classificatórias, sendo Parágrafo único. A  implantação da carreira far‑se‑á
Legislação Relativa à DPRF

a primeira de exame psicotécnico e de provas e títulos, e a mediante transformação dos atuais dez mil e noventa e
segunda constituída de curso de formação, sendo requisitos oito cargos efetivos de Patrulheiro Rodoviário Federal, do
para o ingresso na carreira o diploma de curso superior quadro geral do Ministério da Justiça, em cargos de Policial
completo, em nível de graduação, devidamente reconhe- Rodoviário Federal.
cido pelo Ministério da Educação, dentre outros requisitos Art. 2º A Carreira de que trata esta Lei é composta do
estabelecidos no edital do concurso. cargo de Policial Rodoviário Federal, de nível intermediário,
Inicialmente, a  carreira de Policial Rodoviário Federal estruturada nas classes de Inspetor, Agente Especial, Agente
estava estruturada nas seguintes classes: Operacional e Agente, na forma do Anexo I desta Lei. (Incluído
• Inspetor; pela Lei nº 11.784, de 2008)
• Agente Especial; § 1º As atribuições gerais das classes do cargo de Poli-
• Agente Operacional; cial Rodoviário Federal são as seguintes: (Incluído pela Lei
• Agente. nº 11.784, de 2008)

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I – classe de Inspetor: atividades de natureza policial e § 2º As atribuições específicas de cada uma das classes
administrativa, envolvendo direção, planejamento, coor- referidas no § 1º serão estabelecidas em ato dos Ministros de
denação, supervisão, controle e avaliação administrativa Estado do Planejamento, Orçamento e Gestão e da Justiça.
e operacional, coordenação e direção das atividades de (Incluído pela Lei nº 12.775, de 2012)
corregedoria, inteligência e ensino, bem como a articulação § 3º Para fins de enquadramento na Terceira Classe, será
e o intercâmbio com outras organizações e corporações observado o tempo de exercício do servidor, de acordo com
policiais, em âmbito nacional e internacional, além das os seguintes critérios: (Incluído pela Lei nº 12.775, de 2012)
atribuições da classe de Agente Especial; (Incluído pela Lei I – menos de 1 (um) ano de exercício na classe de Agente:
nº 11.784, de 2008) Padrão I; (Incluído pela Lei nº 12.775, de 2012)
II – classe de Agente Especial: atividades de natureza po- II – de 1 (um) ano completo até menos de 2 (dois) anos
licial, envolvendo planejamento, coordenação, capacitação, de exercício na classe de Agente: Padrão II; e (Incluído pela
controle e execução administrativa e operacional, bem como Lei nº 12.775, de 2012)
articulação e intercâmbio com outras organizações policiais, III – 2 (dois) anos completos ou mais de exercício na classe
em âmbito nacional, além das atribuições da classe de Agente de Agente: Padrão III. (Incluído pela Lei nº 12.775, de 2012)
Operacional; (Incluído pela Lei nº 11.784, de 2008) § 4º O tempo que exceder o período mínimo de 1 (um)
III – classe de Agente Operacional: atividades de natureza ano para enquadramento no padrão de que trata o § 3º será
policial envolvendo a execução e controle administrativo e computado para fins da progressão ou promoção subsequen-
operacional das atividades inerentes ao cargo, além das atri- te. (Incluído pela Lei nº 12.775, de 2012)
buições da classe de Agente; e (Incluído pela Lei nº 11.784, Art. 3º O ingresso nos cargos da carreira de que trata esta
de 2008) Lei dar‑se‑á mediante aprovação em concurso público, cons-
IV  – classe de Agente: atividades de natureza policial tituído de duas fases, ambas eliminatórias e classificatórias,
envolvendo a fiscalização, patrulhamento e policiamento sendo a primeira de exame psicotécnico e de provas e títulos
ostensivo, atendimento e socorro às vítimas de acidentes e a segunda constituída de curso de formação.
rodoviários e demais atribuições relacionadas com a área § 1º São requisitos para o ingresso na carreira o diploma
operacional do Departamento de Polícia Rodoviária Federal. de curso superior completo, em nível de graduação, devida-
(Incluído pela Lei nº 11.784, de 2008) mente reconhecido pelo Ministério da Educação, e os demais
§ 2º As atribuições específicas de cada uma das classes requisitos estabelecidos no edital do concurso. (Redação
referidas no § 1º deste artigo serão estabelecidas em ato dos dada pela Lei nº 11.784, de 2008)
Ministros de Estado do Planejamento, Orçamento e Gestão § 2º A investidura no cargo de Policial Rodoviário Federal
e da Justiça. (Incluído pela Lei nº 11.358, de 2006). dar‑se‑á no padrão único da classe de Agente, onde o titular
§  3º Os cargos efetivos de Policial Rodoviário Federal, permanecerá por pelo menos 3 (três) anos ou até obter o
estruturados na forma do caput deste artigo, têm a sua direito à promoção à classe subseqüente. (Redação dada
correlação estabelecida no Anexo II desta Lei. (Incluído pela pela Lei nº 11.784, de 2008)
Lei nº 11.358, de 2006). § 3º A partir de 1º de janeiro de 2013, a  investidura
Art. 2º‑A. A partir de 1º de janeiro de 2013, a Carreira no cargo de Policial Rodoviário Federal dar‑se‑á no padrão
de que trata esta Lei, composta do cargo de Policial Rodovi- inicial da Terceira Classe. (Redação dada pela Lei nº 12.775,
de 2012)
ário Federal, de nível superior, passa a ser estruturada nas
§ 4º O ocupante do cargo de Policial Rodoviário Federal
seguintes classes: Terceira, Segunda, Primeira e Especial,
permanecerá preferencialmente no local de sua primeira
na forma do Anexo I‑A, observada a correlação disposta no
lotação por um período mínimo de 3 (três) anos exercendo
Anexo II‑A. (Incluído pela Lei nº 12.775, de 2012)
atividades de natureza operacional voltadas ao patrulha-
§ 1º As atribuições gerais das classes do cargo de Poli-
mento ostensivo e à fiscalização de trânsito, sendo sua
cial Rodoviário Federal são as seguintes: (Incluído pela Lei
remoção condicionada a concurso de remoção, permuta
nº 12.775, de 2012)
ou ao interesse da administração. (Redação dada pela Lei
I – Classe Especial: atividades de natureza policial e admi- nº 12.269, de 2010)
nistrativa, envolvendo direção, planejamento, coordenação, Art. 4º (Revogado pela Lei nº 11.358, de 2006).
supervisão, controle e avaliação administrativa e operacional, Art. 5º (Revogado pela Lei nº 11.358, de 2006).
coordenação e direção das atividades de corregedoria, inte- Art. 6º Fica extinta a Gratificação Temporária, nos termos
ligência e ensino, bem como a articulação e o intercâmbio do § 3º do art. 1º da Lei nº 9.166, de 20 de dezembro de
com outras organizações e corporações policiais, em âmbito 1995.
nacional e internacional, além das atribuições da Primeira Art.  7º Os ocupantes de cargos da carreira de Policial
Classe; (Incluído pela Lei nº 12.775, de 2012) Rodoviário Federal ficam sujeitos a integral e exclusiva de-
II – Primeira Classe: atividades de natureza policial, en- dicação às atividades do cargo.
volvendo planejamento, coordenação, capacitação, controle Art. 8º Os cargos em comissão e as funções de confiança
e execução administrativa e operacional, bem como articu- do Departamento de Polícia Rodoviária Federal serão pre-
lação e intercâmbio com outras organizações policiais, em enchidos, preferencialmente, por servidores integrantes
Legislação Relativa à DPRF

âmbito nacional, além das atribuições da Segunda Classe; da carreira que tenham comportamento exemplar e que
(Incluído pela Lei nº 12.775, de 2012) estejam posicionados nas classes finais, ressalvados os casos
III – Segunda Classe: atividades de natureza policial en- de interesse da administração, conforme normas a serem
volvendo a execução e controle administrativo e operacional estabelecidas pelo Ministro de Estado da Justiça.
das atividades inerentes ao cargo, além das atribuições da Art. 9º É de quarenta horas semanais a jornada de traba-
Terceira Classe; e (Incluído pela Lei nº 12.775, de 2012) lho dos integrantes da carreira de que trata esta Lei.
IV  – Terceira Classe: atividades de natureza policial Art.  10. Compete ao Ministério da Administração Fe-
envolvendo a fiscalização, patrulhamento e policiamento deral e Reforma do Estado, ouvido o Ministério da Justiça,
ostensivo, atendimento e socorro às vítimas de acidentes a definição de normas e procedimentos para promoção na
rodoviários e demais atribuições relacionadas com a área carreira de que trata esta Lei.
operacional do Departamento de Polícia Rodoviária Federal. Art. 11. O disposto nesta Lei aplica‑se aos proventos de
(Incluído pela Lei nº 12.775, de 2012) aposentadoria e às pensões.

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Art. 12. As despesas decorrentes da execução desta Lei Brasília, 2 de junho de 1998; 177º da Independência e
correrão à conta das dotações constantes do orçamento do 110º da República.
Ministério da Justiça.
Art. 13. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação, FERNANDO HENRIQUE CARDOSO
retroagindo seus efeitos financeiros a 1º de janeiro de 1998. Renan Calheiros

ANEXO I
(Redação dada pela Lei nº 11.784, de 2008)

Estrutura do Cargo da Carreira de Policial Rodoviário Federal

CARGO CLASSE PADRÃO


III
Inspetor II
I
VI
V
Agente Especial IV
III
Policial Rodoviário Federal II
I
VI
V
IV
Agente Operacional III
II
I
Agente I

ANEXO I‑A
(Incluído pela Lei nº 12.775, de 2012)

Estrutura da Carreira de Policial Rodoviário Federal

CARGO CLASSE PADRÃO


III
ESPECIAL II
I
VI
V
PRIMEIRA IV
III
II
Policial Rodoviário Federal I
VI
Legislação Relativa à DPRF

V
SEGUNDA IV
III
II
I
III
TERCEIRA II
I

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ANEXO II
(Redação dada pela Lei nº 11.784, de 2008)

Tabela de Correlação para a Carreira de Policial Rodoviário Federal

SITUAÇÃO ANTERIOR SITUAÇÃO NOVA


CARGO CLASSE PADRÃO PADRÃO CLASSE CARGO
III III
Inspetor II II Inspetor
I I
VI VI
V V
Agente IV IV Agente Especial
Policial Especial III III Policial
Rodoviário II II Rodoviário
Federal I I Federal
VI VI
V V
IV IV
Agente III III Agente Operacional
II II
I I
I Agente

Anexo II‑A
(Incluído pela Lei nº 12.775, de 2012)

Tabela de Correlação da Carreira de Policial Rodoviário Federal

SITUAÇÃO ANTERIOR SITUAÇÃO NOVA

CARGO CLASSE PADRÃO PADRÃO CLASSE CARGO


III III ESPECIAL
Inspetor II II
I I
VI VI
V V
Agente IV IV Policial
Especial III III PRIMEIRA Rodoviário
Policial II II Federal
Rodoviário I I
Federal VI VI
Legislação Relativa à DPRF

V V
Agente IV IV
Operacional III III SEGUNDA
II II
I I
III
Agente I II TERCEIRA
I

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DECRETO Nº 1.655, DE 3 DE OUTUBRO Busca Informatizada Vestcon
DE 1995
DECRETO Nº 8.668, DE 11 DE FEVEREIRO DE
Define a competência da Polí- 2016
cia Rodoviária Federal, e dá outras
providências. Aprova a Estrutura Regimen-
tal e o Quadro Demonstrativo
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso das atribuições dos Cargos em Comissão e das
que lhe confere o art. 84, incisos IV e VI, da Constituição, Funções de Confiança do Minis-
DECRETA: tério da Justiça, remaneja cargos
Art. 1º À Polícia Rodoviária Federal, órgão permanente, em comissão, aloca funções de
integrante da estrutura regimental do Ministério da Justiça, confiança e dispõe sobre cargos
no âmbito das rodovias federais, compete: em comissão e Funções Comissio-
I  – realizar o patrulhamento ostensivo, executando nadas Técnicas mantidos tempo-
operações relacionadas com a segurança pública, com o rariamente na Defensoria Pública
objetivo de preservar a ordem, a incolumidade das pessoas, da União.
o patrimônio da União e o de terceiros;
II – exercer os poderes de autoridade de polícia de trânsito, A PRESIDENTA DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que
cumprindo e fazendo cumprir a legislação e demais normas lhe confere o art. 84, caput, inciso VI, alínea a, da Consti-
pertinentes, inspecionar e fiscalizar o trânsito, assim como efe- tuição,
tuar convênios específicos com outras organizações similares; Decreta:
III – aplicar e arrecadar as multas impostas por infrações Art. 1º Ficam aprovados a Estrutura Regimental e o Qua-
de trânsito e os valores decorrentes da prestação de serviços dro Demonstrativo dos Cargos em Comissão e Funções de
de estadia e remoção de veículos, objetos, animais e escolta Confiança do Ministério da Justiça, na forma dos Anexos I e II.
de veículos de cargas excepcionais; Art.  2º Ficam remanejados, na forma do Anexo III, os
IV  – executar serviços de prevenção, atendimento de seguintes cargos em comissão do Grupo-Direção e Assesso-
acidentes e salvamento de vítimas nas rodovias federais; ramento Superiores – DAS:
V  – realizar perícias, levantamentos de locais boletins I – do Ministério da Justiça para a Secretaria de Gestão
de ocorrências, investigações, testes de dosagem alcoólica do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão:
e outros procedimentos estabelecidos em leis e regulamen- a) dois DAS 101.6;
tos, imprescindíveis à elucidação dos acidentes de trânsito; b) dois DAS 101.5;
VI – credenciar os serviços de escolta, fiscalizar e adotar c) sete DAS 101.4;
medidas de segurança relativas aos serviços de remoção de d) dois DAS 102.5;
e) seis DAS 102.4;
veículos, escolta e transporte de cargas indivisíveis;
f) dezesseis DAS 102.3;
VII – assegurar a livre circulação nas rodovias federais,
g) dezessete DAS 102.2; e
podendo solicitar ao órgão rodoviário a adoção de medidas
h) dezessete DAS 102.1; e
emergenciais, bem como zelar pelo cumprimento das normas
II – da Secretaria de Gestão do Ministério do Planeja-
legais relativas ao direito de vizinhança, promovendo a inter-
mento, Orçamento e Gestão para o Ministério da Justiça:
dição de construções, obras e instalações não autorizadas; a) sete DAS 101.3; e
VIII – executar medidas de segurança, planejamento e b) dois DAS 101.1.
escoltas nos deslocamentos do Presidente da República, Art. 3º Ficam alocadas no Departamento de Polícia Ro-
Ministros de Estado, Chefes de Estados e diplomatas es- doviária Federal do Ministério da Justiça as seguintes Fun-
trangeiros e outras autoridades, quando necessário, e sob ções Comissionadas do Departamento de Polícia Rodoviária
a coordenação do órgão competente; Federal – FCPRF:
IX – efetuar a fiscalização e o controle do tráfico de meno- I – seis FCPRF-4; e
res nas rodovias federais, adotando as providências cabíveis II – oito FCPRF-3.
contidas na Lei nº 8.069 de 13 junho de 1990 (Estatuto da Art. 4º Os ocupantes dos cargos em comissão e das fun-
Criança e do Adolescente); ções de confiança que deixam de existir na Estrutura Regi-
X – colaborar e atuar na prevenção e repressão aos crimes mental do Ministério da Justiça por força deste Decreto ficam
contra a vida, os costumes, o patrimônio, a ecologia, o meio automaticamente exonerados ou dispensados.
ambiente, os furtos e roubos de veículos e bens, o tráfico de Art.  5º Os apostilamentos decorrentes das alterações
entorpecentes e drogas afins, o contrabando, o descaminho promovidas deverão ocorrer na data de entrada em vigor
e os demais crimes previstos em leis. deste Decreto.
Art. 2º O documento de identidade funcional dos servi- Parágrafo único. O Ministro de Estado da Justiça fará
dores policiais da Polícia Rodoviária Federal confere ao seu publicar no Diário Oficial da União, no prazo de trinta dias,
Legislação Relativa à DPRF

portador livre porte de arma e franco acesso aos locais sob contado da data de entrada em vigor deste Decreto, relação
fiscalização do órgão, nos termos da legislação em vigor, nominal dos titulares dos cargos em comissão e das funções
assegurando-lhes, quando em serviço, prioridade em todos de confiança a que se refere o Anexo II, que indicará, inclusi-
os tipos de transporte e comunicação. ve, o número de cargos e funções vagas, suas denominações
Art. 3º Este Decreto entra em vigor na data de sua pu- e seus níveis.
blicação. Art.  6º O Ministro de Estado da Justiça poderá editar
regimentos internos detalhando a estrutura dos órgãos, as
Brasília, 3 de outubro de 1995; 174º da Independência e competências das suas unidades e as atribuições de seus
107º da República. dirigentes.
Art. 7º As Funções Comissionadas Técnicas alocadas na
FERNANDO HENRIQUE CARDOSO estrutura do Ministério da Justiça ficam divulgadas na forma
Nelson A. Jobim do Anexo IV.

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Art. 8º Ficam mantidas, na Defensoria Pública da União, CAPÍTULO II
a atual estrutura de cargos em comissão e as Funções Co- Da Estrutura Organizacional
missionadas Técnicas previstas, respectivamente, nos Anexos
V e VI. Art. 2º O Ministério da Justiça tem a seguinte estrutura
§ 1º Não se aplica aos cargos em comissão da Defensoria organizacional:
Pública da União o disposto nos art. 4º e art. 5º. I – órgãos de assistência direta e imediata ao Ministro
§ 2º Os cargos em comissão e as Funções Comissiona- de Estado:
das Técnicas previstos nos Anexos V e VI serão remanejados a) Gabinete;
para a Secretaria de Gestão do Ministério do Planejamento, b) Secretaria-Executiva:
Orçamento e Gestão na data de entrada em vigor da estru- 1. Subsecretaria de Administração; e
tura própria de cargos em comissão da Defensoria Pública 2. Subsecretaria de Planejamento e Orçamento;
da União, ficando seus ocupantes automaticamente exone- c) Consultoria Jurídica; e
rados. d) Comissão de Anistia;
§ 3º Os cargos em comissão e as Funções Comissionadas II – órgãos específicos singulares:
Técnicas previstos nos Anexos V e VI serão geridos segundo a) Secretaria Nacional de Justiça e Cidadania:
as normas da Defensoria Pública da União.
1. Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação
Art. 9º Este Decreto entra em vigor no dia 5 de abril de
Jurídica Internacional;
2016. (Redação dada pelo Decreto nº 8.689, de 2016)
2. Departamento de Migrações; e
Art. 10. Ficam revogados:
I – o Decreto nº 4.826, de 2 de setembro de 2003; e 3. Departamento de Políticas de Justiça;
II – o Decreto nº 6.061, de 15 de março de 2007. b) Secretaria Nacional de Segurança Pública:
1. Departamento de Políticas, Programas e Projetos;
Brasília, 11 de fevereiro de 2016; 195º da Independência 2. Departamento de Ensino, Pesquisa, Análise de Infor-
e 128º da República. mação e Desenvolvimento de Pessoal;
3. Departamento de Execução e Avaliação do Plano Na-
DILMA ROUSSEFF cional de Segurança Pública; e
José Eduardo Cardozo 4. Departamento da Força Nacional de Segurança Pública;
Valdir Moysés Simão c) Secretaria Nacional do Consumidor: Departamento de
Proteção e Defesa do Consumidor;
ANEXO I d) Secretaria de Assuntos Legislativos:
ESTRUTURA REGIMENTAL DO MINISTÉRIO DA JUSTIÇA 1. Departamento de Elaboração Normativa; e
2. Departamento de Processo Legislativo;
CAPÍTULO I e) Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas:
Da Natureza e Competência 1. Diretoria de Articulação e Projetos;
2. Diretoria de Gestão de Ativos; e
Art. 1º O Ministério da Justiça, órgão da administração 3. Diretoria de Planejamento e Avaliação;
federal direta, tem como área de competência os seguintes f) Secretaria Extraordinária de Segurança para Grandes
assuntos: Eventos:
I – defesa da ordem jurídica, dos direitos políticos e das 1. Diretoria de Operações;
garantias constitucionais; 2. Diretoria de Inteligência;
II – política judiciária; 3. Diretoria de Administração; e
III – direitos dos índios; 4. Diretoria de Projetos Especiais;
IV – políticas sobre drogas, segurança pública, Polícias g) Departamento Penitenciário Nacional:
Federal, Rodoviária Federal e Ferroviária Federal e do Dis- 1. Diretoria-Executiva;
trito Federal; 2. Diretoria de Políticas Penitenciárias; e
V – defesa da ordem econômica nacional e dos direitos 3. Diretoria do Sistema Penitenciário Federal;
do consumidor; h) Departamento de Polícia Federal:
VI – planejamento, coordenação e administração da po- 1. Diretoria-Executiva;
lítica penitenciária nacional;
2. Diretoria de Investigação e Combate ao Crime Orga-
VII – nacionalidade, imigração e estrangeiros;
nizado;
VIII – ouvidoria-geral dos índios, do consumidor, das
3. Corregedoria-Geral de Polícia Federal;
polícias federais referidas no inciso IV e dos demais temas
afetos à pasta; 4. Diretoria de Inteligência Policial;
IX – defesa dos bens e dos próprios da União e das enti- 5. Diretoria Técnico-Científica;
dades integrantes da administração pública federal indireta; 6. Diretoria de Gestão de Pessoal; e
X – articulação, coordenação, supervisão, integração e 7. Diretoria de Administração e Logística Policial;
Legislação Relativa à DPRF

proposição das ações do Governo e do Sistema Nacional de i) Departamento de Polícia Rodoviária Federal; e
Políticas sobre Drogas nos aspectos relacionados às ativida- j) Arquivo Nacional;
des de prevenção e de repressão ao tráfico ilícito e à produ- III – órgãos colegiados:
ção não autorizada de drogas e ao tratamento, a recuperação a) Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária;
e a reinserção social de usuários e dependentes; b) Conselho Nacional de Segurança Pública;
XI – coordenação e implementação dos trabalhos de con- c) Conselho Federal Gestor do Fundo de Defesa dos Di-
solidação dos atos normativos no âmbito do Poder Executivo; reitos Difusos;
XII – prevenção e repressão à lavagem de dinheiro e co- d) Conselho Nacional de Combate à Pirataria e Delitos
operação jurídica internacional; contra a Propriedade Intelectual;
XIII – política nacional de arquivos; e e) Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas; e
XIV – assistência ao Presidente da República em matérias f) Conselho Nacional de Arquivos; e
não afetas a outro Ministério. IV – entidades vinculadas:

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
a) autarquia: Conselho Administrativo de Defesa Econô- dades a ele vinculadas quanto ao cumprimento das normas
mica; e administrativas estabelecidas;
b) fundação pública: Fundação Nacional do Índio. III – elaborar e consolidar os planos e os programas das
atividades de sua área de competência e submetê-los à de-
CAPÍTULO III cisão superior; e
Das Competências dos Órgãos IV – acompanhar e promover a avaliação de projetos e
atividades.
Seção I Art. 6º À Subsecretaria de Planejamento e Orçamento
Dos órgãos de assistência direta compete:
e imediata ao Ministro de Estado I – planejar, coordenar e supervisionar a execução das ati-
vidades relacionadas aos sistemas federais de planejamento
Art. 3º Ao Gabinete compete: e de orçamento, de organização e de inovação institucional,
I – assistir ao Ministro de Estado em sua representação de contabilidade, de informação de custos e de administração
política e social e ocupar-se das relações públicas e do pre- financeira e as atividades relativas à organização e à moder-
paro e despacho do seu expediente pessoal; nização administrativa, no âmbito do Ministério;
II – coordenar e desenvolver atividades que auxiliem a II – promover a articulação com os órgãos centrais dos
atuação institucional do Ministério, no âmbito internacional, sistemas federais referidos no inciso I e informar e orientar
em articulação com o Ministério das Relações Exteriores e os órgãos integrantes da estrutura do Ministério e das enti-
com outros órgãos da administração pública; dades a ele vinculadas quanto ao cumprimento das normas
III – planejar, coordenar e executar a política de comuni- administrativas estabelecidas;
cação social e a publicidade institucional do Ministério, em III – elaborar e consolidar os planos e os programas das
consonância com as diretrizes de comunicação da Presidên- atividades de sua área de competência e submetê-los à de-
cia da República; cisão superior;
IV – supervisionar e coordenar as atividades de ouvidoria IV – acompanhar e promover a avaliação de projetos e
e as atividades relacionadas aos sistemas federais de transpa- atividades; e
rência e de acesso a informações, no âmbito do Ministério; V – desenvolver as atividades de execução contábil no
V – apoiar as atividades relacionadas ao sistema de cor-
âmbito do Ministério.
reição do Poder Executivo federal, no âmbito do Ministério,
Art. 7º À Consultoria Jurídica, órgão setorial da Advoca-
nos termos do Decreto nº 5.480, de 30 de junho de 2005;
cia-Geral da União, compete:
VI – apoiar as atividades relacionadas ao sistema federal
I – prestar assessoria e consultoria jurídica no âmbito
de controle interno, no âmbito do Ministério;
do Ministério;
VII – providenciar a publicação oficial e a divulgação das
II – fixar a interpretação da Constituição, das leis, dos
matérias relacionadas à área de atuação do Ministério;
VIII – fomentar e articular o diálogo entre os diferentes tratados e dos demais atos normativos a ser seguida uni-
segmentos da sociedade civil e os órgãos do Ministério, in- formemente na área de atuação do Ministério, quando não
clusive por meio da articulação com os órgãos colegiados; houver orientação normativa do Advogado-Geral da União;
IX – coordenar e articular as relações políticas do Mi- III – atuar, em conjunto com os órgãos técnicos do Mi-
nistério com os diferentes segmentos da sociedade civil; e nistério, na elaboração de propostas de atos normativos;
X – acompanhar e monitorar os conselhos e demais ór- IV – realizar revisão final da técnica legislativa e emitir
gãos colegiados do Ministério. parecer conclusivo sobre a constitucionalidade, a legalidade e
Art. 4º À Secretaria-Executiva compete: a compatibilidade com o ordenamento jurídico das propostas
I – assistir ao Ministro de Estado na supervisão e na de atos normativos a serem editados por autoridades do
coordenação das atividades das Secretarias integrantes da Ministério da Justiça;
estrutura do Ministério e das entidades a ele vinculadas; V – examinar, em conjunto com a Secretaria de Assuntos
II – supervisionar e coordenar as atividades de orga- Legislativos do Ministério da Justiça, a constitucionalidade, a
nização e de modernização administrativa e as atividades legalidade, a compatibilidade com o ordenamento jurídico e
relacionadas aos sistemas federais de planejamento e de a técnica legislativa dos atos normativos que serão remetidos
orçamento, de organização e de inovação institucional, de à consideração da Presidência da República;
contabilidade, de informação de custos, de administração VI – assistir o Ministro de Estado da Justiça no controle
financeira, de administração de recursos de informação e de interno da legalidade administrativa dos atos do Ministério
informática, de recursos humanos, de serviços gerais e de e das entidades a ele vinculadas; e
gestão de documentos de arquivo, no âmbito do Ministério; VII – examinar, prévia e conclusivamente, no âmbito do
III – elaborar e gerir a política de pesquisa, de desenvol- Ministério:
vimento e de inovação, no âmbito de atuação do Ministério a) os textos de edital de licitação e dos respectivos con-
da Justiça e das entidades a ele vinculadas; e tratos ou instrumentos congêneres a serem publicados e
Legislação Relativa à DPRF

IV – auxiliar o Ministro de Estado na definição das diretri- celebrados; e


zes e na implementação das ações da área de competência b) os atos pelos quais se reconheça a inexigibilidade ou
do Ministério. se decida pela dispensa de licitação.
Art. 5º À Subsecretaria de Administração compete: Art. 8º À Comissão de Anistia compete:
I – planejar, coordenar e supervisionar a execução das I – examinar os requerimentos de anistia política e as-
atividades relacionadas aos sistemas federais de administra- sessorar o Ministro de Estado em suas decisões, nos termos
ção de recursos de informação e de informática, de recursos da Lei nº 10.559, de 13 de novembro de 2002;
humanos, de serviços gerais e de gestão de documentos de II – implementar e manter o Memorial de Anistia Política
arquivo, no âmbito do Ministério; do Brasil e seu acervo; e
II – promover a articulação com os órgãos centrais dos III – formular e promover ações e projetos sobre repa-
sistemas federais referidos no inciso I e informar e orientar ração e memória, sem prejuízo das competências de outros
os órgãos integrantes da estrutura do Ministério e das enti- órgãos.

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Seção II VI – promover a articulação dos órgãos dos Poderes Exe-
Dos órgãos específicos singulares cutivo e Judiciário e do Ministério Público no que se refere à
entrega e à transferência de pessoas condenadas; e
Art. 9º À Secretaria Nacional de Justiça e Cidadania com- VII – atuar nos procedimentos relacionados a ação de
pete: indisponibilidade de bens, de direitos ou de valores em de-
I – promover a política de justiça, por intermédio da ar- corrência de resolução do Conselho de Segurança das Nações
ticulação com os órgãos federais, o Poder Judiciário, o Po- Unidas, nos termos da Lei nº 13.170, de 16 de outubro de
der Legislativo, o Ministério Público, a Defensoria Pública, 2015.
a Ordem dos Advogados do Brasil, os Governos Estaduais Art. 11. Ao Departamento de Migrações compete:
e Distrital, as agências internacionais e as organizações da I – estruturar, implementar e monitorar a política nacional
sociedade civil; de migração e de refúgio;
II – coordenar, em parceria com os órgãos da administra- II – promover, em parceria com os demais órgãos da
ção pública, a Estratégia Nacional de Combate à Corrupção e administração pública federal e com redes de atores da
à Lavagem de Dinheiro – Enccla e outras ações relacionadas sociedade civil, a disseminação e a consolidação de garan-
ao enfrentamento da corrupção, da lavagem de dinheiro e tias e direitos dos migrantes e refugiados, nas áreas de sua
do crime organizado transnacional; competência;
III – coordenar a negociação de acordos e a formulação de III – atuar para a ampliação e a maior eficácia das políticas
políticas de cooperação jurídica internacional, civil e penal e e dos serviços públicos destinados à prevenção da violação
a execução dos pedidos e das cartas rogatórias relacionadas de garantias e à promoção dos direitos dos migrantes;
a essas matérias; IV – apoiar o desenvolvimento de planos, diagnósticos,
IV – coordenar as ações relativas à recuperação de ativos; políticas e ações voltadas à inclusão social de migrantes junto
V – coordenar, em parceria com os demais órgãos da ad- aos órgãos federais, estaduais, distritais e municipais e enti-
ministração pública federal, a formulação e a implementação dades da sociedade civil;
das seguintes políticas: V – negociar acordos e conduzir estudos e iniciativas para
a) política nacional de migrações, especialmente no que o aperfeiçoamento do regime jurídico dos migrantes;
se refere à nacionalidade, à naturalização, ao regime jurídico VI – promover a articulação dos órgãos dos Poderes Exe-
e à migração, inclusive por meio da representação do Minis- cutivo e Judiciário e do Ministério Público no que se refere
à migração;
tério no Conselho Nacional de Imigração;
VII – instruir processos e deliberar sobre temas de na-
b) política nacional sobre refugiados;
cionalidade e apatridia, naturalização, prorrogação do prazo
c) política nacional de enfrentamento ao tráfico de pes-
de estada de migrante no País, transformação de vistos e
soas;
residências e concessão de permanência;
d) política pública de classificação indicativa; e
VIII – instruir processos de reconhecimento, cassação
e) políticas públicas de modernização, aperfeiçoamento
e perda da condição de refugiado e de asilado político, au-
e democratização do acesso à justiça e à cidadania; torizar a saída e o reingresso no País e expedir o respectivo
VI – coordenar e desenvolver as atividades referentes à documento de viagem;
relação do Ministério com os atores do sistema de justiça; IX – fornecer apoio administrativo ao Comitê Nacional
VII – instruir e opinar sobre os processos de provimen- para os Refugiados; e
to e vacância de cargos de magistrados de competência do X – receber, processar e encaminhar assuntos relaciona-
Presidente da República; e dos ao tráfico de migrantes.
VIII – coordenar, articular, integrar e propor ações de Art. 12. Ao Departamento de Políticas de Justiça com-
governo e de participação social, inclusive em foros e redes pete:
internacionais em sua área de competência, e promover a I – promover políticas públicas de modernização, de
difusão de informações, estudos, pesquisas e capacitações aperfeiçoamento e de democratização do acesso à justiça
em sua área de competência. e à cidadania;
Art. 10. Ao Departamento de Recuperação de Ativos e II – instruir os processos de provimento e vacância de
Cooperação Jurídica Internacional compete: cargos de magistrados de competência da Presidência da
I – articular a implementação da Enccla, coordenar, ar- República;
ticular, integrar e propor ações entre os órgãos dos Poderes III – promover medidas para o aperfeiçoamento do siste-
Executivo, Legislativo e Judiciário e o Ministério Público no ma e da política de justiça, em articulação com os órgãos dos
enfrentamento da corrupção, da lavagem de dinheiro e do Poderes Executivo, Judiciário e Legislativo e com o Ministério
crime organizado transnacional; Público, a Defensoria Pública, a Ordem dos Advogados do
II – coordenar a Rede Nacional de Laboratórios de Tec- Brasil, os órgãos e as agências internacionais e as organiza-
nologia Contra Lavagem de Dinheiro – Rede-Lab; ções da sociedade civil;
III – estruturar, implementar e monitorar ações de go- IV – processar e encaminhar aos órgãos competentes
Legislação Relativa à DPRF

verno nas seguintes áreas: expedientes de interesse do Poder Judiciário, do Ministério


a) cooperação jurídica internacional, inclusive em assun- Público, da Defensoria Pública e das advocacias pública e
tos de extradição; e privada;
b) recuperação de ativos; V – promover ações voltadas à disseminação de meios
IV – negociar acordos de cooperação jurídica internacio- alternativos de solução de controvérsias, inclusive capaci-
nal, inclusive em assuntos de extradição, de transferência de tações;
pessoas condenadas e de transferência da execução da pena; VI – instruir e opinar sobre assuntos relacionados a pro-
V – exercer a função de autoridade central para o trâmite cessos de declaração de utilidade pública de imóveis, para
dos pedidos de cooperação jurídica internacional, inclusive fins de desapropriação, com vistas à utilização por órgãos do
em assuntos de extradição, de transferência de pessoas con- Poder Judiciário federal;
denadas e de execução de penas, coordenando e instruindo VII – estruturar, implementar e monitorar a política pú-
pedidos ativos e passivos; blica de classificação indicativa;

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
VIII – estruturar, implementar e monitorar os planos nacio- III – coordenar e supervisionar as atividades de ensino
nais de enfrentamento ao tráfico de pessoas e articular ações para os profissionais de segurança pública e propor a adoção
com organizações governamentais e não governamentais; de novas técnicas e metodologias;
IX – instruir e analisar os procedimentos relacionados à IV – estimular a gestão policial voltada ao atendimento
concessão, manutenção, fiscalização e perda da: ao cidadão;
a) qualificação de organização da sociedade civil de in- V – identificar e fomentar iniciativas voltadas à valoriza-
teresse público; e ção dos profissionais de segurança pública; e
b) autorização de abertura de filial, de agência ou de VI – produzir material técnico e publicações relacionadas
sucursal de organizações estrangeiras no País; e ao ensino e à pesquisa em segurança pública.
X – instruir e analisar as solicitações de registro de em- Art. 16. Ao Departamento de Execução e Avaliação do
presas que executem serviços de microfilmagem. Plano Nacional de Segurança Pública compete:
Art. 13. À Secretaria Nacional de Segurança Pública com- I – gerir os recursos do Fundo Nacional de Segurança
pete: Pública – FNSP e outros relativos à Secretaria Nacional de
I – assessorar o Ministro de Estado na definição, na im- Segurança Pública;
plementação e no acompanhamento de políticas, de progra- II – gerir as aquisições e os contratos administrativos em
mas e de projetos de segurança pública, prevenção social e segurança pública relativos ao FNSP e a outros recursos no
controle da violência e criminalidade; âmbito da Secretaria Nacional de Segurança Pública;
II – elaborar, em conjunto com a Secretaria de Assuntos III – gerir as transferências voluntárias oriundas do FNSP
Legislativos, propostas de legislação em assuntos de segu- e de outros recursos relativos à Secretaria Nacional de Se-
rança pública; gurança Pública;
III – promover a articulação e a integração dos órgãos de IV – gerir o Conselho Gestor do FNSP;
segurança pública, inclusive com organismos governamentais V – gerir os processos relativos aos eventos de segurança
e não-governamentais; pública; e
IV – estimular e fomentar a modernização e o reapare- VI – gerir os riscos corporativos no âmbito da Secretaria
lhamento dos órgãos de segurança pública; Nacional de Segurança Pública.
V – realizar e fomentar estudos e pesquisas voltados à Art. 17. Ao Departamento da Força Nacional de Segu-
redução da violência e da criminalidade; rança Pública compete:
VI – estimular e propor aos órgãos federais, estaduais, I – coordenar o planejamento, o preparo, a mobilização,
distritais e municipais a elaboração de planos e programas o emprego e as atividades operacionais da Força Nacional
integrados de segurança pública e de ações sociais de pre- de Segurança Pública;
venção da violência e da criminalidade; II – propor, planejar, coordenar e supervisionar as ati-
VII – implementar, manter e modernizar redes de inte- vidades de ensino voltadas ao nivelamento, à formação, à
gração e sistemas nacionais de informações de segurança capacitação e ao aperfeiçoamento dos integrantes da Força
pública; Nacional de Segurança Pública, inclusive em conjunto com
VIII – promover e coordenar as reuniões do Conselho outros órgãos;
Nacional de Segurança Pública e incentivar e acompanhar a III – manter o controle dos processos disciplinares e de
correição dos integrantes da Força Nacional de Segurança
atuação dos conselhos regionais correspondentes;
Pública; e
IX – coordenar as atividades da Força Nacional de Segu-
IV – planejar, coordenar e manter o controle e a seguran-
rança Pública;
ça dos armamentos, das munições, dos equipamentos e dos
X – integrar as atividades de inteligência de segurança
materiais de uso da Força Nacional de Segurança Pública.
pública, em consonância com os órgãos de inteligência fe-
Art. 18. À Secretaria Nacional do Consumidor cabe exer-
derais, estaduais e distritais que compõem o subsistema de
cer as competências estabelecidas na Lei nº 8.078, de 11 de
inteligência de segurança pública; e
setembro de 1990 – Código de Defesa do Consumidor, e,
XI – instruir e opinar nos procedimentos relacionados à especificamente:
concessão de medalhas. I – formular, promover, supervisionar e coordenar a po-
Art. 14. Ao Departamento de Políticas, Programas e Pro- lítica nacional de proteção e defesa do consumidor;
jetos compete: II – integrar, articular e coordenar o sistema nacional de
I – subsidiar a definição das políticas, programas e proje- defesa do consumidor;
tos de segurança pública, inclusive com a participação social III – articular-se com órgãos da administração pública
e comunitária; federal com atribuições relacionadas à proteção e à defesa
II – estimular e fomentar a utilização de métodos de ges- do consumidor;
tão organizacional que aumentem a eficiência e a eficácia do IV – orientar e coordenar ações para proteção e defesa
sistema de segurança pública; do consumidor;
III – promover a articulação de políticas, programas, V – prevenir, apurar e reprimir infrações às normas de
projetos, ações de segurança pública e operações policiais defesa do consumidor;
Legislação Relativa à DPRF

dirigidos à redução e prevenção da violência e da criminali- VI – promover, desenvolver, coordenar e supervisionar


dade em áreas estratégicas e de interesse governamental; e ações de divulgação dos direitos do consumidor, para o efe-
IV – elaborar e propor instrumentos que auxiliem na tivo exercício da cidadania;
modernização dos órgãos de controle interno e externo da VII – promover ações para assegurar os direitos e os in-
atividade policial e das guardas municipais. teresses dos consumidores;
Art. 15. Ao Departamento de Ensino, Pesquisa, Análise de VIII – adotar ações para manutenção e expansão do sis-
Informação e Desenvolvimento de Pessoal compete: tema nacional de informações de defesa do consumidor e
I – identificar, documentar e disseminar pesquisas e garantir o acesso a essas informações;
experiências inovadoras relacionadas à segurança pública; IX – receber e encaminhar consultas, denúncias ou su-
II – planejar, coordenar, avaliar e propor critérios para gestões apresentadas por consumidores, por entidades re-
aperfeiçoamento da sistematização de informações e da es- presentativas ou por pessoas jurídicas de direito público ou
tatística e do acompanhamento de dados criminais; privado;

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X – firmar convênios com órgãos, com entidades públicas XIV – acompanhar e analisar propostas normativas rela-
e com instituições privadas para executar planos e programas cionadas à defesa do consumidor;
e fiscalizar o cumprimento de normas e de medidas federais; XV – promover e manter a articulação dos órgãos da ad-
XI – incentivar, inclusive com recursos financeiros e pro- ministração pública federal com os órgãos afins dos Estados,
gramas especiais, a criação de órgãos públicos estaduais, do Distrito Federal e dos Municípios e com as entidades civis
distritais e municipais de defesa do consumidor e a formação, ligadas à proteção e defesa do consumidor;
pelos cidadãos, de entidades com esse objetivo; XVI – elaborar e promover programas educativos e infor-
XII – celebrar compromissos de ajustamento de conduta; mativos para consumidores e fornecedores, quanto aos seus
XIII – elaborar e divulgar o elenco complementar de cláu- direitos e seus deveres, com vistas à melhoria das relações
sulas contratuais e práticas abusivas, nos termos do Código de consumo;
de Defesa do Consumidor; XVII – promover estudos sobre as relações de consumo
XIV – dirigir, orientar e avaliar ações para capacitação em e o mercado;
defesa do consumidor destinadas aos integrantes do sistema XVIII – propor à Secretaria Nacional do Consumidor a
nacional de defesa do consumidor; celebração de convênios, de acordos e de termos de coopera-
XV – determinar ações de monitoramento de mercado ção técnica, com vistas à melhoria das relações de consumo;
de consumo para subsidiar políticas públicas de proteção e XIX – elaborar o cadastro nacional de reclamações fun-
defesa do consumidor; damentadas contra fornecedores de produtos e serviços;
XVI – solicitar colaboração de órgãos e de entidades de XX – acompanhar os processos regulatórios, objetivando
notória especialização técnico-científica para a consecução a efetiva proteção dos direitos dos consumidores;
de seus objetivos; XXI – acompanhar os processos de autorregulação dos
XVII – acompanhar os processos regulatórios, objetivan- setores econômicos, com vistas ao aprimoramento das re-
do a efetiva proteção dos direitos dos consumidores; e lações de consumo;
XVIII – participar de organismos, de fóruns, de comissões XXII – promover a integração dos procedimentos, dos
e de comitês nacionais e internacionais que tratem da prote- bancos de dados e de informações de defesa do consumidor;
ção e da defesa do consumidor ou de assuntos de interesse XXIII – promover ações para a proteção e defesa do con-
dos consumidores. sumidor na sociedade da informação; e
Art. 19. Ao Departamento de Proteção e Defesa do Con-
XXIV – representar a Secretaria Nacional do Consumidor
sumidor compete:
em comitês e comissões técnicas, quando designado.
I – assessorar a Secretaria Nacional do Consumidor na
Art. 20. À Secretaria de Assuntos Legislativos compete:
formulação, na promoção, na supervisão e na coordenação
I – prestar assessoria ao Ministro de Estado;
da política nacional de proteção e defesa do consumidor;
II – examinar o interesse público e, em conjunto com a
II – assessorar a Secretaria Nacional do Consumidor na
integração, na articulação e na coordenação do sistema na- Consultoria Jurídica, a regularidade jurídica dos projetos de
cional de defesa do consumidor; atos normativos em fase de sanção;
III – analisar, avaliar e encaminhar consultas, denúncias III – coordenar o encaminhamento de pareceres e de
ou sugestões apresentadas por consumidores, por entidades manifestações referentes a assuntos legislativos dirigidos à
representativas ou por pessoas jurídicas de direito público Presidência da República;
ou privado; IV – coordenar, no âmbito do Ministério da Justiça, os
IV – planejar, executar e acompanhar ações de prevenção trabalhos que envolvam a análise e a elaboração de atos
e repressão às práticas infringentes às normas de defesa do normativos sujeitos a despacho do Presidente da República;
consumidor; V – supervisionar, participar e prestar apoio às comissões
V – planejar, executar e acompanhar ações relacionadas de juristas, a pesquisas e a grupos de trabalho constituídos
à saúde e à segurança do consumidor; para elaboração de proposições legislativas e outros atos
VI – prestar aos consumidores orientação permanente normativos;
sobre seus direitos e suas garantias; VI – proceder ao levantamento de atos normativos co-
VII – informar e conscientizar o consumidor, por inter- nexos com vistas a consolidar seus textos;
médio dos diferentes meios de comunicação; VII – coordenar e desenvolver as atividades concernentes
VIII – solicitar à polícia judiciária a instauração de inqué- à relação do Ministério com o Congresso Nacional, especial-
rito para a apuração de delito contra os consumidores, nos mente no que se refere ao acompanhamento da tramitação
termos da legislação vigente; das matérias legislativas e ao atendimento às consultas e aos
IX – representar ao Ministério Público para fins de ado- requerimentos formulados;
ção das medidas necessárias ao cumprimento da legislação VIII – articular e definir, em conjunto com os demais ór-
de defesa do consumidor, no âmbito de sua competência; gãos e entidades do Ministério, as políticas legislativas re-
X – comunicar e propor aos órgãos competentes medidas ferentes às suas áreas de competência e analisar e propor
de prevenção e repressão às práticas contrárias aos direitos atualização da legislação pertinente às suas áreas de atuação;
Legislação Relativa à DPRF

dos consumidores; IX – promover a qualificação e a democratização dos


XI – fiscalizar demandas de relevante interesse geral processos de elaboração normativa, inclusive por meio da
e de âmbito nacional e aplicar as sanções administrativas organização de debates públicos; e
previstas nas normas de defesa do consumidor, podendo, X – articular os posicionamentos relativos à política le-
para tanto, instaurar averiguações preliminares e processos gislativa em temas do interesse do Ministério com os órgãos
administrativos; de governo, o Congresso Nacional e a sociedade.
XII – planejar e coordenar as ações fiscalizatórias do Art.  21. Ao Departamento de Elaboração Normativa
cumprimento das normas de defesa do consumidor com o compete:
sistema nacional de defesa do consumidor; I – atuar na coordenação, no âmbito do Ministério da
XIII – propor, em conjunto com a Secretaria de Assuntos Justiça, dos trabalhos que envolvam a análise e a elaboração
Legislativos, a adequação e o aperfeiçoamento da legislação de atos normativos sujeitos a despacho do Presidente da
relativa aos direitos do consumidor; República;

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
II – coordenar e implementar a consolidação dos atos I – articular, coordenar, supervisionar, integrar e propor
normativos; políticas públicas relacionadas à prevenção do uso indevi-
III – examinar, em conjunto com a Consultoria Jurídica, a do de drogas, à atenção e à reinserção social de usuários e
constitucionalidade, os fundamentos e a forma dos projetos dependentes de drogas e à formação de profissionais que
de atos normativos submetidos à apreciação do Ministério; e atuam com usuários de drogas e seus familiares;
IV – examinar os projetos de lei em tramitação no Con- II – propor ações e projetos, coordenar, acompanhar,
gresso Nacional nas áreas de interesse do Ministério, em avaliar e articular, no âmbito das três esferas de governo,
especial quanto à adequação e à proporcionalidade entre a a execução da Política Nacional sobre Drogas e da Política
proposição e a política legislativa do Ministério. Nacional sobre o Álcool;
Art. 22. Ao Departamento de Processo Legislativo com- III – analisar e emitir manifestação técnica sobre proje-
pete: tos desenvolvidos com recursos parciais ou totais do Fundo
I – acompanhar a tramitação de projetos de interesse do Nacional Antidrogas;
Ministério no Congresso Nacional; IV – articular e coordenar, por meio de parceria com
II – gerenciar o acompanhamento do processo legislativo instituições de ensino superior e de pesquisa, projetos de
junto ao Congresso Nacional e às instâncias de governo nas capacitação de diversos profissionais e segmentos sociais
áreas de competência do Ministério; para a implementação de atividades relacionadas à redução
III – estabelecer metodologias e ferramentas para a qua- da demanda e da oferta de drogas no País;
lificação do acompanhamento do processo legislativo junto V – promover, articular e orientar as ações relacionadas à
ao Congresso Nacional e às instâncias de governo nas áreas cooperação técnica, científica, tecnológica e financeira para
de competência do Ministério; e produção de conhecimento e gestão de informações sobre
IV – definir, em conjunto com os órgãos e entidades do drogas;
Ministério, estratégias de política legislativa referentes às VI – articular e coordenar o processo de coleta e de sis-
suas áreas de competência. tematização de informações sobre drogas entre os órgãos
Art. 23. À Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas do governo e os organismos internacionais;
compete: VII – gerir o Observatório Brasileiro de Informações sobre
I – assessorar e assistir o Ministro de Estado quanto às Drogas;
políticas sobre drogas;
VIII – divulgar conhecimentos sobre drogas;
II – articular e coordenar as atividades de prevenção do
IX – fomentar, direta e indiretamente, a realização de
uso indevido, a atenção e a reinserção social de usuários e
pesquisas e participar da atualização de pesquisas sobre
de dependentes de drogas e as atividades de capacitação e
drogas e seu impacto na população; e
treinamento dos agentes do Sistema Nacional de Políticas
X – assessorar o Secretário da Secretaria Nacional de
sobre Drogas;
III – apoiar, no que couber, as ações de cuidado e de Políticas sobre Drogas nos assuntos referentes ao Sistema
tratamento aos usuários e dependentes de drogas, em con- Nacional de Políticas sobre Drogas e apresentar propostas
sonância com as políticas do Sistema Único de Saúde e do para sua implementação e fortalecimento, priorizando a des-
Sistema Único de Assistência Social; centralização de ações e a integração de políticas públicas.
IV – desenvolver e coordenar atividades relativas à defi- Art. 25. À Diretoria de Gestão de Ativos compete:
nição, à elaboração, ao planejamento, ao acompanhamento, I – administrar os recursos oriundos de apreensão e
à avaliação e à atualização de planos, programas, procedi- perdimento, em favor da União, de bens, de direitos e de
mentos e políticas públicas sobre drogas; valores objetos de tráfico ilícito de drogas e outros recursos
V – gerir o Fundo Nacional Antidrogas e fiscalizar a apli- destinados ao Fundo Nacional Antidrogas;
cação dos recursos repassados pelo Fundo aos órgãos e en- II – realizar e promover a regularização e a alienação
tidades conveniados; de bens com definitivo perdimento, decretado em favor da
VI – firmar contratos, convênios, acordos, ajustes e outros União, e a apropriação de valores destinados à capitalização
instrumentos congêneres com entes federados, entidades, do Fundo Nacional Antidrogas;
instituições e organismos nacionais e propor acordos inter- III – acompanhar, analisar e executar procedimentos re-
nacionais, na área de suas competências; lativos à gestão do Fundo Nacional Antidrogas;
VII – indicar bens apreendidos e não alienados em caráter IV – atuar, perante os órgãos do Poder Judiciário, o Mi-
cautelar, a serem colocados sob custódia de autoridade ou nistério Público e as polícias, na obtenção de informações
de órgão competente para desenvolver ações de redução sobre processos que envolvam a apreensão, a constrição
da demanda e da oferta de drogas, para uso nestas ações e a indisponibilidade de bens, de direitos e de valores, em
ou em apoio a elas; decorrência de tráfico ilícito de drogas, realizando o controle
VIII – gerir o Observatório Brasileiro de Informações so- do fluxo, a manutenção, a segurança e o sigilo das referidas
bre Drogas; informações, mediante sistema de gestão atualizado;
IX – desempenhar as atividades de Secretaria-Executiva V – planejar e coordenar a execução orçamentária e fi-
Legislação Relativa à DPRF

do Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas; nanceira da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas,
X – analisar e propor, em conjunto com a Secretaria de interagindo com demais órgãos do Ministério e da adminis-
Assuntos Legislativos, atualização da legislação pertinente tração pública federal;
à sua área de atuação; VI – acompanhar a execução de políticas públicas sobre
XI – executar as ações relativas à Política Nacional sobre drogas;
Drogas e a programas federais de políticas sobre drogas; e VII – propor ações, projetos, atividades e seus respecti-
XII – organizar informações, acompanhar fóruns interna- vos objetivos, contribuindo para o detalhamento e a imple-
cionais e promover atividades de cooperação técnica, cientí- mentação do programa de gestão da política nacional sobre
fica, tecnológica e financeira com outros países e organismos drogas e dos planos de trabalho decorrentes;
internacionais, mecanismos de integração regional e sub- VIII – analisar e emitir manifestação técnica sobre proje-
-regional que tratem de políticas sobre drogas. tos desenvolvidos com recursos parciais ou totais do Fundo
Art. 24. À Diretoria de Articulação e Projetos compete: Nacional Antidrogas; e

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
IX – coordenar, acompanhar e avaliar a execução orça- I – coordenar o desenvolvimento do planejamento das
mentária e financeira de projetos e as atividades constantes ações de segurança pública dos grandes eventos nos níveis
dos planos de trabalho do programa de gestão da política estratégico, tático e operacional;
nacional sobre drogas, atualizando as informações gerenciais II – coordenar as atividades de treinamento dos servido-
decorrentes. res envolvidos nos grandes eventos, em sua área de atribui-
Art. 26. À Diretoria de Planejamento e Avaliação com- ções, em conjunto com a Diretoria de Projetos Especiais; e
pete: III – coordenar as atividades dos Centros de Comando e
I – desenvolver e coordenar atividades relativas ao plane- Controle Nacional, Regionais, Locais e Móveis e do Centro de
jamento e avaliação de planos, de programas e de projetos Comando e Controle Internacional e acompanhar sua imple-
face às metas propostas pela Política Nacional sobre Drogas mentação, em conjunto com a Diretoria de Administração.
e pela Política Nacional sobre o Álcool; Art. 29. À Diretoria de Inteligência compete:
II – acompanhar e monitorar as ações desenvolvidas no I – coordenar o desenvolvimento das atividades de inte-
âmbito do Sistema Nacional de Políticas sobre Drogas; ligência, nos níveis estratégico, tático e operacional, em pro-
III – acompanhar e avaliar a execução de ações, de pla- veito das operações de segurança para os grandes eventos;
nos, de programas e de projetos desenvolvidos no âmbito da II – promover, em conjunto com os órgãos componentes
Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas, monitorando do Sistema Brasileiro de Inteligência, o intercâmbio de dados,
a consecução das metas estabelecidas e propondo as modi- de informações e de conhecimentos necessários à tomada
ficações necessárias ao seu aperfeiçoamento; de decisões administrativas e operacionais da Secretaria Ex-
IV – coordenar o processo de elaboração da proposta traordinária de Segurança para Grandes Eventos;
orçamentária e do planejamento do plano plurianual da Se- III – supervisionar o processo de credenciamento das
cretaria Nacional de Políticas sobre Drogas; pessoas envolvidas nos grandes eventos;
V – consolidar o planejamento estratégico anual e pluria- IV – promover ações de capacitação dos servidores que
nual da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas; irão atuar nos grandes eventos na área de inteligência, em
VI – coordenar, acompanhar e monitorar a gestão dos parceria com a Diretoria de Projetos Especiais e com órgãos
projetos conveniados e contratados pela Secretaria Nacional do Sistema Brasileiro de Inteligência; e
de Políticas sobre Drogas; e V – coordenar as atividades de produção e de proteção
VII – orientar instituições sobre processos de formaliza- de conhecimentos dos centros de integração de inteligência
relacionados aos grandes eventos e acompanhar seu planeja-
ção de parcerias e de repasses.
mento, implementação e funcionamento, em conjunto com
Art. 27. À Secretaria Extraordinária de Segurança para
a Diretoria de Administração.
Grandes Eventos compete:
Art. 30. À Diretoria de Administração compete:
I – assessorar o Ministro de Estado da Justiça, no âmbito
I – coordenar e prover meios para o desempenho das
de suas competências;
atividades inerentes ao funcionamento da estrutura orga-
II – planejar, definir, coordenar, implementar, acompa-
nizacional da Secretaria Extraordinária de Segurança para
nhar e avaliar as ações de segurança para os grandes eventos; Grandes Eventos;
III – elaborar, em conjunto com a Secretaria de Assuntos II – articular-se com as demais Diretorias para o desen-
Legislativos, propostas de legislação e regulamentação nos volvimento do planejamento e da gestão orçamentária e
assuntos de sua competência; financeira da Secretaria Extraordinária de Segurança para
IV – promover a integração entre os órgãos de segurança Grandes Eventos;
pública federais, estaduais, distritais e municipais envolvidos III – realizar a gestão documental da Secretaria Extraor-
com a segurança dos grandes eventos; dinária de Segurança para Grandes Eventos;
V – articular-se com os órgãos e as entidades, governa- IV – planejar e executar atos de natureza orçamentária
mentais e não governamentais, envolvidos com a segurança e financeira da Secretaria Extraordinária de Segurança para
dos grandes eventos, com vistas à coordenação e à super- os Grandes Eventos;
visão das atividades; V – promover a aquisição de bens e de serviços necessá-
VI – estimular a modernização e o reaparelhamento dos rios às ações de segurança dos grandes eventos;
órgãos e das entidades, governamentais e não governamen- VI – realizar a gestão de pessoal, com vistas à composição,
tais, envolvidos com a segurança dos grandes eventos; manutenção, capacitação e otimização do efetivo; e
VII – promover a interface de ações com organismos, VII – articular-se com órgãos governamentais e não go-
governamentais e não governamentais, de âmbito nacional vernamentais e com organizações multilaterais para a cele-
e internacional, na área de sua competência; bração de convênios e termos de cooperação, com vistas à
VIII – realizar e fomentar estudos e pesquisas voltados otimização das aquisições de material e tecnologia neces-
para a redução da criminalidade e da violência nos grandes sários à segurança dos grandes eventos.
eventos; Art. 31. À Diretoria de Projetos Especiais compete:
IX – estimular e propor aos órgãos federais, estaduais, I – articular-se com as instâncias dos Governos federal,
Legislação Relativa à DPRF

distritais e municipais a elaboração de planos e programas estaduais, distrital e municipais relativas aos grandes even-
integrados de segurança pública, objetivando a prevenção tos e com organizações multilaterais e entidades privadas
e a repressão da violência e da criminalidade durante a re- de interesse dos projetos, de forma a estabelecer canais de
alização dos grandes eventos; relacionamento, de comunicação e de ação que garantam o
X – apresentar ao Conselho Gestor do Fundo Nacional alcance dos objetivos dos projetos sociais estabelecidos pela
de Segurança Pública projetos relacionados à segurança dos Diretoria;
grandes eventos a serem financiados com recursos do refe- II – desenvolver programas e ações de segurança, princi-
rido Fundo; e palmente de caráter educativo e de cidadania, com foco nas
XI – adotar as providências necessárias à execução do comunidades de maior vulnerabilidade social nas áreas dos
orçamento aprovado para os projetos relacionados à segu- grandes eventos, inclusive por meio do fomento financeiro
rança dos grandes eventos. a programas governamentais e não governamentais, respei-
Art. 28. À Diretoria de Operações compete: tadas as peculiaridades de cada comunidade;

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
III – apoiar a reconstituição de espaços urbanos das áreas III – acompanhar e promover a avaliação de projetos e
de grandes eventos, mediante a implantação de ações vol- de atividades, consideradas as diretrizes, os objetivos e as
tadas para locais considerados de alto risco em termos de metas constantes do plano plurianual; e
violência, de criminalidade e de desastres; IV – realizar tomadas de contas dos ordenadores de des-
IV – elaborar, em conjunto com a Diretoria de Adminis- pesa, dos demais responsáveis por bens e valores públicos e
tração, minutas de editais, termos de referências e outros de todo aquele que der causa à perda, ao extravio ou a outra
documentos necessários à contratação de especialistas con- irregularidade que resulte em dano ao erário.
sultores para os diferentes projetos que serão submetidos à Art. 34. À Diretoria de Políticas Penitenciárias compete:
análise e à aprovação do Secretário da Secretaria Extraordi- I – planejar, coordenar, dirigir, controlar e avaliar as ativi-
nária de Segurança para Grandes Eventos; dades relativas à implantação de serviços penais;
V – articular-se com os órgãos governamentais, as or- II – fomentar a política de alternativas penais nos entes
ganizações não governamentais e as organizações multila- federativos;
III – apoiar a construção de estabelecimentos penais em
terais, com vistas ao planejamento, à implementação e ao
consonância com as diretrizes de arquitetura definidas pelo
acompanhamento dos projetos de capacitação nos grandes
Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária;
eventos, em conjunto com as Diretorias de Operações e de IV – articular políticas públicas de saúde, de educação,
Inteligência, de acordo com a natureza da capacitação; de cultura, de esporte, de assistência social e jurídica, de
VI – apoiar financeiramente instituições governamentais desenvolvimento e de trabalho para a promoção de direi-
e não governamentais relacionadas aos grandes eventos, tos da população presa, internada e egressa, respeitadas as
por meio de convênios e de editais de seleção, a partir de diversidades;
levantamento situacional da criminalidade que indique a V – promover articulação com os órgãos e as instituições
necessidade premente de cada local, com vistas à redução de execução penal;
da criminalidade e da violência; e VI – realizar, em conjunto com a Secretaria de Assuntos
VII – disseminar, junto a instituições governamentais e Legislativos, estudos e pesquisas voltados à reforma da le-
não governamentais e às comunidades envolvidas, o con- gislação penal;
ceito de segurança cidadã e as novas ações e metodologias VII – apoiar e realizar ações destinadas à formação e à
desenvolvidas na área de segurança de grandes eventos, capacitação dos operadores da execução penal, em especial
especialmente no que diz respeito ao legado social. dos trabalhadores dos serviços penais;
Art. 32. Ao Departamento Penitenciário Nacional cabe VIII – consolidar, em banco de dados nacional, informa-
exercer as competências estabelecidas nos art. 71 e art. 72 ções sobre os sistemas penitenciários federal e dos entes
da Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984, e, especificamente: federativos;
I – planejar e coordenar a política nacional de serviços IX – realizar inspeções periódicas nos entes federativos
penais; para verificar a utilização de recursos repassados pelo Fundo
II – acompanhar a fiel aplicação das normas de execução Penitenciário Nacional; e
penal no território nacional; X – manter programa de cooperação federativa de assis-
tência técnica para o aperfeiçoamento e especialização dos
III – inspecionar e fiscalizar periodicamente os estabele-
serviços penais estaduais.
cimentos e os serviços penais;
Art.  35. À Diretoria do Sistema Penitenciário Federal
IV – assistir tecnicamente aos entes federativos na im- compete:
plementação dos princípios e das regras da execução penal; I – realizar a execução penal em âmbito federal;
V – colaborar com os entes federativos: II – coordenar e fiscalizar os estabelecimentos penais
a) na implantação de estabelecimentos e serviços penais; federais;
b) na formação e na capacitação permanente dos traba- III – custodiar presos, condenados ou provisórios, de
lhadores dos serviços penais; e alta periculosidade, submetidos a regime fechado, zelando
c) na implementação de políticas de educação, de saúde, pela correta e efetiva aplicação das disposições exaradas nas
de trabalho, de assistência cultural e de respeito à diversi- sentenças;
dade, para promoção de direitos das pessoas privadas de IV – promover a comunicação com órgãos e entidades
liberdade e dos egressos do sistema prisional; ligados à execução penal e, em especial, com os juízos fede-
VI – coordenar e supervisionar os estabelecimentos pe- rais e as varas de execução penal;
nais e de internamento federais; V – elaborar normas sobre direitos e deveres dos inter-
VII – processar, analisar e encaminhar, na forma prevista nos, segurança das instalações, diretrizes operacionais e
em lei, os pedidos de indultos individuais; rotinas administrativas e de funcionamento das unidades
VIII – gerir os recursos do Fundo Penitenciário Nacional; penais federais;
IX – apoiar administrativa e financeiramente o Conselho VI – promover a articulação e a integração do sistema pe-
Nacional de Política Criminal e Penitenciária; e nitenciário federal com os órgãos e entidades componentes
X – autorizar os planos de correição periódica e determi- do sistema nacional de segurança pública, inclusive com o
nar a instauração de procedimentos disciplinares no âmbito intercâmbio de informações e com ações integradas;
Legislação Relativa à DPRF

do Departamento. VII – promover assistência material, jurídica, à saúde,


educacional, ocupacional, social e religiosa aos presos con-
Art. 33. À Diretoria-Executiva compete:
denados ou provisórios custodiados em estabelecimentos
I – coordenar e supervisionar as atividades de planeja- penais federais;
mento, de orçamento, de administração financeira, de gestão VIII – planejar as atividades de inteligência do sistema
de pessoas, de serviços gerais, de engenharia, de informação penitenciário federal, em articulação com os órgãos de in-
e de informática, no âmbito do Departamento Penitenciário teligência, em âmbito nacional;
Nacional; IX – propor ao Diretor-Geral ações para padronização de
II – elaborar a proposta orçamentária anual e plurianual procedimentos das penitenciárias do sistema penitenciário
do Departamento Penitenciário Nacional e as propostas de federal; e
programação financeira de desembolso e de abertura de X – promover a realização de pesquisas criminológicas e
créditos adicionais; de classificação dos condenados.

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
Art. 36. Ao Departamento de Polícia Federal cabe exercer Art. 39. À Corregedoria-Geral de Polícia Federal compete:
as competências estabelecidas no art. 144, § 1º, da Consti- I – dirigir, planejar, coordenar, controlar e avaliar as ativi-
tuição, e no art. 27, § 7º, da Lei nº 10.683, de 28 de maio de dades correicional e disciplinar, no âmbito da Polícia Federal;
2003, e, especificamente: II – orientar, no âmbito da Polícia Federal, na interpreta-
I – apurar infrações penais contra a ordem política e social ção e no cumprimento da legislação pertinente às atividades
ou em detrimento de bens, de serviços e de interesses da de polícia judiciária e disciplinar;
União ou de suas entidades autárquicas e empresas públicas, III – apurar as infrações cometidas por servidores da Po-
assim como outras infrações cuja prática tenha repercussão lícia Federal; e
interestadual ou internacional e exija repressão uniforme, IV – propor ao Diretor-Geral do Departamento de Polícia
conforme previsto em lei; Federal a aprovação de normas e o estabelecimento de par-
II – prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes cerias com outras instituições, na sua área de competência.
e drogas afins e o contrabando e o descaminho de bens e de Art. 40. À Diretoria de Inteligência Policial compete:
valores, sem prejuízo da ação fazendária e de outros órgãos I – dirigir, planejar, coordenar, controlar, avaliar e orientar
públicos nas respectivas áreas de competência; as atividades de inteligência no âmbito da Polícia Federal;
III – exercer as funções de polícia marítima, aeroportuária II – planejar e executar operações de contrainteligência,
e de fronteiras; antiterrorismo e outras determinadas pelo Diretor-Geral do
IV – exercer, com exclusividade, as funções de polícia Departamento de Polícia Federal; e
judiciária da União; III – propor ao Diretor-Geral do Departamento de Polícia
V – coibir a turbação e o esbulho possessório dos bens Federal a aprovação de normas e o estabelecimento de par-
e dos próprios da União e das entidades integrantes da ad- cerias com outras instituições, na sua área de competência.
ministração pública federal, sem prejuízo da manutenção da Art. 41. À Diretoria Técnico-Científica compete:
ordem pública pelas Polícias Militares dos Estados; e I – dirigir, planejar, coordenar, orientar, executar, contro-
VI – acompanhar e instaurar inquéritos relacionados aos lar e avaliar as atividades de perícia criminal e as relacionadas
conflitos agrários ou fundiários e os deles decorrentes, quan- com bancos de perfis genéticos;
do se tratar de crime de competência federal, e prevenir e II – gerenciar e manter bancos de perfis genéticos; e
reprimir esses crimes. III – propor ao Diretor-Geral do Departamento de Polícia
Art. 37. À Diretoria-Executiva compete: Federal a aprovação de normas e o estabelecimento de par-
I – dirigir, planejar, coordenar, controlar e avaliar as ati- cerias com outras instituições, na sua área de competência.
vidades de: Art. 42. À Diretoria de Gestão de Pessoal compete:
a) polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras, segu- I – dirigir, planejar, coordenar, orientar, executar, contro-
rança privada, controle de produtos químicos, controle de lar e avaliar as atividades de:
armas, registro de estrangeiros, controle migratório e outras a) seleção, formação e capacitação de servidores;
de polícia administrativa; b) pesquisa e difusão de estudos científicos relativos à
b) apoio operacional às atividades finalísticas; segurança pública; e
c) segurança institucional, de dignitário e de depoente c) gestão de pessoal; e
especial; II – propor ao Diretor-Geral do Departamento de Polícia
d) segurança de Chefe de Missão Diplomática acreditado Federal a aprovação de normas e o estabelecimento de par-
junto ao Governo brasileiro e de outros dignitários estran- cerias com outras instituições, na sua área de competência.
geiros em visita ao País, por solicitação do Ministério das Art. 43. À Diretoria de Administração e Logística Policial
Relações Exteriores, com autorização do Ministro de Estado compete:
da Justiça; I – dirigir, planejar, coordenar, orientar, executar, contro-
e) identificação humana civil e criminal; e lar e avaliar as atividades de:
f) emissão de documentos de viagem; e a) orçamento e finanças;
II – propor ao Diretor-Geral do Departamento de Polícia b) modernização da infraestrutura, tecnologia da infor-
Federal a aprovação de normas e o estabelecimento de par- mação e logística policial; e
cerias com outras instituições na sua área de competência. c) gestão administrativa de bens e serviços;
Art. 38. À Diretoria de Investigação e Combate ao Crime II – propor ao Diretor-Geral do Departamento de Polícia
Organizado compete: Federal a aprovação de normas e o estabelecimento de par-
I – dirigir, planejar, coordenar, controlar e avaliar a ati- cerias com outras instituições, na sua área de competência; e
vidade de investigação criminal relativa a infrações penais: III – gerir as atividades de pesquisa, de desenvolvimento
a) praticadas por organizações criminosas; e de inovação no âmbito de atuação do Departamento de
b) contra os direitos humanos e comunidades indígenas; Polícia Federal.
c) contra o meio ambiente e patrimônio histórico; Art. 44. Ao Departamento de Polícia Rodoviária Federal
d) contra a ordem econômica e o sistema financeiro na- cabe exercer as competências estabelecidas no art. 20 da
cional; Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997, e no Decreto nº
Legislação Relativa à DPRF

e) contra a ordem política e social; 1.655, de 3 de outubro de 1995.


f) de tráfico ilícito de drogas e de armas; Art. 45. Ao Arquivo Nacional, órgão central do Sistema de
g) de contrabando e descaminho de bens; Gestão de Documentos de Arquivo – SIGA, da administração
h) de lavagem de ativos; pública federal, compete:
i) de repercussão interestadual ou internacional e que I – orientar os órgãos e as entidades do Poder Executivo
exija repressão uniforme; e federal na implantação de programas de gestão de docu-
j) em detrimento de bens, de serviços e de interesses mentos, em qualquer suporte;
da União ou de suas entidades autárquicas e empresas pú- II – fiscalizar a aplicação dos procedimentos e operações
blicas; e técnicas referentes à produção, ao registro, à classificação,
II – propor ao Diretor-Geral do Departamento de Polícia ao controle da tramitação, ao uso e à avaliação de documen-
Federal a aprovação de normas e o estabelecimento de par- tos, com vistas à modernização dos serviços arquivísticos
cerias com outras instituições na sua área de competência. governamentais;

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
III – promover o recolhimento dos documentos de guarda Art. 49. Ao Conselho Nacional de Combate à Pirataria
permanente para tratamento técnico, preservação e divul- e Delitos contra a Propriedade Intelectual cabe exercer as
gação, garantindo pleno acesso à informação em apoio às competências estabelecidas no Decreto nº 5.244, de 14 de
decisões governamentais de caráter político-administrativo e outubro de 2004.
ao cidadão na defesa de seus direitos, com vistas a incentivar Art. 50. Ao Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas
a produção de conhecimento científico e cultural; e cabe exercer as competências estabelecidas no art. 4º do
IV – acompanhar e implementar a política nacional de Decreto nº 5.912, de 27 de setembro de 2006.
arquivos, definida pelo Conselho Nacional de Arquivos. Art. 51. Ao Conselho Nacional de Arquivos cabe exercer
as competências estabelecidas no Decreto nº 4.073, de 3
Seção III de janeiro de 2002.
Dos órgãos colegiados
CAPÍTULO IV
Art. 46. Ao Conselho Nacional de Política Criminal e Pe- Das Atribuições dos Dirigentes
nitenciária compete:
I – propor diretrizes da política criminal quanto à preven- Seção I
ção do delito, à administração da justiça criminal e à execução Do Secretário-Executivo
das penas e das medidas de segurança;
II – contribuir para a elaboração de planos nacionais de Art. 52. Ao Secretário-Executivo incumbe:
desenvolvimento, sugerindo as metas e as prioridades da I – coordenar, consolidar e submeter ao Ministro de Es-
política criminal e penitenciária; tado o plano de ação global do Ministério;
III – promover a avaliação periódica do sistema criminal II – supervisionar e avaliar a execução dos projetos e das
para a adequação às necessidades do País; atividades do Ministério;
IV – estimular e promover a pesquisa no campo da cri- III – supervisionar e coordenar a articulação dos órgãos
minologia; do Ministério com os órgãos centrais dos sistemas afetos à
V – elaborar programa nacional penitenciário de forma- área de competência da Secretaria-Executiva; e
ção e aperfeiçoamento do servidor; IV – exercer outras atribuições que lhe forem cometidas
VI – estabelecer regras sobre a arquitetura e a construção pelo Ministro de Estado.
de estabelecimentos penais e de casas de albergados;
VII – estabelecer os critérios para a elaboração da esta- Seção II
tística criminal; Dos Secretários e dos Diretores-Gerais
VIII – inspecionar e fiscalizar os estabelecimentos penais
e informar-se, mediante relatórios do Conselho Penitenciário, Art. 53. Aos Secretários e aos Diretores-Gerais incumbe
requisições, visitas ou outros meios, acerca do desenvolvi- planejar, dirigir, coordenar, orientar, acompanhar e avaliar a
mento da execução penal nos Estados e no Distrito Federal execução das atividades dos órgãos das respectivas Secreta-
e propor às autoridades dela incumbida as medidas neces- rias ou Departamentos e exercer outras atribuições que lhes
sárias ao seu aprimoramento; forem cometidas no regimento interno.
IX – representar ao juiz da execução ou à autoridade
administrativa para instauração de sindicância ou procedi- Seção III
mento administrativo, na hipótese de violação de normas Dos demais Dirigentes
referentes à execução penal; e
X – representar à autoridade competente para a interdi- Art. 54. Ao Chefe de Gabinete, ao Consultor Jurídico,
ção, no todo ou em parte, de estabelecimento penal. aos Subsecretários, aos Diretores, aos Corregedores-Gerais,
Art. 47. Ao Conselho Nacional de Segurança Pública cabe aos Presidentes dos Conselhos, aos Coordenadores-Gerais,
exercer as competências estabelecidas no Decreto nº 7.413, aos Superintendentes e aos demais dirigentes incumbe pla-
de 30 de dezembro de 2010. nejar, dirigir, coordenar e orientar a execução das ativida-
Art. 48. Ao Conselho Federal Gestor do Fundo de Defesa des das respectivas unidades e exercer outras atribuições
dos Direitos Difusos cabe exercer as competências estabe- que lhes forem cometidas, em suas respectivas áreas de
lecidas no art. 3º da Lei nº 9.008, de 21 de março de 1995. competência.

ANEXO II

a) QUADRO DEMONSTRATIVO DOS CARGOS EM COMISSÃO E DAS FUNÇÕES DE CONFIANÇA DO MINISTÉRIO DA JUSTIÇA

CARGO/ NE/
DENOMINAÇÃO
UNIDADE FUNÇÃO DAS/FCPRF/FCGE/
CARGO/FUNÇÃO
Legislação Relativa à DPRF

Nº FG
4 Assessor Especial 102.5
1 Assessor Especial de Controle Interno 102.5

GABINETE 1 Chefe de Gabinete 101.5


5 Assessor 102.4
3 Assessor Técnico 102.3
1 Assistente 102.2
1 Assistente Técnico 102.1

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CARGO/ NE/
DENOMINAÇÃO
UNIDADE FUNÇÃO DAS/FCPRF/FCGE/
CARGO/FUNÇÃO
Nº FG
Coordenação-Geral do Gabinete do
Ministro 1 Coordenador-Geral 101.4
Divisão 1 Chefe 101.2
Serviço 1 Chefe 101.1

Coordenação 2 Coordenador 101.3


Divisão 5 Chefe 101.2
Serviço 2 Chefe 101.1

Assessoria Internacional 1 Chefe de Assessoria 101.4


Coordenação 1 Coordenador 101.3
Divisão 1 Chefe 101.2

Assessoria de Comunicação Social 1 Chefe de Assessoria 101.4


Serviço 3 Chefe 101.1

Ouvidoria-Geral 1 Ouvidor 101.4


Serviço 2 Chefe 101.1

Corregedoria-Geral 1 Corregedor 101.4

11 FG-2
7 FG-3

SECRETARIA-EXECUTIVA 1 Secretário-Executivo NE
4 Assessor 102.4
Gabinete 1 Chefe 101.4
Coordenação 2 Coordenador 101.3

9 FG-2

Secretaria Executiva do Conselho


Nacional de Combate à Pirataria e Delitos
contra a Propriedade Intelectual 1 Secretário-Executivo do Conselho 101.4

SUBSECRETARIA DE ADMINISTRAÇÃO 1 Subsecretário 101.5

1 Assistente Técnico 102.1


Divisão 1 Chefe 101.2
Serviço 1 Chefe 101.1
Coordenação 1 Coordenador 101.3

10 FG-3
Legislação Relativa à DPRF

Coordenação-Geral de Gestão
Documental e Serviços Gerais 1 Coordenador-Geral 101.4
Coordenação 2 Coordenador 101.3
Divisão 4 Chefe 101.2
Serviço 3 Chefe 101.1

4 FG-3

Coordenação-Geral de Licitações e
Contratos 1 Coordenador-Geral 101.4

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CARGO/ NE/
DENOMINAÇÃO
UNIDADE FUNÇÃO DAS/FCPRF/FCGE/
CARGO/FUNÇÃO
Nº FG
Serviço 1 Chefe 101.1
Coordenação 3 Coordenador 101.3
Divisão 3 Chefe 101.2
Serviço 4 Chefe 101.1

5 FG-3

Coordenação-Geral de Infraestrutura e
Governança de Tecnologia da Informação 1 Coordenador-Geral 101.4
1 Assistente Técnico 102.1
Coordenação 1 Coordenador 101.3
Divisão 2 Chefe 101.2

1 FG-3

Coordenação-Geral de Desenvolvimento
de Sistemas 1 Coordenador-Geral 101.4

Coordenação-Geral de Recursos
Humanos 1 Coordenador-Geral 101.4
1 Assistente Técnico 102.1
Coordenação 3 Coordenador 101.3
Divisão 4 Chefe 101.2
Serviço 1 Chefe 101.1

1 FG-2

Coordenação-Geral de Arquitetura e
Engenharia 1 Coordenador-Geral 101.4
Serviço 1 Chefe 101.1

1 FG-3

SUBSECRETARIA DE PLANEJAMENTO E
ORÇAMENTO 1 Subsecretário 101.5
1 Assistente Técnico 102.1
Coordenação 1 Coordenador 101.3
Divisão 1 Chefe 101.2
Serviço 1 Chefe 101.1

Coordenação-Geral de Orçamento e
Finanças 1 Coordenador-Geral 101.4
Divisão 5 Chefe 101.2
Legislação Relativa à DPRF

Serviço 1 Chefe 101.1

5 FG-2

Coordenação-Geral de Gestão Estratégica


e Inovação Institucional 1 Coordenador-Geral 101.4
Coordenação 1 Coordenador 101.3
Divisão 3 Chefe 101.2

5 FG-3

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CARGO/ NE/
DENOMINAÇÃO
UNIDADE FUNÇÃO DAS/FCPRF/FCGE/
CARGO/FUNÇÃO
Nº FG

CONSULTORIA JURÍDICA 1 Consultor Jurídico 101.5


1 Assistente 102.2
1 Assistente Técnico 102.1
Divisão 2 Chefe 101.2
6 FG-3

Coordenação-Geral de Licitação e
Contratos 1 Coordenador-Geral 101.4
Coordenação 1 Coordenador 101.3

Coordenação Geral de Assuntos


Administrativos e Normativos 1 Coordenador-Geral 101.4
Coordenação 3 Coordenador 101.3

COMISSÃO DE ANISTIA (Redação dada


1 Diretor 101.5
pelo Decreto nº 8.689, de 2016)

Gabinete 1 Chefe 101.4

Coordenação-Geral de Gestão Processual 1 Coordenador-Geral 101.4


Divisão 1 Chefe 101.2
Coordenação 3 Coordenador 101.3
Divisão 1 Chefe 101.2
Serviço 1 Chefe 101.1

Coordenação-Geral do Memorial da
1 Coordenador-Geral 101.4
Anistia Política do Brasil
Coordenação 2 Coordenador 101.3
Divisão 1 Chefe 101.2

SECRETARIA NACIONAL DE JUSTIÇA E


CIDADANIA (Redação dada pelo Decreto 1 Secretário 101.6
nº 8.689, de 2016)
1 Gerente de Projeto 101.4
1 Assessor 102.4

Gabinete 1 Chefe 101.4

Coordenação 1 Coordenador 101.3


Legislação Relativa à DPRF

6 FG-3

DEPARTAMENTO DE RECUPERAÇÃO
DE ATIVOS E COOPERAÇÃO JURÍDICA 1 Diretor 101.5
INTERNACIONAL
1 Diretor Adjunto 101.4

Coordenação-Geral de Recuperação
de Ativos e Cooperação Jurídica
Internacional em Matéria Penal 1 Coordenador-Geral 101.4
Coordenação 3 Coordenador 101.3

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CARGO/ NE/
DENOMINAÇÃO
UNIDADE FUNÇÃO DAS/FCPRF/FCGE/
CARGO/FUNÇÃO
Nº FG

Coordenação-Geral de Cooperação
Jurídica Internacional 1 Coordenador-Geral 101.4
Coordenação 1 Coordenador 101.3
Divisão 2 Chefe 101.2

Coordenação-Geral de Articulação
Institucional 1 Coordenador-Geral 101.4
Coordenação 4 Coordenador 101.3
Divisão 2 Chefe 101.2

DEPARTAMENTO DE MIGRAÇÕES 1 Diretor 101.5


1 Diretor Adjunto 101.4

Divisão 3 Chefe 101.2


Serviço 1 Chefe 101.1
1 Assistente Técnico 102.1

Coordenação-Geral de Assuntos de
Refugiados 1 Coordenador-Geral 101.4
2 Assistente Técnico 102.1
Coordenação 1 Coordenador 101.3

DEPARTAMENTO DE POLÍTICAS DE JUSTIÇA 1 Diretor 101.5


1 Diretor Adjunto 101.4

Coordenação 2 Coordenador 101.3


Divisão 2 Chefe 101.2
Serviço 1 Chefe 101.1

Coordenação-Geral de Assuntos
Judiciários 1 Coordenador-Geral 101.4

SECRETARIA NACIONAL DE SEGURANÇA


PÚBLICA 1 Secretário 101.6
1 Assessor 102.4
1 Assistente Técnico 102.1

Coordenação-Geral de Inteligência 1 Coordenador-Geral 101.4


Coordenação 1 Coordenador 101.3

Gabinete 1 Chefe 101.4


Legislação Relativa à DPRF

1 Assessor Técnico 102.3


Coordenação 2 Coordenador 101.3
3 Assistente Técnico 102.1

2 FG-2

DEPARTAMENTO DE POLÍTICAS,
PROGRAMAS E PROJETOS 1 Diretor 101.5
1 Diretor-Adjunto 101.4
1 Assistente Técnico 102.1

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CARGO/ NE/
DENOMINAÇÃO
UNIDADE FUNÇÃO DAS/FCPRF/FCGE/
CARGO/FUNÇÃO
Nº FG

Coordenação-Geral de Ações de
Prevenção em Segurança Pública 1 Coordenador-Geral 101.4
2 Assistente Técnico 102.1
Coordenação 2 Coordenador 101.3

Coordenação-Geral de Planejamento
Estratégico em Segurança Pública,
Programas e Projetos Especiais 1 Coordenador-Geral 101.4
Coordenação 2 Coordenador 101.3

Coordenação-Geral do Plano de
Implantação e Acompanhamento de
Programas Sociais de Prevenção da
Violência 1 Coordenador-Geral 101.4
1 Assistente Técnico 102.1
Coordenação 2 Coordenador 101.3

DEPARTAMENTO DE ENSINO,
PESQUISA, ANÁLISE DE INFORMAÇÃO E
DESENVOLVIMENTO DE PESSOAL 1 Diretor 101.5
1 Assistente Técnico 102.1

Coordenação-Geral de Pesquisa e Análise


da Informação 1 Coordenador-Geral 101.4
Coordenação 2 Coordenador 101.3

Coordenação-Geral de Ensino 1 Coordenador-Geral 101.4


3 Assistente Técnico 102.1
Coordenação 2 Coordenador 101.3

DEPARTAMENTO DE EXECUÇÃO E
AVALIAÇÃO DO PLANO NACIONAL DE
SEGURANÇA PÚBLICA 1 Diretor 101.5

Coordenação-Geral de Logística 1 Coordenador-Geral 101.4


Coordenação 3 Coordenador 101.3
1 Assistente Técnico 102.1

Coordenação-Geral de Gestão
Orçamentária e Financeira 1 Coordenador-Geral 101.4
Coordenação 2 Coordenador 101.3
4 Assistente Técnico 102.1

Coordenação-Geral de Gestão de
Legislação Relativa à DPRF

Instrumentos de Repasse 1 Coordenador-Geral 101.4


Coordenação 2 Coordenador 101.3

Coordenação-Geral de Articulação e
Integração em Segurança Pública 1 Coordenador-Geral 101.4
Coordenação 1 Coordenador 101.3

Coordenação-Geral de Gestão de Riscos


Corporativos 1 Coordenador-Geral 101.4

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CARGO/ NE/
DENOMINAÇÃO
UNIDADE FUNÇÃO DAS/FCPRF/FCGE/
CARGO/FUNÇÃO
Nº FG
1 Assistente Técnico 102.1

DEPARTAMENTO DA FORÇA NACIONAL


DE SEGURANÇA PÚBLICA 1 Diretor 101.5
Coordenação 1 Coordenador 101.3

Coordenação-Geral de Administração da
Força Nacional de Segurança Pública 1 Coordenador-Geral 101.4
Coordenação 1 Coordenador 101.3

Coordenação-Geral de Operações 1 Coordenador-Geral 101.4


Coordenação 1 Coordenador 101.3

SECRETARIA NACIONAL DO
CONSUMIDOR 1 Secretário 101.6
1 Assessor Técnico 102.3
1 Assistente Técnico 102.1

Gabinete 1 Chefe 101.4


1 Assistente Técnico 102.1
Coordenação 2 Coordenador 101.3
Divisão 1 Chefe 101.2
Serviço 2 Chefe 101.1

Coordenação-Geral de Articulação de
Relações Institucionais 1 Coordenador-Geral 101.4
Serviço 1 Chefe 101.1

Coordenação-Geral de Cooperação Técnica


e Capacitação 1 Coordenador-Geral 101.4
Coordenação 1 Coordenador 101.3
Divisão 3 Chefe 101.2
Serviço 1 Chefe 101.1

DEPARTAMENTO DE PROTEÇÃO E DEFESA


DO CONSUMIDOR 1 Diretor 101.5

Coordenação-Geral de Estudos e
Monitoramento de Mercado 1 Coordenador-Geral 101.4
Coordenação 2 Coordenador 101.3
Divisão 1 Chefe 101.2
Serviço 1 Chefe 101.1

Coordenação-Geral de Consultoria Técnica


e Sanções Administrativas 1 Coordenador-Geral 101.4
Legislação Relativa à DPRF

Coordenação 2 Coordenador 101.3


Divisão 2 Chefe 101.2
Serviço 1 Chefe 101.1

Coordenação-Geral do Sistema Nacional


de Informações de Defesa do Consumidor 1 Coordenador-Geral 101.4
Coordenação 2 Coordenador 101.3
Divisão 2 Chefe 101.2

SECRETARIA DE ASSUNTOS LEGISLATIVOS 1 Secretário 101.6

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CARGO/ NE/
DENOMINAÇÃO
UNIDADE FUNÇÃO DAS/FCPRF/FCGE/
CARGO/FUNÇÃO
Nº FG

Gabinete 1 Chefe 101.4


Coordenação 1 Coordenador 101.3
Divisão 1 Chefe 101.2
Serviço 1 Chefe 101.1

3 FG-3

Assessoria de Assuntos Parlamentares 1 Chefe de Assessoria 101.4


Coordenação 1 Coordenador 101.3
Divisão 1 Chefe 101.2
Serviço 2 Chefe 101.1

DEPARTAMENTO DE ELABORAÇÃO
NORMATIVA 1 Diretor 101.5
Coordenação-Geral de Estudos e
Pesquisas Legislativas 1 Coordenador-Geral 101.4
Coordenação 1 Coordenador 101.3
Serviço 1 Chefe 101.1

Assessoria de Política Normativa 1 Chefe de Assessoria 101.4


Coordenador 1 Coordenação 101.3
Divisão 1 Chefe 101.2
Serviço 1 Chefe 101.1

DEPARTAMENTO DE PROCESSO
LEGISLATIVO 1 Diretor 101.5

Coordenação-Geral de Análise e
Acompanhamento do Processo
Legislativo 1 Coordenador-Geral 101.4
Coordenação 2 Coordenador 101.3
Divisão 1 Chefe 101.2

1 FG-3

SECRETARIA NACIONAL DE POLÍTICAS 1 Secretário 101.6


SOBRE DROGAS

Gabinete 1 Chefe 101.4


1 Assessor Técnico 102.3

1 Assistente Técnico 102.1


Legislação Relativa à DPRF

Coordenação 1 Coordenador 101.3


1 Assistente 102.2
3 Assistente Técnico 102.1

DIRETORIA DE ARTICULAÇÃO E PROJETOS 1 Diretor 101.5


1 Assessor Técnico 102.3
Coordenação-Geral de Prevenção 1 Coordenador-Geral 101.4
1 Assessor Técnico 102.3

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CARGO/ NE/
DENOMINAÇÃO
UNIDADE FUNÇÃO DAS/FCPRF/FCGE/
CARGO/FUNÇÃO
Nº FG

Coordenação-Geral de Cuidado e 1 Coordenador-Geral 101.4


Reinserção Social
1 Assessor Técnico 102.3

Coordenação-Geral de Pesquisa e
Formação 1 Coordenador-Geral 101.4
1 Assessor Técnico 102.3
1 Assistente 102.2
1 Assistente Técnico 102.1

DIRETORIA DE GESTÃO DE ATIVOS 1 Diretor 101.5


1 Assessor Técnico 102.3

Coordenação-Geral de Gestão do Fundo 1 Coordenador-Geral 101.4


Nacional Antidrogas
1 Assessor Técnico 102.3

Coordenação 3 Coordenador 101.3


2 Assistente Técnico 102.1
Divisão 2 Chefe 101.2
2 Assistente Técnico 102.1

DIRETORIA DE PLANEJAMENTO E 1 Diretor 101.5


AVALIAÇÃO
1 Assessor Técnico 102.3
1 Assistente Técnico 102.1

Coordenação-Geral de Gestão de 1 Coordenador-Geral 101.4


Parcerias e Instrumentos de Repasse
2 Assistente 102.2
2 Assistente Técnico 102.1

Coordenação-Geral de Planejamento e 1 Coordenador-Geral 101.4


Avaliação
1 Assessor Técnico 102.3

SECRETARIA EXTRAORDINÁRIA DE 1 Secretário 101.6


SEGURANÇA PARA GRANDES EVENTOS
4 Assessor FCGE-3
13 Assessor Técnico FCGE-2
13 Assistente FCGE-1
22 Gerente de Projeto FCGE-3

Gabinete 1 Chefe de Gabinete FCGE-3


Legislação Relativa à DPRF

1 Assistente FCGE-1

Assessoria de Acompanhamento e
Avaliação 1 Chefe de Assessoria FCGE-3
1 Assessor Técnico FCGE-2

Assessoria de Relações Institucionais 1 Chefe de Assessoria FCGE-3

Coordenação-Geral de Projetos de 1 Coordenador-Geral 101.4


Tecnologia da Informação

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CARGO/ NE/
DENOMINAÇÃO
UNIDADE FUNÇÃO DAS/FCPRF/FCGE/
CARGO/FUNÇÃO
Nº FG
Divisão 2 Chefe FCGE-1

DIRETORIA DE OPERAÇÕES 1 Diretor 101.5


3 Assessor FCGE-3
4 Gerente de Projeto FCGE-3

Coordenação-Geral de Execução
Operacional 1 Coordenador-Geral 101.4

Coordenação-Geral de Estudos para


Aquisições 1 Coordenador-Geral FCGE-3

Coordenação-Geral de Planejamento
Operacional 1 Coordenador-Geral FCGE-3

Coordenação-Geral de Treinamento
Operacional 1 Coordenador-Geral FCGE-3

DIRETORIA DE INTELIGÊNCIA 1 Diretor 101.5


3 Gerente de Projeto FCGE-3

Coordenação-Geral de Inteligência 1 Coordenador-Geral 101.4

Coordenação-Geral de Contrainteligência 1 Coordenador-Geral FCGE-3

Coordenação-Geral de Credenciamento e
Segurança 1 Coordenador-Geral FCGE-3

Coordenação-Geral de Projetos de
Inteligência 1 Coordenador-Geral FCGE-3

DIRETORIA DE ADMINISTRAÇÃO 1 Diretor 101.5


1 Assessor FCGE-3
4 Gerente de Projeto FCGE-3

Coodenação-Geral de Administração, 1 Coordenador-Geral FCGE-3


Licitações e Contratos
2 Assessor Técnico FCGE-2
3 Assistente FCGE-1

Coordenação-Geral de Planejamento,
Orçamento e Finanças 1 Coordenador-Geral FCGE-3
Legislação Relativa à DPRF

Coordenação-Geral de Gestão de Pessoal 1 Coordenador-Geral FCGE-3


2 Assessor Técnico FCGE-2

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS 1 Diretor 101.5


2 Assessor Técnico FCGE-2
1 Assistente FCGE-1
3 Gerente de Projeto FCGE-3

Coordenação-Geral de Planejamento de
1 Coordenador-Geral FCGE-3
Ações de Capacitação

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CARGO/ NE/
DENOMINAÇÃO
UNIDADE FUNÇÃO DAS/FCPRF/FCGE/
CARGO/FUNÇÃO
Nº FG

Coordenação-Geral de Ensino 1 Coordenador-Geral FCGE-3

Coordenação-Geral de Projetos 1 Coordenador Geral FCGE-3

Coordenação-Geral de Articulação e
Apoio 1 Coordenador Geral FCGE-3

DEPARTAMENTO PENITENCIÁRIO
NACIONAL 1 Diretor-Geral 101.6

Assessoria de Informações Estratégicas 1 Chefe de Assessoria 101.4

Ouvidoria Nacional dos Serviços Penais 1 Ouvidor 101.4

2 FG-3

Corregedoria-Geral do Departamento
Penitenciário Nacional 1 Corregedor-Geral 101.4

Gabinete 1 Chefe 101.4


Divisão 1 Chefe 101.2
Serviço 2 Chefe 101.1

4 FG-3

DIRETORIA-EXECUTIVA 1 Diretor-Executivo 101.5


Coordenação 1 Coordenador 101.3
Divisão 3 Chefe 101.2

Coordenação 1 Coordenador 101.3


Divisão 2 Chefe 101.2
Serviço 1 Chefe 101.1

Coordenação-Geral de Logística 1 Coordenador-Geral 101.4


Coordenação 1 Coordenador 101.3
Divisão 2 Chefe 101.2
Serviço 1 Chefe 101.1

6 FG-3

DIRETORIA DE POLÍTICAS
Legislação Relativa à DPRF

PENITENCIÁRIAS 1 Diretor 101.5


Coordenação 3 Coordenador 101.3
Divisão 1 Chefe 101.2

Coordenação-Geral de Gestão de
Instrumentos de Repasse 1 Coordenador-Geral 101.4
Coordenação 2 Coordenador 101.3
Divisão 2 Chefe 101.2

1 FG-3

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CARGO/ NE/
DENOMINAÇÃO
UNIDADE FUNÇÃO DAS/FCPRF/FCGE/
CARGO/FUNÇÃO
Nº FG

Coordenação-Geral Modernização 1 Coordenador-Geral 101.4


Coordenação 3 Coordenador 101.3

Coordenação-Geral de Promoção da
Cidadania 1 Coordenador-Geral 101.4
Coordenação 3 Coordenador 101.3
Divisão 1 Chefe 101.2

Coordenação-Geral de Alternativas
Penais 1 Coordenador-Geral 101.4
Coordenação 2 Coordenador 101.3

1 FG-3

DIRETORIA DO SISTEMA PENITENCIÁRIO


FEDERAL 1 Diretor 101.5

2 FG-3

Coordenação-Geral de Classificação,
Movimentação e Segurança Penitenciária 1 Coordenador-Geral 101.4
Divisão 1 Chefe 101.2

Coordenação-Geral de Inteligência
Penitenciária 1 Coordenador-Geral 101.4
Divisão 1 Chefe 101.2

Coordenação-Geral de Assistências nas


Penitenciárias 1 Coordenador-Geral 101.4
Divisão 1 Chefe 101.2

Diretorias de Presídio Federal 4 Diretor 101.4


Divisão 8 Chefe 101.2
Serviço 8 Chefe 101.1

DEPARTAMENTO DE POLÍCIA FEDERAL 1 Diretor-Geral 101.6


1 Assistente Técnico 102.1
Coordenação 1 Coordenador 101.3

Assessor de Controle Interno 1 Assessor 102.4

Assistência Administrativa 1 Chefe 101.2


Legislação Relativa à DPRF

Assistência Parlamentar 1 Chefe 101.2


Coordenação 1 Coordenador 101.3

Gabinete 1 Chefe 101.4


1 Assistente Técnico 102.1
Divisão 1 Chefe 101.2

1 FG-2

DIRETORIA-EXECUTIVA 1 Diretor 101.5

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CARGO/ NE/
DENOMINAÇÃO
UNIDADE FUNÇÃO DAS/FCPRF/FCGE/
CARGO/FUNÇÃO
Nº FG
1 Assistente 102.2

Assistência Técnica 1 Chefe 101.1


Serviço 1 Chefe 101.1

Divisão 1 Chefe 101.2


Serviço 1 Chefe 101.1

Coordenação 3 Coordenador 101.3


Serviço 4 Chefe 101.1

Coordenação-Geral de Polícia de 1 Coordenador-Geral 101.4


Imigração
Serviço 2 Chefe 101.1
Divisão 4 Chefe 101.2

1 FG-2

Coordenação-Geral de Controle de 1 Coordenador-Geral 101.4


Segurança Privada
Divisão 5 Chefe 101.2
Serviço 1 Chefe 101.1

1 FG-2
4 FG-3

Coordenação-Geral de Cooperação 1 Coordenador-Geral 101.4


Internacional
1 Assistente de Relações Internacionais 102.2
Serviço 1 Chefe 101.1
Divisão 1 Chefe 101.2

2 FG-2
1 FG-3

Instituto Nacional de Identificação 1 Diretor 101.4


Divisão 2 Chefe 101.2
Serviço 4 Chefe 101.1

DIRETORIA DE INVESTIGAÇÃO E 1 Diretor 101.5


COMBATE AO CRIME ORGANIZADO
1 Assistente 102.2
Serviço 1 Chefe 101.1
Legislação Relativa à DPRF

Divisão 2 Chefe 101.2


Serviço 2 Chefe 101.1

Coordenação-Geral de Polícia de 1 Coordenador-Geral 101.4


Repressão a Drogas
Serviço 1 Chefe 101.1

Divisão 1 Chefe 101.2


Serviço 1 Chefe 101.1

82 Este eBook foi adquirido por ANA PAULA TORQUATO DA COSTA - CPF: 628.848.913-15.
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CARGO/ NE/
DENOMINAÇÃO
UNIDADE FUNÇÃO DAS/FCPRF/FCGE/
CARGO/FUNÇÃO
Nº FG
1 FG-2

Coordenação-Geral de Polícia Fazendária 1 Coordenador-Geral 101.4


Serviço 3 Chefe 101.1
Divisão 3 Chefe 101.2

Coordenação-Geral de Defesa 1 Coordenador-Geral 101.4


Institucional
Divisão 2 Chefe 101.2
Serviço 2 Chefe 101.1

CORREGEDORIA-GERAL DE POLÍCIA 1 Corregedor-Geral 101.5


FEDERAL
1 Assistente 102.2
Serviço 1 Chefe 101.1

Coordenação 2 Coordenador 101.3


Serviço 3 Chefe 101.1

1 FG-2

Coordenação-Geral de Correições 1 Coordenador-Geral 101.4


Divisão 1 Chefe 101.2

DIRETORIA DE INTELIGÊNCIA POLICIAL 1 Diretor 101.5


1 Assistente 102.2
Divisão 3 Chefe 101.2

Coordenação-Geral de Inteligência 1 Coordenador-Geral 101.4


Serviço 2 Chefe 101.1
Divisão 1 Chefe 101.2

DIRETORIA TÉCNICO-CIENTÍFICA 1 Diretor 101.5


1 Assistente 102.2
Serviço 1 Chefe 101.1
Divisão 1 Chefe 101.2

Instituto Nacional de Criminalística 1 Diretor 101.4


Divisão 1 Chefe 101.2
Serviço 6 Chefe 101.1

DIRETORIA DE GESTÃO DE PESSOAL 1 Diretor 101.5


1 Assistente 102.2
Legislação Relativa à DPRF

Serviço 1 Chefe 101.1

Coordenação 2 Coordenador 101.3


Divisão 4 Chefe 101.2
Serviço 5 Chefe 101.1

1 FG-2

Academia Nacional de Polícia 1 Diretor 101.4


Divisão 1 Chefe 101.2

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CARGO/ NE/
DENOMINAÇÃO
UNIDADE FUNÇÃO DAS/FCPRF/FCGE/
CARGO/FUNÇÃO
Nº FG
Serviço 2 Chefe 101.1

Coordenação 2 Coordenador 101.3


Serviço 3 Chefe 101.1

Divisão 1 Chefe 101.2


Serviço 5 Chefe 101.1

11 FG-2
1 FG-3

DIRETORIA DE ADMINISTRAÇÃO E 1 Diretor 101.5


LOGÍSTICA POLICIAL
1 Assistente 102.2

Coordenação 2 Coordenador 101.3


Serviço 5 Chefe 101.1
Divisão 4 Chefe 101.2
Serviço 4 Chefe 101.1

9 FG-2
1 FG-3

Coordenação-Geral de Planejamento e 1 Coordenador-Geral 101.4


Modernização
Divisão 3 Chefe 101.2
Serviço 5 Chefe 101.1

Coordenação-Geral de Tecnologia da 1 Coordenador-Geral 101.4


Informação
Divisão 2 Chefe 101.2
Serviço 3 Chefe 101.1

1 FG-2

Superintendência-Regional 27 Superintendente-Regional 101.3

Delegacia-Regional 54 Delegado-Regional 101.1

Corregedoria-Regional 27 Corregedor-Regional 101.1

201 FG-2
559 FG-3
Legislação Relativa à DPRF

DEPARTAMENTO DE POLÍCIA
RODOVIÁRIA FEDERAL 1 Diretor-Geral 101.6
1 Assistente FCPRF-2

Gabinete 1 Chefe FCPRF-4


2 Assessor Técnico 102.3
Coordenação
2 Coordenador FCPRF-3
Divisão 1 Chefe FCPRF-2

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CARGO/ NE/
DENOMINAÇÃO
UNIDADE FUNÇÃO DAS/FCPRF/FCGE/
CARGO/FUNÇÃO
Nº FG
1 FG-1

Corregedoria-Geral 1 Corregedor-Geral FCPRF-4


Divisão 3 Chefe FCPRF-2

3 FG-3

Coordenação-Geral de Planejamento e
Modernização Rodoviária 1 Coordenador-Geral FCPRF-4
Divisão 4 Chefe FCPRF-2

1 FG-1
2 FG-3

Coordenação-Geral de Operações 1 Coordenador-Geral FCPRF-4


Coordenação 1 Coordenador FCPRF-3
Divisão 5 Chefe FCPRF-2

9 FG-3

Coordenação-Geral de Recursos
1 Coordenador-Geral FCPRF-4
Humanos
Coordenação 2 Coordenador FCPRF-3
Divisão 8 Chefe FCPRF-2

1 FG-1
4 FG-3

Coordenação-Geral de Administração 1 Coordenador-Geral FCPRF-4


Divisão 7 Chefe FCPRF-2

3 FG-1
8 FG-3

Superintendência Regional 27 Superintendente FCPRF-3

84 FG-1
294 FG-3

Delegacia Tipo A 5 Chefe FG-1

5 FG-3
Legislação Relativa à DPRF

Delegacia Tipo B 145 Chefe FG-2

145 FG-3

20 FG-3

ARQUIVO NACIONAL 1 Diretor-Geral 101.5


1 Assistente 102.2
1 Assistente Técnico 102.1
Coordenação 1 Coordenador 101.3

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CARGO/ NE/
DENOMINAÇÃO
UNIDADE FUNÇÃO DAS/FCPRF/FCGE/
CARGO/FUNÇÃO
Nº FG

Coordenação-Geral de Gestão de
Documentos 1 Coordenador-Geral 101.4

Coordenação-Geral de Processamento e 1 Coordenador-Geral 101.4


Preservação do Acervo
1 Assistente Técnico 102.1
Coordenação 3 Coordenador 101.3

Coordenação-Geral de Acesso e Difusão 1 Coordenador-Geral 101.4


Documental
1 Assistente Técnico 102.1
Coordenação 2 Coordenador 101.3

Coordenação-Geral de Administração 1 Coordenador-Geral 101.4


1 Assistente Técnico 102.1
Divisão 1 Chefe 101.2
Coordenação 4 Coordenador 101.3

37 FG-1

Coordenação-Regional no Distrito Federal 1 Coordenador-Regional 101.4

1 Assistente Técnico 102.1

b) QUADRO RESUMO DE CUSTOS DOS CARGOS EM COMISSÃO E DAS FUNÇÕES DE CONFIANÇA DO MINISTÉRIO DA JUSTIÇA

SITUAÇÃO ATUAL SITUAÇÃO NOVA


CÓDIGO DAS – UNITÁRIO
QTDE. VALOR TOTAL QTDE. VALOR TOTAL
NE 6,41 3 19,23 1 6,41
101.6 6,27 11 68,97 9 56,43
101.5 5,04 36 181,44 33 166,32
101.4 3,84 111 426,24 101 387,84
101.3 2,10 145 304,50 147 308,70
101.2 1,27 132 167,64 129 163,83
101.1 1,00 197 197,00 199 199,00

102.5 5,04 7 35,28 5 25,20


102.4 3,84 18 69,12 12 46,08
102.3 2,10 32 67,20 16 33,60
102.2 1,27 32 40,64 15 19,05
102.1 1,00 65 65,00 48 48,00
SUBTOTAL 1 789 1.642,26 715 1.460,46
Legislação Relativa à DPRF

FCGE-3 2,30 60 138,00 60 138,00


FCGE-2 1,26 20 25,20 20 25,20
FCGE-1 0,76 20 15,20 20 15,20
SUBTOTAL 2 100 178,40 100 178,40
FCPRF-4 2,30 6 13,80
FCPRF-3 1,26 24 30,24 32 40,32
FCPRF-2 0,76 29 22,04 29 22,04
SUBTOTAL 3 53 52,28 67 76,16
FG-1 0,20 132 26,40 132 26,40
FG-2 0,15 403 60,45 403 60,45

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FG-3 0,12 1.121 134,52 1.121 134,52
SUBTOTAL 4 1.656 221,37 1.656 221,37
TOTAL GERAL 2.598 2.094,31 2.538 1.936,39

ANEXO III
REMANEJAMENTO DE CARGOS

DO MJ PARA A SEGES/MP (a) DA SEGES/MP PARA O MJ (b)


CÓDIGO DAS-UNITÁRIO
QTDE. VALOR TOTAL QTDE. VALOR TOTAL
101.6 6,27 2 12,54
101.5 5,04 2 10,08
101.4 3,84 7 26,88
101.3 2,10 7 14,70
101.1 1,00 2 2,00

102.5 5,04 2 10,08


102.4 3,84 6 23,04
102.3 2,10 16 33,60
102.2 1,27 17 21,59
102.1 1,00 17 17,00
TOTAL 69 154,81 9 16,70
SALDO DO REMANEJAMENTO (a-b) 60 138,11

ANEXO IV
FUNÇÕES COMISSIONADAS TÉCNICAS DO MINISTÉRIO DA JUSTIÇA

FUNÇÃO COMISSIONADA TÉCNICA QUANTIDADE


FCT – 1 7
FCT – 2 2
FCT – 5 2
FCT – 7 22
FCT – 8 45
FCT – 9 13
FCT – 10 23
FCT – 11 103
FCT – 12 38
TOTAL 255

ANEXO V
CARGOS EM COMISSÃO NA DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO

CARGO TOTAL
NE 2
DAS 101.5 1
DAS 101.4 3
DAS 101.3 5
DAS 101.2 3

ANEXO VI
Legislação Relativa à DPRF

FUNÇÕES COMISSIONADAS TÉCNICAS NA DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO

FUNÇÃO COMISSIONADA TÉCNICA QUANTIDADE


FCT – 1 1
FCT – 7 2
FCT – 8 3
FCT – 9 2
FCT – 10 3
FCT – 11 6
FCT – 12 4
TOTAL 21

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EXERCÍCIOS do delito e comunicar a prisão à autoridade judiciária
competente.
(Cespe/TRT 8ª Região (PA e AP)/Analista Judiciário/Área Judi- 8. Compete à PRF o patrulhamento das rodovias federais
ciária/2016) Conforme a interpretação do Superior Tribunal privatizadas, mesmo tendo havido, com o processo de
de Justiça e do Supremo Tribunal Federal, julgue o item. concessão, a transferência a particulares das atividades
1. O crime de embriaguez ao volante, previsto no Código administrativas referentes aos trechos terceirizados.
de Trânsito Brasileiro, classifica-se como crime de pe- 9. Se, durante a execução de obra ao longo de uma rodovia
rigo concreto, de modo que, para tipificar a conduta, é federal, a empresa responsável pela obra interromper a
obrigatória a prova de que o motorista estava colocando circulação de veículos e a movimentação de cargas em
em risco a incolumidade física de outras pessoas. uma das faixas de rolamento sem a prévia permissão do
órgão de trânsito competente, a PRF deverá interditar a
(Cespe/TRE-MT/Analista Judiciário/2015) Com base no dis- obra e aplicar as penalidades civis e multas decorrentes
posto na legislação penal especial, julgue o item. da infração cometida pela empresa.
2. Conforme entendimento do STJ, tendo sido o motorista, 10. É permitido ao PRF portar arma de fogo somente em
com base no previsto no Código de Trânsito Brasileiro serviço, sendo a licença apenas de caráter funcional.
(CTB), condenado por homicídio culposo por ter matado
alguém ao conduzir imprudentemente, no exercício de (Cespe/PC-DF/Escrivão de Polícia/2013) Com relação ao Có-
sua profissão ou atividade, veículo de transporte de pas- digo de Trânsito Brasileiro (Lei nº 9.503/1997 e alterações),
sageiros, aplica-se causa de aumento de pena prevista julgue os itens a seguir.
no CTB, independentemente de ele estar efetivamente 11. Caso um cidadão esteja com sua capacidade psicomo-
transportando passageiros no momento do delito. tora alterada em razão da influência de álcool e, ainda
assim, conduza veículo automotor, tal conduta caracte-
(Cespe/TJ-PB/Juiz de Direito/2015) Acerca da legislação penal rizará crime de trânsito se ocorrer em via pública, mas
especial, julgue o item. será atípica, se ocorrer fora de via pública, como um
3. Nos crimes previstos no Código de Trânsito Brasileiro, condomínio fechado, por exemplo.
a suspensão ou a proibição para se obter permissão 12. Constitui infração penal o simples fato de trafegar em
ou habilitação para dirigir veículo automotor deve ser velocidade incompatível com a segurança nas proxi-
imposta cumulativamente com outras penalidades, não midades de escola, hospitais e estações de embarque
como pena autônoma. e desembarque de passageiros, em qualquer dia ou
horário.
(Cespe/TJ-DFT/Analista Judiciário/2015) No que se refere aos
crimes previstos na legislação de trânsito, julgue o próximo (Cespe/PC-TO/Delegado de Polícia/2008) De acordo com a
item. legislação especial pertinente, julgue o item.
4. Para a caracterização do delito de embriaguez ao volan- 13. Os crimes de lesão corporal culposa, embriaguez ao
te, é necessária a demonstração do efetivo perigo de volante e participação em competição não autorizada,
dano ao bem jurídico protegido pela norma, no caso, elencados no Código de Trânsito Brasileiro, são apura-
a incolumidade do trânsito, não bastando, para tanto, dos por meio de termo circunstanciado de ocorrência,
a mera constatação de concentração de álcool por litro sendo vedada, em qualquer hipótese, a prisão em fla-
de sangue do condutor do veículo acima do limite legal grante em tais condutas, nos termos dispostos na Lei
permitido. dos Juizados Especiais Criminais.

(Cespe/TJ-DFT/Juiz de Direito/2015) Considerando os crimes (Cespe/PRF/Agente Administrativo/2012) Com base na legis-


de trânsito, julgue o item. lação específica da PRF, julgue os próximos itens.
5. Dirigir veículo automotor, em via pública, sem a devida 14. Quando necessário, e sob a coordenação do órgão com-
permissão ou habilitação, gerando perigo de dano, é petente, caberá à PRF executar medidas de segurança,
classificado como delito de perigo abstrato. planejamento e escolta do presidente da República nas
rodovias federais.
(Cespe/TJ-BA/Titular de Serviços de Notas e de Registros/2013) 15. Compete à PRF, no âmbito das rodovias por ele pa-
No que se refere aos crimes de trânsito, julgue o item. trulhadas, a realização de testes de dosagem alcoólica
6. A falta de permissão para dirigir ou de carteira de habi- mediante a utilização do modelo de etilômetro, popu-
litação torna-se fato penalmente irrelevante no caso de larmente conhecido como bafômetro.
o agente, nessas condições, praticar crime de homicídio 16. Nos termos da legislação infraconstitucional, cabe à PRF,
culposo no trânsito. no âmbito de sua competência, não só a aplicação das
multas, mas também a sua arrecadação.
(Cespe/PRF/Policial Rodoviário Federal /2013) Com base na
Legislação Relativa à DPRF

legislação da PRF, julgue os itens que se seguem. (Cespe/PRF/Policial Rodoviário Federal/2008) Acerca das
7. Considere a seguinte situação hipotética. Durante uma previsões da Lei nº 9.654/1998, julgue os itens.
abordagem de rotina feita pela PRF em determinada 17. O ocupante do cargo de PRF permanecerá no local de
rodovia federal, foram apreendidos aproximadamen- sua primeira lotação por um período mínimo de dois
te cem quilos de entorpecentes, entre crack, haxixe e anos, exercendo atividades de natureza estritamente
cocaína. O motorista, único ocupante do veículo onde operacional voltadas ao patrulhamento ostensivo e à
estavam as drogas, confessou a prática do delito, tendo fiscalização de trânsito compatíveis com a sua experi-
afirmado, ainda, que adquirira as drogas para revendê- ência e aptidões.
-las e que as estava transportando para um depósito em 18. Os ocupantes de cargos da carreira de PRF não estão
local seguro. Nessa situação, cabe à chefia do distrito sujeitos à dedicação exclusiva às atividades do cargo,
regional da PRF do estado em que ocorreu a apreen- o que torna possível a cumulação do cargo com outra
são formalizar o auto de prisão em flagrante do autor atividade privada.

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19. A carreira de que trata a Lei nº 9.654/1998 é composta a) lesão corporal culposa na direção de veículo auto-
do cargo de PRF, estruturada nas classes de inspetor, motor e crime de dirigir sem habilitação;
agente e escrivão. b) lesão corporal culposa na direção de veículo auto-
20. A implantação da carreira de PRF ocorreu mediante motor;
transformação de milhares de cargos efetivos de patru- c) crime de dirigir sem habilitação;
lheiro rodoviário federal, do quadro geral do Ministério d) lesão corporal culposa na direção de veículo auto-
da Justiça, em cargos de PRF. motor, agravada pela ausência de habilitação;
21. O regime de trabalho dos PRFs é de 44 horas semanais. e) crime algum, diante da extinção da punibilidade,
pela renúncia à representação, absorvida a direção
(Cespe/PRF/Policial Rodoviário Federal/2004) Acerca da com- sem habilitação.
petência da PRF, julgue o item a seguir.
22. No âmbito das rodovias federais, havendo necessidade, 25. (FGV/TJ-PI/ Juiz de direito/2015) A suspensão da habili-
caberá à PRF realizar, sob a coordenação do órgão com- tação para dirigir veículo automotor prevista no Código
petente, a escolta nos deslocamentos de presidente da de Trânsito Brasileiro
República, ministros de Estado e diplomatas estrangeiros. a) tem a duração máxima de cinco anos.
b) não pode ser decretada cautelarmente.
23. (Faurgs/TJ-RS/Juiz de Direito/2016) Em se tratando dos c) deve ser fixada pelo mesmo tempo de duração da
crimes previstos na legislação extravagante, assinale a pena privativa de liberdade, por força de expressa
alternativa correta. previsão legal.
a) No crime de sonegação fiscal, o parcelamento admi- d) não pode ser imposta como penalidade principal.
nistrativo do débito tributário é causa de extinção e) não pode ser imposta cumulativamente com outras
da pretensão punitiva, desde que seja realizado em penalidades.
momento anterior ao oferecimento da denúncia.
b) Segundo a legislação atualmente em vigor, o mo- 27. (IDHTEC/CRQ - 1ª Região (PE)/Motorista2015) Segundo
torista que causa um acidente automobilístico com o CTB, Capítulo XIX - Dos Crimes De Trânsito é incorreto
vítima fatal exclusivamente em decorrência de estar afirmar:
dirigindo sob a influência de bebidas alcoólicas co- a) aplica-se aos crimes de trânsito de lesão corporal
mete o crime de homicídio culposo na direção de culposa o disposto nos arts. 74, 76 e 88 da Lei nº
veículo automotor. 9.099, de 26 de setembro de 1995, exceto se o agen-
c) Segundo a legislação atualmente em vigor, o empre- te estiver: I – sob a influência de álcool ou qualquer
go do proveito econômico do crime de associação outra substância psicoativa que determine depen-
para o tráfico de drogas não caracteriza a prática de dência; II – participando, em via pública, de corrida,
lavagem de dinheiro, haja vista que o referido tipo disputa ou competição automobilística, de exibição
penal não integra o dispositivo legal que estabelece ou demonstração de perícia em manobra de veícu-
o rol de crimes antecedentes para a configuração da lo automotor, não autorizada pela autoridade com-
lavagem. petente; III – transitando em velocidade superior à
d) Segundo a atual jurisprudência do Supremo Tribu-
máxima permitida para a via em 50 km/h (cinquenta
nal Federal, as pessoas jurídicas de direito privado
quilômetros por hora).
somente poderão responder pela prática de crimes
b) a suspensão ou a proibição de se obter a permissão
ambientais quando preenchido o requisito da dupla
ou a habilitação para dirigir veículo automotor pode
imputação, ou seja, quando também identificadas
ser imposta isolada ou cumulativamente com outras
e denunciadas as pessoas físicas responsáveis pela
penalidades.
tomada de decisão e efetiva realização da conduta
c) a penalidade de suspensão ou de proibição de se ob-
delitiva.
e) Segundo a atual jurisprudência do Supremo Tribunal ter a permissão ou a habilitação, para dirigir veículo
Federal, o crime de tráfico de drogas não admite automotor, tem a duração de seis meses a dois anos.
a aplicação da substituição da pena privativa de li- d) transitada em julgado a sentença condenatória, o
berdade por penas restritivas de direitos, devendo réu será intimado a entregar à autoridade judiciária,
a sanção imposta, independentemente do tempo em quarenta e oito horas, a Permissão para Dirigir
de reclusão fixado na sentença, ser cumprida em ou a Carteira de Habilitação.
regime inicial fechado, tendo em vista a hediondez e) A penalidade de suspensão ou de proibição de se
do crime. obter a permissão ou a habilitação para dirigir veícu-
lo automotor não se inicia enquanto o sentenciado,
24. (FGV/TJ-PI/Analista Judiciário/2015) Aristharco con- por efeito de condenação penal, estiver recolhido a
duzia seu VW Karmann-Guia 1969, em via pública, estabelecimento prisional.
nas proximidades da Praça Desembargador Edgard
Legislação Relativa à DPRF

Nogueira, Centro Cívico, Teresina/PI, sem documento, 28. (Funiversa/PC-DF/Papiloscopista Policial/2015) Marcelo
vindo a colidir, por imprudência, com o Audi TT, de Rico, praticou homicídio culposo na direção de veículo auto-
provocando-lhe escoriações diversas. Por ter reservado motor. Considerando esse caso hipotético, a pena de
um camarote numa boate, Rico disse que não queria Marcelo será aumentada se ele
fazer qualquer tipo de registro policial, declarando ex- a) estiver conduzindo veículo de transporte de passa-
pressamente sua vontade de não representar criminal- geiros, não sendo essa a sua profissão ou atividade.
mente contra Aristharco. Ainda assim, Policiais Militares b) praticar o crime em rodovia com trânsito intenso.
conduzem todos à Delegacia de Polícia, onde Rico rei- c) possuir permissão para dirigir ou carteira de habili-
tera sua vontade, terminando a autoridade policial por tação vencida.
registrar todo o fato, encaminhando o procedimento d) praticar o crime em faixa de pedestres ou na calçada.
ao Ministério Público. A conduta de Aristharco deve e) deixar de prestar socorro, ainda que correndo risco
configurar: pessoal, à vítima do acidente.

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29. (Funiversa/PC-DF/Delegado de Polícia/2015) Em relação b) não se aplicam as disposições da Lei nº 9.099/1995
à Lei nº 9.503/1997, que trata dos crimes de trânsito, ao crime de lesão corporal culposa.
assinale a alternativa correta. c) constata-se o crime de conduta sob embriaguez com
a) De acordo com a referida lei, constitui crime de trân- a concentração de álcool por litro de sangue igual
sito punido com detenção a conduta do agente que ou superior a 4 decigramas.
trafegue em velocidade incompatível com a segu- d) afastar-se do local do acidente para fugir à respon-
rança nas proximidades de escolas, gerando perigo sabilidade civil ou penal é uma faculdade do agente,
de dano. desde que não haja vítimas fisicamente lesionadas.
b) Não há, na lei, previsão de pena de reclusão, sendo e) poderá haver crime de omissão de socorro ainda
os crimes previstos puníveis com detenção e(ou) que a vítima tenha sofrido morte instantânea.
multa.
c) Não é prevista, entre as penalidades constantes na 33. (FCC/MPE-PE/Promotor de Justiça/2014) Nos crimes de
lei, multa reparatória. trânsito de lesão corporal culposa,
d) Consoante essa norma, é circunstância que pode a) admissíveis, em qualquer situação, a transação penal
agravar a penalidade do crime de trânsito, confor- e a suspensão condicional do processo.
me a apreciação subjetiva do juiz, ter o condutor do b) dispensável a representação do ofendido, se o agen-
veículo cometido a infração sobre faixa de trânsito te estiver sob a influência de álcool.
destinada a pedestre. c) sempre cabível a composição civil.
e) Uma das críticas que a doutrina faz ao legislador em d) inadmissível a transação penal.
relação aos crimes de trânsito se relaciona à ausência e) incabível a suspensão condicional do processo, mas
de previsão legal de benefício ao condutor do veí- sempre necessária a representação do ofendido.
culo que, após a prática da infração, preste pronto
e integral socorro à vítima. 34. (VUNESP/PC-SP/Médico legista/2014) O Código de Trân-
sito Brasileiro, com suas alterações posteriores, dispõe
30. (FCC/TJ-PE/Juiz de Direito/2015) No tocante aos crimes que é crime “conduzir veículo automotor com capaci-
de trânsito, correto afirmar que dade psicomotora alterada em razão da influência de
a) a suspensão ou a proibição de se obter a permissão álcool ou de outra substância psicoativa que determine
ou a habilitação para dirigir veículo automotor não dependência.” Assim, considerando o que estabelece
pode ser imposta cumulativamente com outras pe-
essa lei a respeito do referido crime, é correto afirmar
nalidades.
que a conduta delituosa será feita pela constatação de
b) imprescindível o perigo de dano para a tipificação
concentração igual ou superior a
do delito de direção de veículo automotor, em via
a) 3 decigramas de álcool por litro de sangue ou igual
pública, sem a devida Permissão para Dirigir ou Ha-
ou superior a 6 decigramas de álcool por litro de ar
bilitação ou, ainda, se cassado o direito de dirigir.
alveolar.
c) a circunstância de o agente não possuir carteira de
b) 5 decigramas de álcool por litro de sangue ou igual
habilitação constitui causa de aumento da pena tão-
ou superior a 0,5 miligrama de álcool por litro de ar
-somente no crime de homicídio culposo na direção
de veículo automotor alveolar.
d) a penalidade de multa reparatória consiste no pa- c) 8 decigramas de álcool por litro de sangue ou igual
gamento, mediante depósito judicial em favor da ou superior a 0,2 miligrama de álcool por litro de ar
vítima, ou seus sucessores, de quantia fixada em alveolar.
salários mínimos. d) 6 decigramas de álcool por litro de sangue ou igual
e) a lei já não prevê a concentração de álcool por litro ou superior a 0,3 miligrama de álcool por litro de ar
de sangue necessária para a configuração do delito alveolar.
de embriaguez ao volante. e) 3 decigramas de álcool por litro de sangue ou igual
ou superior a 0,1 miligrama de álcool por litro de ar
31. (IBFC/PC-RJ/Papiloscopista Policial/2014) Todos os alveolar.
enunciados abaixo correspondem a causas que aumen-
tam a pena de um terço à metade do crime de homicídio 35. (VUNESP/PC-SP/Investigador de Polícia/2014) Apolo e
culposo na direção de veículo automotor, exceto: Afrodite estão em um bar, e Apolo decide ir para casa
a) Não possuir Permissão para Dirigir ou Carteira de de madrugada. Apolo está visivelmente embriagado e
Habilitação. Afrodite, mesmo sabendo disso, entrega seu automóvel
b) Transitar em velocidade superior à máxima permi- para Apolo, que conduz o veículo até o condomínio em
tida para a via em 50 km/h (cinquenta quilômetros que ambos residem, mas não causa qualquer acidente
e obedece todas as regras de trânsito no trajeto. Nessa
Legislação Relativa à DPRF

por hora).
c) Praticá-lo em faixa de pedestres ou na calçada. situação, e conforme estabelece o Código de Trânsito
d) Deixar de prestar socorro, quando possível fazê-lo Brasileiro, é correto afirmar que:
sem risco pessoal, à vítima do acidente. a) apenas Apolo cometeu crime por dirigir embriagado
e) Praticá-lo no exercício de profissão ou atividade de b) apenas Afrodite cometeu crime por emprestar seu
condutor de veículo de transporte de passageiros. automóvel a Apolo.
c) Apolo e Afrodite cometeram crimes
32. (FCC/DPE-PB/Defensor Público/2014) Segundo a lei bra- d) Afrodite teria cometido crime apenas e tão somente
sileira, tratando-se de condução de veículo automotor, se Apolo tivesse se envolvido em acidente de trânsito
a) no homicídio culposo, incide causa de aumento com vítima.
quando o crime é praticado em faixa de pedestre, e) nenhum dos dois cometeu crime algum, já que nin-
na calçada ou área de estacionamento de veículos. guém sofreu qualquer dano físico ou material

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36. (IBFC/PC-RJ/Oficial de Cartório/2013) O condutor de (Cespe/PC-DF/ Agente de Polícia/2013) Julgue o item abaixo,
veículo automotor que culposamente atropela um pe- que versa sobre a organização da segurança pública.
destre e deixa de prestar-lhe socorro, mesmo tendo 42. As polícias civis, às quais incumbem, ressalvada a com-
possibilidade de fazê-lo sem risco pessoal, vindo a víti- petência da União, as funções de polícia judiciária e
ma a óbito no local do evento, comete: a apuração de infrações penais, exceto as militares,
a) Crime de homicídio culposo, previsto no Código de subordinam-se aos governadores dos estados, do DF
Trânsito Brasileiro, sob o qual incide uma causa es- e dos territórios.
pecial de aumento de pena pelo fato de o agente
deixar de prestar socorro à vítima. (Cespe/SEGESP-AL/Técnico Forense/2013) Considerando
b) Crime de homicídio culposo em concurso material as disposições da CF acerca da defesa do Estado, das insti-
com o delito de omissão de socorro, ambos previstos tuições democráticas e a segurança pública, julgue o item
no Código de Trânsito Brasileiro. subsequente.
c) Crime de homicídio doloso, previsto no Código Penal, 43. As polícias civis são dirigidas por delegados de polícia
pois o agente, com a sua conduta omissiva, assumiu de carreira, cabendo-lhes a incumbência de exercer ge-
o risco de produzir o resultado morte. nericamente as funções de polícia judiciária e apurar as
d) Crime de homicídio doloso em concurso formal com infrações penais e militares, além de prevenir e reprimir
o delito de omissão de socorro, ambos previstos no o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins
Código de Trânsito Brasileiro.
e) Crimes de lesão corporal seguida de morte e fuga (Cespe/DPF/Delegado de Polícia/2013) Acerca das atribui-
de local de acidente, em continuidade delitiva, o ções da Polícia Federal, julgue os itens a seguir.
primeiro previsto no Código Penal e o segundo no 44. A Polícia Federal dispõe de competência para proceder
Código de Trânsito Brasileiro. à investigação de infrações penais cuja prática tenha
repercussão interestadual ou internacional, exigindo-se
37. (TJ-SC/ TJ-SC/Juiz de direito/2013) Observadas as propo- repressão uniforme.
sições a seguir expostas, assinale a alternativa correta. 45. De acordo com a norma constitucional, cabe exclusiva-
I – A configuração do crime de entregar a direção de mente à Polícia Federal prevenir e reprimir o tráfico ilíci-
veículo a pessoa não habilitada, previsto no art. 310 da to de entorpecentes e drogas afins, portanto a atuação
Lei nº 9.503/1997, exige a demonstração da ocorrência da polícia militar de determinado estado da Federação
de perigo concreto. no flagrante e apreensão de drogas implica a ilicitude
II – A ação penal para o crime de lesão corporal leve da prova e a nulidade do auto de prisão.
praticado contra idoso é pública condicionada à repre-
sentação da vítima. (Cespe/DPF/Perito criminal/2013) Julgue o próximo item
III – O agente que, sem autorização do órgão público relativo à defesa do Estado e das instituições democráticas.
competente, ou em desacordo com as determinações 46. A apuração de infrações penais cometidas contra os in-
legais, promove o desmembramento do solo urbano e teresses de empresa pública federal insere-se no âmbito
realiza a venda de terrenos para diversos consumidores da competência da Polícia Federal.
pratica crime contra a economia popular previsto na Lei 47. Considere que determinada lei ordinária tenha criado
nº 1.521/1951. órgão especializado em perícia e o tenha inserido no rol
IV – A ação penal para apurar crimes de responsabili- dos órgãos responsáveis pela segurança pública. Nessa
dade dos prefeitos municipais independe de pronun- situação, a lei está em consonância com a CF, a qual
ciamento da Câmara de Vereadores. admite expressamente a criação de outros órgãos públi-
cos encarregados da segurança pública, além daqueles
a) Somente as proposições III e IV estão corretas. previstos no texto constitucional.
b) Somente as proposições II e IV estão corretas.
c) Somente as proposições II e III estão corretas. Gabarito
d) Somente as proposições I e IV estão corretas.
e) Todas as alternativas estão incorretas. 1. e 13. e 25. a 38. c
2. c 14. c 27. c 39. e
(Cespe/ Polícia Federal/Agente Administrativo/2014) Acerca 3. e 15. c 28. d 40. c
das disposições constitucionais relativas à segurança pública, 4. e 16. c 29. a 41. c
julgue os itens a seguir. 5. e 17. e 30. b 42. c
38. Na hipótese da ocorrência de crime contra o patrimônio 6. e 18. e 31. b 43. e
da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, compete 7. e 19. e 32. e 44. c
à Polícia Federal apurar a infração penal. 8. c 20. c 33. b 45. e
39. A Força Nacional de Segurança Pública, a Polícia Federal 9. e 21. d 34. d 46. c
Legislação Relativa à DPRF

e a Polícia Rodoviária Federal são órgãos destinados ao 10. e 22. c 35. c 47. e
exercício da segurança pública no Brasil. 11. e 23. b 36. a
40. A Polícia Federal, organizada e mantida pela União, 12. e 24. e 37. b
atua, de forma preventiva e repressiva, no combate
a certos delitos, sendo ainda de sua responsabilidade
o exercício, com exclusividade, das funções de polícia
judiciária da União.
41. O objetivo fundamental da segurança pública, exer-
cida por meio das polícias federal, rodoviária federal,
civis, militares e dos corpos de bombeiros militares, é
a preservação da ordem pública e da incolumidade das
pessoas e do patrimônio.

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
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PRF

SUMÁRIO

Física Aplicada à Perícia de Acidentes Rodoviários


Mecânica
Cinemática escalar, cinemática vetorial.......................................................................................................................... 3
Movimento circular....................................................................................................................................................... 12
Leis de Newton e suas aplicações................................................................................................................................. 13
Trabalho........................................................................................................................................................................ 16
Potência......................................................................................................................................................................... 17
Energia cinética, energia potencial, atrito..................................................................................................................... 16
Conservação de energia e suas transformações........................................................................................................... 27
Quantidade de movimento e conservação da quantidade de movimento, impulso.................................................... 18
Colisões......................................................................................................................................................................... 18
Estática dos corpos rígidos............................................................................................................................................ 21
Estática dos fluidos........................................................................................................................................................ 26
Princípios de Pascal, Arquimedes e Stevin.................................................................................................................... 27

Ondulatória
Movimento harmônico simples.................................................................................................................................... 28
Oscilações livres, amortecidas e forçadas..................................................................................................................... 33
Ondas. Ondas sonoras, efeito doppler e ondas eletromagnéticas. Frequências naturais e ressonância...................... 34

Óptica geométrica:
reflexão e refração da luz.............................................................................................................................................. 42
Instrumentos ópticos: características e aplicações....................................................................................................... 42

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Física Aplicada à Perícia de Acidentes Rodoviários
Adolfo Dani / Cleber Alves

CINEMÁTICA ESCALAR E VETORIAL deslocamento escalar.


deslocamento vetorial ou vetor desloca-
Conceitos Básicos de Cinemática mento.
1. A Cinemática estuda o movimento sem se preocupar
com as causas.
2. Referencial é um corpo ou ponto material em relação – Um corpo está em movimento quando sua posição
ao qual analisamos e descrevemos o comportamento de escalar ou vetor posição variam em relação a um referencial
outros corpos ou pontos materiais. Um corpo é considerado com o tempo.
ponto material quando suas dimensões são desprezíveis em – Um corpo pode estar em repouso e em movimento ao
comparação com as demais dimensões envolvidas. mesmo tempo, dependendo do referencial adotado.
Ex.: um ônibus é um ponto material em relação ao per-
curso Brasília, São Paulo. 5. Velocidades médias: definem‑se três tipos de velo-
3. A trajetória de um móvel é constituída pelos sucessivos cidades médias. Suponhamos um móvel que na ilustração
pontos ocupados em relação a um referencial no decorrer anterior parte em A, passa por B, vai até C e retorna a B,
do tempo. onde para.
Definimos como:
Ex.:
1°) Velocidade Rapidez (vR) ou simplesmente de veloci-
dade média a razão:

2°) Velocidade Escalar média (Vm) a razão:


Figura 1 – Trajetória de um corpo para mais de um referencial.

Em relação ao referencial observador em solo, a trajetória


descrita pelo projétil é parabólica. Já, em relação ao piloto
do avião, a trajetória é reta. Logo, a trajetória descrita por
um móvel depende do referencial adotado.

4. Posição ou espaço escalar (S) e vetor posição S de 3°) Velocidade vetorial média ou vetor velocidade
um móvel. média a razão:

Física Aplicada à Perícia de Acidentes Rodoviários

Aplicação:
Na ilustração, um móvel parte do ponto A, passa por
B e C, vai até D e retorna a C, onde para, num intervalo de
tempo ∆t.
Figura 2 – Representação escalar e vetorial da posição de um móvel.

O → referencial (origem das posições).


A → origem da contagem dos tempos
(ponto de partida) em t0 = 0.
B → posição num instante qualquer.
posição escalar inicial.
posição escalar final.
vetor posição inicial.
vetor posição final.

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S → informa onde está o móvel em cada instante (po-
sição).
ΔS → informa no MRU quanto andou o móvel (deslo-
camento).
S0 → posição ou espaço inicial.
S → posição ou espaço final num instante qualquer.

Sinal da Velocidade

→ v > 0(+) movimento que se efetua no sentido positivo


da trajetória, isto é, movimento progressivo.

→ v < 0(–) movimento que se efetua no sentido contrário


ao positivo da trajetória, isto é, movimento regressivo ou
retrógrado.

Note que:

Representação gráfica do MRU

1°) Gráfico (S × t) → Espaço versus tempo


A situação de igual ocorre para o MRU, pois a velocidade
é constante.
, pois a velocidade é constante.

Movimento Retilíneo Uniforme (MRU)

Características:
– A trajetória é reta.
– A velocidade é constante em intensidade, direção e
sentido.
Progressivo v > O (+)

A velocidade é numericamente igual à tangente no


gráfico (S × t)
Note que o móvel percorre espaços iguais em tempos
iguais, o que corresponde a uma velocidade constante.
Física Aplicada à Perícia de Acidentes Rodoviários

Veja:

Regressivo v < 0

Isolando a posição, o tempo e a velocidade na função


acima, temos:
2°) Gráfico (v × t) velocidade versus tempo.

Equação horária da posição do MRU.

ΔS = S – S0, temos:

Equação do deslocamento do MRU.

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Resolução:

Se v = 5 m/s, após 60 s o atleta terá percorrido:

Considerando o formato da pista, ele estará no ponto B


indicado na figura:

O deslocamento é numericamente igual à área no gráfico


(v × t).

Exercícios Resolvidos
1. (Unitau‑SP) Um móvel parte do km 50, indo até o km 60,
onde, mudando o sentido do movimento, vai até o km
32. O deslocamento escalar e a distância efetivamente
percorrida são respectivamente:
a) 28 km e 28 km
b) 18 km e 38 km
c) 18 km e 38 km Resposta: a
d) 18 km e 18 km
e) 38 km e 18 km 3. (UEL‑PR) Um homem caminha com velocidade vH = 3,6
km/h, uma ave, com velocidade vA = 30 m/min, e um
Resolução: inseto, com vI = 60 cm/s. Essas velocidades satisfazem
a relação:
O deslocamento escalar corresponde ao espaço percor- a) vI > vH > vA
rido ∆s, dado por: b) vA > vI > v
c) vH > vA > vI
d) vA > vH > vI
e) vH > vI > vA
A distância percorrida é dada por:
Resolução:

Dados: VH = 3,6 km/h
VA = 30 m/min
Resposta: c Vi = 60 cm/s

2. (Unisinos‑RS) Numa pista atlética retangular de lados a


= 160 m e b = 60 m, um atleta corre com velocidade de
módulo constante v = 5 m/s, no sentido horário, confor-
me mostrado na figura. Em t = 0 s, o atleta encontra‑se

Física Aplicada à Perícia de Acidentes Rodoviários


no ponto A. O módulo do deslocamento do atleta, após
60 s de corrida, em metros, é:
a) 100
b) 220
c) 300
d) 10 000 Logo:
e) 18 000
Resposta: e

4. (UFPA) Maria saiu de Mosqueiro às 6 horas e 30 minu-


tos, de um ponto da estrada onde o marco quilométrico
indicava km 60. Ela chegou a Belém às 7 horas e 15
minutos, onde o marco quilométrico da estrada indicava
km 0 (zero). A velocidade média, em quilômetros por
hora, do carro de Maria, em sua viagem de Mosqueiro
até Belém, foi de:
a) 45
b) 55
c) 60
d) 80
e) 120

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Resolução: O fenômeno começa a ser controlado sempre com o
cronômetro zerado, isto é t0 = 0.
Observando a figura: v – v0 = at

v = v0 + at → Equação da velocidade do MRUV.

Para a ilustração, observe que:

Se a aceleração é
constante, a velocidade varia em função do tempo.

Movimento uniformemente variado é o movimento cuja


função horária é do 2º grau em t:

O sinal negativo da velocidade indica movimento retró-


grado.

Resposta: d No movimento uniformemente variado, a  velocidade


escalar varia com o tempo segundo uma função do 1º grau:
Movimento Retilíneo Uniforme Variado (MRUV)

1. Características
No movimento uniformemente variado, a  aceleração
– A trajetória é reta. escalar é constante (diferente de zero) e igual à aceleração
– A velocidade varia uniformemente em intensidade, não escalar média em qualquer intervalo de tempo.
varia de direção e pode variar no sentido. Considere, por exemplo, um movimento uniformemente
– A razão entre a variação de velocidade (Δv) e a va- variado cuja função velocidade é v = 2 + 5 t, para v em m/s
riação de tempo correspondente (Δt) denominamos de e t em s.
aceleração (a). Observe que a cada valor de t corresponde um valor de
v. Assim, temos a tabela:

t (s) 0 1 2 3
v (m/s) 2 7 12 17
Δv = v – v0
Note que de 1 em 1 segundo a velocidade escalar sofre
Δt = t – t0 uma variação de 5 m/s. Isso significa que a velocidade escalar
varia de um modo uniforme com o tempo. Daí a denomina-
No MRU a aceleração é nula e no MRUV a aceleração ção movimento uniformemente variado. No exemplo em
é constante. questão, a aceleração escalar é constante e igual a 5 m/s2.

Exemplo: Equação de Torricelli


Eliminando‑se t entre as duas funções (ou equações)
Física Aplicada à Perícia de Acidentes Rodoviários

apresentadas:

Resulta a chamada equação de Torricelli para MUV:

Exercícios Resolvidos
Note que para qualquer variação de tempo e velocidade 1. (UEPG‑PR) Um passageiro anotou, a  cada minuto,
a razão Δv/Δt resulta constante, 2,5 m/s2, este valor é a ace- a velocidade indicada pelo velocímetro do táxi em que
leração (a) que informa que em cada segundo a velocidade viajava, o resultado foi 12 km/h, 18 km/h, 24 km/h e
varia de 2,5 m/s. 30 km/h. Pode‑se afirmar que:
Genericamente podemos escrever: a) o movimento do carro é uniforme.
b) a aceleração média do carro é de 6 km/h, por minuto.
c) o movimento do carro é retardado.
d) a aceleração do carro é 6 km/h2.
e) a aceleração do carro é 0,1 km/h, por segundo.

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Resolução: Retardado: o móvel corre cada vez menos.

A aceleração do carro é de:

Resposta: b

2. (Unimep‑SP – adaptado) Uma partícula parte do repou-


so e em 5 segundos percorre 100 metros. Considerando
o movimento retilíneo e uniformemente variado, po-
demos afirmar que a aceleração da partícula é de:
a) 8 m/s2
b) 4 m/s2
c) 20 m/s2
d) 4,5 m/s2
e) 3,5 m/s2 • Lembre‑se do MRU. Progressivo é quando o móvel se
desloca no sentido positivo da trajetória e regressivo
Resolução: é quando o móvel se desloca no sentido contrário ao
positivo.
Dados: v0 = 0 • Para equacionar corretamente e resolver problemas,
t = 5 s lembre que nos movimentos acelerados, v e a devem
Δs = 100 m ter o mesmo sinal, ambos positivos ou ambos negativos.

Nos movimentos retardados, v e a devem ter sinais


contrários. Se v é positivo, então, a terá que ser negativo
e vice‑versa.

Resposta: a Gráficos do MRUV


3. (Uneb‑BA) Uma partícula, inicialmente a 2 m/s, é ace- 1º) Gráfico (S × t) (Espaço × tempo)
lerada uniformemente e, após percorrer 8 m, alcança a
velocidade de 6 m/s. Nessas condições, sua aceleração, A equação S = S0 + v0t + at2/2 é do 2º grau do tipo y =
em metros por segundo ao quadrado, é: c + bx + ax2 e gera parábolas. Se a > 0 (+) a parábola tem
a) 1 concavidade voltada para cima, se a < 0 (–) a parábola tem
b) 2 concavidade voltada para baixo.
c) 3
d) 4 Veja:
e) 5

Resolução:

Física Aplicada à Perícia de Acidentes Rodoviários


Resposta: b

Classificação em Progressivo, Regressivo,


Acelerado e Retardado
No gráfico, observamos que:
Acelerado: o móvel corre cada vez mais. – no instante t = 0 temos a posição S0;
– o móvel se desloca sobre o eixo (S);
– nos instantes t1 e t3, o móvel passa pelo refe­rencial;
– no instante t2 o móvel muda de sentido;
– a tangente no gráfico (S × t) fornece a velocidade.

Veja:

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2º) Gráfico (v × t) velocidade versus tempo • Para o cálculo da distância percorrida, faça:

A equação v = v0 + at é do 1º grau do tipo y = b + ax e d = |A1| + |A2|


gera retas. Se a > 0 (+) a reta tem declividade positiva se a <
0 (–) a reta tem declividade negativa.
3º) Gráfico (a × t) (aceleração versus tempo)
Veja:
A equação a = Δv/Δt = cte

No gráfico (a × t), a área fornece a variação de velocidade:

No gráfico, observamos que:
– no instante t = 0 temos a velocidade v0;
– a velocidade é registrada sobre o eixo (v) pelo velocí-
metro; Lançamento Vertical no Vácuo
– no instante (t2), o móvel muda de sentido;
– a tangente no gráfico (v × t) fornece a aceleração:
O Movimento de Queda Livre é caracterizado pelo aban-
dono de um corpo a certa altura em relação ao solo. Este cor-
po sofre influência da atração da terra e, sob determinadas
condições, apresenta movimento retilíneo uniformemente
variado. O valor absoluto da aceleração desse movimento é
denominada aceleração da gravidade, sendo indicada por g.
Para que o corpo apresente a aceleração da gravidade e
o MRUV é necessário desprezar a resistência do ar. Sabemos
que o ar oferece resistência ao movimento, no entanto,
No gráfico acima, a aceleração é positiva (a > 0). as vezes ela é tão pequena que pode ser desprezada.

Equacionamento do Movimento de Queda Livre

O corpo em queda livre poderá ser abandonado do


repouso ou lançado verticalmente para baixo com certa
velocidade inicial v0.
Física Aplicada à Perícia de Acidentes Rodoviários

No gráfico acima, a aceleração é negativa (a < 0).

– No gráfico, (v × t) a área (A) fornece o deslocamento


(ΔS) e a posição (S).

• O eixo do movimento é vertical, orientado de cima


A1 → área do triângulo resulta negativa. para baixo ↓
A2 → área do triângulo resulta positiva. • A velocidade escalar é positiva durante toda a descida
(v > 0), e a aceleração também é positiva (a > 0) =>
• Para o cálculo da posição (S), faça: Movimento Acelerado.
• Aceleração: a = +g
S = S0 + A1 + A2 → dada pelo problema. • Equação horária da velocidade: v = v0 + g.t
• Para o cálculo do deslocamento (ΔS), faça: • Equação horária do espaço:  .

ΔS = A1 + A2 • Equação de torricelli: 

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Equacionamento do Lançamento Vertical para Cima

• O eixo do movimento é vertical, orientado de baixo


para cima ↑
• A velocidade escalar é positiva durante toda a subida
(v > 0), pois está no mesmo sentido da trajetória, mas a
3. (UE‑CE) De um corpo que cai livremente desde o re-
aceleração é negativa (a < 0) => movimento retardado.
pouso, em um planeta X, foram tomadas fotografias
• Aceleração: a = – g
de múltipla exposição à razão de 1 200 fotos por
• O movimento de descida é acelerado, mas com velo- minuto. Assim, entre duas posições vizinhas, decorre
cidade negativa, pois vai contra a trajetória ↑ um intervalo de tempo de 1/20 de segundo. A partir
• O tempo de subida é igual ao tempo de descida Δtsub das informações constantes da figura acima, podemos
= Δtdesc concluir que a aceleração da gravidade no planeta X,
• A velocidade de retorno do objeto lançado é igual à expressa em metros por segundo ao quadrado, é:
velocidade inicial. a) 20
• Equação horária da velocidade: v = v0 – g.t b) 50
• Equação horária do espaço:  c) 30
d) 40
• Equação de torricelli:  e) 10

Exercícios Resolvidos Resolução:

1. (UE‑PI) Um corpo é abandonado de uma altura de 20 Tomando o solo como referencial:


m num local onde a aceleração da gravidade da Terra
é dada por g = 10 m/s2. Desprezando o atrito, o corpo
toca o solo com velocidade:
a) igual a 20 m/s
b) nula
c) igual a 10 m/s
d) igual a 20 km/h
e) igual a 15 m/s Resposta: d

Resolução:

Física Aplicada à Perícia de Acidentes Rodoviários

Resposta: a

2. (PUC‑RJ) Uma bola é lançada de uma torre, para baixo.


A bola não é deixada cair mas, sim, lançada com uma
certa velocidade inicial para baixo. Sua aceleração para
baixo é (g refere‑se à aceleração da gravidade):
a) exatamente igual a g.
b) maior do que g. 4. (Fafi‑BH) Um menino lança uma bola verticalmente para
c) menor do que g. cima do nível da rua. Uma pessoa que está numa sacada
d) inicialmente, maior do que g, mas rapidamente a 10 m acima do solo apanha essa bola quando está a
estabilizando em g. caminho do chão. Sabendo‑se que a velocidade inicial
e) inicialmente, menor do que g, mas rapidamente da bola é de 15 m/s, pode‑se dizer que a velocidade da
estabilizando em g. bola, ao ser “apanhada” pela pessoa, era de:
a) 15 m/s
b) 10 m/s
Resposta: a → A aceleração de queda é a própria acele-
c) 5 m/s
ração da gravidade. d) 0 m/s

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Resolução: • se um móvel apresenta um movimento composto, cada
um dos movimentos componentes se realiza como se
Na altura máxima, a velocidade da bola é igual a zero. os demais não existissem e no mesmo intervalo de
tempo.

Podemos imaginar a bola caindo de 11,25 m.

Resposta: c

Neste movimento temos que:


V0x → componente horizontal da velocidade. Permanece
constante durante o percurso (MRU).
V0y → componente vertical da velocidade. Varia devido
à aceleração da gravidade (MRUV).
v → velocidade resultante de vx e vy.
ts = td → tempo de subida é igual ao tempo de descida.
5. (Mack‑SP) Uma equipe de resgate se encontra num
helicóptero, parado em relação ao solo a 305 m de Equações Principais:
altura. Um paraquedista abandona o helicóptero e cai
livremente durante 1,0 s, quando abre‑se o paraquedas.
A partir desse instante, mantendo constante seu vetor alcance
velocidade, o paraquedista atingirá o solo em: horizontal.
(Dado: g = 10 m/s2)
a) 7,8 s altura em função do tempo.
b) 15,6 s
c) 28 s altura máxima.
d) 30 s
e) 60 s tempo de subida.
Resolução: velocidade vertical.
Em queda livre de 1,0s, o  paraquedista percorre uma velocidade resultante (velocidade de
distância , isto é: chegada ao solo).

Importante:
Física Aplicada à Perícia de Acidentes Rodoviários

• na altura máxima a velocidade em y (vy) é nula, por-


E adquire velocidade tanto, temos apenas a velocidade horizontal (vx);
 • o tempo de subida é o mesmo de descida logo, o tempo
Assim, terá que percorrer a distância restante, de 300 de permanência no ar é duas vezes o tempo de subida;
m, com velocidade constante de 10 m/s. Portanto, de h = • o ângulo de lançamento cujo alcance é máximo é igual
vt, concluímos que 300 = 10.t, enfim a 45°.

Resposta: c Exercícios Resolvidos


Lançamento Oblíquo
O lançamento oblíquo é um movimento bidimensional
caracterizado por uma posição de lançamento (x0, y0), um
ângulo de lançamento θ com a horizontal e uma velocidade
de lançamento de módulo v0. O movimento na direção hori-
zontal (direção x) é retilíneo uniforme (MRU) e o movimento
na direção vertical (direção y) é uniformemente variado
(MRUV) devido à força da gravidade.
• movimento dos projéteis é um movimento composto
de um MRU e outro MRUV perpendiculares; 1. (PUC‑SP) Suponha que em uma partida de futebol,
• trajetória parabólica; o goleiro, ao bater o tiro de meta, chuta a bola, impri-

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Resolução:
mindo‑lhe uma velocidade cujo vetor forma, com
a horizontal, um ângulo α. Desprezando a resistência
do ar, são feitas as seguintes afirmações.

I – No ponto mais alto da trajetória, a velocidade vetorial


da bola é nula.
II – A velocidade inicial pode ser decomposta segundo
as direções horizontal e vertical.
III – No ponto mais alto da trajetória é nulo o valor da
aceleração da gravidade.
IV – No ponto mais alto da trajetória é nulo o valor
da componente vertical da velocidade. Funções horárias:

Estão corretas:
a) I, II e III.
b) I, III e IV.
c) II e IV. Na altura máxima = 0, logo:
d) III e IV.
e) I e II.
Substituindo: 
Resolução:
Resposta: a
I → No ponto mais alto , logo Errado.
II → podemos escrever as coordenadas retangulares do 4. (UF‑SC) Uma jogadora de basquete joga uma bola com
vetor , como: Certo. velocidade de módulo 8,0 m/s, formando um ângulo
III → A aceleração da gravidade atua em qualquer ponto de 60º com a horizontal, para cima. O arremesso é tão
da trajetória. → Errado. perfeito que a atleta faz a cesta sem que a bola toque
no aro. Desprezando a resistência do ar, assinale a(s)
IV → No ponto mais alto da trajetória temos (o corpo
proposição (ões) verdadeira(s).
inverte o sentido do movimento). → Certo.
I – O tempo gasto pela bola para alcançar o ponto mais
alto da sua trajetória é de 0,5 s.
2. (UEL‑PR) Um corpo é lançado para cima, com velocidade
II – O módulo da velocidade da bola, no ponto mais alto
inicial de 50 m/s, numa direção que forma um ângulo
de 60º com a horizontal. Desprezando a resistência do da sua trajetória, é igual a 4,0 m/s.
ar, pode‑se afirmar que no ponto mais alto da trajetória III – A aceleração da bola é constante em módulo, di-
a velocidade do corpo, em metros por segundo, será: reção e sentido desde o lançamento até a bola atingir
(Dados: sen 60º = 0,87; cos 60º = 0,50) a cesta.
a) 5 IV – A altura que a bola atinge acima do ponto de lan-
b) 10 çamento é de 1,8 m.
c) 25 V – A trajetória descrita pela bola desde o lançamento
até atingir a cesta é uma parábola.

Física Aplicada à Perícia de Acidentes Rodoviários


d) 40
e) 50
Resolução:
Resolução:

Na altura máxima temos

3. (FAAP‑SP – adaptado) Em uma competição nos jogos


olímpicos, um atleta arremessa um disco com veloci-
dade de 72 km/h, formando um ângulo de 30º com a
horizontal. Desprezando‑se os efeitos do ar, a  altura
máxima atingida pelo disco é:
(g = 10 m/s2)
a) 5,0 m
b) 10,0 m
c) 15,0 m
d) 25,0 m
e) 64,0 m

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da Lua ao redor da Terra, num referencial fixo na Terra. Um
movimento circular uniforme pode ser associado também
às partículas que formam as rodas e engrenagens dos dis-
positivos mecânicos. A  palavra uniforme, neste contexto,
se refere à invariância do módulo da velocidade linear da
partícula que se desloca numa trajetória circular. De qualquer
5. Numa partida de futebol, o goleiro bate o tiro de meta modo, embora o módulo do vetor velocidade linear possa ser
e a bola, de massa 0,5 kg, sai do solo com velocidade constante, a sua direção varia continuamente, existindo uma
de módulo igual a 10 m/s, conforme mostra a figura. aceleração (centrípeta) e, portanto, uma força resultante não
nula sobre a partícula.

Definição do MCU
Uma partícula está em movimento circular uniforme
num dado referencial quando se movimenta sobre uma
circunferência com velocidade linear de módulo constante.
O vetor velocidade linear é sempre tangente à trajetória e
varia continuamente porque sua direção varia. Para dois
instantes genéricos t1 e t2, os módulos das velocidades v(t1)
e v(t2) são iguais, mas os vetores velocidade linear v (t1) e
v(t2) são diferentes.
No ponto P, a 2 metros do solo, um jogador da defesa
adversária cabeceia a bola. Considerando g = 10 m/s2, de- Período(T) e Frequência(f)
termine a velocidade da bola no ponto P.
O tempo levado pela partícula para percorrer uma vez
a sua trajetória é o período (T) do movimento. O número
de voltas dadas pela partícula na unidade de tempo é a fre­
quência (f) do movimento. Assim:

A unidade de frequência no sistema internacional é


Determinando os componentes retangulares do vetor v: chamada hertz e simbolizada por Hz: 1 Hz = 1 / s.

Exemplo:
Para termos uma ideia mais concreta da veracidade da
expressão acima, consideremos uma partícula em MCU (num
dado referencial) que leva 4s para percorrer exatamente uma
Determinando a altura máxima atingida: vez a circunferência que constitui a sua trajetória.
O período do movimento é justamente 4s.
Por outro lado, como a partícula percorre uma volta
em 4s, em um segundo ela percorre ¼ de volta. Portanto,
a  frequência do movimento da partícula, no referencial
A variação na altura da bola da altura máxima, até o ponto
Física Aplicada à Perícia de Acidentes Rodoviários

considerado, vale 1/(4s).


P, será (3,75 – 2) m = 1,75 m

Portanto, a velocidade da bola no ponto P, será: O vetor velocidade linear é sempre tangente à trajetória
da partícula.

Se, em vez de considerar a distância percorrida pela


Movimento Circular Uniforme partícula sobre sua trajetória, consideramos o ângulo des-
crito pela linha que une a partícula ao centro da trajetória,
Um movimento circular uniforme (MCU) pode ser asso- podemos definir a velocidade angular. O módulo dessa velo-
ciado, com boa aproximação, ao movimento de um planeta cidade angular é dado pelo cociente do ângulo descrito (em
ao redor do Sol, num referencial fixo no Sol, ou ao movimento radianos) pelo intervalo de tempo correspondente. Assim:

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A direção da velocidade angular é perpendicular ao plano
da trajetória e o sentido é dado pela regra da mão direita:
com os dedos da mão direita colocados ao longo da trajetória
descrita pela partícula e na mesma direção do movimento,
o polegar aponta o sentido da velocidade angular.
Comparando a expressão do módulo da velocidade
linear com a expressão do módulo da velocidade angular, Dê, como resposta, a soma das afirmativas corretas.
podemos escrever: 1. Errado. 
2. Certo. V = Δs/Δt→ Δt = Δs/V → Δt = 0,15/0,15 → Δt = 1s
4. Errado. A força centrípeta é inversamente proporcional
ao raio da trajetória.
8. Errado. A  aceleração centrípeta não depende da
Aceleração Centrípeta massa.

Pela primeira lei de Newton, se é nula a força resultante 16. Certo.


sobre uma partícula, ela está parada ou em movimento 32. Certo.
retilíneo uniforme num referencial inercial. Como o vetor
v(t2) é diferente do vetor v(t1), ou seja, como ∆v é diferente
de zero, existe uma força resultante não nula sobre a par-
tícula em MCU. Em outras palavras, existe uma aceleração.
Por outro lado, como o módulo do vetor velocidade linear é
constante, o vetor aceleração não pode ter componente na
direção do vetor velocidade linear. Então, o vetor aceleração
da partícula, em qualquer instante de tempo, aponta para o
centro da sua trajetória.
2. (Fatec‑SP) Duas polias, ligadas por uma correia, exe-
cutam movimentos circulares solidários e seus raios
medem 20 cm e 8,0 cm, respectivamente. Sabendo‑se
que a polia maior completa 4 (quatro) voltas a cada
segundo, o número de voltas que a menor completará
nesse mesmo intervalo de tempo é:
a) 0,5
b) 2
c) 5
Esta aceleração é chamada aceleração centrípeta e tem d) 10
módulo dado por: e) 16

Resolução:

No caso acima há a transmissão de movimento circular,


logo a velocidade linear das polias são iguais e fa = 4 Hz.
Exercícios Resolvidos Física Aplicada à Perícia de Acidentes Rodoviários
1. (UFMS) Um disco gira com velocidade angular constante
de 60 rotações por minuto. Uma formiga sobre o disco,
partindo do centro do disco, caminha sem deslizar na Resposta: d
direção radial com velocidade constante em relação ao
disco. Supondo que a velocidade da formiga seja 0,15 Leis de Newton
m/s e o raio do disco igual a 15,0 cm, qua l(is) da(s)
No nosso dia a dia encontramos objetos que se movem
afirmativa(s) abaixo é (são) correta(s)?
e outros que permanecem em repouso. À  primeira vista,
1. A velocidade angular do disco é de 1,0 rad/s. parece que um corpo está em repouso quando não existem
2. A formiga realiza, até chegar à borda do disco, uma forças atuando nele, e inicia o movimento quando uma força
volta completa. começa a atuar sobre si.
4. Quanto mais a formiga se aproxima da borda do
disco, maior a força centrípeta que atua sobre ela. Primeira Lei de Newton
8. A aceleração centrípeta sobre a formiga depende da
sua massa. Antes da época de Galileu a maioria dos filósofos pensava
16. A força centrípeta que atua na formiga é propor- que fosse necessária alguma influência ou força para manter
cionada pelo atrito entre a formiga e o disco. um corpo em movimento. Supunham que um corpo em
32. A trajetória da formiga para um observador fixo na repouso estivesse em seu estado natural. Acreditava‑se que
Terra é a mostrada na figura a seguir: para um corpo mover‑se em linha reta com velocidade cons-

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tante fosse necessário algum agente externo empurrando‑o
continuamente, caso contrário ele iria parar.
Foi difícil provar o contrário dada a necessidade de livrar
o corpo de certas influências, como o atrito. Estudando o
movimento de corpos em superfícies cada vez mais planas e
lisas, Galileu afirmou ser necessária uma força para modificar A partir de um dado instante, exerce‑se uma força ho-
a velocidade de um corpo, mas nenhuma força é exigida para
manter essa velocidade constante. rizontal , de intensidade igual a 16 N. Desprezando
Newton enunciou que: “Um corpo tende a permanecer todas as forças dissipativas, julgue os itens abaixo e
em repouso ou em movimento retilíneo e uniforme, quando escolha a alternativa correta.
a resultante das forças que atuam sobre si for nula”. I – A força que o corpo A exerce em B é igual em módulo
Sejam as forças que atuam num corpo. A  re- à força , devido aos corpos estarem encostados.
sultante das forças será a soma vetorial das forças que II – A aceleração dos corpos é igual a 2,0 m/s².
atuam nesse corpo: III – A força que o corpo B exerce em A (FAB) tem módulo
igual a 4,0 N.

a) Apenas os itens II e III estão corretos.


b) Apenas o item I está correto.
c) Apenas o item II está correto.
d) Apenas o item III está correto.
e) Todos os itens estão corretos
Segunda Lei de Newton Resolução:
I – (Errado) A força é a força resultante do sistema e
Newton enunciou que: “A resultante das forças que será distribuída ao sistema para a movimentação dos
atuam sobre um corpo é igual ao produto da sua massa pela corpos.
aceleração com a qual ele irá se movimentar”. II – (Certo) Aplicando a 2ª lei de Newton para o con-
Sejam as forças que atuam sobre um corpo junto, pode‑se determinar a aceleração do sistema:
de massa m . A resultante das forças será a soma vetorial
das forças que atuam nesse corpo, logo:
III – (Certo) O módulo da força que o corpo A exerce
em B, tem a mesma intensidade que a que o corpo B
exerce em A (|FAB| = |FBA|):

Resposta: a
Terceira Lei de Newton 2. No arranjo experimental a seguir, os blocos A e B,
tem massas respectivamente iguais a 4,0 kg e 1kg
Uma força é apenas um aspecto da interação mútua en- respectivamente.
tre dois corpos. Verifica‑se experimentalmente que quando
um corpo exerce uma força sobre outro, o segundo sempre
exerce uma força no primeiro.
Newton enunciou que: “Quando um corpo exerce uma
força num segundo corpo, este último reagirá sobre o primei-
Física Aplicada à Perícia de Acidentes Rodoviários

ro com uma força de mesma intensidade e sentido contrário”.


Vamos considerar um corpo sobre uma superfície horizontal
plana e lisa, preso a esse corpo está uma vareta rígida.
Uma força é aplicada na vareta, essa força se transmite
até o corpo de modo que a vareta exerce uma força sobre Desprezando todas as forças dissipativas, considerando o
o corpo e esse corpo reage à ação da vareta exercendo so- fio inextensível e ideal e adotando g = 10 m/s², determine o
módulo da aceleração dos blocos e a intensidade da força de
bre ela uma força com mesmo módulo que mas com tração nos fios. Para marcação no cartão de respostas, some
sentido contrário. os valores dos módulos da aceleração e da tração no fio.
e são forças de ação e reação. Despreze a parte fracionária do seu resultado caso exista.

Resolução:
→ Aplicando a 2ª lei de Newton para cada bloco para a
determinação da aceleração dos blocos.
Bloco (B) → PB – T = mB.a (i)
Bloco (A) → T = mA.a (ii)
Somando (i) com (ii), temos:
Exercícios de Aplicação PB = (mA + mB).a → 1,0.10=(4,0 + 1,0).a → 10 = 5a → 
Substituindo em (ii):
1. Na figura abaixo, os blocos A e B têm massas iguais a T = (4,0).2 → Para marcação no Cartão de
mA = 6,0 kg e mB = 2,0 kg e, estando apenas encostados respostas → 2 + 8 = 10.
entre si, repousam sobre um plano horizontal perfeita-
mente liso. Resposta: 10

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3. O dispositivo abaixo é conhecido como máquina de 4. Um garoto de massa igual a 40 kg parte do repouso do
Atwood. No caso abaixo as forças dissipativas são des- ponto A do escorregador esquematizado anteriormente
prezadas e o fio e a polia são ideais. e desce sem sofrer a ação de atritos ou da resistência
do ar.
Adotando g = 10m/s², jugue as afirmativas abaixo e
posteriormente marque a alternativa correta.
I – Na situação descrita aceleração do garoto é a metade
da aceleração da gravidade.
II – O garoto gasta mais de 1,6s para alcançar o ponto B.
III – A velocidade que o garoto chega ao ponto B é de
18 km/h.

a) Apenas o item I está correto.


b) Apenas o item II está correto.
Supondo que A e B tenham massas iguais a 3,0 kg e 2kg, c) Apenas os itens I e III estão corretos.
respectivamente e adotando g = 10 m/s², jugue as afir- d) Apenas o item III está correto.
mativas abaixo e posteriormente marque a alternativa e) Todos os itens estão corretos.
correta.
I – A aceleração dos blocos é superior a 3,0 m/s². Resolução:
II – A força de tração do fio é igual a 24 N.
III – A intensidade da tração estabelecida na haste de
sustentação da polia é dada pela soma entre os pesos
dos corpos A e B.

a) Apenas o item I está correto.


b) Apenas o item II está correto.
c) Apenas os itens II e III estão corretos.
d) Apenas o item III está correto.
e) Todos os itens estão corretos.

Resolução: Resposta: c
I → Aplicando a 2ª lei de Newton para cada bloco para a
determinação da aceleração dos blocos. Força de Atrito de Deslizamento
Bloco (A) → PA – T = mA.a (i)
Bloco (B) → T – PB = mB.a (ii) É uma força contrária ao movimento do corpo ou a
Somando (i) com (ii), temos: tendência ao movimento. Ocorre devido à rugosidade das
PA  – PB = (mA + mB).a → 3.(10)  – 2.(10) = (2 + 3).a → superfícies em contato.

→ (Item Errado). Veja:

II – → Substituindo o valor de a em (ii):


T – 2.(10) = 2,0.(2) → → (Item Certo).

Física Aplicada à Perícia de Acidentes Rodoviários


III → A intensidade da tração estabelecida na haste de
sustentação da polia é dada pela soma das trações de sus-
tentação dos blocos.
F → força aplicada ao corpo.
Fat → força de atrito.

Enquanto o corpo permanecer em repouso, a razão entre


a força aplicada (F) e a força normal (N) fornece o coeficiente
de atrito estático:

→ (Item Errado).

Resposta: b
Estando o corpo em movimento, a razão entre a força
de atrito (Fat) e a força normal (N) fornece o coeficiente de
atrito dinâmico ou cinético:

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Observa‑se que μE > μD. Para um plano inclinado, te- 2. Uma caixa de fósforos é lançada sobre uma mesa hori-
mos que: zontal com velocidade de 2,0 m/s, parando depois de
percorrer 2,0 m. No local do experimento, a influência
do ar é desprezível. Adotando a aceleração da gravi-
dade, g = 10 m/s², determine o coeficiente de atrito
cinético entre a caixa e a mesa.

Resolução:
Usando a equação de Torricelli, podemos determinar a
desaceleração da caixa de fósforos.

A força resultante responsável pela diminuição da velo-


cidade é a força de atrito cinético (FatC).

Comparando (i) com (ii):


Exercícios de Aplicação

1. (Unesp‑SP) A figura ilustra um bloco A, de massa mA =


2,0 kg, atado a um bloco B, de massa mB = 1,0 kg, por um Energia Cinética e Trabalho
fio inextensível de massa desprezível. O coeficiente de
atrito cinético entre o bloco e a mesa e μC. Uma força de O que é energia?
intensidade 18N é aplicada ao bloco B, fazendo com que
dois blocos se desloquem com velocidade constante. O termo energia é tão amplo que é difícil pensar numa
definição concisa. Teoricamente, a energia é uma grandeza
escalar associada ao estado de um ou mais objetos; entre-
tanto, esta definição é excessivamente vaga para ser útil
para quem está começando. Uma definição menos rigorosa
pode servir pelo menos de ponto de partida. Energia é um
número que associamos a um sistema de um ou mais objetos.
Se uma força muda um dos objetos, fazendo‑o entrar em
movimento, por exemplo, o número que descreve a energia
Considerando‑se g = 10 m/s², calcule. do sistema varia. Uma coisa importante sobre a energia: A
a) O coeficiente de atrito μC. energia pode ser transformada de uma forma para outra e
b) A intensidade da força de tração no fio. transferida de um objeto para outro, mas a quantidade total
é sempre a mesma (a energia é conservada). Até hoje, nunca
Resolução: foi encontrada uma exceção da lei de conservação de energia.
Física Aplicada à Perícia de Acidentes Rodoviários

Energia Cinética
a) → Se o conjunto realiza um MRU temos:
A energia cinética K é a energia associada ao movimento
de um objeto. Quanto mais depressa ele se move, maior a
sua energia cinética.
Quando um objeto está em repouso, a energia cinética
é nula. Para um objeto de massa m e velocidade v (muito
menor do que a velocidade da luz), teremos:
b) → Agora analisaremos o bloco A (MRU):
c)

A unidade de energia cinética (e de qualquer forma de


energia) no sistema internacional é o joule (J).
1 joule = 1 J = 1 kg . 1 m2/s2.

Trabalho (W)

Trabalho é a energia transferida para um objeto ou de


um objeto através de uma força que age sobre o objeto.

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Quando a energia é transferida para o objeto, o trabalho é Quando o deslocamento do bloco é muito pequeno em
positivo; quando a energia é transferida do objeto, o tra- comparação à dimensão da mola podemos considerar o que
balho é negativo. Trabalho, portanto, é energia transferida; é chamado de pequenas oscilações, e neste caso podemos
“realizar trabalho” é o ato de transferir energia. O trabalho dizer que a força restauradora é proporcional ao desloca-
tem a mesma unidade que a energia e é uma grandeza mento do bloco em relação à sua posição de equilíbrio.
escalar. Essa aproximação é também conhecida como Lei de Hooke,
e pode ser expressa do seguinte modo:
Trabalho e Energia Cinética

Para calcular o trabalho que uma força realiza sobre um


objeto quando este sofre um deslocamento, usamos apenas
a componente da força em relação ao deslocamento do ob- Onde chamamos k de constante elástica da mola.
jeto. A componente da força perpendicular ao deslocamento O trabalho realizado pela mola para levar o corpo de uma
não realiza trabalho. posição inicial até uma posição final será:
Podemos chamar o trabalho realizado por uma mola de
(trabalho executado por uma força constante) Energia Potencial Elástica (EPE).

ou ainda: , onde θ é o ângulo formado entre


a força e o deslocamento.
Conservação da Energia Mecânica
Trabalho Realizado pela Força Peso (Energia Potencial
Gravitacional) Considerando um sistema mecânico onde não existem
forças dissipativas (como o atrito, por exemplo), das ex-
Imagine uma bola de massa m lançada verticalmente pressões:
para cima com velocidade inicial v0 e, portanto possui uma
∆U = − W e W = ∆K
energia cinética inicial . A bola é desacelerada Segue‑se que:
na subida pela força gravitacional, fazendo a velocidade da ∆U = − ∆K ou K + U = constante, em que U é a energia
bola diminuir, diminuindo assim sua energia cinética. Assim, potencial no ponto de referência.
a força gravitacional realizou trabalho sobre a bola durante Esta é a expressão matemática do princípio de conser-
a subida. vação da energia mecânica.
Lembrando que trabalho pode ser escrito como: W = F
d cos θ, onde θ é o ângulo entre a força aplicada e o deslo- Exemplo:
camento, podemos escrever para a força peso: Consideremos, num referencial fixo na Terra, o movimen-
onde: m é a to de um elevador num edifício. Numa primeira situação,
massa (kg), g é a aceleração da gravidade (m/s2) e h é a altura o elevador está parado no topo do edifício. O elevador desce
em relação ao solo. com velocidade constante. Na segunda situação, o elevador
está parado no térreo, ao nível do solo. Nas duas situações
Trabalho Realizado por uma Mola (Energia Potencial consideradas, a energia cinética do elevador é zero. Vamos
Elástica) considerar como sendo nula a energia potencial gravitacional
do sistema elevador‑Terra na segunda situação. Então, pode-
Vamos analisar o movimento de um sistema composto mos dizer que a energia mecânica do sistema elevador‑Terra,

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por um bloco de massa m que está sobre uma superfície na primeira situação, é mgh e na segunda situação, é zero.
horizontal sem atrito, e tem preso a si uma mola. A outra O sistema perdeu energia por efeito do trabalho do cabo que
extremidade da mola está fixa. Quando a mola está num es- suspende o elevador. A força exercida pelo cabo no elevador,
tado relaxado ela não está distendida ou comprimida. Nessa durante a descida, tem sentido oposto ao do deslocamento
situação ela não exerce força alguma no bloco.
do elevador. Por isso, a energia associada a esse trabalho é
negativa: W = − mgh. A quantidade de energia mgh passou
do sistema elevador Terra para o sistema de tracionamento
do elevador. Nesse texto, estamos associando a palavra “tra-
balho” a um processo. Assim, trabalho é o processo mecânico
de transferência de energia de um corpo ou sistema a outro.
Este processo está associado à força que um corpo ou sistema
exerce sobre outro, força esta cujo ponto de aplicação tem
um deslocamento não nulo.
Quando o bloco se desloca da posição relaxada ou de
equilíbrio a mola exerce sobre ele uma força restauradora Exercícios de Aplicação
que para que ele retorne à posição de equilíbrio original.
Quando o deslocamento é na parte positiva do eixo x a for- 1. (FMJ‑SP) Um grupo de pessoas, por intermédio de
ça restauradora aponta para o sentido negativo desse eixo, uma corda, arrasta um caixote de 50 kg em movimento
e quando o deslocamento se dá na parte negativa do eixo x a retilíneo praticamente uniforme, na direção da corda.
força restauradora aponta para o sentido positivo desse eixo. Sendo a velocidade do caixote 0,50 m/s e a tração

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aplicada pelo grupo de pessoas na corda igual a 1 200 Resolução:
N, o trabalho realizado por essa tração, em 10 s, é, no I – Falsa, pois o trabalho realizado pela força F pode ser
mínimo, igual a: calculado pela área abaixo da curva, ou seja: Para um des-
a) 1,2.102 J d) 6,0.103 J locamento de 0 a 2 m:
b) 6,0.10 J
2
e) 6,0.104 J
c) 1,2.103 J

A velocidade é constante: 
 II – Verdadeira, pois da mesma forma podemos calcular
o trabalho da força de atrito:

Resposta: d

2. (UFES) Uma partícula de massa 50 g realiza um movi-


mento circular uniforme quando presa a um fio ideal III – Verdadeira, pois a aceleração existe e é constante,
de comprimento 30 cm. O trabalho total realizado pela porque a força resultante é de 20 N, gerando uma acelera-
tração no fio, sobre a partícula, durante o percurso de ção de:
uma volta e meia, é: IV – Verdadeira, pois o trabalho total pode ser encontrado
a) 0
pela soma dos trabalhos parciais, ou seja:
b) 2p J
c) 4p J
d) 6p J
e) 9p J
Impulso e Quantidade de Movimento
Resolução:

A tração no fio é sempre perpendicular ao deslocamento Quando descrevemos a atuação de uma força, podemos
da partícula ao longo de sua trajetória. Assim, o  trabalho fazê‑lo dizendo que essa força atuou em um determinado
total será sempre nulo. deslocamento, ou seja, que essa força realizou trabalho. Mas
também, descrever a atuação dessa força dizendo que ela
Resposta: a atuou durante determinado intervalo de tempo. Nessas con-
dições, dizemos que a força aplicou ao corpo certo impulso.
Da definição de impulso, obtemos a lei da conservação da
quantidade de movimento, um dos pilares da descrição
física de nosso universo, tão abrangente que mantém a sua
validade mesmo nas teorias mais atuais da Física Moderna.
Além das grandezas vetoriais impulso e quantidade de mo-
vimento, discutiremos as colisões, que podem ser descritas
e equacionadas de um modo relativamente simples com
a aplicação do princípio da conservação da quantidade de
movimento.
Durante as colisões, os  corpos trocam forças muito
Física Aplicada à Perícia de Acidentes Rodoviários

3. (UCS‑RS) Um corpo de 4 kg move‑se sobre uma super- intensas, que provocam deformações neles. Essas forças
fície plana e horizontal com atrito. recebem o nome de forças impulsivas, classificadas como
As únicas forças que atuam no corpo (a força F e a força forças internas ao sistema constituído pelos corpos envolvi-
de atrito cinético) estão representadas no gráfico. dos em um choque.
Na figura abaixo estão representadas várias forças agindo
Considere as afirmações.
simultaneamente sobre um corpo de massa (m). Essas forças
I – O trabalho realizado pela força F, deslocando o corpo
de 0 a 2 m, é igual a 40 joules. podem ser substituídas por uma única: força resultante, que
II – O trabalho realizado pela força de atrito cinético, produzirá no corpo o mesmo efeito dinâmico que todas as
deslocando o corpo de 0 a 4 m, é negativo. demais.
III  – De 0 a 2 m, o  corpo desloca‑se com aceleração
constante.
IV – O trabalho total realizado pelas forças que atuam
no corpo, deslocando‑o de 0 a 4 m, é igual a 40 joules.

É correto concluir que:
a) apenas a I e a II estão corretas.
b) apenas a I, a II e a III estão corretas.
c) apenas a I, a III e a IV estão corretas.
d) apenas a II, a III e a IV estão corretas.
e) todas estão corretas.

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Teorema do Impulso Exercícios de Aplicação

Se a força resultante (R) agir sobre um corpo, durante um


dado intervalo de tempo (∆t), diremos que a força aplicará
no corpo um impulso (I), dado por:

A grandeza vetorial impulso pode ser associada a qual-


quer força que atue em um corpo durante um intervalo de
tempo e possui sempre a mesma direção e o mesmo sentido
da força que lhe deram origem.
No SI (Sistema Internacional), usamos as seguintes
unidades: R em newtons, ∆t em segundos e I em newtons.
segundos (N.s). Quando uma força resultante não‑nula age
sobre um corpo durante um intervalo de tempo, o  corpo
sofre uma variação em sua velocidade. 1. Lionel Messi, um dos maiores jogadores do mundo,
Para estudar essa variação, vamos definir a grandeza mais uma vez foi decisivo para uma classificação do
denominada quantidade de movimento (Q) pelo produto Barcelona na Liga dos Campeões da Europa, o  que
da massa pela velocidade: não é novidade. A  diferença é que, contra o Paris
Saint‑Germain (foto ao lado), o argentino começou no
banco por causa de uma lesão muscular não totalmente
eliminada e, mesmo sem estar 100%, entrou e ajudou
a equipe a buscar o empate por 1 a 1, placar que ga-
A quantidade de movimento possui sempre a mesma rantiu a vaga nas semifinais. Ao dar um chute na bola,
direção e o mesmo sentido da velocidade. No SI, usamos Messi aplica um força de intensidade 6,0 · 10² N sobre
as seguintes unidades: massa em kg; velocidade em m/s e a bola, durante um intervalo de tempo de 1,5 · 10-1 s.
Quantidade de movimento (Q) em kg . m/s. Determine a intensidade do impulso da força aplicada
Com essas duas grandezas – impulso e quantidade de pelo jogador.
movimento, podemos enunciar o teorema do impulso:
O impulso resultante de um sistema de forças sobre corpo Dados do enunciado:
é igual à variação da quantidade de movimento do corpo.
Algebricamente:

Observação Importante: Dado o gráfico


A intensidade de uma força que produz um impulso em

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um corpo pode variar no decorrer do tempo. Nesse caso,
o  módulo do impulso produzido pela força é obtido, no
diagrama horário F x t, pelo cálculo da área compreendida
entre o gráfico e o eixo das abscissas, no intervalo de tempo
considerando:

Determine:
a) o módulo da força no intervalo de tempo de 0 s a 10 s.
b) a intensidade da força constante que produz o mesmo
impulso que a força dada no intervalo de 0 s a 10 s.

Resolução:

1. Divida o gráfico em 3 partes: triângulo (A3), retângulo


(A1) e trapézio (A2).

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Q1 = m v1
1
= 0,145 ·30
Q1 = 4,35 kg · m/s

2. Calcule as áreas A1, A2 e A3.


A1 = b · h A1 = 2s · 4N = 8N.s

Q2 = m V2
Q2 = 0,145 · 40
Q2 = -5,8 kg · m/s
3. A soma de A1, A2 e A3 é o valor do impulso.
I = A1+ A2 + A3 |I| = 50 N.s

4. Determine a força utilizando 

5. Uma bola de beisebol, de massa igual a 0,145 kg,


é atirada por um lançador com velocidade de 30 m/s. 6. (PRF/2009) Um condutor, ao desrespeitar a sinalização,
O bastão de um rebatedor toma contato com a bola cruza seu veículo de 5000 kg por uma linha férrea e é
durante 0,01 segundo e a rebate com velocidade de 40 atingido por um vagão ferroviário de 20 t que trafegava
Física Aplicada à Perícia de Acidentes Rodoviários

m/s na direção do lançador. Determine a intensidade a 36 km/h. Após o choque, o vagão arrasta o veículo
da força média aplicada pelo bastão à bola. sobre os trilhos. Desprezando‑se a influência do atrito
Procedimentos: e a natureza do choque como sendo perfeitamente
1. represente sobre a bola a direção e o sentido da anelástico, qual a velocidade em que o veículo foi ar-
velocidade; rastado?
2. adote uma orientação; a) 9 m/s.
3. aplique a fórmula Q = m · v, observando a orientação b) 8 m/s.
adotada, para cada velocidade; c) 10 m/s.
4. determine a força utilizando I = F · Δt. d) 12 m/s.
e) nula
Resolução:
Resolução:
Usando a conservação da quantidade de movimento (Q),
podemos afirmar que:

Se o choque é perfeitamente ineslático os corpos se


deformam de tal maneira que permanecem unidos após a
colisão (figura acima).

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Para uma melhor compreensão, temos a seguir a figura
para melhor compreensão, um ponto P, que está sujeito a
ação de três forças . E esse ponto encontra‑se em
repouso.

Resposta: c

ESTÁTICA DOS CORPOS RÍGIDOS


A Estática é a parte da Física em que é estudado o equilí-
brio entre os corpos e as suas devidas deformações. Pode‑se
dizer que um sistema está em equilíbrio quando a sua
aplicação não resulta em nenhuma alteração no estado de
movimento do corpo. A sua importância pode ser analisada
quando imaginamos uma construção qualquer. Cada ponto
da sua estrutura deve estar em equilíbrio  – é necessário
observar todas as forças que atuam sobre ele para que esta
condição seja satisfeita.
Por exemplo: imaginemos um prédio qualquer, visivel-
mente ele está em equilíbrio, pois não há movimentação
deste. Nesse prédio há a presença de duas forças, que são:
Peso (a massa da estrutura sob a ação da gravidade), e a força
Normal (reação realizada pelo chão em relação à estrutura A figura acima representa a ação de três forças sobre um
do prédio). Apenas com essa análise superficial foi possível ponto qualquer em repouso.
verificar que neste caso, ocorreu um exemplo de um corpo No caso acima ΣFi = 0, isso condiz com a Lei de Newton,
em equilíbrio estático, pois se não estivesse em equilíbrio, que a aceleração deve ser nula, e é equivalente à velocidade
o prédio estaria afundando ou então flutuando. ser constante.
Portanto, pode‑se dizer que esse ponto encontra‑se em
Equilíbrio Estático em um Ponto Material equilíbrio estático, pois satisfaz a equação:

Equilíbrio estático, pela física clássica, é definido como


sendo um arranjo de forças atuantes sobre um corpo qual-
quer, em repouso, de modo que a resultante dessas forças
tenha um módulo igual a zero. Isto é, todo e qualquer corpo
estará em repouso em relação a um ponto referencial, so-
Se o sistema tiver o mesmo efeito sobre o estado de
mente se as forças aplicadas sobre ele forem nulas.
movimento do ponto material ele será dito como sistema
Em diversos momentos do nosso cotidiano lidamos
equivalente. Como mostra a abaixo.
com situações envolvendo o equilíbrio estático. Pois este
está presente em basicamente tudo o que está em repouso
perante os nossos olhos (nosso ponto referencial padrão),

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como: um aparelho de TV sobre uma estante ou então um
livro sobre uma mesa. Agora, se por algum acaso passe a
agir uma força sobre esses objetos, de modo que vença
quaisquer obstáculos contrários (como a força atrito), a for-
ça resultante final passa a ser diferente de zero e o corpo
entrará em movimento.
Com base na Primeira Lei de Newton, podemos saber
se um corpo está em repouso ou em movimento retilíneo
uniforme se a resultante das forças que agem sobre ele é
nula. Para isso podemos simplificar da seguinte forma:

Em um sistema de forças aplicadas a um ponto material


é sempre equivalente à resultante desse sistema. E o siste-
ma pode ser equilibrado por uma força Fe, e denominada
equilibrante do sistema, e é simétrica da resultante, onde:

Fe = -R

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Exemplos:
Para casos bidimensionais: 2 incógnitas, 2 equações.

Para casos como este, é necessário que haja essa terceira


incógnita.

Momento de uma força em relação ao ponto

Ao contrário de como foi visto em equilíbrio estático em


um ponto material, a resultante nula de um sistema de for-
ças aplicadas a um corpo rígido não nos garante mais que o
corpo esteja em equilíbrio. Para o corpo estar em equilíbrio,
é necessário que a aceleração seja nula, o que acarreta em
uma resultante do sistema de forças também nula. Contudo,
ΣFi = 0 é uma condição necessária, entretanto não é uma
condição suficiente de equilíbrio de um sistema de forças
aplicado em um corpo rígido. Esta condição nos garante o
equilíbrio quanto ao movimento de translação, no entanto
não garante o equilíbrio quanto ao movimento de rotação,
pois o corpo pode rodar.
Em um sistema constituído por duas forças simétricas
com linhas de ação distintas é denominada binário. Quando
essas duas forças distintas são aplicadas em dois pontos
diferentes de qualquer corpo rígido, as forças formadas são
Para casos tridimensionais: 3 incógnitas, 3 equações. antiparalelas e suas intensidades são iguais – forças simé-
tricas  – o sistema das duas forças possui uma resultante
nula, que faz com que o corpo não adquira um movimento
de translação.
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E tem também casos bidimensionais que apresentam


3 equações.

Figura acima: Forças simétricas

A capacidade de a força realizar rotação é denominada


momento da força ou então torque.
A figura acima é um grande exemplo do que foi dito an-
teriormente. O somatório das suas forças ficou igual a zero,
entretanto, não está em equilíbrio – pois este tende a rodar.
Para este tipo de estática também podemos citar um caso
do nosso cotidiano, que é na hora de trocar o pneu de um
automóvel. Para realizar esse trabalho utilizamos uma chave

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(chave de rodas em formato de L) que em contato com a por- T/P entre as intensidades da tensão na corda (T) e do peso
ca, que prende a roda e sob a ação da força aplicada por nós do homem (P) corresponde a:
(força resultante – decomposição deve ser perpendicular ao a) ¼
braço da chave), produz a rotação da porca, permitindo‑nos b) ½
a retirada da roda e a troca do pneu. c) 1
A remoção da porca com a chave citada torna‑se mais d) 2
fácil à medida que aumentamos o braço da chave. Fazendo
com que possamos realizar o mesmo trabalho com uma
menor quantidade de força.
A grandeza física associada ao movimento de rotação
de um corpo em razão da ação de uma força é chamada de
torque. Torque é definido como produto da força F aplicada
em um determinado ponto (polo) pela distância que separa
o ponto de aplicação dessa força.

Equilíbrio estático de corpos rígidos


O corpo M representado na figura pesa 80 N e é mantido
Um sistema de forças aplicado a um corpo está em equi- em equilíbrio por meio da corda AB e pela ação da força
líbrio estático se tiver resultante e momento nulos. horizontal F → de módulo 60 N. Considerando g = 10 m/s2,
Em um sistema de forças quando aplicado em um corpo a intensidade da tração na corda AB, suposta ideal, em N, é:
que está em equilíbrio, dessa aplicação não se obtém ne-
nhuma alteração no estado de repouso ou de movimento do
corpo. Se a resultante do sistema for nula existe equilíbrio
de força quanto à translação. Portanto, o movimento de um
sistema de força traduz a alteração do movimento de rotação.
Quando o movimento for nulo o sistema de força estará em
equilíbrio quanto à rotação.
Para saber se um corpo rígido está em equilíbrio estático
é necessário que seja em um determinado referencial, para
que se verifiquem para qualquer ponto O.

a) 60
b) 80
Ou seja: c) 100
d) 140
e) 200

O equilíbrio estático de um corpo rígido reduz as situa-


ções em que as forças externas atuariam sobre o corpo rígido

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e formam um sistema de forças equivalente a zero.

Exercícios de Aplicação

Elevando ambas as equações ao quadrado e somando,


temos:

Na figura, a corda ideal suporta um homem pendurado (FAFI‑BH) Os blocos A e B da figura pesam, respec-
num ponto equidistante dos dois apoios (A1 e A2), a uma tivamente, 980 N e 196 N. O  sistema está em repouso.
certa altura do solo, formando um ângulo de 120°. A razão Afirma‑se que:

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a) A força de atrito estático entre A e a superfície hori-
zontal vale 196 N.
b) A reação normal do plano sobre A, vale 196 N.
c) Há uma força de 294 N puxando o bloco A para a direita.
d) O bloco A não pode se mover porque não há força A1 e A2 → Área dos retângulos
puxando‑o para a direita.
e) O bloco B não pode se mover porque não há força A1 = 4.2 = 8m2
puxando‑o para baixo. A2 = 4.4 = 16 m2
A1. X1 + A2. X 2 8.2 + 16.6
XCG
= = XCG 4,67m
→=
A1. + A2. 8 + 16
A1.Y1 + A2.Y2 8.1 + 16.2
YCG
= = XCG 1,67m
→=
A1. + A2. 8 + 16
1,67 m

Logo, o CG da placa toda é:

Centro de Gravidade 3º Para um conjunto de massas, também associamos o


plano cartesiano. Veja:
Centro de gravidade (CG) ou centro de massa (CM) de um
Física Aplicada à Perícia de Acidentes Rodoviários

corpo dentro de um campo gravitacional uniforme é o ponto


de aplicação da força‑peso resultante do corpo ou do sistema
de corpos, como se toda a massa estivesse ali concentrada.

1º Para corpos homogêneos e regulares, a CG ou CM


localiza‑se no centro geométrico do corpo.

Exemplo:

m1. X1 + m2. X 2 +m3. X 3 50.2 + 100.5 + 20.7


2º Para um conjunto de corpos regulares, o  CG= do X cm = = → XCG 4,35m
m1. + m2. + m3. 50 + 100 + 20
conjunto é determinado com ajuda do plano cartesiano,
associado aos corpos (placas homogêneas regulares). Veja:
m1.Y1 + m2.Y2 + m3.Y3 50.7 + 100.3 + 20.5
Exemplo: =Ycm = = → XCG 4,41m
m1. + m2. + m3. 50 + 100 + 20
Determine o CG da placa.

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Logo, o CG do conjunto de corpos é: Se ao ser retirado, não retorna mais, o  equilíbrio é
instável.
Se o corpo fica em qualquer posição, o equilíbrio é in-
diferente. Veja:

Exercício de Aplicação
1. (PRF/2009) Um veículo desgovernado perde o controle
Equilíbrio de Corpos Apoiados e Suspensos e tomba à margem da rodovia, permanecendo posicio-
nado com a lateral sobre o piso e o seu plano superior
Corpos apoiados: enquanto a perpendicular baixada do rente à beira de um precipício. Uma equipe de resgate
centro de gravidade passar pela base do corpo, o corpo não decide como ação o tombamento do veículo à posição
tomba (não vira). normal para viabilizar o resgate dos feridos e liberação
da pista de rolamento. Diante disso precisam decidir
qual o melhor ponto de amarração dos cabos na parte
inferior do veículo e então puxá‑lo. Qual a condição
mais favorável de amarração e que também demanda
o menor esforço físico da equipe?
a) A amarração no veículo deve ser feita em um ponto
mais afastado possível do solo (mais alta), e a equi-
pe deve puxar o cabo o mais próximo possível do
veículo, dentro dos limites de segurança.
b) A amarração no veículo deve ser feita em um ponto
mais próximo possível do seu centro de massa, e a
Corpos suspensos: se o CG está abaixo do ponto de equipe deve puxar o cabo o mais distante possível
suspensão, o equilíbrio é estável. Veja: do veículo.
c) A amarração no veículo deve ser feita em um ponto
mais próximo possível do seu centro de massa, e a
equipe deve puxar o cabo o mais próximo possível
do veículo, dentro dos limites de segurança.
d) A amarração no veículo deve ser feita em um ponto
mais afastado do solo (mais alta), entretanto o esfor-
ço feito pela equipe independe de sua posição em
relação ao veículo, desde que dentro dos limites de
segurança.
Se o CG está no ponto de suspensão, o equilíbrio é in- e) A amarração no veículo deve ser feita em um ponto
diferente. Veja: mais afastado possível do solo (mais alta), e a equipe

Física Aplicada à Perícia de Acidentes Rodoviários


deve puxar o cabo o mais distante possível do veí-
culo.

Se o CG está acima do ponto de suspensão, o equilíbrio


é instável. Veja:

Regras:
Quando retirado da posição que ocupa, o corpo volta à Na situação descrita o local mais apropriado para que
posição inicial, o equilíbrio é estável. o cabo seja preso é no centro de massa do ônibus, é nesse

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ponto onde toda a massa do corpo se concentra, mas o ôni- • A pressão exercida por um fluido se manifesta em
bus deve ser “tombado” para facilitar a saída das pessoas todas as direções e sentidos e por isso é considerada
com mais segurança, logo o cabo de aço deve ser preso na grandeza escalar.
parte superior do ônibus na direção do centro de massa
(CM), conforme a figura ao lado. Com as medidas citadas Pressão atmosférica
pode‑se provocar um torque maior para que o ônibus gire em
torno do seu centro de massa. E para menor esforço o cabo É a pressão exercida pela camada de ar que envolve a
deve ser puxado o mais distante possível do ônibus (cabo 2 terra devido à atração gravitacional exercida pela terra sobre
na figura), pois nesse caso, o ângulo entre a força aplicada cada molécula de ar.
no cabo para virar o ônibus e a reta normal à superfície no Esta pressão foi medida pela 1ª vez por Torricelli que,
sentido anti‑horário é mais próximo de 90° e o esforço físico enchendo um tubo de mercúrio e o emborcando dentro de
é menor devido ao momento da força (torque) ser maior. um recipiente contendo mercúrio, observou que a pressão
Resposta: letra e → A amarração no veículo deve ser atmosférica equilibrava uma coluna de mercúrio de 76 cm
feita em um ponto mais afastado possível do solo (mais de altura. Veja.
alta), e a equipe deve puxar o cabo o mais distante possível
do veículo.

Hidrostática
Estuda as propriedades dos fluidos (líquidos e gases)
em repouso.

Conceitos Básicos

Densidade absoluta ou massa específica de um corpo


(μ) é a razão entre a massa (m) e o volume do corpo ou
substância.

dada em kg/m3(SI), g/cm3, g/ml, etc.


• em a atua a pressão atmosférica (patm).
Densidade relativa entre duas substâncias (d) é a razão • em b atua a pressão da coluna de mercúrio (pHg).
entre suas densidades.
Nota:
→ não tem unidade. O dispositivo de Torricelli denomina‑se Barômetro de
Mercúrio.
Peso específico de uma substância (ρ) é a razão entre o
peso (p) e o volume (V) do corpo ou substância. Logo, a pressão atmosférica, que a camada de ar exerce
sobre a terra, nos corpos, de fora para dentro e de dentro
para fora, em todas as direções e sentidos, inclusive dentro
dada em N/m3. das células dos organismos vivos que se criaram neste meio
com esta pressão, vale aproximadamente:
Pressão (p) é a razão entre a força (F) e a área (A), aonde
a força atua.

p = F/A → N/m2ou pascal (pa)


Física Aplicada à Perícia de Acidentes Rodoviários

Se a força não for perpendicular à superfície, devemos Este valor é denominado de pressão de uma atmosfera.
usar a componente perpendicular à superfície. São usadas as seguintes unidades de pressão, devido à
experiência de Torricelli como análogas.
Pressão nos líquidos e Teorema de Stevim
Vasos comunicantes
A pressão exercida por uma coluna líquida e homogênea
é diretamente proporcional à densidade (μ) do líquido, à gra- 1º Com mesmo líquido, pontos de mesmo nível têm
vidade do local (g) e à profundidade em relação à superfície mesma pressão.
do líquido (h).
Veja:
Logo, p = μ.g.h

Importante:
• A pressão independe de forma e tamanho do reci-
piente.
• Pontos no mesmo nível, profundidade, pos­suem
mesma pressão pa = pb.
• A diferença de pressão entre dois pontos de um líqui-
do, em níveis diferentes, é dada por:
2º Contendo líquidos imiscíveis em equilíbrio temos que
pa – pc = μ.g.hac → Teorema de Stevim também pontos de mesmo nível têm mesma pressão.

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Veja: 2º) E = Pl
Pl = peso do líquido deslocado

3º) 
Vliq → volume do líquido deslocado que corres­ponde
à parte do corpo imerso.
μliq → densidade do líquido onde é imerso o corpo.

2. (Cespe/Adaptado) Em um processo de transfusão de


sangue, a bolsa contendo plasma sanguíneo, que é conectada
à veia do receptor por meio de um tubo, é colocada à altura de
pa = pb → μa.g.ha = μb.g.hb → μa.ha = μb.hb
1,20m acima do braço do paciente. Considerando a densidade
Teorema de Pascal do plasma aproximadamente igual a 1,05 g/cm3, sabendo que
760mmHg = 1,01⋅105 N/m2, e assumindo g = 10 m/s2, julgue
Um acréscimo de pressão aplicada a um fluido em equi- os itens abaixo.
líbrio se transmite em todas as direções e sentidos com a (1) A pressão do plasma, ao entrar na veia do paciente,
mesma intensidade. Este fenômeno é aplicado na prensa, é de 12,6 ⋅ 103 N/m2.
elevador, freio hidráulico etc. (2) Se a pressão venosa for de 2,5mmHg, a altura mínima
Veja: a que a bolsa deve ser colocada é de 6,2⋅10−2 m.
(3) Supondo que a pressão venosa se mantenha cons-
tante, se o paciente for transportado para um local em que
a aceleração da gravidade é menor, a altura mínima a que a
bolsa deve ser colocada será menor.

Item (1) – Certo

Item (2) – Errado


A1 e A2 → área dos êmbolos, pistões móveis.
Uma força pequena (F1) resulta em uma força maior (F2).
Neste fenômeno, ocorre a conservação de energia (tra-
balho) e a transmissão da pressão. Veja:


Item (3) – Errado
F1d1 = F2d2
→ A altura da bolsa é inver-
2º p1 = p2
samente proporcional ao valor da aceleração da gravidade.
F1/A1 = F2/A2

Física Aplicada à Perícia de Acidentes Rodoviários


Teorema de Arquimedes (Empuxo)

“Um corpo total ou parcialmente imerso num flui­do re-


cebe uma força de baixo para cima dita de empuxo (E) igual
ao peso do fluido deslocado”.
Esta força é devida à diferença de pressão exercida pelo
fluido nas faces inferior e supe­rior do corpo.
Veja:

Um estudante de Física coloca certa quantidade de agua


em uma mangueira suficientemente longa, de plástico flexí-
vel e transparente. Utilizando‑se a mangueira na forma de um
Formas de calcular a força de Empuxo (E) tubo em U, ele percebe que a superfície livre da agua ficou a
1º) E = Preal – Paparente; 102 cm da borda da mangueira plástica. Então, o estudante
Paparente = peso do corpo dentro da água (imerso): P(ap); e resolve colocar óleo de densidade igual a 0,80g/cm3 em um
Preal = peso do corpo fora da água. dos ramos do tubo em U até transbordar.

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3. (Vunesp‑UEA/2012) Considerando‑se como referencial Movimento Harmônico Simples – Mhs
a superfície de separação entre os dois líquidos e a densidade
da água igual a 1,0g/cm3, a altura, em cm, da coluna de óleo Oscilar significa mover‑se de um lado para outro, movi-
no ramo do tubo em U mede: mentar‑se alternadamente em sentidos opostos, mover‑se,
a) 48 tornando a passar (ao menos aproximadamente) pelas mes-
b) 68 mas posições. Assim, uma partícula que se movimenta para
c) 110 a frente e para trás ao redor de um ponto dado está em um
d) 128 movimento oscilatório. Periódico significa que se repete com
e) 170 intervalos regulares. Assim, uma partícula que se movimenta
de modo que, em intervalos de tempos iguais, o movimento
se repete identicamente, está em um movimento periódico.
Uma partícula que se movimenta para a frente e para trás,
ao redor de um ponto fixo, e para a qual o movimento se
repete identicamente em intervalos de tempo iguais, está
em um movimento periódico oscilatório.

Elongação e Amplitude

A distância X, que vai da origem do eixo X até a posição


da partícula, é chamada, no MHS, de elongação. Elongações
no mesmo sentido do eixo X são consideradas positivas e
elongações no sentido contrário, negativas. A distância A,
que vai da origem do eixo X até o ponto de retorno associado
à elongação máxima da partícula, é chamada de amplitude.
Observe que a amplitude do MHS é igual ao raio da trajetória
Como mostrado acima, temos p1 = p2
da partícula no MCU correspondente.

Relações Matemáticas

A partir das três atividades desenvolvidas acima, baseadas


na ideia do movimento harmônico simples como uma projeção
ortogonal de um movimento circular uniforme sobre qualquer
diâmetro (ou qualquer reta paralela a qualquer diâmetro) da
4. (UPE/2012) Na prensa hidráulica ilustrada na figura a circunferência que constitui a trajetória da partícula, pudemos
seguir, o êmbolo menor tem raio r e o êmbolo maior, raio R. concluir que x(t) ~ cos ωt, v(t) ~ − sen ωt e a(t) ~ − cos ωt,
Se for aplicada, no embolo menor, uma forca de modulo F, onde o símbolo ~ significa proporcionalidade. Para a descrição
qual a intensidade da forca transmitida no embolo maior? completa do fenômeno precisamos completar as expressões
acima de modo a ter igualdades matemáticas.
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a)

b)

c)

d) Figura – MHS - 1

Assim, vamos agora formalizar matematicamente esta


e)
ideia do movimento harmônico simples como a projeção or-
togonal de um movimento circular uniforme sobre qualquer
Usando o princípio de Pascal:
diâmetro (ou qualquer reta paralela a qualquer diâmetro) da
circunferência que constitui a trajetória da partícula.
Se os pontos P e P’ (Figura MHS- 1) coincidem em t = 0,
o ângulo do segmento OP com o eixo X no instante posterior t
é θ = ωt, onde ω representa o módulo da velocidade angular
Resposta Letra a. do MCU. Então, cos ωt = x/A ou:

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x ( t ) = A cos ωt é proporcional ao afastamento da partícula de um ponto
fixo sobre esta reta e dirigida para esse ponto. Uma força
que, atuando sobre uma partícula, tem a propriedade de
onde x é a elongação, ω, a frequência angular e A, a ampli- estar sempre dirigida a um certo ponto fixo, é chamada de
tude (elongação máxima) da partícula em MHS. força restauradora. A força que governa o MHS é uma força
O módulo da velocidade linear do ponto P em MCU é restauradora cujo módulo é proporcional ao afastamento da
vL = A e o módulo da velocidade do ponto P’ em MHS é: partícula do ponto fixo considerado.

v ( t ) = − v L sen ωt Período e Frequência


ou:
Período é o intervalo de tempo levado pela partícula para
a ( t ) = − aC cos ωt completar uma oscilação. Assim, simbolizando o período por
T, da definição de período temos:
O sinal negativo se justifica da seguinte maneira. Para
0 < ωt < π, sen ωt > 0, e o vetor velocidade tem o sentido x (t) = x (t + T)
oposto àquele escolhido para o eixo X. Para π < ωt < 2π, sen
ωt < 0, e o vetor velocidade tem o mesmo sentido daquele ou seja, Acos=
ωt Acos[ ω(t + T)]. Como cos α = cos (α + 2π),
escolhido para o eixo X. Assim, para qualquer ângulo ωt, ou
seja, em qualquer instante de tempo considerado, a função temos ωT = 2 π ou:
sen ωt tem o sinal contrário ao da velocidade.
O módulo da aceleração centrípeta do ponto P’ em MCU T =2 π / ω
é dada por aC = vL2/A = Aω2 e o módulo da aceleração do ponto
P em MHS (Figura MHS- 1) fica: Aqui aparece uma das características mais importantes
de qualquer oscilador harmônico: o período de oscilação
a ( t ) = − aC cos ωt não depende da amplitude. Assim, tanto para pequenas
quanto para grandes amplitudes, o  período de um dado
ou
oscilador harmônico permanece o mesmo. Esta indepen-
a ( t ) = − Aω2 cos ωt dência do período para com a amplitude torna qualquer
O sinal negativo introduzido se justifica de modo análogo oscilador harmônico ideal para servir de base na construção
ao da velocidade. de relógios já que o ritmo de andamento dos ponteiros não
As expressões matemáticas deduzidas valem para o se altera por pequenas mudanças acidentais na correspon-
caso em que os pontos P e P’ coincidem em t = 0, ou seja, dente amplitude de vibração. Por isso, praticamente todos
valem para o caso em que x (t = 0) = A. Em outras palavras, os relógios modernos estão baseados em um tipo ou outro
as expressões valem para o caso particular em que a partí- de oscilador harmônico.
cula começa a ser observada quando (t = 0) se encontra no Frequência é o número de oscilações realizadas por
ponto correspondente à elongação máxima (x = A). O caso unidade de tempo. Então, simbolizando a frequência por
mais geral, em que a partícula está em uma posição ge- f, temos:
nérica quando começa a ser observada, pode ser descrito f = 1/ T ou f = ω / 2 π
escrevendo‑se:
Pêndulo Simples
x ( t ) = A cos [ ωt + δ ]

− Aω sen[ ωt + δ ]
v (t) =

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e
a ( t ) = − Aω2 cos [ ωt + δ ]

onde δ, a fase inicial, é tal que x (t = 0) = A cos δ, ou seja,


dá conta de a elongação inicial [x (t = 0)] ser diferente da
elongação máxima (A).

Definição de MHS

Para uma definição de MHS independente do MCU Figura MHS-2


devemos observar que, das expressões deduzidas acima
para a elongação e para o módulo da aceleração, vem que O pêndulo simples consiste de uma partícula de massa
a = − ω2 x. Multiplicando os dois lados da igualdade pela m suspensa por um fio sem massa e inextensível de com-
massa m da partícula e levando em conta a segunda lei de primento L. Afastada da posição de equilíbrio, sobre a linha
Newton, obtemos: vertical que passa pelo ponto de suspensão, e abandonada,
a  partícula oscila. Para pequenas amplitudes, a  partícula
F = − C x  com C = mω 2 descreve um MHS.
Ignorando a resistência do ar, as forças que atuam sobre
Aqui, F representa o módulo da força resultante sobre a partícula são a força peso, exercida pela Terra, e a tensão,
a partícula. Assim, uma partícula está em MHS quando se exercida pelo fio (Fig. anterior). Na direção do movimento
move sobre uma reta sob o efeito de uma força cujo módulo atua a componente do peso cujo módulo vale mg sen θ.

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A partícula do pêndulo descreve um arco de circunferên- θ (graus) θ (rad) sen θ [θ − sen θ]/senθ (em %)
cia. Mas, se a amplitude do movimento é muito menor que o 10 0,175 0,174 0,575
comprimento do fio, ou seja, se o ângulo é pequeno, podemos 15 0,262 0,259 1,158
aproximar o arco por um segmento de reta horizontal sobre o
20 0,349 0,342 2,047
qual fixamos o eixo X, com origem O onde a vertical tirada do
ponto de suspensão do pêndulo corta esse eixo. Então, fazendo 25 0,436 0,423 3,073
sen θ ≈ x/L, o módulo da força resultante sobre a partícula fica: 30 0,524 0,500 4,800
35 0,611 0,574 6,446
F(x) ≈ − (mg / L) x
Por outro lado, escrevendo θ ≈ x/L, estamos aproximando
o arco de circunferência que constitui a trajetória da partícula
O sinal negativo aparece porque a força resultante aponta por um segmento de reta. Este procedimento é tão mais exa-
na mesma direção que aquela escolhida como positiva para to quanto menor for a amplitude do movimento da partícula.
o eixo X quando a elongação é negativa e na direção oposta Em termos matemáticos, aproximar o arco pelo segmento de
quanto a elongação é positiva. reta significa tomar o seno do ângulo entre o fio e a vertical
Assim, se o movimento da partícula se restringir a peque- como o próprio ângulo (em radianos). A  tabela acima dá
nas amplitudes, podemos considerar que ele acontece sobre uma ideia do erro relativo cometido nesse procedimento.
uma reta (o eixo X) e sob o efeito de uma força cujo módulo
é proporcional ao afastamento da partícula de um ponto fixo Frequência Própria
sobre esta reta (o ponto O) e dirigida para esse ponto. Em
outras palavras, para pequenas amplitudes, o movimento da
partícula que faz parte do pêndulo é um MHS.
Por outro lado, o módulo da força que atua sobre a par-
tícula em MHS é dado genericamente por F = − Cx com C =
mω2, de modo que o período fica dado pela fórmula T = 2π/ω.
Comparando esta expressão para a força com aquela obtida
para o pêndulo simples, temos C = mg/L e daí, ω2 = g/L e:

T = 2π L/g

Como já dissemos, uma das características importantes de


qualquer oscilador harmônico é que o período de oscilação
não depende da amplitude do movimento. Aqui reaparece esta
característica uma vez que a partícula do pêndulo simples des- Figura – MHS - 3
Como f = 1/T, a frequência do movimento de um pêndulo
creve um MHS para pequenas amplitudes. Neste contexto, esta
simples é:
característica constitui o que se chama de lei do isocronismo.
No caso de amplitudes não muito pequenas, o pêndulo se
torna um oscilador não harmônico, a força restauradora não é 1
f= g/L
mais proporcional ao deslocamento medido a partir da posição 2π
de equilíbrio e o período passa a depender da amplitude.
Quando a amplitude é muito menor que o comprimento
do fio, o período do pêndulo simples independe da amplitude Dado L, o comprimento do pêndulo, e g, o módulo da
do movimento porque a força de restituição que atua sobre aceleração gravitacional local, e caso não seja forçado por
a partícula pode ser considerada proporcional a θ, o ângulo qualquer outro agente externo além da força gravitacional,
o  pêndulo só pode oscilar com a frequência dada pela
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entre o fio e a vertical. No caso em que a amplitude não é tão


pequena, deve‑se levar em conta que a força de restituição fórmula acima. Esta frequência característica do pêndulo é
não é proporcional a θ, mas a sen θ. E como sen θ < θ (se θ ≠ chamada frequência própria (ou natural) de oscilação.
0), a força de restituição, nesse caso, é menor do que no caso
anterior, qualquer que seja a posição da partícula e, portanto, Sistema Corpo‑Mola
também a sua aceleração é menor. Assim, a partícula demora
mais tempo para completar uma oscilação e o período é maior. Um corpo de massa m se apoia sobre uma superfície
horizontal sem atrito e está preso a uma mola (de massa
Obs.: escrever sen θ ≈ x/L significa tomar, implicitamen- desprezível) de constante elástica k (Fig. MHS - 3). Se o cor-
te, sen θ ≈ θ. Esse resultado é verdadeiro para θ pequeno e po é abandonado com a mola esticada ou comprimida, ele
em radianos. Para entender o porquê dos radianos, deve‑se passa a se mover horizontalmente sob o efeito da força de
considerar que, por definição, o ângulo entre dois segmentos restituição da mola, executando um MHS.
de reta é dado em radianos pelo seguinte procedimento: Sobre o corpo existem três forças: a força peso, a força
com centro no ponto de cruzamento dos segmentos de reta, normal e a força da mola. Como as forças peso e normal
traça‑se um arco de circunferência entre esses segmentos com cancelam‑se mutuamente, a força resultante sobre o corpo
raio R qualquer. Então, medindo‑se o comprimento S do arco, é a própria força que a mola exerce sobre ele. O  módulo
o ângulo procurado é definido por θ = S/R. Assim, voltando ao dessa força é:
pêndulo simples, para ângulos pequenos, o arco de circunfe-
rência que representa a trajetória da partícula se confunde F = –kx
com o segmento de reta de comprimento x (Fig. MHS-2) e
podemos escrever, pela definição de ângulo em radianos, θ Em que x representa a elongação da mola, ou seja,
≈ x/L. Assim, sen θ ≈ θ ≈ x/L, que é a expressão usada. o quanto ela foi esticada ou comprimida além do seu com-

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primento de equilíbrio e k, chamada constante elástica da do sistema está no corpo de massa m. A mola não tem energia
mola, representa a dureza da mola. Pela lei de Hooke, k é cinética porque é uma mola ideal, isto é, além de obedecer à lei
constante. Comparando esta expressão com a expressão de Hooke, tem massa nula. Por outro lado, tomando o nível de
genérica do módulo da força que atua sobre a partícula referência para a energia potencial gravitacional na altura do
em MHS, F = − Cx com C = mω2, temos k = mω2. E como T centro de gravidade do corpo de massa m, a energia potencial
= 2π/ω, temos, para o período do MHS descrito pelo corpo gravitacional do sistema é nula. Mas existe uma energia po-
ligado à mola: tencial elástica, associada e localizada na mola. Considerando
que a energia potencial elástica é dada por EP = ½ kx2 e que,
para um oscilador harmônico, x (t) = A cos ωt, temos:
T = 2π m/k
EP = 12 kA2 cos2 ωt
Logo, quanto maior a massa da partícula, maior o perío-
do. E quanto mais dura a mola, menor o período. Estas mes-
mas conclusões podem ser estabelecidas levando em conta
que o módulo da força exercida pela mola sobre o corpo
depende da elongação da mola e de sua constante elástica.
Assim, se o corpo é substituído por outro, de massa maior,
mantendo‑se a mesma elongação da mola, a força sobre o
segundo corpo será a mesma que aquela sobre o primeiro,
mas, pela segunda lei de Newton, a aceleração instantânea
do segundo corpo será menor do que a aceleração instantâ-
nea do primeiro. E isso é verdade para qualquer elongação da
mola. Portanto, como a amplitude do movimento é a mesma
nos dois casos, o corpo de massa maior, tendo sempre acele-
ração instantânea menor, levará mais tempo para descrever
uma oscilação completa, ou seja, terá período maior. Por
outro lado, se a mola é substituída por outra, de constante
elástica maior, mantendo‑se o mesmo corpo e a mesma
elongação da mola, a força sobre o corpo será maior e, pela
segunda lei de Newton, a sua aceleração instantânea será,
também, maior do que antes. E isso é verdade para qualquer
elongação da mola. Assim, como a amplitude do movimento
é a mesma nos dois casos, o corpo ligado à mola de constante
elástica maior, tendo sempre aceleração instantânea maior,
levará menos tempo para descrever uma oscilação completa
e, portanto, terá período menor.

Frequência Própria Figura – MHS - 5

Como f = 1/T, a  frequência do movimento do corpo Considerando que EC = ½ mv2, que, para um oscilador har-
preso à mola é: mônico, v (t) = − Aω sen ωt, e que para o sistema corpo‑mola
1 k = mω2, temos:
f= k /m
2π EC = 12 kA2 sen2ωt
Dada a massa m do corpo e k, a constante elástica da E como sen2 ωt + cos2 ωt = 1, a energia (mecânica) total

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mola, e caso o corpo não seja forçado por qualquer outro do sistema corpo‑mola, E = EP + EC, fica:
agente externo além da força da mola, o corpo em questão
só pode oscilar com a frequência dada pela fórmula acima. E = 12 kA2
Esta é a frequência própria (ou natural) de oscilação do
sistema corpo‑mola.
Observe que a energia total não depende do tempo,
Energia no MHS ou seja, é  constante. A  figura MHS - 4 mostra os gráficos
de EP, EC e E em função de ωt, para um intervalo de tempo
correspondente a um período do movimento. A partir daí,
os gráficos se repetem periodicamente.
A figura MHS - 5 mostra algumas configurações do siste-
ma. As linhas verticais são para referência: linha 1, mola com-
primida e corpo parado, linha 2, mola com seu comprimento
de equilíbrio e corpo com velocidade máxima e linha 3, mola
distendida e corpo parado. As flechas indicam o módulo e o
sentido da velocidade nas configurações correspondentes.
Em t = 0, (Fig. MHS - 5, configuração A) o sistema se en-
contra na configuração correspondente a mola comprimida
Figura – MHS - 4 com uma elongação x = − A e o corpo parado:
Para estudar a energia do oscilador harmônico, vamos
E= E= 1
kA2  e EC = 0
tomar como exemplo o sistema corpo‑mola. A energia cinética P 2

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Então, de acordo com a figura acima (configuração B), está distribuída entre as partes que constituem o sistema
o corpo é acelerado pela força que a mola exerce sobre ele, partícula‑Terra, já que depende da massa da partícula, da
a energia potencial da mola diminui enquanto que a energia massa da Terra e da distância relativa entre elas.
cinética do corpo aumenta. Em t = π/2ω (Figura MHS - 5,
configuração C), o sistema alcança a configuração em que a Ressonância
mola tem elongação nula e a velocidade do corpo é máxima:
Consideremos os pêndulos A, B, C e D (Figura MHS - 6),
EP = 0 e E= E= 1 2
kA constituídos por partículas de mesma massa, os  três
C 2
primeiros de comprimentos diferentes e o quarto, com
Então (figura acima, configuração D), o corpo é desace- comprimento igual ao primeiro, todos suspensos em um fio
lerado pela força que a mola exerce sobre ele, sua energia elástico esticado.
cinética diminui enquanto que a energia potencial da mola Fazendo oscilar o pêndulo A com certa amplitude A*,
aumenta. Em t = π/ω (figura acima, configuração E), o sistema observa‑se que os outros, que estavam parados, começam
alcança a configuração em que a elongação da mola vale x = a oscilar também. Os pêndulos B e C, nem bem começam a
A e o corpo está parado: oscilar, param novamente. O pêndulo D, ao contrário, com o
passar do tempo oscila com uma amplitude cada vez maior
enquanto que o pêndulo A oscila com uma amplitude cada
E= E=
P
1
2 kA2  e EC = 0
vez menor. Quando a amplitude do pêndulo D chega a um
De t = π/ω até t = 2π/ω = T (Figura MHS - 5, configura- valor máximo próximo de A*, o pêndulo A fica imóvel. Então,
ções F, G, H e A), o movimento se repete com o corpo se os movimentos se repetem com os pêndulos A e D trocan-
deslocando em sentido contrário. Em t = 2π/ω = T, o sistema do seus papéis. E assim sucessivamente, até que a energia
alcança a mesma configuração que em t = 0. Daí por diante, inicial associada ao movimento tenha sido dissipada. O fio
o movimento se repete periódica e indefinidamente. esticado atua como intermediário na troca de energia entre
Se existe atrito no sistema, uma parte da energia total é os pêndulos.
dissipada a cada oscilação e o movimento do corpo é amor- No experimento descrito acima, o pêndulo A, oscilando
tecido. Para que o movimento não seja amortecido, isto é, com sua frequência própria, força o fio esticado a oscilar
para que a energia mecânica seja constante, deve então com a mesma frequência. Dizemos que o fio esticado entra
existir uma fonte externa que forneça energia para o sistema. em vibração forçada. Então, o fio esticado força os pêndulos
Para o pêndulo simples, a discussão é completamente B, C e D a oscilar na mesma frequência do pêndulo A, já que
análoga e, escolhendo‑se o nível de referência para a ener- esta é, agora, também a frequência do fio. Como o fio não
gia potencial gravitacional na altura em que se encontra a pode oscilar com uma frequência diferente de qualquer
partícula que faz parte do pêndulo simples quando este se uma de suas frequências próprias, ele termina por parar.
encontra na vertical, a discussão se torna idêntica. Assim, por O mesmo acontece com os pêndulos B e C. Os pêndulos
exemplo, na configuração em que x = − A, a energia cinética A e D são idênticos e, por isso, têm frequências próprias
da partícula é nula e a energia potencial gravitacional do iguais. O pêndulo D, portanto, é forçado a oscilar com uma
sistema partícula‑terra é máxima e igual à energia total, na frequência igual a sua frequência própria e pode absorver
configuração em que x = 0, a energia cinética da partícula é toda a energia disponível, aumentando sua amplitude de
máxima e igual a energia total e a energia potencial gravita- oscilação. Com o passar do tempo, os movimentos se repe-
cional do sistema partícula‑terra é nula e configuração em tem com os papéis dos pêndulos A e D trocados e, assim,
que x = A, a energia cinética da partícula é nula e a energia sucessivamente.
potencial gravitacional do sistema partícula‑Terra é máxima Quando a frequência com que um agente externo per-
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e igual a energia total. Nas configurações intermediárias, turba um corpo é igual à frequência própria (ou uma das
a  partícula está acelerada ou desacelerada, conforme o frequências próprias) de vibração ou de oscilação do corpo,
caso, tendo então energia cinética não nula e diferente da este passa a oscilar com amplitude cada vez maior. Este
energia total, de modo que o sistema partícula‑terra tem fenômeno é o que se chama de ressonância. Se o agente
certa energia potencial também não nula. externo perturba continuamente o corpo com o qual está
em ressonância, a amplitude das vibrações ou oscilações
pode ficar extraordinariamente grande a ponto de destruir
o corpo, desde que as forças de resistência ou de dissipação
sejam pequenas. Além disso, o fluxo de energia do agente
externo para o corpo é máximo quando eles estão em
ressonância. No exemplo acima, os pêndulos A e D estão
em ressonância.
Um exemplo de ressonância mais ligado ao cotidiano é
Figura – MHS - 6 aquele de uma criança andando de balanço. Ao andar de
balanço, a criança encolhe as pernas quando ela e o balan-
No sistema corpo‑mola, a  energia cinética, quando ço se movem para trás e estica‑as, quando ela e o balanço
existe, está localizada no corpo, e a energia potencial (elás- se movem para frente. Se a frequência do movimento das
tica), quando existe, está localizada na mola. No pêndulo pernas da criança é igual à frequência própria do pêndulo
simples, a energia cinética, quando existe, está localizada na constituído por ela e o balanço, a amplitude das oscilações
partícula que faz parte do pêndulo, mas a energia potencial aumente cada vez mais.

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Oscilações Amortecidas Da 2ª lei de Newton:

∑F =
− kx − bv =
ma

Tem‑se, a equação diferencial do movimento:

dx d2x
− kx − b m 2
=
dt dt

Para resolver a equação acima, devemos substituir d/


dt por D,
mD 2 x + bDx + kx =
0
(mD 2 + bD + k )x =
0

Obtendo‑se, então:
−b ± b2 − 4km
R1,2 =
2m

Fazendo as seguintes substituições na equação acima:


b k
=α = ; ωo
2m m

1º caso: movimento subamortecido (MHA).


Neste caso:  b < 4km

2º caso: movimento criticamente amortecido.


Neste caso:  b = 4km
Movimento harmônico amortecido: efeito das forças de 3º caso: movimento superamortecido.
atrito sobre o movimento de um corpo, no qual atua força
restauradora elástica. Neste caso:  b > 4km
A diminuição da amplitude provocada por uma força
dissipativa denomina‑se amortecimento, e  o movimento A figura a seguir ilustra o gráfico da equação:
correspondente denomina‑se oscilação amortecida.
Consideremos um oscilador harmônico simples com uma dx d2x
− kx − b m 2
=
força de atrito amortecedora proporcional e diretamente dt dt
oposta à velocidade do corpo que oscila.
Tem‑se, neste caso, uma força de atrito dada por F = -b Para um ângulo de fase φ = 0; ele mostra que quanto
v, em que v = dx/dt é a velocidade, e b é uma constante que maior for o valor de b, mais rapidamente diminuirá a ampli-
descreve a intensidade da força de amortecimento. tude, ou seja, irá cessar as oscilações.

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Ondulatória Pulso: é a onda que corresponde a uma perturbação
simples (uma dedilhada numa corda, um toque na água etc.).
Ondas
Onda é o transporte de energia sem que haja transporte
de matéria.
Quanto à natureza física, as ondas podem ser:
• Mecânicas: são as ondas que necessitam de um meio
material elástico para se propagarem.
Ex.: ondas sonoras, em molas, em cordas, na água etc.
• Eletromagnéticas: são ondas que se propagam inclu- ∆S → deslocamento do pulso.
sive no vácuo. ∆t → intervalo de tempo.
Exemplos: ondas de rádio, TV, celular, luz etc. V → velocidade de propagação do pulso.

Quanto à direção de vibração, as ondas podem ser:


• Transversais: quando sua direção de vibração é per-
pendicular à direção de propagação. Veja:
Onda periódica: é uma sucessão de pulsos emitidos num
movimento constante de vaivém.

Exemplo:
As ondas eletromagnéticas como a luz, de rádio, TV,
celular são transversais. A onda criada na superfície da água
e numa corda também são transversais.

Veja na corda:

Comprimento de onda (λ): é a distância (∆S) percorrida


pela onda num intervalo de tempo (∆t) correspondente a
um período (T).

V → velocidade de propagação da onda (m/s);


T → período: tempo gasto num vaivém (segundos);
• Longitudinal: quando sua direção de vibração coincide f → frequência: número de vaivém realizados na unidade
com a direção de propagação. de tempo (Hertz).
Ex.: as ondas sonoras ou as ondas numa mola helicoi-
dal, onde se aplica um pulso na direção do compri- V = λ.f
mento da mola são longitudinais.
Na equação, observamos que para um mesmo meio,
Veja na mola helicoidal: a velocidade se mantem constante e um acréscimo no va-
Física Aplicada à Perícia de Acidentes Rodoviários

lor da frequência implica numa redução do comprimento


de onda.
Veja exemplo:

Elementos de Uma Onda
Para uma onda que muda de meio, a velocidade varia, po-
Amplitude (A): é o maior deslocamento efetuado no
rém, a frequência permanece constante, pois é determinada
vaivém que cada ponto da onda executa.
pela fonte, e o comprimento de onda se adapta à velocidade.
Veja exemplo:

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Equação de Onda

Como vimos no MHS associado ao MCU, um ponto que


executa um vaivém (oscilação ou vibração) é descrito pelas
equações:

y = A cos Wt.
V = – WA sen Wt.
a = – W2 ⋅ A cos Wt.

A → é a amplitude do movimento.
W → é a pulsação do movimento.

Princípio da Propagação Retilínea das Ondas

Num meio homogêneo, cada raio da onda é retilíneo.


A sombra permite constatar a propagação retilínea da luz.
Para descrever o movimento de uma onda, fazemos: Veja:

O ponto Q descreve o mesmo movimento do vaivém que


P, porém, ∆t tempo depois. Reversibilidade das Ondas
A trajetória seguida por uma onda é independente do
sentido de sua propagação.
“Caminho de ida é igual ao caminho de volta”

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A equação de onda determina a posição (y) de um ponto


qualquer da onda que executa um movimento de vaivém,
Graus de liberdade para a propagação das ondas:
em função de uma abscissa x, num dado instante t, isto é:
Unidimensional: que se dá numa única direção, numa
y = f(x, t) .
corda, por exemplo.
Bidimensional: que se dá em duas dimensões, sobre uma
A expressão 2π(t/T – x/λ) é chamada fase da onda. superfície líquida, por exemplo.
Tridimensional: que se dá em três dimensões, no ar,
Princípios da Propagação Ondulatória por exemplo.

Princípio da Independência da Propagação Ondulatória Fenômenos Ondulatórios


Ao se cruzarem, as ondas prosseguem sem alterar suas Princípio de Huyghens: cada ponto de uma frente de
propriedades. onda se comporta como uma nova fonte de ondas.

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
Na reflexão, temos as seguintes propriedades:
Reflexão das ondas: ocorre quando uma onda, ao incidir
num meio diferente do qual se propaga, retorna ao meio de
origem com:
• a mesma velocidade;
• a mesma frequência;
• o mesmo comprimento de onda;
• podendo ocorrer inversão de fase ou não.

Reflexão em Cordas com Extremidade Fixa

A reflexão ocorre com inversão de fase, pois a onda ao


incidir na extremidade a corda não acompanha seu movi-
mento por estar fixa.
Veja:
À esquerda onda incidente e à direita onda refletida.
N → reta Normal (perpendicular) ao meio refletor.

Na reflexão, temos: V = λ ⋅ f

Vi = Vr
λi = λr
fi = fr
Note que na reflexão V, λ e f não se alteram, pois a onda
continua no mesmo meio.

Refração das Ondas
Reflexão em Cordas com Extremidade Livre
Ocorre quando, ao incidir num meio diferente do qual
A reflexão ocorre com a mesma fase; a onda, ao incidir se propaga, a onda passa a se propagar no outro meio com:
na extremidade da corda, faz com que ela acompanhe seu • velocidade diferente;
movimento, por estar livre. Veja: • a mesma freqüência;
Física Aplicada à Perícia de Acidentes Rodoviários

• comprimento de onda diferente;


• na refração nunca ocorre inversão de fase.

Refração em Cordas com Densidade Diferente

A luz, ao incidir numa superfície, também pode se refletir O pulso, ao incidir na corda de maior densidade, parte
com inversão de fase ou não. Veja: se refrata com a mesma fase e parte se reflete com fase
invertida, assim:

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Na refração, temos: V = λ f Se A1 = A2 → a superposição resulta.
A = A1 – A2 = 0 (nula).
Vi ≠ Vr Vi = λi ⋅ f
fi = fr Vr = λr ⋅ f Interferência com a Luz

λi ≠ λr O surgimento de franjas, regiões claras (IC) e escuras (ID)


na tela do dispositivo abaixo demonstram que duas fontes
de luz em fase também, como na cuba, criam interferências.
Veja:

Polarização

Ocorre com ondas transversais, como a luz que vibra


Na refração, a frequência permanece constante, pois é uma em vários planos. É possível escolher a vibração numa única
característica da onda que não se altera ao mudar de meio. direção usando um polaroide.
Na refração i ≠ r, as ondas obedecem à lei de Snell‑Des- Veja:
cartes, onde:
Como Vi = λi ⋅ f e Vr = λr ⋅ f, temos:
Difração das Ondas

Capacidade das ondas contornar obstáculos.


Veja:

A onda sonora é longitudinal, não é polarizável.

Dispersão nas Ondas

Consiste em decompor a luz branca nas suas cores com-


ponentes que possuem frequências características. Isto é
• quanto maior o comprimento de onda, maior a capa-

Física Aplicada à Perícia de Acidentes Rodoviários


feito refratando a luz. O som também pode sofrer dispersão
cidade de difração; obtendo‑se sons mais fortes e mais fracos.
• quanto menor a abertura da fenda, maior a difração
da onda;
• na difração, V, λ, f permanecem constantes.

Interferência de Ondas (Superposição de Ondas)

Ocorre quando duas ondas se superpõem podendo haver


interferência construtiva (IC) ou interferência destrutiva (ID).
Veja em cordas:

Ondas Sonoras (Acústica)

São ondas mecânicas longitudinais tridimensional que


sensibilizam nossa audição.
Na média, ouvimos sons de frequência entre 20 Hz e
20.000 Hz.
Abaixo de 20 Hz, temos o infrassom.
Acima de 20.000 Hz, temos o ultrassom.

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A velocidade do som varia com o meio e com a temperatura. O timbre depende do número de harmônicos que acom-
Veja: panha o som fundamental e da intensidade relativa desses
harmônicos.
Reflexão do som ocorre como nas demais ondas.
Teremos ECO se o tempo entre o som emitido por uma
fonte e o refletido demorar mais de 0,1s para retornar à fonte.

Som em relação à temperatura.


Ar a 0 ºC → 331 m/s.
Ar a 15 ºC → 340 m/s.
Água a 20 ºC → 1482 m/s.
Ferro → 4480 m/s.
Aço → 5591 m/s.

A percepção do Som – Características Fisiológicas


Quando o obstáculo se encontra a 17 m ou mais do emissor, a
1º Intensidade: está relacionada com a energia da onda reflexão do som origina o eco. Caso contrário ocorre reverberação.
que se relaciona com a amplitude (A) da onda dando som
forte e som fraco. Ida e volta:

→ limiar de audibilidade. ∆S = V ⋅ t.


2X = 340 ⋅ 0,1.
Corresponde à menor intensidade ouvida pelo ouvido X = 17 m → distância mínima para ocorrer o eco.
humano.
Para distâncias menores que 17m, ocorre reverberação,
que é um reforço devido à sobreposição do som emitido
→ nível de intensidade auditiva [sensação com o refletido.
sonora produzida no ouvido humano, dado em decíbel (dB)]. Refração do som: como as demais ondas, a sonora sofre
refração ao mudar de meio variando de velocidade.
Veja:
Sussurro → β = 10 a 20 dB.
Música suave → β = 30 a 40 dB.
Conversa normal → β = 60 a 70 dB.
Barulho de tráfego → β = 80 a 90 dB.
Motor de avião na decolagem → β = 160 a 170 dB.

2º Altura: está relacionada com a frequência. Som grave é


o som de baixa frequência; som agudo é o de alta frequência.

luz som
Física Aplicada à Perícia de Acidentes Rodoviários

VI > VII VI < VII


i > r i < r

3º Timbre: o timbre nos permite distinguir entre sons de o raio se aproxima a direção da onda
mesma frequência (altura) e intensidade (amplitude) emitidos da normal. se afasta da normal.
por fontes diferentes devido à composição das frequências
Difração: as ondas sonoras, por terem grande compri-
do som fundamental com um, dois, três ou mais harmônicos.
mento de onda sofrem grande difração, isto é, contornam
Veja:
obstáculos bem mais do que a luz.

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Interferência: como as demais ondas, o som sofre inter- Frequência em Tubos Sonoros Abertos nas Duas
ferência construtiva e destrutiva. Extremidades
Os batimentos são alternância de sons fortes e fracos,
ocorrem quando duas fontes sonoras vibram com frequên-
cias próximas resultando em interferências destrutivas e
construtivas de forma periódica.
A onda estacionária é um caso particular de interferência
em que onde ocorre a superposição de duas ondas periódi-
cas, a incidente e a refletida, por exemplo.

N → nós são pontos de (ID) interferência destrutiva


devido aos pontos estarem em aposição de fase.
V → Ventres são pontos de (IC) interferência construtiva
devido aos pontos estarem em fase.

Ressonância: ocorre quando uma fonte, ao vibrar com


certa frequência, faz vibrar outras fontes próximas por terem
a mesma frequência natural.

Frequência em Tubos Sonoros Fechados em uma das


Extremidades

Na extremidade fechada sempre se forma um nó

Ao colocar o diapasão A a vibrar, este faz o diapasão


B, igual ao A, vibrar espontaneamente, sem tocá‑lo, isto é,
ressonância.
Cada sistema físico capaz de vibrar possui uma ou mais
frequências naturais, isto é, que são características do siste-
ma, mais precisamente da maneira como este é construído.
Como por exemplo, um pêndulo, ao ser afastado do ponto

Física Aplicada à Perícia de Acidentes Rodoviários


de equilíbrio, cordas de um violão ou uma ponte para a
passagem de pedestres sobre uma rodovia movimentada.
Todos estes sistemas possuem sua frequência natural que
lhes é característica. Quando ocorrem excitações periódicas
sobre o sistema, como quando o vento sopra com frequência
constante sobre uma ponte durante uma tempestade, acon-
tece um fenômeno de superposição de ondas que alteram a
energia do sistema, modificando sua amplitude.

Ondas em Cordas

A velocidade de uma onda que se propaga numa corda


depende:
• da tensão (T) que estica a corda;
• da densidade linear da corda.

→ densidade linear = (massa/comprimento).

→ fórmula de Taylor (em que T é a tensão da Efeito Doppler: ocorre quando a frequência ouvida por
um observador de uma fonte de ondas não é a emitida pela
corda e ρ é a densidade linear da corda kg/m). fonte devido ao movimento relativo entre fonte e observador.

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
• f → frequência da fonte. Então,
• fa → frequência aparente ouvida pelo observador. 1. A razão entre aceleração e deslocamento no movimento
• V → velocidade do som no ar. descrito acima é sempre constante.
• V0 → velocidade do observador. 2. A0 é a amplitude do movimento.
• VF → velocidade da fonte. 3. O período do movimento é 2 s.
4. A velocidade e a aceleração do corpo em t = 2 s são
máximas.
5. A energia potencial do corpo em 6 = 3 s e a energia
cinética em t = 6 s são máximas.
6. A frequência do movimento é 4 s-1.

Os sinais da fórmula devem ser escolhidos de tal for- (Cespe) Julgue os itens abaixo.
ma que: 7. Quando uma fonte sonora aproxima‑se de um obser-
vador estacionário em relação ao meio, a frequência
fa > f nas aproximações relativas; do som que o observador percebe é maior.
8. Duas ondas de mesma amplitude, propagando‑se ao
fa < f nos afastamentos relativos; longo de uma mesma linha, em sentidos opostos, for-
mam uma onda estacionária.
Veja situações possíveis a seguir: 9. Quando duas ondas de mesma frequência se propa-
gam aproximadamente na mesma direção, com uma
diferença de fase constante em relação ao tempo, elas
podem combinar de forma que a energia resultante não
se distribui uniformemente através do espaço, sendo
máxima em alguns pontos e mínima em outros.
10. O efeito Doppler não existe para ondas, propagando‑se
na superfície de um líquido.
11. É impossível observar‑se um padrão estável de inter-
ferência entre duas fontes de ondas, se estas não são
coerentes.
12. O primeiro mínimo, numa figura de difração por uma
fenda simples, é dado por sen θ = λ/d.

(Cespe) Julgue os seguintes itens.


13. Ondas estacionárias numa corda de violão ocorrem
somente para comprimentos de onda que são múltiplos
do comprimento da onda.
14. A  lei de Snell, da refração, pode ser demonstrada
partindo‑se do modelo ondulatório ou do modelo
corpuscular da luz.
15. A difração pode ser definida como uma interferência
de muitas fendas.
Física Aplicada à Perícia de Acidentes Rodoviários

16. Mesmo com os grandes avanços científicos e tecnoló-


gicos do dia de hoje, tanto a teoria corpuscular da luz
como a teoria ondulatória são modelos que explicam
os fenômenos e comportamentos da luz.
17. Quando temos dois meios refringentes em contato,
a reflexão nesta junção depende da velocidade da luz
nos dois meios.
(Cespe) O deslocamento de um corpo de massa M que 18. Quando a luz passa do ar para o vidro, parte dela é
executa um movimento harmônico simples, em função do refletida e sofre uma mudança de fase de 180º.
tempo, é mostrado abaixo. 19. A luz é uma onda eletromagnética. O comprimento de
onda da luz visível é da ordem de 10-13 m.

(Cespe) Julgue os itens abaixo.


20. O comprimento de onda para uma onda de ultra‑som no
ar, com frequência de 23000 Hz em condições normais
de temperatura e pressão, é menor que 2 cm.
21. O fenômeno de difração não é observado para ondas,
na superfície de um líquido.
22. O que caracteriza a cor de uma luz é sua frequência e
não seu comprimento de onda.

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23. Uma lente convergente não pode produzir uma imagem
virtual do Sol.
24. No globo ocular humano, o cristalino funciona tanto
com lente convergente quanto como lente divergente.
25. O período de um pêndulo simples é independente de
sua massa.
26. Varia‑se o comprimento l de um pêndulo simples
e mede‑se o período T respectivo. No gráfico 4π2l
versus T2, a inclinação da reta obtida dá diretamente a
aceleração da gravidade.

(Cespe) A figura abaixo mostra esquematicamente um ar- Sabendo que:


ranjo para se estudar o comportamento de ondas, chamado • As figuras representam fenômenos ondulatórios em
Experiência de Young. S0, S1 e S2 são pequenas fendas nos uma cuba de ondas.
anteparos metálicos. • As figuras realçam dois pulsos bb’ originados de dois
pulsos aa’ após a ocorrência de um fenômeno ondu-
latório.

Julgue os itens abaixo.


32. A figura I representa um fenômeno de dispersão.
33. A figura II representa um fenômeno de difração.
34. A figura III representa um fenômeno de interferência.
35. As figuras I e III representam fenômenos de refração e
reflexão, respectivamente.
36. As figuras II e III representam fenômenos de interferên-
Julgue os itens. cia e refração, respectivamente.
27. Ao atravessar S0 a onda sofre uma difração.
28. O  comprimento da onda presente entre o 1­º e o 2º (Cespe) Uma corda esticada vibra em sua frequência funda-
anteparos é igual ao da onda incidente sobre o 1º mental de 440 Hz. Considerando que os dois pontos fixos da
anteparo. corda distam l = 0,75 m e que a velocidade do som no ar
29. Quando a onda alcança o 2º anteparo, as fendas S1 e S2 é de v = 340 m/s, podemos afirmar que:
comportam‑se como duas fontes puntiformes. 37. A onda estacionária na corda tem comprimento de onda
30. É condição para que se observe o fenômeno de inter- 2l = 1,50 m.
ferência sobre o 3º anteparo, que as ondas incidentes 38. A velocidade de propagação de qualquer onda na corda
sobre ele tenham uma diferença de fase que varie é igual a 340 m/s.
continuamente com o tempo. 39. Qualquer onda transversal que se propaga na corda,
31. Para a experiência acima não se pode usar ondas ele-
ao  refletir nos pontos fixos nos extremos da corda
tromagnéticas.
inverte de fase.
40. Dobrando a tensão na corda, a frequência fundamental
(Cespe) Considere o conjunto de três figuras (I, II, III) como
passa a ser 880 Hz.
o mostrado a seguir:

(Cespe) As figuras abaixo representam uma onda estacioná- Física Aplicada à Perícia de Acidentes Rodoviários
ria, numa corda, em três configurações sucessivas.

41. Existem 4 antinodos e 3 nodos (excluindo as extremi-


dades fixas) nas configurações A e C.
42. Cada ponto da corda desloca‑se em movimento har-
mônico simples.

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43. Cada ponto da corda sobe e desce com o mesmo des- Óptica Geométrica
locamento máximo.
44. O comprimento da corda L é igual a 4 comprimentos Luz
de onda.
45. A  variação de tempo entre as posições A e C é T Luz é energia que se propaga através de ondas eletro-
(T = período da onda). magnéticas, cujas frequências sensibilizam nossos olhos.
46. Em B, a corda não é deslocada, mas cada um de seus
pontos possui velocidade máxima e, portanto, toda Velocidade da Luz
energia é cinética.
47. É a configuração B que sucede a C. Todas as ondas eletromagnéticas possuem a mesma
48. Para retornarmos à configuração A, partindo de A, velocidade quando estão se propagando no vácuo. Essa
o tempo gasto é um período de oscilação. velocidade, que representaremos pela letra c, corresponde
49. As  três configurações podem ser representadas por à máxima velocidade admitida pela natureza.
ondas de mesma amplitude, frequência e comprimento
de ondas, que se propagam em direções opostas. C = 300 000 km/s ⇒ c = 3x105 km/s ou
C = 300 000 000 m/s ⇒ c = 3x108 m/s
(Cespe) Sabe‑se que a função do ouvido é converter uma
fraca onda mecânica que se propaga no ar em estímulos Nos meios materiais (sólidos, líquidos e gasosos) a
nervosos; sabe‑se ainda, que os métodos de diagnose médica velocidade V das ondas eletromagnéticas é sempre menor
que usam ondas ultrassônicas baseiam‑se na reflexão do do que C (V < C) e terá valores diferentes para as diferentes
ultrassom ou no efeito Doppler, produzido pelos movimentos frequências.
dentro do corpo. Com base em conhecimentos a respeito de A luz emitida pelo Sol – estrela mais próxima da Terra –
ondas, julgue os itens abaixo. chega até nós em 8 minutos e 20 segundos, percorrendo 150
50. No processo de interferência entre duas ondas, neces- milhões de quilômetros.
sariamente, uma delas retarda o progresso da outra.
51. O  efeito Doppler não é determinado apenas pelo Ano Luz
movimento da fonte em relação ao observador, mas
também por sua velocidade absoluta em relação ao É uma unidade de medida de distância. Ela é uma unida-
meio no qual a onda se propaga. de conveniente quando se trata de distâncias astronômicas.
Um ano‑luz é a distância percorrida pela luz durante um
52. Nos instrumentos musicais de corda, os  sons estão
ano, no vácuo.
relacionados com a frequência de vibração de cada
corda; quanto maior a frequência de vibração, mais
1 ANO‑LUZ ≅ 9,46x1015 m
grave será o som produzido.
53. Um concerto ao ar livre está sendo transmitido, ao vivo,
Depois do Sol, a estrela mais próxima da Terra é a es-
para todo o mundo, em som estéreo, por um satélite
trela alfa da constelação de Centauro que se encontra a 4,3
geoestacionário localizado a uma distância vertical de
anos‑luz da Terra, isto é, a luz emitida pela estrela alfa demora
37000 km da superfície da Terra. Quem estiver presente
4,3 anos para chegar à Terra.
no concerto, sentado a 350 m do sistema de alto‑falan-
tes, escutará a música antes de um ouvinte que resida
Ex.: 1. Um astronauta envia sinais que correspondem a
a 5000 km do lugar da realização do concerto.
fotos do planeta Saturno, emitidos a partir da superfície do
Física Aplicada à Perícia de Acidentes Rodoviários

planeta. Os sinais viajam pelo espaço com a velocidade da


GABARITO luz no vácuo. Calcule o tempo em horas, para que o sinal
atinja a Terra.
1. C 19. E 37. C Dados:
2. C 20. C 38. E c = velocidade da luz no vácuo = 3 • 108 m/s
3. E 21. E 39. C d = distância de Saturno à Terra = 1,5 • 109 km
4. E 22. E 40. E
5. C 23. E 41. C Raio de Luz
6. E 24. E 42. C
7. C 25. C 43. E Raio de luz é uma linha orientada que representa a dire-
8. E 26. E 44. E
ção e o sentido da propagação da luz.
9. C 27. C 45. E
10. E 28. C 46. C
11. C 29. E 47. C
12. E 30. E 48. C
13. C 31. E 49. E
14. C 32. E 50. E
15. E 33. C 51. C
16. C 34. C 52. E
17. C 35. E 53. C
18. C 36. E

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Feixe de Luz c) somente as estrelas.
d) uma completa escuridão.
É o conjunto de raios de luz. Podem ser de três tipos: e) somente os planetas do sistema solar.

Meios de Propagação

Quanto à propagação da luz os meios são classifica-


dos em:

Transparente: é o meio que permite, através de si,


a visualização nítida dos objetos, pois nele a luz se propaga
em trajetórias definidas e praticamente sem perda de in-
Cilíndrico ou paralelo tensidade. Exemplos: vácuo, ar, vidro comum, água em fina
camada etc.

Translúcido: é o meio que permite a visualização dos


objetos, mas não nitidamente. Nesse meio as trajetórias da
luz não são definidas, assumindo formas imprevisíveis, ocor-
rendo também considerável perda de intensidade luminosa.
Exemplos. Vidro fosco, papel, neblina etc.

Opaco: é o meio que não permite a propagação da luz.


Cônico divergente Exemplos: madeira, metal, tijolo, papelão grosso etc.

Princípios da Óptica Geométrica

a) Princípio da propagação retilínea da luz: nos meios


transparentes e homogêneos, a luz propaga‑se em linha reta.

Cônico convergente

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Fonte de Luz
Princípios da independência dos raios de luz: as traje-
Para enxergarmos um objeto qualquer é necessário que tórias dos raios de luz são independentes entre si. Assim, se
a luz proveniente dele atinja nossos olhos. Esse objeto é uma dois raios de luz, A e B, se interceptam, eles prosseguirão em
fonte de luz. As fontes de luz podem ser: suas próprias trajetórias.

a) Primária: é aquela que produz a luz que emite.


Ex.: As estrelas, o Sol, um ferro incandescente, uma vela
acesa, uma lâmpada ligada.

b) Secundária: é aquela que não produz a luz que emite,


mas apenas a retransmite. A  Lua é um exemplo de fonte
secundária, pois ela apenas reflete a luz solar.

Ex.: 2. (Fuvest‑SP) Admita que o sol subitamente “morres-


se”, ou seja, sua luz deixasse de ser emitida. Vinte e quatro
horas após esse evento, um eventual sobrevivente, olhando
para o céu sem nuvens, veria:
a) a Lua e as estrelas. Princípios da reversibilidade dos raios de luz: a trajetória
b) somente a Lua. de um raio de luz independe de seu sentido.

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Eclipse da Lua

Aplicações dos Princípios da Óptica


Fenômenos da Óptica Geométrica
Sombra
Reflexão regular
A figura a seguir representa uma fonte puntiforme de
luz, um objeto opaco e um anteparo.
Fenômeno que consiste da luz voltar a se propagar no
mesmo meio de origem, após incidir em uma superfície
perfeitamente lisa.

Dizemos que uma fonte de luz é puntiforme quando o


seu tamanho é desprezível em relação às outras dimensões
envolvidas, tais como o tamanho do corpo opaco e a distância Reflexão difusa
percorrida pela luz.
Fenômeno que consiste da luz voltar a se propagar no
Sombra e penumbra mesmo meio de origem, após incidir em uma superfície
rugosa.
Agora, ao invés da fonte puntiforme de luz, considera-
mos uma fonte extensa (vários pontos puntiformes) de luz
L, representada na figura seguinte.
Física Aplicada à Perícia de Acidentes Rodoviários

Refração regular

Uma fonte de luz é extensa quando o seu tamanho não Fenômeno que consiste da luz passar de um meio para
é desprezível em relação às outras dimensões envolvidas. outro diferente através de uma superfície regular.

Eclipses

Eclipse do sol

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Refração Difusa
Fenômeno que consiste da luz passar de um meio para
outro diferente através de uma superfície regular.

A visualização dos objetos só é possível graças à difu-


são da luz.

Absorção
Fenômeno que consiste da luz ao incidir em uma super-
fície ser absorvida por esta. O corpo negro é ausência de cor, ou seja, ele absorve
todas as cores, não refletindo nenhuma.

REFLEXÃO E REFRAÇÃO SELETIVAS


Luz Monocromática
Se um corpo é azul quando iluminado pela luz solar,
É aquela constituída por ondas eletromagnéticas de uma apresenta‑se negro quando iluminado por qualquer luz
única frequência, ou seja, de uma única cor. monocromática que seja diferente de sua cor (azul).
Ex.: azul, vermelho, amarelo etc.
ESPELHOS PLANOS
Luz Policromática
Representação do Espelho Plano
É aquela constituída por ondas eletromagnéticas de mais
de uma frequência, ou seja, mais de uma cor.

Física Aplicada à Perícia de Acidentes Rodoviários


Ex.: branca.

A luz branca é constituída por sete cores.

As hachuras representam a parte opaca do espelho plano.


Reflexão da luz:

A cor de um objeto é devido a sua frequência. Se um


corpo possui a cor verde quando iluminado pela luz solar
é porque ele reflete de modo difuso apenas a cor verde e
absorve as demais cores.

A Cor de um Corpo

Se o corpo possui a cor branca, é  porque ele reflete


todas as cores.

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Na reflexão, o ângulo de incidência (ângulo entre o raio Associação de Espelhos Planos
de incidência e a reta normal) é igual ao ângulo de reflexão
(ângulo formado pelo raio refletido e a reta normal). A associação de espelhos planos acontece quando a luz
refletida por um espelho E1 atinge um segundo espelho E2,
Formação de Imagem no Espelho Plano formando assim uma combinação de imagens refletidas.
Podemos ter dois tipos de associação.
Antes de iniciarmos o estudo das imagens no espelho
plano, vamos pensar na seguinte situação: você tem um Associação em Paralelo
espelho plano a sua frente, mais ou menos a uns 50 cm de
você. Se você, observando sua imagem, aproxima lentamente O número de imagens do ponto A, formadas nos espe-
uma caneta do espelho, o que acontece com a sua imagem e lhos, é infinita.
com a imagem da caneta? Você percebe que aproximando a Cada imagem de um espelho faz o papel de um novo
caneta do espelho, a imagem da caneta também se aproxima objeto para o outro espelho, e assim sucessivamente.
do espelho? E a sua imagem continua no mesmo lugar? Pois
é isso que acontece! Associação Angular
Percebemos, então, que, na formação de imagens no
espelho plano, temos a noção de profundidade, logo, obje-
tos mais próximos do espelho terão imagens também mais
próximas.
Com isso podemos fazer uma primeira representação de
uma imagem no espelho plano.

Na figura acima, o lápis está a 1 metro do espelho, logo Associação de Espelhos Planos
sua imagem também deve estar a 1 metro do espelho. Note
também que a imagem tem as mesmas dimensões que o Considere α como sendo o ângulo formado por dois es-
objeto. pelhos planos com as superfícies refletoras se defrontando.
A quantidade de imagens formadas por um ponto objeto
Vamos observar mais uma representação. P, colocado entre os dois espelhos, pode ser determinada
pela equação:
Física Aplicada à Perícia de Acidentes Rodoviários

Onde:

N = número de imagens
O ângulo α deve ser expresso em graus.
Note que, no espelho, a imagem tem sua posição inver-
tida na horizontal. Faça um teste e escreva seu nome em Quando a expressão  for um número par, o ponto
uma folha de papel e fique de frente para um espelho plano. objeto P poderá assumir qualquer posição entre os dois
No nosso dia a dia, encontramos uma aplicação prática espelhos.
para esta propriedade dos espelhos. Nos carros de socorro
(ambulância), o nome é escrito ao contrário. Isso para, refle- Se a expressão  for um número ímpar, o ponto
tido pelos espelhos retrovisores dos carros à frente, o nome objeto P deverá ser posicionado no plano bissetor de α.
ser lido com facilidade.
Também é importante lembrar que os espelhos planos Exemplo:
formam apenas imagens virtuais, ou seja, imagens que não
podem ser projetadas e sua representação está sempre O ângulo formado por dois espelhos planos angulares
atrás do espelho. é o quíntuplo do número de imagens obtidas de um único
Nota: imagem real é toda imagem que pode ser proje- objeto pela associação.
tada (em uma tela ou parede) e sua representação é feita a) Qual o número de imagens formadas?
na frente do espelho. b) Qual o ângulo formado entre os espelhos?

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Solução Espelho Esférico Convexo é aquele espelho cuja face
externa da calota é refletora de luz.
a) De acordo com o enunciado do problema α = 5 N

Dividindo a última expressão por 5, temos:


 (equação do segundo grau) Principais Elementos de um Espelho Esférico

Resolvendo a equação encontraremos o número de


imagens.

Como o número de imagens não pode ser negativo, te-


mos que o número de imagens formadas é igual a 8.
CONDIÇÕES DE NITIDEZ DE GAUSS
b) Sabendo agora que N = 8, podemos encontrar o valor
do ângulo. O espelho deve ter pequeno ângulo de abertura (a < 10o).
Os raios incidentes devem ser próximos ao eixo principal.
Os raios incidentes devem ser pouco inclinados em re-
lação ao eixo principal.

Raios Particulares
I) Se um raio de luz incidir paralelamente ao eixo princi-
pal, o raio refletido passa pelo foco principal.

ESPELHOS ESFÉRICOS

Definição Física Aplicada à Perícia de Acidentes Rodoviários

Chamamos de Espelhos Esféricos toda superfície refletora


com a forma de uma calota esférica. Temos dois tipos de
espelhos esféricos: Côncavo e Convexo.
Espelho Esférico Côncavo é aquele espelho cuja face
interna da calota é refletora de luz.

II) Se um raio de luz incidir passando pelo centro de cur-


vatura, o raio é refletido passando sobre si mesmo.

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III) Se um raio de luz incidir no vértice do espelho, o raio
refletido é simétrico em relação ao eixo principal.

CONSTRUÇÃO GEOMÉTRICA DE IMAGENS

As imagens fornecidas por um espelho esférico podem 5o Caso: objeto extenso localizado entre o ponto focal (F)
ser obtidas utilizando‑se dois dos três raios particulares. e o vértice de um espelho esférico côncavo.

Espelho Esférico Côncavo

1o Caso: objeto extenso localizado além do centro de


curvatura de um espelho esférico côncavo.

Espelho Esférico Convexo

Objeto extenso localizado em frente a um espelho es-


férico convexo.

2o Caso: objeto extenso localizado sobre o centro de


curvatura de um espelho esférico côncavo.
Física Aplicada à Perícia de Acidentes Rodoviários

3o Caso: objeto extenso localizado entre o centro de Equação de Gauss e Equação do Aumento Linear
curvatura e o ponto focal (F) de um espelho esférico côncavo. Transversal

f .... distância focal.


p .... distância do objeto até o espelho.
p’ ... distância da imagem até o espelho.
A ... Aumento linear transversal.
4o Caso: objeto extenso localizado sobre o ponto focal i .... tamanho da imagem.
(F) de um espelho esférico côncavo. o .... tamanho do objeto.

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Atenção: considerando sempre o objeto real (p > 0), Determinação dos Focos de uma Lente Divergente
nestas equações temos:
Espelho côncavo f>0
Espelho convexo f<0
Imagem real p’ > 0
Imagem virtual p’ < 0
Imagem direita i>0
Imagem invertida i<0

Lentes Esféricas

É um sistema constituído de dois dioptros esféricos ou a) Foco imagem F’ b) Foco objeto F.


um dioptro esférico e um plano, nos quais a luz sofre duas
refrações consecutivas. Construção de imagens em lentes esféricas

Classificação das Lentes Podem ser utilizados três raios para a construção de
imagens:
Quanto à forma das lentes Raio 1: Raio que incide paralelo ao eixo principal refrata
passando pelo foco imagem F’.
Raio 2: Raio que incide passando pelo centro ótico da
lente C, não sofre desvio.
Raio 3: Raio que incide passando pelo foco objeto F,
refrata paralelo ao eixo principal

Objeto situado além da dupla distância focal


(lente convergente)

2. Quanto ao comportamento óptico

As lentes podem ser convergentes ou divergentes, quanto


ao comportamento óptico, essa classificação vai depender
da relação entre os índices de refração da lente e do meio,
conforme o quadro a seguir. Construção da imagem de um objeto situado além da
dupla distância focal.
A situação apresentada é o esquema da formação de

Física Aplicada à Perícia de Acidentes Rodoviários


Lentes de Bordas Finas Lentes de Bordas uma imagem em uma máquina fotográfica.
Grossas
nL > n M convergentes divergentes
Objeto sobre a dupla distância focal (no antiprincipal)
nL< n M divergentes convergentes (lente convergente)

Determinação dos Focos de uma Lente Convergente

Construção da imagem fornecida de um objeto situado


sobre a dupla distância focal.
A situação anterior representa o esquema de uma má-
a) Foco imagem F’ b) Foco objeto F quina copiadora (xerográfica) sem ampliação.

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Objeto entre o antiprincipal e o foco Vergência de uma lente

Se você observar uma receita de óculos você lerá as


medidas, por exemplo, + 5 di ou – 5di e assim por diante.

O que significam estas medidas?

As medidas que falamos anteriormente indicam as ver-


gências das lentes. A vergência C de uma lente é uma gran-
deza que corresponde ao inverso da distância focal da lente:

C = 1 / f
Caso Único da Lente Divergente

A unidade de medida usual é a dioptria (di), que corres-


ponde ao inverso do metro (m-1).
Quando a lente é divergente, a distância focal é negativa,
portanto, a vergência também será negativa. Quando a lente
for convergente, a vergência será positiva.
Uma vergência de + 5 di significa que a lente a ser usada
é uma lente convergente com uma distância focal 0,2 m ou
20 cm.
Uma vergência de – 5 di significa que a lente a ser usada
é uma lente divergente com uma distância focal de 0,2 m
Objeto situado entre o foco e o centro óptico ou 20 cm.
(lente convergente)
Equação dos fabricantes de lentes (Equação de Halley)

A equação dos fabricantes de lentes relaciona a distância


focal f e a vergência C com os raios de curvatura R1 e R2 e o
índice de refração relativo n21. A equação é:

C = 1/f = (n21 – 1) (1 / R1 + 1 / R2)

Convenção:
• para a face convexa considera o raio de curvatura
positivo (R > 0);
Construção da imagem fornecida de um objeto situado • para a face côncava o raio de curvatura negativo (R < 0).
entre o foco F e o centro ótico C.
Nessa situação, a  lente convergente está funcionando
como uma lente de aumento, ou seja, uma lupa.
EXERCÍCIOS

Referencial de Gauss 1. Um automóvel está se deslocando em uma estrada,


com movimento uniforme. Observa‑se que ele gasta um
tempo t = 2h para percorrer uma distância d = 80km.
Física Aplicada à Perícia de Acidentes Rodoviários

O referencial de Gauss será o centro ótico da lente del-


gada, ou seja, as distâncias imagens e objeto serão medidas a) Qual é o valor da velocidade do carro?
a partir do centro ótico. b) Qual é a distância que o carro percorre em um tempo
t = 5h?
c) Quanto tempo este carro gastaria para percorrer uma
distância d = 120km?

2. Suponha que um trem bala, em movimento uniforme,


gasta 3 horas para percorrer a distância de 750km entre
duas estações.
a) Qual é a velocidade deste trem?
b) Qual é a distância que ele percorre em 0,5h?
a) Lentes convergentes b) Lentes divergentes. c) Quanto tempo ele gastará, mantendo aquela velo-
cidade, para ir de uma cidade a outra, distancia­das
De forma geral temos: de 500km?
• distâncias focais de lentes convergentes são positivas
3. (Mackenzie‑SP) Dois móveis, A e B, partem simultane-
e de divergentes negativas;
amente do mesmo ponto, com velocidades constantes
• distâncias de objetos e imagens reais são positivas e de 6m/s e 8m/s, respectivamente. Qual será a distância
de objetos e imagens virtuais são negativas; entre eles, em metros, depois de 5,0s, se eles se movem
• imagem direita é positiva e imagem invertida, negativa. na mesma direção e sentido?

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4. Dois barcos partem simultaneamente de um mesmo 10. (UEPG‑PR) Um passageiro anotou, a  cada minuto,
ponto seguindo rumos perpendiculares entre si. Sendo a velocidade indicada pelo velocímetro do táxi em que
de 30km/h e 40km/h suas velocidades, a distância entre viajava; o resultado foi 12 km/h, 18 km/h, 24 km/h e
eles, após 6min, é de: 30 km/h. Pode‑se afirmar que:
a) 7km a) o movimento do carro é uniforme.
b) 1km b) a aceleração média do carro é de 6 km/h, por minuto.
c) 300km c) o movimento do carro é retardado.
d) 5km d) a aceleração do carro é 6 km/h2.
e) 420km e) a aceleração do carro é 0,1 km/h, por segundo.
5. Duas partículas, A  e B, movimentam‑se sobre uma 11. (Unimep‑SP – Adaptada) Uma partícula parte do repou-
mesma trajetória retilínea, segundo se vê no gráfico. so e em 5 segundos percorre 100 metros. Considerando
Podemos afirmar que suas equações horárias são: o movimento retilíneo e uniformemente variado, po-
a) SA = 90 + 20t e SB = 40 + 10t demos afirmar que a aceleração da partícula é de:
b) SA = 20 + 90t e SB = 10 + 40t a) 8 m/s2
c) SA = 40 + 20t e SB = 90 + 10t b) 4 m/s2
d) SA = 40 + 20t e SB = 10 + 90t c) 20 m/s2
e) SA = 20 + 40t e SB = 90 + 10t d) 4,5 m/s2
e) 3,5 m/s2
6. Um móvel em MRUV, tem sua velocidade expressa em
função de sua posição na trajetória, dada pelo diagrama 12. (Uneb‑BA) Uma partícula, inicialmente a 2 m/s, é ace-
baixo. A aceleração desse móvel é: lerada uniformemente e, após percorrer 8 m, alcança a
a) 6m/s2 d) 3m/s2 velocidade de 6 m/s. Nessas condições, sua aceleração,
b) 5m/s2 e) 2ms/2 em metros por segundo ao quadrado, é:
c) 4m/s2
a) 1
b) 2
7. Um caminhão de 20m de comprimento trafega com
c) 3
velocidade de 10m/s num trecho de estrada onde há
d) 4
uma ponte de 30m de comprimento. Calcule o tempo
e) 5
que o caminhão leva para atravessar a ponte.
13. Um carrinho de massa m, arremessado com velocidade
8. (Uepi) Em sua trajetória, um ônibus interestadual
V contra uma mola, produz, nessa, uma deformação
percorreu 60 km em 80 min, após 10 min de parada,
seguiu viagem por mais 90 km à velocidade média de Δx. Utilizando‑se o sistema internacional de unidades,
60 km/h e, por fim, após 13 min de parada, percorreu julgue os itens a seguir e assinale a alternativa que
mais 42 km em 30 min. A afirmativa verdadeira sobre representa o sistema de unidades corretamente.
o movimento do ônibus, do início ao final da viagem, I – Quilograma, centímetro por segundo e centímetro.
é que ele: II – Grama, metro por segundo e metro.
a) percorreu uma distância total de 160 km. III – Quilograma, metro por segundo e metro.
b) gastou um tempo total igual ao triplo do tempo gasto a) Apenas o item I está correto.
no primeiro trecho de viagem. b) Apenas o item II está correto.
c) desenvolveu uma velocidade média de 60,2 km/h. c) Apenas o item III está correto.
d) não modificou sua velocidade média em consequên- d) Todos os itens estão corretos.
cia das paradas. e) Apenas os itens I e III estão corretos.
e) teria desenvolvido uma velocidade média de 57,6

Física Aplicada à Perícia de Acidentes Rodoviários


km/h, se não tivesse feito paradas. 14. (UFMS‑MS) Em um lançamento oblíquo (trajetória mos-
trada na figura a seguir) em um local onde a aceleração
9. (UFPE) O gráfico representa a posição de uma partícula constante da gravidade é g, sejam respectivamente, H,
em função do tempo. Qual a velocidade média da par- X e β a altura máxima, o alcance horizontal e o ângulo
tícula, em metros por segundo, entre os instantes t = de lançamento do projétil, medido em relação ao eixo
2,0 min e t = 6,0 min? horizontal x. Desprezando‑se a resistência do ar, julgue
os itens.

a) 1,5 a) o tempo para que se alcance X é igual ao tempo de


b) 2,5 subida do projétil.
c) 3,5 b) o tempo para que se alcance X é igual ao dobro do
d) 4,5 tempo de descida do projétil.
e) 5,5 c) se tg(β) = 4, então H = X.

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d) a energia cinética do projétil é máxima quando é O deslocamento vetorial desse transeunte tem módulo,
atingida a altura máxima. em metros, igual a
e) a energia mecânica do projétil aumenta no trecho a) 700 d) 350
de descida. b) 500 e) 300
c) 400

18. (FURRN) Um barco, em águas paradas, desenvolve uma


velocidade de 7 m/s. Esse barco vai cruzar um rio cuja
correnteza tem velocidade 4 m/s, paralela às margens.
Se o barco cruza o rio perpendicularmente à correnteza,
sua velocidade em relação às margens, em metros por
segundo é, aproximadamente:
a) 11
b) 8
c) 6
d) 5
15. (PUCCAMP‑SP) Observando a parábola do dardo arre- e) 3
messado por um atleta, um matemático resolveu obter
uma expressão que lhe permitisse calcular a altura y,
em metros, do dardo em relação ao solo, decorridos t
segundos do instante de seu lançamento (t = 0). Se o
dardo chegou à altura máxima de 20 m e atingiu o solo
4 segundos após o seu lançamento, então, desprezada
a altura do atleta, considerando g=10m/s2, a expressão
que o matemático encontrou foi:
a) y = – 5t2 + 20t
b) y = – 5t2 + 10t
c) y = – 5t2 + t
d) y = -10t2 + 50 19. Na figura a seguir, os fios são ideais e o corpo C tem
e) y = -10t2 + 10 peso 10 N. Determine a intensidade da  força de tração
no fio AB e a intensidade da força F que mantém o
16. (Unifesp) Suponha que um comerciante inescrupuloso sistema em equilíbrio.
aumente o valor assinalado pela sua balança, empur-
rando sorrateiramente o prato para baixo com uma 20. Quando um homem está deitado numa rede (de massa
força F de módulo 5,0N, na direção e sentido indicados desprezível), as forças que esta aplica na parede formam
na figura. um ângulo de 30º com a horizontal, e a intensidade de
cada uma é de 60 kgf (ver figura).

Dados: 
Física Aplicada à Perícia de Acidentes Rodoviários

Com essa prática, ele consegue fazer com que uma mer-
cadoria de massa 1,5kg seja medida por essa balança
como se tivesse massa de:
a) 3,0kg.
b) 2,4kg. a) Qual é a intensidade do peso do homem?
c) 2,1kg. b) O gancho da parede foi mal instalado e resiste ape-
d) 1,8kg. nas até 130 kgf. Quantas crianças de 30 kgf a rede
e) 1,7kg. suporta (suponha que o ângulo não mude)?

17. (PUCC‑SP) Num bairro, onde todos os quarteirões 21. Um corpo de peso P = 80,0 N está suspenso por meio
são quadrados e as ruas paralelas distam 100 m uma de dois fios AC e BC a um teto fixo horizontal. São
da outra, um transeunte faz o percurso de P a Q pela
trajetória representada no esquema. B = 5,00 m, A
dados: A C = 4,00 m e B C = 3,00 m.
Determine as intensidades das trações nos fios.

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22. O sistema mostrado na figura encontra‑se em equilíbrio d) Um operário, ao  suspender o elevador, utilizando
e o corpo P apoiado na superfície horizontal encontra‑se uma associação de polias como esta, realiza um
na iminência de movimentar‑se. As massas de P e Q trabalho bem menor do que aquele que realizaria
valem, respectivamente, 30 kg e 10 kg. Adotando g = sem tal dispositivo.
10 m/s2, determine as intensidades das trações nos fios
e o coeficiente de atrito entre o corpo P e a superfície
de apoio.

25. (Fuvest‑SP) A figura ilustra uma roda‑d’água constituída


por 16 cubas. Cada cuba recebe 5 litros de água de uma
bica, cuja vazão é de 160 litros/min. A  roda gira em
movimento uniforme.
a) Qual é o período de rotação da roda?
23. A esfera mostrada na figura abaixo tem peso de inten- b) Qual é a quantidade de água utilizada em uma hora
sidade P = 100 N. Desprezando os atritos, determine a de funcionamento do sistema?
tração no fio ideal e a intensidade da força que a parede
aplica na bola.
26. (Cespe‑UnB) Em um processo de transfusão de sangue,
a bolsa contendo plasma sanguíneo, que é conectada
à veia do receptor por meio de um tubo, é colocada à
altura de 1,20 m de acima do braço do paciente. Con-
siderando a densidade do plasma aproximadamente
igual a 1,05 g/cm3, sabendo que 760 mmHg = 1,01⋅105
N/m2, e assumindo g = 10 m/s2, julgue os itens a seguir.
(1) A pressão do plasma, ao entrar na veia do paciente,
é de 12,6 . 103 N/m2.
(2) Se a pressão venosa for de 2,5 mmHg, a altura mí-
nima a que a bolsa deve ser colocada é de 6,2 . 10−2 m.
(3) Supondo que a pressão venosa se mantenha cons-
24. (Cespe) Pela associação de roldanas fixas e móveis, tante, se o paciente for transportado para um local em
uma pessoa pode levantar pesos muito grandes, aci- que a aceleração da gravidade é menor, a altura mínima
ma de sua capacidade muscular. Por isso, vê‑se, com a que a bolsa deve ser colocada será menor.
frequência, sistemas de roldanas sendo utilizados em
canteiros de obras de construção civil. Suponha que a 27. (Fcap‑PA) A posição de um corpo em função do tempo,
figura abaixo represente o sistema utilizado pelos ope- que executa um movimento harmônico simples, é dada
rários de uma obra, para erguer, do solo até o segundo
pavimento, um elevador de material de construção, por: , onde x é dado
com peso de 100 kgf. em metros e t em segundos. A frequência do movimen-

Física Aplicada à Perícia de Acidentes Rodoviários


to é:

a) 2,5 Hz
b)

c) 0,17 Hz
d)

e) 1,7 Hz

28. (UFBA/Adaptado) O gráfico representa as posições


ocupadas, em função do tempo, por um móvel de mas-
Com base na associação mostrada na figura, julgue os sa igual a 1 kg, que oscila em MHS. Nessas condições,
itens que se seguem. julgue os itens abaixo em C (certo) ou E (errado).
a) Se o peso das polias for desprezível, um operário
deverá aplicar uma força F igual a 25 kgf para equi-
librar o sistema.
b) Se cada polia pesar 0,5 kgf, a força F que equilibrará
o sistema será de 26,5 kgf.
c) Supondo que cada polia tenha um peso de 0,5
kgf, a reação do suporte, no ponto C, será igual a
51,25 kgf.

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a) A função horária da posição no movimento descri- a velocidade de propagação da onda nesta segunda
to é . corda é v2 = 10 m/s. O comprimento de onda quando
se propaga na corda BC é igual a:
b) A função horária da velocidade escalar instantânea é
 .
c) No instante 2 s, a velocidade escalar do móvel é nula.
d) No instante 6 s, a  aceleração escalar do móvel é
igual a
e) No instante 8 s, a energia cinética do móvel é nula.

29. (UFPel‑RS) João está brincando com uma longa corda, a) 7 m


apoiada na calçada e amarrada a um canteiro no ponto b) 6 m
O. Ele faz a extremidade da corda oscilar horizontal- c) 5 m
mente com frequência de 2 Hz, gerando uma onda que d) 4 m
percorre a corda, como mostra a figura. e) 3 m

32. (UFSC) A equação de uma onda senoidal pro-


pagando‑se ao longo do eixo x é dada por:

no sistema in-
ternacional de unidades. De acordo com as condições
apresentadas, julgue os itens abaixo em C (certo) ou E
(errado).

a) A amplitude da onda é de 0,005 m.


b) O comprimento de onda dessa onda é de 10 m.
c) O sentido de propagação da onda é o do eixo x po-
Desprezando perdas de energia, podemos afirmar que sitivo.
a casinha de brinquedo de Joana, mostrada na figura,
d) O período da onda é de 40 s.
será derrubada pela corda:
e) A velocidade da onda é de 0,25 m/s.
a) 4,5 s após o instante fixado na figura
b) 1,0 s após o instante fixado na figura
f) A velocidade angular da onda é de (0,025π) rd/s.
c) 2,0 s após o instante fixado na figura
33. (Cespe) No sistema mostrado na figura a seguir, inicial-
d) 1,5 s após o instante fixado na figura
mente em repouso, as massas m1 = 1 kg e m2 = 2 kg,
e) 3,0 s após o instante fixado na figura
colocadas em uma superfície sem atrito, comprimem
uma mola ideal de constante elástica igual a 6 N/cm,
30. (Fafeod‑MG) A ilustração representa uma antena
diminuindo seu comprimento original em 10 cm. Uma
transmissora de ondas de rádio em operação. As linhas
vez liberado, o  sistema colocará em movimento as
circulares correspondem ao corte das frentes esféricas massas m1 e m2 , em sentidos opostos.
irradiadas pela antena.
Física Aplicada à Perícia de Acidentes Rodoviários

Considerando a situação após a liberação do sistema,


julgue os itens a seguir.
a) A quantidade de movimento total é de 4 N⋅s.
b) A energia cinética da massa m2 é de 1J.
c) O trabalho realizado pela mola, na expansão, é de 3 J.

Supondo que as ondas de rádio propaguem‑se no ar 34. Uma bola A, de massa m1 colide frontalmente com outra
com velocidade de 300 000 km/s, é correto afirmar que bola B de massa m2 inicialmente em repouso. Sabendo
sua frequência vale: que a bola A atinge B com velocidade de módulo igual
5,0 m/s e que a colisão é perfeitamente elástica, julgue
a) os itens a seguir.
b)
c)
d)
a) Se as duas esferas possuem a mesma massa, então
31. (MACK‑SP) A figura mostra uma onda transversal pe- os corpos trocam de velocidades, após a colisão.
riódica, que se propaga com velocidade v1 = 8 m/s em b) Se a massa de A for quatro vezes maior que a massa
uma corda AB, cuja densidade linear é . Essa corda de B, ou seja mA = 4.mB , então após a colisão os
corpos se movimentam com velocidades iguais a
está ligada a outra, BC, cuja densidade é , sendo que 3,0 m/s e 2,0 m/s, respectivamente.

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c) Após a colisão os corpos se movimentaram na mes-
ma direção e mesmo sentido independentemente
de suas massa.
d) Se a massa da esfera A for o dobro da esfera B, então
após a colisão a energia cinética da esfera maior será
dobro da esfera menor.

35. (Cespe) A figura a seguir mostra uma seção transver-


sal de uma gota de chuva considerada esférica sendo
atingida por um raio de luz monocromático. Ele incide e
refrata‑se na superfície da gota; em seguida, reflete‑se
na superfície interior; e, finalmente, refrata‑se, produ-
zindo o raio emergente. Esse é o princípio da formação
do arco‑íris em dias chuvosos.

Com base no diagrama apresentado, julgue os seguintes


itens.
a) Se o espelho for plano, então II pode ser a imagem
do objeto IV.
b) Dependendo do tipo de espelho utilizado, IV pode
ser a imagem do objeto III.
c) Se I é a imagem do objeto IV, então o foco do espelho
situa‑se à direita de IVV.
d) Se III é a imagem virtual de algum objeto não‑re-
presentado na figura, um indivíduo de visão nor-
Com o auxílio das informações apresentados, julgue os mal localizado à esquerda de O não será capaz de
itens abaixo. enxergá‑la.
a) Considerando a luz solar como um feixe de raios e) Se for usada uma lente convergente, III pode ser a
paralelos, então os seus ângulos de incidência sobre imagem do objeto II.
a superfície da gota de chuva variam de 0º a 90º. f) É possível que I seja a imagem do objeto IV, pro-
b) Se índice de refração da gota de chuva fosse indepen- jetada por um equipamento através de uma lente
dente da frequência da luz, não haveria dispersão divergente.
da luz solar.
c) Uma gota d’água é capaz de refratar apenas sete das 38. (Cespe) Um espelho côncavo de distância focal f e raio
cores provenientes da luz solar. de curvatura R, sendo f = R/2, foi usado numa expe­
d) Na situação apresentada, a lei de Snell não pode ser riência onde um objeto é colocado perpendicularmente
usada para explicar a formação do arco‑íris, pois ela ao eixo do espelho. Assim, julgue os itens a seguir.
não se aplica as superfícies esféricas. a) Se o objeto está antes do centro de curvatura, o es-
pelho forma uma imagem real e menor que o objeto.
b) Se o objeto está no centro de curvatura, a sua ima-
36. (Cespe) Julgue os itens abaixo.
gem está no infinito.
a) A reflexão interna total somente ocorre quando a
c) Se o objeto está entre o centro de curvatura e o foco,
luz propaga de um meio opticamente menos denso
a sua imagem é real e maior que o objeto.
para um meio opticamente mais denso.
d) Se o objeto está entre o foco e a superfície do es-

Física Aplicada à Perícia de Acidentes Rodoviários


b) Um raio de luz, propagando‑se de um ponto para
pelho, a imagem que se forma é real e menor que o
outro, segue um percurso que, comparado com
objeto.
trajetórias vizinhas, exige que o tempo despendido
e) Se o objeto está entre o foco e a superfície do espe-
seja um mínimo.
lho, a sua imagem é virtual.
c) Qualquer que seja o meio de propagação, o caminho
f) Se o objeto está entre o centro de curvatura e o
geométrico de um raio luminoso é idêntico ao seu
foco, a imagem que se forma é virtual e maior que
caminho óptico. o objeto.
d) O índice de refração de um meio em relação a ou-
tro geralmente varia com o comprimento de onda. 39. (UnB) Julgue os itens a seguir.
Devido a esse fato, a refração e não a reflexão pode a) Quando uma fonte sonora aproxima‑se de um obser-
ser usada para decompor um feixe luminoso em seus vador estacionário em relação ao meio, a frequência
vários comprimentos de onda. do som que o observador percebe é maior.
e) O índice de refração do meio depende da freqüência b) Duas ondas de mesma amplitude, propagando‑se
da luz incidente neste meio. ao longo de uma mesma linha, em sentidos opostos,
formam uma onda estacionária.
37. (Cespe) No diagrama a seguir, as setas verticais podem c) Quando duas ondas de mesma frequência se propa-
representar objetos ou imagens de objetos, dependen- gam aproximadamente na mesma direção, com uma
do do tipo de espelho – plano ou esférico – ou de lente diferença de fase constante em relação ao tempo,
esférica delgada – convergente ou divergente – utili- elas podem combinar de forma que a energia re-
zado. Os espelhos esféricos terão sempre o centro de sultante não se distribui uniformemente através do
curvatura no eixo x e vértice no ponto O. Os espelhos espaço, sendo máxima em alguns pontos e mínima
planos e as lentes serão colocadas sempre no eixo y. em outros.

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A sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição é vedada, sujeitando-se aos infratores à responsabilidade civil e criminal.
d) O efeito Doppler não existe para ondas, propagan-
do‑se na superfície de um líquido.
e) É impossível observar‑se um padrão estável de in-
terferência entre duas fontes de ondas, se estas não
são coerentes.
f) O primeiro mínimo, numa figura de difração por uma
fenda simples, é dado por sen θ = λ/d.

40. (Cespe) Considere o conjunto de três figuras (I, II, III)


como o mostrado a seguir:

Sabendo que:
• as figuras representam fenômenos ondulatórios em
uma cuba de ondas;
• as figuras realçam dois pulsos bb’ originados de dois
pulsos aa’ após a ocorrência de um fenômeno ondu-
latório.

Julgue os itens abaixo.


a) A figura I representa um fenômeno de dispersão.
b) A figura II representa um fenômeno de difração.
c) A figura III representa um fenômeno de interferência.
d) As figuras I e III representam fenômenos de refração
e reflexão, respectivamente.
e) As figuras II e III representam fenômenos de inter-
ferência e refração, respectivamente.

Gabarito

1. a) v = 40km/h 21. TAC = 64 N; TBC = 48 N


b) d = 200km 22. T1 = T2 = 100 N; T3 =
c) t = 3h
100 2 N; µ ≅ 0,3
2. a) v = 250km/h
b) d = 125km 100 3 200 3
23. N;  N
c) t = 2h 3 3
24. C, E, E, E
Física Aplicada à Perícia de Acidentes Rodoviários

3. d = 10m
4. d 25. a) 30 s
5. d b) 9600 L
6. e
7. ∆t = 5s 26. C, E, E
8. e 27. a
9. b 28. C, E, C, C, E
10. b 29. d
11. a 30. a
12. b 31. c
13. c 32. C, E, C, E, C, C
14. E, C, C, E, E 33. E, C, C
15. a 34. E, E, C, C
16. d 35. C, C, E, E
17. b 36. E, C, C, C, C
18. b 37. E, C, C, E, E, E
20 3 10 3 38. C, E, C, E, C, E
19. T = N; F =
3 3 39. C, E, C, E, C, E
N
40. E, C, C, E, E
20. a) 60 kgf
b) 4

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PRF

SUMÁRIO

Noções de Informática

Noções de sistema operacional Windows............................................................................................................................. 3

Edição de textos, planilhas e apresentações (ambiente BrOffice)........................................................................................ 9

Redes de computadores
Conceitos básicos, ferramentas, aplicativos e procedimentos de Internet e intranet......................................................26
Programas de navegação (Mozilla Firefox e Google Chrome)..................................................................................... 37/41
Programas de correio eletrônico (Mozilla Thunderbird)................................................................................................... 66
Sítios de busca e pesquisa na Internet.............................................................................................................................. 71
Grupos de discussão ......................................................................................................................................................... 74
Computação na nuvem (cloud computing)....................................................................................................................... 77

Conceitos de organização e de gerenciamento de informações, arquivos, pastas e programas..........................................3

Segurança da informação. Procedimentos de segurança.................................................................................................... 84


Procedimentos de segurança. Noções de vírus, worms e pragas virtuais. Aplicativos para segurança (antivírus,
firewall, anti-spyware etc.)................

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